Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro...

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PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINTSTROS Seçetariu de Estudo du Culíurs Mrssões de reconhecimento de vesfígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar. Francisco J. S. Alves T FoÍo; F. Alves lges 'ar I

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PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINTSTROS

Seçetariu de Estudo du Culíurs

Mrssões de reconhecimento de vesfígios de navios naufragados,

abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

Francisco J. S. Alves

T

FoÍo; F. Alves

lges'ar I

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

Francisco J. S. Alves

Trabalhos da DANS, 46 Lisboa, Setembro 2011 Adaptação gráfica: Francisco Alves, a partir da linha gráfica dos Trabalhos do CIPA

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Introdução

Na sequência do contacto estabelecido com Dr. António França, da Área de Património Histórico e Museus da Câmara Municipal de Ovar, sobre a descoberta de ummadeira de uma presumível embarcação tradicionalantiga numa zona recuada da praia do Furadourosignatário, aproveitando uma deslocação de serviço a Angeiras (Vila do Conde)2 na Junho, regressou nessa mesma tarde visitando de seguida ao local do achado referido técnico.

Observação preliminar

O vestígio estava situado por detrás da primeira linha de dunas, imediatamente a sul do enrocamento e do esporão, no termo justamente o início do vasto areal que se estende para sul.

Consistia numa longa peça de madeira de forte secção quadrangular, deitada sobre um dos lados, orientada aproximadamente no sentido norte-sul, quase paralelamente à praia, semi-enterrada na base de um pequeno morro dunar que a oeste a escondia do resto da praia e do mar. A sua parte norte aflorava a superfície e apresentava uma longa escarva lisa (dita também (lavada) virada para leste.

Era claramente um segmento de grande navio de madeira naufragado nas proximidadeferramenta, a observação da peça plenamente a realização de uma missãobservação detalhada e o seu registo arqueográfico po

No final dessa visita retornou-recebidos com a maior cordialidade e atenção pelo senhor Vereador da Cultura,

1 Os antecedentes do caso encontram2 Deslocação efectuada para o reconhecimdiante de Labruge. Acompanharam o signatário Miguel Aleluia, da DANS, e Pedro Oliveira, seu colaborador.

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro

acto estabelecido com o Área de Património

da Câmara Municipal de uma grande peça de

presumível embarcação tradicional recuada da praia do Furadouro1, o

, aproveitando uma deslocação de serviço na 5ª feira, 24 de

nessa mesma tarde por Ovar, ao local do achado com o

ituado por detrás da primeira linha de dunas, imediatamente a sul do o termo sul da zona urbana do Furadouro, que marca

onga peça de

um segmento de uma das peças axiais mais importantes da estrutura de um naufragado nas proximidades. Na ausência de qualquer da peça foi sumária, mas permitiu concluir que se justificava

plenamente a realização de uma missão para a sua exposição completa, condição pararegisto arqueográfico por desenho e fotografia.

-se à sede da Câmara Municipal de Ovar, onde fomos recebidos com a maior cordialidade e atenção pelo senhor Vereador da Cultura,

encontram-se no respectivo processo oficial DANS 2010/024. Deslocação efectuada para o reconhecimento do local de um achado da época romana na zona marítima fronteiriça

Acompanharam o signatário Miguel Aleluia, da DANS, e Pedro Oliveira, seu colaborador.

Fig, 1 – Localização do achado

Fig, 2 – Observação preliminar da peça Furadouro 1.

na praia do Furadouro, Ovar.

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ituado por detrás da primeira linha de dunas, imediatamente a sul do marca

mais importantes da estrutura de um qualquer

, mas permitiu concluir que se justificava , condição para a sua

se à sede da Câmara Municipal de Ovar, onde fomos recebidos com a maior cordialidade e atenção pelo senhor Vereador da Cultura, Dr. Vítor

ento do local de um achado da época romana na zona marítima fronteiriça Acompanharam o signatário Miguel Aleluia, da DANS, e Pedro Oliveira, seu colaborador.

Foto: F. Alves

Localização do achado.

preliminar da peça Furadouro 1.

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Ferreira, com quem se fez o ponto da situação e se delinearam quais foi garantido um total apoionecessárias providências, nomeadamente junto da autoridalogística e planeamento operacional

Furadouro 1 A missão Furadouro 1 teve lugar na elementos: o signatário, Miguel AleluiaCharter, Sandra Marques (alunas da cadeira de ArquLicenciatura em Arqueologia da Teixeira, Filipa Galito da Silva e Brígida MeirelesNaval da Universidade Autónoma de Lisboa)

Fases dos trabalhos

1. A adequação da área de intervençãotanto em arqueologia de campoterreno à volta da peça em questão foi objecto de

2. A escavação nessa faixa contígua aplicada a toda a volta da peça, possibilidade de se estar perante uma estrutupartes enterradas debaixo dela,

3. Através de sondagens pontuais

3 Esta providência é por vezes negligenciada por preliminar deve ser sempre a de arrumarporque além de a qualidade do cenárioterreno em Arqueologia é uma marca de

Figs. 3 e 4 – Preparação e limpeza preliminares do terreno e da paça Furadouro 1.

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, com quem se fez o ponto da situação e se delinearam as iniciativas futurastotal apoio. Deste modo foram subsequentemente tomadas as

necessárias providências, nomeadamente junto da autoridade marítima, de preplaneamento operacional, assim como de constituição da equipa.

teve lugar na 2ª feira, dia 28 de Junho, e envolveu os seguintes Miguel Aleluia, João Coelho e Adolfo Martins (da DANS),

alunas da cadeira de Arqueologia Náutica e SubaquáticaLicenciatura em Arqueologia da UNL, ministrada pelo signatário), Pedro OliveiraTeixeira, Filipa Galito da Silva e Brígida Meireles (alunos de Mestrado em Arqueologia Naval da Universidade Autónoma de Lisboa).

o da área de intervenção foi a primeira medida tomada, como é em arqueologia de campo, como em qualquer estaleiro de obra3; seguidamente,

terreno à volta da peça em questão foi objecto de decapagem e nivelamento superficial

nessa faixa contígua continuou por decapagem controlada, uniformemente a toda a volta da peça, até à sua exposição completa, por ser necessário

possibilidade de se estar perante uma estrutura complexa ou desmantelada, ou mesmo apesar de se tratar aparentemente de uma peça isolada

sondagens pontuais verificou-se então que por baixo dela não existiam outras peças

negligenciada por falta de escola, uma vez que a tarefa arqueológica arrumar o espaço de trabalho, delimitando-o e limpando-o se necessário

cenário de uma escavação arqueológica ser um dever público, preparar o marca de profissionalismo.

Preparação e limpeza preliminares do terreno e da paça Furadouro 1.

Foto: F. Alves

na praia do Furadouro, Ovar.

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s iniciativas futuras, às tomadas as

eparação

e envolveu os seguintes DANS), Catia

eologia Náutica e Subaquática, de Pedro Oliveira, António

estrado em Arqueologia

como é obrigatório seguidamente, o

lamento superficial (Fig. 3).

uniformemente por ser necessário acautelar a

ou mesmo com de uma peça isolada (Fig. 4).

não existiam outras peças.

tarefa arqueológica o se necessário –

preparar o

Foto: F. Alves

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4. Passou-se então à fase de limpezatodos os pormenores das suas faces expostas, especialmente a de topo, ficasspara o registo arqueográfico, o qual

5. Uma vez completamente exposta e limpaprimeira mão as suas diversas particularidades. Acompósita, constituída por duas quadrangular, terminando a norte denteado, que por se ter fracturado cobria apenas a parte sul da

Fig, 6 – Vista da peça Furadouro 1 completamente exposta

Fig. 5 – Limpeza de pormenor de uma das faces da peça Furadouro 1.

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limpeza da peça por pincelagem não abrasiva, de modo atodos os pormenores das suas faces expostas, especialmente a de topo, ficassem à vistapara o registo arqueográfico, o qual incidiu sobre cada uma das suas quatro faces (Fig. 5

Uma vez completamente exposta e limpa, foram tiradas as medidas e observadas versas particularidades. A mais notória foi tratar-se de

ída por duas unidas entre si, a maior sendo o grande madeiquadrangular, terminando a norte numa escarva lisa, e a mais pequena sendo um

, que por se ter fracturado cobria apenas a parte sul da anterior (Fig. 6

Foto: F. Alves

Vista da peça Furadouro 1 completamente exposta e limpa, no fim dos trabalhos preliminares

Foto: J. Coelho

Limpeza de pormenor de uma das faces da peça Furadouro 1.

Foto: F. Alves

na praia do Furadouro, Ovar.

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, de modo a que em à vista

cada uma das suas quatro faces (Fig. 5).

e observadas em de uma peça

madeiro de secção um pranchão

(Fig. 6).

F. Alves

impa, no fim dos trabalhos preliminares.

J. Coelho

F. Alves

Foto: F. Alves

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6. Seguidamente, com caneta indelével, foi feito sobre manga plástica em contacto directo o desenho de pormenor da superfície de topo da peça (Fig. 7)4.

7. A peça foi então rodada com o auxílio de uma grua disponibilizada a pedido da autarquia pelo corpo de Bombeiros local, e cada uma das três restantes faces foi objecto do mesmo tipo de registo arqueográfico (Fig. 8).

4 O que se pode designar desenho cautelar, uma vez que o desenho definitivo, de retaguarda, requer técnicas mais rigorosas e uma logística adequada (vide in Alves, F., 2009 e 2011).

Fig, 7 – Desenho cautelar, por contacto directo.

Foto: F. Alves

Foto: J. Coelho

Fig, 8 – Rodagem da peça Furadouro 1 com auxílio de uma Grua.

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8. Finalmente, a peça foi removida pela referida gruadepósito num armazém municipaldefinitiva.

9. Todas estas fases foram fotografadas, assim como foram feitas as necessárias fotografias da peça Furadouro 1, panorâmicasorto-mosaico vertical (por João Coelho)

Fig, 11 – Montagem da sequência fotográfica, em orto

Figs, 9 e 10

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Finalmente, a peça foi removida pela referida grua (Figs. 9 e 10), e transportadamunicipal, onde será oportunamente efectuada a sua arqueografia

Todas estas fases foram fotografadas, assim como foram feitas as necessárias fotografias , panorâmicas de pormenor, assim como das suas quatro faces em

mosaico vertical (por João Coelho).

Montagem da sequência fotográfica, em orto-mosaico, da parte sul da face superior da peça Furadouro 1 in situ, na extensão correspondente à tábua de hastilhas.

Figs, 9 e 10 – Recuperação e transporte final da peça Furadouro 1.

FotoAlves

Foto: F. Alves

na praia do Furadouro, Ovar.

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e transportada para a sua arqueografia

Todas estas fases foram fotografadas, assim como foram feitas as necessárias fotografias das suas quatro faces em

Foto: F. Alves

mosaico, da parte sul da face superior da peça Furadouro 1 in situ,

Fotos: J. Coelho – Montagem: F. Alves Alves

Foto: J. Coelho

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Observações e comentários

Como referido, a primeira observação efectuada foide duas peças adossadas, claramente deitadas de lado13a), em que a mais pequena e rebaixada alternadamente (Fig. 13

Admitiu-se inicialmente que este denteado poderia corresponder aono próprio maciço da sobrequilha(as quais são por sua vez assentes axialmente sobrecaracterística típica dos navios antigos de diverspor exemplo, do navio de Cattewater, Reino Unido, do século XVI, de tradição construtiva ibero-atlântica (Fig. 14), em que o denteado estásobrequilha (a carlinga), em cuja pia era inserid

5 As fotos de perspectiva, como a da Fig. 12, talongando as respectivas extremidade proximais e encurtando as distais. Ver o efeito comparativo nas fotos das Figs. 27 e 28, tiradas com diferentes objectivas.

W (mar)

E (terra

Fig. 12 – Vista de NE da peça Furadouro 1. encontrada. Fig. 13a) i) – arestas simétricas sotadas (seccionadas longitudinalmente). Fig. 13

Fig. 13a)

Fig. 13b)

i)

i)

Fig. 14 – Pormenor dos fundos do navio de Cattewater

(in Redknap, 1984). Alefriz

Denteado

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observação efectuada foi a de não se tratar de uma só peça, claramente deitadas de lado, viradas para leste (terra)

mais pequena e de menor espessura, de face externa denteada, isto é, rebaixada alternadamente (Fig. 13b), ocupava em extensão apenas a parte sul da

este denteado poderia corresponder ao normalmente talhado no próprio maciço da sobrequilha, destinado ao seu encaixe axial sobre o dorso das cavernas

ua vez assentes axialmente sobre a quilha), o que constitui uma navios antigos de diversas tradições construtivas. Tal seria

do navio de Cattewater, Reino Unido, do século XVI, de tradição construtiva , em que o denteado está bem patente no troço alargado da

sobrequilha (a carlinga), em cuja pia era inserido o pé do mastro grande.

As fotos de perspectiva, como a da Fig. 12, tiradas com uma objectiva de 28mm, deformam os alvos, alongando as respectivas extremidade proximais e encurtando as distais. Ver o efeito comparativo nas fotos

, tiradas com diferentes objectivas.

W (mar)

terra)

radouro 1. Fig. 13a) – Croqui da secção da parte compósita peça, na posiçãarestas simétricas sotadas (seccionadas longitudinalmente). Fig. 13b) – Croqui do pranc

Pia da carlinga Caverna Tábua de resbordointernamente para encaixar no alefriz) Quilha

Alefriz

na praia do Furadouro, Ovar.

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de uma só peça, mas , viradas para leste (terra) (Figs. 12 e

essura, de face externa denteada, isto é, da maior peça5.

normalmente talhado o dorso das cavernas

que constitui uma es construtivas. Tal seria o caso,

do navio de Cattewater, Reino Unido, do século XVI, de tradição construtiva bem patente no troço alargado da

iradas com uma objectiva de 28mm, deformam os alvos, alongando as respectivas extremidade proximais e encurtando as distais. Ver o efeito comparativo nas fotos

na posição em que foi Croqui do pranchão denteado.

Fotos: J. Coelho

Pia da carlinga

de resbordo (sotada internamente para encaixar

Foto: F. Alves

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Em Portugal, um exemplo equivalente encontra-se nos destroços do mítico navio Arade 1, da 2ª metade do século XVI, descoberto em 1970 durante a dragagem de bacia de rotação do anteporto de Portimão, e recentemente objecto de uma tese de doutoramento6.

Na ocasião, uma equipa do CPAS fez o registo arqueográfico desses destroços, o primeiro de que há memória em Portugal. Entre estes notáveis croquis, que ficaram por publicar durante quase três décadas7, pode observar-se o da sua sobrequilha denteada (Fig. 15).

6 Loureiro, V., 2011. 7 Alves, F., 1999. Os croquis aqui apresentados correspondem às figuras 6 (: 52) e 20 (: 60) deste texto.

Fig. 15 – Croqui dos destroços do navio Arade 1, da 2ª metade do século XVI, descobertos em 1970, elaborado na ocasião por uma equipa de mergulhadores do CPAS, em que se podem observar os pormenores da sobrequilha denteada.

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Contudo, não era esta a identificação correcta da peça Furadouro 1. Com efeito, a sua estrutura compósita e o pormenor do seu denteado apontavam para um outro significado.

Este significado prende-se com uma tradição de construção de navios bem mais tardia do que a dos referidos casos, e que perdura até à nossa época – ou quase – se atendermos que o declínio da grande construção de madeira iniciado no século XIX teve o apogeu da sua agonia na 2ª metade do século XX.

A peça compósita Furadouro 1 é, na realidade, não uma sobrequilha, mas um segmento de quilha, sobre a qual assenta uma tábua de hastilhas, cujo denteado se destina ao encaixe axial dos pés ou das faces inferiores das cavernas, como se pode observar na obra de Edmundo Castanheira (Fig. 16)8.

A este propósito, o autor refere o seguinte:

“A parte superior da quilha acima da linha que une as arestas superiores dos dois alefriz, dá-se o nome de tábua de hastilhas. Havendo dificuldade em obter madeira que nos forneça uma peça inteira para a tábua das hastilhas, esta será formada por uma grossa prancha solidamente cavilhada com a quilha. Na tábua de hastilhas é aberto um entalhe de cada lado do plano de simetria, denominado hastilheira, conforme fig. 27. Estes entalhes cujo comprimento no sentido de proa à popa é precisamente igual à largura das cavernas, tem por finalidade encastrar estas na quilha.”

O fragmento de tábua de hastilhas da peça Furadouro 1 encontra-se solto da quilha na sua maior parte dianteira (norte), sendo nesta fase ainda prematuro adiantar os pormenores da sua fixação à quilha e às cavernas, assim como à sobrequilha.

Em contrapartida, o pormenor da sua zona de fractura merece algumas considerações, especialmente pelo facto de esta zona coincidir justamente com a aresta externa, superior,

8 Vide Bibliografia.

Fig. 16 – Estrutura axial (em secção) dos fundos de um navio com o pormenor da

quilha equiparável ao da peça Furadouro 1 (in Castanheira, 1991: 63, Fig. 27).

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do “dente-batente” da longa escarva obliquamente rebaixada em toda a sua extensão

Seja dito que a fractura da tábua de coincide justamente com o plano deste ponto de fragilidade de qualquersegmentos escarvados), razão pela qual tajustamente os cascos nessas zonas de nessas zonas um dos lados das

De referir, a propósito, que o afeiçoamento deste topo parece significativo, nque o seu encurvamento parece encosto à correspondente face outra peça. Esta hipótese merece no entanto reserva, porquanto o mais natural neste caso seria o de este contacto, hipoteticamente terminal, dever ser feito através de uma escarva. De assinalar neste topo sullados, a existência de uma forte concreção ferruginosa que aparentemente uma cavilha de ferro vertical que o atravessa(Fig. 19).

Fig. 17 – Extremidade norte do fragmento de presumível nau da Índia Nossa Senhora dos Mártires

naufragada em 1606 na barra do Rio Tejonas imediações da fortaleza de São Julião da Barra.

Vê-se, a eixo, à direita, a extremidade da escarva vertical da quilha

e à esquerda, recuado, o seu batente, testemunhos exemplares da sua zona de fractura.

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batente” da longa escarva da quilha, que constitui a sua restante parte em toda a sua extensão.

da tábua de hastilhas neste local não é de admirar, porquanto o plano deste “dente-batente”. Este representa, aliás,

qualquer peça compósita (neste caso prolongada através de , razão pela qual tantos vestígios navios destroçados quebram

justamente os cascos nessas zonas de assemblagem estruturais e apresentam frequentemente as extremidades de rotura (Fig. 17).

Na extremidade oposta (sul), a tábua de hastilhas encaixava perfeitamente no maciço de topo da peça, que para o efeito fora rebaixado propositadamente, deixando topo esculpido, em reserva (Fig. 18

afeiçoamento topo parece significativo, no sentido em

que o seu encurvamento parece servir de face contacto de uma merece no entanto

, porquanto o mais natural neste caso hipoteticamente través de uma

neste topo sul, dos dois a existência de uma forte concreção

aparentemente corresponde a uma cavilha de ferro vertical que o atravessa

Fig 18 – Extremidade sul da peça Furadouro 1, em que é visível o encaixe perfeito da tábua de hastilhas no seu topo rebaixado.

Fig. 19 – Extremo sul da peça Furadouro 1, claramente afeiçoado (rematado em encurvamento), vendolados borbotos de concreção ferruginosa, aparentemente indiciando um mesmo cavilhamento.

Foto: J. Coelho

casco da Nossa Senhora dos Mártires,

a barra do Rio Tejo, ortaleza de São Julião da Barra.

a extremidade dianteira da quilha,

do, o seu batente, testemunhos exemplares da sua zona de fractura.

na praia do Furadouro, Ovar.

Pági

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restante parte

, porquanto ela , um típico

(neste caso prolongada através de navios destroçados quebram

frequentemente

Na extremidade oposta (sul), a tábua de ilhas encaixava perfeitamente no maciço

de topo da peça, que para o efeito fora rebaixado propositadamente, deixando o seu

(Fig. 18).

Extremidade sul da peça Furadouro 1, em que é visível no seu topo rebaixado.

Extremo sul da peça Furadouro 1, claramente afeiçoado (rematado em encurvamento), vendo-se dos dois lados borbotos de concreção ferruginosa, aparentemente

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

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A mais destacada particularidade da quilha Fem toda a extensão da sua parte nortevirada para leste (terra), pelo que funcional, original (Figs. 20 e 21

Este tipo de assemblagem é muito comumtodos os tempos, designadamente estrutural dos navios (quilhas, sobrequilhas, escoas e dormentes)pelo que a peça Furadouro 1 atesta à partida, sem trata de um segmento de uma segmentos – pormenor arquitecturalexpoentes máximos da arquitectura da arquitectura naval portuguesa, europeia e mundialdos finais do século XVI e dos inícios do XVII, Fernando Oliveira e João Baptista Lavanha(Fig. 22), como resultado da rarefacção das espécies arbóreas suficientemente poderosas e longas, susceptíveis de nelas se poderem talhar quilhas “

Por outro lado, este facto está já amplamente atestadoexemplo, nos destroços do navio nos da presumível Nossa Senhora dos Mártires

9 Sublinhe-se que as escarvas verticaisnavios mais tardios, como o do Furadouro, 10 Alves, F. et al., 2001. 11 Alves, F. et al., 1998, e Castro, F., 2005.

Fig. 20 – A peça Furadouro 1 na sua posição funcional, original.

Fig. 21 – A zona da escarva da quilha da peça Furadouro 1 na sua posição funcional, original.

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

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mais destacada particularidade da quilha Furadouro 1 é a de apresentar uma escarva lisa toda a extensão da sua parte norte. No local, esta escarva encontrava-se na vertical,

virada para leste (terra), pelo que teria a sua face virada para cima na sua posição 20 e 21).

tipo de assemblagem é muito comum na carpintaria naval de designadamente nas peças longitudinais de reforço

estrutural dos navios (quilhas, sobrequilhas, escoas e dormentes)9, atesta à partida, sem surpresa, que se

uma quilha compósita – i.e. feita de pormenor arquitectural sobejamente referido e justificado pelos dois

da arquitectura da arquitectura naval portuguesa, europeia e mundialdo século XVI e dos inícios do XVII, Fernando Oliveira e João Baptista Lavanha

, como resultado da rarefacção das espécies arbóreas suficientemente poderosas e longas, susceptíveis de nelas se poderem talhar quilhas “de um só pao” (Oliveira)

r outro lado, este facto está já amplamente atestado arqueologicamente em Portugal (por nos destroços do navio Ria de Aveiro A10, dos meados do século XV

Nossa Senhora dos Mártires11 (Fig. 17 e 25).

se que as escarvas verticais são comuns nas quilhas dos navios desta época, enquanto que nos , como o do Furadouro, dominam as escarvas horizontais (na realidade oblíquas).

., 1998, e Castro, F., 2005. Vide também, numa perspectiva comparativa, em Alves

A peça Furadouro 1 na sua posição funcional, original.

A zona da escarva da quilha da peça Furadouro 1 na sua posição funcional, original.

Fig.22 –vertical), segundo Lavanha.

na praia do Furadouro, Ovar.

Pági

na 1

0 (2

7)

uma escarva lisa na vertical,

na sua posição

dois da arquitectura da arquitectura naval portuguesa, europeia e mundial,

do século XVI e dos inícios do XVII, Fernando Oliveira e João Baptista Lavanha , como resultado da rarefacção das espécies arbóreas suficientemente poderosas e

(Oliveira).

arqueologicamente em Portugal (por XV (Fig. 23), e

os navios desta época, enquanto que nos escarvas horizontais (na realidade oblíquas).

Alves et al., 2000.

– escarva lisa (neste caso vertical), segundo Lavanha.

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Antes de descrever em pormenor onecessidade de encadeamento lógico desta descrição, seja referido que as arestas da face superior (de assentamento da tábua de hastilhas) (Fig. 13a - i) + i)). Quer isto dizerseccionadas, ficando assim definidodebaixo dos bordos laterais da tábua de hastilhas, rasgos longitudinais equialefrizes, para o encaixe das tábuas de resbordo

A escarva lisa horizontal, de “denteuma peça particularmente complexa do ponto de vista formal. Com efeito, a par do plano longitudinal e oblíquo da sua face

Figs. 23 e 25 – Segmentos das quilhas dos navios Ria de Aveiro A e da presumível Nossa Senhora dos Mártiresaxonométrico de uma escarva lisa vertical num troço de quilha.

Fig. 26 – Pormenor do sotamento da aresta da face da quilha em que assenta a tábua de hastilhas. A escarva lisa horizontoblíqua em posição funcional) desenvolve-se a partir plano do “dente

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Antes de descrever em pormenor o segmento de quilha da peça Furadouro 1, e por necessidade de encadeamento lógico desta descrição, seja referido que as arestas da face superior (de assentamento da tábua de hastilhas) se encontram obliquamente sotadas

Quer isto dizer que estas arestas simétricas estão longitudinalmente seccionadas, ficando assim definidos, ao longo das partes laterais superiores da quilha,

dos bordos laterais da tábua de hastilhas, rasgos longitudinais equivalentes aos alefrizes, para o encaixe das tábuas de resbordo (Fig. 26).

A escarva lisa horizontal, de “dente-batente”, do segmento de quilha da peça Furadouro 1 éuma peça particularmente complexa do ponto de vista formal. Com efeito, a par do plano

da sua face, que intersecta o plano teórico da base da peça, ela tem

Segmentos das quilhas dos navios Ria de Aveiro A Nossa Senhora dos Mártires. Fig. 24 – Esquema

axonométrico de uma escarva lisa vertical num troço de quilha.

Pormenor do sotamento da aresta da face da quilha em que assenta a tábua de hastilhas. A escarva lisa horizontse a partir plano do “dente-batente”, que por sua vez coincide com o plano de rotura daquela tábua.

Aresta sotada

Dente-batente da escarva

Foto: F. Alves

Foto: P. Gonçlves ou F. Castro?

Foto: F. Alves

na praia do Furadouro, Ovar.

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na 1

1 (2

7)

e por necessidade de encadeamento lógico desta descrição, seja referido que as arestas da sua

se encontram obliquamente sotadas longitudinalmente

ao longo das partes laterais superiores da quilha, valentes aos

batente”, do segmento de quilha da peça Furadouro 1 é uma peça particularmente complexa do ponto de vista formal. Com efeito, a par do plano

base da peça, ela tem

Pormenor do sotamento da aresta da face da quilha em que assenta a tábua de hastilhas. A escarva lisa horizontal (na realidade , que por sua vez coincide com o plano de rotura daquela tábua.

F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

as suas arestas laterais duplamente sotadas, um dos sotamentos (C)ao prolongamento do plano do sotamento das arestas situadode hastilhas (Figs. 27 e 28)12. Isto poderáalefriz, mesmo que parcialmente. Daria assimmais de apoio do que encaixe), o que parece explicação. Os outros planos de sotamento não têm por ora explicação

À falta de outras partes originalmente conexas, pouco alvitrar no escuro; como ter eventualmente exde peças com assemblagens longitudinaistransversal complexa, compósita e/ou facetadaconsolidado para assumir a função constituindo uma quilha sobremaneira

12 Apresentam-se aqui – deliberadamente realizadas com duas objectivas diferentes (

B

D

B’

E

D

B’

A

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as suas arestas laterais duplamente sotadas, um dos sotamentos (C) parecendo corresponder ao prolongamento do plano do sotamento das arestas situado debaixo das bordas da tábua

. Isto poderá querer dizer que esse plano teria a função de alefriz, mesmo que parcialmente. Daria assim apoio e encaixe às tábuas de resbordo (aqui mais de apoio do que encaixe), o que parece no entanto relativamente insatisfatório como

planos de sotamento não têm por ora explicação.

partes originalmente conexas, pouco mais se poderá dizer, que não seja ter eventualmente existido um conjunto mais ou menos

assemblagens longitudinais, escarvadas e sotadas inversamente, de complexa, compósita e/ou facetada, constitutivas de um leggo suficientemente

consolidado para assumir a função de eixo maior estruturante central de um naviosobremaneira compósita.

deliberadamente – duas tomadas de vista de perspectiva de N-NE, idênticas, realizadas com duas objectivas diferentes (vide nota 6: 6), cada qual com a inerente deformação.

A

A

B

C

C

E

Figs. 27 e 28 – Descrição dos planos (em p

A – Plano da escarva lisa horizontal (na realidade, oblíqua).B – Face lateral vertical. B’ – Face lateral vertical, rebaixada (dente em plano transversal).C – Plano oblíquo do sotamento da aresta de A, terminando em dente transversal triangular. D – Plano oblíquo de sotamento da aresta da face superior da quilha e da face lateral B, constitutivo de uma base de alefriz D.E – Plano de sotamento das arestas das faces A, B e C, para presumível prolongamento da base de alefriz D.

A

Foto: J. Coelho

na praia do Furadouro, Ovar.

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parecendo corresponder rdas da tábua

a função de apoio e encaixe às tábuas de resbordo (aqui

ente insatisfatório como

, que não seja mais ou menos complexo

, de secção suficientemente

estruturante central de um navio – o todo

NE, idênticas, nota 6: 6), cada qual com a inerente deformação.

Descrição dos planos (em posição funcional):

Plano da escarva lisa horizontal (na realidade, oblíqua).

Face lateral vertical, rebaixada (dente em plano transversal). Plano oblíquo do sotamento da aresta de A, terminando em

Plano oblíquo de sotamento da aresta da face superior da quilha e da face lateral B, constitutivo de uma base de alefriz D.

Plano de sotamento das arestas das faces A, B e C, para presumível prolongamento da base de alefriz D.

Foto: F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Quanto mais não seja por esta indefinição, a quilha Furadouro 1 é uma peça excepcionalmente interessante,

As particularidades da quilha Furadouro 1 não ficam no entanto por aqui. que no local estava virado para cimatábua de hastilhas, apresentava toda a sua extensão (face B’) (Fig. 29

Não se encontrou ainda explicação para estelado da quilha. Com efeito, se dente simétrico, ambos poderiadeslizamentos longitudinais entre ela eum contraforte, segundo Castanheiraconhecemos nenhum exemplo em aberto.

Finalmente, a base da quilha, a sua face inferior, é apesar de atestar um talhe regularmente plano notória bossa no seu terço mediano, como se pode verificar nas Figs.

13 À imagem do que os egípcios faziam há não para unir tábuas, mas para evitar o seu deslocamento longitudinal.

Fig. 29 – Dente de rebaixamento de uma das superfícies laterais da quilha

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro

Quanto mais não seja por esta indefinição, a quilha Furadouro 1 é uma peça interessante, mais por colocar perguntas do que por trazer respostas

As particularidades da quilha Furadouro 1 não ficam no entanto por aqui. O lado da peçaestava virado para cima (face B), a c. 1m para sul da extremidade de rotura da

apresentava um dente de rebaixamento dessa superfície, ao longo de (Fig. 29).

explicação para este dente, que apenas se encontra presente nesse se isto se passasse numa sobrequilha, e se existisse um

poderiam corresponder à necessidade de “trancar” os eventuais deslizamentos longitudinais entre ela e uma peça contígua, de reforço longitudinal lateral

, segundo Castanheira13. Isto, teoricamente, porque na realidade não emos nenhum exemplo similar. A resposta a esta questão fica portanto

Finalmente, a base da quilha, a sua face inferior, é parcialmente plana. Quer isto dizer que, ularmente plano nos seus terços extremos, apresenta uma

notória bossa no seu terço mediano, como se pode verificar nas Figs. 30 e 31.

imagem do que os egípcios faziam há mais de quatro mil anos com as linguetas não cavilhadas, usadas mas para evitar o seu deslocamento longitudinal.

Dente de rebaixamento de uma das superfícies laterais da quilha – um enigma por desvendar.

B’ B

na praia do Furadouro, Ovar.

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r respostas.

O lado da peça para sul da extremidade de rotura da

, ao longo de

presente nesse e se existisse um outro

s eventuais e reforço longitudinal lateral –

na realidade não portanto igualmente

plana. Quer isto dizer que, nos seus terços extremos, apresenta uma

mil anos com as linguetas não cavilhadas, usadas

um enigma por desvendar.

Foto: F. Alves

D

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Nesta mesma zona merece ser assinaladodobrado, cuja extremidade proeminrebitada, conservando ainda a anilha

Esta particularidade da base da quilha da observação mais aprofundada, é por sua vez belevantamento da peça pela grua

Figs. 30 e 31 – Vista da peça com a base virada para cima, na qual é claramente visível a “bossa” desta face, podendo também observarferro dobrada, com uma grande cabeça rebitada e a respectiva anilha (Figs. 32 e 33).

Foto: J. Coelho

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro

Nesta mesma zona merece ser assinalado um pormenor: a presença de um prego de ferro proeminente e concrecionada parece corresponder a uma cabeça

rebitada, conservando ainda a anilha (Figs. 30 a 33).

da base da quilha da peça Furadouro 1, que terá de ser objecto de uma observação mais aprofundada, é por sua vez bem visível aereamente, na fase de

peça pela grua disponibilizada (Fig. 34).

Vista da peça com a base virada para cima, na qual é claramente visível a “bossa” desta face, podendo também observar-se uma protuberância bastante oxidada, constituída por uma cavilha de ferro dobrada, com uma grande cabeça rebitada e a respectiva anilha (Figs. 32 e 33).

Foto: J. Coelho

na praia do Furadouro, Ovar.

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a presença de um prego de ferro corresponder a uma cabeça

terá de ser objecto de uma , na fase de

Vista da peça com a base virada para cima, na qual é claramente visível a “bossa” desta se uma protuberância bastante oxidada, constituída por uma cavilha de

Figs.32 e 33 – Cavilha com cabeça rebitada e a respectiva anilha (vista de topo) e o seu desenho de perfil.

Foto: F. Alves

Foto: A. Martins

Coelho

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Dimensões e outros atributos

Peso: c. 700kg15.

Orientação do eixo longitudinal

Comprimento: c. 7,75m.

Largura (espessura transversal)escarva); 0,39m (na extremidade N da escarva)

Altura (espessura vertical): 0,340,3m (imediatamente a N da extremidade S em reserva, atébossa começa a formar-se); 0,36m (a S do eixo da anilha)anilha, até ao eixo da aresta superior da escarva

Escarva

Comprimento da face: 2,9m.

Largura (espessura transversal)

Altura do dente-batente: 0,04m.

Altura (espessura vertical): 0,

14 Agradeço à minha aluna do seminde verificação das medições em questão.15 Lido no dinamómetro da grua do camião dos Bombeiros, que removeu a peça

Fig. 34 – Vista da remoção final da peça Furadouro 1, em que se pode perfeitamente observar o seu perfil.

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro

Dimensões e outros atributos14

longitudinal: Azimute horizontal: 340º.

(espessura transversal): 0,325m (na extremidade S); 0,395m (junto ao dente(na extremidade N da escarva).

0,34m (na reserva da extremidade S); 0,34m (a 0,25m Sa N da extremidade S em reserva, até 2,5m S-N, a partir

0,36m (a S do eixo da anilha); 0,37m (na bossa a eixo da eixo da aresta superior da escarva).

(espessura transversal): 0,395 (junto ao dente); 0,39m (na extremidade N).

0,04m.

0,11m (na extremidade N).

o seminário de Mestrado, Fátima Claudina a colaboração prestada nos trabalhos de verificação das medições em questão.

Lido no dinamómetro da grua do camião dos Bombeiros, que removeu a peça no final do dia.

Vista da remoção final da peça Furadouro 1, em que se pode perfeitamente observar o seu perfil.

Foto: A. Martins

na praia do Furadouro, Ovar.

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(junto ao dente da

0,34m (a 0,25m S-N); , a partir do qual a

0,37m (na bossa a eixo da

dade N).

Mestrado, Fátima Claudina a colaboração prestada nos trabalhos

no final do dia.

Vista da remoção final da peça Furadouro 1, em que se pode perfeitamente observar o seu perfil.

Martins

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

Trabalhos da DANS, 46 Setembro 2011

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Tábua de hastilhas

Comprimento: 4,56m.

Comprimento mínimo e máximo preservado das faces superiores dos dentes: 0,145m (dente 6 S-N) e 0,25m (dente 7).

Comprimento mínimo e máximo do espaço rebaixado entre dentes: 0,265m (espaço 6 S-N, muito deteriorado); 0,33m (espaço 5 S-N)16.

Largura mínima e máxima dos dentes: 0,31m (dente 1); 0,37m (dente 9 = extremo N, junto à aresta do dente da escarva).

Altura (espessura vertical) máxima nos dentes: 0,12m.

Outras medidas relevantes

Comprimento do sotamento D (Figs. 26 a 29): 1,625m.

Notas adicionais

Entre os numerosos transeuntes locais e estivantes, que por curiosidade se dirigiram aos membros da equipa, contou-se um residente local, o senhor António José Oliveira Ferreira, que informou que a peça Furadouro 1 dera à costa acerca de 2/3 anos e provinha dos destroços de um navio naufragado nas proximidades, nos quais se emalhavam frequentemente as redes de pesca, o que causava grande transtorno aos pescadores, e que por isso foram arrastados para a praia.

Mas disse também que a algumas centenas de metros para sul, mais para trás das dunas do que a peça Furadouro 1, existiam outros vestígios de madeira do mesmo género (que já nos tinham assinalado, pelo que tínhamos decidido ir vê-los no final do dia). Segundo a informação, parte destes vestígios deixados a norte da praia acabaram por ser levados pelas marés, mais para sul – razão pela qual o tractor da pesca os arrastara para trás das dunas.

Deste modo, no final do dia, o signatário e parte da equipa foram ver este segundo núcleo de destroços (Figs. 35 a 37). E ficou claro, pela sua importância, que era forçoso voltar lá para uma consistente observação preliminar.

16 Este é verdadeiramente o parâmetro descritivo fundamental da tábua de hastilhas, porquanto permite conhecer a espessura do cavername (presumivelmente duplo, ao qual cada espaço rebaixado entre dentes servia de encaixe. Assim, com vista à estimativa desta espessura, apresenta-se o comprimento de cada um dos 8 espaços (entre os seus 9 dentes) – sublinhando no entanto a pouca fiabilidade destas medidas, devido à grande degradação dos lados e das superfícies dos dentes desta peça: Espaço 1 (S-N): 0,28cm; Espaço 2: 0,32cm; Espaço 3: 0,325cm; Espaço 4: 0,32cm; Espaço 5: 0,33cm; Espaço 6: 0,265cm; Espaço 7: 0,305cm; Espaço 8: 0,295cm. Em conformidade com estas medidas, os elementos das meias cavernas deveriam ter entre 14 e 16cm de espessura.

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

Furadouro 2

Três dias depois da primeira missãosignatário, João Coelho, Miguel Martins,Meireles, voltou ao sítio e efectupeças por fotografia e mediçãodeste conjunto era muito maiore uma logística apropriada.

Finalmente, nos dias subsequentesserviços municipais para o mesmo local do primeiro, estudo pormenorizado.

Observações e comentários

O referido conjunto era constituído longo segmento de quilha, e a em conexão, ao qual pertencia claramente imediata contiguidade daquele conjunto.

Fig. 35 – Vista geral do sítio Furadouro 2, para leste. Fig. 36

Foto: A. Martins

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da primeira missão, na 5ª feira, 1 de Julho, uma equipa constituída pelo, João Coelho, Miguel Martins, Catia Charter, Sandra Marques e Brígida

ao sítio e efectuou a observação e o registo sumário deste conjunto de por fotografia e medição. Era com efeito evidente que a complexidade estrutural

era muito maior do que no caso da peça Furadouro 1, exigindo

entes, os vestígios de Furadouro 1 e 2 foram levadomunicipais para o mesmo local do primeiro, para serem posteriorment

O referido conjunto era constituído mais a leste, por uma única peça, consistindo na oeste, a poucos metros dele, por um conjunto de peças

ao qual pertencia claramente uma meia caverna solta, caída a lesteimediata contiguidade daquele conjunto.

Vista geral do sítio Furadouro 2, para leste. Fig. 36 – Segmento de quilha. Fig. 37 – Conjunto ainda em conexão.

Martins Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

na praia do Furadouro, Ovar.

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uma equipa constituída pelo e Brígida

este conjunto de complexidade estrutural

, exigindo mais tempo

foram levados pelos posteriormente objecto de

, consistindo num por um conjunto de peças ainda

, caída a leste na

Conjunto ainda em conexão.

Fotos: J. Coelho

Alves

F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

1. O segmento de quilha

Depois de uma elementar desmatação do local e da limpeza do segmento deverificou-se que o mesmo se encontrava em péssimo estado de conservação, apresentandose quase completamente corroídosuas faces.

A peça jazia de lado com a sua face dorsal virada para norteaproximadamente no sentido lestecompletamente degradada, mas

A escarva de dente

O mais expressivo pormenor da face sul desta extremidade (correspondente à inferior em posição funcional) era a presença de uma

A escarva apresentava como pormenorpara o dente escavados em canelura subpara a inserção de cavilhas de madeira de secção circular com a função de quais se encontravam ainda preservadasterminal da escarva, não rebaixada, existia uma canelura em meiaaqua-stop.

Fig. 38 – A quilha Furadouro 2, vista W

Fig. 40 – Vista da escarva de dente (fêmea) do segmento de quiem forma de canelura para aqua-stop, assim como a meia

Rebaixamento pacom um

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro

Depois de uma elementar desmatação do local e da limpeza do segmento de quilhase que o mesmo se encontrava em péssimo estado de conservação, apresentando

se quase completamente corroído na sua base e em significativas partes da superfíci

a face dorsal virada para norte e estava disposta adamente no sentido leste-oeste. A sua extremidade W apresentava-se

mas a de L bastante menos.

O mais expressivo pormenor da face sul desta extremidade (correspondente à em posição funcional) era a presença de uma escarva de dente (Figs. 39 e 40).

pormenores de destaque os dois cantos internos do rebaixamentoem canelura sub-circular, a ¾ do respectivo perímetro

cavilhas de madeira de secção circular com a função de aquapreservadas (Figs. 42 a 44). Complementarmente, a meio da face

terminal da escarva, não rebaixada, existia uma canelura em meia-cana para um terceiro

A quilha Furadouro 2, vista W-L. Fig. 39 – A quilha Furadouro 2, vista L-W, com a sua escarva terminal

Vista da escarva de dente (fêmea) do segmento de quilha Furadouro 2, em que são visíveis as respectivas arestas internas stop, assim como a meia-cana para um terceiro aqua-stop, a meio do plano terminal da escarva, não rebaixado.

Foto: F. Alves

Meia-cana de um aqua-stop a meio do plano terminal da escarva

Rebaixamento para o dente da peça oposta com um aqua-stop em cada topo

na praia do Furadouro, Ovar.

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quilha, se que o mesmo se encontrava em péssimo estado de conservação, apresentando-

da superfície das

e estava disposta se

O mais expressivo pormenor da face sul desta extremidade (correspondente à sua face (Figs. 39 e 40).

rebaixamento (Fig. 41),

aqua-stop, as a meio da face

cana para um terceiro

W, com a sua escarva terminal

lha Furadouro 2, em que são visíveis as respectivas arestas internas stop, a meio do plano terminal da escarva, não rebaixado.

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

Alefriz

Foto: F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

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Apesar de bastante erodida, a peça tinha todos os atributos clássicos de uma quilha, com os alefrizes simétricos bem marcados.

Uma particularidade forneceu entretanto um dado de natureza técnica e cronológica muito interessante. Com efeito, na base da quilha eram visíveis pontos de verdete indicativos da presença de produtos de corrosão do cobre (Figs. 45 e 46). Eram vestígios de cabeças de pequenos pregos de cobre que fixavam o folheamento de cobre às obras vivas do navio (incluindo portanto à quilha), protecção típica do casco dos navios desde os finais do século XVIII, mas sobretudo generalizada no século XIX17, o que baliza cronologicamente o navio em questão.

17 Vide Krisman, K. & Jordan, B., 1999.

Figs. 42 a 44 – Pormenor das cavilhas de madeira dos cantos do rebaixamento da escarva, com a função de aqua-stop.

Fig. 41 – Croqui explicativo dos pormenores da parte rebaixada (para o dente) da escarva da quilha Furadouro 2 (F. Alves).

Figs. 45 e 46 – Pormenor da disforme face inferior da quilha Furadouro 2 em que são visíveis cabeças de pregos de cobre, para a fixação do folheado do mesmo metal, para protecção das obras-vivas do casco contra os xilófagos.

Foto: F. Alves Foto: F. Alves Foto: F. Alves

Foto: F. Alves Foto: F. Alves

L //

// L = 0,745m L = 0,71m

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

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Dimensões básicas do segmento de quilha

Comprimento: 6,75m.

Largura: 0,25/0,27m.

Altura: 0,28m (a 3,6m S-N, local em que estava mais bem preservada).

Alefriz

Altura da banda superior da quilha: 0,05m

Largura da banda superior do alefriz: 0,07 a L; 0,09 a W. A banda inferior é mais estreita.

2. O conjunto de peças em conexão estrutural

O conjunto em conexão estrutural original é composto pelos seguintes elementos (Fig 47):

- Uma peça axial longitudinal de poderosa secção quadrangular ovalada, pequena em comprimento, cuja parte superior, denteada, é formada por dois rebaixamentos entre três partes sobrelevadas. Foi convencionalmente designada K.

- Uma caverna de braços pequenos, um deles “no ar”, a leste, e o outro, a oeste, deitado na areia, inserida na metade meridional do espaço rebaixado mais a sul. Foi designada C, e os seus braços CbW e CbL18.

- Um meio-braço longo, deitado igualmente a oeste, adossado a CbW, excedendo-o em comprimento e igualmente inserido no espaço rebaixado mais a sul, neste caso na sua metade setentrional. Foi designado BW.

- Um pequeníssimo fragmento de tabuado ainda subsistia semi-pregado na face externa de CbL (Fig. 48).

Um curto fragmento de meio-braço deitado solto na areia imediatamente a leste do conjunto, verificou-se ser o elemento simétrico de BW, graças ao seu pé preservado (Fig. 49). Foi designado BL.

18 De referir que esta caverna C se encontra fissurada mais ou menos a eixo, o que no terreno impediu verificar se a peça é de facto unitária, embora circunstancialmente rachada, ou se é efectivamente feita de dois braços.

Fig. 47 – O conjunto total Furadouro 2 visto de sudoeste. Fig. 48 – Fragmento de tabuado ainda preso ao braço da caverna. Fig. 49 – Pé do meio-braço BL, solto.

C K

CbL

CbW K

BW

BL

BL K

Fig. 47 Fig. 48

Fig. 49 Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de

A peça K apresenta na sua extremidade sul Em contrapartida, a sua extremidade norteidêntico, mas incompleto, disto sendo expressseccionados (Figs. 50 e 51). Aliás, como é bem visível nesta última vista, banda interna do maciço terminal não concluído, que aparentementecertamente bem longa, foi intencionalmente desmantelamento destes vestígios, ainda no mar ou já mesmo em terra.

Presume-se, a partir da superfície remostra no seu lado meridional: uma pequena pia rectangular (Figde um pé de caverna ou dos respectivos b

Figs. 50 e 51

Fig. 52 – Vista de leste do rebaixamento setentrional da peça K

Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro

na sua extremidade sul um seccionamento transversal nítido e limpoartida, a sua extremidade norte apresenta indícios de um seccionamento

idêntico, mas incompleto, disto sendo expressão alguns pontos periféricos da madeiraAliás, como é bem visível nesta última vista, ao longo da

terna do maciço terminal (N) houve um seccionamento transversal iniciado mas mente testemunha que esta maciça peça longitudinal

certamente bem longa, foi intencionalmente serrada, provavelmente no acto de vestígios, ainda no mar ou já mesmo em terra.

se, a partir da superfície rebaixada visível, que todas elas possuiriam o que esta ostra no seu lado meridional: uma pequena pia rectangular (Figs. 51 e 52) para a mecha

respectivos braços simétricos, se estas forem compósitas

Figs. 50 e 51 – Extremidades sul e norte da peça K.

Vista de leste do rebaixamento setentrional da peça K com a sua pia.

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

na praia do Furadouro, Ovar.

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nítido e limpo. um seccionamento

da madeira, não ao longo da

houve um seccionamento transversal iniciado mas longitudinal,

ada, provavelmente no acto de

iam o que esta ara a mecha

s forem compósitas.

. Alves

Foto: F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

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Por sua vez, como já é visível na figura anterior, é notória a pequena deslocação sofrida pelo pé do braço BW (Fig. 53).

Decidiu-se então colocar o braço BL na sua posição original, tendo então sido verificado que este era fixado ao braço contíguo da caverna C (CbW) por intermédio de cavilhas de madeira (Figs. 54 e 55).

Fis. 53 – Vista da deslocação sofrida pelos pés da caverna C e do meio-braço BW.

Fig. 54 – O fragmento do meio-braço BL no seu lugar de origem.

Figs. 55 – Uma cavilha de madeira para a fixação dos braços encontrava-se ainda preservada. Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

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De assinalar deste modo que este cavername é composto por unidades mistas (formadas por elementos duplos emparelhados), característica do sistema alternado convencional vigente até à época contemporânea na construção dos navios de madeira. Sistema este em que cada caverna inteiriça (ou não?) de braços simétricos curtos, embaraça lado a lado com dois longos braços individuais, simétricos, dando assim origem a uma sequência transversal alternada em conformidade com o esquema seguinte (Fig. 56).

Fig. 56 – Esquema de um cavername alternado: Pequenas cavernas axiais = . . Longos 1os meios-braços = .

2os braços (não presentes em Furadouro 2) = .

Entretanto, decidiu-se colocar a peça K na sua posição original (Figs. 50, 57 e 58).

Figs. 57 – O conjunto em conexão estrutural Furadouro 2, em posição funcional vista de sul.

Figs. 58 – O conjunto em conexão estrutural Furadouro 2, em posição funcional vista de norte. Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

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Após a colocação do conjunto em conexão estrutural Furadoro 2 em posição funcional, tornou-se imprescindível observar a sua única parte até então não colocada à vista – a sua base. O resultado foi surpreendente, devido a um pormenor até então insuspeitado. A base da peça K era efectivamente plana – mas fora rebaixada relativamente aos seus bordos laterais – internamente mantidos em forma de batente vertical, e externamente conservando o encurvamento próprio do exterior da peça (Figs. 59 e 60) – como que formando uma calha para o encaixe no dorso de uma peça abaixo situada, que provavelmente era a quilha (Fig. 61).

Este simples pormenor permitiu concluir que a peça K assentava obrigatoriamente numa outra peça longitudinal, cujo dorso nela encaixava entre os seus dentes laterais. Resta saber

Figs. 59 e 60 – A base da peça K e o seu rebaixamento, denteado lateralmente.

Foto: F. Alves

Foto: F. Alves

Fig. 61 – Esquema da secção da parte inferior da peça K, com a sua base rebaixada e o seu denteado lateral.

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

Trabalhos da DANS, 46 Setembro 2011

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agora, se ela assentava numa quilha – desempenhando assim o papel de uma tábua de hastilhas (hipótese que nos parece mais provável) – ou se ela-própria é um segmento amputado de uma quilha, adaptada para assentar numa contraquilha. Em qualquer dos casos, levaria obrigatoriamente19 por cima, axialmente e longitudinalmente, uma sobrequilha.

Outra questão será tentar-se determinar se a quilha Furadouro 2 corresponderia ao conjunto em conexão, o que provavelmente não se conseguirá, porquanto além serem ambas segmentos de peças compósitas – e nada permite auspiciar que os segmentos de cada uma eram justamente os que encaixavam entre si (se fosse esse o caso). Tanto mais que no caso da peça K estaríamos apenas perante o que resta (seccionado) de um segmento de uma tábua de hastilhas (neste caso, mais propriamente um poderoso madeiro do que uma simples “tábua”…).

E é tudo o que momentaneamente podemos dizer sobre as peças Furadouro 1 e 2.

Dimensões

Peça K

Comprimento: c. 1,215m

Largura: c. 0,6m

Altura (espessura vertical): c. 0,28m

Comprimentos do denteado (de S para N; d = dente; e = espaço):

d1: 0,18m / e1: 0,35m (dos quais 0,315 preenchidos pelo duplo cavername) / d2: 0,13m / e2: 0,355m / d3: 0,2m.

Pia de e2:

Comprimento: c. 0,23m.

Largura: c. 0,17m.

Altura (profundidade): c. 0,08/0,1m.

Largura da base rebaixada: c. 0,285/0,29m.

Caverna C

Envergadura (nas extremidades): c. 2,46m.

Largura: c. 0,175m.

Altura (espessura vertical): c. 0,28m.

Meio-braço BW

Comprimento: c. 2,59m.

Largura: c. 0,155m.

Altura (espessura vertical): c. 0,21m.

19 Por imperativo de rigidez estrutural, tanto longitudinal (stiffness), como transversal, para sujeição do cavername.

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

Trabalhos da DANS, 46 Setembro 2011

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Meio-braço BL (incompleto)

Comprimento: c. 1,46m.

Largura: c. 0,17m.

Altura (espessura vertical): c. 0,26m (fase superior in situ) / 0,28m (face inferir in situ).

Comprimento do bisel do pé: c. 0,34m.

Conclusões preliminares

1. A peça Furadouro 1 não pertence ao mesmo contexto arqueológico do conjunto Furadouro 2, querendo isto dizer que estas não provêm do mesmo navio naufragado.

2. A proximidade do segmento de quilha e do conjunto de peças em conexão de Furadouro 2 não garante que ambas provenham do mesmo navio naufragado; e o segmento de quilha isolado de Furadouro 2, apesar de a sua face dorsal ter uma largura próxima da equivalente da base da peça K do mesmo conjunto de achados, também não o garante.

3. Pelas observações efectuadas e pelos dados recolhidos, os dois conjuntos da praia do Furadouro configuram uma proveniência de mais de um navio – dois ou três, ainda a confirmar – se possível.

4. Estes conjuntos podem ser cotejados com fontes históricas ou arqueológicas sobre naufrágios, ou mesmo com eventuais pesquisas subaquáticas, sem ou com métodos geofísicos de detecção remota, mas os resultados seriam escassos ou mesmo nulos, porque, mais do que provavelmente, jamais se conhecerão as localizações dos respectivos contextos de origem, condição de base para uma eventual possibilidade comparativa.

5. Não obstante, o conjunto de peças identificadas como pertencendo a diferentes navios naufragados ao largo do Furadouro, na sua diversidade tipológica e eventualmente, cronológica, constituem um study case de grande interesse para uma investigação de arqueologia náutica – muito especificamente centrada na arquitectura dos navios de madeira menos antigos, por vezes muito menos estudados e documentados, designadamente dos pontos de vista arqueológico e arqueográfico, do que outros bem mais antigos.

6. De resto, a natureza fragmentária deste conjunto de vestígios, ao mesmo tempo muito limitada e diversificada, revela-se no entanto de excepcional interesse, menos pelas respostas que dá, do que pelas perguntas que coloca. Ora, como se sabe, isto constitui o próprio paradigma de qualquer processo investigativo – se não mesmo, por vezes, a sua única, insubstituível e fundamental contribuição para o conhecimento.

7. De qualquer modo, como já foi dito, o trabalho realizado terá de ser completado oportunamente – com a brevidade possível – desta vez em estaleiro de retaguarda, de modo a completar e corrigir as observações e os registos arqueográficos efectuados.

Bem hajam finalmente todos os que tornaram viável este singelo ensaio de recuperação do passado – a começar pelos que, pela Câmara Municipal de Ovar, e pelo corpo de Bombeiros local, a diversos níveis, despoletaram e apoiaram os trabalhos efectuados, a par de todos aqueles que neles participaram directamente – membros da DANS, colaboradores, colegas e estudantes universitários(as).

Alves, Francisco, 2011, Missões de reconhecimento de vestígios de navios naufragados, abandonados na praia do Furadouro, Ovar.

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