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MARLI BORGES PRADO
"EU ACHEI QUE IA RESOLVER PARA RESTO DA VIDA, PELO CONTRÁRIO É
UM CONTROLE PARA O RESTO DA VIDA": PERCEPÇÃO DE SUJEITOS QUE
SE SUBMETERAM À CIRURGIA BARIÁTRICA A RESPEITO DO PROCESSO DE
VOLTAR A GANHAR PESO APÓS A CIRURGIA
Palhoça
2011
1
MARLI BORGES PRADO
"EU ACHEI QUE IA RESOLVER PARA RESTO DA VIDA, PELO CONTRÁRIO É
UM CONTROLE PARA O RESTO DA VIDA": PERCEPÇÃO DE SUJEITOS QUE
SE SUBMETERAM À CIRURGIA BARIÁTRICA A RESPEITO DO PROCESSO DE
VOLTAR A GANHAR PESO APÓS A CIRURGIA
Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em
Psicologia, da Universidade do Sul Santa Catarina,
como requisito parcial para obtenção do título de
psicólogo.
Orientadora: Professora Nádia Kienen, Dr.ª
Palhoça
2011
2
AGRADECIMENTOS
Sou grata à Deus, que plantou o sonho em mim e deu-me forças para buscar e conquistar.
"Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus". (Rm 8:28)
Agradeço ao meu esposo Alípio, que de forma especial e carinhosa me deu força e coragem,
me apoiando nos momentos de dificuldades.
Aos meus filhos Lucas e Victor, presentes de Deus em minha vida. Por tanta vezes que não
pude lhes dar atenção.
A minha mãe, que mesmo não sendo letrada sempre me incentivou a estudar.
A professora e orientadora Nádia Kienen, que com seu empenho, dedicação e conhecimento,
mostrou-me o real significado de ser mestre. Obrigada pelas correções, orientações, e por
muitas vezes reforçar positivamente a minha auto-estima.
A professora Alessandra Scherer, que me contagiou com seu entusiasmo e conhecimento ao
me apresentar a abordagem cognitivo comportamental, e por ter me orientado nos
atendimentos que realizei no Serviço de Psicologia. Obrigada, pelas orientações,
encorajamento e parceira em cada atendimento do SP.
Agradeço, aos sujeitos desta pesquisa, por permitirem que eu entrasse em suas vidas e
conhecesse um pouco de sua história.
As minhas colegas de estágio e supervisão, pelos momentos de descontração que passamos
juntas pois, sem isso, o caminho ficaria mais difícil. Obrigada pela paciência em ouvir minhas
histórias.
As minhas amigas e amigos por compreenderem que muitas vezes não foi possível estarmos
juntos, por tantas vezes que tive que dizer "hoje não dá, estou estudando". Obrigada!
4
RESUMO
O Brasil é o segundo no ranking em realização de cirurgias bariátricas ficando atrás dos EUA,
com 200 mil procedimentos em 2010. Frente a este aumento de cirurgias bariátricas entre
brasileiros, estudos sobre as conseqüências desta cirurgia na vida dos sujeitos tornam-se
relevantes. Dessa forma, esta pesquisa objetiva caracterizar à percepção dos sujeitos acerca
do processo de voltar a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica. Os participantes
desta pesquisa foram um homem e quatro mulheres, com idades acima de 18 anos. Como
critérios foram selecionados pelo fato de se submeteram à cirurgia bariátrica, e que já estão no
período pós-operatório há mais de um ano e que referiram ter ganhado peso após a cirurgia.
Estes participantes foram selecionados a partir da indicação de um profissional da área da
saúde. A entrevista com questões abertas foi utilizada como instrumento de coleta de dados.
Os dados foram organizados a partir das entrevistas gravadas e transcritas. A análise dos
dados deu-se a partir da técnica de análise de conteúdo, com a elaboração de categorias e
subcategorias com base nos objetivos da pesquisa. Posteriormente os dados foram
interpretados com base no referencial teórico. Como resultados constatou-se que os sujeitos
da pesquisa submetaram-se à cirurgia bariátrica como se esta fosse a "salvação" para sua
condição de obesidade e outras situações de suas vidas. Além disso, os mesmos não tiveram
acompanhamento psicológico no período pré e pós cirúrgico; percebem a cirurgia como um
controle que terão para o resto da vida e se frustraram com os resultados da cirurgia. As
estratégias alimentares utilizadas foram beliscar e ingerir alimentos fáceis, como bolachas,
chocolates,etc. Apresentam dificuldades de perceber a quantidade de alimento consumido e a
maioria afirma não praticar exercícios físicos. Os dados demonstraram também que os
sujeitos não percebem alterações nas relações sociais se comparadas durante o pré e o pós-
cirúrgico, apesar de tais alterações ocorrerem, como o fato de sentirem-se mais aceitos em
suas relações sociais com a perda de peso e de serem cobrados pelos seus pares pelo fato de
ganharem peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica. Atribuem à alimentação inadequada
e à ansiedade a causa do ganho de peso e possuem sentimentos negativos, como tristeza,
frustração, etc. pelo fato de voltarem a ganhar peso. Sobre a imagem corporal, atribuíram ao
corpo adjetivos positivos como "bonito", "sarado", e adjetivos negativos, tais como,
"horrível", "flácido", "nada de bonito", "imperfeito". Com estes dados, percebeu-se
sofrimento emocional nos sujeitos pelo fato de terem voltado a ganhar peso após realizarem a
cirurgia bariátrica. O comportamento alimentar inadequado persiste ou é agravado após a
5
cirurgia, o que pode também estar associado à compulsão alimentar que o sujeito poderia ter
antes de realizar a cirurgia, o que necessita ser tratado. Os sujeitos não tiveram preparo
prévio do que diz respeito aos aspectos psicológicos e nutricionais que fazem parte da
etiologia da obesidade. Apresentam dificuldades de relacionar as questões emocionais com o
ganho de peso, o que pode ser um dos fatores pelos quais não buscaram tratamento
psicológico como estratégia de enfrentamento ao ganho de peso. Por isso, a importância da
orientação por parte dos cirurgiões bariátricos para que o acompanhamento desses sujeitos
seja multiprofissional, uma vez que a obesidade é um problema multideterminado e questão
de saúde pública na contemporaneidade.
Palavras-chave: Cirurgia bariátrica. Ganho de Peso. Psicologia.
6
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - O IMC e a condição de quantidade de gordura no organismo de uma pessoa. ...... 20
Quadro 2 – Cirurgia Bariátrica: Técnica restritiva, banda gástrica e Mason. .......................... 25
Quadro 3 - Cirurgia bariátrica: Técnicas disabsortivas, cirurgia de Scopinaro e derivação
bíleo-pancreática. ...................................................................................................................... 26
Quadro 4 - Cirurgia bariátrica: Técnica mista, Fobi-Capella. .................................................. 26
Quadro 5 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa. ............................................................... 43
Quadro 6 - Motivação para realizar a cirurgia. ......................................................................... 49
Quadro 7 - Percepção do sujeito acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteu. ................. 51
Quadro 8 - Acompanhamento profissional antes da cirurgia bariátrica. .................................. 54
Quadro 9 - Acompanhamento profissional depois da cirurgia bariátrica. ................................ 58
Quadro 10 - Medicamentos utilizados pelos sujeitos. .............................................................. 59
Quadro 11 - Tipos de alimentos que consomem. ..................................................................... 64
Quadro 12 - Quantidade de alimento que consome. ................................................................. 66
Quadro 13 - Local onde faz as refeições e com quem. ............................................................. 68
Quadro 14 - Tempo que levam para fazer as refeições. ........................................................... 69
Quadro 15 - Quantidade de refeições que faz por dia. ............................................................. 70
Quadro 16 - Mudanças na alimentação após a cirurgia. ........................................................... 72
Quadro 17 - Problemas físicos quando se alimentam. ............................................................. 73
Quadro 18 - Mudanças na alimentação quando tem alguma emoção. ..................................... 74
Quadro 19 - Significado do alimento. ...................................................................................... 76
Quadro 20 - Percepção de alterações nos relacionamentos interpessoais após a cirurgia, no
período em que estavam perdendo peso. .................................................................................. 78
Quadro 21 - A forma como ocorrem as relações interpessoais após o ganho de peso, depois da
cirurgia. ..................................................................................................................................... 80
7
Quadro 22 - Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao
período em que estavam perdendo peso. .................................................................................. 81
Quadro 23 - Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso. .. 84
Quadro 24 - Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso.
.................................................................................................................................................. 85
Quadro 25 - Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso. ...... 88
Quadro 26 - Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia
bariátrica. .................................................................................................................................. 90
Quadro 27 - As causas do ganho de peso. ................................................................................ 91
Quadro 28 - O que fizeram quando voltaram a ganhar peso. ................................................... 93
Quadro 29 - O cuidado que tem com o corpo........................................................................... 96
Quadro 30 - Adjetivos atribuídos ao corpo. ............................................................................. 98
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
1.1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 11
2 PROBLEMÁTICA/JUSTIFICATIVA .............................................................................. 12
3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 18
3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 18
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 18
4 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 19
4.1 O IMPACTO DA OBESIDADE PARA OS SUJEITOS E PARA A SOCIEDADE ........ 19
4.1.1 Obesidade e Cirurgia Bariátrica .................................................................................. 23
4.2 OBESIDADE E COMPORTAMENTO ALIMENTAR .................................................... 28
4.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENVOLVIDOS COM A OBESIDADE .......................... 35
4.3.1 Processos psicológicos básicos: percepção, emoção e sentimento ............................. 39
5 MÉTODO ............................................................................................................................. 42
5.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 42
5.2 PARTICIPANTES ............................................................................................................. 43
5.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS ................................................................................... 44
5.4 SITUAÇÃO AMBIENTE .................................................................................................. 44
5.5 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS .............................................................. 44
5.6 PROCEDIMENTOS ........................................................................................................... 45
5.6.1 De seleção dos participantes ......................................................................................... 45
5.6.2 De contato com os participantes ................................................................................... 46
5.6.3 De coleta e registro dos dados ....................................................................................... 46
5.6.4 Organização, tratamento e análise de dados ............................................................... 47
6 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .......................................................... 48
6.1 A CIRURGIA ..................................................................................................................... 48
6.1.1 Motivação dos sujeitos para realizaram a cirurgia bariátrica .................................. 49
6.1.2 Percepção dos sujeitos acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteram ............ 51
6.1.3 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos antes de realizarem a
cirurgia bariátrica .................................................................................................................. 53
9
6.1.4 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos depois de realizaram a
cirurgia bariátrica .................................................................................................................. 57
6.1.5 Medicamentos utilizados pelos sujeitos da pesquisa. ................................................. 58
6.2 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR .......................................................................... 59
6.2.1 Tipos de alimento que consomem ................................................................................ 60
6.2.2 Quantidade de alimento que consomem ...................................................................... 66
6.2.3 Local onde faz as refeições e com quem ..................................................................... 67
6.2.4 Ttempo que levam para fazer as refeições .................................................................. 69
6.2.5 Quantidade de refeições que faz por dia ..................................................................... 70
6.2.6 Mudanças na alimentação após a cirurgia .................................................................. 71
6.2.7 Problemas físicos quando se alimentam indicado pelos sujeitos ............................... 73
6.2.8 Mudanças na alimentação quando apresenta alguma emoção ................................. 74
6.2.9 Significado do alimento ................................................................................................. 75
6.3 MODIFICAÇÕES NAS RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................... 77
6.3.1 Percepção de possíveis alterações nos relacionamentos interpessoais após a
cirurgia, no período em que estavam perdendo peso .......................................................... 77
6.3.2 Característias de relações interpessoais após o ganho e peso depois da cirurgia .... 79
6.3.3 Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao
período em que estavam perdendo peso ............................................................................... 81
6.4 SENTIMENTOS E EMOÇÕES ......................................................................................... 83
6.4.1 Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso ...... 84
6.4.2 Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso
.................................................................................................................................................. 85
6.4.3 Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso ............ 87
6.4.4 Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia
bariátrica ................................................................................................................................. 89
6.4.5 As causas do ganho de peso .......................................................................................... 90
6.4.6 Ações dos sujeitos quando voltaram a ganhar peso .................................................. 93
6.4.7 O cuidado que os sujeitos tem com o corpo................................................................. 96
6.4.8 A imagem corporal: adjetivos atribuídos pelos sujeitos ao próprio corpo. ............. 97
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 101
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 106
APÊNDICE ........................................................................................................................... 113
APÊNDICE A – roteiro de entrevista ................................................................................. 114
10
APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido .......................................... 117
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
A presente pesquisa teve como objetivo caracterizar a percepção de sujeitos que
se submeteram à cirurgia bariátrica a respeito do processo de voltar a ganhar peso após a
cirurgia. Esta pesquisa, foi desenvolvida na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II
(TCC II), da décima fase do curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de
Santa Catarina – UNISUL. A pesquisa está vinculada à disciplina do Núcleo Orientado em
Psicologia e Saúde, por meio do estágio curricular no CAPS II (Centro de Atenção
Psicossocial) em Palhoça/SC.
O tema desta pesquisa surgiu inicialmente, do interesse da pesquisadora em
conhecer melhor o tema da cirurgia bariátrica e o voltar a ganhar peso após o sujeito ter se
submetido a ela. O interesse por este tema surgiu quando a pesquisadora percebeu que pessoas
de sua rede social, que haviam se submetido à cirurgia bariátrica e que após algum tempo da
realização da cirurgia voltaram a ganhar peso, apresentando dificuldades na mudança do
comportamento alimentar e na prática de exercícios físico, bem como, pelo interesse da
pesquisadora em compreender melhor acerca dos transtornos alimentares quando participou
do projeto de extensão da UNISUL, o AMBUTAL - Ambulatório de Transtornos
Alimentares, para o tratamento psicológicos de sujeitos que sofriam desses transtornos e eram
atendidos no projeto.
12
2 PROBLEMÁTICA/JUSTIFICATIVA
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ocorrência da
obesidade no mundo vem crescendo ao longo das décadas. Segal e Fandiño (2002)
consideram que a obesidade vem aumentando em níveis de epidemia no mundo inteiro.
Magdaleno et al. (2009) corroboram esta idéia afirmando que a prevalência da obesidade é
crescente e que vem sendo considerada pelos seus riscos associados como um dos principais
problemas de saúde pública.
No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2008, 13%
dos brasileiros adultos estavam obesos e este índice vem aumentando ao longo dos anos, uma
vez que em 2007, eram 12,9% brasileiros adultos obesos e em 2006, 11,4%. A obesidade
aumentou principalmente em mulheres, 13,6% das mulheres são consideradas na faixa de
obesidade. (BRASIL, 2009).
A Organização Mundial da Saúde classifica a obesidade pelo índice de massa
corporal (IMC), que é calculado pela razão entre o peso corporal em quilogramas e a altura
em metros elevada ao quadrado (kg/m²). A pessoa é considerada obesa quando o índice é
superior a 30 kg/m², sendo que as obesas mórbidas são aquelas que possuem IMC maior que
40 kg/m². A obesidade mórbida frequentemente vem acompanhada de co-morbidades ou
morbidades associadas, como hipertensão arterial, diabetes, entre outras (CASTRO et al.,
2010).
Segundo Repetto e Rizzolli (2006), a obesidade é considerada de difícil
tratamento, pois sua causa é de origem multifatorial e frequentemente está associada a outras
doenças. E para o seu tratamento, recomenda-se que inicialmente seja realizado o tratamento
com dietas, exercícios físicos e, se for necessário, a utilização de medicamentos. Os autores
ainda pontuam que é necessário considerar que nos casos de obesidade mórbida o tratamento
inicial nem sempre é eficaz, a taxa de insucesso desse tipo de tratamento para obesos
mórbidos é extremamente elevada e, segundo os autores, ocorre em mais de 90% dos casos.
Na busca por tratamentos mais eficazes para a obesidade mórbida, muitas pessoas
têm recorrido à cirurgia bariátrica, denominada também de gastroplastia ou cirurgia de
redução de estômago. Segal e Fandiño (2002) consideram que devido à busca por esta eficácia
no tratamento clínico da obesidade mórbida, a indicação das cirurgias bariátricas vem
crescendo desde 2002. E que são candidatos para o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica)
13
os pacientes com IMC maior que 40 Kg/m2 ou com IMC maior que 35 Kg/m
2 associado a
comorbidades (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes tipo 2, apnéia do sono, entre
outras). Nos Estados Unidos o critério de IMC para realizar a cirurgia bariátrica mudou.
Segundo reportagem da revista Veja de 13 de abril de 2011, na página do Hospital Albert
Einstein, os Estados Unidos autorizaram a realização de cirurgia bariátrica em pessoas com
obesidade moderada, e segundo a reportagem esta é uma medida que em breve deve chegar ao
Brasil. "Acaba de ser aprovada nos Estados Unidos uma nova regulamentação que autoriza o
uso de banda gástrica no tratamento de obesidade moderada, IMC 30 kg/m² e que tenham
alguma complicação relacionada ao excesso de peso" (NETO, 2011, p. 47).
No Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica (SBCBM), foram realizadas 60 mil operações em 2010. Isso representa uma alta
de 275% em relação a 2003, ano em que foram coletados os primeiros registros. Pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), o número de cirurgias cresceu 23,7% entre 2007 e 2009, chegando a
3.681 ocorrências. Os números fazem do Brasil o segundo no ranking de cirurgias bariátricas,
atrás apenas dos EUA, com 200 mil procedimentos em 2010. (BEVILACQUA, 2011). Frente
a este aumento de cirurgias bariátricas entre brasileiros, estudos sobre as conseqüências desta
cirurgia na vida dos sujeitos tornam-se relevantes.
Apesar de a cirurgia bariátrica ter melhores resultados no tratamento da obesidade
mórbida do que o tratamento inicial, com dietas, exercícios físico, etc., não se pode
desconsiderar os riscos de complicações a curto, médio e longo prazo (REPETTO,
RIZZOLLI, 2006). Devido aos riscos de complicações na cirurgia bariátrica no pré e pós-
operatório, é necessário que os candidatos à cirurgia sejam selecionados cuidadosamente por
equipe multidisciplinar, médico, psicólogo, nutricionista, etc., realizando avaliação clínica,
laboratorial e psicológica regularmente nos períodos pré e pós-operatório (MAGDALENO et
al., 2009). Sobre a ocorrência de complicações psiquiátricas após a cirurgia, Apolinário apud
(MAGDALENO et al., 2009), mostra em estudos de seguimento pós-operatórios de longo
prazo de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica que existem várias condições psiquiátricas
como causas de morte no pós-operatório.
Segundo Segal e Fandiño (2002), muitas dessas complicações psiquiátricas que
acontecem no período pós-cirúrgico ocorrem devido ao crescente abandono no uso de
critérios psicológicos1, para a seleção dos candidatos à cirurgia bariátrica. Os autores citados
1 A portaria 390 de julho/2005 preconiza quais são estes critérios psicológicos. Dentre os quais, podem
ser destacados: transtornos do humor, do comportamento alimentar e outros relevantes para o tratamento
14
pontuam ainda que, nas pessoas obesas mórbidas que procuram a cirurgia bariátrica, existe
uma prevalência de sintomas psicológicos, tais como, sintomas depressivos, ansiosos e
alterações do comportamento alimentar. Estes sintomas psicológicos podem permanecer após
a cirurgia bariátrica, podendo comprometer o sucesso da cirurgia, como por exemplo, voltar a
ganhar peso dentre muitas outras ocorrências.
É necessária a avaliação criteriosa da motivação do sujeito para realizar a cirurgia
bariátrica. Segundo Castro (2010, p.34), “estudos revelam que apesar do discurso apresentado
pelo candidato à cirurgia bariátrica seja a melhoria da saúde, a ênfase é dada às questões
puramente estéticas”. Essa ênfase à estética pode estar ocorrendo porque os obesos são alvos
de preconceitos e discriminação importantes. Segal e Fandiño (2002), dizem que estes
preconceitos e discriminações contra o sujeito obeso ficam evidentes em programas de
televisão, revistas, piadas, na menor chance de obesos serem aceitos em empregos concorrido,
ou de estarem envolvidos num relacionamento afetivo estável. Essa vivência de preconceitos
e discriminação por que passam os sujeitos obesos pode trazer a esses sujeitos sofrimentos
psicológicos graves, e em muitos casos estes sujeitos buscam na cirurgia bariátrica a
“salvação” de suas vidas. Bergerot et al. (2008) em artigo sobre o belo, a saúde e a obesidade:
um estudo sobre a busca do modelo estético no tratamento da obesidade, pontuam que o
sujeito com obesidade, na busca de ficar dentro dos padrões de beleza estabelecidos, com
freqüência busca soluções imediatistas, procura “comprar” a sua cura, por meio de cirurgia
bariátrica, procedimento médico extremo que deveria ser utilizado como último recurso para o
tratamento da obesidade, mas que pessoas em geral tendem, às vezes, a considerá-la como o
primeiro recurso. Neste sentido Benedetti (2003) pondera que,
para essas pessoas, insatisfeitas com o próprio corpo, vítimas de preconceitos e
impedidas de realizar atos que fazem parte da rotina diária dos outros, o
emagrecimento tem caráter de salvação. A possibilidade de alcançá-lo mediante
cirurgia desperta expectativa das mais diversas ordens, num otimismo que
frequentemente a faz esperar do procedimento muito mais do que efetivamente a
cirurgia pode oferecer. (BENEDETTI, 2003, p.15).
Em pesquisa realizada por Marchesini (2010), com pacientes pós-cirúrgicos de
cirurgia bariátrica, já foi observado que os pacientes desejam a cirurgia, mas não percebem a
cirúrgico da obesidade, os quais podem ser , quando presentes, avaliados, orientados e tratados por psicólogo ou
psiquiatra.
15
necessidade de maior preparação para o procedimento e não conseguem mudar padrões de
comportamento necessários para o sucesso em longo prazo. Dos entrevistados nessa pesquisa,
89% disseram sentir-se preparados para a cirurgia bariátrica, porém 26% admitiram ter
passado pelo “dia do arrependimento” diante do desconforto ou limitação provocada pelo
procedimento e 67,4% admitiram que devessem ter se preparado psicologicamente melhor,
com mais do que uma avaliação psicológica. Estes dados revelam que muitos sujeitos que se
submetem à cirurgia bariátrica na busca pela mudança de vida, parecem não considerar
inicialmente a importância do tratamento dos sofrimentos psicológicos, podendo acarretar em
longo prazo outros prejuízos emocionais a estes sujeitos.
De acordo com pesquisa realizada por Magdaleno et al. (2009), um grande desafio
para o sujeito que se submete à cirurgia bariátrica, ocorre no pós-cirúrgico, quando o sujeito
operado percebe que seus problemas não foram todos resolvidos com a cirurgia bariátrica, ele
fica suscetível a complicações emocionais e psiquiátricas. O autor também pontua que a
ameaça de complicações emocionais e psiquiátricas pode aparecer para estes sujeitos quando
percebem que o peso pode voltar a aumentar apesar de terem realizado a cirurgia bariátrica.
Sobre o voltar a ganhar peso após a cirurgia bariátrica e as conseqüências disso na
vida do sujeito que se submete a essa cirurgia, foi observado em pesquisa realizada por Leal e
Baldin (2007), cujo objetivo foi analisar as expectativas, fantasias, resultados, dificuldades e
frustrações enfrentadas pelas pessoas, após o procedimento da cirurgia bariátrica. Essa
pesquisa colheu informações com pacientes em acompanhamento hospitalar e que
desenvolveram sintomas de sofrimento psíquico após a cirurgia bariátrica. Alguns
entrevistados relataram que voltaram a ganhar peso após a cirurgia bariátrica, e “como
conseqüência, uma delas terá que ser reoperada, e em outra paciente o aumento de peso que
vem enfrentando após a cirurgia, está sendo motivo de angústia e até mesmo de pensamentos
suicidas” (LEAL, BALDIN, 2007, p.377).
Muitas pessoas submetem-se a cirurgia bariátrica com a fantasia de que sua vida
irá mudar, consideram que após a cirurgia terão sempre um corpo magro. Buscam através da
cirurgia, resolver todos os seus problemas, que podem consistir em doenças associadas à
obesidade como diabetes, hipertensão arterial, etc., bem como problemas emocionais e das
inter-relações, como o casamento, emprego, etc. (BENEDETTI, 2003). Porém, nem todos os
operados conseguem mudar o padrão de comportamento alimentar e voltam a ganhar peso.
Ganhando peso, o ideal de corpo magro dentro dos padrões estéticos ditos “normais” não se
firma e a fantasia da mudança de vida se frustra, trazendo conseqüências físicas e
psicológicas.
16
Quem se submete à gastroplastia importa saber que esse procedimento não implica
emagrecimento imediato e duradouro. O emagrecimento não é conseqüência direta
da intervenção cirúrgica bem-sucedida, mas que o fator determinante para o sucesso
do tratamento é a forma como o paciente vai lidar com esse recurso, a redução de
estomago representa apenas um momento do processo. É necessário que haja, por
parte dos pacientes operados, o compromisso de assumir um comportamento
alimentar vigilante pelo resto da vida, pois sem uma mudança radical no
comportamento alimentar, a cirurgia perde o poder emagrecedor e frustra certo
número de pacientes que não conseguem perder o peso necessário ou o faz com
muito sofrimento. (BENEDETTI, 2003, p.17).
Benedetti ainda pontua (2003) que alguns pacientes conseguem mudar o estilo de
vida após cirurgia bariátrica, conseguindo um controle dietético rigoroso e ajustado à nova
situação, porém outros pacientes submetidos à cirurgia bariátrica não conseguem, ou não
alcançam a perda de peso necessária ou almejada, ou voltam a ganhar o peso perdido. Esta
dificuldade de mudança de comportamento alimentar após a cirurgia bariátrica foi observada
na pesquisa realizada por Magdaleno et al. (2009).
No grupo pós-operatório observamos que o sujeito chega ao grupo como um
vencedor, venceu os desafios do período pré-operatório, sobreviveu à cirurgia,
suportou o primeiro mês de operado. Contudo, tal sensação de vitória, pouco a
pouco, vai sendo encoberta pela dureza da condição à qual esses sujeitos se expõem.
A alimentação, que era anteriormente vivida como prazer incondicional, salvo por
certa culpa pelas quantidades de alimentos ingeridas, passa a ser um problema a ser
enfrentado. E agora, o que fazer com os indivíduos que tinham quase como prazer
exclusivo em suas vidas o ato de comer? É a partir deste momento que começam a
se apresentar, verdadeiramente, para esses sujeitos os problemas que terão que
enfrentar. (MAGDALENO et al., 2009, p.78).
Frente à dificuldade de alguns sujeitos em manter o peso adequado após a cirurgia
bariátrica, é possível perguntar: Como estas pessoas que buscam, através da cirurgia
bariátrica, a redução de peso, percebem o voltar a ganhar peso após a cirurgia? Qual a
percepção deles sobre a cirurgia que se submeteram? Quais as características do
comportamento alimentar dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se a
cirurgia bariátrica? Que tipos de sentimentos e emoções esses sujeitos tem quando percebem
que estão ganhando peso? Há modificações nas relações sociais deste sujeitos após
submeterem-se a cirurgia bariátrica voltam a ganhar peso?
Ao pesquisar sobre a percepção dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após
submeterem-se à cirurgia bariátrica, busca-se o conhecimento que colabore com a
compreensão do fenômeno da obesidade e ajude os sujeitos que serão submetidos à cirurgia
bariátrica, seus familiares e os profissionais da área saúde, psicólogos, médicos,
17
nutricionistas, enfermeiros, entre outros profissionais, a compreender melhor as
conseqüências da cirurgia bariátrica ao longo da vida do sujeito submetido à ela.
O conhecimento produzido por essa pesquisa busca também trazer subsídios que
possam auxiliar as pessoas que realizam a cirurgia bariátrica a conhecer as dificuldades para
manter o peso ideal após a cirurgia. Buscando prevenir o ganho de peso a médio e longo
prazo, após a cirurgia bariátrica.
Com o peso em nível saudável, o sujeito que realizou cirurgia bariátrica pode
prevenir o aparecimento de problemas físicos e psicológicos após a cirurgia, não necessitando
utilizar o sistema de saúde por complicações pós-cirúrgicas, favorecendo assim a diminuição
dos gastos do sistema de saúde com reoperações e com tratamentos devido às complicações
no pós-cirúrgico da cirurgia bariátrica. Oliveira (2007), em sua pesquisa sobre cirurgia
bariátrica no âmbito do SUS: tendências, custos e complicações, pontua que, “os custos
associados à cirurgia bariátrica representam um grande impacto para o SUS.” (OLIVEIRA,
2007, p.7).
As publicações científicas na área da psicologia sobre o pós-operatório da cirurgia
bariátrica ainda parecem ser escassas, uma vez que tratam mais de características psicológicas
de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, de avaliação psicológica de obesos grau II antes
e depois da cirurgia bariátrica, do impacto emocional da cirurgia bariátrica, cirurgia bariátrica
e a trajetória de mulheres obesas em busca do emagrecimento, entre outros, sendo que as
pesquisas encontradas não dizem respeito especificamente à percepção do sujeito sobre o
ganho de peso após submeter-se à cirurgia bariátrica. Benedetti (2003) corrobora esta idéia
quando diz que,
a psicologia aborda de modo muito discreto o problema da obesidade mórbida, e a
literatura disponível, ao abordar questões referentes à qualidade de vida dos
pacientes submetidos à gastroplastia, trata do assunto, em grande parte, no sentido
de identificar ganhos e perdas ao longo do processo de emagrecimento.
(BENEDETTI, 2003, p.18).
Com a existência do conhecimento que permita responder à pergunta: Qual a
percepção de sujeitos acerca de voltarem a ganhar peso após submeterem-se a cirurgia
bariátrica? Busca-se uma melhor compreensão do fenômeno da obesidade, da cirurgia
bariátrica, das conseqüências pós cirúrgicas para as pessoas que submetem-se a ela, visando a
contribuir com subsídios que ajudem no tratamento psicológico de pessoas que realizaram a
cirurgia bariátrica e que voltaram a ganhar peso.
18
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Caracterizar a percepção de sujeitos que se submeteram à cirurgia bariátrica a
respeito do processo de voltar a ganhar peso após a cirurgia.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Caracterizar a percepção de sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à
cirurgia bariátrica acerca da cirurgia;
Caracterizar o comportamento alimentar de sujeitos que voltaram a ganhar peso após
submeterem-se à cirurgia bariátrica;
Identificar as percepções de sujeitos acerca das possíveis modificações nas relações
sociais, quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica;
Caracterizar sentimentos e emoções descritas pelos sujeitos quando voltaram a ganhar
peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica.
19
4 REFERENCIAL TEÓRICO
Para caracterizar a percepção dos sujeitos acerca de voltarem a ganhar peso após
submeterem-se à cirurgia bariátrica é necessário que sejam definidos alguns referenciais
teóricos acerca do problema de pesquisa. Dentre estes referenciais teóricos estão o impacto da
obesidade na vida dos sujeitos e da sociedade, a obesidade e a cirurgia bariátrica, obesidade e
o comportamento alimentar e os aspectos psicológicos envolvidos com a obesidade.
4.1 O IMPACTO DA OBESIDADE PARA OS SUJEITOS E PARA A SOCIEDADE
A obesidade não é um fenômeno recente. Sabe-se da existência de indivíduos
obesos há mais de 25.000 anos. A sua prevalência, no entanto, nunca atingiu proporções tão
grandes como a que temos no século XXI. (HALPERN, 1999).
A obesidade é considerada doença crônica que vem tendo grande incidência em
todo o mundo. “Essa doença crônica é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido
adiposo no organismo em extensão tal que acarreta prejuízos à saúde do indivíduo.” (OTTO,
2007, p.18).
A obesidade é um problema de saúde pública crescente na maioria dos países
industrializados e vem assumindo caráter alarmante devido ao aumento de doenças
associadas (ALMEIDA, 2008). No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da
Saúde, em 2008, 13% dos brasileiros adultos são obesos. (BRASIL, 2009).
Segundo Donato et al. (2004), a obesidade é entendida como um desequilíbrio
entre as calorias ingeridas e sua queima pelo organismo: quando a quantidade de calorias
ingeridas é maior que a queima, o excedente se acumula no organismo em forma de gordura.
Os autores ainda pontuam que a origem e a manutenção da obesidade se relacionam a fatores
externos e internos ao sujeito e que a obesidade é um fenômeno complexo e multideterminado
tendo origem biológica, psicológica e social (DONATO et al., 2004).
A quantidade de gordura no organismo de uma pessoa, segundo Organização
Mundial da Saúde é medido pelo índice de massa corporal (IMC), que é calculado pela razão
entre o peso corporal em quilogramas e a altura em metros elevada ao quadrado (kg/m²). A
20
pessoa é considerada obesa quando o índice é superior a 30 kg/m², sendo que as obesas
mórbidas são aquelas que possuem IMC maior que 40 kg/m², conforme apresentado no
quadro abaixo. (CASTRO et al., 2010).
IMC CONDIÇÃO
20-25 Normal
25-30 Sobrepeso
30-40 Obeso
40-50 ou mais Obeso Mórbido
Quadro 1 - O IMC e a condição de quantidade de gordura no organismo de uma pessoa.
Fonte: Castro et al., 2010.
Segundo Donato et al. (2004, p.341), há uma variedade fenótípica entre os
indivíduos obesos, sendo descritos quatro tipos de obesidade:
1. Obesidade universal, massa corpórea ou porcentagem de gordura em excesso,
distribuição por todo o corpo.
2. Obesidade tronco-abdominal subcutânea em excesso, ou padrão andróide ou em
forma de maça, mais comum no sexo masculino, mas também presente no sexo
feminino, com deposição de gordura ao redor da cintura e do abdômen superior.
Este tipo de depósito de gordura está associado a um risco aumentado de
hipertensão arterial, doenças cardiovascular e diabetes mellitus não-insulino-
dependentes.
3. Obesidade visceral é a de maior risco cardiovascular e metabólico.
4. Gordura glúteo femoral em forma de pêra com excesso ou padrão ginóide ou
em forma de depósito de gordura ao redor das coxas e nádegas, sua função seria
a de reserva de energia para manter a gravidez e a lactação.
A obesidade está associada a várias outras doenças, podendo trazer prejuízos à
saúde do individuo. Segundo Peres (2005), a obesidade está associada a elevado grau de
morbidade, entre elas , hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral
(AVC), osteoartrite, apnéia do sono,câncer, entre outros. O autor também ressalta que estudos
realizados com 115 mil mulheres, pela Nurse's Health Study, demonstrou que o risco de morte
se eleva progressivamente nas mulheres com IMC superior a 29 kg/m².
Salienta-se que, além do impacto na saúde do indivíduo, a obesidade traz impacto
econômico aos sistemas de saúde dos países. Halpern (1999) citando a OMS, ressalta que, os
custos diretos e indiretos da obesidade são elevadíssimos, podendo chegar a 7% dos custos
com a saúde da população.
21
A Organização Mundial da Saúde (2004), diz que é necessário verificar três
componentes para fazer o calculo dos gastos com a obesidade nos países.
Os custos econômicos da obesidade são compostos por três componentes: "custos
diretos", isto é, para indivíduos e provedor de serviço, associado ao tratamento de
obesidade em si; o "custo da oportunidade", para os indivíduos, isto é, a perda social
e pessoal associada a obesidade, geralmente surgindo de morte prematura ou
morbidade atribuível; "custos indiretos", normalmente medidos como perda de
produção decorrente da ausência no trabalho ou morte prematura. (OMS, 2004,
p.79).
Sobre o impacto financeiro da obesidade no sistema de saúde, Melo (2011), em
artigo custos da obesidade no Brasil e no mundo, afirma que, “os custos da obesidade e suas
conseqüências negativas para a saúde foram estimada 0,7% a 7,0% dos gastos nacionais com
saúde em todo o mundo. Os custos relacionados à obesidade podem chegar a 7% do gasto
nacional com saúde” (MELO, 2011, p. 01).
Com o crescimento da morbidade, mortalidade e custos, a obesidade se tornou um
fator de grande preocupação às entidades governamentais. OMS criou um Comitê
Internacional de combate à obesidade, constituída por especialistas do mundo
inteiro. O Ministério da Saúde brasileiro nomeou uma força tarefa para prevenção e
combate à obesidade (HALPERN, 1999, p.3).
Portanto, tendo em vista o impacto da obesidade na vida das pessoas e na
economia, alguns países, como o Brasil, vem buscando prevenir a obesidade na sua
população. (SANTOS, 2005). E, para tanto, no Brasil foram criados leis, como a que
estabelece que os produtos alimentícios anunciados em propagandas, como por exemplo, o
anúncio de refrigerantes, venham acompanhados ao final da propaganda, por indicação da
importância de fazer exercícios físicos, e também, a obrigatoriedade de que produtos
alimentícios vendidos em estabelecimentos comerciais tenham em suas embalagens as
especificidades dos componentes daquele alimento, entre outras medidas de prevenção e
combate a obesidade.
No dia 29 de junho de 2010, o Diário Oficial da União e a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) publicaram a legislação que dispõe sobre a nova
regulamentação em Propaganda de Alimentos. As propagandas de bebidas com
baixo teor nutricional e de alimentos com elevadas quantidades de açúcar, de
gordura saturada ou trans e de sódio irão sofrer mudanças nos próximos 180 dias,
prazo que as empresas têm para se adequar à RDC 24/2010, de junho de 2010. A
resolução estabelece novas regras para a publicidade e a promoção comercial desses
alimentos, que passarão a ser veiculadas com frases de advertência sobre os males à
saúde que podem provocar quando consumidos em excesso. O objetivo é proteger os
22
consumidores de práticas que possam, por exemplo, omitir informações ou induzir
ao consumo excessivo. (ABNE, 2011, p.01).
Santos (2005) questiona se estas medidas do poder público, como a
regulamentação de propaganda de alimentos, terão o resultado esperado no combate à
obesidade.
A lei pode mudar hábitos alimentares? Ou a mudança de hábito alimentares passa
antes, de mais nada, pela educação e não pela legislação? Afinal, direito de escolher
o que se come todo mundo tem. Mas, a escolha implica ter conhecimento de opções
(SANTOS, 2005, p. 39).
A obesidade, além de trazer consequências para a economia e para a saúde física
do indivíduo, também traz sofrimento emocional ao sujeito. "O sofrimento emocional tem
ampla relação com a obesidade, em sua origem, ou como resultado dela. Podendo trazer
depressão, compulsões, ansiedade, rebaixamento da auto-estima, que são muito comuns no
ciclo vicioso "engorda-sofre-engorda-sofre" (SANTOS, 2005, p. 9).
As pessoas com obesidade mórbida muitas vezes buscam perder peso por vários
meios porém, mesmo quando conseguem, logo voltam a ganhá-los. Isso ocorre, segundo
Repetto e Rizzolli (2006), porque a obesidade mórbida é considerada de difícil tratamento,
sendo necessário considerar que nos casos de obesidade mórbida o tratamento inicialcom base
em dieta alimentar, a atividade física ou medicamentos, nem sempre são eficazes.
Para as pessoas que apresentam um grau acentuado de obesidade e já tentaram todo
tipo de tratamento, dietas, medicamentos, massagens, etc. E que não obtiveram
resultado a longo prazo, hoje em dia a medicina oferece o recurso cirúrgico. A
cirurgia é apenas uma técnica para a diminuição de peso e não a cura das causas
primeiras da obesidade mórbida. ( SANTOS, 2005, p. 29).
Com todas as dificuldades para perder peso, o sujeito com obesidade tem buscado
como método de tratamento para a obesidade a cirurgia bariátrica, que também é conhecida
como gastroplastia ou redução de estômago. Para Franques e Arenales-Loli (2006), nos casos
em que a obesidade já pode ser considerada mórbida, a cirurgia bariátrica é considerada um
tratamento que pode ser escolhido por estes pacientes.
23
4.1.1 Obesidade e Cirurgia Bariátrica
A cirurgia bariátrica é um tratamento cirúrgico para indivíduos com obesidade
mórbida, ou seja, para pacientes com IMC de 40kg/m² ou 35 kg/m² com doenças associadas,
como diabetes, hipertensão arterial, entre outros (MARCHESINI, 2006, p.13).
Segundo Claudino e Zanella (2005), a cirurgia bariátrica surgiu em 1951, na
forma de derivações jejunoileais e evoluíram para as diversas técnicas atualmente disponíveis.
A partir da década de 1990, essas técnicas tornaram-se difundidas e mais seguras.
No Brasil, em 1999, o Ministério da Saúde, reconhece a necessidade de tratamento
cirúrgico aos obesos mórbido e inclui a cirurgia bariátrica entre os procedimentos
cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme portaria nº. 628/GM de 26
de abril de 2001. (SANTOS, 2005, p. 33).
Considerando a necessidade de ampliar a oferta de serviços na área de
gastroplastia e de criar mecanismos que facilitem o acesso dos portadores de obesidade
mórbida, quando tecnicamente indicado à realização do procedimento cirúrgico para
tratamento, o Ministério da Saúde do Brasil, publica a portaria nº. 628/GM de 26 de abril de
2001, que resolve:
Art. 1º Aprovar, na forma desta Portaria, o Protocolo de Indicação de Tratamento
Cirúrgico da Obesidade Mórbida – Gastroplastia no âmbito do Sistema Único de
Saúde – SUS.
§ 1º O Protocolo de que trata esta Portaria deverá ser observado na avaliação inicial
dos pacientes, na indicação do procedimento cirúrgico e na descrição da evolução
daqueles pacientes submetidos à gastroplastia;
§ 2º É obrigatório o preenchimento de todas as informações contidas no Protocolo,
pelas unidades que efetuarem a avaliação inicial e pelos Centros de Referência que
realizarem o procedimento e o acompanhamento clínico dos pacientes;
§ 3º Decorridos 12 (doze) meses da realização do procedimento cirúrgico, o Centro
de Referência deverá, obrigatoriamente, enviar o Protocolo devidamente preenchido
ao Ministério da Saúde/ Secretaria de Assistência à Saúde/Departamento de
Sistemas e Redes Assistenciais/Coordenação-Geral de Sistemas de Alta
Complexidade, para inserção no banco de dados de acompanhamento de cirurgia
bariátrica;
24
§ 4º O não cumprimento do estabelecido no § 3° acarretará o descadastramento do
Centro de Referência. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
Esta portaria criada pelo Ministério da Saúde em 2001, foi um marco importante
que possibilitou a população de baixa renda com obesidade mórbida a ter o acesso ao
tratamento da obesidade via procedimento cirúrgico. Porém, ainda são poucos os estados
habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar este procedimento cirúrgico.
[...] 18 estados têm habilitação para fazer a cirurgia bariátrica pelo SUS. O número
de operações de redução de estômago no SUS mais que dobrou (150%) entre 2003 e
2010, passando de 1.778 para 4.437. As secretarias estaduais da Saúde são
responsáveis por monitorar a lista dos pacientes que, por indicação médica, farão o
procedimento. (SBCBM, 2010, p.01).
O número de cirurgias bariátricas vem crescendo no Brasil, não só em hospitais
públicos, mas também em clínicas e hospitais particulares. Sobre o crescimento da realização
de cirurgias bariátricas no Brasil, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica, destaca em entrevista, realizada em 2010, que o número de cirurgias bariátricas
no Brasil, teve um grande crescimento. A cirurgia bariátrica, indicada no tratamento da
obesidade mórbida, foi realizada 5 mil vezes em 1999. Já no ano de 2009 foram realizadas 30
mil cirurgias no país, caracterizando um aumento de 500% na última década. (SBCBM,
2010). Os tipos de cirurgia mais utilizadas no combate à obesidade mórbida são: as cirurgias
restritivas, disabsortivas e mistas.
As cirurgias restritivas restringem o volume de alimento que o paciente ingere e,
de uma forma geral, com essa técnica, o paciente é obrigado a comer menos alimentos sólidos
e consequentemente emagrece. Entretanto, o resultado, depende da colaboração do paciente,
pois, os alimentos líquidos podem ser ingeridos quase no mesmo valor calórico dos sólidos,
prejudicando o emagrecimento. Esta técnica é considerada mais simples, e de mais fácil
recuperação, porém, a perda de peso é menor do que nas outras técnicas cirúrgicas e o seu
custo é elevado em razão do material utilizado. Exemplos de cirurgia restritiva são a cirurgia
de banda gástrica e a cirurgia de Mason (SANTOS, 2005), conforme descrito no quadro 2.
25
Técnica Definição Ilustração
Banda Gástrica A banda gástrica é uma prótese de material plástico
(silicone) que tem um balão insuflável, por dentro.
Quando colocada em volta da parte alta do estômago
forma um anel que o aperta. Quando o balão é insuflado
ou desinsuflado, aperta mais ou menos o estômago de
maneira que pode-se controlar o esvaziamento do
alimento da parte alta para a parte baixa do órgão. O
princípio da operação é semelhante a operação de Mason,
porém é feita por laparoscopia. (CARLINI, 2001)
Figura 1: Banda Ajustável por
Laparoscopia (técnica restritiva)
Mason
A cirurgia de Mason consiste em "grampear" o estômago
de maneira a criar um "hall" (sala) de entrada que recebe
o alimento e devido ao fato de ser pequeno, dá ao
paciente a sensação de estar "cheio". Com isto até esta
antecâmara gástrica esvaziar, o paciente tem a sensação
de que está satisfeito e sem fome. Há o inconveniente de
que se o paciente usar líquidos em vez de alimentos
sólidos, poderá tomá-los em grande quantidade e ser
forem hipercalóricos, a perda de peso não será a esperada.
É uma técnica que deve ser usada em pacientes especiais,
escolhidos com critério, disciplinados e cooperativos.
(CARLINI, 2001)
Figura 2: Gastroplastia em Banda Vertical – Mason (técnica
restritiva)
Quadro 2 – Cirurgia Bariátrica: Técnica restritiva, banda gástrica e Mason.
Fonte: Elaboração da autora, 2011.
As cirurgias disabsortivas permitem ao paciente comer, no entanto atrapalham a
absorção de nutrientes e com isto levam a pessoa com obesidade a perder peso. São, em geral,
bem sucedidas quanto ao emagrecimento que pode chegar a 50% do peso original, no entanto,
tem a necessidade de controle mais rígido quanto a distúrbios metabólicos, de minerais e
vitaminas. Esta não é uma cirurgia de primeira escolha e é conhecida também como cirurgia
de desvio de intestino, uma vez que é eliminada a função do intestino delgado responsável
pela absorção dos alimento. (SANTOS, 2005). Sendo elas, cirurgia de Scopinaro e derivação
bíleopancreático, conforme descrito no quadro 3.
26
Técnica Definição Ilustração
Cirurgia de
Scopinaro e
derivação
bíleo-
pancreática),
Nas cirurgias de Scopinaro e derivação bíleo-
pancreática, o estômago é grampeado e seu tamanho é
reduzido em 60% a 70%. O duodeno e jejuno são
isolados, e a comida só entra em contato com o suco
pancreático no fim do íleo, já bem próximo do
intestino grosso. Esse desvio provoca uma má
absorção de nutrientes. Ocorrendo o risco de
desnutrição, fístula, embolia pulmonar e abertura dos
grampos. Geralmente é indicado para IMC acima de
50 kg/m². (SANTOS, 2005)
Figura 3: Derivação Biliopancreática
(Scopinaro) – técnica disabsortiva
Figura 4: Derivação Biliopancreática
(Duodenal Switch) – técnica
disabsortiva
Quadro 3 - Cirurgia bariátrica: Técnicas disabsortivas, cirurgia de Scopinaro e derivação bíleo-pancreática.
Fonte: Elaboração da autora, 2011.
Na cirurgia com técnica mista, há a associação de um pouco de restrição e de
disabsorção. Essa técnica é também chamada de Fobi-Capella. Esta técnica, é reconhecida
como a melhor técnica e a que mais é utilizada no mundo, estando a perda de peso em torno
de 50% do peso total (SANTOS, 2005).
Técnica Definição Ilustração
Fobi-Capella Na cirurgia Fobi-Capella, são utilizados
grampeadores para cortar e separar o estômago em
dois. O estômago excluído fica fora do trânsito
alimentar e o estômago remanescente, com
capacidade de 20 ml, é ligado a um segmento do
intestino delgado. Além de limitar o esvaziamento,
limita o volume ingerido, os nutrientes são mal-
absorvidos, pois o estômago é ligado ao íleo,
impedindo que a comida passe pelo duodeno e o
jejuno, onde começaria a ser absorvido. Corre-se o
risco de criar fístulas, embolia pulmonar e abertura
dos grampos. Esta técnica geralmente é indicada para
pessoas com IMC entre 35 a 50 kg/m² . (SANTOS,
2005)
Figura 5: Mista (Fobi e
Capella) – técnica restritiva e
disabsortiva
Quadro 4 - Cirurgia bariátrica: Técnica mista, Fobi-Capella.
Fonte: Elaboração da autora, 2011.
As contra-indicações para realizar a cirurgia bariátrica são pontuadas por
Claudino e Zanella (2005, p. 288): "não deve-se operar pacientes de alto risco clínico ( com
27
cardiopatias, hepatopatias, com influência renal crônica, etc.) dependentes de álcool ou
drogas, portadores de psicose grave ou retardo mental."
Os candidatos à cirurgia devem ter acompanhamento pré e pós-cirúrgico, por
equipe multidisciplinar formada, em geral, por endocrinologista, psicólogo, nutricionista,
fisioterapeuta, além do cirurgião (CLAUDINO, ZANELLA, 2005). O Ministério da Saúde
(2011) instituiu um protocolo de atendimento para a realização da cirurgia. Dentre os critérios
solicitados para a realização da cirurgia está a avaliação psicológica a ser feita com o
candidato à cirurgia para verificar se está apto ou não para realizar a cirurgia. Porém, a lei não
e clara, há dúvidas quanto a que profissional deva realizar a avaliação psicológica, se é o
psiquiatra e/ou psicólogo ou o médico responsável pela cirurgia.
A presença obrigatória de psicólogos em equipes de cirurgia bariátrica, foi
oficialmente instituída por meio da Resolução do Conselho Federal de Medicina sob o
número 1.766/05, publicada no Diário oficial da União de 11 de julho de 2005, Seção I, p.
114. (FRANQUES, ARENALES-LOLI, 2006). Tendo em vista a presença de transtornos
psiquiátricos por parte do candidatos a cirurgia bariátrica, o que foi observado na pesquisa
realizada por Petribu et al. (2006).
Dos transtornos psiquiátricos pesquisados, nos 400 pacientes acompanhados pelo
programa de cirurgia bariátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz em PE, os
pacientes apresentaram: 47,8% transtorno de ansiedade generalizada, 29,9%
depressão, verificou-se TCAP em 56,7 % dos pacientes, sendo, 25,4 % moderado e
31% severa. (PETRIBU et al., 2006, p.2).
Para Magdaleno Jr. et al. (2009), muitas pessoas tem recorrido à cirurgia bariátrica
sem acompanhamento psicológico no pré e no pós-cirúrgico, deixando de considerar a
importância da influência psicológica na etiologia da obesidade. O não tratamento das origens
emocionais da obesidade, em alguns casos pode influenciar nas complicações pós-cirúrgicas,
como, transtornos alimentares, troca de compulsão alimentar, depressão com risco de
suicídio,voltar a ganhar peso, dentre outros. O voltar a ganhar peso, pode acontecer mesmo
quando a pessoa realiza a cirurgia bariátrica, pois a cirurgia, não garante a redução de peso em
definitivo. O paciente necessita fazer uma adaptação a sua nova realidade, e para isso
necessita contar com acompanhamento de profissionais da saúde, entre eles o psicólogo. O
presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, corrobora esta idéia,
quando pontua que:
28
No geral, depois de três anos, 10% dos pacientes começam a engordar novamente,
por não adotar um novo estilo de vida saudável. O paciente necessita de um
acompanhamento contínuo de profissionais da saúde, porque a mudança na dieta e
nos hábitos de vida, necessários após a operação, é o que garante a saúde do paciente
e a o sucesso na eliminação de quilos (SBCBM, 2010, p.01).
A cirurgia bariátrica vem sendo muito utilizada no Brasil para o tratamento da
obesidade mórbida. A cirurgia pode ser do tipo restritiva, desabsortiva ou mista, sendo esta
última a mais indicada atualmente. O sucesso da cirurgia bariátrica não está somente nas
técnicas utilizadas, mas também na mudança de comportamento alimentar do sujeito que se
submete a ela. Pois a manutenção da perda de peso pode estar relacionada ao comportamento
alimentar do sujeito que se submete à cirurgia bariátrica, bem como o tratamento das causas
da obesidade.
4.2 OBESIDADE E COMPORTAMENTO ALIMENTAR
O comportamento alimentar pode estar diretamente relacionado com estado de
obesidade de um sujeito. Isso porque, a quantidade de alimento ingerido por ele pode tornar-
se maior do que o gasto de energia física desse sujeito, podendo assim, acarretar em acúmulo
de gordura, e por consequencia, aumento de peso (DONATO, 2004).
Cabe salientar que o comportamento alimentar não corresponde somente aos
hábitos alimentares de uma pessoa, mas a todas as práticas que envolvem sua alimentação,
como: seleção, aquisição, preparo dos alimentos, crenças e tabus sobre os alimentos e o seu
conhecimento sobre nutrição (SONATI; VILARTA; AFFONSO, 2007). Além de ser um
comportamento complexo que envolve diversas práticas, é importante destacar que o
comportamento alimentar é determinado por vários fatores, dentre os quais podem ser
destacados os aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e os culturais.
o comportamento alimentar humano reflete as interações entre o estado fisiológico,
o estado psicológico e as condições ambientais de um dado indivíduo. Assim, a
capacidade para controlar a ingestão requer mecanismos especializados para
harmonizar informações fisiológicas do meio interno com informações nutricionais
do ambiente externo. As informações do meio interno dizem respeito a
neurotransmissores, hormônios, taxa metabólica, estados do sistema gastrointestinal,
tecidos de reserva, formação de metabólicos e receptores sensoriais. As informações
do meio externo dizem respeito a características do ambiente (temperatura,
localidade, trabalho, oferta ou escassez de alimentos, assim como crenças sociais,
29
culturais e religiosas) e as características dos alimentos (sabor, familiaridade,
textura, composição nutricional e variedade). (QUAIOTI, ALMEIDA, 2006, p. 03).
A influência da fisiologia no comportamento alimentar é pontuada no texto de
Halford (2006). Nele são explicados os mecanismos da fome e da saciedade nos seres
humanos a partir da fisiologia. Segundo o autor,
para que uma ação seja desencadeada por um estado fisiológico (fome e saciedade) é
necessário que o cérebro receba uma informação adequada. Só então a sensação
pode produzir a resposta comportamental correspondente. O sistema nervoso central
recebe tanto informações geradas pela experiência sensorial de comer como sinais
provenientes da periferia, indicando ingestão, absorção, metabolismo e acúmulo de
energia. Para regular o apetite, uma variedade de estruturas do SNC integra
múltiplos sinais, que avaliam a necessidade biológica de energia para gerar ou inibir
experiências conscientes de fome e, subsequentemente, para iniciar a ação
comportamental adequada. (HALFORD, 2006, p. 17).
O Sistema Nervoso Central (SNC) regula a relação entre a saciedade e a fome.
Halpern, Rodrigues e Costa (2004) explicitam alguns fatores que são determinantes
fisiológicos no controle do peso e do apetite, sendo eles, fatores neuronais, endócrinos,
adipocitários e intestinais. Ressaltando a importância destes fatores no controle do peso e do
apetite os autores dizem ainda que a
leptina e a insulina são hormônios secretados em proporção à massa adiposa e atuam
perifericamente, estimulando o catabolismo (queima de gordura). No sistema
nervoso central, a insulina e leptina interagem com receptores hipotalâmicos,
favorecendo a saciedade. Os indivíduos obesos apresentam maiores concentrações
séricas destes hormônios e apresentam resistência à sua ação. (HALPERN;
RODRIGUES; COSTA, 2004, p.01).
Autores como os citados acima referem que a ingestão alimentar deveria
desenvolver-se em resposta a demandas fisiológicas, tendo como ativador da alimentação, a
fome. "A fome pode ser definida como motivação para buscar e consumir alimentos,
iniciando um período de comportamento alimentar. O processo que põe fim a esse período é
denominado saciedade." (HALFORD, 2006, p.26).
A ingestão de comida é controlada pelo sistema do apetite. Segundo Bacaltchuk e
Apolinário (2005) a regulação da fome, do apetite e da saciedade é uma rede psicobiológica
complexa, com três componentes principais:
1. Componente psicológico - sensações de fome, saciedade, prazer e fissura,
seguidos de operações comportamentais, como por exemplo a escolha do alimento,
30
as refeições, etc. 2. Componente relacionado à fisiologia periférica e eventos
metabólicos associados ao efeito da absorção de nutrientes e sua utilização e da
conversão para reserva do organismo. 3. Componente neuroquímico:
neurotransmissores clássicos, neuropeptídeo e hormônios, que sofrem interações
metabólicas com o Sistema Nervoso Central (SNC). (BACALTCHUK,
APOLINÁRIO, 2005, p.04).
Bacaltchuk e Apolinário (2005), destacam também que, fisiologicamente, o
processo de saciação é responsável pelo tamanho da refeição e o estado de saciedade
determina a extensão do intervalo pós-ingestão de alimento. Para os autores, o controle do
apetite pode ser exercido em 3 estágios distintos do consumo de comida: "antes (fase pré-
pradial ou cefálica), durante (pradial) ou após (pós-pradial) uma refeição. Assim, a ingestão
de comida é controlada por mecanismos de auto-regulação positivos e negativos que
determinam o início, a manutenção e o final de uma refeição." (BACALTCHUK,
APOLINÁRIO, 2005, p.04).
Porém, nem sempre a fome e a saciedade, demandas fisiológicas de um sujeito,
são os únicos motivadores para a ingestão do alimento ou o fim do mesmo. Isso porque as
demandas fisiológicas são constantemente modeladas por influências ambientais e pela
experiência de vida do sujeito (HALFORD, 2006). "Os sinais que desencadeariam a fome ou
a saciedade podem sem modificados por fatores emocionais, diferenças perceptivas e
transtornos alimentares." (BACALTCHUK, APOLINÁRIO, 2005, p.13).
No caso do sujeito com obesidade, muitas vezes os sinais fisiológicos que
deveriam desencadear a fome ou a saciedade não são o que determinam a ingestão do
alimento, e sim outros fatores, como o emocional. Isto foi observado na pesquisa de Mattos et
al. (2003). Esses autores consideram que as pessoas com obesidade, não estão atentas aos
aspectos mais complexos de seu funcionamento fisiológico, como por exemplo, os níveis de
glicose no organismo. E que o comportamento alimentar dos indivíduos atua em função dos
estímulos emocionais, culturais ou sociais, e não em função das necessidades fisiológicas,
como por exemplo déficit vitamínico (MATTOS et al., 2003).
O meio social e cultural também são fatores que compõem e influenciam o
comportamento alimentar do indivíduo. O alimento faz parte do meio social e cultural onde o
indivíduo se desenvolve. Por isso, o tipo de alimento, o seu modo de preparo, entre outras
espeficidades do alimento, são estabelecidos cultural e socialmente e estão presentes no
comportamento alimentar do indivíduo. Alvarenga (2004), em pesquisa sobre o
comportamento alimentar dos seres humanos, afirma que vem sendo observado a mudança do
significado do alimento para a humanidade. O autor, para facilitar a compreensão desta
31
mudança no significado da alimentação para os povos, faz um resgate da história da
alimentação na humanidade, pontuando as mudanças ocorridas.
Antes de 1550, o princípio aceito por todos era que cada um deveria comer em
conformidade com sua natureza. Foram os cozinheiros franceses que primeiramente,
na história, passaram a esquecer as antigas atribuições dietéticas dos alimentos e
limitaram-se a levar em consideração a harmonia dos sabores. A partir desse
momento, o gosto alimentar alcançou uma enorme importância, e a cozinha passou a
ser considerada uma das belas artes (ALVARENGA, 2004, p.02).
Observa-se então, que a alimentação e a gastronomia são elementos essenciais na
definição da identidade histórica dos povos. Mas, com o passar do tempo a industria alimentar
foi permitindo que se tivesse acesso a todo tipo de culinária, alimento e produto, e as
transformações alimentares das diversas culturas foram inevitáveis. (FLANDRIN,1998, apud
ALVAREGA, 2004). Nessa mudança de hábitos alimentares, também é necessário considerar
que a industrialização trouxe também mudanças, com o consumo de alimentos enlatados,
congelados, pré-cozidos, prontos, fast-food (ALVARENGA, 2004).
Essas mudanças no hábito alimentar de consumir mais produtos industrializados,
foi observado em estudo dos padrões de consumo alimentar da população brasileira por
Sichieri, Casto e Moura (2003 apud COUTINHO, DUALIB 2006). Os autores observaram
uma redução de 30% no consumo de arroz com feijão e de um aumento de 258% no consumo
de refrigerantes no Rio de Janeiro.
Pesquisas realizadas no Brasil indicam uma modificação dos hábitos alimentares
associados à obesidade, como, por exemplo, o aumento do teor de gordura na
alimentação, o alto teor de açúcar e a redução de feijão e grãos. Essa tendência de
consumo ocorre em associação com um modesto consumo de frutas e verduras
(COUTINHO, DUALIB, 2006, p.22).
Para Quaioti e Almeida (2006), a propaganda e a mídia tem uma forte influência
nas mudanças de comportamento alimentar, sendo algo a ser considerado para o melhor
entendimento do comportamento alimentar de um sujeito.
Dentre os fatores externos, que influenciam o comportamento alimentar, merece
destaque a questão ligada à propaganda de alimentos e a influência cada vez maior
da mídia na determinação da dieta dos indivíduos de países desenvolvidos ou em
desenvolvimento (QUAIOTI, ALMEIDA, 2006, p.5).
32
Essa influência do meio externo, o social e o cultural, sobre o comportamento
alimentar do sujeito ocorre, segundo Alvarenga (2004), porque o alimento não tem só a
função de dar energia ao organismo, mas ele pode exercer também a função social e cultural
na relação dos seres humanos com a comida. Esta relação social e cultural com a comida,
segundo o autor, fica evidenciada também no ato de participar de refeições em conjunto, de
festejar em torno de uma mesa, etc. Portanto, "situar o alimento em um contexto apenas
fisiológico e nutricional pode ser um erro. O alimento é cheio de simbologias e carregado de
diferentes significados, no plano de comunidades, culturas, famílias e indivíduos"
(ALVARENGA, 2004, p.13).
A primeira influência social e cultural sobre o comportamento alimentar que o
indivíduo recebe ocorre no meio familiar. É na família que o sujeito terá os primeiros
aprendizados sobre a alimentação. Neste sentido, Benedetti (2003, p. 35) diz que, " o modo
pelo qual a pessoa come, assim como a quantidade que ingere, dependem daquilo que ela
aprendeu em sua família e na sociedade em que vive". Heller et al. (2004) afirmam que,
os pais, familiares e educadores são os principais modelos na infância, daí sua
profunda responsabilidade no desenvolvimento infantil. Famílias que têm uma dieta
equilibrada ensinam este padrão de comportamento alimentar para suas crianças. Já
nas famílias em que ocorre superalimentação tende-se a fomentar e a incentivar a
alimentação desequilibrada (HELLER, et al., 2004, p. 19).
Os aspectos sociais e culturais de um indivíduo são importantes na constituição de
seu comportamento alimentar, pois eles influenciam no tipo de alimento que o sujeito ingere,
no modo como ele se alimenta, na quantidade de alimento, nas ocasiões em que se alimenta,
nos significados que dá para o alimento, entre outras influências.
Além da influencia da fisiologia, da sociedade e da cultura, o comportamento
alimenta também sofre grande influência de aspectos psicológicos que constituem e que
envolvem o indivíduo, a relação emocional com o alimento é um desses aspectos. Para
Alvarenga (2004), a relação emocional com o alimento ocorre desde o início da vida das
pessoas, como por exemplo, a sensação de bem estar no aleitamento, possibilitando a relação
afetiva com quem lhe alimenta.
Desde o nascimento a comida vem associada ao prazer. Quando o bebe chora, a mãe
dá o peito, o calor do coro da mãe, seu cheiro e o carinho do toque recebidos durante
a amamentação são as primeiras associações entre prazer e alimento. O alimento é o
prazer mais primitivo ao qual o homem tem acesso desde seu nascimento (HELLER,
et. al., 2004, p. 16).
33
A respeito dessa relação afetiva com o alimento, Claudino e Zanella (2005, p.
260), dizem que o "alimento pode ser visto como gratificação substituta, equivalente de afeto,
compensação ou recompensa e na sua ausência pode ser vista até como punição, abandono ou
rejeição."
A vida é permeada por uma estreita relação entre alimentação e afetividade. É
necessário conhecer e considerar essas correlações para poder realizar um trabalho
mais eficiente junto aos pacientes que apresentam problemas alimentares (ARAUJO,
2004, p. 104).
Uma das correlações que pode ser feita entre as questões emocionais e o
comportamento alimentar estão descritos nos transtornos do comportamento alimentar, no
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV, 2002). Dentre estes
transtornos está o transtorno de compulsão alimentar, que também está relacionado com a
obesidade. O transtorno de compulsão alimentar é uma das psicopatologias que se reflete no
comportamento alimentar, assim como a bulimia e anorexia, e que estão observadas no
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV, 2002).
Segundo o DSM IV (2002), os transtornos alimentares estão subdivididos em
anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno alimentar sem outra especificações e transtorno
de compulsão periódica. A compulsão periódica pode ser purgativa ou não. Borges e Jorge
(2000 apud OTTO, 2007, p.19), pontuam que a obesidade é uma patologia que terá uma nova
categoria diagnóstica proposta pelo DSM-IV para possível inclusão nos transtornos
alimentares, sendo que até o momento, está inserido nos transtornos alimentares sem
especificação.
O comportamento alimentar caracterizado na compulsão alimentar é descrito por
Mattos et al. (2003) da seguinte forma:
Comer grandes quantidades de alimentos (quando não fisicamente faminto), em
tempo menor do que o normal, até se sentir incomodamente empanturrado. Esse
comportamento geralmente ocorre quando o indivíduo está sozinho, em razão do
embaraço diante da quantidade de alimentos que é consumida. Sentir repulsa por si
mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente. Apresentar
acentuada angústia relacionada á compulsão periódica, que ocorre em média 2 dias
por semana, por 6 meses. Não está associada ao uso regular de comportamento
compensatórios inadequados (por exemplo, purgação, jejuns,exercícios excessivos)
nem ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa
(MATTOS et al., 2003, p.290).
34
A compulsão alimentar periódica (TCAP) é um transtorno alimentar que pode
constituir o comportamento alimentar de alguns indivíduos com obesidade. Petribu et al.,
(2006) com a finalidade de avaliar a freqüência de transtorno da compulsão alimentar
periódica (TCAP) e transtornos psiquiátricos associados à obesidade mórbida no Brasil,
realizaram uma pesquisa com indivíduos à espera de cirurgia bariátrica. Nessa pesquisa
verificaram que, dos pacientes entrevistados, 30% deles apresentaram o transtorno da
compulsão alimentar periódica. Entretanto, Passos, Stefano e Borges (2005) alertam para o
fato de que,
episódios de compulsão alimentar não ocorrem apenas em obesos, e obesidade não é
critério para diagnóstico de TCAP. No entanto, o alto número de calorias ingeridas a
cada episódio e sua frequente ocorrência resultam, quase sempre em obesidade.
(PASSOS; STEFANO; BORGES, 2005, p.62).
Os autores acima citados, referem também que a primeira descrição em pesquisa
de episódios de descontrole alimentar entre obesos foi feita em 1959, sugerindo na época, que
entre obesos poderia haver um subgrupo com padrão alimentar distinto, como a compulsão
alimentar periódica. Nesse sentido, anos mais tarde, Borges e Jorge (2000 apud OTTO, 2007,
p.19) também observaram que entre os pacientes com obesidade grave, "há uma alta
prevalência de um transtorno alimentar conhecido como Transtorno de Compulsão Alimentar
Periódica."
O comer compulsivo representa uma dificuldade de tratamento dos pacientes obesos,
pois episódios de compulsão alimentar, interrompem prematuramente os tratamentos
pela incapacidade de controlar o controle da alimentação. Esses indivíduos tendem a
engordar se comparados aqueles sem esta perturbação (PETRIBU et al., 2006, p.03).
Os indivíduos com transtorno de compulsão alimentar periódica apresentam
grande probabilidade de terem obesidade mórbida, e como tratamento desse tipo de
obesidade, tem sido indicado a cirurgia bariátrica. Em avaliação realizada com pacientes
candidatos à cirurgia bariátrica, Mattos et al. (2003) observaram que dos 47 avaliados, 76,6%
apresentavam padrão alimentar não usual, e quase a totalidade dos avaliados poderia ser
classificada nos critérios diagnósticos para o transtorno de compulsão alimentar periódica.
Isso faz pensar que se esses sujeitos não mudarem seu padrão de comportamento alimentar,
caso sejam submetidos à cirurgia bariátrica, tenderão a ganhar peso mesmo com a redução do
volume gástrico, uma vez que a técnica cirúrgica não propicia a contenção do comer
compulsivo.
35
Diante da dificuldade em obter bons resultados nos tratamentos de redução de peso,
a procura por cirurgia bariátrica aumentou e vem sendo realizada com sucesso.
Entretanto, existe sempre a preocupação de alterações do comportamento alimentar
possam vir a trazer complicações pós-operatórias comprometendo o resultado da
cirurgia (PETRIBU et al., 2006, p.03).
O comportamento alimentar compulsivo em pacientes antes de se submeteram a
cirurgia bariátrica, foi observado também, na pesquisa realizada por Magdaleno e outros
(2009). Os autores observaram que passando algum tempo após a cirurgia, os sujeitos obesos
que já tinham compulsão antes da cirurgia, retornaram à compulsão alimentar, utilizando
novas estratégias, devido a redução do volume gástrico, como ficar beliscando os alimentos.
[...]as bolachas que se dissolvem na boca, o biscoito de polvilho, o leite
condensado, sorvete e o chocolate. Uma verdadeira batalha se impõe. Um descuido e
o peso começa a subir de novo. Disse uma paciente: “Doutor, eu não sei mais o que
faço, não tenho fome, mais fico o dia inteiro beliscando bolachas, e estou voltando a
ganhar peso, mas não consigo parar (MAGDALENO et al., 2009, p. 76).
Frente a essa possibilidade de voltar a ganhar peso, mesmo após a cirurgia
bariátrica, devido à compulsão alimentar, faz necessário o tratamento dos sofrimentos
psicológicos destes sujeitos, antes e após a cirurgia, buscando a mudança do comportamento
alimentar. Os aspectos psicológicos que influenciam o comportamento alimentar dos sujeitos,
serão melhor abordados no capítulo sobre os aspectos psicológicos envolvidos na obesidade
4.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENVOLVIDOS COM A OBESIDADE
Pelo fato de a obesidade ser considerada um fenômeno complexo e multifatorial,
sua compreensão necessita da interlocução das diversas áreas do conhecimento. Segundo
Benedetti (2003), os pesquisadores da área da psicologia começaram a estudar a obesidade
por volta da década de 1940 e 1950, ressaltando a importância dos aspectos psicológicos no
estudo desta doença, o que anteriormente somente era visto pelo prisma médico.
36
Por caracterizar-se como doença de etiologia multifatorial, a obesidade apresenta
etiologicamente fatores psicológicos relevantes, podendo ser psicodinâmicos2 e
desencadeantes de atividades cognitivas inadequadas, como, por exemplo, a
supervalorização da comida no alívio de tensões (conflitos internos e externos) e/ou
a depreciação da imagem corporal e concomitante falta de controle do
condicionamento alimentar e do apetite (MATTOS et al., 2003, p. 297).
Sobre as a influências psicológicas na obesidade, Scavora e Oliveira (2011)
referem que dificuldades afetivas podem desencadear alterações no comportamento alimentar,
“levando-as a comer além do necessário ou até compulsivamente. Neste sentido o alimento
substitui o afeto perdido e o indivíduo encontra certo alívio através de um excesso que
“preenche” o vazio emocional” (SCAVORA, OLIVEIRA, 2011, p. 01). As autoras ainda
sobre as influências psicológicas na etiologia da obesidade, pontuam que
pessoas ansiosas, depressivas e estressadas, que se sentem rejeitadas, sozinhas, que
sofrem perdas ou passam por qualquer conflito emocional, como frustrações ou
insatisfações, são as mais propensas a desenvolver a obesidade. Tais conflitos
colaboram para que o indivíduo compense esses problemas aumentando o consumo
de determinado alimentos altamente calóricos, como doces (SCAVORA,
OLIVEIRA, 2011, p. 01) .
Por isso, é relevante considerar a maneira como cada pessoa lida com as suas
questões psicológicas, pois a percepção do sujeito sobre “dado estímulo depende de suas
características, bem como das necessidades, motivos, interesses, atitude expectativas e valores
do indivíduo.” (MATTOS et al., 2003, p. 297). Isso leva a considerar que o modo como cada
pessoa com obesidade se relaciona com a comida é algo individual, marcado pela sua
experiência de vida, pela sua fisiologia, bem como, pelos fatores psicológicos deste sujeito. E
sobre a influência do fator psicológico na obesidade, Marchesini (2011) ressalta que, ao se
avaliar psicologicamente um indivíduo com obesidade é necessário considerar, “o vínculo que
este sujeito tem com o alimento ou com o ato de comer, pois este vínculo, pode ser marcado
pela gratificação, pela agressividade auto-dirigida, pela ansiedade, entre outros sentimentos”
(MARCHESINI, 2011, p. 4).
Além dos fatores psicológicos envolvidos na ingestão alimentar do sujeito com
obesidade, também é necessário considerar, os fatores psicológicos envolvidos na maneira
como o sujeito com obesidade se relaciona com a sua auto-imagem. Para Castilho (2001, p.
2 Psicodinâmica. O estudo dos processos mentais e emocionais subjacentes ao comportamento humano, e de
sua motivação, em especial quando se manifestam em resposta inconsciente às influências ambientais.
(DICIONÁRIO ELETRÔNICO DE PSICOLOGIA, 2011)
37
3), "o corpo concretiza nossa existência. Através dele percebemos, somos percebidos e
interagimos com o mundo que nos cerca. Fronteira entre o eu e o mundo, o corpo é linguagem
e comunicação."
Sobre o desenvolvimento da auto-imagem no sujeito com obesidade, Araújo
(2004) diz que é necessário considerar que a imagem corporal é importante para o
desenvolvimento físico e emocional de qualquer sujeito, e que no caso do sujeito com
obesidade, esta imagem torna-se alvo de preconceito e discriminação, podendo trazer
comprometimento emocional para eles, pois,
a aparência do corpo exerce grande influência em nossas vidas, afinal, a forma como
nos apresentamos para os outros determina a maneira como nos relacionamos, as
oportunidades que temos socialmente, as reações e atitudes dos outros para conosco,
bem como nossa vida afetiva e profissional. Porém não é só a forma como os outros
nos vêem que tem grande impacto em nossas vidas; é a concepção que nós temos
sobre nossa imagem que exerce maior influência. Além do mais, a forma como os
outros nos percebem pode ser também bastante destoante daquilo que
experenciamos subjetivamente (STENZEL, 2006, p. 73).
Segundo Castilho (2001), o sujeito também percebe o seu corpo a partir do padrão
estético adotado pela sociedade. "Definições consensualmente validadas e ligadas à cultura
sobre o que vem a ser belo acabam por influenciar o modo pelo qual nos avaliamos
fisicamente, determinando nossos comportamentos, posturas e atitudes no mundo"
(CASTILHO, 2001, p.3).
A percepção dos outros sujeitos sobre a imagem corporal da pessoa com
obesidade está repleta de significados culturais. Por isso, torna-se importante considerar que o
significado do excesso de peso na cultura moderna, traz para a pessoa obesa uma grande
pressão emocional, pois, “a pressão para ser magro, em nossa cultura é intensa e implacável”
(BROWNELL, O‟NEIL, 2009, p. 355). Segundo estes autores, não ter um corpo dentro dos
padrões culturais estabelecidos, pode ser visto como ter um corpo “imperfeito”, podendo ter
como representação social de que a pessoa com este corpo, como no caso das pessoas acima
do peso, sejam pessoas sem força de vontade, preguiçosas, relaxadas, descontroladas, etc.
Perin (2011) corrobora esta idéia, afirmando que, “a sociedade promove julgamentos sociais
negativos em relação ao obeso. Dando a eles, adjetivos como feios, relaxados e preguiçosos,
como se eles fossem responsáveis pela sua obesidade por falta de vontade” (PERIN, 2011, p.
01).
Ressalta-se que a força cultural sobre a imagem corporal da pessoa com obesidade
pode lhe trazer depreciação da auto-imagem, acarretando sofrimento social e psicológico.
38
Nas últimas décadas, as pressões sociais por um corpo esbelto têm se intensificado e
as pessoas com obesidade são frequentemente avaliadas de forma depreciativa,
sendo alvo de preconceito e discriminação no trabalho, nos relacionamentos sociais,
etc. (PETRIBU et al., 2006, p. 05).
Outros autores, também falam do sofrimento emocional das pessoas com
obesidade, devido ao modo como a sociedade vem lidando com eles. Entre estes autores,
estão Brownell e O' Neil (2009), que afirmam que
as atitudes da sociedade em relação à obesidade são refletidas nas atitudes dos
próprios indivíduos com sobrepeso, Num ambiente clínico, ouvem-se
autodeclarações depreciativas de indivíduos em grave sofrimento, com um
autoconceito prejudicado, que sentem um desespero que é inevitável por um dia ou
mesmo por algumas horas” (BROWNELL, O‟ NEIL, 2009, p. 357).
Frente a esta autodepriciação do sujeito com obesidade, Perin (2011), levanta a
discussão, em seu estudo sobre as considerações psicológicas sobre a obesidade mórbida, que
a sociedade muitas vezes culpa e responsabiliza o sujeito por sua obesidade. E o sujeito com
obesidade frequentemente vivencia isso como verdadeiro e então, “além de carregar todo o
seu peso, frequentemente carrega a culpa e a responsabilidade por sua obesidade.” (PERIN,
2011, p. 01).
O sujeito com obesidade, frente às dificuldades sociais, físicas e emocionais,
busca na cirurgia bariátrica a solução para estes problemas, entretanto, a cirurgia é apenas um
dos pontos das mudanças que devem ocorrer na vida do sujeito. “A obesidade constitui um
desafio para várias áreas do conhecimento e é a expressão sintomática dos conflitos internos e
externos do indivíduo. A cirurgia da obesidade sozinha não cura os sintomas psíquicos da
obesidade.” (GLEISER, CANDEMIL, 2006, p. 192).
O tratamento adequado da obesidade não envolve somente a redução do peso, pois
mesmo com a cirurgia bariátrica isso não é garantido, se não houve mudança de
comportamento, que segundo Scavora e Oliveira (2011, p. 2), “deve ocorrer de dentro para
fora [...]. Uma mudança gradual envolve mudança dos hábitos alimentares, manutenção de um
peso adequado, mudança no modo como trabalha os conflitos emocionais.” O sujeito
submetido à cirurgia bariátrica poderá voltar a ganhar peso, e com ele, emoções e
sentimentos, que podem trazer prejuízos a sua vida. As emoções e os sentimentos são
processos psicológicos básicos que estão diretamente relacionados com os fatores
psicológicos da obesidade.
39
4.3.1 Processos psicológicos básicos: percepção, emoção e sentimento
A percepção, o sentimento e a emoção são alguns dos processos psicológicos
básicos apresentados pelos seres humanos. O processo psicológico de perceber é
caracterizado como o processo de agregar as diferentes informações no Sistema Nervoso
Central (SNC) e dar um significado a elas, ou seja, realizar uma interpretação das informações
obtidas no meio ambiente onde vive. "A percepção é caracterizada pelo processo de dar
significado ou interpretação às sensações. Nós relacionamos os dados sensoriais com nossas
experiências anteriores, o que lhe confere significado" (BRAGHIROLLE et al., 1990, p.15).
Segundo Atkinson (1995), a percepção é o estudo de como integramos a sensação
em conceitos sobre os objetos e como depois usamos esses conceitos para lidarmos com o
mundo. Assim a percepção dos sujeitos acerca de voltarem a ganhar peso após submeter-se a
cirurgia bariátrica, torna-se importante para sabermos como estes sujeitos estão lidando com
esta situação e os possíveis sofrimentos psicológicos que podem surgir nestes sujeitos.
O processo de percepção está intimamente ligado a experiência anterior do
indivíduo, havendo comparação das informações anteriores que o indivíduo tem com a
informações novas que chegam até ele. Luria (1999) pontua que, "o conhecimento anterior
sobre o objeto incorpora-se a sua percepção direta do objeto perceptível atual" (LURIA, 1999,
p.20). Portanto, o indivíduo com obesidade que passa por cirurgia bariátrica, tem antes da
cirurgia, um experiência (percepção) do que seja ser obeso em nossa sociedade, de sua
imagem corporal, de seu comportamento alimentar, suas relações sociais etc. Quando ocorre a
cirurgia bariátrica, esta pessoa que se percebia com uma imagem corporal fora dos padrões
estéticos, com o emagrecimento terá que buscar novas experiências (percepções) para dar
conta de um corpo mais magro, além de buscar um novo comportamento alimentar, devido ás
limitações de seus aparelho gástrico, ou por possíveis complicações pós-cirúrgicas, como o
ganho de peso, etc. Este sujeito buscará se adaptar a esta nova realidade de vida em seu meio
ambiente, porém nem sempre este processo acontece sem sofrimentos. Para Alencar (1986, p.
125), "a percepção desempenha um papel de importância decisiva na adaptação do organismo
no meio ambiente, sendo determinado não apenas por características do estímulo como
também por características do sujeito."
O sujeito com obesidade pode ter a sua relação com a alimentação baseada em
emoções e sentimentos. Souza et al. (2005), em pesquisa com o objetivo de identificar
40
aspectos comportamentais e sociais envolvidos na dificuldade em perder peso observou que
todas as pacientes entrevistadas referiram-se a sentimentos tais como: "ansiedade, angústia,
frustração, tédio, solidão, tensão/estresse, raiva e tristeza; como desencadeadores da vontade
de comer" (SOUZA et al., 2005, p.03).
O processo psicológico de emocionar-se é considerado como a relação entre a
interpretação dada a um estímulo e as reações fisiológicas no organismo. Sob esta ótica, ao
estudar a natureza das emoções, Damásio (1996, p. 156) revela que "as emoções só são
desencadeadas após um processo de avaliação que é voluntária e não automática, que está
ligada a natureza da experiência de vida do sujeito."
A emoção é a combinação de um processo de avaliação mental, simples ou
complexo, com respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria, dirigidas ao
corpo propriamente dito, resultando num estado emocional do corpo e também,
dirigidas ao próprio cérebro, resultando em alterações mentais (DAMÁSIO, 1996, p.
168).
Para melhor estudar o processo da emoção, Damásio (1996) divide-as em,
emoções primárias e secundárias. O autor considera emoção primeira, as emoções inatas, pré-
organizadas que podem ser detectadas individualmente ou em conjunto. As emoções
primárias dependem da rede de circuito do sistema límbico. Ou seja, as emoções primárias,
são emoções ligadas a nossa história genética, e fisiológica, trazendo reações de preservação
da espécie ou a busca pelo equilíbrio homeostático3 do organismo, em que a reação emocional
busca atingir alguns objetivos, como por exemplo, demonstrar raiva no momento de uma
briga, ou ter uma força enorme ao ponto de salvar um filho da boca de um jacaré, etc.
Já as emoções secundárias são baseadas no conhecimento adquirido, ou seja, estas
emoções são baseadas na sua história pessoal e cultural, o que permite ao sujeito pensar com
antecipação e prever a probabilidade de sua presença num dado ambiente.
O processo psicológico de sentir é caracterizado como processo de perceber as
reações fisiológicas no organismo (emoção) e nomeá-las, podendo identificá-las como
tristeza, felicidade, medo, etc. Damásio (1996) ressalta que,
[...] existem muitas variedades de sentimentos. A primeira baseia-se nas emoções,
sendo as mais universais, a felicidade, a tristeza, a cólera, o medo e o nojo. Uma
segunda variedade de sentimentos é a que se baseia nas emoções que são pequenas
variantes das cinco antes mencionadas: a euforia e o êxtase são variantes da
3 HOMEOSTASE - s.f. Fisiologia. Tendência de os organismos vivos manterem constantes seus parâmetros
biológicos ante modificações do meio exterior. (ROCHA, 2011)
41
felicidade; a melancolia e a ansiedade são variantes da tristeza; o pânico e a timidez
são variantes do medo (DAMÁSIO, 1996, p. 180).
O autor também pontua a importância dos sentimentos, para ampliar o alcance das
emoções, para facilitar o planejamento de formas de reação adaptativas que sejam novas e
feitas sob medida para cada ocasião (DAMÁSIO, 1996). Assim como as pessoas com
obesidade sentem-se em relação ao que os outros dizem sobre elas? Que tipos de reação
adaptativa os sujeitos utilizam frente a estes sentimentos? Enfim, quais os sentimentos que
podem estar presentes na vida da pessoa que ganha peso, mesmo após realizar a cirurgia
bariátrica para poder emagrecer?
42
5 MÉTODO
5.1 TIPO DE PESQUISA
Quanto à natureza da pesquisa ela é qualitativa, "trabalhamos com dados
qualitativos que trazem para o interior da análise o subjetivo e o objetivo, os atores sociais e o
próprio sistema de valores do cientista, os fatos e seus significados, a ordem e os conflitos."
(MINAYO, 1993, p.35).
A pesquisa, quanto aos seus objetivos, é descritiva, porque descreve as
características da percepção dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à
cirurgia bariátrica.
A descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser
classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na
utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a
observação sistemática. (GIL, 2002, p.42).
Com base nos procedimentos técnicos utilizados, o delineamento da pesquisa é do
tipo estudo de campo. Por ser um estudo com pessoas que se submeteram à cirurgia bariátrica
e voltaram a ganhar peso.
O estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é necessariamente
geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou
voltada para qualquer outra atividade humana. Basicamente, a pesquisa é
desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de
entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que
ocorre no grupo. (GIL, 2002, p.53).
43
5.2 PARTICIPANTES
Caracterização dos sujeitos da pesquisa
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de
(an
os)
Sex
o
Esc
ola
rid
ad
e
Pro
fiss
ão
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1
29 M Sup. Enf. Sol. Não 1,81 99 11 anos 151 56 11 31.32*
E
2
55 F Fun. Do lar Cas. Sim 1.59 78 5 anos 97 27 8 30.95
E
3
36 F Médio T. Enf. Cas. Sim 1.68 93 6 anos 136 57 12 32.97
E
4
30 F Médio Do lar Cas. Sim 1.65 69 6 anos 117 57 9 25.74
E
5
37 F Sup. Prof. Cas. Sim 1.64 117 4 anos 147 50 20 43.65
* E1 - Quando estava ganhando peso, pesou: 110 Kg, com IMC de 34.81
Quadro 5 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
Os participantes desta pesquisa foram cinco pessoas, quatro mulheres e um
homem, com idades que variam de 29 anos a 55 anos, sendo um solteiro e quatro casados.
Somente um dos sujeitos entrevistados não possui filhos. Em relação à escolaridade, dois
sujeitos possuem nível superior, dois com ensino médio e um com ensino fundamental. A
estatura dos participantes da pesquisa variam de 1.59 m a 1.81m, o peso atual dos sujeitos tem
variação de 69 kg a 117kg. O tempo de realização da cirurgia dos participantes da pesquisa
tem a variação de 4 anos à 11 anos e o peso que tinham antes de se submeteram a cirurgia
bariátrica variam de 97 kg à 151kg e o peso que perderam após a cirurgia, varia de 27kg a 57
kg. O peso que ganharam varia de 8kg a 20 kg, e o IMC varia entre 25.74 a 43,65. Um dos
44
sujeitos da pesquisa (E1) participou do teste piloto do instrumento de coleta de dados e
posteriormente foi solicitada a sua autorização para incluir os seus dados na pesquisa.
5.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS
Para a realização desta pesquisa foram utilizados recursos materiais tais como:
caneta, papel, gravador, roteiro de entrevista semi-estruturada e computador.
5.4 SITUAÇÃO AMBIENTE
As entrevistas foram realizadas em locais apropriados para os entrevistados. Duas
entrevistas ocorrem em consultório disponibilizado pelo profissional que indicou os
participantes da pesquisa. Duas entrevistas ocorreram no local de trabalho dos entrevistados e
uma entrevista ocorreu na casa do entrevistado. Os locais onde ocorreram as entrevistas
estavam equipados com mesa e cadeiras, com ventilação e iluminação adequadas, com
condições adequadas para a manutenção e garantia da privacidade e do sigilo dos
entrevistados.
5.5 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevistas com
questões abertas. Esse instrumento foi elaborado com base nas seguintes variáveis: a
caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa, informações sobre a cirurgia bariátrica a
que eles se submeteram, as características do comportamento alimentar dos sujeitos após a
cirurgia bariátrica, os tipos de sentimentos e emoções que estes sujeitos tem ou tiveram
quando perceberam que estavam ganhando peso após a cirurgia bariátrica, as possíveis
45
modificações nas relações sociais destes sujeitos quando voltarem a ganhar peso após
submeterem-se à cirurgia bariátrica. Ao analisar estas variáveis foi possível caracterizar a
percepção dos sujeitos pesquisados acerca de voltarem a ganhar peso após submeterem-se à
cirurgia bariátrica.
Foi realizado um piloto (teste) do instrumento de coleta de dados. O teste piloto
foi realizado com um sujeito que se submeteu a cirurgia bariátrica há 8 anos e que voltou a
ganhar peso dois anos após a cirurgia, mas que hoje está com o peso que deseja ter. O teste foi
realizado no trabalho do sujeito em condições adequadas para a manutenção e garantia da
privacidade e do sigilo do entrevistado. Após o teste, foram acrescentadas na entrevista
perguntas referentes à estatura do sujeito e ao uso de medicações psicotrópicas.
5.6 PROCEDIMENTOS
A fim de alcançar os objetivos propostos foram seguidos os procedimentos abaixo
descritos.
5.6.1 De seleção dos participantes
A escolha dos participantes desta pesquisa foi feita a partir da população alvo,
pessoas que realizaram qualquer técnica de cirurgia bariátrica, há um ano ou mais, e que
tenham perdido peso, e que referem ter ganhado peso novamente. Os 5 participantes foram
indicação de um profissional da área da saúde. Os sujeitos entrevistados reconheceram que
estiveram ou estão ganhando peso novamente. Os participantes desta pesquisa foram cinco
pessoas, um homem e quatro mulheres, com idades acima de 18 anos, que se submeteram à
cirurgia bariátrica, e que já estão no período pós-operatório há mais de um ano e que referiram
ter ganhado peso após a cirurgia
46
5.6.2 De contato com os participantes
Após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética da Universidade do Sul de
Santa Catarina e a realização de uma aplicação piloto do roteiro de entrevistas elaborado, foi
realizado contato com os participantes da pesquisa, por telefone, buscando saber do interesse
em participar da pesquisa, explicando-lhes os objetivos da mesma. Após a confirmação do
interesse de participar da pesquisa, foi combinado com os sujeitos, a data, o horário e o local
em que aconteceria a entrevista.
5.6.3 De coleta e registro dos dados
No início da entrevista foram dados esclarecimentos acerca da gravação da
entrevista e solicitado a autorização dos mesmos para gravação mediante a assinatura do
Termo de Consentimento para Gravação em Áudio. Antes de iniciar a entrevista foi solicitado
que o sujeito lesse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, que serve para
informar ao sujeito da pesquisa sobre os procedimentos, riscos e benefícios aos quais será
submetido e o seu direito de desistir a qualquer momento da pesquisa. Com a concordância
em participar da pesquisa, eles assinaram o TCLE para que a entrevista fosse iniciada
Durante a entrevista, a pesquisadora ficou atenta a possíveis sinais de ansiedade e desconforto
no sujeito. Isso não aconteceu com nenhum dos entrevistados. Os entrevistados pareceram
estar bem ao falar do ganho de peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica, sorriam e
respondiam sem restrição os questionamentos feitos.
Para a coleta de dados desta pesquisa, foi utilizada a entrevista semi estruturada,
com um roteiro com perguntas abertas. Iniciando com perguntas mais gerais e depois com
perguntas específicas relativas ao interesse da pesquisa. As entrevistas aconteceram em local
variado, E1 e E3 foram entrevistados em uma sala disponibilizada em seu local de trabalho
em dias diferentes. E2 e E5 foram entrevistados em dias diferentes em um consultório
médico disponibilizado pelo profissional que indicou os participantes da pesquisa. E4 foi
entrevistado em sua casa, a entrevista ocorreu na cozinha, enquanto o avô do filho da
entrevista cuidava do menino em outro cômodo da casa. Durante a coleta de dados os
47
entrevistados tiveram dificuldade em responder a questão que solicitava que eles adjetivassem
o próprio corpo, o que exigiu que a pesquisadora refizesse a pergunta de diferentes maneiras,
muitas vezes apresentando exemplos de respostas para que eles pudessem responder a
questão. As entrevistas duraram em média 40 minutos.
Os dados foram registrados em gravador, após autorização dos sujeitos, e
transcritos na íntegra no computador.
5.6.4 Organização, tratamento e análise de dados
Os dados foram organizados a partir das entrevistas gravadas e transcritas. Após
as transcrições das entrevistas na íntegra, as quais foram digitadas no computador da
pesquisadora, os dados foram organizados por perguntas para cada objetivo. Depois iniciou-se
a análise de conteúdo das respostas, com a elaboração e a organização de categorias. Para
Caregnato e Mutti (2006, p.681) a análise de conteúdo "é um meio de expressão do sujeito,
onde o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que se repetem,
inferindo uma expressão que as representem."
As categorias mais relevantes foram identificadas a partir da fala dos sujeitos da
pesquisa. Após as perguntas serem separadas por objetivos, elas foram lidas ainda no
computador. A partir da leitura foram destacados trechos da fala de acordo com o tipo de
categoria a que a mesma se referia. Por exemplo, foi feito destaque em azul para trechos da
fala dos sujeitos que se referiam a tipos de alimentos que o sujeito consome. Esse mesmo
procedimento foi realizado análise de conteúdo de todas as entrevistas.
Para cada objetivo foi realizado uma varredura nas demais perguntas ao longo da
entrevista para verificar se não havia respostas dispersas ao longo da entrevista que diziam
respeito ao objetivo que estava sendo organizado em categorias. Após esta etapa, as falas
destacadas em cores iguais foram agrupadas em categorias e subdivididas em subcategorias, a
partir das quais foram criados quadros para apresentação dessas informações, juntamente com
as falas dos sujeitos pesquisados e a quantidade de ocorrências de cada categoria e
subcategoria. Posteriormente os dados foram interpretados com base no referencial teórico,
buscando responder os objetivos da pesquisa.
48
6 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Neste capítulo será apresentada a descrição e interpretação dos dados obtidos por
meio das entrevistas realizadas com os participantes da pesquisa, a fim de atingir o objetivo
geral da pesquisa, qual seja, caracterizar a percepção de sujeitos que se submeteram à cirurgia
bariátrica a respeito do processo de voltar a ganhar peso após a cirurgia.
Com a finalidade de caracterizar percepções dos entrevistados a respeito do voltar
a ganhar peso após realizarem a cirurgia bariátrica, foram delimitados quatro objetivos
específicos: A) Caracterizar a percepção de sujeitos que voltaram a ganhar peso após
submeterem-se à cirurgia bariátrica sobre a cirurgia; B) Caracterizar o comportamento
alimentar dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica;
C) Identificar as percepções dos sujeitos acerca das possíveis modificações nas relações
sociais, quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica; D)
Caracterizar os sentimentos e emoções descritas pelos sujeitos quando voltaram a ganhar peso
após submeterem-se à cirurgia bariátrica.
Assim, os dados foram organizados a partir dos objetivos específicos da pesquisa,
e subdivididos em categorias e subcategorias e posteriormente foram submetidos à descrição e
interpretação dos dados, relacionando os dados com o referencial teórico e com as percepções
da pesquisadora.
6.1 A CIRURGIA
A cirurgia bariátrica segundo Marchesini (2006) é um tratamento cirúrgico para
pessoas com obesidade mórbida ou com obesidade associada a comorbidades, como a
hipertensão. Frente às dificuldades para perder peso, muitas pessoas com obesidade tem
recorrido ao método cirúrgico para a diminuição de peso. Então, qual a percepção dos sujeitos
que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica sobre a cirurgia? Qual a
motivação destes sujeitos para realizar a cirurgia bariátrica? Qual a percepção destes sujeitos
acerca da cirurgia a que se submeteram? Quais foram os acompanhamentos profissionais que
tiveram antes e depois da cirurgia? Que medicamentos utilizam atualmente?
49
6.1.1 Motivação dos sujeitos para realizarem cirurgia bariátrica
No quadro 6 é possível observar as motivações que os sujeitos pesquisados
relataram ter tido para realizar a cirurgia bariátrica. "Saúde" foi mencionado por todos os
entrevistados como a motivação para a realização da cirurgia bariátrica. "Influência de
terceiros" foi apontada por três sujeitos da pesquisa. Já a “Discriminação” e "Aceitação de si
mesmo" foi apontada por dois entrevistados, para cada categoria. "Ser aceito por terceiros" foi
mencionado por somente um sujeito da pesquisa.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Discriminação Eu não tinha amigos, diziam lá vai o obeso, eles me chamavam de banha. (E1)
Onde eu trabalhava, as pessoas não me chamavam pelo meu nome me chamavam
de gorda. E eu ficava triste (E3)
2
Aceitação de si
mesmo.
Eu já não me sentia bem comigo mesmo.(E1)
Eu não tava contente comigo mesma. (E4)
2
Ser aceito por
terceiros
A minha motivação maior foi a aceitação dos outros. (E1)
1
Saúde
Eu também já tinha hipertensão, tinha dificuldade de amarrar um tênis, ficava
cansado. (E1)
Eu já estava com diabetes, colesterol altíssimo,
problemas de joelho, com dificuldades de subir escada (E2)
Tinha problemas de pressão alta, tinha muita dor de cabeça e quando ia a pé para
o trabalho e ficava muito casada. (E3)
Depois com a obesidade eu fui ficando doente, com pressão alta. (E4)
Eu era hipertensa severa tomava 6 medicações por dia, casada há 12 anos tinha o
sonho de ser mãe, mas com a pressão que eu tinha era impossível, esse foi o meu
maios incentivo. (E5)
5
Influência de
terceiros
O meu colega operou antes, eu não sabia nada sobre a cirurgia, ele tinha 192 kg e
deu bastante resultado, através dele me inspirou a fazer esta cirurgia. (E1)
O meu sobrinho que fez e me indicou. (E3)
Uma amiga minha disse: Vai fazer! Ela fez e disse que eu tinha que fazer (E4)
3
Quadro 6 - Motivação para realizar a cirurgia.
Fonte: elaboração da autora, 2011
A busca pela melhora da saúde foi mencionada por todos os sujeitos da pesquisa
como um dos motivadores para a realização da cirurgia bariátrica. Os pesquisados, segundo
seus relatos, buscaram através da cirurgia bariátrica a perda de peso e, por consequência, a
50
melhora em sua saúde. Este dado revela que as pessoas com obesidade percebem a sua saúde
tem prejuízos, tendo em vista que a obesidade está associada a várias doenças. Como pontua
Peres (2005), a obesidade está associada a elevado grau de morbidade, entre elas: hipertensão,
diabetes, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), osteoartrite, apnéia do sono,
câncer, entre outros. Porém, Castro (2010) chama a atenção de que estudos apontam para o
fato de que apesar de o discurso dos sujeitos com obesidade revelarem que a motivação para a
cirurgia seja a melhora na saúde, a ênfase tem sido dada às questões estéticas, e isso pode
ocorrer porque as pessoas com obesidade são alvos de preconceitos e discriminação. Em
pesquisa realizada por Marquesini (2010, p.3), com pessoas que submeteram-se a cirurgia
bariátrica, foi observado que "no que tange à motivação, a saúde debilitada preencheu a
porcentagem de 30,4% como critério para decisão para a cirurgia bariátrica, mas ainda a mola
propulsora dos pacientes é a discriminação social e estética com 54,3%."
O fato de serem alvos de preconceito e discriminação, bem como a dificuldade de
aceitação de si mesmo, a busca pela aceitação de terceiros e a influência de terceiros foram
outros motivos apontados pelos pesquisados para realizarem a cirurgia bariátrica. Neste
sentido, Segal e Fandiño (2002) levantam esta discussão, dizendo que a discriminação contra
a pessoa com obesidade perpassa toda a sociedade, como é observado em programas de
televisão, piadas, revista, etc. Isso pode fazer com que pessoas com obesidade tenham
sofrimentos psicológicos importantes e que busquem na cirurgia bariátrica a "melhora" desta
situação. Este fato corrobora a idéia de Benedetti (2003) que diz que para as pessoas vítimas
de preconceitos e insatisfeitas com o próprio corpo, o emagrecimento tem caráter de
"salvação". Para estas pessoas, conseguirem o emagrecimento através da cirurgia bariátrica
pode despertar expectativas que efetivamente a cirurgia não pode oferecer, como por
exemplo, a aceitação de si mesmo ou não ter mais nenhum problema de saúde.
Estas expectativas, entre outras, foram observadas nos motivos apontados pelos
sujeitos desta pesquisa para a realização da cirurgia. Todos os sujeitos pesquisados referiram
que um dos motivos para realizar a cirurgia seria a melhora na saúde, três disseram que seria
influência de terceiros, dois disseram que seria a discriminação sofrida por eles, dois
pesquisados relataram que seria a aceitação de si mesmo e um sujeito pesquisado disse que
seria para ser aceito por terceiros. Estes dados revelam que a motivação para a realização da
cirurgia bariátrica por parte dos sujeitos pesquisados estavam relacionados a expectativas de
"salvação" que a cirurgia bariátrica por si só, não consegue dar conta.
51
6.1.2 Percepção dos sujeitos acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteram
No quadro 7 é possível observar a percepção dos sujeitos acerca da cirurgia
bariátrica a que se submeteram. "Controle" e "Frustração" foram mencionados por dois
sujeitos pesquisados, para cada categoria, ao serem questionados acerca da percepção que tem
sobre a cirurgia bariátrica. "Realização" e "Mudança" foram mencionadas por um pesquisado,
para cada categoria, como a sua percepção acerca da cirurgia a que se submeteram.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Mudança
E depois que eu fiz a cirurgia a minha vida deu uma mudada 100 % apesar de
depois voltar a engordar e depois consegui emagrecer novamente. (E1)
1
Controle
A cirurgia não é a salvação. Tu tens que ter muito controle. (E1)
Eu achei que ia resolver por resto da vida, pelo contrário é um controle para o
resto da vida. (E2)
2
Realização
Ao fazer a cirurgia me fez levantar, tanto, tanto, me fez me gostar que foi para mim
uma realização. Como hoje ainda me sinto realizada mesmo tendo engordado um
pouco, mesmo assim estou feliz de ter feito. (E2)
1
Frustração Mas eu esperava um resultado diferente.... Porque eu não quero me operar de
novo, eu não quero, posso engordar 200 kg. (E3)
Eu costumo dizer que a cirurgia serviu para mim para três coisas, para amenizar o
meu problema de hipertensão arterial, porque não curou, para eu ter o meu filho e
para detonar com a minha saúde, porque hoje em dia tenho que fazer reposição
de ferro, eu me alimento normalmente como qualquer pessoa, como o meu
organismo não absorve o ferro eu tenho que fazer a reposição de ferro, eu
tenho que tomar complexo vitamínico, hoje eu ainda sou gorda e não tenho a
saúde que eu tinha antes da cirurgia, apesar de ser hipertensa severa. (E5)
2
Quadro 7 - Percepção do sujeito acerca da cirurgia bariátrica a que se submeteu.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
A percepção de que a cirurgia não resolve a obesidade por si mesma e que
necessita de mudança de comportamento alimentar, foi pontuada por E1 e E2 utilizando a
palavra "controle" para se referirem ao fato de que mesmo que haja a redução de estômago,
isso não é garantia da perda de peso para sempre. Benedetti (2003) afirma que o sucesso do
tratamento cirúrgico da obesidade está na forma como o sujeito operado vai lidar com este
recurso, a redução de estômago. O que se pode compreender é que o controle a que os
pesquisados E1 e E2 fazem menção, está relacionado à maneira como eles lidam com seu
52
comportamento alimentar, sendo que a redução de estômago lhes trouxe a percepção de que
necessitariam deste controle para a perda de peso.
Outro fator importante na percepção dos sujeitos E3 e E5 acerca da cirurgia foi o
fato de não terem conseguido o que esperavam ao realizar a cirurgia, trazendo-lhes frustração.
E5 afirma que tinha como motivação para a cirurgia a melhora em sua saúde, como descrito
no quadro 6, mas ao ser perguntada sobre a percepção da cirurgia, ela afirma ainda ter
hipertensão e que, em decorrência da cirurgia, surgiram outros problemas de saúde, além de
ainda continuar "gorda". Já E3 parece se frustrar ao perceber que o resultado que esperava da
cirurgia não aconteceu, como o emagrecimento esperado.
Essas expectativas "lançadas" a cirurgia bariátrica e não sobre a mudança de
comportamento dos sujeitos, vem ao encontro das discussões feitas por Benedetti (2003) de
que muitos sujeitos operados lançam sobre a cirurgia bariátrica a fantasia de que a vida irá
mudar por completo, como se o sujeito fosse passivo neste processo, como se dele não
dependesse a mudança de comportamento. Esta dificuldade da mudança de comportamento,
principalmente do comportamento alimentar após algum tempo de ter realizado a cirurgia
bariátrica, foi também observada na pesquisa realizada por Magdaleno et al. (2009). Nessa
pesquisa os autores descobriram que os seus pesquisados apresentaram muitas dificuldades
em mudar a maneira como se alimentavam. Passado o sentimento inicial de vitória e de "lua-
de-mel" com a perda de peso, os sujeitos enfrentavam problemas ao entrar na realidade da
restrição alimentar, dentre outros problemas que ocorrem em decorrência da cirurgia.
Porém, com base na percepção de E1 e E2 sobre a cirurgia como mudança de vida
e realização para o sujeito, também é possível identificar que a partir da cirurgia e do
emagrecimento, os sujeitos podem buscar a mudança de seus comportamentos, das suas
relações sociais, trazendo-lhes maior satisfação e bem-estar. A redução de estômago pode ser
um motivador para a mudança de comportamento, principalmente no que diz respeito ao
comportamento alimentar. Segundo Benedetti, (2003), alguns sujeitos que realizaram a
cirurgia conseguiram mudar o estilo de vida após a cirurgia, conseguindo se adaptar a nova
dieta, assim perdendo peso. E, conforme o autor, com a perda de peso estes sujeitos podem ter
o aumento da auto-estima, a sensação de controle sobre si mesmo e sobre o seu
comportamento e sofrer menos preconceitos, o que facilitaria as suas relações sociais.
53
6.1.3 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos antes de realizarem a
cirurgia bariátrica.
No quadro 8 são apresentados dados referentes ao acompanhamento profissional
que os sujeitos relataram ter realizado antes de se submeterem à cirurgia bariátrica. "Tipo de
profissional" foi dividida em subcategorias por tipo de atividade profissional. Os cinco
pesquisados referiram que tiveram atendimento médico antes de realizarem a cirurgia. Três
pesquisados informaram que tiveram atendimento psicológico antes de realizarem a cirurgia e
três, que tiveram atendimento com nutricionista. Dois sujeitos disseram que tiveram
atendimento com nutrólogo. E um informou que teve atendimento com psiquiatra e outro que
teve atendimento com fisioterapeuta.
A "Motivação para a procura de acompanhamento de outro profissional da área da
saúde além do acompanhamento médico" foi dividida em subcategorias. A subcategoria
"Obtenção de documentos necessários para realizar a cirurgia" foi a resposta dada por três
sujeitos da pesquisa, como sendo o motivo da procura por atendimento de outros
profissionais. A subcategoria "Indicação do médico" foi referida por dois entrevistados como
sendo a motivação para a procura do atendimento profissional. A subcategoria
"Acompanhamento do SUS" foi indicada pela entrevistada E4 como sendo o motivo para ter
realizado o acompanhamento de outros profissionais da área da saúde, além do médico, antes
da cirurgia.
Quanto à categoria "Dificuldades para realizar o acompanhamento profissional",
foi possível identificar a subcategoria "dificuldades financeiras" no discurso da entrevista E2
como o motivo para não procurar atendimento de outros profissionais, além do atendimento
médico, antes de realizar a cirurgia.
Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor
Tipo de
profissional
Cirurgião
bariátrico
Eu fui ao cirurgião (E1 ,E 2, E3, E4, E5.) 5
Psicólogo Psicólogo. (E1, E3, E4) 3
Nutricionista Fui a nutricionista (E1, E4 ,E5) 3
Nutrólogo Fui até no nutrólogo (E1, E5) 2
Fisioterapeuta Fisioterapeuta (E4) 1
Psiquiatra Fui ao psiquiatra (E5) 1
Motivação para a
procura de
acompanhamento
de outro
profissional da área
da saúde além do
Obtenção de
documentos
necessários para
realizar a cirurgia.
Fui nestes profissionais somente para preencher os
formulários para a cirurgia. (E1)
Para dizer se eu podia fazer a cirurgia, uma consulta.
(E3)
3
54
atendimento
médico
Eu fui a todos os profissionais para preencher as
fichas não para fazer um acompanhamento. (E5)
Indicação do
médico
O médico me indicou, mas não foi uma coisa muito
cobrada. (E1)
Fiz por dois meses antes da cirurgia acompanhamento
com a nutricionista por indicação do cirurgião
bariátrico. (E5)
2
Acompanhamento
do SUS
No Hospital, pelo SUS. A gente tinha todo
acompanhamento, a nutricionista, psicólogo,
fisioterapeuta, fazíamos atendimento individual e em
grupo para dividir as experiências das pessoas.
(E4)
1
Dificuldades para
realizar o
acompanhamento
profissional além
do
acompanhamento
médico
Questões
financeiras
Não fui na nutricionista, cada vez a consulta tinha que
pagar 150 reais, eu mesmo vou cuidar. Não fiz
acompanhamento psicológico, nunca fui em psicólogo.
(E2)
1
Quadro 8 - Acompanhamento profissional antes da cirurgia bariátrica.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
O médico foi o profissional procurado por todos os entrevistados, tendo em vista
ser este o profissional que realiza o procedimento cirúrgico da redução de estômago. Os
demais profissionais procurados pelos entrevistados fazem parte da equipe multiprofissional
de apoio. Pois, além do cirurgião, o sujeito que irá passar pela cirurgia bariátrica necessita de
acompanhamento de outros profissionais, como: psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, etc.
(CLAUDINO, ZANELLA, 2005).
D'Oliveira et al. (2008), no Boletim Brasileiro de Tecnologia em Saúde, discute o
fato de que para realizar a cirurgia bariátrica é necessário ter infra-estrutura, suporte
organizacional e acompanhamento pré e pós-operatório.
No âmbito do SUS, o Ministério da Saúde instituiu as diretrizes para a atenção à
saúde, com vistas à prevenção e assistência ao portador de obesidade por meio da
Portaria GM/MS 1569/0730. Com relação aos critérios técnicos mínimos para a
realização da cirurgia bariátrica, a unidade prestadora de serviço deve dispor de:
Instalações e equipamentos adaptados ao perfil específico dos pacientes em questão;
equipe multidisciplinar experiente na avaliação pré-operatória, manejo das co-
morbidades e cuidados pós-operatórios, incluindo avaliação da necessidade de
cirurgia plástica após a maior perda de peso. (D'OLIVEIRA, et al., 2008, p. 6).
Os autores ainda problematizam que, pelo fato de a maioria das cirurgias
bariátricas, no setor privado, ser realizada em centros não cadastrados como serviços
especializados,talvez não haja garantia das condições mínimas para a execução do
55
procedimento, entre eles, a de ter uma equipe multiprofissional que preste acompanhamento
ao paciente. Acrescido ao fato de que o tempo de intervenção para o procedimento hoje é
pequeno, devido ao método de videolaparoscopia, tornando a cirurgia mais "simples" o que
talvez seja um fator que influencia na visão de banalização desta intervenção cirúrgica. Então
há um entendimento, por parte desses profissionais do setor privado, que não é obrigatório
que o candidato à cirurgia tenha acompanhamento contínuo de equipe multiprofissional de
saúde. Pois o preconizado pelo Ministério da Saúde (Portaria 492/31/08/2007) é que os
sujeitos candidatos à cirurgia busquem desses profissionais um parecer que recomende ou não
a realização da cirurgia, como é o caso do parecer psicológico e/ou psiquiátrico. E isto é
observado na fala de três sujeitos da pesquisa, que referiram que a motivação para procurar
outros profissionais, além do médico, foi o fato de necessitarem do preenchimento da
documentação para realizar a cirurgia, conforme a fala E5: Eu fui a todos os profissionais
para preencher as fichas, não para fazer um acompanhamento.
A partir das falas dos sujeitos da pesquisa é possível perceber que a procura por
outros profissionais além do médico está diretamente relacionado ao fato de conseguirem o
preenchimento de toda a documentação necessária para a realização da cirurgia bariátrica e
não da importância de ter acompanhamento contínuo dos demais profissionais da área saúde.
Este dado vem ao encontro do que foi levantado na pesquisa feita por Marchesini (2010), com
pacientes pós cirurgia bariátrica, em que observou que os sujeitos queriam a cirurgia
bariátrica, mas não percebiam a necessidade de maior preparação para o procedimento. Esta
falta de acompanhamento de equipe multiprofissional no antes e após a cirurgia bariátrica,
contradiz o que foi recomendado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica. O presidente dessa entidade refere que para que ocorra o sucesso da
cirurgia bariátrica, os sujeitos que são submetidos à cirurgia devem realizar acompanhamento
contínuo de profissionais da área da saúde, devido à necessidade de mudança na dieta e nos
hábitos da vida (SBCBM, 2010).
Então, é possível considerar, a partir da fala dos entrevistados, que esses sujeitos
recorreram à cirurgia bariátrica sem considerar a importância do acompanhamento
psicológico e de influências psicológicas na sua situação de obesidade. Santos (2005) alerta
para o fato de que o sofrimento emocional tem ampla relação com a obesidade, em sua origem
ou como resultado dela. Por ter este entendimento, Claudino e Zanella (2005), reafirmam a
importância do acompanhamento pré-operatório por equipe mutiprofissional, entre eles o
acompanhamento psicológico. Porém, segundo Magdaleno Jr. et al. (2009) o que muitas
vezes acontece é que pessoas vão para a cirurgia bariárica sem considerar a importância das
56
influências psicológicas nas causas da obesidade, buscam a cirurgia como primeira alternativa
de tratamento da obesidade quando deveria ser última e que possivelmente realizam a cirurgia
considerando que a técnica de redução do estômago daria conta da perda de peso para sempre
e das mudanças que ocorreriam em suas vidas.
Entretanto, muitas vezes o sujeito que na decisão de fazer ou não à cirurgia
bariátrica desconhece a importância do acompanhamento multiprofissional no pré e pós
cirúrgico. Por isso, necessita receber esclarecimentos sobre a importância desses
acompanhamentos, bem como ser motivado a buscá-lo, para obter um melhor resultado
possível da cirurgia. Para Repetto e Rizzolli (2006, p. 345), na avaliação clínica pré-operatória
"o paciente deve ser bem orientado sobre todos os cuidados pós operatório e ter uma boa
adesão ao acompanhamento multiprofissional no pós-operatório para obter o melhor resultado
possível, ou seja emagrecer com saúde".
Os profissionais da área da saúde, principalmente o cirurgião bariátrico, por ser o
profissional que tem contato com todos os candidatos à cirurgia, conforme relato dos sujeitos
da pesquisa, tem o papel de esclarecer e motivar o sujeito que irá se submeter a cirurgia
bariátrica a procurar acompanhamento psicológico, dentre outros profissionais, no pré e pós-
cirúrgico, por ser este um acompanhamento importante para um bom prognóstico. Segundo o
Manual de Orientação Ética e Disciplinar do Conselho Regional de Medicina do Estado de
Santa Catarina (2006, p. 104), é vedado ao médico "deixar de informar ao paciente o
diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento,[...]" Repetto e Rizzolli
(2006) chamam a atenção para o fato de que a realização da cirurgia bariátrica vem se
popularizando e com isso aumentou o número de cirurgiões que realizam este procedimento
cirúrgico, e que "alguns deles realizam a cirurgia de forma indiscriminada e até irresponsável,
muitas vezes operando pacientes sem indicação cirúrgica ou mesmo com alguma contra-
indicação." (REPETTO, RIZZOLLI, 2006, p. 351). Os autores ainda pontuam que estes
cirurgiões operam sem treinamento apropriado e sem uma equipe multiprofissional para dar o
seguimento pós operatório, podendo colocar em risco a vida do paciente. Isso porque
desconsideram que a cirurgia é apenas uma das ferramentas para o tratamento complexo da
obesidade.
57
6.1.4 Acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos depois de realizaram a
cirurgia bariátrica.
No quadro 9 é retratado o acompanhamento profissional realizado pelos sujeitos
depois de se submeterem à cirurgia bariátrica. "Tipo de profissional" foi dividida em
subcategorias por atividade profissional. O profissional médico foi indicado pelos cinco
pesquisados como o profissional que realizou o acompanhamento depois da cirurgia. O
profissional psicólogo foi indicado como tendo sido procurado para acompanhamento depois
da cirurgia por três dos entrevistados. O profissional da nutrição foi indicado como tendo sido
procurado por três sujeitos da pesquisa para acompanhamento depois da cirurgia e o
profissional psiquiatra por um sujeito da pesquisa, para acompanhamento depois da cirurgia.
A categoria "Motivação para a procura de acompanhamento de outros
profissionais da área da saúde além do acompanhamento médico" foi dividida em
subcategorias. "Voltar a ganhar peso" foi o motivo apresentado por dois sujeitos da pesquisa
para a procura de acompanhamento profissional. "Dificuldade de se expressar em público",
"Depressão após a cirurgia bariátrica" e "Gravidez" foi o motivo referido por um pesquisado
para cada categoria, como o que os levou a buscar acompanhamento psicológico.
Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor
Tipo de profissional
Psicólogo Procurei a psicologia (E1, E3, E4) 3
Nutricionista Comecei com a nutricionista (E1,E2, E5) 3
Psiquiatra Eu fiz 9 meses com o psiquiatra. (E3)
1
Médico E faço acompanhamento médico (E1, E2, E3, E4, E5) 5
Motivação para a
procura de
acompanhamento de
outros profissionais
da área saúde além
do acompanhamento
médico.
Dificuldade de se
expressar em
público.
Procurei a psicologia não pela redução de estomago, eu
fui pelo fato de estar no final da faculdade fazendo o
TCC, e tinha muita dificuldade de me expressar em
público e consegui deu uma melhorada boa. (E1)
1
Voltar a ganhar
peso
Há quatro meses comecei com a nutricionista. Fui
agora quando vi a grande necessidade (voltar a
ganhar peso). (E2)
No ano passado eu fiquei um ano em acompanhamento
psicológico. Então foquei nisso de não ganhar peso e
de mudar meus hábitos. Agora eu não vou mais, não
bateu os horários. (E4)
2
Depressão após à
cirurgia
bariátrica
Eu fiz 9 meses com psicólogo e psiquiatra por causa da
depressão(logo após a cirurgia). (E3)
1
58
Gravidez Por causa da minha gravidez eu fiz acompanhamento
com nutricionista, mas abandonei por causas
financeiras. (E5)
1
Quadro 9 - Acompanhamento profissional depois da cirurgia bariátrica.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
O médico foi referido como profissional procurado por todos os entrevistados para
acompanhamento pós-cirúrgico, possivelmente por ser este o profissional responsável pelas
condições clinicas dos sujeitos no pós-operatório em curto, médio e longo prazo. Segundo o
Manual de Orientação Ética e Disciplinar do Conselho Regional de Medicina do Estado de
Santa Catarina (2006, p. 72), "do ponto de vista técnico, cabe ao médico estabelecer o
diagnóstico, a prevenção e o tratamento das doenças humanas". Pereira e Benchimol (2006, p.
365), falando do acompanhamento clínico pós-cirúrgico, afirmam que "o clínico ou o
endocrinologista fará o acompanhamento prevenindo e tratando complicações clínicas, é
importante lembrar que esse paciente deve ser acompanhado e monitorado por toda a vida".
Os sujeitos pesquisados relataram diversos motivos para terem procurado o
acompanhamento de outros profissionais da área da saúde, além do médico. Dos motivos que
levaram os entrevistados a procurar o acompanhamento psicológico, somente o sujeito E4
referiu que teria sido por voltar a ganhar peso. Sendo possível considerar, segundo o relato
dos sujeitos de pesquisa, que estes sujeitos tenham dificuldades em relacionar a obesidade ao
tratamento de sofrimentos psicológicos na busca pela perda de peso ou ainda, de que não
estabelecem relações entre a obesidade e os sofrimentos psicológicos, como foi discutido no
quadro 8. Esses dados, também foram observados na pesquisa realizada por Marchesini
(2010) com pacientes pós cirúrgicos de cirurgia bariátrica. O autor observou que os sujeitos
que desejavam a cirurgia não percebiam a necessidade de maior preparação psicológica para a
cirurgia, mas que após realizar a cirurgia, 67,4% dos entrevistados disseram que deveriam ter
se preparado psicologicamente melhor, com mais de uma avaliação psicológica.
6.1.5 Medicamentos utilizados pelos sujeitos da pesquisa
No quadro 10 são apresentados dados sobre os medicamentos utilizados
atualmente pelos sujeitos da pesquisa. "Tipos de medicamentos" foi dividida em
subcategorias. "Polivitamínicos" e "Vitamina B12" foram referidos por três dos entrevistados,
59
para cada categoria. "Anti-anêmico" apareceu como resposta de dois sujeitos da pesquisa,
como sendo um dos tipos de medicamentos que utilizam atualmente. "Psicotrópicos" e
"Inibidor da acidez do estômago" foi a resposta de um entrevistado ao mencionar cada tipo de
medicamento que utiliza atualmente.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Polivitamínicos Tomo Polivitamínicos desde a cirurgia, vou tomar para o resto da
minha vida. (E1)
Eu uso polivitamínico (E4 e E5)
3
Psicotrópicos Eu uso bromazepam (E2) 1
Anti-anêmico Eu preciso usar o ferro por causa da minha anemia (E3).
Faço 1 vezes por mês a reposição com 2 ampolas de Noripurum
endovenoso, para manter o nível de ferro. (E5)
2
Vitamina B12 Eu uso vitamina B12. (E3 e E4).
Eu faço a injeção de B12 a cada dois meses. (E5)
3
Inibidor da acidez do
estômago
Eu tomo para azia. (E4)
1
Quadro 10 - Medicamentos utilizados pelos sujeitos.
Fonte: elaboração da autora, 2011
Dos cinco sujeitos entrevistados, quatro relataram que atualmente utilizam
medicamentos para problemas de saúde em decorrência do procedimento cirúrgico a que se
submeteram, conforme a fala de E1: "Tomo Polivitamínicos desde a cirurgia, vou tomar para
o resto da minha vida". É possível considerar, a partir das falas dos sujeitos, que apesar de
eles terem conseguido reduzir seu peso através da cirurgia bariátrica, eles ainda apresentam
problemas de saúde que necessitam de controle por meio do uso de medicamentos contínuos.
Esta constatação vem ao encontro do que Santos (2005) afirma sobre as técnicas cirúrgicas
disabsortivas ou da cirurgia mista, como a Fobi-Capella. O sujeito submetido a essas técnicas
necessita ter controle quanto a distúrbios metabólicos, de minerais e vitaminas.
6.2 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR
O comportamento alimentar é um comportamento complexo que é constituído por
vários fatores, entre eles, os fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e os culturais.
O comportamento alimentar pode estar diretamente relacionado com o estado de
obesidade de um sujeito. Então, como se caracteriza o comportamento alimentar dos sujeitos
que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica? Quais os tipos de
60
alimento que consomem? Qual a quantidade de alimento que consomem? Onde e com quem
fazem as refeições? Qual o tempo que levam para fazer as refeições? Quantas refeições fazem
ao dia? Houve mudanças na alimentação após a cirurgia bariátrica? Existem problemas físicos
quando se alimenta? Percebem mudança na alimentação quando te alguma emoção? Qual o
significado dado aos alimentos? Essas são questões que serão examinadas a seguir.
6.2.1 Tipos de alimento que consomem
No quadro 11 é retratado que tipos de alimentos que os sujeitos da pesquisa
afirmam consumir. Os tipos de alimentos consumidos pelos sujeitos da pesquisa foram
divididos em categorias. As seis primeiras categorias foram elaboradas com base na
classificação nutricional dos alimentos: verduras e hortaliças, frutas, proteínas, carboidratos,
doces e gorduras.
A categoria proteína é composta pelas subcategorias, "carnes" que foi referida
pelos cinco sujeitos da pesquisa como o tipo de alimento que consomem e "leite e derivados",
que foi respondido por três sujeitos como um dos tipos de alimento que consomem.
A categoria verduras e hortaliças é constituída pela subcategoria "saladas" por ser
esta a forma como os entrevistados respondiam ao fato de ingerir verduras e hortaliças sendo
que quatro sujeitos da pesquisa referiram consumir alimentos desse tipo.
A categoria carboidrato é comporta por subcategorias com o nome dos tipos de
carboidratos consumidos pelos pesquisados. Quatro sujeitos da pesquisa disseram que se
alimentam de "pão", dois sujeitos de "arroz", dois sujeitos de "batata", dois sujeitos de
"macarrão", dois sujeitos de "rosquinha". O "feijão" foi referido por dois sujeitos da pesquisa
como um dos tipos de alimento que consomem. O "aipim" foi um tipo de alimentos referido
por um sujeito da pesquisa como alimento que consome.
Na categoria "frutas" três pesquisados relataram consumir este tipo de alimento.
Já a categoria doces foi dividida na subcategoria açúcar e docinhos. A subcategoria "açúcar"
foi referida como tipo de alimento que consome por dois sujeitos da pesquisa. A subcategoria
"docinhos" foi o tipo de alimento consumido por três dos pesquisados.
A categoria alimentos gordurosos é compostas pelas subcategorias: "Frituras", que
foi mencionada por dois entrevistados como um dos tipos de alimentos que consomem e
61
"manteiga/margarina" foi um dos tipos de alimentos mencionado por dois sujeitos da
pesquisa.
A categoria alimentos compostos é constituída pelas subcategorias: "Lanches"
que foi referida por dois entrevistados como um dos tipos de alimento que consomem e
também dois sujeitos da pesquisa referiram consumir "pizza". "Lasanha" foi mencionada por
um entrevistado como um dos tipos de alimento que consomem.
A categoria "alimento/bebida fácil de comer" é composta pelas subcategorias
"carboidratos", sendo este um dos tipos de alimento considerados fácil de comer por três
sujeitos da pesquisa. "Chocolate" foi mencionado por um entrevistado como sendo um tipo de
alimento fácil de comer, e "Cerveja" como uma bebida fácil de ingerir foi mencionado por um
entrevistado.
A categoria "tipos de beliscos" é constituída por cinco subcategorias. "Bolachas"
foi o tipo de beliscos mencionado por três sujeitos da pesquisa. "Frutas" foi o tipo de beliscos
mencionado por três entrevistados, "O que está sendo preparado para o almoço" sendo este o
tipo de belisco referido por dois entrevistados, "amendoim" foi referido por dois entrevistado
e "chocolate foi mencionado como um tipo de beliscos por um entrevistado.
A categoria "alimentos que não gosta ou difíceis de digerir" foi subdividida em
quatro subcategorias. "Refrigerante" foi o tipo de alimento que não gosta ou que é difícil de
digerir mencionado por três dos sujeitos da pesquisa. "Frutas" foi referido por dois dos
pesquisados como alimento que não gostam. "Carne" e "Verduras" foram mencionados por
um sujeito pesquisado com um dos tipos de alimentos que não gosta ou são difíceis de digerir.
(Continua)
Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor
Verduras e
hortaliças
Saladas Ingiro de tudo não tenho restrição a nada só o que eu não
gosto de comer, mas como eu gosto de tudo. Primeiro eu
como um prato de salada. (E1)
Hoje eu como de tudo. Saladas, couve mineira, crua,
brócolis..... (E2)
A salada, três ou quatro tipos... (E3)
A verdura não sou muito fã mais como. (E5)
4
Frutas Frutas depois de 3 horas faço um lanchinho, uma fruta ou um
copo de suco. (E5)
ou um pedaço de maça. (E2)
....frutas (E3)
3
Proteínas Carnes ...depois como a minha proteína...(E1)
.... peito de frango ou carne vermelha que eu raramente
como. (E2)
... .. eu como a carne (E3)
5
62
carne eu gosto de tudo ensopado ou frito, eu sou muito
disso sabe... (E4)
... Peito de peru. Prefiro bastante a carne, ela me dá uma
saciedade. (E5)
Leite e
derivados
... eu como queijinho, leite. (E3)
... xícara de café com leite (E4)
Como de tudo, uma alimentação normal. Leite sempre
desnatado porque a gordura me faz mal. Requeijão light,
iogurte . (E5)
3
Carboidratos Pão
...e um pouquinho de carboidrato e deu.(E1)
Eu gosto do pão (E2)
manhã eu como um pão de trigo (E3)
... pão de trigo com margarina uma xícara de café com
leite, ou as vezes um pão doce, depende do dia vai mais a
metade do outro. (E4)
Já comprei desses pães integrais, para fazer com ricota, já
fiz, eu faço, mas é raro, depende da empolgação. (E4)
4
Doces Açúcar
café c/ leite e açúcar. Como bastante docinhos, salgadinho,
uma vez ou outra, a gente tira...Como bastante docinho, eu
adoro docinho. (E3)
...procuro comer pouco açúcar. Até
2
Docinhos ... eu não como ela toda(sobremesa) eu me sacio rápido, aí
eu deixo ela para uma outra parte, um depois. (E2)
Trouxe um pedaço de bolo para a casa e docinhos, fui
comendo aos pouquinhos durante a semana, não sou mais
gulosa por comida. (E2)
Eu gosto logo depois do almoço comer uma coisa doce, eu
não sou do doce, mas sempre dá aquela vontade. (E4)
3
Alimentos
Gordurosos
Fritura
.. um pouquinho de batatinha palha (E2)
gosto de tudo ensopado ou frito. (E4) 2
Manteiga/
Margarina
Um pão de trigo com margarina. (E4)
um pão de trigo com manteiga. (E3)
2
Alimentos
compostos
Lasanha E janto ou lasanha.... (E3)
1
Lanches .. ou hambúrguer(E3)
... Mas esta semana agora estamos no lanche, a gente pede
uma cachorro quente, x-salada. (E4)
2
Pizza .. a pizza eu adoro. (E2
... E janto, pizza. (E3)
2
63
"Alimento/bebida
fácil de comer"
Carboidratos
eu gosto muito de carboidrato, passei a gosta mais ainda de
carboidrato, o carboidrato é bom tu comer, é fácil
eu gosto do pão, do aipim, de comer uma rosquinha é
fácil é só quebrar e comer, a pizza, eu não gosto de
lasanha, mais a pizza eu adoro. (E2)
Purê de batata, macarrão, bolachinhas, são alimento
fácil de comer (E4)
Bolacha é uma coisa que derrete na boca, vai numa boa.
(E5)
3
Chocolate
Alimentos que derrete na boca, chocolate, bolachinha. (E5)
1
Cerveja
Cerveja, em uma festa eu bebo, 6,7,8 latinhas de
cervejas a noite toda, não passo mal porque vou
tomando aos poucos. Hoje eu não consigo jantar e tomar
uma cerveja, aquilo me incha, mas só bebendo a gente
consegue mais. Se for para beber eu consigo beber
bem.(E1)
1
"tipos de beliscos" O que está
sendo
preparado para
o almoço
O que eu fazia antes quando estava engordando eu ia na
cozinha pegava um bolinho de arroz ou de carne o que eles
estavam preparando para o almoço, para não fazer isso
eu prefiro passar fome e depois comer uma salada do que
me alimentar de 3 em 3 horas. (E1)
um coisa que estejam fazendo na cozinha. (E3)
2
Bolachas Eu sou belisquenta, vou lá pego uma bolachinha
salgadinha....(E2)
As vezes eu belisco uma bolacha um salgadinho.(E4)
Belisco bolachinha, coisas que tem em vidros.... (E5)
3
Amendoim ....um amendoim (E2)...
..amendoim, uma porcaria dessa. Esses beliscos, e é isso
que está me quebrando toda. (E4)
2
Frutas .....ou um pedaço de maça. (E2)
....frutas (E3)
... ou frutas, mas foge daquela regrinha que eu tinha depois
da cirurgia de comer de três em três horas. Não é que
sempre vou comendo é assim, vou dar alguma coisa para o
meu filho eu dou uma beliscadinha, nestas coisas eu estou
caindo. (E5)
3
Chocolate Eu belisco depende do dia. Eu sou muito chocólatra... .
(E5)
1
Alimentos que não
gosta ou que são
difíceis de digerir
Frutas A fruta não é algo que me atrai, que me agrada.(E1)
... Fruta, piorou, eu também não gosto. (E3)
2
Carne Eu já não como a carne, quando como é bem
mastigadinho. (E2)
1
64
(Conclusão)
Verduras Tem época que eu me sinto pesada eu me apavoro, eu pego,
tenho uma horta ali, vou lá e faço uma saladinha para
mim, mas é por obrigação, eu não gosto.. (E4)
1
Refrigerante ... o refrigerante se não for diet eu não tomo. (E5)
Eu tomo refrigerante, não pego um copo, tomo uns goles,
porque é doce não vai. (E4)
...combinei com meu marido de não tomarmos
refrigerante, em minha casa nem tem. (E2)
3
Quadro 11 - Tipos de alimentos que consomem.
Fonte: elaboração da autora, 2011
Os entrevistados, conforme suas falas, consomem variedade de alimentos,
segundo a classificação nutricional. Sendo que os alimentos considerados fáceis como os
carboidratos, tem a preferência no consumo da maioria dos sujeitos da pesquisa, bem como, o
hábito alimentar de beliscar certos tipos de alimentos, conforme disse E4: "...amendoim, uma
porcaria dessa. Esses beliscos, e é isso que está me quebrando toda." . Machado et al. (2008,
p. 6), em sua pesquisa com pacientes no pós operatório da cirurgia bariátrica, observou que
"quanto a preferência alimentar, ela foi notada por alimentos calóricos como carboidratos
(42%), doces (26%) e petiscos (14%)". O beliscar e a procura por ingerir alimentos fáceis,
como bolachas, chocolates, cerveja, etc., são estratégias alimentares utilizadas pelo sujeitos
pesquisados e que podem acarretar no ganho de peso, devido a dificuldade de controlar a
quantidade de alimento ingerido e ao grande teor de calorias desses alimentos.
O sujeito E1 referiu que a cerveja é uma bebida fácil de ingerir. Machado et al.
(2008), em estudo com pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica, observou que entre
as preferências de alimentação fácil os entrevistados referiram a cerveja, uma vez que é
ingerida com facilidade, além de inibir a forme. O autor alerta, no entanto, para o fato de que,
"em investigação com grande amostra populacional identificou a compulsão alimentar
associada ao risco significativamente aumentado de dependência de álcool" (MACHADO, et
al., 2008, p.7). Nesse sentido, Marchesini (2010) observou em sua pesquisa com pacientes
submetidos à cirurgia bariátrica, que algumas das pessoas entrevistadas estavam deslocando a
compulsão alimentar para outro foco, entre eles, a substituição da comida pela bebida, sendo
que esta foi a resposta dada por 11% dos entrevistados. É possível considerar que a utilização
da bebida alcoólica como uma bebida fácil de ingerir pode contribuir para a dependência ao
álcool.
65
Ao examinar o "beliscar", Magdaleno (2009) afirma que isso pode ocorrer com
pessoas que fizeram a cirurgia bariátrica devido à redução do volume gástrico, e que, em
alguns casos, este hábito alimentar de beliscar pode estar associado à compulsão alimentar
que o sujeito já apresentava antes de realizar a cirurgia. Segundo o autor, este tipo de
comportamento alimentar pode acarretar ao sujeito o ganho de peso. Neste sentido Marquesini
(2010, p.4) diz que,
o comportamento de beliscar tende a substituir a compulsão a comer e predispõem à
recuperação do peso. O ato de beliscar porções pequenas, que não promovem
sensação de empanzinamento como ocorre na compulsão alimentar, inibe a
percepção do limite alimentar.
O comportamento de beliscar também foi observado na pesquisa realizada sobre a
compulsão alimentar antes e após a cirurgia bariátrica por Machado et al. (2008). Os autores
observaram que "o comportamento de beliscar estava presente em "94% dos pacientes no
pré-operatório e em 60% no pós. 33,3% adquiriram o hábito beliscador após à operação e
63% permaneceram com comportamento beliscador" (MACHADO, et al., 2008, p. 6). É
possível considerar que o ato de beliscar, referido pelos sujeitos pesquisados, pode estar
associado ao comportamento de compulsão alimentar presente antes de realizarem a cirurgia.
Machado, et al. (2008) alertam para o fato de que
Os pacientes portadores de obesidade mórbida submetidos à cirurgia bariátrica
apresentam indícios de compulsão alimentar antes e após a operação. Ela está
relacionada a aspectos psicológicos como dificuldades em organizar emoções,
ansiedade, depressão. Características de impulsividade. controle, rigidez e
instabilidade emocional também contribuem para a manifestação de episódios
compulsivos. Os hábitos alimentares e preferências alimentares modificam-se após a
operação, de modo que os pacientes passam a consumir alimentos de fácil ingestão
frente a situações que os faziam comer compulsivamente, não sendo observado
trocas de compulsão. O comportamento alimentar inadequado persiste ou é agravado
após a operação (MACHADO, et al., 2008, p. 9).
Logo, o mau hábito alimentar não foi modificado para os sujeitos da pesquisa.
Com base nesses dados, é possível hipotetizar que estes sujeitos não receberam atendimento
psicológico e nutricional "satisfatório" antes e depois da cirurgia. Esta discussão levanta
alguns questionamentos: estes sujeitos foram comunicados e alertados sobre o seu
comportamento alimentar pelos profissionais que lhes prestaram atendimento no antes e no
depois da cirurgia? Estas características alimentares dos sujeitos, o mau hábito alimentar,
estavam descritas em seus pareceres psicológicos ou psiquiátricos?
66
6.2.2 Quantidade de alimento que consomem
No quadro 12 é mostrado a quantidade de alimentos que são consumidos pelos
sujeitos pesquisados. "Pouco" foi mencionada por dois entrevistados como sendo a
quantidade de alimento que consomem e "Muito", foi mencionado por um sujeito da pesquisa.
"Não soube dizer", foi referido por dois entrevistados pois, não conseguiram dizer a
quantidade de alimento que consomem.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Muito Eu acho que como bastante. (E3) 1
Pouco De 250 a 260 gramas, isto é sagrado, acho que não como muito. (E2)
Não vou te mentir saio da mesa com fome, mas é assim que estou me mantendo, os
99 kg. (E1)
2
Não soube
dizer
Eu não sei dizer, nem reparo. (E4)
Não tenho a menor noção. (E5)
2
Quadro 12 - Quantidade de alimento que consome.
Fonte: elaboração da autora, 2011
A dificuldade de percepção da quantidade do alimento consumido por alguns
sujeitos da pesquisa pode estar relacionada ao fato de que o sujeito tem o hábito de beliscar,
conforme foi discutido no quadro 11. Elkins, et al. (2005) apud Marchesini (2010, p.4),
observaram em pesquisa realizada com pacientes pós cirurgia bariátrica que, "44% dos
operados apresentaram o hábito de beliscar. O mesmo grupo após um ano permaneceu
beliscando na porcentagem de 37%, o ato de beliscar porções pequenas, inibe a percepção do
limite alimentar".
Essa dificuldade de perceber a quantidade de alimento também pode estar
associada ao fato de não perceber as informações transmitidas pelo Sistema Nervoso Central
na regulação da saciedade e da fome. Bacaltchuk e Apolinário (2005) afirmam que
fisiologicamente o processo de saciação é responsável pelo tamanho das refeições, entretanto
os autores chamam a atenção para o fato de que a saciedade nem sempre é uma demanda
fisiológica, o que desencadeia a saciedade ou não, pode estar ligado a demandas emocionais,
entre outros fatores. E que as pessoas com obesidade tem dificuldades de perceber a
informação fisiológica para parar de consumir alimento. Este fato foi observado também por
Mattos et al. (2005) em sua pesquisa com pessoas com obesidade e a dificuldade destes
sujeitos estarem atentos a quantidade do consumo de alimento, devido aos estímulos
emocionais, culturais e sociais e não o estímulo fisiológicos.
67
A categoria "Pouco" foi apontada por E1 como a quantidade de alimento que
consome. Porém, segundo este sujeito, a quantidade de alimento que consome em suas
refeições não é o suficiente para ter a sensação de saciedade, conforme sua fala, E1: Não vou
te mentir saio da mesa com fome, mas é assim que estou me mantendo, nos 99 kg." Este fato
provavelmente está de alguma forma relacionado com a tentativa deste sujeito de perder peso,
uma vez que em vários momentos da entrevista o sujeito E1 referiu preferir a restrição
alimentar e o intenso exercício físico a voltar a ganhar peso. É possível considerar que muitas
vezes o sujeito, apesar de ter o estômago reduzido, ainda "luta" pela manutenção de seu peso,
por isso a importância da mudança de hábitos alimentares e não da prática de dieta restritiva
como a quantidade tão reduzida de alimento. Santos (2005), ao falar sobre o controle do peso,
diz que a dieta muito restritiva é utilizada pelo sujeito com obesidade na busca de perder peso,
porém sem sucesso, caindo no efeito sanfona, engorda-emagreci e gerando ainda mais
sofrimento emocional.
6.2.3 Local onde faz as refeições e com quem
Foi observado no quadro 13, onde e com quem os sujeitos da pesquisa realizam
suas refeições. A "Casa" foi mencionada por quatro sujeitos da pesquisa como sendo o local
onde geralmente realizam suas refeições; "Trabalho" e "Restaurante", foram referidos por dois
entrevistados como o local onde as vezes realizam as suas refeições.
"Família" foi mencionada pelos cinco entrevistados como com quem realizam
uma de suas refeições; "Com colegas de trabalho" e "Sozinho" foram referidas por dois
sujeitos da pesquisa como com quem realizam uma de suas refeições.
(Continua)
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Trabalho
No trabalho.(E1, E3) 2
Casa Na janta, em casa com meu marido e filhos. (E3)
A maioria das vezes em casa (E2, E5)
Eu almoço na casa do meu pai e janto na minha casa (E4)
4
Restaurante Restaurante as vezes (E1)
Finais de semana normalmente em restaurante. (E5)
2
68
(Conclusão)
Com a
família ....eu almoço com os idosos ou com minha família. (E1)
.....com meu marido. (E2)
com meu marido e filhos. (E3, E5 )
o almoço e com meu pai e meus filhos janta é com meu marido e meus filhos.
(E4)
5
Com colegas
de trabalho
No trabalho com as pessoas que trabalham comigo (E1, E3)
2
Sozinho No restaurante sozinho.(E1, E2) 2
Quadro 13 - Local onde faz as refeições e com quem.
Fonte: elaboração da autora, 2011
Os sujeitos pesquisados afirmam que realizam ao menos uma de suas refeições em
casa com seus familiares. Segundo Castell (2004, p. 82), "sempre que possível prefira comer
acompanhado, pois assim a atenção não fica concentrado na comida e a refeição torna-se um
ato social partilhado". Entretanto, Brito (2011) chama a atenção, para o fato de que comer
acompanhado quando o sujeito não é disciplinado é provável que ele cometa excessos
alimentares, pois se distrai com a conversa a mesa e se alimenta muitas vezes sem observar o
que está comendo, podendo acarretar no ganho de peso. Ao falar sobre a alimentação em
família, Heller (2006, p.1) diz que,
a família pode ser um local de aprendizado de bons hábitos alimentares ou de maus
hábitos. E, nas famílias onde ocorre a superalimentação tende-se a fornecer e a
incentivar a alimentação desequilibrada tendo o alimento a função, muitas vezes, de
suprir outras necessidades além das nutricionais.
Neste caso, se a família tem o hábito de superalimentação, é provável interferir na
maneira como as pessoas se alimentam e acarretar em ganho de peso, como foi descrito no
quadro 20, conforme o relato de E3: "Em casa que é o pior porque eu não faço comida, o meu
marido sempre inventa uma coisa para noite, as vezes é uma janta, uma pizza, uma lasanha
ou é hambúrguer, eu como com eles. Antes eu não comia, mas daí eles falam que é a única
refeição que nós fazemos juntos. Nunca pedi para mudar". É possível considerar, segundo a
fala deste sujeito da pesquisa, que se não houver mudança de maus hábitos alimentares na
família como um todo, há maior probabilidade de ocorrer a manutenção de maus hábitos
alimentares pelo sujeito, o que dificulta a mudança do seu comportamento alimentar e na
perda de peso. Por isso, Marchesini (2010) afirma que, no tratamento cirúrgico da obesidade,
deve-se considerar a participação da família no processo pré e pós operatório, e que a família
deve ser também alvo de atendimento da equipe multiprofissional.
69
6.2.4 Tempo que levam para fazer as refeições
No quadro 14 é retratado o tempo que os sujeitos da pesquisa levam para fazer as
suas refeições. De "10-15 minutos" foi mencionada por três entrevistados como o tempo que
levam para fazer as refeições. De "15-30 minutos" foi mencionado por dois entrevistados e
"Menos de 10 minutos" foram mencionadas por um sujeito, como o tempo que levam para
realizar as refeições.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
15-30
minutos
Bem demorado, 30 minutos, antes eu comia rápido, era muito de comer e engolir.
(E2)
A gente come assistindo a televisão, sabe para distrair o meu filho, eu vou dando a
comida para ele e vou beliscado junto, então acho que dá uma meia hora. (E4)
2
10-15
minutos
Eu me controlei bastante, antes eu comia muito rápido em 5 minutos, hoje acredito
que levo de 10 a 12 minutos.(E1)
Tem dia que eu me alimento rápido uns 15 minutos. (E3)
Não sei se meu estomago acostumou ou eu estou driblando a minha cirurgia comendo
as coisas fáceis. Se eu comer um prato de cenoura crua e um bife eu vou levar uns 20
minutos com certeza, mas se for um prato de feijão com purê de batata ou com um
ovo cozido eu vou comer em 5 minutos. Acho que no máximo como em 10 minutos
(E5)
3
Menos de 10
minutos
Não tenho tempo de parar e comer, eu vou lá e pego uma banana ou laranja ou caqui
e vai. (E3)
1
Quadro 14 - Tempo que levam para fazer as refeições.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
Com base nas informações fornecidas por quatro sujeitos da pesquisa, é possível
considerar que os mesmos realizam suas refeições em um tempo inferior ao considerado ideal
para realizar uma dieta alimentar que ajude no emagrecimento ou controle de peso. Segundo
Castell (2004, p. 82), para o emagrecimento e controle do peso é recomendável que a "pessoa
dedique ao menos 30 minutos para cada refeição. Evite a pressa e engula o alimento
desordenadamente de qualquer maneira". O Ministério da Saúde (2011) recomenda que para
ter uma alimentação saudável é necessário comer com calma e não na frente da TV. Como
foi observado na fala de E3: A gente come assistindo a televisão, sabe para o meu filho se
distrair, eu digo, olha lá, eu vou dando a comida para ele e vou beliscado.
Quando a pessoa come com pressa, de acordo com Brito (2011), além de não
saborear o alimento, demora mais tempo para ficar satisfeita e por isso come mais. É como se
70
ela não desse tempo suficiente para o organismo “perceber” a quantidade de alimento
ingerida. Comer e assistir à televisão ao mesmo tempo faz com que a pessoa se distraia e não
controle a quantidade de alimentos que está consumindo. Isso pode ser percebido na fala de
E3, com base no exposto no quadro 12, sobre a quantidade de consumo de alimentos, em que
a entrevistada comentava sobre a sua dificuldade de perceber a quantidade de alimento que
consome.
6.2.5 Quantidade de refeições que faz por dia
No quadro 15 é retratado a quantidade de refeições realizadas diariamente pelos
sujeitos da pesquisa. "Mais de três refeições", foi a quantidade de refeições diárias
mencionada por quatro dos entrevistados. "Até três refeições" foi mencionada por um sujeito
da pesquisa como a quantidade de refeições que faz por dia.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Até três refeições
Me alimento três vezes ao dia, café, almoço e janta. (E1) 1
Mais de três
refeições
O café da manhã, o almoço, café da tarde e a janta, tirando os beliscos. (E3)
O café da manhã, almoço e café da tarde. Não tem janta e só esse beliscar.
Geralmente é frutas e cereais. (E2)
Café da manhã, almoço e janta. quando eu estou empolgada para comer mesmo
eu perco as contas, eu belisco, belisco. (E4)
6 refeições ao dia. Café da manhã, lanche, almoço, lanche, janta e um lanchinho
as vezes antes de dormir. (E5).
4
Quadro 15 - Quantidade de refeições que faz por dia.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
A maioria dos pesquisados afirma realizar mais de três refeições ao dia. Este dado
vem ao encontro do que Brito (2011) pontua como características importantes do
comportamento alimentar para o bom funcionamento do organismo. Entre estas
características, está o fracionamento diário de refeições de 5 a 6 vezes ao dia. Porém, a autora
alerta para o fato de que este fracionamento de refeições deve conter todos os grupos de
alimentos para o fornecimento dos nutrientes necessários aos sujeitos. Isso não inclui a prática
dos beliscos como bolachas, chocolates, etc., que são altamente calóricos e que foi observada
nos relatos dos sujeitos da pesquisa, conforme apresentado no quadro 11. É possível
71
considerar, a partir das falas dos sujeitos da pesquisa, que talvez eles fracionem o alimento
mas, escolhem alimentos inadequados para o consumo nesses fracionamentos e em
decorrência disso possa estar o ganho de peso.
6.2.6 Mudanças na alimentação após a cirurgia
No quadro 16 é retratado os relatos dos sujeitos quanto às mudanças que
ocorreram na alimentação após a cirurgia bariátrica. Quatro sujeitos da pesquisa disseram que
comer em "menor quantidade" foi uma das mudanças que perceberam na alimentação após a
cirurgia. Três entrevistados mencionaram “o que não mudou” em relação à alimentação,
destacando alguns comportamentos alimentares que tinham antes da cirurgia e que
permanecem após a mesma. "Alimentos mais saudáveis" e "Pensar antes de comer" foram
mencionadas por dois sujeitos, em cada uma das categorias, como a sua percepção da
mudança na alimentação após a cirurgia bariátrica.
(Continua)
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Menor
quantidade
Houve bastante mudanças. Antes da cirurgia eu comia igual a um lobo, de tudo.(E1)
Eu repetia dois, três, pratos de comida, não me contentava com um pão, comia 4, 5,
bastante assim. (E3)
Após a cirurgia foi uma mudança radical é uma mudança radical. Tem gente que
extrapola, tem gente que pensa que pode comer, não pode não. Não pode porque não
consegue, vai passar mal, vai vomitar ou vai se afogar com certeza. Não sou mais
gulosa por comida. Não consigo mais fazer um prato de comida. (E2)
Há mudanças porque eu não consigo comer a quantidade que eu comia antes. (E5)
4
"Alimentos
mais
saudáveis"
Eu beliscava muito,muito mesmo, e era chocolate coisas assim. Eu fazia muita
sobremesa, eu fazia minha comida, hoje eu não faço, agora é mais light. (E3)
Quando voltei a engordar eu acordava de madrugada esquentava uma pizza e comia,
hoje ainda me acordo as vezes de madrugada com vontade de comer, mais agora eu
como uma barra de cereal.(E1)
2
"Pensar
antes de
comer”
Mudou em questão de que eu me policio, antes não, eu nem sentia, nem via o que
estava comendo. Hoje eu chego a parar e pensar porque eu tenho que comer agora
eu nem estou com fome, estou comendo porque quero comer, hoje mudou porque
eu me policio (E4)
Sempre que eu sento para comer eu penso será que eu preciso disso, antes não.(E5)
Agora eu penso assim, você não precisa comer uma barra de chocolate, come dois
pedacinhos, deixa derreter na boca. Hoje eu consigo fazer isso, antes da cirurgia se eu
tinha vontade de comer chocolate eu comia uma barra. (E5)
2
72
(Conclusão)
"o que não
mudou"
O comportamento de beliscar não mudou, pelo contrário agora acho que esta mais
repetitivo. (E2)
Mas as coisas que eu belisco ainda tem sim. (E4)
Antes da cirurgia eu comia rápido também. (E5)
3
Quadro 16 - Mudanças na alimentação após a cirurgia.
Fonte: elaboração da autora, 2011
A menor quantidade de alimento foi apontada pela maioria dos sujeitos como uma
das mudanças ocorridas na alimentação após a cirurgia. Sendo possível perceber, segundo a
fala dos entrevistados, que a menor quantidade de alimento está diretamente relacionada à
redução do estômago e às limitações que isso impõe quando o sujeito consome um volume
maior de alimento, como vômitos, enjôo.
No entanto, três entrevistados também pontuaram que há coisas em seu
comportamento alimentar que ainda não mudaram, como o hábito alimentar de beliscar e de
comer rápido, conforme a fala de E2: "O comportamento de beliscar não mudou, pelo
contrário agora acho que esta mais repetitivo."
Por meio do relato dos entrevistados é possível considerar que os sujeitos que
realizaram a cirurgia bariátrica apresentam dificuldades em mudar seu comportamento
alimentar, podendo assim voltar a ganhar peso, uma vez que estes sujeitos apresentam hábitos
alimentares, como beliscar e comer rápido, somados aos erros alimentares apresentados
anteriormente o que pode acarretar em ganho de peso. Isso foi também observado na pesquisa
feita por Magdaleno (2009), cujos dados indicam que após passar a euforia da perda de peso
nos primeiros anos, o comportamento alimentar pode passar a ser um problema. Alguns
sujeitos não conseguem fazer a mudança na alimentação e voltam a ganhar peso.
Observou-se que os entrevistados não mencionaram a reeducação alimentar como
mudança ocorrida após a cirurgia bariátrica. O que nos possibilita refletir que os sujeitos
pesquisados, conforme seus relatos, apresentam dificuldades ou não foram orientados sobre a
reeducação alimentar o que pode ser reflexo de não receberem acompanhamento de equipe
multiprofissional antes e após a cirurgia. Sobre a reeducação alimentar, Meyer (2006) pontua
que cabe à nutricionista elaborar e acompanhar a evolução do plano alimentar, para prevenir
e/ou suprir carências nutricionais e para reduzir o excesso de gorduras, doces, etc.,visando
uma alimentação balanceada e saudável. A autora também discute a reeducação alimentar sob
a perspectiva da terapia cognitivo-comportamental, dizendo que o programa de reeducação
alimentar inclui "o monitoramento das situações consideradas de risco e aprendizagem de
73
habilidades para lidar com elas, reestruturação cognitiva, treinamento de assertividade"
(MEYER, 2006, p. 431).
6.2.7 Problemas físicos quando se alimentam indicados por sujeitos
No quadro 17 é retratado os problemas físicos relatados pelos sujeitos e que
ocorrem quando eles se alimentam. Os tipos de problemas físicos quando se alimenta foi
dividida em subcategoria conforme o tipo de problema físico. "enjôo", "vômito",
"afogamento", "azia", "diarréia" foram mencionadas por diferentes sujeitos da pesquisa, para
cada uma das subcategorias, uma vez. Um sujeito afirmou que “não apresenta” nenhum tipo
de problema físico quando se alimenta.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Não apresenta Não tenho nenhum problema quando como.(E1) 1
Enjôo Eu tenho enjoou, mas a médica falou que é por causa da minha anemia, eu
enjoou com o cheiro da comida, igual ao da gravidez. (E3)
1
Vômito As vezes eu tenho vômito (E3) 1
Afogamento Eu me afogo (E2) 1
Azia Sinto azia (E4) 1
Diarréia ...diarréia quando como gordura e açúcar líquido (E5) 1
Quadro 17 - Problemas físicos quando se alimentam.
Fonte: elaboração da autora, 2011
Dos cinco entrevistados, quatro apresentaram algum tipo de problema físico para
se alimentar após a realização da cirurgia. Segundo Repetto e Rizolli (2006, p. 350) algumas
complicações tardias mais frequentes, após a cirurgia bariátrica são: vômitos, diarréia, queda
de cabelo, deficiência de vitaminas, entre outros. Isso indica que há necessidade de que o
sujeito tenha acompanhamento clínico e nutricional, com rotina de exames laboratoriais,
como hemograma, glicose, cálcio, ferro, etc., o que ocorre para o resto da vida do sujeito
(REPETTO, RIZOLLI, 2006).
74
6.2.8 Mudanças na alimentação quando tem alguma emoção
É possível observar no quadro 18 as mudanças que os sujeitos relatam ocorrer na
alimentação deles quando sentem alguma emoção. Segundo os "Tipos de emoções", a
ansiedade, foi referida por três entrevistados como sendo o tipo de emoção que lhes faz ter
mudanças na alimentação. O estresse, foi mencionado por dois entrevistados, a tristeza e a
irritação, foram mencionados por um entrevistado cada. "Comer mais", foi mencionado por
três dos entrevistado como o que acontece quando tem uma emoção; "Tenho que comer
chocolate" foi mencionado por um entrevistado como o que come quando tem uma emoção.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Tipos de emoção
Estresse (E1, E3)
Tristeza (E1)
Ansiedade (E2, E4, E5)
Irritação (E2)
2
1
3
1
Comer mais Parece que quando estou estressado a fome vem em dobro, parece que eu
tenho que comer tudo que vem pela frente. Consigo perceber a mudança,
quando estou mais triste, tem dias que eu não estou legal com problemas na
empresa ou na família, tem dia que a gente não está legal, eu como um
pouquinho a mais. (E1)
O beliscar não mudou,.... não porque tenho fome, acho que por maluquice, ou
por ansiedade (E2)
Quando eu estou brava com o meu marido tenho vontade de comer mais,
beliscar mais no final da tarde para a noite se seu tiver em casa (E2)
Quando tenho alguma coisa para resolver, que me preocupe muito, que eu estou
ali pensando, pensando, realmente eu tenho mais fome, eu como mais, dai eu
me pego comendo.(E4)
4
"Tenho que
comer
chocolate"
Eu já percebi e no período pré-menstrual tenho que comer chocolate, não
adianta uma bala, tem que ser o chocolate, depois dá de segurar mais antes me
dá uma coisa que eu tenho que comer chocolate. Eu não consigo me segurar.
Acho que tem uma explicação para isso, chocolate tem algumas substância que
baixa a ansiedade. (E5)
1
Quadro 18 - Mudanças na alimentação quando tem alguma emoção.
Fonte: elaboração da autora, 2011
A ansiedade foi apontada pela maioria dos entrevistados como a emoção que lhes
afeta a alimentação. Machado et al. (2008, p. 7) diz que "estudos com pacientes obesas
indicam que comem excessivamente como mecanismo compensatório em situação de
ansiedade, depressão, tristeza e raiva". É possível considerar que a ansiedade a que os sujeitos
fazem referência pode ser um dos fatores que está relacionado com as dificuldades de
mudança de comportamento alimentar destes sujeitos, como o hábito de beliscar.
75
O tipo de mudança na alimentação que a maioria dos entrevistados percebe ao ter
uma emoção, é o fato de "comer mais", conforme se observa no relato de E2: "Quando eu
estou brava com o meu marido tenho vontade de comer mais, beliscar mais no final da tarde
para a noite se seu tiver em casa". Então, o comer mais do que o organismo necessita,
segundo observado nos relatos dos sujeitos da pesquisa, possivelmente passa a ser uma
maneira de "alívio" compensatório ao sofrimento emocional para estes sujeitos. Autores como
Scavora e Oliveira (2011) pontuam que as dificuldades afetivas podem desencadear alterações
no comportamento alimentar e o alimento servir de substituto ao alivio do sofrimento e vazio
emocional.
6.2.9 Significado do alimento
No quadro 19 é retratado o significado dado ao alimento pelos sujeitos da
pesquisa. A "Sedução do alimento" apareceu na fala de três sujeitos da pesquisa como sendo
este um dos significados dados para o alimento. "Agregação social" e "Gratificação", foi
referido por dois entrevistados para cada significado dado pelos sujeitos para o alimento.
"Liberdade" foi mencionada uma vez pelos entrevistados como sendo um dos significados do
alimento.
(Continua)
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Agregação
social
Em casa que é o pior porque eu não faço comida, o meu marido sempre inventa uma
coisa para noite, as vezes é uma janta, uma pizza, uma lasanha ou é hambúrguer, eu
como com eles. Antes eu não comia, mas daí eles falam que é a única refeição
que nós fazemos juntos. Nunca pedi para mudar. (E3)
Eu digo, vamos num rodízio de pizza, no café glória, porque todo lugar que tu vais
tem comida, vamos fazer uma festa lá em casa, fiz a festa dos amigos, festa junina
na minha casa, agora estou programando o amigo invisível de final de ano com a
turma da academia. (E2)
2
Gratificação Como bastante docinhos, salgadinho, uma vez ou outra, a gente tira...Como
bastante docinho, eu adoro docinho. (E2)
Costumo comer bem, ir em um rodízio, que são coisas que eu gosto, no final de
semana eu me dou este direito, mas na segunda eu me controlo novamente. Acho
que também não devo ser escravo, acho que devo ter prazer na vida também (E1)
2
76
(Conclusão)
Sedução do
alimento
Na família do meu marido sempre tem muita comida, que são Alemão. Mas consigo
me conter.(E2)
Eu consigo me conter, mais é difícil eu fico bem ansioso quando vejo a comida,
eu pego a salada e dou uma enrolada ali, depois pego um pedaço de carne, porque
não como carboidrato a noite, espero eles retirar a mesa e de repente até saio. (E1)
Se eu for no supermercado eu compro um chocolate, um salgadinho, ou se eu passo
na padaria se eu vejo aquela coisa de coxinha, salsicha. Oh! Meu Deus, que
tentação!. Aí vai um daquele. (E4)
3
Liberdade Eu passei pela fase de eu vou comer o que eu quiser e acabou-se. Foi como uma
carta de alforria, liberdade, então eu comia de tudo e eu engordei até que eu
disse, deu. (E5)
1
Quadro 19 - Significado do alimento.
Fonte: elaboração da autora, 2011
O alimento é visto como algo que seduz, conforme relato da maioria dos
entrevistados. Segundo Alvarenga (2004) isso pode ocorrer por diversos fatores, dentre os
quais: fator fisiológico, quando o alimento seduz o sujeito por este estar com fome; fator
emocional, quando o alimento seduz o sujeito para "aliviar" o sofrimento emocional; fator
cultural, quando o alimento seduz o sujeito pelo significado cultural que se dá a ele. Segundo
Alvarenga (2004) a relação emocional com o alimento ocorre desde início da vida das
pessoas, como a sensação de bem estar, o alimento é cheio de simbologias e significados. A
gratificação foi outro significado dado ao alimento por dois entrevistados. E neste sentido
Claudino e Zanella (2005) dizem que o alimento pode ser visto como gratificação,
compensação ou recompensa entre outros significados emocionais para o consumo de
alimentos.
Outro significado do alimento que foi pontuado pelos entrevistados foi a agregação
social, pois o alimento muitas vezes torna-se um agregador de pessoas. Neste sentido, Heller
(2006, p. 112) diz que "comer com outra pessoas é gratificante, pois a alimentação tem
também um papel social." O que implica no fato de que, se a pessoa busca no alimento a
gratificação de estar com outras pessoas, ela pode perder o controle alimentar, o que foi
discutido no quadro 13. Neste sentido, o sujeito pode buscar saciar a fome emocional, como
por exemplo, sentir-se aceito por outras pessoas. Alvarenga (2004, p.115) pontua que,
"alimentar-se, dentro da vertente psicológica é um fenômeno muito mais complexo que
apenas nutrir-se. Não se procura o alimento apenas para saciar a fome biológica, mas também
para saciar a fome emocional."
77
6.3 MODIFICAÇÕES NAS RELAÇÕES SOCIAIS
As relações sociais são importantes na vida de qualquer pessoa. A pessoa com
obesidade tem dificuldades de se relacionar, muitas vezes, pelas discriminações que sofrem.
Para Segal e Fandiño (2002), isso ocorre pois os preconceitos que a sociedade impõe sobre a
pessoa com obesidade podem diminuir, por exemplo, as chances de essas pessoas serem
aceitas em empregos ou de estarem em relacionamentos afetivos, dentre outras situações que
dificultam as relações sociais. Então: Qual a percepção destes sujeitos acerca das possíveis
modificações nas relações sociais, quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à
cirurgia bariátrica? Qual a percepção de possíveis alterações nos relacionamentos
interpessoais após a cirurgia no período em que estava perdendo peso? De que forma ocorrem
as relações interpessoais após o ganho de peso no pós-cirúrgico? Percebem se há alguma
diferença em participar de atividades sociais hoje em comparação ao período em que estavam
perdendo peso?
6.3.1 Percepção de possíveis alterações nos relacionamentos interpessoais após a
cirurgia, no período em que estavam perdendo peso
No quadro 20 está apresentada a percepção de possíveis alterações nos
relacionamentos interpessoais dos sujeitos da pesquisa após a cirurgia, no período em que
estavam perdendo peso.
78
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor.
Sim Sim, na aceitação das pessoas, eu era muito excluídos entre meus amigos,
depois que eu comecei a emagrecer eu fui mais aceito. O que eu posso falar por
mim, é que o obeso na sociedade ainda é discriminado, e eu era. (E1)
A questão do falar mesmo, antes as pessoas vinham e falavam, como tu
engordou. Acho que mudou foi o fato das pessoas comentarem. (E4)
2
Não percebe
modificações
Não, até porque era da mesma família. Só diziam assim antes, a E é uma
comilona, isso sim, sempre diziam. O medo do meu marido era esse, que eu
fizesse a cirurgia e voltasse a comer muito e morresse. (E2)
Não. As minhas amigas continuaram a ser a mesma pessoa nunca me
chamaram de gorda, acho que elas tinham pena de mim porque eu era gorda.
Nunca mudou, as pessoas que conviviam comigo no antes e depois da cirurgia
era a mesma coisa. (E3)
Não, sempre tive bastante amigo, sempre me relacionei muito bem com as
pessoas e nunca tive problemas. Eu sempre me aceitei, os obesos nem sempre
são assim. (E5)
3
Quadro 20 - Percepção de alterações nos relacionamentos interpessoais após a cirurgia, no período em que
estavam perdendo peso.
Fonte: Elaboração da autora, 2011.
Dos cinco sujeitos da pesquisa, três disseram não perceber modificações nos
relacionamentos interpessoais após a cirurgia, no período em que estavam perdendo peso.
Entretanto, ao examinar a fala dos sujeitos, percebe-se que houve mudanças nos
relacionamentos interpessoais, como por exemplo na fala de E2, que afirma não perceber
alterações nos relacionamentos no período em que estava perdendo peso. No entanto,
observa-se que não lhe chamam mais de "comilona", após a perda de peso. "Não, até porque
era da mesma família. Só diziam assim antes, a E é uma comilona, isso sim, sempre diziam. O
medo do meu marido era esse, que eu fizesse a cirurgia e voltasse a comer muito e morresse".
Também foi possível perceber as mudanças positivas nas relações sociais quando perderam
peso, pelo fato de relatarem receber elogios e de sentirem-se com bem estar, etc., o que foi
evidenciado no quadro 24, no qual são apresentados dados sobre os sentimentos decorrentes
dos comentários dos outros acerca da perda de peso. Marchesini (2010, p. 6) afirma que "o
ser humano não se constitui só; existe sempre em relação aos seus pares e ao meio ambiente.
Toda mudança corresponde a uma reação social e a uma resposta emitida em forma de
comportamento". Logo, a perda de peso trouxe mudanças positivas nas relações interpessoais
dos sujeitos pesquisados.
Dois entrevistados referiram que perceberam alterações nos relacionamentos no
período em que estavam perdendo peso. Uma das alterações percebidas pelo sujeito E1 foi o
fato de se sentir aceito nas suas relações interpessoais, conforme seu relato: "Sim, na
79
aceitação das pessoas, eu era muito excluído entre meus amigos, depois que eu comecei a
emagrecer eu fui mais aceito. O que eu posso falar por mim, é que o obeso na sociedade
ainda é discriminado, e eu era". É possível compreender, segundo o relato dos entrevistados,
que a discriminação vivida pelos sujeitos quando obesos parece cessar após a cirurgia, com o
emagrecimento. Brownell e O'Neil (2009) dizem que, com o emagrecimento, o sujeito passa a
se enquadrar ou se aproximar do padrão de beleza estabelecido pela sociedade, por isso,
sente-se mais aceito. Isso porque a sociedade discrimina a pessoa com obesidade,
pressionando-a para que seja magra. Segundo Perin (2011), a sociedade, ao discriminar e
pressionar a pessoa a ser magra, promove julgamentos sociais negativos, atribuindo-lhes
adjetivos, tais como preguiçosos, feios e relaxados, podendo trazer uma grande pressão
emocional a essa pessoa. Então, o fato do sujeito sentir-se aceito em suas relações sociais e
estar mais próximo do padrão de beleza estabelecido pela sociedade pode contribuir para o
aumento de sua auto-estima.
6.3.2 Características de relações interpessoais após o ganho de peso, depois da cirurgia
No quadro 21 são apresentados dados sobre a percepção dos sujeitos acerta da
forma como as pessoas se relacionam com os mesmos após o ganho de peso, que ocorreu
depois da cirurgia."Com cobranças" apareceu na fala de dois entrevistados.
"Tranquilamente", "Aceitação", "Controle" , "Sem cobranças" e "Não percebe" foram também
aspectos referidos por um sujeito cada, como a forma pela qual as pessoas se relacionam com
eles pelo fato de terem voltado a ganhar peso após a cirurgia.
(continua)
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Tranquilamente Tranquilamente, quem não me conhece, não sabe que eu fiz a cirurgia,
quando eu falo eles se espantam. Eu estou bem, comparado ao que eu era. (E1)
1
Com cobranças Quando eu engordei os 15 kg depois da cirurgia, houve uma cobrança por
parte de alguns amigos, professores, dizem: se cuida tu estas engordando
novamente. Mas este problema de aceitação não, porque não cheguei a engordar
150 kg, a ficar obeso novamente. (E1)
No início quando eu voltei a engordar algumas pessoas da família
questionaram. As pessoas que nunca me disseram vai operar ou foram me
visitar, vieram para me questionar, até o meu cunhado que já faleceu, cada vez
que me via, dizia, a tua cirurgia não adiantou, estais gorda de novo! Mas, eu já
não dava mais bola, fazia que não escutava e saia. (E3)
2
80
(Conclusão)
Aceitação ... meu marido me aceita do jeito que sou, gosta do jeito que sou.Inclusive ele
dizia está ficando muito magra, estas coisas de ciúme (E5)
1
Sem cobranças Ninguém me cobra, eu acho que é por causa da minha postura, não deixo
ninguém fazer isso comigo, se vier eu ponho o pingo nos is, vai cuidar da tua
vida que eu cuido da minha, eu sempre fui assim. Não deixo ninguém me
invadir, isso é uma invasão, como eu não faço isso com ninguém eu não permito
que façam comigo. (E5)
1
Controle O marido me controla muito ainda, muito mesmos. Ele diz, não come isso, eu
digo que é só um pedacinho. (E2)
1
Não percebe
mudança
Não vejo mudança. É uma rotina uma convivência. (E4) 1
Quadro 21 - A forma como ocorrem as relações interpessoais após o ganho de peso, depois da cirurgia.
Fonte: elaboração da autora, 2011
Dois sujeitos da pesquisa referiram que foram cobrados nas suas relações
interpessoais pelo fato de ganharem peso após realizarem a cirurgia bariátrica. É possível
refletir, a partir da fala destes sujeitos da pesquisa, que as interações sociais podem ser
eventos estressores para eles, uma vez que sofreram preconceitos, comentários desagradáveis,
etc. fazendo-os quererem evitar esse tipo de situação. Segundo Lazarus e Folkman (1984,
apud SILVA, 2006), a estratégia de enfrentamento utilizada para lidar com eventos
estressores, como por exemplo, evitar a situação estressora, é um esforço cognitivo e
comportamental constantemente alteráveis para controlar, vencer, tolerar ou reduzir as
demandas internas ou externas que podem gerar estresse.
Nas relações sociais do sujeito E5, também foi observado que algumas interações
sociais podem ser eventos estressores, pelo fato desse sujeito ter voltado a ganhar peso após a
cirurgia bariátrica, conforme seu relato: "Ninguém me cobra, eu acho que é por causa da
minha postura, não deixo ninguém fazer isso comigo, se vier eu ponho o pingo nos is, vai
cuidar da tua vida que eu cuido da minha, eu sempre fui assim. Não deixo ninguém me
invadir, isso é uma invasão, como eu não faço isso com ninguém eu não permito que façam
comigo". É possível considerar que, apesar do entrevistado referir que a forma como ocorrem
as relações interpessoais, após o ganho de peso, é sem cobranças, sua fala remete à
possibilidade de que o não ser cobrado nas relações sociais pode estar relacionado à maneira
como ele lida com a situação. Isso porque ele se expressa de maneira defensiva, afastando de
si a cobrança de ter voltado a ganhar peso, mostrando ser esta uma estratégia de
enfrentamento de possível evento estressor (negar ou esquivar-se da situação estressora). Esta
estratégia de enfrentamento é semelhante à estratégia utilizada por E1 e E3. Sobre as
estratégias de enfrentamento utilizadas em momentos de sofrimento emocional, Mazon,
81
Carlotto e Câmara (2008) afirmam que uma das estratégias utilizadas pelas pessoas é colocar
foco na expressão de emoções. Segundo Lazarus e Folkam (1984 apud SILVA, 2006), o
enfrentamento centrado na emoção teria como função a tentativa de substituir ou regular o
impacto emocional causado pelo fator estressor com o qual a pessoa se defronta, podendo
representar atitudes defensivas em relação à fonte de estresse, como negação ou esquiva,
fazendo com que o indivíduo evite confrontar-se conscientemente com a realidade
ameaçadora.
6.3.3 Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao
período em que estavam perdendo peso
No quadro 22 são apresentados dados sobre a participação dos sujeitos da
pesquisa em atividades sociais após voltarem a ganhar peso, em comparação ao período em
que estavam perdendo peso. "Não percebe diferença" foi mencionado por quatro sujeitos da
pesquisa, sendo que somente um sujeito entrevistado afirma que "Percebe diferença" nas
atividades sociais realizadas, após ganhar peso.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Não percebe
diferença
Para mim não, quando voltei a engordar não atrapalhou tanto, porque sou uma
pessoa que me relaciono com muitas pessoas. E já não conseguia comer tanto por
causa do estomago reduzido. Hoje eu como normal, então as pessoas não vêem a
diferença como quando eu era obeso. (E1)
Não mudou.(E2)
Antes de eu operar nossa! era complicado, eu era parada na rua e me diziam, como
tu tais obesa! Aquilo ali já desanimava. Eu fazia o trivial, ia trabalhar. Hoje não, eu
saio. (E4)
Não percebo diferença, porque não deixo elas me invadirem. As pessoas gostam
muito de cuidar da vida dos outros do que das suas, eu não deixo de ir porque não
tenho roupa, porque eu engordei. Eu não faço isso comigo. Eu tenho uma filosofia
comigo, no meu guarda roupa só tenho roupas que eu uso, o que não uso eu dou. Se
deixaram de me servir eu dou. Eu não fico remoendo. Eu tenho que voltar
emagrecer, eu quero emagrecer. Mas ainda não coloquei nenhuma meta ainda. (E5)
4
Percebe
diferença
Eu não tenho lembranças de quando estava mais magra com 79 ou 80 kg, de ter
colocado uma roupa para sair, eu vivia em casa. Com a depressão mesmo magra eu
não tive uma vida social, eu não saia, não tinha relação sexual, eu vivia em hospital
porque eu tinha dor que até então não tinha sido descoberto que eu estava com
depressão, eu tomava remédios que me deixavam toda ruim. Hoje é vida normal.
(E3)
1
Quadro 22 - Participação em atividades sociais após voltar a ganhar peso, em comparação ao período em que
estavam perdendo peso.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
82
A maioria dos entrevistados referiu não perceber diferença quanto à participação
em atividades sociais hoje, em comparação ao período em que estavam perdendo peso.
Conforme o relato de E4: "Antes de eu operar nossa! era complicado, eu era parada na rua e
me diziam, como tu tais obesa! Aquilo ali já desanimava. Eu fazia o trivial, ia trabalhar. Hoje
não, eu saio". É possível considerar, a partir da fala dos sujeitos, que a percepção deles de não
haver mudança quanto à participação em atividades sociais hoje, pode ocorrer pelo fato de
que, mesmo que estejam ganhando peso, eles não estão com o peso que tinham antes da
cirurgia, como por exemplo, o peso do sujeito E3 antes da cirurgia era 136 kg, o peso atual é
93kg e o peso de E1 antes da cirurgia era 151 kg o peso atual é 99 kg. Vale destacar que, antes
de realizarem a cirurgia, eles haviam sofrido discriminações e dificuldades no relacionamento
social, o que dificultava a interação social. E, neste sentido, Soares e Petroski (2003, p. 65)
pontuam que "a obesidade pode causar problemas psicossociais como a aceitação diminuída
pelos pares; isolamento e afastamento das atividades sociais, dentre outros." Logo, os sujeitos
não percebem mudanças na participação em atividades sociais hoje, pois talvez não sejam
discriminados como eram antes de realizarem a cirurgia.
É possível considerar também, a partir do relato de E5:"Não percebo diferença,
porque não deixo elas me invadirem. As pessoas gostam muito de cuidar da vida dos outros
do que das suas" que, apesar de dizer que não percebe diferença na participação em atividade
sociais hoje, faz menção aos outros como aqueles que podem ser fonte de feedback
desagradável, sendo um possível evento estressor para o sujeito, conforme foi discutido no
quadro 22. Marchesini (2010, p.5) alerta para o fato de que "pacientes bariátricos podem
apresentar maiores distorções perceptivas corporais que fazem com que não notem sua
recuperação de peso, ou se defendem dessa percepção". Esta distorção na percepção do corpo
por parte de sujeitos que realizaram cirurgia bariátrica, que dificulta a percepção do ganho de
peso, foi observada em vários momentos na fala de alguns sujeitos pesquisados, pois fazem
menção ao peso que tinham antes da cirurgia e não ao atual, o que pode dificultar a percepção
destes sujeitos com relação à imagem corporal atual e à busca por tratamento para a perda de
peso.
Somente E3 afirmou que percebe diferença na sua participação em atividades
sociais, após voltar a ganhar peso, em comparação ao período em que estava perdendo peso.
O sujeito E3 refere que a diferença é que hoje considera ter uma vida normal pois, quando
estava perdendo peso, não tinha vontade e sair de casa, não tinha relação sexual, tinha muitas
dores pelo corpo e sempre estava em hospitais. E isso ocorreu, segundo a entrevistada, pelo
83
fato de ter tido depressão logo após a cirurgia, no momento em que estava perdendo peso, não
conseguindo naquele momento ter interação social. Leal, Baldin (2011, p.327) dizem que,
"em muitos casos, o emagrecimento súbito incorre em quadros psiquiátricos, tais como:
depressão, ansiedade, dentre outras situações". É possível considerar que estes quadros
psiquiátricos podem dificultar as interações sociais do sujeitos no período que estão perdendo
peso após a cirurgia bariátrica.
Em síntese, pode-se dizer que, com a perda de peso, os sujeitos da pesquisa
tiveram mudanças positivas nas relações interpessoais. No entanto, com o ganho de peso que
ocorreu após a cirurgia, alguns sujeitos da pesquisa parecem ter sido cobrados nas relações
sociais, pelo fato de voltarem a engordar, sendo esta uma situação estressora. Diante desse
tipo de situação estressora, os sujeitos parecem utilizar, como estratégia de enfrentamento, a
negação e a esquiva. Os sujeitos não percebem mudanças na participação em atividades
sociais hoje, pois talvez não sejam discriminados como o eram antes de realizarem a cirurgia.
Mas, apresentam, em sua maioria, distorção da percepção da imagem do corpo atual,
dificultando a percepção de que o peso está aumentando e de que necessitam de tratamento.
6.4 SENTIMENTOS E EMOÇÕES
Os sentimentos e as emoções são processos psicológicos básicos que constituem
os seres humanos e que estão diretamente relacionados com os fatores psicológicos
envolvidos com a obesidade. As pessoas com obesidade que realizam cirurgia bariátrica e
voltam a ganhar peso, podem passar por sofrimentos emocionais em decorrência do aumento
do peso, então, como se caracterizam os sentimentos e as emoções descritas pelos sujeitos
quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica? O que sentiam
quando as pessoas lhes falavam de sua perda de peso? Quando voltaram a ganhar peso, as
pessoas comentaram? O que sentiam com estes comentários? Como se sentiam em relação ao
fato de terem voltado a ganhar peso? O que consideraram ser a causa do ganho de peso? O
que fizeram quando voltaram a ganhar peso? Quais os cuidados que tem com o corpo hoje?
Que adjetivos atribuem ao próprio corpo?
84
6.4.1 Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso
No quadro 23 são apresentados os sentimentos decorrentes dos comentários dos
outros acerca da perda de peso, relatados pelos sujeitos da pesquisa. O sentimento de
"felicidade" foi o que três sujeitos da pesquisa mencionaram sentir. "Alegria" e "Bem estar"
foram sentimentos referidos por dois dos entrevistados, respectivamente para cada uma das
categorias. Já as categorias "sem entusiasmo", "surpresa" e "auto estima elevada", foram
mencionadas por um entrevistado para cada categoria.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Felicidade Feliz. Até em relação a namoro, depois que eu operei, foi a época em que tive mais
relacionamentos, arrumei uma namorada que eu não tinha antes de ser operado. (E1)
Me sentia feliz, quando diziam que eu estava magra. (E2, E4)
3
Alegria Eu me sentia alegre, sorridente. (E1) 2
Bem-estar No começo, diziam que bonita que ela ta, eu me sentia muito bem em ouvir isso.
(E2)
Muito bem. Todo mundo dizia nossa como estas bonita como emagrecesse. (E5)
2
Sem
entusiasmo
Eu não tive aquele entusiasmo de comprar roupa, eu não comprei roupa porque
emagreci, eu usava roupas que eu ganhava. Mas eu não tive entusiasmo, foi a
depressão, não sei o que aconteceu exatamente.(E3)
1
Surpresa
Eu não me vi magra. A moça da loja, me trouxe um vestido e eu disse para ela,
moça me traz um vestido que vai servir em mim, ela disse: esse vestido vai servir
em ti. Eu não tinha noção que aquilo servia em mim, eu fui provar e comecei a
chorar, eu não tinha me visto magra. (E4)
1
Auto-estima
elevada
.. a auto-estima fica nas nuvens. O ponto principal para mim foi quando comecei a
comprar roupas em lojas normais e não em lojas de gordo. (E5)
1
Quadro 23 - Sentimentos decorrentes dos comentários dos outros acerca da perda de peso.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
A maioria dos entrevistados relatou sentimentos positivos, tais como: felicidade,
alegria, bem estar e auto estima elevada, quando terceiros comentaram sobre a perda de peso
que tiveram após fazerem a cirurgia bariátrica. Estes sentimentos positivos podem estar
relacionados ao fato de que, com o emagrecimento, vivenciaram maior integração e aceitação
da sociedade, conforme percebe-se no relato de E5: "Nossa você se sente super bem, a auto-
estima fica nas nuvens. O ponto principal para mim foi quando comecei a comprar roupas em
lojas normais e não em lojas de gordo". E de E1: "Feliz. Até em relação a namoro, depois
que eu operei, foi a época em que tive mais relacionamentos, arrumei uma namorada que eu
não tinha antes de ser operado". Os sentimentos positivos, segundo Vicott (1982, p. 22),
85
"podem ampliar o senso de força e bem-estar, produzindo prazer, plenitude e esperança." Para
o autor, estes sentimentos positivos podem aparecer, por exemplo, quando alcançamos uma
meta que há muito tempo procurávamos alcançar. O sujeito obeso, quando emagrece, pode
apresentar sentimentos positivos por ter alcançado o objetivo de emagrecer, e por
consequência, como ex-obeso que sofria a não aceitação da sociedade, passa a sentir-se aceito
pelas pessoas. Esta aceitação pelos outros, segundo Silva (2001) é importante na manutenção
de uma auto-imagem positiva e para o aumento da auto-estima.
6.4.2 Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso
No quadro 24 são apresentados os comentários que os sujeitos da pesquisa
receberam quando voltarem a ganhar peso. A categoria tipos de comentários foi dividida em
subcategorias. "Está engordando" e "A cirurgia não adiantou", foram mencionadas por dois
entrevistados para cada subcategoria. As subcategorias "Te cuida" e "Não comentaram" foram
referidas por um entrevistado para cada subcategoria.
Categoria Subcategoria Unidade de contexto elementar Ocor
Tipos de
comentários
"Está
engordando"
Você está engordando. (E1)
Só o meu marido, é muito triste. Ele é muito controlador, ele
dizia, cuidado você está engordando. (E2)
2
"Te cuida" ele dizia, ...esta bunda está crescendo, este papo está
engrossando, te cuida. (E2)
1
"A cirurgia não
adiantou"
Diziam, tua cirurgia não adiantou! Tais gorda de novo! Só
que é assim, eu sei o que eu sentia quando eu tinha aquele
peso (138 kg). (E3)
Algumas pessoas comentam assim, Ué! Você não fez
cirurgia de redução. Mas algumas pessoas tem a visão
assim, fez a redução tem que continuar magro, mas elas não
sabem quanto tu pesavas antes, quanto tu medias antes, eu
tinha quase 150 kg hoje eu tenho 117 kg. Se eu me olho hoje
e vejo as fotos de 150 kg eu me acho magra. Claro que não é
com o que eu queria estar, com os 97 kg de quando eu
engravidei.(E5)
2
Não comentaram Não, eu não escutei ninguém dizer tu engordasse, estais
mais pesada. Eu só vi na foto do primeiro ano do meu filho
que parecia que eu estava mais cheinha. (E4)
1
Quadro 24 - Comentários das pessoas em relação aos sujeitos quando voltaram a ganhar peso.
Fonte: elaboração da autora, 2011
86
Os comentários que a maioria dos sujeitos da pesquisa recebeu quando voltaram a
ganhar peso após a cirurgia bariátrica, foi "está engordado" e a "cirurgia não adiantou".
Conforme relato de E2: "Só o meu marido, é muito triste. Ele é muito controlador, ele dizia,
cuidado você está engordando". É possível considerar que estes comentários podem trazer
sofrimento emocional ao sujeito que buscou na cirurgia bariátrica a solução para a obesidade.
Segundo Silva (1994), comentários como: "você precisa perder peso", "para de comer", "está
ficando gordo", etc., são comentários de caráter discriminatório que podem colaborar para a
diminuição da auto-estima do sujeito. O autor ainda pontua que, "ficar pressionando e
relembrando a condição de aumento de peso, pode agravar a angústia, a ansiedade e a
depressão que com frequência, se associam a obesidade." (SILVA, 1994, p. 191). Ou seja,
esses tipos de comentário, podem criar novamente condições para que este sujeito volte a
ganhar peso. Entretanto, cabe ressaltar que, talvez, esses comentários sejam de preocupação
dos outros em relação ao próprio sujeito, pois as pessoas que convivem com obesos podem
não saber como lidar com essa situação. Por isso, a importância de profissionais
especializados na área de ficarem atentos à necessidade de orientações não só ao sujeito, mas
também à família.
Segundo Silva (2001, p. 267) "estar com excesso de peso, em geral, é aversivo,
gera ansiedade e aumenta a probabilidade de a pessoa agir para livrar-se dela". Isso foi
observado nos relatos de E3 e E5: “Algumas pessoas comentam assim, Ué! Você não fez
cirurgia de redução. Mas algumas pessoas tem a visão assim, fez a redução tem que
continuar magro, mas elas não sabem quanto tu pesavas antes, quanto tu medias antes, eu
tinha quase 150 kg hoje eu tenho 117 kg. Se eu me olho hoje e vejo as fotos de 150 kg eu me
acho magra". É possível pensar que estes sujeitos, frente ao feedback de estar ganhando peso
após a cirurgia, ajam para diminuir o desconforto frente a esta situação aversiva. No caso de
E3 e E5, a estratégia utilizada para lidar com essa situação é a de comparar o peso atual com o
peso que tinham antes da cirurgia, que seria um peso muito maior, e não com o peso que
tinham no período em que estavam emagrecendo, adquirido após a cirurgia. Esse tipo de
comparação pode ter produzido neles a sensação de emagrecimento, amenizando naquele
momento o desconforto diante da percepção de estarem voltando a ganhar peso. Segundo
Mazon, Carlotto, Câmara (2008, p. 07), a comparação do peso atual com o peso que tinham
antes da cirurgia, pode ocorrer "como estratégia de enfrentamento a um evento extressor" que,
no caso dos entrevistados, pode ser o ganho de peso.
Os autores ainda pontuam que existem dois tipos de estratégias de enfretamento
para o evento extressor, um focado no problema, em que o sujeito faz um levantamento e
87
avaliação de soluções, escolhe alternativas e age para mudar a causa do evento estressor,
como por exemplo no caso do ganho de peso, se o sujeito escolhesse, fazer exercícios físicos,
ter cuidados com a alimentação, buscar ajuda de um profissional para diminuir o peso. E a
outra estratégia, seria focada nas emoções. A estratégia de enfrentamento focalizado na
emoção é um esforço para regular o estado emocional que é associado ao estresse ou a
situações aversivas. E têm por finalidade reduzir as condições desfavoráveis e possibilitar,
desta maneira, a adaptação ou tolerância aos aspectos negativos, amenizando
momentaneamente o sofrimento. Como por exemplo: a negação, no sentido de recusa em
acreditar na existência do estressor, ou agir como se esse não fosse real; o desligamento
comportamental, que é o abandono das tentativas para atingir metas nas quais o estressor
interfira, entre outros (MAZON; CARLOTTO; CÂMARA, 2008).
Entretanto, Silva (2006) alerta para o fato de que, quando a estratégia de
enfrentamento é focada nas emoções e não no problema, isso pode gerar, a longo prazo, mais
sofrimento emocional. A ansiedade é um dos sofrimentos possíveis e decorre do fato de o
sujeito não conseguir modificar a realidade que, no caso dos pesquisados, é o ganho de peso
após a cirurgia bariátrica. Logo, intervir sobre as emoções e sentimentos, bem como, criar
condições para que os sujeitos desenvolvam estratégias de enfrentamento para o evento
estressor, baseadas nos aspectos que produzem a obesidade pode contribuir para que o sujeito
perca peso e saiba como mantê-lo. Alguns objetivos no tratamento psicológico da pessoa que
está ganhando peso podem contribuir para esta mudança. Conforme Silva (2001, p.269) os
objetivos são: "melhorar e ampliar aspectos do repertório pessoal, social, afetivo e que tragam
consequências gratificantes; estimular a expressão de pensamentos e sentimentos de forma
adequada; desenvolver várias fontes de reforçamento positivo, dentre outros". Então, o
tratamento psicológico é um instrumento importante que auxilia nas mudanças que a pessoa
que volta a ganhar peso após a cirurgia bariátrica necessita para manter o peso em patamares
saudáveis.
6.4.3 Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso
No quadro 25 são apresentados os sentimentos dos sujeitos da pesquisa quando as
pessoas falavam de seu ganho de peso. "Mal estar" foi a categoria mencionada por dois
88
entrevistados da pesquisa. "Tristeza", "Culpa" e "Falta de vergonha na cara", foram
mencionadas por um sujeito da pesquisa para cada categoria.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Mal estar
Eu me sinto super mal. (E1)
Me sentia bem mal. Na época foi doído, pessoas que nunca foram me visitar
quando eu fiz a cirurgia. Mas quando eu engordei foram lá na minha casa para
dizer; como você engordou, a tua cirurgia não adiantou! Então, a própria família
(E3)
2
Tristeza
Eu fico triste. Eu digo para ele, eu não consigo, eu faço de tudo para emagrecer,
dieta, academia, mas não consigo emagrecer. (E2)
1
Culpa
Eu sei da minha culpa eu tenho que me cuidar. Eu disse para o nutricionista se eu
engordar um quilo eu vou me jogar da ponte. Ele dizia se cuida, te alimenta
direito. (E4)
1
“Falta de
vergonha
na cara”
Isso não me deixa triste me deixa pensativa, o pensamento aquele de falta de
vergonha na cara. (E5)
1
Quadro 25 - Sentimentos dos sujeitos quando as pessoas falavam de seu ganho de peso.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
Todos os pesquisados referiram algum sentimento de incômodo ou mal-estar
decorrente de comentários de terceiros quando estes lhes falavam de seu ganho de peso. Estes
sentimentos relatados pelos sujeitos da pesquisa, como tristeza, mal estar, culpa, etc., são
diferentes dos sentimentos positivos que referiram ter, como felicidade e alegria, quando as
pessoas comentavam da sua perda de peso, conforme discutido no quadro 23. Silva (2001, p.
266) diz que, "todo mundo precisa ser e sentir-se valorizada para manter uma relação positiva
consigo mesma. Sem isso é impossível cultivar a auto-estima."
Segundo Guilhardi (2011), a auto-estima é um sentimento aprendido e
desenvolvido durante a vida da pessoa. A auto-estima é produzida por uma história de
reforçamento social, decorrente das relações inter-pessoais. Esse reforçamento pode ser
positivo ou negativo, contribuindo para a elevação ou diminuição da auto-estima do sujeito. O
autor ainda alerta para o fato de que, se as críticas e repreensões forem voltadas para a pessoa
e não para o seu comportamento, pode acarretar na diminuição da auto-estima do sujeito.
Ainda que Guilhardi (2011), ao examinar o conceito de auto-estima, faça-o a partir do
desenvolvimento do sentimento de auto-estima na criança, é possível pensar que, como a
auto-estima é um processo que se atualiza constantemente a partir das interações que o sujeito
estabelece consigo mesmo e com os demais, os aspectos envolvidos com esse conceito podem
auxiliar a compreender o que ocorre com a auto-estima do sujeito com obesidade. Na mesma
direção, Silva (2001, p. 266) destaca que
89
a pessoa que está acima do peso geralmente recebe criticas negativas a sua pessoa e
não ao seu comportamento. Dessa forma, ela pode adquirir uma reação de auto-
anulação e auto-rejeição, acreditando que não tem valor.
Então, pode-se refletir, a partir das falas dos sujeitos da pesquisa, como por
exemplo a fala de E3: "Me sentia bem mal. Na época foi doído, pessoas que nunca foram me
visitar quando eu fiz a cirurgia. Mas quando eu engordei foram lá na minha casa para dizer;
como você engordou, a tua cirurgia não adiantou!", que as críticas e repreensões que estes
sujeitos receberam de seu meio social pelo fato de voltaram a ganhar peso após a cirurgia,
podem contribuir para a diminuição da auto-estima desses sujeitos. Isso pode interferir na
maneira como se constitui a sua subjetividade, a auto-imagem e a forma como cada um se
sente em relação a si mesmo.
6.4.4 Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia
bariátrica
No quadro 26 são apresentadas categorias relativas aos sentimentos relatados pelos
sujeitos da pesquisa decorrentes do fato de voltarem a ganhar peso, depois de terem realizado
a cirurgia bariátrica. As categorias "Tristeza", "Frustração", "Perdedora" e "Com falta de
vergonha na cara" foram, cada uma delas, referidas por um entrevistado, como a maneira
como se sentem pelo fato de terem voltado a ganhar peso.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Necessidade
de escolha
Eu pensei em duas situações. Primeiro, o eu perco a minha cirurgia, não vou
parar de engordar eu continuo nessa vida que eu estou, me alimento do jeito que
eu estou e sem fazer atividade física nenhuma. Ou, eu vou me disciplinar e
procurar algum apoio. (E1)
1
Tristeza Eu fico triste. Penso assim , eu tenho que malhar mais ainda, invés de 45 minutos
de bicicleta tenho que fazer 90, faço academia duas vezes por dia, todos os dias
da semana e as vezes final de semana. (E2) 1
Frustração Eu esperava outro resultado, mas não deu certo eu vou fazer o que? Quando
eu pensei em fazer a cirurgia eu imaginei que eu ia ficar bonita, que eu ia fazer
cirurgia plástica ia poder colocar uma calça jeans. Eu não faria a cirurgia outra
vez, e para as pessoas que querem eu diria para se preparar bem, ver os pontos
negativos e positivos. (E3)
1
Perdedora As vezes me sinto uma perdedora, não consegui, porque estou fazendo isso?
Fico chateada comigo mesma. Para com isso! Eu digo para mim mesma. (E4)
1
90
Com falta de
"vergonha na
cara"
Eu sei que não estou como deveria estar, o pensamento é aquele de falta de
vergonha na cara. De vais fazer o que tens que fazer e para de te apoiar. Porque
na verdade a gente vai se apoiando nas coisas, eu estou assim porque tive meu
filho, porque tive que ficar em casa, tive isso, tive aquilo. (E5)
1
Quadro 26 - Sentimento dos sujeitos pelo fato de voltarem a ganhar peso depois da cirurgia bariátrica.
Fonte: elaboração da autora, 2011
A maioria dos entrevistados relatou sentimentos negativos, como tristeza,
frustração, etc. pelo fato de voltarem a ganhar peso após terem realizado a cirurgia. Neste
aspecto, os sentimentos negativos, segundo Viscott (1982, p. 22) podem interferir "no prazer,
consumir energia e nos deixar exauridos, com uma sensação de vazio e solidão". Logo, é
possível que os entrevistados apresentem sofrimento emocional por terem voltado a ganhar
peso após a cirurgia bariátrica. O que pode contribuir para o aumento da ansiedade, sendo este
sentimento uma das causas referidas pelos sujeitos da pesquisa para o próprio ganho de peso.
6.4.5 As causas do ganho de peso
No quadro 27 são apresentadas as causas que os sujeitos da pesquisa consideram
para o seu ganho de peso. "Alimentação" foi a causa apresentada por três sujeitos da pesquisa
para seu ganho de peso, como também a categoria "Ansiedade" foi mencionada por três dos
entrevistados. "Gravidez" foi outro fator referido por duas entrevistadas como causa para o
ganho de peso. Já as categorias "Falta de exercícios físicos", "Falta de apoio psicológico e
nutricional", "Genética" e "Mudança na medicação"foram causas mencionadas por um sujeito
da pesquisa para cada categoria, como causa de ganho de peso após terem realizado a cirurgia
bariátrica.
(Continua)
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Alimentação Acho que a alimentação. (E1)
Não sei! De repente de comer. (E3)
O motivo de voltar a ganhar peso eu atribuo a não seguir as orientações
nutricionais, quando tu diz eu vou comer uma bolachinha mesmo, aí não vai
na saladinha. (E5)
3
Falta de exercício
físico
Da vida sedentária, eu não faço exercício físico. (E3)
1
91
Falta de apoio
psicológico e
nutricional
De repente a falta de apoio psicológico e nutricional que sempre deve
acompanhar a pessoa. As pessoas geralmente não procuram estes serviços,
nutrição, psicologia, que é bem interessante, gastam um dinheirão com a
cirurgião mas não nestes acompanhamentos. (E1)
1
Genética
Eu não atribuo a comida, que a comida não é o suficiente para engordar, eu
atribuo a minha genética de gorda. (E2)
1
Ansiedade Atribuo a minha ansiedade, não é uma ansiedade de gritar é uma ansiedade de
se conter. (E2)
Se eu entrasse numa academia, fizesse uma dieta, tomasse um remedinho para
ser mais light, porque eu sou muito ansiosa. (E3)
Acho que é questão de ansiedade mesmo. Porque eu sou muito ansiosa. (E4)
3
Gravidez Eu achava que era por causa da gravidez do meu filho e que depois eu iria
perder. Na gravidez do meu filho, eu cheguei a 79 kg, então eu pensei, agora
eu vou ficar como tenho que ficar, mas nada. (E3).
Outra causa foi a própria gravidez, é uma revolução hormonal, muita
mudança no corpo no quadril, e tal. E pelo fato de poder comer qualquer
coisa, você se apoia nas desculpas, estou grávida vou comer, depois que eu
ganhar o bebe eu volto no que tenho que voltar (E5)
2
Mudança na
medicação
Eu tive que mudar por causa da gravidez o de centrum suplemento
vitamínico para o materna, eu notei que nesta troca eu ganhei peso,
apesar que a nutricionista disse que não tem nada haver, eu senti a diferença.
(E5)
1
Quadro 27 - As causas do ganho de peso.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
Os entrevistados referiram ter mais de uma causa para o ganho de peso, vindo ao
encontro do que pontua Donato et al. (2004) de que as causas do ganho de peso são de várias
origens, podendo ser biológicas, psicológicas e sociais. Logo, para tratá-la se faz necessário a
intervenção multiprofisional.
A alimentação e a ansiedade foram as causas mencionadas pela maioria dos
entrevistados para o ganho de peso. É possível considerar que o aumento na quantidade de
alimentação consumida ou a ocorrência de maus hábitos alimentares, como o beliscar, que foi
um dos comportamentos alimentares relatados pelos entrevistados, podem estar diretamente
relacionados à ansiedade. Pois, conforme Silva (1994, p.190), "para a aliviar a ansiedade a
pessoa come e comendo busca compensar o desequilíbrio psicológico, embora muitas das
vezes não tenha consciência disso e os que reagem dessa forma tem dificuldades de elaborar
psiquicamente conflitos emocionais". Silva (2001, p. 265) também corrobora esta idéia
quando diz que,
a comida na boca é prazerosa e parece reduzir os níveis de ansiedade nesse
momento. Ela atua, imediatamente, como uma distração temporária para essa
92
sensação de ansiedade, funcionando, assim como reforçador negativo. Ao mesmo
tempo que o comer proporciona um alívio imediato (o que fortalece o seu poder),
assim que parar de comer, o sentimento volta associado à culpa por ter comido.
A autora ainda alerta para o fato de que este comportamento, de utilizar a comida
para alivia a ansiedade, pode criar um ciclo vicioso, de que "Quando está ansiosa, come.
Quando come engorda. Engordando fica ansiosa. Repetindo-se o ciclo." (SILVA, 2001,
p.265).
Porém, além da ansiedade, há outros sentimentos e emoções que podem contribuir
para o ganho de peso. Scavora, Oliveira (2011) afirmam que sentimentos e emoções, tais
como, frustração, solidão, raiva, tristeza, medo podem contribuir para o aumento de peso.
Isso pode acontecer, segundo Silva (2001, p. 267), "quando estes sentimentos, passam a ter
status determinantes no comportamento de comer em excesso o que reforça a relação de estar
mal e comer." Este tipo de repertório comportamental, comer em excesso, quando o sujeito
não se sente bem, foi observado por Souza et al. (2005) na pesquisa que realizaram com
pessoas com obesidade, cujo objetivo foi identificar aspectos comportamentais e sociais
envolvidos na dificuldade de perder peso. Por isso, Souza et al. (2005) salientam a
importância de que estes sujeitos, que buscam perder peso, sejam acompanhados por equipe
mutiprofissional, dentre eles o psicólogo. Pois, segundo Silva (2001) o psicólogo pode
intervir sobre o comportamento de autocontrole deste sujeito, identificando e modificando
hábitos alimentares, além de identificar as funções que o comer assume para a pessoa, as
condições emocionais e relações entre elas, etc.
Os sujeitos da pesquisa referiram ainda, como causas do ganho de peso, a "falta de
exercício físico", a "falta de apoio psicológico e nutricional", e "gravidez" e o "uso de
medicamentos". É possível considerar que estas causas mencionadas pelos sujeitos poderiam
ser controladas a partir de um "posicionamento" do próprio sujeito frente a essas situações
como, por exemplo, começar a fazer atividade física, buscar atendimento profissional, etc..
Porém, eles também referiram a genética, como causa de ganho de peso. Esta
causa não está sob controle do indivíduo. E, nesse sentido, Silva (2001, p.266) diz que "ao se
avaliar uma pessoa que está ganhado peso é necessário considerar a predisposição genética ou
determinantes biológicos". Entretanto, o autor alerta para o fato de que, as causas para o
ganho de peso não podem ser vistas isoladamente, mas a partir do contexto geral da vida de
cada indivíduo.
Recine e Radaelli (2011) trazem a discussão de que, no caso das doenças
multifatoriais, como o caso da obesidade, é difícil distinguir os efeitos dos genes dos efeitos
93
ambientais, como hábitos alimentares e sedentarismo em indivíduos que vivem no mesmo
ambiente. Por isso, saber que a obesidade é multideterminada é importante para compreender
sobre que aspectos da obesidade é possível intervir e sobre quais isso não é possível. É
importante que essa compreensão ocorra, inclusive, do ponto de vista do próprio sujeito com
obesidade, a fim de que não atribua somente à genética a causa da obesidade para justificar o
manter-se obeso.
6.4.6 Ações dos sujeitos quando voltaram a ganhar peso
No quadro 28 são apresentadas as categorias relativas ao que foi feito pelos
sujeitos quando voltaram a ganhar peso. "Cuidado com a alimentação" foi a resposta dada por
três sujeitos da pesquisa. "Nutricionista" e "Atividade física" foi a resposta dada por dois
entrevistados para cada uma das categorias. "Disciplina" e "Nada" foram mencionadas por um
entrevistado para cada uma dessas categorias.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Disciplina Eu cheguei a 115 kg eu tive que para e refletir, ou eu perco a minha cirurgia
ou eu vou me disciplinar, foi o que eu fiz. (E1) 1
Cuidado com a
alimentação
Foi difícil, eu emagrecia e engordava de novo. A partir de 2009 eu estou
conseguindo manter o peso, eu oscilo de 99 á 103 kg. Tem final de semana
de eu engordar 2 a 3 kg, de sexta a segunda. porque eu paro a atividade
física, porque eu como melhor. (E1)
Eu cuido com a alimentação, mas tenho muita dificuldade de perder peso.
(E2)
Quando eu me sinto apertada com isso (peso) eu incluo verdura, uma
alimentação mais balanceada, tomo mais líquido, fora isso eu não faço
mais nada.(E3)
3
Atividade física Faço academia todos os dias, musculação e sauna, por uma hora e meia, e
corro de 7 a 12 km todos os dias. (E1)
Faço atividade física. (E2)
2
Nada Eu não fiz nada, estou deixando a coisa acontecer. (E3) 1
Nutricionista Fui em uma nutricionista, mas não consegui me adaptar, para mim não
serve esse negócio de ter que olhar no papel para ver o que vou comer, a
quantia que vou comer. Quero vê se diz assim 10 g de.... Ai não! Meu Deus
eu não presto para isso! (E4)
Procurei a última nutricionista no ano passado. Mas ela disse que eu já
sabia o que fazer. Foi aí que eu tive esta resposta dela, não é que ela me
desestimulou, mas eu pensei. Meu Deus se eu sei fazer, falta vergonha na
cara.(E5)
2
Quadro 28 - O que fizeram quando voltaram a ganhar peso.
Fonte: elaboração da autora, 2011.
94
O cuidado com a alimentação foi uma das estratégias que a maioria dos
entrevistados referiu utilizar quando voltou a ganhar peso. Porém, ao serem questionados
sobre a causa do ganho de peso, eles referiram ser a alimentação, conforme observado no
quadro 27. É possível considerar que isso aconteça devido aos maus hábitos alimentares
desses sujeitos, conforme discutido ao examinar o comportamento alimentar dos sujeitos da
pesquisa. Alguns sujeitos da pesquisa referem ter o hábito alimentar de beliscar, assim como
de não saber a quantidade de alimento que ingerem, além de comerem alimentos considerados
por eles fáceis, tais como os carboidratos. Estes hábitos alimentares, segundo Recine e
Radaelli (2011) são considerados maus hábitos, os quais tem papel importante no ganho de
peso. E para as pessoas que buscam perder peso, os autores ainda alertam que
é preciso que a pessoa entenda e aprenda (ou reaprenda) o significado e a
importância de se comer bem (e não bastante!), isto é, de trocar os maus hábitos por
bons hábitos alimentares. Trata-se de um novo estilo de vida, de ampliar conceitos,
mudar costumes [...], o que não é nada fácil, ainda que possível. (RECINE,
RADAELLI, 2011, p.10)
A procura pelo profissional da nutrição foi outra estratégia referida como sendo
utilizada por dois entrevistados, para a perda de peso. Mas, conforme o relato dos sujeitos,
isso não trouxe mudança no comportamento alimentar deles. Segundo Baldwin, Falciglia
(1995, apud ASSIS, NAHAS, 1999) "um dos papéis do nutricionista é o de ajudar as pessoas
a modificar seus hábitos alimentares, através da assistência nutricional". Mas, Bressan e Costa
(2006) destacam que apenas o acompanhamento do profissional não resolve o problema da
perda de peso uma vez que não é algo mágico. É necessário que a pessoa tenha disciplina e
motivação para se adequar ao tratamento e nele se manter. É possível dizer que, apesar de
procurar a assistência de um profissional da nutrição para a mudança de hábitos alimentares e
para poder perder peso, os sujeitos não conseguiram o resultado esperado. Estariam esses
sujeitos motivados a mudar seus hábitos? Teriam eles dificuldades de disciplina para que
ocorresse a mudança? Estabeleceriam eles relações entre a mudança de hábitos alimentares e
a perda de pesos? Estariam eles com as condições adequadas e suficientes para a mudança de
hábitos alimentares?
Sobre a mudança do comportamento alimentar, Assis e Nahas (1999) pontuam
que a mudança de comportamento individual pode ser facilitada pela modificação de fatores
pessoais "internos". E que esses fatores incluem não somente a obtenção dos conhecimentos
necessários e práticas apropriadas para fazer uma mudança, mas também um componente de
95
auto-desenvolvimento. Por isso, Bressan e Costa (2006) ressaltam que, para o tratamento da
obesidade, quer seja pelo tratamento convencional com a reeducação alimentar, atividade
física, ou através da cirurgia bariátrica, o sujeito necessita de acompanhamento de equipe
multiprofissional. "A função dessa equipe é detectar e modificar as condições que causam a
obesidade, avaliando os fatores clínicos, psicossomáticos e comportamentais" (BRESSAN,
COSTA, 2006, p. 315). Então, é possível refletir que esses sujeitos, para mudarem seus
hábitos alimentares como forma de perder de peso (e obterem mais saúde), além do
atendimento nutricional, podem necessitar também do acompanhamento psicológico, dentre
outros profissionais, uma vez que a mudança de hábitos alimentares requer mudanças de
comportamento em relação ao alimento.
Outra questão a ser considerada, no que diz respeito à perda de peso é a prática de
atividade física. Somente E1 e E2 relatam ter realizado atividade física com freqüência,
quando voltaram a ganhar peso. Fontes (2006, p. 300) ao falar da atividade física no
tratamento para a perda de peso, diz que "existe um consenso de que o sedentarismo é uma
das causas do favorecimento e da manutenção de algumas obesidades". O autor ainda pontua
que a atividade física ajuda a controlar o peso corporal e a reduzir a ansiedade, o estresse, a
depressão e o risco de fatores associados a doenças cardiovasculares. Recine, Radaelli (2011,
p.7) afirmam que.
O exercício físico contribui com 8 a 20% do gasto diário total de energia. Além
disso, pode modular o apetite, pois ajuda a regular os mecanismos cerebrais que
controlam a ingestão de alimentos. Também proporciona um aumento da massa
corporal magra (músculos) e provoca alterações enzimáticas que facilitam a queima
de gordura nos tecidos, o que torna o indivíduo ativo mais propenso a perder peso e
a mantê-lo reduzido.
Então, é possível considerar que a falta de atividade física observada entre a
maioria dos entrevistados pode dificultar a perda de peso, ou mesmo, facilitar o aumento
deste. Segundo Recine, Radaelli (2011, p. 9) "pessoas sedentárias apresentam um gasto
calórico reduzido e podem ter mais dificuldade de queimar a gordura e mais facilidade para
armazená-la". Então, tanto a atividade física quanto a mudança de hábitos alimentares
requerem mudanças de comportamento que implicam diretamente no estilo de vida do sujeito,
e o psicólogo tem papel importante para auxiliar nesta mudança. E nenhum dos sujeitos da
pesquisa indicou o atendimento psicológico como algo que fez após a cirurgia.
96
6.4.7 O cuidado que os sujeitos pesquisados tem com o corpo
No quadro 29 são apresentadas os cuidados que os sujeitos da pesquisa referem ter
com o corpo hoje. "Roupas e maquiagem" foi mencionada por quatro dos cinco entrevistados.
"Atividade física", " Ir ao salão de beleza" foram referidas por dois dos entrevistados, para
cada categoria. Já as categorias, "Lipoaspiração", "Cirurgia plástica" e "Nenhum cuidado" foi
a resposta dada por um entrevistado, para cada categoria, como o cuidado que tem com o
corpo hoje.
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
Atividade
física
Eu sou bastante vaidoso, eu faço academia todos os dias, musculação e sauna,
por uma hora e meia, e corro de 7 a 12 kg todos os dias. (E1)
Faço exercícios físicos. (E2), 2
Lipoaspiração Me preocupo bastante com meu corpo em geral, fiz uma lipo depois da cirurgia,
graças a Deus não precisei fazer plástica, o que aconteceu depois da cirurgia me
deu umas estrias. Já procurei de tudo para ver se tinha recursos para acabar com as
estrias, mas infelizmente não tem. (E1)
1
Cirurgia
plástica
Depois da cirurgia fiz uma plástica no seio, recuperei ele, pois já tinha feito
plástica antes há 15 anos atrás. (E2)
1
Ir ao salão de
beleza
Eu vou ao salão de beleza. (E2).
Eu vou para salão, continuo vaidosa. (E3)
2
Roupas e
maquiagem
Gosto de sair arrumada e maquiada. (E2)
Se eu tenho uma festa para ir, eu me arrumo, coloco unha postiça , eu me
arrumo, fico bonita. (E3)
Eu gosto de me arrumar, a vizinha brinca comigo, "nossa a mulher já levanta de
maquiagem e cabelo escovado!". Mas tem dias, quando estou em casa relaxo
mais. Procuro está com o cabelo escovado. Eu gosto principalmente do rosto
que é o cartão de visita, tem que dar uma ajeitada. (E4)
Gosto de me vestir, mas isso não é o principal para mim. Eu preso muito mais
a saúde do que a aparência, embora isso não seja o que a sociedade espera de
ti.(E5)
4
Nenhum
cuidado
Nenhum. No dia a dia não dá tempo. (E3)
1
Quadro 29 - O cuidado que tem com o corpo.
Fonte: elaboração da autora, 2011
A maioria dos entrevistados disse cuidar do corpo hoje. E o tipo de cuidado que a
maioria referiu ter com o corpo está baseado em aspectos relativos a roupas e maquiagem.
Sendo que somente dois entrevistados referiram realizar atividade física como cuidado com o
corpo e nenhum entrevistado referiu ter uma alimentação equilibrada como o ato de cuidar do
corpo. Segundo Silva (1994, p.266) "a pessoa com obesidade, com a auto-estima e a auto
imagem rebaixadas, não valoriza a qualidade de vida, não cuida de seu corpo por „dentro‟ já
97
que não seleciona os alimentos que ingere e não faz exercícios físicos". O que é possível dizer
é que os sujeitos da pesquisa parecem estar cuidando de sua aparência por "fora", investindo
em roupas e maquiagem. Isso, segundo Silva (1994), é um comportamento positivo, pois
contribui para o aumento da auto-estima. Entretanto, os sujeitos da pesquisa estão
negligenciando a qualidade de vida, que envolve alimentação equilibrada e realização de
exercícios físicos, podendo acarretar em ganho de peso.
6.4.8 A imagem corporal: adjetivos atribuídos pelos sujeitos ao próprio corpo.
No quadro 30 são apresentados os adjetivos que os sujeitos da pesquisa atribuem
aos seus corpos. Os entrevistados mencionaram adjetivos positivos para o corpo como:
"Bonito" , categoria mencionada por três dos sujeitos da pesquisa. "Sarado/Malhado" foi
referido por dois entrevistados e "Aceito", "Ativo", "Popozuda" foram mencionados por um
sujeito para cada categoria.
Mas, também referiram adjetivos negativos para o corpo, como: "Horrível", que
foi mencionado por dois pesquisados e "Flácido", "Nada bonito", "Máquina que precisa
funcionar" e "Imperfeito", categorias mencionadas como adjetivos para o corpo por um
pesquisado para cada categoria.
(Continua)
Categoria Unidade de contexto elementar Ocor
"Bonito" Me acho bonito, antigamente me achava feio.(E1)
Me acho muito bonita, sempre me achei muito bonita, quando emagreci me
achei muito mais. (E2)
De roupa eu gosto, eu sou bonitinha, charmosa, porque quando eu me
arrumo eu fico charmosa. (E4)
3
"Sarado/malhado" Eu estou sarado. (E1)
Me sinto malhada. (E2) 2
"Aceito" A minha imagem é aceita na sociedade. Hoje não tenho vergonha de colocar
uma calça, uma camisa por dentro, um terno, antes não conseguia vestir uma
terno. (E1)
1
"Ativo" Estou muito ativa, ativa se me chamar para trabalhar meia noite eu vou,
tenho muita energia, estou sempre pronta. (E1)
1
98
(Conclusão)
"Horrível" A minha barriga é horrível.! Hoje, eu não mostro minha barriga nem para
minha filha, nem para o meu marido. (E3)
Há meu Deus que complicado, hein! De roupa é uma coisa! Nua, é medonho,
horrível, horroso, já dei os três adjetivos! (E4)
2
"Flácido" Outra coisa que eu não gosto em mim é o meu seio e no meio das pernas que
ficou flácido. (E3)
1
"Nada de bonito" Se hoje eu me olhar no espelho eu não vejo nada de bonito em mim, porque
eu não estou arrumada, eu não estou maquiada. (E3)
1
"Popozuda" De roupa arrumada, eu gosto, sou popozuda. Uma coisa que eu amei foi o
meu rosto que depois da redução não alterou nada (não caiu pele). (E4)
1
"Máquina que
precisa funcionar"
Engraçado a gente nunca pensa nisso(risos). meu corpo é uma máquina que
precisa funcionar. E uma vestimenta da alma, e não é nem de longe aquilo
que dou importância no mundo. (E5)
1
"Imperfeito" Se me olho no espelho eu vejo um corpo que precisa de cirurgião plástico.
Mas ao mesmo tempo eu vejo alguma coisa que eu construí.(E5)
1
Quadro 30 - Adjetivos atribuídos ao corpo.
Fonte: Elaboração da autora, 2011.
Alguns adjetivos positivos foram atribuídos pelos sujeitos da pesquisa ao próprio
corpo, o que pode contribuir para uma auto-imagem positiva destes sujeitos, conforme relato
de E1: "Me acho bonito, antigamente me achava feio". Segundo Stenzel (2006), a aparência
do corpo influencia a vida das pessoas, a forma como nos apresentamos para os outros
influencia na maneira como nos relacionamos com eles e conosco. Castilho (2001, p. 29)
corrobora esta idéia dizendo que "as concepções e atitudes relacionadas com os conceitos de
estética e beleza, influenciam de maneira determinante a forma como as pessoas se
caracterizam e se relacionam com seus pares". É possível considerar que os sujeitos, ao
atribuírem adjetivos positivos ao corpo, como por exemplo, corpo bonito, pode facilitar a
forma como se relacionam com os outros e consigo mesmo.
Porém, os sujeitos da pesquisa também atribuíram ao corpo adjetivos negativos,
tais como, "horrível", "flácido", "nada de bonito", "imperfeito", o que pode contribuir para
uma auto imagem negativa. A depreciação da auto-imagem foi pontuada por Browneil,
O‟Neil (2009) como um sofrimento que o indivíduo tem e que pode prejudicar o seu
autoconceito. Segundo Castilho (2001) a imagem corporal negativa traz consequencias para a
vida das pessoas, tais como:
Baixa auto-estima, ou seja, um sentimento de inadequação como pessoa e um baixo
valor; Pessoas com a imagem corporal negativa podem acreditar que não possuem as
qualidades necessárias para serem particularmente masculinas ou femininas;
Ansiedade interpessoal e sentimentos de autoconsciência e inadequação em algumas
99
interações sociais, se o indivíduo não aceita a sua aparência, ele pode assumir que os
outros também não a apreciam; [...]. (CASTILHO, 2001, p. 30).
Ribeiro (2006) discute que a sociedade tem papel importante na formação de uma
auto-imagem negativa no sujeito, quando coloca a exigência, principalmente para as
mulheres, de que elas tenham um corpo magro, "sarado", atribuindo a esta imagem de corpo,
como sendo o "ideal", o "normal" e, dando a ele, atributos positivos, como bonitos e atraentes.
Então, os corpos que não se encaixam no perfil pré-estabelecido são considerados feios,
horríveis etc., dificultando que a pessoa aceite a própria aparência. É possível considerar, que
os sujeitos da pesquisa, ao atribuírem adjetivos negativos para sua imagem corporal, sofrem
por perceberem que não estão no padrão estético pré-estabelecido pela sociedade.
Entretanto, cabe ressaltar que alguns adjetivos negativos referidos pelos sujeitos
da pesquisa para o corpo, como "flácido" e "horrível" podem também estar relacionados ao
fato de que, com a perda de muito peso, é possível acontecer o excesso de pele que necessita
ser retirado através de cirurgia plástica corretiva. Por isso, podemos observar que alguns
entrevistados disseram que se sentiam "horríveis" quando nus e não quando estão com roupas
e arrumados, conforme relato de E4: "Há meu Deus que complicado, hein! De roupa é uma
coisa! Nua, é medonho, horrível, horroso!". Segundo Arasaki et al. (2005, p.294)
com o emagrecimento, a pele perde a sustentação dada pelo tecido adiposo. Abdome
em avental, flacidez cutânea exagerada nas mamas e em faces, braços, etc. que
podem causar constrangimentos. A cirurgia plástica reparadora pode ser efetuada
quando ocorre a estabilização do peso.
Também foi possível observar, através da fala de E5, que o sujeito pode se
relacionar com o corpo como se a imagem dele não fosse importante. Como se o corpo fosse
somente "uma máquina que precisa funcionar" pois, segundo o entrevistado, o corpo é algo
que "nem de longe, é aquilo que dou importância no mundo”. No entanto, E5 também atribui
ao corpo o adjetivo de "imperfeito", quando diz que: "Se me olho no espelho eu vejo um corpo
que precisa de cirurgião plástico". Se a imagem do corpo não tem importância para o sujeito,
então porque melhorá-lo com cirurgia plástica? Esta contradição pode acontecer na maneira
como o sujeito se relaciona com o corpo, pois segundo Silva (2001, p. 266) "muitas vezes, as
pessoas com excesso de peso ignoram o seu corpo, por tornar-se extremamente aversivo,
frente a campanha do corpo perfeito. Assim, ela nega a imagem do corpo como via de acesso
ao mundo".
100
Em síntese, observou-se que os sujeitos da pesquisa referiram ter sentimentos
positivos, tais como: felicidade, alegria, bem estar e auto estima elevada, quando terceiros
comentaram sobre a perda de peso que tiveram após fazerem a cirurgia bariátrica. Entretanto,
referiram sentimentos negativos, como tristeza, frustração, etc. pelo fato de voltarem a ganhar
peso após terem realizado a cirurgia, o que pode causar sofrimento emocional por terem
voltado a ganhar peso após a cirurgia bariátrica. A alimentação e a ansiedade foram as causas
mencionadas pela maioria dos entrevistados para o ganho de peso. E as ações dos sujeitos
quando voltaram a ganhar peso, segundo eles, foi cuidar da alimentação.Entretanto, ao
comentarem seus hábitos alimentares, referem maus hábitos alimentares como o "beliscar",
que dificulta a perda de peso e que pode estar diretamente relacionado à possível compulsão
alimentar antes de realizarem a cirurgia. Sobre a imagem corporal, os entrevistados referiram
para o corpo adjetivos positivos, como, "bonito" e "sarado", que colaboram para o aumento da
auto-estima. Entretanto também atribuíram ao corpo adjetivos negativos que prejudicam a
auto-imagem, como "horrível" e "flácido".
101
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a percepção de sujeitos que se
submeteram à cirurgia bariátrica a respeito do processo de voltar a ganhar peso após a
cirurgia. Para tanto, foram entrevistados cinco sujeitos submetidos à cirurgia bariátrica há
mais de um ano e que referiram ter voltado a ganhar peso após a cirurgia.
Em relação ao primeiro objetivo, "Caracterizar a percepção dos sujeitos que
voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica, sobre a cirurgia", foi
possível perceber que a motivação dos sujeitos para realizarem a cirurgia bariátrica estava
pautado em: melhorar a saúde, livrar-se da discriminação sofrida por ser obeso, aceitar a si
mesmo e também conseguir a aceitação de terceiros. Estas motivações revelaram que as
expectativas dos sujeitos estavam fundamentadas na cirurgia como "salvação" para os seus
problemas, como se a cirurgia por si só conseguisse propiciar estas mudanças, sem que estes
sujeitos fossem ativos nesse processo.
Por isso que, ao passar o período de "lua de mel" com a perda de peso após a
cirurgia (BENEDETTI, 2003), os sujeitos pesquisados percebem a cirurgia como algo que
lhes trouxe frustração por não conseguirem todos os resultados esperados. Isso porque,
segundo eles: ainda possuem problemas de saúde em decorrência da própria cirurgia, como a
anemia, por exemplo; necessitam de medicação para prevenir distúrbios metabólicos, de
minerais e vitaminas e de acompanhamento multiprofissional para o resto da vida; não
conseguiram mudar o comportamento alimentar; não conseguiram manter o peso que foi
eliminado logo após a cirurgia, voltando a engordar; o IMC ainda está no grau de obesidade
para a maioria deles.
Entretanto, também foi possível observar que os sujeitos percebem a cirurgia
como um motivador para buscar mudanças no seu comportamento, podendo lhes trazer maior
satisfação e bem-estar a longo prazo. Por isso, essas expectativas sobre a cirurgia bariátrica e
não sobre a mudança de comportamento dos sujeitos necessitam ser trabalhadas por equipe
multiprofissional, entre eles, o psicólogo, antes da realização da cirurgia, o que não aconteceu
com a maioria dos entrevistados.
Pode-se constatar que os entrevistados realizaram a cirurgia sem preparo prévio
quanto a aspectos psicológicos e nutricionais que fazem parte da etiologia da obesidade. Hoje,
eles ainda apresentam dificuldades de relacionar os aspectos emocionais com o ganho de
102
peso, o que pode ser um dos fatores pelos quais não buscaram tratamento psicológico como
estratégia de enfrentamento ao ganho de peso.
Observou-se que a procura por outros profissionais que não o médico no pré
cirúrgico ocorreu pelo fato de terem que preencher documentos necessários para a realização
da cirurgia. Os sujeitos queriam realizar a cirurgia mas não perceberam a necessidade de
maior preparo para o procedimento. O que pode ter acontecido por desconhecimento da
importância do acompanhamento multiprofissional no pré e pós cirúrgico. Por isso, o
candidato à cirurgia necessita receber esclarecimentos sobre a importância desses
acompanhamentos, bem como ser motivado a buscá-lo, para obter um melhor resultado
possível da cirurgia. Neste sentido, o cirurgião bariátrico, por ser o profissional que tem
contato com todos os candidatos à cirurgia, tem o papel de esclarecer e motivar o sujeito que
irá se submeter à cirurgia bariátrica a procurar acompanhamento psicológico, assim como de
procurar acompanhamento de outros profissionais, tanto no pré quanto no pós-cirúrgico, por
ser este um acompanhamento importante para um bom prognóstico.
Entretanto, com a popularização da cirurgia bariátrica, a qual vem sendo realizada
em grande parte por clínicas particulares, isso parece ter se transformado num grande
comércio, como por exemplo, o que se observa nas propagandas veiculadas na mídia, onde a
técnica da cirúrgica bariátrica é apresentada como algo "mágico". A propaganda passa a idéia
de que, o que importa, é a imagem corporal magra e não a mudança de hábitos, como por
exemplo, ter uma alimentação balanceada, realizar exercícios físicos, etc., hábitos que possa
colaborar para que o sujeito tenha uma vida mais saudável.
Por isso, muitas vezes, critérios importantes como o acompanhamento
multiprofissional não tem sido considerados por alguns cirurgiões, que desconsideram que a
cirurgia é apenas uma das muitas ferramentas para o tratamento de um problema complexo
como a obesidade. (REPETTO, RIZZOLLI, 2006).
O acompanhamento multiprofissional no pré e no pós cirúrgico de longo prazo,
conforme preconizado pelo Ministério da Saúde através da portaria 390 de julho/2005,
deveria ser cumprido independente de a cirurgia ocorrer pelo SUS com seus hospitais de
referência para realizar a cirurgia bariátrica ou em clínicas particulares. A efetivação dessa
medida legal em clínicas particulares poderia ajudar no combate da comercialização da
cirurgia bariátrica, bem como, iria contribuir para mudança do que acontece hoje, em que na
maioria dos casos, a ação de outros profissionais como a de psicólogos, nutricionistas etc. é
feito apenas mediante o preenchimento de formulários para a realização da cirurgia, sendo
que esses profissionais não fazem parte do tratamento integral da obesidade.
103
Porém, não basta somente a lei para que ocorra mudanças no tratamento da
obesidade com base na técnica cirúrgica. É necessário também que os profissionais das
diversas áreas, como psicólogos, nutricionistas etc., tenham papel ativo no acompanhamento
pré e pós cirúrgico, não submetendo-se a meramente preencher formulários, os quais ocorrem
muitas vezes em uma única consulta. Isso porque os profissionais da área saúde tem a função
de promover maior saúde e qualidade de vida às pessoas.
Em relação ao segundo objetivo, "Caracterizar o comportamento alimentar dos
sujeitos que voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica", observou que o
comportamento alimentar desses sujeitos caracteriza pelo consumo de alimentos e bebidas
considerados por eles de fácil ingestão, como carboidratos, chocolate e cerveja e pelo hábito
alimentar de beliscar, comendo alimentos em pequenas porções mas com alto teor de calorias,
como bolachas, salgadinhos, etc. O beliscar também dificulta a percepção da quantidade de
alimento que ingerem, o que foi observado na pesquisa. Esse comportamento alimentar é um
facilitador do ganho de peso, acrescentado ao fato de que a maioria dos entrevistados não
realizam exercícios físicos.
A percepção dos sujeitos sobre o comportamento alimentar após a cirurgia é a de
que alguns hábitos como o beliscar já existiam antes mesmo de fazerem a cirurgia, sendo que
após a cirurgia, em alguns casos, esse hábito se intensificou. Então o comportamento
alimentar inadequado persiste ou é agravado após a cirurgia, o que pode também estar
associado à compulsão alimentar que o sujeito poderia ter antes de realizar a cirurgia o que
necessita ser tratado. Além da compulsão alimentar o tratamento pode ter também como foco
a necessidade de mudanças de comportamento em relação ao modo como se alimentam como
forma de estabelecer condições de prevenção de reincidência da obesidade, neste sentido, o
psicólogo tem papel importante no tratamento, com o enfoque na reeducação alimentar, auto-
imagem, e sofrimentos emocionais vinculada a obesidade, tal como a ansiedade.
A ansiedade foi apontada como a emoção que mais interfere na alimentação dos
pesquisados e o comer mais, é a mudança que mais percebem. A comida passa então a ser
uma maneira de aliviar o sofrimento emocional desses sujeitos, mesmo que
momentaneamente (SCAVORA, OLIVEIRA, 2011). Para os pesquisados, o alimento não tem
somente o significado de nutrir-se, mas também significa gratificação, sedução, agregação
social, o que pode facilitar a busca do alimento para saciar a fome "emocional"
(ALVARENGA, 2004).
Quanto ao terceiro e o quarto objetivo, "Identificar as percepções de sujeitos
acerca das possíveis modificações nas relações sociais, quando voltaram a ganhar peso após
104
submeterem-se à cirurgia bariátrica" e "Caracterizar sentimentos e emoções descritas pelos
sujeitos quando voltaram a ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica". Foi
possível observar que houve mudanças nas relações sociais dos sujeitos pesquisados apesar da
maioria dos entrevistados referirem que não houve mudanças nas relações sociais no período
em que estavam perdendo ou ganhando peso. Pois, os sujeitos da pesquisa afirmaram que no
período em que estavam perdendo peso eles sentiam-se mais aceitos, recebiam elogios pelo
fato de terem perdido peso, passaram a comprar roupas em lojas "normais" e não
especializadas para pessoas com obesidade, participavam com mais frequência de reuniões
sociais, etc. E sentiam-se felizes, com bem-estar, com auto estima elevada. Em contrapartida,
quando estavam ganhando peso, após a cirurgia, foram cobrados e criticados nas suas relações
sociais, com comentários de caráter discriminatório, como, "tua cirurgia não adiantou" (sic),
"tais engordando"(sic).
Estes comentários afetam a auto-estima do sujeito, trazendo-lhes sentimentos
como tristeza, culpa, sentimentos que estes sujeitos já sentiam antes da cirurgia, quando eram
obesos mórbidos. Então, o fato de voltarem a ganhar peso torna-se um evento estressor. Foi
observado que a estratégia utilizada para enfrentar este evento estressor, por alguns
pesquisados, não acontece de formar assertiva. Isso porque tendem a comparar o peso que tem
hoje com o que tinham antes da cirurgia, na condição de obesos mórbidos, mantendo a
sensação de emagrecimento. Tal estratégia pode prejudicar a avaliação do sujeito sobre a sua
condição atual de peso e dificultar a busca por auxílio profissional e a busca por mudanças
nos padrões de comportamento, como: mudança nos hábitos alimentares, realizar exercício
físicos, aprender a lidar com os sentimentos, etc.
Com relação à auto-imagem dos sujeitos que voltaram a ganhar peso após a
cirurgia, foi observado que eles atribuem sentimentos antagônicos a sua imagem, pois referem
ao corpo adjetivos positivos e negativos, principalmente no que se refere ao corpo nu, o que
foi observado principalmente no relato das mulheres. Essas são, em especial, bombardeadas
pela mídia para a busca do corpo "perfeito", o que pode gerar insatisfação.
Com base nos dados apresentados, é possível inferir que há sofrimento emocional
no sujeito que realiza a cirurgia bariátrica e volta a ganhar peso. Isso é demonstrado a partir
das descobertas de que os sujeitos pesquisados possuem dificuldades em modificar hábitos
alimentares inadequados, por relacionar a causa do ganho de peso a ansiedade, de apresentar
sentimentos negativos como, tristeza, frustração pelo fato de voltarem a ganhar peso. E por
terem sentimentos antagônicos sobre sua imagem corporal, o que indica que eles necessitam
de auxílio para o tratamento desses sofrimentos.
105
Todos esses resultados foram analisados a partir das variáveis relativas à
caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa, informações sobre a cirurgia bariátrica a
que eles se submeteram, as características do comportamento alimentar dos sujeitos após a
cirurgia bariátrica, os tipos de sentimentos e emoções que estes sujeitos tem ou tiveram
quando perceberam que estavam ganhando peso após a cirurgia bariátrica, as possíveis
modificações nas relações sociais desses sujeitos quando voltarem a ganhar peso após
submeterem-se à cirurgia bariátrica. Ao investigar essas variáveis foi possível identificar
algumas facilidades no processo de pesquisa, tais como: o discurso fluente dos pesquisados
sobre o fato de voltarem a ganhar peso após a cirurgia, o número de sujeitos que voltaram a
ganhar peso após a cirurgia bariátrica e o acesso da pesquisadora a estes sujeitos, etc. Foram
encontradas algumas dificuldades no processo de pesquisa, tais como: o grande número de
perguntas no instrumento de coleta de dados, o que o tornou extenso e o pouco acesso a
homens que realizaram a cirurgia bariátrica e que voltaram a ganhar peso, que pudessem
participar da pesquisa.
Pode salientar, a partir do exposto nessa pesquisa, que não somente o sujeito que
realiza a cirurgia bariátrica deva ser alvo da intervenção multiprofissional, mas também sua
família, tendo em vista que esta tem grande influência sobre os sujeitos, principalmente no
que tange ao comportamento alimentar e ao reforçamento da auto-estima do sujeito. Além
disso, pode apontar a necessidade de novos estudos que enfoquem as diferenças de gênero no
enfrentamento do ganho de peso no pós-cirúrgico da cirurgia bariátrica; em aspectos relativos
à compulsão alimentar no antes e no depois da cirurgia; no tratamento psicológico a pessoas
que realizaram a cirurgia e voltaram a ganhar peso, ou que sofrem com depressão, alcoolismo,
etc., após a cirurgia bariátrica.
É mister considerar que a cirurgia bariátrica é uma ferramenta importante no
tratamento da obesidade mórbida, entretanto, não é uma panacéia. Por isso é necessário que
profissionais de diferentes campos de atuação da área da saúde, entre eles, o psicólogo,
estejam engajados nesse processo de tratamento, uma vez que a obesidade é um problema
multideterminado e um grave problema de saúde pública no mundo. E apesar das dificuldades
encontradas para o tratamento multiprofissional da pessoa com obesidade mórbida, isso pode
ser mudado, tendo em vista que a realidade é histórica e, como tal, pode ser modificada e
transformada em uma direção mais significativa.
106
REFERÊNCIAS
ABNE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO ESPORTIVA. Propaganda de
Alimentos: Novo Regulamento Garante Liberdade de Escolha e Incentiva Alimentação
Saudável. Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/panr.php>. Acesso
em: 17 mai. 2011.
ALMEIDA, Ilana Arêa Leão de. A experiência positiva de mulheres obesas morbidas
acompanhadas em psicoterapia humanista:fenomenológica, que passaram por cirurgia
bariátrica. 2008. 103f. Dissertação (Mestrado em Psicologia)-Universidade de Fortaleza-
UNIFOR, Fortaleza, 2008.
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Psicologia: introdução aos princípios básicos do
comportamento. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
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VISCOTT, David Steven. A linguagem dos sentimentos. Tradução de Luiz Roberto S.S.
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114
APÊNDICE A – roteiro de entrevista
ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1 - Caracterização:
Idade:_____________Escolaridade_______________________
Profissão:______________________Quanto tempo atua na profissão:_______
Estado Civil:_____________________Possui Filhos?______
Estatura:____________
2 - Sobre a cirurgia:
Quanto tempo faz que você foi submetido à cirurgia bariátrica?
Peso que você tinha antes da cirurgia? Peso que você perdeu no pós operatório (um ano ou
mais)?
Quanto de peso você ganhou após ter emagrecido depois da cirurgia?
Qual o seu peso atual?
Como foi o seu pós operatório (dor, restrição de atividades, alimentação)?
Você realizou mais de uma cirurgia bariátrica? Se sim, por que?
Tipos de acompanhamentos feitos para realizar a cirurgia ( psicológico, médico; nutricional
ou outros)?
Depois da cirurgia você fez ou ainda faz acompanhamento ( psicológico, médico; nutricional
ou outros)? Por quanto tempo?
Qual foi a sua motivação para realizar a cirurgia?
3 - O comportamento alimentar dos sujeitos:
Como alimenta-se hoje:
Quais os tipos de alimento que você ingere?
Qual a quantidade de alimento que você ingere?
Onde você costuma se alimentar? Com quem se alimenta?
Qual o tempo de duração de suas refeições?
Quantas refeições você faz por dia? Em que horários?
Houve alguma mudança na forma como você se alimenta hoje, se comparado ao período
antes da cirurgia e logo após a cirurgia?
115
Tem algum problema físico quando se alimenta (enjôo,vômitos, diarréia, etc)?
Ingere bebidas alcoólicas? Se sim? O que? e quanto?
Ingeria antes da cirurgia?
Em que ocasiões ingeri bebidas alcoólicas?
O significado do alimento para este sujeito:
Como se alimenta no trabalho?
Como se alimenta quando vai a festas, reuniões, etc.?
Percebe alguma mudança na alimentação quando tem alguma emoção, quando e como?
Fez ou faz acompanhamento nutricional?
Toma medicamentos como vitaminas, ferro, etc.?
Quando voltou a ganhar peso o que fez?
3 - Relações sociais do sujeito quando voltaram a ganhar peso após submeter-se a
cirurgia bariátrica:
No período logo depois da cirurgia, com o emagrecimento, você percebeu alterações na forma
como as pessoas se relacionavam com você?
E hoje de que forma as pessoas se relacionam com você (casamento, trabalho, amizade,
família)
Caso você tenha percebido mudanças nas relações,você atribui ao que?
Que tipo de atividades sociais você costuma fazer? Com que frequência?
Você percebe alguma diferença em ir as atividades sociais hoje em comparação ao período
em que estava perdendo peso?
4 - Sentimentos e emoções descritas pelos sujeitos quando voltaram a ganhar peso após
submeter-se a CB;
Quando você perdeu peso, o que as pessoas diziam?
Como você se sentia quando as pessoas falavam de sua perda de peso?
Quanto tempo depois da cirurgia voltou a ganhar peso?
Quando voltou a ganhar peso as pessoas falaram alguma coisa para você? Como você se
sentia ou senti?
Como se sente em relação ao fato de ter voltado a ganhar peso?
116
Você atribui o ganho de peso ao que?
Com relação à imagem corporal:
Quais os cuidados que você tem com o seu corpo (salão de beleza, exercícios, cirurgia
plástica, etc.)
Você percebe alguma diferença na maneira como se cuida hoje comparado ao período em que
estava perdendo peso após a cirurgia?
Atribua alguns adjetivo ao seu corpo.
117
APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO
TÍTULO DO PROJETO: A percepção dos sujeitos acerca de voltarem a
ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica.
Eu,________________________________________________________
portador do RG,___________________ declaro que obtive todas as informações
sobre a pesquisa intitulada A percepção dos sujeitos acerca de voltarem a
ganhar peso após submeterem-se à cirurgia bariátrica. Esta pesquisa tem como
objetivo caracterizar a minha percepção a respeito de voltar a ganhar peso após ter
me submetido à cirurgia a bariátrica. Esta pesquisa busca uma melhor compreensão
do fenômeno da obesidade, da cirurgia bariátrica, das conseqüências pós cirúrgicas
para as pessoas que submetem-se a ela, visando a contribuir com subsídios que
ajudem no tratamento psicológico de pessoas que realizaram a cirurgia bariátrica e
que voltaram a ganhar peso.
Será realizada uma entrevista comigo, em que serão me feito perguntas
sobre: a cirurgia bariátrica submetida por mim, as características do meu
comportamento alimentar após a cirurgia bariátrica, os tipos de sentimentos e
emoções que tive ou que tenho quando percebi que estava ganhando peso após a
cirurgia bariátrica, as possíveis modificações nas minhas relações sociais quando
voltei a ganhar peso após à cirurgia bariátrica. Essa entrevista terá duração de
aproximadamente 45 minutos e será realizada em um local que permita que eu me
sinta confortável para responder as perguntas, assim como que permita sigilo e
privacidade.
Durante a entrevista posso sentir algum tipo de desconforto como
ansiedade, por que as perguntas se referem a um momento de minha vida que pode
me trazer sentimentos e emoções que me mobilize, uma vez que falarei sobre minha
118
vida após ter ganho peso depois de ter me submetido a uma cirurgia bariátrica. Fui
informado que caso me sinta desconfortável conto com o acolhimento do
pesquisador sob a supervisão da supervisora orientadora Nádia Kienen. E, se
necessário, poderei ser encaminhado ao atendimento psicológico gratuito oferecido
pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) caso perceba que a
participação na pesquisa me fez sentir desconfortos ou sofrimentos.
Compreendi também que posso me retirar do estudo a qualquer
momento, assim como não sou obrigado a responder todas as perguntas a mim
formuladas durante a entrevista. Não haverá quaisquer constrangimentos ou
prejuízos caso queira me retirar do estudo. Entendi que meus dados pessoais serão
mantidos em sigilo, não sendo, em hipótese alguma, publicados e que apenas os
resultados obtidos com a pesquisa serão apresentados de forma que eu não possa
ser identificado.
Fui informado que se tiver interesse posso solicitar as pesquisadoras os
resultados da pesquisa, e que as pesquisadoras estarão disponíveis, antes durante
e depois da pesquisa para esclarecer dúvidas em relação à pesquisa.
Informo ainda que autorizo a gravação da entrevista em áudio, uma vez
que isso facilitará que as pesquisadoras tenham acesso mais fiel aos dados que Irão
coletar a partir desta entrevista.
_______________________________________________
Local e Data
__________________________________________________
Assinatura
______________________________________
Assinatura e Contato pesquisador responsável: Nádia Kienen
Fone: 3279-1084 -e-mail: [email protected]
______________________________________
Assinatura e Contato pesquisadora: Marli Borges Prado
Fone: 32420642 - 99802176 - e-mail: [email protected]