marli borges prado "eu achei que ia resolver para resto da ...

120
MARLI BORGES PRADO "EU ACHEI QUE IA RESOLVER PARA RESTO DA VIDA, PELO CONTRÁRIO É UM CONTROLE PARA O RESTO DA VIDA": PERCEPÇÃO DE SUJEITOS QUE SE SUBMETERAM À CIRURGIA BARIÁTRICA A RESPEITO DO PROCESSO DE VOLTAR A GANHAR PESO APÓS A CIRURGIA Palhoça 2011

Transcript of marli borges prado "eu achei que ia resolver para resto da ...

MARLI BORGES PRADO

"EU ACHEI QUE IA RESOLVER PARA RESTO DA VIDA, PELO CONTRÁRIO É

UM CONTROLE PARA O RESTO DA VIDA": PERCEPÇÃO DE SUJEITOS QUE

SE SUBMETERAM À CIRURGIA BARIÁTRICA A RESPEITO DO PROCESSO DE

VOLTAR A GANHAR PESO APÓS A CIRURGIA

Palhoça

2011

1

MARLI BORGES PRADO

"EU ACHEI QUE IA RESOLVER PARA RESTO DA VIDA, PELO CONTRÁRIO É

UM CONTROLE PARA O RESTO DA VIDA": PERCEPÇÃO DE SUJEITOS QUE

SE SUBMETERAM À CIRURGIA BARIÁTRICA A RESPEITO DO PROCESSO DE

VOLTAR A GANHAR PESO APÓS A CIRURGIA

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em

Psicologia, da Universidade do Sul Santa Catarina,

como requisito parcial para obtenção do título de

psicólogo.

Orientadora: Professora Nádia Kienen, Dr.ª

Palhoça

2011

2

AGRADECIMENTOS

Sou grata à Deus, que plantou o sonho em mim e deu-me forças para buscar e conquistar.

"Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus". (Rm 8:28)

Agradeço ao meu esposo Alípio, que de forma especial e carinhosa me deu força e coragem,

me apoiando nos momentos de dificuldades.

Aos meus filhos Lucas e Victor, presentes de Deus em minha vida. Por tanta vezes que não

pude lhes dar atenção.

A minha mãe, que mesmo não sendo letrada sempre me incentivou a estudar.

A professora e orientadora Nádia Kienen, que com seu empenho, dedicação e conhecimento,

mostrou-me o real significado de ser mestre. Obrigada pelas correções, orientações, e por

muitas vezes reforçar positivamente a minha auto-estima.

A professora Alessandra Scherer, que me contagiou com seu entusiasmo e conhecimento ao

me apresentar a abordagem cognitivo comportamental, e por ter me orientado nos

atendimentos que realizei no Serviço de Psicologia. Obrigada, pelas orientações,

encorajamento e parceira em cada atendimento do SP.

Agradeço, aos sujeitos desta pesquisa, por permitirem que eu entrasse em suas vidas e

conhecesse um pouco de sua história.

As minhas colegas de estágio e supervisão, pelos momentos de descontração que passamos

juntas pois, sem isso, o caminho ficaria mais difícil. Obrigada pela paciência em ouvir minhas

histórias.

As minhas amigas e amigos por compreenderem que muitas vezes não foi possível estarmos

juntos, por tantas vezes que tive que dizer "hoje não dá, estou estudando". Obrigada!

3

"Nossos corpos são nossos jardins, cujos jardineiros são nossas vontades."

(Willian Shakespeare)

4

RESUMO

O Brasil é o segundo no ranking em realização de cirurgias bariátricas ficando atrás dos EUA,

com 200 mil procedimentos em 2010. Frente a este aumento de cirurgias bariátricas entre

brasileiros, estudos sobre as conseqüências desta cirurgia na vida dos sujeitos tornam-se

relevantes. Dessa forma, esta pesquisa objetiva caracterizar à percepção dos sujeitos acerca

do processo de voltar a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica. Os participantes

desta pesquisa foram um homem e quatro mulheres, com idades acima de 18 anos. Como

critérios foram selecionados pelo fato de se submeteram à cirurgia bariátrica, e que já estão no

período pós-operatório há mais de um ano e que referiram ter ganhado peso após a cirurgia.

Estes participantes foram selecionados a partir da indicação de um profissional da área da

saúde. A entrevista com questões abertas foi utilizada como instrumento de coleta de dados.

Os dados foram organizados a partir das entrevistas gravadas e transcritas. A análise dos

dados deu-se a partir da técnica de análise de conteúdo, com a elaboração de categorias e

subcategorias com base nos objetivos da pesquisa. Posteriormente os dados foram

interpretados com base no referencial teórico. Como resultados constatou-se que os sujeitos

da pesquisa submetaram-se à cirurgia bariátrica como se esta fosse a "salvação" para sua

condição de obesidade e outras situações de suas vidas. Além disso, os mesmos não tiveram

acompanhamento psicológico no período pré e pós cirúrgico; percebem a cirurgia como um

controle que terão para o resto da vida e se frustraram com os resultados da cirurgia. As

estratégias alimentares utilizadas foram beliscar e ingerir alimentos fáceis, como bolachas,

chocolates,etc. Apresentam dificuldades de perceber a quantidade de alimento consumido e a

maioria afirma não praticar exercícios físicos. Os dados demonstraram também que os

sujeitos não percebem alterações nas relações sociais se comparadas durante o pré e o pós-

cirúrgico, apesar de tais alterações ocorrerem, como o fato de sentirem-se mais aceitos em

suas relações sociais com a perda de peso e de serem cobrados pelos seus pares pelo fato de

ganharem peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica. Atribuem à alimentação inadequada

e à ansiedade a causa do ganho de peso e possuem sentimentos negativos, como tristeza,

frustração, etc. pelo fato de voltarem a ganhar peso. Sobre a imagem corporal, atribuíram ao

corpo adjetivos positivos como "bonito", "sarado", e adjetivos negativos, tais como,

"horrível", "flácido", "nada de bonito", "imperfeito". Com estes dados, percebeu-se

sofrimento emocional nos sujeitos pelo fato de terem voltado a ganhar peso após realizarem a

cirurgia bariátrica. O comportamento alimentar inadequado persiste ou é agravado após a

5

cirurgia, o que pode também estar associado à compulsão alimentar que o sujeito poderia ter

antes de realizar a cirurgia, o que necessita ser tratado. Os sujeitos não tiveram preparo

prévio do que diz respeito aos aspectos psicológicos e nutricionais que fazem parte da

etiologia da obesidade. Apresentam dificuldades de relacionar as questões emocionais com o

ganho de peso, o que pode ser um dos fatores pelos quais não buscaram tratamento

psicológico como estratégia de enfrentamento ao ganho de peso. Por isso, a importância da

orientação por parte dos cirurgiões bariátricos para que o acompanhamento desses sujeitos

seja multiprofissional, uma vez que a obesidade é um problema multideterminado e questão

de saúde pública na contemporaneidade.

Palavras-chave: Cirurgia bariátrica. Ganho de Peso. Psicologia.

6

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - O IMC e a condição de quantidade de gordura no organismo de uma pessoa. ...... 20

Quadro 2 – Cirurgia Bariátrica: Técnica restritiva, banda gástrica e Mason. .......................... 25

Quadro 3 - Cirurgia bariátrica: Técnicas disabsortivas, cirurgia de Scopinaro e derivação

bíleo-pancreática. ...................................................................................................................... 26

Quadro 4 - Cirurgia bariátrica: Técnica mista, Fobi-Capella. .................................................. 26

Quadro 5 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa. ............................................................... 43

Quadro 6 - Motivação para realizar a cirurgia. ......................................................................... 49

Quadro 7 - Percepção do sujeito acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteu. ................. 51

Quadro 8 - Acompanhamento profissional antes da cirurgia bariátrica. .................................. 54

Quadro 9 - Acompanhamento profissional depois da cirurgia bariátrica. ................................ 58

Quadro 10 - Medicamentos utilizados pelos sujeitos. .............................................................. 59

Quadro 11 - Tipos de alimentos que consomem. ..................................................................... 64

Quadro 12 - Quantidade de alimento que consome. ................................................................. 66

Quadro 13 - Local onde faz as refeições e com quem. ............................................................. 68

Quadro 14 - Tempo que levam para fazer as refeições. ........................................................... 69

Quadro 15 - Quantidade de refeições que faz por dia. ............................................................. 70

Quadro 16 - Mudanças na alimentação após a cirurgia. ........................................................... 72

Quadro 17 - Problemas físicos quando se alimentam. ............................................................. 73

Quadro 18 - Mudanças na alimentação quando tem alguma emoção. ..................................... 74

Quadro 19 - Significado do alimento. ...................................................................................... 76

Quadro 20 - Percepção de alterações nos relacionamentos interpessoais após a cirurgia, no

período em que estavam perdendo peso. .................................................................................. 78

Quadro 21 - A forma como ocorrem as relações interpessoais após o ganho de peso, depois da

cirurgia. ..................................................................................................................................... 80

7

Quadro 22 - Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao

período em que estavam perdendo peso. .................................................................................. 81

Quadro 23 - Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso. .. 84

Quadro 24 - Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso.

.................................................................................................................................................. 85

Quadro 25 - Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso. ...... 88

Quadro 26 - Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia

bariátrica. .................................................................................................................................. 90

Quadro 27 - As causas do ganho de peso. ................................................................................ 91

Quadro 28 - O que fizeram quando voltaram a ganhar peso. ................................................... 93

Quadro 29 - O cuidado que tem com o corpo........................................................................... 96

Quadro 30 - Adjetivos atribuídos ao corpo. ............................................................................. 98

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1.1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 11

2 PROBLEMÁTICA/JUSTIFICATIVA .............................................................................. 12

3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 18

3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 18

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 18

4 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 19

4.1 O IMPACTO DA OBESIDADE PARA OS SUJEITOS E PARA A SOCIEDADE ........ 19

4.1.1 Obesidade e Cirurgia Bariátrica .................................................................................. 23

4.2 OBESIDADE E COMPORTAMENTO ALIMENTAR .................................................... 28

4.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENVOLVIDOS COM A OBESIDADE .......................... 35

4.3.1 Processos psicológicos básicos: percepção, emoção e sentimento ............................. 39

5 MÉTODO ............................................................................................................................. 42

5.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 42

5.2 PARTICIPANTES ............................................................................................................. 43

5.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS ................................................................................... 44

5.4 SITUAÇÃO AMBIENTE .................................................................................................. 44

5.5 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS .............................................................. 44

5.6 PROCEDIMENTOS ........................................................................................................... 45

5.6.1 De seleção dos participantes ......................................................................................... 45

5.6.2 De contato com os participantes ................................................................................... 46

5.6.3 De coleta e registro dos dados ....................................................................................... 46

5.6.4 Organização, tratamento e análise de dados ............................................................... 47

6 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .......................................................... 48

6.1 A CIRURGIA ..................................................................................................................... 48

6.1.1 Motivação dos sujeitos para realizaram a cirurgia bariátrica .................................. 49

6.1.2 Percepção dos sujeitos acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteram ............ 51

6.1.3 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos antes de realizarem a

cirurgia bariátrica .................................................................................................................. 53

9

6.1.4 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos depois de realizaram a

cirurgia bariátrica .................................................................................................................. 57

6.1.5 Medicamentos utilizados pelos sujeitos da pesquisa. ................................................. 58

6.2 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR .......................................................................... 59

6.2.1 Tipos de alimento que consomem ................................................................................ 60

6.2.2 Quantidade de alimento que consomem ...................................................................... 66

6.2.3 Local onde faz as refeições e com quem ..................................................................... 67

6.2.4 Ttempo que levam para fazer as refeições .................................................................. 69

6.2.5 Quantidade de refeições que faz por dia ..................................................................... 70

6.2.6 Mudanças na alimentação após a cirurgia .................................................................. 71

6.2.7 Problemas físicos quando se alimentam indicado pelos sujeitos ............................... 73

6.2.8 Mudanças na alimentação quando apresenta alguma emoção ................................. 74

6.2.9 Significado do alimento ................................................................................................. 75

6.3 MODIFICAÇÕES NAS RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................... 77

6.3.1 Percepção de possíveis alterações nos relacionamentos interpessoais após a

cirurgia, no período em que estavam perdendo peso .......................................................... 77

6.3.2 Característias de relações interpessoais após o ganho e peso depois da cirurgia .... 79

6.3.3 Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao

período em que estavam perdendo peso ............................................................................... 81

6.4 SENTIMENTOS E EMOÇÕES ......................................................................................... 83

6.4.1 Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso ...... 84

6.4.2 Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso

.................................................................................................................................................. 85

6.4.3 Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso ............ 87

6.4.4 Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia

bariátrica ................................................................................................................................. 89

6.4.5 As causas do ganho de peso .......................................................................................... 90

6.4.6 Ações dos sujeitos quando voltaram a ganhar peso .................................................. 93

6.4.7 O cuidado que os sujeitos tem com o corpo................................................................. 96

6.4.8 A imagem corporal: adjetivos atribuídos pelos sujeitos ao próprio corpo. ............. 97

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 101

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 106

APÊNDICE ........................................................................................................................... 113

APÊNDICE A – roteiro de entrevista ................................................................................. 114

10

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido .......................................... 117

11

1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa teve como objetivo caracterizar a percepção de sujeitos que

se submeteram à cirurgia bariátrica a respeito do processo de voltar a ganhar peso após a

cirurgia. Esta pesquisa, foi desenvolvida na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II

(TCC II), da décima fase do curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de

Santa Catarina – UNISUL. A pesquisa está vinculada à disciplina do Núcleo Orientado em

Psicologia e Saúde, por meio do estágio curricular no CAPS II (Centro de Atenção

Psicossocial) em Palhoça/SC.

O tema desta pesquisa surgiu inicialmente, do interesse da pesquisadora em

conhecer melhor o tema da cirurgia bariátrica e o voltar a ganhar peso após o sujeito ter se

submetido a ela. O interesse por este tema surgiu quando a pesquisadora percebeu que pessoas

de sua rede social, que haviam se submetido à cirurgia bariátrica e que após algum tempo da

realização da cirurgia voltaram a ganhar peso, apresentando dificuldades na mudança do

comportamento alimentar e na prática de exercícios físico, bem como, pelo interesse da

pesquisadora em compreender melhor acerca dos transtornos alimentares quando participou

do projeto de extensão da UNISUL, o AMBUTAL - Ambulatório de Transtornos

Alimentares, para o tratamento psicológicos de sujeitos que sofriam desses transtornos e eram

atendidos no projeto.

12

2 PROBLEMÁTICA/JUSTIFICATIVA

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ocorrência da

obesidade no mundo vem crescendo ao longo das décadas. Segal e Fandiño (2002)

consideram que a obesidade vem aumentando em níveis de epidemia no mundo inteiro.

Magdaleno et al. (2009) corroboram esta idéia afirmando que a prevalência da obesidade é

crescente e que vem sendo considerada pelos seus riscos associados como um dos principais

problemas de saúde pública.

No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2008, 13%

dos brasileiros adultos estavam obesos e este índice vem aumentando ao longo dos anos, uma

vez que em 2007, eram 12,9% brasileiros adultos obesos e em 2006, 11,4%. A obesidade

aumentou principalmente em mulheres, 13,6% das mulheres são consideradas na faixa de

obesidade. (BRASIL, 2009).

A Organização Mundial da Saúde classifica a obesidade pelo índice de massa

corporal (IMC), que é calculado pela razão entre o peso corporal em quilogramas e a altura

em metros elevada ao quadrado (kg/m²). A pessoa é considerada obesa quando o índice é

superior a 30 kg/m², sendo que as obesas mórbidas são aquelas que possuem IMC maior que

40 kg/m². A obesidade mórbida frequentemente vem acompanhada de co-morbidades ou

morbidades associadas, como hipertensão arterial, diabetes, entre outras (CASTRO et al.,

2010).

Segundo Repetto e Rizzolli (2006), a obesidade é considerada de difícil

tratamento, pois sua causa é de origem multifatorial e frequentemente está associada a outras

doenças. E para o seu tratamento, recomenda-se que inicialmente seja realizado o tratamento

com dietas, exercícios físicos e, se for necessário, a utilização de medicamentos. Os autores

ainda pontuam que é necessário considerar que nos casos de obesidade mórbida o tratamento

inicial nem sempre é eficaz, a taxa de insucesso desse tipo de tratamento para obesos

mórbidos é extremamente elevada e, segundo os autores, ocorre em mais de 90% dos casos.

Na busca por tratamentos mais eficazes para a obesidade mórbida, muitas pessoas

têm recorrido à cirurgia bariátrica, denominada também de gastroplastia ou cirurgia de

redução de estômago. Segal e Fandiño (2002) consideram que devido à busca por esta eficácia

no tratamento clínico da obesidade mórbida, a indicação das cirurgias bariátricas vem

crescendo desde 2002. E que são candidatos para o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica)

13

os pacientes com IMC maior que 40 Kg/m2 ou com IMC maior que 35 Kg/m

2 associado a

comorbidades (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes tipo 2, apnéia do sono, entre

outras). Nos Estados Unidos o critério de IMC para realizar a cirurgia bariátrica mudou.

Segundo reportagem da revista Veja de 13 de abril de 2011, na página do Hospital Albert

Einstein, os Estados Unidos autorizaram a realização de cirurgia bariátrica em pessoas com

obesidade moderada, e segundo a reportagem esta é uma medida que em breve deve chegar ao

Brasil. "Acaba de ser aprovada nos Estados Unidos uma nova regulamentação que autoriza o

uso de banda gástrica no tratamento de obesidade moderada, IMC 30 kg/m² e que tenham

alguma complicação relacionada ao excesso de peso" (NETO, 2011, p. 47).

No Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e

Metabólica (SBCBM), foram realizadas 60 mil operações em 2010. Isso representa uma alta

de 275% em relação a 2003, ano em que foram coletados os primeiros registros. Pelo Sistema

Único de Saúde (SUS), o número de cirurgias cresceu 23,7% entre 2007 e 2009, chegando a

3.681 ocorrências. Os números fazem do Brasil o segundo no ranking de cirurgias bariátricas,

atrás apenas dos EUA, com 200 mil procedimentos em 2010. (BEVILACQUA, 2011). Frente

a este aumento de cirurgias bariátricas entre brasileiros, estudos sobre as conseqüências desta

cirurgia na vida dos sujeitos tornam-se relevantes.

Apesar de a cirurgia bariátrica ter melhores resultados no tratamento da obesidade

mórbida do que o tratamento inicial, com dietas, exercícios físico, etc., não se pode

desconsiderar os riscos de complicações a curto, médio e longo prazo (REPETTO,

RIZZOLLI, 2006). Devido aos riscos de complicações na cirurgia bariátrica no pré e pós-

operatório, é necessário que os candidatos à cirurgia sejam selecionados cuidadosamente por

equipe multidisciplinar, médico, psicólogo, nutricionista, etc., realizando avaliação clínica,

laboratorial e psicológica regularmente nos períodos pré e pós-operatório (MAGDALENO et

al., 2009). Sobre a ocorrência de complicações psiquiátricas após a cirurgia, Apolinário apud

(MAGDALENO et al., 2009), mostra em estudos de seguimento pós-operatórios de longo

prazo de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica que existem várias condições psiquiátricas

como causas de morte no pós-operatório.

Segundo Segal e Fandiño (2002), muitas dessas complicações psiquiátricas que

acontecem no período pós-cirúrgico ocorrem devido ao crescente abandono no uso de

critérios psicológicos1, para a seleção dos candidatos à cirurgia bariátrica. Os autores citados

1 A portaria 390 de julho/2005 preconiza quais são estes critérios psicológicos. Dentre os quais, podem

ser destacados: transtornos do humor, do comportamento alimentar e outros relevantes para o tratamento

14

pontuam ainda que, nas pessoas obesas mórbidas que procuram a cirurgia bariátrica, existe

uma prevalência de sintomas psicológicos, tais como, sintomas depressivos, ansiosos e

alterações do comportamento alimentar. Estes sintomas psicológicos podem permanecer após

a cirurgia bariátrica, podendo comprometer o sucesso da cirurgia, como por exemplo, voltar a

ganhar peso dentre muitas outras ocorrências.

É necessária a avaliação criteriosa da motivação do sujeito para realizar a cirurgia

bariátrica. Segundo Castro (2010, p.34), “estudos revelam que apesar do discurso apresentado

pelo candidato à cirurgia bariátrica seja a melhoria da saúde, a ênfase é dada às questões

puramente estéticas”. Essa ênfase à estética pode estar ocorrendo porque os obesos são alvos

de preconceitos e discriminação importantes. Segal e Fandiño (2002), dizem que estes

preconceitos e discriminações contra o sujeito obeso ficam evidentes em programas de

televisão, revistas, piadas, na menor chance de obesos serem aceitos em empregos concorrido,

ou de estarem envolvidos num relacionamento afetivo estável. Essa vivência de preconceitos

e discriminação por que passam os sujeitos obesos pode trazer a esses sujeitos sofrimentos

psicológicos graves, e em muitos casos estes sujeitos buscam na cirurgia bariátrica a

“salvação” de suas vidas. Bergerot et al. (2008) em artigo sobre o belo, a saúde e a obesidade:

um estudo sobre a busca do modelo estético no tratamento da obesidade, pontuam que o

sujeito com obesidade, na busca de ficar dentro dos padrões de beleza estabelecidos, com

freqüência busca soluções imediatistas, procura “comprar” a sua cura, por meio de cirurgia

bariátrica, procedimento médico extremo que deveria ser utilizado como último recurso para o

tratamento da obesidade, mas que pessoas em geral tendem, às vezes, a considerá-la como o

primeiro recurso. Neste sentido Benedetti (2003) pondera que,

para essas pessoas, insatisfeitas com o próprio corpo, vítimas de preconceitos e

impedidas de realizar atos que fazem parte da rotina diária dos outros, o

emagrecimento tem caráter de salvação. A possibilidade de alcançá-lo mediante

cirurgia desperta expectativa das mais diversas ordens, num otimismo que

frequentemente a faz esperar do procedimento muito mais do que efetivamente a

cirurgia pode oferecer. (BENEDETTI, 2003, p.15).

Em pesquisa realizada por Marchesini (2010), com pacientes pós-cirúrgicos de

cirurgia bariátrica, já foi observado que os pacientes desejam a cirurgia, mas não percebem a

cirúrgico da obesidade, os quais podem ser , quando presentes, avaliados, orientados e tratados por psicólogo ou

psiquiatra.

15

necessidade de maior preparação para o procedimento e não conseguem mudar padrões de

comportamento necessários para o sucesso em longo prazo. Dos entrevistados nessa pesquisa,

89% disseram sentir-se preparados para a cirurgia bariátrica, porém 26% admitiram ter

passado pelo “dia do arrependimento” diante do desconforto ou limitação provocada pelo

procedimento e 67,4% admitiram que devessem ter se preparado psicologicamente melhor,

com mais do que uma avaliação psicológica. Estes dados revelam que muitos sujeitos que se

submetem à cirurgia bariátrica na busca pela mudança de vida, parecem não considerar

inicialmente a importância do tratamento dos sofrimentos psicológicos, podendo acarretar em

longo prazo outros prejuízos emocionais a estes sujeitos.

De acordo com pesquisa realizada por Magdaleno et al. (2009), um grande desafio

para o sujeito que se submete à cirurgia bariátrica, ocorre no pós-cirúrgico, quando o sujeito

operado percebe que seus problemas não foram todos resolvidos com a cirurgia bariátrica, ele

fica suscetível a complicações emocionais e psiquiátricas. O autor também pontua que a

ameaça de complicações emocionais e psiquiátricas pode aparecer para estes sujeitos quando

percebem que o peso pode voltar a aumentar apesar de terem realizado a cirurgia bariátrica.

Sobre o voltar a ganhar peso após a cirurgia bariátrica e as conseqüências disso na

vida do sujeito que se submete a essa cirurgia, foi observado em pesquisa realizada por Leal e

Baldin (2007), cujo objetivo foi analisar as expectativas, fantasias, resultados, dificuldades e

frustrações enfrentadas pelas pessoas, após o procedimento da cirurgia bariátrica. Essa

pesquisa colheu informações com pacientes em acompanhamento hospitalar e que

desenvolveram sintomas de sofrimento psíquico após a cirurgia bariátrica. Alguns

entrevistados relataram que voltaram a ganhar peso após a cirurgia bariátrica, e “como

conseqüência, uma delas terá que ser reoperada, e em outra paciente o aumento de peso que

vem enfrentando após a cirurgia, está sendo motivo de angústia e até mesmo de pensamentos

suicidas” (LEAL, BALDIN, 2007, p.377).

Muitas pessoas submetem-se a cirurgia bariátrica com a fantasia de que sua vida

irá mudar, consideram que após a cirurgia terão sempre um corpo magro. Buscam através da

cirurgia, resolver todos os seus problemas, que podem consistir em doenças associadas à

obesidade como diabetes, hipertensão arterial, etc., bem como problemas emocionais e das

inter-relações, como o casamento, emprego, etc. (BENEDETTI, 2003). Porém, nem todos os

operados conseguem mudar o padrão de comportamento alimentar e voltam a ganhar peso.

Ganhando peso, o ideal de corpo magro dentro dos padrões estéticos ditos “normais” não se

firma e a fantasia da mudança de vida se frustra, trazendo conseqüências físicas e

psicológicas.

16

Quem se submete à gastroplastia importa saber que esse procedimento não implica

emagrecimento imediato e duradouro. O emagrecimento não é conseqüência direta

da intervenção cirúrgica bem-sucedida, mas que o fator determinante para o sucesso

do tratamento é a forma como o paciente vai lidar com esse recurso, a redução de

estomago representa apenas um momento do processo. É necessário que haja, por

parte dos pacientes operados, o compromisso de assumir um comportamento

alimentar vigilante pelo resto da vida, pois sem uma mudança radical no

comportamento alimentar, a cirurgia perde o poder emagrecedor e frustra certo

número de pacientes que não conseguem perder o peso necessário ou o faz com

muito sofrimento. (BENEDETTI, 2003, p.17).

Benedetti ainda pontua (2003) que alguns pacientes conseguem mudar o estilo de

vida após cirurgia bariátrica, conseguindo um controle dietético rigoroso e ajustado à nova

situação, porém outros pacientes submetidos à cirurgia bariátrica não conseguem, ou não

alcançam a perda de peso necessária ou almejada, ou voltam a ganhar o peso perdido. Esta

dificuldade de mudança de comportamento alimentar após a cirurgia bariátrica foi observada

na pesquisa realizada por Magdaleno et al. (2009).

No grupo pós-operatório observamos que o sujeito chega ao grupo como um

vencedor, venceu os desafios do período pré-operatório, sobreviveu à cirurgia,

suportou o primeiro mês de operado. Contudo, tal sensação de vitória, pouco a

pouco, vai sendo encoberta pela dureza da condição à qual esses sujeitos se expõem.

A alimentação, que era anteriormente vivida como prazer incondicional, salvo por

certa culpa pelas quantidades de alimentos ingeridas, passa a ser um problema a ser

enfrentado. E agora, o que fazer com os indivíduos que tinham quase como prazer

exclusivo em suas vidas o ato de comer? É a partir deste momento que começam a

se apresentar, verdadeiramente, para esses sujeitos os problemas que terão que

enfrentar. (MAGDALENO et al., 2009, p.78).

Frente à dificuldade de alguns sujeitos em manter o peso adequado após a cirurgia

bariátrica, é possível perguntar: Como estas pessoas que buscam, através da cirurgia

bariátrica, a redução de peso, percebem o voltar a ganhar peso após a cirurgia? Qual a

percepção deles sobre a cirurgia que se submeteram? Quais as características do

comportamento alimentar dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se a

cirurgia bariátrica? Que tipos de sentimentos e emoções esses sujeitos tem quando percebem

que estão ganhando peso? Há modificações nas relações sociais deste sujeitos após

submeterem-se a cirurgia bariátrica voltam a ganhar peso?

Ao pesquisar sobre a percepção dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após

submeterem-se à cirurgia bariátrica, busca-se o conhecimento que colabore com a

compreensão do fenômeno da obesidade e ajude os sujeitos que serão submetidos à cirurgia

bariátrica, seus familiares e os profissionais da área saúde, psicólogos, médicos,

17

nutricionistas, enfermeiros, entre outros profissionais, a compreender melhor as

conseqüências da cirurgia bariátrica ao longo da vida do sujeito submetido à ela.

O conhecimento produzido por essa pesquisa busca também trazer subsídios que

possam auxiliar as pessoas que realizam a cirurgia bariátrica a conhecer as dificuldades para

manter o peso ideal após a cirurgia. Buscando prevenir o ganho de peso a médio e longo

prazo, após a cirurgia bariátrica.

Com o peso em nível saudável, o sujeito que realizou cirurgia bariátrica pode

prevenir o aparecimento de problemas físicos e psicológicos após a cirurgia, não necessitando

utilizar o sistema de saúde por complicações pós-cirúrgicas, favorecendo assim a diminuição

dos gastos do sistema de saúde com reoperações e com tratamentos devido às complicações

no pós-cirúrgico da cirurgia bariátrica. Oliveira (2007), em sua pesquisa sobre cirurgia

bariátrica no âmbito do SUS: tendências, custos e complicações, pontua que, “os custos

associados à cirurgia bariátrica representam um grande impacto para o SUS.” (OLIVEIRA,

2007, p.7).

As publicações científicas na área da psicologia sobre o pós-operatório da cirurgia

bariátrica ainda parecem ser escassas, uma vez que tratam mais de características psicológicas

de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, de avaliação psicológica de obesos grau II antes

e depois da cirurgia bariátrica, do impacto emocional da cirurgia bariátrica, cirurgia bariátrica

e a trajetória de mulheres obesas em busca do emagrecimento, entre outros, sendo que as

pesquisas encontradas não dizem respeito especificamente à percepção do sujeito sobre o

ganho de peso após submeter-se à cirurgia bariátrica. Benedetti (2003) corrobora esta idéia

quando diz que,

a psicologia aborda de modo muito discreto o problema da obesidade mórbida, e a

literatura disponível, ao abordar questões referentes à qualidade de vida dos

pacientes submetidos à gastroplastia, trata do assunto, em grande parte, no sentido

de identificar ganhos e perdas ao longo do processo de emagrecimento.

(BENEDETTI, 2003, p.18).

Com a existência do conhecimento que permita responder à pergunta: Qual a

percepção de sujeitos acerca de voltarem a ganhar peso após submeterem-se a cirurgia

bariátrica? Busca-se uma melhor compreensão do fenômeno da obesidade, da cirurgia

bariátrica, das conseqüências pós cirúrgicas para as pessoas que submetem-se a ela, visando a

contribuir com subsídios que ajudem no tratamento psicológico de pessoas que realizaram a

cirurgia bariátrica e que voltaram a ganhar peso.

18

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Caracterizar a percepção de sujeitos que se submeteram à cirurgia bariátrica a

respeito do processo de voltar a ganhar peso após a cirurgia.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar a percepção de sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à

cirurgia bariátrica acerca da cirurgia;

Caracterizar o comportamento alimentar de sujeitos que voltaram a ganhar peso após

submeterem-se à cirurgia bariátrica;

Identificar as percepções de sujeitos acerca das possíveis modificações nas relações

sociais, quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica;

Caracterizar sentimentos e emoções descritas pelos sujeitos quando voltaram a ganhar

peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica.

19

4 REFERENCIAL TEÓRICO

Para caracterizar a percepção dos sujeitos acerca de voltarem a ganhar peso após

submeterem-se à cirurgia bariátrica é necessário que sejam definidos alguns referenciais

teóricos acerca do problema de pesquisa. Dentre estes referenciais teóricos estão o impacto da

obesidade na vida dos sujeitos e da sociedade, a obesidade e a cirurgia bariátrica, obesidade e

o comportamento alimentar e os aspectos psicológicos envolvidos com a obesidade.

4.1 O IMPACTO DA OBESIDADE PARA OS SUJEITOS E PARA A SOCIEDADE

A obesidade não é um fenômeno recente. Sabe-se da existência de indivíduos

obesos há mais de 25.000 anos. A sua prevalência, no entanto, nunca atingiu proporções tão

grandes como a que temos no século XXI. (HALPERN, 1999).

A obesidade é considerada doença crônica que vem tendo grande incidência em

todo o mundo. “Essa doença crônica é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido

adiposo no organismo em extensão tal que acarreta prejuízos à saúde do indivíduo.” (OTTO,

2007, p.18).

A obesidade é um problema de saúde pública crescente na maioria dos países

industrializados e vem assumindo caráter alarmante devido ao aumento de doenças

associadas (ALMEIDA, 2008). No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da

Saúde, em 2008, 13% dos brasileiros adultos são obesos. (BRASIL, 2009).

Segundo Donato et al. (2004), a obesidade é entendida como um desequilíbrio

entre as calorias ingeridas e sua queima pelo organismo: quando a quantidade de calorias

ingeridas é maior que a queima, o excedente se acumula no organismo em forma de gordura.

Os autores ainda pontuam que a origem e a manutenção da obesidade se relacionam a fatores

externos e internos ao sujeito e que a obesidade é um fenômeno complexo e multideterminado

tendo origem biológica, psicológica e social (DONATO et al., 2004).

A quantidade de gordura no organismo de uma pessoa, segundo Organização

Mundial da Saúde é medido pelo índice de massa corporal (IMC), que é calculado pela razão

entre o peso corporal em quilogramas e a altura em metros elevada ao quadrado (kg/m²). A

20

pessoa é considerada obesa quando o índice é superior a 30 kg/m², sendo que as obesas

mórbidas são aquelas que possuem IMC maior que 40 kg/m², conforme apresentado no

quadro abaixo. (CASTRO et al., 2010).

IMC CONDIÇÃO

20-25 Normal

25-30 Sobrepeso

30-40 Obeso

40-50 ou mais Obeso Mórbido

Quadro 1 - O IMC e a condição de quantidade de gordura no organismo de uma pessoa.

Fonte: Castro et al., 2010.

Segundo Donato et al. (2004, p.341), há uma variedade fenótípica entre os

indivíduos obesos, sendo descritos quatro tipos de obesidade:

1. Obesidade universal, massa corpórea ou porcentagem de gordura em excesso,

distribuição por todo o corpo.

2. Obesidade tronco-abdominal subcutânea em excesso, ou padrão andróide ou em

forma de maça, mais comum no sexo masculino, mas também presente no sexo

feminino, com deposição de gordura ao redor da cintura e do abdômen superior.

Este tipo de depósito de gordura está associado a um risco aumentado de

hipertensão arterial, doenças cardiovascular e diabetes mellitus não-insulino-

dependentes.

3. Obesidade visceral é a de maior risco cardiovascular e metabólico.

4. Gordura glúteo femoral em forma de pêra com excesso ou padrão ginóide ou

em forma de depósito de gordura ao redor das coxas e nádegas, sua função seria

a de reserva de energia para manter a gravidez e a lactação.

A obesidade está associada a várias outras doenças, podendo trazer prejuízos à

saúde do individuo. Segundo Peres (2005), a obesidade está associada a elevado grau de

morbidade, entre elas , hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral

(AVC), osteoartrite, apnéia do sono,câncer, entre outros. O autor também ressalta que estudos

realizados com 115 mil mulheres, pela Nurse's Health Study, demonstrou que o risco de morte

se eleva progressivamente nas mulheres com IMC superior a 29 kg/m².

Salienta-se que, além do impacto na saúde do indivíduo, a obesidade traz impacto

econômico aos sistemas de saúde dos países. Halpern (1999) citando a OMS, ressalta que, os

custos diretos e indiretos da obesidade são elevadíssimos, podendo chegar a 7% dos custos

com a saúde da população.

21

A Organização Mundial da Saúde (2004), diz que é necessário verificar três

componentes para fazer o calculo dos gastos com a obesidade nos países.

Os custos econômicos da obesidade são compostos por três componentes: "custos

diretos", isto é, para indivíduos e provedor de serviço, associado ao tratamento de

obesidade em si; o "custo da oportunidade", para os indivíduos, isto é, a perda social

e pessoal associada a obesidade, geralmente surgindo de morte prematura ou

morbidade atribuível; "custos indiretos", normalmente medidos como perda de

produção decorrente da ausência no trabalho ou morte prematura. (OMS, 2004,

p.79).

Sobre o impacto financeiro da obesidade no sistema de saúde, Melo (2011), em

artigo custos da obesidade no Brasil e no mundo, afirma que, “os custos da obesidade e suas

conseqüências negativas para a saúde foram estimada 0,7% a 7,0% dos gastos nacionais com

saúde em todo o mundo. Os custos relacionados à obesidade podem chegar a 7% do gasto

nacional com saúde” (MELO, 2011, p. 01).

Com o crescimento da morbidade, mortalidade e custos, a obesidade se tornou um

fator de grande preocupação às entidades governamentais. OMS criou um Comitê

Internacional de combate à obesidade, constituída por especialistas do mundo

inteiro. O Ministério da Saúde brasileiro nomeou uma força tarefa para prevenção e

combate à obesidade (HALPERN, 1999, p.3).

Portanto, tendo em vista o impacto da obesidade na vida das pessoas e na

economia, alguns países, como o Brasil, vem buscando prevenir a obesidade na sua

população. (SANTOS, 2005). E, para tanto, no Brasil foram criados leis, como a que

estabelece que os produtos alimentícios anunciados em propagandas, como por exemplo, o

anúncio de refrigerantes, venham acompanhados ao final da propaganda, por indicação da

importância de fazer exercícios físicos, e também, a obrigatoriedade de que produtos

alimentícios vendidos em estabelecimentos comerciais tenham em suas embalagens as

especificidades dos componentes daquele alimento, entre outras medidas de prevenção e

combate a obesidade.

No dia 29 de junho de 2010, o Diário Oficial da União e a Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA) publicaram a legislação que dispõe sobre a nova

regulamentação em Propaganda de Alimentos. As propagandas de bebidas com

baixo teor nutricional e de alimentos com elevadas quantidades de açúcar, de

gordura saturada ou trans e de sódio irão sofrer mudanças nos próximos 180 dias,

prazo que as empresas têm para se adequar à RDC 24/2010, de junho de 2010. A

resolução estabelece novas regras para a publicidade e a promoção comercial desses

alimentos, que passarão a ser veiculadas com frases de advertência sobre os males à

saúde que podem provocar quando consumidos em excesso. O objetivo é proteger os

22

consumidores de práticas que possam, por exemplo, omitir informações ou induzir

ao consumo excessivo. (ABNE, 2011, p.01).

Santos (2005) questiona se estas medidas do poder público, como a

regulamentação de propaganda de alimentos, terão o resultado esperado no combate à

obesidade.

A lei pode mudar hábitos alimentares? Ou a mudança de hábito alimentares passa

antes, de mais nada, pela educação e não pela legislação? Afinal, direito de escolher

o que se come todo mundo tem. Mas, a escolha implica ter conhecimento de opções

(SANTOS, 2005, p. 39).

A obesidade, além de trazer consequências para a economia e para a saúde física

do indivíduo, também traz sofrimento emocional ao sujeito. "O sofrimento emocional tem

ampla relação com a obesidade, em sua origem, ou como resultado dela. Podendo trazer

depressão, compulsões, ansiedade, rebaixamento da auto-estima, que são muito comuns no

ciclo vicioso "engorda-sofre-engorda-sofre" (SANTOS, 2005, p. 9).

As pessoas com obesidade mórbida muitas vezes buscam perder peso por vários

meios porém, mesmo quando conseguem, logo voltam a ganhá-los. Isso ocorre, segundo

Repetto e Rizzolli (2006), porque a obesidade mórbida é considerada de difícil tratamento,

sendo necessário considerar que nos casos de obesidade mórbida o tratamento inicialcom base

em dieta alimentar, a atividade física ou medicamentos, nem sempre são eficazes.

Para as pessoas que apresentam um grau acentuado de obesidade e já tentaram todo

tipo de tratamento, dietas, medicamentos, massagens, etc. E que não obtiveram

resultado a longo prazo, hoje em dia a medicina oferece o recurso cirúrgico. A

cirurgia é apenas uma técnica para a diminuição de peso e não a cura das causas

primeiras da obesidade mórbida. ( SANTOS, 2005, p. 29).

Com todas as dificuldades para perder peso, o sujeito com obesidade tem buscado

como método de tratamento para a obesidade a cirurgia bariátrica, que também é conhecida

como gastroplastia ou redução de estômago. Para Franques e Arenales-Loli (2006), nos casos

em que a obesidade já pode ser considerada mórbida, a cirurgia bariátrica é considerada um

tratamento que pode ser escolhido por estes pacientes.

23

4.1.1 Obesidade e Cirurgia Bariátrica

A cirurgia bariátrica é um tratamento cirúrgico para indivíduos com obesidade

mórbida, ou seja, para pacientes com IMC de 40kg/m² ou 35 kg/m² com doenças associadas,

como diabetes, hipertensão arterial, entre outros (MARCHESINI, 2006, p.13).

Segundo Claudino e Zanella (2005), a cirurgia bariátrica surgiu em 1951, na

forma de derivações jejunoileais e evoluíram para as diversas técnicas atualmente disponíveis.

A partir da década de 1990, essas técnicas tornaram-se difundidas e mais seguras.

No Brasil, em 1999, o Ministério da Saúde, reconhece a necessidade de tratamento

cirúrgico aos obesos mórbido e inclui a cirurgia bariátrica entre os procedimentos

cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme portaria nº. 628/GM de 26

de abril de 2001. (SANTOS, 2005, p. 33).

Considerando a necessidade de ampliar a oferta de serviços na área de

gastroplastia e de criar mecanismos que facilitem o acesso dos portadores de obesidade

mórbida, quando tecnicamente indicado à realização do procedimento cirúrgico para

tratamento, o Ministério da Saúde do Brasil, publica a portaria nº. 628/GM de 26 de abril de

2001, que resolve:

Art. 1º Aprovar, na forma desta Portaria, o Protocolo de Indicação de Tratamento

Cirúrgico da Obesidade Mórbida – Gastroplastia no âmbito do Sistema Único de

Saúde – SUS.

§ 1º O Protocolo de que trata esta Portaria deverá ser observado na avaliação inicial

dos pacientes, na indicação do procedimento cirúrgico e na descrição da evolução

daqueles pacientes submetidos à gastroplastia;

§ 2º É obrigatório o preenchimento de todas as informações contidas no Protocolo,

pelas unidades que efetuarem a avaliação inicial e pelos Centros de Referência que

realizarem o procedimento e o acompanhamento clínico dos pacientes;

§ 3º Decorridos 12 (doze) meses da realização do procedimento cirúrgico, o Centro

de Referência deverá, obrigatoriamente, enviar o Protocolo devidamente preenchido

ao Ministério da Saúde/ Secretaria de Assistência à Saúde/Departamento de

Sistemas e Redes Assistenciais/Coordenação-Geral de Sistemas de Alta

Complexidade, para inserção no banco de dados de acompanhamento de cirurgia

bariátrica;

24

§ 4º O não cumprimento do estabelecido no § 3° acarretará o descadastramento do

Centro de Referência. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Esta portaria criada pelo Ministério da Saúde em 2001, foi um marco importante

que possibilitou a população de baixa renda com obesidade mórbida a ter o acesso ao

tratamento da obesidade via procedimento cirúrgico. Porém, ainda são poucos os estados

habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar este procedimento cirúrgico.

[...] 18 estados têm habilitação para fazer a cirurgia bariátrica pelo SUS. O número

de operações de redução de estômago no SUS mais que dobrou (150%) entre 2003 e

2010, passando de 1.778 para 4.437. As secretarias estaduais da Saúde são

responsáveis por monitorar a lista dos pacientes que, por indicação médica, farão o

procedimento. (SBCBM, 2010, p.01).

O número de cirurgias bariátricas vem crescendo no Brasil, não só em hospitais

públicos, mas também em clínicas e hospitais particulares. Sobre o crescimento da realização

de cirurgias bariátricas no Brasil, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e

Metabólica, destaca em entrevista, realizada em 2010, que o número de cirurgias bariátricas

no Brasil, teve um grande crescimento. A cirurgia bariátrica, indicada no tratamento da

obesidade mórbida, foi realizada 5 mil vezes em 1999. Já no ano de 2009 foram realizadas 30

mil cirurgias no país, caracterizando um aumento de 500% na última década. (SBCBM,

2010). Os tipos de cirurgia mais utilizadas no combate à obesidade mórbida são: as cirurgias

restritivas, disabsortivas e mistas.

As cirurgias restritivas restringem o volume de alimento que o paciente ingere e,

de uma forma geral, com essa técnica, o paciente é obrigado a comer menos alimentos sólidos

e consequentemente emagrece. Entretanto, o resultado, depende da colaboração do paciente,

pois, os alimentos líquidos podem ser ingeridos quase no mesmo valor calórico dos sólidos,

prejudicando o emagrecimento. Esta técnica é considerada mais simples, e de mais fácil

recuperação, porém, a perda de peso é menor do que nas outras técnicas cirúrgicas e o seu

custo é elevado em razão do material utilizado. Exemplos de cirurgia restritiva são a cirurgia

de banda gástrica e a cirurgia de Mason (SANTOS, 2005), conforme descrito no quadro 2.

25

Técnica Definição Ilustração

Banda Gástrica A banda gástrica é uma prótese de material plástico

(silicone) que tem um balão insuflável, por dentro.

Quando colocada em volta da parte alta do estômago

forma um anel que o aperta. Quando o balão é insuflado

ou desinsuflado, aperta mais ou menos o estômago de

maneira que pode-se controlar o esvaziamento do

alimento da parte alta para a parte baixa do órgão. O

princípio da operação é semelhante a operação de Mason,

porém é feita por laparoscopia. (CARLINI, 2001)

Figura 1: Banda Ajustável por

Laparoscopia (técnica restritiva)

Mason

A cirurgia de Mason consiste em "grampear" o estômago

de maneira a criar um "hall" (sala) de entrada que recebe

o alimento e devido ao fato de ser pequeno, dá ao

paciente a sensação de estar "cheio". Com isto até esta

antecâmara gástrica esvaziar, o paciente tem a sensação

de que está satisfeito e sem fome. Há o inconveniente de

que se o paciente usar líquidos em vez de alimentos

sólidos, poderá tomá-los em grande quantidade e ser

forem hipercalóricos, a perda de peso não será a esperada.

É uma técnica que deve ser usada em pacientes especiais,

escolhidos com critério, disciplinados e cooperativos.

(CARLINI, 2001)

Figura 2: Gastroplastia em Banda Vertical – Mason (técnica

restritiva)

Quadro 2 – Cirurgia Bariátrica: Técnica restritiva, banda gástrica e Mason.

Fonte: Elaboração da autora, 2011.

As cirurgias disabsortivas permitem ao paciente comer, no entanto atrapalham a

absorção de nutrientes e com isto levam a pessoa com obesidade a perder peso. São, em geral,

bem sucedidas quanto ao emagrecimento que pode chegar a 50% do peso original, no entanto,

tem a necessidade de controle mais rígido quanto a distúrbios metabólicos, de minerais e

vitaminas. Esta não é uma cirurgia de primeira escolha e é conhecida também como cirurgia

de desvio de intestino, uma vez que é eliminada a função do intestino delgado responsável

pela absorção dos alimento. (SANTOS, 2005). Sendo elas, cirurgia de Scopinaro e derivação

bíleopancreático, conforme descrito no quadro 3.

26

Técnica Definição Ilustração

Cirurgia de

Scopinaro e

derivação

bíleo-

pancreática),

Nas cirurgias de Scopinaro e derivação bíleo-

pancreática, o estômago é grampeado e seu tamanho é

reduzido em 60% a 70%. O duodeno e jejuno são

isolados, e a comida só entra em contato com o suco

pancreático no fim do íleo, já bem próximo do

intestino grosso. Esse desvio provoca uma má

absorção de nutrientes. Ocorrendo o risco de

desnutrição, fístula, embolia pulmonar e abertura dos

grampos. Geralmente é indicado para IMC acima de

50 kg/m². (SANTOS, 2005)

Figura 3: Derivação Biliopancreática

(Scopinaro) – técnica disabsortiva

Figura 4: Derivação Biliopancreática

(Duodenal Switch) – técnica

disabsortiva

Quadro 3 - Cirurgia bariátrica: Técnicas disabsortivas, cirurgia de Scopinaro e derivação bíleo-pancreática.

Fonte: Elaboração da autora, 2011.

Na cirurgia com técnica mista, há a associação de um pouco de restrição e de

disabsorção. Essa técnica é também chamada de Fobi-Capella. Esta técnica, é reconhecida

como a melhor técnica e a que mais é utilizada no mundo, estando a perda de peso em torno

de 50% do peso total (SANTOS, 2005).

Técnica Definição Ilustração

Fobi-Capella Na cirurgia Fobi-Capella, são utilizados

grampeadores para cortar e separar o estômago em

dois. O estômago excluído fica fora do trânsito

alimentar e o estômago remanescente, com

capacidade de 20 ml, é ligado a um segmento do

intestino delgado. Além de limitar o esvaziamento,

limita o volume ingerido, os nutrientes são mal-

absorvidos, pois o estômago é ligado ao íleo,

impedindo que a comida passe pelo duodeno e o

jejuno, onde começaria a ser absorvido. Corre-se o

risco de criar fístulas, embolia pulmonar e abertura

dos grampos. Esta técnica geralmente é indicada para

pessoas com IMC entre 35 a 50 kg/m² . (SANTOS,

2005)

Figura 5: Mista (Fobi e

Capella) – técnica restritiva e

disabsortiva

Quadro 4 - Cirurgia bariátrica: Técnica mista, Fobi-Capella.

Fonte: Elaboração da autora, 2011.

As contra-indicações para realizar a cirurgia bariátrica são pontuadas por

Claudino e Zanella (2005, p. 288): "não deve-se operar pacientes de alto risco clínico ( com

27

cardiopatias, hepatopatias, com influência renal crônica, etc.) dependentes de álcool ou

drogas, portadores de psicose grave ou retardo mental."

Os candidatos à cirurgia devem ter acompanhamento pré e pós-cirúrgico, por

equipe multidisciplinar formada, em geral, por endocrinologista, psicólogo, nutricionista,

fisioterapeuta, além do cirurgião (CLAUDINO, ZANELLA, 2005). O Ministério da Saúde

(2011) instituiu um protocolo de atendimento para a realização da cirurgia. Dentre os critérios

solicitados para a realização da cirurgia está a avaliação psicológica a ser feita com o

candidato à cirurgia para verificar se está apto ou não para realizar a cirurgia. Porém, a lei não

e clara, há dúvidas quanto a que profissional deva realizar a avaliação psicológica, se é o

psiquiatra e/ou psicólogo ou o médico responsável pela cirurgia.

A presença obrigatória de psicólogos em equipes de cirurgia bariátrica, foi

oficialmente instituída por meio da Resolução do Conselho Federal de Medicina sob o

número 1.766/05, publicada no Diário oficial da União de 11 de julho de 2005, Seção I, p.

114. (FRANQUES, ARENALES-LOLI, 2006). Tendo em vista a presença de transtornos

psiquiátricos por parte do candidatos a cirurgia bariátrica, o que foi observado na pesquisa

realizada por Petribu et al. (2006).

Dos transtornos psiquiátricos pesquisados, nos 400 pacientes acompanhados pelo

programa de cirurgia bariátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz em PE, os

pacientes apresentaram: 47,8% transtorno de ansiedade generalizada, 29,9%

depressão, verificou-se TCAP em 56,7 % dos pacientes, sendo, 25,4 % moderado e

31% severa. (PETRIBU et al., 2006, p.2).

Para Magdaleno Jr. et al. (2009), muitas pessoas tem recorrido à cirurgia bariátrica

sem acompanhamento psicológico no pré e no pós-cirúrgico, deixando de considerar a

importância da influência psicológica na etiologia da obesidade. O não tratamento das origens

emocionais da obesidade, em alguns casos pode influenciar nas complicações pós-cirúrgicas,

como, transtornos alimentares, troca de compulsão alimentar, depressão com risco de

suicídio,voltar a ganhar peso, dentre outros. O voltar a ganhar peso, pode acontecer mesmo

quando a pessoa realiza a cirurgia bariátrica, pois a cirurgia, não garante a redução de peso em

definitivo. O paciente necessita fazer uma adaptação a sua nova realidade, e para isso

necessita contar com acompanhamento de profissionais da saúde, entre eles o psicólogo. O

presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, corrobora esta idéia,

quando pontua que:

28

No geral, depois de três anos, 10% dos pacientes começam a engordar novamente,

por não adotar um novo estilo de vida saudável. O paciente necessita de um

acompanhamento contínuo de profissionais da saúde, porque a mudança na dieta e

nos hábitos de vida, necessários após a operação, é o que garante a saúde do paciente

e a o sucesso na eliminação de quilos (SBCBM, 2010, p.01).

A cirurgia bariátrica vem sendo muito utilizada no Brasil para o tratamento da

obesidade mórbida. A cirurgia pode ser do tipo restritiva, desabsortiva ou mista, sendo esta

última a mais indicada atualmente. O sucesso da cirurgia bariátrica não está somente nas

técnicas utilizadas, mas também na mudança de comportamento alimentar do sujeito que se

submete a ela. Pois a manutenção da perda de peso pode estar relacionada ao comportamento

alimentar do sujeito que se submete à cirurgia bariátrica, bem como o tratamento das causas

da obesidade.

4.2 OBESIDADE E COMPORTAMENTO ALIMENTAR

O comportamento alimentar pode estar diretamente relacionado com estado de

obesidade de um sujeito. Isso porque, a quantidade de alimento ingerido por ele pode tornar-

se maior do que o gasto de energia física desse sujeito, podendo assim, acarretar em acúmulo

de gordura, e por consequencia, aumento de peso (DONATO, 2004).

Cabe salientar que o comportamento alimentar não corresponde somente aos

hábitos alimentares de uma pessoa, mas a todas as práticas que envolvem sua alimentação,

como: seleção, aquisição, preparo dos alimentos, crenças e tabus sobre os alimentos e o seu

conhecimento sobre nutrição (SONATI; VILARTA; AFFONSO, 2007). Além de ser um

comportamento complexo que envolve diversas práticas, é importante destacar que o

comportamento alimentar é determinado por vários fatores, dentre os quais podem ser

destacados os aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e os culturais.

o comportamento alimentar humano reflete as interações entre o estado fisiológico,

o estado psicológico e as condições ambientais de um dado indivíduo. Assim, a

capacidade para controlar a ingestão requer mecanismos especializados para

harmonizar informações fisiológicas do meio interno com informações nutricionais

do ambiente externo. As informações do meio interno dizem respeito a

neurotransmissores, hormônios, taxa metabólica, estados do sistema gastrointestinal,

tecidos de reserva, formação de metabólicos e receptores sensoriais. As informações

do meio externo dizem respeito a características do ambiente (temperatura,

localidade, trabalho, oferta ou escassez de alimentos, assim como crenças sociais,

29

culturais e religiosas) e as características dos alimentos (sabor, familiaridade,

textura, composição nutricional e variedade). (QUAIOTI, ALMEIDA, 2006, p. 03).

A influência da fisiologia no comportamento alimentar é pontuada no texto de

Halford (2006). Nele são explicados os mecanismos da fome e da saciedade nos seres

humanos a partir da fisiologia. Segundo o autor,

para que uma ação seja desencadeada por um estado fisiológico (fome e saciedade) é

necessário que o cérebro receba uma informação adequada. Só então a sensação

pode produzir a resposta comportamental correspondente. O sistema nervoso central

recebe tanto informações geradas pela experiência sensorial de comer como sinais

provenientes da periferia, indicando ingestão, absorção, metabolismo e acúmulo de

energia. Para regular o apetite, uma variedade de estruturas do SNC integra

múltiplos sinais, que avaliam a necessidade biológica de energia para gerar ou inibir

experiências conscientes de fome e, subsequentemente, para iniciar a ação

comportamental adequada. (HALFORD, 2006, p. 17).

O Sistema Nervoso Central (SNC) regula a relação entre a saciedade e a fome.

Halpern, Rodrigues e Costa (2004) explicitam alguns fatores que são determinantes

fisiológicos no controle do peso e do apetite, sendo eles, fatores neuronais, endócrinos,

adipocitários e intestinais. Ressaltando a importância destes fatores no controle do peso e do

apetite os autores dizem ainda que a

leptina e a insulina são hormônios secretados em proporção à massa adiposa e atuam

perifericamente, estimulando o catabolismo (queima de gordura). No sistema

nervoso central, a insulina e leptina interagem com receptores hipotalâmicos,

favorecendo a saciedade. Os indivíduos obesos apresentam maiores concentrações

séricas destes hormônios e apresentam resistência à sua ação. (HALPERN;

RODRIGUES; COSTA, 2004, p.01).

Autores como os citados acima referem que a ingestão alimentar deveria

desenvolver-se em resposta a demandas fisiológicas, tendo como ativador da alimentação, a

fome. "A fome pode ser definida como motivação para buscar e consumir alimentos,

iniciando um período de comportamento alimentar. O processo que põe fim a esse período é

denominado saciedade." (HALFORD, 2006, p.26).

A ingestão de comida é controlada pelo sistema do apetite. Segundo Bacaltchuk e

Apolinário (2005) a regulação da fome, do apetite e da saciedade é uma rede psicobiológica

complexa, com três componentes principais:

1. Componente psicológico - sensações de fome, saciedade, prazer e fissura,

seguidos de operações comportamentais, como por exemplo a escolha do alimento,

30

as refeições, etc. 2. Componente relacionado à fisiologia periférica e eventos

metabólicos associados ao efeito da absorção de nutrientes e sua utilização e da

conversão para reserva do organismo. 3. Componente neuroquímico:

neurotransmissores clássicos, neuropeptídeo e hormônios, que sofrem interações

metabólicas com o Sistema Nervoso Central (SNC). (BACALTCHUK,

APOLINÁRIO, 2005, p.04).

Bacaltchuk e Apolinário (2005), destacam também que, fisiologicamente, o

processo de saciação é responsável pelo tamanho da refeição e o estado de saciedade

determina a extensão do intervalo pós-ingestão de alimento. Para os autores, o controle do

apetite pode ser exercido em 3 estágios distintos do consumo de comida: "antes (fase pré-

pradial ou cefálica), durante (pradial) ou após (pós-pradial) uma refeição. Assim, a ingestão

de comida é controlada por mecanismos de auto-regulação positivos e negativos que

determinam o início, a manutenção e o final de uma refeição." (BACALTCHUK,

APOLINÁRIO, 2005, p.04).

Porém, nem sempre a fome e a saciedade, demandas fisiológicas de um sujeito,

são os únicos motivadores para a ingestão do alimento ou o fim do mesmo. Isso porque as

demandas fisiológicas são constantemente modeladas por influências ambientais e pela

experiência de vida do sujeito (HALFORD, 2006). "Os sinais que desencadeariam a fome ou

a saciedade podem sem modificados por fatores emocionais, diferenças perceptivas e

transtornos alimentares." (BACALTCHUK, APOLINÁRIO, 2005, p.13).

No caso do sujeito com obesidade, muitas vezes os sinais fisiológicos que

deveriam desencadear a fome ou a saciedade não são o que determinam a ingestão do

alimento, e sim outros fatores, como o emocional. Isto foi observado na pesquisa de Mattos et

al. (2003). Esses autores consideram que as pessoas com obesidade, não estão atentas aos

aspectos mais complexos de seu funcionamento fisiológico, como por exemplo, os níveis de

glicose no organismo. E que o comportamento alimentar dos indivíduos atua em função dos

estímulos emocionais, culturais ou sociais, e não em função das necessidades fisiológicas,

como por exemplo déficit vitamínico (MATTOS et al., 2003).

O meio social e cultural também são fatores que compõem e influenciam o

comportamento alimentar do indivíduo. O alimento faz parte do meio social e cultural onde o

indivíduo se desenvolve. Por isso, o tipo de alimento, o seu modo de preparo, entre outras

espeficidades do alimento, são estabelecidos cultural e socialmente e estão presentes no

comportamento alimentar do indivíduo. Alvarenga (2004), em pesquisa sobre o

comportamento alimentar dos seres humanos, afirma que vem sendo observado a mudança do

significado do alimento para a humanidade. O autor, para facilitar a compreensão desta

31

mudança no significado da alimentação para os povos, faz um resgate da história da

alimentação na humanidade, pontuando as mudanças ocorridas.

Antes de 1550, o princípio aceito por todos era que cada um deveria comer em

conformidade com sua natureza. Foram os cozinheiros franceses que primeiramente,

na história, passaram a esquecer as antigas atribuições dietéticas dos alimentos e

limitaram-se a levar em consideração a harmonia dos sabores. A partir desse

momento, o gosto alimentar alcançou uma enorme importância, e a cozinha passou a

ser considerada uma das belas artes (ALVARENGA, 2004, p.02).

Observa-se então, que a alimentação e a gastronomia são elementos essenciais na

definição da identidade histórica dos povos. Mas, com o passar do tempo a industria alimentar

foi permitindo que se tivesse acesso a todo tipo de culinária, alimento e produto, e as

transformações alimentares das diversas culturas foram inevitáveis. (FLANDRIN,1998, apud

ALVAREGA, 2004). Nessa mudança de hábitos alimentares, também é necessário considerar

que a industrialização trouxe também mudanças, com o consumo de alimentos enlatados,

congelados, pré-cozidos, prontos, fast-food (ALVARENGA, 2004).

Essas mudanças no hábito alimentar de consumir mais produtos industrializados,

foi observado em estudo dos padrões de consumo alimentar da população brasileira por

Sichieri, Casto e Moura (2003 apud COUTINHO, DUALIB 2006). Os autores observaram

uma redução de 30% no consumo de arroz com feijão e de um aumento de 258% no consumo

de refrigerantes no Rio de Janeiro.

Pesquisas realizadas no Brasil indicam uma modificação dos hábitos alimentares

associados à obesidade, como, por exemplo, o aumento do teor de gordura na

alimentação, o alto teor de açúcar e a redução de feijão e grãos. Essa tendência de

consumo ocorre em associação com um modesto consumo de frutas e verduras

(COUTINHO, DUALIB, 2006, p.22).

Para Quaioti e Almeida (2006), a propaganda e a mídia tem uma forte influência

nas mudanças de comportamento alimentar, sendo algo a ser considerado para o melhor

entendimento do comportamento alimentar de um sujeito.

Dentre os fatores externos, que influenciam o comportamento alimentar, merece

destaque a questão ligada à propaganda de alimentos e a influência cada vez maior

da mídia na determinação da dieta dos indivíduos de países desenvolvidos ou em

desenvolvimento (QUAIOTI, ALMEIDA, 2006, p.5).

32

Essa influência do meio externo, o social e o cultural, sobre o comportamento

alimentar do sujeito ocorre, segundo Alvarenga (2004), porque o alimento não tem só a

função de dar energia ao organismo, mas ele pode exercer também a função social e cultural

na relação dos seres humanos com a comida. Esta relação social e cultural com a comida,

segundo o autor, fica evidenciada também no ato de participar de refeições em conjunto, de

festejar em torno de uma mesa, etc. Portanto, "situar o alimento em um contexto apenas

fisiológico e nutricional pode ser um erro. O alimento é cheio de simbologias e carregado de

diferentes significados, no plano de comunidades, culturas, famílias e indivíduos"

(ALVARENGA, 2004, p.13).

A primeira influência social e cultural sobre o comportamento alimentar que o

indivíduo recebe ocorre no meio familiar. É na família que o sujeito terá os primeiros

aprendizados sobre a alimentação. Neste sentido, Benedetti (2003, p. 35) diz que, " o modo

pelo qual a pessoa come, assim como a quantidade que ingere, dependem daquilo que ela

aprendeu em sua família e na sociedade em que vive". Heller et al. (2004) afirmam que,

os pais, familiares e educadores são os principais modelos na infância, daí sua

profunda responsabilidade no desenvolvimento infantil. Famílias que têm uma dieta

equilibrada ensinam este padrão de comportamento alimentar para suas crianças. Já

nas famílias em que ocorre superalimentação tende-se a fomentar e a incentivar a

alimentação desequilibrada (HELLER, et al., 2004, p. 19).

Os aspectos sociais e culturais de um indivíduo são importantes na constituição de

seu comportamento alimentar, pois eles influenciam no tipo de alimento que o sujeito ingere,

no modo como ele se alimenta, na quantidade de alimento, nas ocasiões em que se alimenta,

nos significados que dá para o alimento, entre outras influências.

Além da influencia da fisiologia, da sociedade e da cultura, o comportamento

alimenta também sofre grande influência de aspectos psicológicos que constituem e que

envolvem o indivíduo, a relação emocional com o alimento é um desses aspectos. Para

Alvarenga (2004), a relação emocional com o alimento ocorre desde o início da vida das

pessoas, como por exemplo, a sensação de bem estar no aleitamento, possibilitando a relação

afetiva com quem lhe alimenta.

Desde o nascimento a comida vem associada ao prazer. Quando o bebe chora, a mãe

dá o peito, o calor do coro da mãe, seu cheiro e o carinho do toque recebidos durante

a amamentação são as primeiras associações entre prazer e alimento. O alimento é o

prazer mais primitivo ao qual o homem tem acesso desde seu nascimento (HELLER,

et. al., 2004, p. 16).

33

A respeito dessa relação afetiva com o alimento, Claudino e Zanella (2005, p.

260), dizem que o "alimento pode ser visto como gratificação substituta, equivalente de afeto,

compensação ou recompensa e na sua ausência pode ser vista até como punição, abandono ou

rejeição."

A vida é permeada por uma estreita relação entre alimentação e afetividade. É

necessário conhecer e considerar essas correlações para poder realizar um trabalho

mais eficiente junto aos pacientes que apresentam problemas alimentares (ARAUJO,

2004, p. 104).

Uma das correlações que pode ser feita entre as questões emocionais e o

comportamento alimentar estão descritos nos transtornos do comportamento alimentar, no

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV, 2002). Dentre estes

transtornos está o transtorno de compulsão alimentar, que também está relacionado com a

obesidade. O transtorno de compulsão alimentar é uma das psicopatologias que se reflete no

comportamento alimentar, assim como a bulimia e anorexia, e que estão observadas no

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV, 2002).

Segundo o DSM IV (2002), os transtornos alimentares estão subdivididos em

anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno alimentar sem outra especificações e transtorno

de compulsão periódica. A compulsão periódica pode ser purgativa ou não. Borges e Jorge

(2000 apud OTTO, 2007, p.19), pontuam que a obesidade é uma patologia que terá uma nova

categoria diagnóstica proposta pelo DSM-IV para possível inclusão nos transtornos

alimentares, sendo que até o momento, está inserido nos transtornos alimentares sem

especificação.

O comportamento alimentar caracterizado na compulsão alimentar é descrito por

Mattos et al. (2003) da seguinte forma:

Comer grandes quantidades de alimentos (quando não fisicamente faminto), em

tempo menor do que o normal, até se sentir incomodamente empanturrado. Esse

comportamento geralmente ocorre quando o indivíduo está sozinho, em razão do

embaraço diante da quantidade de alimentos que é consumida. Sentir repulsa por si

mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente. Apresentar

acentuada angústia relacionada á compulsão periódica, que ocorre em média 2 dias

por semana, por 6 meses. Não está associada ao uso regular de comportamento

compensatórios inadequados (por exemplo, purgação, jejuns,exercícios excessivos)

nem ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa

(MATTOS et al., 2003, p.290).

34

A compulsão alimentar periódica (TCAP) é um transtorno alimentar que pode

constituir o comportamento alimentar de alguns indivíduos com obesidade. Petribu et al.,

(2006) com a finalidade de avaliar a freqüência de transtorno da compulsão alimentar

periódica (TCAP) e transtornos psiquiátricos associados à obesidade mórbida no Brasil,

realizaram uma pesquisa com indivíduos à espera de cirurgia bariátrica. Nessa pesquisa

verificaram que, dos pacientes entrevistados, 30% deles apresentaram o transtorno da

compulsão alimentar periódica. Entretanto, Passos, Stefano e Borges (2005) alertam para o

fato de que,

episódios de compulsão alimentar não ocorrem apenas em obesos, e obesidade não é

critério para diagnóstico de TCAP. No entanto, o alto número de calorias ingeridas a

cada episódio e sua frequente ocorrência resultam, quase sempre em obesidade.

(PASSOS; STEFANO; BORGES, 2005, p.62).

Os autores acima citados, referem também que a primeira descrição em pesquisa

de episódios de descontrole alimentar entre obesos foi feita em 1959, sugerindo na época, que

entre obesos poderia haver um subgrupo com padrão alimentar distinto, como a compulsão

alimentar periódica. Nesse sentido, anos mais tarde, Borges e Jorge (2000 apud OTTO, 2007,

p.19) também observaram que entre os pacientes com obesidade grave, "há uma alta

prevalência de um transtorno alimentar conhecido como Transtorno de Compulsão Alimentar

Periódica."

O comer compulsivo representa uma dificuldade de tratamento dos pacientes obesos,

pois episódios de compulsão alimentar, interrompem prematuramente os tratamentos

pela incapacidade de controlar o controle da alimentação. Esses indivíduos tendem a

engordar se comparados aqueles sem esta perturbação (PETRIBU et al., 2006, p.03).

Os indivíduos com transtorno de compulsão alimentar periódica apresentam

grande probabilidade de terem obesidade mórbida, e como tratamento desse tipo de

obesidade, tem sido indicado a cirurgia bariátrica. Em avaliação realizada com pacientes

candidatos à cirurgia bariátrica, Mattos et al. (2003) observaram que dos 47 avaliados, 76,6%

apresentavam padrão alimentar não usual, e quase a totalidade dos avaliados poderia ser

classificada nos critérios diagnósticos para o transtorno de compulsão alimentar periódica.

Isso faz pensar que se esses sujeitos não mudarem seu padrão de comportamento alimentar,

caso sejam submetidos à cirurgia bariátrica, tenderão a ganhar peso mesmo com a redução do

volume gástrico, uma vez que a técnica cirúrgica não propicia a contenção do comer

compulsivo.

35

Diante da dificuldade em obter bons resultados nos tratamentos de redução de peso,

a procura por cirurgia bariátrica aumentou e vem sendo realizada com sucesso.

Entretanto, existe sempre a preocupação de alterações do comportamento alimentar

possam vir a trazer complicações pós-operatórias comprometendo o resultado da

cirurgia (PETRIBU et al., 2006, p.03).

O comportamento alimentar compulsivo em pacientes antes de se submeteram a

cirurgia bariátrica, foi observado também, na pesquisa realizada por Magdaleno e outros

(2009). Os autores observaram que passando algum tempo após a cirurgia, os sujeitos obesos

que já tinham compulsão antes da cirurgia, retornaram à compulsão alimentar, utilizando

novas estratégias, devido a redução do volume gástrico, como ficar beliscando os alimentos.

[...]as bolachas que se dissolvem na boca, o biscoito de polvilho, o leite

condensado, sorvete e o chocolate. Uma verdadeira batalha se impõe. Um descuido e

o peso começa a subir de novo. Disse uma paciente: “Doutor, eu não sei mais o que

faço, não tenho fome, mais fico o dia inteiro beliscando bolachas, e estou voltando a

ganhar peso, mas não consigo parar (MAGDALENO et al., 2009, p. 76).

Frente a essa possibilidade de voltar a ganhar peso, mesmo após a cirurgia

bariátrica, devido à compulsão alimentar, faz necessário o tratamento dos sofrimentos

psicológicos destes sujeitos, antes e após a cirurgia, buscando a mudança do comportamento

alimentar. Os aspectos psicológicos que influenciam o comportamento alimentar dos sujeitos,

serão melhor abordados no capítulo sobre os aspectos psicológicos envolvidos na obesidade

4.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENVOLVIDOS COM A OBESIDADE

Pelo fato de a obesidade ser considerada um fenômeno complexo e multifatorial,

sua compreensão necessita da interlocução das diversas áreas do conhecimento. Segundo

Benedetti (2003), os pesquisadores da área da psicologia começaram a estudar a obesidade

por volta da década de 1940 e 1950, ressaltando a importância dos aspectos psicológicos no

estudo desta doença, o que anteriormente somente era visto pelo prisma médico.

36

Por caracterizar-se como doença de etiologia multifatorial, a obesidade apresenta

etiologicamente fatores psicológicos relevantes, podendo ser psicodinâmicos2 e

desencadeantes de atividades cognitivas inadequadas, como, por exemplo, a

supervalorização da comida no alívio de tensões (conflitos internos e externos) e/ou

a depreciação da imagem corporal e concomitante falta de controle do

condicionamento alimentar e do apetite (MATTOS et al., 2003, p. 297).

Sobre as a influências psicológicas na obesidade, Scavora e Oliveira (2011)

referem que dificuldades afetivas podem desencadear alterações no comportamento alimentar,

“levando-as a comer além do necessário ou até compulsivamente. Neste sentido o alimento

substitui o afeto perdido e o indivíduo encontra certo alívio através de um excesso que

“preenche” o vazio emocional” (SCAVORA, OLIVEIRA, 2011, p. 01). As autoras ainda

sobre as influências psicológicas na etiologia da obesidade, pontuam que

pessoas ansiosas, depressivas e estressadas, que se sentem rejeitadas, sozinhas, que

sofrem perdas ou passam por qualquer conflito emocional, como frustrações ou

insatisfações, são as mais propensas a desenvolver a obesidade. Tais conflitos

colaboram para que o indivíduo compense esses problemas aumentando o consumo

de determinado alimentos altamente calóricos, como doces (SCAVORA,

OLIVEIRA, 2011, p. 01) .

Por isso, é relevante considerar a maneira como cada pessoa lida com as suas

questões psicológicas, pois a percepção do sujeito sobre “dado estímulo depende de suas

características, bem como das necessidades, motivos, interesses, atitude expectativas e valores

do indivíduo.” (MATTOS et al., 2003, p. 297). Isso leva a considerar que o modo como cada

pessoa com obesidade se relaciona com a comida é algo individual, marcado pela sua

experiência de vida, pela sua fisiologia, bem como, pelos fatores psicológicos deste sujeito. E

sobre a influência do fator psicológico na obesidade, Marchesini (2011) ressalta que, ao se

avaliar psicologicamente um indivíduo com obesidade é necessário considerar, “o vínculo que

este sujeito tem com o alimento ou com o ato de comer, pois este vínculo, pode ser marcado

pela gratificação, pela agressividade auto-dirigida, pela ansiedade, entre outros sentimentos”

(MARCHESINI, 2011, p. 4).

Além dos fatores psicológicos envolvidos na ingestão alimentar do sujeito com

obesidade, também é necessário considerar, os fatores psicológicos envolvidos na maneira

como o sujeito com obesidade se relaciona com a sua auto-imagem. Para Castilho (2001, p.

2 Psicodinâmica. O estudo dos processos mentais e emocionais subjacentes ao comportamento humano, e de

sua motivação, em especial quando se manifestam em resposta inconsciente às influências ambientais.

(DICIONÁRIO ELETRÔNICO DE PSICOLOGIA, 2011)

37

3), "o corpo concretiza nossa existência. Através dele percebemos, somos percebidos e

interagimos com o mundo que nos cerca. Fronteira entre o eu e o mundo, o corpo é linguagem

e comunicação."

Sobre o desenvolvimento da auto-imagem no sujeito com obesidade, Araújo

(2004) diz que é necessário considerar que a imagem corporal é importante para o

desenvolvimento físico e emocional de qualquer sujeito, e que no caso do sujeito com

obesidade, esta imagem torna-se alvo de preconceito e discriminação, podendo trazer

comprometimento emocional para eles, pois,

a aparência do corpo exerce grande influência em nossas vidas, afinal, a forma como

nos apresentamos para os outros determina a maneira como nos relacionamos, as

oportunidades que temos socialmente, as reações e atitudes dos outros para conosco,

bem como nossa vida afetiva e profissional. Porém não é só a forma como os outros

nos vêem que tem grande impacto em nossas vidas; é a concepção que nós temos

sobre nossa imagem que exerce maior influência. Além do mais, a forma como os

outros nos percebem pode ser também bastante destoante daquilo que

experenciamos subjetivamente (STENZEL, 2006, p. 73).

Segundo Castilho (2001), o sujeito também percebe o seu corpo a partir do padrão

estético adotado pela sociedade. "Definições consensualmente validadas e ligadas à cultura

sobre o que vem a ser belo acabam por influenciar o modo pelo qual nos avaliamos

fisicamente, determinando nossos comportamentos, posturas e atitudes no mundo"

(CASTILHO, 2001, p.3).

A percepção dos outros sujeitos sobre a imagem corporal da pessoa com

obesidade está repleta de significados culturais. Por isso, torna-se importante considerar que o

significado do excesso de peso na cultura moderna, traz para a pessoa obesa uma grande

pressão emocional, pois, “a pressão para ser magro, em nossa cultura é intensa e implacável”

(BROWNELL, O‟NEIL, 2009, p. 355). Segundo estes autores, não ter um corpo dentro dos

padrões culturais estabelecidos, pode ser visto como ter um corpo “imperfeito”, podendo ter

como representação social de que a pessoa com este corpo, como no caso das pessoas acima

do peso, sejam pessoas sem força de vontade, preguiçosas, relaxadas, descontroladas, etc.

Perin (2011) corrobora esta idéia, afirmando que, “a sociedade promove julgamentos sociais

negativos em relação ao obeso. Dando a eles, adjetivos como feios, relaxados e preguiçosos,

como se eles fossem responsáveis pela sua obesidade por falta de vontade” (PERIN, 2011, p.

01).

Ressalta-se que a força cultural sobre a imagem corporal da pessoa com obesidade

pode lhe trazer depreciação da auto-imagem, acarretando sofrimento social e psicológico.

38

Nas últimas décadas, as pressões sociais por um corpo esbelto têm se intensificado e

as pessoas com obesidade são frequentemente avaliadas de forma depreciativa,

sendo alvo de preconceito e discriminação no trabalho, nos relacionamentos sociais,

etc. (PETRIBU et al., 2006, p. 05).

Outros autores, também falam do sofrimento emocional das pessoas com

obesidade, devido ao modo como a sociedade vem lidando com eles. Entre estes autores,

estão Brownell e O' Neil (2009), que afirmam que

as atitudes da sociedade em relação à obesidade são refletidas nas atitudes dos

próprios indivíduos com sobrepeso, Num ambiente clínico, ouvem-se

autodeclarações depreciativas de indivíduos em grave sofrimento, com um

autoconceito prejudicado, que sentem um desespero que é inevitável por um dia ou

mesmo por algumas horas” (BROWNELL, O‟ NEIL, 2009, p. 357).

Frente a esta autodepriciação do sujeito com obesidade, Perin (2011), levanta a

discussão, em seu estudo sobre as considerações psicológicas sobre a obesidade mórbida, que

a sociedade muitas vezes culpa e responsabiliza o sujeito por sua obesidade. E o sujeito com

obesidade frequentemente vivencia isso como verdadeiro e então, “além de carregar todo o

seu peso, frequentemente carrega a culpa e a responsabilidade por sua obesidade.” (PERIN,

2011, p. 01).

O sujeito com obesidade, frente às dificuldades sociais, físicas e emocionais,

busca na cirurgia bariátrica a solução para estes problemas, entretanto, a cirurgia é apenas um

dos pontos das mudanças que devem ocorrer na vida do sujeito. “A obesidade constitui um

desafio para várias áreas do conhecimento e é a expressão sintomática dos conflitos internos e

externos do indivíduo. A cirurgia da obesidade sozinha não cura os sintomas psíquicos da

obesidade.” (GLEISER, CANDEMIL, 2006, p. 192).

O tratamento adequado da obesidade não envolve somente a redução do peso, pois

mesmo com a cirurgia bariátrica isso não é garantido, se não houve mudança de

comportamento, que segundo Scavora e Oliveira (2011, p. 2), “deve ocorrer de dentro para

fora [...]. Uma mudança gradual envolve mudança dos hábitos alimentares, manutenção de um

peso adequado, mudança no modo como trabalha os conflitos emocionais.” O sujeito

submetido à cirurgia bariátrica poderá voltar a ganhar peso, e com ele, emoções e

sentimentos, que podem trazer prejuízos a sua vida. As emoções e os sentimentos são

processos psicológicos básicos que estão diretamente relacionados com os fatores

psicológicos da obesidade.

39

4.3.1 Processos psicológicos básicos: percepção, emoção e sentimento

A percepção, o sentimento e a emoção são alguns dos processos psicológicos

básicos apresentados pelos seres humanos. O processo psicológico de perceber é

caracterizado como o processo de agregar as diferentes informações no Sistema Nervoso

Central (SNC) e dar um significado a elas, ou seja, realizar uma interpretação das informações

obtidas no meio ambiente onde vive. "A percepção é caracterizada pelo processo de dar

significado ou interpretação às sensações. Nós relacionamos os dados sensoriais com nossas

experiências anteriores, o que lhe confere significado" (BRAGHIROLLE et al., 1990, p.15).

Segundo Atkinson (1995), a percepção é o estudo de como integramos a sensação

em conceitos sobre os objetos e como depois usamos esses conceitos para lidarmos com o

mundo. Assim a percepção dos sujeitos acerca de voltarem a ganhar peso após submeter-se a

cirurgia bariátrica, torna-se importante para sabermos como estes sujeitos estão lidando com

esta situação e os possíveis sofrimentos psicológicos que podem surgir nestes sujeitos.

O processo de percepção está intimamente ligado a experiência anterior do

indivíduo, havendo comparação das informações anteriores que o indivíduo tem com a

informações novas que chegam até ele. Luria (1999) pontua que, "o conhecimento anterior

sobre o objeto incorpora-se a sua percepção direta do objeto perceptível atual" (LURIA, 1999,

p.20). Portanto, o indivíduo com obesidade que passa por cirurgia bariátrica, tem antes da

cirurgia, um experiência (percepção) do que seja ser obeso em nossa sociedade, de sua

imagem corporal, de seu comportamento alimentar, suas relações sociais etc. Quando ocorre a

cirurgia bariátrica, esta pessoa que se percebia com uma imagem corporal fora dos padrões

estéticos, com o emagrecimento terá que buscar novas experiências (percepções) para dar

conta de um corpo mais magro, além de buscar um novo comportamento alimentar, devido ás

limitações de seus aparelho gástrico, ou por possíveis complicações pós-cirúrgicas, como o

ganho de peso, etc. Este sujeito buscará se adaptar a esta nova realidade de vida em seu meio

ambiente, porém nem sempre este processo acontece sem sofrimentos. Para Alencar (1986, p.

125), "a percepção desempenha um papel de importância decisiva na adaptação do organismo

no meio ambiente, sendo determinado não apenas por características do estímulo como

também por características do sujeito."

O sujeito com obesidade pode ter a sua relação com a alimentação baseada em

emoções e sentimentos. Souza et al. (2005), em pesquisa com o objetivo de identificar

40

aspectos comportamentais e sociais envolvidos na dificuldade em perder peso observou que

todas as pacientes entrevistadas referiram-se a sentimentos tais como: "ansiedade, angústia,

frustração, tédio, solidão, tensão/estresse, raiva e tristeza; como desencadeadores da vontade

de comer" (SOUZA et al., 2005, p.03).

O processo psicológico de emocionar-se é considerado como a relação entre a

interpretação dada a um estímulo e as reações fisiológicas no organismo. Sob esta ótica, ao

estudar a natureza das emoções, Damásio (1996, p. 156) revela que "as emoções só são

desencadeadas após um processo de avaliação que é voluntária e não automática, que está

ligada a natureza da experiência de vida do sujeito."

A emoção é a combinação de um processo de avaliação mental, simples ou

complexo, com respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria, dirigidas ao

corpo propriamente dito, resultando num estado emocional do corpo e também,

dirigidas ao próprio cérebro, resultando em alterações mentais (DAMÁSIO, 1996, p.

168).

Para melhor estudar o processo da emoção, Damásio (1996) divide-as em,

emoções primárias e secundárias. O autor considera emoção primeira, as emoções inatas, pré-

organizadas que podem ser detectadas individualmente ou em conjunto. As emoções

primárias dependem da rede de circuito do sistema límbico. Ou seja, as emoções primárias,

são emoções ligadas a nossa história genética, e fisiológica, trazendo reações de preservação

da espécie ou a busca pelo equilíbrio homeostático3 do organismo, em que a reação emocional

busca atingir alguns objetivos, como por exemplo, demonstrar raiva no momento de uma

briga, ou ter uma força enorme ao ponto de salvar um filho da boca de um jacaré, etc.

Já as emoções secundárias são baseadas no conhecimento adquirido, ou seja, estas

emoções são baseadas na sua história pessoal e cultural, o que permite ao sujeito pensar com

antecipação e prever a probabilidade de sua presença num dado ambiente.

O processo psicológico de sentir é caracterizado como processo de perceber as

reações fisiológicas no organismo (emoção) e nomeá-las, podendo identificá-las como

tristeza, felicidade, medo, etc. Damásio (1996) ressalta que,

[...] existem muitas variedades de sentimentos. A primeira baseia-se nas emoções,

sendo as mais universais, a felicidade, a tristeza, a cólera, o medo e o nojo. Uma

segunda variedade de sentimentos é a que se baseia nas emoções que são pequenas

variantes das cinco antes mencionadas: a euforia e o êxtase são variantes da

3 HOMEOSTASE - s.f. Fisiologia. Tendência de os organismos vivos manterem constantes seus parâmetros

biológicos ante modificações do meio exterior. (ROCHA, 2011)

41

felicidade; a melancolia e a ansiedade são variantes da tristeza; o pânico e a timidez

são variantes do medo (DAMÁSIO, 1996, p. 180).

O autor também pontua a importância dos sentimentos, para ampliar o alcance das

emoções, para facilitar o planejamento de formas de reação adaptativas que sejam novas e

feitas sob medida para cada ocasião (DAMÁSIO, 1996). Assim como as pessoas com

obesidade sentem-se em relação ao que os outros dizem sobre elas? Que tipos de reação

adaptativa os sujeitos utilizam frente a estes sentimentos? Enfim, quais os sentimentos que

podem estar presentes na vida da pessoa que ganha peso, mesmo após realizar a cirurgia

bariátrica para poder emagrecer?

42

5 MÉTODO

5.1 TIPO DE PESQUISA

Quanto à natureza da pesquisa ela é qualitativa, "trabalhamos com dados

qualitativos que trazem para o interior da análise o subjetivo e o objetivo, os atores sociais e o

próprio sistema de valores do cientista, os fatos e seus significados, a ordem e os conflitos."

(MINAYO, 1993, p.35).

A pesquisa, quanto aos seus objetivos, é descritiva, porque descreve as

características da percepção dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à

cirurgia bariátrica.

A descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o

estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser

classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na

utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a

observação sistemática. (GIL, 2002, p.42).

Com base nos procedimentos técnicos utilizados, o delineamento da pesquisa é do

tipo estudo de campo. Por ser um estudo com pessoas que se submeteram à cirurgia bariátrica

e voltaram a ganhar peso.

O estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é necessariamente

geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou

voltada para qualquer outra atividade humana. Basicamente, a pesquisa é

desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de

entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que

ocorre no grupo. (GIL, 2002, p.53).

43

5.2 PARTICIPANTES

Caracterização dos sujeitos da pesquisa

Ida

de

(an

os)

Sex

o

Esc

ola

rid

ad

e

Pro

fiss

ão

Est

ad

o C

ivil

Po

ssu

i fi

lho

s?

Est

atu

ra

Pes

o a

tua

l (K

g)

Tem

po

qu

e re

ali

zou

a

ciru

rgia

Pes

o a

nte

s d

a

ciru

rgia

(Kg

)

Pes

o q

ue

per

deu

(Kg

)

Pes

o q

ue

ga

nh

ou

(k

g)

IMC

atu

al

E

1

29 M Sup. Enf. Sol. Não 1,81 99 11 anos 151 56 11 31.32*

E

2

55 F Fun. Do lar Cas. Sim 1.59 78 5 anos 97 27 8 30.95

E

3

36 F Médio T. Enf. Cas. Sim 1.68 93 6 anos 136 57 12 32.97

E

4

30 F Médio Do lar Cas. Sim 1.65 69 6 anos 117 57 9 25.74

E

5

37 F Sup. Prof. Cas. Sim 1.64 117 4 anos 147 50 20 43.65

* E1 - Quando estava ganhando peso, pesou: 110 Kg, com IMC de 34.81

Quadro 5 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

Os participantes desta pesquisa foram cinco pessoas, quatro mulheres e um

homem, com idades que variam de 29 anos a 55 anos, sendo um solteiro e quatro casados.

Somente um dos sujeitos entrevistados não possui filhos. Em relação à escolaridade, dois

sujeitos possuem nível superior, dois com ensino médio e um com ensino fundamental. A

estatura dos participantes da pesquisa variam de 1.59 m a 1.81m, o peso atual dos sujeitos tem

variação de 69 kg a 117kg. O tempo de realização da cirurgia dos participantes da pesquisa

tem a variação de 4 anos à 11 anos e o peso que tinham antes de se submeteram a cirurgia

bariátrica variam de 97 kg à 151kg e o peso que perderam após a cirurgia, varia de 27kg a 57

kg. O peso que ganharam varia de 8kg a 20 kg, e o IMC varia entre 25.74 a 43,65. Um dos

44

sujeitos da pesquisa (E1) participou do teste piloto do instrumento de coleta de dados e

posteriormente foi solicitada a sua autorização para incluir os seus dados na pesquisa.

5.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS

Para a realização desta pesquisa foram utilizados recursos materiais tais como:

caneta, papel, gravador, roteiro de entrevista semi-estruturada e computador.

5.4 SITUAÇÃO AMBIENTE

As entrevistas foram realizadas em locais apropriados para os entrevistados. Duas

entrevistas ocorrem em consultório disponibilizado pelo profissional que indicou os

participantes da pesquisa. Duas entrevistas ocorreram no local de trabalho dos entrevistados e

uma entrevista ocorreu na casa do entrevistado. Os locais onde ocorreram as entrevistas

estavam equipados com mesa e cadeiras, com ventilação e iluminação adequadas, com

condições adequadas para a manutenção e garantia da privacidade e do sigilo dos

entrevistados.

5.5 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevistas com

questões abertas. Esse instrumento foi elaborado com base nas seguintes variáveis: a

caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa, informações sobre a cirurgia bariátrica a

que eles se submeteram, as características do comportamento alimentar dos sujeitos após a

cirurgia bariátrica, os tipos de sentimentos e emoções que estes sujeitos tem ou tiveram

quando perceberam que estavam ganhando peso após a cirurgia bariátrica, as possíveis

45

modificações nas relações sociais destes sujeitos quando voltarem a ganhar peso após

submeterem-se à cirurgia bariátrica. Ao analisar estas variáveis foi possível caracterizar a

percepção dos sujeitos pesquisados acerca de voltarem a ganhar peso após submeterem-se à

cirurgia bariátrica.

Foi realizado um piloto (teste) do instrumento de coleta de dados. O teste piloto

foi realizado com um sujeito que se submeteu a cirurgia bariátrica há 8 anos e que voltou a

ganhar peso dois anos após a cirurgia, mas que hoje está com o peso que deseja ter. O teste foi

realizado no trabalho do sujeito em condições adequadas para a manutenção e garantia da

privacidade e do sigilo do entrevistado. Após o teste, foram acrescentadas na entrevista

perguntas referentes à estatura do sujeito e ao uso de medicações psicotrópicas.

5.6 PROCEDIMENTOS

A fim de alcançar os objetivos propostos foram seguidos os procedimentos abaixo

descritos.

5.6.1 De seleção dos participantes

A escolha dos participantes desta pesquisa foi feita a partir da população alvo,

pessoas que realizaram qualquer técnica de cirurgia bariátrica, há um ano ou mais, e que

tenham perdido peso, e que referem ter ganhado peso novamente. Os 5 participantes foram

indicação de um profissional da área da saúde. Os sujeitos entrevistados reconheceram que

estiveram ou estão ganhando peso novamente. Os participantes desta pesquisa foram cinco

pessoas, um homem e quatro mulheres, com idades acima de 18 anos, que se submeteram à

cirurgia bariátrica, e que já estão no período pós-operatório há mais de um ano e que referiram

ter ganhado peso após a cirurgia

46

5.6.2 De contato com os participantes

Após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética da Universidade do Sul de

Santa Catarina e a realização de uma aplicação piloto do roteiro de entrevistas elaborado, foi

realizado contato com os participantes da pesquisa, por telefone, buscando saber do interesse

em participar da pesquisa, explicando-lhes os objetivos da mesma. Após a confirmação do

interesse de participar da pesquisa, foi combinado com os sujeitos, a data, o horário e o local

em que aconteceria a entrevista.

5.6.3 De coleta e registro dos dados

No início da entrevista foram dados esclarecimentos acerca da gravação da

entrevista e solicitado a autorização dos mesmos para gravação mediante a assinatura do

Termo de Consentimento para Gravação em Áudio. Antes de iniciar a entrevista foi solicitado

que o sujeito lesse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, que serve para

informar ao sujeito da pesquisa sobre os procedimentos, riscos e benefícios aos quais será

submetido e o seu direito de desistir a qualquer momento da pesquisa. Com a concordância

em participar da pesquisa, eles assinaram o TCLE para que a entrevista fosse iniciada

Durante a entrevista, a pesquisadora ficou atenta a possíveis sinais de ansiedade e desconforto

no sujeito. Isso não aconteceu com nenhum dos entrevistados. Os entrevistados pareceram

estar bem ao falar do ganho de peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica, sorriam e

respondiam sem restrição os questionamentos feitos.

Para a coleta de dados desta pesquisa, foi utilizada a entrevista semi estruturada,

com um roteiro com perguntas abertas. Iniciando com perguntas mais gerais e depois com

perguntas específicas relativas ao interesse da pesquisa. As entrevistas aconteceram em local

variado, E1 e E3 foram entrevistados em uma sala disponibilizada em seu local de trabalho

em dias diferentes. E2 e E5 foram entrevistados em dias diferentes em um consultório

médico disponibilizado pelo profissional que indicou os participantes da pesquisa. E4 foi

entrevistado em sua casa, a entrevista ocorreu na cozinha, enquanto o avô do filho da

entrevista cuidava do menino em outro cômodo da casa. Durante a coleta de dados os

47

entrevistados tiveram dificuldade em responder a questão que solicitava que eles adjetivassem

o próprio corpo, o que exigiu que a pesquisadora refizesse a pergunta de diferentes maneiras,

muitas vezes apresentando exemplos de respostas para que eles pudessem responder a

questão. As entrevistas duraram em média 40 minutos.

Os dados foram registrados em gravador, após autorização dos sujeitos, e

transcritos na íntegra no computador.

5.6.4 Organização, tratamento e análise de dados

Os dados foram organizados a partir das entrevistas gravadas e transcritas. Após

as transcrições das entrevistas na íntegra, as quais foram digitadas no computador da

pesquisadora, os dados foram organizados por perguntas para cada objetivo. Depois iniciou-se

a análise de conteúdo das respostas, com a elaboração e a organização de categorias. Para

Caregnato e Mutti (2006, p.681) a análise de conteúdo "é um meio de expressão do sujeito,

onde o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que se repetem,

inferindo uma expressão que as representem."

As categorias mais relevantes foram identificadas a partir da fala dos sujeitos da

pesquisa. Após as perguntas serem separadas por objetivos, elas foram lidas ainda no

computador. A partir da leitura foram destacados trechos da fala de acordo com o tipo de

categoria a que a mesma se referia. Por exemplo, foi feito destaque em azul para trechos da

fala dos sujeitos que se referiam a tipos de alimentos que o sujeito consome. Esse mesmo

procedimento foi realizado análise de conteúdo de todas as entrevistas.

Para cada objetivo foi realizado uma varredura nas demais perguntas ao longo da

entrevista para verificar se não havia respostas dispersas ao longo da entrevista que diziam

respeito ao objetivo que estava sendo organizado em categorias. Após esta etapa, as falas

destacadas em cores iguais foram agrupadas em categorias e subdivididas em subcategorias, a

partir das quais foram criados quadros para apresentação dessas informações, juntamente com

as falas dos sujeitos pesquisados e a quantidade de ocorrências de cada categoria e

subcategoria. Posteriormente os dados foram interpretados com base no referencial teórico,

buscando responder os objetivos da pesquisa.

48

6 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Neste capítulo será apresentada a descrição e interpretação dos dados obtidos por

meio das entrevistas realizadas com os participantes da pesquisa, a fim de atingir o objetivo

geral da pesquisa, qual seja, caracterizar a percepção de sujeitos que se submeteram à cirurgia

bariátrica a respeito do processo de voltar a ganhar peso após a cirurgia.

Com a finalidade de caracterizar percepções dos entrevistados a respeito do voltar

a ganhar peso após realizarem a cirurgia bariátrica, foram delimitados quatro objetivos

específicos: A) Caracterizar a percepção de sujeitos que voltaram a ganhar peso após

submeterem-se à cirurgia bariátrica sobre a cirurgia; B) Caracterizar o comportamento

alimentar dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica;

C) Identificar as percepções dos sujeitos acerca das possíveis modificações nas relações

sociais, quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica; D)

Caracterizar os sentimentos e emoções descritas pelos sujeitos quando voltaram a ganhar peso

após submeterem-se à cirurgia bariátrica.

Assim, os dados foram organizados a partir dos objetivos específicos da pesquisa,

e subdivididos em categorias e subcategorias e posteriormente foram submetidos à descrição e

interpretação dos dados, relacionando os dados com o referencial teórico e com as percepções

da pesquisadora.

6.1 A CIRURGIA

A cirurgia bariátrica segundo Marchesini (2006) é um tratamento cirúrgico para

pessoas com obesidade mórbida ou com obesidade associada a comorbidades, como a

hipertensão. Frente às dificuldades para perder peso, muitas pessoas com obesidade tem

recorrido ao método cirúrgico para a diminuição de peso. Então, qual a percepção dos sujeitos

que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica sobre a cirurgia? Qual a

motivação destes sujeitos para realizar a cirurgia bariátrica? Qual a percepção destes sujeitos

acerca da cirurgia a que se submeteram? Quais foram os acompanhamentos profissionais que

tiveram antes e depois da cirurgia? Que medicamentos utilizam atualmente?

49

6.1.1 Motivação dos sujeitos para realizarem cirurgia bariátrica

No quadro 6 é possível observar as motivações que os sujeitos pesquisados

relataram ter tido para realizar a cirurgia bariátrica. "Saúde" foi mencionado por todos os

entrevistados como a motivação para a realização da cirurgia bariátrica. "Influência de

terceiros" foi apontada por três sujeitos da pesquisa. Já a “Discriminação” e "Aceitação de si

mesmo" foi apontada por dois entrevistados, para cada categoria. "Ser aceito por terceiros" foi

mencionado por somente um sujeito da pesquisa.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Discriminação Eu não tinha amigos, diziam lá vai o obeso, eles me chamavam de banha. (E1)

Onde eu trabalhava, as pessoas não me chamavam pelo meu nome me chamavam

de gorda. E eu ficava triste (E3)

2

Aceitação de si

mesmo.

Eu já não me sentia bem comigo mesmo.(E1)

Eu não tava contente comigo mesma. (E4)

2

Ser aceito por

terceiros

A minha motivação maior foi a aceitação dos outros. (E1)

1

Saúde

Eu também já tinha hipertensão, tinha dificuldade de amarrar um tênis, ficava

cansado. (E1)

Eu já estava com diabetes, colesterol altíssimo,

problemas de joelho, com dificuldades de subir escada (E2)

Tinha problemas de pressão alta, tinha muita dor de cabeça e quando ia a pé para

o trabalho e ficava muito casada. (E3)

Depois com a obesidade eu fui ficando doente, com pressão alta. (E4)

Eu era hipertensa severa tomava 6 medicações por dia, casada há 12 anos tinha o

sonho de ser mãe, mas com a pressão que eu tinha era impossível, esse foi o meu

maios incentivo. (E5)

5

Influência de

terceiros

O meu colega operou antes, eu não sabia nada sobre a cirurgia, ele tinha 192 kg e

deu bastante resultado, através dele me inspirou a fazer esta cirurgia. (E1)

O meu sobrinho que fez e me indicou. (E3)

Uma amiga minha disse: Vai fazer! Ela fez e disse que eu tinha que fazer (E4)

3

Quadro 6 - Motivação para realizar a cirurgia.

Fonte: elaboração da autora, 2011

A busca pela melhora da saúde foi mencionada por todos os sujeitos da pesquisa

como um dos motivadores para a realização da cirurgia bariátrica. Os pesquisados, segundo

seus relatos, buscaram através da cirurgia bariátrica a perda de peso e, por consequência, a

50

melhora em sua saúde. Este dado revela que as pessoas com obesidade percebem a sua saúde

tem prejuízos, tendo em vista que a obesidade está associada a várias doenças. Como pontua

Peres (2005), a obesidade está associada a elevado grau de morbidade, entre elas: hipertensão,

diabetes, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), osteoartrite, apnéia do sono,

câncer, entre outros. Porém, Castro (2010) chama a atenção de que estudos apontam para o

fato de que apesar de o discurso dos sujeitos com obesidade revelarem que a motivação para a

cirurgia seja a melhora na saúde, a ênfase tem sido dada às questões estéticas, e isso pode

ocorrer porque as pessoas com obesidade são alvos de preconceitos e discriminação. Em

pesquisa realizada por Marquesini (2010, p.3), com pessoas que submeteram-se a cirurgia

bariátrica, foi observado que "no que tange à motivação, a saúde debilitada preencheu a

porcentagem de 30,4% como critério para decisão para a cirurgia bariátrica, mas ainda a mola

propulsora dos pacientes é a discriminação social e estética com 54,3%."

O fato de serem alvos de preconceito e discriminação, bem como a dificuldade de

aceitação de si mesmo, a busca pela aceitação de terceiros e a influência de terceiros foram

outros motivos apontados pelos pesquisados para realizarem a cirurgia bariátrica. Neste

sentido, Segal e Fandiño (2002) levantam esta discussão, dizendo que a discriminação contra

a pessoa com obesidade perpassa toda a sociedade, como é observado em programas de

televisão, piadas, revista, etc. Isso pode fazer com que pessoas com obesidade tenham

sofrimentos psicológicos importantes e que busquem na cirurgia bariátrica a "melhora" desta

situação. Este fato corrobora a idéia de Benedetti (2003) que diz que para as pessoas vítimas

de preconceitos e insatisfeitas com o próprio corpo, o emagrecimento tem caráter de

"salvação". Para estas pessoas, conseguirem o emagrecimento através da cirurgia bariátrica

pode despertar expectativas que efetivamente a cirurgia não pode oferecer, como por

exemplo, a aceitação de si mesmo ou não ter mais nenhum problema de saúde.

Estas expectativas, entre outras, foram observadas nos motivos apontados pelos

sujeitos desta pesquisa para a realização da cirurgia. Todos os sujeitos pesquisados referiram

que um dos motivos para realizar a cirurgia seria a melhora na saúde, três disseram que seria

influência de terceiros, dois disseram que seria a discriminação sofrida por eles, dois

pesquisados relataram que seria a aceitação de si mesmo e um sujeito pesquisado disse que

seria para ser aceito por terceiros. Estes dados revelam que a motivação para a realização da

cirurgia bariátrica por parte dos sujeitos pesquisados estavam relacionados a expectativas de

"salvação" que a cirurgia bariátrica por si só, não consegue dar conta.

51

6.1.2 Percepção dos sujeitos acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteram

No quadro 7 é possível observar a percepção dos sujeitos acerca da cirurgia

bariátrica a que se submeteram. "Controle" e "Frustração" foram mencionados por dois

sujeitos pesquisados, para cada categoria, ao serem questionados acerca da percepção que tem

sobre a cirurgia bariátrica. "Realização" e "Mudança" foram mencionadas por um pesquisado,

para cada categoria, como a sua percepção acerca da cirurgia a que se submeteram.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Mudança

E depois que eu fiz a cirurgia a minha vida deu uma mudada 100 % apesar de

depois voltar a engordar e depois consegui emagrecer novamente. (E1)

1

Controle

A cirurgia não é a salvação. Tu tens que ter muito controle. (E1)

Eu achei que ia resolver por resto da vida, pelo contrário é um controle para o

resto da vida. (E2)

2

Realização

Ao fazer a cirurgia me fez levantar, tanto, tanto, me fez me gostar que foi para mim

uma realização. Como hoje ainda me sinto realizada mesmo tendo engordado um

pouco, mesmo assim estou feliz de ter feito. (E2)

1

Frustração Mas eu esperava um resultado diferente.... Porque eu não quero me operar de

novo, eu não quero, posso engordar 200 kg. (E3)

Eu costumo dizer que a cirurgia serviu para mim para três coisas, para amenizar o

meu problema de hipertensão arterial, porque não curou, para eu ter o meu filho e

para detonar com a minha saúde, porque hoje em dia tenho que fazer reposição

de ferro, eu me alimento normalmente como qualquer pessoa, como o meu

organismo não absorve o ferro eu tenho que fazer a reposição de ferro, eu

tenho que tomar complexo vitamínico, hoje eu ainda sou gorda e não tenho a

saúde que eu tinha antes da cirurgia, apesar de ser hipertensa severa. (E5)

2

Quadro 7 - Percepção do sujeito acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteu.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

A percepção de que a cirurgia não resolve a obesidade por si mesma e que

necessita de mudança de comportamento alimentar, foi pontuada por E1 e E2 utilizando a

palavra "controle" para se referirem ao fato de que mesmo que haja a redução de estômago,

isso não é garantia da perda de peso para sempre. Benedetti (2003) afirma que o sucesso do

tratamento cirúrgico da obesidade está na forma como o sujeito operado vai lidar com este

recurso, a redução de estômago. O que se pode compreender é que o controle a que os

pesquisados E1 e E2 fazem menção, está relacionado à maneira como eles lidam com seu

52

comportamento alimentar, sendo que a redução de estômago lhes trouxe a percepção de que

necessitariam deste controle para a perda de peso.

Outro fator importante na percepção dos sujeitos E3 e E5 acerca da cirurgia foi o

fato de não terem conseguido o que esperavam ao realizar a cirurgia, trazendo-lhes frustração.

E5 afirma que tinha como motivação para a cirurgia a melhora em sua saúde, como descrito

no quadro 6, mas ao ser perguntada sobre a percepção da cirurgia, ela afirma ainda ter

hipertensão e que, em decorrência da cirurgia, surgiram outros problemas de saúde, além de

ainda continuar "gorda". Já E3 parece se frustrar ao perceber que o resultado que esperava da

cirurgia não aconteceu, como o emagrecimento esperado.

Essas expectativas "lançadas" a cirurgia bariátrica e não sobre a mudança de

comportamento dos sujeitos, vem ao encontro das discussões feitas por Benedetti (2003) de

que muitos sujeitos operados lançam sobre a cirurgia bariátrica a fantasia de que a vida irá

mudar por completo, como se o sujeito fosse passivo neste processo, como se dele não

dependesse a mudança de comportamento. Esta dificuldade da mudança de comportamento,

principalmente do comportamento alimentar após algum tempo de ter realizado a cirurgia

bariátrica, foi também observada na pesquisa realizada por Magdaleno et al. (2009). Nessa

pesquisa os autores descobriram que os seus pesquisados apresentaram muitas dificuldades

em mudar a maneira como se alimentavam. Passado o sentimento inicial de vitória e de "lua-

de-mel" com a perda de peso, os sujeitos enfrentavam problemas ao entrar na realidade da

restrição alimentar, dentre outros problemas que ocorrem em decorrência da cirurgia.

Porém, com base na percepção de E1 e E2 sobre a cirurgia como mudança de vida

e realização para o sujeito, também é possível identificar que a partir da cirurgia e do

emagrecimento, os sujeitos podem buscar a mudança de seus comportamentos, das suas

relações sociais, trazendo-lhes maior satisfação e bem-estar. A redução de estômago pode ser

um motivador para a mudança de comportamento, principalmente no que diz respeito ao

comportamento alimentar. Segundo Benedetti, (2003), alguns sujeitos que realizaram a

cirurgia conseguiram mudar o estilo de vida após a cirurgia, conseguindo se adaptar a nova

dieta, assim perdendo peso. E, conforme o autor, com a perda de peso estes sujeitos podem ter

o aumento da auto-estima, a sensação de controle sobre si mesmo e sobre o seu

comportamento e sofrer menos preconceitos, o que facilitaria as suas relações sociais.

53

6.1.3 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos antes de realizarem a

cirurgia bariátrica.

No quadro 8 são apresentados dados referentes ao acompanhamento profissional

que os sujeitos relataram ter realizado antes de se submeterem à cirurgia bariátrica. "Tipo de

profissional" foi dividida em subcategorias por tipo de atividade profissional. Os cinco

pesquisados referiram que tiveram atendimento médico antes de realizarem a cirurgia. Três

pesquisados informaram que tiveram atendimento psicológico antes de realizarem a cirurgia e

três, que tiveram atendimento com nutricionista. Dois sujeitos disseram que tiveram

atendimento com nutrólogo. E um informou que teve atendimento com psiquiatra e outro que

teve atendimento com fisioterapeuta.

A "Motivação para a procura de acompanhamento de outro profissional da área da

saúde além do acompanhamento médico" foi dividida em subcategorias. A subcategoria

"Obtenção de documentos necessários para realizar a cirurgia" foi a resposta dada por três

sujeitos da pesquisa, como sendo o motivo da procura por atendimento de outros

profissionais. A subcategoria "Indicação do médico" foi referida por dois entrevistados como

sendo a motivação para a procura do atendimento profissional. A subcategoria

"Acompanhamento do SUS" foi indicada pela entrevistada E4 como sendo o motivo para ter

realizado o acompanhamento de outros profissionais da área da saúde, além do médico, antes

da cirurgia.

Quanto à categoria "Dificuldades para realizar o acompanhamento profissional",

foi possível identificar a subcategoria "dificuldades financeiras" no discurso da entrevista E2

como o motivo para não procurar atendimento de outros profissionais, além do atendimento

médico, antes de realizar a cirurgia.

Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor

Tipo de

profissional

Cirurgião

bariátrico

Eu fui ao cirurgião (E1 ,E 2, E3, E4, E5.) 5

Psicólogo Psicólogo. (E1, E3, E4) 3

Nutricionista Fui a nutricionista (E1, E4 ,E5) 3

Nutrólogo Fui até no nutrólogo (E1, E5) 2

Fisioterapeuta Fisioterapeuta (E4) 1

Psiquiatra Fui ao psiquiatra (E5) 1

Motivação para a

procura de

acompanhamento

de outro

profissional da área

da saúde além do

Obtenção de

documentos

necessários para

realizar a cirurgia.

Fui nestes profissionais somente para preencher os

formulários para a cirurgia. (E1)

Para dizer se eu podia fazer a cirurgia, uma consulta.

(E3)

3

54

atendimento

médico

Eu fui a todos os profissionais para preencher as

fichas não para fazer um acompanhamento. (E5)

Indicação do

médico

O médico me indicou, mas não foi uma coisa muito

cobrada. (E1)

Fiz por dois meses antes da cirurgia acompanhamento

com a nutricionista por indicação do cirurgião

bariátrico. (E5)

2

Acompanhamento

do SUS

No Hospital, pelo SUS. A gente tinha todo

acompanhamento, a nutricionista, psicólogo,

fisioterapeuta, fazíamos atendimento individual e em

grupo para dividir as experiências das pessoas.

(E4)

1

Dificuldades para

realizar o

acompanhamento

profissional além

do

acompanhamento

médico

Questões

financeiras

Não fui na nutricionista, cada vez a consulta tinha que

pagar 150 reais, eu mesmo vou cuidar. Não fiz

acompanhamento psicológico, nunca fui em psicólogo.

(E2)

1

Quadro 8 - Acompanhamento profissional antes da cirurgia bariátrica.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

O médico foi o profissional procurado por todos os entrevistados, tendo em vista

ser este o profissional que realiza o procedimento cirúrgico da redução de estômago. Os

demais profissionais procurados pelos entrevistados fazem parte da equipe multiprofissional

de apoio. Pois, além do cirurgião, o sujeito que irá passar pela cirurgia bariátrica necessita de

acompanhamento de outros profissionais, como: psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, etc.

(CLAUDINO, ZANELLA, 2005).

D'Oliveira et al. (2008), no Boletim Brasileiro de Tecnologia em Saúde, discute o

fato de que para realizar a cirurgia bariátrica é necessário ter infra-estrutura, suporte

organizacional e acompanhamento pré e pós-operatório.

No âmbito do SUS, o Ministério da Saúde instituiu as diretrizes para a atenção à

saúde, com vistas à prevenção e assistência ao portador de obesidade por meio da

Portaria GM/MS 1569/0730. Com relação aos critérios técnicos mínimos para a

realização da cirurgia bariátrica, a unidade prestadora de serviço deve dispor de:

Instalações e equipamentos adaptados ao perfil específico dos pacientes em questão;

equipe multidisciplinar experiente na avaliação pré-operatória, manejo das co-

morbidades e cuidados pós-operatórios, incluindo avaliação da necessidade de

cirurgia plástica após a maior perda de peso. (D'OLIVEIRA, et al., 2008, p. 6).

Os autores ainda problematizam que, pelo fato de a maioria das cirurgias

bariátricas, no setor privado, ser realizada em centros não cadastrados como serviços

especializados,talvez não haja garantia das condições mínimas para a execução do

55

procedimento, entre eles, a de ter uma equipe multiprofissional que preste acompanhamento

ao paciente. Acrescido ao fato de que o tempo de intervenção para o procedimento hoje é

pequeno, devido ao método de videolaparoscopia, tornando a cirurgia mais "simples" o que

talvez seja um fator que influencia na visão de banalização desta intervenção cirúrgica. Então

há um entendimento, por parte desses profissionais do setor privado, que não é obrigatório

que o candidato à cirurgia tenha acompanhamento contínuo de equipe multiprofissional de

saúde. Pois o preconizado pelo Ministério da Saúde (Portaria 492/31/08/2007) é que os

sujeitos candidatos à cirurgia busquem desses profissionais um parecer que recomende ou não

a realização da cirurgia, como é o caso do parecer psicológico e/ou psiquiátrico. E isto é

observado na fala de três sujeitos da pesquisa, que referiram que a motivação para procurar

outros profissionais, além do médico, foi o fato de necessitarem do preenchimento da

documentação para realizar a cirurgia, conforme a fala E5: Eu fui a todos os profissionais

para preencher as fichas, não para fazer um acompanhamento.

A partir das falas dos sujeitos da pesquisa é possível perceber que a procura por

outros profissionais além do médico está diretamente relacionado ao fato de conseguirem o

preenchimento de toda a documentação necessária para a realização da cirurgia bariátrica e

não da importância de ter acompanhamento contínuo dos demais profissionais da área saúde.

Este dado vem ao encontro do que foi levantado na pesquisa feita por Marchesini (2010), com

pacientes pós cirurgia bariátrica, em que observou que os sujeitos queriam a cirurgia

bariátrica, mas não percebiam a necessidade de maior preparação para o procedimento. Esta

falta de acompanhamento de equipe multiprofissional no antes e após a cirurgia bariátrica,

contradiz o que foi recomendado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia

Bariátrica e Metabólica. O presidente dessa entidade refere que para que ocorra o sucesso da

cirurgia bariátrica, os sujeitos que são submetidos à cirurgia devem realizar acompanhamento

contínuo de profissionais da área da saúde, devido à necessidade de mudança na dieta e nos

hábitos da vida (SBCBM, 2010).

Então, é possível considerar, a partir da fala dos entrevistados, que esses sujeitos

recorreram à cirurgia bariátrica sem considerar a importância do acompanhamento

psicológico e de influências psicológicas na sua situação de obesidade. Santos (2005) alerta

para o fato de que o sofrimento emocional tem ampla relação com a obesidade, em sua origem

ou como resultado dela. Por ter este entendimento, Claudino e Zanella (2005), reafirmam a

importância do acompanhamento pré-operatório por equipe mutiprofissional, entre eles o

acompanhamento psicológico. Porém, segundo Magdaleno Jr. et al. (2009) o que muitas

vezes acontece é que pessoas vão para a cirurgia bariárica sem considerar a importância das

56

influências psicológicas nas causas da obesidade, buscam a cirurgia como primeira alternativa

de tratamento da obesidade quando deveria ser última e que possivelmente realizam a cirurgia

considerando que a técnica de redução do estômago daria conta da perda de peso para sempre

e das mudanças que ocorreriam em suas vidas.

Entretanto, muitas vezes o sujeito que na decisão de fazer ou não à cirurgia

bariátrica desconhece a importância do acompanhamento multiprofissional no pré e pós

cirúrgico. Por isso, necessita receber esclarecimentos sobre a importância desses

acompanhamentos, bem como ser motivado a buscá-lo, para obter um melhor resultado

possível da cirurgia. Para Repetto e Rizzolli (2006, p. 345), na avaliação clínica pré-operatória

"o paciente deve ser bem orientado sobre todos os cuidados pós operatório e ter uma boa

adesão ao acompanhamento multiprofissional no pós-operatório para obter o melhor resultado

possível, ou seja emagrecer com saúde".

Os profissionais da área da saúde, principalmente o cirurgião bariátrico, por ser o

profissional que tem contato com todos os candidatos à cirurgia, conforme relato dos sujeitos

da pesquisa, tem o papel de esclarecer e motivar o sujeito que irá se submeter a cirurgia

bariátrica a procurar acompanhamento psicológico, dentre outros profissionais, no pré e pós-

cirúrgico, por ser este um acompanhamento importante para um bom prognóstico. Segundo o

Manual de Orientação Ética e Disciplinar do Conselho Regional de Medicina do Estado de

Santa Catarina (2006, p. 104), é vedado ao médico "deixar de informar ao paciente o

diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento,[...]" Repetto e Rizzolli

(2006) chamam a atenção para o fato de que a realização da cirurgia bariátrica vem se

popularizando e com isso aumentou o número de cirurgiões que realizam este procedimento

cirúrgico, e que "alguns deles realizam a cirurgia de forma indiscriminada e até irresponsável,

muitas vezes operando pacientes sem indicação cirúrgica ou mesmo com alguma contra-

indicação." (REPETTO, RIZZOLLI, 2006, p. 351). Os autores ainda pontuam que estes

cirurgiões operam sem treinamento apropriado e sem uma equipe multiprofissional para dar o

seguimento pós operatório, podendo colocar em risco a vida do paciente. Isso porque

desconsideram que a cirurgia é apenas uma das ferramentas para o tratamento complexo da

obesidade.

57

6.1.4 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos depois de realizaram a

cirurgia bariátrica.

No quadro 9 é retratado o acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos

depois de se submeterem à cirurgia bariátrica. "Tipo de profissional" foi dividida em

subcategorias por atividade profissional. O profissional médico foi indicado pelos cinco

pesquisados como o profissional que realizou o acompanhamento depois da cirurgia. O

profissional psicólogo foi indicado como tendo sido procurado para acompanhamento depois

da cirurgia por três dos entrevistados. O profissional da nutrição foi indicado como tendo sido

procurado por três sujeitos da pesquisa para acompanhamento depois da cirurgia e o

profissional psiquiatra por um sujeito da pesquisa, para acompanhamento depois da cirurgia.

A categoria "Motivação para a procura de acompanhamento de outros

profissionais da área da saúde além do acompanhamento médico" foi dividida em

subcategorias. "Voltar a ganhar peso" foi o motivo apresentado por dois sujeitos da pesquisa

para a procura de acompanhamento profissional. "Dificuldade de se expressar em público",

"Depressão após a cirurgia bariátrica" e "Gravidez" foi o motivo referido por um pesquisado

para cada categoria, como o que os levou a buscar acompanhamento psicológico.

Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor

Tipo de profissional

Psicólogo Procurei a psicologia (E1, E3, E4) 3

Nutricionista Comecei com a nutricionista (E1,E2, E5) 3

Psiquiatra Eu fiz 9 meses com o psiquiatra. (E3)

1

Médico E faço acompanhamento médico (E1, E2, E3, E4, E5) 5

Motivação para a

procura de

acompanhamento de

outros profissionais

da área saúde além

do acompanhamento

médico.

Dificuldade de se

expressar em

público.

Procurei a psicologia não pela redução de estomago, eu

fui pelo fato de estar no final da faculdade fazendo o

TCC, e tinha muita dificuldade de me expressar em

público e consegui deu uma melhorada boa. (E1)

1

Voltar a ganhar

peso

Há quatro meses comecei com a nutricionista. Fui

agora quando vi a grande necessidade (voltar a

ganhar peso). (E2)

No ano passado eu fiquei um ano em acompanhamento

psicológico. Então foquei nisso de não ganhar peso e

de mudar meus hábitos. Agora eu não vou mais, não

bateu os horários. (E4)

2

Depressão após à

cirurgia

bariátrica

Eu fiz 9 meses com psicólogo e psiquiatra por causa da

depressão(logo após a cirurgia). (E3)

1

58

Gravidez Por causa da minha gravidez eu fiz acompanhamento

com nutricionista, mas abandonei por causas

financeiras. (E5)

1

Quadro 9 - Acompanhamento profissional depois da cirurgia bariátrica.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

O médico foi referido como profissional procurado por todos os entrevistados para

acompanhamento pós-cirúrgico, possivelmente por ser este o profissional responsável pelas

condições clinicas dos sujeitos no pós-operatório em curto, médio e longo prazo. Segundo o

Manual de Orientação Ética e Disciplinar do Conselho Regional de Medicina do Estado de

Santa Catarina (2006, p. 72), "do ponto de vista técnico, cabe ao médico estabelecer o

diagnóstico, a prevenção e o tratamento das doenças humanas". Pereira e Benchimol (2006, p.

365), falando do acompanhamento clínico pós-cirúrgico, afirmam que "o clínico ou o

endocrinologista fará o acompanhamento prevenindo e tratando complicações clínicas, é

importante lembrar que esse paciente deve ser acompanhado e monitorado por toda a vida".

Os sujeitos pesquisados relataram diversos motivos para terem procurado o

acompanhamento de outros profissionais da área da saúde, além do médico. Dos motivos que

levaram os entrevistados a procurar o acompanhamento psicológico, somente o sujeito E4

referiu que teria sido por voltar a ganhar peso. Sendo possível considerar, segundo o relato

dos sujeitos de pesquisa, que estes sujeitos tenham dificuldades em relacionar a obesidade ao

tratamento de sofrimentos psicológicos na busca pela perda de peso ou ainda, de que não

estabelecem relações entre a obesidade e os sofrimentos psicológicos, como foi discutido no

quadro 8. Esses dados, também foram observados na pesquisa realizada por Marchesini

(2010) com pacientes pós cirúrgicos de cirurgia bariátrica. O autor observou que os sujeitos

que desejavam a cirurgia não percebiam a necessidade de maior preparação psicológica para a

cirurgia, mas que após realizar a cirurgia, 67,4% dos entrevistados disseram que deveriam ter

se preparado psicologicamente melhor, com mais de uma avaliação psicológica.

6.1.5 Medicamentos utilizados pelos sujeitos da pesquisa

No quadro 10 são apresentados dados sobre os medicamentos utilizados

atualmente pelos sujeitos da pesquisa. "Tipos de medicamentos" foi dividida em

subcategorias. "Polivitamínicos" e "Vitamina B12" foram referidos por três dos entrevistados,

59

para cada categoria. "Anti-anêmico" apareceu como resposta de dois sujeitos da pesquisa,

como sendo um dos tipos de medicamentos que utilizam atualmente. "Psicotrópicos" e

"Inibidor da acidez do estômago" foi a resposta de um entrevistado ao mencionar cada tipo de

medicamento que utiliza atualmente.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Polivitamínicos Tomo Polivitamínicos desde a cirurgia, vou tomar para o resto da

minha vida. (E1)

Eu uso polivitamínico (E4 e E5)

3

Psicotrópicos Eu uso bromazepam (E2) 1

Anti-anêmico Eu preciso usar o ferro por causa da minha anemia (E3).

Faço 1 vezes por mês a reposição com 2 ampolas de Noripurum

endovenoso, para manter o nível de ferro. (E5)

2

Vitamina B12 Eu uso vitamina B12. (E3 e E4).

Eu faço a injeção de B12 a cada dois meses. (E5)

3

Inibidor da acidez do

estômago

Eu tomo para azia. (E4)

1

Quadro 10 - Medicamentos utilizados pelos sujeitos.

Fonte: elaboração da autora, 2011

Dos cinco sujeitos entrevistados, quatro relataram que atualmente utilizam

medicamentos para problemas de saúde em decorrência do procedimento cirúrgico a que se

submeteram, conforme a fala de E1: "Tomo Polivitamínicos desde a cirurgia, vou tomar para

o resto da minha vida". É possível considerar, a partir das falas dos sujeitos, que apesar de

eles terem conseguido reduzir seu peso através da cirurgia bariátrica, eles ainda apresentam

problemas de saúde que necessitam de controle por meio do uso de medicamentos contínuos.

Esta constatação vem ao encontro do que Santos (2005) afirma sobre as técnicas cirúrgicas

disabsortivas ou da cirurgia mista, como a Fobi-Capella. O sujeito submetido a essas técnicas

necessita ter controle quanto a distúrbios metabólicos, de minerais e vitaminas.

6.2 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR

O comportamento alimentar é um comportamento complexo que é constituído por

vários fatores, entre eles, os fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e os culturais.

O comportamento alimentar pode estar diretamente relacionado com o estado de

obesidade de um sujeito. Então, como se caracteriza o comportamento alimentar dos sujeitos

que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica? Quais os tipos de

60

alimento que consomem? Qual a quantidade de alimento que consomem? Onde e com quem

fazem as refeições? Qual o tempo que levam para fazer as refeições? Quantas refeições fazem

ao dia? Houve mudanças na alimentação após a cirurgia bariátrica? Existem problemas físicos

quando se alimenta? Percebem mudança na alimentação quando te alguma emoção? Qual o

significado dado aos alimentos? Essas são questões que serão examinadas a seguir.

6.2.1 Tipos de alimento que consomem

No quadro 11 é retratado que tipos de alimentos que os sujeitos da pesquisa

afirmam consumir. Os tipos de alimentos consumidos pelos sujeitos da pesquisa foram

divididos em categorias. As seis primeiras categorias foram elaboradas com base na

classificação nutricional dos alimentos: verduras e hortaliças, frutas, proteínas, carboidratos,

doces e gorduras.

A categoria proteína é composta pelas subcategorias, "carnes" que foi referida

pelos cinco sujeitos da pesquisa como o tipo de alimento que consomem e "leite e derivados",

que foi respondido por três sujeitos como um dos tipos de alimento que consomem.

A categoria verduras e hortaliças é constituída pela subcategoria "saladas" por ser

esta a forma como os entrevistados respondiam ao fato de ingerir verduras e hortaliças sendo

que quatro sujeitos da pesquisa referiram consumir alimentos desse tipo.

A categoria carboidrato é comporta por subcategorias com o nome dos tipos de

carboidratos consumidos pelos pesquisados. Quatro sujeitos da pesquisa disseram que se

alimentam de "pão", dois sujeitos de "arroz", dois sujeitos de "batata", dois sujeitos de

"macarrão", dois sujeitos de "rosquinha". O "feijão" foi referido por dois sujeitos da pesquisa

como um dos tipos de alimento que consomem. O "aipim" foi um tipo de alimentos referido

por um sujeito da pesquisa como alimento que consome.

Na categoria "frutas" três pesquisados relataram consumir este tipo de alimento.

Já a categoria doces foi dividida na subcategoria açúcar e docinhos. A subcategoria "açúcar"

foi referida como tipo de alimento que consome por dois sujeitos da pesquisa. A subcategoria

"docinhos" foi o tipo de alimento consumido por três dos pesquisados.

A categoria alimentos gordurosos é compostas pelas subcategorias: "Frituras", que

foi mencionada por dois entrevistados como um dos tipos de alimentos que consomem e

61

"manteiga/margarina" foi um dos tipos de alimentos mencionado por dois sujeitos da

pesquisa.

A categoria alimentos compostos é constituída pelas subcategorias: "Lanches"

que foi referida por dois entrevistados como um dos tipos de alimento que consomem e

também dois sujeitos da pesquisa referiram consumir "pizza". "Lasanha" foi mencionada por

um entrevistado como um dos tipos de alimento que consomem.

A categoria "alimento/bebida fácil de comer" é composta pelas subcategorias

"carboidratos", sendo este um dos tipos de alimento considerados fácil de comer por três

sujeitos da pesquisa. "Chocolate" foi mencionado por um entrevistado como sendo um tipo de

alimento fácil de comer, e "Cerveja" como uma bebida fácil de ingerir foi mencionado por um

entrevistado.

A categoria "tipos de beliscos" é constituída por cinco subcategorias. "Bolachas"

foi o tipo de beliscos mencionado por três sujeitos da pesquisa. "Frutas" foi o tipo de beliscos

mencionado por três entrevistados, "O que está sendo preparado para o almoço" sendo este o

tipo de belisco referido por dois entrevistados, "amendoim" foi referido por dois entrevistado

e "chocolate foi mencionado como um tipo de beliscos por um entrevistado.

A categoria "alimentos que não gosta ou difíceis de digerir" foi subdividida em

quatro subcategorias. "Refrigerante" foi o tipo de alimento que não gosta ou que é difícil de

digerir mencionado por três dos sujeitos da pesquisa. "Frutas" foi referido por dois dos

pesquisados como alimento que não gostam. "Carne" e "Verduras" foram mencionados por

um sujeito pesquisado com um dos tipos de alimentos que não gosta ou são difíceis de digerir.

(Continua)

Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor

Verduras e

hortaliças

Saladas Ingiro de tudo não tenho restrição a nada só o que eu não

gosto de comer, mas como eu gosto de tudo. Primeiro eu

como um prato de salada. (E1)

Hoje eu como de tudo. Saladas, couve mineira, crua,

brócolis..... (E2)

A salada, três ou quatro tipos... (E3)

A verdura não sou muito fã mais como. (E5)

4

Frutas Frutas depois de 3 horas faço um lanchinho, uma fruta ou um

copo de suco. (E5)

ou um pedaço de maça. (E2)

....frutas (E3)

3

Proteínas Carnes ...depois como a minha proteína...(E1)

.... peito de frango ou carne vermelha que eu raramente

como. (E2)

... .. eu como a carne (E3)

5

62

carne eu gosto de tudo ensopado ou frito, eu sou muito

disso sabe... (E4)

... Peito de peru. Prefiro bastante a carne, ela me dá uma

saciedade. (E5)

Leite e

derivados

... eu como queijinho, leite. (E3)

... xícara de café com leite (E4)

Como de tudo, uma alimentação normal. Leite sempre

desnatado porque a gordura me faz mal. Requeijão light,

iogurte . (E5)

3

Carboidratos Pão

...e um pouquinho de carboidrato e deu.(E1)

Eu gosto do pão (E2)

manhã eu como um pão de trigo (E3)

... pão de trigo com margarina uma xícara de café com

leite, ou as vezes um pão doce, depende do dia vai mais a

metade do outro. (E4)

Já comprei desses pães integrais, para fazer com ricota, já

fiz, eu faço, mas é raro, depende da empolgação. (E4)

4

Doces Açúcar

café c/ leite e açúcar. Como bastante docinhos, salgadinho,

uma vez ou outra, a gente tira...Como bastante docinho, eu

adoro docinho. (E3)

...procuro comer pouco açúcar. Até

2

Docinhos ... eu não como ela toda(sobremesa) eu me sacio rápido, aí

eu deixo ela para uma outra parte, um depois. (E2)

Trouxe um pedaço de bolo para a casa e docinhos, fui

comendo aos pouquinhos durante a semana, não sou mais

gulosa por comida. (E2)

Eu gosto logo depois do almoço comer uma coisa doce, eu

não sou do doce, mas sempre dá aquela vontade. (E4)

3

Alimentos

Gordurosos

Fritura

.. um pouquinho de batatinha palha (E2)

gosto de tudo ensopado ou frito. (E4) 2

Manteiga/

Margarina

Um pão de trigo com margarina. (E4)

um pão de trigo com manteiga. (E3)

2

Alimentos

compostos

Lasanha E janto ou lasanha.... (E3)

1

Lanches .. ou hambúrguer(E3)

... Mas esta semana agora estamos no lanche, a gente pede

uma cachorro quente, x-salada. (E4)

2

Pizza .. a pizza eu adoro. (E2

... E janto, pizza. (E3)

2

63

"Alimento/bebida

fácil de comer"

Carboidratos

eu gosto muito de carboidrato, passei a gosta mais ainda de

carboidrato, o carboidrato é bom tu comer, é fácil

eu gosto do pão, do aipim, de comer uma rosquinha é

fácil é só quebrar e comer, a pizza, eu não gosto de

lasanha, mais a pizza eu adoro. (E2)

Purê de batata, macarrão, bolachinhas, são alimento

fácil de comer (E4)

Bolacha é uma coisa que derrete na boca, vai numa boa.

(E5)

3

Chocolate

Alimentos que derrete na boca, chocolate, bolachinha. (E5)

1

Cerveja

Cerveja, em uma festa eu bebo, 6,7,8 latinhas de

cervejas a noite toda, não passo mal porque vou

tomando aos poucos. Hoje eu não consigo jantar e tomar

uma cerveja, aquilo me incha, mas só bebendo a gente

consegue mais. Se for para beber eu consigo beber

bem.(E1)

1

"tipos de beliscos" O que está

sendo

preparado para

o almoço

O que eu fazia antes quando estava engordando eu ia na

cozinha pegava um bolinho de arroz ou de carne o que eles

estavam preparando para o almoço, para não fazer isso

eu prefiro passar fome e depois comer uma salada do que

me alimentar de 3 em 3 horas. (E1)

um coisa que estejam fazendo na cozinha. (E3)

2

Bolachas Eu sou belisquenta, vou lá pego uma bolachinha

salgadinha....(E2)

As vezes eu belisco uma bolacha um salgadinho.(E4)

Belisco bolachinha, coisas que tem em vidros.... (E5)

3

Amendoim ....um amendoim (E2)...

..amendoim, uma porcaria dessa. Esses beliscos, e é isso

que está me quebrando toda. (E4)

2

Frutas .....ou um pedaço de maça. (E2)

....frutas (E3)

... ou frutas, mas foge daquela regrinha que eu tinha depois

da cirurgia de comer de três em três horas. Não é que

sempre vou comendo é assim, vou dar alguma coisa para o

meu filho eu dou uma beliscadinha, nestas coisas eu estou

caindo. (E5)

3

Chocolate Eu belisco depende do dia. Eu sou muito chocólatra... .

(E5)

1

Alimentos que não

gosta ou que são

difíceis de digerir

Frutas A fruta não é algo que me atrai, que me agrada.(E1)

... Fruta, piorou, eu também não gosto. (E3)

2

Carne Eu já não como a carne, quando como é bem

mastigadinho. (E2)

1

64

(Conclusão)

Verduras Tem época que eu me sinto pesada eu me apavoro, eu pego,

tenho uma horta ali, vou lá e faço uma saladinha para

mim, mas é por obrigação, eu não gosto.. (E4)

1

Refrigerante ... o refrigerante se não for diet eu não tomo. (E5)

Eu tomo refrigerante, não pego um copo, tomo uns goles,

porque é doce não vai. (E4)

...combinei com meu marido de não tomarmos

refrigerante, em minha casa nem tem. (E2)

3

Quadro 11 - Tipos de alimentos que consomem.

Fonte: elaboração da autora, 2011

Os entrevistados, conforme suas falas, consomem variedade de alimentos,

segundo a classificação nutricional. Sendo que os alimentos considerados fáceis como os

carboidratos, tem a preferência no consumo da maioria dos sujeitos da pesquisa, bem como, o

hábito alimentar de beliscar certos tipos de alimentos, conforme disse E4: "...amendoim, uma

porcaria dessa. Esses beliscos, e é isso que está me quebrando toda." . Machado et al. (2008,

p. 6), em sua pesquisa com pacientes no pós operatório da cirurgia bariátrica, observou que

"quanto a preferência alimentar, ela foi notada por alimentos calóricos como carboidratos

(42%), doces (26%) e petiscos (14%)". O beliscar e a procura por ingerir alimentos fáceis,

como bolachas, chocolates, cerveja, etc., são estratégias alimentares utilizadas pelo sujeitos

pesquisados e que podem acarretar no ganho de peso, devido a dificuldade de controlar a

quantidade de alimento ingerido e ao grande teor de calorias desses alimentos.

O sujeito E1 referiu que a cerveja é uma bebida fácil de ingerir. Machado et al.

(2008), em estudo com pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica, observou que entre

as preferências de alimentação fácil os entrevistados referiram a cerveja, uma vez que é

ingerida com facilidade, além de inibir a forme. O autor alerta, no entanto, para o fato de que,

"em investigação com grande amostra populacional identificou a compulsão alimentar

associada ao risco significativamente aumentado de dependência de álcool" (MACHADO, et

al., 2008, p.7). Nesse sentido, Marchesini (2010) observou em sua pesquisa com pacientes

submetidos à cirurgia bariátrica, que algumas das pessoas entrevistadas estavam deslocando a

compulsão alimentar para outro foco, entre eles, a substituição da comida pela bebida, sendo

que esta foi a resposta dada por 11% dos entrevistados. É possível considerar que a utilização

da bebida alcoólica como uma bebida fácil de ingerir pode contribuir para a dependência ao

álcool.

65

Ao examinar o "beliscar", Magdaleno (2009) afirma que isso pode ocorrer com

pessoas que fizeram a cirurgia bariátrica devido à redução do volume gástrico, e que, em

alguns casos, este hábito alimentar de beliscar pode estar associado à compulsão alimentar

que o sujeito já apresentava antes de realizar a cirurgia. Segundo o autor, este tipo de

comportamento alimentar pode acarretar ao sujeito o ganho de peso. Neste sentido Marquesini

(2010, p.4) diz que,

o comportamento de beliscar tende a substituir a compulsão a comer e predispõem à

recuperação do peso. O ato de beliscar porções pequenas, que não promovem

sensação de empanzinamento como ocorre na compulsão alimentar, inibe a

percepção do limite alimentar.

O comportamento de beliscar também foi observado na pesquisa realizada sobre a

compulsão alimentar antes e após a cirurgia bariátrica por Machado et al. (2008). Os autores

observaram que "o comportamento de beliscar estava presente em "94% dos pacientes no

pré-operatório e em 60% no pós. 33,3% adquiriram o hábito beliscador após à operação e

63% permaneceram com comportamento beliscador" (MACHADO, et al., 2008, p. 6). É

possível considerar que o ato de beliscar, referido pelos sujeitos pesquisados, pode estar

associado ao comportamento de compulsão alimentar presente antes de realizarem a cirurgia.

Machado, et al. (2008) alertam para o fato de que

Os pacientes portadores de obesidade mórbida submetidos à cirurgia bariátrica

apresentam indícios de compulsão alimentar antes e após a operação. Ela está

relacionada a aspectos psicológicos como dificuldades em organizar emoções,

ansiedade, depressão. Características de impulsividade. controle, rigidez e

instabilidade emocional também contribuem para a manifestação de episódios

compulsivos. Os hábitos alimentares e preferências alimentares modificam-se após a

operação, de modo que os pacientes passam a consumir alimentos de fácil ingestão

frente a situações que os faziam comer compulsivamente, não sendo observado

trocas de compulsão. O comportamento alimentar inadequado persiste ou é agravado

após a operação (MACHADO, et al., 2008, p. 9).

Logo, o mau hábito alimentar não foi modificado para os sujeitos da pesquisa.

Com base nesses dados, é possível hipotetizar que estes sujeitos não receberam atendimento

psicológico e nutricional "satisfatório" antes e depois da cirurgia. Esta discussão levanta

alguns questionamentos: estes sujeitos foram comunicados e alertados sobre o seu

comportamento alimentar pelos profissionais que lhes prestaram atendimento no antes e no

depois da cirurgia? Estas características alimentares dos sujeitos, o mau hábito alimentar,

estavam descritas em seus pareceres psicológicos ou psiquiátricos?

66

6.2.2 Quantidade de alimento que consomem

No quadro 12 é mostrado a quantidade de alimentos que são consumidos pelos

sujeitos pesquisados. "Pouco" foi mencionada por dois entrevistados como sendo a

quantidade de alimento que consomem e "Muito", foi mencionado por um sujeito da pesquisa.

"Não soube dizer", foi referido por dois entrevistados pois, não conseguiram dizer a

quantidade de alimento que consomem.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Muito Eu acho que como bastante. (E3) 1

Pouco De 250 a 260 gramas, isto é sagrado, acho que não como muito. (E2)

Não vou te mentir saio da mesa com fome, mas é assim que estou me mantendo, os

99 kg. (E1)

2

Não soube

dizer

Eu não sei dizer, nem reparo. (E4)

Não tenho a menor noção. (E5)

2

Quadro 12 - Quantidade de alimento que consome.

Fonte: elaboração da autora, 2011

A dificuldade de percepção da quantidade do alimento consumido por alguns

sujeitos da pesquisa pode estar relacionada ao fato de que o sujeito tem o hábito de beliscar,

conforme foi discutido no quadro 11. Elkins, et al. (2005) apud Marchesini (2010, p.4),

observaram em pesquisa realizada com pacientes pós cirurgia bariátrica que, "44% dos

operados apresentaram o hábito de beliscar. O mesmo grupo após um ano permaneceu

beliscando na porcentagem de 37%, o ato de beliscar porções pequenas, inibe a percepção do

limite alimentar".

Essa dificuldade de perceber a quantidade de alimento também pode estar

associada ao fato de não perceber as informações transmitidas pelo Sistema Nervoso Central

na regulação da saciedade e da fome. Bacaltchuk e Apolinário (2005) afirmam que

fisiologicamente o processo de saciação é responsável pelo tamanho das refeições, entretanto

os autores chamam a atenção para o fato de que a saciedade nem sempre é uma demanda

fisiológica, o que desencadeia a saciedade ou não, pode estar ligado a demandas emocionais,

entre outros fatores. E que as pessoas com obesidade tem dificuldades de perceber a

informação fisiológica para parar de consumir alimento. Este fato foi observado também por

Mattos et al. (2005) em sua pesquisa com pessoas com obesidade e a dificuldade destes

sujeitos estarem atentos a quantidade do consumo de alimento, devido aos estímulos

emocionais, culturais e sociais e não o estímulo fisiológicos.

67

A categoria "Pouco" foi apontada por E1 como a quantidade de alimento que

consome. Porém, segundo este sujeito, a quantidade de alimento que consome em suas

refeições não é o suficiente para ter a sensação de saciedade, conforme sua fala, E1: Não vou

te mentir saio da mesa com fome, mas é assim que estou me mantendo, nos 99 kg." Este fato

provavelmente está de alguma forma relacionado com a tentativa deste sujeito de perder peso,

uma vez que em vários momentos da entrevista o sujeito E1 referiu preferir a restrição

alimentar e o intenso exercício físico a voltar a ganhar peso. É possível considerar que muitas

vezes o sujeito, apesar de ter o estômago reduzido, ainda "luta" pela manutenção de seu peso,

por isso a importância da mudança de hábitos alimentares e não da prática de dieta restritiva

como a quantidade tão reduzida de alimento. Santos (2005), ao falar sobre o controle do peso,

diz que a dieta muito restritiva é utilizada pelo sujeito com obesidade na busca de perder peso,

porém sem sucesso, caindo no efeito sanfona, engorda-emagreci e gerando ainda mais

sofrimento emocional.

6.2.3 Local onde faz as refeições e com quem

Foi observado no quadro 13, onde e com quem os sujeitos da pesquisa realizam

suas refeições. A "Casa" foi mencionada por quatro sujeitos da pesquisa como sendo o local

onde geralmente realizam suas refeições; "Trabalho" e "Restaurante", foram referidos por dois

entrevistados como o local onde as vezes realizam as suas refeições.

"Família" foi mencionada pelos cinco entrevistados como com quem realizam

uma de suas refeições; "Com colegas de trabalho" e "Sozinho" foram referidas por dois

sujeitos da pesquisa como com quem realizam uma de suas refeições.

(Continua)

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Trabalho

No trabalho.(E1, E3) 2

Casa Na janta, em casa com meu marido e filhos. (E3)

A maioria das vezes em casa (E2, E5)

Eu almoço na casa do meu pai e janto na minha casa (E4)

4

Restaurante Restaurante as vezes (E1)

Finais de semana normalmente em restaurante. (E5)

2

68

(Conclusão)

Com a

família ....eu almoço com os idosos ou com minha família. (E1)

.....com meu marido. (E2)

com meu marido e filhos. (E3, E5 )

o almoço e com meu pai e meus filhos janta é com meu marido e meus filhos.

(E4)

5

Com colegas

de trabalho

No trabalho com as pessoas que trabalham comigo (E1, E3)

2

Sozinho No restaurante sozinho.(E1, E2) 2

Quadro 13 - Local onde faz as refeições e com quem.

Fonte: elaboração da autora, 2011

Os sujeitos pesquisados afirmam que realizam ao menos uma de suas refeições em

casa com seus familiares. Segundo Castell (2004, p. 82), "sempre que possível prefira comer

acompanhado, pois assim a atenção não fica concentrado na comida e a refeição torna-se um

ato social partilhado". Entretanto, Brito (2011) chama a atenção, para o fato de que comer

acompanhado quando o sujeito não é disciplinado é provável que ele cometa excessos

alimentares, pois se distrai com a conversa a mesa e se alimenta muitas vezes sem observar o

que está comendo, podendo acarretar no ganho de peso. Ao falar sobre a alimentação em

família, Heller (2006, p.1) diz que,

a família pode ser um local de aprendizado de bons hábitos alimentares ou de maus

hábitos. E, nas famílias onde ocorre a superalimentação tende-se a fornecer e a

incentivar a alimentação desequilibrada tendo o alimento a função, muitas vezes, de

suprir outras necessidades além das nutricionais.

Neste caso, se a família tem o hábito de superalimentação, é provável interferir na

maneira como as pessoas se alimentam e acarretar em ganho de peso, como foi descrito no

quadro 20, conforme o relato de E3: "Em casa que é o pior porque eu não faço comida, o meu

marido sempre inventa uma coisa para noite, as vezes é uma janta, uma pizza, uma lasanha

ou é hambúrguer, eu como com eles. Antes eu não comia, mas daí eles falam que é a única

refeição que nós fazemos juntos. Nunca pedi para mudar". É possível considerar, segundo a

fala deste sujeito da pesquisa, que se não houver mudança de maus hábitos alimentares na

família como um todo, há maior probabilidade de ocorrer a manutenção de maus hábitos

alimentares pelo sujeito, o que dificulta a mudança do seu comportamento alimentar e na

perda de peso. Por isso, Marchesini (2010) afirma que, no tratamento cirúrgico da obesidade,

deve-se considerar a participação da família no processo pré e pós operatório, e que a família

deve ser também alvo de atendimento da equipe multiprofissional.

69

6.2.4 Tempo que levam para fazer as refeições

No quadro 14 é retratado o tempo que os sujeitos da pesquisa levam para fazer as

suas refeições. De "10-15 minutos" foi mencionada por três entrevistados como o tempo que

levam para fazer as refeições. De "15-30 minutos" foi mencionado por dois entrevistados e

"Menos de 10 minutos" foram mencionadas por um sujeito, como o tempo que levam para

realizar as refeições.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

15-30

minutos

Bem demorado, 30 minutos, antes eu comia rápido, era muito de comer e engolir.

(E2)

A gente come assistindo a televisão, sabe para distrair o meu filho, eu vou dando a

comida para ele e vou beliscado junto, então acho que dá uma meia hora. (E4)

2

10-15

minutos

Eu me controlei bastante, antes eu comia muito rápido em 5 minutos, hoje acredito

que levo de 10 a 12 minutos.(E1)

Tem dia que eu me alimento rápido uns 15 minutos. (E3)

Não sei se meu estomago acostumou ou eu estou driblando a minha cirurgia comendo

as coisas fáceis. Se eu comer um prato de cenoura crua e um bife eu vou levar uns 20

minutos com certeza, mas se for um prato de feijão com purê de batata ou com um

ovo cozido eu vou comer em 5 minutos. Acho que no máximo como em 10 minutos

(E5)

3

Menos de 10

minutos

Não tenho tempo de parar e comer, eu vou lá e pego uma banana ou laranja ou caqui

e vai. (E3)

1

Quadro 14 - Tempo que levam para fazer as refeições.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

Com base nas informações fornecidas por quatro sujeitos da pesquisa, é possível

considerar que os mesmos realizam suas refeições em um tempo inferior ao considerado ideal

para realizar uma dieta alimentar que ajude no emagrecimento ou controle de peso. Segundo

Castell (2004, p. 82), para o emagrecimento e controle do peso é recomendável que a "pessoa

dedique ao menos 30 minutos para cada refeição. Evite a pressa e engula o alimento

desordenadamente de qualquer maneira". O Ministério da Saúde (2011) recomenda que para

ter uma alimentação saudável é necessário comer com calma e não na frente da TV. Como

foi observado na fala de E3: A gente come assistindo a televisão, sabe para o meu filho se

distrair, eu digo, olha lá, eu vou dando a comida para ele e vou beliscado.

Quando a pessoa come com pressa, de acordo com Brito (2011), além de não

saborear o alimento, demora mais tempo para ficar satisfeita e por isso come mais. É como se

70

ela não desse tempo suficiente para o organismo “perceber” a quantidade de alimento

ingerida. Comer e assistir à televisão ao mesmo tempo faz com que a pessoa se distraia e não

controle a quantidade de alimentos que está consumindo. Isso pode ser percebido na fala de

E3, com base no exposto no quadro 12, sobre a quantidade de consumo de alimentos, em que

a entrevistada comentava sobre a sua dificuldade de perceber a quantidade de alimento que

consome.

6.2.5 Quantidade de refeições que faz por dia

No quadro 15 é retratado a quantidade de refeições realizadas diariamente pelos

sujeitos da pesquisa. "Mais de três refeições", foi a quantidade de refeições diárias

mencionada por quatro dos entrevistados. "Até três refeições" foi mencionada por um sujeito

da pesquisa como a quantidade de refeições que faz por dia.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Até três refeições

Me alimento três vezes ao dia, café, almoço e janta. (E1) 1

Mais de três

refeições

O café da manhã, o almoço, café da tarde e a janta, tirando os beliscos. (E3)

O café da manhã, almoço e café da tarde. Não tem janta e só esse beliscar.

Geralmente é frutas e cereais. (E2)

Café da manhã, almoço e janta. quando eu estou empolgada para comer mesmo

eu perco as contas, eu belisco, belisco. (E4)

6 refeições ao dia. Café da manhã, lanche, almoço, lanche, janta e um lanchinho

as vezes antes de dormir. (E5).

4

Quadro 15 - Quantidade de refeições que faz por dia.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

A maioria dos pesquisados afirma realizar mais de três refeições ao dia. Este dado

vem ao encontro do que Brito (2011) pontua como características importantes do

comportamento alimentar para o bom funcionamento do organismo. Entre estas

características, está o fracionamento diário de refeições de 5 a 6 vezes ao dia. Porém, a autora

alerta para o fato de que este fracionamento de refeições deve conter todos os grupos de

alimentos para o fornecimento dos nutrientes necessários aos sujeitos. Isso não inclui a prática

dos beliscos como bolachas, chocolates, etc., que são altamente calóricos e que foi observada

nos relatos dos sujeitos da pesquisa, conforme apresentado no quadro 11. É possível

71

considerar, a partir das falas dos sujeitos da pesquisa, que talvez eles fracionem o alimento

mas, escolhem alimentos inadequados para o consumo nesses fracionamentos e em

decorrência disso possa estar o ganho de peso.

6.2.6 Mudanças na alimentação após a cirurgia

No quadro 16 é retratado os relatos dos sujeitos quanto às mudanças que

ocorreram na alimentação após a cirurgia bariátrica. Quatro sujeitos da pesquisa disseram que

comer em "menor quantidade" foi uma das mudanças que perceberam na alimentação após a

cirurgia. Três entrevistados mencionaram “o que não mudou” em relação à alimentação,

destacando alguns comportamentos alimentares que tinham antes da cirurgia e que

permanecem após a mesma. "Alimentos mais saudáveis" e "Pensar antes de comer" foram

mencionadas por dois sujeitos, em cada uma das categorias, como a sua percepção da

mudança na alimentação após a cirurgia bariátrica.

(Continua)

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Menor

quantidade

Houve bastante mudanças. Antes da cirurgia eu comia igual a um lobo, de tudo.(E1)

Eu repetia dois, três, pratos de comida, não me contentava com um pão, comia 4, 5,

bastante assim. (E3)

Após a cirurgia foi uma mudança radical é uma mudança radical. Tem gente que

extrapola, tem gente que pensa que pode comer, não pode não. Não pode porque não

consegue, vai passar mal, vai vomitar ou vai se afogar com certeza. Não sou mais

gulosa por comida. Não consigo mais fazer um prato de comida. (E2)

Há mudanças porque eu não consigo comer a quantidade que eu comia antes. (E5)

4

"Alimentos

mais

saudáveis"

Eu beliscava muito,muito mesmo, e era chocolate coisas assim. Eu fazia muita

sobremesa, eu fazia minha comida, hoje eu não faço, agora é mais light. (E3)

Quando voltei a engordar eu acordava de madrugada esquentava uma pizza e comia,

hoje ainda me acordo as vezes de madrugada com vontade de comer, mais agora eu

como uma barra de cereal.(E1)

2

"Pensar

antes de

comer”

Mudou em questão de que eu me policio, antes não, eu nem sentia, nem via o que

estava comendo. Hoje eu chego a parar e pensar porque eu tenho que comer agora

eu nem estou com fome, estou comendo porque quero comer, hoje mudou porque

eu me policio (E4)

Sempre que eu sento para comer eu penso será que eu preciso disso, antes não.(E5)

Agora eu penso assim, você não precisa comer uma barra de chocolate, come dois

pedacinhos, deixa derreter na boca. Hoje eu consigo fazer isso, antes da cirurgia se eu

tinha vontade de comer chocolate eu comia uma barra. (E5)

2

72

(Conclusão)

"o que não

mudou"

O comportamento de beliscar não mudou, pelo contrário agora acho que esta mais

repetitivo. (E2)

Mas as coisas que eu belisco ainda tem sim. (E4)

Antes da cirurgia eu comia rápido também. (E5)

3

Quadro 16 - Mudanças na alimentação após a cirurgia.

Fonte: elaboração da autora, 2011

A menor quantidade de alimento foi apontada pela maioria dos sujeitos como uma

das mudanças ocorridas na alimentação após a cirurgia. Sendo possível perceber, segundo a

fala dos entrevistados, que a menor quantidade de alimento está diretamente relacionada à

redução do estômago e às limitações que isso impõe quando o sujeito consome um volume

maior de alimento, como vômitos, enjôo.

No entanto, três entrevistados também pontuaram que há coisas em seu

comportamento alimentar que ainda não mudaram, como o hábito alimentar de beliscar e de

comer rápido, conforme a fala de E2: "O comportamento de beliscar não mudou, pelo

contrário agora acho que esta mais repetitivo."

Por meio do relato dos entrevistados é possível considerar que os sujeitos que

realizaram a cirurgia bariátrica apresentam dificuldades em mudar seu comportamento

alimentar, podendo assim voltar a ganhar peso, uma vez que estes sujeitos apresentam hábitos

alimentares, como beliscar e comer rápido, somados aos erros alimentares apresentados

anteriormente o que pode acarretar em ganho de peso. Isso foi também observado na pesquisa

feita por Magdaleno (2009), cujos dados indicam que após passar a euforia da perda de peso

nos primeiros anos, o comportamento alimentar pode passar a ser um problema. Alguns

sujeitos não conseguem fazer a mudança na alimentação e voltam a ganhar peso.

Observou-se que os entrevistados não mencionaram a reeducação alimentar como

mudança ocorrida após a cirurgia bariátrica. O que nos possibilita refletir que os sujeitos

pesquisados, conforme seus relatos, apresentam dificuldades ou não foram orientados sobre a

reeducação alimentar o que pode ser reflexo de não receberem acompanhamento de equipe

multiprofissional antes e após a cirurgia. Sobre a reeducação alimentar, Meyer (2006) pontua

que cabe à nutricionista elaborar e acompanhar a evolução do plano alimentar, para prevenir

e/ou suprir carências nutricionais e para reduzir o excesso de gorduras, doces, etc.,visando

uma alimentação balanceada e saudável. A autora também discute a reeducação alimentar sob

a perspectiva da terapia cognitivo-comportamental, dizendo que o programa de reeducação

alimentar inclui "o monitoramento das situações consideradas de risco e aprendizagem de

73

habilidades para lidar com elas, reestruturação cognitiva, treinamento de assertividade"

(MEYER, 2006, p. 431).

6.2.7 Problemas físicos quando se alimentam indicados por sujeitos

No quadro 17 é retratado os problemas físicos relatados pelos sujeitos e que

ocorrem quando eles se alimentam. Os tipos de problemas físicos quando se alimenta foi

dividida em subcategoria conforme o tipo de problema físico. "enjôo", "vômito",

"afogamento", "azia", "diarréia" foram mencionadas por diferentes sujeitos da pesquisa, para

cada uma das subcategorias, uma vez. Um sujeito afirmou que “não apresenta” nenhum tipo

de problema físico quando se alimenta.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Não apresenta Não tenho nenhum problema quando como.(E1) 1

Enjôo Eu tenho enjoou, mas a médica falou que é por causa da minha anemia, eu

enjoou com o cheiro da comida, igual ao da gravidez. (E3)

1

Vômito As vezes eu tenho vômito (E3) 1

Afogamento Eu me afogo (E2) 1

Azia Sinto azia (E4) 1

Diarréia ...diarréia quando como gordura e açúcar líquido (E5) 1

Quadro 17 - Problemas físicos quando se alimentam.

Fonte: elaboração da autora, 2011

Dos cinco entrevistados, quatro apresentaram algum tipo de problema físico para

se alimentar após a realização da cirurgia. Segundo Repetto e Rizolli (2006, p. 350) algumas

complicações tardias mais frequentes, após a cirurgia bariátrica são: vômitos, diarréia, queda

de cabelo, deficiência de vitaminas, entre outros. Isso indica que há necessidade de que o

sujeito tenha acompanhamento clínico e nutricional, com rotina de exames laboratoriais,

como hemograma, glicose, cálcio, ferro, etc., o que ocorre para o resto da vida do sujeito

(REPETTO, RIZOLLI, 2006).

74

6.2.8 Mudanças na alimentação quando tem alguma emoção

É possível observar no quadro 18 as mudanças que os sujeitos relatam ocorrer na

alimentação deles quando sentem alguma emoção. Segundo os "Tipos de emoções", a

ansiedade, foi referida por três entrevistados como sendo o tipo de emoção que lhes faz ter

mudanças na alimentação. O estresse, foi mencionado por dois entrevistados, a tristeza e a

irritação, foram mencionados por um entrevistado cada. "Comer mais", foi mencionado por

três dos entrevistado como o que acontece quando tem uma emoção; "Tenho que comer

chocolate" foi mencionado por um entrevistado como o que come quando tem uma emoção.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Tipos de emoção

Estresse (E1, E3)

Tristeza (E1)

Ansiedade (E2, E4, E5)

Irritação (E2)

2

1

3

1

Comer mais Parece que quando estou estressado a fome vem em dobro, parece que eu

tenho que comer tudo que vem pela frente. Consigo perceber a mudança,

quando estou mais triste, tem dias que eu não estou legal com problemas na

empresa ou na família, tem dia que a gente não está legal, eu como um

pouquinho a mais. (E1)

O beliscar não mudou,.... não porque tenho fome, acho que por maluquice, ou

por ansiedade (E2)

Quando eu estou brava com o meu marido tenho vontade de comer mais,

beliscar mais no final da tarde para a noite se seu tiver em casa (E2)

Quando tenho alguma coisa para resolver, que me preocupe muito, que eu estou

ali pensando, pensando, realmente eu tenho mais fome, eu como mais, dai eu

me pego comendo.(E4)

4

"Tenho que

comer

chocolate"

Eu já percebi e no período pré-menstrual tenho que comer chocolate, não

adianta uma bala, tem que ser o chocolate, depois dá de segurar mais antes me

dá uma coisa que eu tenho que comer chocolate. Eu não consigo me segurar.

Acho que tem uma explicação para isso, chocolate tem algumas substância que

baixa a ansiedade. (E5)

1

Quadro 18 - Mudanças na alimentação quando tem alguma emoção.

Fonte: elaboração da autora, 2011

A ansiedade foi apontada pela maioria dos entrevistados como a emoção que lhes

afeta a alimentação. Machado et al. (2008, p. 7) diz que "estudos com pacientes obesas

indicam que comem excessivamente como mecanismo compensatório em situação de

ansiedade, depressão, tristeza e raiva". É possível considerar que a ansiedade a que os sujeitos

fazem referência pode ser um dos fatores que está relacionado com as dificuldades de

mudança de comportamento alimentar destes sujeitos, como o hábito de beliscar.

75

O tipo de mudança na alimentação que a maioria dos entrevistados percebe ao ter

uma emoção, é o fato de "comer mais", conforme se observa no relato de E2: "Quando eu

estou brava com o meu marido tenho vontade de comer mais, beliscar mais no final da tarde

para a noite se seu tiver em casa". Então, o comer mais do que o organismo necessita,

segundo observado nos relatos dos sujeitos da pesquisa, possivelmente passa a ser uma

maneira de "alívio" compensatório ao sofrimento emocional para estes sujeitos. Autores como

Scavora e Oliveira (2011) pontuam que as dificuldades afetivas podem desencadear alterações

no comportamento alimentar e o alimento servir de substituto ao alivio do sofrimento e vazio

emocional.

6.2.9 Significado do alimento

No quadro 19 é retratado o significado dado ao alimento pelos sujeitos da

pesquisa. A "Sedução do alimento" apareceu na fala de três sujeitos da pesquisa como sendo

este um dos significados dados para o alimento. "Agregação social" e "Gratificação", foi

referido por dois entrevistados para cada significado dado pelos sujeitos para o alimento.

"Liberdade" foi mencionada uma vez pelos entrevistados como sendo um dos significados do

alimento.

(Continua)

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Agregação

social

Em casa que é o pior porque eu não faço comida, o meu marido sempre inventa uma

coisa para noite, as vezes é uma janta, uma pizza, uma lasanha ou é hambúrguer, eu

como com eles. Antes eu não comia, mas daí eles falam que é a única refeição

que nós fazemos juntos. Nunca pedi para mudar. (E3)

Eu digo, vamos num rodízio de pizza, no café glória, porque todo lugar que tu vais

tem comida, vamos fazer uma festa lá em casa, fiz a festa dos amigos, festa junina

na minha casa, agora estou programando o amigo invisível de final de ano com a

turma da academia. (E2)

2

Gratificação Como bastante docinhos, salgadinho, uma vez ou outra, a gente tira...Como

bastante docinho, eu adoro docinho. (E2)

Costumo comer bem, ir em um rodízio, que são coisas que eu gosto, no final de

semana eu me dou este direito, mas na segunda eu me controlo novamente. Acho

que também não devo ser escravo, acho que devo ter prazer na vida também (E1)

2

76

(Conclusão)

Sedução do

alimento

Na família do meu marido sempre tem muita comida, que são Alemão. Mas consigo

me conter.(E2)

Eu consigo me conter, mais é difícil eu fico bem ansioso quando vejo a comida,

eu pego a salada e dou uma enrolada ali, depois pego um pedaço de carne, porque

não como carboidrato a noite, espero eles retirar a mesa e de repente até saio. (E1)

Se eu for no supermercado eu compro um chocolate, um salgadinho, ou se eu passo

na padaria se eu vejo aquela coisa de coxinha, salsicha. Oh! Meu Deus, que

tentação!. Aí vai um daquele. (E4)

3

Liberdade Eu passei pela fase de eu vou comer o que eu quiser e acabou-se. Foi como uma

carta de alforria, liberdade, então eu comia de tudo e eu engordei até que eu

disse, deu. (E5)

1

Quadro 19 - Significado do alimento.

Fonte: elaboração da autora, 2011

O alimento é visto como algo que seduz, conforme relato da maioria dos

entrevistados. Segundo Alvarenga (2004) isso pode ocorrer por diversos fatores, dentre os

quais: fator fisiológico, quando o alimento seduz o sujeito por este estar com fome; fator

emocional, quando o alimento seduz o sujeito para "aliviar" o sofrimento emocional; fator

cultural, quando o alimento seduz o sujeito pelo significado cultural que se dá a ele. Segundo

Alvarenga (2004) a relação emocional com o alimento ocorre desde início da vida das

pessoas, como a sensação de bem estar, o alimento é cheio de simbologias e significados. A

gratificação foi outro significado dado ao alimento por dois entrevistados. E neste sentido

Claudino e Zanella (2005) dizem que o alimento pode ser visto como gratificação,

compensação ou recompensa entre outros significados emocionais para o consumo de

alimentos.

Outro significado do alimento que foi pontuado pelos entrevistados foi a agregação

social, pois o alimento muitas vezes torna-se um agregador de pessoas. Neste sentido, Heller

(2006, p. 112) diz que "comer com outra pessoas é gratificante, pois a alimentação tem

também um papel social." O que implica no fato de que, se a pessoa busca no alimento a

gratificação de estar com outras pessoas, ela pode perder o controle alimentar, o que foi

discutido no quadro 13. Neste sentido, o sujeito pode buscar saciar a fome emocional, como

por exemplo, sentir-se aceito por outras pessoas. Alvarenga (2004, p.115) pontua que,

"alimentar-se, dentro da vertente psicológica é um fenômeno muito mais complexo que

apenas nutrir-se. Não se procura o alimento apenas para saciar a fome biológica, mas também

para saciar a fome emocional."

77

6.3 MODIFICAÇÕES NAS RELAÇÕES SOCIAIS

As relações sociais são importantes na vida de qualquer pessoa. A pessoa com

obesidade tem dificuldades de se relacionar, muitas vezes, pelas discriminações que sofrem.

Para Segal e Fandiño (2002), isso ocorre pois os preconceitos que a sociedade impõe sobre a

pessoa com obesidade podem diminuir, por exemplo, as chances de essas pessoas serem

aceitas em empregos ou de estarem em relacionamentos afetivos, dentre outras situações que

dificultam as relações sociais. Então: Qual a percepção destes sujeitos acerca das possíveis

modificações nas relações sociais, quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à

cirurgia bariátrica? Qual a percepção de possíveis alterações nos relacionamentos

interpessoais após a cirurgia no período em que estava perdendo peso? De que forma ocorrem

as relações interpessoais após o ganho de peso no pós-cirúrgico? Percebem se há alguma

diferença em participar de atividades sociais hoje em comparação ao período em que estavam

perdendo peso?

6.3.1 Percepção de possíveis alterações nos relacionamentos interpessoais após a

cirurgia, no período em que estavam perdendo peso

No quadro 20 está apresentada a percepção de possíveis alterações nos

relacionamentos interpessoais dos sujeitos da pesquisa após a cirurgia, no período em que

estavam perdendo peso.

78

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor.

Sim Sim, na aceitação das pessoas, eu era muito excluídos entre meus amigos,

depois que eu comecei a emagrecer eu fui mais aceito. O que eu posso falar por

mim, é que o obeso na sociedade ainda é discriminado, e eu era. (E1)

A questão do falar mesmo, antes as pessoas vinham e falavam, como tu

engordou. Acho que mudou foi o fato das pessoas comentarem. (E4)

2

Não percebe

modificações

Não, até porque era da mesma família. Só diziam assim antes, a E é uma

comilona, isso sim, sempre diziam. O medo do meu marido era esse, que eu

fizesse a cirurgia e voltasse a comer muito e morresse. (E2)

Não. As minhas amigas continuaram a ser a mesma pessoa nunca me

chamaram de gorda, acho que elas tinham pena de mim porque eu era gorda.

Nunca mudou, as pessoas que conviviam comigo no antes e depois da cirurgia

era a mesma coisa. (E3)

Não, sempre tive bastante amigo, sempre me relacionei muito bem com as

pessoas e nunca tive problemas. Eu sempre me aceitei, os obesos nem sempre

são assim. (E5)

3

Quadro 20 - Percepção de alterações nos relacionamentos interpessoais após a cirurgia, no período em que

estavam perdendo peso.

Fonte: Elaboração da autora, 2011.

Dos cinco sujeitos da pesquisa, três disseram não perceber modificações nos

relacionamentos interpessoais após a cirurgia, no período em que estavam perdendo peso.

Entretanto, ao examinar a fala dos sujeitos, percebe-se que houve mudanças nos

relacionamentos interpessoais, como por exemplo na fala de E2, que afirma não perceber

alterações nos relacionamentos no período em que estava perdendo peso. No entanto,

observa-se que não lhe chamam mais de "comilona", após a perda de peso. "Não, até porque

era da mesma família. Só diziam assim antes, a E é uma comilona, isso sim, sempre diziam. O

medo do meu marido era esse, que eu fizesse a cirurgia e voltasse a comer muito e morresse".

Também foi possível perceber as mudanças positivas nas relações sociais quando perderam

peso, pelo fato de relatarem receber elogios e de sentirem-se com bem estar, etc., o que foi

evidenciado no quadro 24, no qual são apresentados dados sobre os sentimentos decorrentes

dos comentários dos outros acerca da perda de peso. Marchesini (2010, p. 6) afirma que "o

ser humano não se constitui só; existe sempre em relação aos seus pares e ao meio ambiente.

Toda mudança corresponde a uma reação social e a uma resposta emitida em forma de

comportamento". Logo, a perda de peso trouxe mudanças positivas nas relações interpessoais

dos sujeitos pesquisados.

Dois entrevistados referiram que perceberam alterações nos relacionamentos no

período em que estavam perdendo peso. Uma das alterações percebidas pelo sujeito E1 foi o

fato de se sentir aceito nas suas relações interpessoais, conforme seu relato: "Sim, na

79

aceitação das pessoas, eu era muito excluído entre meus amigos, depois que eu comecei a

emagrecer eu fui mais aceito. O que eu posso falar por mim, é que o obeso na sociedade

ainda é discriminado, e eu era". É possível compreender, segundo o relato dos entrevistados,

que a discriminação vivida pelos sujeitos quando obesos parece cessar após a cirurgia, com o

emagrecimento. Brownell e O'Neil (2009) dizem que, com o emagrecimento, o sujeito passa a

se enquadrar ou se aproximar do padrão de beleza estabelecido pela sociedade, por isso,

sente-se mais aceito. Isso porque a sociedade discrimina a pessoa com obesidade,

pressionando-a para que seja magra. Segundo Perin (2011), a sociedade, ao discriminar e

pressionar a pessoa a ser magra, promove julgamentos sociais negativos, atribuindo-lhes

adjetivos, tais como preguiçosos, feios e relaxados, podendo trazer uma grande pressão

emocional a essa pessoa. Então, o fato do sujeito sentir-se aceito em suas relações sociais e

estar mais próximo do padrão de beleza estabelecido pela sociedade pode contribuir para o

aumento de sua auto-estima.

6.3.2 Características de relações interpessoais após o ganho de peso, depois da cirurgia

No quadro 21 são apresentados dados sobre a percepção dos sujeitos acerta da

forma como as pessoas se relacionam com os mesmos após o ganho de peso, que ocorreu

depois da cirurgia."Com cobranças" apareceu na fala de dois entrevistados.

"Tranquilamente", "Aceitação", "Controle" , "Sem cobranças" e "Não percebe" foram também

aspectos referidos por um sujeito cada, como a forma pela qual as pessoas se relacionam com

eles pelo fato de terem voltado a ganhar peso após a cirurgia.

(continua)

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Tranquilamente Tranquilamente, quem não me conhece, não sabe que eu fiz a cirurgia,

quando eu falo eles se espantam. Eu estou bem, comparado ao que eu era. (E1)

1

Com cobranças Quando eu engordei os 15 kg depois da cirurgia, houve uma cobrança por

parte de alguns amigos, professores, dizem: se cuida tu estas engordando

novamente. Mas este problema de aceitação não, porque não cheguei a engordar

150 kg, a ficar obeso novamente. (E1)

No início quando eu voltei a engordar algumas pessoas da família

questionaram. As pessoas que nunca me disseram vai operar ou foram me

visitar, vieram para me questionar, até o meu cunhado que já faleceu, cada vez

que me via, dizia, a tua cirurgia não adiantou, estais gorda de novo! Mas, eu já

não dava mais bola, fazia que não escutava e saia. (E3)

2

80

(Conclusão)

Aceitação ... meu marido me aceita do jeito que sou, gosta do jeito que sou.Inclusive ele

dizia está ficando muito magra, estas coisas de ciúme (E5)

1

Sem cobranças Ninguém me cobra, eu acho que é por causa da minha postura, não deixo

ninguém fazer isso comigo, se vier eu ponho o pingo nos is, vai cuidar da tua

vida que eu cuido da minha, eu sempre fui assim. Não deixo ninguém me

invadir, isso é uma invasão, como eu não faço isso com ninguém eu não permito

que façam comigo. (E5)

1

Controle O marido me controla muito ainda, muito mesmos. Ele diz, não come isso, eu

digo que é só um pedacinho. (E2)

1

Não percebe

mudança

Não vejo mudança. É uma rotina uma convivência. (E4) 1

Quadro 21 - A forma como ocorrem as relações interpessoais após o ganho de peso, depois da cirurgia.

Fonte: elaboração da autora, 2011

Dois sujeitos da pesquisa referiram que foram cobrados nas suas relações

interpessoais pelo fato de ganharem peso após realizarem a cirurgia bariátrica. É possível

refletir, a partir da fala destes sujeitos da pesquisa, que as interações sociais podem ser

eventos estressores para eles, uma vez que sofreram preconceitos, comentários desagradáveis,

etc. fazendo-os quererem evitar esse tipo de situação. Segundo Lazarus e Folkman (1984,

apud SILVA, 2006), a estratégia de enfrentamento utilizada para lidar com eventos

estressores, como por exemplo, evitar a situação estressora, é um esforço cognitivo e

comportamental constantemente alteráveis para controlar, vencer, tolerar ou reduzir as

demandas internas ou externas que podem gerar estresse.

Nas relações sociais do sujeito E5, também foi observado que algumas interações

sociais podem ser eventos estressores, pelo fato desse sujeito ter voltado a ganhar peso após a

cirurgia bariátrica, conforme seu relato: "Ninguém me cobra, eu acho que é por causa da

minha postura, não deixo ninguém fazer isso comigo, se vier eu ponho o pingo nos is, vai

cuidar da tua vida que eu cuido da minha, eu sempre fui assim. Não deixo ninguém me

invadir, isso é uma invasão, como eu não faço isso com ninguém eu não permito que façam

comigo". É possível considerar que, apesar do entrevistado referir que a forma como ocorrem

as relações interpessoais, após o ganho de peso, é sem cobranças, sua fala remete à

possibilidade de que o não ser cobrado nas relações sociais pode estar relacionado à maneira

como ele lida com a situação. Isso porque ele se expressa de maneira defensiva, afastando de

si a cobrança de ter voltado a ganhar peso, mostrando ser esta uma estratégia de

enfrentamento de possível evento estressor (negar ou esquivar-se da situação estressora). Esta

estratégia de enfrentamento é semelhante à estratégia utilizada por E1 e E3. Sobre as

estratégias de enfrentamento utilizadas em momentos de sofrimento emocional, Mazon,

81

Carlotto e Câmara (2008) afirmam que uma das estratégias utilizadas pelas pessoas é colocar

foco na expressão de emoções. Segundo Lazarus e Folkam (1984 apud SILVA, 2006), o

enfrentamento centrado na emoção teria como função a tentativa de substituir ou regular o

impacto emocional causado pelo fator estressor com o qual a pessoa se defronta, podendo

representar atitudes defensivas em relação à fonte de estresse, como negação ou esquiva,

fazendo com que o indivíduo evite confrontar-se conscientemente com a realidade

ameaçadora.

6.3.3 Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao

período em que estavam perdendo peso

No quadro 22 são apresentados dados sobre a participação dos sujeitos da

pesquisa em atividades sociais após voltarem a ganhar peso, em comparação ao período em

que estavam perdendo peso. "Não percebe diferença" foi mencionado por quatro sujeitos da

pesquisa, sendo que somente um sujeito entrevistado afirma que "Percebe diferença" nas

atividades sociais realizadas, após ganhar peso.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Não percebe

diferença

Para mim não, quando voltei a engordar não atrapalhou tanto, porque sou uma

pessoa que me relaciono com muitas pessoas. E já não conseguia comer tanto por

causa do estomago reduzido. Hoje eu como normal, então as pessoas não vêem a

diferença como quando eu era obeso. (E1)

Não mudou.(E2)

Antes de eu operar nossa! era complicado, eu era parada na rua e me diziam, como

tu tais obesa! Aquilo ali já desanimava. Eu fazia o trivial, ia trabalhar. Hoje não, eu

saio. (E4)

Não percebo diferença, porque não deixo elas me invadirem. As pessoas gostam

muito de cuidar da vida dos outros do que das suas, eu não deixo de ir porque não

tenho roupa, porque eu engordei. Eu não faço isso comigo. Eu tenho uma filosofia

comigo, no meu guarda roupa só tenho roupas que eu uso, o que não uso eu dou. Se

deixaram de me servir eu dou. Eu não fico remoendo. Eu tenho que voltar

emagrecer, eu quero emagrecer. Mas ainda não coloquei nenhuma meta ainda. (E5)

4

Percebe

diferença

Eu não tenho lembranças de quando estava mais magra com 79 ou 80 kg, de ter

colocado uma roupa para sair, eu vivia em casa. Com a depressão mesmo magra eu

não tive uma vida social, eu não saia, não tinha relação sexual, eu vivia em hospital

porque eu tinha dor que até então não tinha sido descoberto que eu estava com

depressão, eu tomava remédios que me deixavam toda ruim. Hoje é vida normal.

(E3)

1

Quadro 22 - Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao período em que

estavam perdendo peso.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

82

A maioria dos entrevistados referiu não perceber diferença quanto à participação

em atividades sociais hoje, em comparação ao período em que estavam perdendo peso.

Conforme o relato de E4: "Antes de eu operar nossa! era complicado, eu era parada na rua e

me diziam, como tu tais obesa! Aquilo ali já desanimava. Eu fazia o trivial, ia trabalhar. Hoje

não, eu saio". É possível considerar, a partir da fala dos sujeitos, que a percepção deles de não

haver mudança quanto à participação em atividades sociais hoje, pode ocorrer pelo fato de

que, mesmo que estejam ganhando peso, eles não estão com o peso que tinham antes da

cirurgia, como por exemplo, o peso do sujeito E3 antes da cirurgia era 136 kg, o peso atual é

93kg e o peso de E1 antes da cirurgia era 151 kg o peso atual é 99 kg. Vale destacar que, antes

de realizarem a cirurgia, eles haviam sofrido discriminações e dificuldades no relacionamento

social, o que dificultava a interação social. E, neste sentido, Soares e Petroski (2003, p. 65)

pontuam que "a obesidade pode causar problemas psicossociais como a aceitação diminuída

pelos pares; isolamento e afastamento das atividades sociais, dentre outros." Logo, os sujeitos

não percebem mudanças na participação em atividades sociais hoje, pois talvez não sejam

discriminados como eram antes de realizarem a cirurgia.

É possível considerar também, a partir do relato de E5:"Não percebo diferença,

porque não deixo elas me invadirem. As pessoas gostam muito de cuidar da vida dos outros

do que das suas" que, apesar de dizer que não percebe diferença na participação em atividade

sociais hoje, faz menção aos outros como aqueles que podem ser fonte de feedback

desagradável, sendo um possível evento estressor para o sujeito, conforme foi discutido no

quadro 22. Marchesini (2010, p.5) alerta para o fato de que "pacientes bariátricos podem

apresentar maiores distorções perceptivas corporais que fazem com que não notem sua

recuperação de peso, ou se defendem dessa percepção". Esta distorção na percepção do corpo

por parte de sujeitos que realizaram cirurgia bariátrica, que dificulta a percepção do ganho de

peso, foi observada em vários momentos na fala de alguns sujeitos pesquisados, pois fazem

menção ao peso que tinham antes da cirurgia e não ao atual, o que pode dificultar a percepção

destes sujeitos com relação à imagem corporal atual e à busca por tratamento para a perda de

peso.

Somente E3 afirmou que percebe diferença na sua participação em atividades

sociais, após voltar a ganhar peso, em comparação ao período em que estava perdendo peso.

O sujeito E3 refere que a diferença é que hoje considera ter uma vida normal pois, quando

estava perdendo peso, não tinha vontade e sair de casa, não tinha relação sexual, tinha muitas

dores pelo corpo e sempre estava em hospitais. E isso ocorreu, segundo a entrevistada, pelo

83

fato de ter tido depressão logo após a cirurgia, no momento em que estava perdendo peso, não

conseguindo naquele momento ter interação social. Leal, Baldin (2011, p.327) dizem que,

"em muitos casos, o emagrecimento súbito incorre em quadros psiquiátricos, tais como:

depressão, ansiedade, dentre outras situações". É possível considerar que estes quadros

psiquiátricos podem dificultar as interações sociais do sujeitos no período que estão perdendo

peso após a cirurgia bariátrica.

Em síntese, pode-se dizer que, com a perda de peso, os sujeitos da pesquisa

tiveram mudanças positivas nas relações interpessoais. No entanto, com o ganho de peso que

ocorreu após a cirurgia, alguns sujeitos da pesquisa parecem ter sido cobrados nas relações

sociais, pelo fato de voltarem a engordar, sendo esta uma situação estressora. Diante desse

tipo de situação estressora, os sujeitos parecem utilizar, como estratégia de enfrentamento, a

negação e a esquiva. Os sujeitos não percebem mudanças na participação em atividades

sociais hoje, pois talvez não sejam discriminados como o eram antes de realizarem a cirurgia.

Mas, apresentam, em sua maioria, distorção da percepção da imagem do corpo atual,

dificultando a percepção de que o peso está aumentando e de que necessitam de tratamento.

6.4 SENTIMENTOS E EMOÇÕES

Os sentimentos e as emoções são processos psicológicos básicos que constituem

os seres humanos e que estão diretamente relacionados com os fatores psicológicos

envolvidos com a obesidade. As pessoas com obesidade que realizam cirurgia bariátrica e

voltam a ganhar peso, podem passar por sofrimentos emocionais em decorrência do aumento

do peso, então, como se caracterizam os sentimentos e as emoções descritas pelos sujeitos

quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica? O que sentiam

quando as pessoas lhes falavam de sua perda de peso? Quando voltaram a ganhar peso, as

pessoas comentaram? O que sentiam com estes comentários? Como se sentiam em relação ao

fato de terem voltado a ganhar peso? O que consideraram ser a causa do ganho de peso? O

que fizeram quando voltaram a ganhar peso? Quais os cuidados que tem com o corpo hoje?

Que adjetivos atribuem ao próprio corpo?

84

6.4.1 Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso

No quadro 23 são apresentados os sentimentos decorrentes dos comentários dos

outros acerca da perda de peso, relatados pelos sujeitos da pesquisa. O sentimento de

"felicidade" foi o que três sujeitos da pesquisa mencionaram sentir. "Alegria" e "Bem estar"

foram sentimentos referidos por dois dos entrevistados, respectivamente para cada uma das

categorias. Já as categorias "sem entusiasmo", "surpresa" e "auto estima elevada", foram

mencionadas por um entrevistado para cada categoria.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Felicidade Feliz. Até em relação a namoro, depois que eu operei, foi a época em que tive mais

relacionamentos, arrumei uma namorada que eu não tinha antes de ser operado. (E1)

Me sentia feliz, quando diziam que eu estava magra. (E2, E4)

3

Alegria Eu me sentia alegre, sorridente. (E1) 2

Bem-estar No começo, diziam que bonita que ela ta, eu me sentia muito bem em ouvir isso.

(E2)

Muito bem. Todo mundo dizia nossa como estas bonita como emagrecesse. (E5)

2

Sem

entusiasmo

Eu não tive aquele entusiasmo de comprar roupa, eu não comprei roupa porque

emagreci, eu usava roupas que eu ganhava. Mas eu não tive entusiasmo, foi a

depressão, não sei o que aconteceu exatamente.(E3)

1

Surpresa

Eu não me vi magra. A moça da loja, me trouxe um vestido e eu disse para ela,

moça me traz um vestido que vai servir em mim, ela disse: esse vestido vai servir

em ti. Eu não tinha noção que aquilo servia em mim, eu fui provar e comecei a

chorar, eu não tinha me visto magra. (E4)

1

Auto-estima

elevada

.. a auto-estima fica nas nuvens. O ponto principal para mim foi quando comecei a

comprar roupas em lojas normais e não em lojas de gordo. (E5)

1

Quadro 23 - Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

A maioria dos entrevistados relatou sentimentos positivos, tais como: felicidade,

alegria, bem estar e auto estima elevada, quando terceiros comentaram sobre a perda de peso

que tiveram após fazerem a cirurgia bariátrica. Estes sentimentos positivos podem estar

relacionados ao fato de que, com o emagrecimento, vivenciaram maior integração e aceitação

da sociedade, conforme percebe-se no relato de E5: "Nossa você se sente super bem, a auto-

estima fica nas nuvens. O ponto principal para mim foi quando comecei a comprar roupas em

lojas normais e não em lojas de gordo". E de E1: "Feliz. Até em relação a namoro, depois

que eu operei, foi a época em que tive mais relacionamentos, arrumei uma namorada que eu

não tinha antes de ser operado". Os sentimentos positivos, segundo Vicott (1982, p. 22),

85

"podem ampliar o senso de força e bem-estar, produzindo prazer, plenitude e esperança." Para

o autor, estes sentimentos positivos podem aparecer, por exemplo, quando alcançamos uma

meta que há muito tempo procurávamos alcançar. O sujeito obeso, quando emagrece, pode

apresentar sentimentos positivos por ter alcançado o objetivo de emagrecer, e por

consequência, como ex-obeso que sofria a não aceitação da sociedade, passa a sentir-se aceito

pelas pessoas. Esta aceitação pelos outros, segundo Silva (2001) é importante na manutenção

de uma auto-imagem positiva e para o aumento da auto-estima.

6.4.2 Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso

No quadro 24 são apresentados os comentários que os sujeitos da pesquisa

receberam quando voltarem a ganhar peso. A categoria tipos de comentários foi dividida em

subcategorias. "Está engordando" e "A cirurgia não adiantou", foram mencionadas por dois

entrevistados para cada subcategoria. As subcategorias "Te cuida" e "Não comentaram" foram

referidas por um entrevistado para cada subcategoria.

Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor

Tipos de

comentários

"Está

engordando"

Você está engordando. (E1)

Só o meu marido, é muito triste. Ele é muito controlador, ele

dizia, cuidado você está engordando. (E2)

2

"Te cuida" ele dizia, ...esta bunda está crescendo, este papo está

engrossando, te cuida. (E2)

1

"A cirurgia não

adiantou"

Diziam, tua cirurgia não adiantou! Tais gorda de novo! Só

que é assim, eu sei o que eu sentia quando eu tinha aquele

peso (138 kg). (E3)

Algumas pessoas comentam assim, Ué! Você não fez

cirurgia de redução. Mas algumas pessoas tem a visão

assim, fez a redução tem que continuar magro, mas elas não

sabem quanto tu pesavas antes, quanto tu medias antes, eu

tinha quase 150 kg hoje eu tenho 117 kg. Se eu me olho hoje

e vejo as fotos de 150 kg eu me acho magra. Claro que não é

com o que eu queria estar, com os 97 kg de quando eu

engravidei.(E5)

2

Não comentaram Não, eu não escutei ninguém dizer tu engordasse, estais

mais pesada. Eu só vi na foto do primeiro ano do meu filho

que parecia que eu estava mais cheinha. (E4)

1

Quadro 24 - Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso.

Fonte: elaboração da autora, 2011

86

Os comentários que a maioria dos sujeitos da pesquisa recebeu quando voltaram a

ganhar peso após a cirurgia bariátrica, foi "está engordado" e a "cirurgia não adiantou".

Conforme relato de E2: "Só o meu marido, é muito triste. Ele é muito controlador, ele dizia,

cuidado você está engordando". É possível considerar que estes comentários podem trazer

sofrimento emocional ao sujeito que buscou na cirurgia bariátrica a solução para a obesidade.

Segundo Silva (1994), comentários como: "você precisa perder peso", "para de comer", "está

ficando gordo", etc., são comentários de caráter discriminatório que podem colaborar para a

diminuição da auto-estima do sujeito. O autor ainda pontua que, "ficar pressionando e

relembrando a condição de aumento de peso, pode agravar a angústia, a ansiedade e a

depressão que com frequência, se associam a obesidade." (SILVA, 1994, p. 191). Ou seja,

esses tipos de comentário, podem criar novamente condições para que este sujeito volte a

ganhar peso. Entretanto, cabe ressaltar que, talvez, esses comentários sejam de preocupação

dos outros em relação ao próprio sujeito, pois as pessoas que convivem com obesos podem

não saber como lidar com essa situação. Por isso, a importância de profissionais

especializados na área de ficarem atentos à necessidade de orientações não só ao sujeito, mas

também à família.

Segundo Silva (2001, p. 267) "estar com excesso de peso, em geral, é aversivo,

gera ansiedade e aumenta a probabilidade de a pessoa agir para livrar-se dela". Isso foi

observado nos relatos de E3 e E5: “Algumas pessoas comentam assim, Ué! Você não fez

cirurgia de redução. Mas algumas pessoas tem a visão assim, fez a redução tem que

continuar magro, mas elas não sabem quanto tu pesavas antes, quanto tu medias antes, eu

tinha quase 150 kg hoje eu tenho 117 kg. Se eu me olho hoje e vejo as fotos de 150 kg eu me

acho magra". É possível pensar que estes sujeitos, frente ao feedback de estar ganhando peso

após a cirurgia, ajam para diminuir o desconforto frente a esta situação aversiva. No caso de

E3 e E5, a estratégia utilizada para lidar com essa situação é a de comparar o peso atual com o

peso que tinham antes da cirurgia, que seria um peso muito maior, e não com o peso que

tinham no período em que estavam emagrecendo, adquirido após a cirurgia. Esse tipo de

comparação pode ter produzido neles a sensação de emagrecimento, amenizando naquele

momento o desconforto diante da percepção de estarem voltando a ganhar peso. Segundo

Mazon, Carlotto, Câmara (2008, p. 07), a comparação do peso atual com o peso que tinham

antes da cirurgia, pode ocorrer "como estratégia de enfrentamento a um evento extressor" que,

no caso dos entrevistados, pode ser o ganho de peso.

Os autores ainda pontuam que existem dois tipos de estratégias de enfretamento

para o evento extressor, um focado no problema, em que o sujeito faz um levantamento e

87

avaliação de soluções, escolhe alternativas e age para mudar a causa do evento estressor,

como por exemplo no caso do ganho de peso, se o sujeito escolhesse, fazer exercícios físicos,

ter cuidados com a alimentação, buscar ajuda de um profissional para diminuir o peso. E a

outra estratégia, seria focada nas emoções. A estratégia de enfrentamento focalizado na

emoção é um esforço para regular o estado emocional que é associado ao estresse ou a

situações aversivas. E têm por finalidade reduzir as condições desfavoráveis e possibilitar,

desta maneira, a adaptação ou tolerância aos aspectos negativos, amenizando

momentaneamente o sofrimento. Como por exemplo: a negação, no sentido de recusa em

acreditar na existência do estressor, ou agir como se esse não fosse real; o desligamento

comportamental, que é o abandono das tentativas para atingir metas nas quais o estressor

interfira, entre outros (MAZON; CARLOTTO; CÂMARA, 2008).

Entretanto, Silva (2006) alerta para o fato de que, quando a estratégia de

enfrentamento é focada nas emoções e não no problema, isso pode gerar, a longo prazo, mais

sofrimento emocional. A ansiedade é um dos sofrimentos possíveis e decorre do fato de o

sujeito não conseguir modificar a realidade que, no caso dos pesquisados, é o ganho de peso

após a cirurgia bariátrica. Logo, intervir sobre as emoções e sentimentos, bem como, criar

condições para que os sujeitos desenvolvam estratégias de enfrentamento para o evento

estressor, baseadas nos aspectos que produzem a obesidade pode contribuir para que o sujeito

perca peso e saiba como mantê-lo. Alguns objetivos no tratamento psicológico da pessoa que

está ganhando peso podem contribuir para esta mudança. Conforme Silva (2001, p.269) os

objetivos são: "melhorar e ampliar aspectos do repertório pessoal, social, afetivo e que tragam

consequências gratificantes; estimular a expressão de pensamentos e sentimentos de forma

adequada; desenvolver várias fontes de reforçamento positivo, dentre outros". Então, o

tratamento psicológico é um instrumento importante que auxilia nas mudanças que a pessoa

que volta a ganhar peso após a cirurgia bariátrica necessita para manter o peso em patamares

saudáveis.

6.4.3 Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso

No quadro 25 são apresentados os sentimentos dos sujeitos da pesquisa quando as

pessoas falavam de seu ganho de peso. "Mal estar" foi a categoria mencionada por dois

88

entrevistados da pesquisa. "Tristeza", "Culpa" e "Falta de vergonha na cara", foram

mencionadas por um sujeito da pesquisa para cada categoria.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Mal estar

Eu me sinto super mal. (E1)

Me sentia bem mal. Na época foi doído, pessoas que nunca foram me visitar

quando eu fiz a cirurgia. Mas quando eu engordei foram lá na minha casa para

dizer; como você engordou, a tua cirurgia não adiantou! Então, a própria família

(E3)

2

Tristeza

Eu fico triste. Eu digo para ele, eu não consigo, eu faço de tudo para emagrecer,

dieta, academia, mas não consigo emagrecer. (E2)

1

Culpa

Eu sei da minha culpa eu tenho que me cuidar. Eu disse para o nutricionista se eu

engordar um quilo eu vou me jogar da ponte. Ele dizia se cuida, te alimenta

direito. (E4)

1

“Falta de

vergonha

na cara”

Isso não me deixa triste me deixa pensativa, o pensamento aquele de falta de

vergonha na cara. (E5)

1

Quadro 25 - Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

Todos os pesquisados referiram algum sentimento de incômodo ou mal-estar

decorrente de comentários de terceiros quando estes lhes falavam de seu ganho de peso. Estes

sentimentos relatados pelos sujeitos da pesquisa, como tristeza, mal estar, culpa, etc., são

diferentes dos sentimentos positivos que referiram ter, como felicidade e alegria, quando as

pessoas comentavam da sua perda de peso, conforme discutido no quadro 23. Silva (2001, p.

266) diz que, "todo mundo precisa ser e sentir-se valorizada para manter uma relação positiva

consigo mesma. Sem isso é impossível cultivar a auto-estima."

Segundo Guilhardi (2011), a auto-estima é um sentimento aprendido e

desenvolvido durante a vida da pessoa. A auto-estima é produzida por uma história de

reforçamento social, decorrente das relações inter-pessoais. Esse reforçamento pode ser

positivo ou negativo, contribuindo para a elevação ou diminuição da auto-estima do sujeito. O

autor ainda alerta para o fato de que, se as críticas e repreensões forem voltadas para a pessoa

e não para o seu comportamento, pode acarretar na diminuição da auto-estima do sujeito.

Ainda que Guilhardi (2011), ao examinar o conceito de auto-estima, faça-o a partir do

desenvolvimento do sentimento de auto-estima na criança, é possível pensar que, como a

auto-estima é um processo que se atualiza constantemente a partir das interações que o sujeito

estabelece consigo mesmo e com os demais, os aspectos envolvidos com esse conceito podem

auxiliar a compreender o que ocorre com a auto-estima do sujeito com obesidade. Na mesma

direção, Silva (2001, p. 266) destaca que

89

a pessoa que está acima do peso geralmente recebe criticas negativas a sua pessoa e

não ao seu comportamento. Dessa forma, ela pode adquirir uma reação de auto-

anulação e auto-rejeição, acreditando que não tem valor.

Então, pode-se refletir, a partir das falas dos sujeitos da pesquisa, como por

exemplo a fala de E3: "Me sentia bem mal. Na época foi doído, pessoas que nunca foram me

visitar quando eu fiz a cirurgia. Mas quando eu engordei foram lá na minha casa para dizer;

como você engordou, a tua cirurgia não adiantou!", que as críticas e repreensões que estes

sujeitos receberam de seu meio social pelo fato de voltaram a ganhar peso após a cirurgia,

podem contribuir para a diminuição da auto-estima desses sujeitos. Isso pode interferir na

maneira como se constitui a sua subjetividade, a auto-imagem e a forma como cada um se

sente em relação a si mesmo.

6.4.4 Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia

bariátrica

No quadro 26 são apresentadas categorias relativas aos sentimentos relatados pelos

sujeitos da pesquisa decorrentes do fato de voltarem a ganhar peso, depois de terem realizado

a cirurgia bariátrica. As categorias "Tristeza", "Frustração", "Perdedora" e "Com falta de

vergonha na cara" foram, cada uma delas, referidas por um entrevistado, como a maneira

como se sentem pelo fato de terem voltado a ganhar peso.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Necessidade

de escolha

Eu pensei em duas situações. Primeiro, o eu perco a minha cirurgia, não vou

parar de engordar eu continuo nessa vida que eu estou, me alimento do jeito que

eu estou e sem fazer atividade física nenhuma. Ou, eu vou me disciplinar e

procurar algum apoio. (E1)

1

Tristeza Eu fico triste. Penso assim , eu tenho que malhar mais ainda, invés de 45 minutos

de bicicleta tenho que fazer 90, faço academia duas vezes por dia, todos os dias

da semana e as vezes final de semana. (E2) 1

Frustração Eu esperava outro resultado, mas não deu certo eu vou fazer o que? Quando

eu pensei em fazer a cirurgia eu imaginei que eu ia ficar bonita, que eu ia fazer

cirurgia plástica ia poder colocar uma calça jeans. Eu não faria a cirurgia outra

vez, e para as pessoas que querem eu diria para se preparar bem, ver os pontos

negativos e positivos. (E3)

1

Perdedora As vezes me sinto uma perdedora, não consegui, porque estou fazendo isso?

Fico chateada comigo mesma. Para com isso! Eu digo para mim mesma. (E4)

1

90

Com falta de

"vergonha na

cara"

Eu sei que não estou como deveria estar, o pensamento é aquele de falta de

vergonha na cara. De vais fazer o que tens que fazer e para de te apoiar. Porque

na verdade a gente vai se apoiando nas coisas, eu estou assim porque tive meu

filho, porque tive que ficar em casa, tive isso, tive aquilo. (E5)

1

Quadro 26 - Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia bariátrica.

Fonte: elaboração da autora, 2011

A maioria dos entrevistados relatou sentimentos negativos, como tristeza,

frustração, etc. pelo fato de voltarem a ganhar peso após terem realizado a cirurgia. Neste

aspecto, os sentimentos negativos, segundo Viscott (1982, p. 22) podem interferir "no prazer,

consumir energia e nos deixar exauridos, com uma sensação de vazio e solidão". Logo, é

possível que os entrevistados apresentem sofrimento emocional por terem voltado a ganhar

peso após a cirurgia bariátrica. O que pode contribuir para o aumento da ansiedade, sendo este

sentimento uma das causas referidas pelos sujeitos da pesquisa para o próprio ganho de peso.

6.4.5 As causas do ganho de peso

No quadro 27 são apresentadas as causas que os sujeitos da pesquisa consideram

para o seu ganho de peso. "Alimentação" foi a causa apresentada por três sujeitos da pesquisa

para seu ganho de peso, como também a categoria "Ansiedade" foi mencionada por três dos

entrevistados. "Gravidez" foi outro fator referido por duas entrevistadas como causa para o

ganho de peso. Já as categorias "Falta de exercícios físicos", "Falta de apoio psicológico e

nutricional", "Genética" e "Mudança na medicação"foram causas mencionadas por um sujeito

da pesquisa para cada categoria, como causa de ganho de peso após terem realizado a cirurgia

bariátrica.

(Continua)

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Alimentação Acho que a alimentação. (E1)

Não sei! De repente de comer. (E3)

O motivo de voltar a ganhar peso eu atribuo a não seguir as orientações

nutricionais, quando tu diz eu vou comer uma bolachinha mesmo, aí não vai

na saladinha. (E5)

3

Falta de exercício

físico

Da vida sedentária, eu não faço exercício físico. (E3)

1

91

Falta de apoio

psicológico e

nutricional

De repente a falta de apoio psicológico e nutricional que sempre deve

acompanhar a pessoa. As pessoas geralmente não procuram estes serviços,

nutrição, psicologia, que é bem interessante, gastam um dinheirão com a

cirurgião mas não nestes acompanhamentos. (E1)

1

Genética

Eu não atribuo a comida, que a comida não é o suficiente para engordar, eu

atribuo a minha genética de gorda. (E2)

1

Ansiedade Atribuo a minha ansiedade, não é uma ansiedade de gritar é uma ansiedade de

se conter. (E2)

Se eu entrasse numa academia, fizesse uma dieta, tomasse um remedinho para

ser mais light, porque eu sou muito ansiosa. (E3)

Acho que é questão de ansiedade mesmo. Porque eu sou muito ansiosa. (E4)

3

Gravidez Eu achava que era por causa da gravidez do meu filho e que depois eu iria

perder. Na gravidez do meu filho, eu cheguei a 79 kg, então eu pensei, agora

eu vou ficar como tenho que ficar, mas nada. (E3).

Outra causa foi a própria gravidez, é uma revolução hormonal, muita

mudança no corpo no quadril, e tal. E pelo fato de poder comer qualquer

coisa, você se apoia nas desculpas, estou grávida vou comer, depois que eu

ganhar o bebe eu volto no que tenho que voltar (E5)

2

Mudança na

medicação

Eu tive que mudar por causa da gravidez o de centrum suplemento

vitamínico para o materna, eu notei que nesta troca eu ganhei peso,

apesar que a nutricionista disse que não tem nada haver, eu senti a diferença.

(E5)

1

Quadro 27 - As causas do ganho de peso.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

Os entrevistados referiram ter mais de uma causa para o ganho de peso, vindo ao

encontro do que pontua Donato et al. (2004) de que as causas do ganho de peso são de várias

origens, podendo ser biológicas, psicológicas e sociais. Logo, para tratá-la se faz necessário a

intervenção multiprofisional.

A alimentação e a ansiedade foram as causas mencionadas pela maioria dos

entrevistados para o ganho de peso. É possível considerar que o aumento na quantidade de

alimentação consumida ou a ocorrência de maus hábitos alimentares, como o beliscar, que foi

um dos comportamentos alimentares relatados pelos entrevistados, podem estar diretamente

relacionados à ansiedade. Pois, conforme Silva (1994, p.190), "para a aliviar a ansiedade a

pessoa come e comendo busca compensar o desequilíbrio psicológico, embora muitas das

vezes não tenha consciência disso e os que reagem dessa forma tem dificuldades de elaborar

psiquicamente conflitos emocionais". Silva (2001, p. 265) também corrobora esta idéia

quando diz que,

a comida na boca é prazerosa e parece reduzir os níveis de ansiedade nesse

momento. Ela atua, imediatamente, como uma distração temporária para essa

92

sensação de ansiedade, funcionando, assim como reforçador negativo. Ao mesmo

tempo que o comer proporciona um alívio imediato (o que fortalece o seu poder),

assim que parar de comer, o sentimento volta associado à culpa por ter comido.

A autora ainda alerta para o fato de que este comportamento, de utilizar a comida

para alivia a ansiedade, pode criar um ciclo vicioso, de que "Quando está ansiosa, come.

Quando come engorda. Engordando fica ansiosa. Repetindo-se o ciclo." (SILVA, 2001,

p.265).

Porém, além da ansiedade, há outros sentimentos e emoções que podem contribuir

para o ganho de peso. Scavora, Oliveira (2011) afirmam que sentimentos e emoções, tais

como, frustração, solidão, raiva, tristeza, medo podem contribuir para o aumento de peso.

Isso pode acontecer, segundo Silva (2001, p. 267), "quando estes sentimentos, passam a ter

status determinantes no comportamento de comer em excesso o que reforça a relação de estar

mal e comer." Este tipo de repertório comportamental, comer em excesso, quando o sujeito

não se sente bem, foi observado por Souza et al. (2005) na pesquisa que realizaram com

pessoas com obesidade, cujo objetivo foi identificar aspectos comportamentais e sociais

envolvidos na dificuldade de perder peso. Por isso, Souza et al. (2005) salientam a

importância de que estes sujeitos, que buscam perder peso, sejam acompanhados por equipe

mutiprofissional, dentre eles o psicólogo. Pois, segundo Silva (2001) o psicólogo pode

intervir sobre o comportamento de autocontrole deste sujeito, identificando e modificando

hábitos alimentares, além de identificar as funções que o comer assume para a pessoa, as

condições emocionais e relações entre elas, etc.

Os sujeitos da pesquisa referiram ainda, como causas do ganho de peso, a "falta de

exercício físico", a "falta de apoio psicológico e nutricional", e "gravidez" e o "uso de

medicamentos". É possível considerar que estas causas mencionadas pelos sujeitos poderiam

ser controladas a partir de um "posicionamento" do próprio sujeito frente a essas situações

como, por exemplo, começar a fazer atividade física, buscar atendimento profissional, etc..

Porém, eles também referiram a genética, como causa de ganho de peso. Esta

causa não está sob controle do indivíduo. E, nesse sentido, Silva (2001, p.266) diz que "ao se

avaliar uma pessoa que está ganhado peso é necessário considerar a predisposição genética ou

determinantes biológicos". Entretanto, o autor alerta para o fato de que, as causas para o

ganho de peso não podem ser vistas isoladamente, mas a partir do contexto geral da vida de

cada indivíduo.

Recine e Radaelli (2011) trazem a discussão de que, no caso das doenças

multifatoriais, como o caso da obesidade, é difícil distinguir os efeitos dos genes dos efeitos

93

ambientais, como hábitos alimentares e sedentarismo em indivíduos que vivem no mesmo

ambiente. Por isso, saber que a obesidade é multideterminada é importante para compreender

sobre que aspectos da obesidade é possível intervir e sobre quais isso não é possível. É

importante que essa compreensão ocorra, inclusive, do ponto de vista do próprio sujeito com

obesidade, a fim de que não atribua somente à genética a causa da obesidade para justificar o

manter-se obeso.

6.4.6 Ações dos sujeitos quando voltaram a ganhar peso

No quadro 28 são apresentadas as categorias relativas ao que foi feito pelos

sujeitos quando voltaram a ganhar peso. "Cuidado com a alimentação" foi a resposta dada por

três sujeitos da pesquisa. "Nutricionista" e "Atividade física" foi a resposta dada por dois

entrevistados para cada uma das categorias. "Disciplina" e "Nada" foram mencionadas por um

entrevistado para cada uma dessas categorias.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Disciplina Eu cheguei a 115 kg eu tive que para e refletir, ou eu perco a minha cirurgia

ou eu vou me disciplinar, foi o que eu fiz. (E1) 1

Cuidado com a

alimentação

Foi difícil, eu emagrecia e engordava de novo. A partir de 2009 eu estou

conseguindo manter o peso, eu oscilo de 99 á 103 kg. Tem final de semana

de eu engordar 2 a 3 kg, de sexta a segunda. porque eu paro a atividade

física, porque eu como melhor. (E1)

Eu cuido com a alimentação, mas tenho muita dificuldade de perder peso.

(E2)

Quando eu me sinto apertada com isso (peso) eu incluo verdura, uma

alimentação mais balanceada, tomo mais líquido, fora isso eu não faço

mais nada.(E3)

3

Atividade física Faço academia todos os dias, musculação e sauna, por uma hora e meia, e

corro de 7 a 12 km todos os dias. (E1)

Faço atividade física. (E2)

2

Nada Eu não fiz nada, estou deixando a coisa acontecer. (E3) 1

Nutricionista Fui em uma nutricionista, mas não consegui me adaptar, para mim não

serve esse negócio de ter que olhar no papel para ver o que vou comer, a

quantia que vou comer. Quero vê se diz assim 10 g de.... Ai não! Meu Deus

eu não presto para isso! (E4)

Procurei a última nutricionista no ano passado. Mas ela disse que eu já

sabia o que fazer. Foi aí que eu tive esta resposta dela, não é que ela me

desestimulou, mas eu pensei. Meu Deus se eu sei fazer, falta vergonha na

cara.(E5)

2

Quadro 28 - O que fizeram quando voltaram a ganhar peso.

Fonte: elaboração da autora, 2011.

94

O cuidado com a alimentação foi uma das estratégias que a maioria dos

entrevistados referiu utilizar quando voltou a ganhar peso. Porém, ao serem questionados

sobre a causa do ganho de peso, eles referiram ser a alimentação, conforme observado no

quadro 27. É possível considerar que isso aconteça devido aos maus hábitos alimentares

desses sujeitos, conforme discutido ao examinar o comportamento alimentar dos sujeitos da

pesquisa. Alguns sujeitos da pesquisa referem ter o hábito alimentar de beliscar, assim como

de não saber a quantidade de alimento que ingerem, além de comerem alimentos considerados

por eles fáceis, tais como os carboidratos. Estes hábitos alimentares, segundo Recine e

Radaelli (2011) são considerados maus hábitos, os quais tem papel importante no ganho de

peso. E para as pessoas que buscam perder peso, os autores ainda alertam que

é preciso que a pessoa entenda e aprenda (ou reaprenda) o significado e a

importância de se comer bem (e não bastante!), isto é, de trocar os maus hábitos por

bons hábitos alimentares. Trata-se de um novo estilo de vida, de ampliar conceitos,

mudar costumes [...], o que não é nada fácil, ainda que possível. (RECINE,

RADAELLI, 2011, p.10)

A procura pelo profissional da nutrição foi outra estratégia referida como sendo

utilizada por dois entrevistados, para a perda de peso. Mas, conforme o relato dos sujeitos,

isso não trouxe mudança no comportamento alimentar deles. Segundo Baldwin, Falciglia

(1995, apud ASSIS, NAHAS, 1999) "um dos papéis do nutricionista é o de ajudar as pessoas

a modificar seus hábitos alimentares, através da assistência nutricional". Mas, Bressan e Costa

(2006) destacam que apenas o acompanhamento do profissional não resolve o problema da

perda de peso uma vez que não é algo mágico. É necessário que a pessoa tenha disciplina e

motivação para se adequar ao tratamento e nele se manter. É possível dizer que, apesar de

procurar a assistência de um profissional da nutrição para a mudança de hábitos alimentares e

para poder perder peso, os sujeitos não conseguiram o resultado esperado. Estariam esses

sujeitos motivados a mudar seus hábitos? Teriam eles dificuldades de disciplina para que

ocorresse a mudança? Estabeleceriam eles relações entre a mudança de hábitos alimentares e

a perda de pesos? Estariam eles com as condições adequadas e suficientes para a mudança de

hábitos alimentares?

Sobre a mudança do comportamento alimentar, Assis e Nahas (1999) pontuam

que a mudança de comportamento individual pode ser facilitada pela modificação de fatores

pessoais "internos". E que esses fatores incluem não somente a obtenção dos conhecimentos

necessários e práticas apropriadas para fazer uma mudança, mas também um componente de

95

auto-desenvolvimento. Por isso, Bressan e Costa (2006) ressaltam que, para o tratamento da

obesidade, quer seja pelo tratamento convencional com a reeducação alimentar, atividade

física, ou através da cirurgia bariátrica, o sujeito necessita de acompanhamento de equipe

multiprofissional. "A função dessa equipe é detectar e modificar as condições que causam a

obesidade, avaliando os fatores clínicos, psicossomáticos e comportamentais" (BRESSAN,

COSTA, 2006, p. 315). Então, é possível refletir que esses sujeitos, para mudarem seus

hábitos alimentares como forma de perder de peso (e obterem mais saúde), além do

atendimento nutricional, podem necessitar também do acompanhamento psicológico, dentre

outros profissionais, uma vez que a mudança de hábitos alimentares requer mudanças de

comportamento em relação ao alimento.

Outra questão a ser considerada, no que diz respeito à perda de peso é a prática de

atividade física. Somente E1 e E2 relatam ter realizado atividade física com freqüência,

quando voltaram a ganhar peso. Fontes (2006, p. 300) ao falar da atividade física no

tratamento para a perda de peso, diz que "existe um consenso de que o sedentarismo é uma

das causas do favorecimento e da manutenção de algumas obesidades". O autor ainda pontua

que a atividade física ajuda a controlar o peso corporal e a reduzir a ansiedade, o estresse, a

depressão e o risco de fatores associados a doenças cardiovasculares. Recine, Radaelli (2011,

p.7) afirmam que.

O exercício físico contribui com 8 a 20% do gasto diário total de energia. Além

disso, pode modular o apetite, pois ajuda a regular os mecanismos cerebrais que

controlam a ingestão de alimentos. Também proporciona um aumento da massa

corporal magra (músculos) e provoca alterações enzimáticas que facilitam a queima

de gordura nos tecidos, o que torna o indivíduo ativo mais propenso a perder peso e

a mantê-lo reduzido.

Então, é possível considerar que a falta de atividade física observada entre a

maioria dos entrevistados pode dificultar a perda de peso, ou mesmo, facilitar o aumento

deste. Segundo Recine, Radaelli (2011, p. 9) "pessoas sedentárias apresentam um gasto

calórico reduzido e podem ter mais dificuldade de queimar a gordura e mais facilidade para

armazená-la". Então, tanto a atividade física quanto a mudança de hábitos alimentares

requerem mudanças de comportamento que implicam diretamente no estilo de vida do sujeito,

e o psicólogo tem papel importante para auxiliar nesta mudança. E nenhum dos sujeitos da

pesquisa indicou o atendimento psicológico como algo que fez após a cirurgia.

96

6.4.7 O cuidado que os sujeitos pesquisados tem com o corpo

No quadro 29 são apresentadas os cuidados que os sujeitos da pesquisa referem ter

com o corpo hoje. "Roupas e maquiagem" foi mencionada por quatro dos cinco entrevistados.

"Atividade física", " Ir ao salão de beleza" foram referidas por dois dos entrevistados, para

cada categoria. Já as categorias, "Lipoaspiração", "Cirurgia plástica" e "Nenhum cuidado" foi

a resposta dada por um entrevistado, para cada categoria, como o cuidado que tem com o

corpo hoje.

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

Atividade

física

Eu sou bastante vaidoso, eu faço academia todos os dias, musculação e sauna,

por uma hora e meia, e corro de 7 a 12 kg todos os dias. (E1)

Faço exercícios físicos. (E2), 2

Lipoaspiração Me preocupo bastante com meu corpo em geral, fiz uma lipo depois da cirurgia,

graças a Deus não precisei fazer plástica, o que aconteceu depois da cirurgia me

deu umas estrias. Já procurei de tudo para ver se tinha recursos para acabar com as

estrias, mas infelizmente não tem. (E1)

1

Cirurgia

plástica

Depois da cirurgia fiz uma plástica no seio, recuperei ele, pois já tinha feito

plástica antes há 15 anos atrás. (E2)

1

Ir ao salão de

beleza

Eu vou ao salão de beleza. (E2).

Eu vou para salão, continuo vaidosa. (E3)

2

Roupas e

maquiagem

Gosto de sair arrumada e maquiada. (E2)

Se eu tenho uma festa para ir, eu me arrumo, coloco unha postiça , eu me

arrumo, fico bonita. (E3)

Eu gosto de me arrumar, a vizinha brinca comigo, "nossa a mulher já levanta de

maquiagem e cabelo escovado!". Mas tem dias, quando estou em casa relaxo

mais. Procuro está com o cabelo escovado. Eu gosto principalmente do rosto

que é o cartão de visita, tem que dar uma ajeitada. (E4)

Gosto de me vestir, mas isso não é o principal para mim. Eu preso muito mais

a saúde do que a aparência, embora isso não seja o que a sociedade espera de

ti.(E5)

4

Nenhum

cuidado

Nenhum. No dia a dia não dá tempo. (E3)

1

Quadro 29 - O cuidado que tem com o corpo.

Fonte: elaboração da autora, 2011

A maioria dos entrevistados disse cuidar do corpo hoje. E o tipo de cuidado que a

maioria referiu ter com o corpo está baseado em aspectos relativos a roupas e maquiagem.

Sendo que somente dois entrevistados referiram realizar atividade física como cuidado com o

corpo e nenhum entrevistado referiu ter uma alimentação equilibrada como o ato de cuidar do

corpo. Segundo Silva (1994, p.266) "a pessoa com obesidade, com a auto-estima e a auto

imagem rebaixadas, não valoriza a qualidade de vida, não cuida de seu corpo por „dentro‟ já

97

que não seleciona os alimentos que ingere e não faz exercícios físicos". O que é possível dizer

é que os sujeitos da pesquisa parecem estar cuidando de sua aparência por "fora", investindo

em roupas e maquiagem. Isso, segundo Silva (1994), é um comportamento positivo, pois

contribui para o aumento da auto-estima. Entretanto, os sujeitos da pesquisa estão

negligenciando a qualidade de vida, que envolve alimentação equilibrada e realização de

exercícios físicos, podendo acarretar em ganho de peso.

6.4.8 A imagem corporal: adjetivos atribuídos pelos sujeitos ao próprio corpo.

No quadro 30 são apresentados os adjetivos que os sujeitos da pesquisa atribuem

aos seus corpos. Os entrevistados mencionaram adjetivos positivos para o corpo como:

"Bonito" , categoria mencionada por três dos sujeitos da pesquisa. "Sarado/Malhado" foi

referido por dois entrevistados e "Aceito", "Ativo", "Popozuda" foram mencionados por um

sujeito para cada categoria.

Mas, também referiram adjetivos negativos para o corpo, como: "Horrível", que

foi mencionado por dois pesquisados e "Flácido", "Nada bonito", "Máquina que precisa

funcionar" e "Imperfeito", categorias mencionadas como adjetivos para o corpo por um

pesquisado para cada categoria.

(Continua)

Categoria Unidade de contexto elementar Ocor

"Bonito" Me acho bonito, antigamente me achava feio.(E1)

Me acho muito bonita, sempre me achei muito bonita, quando emagreci me

achei muito mais. (E2)

De roupa eu gosto, eu sou bonitinha, charmosa, porque quando eu me

arrumo eu fico charmosa. (E4)

3

"Sarado/malhado" Eu estou sarado. (E1)

Me sinto malhada. (E2) 2

"Aceito" A minha imagem é aceita na sociedade. Hoje não tenho vergonha de colocar

uma calça, uma camisa por dentro, um terno, antes não conseguia vestir uma

terno. (E1)

1

"Ativo" Estou muito ativa, ativa se me chamar para trabalhar meia noite eu vou,

tenho muita energia, estou sempre pronta. (E1)

1

98

(Conclusão)

"Horrível" A minha barriga é horrível.! Hoje, eu não mostro minha barriga nem para

minha filha, nem para o meu marido. (E3)

Há meu Deus que complicado, hein! De roupa é uma coisa! Nua, é medonho,

horrível, horroso, já dei os três adjetivos! (E4)

2

"Flácido" Outra coisa que eu não gosto em mim é o meu seio e no meio das pernas que

ficou flácido. (E3)

1

"Nada de bonito" Se hoje eu me olhar no espelho eu não vejo nada de bonito em mim, porque

eu não estou arrumada, eu não estou maquiada. (E3)

1

"Popozuda" De roupa arrumada, eu gosto, sou popozuda. Uma coisa que eu amei foi o

meu rosto que depois da redução não alterou nada (não caiu pele). (E4)

1

"Máquina que

precisa funcionar"

Engraçado a gente nunca pensa nisso(risos). meu corpo é uma máquina que

precisa funcionar. E uma vestimenta da alma, e não é nem de longe aquilo

que dou importância no mundo. (E5)

1

"Imperfeito" Se me olho no espelho eu vejo um corpo que precisa de cirurgião plástico.

Mas ao mesmo tempo eu vejo alguma coisa que eu construí.(E5)

1

Quadro 30 - Adjetivos atribuídos ao corpo.

Fonte: Elaboração da autora, 2011.

Alguns adjetivos positivos foram atribuídos pelos sujeitos da pesquisa ao próprio

corpo, o que pode contribuir para uma auto-imagem positiva destes sujeitos, conforme relato

de E1: "Me acho bonito, antigamente me achava feio". Segundo Stenzel (2006), a aparência

do corpo influencia a vida das pessoas, a forma como nos apresentamos para os outros

influencia na maneira como nos relacionamos com eles e conosco. Castilho (2001, p. 29)

corrobora esta idéia dizendo que "as concepções e atitudes relacionadas com os conceitos de

estética e beleza, influenciam de maneira determinante a forma como as pessoas se

caracterizam e se relacionam com seus pares". É possível considerar que os sujeitos, ao

atribuírem adjetivos positivos ao corpo, como por exemplo, corpo bonito, pode facilitar a

forma como se relacionam com os outros e consigo mesmo.

Porém, os sujeitos da pesquisa também atribuíram ao corpo adjetivos negativos,

tais como, "horrível", "flácido", "nada de bonito", "imperfeito", o que pode contribuir para

uma auto imagem negativa. A depreciação da auto-imagem foi pontuada por Browneil,

O‟Neil (2009) como um sofrimento que o indivíduo tem e que pode prejudicar o seu

autoconceito. Segundo Castilho (2001) a imagem corporal negativa traz consequencias para a

vida das pessoas, tais como:

Baixa auto-estima, ou seja, um sentimento de inadequação como pessoa e um baixo

valor; Pessoas com a imagem corporal negativa podem acreditar que não possuem as

qualidades necessárias para serem particularmente masculinas ou femininas;

Ansiedade interpessoal e sentimentos de autoconsciência e inadequação em algumas

99

interações sociais, se o indivíduo não aceita a sua aparência, ele pode assumir que os

outros também não a apreciam; [...]. (CASTILHO, 2001, p. 30).

Ribeiro (2006) discute que a sociedade tem papel importante na formação de uma

auto-imagem negativa no sujeito, quando coloca a exigência, principalmente para as

mulheres, de que elas tenham um corpo magro, "sarado", atribuindo a esta imagem de corpo,

como sendo o "ideal", o "normal" e, dando a ele, atributos positivos, como bonitos e atraentes.

Então, os corpos que não se encaixam no perfil pré-estabelecido são considerados feios,

horríveis etc., dificultando que a pessoa aceite a própria aparência. É possível considerar, que

os sujeitos da pesquisa, ao atribuírem adjetivos negativos para sua imagem corporal, sofrem

por perceberem que não estão no padrão estético pré-estabelecido pela sociedade.

Entretanto, cabe ressaltar que alguns adjetivos negativos referidos pelos sujeitos

da pesquisa para o corpo, como "flácido" e "horrível" podem também estar relacionados ao

fato de que, com a perda de muito peso, é possível acontecer o excesso de pele que necessita

ser retirado através de cirurgia plástica corretiva. Por isso, podemos observar que alguns

entrevistados disseram que se sentiam "horríveis" quando nus e não quando estão com roupas

e arrumados, conforme relato de E4: "Há meu Deus que complicado, hein! De roupa é uma

coisa! Nua, é medonho, horrível, horroso!". Segundo Arasaki et al. (2005, p.294)

com o emagrecimento, a pele perde a sustentação dada pelo tecido adiposo. Abdome

em avental, flacidez cutânea exagerada nas mamas e em faces, braços, etc. que

podem causar constrangimentos. A cirurgia plástica reparadora pode ser efetuada

quando ocorre a estabilização do peso.

Também foi possível observar, através da fala de E5, que o sujeito pode se

relacionar com o corpo como se a imagem dele não fosse importante. Como se o corpo fosse

somente "uma máquina que precisa funcionar" pois, segundo o entrevistado, o corpo é algo

que "nem de longe, é aquilo que dou importância no mundo”. No entanto, E5 também atribui

ao corpo o adjetivo de "imperfeito", quando diz que: "Se me olho no espelho eu vejo um corpo

que precisa de cirurgião plástico". Se a imagem do corpo não tem importância para o sujeito,

então porque melhorá-lo com cirurgia plástica? Esta contradição pode acontecer na maneira

como o sujeito se relaciona com o corpo, pois segundo Silva (2001, p. 266) "muitas vezes, as

pessoas com excesso de peso ignoram o seu corpo, por tornar-se extremamente aversivo,

frente a campanha do corpo perfeito. Assim, ela nega a imagem do corpo como via de acesso

ao mundo".

100

Em síntese, observou-se que os sujeitos da pesquisa referiram ter sentimentos

positivos, tais como: felicidade, alegria, bem estar e auto estima elevada, quando terceiros

comentaram sobre a perda de peso que tiveram após fazerem a cirurgia bariátrica. Entretanto,

referiram sentimentos negativos, como tristeza, frustração, etc. pelo fato de voltarem a ganhar

peso após terem realizado a cirurgia, o que pode causar sofrimento emocional por terem

voltado a ganhar peso após a cirurgia bariátrica. A alimentação e a ansiedade foram as causas

mencionadas pela maioria dos entrevistados para o ganho de peso. E as ações dos sujeitos

quando voltaram a ganhar peso, segundo eles, foi cuidar da alimentação.Entretanto, ao

comentarem seus hábitos alimentares, referem maus hábitos alimentares como o "beliscar",

que dificulta a perda de peso e que pode estar diretamente relacionado à possível compulsão

alimentar antes de realizarem a cirurgia. Sobre a imagem corporal, os entrevistados referiram

para o corpo adjetivos positivos, como, "bonito" e "sarado", que colaboram para o aumento da

auto-estima. Entretanto também atribuíram ao corpo adjetivos negativos que prejudicam a

auto-imagem, como "horrível" e "flácido".

101

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a percepção de sujeitos que se

submeteram à cirurgia bariátrica a respeito do processo de voltar a ganhar peso após a

cirurgia. Para tanto, foram entrevistados cinco sujeitos submetidos à cirurgia bariátrica há

mais de um ano e que referiram ter voltado a ganhar peso após a cirurgia.

Em relação ao primeiro objetivo, "Caracterizar a percepção dos sujeitos que

voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica, sobre a cirurgia", foi

possível perceber que a motivação dos sujeitos para realizarem a cirurgia bariátrica estava

pautado em: melhorar a saúde, livrar-se da discriminação sofrida por ser obeso, aceitar a si

mesmo e também conseguir a aceitação de terceiros. Estas motivações revelaram que as

expectativas dos sujeitos estavam fundamentadas na cirurgia como "salvação" para os seus

problemas, como se a cirurgia por si só conseguisse propiciar estas mudanças, sem que estes

sujeitos fossem ativos nesse processo.

Por isso que, ao passar o período de "lua de mel" com a perda de peso após a

cirurgia (BENEDETTI, 2003), os sujeitos pesquisados percebem a cirurgia como algo que

lhes trouxe frustração por não conseguirem todos os resultados esperados. Isso porque,

segundo eles: ainda possuem problemas de saúde em decorrência da própria cirurgia, como a

anemia, por exemplo; necessitam de medicação para prevenir distúrbios metabólicos, de

minerais e vitaminas e de acompanhamento multiprofissional para o resto da vida; não

conseguiram mudar o comportamento alimentar; não conseguiram manter o peso que foi

eliminado logo após a cirurgia, voltando a engordar; o IMC ainda está no grau de obesidade

para a maioria deles.

Entretanto, também foi possível observar que os sujeitos percebem a cirurgia

como um motivador para buscar mudanças no seu comportamento, podendo lhes trazer maior

satisfação e bem-estar a longo prazo. Por isso, essas expectativas sobre a cirurgia bariátrica e

não sobre a mudança de comportamento dos sujeitos necessitam ser trabalhadas por equipe

multiprofissional, entre eles, o psicólogo, antes da realização da cirurgia, o que não aconteceu

com a maioria dos entrevistados.

Pode-se constatar que os entrevistados realizaram a cirurgia sem preparo prévio

quanto a aspectos psicológicos e nutricionais que fazem parte da etiologia da obesidade. Hoje,

eles ainda apresentam dificuldades de relacionar os aspectos emocionais com o ganho de

102

peso, o que pode ser um dos fatores pelos quais não buscaram tratamento psicológico como

estratégia de enfrentamento ao ganho de peso.

Observou-se que a procura por outros profissionais que não o médico no pré

cirúrgico ocorreu pelo fato de terem que preencher documentos necessários para a realização

da cirurgia. Os sujeitos queriam realizar a cirurgia mas não perceberam a necessidade de

maior preparo para o procedimento. O que pode ter acontecido por desconhecimento da

importância do acompanhamento multiprofissional no pré e pós cirúrgico. Por isso, o

candidato à cirurgia necessita receber esclarecimentos sobre a importância desses

acompanhamentos, bem como ser motivado a buscá-lo, para obter um melhor resultado

possível da cirurgia. Neste sentido, o cirurgião bariátrico, por ser o profissional que tem

contato com todos os candidatos à cirurgia, tem o papel de esclarecer e motivar o sujeito que

irá se submeter à cirurgia bariátrica a procurar acompanhamento psicológico, assim como de

procurar acompanhamento de outros profissionais, tanto no pré quanto no pós-cirúrgico, por

ser este um acompanhamento importante para um bom prognóstico.

Entretanto, com a popularização da cirurgia bariátrica, a qual vem sendo realizada

em grande parte por clínicas particulares, isso parece ter se transformado num grande

comércio, como por exemplo, o que se observa nas propagandas veiculadas na mídia, onde a

técnica da cirúrgica bariátrica é apresentada como algo "mágico". A propaganda passa a idéia

de que, o que importa, é a imagem corporal magra e não a mudança de hábitos, como por

exemplo, ter uma alimentação balanceada, realizar exercícios físicos, etc., hábitos que possa

colaborar para que o sujeito tenha uma vida mais saudável.

Por isso, muitas vezes, critérios importantes como o acompanhamento

multiprofissional não tem sido considerados por alguns cirurgiões, que desconsideram que a

cirurgia é apenas uma das muitas ferramentas para o tratamento de um problema complexo

como a obesidade. (REPETTO, RIZZOLLI, 2006).

O acompanhamento multiprofissional no pré e no pós cirúrgico de longo prazo,

conforme preconizado pelo Ministério da Saúde através da portaria 390 de julho/2005,

deveria ser cumprido independente de a cirurgia ocorrer pelo SUS com seus hospitais de

referência para realizar a cirurgia bariátrica ou em clínicas particulares. A efetivação dessa

medida legal em clínicas particulares poderia ajudar no combate da comercialização da

cirurgia bariátrica, bem como, iria contribuir para mudança do que acontece hoje, em que na

maioria dos casos, a ação de outros profissionais como a de psicólogos, nutricionistas etc. é

feito apenas mediante o preenchimento de formulários para a realização da cirurgia, sendo

que esses profissionais não fazem parte do tratamento integral da obesidade.

103

Porém, não basta somente a lei para que ocorra mudanças no tratamento da

obesidade com base na técnica cirúrgica. É necessário também que os profissionais das

diversas áreas, como psicólogos, nutricionistas etc., tenham papel ativo no acompanhamento

pré e pós cirúrgico, não submetendo-se a meramente preencher formulários, os quais ocorrem

muitas vezes em uma única consulta. Isso porque os profissionais da área saúde tem a função

de promover maior saúde e qualidade de vida às pessoas.

Em relação ao segundo objetivo, "Caracterizar o comportamento alimentar dos

sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica", observou que o

comportamento alimentar desses sujeitos caracteriza pelo consumo de alimentos e bebidas

considerados por eles de fácil ingestão, como carboidratos, chocolate e cerveja e pelo hábito

alimentar de beliscar, comendo alimentos em pequenas porções mas com alto teor de calorias,

como bolachas, salgadinhos, etc. O beliscar também dificulta a percepção da quantidade de

alimento que ingerem, o que foi observado na pesquisa. Esse comportamento alimentar é um

facilitador do ganho de peso, acrescentado ao fato de que a maioria dos entrevistados não

realizam exercícios físicos.

A percepção dos sujeitos sobre o comportamento alimentar após a cirurgia é a de

que alguns hábitos como o beliscar já existiam antes mesmo de fazerem a cirurgia, sendo que

após a cirurgia, em alguns casos, esse hábito se intensificou. Então o comportamento

alimentar inadequado persiste ou é agravado após a cirurgia, o que pode também estar

associado à compulsão alimentar que o sujeito poderia ter antes de realizar a cirurgia o que

necessita ser tratado. Além da compulsão alimentar o tratamento pode ter também como foco

a necessidade de mudanças de comportamento em relação ao modo como se alimentam como

forma de estabelecer condições de prevenção de reincidência da obesidade, neste sentido, o

psicólogo tem papel importante no tratamento, com o enfoque na reeducação alimentar, auto-

imagem, e sofrimentos emocionais vinculada a obesidade, tal como a ansiedade.

A ansiedade foi apontada como a emoção que mais interfere na alimentação dos

pesquisados e o comer mais, é a mudança que mais percebem. A comida passa então a ser

uma maneira de aliviar o sofrimento emocional desses sujeitos, mesmo que

momentaneamente (SCAVORA, OLIVEIRA, 2011). Para os pesquisados, o alimento não tem

somente o significado de nutrir-se, mas também significa gratificação, sedução, agregação

social, o que pode facilitar a busca do alimento para saciar a fome "emocional"

(ALVARENGA, 2004).

Quanto ao terceiro e o quarto objetivo, "Identificar as percepções de sujeitos

acerca das possíveis modificações nas relações sociais, quando voltaram a ganhar peso após

104

submeterem-se à cirurgia bariátrica" e "Caracterizar sentimentos e emoções descritas pelos

sujeitos quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica". Foi

possível observar que houve mudanças nas relações sociais dos sujeitos pesquisados apesar da

maioria dos entrevistados referirem que não houve mudanças nas relações sociais no período

em que estavam perdendo ou ganhando peso. Pois, os sujeitos da pesquisa afirmaram que no

período em que estavam perdendo peso eles sentiam-se mais aceitos, recebiam elogios pelo

fato de terem perdido peso, passaram a comprar roupas em lojas "normais" e não

especializadas para pessoas com obesidade, participavam com mais frequência de reuniões

sociais, etc. E sentiam-se felizes, com bem-estar, com auto estima elevada. Em contrapartida,

quando estavam ganhando peso, após a cirurgia, foram cobrados e criticados nas suas relações

sociais, com comentários de caráter discriminatório, como, "tua cirurgia não adiantou" (sic),

"tais engordando"(sic).

Estes comentários afetam a auto-estima do sujeito, trazendo-lhes sentimentos

como tristeza, culpa, sentimentos que estes sujeitos já sentiam antes da cirurgia, quando eram

obesos mórbidos. Então, o fato de voltarem a ganhar peso torna-se um evento estressor. Foi

observado que a estratégia utilizada para enfrentar este evento estressor, por alguns

pesquisados, não acontece de formar assertiva. Isso porque tendem a comparar o peso que tem

hoje com o que tinham antes da cirurgia, na condição de obesos mórbidos, mantendo a

sensação de emagrecimento. Tal estratégia pode prejudicar a avaliação do sujeito sobre a sua

condição atual de peso e dificultar a busca por auxílio profissional e a busca por mudanças

nos padrões de comportamento, como: mudança nos hábitos alimentares, realizar exercício

físicos, aprender a lidar com os sentimentos, etc.

Com relação à auto-imagem dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após a

cirurgia, foi observado que eles atribuem sentimentos antagônicos a sua imagem, pois referem

ao corpo adjetivos positivos e negativos, principalmente no que se refere ao corpo nu, o que

foi observado principalmente no relato das mulheres. Essas são, em especial, bombardeadas

pela mídia para a busca do corpo "perfeito", o que pode gerar insatisfação.

Com base nos dados apresentados, é possível inferir que há sofrimento emocional

no sujeito que realiza a cirurgia bariátrica e volta a ganhar peso. Isso é demonstrado a partir

das descobertas de que os sujeitos pesquisados possuem dificuldades em modificar hábitos

alimentares inadequados, por relacionar a causa do ganho de peso a ansiedade, de apresentar

sentimentos negativos como, tristeza, frustração pelo fato de voltarem a ganhar peso. E por

terem sentimentos antagônicos sobre sua imagem corporal, o que indica que eles necessitam

de auxílio para o tratamento desses sofrimentos.

105

Todos esses resultados foram analisados a partir das variáveis relativas à

caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa, informações sobre a cirurgia bariátrica a

que eles se submeteram, as características do comportamento alimentar dos sujeitos após a

cirurgia bariátrica, os tipos de sentimentos e emoções que estes sujeitos tem ou tiveram

quando perceberam que estavam ganhando peso após a cirurgia bariátrica, as possíveis

modificações nas relações sociais desses sujeitos quando voltarem a ganhar peso após

submeterem-se à cirurgia bariátrica. Ao investigar essas variáveis foi possível identificar

algumas facilidades no processo de pesquisa, tais como: o discurso fluente dos pesquisados

sobre o fato de voltarem a ganhar peso após a cirurgia, o número de sujeitos que voltaram a

ganhar peso após a cirurgia bariátrica e o acesso da pesquisadora a estes sujeitos, etc. Foram

encontradas algumas dificuldades no processo de pesquisa, tais como: o grande número de

perguntas no instrumento de coleta de dados, o que o tornou extenso e o pouco acesso a

homens que realizaram a cirurgia bariátrica e que voltaram a ganhar peso, que pudessem

participar da pesquisa.

Pode salientar, a partir do exposto nessa pesquisa, que não somente o sujeito que

realiza a cirurgia bariátrica deva ser alvo da intervenção multiprofissional, mas também sua

família, tendo em vista que esta tem grande influência sobre os sujeitos, principalmente no

que tange ao comportamento alimentar e ao reforçamento da auto-estima do sujeito. Além

disso, pode apontar a necessidade de novos estudos que enfoquem as diferenças de gênero no

enfrentamento do ganho de peso no pós-cirúrgico da cirurgia bariátrica; em aspectos relativos

à compulsão alimentar no antes e no depois da cirurgia; no tratamento psicológico a pessoas

que realizaram a cirurgia e voltaram a ganhar peso, ou que sofrem com depressão, alcoolismo,

etc., após a cirurgia bariátrica.

É mister considerar que a cirurgia bariátrica é uma ferramenta importante no

tratamento da obesidade mórbida, entretanto, não é uma panacéia. Por isso é necessário que

profissionais de diferentes campos de atuação da área da saúde, entre eles, o psicólogo,

estejam engajados nesse processo de tratamento, uma vez que a obesidade é um problema

multideterminado e um grave problema de saúde pública no mundo. E apesar das dificuldades

encontradas para o tratamento multiprofissional da pessoa com obesidade mórbida, isso pode

ser mudado, tendo em vista que a realidade é histórica e, como tal, pode ser modificada e

transformada em uma direção mais significativa.

106

REFERÊNCIAS

ABNE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO ESPORTIVA. Propaganda de

Alimentos: Novo Regulamento Garante Liberdade de Escolha e Incentiva Alimentação

Saudável. Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/panr.php>. Acesso

em: 17 mai. 2011.

ALMEIDA, Ilana Arêa Leão de. A experiência positiva de mulheres obesas morbidas

acompanhadas em psicoterapia humanista:fenomenológica, que passaram por cirurgia

bariátrica. 2008. 103f. Dissertação (Mestrado em Psicologia)-Universidade de Fortaleza-

UNIFOR, Fortaleza, 2008.

ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Psicologia: introdução aos princípios básicos do

comportamento. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1986.

ALVARENGA, Marle. A mudança na alimentação e no corpo ao longo do tempo. In:

PHILIPPI, Sônia, Tucunduva, ALVARENGA, Marle. Transtornos Alimentares, uma visão

nutricional. Barueri, SP: Manole, 2004. p.119-129.

ARAUJO, Beatriz Coimbra de. Aspectos psicológicos da alimentação. In: In: PHILIPPI,

Sônia, Tucunduva, ALVARENGA, Marle. Transtornos Alimentares, uma visão

nutricional. Barueri, SP: Manole, 2004. p.103-117.

ARASAKI, Calos Haruo. Cirurgia bariátrica para tratamento da obesidade. In: CLAUDINO,

Angélica de Medeiros, ZANELLA, Maria Tereza (coord). Guia de transtorno alimentares e

obesidade. São Paulo: Manole, 2005.

ARENALES-LOLI, Maria Salete(org). Contribuições da psicologia na cirurgia da

obesidade. 1ªed. São Paulo: Vetor, 2006.

ASSIS, Maria Alie Altenburg, NAHAS, Markus Vinícius. Aspectos motivacionais em

programas de mudança de comportamento alimentar. Revista de Nutrição. Campinas, v.12,

n.1, jan/abr.,1999. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rn/v12n1/v12n1a03.pdf>

Acesso em: 01 out. 2011.

ATKINSON, Rita L. et, AL. Introdução a psicologia. Trad. Dayse Batista. 11ª ed. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1995, p. 105-136.

BACALTCHUK, Josué, APPOLINÁRIO. Neurobiologia. In. CLAUDINO, Angélica de

Medeiros, ZANELLA, Maria Tereza (cord). Guia de transtorno alimentares e obesidade.

São Paulo: Manole, 2005. p. 3-14.

BENEDETTI, Carmen. De obeso a magro, a trajetória psicológica. 1ªed. São Paulo: vetor,

2003.

BERGEROT, Paulo Gustavo et al. O belo, a saúde e a obesidade: Um estudo sobre a busca do

modelo estético no tratamento da obesidade. Revista Brasília Médica, Brasília, v.45, n.2,

p152-155, 2008. Disponível em: http//basesbireme.br/cgi-in/wxislend.exe/ichqonline. Acesso

em: 26 mar. 2011.

107

BEVILACQUA, Viviane. Saiba os prós e os contras da cirurgia bariátrica, conhecida como

redução de estômago. Sistema Integrado de informação em saúde (SISSAÚDE): RS, 2011.

Disponível em: http: <www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=10335>. Acesso

em: 28 mar. 2011.

BRAGHIROLLI, Elaine Maria et, al. Psicologia Geral. 9. Ed. Revisada e atualizada. Porto

Alegre: editora vozes, 1990.

BRASIL. Ministério da Saúde. 13% dos brasileiros são obesos. Portal da saúde. 2009.

Disponível em: <http//portal,saúde.gov.br/portalqaplicações/reportagensespeciais>. Acesso

em: 13 mar. 2011.

________________________. Portaria nº. 628/GM de 26 de abril de 2001. Disponível em: <

portaria nº. 628/GM de 26 de abril de 2001.

http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2001/GM/GM-628.htm>. Acesso em: 17

ma. 2011.

________________________. Portaria nº 390 06 de julho de 2005. Disponível em: <

http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2001/GM/GM-628.htm>. Acesso em: 17

ma. 2011.

________________________. Guia Pratico para o cuidador. Disponível em: < bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_cuidador.pdf >. Acesso em: 12 out. 2011.

BRESSAN, Joselina, COSTA, André G.V. Tratamento nutricional da obesidade. In: NUNES,

Maria Angélica, et al. Transtornos Alimentares e Obesidade. 2 ed. cap. 27. Porto Alegre:

2006.

BRITO, Tatiane Trevilato de. Falta de tempo: Sinônimo de má alimentação? disponível

em: <http://www.anutricionista.com/falta-de-tempo-sinonimo-de-ma-alimentacao.html>.

Acesso em: 10 out. 2011.

BROWNELL, Kelly D., O‟NEIL, Patrick Marlen. Obesidade. In: BARLOW, David. H.

Manual Clínico dos transtornos psicológicos: Tratamento passo a passo. 4ª ed. Porto

Alegre: Artmed, 2009. p. 354-403.

CARLINI, Maria Paula. Avaliação nutricional e de qualidade de vida de pacientes

submetidos à cirurgia bariátrica. 2001. 90 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de

Produção)-Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.

CAREGNATO, Rita Catarina Aquino, MUTTI, Regina. Pesquisa qualitativa: Análise de

discurso versus análise de conteúdo. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v.15, n.4,

p.679-684. out/dez 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n4/v15n4a17.pdf>. Acesso em: 24 mai. 2011.

CASTELL, Gemma Salvador. Larousse da dieta e da nutrição. Tradução. Rosemarie

Ziegelmaier e Sergio Afonso de Oliveira. São Paulo: Larousse do Brasil, 2004.

CASTILHO, Simone Mancini. A imagem Corporal. 1ªed., São Paulo: ESETec Editores

Associados, 2001.

108

CASTRO, Marcelo Rodrigues de, et al. Cirurgia Bariátrica: a trajetória de mulheres obesas

em busca do emagrecimento. HU Revista, Juiz de Fora, v.36, n.1, p.29-36. jan/mar 2010.

Disponível em: <http//basesbireme.br/cgi-in/wxislend.exe/ichqonline>. Acesso em: 26 mar.

2011.

CLAUDINO, Angélica de Medeiros, ZANELLA, Maria Tereza (coord). Guia de transtorno

alimentares e obesidade. São Paulo: Manole, 2005.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Manual

de Orientação Ética e Disciplinar. Cood. GRISARD, Nelson. 4 ed. rev.atual. Florianópolis:

CREMESC, 2006.

COUTINHO, Walmir, DUALIB, Patricia. Etiologia da obesidade. In: NUNES, Maria

Angélica, et al. Transtornos alimentares e obesidade. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed,

2006.

DAMÁSIO. Antônio R. Emoções e sentimentos. In: DAMÁSIO. A.R. O erro de Descartes:

emoção, razão e cérebro humanos. São Paulo: Cia das letras, 1996, p.156-172.

DONATO, Antonietta, et al. Obesidade. In: BUSSE, Salvador de Rosis (org). Anorexia,

bulimia e obesidade. Barueri, SP: Manole, 2004.

D'OLIVEIRA, et al. Cirurgia bariátrica no tratamento da obesidade mórbida. Boletim

Brasileiro de avaliação de tecnologia em saúde. Ano III, n.5, Brasilia: 2008. Disponível em:

<bvsms.saude.gov.br/bvs/ct/pdf/brats2009_n6.pd> Acesso em: 10 out.2011

DSM-IV-TR – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad. Cláudia

Dornelles; 4 ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002.

FANDIÑO, Julia Nunes, APPOLINARIO, José Carlos. Avaliação psiquiátrica da cirurgia

bariátrica. In: NUNES, Maria Angélica, et al. Transtornos alimentares e obesidade. 2ª

edição. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FONTES, Marcos. Atividade física no tratamento da obesidade. In: NUNES, Maria Angélica,

et al. Transtornos alimentares e obesidade. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FRANQUES, Aída Regina Marcondes, ARENALES-LOLI, Maria Salete (org).

Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. 1ªed. São Paulo: Vetor, 2006.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ªed. São Paulo: Atlas, 2002.

GLEISER, D., CADEMIL, R.S. O comportamento emocional após a cirurgia bariátrica. In:

FRANQUES, Aída Regina Marcondes, ARENALES-LOLI, Maria Salete (org).

Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. 1ªed. São Paulo: Vetor, 2006.

GUILHARDI, Hélio José. Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. Instituto de

terapia por Contigências de Reforçamento. Disponível em: <

http://www.terapiaporcontingencias.com.br/pdf/helio/Autoestima_conf_respons.pdf> Acesso

em: 10 out.2011.

109

HALFORD, Jason C.G. Psicobiologia do apetite: a regulação episódica do comportamento

alimentar. In: NUNES, Maria Angélica, et al. Transtornos alimentares e obesidade. 2ª

edição. Porto Alegre: Artmed, 2006.

HALPERN, Zuleica S. C., RODRIGUES, Mariana. D. B., COSTA, Roberto. Fernandes.

Determinantes fisiológicos do controle do peso e apetite. Revista de Psiquiatria Clínica, v.

31, n. 4, p. 150-153, 2004.

HALPERN, Alfredo. A epidemia de obesidade. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia &

Metabologia, SP, v. 43, n. 3, 1999. Disponível em:

<http//www.scielo.br/scielo.php?script=sciarttext&pid=S0004-273>. Acesso em: 03 mai.

2011.

HELLER, Denise Cerqueira Leite (org.), et al. Obesidade Infantil. Manual de Prevenção e

Tratamento. Santo André, São Paulo: ESEtec Editores Associados, 2004.

HELLER, Denise Cerqueira Leite. Obesidade infantil: tratamento comportamental. In:

GUILHARDI, Hélio José, et al. Sobre comportamento e cognição: Expondo a

variabilidade. 1ª ed., v. 17. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2006.

LEAL, Cristiano Waihrich, BALDIN, Nelma. O impacto emocional da cirurgia bariátrica em

pacientes com obesidade mórbida. Revista de Psiquiatria, RS, v.29, n.3,2007. Disponível

em: <http// www.scielo.br/pdf/rps/v29n3.pdf>. Acesso em 13 mar. 2011.

LURIA, A.R. Curso de Psicologia Geral. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização

Brasileira AS, 1999.

MACHADO, Cristiane Evangelista, et al. Compulsão alimentar antes e apos a cirurgia

bariátrica. ABCD. Arquivos Brasileiro de Cirurgia Digestiva. São Paulo, v. 21, n.4, 2008.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-672>. Acesso

em: 12 out. 2011.

MARCHESINI, João Batista. A história da cirurgia bariátrica e das equipes

multidisciplinares: Os psicólogos. In: FRANQUES, Aída Regina Marcondes, ARENALES-

LOLI, Maria Salete (org). Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. 1ªed. São

Paulo: Vetor, 2006.

MARCHESINI, Simone Dallegrave. Acompanhamento psicológico tardio em pacientes

submetidos à cirurgia bariátrica. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, SP, v.23, n1.,

junho, 2010. Disponível em: http// <www.scielo.br/scielo.pdf? Script=sci_artexx 8pi=s0102-

67202010002000108log=PT>. Acesso em 19 mai. 2011.

________. Aspectos psicológicos da Obesidade. Disponível em:

<HTTP://www.gastronet.com.br/newpage11.htm>. Acesso em: 14 maio. 2011.

MAGDALENO JR, Ronis, et. al. Características psicológicas de pacientes submetidos à

cirurgia bariátrica. Revista de Psiquiatria, RS, v.31,n.1,2009. Disponível em:

<http//www.scielo.br/pdf/rps/v31n1a13.pdf>. Acesso em: 13 maio. 2011.

MATTOS, Daniela Gouvêa de, et al. Estudo de Transtornos alimentares em pacientes com

obesidade mórbida no período pré-operatório. In: RODRIGUES, Maria, Piazentin Rolim

110

(org), NEME, Carmen Maria Bueno(org). Psicologia da saúde, perspectivas

interdisciplinares. São Carlos: Rima, 2003, p. 289-316.

MAZON, Vania, CARLOTTO,Mary Sandra, CÂMARA, Sheila. Sindrome de

burnout e estratégias de enfrentamento em professores. Arquivos Brasileiros de

Psicologia, Rio de Janeiro, v.60, n.1, abr. 2008. Disponível em:

<seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/download/98/163>. Acesso em: 10

out. 2011.

MEYER, Elizabeth. Reeducação alimentar. In: KNAPP, Paulo (org). Psicoterapia Cognitivo-

Comportamental na Prática Psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2006.

MELO, Maria Edna de. Custo da Obesidade no Brasil e no Mundo. Disponível em: <

http://www.abeso.org.br/pdf/artigo%20-

%200obesidade%20infantil%20diagnóstico%20fev%202011.pdf>. Acesso em: 13 mar.2011

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em

saúde. 2º ed., São Paulo: HUCITEC, 1992.

NETO, Miguel Cendoroglo. Um corte na obesidade. Revista Veja, São Paulo: edição 2212,

n.15, a. 44, 13 abr. 2011.

OLIVEIRA, Isabella Vasconcellos de. Cirurgia bariátrica no âmbito do Sistema Único de

Saúde: tendências, custos e complicações. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde)-

Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

ORGANIZAÇÃO MUDIAL DA SAÚDE (OMS). Obesidade: prevenindo e controlando a

epidemia global. Relatório da consultoria da OMS. Tradução. Andréa Favano, Revisão

científica: Sergio Setsuo Maeda J., São Paulo: Roca, 2004.

OTTO, Ana Flávia Nascimento. Obesidade e transtorno da compulsão alimentar

periódica. Um estudo sobre a dinâmica familiar. Dissertação (Mestrado em Psicologia)-

Universidade Católica de Brasília, Brasilia-DF, 2007. Disponível:

<http//hdt.hdndle.net/10482/2930>. Acesso em: 14 abr. 2011.

PASSOS, Tereza Cristina Martins, STEFANO, Sergio Carlos, BORGES, Maria Beatriz

Ferrari. Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica. In: CLAUDINO, Angélica de

Medeiros, ZANELLA, Maria Tereza. Guia de Transtornos Alimentares e Obesidade.

Barueri,SP: Manole, 2005.

PERES, Ricardo Boticcini. Prejuízos à saúde imposto pela obesidade. In: CLAUDINO,

Angélica de Medeiros, ZANELLA, Maria Tereza. Guia de Transtornos Alimentares e

Obesidade. Barueri,SP: Manole, 2005.

PERIN, Mariza Prata dos Santos. Considerações psicológicas sobre a obesidade mórbida.

<HTTP://www.obesidadedegv.com.br/psicologia.php>. Acesso em: 14 mai. 2011.

PEREIRA, Ricardo C., BENCHIMOL, Alexander R. Cirurgia bariátrica: aspectos cirúrgicos.

In: NUNES, Maria Angélica, et. al. Transtornos alimentares e obesidade. 2ª edição. Porto

Alegre: Artmed, 2006.

111

PETRIBU, Kátia, et al. Transtorno da compulsão alimentar periódica em uma população de

obesos mórbidos candidatos a cirurgia bariátrica no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em

Recife - PE. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, SP, v.50, n. 5, 2006.

Disponível em: <http//www.scielo.br/scielo.php?script=sciarttext&pid=S0004-273>. Acesso

em: 03 mai.2011.

PSICODINÂMICA. In: DICIONÁRIO eletrônico de psicologia. Eletrônico. Disponível

em: <http://www.alppsicologa.hpg.ig.com.br/dicionarioP.htm>. Acesso em: 14 mai. 2011.

QUAIOTI, Tereza Cristina, ALMEIDA, Sebastião de Souza. Determinantes psicológicos do

comportamento alimentar. Uma enfâse em fatores ambientais que contribuem para a

obesidade. Psicologia USP, SP, v.17, n. 4, 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

65642006000400011&lang=pt>. Acesso em: 13 abr. 2011.

RECINE, Elisabetta, RADAELLI, Patricía. Obesidade e Desnutrição. Disponível em:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/obesidade_desnutricao.pdfr>. Acesso

em: 10 out. 2011.

REPETTO, Giuseppe, RIZZOIIi, Jaqueline. Cirurgia bariátrica: acompanhamento clínico. In:

NUNES, Maria Angélica, et. al. Transtornos alimentares e obesidade. 2ª edição. Porto

Alegre: Artmed, 2006.

RIBEIRO, Patricia Guillon. Imagem Corporal e Transtornos Alimentares. In: GUILHARDI,

Hélio José, et al. Sobre comportamento e cognição: Expondo a variabilidade. 1ª ed. v. 18.

cap. 28. São Paulo:ESEtec editores associados, 2006.

ROCHA Jr, Paulo N. Homeostase. Disponível em:

<http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/generalidades/homeostase/homeostase4.html>.

Acesso em: 14 mai. 2011.

SCAVORA, Mary, OLIVEIRA, Kelly Kathryn. Obesidade Psicológica - você tem fome de

quê? Disponível em: <HTTP://www.psicologiaesaude.com.br/artigo0604209.htm>. Acesso

em: 14 mai. 2011.

SANTOS, Francisco Carlos Gomes dos. E Agora? : Histórias de obesos mórbidos que se

submeteram à cirurgia bariátrica. 1ª ed. São Paulo: Vetor, 2005.

SEGAL, Adriano, FANDIÑO, Julia. Indicações e contra indicações para realização das

operações bariátricas. Revista de Psiquiatria, RS, v.24, n.3, 2002. Disponível em:

<http//www.scielo.br/pdf/rps/v24n3.pdf>. Acesso em 13 mar. 2011.

SILVA, Marco Aurélio da. Quem ama não adoece. São Paulo: Editora Best Seller, 1994.

SILVA, P. L. A. Percepções de estresse ocupacional, copping e resiliência no

fisioterapeuta. 2006. 99 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Católica de Goiás,

Goiânia, 2006.

SILVA, Vera L. M. da. Obesidade: o que nós, psicólogos, podemos fazer? In: WIELENSKA,

Regina Christina, et al. Sobre comportamento e cognição. Psicologia Comportamental e

112

cognitivo: Questionando e ampliando a teoria e as intervenções em outros contextos. 1ª

ed. v. 6. São Paulo: ESEtec editores associados, 2001.

SOARES, Ludmila Dalben, PETROSKI, Edio Luiz. Prevalência, fatores etiológicos e

tratamento da obesidade infantil. Revista Brasileira de Cineantropometria e desempenho

Humano. Florianópolis,v.5,n.1, 2003. Disponível em:

<www.rbcdh.ufsc.br/DownloadArtigo.do?artigo=10>. Acesso em: 10 out.2011

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA. Número de obesos cresceu

no País nos últimos anos. Disponível em: <http://tvcbi.blogspot.com/2010/11/cirurgia-

bariatrica-controla-o-diabetes.html> Acesso em: 14 mai. 2011.

SONATI, Jaqueline Girnos, VILARTA, Roberto, AFONSO, Chistianne de Vasconcelos.

Nutrição e o ciclo de vida: fase escolar, adolescência, idade adulta, envelhecimento. In:

Alimentação saudável, atividade física, qualidade de vida. Campinas/SP: 2007. p. 47-59.

Disponível em:

<http//www.fef.unicamp.br/departamentos/deafa/qvaf/.../livro_afqv_cap10.pdf>. Acesso em

13 mar. 2011.

SOUZA, Jakeline Maurício Bezerra de, et al. Obesidade e tratamento:desafio comportamental

e social. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. v.1,n.1,Rio de janeiro, jun.2005.

Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1808-

56872005000100007&script=sci_arttext>. Acesso em: 28 mai. 2011.

STENZEL, Lúcia Marques. A influência da imagem corporal no desenvolvimento e na

manutenção dos transtornos alimentares. In: NUNES, Maria Angélica et. al. Transtornos

alimentares e obesidade. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2006.

VISCOTT, David Steven. A linguagem dos sentimentos. Tradução de Luiz Roberto S.S.

Malta. São Paulo: Summus, 1982.

113

APÊNDICE

114

APÊNDICE A – roteiro de entrevista

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1 - Caracterização:

Idade:_____________Escolaridade_______________________

Profissão:______________________Quanto tempo atua na profissão:_______

Estado Civil:_____________________Possui Filhos?______

Estatura:____________

2 - Sobre a cirurgia:

Quanto tempo faz que você foi submetido à cirurgia bariátrica?

Peso que você tinha antes da cirurgia? Peso que você perdeu no pós operatório (um ano ou

mais)?

Quanto de peso você ganhou após ter emagrecido depois da cirurgia?

Qual o seu peso atual?

Como foi o seu pós operatório (dor, restrição de atividades, alimentação)?

Você realizou mais de uma cirurgia bariátrica? Se sim, por que?

Tipos de acompanhamentos feitos para realizar a cirurgia ( psicológico, médico; nutricional

ou outros)?

Depois da cirurgia você fez ou ainda faz acompanhamento ( psicológico, médico; nutricional

ou outros)? Por quanto tempo?

Qual foi a sua motivação para realizar a cirurgia?

3 - O comportamento alimentar dos sujeitos:

Como alimenta-se hoje:

Quais os tipos de alimento que você ingere?

Qual a quantidade de alimento que você ingere?

Onde você costuma se alimentar? Com quem se alimenta?

Qual o tempo de duração de suas refeições?

Quantas refeições você faz por dia? Em que horários?

Houve alguma mudança na forma como você se alimenta hoje, se comparado ao período

antes da cirurgia e logo após a cirurgia?

115

Tem algum problema físico quando se alimenta (enjôo,vômitos, diarréia, etc)?

Ingere bebidas alcoólicas? Se sim? O que? e quanto?

Ingeria antes da cirurgia?

Em que ocasiões ingeri bebidas alcoólicas?

O significado do alimento para este sujeito:

Como se alimenta no trabalho?

Como se alimenta quando vai a festas, reuniões, etc.?

Percebe alguma mudança na alimentação quando tem alguma emoção, quando e como?

Fez ou faz acompanhamento nutricional?

Toma medicamentos como vitaminas, ferro, etc.?

Quando voltou a ganhar peso o que fez?

3 - Relações sociais do sujeito quando voltaram a ganhar peso após submeter-se a

cirurgia bariátrica:

No período logo depois da cirurgia, com o emagrecimento, você percebeu alterações na forma

como as pessoas se relacionavam com você?

E hoje de que forma as pessoas se relacionam com você (casamento, trabalho, amizade,

família)

Caso você tenha percebido mudanças nas relações,você atribui ao que?

Que tipo de atividades sociais você costuma fazer? Com que frequência?

Você percebe alguma diferença em ir as atividades sociais hoje em comparação ao período

em que estava perdendo peso?

4 - Sentimentos e emoções descritas pelos sujeitos quando voltaram a ganhar peso após

submeter-se a CB;

Quando você perdeu peso, o que as pessoas diziam?

Como você se sentia quando as pessoas falavam de sua perda de peso?

Quanto tempo depois da cirurgia voltou a ganhar peso?

Quando voltou a ganhar peso as pessoas falaram alguma coisa para você? Como você se

sentia ou senti?

Como se sente em relação ao fato de ter voltado a ganhar peso?

116

Você atribui o ganho de peso ao que?

Com relação à imagem corporal:

Quais os cuidados que você tem com o seu corpo (salão de beleza, exercícios, cirurgia

plástica, etc.)

Você percebe alguma diferença na maneira como se cuida hoje comparado ao período em que

estava perdendo peso após a cirurgia?

Atribua alguns adjetivo ao seu corpo.

117

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

TÍTULO DO PROJETO: A percepção dos sujeitos acerca de voltarem a

ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica.

Eu,________________________________________________________

portador do RG,___________________ declaro que obtive todas as informações

sobre a pesquisa intitulada A percepção dos sujeitos acerca de voltarem a

ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica. Esta pesquisa tem como

objetivo caracterizar a minha percepção a respeito de voltar a ganhar peso após ter

me submetido à cirurgia a bariátrica. Esta pesquisa busca uma melhor compreensão

do fenômeno da obesidade, da cirurgia bariátrica, das conseqüências pós cirúrgicas

para as pessoas que submetem-se a ela, visando a contribuir com subsídios que

ajudem no tratamento psicológico de pessoas que realizaram a cirurgia bariátrica e

que voltaram a ganhar peso.

Será realizada uma entrevista comigo, em que serão me feito perguntas

sobre: a cirurgia bariátrica submetida por mim, as características do meu

comportamento alimentar após a cirurgia bariátrica, os tipos de sentimentos e

emoções que tive ou que tenho quando percebi que estava ganhando peso após a

cirurgia bariátrica, as possíveis modificações nas minhas relações sociais quando

voltei a ganhar peso após à cirurgia bariátrica. Essa entrevista terá duração de

aproximadamente 45 minutos e será realizada em um local que permita que eu me

sinta confortável para responder as perguntas, assim como que permita sigilo e

privacidade.

Durante a entrevista posso sentir algum tipo de desconforto como

ansiedade, por que as perguntas se referem a um momento de minha vida que pode

me trazer sentimentos e emoções que me mobilize, uma vez que falarei sobre minha

118

vida após ter ganho peso depois de ter me submetido a uma cirurgia bariátrica. Fui

informado que caso me sinta desconfortável conto com o acolhimento do

pesquisador sob a supervisão da supervisora orientadora Nádia Kienen. E, se

necessário, poderei ser encaminhado ao atendimento psicológico gratuito oferecido

pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) caso perceba que a

participação na pesquisa me fez sentir desconfortos ou sofrimentos.

Compreendi também que posso me retirar do estudo a qualquer

momento, assim como não sou obrigado a responder todas as perguntas a mim

formuladas durante a entrevista. Não haverá quaisquer constrangimentos ou

prejuízos caso queira me retirar do estudo. Entendi que meus dados pessoais serão

mantidos em sigilo, não sendo, em hipótese alguma, publicados e que apenas os

resultados obtidos com a pesquisa serão apresentados de forma que eu não possa

ser identificado.

Fui informado que se tiver interesse posso solicitar as pesquisadoras os

resultados da pesquisa, e que as pesquisadoras estarão disponíveis, antes durante

e depois da pesquisa para esclarecer dúvidas em relação à pesquisa.

Informo ainda que autorizo a gravação da entrevista em áudio, uma vez

que isso facilitará que as pesquisadoras tenham acesso mais fiel aos dados que Irão

coletar a partir desta entrevista.

_______________________________________________

Local e Data

__________________________________________________

Assinatura

______________________________________

Assinatura e Contato pesquisador responsável: Nádia Kienen

Fone: 3279-1084 -e-mail: [email protected]

______________________________________

Assinatura e Contato pesquisadora: Marli Borges Prado

Fone: 32420642 - 99802176 - e-mail: [email protected]

119