Comunitários da Comunidade do Sobrado. Manejo do Arumã no baixo rio Negro: uso tradicional de um...

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Manejo do Arumã

Manaus • 2006

Conselho Curador da FVA

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Equipe da FVAFalta...

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Nomes

Produção do Texto

Erika M. NakazonoConsultora da Fundação Vitória Amazônica

Sócios e familiares da Associação de Artesão de Novo AirãoAntônia Batista

Carlito Freitas dos SantosCezarina Fragoso

Edinaldo Viana de AlmeidaEliene Clemente dos Santos

Elzilene Barbosa da SilvaFrancimara Ribeiro do Nascimento

Francisca Viana de AlmeidaFrancisco Alberto

Luciane Araújo VianaMaria Francisca Cardoso Leite

Maria Derli ClementeSebastiana Fragoso de Souza

Sergio Augusto ChavesSimone Castro da Silva

Moradores da Comunidade do SobradoDenison Sarmento Alves

Eugênio Saraiva de AlmeidaFrancisca Edini de Souza Santos

Inês Barbosa LopesMárcia Alves Ribeiro

Pedro FerreiraRomualdo Lopes da Silva

Raimunda Monete dos Santos AlvesSebastião Fernandi Cavalcanti

FotografiasErika M. Nakasono

Produção GráficaMarcos Roberto Pinheiro

Copyright © FVA -2006

P654 Nakazono, Erika M.Manejo do Arumã no Baixo Rio Negro: Uso tradicional de um produtoflorestal não madeireiro no artesanato de fibras vegetais/ Erika M. Nakazono. - Manaus : FVA, 2006.28p.; il.

1. Arumã. 2. Manejo dos Recursos Naturais I. Título. II. Série. CDU: 502.4 (811.3)

Proibido a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização prévia daFundação Vitória Amazônica, para a qual os direitos estão reservados.

Fundação Vitória AmazônicaRua R/S, Quadra Q, Casa 7 - Morada do Sol, Aleixo

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Ficha Catalográfica elaborada por Maria Edna Freitas da Costa CRB/11-104

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Ficha

Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8A Associação de Artesãos de Novo Airão . . . . . . . . . . . . 10Os produtos da AANA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12O arumã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14O manejo do arumã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Local do manejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18Limpeza dos igarapés . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19Levantamento da densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20Critérios para a extração do arumã . . . . . . . . . . . . . . . . . 23Ciclos de corte do arumã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24Comercialização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

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Apresentação

A Fundação Vitória Amazônica – FVA, buscando implementar açõesfocadas na construção de modelos participativos de manejo dosrecursos naturais na bacia do rio Negro, gerou, no início dos anos90, um processo de discussão em torno do manejo de produtosflorestais não madeireiros e seu potencial de geração de renda. Esteprocesso culminou no aparecimento do Projeto Fibrarte e no suportea um grupo de artesãs e artesãos, que em 1996 formaria a Associaçãode Artesãos de Novo Airão – AANA.

A principal meta do Projeto Fibrarte é possibilitar alternativas degeração de renda para as populações da bacia do rio Negro atravésda atividade tradicional de produção de artesanato em fibras vegetaiscom base no manejo responsável das matérias-primas e práticasjustas de comercialização. O papel do Projeto Fibrarte é ser uminstrumento de organização do grupo envolvido possibilitando aafirmação de sua identidade e cultura.

As atividades de assessoria da FVA junto à AANA ao longo dosúltimos anos possibilitaram o desenvolvimento de ações de incentivoe capacitação para a produção, identificação de canais decomercialização, organização para o associativismo e o exercícioda cidadania. Mais recentemente, a partir do ano de 2000, foraminiciadas atividades de assessoria técnica visando a implementaçãodo manejo do arumã e seu monitoramento, coordenada pela biólogaErika Nakazono.

No cenário em que se encontra o município de Novo Airão, comgrande parte de sua área e área de entorno composta por Unidadesde Conservação, o manejo do arumã tornou-se uma das estratégiasmais viáveis para a manutenção da atividade do artesanato da AANA.Mesmo enfrentando várias dificuldades a Associação temconquistado reconhecimento nacional e internacional que se traduzno apoio de diversos setores governamentais e não governamentaisque permitem a viabilização de suas atividades e participação emeventos, feiras nacionais e internacionais, e na conquista de prêmios.

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A AANA contribui ainda na construção de ações de cidadania quandoatua junto a outros grupos e atores locais. Teve papel importante naformação em 2004 de uma rede de organizações em Novo Airãoque, inclui além da AANA,o Sindicato de Trabalhadores Rurais, aAssociação de Pescadores de Novo Airão (APNA), a comunidadeBom Jesus do Puduari e a comunidade do Aracari. Juntos, estesgrupos têm buscado estabelecer um diálogo em torno do usoadequado dos recursos naturais no âmbito do município. Atualmente,a AANA tem lutado pelo direito de uso e manejo do arumã nosigarapés próximos de Novo Airão, assim como, busca desenvolveruma cadeia comercial para uma melhor inserção de seus produtosem um mercado crescente e competitivo.

Acreditamos que ainda há muito a ser trilhado pela construção deum modelo local de desenvolvimento que inclua a gestão participativadas Unidades de Conservação e seus recursos naturais associadaao desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida dascomunidades na bacia do rio Negro. O trabalho desenvolvido pelaAANA tem sido fundamental neste processo.

Carlos César DuriganCoordenador Geral da

Fundação Vitória Amazônica

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Bom dia, meu nome éPaulo e estava reparando

nessa casa grande.O que é aqui?

Bom dia, meu nome éMaria e aqui é a nossaCentral de Artesanato.

Nós somos artesãs e tecemos com fibrasvegetais, e aqui é a sede da nossa

Associação, a AANA.

ANA, quem é essa?

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Sr. Paulo, desculpe, AANA querdizer “Associação dos Artesãos de

Novo Airão”.

Sei, e desde quando existe a AANA?

Desde 1996, quando fundamos anossa Associação. Mas o início de tudomesmo começou em 1994, quando umgrupo de mulheres artesãs que teciamcom fibras vegetais se reuniram para

trabalhar em grupo.

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E que história é essa de fibras vegetais?Que tipo de artesanato vocês produzem?

São as matérias-primas que obtemosdas plantas, como o arumã, o cipó-ambé, a palha do tucumã e outras.

Nós produzimos vários produtos, como otupé, balaio, luminária, abano, chapéu,cesto, bolsa de mercado... mas um dos

nossos principais produtos é o tupé.

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O que é tupé?

É um tapete feito com a fibra do arumã.

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Arumã

Planta herbácea, rizomatoza, caulescente, de tamanho médioa grande, que cresce em locais alagados.Espécie – Ischnosiphon polyphyllus.Família – Marantaceae.Ocorrência – florestas de igapó.

Existem diferentes espécies de arumã, Ischnosiphon spp.O arumã é utilizado por várias comunidades indígenas etradicionais, sendo a base para o artesanato eutensílios de muitas famílias.Exemplos de populações indígenas:

Baniwa - Alto Rio Negro, São Gabriel da CachoeiraTicuna - Alto Solimões, Tabatinga

Flor do arumã Talos maduros de arumã

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A espécie de arumã se apresenta sob a forma de touceira.Cada touceira é composta por vários talos em diferentesestágios de vida que são classificados pelos artesãos como:broto, “olho” (jovem) e maduro. Para a pesquisa sobre omanejo, classifica-se o arumã da seguinte forma:

- Touceira: distância entre os talos no solo é igual oumenor que 20 cm.

- Broto: talo novo sem ramificação foliar na extremidadee com altura máxima igual a 1,0 m.

- “olho” (jovem): talo novo com altura superior a 1,0 m ecom até quatro folhas na extremidade (base do talo nosolo de cor avermelhada).

- Maduro: talo com ramificação foliar na extremidade ecom altura superior a 1,0 m. O talo maduro pode serfino (DAB - Diâmetro Altura da Base, 15 cm do solo,menor ou igual a 1,5 cm), ou grosso (DAB maior que1,5 cm).

- Ramo fino - talo maduro fino com altura menor ou iguala 1,0 m e com DAB menor que 1,5 cm; ramo fino não écontado no levantamento de densidade de arumã.

Touceira de arumã

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Onde vocês conseguem o arumã?

Ah Sr. Paulo, você nem imagina, nósfazemos o manejo do arumã, e coletamos

nos igarapés próximos da cidade.

Manejo? Ah sei, manejo é uma forma detirar a planta sem destruir a natureza,

certo? Como o manejo da madeira para aconservar nossas florestas da Amazônia.

É isso mesmo Paulo, nós fazemos omanejo do arumã para conservar a planta,para que ela não acabe e nem prejudique

o meio ambiente.

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Quando achamos oarumanzal e

decidimos que a áreaé boa para coletar oarumã, convocamosuma reunião com a

comunidade próximapara informar donosso trabalho.

Como é o manejo do arumã?

O manejo do arumã envolve váriasetapas, vou tentar resumir para o Sr.:

Primeiro temos que achar o igarapé quetem bastante arumã.

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Os igarapés em que estamos fazendo o manejoestão localizadas em Área de Proteção Ambiental -

APA da Margem Direita do Rio Negro.E, com o manejo, nós conseguimos a autorização

do IPAAM e IBAMA.

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Mapa

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Bom, para iniciar o trabalho no arumanzalprecisamos, antes de mais nada, “limpar oigarapé”. Ou seja, tirar os troncos e galhoscaídos no canal, para que a gente consiga

chegar até o arumanzal de canoa...

Depois, demarcamos a área do arumanzal pararealizar o levantamento de densidade.

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Desculpe Maria, mas o que élevantamento de densidade?

É para sabermos a quantidade de arumã.A gente marca algumas áreas para

contar as touceiras do arumã. Isso éimportante para a nossa pesquisa sobreo manejo, para a gente acompanhar o

crescimento das plantas após as coletas.

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Densidade = QuantidadeO levantamento de densidade do arumã é realizado parasaber a quantidade de arumã que existe em umadeterminada área.Antes de realizar as coletas de arumã no igarapé, é precisosaber quanto tem de arumã nesse arumanzal. Para isso,demarca-se a área do arumanzal. Acompanhando a beira docanal, caminha-se com uma trena para medir a extensão doarumanzal. Após obtida a medida da extensão do arumanzal,marca-se os “transectos”.Transectos são áreas marcadas no arumanzal para contaras touceiras de arumã. Essas áreas são utilizadas tambémpara realizar os monitoramentos anuais.

Francimara (AANA) Eugênio e Denison(Comunidade do Sobrado)

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Sim, e essa pesquisa, como faz?

A gente tem a assessoria detécnicos especialistas na área.

Atualmente temos uma Bióloga.

E depois de contar o arumã?

Daí nós podemos fazer a coletado arumã, mas também temos

que seguir os critérios de corte domanejo: só cortar metade dos

talos maduros e retirar apenas um“olho” de cada touceira.

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Critérios de extração dos talos de arumã- Em cada touceira conta-se o total de talos maduros

(grossos + finos). Desse total coleta-se a metade.Por exemplo: se uma touceira tem 10 talos, tira-se apenas5 talos maduros. Se for número ímpar, 7 talos, arredonda-se para cima, coletando-se 4 talos;

- O mínimo de talos que pode ficar na touceira é igual a 2.Se a touceira tem 3 talos, só pode coletar 1.

- Somente 1 “olho” é coletado por touceira, não importa sea touceira tenha 2, 3 ou 4 “olho”, somente 1 “olho” portouceira é retirado;

- A altura do corte dos talos é de aproximadamente 30 cmdo solo.

A coleta de arumã ocorre somente no período da seca,quando os igapós não estão mais alagados. Esse período

varia conforme o tamanho e local do igarapé, masgeralmente inicia por volta de agosto e vai até abril do

próximo ano. Se o período da seca for muito forte, o queacontece por volta dos meses de novembro e dezembro, ficamuito difícil fazer a coleta de arumã. Isso porque, o canal do

igarapé fica muito seco e não é possível chegar de canoaaté os locais de coleta.

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Nossa que interessante...

Oi Lourdes, você chegou em boa hora,deixa-me apresentar o Paulo. Ele tá querendosaber sobre a atividade do manejo do arumã.

Bom dia Sr. Paulo, eu sou a Lourdes, acoordenadora do manejo do arumã da AANA.

Bom dia Sra., a Maria estava me contandoos critérios de extração dos talos do arumã...

E depois disso, vocês podem coletararumã de novo nesses locais?

Não Sr. Paulo, no momento estamos adotando o ciclode 3 anos para o corte, isto é, somente após 3 anos

voltamos na mesma área para coletar o arumã. Por issotemos que procurar mais igarapés para fazer o manejo,

para que nós possamos ter mais áreas para coletarenquanto as outras estão em período de “descanso”.

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Sim Sr. Paulo, mas a gente tem umgrupo de coletores sócios da AANA,

geralmente os maridos de nossas artesãs,que estão capacitados para fazer o manejo.Eles sabem a forma de coleta do arumã, os

locais certos, etc...

Após feita a coleta, os coletores entregamos feixes de arumã em Novo Airão, para adiretoria da AANA, e preenchem a ficha decoleta para o controle da Associação. Na

ficha, a gente anota o número total de taloscoletados e o local utilizado.

Realmente são muitos detalhespara fazer o trabalho...

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A certificação florestal, de produtos madeireiros e nãomadeireiros, é uma forma de valorizar os produtos florestaisque são comercializados no mercado.Se esses produtos empregarem sistemas de manejoadequados, com equidade social e sendo economicamentejusto para as pessoas envolvidas no trabalho, oempreendimento ganha um “selo verde”.O selo verde é uma garantia para o consumidor de que oproduto provém de uma atividade que respeita o meio ambiente.As formas alternativas do mercado que valorizam produtosflorestais que provém de povos tradicionais e indígenastendem a atender a demanda de consumidores ecológicos(mercado verde, mercado justo, etc.). Esse consumoconsciente deve considerar inserido no valor final do produtoo aspecto étnico e/ou sociocultural de cada povo, assimcomo o caráter inerente da conservação da biodiversidade.

Para se ter maior clareza sobre o ciclo de extração igual a3 anos, é preciso dar prosseguimento às pesquisas emonitoramento das áreas de coleta para compreendermelhor a magnitude do impacto da atividade no local.

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Depois de tudo isso é que vocês irão tecer?Os produtos de vocês deve estar mais valorizado

agora com o plano de manejo, né?

Sim Sr. Paulo, as pessoas gostammuito quando falamos que estamosfazendo um trabalho que respeita o

meio ambiente.

Dona Maria e DonaLourdes, muito obrigadopelos esclarecimentos.

Agora que estousabendo de tudo isso,as Sras. poderiam mevender um tupé? Voudar de presente paraminha mãe, ela adora

artesanatos e natureza!

Claro Sr. Paulo, e expliquepara ela que fazemos omanejo do arumã para

conservar a planta e o meioambiente!

Esta publicação foi gerada no intuito de expandir aexperiência de uma iniciativa piloto que concilia o rol dosconhecimentos tradicionais das artesãs e coletores da

Associação de Artesãos de Novo Airão à conhecimentoscientíficos gerados no meio acadêmico.

A dinâmica dessa interação de conhecimentos depende doaprimoramento e da construção participativa dos critérios de

manejo para produtos florestais não madeireiros, emespecial a fibra de arumã.

Os resultados obtidos têm propiciado um modelo de manejoque, além de auxiliar no melhor direcionamento dessa

atividade, poderão servir de subsídios para ações de manejoe conservação da biodiversidade na bacia do rio Negro,podendo estimular o desenvolvimento do artesanato de

fibras vegetais em outros grupos locais na região amazônica.

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Logos