Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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Modelo de Gestão de Frota para a GNR
i
MODELO DE GESTÃO DE FROTA PARA A GNR
Jorge António de Jesus Soares da Cunha dos Santos Cardoso
Eduardo Romeu de Oliveira Lérias
Carlos Filipe Vilhena Correia
Pedro Miguel Martins Ares
Luís Manuel Ferreira Fernandes
Énio Miguel Pinto da Silva
Trabalho de Aplicação de Grupo
2014
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
ii
Índice
Introdução ............................................................................................................................ 1
1. Enquadramento conceptual ......................................................................................... 2
a. A gestão de frota ...................................................................................................... 2
b. Aquisição .................................................................................................................. 3
c. Manutenção .............................................................................................................. 5
d. Monitorização .......................................................................................................... 7
e. Abate ......................................................................................................................... 8
2. Atual modelo de gestão de frota da GNR ................................................................. 10
a. Tipologia da frota .................................................................................................. 10
b. Processo de aquisição ............................................................................................ 14
c. Manutenção ............................................................................................................ 15
d. Monitorização ........................................................................................................ 17
e. Abate ....................................................................................................................... 18
3. Modelos e ferramentas de gestão de frota ................................................................ 20
a. O caso da Guardia Civil ........................................................................................ 20
b. O caso da BRISA – Autoestradas de Portugal .................................................... 21
4. Modelo de gestão de frota para a GNR .................................................................... 25
a. Modelos de aquisição e manutenção .................................................................... 26
b. Monitorização da frota .......................................................................................... 29
Conclusões .......................................................................................................................... 31
Bibliografia ......................................................................................................................... 32
Índice de figuras
Figura n.º 1 – Esquema concetual da Gestão de Frota ......................................................... 9
Figura n.º 2 – Quadro comparativo de opções de gestão de frota da BRISA. ................... 23
Índice de gráficos
Gráfico n.º 1 – Distribuição de veículos da GNR por grupos ............................................ 13
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
iii
Índice de tabelas
Tabela n.º 1 – Grupos de viaturas e respetivas quantidades. .............................................. 11
Tabela n.º 2 – Quantitativos de veículos por grupo de classificação ................................. 12
Tabela n.º 3 – Distribuição etária das viaturas. .................................................................. 13
Tabela n.º 4 – Distribuição de viaturas por intervalos de quilometragem.......................... 14
Tabela n.º 5 – Despesas com Manutenção de Viaturas da GNR (DRF/CARI) .................. 16
Tabela n.º 6 – Despesas com Manutenção de Viaturas da GNR ........................................ 16
Tabela n.º 7 – Matriz comparativa de modelos de gestão .................................................. 29
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
iv
Resumo
O presente Trabalho de Aplicação de Grupo (TAG) é realizado no âmbito da
Unidade Curricular “Gestão de Recursos Logísticos da GNR”, intitulando-se “Modelo de
Gestão de Frota para a GNR”.
Para a realização deste trabalho optou-se por abordar os fundamentos concetuais e
analisar alguns modelos atualmente em utilização, tendo em vista propor um modelo de
gestão de frota que seja aplicável à GNR.
Assim, o trabalho foi divido em quatro partes distintas e fundamentais para a
apresentação da proposta.
Em primeiro lugar, com vista à fundamentação concetual do assunto em análise, foi
elaborada uma abordagem concetual, nomeadamente o conceito de Gestão de Frota, onde
se procurou abordar as diversas áreas de atuação, tanto do ponto de vista empresarial como
do modelo estatal de gestão.
Segue-se uma análise da atual gestão de frota da GNR onde, dentro das limitações
de informação analítica encontradas, procurou-se abordar de forma sistematizada as
diferentes áreas de atuação, desde a aquisição até ao abate.
Com vista à elaboração da já referida proposta de modelo de gestão de frota, foi
analisado o modelo de gestão de frota de duas instituições, que pelas suas semelhanças e
pontos de contacto com a realidade da GNR, se entendeu ser pertinente: A Guardia Civil e
a BRISA – Autoestradas de Portugal.
Finalmente, atentos aos conceitos e ilações retiradas das partes anteriores, elaborou-
se uma proposta de modelo de gestão de frota aplicável à GNR.
Em suma, foi concluído que o recurso ao outsourcing na aquisição e manutenção de alguns
tipos de veículos em detrimento do recurso aos meios próprios pode ser uma vantagem.
Identificou-se ainda a necessidade de uma efetiva monitorização da frota que possibilite
um real controlo da sua utilização e a capacidade de realizar estudos de aquisição e abate
de viaturas que permitam manter uma maior operacionalidade da frota.
Palavras-Chave: Guarda Nacional Republicana, GNR, Gestão de Frota, Modelo
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
v
Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos
ALD – Aluguer de Longa Duração
AOV – Aluguer Operacional de Viaturas
Art.º - Artigo
BRISA – BRISA – Autoestradas de Portugal, S.A.
CCO/BRISA – Centro de Controlo Operacional da BRISA
DA/DRL – Divisão de Aquisições da Direção de Recursos Logísticos
DL – Decreto-Lei
DMT/DRL – Divisão de Manutenção e Transportes da Direção de Recursos Logísticos
DRL – Direção de Recursos Logísticos
ESPAP – Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I.P.
Etc – et cetera
GeRFiP – Gestão de Recursos Financeiros e Orçamentais em Modo Partilhado
GNR – Guarda Nacional Republicana
I.P. – Instituto Público
IVV – Identificador Via Verde
N.º - número
NEP – Norma de Execução Permanente
PSP – Polícia de Segurança Pública
PVE – Parque de Veículos do Estado
RUVGNR – Regulamento de Uso de Veículos da Guarda Nacional Republicana
s. n. – sine nomine (sem nome)
S.A. – Sociedade Anónima
s.d. – Sem data
SIGLOG – Sistema Integrado de Gestão Logística
SIVICC – Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo
SNCP – Sistema Nacional de Compras Públicas
TAG – Trabalho de Aplicação de Grupo
TO – Teatro de Operações
TT – Todo-o-Terreno
UMC – Unidade Ministerial de Compras
VUP – Veículo de Utilização Pessoal
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
1
Introdução
O presente trabalho realizou-se no âmbito da Unidade Curricular de Gestão de
Recursos Logísticos da GNR, do Curso de Promoção a Oficial Superior da Guarda
Nacional Republicana, ministrado no ano letivo 2014/2015.
As viaturas são um dos fatores críticos para a Guarda e motivo de grande esforço
institucional, pois constituem-se como recurso fundamental ao cumprimento da missão. O
conhecimento das dificuldades práticas sentidas no dispositivo da Guarda que decorrem de
uma frota automóvel envelhecida e consequente número elevado de ações de manutenção e
reparação, acrescido da necessidade de rever a forma de gestão de frota existente,
proporcionou a apresentação do tema “Modelo de Gestão de Frota para a GNR”.
A abrangência desta temática é bastante vasta o que, face a motivos de limitação
temporal e da própria metodologia, obriga a delimitar a investigação e análise. Com efeito,
pretende-se neste trabalho equacionar a funcionalidade e atualidade do modelo atual de
gestão de frota da GNR e, porventura, apresentar uma proposta de adaptação ou
reformulação deste modelo.
Os conceitos que envolvem esta temática encontram-se bastante desenvolvidos no
mundo empresarial e torna-se quase obrigatório fazer uma revisão conceptual que permita
aferir do enquadramento do atual modelo da GNR.
Por sua vez, a análise e compreensão do funcionamento de modelos de gestão de
frota em instituições que pela sua natureza possam ser comparadas com a GNR, também
será profícuo e contribuirá substancialmente para uma proposta mais fundamentada.
O modelo atual de gestão de frota da GNR será analisado de forma sistematizada, o
que permitirá uma visão holística e uma apreciação genérica dos seus pilares fundamentais
(Aquisição, Manutenção, Monitorização e Abate), levando à procura de possíveis
melhoramentos e alterações, o âmago do presente trabalho.
O Aluguer Operacional de Veículos é atualmente uma das principais metodologias
utilizadas no mundo empresarial (grandes empresas) e tida como uma das melhores
soluções ao nível da gestão de frotas automóveis (ARVAL, 2012). Será, por isso, adequado
analisar esta modalidade de locação automóvel e concluir da sua possível aplicação à
GNR, enquadrando-a na proposta que se pretende vir a apresentar.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
2
1. Enquadramento conceptual
No presente capítulo pretende-se fazer o enquadramento conceptual de base utilizado
no decorrer deste trabalho, fixando os conceitos e ideias utilizados ao longo do estudo.
Neste estudo assenta-se a análise de gestão de frota em quatro pilares base: a Aquisição, a
Manutenção, a Monitorização e o Abate. Assim, ao longo deste capítulo procura-se
densificar estes conceitos abordando as suas diversas componentes.
a. A gestão de frota
Tendo em vista a modernização e o aumento da qualidade dos serviços públicos
prestados pela Guarda Nacional Republicana (GNR) urge a implementação de uma solução
para a Gestão do seu Parque de Veículos que seja eficaz, global e coerente.
O sistema de gestão de frotas é definido como sendo a forma como determinada
organização combina o seu método ou métodos de aquisição de viaturas, com a natureza
das atividades de gestão de frota cujo desempenho assegura internamente e/ou subcontrata
a entidades exteriores à organização para o efeito (Santos, 1996).
Os sistemas de gestão de frotas, aliados às novas tecnologias de informação e
comunicação, revelaram-se ferramentas de gestão indispensáveis no controlo da atividade
das empresas. Estas ferramentas de gestão permitem às empresas ter uma visão mais
realista de todas as operações realizadas no terreno, na medida que podem acompanhar
todos os acontecimentos em tempo real e ter acesso a todos os detalhes de cada viagem,
percursos executados pelos operadores, bem como identificar os pontos críticos da
atividade (Gaspar, 2010).
As viaturas podem ser adquiridas através da compra ou através de locação. A frota
automóvel pode ser gerida internamente, ou externamente. Nesta última a organização
subcontrata a entidades exteriores os seus serviços de gestão e manutenção de frotas.
Relativamente à compra, quando as empresas compram as viaturas podem optar por
fazer a sua manutenção e gestão nas próprias oficinas, ou então, optam por subcontratar os
serviços a oficinas externas. O mesmo acontece quando a aquisição é feita através de
locação, as empresas podem optar por fazer a manutenção da sua frota em oficinas próprias
ou então, fazer contratos com oficinas externas à organização (Outsourcing), ou mesmo à
própria locadora.
Para que seja implementado um Sistema de Gestão de Frotas, importa enumerar os
quatro pilares adotados como base empírica para o presente trabalho: Aquisição,
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
3
Manutenção, Monitorização e Abate.
b. Aquisição
Aquisição é entendida como o ato, processo ou efeito de adquirir, obter ou tomar
posse de um produto ou serviço.
O conjunto de operações que permitirá a aquisição na altura certa, na quantidade
certa e na qualidade desejada e ao menor custo de todos os materiais necessários ao
desenvolvimento da atividade comercial da empresa designa-se de função Compra, pelo
que acresce a sua definição.
O termo “Compra”, de forma simplista, pode ser definido como a aquisição de um
bem ou de um direito, pelo qual se paga um estipulado preço. As compras têm assim como
objetivo primordial a aquisição da correta qualidade de material, no momento certo, na
quantidade correta, da fonte correta e ao preço correto (Baily, et al., 2005). A atividade de
compras é vista como um procedimento pelo qual as empresas determinam os artigos a
serem comprados, identificam e comparam os fornecedores disponíveis, negociam com as
fontes de abastecimento, firmam contratos, elaboram ordens de compras e finalmente,
rececionam e pagam os bens e serviços adquiridos (Baily, et al., 2005).
A Aquisição vai mais além, pois efetua a avaliação do desempenho desses
fornecedores, após a compra do produto ou serviço, ou seja, após o pagamento do preço
estipulado.
A centralização das compras assume-se claramente como uma tendência para a
estratégia das organizações que pretendem reduzir custos, aumentar a eficiência do
processo de compras e otimizar os processos de negócio. O processo de compras é
considerado, cada vez mais, uma função estratégica em vez de ser considerado apenas uma
operação (Karjalainen, 2011).
Importa ver definidos dois termos por forma a facilitar o enquadramento concetual
do pilar “Aquisição”:
Procurement, ou Aprovisionamento, é o termo para toda a aquisição de materiais ou
serviços fora da organização com o objetivo de servirem de suporte às operações normais
da empresa. É o termo integrador de duas funções-base: a função “compra” e a função
“gestão de stocks”.
Outsourcing é o termo para designar a subcontratação de parte das funções de uma
empresa, a outra empresa externa especializada.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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Verifica-se assim que a aquisição possui um significado mais lato do que a compra,
uma vez que vai mais além, inclui especificação, negociação, compra, transporte,
armazenagem, receção e avaliação. A aquisição é, assim, um processo que ocorre em
“circuito fechado”, começando pela qualificação de fornecedores para terminar na
avaliação do desempenho desses fornecedores, já posterior ao pagamento (Carvalho &
Encantado, 2006).
Assim podemos distinguir dois tipos de Aquisição: Aquisição gratuita e Aquisição
onerosa. A Aquisição gratuita compreende a aceitação de doações, heranças ou legados de
veículos. A Aquisição onerosa de direitos sobre veículos abrange as seguintes
modalidades: Compra, Permuta e Locação, independentemente da respetiva modalidade.
Por compra entende-se, contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou
outro direito, mediante um preço (Santos, 1996).
A permuta significa trocar um bem por outro, seja ele de características semelhantes
ou diferenciadas. Quanto à locação, importa aqui distinguir as suas principais modalidades:
locações financeiras e locações operacionais (SONAE, s.d.). São locações financeiras se
através dos contratos forem transferidos substancialmente todos os riscos e vantagens
inerentes à posse do ativo sob locação. Quando o referido anteriormente não ocorrer
designam-se por locações operacionais. A principal diferença reside no facto da locação
financeira envolver uma relação jurídica trilateral, entre o fornecedor da coisa locada, o
financiador, que a adquire e a dá em locação, e o locatário, que a goza em contrapartida de
uma remuneração, enquanto na locação operacional a relação é meramente bilateral, entre
o locador (simultaneamente fornecedor e proprietário de uma coisa) e o locatário.
Como locação financeira, temos o leasing e o Aluguer de Longa Duração (ALD). O
leasing e o ALD são por vezes confundidos, porém têm fins distintos.
O regime jurídico dos contratos de locação financeira vem consagrado no Decreto-
Lei nº 149/95, de 24 de Junho.
O leasing consiste numa modalidade de financiamento através da qual o locador
(empresa de leasing), de acordo com as instruções do seu cliente (locatário - entidade que
usufrui dos bens objeto de um contrato de locação financeira), cede a disponibilização
temporária de um bem, móvel ou imóvel, mediante o pagamento de uma quantia periódica
(renda), por um prazo determinado e relativamente ao qual o locatário possui uma opção
de compra no final do mesmo prazo, perante o pagamento de uma quantia pré-acordada,
que se denomina valor residual. (Portal da Empresa, s.d.).
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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O ALD é um contrato entre duas entidades em que uma (o locador) cede à outra
(locatário) o direito de usar um bem durante um período de tempo acordado e mediante o
pagamento de prestações ou rendas. O ALD é um contrato muito semelhante ao Leasing
diferindo apenas na propriedade do bem no final do contrato, ou seja, no ALD o bem tem
que obrigatoriamente passar a ser propriedade do locatário quando o contrato terminar,
uma vez que neste o locatário é obrigado a assinar também um contrato de promessa de
compra e venda para ficar com a propriedade do bem no fim do contrato.
Como locação operacional, temos o renting ou Aluguer Operacional de Viaturas
(AOV).
O AOV é uma solução de financiamento automóvel para empresas e particulares,
materializado num contrato de aluguer de veículos, que permite ao cliente usufruir de uma
oferta integrada de serviços por um período e quilometragem pré-determinado, mediante o
pagamento de uma renda mensal fixa ao longo do contrato. (Leaseplan, s.d.).
No AOV, através de uma renda fixa mensal, o locatário usufrui de toda uma panóplia
de serviços dos quais se destacam: Negociação nas condições de compra, Financiamento
da aquisição, Aquisição e disponibilização, Consultoria e gestão (como por exemplo,
definição da política de gestão da frota de veículos), Impostos, Manutenção e pneus,
Seguros e gestão de sinistros, Gestão do combustível.
O facto de considerar o aluguer de um veículo como Renting ou como Leasing tem
repercussões ao nível jurídico, fiscal e técnicas no Balanço de uma empresa. A nível
jurídico, no Renting, a locadora considera-se a única proprietária económica dos veículos,
o que implica que todos os riscos económicos decorrentes da posse destes veículos, tais
como o valor residual e a inflação, recairão sobre a empresa de renting. Sob o ponto de
vista fiscal, o renting é considerado como um serviço completo de gestão e administração
do veículo. Assim, como proprietária jurídica e económica do veículo, a empresa de
renting é que deve incluir o dito veículo no seu Balanço, enquanto o cliente/utilizador o
omite do seu. Em suma, no Renting, o veículo e o seu uso passam a ser considerados como
um gasto mensal para o utilizador e não um investimento a ser amortizado. (Athlon Car
Lease, s.d.)
c. Manutenção
De acordo com a Norma Portuguesa a manutenção pode ser definida como a
“combinação de todas as ações técnicas, administrativas e de gestão, durante o ciclo de
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
6
vida de um bem, destinadas a mantê-lo ou repô-lo num estado em que ele pode
desempenhar a função requerida” (Instituto Português da Qualidade, 2007).
Existem diversos tipos de manutenção. São elas as manutenções corretiva, preventiva
e de melhoria (Cabral, 2006)
A manutenção corretiva é aquela que é efetuada depois da deteção de uma avaria e
destinada a repor um bem num estado em que pode realizar uma função requerida. São
trabalhos de reparação de avarias que tenham surgido sem aviso prévio e cuja oportunidade
de intervenção não tenha podido ser decidida pelo gestor (Cabral, 2006). A manutenção
corretiva exige que se tenha à mão alguns equipamentos mínimos, bem como a existência
de oficinas adequadas para poder concluir rapidamente os serviços solicitados.
A manutenção preventiva é a manutenção efetuada a intervalos de tempo pré-
determinados, ou de acordo com critérios prescritos, com a finalidade de reduzir a
probabilidade de avaria ou de degradação do funcionamento de um bem.
Existem dois tipos de manutenção preventiva: A sistemática e a condicional.
A manutenção preventiva sistemática é aquela que é efetuada a intervalos de tempo
preestabelecidos ou segundo um número definido de unidades de utilização mas sem
controlo prévio do estado do bem.
A manutenção preventiva condicional é aquela que é baseada na vigilância do
funcionamento do bem e/ou dos parâmetros significativos desse funcionamento, integrando
as ações daí decorrentes.
Ambas são atividades planeadas, sob o ponto de vista da gestão a diferença é que na
sistemática o trabalho repete-se a períodos de tempo fixos pré-determinados, enquanto na
condicional atua-se apenas quando houver indícios (Cabral, 2006).
A manutenção de melhoria é aquela manutenção que inclui as modificações ou
alterações destinadas a melhorar o desempenho do equipamento, ajustá-lo a novas
condições de funcionamento, melhorar ou reabilitar as suas características operacionais
(Cabral, 2006).
Porém a Guarda Nacional Republicana adota uma tipologia distinta do apresentado
na Norma Portuguesa. Define manutenção como “função logística que engloba todas as
atividades cujo objetivo consiste em conservar o material em condições de
operacionalidade e restituir tais condições ao material que as perdeu” (GNR, 1997).
Segundo a NEP/GNR 4.3.01 a manutenção auto engloba a manutenção programada e
a manutenção pós avaria (GNR, 1997).
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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A manutenção programada é aquela que é efetuada periodicamente visando, através
de um conjunto de controlos e de intervenções técnicas especificadas pelo fabricante,
manter o veículo em condições perfeitas de funcionamento e de segurança, procurando-se
assim prevenir a ocorrência de avarias.
A manutenção pós avaria (ou reparação) é aquela que mediante um conjunto de
intervenções técnicas, visa repor o veículo em perfeitas condições de funcionamento e
segurança. Este tipo de manutenção divide-se em pequenas, médias e grandes reparações.
A pequena reparação é a decorrente de uma avaria que não implicou a imobilização
do veículo e lhe permitiu circular sem arriscar o agravamento dessa avaria e sem correr o
risco de provocar outras em órgãos relacionados, sem afetar a segurança da condução.
A média reparação é aquela que ocorre após a avaria e que obriga à imobilização da
viatura, porém neste caso é possível que a mesma seja enviada à oficina pelos seus
próprios meios, desde que tomadas as devidas precauções.
Por grande reparação entende-se aquela que ocorre após avaria e que obriga à
imobilização imediata do veículo e em consequência o seu reboque.
d. Monitorização
Por monitorização entende-se fazer vigilância ou acompanhamento do processo de
gestão de frota, ou seja, supervisão. A monitorização é o procedimento que permite
acompanhar e controlar o processo de intervenção (consoante o objeto que queremos
supervisionar) e identificar eventuais desvios face ao que foi previsto num momento
inicial, através da utilização de um sistema de registo. A monitorização deve assentar num
sistema de registo de dados e de ações, visando acompanhar de forma continuada, os
processos em curso, o seu impacte nos resultados esperados e os fatores críticos para a
concretização das ações planeadas.
É assim um instrumento essencial para a Gestão de Frotas já que mede, de forma
sistemática, as realizações e os resultados alcançados face às metas estabelecidas,
contribuindo assim para assegurar o acompanhamento contínuo do trabalho realizado, e
permite, aos decisores, a adoção de medidas que possam corrigir os desvios registados.
A monitorização como instrumento de Gestão de Frotas permitirá integrar um
diverso número de sistemas, tendo como objetivo: aumentar os níveis de responsabilização
prestando contas sobre a utilização dos recursos (accountability); contribuir com
informação regular para melhorar o processo de planeamento e a eficácia das intervenções;
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
8
bem como capacitar para a identificação dos pontos fortes e dos sucessos e alertar para os
pontos fracos, atuais e potenciais, bem como para os problemas existentes, de forma a
poder fazer os ajustamentos pontuais e as correções necessárias.
Os sistemas a integrar para a Gestão de Frotas e que permitirá uma profícua
monitorização são:
Sistema Cadastral dos Veículos (registo da documentação, classificação,
caraterização e distribuição do veículo, bem como outra informação necessária
para individualizar o mesmo);
Sistema de Gestão da Manutenção (registo da substituição de peças e das
manutenções programadas e pós avaria com valores monetários
individualizados);
Sistema de Aquisição de Combustíveis (registo das transações efetuadas com o
cartão de combustível, onde se identifique a quilometragem do veículo e a
identificação de quem efetuou a aquisição);
Sistema de Georreferenciação (registo da localização do veículo);
Sistema de Pagamento de Portagens;
Sistema de Registo de Sinistros, Infrações, Seguros e Inspeção Periódicas.
e. Abate
Por abate de veículo entende-se a saída patrimonial desse bem do parque de veículos
de uma empresa (deixa de ser propriedade da empresa), podendo aqui resultar a destruição
ou a alienação.
Destruição do veículo quando se verifique que o mesmo se encontra em situação de
inoperacionalidade e cuja reparação ou recuperação não se afigure técnica ou
economicamente vantajosa.
Alienação do veículo quando se verifique que o mesmo se encontra em situação de
operacionalidade mas cuja reafectação não seja necessária ou possível.
Através do seguinte esquema, são apresentados os conceitos supra abordados,
encaixando cada um deles nos pilares estruturantes da gestão de frota.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
9
Figura n.º 1 – Esquema concetual da Gestão de Frota
Fonte: Autores, 2014
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
10
2. Atual modelo de gestão de frota da GNR
O presente capítulo elenca e caracteriza a frota de veículos da GNR, os processos de
aquisição em vigor, as metodologias de manutenção e monitorização da frota e, por último,
o processo de abate das viaturas.
Importa desde já aferir que, atualmente, a aquisição das viaturas da GNR é efetuada
através da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I. P. (ESPAP) que
se assume como entidade gestora do Sistema Nacional de Compras Públicas (SNCP)
definido no Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de fevereiro. Esta entidade é a gestora do
Parque de Veículos do Estado (PVE), centralizando a aquisição de todos os veículos e dos
respetivos serviços complementares, bem como a gestão de todo o parque de veículos, com
vista a uma gestão mais ágil, mais simples e mais racional. Assim, nos termos do n.º 2 e 3
do Art.º 5.º do DL n.º 170/2008, de 26 de agosto com a última alteração dada pela Lei n.º
55-A/2010, de 31 de dezembro encontra-se vedada a aquisição pelos serviços e entidades
utilizadores do PVE, sem intervenção da ESPAP, bem como os serviços de manutenção,
assistência e reparação relativos aos respetivos veículos.
O último diploma acima identificado tem como principal objetivo a racionalização e
simplificação dos serviços públicos através da implementação de uma solução para a
gestão do PVE. Este diploma cria um novo regime jurídico que abrange as matérias de
aquisição ou locação, afetação, utilização, manutenção, assistência, reparação, abate e
alienação ou destruição de veículos, com base em critérios de eficiência, eficácia e redução
de custos operacionais.
A ESPAP também definiu critérios financeiros e ambientais para a aquisição/locação
de veículos, a seguir por todas as entidades abrangidas pelo PVE, onde se realça a primazia
do Aluguer Operacional de Veículos como a regra para a aquisição/locação de novas
viaturas, sendo necessário fundamentar a sua alternativa, ou seja, a aquisição própria (Art.º
5.º do DL n.º 170/2008, de 26 de agosto).
a. Tipologia da frota
Fruto da variedade de missões atribuídas à GNR, a sua frota é constituída por uma
grande variedade de veículos. Nos termos do Regulamento de Uso de Veículos da GNR
(RUVGNR), criado no seguimento do disposto do n.º 2 do Art.º 11.º do DL n.º 170/2008
de 26 de agosto, que define o novo regime do PVE, as viaturas da GNR são distribuídas
pelo tipo de utilização, sendo distribuídas em veículos de serviços gerais e veículos
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
11
especiais1. A frota da GNR é distribuída, segundo as suas características, em onze grupos,
sendo atribuído a cada grupo uma letra. Na tabela abaixo são ilustrados os diferentes
grupos e as respetivas quantidades de viaturas.
Tabela n.º 1 - Grupos de viaturas e respetivas quantidades.
Fonte: (GNR, 2014)
A ATRELADOS 82
B BLINDADOS 21
C PESADOS DE CARGA 53
E ESPECIAIS 115
G LIGEIROS DE MERCADORIAS 582
J, L TÁTICOS TT, LIG PASS E MISTOS 3886
M MOTOCICLOS 963
N MEIOS NAVAIS 72
P PESADOS PASSAGEIROS 66
V CICLOMOTORES 10
Dentro destes grupos inserem-se diversos tipos de veículos. Na Tabela n.º 2 –
Quantitativos de veículos por grupo de classificação, são ilustrados os tipos de veículos
que compõe cada grupo e respetivas quantidades.
Os veículos da GNR são ainda classificados em função da sua utilização,
designando-se, conforme a sua utilização, por veículos individuais de função e por veículos
orgânicos de função. Os primeiros são do tipo ligeiro de passageiros e destinam-se à
utilização no âmbito da atividade de direção, chefia, inspeção, comando ou representação e
transporte dos titulares dos cargos e funções, conforme despacho do Comandante-Geral2.
Já os segundos, todos os restantes, são os veículos atribuídos aos órgãos e subunidades da
estrutura de comando, das unidades e do estabelecimento de ensino, destinando-se à
execução do respetivo serviço orgânico3.
1 N.º1 e n.º2 do Art.º 3.º do RUVGNR.
2 N.º2 do Art.º 10.º do RUVGNR.
3 N.º3 do Art.º 10.º do RUVGNR
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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Tabela n.º 2 – Quantitativos de veículos por grupo de classificação
Fonte: (GNR, 2014)
A Atrelados 81
82 Semirreboque 1
B Viaturas Blindadas 21
C Pesados Mercadorias 53
E
Moto Neve 1
23
Dumper 6
Empilhador 5
Pá Carregadora 2
Trator Agrícola 2
Varredora 7
LIG
EIR
OS
Ligeiro de transporte de 2 Binómios 1
55
Ligeiro transporte de 4 Binómios 9
Ligeiro transporte de 6 Binómios 1
Ambulâncias 1 maca 2
Ambulâncias 2 macas 15
Ambulância de socorro 5
Ligeiro de transporte de animais 1
Carro fúnebre 1
Transporte de cavalos de desporto 5
Viatura Escritório 6
Viatura de combate a incêndios 1
Pronto-socorro 3/4 T 2
Pronto-socorro ligeiro 1
Telecomunicações 2
Transporte Detidos (Celular) 3 P
ES
AD
OS
Transporte de Animais 4
37
Autotanque 1
Canhão de água 2
Transporte de cavalos de desporto 13
Duplo Comando 1
Pronto-socorro 10 T 1
Pronto-socorro 15 T 5
Pronto-socorro 3/4 T 7
Pronto-socorro 6/7 T 2
Transportes gerais 4/8 T 1
G Ligeiros Mercadorias 582
J, L
Ligeiros Mistos 141 3886
Ligeiros Passageiros 3745
M Motociclos 899
963 Quadriciclos 64
N Embarcações 72
P Pesados Passageiros 66
V Ciclomotores 10
TOTAL DE VEÍCULOS DA GNR 5850
A maior parte dos veículos é distribuída pelos grupos J – Táticos TT, L-Ligeiro de
passageiros e mistos (67%), M – Motociclos (17%) e G – Ligeiros de Mercadorias (10%),
totalizando estes três grupos 5431 veículos (94%) de um universo de 5850.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
13
Gráfico n.º 1 – Distribuição de veículos da GNR por grupos
Fonte: Autores, 2014
Através deste gráfico é percetível que o principal esforço da gestão da frota da GNR
se prende com estes três grupos de veículos, os quais compõe a esmagadora maioria dos
veículos afetos à atividade operacional da GNR.
A fim de caracterizar a frota da GNR importa ainda analisar a frota do ponto de vista
da quilometragem e da idade do parque automóvel.
No que respeita à idade das viaturas, esta é significativamente avançada e verifica-se
que a maior franja de viaturas possui entre 5 e 20 anos de idade (82%), sendo que 60% da
frota da Guarda apresenta uma idade superior a 10 anos. Desta análise resulta ainda que no
intervalo compreendido entre 2022 e 2026, a Guarda deparar-se-á com uma forte
possibilidade de ter nos seus quadros mais de 2000 veículos com uma idade igual ou
superior a 25 anos.
Tabela n.º 3 – Distribuição etária das viaturas
Fonte: DRL, 2014
1% 0% 1%
2%
10%
67%
17%
1% 1%
0% ATRELADOS
BLINDADOS
PESADOS DE CARGA
ESPECIAIS
LIGEIROS DE MERCADORIAS TÁTICOS TT, LIG PASS E MISTOS MOTOCICLOS
MEIOS NAVAIS
Viaturas adquiridas em 2014 0,62%
Viaturas com idade até 5 anos 8,60%
Viaturas com idade >5 e < 10anos 30,78%
Viaturas com idade >10 e < 15anos 20,75%
Viaturas com idade >15 e < 20 anos 30,46%
Viaturas com idade >20 e < 25anos 8,18%
Viaturas com idade > 25anos 0,62%
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
14
Ao nível da quilometragem das viaturas também se apresenta muito elevada:
Esta caraterização permite constatar que o parque de veículos da Guarda é muito
envelhecido, quer pelo número de anos dos veículos, quer pelo número de quilómetros
efetuados, factos que fazem aumentar consideravelmente os custos de manutenção dos
mesmos.
Tabela n.º 4 – Distribuição de viaturas por intervalos de quilometragem
Fonte: DRL, 2014
b. Processo de aquisição
No que respeita ao parque auto da Guarda, importa referir que este é alimentado de 3
formas distintas: Aquisição própria através da ESPAP (UMC); Provenientes de doações,
reafectações ou comodato; Provenientes de processos em tribunal e cujas viaturas foram
consideradas perdidas a favor do Estado.
Em termos de aquisições, o ciclo inicia-se, à semelhança do que acontece com
qualquer aquisição, na materialização da “necessidade de aquisição”. Nesta fase, a
inexistência de um plano estratégico que priorize as necessidades aquisitivas de viaturas da
GNR, com vista ao recompletamento do Quadro Orgânico de Viaturas, este inexistente,
torna desde logo o arranque do processo um ato de oportunidade e iniciativa perante a
existência de variáveis financeiras e políticas pontuais.
De seguida, verifica-se a existência de cabimento orçamental, o qual pode ter origem
na parcela do Orçamento do Estado atribuído à GNR ou, nas atribuições de verbas
efetuadas por outras entidades, com as quais existam protocolos ou outro mecanismo legal
que permitam o acesso a fundos (Exemplos: ANSR, Fundo de Garantia Automóvel, Fundo
de Fronteiras Externas, entre outros).
Como passo seguinte, dentro dos parâmetros definidos em Acordo Quadro, são
Viaturas com quilometragem entre 0 e 100 000km 27,09%
Viaturas com quilometragem entre 100 001km e 200 000km 22,99%
Viaturas com quilometragem entre 200 001km e 260 000km 12,32%
Viaturas com quilometragem entre 260 001km e 360 000km 17,79%
Viaturas com quilometragem entre 360 001km e 460 000km 9,54%
Viaturas com quilometragem entre 460 001km e 560 000km 4,40%
Viaturas com quilometragem superior a 560 001km 2,67%
Não definido 3,20%
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
15
definidos pelo Comando Operacional, as tipologias das viaturas alvo do processo
aquisitivo. Verificada a existência de dotação e definida(s) a(s) tipologia(s), cabe à DRL a
definição e elaboração das características técnicas das viaturas. Verifica-se também nesta
fase a inexistência de definição de critérios de distribuição de viaturas pelo dispositivo da
GNR com base na natureza, missão e serviço de cada subunidade, o que, novamente,
introduz um fator de oportunidade no processo de aquisição de veículos. Esta falta de
critérios objetivos e transversais à Instituição resulta no decréscimo da confiança interna no
processo de aquisição de viaturas.
Posta esta “primeira” fase, toda a documentação já reunida (cabimento, declaração de
compromisso, despacho de autorização da aquisição, etc.) é remetida à ESPAP (UMC).
Após verificação de todo o processo, quer por aquela entidade quer novamente pela
Guarda, o processo aquisitivo é então lançado na plataforma SGPVE (Sistema de Gestão
do Parque de Viaturas do Estado) pela ESPAP (UMC). Voltando a Guarda a ter
interferência no processo, apenas no momento da assinatura do contrato.
Decorridos os prazos para a entrega, a Guarda efetua a receção e conferência dos
veículos, distribuindo-os seguidamente pelo dispositivo, de acordo com as diretrizes e
critérios estabelecidos pelo Comando Operacional, para o processo aquisitivo em curso.
c. Manutenção
No que toca a manutenção auto, em termos de normativo interno da Guarda, serve de
elemento orientador para matéria a NEP 4.3.01, de 01OUT97.
Este documento, face ao evoluir dos tempos, e das alterações organizacionais que a
Guarda tem sofrido, possui alguns aspetos que carecem de atualização. No entanto, não
sendo necessário um “grande esforço de boa vontade”, aqueles aspetos são passíveis de
serem adaptados no seu sentido orientador global.
À semelhança do que consta da NEP, a manutenção das viaturas da Guarda é
executada num de três cenários distintos, mais concretamente: em oficinas próprias das
Unidades; em oficinas civis; em oficina da Unidade de Apoio Geral.
A decisão sobre o recurso a um destes cenários, tendo em conta o princípio logístico
da flexibilidade, e o princípio financeiro da economia, eficiência e eficácia, assim como, o
respeito por todo o normativo legal que enquadra a área logístico-financeira, caberá ao
Comandante da Unidade, não cabendo neste trabalho refletir se tal “poder” de decisão trará
benefício ou prejuízo em termos de organização.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
16
Importa ainda analisar as despesas da Guarda com a manutenção de viaturas nos
últimos anos. Assim, verifica-se uma redução progressiva média da despesa em 23,18%,
incluindo-se nestes cálculos as despesas relativas às rubricas Material Transporte (pneus,
baterias e lubrificantes), Material Peças e Conservação de Bens (Oficinas).
Tabela n.º 5 – Despesas com Manutenção de Viaturas da GNR (DRF/CARI)
Fonte: DRF, 2014
DESPESAS COM MANUTENÇÃO DE VIATURAS DA GNR
2012 €8.082.641,90
2013 €6.181.883,08 - 23,52%
2014 (até SET14) €3.179.855,63 - 22,84% (igual período)
Esta forte redução de gastos com a manutenção é ainda mais preocupante face ao
envelhecimento progressivo e acentuado do parque de viaturas automóveis da Guarda.
A estes cálculos não foram acrescidas as despesas relativas aos recursos humanos
afetos à gestão das frotas automóveis. No entanto, será possível efetuar um cálculo com
base na média das despesas com os militares afetos à manutenção automóvel, através dos
valores já apresentados. O valor médio anual de despesa com cada colaborador (militar e
civil) da GNR ascende a €37.763,03. Considerando que foram questionadas todas a
Unidades da Guarda e estas responderam possuir, no total, 84 militares afetos à
manutenção automóvel, para o cálculo da despesa total com manutenção de viaturas irá
acrescer o valor anual médio de €3.172.094,14. Através da seguinte Tabela, poderá
verificar-se a síntese das despesas com manutenção de viaturas, onde se incluem as
despesas com recursos humanos, com a comparação do ano 2014 com igual período do ano
2013.
Tabela n.º 6 – Despesas com Manutenção de Viaturas da GNR (inclui Recursos Humanos)
Fonte: DRF, 2014
DESPESAS COM MANUTENÇÃO DE VIATURAS DA GNR
2013 €9.353.977,22
2014 (até SET14) €4.992.480,85 - 18,86% (igual período)
Esta análise permite verificar a variação em 51,31% do valor da despesa com a
gestão da frota automóvel quando acrescida dos gastos com o pessoal afeto exclusivamente
à manutenção das viaturas, para o ano 2013, e de 57% para o ano 2014.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
17
d. Monitorização
Em termos de monitorização, consta da NEP 4.3.01, já referida anteriormente, que
seria responsabilidade das Unidades manter registos atualizados no que respeita aos
cadastros das viaturas, com particular incidência nas manutenções pós-avaria,
reabastecimento de pneus e baterias e custos associados.
Verifica-se que na GNR não está atualmente implementado um sistema centralizado
e integrado de monitorização dos dados da frota, sendo os diversos fatores registados
isoladamente, sem integração nem análise.
Com efeito, existem procedimentos de monitorização da frota, ao nível da
manutenção e dos consumos, assentes no preenchimento de mapas periódicos e requisições
de serviços, que se afiguram desatualizados face aos meios tecnológicos disponíveis para o
efeito.
A título de exemplo, o GeRFiP é um sistema informático, implementado pelo
Governo no âmbito dos Serviços de Gestão de Recursos Financeiros e Orçamentais em
Modo Partilhado (GeRFiP) a prestar pela ESPAP e que abrange todos os organismos da
Administração Pública. Permitiu a implementação do Plano Oficial de Contabilidade
Pública em todos os organismos e permite executar a gestão da frota, na perspetiva
financeira, de forma centralizada e diretamente conectada à ESPAP.
O Sistema de Gestão do Parque de Veículos do Estado (PVE) é um sistema
informático integrado, disponibilizado a todas as entidades utilizadoras do PVE e permite
assegurar o cumprimento das normas aplicáveis aos veículos que integram o PVE,
proceder à recolha e controlo de dados relativos aos veículos que integram o PVE e à
respetiva utilização, fazer o tratamento estatístico dos dados e o apuramento de indicadores
de forma a aferir o nível de eficiência na gestão e utilização de veículos.
O Sistema GALP Frota Online é um portal disponível para clientes da GALP onde é
possível efetuar todas as tarefas relativas à gestão de consumo de combustíveis da frota
automóvel.
O SIGLOG (Sistema Integrado de Gestão Logística) é um sistema construído pela
Guarda para utilização próprio ao nível da gestão de recursos logísticos, que atualmente
assume uma utilização residual por parte do dispositivo.
A diversidade dos sistemas de informação disponíveis abrange a quase totalidade das
necessidades de gestão de frota automóvel. No entanto, a sua exploração, quer
separadamente quer de forma centralizada, é verdadeiramente insipiente, não se
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
18
verificando o aproveitamento das potencialidades dos sistemas para o melhoramento da
gestão de frota em geral.
e. Abate
O abate consubstancia-se num processo atinente à alienação de viaturas em fim de
vida, considerando como tal os veículos cujas características, condições de conservação ou
funcionamento já não permitem a sua utilização na atividade operacional da GNR e sobre
as quais não recaia interesse museológico.
Em termos de alienação de viaturas em fim de vida, a qual necessita de autorização
da ESPAP, após a recolha da informação necessária junta da Unidade a que o veículo
estava afeto, dir-se-á que o processo propriamente dito terá inicio na DMT/DRL, passando
pelos seguintes passos:
A Divisão de Manutenção e Transportes da Direção de Recursos Logísticos
(DMT/DRL) remete à Divisão de Aquisições da Direção de Recursos Logísticos
(DA/DRL) uma relação de todas as viaturas alvo do processo, militares e civis (viaturas
civis, serão todas as provenientes de processos crime, implicando neste caso a remessa dos
respetivos despachos judiciais que recaíram sobre as mesmas), indicando também a
composição de um júri para o processo, assim como, o valor unitário de base a atribuir a
cada veículo a alienar;
Na posse destes elementos, a DA/DRL, elabora por sua vez uma informação
justificativa, na qual é solicitada autorização para o início do processo;
Os passos seguintes, materializam-se com a publicação do aviso de início do
procedimento em Diário da República e com a comunicação à DMT/DRL das datas
referentes à abertura do procedimento e da abertura das propostas;
Feitas as aberturas das propostas pela DMT/DRL, estas são analisadas, sendo
elaborados os relatórios preliminares e finais das propostas;
Comunica-se às entidades a concurso a adjudicação (ou não adjudicação),
elaborando-se as minutas dos autos de venda;
Realizado o pagamento por parte da entidade à qual o processo foi adjudicado, as
verbas entram nos cofres do Estado;
Os autos de venda são remetidos à empresa adjudicada para serem assinados. Estes,
depois de devolvidos à Guarda, em conjunto com os recibos de pagamento, são
encaminhados para a entidade com competência para autorização da venda, afim desta
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
19
proceder também à sua assinatura;
Posto isto, é comunicado à DMT/DRL que os pagamentos se encontram liquidados e
que os autos estão assinados, ficando a mesma ciente de que pode iniciar a coordenação
com a empresa adjudicada para efeitos da entrega dos veículos alienados;
Para finalizar o processo, após a entrega dos veículos e respetiva destruição dos
mesmos por entidade certificada, a empresa remete à DMT/DRL os “certificados de
destruição”, a qual, por sua vez, faz a sua remessa à DA/DRL.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
20
3. Modelos e ferramentas de gestão de frota
Neste capítulo procuraremos abordar dois modelos distintos de gestão de frota.
Escolhemos assim analisar uma empresa privada, a BRISA – Autoestradas de Portugal,
S.A., e uma força de segurança congénere, nesta caso a Guardia Civil espanhola.
Optámos por estas duas entidades por dois motivos: A Guarda Civil por ser um força
de segurança com uma estrutura, funcionamento e dispersão territorial semelhantes à GNR,
embora numa escala maior. Já a BRISA – Autoestradas de Portugal S.A., foi escolhia por
ter uma frota diversificada e semelhante à da GNR, onde se incluem viaturas de
patrulhamento afetos à atividade diária de patrulhamento da GNR – as viaturas utilizadas
no patrulhamento das autoestradas da BRISA resultantes de protocolo de parceria assinado
entre estas duas entidades.
a. O caso da Guardia Civil
Esta breve abordagem irá, de forma muito sucinta, incidir na questão da gestão de
frotas na perspetiva de uma outra força de segurança. Assim, até pelas características
próprias que definem a GNR, quer seja o seu cariz militar, quer seja a sua dispersão
territorial, foi escolhida para este efeito, não uma outra força nacional, mas sim uma força
congénere, mais concretamente a Guardia Civil Espanhola.
Nesta congénere, com um parque de viaturas a rondar as 190004, dispersas por todo o
território, a gestão da sua frota assenta na existência de uma especialidade constituída pelo
“Servicio de Material Móvil”, o qual tem intervenção em vários planos. A título de
exemplo salientam-se: as Aquisições, as Inspeções Técnicas de Veículos (todos os seus
veículos automóveis e reboques são sujeitos a inspeção), as Oficinas, os Transportes, a
Formação (condutores e mecânicos) e o Registo de Condutores.
Na que respeita à “admissão”/aquisição de viaturas destinadas à atividade diária
desenvolvida pela Guardia Civil, é de salientar a existência de uma dualidade no método
como este processo é conduzido.
Por um lado, no que respeita a veículos especiais e veículos para patrulhamento
(urbano e todo-terreno), é utilizado o método “tradicional”, ou seja, a aquisição. Por outro,
no que respeita a viaturas destinadas à Investigação e ao Comando/Apoio, esta congénere
socorre-se de uma metodologia menos tradicional, admitindo veículos ao serviço na
4 Fonte: Apresentação sobre o “Servicio de Material Móvil”,
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
21
modalidade de “Renting”.
Quanto a esta última metodologia, é de salientar que a Guardia Civil, é apenas
responsável pelos gastos associados ao consumo de combustível dos veículos, ficando os
aspetos referentes à manutenção por conta da empresa a quem o contrato for adjudicado.
No que toca à manutenção, esta força congénere possui uma estrutura logística
assente em Oficinas distribuídas por todo país. Ainda assim, aplica uma vez mais uma
metodologia dualista no modo de operar. O reabastecimento de material assenta em
aquisições centralizadas, enquanto as manutenções, reparações e conservação são
realizadas de forma descentralizada.
Por fim, importa ainda referir que nesta força congénere tem vindo a ser
desenvolvido um estudo que se materializou no estabelecimento de quadros orgânicos de
viaturas por órgão e unidades. Este trabalho, que se poderá considerar como um
contribuinte de peso para uma gestão de frota, ficou plasmado em normativo interno e tem
sido alvo de revisão com alguma periodicidade5. Essa definição de quantitativos terá tido
por base diversos critérios6, como por exemplo, números de efetivos por postos, o
entendimento de que nenhum veículo deve operar 24h seguidas, características geográficas
(em particular para a quantificação de viaturas Todo-Terreno) e outras específicas de cada
Comandancia.
b. O caso da BRISA – Autoestradas de Portugal
Atualmente, a frota do grupo BRISA é composta por aproximadamente 750 viaturas.
A frota divide-se, basicamente, em cinco segmentos:
Pool - Veículos ligeiros – são viaturas de pool, caracterizadas com sinais
identificativos da empresa, do tipo ligeiro de passageiros. São viaturas que são
atribuídas a departamentos e cargos específicos. Têm um cariz de utilização
operacional, sendo utilizadas por vários utilizadores;
Pool – veículos de mercadorias – são viaturas de pool, caracterizadas com
sinais identificativos da empresa, do tipo ligeiro de passageiros. São viaturas
que são atribuídas a departamentos e cargos específicos. Têm um cariz de
utilização operacional, sendo utilizadas por vários utilizadores;
5 O documento a que se teve acesso durante a realização do trabalho data de 2006 e já revogava um outro
similar, datado de 2002 6 Fonte: “Criterios Generales Para La Definición De La Plantilla De Vehículos En Los Órganos Y Unidades
De La Dirección General De La Guardia Civil – 2006”
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
22
VUP’s – Veículos de Utilização Pessoal – São viaturas de distribuição
individual a detentores de cargos de direção da empresa. São veículos de gama
média-alta e alta, não ostentando simbologia identificadora da empresa;
Veículos de assistência – São viaturas de patrulhamento e assistência,
caracterizadas com sinais identificativos da empresa, do tipo ligeiro de
mercadorias. São viaturas com uma utilização intensiva por vários utilizadores.
Circulam normalmente com carga e estão equipadas com sistemas de
sinalização luminosa, painéis de mensagens variáveis, equipamentos de
comunicações e transmissão de informação para CCO/BRISA, sendo
georreferenciadas;
Viaturas GNR – Trânsito – São viaturas de patrulhamento cedidas em regime
de comodato à GNR para patrulhamento das Autoestradas do Grupo BRISA.
As viaturas estão caracterizadas com os elementos identificativos da GNR,
estando equipadas com sistemas de sinalização de marcha de urgência e pontos
de alimentação de 12V. São viaturas com uma utilização e desgaste intensivos,
sendo utilizadas por vários utilizadores.
Quanto à tipologia de viaturas, as mesmas dividem-se em cerca de 400 viaturas de
passageiros e 350 de mercadorias, sendo adotadas diversas marcas e modelos.
Para a escolha do modelo de gestão de frota a adotar a BRISA, com a colaboração de
uma empresa de consultoria especializada em gestão de frotas, a “Fleet Audit”, elaborou
um estudo específico direcionada à frota do grupo. Neste estudo foram elaboradas análises
quantitativas entre os cenários “aquisição + outsourcing” e “renting”, onde foram tidos em
conta os seguintes fatores:
Análise quantitativa – Face aos cenários indicados foi feita uma comparação
de custos bem como uma análise de rentabilidade direcionada a cada um dos
segmentos da frota do grupo;
Risco operacional – Foram analisados fatores como a desvalorização e
desgaste das viaturas usadas, o risco de avarias e os custos de financiamento da
aquisição e manutenção versus renting;
Operacionalidade da frota – Neste campo o principal fator a ter em conta foi
garantir a operacionalidade das viaturas, nomeadamente nas viaturas de
patrulhamento e assistência e nas viaturas afetas à GNR, pois a sua
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
23
operacionalidade não pode ser posta em causa;
Controlo – Neste segmento a tónica centrou-se na cadeia logística de
sustentação da frota e no controlo da utilização das viaturas, nomeadamente
através de georreferenciação, sendo este o maior benefício elencado.
Efetuado o estudo, foi adotada uma nova política de Gestão de Frota que veio trazer
à BRISA uma nova dinâmica, permitindo um maior controlo na gestão, maior economia,
redireccionamento de recursos e uma transferência de tarefas que permitiu a diversos
departamentos centrarem-se no seu core business, libertando-se de processos e tarefas
saturantes que nada tinham a ver com a atividade do grupo.
Assim, a atual política de gestão de frota da BRISA segue um conceito misto, que
tendencialmente se concentrará no AOV. A exceção são viaturas da Assistência Rodoviária
e as viaturas afetas à GNR, que pelo seu rápido desgaste em razão de uma utilização
intensiva e à necessidade de montagem de equipamentos especiais, os quais obrigariam a
um recondicionamento da viatura no final do contrato e consequentemente a perda de
qualquer vantagem económica obtida com o AOV, levam a que seja economicamente mais
viável a aquisição com a contratação de um plano de manutenção até aos 240 000Km.
Na imagem abaixo esquematiza-se as opções adotadas em comparação com a
situação anterior ao estudo.
Figura n.º 2 – Quadro comparativo de opções de gestão de frota da BRISA
Fonte: BRISA, 2014
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
24
No referente às viaturas da BRISA afetas ao serviço da GNR, este modelo tem-se
mostrado uma grande mais-valia em termos de operacionalidade, idade média da frota e
quilometragem da frota, suplantando completamente os mesmos fatores das viaturas
pertencentes ao parque do Estado, garantindo ao Comandante de Destacamento uma frota
mais moderna e com um maior grau de operacionalidade, relevando para segundo plano as
preocupações de índole logístico.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
25
4. Modelo de gestão de frota para a GNR
Conforme já abordado o processo de Gestão de Frota é um continuum que começa na
aquisição, passando pela monitorização e manutenção e termina no abate ou alienação do
veículo. No atual quadro legislativo tanto a aquisição como o abate, como já vimos, estão
balizadas tanto externa como internamente, não deixando opções para além daquelas
legalmente previstas. O principal esforço reside nos processos de monitorização e
manutenção de veículos. Assim, procuraremos neste capítulo analisar os atuais modelos de
gestão, por tipologia de veículos, e propor, dentro do que nos é possível, modelos de gestão
da frota que nos parecem mais vantajosos, tanto do ponto de vista financeiro como do
ponto de vista operacional.
A frota da GNR é composta por uma grande diversidade de tipos de veículos,
variando em tipo, categoria, marcas e modelos. Esta grande variedade obriga,
necessariamente, a que sejam adotados diversos procedimentos quanto à gestão da frota.
Se as viaturas automóveis ligeiras de passageiros, mistos e de mercadorias, não oferecem
grandes problemas quanto à sua aquisição e manutenção, pela oferta de mercado nos
setores de venda e assistência técnica, já as viaturas especiais, como viaturas pesadas,
blindadas, prontos-socorros, etc., pelas suas especificidades, por ser um nicho de mercado
e tendo, por norma, uma utilização menos intensiva que as anteriores, obriga a uma gestão
mais particularizada e adaptada a cada caso. Nestes casos é necessário aferir a
possibilidade de manutenção através de meios próprios, ainda que se possa alegar razões
de segurança, pois esta, em resultado de uma escassa oferta de mercado, pode revelar-se
como sendo mais vantajosa, caso existam na GNR recursos humanos tecnicamente
habilitados para a sua manutenção.
Já relativamente aos veículos automóveis ligeiros de passageiros, de mercadorias e
táticos TT há ainda que dividi-los em dois grandes grupos: as viaturas caracterizadas e as
viaturas descaracterizadas. As viaturas caracterizadas compreendem todos os veículos
utilizados em patrulhamento ou apoio à atividade operacional, caracterizados com as
marcas distintivas da GNR e equipados de forma permanente com componentes ou
acessórios específicos, como sistemas luminosos e sonoros de sinalização de marcha de
urgência, divisórias de habitáculos, extintores, sistemas de alimentação elétrica auxiliar,
etc.. Já as viaturas descaracterizadas compreendem todos os veículos utilizados em
atividades de representação, administrativas, de investigação criminal ou atividades de
apoio sem que estejam caraterizadas ou equipadas de forma permanente com marcas
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
26
distintivas ou equipamentos específicos.
Assim, atentos à tipologia de veículos definida pelo RUVGNR, propomo-nos a
analisar sectorialmente os atuais modelos de gestão de frota e, se necessário, ou tido por
mais vantajoso, propor as necessárias alterações. De fora da tipologia definida deixamos
desde já as embarcações, pois não são objeto do presente trabalho, bem como os veículos
cedidos a título de comodato ou que revertam para o património da GNR através de
dádivas ou apreensões.
Antes de mais, considera-se crucial a definição do Quadro Orgânico de Viaturas da
GNR, que permita a existência de uma orientação clara de futuro, nomeadamente quanto à
priorização das necessidades da GNR, assim como a definição dos Critérios de
Distribuição Orgânica de Viaturas, onde sejam claramente percetíveis, nos meios a atribuir,
as diferenças das zonas de ação de cada subunidade, por forma a rentabilizar os próprios
meios nas missões a desempenhar por cada uma.
a. Modelos de aquisição e manutenção
Quanto aos veículos de categoria A – Atrelados: o modelo atual baseia-se numa
lógica de aquisição conforme as necessidades, sendo a sua manutenção feita inhouse com
recurso às oficinas próprias ou, em casos pontuais, com recurso a outsourcing.
Consideramos que este modelo deve ser mantido, pois na sua maioria os atrelados são de
fácil manutenção, sendo possível às oficinas da GNR mantê-los sem dificuldades.
Quanto aos veículos de categoria B – Blindados: o modelo atual baseia-se numa
lógica de aquisição em função das necessidades operacionais, sendo a sua manutenção
realizada inhouse. Tendo as mais recentes viaturas blindadas sido adquiridas aquando da
projeção de forças para o TO do Iraque e sendo viaturas que são utilizadas muito
pontualmente, sendo viaturas que pela especificidade das suas características têm uma vida
útil bastante dilatada no tempo, considera-se ser mais vantajoso o modelo atual.
Relativamente aos veículos da categoria E – Especiais: por na sua maioria serem
máquinas industriais ou outras viaturas dotadas de equipamentos especiais, como viaturas
pronto-socorro, ambulâncias, viaturas de transportes de solípedes ou animais, a sua
manutenção é realizada normalmente inhouse, havendo recurso a outsourcing quando os
equipamentos a reparar são muito específicos ou pelas dimensões dos veículos não seja
possível às oficinas da GNR proceder à sua reparação. Neste caso consideramos também
que será de manter o atual modelo.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
27
Já relativamente aos veículos da categorias M e V – Motociclos e Ciclomotores: há
a considerar duas fases distintas: a aquisição e a manutenção. Quanto à aquisição esta tem-
se realizado por compra. Contudo, a caracterização dos motociclos e ciclomotores, a
instalação permanente de sistemas de sinalização luminosa e sonora de marcha de urgência
e a necessidade de instalação de meios rádio inviabiliza a aquisição destes meios por AOV,
pois se em alguns casos nem sequer está disponível, já noutros o recondicionamento dos
motociclos no estado original levaria a que qualquer vantagem financeira se perdesse no
processo de recondicionamento. Não nos podemos esquecer que algumas das versões de
motociclos em uso na GNR, como é o caso da marca BMW, as versões adotadas são
exclusivas das forças de segurança, não existindo modelos semelhantes no mercado.
Quanto à manutenção, esta tem sido realizada tanto em regime inhouse como em regime de
outsourcing, sendo este o que mais prevalece ao longo do dispositivo por falta de
mecânicos habilitados à reparação de motociclos. Face à crescente complexidade
tecnológica deste tipo de veículos, considera-se ser mais rentável o recurso ao outsourcing
em detrimento da manutenção inhouse.
Relativamente aos veículos da categorias C e P – Pesados de Carga
(Mercadorias) e Pesados de Passageiros: o método de aquisição tem sido sempre a
compra, sendo a manutenção realizada maioritariamente inhouse, havendo algumas
exceções quanto a modelos mais recentes de pesados de passageiros e em casos de
reparações muito específicas, casos em que se recorreu ao outsourcing. Não nos foi
possível conhecer outros métodos de aquisição deste tipo de veículos que não a compra.
Quanto à manutenção, e atendendo que alguns destes veículos têm já bastantes anos e são
de baixa sofisticação tecnológica, não se considera que seja mais vantajoso o recurso a
outsourcing para a sua manutenção, tendo já os mecânicos da GNR uma vasta experiência
na sua reparação.
Apesar de ter alguma dimensão, as tipologias analisadas anteriormente constituem
apenas 23% da frota da GNR. O principal esforço resume-se às categorias G – Ligeiros de
mercadorias, J – Táticos TT e L – Ligeiros de passageiros, constituindo estes três grupos
77% da frota.
Quanto à aquisição deste tipo de veículos, a regra ao longo dos últimos anos tem sido
sempre a compra, independentemente de estes serem caracterizados ou não. Se nos
veículos caracterizados a questão não se põe em causa, pois à semelhança dos motociclos e
dos ciclomotores estes veículos têm montados de forma permanente uma série de
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
28
equipamentos que levam a que o seu recondicionamento no fim de um eventual contrato de
renting ou AOV levaria à perda de qualquer vantagem financeira. Já nos veículos
descaracterizados tal já não se passa. No que concerne aos veículos descaracterizados é
preferível a realização de contratos de AOV, pois todos os equipamentos que possam
necessitar podem ser amovíveis, deixando assim de existir o óbice do recondicionamento.
Este tipo de contratos têm a vantagem de incluírem a manutenção até um determinado
número de quilómetros ou por um determinado número de anos, findos os quais o veículo é
devolvido, sendo realizado um novo AOV para um veículo novo. Esta modalidade
apresenta diversas vantagens, nomeadamente no que tocante à manutenção e renovação da
frota, retirando um grande encargo em termos burocráticos e uma desafetação de uma
grande fatia dos recursos humanos e materiais afetos à manutenção da frota automóvel.
Relativamente à manutenção dos veículos caracterizados, esta tem sido realizada
tanto em regime inhouse, sobretudo na vertente territorial, onde a frota é mais envelhecida
e tecnologicamente menos avançada, como em regime de outsourcing, mormente na
vertente do trânsito onde a frota é mais moderna e tecnologicamente mais avançada, o que
obriga a conhecimentos técnicos mais profundos, habilitação que a maioria dos mecânicos
da GNR não tem, sendo normalmente especialistas em veículos TT ou de mecânica mais
tradicional e menos complexa. Com as últimas aquisições de veículos tem-se optado pela
realização de contratos de manutenção. Estes podem ir, normalmente, até aos 240 000 Km,
findos os quais a manutenção ficará a cargo da GNR. Esta é uma grande mais valia, pois à
semelhança dos AOV permite aliviar a estrutura logística da GNR, não hipotecando
recursos à manutenção auto e permitindo ao mesmo tempo que a manutenção seja
realizada pelos representantes das marcas ou por oficinas concessionárias, o que acrescenta
uma garantia e uma mais-valia acrescida à manutenção destas viaturas. Com o atual
modelo, a médio prazo, e com o progressivo abate das viaturas com maior quilometragem
e maior idade, a manutenção inhouse tende a ser residual, passando a orientar-se o regime
de manutenção destas categorias de veículos para o regime de outsourcing.
Uma outra componente do recurso ao outsourcing, embora este seja secundário e
mais benéfico para as dinâmicas económicas locais, é o facto de a GNR, pela sua grande
dispersão territorial, passar a dinamizar economicamente os locais onde se encontra
implantada, passando o Estado a investir, ainda que indiretamente, nas economias locais.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
29
A título de resumo foi elaborada uma matriz de comparação entre o modelo atual e o
modelo agora proposto, sendo dividido por categorias de veículos, conforme as categorias
previstas no RUVGNR (vide Tabela n.º 7 – Matriz comparativa de modelos de gestão).
Tabela n.º 7 – Matriz comparativa de modelos de gestão
Fonte: Autores, 2014
b. Monitorização da frota
Existindo uma cada vez maior escassez de recursos humanos e financeiros, o
controlo de intervenções e de utilização dos veículos é fulcral para uma correta utilização
dos veículos de uma determinada frota. Só desta forma é possível planear, estudar e
controlar os reais custos de uma frota de veículos. Uma frota será tanto mais eficaz quanto
o controlo a que está sujeita, pois só assim é possível aferir os seus consumos, custos de
operação da frota, bem como se a mesma está a ser utilizada dentro dos parâmetros para
que foi concebida e criada.
No que se refere à monitorização da frota estão atualmente em utilização algumas
plataformas eletrónicas que permitem monitorizar alguns parâmetros relativos à sua
utilização. Destes salientam-se a plataforma Galp Frota, a plataforma Via Verde, o GeRFiP
e, residualmente, o Sistema Integrado de Gestão Logística (SIGLOG).
A plataforma Galp Frota permite visualizar os consumos individuais de cada um dos
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING INHOUSE OUTSOURCING
AQUISIÇÃO
MANUTENÇÃO INHOUSE OUTSOURCING
OUTSOURCING
COMPRA
OUTSOURCING
AOV
COMPRA
OUTSOURCING
AOV
COMPRA
COMPRA
COMPRA
OUTSOURCING
AOV
COMPRA
OUTSOURCING
COMPRA COMPRA
COMPRA
MODELO PROPOSTO
INHOUSE
COMPRA
INHOUSE
INHOUSE
COMPRA
INHOUSE
COMPRA
COMPRA
COMPRA
COMPRA
COMPRA
COMPRA
MODELO ATUAL
COMPRA
COMPRA
COMPRA
COMPRA
COMPRA
COMPRA
CARACTERIZADOS
DESCARACTERIZADOS
MOTOCICLOS
PESADOS PASSAGEIROS
CICLOMOTORES
J TÁTICOS TT
CARACTERIZADOS
DESCARACTERIZADOS
ATRELADOS
BLINDADOS
PESADOS DE CARGA
ESPECIAIS
GLIGEIROS DE
MERCADORIASDESCARACTERIZADOS
P
V
M
LLIGEIROS DE
PASSAGEIROS
CARACTERIZADOS
E
A
B
C
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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veículos uma vez que, tirando raríssimas exceções, todos os veículos estão munidos de um
cartão magnético Galp Frota que permite o abastecimento de combustíveis. Esta
plataforma permite criar um registo preciso dos consumos de combustíveis por cada
veículo, retirando automaticamente consumos totais, médios, por 100Km, etc.
Relativamente à plataforma Via Verde, esta permite a consulta de todo o registo de
passagens por barreiras de portagens de veículos dotados de identificador Via Verde (IVV)
Tanto GeRFiP como o SIGLOG, apesar de não serem ferramentas de gestão de
frotas, desde que devidamente utilizados e preenchidos corretamente os campos de
informação necessários, permitem uma aferição quase em tempo real de todos os gastos
realizados nas viaturas da frota da GNR, permitindo desta forma realizar uma
contabilidade analítica que permita estudar os mais diversos componentes da frota.
Contudo, a monitorização da frota da GNR continua a ser feita de forma fragmentada
e sem centralização, predominando as aplicações isoladas em detrimento da centralização e
gestão integrada de dados, o que dificulta de sobremaneira uma análise global da frota.
Assim, considera-se de extrema importância a centralização da gestão da frota numa
aplicação completa e global que permita executar todas as tarefas inerentes à atividade de
gestão. Existem quer no mercado, quer na própria ESPAP, diversas soluções integradas de
gestão de frota que permitem monitorizar todos os acontecimentos relativos a uma
determinada viatura desde a sua aquisição ao seu abate. Esta é uma vertente fundamental
em qualquer frota: saber quais os recursos que estão afetos à frota, quais os recursos
consumidos, como o são e porquê.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
31
Conclusões
Com o presente trabalho, através de revisão bibliográfica e de fontes existentes no
ciberespaço, procurámos identificar e densificar alguns conceitos referentes à temática da
Gestão de Frotas. Face a estes conceitos, tomámos como linha orientadora aqueles que
consideramos ser os principais pilares da gestão de frotas: as aquisições, a manutenção, a
monitorização e por fim o abate.
Assim, caracterizámos a atual frota da GNR e analisámos à luz destes quatro pilares
o atual modelo de gestão de frota da GNR. Pudemos verificar a grande variedade de
veículos ao serviço na GNR, onde a maior parcela se situa em três tipos: os motociclos, os
ligeiros de mercadorias e, por último, a fatia mais significativa, os ligeiros de passageiros.
Percebemos também que a grande sobrecarga atual na gestão de frota prende-se com a
manutenção dos veículos, sem que exista uma monitorização integrada e centralizada dos
dados dos veículos, o que impossibilita uma análise permanente, criteriosa e atualizada do
estado da frota. Este problema agrava-se numa frota envelhecida e sujeita a grande
desgaste, como é a da GNR, não permitindo sequer perceber quando os custos com a
manutenção ultrapassam os valores de aquisição de uma viatura nova.
Procurámos analisar duas instituições, Guardia Civil e BRISA – Autoestradas de
Portugal S.A., com caraterísticas de frota (quantidade e variedade) semelhantes à da GNR.
Por último procurámos lançar as bases para um modelo de gestão de frota para a
GNR, incidindo o maior esforço numa mudança de paradigma quanto à manutenção da
frota, aliado à sua monitorização.
Assim, concluímos que será essencial adotar um sistema de manutenção adaptado
aos diferentes tipos e categorias de veículos existentes na GNR. Se para uma parte destes
veículos a GNR dispõe de oficinas e recursos humanos suficientemente habilitados, já para
outros a GNR não possui nem capacidade de resposta nem recursos humanos habilitados,
pelos que nestes casos será preferível o recurso ao outsourcing nas suas diversas
modalidades. Estas modalidades poderão ir desde o recurso ao outsourcing apenas quanto
à manutenção ou o recurso a AOV no caso de veículos que não necessitem de
caraterização ou equipamentos específicos, como é o caso de automóveis ligeiros de
mercadorias ou de passageiros atribuídos à IC e os de representação. A componente da
monitorização é uma área vital para uma real perceção do estado da frota e planeamento
atempado das necessidades de aquisição e abate de veículos, sendo essencial a criação de
uma plataforma analítica de controlo da frota e dos seus custos de operação.
Modelo de Gestão de Frota para a GNR
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