ALMEIDA, Marcos de. Reforma e Renascença
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4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 5
1. REFORMA ___________________________________________________________ 7
1.1. Movimento: redescobeta do indivíduo ________________________________________ 7
1.2. Movimento: o efeito multiplicador ___________________________________________ 7
1.3. O movimento: demografia e economia ________________________________________ 8
1.4. Lutero: o autor do protesto _________________________________________________ 9
1.5. Lutero: a teologia de uma vida _____________________________________________ 11
2. RENASCENÇA _______________________________________________________ 14
2.1. Época: Uma visão panorâmica _____________________________________________ 14
2.2. Ser Humano: o parâmetro do mundo _______________________________________ 16
2.3. Ciência: grandes descobertas e invenções ____________________________________ 16
2.4. Sociedade: declínio do feudalismo __________________________________________ 17
2.5. Principais representantes do Renascimento Italiano ___________________________ 18
2.6. Desidério Erasmo: o teólogo da renascença ___________________________________ 18
3. RENASCENÇA E REFORMA __________________________________________ 20
CONCLUSÃO __________________________________________________________ 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________ 26
5
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo um breve panorama do momento da reforma
protestante e da renascença. Estes são movimentos distintos que emergem num mesmo
período e que trazem mudanças significativas para o Planeta, de modo que o mesmo nunca
mais seria o mesmo a partir desta nova época.
Num primeiro momento o tema abordado é a reforma, tendo como primeiro
subtítulo o movimento fundamental que contempla a redescoberta do indivíduo. Algo
importante a se destacar é que o movimento teve como aliado a descoberta da imprensa que
auxilia na propagação dos ideais desta nova ordem. Na delimitação geografia, percebe-se
que a reforma teve sua ação nos territórios do norte da Europa enquanto que o renascença é
o sul, sendo a península itálica foco importante de sua propagação.
Na seqüência destas breves abordagens temos Lutero e sua teologia. Este é um
cristão de impacto, cuja vida e teologia se mesclam numa expressão de fé intensa e
profunda disciplina espiritual que provocam profundo impacto em todo mundo. A base
para as transformações provocadas por um simples monge numa Alemanha ainda
fragmentada é a busca constante para alivio da alma pecadora e impura. Esta busca leva o
penitente a uma incansável procura pela verdade que liberta. Daí a doutrina da justificação
pela fé.
A renascença é o tópico da segunda parte, movimento que se inicia na península
Itália e se propaga pelo sul da Europa. O espírito religioso deste movimento é de pura
fachada, pois tem objetivos puramente humanistas. Numa visão panorâmica é um
renascimento das letras e artes, uma nova visão do homem de si mesmo e uma época de
grandes descobertas e invenções. Destaque para Erasmo de Roterdã, segundo alguns
estudiosos, considerado o teólogo do renascimento.
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Diante dos pontos trabalhados, a próxima parte do trabalho faz uma breve reflexão
da renascença e reforma destacando posições distintas e percepções diferenciadas de uma
mesma época.
Longe de esgotar qualquer ponto abordado, este trabalho propõe um breve relato de
uma época de intensas atividades religiosas, políticas, sociais, artísticas etc., tendo como
ponto principal o homem lembrado constantemente em todas as épocas, que se considerava
um pobre pecador, uma alma sedenta de Deus.
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1. REFORMA
1.1. Movimento: redescobeta do indivíduo
Movimento do século XVI cujo objetivo foi uma série de tentativas de reformar a
Igreja Católica Romana. Estas tentativas culminaram com a divisão e o estabelecimento de
várias igrejas cristãs. Destaque para o Luteranismo, igrejas reformadas e os Anabatistas. O
icone da reforma é Martinho Lutero (46 anos). Lutero não é nenhum fundador de um
império, mas um monge em crise de alma, em busca da sua salvação.
A Reforma Protestante é para ser entendida num sentido mais extenso, a saber, ela
denomina a exortação para o regresso aos valores cristãos de cada indivíduo. A soteriologia
criada pela Igreja Romana afirmava que o homem deveria passar por uma série de passos e
rituais nos quais, além de Jesus, havia a intercessão de santos e a necessidade de
penitências. Assim, o que o movimento da Reforma redescobre é o papel próprio do
indivíduo, de modo que este tem poder de se achegar a Deus, tendo como mediador Jesus
apenas. A partir dai pode obter o perdão e salvação. Este passa a ser um elemento comum
às igrejas que surgem da Reforma Protestante, a centralização na salvação do indivíduo,
pois o caráter soteriológico do cristianismo é algo individual, ou seja, diz respeito ao
indivíduo do que ao coletivo.
1.2. Movimento: o efeito multiplicador
O movimento teve um efeito multiplicador por conta da invenção da imprensa por
Gutenberg. É facil compreender isto, uma vez que a Bíblia se torna acessível a cada um,
traduzida nas línguas e dialectos locais, compreensível ao Europeu. Até então, a Bíblia era
8
um manuscrito em Latim com poucas cópias, a qual era encontrada nos conventos e nas
igrejas e lida por uma elite eclesiástica. A grande maioria da população nunca a tinha lido.
No século XVI, ela está disponível em grandes números e nas línguas e dialetos locais.
A Bíblia é o primeiro livro a ser impresso, por volta de 1450. A Bíblia Latina,
impressa por João Gutemberg, com uma edição de cerca de 150 exemplares, dá início a
uma revolução social. Na Idade Média os livros eram copiados à mão. Ter uma Bíblia era
algo exclusivo somente aos nobres da Igreja. Nos anos seguintes à invenção da imprensa
irão surgir milhares de Bíblias em circulação, impressas em latim e também em Grego, e
mais tarde, em Inglês, Alemão, Francês, e demais línguas e dialetos.
Destaque também para a imprensa na divulgação das reformistas. As 95 Teses de
Martinho Lutero foram imediatamente impressas e divulgadas por todas as regiões de
língua alemã, o que contribuiu para a crescente popularidade de Martinho Lutero.
1.3. O movimento: demografia e economia
Cairns (1995, p. 232) destaca que a reforma foi um movimento circunscrito aos
povos de formação germânica no norte e no oeste da Europa. A maioria das nações que
adotaram os princípios da reforma, jamais haviam integrado o Império Romano ou os
limites de seus territórios. Já as nações latinas do sul da Europa não aceitaram a Reforma,
mas permaneceram fieis ao Catolicismo Romano.
Algumas razões podem ser apontadas para este fenômeno. Por exemplo, a crítica
feita por humanistas alemães de um catolicismo nominal e a proposta de um cristianismo
mais autêntico e mais bíblico, tiveram grande aceitação pelas classes cultas do norte da
Europa. O resultado foi aumentar um espírito de insatisfação para com o sistema papal.
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Ouro exemplo é a tradição mística, mais presente nos povos alemães e holandeses, que
leram a Imitação de Cristo e se interessaram em praticar realmente a sua religião.
Descreve Walker (1967, p. 8) que a situação econômica da Alemanha era crítica.
Além das citadas, haviam os impostos e também a interferência papal em assuntos de
nomeações, consideradas opressivas. A administração dos negócios eclesiásticos era
reconhecida como corrupta. Tanto o alto como o baixo clero davam mau exemplo. Os
camponeses viviam em inquietação econômica, queixando-se das altas cobranças do alto
clero local.
É fácil perceber que o papado, neste momento, arrancava dinheiro com facilidade
de uma Alemanha sem governo nacional forte que pudesse defender seus direitos. A
exploração de novas minas tornara mais rica a Alemanha, fato que desagradava
sensivelmente o papado. A Igreja Romana possuía também muitas terras na Alemanha. É
por isso que a classe média estava sujeita aos abusos financeiros da hierarquia. Daí o
ressentimento contra o escoamento da riqueza da Alemanha que cria uma atmosfera
favorável a qualquer movimento que realmente significasse uma revolta contra Roma.
1.4. Lutero: o autor do protesto
Martinho Lutero é um dos poucos homens de quem de pode dizer que sua obra
alterou profundamente a história do mundo (Walker, 1967, p. 9). Não se tratava de um
personagem político, mas de um cristão movido pela profunda fé religiosa, resultado de
uma real confiança em Deus.
No dia 31 de outubro de 1517, Lutero realiza um protesto contra o abuso
eclesiástico de um modo nada usual. Martinho Lutero era monge professor da recente
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fundada universidade alemã. Seu ato alcançou resposta imediata a maior revolução na
história da Igreja Cristã.
Lutero foi estudante da Universidade de Erfurt, aluno aplicado e amante da música.
Walker diz que o movimento humanista que estava começando em Erfurt teve pouca
influência sobre ele, que buscava ler os clássicos latinos.
Algo a ser destacado é o forte sentimento de pecaminosidade que marcava Lutero,
que interrompe sua carreira promissora no Direito depois da morte trágica de um amigo.
Agora, ansioso pela salvação de sua alma, ingressa no mosteiro dos eremitas agostinianos
em 17 de julho de 1505.
Olson (1999, p. 386) descreve que em 1511, Lutero foi para Roma a serviço da
ordem agostiniana. Para qualquer bom católico, essa seria a viagem mais maravilhosa de
toda a vida, a oportunidade de visitar os santos túmulos dos apóstolos, bem como a grande
igreja do papa, e assimilar o ambiente espiritual. Porém, revelou-se a maior decepção da
vida de Lutero. Em Roma, só encontrou obscenidade, imoralidade, blasfêmia, fraqueza e
apatia espiritual. Lutero voltou aflito para a Alemanha.
Seguiu seus estudos até receber grau de doutor em teologia em 1512. Sua
capacidade teológica foi reconhecida e, em 1515, foi nomeado diretor de estudos e vigário
distrital encarregado de onze mosteiros de sua ordem, onde teve a reputação de pessoa de
piedade singular, devoção e zelo monástico. Apesar de todo o rigor monástico, Lutero não
encontrou paz para a sua alma. Daí o convencimento de Lutero de que a salvação é uma
nova relação com Deus, ou seja, não baseada sobre as obras meritórias da parte do homem,
mas sobre a absoluta confiança nas promessas divinas. Assim, o homem redimido, mesmo
não deixando de ser pecador, está livre e plenamente perdoado. Esta era uma nova ênfase
do mais importante aspecto do ensino paulino, com destaque que para Lutero o cristão é
um pecador perdoado. Para ambos, a salvação era uma correta relação pessoal com Deus,
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cuja base é a misericórdia de Deus demonstrada nos sofrimentos de Cristo na cruz em favor
de todos os homens.
É neste sentido que Lutero prega contra o abuso das indulgências. A idéia não era
negar o direito do papa de concedê-las, mas colocar em dúvida sua eficácia no purgatório.
O auge a batalha é a rejeição da autoridade final do papa e afirmar a falibilidade dos
concílios, passos que implicavam no rompimento com todo o sistema de autoridade da
Idade Média. As idéias de Lutero estavam se cristalizando rapidamente. Sua doutrina da
salvação estava produzindo muitos frutos. Destaque para suas três principais obras: À
Nobreza Cristã da Nação Alemã, Cativeiro Babilônico e Sobre a Liberdade Cristã. Porém,
o mais durável fruto do trabalho de Lutero foi a tradução do Novo Testamento. Ele não foi
o primeiro tradutor das Escrituras para o Alemão. As primeiras eram duras e grosseiras.
Seu trabalho não foi simplesmente traduzir do grego, mas uma tradução que determinou o
linguajar que marcou a futura literatura Alemã. O trabalho de Lutero era fácil de ler e foi
criador do idioma. Diz Wlaker:
Poucos serviços maiores do que esta tradução foram prestados ao desenvolvimento da vida religiosa de uma nação. Mas nem com toda sua deferência pela Palavra de Deus, deixava Lutero de ter suas normas próprias de crítica. Estas foram a base da relativa clareza com que ensinava sua interpretação da obra de Cristo e o método da salvação pela fé (1967, p. 20).
1.5. Lutero: a teologia de uma vida
Martinho Lutero é uma daqueles pensadores cuja teologia está intimamente ligada
com a vida cotidiana de modo que não se pode entender um separadamente do outro
(GONZALEZ, 2004, p. 29). Lutero é um teólogo de suma importância para o século XVI
cuja peregrinação espiritual o levou a se separar de Roma.
A questão de Lutero era sobre a relação entre o pecado e a graça, a justiça e o amor.
Deus não poderia ser apaziguado por um homem, como Lutero, que se reconhecia como
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um pecador injusto e impuro. Então em seus estudos nos Salmos, Lutero descobre que o
próprio Cristo esteve sujeito às agonias de desolação que ele sofrera. Jesus não era apenas o
justo juiz, mas também se apresenta como o acusado. O Deus justo é também o Deus
amoroso, que por amor a Lutero puni seu próprio Filho. Como diz Gonzalez, este foi o
começo da teologia de Lutero.
Estava pronta a base para receber a grande descoberta, que viria mais tarde. Lutero
estudando a Epístola de Romanos, como ele próprio diz, pela misericórdia de Deus atenta
para o contexto das palavras: “visto que a justiça de Deus se revela, como está escrito, ‘o
justo viverá pela fé’”. Então passa a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o
justo vive pela dádiva de Deus. Assim os efeitos da fé se resumem numa palavra:
justificação. A justificação pela fé foi proclamada articulus stantis et cedentis ecclesiae, “o
princípio material da reforma”. Strohl (1963, p. 89) ressalta que esta expressão foi útil
como breve antítese em oposição à tese da salvação pelas obras, porém nem sempre
comunicava suficientemente o conteúdo positivo que lhe atribuíam os seus criadores. O
conteúdo que descreve esta tese da justificação pela fé é a trilogia: sempre pecador, sempre
justo, sempre penitente, e tudo isto simultaneamente.
É importante lembra que neste momento Lutero se considerava um bom católico e
esperava criar um debate em torno de sua descoberta, ato que falha. A busca por recursos
pela cúpula da Grande Igreja se intensifica, o que leva Lutero ao ataque contra os
pregadores de indulgência, pisando assim em alguns poderosos, incitando
descontentamentos. Lutero, em sua obra Explanações, mostra sua luta interior descobrindo
que o papado dificilmente era conciliável com o evangelho. A conseqüência vem no tratado
Discurso à Nobreza Germânica da Igreja, onde nega a autoridade do papa sobre os
governantes seculares e a Bíblia, e reivindica que era o poder secular que deveria convocar
um concílio para a reforma da igreja. O movimento da reforma se entrelaça com o
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sentimento nacionalista alemão. O sistema sacramental da igreja é atacado na obra O
Cativeiro Babilônico da Igreja, destacando apenas três sacramentos: batismo, eucaristia e
penitência. Outro ponto é o sacerdócio de todos os crentes. A ruptura era inevitável.
Gonzalez (2004, p. 40) destaca que a perspectiva básica da teologia de Lutero foi
determinada quando ele era ainda um virtualmente desconhecido professor universitário,
perspectiva que se desdobrara numa radical oposição à teologia tradicional nos anos entre
1517 e 1521, anos em que sua teologia estava plenamente desenvolvida. Os tratados que se
seguiram constituíram parte da sua teologia já madura.
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2. RENASCENÇA
Hops (1996) diz que é necessário enfatizar que a Renascença, tanto substancial
como cronologicamente, foi um fenômeno italiano. O movimento nasceu na Península e foi
neste lugar que recebeu o mais forte impulso. Enquanto todo o resto do ocidente era ainda
teatro da agonia da civilização medieval, em Florença, em Siena, em Veneza e em Roma
operava-se um novo nascimento. Foi neste local que se esboçaram um novo estado de
espírito: o espírito tendia para a emancipação, a personalidade faz abalar as disciplinas
básicas e o próprio sentido da vida estava sendo questionado.
Cairns (1995, p. 232) diz que possivelmente o espírito racionalista e crítico da
Renascença, influenciaram de tal maneira que os povos do sul da Europa se tornaram
pouco interessados nas questões do espírito. Talvez estivessem plenamente satisfeitos com
uma religião puramente de fachada e formal, de modo que possuíam desfrutar livremente
das coisas materiais da vida. Os próprios papas renascentistas gastaram mais tempo em
realizações culturais do que no cumprimento de seus deveres religiosos.
2.1. Época: Uma visão panorâmica
O termo renascimento passou a ser usado a partir do século XIV. A renascença
corresponde ao período de "renascimento" das letras e das artes como um todo, movimento
este iniciado na Itália no Século XIV, tendo alcançado seu auge no Século XVI,
influenciando todos os demais países da Europa. O movimento se inicia com os estudos
dos cânones artísticos da antiguidade clássica, o qual já constituía elemento de erudição
entre os mais cultos homens da Idade Média e até entre a classe sacerdotal. Algo
interessante a se notar era o uso das figuras mitológicas pagãs como elemento estético para
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finalidades morais e filosóficas. Ocorreu que tal conhecimento dos padrões clássicos passa
a exercer influência sobre os mais variados campos de atividade humana no período
posterior à Idade Média. A Renascença pode ser dita como uma afirmação poderosa no
campo da prática, de humanismo.
A renascença foi percebida e manifestada pelo seu individualismo, estetismo, e
ardente interesse pelo mundo a conquistar, dominar, gozar com meios humanos. Não se
pode esquecer sua relação com o naturalismo que diviniza o homem material.
O Humanismo: o ser humano potencializado, celebrado, exaltado até à divindade,
livre de si mesmo, dominador da natureza, senhor do mundo. Uma das manifestações
características da Renascença é o renovamento das antigas escolas filosóficas, clássicas,
gregas. Na Idade Média o pensamento clássico foi bem conhecido e valorizado. No
entanto, tal conhecimento e valorização diziam respeito aos maiores filósofos gregos, em
especial a Aristóteles. Na Renascença, ao contrário, volta-se à sancta antiquitas, em
oposição ao espírito cristão. Valorizam-se, então, as antigas escolas filosóficas, realçando-
lhes o conteúdo de humanidade, presente em todas elas, não obstante a variedade de suas
orientações. Naturalmente não são as escolas filosóficas clássicas em sua espontaneidade
original, pois, entre ser clássico e ser renascentista há quinze séculos no meio,
profundamente influenciados pela mensagem cristã. Deve-se destacar que o aparecimento
da Cruz de Cristo, e por isso já não é mais possível o retorno à serenidade clássica de
Aristóteles ou ao ascetismo imanentista dos estóicos.
Na Renascença são representadas, mais ou menos, todas as escolas filosóficas
antigas: o platonismo, aristotelismo, estoicismo, epicurismo, ceticismo e o ecletismo. O
aristotelismo da Renascença exclui, naturalmente, a interpretação de Aristóteles dada por
Tomás de Aquino, e sustenta ou a interpretação naturalista de Alexandre de Afrodísia, ou a
panteísta de Averroés. O platonismo é, mais propriamente, neoplatonismo: porque assim se
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tinha fixado na antigüidade e neste sentido influenciara toda a Idade Média (pseudo
Dionísio Areopagita, Scoto Erígena, Mestre Eckart). Também por causa da sua
fundamental concepção panteísta e o seu potenciamento do espírito humano podiam
melhor corresponder ao imanentismo e humanismo da Renascença.
2.2. Ser Humano: o parâmetro do mundo
A visão que o homem tinha sobre si mesmo foi modificada radicalmente. Na Idade
Média todos os campos do saber humano tinham a tendência de retorna às explicações
teocêntricas.
A cosmovisão do homem tinha, basicamente, Deus como ponto de partida para
todas as discussões acerca do universo, suas origens e seus mecanismos. Deus está no
centro e tudo mais é construído em torna de seus preceitos, pelo menos em tese.
O que ocorre na Renascença é que o homem volta a olhar para si mesmo. Assim,
acontece o ressurgimento dos estudos nos campos das ciências humanas, em que o próprio
homem toma-se como objeto de observação, ao mesmo tempo em que é o observador.
2.3. Ciência: grandes descobertas e invenções
O renascimento foi um dos períodos mais férteis na história da humanidade. Como
destaque, Galileu Galilei, mesmo perseguido pela Igreja, afirmava não ser a Terra o centro
de todo o universo.
É fato que as teorias de Galileu seguiam em rota de colisão com os próprios
conceitos religiosos vigentes. Tal fato já era considerado um desafio às autoridades
religiosas: a constatação do movimento da Terra em torno do Sol,
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Outro destaque é a invenção da bússola. O aprimoramento das técnicas de
navegação facilitou a expansão marítima européia, resultando na nova rota marítima para
as Índias, realizada por Vasco da Gama. Os avanços da tecnologia de navegação da época
foram notáveis, não tardando assim o descobrimento da "nova terra", a América, realizado
por Cristóvão Colombo.
A pólvora, outrora utilizada meramente para a fabricação de fogos de artifício,
passou a ser utilizada para fins militares. Como conseqüência, os colonizadores europeus
passaram a obter vantagem bélica esmagadora sobre os povos dos territórios conquistados.
A renascença clareou a Terra em todas as direções. É importante destacar a
invenção da imprensa, que trouxe o mais alto progresso no mundo das idéias, pois
possibilitou uma melhorada propagação das mais belas expressões de vida intelectual. A
literatura apresenta uma vida nova e as artes atingem culminâncias que a posteridade não
poderia alcançar.
2.4. Sociedade: declínio do feudalismo
A partir da Renascença, a sociedade feudal teve seus mercados alterados através do
nascimento de uma burguesia urbana, que revolucionava os padrões então vigentes na
produção.
Consequentemente os centros urbanos sofreram transformações, se multiplicaram
por conta do desenvolvimento das atividades comerciais, substituindo paulatinamente os
antigos feudos.
Assim, os fatos ocorridos no período renascentista eram formados a partir das bases
da posterior instalação do mundo contemporâneo na história.
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2.5. Principais representantes do Renascimento Italiano
Michelângelo Buonarroti (1475-1564), que destacou-se em arquitetura, pintura e
escultura.Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina.
Rafael Sanzio (1483-1520), que pintou várias madonas (representações da Virgem
Maria com o menino Jesus).
Leonardo da Vinci (1452-1519), que foi pintor, escultor, cientista, engenheiro,
físico, escritor, etc. Obras principais :Mona Lisa, Última Ceia.
2.6. Desidério Erasmo: o teólogo da renascença
Olson (2001. p. 370) diz que Erasmo não se considerava teólogo, pois seria
ofensivo, uma vez que este título era sinônimo de pensador especulativo escolástico.
Apesar desta observação, Erasmo de Roterdã é considerado um dos maiores teólogos da
renascença. Ele viveu vários anos após o início da reforma protestante e debateu com
Lutero. Erasmo foi um livre pensador que não se prendia a nada, conclamava a igreja e o
estado à reforma, mesmo não se filiando a nenhum partido reformista. Seus escritos e
influência cultural ajudaram a levar a efeito as reformas tanto católicas quanto protestantes.
Apesar de ser ingressado num mosteiro agostiniano e sendo ordenado ao
sacerdócio, Erasmo estava mais para erudito do que para clérigo. Ele absorve o novo
espírito do humanismo que estava transformando a vida intelectual e cultural da Europa.
Fica famoso em toda a Europa com o livro Adágia, uma coletânea de pensamentos
espirituosos e estimuladores, que refletem claramente o pensamento humanista cristão.
Erasmo era o estudioso mais influente no continente, requisitado para aconselhar reis e o
imperador. Tornou-se símbolo cultural aos quarenta anos.
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Erasmo, nas palavras de Olson, ficou desanimado por não ter conseguido levar a
efeito a verdadeira reforma sem dividir a igreja. Para ele, a principal causa da perturbação é
o colapso moral, pois a verdadeira moralidade está no coração e não meramente nas
atitudes exteriores e a revitalização de uma igreja unificada é o novo coração concebido
pela graça de Deus. O que Erasmo solicitava era um diálogo cortês e racional. Ele morre
sem atingir seu objetivo, mas deixa um legado do humanismo.
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3. RENASCENÇA E REFORMA
A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja que tinha se desviado
do caminho cristão em suas bases. O plano invisível determina, assim, a vinda ao mundo de
numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a renascença da religião, de
maneira a regenerar os seus relaxados centros de força. Então, surgem estes ícones de
destaque: Lutero, Calvino, Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na
Europa Central e nos Países Baixos.
Destaca-se a urgente necessidade dos protestos contra os abusos dos príncipes da
Igreja, cujo personagem ocupava a cadeira pontifícia Leão X, o qual levava vida mundana
e, consequentemente, produzia desagrado nos cristãos sinceramente religiosos. É
impressionante perceber o nível que chega este mundanismo onde, Sob a direção do
pontífice, cria-se, em 1518, o célebre "Livro das Taxas da Sagrada Chancelaria e da
Sagrada Penitenciaria Apostólica", onde se encontrava estipulado o preço de absolvição
para todos os pecados, para todos os adultérios, inclusive os crimes mais hediondos.
Pode-se ver na missão de Lutero uma simples expressão de despeito dos seus
companheiros de comunidade, em face da preferência de Leão X encarregando os
Dominicanos da pregação das indulgências. Os postulados de Lutero constituíram
modalidade de combate aos absurdos romanos. Diante do extremo do abuso, ele respondia
com o extremo da intolerância.
Durant (1957, p.355) diz que o dogmatismo intolerante dos reformadores,
animosidades sectárias, destruição da arte religiosa, teologia predestinarista, indiferença
pelo saber secular e insistência renovada sobre os demônios e inferno, salvação pessoal
numa vida além túmulo, todas estas coisas, contribuíram para afastar o renascimento
humanista da reforma.
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Se o humanismo renascentista é um retorno pagão à cultura clássica, então o
protestantismo, piedoso retorno ao Deus único, não poderia se aliar a este movimento. Os
renascentistas não tinham inclinação pela teologia. O protestantismo, assim eles
encaravam, era uma traição à renascença, pois propunha restaurar o sobrenatural, irracional
e diabólico que havia obscurecido o período medieval. Os renascentistas achavam que isto
não era progresso, mas sujeição renovada do espírito emancipado aos mitos primitivos do
povão. Os humanistas renascentistas tinham criticado, mas nunca deixado a igreja. Neste
momento apressavam-se para confirmar sua lealdade. Muitos destes que tinham aplaudido
Lutero, logo se afastaram quando a teologia e a polêmica protestantes adquiriram forma.
Altmann (1994, p. 38) realça que Lutero não se omitiu diante de nenhum problema
com que se defrontou. É importante destacar que sempre divisou uma responsabilidade
cristã no âmbito político, econômico e social. A idéia era que, tudo que neles se fizer,
mediante razão, deverá estar a serviço do amor, do atendimento às necessidades do povo,
do estabelecimento do direito e da promoção da justiça. A proposta é a razão liberta dos
seus interesses em proveito próprio para ser capacitada a servir.
Neste novo momento de renascença e reforma temos também o movimento do
sistema feudal para o capitalismo mercantil. O sistema feudal estava calcado no direito
divino e a própria igreja que o representava era detentora de privilégios, riquezas e poderes.
Assim, com autoridade divina a igreja a legitimava. O fato e que este ciclo precisava ser
quebrado para que uma nova ordem pudesse se impor. Por princípio, o direito divino é
irrevogável. Mas Lutero faz descobertas libertadoras e abre espaço para uma reforma que
implica numa nova visão de mundo e profissão e nega ser a ordem política, econômica e
social divinamente legitimável. Ou seja, a competência não é de direito divino, mas de
direito humano. A implicação disto é que a ordem não deveria ter como base a lei imutável
de Deus, mas necessidades concretas que são causadas pelo processo histórico e que afetam
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concretamente a materialidade e a espiritualidade das vidas das pessoas. Se são questões de
alcance do direito humano, então suas regulamentações são reformáveis.
Essa é uma descoberta realmente revolucionária. Fica evidente que tal contestação
de Lutero teve que ser tomada como heresia por uma Igreja Católica que não tinha espaço
para essa radical transformação, uma vez que tal contestação evidenciaria um rompimento
com sua base de sustentação teológica.
Assim, no auge do século XV, quando a idade medieval estava prestes a extinguir-
se, as grandes assembléias espirituais se reúnem, orientando tais movimentos renovadores
que, em virtude das determinações do Cristo, deveriam encaminhar o mundo para uma
nova era. Todo esse esforço de regeneração efetuava-se sob o olhar misericordioso e
compassivo de Deus.
É importante destacar os mensageiros devotados, que se levantam para o
desempenho de missões redentoras. Na Península Ibérica fundam-se escolas de
navegadores que partem para o grande oceano, em busca de terras desconhecidas.
Numerosos precursores da Reforma surgem por toda a parte, combatendo os abusos de
natureza religiosa.
Também os antigos mestres de Atenas reencarnaram na Itália, espalhando nos
departamentos da pintura e da escultura as mais belas jóias do gênio e do sentimento. A
Inglaterra e a França preparam-se para a grande missão democrática que o Cristo lhes
conferira. O comércio se movimenta nas águas estreitas do Mediterrâneo e segue rumo as
grandes correntes do Atlântico, procurando as rotas esquecidas, cujo objetivo era o Oriente.
Nessa renascença de tantas atividades humanas, é definido a posição dos vários
países europeus e cada qual é investido com determinada responsabilidade na estrutura da
evolução coletiva do planeta.
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CONCLUSÃO
Se de um lado temos na reforma a concepção cristã de que o coração é para amar a
Deus, o espírito para conhecê-lo e o corpo para servi-lo, de outro lado temos na renascença
os êxitos humanos dos quais surgem as novas invenções, a descoberta do Novo Mundo e a
redescoberta das antigas obras.
Na Renascença manifestaram-se a ordem estética e intelectual. A arte, a literatura e
a ciência retiraram-se pouco a pouco do serviço da alma, para servir o corpo e suas paixões.
Na Reforma manifestaram-se a revolução moral que estava em marcha, a qual iria
deslanchar na revolução religiosa.
Diante da nova religião, protestante, é assegurado ao homem uma maior liberdade
para a conduta privada. A Reforma assegurava certo sucesso defronte aos indivíduos já
moralmente corrompidos pela Renascença. Isto porque a reforma cristã, em toda a sua
diversidade, aparece centrada na teologia da salvação, que é visto de modo diferenciado,
que diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade.
A Reforma não pode ser considerada apenas como um movimento religioso, pois
também teve implicações econômicas, políticas e sociais na medida em que refletiu as lutas
de classe entre nobreza, burguesia, artesãos e camponeses do início da Idade Moderna.
Lutero é o ponto de partida neste cenário de tantas transformações. Diante dos
movimentos de transição, temos este homem e seu livro, temos uma personalidade e suas
obras, que viveu na encruzilhada entre o velho e o novo. Ele é o representante de uma nova
época histórica e ao mesmo tempo pertenceu a uma velha era medieval. Como diz
Altmann, ele foi um ícone que carregava as marcas da transição, que dá uma contribuição
significativa ao novo tempo que estava surgindo (1994, P. 41).
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Outro ícone de destaque, Erasmo de Roterdã, via uma idade de ouro irrompendo
num futuro próximo. Parece que ele estava excessivamente otimista a respeito de sua
época. Porém a crise, a Reforma, sacudiria os alicerces da cristandade ocidental, deixando
a igreja permanentemente dividida. Como descreve George, antes de morrer, em 1536,
Erasmo referia-se a sua época como o pior século desde Jesus Cristo (1994, p.15).
Há quem considere a Renascença e Reforma como movimentos antagônicos e
talvez tenham certa razão, porém deve-se considerar os muitos pontos de convergências e o
fato de que ambos acontecem num momento extremamente propício sob a influência,
direta ou indiretamente, do cristianismo. É certo que há uma diferença de natureza social,
onde há os países que continuam fiéis à fé católica e os países que aderem à Reforma.
É interessante perceber que o renascimento vê a si mesmo como movimento em
direção ao passado, aparentemente uma característica oposta ao do mundo moderno, cuja
proposta é seguir rumo ao progresso.
George propõe que a Reforma constitui, essencialmente, um movimento que visa o
futuro, um movimento dos últimos dias, vividos numa forte tensão entre o já e o ainda não.
Porém, a Reforma também faz o seu retorno ao passado em busca de bases sólidas, nos
Pais da igreja e na boa teologia, e também o retorno nas Sagradas Escrituras traduzidas
agora, sob esta teologia protestante.
Enfim, entendo ser de suma importância o estudo da Reforma e da Renascença,
pois o conhecimento e a informação levarão o estudioso a se aperceber a importância de
ambos na vida da igreja e da humanidade. Não se pode tomar a posição de que o passado
não tem nada a nos ensinar, e se posicionar no ponto de vista de que somente o progresso
científico e o futuro é o que interessa, adotando uma posição de que é o presente sempre
melhor do que o passado. Mas a história nos serve sempre de lição, de apoio, ou de alerta.
Diante de um estudo como este, temos que agradecer àqueles que têm dedicado tempo e
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energia nas vastas pesquisas, relembrando e aplicando as questões levantadas pelos
reformadores. Sempre se deve ter em mente que estamos diante de um oceano vasto de
informações, e que toda e qualquer tentativa de procurar saber um pouco destes áureos
tempos remotos, será bem vinda quando se reconhecer que tal assunto é inesgotável e
também quando a busca tiver como bases sólidas o interesse, a dedicação e o amor.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTMANN, Walter. Lutero e libertação: releitura de Lutero em perspectiva latino-
americana. São Paulo: Ática, 1994.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja cristã.
Tradução Israel Belo de Azevedo. 2ª. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.
CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250 – 1550) – A crise da cristandade. Lisboa:
Edições 70, 1975.
DURANT, Will. A reforma: A história da civilização européia de Wiclif a Calvino: 1300 –
1564. Petrópolis: Record, 1957, p. 828.
GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Vida nova, 1994.
GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão: da reforma protestante ao
século 20. São Paulo: Cultura Cristã: 2004.
HOPS, Daniel. A igreja da renascença e da reforma (I) – A reforma protestante. São
Paulo: Quadrante, 1996.
OLSON, Roger. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reforma. São Paulo:
vida, 2001.