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UNIVERSIDADE DE UBERABA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: FORMAÇÃO DOCENTE
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
MESTRADO PROFISSIONAL
LAZARA DA PIEDADE RODRIGUES REGATIERI
IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 12.796/13: UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES
ENFRENTADAS POR DOCENTES E PEDAGOGOS/AS NA AVALIAÇÃO DE
ALUNOS/AS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE
UBERLÂNDIA-MG
UBERLÂNDIA-MG
2019
i
LAZARA DA PIEDADE RODRIGUES REGATIERI
IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 12.796/13: UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES
ENFRENTADAS POR DOCENTES E PEDAGOGOS/AS NA AVALIAÇÃO DE
ALUNOS/AS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE
UBERLÂNDIA-MG
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Educação, da Universidade de Uberaba,
como requisito para obtenção do Título de Mestre.
Linha de Pesquisa: Práticas Docentes para a Educação
Básica
Orientadora: Prof.ª Dra. Gercina Santana Novais
UBERLÂNDIA-MG
2019
iv
DEDICATÓRIA
Ao tio Alípio Barbosa Lucas (in memoriam), meu
exemplo de amor, caridade, fé, sabedoria,
humildade e paciência. Um amigo e conselheiro na
vida pessoal e um grande incentivador aos estudos
e à vida profissional. Com certeza, hoje ele celebra
esta minha conquista. Valeu tio!
Ao meu marido Walter, meus filhos Gustavo,
Bruno e Lucas, à minha nora Glenda e meus netos,
Miguel e Yuri. Vocês são os amores da minha vida
e razão de minhas maiores alegrias!
Às professoras e pedagogas participantes desta
pesquisa e a todos/as os/as profissionais da
educação infantil que estão comprometidos com
uma educação pública, laica, gratuita e de
qualidade socialmente referenciada.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela vida, pela família maravilhosa que tenho e por ter me permitido
realizar mais esse sonho. OBRIGADA!
À minha querida orientadora, Professora Gercina Santana Novais pela competência,
humanizadora e dedicação amorosa. À Minha “Paulo Freire de saias”, obrigada por ser tão
sincera, paciente e por acreditar em mim, sempre incentivando e chamando-me à razão
quando nos momentos de impulso e aflição, me esquecia da condição de ensinante e
aprendente, incompleta, mas, potencialmente capaz.
Aos membros da banca examinadora, o professor Tiago Zanquêta de Souza e a professora
Olenir Maria Mendes, que prontamente aceitaram participar desse importante momento,
mesmo com tantos compromissos.
A todos os/os amigos/as, obrigada pelo convívio, amizade e apoio demonstrados. Desculpem-
me pelas ausências.
Ao tio Alípio Barbosa Lucas (in memoriam), que incentivou-me desde a adolescência a
estudar, a perseverar e a não desistir nunca dos meus sonhos. Você faz muita falta...
À minha Sogra Maria José Balieiro Regatieri (in memoriam), amiga especial e grande
incentivadora em vida. Saudades!
À minha família, tios/as, primos/as, afilhados/as e sobrinhos/as que me ampararam e
compreenderam o meu isolamento nesses dois anos.
Ao meu pai Adão, à Martha (madrasta) e ao Marcus, que me apoiaram e sempre me deram
força, compreendendo meu afastamento e torcendo pelo meu sucesso. Obrigada, amo vocês!
À minha adorável mãe Inez (Nena), meu exemplo de amor, dedicação, humildade e fé.
Sempre rezando por mim, te amo! Ao Jairo (padrasto) e meus irmãos maternos Heloisa,
Jairinho, Cristina e Marcelo. Desculpem-me pelas ausências, amo vocês!
À minha tia Conceição (minha irmã), que me apoiou incondicionalmente nos momentos mais
difíceis de sua vida. Gratidão eterna!
Ao meu marido, “paixão”, que me fez ousar em mudar o conto da Moça Tecelã. Nem ele me
prendeu na torre mais alta e nem eu o desfiz na tecedura do tapete. Seguramos juntos e
firmemente a lançadeira e construímos a trajetória, sempre unidos. Obrigada amor, por cuidar
de mim e da minha saúde, pela força, pela paciência nas ausências, pela ajuda e pelos
lanchinhos-surpresa que me davam energia para continuar. TE AMO! TE AMO!
Aos meus amados filhos Gustavo, Bruno e Lucas e minha nora Glenda pelo apoio
incondicional. E os netos mais lindos do mundo: Miguel e Yuri. AMO VOCÊS!
A todos/as que, de forma direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste
trabalho, o meu muito obrigada!
vi
EPÍGRAFE
Ítaca
Se partires um dia rumo a Ítaca, faz votos de que o caminho seja longo, repleto de aventuras, repleto de saber. Nem Lestrigões nem os Ciclopes nem o colérico Posídon te intimidem; eles no teu caminho jamais encontrarão se altivo for teu pensamento, se sutil emoção teu corpo e teu espírito tocar. Nem Lestrigões nem os Ciclopes, nem o bravio Posídon hás de ver, se tu mesmo não os levares dentro da alma, se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo. Numerosas serão as manhãs de verão nas quais, com que prazer, com que alegria, tu hás de entrar pela primeira vez porto para correr as lojas dos fenícios e belas mercancias adquirir: madrepérolas, corais, âmbares, ébanos, e perfumes sensuais de toda espécie, quanto houver de aromas deleitosos. A muitas cidades do Egito peregrina para aprender, para aprender dos doutos. Tem todo o tempo Ítaca na mente. Estás predestinado a ali chegar Mas não apresses a viagem nunca. Melhor muitos anos levares de jornada e fundares na ilha velho enfim, rico de quanto ganhaste no caminho, sem esperar riquezas que Ítaca te desse. Uma bela viagem deu-te Ítaca. Sem ela não te ponhas a caminho. Mais do que isso não lhe cumpre dar-te. Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.
(Kaváfis, 2006, p. 146-147).
vii
RESUMO
Este texto apresenta os resultados de uma investigação sobre as possibilidades e dificuldades
para implementar avaliação na educação infantil e as possíveis propostas para a superação
dessas dificuldades no contexto de implementação da Lei 12796/13, vinculada à linha de
pesquisa Práticas Docentes para a Educação Básica / Programa de Mestrado Profissional em
Educação da Universidade de Uberaba. Propôs uma abordagem descritiva-diagnóstica de
realidade que buscou a informação diretamente com a população a ser pesquisada e
contemplou revisão de literatura, pesquisa de campo e análise de documentos, cuja produção
de dados foi a análise documental e entrevistas semiestruturadas. O objetivo primário
constituiu-se em contribuir para as reflexões sobre as dificuldades enfrentadas a partir da
aprovação da referida Lei pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das formas de
registro do avaliado na educação infantil de uma escola pública municipal de Uberlândia/MG.
Como objetivos secundários: a) Analisar quais são as concepções e as práticas de avaliação
adotadas pelos/as docentes e pedagogas. B) Identificar as formas de registros sobre os/as
alunos/as implementadas pelos/as professores/as e pedagogas. C) Identificar e analisar as
dificuldades enfrentadas pelos/as professores/as na sistematização das formas de registro e
avaliação para as aprendizagens. D) Elaborar um Caderno de Reflexões sobre avaliação na
educação infantil, com base nas demandas identificadas no contexto das dificuldades para se
avaliar. Os/as participantes da pesquisa foram professores/as e pedagogos/as atuantes em uma
escola pública de Uberlândia-MG que atende crianças na faixa etária entre 4 e 5 anos de
idade. O estudo foi realizado entre fevereiro e julho de 2019. A Base teórica que ancorou a
investigação: Bogdan e Biklen (1994), Cellard (2008), Tim May (2004), Lakatos (2003) e
Minayo (1994) contemplou enfoques, métodos e técnicas de pesquisa; Franco (2008) e Bardin
(1977) sobre análise de conteúdo; Hoffman (2015), Barbosa e Horn(2008), Villas Boas(2007),
Luckesi (2002), Fernandes (2006;2008) e Mendes (2014) a respeito de avaliação formativa e
avaliação na educação infantil. Os resultados mostraram que as professoras consideram o
procedimento da observação como fundamental no processo de acompanhamento da criança e
o papel do/a docente como mediador/a nos processos de desenvolvimento e aprendizagem.
Tecem críticas aos roteiros padronizados de avaliação e apresentam dúvidas sobre o que
avaliar, como avaliar e por que avaliar. Evidenciam dificuldades significativas em relação à
fundamentação teórica sobre avaliação na educação infantil, processos avaliativos,
aprendizagem e desenvolvimento infantil, bem como na organização e sistematização dos
registros e no uso de procedimentos avaliativos e terminologias a serem utilizadas.
Demonstram dificuldade na elaboração da avaliação com registros, na forma de relatar e uma
relutância em falar sobre a criança avaliada. Evidenciam o resquício de avaliação tradicional
punitiva, evidenciada quando manifestam receio de escreverem sobre o observado acerca
do/da aprendente. Preocupam-se em como elas mesmas serão avaliadas pela comunidade
escolar. Os termos e as expressões apropriadas são motivos de aflição e questionamentos
éticos. Nesse sentido, os resultados evidenciaram as demandas das professoras e pedagogas
por orientações teóricas e práticas de forma a ajudá-las a enfrentar dificuldades para
implementar avaliação na educação infantil como especifica a Lei 12796/13. Propuseram um
guia/caderno que as apoiassem na organização e sistematização das observações e dos
registros realizados com e sobre as crianças, assim como orientações sobre procedimentos e
terminologias apropriadas a serem usadas na elaboração do relatório descritivo. Espera-se que
esta pesquisa contribua para reflexões sobre as dificuldades enfrentadas pelos/as docentes e
pedagogos/as ao realizar avaliação na educação infantil no contexto de implementação da Lei
12796/13.
Palavras-chave: Avaliação Formativa. Educação infantil. Lei 12.796/13.
viii
ABSTRACT
This paper presents the results of a research on the possibilities and difficulties to implement
assessment in early childhood education and the possible proposals for overcoming these
difficulties in the context of the implementation of Law 12796/1, linked to Teaching Practices
researches for Elementary Education / Professional Masters Program in Education from
Uberaba University It proposed a descriptive-diagnostic approach to reality that sought
information directly from the population to be researched and included literature review, field
research and document analysis, whose data production was document analysis and semi-
structured interviews. Primary objective was to contribute to the reflections on the difficulties
faced from the approval of the referred Law by the teachers in the evaluation and
systematization of the forms of registration of the evaluated in the kindergarten of a municipal
public school in Uberlândia / MG. As secondary objectives: a) Analyze the conceptions and
evaluation practices adopted by teachers and pedagogues. B) Identify the forms of student
records implemented by teachers and pedagogues. C) Identify and analyze the difficulties
faced by teachers in the systematization of forms of registration and assessment for learning.
D) Create a Booklet of Reflections on childhood education evaluation based on identified
demands among the difficulties to evaluate. The research participants were teachers and
educators working in a public school in Uberlândia-MG that serves children between the ages
of 4 and 5 years old. The study was conducted between February and July 2019. The
theoretical basis that anchored the research: Bogdan and Biklen (1994), Cellard (2008), Tim
May (2004), Lakatos (2003) and Minayo (1994) included approaches, methods and research
techniques; Franco (2008) and Bardin (1977) on content analysis; Hoffman (2015), Barbosa
and Horn (2008), Villas Boas (2007), Luckesi (2002), Fernandes (2006;2008) and Mendes
(2014) regarding formative assessment and assessment in early childhood education. The
results showed that the teachers consider the observation procedure as fundamental in the
process of monitoring the child and the role of the teacher as a mediator in the development
and learning processes. They criticize standardized assessment scripts and have questions
about what to evaluate, how to evaluate, and why to evaluate. They show significant
difficulties in relation to the theoretical foundation on evaluation in early childhood education,
evaluation processes, learning and child development, as well as the organization and
systematization of records and the use of evaluation procedures and terminologies to be used.
They demonstrate difficulty in preparing the assessment with records, how to report and a
reluctance to talk about the evaluated child. They show the remnant of traditional punitive
assessment, evidenced when they express fear of writing about what was observed about the
learner. They worry about how they themselves will be evaluated by the school community.
Appropriate terms and expressions are grounds for distress and ethical questions. In this
sense, the results evidenced the demands of teachers and pedagogues for theoretical and
practical orientations in order to help them face difficulties to implement evaluation in early
childhood education as specified by Law 12796/13. They proposed a guide to support them in
organizing and systematizing observations and records made with and about children, as well
as guidance on appropriate procedures and terminologies to be used in the preparation of the
descriptive report. This research is expected to contribute to reflections on the difficulties
faced by teachers and educators when conducting assessment in early childhood education in
the context of the implementation of Law 12796/13.
Keywords: Formative Evaluation. Child education. Law 12.796/13.
ix
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BNCC - Base Nacional Comum Curricular
CEMEPE - Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz
CIE - Circular Interna Educação
CONAE - Conferência Nacional de Educação
DCNEI - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
EB - Educação Básica
EI - Educação Infantil
EF - Ensino Fundamental
EMEI - Escola Municipal de Educação Infantil
FUNDEB - Fundo Nacional da Educação
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
MEC - Ministério da Educação e Cultura
NADH - Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas
NINF - Núcleo das Infâncias
PNE - Plano Nacional de Educação
SME - Secretaria Municipal Educação
x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Infraestrutura e quadro de pessoal da EMEI Tecelã
93
Quadro 2 - Quem são as professoras e pedagogas entrevistadas: idade, sexo,
raça/cor, classe social, religião, formação inicial e continuada, instituição formadora e
anos de docência.
247
Quadro 3 - Análise do PPP da EMEI Tecelã (Temáticas definidas a priori)
248
Quadro 4 - Relatórios descritivos elaborados professores sobre os alunos. (Temáticas
definidas a priori)
249
Quadro 5 - Entrevistas com as professoras (Temáticas definidas a priori)
250
Quadro 6 - Entrevistas com as professoras. (temáticas que surgiram a partir da
leitura dos registros escritos das entrevistas)
251
Quadro 7 - Entrevistas com pedagogas (Temáticas definidas a priori)
252
Quadro 8 - Entrevistas com pedagogas (Temáticas que surgiram a partir da leitura
dos registros escritos das entrevistas)
253
xi
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO
1.1 CAMINHOS PERCORRIDOS NA EXPERIÊNCIA DE VIVER E
FORMAR-SE PESQUISADORA
1.1.1 A ida para a cidade
1.1.2 Ginásio e casamento
1.1.3 Retornando ao campo educacional
1.1.4 A mudança da terra natal
1.1.5 Profissionalização e retomada aos estudos
1.2 Do tema à escolha das questões orientadoras e objetivos do projeto de
investigação sobre avaliação na educação infantil
1.2.1 Outros elementos do contexto de produção e da composição da justificativa
do projeto de pesquisa
II CAMINHOS METODOLÓGICOS
2.1 Análise documental
2.1.1 Entrevista Semiestruturada
2.2 O Local da Pesquisa
2.2.1 A escolha da EMEI Tecelã
2.3 Os participantes e os critérios de inclusão e exclusão
III POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL: conquistas e
Retrocessos
3.1 Infâncias, educação infantil e avaliação
3.2 A educação infantil no Brasil: direito fundamental das crianças
3.3 Entrecruzando passado e presente: buscando compreensões sobre a educação
infantil
IV TEORIAS E PRÁTICAS AVALIATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
4.1 Diálogos sobre a Avaliação: seu papel, sentidos e significados
4.1.2 Avaliação no contexto das infâncias
4.1.3 O paradigma formativo e mediador da avaliação na educação infantil
15
15
21
22
25
26
29
37
38
41
42
45
46
54
55
57
58
62
75
79
80
83
85
xii
V LENDO, ANALISANDO E INTERPRETANDO DOCUMENTOS: buscando
compreensões sobre avaliação na educação infantil
5.1 Projeto Político Pedagógico/PPP: elemento constituinte do ensino e da
aprendizagem
5.2. Concepções, práticas avaliativas e as formas de registros sobre os/as
alunos/as no PPP da EMEI Tecelã
5.2.1 Práticas avaliativas e formas de registro
5.2.2 Projetos/planejamentos: sinais de procedimentos avaliativos
5.3 A Lei nº 12.796/2013 e a obrigatoriedade de matrícula aos quatro anos de
idade nas instituições de educação infantil
5.4 Base Nacional Comum Curricular BNCC/20017
5.5 Orientações para implementação da lei nº 12.796/2013 na Rede Municipal de
Educação de Uberlândia MG
5.5.1 Formulários de relatórios do processo de construção do conhecimento da
criança
5.5.2 Orientação nº. 01/junho de 2015 da Superintendência Regional de Ensino-
Uberlândia/SRE/UDIA
5.5.3 Orientação nº. 01/novembro de 2015 da Secretaria Municipal de
Educação/SME/UDIA
5.6 O Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão Preliminar) -2018
5.7 Relatório Descritivo do Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança
5.7.1 Análise dos relatórios elaborados pelas professoras sobre os/as alunos/as
5.7.2 Estrutura e conteúdo do relatório entregue pelas professoras
5.7.3 Concepções de avaliação
5.7.4 Práticas avaliativas, formas de registro e dificuldades evidenciadas na
avaliação para as aprendizagens
5.7.5 Desenvolvimento e aprendizagem
VI ESCUTA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS NARRATIVAS DAS
PROFESSORAS E PEDAGOGAS
6.1 Retratos dos sujeitos participantes da pesquisa
6.1.1 Narrativas das professoras e docência na educação infantil
91
91
98
100
101
104
106
109
110
111
113
117
121
124
124
131
132
134
139
141
142
xiii
6.1.2 As bases teóricas que fundamentam as práticas das professoras
entrevistadas
6.1.3 Formação inicial das professoras entrevistadas: disciplina educação infantil
e seus significados para as práticas de avaliar nessa modalidade de ensino
6.1.4.1 Disciplina avaliação na educação infantil e seus significados para as
práticas de avaliar
6.1.5 Importância da formação continuada para a prática docente: a visão das
professoras entrevistadas
6.1.6 Narrativas sobre as crianças, concepções e práticas de avaliação adotadas
pelas professoras entrevistadas
6.1.6.1 Concepção de avaliação
6.1.6.2 Relatos sobre práticas avaliativas e as formas diversificadas de registros
inseridas nos planos/planejamentos de aula
6.1.7 Participação dos pais e de outros responsáveis no processo de construção
da aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as
6.1.8 Dificuldades para ensinar e sistematização das formas de registro e
avaliação para as aprendizagens em contexto de aplicação da Lei 12796/13
6.1.9 Propostas para superar dificuldades de avaliar na educação infantil e
exigências contidas na Lei 12.796/13
6. 2 Retratos de pedagogas e narrativas sobre avaliação
6.2.1 As pedagogas: formação e atuação na educação infantil
6.2.2 Educação infantil e avaliação na formação inicial das Pedagogas
6.2.3 A temática avaliação na formação inicial das pedagogas entrevistadas
6.2.4 Atuação profissional das pedagogas entrevistadas e as concepções e
práticas de avaliação adotadas
6.2.4.1 Concepção de avaliação
6.2.5 Participação dos pais, mães e de outros responsáveis no processo de
construção da aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as
6.2.6 Dificuldades para orientar professoras sobre formas de registro e avaliação
para as aprendizagens em contexto de aplicação da Lei12796/13
6.2.7 Propostas para superar as dificuldades de avaliar na educação infantil e
exigências contidas na 12.796/13
6.2.8 Entrecruzando as análises dos dados
156
159
161
166
169
172
176
182
185
191
194
194
198
199
200
205
208
209
213
214
xiv
V CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APÊNDICE A - Roteiro da entrevista semiestruturada com professores/as
participantes da pesquisa
APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semiestruturada com pedagogos/as
participantes da pesquisa
APÊNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido - professor/a
APENDICE D - Termo de consentimento livre e esclarecido - pedagogo/a
APÊNDICE E - Termo de autorização para realização de pesquisa-
Diretoras/diretores
APÊNDICE F - Termo de compromisso da equipe executora
APÊNDICE G - Ofício - solicitação de autorização para realização de pesquisa -
S.M.E. Uberlândia-MG
APÊNDICE H - Modelos de quadros de análises elaborados pela pesquisadora, para
serem preenchidos durante a leitura dos documentos e das entrevistas com professoras
e pedagogas participantes das pesquisas
APÊNDICE I- Avaliação na educação infantil no ordenamento legal
APÊNDICE J - CADERNO DE REFLEXÕES: AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
ANEXO A - Termo de liberação para pesquisa envolvendo seres humanos -
Plataforma Brasil
ANEXO B - Orientação nº. 01/junho de 2015 da Superintendência Regional de
Ensino- Uberlândia/SRE/UDIA
ANEXO C - Orientação nº. 01/novembro de 2015 da Secretaria Municipal de
Educação/SME/UDIA
ANEXO D - Orientação de fevereiro de 2016 da Secretaria Municipal de
Educação/SME/UDIA
ANEXO E - Memorando nº 2282/2017 da Secretaria Municipal de Educação-
SME/CIE-circular
ANEXO F - Relatórios descritivos elaborados pelas professoras participantes da
pesquisa
217
221
234
236
238
240
242
244
245
247
254
258
295
296
316
334
338
342
15
I
INTRODUÇÃO
1.1 CAMINHOS PERCORRIDOS NA EXPERIÊNCIA DE VIVER E FORMAR-SE
PESQUISADORA
A Moça Tecelã Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das
beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia
passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã
desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete
que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava
na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na
penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos
longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à
janela. [...]. (MARINA COLASANTI, 2001, p. 9)1.
No conto de fadas moderno, “A Moça Tecelã”, Marina Colasanti (2001) narra a
história de uma moça que usa seu tear para expressar sentimentos e com as cores das linhas
ela tece a vida e seus humores, constrói elementos da natureza, concede vida aos seres e aos
sonhos. Ao fazer isso, torna-se dona do seu destino.
Mas, o que a história “A Moça Tecelã” tem a ver com minha história? Tentarei desenrolar
essa trama no decorrer desta narrativa, iniciando por justificar o encantamento instantâneo que
esse conto provocou-me quando o ouvi pela primeira vez, o que ele representa e como a leitura
dessa obra se transformou em uma “experiência,” “expondo-me” como sujeita. Para Larrosa
(2002, p.21), “As palavras com que nomeamos o que somos, o que fazemos, o que pensamos,
o que percebemos ou o que sentimos são mais do que simplesmente palavras”. Sendo assim,
justifico essa escolha, a princípio estranha, e talvez sem sentido para outrem, mas dotada de
significado para mim. “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”.
(LARROSA, 2002, p.21).
1Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritreia. Residiu posteriormente em Trípoli,
na Líbia, mudou-se para Itália e, em 1948, transferiu-se com a família para o Brasil, onde vive até hoje na cidade
do Rio de Janeiro. Na literatura infantil, seus “contos de fadas” ganharam destaque: preservando os elementos
próprios das narrativas que remetem o leitor à Idade Média e equilibrando com maestria os gêneros narrativo e
lírico, Marina discute sobre temas atuais, como o consumismo desenfreado, a inveja, o egoísmo e as relações
humanas. Disponível em:
<Https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/resumos-de-livros/marina-colasanti.htm>. Acesso em: 30 jun. 2018.
16
Marina Colasanti cria uma personagem que não espera. A moça tecelã constrói no tear
sua própria história. Ouso, então, como a moça tecelã da Marina, valer-me da lançadeira e tecer
com fios multicores minha história. História de menina criança, de filha, de menina adolescente,
de menina moça casada, do lar, menina mãe, mulher, funcionária pública, universitária,
educadora/professora, pesquisadora... Enfim, será que são histórias diferentes? Ou são tramas de
uma mesma história com nuances diferentes?
Walter Benjamim (1984) enfatiza que ao narrar uma história puxamos o fio de outra e,
ao mesmo tempo, produzimos uma renovada visão da história. Para ele,
O narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não
para alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o sábio.
Pois pode recorrer a um acervo de toda uma vida (uma vida que não inclui
apenas a própria experiência, mas em grande parte a experiência alheia. O
narrador assimila à sua substância mais íntima aquilo que sabe por ouvir
dizer). Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira.
(BENJAMIN,1985, p.221).
Nesse sentido, recorro ao acervo de minhas “reminiscências” (BENJAMIN, 1985)
para tecer esta narrativa de vida, entremeando os caminhos percorridos na aventura para
apresentar a minha “Experiência de viver e Formar-me Pesquisadora” para os desconhecidos
olhos que passarão, a partir daqui, a fazer parte de minha história.
Eu não estou só. Se narro a minha história desfio, também, a de outros e outras que
entrelaçaram até aqui seus fios e suas “tramas” à minha. “[...] Assim, jogando a lançadeira de
um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava
os seus dias. Nada lhe faltava.” (COLASANTI, 2001, p. 12).
Quando leio esse fragmento do conto ouço minha vó tecendo... Sim, a vó Pitita (Luzia),
tão lindinha e baixinha, mas, tão brava, forte e guerreira, além de todos os seus afazeres do lar,
era tecelã. Tecia cobertas que nos aqueciam no inverno, que naquele tempo era bem mais frio,
pois na década de 1970, período em que as mudanças climáticas, provocadas pelo crescente
aumento das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e seus impactos ambientais, ainda não
eram uma realidade tão gritante. Na época, em que a maioria das mulheres da minha família
eram “donas de casa ou do lar”, ela ia além, tinha seu ofício: o de tecelã. E eu também me
envolvia, seja para separar para ela as linhas em latinhas de extrato de tomate, quando da
organização da trama a ser tecida, seja quando, numa arte de menina, aventurei-me fazendo do
17
tecido armado no tear, um pula-pula. É claro que a vara de assa-peixe2 “cantou bonito”. Nunca
mais repeti o feito.
Morávamos com meus avós numa localidade rural denominada Fazenda da Tolda, de
propriedade de meu “avô-pai”, Geraldo Bilico. Era localizada nas proximidades da cidade de
Três Marias, em Minas Gerais. Hoje grande parte dessas terras cedeu lugar ao plantio de
eucaliptos, da empresa Gerdau Florestal (antes PAINS Florestal), que se dedica à produção de
carvão vegetal, seguindo uma tendência mercadológica capitalista de desmatamento para
atender ao mercado consumista.
Éramos eu e minha amada mãe Inês (Nena), meu exemplo de humildade e generosidade,
que havia se casado novamente e morava perto, minha “avó-mãe”, minhas tias/irmãs:
Conceição, Lourdes e Helena, outros tios/as e primos/as, que moravam nas proximidades, mas
dentro das terras da fazenda. Meu avô Bilico, apesar de seu jeito bravo e sério, era muito
amoroso e compreensivo. Eu era orgulhosamente sua pequena companheira nos afazeres da
fazenda e nas campeadas, atividade que eu adorava por dois motivos: primeiro, achava as tarefas
domésticas definidas para as mulheres muito mais chatas que as dos homens; segundo,
parávamos em lugares já conhecidos por ele para colhermos frutos do cerrado. Meus preferidos
eram a mangaba, araticum e o araçá. Minha avó, guia espiritual da família, comandava todos/as
na reza diária do terço às 18 horas em volta do oratório, o que sempre dava um sono! Mas logo
despertava para as brincadeiras no terreiro antes que escurecesse totalmente, era quando
começavam as “estórias” de assombração. Morria de medo de umas contadas pelo carvoeiro
Hilário. Havia também os passeios à noite em fazendas vizinhas para o terço, um truco e
conversas nostálgicas em volta da fornalha. As crianças ficavam no terreiro em volta da fogueira
fazendo traquinagens e ouvindo os “causos”. Duas lembranças fortes dessa época retratam nossa
participação social na região: a festa religiosa de Nossa Senhora da Abadia, que acontecia
anualmente, na qual meu avô era o organizador/festeiro. Saíamos totalmente da rotina em
2[Bot.] Assa-peixe é o nome popular de uma planta da família das Asteráceas , que ocorre em todo o Brasil. É
um subarbusto com até 2 metros de altura, ramos cilíndricos e que produz flores lilás. É considerada uma planta
daninha, muito prejudicial para as pastagens. Atrai muitasabelhas e suas folhas são comestíveis. Também é
chamada de: assa-peixe-branco, chamarrita, cambará-branco, cambará-Guaçu. Disponível em: <
https://www.dicionarioinformal.com.br › assa-peixe. > Acesso em: 30 de mai. 2018.
Nome científico: Vernonia polyanthes Less (Asteraceae), conhecida popularmente como "assa-peixe", é uma
planta típica da Mata Atlântica e é empregada na medicina popular para o tratamento de pneumonia, bronquite,
cálculo renal, malária e febre. Levantamento etnofarmacológico apontou também o uso dessa espécie no
tratamento de afecções gástricas. [...], sendo a V. polyanthes utilizada em larga escala na medicina caseira, torna-
se de fácil acesso à população por ser amplamente distribuída em quase todo o território brasileiro. Alves, Lucas
Ferenzini 1987- A474p Propagação vegetativa de assa-peixe (Vernonia polyanthes (Spreng.) Less.): estaquia
caulinar e miniestaquia / Lucas Ferenzini Alves - Botucatu: [s.n.], 2018 70 p.: il., grafs., tabs. .<Disponível
em:https://repositorio.unesp.br › bitstream › handle › ferenzini_la_dr_botfca1>. Acesso em: 25 de Ago. 2019.
18
ocasião dessa festa, eu adorava. O outro evento marcante era a folia de Reis3, muito respeitada e
admirada por meus avós.
Assim passei minha infância com muito amor, rodeada por minha mãe e meus avós.
Ambiente que talvez tenha contribuído para não sentir tanto a ausência de meu pai biológico, que
vim a conhecer e conviver só a partir dos nove anos. Estranhava a diferença na configuração
familiar dos primos/as com seus pais e mães por perto, mas não sofria por isso.
Um fato acontecido nessa época sempre me acompanhou. São as narrativas da família
que dão veracidade ao acontecido, visto que eu não me lembro. Vou chamá-lo de o “Episódio do
leite”. Uma das minhas tarefas na lida da fazenda era levar uma pequena leiteira para a casa da
tia Leonor, que morava próxima à casa central. Eu gostava da incumbência, pois tinha
oportunidade de brincar com as/os primas/os que lá residiam. Numa dessas idas, já bem próxima
do destino, começou uma chuva e meu primeiro impulso foi proteger o leite para que não se
“molhasse”. Então, virei rapidamente o balde de boca para baixo, e é claro: o leite entornou
completamente. Infringi inocentemente a força da gravidade e Isaac Newton que me perdoe,
mas tinha apenas 5 ou 6 anos. Segundo os relatos contei todo o ocorrido e quais eram minhas
intenções e a linha de pensamento. Este fato virou lenda na família, tema de inúmeras conversas,
piadas e risadas nas rodas entre os/as primos/as queridos/as, isso até hoje. Tento incessantemente
argumentar em minha defesa e na defesa de como a criança constrói conhecimento. Em vão, pois
não acharam atraente trazer para nossas rodas, Piaget (1970), Vygotsky (1981)4 para abordar as
concepções de desenvolvimento e construção de conhecimento pelas crianças em situações de
interação com o meio. Argumento que o conhecimento não se constitui em cópia da realidade,
3Folia de Reis-Chamada ainda de Reisado ou Festa de Santo Reis. Aprovado o seu reconhecimento em
06/01/2017 pelo Conselho Estadual de Patrimônio de Minas Gerais, como patrimônio cultural imaterial do
estado. Manifestação cultural e festiva, celebrada anualmente por católicos, ocorre geralmente no dia 6 de
janeiro. Esta data, na tradição cristã, marca o aniversário da visita dos três reis magos ao recém-nascido Jesus
Cristo. Belchior, Gaspar e Baltazar, convertidos em santos pela Igreja Católica, teriam saído do Oriente se
guiando por uma estrela e levavam três presentes: ouro, incenso e mirra. Para os devotos, a data da chegada dos
reis magos ao destino final é quando se encerram os festejos natalinos, que começam quatro domingos antes do
25 de dezembro, dia atribuído ao nascimento de Jesus Cristo. Em cada local, há também particularidades, como
encenações dos reis magos, desfiles, danças, repertórios, comidas típicas, instrumentos utilizados e roupas.
Minas Gerais é um dos estados onde a Folia de Reis mais se faz presente, resguardando uma tradição de
aproximadamente 300 anos. Disponível em:
<Http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2017-01/folia-de-reis-e-declarada-patrimonio-cultural-imaterial-
de-minas-gerais->. Acesso em: 30 de mai. 2018. 4Piaget e Vygotsky concebem a criança como um ser ativo, atento, que constantemente cria hipóteses sobre o
seu ambiente. Porém, concebem o processo de desenvolvimento da criança de maneira diferente. Piaget,
privilegia a maturação biológica e defende que os fatores internos preponderam sobre os externos, postula que o
desenvolvimento segue uma sequência fixa e universal de estágios.; Vygotsky, salienta que o ambiente social a
cultura em que a criança vive varia, portanto interfere no desenvolvimento. Neste sentido, não se pode aceitar
uma visão única, universal, de desenvolvimento humano. LA TAILLE, Y; OLIVEIRA, M. K; DANTAS,
H.Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
19
mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação.
Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no
mundo é o grande desafio. As crianças, a partir das interações com as outras pessoas e com o
meio em que vivem, ao se esforçarem para compreendê-lo e se expressarem, utilizando as
mais diferentes linguagens, levantam hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar,
constroem o conhecimento. Pautando nos autores mencionados, principalmente em Vygotsky,
vi-me defendida, embasada, assim como vislumbro ao fazer um esforço para compreender
meus/minhas alunos/as hoje. Não foi uma ação boba e desprovida de inteligência, mas uma
sujeita se constituindo como tal, em formação, no percurso de construção do real, processo de
aprendizagem e desenvolvimento. As formulações desenvolvidas por Vygotsky se tornariam
fundamentais na constituição de educadora/professora de educação infantil que hoje sou.
Assim, continuei seguindo em frente na construção e busca do conhecimento. A
curiosidade e a ânsia de aprender eram tantas e os recursos pedagógicos tão escassos, que eu
esperava ansiosa a chegada da mala de pano costurada pela avó, onde eram trazidos da cidade
de Três Marias, não livros, mas latas de óleo “Heloisa”, caixas de amido “Maizena”, extrato
de tomate “Elefante”, caixas de fósforo ‘Olho”, sardinha da “Peixe”, o creme dental “Close -
up”, o achocolatado “Toddy”, o perfume “Rastro”, a pilha “Ray-o-vac” o vinho “Cinzano” a
aguardente “Pitu”- que eu, como uma boa mineira, fui descobrir anos depois que daria
deliciosas caipirinhas. Havia outros tesouros que vinham da cidade, pacotes que em minha
ingenuidade de criança e de contexto cultural, idolatrava, desconhecendo a verdadeira
preciosidade que tínhamos e plantávamos para nossa subsistência. Considerava o que vinha da
cidade o que tinha de melhor no mundo e as possibilidades de tentar escrever e conhecer as
letras que os rótulos me proporcionavam, que embora não soubesse ainda o que significavam,
eles já me apontavam outras realidades. Um mundo novo e distante de minha realidade de
menina do campo. Queria ser professora e tudo que dava para aproveitar para reproduzir
aquelas maravilhas eu me apropriava para repetir as aulas compartilhadas com as primas e
primos do meu convívio. Era papel de pão amassado, pedaços de tábuas de madeira, o carvão
tirado diretamente da fornalha, tudo era aproveitado e “reutilizado, (3Rs)5”, claro que eu ainda
5Também conhecido como os 3 Rs da sustentabilidade (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), são ações práticas que
visam estabelecer uma relação mais harmônica entre consumidor e Meio Ambiente. Adotando estas práticas, é
possível diminuir o custo de vida (reduzir gastos, economizar), além de favorecer o desenvolvimento sustentável
(desenvolvimento econômico com respeito e proteção ao meio ambiente). Disponível em:
<https://www.suapesquisa.com/ecologiasaude/reduzir_reutilizar_reciclar.htm> Acesso em:
2 jun. 2018.
20
não conhecia o conceito de educação ambiental, que tornou-se lei somente em 27 de abril de
1999, a Lei N° 9.795/99.
Meu primeiro contato com um espaço “oficialmente instituído para ensino” se deu
numa sala improvisada na capela da Tolda, na zona rural. A professora, minha tia Dora,
possuía o primeiro grau completo e era responsável pela formação de todos/as em idade
escolar na época. Portanto, uma sala multisseriada, um “arremedo de escola e não escola
propriamente dita” (FONSECA, 1989, p.20). Mesmo sendo uma escola autorizada pelas
instâncias oficiais da época, o suporte material e pedagógico era muito precário e escasso e a
professora se desdobrava para atender uma sala tão diversa em idade e saberes, embora o
contexto cultural e social fosse muito parecido. Cassia Ferri (1994), em sua dissertação de
mestrado intitulada “Classes Multisseriadas: que espaço escolar é esse?”, afirma que no Brasil
essa prática é “Um paliativo” (desde a época do Império!) que se faz presente no cenário
educativo atual, definindo exatamente todo o significado dessa realidade.
Uma escola, uma sala de aula, um professor, alunos, de 1ª a 4ª série. Sem
merendeira, diretora, orientadora, vigia, laboratório, sala de vídeo... Tão
somente quatro paredes, um armário com o mínimo de material, quadro de
giz, crianças tímidas, com o olhar atento, deslumbradas com a possibilidade
de aprender coisas novas, um professor com a tarefa de ensinar e a sensação
de que o que sabe não serve para aquela realidade, de que não sabe trabalhar
com a diversidade do grupo. (FERRI, 1994, p.11).
A distância para a escola não era pouca, assim como em várias unidades de ensino
distribuídas na zona rural deste Brasil afora. Íamos com um grupo de primos/as e me recordo
muito da Vânia e nossos lanchinhos que eram coisas simples do dia a dia. Nada comprado em
supermercado ou lanchonetes como hoje. Eram naturais, ameixas de queijo em calda, frutas
do quintal, leite com farinha no vidro de suco Maguary, (a farinha inchava e ficava cremosa)
uma delícia. Tinha rapadura, queijo e também as frutas que apanhávamos pelo caminho. Ir
para a escola era uma aventura, principalmente a passagem por uma reta bem comprida de
areia que tinha um pé de pequi enorme, onde segundo a lenda da região era mal-assombrado.
Passávamos por ele como um foguete e nunca vimos nada.
Um belo dia a escola na capela fechou as portas, não lembro o motivo. E a ida para a
cidade foi inevitável.
21
1.1.1 A ida para a cidade
A vinda definitiva para a cidade apresentou-se cheia de novidades, dentre elas a
televisão que nos hipnotizava. Em preto e branco com uma tela de acrílico colorido que meu
avô comprou de mascates que passavam pela cidade, ao ser colocada sobre a tela a aparência
era de que a televisão fosse em cores, era o que havia de mais moderno em nossa cidade. Por
sermos uns dos poucos a ter televisão no bairro e muito sociáveis, nossa casa se enchia como
se fosse um cinema para assistirmos as novelas e programas da época, transmitidos pelos
únicos canais que recebíamos: TV TUPI e Rede Globo. As tardes eram encantadas, mas a
televisão também trouxe tristeza, lembro da notícia da morte do meu ídolo Elvis Presley em
16 de agosto de 1977, época em que eu tinha 11 anos. Chorei à exaustão e fui consolada por
minha prima Lucinha.
O fato marcante nesse período foi finalmente conhecer meu pai Adão (quando nasci já
havia se distanciado de nós). Ele era uma pessoa extraordinária que, por circunstância do
destino, não conseguiu dar continuidade ao casamento com minha mãe. Fato que causou
grande sofrimento aos dois, só conseguindo se refazerem afetivamente anos depois. Ambos
encontraram pessoas especiais pelas quais tenho enorme afeição e respeito e também uma
penca de irmãos/as. Nosso encontro se deu quando eu tinha 09 anos de idade, no ano de 1975.
Mérito para meu tio Alípio e tia “Ção”, que foram os mediadores da aproximação.
Não posso deixar de entremear lãs suaves, porém fortes em minha trama para registrar a
participação do meu tio Alípio em minha vida e de toda a família e também de inúmeros
desconhecidos. Alípio Barbosa Lucas, um desses seres que aparecem na Terra de vez em
quando, nos enche de esperança, nos contagiam com amor, bondade, sabedoria e vão seguindo,
de acordo com suas próprias palavras, “devagarinho para o encontro da Mãe Terra”, nos
deixando marcas tão profundas, como se estivéssemos órfãos. (LUCAS, 2017).
Retomando o fôlego e as palavras, não me lembro de ter tido dificuldades de
aprendizagem e nem de adaptação à nova rotina na escola urbana, porém, um acontecimento
foi de grande relevância na minha trajetória de vida no período compreendido entre a 1ª e a 4ª
séries do ensino fundamental: a professora da 2ª série, Dona Lazarina, que desconfiou que eu
tinha problemas de audição. Sua suspeita foi comprovada por exames médicos que
constataram uma perda auditiva total do ouvido esquerdo. Fato que me levou a compreender
porque, às vezes, entedia as palavras de forma diferente e em muitas ocasiões fui chamada a
atenção por ser tão desatenta/distraída.
22
Essa constatação, a partir da observação de uma professora atenta e envolvida com
seus/suas alunos/as, num tempo em que nem se discutia o paradigma educacional da inclusão
escolar, que hoje tentamos adotar, tornou-me mais atenta em sala de aula ao lidar com as
diferenças. Trago traços dessa tessitura, tecida por outras mãos, mas que contribuíram na
constituição da “imagem e autoimagens” (ARROYO, 2013) da professora que sou hoje. A
maneira que fui olhada e percebida pela minha professora reflete na maneira que olho e
percebo meu aluno e minha aluna, na maneira que olho e percebo meu “ofício de mestra”.
1.1.2 Ginásio e casamento
O ginasial6 na Escola Estadual José Ermírio de Morais transcorreu de maneira
relativamente tranquila e normal, embora fossem “tempos” de Educação Física e Educação
Moral e Cívica, que segundo Zotti (2004, p.19), juntamente com a Educação Religiosa,
“cumpriam um papel importantíssimo na reprodução dos valores subjacentes aos interesses
dos militares e da classe dominante da época”. Sobre essa questão, o decreto n. 58.130 de
31/03/1966, art.22, definia que a Educação Física tinha por objetivo “aproveitar e dirigir as
forças do indivíduo – físicas, morais, intelectuais e sociais – de maneira a utilizá-las na sua
totalidade, e neutralizar, na medida do possível, as condições negativas do educando e do
meio”. (BRASIL, 1966, p.95).
A educação física era um meio de controle do estudante, um meio de
enquadrá-lo nas regras ditatoriais, uma forma de disciplinar a criança e o
jovem. [...] A intenção era a de enquadrar o indivíduo em uma sociedade
harmônica, baseada no lema “Deus, Pátria e Família”, com ênfase nos papéis
individuais como meio de progresso e bem-estar de todos. (ZOTTI, 2004,
p.19).
Tínhamos a obrigatoriedade de ficarmos enfileirados/as todos os dias para cantar o
hino nacional e um acontecimento me vem à memória, quando em uma dessas manhãs um
professor, engajado nos movimentos de resistência (na época eu não tinha consciência disto),
fez uma crítica aos versos do “Hino Nacional”, mais especificamente à estrofe “deitado
6 “[...] a Reforma de Capanema, através do Decreto-lei Nº 4.244 de 09/04/1942, foi mantido a divisão do ensino
secundário em dois ciclos, porém houve mudança em sua nomenclatura e duração, sendo o primeiro ciclo,
ginasial, com duração de quatro anos, oferecendo uma formação geral, e o segundo ciclo, chamado colegial,
subdividido em duas modalidades: o curso clássico e o curso científico, ambos com duração de três anos,
visando a preparação do aluno para ingressar no Ensino Superior, além dos cursos normal e profissional, com o
objetivo de preparar para o mercado de trabalho.” Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_uenp_ped_artig
o_luciane_dias.pdf. Acesso em 12. set. 2019.
23
eternamente em berço esplêndido”, desaprovando também outras passagens do hino e
destacando que nosso Brasil não estava assim tão bem quanto os “poderosos” queriam nos
fazer acreditar. Olhares assustados e inquietação foram generalizados, mas nós, adolescentes,
vibramos diante do professor corajoso e animado, seu nome era Manuel Castelo Branco.
Professor que viria, anos depois, a ser vereador representando o Partido dos Trabalhadores -
PT, tornando-se, também, prefeito da cidade pelo mesmo partido.
Hoje reflito que ele teve sorte por não ter sofrido repressão, talvez por já se assinalar,
naquele momento, o renascimento da esperança de novos tempos. Resultante, segundo Zotti
(2004), dos movimentos sociais ligados a demandas historicamente reprimidas que exigiam
mudanças. Era um período de esperanças e anseios por democracia que despontava na direção
de consolidar um processo de ampliação dos direitos sociais e de cidadania social tão
oprimida no regime militar que se findava. Eu passava por esses tempos de forma ingênua,
feliz e despreocupada, tecendo amizades, sem muitas pretensões, como se tivesse o mundo
aos meus pés. “Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e
tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em
como seria bom ter um marido ao lado”. (COLASANTI, 2001, p.9).
Ao término da 8ª série (hoje nono ano do Ensino Fundamental), com 16 para 17 anos,
a lançadeira, em traços, precisos desenhou numa tarde quente e ensolarada, subindo a Rua
Matozinhos, o formoso rapaz loiro e alto, lindo! Imagem tão bem bordada que até hoje me
lembro de cada detalhe. Um desconhecido que nunca vira antes na cidade, prendeu-me.
Walter, “Paixão”, dois anos depois se tornaria meu amado marido e pai dos meus três lindos
filhos, avô de nossos belos netinhos.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca
conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam
companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado,
rosto barbado, corpo aprumado, sapato, engraxado. Estava justamente
acabando de entremear o último fio do ponto dos sapatos, quando bateram à
porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o
chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida. [...]. (COLASANTI, 2001,
p.10).
As coisas aconteceram muito rapidamente e num descuido de jovens apaixonados, um
ano depois engravidei. Na época um “bafão” na família. Meu pai me apoiou, mas não gostou
nem um pouco. Ainda era muito arraigado nele, e em parte da família, a ideia de que moça de
respeito não engravidava antes de se casar e nossa relação ficou estremecida um bom tempo.
24
“Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para
aumentar ainda mais a sua felicidade. [...]”. (COLASANTI, 2001, p.10)
Apesar de tudo, e de todos/as, nossa alegria foi instantânea e amamos aquele filho
desde o primeiro minuto. E cheios de planos começamos a bordar em cores de “arco-íris”
nosso futuro com o lindo Gustavo (amigão, pacotinho, pessoinha) que chegaria. “E feliz foi,
durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque
tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele
poderia lhe dar [...]” (COLASANTI, 2001, p. 13).
As circunstâncias da minha gravidez, a possibilidade de perder a liberdade e a
autonomia há tão pouco tempo conquistada foram demais para meu amado e passamos a ter
dificuldades, as dúvidas tomaram conta do que antes parecia certo. A minha maneira de ser
decidida, diferentemente da maioria das meninas de 18 anos, pensando a frente do meu
tempo, foi decisiva. Não concebia espaço para a dúvida. Para mim ou era sim ou não. Diante
de sua dúvida devolvi os seus pertences que estavam comigo, desejei-lhe felicidades, disse
adeus e desmanchei o traçado da bela figura que pouco tempo atrás tanto havia me encantado.
Estava magoada. “E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu
maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria
bom estar sozinha de novo. [...]”. (COLASANTI, 2001, p. 14).
Magoada, teci decidida um muro nos separando e fiz novos planos para meu futuro
apenas com meu filho. Nesse tempo, estudei para concurso do banco do Brasil, influenciada
pelo tio Alípio e a novidade foi o curso de datilografia em máquina portátil Olivetti. Eu nem
conhecia informática nesse tempo, pois o “boom” dos computadores7 no Brasil foi em
meados da década de 1980. Segundo Evangelista (2012), para nossa geração “era sinal de
entrada na vida adulta ter um curso de datilografia,” para mim seria também ter um filho.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e
pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo
para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o
dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando
o ritmo da lançadeira. [...]. (COLASANTI, 2001, p. 13).
Assim, estudando e organizando o quarto para a chegada de meu filho me ocupei e
nesse ínterim passaram-se seis meses. Ido o tempo e com ele as mágoas, eis que o cavaleiro
bate à porta novamente e com ele, após longa conversa, retornam os sonhos e planos.
7Em 29 de Outubro de 1984 foi sancionada a Lei nº 7.232 que estabelecia os princípios, objetivos e diretrizes da
Política Nacional de Informática, estava criada a reserva de mercado de informática no Brasil.
25
Decidimos pelo casamento. Gustavo, já com quaro meses de vida, nos braços da apaixonada
vovó Zezé, é um dos convidados presentes em 10 de agosto de 1985. O local da cerimônia,
uma pequena capela na vila residencial da Cia Mineira de Metais (Grupo VOTORANTIN),
mesma vila onde passei a morar até o início de 1989, na casa nº 10.
1.1.3 Retornando ao campo educacional
Retomei os estudos no ano de 1986, 1º ano do 2º grau8 (hoje Ensino Médio) e fiz a
opção por cursar o magistério. Não havia muitas opções, pois na cidade a oferta era apenas de
dois cursos: Contabilidade e Magistério. Na minha turma só havia mulheres e a turma de
Contabilidade, uma participação de ambos os gêneros, predominando masculino. É evidente a
representação histórica da maioria feminina no exercício da profissão docente. Vianna (2013,
p.164) apresenta essa discussão destacando que no Brasil “a maciça presença de mulheres no
magistério do ensino primário refere-se a um longo processo que tem início durante o século
XIX com as escolas de improviso, que não mantinham vínculos com o Estado”. Argumenta
ainda que:
Essa característica se mantém ao longo dos séculos XX e XXI, acompanhada
de intensas alterações econômicas, demográficas, sociais, culturais e
políticas. A configuração desse processo que culmina com a constatação de
uma maioria absoluta de mulheres no magistério na década de 1990
relaciona-se, ainda que indiretamente, com a dinâmica do mercado de
trabalho e, nela a divisão sexual do trabalho e a configuração das chamadas
profissões femininas. (VIANNA, 2013, p.165).
Foi um tempo tranquilo, conseguia desempenhar bem as funções de mãe, esposa e
estudante. Assim, o curso de Magistério transcorria sem grandes percalços. Mas uma
professora fez uma grande diferença e contribuiu de forma marcante na formação das bases da
docente que hoje sou. Rosângela de Sá, diferentemente das outras docentes, a maioria oriunda
da cidade, era recém-chegada do Rio de Janeiro (esposa de tenente da aeronáutica transferido
para a base localizada em Três Marias), ingressa como professora de didática no colégio José
8Em 1971, com a Lei nº 5.692/71, o ensino brasileiro passou a se estruturar em três níveis: o Ensino de 1o grau
(com oito anos de duração); o Ensino de 2o grau, compulsoriamente profissionalizante (com três anos de duração
para os que não pretendessem obter o diploma de técnico e com duração de quatro anos para os que desejassem
obtê-lo) e o Ensino de 3o grau de nível universitário. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº
9.394/1996 institui apenas dois níveis de ensino: a Educação Básica – compreendendo a Educação Infantil
(creches e pré-escolas); o Ensino Fundamental (com duração de oito anos) e o Ensino Médio, correspondente ao
antigo 2o grau sem caráter estritamente profissionalizante (com duração de três anos) – e a Educação Superior,
de nível universitário.
26
Ermírio de Morais, onde eu estudava, suas ideias eram inovadoras e logo se tornou nossa
professora preferida.
Rosângela nos apresentou Paulo Freire e “Pedagogia do Oprimido” (FREIRE, 1981).
Frequentemente ela ia para o Rio de Janeiro e comprou exemplares para todos/as e por isso
não tínhamos como escapar deste debate alegando falta de recurso. Confesso que tive muita
dificuldade na primeira leitura das obras de Freire. Não sei se foi devido às poucas leituras na
área da educação e também porque nunca havia ouvido falar desse “sujeito”, lia e não
entendia o que significavam suas palavras. Conceitos como educação bancária, sujeito
cognoscente, pedagogia emancipatória do oprimido e dialogicidade eram amontoados de
palavras que me travavam, parecia coisa de outro mundo. E era um mundo diferente que
Paulo Freire queria, defendia, destacando a importância e a necessidade de uma pedagogia
dialógica, emancipatória do oprimido, em oposição à pedagogia da classe dominante.
Opunha-se ferozmente à educação tradicional bancária, instrumento de opressão que nos
engessa e não contribui para a libertação e transformação dos sujeitos em autores de sua
própria história, por meio das práxis como unificação entre ação e reflexão e ação. (FREIRE,
1997). Ao entender, encantou-me entrar nessa trama.
Conclui o curso ao final do ano de 1988, possuía agora o 2º Grau com Habilitação em
Magistério de 1ª grau a 4ª série. Só tinha uma certeza: queria ser professora, mas o sentimento
de “incompletude”, “inacabamento” era muito maior do que naturalmente deveria ser. Seria
só isso? Estava preparada para assumir uma sala de aula? A resposta, mesmo sem entrar em
exercício, foi não. Essa foi a primeira vez que me inquietei percebendo que os cursos de
formação inicial de professores/as não nos preparavam realmente para o exercício da
profissão.
1.1.4 A mudança da terra natal
Não tive a oportunidade de exercer a profissão e adiei o sonho. No início do ano de
1989 meu marido recebeu uma proposta de trabalho melhor e em outra cidade. Estava com 22
anos, grávida do meu segundo filho Bruno, meu “Cachinhos de ouro”, que nasceu no dia de
santo Antônio, 13 de junho de 1989. “Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E
parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios
verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer [...]”. (COLASANTI, 2001, p. 13).
A saída de minha terra natal demarcou um período de grande transformação em minha
vida. Dor, sofrimento, alegria e crescimento. Enfim, o peso do distanciamento cada vez maior
27
de minha família se complementava à responsabilidade da vinda do meu 3º filho, não
planejado, mas muito amado. Chegava ao mundo no dia 13 de fevereiro de 1991, o “bocão da
Royal”, Lucas, meu cantor preferido.
Mudamos nesse período para a cidade de Itaguaí, R.J, onde meu marido iria trabalhar na
CIA Mercantil e Industrial Ingá, empresa que ficava na ilha da Madeira, nas proximidades de
Itaguaí. Quanto a mim, dediquei-me aos cuidados das crianças e da casa. Mas não bastava,
queria ganhar meus trocados como estava acostumada desde solteira e comecei a fazer cursos
de culinária. Tornei-me uma confeiteira de bolos para festas, fornecendo quitandas mineiras
que eram muito apreciadas pelas cariocas, minhas vizinhas e amigas. Consegui ficar perto de
meus filhos e me realizar como profissional, parcialmente.
O primeiro ano foi muito difícil, sozinha, em uma cidade estranha com três crianças
pequenas, mudamos para uma casa muito grande cheia de problemas e com fama de mal-
assombrada. Era muito engraçado e estranho ver a reação das pessoas quando falávamos
nosso endereço. Como éramos de “fora”, só fomos saber desta fama já morando nela. Após
nossa mudança para a Rua Imaculada Conceição as coisas ficaram melhores. A rua era
ocupada em quase sua totalidade pela mesma família, pessoas carinhosas e amigas. Fizemos
amizade com todas as pessoas e foi como se estivesse num pedacinho da minha terra
novamente. As crianças brincavam na rua, realizamos novenas de natal nas casas com
celebração de encerramento coletiva. Fechamos e enfeitamos toda a rua para a Copa do
Mundo de 1994, nos Estados Unidos, quando o Brasil foi para a final contra a Itália. Numa
única decisão de Copas do Mundo sem gols e com o placar de 0x0 a decisão foi para os
pênaltis, nos quais o Brasil ganhou por 3x2, conquistando, após 24 anos, o tetracampeonato
mundial com um futebol defensivo, que segundo as críticas da época, não empolgou.
Nessa rua também passei por uma provação terrível com meu filho Lucas, que teve uma
pneumonia que se agravou e corremos um risco grave de perdê-lo. Foi fundamental o apoio
dos/as vizinhos/as, da Solange Bebber, amiga gaúcha de Marau/ RS, a ajuda inestimável da
querida Veraneide (minha ajudante de Crateús, CE, que nunca mais tive notícias, pois, perdi o
contato). Considero nossa estadia em Itaguaí como um período de grande aprendizado e
amadurecimento. Passamos por um processo de transformação que nos fortaleceu e deu
sustentação para enfrentar as adversidades, tanto na vida íntima familiar, como profissional.
Em 1997, a CIA Ingá entrou em falência deixando vários funcionários sem emprego de
um dia para outro, meu marido foi um deles. Segundo Lopes (2013), além da onda de
desemprego ocasionada por seu fechamento repentino, a empresa também abandonou
milhares de metros cúbicos de efluentes líquidos, que formavam um verdadeiro lago tóxico na
28
Baía de Sepetiba/RJ. Em decorrência desse fato, e sem nenhum vínculo a nos prender naquele
estado, decidimos voltar para Minas Gerais.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao
contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer
seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.
Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E
novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
[...]. (COLASANTI, 2001, p. 14).
Felizmente, vi-me retornando a Minas Gerais, mais precisamente para cidade de Patos
de Minas e a alegria foi imensa, estava em casa de novo! Nessa época continuei a atividade
informal de vendas de quitandas e meu marido de vendas de joias. Morava a poucos
quilômetros da minha mãe e de meu pai, a vida era tranquila e boa. Mas a alegria do retorno
para Minas foi quebrada em 28 de março de 1998, quando de forma trágica, minha prima
Vânia, se afogou na represa de Três Marias e nos deixou prematuramente aos 32 anos. Nunca
mais olhei aquele lago como antes, suas águas, que não são as mesmas, eu sei, presenciaram o
último suspiro daquela que foi tão importante amiga, prima, comadre. Três primas em
primeiro grau que cresceram muito unidas, eu Lazara, Vânia e Lazara Eliana. Extraordinárias
amigas, além dos laços de sangue, a afinidade entre nós era genuína. Da mesma idade, com
pequenas diferenças nos meses, compartilhávamos tudo desde a mais tenra idade. Os sonhos,
as esperanças, as roupas, as confidências... éramos exemplo de amizade e inseparáveis.
Quisera eu poder mudar as cores dessa trama, mas a lançadeira incansável em seus
movimentos, às vezes, cria vida própria e nos surpreende com traçados nem sempre do nosso
agrado. Seguimos em frente, nos acalmamos e a saudade... Ah! A saudade segue com a gente.
“Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os
pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a
acalmar a natureza. [...]” (COLASANTI, 2001, p. 12).
Um desses movimentos que nos agradam teceu-se para nós outro panorama
direcionando nossa mudança para Uberlândia, cidade onde já residia há alguns anos minha tia
Conceição e Tio Alípio. Já existia em meu íntimo uma vontade grande de vir para essa cidade.
A partir de um presente de meu pai e tendo a opção de escolhermos onde comprar nossa casa,
escolhi Uberlândia. Meu pai, residindo então em São Gonçalo do Abaeté, não gostou muito.
Diante dos argumentos de que seria o melhor, visto que as crianças cresciam rápido e logo
precisariam ir para a faculdade, ele concordou. Mudamos em outubro de 1998. A adaptação
foi instantânea e lembrei-me de um ditado popular muito repetido por meu pai: “pedra que
29
muito rola não cria limo”, senti pela primeira vez, em muitos anos, que havia encontrado o
lugar para criar limo.
1.1.5 Profissionalização e retomada aos estudos
A perspectiva de estabilidade na cidade de Uberlândia se revelou promissora, meu
marido mudou de ramo, passou em concurso, fez faculdade, especialização. Nossos filhos
estudaram e conseguiram ingressar na primeira seletiva na Universidade Federal-UFU (é certo
que uns ainda não concluíram, mas tenho fé). Meus planos se concretizavam como o previsto
e pela primeira vez meu pai assumiu que eu tinha razão. “Afinal o palácio ficou pronto. E
entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta
torre. [...]”. (COLASANTI, 2001, p. 13).
É claro que o meu marido não me trancafiou numa torre, embora ele tenha resistido
muito quanto à vontade que eu tinha de continuar os estudos e minha vida profissional. Voltei
a pensar na possibilidade de resgatar meu sonho de ser professora. Agora que as crianças
estavam maiores e a cidade favorecia, parecia ser possível retornar. Seguindo a corrente de
conquistas, realizei em 2003 o concurso para Educador Infantil9, sendo aprovada.
Logo que comecei a atuar, percebi que seria preciso retomar com os estudos, afinal
quatorze anos fora desse contexto trazem dificuldades e lacunas indiscutíveis. Voltei aos
bancos da escola, já com 37 anos de idade. Estava feliz como a adolescente de outrora.
Ingressei no curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia FCU, hoje Pontífice
Universidade Católica de Uberlândia/PUC Uberlândia, curso que concluí em 2007. A
sensação de outrora havia voltado, a alegria da realização pessoal, professora licenciada em
nível superior, conquista que por um longo período considerei que jamais alcançaria.
Na mesma proporção que o curso de pedagogia me trouxe possibilidades de avanço e
reflexão sobre a prática com crianças de 0 a 6 anos (atualmente 0 a 5 anos) trouxe também de
volta as mesmas inquietações da época do magistério, no 2º grau. A faculdade de Pedagogia
também me deixara com um sentimento de insegurança quanto a preparar realmente o/a
professor/a para atuar em sala de aula.
Ocupar o cargo de educadora infantil colocou-me frente a dois desafios no campo
pedagógico e profissional: a identidade da educadora infantil e suas funções e a valorização
profissional.
9 Ensino Médio, na modalidade normal; - ou Curso Normal Superior ou Pedagogia. Ensino Médio, na
modalidade normal, é o equivalente ao Magistério.
30
Primeiro, ao exercer a função angustiavam-me as práticas e a organização do trabalho
pautado na dicotomia do “cuidar e o educar”. Nas orientações para o/a professor/a ficavam
explícitam a separação quanto ao educar e o ensinar conteúdos às crianças, as quais eram
“função do/a professor/a”. Ao/à educador/a cabia o apoio/auxílio no fazer “pedagógico” do
professor. A centralidade das ações era pautada em atividades de cuidado, sem reflexão,
desqualificando qualquer ação ou espaço de construção de conhecimento. O educador não
precisava planejar e pensar nas atividades com as crianças. Bastava apoiar o/a professor/a,
cuidar da alimentação, higiene e proteção das mesmas.
Em termo, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998)
consta que educar significa “[…] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada”. Então, por que as práticas angustiavam tanto?
Por que nossas imagens e autoimagens (ARROYO, 2013) eram tão marginalizadas ou
fragilizadas?
A compreensão da tarefa da educadora de creche como uma responsável
pelos cuidados básicos da criança – tarefa para a qual a afetividade é o maior
atributo como: “ter jeito”, “ter amor às crianças”, “gostar” – tem contribuído
para o pequeno investimento na formação docente destas profissionais.
(CUNHA e CARVALHO, 2002, p. 4).
Não esperei as respostas. Mergulhei nos estudos e debates em várias instâncias oficiais
e não oficiais de formação e estudos acerca de crianças e infâncias e o papel do/a educador/a
como sujeito/a mediador/a na constituição de sujeitos/as autônomos/as que aprendem e se
desenvolvem de forma integral. Dessa forma, construindo “meu espaço”, debatendo,
dialogando com a escola e coordenadoras quanto à importância de nosso papel foram sendo
delineadas as práticas de cuidar e educar. Concomitante a esse percurso desenvolvia também
estudos voltados para a área da Literatura Infantil. “Contação” de histórias era uma paixão
que me acompanhava desde a infância. Importante recurso que me “salvou” ao entrar no
município sem nenhuma formação prévia vinculada ao cotidiano escolar. Propus à escola em
que atuava à época a realização de um projeto de “contação” de histórias para que houvesse
uma revitalização e diversificação desses momentos, que até então eram realizados pelo/a
professor/a regente de cada sala. Sugeri o projeto “Visitas Encantadas” (REGATIERI, 2010),
porque não havia nessa época uma profissional específica para trabalhar com a literatura.
Angustiava-me observar as práticas voltadas a atender um programa que historicamente dá
prioridade aos conteúdos, às cobranças da família, da escola e do/a próprio/a professor/a, que
31
querem ver ou mostrar resultados mais imediatos, um bom desempenho visível e palpável
do/a aluno/a no final do ano letivo.
Tive grande apoio da diretora e supervisora, à época Tânia Martineli e Nádia Gosuen.
Esse projeto proporcionou-me oportunidades de desenvolver oficinas de “contação” de
histórias em várias escolas de educação infantil da rede municipal e no Centro Municipal de
Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz-CEMEPE. Nascia aí meu interesse em me
tornar pesquisadora. Desejava aprofundar estudos sobre a temática “Contação de Histórias no
Cotidiano Escolar da Educação Infantil: das práticas vigentes à formação de leitores”.
Inscrevi-me em 2010 no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação, da
Universidade Federal de Uberlândia, linha de pesquisa Saberes e Práticas Educativas. Não fui
selecionada. Devido a questões particulares engavetei, também, esse sonho. Ficou para ser
tecido no futuro.
Desenvolvia-se desde 2009, em Uberlândia e em várias cidades do país, um debate
referente às funções do/a educador/a infantil e sua atuação no campo pedagógico dentro do
espaço escolar. A luta pautava-se em demandas que garantissem aos/as profissionais, em
funções similares ou correlatas ao/a do/a professor/a em unidades de educação infantil, serem
integrados às carreiras do magistério de seus respectivos sistemas. O movimento apoiado por
alguns parlamentares da cidade, que propunham emendas objetivas no marco legal e
buscavam a valorização dos/das educadores/as diante de seu enquadramento no quadro de
magistério não logrou ganhos em seus primeiros debates.
Éramos chamados de Educadores/as Infantis, mas, no quadro de carreira, de “Assistente
Administrativo”.
As funções, de forma sintética, se pautavam em “cuidar, orientar e executar
atividades lúdicas pedagógicas e lúdico-educativas para crianças, auxiliando
no planejamento, orientação, e desenvolvimento do processo de ensino,
juntamente com os demais profissionais do sistema educacional, conforme
projeto político pedagógico da Unidade”. (UBERLÂNDIA, 2004).
Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº
9.394/96, que prescrevia o abandono do caráter assistencialista e considerou a educação
infantil a primeira etapa da educação básica o/a professor/a, a partir daí, para atuar,
necessitaria ter a formação mínima em nível médio na modalidade normal ou em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena e em universidades e institutos
superiores de educação. Muitos municípios continuaram a fazer concursos com a exigência de
apenas nível fundamental ou médio, com nomenclaturas como auxiliar de recreação, berçário,
32
auxiliar de creche, pajem, entre outras, até os dias de hoje. Mas os aprovados e empossados
exercem atividades de docência, pois parcela significativa das creches, de fato, faz trabalho
pedagógico, porém com salários e direitos inferiores aos dos/as professores/as, mesmo
apresentando a qualificação exigida por lei.
O movimento de enquadramento profissional dos educadores/as, segundo Alves (2012,
p.137) contemplou três dimensões; “a dimensão política de organização da categoria”
(ausência de representatividade sindical), a “dimensão política administrativa (engavetamento
das proposições do grupo)”, “a dimensão legal”, (dificuldades de inserção de emendas,
restrições legais quanto à transposição, etc.).
Após um período de dez anos sem revisão do Plano de Cargos e Carreiras10 dos
profissionais no município de Uberlândia as perdas se tornaram significativas do ponto de
vista financeiro e também organizacional. O Plano foi revisto durante os anos de 2013 e 2014,
na gestão do prefeito Gilmar Alves Machado (2013-2016) e da secretária de educação Gercina
Santana Novais. Em 2015, entrou em vigor uma nova legislação sobre a organização da
carreira dos/as profissionais do município, incluindo o da educação. Os ganhos para várias
categorias foram consideráveis e os/as educadores/as infantis obtiveram aumento no salário-
base, redução de carga horária sem redução de salário (trabalhavam 30 horas semanais
tiveram sua jornada reduzida para 25 horas conforme Decreto nº 15.176 de 29/09/2014), mas
não conseguiram o tão sonhado enquadramento na carreira de magistério. Foram colocados no
quadro da educação, pois se trataria de cargo derivado, ação considerada ilegal.
Nesse período, não ocupava mais o cargo de educadora infantil, mas continuei apoiando
o movimento. Havia sido aprovada em 2011 em concurso público para professora de Pré ao 5º
ano do ensino fundamental da rede municipal de educação de Uberlândia, MG. Nomeada em
2012, tomei posse na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Professora Carmelita
Vieira dos Santos, Bairro Tibery, assumindo a função de professora R211, desenvolvendo o
projeto de Literatura e Musicalização. Função exercida com muita satisfação pelo respaldo
oficial para trabalhar a literatura e a “contação” de história, minha paixão.
No ano de 2013, sendo servidora efetiva da rede municipal de educação de
Uberlândia e atuando como professora nessa modalidade de ensino, lotada na referida
10 O Plano de carreira dos servidores do quadro da Educação da Rede Pública Municipal de Ensino de
Uberlândia, na forma da Lei n° 11.967, de 29 de setembro de 2014, está disponível no Diário Oficial do
Município de Uberlândia n° 4493. Disponível em: <http://www.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/11610.pdf>. Acesso em: 10 Jun.
2018. 11 O/A professor/a Regente II na rede municipal de ensino de Uberlândia é o/a professor/a que atua em aulas
específicas sobre Culturas Regionais e Locais, Música, Literatura, Arte, Educação Física.
33
unidade escolar, recebi convite para compor a equipe de professores/as formadores/as no
Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (CEMEPE)12, função
que desenvolvi junto à equipe do Núcleo das Infâncias13 e demais Núcleos
Interdisciplinares que compunham a estrutura organizacional da gestão política pedagógica.
As ações interdisciplinares dos Programas e Projetos de Estudos, Pesquisas
Educacionais e Intervenção Pedagógica pautavam-se na responsabilidade de promover a
formação contínua e em serviço com os/as servidores/as da educação nas diversas áreas e
mais especificamente com as profissionais da educação infantil, estruturada pelas suas
demandas formativas, necessidades dos/as alunos/as e urgência de desenvolver formação
na escola, no CEMEPE, na Universidade Federal de Uberlândia e em outros espaços
formativos.
O trabalho desenvolvido no período de 2013 a 2016 fundamentou-se em uma rede de
apoio estabelecida entre os núcleos e instituições formadoras para desenvolver formação
contínua com as unidades escolares, a qual foi organizada em cinco Polos, conforme as
regiões da cidade: Polo Centro, Polo Oeste, Polo Norte, Polo Sul e Polo Leste.
As formações eram planejadas e executadas em parceria com outras secretarias, órgãos
públicos e instituições de ensino público e privado. No que competia ao Núcleo das Infâncias
(NINF), este tinha como objetivo desenvolver estudos, pesquisas e intervenção sobre as
infâncias e discutir as concepções de cuidar e de educar, considerando aprendizagens e
projetos educativos voltados para as infâncias e as crianças da (e na) contemporaneidade.
Promulgada a Lei nº 12.796, em 04 de abril de 2013, que dispõe sobre a
obrigatoriedade da matrícula de crianças aos quatro anos de idade nas instituições de
educação infantil, tornou-se obrigatória a elaboração e expedição de documentação
comprobatória sobre frequência, aprendizagem e desenvolvimento do/a aluno/a. Em
decorrência, o NINF se preocupou em abordar, nas formações, temas que propiciassem o
12
O Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (Cemepe) é uma Instituição de ensino
com o objetivo de desenvolver programas e projetos de estudos, pesquisa e intervenção pedagógica no cotidiano
das unidades escolares, nos espaços das salas de aula e demais espaços educativos. Oficializado pela Secretaria
Municipal de Educação por meio do Decreto Nº 5338, em 15/10/1992. Pelo Decreto nº 14.035 de 29 de abril de
2013, que institui a Rede Pública Municipal pelo Direito de Ensinar e de Aprender no Município de Uberlândia
MG. 13
Através do Decreto Nº 14.035, de 29 de abril de 2013, foram criados dez núcleos: Núcleo das Linguagens
(NLIN) Núcleo das Infâncias (NINF) Núcleo do Ensino Fundamental (NEF) Núcleo de Tecnologia e Educação
(NTE) Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas (NADH) Núcleo de Educação em Direitos Humanos (NEDH)
Núcleo dos Assuntos Estudantis (NAE) Núcleo de Gestão Democrática (NGD) Núcleo de Educação de Jovens e
Adultos (NEJA) Núcleo de Educação das Relações Etnicorraciais (NERER) ‐ Decreto 14.934 de 06 de junho de
2014.
34
debate sobre a relação entre as práticas educativas desenvolvidas no município e as
orientações curriculares estabelecidas em âmbito nacional e municipal para essa modalidade.
Destaca-se, nessa perspectiva, o projeto “Um Olhar Sensível e Reflexivo sobre a
Reorientação Curricular na Educação Infantil”. As formações com os/as profissionais da
educação, por meio desse projeto, se pautaram na articulação das práticas sociais com as
políticas públicas e os conhecimentos pertinentes e específicos dessa etapa educacional. Os
temas que fizeram parte dessa formação foram: Currículo, Avaliação, Culturas, Organização
do tempo e do espaço escolar, Transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental,
Dimensão Relacional do Ambiente Escolar e Relação Família Escola.
No decorrer das formações, em diálogos sobre os procedimentos que seriam adotados
a partir das orientações legais quanto à avaliação do desenvolvimento das crianças, e,
também, como se daria a elaboração dos documentos para registro da trajetória escolar nessa
etapa da educação, ouvimos algumas queixas dos/as professores/as: “como fazer? Não temos
tempo para escrever relatório de cada criança, para que esse relatório? É só mais trabalho da
atual gestão política, ninguém vai ler ou a maioria dos pais (muitas vezes estavam se referindo
às mães, na verdade) nunca olha”. Assim, ficava evidente a necessidade de refletir acerca das
concepções e práticas avaliativas, os instrumentos e o significado da inclusão da avaliação
como componente dos processos de ensino e aprendizagem. A reflexão sobre essas questões
foi incluída nas formações e tornou-se objeto de estudo e apontamentos para pesquisas futuras
no espaço de sala de aula.
Em 2017, de volta à sala de aula, em escola de origem e agora sob outra gestão política,
as orientações seguiram pautadas no mesmo RCNEI até o final do ano letivo. Frente as novas
orientações emanadas a partir da aprovação da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC/2017), em 2018 recebemos novos encaminhamentos provenientes da nova base.
Refiro-me a “nova base”, a aprovada em de 15 dezembro de 2017. É fundamental esclarecer
que, desde 2015, desenvolvia-se em nível nacional uma discussão sobre a BNCC, aprovada
em sua 3ª versão no dia 15 de dezembro e homologada no dia 20 do mesmo mês do ano de
2017, é um documento de caráter normativo que determina as competências, as habilidades e
as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver durante cada etapa da
educação básica, independentemente de onde estes residam ou estudem.
Permanece, também, vigente a lei 12.796/13. Por conseguinte, podemos afirmar que a
essa Lei trouxe uma alteração significativa para o funcionamento e a organização da educação
infantil no Brasil e, na rede municipal de Uberlândia/MG, de modo particular. Em decorrência
dessa situação-problema, identifiquei a necessidade de pesquisar quais são as dificuldades
35
enfrentadas pelos (as) professores(as) na estruturação do processo avaliativo na educação
infantil e as possíveis propostas para a superação dessas dificuldades. Escolhi o objeto de
estudo da minha pesquisa, a ser desenvolvida, durante o curso de Mestrado Profissional em
Educação da Universidade de Uberaba. Assim, a finalidade deste estudo acadêmico é
contribuir para as reflexões sobre as dificuldades enfrentadas a partir da aprovação da Lei nº
12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das formas de registro do
avaliado na educação infantil de uma escola pública municipal de Uberlândia/MG.
Faço aqui um breve retorno para explicitar o contexto de mudança referente ao meu
objeto de estudo: como mencionado anteriormente, meu interesse se pautava em aprofundar
estudos sobre a temática Literatura Infantil, porém, mudei o foco e troquei a contação e a
leitura de história pela avaliação escolar. Isso porque desenvolvemos no ano de 2015, em
parceria com a Universidade Federal de Uberlândia UFU/CEMEPE, o projeto “Grupo de
Estudos em Avaliação Educacional na Rede Municipal de Ensino Uberlândia: qual o lugar da
avaliação na escola”? Sob a coordenação da Prof.ª Dra. Olenir Maria Mendes-FACED/UFU e
Prof.ª Dra. Camila Lima Coimbra – FACED/UFU. O referido projeto tinha como objetivo
refletir, coletivamente, concepções, fundamentos, métodos e práticas avaliativas na rede
municipal de ensino Uberlândia, na perspectiva da avaliação formativa. Participar desse grupo
mudou toda minha tessitura que se desenrolava até então no sentido de aprofundar o olhar
quanto à importância da “contação” e leitura de histórias, ou seja, da literatura na educação
infantil e suas contribuições na formação de leitores e leitoras. Envolvi-me profundamente
com as reflexões para entender mais as tramas da avaliação nessa faixa etária e diante de
tantos percalços e incertezas tornou-se urgente elaborar e desenvolver o projeto de pesquisa. É
importante destacar que a temática avaliação na educação infantil era discutida de forma
muito sucinta nas formações, muitas informações, poucos conhecimentos. Era preciso abrir
um espaço de discussão sobre a avaliação nessa faixa etária pautada numa base teórica mais
consistente.
A vontade de aprofundar os conhecimentos específicos sobre avaliação na educação
infantil veio ao encontro da possibilidade de crescimento acadêmico, mudei então meu
percurso e me inscrevi no ano de 2017 no Programa de Mestrado e Doutorado na Faculdade
de Educação da Universidade Federal de Uberlândia/UFU, sob a temática Avaliação
educacional, vinculada à Linha de Pesquisa Saberes e Práticas Educativas, sendo aprovada
como aluna especial. Na época surgiu também a oportunidade de cursar o mestrado
profissional. Participei do processo, fui aprovada e optei pela segunda opção. Ingressei então
no Programa de Pós-Graduação em Educação: formação docente para educação básica-
36
Mestrado Profissional (PPGEB), da Universidade de Uberaba-UNIUBE, na Linha de
Pesquisa: Práticas Docentes para Educação Básica.
Primeiro dia de aula, mais perdida do que nunca, mas cheia de expectativas, nos é
apresentado o programa do curso. A disciplina obrigatória “Processos Investigativos em
Contextos Escolares”, ministrada pelas professoras Gercina Santana Novais (minha
orientadora) e Selva Guimarães, trouxe em sua proposta encaminhamentos de atividades de
revisão bibliografia, produção de textos, participação nas aulas, debates, palestras e, por fim, o
motivo dessa trama que ousei desenrolar, “a elaboração do Memorial da Experiência de
Formar-se Pesquisador/a”.
Meu mundo virou de ponta-cabeça, me senti totalmente desorientada nos primeiros dias
de aula. Rever os conceitos, analisar hipóteses e objetivos. Desconstruir para construir.
Mergulhar na trama e contar minha história de maneira que, ao contá-la, contaria também
parte do percurso acadêmico, de forma “plausível”. Eis que me percebi gostando do “processo
de rememorar”, talvez tenha exagerado, mas também sinto que ainda falta algo. O conhecido
sentimento de “inacabamento” me acompanha com “amorosidade” (FREIRE, 1989). Segundo
Fonseca (2004, p. 156), “a reflexão que os indivíduos fazem sobre suas próprias práticas e
seus saberes revela o sentido que atribuem à sua própria experiência”. Percorrer um longo
caminho tecendo, destecendo e, às vezes, me entristecendo contribuiu significativamente para
meu desenvolvimento pessoal e profissional, potencializando-me para o vir-a-ser
pesquisadora.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E
foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã
repetiu na linha do horizonte. [...] (COLASANTI, 2001, p. 14).Tecer era
tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. [...] (COLASANTI,
2001, p. 9).
E assim, inicia-se o processo de tecer uma investigação e comunicação sobre o
constituir-se pesquisadora. É difícil mensurar os impactos da disciplina “Processos
Investigativos em Contextos Escolares” na minha pouca trajetória como estudiosa de uma
temática como essa. Nesta perspectiva, a disciplina provocou impactos muito significativos na
experiência de pesquisa construída até o momento, principalmente porque apresentou novas
formas de olhar para a ação de investigar, ou seja, com abertura de uma gama de
possibilidades. E escrever um memorial neste contexto agora tem outro sentido, não antes
vislumbrado. Segundo Boaventura Santos (2010, p.55), o paradigma atual da ciência quebra
essa separação entre pensamento científico e o pensamento pluralista. Há uma inesgotável
37
diversidade de experiências no mundo, uma diversidade epistemológica além do
conhecimento científico que não é o único válido e rigoroso. No paradigma emergente o
conhecimento do senso comum tem seu valor como forma de enriquecer nossa relação com o
mundo e pode ser ampliado de forma dialógica com o conhecimento científico. “Deixado a si
mesmo, o senso comum é conservador e pode legitimar prepotência, mas interpenetrado pelo
conhecimento científico pode estar na origem de uma nova racionalidade.” (SANTOS, 1987,
p.90).
1.2 Do tema à escolha das questões orientadoras e objetivos do projeto de investigação
sobre avaliação na educação infantil
Em decorrência da situação-problema descrita anteriormente, elegemos como
questão central desta pesquisa: Quais são as dificuldades para implementar avaliação na
educação infantil e as possíveis propostas para a superação dessas dificuldades, no contexto
de implementação da Lei 12796/13? Para auxiliar a compreensão do objeto de estudo,
elegemos como questão complementar: Quais são as concepções de avaliação, as práticas
avaliativas e as formas de registros adotadas em uma escola pública de educação infantil de
Uberlândia?
Por conseguinte, estabelecemos os objetivos da pesquisa:
O objetivo Geral é o de contribuir com as reflexões sobre as dificuldades enfrentadas a
partir da aprovação da Lei nº 12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização
das formas de registro do avaliado na educação infantil de uma escola pública municipal de
Uberlândia/MG. E os específicos são:
Analisar quais são as concepções e as práticas de avaliação adotadas por uma escola
pública Municipal de educação infantil de Uberlândia/MG pelos/as professores/as e
pedagogos/as.
Identificar as formas de registros sobre os/as alunos/as adotadas na escola pública
municipal de educação infantil de Uberlândia/MG por professores/as e
pedagogos/as, na qual foi realizada a pesquisa?
Identificar e analisar as a dificuldades enfrentadas pelos/as professores/as na
sistematização das formas de registro e avaliação para as aprendizagens.
Elaborar um “Caderno de Reflexões: avaliação na educação infantil” com base nas
demandas identificadas no contexto das dificuldades em avaliar.
38
1.2.1 Outros elementos do contexto de produção e da composição da justificativa do
projeto de pesquisa
No ano de 2013, a Secretaria Municipal de Educação de Uberlândia (SME) iniciou um
movimento de elaboração e implementação da Política Pública de Educação, propondo a
construção coletiva da escola pública, popular, democrática, gestada em Rede e de qualidade
referenciada socialmente, ancorada especialmente nas Leis Federais 9.394/96, 10.639/03,
11.645/08, 12.796/13 e na Lei Municipal 11.444/201314; esta última aprovada na Câmara
Municipal de Uberlândia em 14 de Julho de 2013.
Em relação à Lei Municipal 11.444/2013, que estabeleceu a Rede Pública Municipal
pelo Direito de Ensinar e Aprender, de acordo com Novais e Nunes (UBERLÂNDIA, 2016,
p. 11) “a concepção de Rede também implica a reorientação curricular, a definição, a
metodologia de avaliação e elaboração e implementação do currículo”. Trata-se de
[...] uma proposta de política pública de educação pautada na diversidade
cultural e valorização de diferentes sujeitos e grupos sociais, das demandas e
das necessidades dos(as) alunos(as) da escola pública, do fortalecimento das
dimensões educativas relativas à humanização, à cidadania ativa e à autoria
dos(as) alunos(as) e dos(as) profissionais da educação, da participação social
e popular, do entrecruzamento de diferentes políticas sociais e do fomento à
educação livre de qualquer tipo de preconceito e
discriminação.(UBERLÂNDIA, 2016, p. 11).
Nesse contexto, é importante destacar que as escolas de educação infantil são
supervisionadas pela Secretaria de Educação, mas como o município de Uberlândia não
tem um Sistema Municipal de Educação está jurisdicionada à Superintendência Regional
de Ensino de Uberlândia-SRE/UDIA, que dispõe sobre a forma de funcionamento e
organização das unidades escolares. A Superintendência Regional de Ensino de
Uberlândia-SRE/UDIA, considerando a nova redação dada à Constituição Federal e à Lei
de Diretrizes e Base da Educação Nacional, no que se refere à educação infantil, sugeriu os
procedimentos que serão adotados para a realização da avaliação do desenvolvimento das
crianças, e, também, como se daria a elaboração dos documentos para registro da trajetória
14
A Rede Pública Municipal pelo Direito de Ensinar e de Aprender consiste em uma forma de atuação conjunta de
instituições que desenvolvam atividades relacionadas à educação, capazes de agir em cooperação e de estabelecer
relações pautadas na autonomia, na complementaridade, na horizontalidade e no interesse comum de contribuir para
garantir o direito aos alunos à educação pública, gratuita, laica, democrática, popular e qualificada socialmente.
(UBERLÂNDIA, Lei Municipal 11.444/2013).
39
escolar nessa etapa da educação. (SRE, 2015, p.8). Em consonância com a SRE/UDIA, a
orientação nº. 01//2015 da RME/UDI, divulgada pela Coordenadoria da Inspeção Escolar,
sugere que as instituições de educação infantil do município deverão organizar seu
currículo com base no “Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil” (RCNEI),
publicado em 1998 pelo Ministério da Educação. Esse referencial, agrupado em três
volumes, apresenta uma proposta contemplando dois âmbitos de experiência: Formação
Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo, adjunto a seus respectivos “eixos de trabalho”:
Identidade e Autonomia, Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita,
Natureza e Sociedade e Matemática (BRASIL, 1998). Como a parte diversificada é de
competência da entidade mantenedora, a Secretaria Municipal de Educação optou por
“Culturas Regionais e Locais”, o que antes era definido na rede municipal como Literatura
e Música.
O que constatamos diante da aprovação da nova BNCC (2017) é que as orientações
emanadas da Superintendência Regional de Ensino de Uberlândia-SRE/UDIA e Secretaria
Municipal de Educação – SME/UDIA, embora tragam pontos convergentes ao que se refere
às novas orientações da base, não faz referência ao RCNEI e sua utilização na organização
curricular na educação infantil no município, questão que mereceu aprofundamento da análise
no decorrer da pesquisa.
Em 2017, de volta à sala de aula, em escola de origem, agora sob outra gestão política,
as orientações seguiram pautadas no mesmo RCNEI até o final do ano letivo. Frente as novas
orientações emanadas a partir da aprovação da BNCC (2017), em 2018 recebemos novos
encaminhamentos. Permanece, também, vigente a lei 12.796/13. Rememorando que a Lei nº
12.796/13 trouxe uma alteração significativa para o funcionamento e a organização da
educação infantil no Brasil e na rede municipal de Uberlândia/MG.
Considerando o exposto, justificou-se a realização desta pesquisa, visando compor
resposta para a questão central: Quais são as dificuldades para implementar avaliação na
educação infantil e as possíveis propostas para a superação dessas dificuldades, no contexto
de implementação da Lei 12796/13? E para a questão complementar: Quais são as concepções
de avaliação, as práticas avaliativas e as formas de registros adotadas em uma escola pública
de educação infantil de Uberlândia?
Para narrar os caminhos teóricos e metodológicos desta pesquisa e, ainda, apresentar
reflexões sobre os dados e resultados, este texto está estruturado em 6 seções e as
considerações finais. Esta seção primeira, escolhida também como introdução, expõe os
“Caminhos percorridos na experiência de viver e formar-se pesquisadora”. Na segunda seção,
40
aparecem as razões, as opções e os “Caminhos Metodológicos abordados, assim como os
instrumentos de produção de dados. Na terceira seção expomos as reflexões sobre as
“Políticas Públicas de educação infantil, destacando conquistas e retrocessos”, concepções de
infâncias e de crianças e a trajetória de se constituírem como sujeitos históricos e de direitos,
entrecruzando passado e presente, buscando compreensões sobre as políticas públicas de
educação infantil. A quarta seção, “Teorias e práticas avaliativas na Educação Infantil”, traz
diálogos sobre a avaliação, seu papel, sentidos e significados no contexto das infâncias e o
paradigma formativo e mediador da avaliação na educação infantil. A quinta seção,
denominada de “Lendo, analisando e interpretando documentos: buscando compreensões
sobre avaliação na educação infantil”, apresenta os resultados das análises do “corpus” da
pesquisa documental, compostos pelo conjunto dos documentos que foram submetidos aos
procedimentos de análise a fim de tecer compreensões sobre as questões orientadoras do
estudo. Na sexta seção expomos resultados da “Escuta, análise e interpretação das narrativas
das professoras e pedagogas” participantes da pesquisa. Por fim, nas “Considerações finais”,
são apresentados os resultados mais recorrentes sobre as dificuldades para avaliar na educação
infantil e possíveis propostas para auxiliar a superação dessas dificuldades, as contribuições
da pesquisa e o produto elaborado em função dos resultados da pesquisa, intitulado “Caderno
de Reflexões: avaliação na educação infantil”.
41
II
CAMINHOS METODOLÓGICOS
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres se
encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo
e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade. (FREIRE, 2015, p.30-31).
Na busca dos percursos metodológicos para o desenvolvimento da pesquisa muitas
dúvidas nos afligiram. Dentre elas, qual desenho da pesquisa seria mais adequado. Qual
abordagem e quais instrumentos de coleta de dados seriam mais apropriados para a promoção
de interação entre os sujeitos da pesquisa e que proporcionasse, ao mesmo tempo, a incursão
da pesquisadora com o rigor científico necessário para fomentar uma reflexão profunda,
dentro de um clima de respeito mútuo e ausência de julgamento. Essas questões foram
pensadas tendo em vista as indagações orientadoras da pesquisa.
Assim, a reflexão sobre os percursos metodológicos, articulada com objetivos e
questões escolhidas para orientar a pesquisa, nos auxiliou na opção pela abordagem
qualitativa.
Os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo porque se
preocupam com o contexto. Entendem que as acções podem ser melhor
compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de
ocorrência. Os locais têm de ser entendidos no contexto da história das
instituições a que pertencem. Quando os dados em causa são produzidos por
sujeitos, como no caso de registros oficiais, os investigadores querem saber
como e em que circunstâncias é que eles foram elaborados. Quais as
circunstâncias históricas e movimentos de que fazem parte? Para o
investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu
contexto é perder de vista o significado. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.48).
Nessa perspectiva, o desenho da pesquisa desenvolvida é descritiva-diagnóstico de
realidade situada, de abordagem qualitativa, contemplando revisão de literatura, análise
documental e pesquisa de campo.
Foram utilizadas como fontes de produção de dados a análise documental e entrevistas
semiestruturadas. E as referências teórico-metodológicas adotadas na pesquisa foram Bogdan
e Biklen (1994), Cellard (2008), Tim May (2004), Lakatos (2003) e Minayo (1994) sobre
enfoque, métodos e técnicas de pesquisa. Franco (2008) e Bardin (1977) sobre a análise de
conteúdo.
42
2.1 Análise documental
De acordo com André Cellard (2008, p.295), “as capacidades da memória são
limitadas,” lembranças, fatos ou acontecimentos podem sofrer perdas ou serem adulterados no
decorrer da pesquisa, o que potencializa a importância dos documentos.
O documento escrito constitui, portanto, uma fonte extremamente preciosa
para todo pesquisador [...] insubstituível em qualquer reconstituição
referente a um passado relativamente distante, [...]. Além disso, muito
frequentemente, ele permanece como único testemunho de atividades
particulares ocorridas num passado recente. (CELLARD, 2008, p. 295.)
É importante ressaltar que verificar as fontes e analisar com rigor sua confiabilidade e a
autenticidade dos documentos é fundamental. Tim May (2004) sugere ao/à pesquisador/a
alguns questionamentos que podem contribuir com a análise mais detalhada sobre a
autenticidade de documentos pesquisados.
Os dados são genuínos? São de uma fonte primária ou secundária? São de
fato o que parecem ser? São cópias autenticas (sic) dos originais? Foram
corrompidos ou adulterados? A autoria pode ser validada? Os documentos
estão datados e localizados? São registros precisos dos eventos ou processos
descritos? Os autores dos documentos são dignos de crédito? (FOSTER apud
MAY, 2004, p.220).
Baseando-se nos apontamentos de Cellard (2008), analisamos de forma crítica e
cautelosa um conjunto de documentos que puderam nos auxiliar a compreender o tema,
identificando o contexto que foi produzido, os conceitos chaves e as proposições ali contidas.
Apropriamo-nos do conceito de documento usando uma abordagem mais ampla, ancoradas
em Cellard (2008, p. 296) em que “tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de
testemunho, é considerado como documento ou ‘fonte”.
Nesse sentido, tomamos como fontes documentos relativos à política educacional
nacional e municipal:
Projeto Político Pedagógico da escola onde a pesquisa foi realizada.
Base Nacional Comum Curricular - BNCC /2017.
Lei 12796/13, que trata da obrigatoriedade da matrícula aos 4 anos de idade na
educação infantil.
Orientação nº. 01/junho de 2015 da Superintendência Regional de Ensino -
Uberlândia/SRE/UDIA.
43
Orientação nº. 01/novembro de 2015 da Secretaria Municipal de Educação - SME/
UDIA.
Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão Preliminar) – 2018, do
município de Uberlândia MG.
Os relatórios sobre a avaliação da aprendizagem e do desenvolvimento das crianças,
elaborados pelas professoras participantes, da pesquisa.
Utilizamos como técnica para analisar os dados coletados a análise de conteúdo
temática. Buscamos sustentação teórica em Bardin (1977) e Franco (2008), para que nos
possibilitasse, de forma mais segura, a apreensão da mensagem.
De acordo com Franco, (2008, p.17-41),
cada vez mais, porém, a análise de conteúdo passou a ser utilizada para
produzir inferências acerca de dados, verbais e/ ou simbólicos, mas obtidos a
partir de perguntas e observações de interesse de um determinado
pesquisador”. Destaca que a menor parte do conteúdo é a “Unidade de
Registro, cuja ocorrência é registrada de acordo com as categorias
levantadas. Seus tipos podem ser diferentes e estarem relacionados ao
mesmo tempo como, uma palavra, o tema, o personagem, o item.
Segundo Franco (2008), para uma análise e interpretação mais consistente dos
documentos a serem pesquisados é imprescindível atenção à Unidade de Contexto,
considerada por ela como a parte mais ampla do conteúdo a ser analisado. Possibilita à
pesquisadora uma melhor compreensão dos sentidos e significados exatos das unidades de
registro para entender em quais circunstâncias e condições os fatos ocorreram.
Nesse sentido, Bardin (1977) salienta que “o tema é a unidade de significação que se
liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve
de guia à leitura” (BARDIN, 1977, p. 105). Franco (2008, p. 43) defende o Tema como “a
mais útil unidade de registro em análise de conteúdo”. E sinaliza para a possibilidade de dois
caminhos no percurso de elaboração de categorias:
1. Categorias criadas a priori. Neste caso, as categorias e seus respectivos
indicadores são pré-determinados em função da busca a uma resposta
específica do investigador. [...] 2. As categorias não são definidas a priori. Emergem da “fala”, do
discurso, do conteúdo das respostas e implicam constante ida e volta do
material de análise à teoria. (FRANCO, 2008, p.60-61).
Definimos pelo aceite da “análise de conteúdo temática mista”, pois constatamos que
além das categorias definidas a priori, as análises apresentaram outras categorias identificadas
no texto.
44
A forma de organização dos dados se caracterizou por elaboração de quadros15 nos
quais foram definidas as Unidades de Registros (Temas), as Unidades de contexto (Frases ou
parágrafos onde constam os temas) e Interpretações.
[...] acredita-se que um quadro teórico consistente pode auxiliar uma seleção
inicial mais segura e relevante. [...] Em primeiro lugar [...] faça o exame do
material procurando encontrar os aspectos relevantes. Verifique se certos
temas, observações e comentários aparecem e reaparecem em contextos
variados, vindos de diferentes fontes e diferentes situações. Esses aspectos
que aparecem com certa regularidade são a base para o primeiro
agrupamento da informação em categorias. Os dados que não puderem ser
agregados devem ser classificados em um grupo à parte para serem
posteriormente examinados. Esses dados não devem ser desprezados, pois
nem sempre a importância de um tópico pode ser medida pela frequência
com que ocorre. Certas informações e observações, aparecem isoladas e
discrepantes, podem vir a se constituir em importantes elementos na
elucidação das questões do estudo. (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p. 43).
Conforme Ludke e André (1986), não há uma padronização nos procedimentos e nem
normas fixas para a criação de categorias, mas destaca a necessidade de rigor na forma de
organização das mesmas.
Nesse sentido, Franco (2008, p.67) defende que na composição do “corpus de análise”
é importante respeitar alguns princípios que orientam a criação e a organização do conjunto
de categorias de análises de forma consistente. O termo “corpus” é definido como “O
conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos
analíticos”. (BARDIN, p. 122, 1977).
Para Franco (2008, p.67), há “boas e más categorias”, sendo que um conjunto de
categorias satisfatórias deve se pautar nas qualidades a seguir:
Exclusão mútua: Um único princípio de classificação deve orientar sua
organização – "em um mesmo conjunto categorial, só se pode funcionar com
um registro e com uma dimensão de análise" (BARDIN, 1977). Pertinência:
Quando está adaptada ao material de análise escolhido e ao quadro teórico
definido. O sistema de categorias deve, também, refletir as intenções da
investigação, as questões do analista e/ou corresponder as características das
mensagens. Objetividade e fidedignidade: As diferentes partes de um mesmo material,
ao qual se aplica uma determinada matriz de categorias, devem ser
codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a várias análises.
Produtividade: Um conjunto de categorias é produtivo desde que concentre
a possibilidade de fornecer resultados férteis. [...] em índices de inferências,
em hipóteses novas e em dados relevantes para o aprofundamento de teorias
15Modelo de quadros em Apêndice I, p.254.
45
e para a orientação de uma prática crítica, construtiva e transformadora.
(FRANCO, 2008, p. 67-68).
2.1.1 Entrevista Semiestruturada
Ao nos posicionarmos como pesquisadoras nos preocupamos com o que Bogdan e
Biklen (1994, p.68) chamam de "efeito do observador", buscamos, então, formas de interagir
com os/as sujeitos/as de maneira mais natural possível “não intrusiva e não ameaçadora”.
[...] como os investigadores neste tipo de investigação se interessam pelo
modo como as pessoas pensam sobre as suas vidas, experiências e situações
particulares, as entrevistas que efectuam são mais semelhantes a conversas
entre dois confidentes do que a uma sessão formal de perguntas e respostas
entre um investigador e um sujeito. Esta é a única maneira de captar aquilo
que é verdadeiramente importante do ponto vista do sujeito. (BOGDAN e
BIKLEN, 1994, p.68-69).
Lakatos (2003, p.195-196) afirma: “a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim
de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto [...]”. Considerada
por alguns autores como o “instrumento por excelência no campo da investigação social”,
mas se for bem utilizada para obtenção dos dados.
Nesse sentido, optamos pela entrevista semiestruturada por ser um procedimento que
possibilita proporcionar aos/às entrevistados/as certo grau de liberdade sem se sentirem
inibidos/as ou pressionados/as. A entrevista semiestruturada é composta por perguntas
relevantes sobre o objeto de estudo, um roteiro flexível, ao contrário do modelo da entrevista
estruturada.
Considerando a importância da preparação da entrevista, Lakatos (2003) define algumas
medidas a serem seguidas:
a) Planejamento da entrevista: deve ter em vista o objetivo a ser alcançado. b) Conhecimento prévio do entrevistado: objetiva conhecer o grau de
familiaridade dele com o assunto. c) Oportunidade da entrevista: marcar com antecedência a hora e o local,
para assegurar-se de que será recebido. d) Condições favoráveis: garantir ao entrevistado o segredo de suas
confidências e de sua· identidade. e) Contato com líderes: espera-se obter maior entrosamento com o
entrevistado e maior variabilidade de informações. f) Conhecimento prévio do campo: evita desencontros e perda de tempo. g) Preparação específica: organizar roteiro ou formulário com as questões
importantes. (LAKATOS, 2003, p.198).
46
As entrevistas ocorreram à medida que as professoras e pedagogas, que aceitaram
participar da pesquisa, iam agendando, conforme disponibilidade, com a pesquisadora. Após
um primeiro contato por telefone, no qual a pesquisadora explicou os objetivos da pesquisa,
as professoras e pedagogas definiram local, dia e horário que melhor as atenderiam. Duas
pedagogas consideraram conveniente agendar na residência da pesquisadora. As entrevistas
ocorreram no período de 05 de maio a 04 de julho de 2019.
As 14 entrevistas semiestruturadas, realizadas como procedimento de produção de
dados, possibilitaram, por meio de roteiros, aproximar mais os/as sujeitos/as: pesquisadora,
professores/as e pedagogas, facilitando o acesso às respostas, suas opiniões sobre os fatos,
seus sentimentos e planos de ação, suas práticas e concepções sobre o fenômeno do objeto de
estudo. Nessa perspectiva, foram utilizados dois roteiros (apêndice A e B, p. 234-236) com o
objetivo de buscar informações com as onze professoras e três pedagogas e que
contemplassem questões sobre perspectivas, conhecimentos teóricos e metodológicos
relativos às práticas vinculadas a avaliação para as aprendizagens e implementação da Lei
12.796/13. As entrevistas foram gravadas, transcritas e lidas para os/as entrevistados/as. Após
cinco anos as gravações serão apagadas.
2.2 O Local da Pesquisa
Com o objetivo de aproximar nosso leitor do campo da pesquisa desenvolvida, nesta
seção expomos a localização geográfica e apresentamos compreensões de como foi se
constituindo a rede de instituições de atendimento à infância e seus ordenamentos legais no
município de Uberlândia/MG.
Uberlândia está localizada no Triângulo Mineiro no sudeste do Brasil. O município está
subdividido em cinco regiões, denominadas pela prefeitura de setores. São elas: Região
Central de Uberlândia, Zona Leste, Zona Oeste, Zona Norte e Zona Sul. A cidade também se
subdivide em cerca de 160 bairros.
A Zona Leste é formada por 18 bairros oficiais da cidade, dentre eles o Bairro Tibery.16
Localizada nessa região está a Escola Municipal de Educação Infantil Tecelã17, escola
escolhida para a pesquisa.
16
WIKIPÉDIA. A enciclopédia livre. Subdivisões de Uberlândia. Disponível
em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_Leste_de_Uberlândia>. Acesso em: 1 mai. 2019. 17 Nome fictício, criado para não expor a instituição ou seus profissionais.
47
A rede municipal de educação de Uberlândia conta neste ano de 2019, com 69 Escolas
Municipais de Educação Infantil - EMEIs18. Das 69 unidades que atendem crianças entre 4
meses e 5 anos, 17 unidades atende crianças entre 4 meses e 3 anos. Importante destacar que o
município estabeleceu convênio e disponibilizou subvenções para 45 entidades com a
finalidade de que essas entidades ofereçam educação infantil 19.
Neste contexto, fazemos uma retomada ao longo da história para compreendermos
como foram se constituindo as instituições de atendimento às crianças de 0 a 5 anos no
município. Richter (2013), ao desenvolver sua pesquisa sobre “A infância nas Diretrizes
Curriculares de Educação Infantil - 2003 do Município de Uberlândia”, traz em sua
dissertação várias contribuições importantes. Ressalta que a partir das décadas de 1950-1970,
em decorrência da expansão territorial urbana e populacional, a cidade passou por grandes
transformações e o atendimento à criança, nesse período, era “escasso e prioritariamente
assistencial de cunho religioso, filantrópico e particular”. (RICHTER, 2013, p. 79).
Sobre as instituições destaca que em Uberlândia:
As primeiras instituições de atendimento às crianças menores de 7 anos,
aconteciam prioritariamente em casas improvisadas, organizadas por igrejas,
clubes de mães, entidades filantrópicas e, mais tarde, por associações de
bairro. Havia também alguns jardins de infância de caráter preparatório, um
deles, criado em 1967, chamado Jardim de Infância Suzana de Paula Dias,
localizado na região central, atendia crianças que moravam próximas da
instituição e também da periferia. Essa instituição foi fechada em 1972, pois
era da rede estadual de ensino e, com a nova legislação de 1971, a Lei de
Diretrizes e Bases 5.692, que atribui ao município a responsabilidade pela
pré-escola, não havia mais o motivo para o Estado manter uma instituição
que não era sua prioridade. (RICHTER, 2013, p.79).
Na sequência aponta:
Outro exemplo é a Escola de Educação Básica da Universidade Federal de
Uberlândia (ESEBA), que, inicialmente, foi chamada de Escola Pré-
Fundamental Nossa Casinha, criada, em 1977, para atender os filhos dos
funcionários da universidade, e mais tarde, em 1988, passou a receber alunos
diversos por meio de sorteio público. (RICHTER, 2013, p.79).
De acordo com Richter (2013, p.80.), a intensificação do desenvolvimento dos
conjuntos habitacionais, em meados de 1980, desencadeou a necessidade de outros serviços
básicos, inclusive a educação. Processo observado a nível nacional e em Uberlândia, que em
18
UBERLANDIA. Secretaria Municipal de Educação/SME. Relação das Unidades Escolares. Uberlândia,
2019. Disponível em:< https://www.uberlandia.mg.gov.br/prefeitura/secretarias/educacao/escolas-municipais-
uberlandia/ >. Acesso em: 07 out. 2019. 19 Para ais informações consultar página: http://docs.uberlandia.mg.gov.br/wp-
content/uploads/2019/08/OSCS.pdf
48
sintonia estava a urgência por implantar, expandir e melhorar o atendimento nos bairros e
também em creches e pré-escolas para responder à demanda feminina e a preparação para o
ensino fundamental. As associações de bairros e os clubes de mães tiveram papel
fundamental, iniciando, em 1981, o “Movimento Pró-creche”. Nasce nesse contexto a
“primeira creche comunitária de Uberlândia, no conjunto Habitacional Luizote de Freitas I”,
fruto do movimento liderado por um grupo de empregadas domésticas e a associação dos
moradores do bairro.
Coadunamos com a análise de Richter (2013) sobre haver uma dicotomia em relação à
creche e a pré-escola que levou às formas diferenciadas no atendimento e, consequentemente,
na qualidade. Em suas palavras:
A creche estava vinculada à Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social
e era atendida por profissionais com pouca escolaridade, que se prestavam
mais ao cuidado do que à educação, a pré-escola, por meio de uma parceria,
vinculava-se à Universidade Federal de Uberlândia, que disponibilizava
estagiários para atuar junto às crianças. Outros profissionais que atuavam na
pré-escola eram professores formados pelo Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL). (RICHTER, 2013, p.80).
A aprovação da Constituição Federal de 1988 e do ECA, em 1990, assegurou à criança
o lugar de sujeito de direitos. Ao ser instituído seu direito à educação, coube aos municípios a
responsabilidade de atendê-la. Nesse contexto, a pré-escola em Uberlândia deixou de ser
conveniada à Universidade Federal de Uberlândia e se vinculou à Secretaria Municipal
Educação. Surgem, então, as Escolas Municipais de Alfabetização (EMAS).
Na sequência dos fatos, a Constituição do Estado de Minas Gerais/198920 define como
responsabilidade dos municípios o atendimento gratuito e de período integral para a educação
infantil. Em decorrência, a Lei Orgânica do Município de Uberlândia, de 1990, traz orientações
nesse sentido:
Art. 157, [...], inciso IV: O dever do Município com a educação pré-escolar e de primeiro grau,
incluindo a educação de jovens e adultos, será efetivado mediante as
seguintes garantias previstas no artigo 208 da Constituição Federal. [...] IV- atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade; [...] Art. 158, [...], inciso I: Para o atendimento psico-pedagógico às crianças de até seis anos de idade, o
Município, em cooperação com a União e o Estado, deverá:
20
MINAS GERAIS. Constituição/1989. Constituição do Estado de Minas Gerais de 21/09/1989. Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa-nova
min.html?tipo=CON&num=1989&ano=1989>. Acesso em: 02 mai. 2019
49
I – criar, implantar e gerir creches municipais; (UBERLÂNDIA, 1990, p.
s/n.).
De acordo com os ordenamentos legais definidos até o momento há outro olhar sobre a
creche, agora um espaço educacional. Uberlândia então constrói, em 1991, a primeira
instituição de atendimento à educação infantil ligada à Secretaria da Educação. O primeiro
modelo, chamado de “Módulo de Educação Infantil (MEI)”, no Bairro Luizote de Freitas,
atendia crianças de 0 a 6 anos em período parcial e integral. Dessa experiência surgiram
outras 3 escolas.
A LDB/96, ao assegurar a educação de crianças de o a 6 anos como primeira etapa da
educação básica, define a obrigatoriedade de incorporação de toda instituição de educação
infantil às secretarias municipais de educação. Inicia-se o movimento de transição dessas
instituições das Secretarias de Assistência Social para as Secretarias de Educação, o que
estimulou também a construção de outra identidade para a educação infantil. Primeiro, no
sentido de atendimento às orientações legais previstas na nova legislação e segundo, na
tentativa de superação do caráter assistencial e preparatório, atrelado a uma concepção de
educação infantil pautada na dicotomia cuidar e educar.
Nos anos subsequentes há uma mobilização de instituições de ensino, que
considerando as novas exigências legais, dentre elas as DCNEI de 1999, precisaram elaborar
suas propostas curriculares para a educação infantil. A Secretaria Municipal de Educação de
Uberlândia, em 2003, elabora o documento “Diretrizes Curriculares – Educação Infantil- DC-
EI”, segundo Richter (2013, p. 81), “com o propósito de orientar os professores da educação
infantil quanto às novas exigências pedagógicas da atualidade, orientá-los nas questões
epistemológicas, políticas e culturais que permeariam suas práticas”.
De acordo com os estudos de Richter (2013, p.92), enumeramos algumas ações que
buscaram nortear as propostas de organização e implementação dos pressupostos político-
pedagógicos para educação infantil do município de Uberlândia. Anterior ao documento DC-
EI/2003, temos a “Proposta Curricular Definindo Caminhos”, do ano de 1998. Esse
documento, após uma complementação realizada por uma equipe designada pela SME da
época, dá origem ao “Referencial Curricular Básico para a Educação Infantil do município de
Uberlândia”. Alguns eventos que aconteceram em nível nacional e regional contribuíram com
essas discussões e deram sustentação a essas propostas, como a elaboração do RCNI/1998, a
aprovação das DCNEI/1999, o Fórum Mineiro de Educação Infantil/1998 e os Fóruns
Regionais que articulavam o debate em nível regional. Nesse contexto, Uberlândia fez parte
50
do Fórum Regional TRIALPANOR/1999 (Regiões do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba,
Norte de Minas), sediando o II Encontro Regional.
As Diretrizes Curriculares para Educação Infantil (2003) foram inspiradas, de acordo
com Mariano (2009), na proposta pedagógica de Porto Alegre/1999. Considerada uma
proposta “inovadora ao afirmar a educação infantil como um espaço do lúdico, da
imaginação, da criação, do acolhimento, da curiosidade, da brincadeira, onde o cuidar e o
educar são dimensões presentes em todas as interações com as crianças”. (MARIANO, 2009,
p. 50).
A proposta curricular era organizada por Eixos denominados “Complexos Temáticos
Contextuais” que eram compreendidos a partir de sua relação com o contexto sócio-histórico
da criança. De acordo com Mariano (2009), representavam a tentativa de romper com práticas
pautadas em currículos conservadores, conteudistas e de cunho preparatório para etapas
seguintes. Sua estruturação pautava-se nos seguintes eixos: “identidade, gênero, etnia e
religiosidade na trama das diferenças; proteção, afeto e aconchego; brincadeiras e jogos;
imaginação e fantasia”. Mariano (2009) faz uma ressalva em suas análises sobre como é
abordado sucintamente os pressupostos teóricos sobre o tema do “lúdico” e seus modos de
efetivação no cotidiano das unidades de educação infantil.
Durante a gestão municipal, 2013-201621, foi instituída a Lei Municipal 11.444/2013,
que estabeleceu a Rede Pública Municipal pelo Direito de Ensinar e Aprender (Lei
anteriormente citada no capítulo introdutório desta pesquisa). A Secretaria Municipal de
Educação, com a participação social e popular, propôs a elaboração e desenvolvimento da
política pública educacional, conforme as orientações expressas na Lei Municipal nº
11.444/2013 e na Carta22 às pessoas que optaram por participar ativamente da concretização
do direito de ensinar e de aprender, em Uberlândia.
Em conformidade, acontece em 2014 a elaboração do Plano Municipal de Educação –
PME23, pautado em princípios legais como a Constituição Federal, Art. 214, a LDB Lei nº.
21Gestão 2013-2016 teve como prefeito municipal o professor Gilmar Alves Machado e a Secretária de Educação
Gercina Santa Novais. 22UBERLÂNDIA. Carta às pessoas que optaram por participar ativamente da concretização do direito de ensinar
e de aprender em Uberlândia. Publicada no Diário Oficial do Município, em 8 de outubro de 2013.Disponível
em:<http://www.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/9241.pdf.>. Acesso em: 7 set. 2019. 23
O “Congresso Municipal de Educação - Plano Municipal de Educação - Por Uma Cidade Educadora”, iniciou
no dia 11 de setembro de 2014 e se estendeu até o dia 12 de novembro de 2014. Ao todo participaram 602
delegados/as, 83 observadores/as e 42 convidados/as, num total de 737 participantes, distribuídos nos seis eixos
temáticos. UBERLÂNDIA. Lei nº 12.209, de 26 de junho de 2015 que aprova o Plano Municipal de Educação para o
decênio 2015/2025 e dá outras providências. Diário Oficial do Município, Uberlândia, MG, 26 de jun. de 2015.
Disponível em: <https://leismunicipais.com.br › mg › Uberlândia › lei-ordinária › 2015. Acesso em: 7 set 2019.
51
9.394/96, Art. 11, inciso I, PNE Lei nº 10.172/01, Art. 2º, 5º e 6º, e o PDEE, Lei nº 19.481 de
2011, que institui o Plano Decenal de Educação do Estado de Minas Gerais e a Lei Orgânica
do Município de Uberlândia em seu Art. 161.
De acordo com o documento de apresentação, “o Plano Municipal de Educação é um
documento que estabelece diretrizes, metas e prioridades para a educação municipal e tem
como objetivo melhorar a qualidade do ensino oferecido pelo município”. (UBERLÂNDIA,
2015, p. 1).
Sua construção pautou-se numa proposta estruturada na participação,
acompanhamento e a avaliação por parte da sociedade civil, representada pelo Conselho
Municipal de Educação, Câmara Municipal, trabalhadores/as da educação, pais/responsáveis
de alunos/as, e todos/as os/as cidadãos/ãs que, de alguma forma, estiveram envolvidos no
processo educacional do município, a fim de garantir a efetivação das diretrizes e metas
estabelecidas.
A construção do PME para a cidade de Uberlândia significa um grande
avanço, por se tratar de uma Política de Estado e não somente uma Política
de Governo. A sua aprovação pelo poder legislativo, sancionada pelo chefe
do executivo, transforma-o em lei municipal e confere-lhe o poder de
ultrapassar diferentes gestões. Nesse prisma, o PME promove a superação de
uma prática tão comum na educação brasileira: a descontinuidade que
acontece em cada governo; recomeçar a história da educação,
desconsiderando as boas políticas educacionais anteriores por não serem de
sua iniciativa. Com um Plano Municipal de Educação com força de lei,
respeitado por todos os dirigentes municipais, resgata-se o sentido da
continuidade das políticas públicas. (UBERLÂNDIA, 2014, p.1).
No que compete à avaliação, o PME/2015 aborda de forma geral, na Diretriz XI,
“Promoção do desenvolvimento, da aprendizagem e da avaliação da educação, em seus
diferentes níveis, etapas e suas modalidades”, as seguintes estratégias:
1) Implementar e fortalecer práticas de avaliação formativa que garantam
o acompanhamento das aprendizagens dos estudantes.
2) Implementar a avaliação institucional participativa nas escolas e, por
meio dela, construir indicadores acerca da realidade escolar, como
referência para o trabalho pedagógico da escola.
3) Promover debates e discussões, em cursos de formação continuada, acerca
das avaliações internas e externas, no sentido de desenvolver
UBERLÂNDIA. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br › mg › Uberlândia › lei-ordinária › 2015. Acesso
em: 7 set 2019.
52
conhecimentos sobre as mesmas, facilitando a interpretação e compreensão
de seus resultados, buscando a melhoria da qualidade da educação.
4) Garantir que as avaliações externas e internas sirvam de parâmetros
para a implementação de políticas educacionais.
5) Prever, implantar e garantir que no Sistema de Avaliação da Educação
Básica as pessoas com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades/superdotação sejam avaliadas, respeitando seu
desenvolvimento e garantindo, dessa forma, sua inclusão.
6) Desenvolver instrumentos específicos de avaliação da educação básica e
suas modalidades, levando em consideração as especificidades das propostas
pedagógicas de cada unidade de ensino.
13) Criar um Sistema Municipal de Avaliação da infraestrutura,
equipamentos, materiais didáticos, pedagógicos e permanentes das
instituições educacionais. (UBERLÂNDIA, p.50 - 52, 2015, grifo nosso).
Elaborado com base no PNE, mas com a preocupação em garantir sua identidade e
autonomia, foi estruturado e pautado nos seguintes eixos:
I. Sistema Municipal de Ensino;
II. Educação Inclusiva: Cidadania e Emancipação;
III. Qualidade da Educação: Democratização e Aprendizagem;
IV. Gestão Democrática;
V. Valorização dos/as Trabalhadores/as da Educação: Formação e Condições
de Trabalho;
VI. Financiamento da Educação: Transparência e Controle Social.
(UBERLÂNDIA, 2014, p.1)
Em consonância com as metas e objetivos das leis supracitadas, no mesmo ano é
elaborado o documento “Orientações Teóricas/Práticas elaboradas com Gestores/as: um
convite a todos/as os/as profissionais da Rede Pública Municipal de Ensino de Uberlândia
para refletirmos sobre o ano letivo/escolar de 2015”. Tratou-se do delineamento acerca da
proposta educacional a ser adotada pelas unidades escolares da rede pública municipal de
ensino de Uberlândia. De acordo com o documento, sua elaboração contou com participação
de: diretor (a) e vice-diretor (a) das unidades de ensino fundamental e de educação infantil,
inspetor(a), membros do Comitê Gestor da Rede Pública Municipal pelo Direito de Ensinar e
de Aprender, assessoria pedagógica do ensino fundamental e da educação infantil, chefe de
gabinete, secretária municipal de educação, assessoria de apoio da SME, professores (as)
53
formadores/as do CEMEPE, diretora e vice diretora do CEMEPE, diretor do Campus de
Apoio às pessoas com deficiência. (UBERLÂNDIA/OTP, 2014, p.4).
Ao final do ano de 2015 as equipes das escolas, das Assessorias, do Comitê Gestor da
Rede Pública Municipal pelo Direito de Ensinar e de Aprender, do Conselho Municipal de
Educação e do CEMEPE realizaram uma releitura e análise do documento de Orientações
Teóricas/Práticas [...] 2015. Essa revisão teve como objetivo verificar os compromissos/ações
assumidos e os significados dos mesmos para a construção da qualidade social da educação,
bem como se os objetivos definidos foram alcançados. Dessa ação, resultou o documento,
Orientações Teóricas/Práticas elaboradas com Profissionais da Educação, Membros dos
Grêmios Estudantis Livres e Conselheiros (as) do Conselho Municipal de Educação. Um
convite à reflexão coletiva sobre o ano letivo/escolar de 2016. (UBERLÂNDIA, 2016).
De acordo com o documento, o processo educativo se evidenciava pelas seguintes
dimensões:
1.Convivência: autoestima, afetividade, bullying, violências, baixa
participação da família na escola, relações interpessoais e direitos humanos. 2.Prática pedagógica: metodologias de ensino, didática, avaliação,
organização e uso do tempo e espaço escolar e uso de tecnologias
inovadoras. 3.Gestão escolar democrática e gestão democrática da produção e
comunicação do conhecimento: mecanismos de gestão democrática, gestão
do tempo e espaço escolar, gestão da aula, gestão dos recursos humanos,
gestão dos processos administrativo-pedagógicos, gestão da produção e
socialização das informações e gestão da relação entre escola, comunidade e
equipamentos sociais. (UBERLÂNDIA/OTP, 2014, p.4. Grifo nosso).
Nessa direção, o Movimento de Reorientação Curricular desenvolvido na rede
municipal durante a gestão 2013-2016 propôs a efetivação de um projeto pedagógico
embasado numa concepção teórico-metodológica fundada nas teorias histórico-cultural e
sociocultural24 de educação. O Movimento buscou fomentar “reflexões coletivas sobre a
realidade da educação infantil” e do ensino fundamental I da rede pública Municipal. A
problematização das práticas pedagógicas e seus significados para as crianças acontecia em
24Sobre as teorias citadas, de acordo com o documento: A concepção teórico-metodológica, fundada
especialmente no pensamento de Vygotsky (1991) e de Wallon (1950, 1980), pode dialogar com outras
abordagens que, ao invés de se contradizerem, se complementam na elaboração de um projeto educacional para a
atualidade, colocando o sujeito sócio-histórico e a cultura no centro do amplo universo da educação. Na
concepção de Vygotsky, o desenvolvimento do sujeito é resultado de um processo sócio-histórico e a linguagem
e a aprendizagem são fundamentais nesse processo. A ação do sujeito sobre o meio é socialmente mediada. A
teoria de Wallon, também denominada de sócio-histórica, assim como a teoria vygotskyana, têm como
fundamentos para a construção do conhecimento e da aprendizagem as relações sociais, afetivas e culturais. A
concepção sócio-histórica pode estabelecer e estabelece conexões com outras concepções teórico-metodológicas
aplicadas à educação, ajudando a construir outros paradigmas para o campo educacional. Nesse sentido,
podemos recuperar aqui a pedagogia crítico-social. (UBERLÂNDIA/OTP, 2015, p.4-5)
54
“Rodas de Conversa, Escuta Ativa, Mini-fóruns, Visitas Técnico-pedagógicas nas Unidades
Escolares, formação in loco e no CEMEPE, formação dos (as) gestores (as) e coordenadores
(as) das Unidades Conveniadas-ONGs, dentre outras estratégias”. (UBERLÂNDIA, 2015,
p.30-31). Esse movimento desencadeou ações que culminaram na reescrita/atualização dos
PPPs25 e seus respectivos Planos Curriculares de Educação Infantil, Regimentos Escolares e
PAPAEs26, ao mesmo tempo em que acontecia a implementação e avaliação desses
documentos.
A proposta deixava bem claro que o objetivo era orientar as ações a serem
desenvolvidas, também que o documento fosse vivenciado no cotidiano escolar, provocando
análises, ações/projetos pedagógicos e avaliações permanentes, um compromisso firmado
com a educação democrática e de qualidade referenciada socialmente e assumido pela gestão
2013-2016, registrado, por exemplo, na lei 11.444/2013.
As ações desencadeadas no campo educacional, a partir de 2017, aconteceram em
decorrência das mudanças na gestão política do município, da aprovação e da necessidade de
implantação da BNCC/2017.
2.2.1 A escolha da EMEI Tecelã
A escolha da EMEI Tecelã27 da cidade de Uberlândia MG, como lócus da pesquisa se
deu pelo fato de a pesquisadora atuar na referida escola e escutar narrativas sobre dificuldades
para realizar registros sobre desenvolvimento e aprendizagem das crianças, o que possibilitou
acesso e melhores oportunidades de contato com os participantes do estudo. A instituição, de
localização urbana e central, possui 10 salas de aula, espaço externo com área verde, parque
com brinquedos, biblioteca, quadra, refeitório, secretaria, sala dos/as gestores/as, sala de
25 Durante o ano de 2015 a Assessoria Pedagógica realizou Reuniões Formativas/Informativas Mensais com
os(as) gestores(as) que trabalham nas EMEIs e nas Escolas de Ensino Fundamental que possui salas de Educação
Infantil. Em todas as reuniões os(as) gestores(as) foram orientados(as) a compartilhar as discussões na escola
acerca do tema apresentado e realizar a articulação com o processo de reescrita dos PPPs, ou seja, a partir da
participação nas reuniões, os(as) gestores(as) deveriam promover tais reflexões na escola nos sábados escolares,
de maneira que este documento fosse construído de forma coletiva e contextualizada com a proposta da Rede
Pública Municipal de Ensino de Uberlândia, por todos os profissionais que trabalham nas Unidades Escolares.
Também foi realizado mensalmente as Reuniões por Polos, em que participaram os(as) gestores(as) e
pedagogos(as). Nesses Encontros foram feitas discussões específicas acerca do processo de reescrita dos PPPs.
Neste ano de 2016, será mantido o mesmo formato: acontecerão as Reuniões Formativas/Informativas e
Reuniões de Polos com os(as) gestores(as) e pedagogos(as) e estes(as) profissionais serão responsáveis por
compartilhar/efetivar as discussões feitas nas reuniões com os(as) demais profissionais da escola, nos sábados
escolares, horário de módulo e estudo dos(as) profissionais com objetivo de finalizar a reescrita do PPP e demais
documentos da escola. 26 PAPPAE- Plano de ação Por Ano de Ensino. 27 A escolha do nome da EMEI Tecelã está relacionada ao conto utilizado no memorial e tem como objetivo
preservar a identidade da escola e das participantes da pesquisa.
55
professores/as, sala das pedagogas e banheiros adaptados. Atende na modalidade de Educação
Infantil crianças de 02 a 05 anos, em período parcial.
Antes de iniciarmos a investigação de campo foram necessários dois
encaminhamentos: primeiro, a entrega de um ofício juntamente com uma cópia do anteprojeto
de pesquisa para a SME de Uberlândia, via CEMEPE, para análise e autorização de realização
da mesma na unidade definida. Segundo, uma carta de minha orientadora apresentando-me
como pesquisadora do PPGEB da UNIUBE, (Termo de autorização para realização de
pesquisa-diretoras/diretores), e solicitando o referido estudo na EMEI, assim como a ter
acesso aos registros de avaliação/relatórios elaborados pelos/as professores/as sobre os/as
alunos/as, ao Projeto Político Pedagógico da escola e também para a aplicação da entrevista às
professoras e pedagogos/as que atuavam na EMEI escolhida para este trabalho. (apêndices E-
F-G. p. 242-243-245).
2.3 Os participantes e os critérios de inclusão e exclusão
Definido e autorizado o campo, partimos para a escolha dos/as participantes da
pesquisa. Meu primeiro contato com a EMEI para tratar do desenvolvimento da pesquisa foi
muito positivo, pois ao dialogar sobre a intencionalidade e possibilidades do desenvolvimento
das discussões no coletivo dessa unidade, com base nos resultados da investigação, fui
autorizada com entusiasmo pela diretora, especialistas e demais professoras que aceitaram
participar da pesquisa, visto que segundo as mesmas, o tema era de interesse.
O convite foi feito pessoalmente pela pesquisadora e aceitaram participar,
inicialmente, 12 professoras de alunos/as de 1º Período/4 anos e 2º Período/5 anos. Desse
quantitativo, 09 professoras trabalham com os 1º períodos, sendo que 05 atuam no turno da
manhã e 04 no turno da tarde. Atuantes com os 2º períodos foram 03 professores, 01 do turno
da manhã e 02 do turno da tarde. Concordaram também as 03 pedagogas, (analista
pedagógico)28 responsáveis por orientar e acompanhar as referidas professoras. Orientamo-
nos pelos seguintes critérios:
28
A partir da lei complementar nº 661, de 8 de abril de 2019, que alterou a lei nº 11.967, de 29 de setembro de
2014, lei que dispõe sobre o plano de carreira dos servidores do quadro da educação da Rede Pública Municipal
de Ensino de Uberlândia, a nomenclatura “pedagogo/a passou a ser “analista pedagógico”. Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/plano-de-cargos-e-carreiras-uberlandia-mg>. Acesso em: 15 jul. 2019.
56
Demonstração de interesse e concordância dos/as docentes e pedagogos/as em
participar da pesquisa.
A escolha de professores/as e pedagogos/as que atuam em turmas de alunos/as de 4 e 5
anos da escola municipal de educação infantil deveu-se ao fato de que são essas
crianças que estão na faixa etária contemplada pelas mudanças oriundas da Lei
12796/13.
Duas professoras que atuavam nessa faixa etária não aceitaram participar e as demais
professoras da escola não participaram da pesquisa por justamente não atuarem junto ao grupo
de 1º e 2º períodos e, portanto, não atenderem a um dos critérios de escolha e delimitação dos
participantes da pesquisa. Inicialmente 12 professoras concordaram em participar, porém,
uma não conseguiu. Tentamos em várias ocasiões, mas não houve possibilidade de agenda por
motivos particulares.
Importante destacar que os nomes dos/as professores/as e pedagogos/as que adotamos
na apresentação dos dados da pesquisa são fictícios e foram escolhidos pela pesquisadora em
homenagem às alunas do 2º ano do ensino fundamental, nível de ensino no qual a
pesquisadora também atua.
57
III
POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL: conquistas e retrocessos
É preciso inverter o olhar que se tem sobre a infância, pensar a infância a
partir de uma outra lógica. A partir do que ela tem e não do que lhe falta.
Como presença e não como ausência. Como afirmação e não como negação.
Como força e não como incapacidade. Essa mudança de percepção vai
gerar outras mudanças nos espaços outorgados à infância no pensamento e
nas instituições pensadas para ela. (KOHAN, 2008, p. 41).
Esta seção inicia-se pela discussão sobre concepções de crianças e de infâncias e a
trajetória de se constituírem como sujeitos históricos e de direitos. Entrecruza passado e
presente buscando compreensões sobre as políticas públicas de educação e avaliação na
educação infantil, suas conquistas e retrocessos. Realiza algumas considerações sobre a
história das primeiras instituições de acolhimento/atendimento à infância no Brasil, com o
objetivo de tecer considerações acerca de como se constituiu essa trajetória e os modos de
legislar no campo das políticas públicas de acolhimento, educação e avaliação na educação
infantil no país e na rede pública municipal de educação de Uberlândia-MG.
Ademais, discorre, no que tange aos avanços e retrocessos no campo de conquista de
direitos e sobre avaliação na educação infantil, ancorando-se nas orientações e ordenamentos
legais nacionais de maior amplitude como: a Declaração dos Direitos Universais de 1948 a
Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 (LDBEN-BRASIL, 1996), os
Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil-RCNEI (MEC, 1998), as Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Infantil-DCNEI (BRASIL, 1999), Plano Nacional de
Educação (PNE, 2001), o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(FUNDEB, 2007), a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, que fixa as novas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a educação infantil e o Plano Nacional de Educação (PNE 2014-
2024).
E, finalmente, expõe o que nos sinaliza a Lei nº 12.796/13 e a nova Base Nacional
Comum Curricular (BNCC, 2017) sobre a avaliação na educação infantil, buscando
aproximações e afastamentos e, ainda, sentidos e significados na/para a educação na infância.
58
3.1 Infâncias, educação infantil e avaliação
Nos dias atuais, permanece a necessidade de fortalecer a educação infantil como direito
fundamental da criança e o espaço destinado a educar, abdicando do caráter assistencialista
que predominou e ainda persiste em parcelas significativas de instituições que se ocupam
dessa modalidade de ensino.
Para melhor compreender esse processo, é importante retomar aspectos relativos à
infância e à história da educação infantil, contudo, tal retomada não é tarefa fácil, pois há
diferentes formas de conceber a infância em diferentes momentos históricos. Optamos por
apresentar aportes teóricos que poderão nos auxiliar na compreensão da constituição das
noções de criança e de infância, a partir do diálogo com teóricos que tratam das construções
históricas sobre essa fase, à luz dos escritos de Ariès (2006) e de educação infantil ancorada,
especialmente, nas elaborações de Kramer (1985) e Lazari (2013), Larrosa (2003), Postman
(1999), Sarmento (2004), Salles & Secundes (2017), Carvalho(2015), Carvalho & Guizzo
(2018).Também buscamos suporte em teses e dissertações cujas produções faziam referência
às políticas públicas e à avaliação na referida modalidade de ensino, como Moraes (2014),
Maia (2012), Lima (2018) e Tsuda (2008).
Larrosa (2003) traz apontamentos que nos sinalizam que a tarefa, no sentido de
tentarmos compreender o conceito de infância, não é tão simples:
A infância é algo que nossos saberes, nossas práticas e nossas instituições já
capturaram: algo que podemos explicar e nomear, algo sobre o qual
podemos intervir, algo que podemos acolher. A infância, desse ponto de
vista, não é outra coisa senão objeto de um conjunto de saberes mais ou
menos científicos [...]. Não obstante, e ao mesmo tempo, a infância é um
outro: aquilo que, sempre além de qualquer tentativa de captura, inquieta a
segurança de nossos saberes, questiona o poder de nossas práticas e abre um
vazio em que se abisma o edifício bem construído de nossas instituições de
acolhimento. (LARROSA, 2003, p. 184).
Ariés (2006), considerado o precursor da história da infância, ao analisar a vida social
das crianças em obras de arte e literatura nos séculos XVI e XVII, nos traz representações de
crianças que eram consideradas adultas em miniaturas, se vestiam como pessoas adultas,
participavam das ações e conviviam cotidianamente com estes sem restrições ou
discriminações de qualquer natureza, sendo a taxa de mortalidade muito alta nessa faixa
etária. Morriam sem serem reconhecidas como crianças, carentes de afeto, de direitos e de
infância. Segundo ele:
59
A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua
evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos
séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento particularmente
numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século
XVII. (ARIÉS, 1981, p. 65).
De acordo com Ariés (2006), o sentimento de infância é uma construção social
resultante de uma nova forma de organização da sociedade que passa a ver a criança com
certas particularidades específicas de sua faixa etária. Mas não significando garantia de afeto,
concebendo-a como alguém que precisa ser cuidada, educada e preparada para o vir a ser.
Segundo Kramer, ancorada em Ariés (1981, p.10), existiam dois sentimentos de infância, “a
paparicação” e a “moralização”. No primeiro, o adulto considerava a criança graciosa,
ingênua, inocente, e no segundo, um ser que precisava ser educado pelo adulto por ser
incompleto e imperfeito.
Para Lazari (2013), “as transformações ocorridas em relação ao sentimento de
infância, entre os séculos XVII e XVIII, foram as condições históricas que possibilitaram a
emergência de um novo sentimento” (p. 21). A nova configuração familiar que se apresenta
sustenta-se na ideia de criança como “investimento para o futuro, daí a mudança de postura
em relação à preservação e aos cuidados em relação à infância”. Nesse sentido, a necessidade
de uma educação diferenciada ganha peso, é preciso uma educação que atenda as
características específicas da infância, que “[...] deve ser afastada de maus físicos e morais”.
(LAZARI, 2013, p. 19).
Dessa forma, com a ascensão da burguesia, foi se consolidando um novo conceito de
infância ao longo do tempo:
A ideia de infância, como se pode concluir, não existiu sempre, e nem da
mesma maneira. Ao contrário, ela aparece com a sociedade capitalista,
urbano-industrial, na medida em que mudam a inserção e o papel social da
criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel
produtivo direto (“de adulto”) assim que ultrapassava o período de alta
mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa ser
cuidada, escolarizada e preparada para uma atuação futura. Este conceito de
infância é, pois, determinado historicamente pela modificação das formas de
organização da sociedade. (KRAMER, 1995, p. 19).
A invenção da prensa tipográfica, segundo Postman (1999), desencadeou mudanças
culturais importantes que resultaram na atribuição de um novo sentido ao termo infância.
Numa época em que a leitura era privilégio de poucas pessoas da sociedade adulta e a
expansão dos livros carecia de consumidores que dominavam a leitura, as crianças eram vistas
como “adultos não formados” que precisavam ser civilizadas, por meio da escolarização, para
60
chegarem à “adultez”. “Essa foi uma das primeiras separações entre o mundo dos adultos e o
mundo das crianças, a capacidade de leitura.” (SALLES E SECUNDES, 2017, p. 483).
A formação do pensamento moderno de infância teve como destaque os pensadores
Renascentistas John Locke e Rousseau. Suas concepções sobre criança e sua educação foram
muito importantes para o sentimento de infância na contemporaneidade. Segundo Salles e
Secundes (2017), Locke considerava que as crianças, ao nascer, eram desprovidas de qualquer
capacidade de pensamentos natos, eram passivas e suas mentes consideradas como um espaço
vazio. Via potencial na criança, mas ela aprenderia de acordo com as vivências as quais seria
submetida com o adulto e apenas ele julgaria o que lhe seria necessário e importante para o
mundo civilizado. Nesse sentido, era a educação a responsável pela sua formação. Rousseau
já tinha uma visão mais romântica sobre as crianças, vendo-as como seres puros e bons que
teriam que ser protegidas e amadas, a educação tinha função de preservá-las das impuridades
adultas. Mas de qual criança ou infância estamos falando?
Em sua tese de doutorado, Moraes (2014) traz a “acepção terminológica” de infância
(do latim infantia), (de infante = criança) que vem de in-fans, que significa "sem fala" ou
"sem linguagem", faz uma análise que há um entendimento pautado na tradição ocidental e
também no senso comum, que influencia, segundo ele, “a percepção das pessoas acerca do
infante, levando-as à constatação – inadequada, a nosso ver – de que não ter linguagem
significa não ter pensamento, não ter conhecimento, não ter racionalidade". (MORAES, 2014,
p.14).
Para Moraes (2014), essa acepção de infância se funda em concepções pautadas no
“princípio da potencialidade” defendido por um conjunto de filósofos, dentre eles Platão, ou
na “concepção romântica” de Rousseau, que afirma na obra Emílio29, “que a razão social é má
e a criança é boa”, ou seja, a criança é pura e ingênua e é a sociedade que a corrompe.
(MORAES, 2014, p.14).
Moraes explicita sua discordância frente à perspectiva de uma visão adultocêntrica da
criança, visto que segundo ele, “a criança não é simplesmente um dado etário, mas alguém
que interage num tempo e num espaço, influenciando e, ao mesmo tempo, sofrendo
influências do meio em que vive. (MORAES, 2014, p.14-15).
29 “Emílio” é considerada uma obra que teve grande impacto sobre a história das ideias pedagógicas. [...] esta
obra impactou Pestalozzi, Froebel, Claparède e outros grandes nomes da educação moderna (OLIVEIRA, 2013,
p.31).
61
Segundo ele:
Isso nos leva a defender que a criança deva ser vista além da perspectiva de
seu desenvolvimento natural, biológico, etário: por conta das influências da
sociedade, num tempo devidamente demarcado, ela é, óbvia e
consequentemente, sujeito histórico e social. E se assim o é, o seu processo de humanização – e utilizamos o termo no
sentido freireano: condição de inacabamento à procura de "ser mais" – deve
ser buscado. Ao defender que o educando não pode ser visto apenas como
objeto do processo educativo, mas também como sujeito, Freire explicita a
relevância do papel da educação na transformação das pessoas (e criança é
pessoa), que (frise-se!) são seres históricos [...] Entretanto, também admitimos a existência de uma perspectiva oposta –
assentada numa "desejável" passividade infantil –, construída histórica e
socialmente nos mais diversos contextos, a qual impactou e tem impactado
em práticas pedagógicas da atualidade. [...]. (MORAES, 2014, p.15).
Neste contexto, Salles e Secundes (2017), defendem que o sentido de infância se
transforma conforme o contexto histórico, social, político e econômico de cada época e
complementa:
Varia ainda de região para região, de cidade para cidade, de cultura para
cultura, ou até mesmo dentro de uma mesma família, existindo, por tanto,
infâncias e não só uma infância. Dentre essa diversidade há algo em comum:
é sempre de crianças que estamos a falar e é irredutível ao mundo dos
adultos a sua identidade. (SALLES E SECUNDES, 2017, p.482).
Portanto, as crianças, além do fator idade que as diferenciam do adulto, desempenham
determinados papéis na sociedade, que estão relacionados e dependem da família, da cultura e
da classe social as quais estão inseridas, da etnia, da raça, do gênero e isso, de acordo com
Sarmento (2004), as diferenciam de forma significativa. Nesse sentido, adotaremos no
decorrer de nossas reflexões os termos “infâncias” e “crianças”, no plural. Concepção que
coadunamos com Kramer (1995) visto que:
Sua participação no processo produtivo, o tempo de escolarização, o
processo de socialização no interior da família e da comunidade, as
atividades cotidianas (das brincadeiras às tarefas assumidas) se diferenciam
segundo a posição da criança e da família na estrutura socioeconômica.
Sendo essa inserção social diversa, é impróprio ou inadequado supor a
existência de uma população infantil homogênea, ao invés de se perceber
diferentes populações infantis com processos desiguais de socialização.
(KRAMER, 1995, p.15).
As contribuições de Maia (2012), em sua dissertação de mestrado, apresentada ao
Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica Dom Bosco, intitulada “Concepções de
criança, infância e educação dos professores de Educação Infantil”, nos mostra que estudos
62
recentes têm evidenciado a presença de diversidades de infâncias e a participação coletiva e
ativa das crianças na sociedade, quebrando com concepções uniformizadoras. O que segundo
Maia ela vem “rompendo com o adultocentrismo, entendendo a criança como um ser social,
histórico, produtor de cultura” (2012, p.33).
Acreditamos que pensar a criança fora do seu contexto é desconsiderar que a
“existência histórica e social é o que impulsiona o crescimento e desenvolvimento da criança
e sua infância e também o referencial ao longo de sua vida.” (MAIA, 2012, p.32).
Entendemos, nesse sentido, que as concepções de infância são atravessadas por marcadores
sociais diversificados, mas de acordo com Sarmento (2002), incorrem sobre uma questão
comum, a sua dimensão simbólica fundada nas culturas da infância.
Portando, afirmamos ser de responsabilidade do poder público garantir espaços que
respeitem as crianças como sujeitos e as infâncias em sua totalidade, levando em consideração
que as transformações que ocorreram e ocorrem na sociedade são determinantes para
entendermos que não existe uma resposta única e definitiva que diz das crianças, das infâncias
e da educação infantil.
3.2 A educação infantil no Brasil: direito fundamental das crianças
Somente no desenrolar do século XX o Brasil começa a desenvolver, de forma mais
ampla, discussões sobre o reconhecimento social da criança e da infância. Mas segundo Salles
e Secundes (2017, p.484), o processo se apresenta como um desafio a ser transposto, pois [...]
“Ainda observamos um descompasso entre a organização do nosso sistema de educação e a
valorização das dimensões infantis, além de problemas estruturais”. Porém, antes de
adentrarmos no tema específico referente à educação infantil no Brasil, é fundamental uma
breve remissão sobre como essa modalidade de ensino surgiu lá fora, em países precursores
na implementação dos primeiros “estabelecimentos” destinados, a princípio, em acolher,
ensinar e educar.
De acordo com Rizzo (1991, p.21) foi em Paris, no ano de 1844, que surgiu a primeira
creche com o objetivo de acolher filhos (as) de operárias. A partir daí, o movimento se
expandiu para os Estados Unidos, Rússia e Inglaterra.
Lima (2018) analisa que com a Revolução Industrial, na Inglaterra, fim de século XVIII,
surge a burguesia, sendo que a criança e sua família passam a ocupar novo lugar nas
sociedades industriais, mas o processo não acontece da mesma forma para todos/as.
Interesses sustentados nos modos de produção capitalista desencadeiam transformações na
63
reorganização da sociedade e o surgimento das classes sociais, nas quais as crianças passam a
ter papéis diferentes, principalmente as consideradas carentes.
As crianças pobres (também as mulheres), segundo Lima (2018), passam a ser opção
para atender a demanda crescente por mão de obra para trabalharem na indústria têxtil. “O
baixo custo da mão-de-obra da criança e da mulher promoveu a redução do salário de um
adulto. [...] em função da maquinaria têxtil, o trabalho não exigiria força física e sim mãos
pequenas e dedos ágeis”. (LIMA, 2018, p. 46-47).
A exploração da infância30 nesse período, com vistas a garantir o retorno dos lucros aos
patrões, além da perversidade do ato em si, vinha revestida da justificativa ideológica
burguesa de que era uma ação filantrópica em favor das crianças desfavorecidas
materialmente. Segundo Lima (2018), coadunando com as análises de Lombardi (2011),
“nesse processo o capital não estava interessado nos cuidados com a criança, mas em
salvaguardar sua força de trabalho”. (LIMA, 20018, p. 49).
Diante das péssimas condições em que as crianças trabalhadoras se
encontravam, no século XIX iniciou-se na Inglaterra e pela Europa um
movimento de legislação para regulamentar o uso da mão-de-obra infantil.
[...] A legislação criou limitações e regras para a exploração da criança, sob
vigilância e multas de quem as descumprisse. Contudo, por receio de reduzir
a renda familiar, os próprios pais burlavam as leis e a fiscalização, que
obrigava o envio dos filhos à escola. (LIMA, 20018, p. 49).
O prenúncio da educação pública estatal na Europa aconteceu no momento em que a
burguesia, de acordo com seus interesses, oferecia instrução às crianças trabalhadoras. Às
crianças em condições desfavoráveis, cansadas pela labuta, era oferecida uma escolarização
precária que servisse única e exclusivamente ao mercado. Ou seja, “a infância é diretamente
afetada pela situação da sua classe social”. Para as crianças “de famílias menos favorecidas,
denominadas marginalizadas” uma educação assistencialista regida pelo mercado, e para os
ricos, a livre concorrência, as melhores escolas e os melhores mestres. (LIMA, 2018, p.50).
30 Sobre a exploração do trabalho infantil, Ana Lúcia Kassouf (2007), traz contribuições significantes, “Apesar
de haver extensa literatura sobre os determinantes do trabalho infantil, além de muitas iniciativas e
recomendações visando combatê-lo, há poucos estudos analisando as consequências socioeconômicas do
trabalho de crianças e adolescentes. Os principais danos, apontados em discussões sobre o tema, são sobre a
educação, o salário e a saúde dos indivíduos. [...] No estudo realizado por Kassouf (1999), Ilahi etal. (2000) e
por Emerson e Souza (2003), todos utilizando dados da PNAD para o Brasil, fica claro que, quanto mais jovem o
indivíduo começa a trabalhar, menor é o seu salário na fase adulta da vida e essa redução é atribuída, em grande
parte, a perda dos anos de escolaridade em razão do trabalho na infância. (KASSOUF, 2007, p342-343). Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512007000200005>. Acesso
em: 17 nov 2019.
64
De acordo com Sonia Kramer (1985, p.49), quanto ao atendimento à infância no
Brasil, até 1874, o que existia institucionalmente era a “Roda dos expostos”31 ou
simplesmente “roda”. De caráter assistencialista, foi instalada no Brasil no período colonial
em decorrência dos altos índices de abandono de crianças nascidas ilegítimas e para acudir
órfãos e pobres.
[...]. As mulheres negras, mais utilizadas para realizar os trabalhos
domésticos dentro da casa grande, muitas vezes eram violentadas pelos seus
senhores. Grávidas do homem branco, tinham que abandonar seus filhos,
entregando-os às ‘Casas da Roda’ ou ‘Roda dos Expostos’. As rodas eram
assim chamadas por manterem um dispositivo giratório, através do qual as
crianças adentravam nas instituições ao girar da roda, do outro lado, um
funcionário recolheria o bebê, no anonimato do abandono (TSUDA,2008,
p.20).
Márcia Tsuda (2008, p.19), em sua dissertação “Política Pública de Creche: entre as
leis e a realidade”, mostra em suas análises o fato de haver indícios de que “nem só a mulher
pobre ou escrava abandonava seus filhos na roda, também as mulheres jovens, que não
podiam ser mães por uma série de motivos”. Nesse sentido, o anonimato oferecido pela Casa
da Roda com o atendimento à criança pobre, órfã e abandonada configurou-se nas primeiras
instituições de atendimento à criança no Brasil. Mas só após a independência do país é que
“[...] manifestaram-se, então, as primeiras intenções e iniciativas de atendimento às crianças
pequenas (1822-1889), com objetivo educacional, com o nome de Jardim da Infância”.
(TSUDA, 2008, p.19).
Para Kramer (1985, p.50), “A ideia de proteger a infância começava a despertar. Mas
o atendimento se restringia a iniciativas isoladas que tinham, portanto, um caráter localizado”.
Data desse período a criação do 1º Jardim de Infância do Brasil, por Menezes Vieira, em
1875. No entanto, diante da situação de saúde e educação brasileira da época, as iniciativas
tomadas não atendiam a contento a demanda. Movimento que segundo ela, perdura quase
insignificante até os primeiros anos da República, começando a mudar no início do século
XX.
Kramer (1985, p.52), complementa que diante da “apatia que dominava as esferas
governamentais quanto ao problema da criança”, determinados grupos entraram em ação.
Dentre eles o Instituto de Proteção e Assistência à infância do Brasil, criado em 1899 com
sede no Rio de Janeiro. Destaca que as intenções do grupo ficam explícitas em sua concepção
31 “A Casa da Roda” foi uma instituição criada por Romão Duarte em 1739 para abrigar “almas inocentes” que
tivessem sido abandonadas, enjeitadas ou desamparadas. Também chamada de “Casa dos Expostos” ou “Casa
dos Enjeitados”. (KRAMER, 1995, p.49)
65
de infância, expressa no discurso proferido por Quintino Bocaiúva ao solicitar ao presidente
Campos Sales que o Instituto fosse instalado. “Preservar a infância da destruição que a
condena ao desamparo dos cuidados de que ela carece é garantir à sociedade a permanência e
a sucessão das vidas que hão de ser o sustentáculo de sua estabilidade e os elementos do seu
progresso e engrandecimento”. (KRAMER, 1985, p.52).
Em sua tese de doutorado, Moraes (2014), já citada, também traz contribuições
significativas de como se deu esse movimento no Brasil:
No Brasil, tais instituições passaram a desenvolver-se no final do século
XIX, em meio ao processo de industrialização e urbanização. Dadas as
migrações populacionais para as regiões mais ricas, indústrias são instaladas
para aproveitamento da mão-de-obra, proporcionando atendimento aos filhos
dos trabalhadores, dentro da lógica de que, assim, trabalhariam melhor e
produziriam mais. Na década de 1920, o Estado passa a fornecer, além de estímulos fiscais,
material pedagógico e mobiliário; a prestação de serviços, porém, competiria
à sociedade civil. O ingresso da mulher no trabalho aumenta a necessidade
de criação de creches, numa época em que a mortalidade infantil é
significativa: surgem instituições para cuidar das crianças e orientar as mães,
que, muitas vezes, as deixavam com as "criadeiras". Essas atendiam a filhos
geralmente de empregadas domésticas e mães solteiras, discriminadas nos
meios sociais (MORAES, 2014, p.24).
A partir de 1930, o governo brasileiro passa a preocupar-se com a educação na infância,
mas a pré-escola não tinha caráter formal, as ações e programas oriundos das políticas
públicas da época, ainda segundo Kramer, eram de cunho médico-sanitarista, alimentar e
assistencial.
[...] voltadas, quando muito, para a liberação das mulheres para o mercado
de trabalho ou direcionar a uma suposta melhoria do rendimento escolar
posterior, essas ações partem também de uma concepção de infância que
desconsiderava a sua cidadania e desprezava os direitos sociais fundamentais
capazes de proporcionarem às crianças brasileiras condições mais dignas de
vida (KRAMER, 1988, p.199).
Seguindo essa linha de pensamento, entendemos que nesse período o compromisso com
a aprendizagem, desenvolvimento e com os direitos fundamentais da infância, postulados
pelos ordenamentos legais que hoje vigoram, eram inexistentes.
Conforme Lima (2018, p.50), nos Estados Unidos e em alguns países europeus a
educação pré-escolar começou a ser institucionalizada no fim do século XIX. Essa expansão
da pré-escola veio com uma roupagem de caráter compensatória, como forma de rechaçar as
privações culturais e suprir a falta de assistência na área da saúde, higiene e nutrição. Segundo
66
ela, a importância da pré-escola se intensifica após a Segunda Guerra Mundial, fortalecendo
ainda mais seu caráter “compensatório, visando o cuidado e proteção de crianças carentes”.
Por um lado, foi introduzido o conceito de assistência social para crianças
pequenas, sendo ressaltada a sua importância para a comunidade na medida
em que liberava a mulher para o trabalho. Por outro lado, foi despertado o
interesse por novas formas de atuação com crianças cujas famílias passavam
agora por situações antes desconhecidas e que implicavam a ausência do pai
(convocado para a guerra) e, muitas vezes, a da mãe (engajada no trabalho
produtivo). Surgia, assim, a preocupação com as necessidades emocionais e
sociais das crianças (KRAMER, 1995, p. 27).
Em decorrência das preocupações e aprofundamento nas discussões sobre o direito
na/para a infância, foi elaborada a Declaração dos Direitos Universais de 1948, que em seu
art. I preconiza que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direito. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade”. Os direitos das crianças e adolescentes passam então a ser tema de reflexões no
mundo, já que era preciso aprofundar o que indica o artigo I dessa Declaração.
Nesse ínterim, segundo Kramer (1995), tomam corpo as discussões influenciadas pelas
teorias psicanalíticas e do desenvolvimento da criança na pré-escola. Em relação às teorias
sobre desenvolvimento humano, os representantes, na época, eram Montessouri, Piaget e
Vigotsky.
Crescia o interesse de estudiosos da aprendizagem pelo conhecimento dos
aspectos cognitivos do desenvolvimento, pela evolução da linguagem, e pela
interferência dos primeiros anos de vida da criança no seu desempenho
acadêmico posterior (KRAMER, 1995, p. 27-28).
No Brasil, em relação às mudanças educacionais, em 1953 foi criado o Ministério da
Educação/MEC e data de 1960 a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação-
LDB/60. Segundo Faleiros (2005), a lei vinha sendo discutida desde 1948 e com vários
substitutivos, mas sua aprovação não trouxe avanços significativos no campo de atendimento
à infância pobre, como podemos demonstrar:
A Lei de Diretrizes e Bases passou a considerar os estudantes pobres objeto
da assistência social, ao estabelecer que ao Estado cabia fornecer recursos à
família quando fosse provada a insuficiência de meios (art. 2º). Esse dever
do Estado era genérico e apenas declaratório. O art. 30 da referida lei punia o
pai que não colocasse o filho na escola, privando-o de emprego público, mas
este não recebia punição se fosse pobre ou se houvesse insuficiência de
escolas. Contraditoriamente, a própria lei isentava as crianças pobres da
obrigatoriedade da escola, “por comprovado estado de pobreza dos pais” ou
por “insuficiência de escolas”. Essa contradição da lei servia para manter o
67
status quo de exclusão da maioria da população no acesso à escola, ou seja, a
maioria era uma exceção, vivia num estado de exceção. Na sociedade
brasileira, a proposta republicana de escola para todos fracassou, em
comparação com o desenvolvimento da República em outros países, como
na França, onde implicou a escolarização em massa. (FALEIROS, 2005,
p.173).
Destacamos que a Lei manteve o caráter assistencialista que já vinha permeando as
políticas de atendimento à infância, como já citado anteriormente. As mudanças consistentes
no campo das políticas públicas de atendimento à criança viriam a partir do movimento de
democratização do país, com o fim da ditadura em meados da década de 1980.
A partir de 1980, as discussões sobre a infância/criança ganharam adeptos nas
universidades, centros de pesquisa, sistemas de ensino e movimentos sociais que se
articularam para fortalecer a demanda por mudar a precariedade em que se encontrava a
educação infantil no Brasil. Os movimentos sociais desempenharam importante papel nesse
sentido e conquistaram, com a promulgação da Constituição de 1988, o reconhecimento do
atendimento à criança pequena como um direito da própria criança e da família, assim, pela
primeira vez na história do país, assegurá-la como dever do Estado, uma educação que deve
superar o caráter assistencialista.
As concepções teóricas e a legislação específica em relação aos direitos das
crianças foram sendo modificadas a partir das últimas décadas do século
XX. A Educação Infantil deixou de ter como referência as políticas de
assistência, recreação e saúde e passou a ser tratada como um tema
educacional. E a criança tornou-se o centro do processo educativo, tendo
direito à educação formal (CARVALHO, 2015, p.470).
Essa conquista foi também reiterada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Lei nº 8.069, de13 de julho de 1990, que parte do pressuposto de que toda criança e adolescente
têm direito constituinte à educação, independentemente de sua classe social. “Isso significa que
o ECA reconheceu as crianças como pessoas em condições específicas de desenvolvimento e
contribuiu potentemente para a construção da visão de criança como cidadã” (CARVALHO e
GUIZZO, 2018, p.774).
Em decorrência desses avanços, em 1990 inicia-se, segundo Carvalho e Guizzo (2018,
p. 776), “a elaboração e a publicação de programas e documentos oficiais relativos à Educação
Infantil no país [...], produzidos pelo governo federal, um deles o Projeto de Educação por
Multimeios para a formação de professores de pré-escola” e complementa:
Nesse cenário, a primeira Política Nacional de Educação Infantil foi definida
em 1994, focalizando a elaboração de propostas curriculares para as crianças
68
em creches e pré-escolas e definindo que o currículo da Educação Infantil
deveria ter como parâmetro o reconhecimento do nível de desenvolvimento
das crianças, a diversidade social, cultural e os conhecimentos a serem
abordados. Tendo em conta esses aspectos, Amorim e Dias (2012) argumentam que o
objetivo da política proposta foi organizar o atendimento e promover a
elaboração, a operacionalização e a avaliação de propostas curriculares de
acordo com as orientações constantes no documento (CARVALHO e
GUIZZO, 2018, p.776).
Segundo Carvalho (2015), nos anos de 1994 a 1995 desencadeou-se um movimento que
visava o desenvolvimento de projetos e análises de propostas pedagógicas e curriculares para
a educação infantil que foram debatidas e examinadas por uma equipe de pesquisadoras
formada por Tisuko Morchida Kishimoto, Zilma de Moraes Ramos de Oliveira, Maria Lúcia
Machado, Ana Maria Mello e Sônia Kramer, sob a Coordenação de Educação do
MEC/COEDI. Diante do diagnóstico resultante da discussão conceitual sobre qual currículo
ou as propostas pedagógicas nessa modalidade de ensino eram desenvolvidas nas cidades
brasileiras, elaboraram e publicaram dois documentos relevantes na efetivação de uma
política curricular para a educação infantil brasileira, são eles: “1) Critérios para um
Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças (MEC, 1995);
2) Propostas Pedagógicas e Currículo em EducaçãoInfantil: um diagnóstico e a construção de
uma metodologia de análise (MEC, 1996)”. (CARVALHO e GUIZZO, 2018, p776).
Nessa direção, a homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9.394/96 - (LDBEN– BRASIL, 1996), definiu a educação infantil como a primeira etapa da
educação básica, comprometendo-se a atender crianças de 0 a 6 anos de idade, com a finalidade
principal de subsidiar o desenvolvimento intelectual e social em complementaridade à ação da
família e da comunidade. Deixa delimitado o atendimento em creches para as crianças de 0 a 3
anos e na pré-escola para as crianças de 4 a 6 anos.
De acordo com Carvalho (2015), foi a partir da LDBEN (1996) que se iniciou o
movimento de transição das instituições de educação infantil das Secretarias de Assistência
Social para as Secretarias de Educação, o que estimulou a construção de uma nova identidade
para esse ciclo do ensino. Primeiro, no sentido de atender as orientações legais previstas na
nova legislação e segundo, na tentativa de superação do caráter assistencial e preparatório,
atrelado a uma concepção de educação infantil pautada na dicotomia cuidar e educar32. É
32 Sobre o cuidar e educar- De acordo com o RCNEI (1998), “O desenvolvimento integral depende tanto dos
cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo,
como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são
oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados. [...] Além da dimensão afetiva e relacional
do cuidado, é preciso que o professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim
69
importante destacarmos que a na educação infantil atender à criança não se resume em
cuidados físicos básicos. Contempla a dimensão do cuidado físico, cognitivo, psicológico,
social e emocional, com finalidade de colaborar para suprir integralmente todas as necessidades
da criança como sujeito de direitos.
Em 1998, foram então publicados e distribuídos os Subsídios para
credenciamento e funcionamento de Instituições de Educação Infantil. O
documento tinha como objetivo orientar a elaboração, a execução e a
avaliação de propostas pedagógicas. Além disso, assegurou que as propostas
pedagógicas, a partir daquele momento, seriam consideradas requisito
indispensável para o funcionamento das instituições. (CARVALHO, 2015,
p.471).
Ainda em 1998, o Ministério da Educação e do Desporto (MEC), de modo “unilateral”
e enfrentando inúmeras críticas e pareceres contrários, publicou os Referenciais Curriculares
Nacionais de Educação Infantil-RCNEI (MEC, 1998)33, aprovado pelo Conselho Nacional de
Educação (CNE) e definido como “orientações com caráter não obrigatório [...]”. Para
Carvalho, “tal atitude unilateral ratificou equivocadamente a compreensão dos professores de
Educação Infantil de que os RCNEI seriam uma proposta curricular nacional de caráter
mandatório” (CARVALHO, 2015, p.778-779).
No tocante à avaliação, o Referencial Volume 1 faz algumas considerações relevantes.
Busca sustentação legal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em dezembro
de 1996, na Seção II, referente à educação infantil, em que o artigo 31traz: “a avaliação far-
se-á mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de
promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental”. (MEC, 1998, p.59). Explicita a
observação e o registro diário das atividades das crianças de forma contextualizada, nos
momentos das interações estabelecidas no ambiente escolar, como meio de acompanhar os
processos de desenvolvimento e obter informações sobre as suas experiências, podendo o/a
professor/a utilizar de diferentes formas de registro e uma coletânea de materiais, que se
compilados de forma sistemática e contínua, irá se constituir num conjunto de elementos que
como atendê-las de forma adequada. Assim, cuidar da criança é sobretudo dar atenção a ela como pessoa que
está num contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e
respondendo às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe
sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilidades, que aos poucos a
tornarão mais independente e mais autônoma. (BRASIL,1998, p.24-25). 33
Este Referencial, agrupado em três volumes, apresenta uma proposta contemplando dois âmbitos de
experiência: Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo, com seus respectivos “eixos de trabalho”:
Identidade e Autonomia, Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e
Matemática (BRASIL, 1998).
70
orientarão o/a docente no planejamento de suas ações educativas intencionais e significativas.
Apontam, nesse sentido, a defesa da avaliação formativa.
Quanto à participação da família ou responsáveis no processo, salientam que “[...] os
pais, também, têm o direito de acompanhar o processo de aprendizagem de suas crianças, se
inteirando dos avanços e conquistas, compreendendo os objetivos e as ações desenvolvidas
pela instituição” (BRASIL, MEC, 1998, p.61).
Neste documento, a avaliação é entendida, prioritariamente, como um
conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de
aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas
pelas crianças. É um elemento indissociável do processo educativo que
possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar
situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como
função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um
todo. (BRASIL, MEC, 1998, p.59).
Carvalho (2015), coadunando com autores como, Amorim e Dias (2012) faz uma
ressalva ao destacar que os RCNEI (MEC, 1998) não trouxeram avanços no campo político,
pedagógico e conceitual para a educação infantil.
[...] conforme os referidos autores, o documento não focalizou a Pedagogia
da Infância34 como princípio educativo, uma vez que privilegiou o aluno, e
não a criança. Ou seja, parecia buscar desenvolver um trabalho pedagógico
voltado para disciplina, concentração e produtividade das crianças desde a
mais tenra idade. A título de exemplo, evidencia-se nos RCNEI a presença
de um currículo prescritivo por idade (dividido entre creche e pré-escola), no
qual são privilegiadas áreas de conhecimento. (CARVALHO, 2015, p.779).
Dentre esses documentos norteadores da educação infantil estão também as Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Infantil-DCNEI (BRASIL, 1999), que se constituem em
orientações de caráter mandatório que auxiliam na elaboração de projetos e propostas
pedagógicas que considerem os saberes e fazeres dessa modalidade, problematizando e
qualificando as práticas educativas nas instituições. Sobre a avaliação, definem como sendo
obrigatoriedade das instituições, pautadas no PPP, a responsabilidade de criarem os
34De acordo com Gabriela Nogueira e Suzana Vieira(2013), A Pedagogia da Infância, “[...] pressupõe reconhecer
a criança como sujeito de direitos, que vivencia diferentes infâncias em tempos e espaços sociais diversificados,
considerando seu contexto de vida mais imediato, suas necessidades, peculiaridades e diferenças culturais,
étnicas e de gênero. [...] A Pedagogia da Infância envolve a sensibilidade da escola e dos professores para
compreenderem e incorporarem a cultura infantil em seu projeto pedagógico, buscando aliar as lógicas infantis
às lógicas educativas”. (NOGUEIRA; VIEIRA, 2013, p.280-281).
Disponível em:< http://www.revistas.udesc.br/index.php/linhas/article/view/1984723814262013265/2543>.
Acesso em: 17 nov. 2019.
71
procedimentos e os modos de avaliarem o trabalho pedagógico no sentido de favorecimento das
aprendizagens e desenvolvimento das crianças. Ou seja, o papel da avaliação pauta-se na
garantia dos direitos de aprendizagem, e para tal, o/a professor/a deverá utilizar da observação e
de diferentes formas de registro, levando em consideração o espaço, o tempo, e as
oportunidades oferecidas. Destacam que “[...] nunca é demais enfatizar que não devem existir
práticas inadequadas de verificação da aprendizagem, tais como provinhas, nem mecanismos
de retenção das crianças na Educação Infantil”. (BRASIL, 1999, p.95).
Em termos de políticas curriculares, de acordo com Carvalho (2015), as diretrizes
trouxeram mudanças positivas, “pois enfatizaram a autonomia das instituições, definiram o
cuidar e o educar como objetivos centrais das propostas pedagógicas e atribuíram centralidade
ao eixo das interações e brincadeiras como base do currículo da Educação Infantil”
(CARVALHO, 2015, p.779).
As DCNEI se articulam com as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Básica e
reúnem princípios e fundamentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação.
Segundo o artigo 4º das DCNEI as propostas pedagógicas da educação infantil devem
respeitar os seguintes princípios:
As propostas pedagógicas de Educação Infantil deverão considerar que a
criança, centro do planejamento curricular, sujeito histórico e de direitos que,
nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre natureza e
sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2009, p.1).
Na sequência dos acontecimentos, a partir de 2001 foi publicado pelo MEC, no Plano
Nacional de Educação (PNE), um conjunto de documentos que se pautava em orientações
legais para o desenvolvimento de políticas públicas junto aos municípios e estados, com o
objetivo de auferir qualidade no atendimento à educação infantil. São eles:
1) Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a
seis anos à educação (BRASIL, 2005);
2) Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL,
2006);
3) Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (MEC/2009).
(CARVALHO, 2015, p.471).
72
De acordo com Carvalho e Guizzo (2018, p.780), em relação a Política Nacional de
Educação Infantil, as orientações legais eram que “as propostas pedagógicas deveriam
explicitar concepções referentes à metodologia, ao processo de ensino/aprendizagem e
à avaliação”. Já quanto aos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil
(BRASIL, 2006), podemos afirmar que:
[...] estabeleceram padrões de referência a serem considerados em relação a
três aspectos: 1) proposta pedagógica da Educação Infantil; 2)
profissionais;3) infraestrutura das instituições. Desde então, tais padrões
foram assumidos como orientadores para o sistema educacional no que
concerne à organização e ao funcionamento das instituições de Educação
Infantil. (CARVALHOE GUIZZO, 2018, p.780).
Devido aos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL,
2006), os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (MEC/2009) “Apresentaram
orientações que permitiram a criação de instrumentos para o credenciamento de instituições e
a elaboração de diagnósticos”. (CARVALHO E GUIZZO, 2018, p.780). A proposta de
autoavaliação da qualidade das instituições levava em consideração as sete dimensões a
seguir:
Planejamento institucional; multiplicidade de experiências e linguagens;
interações; promoção da saúde; espaços, materiais e mobiliários; formação e
condições de trabalho de professores e demais profissionais; cooperação e
troca com as famílias e participação na rede de proteção social.
(CARVALHO E GUIZZO, 2018, p.780).
Nesse cenário é necessário destacar a importância da criação do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007.
Fundamental na questão do financiamento da educação infantil de qualidade, incidindo na
melhoria da infraestrutura das escolas, no número de matrículas, nos salários e na formação
dos profissionais da educação, ou seja, um direcionamento quanto às prioridades de
investimentos para essa etapa do ensino. É inquestionável que a implementação dessa política
aponta conquistas e avanços importantes para essa modalidade. Lima (2018), reforça esse
avanço e faz uma observação pertinente, a qual vale destacar:
Com o FUNDEB35, a educação infantil tem uma fonte de recurso própria e
conta agora com financiamento específico, que possibilita a consolidação de
35 O Fundeb é um fundo contábil, de âmbito estadual. Ele é uma evolução do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), de 1996, que contemplava
apenas o ensino fundamental e, por isso, tinha uma vinculação de impostos menor. Com a emenda constitucional
número 53, de 2006, o Fundeb substituiu o Fundef eassou a atender toda a educação básica. A previsão de
73
suas políticas. Isso representa um inegável avanço para o desenvolvimento
da educação infantil, mas não uma ação suficiente para que essa etapa
prescinda de recursos das políticas da assistência social e das parcerias
público-privada. (LIMA, 2018, p.104, grifo nosso).
A partir de 2009, com a publicação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009), que orienta que as propostas
pedagógicas das instituições de educação infantil devem garantir às crianças a apropriação e
articulação de conhecimentos e aprendizagem de diferentes linguagens, tendo as interações e
a brincadeira como eixos norteadores das práticas pedagógicas, que devem ser pautadas em
princípios éticos, políticos e estéticos. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (BRASIL, MEC, 2009) reafirmam, da mesma maneira, a centralidade ao eixo das
interações e brincadeiras como base do currículo, uma avaliação que seja processual,
diagnóstica e formativa, servindo de base para o planejamento das práticas educativas:
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para
acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do
desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou
classificação, garantindo:
I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações
das crianças no cotidiano;
II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças
(relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);
III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de
estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela
criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no
interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-
escola/Ensino Fundamental);
IV - documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da
instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e
aprendizagem da criança na Educação Infantil;
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil. (BRASIL, MEC, 2009,
p. 29, grifo nosso).
As diretrizes deixam perceptível a importância da parceria escola e família no
comprometimento com a formação integral das crianças. Sendo os seus processos de
avaliação pautados na observação e no acompanhamento, a fim de compor elementos que
funcionamento do Fundeb é de até 2020. Disponível em:< https://www.clp.org.br/futuro-do-fundeb-em-2020-
ead2/>. Acesso em: 06 nov. 2019>
74
subsidiarão o trabalho pedagógico intencional e planejado, levando em consideração os
direitos, a realidade cultural, as potencialidades e especificidades das crianças e das infâncias.
Nesse movimento de consolidação da educação infantil no Brasil temos a Lei nº 13.005
de 25 de junho de 2014, que aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024. O
plano apresenta uma definição de metas para essa modalidade, que se inicia com a
universalização da educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 e 5 anos de idade, a
ser cumprida no período de 02 anos (prazo era até 2016) e propõe ampliar no mínimo em 50%
até 2024, a oferta em creches para crianças de até 3 anos.
Gomes (2017), ao realizar um estudo técnico sobre a “Educação Infantil no PNE 2014-
2024: acesso, equidade e qualidade”, traz apontamentos significantes que vale a pena serem
destacados:
Mesmo reconhecendo o avanço de ter a educação infantil inserida entre as
vintes metas mais importantes da educação brasileira para o decênio, é
forçoso reconhecer que o PNE não inovou ao determinar a universalização
do atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, apenas reafirmou o texto
constitucional (Emenda nº 59/2009). Quanto à creche, tampouco houve
inovação legal em termos de meta quantitativa, visto que a Lei nº
10.172/2001, que aprovou o PNE anterior, já estabelecia a meta de 50% de
atendimento de crianças de 0 a 3 anos em estabelecimentos de educação
infantil. (GOMES, 2017, p.17).
Na meta 1 do PNE/2014-2024 são definidas 17 estratégias, sendo que a estratégia 1.6
traz encaminhamentos a serem seguidos quanto à avaliação, como:
1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, avaliação da
educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois) anos, com base em
parâmetros nacionais de qualidade, a fim de aferir a infraestrutura física, o
quadro de pessoal, as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a
situação de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes [...].
(BRASIL, MEC/2014).
O PNE/2014-2024 define como estratégia a aferição da qualidade, mediante a
avaliação de aspectos da organização estrutural e pedagógica, isto é, propõe a avaliação “da”
e não “na” educação infantil. As condições da oferta, os espaços dos estabelecimentos, os
profissionais, a gestão e os meios didáticos disponíveis e em uso é que são apontados como
elementos de consolidação da qualidade na educação infantil. Nessa perspectiva Didonet
(2014), escreve que há dois objetos e dois contextos da avaliação que se distingue:
A avaliação na educação infantil se refere àquela feita internamente no
processo educativo, focada nas crianças enquanto sujeitos e coautoras de seu
desenvolvimento. Seu âmbito é o microambiente, o acontecer pedagógico e
75
o efeito que gera sobre as crianças. A avaliação da educação infantil toma
esse fenômeno sociocultural (“a educação nos primeiros cinco anos de vida
em estabelecimentos próprios, com intencionalidade educacional,
formalizada num projeto político-pedagógico ou numa proposta
pedagógica”), visando a responder se e quanto ele atende à sua finalidade, a
seus objetivos e às diretrizes que definem sua identidade. Essa questão
implica perguntar-se sobre quem o realiza, o espaço em que ele se realiza e
suas relações com o meio sociocultural. Enquanto a primeira avaliação aceita
uma dada educação e procura saber seus efeitos sobre as crianças, a segunda
interroga a oferta que é feita às crianças, confrontando-a com parâmetros e
indicadores de qualidade. (DIDONET, 2014, p.1-2, grifo nosso).
As reflexões sobre avaliação no contexto das infâncias, nos leva defender e adotar o
emprego da preposição “na” educação infantil, ao invés “da”. Opção que, condiz com nossos
objetivos na defesa de práticas avaliativas formadoras, emancipatórias e humazantes com e
sobre as crianças.
3.3 Entrecruzando passado e presente: buscando compreensões sobre a educação
infantil
Segundo Carvalho e Guizzo (2018, p.771), “os modos de educar as crianças têm
constituído uma arena de disputas produzida em um sistema de relações de poder, no qual
direitos sociais conquistados precisam ser reafirmados para que não sejam perdidos”. Uma
luta que carece de um olhar atento e constante por nós educadores/as apaixonados/as pelos
pequenos desde a mais tenra idade e, portanto, por garantir vivência plena da infância.
Entretanto, temos presenciado, em tempos recentes, um cerco acirrado a esse nível de
educação, perdas que afetam a garantia de unidade pedagógica e que segmentam cada vez
mais a educação infantil, escolarizando e encurtando a infância, o que Carvalho e Guizzo
(2018, p.781) chamam de “assédios à Educação Infantil”.
Nesse âmbito de conflitos e acirramento que afetam diretamente a educação infantil
podemos citar a Lei federal n.º 11.114/2005 que altera a LDB 9394/96 e assevera, em seu Art.
6º, que “É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis
anos de idade, no ensino fundamental” (BRASIL, 2005). Seguida pela Lei nº 11.274/2006, a
qual alterou o artigo 32 da LDB 9394/96 e que amplia o ensino fundamental para nove anos e
obriga a inclusão da criança de 6 anos nesse nível. A matrícula, antes facultativa, torna-se
obrigatória aos seis anos de idade. O ordenamento legal foi pensado com o intuito de oferecer
maiores oportunidades de aprendizagem decorrentes da ampliação no período da
escolarização obrigatória. Porém, segundo Salles e Secundes, (2017, p.479) “[...] mais do que
76
o acesso é necessário repensar a qualidade da formação educacional a essas crianças, como
elas estão sendo pensadas e acolhidas”. Analisarmos se as infâncias, com sua singularidade,
são respeitadas quando a força da lei retira essa demanda da educação infantil e a lança ao
ensino fundamental.
Sonia Kramer (2006) destaca que esta é uma questão que precisa ser discutida
seriamente nos/entre, os dois segmentos de educação:
[...] Isso significa que as crianças devem ser atendidas nas suas necessidades
[...] e que tanto na educação Infantil quanto no ensino fundamental sejamos
capazes de ver, entender e lidar com as crianças como crianças e não só
como alunos. A inclusão de crianças de 6 anos no ensino fundamental requer
diálogo entre educação infantil e ensino fundamental, diálogo institucional e
pedagógico, dentro da escola e entre as escolas, com alternativas curriculares
claras (KRAMER, 2006, p. 810-811).
Nesse contexto, citamos também a Lei nº 12.796/13 por entendermos que a
obrigatoriedade da matrícula aos 4 anos de idade trouxe um risco, segundo Vieira (2011,
p.255), “de antecipar a escolaridade com as características da oferta do ensino fundamental”,
ou seja, um atendimento direcionado à alfabetização precoce e preparatório para o ensino
fundamental. Outra questão é o negligenciamento da faixa etária de 0 a 3 anos, que se
deslocou em grande parte para a esfera privada filantrópica. Sobre esse último, Lima (2018),
destaca que “[...] esse ponto contraria a reivindicação dos movimentos sociais, que no
documento final da CONAE 201036, propunha a extinção gradativa do atendimento da
educação infantil via conveniamento” (LIMA, 2018, p.114).
Nessa vertente, Vieira (2011) traz uma contribuição relevante:
Duas questões são especialmente desafiantes na nova realidade: evitar a
cisão da creche e da pré-escola, sob o risco de flexibilizar o significado da
creche como “atenção integral ao desenvolvimento da primeira infância”,
abrindo a possibilidade de alternativas de atendimento não formais, em
espaços domésticos ou não, inadequados aos critérios educacionais, com
pessoas sem formação e qualificação; e evitar o ingresso precoce de crianças
na pré-escola e no ensino fundamental nos sistemas e redes de ensino.
(VIEIRA, 2011, p.247).
36A Conferência Nacional da Educação (CONAE), realizada no período de 28 de março a 1º de abril de 2010, em
Brasília-DF, constituiu-se num acontecimento ímpar na história das políticas públicas do setor educacional no
Brasil e contou com intensa participação da sociedade civil, de agentes públicos, entidades de classe, estudantes,
profissionais da educação e pais/mães (ou responsáveis) de estudantes. Ao todo foram credenciados/as 3.889
participantes, sendo 2.416 delegados/as e 1.473, entre observadores/as, palestrantes, imprensa, equipe de
coordenação, apoio e cultura. BRASIL. Ministério da Educação. CONAE 2010: construindo o sistema nacional
articulado de educação: o Plano Nacional de Educação, diretrizes e estratégias de ação. Brasília: MEC, 2010c.
Disponível em:<http://conae.mec.gov.br/images/stories/pdf/pdf/documetos/documento_final_sl.pdf>. Acesso
em: 11 abr. 2019.
77
Ainda conforme Vieira (2011, p.248), está em jogo o enfrentamento no sentido de
assegurar a concepção de educação infantil que a produção acadêmica e os movimentos
sociais têm defendido e tentado edificar nos últimos 30 anos no Brasil. Nessa vertente,
abrimos um parêntese para mostrar a análise de Ana Domingos e Fernanda Silva (2016),
sobre as “Concepções de criança e infância a partir da legislação brasileira”, publicado na
revista virtual Partes em 29 de abril de 2016, a qual vale acrescentarmos às nossas reflexões.
Segundo elas, as concepções de criança e infância, presentes na legislação brasileira, foram se
constituindo ao longo da história como podemos mostrar:
Constituição Federal de 1998- [...] passa a ser definido e fixado a proposta
de proteção integral a criança [...] foi a primeira constituição brasileira que
considerou explicitamente a criança como sujeito de direitos[...].
Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) -1990: Esse estatuto reconhece
a criança na infância e o adolescente na adolescência como pessoa de direito
a gozarem de todos os demais direitos fundamentais a pessoa humana:
direito à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e a conivência familiar
e comunidade [...]. (BRASIL, 2008, p. 14).
LDB 9394/96-[...] por meio das políticas educacionais para a Educação
Infantil considera a concepção de criança valorizada pela Constituição
Federal e pelo Estatuto de Criança e Adolescente assegurando o direito ao
ingresso escolar com propostas voltadas especificamente a cada faixa etária
reconhecendo e respeitando a particularidade da criança[...].
No RCNEI/1998-[...] concepção de criança que a considera “como todo ser
humano, um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização
familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura,
em um determinado momento histórico”. Em relação à concepção de
infância neste documento, ela está vinculada “à diversidade existente entre
as crianças no que diz respeito às suas condições sociais, que diferem umas
das outras, principalmente em relação às classes pertencentes” [...].
DCNEI/2010 (2010, p.12) a seguinte concepção de criança: Sujeito histórico
e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia,
constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a
natureza e a sociedade, produzindo cultura [...]. (DOMINGOS; SILVA,
2016, p.s/n, grifo nosso).
Em consonância com Vieira (2011), temos a convicção “baseada na defesa de uma
educação que não reproduza desigualdades de classe, gênero e etnia/cor”, uma concepção de
criança como sujeito de direitos e produtora de cultura. Sustentada nos “elementos definidores
de políticas, estabelecidos na constituição e na legislação educacional”, citados por Domingos
e silva (2007), e que precisam ser garantidos. Portanto, “[...] o acesso às creches e pré-escolas,
78
concebidas como instituições educacionais, não está dissociado de uma oferta de qualidade,
em espaços institucionais não domésticos, com infraestrutura adequada e com profissional
qualificado [...] (VIEIRA, 2011, p.248).
E acrescenta:
Infelizmente, ainda carecemos de estudos e sistematização sobre as políticas
de convênio em curso na atualidade, que abordem os critérios, a
legislação/normatização concernente, os itens financiados e os custos, e as
formas de relação público-privado. O relativo desconhecimento da situação
dessa modalidade de oferta, visto a ausência de um diagnóstico mais
abrangente sobre essa realidade, e a precariedade das situações de trabalho
nas instituições comunitárias, constatada por Oliveira e Vieira (2011), são
alguns aspectos preocupantes da adoção da estratégia de garantir o preceito
da obrigatoriedade com qualidade. (VIEIRA, 2011, p.253-254).
Diante dessas mudanças, e frente à proposta de universalização, sem garantia de
qualidade, a maneira como as escolas adequaram/ão as propostas político-pedagógicas e
curriculares, a coerência com as especificidades e aos tempos e espaços das infâncias; o
respeito no sentido de evitar a escolarização precoce, torna-se um fator preocupante para
quem defende o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança no tempo das
infâncias. O que Lima (2018), defende nesse sentido, é que embora a universalização sinalize
possibilidades de avanços nas políticas de educação infantil, a demanda por novos
investimentos será necessária para viabilizar esse projeto, que precisa atender a todos os
segmentos envolvidos e fortalecer, de forma permanente, a universalização da pré-escola e a
ampliação do acesso à creche, sem padronização. Um projeto que atenda realmente, e de
forma justa, a necessidade dos que precisam e não ao interesse do capital.
Nesse âmbito de reflexões não podemos esquecer qual lógica sombreia nossa realidade
no campo dos embates educacionais e que domina a favor do mercado. Uma lógica, segundo
Freitas (2003), pautada em interesses econômicos, preparatória, classificatória, padronizante e
excludente, que visa a formação das crianças desde a mais tenra idade a favor do vir a ter,
desconsiderando a sua potencialidade no tempo real. No entanto, apesar de ser um desafio e
confrontar interesses mercadológicos, é urgente fortalecer as resistências. Acreditamos que há
um movimento de pesquisadoras, professoras, sindicatos que tem lutado por essa causa. No
entanto, é pouco. É preciso projetar a educação infantil pautada nos direitos sociais
conquistados arduamente, respeitando as crianças e as infâncias em suas especificidades, em
seu tempo e espaço de vivência plena.
79
IV
TEORIAS E PRÁTICAS AVALIATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
No poema Ítaca, mencionado anteriormente, neste texto, do grego Konstantinos
Kaváfis, nascido em Alexandria em 29 de abril de 1863 e falecido em 1933, o poeta a todo o
momento chama atenção para um olhar atento, sensível e reflexivo para essa “viagem
simbólica” permeada de aventuras, desafios e descobertas. Explicita que é mais importante e
significativo o percurso, o processo de conhecer, de explorar e entender o novo, o nunca
vivenciado, do que o ponto de chegada, Ítaca, o destino final. Mas, como podemos olhar e
contemplar o percurso até nossa Ítaca? Em quais bases nos pautaremos para fundamentar que
todo o sentido da viagem está no caminho percorrido e vivenciado de forma intencional e
significativa para a educação nas infâncias? A viagem pressupõe paradas para refletir sobre as
teorias e práticas que estiveram conosco durante o percurso?
Nessa perspectiva, esta seção trata das teorias e práticas avaliativas na educação
infantil, tema que me inquieta já há algum tempo. Desde então venho buscando possibilidades
de entender melhor a temática, pois observava que era discutida de forma muito sucinta na
escola e nas formações continuadas que participei. Muitas informações, conflitos e desafios e
pouco aprofundamento. Era preciso abrir um espaço de discussão sobre o tema pautado numa
base teórica mais consistente.
Sendo assim, iniciamos nosso diálogo sobre definições/concepções de avaliação e
avaliação na educação infantil e buscamos como suporte referencial, Luckesi (2002), Villas
Boas (2007) e Lazari (2013). Abrimos um parêntese para trazer contribuições de Freitas
(2003), ao desenvolver análises sobre a Lógica da Escola e a Lógica da Avaliação, por
acreditarmos ser de suma importância para entendermos as contradições e os dilemas que
permeiam as práticas pedagógicas e avaliativas no interior das escolas.
Diante dos apontamentos referentes aos objetivos da educação infantil e as orientações
legais que dispõem sobre a avaliação nessa faixa etária, buscamos nos aportes teóricos de
Mendes (2014), Hoffman (2015), Villas Boas (2007), Fernandes (2006; 2008) e outros, as
bases que deram suporte à defesa da recusa de uma avaliação classificatória, padronizante,
seletiva ou punitiva. Nesse contexto, desenvolvemos nossos diálogos sustentados no
paradigma de avaliação formativa e na postura mediadora de professores/as
comprometidos/as com a aprendizagem de seus/suas alunos/as, com a sua própria e com a
escola.
80
Buscamos desenvolver reflexões mais precisas sobre procedimentos que compuseram
o conjunto de elementos no processo avaliativo, com intuito de proporcionar meios aos/as
professores/as de refletirem sobre as formas de registros significativos que auxiliam no
planejamento do trabalho pedagógico e na avaliação das crianças.
Nesse sentido, anunciamos nosso comprometimento com práticas avaliativas que
contribuam com a transformação social, por acreditarmos e defendermos uma concepção de
avaliação para a cidadania.
4.1 Diálogos sobre a Avaliação: seu papel, sentidos e significados
Avaliar é inerente ao ser humano. Avaliamos tudo o que fazemos ou pretendemos fazer
e o tempo todo, avaliamos até sem perceber. Mas por que e para que avaliamos?
De acordo com Luckesi (2002), a avaliação é o que subsidia, o que sustenta nossas
tomadas de decisões e, se tomarmos a decisão de fazer uma intervenção, esta será com vistas
a obter um resultado mais satisfatório. Ele escreve alertando que “somos traídos por hábitos
que já passaram para nosso inconsciente e atuamos automaticamente, sem nos perguntarmos
sobre o verdadeiro sentido daquilo que estamos fazendo. Inconscientemente, examinamos,
porém dizemos que avaliamos”. (LUCKESI, 2002, p. 84, grifo nosso). Nesse sentido, destaca
que há uma diferença substancial que precisa ser levada em consideração se desejamos uma
avaliação para a transformação social. Acrescenta:
Avaliar é o ato de diagnosticar uma experiência, tendo em vista reorientá-
la para produzir o melhor resultado possível; por isso, não é classificatória
nem seletiva; ao contrário, é diagnóstica e inclusiva. O ato de examinar, por
outro lado, é classificatório e seletivo e, por isso mesmo, excludente, já que
não se destina à construção do melhor resultado possível; tem a ver, sim,
com a classificação estática do que é examinado. O ato de avaliar tem seu
foco na construção dos melhores resultados possíveis, enquanto o de
examinar está centrado no julgamento de aprovação ou reprovação. Por suas
características e modos de ser, são atos praticamente opostos; no entanto,
professores e professoras, em sua prática escolar cotidiana, não fazem essa
distinção e, deste modo, praticam exames como se estivessem praticando
avaliação. (LUCKESI, 2002, p. 84, grifo nosso).
Nesse contexto, Villas Boas (2007) destaca que estamos sempre fazendo apreciações e
julgamentos sobre tudo e em qualquer momento, seja dos sujeitos, fatos ou circunstâncias que
nos agradam ou não. “E como gostamos de usar adjetivos”! Na escola isso também acontece,
só que nela a avaliação é intencional e sistemática e os julgamentos que aí são feitos têm
muitas consequências, algumas positivas, outras negativas (VILLAS BOAS, 2007,10).
81
Entendermos que na educação não é diferente, portanto, trazemos ao contexto das
análises a importância da avaliação como um processo pedagógico que auxiliará o/a
professor/a e as crianças a aprenderem e se desenvolverem de forma dialética, intencional,
planejada. Uma “avaliação que promove a aprendizagem do aluno e do professor e o
desenvolvimento da escola” (VILLAS BOAS, 2007, 15). Nosso comprometimento é com a
transformação social, em contraposição à conservação de práticas avaliativas classificatórias,
padronizantes e excludentes. Assim como Cleuza Lazari (2013), almejamos, acreditamos e
defendemos uma concepção de avaliação para a cidadania:
Essa concepção de avaliação para a cidadania supera a função da avaliação
escolar protagonizada pela escola tradicional37, em que a sua função se
caracteriza por julgar, aprovar ou reprovar, excluir do processo,
considerando que este cenário, a escola, é um lugar de cumprir ordens sem
questioná-las, mesmo sabendo que a sua função primeira deveria ser a de
dialogar. (LAZARI, 2013, p.40-41).
Nessa vertente, abrimos um parêntese para as contribuições de Freitas (2003) ao falar
sobre “Ciclos, seriação e avaliação: Confronto de Lógicas”. Analisa que o espaço da sala de
aula é o mais importante da escola. Para ele, nossas escolas estão longe de ensinar tudo a
todos/as com igualdade, como preconizam os liberais ao dizer que “a escola tem que ensinar
tudo a todos independentemente de seu nível socioeconômico”, cultural, etc. Há uma
hierarquia econômica fora da escola que carrega uma “lógica” perversa e acaba afetando
também as hierarquias dentro dela, onde incidem as competições, o esforço pessoal ou não.
Nesse sentido, a escola cumpre um papel alienante, distante da vida real, reproduzindo
práticas de submissão, competição e obediência sem uma reflexão crítica, sem se preocupar
em formar para a luta contra os desníveis sociais e culturais (FREITAS, 2003, p.14-39).
Discorre que a lógica da avaliação dentro das escolas reproduz práticas hierarquizadas,
que se evidenciam no plano “formal e informal”38 da avaliação. Sendo “instrucional,
comportamental e instrumento” de controle de valores e atitudes. “Cria uma estrutura de
poder na sala de aula”. Em resumo, a avaliação, nesse sentido, segundo Freitas (2003), serve
para verificação, classificação, é excludente e disciplinadora, não respeitando as diferenças ou
37 De acordo com Saviani (1991), a “[...]pedagogia tradicional (educação bancária) é caracterizada pela
passividade, transmissão de conteúdo, memorização, verbalismo, etc”. (SAVIANI, 1991, p.54).
38 No plano da avaliação formal, estão as técnicas e os procedimentos palpáveis de avaliação, com provas e
trabalhos que conduzem a uma “nota” [...]. [...], no plano da avaliação informal, estão os “juízos de valor”,
invisíveis e que acabam por influenciar os resultados das avaliações finais, tendo sido construídos pelos
professores e alunos nas interações diárias. (FREITAS, 2003, p.43-44, grifo nosso)
[...] A diferença entre a avaliação informal e a formal é que a informal nem sempre é prevista e,
consequentemente, os avaliados, no caso os alunos, não sabem que estão sendo avaliados. Por isso, deve ser
conduzida com ética. (VILLAS BOAS, 2007, p.10-11)
82
a diversidade e torna-se homogeneizadora com um objetivo específico: o de validar a lógica
da escola. (FREITAS, 2003, p.41-50).
Cardoso (2014, p.3), ao escrever sobre os Fundamentos para a uma Educação na
Diversidade destaca que "Uma das características que os humanos adquirem pela educação
[...] é a individualidade, ou seja, a capacidade de pensar e viver de modo diferente uns dos
outros”. Nesse sentido, uma escola centrada em práticas avaliativas que nos nega o direito de
nos manifestarmos e de expressar com liberdade nossos “sentimentos e ideias”, desrespeita-
nos como sujeito de direitos e produtores de cultura.
A educação na diversidade está preocupada com esses valores, isto é, com a
relação respeitosa e solidária entre pessoas, chamando a atenção em especial,
para o exercício da convivência com as diferenças. Em outras palavras,
educar na diversidade é ensinar e aprender junto com os alunos a conviver
com pessoas, destacando nossas diferenças físicas, sociais e culturais.
(CARDOSO, 2014, p.3-4)
Retomando, Freitas justifica suas reflexões sobre a lógica da escola, como sendo
necessárias. Em suas palavras é como um alerta:
Conhecer tal realidade não deve conduzir à inoperância, mas ser vista como
uma necessidade para aqueles que acreditam na escola e querem fazer dela
um local de resistência. [...] desde que revelemos essas lógicas e nos
preparemos para enfrentá-las em articulação com os pais e alunos.
(FREITAS, 2003, p.49).
Lazari (2013, p. 39), coadunando com Luckesi, destaca que [...] “é pelo tipo de
avaliação que se define o tipo de sujeito que se quer formar. Se reprodutor ou transformador;
se alienado ou crítico; se liberal ou progressista; se conformado ou construtivo”. Isso leva a
constatação que avaliar não é uma ação neutra, desprendida de sentidos e significados, sofre
interferência de nossos valores morais, concepções de educação, de sociedade e de infância.
Assim, é fundamental que a ação docente seja orientada por princípios éticos.
[...] A emergência de critérios de avaliação não se dá de modo dissociado
das posições, crenças, visão de mundo e práticas sociais de quem os
concebe. É um conceito que nasce da perspectiva filosófica, social, política
de quem faz o julgamento e dela é expressão. Portanto, os enfoques e
critérios assumidos em um processo avaliativo revelam as opções
axiológicas dos que dele participam. (SOUSA, 1997, p. 267).
83
Nesse sentido, preservar a capacidade de intervir e agir de forma ética e intencional é
fundamental. Escola e professores/as empenhados/as desencadeiam práticas pedagógicas
pautadas em avaliação com ética e geram transformações sociais significativas.
4.1.2 Avaliação no contexto das infâncias
Para Didonet (2014, p.2-3), a avaliação educacional é assunto nos debates com temas
sobre as concepções que a sustentam, adequação ou inadequação, objetivos, usos e a
aplicação ou não de testes. E, a educação infantil39 não está protegida dessa “onda” de
propostas de avaliação pautada em testes padronizados que vêm se espalhando pelos
ambientes social e educacional.
Ela não sofreu, ainda, a invasão de um teste nacional ou internacional, mas
“eles” estão rondando, com os mesmos argumentos que impulsionam os que
vêm sendo aplicados nos outros níveis da educação. Educadores resistem à
aplicação de testes estandardizados, de forma generalizada para todas as
crianças, com objetivo de marcar o estágio ou nível de desenvolvimento e o
alcance de objetivos pré-definidos para respectivas idades. E há, também,
educadores e gestores de sistemas de ensino que veem nos dados coletados
por meio de testes, questionários ou registros de observação, indicações
seguras e precisas para a programação de atividades, oferta de estímulos e
incidência pontual sobre itens que estariam precisando de maior atenção.
(DIDONET, 2014, p.1-2).
A educação infantil felizmente não foi “contemplada” pelas avaliações educacionais
em larga escala realizadas no Brasil. Mas isso deve mudar provavelmente em 2021, de acordo
com Maria Inês Fini, ex presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
39 [...] cabe agregar o registro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República que colocou
em debate nacional a proposta de uso do ASQ (Ages & Stages Questionnaires), para avaliação do
desenvolvimento das crianças na educação infantil. Trata-se de um instrumento desenvolvido nos Estados
Unidos, em 1997, por Jane Squires e Diane Bricker, que tem como foco aquilatar o desenvolvimento da criança.
Em 2010, foi aplicado nas instituições de educação infantil, públicas e conveniadas, da rede municipal do Rio de
Janeiro, por meio de parceria firmada entre o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) e a Secretaria
Municipal de Educação. Por meio desse instrumento tem-se o propósito de avaliar individualmente as crianças,
em cinco domínios: (1) comunicação, (2) coordenação motora ampla, (3) coordenação motora fina, (4) resolução
de problemas e (5) pessoal/social. Esta avaliação resulta em classificação das crianças, em três níveis, associados
às seguintes indicações: necessidade de uma avaliação em profundidade, recomendação de monitoramento e
estímulos adicionais ou registro de que o desenvolvimento está dentro do esperado/programado. [...],
Documentos, expedidos por instituições, especialistas e pesquisadores, foram encaminhados ao Ministério da
Educação e amplamente divulgados nas redes sociais, rejeitando sua adoção como instrumento geral de
avaliação do desenvolvimento infantil na rede de estabelecimentos educacionais.(MEC,2012,p.9) Disponível em:
< http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12579%3Aeducacao‐infantil&Itemid=859 .>
Acesso em: 19 abr. 2019.
84
Anísio Teixeira (Inep)40. Em entrevista41 à revista Nova escola ela expõe os planos do
governo em relação à avaliação para essa modalidade. “Os estudos sobre o tema já se
iniciaram dentro do instituto. A perspectiva é de que a Avaliação Nacional da Educação
Infantil (ANEI), como será chamada, avalie as condições de oferta da etapa de ensino”. (FINI,
2018, s/n).
[...] embora o Inep esteja debruçado sobre o tema, ainda não estão claras as
definições para algumas variáveis que comporiam a ANEI. “Não sabemos,
por exemplo, qual é a formação necessária do professor da etapa, qual é o
mobiliário, espaço físico ou o brinquedo adequado”, disse. Ter essas
definições é importante para estabelecer uma “escala de proficiência” para a
etapa de ensino. (SEMIS, 2018, s/n).
Nesse contexto, é importante salientamos o papel da avaliação em larga escala e seus
efeitos na qualidade da escola. De acordo com Mendes et al (2018, p.104), a avaliação em
larga escala, embora recente nas práticas educacionais brasileiras (remonta aos anos 1990),
carrega as marcas da cultura avaliativa seletiva, punitiva e excludente. Esse vínculo com a
avaliação classificatória resulta em ocasião de sua realização, em um clima de “tensão e
temor” entre os sujeitos da escola, contraditório aos objetivos de uma avaliação para as
aprendizagens, formativa e includente. Isso interfere na qualidade da educação que almejamos
devido ao seguinte fato:
[...] os resultados tem sido relacionados a processos de responsabilização e
culpabilização das escolas, que temem ser expostas socialmente, como, por
exemplo, vendo o nome da escola em posições inferiores em rankings
divulgados pela mídia. [...] as avaliações têm gerado modificações nas
relações entre os sujeitos, na rotina cambiante de acordo com a programação
de aplicação dos testes externos e na relação de poder dos dados numéricos
gerados no âmbito externo na “vida” da escola. Dependendo dos resultados,
instaura-se a satisfação, o “bem-estar” e o contentamento. Por outro lado,
nas escolas com baixo desempenho, imperava um estado de desanimo, de
vergonha e mesmo tristeza. (MENDES et al, 2018, p. 105).
Para Mendes et al (2018), no contexto educacional formal, historicamente a avaliação
sempre esteve ligada mais a exclusão do que a promoção da aprendizagem. Isso em qualquer
40 Atualmente o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira -Inep, é
Alexandre Ribeiro Pereira Lopes. 41
Para conhecimento da entrevista na íntegra, consultar: Educação Infantil ganhará avaliação
nacional.Novaescola/Laís Semis/10 de Maio de 2018. Disponível
em:<https://novaescola.org.br/conteudo/11729/educacao-infantil-ganhara-avaliacao-nacional>. Acesso em: 20
abr. 2019.
85
nível de educação ou modalidades e a educação infantil infelizmente não está isenta dessa
prática.
De acordo com Lazari (2013), embora no Brasil constatarmos um avanço em
discussões e pesquisas sobre o papel da avaliação na educação infantil o debate “ainda é
pouco explorado no interior das escolas e consolida-se em motivo de dúvidas entre os
profissionais das instituições que educam e cuidam das crianças de 0 a 5 anos de idade”.
(LAZARI, 2013, p.47).
No tocante aos propósitos da educação infantil e as orientações legais que dispõem
sobre a avaliação no âmbito dessa etapa da educação básica, elas apontam que esse processo
educativo demanda acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem
objetivo de retenção ou promoção. Ou seja, uma avaliação não classificatória, seletiva ou
punitiva.
O que Mendes (2014) enfatiza quando aborda as produções científicas sobre a prática
avaliativa.
[...] A produção científica sobre avaliação é unânime em afirmar que a
avaliação precisa acontecer durante todo o processo de
aprendizagem, de ensino e avaliação. O processo não pode ser de modo
estanque, tem que servir para acompanhar o desenvolvimento do/a
aprendiz. [...] (MENDES, 2014, p. 257) (grifo nosso).
Assim, acreditamos que a avaliação formativa é a que melhor nos atenderá, pois
ocorre durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não apenas como uma verificação
no final do ensino de um conteúdo. Segundo Villas Boas (2007, p.15), uma “avaliação que
promove a aprendizagem do aluno e do professor e o desenvolvimento da escola, [...]”. A
avaliação precisa ser vista como aliada do/a professor/a em prol da promoção do ensino da
criança, num ambiente de aprendizagem e desenvolvimento em que todos/as participam e são
avaliados/as em função da melhoria. Nesse sentido, no próximo item, aprofundaremos a
discussão sobre avaliação formativa e avaliação mediadora.
4.1.3 O paradigma formativo e mediador da avaliação na educação infantil
A ação educativa deve enfocar a infância como um tempo de direitos e um tempo a ser
vivido com exploração de múltiplas linguagens. De acordo com Rego (1995), o
desenvolvimento da criança é socialmente construído por meio de constantes interações, por
isso, a relevância do/a professor/a mediador/a das culturas na constituição do modo de
funcionamento psicológico dos indivíduos, valorizando suas especificidades que são definidas
por inúmeros fatores sociais, culturais, afetivos e cognitivos. Esse/essa profissional deve
86
instigar os/as alunos/as à reflexão, apresentando propostas que os/as levem a pensar, descobrir
e construir sua aprendizagem. Desse modo, Vygotsky argumenta que
[...] o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento,
que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas
em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez
internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do
desenvolvimento independente da criança. (VYGOTSKY, 1989, p. 101).
Nesse sentido, entendemos que a avaliação, para se desenvolver realmente numa
concepção formativa, mediadora, as práticas pedagógicas e os discursos precisam ser
coerentes. A centralização na atuação do/a professor/a há de dar lugar a uma relação dialógica
com espaço para a autonomia e participação infantil. Devem andar juntos com as propostas
docentes, no intuito de se contrapor ao que Libâneo (1994, p.204) descreve como
característica muito observada da avaliação educacional, o fato de que “o paradoxo salta à
vista, a avaliação formativa está tão presente nos discursos quanto ausente na prática”.
Portanto, entendemos que o/a professor/a, ao estabelecer situações ou práticas em que seu
controle subjuga as crianças e infâncias, a intencionalidade formativa da avaliação para as
aprendizagens fica seriamente comprometida e desqualificada.
Sobre a concepção de avaliação formativa Villas Boas tece as seguintes considerações:
Estudiosos brasileiros têm defendido a substituição do paradigma tradicional
da avaliação (voltada apenas para a aprovação e reprovação) pelo paradigma
que busca a avaliação mediadora, emancipatória, dialógica, integradora,
democrática, participativa, cidadã etc. Todas estas designações fazem parte
do que se entende por avaliação formativa. Esse é mais um argumento a
favor de a avaliação formativa ter como foco não apenas o aluno, mas,
também, o professor e a escola. (VILLAS BOAS, 2007, 18).
De acordo com Fernandes (2006, p.36-43), a avaliação formativa, longe de ser
considerada a solução para os problemas que os sistemas educativos enfrentam, envolvendo
milhares de crianças e jovens, se pensada no sentido de “avaliar para aprender” pode ser
“um processo pedagógico essencial” de apoio e combate à práticas avaliativas excludentes e
discriminatórias, vigentes na educação. Sendo um processo que envolve segundo ele, “valores
morais e éticos, juízos de valor e problemas de natureza socio cognitiva, sociocultural,
antropológica, psicológica e também política,” precisa se pautar em bases teóricas
consistentes, para não ficar fragilizada por questões de certezas absolutas, crenças ou
induções. Acrescenta,
87
A construção de uma teoria da avaliação formativa deve assentar numa
sólida base de investigação empírica que nos ajude a compreender questões
tais como as relações entre as aprendizagens dos alunos e as tarefas que lhes
são propostas, as relações entre o feedback e a regulação das aprendizagens
por parte dos alunos ou as relações entre os conhecimentos científicos e
pedagógicos dos professores e as formas como organizam e integram a
avaliação nos processos de ensino e aprendizagem. É necessário ir
compreendendo a natureza destas e de outras relações para que, juntamente
com reflexões de natureza teórica, se construa uma teoria da avaliação
formativa progressivamente mais consistente. (FERNANDES, 2006, p.35).
Os Referenciais Curriculares para a educação infantil, também, tratam da avaliação
formativa destacando que devemos que levar em consideração que avaliamos para repensar se
nossas propostas e se nossas práticas estão em consonância com o que as crianças esperam ou
necessitam, “[...]. Isso significa dizer que a expectativa em relação à aprendizagem da criança
deve estar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela.
(BRASIL, MEC, vol. 2, 1998, p. 65-66).
Nesse contexto, a “postura mediadora” do/a professor/a, segundo Jussara Hoffman
(2015), faz toda diferença quando se trata de avaliação. E acrescenta que Vygotsky oferece
contribuição essencial sobre o “conceito de mediação” em termos do desenvolvimento.
Segundo ele, há uma grande diferença entre o que uma criança pode
aprender sozinha ou com a ajuda de outra pessoa mais experiente, mais
competente ou que lhe proporcione desafios adequados ao longo de seu
desenvolvimento. Seus estudos sobre a noção de ZDP (Zona de
Desenvolvimento Proximal) ressaltam a importância do papel do professor
como mediador e sugere a necessidade de uma observação simultânea sobre
o que a criança “já conhece” e sobre tudo o que “pode vir a ser ou conhecer”,
isto é, sobre o desenvolvimento real (conquistas ou capacidades já
construídas e consolidadas) e sobre a área de desenvolvimento proximal (os
conhecimentos “ainda” a construir, as funções cognitivas “ainda” a
desenvolver). (HOFFMAN, 2015, p. 20-21).
Hoffman afirma, ainda, que “avaliar é acompanhar”, mas esse acompanhar não diz
respeito à definição do termo pautada simplesmente no fazer companhia ou seguir a criança. É
um acompanhar definido, segundo ela como “[...] acompanhar em avaliação mediadora, é
permanecer atento a cada criança, pensando em suas ações e reações, “sentindo”, percebendo
seus diferentes jeitos de ser e de aprender. [...]” (2015, p.14). Esse acompanhar tem uma
intencionalidade pautada na observação e na reflexão sobre a criança com objetivo de “um
fazer pedagógico” que promova seu desenvolvimento e é o que caracteriza, de fato, o
processo avaliativo aqui defendido.
88
Ancorados no paradigma formativo e mediador da avaliação, buscamos sustentação
quanto aos procedimentos que acreditamos e defendemos como condutores em relação à
prática avaliativa na educação infantil.
Ao nos apropriarmos do termo “procedimentos”, buscamos sustentação em Villas
Boas (2007, p25), que os define como “[...] meios que nos permitem coletar informações para
realizar a avaliação”. Portanto, a elaboração do planejamento de avaliação precisa ser pautada
numa seleção de procedimentos selecionados pelos/as professores/as, visto que cada um
cumpre objetivos próprios que nos possibilitarão reunir dados para avaliarmos. Cada um tem
relevante importância dependendo do contexto, sem desqualificar nenhum outro. O processo
avaliativo caracteriza-se fundamentalmente pela necessidade de usarmos “procedimentos
variados, que evidenciem as aprendizagens do aluno”. Acrescentamos aos procedimentos a
intencionalidade, ou seja, o que se pretende, onde queremos chegar, pois não adianta escolher
procedimentos e continuar com a mesma lógica da avaliação classificadora. A
intencionalidade é muito mais importante do que discutir, se o “instrumento/procedimento” é
bom ou ruim. Ela poderá mudar inclusive a prática punitiva e classificatória para uma prática
mais formativa. Tudo a depender da intenção avaliativa. Pensar em propostas de trabalho é
pensar nesses processos, que ocorrem durante todo o desenvolvimento do trabalho
pedagógico. Esse é nosso desafio. Esse processo avaliativo, de caráter permanente, envolve
todos/as os/as profissionais da instituição, as crianças e seus familiares/responsáveis.
Nesse sentido, Villas Boas destaca:
Não se pode dizer que uma prova isoladamente constitui a avaliação.
Relatórios, questionários e outras atividades dos alunos também não são
a avaliação. Tudo isso nos fornece meios para que se faça a avaliação. Cada
procedimento cumpre objetivos próprios. Alguns requerem atividades ou
respostas mais detalhadas e outros, atividades ou respostas mais concisas.
Alguns solicitam atividades ou respostas simples e outros, atividades ou
respostas que exigem análise, justificativa ou síntese. Alguns querem
atividades ou respostas pontuais, outros, o desenvolvimento de ideias de
forma mais livre. (VILLAS BOAS, 2007, p.25). (grifo nosso).
Nessa direção, destaca-se a utilidade e a importância da observação como
procedimento integrante do processo avaliativo, visto que:
A observação permite investigar as características individuais e grupais dos
alunos, para a identificação das suas potencialidades e fragilidades, assim
como dos aspectos facilitadores e dificultadores do trabalho. É importante
conhecer como os alunos aprendem, como se relacionam, como percebem a
escola e a atuação do professor, suas preferências (na escola, na família e em
outros espaços). (VILLAS BOAS, 2007, p.45).
89
De acordo com Richter, Mota e Mendes (2003), em relação à prática avaliativa na
educação infantil, esta deve ser concebida como processo de observação, registro e reflexão
sobre o desenvolvimento na infância, com intuito de proporcionar meios ao/a professor/a de
refletir sobre sua prática pedagógica. Nesse sentido, essas práticas, na educação infantil,
requerem evidenciar as formas de registros significativos que irão auxiliar no planejamento do
trabalho pedagógico e na avaliação das crianças. Os relatórios descritivos podem, segundo
Hoffman, se constituir em importante procedimento avaliativo:
[...] estes devem ser elaborados de maneira que ao mesmo tempo que refaz e
registra a história do seu processo dinâmico de construção do conhecimento,
sugere, encaminha, aponta possibilidades da ação educativa para pais,
educadores e para a própria criança. Diria até mesmo que apontar caminhos
possíveis e necessários para trabalhar com ela é o essencial num relatório de
avaliação, não como lições de atitudes à criança ou sugestões de
procedimentos aos pais, mas sob a forma de atividades a oportunizar,
materiais a lhe serem oferecidos, jogos e diferentes oportunidades de
aprendizagem. (HOFFMAN, 2011, p. 55).
Segundo Hoffman (2015, p. 106-114), o primeiro passo deve contemplar a observação
diária e registro das ações, seguida de revisão e análise das anotações para uma retomada,
uma “ação reflexiva”, que resulte em aprimoramento docente. Os/as professores/as, ao
elaborarem relatórios pautados/as numa “ação reflexiva” devem levar em consideração que
estes perpassarão por “três tempos articulados e complementares”, a seguir:
a) tempo de observação/descrição da ação: [...], o professor protagoniza
um primeiro momento importante: de selecionar os fatos que foram
significativos em algum momento, de alguma criança. Ele precisa parar e
pensar sobre o que é importante destacar/relatar e sobre as expressões mais
adequadas a utilizar. [...] b) tempo de retomada/reflexão: [...] Relendo anotações feitas em
diferentes ocasiões, poderá compreender o percurso percorrido por cada
criança (suas preferências, amigos, tempos de realização de um trabalho,
formas de interagir com outros, etc.), a partir do qual irá pensar nas próximas
atividades e brincadeiras ou em novas posturas em relação às crianças. c) tempo de reconstrução/mediação: na terceira etapa, sua reflexão irá
ocorrer de forma ainda mais abrangente e significativa, tendo a analisar o
conjunto das situações educativas, a evolução de cada criança frente a tudo
isso, envolvendo, dessa maneira, a descrição dos fatos, a reflexão sobre eles
e o seu compromisso pedagógico em termos da melhoraria da aprendizagem
da criança. (HOFFMAM, 2015, p.114-116).
Defendemos com bases em Lazari (2013, p.47), que os resultados ou reflexões
utilizadas para reorientar as ações futuras tenham o objetivo de obter maior sucesso com o
trabalho e melhores respostas no sentido de contribuir com a aprendizagem e
90
desenvolvimento das crianças. A ideia é apreender os modos como esses sujeitos estão
aprendendo e se desenvolvendo para sabermos quando e como atuar. Justificando o que
Hoffman (2011) define como avaliar na educação infantil, é acompanhar o processo de
desenvolvimento da criança com intenção de intervenção pedagógica, visando oferecer
melhores e diferentes oportunidades de aprendizagem que promovam o desenvolvimento de
todas as crianças.
Portanto, ao planejar, levar em consideração o que Villas Boas (2007, p. 24) sugere
como pontapé inicial, questionar: “por que estou avaliando? Para que eu avalio? Como
avalio? Quem é avaliado? Quem avalia? Para que servem os resultados da avaliação”?
Acreditamos que compreender e tentar responder a esses questionamentos é fundamental ao/a
professor/a. Questões que podem ser norteadoras para que os/as docentes desenvolvam
práticas pedagógicas sustentadas numa avaliação formativa e mediadora, compromissada com
a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças.
91
V
LENDO, ANALISANDO E INTERPRETANDO DOCUMENTOS: buscando
compreensões sobre avaliação na educação infantil
Esta seção, organizada em quatro tópicos, apresenta os resultados das análises do
“corpus” da pesquisa documental, composto pelo conjunto dos documentos que foram
submetidos aos procedimentos de análise a fim de tecer compreensões sobre as questões
orientadoras do estudo:
Para tanto, iniciamos pela análise do Projeto Político Pedagógico/PPP da escola onde a
pesquisa foi realizada com o propósito de evidenciar quais as concepções de avaliação, as
práticas avaliativas e as formas de registros sobre desenvolvimento e aprendizagem dos/as
alunos/as presentes no referido documento. Seguida pelas análises articuladas da Base
Nacional Comum Curricular BNCC/20017 e da Lei nº 12 796/2013, destacando os objetivos
específicos propostos pelos dois documentos para a avaliação na Educação Infantil e
aproximações ou afastamentos com o registrado no PPP. Na sequência são apresentados e
analisados os documentos elaborados para orientar as instituições da referida modalidade de
ensino na implementação da lei nº 12.796/2013, como a Orientação nº. 01//2015 da
Superintendência Regional de Educação - SRE/UDIA e Secretaria Municipal de Uberlândia-
SME/UDIA e o Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão Preliminar) - 2018.
E, finalmente, as análises dos Registros de avaliação/relatórios elaborados pelos/as
professores/as sobre desenvolvimento e aprendizagem dos/as alunos/as, no qual buscamos
compreensões acerca das concepções de avaliação, práticas avaliativas e das formas de
registros sobre desenvolvimento e aprendizagem dos/as discentes, assim como identificar as
dificuldades enfrentadas pelos/as docentes na sistematização das formas de registro e
avaliação para as aprendizagens.
5.1 Projeto Político Pedagógico/PPP: elemento constituinte do ensino e da aprendizagem
O Projeto Político Pedagógico (PPP), um dos elementos constituintes da gestão
democrática da escola e das aprendizagens, se apresenta como possibilidade de a escola
elaborar e implementar proposta pedagógica com a participação coletiva, cujas
responsabilidades são assumidas para execução dos objetivos estabelecidos.
De acordo com Veiga (1995), as escolas, ao elaborarem os projetos, já explicitam ali
sua intencionalidade e os objetivos a serem realizados em busca de alternativas possíveis de
92
superação de problemas. Elas projetam, coletivamente, a tomada de decisões [...], “Lançamo-
nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro diferente
do presente”. (VEIGA, 1995, p.12).
Sobre o Projeto Político Pedagógico, Vasconcellos (2002) define como:
O projeto político-pedagógico é o plano global da instituição. Pode ser
entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de
planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada,
que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. È um
instrumento teórico - metodológico para a intervenção e mudança da
realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da
instituição neste processo de transformação. (VASCONCELLOS, 2002, p.
169).
De acordo com as informações situadas no Projeto Político Pedagógico (PPP) da
EMEI “Tecelã”, esta surgiu do convênio entre a Prefeitura Municipal de Uberlândia e a
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), funcionando primeiramente na Igreja Nossa
Senhora Auxiliadora, com três salas em cada turno.
Em 1985, a prefeitura municipal passou a ser a única instituição mantenedora da
escola. Em 1991 foi inaugurada a sede própria no bairro Tibery, recebendo a denominação de
Escola de Alfabetização [...]. O nome atual se deu em homenagem a uma professora do curso
de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia. A nova sede possibilitou o ingresso de
336 crianças na pré-escola.
Para atender à demanda reprimida, no ano de 1999, foram construídas mais cinco salas
de aula, ampliando o número de vagas para 580 alunos/as.
Atualmente a instituição, que possui localização urbana e central, acolhe com maior
incidência crianças moradoras nos bairros Tibery, Santa Mônica e Alto Tibery. Oferece a
modalidade de Educação Infantil, atendendo crianças de 02 a 05 anos, em período parcial,
divididas sob as nomenclaturas: GII (02 anos), GIII (03 anos), 1º Período (4 anos) e 2º
Período (5 anos
No entorno da escola existe uma unidade de saúde, um parque ambiental e várias
quadras de esporte, vários comércios, um shopping, escolas particulares e públicas, entre
outros equipamentos sociais. (UBERLÂNDIA, PPP, 2016, p.5). Em relação à infraestrutura e
quadro de pessoal dessa escola, elaboramos o Quadro 1.
93
Quadro 1-Infraestrutura e quadro de pessoal da EMEI Tecelã
Espação Físico/Instalação e Equipamentos/estrutura Física Quadro de pessoal* Ocupa uma área de 2787, 25 m², assim distribuídos: - 05 salas de aula com 30 m²; - 05 salas de aula com 42 m²; - 01 sala biblioteca com 30 m²; - 01 sala de laboratório de Informática - 01 depósito de materiais pedagógicos; - 01 sala para direção; - 01 sala para secretaria, medindo 14 m²; - 01 sala para xerox; - 01 sala para supervisão I; - 01 sala para supervisão II; - 01 sala para professores, medindo 15 m²; - 06 sanitários masculinos, sendo 5 adaptados para faixa etária de 0 a
6 anos, e - 01 adaptado para portadores de necessidades especiais; - 01 cantina (cozinha) medindo 13,57 m²; - 01 dispensa para gêneros alimentícios; - 01 dispensa para materiais de limpeza; - 01 galpão medindo 84,15 m²; - 01 parque infantil; - 250 m² de área cimentada (pátio aberto para facilitar a
acessibilidade). - Área Verde; - 01 estacionamento. - Quadra coberta.
Composto por 66 profissionais
sendo:
(58 efetivos/as e 08contratados/as)
36 Professores (provavelmente são
todas professoras, não?); 13 Educadores Infantis; 11 ASGS; 01 Oficial Administrativo; 03 Pedagogos; 02 vice-diretores; 01 Diretora.
* Quadro de pessoal atualizado em
2019.
Fonte: UBERLÂNDIA/PPP, p.31-42, 2016.
Observamos, de acordo com os dados constantes no quadro ilustrativo, que a escola
possui infraestrutura, de acordo com os padrões mínimos de qualidade postulados pela
legislação específica da área da educação infantil42. Destacamos que o documento
“Parâmetros Básicos de Infraestrutura para instituições de Educação Infantil”, elaborado com
base nos estudos e nas pesquisas do Grupo Ambiente-Educação (GAE)43 e publicado pelo
42 No Plano Nacional de Educação – PNE (Brasil, 2001), vem somar critérios e parâmetros de qualidade para os
espaços físicos da Educação Infantil, de acordo com a Meta nº 2 estabelece a exigência de “padrões mínimos de
infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições (creches e pré-escolas) públicas e privadas, que
respeitando as diversidades regionais assegurem o atendimento das características das distintas faixas etárias e
das necessidades do processo educativo quanto a: a) espaço interno, com iluminação, insolação, ventilação, visão
para o espaço externo, rede elétrica e segurança, água potável, esgotamento sanitário; b) instalações sanitárias e
para a higiene pessoal das crianças; c) instalações para preparo e/ou serviços de alimentação; d) ambiente interno
e externo para o desenvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares e a metodologia da
Educação Infantil, incluindo repouso, expressão livre, movimento e brinquedo; e) mobiliário, equipamentos e
materiais pedagógicos; f) adequação às características das crianças especiais” (Brasil, 2001:61). (BRASIL, p.37,
2006) 43
O Grupo Ambiente-Educação (GAE) desenvolve projetos relacionados à qualidade dos ambientes escolares
com ênfase nas relações entre o espaço físico, o projeto pedagógico e o desenvolvimento da criança, além da sua
adequação ao meio ambiente. O GAE reúne profissionais e pesquisadores de áreas e instituições distintas.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros básicos de infra-estrutura para
instituições de educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2006. 45 p. Disponível
em<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/miolo_infraestr.pdf>. Acesso em: 27, ago. 2019.
94
MEC em 2006, propõe que o projeto de unidades de atendimento à educação infantil, além
das questões arquitetônicas, precisa levar em consideração.
[...] as necessidades e os desejos dos usuários, a proposta pedagógica e a
interação com as características ambientais. Reconhece-se a criança como
sujeito do processo educacional e como principal usuário do ambiente
educacional. Por isso, é necessário identificar parâmetros essenciais de
ambientes físicos que ofereçam condições compatíveis com os requisitos
definidos pelo PNE, bem como com os conceitos de sustentabilidade,
acessibilidade universal e com a proposta pedagógica. Assim, a reflexão
sobre as necessidades de desenvolvimento da criança (físico, psicológico,
intelectual e social) constitui-se em requisito essencial para a formulação dos
espaços/lugares destinados à Educação Infantil. (BRASIL, 2006, p.7).
O documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – Volume 2
de 2006 define que os espaços, materiais e equipamentos das instituições de educação infantil
destinam-se prioritariamente às crianças, [...], “são construídos e organizados para atender às
necessidades de saúde, alimentação, proteção, descanso, interação, conforto, higiene e
aconchego das crianças matriculadas”. (BRASIL, p.42, 2006). Nesse sentido, observamos que
de acordo com o quadro 01 e P.P.P da EMEI Tecelã, sua estrutura é organizada pensando num
ambiente que acolha as crianças, refletindo sua concepção de educação infantil.
As maneiras de arrumar a sala, a disposição dos mobiliários, a altura dos
móveis, assim como de outros materiais e brinquedos, dizem o que
entendemos por criança e infância. Por isso, as salas devem ser organizadas
de forma que permitam a livre movimentação das crianças. Os painéis
(chamada, calendário, números, alfabeto, rotina, etc.) sejam colocados na
altura das crianças e que a sala apresente um ambiente alfabetizador, com
músicas, poemas, parlendas e textos coletivos, valorizando, sempre, as
produções das crianças. Ao defendermos um ambiente alfabetizador não significa que estamos
dizendo que a educação infantil tem um caráter de alfabetização. Ao
contrário, defendemos a educação infantil como um momento
imprescindível para a criança brincar, se relacionar com o outro, aprender
com os pares, explorar as diferentes linguagens, construir cultura, etc. e não
como uma etapa preparatória para o ensino fundamental que se preocupa
com a alfabetização das crianças ao terminar o segundo período.
(UBERLÂNDIA, 2016, p.14).
Em relação ao acesso à educação infantil e inclusão escolar, no P.P.P é destacado que
as inscrições das crianças para as vagas são realizadas ao final do ano vigente para o ano
seguinte, via internet, seguindo o critério de zoneamento e respeitando o atendimento pelas
95
enturmações de idade, sendo a data de corte 31/03, prevista pela Diretriz Nacional da
Educação Infantil/2010. E acrescenta:
No entanto, as inscrições preveem a prioridade do atendimento às crianças
com deficiência e filhos de pessoas com deficiência, sendo a inclusão uma
política de estado. Além disso, são reservadas duas vagas em cada turma
para crianças, comprovadamente, em situação de risco ou vulnerabilidade e
também a prioridade de vagas na mesma escola a irmãos. As crianças com deficiência contam com um atendimento especializado no
contra turno, monitorado pelo Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas.
Elas devem ser atendidas na sala regular, porém tendo o acompanhamento
de um profissional ao atendimento específico de sua deficiência.
(UBERLÂNDIA, 2016, p.21).
Informa que há 01 banheiro “adaptado para portadores de necessidades especiais”
(Pessoas com deficiência).(P.P.P, p.30-42), em cumprimento às orientações da Secretaria
Municipal de Educação [...] “O espaço físico da escola está sendo preparado para atender
acessivelmente as crianças com necessidades”. Não encontramos referência no documento
sobre rampas de acessos e outros itens especificados pela legislação sobre a acessibilidade44,
que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das
pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida nos estabelecimentos públicos. Nessa
vertente, os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para instituições de Educação Infantil/2006
procuram caracterizar o edifício e estabelecem as normas que condicionam a utilização dos
espaços da pré-escola a ser construída. Assim, definem o critério da acessibilidade:
Acessibilidade universal – garantia de que o ambiente construído seja o
menos restritivo possível, incluindo espaços dimensionados de acordo com os
preceitos de acessibilidade universal, considerando acessos a salas, área de
serviço, cozinha, banheiros, áreas de brincar interna e externa, dentre outros
espaços, de acordo com as normas brasileiras e os decretos em vigor.
(BRASIL, 2006, p.16).
Sobre o planejamento, de acordo com o PPP, é realizado semanalmente, com as
atividades organizadas por dia. Na organização do Tempo e Espaço em sala, seguem uma
rotina que se inicia com a “roda de conversa, música, chamada, contagem das crianças,
leitura, combinados do dia, entre outros”. Após a rotina o professor desenvolve as atividades
com as crianças variando de acordo com os objetivos propostos em seu planejamento.
44 ABNT; Decreto Federal nº 5.296; resolução nº 8, de 20 de junho de 2001, entre outros. Regulamenta as Leis
nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de
19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>. Acesso em: 22 set. 2019.
96
Explicita que as estratégias desenvolvidas se baseiam em “atividades lúdicas e prazerosas,
como contação de histórias, dramatizações, música, registro diversos, cantos45 diversificados
com atividades de brincar [...] da escrita, do desenho, da matemática, dos jogos, da leitura, da
informática”. (UBERLÂNDIA/PPP, 2016, p.43).
De acordo com Forneiro (1998, p.229), “a chegada dos Cantos e a organização
funcional das salas de aula” foi revolucionária na medida em que ampliou as condições do
espaço das salas serem usados de forma polivalente, sendo aproveitados de muitas maneiras,
podendo o professor extrair mais possibilidades para as aprendizagens de seus alunos e
alunas. O RCNEI/1998 reforça a importância de se pensar a organização desses espaços com
intencionalidade. “Nas salas, a forma de organização pode comportar ambientes que permitem
o desenvolvimento de atividades diversificadas e simultâneas, como, por exemplo, ambientes
para jogos, artes, faz de conta, leitura etc.” (BRASIL, 1998, p.69).
Nesse sentido, argumenta-se que organizar o espaço em cantos temáticos propiciará a
interação das crianças com diferentes materiais e com diferentes linguagens ao mesmo tempo.
A convivência no espaço, que traz possibilidades de experiências individuais e coletivas,
favorecerá a construção da autonomia e avanços nas aprendizagens. Nessa direção, além da
organização do espaço interno das salas de aula a escola possui outras opções. Há espaços
externos chamados de “Cantinho da Natureza, parquinho, área verde, parque infantil e uma
quadra coberta” (p.41-42). “As crianças atendidas avaliam que a escola é boa, entre as
atividades que realizam gostam do parquinho, das aulas no Laboratório de Informática, do
Cantinho da Natureza, das aulas de Educação Física, das atividades que realizam na sala de
aula e que o lanche é muito gostoso”. (P.P.P, 2016, p.8).
Zabalza (1998), quando trata da qualidade em educação infantil, destaca a importância
da organização dos espaços e da rotina, pois de maneira similar ambos desempenham
[...] um papel importante no momento de definir o contexto no qual as
crianças se movimentam e agem. As rotinas atuam como organizadoras
estruturais das experiencias (sic) quotidianas, pois esclarecem a estrutura e
possibilitam o domínio do processo a ser seguido, [...]. o cotidiano passa,
então a ser algo previsível, o que tem importantes efeitos sobre a segurança e
a autonomia. (ZABALZA, 1998, p. 52).
45
Os cantos temáticos ou zonas circunscritas, constituem uma forma de organização do espaço para garantir que
a criança vivencie diferentes situações de aprendizagens. BARBOZA. Keila Cristina Alves; VOLPINI. Maria
Neli. A organização dos cantos temáticos na educação infantil. Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade,
Bebedouros, 2 (1): 13-24, 2015.Disponível em:<unifafibe.com.br › revistasonline › arquivos ›
cadernodeeducacao › sumario>. Acesso em: 8 set 2019.
97
Forneiro (1998) esclarece que embora os termos espaços escolares e ambiente escolar
sejam em muitos momentos utilizados de maneira equivalentes e estão mesmo intimamente
ligados, há uma distinção:
O termo espaço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais para a
atividade caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelos
mobiliários e pela decoração. Já o termo ambiente refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que
se estabelecem no mesmo (os afetos, as relações interpessoais, entre as
crianças, entre crianças e adultos, entre crianças e sociedade em seu
conjunto. (FORNEIRO, 1998, p. 232).
Para Horn (2007, p.61), a organização dessas instituições traduz as concepções de
criança, de educação, de ensino e aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser
humano do educador que atua nesse cenário.
O espaço na instituição de educação infantil deve propiciar condições para
que as crianças possam usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento e
aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e permeável à
sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos
professores em função das ações desenvolvidas. (BRASIL,1998, p. 69).
Referente à participação da família, no P.P.P consta que em vários momentos no
decorrer do ano a EMEI Tecelã busca-se organizar o “ambiente” e viabilizar a participação da
família e comunidade no trabalho político-pedagógico da instituição. Nesse sentido, descreve
que criam-se possibilidades por meio de diversas ações como:
[...] os pais devem ser incentivados a participar das atividades das escolas via
reuniões e eventos. A escola comprometida com sua comunidade estabelece
um diálogo contínuo com a mesma e procura implementar encontros bem
organizados e produtivos. [...] A EMEI sempre teve a preocupação em convidar a comunidade para
participar de momentos voltados para a reformulação do PPP, por meio de
bilhetes, cartazes, conversas informais. Porém, muitos pais alegam que por
motivo de trabalho não podem participar e ainda não têm onde deixar os
filhos. [...] os resultados da aprendizagem dos alunos são divulgados em reuniões
de pais ao final de cada semestre, em exposições de atividades,
apresentações artísticas e por meio de atividades diárias. [...], Os pais que se interessam em participar do cotidiano escolar conhecem
o organograma da mesma e também é do conhecimento da comunidade o
regime disciplinar e ético da escola, o qual é divulgado na agenda do aluno e
nas reuniões de pais, mas a comunidade não participa da construção do
mesmo. (UBERLÂNDIA/P.P.P., 20016, p. 24-31).
98
De acordo com a análise do P.P.P., em relação à formação continuada, a escola
divulga a agenda do CEMEPE e de outras instituições formadoras em murais expositivos,
apresenta as datas da formação nos módulos dos/as professores/as, disponibiliza cartazes,
entre outros, e a participação fica a critério de cada servidor/a. E durante os módulos com
os/as docentes e os/as supervisores/as são realizadas leituras e reflexões sobre a prática
pedagógica [...]. (UBERLÂNDIA/PPP, 2016, p.31). A análise permite reconhecer que não há
decisão coletiva sobre a participação dos/as professores/as em eventos formativos divulgados
na escola.
5.2. Concepções, práticas avaliativas e as formas de registros sobre os/as alunos/as no
PPP da EMEI Tecelã
Na análise do P.P.P da escola Tecelã, como já mencionado, buscamos tecer
compreensões e considerações sobre quais as concepções, práticas avaliativas e as formas
de registros sobre os/as alunos/as, adotadas na escola pública de educação infantil de
Uberlândia/MG, por professores/as e pedagogos/as, assim como identificar as dificuldades
enfrentadas pelos/as professores/as na sistematização das formas de registro e avaliação
para as aprendizagens.
Para apoiar as análises, organizamos os dados em quadros (Modelos dos quadros em
Apêndice H, p.247), divididos por unidades de registros (Temas) definidos a priori e temas
que apareceram durante o desenvolvimento do trabalho, por unidades de contexto e
interpretações. A organização dos quadros se estruturou a partir dos temas que orientaram a
análise:
Quadro 01
a) Concepção de criança constante no P.P.P.
b) Concepção de infância e de educação infantil constante no P.P.P.
Quadro 02
a) Concepções de avaliação constante no P.P.P.
b) Práticas avaliativas e as formas de registro constantes no P.P.P.
Quadro 03
a) Concepção de aprendizagem/desenvolvimento constante no P.P.P.
b) Papel do/a professor/a no processo de ensino e aprendizagem.
c) Planejamento/projetos e avaliação constantes no P.P.P.
99
Com base nos resultados das análises do PPP é possível afirmar que a EMEI Tecelã
explicita, no referido documento, uma concepção de criança fundada na perspectiva histórica-
cultural, reconhecendo a singularidade que caracteriza as crianças e as infâncias e sua
capacidade de assimilar, construir conhecimento e transformá-lo.“[...] a Educação Infantil
adquire um novo significado, fundamentada na concepção da criança como cidadã, sujeito
histórico, como pessoa em processo de desenvolvimento”. (PPP, 2016, p.4). Além disso, no
decorrer do texto é possível verificar marcas da concepção de infância e de educação infantil,
como exemplo, ao salientar que desenvolvem sua proposta pedagógica acreditando nas
interações, na mediação e no diálogo;
[...] a proposta pedagógica educativa aqui apresentada está apoiada em uma
concepção que acredita no diálogo entre o desenvolvimento humano e a
aprendizagem das crianças, e o promove, numa envolvente atividade que
também amplia os horizontes dos adultos interessados em se relacionar com
elas. (UBERLÂNDIA/PPP, 2016, p.9).
Nesse sentido, é possível afirmar que a EMEI Tecelã desenvolve sua proposta
fundamentada nas DCNEI/2009, que explicita no artigo 4º:
As propostas pedagógicas de Educação Infantil deverão considerar que a
criança, centro do planejamento curricular, sujeito histórico e de direitos que,
nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre natureza e
sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2009, p.1).
Em relação à concepção de avaliação, verificamos que a expressa no PPP é processual
e qualitativa. Vista como um elemento de mediação, como forma do/a professor/a verificar
sua prática, refletir sobre ensino e aprendizagem, e diante das análises possíveis, proporem
intervenção pedagógica significativa de forma que atenda às necessidades reais da criança,
detectadas por meio das práticas avaliativas.
O Princípio das práticas Avaliativas, parte da premissa que a avaliação deve
ser elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino. Por ocorrer durante
todo o processo de aprendizagem é utilizada para os professores pensarem a
prática educativa e avaliarem o conhecimento do aluno fazendo
acompanhamento de seu próprio desenvolvimento. (UBERLÂNDIA/PPP,
2016, p. 7).
100
5.2.1 Práticas avaliativas e formas de registro
Sobre as práticas avaliativas e formas de registro, o documento cita que a realização dos
procedimentos e recursos avaliativos acontece de acordo com as Diretrizes Curriculares
Nacionais.
A avaliação é processual e de cunho qualitativo, de acordo com as Diretrizes
curriculares, na qual são utilizados recursos como: observação, relatórios,
registros, fotos dos momentos em que as crianças estão realizando atividades
de registro, ou participando de diferentes momentos práticos.
(UBERLÂNDIA/PPP, 2016, p. 28).
São realizadas mostras pedagógicas/exposições das atividades desenvolvidas pelas
crianças no decorrer do ano ou de um período específico, que são concebidas como resultados
e momentos de análises ou reflexões sobre aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Como pode ser observado neste fragmento do documento: “[...] os resultados da
aprendizagem dos alunos são divulgados em reuniões de pais ao final de cada semestre, em
exposições de atividades, apresentações artísticas e por meio de atividades diárias”. (PPP,
2016, p. 28). Se a avaliação é processual, conforme o trecho citado acima, esse exemplo aqui
apresentado evidencia contradições, uma vez que a mostra ocorre ao final de cada semestre e
os olhares sobre as atividades não são incorporados ao planejamento do próximo semestre.
No que se refere à concepção de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, com
base nos aportes constantes no P.P.P/20016, a EMEI Tecelã toma como base teórica os
estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem fundados na concepção sócio histórica, cujos
principais representantes são Vygotsky (1991) e Wallon (1981).
A concepção teórico-metodológica, fundamentada, especialmente, no
pensamento de Vygotsky (1991) e de Wallon (1981), pode dialogar com
outras abordagens que, ao invés de se contradizerem, se complementam na
elaboração de um projeto educacional para a atualidade, colocando o sujeito
sócio-histórico e a cultura no centro do amplo universo da educação. Na concepção de Vygotsky, o desenvolvimento do sujeito é resultado de um
processo sócio-histórico onde a linguagem e a aprendizagem são
fundamentais nesse processo. A ação do sujeito sobre o meio é socialmente
mediada. A teoria de Wallon, também denominada de sócio-histórica, assim como a
teoria vygotskyana, têm como fundamentos para a construção do
conhecimento e da aprendizagem as relações sociais, afetivas e culturais. A
concepção sócio-histórica pode estabelecer, e estabelece, conexões com
outras concepções teórico-metodológicas aplicadas à educação, ajudando a
construir outros paradigmas para o campo educacional.
(UBERLANDIA/P.P.P., p.13, 2016).
101
No PPP há argumentos de defesa dos tempos e espaços diferenciados que as crianças
precisam ter e a escola necessita atender a relação entre aprendizagem e desenvolvimento. Em
suas palavras, “[...] a formação da criança está ligada ao desenvolvimento físico, cognitivo e
afetivo, que ocorre em diferentes idades. Quando inseridas em ambientes enriquecedores,
instigantes e cheios de espaços para aprender, a criança segue avançando”. (PPP, 2016, p.8).
Ao discutir o processo de ensino e aprendizagem mostra o papel do/a professor/a e
destaca a tentativa de superação de concepção de educação infantil pautada na dicotomia
cuidar e educar e sinaliza a necessidade de desvincular o papel do/a docente ao
assistencialismo atrelado ao cuidar, exclusivamente, uma imagem muito ligada ao vínculo
familiar. Inclusive cita a expressão tio/tia ainda muito usado nas escolas de educação infantil.
[...] deve-se levar em conta, ainda, outras formas de conhecimento que a
escola pode proporcionar às crianças, aqueles que transpõem as fronteiras,
mediadas pelo professor, fazendo com que este último reforce a importância
do seu papel enquanto formador, procurando desvincular dele a figura
familiar (tio/tia). (UBERLÂNDIAPPP, 2016, p.8).
No documento é enfatizado que o/a profissional envolvido/a na educação infantil
precisa ter o discernimento de que no processo de construção do conhecimento, o cuidar e o
educar são indissociáveis e “o professor exerce papel fundamental neste processo de
intermediação, fornecendo suportes para que o pensamento da criança possa ser estimulado e
enriquecido”. (UBERLÂNDIA/PPP, 2016, p.8-9).
5.2.2 Projetos/planejamentos: sinais de procedimentos avaliativos
A Rede Pública Pelo Direito de Ensinar e de Aprender, conforme consta na lei
11.444/2013, publicada no Diário Oficial do Município – DOM, 26 julho de 2013, propôs o
desenvolvimento de políticas públicas educacionais associadas à garantia de uma educação
pautada no direito das crianças, da juventude e das pessoas adultas ao ingresso, à permanência
e à conclusão com qualidade referenciada socialmente. Várias ações se desenvolveram a partir
da proposta de implementação da Rede, dentre elas, o Movimento Permanente de
Reorientação Curricular (MRC) e há menções sobre ideias presentes na Lei e nas ações delas
decorrentes no PPP. Vejamos trecho do documento de orientação teórica e prática para o ano
letivo de 2016:
[...] crivado de indagações (quem são as crianças da educação infantil? Que
práticas pedagógicas são desenvolvidas nas escolas de educação infantil?
102
Quais são os fundamentos dessas práticas?), fomentou reflexões coletivas
sobre a realidade da educação infantil, permitiu releituras dos Projetos
Políticos Pedagógicos (PPP) e do Regimento Escolar, e a elaboração dos
Planos de Formação, Plano dos Profissionais por Ano de Ensino
(PAPAE). (UBERLÂNDIA/O.T.P./2016, p.30, grifo nosso).
Outra ação que fez parte do Movimento Permanente de reorientação Curricular foi a
elaboração do Plano de ação dos/as profissionais de cada ano de ensino – PAPAE e o
P.P.P da escola Tecelã e que versa sobre a sua contribuição deste documento:
Esse documento é construído, coletivamente, por todos os profissionais da
escola, reunindo-se por agrupamentos. A elaboração do PAPAE auxilia os
profissionais a refletirem sobre as concepções de crianças e infâncias,
especificidades de cada agrupamento, metodologia, avaliação e os eixos de
trabalho que devem estar presentes na Educação Infantil. O PAPAE antecede
a realização do planejamento individual do/a professor/a. Isso significa que
o/a professor/a, na elaboração do seu planejamento individual, se apropria
das concepções, metas e objetivos previstos e definidos no documento.
(UBERLÂNDIA, 2016, p.12).
Quanto aos projetos/planejamentos, realizados na instituição no PPP, consta a
elaboração coletiva do PAPAE com propostas de trabalho para os alunos e alunas e
comunidade escolar, tentando melhorar os aspectos detectados pelo coletivo e,
consequentemente, a qualidade do “ensino na escola”. Enumera alguns projetos como o
recreio Self-service, Laboratório de Informática, a Horta Educativa, Dia da Família na Escola,
Cinema na Escola, Criação do blog da escola com a finalidade de melhorar a comunicação
com as mães, os pais ou responsáveis e valorização dos trabalhos dos/as alunos/as e
profissionais da escola [...] (PPP, 2016, p. 28).
Ao tratar de projetos de formação com os profissionais na unidade, o PPP/2015 destaca
o fato de que os temas são decididos usando a metodologia das rodas de conversas e pensados
para a melhoria do atendimento aos/as alunos/as. Como podemos observar, de acordo com o
documento, [...] “Em 2015 o tema da formação in loco” foi: Educação das Relações étnico-
raciais na Educação Infantil. Este ano estamos estudando os temas: Inclusão de Alunos e
Alunas com Necessidades Especiais na Escola e Avaliação de Aprendizagem na Educação
Infantil – O Portifólio”46. (PPP, 2016, p. 28).
46
Porta-fólio ou portfólio, segundo o Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa, 1999, 3a
edição, é uma pasta de cartão usada para guardar papéis, desenhos, estampas etc. Já o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa, 2001, 1a edição, traz também as duas formas: porta-fólio e portfolio, esta última sem o
acento agudo. O significado do portfólio oferecido por este último é o de “conjunto ou coleção daquilo que está
ou pode ser guardado num porta-fólio (fotografias, gravuras etc.)” e “conjunto de trabalhos de um artista
(designer, desenhista, cartunista, fotógrafo etc.) ou de fotos de autor ou modelo, usadas para divulgação entre
clientes prospectivos, editores etc.”; portafólio (cartão) “contendo material publicitário (sugestões de leiautes,
artes-finais, provas etc.) que se leva a um cliente para aprovação”. (VILLAS BOAS, 2007, p.26).
103
Segundo Villas Boas (2007, 26), “O portfólio é um dos procedimentos de avaliação
condizentes com a avaliação formativa”. Originalmente, é entendido como uma pasta grande
onde se colocam as amostras representativas das produções de artistas e fotógrafos iniciantes,
com objetivo de serem apreciadas e compreendidas com intenções de propor avanços em seu
processo de desenvolvimento. Na educação, apresenta várias possibilidades: “É um
procedimento de avaliação que permite aos alunos participar da formulação dos objetivos da
sua aprendizagem e avaliar o seu progresso. Eles são, portanto, participantes ativos da
avaliação, selecionando as melhores amostras do seu trabalho para incluí-las no portfólio”.
(VILLAS BOAS, 2007, p.27). Seu uso traz vantagens em beneficiar qualquer tipo de aluno
devido às várias possibilidades de apresentação das produções com o uso de diferentes
linguagens. O acompanhamento do desenvolvimento do trabalho é permitido ao aluno, que se
sente valorizado em seu esforço. Outra vantagem, segundo Villas Boas (2007, p.28), são as
“notas, conceitos e menções, se existirem, passam a ocupar lugar secundário”, podendo até
não existir. A história de vida e as experiências do/a aluno/a são levadas em consideração e
socializadas, assim como seu contexto social, o que para o estudante traz sentido e
significado, responsabilidade e protagonismo. Portanto, o portfólio é um procedimento
valioso de avaliação formativa e o processo por ele desencadeado contribui com a criação de
elos importantes no estabelecimento dos diálogos entre os envolvidos: as crianças, os/as
professores/as e os pais.
Tendo em vista as questões que orientaram a análise do P.P.P. da EMEI Tecelã,
tecemos considerações quanto ao esforço que a escola tem feito quanto a contemplar
reflexões em seu cotidiano, oferecendo aos/as professores/as e pedagogos/as um tempo e
espaço plausíveis para estudos sobre questões importantes na área das infâncias. Porém,
analisando as concepções e as práticas de avaliação adotadas na escola e as dificuldades
enfrentadas pelos/as professores/as na sistematização das formas de registro e avaliação
para as aprendizagens, que hora aparecem no P.P.P, e comparando com
narrativas(entrevistas) de professoras que participaram da pesquisa, estas demonstraram
que o texto do PPP é um e a prática é outra.
[...] O que eu acho que poderia ajudar muito era uma base firme do que se
espera, porque o que tá no PPP de hoje da escola não é o que se espera da
gente trabalhando na escola de hoje... o PPP é novo? É novo, mas tá
desatualizado demais com a nossa prática, a nossa prática não tá de acordo
com o PPP que existe na escola [...]. (Professora Cecília, Entrevista, 2019,
p..6).
104
A observação de que a atualização do P.P.P é necessária faz parte da análise da
entrevista realizada com a professora Cecília, participante da pesquisa. Aponta uma visão
política pedagógica de relevância, pois o próprio documento sinaliza que é preciso
“adequar às mudanças que se fizerem necessárias diante do contexto vivido”.
(UBERLÂNDIA, 2016, p.37). É nessa perspectiva que avaliamos o projeto como parte de
um processo dinâmico de construção, a fim de enriquecer o trabalho e possibilitar
transformações na ação avaliativa e de acordo com a realidade da escola.
Por fim, é importante destacarmos que, como verificado, a EMEI Tecelã indica
práticas com base nos ordenamentos legais. No PPP há menções de que as formas de registros
sobre os/as alunos/as são variadas, destacando que as utilizam na apresentação dos resultados
da aprendizagem dos/as estudantes que são divulgados em reuniões com as mães, pais ou
responsáveis pela criança, ao final de cada semestre, em exposições de atividades,
apresentações artísticas e por meio de atividades diárias. Cita que “as avaliações devem
acontecer sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança, com
documentações diversas que mostrem estes resultados em consonância com a Lei 12.796 de 4
de abril de 2013. (UBERLÂNDIA, P.P.P, p. 22). Porém, não traz apontamentos sobre o
desencadeamento das ações decorrentes da implementação da lei 12.796/13, principalmente
sobre o Relatório Descritivo do Processo de desenvolvimento e Aprendizagem da
Criança. Assim, para que o P.P.P se torne um instrumento que promova, viabilize e indique o
direcionamento das ações político-pedagógicas da escola, sua atualização torna-se
fundamental, principalmente no tocante à implementação da lei 12.796/13.
5.3 A Lei nº 12.796/2013 e a obrigatoriedade de matrícula aos quatro anos de idade nas
instituições de educação infantil
A nova redação dada à Constituição Federal, estabelecida pela Emenda
Constitucional nº 59/2009 e a Lei nº 12.796/13, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN), nº 9.394/96, torna obrigatória a matrícula de crianças aos
quatro anos de idade nas instituições de educação infantil e traz mudanças quanto à
organização e ao funcionamento dessas unidades. Em relação à matrícula, na alteração da
LDB nº 9.394/96, consta:
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.
(BRASIL, 2016, p. 9).
105
Quanto ao currículo47, o Art. 26 da mesma Lei é fundamental, pois apresenta
orientações sobre como organizá-lo:
Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino
médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada
sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade,
da cultura, da economia e dos educandos. (BRASIL, 2016, p.12).
Esse artigo da Lei demonstra a importância de os municípios construírem seus Planos
Curriculares tendo uma Base Nacional Comum e uma diversificada, em conformidade com
as características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.
Nesse contexto, refletir sobre como será definido esse currículo é fundamental. De
acordo com Araújo (2018, P.31), as teorias pós-críticas sobre o currículo mostram que este
documento “é vivo, é dinâmico e se realiza em todos os momentos da vivência escolar. Sendo
assim, se aprende na escola muito mais do que aquilo que está registrado nos documentos
oficiais”. Muito é ensinado e aprendido de forma explícita e implícita. Acrescenta que há
aprendizagens sociais relevantes que não fazem parte do currículo oficial explícito, o que ela
chama de currículo oculto. Este tem o poder de reforçar a ideologia de uma classe dominante
reproduzida no ambiente escolar, ou de possibilitar/permitir a tomada de consciência sobre as
potencialidades das crianças. Nesse sentido acrescenta, o quão importante é o papel do
professor, profissional ético:
[...] no currículo oculto se aprende fundamentalmente atitudes,
comportamentos, valores e orientações que permitem que crianças e jovens
se ajustem da forma mais conveniente às estruturas injustas e
antidemocráticas da sociedade capitalista ao aprenderem o conformismo, a
obediência e o individualismo.[...] Mas é possível reverter essa perversidade
do currículo oculto e consciente de que se ensina a todo o momento, o
professor poderá enfatizar valores positivos, reforçar positivamente a
autoestima, consciente de que está ensinando em cada gesto, cada olhar,
cada expressão em sala de aula. O que se coloca em questão é a tomada de
consciência da existência de ensinamentos que são proporcionados aos
47 “O currículo escolar é formado por todas as aprendizagens que se realizam no ambiente escolar, portanto, ele
não é algo neutro, muito pelo contrário, ele é ideológico e carregado de interesses políticos, econômicos e
culturais, como já mostravam as teorias críticas do currículo. Atualmente, as teorias pós-críticas do currículo
demonstram que ele é uma construção cultural e, como tal, transmite ideologias e concepções impostas por
grupos dominantes que embasam e frutificam desigualdades sociais, culturais, raciais, de gênero, dentre outras.
Coerente com esta reflexão observa-se por que é tão importante e necessária a discussão sobre o papel do
currículo oculto e seus efeitos no âmbito educacional e para a sociedade como um todo, pois sua presença é
inegável, em qualquer instituição escolar, seja pública ou privada, e sua influência afeta a aprendizagem dos
alunos e o trabalho dos professores.( ARAÚJO, 2018, p.38).
106
alunos, além dos conteúdos das diferentes disciplinas que são lecionadas.
Tendo consciência desses ensinamentos seria possível estar alerta, sensível,
numa prática profissional ética, a fim de estabelecer um relacionamento na
sala de aula pautado no respeito, no diálogo, com atitudes, gestos e
linguagens que busquem eliminar da sala de aula formas de preconceitos,
discriminações e violências, tendo consciência de que o professor é um
exemplo aos seus alunos. ( ARAÚJO, 2018, p.33-37).
No que compete à avaliação, a Lei 9.394/96 prevê, ainda, em seu artigo 31, incisos I
e V, a expedição de documentação específica que permita às famílias conhecerem o
trabalho da instituição junto aos educandos e educandas e os processos de desenvolvimento
e aprendizagem da criança na educação infantil. Vejamos:
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes
regras comuns:
I – avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento
das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
ensino fundamental; (grifo nosso).
II – carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um
mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;
III – atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o
turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
IV – controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a
frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;
V – expedição de documentação que permita atestar os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança. (BRASIL, 2016, p.13-14,
grifo nosso).
Podemos afirmar que a Lei nº 12.796/13 trouxe uma alteração significativa para o
funcionamento e a organização da educação infantil no Brasil no que tange à proposta de
sistematização e elaboração de documentação comprobatória da aprendizagem e
desenvolvimento das crianças nessa faixa etária. Mas, e a BNCC? O que nos aponta em
relação às orientações sobre o processo avaliativo contido na Lei n. 12.796/13?
5.4 Base Nacional Comum Curricular BNCC/20017
Desde o ano de 2015, em âmbito nacional, as discussões sobre a pertinência de se
adotar Base Nacional Comum Curricular48 (BNCC) foram fortalecidas no interior das
48 Participação da Universidade de Brasília (UnB), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
RJ), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) e da União Nacional dos Dirigentes
107
escolas e debates, permeados por embates e críticas, marcaram esse período. Em artigo de
autoria de Laranjeira (2017), intitulado “A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR:
UMA LEITURA A CONTRAPELO DOS AVANÇOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
DA EDUCAÇÃO INFANTIL” faz-se uma crítica quanto à elaboração do anunciado que a
Base foi construída de forma democrática, ao passo que não houve vasta participação de
todos os setores da educação, principalmente os/as professores/as e gestores/as que estão na
escola. Segundo a autora, “Houve sim, um grupo seleto que compactua com concepções
hegemônicas sobre educação, conhecimento, aprendizagem, currículo e avaliação
dissonantes com uma escola pública democrática e de qualidade.” (LARANJEIRA, 2017,
p.121).
Apesar das críticas, a Base foi aprovada em sua 3ª versão no dia 15 de dezembro e
homologada no dia 20 do mesmo mês do ano de 2017. O novo documento tratou inicialmente
da educação infantil e do ensino fundamental, a base curricular para o ensino médio foi
avaliada posteriormente pelo CNE. De acordo com o portal do MEC (2019), o documento do
ensino médio foi homologado em 14 de dezembro de 2018.
Destacam-se o caráter normativo do documento e a centralização dos currículos e
determina as competências, as habilidades e as aprendizagens essenciais que todos os/os
alunos/as devem desenvolver durante cada etapa da educação básica. Espera-se, neste
contexto, que a base seja
Referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e das
redes escolares dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios e das
propostas pedagógicas das instituições escolares, a BNCC integra a
política nacional da Educação Básica e vai contribuir para o alinhamento
de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal,
referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de
conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura
adequada para o pleno desenvolvimento da educação. (BRASIL, 2017,
p.6).
Com a BNCC (2017), ambiciona-se também que, além da superação da fragmentação
das políticas educacionais, se fortaleça o “regime de colaboração” entre as três esferas de
governo e que esta seja “balizadora” da qualidade da educação, garantindo um patamar
comum de aprendizagem a todos/as os/as estudantes para além do acesso e permanência na
escola.
Municipais de Educação (UNDIME). Mais de 9 mil professores, gestores, especialistas e entidades de educação,
Secretarias de Educação de todos os Estados e Distrito Federal, e ainda 12 milhões de contribuições também
precisam ser reconhecidas.
108
De acordo com a BNCC (2017, p.35-36), na educação infantil, primeira etapa da
educação básica, as práticas pedagógicas se desenvolverão com base nos eixos
estruturantes, “as interações e as brincadeiras”, atestando os “direitos de aprendizagem e
desenvolvimento” dos/as educandos/as de forma “humana integral”. São eles os direitos de
“conviver, participar, explorar, expressar, conhecer-se”.
No que concerne à organização do currículo, se estrutura em 5 campos de
experiências na esfera, dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento. Assim nomeados de acordo com a base: “o eu e o outro; corpo, gestos e
movimento; traços, sons, cores e formas; oralidade e escrita; espaços, tempos, quantidades,
relações e transformações”. (BNCC, 2017, p. 39 - 41).
Após uma leitura flutuante da BNCC/2017, principalmente sua introdução e
objetivos e no que compete à educação infantil, retomamos e fomos destacando o enfoque
acerca da abordagem sobre formas de registros, concepção de infância, de criança e
avaliação contidas na BNCC e sua articulação com as orientações emanadas a partir da lei
12.796/13. Uma vez que o presente trabalho tem como objeto de estudo a Avaliação na
Educação Infantil, vale ressaltar que o foco principal deste escrito se refere à educação
infantil.
Por fim, foi realizada a análise articulada, destacando os objetivos específicos
propostos pelos dois documentos para a avaliação na educação infantil, comparando um com
o outro, a fim de estabelecer uma melhor visualização acerca do que permanece, suas
semelhanças e diferenças, comparando-se o que muda de um documento para o outro sobre o
tema.
A Base trata de forma breve a questão da avaliação na educação infantil, ela
explicita que os currículos, mediante pactuação interfederativa, definirão os direitos de
aprendizagem essenciais a serem alcançados pelos/as alunos/as da educação básica
(BRASIL, 2017). Nesse sentido, na página 51, que trata da transição da educação infantil
para o ensino fundamental, é proposto que as escolas de educação infantil, considerando os
objetivos e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento esperados em cada campo de
experiência das crianças, deverão apresentar no final desta etapa uma “síntese das
aprendizagens”.
Essa síntese deve ser compreendida como elemento balizador e indicativo
de objetivos a ser explorado em todo o segmento da Educação Infantil, e que serão ampliados e aprofundados no Ensino Fundamental, e não como
condição ou pré-requisito para o acesso ao Ensino Fundamental. (BNCC,
2017, p. 49, grifo nosso).
109
Com base nas análises articuladas do documento BNCC/2017 e da lei 12.796/13,
constatamos que as orientações emanadas da Base, em relação à avaliação na educação
infantil, são abordadas de forma superficial, ou seja, não aprofunda a ideia de produção de
síntese de aprendizagem. Quando trata da transição dessa modalidade de ensino para o ensino
fundamental, argumenta que “os processos vivenciados pelas crianças ao longo de sua
trajetória na Educação Infantil podem contribuir para a compreensão da história de vida
escolar de cada aluno do Ensino Fundamental” (BRASIL, BNCC, 2017, p. 49). Define o
que poderíamos chamar de avaliação como uma “síntese das aprendizagens”, também como
“elemento balizador de indicativos” dos objetivos da educação infantil. Afirma que apesar
de não ser condição ou pré-requisito para o acesso ao ensino fundamental, a proposição é
ajudar as crianças a “superarem com sucesso os desafios da transição”, “facilitar a
inserção das crianças nessa nova etapa da vida escolar”. Por conseguinte, entendemos que
na BNCC permanece o objetivo de preparar ou treinar para o ensino fundamental.
Assim, o resultado da análise do texto da BNCC/2017, uma política pública49 de
governo50, permite afirmar que a ênfase é na mudança de etapa, na transição e não na
avaliação no sentido de processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança no tempo da
infância.
5.5. Orientações para implementação da lei nº 12.796/2013 na Rede Municipal de
Educação de Uberlândia MG
A Superintendência Regional de Ensino de Uberlândia - SRE/UDIA (Anexo B,
p.296), considerando a nova redação dada a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e
Base da Educação Nacional, no que se refere à educação infantil, sugeriu em 02 de junho
de 2015, na orientação nº. 01//201551, os procedimentos que seriam adotados para a
49
Pode-se, então, resumir política pública como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo,
“colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor
mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se
no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e
ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real. (SOUZA, 2006, p26) 50
Política de Estado: na terminologia política se utiliza o conceito Política de Estado para referir-se aos
princípios fundamentais que devem servir de guia para o governo de uma nação. Neste sentido, as políticas de
estado não deveriam associar-se a um governo específico ou uma ideologia determinada. Pelo contrário, com
esta denominação se remete a todos aqueles assuntos considerados chaves para defender os interesses gerais de
uma nação. Disponível em:<https://conceitos.com/politica-estado/> Acesso em: 22 mar. 2019. Política de Governo: é o conjunto de filosofias, ideais, planos e medidas que compõe uma gestão pública.
Influenciada por diversos fatores incluindo as relações partidárias, alianças políticas, apoio de instituições
privadas e da própria sociedade civil. Disponível em:<
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_de_governo>. Acesso em: 22 mar. 2019 51 Documento Completo em anexo.
110
realização da avaliação do desenvolvimento das crianças, e, também, como se daria a
elaboração dos documentos para o registro da trajetória escolar nessa etapa da educação.
(SRE, 2015, p. 8).
Em consonância com a SRE/UDIA, a orientação nº. 01//2015 da SME/UDI (Anexo
C, p.316), divulgada pela Coordenadoria da Inspeção Escolar/SME/UDIA, sugere que as
instituições de educação infantil do município deveriam organizar seu currículo com base
no “Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil” - RNEI, publicado em 1998
pelo Ministério da Educação. (Referencial elencado anteriormente no capítulo I).
A orientação nº. 01//2015 da SRE/UDIA foi analisada por equipes da
Coordenadoria da Inspeção Escolar e Assessoria da Educação Infantil da Secretaria
Municipal de Educação/SME/UDIA e diante das análises, o documento que viria a ser o
Relatório do Processo de Construção do Conhecimento do (a) aluno (a) sofreu alterações
em seus encaminhamentos.
Para melhor entendermos como se deu o processo desencadeado pela orientação nº.
01//2015 da SRE/UDIA e os encaminhamentos a serem tomados pelo município de
Uberlândia em relação à organização curricular na educação infantil e mais
especificamente a forma de avaliação do desenvolvimento das crianças e elaboração dos
documentos para registro da trajetória escolar, nessa etapa da educação, realizamos uma
análise comparativa dos documentos “Relatórios Descritivos”, encaminhados pela
SRE/2015, SME/2015 e também o documento vigente encaminhado pela SME/2017. Para
tanto, apresentamos a seguir ilustrações e análises.
5.5.1. Formulários de relatórios do processo de construção do conhecimento da
criança
Nesta seção apresentaremos as ilustrações de modelos de formulários de relatórios,
desenvolvidos com o objetivo de organizar e descrever as informações pertinentes ao
Processo de desenvolvimento e Aprendizagem da Criança em cumprimento aos
ordenamentos legais da SRE/UDIA e SME/UDIA, seguido de suas respectivas análises.
111
5.5.2. Orientação nº. 01/junho de 2015 da Superintendência Regional de Ensino-
Uberlândia/SRE/UDIA52
Ilustração 01- Relatório do Processo de Construção do Conhecimento do (a) Aluno(a).
Fonte: Uberlândia/SRE, 2015,p.19-21.
Nomeado inicialmente de “Relatório do Processo de Construção do Conhecimento
do/a Aluno/a, foi estruturado iniciando pelos Campos:
1.0. Identificação da instituição;
2.0. Identificação da criança. Dados pessoais, filiação ou responsáveis, escolaridade,
endereço etc.;
3.0. Ano letivo cursado. Carga horária, frequência, faltas etc.;
52 Documento completo em Anexo B, p.296.
112
4.0. Trabalho pedagógico da instituição com a criança. O planejamento, os projetos
curriculares desenvolvidos naquele ano letivo em consonância com os âmbitos de
experiência e o PPP da instituição.
No Campo 5.0, onde se localiza nosso objeto de maior interesse, vai tratar
especificamente do “Processo de desenvolvimento e Aprendizagem da Criança”. O que
seria a avaliação, o relatório do “percurso da criança no processo de construção de
conhecimento”, pautado no planejamento e desenvolvimento das atividades, do trabalho
elaborado pelo/a professor/a regente com a criança no decorrer do ano letivo. Segundo a
Orientação nº 01 “[...], faz-se importante a atuação do (a) docente no sentido de elaborar
uma avaliação coerente com o planejamento e também um suporte reflexivo para o/a
professor/a sobre a sua prática pedagógica.” (UBERLÂNDIA, 2015, p. 11).
O anexo 2 do documento, elaborado com base no RCNEI/98, Campo 5.0, apresenta
as seguintes divisões e subdivisões:
5.1. ÂMBITO DE EXPERIÊNCIA - Formação Pessoal e Social; 5.1.1. Eixo de Trabalho - Identidade e Autonomia; 5.2. ÂMBITO DE EXPERIÊNCIA- Conhecimento de Mundo;
5.2.1. Eixo de Trabalho- Movimento; 5.2.2. Eixo de Trabalho - Artes Visuais;
5.2.3. Eixo de Trabalho - Linguagem Oral e Escrita; 5.2.4. Eixo de Trabalho - Natureza e Sociedade. (SRE, 2015, p.19-21).
Porém, argumentamos que essa forma de estruturação do documento e do currículo,
com campos já definidos, padronizados para todas as crianças, com base no desenvolvimento
de habilidades (Eixos) e separados, compartimentados como se fossem gavetas que ora
abrimos, ora fechamos, como se as crianças fossem todas iguais e aprendessem assim, não
condiz com a concepção de crianças e infâncias estabelecida nas orientações emitidas pela
SME/UIA/2016 em cumprimento à Lei 12.796/13. As orientações para a elaboração do
Relatório Descritivo (Anexo D, p.334), pautado nas DCNEI/13 e na Resolução CNE/CEB nº
5/2009, estabelecem que a criança deve ser respeitada em sua capacidade de produzir cultura
(2013), assim, o documento deve ser elaborado considerando que, [...]. “a criança seja
entendida em uma perspectiva de totalidade, de sensibilidade e sem fragmentações.”
(UBERLÂNDIA, p.1- 2, 2016).
A SRE/UDIA se refere ao “relatório descritivo” como “a melhor forma de se expedir a
documentação prevista em lei53”. Conclui que ele “refletirá a trajetória percorrida pela criança
53 A nova redação do artigo 31, inciso V, lei 9394/96, prevê a expedição de documentação comprobatória do
processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
113
e fornecerá aos/às educadores/as os elementos necessários para a continuidade do trabalho
pedagógico.” (UBERLÂNDIA/SRE, 2015, p.14).
Mas, além do formato de estruturação do relatório, algumas das colocações
apresentadas na orientação nº 01 da SRE/2015, valem ser destacadas. Na orientação consta
que, para atender às características próprias da educação infantil, a partir de suas concepções,
um “documento educacional” é o que se espera. No entanto, quando explicita a finalidade do
documento deixa claros os objetivos a que se propõe:
[...] um relatório descritivo que colabore com o (a) professor (a) do Ensino
Fundamental para realização do processo de transição de uma etapa para
outra que assegure formas de articulação das dimensões orgânica e
sequencial que garantam aos alunos um percurso contínuo de aprendizagem,
e ainda, que tenha subsídios para planejar suas atividades em continuidade o
trabalho desenvolvido na Educação Infantil. (UBERLÂNDIA/SRE, 2015,
p.12).
Entendemos que esse posicionamento reflete uma visão voltada a atender a etapa
seguinte, o ensino fundamental, reducionista da educação infantil, etapa imprescindível na
formação do sujeito. Citam o RCNEI/98 como referência para estruturar o currículo e os
procedimentos avaliativos, mas, diante dessa colocação, se contradizem, pois no próprio
RCNEI consta que "[…] a avaliação é entendida, prioritariamente, como um conjunto de
ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e
ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças. ” (BRASIL, MEC, 1998, p.59).
Nesse sentido, o tempo das ações é o tempo presente, na educação infantil e não no
futuro, no ensino fundamental. Ela deve criar possibilidades para o/a professor/a refletir sobre
o processo educativo em andamento e propor intervenções significativas de maneira que as
crianças avancem nas aprendizagens e no desenvolvimento no tempo vivido na educação
infantil, levando em consideração a criança em sua totalidade sem a fragmentação que as
formas de organização que os níveis do ensino fundamental apresentam.
5.5.3. Orientação nº. 01/novembro de 2015 da Secretaria Municipal de
Educação/SME/UDIA54
A orientação nº 01/2015 da Coordenadoria da Inspeção Escolar e Assessoria de
Educação Infantil/SME/UDIA teve sua análise finalizada no final do ano de 2015 e foi
54 Documento completo em Anexo C, p.316.
114
encaminhada às escolas de educação infantil. Sua divulgação nas formações do CEMEPE,
com as atuais alterações, aconteceu a partir de 16 de fevereiro de 201655 como parte do
movimento de reorientação curricular já mencionado no corpo do trabalho. Vejamos o
referido documento:
Ilustração 02-Relatório do Processo de Construção do Conhecimento da Criança
Fonte: Uberlândia/SME,2015,s/n. Fonte: Uberlândia/SME,2018,s/n.
Não houve modificações nos campos: Identificação da Instituição. Mas no campo
Identificação da Criança podemos observar que no tópico “Relatório do Processo de
Construção do Conhecimento do (a) Aluno (a)” há mudança ao nomear o campo que passou
a ser: “Relatório do Processo de Construção do Conhecimento da Criança.”
A ênfase está na mudança de terminologia referente ao sujeito avaliado. O termo antes
usado pela SRE, como “do (a) Aluno (a)”, passa a ser “da Criança.
Essa alteração reflete a concepção de educação defendida pela Rede Municipal de
Educação pautada numa proposta de educação infantil que considera a criança como capaz
55 Documento em Anexo D,p.334.
115
de aprender por meio de suas próprias ações, tendo os/as professores/as e meios que estes
disponibilizam, como mediadores. É fundamental termos consciência ética de respeitar a
criança e suas manifestações e mediar as condições para construção de sua autonomia.
Nesse sentido, Paulo Freire (2015) nos adverte quanto um “saber necessário à prática
educativa”. Esse saber segundo Freire,
[...] se funda na raiz [...] da inconclusão do ser que se sabe inconcluso , é
o que fala do respeito devido à autonomia de ser do educando. Do
educando criança, jovem ou adulto. [...] Saber que devo respeito à
autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em tudo
coerente com este saber. (FREIRE, 2015, p.58-60).
Coadunando com as mudanças ocorridas acreditamos que enquanto consideramos o
tempo das crianças, de serem crianças com suas potencialidades e especificidades, haverá
um diferencial nas propostas a serem implementadas e em seus desencadeamentos.
Observamos alteração também no tópico “Ano de Escolaridade” para
“Agrupamento”. Questão clara devida ao fato que na educação infantil não há a
organização de turmas por ano de ensino, mas sim por grupos definidos por faixa etária.
Assim organizados dentro das instituições de educação infantil da Rede Municipal:
Berçário (4m à1ano), GI (1 ano), GII (2 anos), GIII (3 anos). 1º Período (4 anos) e 2º
Período (5 anos). A organização definida pela BNCC/2017 traz nomenclaturas diferentes
para os agrupamentos.56
Na sequência das análises observamos a ausência de alterações no Campo Ano
letivo cursado e Trabalho pedagógico da instituição com a criança.
E, por fim, no Campo 5.0, espaço específico para o registro sobre a aprendizagem e
desenvolvimento da criança, foi onde ocorreu transformação de relevância significativa.
Na sugestão da SRE/2015 constava “Processo de desenvolvimento e Aprendizagem da
Criança”. Essa terminologia é alterada pela SME/2015 para “Relatório Descritivo do
Processo de desenvolvimento e Aprendizagem da Criança”.
Como observado, buscaram na Orientação nº 01 (SRE/UDIA, 2015 p. 12)
sustentação para acrescentar os termos “relatório descritivo”. No tópico 3.7, quando
pontua a Expedição de documentos, exigida a partir da nova redação do art. 31, inciso V,
da lei 9394/96, finaliza: “Para que se efetive expedição de documentos, faz-se necessário
56 Grupos por faixa etária definidos de acordo com a BNCC/2017- Bebês (0- 1a e 6m). Crianças bem pequenas
(1a7m,3a11m). Crianças pequenas (4a5a e 11m). (BRASIL, 2017, p.25).
116
que seja preenchido o relatório descritivo”. O parágrafo finaliza sugerindo o nome do
documento conforme registrado anteriormente.
Porém, a grande alteração se dá na forma de fazer o registro que deverá ser
individual e ressaltar os avanços qualitativos da criança em articulação com a proposta
trabalhada. Ou seja, o relatório de avaliação deverá ser “elaborado por meio de um texto
corrido, que articule o desenvolvimento e aprendizagem da criança contemplando os
âmbitos das experiências, assim como, todos os Eixos Curriculares”. (UBERLÂNDIA,
2016, p.s/n).
Conforme o documento Relatório-Avaliação Educação Infantil57,
(UBERLÂNDIA, 2016, p.s/n), a assessoria Pedagógica da Educação Infantil manteve a
proposta de elaboração do “relatório individual descritivo da criança”, com base no
Plano Curricular a ser implementado em 2016 e que se estruturava no RCNEI/98, como é
explicitado acima.
Com a aprovação da BNCC (2017) constatamos que as orientações da base, embora
tragam pontos convergentes, não fazia referência ao RCNEI e sua utilização na organização
curricular na educação infantil, diferenciando-se das orientações emanadas da
Superintendência Regional de Ensino de Uberlândia-SRE/UDIA e Secretaria Municipal de
Educação – SME/UDIA/2015. Frente às novas orientações emanadas a partir da aprovação da
BNCC (2017), em 2018 novos encaminhamentos foram formulados. Permaneceu vigente a lei
12.796/13.
As orientações encaminhadas para as escolas no ano de 2018 traziam como norma o
Planejamento Anual das instituições de educação infantil, de acordo com a Base Nacional
Curricular-BNCC/2017. Devendo ser pensado e desenvolvido levando em consideração o
desenvolvimento das 10 Competências gerais, 06 Direitos de aprendizagem, 05 Campos de
Experiências e nos objetivos e estratégias de aprendizagem organizados por faixas etárias.
Entretanto a estrutura do “Relatório Descritivo do Processo de desenvolvimento e
Aprendizagem da Criança” continua vigorando até a presente data (2019), de acordo com as
orientações da SER/UDIA e SME/UDIA/2016 como podemos constatar no memorando nº
2282/2017 da Secretaria Municipal de Educação-SME/CIE-circular58.
57 Documento completo em Anexo D, p.334. 58 Documento completo em Anexo E, p.338.
117
5.6 O Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão Preliminar) - 2018
No segundo semestre de 2018, mais especificamente dia 04 de agosto, inicia-se um
movimento nas escolas para a análise do Plano Municipal de Educação/PME, aprovado em
2015 e em consonância com o Plano Nacional de Educação/PNE. Foram apresentadas as
planilhas com os eixos, estratégias, encaminhamentos e espaços para comentários da
equipe escolar. Esse material foi encaminhado para a assessoria pedagógica da
SME/UDIA. Esses materiais compilados resultaram na elaboração do “Plano de Ação
Referência da Educação Infantil (Versão Preliminar) - 2018” e esse documento viria a ser
referência para as ações na educação infantil de Uberlândia.
O contexto de elaboração do Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão
Preliminar), conforme informações contidas no próprio documento, se deu alinhado ao
movimento de implementação da Base Nacional Comum Curricular-BNCC/2017 no Brasil e,
consequentemente, na Rede Municipal de Ensino de Uberlândia. Em decorrência, a R.M.E
desenvolveu ações59 no sentido de elaboração de uma “Proposta Curricular que venha nortear
o trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas municipais”, em consonância com a nova
base.
[...] ainda que a BNCC, em seu caráter normativo, valide a unicidade
curricular em todos os recônditos do território brasileiro, sabe-se que cada
região, cada município e cada unidade escolar apresenta especificidades que
jamais poderão ser universais. Por esta razão, cabe a cada município a
promoção de um diálogo entre seus servidores, especialmente os da
educação, para que, juntos, construam um documento que garanta um
patamar comum de aprendizagem a todos os estudantes, mas que, para além
dele, tracem um olhar sobre as singularidades presentes onde acontece o que
chamamos “educação escolar”. (UBERLÂNDIA, 2018, p.11).
De acordo com o texto de apresentação do Plano de Ação Referência, sua elaboração
foi de forma colaborativa60, levando em consideração “todos os envolvidos que de alguma
59 Na elaboração do Plano de Ação Referência, estratégias e ações foram propostas e efetivadas pela Assessoria
Pedagógica, a saber: 26 de maio/2018 - I Encontro de Profissionais da Educação Municipal cujo objetivo foi
iniciar as reflexões sobre a implementação da BNCC em todo o território nacional; de 28 de maio a 22 de
junho/2018 – Movimento de Indagações de Conhecimento sobre a BNCC em cada unidade escolar; 23 de junho
– Dia D nas escolas, cujo objetivo foi promover entre os profissionais da Educação discussões sobre a estrutura e
as Competências Gerais da BNCC; julho/2018 - retomada e ressignificação do Plano de Ação dos Profissionais
por Ano de Ensino – PAPAE 2018 – reflexões e inferências sobre o Plano Municipal de Educação; 24 de
outubro/2018 - 1º dia de socialização do movimento de construção do Plano de Ação referência da RME (versão
preliminar). (RME).(UBERLÂNDIA, 2018, p.12). 60 [...] o Plano de Ação Referência da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia (Versão Preliminar) foi
elaborado com o trabalho de profissionais que hoje atuam nas Unidades Escolares, na Secretaria de Educação e
no Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz. Todas as contribuições foram analisadas
e agregadas à versão preliminar, culminando em um documento que norteará os planejamentos de todas as
118
forma tenham participado dos registros curriculares que foram produzidos ao longo da
história da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia”. (UBERLÂNDIA, 2018). Destaca que o
trabalho teve representantes de cada nível ou modalidade de ensino, e consistiu em “retomar e
ressignificar” os documentos anteriores para elaborar uma “versão preliminar” que irá
contribuir, adequando-se, até que se estabeleça a “Proposta Curricular” que orientará o
trabalho pedagógico na Rede Municipal.
Apresenta o que se espera por meio dos principais objetivos, a seguir:
[...] visam superar os distanciamentos e as divergências entre o ensino e a
aprendizagem de uma unidade escolar para outra, superar possíveis rupturas
no processo de transição entre os níveis de ensino (Educação Infantil para o
Ensino Fundamental I e deste para o Ensino Fundamental II) e, ainda,
superar a fragmentação do processo ensino aprendizagem no transcorrer de
cada ano escolar. (UBERLÂNDIA, p.12, 2018).
A participação dos profissionais nas discussões se deu por representatividade, sendo a
educação infantil representada por “três Grupos de Trabalho (GT´s)”. Os encontros foram
organizados de acordo com o nível de desenvolvimento da primeira infância61 para que todos
os grupos de trabalhos pudessem refletir e contribuir com sugestões e proposições na
construção do Plano. “Os grupos foram organizados da seguinte forma: GT Bebês,
compreendendo o Berçário e o GI, GT Crianças Bem Pequenas, compreendendo o GII e GIII
e o GT Crianças Pequenas, compreendendo o 1º e o 2º Período”. (UBERLÂNDIA, 2018,
p.12).
Sobre a temática Avaliação na Educação Infantil, objeto de interesse desta pesquisa,
observamos sua abordagem no documento, pela primeira vez, na descrição sobre as atividades
desenvolvidas nos GTs,
[...] de acordo com as devolutivas das escolas, surgiu a necessidade de
discutir e construir outros tópicos relacionados à Educação Infantil para o
Plano de Ação Referência, a saber: Avaliação na Educação Infantil, A
organização do tempo e espaço, Adaptação e Acolhimento, Família e Escola
e, também, Culturas Regionais e Locais. Nesse sentido os últimos encontros
Unidades Escolares em 2019, concomitantemente à sua retomada em continuidade ao trabalho coletivo iniciado
em 2018 para que seja consolidada a Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino (RME).
(UBERLÂNDIA, 2018, p.12).
61A nova Base/2017 traz os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos por faixa
etária. Assim organizados: “CRECHE (zero a 1 ano e 6 meses), Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3
anos e 11 meses). PRÉ-ESCOLA Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)”. Faz observação sobre a não
rigidez quanto a organização dos grupos dessa forma, devido as “diferenças de ritmo na aprendizagem e no
desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica”. BRASIL, 2017, p.44)
119
dos GTs foram destinados à elaboração das partes do Plano referentes a
essas temáticas. (UBERLÂNDIA, p.13, 2018).
Seguindo o resultado das análises, as orientações propõem como princípios
norteadores da Identidade Pedagógica das Unidades Escolares da RME, “a associação das
orientações didáticas e práticas pedagógicas, de acordo com as Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica”. Que a visão de infância, criança, educação infantil e
currículo se configuram “a partir de um contexto sócio-histórico e cultural e a criança, centro
do planejamento curricular”. (UBERLÂNDIA, p.20, 2018).
Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de colocar-se nos
relacionamentos e nas interações, de manifestar emoções e curiosidade, e
elabora um modo próprio de agir nas diversas situações que vivencia desde o
nascimento conforme experimenta sensações de desconforto ou de incerteza
diante de aspectos novos que lhe geram necessidades e desejos, e lhe exigem
novas respostas. Assim, busca compreender o mundo e a si mesma, testando
de alguma forma as significações que constrói, modificando-as
continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, seja com
objetos. (BRASIL, 2013 p.86).
O documento no item 6, p. 48 trata especificamente da Avaliação da Aprendizagem na
Educação Infantil. Sobre as bases legais sinaliza que os Referenciais Nacionais para a
Educação Infantil já apontavam orientações em relação à avaliação, assim como as Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Infantil (2009) e agora a BNCC/2017. Nesse sentido,
destaca que:
A avaliação deve ser heterogênea, contínua e processual, entendida como um
conjunto de ações diárias durante a rotina escolar, onde percebemos seus
conflitos, medos, modos de pensar, socializar e resolver situações de
problemas, nos dando subsídio para avaliá-las em vários outros requisitos,
ou seja, como um todo e não fragmentado, considerando que cada criança
tem um tempo para desenvolver a sua aprendizagem. (UBERLÂNDIA,
2018, p. 49).
De acordo com o Plano de Ação Referência, cada “Unidade Escolar precisará construir
estratégias e adequar ações para que o processo de avaliação aconteça de acordo com os
instrumentais definidos [..], a fim de identificar o que precisa ser avaliado”. Destaca que o
profissional da educação, de acordo a BNCC, deverá buscar meios e condições de observar,
acompanhar e avaliar o desenvolvimento das crianças, direcionando seu olhar de
observação para as “aprendizagens essenciais que todas as crianças devem desenvolver ao
longo da Educação Infantil” e para “os campos de experiências, agrupados por faixa etária” de
modo a assegurar seus direitos de aprendizagens. (UBERLÂNDIA, 2018, p.51).
120
A orientação às unidades escolares quanto à documentação pedagógica deve ser de
acordo com a concepção e instrumentos metodológicos adotados no Plano de Ação
Referência da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia (Versão Preliminar) - 2018.
Sugere que para a construção do relatório individual do desenvolvimento da criança,
documento sugerido anteriormente pela rede como procedimento avaliativo na Educação
Infantil, “os professores e educadores juntamente com Especialistas de Educação e
pedagogos”62, deverão construir “um quadro facilitador de observação do desenvolvimento
de cada faixa etária que possibilitará aos profissionais nortearem o que é necessário observar e
avaliar nas crianças”[...]. (UBERLÂNDIA, 2018, p.51).
Esse “instrumental”, segundo o documento (2019, p.51), deverá ser elaborado
conjuntamente pelos profissionais que acompanham a criança. Sustentado por um diálogo
constante que leve em consideração o seu desenvolvimento, os campos de experiências E os
objetivos de aprendizagem, além das informações socializadas com a equipe de apoio e com a
família. Orienta que “será necessário ao longo do ano organizar e escolher momentos
estratégicos da rotina e elaborar uma prática de documentação pedagógica que facilite esse
registro”. Sugerem então os registros que servirão como “suportes para construção do
relatório individual do desenvolvimento”:
ANAMNESE – documento que contém o histórico da criança desde o
momento da concepção até o nascimento. Trata-se das primeiras avaliações
realizadas na Educação Infantil, preferencialmente ao ingresso da criança no
ambiente escolar e deve ser elaborado por meio de entrevista com
responsável mais próximo, estreitando assim os vínculos família/escola [...]. OBSERVAÇÃO – segundo momento do processo de documentação que
busca identificar situações, gestos, vivências, experiências e produções das
crianças que sirvam como pistas, indicadores dos caminhos de
aprendizagens e desenvolvimentos. [...] REGISTROS DO DIÁLOGO das crianças e das produções por meio de
anotações, fotografias, vídeos e gravações em áudio. Registros estes não
apenas do que o profissional observa e pensa, mas principalmente do que
fazem e pensam as crianças. PORTFÓLIO - segundo Barbosa & Horn (2008) os portfólios na dimensão
pedagógica armazenam as produções das crianças por meio das múltiplas
linguagens, durante um período de tempo para serem analisados com as
famílias e as crianças semestralmente, a fim de discutirem sobre seu
progresso, potencialidades e dificuldades para a proposta de novos desafios.
Diante disso, o portfólio deve ser construído desde o berçário de forma que
revelem suas aprendizagens. Pressupõe que a construção desse instrumental
avaliativo seja feito, com a participação dos pais, das crianças e dos
62
UBERLÂNDIA. Lei Complementar, Nº 661, de 8 de abril de 2019. Diário Oficial do Município. Prefeitura
Municipal de Uberlândia. Ano XXXI • Nº 5598. Disponível em <http://www.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/21573.pdf. Acesso em: 02 de jun.2019.
121
profissionais da educação, bem como as produções e fotos com legendas
e/ou relatos em diferentes momentos, com o intuito de servir de suporte para
a análise dos avanços realizados por cada uma, de forma individual e
coletiva, evidenciando a singularidade de cada uma na relação com os
direitos de aprendizagem e seus campos de experiências. RELATÓRIO INDIVIDUAL DE DESENVOLVIMENTO – é um
instrumental de acompanhamento do desenvolvimento da criança, que
permite uma análise reflexiva em relação ao processo de aprendizagem de
cada uma. [...]. Diante disso, torna-se necessário a construção de estratégias
que possibilite acompanhar o desenvolvimento inicial e no decorrer do ano,
ou seja, o profissional deve elaborar semestralmente o relatório para
análise das práticas e desenvolvimento da criança, a ser compartilhado e
analisado pelos profissionais e família. O instrumental, visto como
documento, deverá ser feito em duas vias. Sendo uma entregue ao final do
ano aos responsáveis e outra para acompanhar a criança nos próximos anos
que permanecerá na Educação Infantil ou em troca de escola.
(UBERLÂNDIA, 2018, p.51, grifos nossos).
Conforme o documento Plano de Ação (2018, p.14), esse “será, oficialmente, a
referência para a revisão e reorganização dos currículos de todas as Unidades Escolares da
Rede Municipal de Ensino de Uberlândia e seus distritos, abrangendo desde a Educação
Infantil até o Ensino Fundamental”. Sinaliza que para efetivação dos currículos em 2020 a
Rede Municipal de Ensino de Uberlândia promoverá formação continuada aos/as
professores/as e demais profissionais da educação previstas para o ano de 2019. O objetivo é
orientar todas as unidades escolares na elaboração e reelaboração das propostas curriculares e
dos PPPs para implantar a BNCC/2017.
5.7 Relatório Descritivo do desenvolvimento e Aprendizagem da Criança
Ao concordarmos com Hoffmann (2015) que avaliar na concepção mediadora é
acompanhar a construção do conhecimento, com objetivo de intervenção pedagógica
significativa, nos colocamos na situação de que precisamos nos envolver no processo de
forma profunda a fim de buscarmos elementos consistentes que possam nos dar suporte na
avaliação que promova a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. Esse suporte
precisa ajudar na tomada de decisão principalmente, sobre o que será feito. Assim, uma
prática intencional que não pode prescindir de organização pedagógica sistemática e objetivos
claros, pressupõe coleta e análise de dados. Essa coleta e análise dos dados são ações que dão
suporte aos professores na elaboração dos relatórios descritivos e devem ancoram-se em
procedimentos que possam contribuir realmente com o ato de avaliar.
Barbosa (2008, p.98) salienta que quando a LDB/96, em seus ordenamentos, propôs a
avaliação na educação infantil “[...] mediante o acompanhamento e o registro de seu
122
desenvolvimento, sem o objetivo de promoção para o acesso ao ensino fundamental [...]”,
lançou-se o desafio às professoras e as escolas, pois a educação infantil, com suas
especificidades, requer
[...] elaborar uma avaliação apropriada, autêntica, significativa e dinâmica,
baseada no contexto de um grupo de crianças e na experiência real de cada
criança particularmente. Redimensionou-se, assim, a ética e a
responsabilidade social que temos com o ensinar e o aprender no contexto da
diversidade social e cultural. Nessa dimensão, cada sujeito tem um percurso
pessoal, e o acompanhamento das aprendizagens é a única forma de
valorizarmos não apenas o resultado, mas todo o percurso construído pelo
grupo e pelo sujeito em seu processo de aprendizagem. (BARBOSA, 2008,
p.100).
De acordo com Barbosa (2008), tradicionalmente, ainda existem duas formas de
avaliação presentes na educação infantil, uma “objetiva e taxativa” e a outra, “subjetivista e
descritiva”. “[...] a avaliação com caráter mais subjetivista, foi sendo estruturada a partir da
proposta dos pareceres descritivos ou relatórios avaliativos” (BARBOSA, 2008, p. 98). Nesse
contexto, Hoffmann (2015) salienta que ao acompanhar instituições de educação infantil tem
observado que estas, quando refletiram mais sobre o processo avaliativo nesta faixa etária e
perceberam o caráter classificatório, comparativo e uniforme que os pareceres descritivos e as
fichas estavam apresentando, optaram por relatórios de avaliação.
[...] A clareza, a concretude no relato e a análise reflexiva feita pelos
professores, acerca dos diferentes momentos vividos pelas crianças,
evidenciam que vem sendo significativa essa opção [...] há um longo
caminho a percorrer nesse sentido, pois são muitas as dificuldades e a
resistência entre professores, uma vez que elaborar relatórios de avaliação
exige estudo, tempo e permanente observação das crianças. (HOFFMANN,
2015, p.105).
Diante dos ordenamentos legais de acordo com a lei 12.796/13, a BNCC/17, os
documentos e leis municipais63, implementar avaliação escolar é o que nos move de forma tão
conflituosa e desafiante. Nesse contexto, rememoramos as questões orientadoras da pesquisa
para buscarmos compressões sobre os relatórios disponibilizados pelas professoras
participantes da pesquisa e analisar como essa ação pedagógica vem acontecendo.
63
De acordo com a Lei Complementar nº 661, de 8 de abril de 2019.altera a Lei nº 11.967, de 29 de setembro
de 2014- ANEXO IV - Atribuições do cargo de professor - Observar e registrar o processo de desenvolvimento
dos alunos, tanto individualmente como em grupo com o objetivo de acompanhar o processo de ensino-
aprendizagem. Descrição das atribuições dos cargos- Disponível
em:<https://leismunicipais.com.br/a1/mg/u/uberlandia/lei-complementar/2019/66/661/lei-complementar>.
Acesso em: 16 out. 2019.
123
1. Quais são as dificuldades para implementar avaliação na educação infantil e as
possíveis propostas para a superação dessas dificuldades, no contexto de
implementação da Lei 12796/13?
2. Quais são as concepções de avaliação, as práticas avaliativas e as formas de registros
adotadas numa escola pública de educação infantil de Uberlândia/MG?
É importante informar que solicitamos às 11 professoras participantes da pesquisa que
nos dessem acesso aos relatórios de todas as crianças de suas turmas. Os 05 relatórios
entregues pelas professoras e diretora são referentes aos anos de 2017, 2018 e 201964. Foram
solicitados os relatórios de 2019, no entanto, as professoras informaram que são feitos ao final
do ano e disponibilizaram 01 relatório de 2017, 03 relatórios de 2018 e um relatório de 2019
foi elaborado para entregar para a pesquisadora.
Quanto a informação das professoras referente à elaboração dos relatórios ao final do
ano letivo, inferimos ser fundamental analisar e questionar: para que serve esse relatório feito
ao final do ano? Para classificar? Promover? Pois para intervir entendemos que não seja mais
possível. O processo é bem mais amplo e mais complexo. Os processos avaliativos ocorrem
ou devem ocorrer junto com os processos de aprendizagens e de ensinagens. A avaliação
torna-se fundamental para tomarmos decisões de forma circunstanciada e, por meio dela,
identificarmos necessidades de superação das fragilidades detectadas. Mas como conseguimos
tomar decisões de forma circunstanciada? Conseguimos quando planejamos bem os
processos, as possibilidades de ocorrer a avaliação, isso acontece durante as aprendizagens,
durante as ensinagens e acontece quando não perdemos as oportunidades de avaliar para
fomentar a aprendizagem e o ensino. O que pretendemos é alcançar o desenvolvimento da
criança, ou seja, queremos que a aprendizagem ocorra e é por isso que deve existir a avaliação
para que as crianças aprendam. Além disso, avaliamos para manter e desenvolver as
potencialidades. Afinal, a avaliação é capaz de tornar explícito o projeto de Educação e de
sociedade que defendemos.
De posse de 05 Relatórios Descritivos do Processo de Desenvolvimento e
Aprendizagem da Criança disponibilizados, buscamos identificar concepções de avaliação,
práticas avaliativas e formas de registro, as dificuldades evidenciadas na sistematização das
formas de registro e avaliação para as aprendizagens, estrutura do relatório entregue pelas
professoras, o conteúdo do relatório de desenvolvimento e aprendizagem.
64 Relatórios - Anexo F,p.342.
124
Para melhor apresentarmos os resultados das análises organizamos as reflexões pelos
seguintes tópicos:
1. Análise dos relatórios elaborados pelas professoras sobre os/as alunos/as.
2. Estrutura e conteúdo do relatório entregue pelas professoras.
3. Concepções de avaliação.
4. Práticas avaliativas, formas de registro e dificuldades evidenciadas na avaliação para
as aprendizagens.
5. Desenvolvimento e aprendizagem
5.7.1 Análise dos relatórios elaborados pelas professoras sobre os/as alunos/as
As análises se pautaram nos relatórios de 04 professoras participantes da pesquisa que
atuam com o 1º Período (4 anos de idade) e 01 relatório de professora que atua no 2º Período
(5 anos de idade).
Ao recebermos os relatórios das professoras, observamos que os documentos
entregues não seguiam o documento padrão encaminhado por meio do memorando nº
2282/2017-SME/CIE-circular65, às EMEIs da rede municipal de educação. Diante da
diversidade apresentada surgiu a categoria “Estrutura do relatório”.
5.7.2 Estrutura e conteúdo do relatório entregue pelas professoras
Das 05 professoras que entregaram os documentos, 03 elaboraram o relatório da
criança de acordo com a estrutura definida na orientação encaminhada pela SME/UDIA às
EMEIs da Rede Municipal de Educação de Uberlândia. E 02 professoras elaboraram, mas não
seguiram os campos propostos no que chamaremos de “formulário oficial”.
A estrutura do formulário oficial denominado “Relatório do Processo de Construção
do Conhecimento da Criança66”, encaminhado pela SME/UDIA/2017 para as escolas
municipais de Uberlândia, é composta dos seguintes Campos:
1.0. Identificação da instituição de Ensino;
2.0. Identificação da criança. Dados pessoais, filiação ou responsáveis, agrupamento,
endereço etc., ano letivo cursado. Carga horária, frequência, faltas etc.;
65 Memorando - Anexo E, p.338. 66 Ilustração dos formulários de Relatórios apresentada na seção IV, na análise da orientação nº 01 da
SME/UDIA/2015.
125
3.0. Trabalho pedagógico da instituição com a criança. O planejamento, os projetos
curriculares desenvolvidos naquele ano letivo em consonância com os âmbitos de
experiência e o PPP da instituição.
4. 0- Processo de desenvolvimento e Aprendizagem da Criança.
As 02 professoras que entregaram os relatórios elaborados de acordo com o formulário
oficial apresentaram o preenchimento dos Campos, 0.1, 0.2 e 0.3 de forma idêntica, só
divergindo no Campo identificação da criança e no Campo 4.0, especificamente destinado à
descrição individual do desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Entretanto, no Campo 0.3, o qual consta o “Trabalho pedagógico da instituição com a
criança”, no relatório de 02 professoras apresentam um texto padrão elaborado pelas
pedagogas. Segundo as narrativas das professoras, esse texto é padrão em todos os relatórios
das turmas de 1º período e 2º período só divergindo nos títulos dos projetos específicos que
cada professora desenvolve com sua turma.
Nestes relatórios elaborados pelas professoras Izabel e Carolina, constam o objetivo
da EMEI Tecelã: “promover por meio das dimensões do cuidar e educar, o direito à
infância utilizando experiências múltiplas que possibilitem o desenvolvimento dos aspectos
físicos, psicológicos, intelectuais e sociais, em consonância com a LDB9394/96”. A
professora Izabel destaca a concepção de criança e infância que permeiam as práticas da
EMEI, “[...] a concepção de criança, produtora de conhecimento, de cultura e de uma
identidade pessoal, precisa ter voz [...]”. (Professora Izabel, Relatório, 2018, p. 01, grifo
nosso). Salienta que a criança é vista como protagonista da construção de sua autonomia:
O protagonismo infantil permitirá a ela fazer escolhas, determinar
caminhos, optar, ressignificar e inferir. O aprendizado, como construção
social, permite que a criança encontre explicações sobre o que ocorre a sua
volta e com ela mesma, enquanto desenvolve formas de sentir, pensar e
solucionar problemas. [...]o reconhecimento da autoria e do protagonismo
infantil na construção da autonomia. (Professora Izabel, Relatório, 2018,
p. 01, grifo nosso).
Nesse contexto, inferimos que a narrativa da professora mostra a criança como sujeito
de direitos capaz de se apropriar da cultura historicamente construída e ir além, produzindo
cultura. Entretanto, desconsidera o papel do/a professor/a e do meio como mediadores no
processo de construção da aprendizagem e desenvolvimento. A concepção mediadora da
aprendizagem e da avaliação que defendemos, de acordo com Hoffmann (2015), não há
protagonismo da criança ou do/a professor/a. As crianças avançarão em suas aprendizagens
126
alcançando graus de autonomia a medida que os /as professores/as, considerando suas
especificidades e potencialidades cognitivas, lhes proporcionarem situações desafiadoras.
Nesse sentido, tanto o “professor quanto os recursos de apoio [...], a interação adulto/criança e
criança/criança [...]” (HOFFMANN, 2015, p.21-22), são considerados como propulsores nos
avanços e mediadores no processo de conhecimento das crianças.
Apresenta-se, de acordo com os ordenamentos legais, os eixos estruturantes que irão
embasar as práticas, destacando o papel dos jogos e das brincadeiras como meios de entender
de forma lúdica os diferentes papéis exercidos na sociedade e na própria vida, além de
possibilitar à criança o raciocínio, a socialização e momentos de alegria e prazer.
[...] de acordo com as DCNEI, em seu Artigo 9º, os eixos estruturantes das
práticas pedagógicas dessa etapa da Educação Básica são as interações e a
brincadeira, experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-
se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e
com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e
socialização. (BRASIL/BNCC, 2017, p. 39).
Destaca que a proposta pedagógica da EMEI Tecelã será norteada pela Pedagogia
de Projetos em consonância com a LDB/96 as DCNEI, o RCNEI e nos documentos
municipais, já mencionados. Nesse sentido, enumera os projetos institucionais
desenvolvidos no ano letivo pela escola e os projetos desenvolvidos em sala pelos
professores em consonância com os âmbitos de experiência (eixos), especificados no
RCNEI e no PPP da instituição,
O trabalho com a Pedagogia de Projetos é uma maneira diferente de suscitar
a compreensão dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da
escola e de ajudá-los a construir sua própria identidade. É um trabalho que
requer mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e,
consequentemente, na postura do professor, e possibilita que os alunos, ao
decidirem, opinarem, questionarem, construam sua autonomia e seu
compromisso com o social, formando-se como sujeitos culturais e cidadãos.
(Professoras Izabel e Carolina, Relatório, 2018, p. 01, grifo nosso).
Observamos em passagens dos relatórios apresentados pelas professoras, o uso da
terminologia alunos (as) e crianças, “[...] os conteúdos [...] partem de situações reais,
vivenciadas pelos alunos e professores, [...]. O primeiro conteúdo significativo que será
estudado pelos alunos [...] estimulando assim a comunidade escolar e as crianças a
frequentarem a biblioteca [...]”. (Professoras Izabel e Carolina, Relatório, 2019, p. 01, grifo
nosso).
127
Lazari (2013, p.75), ao desenvolver estudos também sobre avaliação na educação
infantil, no município de Cáceres/MT, ressalta ter se deparado em suas pesquisas com o
uso da terminologia aluno (a), nos documentos da escola e nos escritos dos relatórios das
professoras, ao passo que as professoras ao se dirigirem diretamente às crianças de 4 e 5
anos usam o termo “criança”. Nessa vertente salienta que,
[...] com a utilização do termo aluno, as professoras deixam a heterogenia da
criança para homogeneizar, ou seja, escreve sem observar a singularidade da
criança dentro do seu contexto sociocultural, além disso, desconsideram o
fato de que pelo motivo de estarem na EI são, obviamente, crianças. É
primordial que a criança se sinta acolhida e que o “ser criança” não se anule
diante do “ser estudante”. (LAZARI, 2013, p.75).
De acordo com os relatórios (campo 3.0), o papel do/a professor/a é de mediador/a e
questionador/a, com objetivo de potencializar e criar condições de explorar as várias
linguagens das crianças com atividades contextualizadas e significativas, respeitando o tempo
do brincar e valorizando a curiosidade própria da infância.
A professora Vitória usa o formulário oficial, mas no campo 3.0, sobre o “Trabalho
Pedagógico da Instituição com a Criança”, traz outro texto de apresentação. Destacamos que o
relatório apresentado pela professora é do 2º período, ano de 2017. O texto inicia-se
enfatizando que a EMEI Tecelã “[...] fundamenta-se numa concepção de criança cidadã,
pessoa em processo ativo na construção do conhecimento, para que possa exercer sua
cidadania.” (Professora Vitória, relatório, 2017, p.1). Escreve sobre singularidade das crianças
e sua formação ligada ao desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo, ocorrendo em idades
diferentes. No referido relatório consta que as crianças aprendem e se desenvolvem se
oferecidas a elas ambiente lúdico, rico e instigante. Destaca a interdisciplinaridade com os
eixos de ensino da BNCC e Parte diversificada, apresentando que seu trabalho se desenvolveu
pautado no projeto “Contos infantis67”.
No último parágrafo descreve que os conteúdos trabalhados com as crianças no 2º
período, durante o ano letivo, foram,
[...] autonomia, socialização, valores, responsabilidade, independência e
maturidade, direitos e deveres, preservação do meio ambiente, respeito à
diversidade, nome, alfabeto, noções de quantidade, números, ou seja,
proporcionamos às crianças um ambiente alfabetizador; como meta da
consolidação da educação infantil. (Professora Vitória, relatório, 2017, p.1).
67 Proposta pedagógica trabalhada na EMEI Tecelã, de acordo com o PPP/2015.
128
Finaliza o preenchimento do Campo 3.0 enumerando o Eixo Curricular da Educação
Infantil de acordo como RCNEI, o PPP da EMEI e a orientação nº 01 da SME/UDIA/2015,
que constam; I. Identidade e autonomia; II. Linguagem oral e escrita; III. Matemática;
Natureza e sociedade; Música; VI. Movimento. O relatório da professora Vitória foi o único
que fez referência aos eixos Movimento, Música e não cita Arte.
Destacamos por fim, a estrutura, as características dos documentos/relatórios
entregues pelas 02 professoras que elaboraram relatórios sem utilizar o formulário oficial. O
relatório entregue pela professora Bianca não consta nenhuma logo, sem identificação da
instituição e da criança. A apresentação da criança e da turma aparece no corpo do texto. A
professora Luiza traz um cabeçalho com informações sobre a identificação da criança, os
logos da SME e escola, mas assim como a professora Bianca, não apresenta o texto sobre o
trabalho pedagógico desenvolvido com a criança, os projetos e as atividades pedagógicas
aparecem no corpo do relatório individual de cada uma.
A análise permite afirmar que, ao constar no Relatório conteúdos e metodologias
adotados pela escola, autoriza-se ao leitor do mesmo a fazer associações entre a educação
promovida e o que está sendo avaliado. Permite, ainda, a avaliação dos processos de ensino e
aprendizagem. O que está sendo avaliado, o que e como está sendo desenvolvido na escola, as
interações da criança com este fazer escolar e, por conseguinte, processos de desenvolvimento
e aprendizagem que devem estar expressos na outra parte do Relatório.
Em relação ao conteúdo, considerando que o Relatório também é destinado para
pessoas sem conhecimento “técnico”, a linguagem está acessível e explicativa.
Das 05 professoras participantes, de acordo com a análise, 03 iniciam descrevendo a
turma, o número de crianças em sala e o nome do projeto que estão desenvolvendo. Quatro
relatam que os conteúdos trabalhados estão de acordo com os projetos desenvolvidos na
escola e com a turma e com os eixos do RCNEI/98. Vejamos: “[...] a partir do projeto
trabalhamos os eixos contidos nas orientações curriculares, que são Identidade e Autonomia,
linguagem Oral e Escrita, Matemática e Natureza e Sociedade. (Professora Carolina, relatório,
2018, p.2).
[...] as atividades foram desenvolvidas com base no trabalho Identidade,
Alimentação, Valores Humanos e projetos relacionados na Proposta
Pedagógica da escola. No decorrer deste período escolar, foi observado pela
professora dentro do eixo de trabalho “Linguagem oral e escrita”, “Natureza
e Sociedade”,” Matemática”, “Identidade e autonomia” em seus aspectos
cognitivos, socioafetivos e psicomotores (Professora Bianca, relatório, 2018
p.1).
129
A professora Vitória cita os conteúdos pautados nos eixos e elabora o Relatório sobre
a criança descrevendo o processo eixo por eixo (separados).
[...] Conteúdos trabalhados de acordo com os projetos da escola No eixo Identidade e autonomia é capaz de [...] No eixo Natureza e sociedade consegue [...]. No eixo Linguagem oral e escrita, apresenta [...] No eixo Matemática, consegue [...] (Professora Vitória, relatório, 2017, p.2).
A professora Luiza não fala dos eixos, apenas cita sobre o que diz respeito a
“Linguagem Oral”. [...]. Ao que diz respeito à Linguagem Oral gosta de conversar sobre [...]
ao que concerne ao aspecto socioafetivo, [...]. (Professora Luiza, relatório, 2019, p.1)
Sobre a elaboração dos relatórios compartimentada pelos eixos, a orientação foi que a
descrição do processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança deveria se desenvolver
por meio de texto integrado e, de acordo com o RCNEI/98, o/a professor/a não poderia perder
de vista o tratamento integrado que deve ser dado, ao organizar os conteúdos no planejamento
e colocá-los em prática, aproveitando todas as oportunidades possíveis, sem perder de vista
como a criança aprende, sem fragmentação.
Os conteúdos são compreendidos, aqui, como instrumentos para analisar a
realidade, não se constituindo um fim em si mesmos. Para que as crianças
possam compreender a realidade na sua complexidade e enriquecer sua
percepção sobre ela, os conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada,
relacionados entre si. Essa integração possibilita que a realidade seja
analisada por diferentes aspectos, sem fragmentá-la. (BRASIL/RCNEI,
vol.1, 1998, p.53-54).
Nesse sentido, destacamos o fato de 04 professoras não evidenciarem nos relatórios
apresentados práticas que contemplem os eixos música, arte e movimento.
O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e
variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem
seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias
curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas, parlendas
etc., reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem. Encantados com o que
ouvem, os bebês tentam imitar e responder, criando momentos significativos
no desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsáveis pela criação de
vínculos tanto com os adultos quanto com a música. Nas interações que se
estabelecem, eles constroem um repertório que lhes permite iniciar uma
forma de comunicação por meio dos sons. (BRASIL/RCNEI, 1998, vol. 3,
p.51).
130
De acordo com o PPP da EMEI Tecelã, a escola conta, em seu corpo docente, com
professores (as) regentes I (regente de sala), e os regentes II (professores (as) de aulas
especializadas), de arte e de educação física.
[...] tem professores habilitados para ministrar os conteúdos de Arte e
Educação Física, os quais são muito importantes para a formação integral da
criança. [...] estão presentes também em nosso Plano Curricular, as aulas de
Culturas Regionais e Locais, ministradas pelo professor RII, Música,
ministrado pelo professor RII e o professor regente I ministra aulas de
Identidade e Autonomia, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e
Matemática. (UBERLÂNDIA/PPP, 2015, p.23- 29).
Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em relação
aos currículos, estabelece.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do
Ensino médio deve ter base nacional comum, a ser complementada, em cada
sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade,
da cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796,
de 2013). (BRASIL/MEC, 2016, p.12, grifo nosso).
A SME/UDIA, ao organizar a distribuição das horas-aula para os/as docentes, define
então professores/as regentes de sala RI (Regente I) e os/as professores/as das chamadas aulas
especializadas, RII (Regente II) que contemplam a Educação Física, Arte, Culturas Regionais
e Locais (parte diversificada). Não há referência nos relatórios das professoras RI sobre as
aulas especializadas. Barbosa e Horn (2008), ao escreverem sobre a importância dos
portfólios, destacam que, “são lugares onde devem ser expressas inúmeras vozes. Todos
devem ter espaço para o registro: os pais, crianças, a professora regente [...] as disciplinas
especializadas, mesmo quando orientadas por outro professor, podem estar incluídas neles”.
(BARBOSA; HORN, 2008, p.112, grifo nosso). No entanto, a cobrança da elaboração do
relatório das crianças, de acordo com o memorando nº 2282/2017-SME/CIE-circular (anexo
E, p.338), recai sobre o/a professor/a RI, não havendo até o momento a participação dos/as
outros/as professores/as que atuam juntos às mesmas.
131
5.7.3 Concepções de avaliação
Na tentativa de tecermos compressões acerca das concepções de avaliação
apresentadas pelas professoras participantes da pesquisa, analisamos os relatórios e
destacamos os aspectos avaliados sobre a criança.
A maioria das professoras descreve as crianças como sociáveis, tranquilas e afetuosas,
falando com carinho sobre elas. A professora Luiza apresenta compreensões sobre avaliação
como “processo de aprendizagem”, “contínuo de muita aprendizagem”. (Professora Luiza,
relatório, 2019, p.1). Descreve situações que as crianças aprendem e se desenvolvem num
processo contínuo por determinado tempo e circunstâncias.
[...] é uma criança tranquila [...] é paciente. É interessado está em processo
de aprendizagem para a questão número e numeral, cores e formas
geométricas. Hoje já reconhece os números, faz a contagem até o 20 e as
formas geométricas, está em processo. (Professora Bianca, relatório, 2018
p.1, grifo nosso).
Duas professoras apresentam trecho no relatório exatamente igual, mostrando que o
objetivo do relatório é “descrever o comportamento e desenvolvimento do aluno. [...],
(Professora Carolina, relatório, 2018, p.2,). Inferimos que mostram e revelam como entendem
o processo. No mesmo sentido, as colocações da professora Luiza evidenciam a concepção de
avaliação padronizante.
[...]. Exibe resistência às frustrações e resistência em atender ordens e limites
propostos, fica irritado quando sua vontade não é atendida, utiliza de
comportamentos inadequados com reações nervosas e agressivas: chora,
grita e agride colegas e professoras. (Professora Luiza, relatório, 2019, p.1).
Podemos evidenciar, por meio dos fragmentos de relatórios apresentados acima, que
suas narrativas apresentam resquícios de uma avaliação pensada a partir de comportamento
padrão, adequado, de acordo com seu padrão de “adulto”. Inferimos que, para uma criança
esse comportamento é muito comum. Será que a professora compreende o processo de
desenvolvimento da criança? O que a faz pensar que o comportamento de gritar, chorar e
agredir não é adequado?
Apresentam preocupação se a criança é “frequente ou se é faltosa”, o que demonstra
que elas acompanham, que percebem a criança, mas temos a percepção que nesse caso indica
um julgamento quanto à assiduidade da criança ser um fator que possa interferir na sua forma
132
de avaliar. [...] é um aluno frequente, é uma criança alegre e participativa. (Professora Luiza,
relatório, 2019, p.1). Uma professora ao iniciar o parágrafo sobre a criança aponta que, [...] O
aluno é faltoso, muito tímido [...]. (Professora Carolina, relatório, 2018, p.2, grifo nosso). A
professora Vitória apresenta uma percepção de educação infantil preparatória para etapa
seguinte. [...] é capaz de se conduzir sozinho [...] expressa seus desejos [...] vindo de encontro
ao que acredito que deve acontecer na educação infantil levando para a vida acadêmica.
(Professora Vitória, relatório, 2017, p.2).
Verificamos que a maior parte da avaliação citada e realizada pelas professoras não é
planejada e registrada. Nesse sentido, a questão fundamental, apresentada por Villas Boas
(2007), diz respeito aos riscos que a avaliação informal pode apresentar. Prática, segundo ela,
muito comum na educação infantil, “[...] chamada de avaliação informal. Ela é importante
porque dá chances ao professor de conhecer mais amplamente cada aluno: suas necessidades,
seus interesses, suas capacidades [...]”. (VILLAS BOAS, 2007, p.11). Entretanto, ela precisa
ser usada em prol da aprendizagem da criança, quando às orientações diante das dificuldades
precisam ser no momento que ela necessita. As atitudes do/a professor/a precisam ser de
encorajamento em suas necessidades e dificuldades e não de julgamento. O/a professor/a
assume uma postura de respeito, carinho e paciência com todos e com o individual, não cobra
da criança de forma que a exponha, elogiando seus progressos sem julgá-la ou compará-la. As
tentativas das crianças são vistas como parte do processo sem riscos de desqualificação.
5.7.4 Práticas avaliativas, formas de registro e dificuldades evidenciadas na avaliação
para as aprendizagens
Sobre as práticas avaliativas e as formas de registro constantes nos relatórios
apresentados, destacamos que apesar dos relatórios se apresentarem bem sucintos, foi possível
destacar fragmentos que puderam revelar práticas avaliativas e formas de registro.
A professora Bianca descreve que “o aluno[...] realiza as atividades propostas com
sucesso. [...] demonstra interesse pelos contos estudados. Na escrita do pré nome não é
necessário o apoio da ficha, reconhece a ficha do prenome, utiliza de letra de imprensa
maiúscula, reconhece as letras do nome e o alfabeto. (Professora Bianca, relatório, 2018 p.1).
Segundo Luiza, o aluno realiza
[...] pinturas e desenhos. Ao fazer as tarefas de registro [...] rodinha e
outras situações do dia-a-dia [...] atividades cotidianas [...] atividades nos
espaços externos da escola. [...] a criança apresenta dificuldade no trabalho
em grupo, seja na rodinha ou nas mesinhas[...]. (Professora Luiza, relatório,
2019, p.1).
133
[...]. Reconhece algumas cores e as formas geométricas. (Professora
Izabel, relatório, 2018, p.2).
A professora Vitória informa que a criança gosta de contos e de ouvir histórias.
Descrevendo sobre a tentativa de leitura e escrita dos nomes das crianças com utilização da
ficha, afirma que essa criança “consegue escrever o nome sem auxílio da ficha, está no nível
silábico [...]”. (Professora Vitória, relatório, 2017, p.02). Cita tarefas do cotidiano (que podem
ser as atividades de folhas) e dão a entender que avaliam observando as pinturas e os
desenhos, como salienta a professora Carolina [...] faz desenhos representando suas ideias,
[...] atividades de pintura e está na fase da rabiscação, [...] (Professora Carolina, relatório,
2018, p.2).
De acordo com a análise dos 05 relatórios escritos pelas professoras, verificamos que
elas observam e acompanham a criança em vários momentos dentro da sala e nos espaços
externos, individualmente, ou quando estão em trabalhos em grupo, realizando nesses
momentos o que Villas Boas (2007), descreve como avaliação informal.
[...]. Quando um aluno mostra ao professor como está realizando uma tarefa
ou lhe pede ajuda, a interação que ocorre nesse momento é uma prática
avaliativa informal, isto é, o professor tem a oportunidade de acompanhar e
conhecer o que ele já aprendeu e o que ainda não aprendeu. Quando circula
pela sala de aula observando os alunos trabalharem, o professor também está
analisando, isto é, avaliando o trabalho de cada um. São momentos valiosos
para a avaliação. (VILLAS BOAS, 2007, p.11).
A análise dos relatórios evidenciou, também, que as professoras propõem atividades
diversificadas e, ao mencioná-las nos relatórios, as utilizam como práticas avaliativas e
registros das ações educativas.
Em relação às dificuldades evidenciadas na avaliação, nos deparamos com narrativas
de professoras que indicam que observam e acompanham, mas não citam as formas de
registros de forma clara e nem as propostas de intervenção que serão necessárias. A
professora Bianca narra “[...] Bernardo está em processo para recortar, colar, empilhar e
encaixar e guarda seus pertences e gosta de participar das brincadeiras. Podemos inferir após
várias observações diárias que, ele está se desenvolvimento e aprendendo de acordo com
a proposta”. (Professora Bianca, relatório, 2018 p.1, grifo nosso).
Para Hoffmann (2015, p.128) “o acompanhamento da criança no cotidiano é
extremamente importante, porque permite analisar qualitativamente o processo que realiza
para chegar a alcançar certas respostas ou desenvolver atitudes”. Porém, esse
134
acompanhamento deve ser provido de intencionalidade pedagógica. Os objetivos são
preestabelecidos em função dos avanços na aprendizagem da criança e da melhoria na prática
do professor/a. Caso contrário, não há sentido nem significado para a prática mediadora do
professor em acompanhar a criança.
Como analisar o desenvolvimento de uma criança ausentando-se da história
que se ajuda a construir? A avaliação mediadora encerra a dinâmica do
processo educativo no sentido do encaminhamento, da análise do potencial
da criança e de sua evolução ao longo de um período. Como mediador desse
processo, não há, portanto, como o professor construir esse relatório sem a
explicitação das suas posturas pedagógicas [...]. (HOFFMANN, 2015,
p.130).
Nesse sentido, buscamos também nos documentos da SME/UDIA indicativos que
orientam quanto a essa intencionalidade.
Ao avaliar, observa-se o educando individualmente, seu modo de ser, pensar
e agir, para replanejar a ação educativa e oferecer a cada um, oportunidades
dignas e adequadas de aprendizagem. No registro são mencionados textos,
imagens e áudios que resgatam as vivências e serve como objeto de
investigação, análise crítica sobre o próprio trabalho e o desenvolvimento da
criança como um todo. (UBERLÂNDIA, 2018, p.51).
Podemos inferir que os relatórios expõem a proposta pedagógica da escola, em
seguida o que a professora fez e depois o que a criança realizou. Mas, não há diálogo entre o
ensino e o aprendido. Embora, seja interessante observar que, de certo modo, vinculam ensino
e aprendizagem. Defendemos que aqui esteja uma das dificuldades de redigir o relatório de
maneira que contemple a avaliação para as aprendizagens.
5.7.5 Desenvolvimento e aprendizagem
Jussara Hoffmann (2015) destaca que o/a professor/a, munido de um olhar
investigativo e mediador, cria possibilidades de elaboração de respostas que irão contribuir na
hora de elaborar o relatório da criança. Salienta que essas respostas podem se pautar em
perguntas nas quais o/a professor/a poderá utilizar quando for elaborar o texto. Sugere ao
professor/a realizar verificação de qual área do conhecimento e desenvolvimento houve
avanços da criança e os fatos que o levaram a evidenciar esses avanços, como “[...]
Comentários, temas de interesse, brincadeiras, participação em jogos, atitudes.”
(HOFFMANN, 2015, p.121). Acrescenta, que é importante também o/a professor/a se
questionar como está o desenvolvimento socioafetivo da criança. Como tem mediado ou se
135
posicionado na resolução de conflitos e em situações de interação e brincadeiras, assim como
nas áreas em que se percebem dificuldades e as possibilidades de intervenção. Se tem criado
possibilidade de participação da família e considerado sua manifestação em relação à
aprendizagem da criança e ao trabalho da instituição. E finalmente, o que consideramos
fundamental numa concepção de criança como sujeito de direitos e produtora de cultura, a
escuta e a consideração das manifestações da criança sobre seus conhecimentos, seus avanços
ou suas dificuldades.
Nesse contexto, a referida autora sugere princípios orientadores que irão auxiliar na
estruturação de relatórios em relação à aprendizagem e desenvolvimento das crianças. São
eles:
1. Os objetivos norteadores da análise do desenvolvimento da criança
transparecem nos relatórios [...]? 2. Evidencia-se a inter-relação entre objetivos (socio – afetivos e cognitivos)
a serem alcançados, áreas de conhecimento e a participação da criança em
práticas e projetos pedagógicos? 3. Percebe-se o caráter mediador do processo avaliativo? 4. Privilegia-se, ao longo do relatório, o caráter evolutivo do processo de
desenvolvimento da criança? 5. Percebe-se o seu acompanhamento individual? (HOFFMANN, 2015,
p.122).
Os recortes apresentados dos relatórios nos permitem inferir que 02 professoras
Bianca e Vitória demonstram terem um olhar atento sobre a criança, apresentam informações
que indicam que a criança vem se desenvolvendo, evidenciando o caráter evolutivo do
desenvolvimento da criança:
[...] está em processo para recortar, colar, empilhar e encaixar, [...] utiliza de
letra de imprensa maiúscula, reconhece as letras do nome e o alfabeto. No
desenho está na transição da cena simples para a completa, gosta de colorir
com cores alegres, têm alguma noção do esquema corporal[...] se interessa
pelas unidades de estudo no cotidiano. (Professora Bianca, relatório, 2018,
p.1, grifo nosso).
Entretanto, a professora Vitória, na elaboração do relatório individual, em certo
momento faz referência ao coletivo e não à criança que está sendo avaliada, como podemos
observar no fragmento: [...] é notório o desenvolvimento das crianças, elas são
questionadoras, interessadas e criativas [...] (professora Vitória, relatório, 2017, p.2, grifo
nosso).
136
Analisamos, de acordo com o exposto, que o caráter evolutivo do processo de
desenvolvimento da criança se evidencia nas narrativas das professoras Vitória e Bianca ao se
referirem às crianças como em processo de construção do conhecimento, apresentam uma
criança que manifesta conhecimentos já adquiridos e com possibilidades de construir novas
aprendizagens. Para Jussara Hoffmann (2015), a criança, “[...] está sempre em seu “melhor
momento”, como ser inacabado, dependendo do apoio e do desafio dos adultos, da interação
com os outros e do ambiente rico em oportunidades para avançar em suas descobertas”.
(HOFFMANN, 2015, p.132). Nesse aspecto, nos chama a atenção quanto à importância de se
considerar todas as manifestações e reações da criança e que acontecem em cada etapa da sua
vida no cotidiano da educação infantil. A professora Vitória mostra em sua narrativa o papel
da interação entre os sujeitos, fundamental para a aprendizagem e desenvolvimento desde o
nascimento.
[...] no período em que João68esteve nesta sala apresentou avanços
significativos e teve muitas oportunidades de interação no processo de
ensino e de aprendizagem [...] tem facilidade de comunicação. [...] apresenta
oralidade desenvolvida. Ele expressa seus desejos, suas necessidades, relata
vivências, nas atividades de leitura conta e reconta histórias [...] consegue
escrever o nome sem auxílio da ficha. [...] consegue assimilar de forma legal
as diversidades e as mais variadas formas de manifestações culturais,
consegue observar com clareza semelhanças e diferenças entre pessoas,
paisagens, objetos que o cerca, [...]. (Professora Vitória, relatório, 2017,
p.2).
A análise da narrativa demostra que a professora identifica os conhecimentos já
consolidados e as potencialidades da criança em avançar, o que é importante na avaliação para
as aprendizagens, pois traz orientações aos professores/as quanto à etapa de desenvolvimento
que a criança já se encontra. Um/uma professor/a preparado/a se apropria dessa observação
para orientar o processo de intervenção, se adiantando ao desenvolvimento ao invés de propor
práticas que não serão mais significativas para a criança. Para Vygotsky (2010),
[...] o que a criança pode fazer hoje com o auxílio dos adultos poderá fazê-lo
amanhã por si só. A área de desenvolvimento potencial permite-nos, pois,
determinar os futuros passos da criança e a dinâmica do seu
desenvolvimento [...]e examinar não só o que o desenvolvimento já
produziu, mas também o que produzirá no processo de maturação [...] o
estado do desenvolvimento mental da criança só pode ser determinado
referindo-se pelo menos a dois níveis: o nível de desenvolvimento efetivo e a
área de desenvolvimento potencial (VYGOTSKY, 2010, p. 113).
68 Nome fictício a fim de preservar a identidade da criança.
137
Em continuidade da análise do relatório, a professora Bianca destaca em sua narrativa
que a criança “[...] demonstra interesse pelos contos estudados. Na escrita do prenome não é
necessário o apoio da ficha, reconhece a ficha do prenome [...]”. (Professora Bianca, relatório,
2018, p.1). A professora vincula a participação da criança à proposta pedagógica (na época
pautada nos contos de fadas), o que Hoffmann (2015, p. 128) salienta ser importante, visto
que “essa interrelação permite contextualizar o desenvolvimento da criança, percebendo-a no
espaço próprio da educação infantil, verdadeiramente rico e espontâneo”. Vejamos trechos
dos relatórios.
Consegue contar e classificar até 30, domina as cores primárias e
secundárias. Domina alguns conceitos matemáticos e formas geométricas
simples. Relaciona e compara quantidades. (Professora Vitória, relatório,
2017, p.2).
Gosta das atividades de pintura e está na fase da rabiscação, é atenta gosta de
ouvir histórias e ver as gravuras dos livros. Reconhece algumas cores e as
formas geométricas. (Professora Carolina, relatório, 2018, p.2).
[...] gosta das atividades de pintura e já consegue escrever e reconhecer
algumas letras, é atenta gosta de ouvir histórias e ver as gravuras dos livros.
Reconhece algumas cores e as formas geométricas. Faz desenhos
representando suas ideias, consegue recontar histórias e participa de todas as
atividades. (Professora Izabel, relatório, 2018, p.2).
[...] a criança destaca-se por sua habilidade com pinturas e desenhos[...]. [...] demonstra satisfação e constantemente verbaliza fatos do seu
cotidiano[...] no que diz respeito a Linguagem Oral gosta de conversar sobre
o que aconteceu e situações de seu cotidiano e em casa, falando bastante
sobre o irmão [...] realiza a leitura por meio de imagens. Nos conceitos
lógicos matemáticos, possui alguns domínios nas noções de topologia, está
em processo de aprendizagem para a questão número e numeral, cores e
formas geométricas. [...] já reconhece os números, faz a contagem até o 20 e
as formas geométricas está em processo. (Professora Bianca, relatório, 2018,
p.1).
Salientamos, de acordo com Hoffmann (2015, p.123), que os “objetivos socioafetivos
e cognitivos, em termos do desenvolvimento intelectual e moral das crianças, se sobrepõem,
em importância, às atividades que elas realizam ou aos assuntos trabalhados”. Nessa vertente,
inferimos que os objetivos das professoras transparecem nos relatórios citados, mesmo que de
forma suscinta e implícita.
Observamos nas narrativas das 05 professoras participantes, descrições específicas
sobre cada criança. Nesse contexto, trazemos fragmentos tanto de professoras que descrevem
as crianças, respeitando suas peculiaridades, quanto quando estão fazendo referências
138
comparativas em relação aos padrões considerados por elas como ideais, como se pode
observar nas narrativas, [...] participa de sua higienização (escovação, lavar mãos) seguindo
orientações. Já apresenta controle de seu esfíncter. (Professora Carolina, relatório, 2018, p.2).
Registramos a seguir outros fragmentos.
[...] alimenta-se sozinha no refeitório, usando os utensílios de maneira
adequada. Participa de sua higienização (escovação, lavar mãos) seguindo
orientações. Já apresenta controle de seu esfíncter). [...] faz desenhos
representando suas ideias, consegue recontar histórias e participa de todas as
atividades, porém não gosta de ser contrariada e, as vezes, tem atitudes
impróprias: mordidas. (Professora Izabel, relatório, 2018, p.2).
[...] no aspecto socioafetivo, a criança apresenta dificuldade no trabalho em
grupo, seja na rodinha ou nas mesinhas, demonstrando-se inquieto [...] gosta
de participar de atividades nos espaços externos da escola, espaços
destinados a recreação infantil[...]. (Professora Luiza, relatório, 2019, p.1).
[...] Gosta de participar efetivamente da rodinha e outras situações do dia-a-dia.
[...] criança tranquila, está mais falante, em alguns momentos está desatento
devido a conversa, é paciente. É interessado e realiza as atividades propostas,
demonstra ser uma criança carinhosa. Socializa-se com todos os colegas. Gosta
de participar das brincadeiras. (Professora Bianca, relatório, 2018 p.1).
[...] a aluna, é uma criança participativa, brinca e interage com os colegas e
meiga e carinhosa, gosta de cantar e possui uma boa oralidade. (Professora
Izabel, relatório, 2018, p.2)
Para Hoffmann (2015, p.136), “o respeito à criança em suas peculiaridades próprias e
no seu tempo próprio de ser criança” é fundamental ao acompanhar e avaliar na educação
infantil. Entretanto, destaca que os/as professores/as da educação infantil enfrentam
dificuldades “em lidar com as diferenças entre as crianças, transformando essas diferenças em
desigualdades, sejam elas de desenvolvimento, de condições sociais ou outras”. Inferimos, de
acordo com Hoffmann, que esta prática leva os/as docentes a desencadear uma postura
avaliativa padronizante, comparativa da criança em relação a outra criança ou a um coletivo
considerado ideal pelo/a mesmo/a, que não condiz com a proposta de avaliação formativa
pautada na postura mediadora a qual ancora a realização desta pesquisa.
139
VI
ESCUTA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS NARRATIVAS DAS
PROFESSORAS E PEDAGOGAS
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado,
mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir além dele. Esta é a
diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado [...].
Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais,
econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos
achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o
cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também
que os obstáculos não se eternizam. (FREIRE, 2015, p.52-53).
Esta seção tem a finalidade de apresentar e interpretar os resultados das análises das
entrevistas concedidas por 11 professoras e 03 pedagogas participantes da pesquisa.
Inicialmente, para tanto, destacamos que frente às transcrições das referidas entrevistas
precisávamos organizá-las para a investigação. Voltamos aos dados e utilizamos os
procedimentos metodológicos de análise de conteúdo temático, buscando orientar a leitura
pelas questões e objetivos do estudo e identificar as unidades de registros (temas) e unidades
de contexto69. A análise de cada entrevista transcrita foi realizada buscando as unidades de
significação a partir de temas e, depois, os resultados obtidos foram entrecruzados.
Elaboramos quadros para organizar a análise de conteúdo das entrevistas e melhor
estabelecer respostas para as questões orientadoras da investigação:
Quais são as dificuldades para implementar a avaliação na educação infantil
e as possíveis propostas para a superação dessas dificuldades, no contexto de
implementação da Lei 12796/13?
Quais são as concepções de avaliação, as práticas avaliativas e as formas de
registros adotadas em escola pública de educação infantil de Uberlândia?
Os quadros foram organizados e subdivididos por Unidades de registro (Temas),
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos nos quais constam os temas) e Interpretações. As
69De acordo com Franco (2008), “as Unidades de Registro, é a menor parte do conteúdo, cuja ocorrência é
registrada de acordo com as categorias levantadas. [...] Tipos: a palavra, o tema, o personagem, o item.
[...]Unidades de contexto[...], imprime significado às Análises. Podem ser obtidas mediante o recurso de dados
que explicitem: a caracterização dos informantes; suas condições de subsistência, especificidades de suas
inserções em grupos sociais diversificados, [...] e assim por diante. A Unidade de Contexto é a parte mais ampla
do conteúdo a ser analisado. [...] Unidade básica para a compreensão da codificação da unidade de registro[...].
(FRANCO, 2008, p.41-47, grifo nosso).
140
categorias resultantes do primeiro esforço de classificação apresentam-se mais numerosas e
imprecisas.
A partir das questões definidas a priori surgiram outras temáticas que consideramos
importantes, pois de acordo com Ludke e André (1986, p. 43), “Certas informações e
observações aparecem isoladas e discrepantes e podem vir a se constituir em importantes
elementos na elucidação das questões do estudo”. Essas categorias que surgiram a partir da
leitura do material foram acrescentadas e agrupadas ao longo do processo de análise,
organizadas em novos quadros para melhor exame e compreensão dos dados. As categorias
definidas foram:
a) - Temáticas definidas a priori
- Concepções de avaliação;
- Práticas avaliativas e formas de registro;
- Dificuldades para cumprir o estabelecido na lei 12.796/13;
- Impactos na elaboração da avaliação com registros escritos.
- Propostas para superar dificuldades de avaliar na educação infantil e exigências contidas na
12.796/13;
b) - Temáticas que surgiram a partir da leitura dos registros escritos das entrevistas
- Sentimento em relação à avaliação com registro;
- A quem se destina o registro escrito da avaliação na educação infantil;
- Solidão do/a professor/a no exercício da docência;
- Ética na avaliação;
- Quantidade de alunos/as na sala e avaliação escolar.
Para apresentar os resultados desse processo investigativo esta seção contempla os tópicos:
Retratos dos/as sujeitos/as participantes da pesquisa;
Narrativas das professoras e docência na educação infantil;
As bases teóricas que fundamentam as práticas das professoras entrevistadas;
Formação inicial das professoras entrevistadas: disciplina educação infantil e seus
significados para as práticas de avaliar na educação infantil;
Disciplina avaliação na educação infantil e seus significados para as práticas de
avaliar;
Importância da formação continuada para a prática docente: visão das professoras
entrevistadas;
141
Narrativas sobre as crianças, concepções e práticas de avaliação adotadas pelas
professoras entrevistadas;
Participação das mães, dos pais e de outros responsáveis no processo de construção da
aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as;
Dificuldades para ensinar e sistematização das formas de registro e avaliação para as
aprendizagens em contexto de aplicação da Lei 12796/13;
Propostas para superar dificuldades de avaliar na educação infantil e exigências
contidas na 12.796/13;
Retratos de pedagogas e narrativas sobre avaliação;
As pedagogas: formação e atuação na educação infantil;
Educação infantil e avaliação na formação inicial das Pedagogas;
Temática avaliação na formação inicial das pedagogas entrevistadas;
Atuação profissional das pedagogas entrevistadas e as concepções e práticas de
avaliação adotadas;
Participação dos pais, mães e de outras pessoas responsáveis no processo de
construção da aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as;
Dificuldades para supervisionar e orientar professoras sobre formas de registro e
avaliação para as aprendizagens em contexto de aplicação da Lei12796/13;
Propostas para superar as dificuldades de avaliar na educação infantil e exigências
contidas na 12.796/13.
6.1 Retratos dos/as sujeitos/as participantes da pesquisa
Com base na análise das narrativas obtidas por meio de entrevistas, as professoras e as
pedagogas possuem idade entre 35 e 63 anos, 09 se declararam de raça/cor branca, 04 de
raça/cor parda e 01 de raça/cor negra. Quanto à classe social, observamos que, durante a
entrevista, as entrevistadas manifestaram insegurança em definir a classe pertencente. Onze
declararam pertencer à classe média, 06 demonstraram dúvida e acrescentaram ser
“media/baixa”. Uma professora declarou ser da classe pobre. Em relação à religião, 04 são da
religião católica (01 não praticante), 06 evangélicas, 02 espíritas e 02 não quiseram declarar.
Sobre a predominância do sexo feminino na escola de educação básica, Bernadete Gatti
mostra, em suas pesquisas, que esse não é um fenômeno recente.
142
[...] como já sabido, há uma feminização da docência: 75,4% dos
licenciandos são mulheres, e este não é fenômeno recente. Desde a criação
das primeiras Escolas Normais, no final do século XIX, as mulheres
começaram a ser recrutadas para o magistério das primeiras letras. A própria
escolarização de nível médio da mulher se deu pela expansão dos cursos de
formação para o magistério, permeados pela representação do ofício docente
como prorrogação das atividades maternas e pela naturalização da escolha
feminina pela educação (GATTI, 2010, p.1362).
A formação inicial das dez professoras e das três pedagogas é na área de Pedagogia e
apenas uma professora possui formação em Letras. Desse total, dez possuem especialização
na área de educação, sendo que a maioria (09), cursou graduação e especialização em escola
particular e 05 em escola pública – UFU. Os anos de atuação variam de 02 a 30 anos na
educação. Duas já aposentaram em um cargo e estão prestes a se aposentarem no outro.
Verifica-se que de acordo com o quadro apresentado as professoras e pedagogas
entrevistadas, em sua totalidade, atuam em conformidade com os ordenamentos legais que
preconiza.
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação
mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco)
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na
modalidade normal. (BRASIL, 2017, p.20).
Para melhor conhecer as participantes da pesquisa, no próximo item apresentamos e
analisamos outros aspectos relativos a cada professora e pedagoga.
6.1.1 Narrativas das professoras e docência na educação infantil
Professora Vitória70
A professora Vitória possui formação inicial em Pedagogia e especialização em
alfabetização, ambas cursadas em instituição pública: Universidade Federal de Uberlândia -
UFU. Declara-se apaixonada pelas crianças e pela Educação Infantil, na qual adora atuar e se
sente realizada, pois vê a afetividade como um dos pontos centrais para esta faixa etária, e o
papel do/a professor/a fundamental e marcante na vida da criança “[...] eu não consigo
imaginar quem fala que não gosta. Está ali, mas... quer fazer outra coisa. Eu não sei como as
pessoas dão conta de passar por ali quase todo dia [...], assim... não tendo esse sentimento
70Nome fictício a fim de preservar a identidade da professora.
143
mesmo”. (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.3). A narrativa da professora salienta seu
envolvimento ao exercer sua atividade docente, seu “comprometimento”. Segundo Freire
(2019), “não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco.
[...] não posso ser professor sem me por diante dos alunos, [...] não posso escapar à apreciação
dos alunos [...]. (FREIRE, 2015, p.94).
Portanto, passar pela experiência sem vivê-la, sem se envolver, sem ser coerente com
o que se propôs a fazer é uma “omissão”, e sua narrativa deixa clara a consciência que tem em
relação à importância de sua presença, de sua prática na vida das crianças.
Professora Cecília
A professora Cecília possui graduação em Pedagogia cursada na Universidade Federal
de Uberlândia (UFU) e pós-graduação em Ensino Superior em faculdade particular (UNITRI).
Narra que sua atuação profissional inicial foi em numa clínica de reabilitação com crianças
surdas na Associação Filantrópica de Assistência ao Deficiente Auditivo - AFADA –, na qual atuou
por 4 anos. Efetivada na Rede Municipal há 15 anos, atuou como docente no Ensino
Fundamental por 6 anos, passando para a Educação Infantil na qual está até o momento,
exercendo a função de professora regente I (RI) do 1º período (4 anos), turno manhã. Gosta de
trabalhar na educação infantil e está satisfeita. A vantagem que vê é, [...] as crianças pequenas
são muito carinhosas e o afeto é diferente, a maneira de lidar é diferente. [...] é mais
gratificante com os pequenininhos”. (Professora Cecília, entrevista, 2019, p.3).
De acordo com Saltine (2008, p.89), “Não é necessário grandes carinhos, precisamos
apenas de alguém que nos veja, observe, perceba que existimos e que estamos aqui – a isso
chamo de relação afetiva”. Analisamos, nesse sentido, que a professora Cecília expressa ter
encontrado na educação infantil satisfação não só no campo profissional, mas também na
dimensão afetiva. O “fio condutor”, nas relações que se estabelece na escola, especialmente
neste nível de educação, pode contribuir significativamente com as aprendizagens das
crianças e com o grau de satisfação das professoras.
144
A professora Rebeca
A professora Rebeca cursou Pedagogia na Faculdade Católica de Uberlândia - FCU,
atual PUC-Uberlândia, rede privada. Não possui pós-graduação. Salienta que sua atuação
profissional se iniciou aos 17 anos, quando na época cursava o Magistério (nível médio) e
com por meio de uma bolsa começou a atuar como professora de educação infantil, tendo
trabalhado em duas escolas particulares de Uberlândia. Efetivada na Rede Municipal desde
2005, há 14 anos atua na Educação Infantil, exercendo atualmente a função de professora
regente I (RI) do 2º período (5anos), turno manhã.
Diz estar satisfeita trabalhando com a educação infantil, destaca que às vezes as
condições não correspondem ao que esperava, mas não se arrepende, porque nasceu para atuar
na área da educação, “[...] o salário não é lá essas coisas assim, pelo tanto que a gente [...] eu
investi tanto e o retorno não é aquilo que você almejava [...]. (Professora Rebeca, entrevista,
2019, p.5).
Os dados resultantes da análise trazem representações de como nossa “imagem” veio
se constituindo no decorrer dos tempos. Segundo Arroyo (2000), nos é negado um tratamento
digno, salários decentes e condições de trabalho que possibilitem desenvolver nossa docência
em condições mínimas de qualidade. E ser professor/a de educação infantil carrega uma
imagem de que os salários não precisam ser tão altos. Para esse “ofício, essa função”, o que já
ganhamos está bom demais. Coadunamos com Arroyo (2000) quando escreve que “Somos a
imagem que nos legaram, socialmente construída e politicamente explorada. [...]. Como pesa
essa imagem!” (ARROYO, 2000, p.34-35). Nesse sentido, entendemos que as expectativas
que criamos em relação à docência, às vezes nem sempre correspondem às realidades com as
quais nos deparamos no exercício das escolas ou das redes de educação. Nosso enfrentamento
é com questões que vão além, que envolvem essas representações que nos legaram e mudar
isso, só atrelados a um coletivo fortalecido.
Professora Carolina
A professora Carolina possui formação inicial em Letras e especialização na área de
educação, ambas cursadas em instituição privada. Está há 30 anos no exercício da docência.
Atuou também no ensino fundamental, cargo que já se aposentou. Está perto de aposentar na
educação infantil, da qual gosta muito e a vantagem é que aprende sempre com as crianças.
Paulo Freire (2015) traz contribuições significativas sobre “essa forma de compreender e
145
viver o processo formador, “[...] não há docência sem discência, as duas se explicam [...],
quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. (FREIRE, 2015, p.25).
Ao analisarmos a narrativa da professora, foi possível inferir que ela demonstra respeitar a
criança enquanto sujeito participante do processo de ensinar e aprender.
Professora Júlia
A professora Júlia, tem graduação em Pedagogia e Normal Superior cursadas na
Faculdade Católica de Uberlândia e especialização em Psicopedagogia no Passo 1
(instituições Privadas). Atuando há 13 anos na área da educação, destes, 07 anos foram como
contratadas em biblioteca no Estado. Iniciou na rede municipal de ensino de Uberlândia como
educadora infantil e há 6 anos foi aprovada em concurso e efetivada como professora, cargo
atual.
Sobre sua atuação na educação infantil declara estar muito satisfeita e que este é seu
perfil. Cita como vantagens a sinceridade das crianças e poder ver o desenvolvimento delas,
“[...] ela chega para nós e no final do ano quando vemos todo o desenvolvimento dela é bem
significativo, ver tudo o que conseguimos com a criança”. (Professora Júlia, entrevista, 2019,
p. 2). De acordo com Paulo Freire, ensinar exige reconhecer qual o nosso papel e a
responsabilidade que temos de contribuir com transformações na vida dessas crianças e no
mundo, “[...] não é só o de quem constata o que ocorre, mas também de quem intervém como
sujeito de ocorrências” (FREIRE, 2015, p.74), nesse sentido, vemos na professora Júlia uma
docente que acompanha e acredita no potencial de seus educandos, sinais que analisamos
demonstrar sua concepção de avaliação para promoção da aprendizagem das crianças.
Professora Izabel
A professora Izabel possui formação inicial em Pedagogia e especialização em
Educação Infantil (ambas cursadas em instituição privada). Declara que iniciou sua carreira
docente em 1979 como professora de ensino fundamental, trabalhando com turmas
Multiseriadas71, mas ficou pouco tempo, pois foi aprovada em concurso para a educação
infantil em dois cargos e já atua por mais de 30 anos (já aposentou em um cargo).
71As classes multisseriadas são salas com alunos de diferentes idades e níveis educacionais nas qu ais
estão cerca de 60% dos estudantes do campo. Segundo o Censo Escolar 2017, existem 97,5 mil turmas do
Ensino Fundamental nessa situação em todo o País, número que vem permanecendo praticamente
146
Quando perguntada se estava satisfeita em trabalhar na educação infantil, a professora
destacou que ama, diz que foi uma escolha por preferência, mas faz uma observação quanto às
mudanças que tem observado ultimamente em relação à participação das mães, dos pais ou
outros responsáveis pelas crianças.
Parece que as escolas de educação infantil viraram creche. [...] Por que o que
que eles fazem? Eles pegam os filhos, as vezes eles não olham nem a
mochila dos filhos, de um dia para outro e joga o filho ali. Ali a van pega os
meninos, leva para outra escola particular, põe o menino ali, o dia todo. Quer
dizer, não está tendo mais aquela preocupação[...], eu fico muito triste com
essa mudança que está acontecendo, é uma mudança muito triste.
(Professora Izabel, entrevista, 2019, p.3-4).
Ao analisarmos a narrativa da professora Izabel, percebemos a necessidade apontada
por Saltini (2008, p.95), de entendermos que a validade de toda ação educativa, envolve
compreender sobre quais condições concretas de “aprender e conhecer” essas crianças são
colocadas, qual sua realidade? Em qual contexto social estão inseridas? Daí derivam as
discussões que poderíamos desenvolver em páginas e páginas. Para o momento apresentamos
breves considerações que possam vir a contribuir com nossa análise. Sobre isso, Saltini nos
traz um questionamento: “Caminhamos para uma nova postura educativa?”. Destacamos
visualizar que avançamos consideravelmente em relação às políticas públicas de atendimento
à infância no Brasil (dados já apresentados anteriormente), porém, em consonância com essas
mudanças “[...] não devemos esquecer que a relação com os pais dos alunos deve ter outro
enfoque. Enquanto se criava uma escola para satisfação dos pais, hoje cria-se uma escola para
o “desenvolvimento do pensar da criança”, do pensar na relação com o outro, e com o mundo
social72”. (SALTINI, 2008, p.108). Nessa vertente, fazer valer o PPP, quando ele aponta “a
necessidade de compartilhar com pais e responsáveis não só as informações sobre frequência
e rendimento dos alunos, mas também a responsabilidade de elaborar e executar a Proposta do
Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola”. (UBERLÂNDIA/PPP, 2015, p.25). Assim,
apresentar e discutir com os/as pais/mães ou outros responsáveis, os objetivos e as propostas
da escola, o que a escola tem a oferecer e a família a contribuir em termos de educação, a fim
de atingirem objetivos comuns em relação a aprendizagem e desenvolvimento das crianças
(seus filhos ou dependentes), pode ser um caminho otimista.
inalterado nos últimos dez anos. Disponível em:<https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/perguntas-
e-respostas-o-que-sao-as-classes-mu>. Acesso em 22 out. 2019. 72 Importante destacar que no ano de 2008 tínhamos um projeto de escola que possibilitava pensar essas
possibilidades. Hoje (2019), essa perspectiva do desenvolvimento do pensar da criança está sendo questionada.
Em tempos de projetos de uma “escola sem partido,” o que se defende é uma escola que transmite conhecimento
e não que ensine a pensar.
147
Professora Larissa
A professora Larissa, cursou Pedagogia na UNIPAC e pós-graduação em Inspeção
Escolar pela faculdade Católica de Uberlândia (instituições privadas). Iniciou sua atuação
profissional como educadora infantil na rede municipal de educação de Uberlândia, fazendo
transposição73 de cargo em 2012, quando foi aprovada em concurso público de Uberlândia.
Quando perguntada se estava satisfeita trabalhando com a educação infantil e quais as
vantagens de se trabalhar neste nível, diz que ama estar com essa faixa etária. Aponta que
gosta de atuar nessa modalidade de ensino porque se trabalha muito o lúdico, e adora a
afetividade das crianças e de ver como elas desenvolvem. [...] as mães me falam, meu filho
nunca apresentou, nunca fez teatro e agora ele está aprendendo, está apresentando... está
desenvolvendo. É isso que nós temos que trabalhar com as nossas crianças, permitir que eles
atuem, que eles sejam autores da própria história [...]. (Professora Larissa, entrevista, 2019,
p.4). Nesse sentido, Paulo Freire (2015), escreve “[...] onde quer que haja mulheres e homens
há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender”. (FREIRE, 2015,
P. 74- 82). Analisamos a possibilidade de estar presente na narrativa da professora sua
convicção de que a mudança é possível, visto que somos “programados para aprender,” o que
nos compete então é criar oportunidades e respeitar a autonomia dessas crianças.
Ao narrar já ter trabalhado no ensino fundamental, fala sobre a diferença entre a
educação infantil e salienta que vê certa vantagem emocional.
[...] a vantagem emocional pra mim... na educação infantil eu estou sempre
a cada dia eu estou relembrando a minha infância. Uma infância não vivida.
Eu tenho oportunidade de estar vivendo isso com eles. Não falo porque é
bonito, por demagogia porque eu não tive uma infância de brincar com
crianças, e ali eu tenho. Eu não tenho habilidade artística nenhuma! Não
consigo desenhar uma casinha com árvore! Corto tudo torto, minha
coordenação motora é péssima! Mas assim, o que que eu faço: eu busco essa
função... peço às pessoas que eu sei que têm a habilidade em fazer, eu
recorro a essas pessoas e pago. [...]. (Professora Larissa, entrevista, 2019,
p.4, grifo nosso).
73
LEI COMPLEMENTAR Nº 40/1992- dispõe sobre o estatuto dos servidores públicos do município de
Uberlândia, suas autarquias, fundações públicas e câmara municipal. Seção VII
Da transposição- Art.29 - Transposição é a passagem do servidor de um para outro cargo de provimento efetivo,
de carreira diversa, mediante aprovação em concurso. Disponível em:<https://leismunicipais.com.br/estatuto-do-
servidor-funcionario-publico-uberlandia-mg>. Acesso em: 17 out 2019.
148
O relato da professora Larissa traz as marcas de sua história, de sua experiência de
vida. Jorge Larrrosa (2002) nos situa enquanto sujeitos da experiência, de forma encantadora,
[...] “a experiência é o que nos passa”, o sujeito da experiência seria algo como um território
de passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum
modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos”.
(LARROSA, 2002, p.24). Ao expor essa experiência que lhe “tocou” analisamos que a
professora buscou quebrar barreiras em função de transformar essas experiências em novas
oportunidades de construir vivências diferentes. Suas experiências vividas que deixaram
marcas que a frustra, de acordo com sua narrativa, não foram obstáculos para que viesse a ser
uma professora que busca, que propõe e que intervém de forma significativa, mesmos que
para isso ela tenha que buscar o auxílio de terceiros, “[...] eu busco essa função ... peço às
pessoas que eu sei que têm a habilidade em fazer, eu recorro à essas pessoas e pago”.
Apresenta também elementos que constituem a importância da “interação e das brincadeiras”,
práticas que devem caracterizar o cotidiano da educação infantil de acordo com a
BNCC/2017, “[...] ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os
adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das
frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções”, questões fundamentais nesta
etapa. (BRASIL/BNCC, 2017, p37). Portanto, analisamos que a professora, ao destacar que
tem a oportunidade de viver essa infância não vivida, está trazendo consigo possibilidades de
transformação de sua realidade e também da realidade das crianças com as quais tem o
compromisso de oferecer práticas que proporcionem o seu desenvolvimento integral e
mudanças em suas realidades, se necessário.
Professora Bianca
A professora Bianca possui formação inicial em pedagogia pela UNITRI e
especialização em Educação Especial pela Faculdade Católica de Uberlândia/ FCU, ambas
instituições privadas. Atua na área da docência há 18 anos. Declara que gosta da educação
infantil, pois se identifica muito com as crianças, gosta de brincar, de ver no que realmente
elas tão desenvolvendo, “apesar de que tem muitos alunos que fazem a gente refletir: será que
a nossa prática está certa?” (Professora Bianca, entrevista, 2019, p.3). Ressalta que está
satisfeita e a vantagem de se trabalhar com a educação infantil, e principalmente com essa
idade (4 anos), se justifica por ser a base, e tudo o que se trabalha nessa idade vai fazer com
que a criança se torne um adulto melhor.
149
[...] eu falo muito isso... a fase dos 4 anos é a puberdade da criança, porque
eles vão sair de um processo que tinha um educador pra apoiar, então eles
vão começar a ter mais autonomia, [...] Porque se eu trabalho hoje, que é a
fase também de 4, 5 anos que é o egocentrismo, se eu trabalho, e a criança
reconhecer que está fazendo algo errado... que o brinquedo não é só dela, é
do outro também, eu vou trabalhar para que a criança não se torne um adulto
egoísta [...]. (Professora Bianca, entrevista, 2019, p.3).
Saltini (2008), ao falar de desequilíbrio grupal, regras e limites, escreve, que a criança
quando está longe da família busca satisfazer suas necessidades básicas, “amor, afeto,
acolhimento”, com o professor e no grupo.
Essas necessidades geram um desequilíbrio, o qual por sua vez busca a
satisfação do prazer e da cooperação. O brincar com o outro é uma forma de
organizar-se e equilibrar-se tanto interna quanto externamente, assimilando e
acomodando-se constantemente. Para que haja relação, é necessário que as
leis próprias de cada um entrem em comum acordo, buscando entre
frustração e satisfação um ponto que sirva a ambos. A necessidade recíproca
do inter-relacionamento afetivo gera um equilíbrio. [...] A percepção dos
próprios desejos e dos desejos do outro é o primeiro passo para o
desenvolvimento da autonomia moral. (SALTINI, 2008, p.98-99)
Analisamos nesse sentido, o papel da professora “sensível” e que questiona: “será
que a nossa prática está certa?”, se autoavalia em função da aprendizagem, com
responsabilidade constata e percebe que sua intervenção pode fazer a diferença, “eu vou
trabalhar pra que a criança não se torne um adulto egoísta”, assim criando e estruturando
regras, trabalhando limites estará orientando essas crianças e formando-as para serem adultos
autônomos, menos egoísta e egocêntricos.
Professora Laura
A professora Laura é formada em Pedagogia em instituição privada, na UNITRI, em
2002 com várias especializações (não citou os nomes) e destaca que a que mais contribuiu
para sua prática foi a Psicopedagogia e a Gestão. Narra que está em sala de aula há 14 anos.
Ao ser perguntada sobre a sua satisfação em trabalhar na educação infantil, afirma que está
satisfeita e gosta muito, mas, às vezes sente frustrações. Vê como vantagem de atuar com essa
faixa etária a afetividade e o fator idade da criança, visto que por ela estar em formação, pode
contribuir mais com o desenvolvimento da criança.
Fala com muito carinho de seus/suas alunos/as e que são um grupo muito heterogêneo.
Destaca como dificuldade maior conquistar o respeito da criança, “[...], mas quando você
ganha o respeito dele, você consegue... agora tem crianças que você tenta de todas as formas
150
chegar a ele e você não consegue. [...] ele mesmo fala pra você: Ah, eu não quero isso, e eu
acho que isso pra uma criança de 4 anos, muito forte uma coisa dessa.” (Professora Laura,
entrevista, 2019, p.3).
Apreendemos na narrativa da professora Laura uma preocupação com crianças em tão
tenra idade se negarem a interagir, ter contato, uma busca de compreensões sobre sua
realidade, um querer bem nos dizeres de Paulo Freire.
E o que dizer, mas sobretudo que esperar de mim, se, como professor, não
me acho tomado por este outro saber, o de que preciso estar aberto ao gosto
de querer bem, às vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria
prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa,
na verdade, que, porque professor me obrigo a querer bem a todos os alunos
de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que
não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a
maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os
educandos, numa prática específica do ser humano. (FREIRE, 2015, p.138).
Nesse sentido, destacamos, na narrativa da professora, seu comprometimento com a
transformação de realidades que se apresentam no cotidiano de nossas práticas pedagógicas.
Professora Luiza
A professora Luiza, com formação inicial na área de Pedagogia e especialização em
Supervisão e Inspeção, ambas cursadas em instituição pública, Universidade Federal de
Uberlândia/ UFU. Destaca que atua na educação infantil há 10 anos, atualmente exerce a
função de professora RI, com turma de 1º período (4anos). Está satisfeita trabalhando com a
educação infantil e agradece a Deus, porque já trabalhou com o ensino fundamental e gostou,
mas, prefere a educação infantil. Destaca que este ano sua turma é muito boa, amorosa,
tranquila e participativa, fica admirada e cativada pela afetividade e inocência das crianças.
Indica que uma das vantagens de se trabalhar com essa faixa etária está na forma de avaliar as
crianças.
[...] você não tem aquela coisa tão... como que eu te falo? Prova, nota, isso,
aquilo... entendeu? Você tem a possibilidade de olhar outras coisas na
pessoa. No fundamental é muita prova, nota, papel, você não olha o todo.
Para a criança você procura olhar outras coisas. É mais amplo, mais
detalhado, talvez até mais difícil. Mas eu acredito que é uma coisa mais
prazerosa do que aquilo. (Professora Luiza, entrevista, 2019, p.3-4).
151
Ao analisar a narrativa da professora Luiza, visualizamos sua crítica à avaliação
padronizante e engessada que marcaram sua prática anterior, pautada em notas, fixadas por
critérios externos à criança, A favor da avaliação que leva em consideração a totalidade da
criança e suas singularidades. Tecemos considerações pautadas na concepção de avaliação
mediadora defendida por Hoffmann (2015). Avaliar não é medir o que a criança é capaz ou
não de fazer, para colocar ali uns, números e está pronto e acabado. Sendo uma ação tão
complexa, fato que professora demonstra ter consciência, quando narra acreditar ser até mais
difícil que o fundamental, é um acompanhar constante, observador reflexivo a fim de intervir
de forma que promova a aprendizagem da criança.
Professora Ana
A professora Ana, possui graduação em pedagogia e pós-graduação em
Psicopedagogia, ambas cursadas em instituição pública/UFU. Atuando há 12 anos na
educação, iniciou suas experiências em sala de aula trabalhando em 02 escolas particulares.
Junto à docência depois da pós-graduação em Psicopedagogia começou a ter interesse pela
área de educação especial, iniciando o trabalho na AACD74 onde atuou por quase 3 anos na
área da especialização, com os meninos especiais e paralelo ao trabalho na AACD continuou
com a sala de aula em colégios particulares, tanto na educação infantil, quanto no ensino
fundamental. Atualmente é efetiva na Rede Municipal de educação de Uberlândia.
A professora Ana narra que se realiza trabalhando com essa faixa etária e diz sentir
muita falta de trabalhar com crianças com necessidades especiais75. Salienta que as vantagens
de trabalhar com a educação infantil estão na dimensão da afetividade em que
[...] a inocência, as primeiras descobertas com relação ao mundo em geral,
isso me encanta. O crescimento, a formação, não é bem a formação em si...
eles estarem abertos para a formação dos valores, dos sentimentos... que lá
no ensino fundamental, já é uma outra proposta. (Professora Ana, entrevista,
2019, p.2).
74
Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) “é uma associação sem fins lucrativos brasileira, com
sede em. São Paulo - SP, que visa tratar, reabilitar e reintegrar à sociedade crianças, adolescentes e adultos
portadores de deficiência física. Possui centros de reabilitação em São Paulo, Osasco, Recife, Porto Alegre,
Mogi das Cruzes, Uberlândia e Poços de Caldas”. Disponível em:<https://pt.wikipedia.org › wiki ›
Associação_de_Assistência_à_Criança_De...>. Acesso em 24 out. 2019. 75 “Necessidades Educacionais Especiais são aquelas demandas exclusivas dos sujeitos que, para aprender o que
é esperado para o seu grupo referência precisam de diferentes formas de interação pedagógica e/ou suportes
adicionais: recursos, metodologias e currículos adaptados, bem como tempos diferenciados, durante todo ou
parte de seu percurso escolar”. (GLAT; BLANCO 2009, p. 25-26).
152
A análise da narrativa da professora Ana nos possibilitou inferir que ela se revela uma
docente sensível, preocupada não só com as crianças com necessidades especiais, mas
também com as “Necessidades Educacionais”. Glat e Blanco, (2009, p.25), definem
necessidades educacionais como “as demandas apresentadas pelos sujeitos para aprender o
que é considerado importante para sua faixa etária”. Os fragmentos possibilitam ilustrar nossa
análise, “[...] estamos crescendo junto com eles e fazendo-os perceberem a importância dos
valores, do respeito, da consideração, a importância da família, a importância da escola. Eu
acredito que essa inocência que eles trazem e essa abertura que dá para a gente trabalhar, é
isso me encanta (Professora Ana, entrevista, 2019, p.2).
Analisamos que o interesse pela área de educação especial76, apresentado pela
professora em sua narrativa, seu carinho pela infância e especialmente pelas crianças com
necessidades especiais, remete à ideia de concepção de educação infantil que se preocupa, que
tem abertura e busca atender as infâncias e as crianças em sua totalidade, com suas
especificidades, sem discriminação, dentro dos princípios da educação inclusiva77.
A análise dos dados, entrecruzados de forma constante na apresentação das
professoras entrevistadas, possibilitou buscar elementos comuns e diversos que nos levaram a
perceber que a maioria declara amar a docência e estão satisfeitas por atuarem na educação
infantil, apesar dos baixos salários e de nem sempre serem valorizadas e reconhecidas
socialmente. Sobre a questão salarial e a importância de incentivar a carreira, Bernadete Gatti,
em entrevista realizada para a Revista Época em 2016, faz considerações pertinentes.
[...] muita gente já disse que maior remuneração não faz tanta diferença, mas
eu sou contra. Para mim, remuneração é chave. Aumentar os salários é
fundamental para valorizar a profissão, para trazer gente mais bem preparada
para a sala de aula e para fazer os que já estão nela correr atrás de melhorar.
Ninguém escolhe uma carreira só por ideologia. Você olha o que será seu
futuro profissional. E a carreira do professor, em geral, não delineia um
futuro muito bom. Ela cria uma armadilha. Para o professor avançar em
76 Educação Especial: “Modalidade da educação escolar; processo educacional definido em uma proposta
pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados
institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços
educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades
dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da
educação básica”. (BRASIL, 2001, p.39). 77 Educação Inclusiva: “O princípio básico deste modelo é todos os alunos, independentemente de suas
condições socioeconômicas, raciais, culturais ou de desenvolvimento, sejam acolhidos nas escola regulares, as
quais devem se adaptar para atender às necessidades , pois se constituem como meios mais capazes para
combater as atitudes discriminatórias, e, como consequência, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a
educação para todos. Mais do que nova proposta educacional, a Educação Inclusiva pode ser considerada uma
nova cultura escolar: uma concepção de escola que visa ao desenvolvimento de respostas educativas que atinjam
a todos alunos (...). A proposta de Educação Inclusiva implica, portanto, um processo de reestruturação de todos
os aspectos constitutivos da escola.” (GLAT & BLANCO, 2009, p.16-17).
153
termos de salário, ele é obrigado a deixar de ser professor para ser
coordenador ou ser diretor. Tem de abandonar a sala. Isso ocorre justamente
quando ele já tem experiência em dar aula. Acho que a carreira tem de dar
incentivos para que ele se mantenha na sala. (GATTI, 2016, s/n).
Os relatos das professoras evidenciam um envolvimento amoroso e compromissado
com seus/suas alunos/as. Um comprometimento que remonta aos ideais de Paulo Freire
(2015) sobre a impossibilidade da atividade docente ocorrer separadamente da atividade
discente. Para ele, a relação do/a professor/a com seus alunos/as pode acontecer de forma
ética, com rigor epistemológico, sem deixar de ser amorosa, alegre e afetuosa.
Nesse sentido, a dimensão da afetividade e a possibilidade de poderem acompanhar o
desenvolvimento de seus alunos/as foram indicadas pelas professoras como motivo de
satisfação por optarem por esse nível da educação. Leite e Taquiaferro (2005) coadunam com
Wallon (1968; 1989) e Vygotsky (1998), defendendo que a afetividade tem caráter social que
contribui de forma significativa nos “processos de desenvolvimento cognitivo. [...] há uma
íntima relação existente entre o ambiente social e os processos afetivos e cognitivos”, nesse
sentido, “as interações que ocorrem no contexto escolar também são marcadas pela
afetividade em todos os seus aspectos” (LEITE; TAQUIAFERRO, 2005, p.249).
A dimensão ética, também observada nas narrativas de 03 professoras, apresenta-se ao
falarem sobre as crianças e novos encaminhamentos em relação à avaliação ao explicitaram a
preocupação sobre a ética ao avaliar seres de tão tenra idade. Considerando a dimensão ética
fundamental na ação docente, destacamos os fragmentos a seguir: “[...] a base ética, talvez
seja onde eu mais tenha mais dificuldade. Na ética da avaliação. Porque é ético eu colocar lá
“o menino morde”? ou é ético eu deixar de fora que ele morde?” (Professora Cecília,
entrevista, 2019, p.4-5).
[...] então tem que haver um certo...uma certa coerência, não que a gente
mente o relatório todo, não! Tem que haver uma coerência em cima disso,
mas colocar tudo eu creio que ninguém coloca. [...], mas essa avaliação, ela
vem através do relatório, não é? Desse relatório que eu falei, que as vezes
você não pode colocar toda a verdade no relatório, e isso é ético? (Professora
Carolina, entrevista, 2019, p.3-4). [...] eu procuro fazer diferente um do outro, mas como todo ano, eu estou um
tempo na educação infantil então eu sempre tive muita ajuda... tem aqueles
relatórios que você pode falar, que você não pode, não sei se ético, é? Coisas
que você troca [...]. (Professora Luiza, entrevista, 2019, p.4).
Destacamos que os questionamentos das professoras Carolina e Luiza: o que colocar
no relatório? O que registrar? O que é ético ou não? Que esses questionamentos estão
totalmente relacionados com a intencionalidade da avaliação, de acordo com Hoffmann
154
(2015) e Villas Boas (2007). O que é importante para o processo de aprendizagem. É preciso
desenvolver a consciência avaliativa, ou seja, a intencionalidade. A capacidade docente está
relacionada também com o desenvolvimento da habilidade de registrar. O fazer docente exige
o desenvolvimento dessa habilidade fundamental para a realização do processo avaliativo.
Ao falar de ética na avaliação, questão complexa, tornou-se fundamental trazer as
contribuições Freirianas, as quais nos ajudaram a pensar certo. De acordo com Freire,
[...]. Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de
comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo
isso, nós fizemos seres éticos. Só somos porque estamos sendo. Estar sendo
é a condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos
longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da
ética, entre nós, mulheres e homens é uma transgressão. É por isso que
transformar a experiência em puro treinamento técnico é amesquinhar o que
há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter
formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos
não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é
substantivamente formar. [...]. (FREIRE, 1996, p.34-35).
Nesse sentido, Villas Boas (2007, p.49), coadunando com Rios (2001), destaca que
“em toda ação docente estão presentes as dimensões técnica, política, estética e ética,
estreitamente relacionadas [...]”, e a ética é fundante das demais. Segundo Villas Boas (2007),
para praticar a avaliação com competência não basta o/a professor/a conhecer sua área de
atuação, o que vai trabalhar ou como proceder ao avaliar.
É preciso refletir criticamente sobre o valor efetivo da avaliação que adota
para a inserção criativa dos sujeitos na sociedade. Não basta criar novos e
atraentes procedimentos de avaliação – a criatividade é usada para a
construção do bem-estar coletivo. Não basta se comprometer politicamente,
é preciso analisar a repercussão da avaliação adotada na trajetória escolar e
de vida dos alunos. Sendo a ética fundante da competência, avalia-se com
ética. Nesse sentido, a avaliação é conduzida tendo como base o respeito ao
aluno como pessoa e às produções que ele apresenta. (VILLAS BOAS,
2007, p.50-51,).
Jussara Hoffmann (2013) salienta que avaliar é uma ação reveladora de quem somos,
do que sabemos e de nosso posicionamento diante da vida. Segundo ela, uma atividade ética
que envolve seres humanos, com especificidades diversas, dependem de nossa postura
enquanto formadores/as de juízos de valor e que precisam saber ir além do julgamento. É
preciso saber enxergar, pensar sobre e intervir a favor da aprendizagem significativa e
intencional das crianças
Em relação ao sentimento de solidão, dimensão manifestada em algumas professoras
participantes, as análises possibilitaram tecer considerações com base nas situações ou
155
ocasiões nas quais narraram que esse sentimento se manifestou no exercício da docência.
Analisamos que essas colocações muitas vezes se manifestaram de forma subtendida. “[...]
sala de aula. Não é fácil. Eu acho que a gente também... a gente é muito sozinha, eu acho [...]
(Professora Vitória, entrevista, 2019, p.4).
[...] sinto falta do apoio, principalmente agora com essas novas mudanças,
um apoio com o trabalho mesmo, de como que é pra ser feito, um
posicionamento do que que a escola espera da gente, porque é muito difícil
trabalhar sem ter certeza do que que é esperado. (Professora Cecília,
entrevista, 2019, p.5).
Apareceram demandas de uma professora que solicita mais participação da pedagoga
quanto ao trabalho a ser desenvolvido, “de como é pra ser feito”. Entretanto, a narrativa da
professora Larissa salienta que a participação da pedagoga tem contribuído significativamente
com o trabalho, ajudando-a com as dificuldades enfrentadas na prática docente, com a família
e com a superação do sentimento de solidão.
[...] Deus direcionou uma pedagoga maravilhosa, excelente, que caminha
comigo lado a lado, tudo ela conhece, ela conhece os meus alunos... ela
conhece os problemas da minha sala... ela está comigo durante as minhas
reuniões...o que eu faço pra ela, ali ela vem, me orienta, me sugere e eu não
estou tendo dificuldade agora, porque eu tenho um apoio, eu tenho uma
pessoa caminhando comigo, eu não me sinto mais só.[...]quando você tem
uma pedagoga que é parceira, que tá junto com você, que fala que você é
autoridade na sua sala, flui, nós somos parceiras. Você vai acalmar o pai e
mostrar pra ele e fala “pai, a educação infantil é até aqui. (Professora
Larissa, entrevista, 2019, p.6-7).
É fundamental na análise destacar o papel que a pedagoga desempenha na escola e no
processo educativo, enquanto sujeito de transformação, mediação e facilitador junto à prática
docente, em função de objetivos comuns fundamentais. De acordo com Oliveira e Guimarães
(2013, p.98-99) o supervisor pedagógico, “[...] ao possibilitar a articulação dos
conhecimentos, abrirá oportunidades para que seus professores façam uma reflexão das suas
ações, além de conduzi-los a terem um olhar mais profundo sobre o contexto escolar onde
atuam”. Analisamos ter sido para a professora um diferencial e incentivo para enfrentar as
dificuldades encontradas no cotidiano de suas práticas, além de demonstrar ter amenizado seu
sentimento de solidão.
Os resultados das análises nos permitem inferir que as professoras defendem e
acreditam que as ações que contribuiriam com suas práticas, com a aprendizagem e
desenvolvimento de seus alunos/as e diminuiria o sentimento de solidão em sala de aula, seria
a participação mais efetiva da escola, da pedagoga e da família na resolução de problemas
156
com as crianças, mais apoio no desenvolvimento das atividades em sala e efetiva participação
na tomada de decisões de interesse coletivo.
6.1.2 As bases teóricas que fundamentam as práticas das professoras entrevistadas
Acerca das leituras e dos embasamentos teóricos que fundamentam suas práticas
docentes, das 11 professoras entrevistadas 10 destacaram gostar de ler e consideraram a
leitura muito importante para a prática docente. Uma professora considera que é importante,
mas não gosta muito. Foram unânimes em afirmar que a pedagoga realiza orientação
pedagógica nos módulos realizados na escola e indica estudos para serem realizados nos
módulos chamados “onde melhor lhe convier” - OMC78. Indica leituras de textos enviados
pela SME e leituras de acordo com suas demandas da prática. Relatam que as leituras
indicadas ultimamente pela supervisora são a nova BNCC, as Diretrizes Curriculares para
Educação Infantil, o RCNI, Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão
Preliminar) - 2018 e textos sobre projetos e avaliação na educação infantil, da Jussara
Hoffman e da Maria Carmem Silveira Barbosa.
Em relação à maioria das professoras basearem sua prática na BNCC/2017,
analisamos que elas relacionam os estudos que a escola vem desenvolvendo em decorrência
da reorientação curricular, com a própria prática. Na verdade, não há um entendimento que a
BNCC, documento de caráter normativo, é “[...] referência nacional para a formulação dos
currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares, (BRASIL/ BNCC,
2017, p.7)”. Ela não deve ser o currículo79, este, de acordo com os ordenamentos legais, será
definido exatamente nesse movimento no qual estão fazendo parte na escola.
78
O Módulo Onde Melhor lhe Convier-OMC, é um direito assegurado na Lei Complementar nº 11.966/2014
que dispõe sobre o plano de cargos, carreira e remuneração dos servidores da educação do município de
Uberlândia. Art. 22- Para o desempenho das atribuições próprias das atividades, descritas no Anexo VIII desta
Lei, os Servidores da Educação terão as seguintes jornadas de horas semanais de trabalho por
cargo: (Regulamentado pelo Decreto nº 13.366/2012). § 1º. Para os docentes, um terço da jornada semanal de
20 (vinte) horas destina-se a atividades de planejamento, atualização, pesquisa, produção coletiva,
formação permanente, colaboração com a administração da unidade, participação em reuniões, eventos de
trabalho e outras atividades inerentes ao Projeto Político Pedagógico da Unidade, e, nos termos dos limites
estabelecidos pela Secretaria Municipal de Educação, para cada nível de ensino, tipo de unidade e a atividade do
servidor.(Redação dada pela Lei nº 11.148/2012. Disponível
em:<https://leismunicipais.com.br/a1/mg/u/uberlandia/lei-complementar/2004/34/347/lei-complementa>. Acesso
em: 06 out 2019. (Grifo nosso). 79Definição de currículo de acordo com as DCNEI/2010 - Conjunto de práticas que buscam articular as
experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,
ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de
idade. (BRASIL, 2010, p.12).
157
[...] BNCC e currículos têm papéis complementares para assegurar as
aprendizagens essenciais definidas para cada etapa da Educação Básica, uma
vez que tais aprendizagens só se materializam mediante o conjunto de
decisões que caracterizam o currículo em ação. São essas decisões que vão
adequar as proposições da BNCC à realidade local, considerando a
autonomia dos sistemas ou das redes de ensino e das instituições escolares,
como também o contexto e as características dos alunos. (BRASIL/ BNCC,
2017, p.16)
Nesses estudos, indicados pela pedagoga às professoras, esperava-se que o coletivo de
professores da EMEI Tecelã (e da rede), orientadas pela SME e pautadas na BNCC/2017,
buscassem subsídios, construíssem coletivamente o currículo que atenderá melhor aos seus
objetivos pedagógicos.
[...] este Plano de Ação Referência alicerça-se sobre a Base Nacional
Comum Curricular/2018 e configura-se sob os moldes da nossa história
local, da nossa cultura, da nossa gente. [...] o Plano de Ação Referência da
Rede Municipal de Ensino de Uberlândia (Versão Preliminar) [...] um
documento que norteará os planejamentos de todas as Unidades Escolares
em 2019, concomitantemente à sua retomada em continuidade ao trabalho
coletivo iniciado em 2018 para que seja consolidada a Proposta Curricular da
Rede Municipal de Ensino [...] Na elaboração deste Plano de Ação
Referência, currículo precisa ser compreendido como sendo o entrelaçar de
saberes, fazeres, concepções, valores, poder e identidades. Não é um lugar,
mas um caminhar [...] (RME). (UBERLÂNDIA, 2018, p.12).
Portanto, analisamos que concomitante ao movimento de implementação da
BNCC/2017 e da LEI 12.796/13, a rede vem estruturando, ancorada segundo ela, em
“documentos oficiais elaborados em outros momentos históricos”.80 (UBERLÂNDIA, 2018,
p.11), a construção do Currículo de acordo com os ordenamentos legais, o que podemos
constatar no Plano de Ação Referência da Rede Municipal de Ensino-Versão Preliminar/2018,
Nesse contexto, de acordo com as narrativas das professoras, salientamos que, os
estudos pautados na BNCC na verdade vêm movimentando e orientando as leituras na escola
com o objetivo de discutir, organizar e implementar o currículo, porém de acordo com as
narrativas das professoras, há um entendimento que A BNCC/2017 representa o próprio
currículo.
80 “Diretrizes Curriculares da Rede Municipal de Ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes
Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares do Estado de Minas Gerais foram revisitadas para que, a
partir de suas análises, fosse possível elaborar/sistematizar o Plano de Ação Referência da Rede Municipal de
Ensino de Uberlândia. (UBERLÂNDIA, 2018, p.12).
158
Além disso, relatam que buscam embasamento de suas práticas em outras leituras e
citam, Paulo Freire, Vigotsky, Wallon, Rubem Alves, Içami Tiba, Mário Sergio Cortela e a
Bíblia, [...] e outras leituras relacionadas ao cristianismo”. (Professora Larissa, entrevista,
2019, p.9). Cinco professoras disseram que não têm lido com frequência, leem só para
desenvolver os projetos nas aulas e atender à demanda do grupo.
Foi possível perceber, também, que as professoras evidenciam suas escolhas de leitura
em diferentes gêneros, livros de autoajuda, pedagógicos e religiosos, com os propósitos de
atenderem às suas expectativas em relação à ajudá-las na resolução de seus conflitos
emocionais e pessoais, auxiliá-las na prática pedagógica ou em outras questões do cotidiano
escolar. De acordo com Silva (2011), o consumo de livros de autoajuda é uma tendência
marcante em nosso tempo
[...] mais do que revelar as leituras destas professoras-leitoras, acabamos por
constatar uma forma própria de ler que não se restringe a essa categoria
profissional. Ainda segundo Asbahr (2005), “Analisando estes aspectos, não
podemos simplesmente desqualificar as professoras. A autoajuda refere-se a
um fenômeno muito mais amplo e que, alcança quase todos os segmentos
sociais e a mídia de maneira geral. Problematizar as leituras desse gênero
não quer dizer que as professoras são malformadas ou leitoras
incompetentes, numa relação direta de causa e efeito – o que resultaria numa
simplificação de análise. Estão imersas numa sociedade que engendrou uma
certa maneira de ler e que abarca concepções de mundo e de formação que
necessitam ser questionadas. (SILVA, 2011, p.55)
Ao analisar a diversidade temática apresentada nas escolhas de leituras das
professoras, buscamos aporte teórico em Silva81 (2011), que escreve que como o contexto
escolar “envolve legitimidade cultural”, é normal que os/as professores/as escolham leituras
de acordo com a realidade na qual estão inseridas, “[...] no entanto, também realizaram uma
escolha disparada em relação aos padrões de legitimidade. Ao que parece, as escolhas
legítimas seriam aquelas transmitidas escolarmente; as escolhas não relacionadas à escola
fugiriam ao padrão”. (SILVA, 2011, p.56). Analisamos, nesse sentido, que as escolhas
apresentadas se pautaram no que as professoras acreditam serem legítimas em relação às
práticas que desenvolvem e em relação a tudo que as envolvem, visto que estão inseridas na
sociedade.
81
SILVA, Vitor Aparecido da. Leitura literária na sala de aula Concepções dos Professores das Séries Iniciais. /
Vitor Aparecido da Silva. Campinas, SP. [s/n], 2011. Disponível em: <www.bibliotecadigital.unicamp.br ›
documento>. Acesso em: 19 out. 2019.
159
Acrescentamos que os resultados das análises apresentaram nove professoras, que
buscam subsídios para desenvolverem os projetos pautadas em leituras e pesquisas na
internet. “[...] eu procuro sempre trazer coisas novas assim, diferente daquilo que eu já fiz. Aí
eu me baseio mais em internet pra ser sincera [...].” (Professora Luiza, entrevista, 2019, p.4).
Salientamos que o uso de recursos tecnológicos na elaboração de
planejamentos/planos, atividades escolares, nas pesquisas e buscas por “modelos” que apoiam
os/as professores/as em suas práticas, vem ganhando cada vez mais adeptos nas escolas.
Estamos na era da tecnologia e se beneficiar desse recurso é natural. A facilidade com que se
encontra, desde propostas ricas e significativas, que agilizam e contribuem com a prática
docente, encontramos também atividades prontas, formatadas e que foram pensadas num
outro contexto. Analisamos que o desafio está em sabermos contextualizar as propostas, as
atividades de acordo com nossa realidade, intencionalidade, com nossos objetivos, que não
podem ser diferentes e únicos: o de contribuir com a aprendizagem e desenvolvimento de
nossas crianças.
Destacamos, por fim, que embora as professoras tenham apresentado em suas
narrativas terem dias muito difíceis, insatisfação com salário e evidenciarem em vários
momentos a solidão do professor no exercício da docência, demonstram desejo de continuar
no exercício da profissão.
6.1.3 Formação inicial das professoras entrevistadas: disciplina educação infantil e seus
significados para as práticas de avaliar nessa modalidade de ensino
Nos relatos das professoras participantes da pesquisa, sobre sua formação inicial e a
presença de disciplinas que abordassem a temática educação infantil durante esse período,
01professora declarou não ter tido e 10 professoras disseram que sim. Destas, 05 disseram não
se lembrar muito bem do nome das disciplinas que abordavam a temática educação infantil e
se foi abordada como disciplina específica ou em outras disciplinas, relataram não se lembram
dos detalhes. 05 professoras confirmaram ter cursado a disciplina com a temática, trabalhada
em Fundamentos da Educação Infantil, em metodologias e na disciplina de Psicologia foi
abordado o tema. Discutiam o conceito de criança, de infância, os teóricos como Vygotsky,
Piaget e Wallon. Mas, foram unânimes em destacar que a formação inicial não atendeu às
expectativas, que era muito teórica e contribuiu pouco para a formação docente. Vejamos
trechos das narrativas das professoras:
160
[...], mas é assim, eu vejo que fica muito em cima de teoria essas disciplinas.
Na verdade, a prática é muito pouca. [...] eu não fiz estágio na área de
educação infantil mesmo. Eu já trabalhava também, mas [...] eu comecei a
trabalhar e apanhava muito, [...]. A prática mesmo ficava a desejar.
(Professora Izabel, entrevista, 2019, p.2).
[...] não atendeu tanto as minhas expectativas talvez porque eu estivesse
ainda no começo e queria mais experiência pra ter mais instrumentos pra eu
começar a perceber o tanto que aquilo ali poderia ajudar e como ajudar. Que
tipo de avaliação, como atingir determinado aluno, determinada faixa. Então,
a lembrança que eu tenho é que eu esperava mais. (Professora Luiza,
entrevista, 2019, p.2).
No decorrer das análises as professoras destacaram que sentiram muita insegurança,
receio e até medo de trabalharem com crianças tão pequenas. Fazem uma comparação entre o
exercício da profissão de professoras da Educação Infantil e a maternidade, “[...] Nó temos
que ter uma força de vontade muito grande ou ser mãe... eu acho que as profissionais que já
são mães têm mais facilidade de lidar com as crianças pequenas do que quem ainda não é
mãe” (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.1-2).
A representação da docência como “vocação” e “missão” de certa forma
afastou socialmente a categoria dos professores da ideia de uma categoria
profissional de trabalhadores que lutam por sua sobrevivência, prevalecendo
a perspectiva de “doação de si”, o que determinou, e determina em muitos
casos, as dificuldades que professores encontram em sua luta categorial por
salários, dificuldades estas que estão presentes no âmbito social e político,
bem como na cultura intracategoria. Essa representação está associada à
própria gênese histórica da profissão e tem peso não só nas dimensões
materiais dos sistemas educacionais, como também nas “mentalidades dos
professores, suas identidades e suas práticas [...]. (GATTI, 2006, p.233).
De acordo com a narrativa das professoras a dicotomia “cuidar e educar” ainda está
sedimentada, tanto entre a família que busca atendimento neste nível de educação, quanto
entre a própria categoria. Para Bernardete Gatti (2010), essa luta por reconhecimento é
constante e histórica. A separação se evidencia desde a formação inicial dos profissionais da
educação.
[...] nos cursos formadores de professores esteve desde sempre colocada a
separação formativa entre professor polivalente – educação infantil e
primeiros anos do ensino fundamental – e professor especialista de
disciplina, como também para estes ficou consagrado o seu confinamento e
dependência aos bacharelados disciplinares. Essa diferenciação, que criou
um valor social – menor/maior – para o professor polivalente, para as
primeiras séries de ensino, e o professor “especialista”, para as demais
séries, ficou histórica e socialmente instaurada pelas primeiras legislações no
161
século XXI, e é vigente até nossos dias, tanto nos cursos, como na carreira e
salários e, sobretudo, nas representações da comunidade social, da
acadêmica e dos políticos, mesmo com a atual exigência de formação em
nível superior dos professores dos anos iniciais da educação básica. (GATTI,
2010, p.1358).
Essa visão desqualificante afeta os/as profissionais dos anos iniciais da educação
básica, e da Educação Infantil com seu recente reconhecimento no campo das políticas
públicas de direito ao atendimento à infância, esse olhar ainda é mais inquisidor. Temos a
percepção, coadunando com a professora Cecília, que nós, professores/as da educação
infantil, estamos sempre tentando provar, de uma forma ou de outra, a importância da nossa
função, do nosso papel. Tentando constantemente até mesmo entre nossos pares reafirmar
nossa identidade social. Nessa vertente, Miguel Arroio (2000, p.29) escreve que, “somos a
imagem que fazem de nosso papel social, não o que teimamos ser”. Destaca que é um
processo complicado, pois as imagens e autoimagens do professor são diversas e exigem
reconhecer nosso papel, “nosso oficio de mestre de educação,” que não é vocacionado por
Deus, que precisa superar uma herança social historicamente colada ao nosso ofício.
[...] os fios e interesses políticos, sociais, religiosos, culturais em que foi
tecido esse ofício não se desfazem com quereres, discursos, análises e
pesquisas [...]. A Escola Básica, seu cotidiano, a relação com as
comunidades, com as famílias, com os educandos reforçam esse tecido
secular e reforça o próprio imaginário que de si mesmos têm os mestres da
Educação Básica. (ARROYO, 2000, p.30).
Nessa perspectiva, é preciso que nós, professores/as, entendamos que nos
reconhecermos enquanto coletivo social, conscientes da nossa categoria, é o caminho para
mudar a imagem social que fazem e que fazemos de nós mesmos. Conhecer nossa história, o
que nos identifica enquanto trabalhadores da educação e construir nossas raízes, conscientes
do que precisamos avançar.
6.1.4.1 Disciplina avaliação na educação infantil e seus significados para as práticas de
avaliar
Nesta seção serão analisadas as narrativas das professoras acerca das experiências de
terem estudado a temática ou disciplina na formação inicial que abrangesse avaliação na
educação infantil e se os conteúdos estudados contribuem para as práticas avaliativas e formas
de registros na educação infantil.
162
De acordo com as narrativas das 11 professoras entrevistadas foi possível constatar
que 08 professoras disseram ter estudado a temática avaliação na formação inicial e 03
professoras disseram não. A professora Júlia destaca que como o curso de Pedagogia que fez
foi bacharelado e mais seis meses para concluir o Normal Superior, o curso foi voltado para o
1º aos 5º anos e não contemplou discussões sobre educação infantil. Uma professora cursou
Letras e em sua especialização não estudou a temática avaliação na educação infantil, só na
formação continuada.
As professoras que confirmaram ter sido abordada a temática avaliação na graduação,
afirmaram não ter havido aprofundamento e 01 professora disse que os estudos se pautavam
numa concepção tradicional. Em sua opinião aconteceram muitas mudanças de lá pra cá,
lembra que foi nessa época, ano de 2006, que aconteceram as mudanças de nomenclatura de
“séries para anos” e o antigo pré que atendia crianças de 6 anos na Educação Infantil passou
para o 1º ano do Ensino Fundamental82.
[...] eu só fiz a disciplina, não fiz pesquisa em cima do tema, eu
simplesmente completei a disciplina. Estudei as matérias que tinham, mas
Avaliação é uma matéria que muda muito. Acho que cada governo muda.
[...] avaliação que eu estudei era uma avaliação hoje em dia vista como bem
tradicional. (Professora Cecília, entrevista, 2019, p.2).
Em seu relato, a professora Izabel diz que ter estudado a disciplina sobre avaliação no
curso da Pedagogia, mas não contribuiu muito, era muito aleatório os planejamentos e se
preocupava muito em alfabetizar. Em suas palavras “as professoras tinham que virar do
avesso para alfabetizar a criança, então, você usava assim, textos, música, mas você via que
ficava aquela coisa assim, muito picada, não dava sequência”. (Professora Ana, entrevista,
2019, p.3).
Sobre planejamento baseado em datas comemorativas, coadunamos com Barbosa e
Horn (2008, p.38) quanto à importância das escolas repensarem essas práticas que expõem as
crianças em boa parte do ano como “objetos de práticas pedagógicas sem o menor
significado”, o que as autoras chamam de “indústria das festas” e com um agravante, se
repetem todos os anos na educação infantil.
82Lei nº 11. 114, de 16 de maio de 2005 – torna obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de
idade. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006 –dispõe sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino
fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Disponível
em:<http://portal.mec.gov.br/ensino-fundamental-de-nove-anos/313-programas-e-acoes-1921564>. Acesso em:
14 set. 2019.
163
Em setembro, exércitos marcham ao nosso redor com chapéus de papel; na
páscoa, orelhas de “coelhos” enfeitadas com algodão enfeitam as cabeças
das crianças; em abril, é frequente encontrarmos muitos índios saindo das
escolas pintados com três riscos na bochecha (azul, vermelho e amarelo) e
com uma pena na cabeça.[...] os primeiros habitantes do território brasileiro
têm uma cultura que se traduz em um modo de viver, cantar, alimentar-se,
contar histórias, construindo um imaginário mítico que tem grande
significado para nós e com o qual podemos aprender muito, pois é
extremamente rico. Então por que isso acontece? (BARBOSA; HORN,
2008, p. 39-40).
Nesse sentido, argumentamos que essas práticas se tornam sem sentido, pois de acordo
as autoras o adequado seria trabalhar “os conhecimentos sobre os conteúdos das
festividades”, menos datas, mais significação” (BARBOSA; HORN, 2008, p. 39-40)
De acordo com as narrativas, 02 professoras confirmaram que os conteúdos
trabalhados durante o período acadêmico contribuem para a prática docente fundada em
formas de registros ou práticas avaliativas na educação infantil. Mas as práticas que tiveram
experiências nos cursos de formação continuada ajudaram a adquirir mais conhecimento.
As professoras que relataram ter estudado na graduação a temática avaliação na
educação infantil citam disciplinas de metodologias. Narram que os/as professores/as
indicavam leituras e biografias que elas precisavam seguir e davam um norte, mas
aprenderam mais em suas leituras individuais, em suas experiências com seus pares, no dia a
dia, e por mais que a faculdade tenha contribuído, destacam que o que enriquece mais o
trabalho são as práticas.
A partir do entrecruzamento das análises das narrativas das professoras tornou-se
possível tecer considerações sobre a formação inicial, destacando que esta contribuiu de
forma superficial para os estudos sobre avaliação na educação infantil, especialmente acerca
de contribuições para as práticas avaliativas e formas de registros nesta modalidade. As
professoras narraram se deparar com a realidade de trabalho com as crianças muito distante
do visto em sua formação.
Nesse sentido, destacamos que os cursos de Pedagogia precisam atender aos
professores para que tenham bases teóricas e metodológicas na formação inicial como
podemos constatar nos argumentos apresentados por Bernardete Gatti83.
A maioria dos futuros professores não aprende como lecionar. Não recebem
na faculdade as ferramentas que possibilitarão que eles planejem da melhor
83
Gatti. Bernardete: Nossas faculdades não sabem formar professores. ÈPOCA. Disponível em:<
https://epoca.globo.com/educacao/noticia/2016/11/bernardete-gatti-nossas-faculdades-nao-sabe>. Acesso em: 05
out. 2019.
164
forma possível como ensinar ciências, matemática, física, química e mesmo
como alfabetizar. Muitos de nossos professores saem da faculdade sem saber
alfabetizar crianças. É um problema grave. (GATTI, 2016, s/n).
Gatti (2006, p.200), ao falar sobre os cursos de formação inicial de professores/as,
destaca que “a ideia de formação continuada como aprimoramento profissional foi se
deslocando também para uma concepção de formação compensatória destinada a preencher
lacunas da formação inicial.” Aponta que é questionável se a formação proposta nos
currículos dos cursos de Pedagogia contempla as necessidades do futuro professor/a em
relação ao planejamento, ao ministrar as aulas e realizar a avaliação de atividades de ensino,
desde a educação infantil aos anos iniciais do ensino fundamental. De acordo com seus
estudos, há uma “insuficiência formativa evidente” para o desenvolvimento desse trabalho e
mostra dados significativos nesse aspecto:
A licenciatura em Pedagogia responde atualmente pela formação de
professores do 1º ao 4º/5º ano do ensino fundamental e da educação infantil
[...] entre a proporção de disciplinas que cumprem a função de embasar
teoricamente o aluno de Pedagogia, a partir de outras áreas de conhecimento,
e aquelas que tratam de questões ligadas à profissionalização mais específica
do professor. Chama a atenção o fato de que apenas 3,4% das disciplinas
ofertadas referem-se à “Didática Geral”. O grupo “Didáticas Específicas,
Metodologias e Práticas de Ensino” (o “como” ensinar) representa 20,7%
do conjunto, e apenas 7,5% das disciplinas são destinadas aos conteúdos a
serem ensinados nas séries iniciais do ensino fundamental, ou seja, ao “o
que” ensinar. Esse dado torna evidente como os conteúdos específicos das
disciplinas a serem ministradas em sala de aula não são objeto dos cursos de
formação inicial do professor. Disciplinas relativas ao ofício docente
representam apenas 0,6% desse conjunto. É preciso considerar que, na
análise realizada sobre o conteúdo das ementas,1 verifica-se que as
disciplinas que estariam mais ligadas aos conhecimentos relativos à
formação profissional específica também têm em suas ementas uma
predominância de aspectos teóricos, aqueles que fundamentam as teorias de
ensino, contemplando muito pouco as práticas educacionais associadas a
esses aspectos. As disciplinas deste grupo trazem ementas que registram
preocupação com as justificativas sobre o porquê ensinar, o que, de certa
forma, contribuiria para evitar que essas matérias se transformassem em
meros receituários. [...]Há instituições que propõem o estudo dos conteúdos
de ensino associados às metodologias, mas, ainda assim, de forma
panorâmica e pouco aprofundada. Então, mesmo no conjunto de 28,9% de
disciplinas que podem ser classificadas como voltadas à formação
profissional específica, o que sugerem as ementas é que esta formação é feita
de forma ainda muito insuficiente, pelo grande desequilíbrio entre teorias e
práticas, em favor apenas das teorizações mais abstratas. Disciplinas
relativas à “Educação Infantil” representam apenas 5,3% do conjunto [...].
Os cursos estão incorporando tais questões em um conjunto de disciplinas
que acentuam abordagens mais genéricas ou descritivas das questões
educativas, com poucas referências às práticas possíveis e suas lógicas.
(GATTI, 2008, P.1369-1370). (grifo nosso).
165
Entretanto, consideramos relevante, frente à atual conjuntura política em que vivemos,
trazer as contribuições de Kenneth Zeichiner (2013) ao tratar de Políticas de formação de
professores/as nos Estados Unidos. Embora seus escritos digam respeito ao território norte
americano, destacamos como ele mostra que essas políticas afetam vários países do mundo.
Assim como ele demonstra o que vem acontecendo nos EUA, temos presenciado
cotidianamente encaminhamentos no mesmo sentido no Brasil. Como lá, aqui também
presenciamos movimentos que querem “[...] eliminar, por meio da desregulamentação e das
medidas punitivas de responsabilização, o que eles consideram um sistema falido e substitui-
lo pela competição em uma economia de mercado” (ZEICHINER, 2013, p.12). Atuam
atacando e desqualificando as universidades públicas, os programas educacionais e a
pesquisa, com retirada de recursos e incentivos, sendo que o justo seria o contrário.
Concordamos que possam existir cursos e programas de formação de professores/as que
precisariam de ser melhorados, assim como existem excelentes propostas que precisam ser
valorizadas, mantendo o financiamento e a centralidade das instituições públicas na formação
de docentes.
A existência de um forte sistema de escolas públicas é um elemento
essencial de nossa sociedade democrática, e, considerando o que
conhecemos sobre a importância dos professores para a melhoria da
qualidade da educação (National Academy of Education, 2009), formar bons
professores para todas as crianças que frequentam nossas escolas públicas é
uma atividade extremamente importante que deveria estar acima da disputa
ideológica. O que o nosso país precisa é de um sistema de responsabilização
na formação de professores que seja o resultado de uma discussão aberta e
fundamentada e de um debate de diferentes posições sobre os objetivos e os
meios para atingi-los, e uma genuína revisão por pares das descobertas das
pesquisas e das recomendações de políticas. (ZEICHENER, 2013, p.162).
Nesse contexto, o risco também está posto para nós, visto que “[...] existe um perigo
real de que a formação de professores seja transformada em uma mera economia de mercado,
divorciada das universidades, com a fabricação de professores despreparados e temporários
para lecionar nas escolas dos “filhos dos outros”. (ZEICHENER, 2013, p.229). Assim,
reiteramos que é fundamental e urgente a luta para garantirmos a manutenção e o
investimento em melhorias dos cursos das faculdades e das universidades públicas como
forma de garantir esse seguimento tão importante na atualidade e para as gerações futuras a
fim de amenizarmos as desigualdades educacionais e sociais ou até mesmo eliminá-las, como
defende o referido autor.
166
6.1.5 Importância da formação continuada para a prática docente: a visão das
professoras entrevistadas
Sobre a importância da formação continuada para a prática docente, as 11 professoras
consideram muito importante, porém, 06 declaram que não têm feito ultimamente,
justificando falta de tempo, problemas particulares e ausência de formação que atenda suas
demandas nos dias do módulo específico para formação.
As professoras, no total de 07, fazem referência ao Centro Municipal de Estudos e
Projetos Educacionais Julieta Diniz – CEMEPE, como instituição de aperfeiçoamento e
complemento à fundamentação teórica e prática, duas destacam que o Centro supriu mais suas
necessidades docentes do que a formação inicial.
[...] o que eu aprendi realmente, se eu te falar assim a verdade, eu aprendi
mais com os cursos, com a prática, do que com a faculdade, por que com a
faculdade você pega mais só teoria, então você vai aprendendo, quando você
tem troca de experiências nesses cursos, você sabe, você vai aprendendo
muita coisa ali, um com o outro, a socialização com o outro . [...] as mostras
pedagógicas84 que tinham [...] se você vai lá no CEMEPE e fala: eu fui e não
aprendi nada, não... não existe isso. Você aprende sim. (Professora Izabel,
entrevista, 2019, p.3-4).
Citaram que as formações no CEMEPE e em outros espaços contribuíram mais do que
os conteúdos que viram na faculdade. Destacaram que na instituição tem muita teoria, mas a
realidade de uma sala de aula se vê é quando você está atuando “[...] Tudo o que eu vivi e
considerando que foi uma boa faculdade e um bom curso, depois quando eu saí e fui mais
para a prática e fiz outros cursos também eu vi que foi muito pouco. Contribui, mas foi pouco,
pra minha formação.” (Professora Ana, entrevista, 2019, p. 2).
A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento
dinâmico, dialético, entre o fazer e pensar sobre o fazer. O saber que a
prática docente espontânea ou quase espontânea, “desarmada”,
indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um saber de experiência feito,
a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade
84
O Centro de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz – CEMEPE, promovia em seu espaço ou em outros
espaços da cidade de Uberlândia/MG, mostra das práticas didático-pedagógicas da Rede Pública Municipal de
Ensino de Uberlândia, relacionadas à Educação. Essas ações aconteciam a partir das demandas formativas,
vinculadas à melhoria da qualidade do ensino e à superação das dificuldades identificadas, para promover
educação de qualidade e eram asseguradas pelo DECRETO Nº 14.035, DE 29 DE ABRIL DE 2013. Disponível
em:< https://leismunicipais.com.br/a/mg/u/uberlandia/decreto/2013/1403/14035/decreto-n-14035-2>. Acesso
em: 15 nov. 2019.
167
epistemológica do sujeito. [...] por isso, é fundamental que, na prática da
formação docente, o aprendiz de educador assuma que o indispensável
pensar certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de professores
que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo
contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo
próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. (FREIRE, 2015,
p.39).
Nesse sentido, Freire (2015) destaca a importância da formação continuada, pois
nesses espaços os professores/as, de forma coletiva e dialética, têm oportunidades de
refletirem criticamente sobre sua atuação docente e buscarem melhorias para suas práticas
futuras.
Os resultados das análises apresentaram considerações de duas professoras que
levantaram a questão sobre as formações no CEMEPE não estarem atendendo nos módulos85
de acordo a liberação: “[...] eu gosto sempre de estar ativa apesar de que esse último ano não
tem horário que dê de acordo com meu módulo” [...]. (Professora Bianca, entrevista, 2019,
p.2).
O documento Plano de Ação Referência da Educação Infantil (Versão Preliminar) -
2018, (citado na seção III de análise dos documentos), no tópico 2.1 sobre “os princípios e
ações necessários, de cada profissional no cotidiano escolar, para a formação humana que
queremos”, aponta a importância dos/as profissionais buscarem refletir sobre a práxis
pedagógica e investir na formação continuada, entretanto, não vinculam a proposta com a
oferta de condições para as formações. Não fazem referência ao CEMEPE e nem aos módulos
que são garantidos para esses momentos.
[...] importa ressaltar a fundamental relevância da análise, da reflexão
individual e coletiva sobre nossa práxis pedagógica e de nossas escolas, as
quais têm uma expressiva função social, implicando constante processo de
construção, reconstrução e reflexão das nossas concepções, do
conhecimento, dos saberes e fazeres, tendo como perspectiva a formação
humana pretendida. Todas as ações na escola, e para além dela, devem
convergir para essa formação pretendida. Diante do exposto, é necessário
que cada profissional invista em sua formação continuada, de modo a
851º. Para os servidores ocupantes dos cargos de Professor, quando em regência de turma, 1/3 (um terço) da
carga horária semanal de trabalho destina-se a atividades de planejamento, estudo, colaboração com a
administração da unidade, participação em reuniões, eventos de trabalho e outras atividades inerentes ao Projeto
Político Pedagógico da unidade, constituindo assim atividade extraclasse.
2º Dois terços das horas destinadas a atividades pedagógicas consideradas extraclasse de que trata o § 1º deste
artigo poderão ser cumpridas no local de escolha do docente para preparação de aulas, elaboração e correção
de trabalhos e provas, conferência de diários, entre outras. (Grifo nosso). Disponível
em:<https://leismunicipais.com.br/a/mg/u/uberlandia/lei-ordinaria/2014/1196/11967/lei-ordinaria-n-11>. Acesso
em: 27 out 2019.
168
repensar, avaliar e adequar sua prática à realidade em que atua.
(UBERLÂNDIA, 2018, p.17).
Nessa perspectiva, é importante retomar ensinamentos de Freire sobre a concepção de
práxis, destacando a unicidade entre teoria e prática, o fato de que tem finalidade e que “[..]
não é a ação cega. É ação e reflexão. Mulheres e homens são seres humanos porque se
fizeram historicamente seres da práxis e, assim, se tornaram capazes de, transformando o
mundo, dar significado a ele”. (FREIRE, 1981, p.134).
Outro aspecto que merece destaque trata dos resultados que apontaram a relevância da
parceria com a UFU, “sempre participei [...], até agora eu estou fazendo uma que, é em
parceria com a ESEBA, sempre tem um curso que eu posso e que coincide com o horário com
a gente, do módulo “onde melhor lhe convier” eu gosto de fazer”’. (Professora Rebeca,
entrevista, 2019, p. 4). Uma professora destaca que tem buscado embasar sua prática nas
trocas de experiências que foram positivas, tanto da escola pública, quanto particular que já
atuou [...], “eu ouço muito as pessoas que têm experiências, eu gosto de conversar, eu gosto
muito de trocar experiências. (Professora Ana, entrevista, 2019, p.2-4).
A professora Laura (2019) destaca que para embasar sua prática docente, tem buscado
suporte em um curso online em que está inscrita. Já participou de vários cursos de educação
especial, tecnologia digital, gestão democrática e educação infantil e agora está participando
de um outro que é sobre autismo. Salienta que o curso não trata só do tema autismo, aborda
outros tipos de necessidades educacionais e tem contribuído muito para a atuação em sala de
aula. Também tem lido livros e textos sobre o curso e adora leituras mais direcionadas para as
aulas, como livros de histórias infantis que gosta de ler e contar para as crianças (Professora,
Laura, 2019, p.3).
De acordo com Saviani (2007, p.3), “a prática é a razão de ser da teoria, o que
significa que a teoria só se constituiu e se desenvolveu em função da prática que opera, ao
mesmo tempo, como seu fundamento, finalidade e critério de verdade” (SAVIANI, 2007,
p.3). Nesse sentido, destacamos que as professoras, ao reforçarem a importância da formação
continuada, apontam que esta, de certa forma, tem atendido tanto às suas necessidades de
complementar as lacunas referentes à formação inicial, quanto às dificuldades enfrentadas no
decorrer de suas práticas docentes. A formação continuada tem o seu valor por si só, é uma
das formas de valorização do/a profissional já atuante e também o apoio para o seu
aperfeiçoamento no exercício da profissão docente. Um direito do/a profissional e um dever
do Estado que deve ser garantido de acordo com a LDB.
169
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais
da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos
planos de carreira do magistério público: I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; II-aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento
periódico remunerado para esse fim; III - piso salarial profissional; IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação
do desempenho; V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na
carga de trabalho; VI - condições adequadas de trabalho (BRASIL, 1996, p. 21). (Grifo nosso).
A lei deve ser cumprida, basta que a categoria se fortaleça para que se possa lutar por
esse ideal. Entendemos, desse modo, que a formação inicial tem um papel importantíssimo e a
formação continuada outro: o de ampliar os conhecimentos adquiridos na formação inicial e
trazer reflexões para o/a professor/a e apoiá-lo/a em suas práticas pedagógicas. Um espaço
importante de possibilidades de socialização de saberes necessários à prática docente, de
tomada de consciência quanto a nossa condição de seres “inacabados, inconclusos”, segundo
Freire (2015, p.50). Sob nossa responsabilidade de professores éticos e conscientes de nosso
“inacabamento” pesa a busca por meios e condições de intervir para transformar realidades
sociais e não aceitar determinismos.
6.1.6 Narrativas sobre as crianças, concepções e práticas de avaliação adotadas pelas
professoras entrevistadas
Analisando as narrativas das professoras sobre os/as alunos/as e suas participações
durante as aulas, a maioria relata que são crianças participativas, carinhosas e meigas e que
tem crianças muito positivas no sentido de participação e socialização. Três professoras
destacaram o número elevado de alunos/as que este ano foi matriculado no 1º período sem
nunca terem frequentado a escola, “[...] meus alunos, do ano passado pra cá, eles mudaram
muito. Tem uma faixa etária que mudou, né, porque passou uma criança muito prematura,
muito assim novinhas, e veio crianças com dificuldades de fala, de aprendizagem, dificuldade
até mesmo de sentar. [...]”. (Professora Izabel, entrevista, 2019, p.6). Segundo as professoras,
essa mudança apresentou um diferencial na dinâmica da sala e elevou o nível de dificuldade
para ensinar, associado à ausência do apoio da família no exercício da docência, como
podemos contatar nos fragmentos abaixo:
170
[...] esse ano eles são assim, novatos. Nunca estudaram. Então, vejo que, tem
crianças imaturas. Eles chegam na escola, sem saber o que que é escola, para
que uma escola... eles vão... a família manda também para... parece que, eu
tenho que mandar, eu tenho que trabalhar, eu vou levar meu filho para a
escola, mas eu não preciso dar apoio para eles [...] (Professora Carolina,
entrevista, 2019, p.2).
A análise das narrativas destacadas nos permitiram inferir que esse “diferencial” tem
relação com a orientação legal em decorrência da obrigatoriedade86 de se matricular as
crianças a partir dos 04 anos de idade na educação infantil. “[...] meus alunos esse ano, eles
são novatos, nunca estudaram”. (Professora Carolina, entrevista, 2019, p.2).
Consideramos importantes nessa análise as contribuições de Luciana Ranuzzi (2019),
pois em recente dissertação de mestrado, escreveu sobre essa questão com base na própria
experiência, “[...] minha filha Gabriela estava passando na escola. Foi assim que percebi que
existe um problema nesta mudança de faixa etária, [...]”. (RANUZZI, 2019, p.17). Foi nesse
contexto, de acordo com Ranuzzi (2019), que a Câmara de Educação Básica, mediante a
Indicação CNE/CEB nº 1/2018, de 9 de agosto de 2018, criou uma regra estabelecendo data
limite para matricular crianças que completassem 4 anos de idade até 30 de junho. Narra, “[...]
até que com a idade de 3 anos e meio, com a interpretação da Lei, modificando o corte etário
para 30 de junho, a minha filha Gabriela foi transferida para o 1º período da Educação
Infantil, pois a data de nascimento dela é dezenove de junho de 2014.” (RANUZZI, 2019,
p.17). Sua percepção e angústia, quanto às consequências desses ordenamentos não serem
positivos, se apresentam em sua narrativa:
Após esta mudança, percebemos que ela não estava mais contente com a
escola. Além da troca de coleguinhas, notávamos um desinteresse em ir à
escola e, no término da aula, estava sempre chorando e desesperada para ir
embora. Procuramos entender o que estava acontecendo, e percebemos que
todo o cenário da sala de aula estava diferente do ano anterior que a Gabriela
estava acostumada. Na sala de aula, onde antes havia muitos brinquedos
espalhados pelo chão, já não havia mais, tinham carteiras e cadeiras para se
sentar e fazer atividades prontas como recortar e colar. Também, não existia
mais a presença da auxiliar que ajudava a professora nas diversas tarefas da
sala. Somente estava presente a professora regente. Para ir ao banheiro, ela
tinha que ir sozinha. Muitas vezes, chegou em casa apresentando assaduras,
por não conseguir limpar-se sozinha quando ia ao banheiro. Ficamos muito
preocupados, e não sabíamos como agir.
86
A Emenda Constitucional nº 59, alterou a LDB/96 através da Lei no 12.796, de 4 de abril de 2013. Art. 6º,
definindo, “É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade. Disponível em:<https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/1034524/lei-12796-
13>. Acesso em: 17 out 2019.
171
Nas reuniões, percebemos que todas as crianças que também tinham passado
pelo corte etário, estavam desestimuladas e os pais, preocupados.
Percebemos ainda que os momentos de interação e brincadeiras também
foram reduzidos. (RANUZZI, 2019, p.18).
Entrecruzando a análise das narrativas das professoras entrevistadas com a narrativa da
pesquisadora/mãe Ranuzzi, analisamos que os fatos se convergem.
[...] é um agravante que aconteceu, crianças que não eram pra estar na minha
turma, eram pra estar no primeiro período e estão comigo, são crianças
avançadas, são os filhos da transição, são crianças do G3, mas foram
avançadas, aceleradas lá no primeiro período e estão no segundo período. Aí
acontece o problema de avaliar a criança de acordo com os conteúdos
oferecidos no segundo período. (Professora Larissa, entrevista, 2019, p.4-5,
grifo nosso).
Consideramos, portanto, dois fatores que podem ter provocado as mudanças
evidenciadas pelas professoras e pela pesquisadora, ressaltando que um é decorrente do outro:
está chegando na escola muitas crianças “novatas”, que nunca viveram a experiência escolar
formal e, portanto, apresentam demandas diferentes em relação às crianças que já têm um
histórico anterior em instituições de atendimento à infância/escolas infantis. Muitas entram no
berçário, passam pelos agrupamentos de GI, GII e GIII, seguindo para o 1º período, idade que
a exigência da Lei 12.796/13 atinge. Em 9 de outubro de 2018, o MEC emitiu em a Resolução
Nº 287, na qual “reafirma e consolida a regulamentação do corte etário para matrícula de
crianças na pré-escola e no Ensino Fundamental respectivamente”, com data limite para as
crianças que completam 4 e 6 anos de idade até 31 de março. Podemos avaliar que essas
mudanças refletiram de forma marcante nas práticas dos/as professores/as, na dinâmica da
família e, principalmente, na aprendizagem e desenvolvimento das crianças, os “filhos da
transição”.
87
Define Diretrizes Operacionais complementares para a matrícula inicial de crianças na Educação Infantil e no
Ensino Fundamental, respectivamente, aos 4 (quatro) e aos 6 (seis) anos de idade.- Art. 2º A data de corte etário
vigente em todo o território nacional, para todas as redes e instituições de ensino, públicas e privadas, para
matrícula inicial na Educação Infantil aos 4 (quatro) anos de idade, e no Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos de
idade, é aquela definida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, ou seja, respectivamente, aos 4 (quatro) e aos 6
(seis) anos completos ou a completar até 31 de março do ano em que se realiza a matrícula. BRASIL/MEC.
Resolução CNE/CEB 2/2018. Diário Oficial da União, Brasília, 10 de outubro de 2018, Seção 1, p. 10.
Disponível em:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=98311-rceb00.
Acesso em: 20 out 2019.
172
6.1.6.1 Concepção de avaliação
Sobre as concepções de avaliação que permeiam suas práticas em sala de aula. Das 11
professoras entrevistadas 06 narrativas apontam que a avaliação na educação infantil é
contínua, processual, diária. É quando o/a professor/a de forma sistemática acompanha com
olhar atento e observador a aprendizagem e o desenvolvimento de seus/sua alunos/as com a
intenção de se realizar uma intervenção pedagógica significativa. Destacamos, nesse sentido,
as narrativas que ilustram as concepções citadas. [...] avaliação que eu faço, ela é de
observação diária. [...] ela é processual e contínua, então eu vou observando [...]. Observo: a
criança regrediu, estagnou ou ela está avançando? De acordo com o potencial dela. Isso aí é o
que eu faço. (Professora Larissa, entrevista, 2019, p.9).
De acordo com Jussara Hoffmann (2015, p.17), a “observação, reflexão e mediação
[...] princípios, que embasam a avaliação norteiam o planejamento, as propostas
pedagógicas e a relação entre todos os elementos da ação pedagógica”. Nesse sentido,
analisamos que a professora Luiza, ao demonstrar consciência do seu papel de mediadora no
processo apresenta entendimento que não se avalia o/a aluno/a, mas as situações de
aprendizagem ou não, as oportunidades oferecidas a ele/a e a sua participação no processo,
“[...] acho que é isso, você buscar o que eles estão precisando, o que você precisa acertar[...]
você não pode só avaliar a criança, você tem também que avaliar o que você passa para ela,
porque as vezes a gente avalia muito a criança mas esquece do que que a gente tá
fazendo,[...]”. (Professora Luiza, entrevista, 2019, p.10).
Hoffmann destaca que o “processo avaliativo no dia a dia das crianças e do
professor, e os registros de avaliação, ao longo de um período de trabalho e ao final desse,
serão coerentes aos princípios apontados enquanto respeitarem a própria dinâmica da
construção do conhecimento”. (HOFFMANN, 2015, p.92),
Importante destacar que nos deparamos com narrativas que abordam a concepção de
avaliação, como suporte, para ajudar o trabalho do/a professor/a na estruturação do
planejamento de suas aulas, exclusivamente sem citar o/a aluno/a na sua aprendizagem e
desenvolvimento. Inferimos haver uma incoerência nesse sentido visto que, o planejamento
seria para facilitar a aprendizagem e desenvolvimento.
[...] a avaliação para mim na educação infantil é diária. A gente vai vendo,
vai construindo, fazendo o planejamento e ela direciona o trabalho da gente
[...], é crescimento. A avaliação na educação infantil, ela é o crescimento da
gente, a realização do nosso trabalho, porque sem ela, você não consegue
fazer o plano seguinte. Se você não preparar ali, a avaliaçãozinha do dia, de
173
como foi o seu dia pra próxima aula, você não consegue trabalhar na
próxima aula. Acho essencial. (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.6-7).
A professora Larissa aborda o que Jussara Hoffman define como uma das incoerências
ao realizar uma prática avaliativa, que é “[...] partir de uma visão fragmentada do
desenvolvimento infantil ou padronizada, que leve a comparações e julgamentos sobre
atitudes e comportamentos, os quais são muito variáveis de uma criança para outra”.
(HOFFMANN, 2015, p.40-41). A análise nos possibilitou trazer aportes quanto a esta questão
apresentada nos recortes de sua narrativa.
[...] não posso medir o conhecimento dela baseado naquilo que eu tenho,
daquilo que eu vou propor, não posso fazer comparações, fazer comparações
de uma criança que está na idade certa, adequada com ela, e é complicado
isso aí, porque aí fica complicado. Na hora de você planejar, porque eu tenho
crianças que estão com a cognição dela... que a maturação dela aqui ó,
cognitiva tá tão assim, preparada [...], mas tem crianças que não conseguem.
(Professora Larissa, entrevista, 2019, p.10).
Nesse sentido, tecemos considerações de acordo com Hoffmann (2015) ao afirmar
que, ao avaliar não se deve fazer comparações da criança em relação a seus pares. Fazemos
comparações da criança sim, mas em relação a ela mesma. Aos seus avanços ou dificuldades
que precisam ser observadas, refletidas e retomadas em forma de intervenção para a
promoção de sua aprendizagem, e não a comparar com as outras crianças.
A professora Laura destaca em sua narrativa o papel primeiro da observação, aponta a
necessidade de o/a professor/a buscar fundamentação teórica que irá contribuir na
estruturação do relatório final, a que ela se refere como “avaliação que acaba sendo o
relatório”. Entendemos, também, que ela evidencia em sua narrativa o conjunto de
procedimentos que o/a professor/a poderá lançar mão para auxiliá-lo/a na estruturação do
documento final.
[...] eu acredito muito na observação [...] quanto mais a gente estuda, mais
fácil é de elaborar a avaliação. Porque a avaliação da educação infantil é só
uma observação mesmo. Você faz a descritiva, quando você vai descrever,
tem esses termos que como se diz, uma professora lá no CEMEPE, da
educação especial, são os termos científicos, bonitos que você coloca no
relatório da avaliação. Porque a avaliação acaba sendo o relatório, porque
você vai juntando, talvez hoje você observou uma coisa, você vai anotar
aquilo você observou, você acha que faz parte da sua observação, quando
você vê aquele tanto de coisa, vira um relatório. (Professora Laura,
entrevista, 2019, p.6). (grifos nossos).
174
Buscamos em nossa fundamentação teórica os aportes de Richter, Mota e Mendes
(2003), que ao defenderem a prática avaliativa na educação infantil, destacam o processo de
observação, registro e reflexão sobre o desenvolvimento na infância, com intuito de
proporcionar meios ao/a professor/a de refletir sobre sua prática pedagógica. O que Hoffman
(2015, p. 106-114), chama de “ação reflexiva”, apontando como o primeiro passo a
observação diária, o registro das ações, seguida de revisão e análise das anotações para uma
retomada, que resulte em melhoras nas práticas do professor e consequentemente nas
aprendizagens.
A professora Cecília, quanto à sua referência sobre avaliação, destaca ser a tradicional,
“a prova?” Pergunta para a pesquisadora. Mas entende a necessidade de na educação infantil a
avaliação ser diária, contínua. Vê o planejamento como uma prática importante e cita a
avaliação como norteadora do trabalho. Porém, ao mesmo tempo que cita, “ela direciona o
trabalho” e se contradiz afirmando ser necessário mais do que a avaliação para direcionar o
trabalho. “Se a gente tivesse um caminho já...” ah... tem que chegar lá... uma ponte...”. Seria
bem assim, pra gente direcionar o trabalho seria mais fácil, além da avaliação. (Professora
Cecília, entrevista, 2019, p. 6). Nessa vertente, nos deparamos com as narrativas de
professoras que sugerem instrumentais ou roteiros que facilitem suas práticas diárias quanto à
avaliação e registros de suas observações. “[...] a avaliação, ela é feita diariamente, todos os
dias, mas, eu acho que pra fazer aquele fechamento ali no final do ano... no meio do ano, a
gente deveria ter um instrumental pra gente ir baseando naquele instrumental pra gente
não ficar muito perdido. [...]. (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.6-7). Inferimos que o
registro também precisa ser processual. Não podemos perder as oportunidades de registrar,
identificar as necessidades de intervenção e, de fato, intervir no momento oportuno. Para isto
serve a avaliação.
Visto que foi um número considerável de professoras entrevistadas que demonstraram
sentir a falta dos instrumentais anteriores, roteiros, fichas de marcar X, buscamos opiniões
pertinentes nos aportes de Hofmann (2015) sobre esse tema:
Não há como se observar o desenvolvimento das crianças a partir de uma
lista de comportamentos e habilidades a serem analisados e julgados em uma
escala classificatória [...] Por mais que os professores tentem “encaixar as
crianças” num rol padronizado de expectativas, encontrarão pela frente o
inusitado, o inesperado, diferentes reações das crianças a cada situação
vivida por elas. (HOFFMANN,2015, p.45-46).
175
Em contrapartida, a professora Larissa (2019), em sua narrativa, aborda uma questão
fundamental que nós, professores/as, necessitamos nos ater ao realizarmos uma avaliação,
seja na educação infantil ou em outros níveis da educação básica. Ao abordar o contexto
social, no qual a criança está inserida, demonstra e confirma aspectos das bases teóricas, para
as quais buscamos suporte, a impossibilidade de práticas avaliativas pautadas em
“instrumentais ou roteiros” padronizados atenderem às expectativas de uma avaliação
formativa.
[...] cada criança tem um contexto social, e fazer avaliação formativa não
condiz com práticas que utilizam do recurso de colocar aqui... sublinhar aqui
de vermelho, colocar um X “aprovado, reprovado, péssimo, bom, ótimo,
regular, insuficiente, excelente, fraco[...], antes eu avalio aqui porque que
ele está com a fala infantilizada?, porque que ele não fala água e ele fala
aguinha? Por que ele não fala obrigado e fala Obligado? Ou então porque ele
chega pra mim e eu olho que tem um hematoma e ele fala foi a minha mãe
que fez. Eu olho as pernas... então, agora olho isso com outros olhares...eu
vou...tem algo por de trás disso aqui. Tem algo por de trás, tem algo por de
trás. Antes dele colocar isso para mim tem um estudo que eu faço, uma
leitura da criança. (Professora Larissa, entrevista, 2019, p.3).
Podemos observar narrativas que desmontaram uma concepção de avaliação punitiva,
pautada no comportamento das crianças, [...] na educação infantil não tem como você cobrar
da criança como no sentido de punição, [...] cada criança é uma criança. (Professora Bianca,
entrevista, 2019, p.5).
[...] eu acho que elas avançam em todos os sentidos, tanto no
comportamento quanto na maturidade e eu acho que essa avaliação durante
todo esse processo, apesar de que tem uns poucos que né? a gente vê que dá
uma revoltazinha tanto de comportamento...acho que é isso, é uma
análise, faz outra análise e ajusta as coisas pra ir andando[...]. (Professora
Luiza, entrevista, 2019, p.10). (Grifo nosso).
Nesse contexto, Jussara Hoffmann tece considerações fundamentais que podem
contribuir com nossas análises no sentido de ancorar as ações avaliativas no cotidiano escolar.
Não há como se falar em ação avaliativa, como acompanhamento e
mediação, desvinculando-a do cotidiano da ação educativa e da dinâmica da
construção do conhecimento. Ela não pode ser entendida como um momento
ao final do processo, em que se verifica onde a criança chegou, definindo
sobre ela uma “lista de comportamentos ou capacidades”. [...]
(HOFFMANN, 2015, p.45-46).
Foi possível tecer considerações quanto às narrativas das professoras entrevistadas em
relação ao papel do/a professor/a e que se pautaram no acompanhar constantemente a criança,
176
observar e ter uma percepção aguçada para poder avaliar, destacam o processo tendo que
acontecer desde o momento que a criança iniciou sua vida escolar, em consonância com a
concepção de avaliação mediadora. As análises demonstram também professoras que tecem
uma crítica aos roteiros que padronizam as crianças como se todos fossem iguais e
aprendessem da mesma forma e ao mesmo tempo, mas apresentam dúvidas sobre o que
avaliar, como avaliar e porque avaliar.
Podemos inferir que há professoras que apresentam dúvidas sobre a avaliação ser
direcionada para acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, ou para
promoção da criança para a etapa seguinte: o ensino fundamental, sugerindo que deviria haver
provas e reprovação.
[...] eu não sei muito sobre avaliação, só sei que... sabe o fundamento
teórico? Não foi falado pra gente, a gente sabe que o aluno tem que fazer
prova, ser avaliado todo dia pra que ele possa passar, não é isso? Muitas
vezes no ensino fundamental? Eu acho que ainda tem que continuar desse
jeito, porque no Estado, aquele aluno que não sabe e que não tem interesse,
eu acho que ele tem que ser reprovado, não tem que passar esse aluno, que
profissional que a gente vai ter futuramente se esse aluno não tiver a
consciência que é importante estudar? (Professora Bianca, entrevista,
2019, p.12)
Analisamos, neste contexto, que as professoras apresentam terminologias e ações que
remetem a concepções de avaliação formativa, mediadora. Assim como sinais ou resquícios
de avaliação com sentido de punição e pautada em comportamentos desejáveis da criança e
não pensada para promover a aprendizagem e o desenvolvimento. Nesse sentido, importante
destacar, com bases em Freitas (2003), que a escola capitalista cumpre seu papel
perfeitamente. A professora não está fora do sistema e por isso faz sentido reconhecer lógica
apenas em uma avaliação excludente. Resta-nos buscar compreensões e respostas no decorrer
das análises sobre qual o entendimento para elas, da avaliação na educação infantil, a fim de
identificarmos também suas dificuldades e possibilidades de intervenções.
6.1.6.2 Relatos sobre práticas avaliativas e as formas diversificadas de registros inseridas
nos planos/planejamentos de aula
A respeito das atividades que constavam em seus planos de aula, das 11 professoras
entrevistadas, 07 professoras afirmaram realizar planejamento semanal em que organizam a
rotina semanal de acordo com os horários que já são fixados pela coordenação pedagógica, no
qual constam as áreas externas, os momentos de biblioteca, cantinho da natureza, parque,
177
quadra, cantos externos e acrescentam o que vão trabalhar, de acordo com seus projetos. A
professora Ana e a professora Laura citam que usam o portfólio. A professora Laura narra que
tinha muita dificuldade com atividades prontas que eram muito usadas antes, então agora ela
pesquisa muito e faz uma colocação interessante.
[...] o portfólio dos meus alunos desse ano, percebemos que ele está mais
colorido, porque as atividades das crianças, eu acredito que tenho melhorado
bastante[...] quando vou elaborar eu já penso na realidade da sala primeiro.
O que o meu aluno sabe? O que eu posso fazer pra aprimorar sem puxar
demais e nem ficar estacionada? Quando eu vou elaborar eu já penso na
realidade da sala primeiro. Tenho sentido a necessidade na sala de retornar
algumas coisas porque tem crianças que não conseguiram caminhar junto
com as outras, então quando vou elaborar tarefa eu penso assim, como é que
ele está? (Professora Laura, entrevista, 2019, p.7-8).
As professoras Vitória e Izabel, afirmaram realizar planejamento diário, sem muito
objetivos, pautados em tópicos e nos temas trabalhados em sala e lista de conteúdo.
[...] meu planejamento não é aquele... cheio de objetivos, faço uma lista o
que vou trabalhar, a gente faz alguns textos coletivos, os tópicos que eu vou
trabalhar e o registro. [...]. (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.8).
[...] É. Em cima dos temas trabalhados na sala de aula [...] (Professora
Izabel, entrevista, 2019, p.13).
Duas professoras destacam que elaboram o planejamento contemplando os eixos do
RCNI/98. Destacamos um fragmento da narrativa da professora Luiza, embora seja um pouco
extenso, consideramos ser importante apresentá-lo por se tratar de um tópico mencionado no
corpo do trabalho, na análise documental, sobre a forma de estruturação e apresentação dos
relatórios descritivos:
[...] faço planejamento semanal, então, eu faço plano voltado pro projeto? Eu
procuro, porque naquele quadro que a gente recebe da prefeitura, por
exemplo, eu tenho na terça... na quarta eu tenho... no planejamento nós
temos os conteúdos que é separado, igual, na quarta eu tenho linguagem oral
e escrita, na quinta eu tenho matemática e na sexta eu tenho natureza e
sociedade só que nunca dá pra fazer tudo aquilo. Eu tenho que fazer e
colocar lá. (então é separado pra você o dia que você tem que trabalhar tal conteúdo?).
(Pesquisadora). Pra lançar no diário, mas fica aquilo assim, nunca dá certo... às vezes na
sexta dá, natureza e sociedade, mas eu nunca sigo... eu procurei seguir assim,
mas não fico muito naquilo não. [...] (Porque você acha que não deu pra
seguir?). (Pesquisadora). Porque eu fico assim, por exemplo, eu trabalhei aquilo ali na linguagem oral
escrita no outro dia eu vou continuar, não deu pra continuar matemática. E
178
eu acho assim, não dá pra você separar, você faz uma coisa e no outro dia
você já faz outra, não tem aquele negócio sabe? [...] eu acho que aquilo lá é
mais pra você colocar no diário? Não tem jeito, porque na tarefa você
trabalha várias coisas, numa rodinha você faz várias coisas, então não tem
como você trabalhar só aquilo naquele dia. E tem muito mais coisas além
daquilo que eles colocam, não é só natureza e sociedade, matemática nem
linguagem oral e escrita, é bem amplo. ((Professora Luiza, entrevista, 2019,
p.8-9).
A relação ora estabelecida diz respeito à forma de organização do currículo pautada
na Orientação nº. 01/junho de 2015 da Superintendência Regional de Ensino-
Uberlândia/SRE/UDIA e mais especificamente ao documento nomeado inicialmente de
Relatório do Processo de Construção do Conhecimento do(a) Aluno(a), que foi elaborado
com base no RCNEI/98 e trazia a proposta de estruturação do documento e do currículo,
com campos já definidos, padronizados para todas as crianças, com base no
desenvolvimento de habilidades (Eixos) e separados, compartimentados. Os dados apontam
que, mesmo com a reestruturação oriunda da orientação nº. 01/novembro de 2015 da
Secretaria Municipal de Educação/SME/UDIA, e também do memorando nº 2282/2017-
SME/CIE-circular88, modificando a forma de fazer o registro que deveria ser individual e
ressaltar os avanços qualitativos da criança, articulando o desenvolvimento e a
aprendizagem de maneira a contemplar os âmbitos das experiências e todos os Eixos
Curriculares, a forma como vem sendo entendido e registrado não condiz com as
orientações anteriores e não estão em consonância com as direções apontadas no Plano
Referência/2018, da rede. (UBERLÂNDIA, 2016)
Esses registros permitem aos profissionais da educação a busca por novas
formas de intervenção para auxiliar as crianças em seu processo de
desenvolvimento e não visa classificá-las ou categorizá-las em níveis ou
estágios de desenvolvimento com base no que deveriam ou não estar
fazendo ou sabendo em uma determinada faixa etária, mas compreender o
processo de aprendizagem de cada criança, considerando suas
características individuais. (UBERLÂNDIA, Plano Referência, 2018,
p.51).
Essa análise se baseia nos relatos que apontam que a forma como foi estruturado o
referido documento “relatório descritivo”, levou ao entendimento, por parte das
professoras, ao realizar os planejamentos, os registros nos diários, e até mesmos nas
práticas, uma visão fragmentada e compartimentada desconsiderando a criança na
perspectiva da totalidade.
88Memorando em Anexo E.
179
Retomando, de acordo com as falas das 11 professoras entrevistadas todas consideram
que as práticas avaliativas e as formas diversificadas de registros podem auxiliar no processo
de avaliação de seus/suas alunos/as. Para Barbosa e Horm (2008, p.103), “o acompanhamento
das aprendizagens precisa ser realizado constante e sistematicamente”. Portanto, diferentes
tipos de procedimentos, como a “observação, o registro e a análise[...] ajudam no processo de
detalhamento e na criação de pontos de vista diferenciados”.
Sobre os registros, as professoras descreveram que utilizam atividades sobre os temas
trabalhados nas aulas, atividades manuais das crianças, a escrita ou tentativa de escrita,
observação nos grupos de brinquedos ou quando leem histórias, pedem para as crianças
fazerem desenhos. A professora Bianca (2019, p.10) diz que o registro que utiliza são as
anotações na rodinha de conversa e tem uma agenda em que escreve “o que a criança falou”,
porque acaba que é importante para facilitar na hora de fazer o relatório final. Os registros vão
acontecendo de acordo com o que os projetos vão caminhando.
De forma geral, descrevem que realizam práticas avaliativas todos os dias, fazem
registros individuais, ouvem as falas da criança e vão anotando. Utilizam atividades
trabalhadas em sala, textos, frase, observação da criança, do grupo, das brincadeiras, fotos das
atividades, cartazes, produção de texto usando as fotos, folha xerocada, dobraduras, desenho
das crianças, cadernos das crianças, confecção de objeto relacionado aos projetos em
desenvolvimento, jogos. Destacamos a forma como citam o relatório, alguns relatórios,
pequenos relatórios, relatório final. “[...] eu particularmente faço alguns relatórios, dou
uma atividade, aí eu tiro fotos, faço um relatório daquele dia, uso o relatório ponho a foto. E a
gente faz também o relatório final, das aprendizagens das crianças.” (Professora Vitória,
entrevista, 2019. p.3).
[...] Eu sempre tento fazer uma atividade de registro sobre o tema. [...]
Quando eu leio histórias às vezes eu peço as crianças para fazer desenho, eu
acredito que isso também seja uma forma de registro. Essas são as formas.
[...]. O Registro é o... faço o relatório e as práticas é o registro diário das
atividades. (Professora Júlia, entrevista, 2019, p.4).
[...] As práticas avaliativas são observações e os relatórios que eu adoto.
[...] as atividades dessas crianças [...] fotos é um registro assim que quando
você olha a foto você lembra o que aconteceu. [...]a atividade das crianças:
antes eu fazia aquele negócio xerocado. Agora não, [...]. (Professora Laura,
entrevista, 2019, p.3-9, grifo nosso).
Todas as professoras citam a observação como procedimento constante em suas
práticas avaliativas. “Observar, pensar e dar continuidade às ações educativas é bem diferente
180
de observar o grupo para ver se as crianças gostaram ou não da atividade, agiram ou não de
determinada maneira, se alcançaram ou não os “resultados” esperados pelo professor ao
término de uma situação proposta”. (HOFFMANN, 2015, p.51).
Observar não é invadir o espaço do outro, sem pauta, sem planejamento nem
devolução e muito menos sem encontro marcado...Observar uma situação
pedagógica é olhá-la, fitá-la, mirá-la, admirá-la, para ser iluminado por ela.
Observar uma situação pedagógica não é vigiá-la, mas sim fazer vigília por
ela, isto é, estar e permanecer acordado por ela, na cumplicidade da
construção do projeto, na cumplicidade pedagógica. (WEFFORT, 1996, p.4).
Três professoras fazem referência ao fato de terem uma agenda ou caderno específico
para anotarem as observações sobre seus/as alunos/as durantes as aulas, “[...] eu gosto de estar
sempre com um papel e a caneta do lado, [...]. Quando eu faço os relatórios das crianças eu
já vou naquelas anotações [...]” (Professora Laura, entrevista, 2019, p.7).
[...] observando as crianças que não tá dando conta, então eu vou avaliando
e vou anotando os nomes daquelas crianças que está com dificuldade. [...] a
gente tem uma sondagem inicial, que a gente fala... atividades diagnósticas,
ali no início. [...] registrar, eu anoto no meu caderno as observações em
relação às crianças, tem o registro que já é a forma, vamos dizer mais
oficializada ali, que é da tarefa xerocada ou desenho [...] eu tenho, um
caderno de apoio, todas as crianças têm esse caderno, e eu uso tanto em
tarefas diárias como tarefa de casa e os pais já sabem que eles não tem que
priorizar a forma de registro, só do que é chamado de portfólio da escola...
aquilo que é encadernado também... fotos... [...] eu uso... ditado, a
tentativa de escrita, é... gosto muito de dar assim, jogos, leitura de
imagem também você avalia a criança, coloco uma imagem ele vai avaliar
e vai te contar o que vai acontecendo, os elementos que estão ali, aquele
cenário... eu uso muito o visual, concreto mesmo, dou um probleminha, de
colocar, quatro joaninhas na pétala da flor... uma se assustou com um
camaleão e escondeu, quantas ficaram brincando na pétala? Isso pra eles é
surreal [...] (Professora Larissa, entrevista, 2019, p.9-10, grifo nosso).
De acordo com as narrativas das professoras, as formas de registros diversificadas
ajudam muito porque cada criança aprende de uma forma. Então, não é possível para avaliar a
criança só por uma atividade que ele consegue escrever. Muitas vezes há crianças que se
expressam bem oralmente, mas têm dificuldade na escrita, outras são introvertidas, não falam
nada, mas na escrita e no desenho é ótimo, então é diferente, [...] “você tem que avaliar cada
criança de uma forma específica e individual e aproveitar da criança o que ela tem de melhor,
não é?” (Professora Rebeca, entrevista, 2019, p.14). A professora Rebeca destaca que os/as
professores/as precisam ter visão para extrair dos seus alunos o que eles têm de melhor, ver se
o potencial deles é na escrita ou no desenho, na interpretação e avaliar de acordo com que
observaram.
181
Nesse sentido, analisamos que as narrativas acima apresentam elementos em que a
consonância com a BNCC (2017) traz orientações quanto às práticas avaliativas, às formas de
registros, os sujeitos envolvidos no processo, como se deve proceder, assim como a
intencionalidade da avaliação na educação infantil.
[...] é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens das
crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo
o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por
meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos
professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias,
desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o
período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de
crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou
“imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos,
espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas
as crianças. (BRASIL/BNCCC, 2017, p. 39, grifo nosso).
A análise possibilitou percepções em relação ao entendimento das professoras em
relação ao portfólio, que se divergem entre elas quanto à função e sua finalidade. Barbosa e
Horn (2008, p.112) escrevem que “os portfólios não são apenas a seleção dos materiais. É
preciso apreciar, analisar, interpretar, construir sentidos, planejar o futuro, criar uma narrativa
afinal”.
[...] A gente faz o portfólio, com os alunos. Então acho que através do
portfólio e do relatório final mesmo, esse que a gente adota na escola, mas
eu tenho anotações do meu cotidiano pra facilitar essa elaboração, pelo
menos eu tento, não é todos os dias. (Professora Bianca, entrevista, 2019,
p.10-11).
[...]. E o registro que eu faço é esse registro. Faço registro escrito e também
de atividades, mas fica pra mim, não coloco no portfólio deles, porque fica
meio assim... bem do jeito deles. (Professora Luiza, entrevista, 2019, p.10-
11, grifo nosso).
Nesse sentido, de acordo com as narrativas das professoras entrevistadas foi possível
tecer considerações, as quais destacamos a seguir. Confundem anotações diárias das
observações com relatórios, o que na verdade seria um dos elementos, os registros que as
auxiliariam na elaboração do relatório sobre a aprendizagem e desenvolvimento da criança.
Há uma separação entre práticas avaliativas e registro. Se referem ao portfólio como uma
pasta de armazenar atividades das crianças para serem entregues às famílias no final do ano
letivo, sem levar em consideração a produção da criança e seu significado no processo
avaliativo.
[..] não basta agruparmos e organizarmos materiais produzidos pelas
crianças na sala de aula. Podemos recordar as pastas de artes que as crianças
182
levam para casa sem comentários e, muitas vezes, até mesmo sem datas. Na
realidade, eles só têm sentido se o educador puder apreciá-los, analisá-los,
interpretá-los, contextualizá-los, construindo um sentido para essas
produções e, a partir disso, criando novas narrativas para a inserção das
crianças e dando novos rumos à sua prática cotidiana junto a elas.
(BARBOSA; HORN, 2008, p.114, grifo nosso).
Não há indícios que retomam a essas atividades com objetivo de refletirem sobre
como estão as crianças e suas práticas, apontando que realizam o registro para o portfólio,
mas, não colocam, pois, são para o/a professor/a. Realizam a observação, usam de diferentes
recursos nas atividades pedagógicas, mas, não registram tudo. Em relação ao processo de
documentação e especificamente sobre os portfólios, Barbosa e Horn (2008), destacam:
[...] os portfólios ou arquivos biográficos precisam ser periodicamente
analisados e construídos pelos professores com as crianças e com os pais
para que possam discutir os progressos, as áreas nas quais se deve trabalhar
para ampliar as potencialidades das crianças e lançar novos desafios.
(BARBOSA; HORN, 2008, p.114).
Em contrapartida, observamos narrativas que apresentam críticas à utilização de
atividades fotocopiadas, padronizadas e que respeitam as especificidades das crianças e das
infâncias. Defendem tempo e espaços diversificados e ricos como intervenção pedagógica
significativa. Utilizam de suas anotações realizadas nas observações dos alunos e de
diferentes registros para as auxiliarem na elaboração do relatório de aprendizagem e
desenvolvimento de seus/suas alunos/as.
6.1.7 Participação das mães, dos pais e de outros responsáveis no processo de construção
da aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as
Em relação à importância da participação das mães, dos pais ou de outros responsáveis
no processo de construção da aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as, as 11
professoras entrevistadas são unânimes em afirmar que consideram importante a participação
das famílias, salienta que é bem participativa e contribui muito no processo, destacam que a
escola precisa muito da família. [...] sim, a identidade da criança quem vai construir é a
família, na escola ele vai amadurecer isso e aplicar no social [...] a escola vai fazer o que: uma
junção pra eles ficarem legal, pra convivência em sociedade fluir bem, na escola, a gente
precisa da família. (Professora Cecilia, entrevista, 2019, p.5). De acordo com a LDB/96, art.
2º, “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
183
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 2016,
p.8).
As análises evidenciaram que 8 professoras consideram que as diferenças observadas
nas crianças que contam com a participação mais efetiva das mães, dos pais ou responsáveis,
são visíveis em sala de aula, no desenvolvimento das atividades, na socialização com as
crianças e na aprendizagem e desenvolvimento. [...] A gente percebe que aquele aluno que a
família é ativa, brinca com o filho, que conta história pro filho, essa criança ela tem mais
interesse. (Professora Bianca, entrevista, 2019, p.6).
Uma professora diz considerar a participação das mães, dos pais ou de outros
responsáveis, importante, pois ajudam muito no comportamento das crianças, no aprender a
ter hábitos e cuidados com os materiais e tarefas e a criar certa independência. Porém,
destaca, em sua narrativa, que há pais que fazem as tarefas para os filhos, “[...] às vezes não
sabem orientar, tem o espaço do nome, a gente dá a fichinha pra ele mesmo escrever [...] olha,
pega a fichinha, deixa ele escrever, mesmo que fique errado, não deixam sem colocar e
muitos colocam o mesmo nome ainda por cima com a letra deles”. (Professora Luiza,
entrevista, 2019, p.5). Nesse sentido, Saltini (2008) toca diretamente no ponto, ao qual já nos
referimos anteriormente. Qual é objetivo, o porquê é realmente importante a família na
escola. “Busca-se tornar a família uma aliada no trabalho para o desenvolvimento da
autonomia moral e intelectual do aluno, esclarecendo-a a fim de proporcionar maior
independência à criança, não fazendo por ela o que ela tem capacidade de fazer sozinha”.
(SALTINI, 2008, p.108). Assim, necessita de diálogo entre as duas partes escola e família,
uma vez que é preciso entender que querer a família na escola demanda não só respostas ou
ação de um dos lados, a escola cobra a família e a família cobra a escola e vice-versa e o pior
que, muitas vezes, esquecem o principal. A escola e os docentes precisam sentar com esse
representativo e dialogar sobre os projetos, sobre qual tipo de parceria se espera em função da
aprendizagem de seus rebentos.
Dando sequência, uma professora considera que a participação das mães ou dos pais
não é o ideal. Se diz frustrada com as tentativas e relata que em uma sala de 28 alunos
geralmente a participação mesmo deve ser de 12 pais, quando muito. Demonstra em sua
narrativa tristeza e pena e ressalta que para as crianças e para ela, como profissional, a
presença da família na escola é muito significativa.
[...] não tem participação... a gente fez reunião a noite das duas turmas, veio
6 pais. Então assim, a gente desdobrou, trabalhou manhã e tarde, foi lá a
184
noite fazer reunião e 6 pais. Mudou pra na entrada, vai uns 12, se faz no
final...uns 12. Tem uma reunião e vai, por exemplo, servir um lanche, é
quando já foi mais pais na escola. Os meninos acham uma beleza quando
eles veem os pais lá. Você vê a alegria dos meninos estampada no rosto. E a
gente também enquanto profissional, a gente quer a participação de todo
mundo. (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.6).
Duas professoras entrevistadas apontam que ultimamente a família mudou muito. As
separações das mães e pais de alunos estão afetando muito as crianças, e elas observam que
quando a criança está diferente, com problema de disciplina na sala, elas vão verificar, é
problema lá na família e elas levam esses problemas para sala de aula. “[...], mas, às vezes,
não é só a criança que precisa de ajuda, os próprios pais, a mãe principalmente precisa de um
apoio, eu não posso fazer nada, eu não posso atuar dentro da casa da família é complicado,
influencia no aprendizado da criança”. (Professora Rebeca, entrevista, 2019, p.9-10). Muitas
crianças, segundo elas, estão sendo criadas pelas avós e ou apenas pela mãe. Continuando as
narrativas, três professoras descrevem que há famílias na EMEI Tecelã que andam passando
por problemas estruturais/sociais muito sérios que acabam por afetar no processo, pois
apresentam um conjunto de situações com agravantes sociais acentuados refletindo nas
crianças, muitas estão agitadas, nervosas e intolerantes quanto à resolução de conflitos.
[...] eu tenho sentido eles assim, até nervosos, intolerantes com as situações
de conflitos entre eles mesmos [...] Eles estão tentando resolver as situações
de maneira assim, é... deixando o diálogo de lado e resolvendo de outras
maneiras, então isso que eu estou sentindo na minha turma neste momento:
estão agitados, nervosos, alterados. (Professora Ana, entrevista, 2019, p.3).
[...] na verdade, você não é somente a professora daqueles meninos, dos
meus meninos, por exemplo. Você tem que estudar tudo ali, a vida de cada
um, que que eles passam, as necessidades que eles passam em casa, [...]
contam que o pai foi preso, contam que o pai está desempregado, que a mãe
brigou com o pai, ou que o pai bateu na mãe, então assim, são coisas que
afetam no desenvolvimento da criança. [...]. A maioria é criado sem o pai
[...]. (Professora Izabel, entrevista, 2019, p.5-6).
As narrativas das professoras nos permitiram tecer considerações durante as análises
no sentido de um chamamento quanto ao nosso papel no processo de humanização. Nesse
sentido, analisamos e defendemos que diante dessas realidades que nos deparamos, as quais
nenhum professor/a está isento/a, não podemos nos dar ao luxo de duvidar da importância de
nosso comprometimento, como defende Freire (2015, p.96): “ensinar exige compreender que
a educação é uma forma de intervenção no mundo”.
185
6.1.8 Dificuldades para ensinar e sistematização das formas de registro e avaliação para
as aprendizagens em contexto de aplicação da Lei 12796/13
Em relação às dificuldades de ensinar e as dificuldades na sistematização das formas
de registro e avaliação voltadas, para as aprendizagens em sala de aula, as professoras
entrevistadas fizeram as seguintes considerações: apresentação do número de crianças em sala
como fator dificultador das práticas de ensino e avaliação, dificuldade com “o planejamento
[...] a dificuldade este ano, está sendo [...] o que ensinar, pois estou com uma turma muito
imatura e estou com dúvidas, porque não é pra alfabetizar mais... então o que ensinar é a
socialização [...]”. (Professora Cecilia, entrevista, 2019, p.4). Os níveis de aprendizagem e a
questão da ênfase no lúdico, “[...] “não sei se é da escola ou se é da rede, a questão é que às
vezes fica muito... eu sei que é importante pra criança brincar, mas, não só o brincar. A
criança também precisa de atividade escrita pra... falta um pouquinho disso”. (Professora
Júlia, entrevista, 2019, p.2).
Acrescentam que na hora de ensinar, escolher o que vai trabalhar e elaborar o plano
elas também estão com dificuldade. “[...] então é por isso que você tem que saber até como
avalia o menino, porque às vezes você pensa assim, ah, ele não sabe nada, mas alguma coisa
ali ele aprendeu. (Professora Izabel, entrevista, 2019, p.14).
Assim, a dificuldade em avaliar mostrou-se vinculada à falta de definição sobre o que
ensinar corroborando com as elaborações de Villas Boas (2007).
Ao serem perguntadas se houvera mudanças significativas a partir da aprovação da Lei
nº 12.796/13 e quais as dificuldades para cumprir as exigências contidas na referida lei, 10
professoras participantes da pesquisa, inicialmente, não relacionaram o número da lei às
mudanças e exigências quanto à obrigatoriedade da matrícula aos 04 anos de idade e,
consequentemente, a obrigatoriedade de elaboração e expedição de documentação
comprobatória da aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Uma professora justifica
desconhecer a lei e suas demandas, por estar a pouco tempo em sala regular. “[...] eu não sei
falar sobre essas mudanças não. Eu estou na educação especial só com especiais [...],
totalmente diferente porque eram adultos, eu fiquei lá por 5 anos. Agora que eu retomei com a
educação infantil com os regulares, então eu não sei te falar [...]”. (Professora Ana, entrevista,
2019, p.9).
Uma professora confunde a lei 12792/13 com a LDB/9394/96. A professora Cecília
relaciona a lei às mudanças e tece uma crítica relacionada ao fato de acreditar que a lei não
186
está sendo cumprida ainda nos momentos de transição como preconiza em seus
ordenamentos.
Se é uma exigência quando vai fazer a matrícula, eu acho que não poderia
fazer a matrícula sem estar com ele em mãos, eu acho. Agora parece que no
Estado não exige muito não é. Uma mãe me mostrou. Ela foi lá com os
documentos que estavam pedindo e falou assim ó. Aqui ó, o que que gasta,
era declaração do menino, certidão de nascimento e não falava em relatório.
(Professora Cecília, entrevista, 2019, p.10).
Após a pesquisadora esclarecer junto às professoras entrevistadas qual lei se tratava e
suas demandas, as narrativas se pautaram nas seguintes colocações: a professora Izabel faz
observação de que a obrigatoriedade da matrícula aos 04 anos não garante a criança realmente
na escola. [...] essa obrigatoriedade aos 4 anos, [...] muitos pais por mais que a criança tenha a
faixa etária, eles não têm a responsabilidade, ele faz a matrícula do menino, mas deixa o
menino faltar, muitas vezes vai 2, 3 dias e não volta mais. (Professora Izabel. Entrevista,
2019, p.15).
Retomando as questões quanto às mudanças a partir da aprovação da Lei nº 12.796/13
e as dificuldades para cumprir as suas demandas, as professoras foram unânimes indicando
que a mudança principal foi a exigência da elaboração do Relatório descritivo do processo de
desenvolvimento e aprendizagem da criança. Destacam terem dificuldades quanto à
fundamentação teórica, como elaborar, o que colocar e quais os conceitos e os termos
que seriam mais apropriados ou corretos “[...] tenho muita dificuldade, na hora de formalizar,
estar digitando assim grosso modo, você vai falar, a família vai ler, uma outra pessoa vai ler...
mas tá coerente com essa criança? E o cuidado na hora da escrita, com os termos [...].
(Professora Larissa, entrevista, 2019, p.7).
Evidenciaram que no início tiveram conflitos com a orientação pedagógica na
elaboração dos relatórios “[...] cuidado com os conceitos, com a palavra “não”, “não
consegue”, nossa, eu briguei muito com uma outra pedagoga porque o relatório estava muito
formatadinho... copiou e colou ali no A B C, então esse aqui tá muito formatado,
mentiroso! [...] (Professora Larissa, entrevista, 2019, p.7).
A professora Ana foi a única professora a destacar em sua narrativa, não ter
dificuldades na elaboração de relatórios apesar de inicialmente ter dito não conhecer sobre a
lei 12796/13 e suas demandas. Entretanto, faz uma ressalva que tem o jeito dela e não se
prende a modelos.
187
[...] da maneira como eu elaboro os meus relatórios eu não tenho muita
dificuldade não. Igual eu estou te falando, eu não fico me prendendo ou
buscando qual modelo, o que vocês querem, o que tem que ter no primeiro
parágrafo, não... eu faço um relatório descritivo, começo é... sempre
pensando numa maneira geral, como essa criança chegou,eu vou entrando
em detalhes um pouco mais específicos dela, coloco como estava e como
está, e faço minha conclusão. (Professora Ana, entrevista, 2019, p.4).
Indicam que a maior dificuldade é com o relatório final, “que é o que fica na escola,
que tem que entregar, eu acho difícil [...] o relatório do fim do ano, é bem complicado.
(Professora Cecilia, entrevista, 2019, p. 4-5)”.
Nesse sentido, colocam em dúvida se realmente compreendem qual o objetivo da
avaliação na educação infantil, se entendem a importância do acompanhamento da trajetória
da criança quanto as suas aprendizagens. De acordo com a BNCC (2017, p. 39), como já
mencionado neste texto, a utilização de “diversos registros, feitos em diferentes momentos,
tanto pelos professores, quanto pelas crianças”, [...]. Trata-se de reunir elementos para
reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as
crianças”. Valendo ressaltar que tais ações que são respaldas pela BNCC (2017, 39) não
possuem “intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não
aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”.
Tecendo considerações possíveis quanto à elaboração dos relatórios individuais das
crianças, a maioria das professoras entrevistadas disseram ter muitas dificuldades, mas houve
avanços. Inicialmente, enfrentaram situações conflitantes com a supervisão para escrever os
relatórios, pois não era aceito falar exatamente como era ou estava se desenvolvendo a
criança. Principalmente se não fosse exatamente o que se acredita ser o que os pais ou escola
esperavam ouvir. Porém, diante de novas orientações pedagógicas, isso vem mudando, mas
ainda enfrentam dificuldades sobre como escrever sobre a criança, os termos certos, as
expressões corretas e no tempo disponível para avaliar individualmente e no coletivo.
Em relação ao número de crianças em sala os dados mostram que a maioria das
professoras não trazem críticas acentuadas. O quantitativo só parece incomodá-las se na sala
houver criança que foge ao padrão de comportamento ou que apresente necessidades
educacionais especiais. A implementação de um sistema de Educação Inclusiva, segundo Glat
e Blanco (2009), não é tarefa fácil especialmente no atendimento às crianças com alguma
deficiência ou “problema que afete a aprendizagem”. As dificuldades decorrem da demanda
de uma organização estrutural diferenciada, consciência e qualificação dos profissionais para
atender à demanda, metodologias diferentes e recursos pedagógicos e materiais apropriados.
Um agravante é, “[...] a precariedade da formação dos professores e demais agentes
188
educacionais para lidar com alunos com significativos problemas cognitivos, psicomotores,
emocionais e/ou sensoriais, na complexidade de uma turma regular” (GLAT; BLANCO,
2009, p.30).
A escola, de acordo com o PPP (2015), segue a orientação da Secretaria Municipal de
Educação, com o Atendimento Educacional Especializado e o espaço vem sendo organizado
para esse atendimento. “[...] Quando se percebe que a criança apresenta alguma dificuldade
relevante, solicitamos que a família a encaminhe ao médico e providencie o laudo e, em
seguida, pedimos uma avaliação do profissional do NADH - Núcleo de Apoio às Diferenças
Humanas - que fará os encaminhamentos necessários”. (UBERLÂNDIA/PPP, 2015, p.30).
Portanto, analisamos que a questão apresentada pelas duas professoras apresenta
condicionantes que afetam suas práticas na sala regular que podem estar relacionados às
dificuldades citadas e precisam ser melhor discutidos no grupo em busca de soluções comuns.
A professora Cecília, na elaboração da avaliação com registros, salienta que sua
dificuldade está na forma de relatar, principalmente quando diz respeito à criança que não
apresentou um desenvolvimento igual à maioria da turma.
[...] um aluno que fica aquém da turma, esses eu acho mais difícil [...]
Destaca que coloca em suas anotações do dia a dia, mas, na hora de escrever
o relatório final não acha “produtivo”. [...], eu sempre pensei muito isso de
não procurar como que a criança era antes, porque tem 2 meses entre um
professor e outro. Entre um professor e outro tem 2 meses pra criança
crescer. E ela cresce, e esses 2 meses fazem diferença. (Professora Cecília.
Entrevista, 2019, p.5-6).
Os dados mostram que a professora realiza os registros, porém, não utiliza esses
registros para descrever o percurso que a criança realizou durante o processo. Não fica clara a
finalidade de suas “anotações do dia a dia”, já que ela mesma explicita que, “na hora de fazer
o relatório final não acha produtivo”. Buscamos em Hoffmann (2015, p.130), o sentido do
“caráter mediador do processo avaliativo”, o papel do professor, “como analisar o
desenvolvimento de uma criança ausentando-se da história que se ajuda a construir?”. Nesse
sentido, também questionamos como não ser importante “procurar como que a criança era
antes”? Acompanhar a criança é parte fundamental, visto que é quando temos a chance de
observar, refletir, de analisar como era, como está agora, para intervir possibilitando seu
avanço. Os registros então vão dar sustentação à professora na hora de realizar o relatório
final, pois eles trazem ali a história da criança e sua evolução, ou não, no decorrer do período
que esteve com a professora ou os/as professores/as.
189
Nesse sentido as narrativas das professoras entrevistadas trouxeram possibilidades de
visualizarmos quais entendimentos as professoras apresentam quanto à finalidade do registro
escrito da avaliação na educação infantil. Três professoras não apresentaram dados na
entrevista que evidenciaram essa finalidade. A fim de desenvolvermos nossas análises
apresentamos fragmentos das narrativas de 08 professoras, citadas abaixo. Narrativas que
evidenciam a finalidade do registro escrito da avaliação ser para a família, supervisão, direção
da escola, professora do ensino fundamental, para o planejamento seguinte, para quem está
fora, [...]. Então, eu acho que pra gente fazer isso mais, é pra quem está de fora perceber
as coisas, eu creio. (Professora Vitória, entrevista, 2019, p.8-9).
[...] então você não faz uma vez por ano, você faz semestral não, o relatório
é pro Final. pra entregar pros pais, mas aí eu já faço... (Professora Larissa,
entrevista, 2019, p.13).
[...] então é uma avaliação pro dia a dia, uma avaliação pro profissional,
seria uma avaliação para planejamento e não pra avaliação final. Seria
uma avaliação pro planejamento seguinte. (Professora Cecília, entrevista,
2019, p.2).
[...] tem o registro que já é a forma, vamos dizer mais oficializada ali, que é
da tarefa xerocada ou desenho um livro que seja, que esse material será
encadernado e entregue para a família. [...]. (Professora Larissa, entrevista,
2019, p.13).
Professora que não gosta de divulgar seus relatórios, “[...], o registro diário ali é meu.
[...] o registro escrito, eu não compartilho. O meu registro escrito é meu”. (Professora Cecília,
entrevista, 2019, p.7). Para Jussara Hoffmann (2015, p.120), “não se pode admitir que um
professor, ao assumir uma turma de crianças, nada conheça do que se passou com cada uma
delas no ano anterior”. A relutância apresentada pela professora demonstra uma insegurança e
desconhecimento quanto à finalidade dos registros sobre as crianças. Pautados em Hoffmann
(2015), salientamos que os relatórios são documentos que irão contextualizar o percurso que a
criança desenvolveu no processo de construção do conhecimento. Portanto, é importante que
haja um diálogo envolvendo escola, família, os/as professores/as envolvidos/as e, se possível,
os/as próximos/as docentes para uma socialização de cópias desses registros/relatórios, já que
são fontes importantes para os próximos professores/as conhecerem e acompanhamento a
criança.
Em continuidade, de acordo com as narrativas das professoras, a finalidade do registro
escrito da avaliação destina-se a apresentar o trabalho desenvolvido com seus alunos/as para
quem está fora, no final do ano ou apenas para cumprir as exigências da escola de acordo com
190
os ordenamentos legais. Apresenta, também, seu papel centralizado no trabalho do/a
professor/a para ajudar esse profissional, nesses casos a avaliação com registro não se destina
ao processo de ensino e aprendizagem. E o/a aluno/a? E a aprendizagem e o desenvolvimento
do/a estudante? Elas não citam neste momento. Hoffmann (2015) destaca a importância dos
relatórios de avaliação, por serem documentos que asseguram o registro do percurso
individual que a criança realizou no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Escola,
professores/as e família têm um compromisso com a criança pautados no que representa esse
documento:
Garantem-se, por meio desse compromisso, o olhar reflexivo do professor
sobre os interesses, conquistas, possibilidades e limites de cada criança,
tornando-o partícipe de suas vivências, contextualizando o seu processo
educativo, socializando tal processo com as famílias e outros professores e,
dessa forma, possibilitando aos que lidam com ela promover-lhe outras e
diferentes oportunidades de aprendizagem. (HOFFMANN, 2015, p.120).
A análise dos dados possibilitou visualizar narrativas que apresentaram a utilização do
registro escrito, com objetivo de contribuir no processo de ensino e aprendizagem. [...] é de
grande valia os relatórios, porque na verdade você tem que falar da individualidade d e do
desenvolvimento de cada um, né? [...] (Professora Izabel, entrevista, 2019, p.15). Nesse
contexto, a fim de dar mais consistência as nossas reflexões sobre a finalidade dos registros
escritos, acrescentamos os fragmentos abaixo.
[...] que é através desse olhar que você tem, que você sabe e até onde você
pode ir, o que você tem que avançar, o que você tem que voltar pra trás, a
turma caminhou até onde, onde eu preciso melhorar, onde eu preciso agir ou
então é através da avaliação que você tem da sua turma e das suas práticas,
que você tem que está fazendo pra atingir os seus alunos. (Professora
Rebeca, entrevista, 2019, p.15).
[...] Às vezes aquelas atividades diagnósticas eu fazia assim para mostrar lá
na escola, pra supervisora, mas era tipo... não era aquele diagnóstico, aquela
coisa sofrida com a criança, eu fazia sempre uma atividade mesmo e eu
sempre acreditei muito na observação da escrita da criança... e a contribuição
da observação é observar como que ela vai se desenvolver melhor. É isso.
(Professora Laura, entrevista, 2019, p.10).
Quando refletimos sobre a quem se destina o registro escrito da avaliação na educação
infantil é fundamental retomarmos a fala da professora Cecília sobre o registro do que foi
observado acerca das crianças é para o crescimento do professor. E só no final do ano realiza
191
o registro que diz ser para a escola, o nomeia como “institucional89”. “A observação é...
principalmente observação, eu registro pra mim mesma, eu faço um registro pessoal e no fim
do ano a gente faz aquele registro que é pra escola que eu ... o institucional, que o primeiro e
segundo período é obrigatório?” (Professora Cecilia, entrevista, 2019, p.7).
Nesse contexto, é importante problematizar a expressão avaliação institucional
mencionada pela professora, pois, de acordo com Freitas (2009), é a que poderia trazer
possibilidades ao coletivo envolvido no processo de avaliação, como os/as alunos/as, escolas,
professores/as, órgãos responsáveis pela educação e a partir dos resultados e dos dados,
analisar, refletir sobre esses resultados coletados a fim de buscar melhorias na aprendizagem
e, consequentemente, na educação. “A avaliação institucional deve, portanto, ser o ponto de
encontro entre os dados provenientes tanto da avaliação dos alunos feitas pelo professor,
como da avaliação dos alunos feita pelo sistema. Ambos falam de um único sujeito: o aluno, a
verdadeira figura central da escola”. (FREITAS, 2009, p.45). Verificamos que há uma
confusão entre avaliação institucional, avaliação para as aprendizagens e avaliação exigida
pela escola.
6.1.9 Propostas para superar dificuldades de avaliar na educação infantil e exigências
contidas na Lei 12.796/13
Esta subseção apresenta as propostas para superar dificuldades de avaliar na educação
infantil e exigências contidas na Lei 12.796/13, pautadas na análise das narrativas das 11
professoras entrevistadas. Três professoras não apresentaram dados referentes a essas
dificuldades.
Diante das colocações das professoras entrevistadas foi possível analisar as propostas
por elas sugeridas. Duas professoras disseram não saber responder. Os dados recolhidos, das
que aceitaram, apresentam solicitações quanto a necessidade de mais trocas de experiências
entre os profissionais da unidade, formação externa e formação dentro da escola, aulas
externas, aula passeio. Diante das novas mudanças (reorientação curricular- projetos),
gostariam que a escola dessa mais orientação em relação ao que precisa ser feito. [...] orientar
mais sobre o trabalho com projetos, [...] a escola já tem buscado fazer isso... trabalhar com
89
A Avaliação Institucional é a avaliação da instituição, seja ela de Ensino Superior ou da Educação Básica (da
Educação Infantil ao Ensino Médio) e tem como finalidade buscar a qualidade de ensino para estas instituições,
através da avaliação das pessoas diretamente envolvidas no processo de construção desta avaliação, como: pais
(comunidade), professores, funcionários, gestores e, dependendo da idade, os alunos. (RAMPAZZO, 2009, p.
70).
192
projetos, é uma coisa mais difícil, [...] a gente tem o módulo, a gente discute, ela dá a
sugestão, eu também, mas eu falo assim pegar mesmo, sabe? (Professora Luiza, entrevista,
2019, p.15).
Uma professora destaca que a burocracia atrapalha o bom andamento das propostas na
escola. Solicitam mais apoio da escola nas atividades pedagógicas e junto à família, em
relação à resolução de problemas com disciplina ou dificuldades de aprendizagem.
[...] é uma burocracia que vem lá de cima. [...] eu me sinto muitas vezes
frustrada, você vê lá no papel, tanta coisa legal, quando isso cai na prática,
não acontece O apoio que deveria vir pra gente, as verbas que deveriam vir
pra gente, elas não chegam. (Professora Rebeca, entrevista, 2019, p. 10).
[...] se cobra muito do professor, mas não auxiliam o professor, não se tem
muito respeito em relação ao professor [...] se você vai lá e fala, com a parte
pedagógica que aquele menino tá assim ou assim, e você passa que precisa
fazer um trabalho com aquela criança ou com a família, eu não vejo muito
caso em relação à isso.(Professora Izabel, entrevista, 2019, p.10)
As narrativas continham sugestões de 03 professoras quanto a ter menos cobranças,
mais autonomia para o professor na realização das práticas pedagógicas com as crianças. “[...]
menos imposição. [...] a questão do determinismo de chegar e falar: “façam assim”, sem ter
um consenso, uma conversa antes, isso atrapalha muito. (Professora Larissa, entrevista, 2019,
p.8).
[...] o profissional ter autonomia de buscar algo que contribua mais com
esses alunos, porque às vezes o pedagogo ele vai tão só de encontro com o
projeto da escola que é só aprender brincando, o registro não é tão
importante [...]. o pedagogo junto com a escola, deve dar uma autonomia
maior pro profissional. (Professora Bianca, entrevista, 2019, p.7). (Grifo
nosso).
[...] uma coisa que acho e que eu não concordo muito é, por exemplo, não
poder trabalhar o alfabeto sequenciado, número sequenciado no 1º período.
Isso eu acho que ajuda. É uma coisa que a criança está vendo ali todo dia,
embora trabalho o calendário, mas, por exemplo o alfabeto, a sequência não
podem ser trabalhados, então eu acho, que se pudesse seria uma coisa que ai
chega lá [...]. (Professora Júlia, entrevista, 2019, p.3).
Essas narrativas expõem concepção de educação infantil e do que deve ser avaliado.
Nessa perspectiva, como exemplo, observou-se a preocupação da professora Bianca quanto à
proposta pedagógica que não considera o lúdico como eixo estruturante das práticas
pedagógicas na educação infantil.
193
Outra professora tece crítica em relação às propostas que chegam de última hora e
interrompem seu trabalho e atrapalham “[...] o que atrapalha demais na escola, são os
atropelamentos, não deixa a gente caminhar de acordo com o projeto, tem que parar pra festa
junina, festa da família, agora festa da escola então, você tem que dar aquelas voltinhas que
as vezes não casam. (Professora Laura, entrevista, 2019, p.4).
A análise das narrativas possibilitou definir propostas apresentadas pelas professoras no
sentido de haver um guia/caderno que as apoiassem na organização e sistematização das
observações e dos registros realizados com e sobre as crianças, de que o acompanhamento
com registro precisa ser realizado no decorrer do ano e não ao final, “[...] fazer o relatório
também no meio do ano [...]”. (Professora Ana, entrevista, 2019, p.6- 10). Importante
destacar que essa proposta é resultante da percepção dessas professoras em relação ao
processo e a concepção de avaliação que permeia suas práticas,
[...] então se você deixar pra fazer esse relatório no final, você corre mesmo
o risco de ... tem que ser no começo. Se deixar pro final do ano, a gente
pode deixar muita coisa passar. [...] então você não faz uma vez por ano,
você faz semestral [...], você tem como se fosse uma folha pra cada aluno
e você vai pondo[...] seria melhor se tivesse essa proposta, porque veja, eu
vou fazer isso... porque pensa que bom. Igual o caderno da biblioteca, sala
um... sala isso... seria perfeito se continuar... isso é uma ótima sugestão.
(Professora Larissa, entrevista, 2019, p.13, Grifo nosso).
Propõem a necessidade de orientações teóricas e práticas de forma a ajudar a
enfrentar as dificuldades para implementar avaliação na Educação Infantil na forma como
especifica a Lei 12796/13 acrescentam “[...] eu espero que esse trabalho nosso ajude a montar
um sistema avaliativo bom, dê um domínio assim, teórico, prático... prático é tudo. Então se
a gente tivesse um parâmetro... “o que que a gente precisa na avaliação?” [...]. (Professora
Cecília, entrevista, 2019, p. 2-6).
Sugerem também que seria importante haver troca de experiências entre os
profissionais e ter um guia que as apoiassem na organização e sistematização das observações
e registros das crianças, de forma a ajudar a enfrentar as dificuldades para implementar
avaliação na Educação Infantil na forma como especifica a Lei 12796/13.
Mas quem são as pedagogas que orientam e supervisionam o trabalho das professoras
participantes da pesquisa?
194
6. 2 Retratos de pedagogas e narrativas sobre avaliação
A análise do registro de cada entrevista com as pedagogas foi realizada buscando as
unidades de significação a partir de temas (Unidades de registro) e Unidades de contexto
(Frases ou parágrafos nos quais constam os temas) e Interpretações, utilizando como base
para organizar esses dados a construção de quadros, e, depois, os resultados obtidos foram
entrecruzados. As categorias resultantes do primeiro esforço de classificação apresentaram-se
mais numerosas e imprecisas, o que requereu esforço para o devido reagrupamento:
1) As pedagogas: formação e atuação na educação infantil;
2) Educação infantil e avaliação na formação inicial das Pedagogas;
3) Atuação profissional das pedagogas entrevistadas e as concepções e práticas de
avaliação adotadas;
4) Participação dos pais, mães e de outros responsáveis no processo de construção da
aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as;
5) dificuldades para supervisionar e orientar professoras sobre formas de registro e
avaliação para as aprendizagens em contexto de aplicação da Lei12796/13;
6) Propostas para superar as dificuldades de avaliar na educação infantil e exigências
contidas na 12.796/13.
6. 2.1 As pedagogas: formação e atuação na educação infantil90
Pedagoga Sofia
Sofia iniciou sua carreira como profissional da educação ainda na graduação, em 1980,
quando foi contratada como professora por uma instituição privada. Atuou 18 anos em sala de
aula e há 14 anos atua a rede pública municipal como supervisora. Destes, 12 anos atuou na
Educação de Jovens e Adultos - EJA e há 02 anos está na educação infantil.
Destaca em sua narrativa que apesar da pouca experiência na educação infantil, está
muito satisfeita, pois tem aprendido muito e mudado seu olhar quanto a esse nível de
educação. Se sente com a alma cheia de alegria. Vê outras possibilidades que até então não
via.
[...] outra coisa que eu amo no infantil é a fala, a oralidade. Como é bom! E,
às vezes, a gente se engana. Por exemplo, eu cheguei à educação infantil
90 Os nomes das pedagogas são fictícios, para resguardar sigilo quanto à identidade das mesmas.
195
com a ideia errônea de que a criança não entendia o que eu ia falar porque eu
estava ali numa EJA e, então. Em dois extremos, e que boba, não é? Porque
assim, você fala, olha nos olhos e a criança rapidamente te dá um retorno e
quando ela não te retorna é porque ela ali na hora não processou, mas ainda
vai processar. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.3).
Acredita ser uma vantagem poder acompanhar o desenvolvimento das crianças e ver
de perto aquilo que, às vezes, a teoria apresenta e você não compreende. Como nunca tinha
atuando na educação infantil, tem se surpreendido e aprendido muito e está amando.
Esse processo formativo na ação como ficou evidenciado nas narrativas da pedagoga
tem fomentado mudanças na concepção de criança e compreensão sobre desenvolvimento
infantil. Evidenciado, também, lacunas na formação inicial.
Pedagoga Valentina
A pedagoga Valentina atuou inicialmente como professora por 25 anos, como gestora
escolar por 10 anos e como pedagoga orientando e trabalhando com professores/as há 05
anos. Exerce a função de pedagoga na EMEI Tecelã desde 2017.
Ao ser indagado sobre vantagem de se trabalhar com a educação infantil, afirma não
ver como vantagem, mas possibilidade de contribuir para a educação com mais liberdade de
criação, pois o tempo para trabalhar com as crianças é mais flexível. A organização do tempo
e do espaço sem a rigidez de “blocos e pacotes” traz possibilidades e amplia o despertar da
curiosidade das crianças. Tece uma crítica quanto ao currículo do ensino fundamental “[...] o
currículo é fechado, a quantidade de programas e outras coisas também, não que a gente não
tenha administração do tempo na educação infantil, mas eu acho que ela é bem mais
prazerosa” (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.4-5).
Pedagoga Kaira
A pedagoga Kaira narra que realizou concurso em 2012 e se efetivou em dois cargos,
sendo que começou a atuar como professora no final do ano de 2013 e como orientadora
escolar em 2014.
Sobre sua atuação na educação infantil declara estar muito satisfeita, pois é a área que
se identifica. Ressalta que uma das vantagens e o que mais lhe chamou atenção na educação
infantil é o encantamento que pode constatar como professora e pedagoga, pela música,
196
contação de história, o faz de conta, o lúdico. Salienta que se identificou muito com a forma
de avaliar a criança, pois,
[...] no ensino fundamental, isso de ficar presa em prova, avaliação bimestral
e os testes, eu achava muito... é quadrado, dentro de uma forma, engessado,
porque acaba que a gente tem que seguir aquilo, porque as crianças têm que
mostrar que está desenvolvendo, que tem nota, então esse é um ponto que eu
acho muito importante na educação infantil, essa forma de avaliação
diferenciada, que a gente pode avaliar a criança de outra forma que não seja
com as provas, testes... . (Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.3).
Conclui sua narrativa destacando que pode fazer essa comparação com propriedade, pois já
atuou anteriormente em 2 escolas do ensino fundamental, “[...] a vivência é diferente, mas eu
pude ver que realmente a minha área é a educação infantil, é o que eu gosto de fazer e estou
muito feliz [...]". (Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.2).
Conforme mostrou a análise, podemos afirmar que o sentimento compartilhado pelas
03 pedagogas é de contentamento por atuar na educação infantil, devido à liberdade de
ensinar, ao lúdico como estratégia de ensino e à avaliação processual sem aplicação de prova
e atribuição de nota.
Como uma das atribuições das pedagogas é apoiar e contribuir com a formação
continuada das professoras, é importante destacar o modo como elas percebem e lidam com
sentimentos expressos por essas professoras no exercício profissional. Nessa direção, a análise
das narrativas demonstrou as percepções das 03 pedagogas em relação ao sentimento de
solidão manifestado pelos professores/a no exercício da docência.
A pedagoga Sofia destaca que tem consciência do quanto o trabalho do professor é
solitário na sala de aula. Por isso, enquanto supervisora, tenta mediar, traz sugestão de
trabalhos, contribui com as pesquisas, frequenta a sala de aula, conversa e tenta trabalhar
junto com as professoras, “[...] eu penso que a supervisão só serve se servir ao professor, que
é onde eu trabalho diretamente porque eu trabalho com a criança, com o aluno, mas
diretamente com o professor”. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.3).
Vasconcellos (2002, p. 88) escreve que o supervisor pedagógico é “como um
intelectual orgânico no grupo (conforme Gramsci); suas práxis, portanto, comporta as
dimensões reflexiva, organizativa, conectiva, interventiva e avaliativa” (VASCONCELOS,
2002, p.88). Dentre suas principais atribuições de supervisionar o processo educacional,
acompanhar o desenvolvimento do currículo, orientar pedagogicamente os professores,
articular relações entre família e escola, vemos que o pedagogo se depara também com
questões específicas que afetam o professor exigindo mais de sua atuação como supervisor
197
pedagógico, requerendo contribuição para a construção de uma escola humanista,
transformadora, livre, justa e libertadora, fatores que implicam na construção de uma
educação de qualidade.
Na narrativa da pedagoga Valentina o que se evidencia é a sua percepção de que uma
grande maioria se organiza, mas tem as questões relativas a cada profissional, não tem uma
linearidade, professores/as mais independentes e professores que esperam mais do pedagogo.
[...] eu acho que hoje a escola tem essa possibilidade do professor organizar
e pensar realmente aquilo que é de interesse do aluno, mas eu acho também
que não é fácil para ele, eu acho que de alguma forma ele espera que você
direcione, que você pontue, que você organize um caminho. Então é uma
construção, porque é assim, como que a gente vai fazer? Aí você devolve a
pergunta, podemos ir por aqui? Acha que dá certo? (Pedagoga Valentina,
entrevista, 2019, p.6).
Kaira destaca que [...] quando o professor tem alguma dúvida e não sabe como avaliar,
eu oriento, eles podem sempre contar comigo [...]. (Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.6).
Podemos inferir das narrativas a ênfase conferida pelas pedagogas ao seu papel de
articuladoras pedagógicas da instituição, organizando a reflexão e a participação de todos nos
processos de ensino aprendizagem, mediando e articulando ações no sentido de possibilitar o
desenvolvimento do projeto político pedagógico da instituição. Essas narrativas se aproximam
das formulações de Vasconcellos (2002) sobre o fazer dessas profissionais.
Outro aspecto evidenciado nas narrativas de 02 pedagogas refere-se à dimensão ética ao
avaliar as crianças. Uma pedagoga não apresentou dados sobre a temática.
As duas pedagogas que expuseram em suas narrativas preocupações em relação à
dimensão ética, ao avaliar na educação infantil, salientaram que é muita responsabilidade para
os professores e pedagogas, ou quem quer que seja, pois lidamos com preconceitos, com
determinações que na educação infantil são muito complicadas de se colocar.
[...] como eu tenho trabalhado com os professores, às vezes chega e fala para
mim assim: Sofia, esse menino é muito custoso, eu já falei pra ele que ele é
custoso. E eu falo, você não tem que falar isso, tem que falar que ele é
inteligente, que ele é esperto, e que aquilo que ele fez que não é legal não
pertence a ele. É uma coisa não legal que ele não vai fazer mais, porque ele é
muito inteligente e uma criança inteligente não faz. Então tem que tomar o
cuidado até nessas avaliações corriqueiras que a gente faz todo dia, que sem
pensar a gente fala, sabe? Até isso a gente tem que tomar cuidado. É uma
questão ética. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p..6, grifo nosso).
198
A pedagoga Valentina salienta que respeitar o tempo de cada criança, é compromisso,
assim como acreditar que a criança tem possibilidades, “[...] não pode oferecer às crianças
educação por conta-gotas, você tem que oferecer o máximo e, assim, aqueles que têm mais
condições realmente eles vão... porque se você oferece o mínimo e também não tem que ser
igual, nem é ético, porque não é justo [...]”. (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.15).
Analisando o conteúdo dessas narrativas, coadunando com Barbosa e Horn (2008),
destaca-se a importância do compromisso ético e social com as crianças na realização de
avaliação. Se lida com crianças e infâncias, cada uma tem um ritmo, diferente jeito de
aprendizagem e contextos que interferem nas formas de avaliar, aumentando
significativamente a responsabilidades dos profissionais que atuam com crianças na educação
infantil.
6.2.2 Educação infantil e avaliação na formação inicial das Pedagogas
A pedagoga Sofia diz não se lembrar bem, “[...] acho que naquela época não se
separava... via-se o todo. Eu não tinha uma matéria que falava da educação infantil.”
(Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.1-2).
A pedagoga Valentina descreve que quando cursou pedagogia o curso era de 5 anos e
no currículo estudaram princípios do desenvolvimento humano na psicologia, alfabetização, e
teve uma disciplina específica para atuar na educação infantil. Destaca que quando estava
transitando a lei da obrigatoriedade de cursar o magistério no nível superior passou a atuar na
educação básica. O curso de Pedagogia habilitava em supervisão, orientação e administração
escolar. Mas não tinha o magistério nível superior, apenas habilitação para trabalhar com o
ensino fundamental. Quem não possuía, por exemplo, o magistério, tinha que fazer matérias
obrigatórias previstas no currículo.
A pedagoga Kaira afirma ter cursado a disciplina que trabalhava especificamente sobre
educação infantil, mas não se lembra qual a disciplina.
Em relação à formação do especialista em supervisão escolar, a LDB nº 9394/96, em
seu Art. 64, trata especificamente de como se dará essa formação:
A formação de profissionais de educação para administração, planejamento,
inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será
feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a
critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum
nacional. (BRASIL, 2016, p.21).
199
Todavia, o resultado das análises das narrativas nos possibilitou considerar frágeis os
cursos de formação de pedagogas, que atuam como supervisora e orientadora na educação
infantil, questão já demonstrada, também, na apresentação das análises das entrevistas das
professoras participantes desta pesquisa.
6.2.3 A temática avaliação na formação inicial das pedagogas entrevistadas
Nesta subseção serão analisadas as narrativas das pedagogas acerca de suas
experiências durante a formação inicial, com o propósito de buscar compressões sobre as
possibilidades de terem estudado alguma temática ou disciplina que abrangesse a avaliação na
educação infantil e se os conteúdos contribuíram para a prática de supervisão e orientação
fundada em formas de registros ou práticas avaliativas na educação infantil.
A pedagoga Sofia destaca que teve matérias pedagógicas na graduação, mas não se
lembra de nenhuma disciplina que tratasse da temática avaliação na educação infantil. “[...] na
Psicopedagogia sim, vê-se muito rapidamente, mas nada muito direcionado à educação
infantil” (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p. 1-2).
Sobre a temática, a pedagoga Valentina narra que na graduação se lembra de ter
estudado o desenho das crianças e avaliavam em que nível estavam “[...] tinha sim avaliação
do desenvolvimento da criança, no caso da escrita, do desenho, da fala, da psicomotricidade
que se falava muito, avaliar se a criança tinha equilíbrio ou não [...]”. (Pedagoga Valentina,
entrevista, 2019, p.2). Mas, não ficou tão atenta porque não estava atuando. Para Paulo Freire
(2015, p.39-40), “a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento
dinâmico, dialético, entre o fazer certo e o pensar sobre o fazer”. Salienta nesse sentido, o
primordial na formação do professor, “a reflexão crítica sobre a prática”. Analisamos,
portanto, que é fundamental a formação estar articulada com o campo da prática.
A pedagoga Kaira afirma ter cursado uma disciplina sobre avaliação na educação
infantil, cujo professor era muito bom e as discussões abrangiam vários aspectos. Abordava
sobre as avaliações, como eram antes no decorrer dos anos e como que foi evoluindo. Porém,
destaca que teve dificuldade de formular sobre práticas avaliativas quando começou a
trabalhar na supervisão, porque não era aquilo que havia estudado “[...] a gente estuda na
teoria, mas na hora da prática, é mais a vivência e buscando depois entender melhor como que
é mesmo na prática, na vivência, mas a gente teve sim uma orientação, uma base [...].
(Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.2).
200
A partir da análise das narrativas das pedagogas tornou-se possível tecer considerações
sobre a formação inicial, enfatizar que esta contribuiu de forma superficial para a prática de
supervisão e orientação fundadas em formas de registros ou práticas avaliativas na educação
infantil e buscaram complementação desses estudos na formação continuada. Essa afirmação
também foi evidenciada nas narrativas das professoras participantes da pesquisa. Dessa forma,
cabe alerta sobre a necessidade de que pedagogas e demais profissionais da educação
busquem, coletivamente, base teórica e metodológica com o apoio do curso de formação
inicial e continuada, para que por meio deles consigam caminhos e formas de trabalho que
possibilitem exercerem seu ofício.
6.2.4 Atuação profissional das pedagogas entrevistadas e as concepções e práticas de
avaliação adotadas
A pedagoga Sofia narra que procura ser mediadora, aquela que facilita o trabalho na
sala de aula e contribui para a construção do planejamento e das práticas avaliativas “[...] os
professores me mandam os planejamentos, ou antes de mandarem os planejamentos eu sento e
converso e quando ela me coloca o que está pensando eu ajudo nesse sentido [...]” (Pedagoga
Sofia, entrevista, 2019, p.4). Destaca que dá sugestões, mas quem decide são elas. Propõe
momentos de leitura com os/as professores/as e outros membros da equipe na escola e em
casa e narra a experiência que teve em outra escola, quando realizavam formação in loco após
o horário.
[...] eu trouxe essa proposta para cá e fizemos uma vez e é muito bom porque
você tem a oportunidade de trazer o texto, qualquer que seja o texto e
estudar, avaliar dentro da sua realidade, aí o estudo vira outro porque o olhar
vira outro. Então eu gosto muito dessa coisa de estudar. Infelizmente na
escola a gente não tem esse tempo. Essa questão de espaço e de tempo para
estudar. Nos módulos, abordando como funciona avaliação, eu entreguei a
parte do livro de Jussara Hoffman, pedi para todo mundo ler em casa e no
próximo módulo a gente discute. Não é o ideal, mas pelo menos eles trazem
elementos para discussões interessantes que ali você pode passar para escola.
(Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.6).
Sobre as professoras e as formas de orientação e supervisão, a pedagoga Valentina
descreve que o grupo pelo qual é responsável é um grupo heterogêneo. Tem profissionais com
mais de 30 anos, outros com mais de 10 anos na rede. São comprometidos e possuem
fundamentação teórica e como estão na rede a um tempo significativo possuem formação
acadêmica e especializações bem significativas para as práticas pedagógicas. Há um grupo de
profissionais bem atuantes que ela atende no espaço dos módulos que é uma prerrogativa
201
garantida por lei, 100 minutos na escola mais o OMC – onde melhor lhe convier (4 h 25 min),
fora da escola. Esses momentos são espaços de diálogo, conversa, estudo e planejamento,
pesquisa e para organização de material. Inferimos que a pedagoga demonstra haver a
necessidade de pensar de forma diferenciada a orientação considerando o tempo de atuação na
carreira docente. Narra que tem buscado trabalhar na perspectiva de orientar as professoras no
sentido de garantir o direito da criança de expressar-se, de ser ouvida. Isso não significa que a
orientação seja concebida como verdade absoluta. São orientações e sugestões para as
professoras. A pedagoga utiliza-se de algumas estratégias para comunicar-se com o grupo que
apresenta resistência a mudanças.
[...] a gente vai encontrando o equilíbrio, porque você tem que respeitar
aquilo que o professor acredita e você tem que trabalhar no caso com a
formação, com as informações, pra você conseguir mudar um
pouquinho o olhar dele sobre a prática, porque senão também se ele tiver
tanta certeza e ele não abrir um pouquinho, às vezes as sugestões e
intervenções ou mesmo a teoria que você leva, às vezes, as reflexões elas
não mexem ali na ação, na prática que traz esse aluno ou por interesse ou
por despertar curiosidade, porque não é fácil mudar a prática, mudar
concepções de quem está ali fazendo a mesma prática que tem sucesso
também. [...] são várias metodologias e possibilidades, mas quais que a
gente pode trazer essa criança para ela ficar mais curiosa, mais encantada?
(Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.3-4, grifo nosso).
Faz módulo com os professores e repassa informações pertinentes ao grupo da escola e
marca individualmente com cada professor para ele falar sobre os desafios da sala de aula,
quais suas maiores necessidades, as observações de alunos que requer uma atenção maior e,
também, permanece na sala, acompanha, conversa. Não se restringe à observação da aula e se
precisar sugere metodologia diferente e conteúdo visando superar dificuldades nos processos
de ensino e aprendizagem.
A pedagoga Kaira [...] em sua narrativa chama atenção sobre o pouco tempo que está
exercendo a função (menos de um ano), mas ama a escola, o jeito, a forma que os professores
atua em sala, e conseguiu aprender um pouco sobre cada uma, observar cada uma e
“apaixonou” pelas professoras. Salienta que as formas de orientação e supervisão que
desenvolve com as professoras se pauta nas orientações que a escola lhe passa e no que ela
acredita ser o certo.
202
Uma função fundamental do coordenador pedagógico91 é cuidar da formação
e do desenvolvimento profissional dos professores. É fundamental pensar a
formação como superação da fragmentação entre teoria e prática, entre
escola e prática docente, de modo que as dimensões da sincronicidade
possam se revelar e integrar, na compreensão ampliada de si mesmo, do
processo de ensino e aprendizagem e das relações sociais da e na escola,
síntese da formação e da prática docente como momentos com
peculiaridades e especificidades que provocam contínua mudança nos
professores e em sua prática (ALMEIDA, 2001, p. 57).
Nessa perspectiva, a pedagoga Kaira enfatiza que quando se depara com alguma
situação que não concorda e tem certeza que pode ser diferente se posiciona, destaca que
acredita que muitas professoras desenvolvem determinadas práticas porque já estão
cristalizadas, e trabalhar com elas a mudança é desafiante.
A pedagoga Sofia descreve que acredita ter uma relação muito boa com as professoras
e não tem encontrado dificuldades para orientá-las. Valentina não quis se manifestar sobre
dificuldades enfrentadas para orientar e supervisionar.
A pedagoga Kaira narra que as dificuldades apresentadas, geralmente, são com as
professoras mais antigas que têm certa resistência ao novo, fato que diz não acontecer com as
mais novas na função. Paulo Freire (2015, p.74-75) escreve que mudanças são difíceis, mas
possíveis, devemos enxergar nossa ação no mundo como “possibilidades e não
determinação”. Salienta que nosso “papel no mundo não é de quem constata o que ocorre,
mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências”. Portanto, uma estratégia que a
pedagoga poderá lançar mão é buscar envolver os professores mais experientes num
movimento de colaboração com os novatos na implementação das mudanças na escola.
“Como presença consciente no mundo não posso escapar à responsabilidade ética no meu
mover-se no mundo”. (FREIRE, 2015, p.20). Nesse sentido, inferimos que não dá para
ficarem alheias às mudanças que acontecem no interior da escola, como se não as afetasse,
como se não fizessem parte do processo, é preciso envolver-se como sujeitos responsáveis por
transformação.
Relata que chegou à escola num período de mudanças em relação ao projeto
pedagógico desenvolvido (trabalhavam com contos). Quanto a supervisionar e orientar as
professoras na sistematização das formas de registro e avaliação para as aprendizagens em
91 Minas Gerais usa a terminologia Supervisor e orientador Pedagógico. Porém, em alguns Estados brasileiros há
uma variação quanto à terminologia coordenador e supervisor, pedagógico variando muito pouco quanto às
funções que exercem. Destacamos alguns exemplos dessa variação: “A Bahia, aglutinou as funções de
supervisor pedagógico e orientador educacional no cargo de Coordenador Pedagógico e São Paulo e
Florianópolis, tem licenciados desempenhando o papel de Coordenador Pedagógico. (VENAS, 2012, p.11).
Disponivel em:< http://educonse.com.br/2012/eixo_17/PDF/47.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2019.
203
sala de aula, narra que “[...] quando o professor tem alguma dúvida e não sabe como avaliar,
eu oriento... agora quando o professor já chega com aquele negócio pronto e acabado e eu
vejo que não está legal, não é aquilo, não tem necessidade ficar amassando barro [...]”.
(Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.5).
Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como contribuição ao
processo de humanização dos alunos historicamente situados, espera-se dos
processos de formação que desenvolvam os conhecimentos e as habilidades,
as competências, atitudes e valores que possibilitem aos professores irem
construindo seus saberes e fazeres docentes a partir das necessidades e
desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano.
(LIBÂNEO, 2002, p. 43-44).
Nesse sentido a atuação da pedagoga kaira se insere no processo de colaborar com as
professoras em função de superar desafios relativos à complexidade da ação educativa.
Acerca dos embasamentos teóricos que fundamentam suas práticas de supervisão e
orientação, a pedagoga Sofia salienta que gosta muito de ler e ultimamente tem lido o livro da
Jussara Hoffmam sobre avaliação na educação infantil, Projetos na Educação Infantil da
Maria Carmem Silveira Barbosa e a BNCC, para atender as demandas da prática pedagógica
na escola e as mudanças na educação devido à implementação da BNCC.
Em relação à participação em cursos de formação continuada e sua importância para a
atuação como supervisora pedagógica, de acordo com sua narrativa, tem realizado vários
cursos na rede municipal “a prefeitura tem isso de bom. ” (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019,
p.2). Destaca que no período que atuava no Colégio Nossa senhora fazia muitos cursos na
linha que trabalhavam que é a montesoriana92 e considera muito importante a formação
continuada, salientando que,
Eu penso que existe um vácuo, um vazio, na graduação e a formação
continuada ela melhora isso, ela preenche esse vazio. Não é um vazio, mas
existe uma lacuna mesmo e a formação continuada ela é mais chão da
escola, ela é mais próxima do olhar do que a graduação, então ela é muito
importante. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.2).
A pedagoga Valentina destaca que a escola Tecelã tem uma proposta e um currículo
que orientam o caminho a seguir e há orientações que vêm da SME, como as orientações
92De acordo com Maristela Angotti (2007), a perspectiva educacional constituída por Montessori (1965)
sustenta-se na “Pedagogia Científica”, fundada na educação sensorial. O ideal de escola nessa pedagogia reside
em propiciar e garantir as manifestações espontâneas e da personalidade da criança, de permitir e aflorar do livre
desenvolvimento da atividade no ser humano em sua infância. [...] É a educação baseada no desenvolvimento
dos sentidos, que guarda importante valor pedagógico e científico, já que o desenvolvimento dos sentidos
precede o das atividades superiores intelectuais, segundo seus créditos. (ANGOTTI, 2007, p. 105).
204
sobre o estudo da BNCC/2017, a “reorganização” do Plano Municipal93, que é a referência do
trabalho na Rede.
Como adora ler, busca em suas leituras ou estudos assuntos e temáticas voltados para
educação de forma que atendam às demandas da prática pedagógica, tanto teórica quanto
sugestões práticas. Defende que a formação continuada precisa ser a “vida inteira”, e está
sempre buscando se aperfeiçoar fazendo cursos no CEMEPE e em outros espaços. Afirma que
“[...] é importante, não tem como você trabalhar e não fazer uma leitura, uma referência, então
eu entendo que a formação é um caminho e porque ela é uma reflexão da prática, não é? Eu
acredito que é imprescindível”. (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.3).
A pedagoga Kaira narra que costuma se reunir com as pedagogas do outro turno para
estudarem as orientações e chegarem a um consenso sobre a forma que serão orientadas as
professoras. Como são projetos e não têm um livro didático ou uma coisa mais engessada,
cada turma tem a sua forma de conduzir, então as orientações vão conforme a demanda do
grupo (Pedagoga kaira, entrevista, 2019, p.4).
Mostra que gosta muito de ler, embora ultimamente não tenha lido muito. Quando
possível sempre lê sobre educação infantil e sobre as crianças. Tem buscado bases teóricas
para orientação pedagógica em textos sobre avaliação na educação infantil, também na
BNCC/2017. Indica os textos paras as professoras e na medida do possível tenta fazer as
leituras, durante o momento do “módulo onde melhor lhe convier” (OMC), em reuniões
pedagógicas. Para ajudar em sua prática de orientação e supervisão participa de formação
continuada no CEMEPE e, às vezes, na UFU e no Colégio Nacional de Uberlândia.
Ultimamente não tem participado por estar de licença. Defende a formação continuada, a qual
93 O PME, uma política de Estado e “a efetivação das diretrizes e metas estabelecidas no PME requer a
participação, o acompanhamento e a avaliação da sociedade civil, representada pelo Conselho Municipal de
Educação, Câmara Municipal, Conselho Escolar, Sindicatos e Associações dos Trabalhadores da Educação, pais
e responsáveis de alunos e todos os cidadãos que, de alguma forma, estejam envolvidos no processo educacional
dessa cidade.
2º A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigência deste PME, o Município de Uberlândia utilizará, para
aferir a evolução no cumprimento das diretrizes, estratégias e metas estabelecidas no Anexo D, p.334, desta Lei,
os estudos publicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, os
resultados de pesquisas sobre qualidade da educação desenvolvidas por instituições de ensino superior e pela
Secretaria Municipal de Educação, sem prejuízo de outras fontes e informações relevantes. § 3º O
Fórum Municipal de Educação, de que trata o inciso V deste artigo, será regulamentado por ato do Chefe do
Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias a contar da publicação desta Lei.
Art. 7º O Município de Uberlândia promoverá a realização de, pelo menos, 2 (dois) congressos municipais de
educação até o final do decênio, articulados e coordenados pelo Conselho Municipal de Educação,
Secretaria Municipal de Educação e Fórum Municipal de Educação”.
Disponível em: < https://www.uberlandia.mg.gov.br/prefeitura/secretarias/educacao/legislacao-educacao/>.
Acesso em 13 nov. 2019.
205
acha muito importante, porque “a gente tem as orientações no decorrer da graduação, mas não
te dá suporte suficiente e muito menos a vivência,
Os resultados das análises das narrativas das pedagogas sobre fundamentos para a
prática de supervisão e orientação permitem afirmar que há um consenso sobre lacunas na
formação inicial e o reconhecimento da aproximação da formação continuada de vivências e
demandas decorrentes do exercício de orientação e supervisão.
Permitem-nos considerar também que há consensos entre as 03 pedagogas
entrevistadas, quanto ao caráter mediador das práticas de supervisão e orientação pedagógica,
desenvolvidas na escola junto aos professores/as. As 03 afirmam contribuir com orientações e
reflexões sobre metodologia, planejamento, práticas avaliativas e registros, a fim de superar
dificuldades nos processos de ensino e aprendizagem. Destacam momentos de estudos
realizados nos módulos específicos para orientação na unidade escolar, tanto no coletivo
como individualmente, assim como indicação de leituras e estudo para serem feitas fora da
instituição. As narrativas das pedagogas se convergem a um trabalho em equipe em função de
orientações pertinentes às práticas pedagógicas, ao desenvolvimento dos projetos da
instituição e dos específicos dos professores, como também ao que se referem aos
encaminhamentos sobre a implementação das mudanças decorrentes dos ordenamentos legais
atuais como a Lei 12796/13 e BNCC/17.
6.2.4.1 Concepção de avaliação
Esta subseção analisa as entrevistas das pedagogas participantes da pesquisa, com o
objetivo de tecer compreensões acerca das concepções de avaliação que permeiam suas
práticas de orientação e supervisão.
Para a pedagoga Sofia (2019, p.6) "[...] a avaliação tem que ser processual contínua e
[...] ter esse olhar desafiador em qualquer modalidade [...]”. Concepção coadunada pela
pedagoga Valentina, que indica em sua narrativa que a avaliação na educação infantil é muito
importante, pois,
[...] é para você conhecer seu aluno, que nível que ele está e de que forma
que você vai fazer para que ele possa avançar ou desenvolver em algum
momento. [...] é observação mesmo, conhecer o aluno... conhecer e agora?
Está aqui.... e agora, para onde que eu vou? Quais os caminhos? Quais as
possibilidades? O que que esse aluno vai precisar para desenvolver?
(Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.10).
206
A pedagoga Kaira destaca que na educação infantil é muito importante e é necessário
avaliar porque, “cada criança é única e desenvolve da sua maneira, da sua forma, no seu
momento, mas tem que ter avaliação para saber como a criança está se desenvolvendo [...]”.
(Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p,8). Salienta que é preciso observar como a criança
chegou na escola e como ela está no final do ano, pois acredita que é um movimento que
possibilitará ao/a professor/a avaliar se a criança desenvolveu ou não.
Diante das análises das narrativas das pedagogas entrevistadas foi possível destacar
que as 03 pedagogas descrevem a avaliação na educação infantil como sendo processual,
contínua e necessária para o professor verificar como está a aprendizagem e o
desenvolvimento de seus/suas alunos/as e assim concluir se precisa modificar ou melhorar sua
prática e intervir a favor deles. Essa concepção avaliação está presente também nas
elaborações de Jussara Hoffmann (2015).
Ao serem perguntadas sobre quais práticas avaliativas e as formas de registros
adotadas na escola, as pedagogas entrevistadas destacaram “[...] as formas de registros que
nós adotamos são fotos e registros escritos. Nós trabalhamos muito com os relatórios, mas,
no final do ano. Registro de fotos, atividades de pinturas [...] observação, o registro nos
relatórios. (Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.8, grifo nosso). A pedagoga Valentina
acrescenta “[...] por enquanto, só observação e escrita das professoras, não é? [...] o que os
alunos produzem, que serve de base para o relatório, são vários momentos, em várias
situações... alguns professores filmam, alguns fotografam” (Pedagoga Valentina, entrevista,
2019, p.11, grifo nosso).
A pedagoga Sofia, em sua narrativa, destaca a importância de se usar práticas
diversificadas de registros, fazendo referência ao uso do portfólio, mas tece uma crítica
quanto ao tipo e a intencionalidade das atividades de registro que merece destaque.
[...] um professor que faz um portfólio... nossa pode auxiliar bastante! Desde
que isso volte para o aluno. Eu não acredito naquela avaliação de gaveta,
aquela que o aluno faz um monte de folhinha lá, e aí de repente guarda
aquelas folhinhas e entrega para pai como um troféuzinho de final de ano, eu
não acredito muito nisso não. Eu acho que perde, a criança tem que olhar o
material que ela produziu e ela encher os olhos e falar “eu fiz isso” pode ser
uma garatuja, mas eu fiz isso. E esse material tem que voltar pra criança
dessa forma, tipo, olha aqui sua produção, você fez isso, olha o que que a
gente pode fazer agora pra frente, então eu acredito que os registros
ajudam, desde que bem-intencionados. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019,
p.7, grifo nosso).
207
As 03 pedagogas entrevistadas afirmaram que as práticas diversificadas de registros
podem auxiliar no processo de avaliação dos/as alunos/as. Defendem que, como cada criança
é única, e se desenvolvem de maneira e em tempos diferentes, formas de registros diferentes
podem atender a todas as crianças de acordo com as especificidades de cada uma. “[...] porque
o professor de arte às vezes tem um olhar [...], às vezes um professor não viu uma
competência do aluno, mas ele é ótimo para contar história [...]”. (Pedagoga Valentina,
entrevista, 2019 p.11). Acrescentam que as formas diversificadas de registros ampliam as
possibilidades de a criança expressar suas potencialidades.
As orientações legais referentes a avaliação na educação infantil são bem claras em
suas definições, ao definir que as instituições de educação infantil devem criar e
procedimentos para o acompanhamento do trabalho pedagógico e garantir:
A observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações
das crianças no cotidiano;
Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças
(relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);
A continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de
estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela
criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no
interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-
escola/Ensino Fundamental);
Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho
da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e
aprendizagem da criança na Educação Infantil;
A não retenção das crianças na Educação Infantil. (BRASIL, 2010, p.31).
Nesse sentido, ponderamos que a narrativa da pedagoga Valentina, ao criticar a
“avaliação de gaveta” e destacar que os registros precisam ter intencionalidade, “tem que
voltar pra criança”, vem ao encontro dos postulados de Villas Boas (2007, p.15), quando
escreve que a “[...] avaliação existe para que se conheça o que o aluno aprendeu e o que ele
ainda não aprendeu para que se providenciem os meios para que ele aprenda o necessário para
a continuidade dos estudos”. Além da finalidade principal de promover a aprendizagem das
crianças traz possibilidade de contribuir com o trabalho pedagógico, pois, “[...] avalia-se,
também, para saber como foi desenvolvido o trabalho pedagógico de toda a escola e o da sala
de aula”. Portanto, é fundamental socializar esses documentos com a família e com o coletivo
da escola, não tem sentido realizar a avaliação e não dar continuidade ao processo educativo.
208
Assim, é importante manifestar a preocupação com o fardo de relatório elaborado no final do
ano letivo apenas para atender exigência legal.
6.2.5 Participação dos pais, mães e de outros responsáveis no processo de construção da
aprendizagem e desenvolvimento dos/as alunos/as
De acordo com as narrativas de todas as pedagogas entrevistadas, em relação à
participação dos pais e de outros responsáveis, consideram muito importante para o processo
de construção da aprendizagem e desenvolvimento das crianças. “É tão importante que escola
é manca sem os pais. Se a gente tivesse uma sala de 30 alunos e tivesse 30 pais que nos
acompanhassem a educação seria outra. A escola é um tripé e ela é manca sem os pais”
(Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.5).
[...] nós não conhecemos a nossa família, não conhecemos a família dos
nossos alunos. Nós conhecemos às vezes aquela família daquele aluno, que
ele é mais desafiador, que teve mais umas situações, [...], mas eu acho que é
fundamental que ela estivesse presente em vários momentos, em várias
situações no decorrer do ano na escola. [...] eu sempre falo com as meninas,
gente assim, no decorrer do planejamento, em algum momento, convida essa
família, tem alguma atividade que você gostaria de desenvolver e tivesse a
oportunidade dessa família participar, então se ela não participa e não
conhece a escola ela não valoriza às vezes aquilo que você está
desenvolvendo, não entende, não é nem porque ela não acredita, mas ela
também não entende que aquilo é importante para o desenvolvimento.
(Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.9).
A pedagoga Kaira, também, argumenta a favor da participação da família na escola:
[...] muito importante a participação da família e das pessoas mais próximas,
destacando que a criança já vem com uma bagagem, e a escola tem que
trabalhar em cima daquilo, [...] às vezes os pais vindo, conversando com os
professores, com a supervisão para gente ver como que é a criança, como
que é a família e às vezes o progresso que a criança tem tido na escola, a
gente tem passado também a saber como é que a criança está em casa [...]
(Pedagoga Kaira, entrevista, 2019, p.6).
Assim, a pedagoga Kaira reafima a importância de seu papel como mediadora das relações
entre família e escola, fundamental para a construção do projeto de educação.
E necessário ressaltar a importância da presença de um coordenador
pedagógico consciente de seu papel, que possa acompanhar o projeto
pedagógico da escola, formar professores, além de manter a parceria entre
pais, alunos e direção. O coordenador é o mediador da construção e o
estabelecimento de relações entre todos os grupos que desempenham o fazer
pedagógico, refletindo e construindo ações coletivas. (VASCONCELLOS,
2006, p.84).
209
De acordo com Moreira (2016. p.15), “[...] a escola deve aprender a partilhar sua
responsabilidade com os pais, por isso é de suma importância a presença dos pais em todas as
instâncias de decisão das escolas”. Juntos de forma informal ou formal, quando os pais, mães
ou responsáveis pelas crianças participam de forma mais ativa nos concelhos ou se envolvem
efetivamente no processo de aprendizagem dos filhos, contribuem significativamente para o
desenvolvimento e aprendizagem dessas crianças.
Destacamos diante da análise das narrativas das pedagogas que o contato diário das
mães e dos pais com os/as professores/as, não só em reuniões ou datas festivas pode trazer
contribuições importantes para redação dos registros dos/as professores/as sobre as crianças.
Geralmente, as mães e os pais em contato com os/as professores/as comentam sobre os/as
filhos/as, o que fazem em casa, as dificuldades, os avanços e aprendizagens. Esses momentos
são possibilidades de participação da família no processo de aprendizagem das crianças, que a
escola não pode deixar de considerar ao realizar a avaliação na educação infantil.
A Constituição promulgada em 1988, no seu Artigo 227, define claramente esse papel
de responsabilidades garantido à criança, sujeito de direitos:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração e opressão.
(BRASIL, 1988, p.148).
Nesse sentido é dever da escola buscar meios de envolver a família em suas propostas
para que estejam cientes da importância de sua participação na elaboração e efetivação do
Projeto Político Pedagógico. Assim como é dever dos pais ou responsáveis participar da vida
escolar de seus filhos.
6.2.6 Dificuldades para orientar professoras sobre formas de registro e avaliação para as
aprendizagens em contexto de aplicação da Lei 12796/13
Quando perguntado às pedagogas participantes da pesquisa se houve mudanças
significativas a partir da aprovação da Lei nº 12.796/13 e quais as dificuldades para cumprir
as exigências contidas na referida lei, as narrativas mostram que 02 pedagogas inicialmente
não relacionaram a referida lei às mudanças e exigências quanto à obrigatoriedade da
matrícula aos 04 anos de idade e, consequentemente, a obrigatoriedade de elaboração e
210
expedição de documentação comprobatória da aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Após a pesquisadora esclarecer sobre o conteúdo da Lei e seus significados as pedagogas
teceram considerações sobre as mudanças ocorridas para implementação da referida Lei.
A pedagoga Sofia declara que “não consegue fazer comparação, porque não estava
antes da aprovação da Lei na educação infantil, mas acredita que será positivo pois, precisa ter
realmente na rede uma prática, uma fala organizada sobre a avaliação na educação infantil”.
(Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.7).
De acordo com a narrativa da pedagoga Valentina a mudança é significativa, pois traz
a possibilidade de olhar para a criança de forma individualizada.
[...] assim, desconstruir essas coisas e construir outro conceito que é... eles
vão desenvolver, eles vão conseguir, eles vão escrever... claro, aquela
criança que não tiver nenhum outro comprometimento mais sério, aquela
criança que consideramos que está desenvolvendo dentro do ritmo esperado
e que não tem diagnostico complexo. Eu penso que é um esforço, mas
ainda tem muita resistência é muito assim de acreditar, eu preciso fazer
isso, o aluno precisa fazer isso, mas ele tem que aprender nesse tempo...
no tempo da aprendizagem, o tempo que ele precisa, o tempo é diferente
para cada um. (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.12).
Jussara Hoffmann (2015) salienta que “A ação avaliativa precisa considerar as
crianças em sua diversidade: sua realidade sociocultural, sua idade, suas oportunidades de
conhecimento, etc. [...]”. A narrativa da pedagoga Valentina está em consonância com os
teóricos que nos embasam e com as orientações oriundas da SME/UDIA, ao definir que os
registros deverão ser individuais e ressaltar os avanços qualitativos da criança em articulação
com a proposta trabalhada pela instituição. Demonstra compreender que as mudanças
decorrentes da Lei 12796/13, quando especifica a obrigatoriedade de expedição de
documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
criança, vir a atender e respeitar individualmente o processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças.
A pedagoga Kaira destaca que vê a mudança de forma positiva, porque
frequentemente a criança que chega ao primeiro ano não sabe nem segurar um lápis, tem
dificuldades de socialização por falta de contato anterior com outras crianças, porque nunca
foi à escola, não consegue acompanhar a turma. Segundo ela, a criança que veio da educação
infantil sabe diferenciar as letrinhas, sabe o que são números, tem facilidade de se socializar.
(Pedagoga Kaira, entrevista 2019, p.9).
211
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças
que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que
enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel
socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por
meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação.
(BRASIL, Referencial v.1, 1998, p.23).
Nessa perspectiva, inferimos que a pedagoga demonstra que a inserção das crianças na
educação infantil auxilia no processo de desenvolvimento e aprendizagem destas. As
oportunidades oferecidas pela escola contribuem para a aquisição e a apropriação de
conhecimentos e habilidades corporais, afetivas, cognitivas, além importância da interação
social.
A pedagoga Sofia informa que a primeira dificuldade enfrentada pelas professoras é
em relação à “organização da escrita. [...] o que eu vou observar, o que é importante de fato
observar nessa faixa etária que eu estou trabalhando? Entendeu? [...] eu vejo que a maior
dificuldade é essa, desse registro [...]”. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.4-5, grifo
nosso). Acrescenta que os/as professores/as, majoritariamente, não se organizam e depois
ficam pegando folhinhas de material dado para comparar um ou outro, “mas se você fizer o
registro desde o início, você não precisa também olhar aquelas folhinhas de material dado.
Então, para mim a maior dificuldade é essa, é o não saber o que olhar, o que avaliar ali
naquele momento”. (Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.4-5, grifo nosso).
A pedagoga Valentina ressalta que as professoras apresentam dificuldades de “[...]
falar exatamente quem é aquele aluno e descrever, relatar assim, tanto as questões sociais
como a questão da aprendizagem e do desenvolvimento, [...] eu acho que tem muito a ver
com o julgamento mesmo [...]”. Destaca que a “resistência apresentada nesse sentido está
relacionada ao fato de terem que colocar alguma coisa fora do esperado ou do padrão, então
elas têm dificuldades”. (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.7-8, grifo nosso).
A pedagoga Kaira mostra que tem observado muita dificuldade, “[...] na forma das
palavras serem utilizadas, [...] outra dificuldade que eu percebi foi com relação ao o que
avaliar. O que elas estariam avaliando no aluno, o que escrever deles, [...]. (Pedagoga Kaira,
entrevista, 2019, p.6, grifo nosso).
Nesse contexto, Villas Boas (2007, p. 45), ao definir a observação como procedimento
que integra o processo avaliativo, salienta que esta é importante e muito útil em todas as
situações de aprendizagem, pois “[...] aproximam professores e alunos, em situações
variadas”. Acrescenta,
212
A observação permite investigar as características individuais e grupais dos
alunos, para a identificação das suas potencialidades e fragilidades, assim
como dos aspectos facilitadores e dificultadores do trabalho. É importante
conhecer como os alunos aprendem, como se relacionam, como percebem a
escola e a atuação do professor, suas preferências (na escola, na família e em
outros espaços). (VILLAS BOAS, 2007, p.45).
Recorrendo às elaborações de Stierer (1993) citado por Villas Boas (2007) estabelece
passos necessários para o planejamento da observação94, que são importantes para os/as
professores/as, ao avaliarem com objetivo de promoverem aprendizagem significativa. Nesse
sentido, vejamos como orientar o planejamento na realização de observação:
a) Organização da sala de aula- [...] quando observar? [...] Que
momentos do tempo escolar podem ser dedicados a observações? [...]. b) Estabelecimento do alvo das observações - Quantos alunos
observar? [...] Quem observar? [...] Onde observar? [...] O que
observar? [...] Por quanto tempo observar? c) Organização dos registros de observação - Também faz parte do
planejamento da observação decidir sobre como serão feitos os seus
registros. [...] Onde manter o caderno de registro? [...] Que quantidade
de anotações deve ser feita? [...] O que anotar? [...] Quando anotar? d) O uso dos registros de observação – [...] O que analisar? [...]
Quando analisar? [...] Como analisar? (STIERER, 1993, p. 24 apud VILLAS BOAS, 2007, p.45-48, grifo da autora).
Acrescentamos a essa análise que não podemos nos esquecer que “a avaliação
formativa usa todas as informações disponíveis sobre o aluno [...] precisamos selecionar os
procedimentos que atendam a cada situação e a cada contexto pedagógico. (VILLAS BOAS,
2007, p. 48).
O resultado das análises das narrativas das pedagogas demonstra que as dificuldades
enfrentadas pelas professoras na elaboração de relatórios sobre os/as alunos/as se referem à
organização da escrita, aos registros das observações das crianças, à falta de clareza quanto ao
que observar e avaliar, à resistência de expor, de registrar o observado, ao fato de escrever
sobre a criança como se fosse julgá-la e à forma de descrever e escolher as palavras a serem
utilizadas (terminologias). Além das questões apresentadas, as pedagogas indicam que as
professoras observam e acompanham as crianças, mas não realizam o registro desde o início,
não sistematizam os registros que serviram de apoio à elaboração do relatório parcial ou do
relatório final.
94 O desenvolvimento dessa discussão sobre os passos necessários no planejamento da observação, está melhor
especificado no Apêndice J (p.258), sobre o Produto - CADERNO DE REFLEXÕES: avaliação na educação
infantil.
213
6.2.7 Propostas para superar as dificuldades de avaliar na educação infantil e exigências
contidas na 12.796/13
Esta subseção apresenta propostas para superar dificuldades de avaliar na educação
infantil e responder exigências contidas na 12.796/13, pautadas na análise das narrativas das
03 pedagogas participantes das entrevistas. Apresentamos a seguir as propostas de acordo
com suas narrativas.
As narrativas da pedagoga Sofia sobre propostas, para superar as dificuldades,
contemplam: “[...] ir anotando ao longo do processo para depois você ter um material ali e
falar, meu aluno chegou em fevereiro assim, assim e assim, eu observei isso, isso e isso.
Agora em junho o meu aluno está assim, assim e assim. Então, você faz um paralelo”.
(Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.4, grifo nosso).
A pedagoga Valentina indica que “[...] o professor tem de estudar, tem que pesquisar
muito [...]”. (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.6). E a pedagoga Kaira apresenta como
proposta “[...] respeitar o tempo de cada um mesmo, estudo acho que é compromisso...
acreditar que a criança tem possibilidades [...].” (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019,
p.15, grifo nosso).
Para Jussara Hoffmann (2015, p. 45), não há possibilidade de o/a professor/a
desenvolver ação avaliativa pautada no acompanhamento e mediação, “como um momento no
final do processo, desvinculada do cotidiano da ação educativa e da dinâmica da construção
do conhecimento”. A mediação nesse sentido, significa
[...] um estado de alerta permanente do professor que acompanha e estuda a
história da criança em seu processo de desenvolvimento [...] não um
processo espontaneísta [...], mas, fundamentado em premissas teóricas
consistentes sobre a construção do conhecimento e na definição de objetivos
significativos que embasem a observação, a reflexão e a ação pedagógica. ”
(HOFFMANN, 2015, p.45-46).
Nessa direção, inferimos que, com base nos resultados da análise das narrativas das
pedagogas, estas apresentam a concepção de avaliação mediadora defendida por Hoffmann.
Propõem aos/ professores/as anotações sobre a criança ao longo do processo, a observação da
criança comparando-a com ela mesma, o respeito a seu tempo e a suas possibilidades de
aprendizagem e desenvolvimento e sugerem estudos e aprofundamentos para fundamentar
essa pratica.
214
A pedagoga Valentina faz crítica quanto a padronização de atividades, “[...] não tem que
ser 24 atividades iguais, iguaizinhas, não justifica você ter avaliado [...]. Então, o portfólio do
aluno [...] não tem que ser iguaizinhos a todos, ninguém disse que tem que ser igual”.
(Pedagoga Valentina, entrevista, 2019, p.15, grifo nosso). Em consonância com as orientações
de Hoffmann (2015, p.127), destaca, “não é possível padronizar o que se observa das crianças
de um grupo ou os contextos em que serão observados”, a pedagoga Valentina mostra que as
práticas avaliativas e os registros precisam “referenciar” as crianças individualmente,
respeitando seus contextos e especificidades.
Sendo o/a supervisor/a pedagógico considerado/a como o sujeito que tem como objetivo
contribuir com os/as professores/as, no sentido de viabilizar a prática docente, orientando-os
com o planejamento, a formação continuada e os processos de análise e reflexão sobre a
prática, o seu trabalho é pautado numa intencionalidade, a superação das dificuldades
enfrentadas pelos/as professores/as em função dos processos de desenvolvimento e
aprendizagem das crianças. “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se
pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico necessário à reflexão crítica tem
de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática”. (FREIRE, 2015, p. 40).
Nesse sentido, destacamos, de acordo com os resultados mostrados na análise das
narrativas, as propostas mencionadas pelas pedagogas com o objetivo de contribuir para
superar as dificuldades de avaliar na educação infantil:
a) Organização e sistematização das observações e registros das crianças durante todo
o processo, respeitando o tempo da criança e acreditando em suas potencialidades.
b) Construção de portfólios sem padronização das atividades.
c) Elaboração semestral do relatório individual.
d) Realização de outros estudos e pesquisas sobre o tema na perspectiva de ajudar a
enfrentar as dificuldades para implementar avaliação na Educação Infantil, na
forma como especifica a Lei 12796/13.
6.2.8 Entrecruzando as análises dos dados
As análises entrecruzadas dos dados, relativos aos 05 relatórios disponibilizados e as
14 entrevistas realizadas com as 11 professoras e 03 pedagogas participantes da pesquisa, nos
possibilitaram realizar as seguintes considerações: embora a maioria das professoras e
pedagogas manifestarem compreensão de avaliação na educação infantil como sendo
processual, contínua e necessária para o/a professor/a verificar como está a aprendizagem e o
215
desenvolvimento das crianças e intervirem, caso necessário, foi possível verificarmos que a
maior parte da avaliação citada e realizada pelas professoras não é registrada. Os relatórios e
narrativas demonstram, frequentemente, práticas de avaliação tradicional, padronizada,
comparativa em relação às outras crianças, preocupadas em medir comportamentos com bases
em padrões considerados desejáveis. A frequência foi um dado apresentado como um fator de
avaliação e inferimos que no campo da avaliação formativa não há problema que seja. Todos
os elementos que possam servir de evidências de não aprendizagens ou de aprendizagens
devem ser levados em conta. A diferença é a intencionalidade, ou seja, para que utilizo? Para
punir ou para mudar a realidade detectada? Observamos também narrativas de professoras
que consideram a educação infantil e a avaliação como preparatórias para as etapas seguintes,
contradizendo o que orienta as bases legais sobre a finalidade desse nível de educação e do
processo avaliativo. Principalmente, ao apresentarem dúvidas sobre a consistência da
avaliação mediadora, formativa, processual, sugerindo métodos tradicionais como provas e
até retenção das crianças que não corresponderem aos seus critérios avaliativos.
Todavia, analisamos também narrativas de professoras e pedagogas, assim como ações
descritas nos relatórios que se convergiram em relação ao papel da observação do processo
educativo, um procedimento fundamental no processo de acompanhamento da criança.
Mostram o papel do professor mediador nos ciclos de desenvolvimento e aprendizagem das
crianças, e tecem críticas aos roteiros padronizados de avaliação, assim como apresentam
dúvidas sobre o que avaliar, como avaliar e porque avaliar. Além disso, evidenciaram
dificuldades na elaboração da avaliação com registros, na forma de relatar e uma relutância
em falar sobre a criança avaliada.
O resquício de avaliação tradicional punitiva se evidencia quando manifestam receio
de escreverem sobre a criança. Preocupam-se em como elas mesmas serão avaliadas pela
escola, pela família ou responsáveis pelo/ao aprendiz. Os termos e as expressões apropriadas
são motivos de aflição e questionamentos éticos.
Ao mesmo tempo em que as professoras destacam a relevância da observação, tanto nas
narrativas, como ao descreverem sobre a criança nos relatórios, consideram que formas de
registros diversificadas contribuem com o processo avaliativo diante das especificidades
infantis, não mostram como utilizam esses procedimentos ao observar e acompanhar as
crianças no percurso e nem na elaboração do relatório final. Não encontramos, nos relatórios e
nem nas narrativas, indícios sobre a retomada desses registros e nem sobre propostas de
intervenção, caso necessárias. Podemos inferir que os relatórios expõem a proposta
216
pedagógica da escola, as ações da professora e da criança, mas frequentemente a vinculação
entre o ensino, aprendizagem e avaliação não fica clara.
Nesse sentido, as dificuldades narradas pelas professoras e observadas nas análises das
entrevistas e nos relatórios se convergem nas narrativas das pedagogas que as acompanham.
Estas evidenciaram que as professoras enfrentam dificuldades significativas em relação à
fundamentação teórica, sobre processos avaliativos, aprendizagem e desenvolvimento infantil.
Também na organização e sistematização dos registros, no uso de procedimentos avaliativos e
terminologias a serem utilizadas. Deixam claro que as professoras realizam o
acompanhamento das crianças avaliando-as normalmente, mas não registram ou não utilizam
esses registros de maneira a contribuir na hora de redigir o relatório parcial ou final da
criança. Nesse sentido, tanto as professoras como as pedagogas sugerem a utilização de
procedimentos como portfólios, ou outras formas de registros não padronizados para auxiliar,
durante o ano letivo, no processo avaliativo dos/as discentes.
Finalmente, as análises entrecruzadas dos relatórios e das entrevistas também
evidenciam compreensões de professoras e pedagogas que consideram as crianças com
potencial de aprendizagem e desenvolvimento, capazes de interagirem com autonomia e
intervirem significativamente no meio, produzindo cultura.
217
CONSIDERAÇÕES FINAIS
[...] E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da
janela. [...] Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma
linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz,
que a manhã repetiu na linha do horizonte. (MARINA COLASANTI, 2001,
p.13-14).
Tecendo e tecendo, como a Moça Tecelã, percorremos essa viagem. “[...] Uma bela
viagem deu-te Ítaca. Sem ela não te ponhas a caminho. Mais do que isso não lhe cumpre dar-
te. Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu. Sábio como és agora, senhor de tanta
experiência, terás compreendido o sentido de Ítaca” (KAVÁFIS, 2006, p.146 -147).
Contribuir para as reflexões sobre as dificuldades enfrentadas a partir da aprovação da
Lei nº 12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das formas de registro
do avaliado na educação infantil de uma escola pública municipal de Uberlândia/MG, foi
nosso objetivo principal e um grande desafio nessa viagem. Para tornar nossa jornada mais
instigante e significativa, buscamos analisar quais as concepções de avaliação, as práticas
avaliativas e as formas de registros sobre os/as alunos/as adotadas por professores/as e
pedagogos/as, em uma escola pública municipal de educação infantil de Uberlândia/MG.
Nesse contexto, identificar e analisar as dificuldades enfrentadas por esses/as profissionais na
sistematização das formas de registro e avaliação para as aprendizagens nos possibilitou
elaborar um “Caderno de Reflexões: avaliação na educação infantil” (Apêndice J, p.258), com
base nas demandas identificadas no contexto das dificuldades em avaliar.
Descobrir, como pesquisadora, juntamente com as professoras e pedagogas
participantes da pesquisa, o quanto nos falta, foi um processo de aprendizagem que se
mostrou conflituoso e doloroso. Reconheci que possuía as mesmas dificuldades, aflições e
lacunas de formação. Ao passo de questionar-me sobre as condições para analisar os dados
apresentados na pesquisa. Mas, a racionalidade trouxe-me a sensatez de reconhecer que não
estamos sozinhos. Nos fez revisitar Paulo Freire (2015) para trazer-nos à lucidez da nossa
condição de seres inacabados incompletos, mas potencialmente capazes de ensinar e de
aprender sobre nós e “[...] para aprender dos doutos” [...] e construir significados. (KAVÁFIS,
2006, p.146-147).
Durante a jornada o caminho foi longo, mas “repleto de saber”, o que nos permitiu
tecer considerações possíveis de acordo com os objetivos estabelecidos para alcançar nosso
destino, assim planejado.
218
Os resultados da pesquisa demostraram que concepções contraditórias de avaliação na
educação infantil estão presentes nas narrativas das professoras. Concepções de criança e
infância como potencialmente capazes, participantes, produtoras de culturas, em consonância
com a avaliação formativa, mediadora. Narrativas sobre o fato de acompanhar a criança e
realizar observação constante, embora não façam referência como organizam os registros
dessas observações. Entretanto, outras narrativas evidenciam sinais ou resquícios de avaliação
com sentido de punição e pautada em comportamentos desejáveis da criança e não pensada
para promover a aprendizagem e o desenvolvimento. Concepções de avaliação punitiva,
claramente explicitada pelo desejo de aplicação de provas e reprovação, defendidas como o
certo ao avaliar e como promoção da aprendizagem e o desenvolvimento da criança.
A análise dessas narrativas, também, mostrou críticas quantos à forma de avaliar
pautada no modelo de roteiros padronizados sobre as crianças, entretanto, apresentaram
dúvidas sobre o que avaliar, como avaliar e porque avaliar. Denúncia da finalidade da
elaboração do Relatório como resposta para quem está fora do processo educativo,
transformando-o em uma ação burocrática, também ficou evidenciada no decorrer das
análises.
Em relação às dificuldades de avaliar na educação infantil, narradas pelas professoras,
especialmente no contexto da implementação da Lei 12796/13, os resultados das análises das
entrevistas e dos relatórios elaborados pelas professoras se aproximam das narrativas das
pedagogas que as acompanham. Estas evidenciaram que as docentes enfrentam dificuldades
significativas em relação à fundamentação teórica sobre processos avaliativos, aprendizagem
e desenvolvimento infantil. Também na organização e sistematização dos registros, no uso de
procedimentos avaliativos e terminologias a serem utilizadas. Deixam claro que as
professoras realizam o acompanhamento das crianças avaliando-as cotidianamente, mas não
registram ou não utilizam, frequentemente, esses registros de maneira a contribuir na redação
do relatório parcial ou final da criança. Tanto as professoras, como as pedagogas, sugeriram a
utilização de procedimentos como portfólios, ou outras formas de registros não padronizados
para auxiliar, durante o ano letivo, no processo avaliativo das crianças.
Outras dificuldades observadas na análise das narrativas, para a sistematização das
formas de registro e avaliação voltadas para as aprendizagens, ações exigidas em decorrência
da implementação da Lei 12.796/13, são relativas à quantidade de crianças em sala de aula, à
elaboração do “planejamento (o que ensinar, como ensinar e o que avaliar). Destacam-se
dificuldades quanto à fundamentação teórica, como elaborar, o que deve constar no Relatório
e quais os conceitos e os termos que seriam mais apropriados ou corretos.
219
As análises das narrativas das professoras participantes da pesquisa permitiram afirmar
que elas realizam práticas avaliativas e adotam formas de registros diversificados de acordo
com as bases teóricas e legais. Além disso, os resultados das análises das narrativas das
professoras e pedagogas mostraram críticas à utilização de atividades xerocadas,
padronizadas, que não respeitam as especificidades das crianças e das infâncias. Defendem
tempo e espaços diversificados e ricos como intervenção pedagógica significativa.
Quanto à elaboração dos relatórios individuais das crianças, a maioria das professoras
entrevistadas informou ter muitas dificuldades, mas reconhece que ocorreram avanços.
Os termos e as expressões apropriadas na elaboração do relatório são motivos de
aflição e questionamentos éticos. Nesse sentido, os resultados dessa pesquisa evidenciaram as
demandas das professoras e pedagogas por orientações teóricas e práticas de forma a ajudá-las
a enfrentar dificuldades para implementar avaliação na educação infantil na forma como
especifica a Lei 12796/13. Propuseram um guia/caderno que as apoiassem na organização e
sistematização das observações e dos registros realizados com e sobre as crianças, assim
como orientações sobre procedimentos e terminologias apropriadas a serem usadas na
elaboração do relatório descritivo.
Ao ficar evidenciada, na análise das narrativas das professoras e pedagogas
participantes da pesquisa, a importância dos portfólios como procedimentos que possibilitam
aos sujeitos que convivem diretamente com a criança no cotidiano escolar, se expressarem
sobre ela, salientamos que nas análises não aparecem dados referentes às contribuições dos/as
professores/as de aulas especializadas. No caso da escola Tecelã, seria aula de Educação
Física, Arte e Culturas Regionais e Locais. A cobrança da elaboração do relatório das
crianças, de acordo com as orientações da SME/UDIA, recai sobre o/a professor/a Regente I,
não havendo até o momento a participação dos/as outros/as professores/as que atuam juntos às
crianças.
Assim sendo, sugerimos constar nos relatórios as contribuições de todos/as os/as
envolvidos/as diretamente com a criança. Consideramos essa participação fundamental, visto
que o portfólio é um procedimento valioso de avaliação formativa e o processo por ele
desencadeado contribui com a criação de elos importantes no estabelecimento dos diálogos
entre os/as envolvidos/as: as crianças, os/as professores/as e os pais, se constituindo como
recurso significativo no momento em que os/as professores/as regentes de sala forem elaborar
os relatórios descritivos das crianças. Nesse sentido, destacamos a importância do diálogo
envolvendo escola, família, os/as professores/as envolvidos/as e, se possível, os/as docentes
do ano seguinte para uma socialização desses registros/relatórios, já que são fontes
220
importantes para os/as professores/as conhecerem, acompanharem a criança e formularem
ações educativas.
Espera-se que a pesquisa realizada contribua para reflexões sobre dificuldades
enfrentadas pelos/as docentes e pedagogos/as, ao realizar avaliação na educação infantil no
contexto de implementação da Lei 12796/13 e, além disso, de acordo com Freire (2015), a
“pensar certo” no contexto da avaliação mediadora, emancipatória, libertadora, dialógica,
participativa, humanizante e democrática, na qual todos os sujeitos envolvidos sejam
reconhecidos como parte do processo. E o fundamental, desenvolvida com bases em práticas
avaliativas, procedimentos e formas de registros intencionais e significativos, considerando as
especificidades das infâncias e as crianças como sujeitos de direitos e produtoras de cultura.
Por conseguinte, há necessidade de continuar as pesquisas sobre avaliação, articuladas com a
formação e os processos de ensino e aprendizagem dos/as profissionais da educação.
221
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Pedagógico. Disponível em: <http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br/avaliacao-na-
educacao-infantil-segundo-a-lei-no-12-796/> Acesso em: 22 fev.2019.
VIGOTSKII, Lev Semenovich, 1896-1934. V741L. Linguagem, Desenvolvimento e
Aprendizagem/Lev Semenovich Vigotskii, Alexander Romanovich Luria, Alex N. Leontiev;
tradução de: Maria da Pena Villalobos. - 11a edição - São Paulo: ícone, 2010.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,
1989.
VYGOTSKY, Lev. S. A Formação Social da Mente. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes
Editora Ltda, 1991.
WALLON, Henri. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa, 1981.
WIKIPEDIA. In: Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Disponível
em:< https://pt.wikipedia.org › wiki › Associação_de_Assistência_à_Criança_De...>. Acesso
em: 24 out 2019.
ZABALZA, M. A. Qualidade em Educação Infantil. Tradução de Beatriz Affonso Neves.
Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZEICHNER, Kenneth M. Política de formação de professores nos Estados Unidos: como e
por que elas afetam vários países do mundo. Tradução de Cristina Antunes. Belo Horizonte:
Autêntica, 2013.
233
ZOTTI, Solange Aparecida. Organização do ensino primário no Brasil: uma leitura da
história do currículo oficial. UNICAMP e UnC/ Concórdia. S.P: Ed. Autores Associados e
Ed. Plano, 2004.
234
APÊNDICES
APÊNDICE A - Roteiro da entrevista semiestruturada com professores/as participantes da
pesquisa
I PARTE - DADOS PESSOAIS
Idade Sexo Raça/cor Classe
Social
Religião
II PARTE – FORMAÇÃO ACADÊMICA E DOCÊNCIA
2.1. Fale sobre sua Formação acadêmica e anos de docência
2.1. Você fez graduação em uma instituição pública ou privada?
2.2. No decorrer do curso, você teve alguma disciplina que trabalhasse a temática educação
infantil? Se a resposta for afirmativa, fale sobre essa disciplina.
2.3. No decorrer do curso, você teve alguma disciplina que abordasse o tema avaliação na
educação infantil? Se a resposta for afirmativa, fale sobre esse tema.
2.4. Os conteúdos trabalhados durante o período acadêmico contribuem para a prática docente
fundada em formas de registros ou práticas avaliativas na educação infantil?
2.5. Você participa ou participou de algum curso de formação continuada, após a graduação?
2.6. Você considera importante a formação continuada para a prática docente?
III PARTE - ATUAÇÃO PROFISSIONAL
3.1. Você está satisfeito/a trabalhando com a educação infantil?
3.2. Quais as vantagens de se trabalhar com a educação infantil?
3.3. Fale sobre seus/suas alunos/as.
3.4. Quais as dificuldades encontradas para ensinar?
3.5. Em que você tem baseado sua prática docente?
3.6. Quais as dificuldades que você enfrenta quanto à elaboração de relatórios/registros de
seus/suas alunos/as?
3.7. Você considera a participação dos pais e de outros responsáveis, importante para o
235
processo de construção da aprendizagem e desenvolvimento de seus/suas alunos/as?
3.8. Em sua opinião, quais medidas tomadas pela escola favoreceriam a prática docente
voltada para o processo de construção da aprendizagem e desenvolvimento de seus/suas
alunos/as?
3.9. Fale sobre avaliação na educação infantil.
IV PARTE – PRÁTICAS AVALIATIVAS
4.1. Você gosta de ler? O que gosta de ler? Tem lido com que frequência?
4.2. Em suas leituras ou estudos, você procura assuntos e temáticas voltados para educação de
forma que atenda demandas da prática docente?
4.3. Fale sobre o planejamento de aula e as formas de registros que você utiliza.
4.4. Qual o significado da avaliação na educação infantil?
4.5. Quais são as práticas avaliativas e as formas de registros que você adota?
4.6. Você acha que as práticas diversificadas de registros, podem auxiliar no processo de
avaliação de seus/suas alunos/as?
4.7. Em sua opinião, houve mudanças significativas a partir da aprovação da Lei nº
12.796/13? Descreva-as.
4.8. Você gostaria de acrescentar outras considerações?
236
APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semiestruturada com pedagogos/as participantes da
pesquisa
I PARTE - DADOS PESSOAIS
Idade Sexo Raça/cor Classe Social Religião
II PARTE - FORMAÇÃO ACADÊMICA E PRÁTICA DE ORIENTAÇÃO E
SUPERVISÃO
2.1. Fale sobre sua Formação acadêmica e anos de atuação como pedagogo/a
2.2. Você cursou graduação em instituição pública ou privada?
2.3. No decorrer do curso, você teve alguma disciplina que trabalhasse a temática Educação
Infantil? Se a resposta for afirmativa, fale sobre essa disciplina.
2.4. No decorrer do curso, você teve alguma disciplina que abordasse o tema avaliação na
educação infantil? Se a resposta for afirmativa, fale sobre esse tema.
2.5. Os conteúdos trabalhados, durante a graduação, contribuem para a supervisão e
orientação pedagógica fundada em formas de registros ou práticas avaliativas na educação
infantil.
2.6. Você participa ou participou de algum curso de formação continuada, após a graduação?
2.7. Você considera importante a formação continuada para a supervisão e orientação
pedagógica?
III PARTE - ATUAÇÃO PROFISSIONAL
3.1 Você está satisfeito trabalhando com a educação infantil?
3.2. Quais as vantagens de se trabalhar com a educação infantil?
3.3. Fale sobre os/as professoras e formas de orientação e supervisão.
3.4. Quais as dificuldades encontradas para orientar e supervisionar os/as professores/as?
3.5. Em que você tem se baseado para realizar orientação pedagógica sobre avaliação?
3.6. De que forma você contribui para a construção do planejamento e das práticas
avaliativas?
3.7. Em sua opinião, quais são as dificuldades que os professores enfrentam quanto à
elaboração de relatórios/registros sobre os/as alunos/as.?
3.8. Você considera a participação dos pais e de outros responsáveis, importante para o
237
processo de construção da aprendizagem e desenvolvimento dos/as crianças?
IV PARTE _PRÁTICAS AVALIATIVAS
4.1. Você gosta de ler? Tem lido com que frequência?
4.2. Em suas leituras ou estudos, você procura assuntos e temáticas voltados para educação de
forma que atendam às demandas da prática pedagógica na escola?
4.3. Você propõe momentos de leitura com os/as professores/as e outros/as membros da
equipe, durante as reuniões pedagógicas?
4.4. Qual o significado da avaliação na educação infantil?
4.5. Quais são as práticas avaliativas e as formas de registros adotados na escola?
4.6. Você acha que as práticas diversificadas de registros, podem auxiliar no processo de
avaliação dos/as alunos/as? Se sim, como?
4.7. Em sua opinião, houve mudanças significativas a partir da aprovação da Lei nº
12.796/13? Descreva-as.
4.8. Você gostaria de acrescentar outras considerações?
238
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido – Professor/a
Você está sendo convidado a participar da pesquisa, O(S) EFEITO(S) DA LEI 12.796/13
NA AVALIAÇÃO: um estudo sobre as práticas avaliativas desenvolvidas em escola
pública de educação infantil de Uberlândia- MG. Sob a responsabilidade da pesquisadora
Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri, pós-graduanda em Educação na Universidade de
Uberaba (UNIUBE), e da pesquisadora Profª. Drª. Gercina Santana Novais, docente do
Programa de Mestrado Profissional em Educação: Formação Docente para a Educação
Básica, orientadora da pesquisa. Os objetivos da referida pesquisa são:
Analisar quais são concepções, práticas avaliativas e as formas de registros sobre
os/as alunos/as, adotadas na escola pública de educação infantil de Uberlândia/MG,
por professores/as e pedagogos/as.
Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos professores na sistematização
das formas de registro e avaliação para as aprendizagens.
Elaborar “vídeo formação” com base nas demandas identificadas no contexto das
dificuldades para avaliar.
O objetivo maior é o de contribuir para as reflexões sobre dificuldades enfrentadas, a partir
da aprovação da Lei nº 12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das
formas de registro do avaliado na Educação Infantil da rede pública municipal de
Uberlândia/MG.
Sua colaboração consiste em participar de uma entrevista de acordo com disponibilidade de
horário e local e autorizar a observação das aulas. Essa entrevista será gravada e transcrita,
após a transcrição e leitura, a gravação será destruída. As observações serão registradas por
meio da escrita. Assinando o presente termo, você nos concede a anuência para publicações
científicas dos dados construídos com a pesquisa, diante de nosso compromisso ético de
garantir o sigilo de sua identidade.
1. Em nenhum momento você será identificado e utilizaremos pseudônimos no texto
científico, visando que seu nome e dados de identificação sejam preservados. Os resultados da
pesquisa serão publicados e ainda assim a sua identidade será preservada.
2. Você não terá nenhum gasto e/ou ganho financeiro por participar da pesquisa.
3. Este estudo não oferece nenhum risco a sua saúde ou nenhum ônus, e lhe oferece a
oportunidade de expor seus pensamentos referentes à temática.
239
4. Você é livre na decisão de participar e de deixar de participar desta pesquisa a qualquer
momento, sem nenhum prejuízo.
5. Uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ficará com você e outra com
a equipe executora da pesquisa.
6. A qualquer momento você poderá solicitar informações referentes à pesquisa, entrando em
contato com as pesquisadoras responsáveis através dos endereços, telefones e e-mails
disponibilizados a seguir:
- Pesquisadora principal: Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri
Você poderá também entrar em contato com o Comitê de Ética na Pesquisa com Seres
Humanos – Universidade de Uberaba (UNIUBE) – Campus Aeroporto – Bloco R –
PROPEPE – Telefone: (34)3319-8950 – E-mail: [email protected]
Uberlândia, ____ de ________________ de 20____.
___________________________________________________________________________
Assinatura da pesquisadora
Eu, __________________________________________________, aceito participar do
projeto citado acima, voluntariamente, após ter sido devidamente esclarecida/o.
Assinatura:_____________________________________________________________
240
APÊNDICE D – Termo de consentimento livre e esclarecido – Pedagogo/a
Você está sendo convidado a participar da pesquisa, O(S) EFEITO(S) DA LEI 12.796/13
NA AVALIAÇÃO: um estudo sobre as práticas avaliativas desenvolvidas em escola
pública de educação infantil de Uberlândia- MG. Sob a responsabilidade da pesquisadora
Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri, pós-graduanda em Educação na Universidade de
Uberaba (UNIUBE), e da pesquisadora Profª. Drª. Gercina Santana Novais, docente do
Programa de Mestrado Profissional em Educação: Formação Docente para a Educação
Básica, orientadora da pesquisa. Os objetivos da referida pesquisa são:
Analisar quais são concepções, práticas avaliativas e as formas de registros sobre
os/as alunos/as, adotadas na escola pública de educação infantil de Uberlândia/MG,
por professores/as e pedagogos/as.
Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos professores na sistematização
das formas de registro e avaliação para as aprendizagens.
Elaborar “vídeo formação” com base nas demandas identificadas no contexto das
dificuldades para avaliar.
O objetivo maior é o de contribuir para as reflexões sobre dificuldades enfrentadas, a partir
da aprovação da Lei nº 12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das
formas de registro do avaliado na Educação Infantil da rede pública municipal de
Uberlândia/MG.
Sua colaboração consiste em participar de uma entrevista de acordo com disponibilidade de
horário e local. Essa entrevista será gravada e transcrita, após a transcrição e leitura, a
gravação será destruída. As observações serão registradas por meio da escrita. Assinando o
presente termo, você nos concede a anuência para publicações científicas dos dados
construídos com a pesquisa, diante de nosso compromisso ético de garantir o sigilo de sua
identidade.
1. Em nenhum momento você será identificado e utilizaremos pseudônimos no texto
científico, visando que seu nome e dados de identificação sejam preservados. Os resultados da
pesquisa serão publicados e ainda assim a sua identidade será preservada.
2. Você não terá nenhum gasto e/ou ganho financeiro por participar da pesquisa.
3. Este estudo não oferece nenhum risco a sua saúde ou nenhum ônus, e lhe oferece a
oportunidade de expor seus pensamentos referentes à temática.
4. Você é livre na decisão de participar e de deixar de participar desta pesquisa a qualquer
momento, sem nenhum prejuízo.
241
5. Uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ficará com você e outra com
a equipe executora da pesquisa.
6. A qualquer momento você poderá solicitar informações referentes à pesquisa, entrando em
contato com as pesquisadoras responsáveis através dos endereços, telefones e e-mails
disponibilizados a seguir:
- Pesquisadora principal: Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri
Você poderá também entrar em contato com o Comitê de Ética na Pesquisa com Seres
Humanos – Universidade de Uberaba (UNIUBE) – Campus Aeroporto – Bloco R –
PROPEPE – Telefone: (34)3319-8950 – E-mail: [email protected]
Uberlândia, ____ de ________________ de 20____.
___________________________________________________________________________
Assinatura da pesquisadora
Eu, __________________________________________________, aceito participar do
projeto citado acima, voluntariamente, após ter sido devidamente esclarecida/o.
Assinatura:_____________________________________________________________
242
APÊNDICE E – Termo de autorização para realização de pesquisa-Diretoras/diretores
Universidade de Uberaba
Faculdade de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação E-Mail:[email protected]
. Av. Marcos Freitas Costa, nº 1041 – Bairro Daniel Fonseca - Campus UGD / Uberlândia (034)3292-5688
TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA-
DIRETORAS/DIRETOES Uberlândia, _____. _____._____.
Senhora Diretora/Senhor Diretor,
Nós iremos desenvolver o projeto de pesquisa “O(S) EFEITO(S) DA LEI 12.796/13 NA
AVALIAÇÃO: um estudo sobre as práticas avaliativas desenvolvidas em escola pública de
educação infantil de Uberlândia- MG”, com pedagogos(as) e professores(as) que atuam nos 1º
e 2º períodos da Educação Infantil na rede pública municipal de Uberlândia. Os responsáveis
pelo desenvolvimento desse projeto são Gercina Santana Novais e Lazara da Piedade
Rodrigues Regatieri.
Os objetivos são:
Contribuir para as reflexões sobre dificuldades enfrentadas, a
partir da aprovação da Lei nº 12.796/13, pelos/as professores/as
na avaliação e sistematização das formas de registro do avaliado
na Educação Infantil da rede pública municipal de
Uberlândia/MG.
Analisar quais são concepções, práticas avaliativas e as formas
de registros sobre os/as alunos/as, adotadas na escola pública de
educação infantil de Uberlândia/MG, por professores/as e
pedagogos/as.
Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos
professores na sistematização das formas de registro e avaliação
para as aprendizagens.
Elaborar “vídeo formação” com base nas demandas identificadas
no contexto das dificuldades para avaliar.
243
Para desenvolver esse projeto nós utilizaremos como metodologia:
Pesquisa qualitativa; utilizando o estudo de campo.
No caso do desenvolvimento inicial desse projeto recorremos ao tipo de pesquisa
documental.
Analisaremos as orientações de procedimentos avaliativos a serem efetivados na escola na
implementação da lei nº 12.796/2013. Registros de avaliação/relatórios elaborados pelos/as
professores/as sobre alunos/as. Também o Projeto Político Pedagógico da escola o qual
pedimos que autorize a ter acesso.
Neste trabalho procederemos ainda ao estudo bibliográfico.
Coletaremos os dados com professores(as) por meio de observação participante e será
utilizado ainda, entrevistas semiestruturada para que seja possível aproximar mais dos
sujeitos, pedagogos(as) e professores(as) que atuam nos 1º e 2º períodos da Educação
Infantil na rede pública municipal de Uberlândia.
Assim que analisarmos os dados das entrevistas e observações, o material coletado será
guardo em local seguro por 5 anos, decorrido esse tempo será incinerado. Nós pretendemos
buscar alguns dados da nossa pesquisa na sua instituição e, para isso, precisamos de sua
autorização para obter esses dados. Os resultados da pesquisa serão publicados e ainda assim
garantimos o sigilo da instituição e envolvidos na pesquisa.
A senhora/ senhor não terá nenhum prejuízo com a pesquisa e com os resultados obtidos pela
mesma, assim como não terá nenhum ganho financeiro de nossa parte.
A sua autorização será muito útil para a nossa pesquisa e nos será de grande valia.
Certa de seu apoio e concessão desta autorização, agradeço.
___________________________________
__________________________________
Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri Assine – Diretora/Diretor da Escola
Discente do Mestrado em Educação
Programa de Pós- Graduação em Educação
Universidade de Uberaba – M.G.
244
APÊNDICE F – Termo de compromisso da equipe executora
Nós, abaixo assinados, nos comprometemos a desenvolver o projeto de pesquisa
intitulado “O(S) EFEITO(S) DA LEI 12.796/13 NA AVALIAÇÃO: um estudo sobre as
práticas avaliativas desenvolvidas em escola pública de educação infantil de Uberlândia-
MG”, de acordo com a Resolução CNS 466/12.
Declaramos ainda que o Projeto de Pesquisa anexado por nós, pesquisadores, na
Plataforma Brasil possui conteúdo idêntico ao que foi preenchido nos campos disponíveis na
própria Plataforma Brasil. Portanto, para fins de análise pelo Comitê de Ética, a versão do
Projeto que será gerada automaticamente pela Plataforma Brasil no formato “pdf” terá o
conteúdo idêntico à versão do Projeto anexada por nós, os pesquisadores.
Data:........./.........../................
_______________________________________________
Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri
_______________________________________________
Gercina Santana Novais
245
APÊNDICE G – Ofício - solicitação de autorização para realização de pesquisa - S.M.E.
Uberlândia-MG
Ofício 294/2019/PROPEPE/PPGEB Uberlândia, 26 de março de 2019.
Ilma. Sra.
Divina Lúcia Sousa
Att. Liliane Ribeiro da Silva Diretora do CEMEP
Uberlândia – MG
Ref.: Realização de Pesquisa
Solicito a V. Sa. autorização para que a mestranda Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri,
R.A. 6107808, CPF:575695256-04, aluna regularmente matriculada no Programa de
Mestrado Profissional em Educação: Formação Docente para a Educação Básica, desta
Instituição, realize sua pesquisa referente “O(S) EFEITO(S) DA LEI 12.796/13 NA
AVALIAÇÃO: um estudo sobre as práticas avaliativas desenvolvidas em escola pública
de educação infantil de Uberlândia- MG”, na Escola Municipal de Educação Infantil
Prof.ª. Carmelita Vieira dos Santos. Informamos que o Projeto, aprovado pelo Comitê de
Ética, e o Parecer do referido Comitê estão em anexo.
Na oportunidade, informamos, ainda, que os dados a serem pesquisados são:- Análise das
teorias, práticas avaliativas e formas de registros adotados na escola pesquisada e
aproximações e afastamentos em relação ao previsto na Lei 12796/13. Para tanto, serão
utilizadas as técnicas de coletas de dados:
- Análise documental (PPP e Planejamento de aula).
- Entrevistas semiestruturadas.
- Observação de aula.
Destacamos os objetivos da referida pesquisa:
Objetivo Geral:
246
Contribuir para as reflexões sobre dificuldades enfrentadas, a partir da aprovação da Lei nº
12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das formas de registro do
avaliado na Educação Infantil da rede pública municipal de Uberlândia/MG.
Objetivos Específicos:
Analisar quais são concepções, práticas avaliativas e as formas de registros sobre
os/as alunos/as, adotadas na escola pública de educação infantil de Uberlândia/MG,
por professores/as e pedagogos/as.
Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos professores na sistematização
das formas de registro e avaliação para as aprendizagens.
Elaborar “vídeo formação” com base nas demandas identificadas no contexto das
dificuldades para avaliar.
Assim sendo, a intenção é a de contribuir com a reflexão sobre avaliação na educação
infantil, no contexto de vigência da lei 12.796/13. Contribuir, ainda, com a produção de vídeo
formação, vinculado ao fomento de avaliação na educação infantil como parte inerente ao
ensino.
Apresentamos votos de estima e consideração.
Atenciosamente,
247
APÊNDICE H – Modelos de quadros de análise elaborados pela pesquisadora, para serem
preenchidos durante a leitura dos documentos e das entrevistas com professoras e pedagogas
participantes das pesquisas
Quadro 2 - Quem são as professoras e pedagogas entrevistadas: idade, sexo, raça/cor, classe
social, religião, formação inicial e continuada, instituição formadora e anos de docência. Profissional Idade sexo Raça/cor Classe
Social Religião Formação
Inicial/Continuada/ Instituição
Anos
de
docên- cia
Profª.
Vitória
63
anos
F Branca Pobre Católica ñ
praticante
Pedagogia/especialização -
UFU
25/26
anos
Profª.
Cecília
46
anos
F Parda Média Não
declarada
Pedagogia/especialização/
UFU/UNITRI
15 anos
Profª.
Rebeca
40
anos
F Parda Ñ/decla-
rado
católica Pedagogia/CATÓLICA
15 anos
Profª.
Carolina
Não
cita
F Branca Média/B. católica Letras/Privada/ Ñ declarada 30 anos
Profª.
Júlia
35
anos
F Branca Pobre Evangélica Normal superior e pedagogia
CATÓLICA/PASSO 1
13 anos
Profª.
Izabel
59
anos
F Branca Média Evangélica Pedagogia/especialização/
PRIVADA Ñ declarada
30 anos
Profª.
Larissa
46
anos
F Branca Média/B. Evangélica Pedagogia/especialização/
UNIPAC
9 anos
Profª.
Bianca
44
anos
F Branca Média Católica Pedagogia/especialização/
UNITRI
18 anos
Profª.
Laura
53
anos
F Branca Média Evangélica Pedagogia/especialização/
UNITRI
14 anos
Profª.
Luíza
36
anos
F Parda Média/B. Evangélica Pedagogia/especialização/
UFU
10 anos
Profª.
Ana
41
anos
F Branca Média/B. Espírita Pedagogia/especialização/
UFU
12 anos
Pedagoga
Sofhia
51
anos
F Parda Média/B. Espírita Magistério/
pedagogia/especialização/
UNITRI/UFU
+- 29
anos
Pedagoga
Valentina
59
anos
F Branca Média Ñ/declarad
a
Pedagogia/especialização/
UFU
Apos. 1 cargo 2anos
Superv. Pedagoga
Kaíra
39
anos
F Negra Média/B. Evangélica Pedagogia/UNIPAC 7anos profº
5 anos superv
248
Quadro 3 – Modelo de quadro utilizado para análise do PPP da EMEI Tecelã (Temáticas definidas a
priori).
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Concepção de criança
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Concepção de infância e de
educação infantil
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Concepções de avaliação
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Práticas avaliativas e as formas
de registro
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Concepção de
aprendizagem/desenvolvimento
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Papel do/a professor/a no
processo de ensino e
aprendizagem
Unidades de Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde
constam os temas) Interpretações
Planejamento/projetos
constantes no P.P.P e avaliação
249
Quadro 4 - Modelo de quadro utilizado para análise dos Relatórios descritivos elaborados
professores sobre os/as alunos/as. (Temáticas definidas a priori) Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas) Interpretações
Estrutura dos
relatórios entregue
pelas professoras
Vitória Izabel Bianca
Luiza Carolina
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas) Interpretações
Conteúdo do
relatório
Vitória Izabel Bianca
Luiza Carolina
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas) Interpretações
Concepções de
Avaliação
Vitória Izabel Bianca
Luiza Carolina
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas) Interpretações
Práticas
avaliativas e
formas de registro
Vitória Izabel Bianca
Luiza Carolina
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas) Interpretações
Dificuldades
evidenciadas na
sistematização das
formas de registro
e avaliação
Vitória Izabel Bianca
Luiza Carolina
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas) Interpretações
Desenvolvimento
e aprendizagem
Vitória Izabel Bianca
Luiza Carolina
250
Quadro 5 – Modelo de quadro utilizado para análise das Entrevistas com as professoras
(Temáticas definidas a priori) Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas)
Interpretações
Concepções
de avaliação
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas)
Interpretações
Práticas
avaliativas e
formas de
registro
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas)
Interpretações
Dificuldades
para cumprir o
estabelecido
na lei
12.796/13
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os
temas)
Interpretações
Propostas para
superar
dificuldades
de avaliar na
educação
infantil e
exigências
contidas na
12.796/13
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
251
Quadro 6 - Modelo de quadro utilizado para análise das entrevistas com as professoras. (temáticas
que surgiram a partir da leitura dos registros escritos das entrevistas) Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Sentimento
em relação à
avaliação
com registro
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
A quem se
destina o
registro
escrito da
avaliação na
educação
infantil
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Solidão do
professor no
exercício da
docência
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Ética na
avaliação
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Quantidade
de alunos na
sala e
avaliação
escolar
Vitória Cecília Rebeca Carolina Júlia Isabel
Larissa Bianca Laura Luiza Ana
252
Quadro 7 - Modelo de quadro utilizado para análise das entrevistas com pedagogas. (Temáticas
definidas a priori) Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Concepção
de avaliação
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Práticas
avaliativas e
formas de
registro
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Dificuldades
para cumprir
o
estabelecido
na lei
12.796/13
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Propostas
para superar
dificuldades
de avaliar na
educação
infantil, e
exigências
contidas na
Lei
12.796/13
Sofia Valentina Kaira
253
Quadro 8 - Modelo de quadro utilizado para análise das entrevistas com pedagogas. (Temáticas que
surgiram a partir da leitura dos registros escritos das entrevistas) Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
A quem se
destina o
registro
escrito da
avaliação na
educação
infantil
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Solidão do
professor no
exercício da
docência
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Ética na
avaliação
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Desconheci
mento da
Lei nº
12.796/13
Sofia Valentina Kaira
Unidades de
Registros- Categorias
Unidades de contexto (Frases ou parágrafos onde constam os temas)
Interpretações
Quantidade
de alunos na
sala e
impactos na
elaboração
da avalição
com
registros
escritos
Sofia Valentina Kaira
254
APÊNDICE I - Avaliação na educação infantil no ordenamento legal.
No decorrer da pesquisa diante do conjunto de dados, consideramos importante organizar
um quadro que denominamos “Entrecruzando documentos”. Apresenta um compilado
sobre como a avaliação na Educação Infantil aparece nos ordenamentos legais e orientações
nacionais e nas orientações da Rede Municipal de Educação de Uberlândia/MG.
Quadro 02: Como avaliação na Educação Infantil aparece nos ordenamentos legais e
orientações nacionais e nas orientações da Rede Municipal de Educação de Uberlândia/MG
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA
EDUCAÇÃO- LDB/ nº 9.394/96 Alterada pela Lei nº 12.796/13 (Emenda
Constitucional nº 59/2009)
DIRETRIZES CURRICULARES
NACIONAIS/EDUCAÇÃO INFANTIL/2009
Art. 31. A educação infantil será organizada de
acordo com as seguintes regras comuns:
I – avaliação mediante acompanhamento e
registro do desenvolvimento das crianças, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
ensino fundamental;
II – carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos)
dias de trabalho educacional;
III – atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
para a jornada integral;
IV – controle de frequência pela instituição de
educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de
60% (sessenta por cento) do total de horas;
V – expedição de documentação que permita
atestar os processos de desenvolvimento e
aprendizagem da criança. (BRASIL, 2016, p.13-14,
grifos nossos).
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem
criar procedimentos para acompanhamento do trabalho
pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das
crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou
classificação, garantindo:
I - a observação crítica e criativa das atividades, das
brincadeiras e interações das crianças no cotidiano;
II - utilização de múltiplos registros realizados por
adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos,
álbuns etc.);
III - a continuidade dos processos de aprendizagens
por meio da criação de estratégias adequadas aos
diferentes momentos de transição vividos pela criança
(transição casa/instituição de Educação Infantil,
transições no interior da instituição, transição
creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino
Fundamental);
IV - documentação específica que permita às famílias
conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da
criança na Educação Infantil;
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil.
(BRASIL, MEC, 2009, p. 29, grifo meu).
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO -
PNE/2014-2024
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR -
BNCC/2017
255
[...],meta 1, estratégia 1.6 - implantar, até o
segundo ano de vigência deste PNE, avaliação da
educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois)
anos, com base em parâmetros nacionais de
qualidade, a fim de aferir a infraestrutura física, o
quadro de pessoal, as condições de gestão, os
recursos pedagógicos, a situação de
acessibilidade, entre outros indicadores relevantes
[...]. (BRASIL, MEC/2014).
Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar,
organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto
das práticas e interações, garantindo a pluralidade
de situações que promovam o desenvolvimento
pleno das crianças.
Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas
quanto as aprendizagens das crianças, realizando a
observação da trajetória de cada criança e de todo
o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades
e aprendizagens. Por meio de diversos registros,
feitos em diferentes momentos tanto pelos
professores quanto pelas crianças (como
relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e
textos), é possível evidenciar a progressão
ocorrida durante o período observado, sem
intenção de seleção, promoção ou classificação de
crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou
“não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se
de reunir elementos para reorganizar tempos,
espaços e situações que garantam os direitos de
aprendizagem de todas as crianças. (BNCC, 2017,
p. 39).
[...], as informações contidas em relatórios,
portfólios ou outros registros que evidenciem os
processos vivenciados pelas crianças ao longo de
sua trajetória na Educação Infantil podem
contribuir para a compreensão da história de vida
escolar de cada aluno do Ensino Fundamental.
Conversas ou visitas e troca de materiais entre os
professores das escolas de Educação Infantil e de
Ensino Fundamental – Anos Iniciais também são
importantes para facilitar a inserção das crianças
nessa nova etapa da vida escolar. (BNCC, 2017, p.
53).
[...], as escolas de educação infantil considerando
os objetivos e os direitos de aprendizagem e
desenvolvimento esperados em cada campo de
experiência das crianças, deverão apresentar no
final desta etapa uma “síntese das
aprendizagens”. Essa síntese deve ser
compreendida como elemento balizador e
indicativo de objetivos a ser explorado em todo
o segmento da Educação Infantil, e que serão
ampliados e aprofundados no Ensino
Fundamental, e não como condição ou pré-
requisito para o acesso ao Ensino Fundamental.
(BNCC, 2017, p. 53, Grifo nosso).
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL- RCNEI/1998-
Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil
PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO -
PME/2015 LEI Nº 12.209/2015
Volume 1, faz algumas considerações relevantes.
Busca sustentação legal na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação, sancionada em dezembro de 1996, na
DIRETRIZ XI - Promoção do desenvolvimento, da
aprendizagem e da avaliação da educação, em seus
diferentes níveis, etapas e suas modalidades.
256
Seção II, referente à educação infantil, artigo 31, “a
avaliação far-se-á mediante o acompanhamento e
registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de
promoção, mesmo para o acesso ao ensino
fundamental”.(MEC, 1998, p.59). Explicita a
observação e o registro diário das atividades das
crianças de forma contextualizada, nos momentos das
interações estabelecidas no ambiente escolar, como
meio de acompanhar os processos de
desenvolvimento e obter informações sobre as
experiências destas.
Quanto a participação da família ou responsáveis no
processo salientam que, “[...] os pais, também, têm o
direito de acompanhar o processo de aprendizagem
de suas crianças, se inteirando dos avanços e
conquistas, compreendendo os objetivos e as ações
desenvolvidas pela instituição.” (BRASIL, MEC,
1998, p.61).
Neste documento, a avaliação é entendida,
prioritariamente, como um conjunto de ações que
auxiliam o professor a refletir sobre as condições de
aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às
necessidades colocadas pelas crianças. É um
elemento indissociável do processo educativo que
possibilita ao professor definir critérios para planejar
as atividades e criar situações que gerem avanços na
aprendizagem das crianças. Tem como função
acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse
processo como um todo. (BRASIL, MEC, 1998,
p.59).
ESTRATÉGIAS
1) Implementar e fortalecer práticas de avaliação
formativa que garantam o acompanhamento das
aprendizagens dos estudantes. 2) Implementar a avaliação institucional
participativa nas escolas e, por meio dela, construir
indicadores acerca da realidade escolar, como
referencia para o trabalho pedagógico da escola.
3) Promover debates e discussões, em cursos de
formação continuada, acerca das avaliações internas e
externas, no sentido de desenvolver conhecimentos
sobre as mesmas, facilitando a interpretação e
compreensão de seus resultados, buscando a melhoria
da qualidade da educação.
4) Garantir que as avaliações externas e internas
sirvam de parâmetros para a implementação de
políticas educacionais.
5)Prever, implantar e garantir que no Sistema de
Avaliação da Educação Básica as pessoas com
deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades/superdotação sejam avaliadas,
respeitando seu desenvolvimento e garantindo, dessa
forma, sua inclusão.
6)Desenvolver instrumentos específicos de avaliação
da educação básica e suas modalidades, levando em
consideração as especificidades das propostas
pedagógicas de cada unidade de ensino.
13) Criar um Sistema Municipal de Avaliação da
infraestrutura, equipamentos, materiais didáticos,
pedagógicos e permanentes das instituições
educacionais. (UBERLÂNDIA, p.50 - 52, 2015, grifo
nosso). PLANO DE AÇÃO REFERÊNCIA /SME/2019
(versão preliminar) PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO -PPP da
EMEI * PESQUISADA A avaliação deve ser heterogênea, contínua e
processual, entendida como um conjunto de ações
diárias durante a rotina escolar, onde percebemos
seus conflitos, medos, modos de pensar, socializar e
resolver situações de problemas, nos dando subsídio
para avaliá-las em vários outros requisitos, ou seja,
como um todo e não fragmentado, considerando que
cada criança tem um tempo para desenvolver a sua
aprendizagem. (UBERLÂNDIA, 2018, p. 49).
[..] cada “Unidade Escolar precisará construir
estratégias e adequar ações para que o processo de
avaliação aconteça de acordo com os instrumentais
definidos[..], a fim de identificar o que precisa ser
avaliado.
[...],o profissional da educação de acordo a BNCC
deverá buscar meios e condições de observar,
acompanhar e avaliar o desenvolvimento das
crianças, direcionando seu olhar de observação para
[...], O Princípio das práticas Avaliativas, parte da
premissa que a avaliação deve ser elemento integrador
entre a aprendizagem e o ensino. Por ocorrer durante
todo o processo de aprendizagem é utilizada para os
professores pensarem a prática educativa e avaliarem o
conhecimento do aluno fazendo acompanhamento de
seu próprio desenvolvimento (PPP, 2016, p. 7)
[...],A avaliação é processual e de cunho qualitativo, de
acordo com as Diretrizes curriculares, na qual são
utilizados recursos como: observação, relatórios,
registros, fotos dos momentos em que as crianças estão
realizando atividades de registro, ou participando de
diferentes momentos práticos. (PPP, 2016, p. 28)
[...],Os resultados da aprendizagem dos alunos são
divulgados em reuniões de pais ao final de cada
semestre, em exposições de atividades, apresentações
artísticas e por meio de atividades diárias. (PPP, 2016,
p. 28)
257
as “aprendizagens essenciais que todas as crianças
devem desenvolver ao longo da Educação Infantil” e
para “os campos de experiências, agrupados por faixa
etária,” de modo a assegurar seus direitos de
aprendizagens.
[...], sugere que, para a construção do relatório
individual do desenvolvimento da criança, “os
professores e educadores juntamente com
Especialistas de Educação e pedagogos”95, deverão
construir “um quadro facilitador de observação do
desenvolvimento de cada faixa etária que
possibilitará aos profissionais nortearem o que é
necessário observar e avaliar nas crianças”. [...], orienta que “será necessário ao longo do ano
organizar e escolher momentos estratégicos da rotina
e elaborar uma prática de documentação
pedagógica que facilite esse registro”. Sugerem
então os registros que servirão como “suportes para
construção do relatório individual do
desenvolvimento”: anamnese; observação; registros
do diálogo das crianças e das produções; portfólio;
relatório individual de desenvolvimento.
(UBERLÂNDIA, 2018, p..51, grifos nosso).
[...], o profissional deve elaborar semestralmente
o relatório para análise das práticas e
desenvolvimento da criança, a ser compartilhado
e analisado pelos profissionais e família. O
instrumental, visto como documento, deverá ser feito
em duas vias. Sendo uma entregue ao final do ano
aos responsáveis e outra para acompanhar a criança
nos próximos anos que permanecerá na Educação
Infantil ou em troca de escola. (UBERLÂNDIA,
2018, p..51, grifos nosso)
95
258
APÊNDICE J – CADERNO DE REFLEXÕES: AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
CADERNO DE REFLEXÕES:
Avaliação na educação infantil
Fonte: Arquivo da pesquisadora (2019).
Lazara P. Rodrigues Regatieri
259
Lazara P. Rodrigues Regatieri
CADERNO DE REFLEXÕES: AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Uberlândia - MG
2019
260
AGRADECIMENTOS
Às professoras e pedagogas participantes desta pesquisa, à direção da
EMEI Tecelã pela acolhida e incentivo e a todos/as os/as profissionais
da educação infantil comprometidos com uma educação pública, laica,
gratuita e de qualidade socialmente referenciada.
261
EPÍGRAFE
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado,
mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir além dele. Esta é a
diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado [...].
Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais,
econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos
achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o
cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também
que os obstáculos não se eternizam. (FREIRE, 2015, p.52-53).
262
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BNCC - Base Nacional Comum Curricular
CEMEPE - Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz
CIE - Circular Interna Educação
DCNEI - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
EB - Educação Básica
EI - Educação Infantil
EF - Ensino Fundamental
EMEI - Escola Municipal de Educação Infantil
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
MEC - Ministério da Educação e Cultura
NINF - Núcleo das Infâncias
PNE - Plano Nacional de Educação
SME - Secretaria Municipal Educação
263
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Registros sobre aprendizagem, fotografias, vídeos, atividades escritas,
fichas, folhas ou cadernos de registros, portifólio e relatório
24
Quadro 2 - Organização da sala de aula; condições para a observação, quando
observar, que momentos do tempo escolar podem ser dedicados a observações.
25
Quadro 3 - O alvo das observações: Como fazer a observação, quantos alunos, quem e
onde observar, o que, quando e quanto tempo observar.
26
Quadro 4 - Organização dos registros de observação, como serão feitos, onde manter
o caderno de registro, que quantidade de anotações deve ser feita, o que, como e
quando anotar, como usar as folhas de observação e comentários sobre necessidades
individuais.
27
Quadro 5 - O uso dos registros de observação, o que analisar, quando, como e porque
analisar.
28
Quadro 6 - Campos de experiência, objetivos de aprendizagem e desenvolvimento,
narrativas de professoras sobre as crianças, ações educativas e experiência educativa.
31
264
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 11
I INTRODUÇÃO 14
1.2 OBJETIVOS 19
1.2.1 Geral 19
1.2.2 Específicos 19
II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Diálogos sobre a Avaliação: seu papel,
sentidos e significados
20
2.1 O paradigma formativo e mediador da avaliação na educação infantil 21
III DESENVOLVIMENTO 24
3.1 Discutindo sobre Procedimentos e Terminologias (um diálogo imprescindível) 24
IV ESTRATÉGIAS E PROCEDIMENTOS (sugestões) 28
4.1. OBSERVAÇÃO: procedimento fundamental no processo avaliativo 30
4.2 PORTIFÓLIOS 34
4.3 Relatório Descritivo do desenvolvimento e Aprendizagem da Criança 36
4.3.1 Critérios orientadores na elaboração do relatório individual das crianças 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS 40
REFERÊNCIAS 43
265
APRESENTAÇÃO
CADERNO DE REFLEXÕES: AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
É preciso inverter o olhar que se tem sobre a infância, pensar a infância a
partir de uma outra lógica. A partir do que ela tem e não do que lhe falta.
Como presença e não como ausência. Como afirmação e não como negação.
Como força e não como incapacidade. Essa mudança de percepção vai
gerar outras mudanças nos espaços outorgados à infância no pensamento e
nas instituições pensadas para ela. (KOHAN, 2008, p. 101).
Com base nos resultados da pesquisa96 intitulada Implementação da Lei 12.796/13:
Um estudo sobre as dificuldades enfrentadas por docentes e pedagogos/as na avaliação de
alunos/as de uma escola pública de educação infantil de Uberlândia-MG, e comprometidas
com a continuidade do diálogo com as professoras e as pedagogas sobre a avaliação na
educação infantil, as formas de registrar essa avaliação e as dificuldades evidenciadas nesses
processos avaliativos, decidimos por elaborar o “Caderno de Reflexões: avaliação na
educação infantil”. A nosso ver, “É mais fácil analisar um problema, ter dele uma ideia mais
nítida e mais concreta quando se recorre a um caso real” (SCHAFF, 1986, p.10). Por isso,
ficamos atentas às narrativas das professoras e pedagogas sobre avaliação no cotidiano
escolar, buscando elementos para a elaboração do referido Caderno.
É importante registrar que a pesquisa mencionada teve como objetivo geral contribuir
para as reflexões sobre as dificuldades enfrentadas, a partir da aprovação da Lei nº 12.796/13
pelos/as professores/as na avaliação e sistematização das formas de registro do avaliado na
educação infantil de uma escola pública municipal de Uberlândia/MG. E os específicos:
Analisar quais são as concepções e as práticas de avaliação adotadas em uma escola
pública Municipal de educação infantil de Uberlândia/MG por professores/as e
pedagogos/as97.
96 Pesquisa realizada por Lazara da Piedade Rodrigues Regatieri/ Programa de Mestrado Profissional em
Educação da Universidade de Uberaba, vinculada à linha de pesquisa Práticas Docentes para a Educação Básica
sob orientação da Prof.ª Dra. Gercina Santana Novais. 97
A partir da lei complementar nº 661, de 8 de abril de 2019, que alterou a lei nº 11.967, de 29 de setembro de
2014, lei que dispõe sobre o plano de carreira dos servidores do quadro da educação da Rede Pública Municipal
de Ensino de Uberlândia/MG, a nomenclatura “pedagogo/a passou a ser “Analista Pedagógico”. Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/plano-de-cargos-e-carreiras-uberlandia-mg>. Acesso em: 15 jul. 2019.
266
Identificar as formas de registros sobre os/as alunos/as adotadas em uma escola
pública municipal de educação infantil de Uberlândia/MG por professores/as e
pedagogos/as.
Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos/as professores/as na
sistematização das formas de registro e avaliação para as aprendizagens.
Elaborar um “Caderno de Reflexões: avaliação na educação infantil” com base nas
demandas identificadas no contexto das dificuldades em avaliar.
Os resultados desta pesquisa evidenciaram as demandas das professoras e pedagogas
por orientações teóricas e práticas de forma a ajudá-las a enfrentar dificuldades para
implementar a avaliação na educação infantil na forma como especifica a Lei 12796/13.
Propuseram um guia/caderno que as apoiassem na organização e sistematização das
observações e dos registros realizados com e sobre as crianças, assim como orientações sobre
procedimentos e terminologias apropriadas para serem usadas na elaboração do relatório
descritivo.
Assim, justifica-se a decisão de elaborar um “Caderno de Reflexões: avaliação na
educação infantil”, constituído dos seguintes itens. 1) Introdução; 2) Objetivos; 3)
Fundamentação Teórica; 4) Desenvolvimento; 5) Estratégias; 6) Considerações finais e 7)
Referências.
Este caderno de apoio reflexivo afasta-se da ideia de receita sobre avaliação,
incorporando a defesa da reflexão coletiva como fundamental para pensarmos as teorias e
práticas em avaliação. Nessa direção, serão realizadas Rodas de Conversa com professores/as
e pedagogos/as, a partir da leitura do referido Caderno, oportunizando diálogos críticos e
reflexivos sobre avaliação na educação infantil.
267
CADERNO DE REFLEXÕES: AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Fonte: Arquivo da pesquisadora (2019).
Diego não conhecia o mar. O pai [...], levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois
de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a
imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: — Me ajuda a olhar!
Eduardo Galeano, texto extraído do O livro dos abraços, 2008.
INTRODUÇÃO
A nova redação conferida à Constituição Federal, estabelecida pela Emenda
Constitucional nº 59/2009 e a Lei nº 12.796/13, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN), nº 9.394/96, torna obrigatória a matrícula de crianças aos
quatro anos de idade nas instituições de educação infantil e traz mudanças quanto à
organização e ao funcionamento dessas unidades. Em relação à matrícula, na alteração da
LDB nº 9.394/96, consta:
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças
na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade. (BRASIL, 2016,
p. 9).
Quanto ao currículo, o Art. 26 da mesma Lei é fundamental, pois apresenta
orientações sobre como organizá-lo:
Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino
médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada
sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
268
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade,
da cultura, da economia e dos educandos. (BRASIL, 2016, p.12).
Esse artigo da Lei demonstra a importância de os municípios construírem seus Planos
Curriculares tendo uma Base Nacional Comum e uma diversificada, em conformidade com
as características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.
No que compete à avaliação, a Lei 9.394/96 prevê, ainda, em seu artigo 31, incisos I
e V, a expedição de documentação específica que permita às famílias conhecerem o
trabalho da instituição junto aos educandos e os processos de desenvolvimento e
aprendizagem da criança na educação infantil. Vejamos:
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes
regras comuns:
I – avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento
das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
ensino fundamental;
II – carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um
mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;
III – atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o
turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
IV – controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida
a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;
V – expedição de documentação que permita atestar os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança. (BRASIL, 2016, p.13-14,
grifos nossos).
Segundo a BNCC (2017, p.35-36), na educação infantil, primeira etapa da educação
básica, as práticas pedagógicas se desenvolverão com base nos eixos estruturantes, “as
interações e as brincadeiras”, atestando os “direitos de aprendizagem e desenvolvimento”
dos/as educandos/as de forma “humana integral”. São eles os direitos de “conviver,
participar, explorar, expressar, conhecer-se”.
No que concerne à organização do currículo, este se estrutura em 5 campos de
experiências na esfera, dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento. Assim nomeados de acordo com a base: “o eu e o outro; corpo, gestos e
movimento; traços, sons, cores e formas; oralidade e escrita; espaços, tempos, quantidades,
relações e transformações”. (BNCC, 2017, p. 39 - 41).
De acordo com as DCNEI (2010), “As instituições de Educação Infantil devem criar
procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do
269
desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, [...]”.
(BRASIL, 2010, p.29). No Art. 10, constam:
I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e
interações das crianças no cotidiano;
II - Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças
(relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);
III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de
estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela
criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no
interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-
escola/Ensino Fundamental);
IV - Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho
da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e
aprendizagem da criança na Educação Infantil;
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil. (BRASIL, MEC, 2009,
p. 29, grifo meu).
A Base Nacional Comum Curricular/2017 trata de forma superficial a questão da
avaliação na educação infantil. Na página 51, que aborda a transição da educação infantil para
o ensino fundamental, é proposto que as escolas de educação infantil, considerando os
objetivos e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento esperados em cada campo de
experiência das crianças, deverão apresentar no final dessa etapa uma “síntese das
aprendizagens”. Nesse sentido, a BNCC/2017 normatiza que essa síntese deve ser
compreendida como elemento balizador e indicativo de objetivos a serem explorados em
todo o segmento da Educação Infantil, e que serão ampliados e aprofundados no Ensino
Fundamental, e não como condição ou pré-requisito para o acesso ao ensino fundamental.
(BNCC, 2017, p. 53, grifo nosso).
Destacamos que as orientações emanadas da Base, em relação à avaliação na educação
infantil, não aprofundam a ideia de produção de síntese de aprendizagem. Afirma que, apesar
de não ser condição ou pré-requisito para o acesso ao ensino fundamental, a proposição é
ajudar as crianças a “superarem com sucesso os desafios da transição”, “facilitar a
inserção das crianças nessa nova etapa da vida escolar”. Por conseguinte, entendemos que
na BNCC permanece o objetivo de preparar ou treinar para o ensino fundamental. A ênfase é
na mudança de etapa, na transição e não na avaliação no sentido de processo de aprendizagem
e desenvolvimento da criança no tempo da infância. Inferimos que a ausência na BNCC
/2017, de base teórica sobre concepções e práticas de avaliação na educação infantil, pode
270
dificultar o trabalho das professoras em implementar a avaliação no contexto da Lei nº
12.796/13.
Em consonância aos ordenamentos legais nacionais, a Secretaria Municipal de
Educação de Uberlândia - SME/UDIA orienta que as unidades escolares devem “construir
estratégias e adequar ações para que o processo de avaliação aconteça de acordo com a
concepção e instrumentos metodológicos adotados no Plano de Ação Referência da Rede
Municipal de Ensino de Uberlândia (Versão Preliminar) - 201898”. Destaca que o profissional
da educação, de acordo a BNCC, deverá buscar meios e condições de observar, acompanhar
e avaliar o desenvolvimento das crianças, direcionando seu olhar de observação para as
“aprendizagens essenciais que todas as crianças devem desenvolver ao longo da Educação
Infantil” e para “os campos de experiências, agrupados por faixa etária”, de modo a assegurar
seus direitos de aprendizagens (UBERLÂNDIA, 2018, p.51).
Sugere que, para a construção do relatório individual do desenvolvimento da criança,
documento indicado pela rede como procedimento avaliativo na Educação Infantil, “os
professores e educadores juntamente com Especialistas de Educação e pedagogos”99, deverão
construir “um quadro facilitador de observação do desenvolvimento de cada faixa etária
que possibilitará aos profissionais nortearem o que é necessário observar e avaliar nas
crianças”[...] (UBERLÂNDIA, 2018, p.51).
Esse “instrumental”, segundo o documento (2019, p.51), deverá ser elaborado
conjuntamente pelos/as profissionais que acompanham a criança. Sustentado por um diálogo
constante que leve em consideração o seu desenvolvimento, os campos de experiências e os
objetivos de aprendizagem, além das informações socializadas com a equipe de apoio e com a
família. Orienta que “será necessário, ao longo do ano, organizar e escolher momentos
estratégicos da rotina e elaborar uma prática de documentação pedagógica que facilite esse
registro”. Mas, o que são momentos estratégicos da rotina? Considerando a avaliação como
processo, a incorporação dessa ideia de estabelecimento de momentos estratégicos não
dificultaria a captação de manifestações significativas das crianças que revelariam aspectos do
desenvolvimento e da aprendizagem?
98Conforme o documento Plano de Ação Referência da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia (Versão
Preliminar) - 2018, esse “será, oficialmente, a referência para a revisão e reorganização dos currículos de todas
as Unidades Escolares da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia e seus distritos, abrangendo desde a
Educação Infantil até o Ensino Fundamental”.(UBERLÂNDIA, 2018, p.14). 99
UBERLÂNDIA. Lei Complementar, Nº 661, de 8 de abril de 2019. Diário Oficial do Município. Prefeitura
Municipal de Uberlândia. Ano XXXI • Nº 5598. Disponível em: <http://www.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/21573.pdf>. Acesso em: 2 jun.2019.
271
O referido “instrumental” sugere registros que servirão como “suportes para
construção do relatório individual do desenvolvimento”:
ANAMNESE – documento que contém o histórico da criança desde o
momento da concepção até o nascimento. Trata-se das primeiras avaliações
realizadas na Educação Infantil, preferencialmente ao ingresso da criança no
ambiente escolar e deve ser elaborado por meio de entrevista com
responsável mais próximo, estreitando assim os vínculos família/escola [...]. OBSERVAÇÃO – segundo momento do processo de documentação que
busca identificar situações, gestos, vivências, experiências e produções das
crianças que sirvam como pistas, indicadores dos caminhos de
aprendizagens e desenvolvimentos. [...] REGISTROS DO DIÁLOGO - das crianças e das produções por meio de
anotações, fotografias, vídeos e gravações em áudio. Registros estes não
apenas do que o profissional observa e pensa, mas principalmente do que
fazem e pensam as crianças. PORTFÓLIO - segundo Barbosa & Horn (2008) os portfólios na dimensão
pedagógica armazenam as produções das crianças por meio das múltiplas
linguagens, durante um período de tempo para serem analisados com as
famílias e as crianças semestralmente, a fim de discutirem sobre seu
progresso, potencialidades e dificuldades para a proposta de novos desafios.
Diante disso, o portfólio deve ser construído desde o berçário de forma que
revelem suas aprendizagens. Pressupõe que a construção desse instrumental
avaliativo seja feito, com a participação dos pais, das crianças e dos
profissionais da educação, bem como as produções e fotos com legendas
e/ou relatos em diferentes momentos, com o intuito de servir de suporte para
a análise dos avanços realizados por cada uma, de forma individual e
coletiva, evidenciando a singularidade de cada uma na relação com os
direitos de aprendizagem e seus campos de experiências. RELATÓRIO INDIVIDUAL DE DESENVOLVIMENTO – é um
instrumental de acompanhamento do desenvolvimento da criança, que
permite uma análise reflexiva em relação ao processo de aprendizagem de
cada uma. [...]. Diante disso, torna-se necessário a construção de estratégias
que possibilite acompanhar o desenvolvimento inicial e no decorrer do ano,
ou seja, o profissional deve elaborar semestralmente o relatório para
análise das práticas e desenvolvimento da criança, a ser compartilhado e
analisado pelos profissionais e família. O instrumental, visto como
documento, deverá ser feito em duas vias. Sendo uma entregue ao final do
ano aos responsáveis e outra para acompanhar a criança nos próximos anos
que permanecerá na Educação Infantil ou em troca de escola.
(UBERLÂNDIA, 2018, p.51, grifos nossos).
Diante das orientações legais que dispõem sobre a avaliação nessa faixa etária e dos
apontamentos referentes aos objetivos da educação infantil, buscamos nos aportes teóricos de
Hoffman (2015), Villas Boas (2007), Mendes (2014), Barbosa (2008) e outros, as bases que
dão suporte à defesa da recusa de uma avaliação classificatória, padronizante, seletiva ou
punitiva. Nesse contexto, desenvolvemos nossos diálogos sustentados no paradigma de
avaliação formativa e na postura mediadora de professores/as e pedagogos/as
272
comprometidos/as com a aprendizagem das crianças, com a sua própria e com a escola como
espaço de aprendizagens plurais.
Por conseguinte, trazemos observações sobre concepções, procedimentos e
terminologias para compor o conjunto de elementos do processo avaliativo, com intuito de
colaborar com os/as professores/as e pedagogos/as na reflexão sobre as formas de registros
significativos que podem auxiliar o planejamento do trabalho pedagógico e a avaliação
processual das crianças.
Dessa forma, argumentamos a favor de uma concepção de avaliação humanizadora,
afirmando nosso comprometimento com práticas avaliativas processuais que contribuam com
a transformação social.
Diante dessa perspectiva, foram estabelecidos os objetivos do caderno.
1.2 OBJETIVOS
1.2. 1 Geral
Este Caderno visa contribuir para as reflexões sobre as dificuldades enfrentadas, a
partir da aprovação da Lei nº 12.796/13, pelos/as professores/as na avaliação e sistematização
das formas de registro do avaliado na educação infantil.
1.2.2 Específicos
Contribuir com reflexões teóricas e práticas sobre avaliação na educação
infantil, no contexto de articulação entre ensino, aprendizagem e avaliação.
Colaborar com sugestões sobre organização e sistematização das observações e
dos registros realizados com e sobre as crianças.
Refletir sobre procedimentos e terminologias a serem utilizadas na elaboração
do relatório descritivo.
273
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Fonte: Arquivo da pesquisadora (2019).
Diálogos sobre a Avaliação: seu papel, sentidos e significados
Avaliar é inerente ao ser humano. Avaliamos tudo o que fazemos ou pretendemos
fazer o tempo todo, avaliamos até sem perceber. Mas por que e para que avaliamos? De
acordo com Luckesi (2002), a avaliação é o que subsidia, o que sustenta nossas tomadas de
decisões e, se tomarmos a decisão de fazer uma intervenção, esta será com vistas a obter um
resultado mais satisfatório.
Villas Boas (2007) destaca que estamos sempre fazendo apreciações e julgamentos
sobre tudo e em qualquer momento, seja dos sujeitos, fatos ou circunstâncias que nos agradam
ou não. “E como gostamos de usar adjetivos”! Na escola isso também acontece, só que nela a
avaliação é intencional e sistemática e os julgamentos que aí são feitos têm muitas
consequências, algumas positivas, outras negativas. (VILLAS BOAS, 2007, p. 10).
No tocante aos propósitos da educação infantil e às orientações legais que dispõem
sobre a avaliação no âmbito dessa etapa da educação básica, as leis demonstram que esse
processo educativo demanda acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças,
sem objetivo de retenção ou promoção. Ou seja, trata-se de uma avaliação não classificatória,
seletiva ou punitiva.
O que Mendes (2014) enfatiza, quando aborda as produções científicas sobre a prática
avaliativa, é que
[...] A produção científica sobre avaliação é unânime em afirmar que a
avaliação precisa acontecer durante todo o processo de
aprendizagem, de ensino e avaliação. O processo não pode ser de modo
274
estanque, tem que servir para acompanhar o desenvolvimento do/a
aprendiz. [...] (MENDES, 2014, p. 257) (grifo nosso).
Assim, a avaliação formativa é a que melhor atenderá a vinculação entre ensino,
aprendizagem e desenvolvimento de alunos/as e professores/as, pois ocorre durante todo o
processo de ensino e aprendizagem e não apenas como uma verificação no final do ensino de
um conteúdo. A avaliação precisa ser vista como aliada do/a docente em prol da promoção do
ensino da criança, num ambiente de aprendizagem e desenvolvimento em que todos/as
participam e são avaliados/as em função da melhoria da educação.
2.1 O paradigma formativo e mediador da avaliação na educação infantil
A ação educativa com as crianças deve compreender a infância como um tempo de
direitos e a ser vivido com exploração de múltiplas linguagens. De acordo com Rego (1995),
o desenvolvimento da criança é socialmente construído por meio de constantes interações, por
isso, a relevância do/a professor/a mediador/a das culturas na constituição do modo de
funcionamento psicológico dos indivíduos, valorizando suas especificidades que são definidas
por inúmeros fatores sociais, culturais, afetivos e cognitivos. Esse/essa profissional deve
instigar os/as alunos/as à reflexão, apresentando propostas que os/as levem a pensar, descobrir
e construir sua aprendizagem. Vygotsky (1989) argumenta que
[...] o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento,
que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas
em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez
internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do
desenvolvimento independente da criança. (VYGOTSKY, 1989, p. 101).
Nesse sentido, entendemos que a avaliação, para se constituir como formativa, as
práticas e os discursos precisam ser coerentes. A centralização na atuação do/a professor/a há
de dar lugar à pedagogia da autonomia (FREIRE, 2015), no intuito de se contrapor ao que
Libâneo (1994, p.204) descreve como característica muito observada da avaliação
educacional, “o paradoxo salta à vista, a avaliação formativa está tão presente nos discursos
quanto ausente na prática”. Portanto, entendemos que o/a docente, ao estabelecer situações ou
práticas em que seu controle subjuga as crianças e infâncias, a intencionalidade formativa da
avaliação para as aprendizagens fica seriamente comprometida e desqualificada.
Sobre a concepção de avaliação formativa Villas Boas (2007) tece as seguintes
considerações:
275
Estudiosos brasileiros têm defendido a substituição do paradigma tradicional
da avaliação (voltada apenas para a aprovação e reprovação) pelo paradigma
que busca a avaliação mediadora, emancipatória, dialógica, integradora,
democrática, participativa, cidadã etc. Todas estas designações fazem parte
do que se entende por avaliação formativa. Esse é mais um argumento a
favor de a avaliação formativa ter como foco não apenas o aluno, mas,
também, o professor e a escola. (VILLAS BOAS, 2007, 18).
Os Referenciais Curriculares para a educação infantil também tratam da avaliação
formativa destacando que devemos levar em consideração que avaliamos para repensar se
nossas propostas e práticas estão em consonância com o que as crianças esperam ou
necessitam “[...]. Isso significa dizer que a expectativa em relação à aprendizagem da criança
deve estar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela.
(BRASIL, RCNEI, 1998, p. 65-66).
Nesse contexto, a “postura mediadora” do/a professor/a, segundo Jussara Hoffman
(2015), faz toda diferença quando se trata de avaliação. E acrescenta que Vygotsky oferece
contribuição essencial sobre o “conceito de mediação” em termos do desenvolvimento.
Segundo ele, há uma grande diferença entre o que uma criança pode
aprender sozinha ou com a ajuda de outra pessoa mais experiente, mais
competente ou que lhe proporcione desafios adequados ao longo de seu
desenvolvimento. Seus estudos sobre a noção de ZDP (Zona de
Desenvolvimento Proximal) ressaltam a importância do papel do professor e
sugere a necessidade de uma observação simultânea sobre o que a criança
“já conhece” e sobre tudo o que “pode vir a ser ou conhecer”, isto é, sobre o
desenvolvimento real (conquistas ou capacidades já construídas e
consolidadas) e sobre a área de desenvolvimento proximal (os
conhecimentos “ainda” a construir, as funções cognitivas “ainda” a
desenvolver). (HOFFMAN, 2015, p. 20-21).
Hoffman (2015, p.14) afirma, ainda, que “avaliar é acompanhar”, mas esse
acompanhar não diz respeito à definição do termo pautada simplesmente no fazer companhia
ou seguir a criança. Segundo ela “[...] acompanhar em avaliação mediadora, é permanecer
atento a cada criança, pensando em suas ações e reações, “sentindo”, percebendo seus
diferentes jeitos de ser e de aprender. [...]”. Esse acompanhar tem uma intencionalidade
pautada na observação e na reflexão sobre a criança com objetivo de “um fazer pedagógico”
que promova sua aprendizagem e desenvolvimento e é o que caracteriza, de fato, o processo
avaliativo aqui defendido. Em consonância com Mendes (2019), acrescentamos a essas
reflexões outras também importantes sobre avaliação formativa:
Devemos olhar o desenvolvimento da/o estudante e não realizar
comparações.
Os aspectos formativos da avaliação se sobrepõem aos técnicos.
276
O Processo de avaliar é compreendido como prática de investigação e
não de classificação.
Ato de avaliar: sempre aliado ao desenvolvimento pleno em suas
múltiplas dimensões (humana, cognitiva, política, ética etc.).
A avaliação serve para a formação, informação e implementação de
práticas que possam resolver os problemas detectados.
Não é apenas a/o estudante que é avaliada/o.
Avaliar as diferentes linguagens da/o estudante.
Utilizar diferentes formas de se fazer avaliação.
Avaliar em diferentes oportunidades.
O/a professor/a realiza ações para mudar um resultado ruim.
Avaliação e planejamento em constante inter-relação.
Avalia o processo de aprendizagem, levando em conta o progresso
da/o estudante e seus pontos de dificuldade com o interesse de saná-
los, dentre outras [...] (MENDES, 2019, s/n).
3 DESENVOLVIMENTO
Fonte: Arquivo da pesquisadora (2019).
3.1 Discutindo sobre Procedimentos e Terminologias (um diálogo imprescindível)
De acordo com Hoffmann (2015), avaliar na concepção mediadora é acompanhar a
construção do conhecimento com objetivo de intervenção pedagógica significativa, uma
prática intencional que não pode prescindir de organização pedagógica sistemática e objetivos
claros. Pressupõe coleta e análise de dados, ações que dão suporte aos/as professores/as na
elaboração dos relatórios descritivos e devem se sustentar em procedimentos que possam
contribuir realmente com o ato de avaliar a fim de promover a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianças.
277
Ancoradas no paradigma formativo e mediador da avaliação, buscamos sustentação
quanto aos procedimentos que elegemos como condutores da prática avaliativa na educação
infantil.
Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar,
mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a
pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das
crianças. Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens
das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de
todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por
meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos
professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias,
desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o
período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de
crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou
“imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos,
espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas
as crianças. (BRASIL /BNCC, 2017, p.39, grifo nosso).
Salientamos que, ao nos apropriarmos do termo “procedimentos”, buscamos
sustentação em Villas Boas (2007, p.25), que os define como “[...] meios que nos permitem
coletar informações para realizar a avaliação”. Portanto, a elaboração do planejamento de
avaliação precisa ser pautada numa seleção de procedimentos selecionados pelos/as
professores/as, visto que cada um/uma cumpre objetivos próprios que nos possibilitarão reunir
dados para avaliarmos. Cada um tem sua importância, dependendo do contexto, sem
desqualificar nenhum. O processo avaliativo caracteriza-se fundamentalmente pela
necessidade de usarmos “procedimentos variados, que evidenciem as aprendizagens do
aluno”. Esse processo avaliativo, de caráter processual, permanente, formativo, envolve
todos/as os/as profissionais da instituição, as crianças e seus familiares/responsáveis.
Nesse sentido, Villas Boas (2007) destaca:
Não se pode dizer que uma prova isoladamente constitui a avaliação.
Relatórios, questionários e outras atividades dos alunos também não são
a avaliação. Tudo isso nos fornece meios para que se faça a avaliação. Cada
procedimento cumpre objetivos próprios. Alguns requerem atividades ou
respostas mais detalhadas e outros, atividades ou respostas mais concisas.
Alguns solicitam atividades ou respostas simples e outros, atividades ou
respostas que exigem análise, justificativa ou síntese. Alguns querem
atividades ou respostas pontuais, outros, o desenvolvimento de ideias de
forma mais livre. (VILLAS BOAS, 2007, p.25). (grifo nosso).
278
Nessa direção, destacam-se a utilidade e a importância da observação como
procedimento integrante do processo avaliativo sobre as crianças, “para a identificação das
suas potencialidades e fragilidades, assim como pertinente a um dos aspectos facilitadores e
dificultadores do trabalho. É importante conhecer como os alunos aprendem, como se
relacionam, como percebem a escola e a atuação do professor, suas preferências”, em
diferentes espaços e contextos. (VILLAS BOAS, 2007, p.45).
De acordo com Richter, Mota e Mendes (2003), em relação à prática avaliativa na
educação infantil, esta deve ser concebida como processo de observação, registro e reflexão
sobre o desenvolvimento na infância, com intuito de proporcionar meios ao/a professor/a de
refletir sobre sua prática pedagógica. Nesse contexto, essas práticas, na educação infantil,
requerem evidenciar as formas de registros significativos que irão auxiliar no planejamento do
trabalho pedagógico e na avaliação das crianças. Os relatórios descritivos podem, segundo
Hoffman (2011), se constituírem em importante procedimento avaliativo, “[...] devem ser
elaborados de maneira que ao mesmo tempo que refaz e registra a história do seu processo
dinâmico de construção do conhecimento, sugere, encaminha, aponta possibilidades da ação
educativa para pais, educadores e para a própria criança”. (HOFFMAN, 2011, p. 55).
Barbosa (2008, p.98) salienta que quando a LDB/96, em seus ordenamentos, propõe a
avaliação na educação infantil “[...] mediante o acompanhamento e o registro de seu
desenvolvimento, sem o objetivo de retenção ou promoção para o acesso ao ensino
fundamental [...]”, lançou-se o desafio ao/às professores/as e às escolas, pois a educação
infantil, com suas especificidades, requer
[...] elaborar uma avaliação apropriada, autentica, significativa e dinâmica,
baseada no contexto de um grupo de crianças e na experiência real de cada
criança particularmente. Redimensionou-se, assim, a ética e a
responsabilidade social que temos com o ensinar e o aprender no contexto da
diversidade social e cultural. Nessa dimensão, cada sujeito tem um percurso
pessoal, e o acompanhamento das aprendizagens é a única forma de
valorizarmos não apenas o resultado, mas todo o percurso construído pelo
grupo e pelo sujeito em seu processo de aprendizagem. (BARBOSA, 2008,
p.100).
Acrescenta que, tradicionalmente, ainda existem duas formas de avaliação presentes na
educação infantil, uma “objetiva e taxativa” e a outra, “subjetivista e descritiva”. “[...] a
avaliação com caráter mais subjetivista, foi sendo estruturada a partir da proposta dos
pareceres descritivos ou relatórios avaliativos” (BARBOSA, 2008, p. 98). Nesse contexto,
Hoffmann (2015) salienta que ao acompanhar instituições de educação infantil tem observado
que estas, quando refletiram mais sobre o processo avaliativo nessa faixa etária e perceberam
279
o caráter classificatório, comparativo e uniforme que os pareceres descritivos e as fichas
estavam apresentando, optaram por relatórios de avaliação (grifo nosso).
[...] A clareza, a concretude no relato e a análise reflexiva feita pelos
professores, acerca dos diferentes momentos vividos pelas crianças,
evidenciam que vem sendo significativa essa opção [...] há um longo
caminho a percorrer nesse sentido, pois são muitas as dificuldades e a
resistência entre professores, uma vez que elaborar relatórios de avaliação
exige estudo, tempo e permanente observação das crianças. (HOFFMANN,
2015, p.105).
Segundo Hoffman (2015, p. 106-114), o primeiro passo deve contemplar a observação
diária e registro das ações, seguida de revisão e análise das anotações para uma retomada,
uma “ação reflexiva”, que resulte em aprimoramento docente. Os/as professores/as, ao
elaborarem relatórios pautados/as numa “ação reflexiva” devem levar em consideração que
estes perpassarão por “três tempos articulados e complementares”, a seguir:
a) tempo de observação/descrição da ação: [...], o professor protagoniza
um primeiro momento importante: de selecionar os fatos que foram
significativos em algum momento, de alguma criança. Ele precisa parar e
pensar sobre o que é importante destacar/relatar e sobre as expressões mais
adequadas a utilizar. [...] b) tempo de retomada/reflexão: [...] relendo anotações feitas em diferentes
ocasiões, poderá compreender o percurso percorrido por cada criança (suas
preferências, amigos, tempos de realização de um trabalho, formas de
interagir com outros, etc.) a partir do qual irá pensar nas próximas atividades
e brincadeiras ou em novas posturas em relação às crianças. c) tempo de reconstrução/mediação: na terceira etapa, sua reflexão irá
ocorrer de forma ainda mais abrangente e significativa, tendo a analisar o
conjunto das situações educativas, a evolução de cada criança frente a tudo
isso, envolvendo, dessa maneira, a descrição dos fatos, a reflexão sobre eles
e o seu compromisso pedagógico em termos da melhoraria da aprendizagem
da criança. (HOFFMAM, 2015, p.114-116).
Portanto, ao planejar deve-se levar em consideração o que Villas Boas (2007, p. 24)
sugere como pontapé inicial e questionar: “por que estou avaliando? Para que eu avalio?
Como avalio? Quem é avaliado? Quem avalia? Para que servem os resultados da
avaliação”? (grifo nosso). Acreditamos que compreender e tentar responder a esses
questionamentos é fundamental aos/as professores/as e pedagogos/as. Questões que podem
ser norteadoras para que os/as docentes desenvolvam práticas pedagógicas sustentadas numa
avaliação formativa e mediadora, compromissada com a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.
280
IV ESTRATÉGIAS
Fonte: Arquivo da pesquisadora (2019).
Segundo Paulo Freire, “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se
pode melhorar a próxima prática.” (FREIRE 2015, p. 40). Nesse sentido, com base nas
demandas identificadas durante a realização da nossa pesquisa, no contexto das dificuldades
em avaliar na educação infantil, as propostas apresentadas pelas professoras, observadas nas
análises das entrevistas e nos relatórios se convergiram nas narrativas das pedagogas que as
acompanhavam. Tanto as professoras como as pedagogas entrevistadas citaram a utilização de
procedimentos como portfólios, ou outras formas de registros não padronizados para
auxiliarem no processo avaliativo das crianças, no decorrer do ano.
Os registros sobre as aprendizagens das crianças podem auxiliar os/as professores/as,
as próprias crianças e as famílias ou responsáveis a terem uma visão evolutiva do processo,
especialmente se provocarem diálogos entre eles e implicarem processos de ensino e
aprendizagem.
Apresentamos, nesse contexto, sugestões que poderão auxiliar os/as professores/as e
pedagogos/as (Analista Pedagógico) no momento de organizar esse conjunto de
procedimentos para elaboração do relatório de desenvolvimento parcial ou final sobre a
criança.
281
QUADRO 1 – Procedimentos/registros sobre aprendizagem, fotografias, vídeos, atividades
escritas, fichas, folhas ou cadernos de registros, portifólio e relatório.
REGISTROS SOBRE APRENDIZAGEM
Fotografias
Vídeos
Atividades escritas e
outras
Fichas,
Folhas ou
Cadernos de
Registros
Portifólio
Relatório
Arte que
permite
registrar
reações,
captar
imagens de
momento(s).
Gravação e
reprodução
de imagens
e sons.
Atividades que façam a
criança pensar, refletir,
buscar informações,
duvidar, trabalhar
individualmente e em
grupos, estabelecer
relações com o meio em
que vive e com as
experiências de
aprendizagem criadas
pelo projeto, os desenhos,
por exemplo.
Registro do
observado
pelas/os
profissionais
da instituição
durante a
realização das
atividades
propostas. Procedimentos
de Produção
de dados para
a construção
do relatório
individual da
criança.
Registro do
processo de
aprendizagem
que se
caracteriza
pela
comunicação
escrita entre a
professora e a
(s) criança (s),
objetivando a
percepção das
conquistas
individuais e
coletivas no
processo de
desenvolvi- mento das
crianças.
Texto escrito que
registra e analisa a
ação da criança,
durante a
realização das
atividades
propostas em um
período,
contextualizando
as observações, as
anotadas na Ficha
de Registro e em
outros
instrumentos de
produção de
dados, e expondo
a reflexão sobre
essas observações.
Fonte: Elaborado pelo NINF (2016) a partir das formulações de Hoffmam (2015) e Barbora; Horn (2008).
4.1 OBSERVAÇÃO: procedimento fundamental ao processo avaliativo
Ao utilizarmos a observação como principal procedimento que irá contribuir no
processo avaliativo na educação infantil, nos apropriamos das sugestões apresentadas por
Barry Stierer et al. (1993, p.24) apud Villas Boas (2007, p.45), para o planejamento da
observação: 1) Organização da sala de aula; 2) Estabelecimento do alvo das observações; 3)
Organização dos registros de observação; 4) O uso dos registros de observação. Para instigar a
discussão com os/as professores/as sobre o planejamento da observação construímos 04
quadros com fragmentos das elaborações de Stierer (1993), citadas por Villas Boas na obra
“Avaliação na Escola” (2007). A intenção foi incluir nos quadros orientações presentes na
referida obra, visando colaborar para a discussão e superação das dificuldades mencionadas
pelas professoras no contexto da elaboração dos registros.
282
Quadro 2 - Organização da sala de aula, condições para a observação, quando observar, que
momentos do tempo escolar podem ser dedicados a observações
a) ORGANIZAÇÃO DA SALA DE AULA Condições para a
observação
Para que o professor tenha
condições de observar seus
alunos e fazer os registros é
necessário que eles possam
trabalhar com
independência.
Dessa forma, o professor
pode usar seu tempo em
interação avaliativa com os
alunos e não apenas lhes
fazendo simples perguntas.
(STIERER et al.,1993, p.24
apud VILLAS BOAS, 2007,
p.45).
Quando observar? Que momentos do tempo escolar podem ser dedicados
a observações?
A decisão quanto ao momento de fazer observações faz parte do processo de
planejamento. As questões seguintes podem ajudar nessa escolha.
- O professor pode observar enquanto trabalha e interage com grupos de
alunos, pois a observação não precisa ser silenciosa: pode envolver conversa
com os alunos sobre o que estão fazendo ou pensando.
- Podem ser identificados, para observação, dois alunos do grupo com o qual o
professor está trabalhando.
- O registro pode ser feito durante ou imediatamente após a observação.
Outros profissionais que atuam na escola/curso poderão ajudar o/a professor/a
[...].
- Se o/a professor/a tiver a sorte de ter alguém disponível para ajudá-lo em seu
trabalho com a turma, pode aproveitar esses momentos para realizar as
observações.
(STIERER et al.,1993, p.24 apud VILLAS BOAS, 2007, p.45-46).
Fonte: Fragmentos da obra de Stierer et al. (1993, p.24) apud Villas Boas (2015, p.45-46).
Quadro 3 - O alvo das observações: Como fazer a observação, quantos/as alunos/as, quem e
onde observar, o que, quando e quanto tempo observar
b) ESTABELECIMENTO DO ALVO DAS OBSERVAÇÕES
As observações podem ser feitas
de duas maneiras:
a) o professor pode anotar fatos
interessantes e significativos
assim que eles acontecem. Essas
observações incidentais
costumam ser muito valiosas;
b) as observações são planejadas,
por meio da identificação de um
determinado aluno, [...] de um
determinado conteúdo, tema,
atividade ou momento do dia.
Essa segunda forma é
denominada de “observação
alvo”. Vantagens: permite ao
professor sistematizar as
observações de todos os alunos, a
dirigir sua atenção e coletar
informações que respondem a
questões sobre a maneira pela
qual os alunos estão usando os
recursos de aprendizagem.
-Estabelecer objetivos alcançáveis
e realísticos é uma maneira
importante de se iniciarem e
manterem as observações.
- Estabelecer o alvo e os objetivos
juntamente com colegas enriquece
Quantos alunos observar?
Pode ser feita a seleção de um aluno por dia/sessão ou seleção de um
grupo de alunos por semana ou por um período. (STIERER et al., 1993,
p.24 apud VILLAS BOAS, 2007, p.45).
Quem observar? Podem-se selecionar alunos que sejam novatos na escola/turma/grupo,
que estejam causando preocupação ou que precisem ser mudados de
turma etc.; escolher dentre aqueles que pertencem ao grupo que será
observado primeiramente ou simplesmente seguir a relação dos alunos
matriculados. De qualquer forma, é preciso destinar tempo para a
observação de todos os alunos. (STIERER et al.,1993, p.24 apud
VILLAS BOAS, 2007, p.45).
Onde observar? A observação pode ser feita em uma área da sala de aula ou fora da sala
de aula convencional, em outros espaços da escola, se houver objetivo
particular. (STIERER et al.,1993, p.24apud VILLAS BOAS, 2007, p.45).
O que observar? Uma área específica de trabalho, dentro ou fora da sala de aula
convencional ou atividades em desenvolvimento. (STIERER et al.,1993,
p.24apud VILLAS BOAS, 2007, p.46).
Quando observar? Em um horário do dia a esse fim destinado. (STIERER et al.,1993, p.24
apud VILLAS BOAS, 2007, p.46).
283
o processo. (STIERER et
al.,1993, p.24 apud VILLAS
BOAS, 2007, p.46).
Por quanto tempo observar? Uma observação planejada para 5 minutos pode ser frutífera, mas a
duração depende dos objetivos e da atividade. Curtas observações podem
ser igualmente reveladoras, caso seja possível contextualizá-las. Se um
aluno estiver trabalhando próximo do professor durante cerca de 20
minutos, esse período pode ser aproveitado para registrar os fatos
observados. É importante discutir o trabalho de observação e de registro
com colegas, para troca de ideias. (STIERER et al.,1993, p.24 apud
VILLAS BOAS, 2007, p.46).
Fonte: Fragmentos da obra de Stierer et al. (1993, p.24) apud Villas Boas (2007, p.46).
Quadro 4 – Organização dos registros de observação, como serão feitos, onde manter o
caderno de registro, que quantidade de anotações deve ser feita, o que, como e quando anotar,
como usar as folhas de observação e comentários sobre necessidades individuais.
C) ORGANIZAÇÃO DOS REGISTROS DE OBSERVAÇÃO
Como serão feitos os seus registros:
Também faz parte do planejamento da
observação decidir sobre como serão feitos
os seus registros. Não se pode confiar na
memória. Os registros podem ser feitos em
um caderno próprio, tendo uma folha
dedicada ao registro da observação de cada
aluno ou em Ficha de Registro, uma para
cada aluno. O importante é escrever o que é
visto e ouvido, o que chama mais a atenção,
da maneira como acontece, sem explicações
nem adjetivos. A interpretação virá depois
de um volume satisfatório de informações.
Anotam-se os dados importantes o mais
rapidamente possível. As crianças se
acostumarão com essa prática. Se elas
perguntarem o que o professor tanto escreve,
com naturalidade ele poderá responder:
anoto tudo o que vocês estão aprendendo.
Avaliação e confiança entre professor e
alunos andam juntas.
Observam-se e avaliam-se todas as
atividades, desenvolvidas por meio de todas
as linguagens e não apenas aquelas que
usam a linguagem escrita. Valorizam-se
todas as formas de expressão. Realmente é
importante saber escrever bem, mas é
igualmente necessário saber comunicar-se
oralmente. Se for usado um caderno para
registro das observações, suas folhas são
soltas, para que possam ser retiradas ou
acrescentadas. Como organizar as folhas de
registro? O uso da folha será facilitado se
houver uma para cada aluno, com o seu
nome no início da página. Ao final do
caderno algumas folhas permanecerão sem
nome, à espera dos que chegam transferidos.
O caderno poderá ter espaços para grupos de
alunos segundo suas necessidades, como os
Onde manter o caderno de registro?
Sempre à mão, para facilitar seu uso. Tê-lo sempre sobre a
mesa de trabalho é uma boa ideia.(STIERER et al.,1993,
p.24apud VILLAS BOAS, 2007, p. 46-48).
Que quantidade de anotações deve ser feita?
Não é a quantidade o que importa, mas o que será útil
posteriormente. A prática ensinará a identificar os
comportamentos, frases ou fatos mais relevantes e a desprezar
os detalhes sem muita importância. O tempo ensinará a
escrever o que seja mais significativo. (STIERER et al.,1993,
p.24 apud VILLAS BOAS, 2007, p. 46-48).
O que anotar? Toda observação deve ser contextualizada, o que indica a
necessidade de se colocar a data, o horário e a situação em que
algo aconteceu. Tanto podem ser usados trechos de
conversação que ajudem a lembrar da cena ocorrida como
palavras-chave. (STIERER et al.,1993, p.24 apud VILLAS
BOAS, 2007, p. 46-48).
Como anotar? Anota-se o que foi visto ou ouvido, sem interpretações ou
julgamentos. O objetivo do caderno de observação é a
construção de um retrato do aluno. Somente depois que
houver um certo número de fatos/passagens/ocorrências será
possível começar a formar julgamentos. (STIERER et
al.,1993, p.24, apud VILLAS BOAS, 2007, p. 46-48).
Quando anotar? Há duas maneiras de observar: a) planejando o momento de
observar um aluno especificamente; b) registrando fatos
espontaneamente, quando algo interessante acontece.
Naturalmente essas duas formas se superpõem, o que exige
que se planeje o trabalho e que ele seja sistemático. Contudo,
observações não planejadas podem ser valiosas; é melhor ter
vários registros curtos, desse tipo, do que registros muito
longos e infrequentes. (STIERER et al.,1993, p.24 apud
VILLAS BOAS, 2007, p. 46-48).
284
que se matricularam mais recentemente ou
os que poderão ir para outra turma/grupo. As
folhas de registro de observação dos alunos
que serão observados em um determinado
dia ou durante a semana poderão ser
separadas. Uma folha pode ser acrescentada
para revisão [...] (grifo nosso).(STIERER et
al.,1993, p.24apud VILLAS BOAS, 2007, p.
46-48).
Como usar as folhas de observação? Elas podem estar em branco ou apresentar as categorias a
serem observadas, como, por exemplo: interação, atitudes,
habilidades, resolução de problemas, comunicação,
interpretação, aproveitamento do tempo etc. Se a opção for
pelo uso de categorias, as folhas deverão conter espaço
destinado a cada uma. Caso contrário, as folhas estarão em
branco e as anotações serão feitas livremente. (STIERER et
al.,1993, p.24apud VILLAS BOAS, 2007, p. 46-48).
Comentários sobre necessidades individuais O último item da folha de observação tem função diferente
dos demais. Enquanto as categorias de observação descrevem
o que foi observado, o último espaço da folha de observação é
destinado a anotações sobre o significado do que foi
observado e a apontar preocupações e ações a serem
desenvolvidas. Esses comentários referem-se às necessidades
individuais dos alunos. Por exemplo: “isso tem acontecido
sempre que ele chega atrasado. Conversar com ele para
conhecer a razão dos constantes atrasos”. O que fazer com as
folhas de observação já completas? Podem ser guardadas no
caderno de observação, enquanto o aluno frequentar a
escola/curso, ou em pasta a ele destinada.
(STIERER et al.,1993, p.24apud VILLAS BOAS, 2007, p. 46-
48).
Fonte: Fragmentos da obra de Stierer et al. (1993, p.24) apud Villas Boas (2007, p.46-48).
Quadro 5 – O uso dos registros de observação, o que analisar, quando, como e por que
analisar d) O USO DOS REGISTROS DE OBSERVAÇÃO
Analisando os registros
Assim que as observações se
acumulam, é necessário
analisar seus registros, de
várias formas. (STIERER et
al. (STIERER et al.,1993,
p.24 apud VILLAS BOAS,
2007, p.48).
O que analisar?
Todos os alunos foram observados? Estão as observações restritas a
determinados alunos, áreas curriculares ou categorias? As informações
coletadas estão contribuindo para o desenvolvimento do trabalho ou há
necessidade de replanejamento das observações? (STIERER et al.,1993, p.24
apud VILLAS BOAS, 2007, p.48).
Quando analisar?
Quando houver uma quantidade de dados que justifique a análise; quando uma
decisão precisar ser tomada; quando os dados já puderem ser articulados a
outros coletados por outros meios. (STIERER et al., 1993, p.24 apud VILLAS
BOAS, 2007, p.48).
Como analisar? Um quadro-resumo pode ser útil, onde se registrem os nomes dos alunos e as
categorias observadas. (STIERER et al.,1993, p.24 apud VILLAS BOAS,
2007, p.48).
285
Por que analisar? As apreciações regulares ajudam a identificar necessidades
de futuras observações; auxiliam a planejar o trabalho que permita observar os
alunos investigando ou estabelecendo hipóteses, por exemplo; a replanejar as
atividades de modo a se atenderem as necessidades detectadas; a ter
informações mais completas sobre cada aluno, de forma contextualizada.
(STIERER et al.,1993, p.24 apud VILLAS BOAS, 2007, p.48).
Fonte: Fragmentos da obra de Stierer et al. (1993, p.24) apud Villas Boas (2007, p.48).
Dessa forma, o movimento de análise dos registros das observações é contínuo.
Portanto, é preciso ir observando e retomando as observações depois de ações planejadas com
o intuito de mudar a realidade.
4.2 PORTFÓLIOS
Segundo Villas Boas (2007, 26), “O Portifólio”100. é um dos procedimentos de
avaliação condizentes com a avaliação formativa”. Originalmente, é entendido como uma
pasta grande onde se colocam as amostras representativas das produções de artistas e
fotógrafos iniciantes, com objetivo de serem apreciadas e compreendidas com intenções de
propor avanços em seu processo de desenvolvimento”. Na educação, apresenta várias
possibilidades: “É um procedimento de avaliação que permite aos alunos participar da
formulação dos objetivos da sua aprendizagem e avaliar o seu progresso. Eles são, portanto,
participantes ativos da avaliação, selecionando as melhores amostras do seu trabalho para
incluí-las no portfólio”. (VILLAS BOAS, 2007, p.27). Seu uso traz vantagens em beneficiar
qualquer tipo de aluno/a devido às várias possibilidades de apresentação das produções com o
uso de diferentes linguagens. O acompanhamento do desenvolvimento do trabalho é
permitido ao/a estudante, que se sente valorizado/a em seu esforço. Outra vantagem, segundo
Villas Boas (2007, p.28), são as “notas, conceitos e menções, se existirem, passam a ocupar
lugar secundário”, podendo até não existir. A história de vida e as experiências do/a aluno/a
são levadas em consideração e socializadas, assim como seu contexto social, o que para o
100
Porta-fólio ou portfólio, segundo o Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa, 1999, 3ª
edição, é uma pasta de cartão usada para guardar papéis, desenhos, estampas etc. Já o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa, 2001, 1ª edição, traz também as duas formas: porta-fólio e portfolio, esta última sem o
acento agudo. O significado do portfólio oferecido por este último é o de “conjunto ou coleção daquilo que está
ou pode ser guardado num porta-fólio (fotografias, gravuras etc.)” e “conjunto de trabalhos de um artista
(designer, desenhista, cartunista, fotógrafo etc.) ou de fotos de autor ou modelo, usadas para divulgação entre
clientes prospectivos, editores etc.”; portafólio (cartão) “contendo material publicitário (sugestões de leiautes,
artes-finais, provas etc.) que se leva a um cliente para aprovação”. (VILLAS BOAS, 2007, p.26).
286
estudante traz sentido e significado, responsabilidade e autonomia. Nesse contexto, é
importante registramos a narrativa da professora Laura sobre portfólio:
[...] quando eu vou elaborar [as proposições] eu já penso na realidade da sala
primeiro. O que o meu aluno sabe? O que que eu posso fazer pra aprimorar
sem puxar demais e nem ficar estacionada, não é?Eu tenho sentido a
necessidade de retornar algumas coisas porque tem crianças que não
conseguiram caminhar junto com as outras, [...] então, quando eu vou
elaborar tarefa eu penso assim, como é que ele está? (Professora Laura,
entrevista, 2019, p.7-8).
Barbosa e Horn (2008), ao escreverem sobre a importância dos portfólios, destacam
que “são lugares onde devem ser expressas inúmeras vozes. Todos devem ter espaço para o
registro”: os pais, crianças, a professora regente [...] as disciplinas especializadas, mesmo
quando orientadas por outro professor, podem estar incluídas neles”. (BARBOSA; HORN,
2008, p.112, grifo nosso). Nesse sentido, destacamos que a Secretaria Municipal de Educação
de Uberlândia-SME/UDIA/MG, ao organizar a distribuição das horas-aula para os/as docentes
da rede municipal de educação, define professores/as regentes de sala RI (Regente I) e os/as
professores/as das chamadas aulas especializadas, RII (Regente II) que contemplam a
Educação Física, Arte e Culturas Regionais e Locais (parte diversificada). Salientamos que
não há referência nos relatórios das professoras (RI), participantes das pesquisas sobre as
contribuições dos/as docentes de aulas especializadas. No caso da escola Tecelã, seria aula de
Educação Física, Arte e Culturas Regionais e Locais. A cobrança da elaboração do relatório
das crianças, de acordo com o memorando nº 2282/2017-SME/CIE-circular (anexo E,p.348),
recai sobre o/a professor/a RI, não havendo até o momento a participação dos/as outros/as
professores/as que atuam juntos às mesmas crianças. Consideramos essa participação
fundamental, visto que o portfólio é um procedimento valioso de avaliação formativa e o
processo por ele desencadeado contribui com a criação de elos importantes no
estabelecimento dos diálogos entre os/as envolvidos/as: as crianças, os/as professores/as e os
pais, se constituindo como recurso significativo na hora que os/as professores/as regentes de
sala forem elaborar o/os relatórios descritivos da/as criança/as.
4.3 Relatório Descritivo do desenvolvimento e aprendizagem da criança
Ao concordarmos com Hoffmann (2015), que avaliar na concepção mediadora é
acompanhar a construção do conhecimento, com objetivo de intervenção pedagógica
significativa, nos colocamos na situação de que precisamos nos envolver nos processos
287
educativos de forma profunda, a fim de buscarmos elementos consistentes que possam nos dar
suporte na avaliação que promova a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. Assim,
uma prática intencional, que não pode prescindir de organização pedagógica sistemática, e
objetivos claros, pressupõe produção e análise de dados. Essa produção e análise dos dados
são ações que dão suporte aos/as professores/as na elaboração dos relatórios descritivos e
devem se ancoram em procedimentos que possam contribuir realmente com o ato de avaliar,
articulado ao ensino e à aprendizagem.
4.3.1 Observações para elaboração do relatório individual das crianças
Considerando que a avaliação na educação infantil, de acordo com Hoffmann (2015),
deve sempre enfatizar os avanços e não os erros das crianças, destacamos que ao realizar os
registros sobre suas aprendizagens, avanços ou dificuldades, é importante levar em
consideração alguns critérios que ajudariam os/as professores/as a compreender e descrever o
processo sem classificar e sem enquadrar as crianças. Nesse sentido, cuidar para não utilizar
termos depreciativos que possuem carga negativa sobre a criança. Evitar adjetivos
comparativos da criança em relação a/as outra/as criança/as, extremismos, julgamentos,
generalizações, rotulações e juízos de valor. Buscar realizar o registro valorizando o
desenvolvimento da criança com ênfase em suas potencialidades de aprendizagem por meio
das oportunidades oferecidas, evitando posicionamentos discriminatórios e reforçando, de
acordo com Barbosa e Horn (2008), o respeito ao “princípio da diversidade”, a atenção aos
aspectos “cognitivos e afetivos”, assim como a valorização das “diferentes aprendizagens,
sejam elas racionais, sensoriais, práticas, emocionais e sociais [...]” ( Barbosa, 2008, p.100).
Nessa perspectiva, a narrativa da professora Larissa é fundamental:
[...] cada criança tem um contexto social, e fazer avaliação formativa não
condiz com práticas que utilizam do recurso de colocar aqui... sublinhar aqui
de vermelho, colocar um X aprovado, reprovado, péssimo, bom, ótimo,
regular, insuficiente, excelente, fraco[...]. (Professora Larissa, entrevista,
2019, p.3).
Enfim, é importante utilizar termos e expressões propositivas que reconheçam o que
as crianças são capazes de alcançar e não o contrário, contemplando no relatório processos de
desenvolvimento e de aprendizagem.
A título de ilustração, apresentamos o Quadro 6, constituído de fragmentos da
BNCC/2017, das narrativas das professoras e das experiências educativas. Dessa forma,
288
contempla campos de experiência, objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento/BNCC/2017, experiência educativa e fragmentos de narrativas das
professoras participantes da pesquisa, revelando elementos para ancorar a elaboração e
discussão dos registros sobre desenvolvimento e aprendizagem.
QUADRO 6 - Campos de experiências/BNCC/2017, objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento, narrativas de professoras sobre as crianças, ações educativas e experiência
educativa
CAMPO DE EXPERIÊNCIA-ET - Espaços, Tempos, Quantidades, Relações e Transformações.
CAMPO DE EXPERIÊNCIA - EF- Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação (Oralidade e escrita)
Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e
11 meses)
Trechos das Narrativas de
professoras sobre a criança e
ações educativas
(entrevistas/relatórios)
Experiência educativa
OBJETIVOS DE
APRENDIZAGEM E
DESENVOLVIMENTO/BNCC/2017
[...] Hoje já reconhece os
números, faz a contagem até
20 e as formas geométricas
estão em processo de
construção do conhecimento.
(Professora Bianca, relatório,
2019, p.1).
[...] uso muito o visual,
concreto mesmo, proponho um
probleminha. [...] (Professora
Larissa, entrevista, 2019, p.10).
A professora Larissa, visando
alcançar os objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento
(estabelecer relações de
comparação, registrar
observações, formular hipótese,
manter-se atenta às narrativas,
representar por meio de desenhos
etc.), desenvolveu uma
experiência educativa estruturada
pelo lúdico e pelo fomento da
participação da criança, criando
ambiente interativo. Utilizou da
contação de história e do jogo de
faz de conta. Usa material
concreto como tampinhas, folhas
e flores confeccionadas para
compor o cenário de um jardim e,
assim, brincando descreve uma
situação-problema a partir do
desaparecimento de uma
personagem da história narrada, a
Joaninha. Coloca quatro
joaninhas (tampinhas) na pétala
da flor e continua a narrativa:
[...] de repente, uma se assustou
com um camaleão e se escondeu,
quantas ficaram brincando na
pétala? Ela é espertinha sabe que
se não esconder vai virar o
almoço ou a sobremesa do
camaleão. E agora? Quantas estão
escondidas? Quantas estão
brincando? Três... vamos
desenhar? Vamos desenhar isso?
Como? E cadê a outra? [...]
EI03ET04) Registrar observações,
manipulações e medidas, usando
múltiplas linguagens (desenho,
registro por números ou escrita
espontânea), em diferentes suportes.
(EI03ET07) Relacionar números às suas
respectivas quantidades e identificar
o antes, o depois e o entre em uma
sequência.
289
(Professora Larissa, entrevista,
2019, p.10).
Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir da BNCC (BRASIL,2017, p.51-52).
A professora Larissa (2019), ao incentivar as crianças a participarem e a buscarem, por
meio da interação com sujeitos e os materiais oferecidos, fazer associações e estabelecer
relações com os números de forma concreta e lúdica, leva-os a formular hipóteses na busca de
respostas ampliando suas experiências de aprendizagem e desenvolvimento. A análise das
hipóteses também revela elementos fundamentais para compor a avaliação. Além disso,
brincando de faz de conta as crianças da professora Larissa foram incentivadas a lidar com os
números e a explorar o ambiente comparando-o e fazendo associações que a transformação
provocada pela interação com o meio pode provocar. Além do desenho, a professora poderia
utilizar de outras formas de registro da experiência, como exemplo, filmagem, anotações e
gravações dos diálogos. Mas, o importante é destacar que ao avaliar o desenvolvimento e a
aprendizagem da criança, deve-se avaliar de forma articulada as ações educativas e os
objetivos dessas ações.
Reafirmando o objetivo da nossa proposta, em auxiliar da melhor forma possível
quanto às dificuldades no uso de terminologias ou critérios na hora de descrever o processo de
desenvolvimento da criança nos relatórios, buscamos uma narrativa da professora Larissa que
salienta sobre sua preocupação com as palavras ao avaliarmos na educação infantil. Ela
destaca a orientação da pedagoga que a direciona quanto ao modo de proceder “[...] cuidado
com os conceitos, com a palavra “não, não consegue”. Se eu preciso colocar um não... de que
forma eu coloco um não, e que ele não consegue, que ele não tá legal, como que eu faço? [...]
(Professora Larissa, relatório, 2019, p.7). Essa preocupação pode ser contemplada conferindo
caráter processual às afirmativas e indicando possibilidades de transformação, de
potencialidade.
Nesse sentido, acrescentamos às sugestões anteriores expressões iniciais que podem
contribuir na elaboração dos relatórios, recorremos ao blog Espaço educar (2019)101, no qual
constam sugestões:
101 Educação Infantil: Orientações para auxiliar na elaboração do relatório individual. Postado por Natália no
Espaço Educar em 26 de abril de 2019. Disponível em:<https://oespacoeducar.com.br/2019/04/26/educacao-
infantil-orientacoes-para-auxiliar-na-elaboracao-do-relatorio-individual/>. Acesso em: 19 nov. 2019.
290
Com base nos objetivos trabalhados no bimestre, foi possível observar que o
aluno… Observando diariamente o desempenho do aluno, foi constatado que neste
semestre… A partir das atividades apresentadas, o aluno demonstrou habilidades em… Com base na observação diária, foi possível constatar que o aluno… (Espaço
educar, 2019).
No relatório é importantíssimo destacar a participação e interação da criança com seus
pares, com o/a professor/a e as propostas e projetos oferecidos e desenvolvidos, ou seja,
demonstrar a articulação entre a proposta pedagógica da escola, o planejamento do/a docente
e a aprendizagem e desenvolvimento da criança, assim como a proposta de intervenção para
continuar o processo de desenvolvimento e aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fonte: Arquivo da pesquisadora (2019).
As narrativas das professoras e pedagogas participantes da pesquisa explicitaram a
preocupação sobre a ética ao avaliar seres de tão tenra idade. Considerando a dimensão ética
fundamental na ação docente, destacamos fragmentos das narrativas das professoras e
pedagogas: “[...] a base ética, talvez seja onde eu mais tenha dificuldade. Na ética da
avaliação. Porque é ético eu colocar lá “o menino morde”? ou é ético eu deixar de fora que ele
morde?” (Professora Cecília, entrevista, 2019, p.4-5). Vejamos outros trechos dessas
narrativas:
291
[...] mas essa avaliação, ela vem através do relatório não é? Desse relatório
que eu falei, que às vezes você não pode colocar toda a verdade no relatório
e isso é ético? (Professora Carolina, entrevista, 2019, p.3-4).
[...]t em aqueles relatórios que você pode falar, que você não pode, não sei se
ético... é? Coisas que você troca [...]. (Professora Luiza, entrevista, 2019,
p.4, grifo nosso).
[...] às vezes chega e fala para mim assim: esse menino é muito custoso, eu
já falei pra ele que ele é custoso. [...] tem que tomar o cuidado até nessas
avaliações corriqueiras que a gente faz todo dia, que sem pensar a gente fala,
sabe? Até isso a gente tem que tomar cuidado. É uma questão ética.
(Pedagoga Sofia, entrevista, 2019, p.6, grifo nosso).
[...] não pode oferecer às crianças educação por conta-gotas, você tem que
oferecer o máximo e, assim, aqueles que têm mais condições realmente eles
vão... porque se você oferece o mínimo e também não tem que ser igual,
nemé ético, porque não é justo [...]. (Pedagoga Valentina, entrevista, 2019,
p.15, grifo nosso).
Sobre o conteúdo dessas narrativas, coadunando com Barbosa e Horn (2008),
destacamos a importância do compromisso ético e social com as crianças na realização de
avaliação. Lidamos com crianças e infâncias, cada uma tem um ritmo, diferentes jeitos de
aprendizagem e contextos que interferem nas formas de avaliar, aumentando
significativamente nossa responsabilidade como profissionais que atuamos com crianças na
educação infantil.
Ao trazermos a reflexão sobre ética na avaliação, questão tão complexa, tornou-se
fundamental rever as contribuições Freirianas, as quais nos ajudam a “pensar certo”. De
acordo com Freire (1996),
[...] Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de
comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo
isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos sendo. Estar sendo
é a condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos
longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da
ética, entre nós, mulheres e homens é uma transgressão. É por isso que
transformar a experiência em puro treinamento técnico é amesquinhar o que
há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter
formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos
não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é
substantivamente formar. [...]. (FREIRE, 1996, p.34-35).
Nesse contexto, Villas Boas (2007, p.49), destaca que “em toda ação docente estão
presentes as dimensões técnica, política, estética e ética, estreitamente relacionadas [...]”, e a
ética é fundante das demais. Segundo ela, para praticar a avaliação com competência não
292
basta o/a professor/a conhecer sua área de atuação, o que vai trabalhar ou como proceder ao
avaliar.
É preciso refletir criticamente sobre o valor efetivo da avaliação que adota
para a inserção criativa dos sujeitos na sociedade. Não basta criar novos e
atraentes procedimentos de avaliação – a criatividade é usada para a
construção do bem-estar coletivo. Não basta se comprometer politicamente,
é preciso analisar a repercussão da avaliação adotada na trajetória escolar e
de vida dos alunos. Sendo a ética fundante da competência, avalia-se com
ética. Nesse sentido, a avaliação é conduzida tendo como base o respeito ao
aluno como pessoa e às produções que ele apresenta. (VILLAS BOAS,
2007, p.50-51,).
Assim, reafirmamos que, de acordo com Jussara Hoffmann (2013), avaliar é uma ação
reveladora de quem somos, do que sabemos e de nosso posicionamento diante da vida.
Segundo ela, uma atividade ética que envolve seres humanos, com especificidades diversas
que dependem de nossa postura como formadores/as de juízos de valor e precisamos saber ir
além do julgamento. É preciso saber enxergar, pensar sobre e intervir a favor da
aprendizagem significativa e intencional das crianças.
Nesse sentido, esperamos que este Caderno Reflexivo: avaliação na educação infantil
possa nos ajudar a superar, coletivamente, as dificuldades para realizar avaliação na educação
infantil no contexto de implementação da Lei 12796/13. E além de tudo, a provocar diálogos e
a “pensar certo” no contexto da avaliação mediadora, emancipatória, libertadora, dialógica,
participativa, humanizante e democrática em que todos os sujeitos envolvidos sejam
reconhecidos como parte do processo. E o fundamental, desenvolvida com bases em práticas
avaliativas, procedimentos e formas de registros intencionais e significativos, considerando as
especificidades das infâncias e as crianças como sujeitos de direitos e produtoras de cultura.
REFERÊNCIAS
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Artmed, 2008.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Básica – Resolução 05/2009
– Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, 2009.
293
BRASIL. Lei nº 12.796 de 04 de abril de 2013. Altera a Lei 9.394 [...] para dispor sobre a
formação de profissionais da educação e dar outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm:>. Acesso em: 1
dez. 2015.
BRASIL. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 13. ed. –
Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2016
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 de
abr. de 2010. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002630.pdf>. Acesso em: 10 nov.2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base.
Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf.>.
Acesso em: 7 abr. 2018.
ESPAÇO EDUCAR. Orientações para auxiliar na elaboração do relatório individual.
Disponível em:<https://oespacoeducar.com.br/2019/04/26/educacao-infantil-orientacoes-para-
auxiliar-na-elaboracao-do-relatorio-individual/>. Acesso em: 19 nov. 2019.
GALEANO. Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2002.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação e Educação infantil: um olhar sensível e reflexivo sobre a
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KOHAN, Walter. Infância, estrangeiridade e ignorância: ensaios de filosofia e educação.
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MENDES, Olenir Maria. Parecer sobre relatório de pesquisa. Implementação da Lei
12.796/13: um estudo sobre as dificuldades enfrentadas por docentes e pedagogos/as na
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MENDES, Olenir Maria. O direito de aprender e a produção da qualidade na escola pública a
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Carlos Roberto F, Nogueira. 3 ed. – São Paulo. Martins Fontes, 1986.
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Municipal de Ensino – versão Preliminar/2018. Educação Infantil, v.1. Uberlândia, MG,
2018.
VILLAS BOAS. Benigna Maria de Freitas. Mo692 Módulo III: A avaliação na escola.
Benigna Maria de Freitas Villas Boas. Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Avaliação na educação infantil segundo a Lei nº
12.796. GEPA- Grupo de Estudos e Pesquisa em Avaliação e Organização do Trabalho
Pedagógico. Disponível em: <http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br/avaliacao-na-educacao-
infantil-segundo-a-lei-no-12-796/>. Acesso em: 22 fev.2019.
296
Documentos elaborados para orientar as instituições de educação infantil na
implementação da lei nº 12.796/2013
ANEXO B - Orientação nº. 01/junho de 2015 da Superintendência Regional de Ensino-
Uberlândia/SRE/UDIA
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ANEXO F - Relatórios descritivos elaborados pelas professoras participantes da pesquisa
1- Relatório da Professora Izabel
IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
E.M.E.I. ************************** Parecer e portaria de autorização de funcionamento da Ed. Infantil Lei Municipal nº *******
dezembro de 1.991; art. 1º e da Lei nº 7.101 de 17/04/1998. Registro de pré-escolar nº ****
de 14 de setembro de 1.992
RELATÓRIO DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTODA
CRIANÇA
IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA Nome: ************************
Data de Nascimento: / / Agrupamento/Período: 1º PERÍODO Ano Letivo: 2018
Filiação:*****************************************
TRABALHO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO COM A CRIANÇA A Educação Infantil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físicos,
psicológicos, intelectuais e sociais, complementando a ação da família e da comunidade.
Promover, por meio das dimensões do cuidar e do educar, o direito à infância
utilizando experiências múltiplas que possibilitem o desenvolvimento dos aspectos
anteriormente citados, constitui o objetivo da EMEI Professora Carmelita Vieira dos Santos
para a primeira etapa da Escola Básica.
Nesta etapa, o processo educativo se torna investigativo e dialógico, permitindo aos
alunos espaços para socialização de suas ideias e possibilitando o aprendizado pela vivência.
Assim, em profunda relação com o outro e com o seu contexto, os pequenos ampliam e
desenvolvem as linguagens. A escola se torna um espaço de interação que possibilita à criança
o encontro de formas de compreensão e expressão sobre o que ocorre a sua volta e consigo
mesma.
A criança, produtora de conhecimento, de cultura e de uma identidade pessoal, precisa
ter voz. O protagonismo infantil permitirá a ela fazer escolhas, determinar caminhos, optar,
ressignificar e inferir. O aprendizado, como construção social, permite que a criança encontre
explicações sobre o que ocorre a sua volta e com ela mesma, enquanto desenvolve formas de
sentir, pensar e solucionar problemas.
O projeto pedagógico para a Educação Infantil também visa a valorização do brincar,
dos sentimentos e das emoções, o aprendizado pela experiência, o estímulo às várias
linguagens, o contato com a natureza, o estímulo à criatividade por meio da utilização de
materiais não estruturados e o reconhecimento da autoria e do protagonismo infantil na
construção da autonomia.
O lúdico e as brincadeiras, atividades por excelência da infância, mediam todo este
processo. Os jogos e as brincadeiras são formas de entender os diferentes papéis exercidos na
sociedade e na própria vida, além de possibilitar para a criança o raciocínio, a socialização e
momentos de alegria e prazer. Mais do que investir em uma estrutura escolarizada, o trabalho
na Educação Infantil se enriquece pelo estímulo à autonomia da criança por meio do uso de
uma diversidade de materiais simples, “não-estruturados”, que permitem uma busca criativa,
aberta e flexível; e pelo investimento na formação de nossos alunos, para que tenham
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condições de explorar as várias linguagens e criar atividades contextualizadas e significativas,
respeitando o tempo do brincar e valorizando a curiosidade própria da infância.
Nessa perspectiva e com base na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional), nas DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil), no
RCNEI (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil) e nos documentos
municipais, a proposta pedagógica da escola será norteada pela Pedagogia de Projetos, onde
os conteúdos ganham vida e significado, porque partem de situações reais, vivenciadas pelos
alunos e professores. Aproveita-se a curiosidade e o interesse das crianças, potencializados
pela intervenção e mediação instigante e questionadora do professor. Assim, acontece uma
aprendizagem mais significativa, eficaz e prazerosa.
O trabalho com a Pedagogia de Projetos é uma maneira diferente de suscitar a
compreensão dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da escola e de ajuda-los a
construir sua própria identidade. É um trabalho que requer mudanças na concepção de ensino
e aprendizagem e, consequentemente, na postura do professor, e possibilita que os alunos, ao
decidirem, opinarem, questionarem, construam sua autonomia e seu compromisso com o
social, formando-se como sujeitos culturais e cidadãos.
Alguns projetos institucionais são: “Projeto Identidade: Escolhendo o nome da nossa
turma”, que acontece no início do ano e que proporciona o primeiro conteúdo significativo
que será estudado pelos alunos; “Projeto Páscoa”, trabalhado no mês da Páscoa, com objetivo
de inserir no cotidiano das crianças os valores humanos e trabalhar emoções e sentimentos; e
o “Projeto Biblioteca Viva”, desenvolvido durante todo o ano, com o objetivo principal de
formar alunos e professores leitores, estimulando assim a comunidade escolar e as crianças a
frequentarem a Biblioteca Escolar. Além de vários outros projetos desenvolvidos por todos os
professores e todas as turmas.
RELATÓRIO DESCRITIVO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM DA CRIANÇA Iniciamos os trabalhos pedagógicos do ano de 2018 com o projeto Identidade,
escolhendo o nome da turma. Elegemos juntamente com as crianças o nome: Turma do
Carinho. Sendo assim, a partir do projeto trabalhamos os eixos contidos nas orientações
curriculares, que são Identidade e Autonomia, linguagem Oral e Escrita, Matemática e
Natureza e Sociedade.
Esse relatório tem como objetivo descrever o comportamento e desenvolvimento da
aluna Ana Laura, matriculado na Escola Municipal Prof.ª. Emei Carmelita Vieira dos Santos,
1º Período A.
A aluna, é uma criança participativa, brinca e interage com os colegas e meiga e
carinhosa, gosta de cantar e possui uma boa oralidade. Alimenta-se sozinha no refeitório,
usando os utensílios de maneira adequada.
Participa de sua higienização (escovação, lavar mãos) seguindo orientações. Já
apresenta controle de seu esfíncter. Gosta das atividades de pintura e já consegue escrever e
reconhecer algumas letras, é atenta gosta de ouvir Histórias e ver as gravuras dos livros.
Reconhece algumas cores e as formas geométricas. Faz desenhos representando suas idéias,
consegue recontar histórias e participa de todas as atividades, porém não gosta de ser
contrariada e as vezes tem atitudes impróprias: mordidas.
Anexo: Ficha Individual do aluno.
Uberlândia, ___ de __________ de ______.
______________________ _______________________ _______________________
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Assinatura do(a) Diretor (a) Assinatura do (a) Professor(a) Assinatura do (a)
Pedagogo(a)
2- Relatório da Professora Luiza
Aluno:
*************************
Data de nascimento: ******************
Nome dos pais / responsáveis:**************************
Professora regente: ***********
Turma: 1º Período – Sala ***
RELATÓRIO INDIVIDUAL
Josué é um aluno frequente, tem 4 anos e 11 meses e geralmente é conduzido à
Unidade Escolar pela mãe. É uma criança alegre e participativa.
Em relação aos aspectos de aprendizagem o aluno não apresenta dificuldades cognitivas,
seu desenvolvimento está de acordo com o esperado para a sua faixa etária. A criança destaca-se
por sua habilidade com pinturas e desenhos. Ao fazer as tarefas de registro, demonstra satisfação
e constantemente verbaliza fatos do seu cotidiano.
No que diz respeito a Linguagem Oral gosta de conversar sobre o que aconteceu e
situações de seu cotidiano e em casa, falando bastante sobre o irmão. É uma criança que embora
apresente relativa dificuldade na fala, consegue processar as informações de modo a perceber,
integrar e responder adequadamente aos estímulos do ambiente. Gosta de participar efetivamente
da rodinha e outras situações do dia-a-dia.
O estudante demonstra autonomia para realizar suas atividades cotidianas como ir ao
banheiro, se dirigir a outro espaço escolar, correr, brincar, tem controle dos esfíncteres e
independência para alimentar. Guarda e cuida de seus materiais adequadamente.
No que concerne ao aspecto socioafetivo, a criança apresenta dificuldade no trabalho
em grupo, seja na rodinha ou nas mesinhas, demonstrando-se inquieto e com atitudes
inadequadas em relação aos colegas de sala. Exibe resistência às frustações e resistência em
atender ordens e limites propostos, fica irritado quando sua vontade não é atendida, utiliza de
comportamentos inadequados com reações nervosas e agressivas: chora, grita e agride colegas
e professoras.
Josué gosta de participar de atividades nos espaços externos da escola: espaços
destinados a recreação infantil.
Neste ano de 2019, percebemos avanços em relação à diversas áreas de
desenvolvimento do aluno, embora há retrocessos em aspectos socio-afetivo. Enfim,
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houveram momentos significativos neste ano, onde lhe foi propiciado diferentes
oportunidades de interação com crianças, adultos, objetos e participação de um processo
contínuo de muita aprendizagem, contribuindo para que tenha uma infância saudável e feliz.
3- Relatório da Professora Bianca
RELATÓRIO
A turma 1º período “Sala dos ********” é formada por 25 crianças presentes, sendo
15 meninas e 10 meninos. De modo geral, é uma turma tranqüila, embora tenha alguns alunos
que tem dificuldades em seguir regras, são dedicados, gostam de participar das diversas
atividades do cotidiano. Adaptaram a rotina escolar, relacionam-se mutuamente, estão se
fortalecendo nos hábitos de partilha, cooperação e assimilação. As atividades foram
desenvolvidas com base no trabalho Identidade, Alimentação, Valores Humanos e projetos
relacionados na Proposta Pedagógica da escola (Identidade da sala, Festa Junina, Páscoa,
Festa da Família, Aniversário da Escola, Semana da criança, Consciência Negra
(Diversidade), dia do Autógrafo, Festa de final de ano).
Bernardo, 5 anos de idade, encontra-se matriculado neste estabelecimento no 1º
período, no ano de 2018. No decorrer deste período escolar, foi observado pela professora
dentro do eixo de trabalho “Linguagem oral e escrita”, “Natureza e Sociedade”,”
Matemática”, “Identidade e autonomia” em seus aspectos cognitivos, sócio-afetivos e
psicomotores que Bernardo é uma criança tranquila, está mais falante, em alguns momentos
está desatento devido a conversa, é paciente. É interessado e realiza as atividades propostas
com sucesso.
No eixo “Linguagem oral e escrita”, demonstra interesse pelos contos estudados. Na
escrita do pré nome não é necessário o apoio da ficha, reconhece a ficha do pré-nome, utiliza
de letra de imprensa maiúscula, reconhece as letras do nome e o alfabeto. No desenho está na
transição da cena simples para a completa, gosta de colorir com cores alegres, têm alguma
noção do esquema corporal. Se interessa pelas unidades de estudo no cotidiano. Realiza a
leitura por meio de imagens. Nos conceitos lógicos matemáticos, possui alguns domínios nas
noções de topologia, está em processo de aprendizagem para a questão número e numeral,
cores e formas geométricas. Hoje já reconhece os números, faz a contagem até o 20 e as
formas geométricas está em processo.
No eixo “Natureza e Sociedade”, demonstra ser uma criança carinhosa. Socializa-se
com todos os colegas. Interessa-se em conhecer diferentes formas de expressão cultural.
Observa os fenômenos da natureza, ajuda a cuidar e preservar o meio ambiente.
No eixo “Identidade e autonomia”, Bernardo está em processo para recortar, colar,
empilhar e encaixar, guarda seus pertences. Gosta de participar das brincadeiras. Podemos
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inferir, após várias observações diárias que, está no nível esperado pela idade no
desenvolvimento e aprendizagem.
Uberlândia, 21 de outubro de 2018
Professora: Bianca
4- Relatório da professora Carolina