NA DANÇA DO CONHECIMENTO E SUAS IDIOSSINCRASIAS Poder, Ambiente, Território, Educação e...
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NA DANÇA DO CONHECIMENTO E SUAS IDIOSSINCRASIASPoder, Ambiente, Território, Educação e Sustentabilidade
dão ritmo e tom
Cristiano Silva Cardoso 1
Rita de Cássia Oliveira Pedreira2
Poder: Você samba de que lado, de que lado você samba?Brasil, terra do suingue e da contradição, já disse a
multifacetada Fernanda Abreu em uma melodia. Um país de
dimensões continentais, riquezas naturais com grande
variedade de espécies, de biomas e disposição de recursos
hídricos. Sua diversidade populacional e cultural é
responsável por embalar diferentes ritmos e manifestações,
alimentando um imaginário social arraigado a musica e a
dança, produções que entremeadas e articuladas a diferentes
motes, correspondem sistematicamente às imagens do coletivo
e seu espaço temporal. Neste mosaico de expressões, temos
um símbolo dos estilos musicais brasileiros, esta cadência
é o samba, exemplo básico, marca de uma imagem
internacional deste país, retratando em suas categorias,
1 Museólogo graduado pela Universidade Federal da Bahia, Especialista emEducação Ambiental para a Sustentabilidade pela Universidade Estadual deFeira de Santana; Gestor em Direitos Humanos. [email protected];
2Museóloga graduada pela Universidade Federal da Bahia; Especialista emEducação Ambiental para a Sustentabilidade pela Universidade Estadual deFeira de Santana e Idealizadora do conceito de [email protected]
alegrias, dores e o cotidiano da gente brasileira e seus
estereótipos.
Nação que nos últimos anos tem despontado enquanto
liderança na América Latina, isto, claro, ao ver de alguns
líderes deste bloco. Congrega dois fatores cruciais ao
entendimento da sua realidade definidos por Paugan como: a
pobreza, que para muitos é fruto, também, de sua entrada na
sociedade industrial, antes de conquistas sociais e
regulações estatais; e a exclusão, resumida em crise
estrutural de seus fundamentos. Do ponto de vista dos
agentes, pobreza é geralmente hereditária e a exclusão é
resultado do acúmulo de dificuldades concretas e de
rupturas progressivas de laços sociais.
Portanto, no seio desta sociedade, estigmas como a
violência, um dos muitos reflexos diretos destes 2 fatores,
atinge a todas as camadas, tanto os que têm a sua
disposição os avanços tecnológicos e a liberdade de
mercado, acumulam informação, riquezas e circulam pela dita
aldeia global (DUPAS, 1998); quanto aos que sobrevivem em
sub-moradias, desempenham atividades informais para
garantirem o sustento familiar e dependem dos precários
serviços públicos essenciais como saúde, segurança e
educação dando forma ao neologismo criado por Souza, (2005)
de “Fobópole” -expressão oriunda da fusão das palavras
gregas phobos que significa medo e polis que quer dizer
cidade - para expressar um sentimento presente nas grandes
e pequenas cidades.
O Estado Brasileiro que tem por finalidade precípua,
organizar o poder político nacional promovendo o bem comum
fundamentado na soberania, cidadania, dignidade da pessoa
humana, no valor social do trabalho, da livre iniciativa, e
na pluralidade política (KOAMA, 1996); tem muito que se
aprimorar para transformar em prática o citado referencial
principiológico. Na administração pública, a organização do
poder é fundamentada na doutrina formulada por Montesquieu
(1748), a mecânica político-administrativa oriunda da sua
obra “Le Espirit des Lois” (JAPIASSU, 2006). Esferas que são
equilibradas e independentes numa estrutura hierarquizada
com graduação de autoridade, correspondendo às diversas
categorias funcionais ordenada pelo poder executivo, de
forma que distribua e escalone as funções de seus órgãos e
agentes, estabelecendo relações de subordinação.
Para Cavalcante (2008) as múltiplas facetas das
relações Sociedade X Estado, também podem traduzir-se na
metáfora de um tenso jogo de xadrez, que envolve diferentes
interesses, seja de instituições, grupos ou indivíduos,
perfazendo nossa cultura organizacional histórica, tanto
nas criações, reproduções, reações, quanto nas resistências
que dos idos do século XVI até o nascente XXI, dão o tom de
um ritmo, um compasso muitas vezes sub-reptício e
idiossincrático (o samba do crioulo doido) caracterizado por
ranços e avanços de um projeto de sociedade.
O período colonial foi de onde gestaram as instituições comas quais convivemos até hoje. Nele, deu-se o processo demestiçagem biológico e cultural. Fincaram-se também, ascaracterísticas do nepotismo e do clientelismo das quais
hoje queremos nos desfazer. Ali, o país adquiriu suafisionomia geográfica, e que devido ao escravismo, também umrosto social que continuamos identificando com a pobreza e aexclusão (PRIOSTE, 2003; 10).
Nas sociedades modernas, sobretudo a partir do século
XVIII há uma reorientação relacionada ao exercício do poder
que não é mais concebido como forma apenas repressiva.
Desenvolvem-se mecanismos de dominação sutis e pouco
conhecidos, inclusive pela história e pela filosofia
política (REZENDE, 2005). Subentende-se daí a vinculação
deste elemento á produção do real, em domínio de objetos,
rituais simbólicos e expressivos de verdade, de
conhecimento e de ciência; um bailado que nunca esta acima
ou separado, mas, sempre com o poder. Michel Focault,
sobretudo a partir de sua obra Vigiar e Punir realiza uma
genealogia do poder enfatizando que poder é produção do
saber, do conhecimento. Por outro lado, saber, além disso,
engendra poder, produz “efeitos do poder” um e outro se
articulam, no que Pierre Bourdieau define enquanto poder
simbólico, uma espécie de círculo cujo centro esta em toda
parte e em parte alguma, é invisível sendo exercido com a
cumplicidade daqueles que lhe estão sujeitos, ou mesmo o
exerce (meu samba é assim!). Confirma a sentença a ex-premier
do Reino Unido da Inglaterra Margaret Thatcher “estar no
poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar as pessoas
que você é, você não é” ou seja “com que roupa que eu vou
ao samba que você me convidou”.
Os tempos atuais são marcados pelo fenômeno do global,
emerge ressignificada uma forma peculiar de influência,
designada de poder local. Atentando-se que é pelo uso do
território que se pode observá-lo enquanto objeto de
análise social, portanto uma forma impura, um híbrido
segundo Milton Santos (1993), que carece de constante
revisão histórica, sendo nele permanente o fato de ser
nosso “quadro de vida”. Um elemento fundamental, portanto
para a sua leitura é a noção de alteridade, ou seja, a
clara distinção do que é o outro. Neste sentido as
diferentes formas de associação e organização como
associações de moradores, terreiros de candomblé, ligas de
esporte amador e inclusive, sistemas de atores articulados
pelo cotidiano e hierarquizado pelo respeito que detém, ou
por meio de mecanismos históricos de defesa denominados de
“anteparos culturais” por Cornel West apud Soares (2008),
são redes submersas no dia a dia que articulam interesses
coletivos em oposição aos vetores operacionais da
mundialização e da globalização.
AMBIENTES E TERRITÓRIOS: Essa onda que tu tira qual é? Qualé? Qual é? Periferia é Periferia
O ser humano é certamente o principal predador das
reservas naturais do planeta. O chamado drama ambiental
esta intimamente ligado às cidades, um espaço geográfico
transformado pelo homem por meio de um conjunto de
construções com caráter de continuidade e contigüidade.
Espaço este que congrega atividades de residência, governo,
indústria e comércio; pontuando umas das mais célebres e
preocupantes questões: o binômio sociedade-natureza,
relações que a todo o momento são colocadas em cheque, um
drama ambiental folhetinesco com variadas facetas, seja
pelo abastecimento de água, solos contaminados, resíduos,
desconforto físico e psicológico, dentre tantos outros
(SCARLATO, 1999).
O contexto social contemporâneo da terra brasilis
representado, sobretudo pela urbanização, com suas frívolas
e incessantes reconfigurações espaço-comportamentais, é uma
expressão autêntica da globalização e do capitalismo,
despontando enquanto um conjunto complexo de formas de
desenraizamento em brutais migrações, aumento do consumo de
massa, a concentração de renda e da mídia escrita, falada e
televisiva, assim como a dogmatização das escolas e a
externalização do egoísmo enquanto lei superior. Fatores
entre muitos que são apontados por Santos (2002) em
capítulo intitulado a elaboração do brasileiro não-cidadão.
Indivíduo que para o autor, esgota seu papel de
protagonista no momento do voto, sua dimensão é singular
como é a do consumidor “esse imbecil feliz” de que fala
Laborit (1986) (apud SANTOS, 2002) também chamado de
usuário, em parcialidades e satisfação limitada a busca da
ascensão social, em lugar da cidadania e do entendimento do
ethos. Não obstante (DEMO, 1995) ao discorrer em seu livro
sobre “a cidadania tutelada e a cidadania assistida” coloca
como desafio maior da cidadania a eliminação da pobreza
política, enraizada na ignorância acerca da condição de
massa de manobra. Para ele não-cidadão é, mormente, quem
por estar coibido de tomar consciência crítica da sua
marginalização imposta, não atinge a oportunidade de
conceber uma história alternativa e de organizar-se
politicamente, para tanto entende injustiça como destino.
Faz a riqueza do outro sem dela participar, luta para o
processo dos outros acontecerem. São utilizados,
normalmente pela burguesia mascarada com o dom da
solidariedade, muitas vezes tornam-se ferramentas humanas e
por que não dizer voz ideológico-financeira do próximo, que
por sinal esta bem distante.
Desta feita, parece-nos que para avançarmos nas
discussões acerca de fenômenos como globalização e suas
implicações no espaço vivido nacional, temos que tomar como
símbolo e interprete o território usado de Santos (1993)
enquanto sinônimo de espaço ambiental, geográfico e de suas
relações; diga-se, relações que são a priori de poder, em um
dos seus mais caros instrumentos: a questão em torno da
territorialidade.
No ambiente das cidades os problemas de uma sociedade
tecnológica combinam-se as carências e a Nós Górdios, como a
fome e a desnutrição, narcotráfico, refletindo as
aviltantes disparidades sociais como as luxuosas disputas
imobiliárias (Downtown, Lê Parc, Mandarin e etc) em face de
crescente favelização e da moradia de rua, o favorecimento
de alguns em detrimento a justiça coletiva; alimentam a
conhecida fragmentação do tecido sócio-político-espacial
(SOUZA, 1993), um fenômeno tão velho quanto à própria
cidade, evidenciando um contraponto a globalização
econômico-financeira, defendida como a instauração da
suposta aldeia global.
Souza (2005), entretanto, lembra que por muitos, o
mesmo termo “fragmentação” é utilizado desprovidamente do
sentido de pejoração ou negatividade, para simbolizar a
diversidade de culturas. Reforça o autor a possibilidade
deste termo nem sempre ser lamentado, podendo inclusive em
situações especificas, ser celebrado. É justamente da
perspectiva de variações lingüísticas culturais no espaço
citadino, sobretudo nos denominados “aglomerados de
exclusão” (OLIVEIRA, 2006) um aspecto da expansão
desordenada da periferia, em que sua população, base
operacional da mão de obra; por encontrar dificuldades a
circulação e interação com outros nichos urbanos,
intenciona uma produção cultural criando espaços e
linguagem específica, muitas vezes, apropriadas pela
cultura de massa.
Um exemplo marcante é o fortalecimento da cena Hip Hop
tupiniquim, que em meio à pobreza e a necessidade de lazer
alternativo nos guetos alinha o acesso, mesmo limitado, as
diversas poéticas tecnológicas musicais e informacionais
para questionar o modelo social vigente, numa chamada
contra-cultura frente à alienação, bom ratificar que neste
momento nos referimos aos “pornôs music” representados na
programação televisiva, sobretudo, dominical e das Fms
usuais que “concreta” na periferia baluartes como os
arremedos dos calípsos, pagodes e axés da vida.
O estilo que promulga a insatisfação com o quadro, vem
assumindo o papel de agentes de mobilização e afirmação
identitária, um amalgama que versa sobre as questões
urbanas, composto basicamente por quatro elementos: RAP,
breaking, grafite e o D.J. e envolve a um só tempo música,
dança, artes plásticas e discotecagem. O que se vê é mais
do que o meneio dos ombros presentes no samba ou dos
exagerados requebro dos quadris do que, indignamente,
“costumaram” chamar de seus “derivados”. Esta manifestação
tem ascendido às barreiras do simples entretenimento pela
adoção de posicionamentos críticos e reinvidicativos, tanto
no ritmo marcado, quanto na força impressa a palavra
cantada em crônicas do cotidiano, amores, mazelas sociais e
uma constante mensagem de denuncia a violência,
marginalização e a favor da paz. Segundo Miranda (2006) a
cultura e o movimento congregam um grande potencial de
mobilização, uma forte herança deixada pelos griôs africanos
(velhos contadores de estórias) e a influencia do movimento
dos Black Panthers (panteras negras) partido político que
lutou sobre enorme repressão pelos direitos civis do povo
negro norte americano. Elemento assimilado por Bambaataa e
outros artistas que fundaram em 1973 a organização Zulu
Nation, definindo princípios universais para o movimento
(MIRANDA, 2006).
No Brasil o espaço desta expressão artística vem se
ampliando com a profissionalização do gênero e a propagação
de artistas, tanto no cenário nacional, a exemplo de
Marcelo D2, Negra Li, Helião, Sabotagem, MV Bil, o grupo
Racionais Mcs (...); quanto no contexto regional, formando
diversificadas redes de interação e fortalecimento não só
da cultura, mas inclusive da sua feição de movimento social
intervencionista que atua nas diversificadas comunidades
populares em ações socio-educativas (meio ambiente,
relações raciais, cidadania, direitos humanos e etc). Um
exemplo é a nordestina Rede Aye Hip Hop, composta por uma
infinidade de grupos tanto da capital quanto do interior da
Bahia.
A conquista do espaço na mídia se dá em função da
identificação do jovem a linguagem codificada e a atitude
impressa, dando visibilidade a temas e atores sociais nunca
antes enfatizados, rompendo inclusive, com o estigma de
“musica de preto favelado”, já que também possui como
apreciadores jovens das classes mais abastadas,
configurando, portanto, a partir do espaço vivido (ambiente
e território) uma oposição veemente a capitalização das
atmosferas e das suas relações sociais em processos que,
infelizmente sabemos, continuam excluzórios da Periferia.
Nicho que se enxerga valorizado e que ao menos às vezes o
é, muitas vezes se não por um pequeno período por uma
determinada “casta”. Contudo,... Periferia que jamais,
jamais, deixará de ser ela mesma, a franja. Uma
fronteira... Todavia, agora “ex(r)ótica”.
Educação, sempre uma Nova Bossa, que já nasce velhaO desafio de educar em tempos tão turbulentos exige
mais do que o acúmulo de informações. É necessário o
florescer e o despertar para múltiplos valores, a prática
de educar no Brasil sempre se deu numa espécie de arena, um
terreno fértil para os usos e abusos do “nosso” poder
social: simbólico; oligarca; hoje oficiosamente não mais
laico e que nos versos do poetinha de “beleza que não é só
minha e que passa sozinha”.
De bom alvitre é, reconhecer que como fio condutor, a
experiência social ou o vivido histórico desde a gênese do
nosso país, não deixa dúvidas quanto à importância que as
metodologias educativas tiveram em nossa sociedade,
principalmente se além consideramos a educação no sistema
formal e corrente, contabilizarmos as diferentes sinergias
da informação, da comunicação, e da formação de
mentalidades em diferenciados contextos que não só o da
sala de aula. Presenciamos atualmente uma modificação da
função do educador que deixa apenas de transmitir
conteúdos, para tornar-se um sujeito formador e formativo.
A trilha das diferentes “pegadas educacionais” do nosso
processo histórico, identifica pistas importantes para a
arquitetura desta realidade social em que utopicamente
comparamos a educação que temos com a que queremos.
Ao investigar o germinar e o amadurecer ideológico
entorno do ensino formal em nosso país, é fundamental
remeter-se a alguns marcos referenciais, como a conhecida
pedagogia tradicional, visão trazida com os Jesuítas, onde
as missões religiosas nas aldeias indígenas ocuparam-se de
uma atividade catequética fora dos interesses e dos
propósitos das comunidades indígenas envolvidas, buscando
aculturá-los ao estabelecer de forma impositiva uma nova
cultura. Por outro lado, entre as décadas de 20 e 30
tivemos exitosas experiências da pedagogia da Escola Nova
qual o maior representante fora o educador Anísio Teixeira,
seguindo a linha do “aprender a aprender”. Já no período de
60 incorporou-se o ideal de “aprender a fazer” com a
pedagogia Tecnicista. Concomitante, surge à pedagogia
Histórica Crítica, indo até a década de 70, um dos seus
baluartes foi o laureado Paulo Freire. A idéia de “aprender
a questionar”, debruçando-se inclusive sobre qual a função
social da escola deixou marcas significativas, ao versar
sobre as relações e estruturas de poder. Já o período de 90
é marcado pela pedagogia sócio-interacionista de Piaget,
levando em conta o cognitivo, a percepção e o valor
afetivo, bem como pela pedagogia da complexidade, versando
sobre o “aprender a conviver e se relacionar”.
Seguramente, a práxis sobre a chamada educação dos
movimentos populares, atuantes desde a década de 50,
passando inclusive pelo período do regime militar, muito
foi influenciada pelo contexto formal. O diferencial está
na consolidação de conceitos e práticas, por muitos “vista”
como subversiva, porém, salutares a emancipação política
como a conexão direta do indíviduo ao seu meio e o seu
saber, introjetando pressupostos originários do Marxismo
sobre a transformação social. Os antagonismos se
configuram, por exemplo, nos métodos oficiais utilizados em
projetos de simplificação da realidade e subserviência a
noções de sucesso doutrinário como o MOBRAL (Movimento
Brasileiro de Alfabetização) caracteristicamente
desideologizado; frente a iniciativas de educação crítica,
referenciada em pensamentos oriundos de personalidades como
FREIRE e YOUNG (Brasil); ARTHUSEN, BERESTEIN, ILICH,
BOURDIEAU e ORTEGA Y GASSET (Europa); BOWLWES, MACLAREM e
APPIC (Estados Unidos). Colocando a educação popular para
além do universo escolar.
Contemporaneamente fala-se em muitos pontos de vista
para os processos de instrução. Destes, dois chamam
atenção, o primeiro é a noção de “espaços do conhecimento”
(DOWBOR, 1993 et al) um esforço para repensar dinamicamente
novos enfoques para o conhecimento, exemplos afloram como a
educação corporativa; o espaços midiáticos: rádio, TV,
vídeo, internet; cursos técnicos; o espaço cientifico,
domiciliar e comunitário. A idéia é que não há mais um
único eixo formativo, integrar e interrelaciona-los são o
que se espera de uma sociedade dita do conhecimento.
O segundo circunda sobre a noção de “educação
holística” (YUS, 2003) Dede a clássica contenda filosófica
grega entre atomistas e holistas; passando pelo
reconhecimento de Descartes às teses atomistas; o
pensamento cartesiano-analítico e o reforço por Newton nas
teses mecanicistas newtonianas; a visão da realidade
enquanto fragmento tomou status de paradigma nas culturas
ocidentais, influenciando na vida destas como um todo. Em
Ximenes (2000) holismo é uma doutrina que prega a
interconexão e influencia mútua de todos os elementos do
universo. Ao longo do século XX as teses holísticas
obtiveram reconhecimento, inclusive da própria pesquisa
cientifica, um exemplo é a Física Quântica. Oposta a
primeira, apresenta uma visão mais complexa da realidade,
mantendo integrações produtoras de propriedades e efeitos
entre as partes, diferente do pensamento analítico que se
empenha em separá-las. Para Rafael Yus (2002) a influencia
do holismo na educação se expressa em muitas inovações
educacionais e embora de forma retórica em discursos,
normas, leis e currículos, (no que ele chama de tentativas
débeis como os Temas Transversais) preconiza uma educação
integrada do individuo concebendo o ser como um todo.
A similitude de suas abordagens aproxima estes dois
enfoques propedêuticos, inicialmente da visão de
comunidades de aprendizagem e conseqüentemente à educação
ambiental, oferecendo “insights” aos interessados no tema.
Evidenciando uma maleabilidade necessária à construção de
procedimentos contínuos e permanentes em todas as fases do
ensino a caminho da interdisciplinaridade, versando sobre
questões locais, regionais e nacionais, no sentido de que,
segundo Dias (1999) sobre os mais diversos e dramáticos
apelos, seja em documentos e encontros às nações, governos
e povos, possamos reagir e buscar uma forma de vida menos
cretina, que nos tire imediatamente do hipócrita Woodstock
que se instalou nos nossos quintais intelectuais e nos “vê”
– indivíduos – com poucas distinções de forma cega e vazia.
Igualmente, Brandão (2005) discorre sobre a necessidade de
sair de si mesmo em direção ao outro para estabelecermos o
que seria o âmago da vocação da vida humana: o diálogo.
Termo que nas salas de aula continua a ser tolhido nas
ações de identidade que deixam de perpassar os conteúdos
programáticos de instituições e seus mestres. Assim, no
executar de uma dada atividade de educação ambiental, cujo
objetivo seja oferecer conhecimento, esse conhecimento
possa, realmente, levar a uma dada habilidade, tal
habilidade pode levá-lo a alguma iniciativa, enfim, tudo
leva a tudo (DIAS, 1999). Escancarando o comprometimento a
uma nova ética traduzida em práticas e princípios
reguladores do crescimento e de uma conservação e
preservação dos recursos naturais e humanos, ensaiando
anular omissões, complacências e até alianças em
iniciativas exploratórias que privilegiam o econômico e as
“comodidades”. Ao despir-se de uma ingenuidade romântica,
tal visão reforça inclusive a necessidade de supressão de
idéias e estigmas como a ligação direta do desemprego a
baixa qualificação escolar e profissional,
responsabilizando, para Borges (2005), o próprio
trabalhador como “um inempregável”, camuflando questões
mais profundas referentes à capacidade de geração de
oportunidades pela economia brasileira. Lembrando, aqui,
as pautas políticas educacionais emergenciais, então postas
“a toque de caixa”, vide a mercantilização do ensino
superior no país. Conseqüência disso é a elevada taxa de
desemprego dos mais escolarizados, onde credenciais
prerrogativas a uma ocupação como o diploma, cada vez mais
servem para engrossar as fileiras do ERT (Exército de
Reserva dos Titulados), em todos os níveis, inclusive
doutores, que são forçados a aceitar ocupações muito aquém
da sua qualificação (BORGES, 2005), ou pior, o pós-Doc, em
troca da bolsa de ajuda de custo.
Destarte, cabe aos atuantes nas áreas sócio-
ambientais, discutir, sugerir e experimentar idéias no
espectro da militância, capazes de viabilizar a auto-
formação (o individuo), a étero-formação (o outro) e a eco-
formação (o meio) esferas diretamente ligadas a plataformas
coletivas tencionadas por lutas pela qualidade de vida
através do acesso ao desenvolvimento e a sociedades
sustentáveis (CAVALCANTE, 2008).
Sustentabilidade: Um bolero em descompassoContemplar as necessidades, tanto atuais, quanto
futuras seja nas escalas locais, regionais como também nas
nacionais e internacionais. Esses seriam os princípios
básicos da noção de sustentabilidade, um processo de
mudança no qual a exploração de recursos, dinâmicas de
investimentos e orientações das inovações tecnológicas e
institucionais, seja feita de maneira consistente para o
bem da coletividade. (Svendi, 1987 in Sachs, 1997). No
entanto, reconhecido o grau de complexidade que envolve o
tema, não há um acordo consensual entre países e setores da
sociedade, a Agenda 21 é o instrumento que chega próximo a
um consenso implementar do processo em voga. Ferraro (2002)
enfatiza a sustentabilidade enquanto um conceito relacional
diretamente ligado às esferas da cultura, ambiente e
tecnologia. Para o docente há uma indissociabilidade entre
os mesmos, caso contrário corre-se o risco deste elemento
ser utilizado de maneira esvaziada do seu sentido, visto
que o termo é portador de uma polissemia referente tanto a
internalização de aspectos ecológicos que sustentam o
processo econômico, quanto à permanência deste mesmo
processo econômico (LEFF 2000 apud FERRARO, 2002). Em
muitas circunstancias esta noção tem sido apropriada para
os mais diversificados aplicativos e interesses,
consubstanciando narrativas a mercê de questionamentos,
divulgadas com sensacionalismo no propósito deliberado de
gerar impacto diante da opinião pública, influenciando-a.
Conseqüentemente, não raro são os casos em que materializa
o termo em questão, um “factóide” expressão cunhada pelo
escritor americano Norman Mailer, biógrafo de ninguém menos
que Marilyn Monroe. “Em resumo, é um enunciado que designa
uma noticia amplamente difundida, mas sem ancora na vida
real, prática muito antiga que vem ganhando novos contornos
na mídia contemporânea” (STAROBINAS, 2007).
Que dados da realidade, nosso olhar deve privilegiar e
que leitura o impacto dessa transformação causa? Na cidade,
por exemplo, há pouca ênfase em seu planejamento para uma
de suas características básicas, se trata de um sistema
heterotrófico, ou seja, um sistema incompleto que depende
de áreas externas para a obtenção de energia, alimentos,
água e etc. (SCARLATO, 1999). Do ponto de vista de seus
agentes, no ano de 2008 a Declaração Universal dos Direitos
Humanos completa 60 anos, consolidada inclusive na
constituição de 1988, abandonando velhos conceitos e
consagrando a dignidade da pessoa humana como núcleo
formador da interpretação de todo o ordenamento jurídico,
já que a dignidade é inerente a toda e qualquer pessoa
vedada a discriminação. Mas, o que sabemos, é que na
prática o que se vê nos indicadores sociais é uma realidade
muito distante disso, na rua temos um elemento revelador da
experiência, da rotina, dos conflitos das dissonâncias, bem
como o desvendar da dimensão do urbano, das estratégias de
subsistências, marca da simultaneidade do cheio e do vazio
de direitos (CARLOS, 2000). A tão sonhada sustentabilidade
é transmitida em ondas que se propaga num bolero com passos
lentos e descompassados e ainda se revela utilizando música
que se assemelha a um tango para os mais incautos.
Em conclusão... Há um antigo provérbio chinês que diz “se você não
muda a direção, terminará exatamente onde partiu” Será este
o destino da humanidade? O tracejar desta breve reflexão a
luz de pensamentos mais diversificados desemboca na
constatação de que para se avançar nas questões entorno do
bailado do conhecimento é sim necessário agir com razão e
criticismo, porém aliando-os a uma disposição afetiva
relacionada às coisas de ordem moral e intelectual.
Sentença confirmada por POPPER ao reconhecer que a razão
crítica é melhor que a paixão, especialmente em assuntos
referentes à lógica. Mas ele dispõe-se inteiramente a
admitir que nada jamais se realize sem uma dose de paixão.
Brandão (2005) vai além ao colocar que não há conceito
porventura mais cientifico do que o amor, emoção humana
fundadora do ser e da vida em todos os seus planos e
domínios. James Hunter (2004) cita o depoimento do
empresário Vince Lombardi, para ilustrar de qual amor nos
referimos: “Não tenho necessariamente que gostar de meus
jogadores e sócios, mas como líder, devo amá-los”. O amor
em questão é lealdade, trabalho de equipe, respeito à
dignidade e a individualidade, força de qualquer
organização. O amor a Gaia (mãe terra) define-se então
enquanto liderança, que direcione a racionalidade
ecológica, traçando um complemento de ordem emocional,
afetivo, de matriz poética, estético ontológica (FERRARO,
2002).
Platão abre seu livro Republica VII com uma alegoria
denominada “o mito da caverna”, dissertando sobre a
evolução do processo de conhecimento, uma das mais famosas
historia da filosofia. Por meio de metáforas ele desenvolve
um raciocínio de rápida apreensão e compreensão. Na
historia, alguns homens vivem numa caverna desde crianças,
desprovidas de qualquer contato com a vida exterior, pois,
são acorrentados vendo somente resquícios da realidade por
meio das sombras refletidas na caverna. Para eles a verdade
não é mais do que a imagem artificial sob efeito da luz.
Porém um deles se liberta e com muita dificuldade consegue
se levantar e andar, o primeiro impacto é o da luz que lhe
causa dor, deslumbramento e sentimento de incapacidade para
distinguir os objetos que vira somente às sombras. O olhar
diretamente a luz é ofuscante, mas aos poucos o homem foi
se acostumando e apropriando-se da realidade recém
descoberta, chega a contemplar o sol e o mundo envolta.
Lembra-se então, da antiga morada e de seus companheiros e
lá retorna para lhes trazer as novas (CHAUÍ, 2003; COTRIM,
2002; NICOLA, 2005).
Transpor essa digressão para nossa linha de raciocínio
é imaginar que a caverna seja o contexto capitalista global
em que vivemos. As sombras seriam as parcialidades
introjetadas em nossa realidade como as necessidades
consumistas do “ter”, os grilhões e as correntes seriam os
pré-conceitos e as opiniões manipuladas sagazmente pelos
detentores do poder para fazer-nos pensar em consonância a
interesses alheios e maquiados. O prisioneiro que se
liberta seria o cidadão que adquire posicionamento crítico.
O sol representa a possibilidade de haver outras verdades e
o instrumento que liberta o prisioneiro seria a emancipação
política que traz a tona o senso de coletividade
construtivo e alternativo por meio da arquitetura de redes
de sustentabilidade local, via Educação Ambiental, um
instrumento que esta além do processo cognitivo vertical e
hierárquico de transmissão do conhecimento e
supervalorização de atitudes comportamentalistas, passando,
portanto por uma sofisticada discussão na busca pela
compreensão das relações de poder na sociedade (CAVALCANTE,
2007). Um grande e honorável baile, onde todos os
conhecimentos, estilos e ritmos são contemplados e
apreciados, nas suas proporções de competências e
atribuições.
Referências
BORGES, A. O Trabalho e os Trabalhadores depois daReestruturação: Algumas Inquietações. Caderno do CEAS N 220Salvador nov/dez 2005;BRANDAO, C. R. As Flores de Abril: Movimentos Sociais eEducação Ambiental Campinas Autores Associados 2005;
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