Maio - UFRGS

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Maio de barricada do desejo Em Paris, a juventude universitária se entrincheirou e exigiu o direito à utopia. Mais do que uma situação revolucionária, aquele maio foi um grande gesto de recusa. Vinte anos se passaram desde a primavera de Praga, o Vietnã, o AI-5 e as belas canções dos hippies. Um ceticismo de fim de século ronda os muros que não pichamos, as barricadas que não ousamos erguer. página central Fechamento do Bom Fim: f o fim de uma época t Página 4 s r. i X i - . iÍL' 't . fs. ' . fr ' i iBHV f y 't HàÊ . im. f - '4 t m ' Clubes pequenos agonizam na cidade 80 anos da imigração japonesa no Brasil Página 8 páginas 10 e 11 * I i Jornal Laboratório Comunicação UFRGS —junho de 1988

Transcript of Maio - UFRGS

Maio de

barricada

do desejo

Em Paris, a juventude universitária se

entrincheirou e exigiu o direito à

utopia. Mais do que uma situação

revolucionária, aquele maio foi um

grande gesto de recusa. Vinte anos se

passaram desde a primavera de Praga,

o Vietnã, o AI-5 e as belas canções dos

hippies. Um ceticismo de fim de século

ronda os muros que não pichamos, as

barricadas que não ousamos erguer.

página central

Fechamento do Bom Fim: f

o fim de uma época t

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Clubes pequenos

agonizam na cidade

80 anos da imigração

japonesa no Brasil

Página 8

páginas 10 e 11

*

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Jornal Laboratório Comunicação UFRGS —junho de 1988

2Trés por Quatro junho 88

Pichar ou pular, mas

não ficar em cima

NÁO ME LIBERTEM. POSSO FAZER ISTO SOZINHO.

Não, Drummond. Não é uma pedra no meio do caminho. E um muro inteiro. Pedra sobre pedra. Na universidade de Nanterre onde foi desencadeado o maio de 68, os estu- dantes picharam os muros com frases e pro- vocações.

Mas se os muros passam, nosotros, es- tos no passarán. Vinte anos depois vivemos com o mesmo gosto de indignação que tira o sabor das coisa. Cuspir, porém, nada! Fer- reira Gullar disse que somos uma geração sem caráter. Quem dera alguém pudesse le- vantar indignado e gritar: "MENTIRA". Se- ria, talvez, um sujeito bradando o vital direi- to ao cuspe.

Mesas, cadeiras, professores, máquinas de escrever. E alunos. Uma universidade. Em 68, era Paris e era primavera. Aqui, éBrasil. Macunaíma. Ai, que preguiça de brigar. Cor- rer da polícia com os livros debaixo do braço já virou história!folclore do movimento estu- dantil da década de 60. Hoje a gente corre pelos bares, fugindo da sala de aula, beber nas rodas pós-modernas licores de tédio, porres de fim de século, barricadas de chope.

Mas espera aí. Não me libertem, posso fazer isto sozinho. Não precisamos de 68 e suas frases. Podem inventar as nossas pró- prias, e existem mil muros à espera do spray. Não precisamos de barricadas nas rua. Tem um outro tipo que podemos erguer aqui e ago- ra: barricadas (argh! a palavra tá ranços a) ideológicas. Da resistência, da teimosa cora- gem de sobreviver à falta de perspectivas, da ousadia de criar perspectivas.

***

Quem não tem jornal, dá o recado pelo muro, já dizia Raul Seixas. E não faltam motivos para uma boa pichação. Há vinte anos atrás, lutava-se contra a transforma- ção das universidades em meras fornecedo- ras de mão-de-obra especializada e plena- mente integrada ao sistema de produção. De-

fendia-se sobretudo a universidade como instituição autônoma na produção, preser- vação e difusão de conhecimento.

O que temos hoje? Uma universidade que não está aparelhada sequer para preparar mão-de-obra competente. A reforma MEC- USAID não funcionou. A bandeira da rede- rnocratização da universidade não consegue impor-se. Contra a vontade da comunidade acadêmica, que corre o risco de não ser aten- dida na escolha do novo reitor, ergue-se a barricada daqueles que só tem privilégios com a manutenção da estrutura centralista e apoplética da universidade brasileira.

Quem não tem jornal ... Bem, quem tem faz o que pode ou o que deixam para dar o seu (vale a ambigüidade) recado. Mas nada, claro, como os grafites, instantâneos e insti- gantes fragmentos do inconsciente coletivo. OS OUVIDOS TÊM PAREDES, ostentava um muro da capital francesa em 68. Podería- mos emendar: alguns olhos também. Onde estamos afinal? Seja onde for, o que real- mente importa é agir. A existência precede a essência. Quem não teve jornal para mani- festar-se, pode aproveitar os muros da fa- culdade em constante reforma, uma cortesia da nossa direção.

***

Outra frase,esta dos meios jornalísticos: "A versão é mais importante que o fato". E o jornalista é formado para ter aversão do fato de que é necessário o confronto, que devem haver muros (que não o da lamen- tação).

O estilo brasileiro: nada de conflito. Em 68, havia muros a serem pichados

- no Brasil erguia-se um beco sem saída. O que se propõe, e mantém, hoje é realmente bem diferente.

O novo modelo é o labirinto sem saída. Reformas, aperfeiçoamentos, transições sem fim.

Pelo amor de Deus, um muro! Pelo menos pra dar uma mijadinha.

Cartas

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO TÉCNICO PROFISSIONAL NOS ESTADOS UNIDOS

A State University of New York - SUNY, através da Coor- denadoria para Assuntos Brasi- leiros, informa que estão aber- tas as inscrições para os seguin- tes cursos de Aperfeiçoamento Técnico Profissional: 1. Administração de Recursos Humanos 2. Administração de Negócios 3. Marketing para Moda de Vestuário - em convênio com o CEBRAFAM - Centro Brasi- leiro de Formação Profissional para a Moda, da Faculdade Anhembi Morumbi 4. Marketing Avançado Os cursos serão ministrados por

professores e especialistas ame- ricanos em regime de tempo in- tegral de estudos, com aulas, seminários, visitas técnicas, es- tudo de casos "workshop", nos "Campi" do Fashion Institute of Technology, em Manhattan e Cobles kill, de 04 a 15 de julho de 1988. Os cursos terão tradução para o Português ou Espanhol e se- rão desenvolvidos com absoluta exclusividade para profissio- nais e estudantes brasileiros. Informações: SUNY - Coordenadoria para Assuntos Brasileiros Rua Militão Barbosa de Lima, 66 09720 - São Bernardo do Cam- po - SP Tels. (011) 247.0801 - Prof. Ubiratã Araújo (011) 443.2739 - Prof. Silvio Luiz

Cebrafam - Centro Brasileiro de Formação Profissional pa- ra a Moda Rua Casa do Autor n ; 90 04546 - São Paulo - SP Tel. (011) 533.0588 -SECOM (Setor de Comunicação)

AO JORNAL TRÊS POR QUA- TRO Prezados Senhores, Tendo em vista a qualjdade de sua publicação, "TRÊS POR QUATRO", gostaríamos de continuar a recebê-la como "DOAÇAO". As nossas falhas são: 1988. Sendo o que nos apresenta para o momento, subscrevo-me Atenciosamente, Ayda Serpa Conte - Bibliote- cária-Chefe Escola Superior de Propaganda e Marketing

OpMão Econômica

A mediocridade grassa

O tragicômico quadro político-econômico brasileiro, além de ser uma rima pobre, não traz dúvidas de quem possa ser o autor de tão desencontrados versos. O mau poeta e o mau político, juntos num só corpo, disfarçados de Tudo pelo Social, estão horrorizando os apáticos espectadores da cena nacional. Não é uma comédia de Dante, porque Dante não conheceu o Brasil. É a falastrona e burlesca "Companhia Samey" e sua Troupe. Animando a alta sociedade com suas medidas empacotadas, a cada nova tentativa dá mostras de não ter a devida competência e talento necessários para segurar a peteca.

Algumas opiniões internacionais se mostram extremamen- te céticas no tocante aos anunciados êxitos da Companhia Samey. Na segunda quinzena do mês de maio esteve no Brasil, mais precisamente em Porto Alegre o ex-ministro da economia da Argentina, futuro candidato à presidência da República, e atualmente com assento no parlamento deste país, Álvaro Alsogaray. Ao externar o seu ponto de vista, em análise da atual conjuntura econômica brasileira, é taxativo: "O principal problema deste país é a inflação cansada principalmente pelo desequilíbrio monetário - a emissão de moeda sem lastro para cobrir as despesas e os investimentos. A hiperinflação é a maior ameaça para a democracia em qualquer país do mundo".

Demasiado sol durante a infância deve ter obliterado a visão do poeta maranhense a ponto de não perceber a extensão dos atos que comete. Como um descuido dos céus, ou não, viu a presidência do enorme colosso verde-amarelo lhe cair nas mãos e hoje parece não ter nenhum controle sobre a situa- ção. Todos os países do mundo já descobriram e estão desco- brindo que a estatização da economia é o caminho da contramão histórica. Pouca informação é o que refletem os discursos do governo "Companhia Samey". O candidato do Partido União do Centro Democrático à presidência da República Ai^ gentina já identificou a causa do retrocesso em seu país: o sistema estatista, dirigionista e inflacionário em essência, que é o sustentáculo do populismo estatizante em sua origem um sistema nacional-nacionalista. Ao substituir a forma de governo liberal da Constituição que, entre fins do século passado e primeiras décadas deste, tomou possível o prodigioso desenvol- vimento do país num lapso de pouco mais de 50 anos.

Ao demonstrar o domínio de uma excelente perspectiva histórica, a análise do deputado Álvaro Alssogaay contrasta com a estreita visão do seu colega, o presidente da Companhia Brasil - Tudo pelo Social. Aqui só é necessário lembrar-se de quem foram os candidatos eleitos na última eleição e os personagens da nova novela das oito, o restante é pafletagem bademista das esquerdas ou o terrorismo moral das CPIs nacio- nais. Tudo conspira contra o desconhecido poeta, até aqueles que estão de fora e não compartilham, como nós brasileiros, da patética platéia que assiste os mandos e desmandos do acadêmico Samey.

Ao tentar impor caminhos ao desenvolvimento econômico, o governo Federal demonstra uma enorme ignorância de econo- mia básica; as leis do mercado, que todo estudante deve ter na ponta da língua. E esta é a receita que Álvaro Alsogaray pretende ministrar na Argentina, se eleito for, diga-se de ante- mão, e é mais ou menos isto que o Brasil precisa: voltar a ter uma economia de mercado, livre da presença inflacionária da máquina administrativa que já deu mostras suficientes da sua mediocridade em comandar os movimentos deste país. A cada dia que passa as pessoas em geral ficam mais descrentes em melhoras, um estranho e desconfortável ar de conformismo toma conta dos ares nacionais, um silêncio que lembra de longe os limites de uma estupidez imbatível.

Victor Lourenço

Expediente

Jomal-laborat6rio dos alunos do sétimo semestre do curso de Jornalismo Gráfico e Audiovisual da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do RÍ > Grande do Sul. Segunda edição do primeiro semestre de 1988, elaborada pela turma da disciplina de Produção e Difusão em Jornalismo Gráfico, sob a coordenação dos professores Pedro Maciel e Rubens Weyne.

Participaram desta edição: Anajara Carbonell Closs, Cláudia Buchweitz, Cléber Fernando Grabauska, F.dgar Gonçalves Júnior, Eduardo Ferreira Veras, Elisa Kopplin, Gisele Scalco Sutil, Homero Bellini Júnior, Jorge Lufe Machado Ghioizi, José Carlos de Azevedo, Lauro I^andro Rutkowski, Lourdes Midon Hirata, Luciene Barbiero Vieira Machado, Luiz Carlos Donungues, Lufe Carlos Severo da Silva, Marcos Matte, Milene Kraemer Leal, Rejane Beatriz de Oliveira. Renato Duarte Mendonça, Ricardo Rodolfo Bueno, Rosemeri Guedes Bisch, Sabrina Takeda, Sandra Simon, Vfctor Lourenço Júnior.

Chefe de Departamento de Comunicação; Ricardo Schneider da Silva. Diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação: Lourdes Gregol Fagundes da Silva. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação: Rua Jacinto Gomes, 540, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Composição e fotolito, Gráfica Fundação da Produtividade. Fones: 22.7756 e 22.6312.

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UNIVERSIDADE

0 coral infantil do "Projeto Prelúdio'

Tocando o ensino

No seu sétimo ano de ativi- dades, o "Projeto Prelúdio" de educação musical alcança pleno sucesso, com o número de 500 alunos inscritos. Criado em 1982 por sua atual coordenadora, profes- sora Nídia Kiefer, e promovido pela Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS, o projeto tem como objetivo básico a educação musical de crianças e adolescentes através da prática em grupo. "A procura tem sido tanta, que neste ano sobraram 300 crianças inscritas, aguardando vagas", comenta a professora.

O "Projetp Prelúdio", pro- move a educação musical a partir dos cinco anos de idade, através de aulas de laboratório, canto e prática do instrumento. E aberto à comu- nidade em geral, com o limite máximo de idade de 17 anos. A carga horária é de, no mínimo, duas horas semanais. Segundo Nídia Kiefer, "agora é que os resultados práticos começam a surgir", pois é necessário um certo prazo para a formação das orquestras e dos conjuntos. Estes resultados são a formação de dtas orquestras infan- tis, uma orquestra de cordas, um coral, um quarteto de flautas e um conjunto de violOes.

O Projeto teve o apoio inicial da Universidade, mas teria que se manter financeiramente. Assim, atualmente os alunos pagam uma mensalidade de Cz$ 500,00. "Um preço bastante acessível, levando-se em. conta que uma única aula de música com professor particular custa hoje, em média, 1 OTN (Cz$ 1.337,00, em junho)", argumenta a professora Nídia.

INSTALAÇÕES PRECÁRIAS Funcionando no prédio da

Escola Técnica da UFRGS, na avenida João Pessoa (Campus Centro), o Projeto vem enfrentando dificuldades até mesmo de estrutu- ra básica, como a falta de uma sede própria. De terças às sextas-feiras as salas de aula da Escola Técnica são "transformadas" em sala para aulas musicais. A própria secretaria do

À espera da nomeação,

Ferrari forma Conselho

Projeto funciona numa sala de aula. Cadeiras são afastadas, cartazes informativos são colados no quadro negro e uma mesa é colocada à frente.

Todos os dias, às seis da tarde, a sala é novamente adaptada para as aulas noturnas da Escola Técnica. "Nós montamos o circo diariamente", ironiza a professora Nídia Kiefer.

Adolfo Almeida Jr., músico que leciona clarinete desde o início deste ano, comenta que as instala- ções são "inadequadas", pois as salas não têm isolamento acústico.' Por serem cedidas por diferentes

unidades da Universidade, as salas são distantes umas das outras, o que dificulta o andamento das aulas. O laboratório, por exemplo, funciona em local emprestado ao Projeto, no prédio da Escola Parobé. Mas segundo Adolfo, "tudo isto é superado pela grande compreensão dos alunos e a boa vontade dos professores".

A partir de novembro, as inscrições podem ser feitas na secretaria do Projeto,que fica na sala n9 4 da Escola Técnica da UFRGS. Vários instrumentos são lecionadop, como flauta-doce, vio- lão, violino, violoncelo, contrabai- xo, saxofone, clarinete, trompete e outros.

O "circo montado diariamen- te", a que se refere em tom de brincadeira a professora Nídia, pode ser observado todas as tardes, durante a semana. Quem transita nos prédios do Campus Central da universidade, entre as faculdades de Economia e a Escola Técnica, ouve de uma ou outra põrta o solo de um clarinete, de um violino, de uma flauta-doce ... Nestes seis anos de existência, o "Projeto Prelúdio" alcançou os seus objetivos graças à persistência e a vontade daqueles que investem na educação musical para gerar ouvidos mais apurados, e também mais críticos ...

Marcos Silva Malte

Uma universidade pública, gratuita, democrática, autônoma e de qualidade, voltada para os interesses da maioria da população, são os princípios básicos que fazem parte do programa apresentado pelo reitor, Alceu Ferrari, quando da sua candidatura. Esse programa está sendo discutido e preparado por um grupo de funcionários, professores e alunos.

Representando o pensamento da maioria, o novo reitor, que aguarda sua nomeação, começa a preparar sua gestão. Alceu Ferrari formou uma Comissão Executiva, contando com a participação e apoio de todas as categorias da universidade que o elegeram. Se- gundo enfatiza Ubayar Closs, fun- cionário e representante na Comis- são, "Ferrari foi o único que se colocou à disposição de todos os segmentos da universidade. Profes- sores, funcionários e alunos, que juntos fizeram a campanha e discutiram a elaboração de seu programa".

Esta comissão é composta por 12 pessoas, dividida em três categorias. Em cada uma delas participam quatro membros, tendo como objetivo discutir questões fundamentais dentro da estrutura universitária.

A Comissão é formada pelas pessoas que trabalharam junto ao professor Alceu Ferrari. Estas pessoas já elegeram os seus repre- sentantes, como forma de atuação democrática. Conforme esclareceu Celi Pinto, professora e membro da Comissão, "a democratização já começou. Ninguém foi nomeado".

Uma vez organizada a Comis- são Executiva, o grupo sentiu a necessidade de ampliar a participa- ção dentro das discussões, para obter um melhor encaminhamento dc plano de trabalho do novo reitor, relacionado, especificamen- te, aos problemas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Este processo, segundo o professor Ferrari, é fundamental para se criar um comprometimento das pessoas.

CONSELHÃO A partir da constatação da

necessidade de uma maior partici-

O r

- ZERO HORA

Ferrari: este voto pode nâo ter valido nada.

pação, as pessoas ligadas à campa- nha do novo reitor, formaram o Conselhão. Este é constituído por todos os envolvidos e interessados em discutir as linhas políticas a serem utilizadas na elaboração e execução do plano de gestão do professor Alceu. Ferrari, de maneira ampla e aberta. Na opinião do funcionário Ubayar Closs, esse grupo discutirá assuntos importan- tes e encaminhará suas propostas e conclusões à Comissão Executiva, que junto com o reitor terá uma nova discussão.

Depois de vários debates e reuniões que já estão sendo feitas desde as eleições em abril, foram decididas algumas estratégias para melhor encaminhar e organizar as questões relacionadas com a UFRGS. A formação de grupos, divididos por áreas de interesses, disse a professora Celi, foi a única forma de especificar os problemas a serem resolvidos.

Os grupos estão abertos à participação de todos os integrantes da universidade. As reuniões são sempre às terças e quartas-feiras, a partir das 19 horas na Faculdade de Educação. Conforme esclareceu Ferrari, "o grupo não é sectário e chama as pessoas para darem a sua colaboração".

0 objetivo dessa discussão em grupo, segundo o novo reitor, é de especificar e caracterizar ós pro- blemas ligados a cada área, na medida em que a universidade em que sua estrutura já possui uma divisão.

1 ^ -

A direita do Ferraz, mas muito à esquerda para a| UFRGS?

Os grupos - que vão desde a estruturação da universidade, pas- sando por uma política acadêmica, política de extensão, atividades meio, programas assistenciais e terminando na políticia de pessoal - terão a responsabilidade de discutir assuntos importantes na vida da comunidade universitária.

Dentro do grupo política de pessoal, por exemplo, será analisado o plano de cargos e salários de cada categoria. Assim, cada grupo discu- tirá os pontos que abrangem a sua competência. Dentre estes pontos ressaltam-se: a centralização do poder, o executivo e legislativo da universidade, estatuinte, bibliote- cas, laboratórios, ensino, pesquisa, RUs, organização administrativa, pesquisa e política de comunica- ção. José Carlos, estudante de Direito e integrante do grupo de política de pessoas, ressalta que, essa etapa é fundamental para a garantia de uma gestão democrática e até para a nomeação do reitor.

As eleições diretas na UFRGS. representam um avanço político e acadêmico muito grande, disse a professora Celi Pinto, comentando, ainda, que a UFRGS, era a única que não tinha um processo democrático na escolha de seus representantes e dirigentes". "Agora só falta a nomeação", con- clui Celi. g

No atual Estatuto da univer- sidade, conforme o capítulo III, artigo c!, os mandatos de reitor e vice-reitor são fixados em lei. Além disso a nomeação é feita pelo Presidente da República, baseado em uma lista sêxtupla (composta de seis nomes).

Esta lista de seis nomes é indicada em reunião conjunta do Conselho Universitário e o Conse- lho de Coordenação do Ensino e da Pesquisa (COCEP), tendo uma votação secreta e uninominal dos

■ integrantes destes órgãos.

Anajara Carbonell Closs

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CIDADE

Vandalismo e mau uso estragam telefones públicos

Quando ó porto-alegrense procura um telefone público, com freqüência depara-se com aparelhos com o disco quebra- do, fone arrancado ou outros estragos provocados pelo van- dalismo ou pelo mau uso do te- lefone. Para o usuário, a conse- qüência disso são as inevitáveis fila em frente aos telefones que ainda funcionam. A depredação de telefones públicos é um cri- me cujos responsáveis, que quase nunca são apanhados, pa- recem dotados de uma fértil imaginação para destruir os "orelhões" das mais surpreen- dentes formas.

Os números levantados pela Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) re- ferentes à depredação deixam claro que o problema não é pe- queno. Só no mês de abril deste ano, quarenta e oito fones fo- ram roubados, cinco fones de- predados e quarenta e seis cor- pos estranhos - palitos, moe- das, grampos e clipes, por exemplo - foram introduzidos nos telefones públicos. O chefe do setor de manutenção e insta- lação de telefones da CRT, Luis Carlos Hackbart, informa que cada um dos dois mil qui- nhentos e noventa telefones pú- blicos de Porto Alegre é revisa- do uma vez por semana pela equipe de manutenção preven- tiva, quando são realizados os reparos.

FEZES E MOSTARDA E nos fins de semana que,

segundo Hackbart, acontece o maior número de depredações, feitas por pessoas que ele acre- dita "fora do estado normal". "Até quinta-feira, o telefone público funciona normalmente. Sexta e sábado, ele corre peri-

go", diz o chefe do setor de manutenção da CRT, que conta um episódio recente envolven- do a depredação de um telefone público instalado no City Ho- tel: "Nosso funcionário deu voz de prisão para uma pessoa que estava violando nosso tele- fone. Foi registrada a ocorrên- cia na polícia, mas a pessoa não foi presa". Para Hackbart, um depredador apanhado em fla- grante deve ser preso para sei^ vir de exemplo.

Essa também é a opinião do chefe de seção do departa- mento comercial da CRT, Hélio Oliveira; "O depredador deve ser punido porque prejudica a comunidade '. Ele lembra que existem tipos diferentes de de- predação. Há a depredação em que o autor tenciona apenas destruir o aparelho ou fazer com ele alguma brincadeira, como ocorreu num telefone público próximo da Boate Taba, em Ipanema, que foi enchido de mostarda. Em outro telefone, na 24 de Outubro, quem pegas- se o fone e o colocasse perto do rosto para falar teria uma desagradável surpresa para o olfato - havia fezes dentro des- sa parte do aparelho.

Afora o senso de humor estranho dos depredadores, que ainda inclui a colocação de leite no aparelho e até de bombinhas no local onde as fichas são de- volvidas, há a destruição do te- lefone para o roubo de peças. O cofre do telefone, onde ficam as fichas, é a parte mais visada. Hélio Oliveira afirma que o roubo de cofres acontece prin- cipalmente na zona norte da ci- dade. "Na base de dez por um em comparação com a zona sul". Para retirar o cofre do te-

lefone, o ladrão acaba danifi- cando-o por inteiro, tomando necessária a substituição por outro aparelho novo,

FILHO DE PAPAI Outra peça procurada para

roubo era o micro do transmis- sor do fone para fazer a galena, um tipo de rádio. Hélio Olivei- ra diz que agora não há mais esse problema porque a rosca do fone é fixada com^cola, im- pedindo o roubo. "A medida em que vão acontecendo as de- predações, nós vamos desco- brindo modos de coibi-las".

As áreas de maior incidên- cia de depredações de telefones públicos na cidade são as de classe média alta, ondeyconfor- me Luis Carlos Hackbart, as pessoas não dão valor aos "ore- lhões" porque possuem telefo- nes em casa. Hélio Oliveira afirma que as áreas mais caren- tes são as que mais preservam os telefones. "Tem vilas que possuem um só telefone e ele está sempre funcionando, sem- pre limpinho, ninguém estraga. O fiho de pai rico não dá bola para isso, porque tem tudo na mão", observa o chefe de seção do departamento comer- cial da CRT.

Nem todos os defeitos dos telefones públicos são resulta- do de depredações. Alguns são decorrentes de formas erradas de manipular e usar o aparelho. Para Luis Carios Hackbart, es- se é um problema de cultura. Segundo a argumentação dele, o brasileiro não tem o hábito de ler o manual de instruções de um aparelho antes de usá-lo. "As instruções dizem: espere o sinal. Muitas vezes ele demora porque a central telefônica está congestionada. A pessoa não

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A- íiSt

tem paciência de esperar e co- meça a bater no telefone, dani- ficando o mecanismo". Hélio Oliveira conta que em certa ocasião, na matriz da CRT, um homem pensou que um telefone estava estragado, quando na verdade ele estava segurando o fone ao contrário, com a parte em que se fala no ouvido. "As pessoas não lêem o adesivo com as instruções que está no tele- fone. A desinformação gera a depredação", diz Oliveira.

Algumas campanhas publi- citárias já foram feitas na tenta- tiva de conscientizar a popula- ção da importância da preserva- ção dos telefones públicos. Quem não se lembra da propa- ganda da Telesp de alguns anos

Orelhões: maltratados pela

comunidade

atrás, que chegou a ser veicu- lada aqui, na qual um orelhão agonizava e morria como uma pessoa em plena rua? Embora iniciativas nesse sentido sejam indispensáveis, Hélio Oliveira acha que deve haver um traba- lho de educação junto às crian- ças pra preservar no futuro os telefones públicos, cujo único objetivo é social, uma vez que o retomo que dão não cobre o custo deles- "Teremos de le- var o telefone nas escolas, dar uma aulinha para a gurizada mostrando como ele funciona e falar que o telefone público é uma grande necessidade".

José Carlos de Azevedo

Polícia obriga bares do Bom Fim a fechar mais cedo

O bairro Bom Fim foi fe- chado para reparos. Vão ser re- paradas as fachadas das lojas, os vidros quebrados, o sono dos moradores e espera-se também a reparação do comportamento dos freqüentadores do Bom Fim.

Para Moacyr Scliar, o Bom Fim sempre refletiu os acontecimentos importantes da cidade, sempre foi um bairro especial, diferente e criativo.

Quando o delegado Newton Müller da 10; Delegacia de Po- lícia baixou a portaria que regu- lamenta os horários de fecha- mento dos bares do bairro (meia-noite nos dias de semana e duas horas nos fins de sema- na), alegando que a violência e a desordem causadas pelos freqüentadores do bairro já não era mais suportável para mora- dores e transeuntes, ele talvez não tenha sido mais do que um instrumento do destino; afinal, cumprindo o seu papel, o Bom Fim simplesmente reflete a vio- lência de toda a cidade, da si- tuação insegura do país, da postura pessimista de grande parte da juventude.

"FAUNA ENSANDECIDA" "A violência está em qual-

quer parte", afirma Fiapo Barth, dono do Ocidente, um dos bares que mais aterrorizam a população do Bom Fim. Na esquina da Osvaldo Aranha com a João Telles, o bar sempre se caracterizou por congregar uma legião de figuras exóticas, legítimas ou não: punks, darks, cleans, intelectuais, cantores, vadios e até surfistas curiosos da 24 de Outubro, que por vezes "descem" para conferir o que está acontecendo na re- gião. Junto com o Lola, que fica ao lado de uma funerária, na esquina das mesmas ruas, o Ocidente já há tempos é acusa- do de perturbar a paz do Bom Fim. Muitos dos freqüentado- res, contudo, concordam com Fiapo, e apontam a violência do sistema como a causadora de todos os males.

Assim, a discussão sobre a violência parece ser insolú- vel. Enquanto os moradores afirmam sentir-se ameaçados, os freqüentadores dos bares in- sistem em dizer que não são eles os que geram a tensão que paira sobre ô Bom Fim. Existe,

porém, outra discussão que questiona a validade do gesto do delegado Müller, em termos da perda que isto pode signifi- car para a cultura porto-ale- grense. Afinal, não é de hoje que o Bom Fim causa polêmica, que encanta e desafia a popula- ção de Porto Alegre.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A história atribulada do Bom Fim passa por aconteci- mentos de grande valor cultural - e por acontecimentos quase tão violentos como a presença dos punks na Osvaldo Aranha.

Nas décadas de 20 e 30, o carnaval de rua do Bom Fim era dos mais animados. Corsos de automóveis, caminhões abertos e carros alegóricos des- filavam na mesma Osvaldo Ara- nha onde marchavam os inte- gralistas. Estes tinham um nú- cleo no Bom Fim, e mais de uma vez entraram em conflito com os jovens judeus. Possivel- mente foram os judeus que transformaram o Bom Fim num bairro tão colorido. Estabele- cendo-se ali, eles trouxeram as pequenas e tradicionais casas

de comércio, alinhadas uma ao lado da outra; trouxeram as si- nagogas, os bares e restauran- tes,^ que inevitavelmente atraiam o público, principal- mente os estudantes e intelec- tuais.

Um desses bares - o único cujo dono, o Serafim, não era judeu, e sim português - foi destruído no dia 24 de agosto de 1954. O bar era o Bom Fim, e a data, o suicídio de Getúlio Vargas. Apelidado pelos judeus de Shtink (fedor), o bar tinha fama de nunca fechar. Aquele dia foi uma excessão: a multi- dão destruiu o Fedor, tudo por^ que em cima dele funcionava um comitê do PSP, partido de Adhemar de Barros.

O auditório Araújo Viana também já foi palco para mo- mentos importantes, como a Ópera Aída, a IX Sinfonia de Beethoven e a "Abertura 1812" de Tchaikowsky, pro- movidos pelo maestro Pablo Komlós com a Orquestra Sinfô- nica de Porto Alegre (OSPA) e um coral. Nas tardes de do- mingo e nas noites de verão ha-

via espetáculos de música po- pular.

Além dos bares e concer- tos, o Bom Fim também possui personagens históricos, como o Chiclé, o Já Morreu, o Bebe- deira da Feira, o Bronca e seu irmão Zé Bronca (que morreu no Araguaia), que circulavam entra as mesas de sinuca q, o Parque da Redenção. Também há gente importante como Moa- cir Scliar ou Marcos Faermann.

E segue a história do Bom Fim pelos anos 70, a ditadura militar, os hippies, para chegar até o momento em que, obe- diente, o bairro fecha as suas portas e manda pam outro lugar os adolescentes indisciplinados que estão de castigo. Como o dia 24 de agosto de 1954, o dia 22 de abril de 1988 vai en- trar para a história. Há 34 anos, o Shtink, que nunca fechava, fechou; no dia 22 fecham-se, pontualmente, as portas de to- dos os bares do Bom Fim, até segunda ordem.

Claudia Budiweitz

Junho 88 Três por Quatro 5

AHmentaçio

Conservação de alimentos: problema

para a indústria e o consumidor

"No Brasil a população não sabe acoadicionar corretamente os alimentos, por isso a indústria precisa colocar aditi- vos para evitar a sua deterioração." Essa i a afirmação feita pela chefe do Servi- ço de Controle de Alimentos da Secreta- ria da Saúde do Estado, Denise Maria da Silva Figueiredo.

Os aditivos são encontrados na maioria dos alimentos industrializados, segundo informa o nutricionista Carlos Antonio da Silva, do Hospital São Pe- dro, mantido pelo governo estadual. Os acidulantes "são substâncias capazes de intensificar ou dar gosto ácido aos ali- mentos. Eles agem reduzindo o pH (po- tencial hidrogênico), diminuindo o cres- cimento microbiúlico nos produtos ali- mentfcios. São encontrados principal- mente nas maioneses, doces, refrigeran- tes, geléias e laticínios". Destaca o nutri- cionista que continua informando sobre os aditivos. Os conservadores, segundo Carlos Silva são muito utilizados nos pães brancos e tém a função de impedir ou retardar a alteração dos alimentos, provocados por microorganismos ou en- zimas. Igualmente os corantes são subs- tâncias que têm por finalidade dar cor ou intensificar cores em alimentos. Os corantes não têm valor nutritivo, assim como quase todos os demais aditivos, com excessâo das vitaminas. Podem pro- vocar problemas na gestação e alergias disseminadas pelo corpo. Os corantes são encontrados nos pães, carnes, balas e doces em geral. Carlos Silva lembra ainda que "muitas vezes a cor do alimen- to não indica que ele esteja em boas condições para consumo". Já as vitami- nas são substâncias naturais que podem ser adicionadas aos alimentos, depois de concentrados artificialmente, princi- palmente naqueles de pouco valor pro- têico. As vitaminas mais utilizadas são:

A, B, BI e B12. O excesso de vitamina A pode provocar a descalcificaçâo.

O CONTROLE NA INDÚSTRIA

Todo o alimento industrializado tem um prazo de validade afixado na embalagem. Ali deve constar o carimbo do Serviço de Inspeção e Fiscalização (SJ.F,), a data da fabricação e o prazo de validade. Ocorre que devido à mani- pulação, marcação por etiquetas ou re- frigeração, as datas podem ficar quase invisíveis. Neste caso, orienta o nutri- cionista; "o consumidor pode apanhar outro produto semelhante ou informar-se junto ao vendedor. É preciso cuidado, todo o alimento adulterado, em refugo, de procedência duvidosa, envelhecido ou sujo, deve ser rejeitado.

O consumidor deve ler no rótulo os componentes e até os aditivos que o produto contém.

Mesmo assim os produtos com ali- tivos podem ser consumidos em menor quantidade ou substituídos por cereais, hortaliças ou frutas. Os cereais de me- lhor potencial nutritivo são: trigo, aveia, centeio, cevada, arroz e feijão. Temos também as hortaliças; abóbora, cenoura, alface, batata-doce, couve, chuchu, ce- bola, alho, ervilha, müho verde, pepino, repolho, rabanete tomate e vagem. Igualmente as frutas trazem, embora pouco, mas algum valor nutritivo.

Na verdade a variação na alimen- tação é um método seguro para evitar-se problemas à saúde.

Nos supermercados, os enlatados, guloseimas e supérfluos estão dispostos logo na entrada, bem antes dos alimen- tos naturais, para chamarem a atenção.

Repare como um produto novo é antes lançado nos meios de comunicação e só depois, no comércio. A técnica

visa a "necessidade" de consumir tal produto.

A QUEM RECLAMAR? O Serviço de Controle de Alimen-

tos da Secretaria da Saúde do Estado, com sede na Avenida Júlio de Castilhos, 596 em Porto Alegre, tem a função de inspecionar e cadastrar os estabeleci- mentos comerciais e industriais de ali- mentos. Além disso processam o licen- ciamento dos ambulantes, veículos, além de atender reclamações. No interior a fiscalização é feita através dos setores de saúde pública.

Conforme a chefe do Serviço, De- nise Figueiredo: "por necessidade, o consumidor vem exercendo pressão fa- vorável para que hajam mudanças de comportamento nos hábitos alimentares. De um lado temos vários agentes de consumo que através da publicidade criam necessidades e de outro os costu- mes também são criados a partir da definição de critérios de hábitos alimen- tares. Muitas famílias tratam a alimen- tação como meio de subsistência e pro- curam consumir produtos mais saudá- veis.

Sempre que um novo alimento é lançado no comércio é processada uma análise para verificar sua conformidade com a fórmula e a legislação vigente. A análise fiscal é feita sempre que o alimento é suspeito de estar contaminado ou simplesmente para verificar se corres- ponde a sua fórmula inicial que foi autorizada pela análise de controle.

MANIPULAÇÃO E CONSERVAÇÃO

Denise Figueiredo alerta a popula- ção para os cuidados com a manipula- ção, compra e conservação dos alimen- tos. "Devese estar com as mãos limpas para manusear alimentos. Nunca mistu-

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Indústria inutiliza produtos estragados

rá-los a não ser para cozinhá-los ou servir a mesa. Muitos produtos, como os laticínios, leite, queijo e margarina ou derivados devem ser guardados na geladeira a temperaturas de 18'centígra- dos negativos para os congelados, car- nes, sucos concentrados, para os pesca- dos a 0* centígrados e para os produtos frescos até 7° centígrados que podem

ser sobras de refeições, arroz, feijão, carnes assadas e fritas.

É preciso que a população procure informar-se sobre o que está ingerindo e por que come este ou aquele alimento.

O sabor jamais será critério para uma boa alimentação.

Luiz Severo

Devotos de Krishna abrem restaurante vegetariano

Em breve os jovens de cabelo ras- pado com rabmho-de-cavalo, túnicas in- dianas de cor salmão, que vendem incen- so e exemplares do Baghavad-Gita na esquina da Rua da Praia com Borges de Medeiros, estarão vendendo também cupons para refeições. É que, ainda neste mês, será aberto um restaurante vegetariano na sede do templo Hare Kristina de Porto Alegre.

Em fase final de instalação nos fundos do número 753, da rua Dr. Ti- móteo, no bairro Moinhos de Vento, o restaurante deverá ser um espaço alter- nativo, não apenas para alimentação, mas ainda para a realização de eventos culturais e sessões de Baklhl Voga. Conforme Veda Hása Dasa, idealizador do projeto e tesoureiro do templo, no mesmo ambiente haverá exibições de vídeo, música oriental e uma pequena biblioteca.

A decoração segue a tradição hin- du: paredes de bambu, 30 mesas baixas (para as pessoas sentarem no chão sobre almofadas), imagens de divindades in- dianas nas paredes e bandeirinhas colori- das no teto. "Pretendemos atrair o públi- co mostrando um ambiente diferente meio exótico", explica Veda. O objeti- vo é de que o local venha a se tornar um ponto de referência cultural, além de, é claro, divulgar o pensamento Hare Krídina, movimento de propagação da filosofia Vrapinava, baseada nas escri- turas milenares indianas conhecidas co- mo vedas. O único receio, admite Veda Hása, é de que "o lugar encha de deso- cupados".

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PRASADAM Ao preço médio dos outros (pou-

cos) restaurantes vegetarianos de Porto Alegre, cerca de 250 cruzados, o templo Hare Krishna vai servir um prato bási- co à base de arroz integral, dao (vegetais cozidos e misturados), samosã (pastel picante), shapati (pão fino cozido numa tela sobre o fogo) e sopas. Também haverá serviço à la carie, inclusive com doces: arroz-de-Ieite, banana celestial

(banana frita, depois cozida e servida com iogurte natural), bolos, cucas e tortas diversas.

A alimentação vegetariana, conhe- cida como prasadam (pronuncia-se pra- chada) por ser oferecida a Deus, repre- senta um dos quatro princípios da vida monástica adotada pelos devotos de Krishna. Os outros são a prática de sexo apenas dentro do casamento e com fins de procriação, o não consumo de

substâncias tóxicas (drogas, álcool ou cigarros) e não promoção de jogos de azar. "A renúncia às experiências mun- danas", esclarece Veda Hása Dasa, "é o primeiro passo para a concentração no prazer espirituaT. E a forma mais fácil de atingWa seria através do canto que os devotos entoam mais de 1.500 vezes ao dia; "Hare Krishna, Hare Kriáina, Krishna Krídma, Hare Ha- re, Hare Rama, Hare Rama, Rama

Rama, Hare Hare". As palavras vêm do sânscrito.Hare

significa "força espiritual interna de Deus". É uma evocação,Krishna quer dizer "a verdade absoluta". É o nome que Deus apresenta quando assume a forma em que é "todo atrativo, um rapazinho muito bonito, de cabelos lon- gos e pele azulada, assim como a cor de uma nuvenzinha de chuva", exempli- fica Veda.

PROJETO MAIOR A idéia do restaurante vegetariano

junto ao templo Hare Kridina não é nova. Experiências semelhantes já foram feitas no Rio de Janeiro e São Paulo. Veda Hása, que veio do Rio no ano passado, aAa que o restaurante pode dar bom resultado em Porto Alegre porque aqui freqüentemente as pessoas almoçam fora de casa.

De início, o horário de funciona- mento será das llh30 às 15h30, de segunda à quinta-feira. Mais tarde, o atendimento poderá ser ampliado. Acre- ditam os devotos que o público deve se acostumar aos poucos com os hábitos do templo. Além de promover o movi- mento pela consciência deKriSina, o restaurante, através do dinheiro arreca- dado, vai proporcionar a alimentação de classes carentes. "Esse projeto, no fundo", diz Veda, "é a base-motriz de um projeto maior; levar prasadam (gra- tuitamente) para asilos, orfanatos e peni-

. tenciárias".

Eduardo Veras

6/7 Três por Quatro junho 88

CULTURA

A ovelha negra

da televisão

A Vídeo-Arte, nas artes plásticas, é típico do pós-modernismo. A seguir uma entrevists com o gaúcho Rafael França, radicado em São Paulo, e especialista em história da arte, tecnologia e televisão na School of Art Institute of Chicago.

Só pelo nome a vídeo-arte já sugere uma certa familiaridade. Um pé na televisão. Outro pé nas artes plásticas. São dois extremos que bmitam e definem o processo criativo do vfdeo-artista (vídeo-maker). Caracteriza-se melhor ainda quando envolve um trabalho experimental em vídeo, ou seja, o "uso do vídeo como veículo de expressão artística". A matéria-prima, marca registrada da pós-modemidade, é a tecnolo- gia em televisão nestes últimos 20 anos. Uma imagem produzida eletronicamente que se choca com a realidade do tele-espectador, o envolvendo em uma atmosfera de espetácu- lo. É principalmente "a arte que convive com a tecnologia". Nem sempre a convivên- cia foi pacífica.

Uma pré-história recente e contradi- tória. Quando surge vídeo-arte no início dos anos 60, nos EUA. a intenção era fazer uma crítica formal e ideológica contra a televisão comercial, sua principal adversária. Passada essa primeira fase de negação, a vídeo-arte se alia à evolução, dos recursos técnicos, inerentes ao próprio veículo. "A evolução de equipamentos de analógicos (quando a imagem corresponde ao que a câmera grava) para os digitais (os efeitos especiais que criam uma realidade artificial) trouxeram mudanças nos modos de produção e estilos de vídeo-arte. Ingressamos na produção de realidades digitais".

Uma verdadeira reviravolta. A preo- cupação do vídeo-artista com o uso de tecnologia levou-o a produzir seus trabalhos nos estúdios de TV comercial e em produtoras independentes. Sem dúvida, ampliando o espaço de circulação desses trabalhos pela TV comerciaL A veiculação anteriormente restringia-se apenas às galerias de arte, museus, festivais e circuitos alternativos. As TVs por cabo americanas, no início dos anos 70, tomaram-se o escoadouro para essa produção. A vídeo- arte transformou-se numa opção de progra- mação especial para o assinante da TV por cabo (narrowcast).

AO CONTEÚDO Diz McLuhan, teórico da comunica-

ção de massa, que o "conteúdo de um veículo é o seu antecessor, ou seja, o veículo anterior a este". A discussão certamente passará primeiro pela linguagem de televisão para, mais atrás, cair na linguagem de cinema. Pode-se dizer, então, que a vídeo-arte é prima do cinema e filha da televisão comercial.

Em que medida vídeo-arte não é cinema? Qualquer filme em cartaz hoje nos cinemas mantém uma estrutura narrativa convencional com início, meio, fim, personagens, etc. A vídeo-arte questiona isso. Ela propõe uma alternativa, ou seja, uma narrativa aberta em que esses elementos nem sempre são facilmente identificáveis. O

espectador fica meio desorientado, porq'ue lhe é exigido uma participação menos passiva com a qual ele não está acostumado dentro do processo de decodificação da mensagem. A recepção e a percepção são diferentes da mensagem pronta e banalizada dos meios de comunicação de massa.

MAIS DE PERTO

As coisas funcionaram um pouco diferente no Brasil. Um grupo de artistas começa?na meUde dos anos 70 junto ao Museu de Arte Contemporânea (MAO, desenvolver trabalhos experimentais mini- malistas (contemporâneo da Pop Art e com uma proposta estética de repetição e redução da composição, forma, cor; emoção

ao mínimo), preto e branco em vídeo. Poucos foram os artistas desta primeira fase a prosseguir em vídeo-arte.

Só no final de 82, acontece em São Paulo o primeiro evento que encampou vídeo-arte, a Mostra Nacional de Vídeo. E bem mais recente, o núcleo de vídeo- artistas, sob a curadoria de Rafael França na 19? Bienal de São Paulo, que aglutinou produções de produtoras independentes como da Olhar Eletrônico, do vídeo-maker Tadeu Jungle e do próprio vfdeo-artista Rafael França, entre outros nacionais e estrangeiros.

A OLHO NU

Maio 68 - a

De um modo geral, a vídeo-arte segue três propostas: um programa em videoteipe, que é preciso assistir até o fim; a vídeo-performance, quando há a necessida- de da presença de um "ator" além do monitor de TV; e a vídeo-instalação, que é uma composição de televisores criando um espaço cênico.

"Nas instalações, meu interesse recai principalmente no movimento do especta- dor em uma atmosfera que o desoriente, criando no espaço da instalação uma realidade artificial". Com esta proposta, Rafael França apresentou uma vídeo- instalação, com cinco monitores de vídeo dispostos em forma de pirâmide, na exposição Missões 300 Anos, "A Visão do Artista", montada recentemente no Centro Cultural da UFRGS. O trabalho do vfdeo-artista pode ser um referencial para exemplificar melhor esse texto.

Ele fez uma composição com cinco monitores. Dois deles, intercalando outros três, reproduzem uma imagem fixa de um anjo barroco, que para o artista, representa a história dos vencedores, a chamada história oficial. A imagem é quase uma foto que passa uma a uma; enquanto os outros três monitores apresentam imagens móveis que mostram a trajetória de um personagem fictício. É o efeito de uma "câmera subjetiva", onde o espectador é também o personagem, que transita pelas ruínas de São Miguel em busca de uma história não contada, uma história dinámicá. Uma linguagem própria do cinema. Os três monitores emitem um som oco c surdo que ajuda a captar a atenção do espectador na vídeo-instalação.

O próprio Rafael França deu a charada de seu trabalho. O espectador precisava de 1 minuto na vídeo-instalação para entender a mensagem que se repetia de duas cm duas horas. Mais ou menos o tempo de recepção de um comercial de televisão, por exemplo. Uma estimativa de tempo um tanto pretenciosa. A leitura de arte no vídeo vai depender muito de um olho bem treinado, senão o espectador fica bem desorientado. Não é para ser de outro modo, mesmo.

Sartre carrega panfletos no bolso do casaco e os distribui aos que cruzam seu caminho nas ruas do Quartier Latin. Os muros estão pichados com frases lapidares. O mês é maio, o ano, 68. Brota no coração da Europa uma nova verdade - provisória como todas as verdades, como todo o saber vendido aos iniciados nas universidades.

A revolta pula os muros seculares de um dos mais reverenciados "templos do saber" do mundo, a Sorbonne, e invade as ruas, boulevards e praças de Paris, Nova Yorque, Tchecoslováquia e Rio de Janeiro. E proibido proibir.

E nem todas as vaias teriam impedido Caetano de cantar, do outro lado do Oceano, aquilo que poderia ser o hino de jovens unidos pela força da palavra recusa. Recusa da falência do podre modelo autoritário numa nova e vermelha Cuba. Recusa do imperialismo no gesto heróico e guerrilheiro do povo vietnamita que rechaçou os Estados Unidos e sua poderosa arrogância. Recusa de uma universidade formadora de uma "força de trabalho integrada" na tomada de Nanterre pelos estudantes no dia 22 de março. Recusa do corpo confinado aos espaços designados pelo consumo na explosão da libido em Woodstock.

Os estudantes de Paris se entrincheiraram nas ruas do Quartier Latin e desconcertaram a lógica de todo autoritarismo e de todas as convenções. Tinham uma única exigência: o direito à utopia. "Somos coerente, companheiros, exigimos o impossível".

A frase é dos surrealistas. E se o nome de Brcton começasse com M, poderia ser escrito ao lado de Marx, Mao e Marcuse - e seria um vulnerável quarteto na mitologia que 68 sacraliza e nega. Intelectuais, políticos, artistas - poucos passaram incólumes pelo crivo do mai éludiante.

A PRIMAVERA A Quinta República tremeu. De Gaulle jamais imaginaria

que uma reviravolta estudantil pudesse minar a tal ponto seu

poder. Sartre ironiza o PfT francês - "é o maior conservador da França" - e o comunismo de 68 se articule provar que ele tinha razão, tentando carregar de volta as fabi trabalhadores que pararam a França naquele ano e recond estudantes às salas de aula. E supôs poder enterrar 68 i comum das utopias fracassadas. Como Epitáfio desejou es "aqui jaz mais uma manifestação pequeno burguesa"-

Nada disso. Maio foi a primavera inesperada dos se Ver e ouvir, reaprender a tocar o corpo e os objetos. Rede as texturas, os tons, os cheiros, os sons. Na década em parafernália tecnológica levou o homem à Lua, a turma de 6 amor sob o luar, no paraíso improvisado das barricadas.

"Faça amor, não faça guerra" era um dos lemas dos 1- Mas a juventude de 68 não temia a batalha. Houve cente presos e feridos nos muitos confrontos dos estudantes polícia. Um dos mais significativos deles - o dia dez de i entrou para a história como a "Noite das barricadas".

No dia seguinte, de Gaulle reabriu a Sorbonne e francesa lançou a greve geral que paralisou o País. Não ha\ nem energia elétrica, nem fumaça saindo das chaminés das 1 - Paris, a "cidade-luz" acordou em convulsão. Dez mifr trabalhadores em greve. No fim do mês, o presidente disse parlamento e convocou eleições gerais. Mas a cédula de vote papel e não de pedra como propunham os estudantesempui paralelepfpcdos.

Passou maio, veio junho e ainda era primavera, mas a começavam a murchar. Passou De Gaulle, vieram Pomp D'Estaing, que hoje resume o maio a um movimento q produziu nada. Falácia. No mínimo, porque 68 gero fecunda reflexão em Iodos os níveis, da polít: comportamento. E a França das duas útimas décadas escr história nos compêndios com pós-maio cm letras maiúscula'■

Daniel Cohen-Bendit, um dos líderes da revolta, bal a cabeça: "mesmo que as exigências políticas da revolta ter

Sapatos Mágicos estréia en

Não foi por acaso que o grupo gaúcho Teatro Novo adiou a estréia de sua peça infantil "Sapatos Mági- cos", pronta para pisar os palcos desde o mês de março. Valeu a pena esperar dois meses. No dia 21 de maio, a estréia de "Sapatos Mágicos", dirigida por Ronald Radde, marcava o nascimento de um novo espaço cultural cm Porto Alegre, o Teatro do Museu do Trabalho, no início da Andradas, 250, perto da Usina do Gasômetro.

Foi o próprio grupo Teatro Novo que teve a idéia de transformar um dos três velhos pavilhões de madeira, que pertencem à- Fundação dos Amigos do Museu do Trabalho, abandonado há mais de oito anos, num sempre bem-vindo espaço cêni- co. E nada melhor do que um palco próprio para comemorar os 20 anos de atividades do grupo Teatro Novo, criado em 1968 pelo diretor Ronald Radde.

RETORNO MERECIDO

Gisele Scalco Sutil

As reformas do Teatro do Museu do Trabalho foram iniciadas no mês de março, em ritmo acelerado para agilizar as apresentações dos espetáculos do grupo Teatro Novo que estréiam, normalmente, naquele mês. Lívia Ferreira, produtora do grupo, há sete anos trabalhando com o teatro profissional, conta que o Teatro Novo bancou a reestruturação do espaço, adiou a estréia da peça infantil e agora precisa de retorno. "Durante alguns anos, o teatro será nosso, ficará sob os cuidados de administração do grupo Teatro Novo. Quando não estivermos utilizando, vamos abri-lo para outras produções e, depois, entregaremos o teatro pronto para a comunidade", explica Lívia Ferreira.

A concretização desta idéia contou com o patrocínio de diversas empresas, entre as quais a Lacesa e a Superfestas. Os atores do grupo Teatro Novo assumiram, lado a lado com os obreiros a tarefa de reformar o pavilhão, "A gente era ator

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somente nas horas vagas, pois passávamos mais tempo com o martelo e o pincel na mão", brinca o ator Cícero Pereira, integrante do grupo. Ao final do trabalho todo o suor foi gratificado. "O palco é maior que o do Renascença, a madeira do piso é excelente, só faltam as cadeiras que serão fixadas nas arquibancadas acarpetadas", diz a produtora Lívia Ferreira. O Teatro do Museu do Trabalho tem capacidade para aco- modar até 250 pessoas.

COERÊNCIA

Todas as gestões do grupo Teatro Novo foram voltadas à conseguir ura espaço para apresentar

as suas montagens. No início de cada ano, tinham que se inscrever em teatros municipais e, se não conse- guiam, precisavam alugar outros teatros. A vinculação do Teatro do Museu do Trabalho ao grupo, no mês de março, acabou com este problema.

' O diretor do Teatro Novo, Ronald Radde, criador do grupo, conta que "a coisa mais importante neste aniversário é que a gente está conseguindo entregar à Porto Alegre este novo espaço". O grupo foi fundado no mês de julho de 1968. "Um ano terrível c de má lembrança para todos nós", diz Radde. Quando o grupo iniciou, estavam justamente pensando em fazer frente àquela situação política e social que o país

estava vi\ sempre destes 20 desenvolv namento, infantis.

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avera. mas as flores eram Pompidou e ivimento que não le 68 gerou uma da política ao

lécadas escreve sua i maiúsculas, revolta, balançaria

i revolta tenham se

dissipado em sua maioria, conquistamos uma maior autonomia do ser humano".

O maio de 68 foi a explosão de um novo estilo de vida, espelhado nos hippies nus nas praças dos Estados Unidos - pessoas mais autênticas c portanto, necessariamente, mais fetizes. O banho lascivo nos chafarizes públicos era para lavar do rosto os últimos vestígios da máscara da hiprocrisia.

EXÍLIO E maio outra vez, 20 anos depois. Nós temos vinte e poucos

anos. Nossa geração nasceu no berço da classe média brasileira enquanto em Paris se armava o gesto do grande improviso de 68. A apatia dos anos 70 nos pegou em cheio. Sonhamos com Paris e suas ruas já sem barricadas - o exílio que buscamos deste sul do mundo e seu eterno hesitar entre paraíso e caos.

Em Paris, era primavera e havia flores. No Hemisfério Sul vivemos o outono dos trópicos. Passamos boa parte de nosso tempo nos bancos das universidades. Ainda compramos retratos do Che para pendurar nas paredes e nos enternecemos ao lembrar dos caminhos abertos a foice nas florestas bolivianas e no coração vermelho da latino-américa. Mas à espera do exílio, já não se fala mais em revolução. Quase um quarto de século se passou desde que acordamos mais burros, vestidos de verde-oliva na manhã de IP de abril de 64. Talvez por causa disso pareçamos mais velhos do que deveríamos, mais céticos do que nos seria permitido.

É maio outra vez. E a ameaça da bomba nuclear nos intimida. Nas sarjetas do terceirò mundo, crianças morrem de fome. As terras do planeta engrossam testamentos de latifundiários. Deixamos que nos roubem a sombra verde das árvores, o leito puro dos rios, a transparência do ar. A classe operária não vai mais ao paraíso - não precisa dele - precisa apenas de pão, dignidade e circo. É maio outra vez e ainda existem causas dignas de barricadas.

Sandra Simon

em palco novo

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escola, preparando-a para o que ela vai assistir; levar a criança ao teatro e realizar um trabalho pedagógico em cima do tema da peça.

Respondendo ao projeto, a peça "Sapatos Mágicos" já foi apresentada em escolas da Ilha da Pintada e Sapucaia do Sul. O lucro, neste caso, é mínimo. "Um aluno de um colégio da periferia não tem condições de pagar o mesmo ingresso daquele aluno do Colégio Rosário, por exemplo. Mas o trabalho é igualmente gratificante. Existe o interesse social do grupo em levar o teatro até as camadas mais baixas e acabar com a história de teatro de burguesia ".desabafa Cícero Pereira.

Além da peça infantil "Sapa- tos Mágicos", o grupo Teatro novo tem ainda uma montagem adulta prevista para este ano, "Vampíria", com data marcada para estrear no dia 18 de junho, no Teatro do Museu do Trabalho.

Sabrina Takeda

Histórias em Quadrinhos

ganham um novo impulso

estava vivendo, conseguindo manter sefliprc uma coerência ao longo destes 20 anos. Todos os trabalhos desenvolvidos tiveram um posicio- namento, inclusive as montagens infantis.

Mercado de trabalho O Teatro Novo apresenta, pelo

meno», uma pgçg infantil por ano. "É unia questão de mercado de traba- lho' . comenta o ator Cícero Pereira, que também auxilia a direção da peça "Sapatos Mágicos". Paralelamente ao espetáculo infantil, o grupo mantém o PIOÍeio "A Escola Vai ao Teatro", coCdenado pela produtora Lívia Fetciia, Este projeto se desenvolve ein três etapas: trabalhar a criança na

"Sapatos Mágicos", peça infantil cio autor gaúcho Guto Greco, dirigida por Ronald Rad- de. é um espetáculo todo permea- do de músicas e coreografias que envolvem e conquistam as crian- ças na platéia.

O velho sapateiro Seu Nes- tor, interpretado pelo autor Cíce- ro Pereira, recebe sempre a vjflta de quatro crianças que gostam muito de conversar e brincar com ele: Caco (Celso San:'Ana), Quica (Lúcia Bendati), Aninha (Rosân- gela Mello) e Dico (Sérgio da Silva). As crianças tém curiosida- de em saber se é verdade que o velho sapateiro tem em sua loja um par de sapatos mágicos. Ela querem encontrar os tais sapatos para resolverem os problemas das crianças de rua que, ao contrário delas, passam fome e não tém roupas.

A partir de 1982, a História em Quadrinhos passou a ganhar cada vez mais força no panorama editorial brasileiro. Tomando um novo impulso, o "gibi" inundou todas as bancas de revistas do País.

Ao se falar emn Histórias em Quadrinhos (HQ) referimo-nos especificamente ao "gibi" de aventuras, apresentando super-heróis e supervilões, voltado para um público mais adulto. É o popular "comics" americano, de fato, no período que vai de 1974 até 1982. somente as revistas da chamada linha infantil - Disney e Maurício de Souza, principalmente - prosperam no Brasil. A crise do papel, o descaso como que eram tratados pelo segmento adulto dos leitores, somados ao anacronismo e falta de atualidade de seus enredos conseguiram causar a queda nas vendas e a conseqüente retirada dos títulos do mercado. Poucas revistas ainda sobreviviam (Heróis da TV, Cap. América, Tex, etc). A partir de 82, acontece uma "invasão" de super-heróis. Praticamente a cada mês aparecem novidades. O que aconteceu?

MUDANÇAS

A resposta a essa pergunta encontra-se no maior produtor (e exportador) de quadrinhos do mundo; os Estados Unidos. É lá que uma das mais tradicionais editoras de quadrinhos, a Detetive Comics, inicia um espetacular movimento de renovação, apoiada pelos "monstros sagrados" do "comics", como Frank Miller, George Perez, Juhn Buscema e outros. O resultado desses esforços chega ao Brasil em 1982, quando a Abril, que já publicava as histórias da Marvcl, lança também a bnha da DC.

NOVA LINHA

Seguindo o exemplo americano, a Abril dinamiza sua produção de quadrinhos. Editores como Sérgio Figueiredo, Leandro Del Manto c Lucrécia Barros criam uma nova linha editorial, dando às novas publicações mais vida e provocando as expectativas do público. Os primeiros heróis a serem (re)lançados são Super-Homem c Batman. Segue-se a revista "Heróis em Ação", depois reativada "Superamigos", trazendo de volta o Arqueiro Verde, Mulher Maravilha e Lanterna Verde. O número de publicações cresce, chegando a quase tês dezenas.

CRISE: A GRANDE AVENTURA

Devido à defasagem entre o mercado americado e o brasileiro, os editores optam por não acompanhar exatamente a evolução americana e criam a sua própria cronologia, apresentando novas histórias, omitindo alguns episódios, preparando o público para uma grande reviravolta. Ela acontece, aqui, em 1987. Numa série que durou mais de dois meses, em capítulos publicados em todas as revistas da DC, a Abril lança a "saga que modificou todas as sagas": CRISE NAS INFINITAS TERRAS. Esta aventura, como diz a frase

acima, usada para anunciar seu lançamento, modificou completa- mente o mundo das Histórias em Quadrinhos. Muitos heróis foram "mortos": Supermoça, Flash e outros menos cotados. Mundos foram destruídos. A partir de "Crise" as histórias tomaram novos rumos e os heróis tiveram suas vidas complemente alteradas. Super-Homem e Batmam têm suas vidas modificadas e reconladas por Frank Miller e John Byrne.

A Marvcl, não querendo (ou não podendo) modificar o universo de seus heróis tradicionais, como Cap. América, Homem de Ferro e os Vingadores, resolve a coisa de seu jeito: cria um novo universo, com outros heróis. Ê o "Novo Universo" da Marvel, cujos heróis aparecem nas revistas "Força e Psi e New Justice". Para nós, uma novidade: um dos grupos agora lançada pela Marvel, os Novos Mutantes, tem um herói brasileiro. £ Roberto Silva, o Mancha Solar.

FIM DO MONOPÓLIO

Em 88 surge outra surpresa para os fãs dos quadrinhos; a Abril não mantém mais o monopólio dos "gibis". A Cedibra entra no mercado com as histórias da First Comics. E também aproveita para quebrar outro monopólio: o das histórias americanas. Até a investida Cedibra, só se encontravam quadrinhos europeus em caros álbuns, vendido em livrarias. Pois duas das revistas da Cedibra, vendido em bancas, são japonesas: "Lobo Solitário" e "Tartaruga Ninjas". Para os "quadrimaníacos" esta é uma grata novidade.

VENCENDO O PRECONCEITO •

Desde 1950, quando um psicólogo americano iniciou um violento ataque às histórias em quadrinhos, acusando-as de serem nocivas á formação moral e intelectual de crianças e jovens, ela vinha sendo alvo de uma sérire de preconceitos. Embora a partir da década de 60, também com o advento do quadrinho "underground" principalmente da Europa, intelectuais e pesquisadores tenham recuperado a importância das HQ, este "ranço" ainda está presente em muitos lugares. No Brasil, é comum encontrarmos pessoas que desprezam os quadrinhos, acusando-os de "literatura marginal ou subliteratura".

Mas como esta renovação, finalmente o tabu parece estar sendo vencido. Muitos dos atuais fãs, cujas cartas superlotam as mesas dos editores da Abril e da Cedibra são intelectuais e profissionais liberais, além de estudantes universitários. As histórias em quadrinhos já são encarados como uma forma de arte e diversão que tem muitas contribuições a dar e que deve ser levada a sério.

E, a julgar pelo que anunciam seus editores, muitas novidades ainda estão por vir. Talvez as histórias em quadrinhos não possam reviver a famosa "Idade de Ouro" da década de 30, mas é inegável que com o impulso ganho nestes últimos anos conquistaram o seu lugar no mercado brasileiro.

Luiz Carlos Dominguas

8Três por Quatro junho 88

IMIGRAÇÃO

Japoneses comemoram 80 anos de Brasil

Eles começaram a chegar ao Brasil em 1908, em busca de um lugar onde tivessem espaço pata viver. Vinham de muito longe, de um pequeno país chamado Japão. Hoje, passados 80 anos, eles sío quase 800 mil, e os descendentes dos primeiros japoneses que chegaram ao porto de Santos a bordo do navio "Kasatu Maru" já atingem a quinta geração.

No início, estabeleceram-se predominan- temente no interior de São Paulo, nas fazendas de café. Aos poucos foram se espalhando, descobrindo novos lugares, e agora possuem colônias no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e até na Amazônia. No Rio Grande do Sul a imigração japonesa é bem mais recente. Há apenas 30 anos (em 1955) vieram as primeiras famílias. Como a maioria dos japoneses que aportaram no Brasil, eram formados em técnicas agrícolas, e buscavam terras onde pudessem desenvolver seu ofício. Assim, acabaram conhecendo o Rio Grande do Sul.

E já chegaram com novidades. Em suas terras, os japoneses dedicaram-se ao plantio de verduras e legumes, introduzindo novas espécies e inovadoras técnicas de cultivo. O advogado Keiíchiro Takeuchi, vice-presidente do Centro de Cultura Japonesa da PUC/RS conta que a

variedade e a abundância de hortaliças que os japoneses passaram a introduzir no mercado gaúcho acabaram por modificar os hábitos alimentares da região. "O gaúcho começou a consumir mais verduras no seu dia-a-dia, diversificando a alimentação, e isso foi positivo do ponto de vista da saúde".

Este é, segundo Keiichiro Tákcuchi, um exemplo de como um povo estrangeiro pode integrar-se numa nova comunidade sem que haja choque de culturas, mas ao contrário, trazendo pontos positivos e desenvolvidos de sua cultura para o país que o acolhe. O tempo, afirma ele, é um fator de integração."Os japoneses que vivem no Brasil já estão perfeitamente à vontade dentro da sociedade brasileira, muitos já se consideram verdadeiros brasileiros".

Para viver num país estranho, com costumes completamente diferentes dos seus, um povo precisa se adaptar. Também no caso dos japoneses a perda de características originais da cultura e a incorporação de novos valores, aquilo que chamamos aculturação, foi inevitável. Mas, até mesmo no Brasil, ainda há hipóteses que conseguem se manter, em essência, verdadeiros japoneses.

Aulas em japonês, uma maneira de preservar a língua e a cultura.

TRABALHO COLE flVO Em Ivoti, município gaúcho da região do

Vale do Rio dos Sinos e de colonização tipicamente alemã, existe há vinte anos uma colônia de imigrantes japoneses. São 49 famílias que totalizam cerca de 290 pessoas, a maioria nascidas ainda no Japão e muitas que nem falam o português. Dentro da colônia, os japoneses tratam cuidadosamente da preservação da sua cultura de origem, dos hábitos, valores e até da própria língua. Eles gostam muito do Brasil, principalmente porque "aqui a gente é mais livre", como afirma o agricultor e presidente da Cooperativa Hortigranjeira Mista da Colônia de Ivoti, sr. Susuki. Mas fazem questão de conservar-se autênticos japoneses.

As crianças da colônia desde pequenas freqüentam aulas de língua e cultura japonesa, ministradas pela professora Teruko Takada todos os sábados. Durante a semana, eles estudam numa escola comum onde convivem com os vizinhos alemães. Nas casas de quase todas as famílias, apesar da simplicidade, geralmente se vê um aparelho sofisticado de videocassete, onde eles assistem filmes japoneses. Muitos recebem livros e revistas vindos diretamente do Japão. Há também aulas de judô, campeonatos de sumô e de beiseball que é, curiosamente, o esporte preferido dos meninos da colônia.

Mas a principal característica do povo japonês, que o faz tão diferente do brasileiro, é, segundo Susuki, a união no trabalho. "Brasileiro é muito individualista. Um homem sozinho tem muita dificuldade". Na colônia de Ivoti esta característica também foi mantida. Os agriculto- res formaram uma associação e uma cooperativa, sempre buscando obter melhores condições de mercado, no desenvolvimento do trabalho e no aprimoramento de técnicas.

A principal atividade dos japoneses da colônia é o cultivo da uva de mesa. Sua cuidadosa produção tem destino certo: 60% vai para Porto Alegre e o restante 40% para São Paulo. É através da cooperativa que organizam a venda e distribuição de todos os seus produtos, como o caqui, as hortaliças, a laranja e o Kiwi. Esta última, uma fruta popular no Japão mas pouco conhecida no Brasil, tanto que a plantação de Susuki, de cerca de 2000 frutos, é uma das únicas do país.

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Susuki, presidente da cooperativa da colônia

ANIVERSÁRIO Neste ano, mais precisamente no dia 18 de

junho, comemora-se os 80 anos da imigração nipôníca no Brasil. Uma grande festa foi preparada para o aniversário, com uma série de eventos que terão seu ponto alto nos meses de junho e julho. Em São Paulo, uma comissão programou a vinda de um príncipe da casa Imperial do Japão para acompanhar as festividades, que incluem um grande show no estádio do Morumbi e a inauguração de um hospital beneficente japonês.

Em Porto Alegre, o Centro de Cultura Japonesa da PUC constituiu também uma comissão para organizar a comemoração dos 80 anos. Os eventos são vários, todos com entrada franca. Exposições de arte japonesa como o Ikebana e "Formas do Japão", apresentação do Ballet Clássico do Japão e da Arte Marcial de Espada "lai-Jutsu", um curso especial de "Go", um curso de Ikebana, a apresentação do grupo de danças e tambores "Kodô", e até um concurso de "Miss Nikkei do Sul".

O clímax da festa vai ser em São Paulo, no dia 17 de julho. A cena do desembarque dos primeiros imigrantes japoneses no porto de Santos irá se repetir. Tudo vai ser simulado, nos mínimos detalhes, para homenagear a chegada dos pioneiros. Exatamente como há 80 anos atrás.

DIFERENÇAS CULTURAIS

Mergulhe na cultura

e traduza o século XXI

Pergunte a um inglês por que ele gosta de tomar chá das cinco com leite e em porcelana chinesa e você vai obter respostas tão vagas quanto "é um hábito britânico" ou até mesmo o "porque gosto

Tente outra vez e defina rapidamente o que é o jeitinho brasileiro. Vá mais longe e pergunte a um japonês o que vem a ser esse famoso jeito que os macunaimas de todos os tempos e paragens desses brasis consolidaram e divulgaram.

Last but not least, tente arrumar um lugar na agenda de um executivo americano para o qual "time is money" mesmo que você não tenha o terno da moda e não use o relógio certo simplesmente porque, por aqui, pontualidade é coisa para suíço ver e não entender

O resultado é que cultura não se define. Diz lá o dicionário que é o conjunto de conhecimentos, comportamentos e produção material de um certo agrupamento social definido. Como pôr a definição nessa aldeia global ■ termo gasto, chavão dizem alguns, mas sempre válido -, em que Blade Runner deixou de ser ficção fílmicq para ser uma realidade vivida por pessoas ate mesmo do interior de Cacimbinhas?

O fato é que a roda do mundo é money. E isso obriga a definir cultura, senão em conceito, na prática. Depois do evento das multinacionais e das negociações globais que envolvem grandes

volumes de dinheiro, milhares de pessoas e estratégias de divisão e aproveitamento do planeta, é preciso comunicar diferenças culturais para não emperrar as negociações.

E as diferenças são imensas. Vão desde as visões do que é masculino e feminino até as concepções de si mesmo e dos outros, passando por diferentes noções de tempo. A dificuldade começa pela definição de grupo.

Um grupo pode ser definido por critérios de consangüinidade, mesma naturalidade, etnia, língua e/ou religião entre outros critérios ditos concretos. Mas também pode ser definido por critérios abstratos, tais como: nacionalidade, mesma escolaridade e formação, e/ou atividade profissional. Cada estudo sobre particularidades culturais define primeiramente os critérios para denominar os membros de um grupo.

TEMPO E AÇÃO

Uma primeira diferença entre as culturas gira em torno da noção de tempo. As dimensões principais do tempo podem ser vistas em relação à noção de economia, de sua utilização monocrônica ou poli crônica, e em relação à projeção temporal, isto é, o presente, o passado e o futuro.

A visão econômica do tempo implica a noção de recurso limitado que precisa ser

administrado e mensurado. Nas culturas do tipo "time is mòney", o tempo é otimizado e atrasos não são considerados descortesia mas simples perda de dinheiro. Uma característica dessa cultura é o uso de agenda, calendários os mais variados e relógios que marcam de datas a horas.

A utilização monocrônica ou policrônica implica fazer uma só coisa durante um tempo ou várias coisas nesse mesmo tempo. Assim, os franceses fazem refeições durante as negociações porque são policrónicos, já os americanos negociam na mesa de negociações e depois fazem as refeições. Para as culturas policrônicas, a convivência social ajuda as negociações na medida em que as parles se conhecem melhor e podem aproveitar momentos de descontração. Já para as culturas monocrônicas, esses momentos de convivência descontraída podem parecer confusão ou podem ser interpretadas como tentativas de suborno. Outra característica policrônica típica é a pessoa que fala ao telefone, escreve bilhetes d secretária e ao mesmo tempo tira o sapato, pensando que deve trocar de roupa para viajar. Ponha um membro da cultura policrônica diante de outro de cultura monocrônica e você vai poder avaliar o peso dessas diferenças: o policrônico parecerá arrogante e mal-educado ao monocrônico. que não se sentirá à vontade para negociar. Como se vê, as policronias e monocronias aparecem em situações diferentes. O executivo americano é um policrônico em relação às atividades profissionais, mas é um monocrônico em relação às atividades sociais versus profissionais.

Por fim, existem culturas orientadas para o presente e o futuro e outras orientadas para o passado. Essas noções temporais variam, contudo, é possível caracterizar os americanos como orientados para o presente e o futuro. Os

japoneses, por seu lado, associam o passado com o presente e o futuro, de onde sua grande capacidade de modernização. As culturas orientadas pelo passado, ao contrário, parecem não atingir a modernidade, porque seus valores permanecem os mesmos e o grau de mudança é restrito.

Outra grande diferença diz respeito d atitude cultural diante da ação. Ar religiões orientais (budismo, xintoísmo), sugerem a submissão da condição humana d busca da harmonia entre o indivíduo e o mundo. Já as culturas judaico-cristãs preconizam uma divisão entre o terrestre e o divino, como no jlitado conhecido, "Dai a César o que é de César e a Deus. o que é de Deus". Dentro desse quadro, a ação individual é vista de maneiras diferentes. Nas culturas orientais, a ação individual está em harmonia com o divino, enquanto nas culturas judaico-cristãs, a ação individual não faz parle do divino, e o que se pune é o indivíduo não faz parte do divino, e o que se pune é o indivíduo a partir do jugo divino. Disso resulta diferenças às vezes intransponíveis, pois daí decorre a noção de justiça, do certo e do errado, do universal e do particular, entre outras.

BA BEL NA S NEGOCIA ÇÕES Para evitar justamente que a mesa de

negociações se torne uma verdadeira babel, vários estudiosos debruçam-se sobre culturas diversas procurando estabelecer critérios que permitam descrevê-las e que sejam úteis para o bom andamento das relações entre os po vos.

Você já pensou em casar com um mongolés? Ou quem sabe um javanês? Ou um rapaz de Macau ? Case-se e ponha em prática suas habilidades perceptivas e comunlcalivas para pelo menos salvar o casamento. Lourdcs Hirata

Junho 88 Três por Quatro 9

Meio Ambiente

Um retrato da realidade do Pantanal

"0 febril movimento das milha- res de aves saindo e chegando é bastante semelhante a um formigueiro em plena atividade. Alimentando os filhotes, construindo ninhos, disputan- do espaços, lutando com predadores, as aves criam um cenário vivo que impressiona também por um compo- nente até entffo pouco notado: o som. Por mais de uma vez estivemos a 800 ou 100 metros de alguns ninhais e fomos capazes de ouvir o impressionante som dos filhotes chorando por alimenta- ção".

Este relato faz parte do livro "NINHAL", uma das obras que integram o Projeto Ninhal, idealizado e desenvolvido pela Albarus S.A. Indús- tria e Comércio, empresa que há alguns anos vem demonstrando preocupaçío com a proservaçío do ambiente. Em 1986, o tema Serra do Mar foi utilizado na produçáo de seu calendário anual, numa abordagem ecológica, onde cada lâmina apresentava um elemento da Serra em ameaça de extinção.

Já em setembro de 1987, um grupo de biólogos, veterinários, zoo- tecnistas, uma fotógrafa c um cámcra, acompanhados de Luciano Pires, gerente de Marketing de S5o Paulo, um dos criadores do Projeto, partem para o Pantanal matogrossense realizando uma expedição que durou quatro dias, de onde colheram material para a monta- gem do livro, o cartão de Natal, calendário de 88 e um vfdeo sobre o tema. O livro não estava previsto no Projeto, "nasceu quando o tema demonstrou ser apaixonante e extenso demais para caber num calendário de seis lâminas", comenta Luciano Pires.

A aventura inicia em Cuiabá, cruzando a Transpantaneira, rodovia com 140 quilômetros que liga a cidade de Poconé a Porto Jofre no Mato Grosso, seguindo depois 90 minutos de barco pelo rio Cuiabá até o Ninhal (local onde se reúnem milhares de aves, de várias espécies , na época de acasalamento e procriação).

De acordo com o pessoal que visitou o ninhal, a expedição foi realmente uma aventura, enfrentaram dificuldades de toda ordem. O ninhal onde o grupo pretendia realizar o trabalho estava sem acesso, com oito quilômetros de lama até os joelhos. A outra opção era através de uma fazenda onde estava o ninhal, mas o dono impedia a passagem, além de terem que atravessar rios à noite, procurando um ninhal desconhecido até petos mem- bros da expedição.

Garantindo que é impossível descrever o que viram e viveram no Pantanal, Luciano Pires desabafa: "imagine o que significou para mim, um executivo engravatado de São Paulo, passar quatro dias embrenhado no mato, dois dos quais sem tomrr banhoI Consegui tomar o primeiro no rio Cuiabá, numa margem, o pessoal

pescava piranha c na outra eu tomava banho".

De outubro a abril, a maior parte das terras do Pantanal fica sob as águas dos rios, que, transbordando, ünem-se uns aos outros formando um mar de água doce. Já no período da seca as águas voltam aos leitos dos rios, deixando pelos campos milhares de pequenas lagoas e córrregos conhecidos como Corixos. A vida da região flui em torno dos Corixos e lagoas. Há uma

uma árvore próxima ao ninhal princi- pal ilustra perfeitamente o tema; a copa repleta^de ninhos, centenas ou milhares de aves defecando sobre o mesmo local acabam por exterminar a vegetação no solo, tingindo de branco as folhas e árvores próximas. "Descre- ver aqueles 400 metros de mata debru- çada sobre o rio, com cerca de 3 mil Cabeças-Secas e Colhereiros num mo- vimento de vaivém, é impossível O máximo que consegui fazer foi me calar

os peixes a virem à tona para respirar, facilitando sua captura pelos jacarés e aves. Uma das preocupações dos técnicos que acompanharam a expedi- ção foi de não aprcíentar os predadores como vilões, criaturas maldosas ou sangüinárias. Procuram esclarecer que os predadores em busca de ovos ou filhotes, estão à procura de alimentos para suas crias, "o gavião que rouba o filhote, a cobra que devora sua presa, a onça que caça o veado, o jacaré que

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grande variedade e abundância de pásssaros, dos Beija-Flores minúsculos e delicados aos gigantes Tuiuiús ou Jaburus, de um metro e meio de altura e dois e 40 de envergadura, que tornaram-se símbolo da região, além dos Cabeças Secas, espécie de cegonha e os Colhereiros, com plumagem avermelhada e bico com forma de colher.

Durante os meses de agosto, setembro e outubro os pássaros costumam reunir-se em locais escolhi- dos conforme critérios de segurança, e proximidade das fontes de alimenta- ção, para o acasalamento e procriação. Esses locais são os ninhais ou viveiros e encontram-se por todo o Pantanal nas áreas ainda não devastadas pelo homem, diz o livro.

O ninhal, visitado pela expedi- ção tem uma população estimada entre 3 e 4 mil aves e 30 mil m2 de área, às margens do rio Cuiabá, de onde resultaram as mais de 2 mil fotografias sobre ninhais e a realidade que o cerca.

Cada uma das 52 páginas do Ninhal reserva uma surpresa ao leitor, logo no início do livro uma foto de

perplexo diante daquele espetáculo. E me senti pequeno, muito pequeno...", observa Luciano.

Na Transpantaneira, com suas mais de 100 pontes, a expedição encontrou dezenas de Corixos repletos de animais em busca de alimentos. Notaram que a água parada dos lagos acaba perdendo o oxigênio, obrigando

ataca a ave, estão cumprindo o papel que lhes cabe no ecossistema", diz o livro.

As fotografias são de autoria de Renata Falzoni, retratam toda a beleza e exuberância das aves, a riqueza da vegetação e, principalmente, as agres- sões sofridas petos animais e pelo Pantanal. "O estado do Mato Grosso

está com o céu totalmente encoberto de fumaça das queimadas. À noite, no meio do Pantanal, o céu parece o de São Paulo, com meia dúzia de estrelas. O sol desaparece às cinco horas da tarde, quando ainda está acima do horizonte, atrás da cortina de fumaça. Encontramos latas, garrafas, plásticos e outros lixos atirados no meio dos animais. Poconé está rodeada de afeas mortas pelo mercúrio utilizado no garimpo. Essas cenas são revoltantes e se considerarmos que os coureiros chegam a exterminar cinco mil jacarés num dia, teremos a dimensão da tragédia que se abate naquela região", diz Luciano.

Todo o projeto Ninhal foi enquadrado na Lei Sarney e o livro, acompanhado de uma exposição de fotos foi lançado em Porto Alegre, dia 4 de maio, no Theatro São Pedro. Foram editados 3 mil exemplares, dos quais 200 foram doados à AGAPAN (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), que utilizará a verba arrecadada com a venda dos exemplares nas suas atividades de preservação do meio ambiente. Os outros exemplares foram presenteados a clientes especiais da empresa.

O texto do livro assinala a preocupação com o meio ambiente, apontando a necessidade do homem tomar consciência da responsabilidade que lhe cabe na proteção do mundo em que vive e, diretamente, de seu próprio destino. "Nenhum animal estaria ameaçado de extinção por predação natural. É depredação o nome do problema. E chama-se homem seu principal agente. (...) O Pantanal é patrimônio da humanidade. Coloca o homem diante de sua insignificância perante a natureza. O Pantanal está lá há milênios. Ele resiste à seca, ao frio de zero grau, ao calor de 40 graus, à chuva e às enchentes. O Pantanal só não resiste ao homem".

Luciene Barbiero Machado

Ecologia sem espaço nos jornais

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Você quer saber se os ares de sua cidade são respiráveis? Muito simples. Abra seu jornal diário na editoria de Meio Ambiente e já aproveite para ver em que pé estão as coisas ao seu redor. Não achou a tal editoria? Pois é, ela não existe.

"Jomalisticamente, ecologia ain- da é assunto sem importância. Está na Editoria Geral, que cobre desde o simples buraco da rua até o acidente de Goiânia". Para o jornalista Renato Hoffmann, do Diário do Sul, isto ilustra bem o descaso da "grande imprensa" do País para com os assuntos ambientais. E como resultado a imprensa está sempre correndo atrás do prejuízo. Em outros assuntos, como economia e política, os jornalistas garimpam os fatos e antecipam o que vai acontecer. "Nos assuntos ambien- tais a imprensa só denuncia fatos consumados, quando o rio já está morto e a árvore cortada", explica Hoffmann.

Em 1866, quando o biólogo alemão Ernest Haeckell usou a palavra grega oikos (casa) para formar o termo ecologia (ciência da casa), ninguém imaginava que o assunto fosse preocu- par um dia. Hoje a ciência da Haeckell já virou pensamento político e chegou aos ouvidos de todos os habitantes do planeta. "A ecologia é um endeusamen- to da vida e mostra que o futuro é possível", afirma Ivo Egon Stigger, editor de Ciência e Tecnologia da Zero

Hora e defensor do jornalismo ambien- tal. Mas o que falta então para que este tipo de jornalismo conquiste seu lugar ao sol? Especialização. "Os grandes jornalistas do País são especializados em alguma coisa, mas ninguém está qualificado para tratar de assuntos ecológicos".

SANTUÁRIOS NATURAIS

Na Amazônia são desmaiados cem mil quilômetros quadrados por ano, segundo dados do ecologista José Lutzcmberger. Lto corresponde à área de Portugal ou metade do Rio Grande do Sul, mas pouquíssima gente sabe. Um jornal só sobrevive se tiver lucro e este é um grande empecilho para as denúncias ambientais, principalmente quando elas não interessam aos anun- ciantes. "O máximo que acontece é a publicação de uma primeira denúncia. Muitas vezes os grandes grupos envolvi- dos intervém numa segunda matéria sobre o caso", esclarece Renato Hoffmann. Quanto menor é o veículo, mais ele necessita do anunciante. Só uma grande empresa pode se dar ao luxo de abrir mão do anunciante lesado e publicar o assunto, se for do seu interesse.

Ainda hoje muita gente confun- de natureza com animais raros e belas oaisagens. Tudo que os meios de comunicação mostraram até agora foram as belezas dos santuários ecoló-

gicos. Pouco se fala do equilíbrio ambiental e das causas de sua destrui- ção. Em vez de despertar consciência ecológica isto apenas estimula o turismo nas regiões onde a natureza permanece intacta.

BORREGARD A defesa ecológica no Brasil

começou pelo Rio Grande do Sul e, curiosamente, o papel do jornalismo foi fundamental para iniciar a conscienti- zação. "Nos anos 70 não se podia escrever muita coisa nos jornais além'de esporte e paiílica. Quando a ecologia começou a cnegar nas redações foi um assunto que pôde ser tratado sem problemas", lembra Ivo Egon Stigger. Foi quando, há 16 anos, um cheiro de ovo podre invadiu os ares de Porto Alegre, lançado pela indústria de celulose, de Guaíba. Isto mereceu uma ampla cobertura jornalística e levou o problema a todos os cantos do Estado. "Devemos agradecer à Borregard porque ajudou a conscientizar o gaúcho", brinca Stigger.

Outro episódio marcante foi o do viaduto da-Avenida João Pessoa, em Porto Alegre. Doze árvores centenárias foram salvas por estudantes, que subiram em seus galhos e evitaram a derrubada. Este fato causou enorme repercussão pelos jornais e obrigou a Prefeitura mudar o traçado do viaduto.

Edgar Gonçalves Jr.

10 Três por Quatro junho 88

FUTEBOL

Os "pequenos"na marca do pênalti

Os tknes pequenos da capital não souberam vencer profisslonansmo

e especulação Imobiliária. Cruzeiro e São José completam 75 anos lutando para não fechar.

Mesmo que possua 7 mil sócios, o São José é uma equipe sem torcida. Pior que isso: sem títulos e com uma história que se resume a poucas glórias conquista- das no passado. Completando 75 anos de existência, o Zequinha, como é apelidado, é comandado por velhos torcedores que pratica- mente viram o clube nascer, como no caso do atual presidente Vflson Schimdt.

O São José foi fundado em 25 de maio de 1913 pelo Irmão Emanuel da Igreja São José, na Avenida Alberto Bins. O seu pri- meiro campo foi na Chácara da Família Petersen, onde hoje fica o Colégio Militar. Depois, o campo passou para a avenida Cristóvão Colombo, ao lado da Igreja São Pedro. Seguiu para o Caminho do Meio, onde atualmente é o Hospital de Clínicas. Transferiu-se depois para o bairro 1API e, em 1941, passou para a atual sede da Avenida Assis Brasil no Passo D'Areia, quando o terreno foi comprado.

O Zequinha, nessa época do amadorismo, era mantido por homens que tiravam dinheiro do próprio bolso. Entre estes "nobres" dirigentes estavam Leo Dela Rue, o primeiro presidente; Saturnino Vanzeloti, Darci Vander Alen e Edmundo Lamb, o patrono do clube. Com a implantação i profissionalismo no futebol, ficou muito difícil uma só pessoa finan- ciar um time. Com isso, o São José começou a perder força e de um dos grandes da capital foi decaindo até chegar ao atual estágio, quando disputa a repescagem da Segunda Divisão.

GLORIAS DO PASSADO

No dia 24 de maio, o clube completou 75 anos de fundação. E certamente teve poucas glórias para celebrar. No currículo do São José os títulos conquistados são: os vice-campeonatos Citadinos de 39 e 48, a Copa Governador do Estado de 71, o campeonato da Segunda Divisão em 81 e a honra de ter sido o primeiro clube gaúcho a viajar de avião. A aventura aconteceu em 1927, quando o plantei zequinha embarcou num hidroavião no cais de Porto Alegre e aterrissou em Pfelotas, horas mais tarde.

Apesar da longa história, o São José sempre foi um time modesto e de pouca torcida. O seu melhor momento ocorreu na época do Campeonato Citadino, de 1913 a 53, quando, apesar de nunca ter chegado ao título, realizava uma disputa equilibrada com os outros seis times da cidade - Grêmio, Inter, Renner, Nacional, Cruzeiro e Força e Luz. Em 39, por exemplo, o time terminou o campeonato empatado com o Grêmio. Mas na

melhor de três partidas, o Grêmio acabou ficando com o título.

Deste time de 39 são os maiores nomes do Zequinha, tais como Hary, Elustondo, Chinês e Mabília. Na década de 40, criou-se outro grande time que contava com Pedro Ário Figueiró e Ênio Andra- de. A partir daí, começou a crise. Não se fez mais boas equipes, faltou dinheiro e o clube se licen- ciou no final da década de 50. Retomou às atividades, mas se licenciou novamente em 64. Assim, o São José foi perdendo tradição e, nos anos 70, já estava completa- mente distanciado em relação a Grêmio e Internacional,

O último grande feito do São José aconteceu em 81. O clube vivia uma grande crise financeira. Para complicar a situação, numa

viagem a Lajeado, onde o time jogaria pela Segunda Divisão, o ônibus que transportava o time foi colhido por um caminhão. Vários jogadores ficaram feridos, entre eles Vinícius que teve o braço esquerdo decepado. O acidente serviu para marcar uma nova fase no clube. Com o apoio da imprensa e da comunidade, conseguiu pagar a dívida e o São José acabou como Campeão da Segunda Divisão daquele ano, adquirindo o direito de disputar a Divisão Principal em 82. O Zequinha armou uma equipe com jogadores experientes, entre eles, os ex-colorados Cláudio Minei- ro, Valdir, Arlém e Romário, e ex-gremistas Vicente, Cassiá e Jerônimo. Entretanto, no final, o São José ficou no penúltimo lugar e, em 83, voltava para a Segunda Divisão.

FORÇA SOCIAL

Mesmo enfraquecido, o Ze- quinha sobrevive. E isso se deve ao esforço de velhos torcedores, tal como o atual presidente Vflson Schmidt, de 66 anos. Schmidt é torcedor zequinha desde a década de 30. Já foi jogador e dirige o clube pela segunda vez, a primeira foi de 74 a 78.

Os esforços do presidente estão voltados para o quadro social. Neste ano, a arquibancada do pavilhão social foi ampliada em 50 metros, o que aumenta a capacida- de do Estádio do Passo D'Areia para 15 mil lugares. Nos planos de Schmidt está prevista, ainda para este ano, a construção de uma piscina térmica para os sócios.

E são justamente os 7 mil

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'■ Pouco público, uma constante nos jogos do Zequinha

sócios a principal preocupação do clube. O São José, no seu terreno de 2 hectares e meio, da Avenida Assis Brasil, conta com piscinas, ginásio de esportes, parque de recreação, salão de festas, e a sede social.

Quanto ao futebol, os inves- timentos são pequenos. Enquanto o Grêmio gasta Cz$ 12 milhões e o Inter 8, a folha de pagamento dos 18 profissionais do São José não utltrapassa Cz$ 300 mil. O time comandado pelo técnico Tarso Martini não conseguiu se classificar para a semi-final da Segunda e agora disputa a repescagem bus- cando uma das duas vagas para a fase final.

Como a torcida é pequena, as rendas dos jogos são baixas. Vílson Schmidt conta que os recursos do clube provêm da arredação junto ao quadro social, do ginásio, do salão de festas e também do aluguel do terreno onde fica a Churrascaria Zequinha. Somente o terreno é o do clube, os lucros ficam todos para o gerente do negócio, o empresário Romildo Valandro.

Acostumado com o sobe e desce constante do São José, o presidente Vílson Schmidt não tem muitas esperanças de que o Zequi- nha volte a uma situação de equilíbrio com a Dupla Grenal, como nos velhos tempos. "Para isso", diz Schmidt, "é necessário muito dinheiro para se montar uma estrutura suficiente para se formar um grande time com nomes de qualidade". Talvez como os de Hary, Elustondo, Mabília e outros que conquistaram os poucas glórias do São José. Poucas, porém, sempre lembradas.

Cléber Grabauska

Ênio Mello lembra os pequenos

Quem conta essa história é o jornalista Enio Mello, 55 anos, trinta e sete dedicados ao esporte. Enio lembra que São José e Cruzeiro sempre foram clubes pequenos, sem grandes times nem torcida, que conquistaram poucos títulos, não atrapalhando muito a dupla Grenal.

Ele recorda que o futebol de Porto Alegre não era apenas a dupla Grenal, São José e Cruzeiro. Existiam também Renner, Nacional e Força e Luz, times que participaram do campeonato citadino, o torneio do qual saía o campeão da capital que disputaria o título do estado com o Campeão do disputadíssimo torneio do interior.

Fundado em 1931, o Renner sempre se manteve atrás do Grêmio e Internacional, que sempre sagraram-se campeões. Em 1954, treinado por

Servíüo Rodrigues, o time conquistou o título. No entanto, a glória do Renner não durou muito. Em 1957, após três anos da campanhas medío- cres, suas atividades foram encerradas pela empresa que custeava os jogado- res, a A.J. Renner, que os empregava nas fábricas e concedia a eles horários para treino.

Cansados das poucas glórias e das constantes crises financeiras, o São José e o Cruzeiro resolveram, em 1968, unir forças e formar um único clube. A intenção era formar uma terceira potência do futebol gaúcho, um lime que pudesse competir com a dupla Grenal.

Esta fusão aconteceria da se- guinte maneira: o Cruzeiro venderia o Estádio da Montanha e com o dinheiro ampliaria o do São José. no Passo

D Areia, aumentando a área social e investindo no departamento de fute- bol.

Sabendo destes planos, o conse- lheiro Boscuchel, um general do exército fanático pelo Cruzeiro que residia no Rio de Janeiro, veio a Porto. Alegre especialmente para a reunião do Conselho Deliberativo em que seria debatido o assunto. Ele fez. um discurso tão inflamado contra a fusão, lembrando as glórias do passado do Cruzeiro que persuadiu os demais conselheiros a não aprovar n medida.

Também um time pequeno, o Força e Luz foi fundado na década de 20 pelos funcionários da Companhia de Energia Elétrica. Até o seu fecha- mento, em 57. não conquistou ne- nhum titulo. A sua maior glória foi ter revelado Ayrton, um zagueiro que viria

a brilhar no Grêmio na década de 50. Hoje, do Ume só resta o campo de futebol no caminho do meio, próximo do hospital de Clínicas.

A história do Nacional é ainda mais modesta. Do antigo Ume dos ferroviários nem o antigo estádio da Chácara das Ca mé lias resta. Em seu lugarfoiconslrufdoum supermercado.

Segundo Enio Mello, a decadên- cia dos pequenos clubes portoalegren- ses foi causada por dois motivos. O primeiro foi o encerramento do Cam- peonato Citadino, em 1960. O segundo foi o surgimento do profissionalismo, no estado, que fez os times pequenos, semi-profissionais, perderem seus joga- dores para a dupla Grenal.

Lauro Rutkowski

Junho 88 Três por Quatro 11

Futebol

Cruzeiro só volta

com infra-estrutura

(t /^v Esporte Clube Cruzeiro só voltará ao futebol profis- sional quando tiver sus-

tentação financeira e um quadro social forte". José Ari Brenol de Andrade, atual presidente do Cru- zeiro, identifica assim as causas que levaram seu clube e outros peque- nos da capital a encerrarem suas atividades no futebol profissional ou se resumirem a disputas amado- ras.

"O futebol antigamente era bem diferente. Existia um profis- sionalismo suave". Brenol lembra que o Cruzeiro era praticamente sustentado pelos seus patronos Ernesto e Aníbal Di Primio Beck, que, além de colocarem dinheiro diretamente no clube, ofereciam emprego para atletas e funcionários completarem suas rendas. "O Cruzeiro sempre teve o apoio da classe universitária. O clube ofere- cia casa, comida e roupa lavada para universitários que vinham do interior, que em troca disputavam futebol de campo, basquete e atletismo".

Desta forma o Cruzeiro chegou ao campeonato estadual em 1918 e 1929, foi vice-campeão citadino em 45 e duas vezes hexa-campeão em basquete. O estádio da Montanha, onde hoje se localiza o Cemitério. João XXIII, foi o primeiro estádio do Rio Grande do Sul a ter iluminação para jogos noturnos em 1941. A crise começou na década de 50, quando o futebol deixou de lado a "suavidade" de antes.

OLHO GRANDE

Em 1953, foi criada a Divisão de Honra no futebol gaúcho, reunindo além dos sete clubes da capital (Grêmio, Inter, Cruzeiro, São José, Força e Luz, Renner e Nacional) o Flamengo e o Juventu- de de Caxias do Sul, Aimoré de São Leopoldo e Floriano de Novo Hamburgo. Brenol de Andrade observa que 80% dos atletas tinham emprego fixo, não sobrando tempo para concentrações e viagens. Para ele, a especulação imobiliária fez "crescer a olho" das associações que mantinham o futebol apenas para divertimento dos seus associa-

dos, levando à venda dos estádios e o fechamento do departamento de futebol. O Cruzeiro também não resistiu e vendeu o estádio da Montanha em 1968. A idéia era de fugir à concorrência da dupla Gre-nal e estalecer-se como um clube representativo do Alto Pe- trópolis, onde o Cruzeiro recebeu uma área de pouco mais de 20 hectares.

POR CONTA

"O que aconteceu foram contratos mal-feitos ou mal- intencionados na venda do está- dio", acusa o vice-presidente Almi- to Stolte. O Cruzeiro receberia uma parcela do dinheiro obtido na venda dos 3.500 jazigos da primeira etapa do cemitério, e ainda teria uma participação garantida por vinte anos.

De 1970 até 79, ano em que se licenciou do futebol, o Cruzeiro disputou precariamente o campeo- nato gaúcho. "O clube estava levando uma vida vegetativa", lembra Brenol. "Os dirigentes começaram a tirar dinheiro por conta, acabaram quitando o con- trato, e desperdiçaram uma fonte de recursos". Em pouco tempo, as dificuldades financeiras acabaram por atingir outros setores como o basquete, o futebol de salão e o atletismo, que também encerraram suas atividades.

Stolte vê outras dificuldades para se manter um time de futebol: "A Federação fica com 5% da renda bruta de qualquer jogo e nunca tem prejuízo. Os times pequenos preparam seus atletas durante anos e depois são obrigados a cedê-los aos grandes. Assim não há time que agüente".

Brenol reclama que "a ga- nância da Federação Gaúcha de Futebol" fez com que há uns 15 anos atrás se passasse a cobrar ingresso dos sócios, afastando os torcedores dos clubes que não ofereciam outras vantagens como piscinas e promoções sociaç.

O Cruzeiro agora oferece aos seus 800 sócios efetivei duas canchas para vôlei e futebol de salão, quatro piscinas, um ginásio esportivo, e ainda o Estádio

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Desde 79, o "Estrelinha" é campo de aluguel

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ESCOIAB

"Estrelinha", com capacidade para 6 mil pessoas. Estão em funciona- mento a escolinha de futebol e as categorias mirim, juvenil e júnior, e o Cruzeiro espera voltar ao atletis- mo no ano que vem através de um convênio com a Faculdade Portoa- legrense (FAPA). Segundo o presi- dente, o Governo federal já liberou

verbas para se iniciar a construção de um Hotel de Concentração, nos moldes da "Toca da Raposa", em Belo Horizonte.

"A velha guarda está impa- ciente, querendo que o Cruzeiro volte imediatamente ao futebol profissional, mas só faremos isto quando o clube tiver uma boa

infra-estrutura", afirma Brenol. No ano em que o Cruzeiro completa seus 759 aniversário, ele está confiante: "quando nós voltarmos será para ficar".

Renato Mendonça

Jogo do BICHO

Deu confiança e amizade na cabeça

Uma das tantas formas de organização social, com suas regras próprias de funcionamen- to, empregados, hierarquia e muito dinheiro, O jogo do bicho continua sendo uma das manias brasileiras mais permanentes pelo emprego de muita gente. É o caso de Flávio G., 25 anos, arrecadador de um forte bicheoro de Porto Alegre, conhecido como Sales.

A tarefa de arrecadador não é difícil: cabe a ele passar nos pontos de jogo determinados, recolher o jogo e conferir o dinheiro. Isto tudo com relativa rapidez, porque todas as apostas têm de estar na mão da "banca" no máximo 30 minutos antes de saírem os números. A arrecadação ocorre todos os dias, menos domingos e segundas-feiras, e geralmente é vinculada ao sorteio de loterias estaduais e à Federal das quartas e sábados. Flávio recolhe os jogos feitos para sorteio às 6 da tarde, e outros colegas fazem a coleta da Loteria da Sorte, um sorteio extra organizado pelos bicheiros, que ocorre nos mesmos dias dos outros sorteios, só que o resultado sai às 14 horas.

PREJUÍZO

"A Loteria da Sorte tende a acabar porque tá dando muito prejuízo. O número de apostadores é menor, e paga a mesma coisa que o sorteio das 6. Se o volume de dinheiro é menor e os prêmios os mesmos, vai acabar quebrando". Quebrar, de qualquer forma, é uma palavra pouco comum entre os bicheiros. Isso porque foi montada uma Associação Estadual que garante o pagamento de "estouros", jogos em que um acertador ganha um prêmio maior do que a capacidade da banca.

Flávio garante que apesar da Associação, a competição é muito forte entre os bicheiros, e dificilmente alguétn perde um ponto de arrecadação. "Quem faz o jogo geralmente tem relação de amizade ou como arrecadador ou com

o bicheiro, e não vai ficar trocando por qualquer coisinha". O trabalho maior é convencer o dono de um bar ou outro ponto de venda qualquer a fazer jogo. E aqui entra uma das tarefas do arrecadador. "É difícil, mas quando a gente consegue um novo ponto, fica numa boa com o homem".

CONFIANÇA

O "homem" é sempre uma figura endeusada, com quem os arrecadadores mantém uma certa reserva e distanciamento na hora de conceder uma entrevista para este jornal, "mas dei azar. O cara não tava bom naquele dia, deu um monte de prêmios altos, e aí ele fica meio fechado. Não ficou muito a fim de entrevistas, desconversou, e aí é melhor não falar mais no assunto".

O mais chato do trabalho, segundo Flávio, e conferir os jogos. São números e mais númeroSj os bilhetes todos colocados em cima de uma mesa grande e separados de acordo com o tipo de jogo premiado: dezenas, certtenas, ou milhares. Depois, vem o cálculo da premiação e a divisão para pagamento nos pontos onde o jogo foi feito. "Geralmente termina tudo em festa, com um churrasco ou coisa do tipo. O 'homem' tá sempre junto, e fora os dias de muito prêmio, é um cara legal".

Confiança é uma palavra-chave na estrutu- ração do jogo do bicho. O arrecadador confia que o bicheiro não vai deixá-lo na mão em caso de complicação com a polícia, e o bicheiro acredita que o arrecadado não vai colocar jogo seu na hora da conferência. "Podia tirar uns troquinhos de vez em quando, mas não faço isso porque gosto do Sales. Jogo limpo com ele, e fica tudo numa boa".

Ricardo Bueno

Antigo campo do Nacional agora é supermercado

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MISTICISMO

SAB

UFRGS 05829763

Onda de fenômenos

envolve o Rio Grande

Cadeiras trocando de lugar sem que ninguém as tocasse, batidas estranhas nas paredes, papéis picados aparecendo miste- riosamente sob as camas. Estes foram alguns dos fenômenos que, no dia 20 de abril, fizeram tremer a família Fitz, de Santa Rosa, interior do Rio Grande do Sul. A menina Leonice, de 13 anos, assustou seus pais e atraiu centenas de curiosos com os fenômenos que passou a protagonizar.

Para Nelson Santana, diretor do Departamento de Divulgação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, não existem anormalidade neste tipo de acontecimento. "A parapsicologia registra fatos desta natureza nas mais diferentes partes do mundo", lembra Santana, expli- cando que os fenômenos de Santa Rosa provavelmente foram causa- dos pela presença do espírito de algum antigo membro da família.

O que o diretor do Departa- mento da Federação faz questão de ressaltar é que esses acontecimen-

tos são fatos verídicos e incontes- táveis. Ele critica muitas das explicações dadas sobre o assunto, "dizendo que o espírito não se comunica , que isto são manifesta- ções do inconsciente coletivo ou uma superenergia do médium". Nelson Santana afirma que o maior problema é a desinformação do grande público, embora "este tipo de fenômeno já tenha sido disseca- do e comprovado cientificamente por cientistas de renome'..

Ciência ou não, a verdade é que os fenômenos deixaram a família Fitz bastante perturbada, tanto pelo estado da filha como pela constante presença de repórte- res, doentes, fanáticos religiosos ou simples curiosos em sua casa. O último recurso dos Fitz foi o padre jesuíta Edvino Augusto Friderichs, que há 30 anos estuda fenômenos paranormais e tem 14 obras publicadas sobre o assunto.

O padre parapsicólogo en- controu inicialmente muitas difi- culdades para solucionar o proble-

ma da menina, principalmente devido ao movimento e à excitação reinantes no local. Depois de pedir auxílio da Brigada Militar para o isolamento da residência, o padre Friderichs passou a um tratamento intensivo de Leonice. Ele conduziu a menina em espírito a um lugar calmo, com uma paisagem bucóli- ca. Através de sugestões ao incons- ciente, Friderichs promoveu o relaxamento físico-psíquico de Leonice, que no final do dia foi fotografada caminhando calma- mente pelas ruas, como se nada tivesse acontecido.

OUTROS FENÔMENOS

No primeiro dia da Semana Santa deste ano, foi a vez da família Cardoso, de Vila Santa Rosa, em Porto Alegre, defrontar-se com fatos estranhos em sua casa. Muitos objetos sumiram, reaparecendo dias depois em locais diferentes. Copos, eletrodomésticos e panelas lança- vam-se sozinhos ao chão, ao mesmo

tempo em que roupas precipita- vam-se para fora dos armários. O fato mais grave foi o deslocamento súbito de um espeto, que por pouco não atingiu um visitante da família. Desesperada, Blonilda Cardoso procurou ajuda onde pôde; como o mesmo padre Edvino Friderichs, com o pastor Nasser Banderia e até mesmo o mentalista Ivan Trilha, e não houve o mínimo resultado. Como último recurso, Blonilda procurou o Centro Espíri- ta Afrobrás, que aconselhou a destruição da residência. Amedron- tada, a família seguiu o conselho, e hoje mora em um barraco cons- truído com restos de plástico e madeira, à espera de uma ajuda material prometida por Ivan Trilha.

Paralelamente a estas mani- festações paranormais, o Rio Gran- de foi palco, principalmente nos meses de abril e maio, de inúmeras supostas aparições de Nossa Senho- ra, como a de Taquari, presenciada por um menino de onze anos, ou a de Erexim, onde Dorotéia Farina,

de 74 anos, afirma já ter esta visão há 50 anos.

A Igreja Católica nega estas aparições, o espiritismo confirma os fenômenos paranormais como absolutamente naturais. Mas há pessoas que atribuem outro sentido a isto tudo. E o caso do sociólogo José Hugo Ramos, para quem toda esta onde de misticismo não passa de um reflexo da atual crise brasileira. "A situação econômica do país leva a crises pessoais, e o indivíduo só encontra uma fuga no misticismo", explica. Os sociológos começam cada vez mais a se interessar por este tipo de assunto em suas pesquisas, pois os resulta- dos do misticismo acentuado são, por exemplo, o surgimento de novas religiões, cujos líderes muitas vezes não têm interesses religiosos e sim financeiros, aproveitando-se da ingenuidade e da fé das pessoas para extorquir suas economias.

Elisa Kopplin

MEDICINA

Exame pré-natal detecta doenças cardíacas

O ecocardiograma fetal é um exame feito durante a gestação e que permite, com grande precisão, diagnosticar se o fato possui alguma doença cardíaca. Esse exame é feito com ultra-som, sem nenhuma agressão ao organismo do feto. Esse feixe de ultra-som mostra, mesmo no útero da mãe, a imagem do coração em movimento dentro do corpo do feto, permitin- do que se visualize toda a sua anatomia.

O cardiologista pediátrico do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, Paulo Zielinsky, um dos pioneiros dessa técnica aqui no Brasil, diz que esse exame é feito em gestantes nas quais o obstetra ao examiná-las nota alguma anor- malidade no ritmo cardíaco do feto, ou ainda, quando na ecografia obstétrica geral, que praticamente todas as gestantes fazem, aparece alguma anormalidade no coração do feto. São examinados, também, as mães que já tenham tido um filho com doença cardíaca congêni- ta, ou que elas próprias tenham tido, ou ainda cuja gravidez esteja sendo complicada por pressão alta ou por diabete.

Segundo ele, faz-se o exame na tentativa de delinear toda a anatomia e função do coração do feto, para assim descobrir se há ou

não algum distúrbio cardíaco. A imensa maioria das cardio-

patias congênitas graves, que po- dem trazer risco ao bebê logo após o seu nascimento, podem ser diagnosticadas com muita seguran- ça pelo ecorcardiograma fetal.

TRATAMENTO

A partir do momento em que é detectada qualquer doença car- díaca no feto, parte-se para o tratamento através de medicamen- tos dados à mãe. Esses medicamen- tos atravessam a placenta e atingem

o feto. Devem ser receitados numa dosagem correta, de acordo com o seu peso estimado.

O cardiologista Paulo Zie- linsky já teve oportunidade. de tratar intra-uterinamente de um feto grave do músculo cardíaco. Com o tratamento, o bebê ao nascer já apresentava sensíveis melhoras, e está praticamente curado.

Outras cardiopatias que ocor- rem com freqüência podem ser facilmente detectadas pelo ecocar- diograma fetal, como é o caso do defeito chamado de comunicação

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O coração do feto visto por dentro

Zielinski e o aparelho de eco-fetal

inter-ventricular, que ocorre quan- do há um buraco no septo que separa os dois ventrículos. Com esse método pode-se acompanhar o fechamento expontâneo desse bu- raco, o que algumas vezes ocorre. Sem essa técnica, o problema só seria detectado depois do nasci- mento do bebê, e no caso de algumas cardiopatias já seria tarde demais. O médico acrescenta que no caso dessas cardiopatias mais graves o cardiologista pediátrico já espera o nascimento do bebê com a mesa de cirurgia pronta.

Paulo Zielinsky explica que apesar do pouco tempo de aplica- ção desse exame, ele já tem condições de propiciar aos médicos que atendem as gestantes, um

diagnóstico muito seguro sobre a situação cardíaca do feto.

O cardiologista pediátrico e ecocardiografista espera que esse método venha a ser mais utilizado pelos obstetras pois não á, ainda, uma divulgação ampla, mesmo no meio médico, visto que é uma área nova da cardiopatia, qual seja, a cardiologia fetal.

Cerca de 2.500 a três mil crianças nascem com cardiopatias congênitas todo ano, somente aqui no Rio Grande do Sul. Com esse novo método de diagnóstico, mui- tas delas terão os seus problemas detectados antes do nascimento.

Homero Bellini Júnior