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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO Marcos Feliphe Otaviani Comparação de dados estatísticos entre o Campeonato Brasileiro Série A e Série B 2019 UBERABA 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

Marcos Feliphe Otaviani

Comparação de dados estatísticos entre o Campeonato Brasileiro Série A e

Série B 2019

UBERABA

2020

Marcos Feliphe Otaviani

Comparação de dados estatísticos entre o Campeonato Brasileiro Série A e Série B 2019

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal do

Triângulo Mineiro, como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em

Educação Física.

Orientador: Prof. Me. Paulo Sergio

Machado Rodrigues.

UBERABA 2020

Dedico primeiramente a Deus, e a minha família, em

especial minha mãe e meu pai e a todos que contribuíram

para isso ser possível em minha vida.

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, por nos dar saúde e sabedoria de

acertar nas escolhas.

Agradeço também aos meus pais, Admêa Otaviani e Claudemir Otaviani,

por me amparar nos momentos difíceis e por sempre batalharem para que eu

possa correr atrás dos meus sonhos.

Às minhas irmãs, Grazieli e Leticia, por sempre me apoiarem e de

alguma forma incentivar para que isso seja possível.

Aos meus avôs paternos e maternos que nunca deixaram faltar nada, do

incentivo ao carinho.

Aos meus padrinhos de batizado Adilson e Regina Vieira que, de todas

as formas possíveis, sempre me apoiaram e me ajudaram.

Os amigos que fiz nesse ciclo da minha vida, que me proporcionaram

momentos, ideias e experiências que me tornaram quem sou hoje, em

especial, Thales Russo “Thaleco”, João Vitor Fornazari “Ganso”, Cauê Ferreira

Nery, Guilherme Bezerra “Phelps”, Marcos Roberto “Betinho”, Álvaro Freitas,

Kassyus Souza “Bolt”, Marina Melo, Renata Alves e a Thaísa Franco.

A UFTM pelas experiências vividas e pelo ciclo de aprendizagem.

Ao meu orientador Profº M.e Paulo Sérgio Machado Rodrigues, pela

paciência e auxílio.

E aos membros da banca Profa. Me. Izabela Aparecida Santos e Prof. Me.

Antonio

RESUMO

No Brasil existem duas divisões nacionais de futebol. As séries A e B do Campeonato Brasileiro. Ao analisá-los podemos fazer uso do scout para definir alguns aspectos de cada uma, onde se assimilam e onde diferem. A partir de um estudo descritivo e exploratório, tivemos como objetivo analisar os seguintes dados: vitórias em casa, empates em casa, derrotas em casa, gols marcados, gols de pênaltis, cartões amarelos e vermelhos aplicados nas partidas dos jogos de ambas as séries do ano de 2019. Os dados foram obtidos através dos sites da CBF, o Gol e Globo Esporte, e posteriormente colocados em planilhas do Excell e analisados usando teste estatístico de scout. Considerando p < 0,05, obtivemos com relação ao fator “jogar em casa" significância para a vitória (p = 0,001) e empate (p = 0,01), porém não foi significante para a derrota (p = 0,05). Para além foi constatada significância nos gols marcados e nos pênaltis (p = 0,036 e p = 0,001, respectivamente), assim como nos cartões amarelos (p = 0,004), porém não houve diferença nos vermelhos (p = 0,304). Pudemos concluir com este estudo que quem possuiu o mando de campo apresenta vantagem, e neste caso principalmente na série A. O número de gols por partida foi muito similar em ambas as séries, porém apresentando significante diferença entre elas (p = 0,0036) com mais gols na série A em relação à série B. Em relação aos cartões, apenas o amarelo apresentou diferença significativa, a série A com menos que a série B (p = 0,004). Apesar das limitações do estudo, ele pode servir de base para futuras comparações, e os dados aqui analisados poderiam servir como norteadores para analistas de desempenho e integrantes de comissões técnicas.

Palavras-chave: Campeonato brasileiro, Scout, Futebol.

ABSTRACT

In Brazil there are two national football divisions. Series A and B of the Brazilian Championship. When analyzing them we can make use of the scout to define some aspects of each, where they are assimilated and where they differ. From a descriptive and exploratory study, we aimed to analyze the following data: home wins, home draws, home losses, goals scored, penalty kicks, yellow and red cards applied in the matches of the games of both series of the year 2019. Data were obtained through CBF's websites, Gol and Globo Esporte, and later placed on Excell spreadsheets and analyzed using statistical scout test. Considering p <0.05, we obtained in relation to the factor "playing at home" significance for the victory (p = 0.001) and tie (p = 0.01), however it was not significant for the defeat (p = 0.05) In addition, significance was found in the goals scored and in the penalties (p = 0.036 and p = 0.001, respectively), as well as in the yellow cards (p = 0.004), but there was no difference in the reds (p = 0.304). study that whoever has the field command has an advantage, and in this case mainly in series A. The number of goals per match was very similar in both series, but showing a significant difference between them (p = 0.0036) with more goals in series A in relation to series B. In relation to cards, only yellow showed a significant difference, series A with less than series B (p = 0.004). Despite the limitations of the study, it can serve as a basis for future comparisons, and the data analyzed here could serve as guidelines for performance analysts and members of technical commissions.

Keywords: Brazilian championship, scout, home game, cards, goals.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO 10

2.1 Campeonato Brasileiro – Série A 10

2.2 Campeonato Brasileiro – Série B 11

2.3 Características relevantes em uma partida 11

2.4 Scout – Utilização de métodos estatísticos no futebol 13

3. METODOLOGIA 14

3.1 Desenho Amostral 14

3.2 Amostra 14

3.3 Análise estatística 14

4. RESULTADOS 16

5. DISCUSSÃO 20

6. CONCLUSÃO 22

REFERÊNCIAS 23

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho se iniciou pela vivência obtida no futebol, atuando

na modalidade desde muito jovem, praticando de maneira regular nos treinos,

tendo a oportunidade de participar de competições e ter a percepção de como

a parte tática pode contribuir para o melhor desempenho coletivo e ou

individual do time.

O futebol é a modalidade esportiva mais praticada e popular no mundo,

com milhões de adeptos no mundo, de diferentes níveis sociais e faixas etárias

(COHEN et al, 1997; VENDITE, VENDITE, MORAES, 2005). O que acaba

facilitando sua procura e sua prática, assim, sendo praticado por diversos

atletas em ligas amadoras ou profissionais, além de ser de fácil prática por ser

barato, com regras fáceis e objetivos claros.

Além do mais, o futebol representa o povo brasileiro, e é nele que a

hierarquia social pode ser rompida, onde todos podem participar e sentirem

parte de algo, se tornando um agregador social. Há uma grande solidariedade

entre torcedores de um time e, mesmo com a hostilidade em relação a clubes

rivais, o futebol é capaz de unir quando o assunto é a seleção brasileira, ou até

mesmo em momentos de crise no país. E é importante notar que nesse jogo,

todos sentem-se iguais, pois, há leis que devem ser obedecidas igualmente,

são universais, aplicadas por um juiz que deve ser imparcial (DAMATTA, 1994;

GUTERMAN, 2006).

Vários autores debatem como ele evidencia a representação social de

um povo. Isso é visto na cultura, religião, em costumes populares, crenças,

mitos etc. O futebol está, portanto, em muitas manifestações culturais do nosso

país, músicas, filmes, documentários. E, justamente pelo futebol representar

seu povo, ele também revela as diferenças de cada país e seus jogadores. Em

um país tão grande como o Brasil, também pode representar as diferenças de

cada região (GUTERMAN, 2006).

Pensando nessas diferenças, em como elas podem influenciar as

partidas, e também no fato de que, em muitas mesas redondas de vários

programas esportivos, televisionados, na internet, etc, e até em rodas informais

de conversa, sempre surgem comentários defendendo a série A como sendo

"melhor" que a série B (RODRIGUES; MOTA, 2018) podemos comparar as

duas primeiras divisões do Campeonato Brasileiro, série A e série B. No

futebol, o desempenho está relacionado à preparação técnica, tática e física do

time como um todo. Ao observar um outro time ou observar suas jogadas

anteriores, o time pode melhorar sua própria tática, aprimorar suas técnicas,

corrigir falhas, entre outras ações. Para tanto, o scout é a ferramenta que tem

sido utilizada para contabilizar e informar o número total de finalizações ao gol,

saldo de gols, faltas, passes, etc. (SONCIN et al, 2017).

Dessa forma, neste trabalho pretendeu-se analisar e comparar os dados

obtidos através do modelo estatístico do scout nas duas principais séries do

Campeonato Brasileiro, a fim de se analisar em que eles se diferem, já que

elas são organizadas e disputadas da mesma forma. Há poucos trabalhos na

literatura que se dedicaram a discutir em quais pontos elas divergem

(RODRIGUES; MOTA, 2018).

Partindo desse princípio, e através da utilização do scout, objetivamos

responder à questão da divergência investigando as vitórias em casa, empates

em casa, derrotas em casa, gols marcados, gols de pênaltis, cartões amarelos

e vermelhos aplicados nas partidas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Campeonato Brasileiro – Série A

O Campeonato Brasileiro surgiu em 1971, reunindo na época 20 clubes,

sendo financiado pelo Estado e organizado pela Confederação Brasileira de

Desportos (CBD). Desde então, o campeonato mudou suas regras por diversas

vezes, chegando a ter 94 clubes participantes em 1979. As mudanças sofridas

foram complexas e em decorrência de clubes participantes, confederações e

imprensa (FERREIRA, 2018).

Hoje em dia, o Campeonato Brasileiro da série A é o mais importante

torneio futebolístico do Brasil. Atualmente é organizado pela Confederação

Brasileira de Futebol (CBF) e permite aos quatro primeiros colocados

participam na Taça Libertadores da América - a maior disputa sul-americana.

Foi apenas em 2003 que começou o sistema "todos contra todos" conhecido

como sistema de pontos corridos, que é mantido até hoje, havendo diminuição

do número de equipes participantes (SILVA; MOREIRA, 2008).

Em 2019, o Campeonato Brasileiro da série A teve a edição com maior

número de estados representados, sendo eles: Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás,

Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

São Paulo. Também foi neste ano que o recurso árbitro de vídeo atuou em

todas as 380 partidas (CBF, 2019).

A organização tem melhorado com o tempo, mas é importante notar que,

em termos de gestão do esporte no Brasil, atualmente, não há muitos

programas que incentivem a formação de um gestor esportivo, há um grande

número de cursos tecnólogos, entretanto, cursos de bacharelado, pós-

graduação lato e stricto sensu ou são escassos, ou nem existem (BROGLIO;

TOLEDO; MAZZEI, 2018).

Isso, ainda de acordo com os autores citados no parágrafo acima,

contribui para uma má gestão do esporte aqui. Eles compararam o

Campeonato Brasileiro e a Major League Soccer (MLS) entre os anos de 2014

e 2017 e a MLS apresentou 21.125 espectadores, enquanto o Campeonato

Brasileiro teve 17.069. Mesmo assim, o Brasileirão, como também é conhecido,

é um dos maiores do mundo (BROGLIO; TOLEDO; MAZZEI, 2018). E é

justamente essa gestão que também determina como será o campeonato e as

diferenças entre uma série e outra.

2.2 Campeonato Brasileiro – Série B

O Campeonato Brasileiro da série B é a segunda divisão do

Campeonato Brasileiro de Futebol e, assim como a série A, também começou

em 1971 e passou por diversas modificações até chegar no formato atual e é

organizado pela CBF.

Logo nas primeiras edições, ela foi marcada pela desorganização, sendo

que não houve realização da competição entre os anos de 1973 até 1979.

Neste período, os campeonatos estudais davam a classificação para o

Brasileirão, sendo disputado por quase 100 times. Em 1980 voltou com o nome

de Taça Prata (SILVA, 2019).

Entre 2004 e 2008 a competição foi organizada pela Futebol Brasil

Associados, que foi uma entidade criada justamente para gerir a Série B. Entre

altos e baixos, edições não realizadas, algumas confusões, hoje a série B é

considerada um dos campeonatos mais bem organizados nacionalmente

(SILVA, 2019).

Foi em 2006 que a série B foi disputada pela primeira vez em pontos

corridos, como é até hoje em dia. Atualmente, os quatro primeiros colocados

são promovidos para a série A e os quatro últimos são rebaixados à série C.

2.3 Características relevantes em uma partida

São vários os fatores que influenciam um jogo, seja ele qual for. Esses

fatores estão diretamente relacionados à percepção do torcedor quanto ao

jogo, de forma que podemos dizer que um jogo é bom quando, por exemplo, há

boas assistências, gols marcados, torcida empolgada, entre muitos outros

fatores subjetivos e objetivos. Determinar o jogo como bom ou ruim pode ser

muito subjetivo, por isso é interessante pensar no que nos fazer designar uma

partida como sendo boa ou ruim (RODRIGUES, 2016)

No caso do futebol, vários autores já destacam a importância de muitos

fatores: que time marca o primeiro gol, quando este gol é marcado, as

vantagens de se jogar em casa ou desvantagens de não se jogar, as torcidas

presentes, seja em quantidade ou em animação, e até mesmo como a violência

dessas torcidas podem atrapalhar muitos jogos e resultados. Além disso, gols

sofridos, pênaltis marcados ou perdidos, passes e assistências certos ou não,

também são fatores que influenciam muito (ANDRADE et al, 2015; CUNHA,

2003; LEIVAS et al, 2013).

Rodrigues et al (2016) observaram que há uma grande associação entre

a marcação do primeiro gol e o time vencedor. A análise foi feita em ambas as

séries A e B do campeonato, concluindo que:

a magnitude desta associação [...] repercute na necessidade de comissões técnicas estabelecerem padrões técnico-táticos capazes de utilizar o potencial impacto positivo da marcação do primeiro gol a seu favor e reverter o potencial impacto negativo associado à marcação do gol pela equipe adversária (p. 81).

É unânime dizer que um bom jogo tem que ter gols marcados – ninguém

gosta de partidas terminadas em 0 a 0. Portanto, este é outro fator que muito

influencia na qualidade da partida. Assim, temos autores que se dedicaram a

quantificar e analisar os gols marcados, através das assistências, finalizações e

pontos da baliza onde houve gol. (ANDRADE et al, 2015).

Além de ter gols marcados primeiro, jogar em casa também pode ajudar

na vitória, seja pela diminuição do cansaço pela viagem, pela torcida,

conhecimento do estádio, entre outros (CUNHA, 2003; LEIVAS et al, 2013;

SILVA; MEDEIROS; SILVA, 2010)

Por último, uma pesquisa feita por Stephani e Rocha (2004), demonstrou

jogadores e técnicos se sentem mais motivados e atentos quando há torcida

presente e incentivando o jogo. Segundo eles, a torcida influencia suas

emoções, motivação, atenção e concentração, comportamento e desempenho.

Da mesma forma, a torcida também pode influenciar negativamente sobre o

jogo.

A partir deste tópico, podemos abrir um imenso leque de pesquisas em

torno de varáveis para a utilização do scout. Usaremos apenas algumas delas

no presente estudo.

2.4 Scout – Utilização de métodos estatísticos no futebol

Como já dito, o futebol está ente os esportes mais praticados e

acompanhados do mundo, com isso vem o alto investimento financeiro nele

aplicado. E são justamente as competições de maior visibilidade, como as

séries A e B do Campeonato Brasileiro, que retém a maior quantidade de

recursos (BROGLIO; TOLEDO; MAZZEI, 2018).

A cadeia de eventos que passa por esses recursos está no desempenho

de atletas, técnicos, número de vitórias, colocações, e tudo isso depende de

estratégia e táticas no jogo. Dito isso, a melhor forma de conhecer seu próprio

time e o adversário é analisar os jogos com uma visão estatística, sabendo

onde estão os pontos fortes e os que precisam ser melhorados, perfazendo

assim o scout (SONCIN, et al 2017).

Entre suas traduções podemos encontrar as de analisar, explorar,

verificar. Cunha, Binotto e Barros (2001) trazem uma análise um pouco mais

histórica de como o scout começou, e como se desenvolveu através de

máquinas que analisavam número de passes, chutes, entre outras ações dos

jogadores. Andrade et al (2008) definem o scout como uma ferramenta que é

utilizada na análise de jogos, um processo numérico que demonstra em forma

de dados como as equipes foram durante os jogos avaliando como foram os

fundamentos técnico e táticos executados pelos atletas.

Soncin et al (2017) mostram que através do scout os treinadores podem

pôr em prática nos treinos aquilo que foi observado nos jogos anteriores dos

oponentes. Essa ferramenta mostra que muitas variáveis que parecem ser

aleatórias, no fim acabam tendo certa regularidade. Isso faz com que seja

possível se descrever características de times, atletas e até mesmo

competições.

3. METODOLOGIA

3.1 Desenho Amostral

De acordo com Gil (2002) este estudo é caracterizado como descritivo e

exploratório, cujo objetivo principal é analisar as diferenças entre as séries A e

B do Campeonato Brasileiro de 2019, através de dados quantitativos sobre as

variáveis a seguir:

a) vitórias em casa (VC), empates em casa (EC) e derrotas em casa (DC);

b) gols marcados (GM), gols de pênaltis (GP);

c) cartões amarelos (CA) e vermelhos (CV).

3.2 Amostra

A amostra foi constituída de todas as partidas realizadas durante os

Campeonatos Brasileiros da Série A e B do ano de 2019. Foram 380 partidas

em cada série, totalizando 760 jogos. Ambas as séries tiveram 38 rodadas com

20 times participando em cada.

Na série A os quatro primeiros colocados foram em ordem Flamengo,

Santos, Palmeiras e Grêmio, garantindo a esses times acesso à Copa

Libertadores de 2020.

Os dados foram obtidos através de sites de domínio público e que têm

grande relevância como fontes de informação, o da CBF, o Gol e Globo

Esporte. Os dados foram coletados e colocados em planilhas do Excell para

posterior análise estatística.

3.3 Análise estatística

Testamos a distribuição dos dados por meio do teste D’Agostino-Pearson.

Quando as variáveis apresentaram distribuição normal, utilizamos o teste t -

student (análise paramétrica). Quando a distribuição foi considerada não

normal, aplicamos o teste não paramétrico de Mann Whitney. O nível de

significância adotado foi de p < 0,05. O programa estatístico utilizado para

análise dos dados e confecção das figuras foi GraphPad® (Prism, 6.0, San

Diego, USA.).

4. RESULTADOS

Considerando a hipótese nula como sendo médias iguais e a hipótese

alternativa como médias diferentes, o fator “jogar em casa”: p apresentou

significância para a vitória (p = 0,001) e empate (p = 0,01), porém não foi

significante para a derrota (p = 0,05) como demonstrado nas Figuras 1, 2 e 3.

Figura 1. Vitórias em casa série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Figura 2. Empates em casa série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Figura 3. Derrotas em casa série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Não houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Nas Figuras 4 e 5 podemos perceber que também houve significância

em ambos aspectos, nos gols marcados de forma geral (p = 0,036) e nos gols

de pênaltis (p = 0,001).

Figura 4. Gols marcados série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Figura 5. Gols de pênalti série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Já em relação aos cartões recebidos, houve significância para o cartão

amarelo (p = 0,0036), entretanto não houve diferença em relação ao cartão

vermelho entre as séries, no qual obtivemos um valor de (p = 0,304).

Figura 6. Cartões amarelos série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Figura 7. Cartões vermelhos série A versus série B. As barras apresentam a média ± desvio padrão em cada análise. Não houve diferença significativa entre as séries (p<0,05).

Na Tabela 1 – Resumo das análises estatísticas e dos números

absolutos e suas médias observadas no estudo, podemos ver de forma clara a

distribuição de todos os dados analisados.

Tabela 1 - Resumo das análises estatísticas e dos números absolutos e suas médias

observadas no estudo

Total série A Total série B P

Vitórias em casa 184 154 0,001*

Média % de vitórias em casa 64,57% 60,46% -

Empate em casa 94 127 0,01*Derrota em casa 99 99 0,5

Gols marcados 876 788 0,036*

Gols de pênalti 94 58 0,001*Cartão amarelo 1710 1926 0,0036*

Cartão vermelho 49 42 0,304

5. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo a identificação de fatores de scout

que podem descrever diferenças significativas entre as duas principais séries

do Campeonato Brasileiro. Tendo isso vista, o primeiro fator a ser analisado foi

o de se jogar "em casa".

Leivas et al (2013), apontaram que há significância principalmente na

série B. Eles estudaram o campeonato gaúcho, e concluíram que a série A,

talvez por ser mais bem nivelada apresentou menor diferença que a série B.

Eles relacionam isso a vários fatores: a maior presença de torcedores, cansaço

do adversário por conta da viagem, conhecimento do estádio, etc.

Silva, Medeiros e Silva (2010) também analisaram este mesmo fator,

considerando a interferência e interação entre local do jogo e qualidade dos

times nos aproveitamentos percentuais de vitórias e empates do Campeonato

Brasileiro da primeira divisão. Eles observaram que os clubes venceram, em

média, 25% a mais jogando em casa do que fora.

Quando se joga em casa, é chamado de mando de campo, Cunha

(2003) observou que esse fator é responsável por uma significante diferença

entre as equipes, onde as mandantes venceram 68,59% das partidas e as

visitantes venceram 31,41% das partidas.

Assim, o Campeonato Brasileiro da série A apresentou uma média de

1,15 gols por partida, e a série B teve 1,04, o que aparentemente é uma

diferença relativamente pequena, entretanto, ao analisarmos o total de gols (e

gols por pênalti) das séries, houve significância (p = 0,036). Os fatores que

influenciam o desempenho da equipe abrangem a qualidade técnica dos

jogadores (que em teoria são melhores na série A), a qualidade dos gramados

- o que também pode estar diretamente relacionado a condição financeira e da

estrutura de cada time (ARAÚJO JÚNIOR, 2017).

Essa qualidade técnica pode ser observada principalmente no quesito

individual, ao se marcarem pênaltis, a série A obteve um resultado maior,

demonstrando grande diferença com relação a série B.

Andrade et al (2015) ainda foram mais além que analisar apenas os

números de gols, com relação à assistência de bola em movimento,

perceberam que houve gols principalmente de fora da área ao centro e fora da

área na ponta esquerda, além disso, 39,4% dos gols não tiveram assistência. A

grande área e fora da área ao centro foram os principais locais de finalização,

havendo poucos gols de fora da área.

Os cartões amarelos distribuídos nas partidas tiveram diferença, sendo

que na série B foram distribuídos 216 a mais que na A. Cartões vermelhos não

apresentaram diferença significativa, o número total de cartões foram similares,

com ligeiro aumento na série A. Novamente aqui podem ser levantadas várias

hipóteses, a série B pode ser considerada um pouco mais violenta que a série

A em relação a faltas que não são graves, outro ponto é que a estratégia

utilizada pelos técnicos podem diferir bastante, ao trocar com mais frequência

os jogadores que recebem cartões amarelos para que não recebam o

vermelho.

Ferreira (2017) descreve que a violência do futebol deve ser entendida

também através da perspectiva de que é um esporte coletivo, com muito

contato físico e de alta competitividade, o que pode gerar um pouco mais de

violência que outros esportes. Esse fator influencia muitos outros, a distribuição

de cartões - e consequente expulsão de jogadores que podem ser chave na

vitória, às constantes interrupções da partida e até mesmo em lesões, também

cita a permissividade de árbitros despreparados para tal função.

O presente estudo apresenta limitações no que diz respeito aos dados

disponíveis. Não tivemos acesso às estatísticas de número de faltas da série B,

por exemplo, não conseguimos obter os números de passes, finalizações, e

impedimentos também, o que enriqueceria muito os resultados e a discussão

do mesmo. Seria interessante outra análise também com esses dados e dados

de outros anos para uma melhor comparação.

6. CONCLUSÃO

Podemos concluir com este estudo que quem possuiu o mando da casa

apresenta mais vitórias em ambas as séries, principalmente na série A. Houve

também diferenças significativas da série A em relação à B nos gols marcadas

de uma maneira geral e de pênaltis. Já em relações aos cartões, apenas os

cartões amarelos apresentaram diferença significativa da série B em relação à

série A.

REFERÊNCIAS

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ARAÚJO JÚNIOR, J. C. Análise comparativa do total de gols marcados entre as 4 primeiras equipes da série A e as 4 primeiras equipes da série B assim como das 4 últimas equipes da série A com as 4 últimas equipes da série B, no campeonato Brasileiro de 2016. Trabalho de Conclusão de Curso - Curso de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico de Vitória, Vitória de Santo Antão, 2017. 21 p.

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