Logística Hospitalar: Estoque de Farmácia

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Logística Hospitalar: Estoque de Farmácia JOSIAM DE PAULA BRANDOLIM S. DA SILVA ([email protected]) LUIS HENRIQUE MANCIO DE CAMARGO ([email protected]) MARIA LUÍSA R. DOS SANTOS ([email protected]) ODETE ALINE APARECIDA RAMOS ([email protected]) SIRLENE LOPES MONTEIRO DA SILVA ([email protected]) CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS CURSO DE TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA Resumo: Atualmente no setor da saúde, principalmente em hospitais, os recursos estão cada vez mais escassos, obrigando aos gestores desses estabelecimentos uma busca por metodologias novas de controle, sendo que os insumos hospitalares e os medicamentos estocados nas farmácias possuem um custo elevado. Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir a gestão e o controle de estoques em uma farmácia hospitalar, cuja eficiência operacional depende de um sistema de gestão e controle de estoques bem estruturados, sendo possível identificar faltas de medicamentos em estoque, bem como eliminar os seus excessos e que ainda o gerenciamento possa melhorar a situação econômica do estabelecimento, e principalmente possa prestar ao atendimento das necessidades sociais de seus consumidores. Para entender melhor a dinâmica destes sistemas são apresentados conceitos de farmácia hospitalar, sistemas de estoques, classificação ABC, além da importância de um descarte adequado e consciente de medicamentos. Palavras Chave: Estoque de farmácia; medicamentos; logística hospitalar.

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Logística Hospitalar: Estoque de Farmácia

JOSIAM DE PAULA BRANDOLIM S. DA SILVA ([email protected])

LUIS HENRIQUE MANCIO DE CAMARGO ([email protected])

MARIA LUÍSA R. DOS SANTOS ([email protected])

ODETE ALINE APARECIDA RAMOS ([email protected])

SIRLENE LOPES MONTEIRO DA SILVA ([email protected])

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS

CURSO DE TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA

Resumo: Atualmente no setor da saúde, principalmente em hospitais, os recursos estão cada vez mais escassos, obrigando aos gestores desses estabelecimentos uma busca por metodologias novas de controle, sendo que os insumos hospitalares e os medicamentos estocados nas farmácias possuem um custo elevado. Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir a gestão e o controle de estoques em uma farmácia hospitalar, cuja eficiência operacional depende de um sistema de gestão e controle de estoques bem estruturados, sendo possível identificar faltas de medicamentos em estoque, bem como eliminar os seus excessos e que ainda o gerenciamento possa melhorar a situação econômica do estabelecimento, e principalmente possa prestar ao atendimento das necessidades sociais de seus consumidores. Para entender melhor a dinâmica destes sistemas são apresentados conceitos de farmácia hospitalar, sistemas de estoques, classificação ABC, além da importância de um descarte adequado e consciente de medicamentos.

Palavras Chave: Estoque de farmácia; medicamentos; logística hospitalar.

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo geral observar e apontar a forma adequada do

abastecimento do estoque de medicamentos em uma farmácia hospitalar. Nesse

sentido pretende-se demonstrar que é fundamental a eficiência operacional em um

sistema de gestão e controle de estoques, haja vista que o objetivo primordial de um

hospital é restabelecer e preservar a saúde das pessoas que o procuram.

A administração de materiais em qualquer empresa é uma área especializada

cuja finalidade é fazer chegar o material certo para a necessidade certa no exato

momento em que ela for necessária. Quando esta administração de materiais é

referente a materiais hospitalares, planejar, controlar e organizar as necessidades é

ainda mais fundamental, pois em geral os materiais devem ficar disponíveis em

níveis adequados, evitar faltas e excessos que comprometam o capital de giro e

ainda resultar em medicamentos com prazos de validade vencidos. Nestes casos de

empresas voltadas para a área de saúde o cuidado deverá ser ainda maior, uma vez

que a falta poderá colocar em risco vidas humanas.

O controle de estoque exerce influencia muito grande na rentabilidade da

empresa. Os estoques absorvem capital que poderia estar sendo investido de outras

maneiras, desviam fundos de outros usos potencias e têm o mesmo custo de capital

que qualquer outro projeto de investimento da empresa. (CHING, 2007, p.32).

O objetivo principal do gerenciamento de estoques é a redução de custos

gerados pelo mesmo utilizando-se de técnicas adequadas ao invés da deterioração

da qualidade do serviço publico.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 História da farmácia hospitalar

Para se falar de Farmácia Hospitalar é preciso primeiro conhecer um pouco

do seu histórico, pois assim será possível compreender melhor o que está ocorrendo

no Brasil de hoje e o que provavelmente acontecerá no futuro. A primeira farmácia

hospitalar que se tem registro data de 1752 em um hospital da Pensilvânia (EUA),

na qual foi apresentada a primeira proposta de padronização de medicamentos. No

Brasil, as farmácias hospitalares mais antigas foram instaladas nas Santas Casas de

Misericórdia e Hospitais Militares, É relevante destacar o Professor José Sylvio

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Cimino, que dirigiu o Serviço de Farmácia do Hospital das Clínicas da Universidade

de São Paulo, como um dos baluartes da farmácia hospitalar brasileira, cujo trabalho

contribuiu efetivamente para o desenvolvimento da assistência farmacêutica

hospitalar.

Segundo CIMINO (2009, p.277) É a unidade tecnicamente aparelhada para

prover clinicas e demais serviços dos medicamentos e produtos de que necessitam

para o bom funcionamento.

Com a industrialização do medicamento, surgindo assim o fármaco pronto

para uso, houve uma crise na profissão farmacêutica, atingindo de forma parecida o

farmacêutico de hospital. Esse profissional praticamente desapareceu dos hospitais,

só permanecendo nas instituições de grande porte.

Em alguns países desenvolvidos a saída para esta crise foi o retorno do

farmacêutico para o hospital, ou seja, o farmacêutico passou a ser

um especialista em medicamentos, recuperando a relação médico-farmacêutico e

farmacêutico-paciente. A sua principal arma ou habilidade passou a ser a

informação.

Em 1965 surgiu nos EUA a farmácia clínica, que tem como meta principal o

uso racional dos medicamentos. O farmacêutico, além das suas atribuições junto

aos medicamentos, passa a ter atividades clínicas voltadas para o paciente.

Em 1975 a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) introduziu no

currículo do curso de farmácia a disciplina Farmácia Hospitalar, tornando-se mais

tarde uma realidade em diversas universidades. Além disso, em 1980 foi implantado

o curso de pós-graduação em Farmácia Hospitalar na Universidade Federal do Rio

de Janeiro (UFRJ).

Já em 1995 foi criada a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar

(SBRAFH), contribuindo intensamente para a dinamização da profissão e para o

desenvolvimento da produção técnico-científica nas áreas de assistência

farmacêutica hospitalar.

Em nações subdesenvolvidas como o Brasil a saída para a crise da profissão

foi à busca de novos caminhos de atuação, dando ênfase principalmente às análises

clínicas. As consequências deste fato foram bastante danosas para o país e para a

profissão farmacêutica, pois a questão do medicamento ficou aleijada. Atualmente,

embora o Brasil seja uma das dez maiores economias do mundo, o quarto mercado

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farmacêutico em vendas, com uma flora medicinal riquíssima, importa a maioria dos

medicamentos que consome.

Nesse momento, vivemos uma fase clínico-assistencial da farmácia

hospitalar, como expressa o conceito da SBRAFH: “unidade clínica, administrativa e

econômica, dirigida por profissional farmacêutico, ligada, hierarquicamente, à

direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de

assistência ao paciente”. A atuação da farmácia hospitalar se preocupa com os

resultados da assistência prestada ao paciente e não apenas com a provisão de

produtos e serviços. Como unidade clínica, o foco de sua atenção deve estar no

paciente, nas suas necessidades e no medicamento, como instrumento.

2.1.1 Objetivos da farmácia hospitalar

Os objetivos de uma farmácia hospitalar é visar o alcance e eficiência na

assistência ao paciente e integração às demais atividades desenvolvidas no

ambiente hospitalar. Para atingir seus objetivos, a farmácia deve contar com um

sistema eficiente de informações, dispor de sistema de controle e manipular

corretamente os fatores de custo. É essencial, também, o planejamento e

gerenciamento adequado do serviço.

Dentro de um hospital, as questões referentes ao gerenciamento dos

medicamentos e a forma como estes são distribuídos entre seus vários setores

(postos de enfermagem, centro de tratamento intensivo, centro cirúrgico) nos dizem

muito em relação à qualidade da prestação deste serviço pela farmácia (FREITAS,

2004).

2.2 Estoque

As mercadorias, produtos , quantidades de matérias-primas, suprimentos que

estão em processo de produção (inacabados) ou estocagem (produtos finais), são

denominados como estoque . Quando se fala em estoque, lembra-se de armazéns,

pátios, chão de fábrica entre outros e, este por sua vez, é usado principalmente em

logística. Gestão de estoques é um conceito presente em todo tipo de organização,

assim como na vida das pessoas. Sua história tem sido construída desde o inicio da

sociedade, utilizando estoques de variadas formas e recursos. Constituí-se no

principal critério de avaliação de eficiência do sistema de administração de materiais.

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Nas organizações o cuidado com o estoque é muito importante, pois seu

excesso representa custos operacionais empatados, por outro lado níveis baixos de

estoque originam perdas e custos elevados pela falta de produtos. Pode -se resumir

que os estoques servem como reguladores, encontrar o ponto chave neste trade-off

é de grande valia, pois trará empresa estabilidade.

2.2.1 Tipos de estoque

Estoques no canal;

Estoque para fins de especulação;

Natureza regular ou cíclica;

Estoque de segurança;

Estoque obsoleto, morto ou evaporado.

2.2.2 Vantagens do estoque

Redução do preço unitário;

Estoque de segurança, assegurar o consumo regular em caso de produção irregular;

Economizar nos custos com o transporte;

Prevenção contra atrasos nas entregas.

2.2.3 Desvantagens do estoque

Alguns produtos não podem ser estocados ou somente poderão ser mantidos por

um curto prazo;

Perda no caso do produto não for vendido, imobilizando o capital;

Ruptura , ocasiona vendas perdidas e até mesmo perda de clientes.

2.2.4 Custos

Para a política de estoque três classes são importantes: os custos de

manutenção, de aquisição e de falta de estoques, esses determinam a quantidade

do pedido para reposição no estoque .

Os custos de manutenção de estoque refere-se à quantidade armazenada e

ao tempo que a mercadoria fica no estoque. A manutenção de estoques geram

custos adicionais e estes refletem nos custos operacionais, no entanto este fato

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pode representar um aspecto positivo deste processo, ou seja, ele compensa os

custos de manutenção.

Para BALLOU (2006, p. 273) existem cinco motivos para reduzir os

custos. O primeiro é a existencia de estoque que proporciona economias

consideradas, pois permite que a produção seja mais equilibradas e

prolongadas, funcionando assim como um pulmão entre duas variáveis.

Segundo, o estoque também incentiva as economias de compras e

transportes, dado que o custo da manutenção do excesso de estoque é

compensado pela redução de preços obtidos. Terceiro, a compra

antecipada de produtos representa preços baixos, mas comprar em

quantidades maiores acarreta estoques maiores. Contudo, se houver alta

dos preços no futuro, um estoque maior é justificável. Quarto, a volubilidade

dos prazos da produção e transporte de mercadorias pode provocar

incertezas sobre os custos operacionais e sobre o nível do serviço ao

cliente. Em quinto, choques não planejados e não antecipados afetam o

sistema logístico.

Custos de aquisição de mercadorias estão relacionadas a reposição dos

estoques, e quando essa reposição é solicitada gera uma variedade de custos.

Custos de aquisição inclui preços , ou custo de fabricação, processamento do

pedido, retirada do estabelecimento até seu destino final, entre outros.

Os custos de falta de estoque é quando o pedido do cliente não pode ser

atendido, pois o estoque existente não é suficiente para suprir à necessidade . Ele

origina outros dois custos: custo de venda de pedido e o de pedidos atrasados.

2.2.5 Critérios de avaliação de estoques

Podemos considerar quatro critérios utilizados, sendo eles:

Custo Padrão (Standard Cost);

UEPS (último a entrar, primeiro a sair);

Preço médio ponderado;

PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair) ou FIFO (first-in, first- uot).

2.2.5.1 Peps

Neste critério as primeiras mercadorias que entrarem no estoque, serão

aquelas que serão utilizadas primeiro. O estoque apresenta uma relação bastante

expressiva com o custo de reposição, adotando este método, o efeito da oscilação

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dos preços sobre os resultados é expressivo e as saídas são confrontadas com os

custos mais antigos.

2.2.5.2 Ueps

Conhecido como LIFO (last-in first-out) é utilizado para avaliar estoques, o

custo do estoque é representado de forma que as unidades últimas a entrar, sejam

as primeiras unidades vendidas , ou seja, primeiro a sair.

Esse método não é muito utilizado nas organizações, pois a empresa poderá

ter sérios prejuízos. Por exemplo: produtos perecíveis, estes possuem válidades e,

de acordo com o método, quando a empresa for vender os que entrarem primeiro

poderam estar vencidos.

2.2.5.3 Preço médio ponderado

É usado em empresas, onde seus estoques tenham um controle permanente,

e que em cada aquisição, o seu preço médio é atualizado pelo método do custo

médio ponderado (Ferreira, 2007, p. 32).

2.2.5.4 Custo padrão

Método de custeio onde tanto as entradas de estoque, quanto as saídas são

apropriadas ao custo padrão estabelecido pela empresa, ou seja, é aquele que foi

utilizado na construção do planejamento orçamentário anual.

2.3 Segmentos do gerenciamento de estoques de materias

O gerenciamento de materiais visa satisfazer as necessidades assistenciais

do hospital, sendo responsável pela coordenação e conciliação dos interesses dos

profissionais de saúde, da área econômico-financeira e dos fornecedores. Para isto

o gerenciamento deve contar com os seguintes segmentos: normalização, controle,

aquisição e armazenamento.

2.3.1 Normalização de materiais

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As técnicas de normalização são assistenciais para um efetivo planejamento

e controle dos materiais utilizados no hospital. Sendo, portanto, um dos elos entre a

equipe de saúde e a farmácia.

2.3.2 Padronização

A seleção de medicamentos é um processo dinâmico, contínuo,

multidisciplinar e participativo. A padronização visa a selecionar os medicamentos e

materiais médico-hospitalares a serem utilizados na instituição.

A padronização facilita os processos de aquisição, armazenamento, distribuição e

controle de estoque, pois reduz a quantidade de itens.

2.3.3 Controle de Estoque

A informação em rede entre as unidades de saúde e o almoxarifado é

essencial para o bom controle de estoque.

O controle de estoque é fundamental para a garantia da qualidade do ciclo

logístico da Assistência Farmacêutica:

Tabela 1 Subsidiar as atividades da Assistência Farmacêutica na programação, aquisição e

distribuição.

Assegurar o suprimento, garantindo a regularidade do abastecimento.

Estabelecer quantidades necessárias e evitar perdas.

Ter procedimentos operacionais da rotina (procedimentos operacionais padrão) por

escrito.

Ter registros de movimentação de estoque.

Manter controle e arquivo dos dados organizados e atualizados.

Fonte: o autor

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2.3.4 Elementos de Previsão de Estoque

Para manter um dimensionamento correto dos estoques que atendam às

necessidades, com regularidade no abastecimento, recomenda-se a utilização dos

seguintes instrumentos:

Tabela 1

Consumo médio mensal (CMM) – é a soma do consumo de medicamentos

utilizados em determinado período de tempo dividido pelo número de meses da sua

utilização. Quanto maior o período de coleta de dados, maior a segurança nos

resultados. Saídas por empréstimo devem ser desconsideradas.

Estoque mínimo (EMI) – é a quantidade mínima a ser mantida em estoque para

atender o CMM, em determinado período de tempo, enquanto se processa o pedido

de compra, considerando-se o tempo de reposição de cada produto.

Estoque máximo (EMX) – é a quantidade máxima que deverá ser mantida em

estoque, que corresponde ao estoque de reserva, mas a quantidade de reposição.

Tempo de reposição (TR) – é o tempo decorrido entre a solicitação da compra e a

entrega do produto, considerando a disponibilidade para a dispensação do

medicamento. Os novos pedidos são feitos quando se atinge o Ponto de

Requisição.

Ponto de reposição (PR) – é a quantidade existente no estoque, que determina a

emissão de um novo pedido.

Quantidade de reposição (QR) – é a quantidade de reposição de medicamentos

que depende da periodicidade da aquisição.

Fonte: o autor

QR = (CMM x TR + EMI) – EA EA = estoque atual

2.3.5 Inventário

O inventário é um instrumento que a administração utiliza para confrontar o

estoque registrado em ficha ou computador com o estoque real ou físico. Os

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inventários podem ser classificados como permanentes, periódicos ou rotativos.

Ainda é comum no Brasil a realização de inventários periódicos anuais, apurando

todas as discrepâncias no final do encerramento do ano fiscal em dezembro.

Uma farmácia hospitalar que trabalha com sistema de distribuição por doses

individualizadas ou unitárias, não deve fazer inventários anuais, pois as divergências

de estoques que normalmente acontecem, serão descobertas tardiamente

dificultando a apuração das causas em tempo hábil.

É aconselhável fazer inventario utilizando-se da classificação ABC, e incluir

medicamentos que interessam a administração, utilizando sobre estes um controle

mais rigoroso.

A administração deve planejar com antecedência que tipo de inventario a

farmácia ira utilizar, e resolver também, o que será feito com as divergências de

estoque que são possíveis e esperadas, dentro de um limite, de um inventario.

2.3.6 Técnicas de gestão de estoques mais adotadas

Existem varias formas de controlar a quantidade em inventario de modo a

atender os requisitos de nível de serviço e ao mesmo tempo minimizar o custo de

manutenção do estoque (BALLOU 1993).

2.4 Classificação ABC

A meta da administração dos estoques é garantir a disponibilidade suficiente

de estoques para suprir as operações, ao mesmo tempo em que mantém nos níveis

mais baixos possíveis os custos de encomenda e recebimento, de estocagem, de

falta de estoque e os de obsolescência.

A preocupação com a logística hospitalar vem crescendo muito, pois dela

depende, entre outros setores, o abastecimento de todos os pontos de distribuição

de medicamentos e materiais médico-hospitalares dentro do hospital, independente

do valor. Como cada grupo de medicamentos tem determinadas peculiaridades

gerenciais (preço, consumo, como giro, prazos de entrega) é importante que se

organizem os produtos em grupos que obtenham características gerenciais

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parecidas. Esta padronização e separação possibilitam a uma atenção maior para

cada grupo de medicamentos e podem ser feitas segundo a classificação ABC.

A classificação ABC permite identificar aqueles itens que justificam atenção e

tratamento adequado quanto à sua administração, já que alguns itens podem ter

grande quantidade física, porém com baixa representatividade financeira, por serem

individualmente de baixo valor dentro do conjunto do estoque, outros itens,

entretanto, ao contrário, isto é, possuem pequena quantidade física, porém com alta

representatividade financeira, por serem individualmente de grande valor dentro do

conjunto do estoque. O método ABC torna-se uma ferramenta gerencial bastante

eficaz e simples para a classificação dos itens componentes do estoque,

principalmente no que diz respeito a sua importância financeira.

A classificação ABC, segundo Dias (2005), tem sido utilizada não somente

para administração de estoques, mas também para a definição de políticas de

vendas, estabelecimento para a programação da produção e outros problemas

relativos a cada organização.

Compreende-se que essa classificação torna-se uma ferramenta de suma

importância para o administrador, na qual permite classificar e estudar de forma

geral as minorias mais significativas. Por exemplo: os clientes importantes de um

banco; os produtos mais significativos dentro do portfólio de produtos de uma

empresa; os clientes mais representativos dentro do faturamento de uma empresa;

os maiores salários de uma organização etc.

Arnold (2002), afirma que o princípio da classificação ABC baseia-se na

observação de que um pequeno número de itens normalmente envolve os

resultados obtidos em qualquer situação. Segundo ele:

Essa observação foi feita pela primeira vez por um economista italiano,

Vilfredo Pareto, e se chama lei de Pareto. Aplicada à administração de

estoques, observa-se geralmente que a relação entre a porcentagem de

itens e a porcentagem da utilização anual em valores monetários segue um

padrão em que, cerca de 20% dos itens correspondem a aproximadamente

80% da utilização em valores monetários; cerca de 30% dos itens

correspondem a aproximadamente 15% da utilização em valores

monetários; e cerca de 50% dos itens correspondem a aproximadamente

5% da utilização em valores monetários (ARNOLD, 2002, p.284).

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Figura 1 – Classificação ABC

Fonte: o autor

Para Dias (2005), entretanto, as porcentagens utilizadas em qualquer controle

de estoque com relação à adoção da classificação ABC são aproximadas e não

devem ser tidas como absolutas, pois podem variar de acordo com os produtos

armazenados ou a critério da diretoria da organização. A uniformidade dos dados

coletados para a montagem da classificação ABC é essencial para a obtenção de

conclusões e ações que devem ser tomadas com base no resultado obtido por meio

da classificação ABC.

O sistema de controle de estoque de medicamentos adequado para uma

farmácia hospitalar deve levar em consideração, no mínimo, a discriminação dos

diferentes itens estocados, de maneira que se possa aplicar um grau de controle

adequado à importância de cada item no conjunto do estoque. Faz-se necessário

investir em um sistema de processamento de informações que possa lidar com seus

conjuntos particulares de circunstâncias de controle de estoque, pois encontrar

fórmulas para controlar estoques sem afetar o crescimento dos custos é um dos

grandes desafios que os empresários estão encontrando nessa época de escassez

de recursos.

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2.4.1 Estocagem de medicamentos

Estocar e administrar um almoxarifado de medicamentos não é como estocar

ou administrar qualquer outro tipo de produto. Requer cuidado, conhecimento e

experiência para o trabalho proposto. A legislação específica pela guarda dos

medicamentos, deve ser exercida por um farmacêutico, o mesmo deve receber de

seus superiores toda a assistência necessária para um trabalho eficiente, garantindo

desta forma a estocagem e manuseio seguro dos medicamentos.

Os mesmos cuidados devem ter no armazenamento desses medicamentos

ainda nos laboratório de desenvolvimento, no percurso de transportes (ser

transportado de forma correta, conforme necessidade de transporte) até a

distribuição às redes hospitalares.

Desta forma, as condições de estocagem, distribuição e transporte

desempenham papel importante para assegurar os padrões de qualidade dos

medicamentos. Eles devem ser armazenados em lugares específicos, de acordo

com a classificação dos tipos de cada medicamento, por exemplo, medicamentos

imunobiológicos (vacinas e soros) devem ser estocados em equipamentos

frigoríficos, constituídos de refrigeradores, freezers e câmaras frias, respeitando as

temperaturas de cada medicamento, além de ser evitado ao máximo, a exposição

desses produtos a qualquer tipo de luz.

Já para os medicamentos termolábeis, que não podem sofrer variações

excessivas de temperatura, o local de estocagem deve manter uma temperatura

constante próximo aos 20ºC.

É importante que todo o pessoal do almoxarifado, deve estar familiarizado

com as técnicas de estocagens desses produtos, para poder atender qualquer tipo

de emergência, consequente a uma eventual corte de energia elétrica ou defeito no

sistema de refrigeração, podendo comprometer os produtos estocados. Todos os

equipamentos devem possuir um sistema de alarme confiável que indique

prontamente qualquer tipo de anormalidade em seu funcionamento.

A área de estocagem dos medicamentos controlados deve ser considerada

de segurança máxima. Esses medicamentos precisam estar em área isolada dos

demais, somente tendo acesso o pessoal autorizado, farmacêutico responsável pelo

almoxarifado. Os registros de entrada e saída desses medicamentos devem ser

feitos conforme determina a legislação sanitária específica.

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A estocagem também pode ser feita em estantes, armários, prateleiras ou

estrados, onde deve permitir a fácil visualização para a identificação, quanto ao

nome do produto, seu número de lote e principalmente o prazo de validade.

Os medicamentos com prazo de validade vencido, devem ser baixados do

estoque e destruídos, com registro justificado por escrito pelo farmacêutico

responsável, obedecendo o disposto na legislação vigente.

Toda e qualquer área destinada a estocagem de medicamentos deve permitir

a preservação das suas condições de uso, como livres de pó, lixo, roedores, aves,

insetos e quaisquer outros animais, e para facilitar a limpeza e circulação de

pessoas, os medicamentos devem ser estocados à distancia mínima de 1 (um)

metro da parede. A movimentação de pessoas, escadas e veículos internos, nesses

locais deve ser cuidadosa para não causar avarias, comprometimento e/ou perda de

medicamentos.

Além da estocagem correta dos medicamentos, as farmácias hospitalares

devem adotar algumas estratégias para assegurar a aquisição de medicamentos

com qualidade, eficazes e seguros, como exigir aos laboratórios industriais,

fabricantes de medicamentos a apresentação da cópia da autorização de

funcionamento expedida pelo ministério da Saúde, exigência da Lei nº 6.360, de 23

de setembro de 1976, do Decreto nº 79.094, de 5 de janeiro de 1997, Portaria nº

2.814, de 29 de maio de 1998, republicada em 18 de novembro de 1998, e a

portaria nº801, de 7 de outubro de 1998.

Exigir das distribuidoras a autorização de funcionamento, emitida pela

Secretaria da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, e o credenciamento pelos

fabricantes dos produtos que vendem e exigir ainda a todos os fornecedores a

numeração dos lotes na nota fiscal de venda.

No ato do recebimento dos medicamentos deve ser examinada quanto a sua

documentação e fisicamente inspecionada, e para que sejam verificadas suas

condições de entrega, quantidades entregues conforme solicitado para não

comprometer a falta do medicamento para o paciente, embalagens violadas,

medicamentos danificados.

Os lotes que forem submetidos à amostragem ou julgados passiveis de

análise, devem ser conservados em quarentena, até liberação do Controle de

Qualidade.

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Segundo o código de defesa do consumidor,(Lei nº 8.078/90) artigo 14 a lei

estabelece que: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da

existência de culpa, pela reparação de danos causados aos consumidores por

defeitos relativos à prestação de serviços, bem como por informações insuficientes

ou inadequadas sobre a fruição e riscos.” (GOMES, REIS. p.380).

Por tanto, o trabalho de todos os profissionais envolvidos, desde manipulação

dos medicamentos, Controle de Qualidade, transportes, recebimento, estocagem de

medicamentos, tanto no seu manuseio, como o controle, devem assegurar

comprometimento, profissionalismo, em suas atividades desenvolvidas, pois se os

medicamentos tem o seu estado normal alterado, tornam-se inativos ou nocivos à

saúde das pessoas, o manuseio e armazenagem correta pode significar a diferença

entre a saúde e a doença, e em casos extremos, entre a vida e a morte.

2.4.2 Descarte de medicamentos/ vencimentos em estoque

Em um hospital, seja ele público ou privado, a administração de estoque dos

medicamentos e suas formas de distribuição dizem muito em relação à qualidade da

prestação de serviços pela farmácia. Um ponto importante é o destino do descarte

dos medicamentos com seus prazos de validade vencidos e suas consequências

para o meio ambiente. No Brasil, o descarte correto dos resíduos sólidos de origem

farmacêutica é normatizado tanto pelo Ministério da Saúde, quando pelo do Meio

Ambiente, que devem fornecer instrumentos para que os envolvidos em atividades

que geram resíduos desta natureza possam dar a disposição final adequada.

O descarte incorreto ou o reuso indevido de sobras de remédios pode causar

reações diversas graves, intoxicações, entre outros problemas. Causando também

contaminação da água, do solo e de animais quando descartado em lugar errado.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos

(IDUM), cerca de 20% dos medicamentos são descartados em locais proibidos como

em lixo comum ou em vaso sanitário ocasionando o envenenamento e intoxicação

em comparação ao contato com produtos químicos.

No caso de medicamentos de tarja preta - que têm uso controlado e podem

causar dependência-, a coleta é responsabilidade da Vigilância Sanitária. A farmácia

tem de notificar a Vigilância que determinado produto está com a validade vencida.

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A própria Vigilância deve dar baixa no registro do medicamento, recolhê-lo e

encaminhá-lo para incineração. Há brechas na legislação que permite que cada

estabelecimento tome uma atitude diferente, porém alguns hospitais e farmácias já

estão preocupados para onde encaminhar os medicamentos vencidos. Mas muitos

deles jogam no lixo que fica exposto nas ruas.

Facilitando a atuação de “gangues” que podem recolher os produtos intactos

no lixo e colocar de volta no mercado. Deveria ser obrigatório que os

estabelecimentos destruíssem os medicamentos antes que fossem transportados

(descartados).

Atualmente, não existe uma regulamentação que indique qual a melhor forma

de descartar remédios, vencidos ou já usados, embalagens e cortantes como

agulhas, ampolas, vidros de xarope, frascos e bisnagas, no lixo de casa. Parece

uma questão simples, mas o medicamento pode contaminar o resto dos resíduos

comuns jogados na lixeira e comprometer a reciclagem correta.

Os descarte de resíduos de medicamentos são realizadas através da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Esta é uma agência reguladora

e foi criado pela Lei nº 9.782. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem a

obrigação de proteger e promover a saúde da população garantindo a segurança

sanitária de produtos e serviços.

Segundo o artigo 93, da Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº. 44/2009

Dispões sobre boas práticas em farmácias e drogarias.

“Fica permitido às farmácias e drogarias participar de programa de coleta de

medicamentos a serem descartados pela comunidade, considerando os princípios

da biossegurança de empregar medidas técnicas, administrativas e normativas para

prevenir acidentes, preservando a saúde pública e o meio ambiente.”

Com base nesse artigo é estabelecida a população e também em hospitais e

farmácias o retorno de medicamentos não utilizados e fora da validade, foi criado

sistema papa – pílula, encontrada em locais específicos como em farmácias e em

hospitais com grande movimentação de medicamentos.

Ministrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Existe

hoje muita dificuldade para que as pessoas descartem corretamente os

medicamentos restantes de tratamentos ou que estejam com a data de validade

vencida.

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Há poucos estabelecimentos especializados em seu recolhimento e destinação

e também poucos sabem sobre a melhor forma de elimina-los.

A destinação correta dos medicamentos vencidos ou não utilizados é a

incineração, que deve ficar a cargo de uma empresa com licença ambiental para

esse fim, por estar em jogo produtos que contem em sua formulação substâncias

química, esse tipo de medicamento devem ser tirados das prateleiras e separa-los

em caixa lacradas, em locais de difícil acesso.

O apoio da prefeitura na realização das coletas de materiais hospitalares

sejam eles medicamentos ou materiais com resíduos biológicos são de extrema

importância para o bom andamento de todo o processo de descarte.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo procurou analisar diferentes aspectos da logística de

abastecimento de uma farmácia hospitalar. Foram apresentadas características com

relação à logística de abastecimento de medicamentos

Neste estudo, fica evidente a necessidade de se adotar um sistema com o

qual se possam adquirir maiores conhecimentos sobre o comportamento dinâmico

dos processos de gerenciamento e abastecimento de estoque no dia-a-dia de uma

organização hospitalar. Mediante esse sistema, será possível determinar com maior

precisão e segurança a estrutura mais adequada no caso do abastecimento de

medicamentos em farmácias hospitalares.

Nota-se que, hoje em dia, as farmácias hospitalares são obrigadas a trabalhar

com estoques altos que abrigam uma grande diversidade de produtos que dificultam

o planejamento de seu ressuprimento. Por conseqüência, o custo total associado

aos medicamentos representa um valor significativo nos orçamentos dos hospitais.

E aliado a isso, tem-se que muitas vezes o controle e a tomada de decisão

são feitos sem o uso de sistemas informatizados específicos de suporte à decisão.

Outro fator importante a ser analisado, é a conscientização para que haja o

descarte correto de medicamentos restantes de tratamentos ou que estejam com a

data de validade vencida. A falta de estabelecimentos especializados em seu

recolhimento com licença ambiental pode comprometer a eficiência do sistema de

descarte de medicamentos.

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No entanto, a gestão de estoques em farmácias hospitalares vem passando,

nos últimos anos, por profundas transformações. Sabe-se que, planejar e controlar

custos são mecanismos que podem garantir a sobrevivência das instituições

hospitalares.

Para isso, existem diferentes técnicas de gestão de estoques que podem ser

adaptadas às novas necessidades das farmácias hospitalares, buscando a

otimização do controle dos itens dos estoques.

4 REFERÊNCIAS

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