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FREDERICO FAVACHO IMPACTO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA SOBRE OS CUSTOS DO AGRONEGÓCIO: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE CAFÉ ORIENTADOR: Prof. Evandro Faulin

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FREDERICO FAVACHO

IMPACTO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA SOBRE OS CUSTOS DOAGRONEGÓCIO:

ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE CAFÉ

ORIENTADOR: Prof. Evandro Faulin

FREDERICO FAVACHO

IMPACTO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA SOBRE OS CUSTOS DOAGRONEGÓCIO:

ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE CAFÉ

Trabalho apresentado ao curso MBA em Gestão Estratégica doAgronegócio, Pós-Graduação lato sensu, Nível de Especialização.

Programa FGV Management

Campinas

Setembro/2011

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

PROGRAMA FGV MANAGEMENT

MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DO AGRONEGÓCIO

O Trabalho de Conclusão de Curso

IMPACTO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA SOBRE OS CUSTOS DOAGRONEGÓCIO: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE CAFÉ

elaborado por Frederico Guilherme dos Santos Coutinho Favacho eaprovado pela Coordenação Acadêmica do curso de MBA em GestãoEstratégica do Agronegócio, foi aceito como requisito parcial para aobtenção do certificado do curso de pós-graduação, nível deespecialização do Programa FGV Management.

Data:

___________________________________

Roberto Perosa Jr.

___________________________________

Evandro Faulin

TERMO DE COMPROMISSO

O aluno Frederico Guilherme dos Santos Coutinho Favacho,abaixo assinado, do curso de MBA em Gestão Estratégica doAgronegócio, Turma II do Programa FGV Management, realizadonas dependências da IBE Business Education - Campinas, noperíodo de 07/11/09 a 07/05/11, declara que o conteúdo doTrabalho de Conclusão de Curso intitulado IMPACTO DALEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA SOBRE OS CUSTOS DOAGRONEGÓCIO: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE CAFÉ, éautêntico, original e de sua autoria exclusiva.

Campinas, 12 de setembro de 2011

_____________________________

Dedico este trabalho a Reginapelas razões que ela conhece tãobem.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Eduardo Tassinari e em seu nome todos os diretores da

empresa Ipanema Coffees S.A. que gentilmente forneceram os dados

para o estudo de caso. Meus agradecimentos também aos meus sócios

Regina Mara Massarente e Francisco Roberto da Silva Jr. pelo apoio e

suporte durante todo o período do curso do MBA.

“Há cerca de 20 anos, fiz uma viagem àSuécia para conhecer seu cooperativismoe sua agricultura, atividade difícil, emfunção do clima, que impõe apenas seisou sete meses por ano para as operações,do plantio à colheita. Quase todas asfazendas possuíam uma pequena áreaflorestada. Quando começava a nevar, jáem novembro, o agricultor ia até suamata, cortava um certo número deárvores, as removia para a sede e passavao inverno trabalhando na madeira,serrando, aparando, fazendo tábuas,vigotas, peças para móveis etc. Quando aprimavera dava seis primeiros sinais, elevendia a madeira preparada e plantava,na mata, o mesmo número de árvores quehavia cortado. Interessado nesse trabalho,perguntei a um fazendeiro quemfiscalizava isso. E ele, estranhando apergunta, respondeu: ‘Fiscalizar o que?’Respondi imediatamente, ‘quemfiscalizava o fato de ele repor as árvoresque tinha cortado?’ No mesmo instante,me dei conta da estupidez da pergunta eda distância oceânica que nos separavaculturalmente”.

Roberto Rodrigues. LucrosAmbientais. Folha de São Paulo,março de 2008 in Depois daTormenta, pág. 214.

RESUMO

Inegável é o sucesso do agronegócio brasileiro seja em razão de suaprodutividade, seja em razão do volume das exportações, seja emrelação à sua participação no PIB brasileiro. O Brasil segue, assim,atendendo à crescente demanda mundial por alimentos e agroenergia. Eo mundo demanda e demandará ainda mais alimentos. Relatório daOrganização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAOalerta que é preciso aumentar a produção mundial de alimentos em 70%nos próximos 40 anos para erradicar a fome no planeta e que aoBrasil caberia responder por 40% deste crescimento. Ocorre que, aomesmo tempo, aumenta na sociedade mundial a consciência de que osrecursos naturais devem ser manejados de maneira sustentável,garantindo-se o direito das futuras gerações a um meio ambientesaudável. Esta preocupação, a chamada questão ecológica, acaba porjustificar a intervenção estatal para o controle do uso dos recursosnaturais e do direito de propriedade privada sobre estes recursos.Exemplo disto é o código florestal brasileiro e as regras delimitação de uso e exploração econômica das propriedades privadasnas áreas designadas por lei de preservação permanente (APP) e nasáreas de reserva legal (RL). Ao regular a criação de APP e RL, noentanto, a legislação florestal brasileira acaba transferindopraticamente de forma exclusiva ao produtor o ônus da conservação domeio ambiente ainda que os benefícios difundidos sejam para toda asociedade. Neste trabalho se demonstra qual o impacto nos custos daprodução que esta legislação traz ao agronegócio, tomando-se comoexemplo e caso de estudo uma empresa do setor de café, para seconcluir a necessidade de revisão do código florestal brasileiro e acriação de formas de participação de toda a sociedade sobre o ônusda conservação das florestas.

Palavras-chave: Código Florestal, Florestas, APP, Área de ProteçãoPermanente, Reserva Legal, Ecologia, Custos de Produção, Café,Serviços Ambientais.

ABSTRACT

It is undeniable the success of the Brazilian agribusiness whetherbecause of their productivity, whether due to the volume of exports,whether in relation to their participation in the Brazilian GDP.Brazil follows, therefore, attending to the growing worldwide demandfor food and bioenergy. And the world demand and require morefood. Report of the United Nations Food and AgricultureOrganization-FAO warns that we must increase world food productionby 70% over the next 40 years to eradicate hunger in the world andthat it would be up to Brazil account for 40% of thisgrowth. Nevetheless, at the same time, increases in world societythe awareness that natural resources should be managed in asustainable manner, ensuring the right of future generations to ahealthy environment. This concern, called the ecological question,justifies state intervention to control the use of natural resourcesand private property rights over these resources. An example is theBrazilian Forest Code and the rules limiting the use and economicexploitation of private property in areas designated by law forpermanent preservation (APP) and in the areas of Legal Reserve(RL). By regulating the creation of APP and RL, however, theBrazilian forest legislation has just transferred almost exclusivelyto the producer the burden of conservation of the environment whichbenefits are diffused throughout society. This work demonstrates thecost impact this legislation raises upon Brazilian agribusiness,taking as an example and case study a company of the coffee sector,to conclude for the need to complete the review of Brazil's ForestCode and the creation of forms of participation of the whole societyon the burden of forest conservation. 

Keywords: Forest Code, Forest, APP, Permanent Protection Area,Reserve, ecology, production costs, Coffee, Environmental Services

 

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Total de áreas protegidas no Brasil....................44

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Alcance Territorial das Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Reserva Legal. Disponibilidade de Terras Legalmente Agricultáveis.....................................................45

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio

ABIOVE – Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais

AM - Amazonas

ANEC - Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais

AP - Amapá

APP – Área de Preservação Permanente

BA - Bahia

CAR - Cadastro Ambiental Rural

CF – Constituição Federal

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

COP - Conferência das Partes da Convenção do Clima das

Nações Unidas

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ES – Espírito Santo

FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

GO - Goiás

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis

IN – Instrução Normativa

INCRA – Instituto Nacional de Colonização Reforma Agrária

LULUCF – Land Use, Land-Use Change Forestry. Uso Da Terra, Mudança De Uso

Da Terra E Florestas

MA - Maranhão

MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MG – Minas Gerais

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MP – Medida Provisória

MS – Mato Grosso do sul

PA – Pará

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PE - Pernambuco

PIB – Produto Interno Bruto

PR - Paraná

PRA - Programa de Regularização Ambiental

REC – Redução de Emissões Certificadas

RJ - Rio de Janeiro

RL – Reserva Legal

RS – Rio Grande do Sul

S.A. – Sociedade Anônima

SC – Santa Catarina

SE - Sergipe

SP – São Paulo

TI – Terras Indígenas

TNC – The Nature Conservancy

TO - Tocantins

UC – Unidade de Conservação

UPA – Unidade de Produção Agrária

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................162. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL - INTERVENÇÃO ESTATAL, DIREITO E PROTEÇÃO DOMEIO-AMBIENTE.....................................................203. PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL – CÓDIGO FLORESTAL................26

4. O IMPACTO ECONÔMICO DO CÓDIGO FLORESTAL – VISÃO GERAL..........385. O IMPACTO ECONÔMICO DO CÓDIGO FLORESTAL – UMA VISÃO ESPECÍFICA A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO.......................................566. CONCLUSÕES.....................................................69

REFERÊNCIAS.......................................................70APÊNDICES.........................................................74

ANEXOS............................................................80

19

1 INTRODUÇÃO

Inegável é o sucesso do agronegócio brasileiro seja em

razão de sua produtividade, seja em razão do volume das

exportações, seja em relação à sua participação no PIB

brasileiro. O Brasil segue, assim, atendendo à crescente

demanda mundial por alimentos e agroenergia. E o mundo

demanda e demandará ainda mais alimentos. Relatório da

Organização das Nações Unidas para a Agricultura e

Alimentação – FAO alerta que é preciso aumentar a produção

mundial de alimentos em 70% nos próximos 40 anos para

erradicar a fome no planeta e que ao Brasil caberia

responder por 40% deste crescimento. Ocorre que, ao mesmo

tempo, aumenta na sociedade mundial a consciência de que os

recursos naturais devem ser manejados de maneira

sustentável, garantindo-se o direito das futuras gerações a

um meio ambiente saudável. Esta preocupação, a chamada

questão ecológica, acaba por justificar a intervenção estatal

para o controle do uso dos recursos naturais e do direito

de propriedade privada sobre estes recursos. Exemplo disto

é o código florestal brasileiro e as regras de limitação de

uso e exploração econômica das propriedades privadas nas

áreas designadas por lei de preservação permanente (APP) e

nas áreas de reserva legal (RL). Ao regular a criação de

APP e RL, no entanto, a legislação florestal brasileira

acaba transferindo praticamente de forma exclusiva ao

produtor o ônus da conservação do meio ambiente ainda que

20

os benefícios difundidos sejam para toda a sociedade. Este

ônus se traduz em custo para o produtor, seja ele direto,

com a recomposição da cobertura vegetal dessas áreas, com

investimento em novas terras para destiná-las à composição

da reserva legal, com as despesas de cartório para registro

e averbação dessas áreas, seja indireto, o chamado custo de

oportunidade medido, por exemplo, a partir do volume que o

produtor deixará de produzir naquelas áreas. Por outro

lado, as alternativas oferecidas ao produtor de

aproveitamento econômico das APPs e das áreas de RL,

basicamente o manejo florestal e os projetos de MDL para

fins de comercialização de crédito de carbono, quando

exeqüíveis, não conseguem compensar os custos

experimentados por ele inicialmente. Neste trabalho se

demonstra qual o impacto nos custos da produção que esta

legislação traz ao agronegócio, tomando-se como exemplo e

caso de estudo uma empresa do setor de café, para se

concluir a necessidade de revisão do código florestal

brasileiro e a criação de formas de participação de toda a

sociedade sobre o ônus da conservação das florestas.

1.1 Objetivos

Constitui objetivo geral deste trabalho demonstrar em que

medida o atendimento às regras da legislação florestal

brasileira impacta nos custos da produção agropecuária,

especificamente tomando-se por base o estudo de caso de uma

empresa produtora de café na região sul de Minas Gerais,

entendendo-se que esta empresa, por suas características

21

próprias, pode representar, para fins deste trabalho, um meio

termo entre os pequenos e os grandes produtores agropecuários,

(assim considerados em razão da extensão de suas propriedades

rurais próprias).

Os objetivos específicos são:

a) levantar o marco regulatório florestal brasileiro, sua

origem, evolução histórica e estágio atual.

b) a partir do marco regulatório florestal identificar

quais são os principais deveres e obrigações dos produtores em

relação à preservação da cobertura vegetal nativa

c) verificar e apontar de que forma aqueles deveres e

obrigações se traduzem em novos e específicos custos para a

produção.

1.2 Procedimentos Metodológicos

Parte-se da pesquisa bibliográfica e levantamento dos

textos legais vigentes e dos que lhe antecederam historicamente

para fixar-se o ambiente ontológico e jurídico de justificação e

legitimidade das regras de preservação florestal.

Definido este marco jurídico busca-se, junto a referências

bibliográficas e, principalmente, trabalhos similares anteriores

de outros pesquisadores, uma base econômica para a proposta

análise dos impactos da legislação florestal brasileira sobre os

custos do agronegócio.

Determinadas as premissas básicas a serem utilizadas neste

trabalho utilizam-se as respostas fornecidas pela empresa

escolhida como estudo de caso para verificar-se, na prática

22

daquela empresa, os pressupostos levantados na primeira parte

deste trabalho.

Esclareça-se que a pesquisa junto à empresa Ipanema Coffees

foi realizada à distância, por meio do envio de questionário a

seus representantes (v. APÊNDICE) com 16 perguntas que buscavam

abranger as hipóteses levantadas pela primeira parte do

trabalho.

As perguntas foram elaboradas para serem objetivas, mas

abertas o bastante para a empresa, na medida de seu conforto,

fornecer informações mais detalhadas.

A resposta também foi encaminhada por escrito e, embora

pudessem ser exploradas em novas perguntas, optou-se por

preservar a empresa em relação a informações que se entendeu

estratégicas.

Ao final, as respostas gentilmente fornecidas pela empresa

são suficientes para o objetivo deste trabalho e traduzem em

números claros os custos suportados por ela para ficar compliance

com a legislação florestal brasileira.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho está esquematizado da seguinte forma:

O capítulo 2, a seguir, apresenta os antecedentes lógico-

jurídicos da formulação de políticas de preservação do meio-

ambiente, sem a pretensão, no entanto, de esgotar o assunto ou

transformar este trabalho de conclusão de curso de MBA em um

trabalho essencialmente jurisfilosófico.

23

O terceiro capítulo apresenta o marco regulatório florestal

brasileiro, a legislação precedente e o atual Código Florestal,

com suas principais disposições, especialmente a configuração do

conceito legal de Área de Preservação Permanente e de Reserva

Legal.

No capítulo 4 busca-se estabelecer os pressupostos

econômicos para a análise do estudo de caso que se apresenta no

capítulo seguinte. Em especial, a referência ao custo de

oportunidade e ao trabalho seminal da Dra. Maria do Carmo

Fasiaben.

O capítulo 5 consiste na apresentação do caso da empresa

pesquisada e a análise das respostas por ela fornecidas. Neste

capitulo é possível se ter a exata dimensão do impacto da

legislação florestal brasileira no negócio da empresa graças aos

números por ela informados.

Por fim, nas considerações finais faz-se o fechamento do

trabalho com as conclusões deste autor e as recomendações que o

trabalho sugere.

24

2. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL - INTERVENÇÃO ESTATAL, DIREITOE PROTEÇÃO DO MEIO-AMBIENTE

É inegável o sucesso do agronegócio brasileiro seja em

volume de produção, em valores finais de exportações, em

participação no PIB, seja em produtividade por hectare. A

pujança do agronegócio brasileiro, sua capacidade de

crescimento para alimentar o mundo, aliada à quantidade de

terras agricultáveis disponíveis e seu regime de chuvas e

recursos hídricos, é a tábua de salvação para todos aqueles

preocupados com as previsões da FAO1 em relação às

projeções de fome no mundo e com as cantilenas dos

neomalthusianos. A importante publicação inglesa The

Economist, dedicou ao Brasil e ao seu agronegócio, com

destaque, duas reportagens que tiveram grande repercussão:Brazilian agriculture: The miracle of the cerrado. Brazil has revolutionised its own

farms. Can it do the same for others? e Brazil's agricultural miracle. How to feed the

1 Se calcula que la producción agrícola tendrá que aumentar en un 70 %de aquí al 2050 para alimentar a una población mundial que se prevéque superará los 9 000 millones de personas para entonces.Simultáneamente, será preciso adoptar medidas para garantizar a todaslas personas acceso ―físico, social y económico― a alimentossuficientes, inocuos y nutritivos, con especial atención a dar plenoacceso a las mujeres y los niños. Los alimentos no deberían emplearsecomo instrumento de presión política y económica. Reafirmamos laimportancia de la cooperación y la solidaridad internacionales, asícomo la necesidad de abstenerse de adoptar medidas unilaterales que nosean acordes con el Derecho internacional y la Carta de las NacionesUnidas y que pongan en peligro la seguridad alimentaria. Abogamos afavor de mercados abiertos, pues son un elemento esencial de larespuesta a la cuestión de la seguridad alimentaria mundial.(Declaración de la cumbre mundial sobre la seguridad alimentaria.Disponível em ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/Meeting/018/k6050s.pdf)

25

world. The emerging conventional wisdom about world farming is gloomy. There is an

alternative.

Ao mesmo tempo em que o sucesso do agronegócio

brasileiro gera tantos comentários positivos, e talvez por

isso mesmo, é cada vez mais atacado e acusado de ser fonte

e razão do desmatamento da cobertura florestal nativa

brasileira e, por conseqüência, responsável, em parte, pelo

aquecimento global.

A crescente preocupação com as questões ambientais,

com o desenvolvimento sustentável, com os chamado direitos

intergeracionais é um fato e uma realidade inegavelmente

importante e necessária. Em muitos aspectos, no entanto,

tal preocupação desemboca em uma nova ideologia, uma nova

utopia escolhida a dedo para substituir o sonho da

sociedade igualitária e socialista. Por esta razão,

assistimos muitas vezes a debates aguerridos, fundados

muito mais em argumentos emocionais e ideológicos nos quais

os produtores são geralmente colocados na berlinda ou à

margem, quando não postos como os grandes vilões de uma

sociedade que segue em ritmo acelerado de consumo e de

esgotamento dos recursos naturais disponíveis.

Convenientemente nessas horas aqueles que empunham as

bandeiras do respeito ao meio-ambiente esquecem-se que o

triple botton line da sustentabilidade também se apóia no

desenvolvimento econômico dos povos2.

2 Nesse sentido, emblemático o conteúdo do Princípio nº 1 daConferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento(Cnumad): “os seres humanos constituem o centro das preocupaçõesrelacionadas ao meio ambiente. Têm direito a uma vida saudável e

26

É fato que a destruição da vegetação natural é

apontada como a principal fonte de emissão de CO2 no Brasil

fazendo com que o país ocupe a 18ª posição entre os maiores

emissores no mundo3. Todavia, é inegável que a agricultura

brasileira passou por verdadeiras revoluções tecnológicas e

gerenciais. As práticas produtivas perderam suas

características de força exploratória e de ocupação de

espaço. Boas práticas agrícolas passaram a incorporar

conceitos de sustentabilidade, como equilíbrio ambiental e

responsabilidade social (DOSSA). Dentre as principais

contribuições do agronegócio brasileiro na luta contra o

efeito estufa destacam-se: 1. O sistema de plantio direto

na palha em mais de 25 milhões de hectares4; 2. Consórcio

de anuais e florestais: Teka, Pinus, Eucalipto5, 3. Integração

lavoura-pecuária; 4. Manejo intensivo das pastagens na

produção pecuária; 5. Investimentos na produção de etanol

de cana-de-açúcar (cf. Paulo Moutinho. Iniciativas

nacionais in Especial ABAG. Agroanalysis vol 30, nº 1, jan.

2010, pág. 32)

Além disso, o setor do agronegócio, em acordo ou mesmo

com a participação de organizações não governamentais

ambientalistas, firmaram projetos, ações e pactos com

vistas à preservação do meio-ambiente. A Associação dos

Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprossoja/MT),

produtiva em harmonia com a natureza”.3 88ª posição se considerarmos a emissão per capita, 96ª se considerarmospor quilômetro quadrado e, finalmente, 114ª posição se considerarmos arelação com o PIB.4 500kg/há/ano – 1 de carbono recuperado. 12,5 milhões de toneladas decarbono.5 2,5 toneladas de CO2 por há por ano.

27

por exemplo, lançou, em 2009, em parceria com o governo

daquele estado e com a The Nature Conservancy (TNC) uma

cartilha intitulada Área de Preservação Permanente – Como

preservar?, dentro do projeto Soja Mais Verde, desenvolvido

por aquela entidade. Em 24 de julho de 2006, a ABIOVE -

Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais e a

ANEC - Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais e

suas respectivas associadas se comprometeram a não

comercializar nenhuma soja, oriunda de áreas que forem

desflorestadas, após aquela data, dentro do Bioma Amazônia,

em uma iniciativa inédita, que ficou conhecida como

"Moratória da Soja". O mesmo aconteceu na pecuária, com a

iniciativa da “Moratória da Carne”, assinada em 2009 pelos

três maiores frigoríficos brasileiros, Marfrig, Bertin e

JBS.

Como já apontou em inúmeras ocasiões o ex-ministro

Roberto Rodrigues “O Agricultor é o maior interessado na

preservação dos recursos naturais, pois, se ele não

conservar o seu solo, se não combater a erosão, se não

adubar corretamente, se não cuidar da cobertura vegetal

ciliar, ele acabará perdendo seu próprio patrimônio, seu

meio de via, a herança que deixará aos filhos e netos.

Portanto, o produtor rural é naturalmente um

preservacionista” (cf. Um Novo Código Florestal, in

Especial Código Florestal, Agroanalysis vol. 29, nº 06, jun

2009).

De toda forma, identificada na sociedade a preocupação

com a preservação do meio ambiente para as gerações futuras

28

(preocupação válida e justa), a chamada “questão

ecológica”, é ela capturada pela agenda política dos

Estados e traduzidas em diferentes meios de controle ou de

tentativa de controle via intervenção estatal “destinadas a

reequilibrar o que é compreendido como uma ruptura do

sistema de justiça, uma ruptura de relacionamento entre as

gerações presentes e as futuras” (GARCIA, pág. 369).

Não é simples, todavia, esta pretendida intervenção

estatal. Em primeiro lugar, em razão do muito que os

cientistas ignoram, a intervenção considerada ‘necessária’

nada terá, por isso, de evidente ou indiscutível. Será

sempre uma intervenção acompanhada de incertezas e dúvidas,

quer quanto às melhores propostas de solução, quer quanto

às exatas conseqüências futuras de cada intervenção, em

virtude da rede de interações não previsíveis em que se

insere. Em segundo lugar, o pensamento teórico dos peritos

é insuficiente se não se entrelaçar com o conhecimento e a

experiência do local, que a vivência das situações e a

proximidade dos fenômenos permitem. Em terceiro lugar, a

legitimação da intervenção política, no quando da

ignorância e incerteza, acarreta particulares problemas. Na

verdade, o tempo curto da ação adequada ao controle da

‘questão ecológica’ é exigido pela compreensão do sentimento

de justiça que a acompanha e se traduz numa específica

intencionalidade: a manutenção da vida no longo prazo”

(GARCIA, pág. 369).

Por outro lado a ‘questão ecológica’ é, antes de tudo,

uma questão cultural a exigir respostas tecno-econômicos.

29

Tome-se como exemplo o problema do aquecimento global e do

efeito estufa motivado pela emissão de grandes quantidades

de gás carbônico para a atmosfera. As propostas de solução

são propostas que se integram em sistemas de

‘descarbonização’ do crescimento a exigir uma mudança de

paradigmas tecnológicos e culturais, mais do que uma

solução jurídica. Tudo se passa no domínio científico e

técnico, a que acresce o de eficiência econômica, quanto os

custos da ação intervêm. Torna-se, no entanto, um problema

para o direito a partir do momento em que adquire

conotações éticas e, por essa via, se esboça uma

responsabilidade ecológica, i.e., quando se conscientiza

que o futuro da humanidade se apresenta crítico por força

daquelas realidades. Por outras palavras, torna-se jurídico

quando a comunidade reconhece que a sua ação presente põe

em risco a sobrevivência do homem e, por isso, é uma ação

injusta, porque nada justifica que a vida da geração

presente tenha mais valia do que a vida das gerações

futuras. Detectada a injustiça, compete à comunidade

reconhecer as conseqüências dessa injustiça e alterar a

forma de agir”. (GARCIA, pág. 395).

Por isso mesmo é fundamental ter-se em mente que a

proteção jurídica do meio ambiente não pode ser tratada

como um fim em si mesma, como se pudesse estar apartada dos

impactos sociais e econômicos que acarretem no

desenvolvimento de atividades humanas. É dizer, mesmo

quando estiver disciplinando a utilização e proteção de

recursos naturais, a legislação deve ter como objetivo

30

final a busca da promoção de “desenvolvimento sustentável”

o que também pressupõe a necessidade de se garantir um meio

ambiente socialmente justo e economicamente viável. A

inevitável vinculação da denominada legislação ambiental a

aspectos sociais e econômicos também se revela quando se

tem em mente que a “dignidade da pessoa humana”, os

“valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”, o

“desenvolvimento nacional”, a “erradicação da pobreza e da

marginalidade”, além da “redução das desigualdades sociais

e regionais” foram expressamente indicados como fundamentos

e objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil

nos artigos 1º e 3º da sua Constituição Federal de 1988

(cf. Leonardo Papp – O impacto da legislação ambiental.

Premissas para revisão e atualização in Agroanalisys vol 29,

nº 07, pág. 26).

No Brasil o grande desafio é conciliar as demandas das

cadeias produtivas do agronegócio (pressionadas pela

crescente demanda mundial por alimentos e agroenergia) com

as necessidades de conservação dos recursos naturais.

Apesar de contar com terras agricultáveis, parte delas tem

seu uso legalmente impedido ou restringido por força da

legislação florestal. Isto implica em que o incremento e

manutenção da produção agropecuária do País não devem estar

baseados somente na expansão das áreas ocupadas com aquela

atividade, mas é necessário crescente aumento de

produtividade6 (cf. Claudio A. Spadotto. Área,6 Estudos da Embrapa Monitoramento por satélite apontam para o fato deque o aumento de produtividade média das lavouras para conseguirmanter a produção em níveis que compensem a limitação da áreadisponível legalmente para a agricultura sem comprometer a viabilidade

31

produtividade e meio ambiente in Agroanalysis vol. 29, nº

11, Nov. 2009, pág. 36). Incremente de produtividade, por

óbvio, implica em investimentos, em custos, hoje suportados

especialmente, senão exclusivamente pelos produtores. De

outro lado, as limitações ao uso da terra nas propriedades

rurais, com a instituição das Áreas de Preservação

Permanente e, mais do que estas, as áreas de Reserva Legal,

implicam em limitação dos ganhos do produtor, quando não em

custos extras com recomposição da flora nativa ou o

pagamento de multas ambientais.

O que pretendemos com o presente trabalho é, de uma

forma sucinta e direta, demonstrar, com base em um exemplo

prático, o impacto para o produtor da legislação florestal

vigente traduzindo, na medida em que for possível, em

demonstração dos custos envolvidos com o estar compliance

com aquela legislação.

Por não ser este um trabalho de economia ou

administração, não buscaremos o apuro matemático dos

cálculos envolvidos, mas trabalharemos com indicações e

aproximações.

Para um trabalho mais exaustivo sobre o tema,

indicamos a leitura da tese de doutorado da Dra. Maria do

Carmo Ramos Fasiaben, referida em nossa Bibliografia, cujas

conclusões são utilizadas e mencionadas neste texto.

Este trabalho compõe-se do levantamento da legislação

florestal brasileira vigente e suas implicações sobre as

das propriedades rurais teria de ser considerável

32

propriedades rurais. Em seguida passamos à análise dos

dados fornecidos pela empresa Ipanema Cofees em relação às

medidas por ela adotadas para atender àquela legislação.

33

3. PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL – CÓDIGO FLORESTAL

Mundialmente, a “Declaração do Ambiente”, adotada pela

Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente, realizada

em Estocolmo, de 5 a 16 de Junho de 1972, constitui o marco

de referência do início da política ambiental

contemporânea, ainda que anteriormente já existissem

exemplos de iniciativas de políticas ambientais, algumas

até remontando às Ordenações Filipinas, por exemplo,

faltando a estas, no entanto, coerência e estruturação de

ação que permitisse considerá-las parte de uma política

global ambiental (GASPAR, pág. 13). É na Declaração de

Estocolmo que vamos encontrar pela primeira vez os

princípios da solidariedade intergeracional e o da

estabilidade e renovação ecológica.

Antes de Estocolmo o que se pode afirmar é que as

iniciativas esparsas tinham mais um caráter meramente

conservacionistas, como a criação de parques e áreas de

proteção (a constituição do Parque Yellowstone, nos EUA,

por exemplo, é de 1872) e a proibição da caça e da pesca

nas épocas de reprodução.

No Brasil, a proteção do meio ambiente consolidou-se

com a promulgação da Constituição Federal em 1988, que

estabelece expressamente em seu Capítulo VI uma política

direcionada à proteção do Meio Ambiente, dispondo em seu

artigo 225 “que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente

34

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para as presentes e futuras gerações”.

Assim, o artigo 225 da Constituição federal acaba por

estabelecer quatro concepções fundamentais no âmbito do

direito ambiental: a) de que todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado; b) de que o direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito à

existência de um bem de uso comum do poço e essencial à

sadia qualidade de vida, criando em nosso ordenamento o

bem ambiental; c) de que a Carta Maior determina tanto ao

Poder Público como à coletividade o dever de defender o bem

ambiental, assim como o dever de preservá-lo; d) de que a

defesa e a preservação do bem ambiental estão vinculadas

não só às presentes como também às futuras gerações.

(FIORILLO, pág. 15).

Na sequência, o Parágrafo 1º do mesmo artigo 225 da

Constituição Federal, ainda dispõe sobre caber ao Poder

Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover omanejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - .......

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais eseus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteraçãoe a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquerutilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquemsua proteção;

.....

35

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas quecoloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção deespécies ou submetam os animais a crueldade.

Consoante com o mandamento constitucional, a

legislação florestal brasileira, reconhecendo os serviços

ecossistêmicos prestados pelas florestas naturais,

estabelece limites ao direito de propriedade, criando a

delimitação das Áreas de Preservação Permanente (APP) -

onde não se admite uso antrópico -, e a recomposição, em

todas as propriedades agrícolas, de áreas como Reserva

Legal (RL) com espécies nativas - onde se admite exploração

sustentável.

Importante esclarecer que a própria Constituição

Federal, em seu Capítulo III – Da Política Agrícola e

Fundiária e da Reforma Agrária, permite que se lancem

restrições ao direito de propriedade, estabelecendo, no

Artigo 186, que a função social da propriedade só será

atendida se respeitados os seguintes critérios:

aproveitamento racional e adequado do imóvel; utilização

adequada dos recursos naturais nele disponíveis e

preservação do meio ambiente; observância das disposições

que regulam as relações de trabalho; exploração que

favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Todavia, embora se aceite, de modo geral, que a

intervenção governamental é relevante para a conservação de

ecossistemas, as iniciativas de comando-e-controle de

zoneamento - em que áreas são designadas para a proteção e

36

conservação – na maioria das vezes provocam reações

contrárias por parte dos proprietários e pedidos de

compensação financeira. Isto porque, esta solução implica

uma redução de direitos de propriedade, uma vez que pode

envolver redução dos retornos econômicos esperados da

propriedade e, consequentemente, do seu valor de mercado7.

(FASIABEN, pag. 2).

O antigo Código Florestal de 1934 determinava em seu

Artigo 1º que as florestas existentes em todo território

nacional “são bem de interesse comum” a todos os habitantes do

país e classificava-as como: protetoras, remanescentes,

modelo e de rendimento. Nenhum tipo de localização foi

definido para as florestas protetoras e também não se

vetava a utilização destas, uma vez que o artigo 53 daquela

Lei previa a exploração limitada das florestas protetoras

nas propriedades privadas. Por outro lado, o artigo 23 do

7 “O cerne da questão está no argumento de que a conservação ambiental,como prevista no Código Florestal brasileiro, gera encargosexclusivamente aos produtores, enquanto os benefícios se refletem paraa sociedade como um todo, inclusive ultrapassando as fronteirasnacionais. A obrigação de instituir e manter a reserva gravaatualmente todas as propriedades rurais privadas. As mudanças nalegislação florestal ocorreram paralelamente a dois movimentosantagônicos no seio da sociedade brasileira: por um lado, ocrescimento e consolidação do movimento ambientalista ao longo dosúltimos 30 anos; por outro, o crescimento e a modernização daagricultura. Para os autores, o conflito latente entre ambientalistase o setor rural foi agravado pelo aumento da demanda internacional porprodutos agrícolas, com destaque para a soja e a carne bovina, e pelaampliação da demanda doméstica pelo etanol. O conflito exacerbou-secom a ampliação da RL de 50% para 80% da área da propriedade naAmazônia pela MP nº 2.166-67/2001, e atingiu o “ponto de ebulição” coma edição dos Decretos nºs 6.321/2007 e 6.514/2008 e da Resolução nº3.545/2008 do Conselho Monetário Nacional, que enrijeceram omonitoramento do desmatamento e a imposição de sanções reduzindo oacesso a incentivos econômicos e fiscais aos agentes (privados emunicípios) que não estivessem de acordo com a legislação” (FASIABEN).

37

antigo Código Florestal não permitia o desmatamento de mais

de 3/4 da mata existente na propriedade, o que parece ser

uma disposição precursora do instituto da Reserva Legal que

viria a existir a partir de 1965. Neste ano foi promulgada

a Lei 4.771 que institui o novo Código Florestal que,

recepcionado pela Constituição Federal de 88, é o

instrumento nacional legal que dá suporte à legislação

florestal vigente.

Nessa lei, as florestas protetoras dão origem às

florestas de preservação permanentes e as áreas cobertas

por matas determinadas no artigo 23º do Código de 1934

passaram a ser chamadas de Reserva Legal no Código de 1965.

São consideradas Área de Preservação Permanente (APP) as

áreas adjacentes aos cursos d’água, cuja largura varia de

acordo com a largura do curso d’água, sendo a largura

mínima de 30m; as áreas com declives superiores a 45° ou

100% de declividade; as áreas no entorno de nascentes com

raio mínimo de 50m e as áreas situadas em altitudes acima

de 1800m ao nível do mar. Também são consideradas APP, as

áreas cuja delimitação está na Resolução do CONAMA: topos

de morros, áreas ao redor de lagoas e lagos naturais e

artificiais, dentre outros.

A segunda categoria de área protegida na propriedade

rural, a Reserva Legal (RL), é a área a ser conservada com

vegetação florestal, podendo ou não ser usada para fins

econômicos pelo proprietário rural, apresentando percentual

variável dependendo da região do Brasil.

38

Importante que se frise, desde logo, que as

responsabilidades na manutenção das Áreas de Preservação

Permanente bem como das Reservas Legais, recaem sobre o

proprietário da terra. No entanto, estas responsabilidades

resultam em benefícios para toda a sociedade, uma vez que

estas áreas estão associadas à manutenção e à conservação

dos serviços ambientais tais como, água, biodiversidade,

carbono, beleza natural (MANFRINATO, pag. 16).

De forma genérica, o Código Florestal de 1965 tinha

como propósito maior proteger outros elementos que não

apenas as árvores e as florestas: estas eram apenas um meio

para atingir outros fins. Uma leitura interpretativa,

teleológica, e que assim busque verificar a finalidade das

normas contidas no Código Florestal vigente, revela que em

sua essência fundamental, o mencionado diploma legal, à

época de sua proposição, tinha como objetivos principais

proteger:

• Os solos (contra a erosão); art 2°, incisos a, c, f,

g; art. 3°; e art. 10;

• As águas, os cursos d' água e os reservatórios d'

água, naturais ou artificiais (contra o assoreamento com

sedimentos e detritos resultantes da ação dos processos

erosivos dos solos); art. 20, incisos a, b, c;

• A continuidade de suprimento e a estabilidade dos

mercados de lenhas e madeiras (contra a falta de matéria-

prima lenhosa): arts. 16, 19, 20, 21 e 44.

39

Os mencionados objetivos deveriam ser alcançados por

meio da proteção das "florestas e as demais formas de

vegetação" e da normatização do seu respectivo uso8

(AHRENS, pág. 93).

A Resolução 04/85 do CONAMA – 1985, baseando-se no

artigo 18 da Lei 6938/81 declara como Reservas Ecológicas

“as formações florísticas e as áreas de florestas de preservação

permanentes...”, e determina a localização e o limite das

áreas até então só citadas no Artigo 2°, porém, sem limites

expressos na lei, como o caso do entorno de lagos, lagoas e

topo de morros e montanhas.

A Lei 7511 de 1986 modifica os limites das florestas

de preservação permanente, que ao longo dos cursos d’água,

passa a ser de no mínimo 30m. Essa Lei foi revogada pela

Lei 7803/89 que além de manter os 30 metros como largura

mínima para a proteção de cursos d’água, explicita a área

de proteção das nascentes como sendo de um raio mínimo de

50m e faz uma alteração significativa no artigo 19 da lei

4771.

8 Em qualquer caso, convém observar que o Código Florestal não dizrespeito apenas à proteção e utilização das florestas, mas também àspossibilidades de uso da terra em diferentes porções de umapropriedade imóvel rural. Assim, a Lei n° 4.771/65 não deveria serapreciada apenas como um Código Florestal, mas, em verdade, entendidacomo um verdadeiro "Código de Uso da Terra" e daquilo que (em termosflorísticos) sobre ela naturalmente exista ou deveria existir(conforme preceituado nas normas que compõem aquele diploma legal)."Ressalte-se que a inexistência da vegetação natural nos espaços em quea Lei determina a sua presença (v.g. a Reserva Legal e a vegetação dePreservação Permanente), constitui o que se denomina, na atualidade,um "passivo ambiental" (e que, obviamente, deve ser corrigido).(AHRENS, pág. 94)

40

Em 1989 o artigo 19 passa a vigorar com a seguinte

redação: “A exploração de florestas e de formações sucessoras, tanto de

domínio público como de domínio privado, dependerá de aprovação prévia do

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -

IBAMA, bem como da adoção de técnicas de condução, exploração, reposição

florestal e manejo compatível com os variados ecossistemas que a cobertura

arbórea forme”.

Finalmente, a Medida Provisória 2166-67 de 24 de

Agosto de 2001 explicita, pela primeira vez, qual a

definição de áreas de preservação permanente e de reserva

legal, sendo elas:

a) Áreas de Preservação Permanente: área protegida nos

termos dos Arts. 2º e 3º desta Lei, (4771/65) coberta ou

não por vegetação nativa, com a função ambiental de

preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade

geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e

flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das

populações humanas. Estabelece a largura mínima para

diferentes tamanhos de rios e áreas declivosas, assim como

topos de morros;

b) Reserva Legal: área localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação

permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos

naturais, à conservação e reabilitação dos processos

ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e

proteção de fauna e flora nativas. Percentuais para a

41

preservação destas áreas são estabelecidos para os

diferentes biomas nacionais.

No caso da APP, buscou-se encerrar a discussão que

existia sobre o que seria de preservação permanente: a área

ou a floresta. Já a Reserva Legal é retirada da Política

Nacional Agrícola e colocada no Código Florestal, portanto

a Reserva Legal deixa de ser somente produtora de madeira

para a propriedade rural e passa a ter também função

ambiental e ser protegida pela lei dos crimes ambientais.

Além disso, a medida provisória (2166-67) não

mencionou nenhuma exigência de recomposição florestal em

APP, porém, obrigou o reflorestamento de RL no Artigo 44.

Ainda em RL, esta medida provisória alterou a porcentagem

da propriedade rural a ser destinada a recomposição. No

Código Florestal de 1965, onde se determinava que todas as

propriedades rurais brasileiras deveriam destinar 20% à RL

passou em 2001 para: 80% na Amazônia, 35% no Cerrado

Amazônico e 20% no restante do país.

Enfatize-se que, na legislação atual, as APPs estão

excluídas das áreas de RL, ou seja, esse percentual é

adicional às áreas de preservação permanentes que devem ser

mantidas. Entretanto, a Medida Provisória n° 2.166-67/01 já

previa que as áreas de reserva legal e de preservação

permanente fossem somadas, se ultrapassassem determinados

limites. Assim, essa MP inclui no Código Florestal (Artigo

16, § 6º): “Será admitido, pelo órgão ambiental competente,

o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente

42

em área de preservação permanente no cálculo do percentual

de reserva legal, desde que não implique em conversão de

novas áreas para o uso alternativo do solo, e quando a soma

da vegetação nativa em área de preservação permanente e

reserva legal exceder a: I - oitenta por cento da

propriedade rural localizada na Amazônia Legal; II -

cinqüenta por cento da propriedade rural localizada nas

demais regiões do País; e, III - vinte e cinco por cento da

pequena propriedade...”.

Cumpre dar destaque ao tratamento diferenciado dado

pela legislação atual à pequena propriedade rural, conforme

estabelecido pela Medida Provisória n° 2.166-67/01.

Considera-se como pequena propriedade aquela cuja extensão

não ultrapasse os limites estabelecidos para as diferentes

regiões do país, que variam entre 30 e 150 ha; que seja

explorada predominantemente com o trabalho familiar e cuja

renda bruta seja proveniente, no mínimo em oitenta por

cento, de atividade agroflorestal ou do extrativismo.

Nestes casos, além de admitir que sejam somadas as áreas de

APP e reserva legal, conforme descrito no parágrafo

anterior, também se permitem os plantios de árvores

frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por

espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em

consórcio com espécies nativas, para cumprimento da

manutenção ou compensação da área de reserva legal.

Com a redação dada pela MP nº 2.166-67/01, o Código

Florestal exige a todo proprietário ou possuidor de imóvel

rural com área de floresta nativa, primitiva ou regenerada,

43

a obrigação de em caso de inexistência ou de existência

parcial em dimensão inferior ao mínimo legal previsto,

adotar uma das seguintes alternativas, isoladas ou

conjuntamente (Artigo 44 do Código Florestal): I - recompor

a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio, a

cada três anos, de, no mínimo, 1/10 da área total

necessária a sua complementação, com espécies nativas, de

acordo com critérios estabelecidos pelo órgão ambiental

estadual competente; II - conduzir a regeneração natural da

reserva legal; e, III - compensar a reserva legal por outra

área equivalente em importância ecológica e extensão, desde

que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na

mesma microbacia, conforme critérios estabelecidos em

regulamento 2.

A lei atual permite - na impossibilidade de compensá-

la na mesma microbacia hidrográfica - a compensação fora

desta, mas dentro da mesma bacia hidrográfica (nos termos

do Plano de Bacia Hidrográfica) e no mesmo ecossistema,

observado o critério da maior proximidade possível entre a

propriedade desprovida de reserva legal e a área escolhida

para compensação. A compensação fora da propriedade, em

princípio, seria uma opção para o produtor rural seguir

produzindo em áreas contínuas.

A Medida Provisória nº 2.166-67 de 2001 também prevê

que as alternativas de recomposição podem ser realizadas

pelos produtores, de forma isolada, ou de forma conjunta,

através de condomínios.

44

Outra lei que passou a integrar o Código Florestal

(parágrafo 6, artigo 44) foi formulada em 2006, a Lei nº

11.428 - que dispõe sobre a vegetação nativa do Bioma Mata

Atlântica. Ela dá a possibilidade de desoneração definitiva

(não mais por trinta anos, como previsto anteriormente) das

obrigações de recomposição da reserva legal previstas na

lei, mediante a doação pelo proprietário ao órgão ambiental

competente, de área localizada no interior de unidade de

conservação de domínio público (parque estadual, floresta

estadual, estação experimental, reserva biológica ou

estação ecológica), pendente de regularização fundiária.

Mas aqui também se exige que a área pertença ao mesmo

ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia.

Há que se ressaltar, enfim, que a lei federal não

permite o corte raso da vegetação da reserva legal, mas

possibilita, sim, o seu manejo de forma sustentável. O

artigo 16, parágrafo 2o do Código Florestal prevê: “A

vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo

apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal

sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos

e científicos estabelecidos no regulamento...”.

Foi somente em setembro de 2009 que o Ministério do

Meio Ambiente (MMA), lançou Instruções Normativas (IN) que

tratam de aspectos técnicos relativos ao manejo permitido à

reserva legal. Em número de três, elas especificam questões

relacionadas a: i) corte, exploração e transporte de

espécies florestais plantadas; ii) procedimentos técnicos

para a utilização da vegetação da Reserva Legal sob regime

45

de manejo florestal sustentável; e iii) procedimentos

metodológicos para restauração e recuperação das Áreas de

Preservação Permanentes e da Reserva Legal instituídas pela

Lei no 4.771/ 1965.

A IN nº 5 do MMA, entretanto, ao invés de “pequena

propriedade”, utiliza o conceito de “agricultor familiar” e

“empreendedor familiar rural” constante na Lei no 11.326,

de 24 de julho de 20063, que aí inclui o produtor que não

detenha área maior que quatro módulos fiscais; utilize

predominantemente mão-de-obra familiar; tenha renda

familiar originada predominantemente de atividades

econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou

empreendimento; e dirija o estabelecimento ou

empreendimento com sua família. Destaque-se que os quatro

módulos fiscais suplantam, em muitos locais, área prevista

no atual Código Florestal para dimensionar o tamanho máximo

da pequena propriedade, a exemplo do que acontece no Estado

de São Paulo.

Foram diversas leis, decretos e resoluções que

tornaram mais rígidas as ações de monitoramento do

desmatamento e imposição de sanções às infrações. Tal é o

caso da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), que

especifica responsabilidades penais e administrativas para

o infrator que agrida o meio ambiente, por meio do

desmatamento de áreas preservadas, entre outros crimes.

O Decreto nº 6.321 de 2007 vem dispor sobre ações

relativas à prevenção, monitoramento e controle de

46

desmatamento no Bioma Amazônia, inclusive no que tange à

especificação de sanções aplicáveis às condutas e

atividades lesivas ao meio ambiente. De acordo com esse

decreto, o MMA deve elaborar e atualizar a lista de

municípios com desmatamento monitorado e sob controle no

bioma Amazônia, o que implica que seus imóveis rurais

estejam devidamente monitorados e que a taxa de

desmatamento anual do município esteja abaixo do limite

estabelecido pelo MMA. Esses municípios devem ter

prioridade na concessão de incentivos econômicos e fiscais

da União voltados para a região amazônica. Adicionalmente,

as agências oficiais federais de crédito não devem aprovar

crédito de qualquer espécie para atividades agropecuárias

ou florestais realizadas em imóveis rurais que descumpram a

legislação.

Na sequência, a Resolução nº 3.545/2008 do Conselho

Monetário Nacional define exigências para a concessão de

crédito rural no bioma Amazônia. Desde 1º de julho de 2008,

a concessão de crédito rural para atividades agropecuárias

nos municípios que integram esse bioma está condicionada à

apresentação do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural;

declaração de que inexistem embargos vigentes de uso

econômico de áreas desmatadas ilegalmente no imóvel, e

documentos comprobatórios de regularidade ambiental do

imóvel onde será implantado o projeto a ser financiado,

expedido pelo órgão estadual responsável.

O Decreto nº 6.514/2008 dispõe sobre as infrações e

sanções administrativas ao meio ambiente, incluídas as

47

infrações sobre a fauna e a flora. As sanções vão desde

advertências até restrições de direitos, passando por

multas e embargos de obras e atividades. No que diz

respeito às infrações sobre a flora, incluem-se aquelas

referentes ao não cumprimento da legislação sobre APPs e

reserva legal, estando tipificada como infração, inclusive,

a não averbação da reserva legal.

Por fim, há que se destacar o Decreto no 7.029,

editado em 10 de dezembro de 2009, considerado uma forma de

abrandamento da legislação. Através dele se institui o

Programa Federal de Apoio à Regularização Ambiental de

Imóveis Rurais, denominado “Programa Mais Ambiente”.

Estendeu-se o prazo para regularização ambiental dos

imóveis para junho de 2011, devendo para tanto o

proprietário ou possuidor de imóvel rural firmar um termo

de adesão e compromisso junto ao Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) ou

outro órgão vinculado ao Programa. Um de seus instrumentos

é o Cadastro Ambiental Rural - CAR: sistema eletrônico de

identificação georreferenciada da propriedade rural ou

posse rural, contendo a delimitação das áreas de

preservação permanente, da reserva legal e remanescentes de

vegetação nativa localizadas no interior do imóvel, para

fins de controle e monitoramento. Esse prazo foi

posteriormente prorrogado para 11 de dezembro deste ano de

2011, por força do DECRETO nº 7.497, de 9 de junho de 2011.

Um dos pontos mais polêmicos deste Decreto é que, a

partir da data de adesão ao “Programa Mais Ambiente”, o

48

proprietário ou possuidor não será autuado com base nos

artigos 43, 48, 51 e 55 do Decreto no 6.514, de 2008, desde

que a infração tenha sido cometida até o dia anterior à

data de publicação do Decreto no 7.029, ou seja, antes de

10/12/2009.

Finalmente, para que conste o registro é preciso que

se diga que o Projeto de Lei 1.876/99, que reforma o Código

Florestal Brasileiro, de relatoria do deputado Aldo Rebelo

foi aprovada pela Câmara dos Deputados e enviado para

votação no Senado, onde se espera, seja aprovado sem

reformas.

As principais mudanças trazidas pelo Projeto de Lei

1.876/99 podem ser assim resumidas:

Áreas de Preservação Permanente - Criam-se

algumas exceções em relação a áreas desmatadas

até julho de 2008 (por exemplo, APPs de mata

ciliar, para rios de até 10 metros, só precisarão

se de 15 metros, ao invés dos 30 previstos

anteriormente) e a Recuperação de áreas

desmatadas em margens de rio e enconstas e

possíveis usos econômicos ficarão a cargo de

regulação de Estados e da União.

Reserva legal – Dispensam-se os proprietários de

até quatro módulos fiscais de recompor regiões

desmatadas até julho de 2008. As demais

propriedades devem respeitar as áreas mínimas de

RL. Para o cômputo da RL, para todas as

49

propriedades, poderá ser considerar APPs íntegras

ou em recuperação, desde que não haja novos

desmatamentos.

Regularização das propriedades – Criam-se

alternativas de regularização para áreas de

Reserva Legal desmatadas, como compensação dentro

do mesmo bioma ou unidade da Federação (compra ou

arrendamento de área com vegetação nativa) e

possibilidade de contabilizar APP dentro da RL.

Criam-se novos mecanismos de regularização pela

União e pelos Estados – Programa de Regularização

Ambiental (PRAs) - , de forma a facilitar a

adequação dos proprietários às novas regras.

Implementação de um Cadastro Ambiental Rural

(CAR) visando gerenciar as informações sobre APPs

e RL das propriedades.

Como aponta Rodrigo C. A. Lima (Controvérsias do novo

Código Florestal in Revista Agroanalysis, vol 31, nº 06,

pág. 22) é possível que alguns dispositivos do texto

aprovado na Câmara sejam revistos até a aprovação final.

Independentemente disso, as bases do novo Código estão

lançadas, e espera-se adesão massiva dos produtores a fim

de regularizarem suas propriedades e posses. Isso é central

para pacificar a visão enviesada de que o agricultor está à

margem da lei e para reforçar a relação de equilíbrio entre

o agro e a conservação ambiental. Dessa forma, será

possível transformar a produção de alimentos e de energia

no Brasil em modelo de sustentabilidade para o mundo.

50

51

4. O IMPACTO ECONÔMICO DO CÓDIGO FLORESTAL – VISÃO GERAL

O desenho de uma política ambiental que alie

conservação ambiental, justiça social e eficiência

econômica pode ser orientado pelos preceitos da Economia

Ecológica. Para a Economia Ecológica três objetivos devem

ser perseguidos no que diz respeito à utilização dos bens e

serviços ambientais: i) a determinação de uma escala

sustentável; ii) a definição de uma distribuição justa,

inclusive para com as gerações futuras; e iii) a alocação

eficiente. A principal preocupação da Economia Ecológica

são os limites ao crescimento, a escala da utilização dos

recursos naturais. Uma escala sustentável é aquela em que o

fluxo energético de alta entropia gerado pelas atividades

econômicas não ultrapassa a capacidade de assimilação do

ecossistema. Uma vez definida a escala, o problema seguinte

a ser resolvido é a questão da distribuição, isto é, o

problema da repartição dos direitos de uso dos bens e

serviços ambientais. Somente em seguida tem-se o problema

da alocação eficiente. Escala sustentável, distribuição

equitativa e alocação eficiente estão relacionadas, mas

suas soluções são distintas e através de instrumentos de

política independentes. Juntamente com as medidas

apropriadas, estratégias de mercado deveriam ser usadas

para controlar e dirigir as energias privadas e o capital

de modo a proteger e melhorar o meio ambiente. Existem dois

52

problemas que devem ser resolvidos politicamente para que o

mercado funcione dessa maneira: deve-se limitar, política e

socialmente, a escala total da produção material a um nível

sustentável. A sociedade deve proceder, então, a uma justa

distribuição inicial dos direitos a esgotar e a poluir até

o limite da escala sustentável, sendo o mercado usado para

resolver a questão da alocação, e não questões de escala e

de distribuição (FASIABEN et al, pág. 15)

Embora a Economia Ecológica entenda que são fatores

ligados a resiliência dos ecossistemas que deveriam ser

considerados na definição da escala – e que, portanto,

parâmetros biofísicos deveriam guiar sua determinação -,

reconhece que os limites impostos devem refletir acordos

sociais entre os envolvidos, no caso, a comunidade

científica, produtores, políticos e comunidade em geral.

Entretanto, a grande controvérsia que cerca os limites

estabelecidos para a reserva legal brasileira mostra que

tais acordos ainda estão longe de serem alcançados.

As leis florestais brasileiras são extremamene

restritivas e, como tal, geram limitações no uso da

propriedade, seja por instrumentos diretos, como é o caso

da RL, APP e UC, seja por meios indiretos, como é o caso

das condutas tipificadas em lei como crime e infração

administrativa: essas condutas oneram o produtor com

multas, muita vezes discricionárias e milionárias, e até o

embargo da propriedade. Desta forma, o produtor rural é

onerado: (i) por não utilizar parte produtiva de suas

propriedades destinadas por lei à preservação, havendo,

53

inclusive, casos em que a lei determina que a propriedade

seja destinada à preservação (quase em sua totalidade);

(ii) por multas milionárias, sejam elas resultado de

condutas realizadas no passado, em respeito à lei vigente à

época, sejam por desmatamentos (após 1996) realizados pelo

produtor desmotivado que acaba gerando uma conduta

irregular; (iii) pelos embargos comerciais interpostos

pelos mercados interno e externo com base na legislação

ambiental nacional e a repercussão da mídia sobre o

assunto; (iv) pela impossibilidade de buscar a

regularização, vez que não há denúncia espontânea

determinada em lei, na esfera ambiental – muitas vezes

quando procura o órgão competente, na tentativa de se

regularizar, acaba sendo autuado e até embargado; e (v)

pela própria morosidade dos processos nos órgãos ambientais

e administrativos, como é o caso do Incra” (BURANELLO et al,

pág. 1040).

Em relação à distribuição, o atual Código Florestal

estabelece algumas concessões para a pequena propriedade:

i) a elas se admite o cômputo das áreas relativas à

vegetação nativa existente em área de preservação

permanente no cálculo do percentual de reserva legal,

sempre que a soma da vegetação nativa em área de

preservação permanente e reserva legal exceder a vinte e

cinco por cento da área da propriedade, tratando-se do

Estado de São Paulo; ii) permite-se-lhe, para cumprimento

da manutenção ou compensação da área de reserva legal, o

cômputo de plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou

54

industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em

sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas;

iii) a averbação da reserva legal da pequena propriedade ou

posse rural familiar é gratuita, devendo o Poder Público

prestar-lhe apoio técnico e jurídico, além de ditar que

sejam simplificados os procedimentos para a comprovação da

necessidade de conversão. Já na proposta do Substitutivo,

as propriedades ou posses com menos de quatro módulos

fiscais estarão isentas da obrigação de manter a reserva

legal.

Além da divisão do ônus entre os distintos tipos de

produtores rurais, uma distribuição justa também diz

respeito à participação dos outros segmentos da sociedade

nos custos da preservação, já que todos se beneficiam dos

serviços ambientais prestados pelas florestas. Benefícios e

custos também se estendem para as gerações futuras, quando

há justiça distributiva.

A designação de áreas de propriedades privadas para a

proteção e conservação de ecossistemas é uma questão que

traz muita polêmica. Isto porque geram-se encargos

exclusivamente aos produtores, enquanto os benefícios são

estendidos a toda sociedade. Por esta razão estas

restrições deveriam estar acompanhadas de políticas como o

pagamento de serviços ambientais, em direção de uma

distribuição mais equitativa dos custos da conservação

ambiental entre toda a sociedade, aliada à criação de

mercados de vegetação nativa que busque promover ajustes

locacionais das reservas legais, na busca de um melhor

55

equilíbrio entre a conservação da biodiversidade e o custo

de oportunidade das terras (cf. FASIABEN et al, pág 19).

Como se verifica da legislação florestal brasileira

comentada na primeira parte deste trabalho reconhece-se a

importância ecossistêmica da floresta e da flora, bens

ambientais que, constitucionalmente, devem ser protegidos e

preservados pelo Poder Público e pela sociedade em prol das

futuras gerações.

Por outro lado, verifica-se que a responsabilidade

efetiva de preservação desses bens ficou exclusivamente com

o produtor que está obrigado a:

a) Abster-se de explorar as APPs e RL;

b) Recompor as APPs e RL

c) Arcar com o custo de averbação da RL no

cartório de registro de imóveis

d) Investir em tecnologia para aumentar a

produtividade da parcela da terra à sua disposição

para atender à demanda por alimentos e agroenergia,

cumprindo, assim, sua missão.

Não fora o bastante, é natural admitir-se, ainda, que

diante da profusão de leis, decretos, medidas provisórias,

resoluções e outros instrumentos normativos que se

proliferam nesta seara ambiental, o produtor tenha, hoje,

de manter um consultor jurídico à mão para permanentes

consultas e atualizações. Mesmo que o faça por meio de uma

56

associação ou cooperativa, é inegável que este transtorno

representa custo para esse produtor.

Neste trabalho veremos como uma emprega do

agronegócio, modelar em todos os sentidos, foi impactada

por estes custos.

Antes, porém, é preciso fazer a ressalva de que, por

ser um tomador de preço, o produtor não tem condições de

repassar os incrementos de seus custos para o preço final

de seu produto o que implica em imediata redução de sua

margem, de sua rentabilidade.

De fato, lembre-se que o preço de mercado, pela teoria

econômica, é determinado mediante interação de consumidores

e produtores. Logicamente, essa situação é plausível em

contextos bastante específicos de mercado (feira livre). A

formação de preço de mercado é resultado das condições de

oferta e demanda. O preço é a variável mais importante do

mercado. A análise da interação da oferta e demanda

fundamenta-se em três pressuposições básicas: livre mercado

(ou seja, cada mercado opera livremente, no sentido de que

não há forças externas que influenciem ou estabeleçam

condições artificiais, como a intervenção governamental, ao

tabelar ou controlar preços), maximização de lucro e da

satisfação dos consumidores. (MENDES, pág. 175).

A agricultura funciona em um ambiente de mercado muito

competitivo, ou seja, com as seguintes condições ou

características:

57

a) Grande número de compradores e vendedores,

de tal modo que nenhum deles, individualmente, pode

influenciar o preço ao decidir vender ou comprar um

produto. A agricultura, por ter um grande número de

produtores é o setor econômico com condições mias

próximas dessa característica;

b) Produto homogêneo, de tal modo que o produto

de uma empresa é essencialmente um perfeito substituto

do produto de outra empresa. Os produtos agrícolas são

muito homogêneos;

c) Ausência de restrições artificiais à

procura, á oferta e aos preço de qualquer produto que

esteja sendo negociado, ou seja, não deve haver

intervenções governamentais no mercado, como

tabelamento, racionamento e outras;

d) Mobilidade dos produtos e dos recursos, de

tal forma que novas empresas possam entrar no mercado

e os recursos possam ser transferidos para usos mais

econômicos, ou seja, para aqueles em que seus preços

sejam mais elevados;

e) Perfeito conhecimento de todas as

informações necessárias sobe preços, processos de

produção e ação dos outros produtores (embora um não

exerça influência sobre o outro).

As quatro primeiras condições caracterizam a

concorrência pura; a concorrência perfeita exige

58

adicionalmente a condição de perfeito conhecimento das

informações (MENDES, pág. 178)

Como os produtores individuais não podem afetar os

preços de seus produtos, há um forte incentivo para

aumentarem seus lucros pela redução de seus custos pela

melhoria da eficiência tecnológica na agricultura. Sob essa

estrutura econômica (competição perfeita), o agricultor não

tem decisão a tomar no que se refere a preço. Uma vez

estabelecidas as decisões de produção, de armazenamento e

de quando vender, o produtor deve apenas observar o preço

determinado pelo mercado. Em outras palavras, o produtor

agrícola é um tomador de preço. Ele não pode fixar um preço

para o seu produto. (MENDES, pág. 180).

Se há pouco ou nada a se fazer em relação ao preço

final de seu produto, deve o produtor cuidar com muita

atenção dos seus custos de produção assim considerada a

soma dos valores de todos os recursos (insumos e serviços)

utilizados no processo produtivo - custos explícitos, mas

também os chamados custos implícitos (v.g. o salário máximo

que poderia ganhar trabalhando em uma função similar para

outra pessoa, o retorno pela melhor alternativa de uso do

capital, da terra e de qualquer outro fator de produção que

ele possua e use). Esses recursos que a firma possui e usa

não são recursos ‘livres’. Para a firma, o custo

(implícito) envolvido no uso desses recursos é igual às

(melhores) alternativas que foram desperdiçadas (ou seja, o

que esses mesmos recursos teriam gerado como retorno em sua

melhor alternativa de uso). Toda vez que em economia

59

falamos de custos ou ilustramos curvas de custo, sempre

incluímos ambos os custos, explícitos e implícitos.

(SALVATORE, pág. 199). Em finanças estes custos implícitos

são chamados de Custo de Oportunidade do Capital (taxa

mínima de retorno, custo do capital, opportunity cost of capital,

hurdle rate ou cost of capital, o retorno esperado que se deixa de

obter por investir em um projeto, em vez de investir em

títulos de risco semelhante. (BREALEY, pág. 890)

Portanto, para a teoria econômica, o custo de

oportunidade ou custo alternativo surge quando o decisor

opta por uma determinada alternativa de ação em detrimento

de outras viáveis e mutuamente exclusivas, sendo assim,

representa o benefício que foi desprezado ao escolher uma

determinada alternativa em função de outras. Desta forma, o

custo dos fatores de produção só pode ser mensurado através

de seu custo de oportunidade (SANTOS, pág. 2).

A CONAB em sua publicação Custos de Produção Agrícola:

a metodologia da CONAB, assim refere-se aos critérios

adotados para a mensuração dos custos de oportunidade

social9:

Custos explícitos, cujos valores podem ser

mensurados de forma direta, são determinados de acordo

com os preços praticados pelo mercado, admitindo-se

que os mesmos representam seus verdadeiros custos de

oportunidade social. Situam-se nesta categoria os

componentes de custo que são desembolsados pelo

9 Item 3.8 – da mensuração dos componentes de custos. Pág. 27

60

agricultor no decorrer de sua atividade produtiva,

tais como insumos (sementes, fertilizantes e

agrotóxicos), mão de obra temporária, serviços de

máquinas e animais, juros, impostos e outros.

Custos implícitos – não são diretamente

desembolsados no processo de produção, visto que

correspondem a remuneração de fatores que já são de

propriedade da fazenda, mas não podem deixar de ser

considerados, uma vez que se constituem, de fato, em

dispêndios. Sua mensuração se dá de maneira indireta,

através da imputação de valores que deverão

representar o custo de oportunidade de seu uso, nesta

categoria enquadram-se os gastos com depreciação de

benfeitorias, instalações, máquinas e implementos

agrícolas e remuneração do capital fixo e da terra.

Como já esclarecido na introdução a este trabalho, não

se pretende discutir conceitos econômicos ou financeiros de

custo de produção ou suas variáveis. O que se pretende é, a

partir de uma observação arguta da realidade e sobre a

experiência de uma empresa do agronegócio, levantar-se os

principais pontos de impacto da legislação florestal

brasileira sobre esta atividade, deixando para os

economistas e profissionais mais capacitados a formulação

das regras matemáticas e financeiras que possam expressar

com mais acuidade o que aqui se apontará como resultado

esperado para situações análogas.

61

O primeiro ponto a merecer destaque, nesse sentido, é

a esperada valorização das terras agricultáveis ou não em

razão da diminuição de oferta de terras legalmente

utilizáveis para qualquer fim econômico.

Em recente trabalho, a EMBRAPA – Monitoramento por

Satélite demonstrou que, em termos legais, apenas cerca de

30% do país seria passível de ocupação agrícola intensiva

enquanto cerca de 70% do território estaria legalmente

destinado a minorias e a proteção e preservação ambiental.

Como na realidade, mais de 50% do território nacional já

está ocupado, por um processo secular em muitos casos,

configura-se um enorme divórcio entre a legitimidade e a

legalidade do uso das terras e muitos conflitos.

Apenas as Unidades de Conservação e as Terras

Indígenas somadas já ocupam cerca de 27% do território

nacional. Ainda que parte dessa área permita atividades

produtivas como coleta de látex, de castanha, de fibras,

pesca e pequena agricultura, está excluída a atividade

agrícola intensiva, com remoção da cobertura vegetal

nativa.

62

Figura 1. Total de áreas protegidas no Brasil

Fonte: Embrapa

Sobre o restante de terras disponíveis incide a

limitação da Reserva Legal, com porcentagens de reserva

variando de 80% no bioma Amazônia a 20% na Mata Atlântica.

Esse dispositivo imobiliza aproximadamente 32% do

território nacional segundo o levantamento da EMBRAPA.

Somadas as Reservas Legais às UCs e TIs, temos cerca de 59%

do Brasil dedicado à preservação e proteção ambiental, com

grande parte dessa área localizada no bioma Amazônia.

63

Tabela 1. Alcance Territorial dasUnidades de Conservação, Terras Indígenas

e Reserva Legal. Disponibilidade deTerras Legalmente Agricultáveis.

Km2 %

UCs + TIs 2.294.343 26,95

Reserva

Legal

2.685.542 31,54

Total 4.979.885 58,49

Disponível 3.534.992 41,51

Sobre essa área global, legalmente disponível para um

uso agrícola intensivo, ainda incidem as restrições ligadas

às Áreas de Preservação Permanente (APPs). Dois grandes

tipos de APPs foram considerados no estudo da EMBRAPA: os

ligados ao relevo e os ligados à rede hidrográfica10.

Os resultados líquidos somam 1.448.535 km2, cerca de

17% do território nacional, correspondentes às áreas de

APPs fora de UCs, TIs e eliminadas as superposições.

No referido trabalho foram considerados alguns

cenários sobre as áreas disponíveis legalmente para o uso

agrícola. Em um cenário em que as áreas de APPs não podem

ser incluídas no cômputo da Reserva Legal, teriam-se

números negativos no Bioma Amazônia e no Pantanal. Sem

10 Existem outras categorias de APPs previstas pela legislação que não foram estimadas em seu alcance territorial

64

computar esses números negativos, a área disponível para a

agricultura mais intensiva seria de 2.455.350 km2 (29%).

Se as regras existentes atualmente para inclusão das

APPs no cômputo da reserva legal fossem aplicadas na

totalidade do país, a disponibilidade dessas áreas

agrícolas cairia para 25,6%, mas se eliminariam os números

negativos no bioma Amazônia, num total de 449.532 km2.

Considerando-se sua aplicação apenas na Amazônia, a

única situação em que é permitido legalmente a incorporação

das APPs no cômputo dos 80% destinados à reserva legal sem

nenhuma restrição, a disponibilidade total de terras para a

agricultura seria de 2.543.981 km2 ou cerca de 30% do

território nacional.

Na hipótese dessa regra, válida para a Amazônia, ser

estendida a todo o país, e na qual as áreas de APPs

passariam a ser computadas na Reserva Legal sem

condicionamentos, a disponibilidade de terras para a

agricultura seria de 3.534.992 km2 o que representaria 41%

do território. Esse acréscimo de cerca de 1.000.000 km2

ocorreria essencialmente fora da Amazônia já que lá a regra

já é válida.

De toda forma, em qualquer dos cenários apresentados

no trabalho da EMBRAPA não se consegue contemplar a

realidade sócio-econômica existentes, nem a história da

ocupação territorial do Brasil. Como bem aponta o estudo,

existe um histórico secular de uso agrícola das terras no

Brasil, marcado por áreas rurais consolidadas com base no

65

que recentemente definiu-se como APPs. Essas medidas

colocam na ilegalidade muitas atividades agrícolas

praticadas em APPs como grande parte da produção de arroz

de várzea no RS, SP e MA; de búfalos no AM, AP, PA e MA; do

café em SP, MG, PR e BA; da maçã em SC; da uva e vinho no

RS, SC e SP; da pecuária no Pantanal; da pecuária leiteira

em MG, SP, RJ e ES; da cana de açúcar em SP, RJ, MG e PE;

dos reflorestamentos em MG, SP, MA e TO; da pecuária de

corte em grande parte no Brasil, da citricultura em SP, BA

e SE; da irrigação no PE; da mandioca no PE e AM; do tabaco

em SC e BA; da soja em MT, MS, GO, SP e PR, entre os casos

de maior impacto social e econômico.

Os pesquisadores da EMBRAPA alertam ainda para o fato

de que a perda de governança e os conflitos territoriais

tendem a agravar-se dada a demanda adicional por novas

terras da parte de vários segmentos da sociedade. São

demandas ambientais, agrárias, indigenistas, quilombolas,

agrícolas etc. Somente a demanda ambiental para a criação

de novas UCs, corredores ecológicos, áreas de restauração

ecológica e conservação prioritária da biodiversidade visa

mais de 3.000.000km². Só no bioma Amazônia, as áreas

consideradas de Prioridade Extremamente Alta para a

conservação representam quase 719.000km². Entre Prioridade

Alta, Muito Alta e Extremamente Alta essas áreas

representam quase 1.500.000 de km² adicionais só no Bioma

Amazônia. A demanda de terras para atender toda a

necessidade de colonização, assentamento e reforma agrária

é da ordem de 1.600.000 km², segundo estudos realizados

66

incluindo áreas de reserva legal e infra-estrutura. A

demanda para criação e ampliação de terras indígenas situa-

se entre 50 e 100.000 km². A demanda de áreas para

quilombolas chegaria a 250.000 km², segundo estimativas do

INCRA. A demanda agrícola para expansão de alimentos e

energia até 2018, mesmo com a conversão de pastagens em

áreas agrícolas e ganhos de produtividade, situa-se entre

100.000 e 150.000 km². Além disso, há de contar-se as

demandas difusas e concentradas do crescimento das cidades,

da infra-estrutura viária, industrial e energético-

mineradora, a exemplo da implementação das obras do

Programa de Aceleração do Crescimento – o PAC. Toda essa

demanda adicional, numa estimativa preliminar, representa

quase 6.500.000 km², uma área equivalente a soma dos

territórios da Argentina, Bolívia, Uruguai, Peru e

Colômbia. É fisicamente impossível conciliar o uso atual e

atender a totalidade dessas demandas futuras.

Diante deste quadro é inegável que o aquecimento da

demanda por commodities agrícolas implicará em aumento da

demanda por terras agricultáveis e que, limitada a oferta

destas terras, se experimentará uma grande valorização do

seu preço.

Em matéria publicada na revista Agroanalysis de abril

de 2008, intitulada Terra. Preços no Brasil, a partir de

análises extraídos da FGVDados, os autores José Garcia

Gasques e Eliana Teles Bastos informam que o período de

2000 a 2006 representa uma mudança nítida da tendência

anterior de decréscimo do preço da terra, com um aumento

67

real anual dos preços de terras de lavouras e de pastagens

superior a 10% ao ano, com valorização destas últimas um

pouco acima das lavouras em razão da dupla pressão com a

valorização das atividades pecuárias e a substituição de

terras de pastagem por outras atividades, como cana-de-

açúcar e soja.

Para os autores, os fatores que motivaram a elevação

dos preços da terra no Brasil no período de 2000 a 2006

seriam a política cambial de desvalorização do real, as

exportações agropecuárias favorecidas, principalmente nas

cadeias produtivas dos complexos soja e carnes e o

crescimento dos volumes de recursos concedidos do crédito

rural, sem esquecer-se, obviamente, dos preços externos e

internos favoráveis nas principais commodities agrícolas.

Embora não tenhamos dados mais recentes em relação à

valorização do valor da terra no Brasil, notícias

divulgadas na mídia continuam informando esta tendência.

Acreditamos que a proximidade do prazo final para

regularização das áreas de Reserva Legal vem exercendo

grande influência na procura de terras, agora

preferencialmente aquelas com cobertura vegetal nativa.

Outro impacto esperado da legislação florestal sobre

as propriedades rurais é a redução da área destinada à

produção quando ao produtor não for possível adquirir novas

glebas para compor a área de Reserva Legal.

Evidentemente esta redução da área destinada à

produção terá impacto econômico direto para o produtor

68

cabendo a ele, então, buscar meios de aumentar sua

produtividade para compensar a perda da área ou implementar

projetos legais de aproveitamento econômico da área de

Reserva Legal, como, tipicamente, projetos de manejo

florestal.

Em seu excelente e seminal trabalho de doutoramento no

Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas,

Maria do Carmo Ramos Fasiaben avaliou o impacto econômico

da reserva legal sobre a margem bruta de diferentes tipos

de unidades de produção agropecuária (UPA) da Microbacia do

Rio Oriçanga – São Paulo. A partir de uma tipologia das

UPAs elaborada para a região, escolheram-se dois tipos para

detalhamento do estudo: os Pequenos Produtores de baixa

tecnologia e os Citricultores. Procedeu-se a modelagem da

estrutura produtiva dos dois tipos selecionados, através do

método de programação recursiva, abarcando o período de

2002/2003 a 2008/2009. Os sistemas atuais dos dois tipos de

UPAs foram confrontados a dois cenários de compensação do

déficit de reserva legal: i) através da realocação de áreas

produtivas no interior da própria unidade, procedendo-se a

recuperação da vegetação natural nestas áreas através do

plantio de espécies nativas, com vistas ao manejo

sustentável para exploração de madeira; ii) deixando que na

área se desse o crescimento da vegetação espontânea, sem

nenhum tipo de manejo ou exploração. Os resultados

evidenciam a importância de políticas que permitam uma

distribuição mais equitativa dos custos da conservação

ambiental entre toda a sociedade, bem como a importância de

69

ajustes locacionais das reservas legais, na busca de um

melhor equilíbrio entre a conservação da biodiversidade e o

custo de oportunidade das terras. Isto porque, os

resultados do trabalho sugerem que o pequeno produtor,

aquele que vem desenvolvendo sistemas com baixo nível

tecnológico e que faz parte de um grande contingente em

nosso país, pode se beneficiar do manejo da reserva legal.

Do ponto de vista econômico, o manejo sustentável da

reserva legal manteria inalterada a margem bruta da unidade

de produção. A vantagem reside no fato de que o produtor

obteria a mesma renda numa atividade muito menos intensiva

em mão-de-obra do que as que vem praticando. O problema é

que os maiores ingressos, oriundos da exploração da

madeira-de-lei, somente surgiriam 40 anos após o plantio.

Em relação à unidade típica produtora de citros da

Microbacia do Oriçanga, estimaram-se perdas econômicas da

ordem de 13% quando se convertem terras de culturas para

completar a área exigida para reserva legal, quando esta é

explorada de forma sustentável. No caso em que a área de

reserva não é explorada, essa perda chega a 17% para estas

unidades, enquanto ficaria em 10% para os pequenos

produtores.

A conclusão da autora em seu trabalho é a de que:

“Tais resultados evidenciam a importância de se realizarem

estudos regionalizados do impacto da legislação ambiental

sobre as unidades de produção agropecuárias, considerando a

variedade de situações que compõe a agropecuária paulista.

Tais estudos podem ajudar a orientar políticas públicas

70

complementares ao mecanismo legal de comando e controle,

com o intuito de promover um equacionamento mais justo da

dívida da sociedade para com o meio ambiente definindo,

inclusive, de que modo e em que proporção cada segmento

contribuiria para fazer frente aos custos da preservação

dos ecossistemas.

Mostram-se fundamentais políticas de apoio aos

produtores rurais para permitir o cumprimento da reserva

legal. Há que se fazer frente, inicialmente, a um dos seus

maiores empecilhos: os altos custos de implantação da

recuperação florestal. Aliado a isto, esta o longo prazo

para que se obtenham os retornos mais significativos do

manejo da reserva legal - a exploração da madeira-de-lei -,

previstos para que ocorram em torno de quarenta anos apos a

implantação. São imprescindíveis linhas de créditos

especiais que possibilitem a implantação de modelos de

recuperação das reservas legais, com taxas de juros

subsidiadas e prazos de carência compatíveis. Nos casos de

compensações da reserva legal fora da propriedade, e

relevante se contar com linhas de crédito especiais para o

financiamento de mecanismos como aquisições de terras,

arrendamentos ou aquisições de cotas de reserva legal. O

Estado, ao exigir a preservação de florestas em

propriedades privadas, pretende estender os serviços

ecossistêmicos a toda sociedade. Como essa preservação

representa um ônus aos proprietários de terras, há que se

pensar em mecanismos para recompensá-los, na busca de

justiça distributiva. O pagamento por serviços

71

ecossistêmicos representa o reconhecimento de que não é

justo que os produtores fiquem com todos os custos, além de

ser uma forma de garantir a provisão daqueles serviços.

Valores como os encontrados no presente trabalho podem

servir de orientação a esse tipo de pagamento. Uma vez

tratado o tema da distribuição, devem ser estudados os

desenhos de políticas institucionais que permitam uma

alocação economicamente mais eficiente do uso dos recursos,

mas que levem em conta as restrições ecológicas referentes

à conservação da biodiversidade. Estes desenhos devem, em

principio, possibilitar que este processo possa ser

conduzido através de estímulos de mercado. Na discussão de

uma alocação economicamente mais eficiente do uso dos

recursos, considerando as restrições ecológicas referentes

à conservação da biodiversidade, vem ganhando destaque a

idéia de criação de um mercado para reservas de vegetação

nativa. Para o funcionamento de tais mercados é necessária

a criação de um mecanismo de incentivos econômicos. A

questão da melhor localização das reservas legais poderia

se resumir na busca de um ponto de equilíbrio entre o

mínimo custo de oportunidade de uso das terras, sem perdas

ecológicas relevantes. É preciso ter claro, entretanto, que

os valores que medem o impacto da reserva legal sobre a

renda dos produtores rurais representam apenas uma das

faces de um complexo poliedro, uma vez que são inúmeros os

serviços prestados pelas florestas à humanidade, difíceis

de serem valorados. Por último, cabe reconhecer a limitação

da suposição implícita sobre a continuidade do

72

comportamento atual de indicadores econômicos no longo

prazo. Num horizonte de 80 anos – previsto no modelo de

manejo sustentável da reserva legal - pouco se pode inferir

em relação ao comportamento de indicadores como a taxa de

juros e os preços, por exemplo. Outra limitação diz

respeito à escassez de dados históricos, especialmente os

relacionados à produção, produtividade e preços de madeiras

nativas, que deveriam ser contabilizadas como madeira em pé

nas propriedades”.

Uma possibilidade de uso econômico para as áreas de

Reserva Legal, não contemplada no trabalho retro

mencionado, seria a sua utilização para projetos de MDL.

De acordo com o mecanismo de Desenvolvimento Limpo

(MDL), os países do Anexo I (industrializados) do Protocolo

de Quioto, podem contribuir financeiramente e os países em

desenvolvimento (não relacionados no Anexo I) podem

beneficiar-se de financiamento para projetos aprovados e

que demonstram estar contribuindo para reduzir emissões de

carbono. A grande motivação do MDL baseia-se na diferença

de custos existentes entre os vários países no que se

refere ao esforço de redução de emissão dos gases de efeito

estufa. Essa diferença o custo marginal será o grande

atrativo para o mercado, de modo a cumprir o acordo com

menores preços11 (SESCOOP, pág. 16). O Brasil, por sua

grande vocação florestal, possui potencial para

11 Os custos marginais para abater uma tonelada de carbono são maisaltos nos países desenvolvidos do que naqueles não industrializados.Nos EUA, são de US$236,00; no Japão, de US$236,00, na EU US$ 180,00,enquanto o Brasil pode ser de apenas US$10,00.

73

implementação de projetos de MDL florestal, inclusive pelo

fato de já existirem metodologias aprovadas pelo Conselho

Executivo da UNFCCC, que são aplicáveis a projetos de

recomposição de mata nativa em áreas legalmente protegidas.

Com a inclusão das florestas no Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo, abriu-se uma janela de oportunidade

para as atividades de florestamente e reflorestamente,

tanto as comerciais quanto às de recomposição de vegetação

nativa. O princípio por trás desse conceito é que as

floresta, durante o seu crescimento, retiram CO2 da

Atmosfera. Cada tonelada desse mesmo CO2 corresponde a um

crédito de carbono, ou REC (Redução de Emissão

Certificada), que pode ser comercializada. Entretanto,

dentre as exigências e condições de aplicabilidade do MDL

florestal é necessário que a terra das atividades do

projeto sejam elegíveis para aquele projeto e que este seja

adicional, sendo estas condições afastadas em razão do

atual marco legal florestal brasileiro, como se explicará a

seguir, de tal forma que, em princípio, o produtor sequer

poderá minimizar seu custo de manutenção das APPs e RL com

projetos de MDL e venda de créditos de carbono.

A COP 7, realizada em Marraqueche, Marrocos no ano de

2001, resultou em decisões aglutinadas no Acordo de

Marraqueche, do qual destaca-se a Decisão 11/CP. 7 que

determina como elegíveis ao MDL – LULUCF no primeiro

período de compromisso (2008-2012), somente as atividades

de florestamento e reflorestamento.

74

As modalidades e procedimentos para a implantação de

tais projetos foram finalizados durante a COP 9, realizada

em Milão, Itália, em 2003.

Um projeto de florestamento ou reflorestamento somente

será adicional se for implantado em uma área não florestal,

como definida na Decisão 11/CP.7 e em consonância aos

critérios determinados pela Autoridade Nacional Designada.

Assim, a adicionalidade de um projeto de florestamento ou

reflorestamento está atrelada ao incremento observado no

fluxo de estoque de carbono decorrente da implantação das

atividades do projeto em áreas ausentes de ocupação

florestal, em comparação ao que teria ocorrido àquelas

áreas sem a presença das atividades do projeto (MANFRINATO,

pag. 26).

Em junho de 2003 em Bonn foi elaborado um relatório de

conclusão, discutindo os métodos para a inclusão de

florestamento e reflorestamento no Artigo 12 do Protocolo

de Quioto. Esse documento sugeriu que durante a COP 9 fosse

discutida a inserção ou não da sentença em colchetes que

afirmava que os projetos florestais somente seriam

adicionais se fossem além dos requisitos institucionais e

legais do país hospedeiro do projeto, assim como das

práticas comuns na região, conforme o texto original

abaixo.

“22. A CDM afforestation or reforestation Project activity

is additional if net anthropogenic greenhouse gas

removals by sinks are increased above those that would

75

have occurred in the absence of registered CDM

afforestation or reforestation project activity [, and it goes

beyond institutional and regulatory requirements and

common practice in the region]. ”

Uma vez inserida, a sentença entre colchetes poderia

excluir a possibilidade de inserção das APP e das RL em

atividades de florestamento e reflorestamento dentro do

MDL. No entanto, na COP 9, um dos aspectos mais relevantes

tratou da não aprovação desta sentença e sua retirada do

documento final. Permitiu-se assim, uma abertura para que,

em certas circunstâncias, os reflorestamentos de APP e RL

possam ser considerados elegíveis.

Essa decisão foi norteada pela possível penalização

que estaria sendo promovida aos países que apresentam

legislações ambientais restritas e de difícil

implementação, como é o caso do Brasil (MANFRINATO, pág.

27).

Assim, a adicionalidade de projetos de florestamento e

reflorestamento somente será aprovada se a quantificação do

estoque de carbono promovido pela implantação das

atividades do projeto na área não florestal, resultar em

incrementos crescentes do estoque de carbono não observados

sem a implantação do mesmo.

Dessa forma, devem ser fornecidas evidências de que

(SICOOB, pág. 61):

76

a) As atividades do projeto converteriam terras

não-florestadas em florestas, o que de outra maneira

não ocorreria;

b) No caso das atividades consistirem no

controle e prevenção de distúrbios (invasões, fogo), a

continuidade dessas ameaças precisa ser provada e

monitorada durante o prazo operacional do projeto;

c) As atividades do projeto levarão a uma

situação onde os limiares nacionais de floresta seriam

alcançados ou excedidos.

Em relação à elegibilidade da área para uma atividade

de projeto de reflorestamento no âmbito do MDL, é

necessário que elas estejam desmatadas, ou seja, não se

enquadram na definição brasileira de floresta, no mínimo,

desde 31 de dezembro de 198912. Para atividades de

florestamento é necessário que estas áreas se encontrem

desmatadas durante pelo menos os últimos 50 anos.

Diante destas condições, resta evidente a dificuldade

para os produtores de apresentação de projetos de MDL

baseados no manejo das áreas de Reserva Legal ou APPs de

suas propriedades.

Com isso descarta-se o que poderia ser uma alternativa

para amortização do custo da manutenção daquelas áreas para

o atendimento á legislação florestal brasileira.

12 Decisão 16/CMP.1 do Conselho Executivo da CQNUMC, disponível em HTTP://unfccc.int/resource/docs/2005/cmp1/eng/08a03.pdf

77

5. O IMPACTO ECONÔMICO DO CÓDIGO FLORESTAL – UMA VISÃOESPECÍFICA A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO.

Para verificar o impacto da legislação ambiental sobre

uma empresa do agronegócio escolhemos uma empresa modelo,

no setor de café a Ipanema Coffees.

Nossa escolha foi motivada pelo fato de que a empresa

representa a nova face do agronegócio brasileiro,

organizada empresarialmente, em um setor, a cafeicultura,

que tem um histórico recente de crises, principalmente em

razão da disparada dos custos de produção. Além disso, é

comum a produção de café me encostas, áreas que legalmente

são de preservação permanente e, portanto, de utilização

proibida.

A Ipanema Coffees, a despeito de toda esta

adversidade, mantém um firme compromisso sócio ambiental

que tem sido reconhecido com uma série de premiações, ao

longo do tempo:

Rainforest Alliance Annual Cupping Contest

(2010), classificado entre os quatro melhores

cafés do mundo em avaliação da Certificadora

Rainforest Alliance durante a SCAA Exhibition de

Anaheim, EUA.

Prêmio Bunge Produtividade (2009), Prêmio

concedido pela empresa BUNGE-Brasil aos melhores

78

produtores agrícolas, pela melhor produtividade

em café no Brasil.

Outstanding Producer (2009), Prêmio concedido

pela SCAE - Associação de Cafés Especiais da

Europa.

Rainforest Alliance Annual Cupping Contest

(2009), Classificado entre os sete melhores cafés

do mundo em avaliação da Certificadora Rainforest

Alliance durante a SCAA Exhibition de Atlanta,

EUA.

Melhor lote de Café brasileiro (2008),

Classificado como melhor café brasileiro em

avaliação da Certificadora Rainforest Alliance

durante a SCAA Exhibition de Long Beach, EUA.

Melhor lote de Café brasileiro (2007);

Classificado como melhor café brasileiro em

avaliação da Certificadora Rainforest Alliance

durante a SCAA Exhibition de Minneapolis, EUA.

Prêmio Assis Chateaubriand de Responsabilidade

Social (2006), Concedido pela TV Alterosa e

Unifenas, como finalista com o Projeto Ciranda da

Leitura do Instituto Ipanema. com o Projeto

Ciranda da Leitura.

Prêmio Assis Chateuabriand de Responsabilidade

Social (2005), Concedido pela TV Alterosa e

Unifenas, com o Projeto Educação em Ação.

79

Prêmio Sustentabilidade Internacional (2004),

Conferido pela Specialty Coffee Association of

America.

Prêmio Voluntários das Gerais (2003), Melhor

projeto de incentivo ao voluntariado – DIA V, do

Estado de Minas Gerais – FIEMG.

Prêmio Voluntários das Gerais (2002); Entre os

três melhores projetos de incentivo ao

voluntariado – Dia V, do Estado de Minas Gerais.

Prêmio Especial Gold Cup of Excellence (2002);

Finalista do Concurso de Qualidade Cafés do

Brasil, pela 2ª vez consecutiva.

Prêmio Especial Gold Cup of Excellence (2001),

Finalista do Concurso de Qualidade Cafés do

Brasil.

Assim, entendemos que tanto em razão da atividade por

ela ocupada, a cafeicultura, quanto de seu declarado

compromisso com o meio ambiente, esta empresa seria ideal

para ilustrar os impactos que uma empresa do agronegócio

experimenta ao buscar ficar compliance com a legislação

florestal brasileira.

Criada em 1969, a Ipanema Coffees é uma empresa

brasileira focada na comercialização e produção de cafés

especiais, sendo hoje uma das mais reconhecidas produtoras

de café do mundo, presente em mais de 20 países.

80

As empresas que compõem a Ipanema Coffees são: Ipanema

Agrícola S.A., Empresa de produção agrícola, especializada

no segmento de cafés especiais com unidades de produção na

região do Sul de Minas, a mais tradicional e reconhecida

região produtora do Brasil, nos municípios de Alfenas,

Machado e Conceição do Rio Verde; Ipanema Comercial e

Exportadora S.A.. Empresa comercial responsável pela

comercialização de café verde e industrializado, tanto para

mercado externo, como para mercado interno e Instituto

Ipanema, Empresa sem fins lucrativos responsável pela

condução dos programas sociais e ambientais das empresas.

Ipanema Agroindústria S.A. nasceu em 1969, como

Condomínio Aliança, quando os três fundadores, Carlos

Moacir, Luiz Cyrillo e Julio Bozano desembarcaram da cidade

de Alfenas, Minas Gerais, típica cidade do interior

mineiro, circundada pelo lago de Furnas buscando,

inicialmente, terras para investir no setor de laranja, mas

visualizaram um grande projeto não só em laranja, mas

principalmente em café. A fase de aquisição de terras,

implantação das lavouras de café e citros e a montagem de

infra-estrutura agroindustrial se estenderam de 1970 a

1986, quando a empresa atingiu a impressionante marca de

3.000 hectares de café e 3.000 hectares de citros. Nascia

assim a maior produtora de laranja de Minas Gerais e a

maior fazenda de café do mundo.

Consolidado o parque de produção a empresa partiu para

a montagem da estrutura de preparo de cafés especiais e a

estruturação de sua área comercial. Esta fase vai de 1987 a

81

1990. Aproveitando as oportunidades surgidas com a abertura

de mercado e o fim das restrições de exportação do então

IBC, em 1991, a empresa inicia sua fase exportadora com seu

primeiro embarque direto da fazenda para um cliente

estrangeiro. Ao longo de 20 anos de atuação a empresa

atinge a marca histórica de mais de 1.000.000 de sacas de

cafés especiais exportadas diretamente da fazenda, para

mais de 15 países. Em 2006, a Cia Bozano deixa o quadro de

acionistas da empresa, possibilitando a entrada do Grupo

Gávea Investimentos e Grupo Paraguaçu. Novo plano

estratégico é traçado e a empresa se estrutura para a sua

internacionalização que culmina com a entrada do Grupo

norueguês Friele em 2008. Em 2009 e 2010, a empresa fecha

acordos comerciais que abriram as portas da Coréia e da

China, para a entrada dos cafés especiais exclusivos da

empresa.

O pioneirismo da Ipanema na busca por certificação de

seu café, foi o grande responsável pela profunda mudança

que a cafeicultura brasileira sofreu depois de 2002. A

participação da Ipanema no processo de adaptação para a

cultura de café, do Código de Boas Práticas Agrícolas

Europeu - EUREPGAP, gerou e suscitou a profunda alteração

na postura das empresas produtoras brasileiras a partir de

então.

Em 1997, a Ipanema foi auditada e certificada em todos

os seus processos de beneficiamento e preparo pela CSC-

Caffè Speciali Certificati, tornando-se a primeira empresa

82

brasileira a embarcar cafés especiais certificados para o

mercado italiano.

Em 2002, a Ipanema alcançava o status da primeira

empresa brasileira a ser certificada pelo código Eurep-Gap

e pelo código UTZ Kapeh.

Em 2003, após recomendação da empresa de auditoria

independente British Institute, a Ipanema Coffees tornava-

se a primeira empresa sul-americana a obter a certificação

do programa Starbucks Preferred Suppliers. Em 2005, o

código é reavaliado e rebatizado com o nome C.A.F.E

Practices.

Em 2004, a Ipanema Coffees entrava para o seleto grupo

de fazendas certificadas segundo o programa Rainforest

Alliance, após rígido processo de auditoria conduzida pela

certificadora Imaflora.

Formulamos as seguintes perguntas à empresa (APÊNDICE

I):

1. A empresa mantém equipe própria específica dedicada

para cuidar das suas questões ambientais? Em caso positivo

favor descrever sua organização.

2. A empresa mantém contrato com terceiros para a

gestão de suas questões ambientais? Em caso positivo favor

descrever as atribuições do contratado.

3. Em caso de resposta positiva às questões

anteriores, favor indicar os custos anuais respectivos e a

respectiva participação nos custos totais da empresa.

83

4. A empresa já foi notificada ou inspecionada por

órgãos de fiscalização ambiental?

5. A empresa já sofreu alguma autuação por infração

ambiental? Em caso positivo favor informar valores e se foi

apresentada defesa e seu resultado e custos envolvidos.

6. Quais as medidas adotadas pela empresa para ficar

compliance com a legislação ambiental brasileira?

7. A empresa mantém áreas de reserva legal em suas

propriedades? Em caso afirmativo, qual o percentual em

relação ao total da propriedade?

8. Houve necessidade de recomposição da área de

reserva legal ou de aquisição de terras para sua

complementação? Em caso afirmativo favor informar os custos

envolvidos.

9. As áreas de reserva legal estão averbadas?

10. Qual o custo incorrido pela empresa para a

averbação das áreas de reserva legal?

11. As propriedades da empresa têm áreas de proteção

permanente? Qual o percentual ocupado por estas áreas em

relação ao tamanho total das propriedades da empresa?

12. A empresa tem produção de café em área de encosta

ou de declividade? Qual a produtividade dessa área, por

hectare, e qual a participação percentual na produção final

da empresa.

84

13. Qual a produtividade, por hectare, das áreas

produtivas das propriedades da empresa.

14. Qual a participação, em percentual, do custo da

terra, na composição do custo total da produção de café da

empresa? Qual a participação das áreas de reserva legal e

APPs neste custo?

15. Qual a política da empresa em relação aos

defensivos agrícolas e suas embalagens.

16. Alguma observação complementar que a empresa

gostaria de fazer?

Antes de analisarmos as respostas gentilmente

fornecidas pela empresa, é preciso se fazer uma breve

exposição do setor cafeicultor.

O Brasil é o maior e mais importante produtor de café

do mundo, apresentando notável diversidade no cinturão

cafeeiro, bem como em qualidades e modelos tecnológicos, o

que, consequentemente, gera custos de produção bastante

díspares. Além disso, o País é o maior exportador e segundo

maior consumidor mundial desta commodity, caminhando a

passos largos para assumir a liderança na quantidade de

bebida consumida (cf. Paulo André Colucci Kawasaki. Um

Raio-X da Cafeicultura Brasileira in Agroanalysis, out.

2009. Pág. 20).

A despeito da sua importância como produtor e

exportador, o Brasil é tomador de preços no café uma vez

que os novos estoques passaram a ser formados nas nações

85

importadoras, transferindo para elas o poder de formação de

preços, o que acentuou o desequilíbrio entre oferta

pulverizada e demanda oligopolizada, uma vez que os

principais consumidores são países desenvolvidos e que

concentram a pequena elite das indústrias torrefadoras

mundiais (Nestlé, Kraft Foofs, Sara Lee, Folgers, Tchibo e

Starbucks).

Enquadrado nessa nova situação de livre mercado, o

Brasil passou a sofrer com a disparada dos custos de

produção e a estabilização dos preços no mercado físico,

situação agravada pela valorização do real perante o dólar.

Este cenário foi o responsável pela queda de

rentabilidade das lavouras de café nos últimos anos, ainda

que a cotação da commodity tenha se valorizado desde o

final de 2010, especialmente para o café arábica, como

demonstram os gráficos abaixo.

86

Os custos da produção do café, calculados pela CONAB,

para a safra 2008/2009, para a região de Guaxupé, próxima a

Alfenas, foi de R$246,10 por saca de 60Kg, considerada uma

produtividade média de 25 sacas por há, quando a cotação

máxima naquela safra pagou aproximadamente R$290,00 por

saca.

Ainda assim, o cafeicultor brasileiro apresenta grande

produtividade em sua cultura, atingindo na média nacional

23,16 sacas de 60Kg por ha e uma média de 24,99 sacas/ha em

Minas Gerais no ano de safra cheia.

Lembramos que na metodologia de cálculo de custo de

produção agrícola da CONAB (cf. no Anexo I o modelo

utilizado para o café na safra 2008/2009) a remuneração da

terra é de 3,90%, considerando que os pólos cafeicultores

estão nas regiões de terra mais valorizadas no Brasil.

A seguir passamos a analisar a resposta que a empresa

generosamente nos forneceu.

87

1. A empresa mantém equipe própria específica dedicada

para cuidar das suas questões ambientais? Em caso positivo

favor descrever sua organização.

Resposta: A Empresa mantém uma Gestão Técnica Agrícola que é

responsável também pelas questões relacionadas á parte ambiental, também

há uma Diretoria Administrativa e Jurídica que cuida da parte da Legislação

Ambiental.

2. A empresa mantém contrato com terceiros para a

gestão de suas questões ambientais? Em caso positivo favor

descrever as atribuições do contratado.

Resposta: A Empresa utiliza alguns assessores na área Ambiental

- assessor para acompanhamento das Normas de Certificação

Ambiental: auditorias, implantação das mudanças das normas, treinamento –

assessoria de dois dias a cada 3 meses

- assessoria para recuperação de áreas de vegetal, plantio de árvores,

adubação, condução e manejo, e relatórios específicos de acompanhamentos

para os órgãos ambientais – assessoria de um dia por mês

3. Em caso de resposta positiva às questões

anteriores, favor indicar os custos anuais respectivos e a

respectiva participação nos custos totais da empresa.

Resposta: Custos

- assessoria de acompanhamento das Normas – R$ 2.250,00/ano

- assessoria de manejo de florestas – R$ 6.000,00/ano

88

Estes custos estão inseridos em um orçamento médio anual de R$

20.000.000,00 corresponde a tudo que se gasta para uma produção média de

100.000 sacas de café/ano

4. A empresa já foi notificada ou inspecionada por

órgãos de fiscalização ambiental?

Resposta: A Empresa já foi notificada pelo órgão ambiental, foi

necessário fazer o processo de Licenciamento Ambiental, as inspeções foram

feitas durante o processo de Licenciamento.

5. A empresa já sofreu alguma autuação por infração

ambiental? Em caso positivo favor informar valores e se foi

apresentada defesa e seu resultado e custos envolvidos.

Resposta: Não houve infração devido aos prazos para obtenção do

Licenciamento ter sido cumprido.

6. Quais as medidas adotadas pela empresa para ficar

‘compliance’ com a legislação ambiental brasileira?

Resposta: A Empresa teve de se adequar Ambientalmente tendo sido

feito:

- compra de uma área para completar a área de Reserva Legal

- recomposição de áreas (plantio) após o levantamento

- levantamento de todos os resíduos gerados pela Empresa e adequação

o seu destino correto

- registro dos recursos renováveis (água) utilizado nos processos

- outorgas onde necessárias

89

7. A empresa mantém áreas de reserva legal em suas

propriedades? Em caso afirmativo, qual o percentual em

relação ao total da propriedade?

Resposta: Sim, a Empresa mantém reserva Legal – 20,24% da área

total

8. Houve necessidade de recomposição da área de

reserva legal ou de aquisição de terras para sua

complementação? Em caso afirmativo favor informar os custos

envolvidos.

Resposta: Sim, houve necessidade da compra de 251 ha, num valor

total de R$ 350.000,00

9. As áreas de reserva legal estão averbadas?

Resposta: Sim, todas as áreas estão averbadas.

10. Qual o custo incorrido pela empresa para a

averbação das áreas de reserva legal?

Resposta: Além da compra das terras foram gastos R$ 335.482,00

referente a todas as adequações dentro da Empresa, registros, estudos.

11. As propriedades da empresa têm áreas de proteção

permanente? Qual o percentual ocupado por estas áreas em

relação ao tamanho total das propriedades da empresa?

Resposta: Sim, a Empresa possui 10,45% de Áreas de Preservação

Permanente.

Área Total 6.097,60 ha 100%

Reserva Legal 1.234,08 ha 20,24%

90

APP 636,94 ha 10,45%

Café 3.710,22 ha 60,85%

Outros –

eucalipto/milho/centr

o de serviços

516,36 ha 8,46%

12. A empresa tem produção de café em área de encosta

ou de declividade? Qual a produtividade dessa área, por

hectare, e qual a participação percentual na produção final

da empresa.

Resposta: Não, a Empresa não possui cafés em áreas de encosta,

houve necessidade da erradicação de cafés nas áreas de APP ao redor de

nascente e da represa de Furnas.

13. Qual a produtividade, por hectare, das áreas

produtivas das propriedades da empresa.

Resposta: A Empresa possui 3.400 há de área de café (área útil),

produzindo uma média de 30 sacas de 60 kg/ha, numa média de 100.000 sacas

de café a cada ano.

14. Qual a participação, em percentual, do custo da

terra, na composição do custo total da produção de café da

empresa? Qual a participação das áreas de reserva legal e

APPs neste custo?

Resposta: No custo da Empresa não é considerado o custo da terra,

também não é considerado o custo da Reserva Legal e APP´s.

15. Qual a política da empresa em relação aos

defensivos agrícolas e suas embalagens.

91

Resposta: Todas as embalagens de defensivos agrícolas são lavadas

(tríplice lavagem) furadas e são destinadas as usinas de reciclagem regionais,

mesmo antes de a Legislação entrar em vigor cobrando o destino correto das

embalagens a Empresa já exigia que os fornecedores de defensivos indicassem

no ato da compra o destino das embalagens.

16. Alguma observação complementar que a empresa

gostaria de fazer?

Resposta: A Empresa possuiu os certificados Rainforest, Utz Kapeh e

Starbucks, estes selos incentivaram a recuperação das RL e APP mesmo antes

da Legislação Nacional aprimorar o código. A recuperação e preservação das

áreas ambientais é compensador, mas achamos que para empreendimentos

que foram estabelecidos antes da legislação fosse dado um prazo maior para a

adequação.

Das respostas fornecidas podemos inferir as seguinte

informações importantes para este trabalho:

A empresa trabalha com um custo por saca planejado de

R$200,00 por saca e atinge índices de produtividade de 30

sacas por ha. Vê-se que a empresa conseguiu otimizar seus

custos e sua produtividade operando com valores menores do

que o estimado pela CONAB para aqueles e com resultados

superiores à média da sua região em relação a esta última.

Tais resultados devem-se inegavelmente à gestão

empresarial e ao investimento em tecnologia de ponta na

produção.

Chama nossa atenção que, conquanto os custos com

assessoria de acompanhamento de normas (compliance) e de

92

manejo florestal estejam incluídos no custo da produção, a

empresa informa que não incluir nesses mesmos custos aquele

referente à terra (e, dentro desta conta, consequentemente,

o custo das áreas improdutivas).

De toda sorte, temos que o investimento total da

empresa para ficar compliance com a legislação florestal foi

de R$ 685.482,00.

A este desembolso, deverá ser somado o custo de

oportunidade referente aos 1.234,08 ha de RL (sem considerar

as APPs de encosta de morro em que a Empresa deixou de

cultivar café).

No primeiro caso, tomando-se por paradigma o

investimento de Notas do Tesouro Nacional indexados ao

IPCA13, tem-se o custo de oportunidade equivalente a 5,07%

a.a.

Com relação á RL, sem nos preocuparmos em

precificarmos o valor da terra e calcularmos o custo de

oportunidade financeira, segundo o mesmo critério acima

utilizado, podemos calcular a quantidade de sacas que

deixaram de se produzidas, considerando a produtividade da

área agricultável e chegaremos ao total de 37.022,4 sacas.

Se tomarmos por base o custo da produção informado

pela empresa de R$200,00 por saca e o preço de venda de

13 Utilizamos a NTNB Principal 150515 com vencimento para 15/05/2015, cotação de 09/09/2011. Cf. http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro_direto/consulta_titulos/consultatitulos.asp

93

R$511,0014, termos uma margem de contribuição de R$311,00

por saca, o que implicaria em um custo de oportunidade para

a RL de, aproximadamente, R$11.5139.66,40.

Obviamente estes números são expressivos e evidenciam

a efetiva contribuição da empresa para o meio ambiente.

Fica igualmente evidente que o custo de oportunidade

da empresa é diretamente proporcional à sua produtividade

e, portanto, à sua eficiência.

Sabendo-se que a empresa estudada não representa a

maioria dos produtores de café (dada a pulverização desta

produção e a heterogeneidade das UPAs na cultura do café),

destacando-se, como já dito anteriormente, por sua gestão

empresarial, alta produtividade e controle de custos, é o

caso de se perguntar como impactará o cumprimento da

legislação florestal e estes outros produtores.

Inegavelmente não serão todos que poderão imobilizar

parte de seu ativo circulante em novas terras para

completar a área de Reserva Legal. Poucos mesmos poderão

abrir mão de suas culturas em encostas de morro, área de

proteção permanente.

A conta fica ainda mais sensível quando acrescentamos

os custos de recuperação de áreas degradadas, o que, no

nosso estudo de caso não foi necessário.

O fato é que o custo da preservação de um bem de

todos, o meio ambiente saudável, está posto como ônus14 Cotação em 09/09/2011 segundo o Centro do Comércio do Café de Minas Gerais. Cf. http://www.cccmg.com.br/cotacaocafe2.asp?codigo=3189

94

exclusivo do produtor, ainda que os benefícios sejam de

toda a sociedade.

95

6. CONCLUSÕES

O que pode ser feito para conciliar a legalidade da

produção com a conservação da vegetação natural e o

desenvolvimento da agropecuária?

De pronto é preciso repensar o marco legal regulatório

do uso e proteção das florestas visando a) melhorar sua

eficácia, b) resolver o problema dos passivos já existentes

e com isto viabilizar sua aplicabilidade, e c) garantir que

ele seja cumprido no futuro.

Repensar o Código Florestal, como estamos vendo em

relação ao Projeto de Lei 1.876/99 não é um exercício fácil

e a principal dificuldade é a diversidade de situações

existentes, mas é uma tarefa á qual a presente geração não

se pode furtar sob pena de ver-se em débito com as gerações

futuras.

Outro caminho a ser necessariamente trilhado é o da

repartição do ônus da preservação ambiental com toda a

sociedade por ela beneficiada criando-se meios eficazes de

pagamento ao produtor pelos chamados serviços ambientais,

aí incluída a manutenção de vegetação nativa, além de

mercados fortes e ativos que estimulem o reflorestamento

e, principalmente, o florestamento, para além do manejo

florestal.

96

Evitar a degradação e revisar o Código Florestal de

maneira que ele possa melhorar sua eficiência nos parece

ser o caminho, provavelmente não o mais fácil, mas

provavelmente o mais responsável (SPAROVECK et al, pág. 7).

O que não se pode fazer é ignorar que a realidade

atual é perversa ao produtor e que pode criar obstáculos

sérios ao cumprimento pelo Brasil, de sua missão de

alimentar o mundo.

97

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Iniciative. Brasília. 2010

SPAROVEK, G. Reflexões preliminares sobre o novo Código

Florestal. 2010. Disponível em: <

http://www.scribd.com/doc/32920361/OpNewCF-100610-v1>.

Acesso em: 06 de setembro de 2011

SPAROVEK, G.; BARRETTO, A.; KLUG, I.; BERNDES, G.

Considerações sobre o Código Florestal brasileiro.

Disponível

em:<http://www.scribd.com/doc/32533526/Consideracoes-Sobre-

o-CFlorestal>. Acesso em: 06 de setembro de 2011

The Economist: Brazilian agriculture: The miracle of the

cerrado. Brazil has revolutionised its own farms. Can it do the

same for others? 26/08/2010. Disponível em:

http://www.economist.com/node/16886442. Acessado em 08 de

setembro de 2011.

The Economist: Brazil's agricultural miracle. How to feed the

world. The emerging conventional wisdom about world farming is

gloomy. There is an alternative. 26/08/2010. Disponível em:

http://www.economist.com/node/16889019 . Acessado em 08 de

setembro de 2011.

102

APÊNDICES

Apêndice 1 – Correspondência enviada à empresa Ipanema Coffees

São Paulo, 28 de junho de 2011

À Diretoria

Ipanema Cofees

Rodovia BR 369,

Fazenda Conquista

Alfenas – MG

Ref.: Trabalho de Conclusão do Curso MBA em Gestão do

Agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas

Prezados Srs.:

Inicialmente gostaria de expressar minha

imensa gratidão e satisfação em poder encaminhar-lhes a

inclusa pesquisa para as providências de V. Sas.

Esclareço-lhes que meu trabalho de conclusão

do curso MBA em Gestão do Agronegócio pela Fundação Getúlio

Vargas tem por objeto de pesquisa o impacto da legislação

ambiental, especificamente o Código Florestal Brasileiro

vigente, sobre os custos no agronegócio brasileiro.

Sei que a empresa de V. Sas. está compliance com

a legislação ambiental e, por isso, gostaria de usar os

respectivos dados exclusivamente como estudo de caso para

minha monografia.

Peço-lhes a permissão para identificação da

empresa de V. Sas. em meu trabalho e a utilização,

igualmente, dos dados que constam de seu sítio eletrônico na

internet, para os fins de descrição de suas atividades e

103

organização, em complemente aos dados solicitados na

pesquisa anexa.

Agradeço-lhes, uma vez mais, a atenção que me

foi dispensada, colocando-me à disposição de V. Sas. para

quaisquer esclarecimentos que se façam necessários.

Atenciosamente

Frederico Favacho

PESQUISA

1. A empresa mantém equipe própria específica dedicada para

cuidar das suas questões ambientais? Em caso positivo favor

descrever sua organização.

2. A empresa mantém contrato com terceiros para a gestão de

suas questões ambientais? Em caso positivo favor descrever

as atribuições do contratado.

3. Em caso de resposta positiva às questões anteriores, favor

indicar os custos anuais respectivos e a respectiva

participação nos custos totais da empresa.

4. A empresa já foi notificada ou inspecionada por órgãos de

fiscalização ambiental?

5. A empresa já sofreu alguma autuação por infração ambiental?

Em caso positivo favor informar valores e se foi apresentada

defesa e seu resultado e custos envolvidos.

6. Quais as medidas adotadas pela empresa para ficar compliance

com a legislação ambiental brasileira?

7. A empresa mantém áreas de reserva legal em suas

propriedades? Em caso afirmativo, qual o percentual em

relação ao total da propriedade?

8. Houve necessidade de recomposição da área de reserva legal

ou de aquisição de terras para sua complementação? Em caso

afirmativo favor informar os custos envolvidos.

9. As áreas de reserva legal estão averbadas?

104

10. Qual o custo incorrido pela empresa para a averbação das

áreas de reserva legal?

11. As propriedades da empresa têm áreas de proteção

permanente? Qual o percentual ocupado por estas áreas em

relação ao tamanho total das propriedades da empresa?

12. A empresa tem produção de café em área de encosta ou de

declividade? Qual a produtividade dessa área, por hectare, e

qual a participação percentual na produção final da empresa.

13. Qual a produtividade, por hectare, das áreas produtivas das

propriedades da empresa.

14. Qual a participação, em percentual, do custo da terra, na

composição do custo total da produção de café da empresa?

Qual a participação das áreas de reserva legal e APPs neste

custo?

15. Qual a política da empresa em relação aos defensivos

agrícolas e suas embalagens.

16. Alguma observação complementar que a empresa gostaria de

fazer?

105

Apêndice 2 – Resposta da empresa Ipanema Coffees às questõespropostas no Apêndice 1.

RESPOSTAS PESQUISA:

Resposta 1:

A Empresa mantém uma Gestão Técnica Agrícola que é

responsável também pelas questões relacionadas á parte

ambiental, também há uma Diretoria Administrativa e

Jurídica que cuida da parte da Legislação Ambiental.

Resposta 2:

A Empresa utiliza alguns assessores na área Ambiental

- assessor para acompanhamento das Normas de Certificação

Ambiental: auditorias, implantação das mudanças das

normas, treinamento – assessoria de dois dias a cada 3

meses

- assessoria para recuperação de áreas de vegetal, plantio

de árvores, adubação, condução e manejo, e relatórios

específicos de acompanhamentos para os órgãos ambientais –

assessoria de um dia por mês

Resposta 3:

Custos

- assessoria de acompanhamento das Normas – R$

2.250,00/ano

- assessoria de manejo de florestas – R$ 6.000,00/ano

Estes custos estão inseridos em um orçamento médio anual

de R$ 20.000.000,00 corresponde a tudo que se gasta para

uma produção média de 100.000 sacas de café/ano

Resposta 4:

A Empresa já foi notificada pelo órgão ambiental, foi

necessário fazer o processo de Licenciamento Ambiental, as

inspeções foram feitas durante o processo de

Licenciamento.

106

Resposta 5:

Não houve infração devido aos prazos para obtenção do

Licenciamento ter sido cumprido.

Resposta 6:

A Empresa teve de se adequar Ambientalmente tendo sido

feito:

- compra de uma área para completar a área de Reserva

Legal

- recomposição de áreas (plantio) após o levantamento

- levantamento de todos os resíduos gerados pela Empresa e

adequação o seu destino correto

- registro dos recursos renováveis (água) utilizado nos

processos

- outorgas onde necessárias

Resposta 7:

Sim, a Empresa mantém reserva Legal – 20,24% da área total

Resposta 8:

Sim, houve necessidade da compra de 251 há, num valor

total de R$ 350.000,00

Resposta 9:

Sim, todas as áreas estão averbadas.

Resposta 10:

Além da compra das terras foram gastos R$ 335.482,00

referente a todas as adequações dentro da Empresa,

registros, estudos.

Resposta 11:

Sim, a Empresa possui 10,45% de Áreas de Preservação

Permanente.

Área Total 6.097,60 ha 100%

Reserva Legal 1.234,08 ha 20,24%

APP 636,94 ha 10,45%

Café 3.710,22 ha 60,85%

107

Outros – eucalipto/milho/centro de serviços 516,36 ha

8,46%

Resposta 12:

Não, a Empresa não possui cafés em áreas de encosta, houve

necessidade da erradicação de cafés nas áreas de APP ao

redor de nascente e da represa de Furnas.

Resposta 13:

A Empresa possui 3.400 há de área de café (área útil),

produzindo uma média de 30 sacas de 60 kg/há, numa média

de 100.000 sacas de café a cada ano.

Resposta 14:

No custo da Empresa não é considerado o custo da terra,

também não é considerado o custo da Reserva Legal e APP´s.

Resposta 15:

Todas as embalagens de defensivos agrícolas são lavadas

(tríplice lavagem) furadas e são destinadas as usinas de

reciclagem regionais, mesmo antes de a Legislação entrar

em vigor cobrando o destino correto das embalagens a

Empresa já exigia que os fornecedores de defensivos

indicassem no ato da compra o destino das embalagens.

Resposta 16:

A Empresa possuiu os certificados Rainforest, Utz Kapeh e

Starbucks, estes selos incentivaram a recuperação das RL e

APP mesmo antes da Legislação Nacional aprimorar o código.

A recuperação e preservação das áreas ambientais é

compensador, mas achamos que para empreendimentos que

foram estabelecidos antes da legislação fosse dado um

prazo maior para a adequação.

108

Apêndice 3 - Declaração da empresa Ipanema Coffes paradivulgação de suas respostas.

109

ANEXOS

Anexo 1. Tabela Conab para custo de produção estimado de caféarábica

CUSTO DE PRODUÇÃO ESTIMADOCAFÉ ARÁBICA

CULTIVO SEMI ADENSADO SAFRA 2008/2009

LOCAL: GUAXUPÉ -MG25 scs - de 60 kg/ha

 A PREÇOS

DE:

18-abr-

08PARTICIPAÇÃO

DISCRIMINAÇÃO(R$/ha)

(R$/60

kg)(%)

 I - DESPESAS DE CUSTEIO DA LAVOURA 1 - Operação com avião 0,00 0,00 0,00% 2 - Operação com máquinas 132,50 5,30 2,15% 3 - Analise de solo ,Sacaria e

outros185,42 7,42 3,01%

4 - Mão-de-obra temporária (com

encargos sociais)1.727,78 69,11 28,08%

5 - Mão-de-obra fixa (com

encargos sociais)1.139,55 45,58 18,52%

7 - Mudas 0,00 0,00 0,00% 8 - Fertilizantes 1.158,30 46,33 18,83% 9 - Defensivos 411,50 16,46 6,69%TOTAL DAS DESPESAS DE CUSTEIO DA

LAVOURA (A)4.755,05 190,20 77,29%

II - DESPESAS PÓS-COLHEITA 1 - Transporte externo 28,67 1,15 0,47% 2 - Recepção, limpeza, secagem e

armazenagem 30-d0,00 0,00 0,00%

3 - PROAGRO 0,00 0,00 0,00% 4 - Assistência Técnica 0,00 0,00 0,00%Total das Despesas Pós-Colheita (B) 28,67 1,15 0,47%III - DESPESAS FINANCEIRAS 1 - Juros 97,80 3,91 1,59%Total das Despesas Financeiras (C) 97,80 3,91 1,59%CUSTO VARIÁVEL (A+B+C = D) 4.881,52 195,26 79,34%

110

IV - DEPRECIAÇÕES 1 - Depreciação de

benfeitorias/instalações65,11 2,60 1,06%

2 - Depreciação de implementos 7,63 0,31 0,12% 3 - Depreciação de máquinas 24,00 0,96 0,39% 4 - Depreciação da cafezal 743,69 29,75 12,09%Total de Depreciações (E) 840,43 33,62 13,66%V - OUTROS CUSTOS FIXOS 1 - Manutenção periódica de

máquinas11,52 0,46 0,19%

2 - Seguro do capital fixo 9,16 0,37 0,15%Total de Outros Custos Fixos (F) 20,68 0,83 0,34%Custo Fixo (E+F = G) 861,11 34,44 14,00%CUSTO OPERACIONAL (D+G = H) 5.742,63 229,71 93,34%

VI - RENDA DE FATORES 1 - Remuneração esperada sobre

capital fixo146,92 5,88 2,39%

2- Remuneração esperada sobre o

cafezal22,94 0,92 0,37%

3 - Terra 240,00 9,60 3,90%Total de Renda de Fatores (I) 409,86 16,39 6,66%CUSTO TOTAL (H+I = J) 6.152,50 246,10 100,00%

CONAB/DIGEM/SUINF/GECUP