Estudo das representações sociais da maconha entre agentes comunitários de saúde

10
827 TEMAS LIVRES FREE THEMES Estudo das representações sociais da maconha entre agentes comunitários de saúde Study of the social representations of the marijuana among communitarian health’s agents 1 Programa de Pós- graduação em Psicologia Social, Departamento de Psicologia, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, UFPB. Cidade Universitária, Campus I, Conjunto Castelo Branco, 58059-900, João Pessoa PB. [email protected] 2 USP, Ribeirão Preto. 3 Universidade Federal de Uberlândia. 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco. Ludgleydson Fernandes de Araújo 1 Alessandra Ramos Castanha 2 Airton Pereira do Rêgo Barros 3 Christiane Ramos Castanha 4 Abstract In view of the increasing excessive use of psychoactive substances, in particular the mar- ijuana in the Brazilian reality, the current re- search had as objective to verify the social repre- sentations of communitarian health’s agents (ACS’s) regarding the marijuana’s use. Seventy ACS’s, including both male and female genders; with average age of 26 years participated in this study. It was utilized as instruments semi-struc- tured interviews and the Test of Free Association of Words (TALP). The data acquired by the inter- views was categorized by the Bardin’s analysis of thematic content (1977) whereas the data from the TALP was processed by the Tri-Deux-Mots software through the factorial analysis of corre- spondence. The obtained results suggested repre- sentations of the marijuana as a hallucinogen plants and drug, which can alter the human me- tabolism. Regarding the consequences on the user’s life, the majority of the ACS’s objected the attitude of violence, which causes health and family problems; and thus contributing to the initiation to drug’s use and addiction. In conclu- sion, it is important the intervention of the ACS’s on the preventive health education with the goal of decrease the excessive use of drugs. Key words Marijuana, Communitarian agents of health, Social representations Resumo Tendo em vista o aumento do uso abu- sivo de substâncias psicoativas, em particular a maconha, na realidade brasileira, a presente pes- quisa teve como objetivo verificar as representa- ções sociais de agentes comunitários de saúde (ACS’s) acerca do uso da maconha. Participaram 70 ACS’s, de ambos os sexos, com média de idade de 26 anos. Foram utilizados como instrumentos: entrevistas semi-estruturadas e o Teste de Asso- ciação Livre de Palavras (Talp). Os dados das en- trevistas foram categorizados pela análise de con- teúdo temática de Bardin (1977) e os Talp foram processados pelo software Tri-Deux-Mots, por meio da Análise Fatorial de Correspondência. Os resultados sugeriram representações da maconha como planta e droga alucinógena que pode alte- rar o metabolismo humano. No que se refere às conseqüências na vida do usuário os ACS’s objeti- varam, de forma majoritária, atitudes de violên- cia que ocasionam problemas relacionados à saú- de e à família, contribuindo para iniciação a ou- tras drogas e dependência. Concluiu-se pela im- portância da intervenção dos ACS’s na educação preventiva em saúde, com o intuito de diminuir o uso indevido de drogas. Palavras-chave Maconha, Agentes comunitá- rios de saúde, Representações sociais

Transcript of Estudo das representações sociais da maconha entre agentes comunitários de saúde

827T

EM

AS L

IVR

ES F

RE

E T

HE

ME

S

Estudo das representações sociais da maconha entre agentes comunitários de saúde

Study of the social representations of the marijuanaamong communitarian health’s agents

1 Programa de Pós-graduação em PsicologiaSocial, Departamento de Psicologia, Centro de Ciências Humanas,Letras e Artes, UFPB.Cidade Universitária,Campus I, ConjuntoCastelo Branco, 58059-900,João Pessoa [email protected] 2 USP, Ribeirão Preto.3 Universidade Federal de Uberlândia.4 Universidade FederalRural de Pernambuco.

Ludgleydson Fernandes de Araújo 1

Alessandra Ramos Castanha 2

Airton Pereira do Rêgo Barros 3

Christiane Ramos Castanha 4

Abstract In view of the increasing excessive useof psychoactive substances, in particular the mar-ijuana in the Brazilian reality, the current re-search had as objective to verify the social repre-sentations of communitarian health’s agents(ACS’s) regarding the marijuana’s use. SeventyACS’s, including both male and female genders;with average age of 26 years participated in thisstudy. It was utilized as instruments semi-struc-tured interviews and the Test of Free Associationof Words (TALP). The data acquired by the inter-views was categorized by the Bardin’s analysis ofthematic content (1977) whereas the data fromthe TALP was processed by the Tri-Deux-Motssoftware through the factorial analysis of corre-spondence. The obtained results suggested repre-sentations of the marijuana as a hallucinogenplants and drug, which can alter the human me-tabolism. Regarding the consequences on theuser’s life, the majority of the ACS’s objected theattitude of violence, which causes health andfamily problems; and thus contributing to theinitiation to drug’s use and addiction. In conclu-sion, it is important the intervention of the ACS’son the preventive health education with the goalof decrease the excessive use of drugs.Key words Marijuana, Communitarian agentsof health, Social representations

Resumo Tendo em vista o aumento do uso abu-sivo de substâncias psicoativas, em particular amaconha, na realidade brasileira, a presente pes-quisa teve como objetivo verificar as representa-ções sociais de agentes comunitários de saúde(ACS’s) acerca do uso da maconha. Participaram70 ACS’s, de ambos os sexos, com média de idadede 26 anos. Foram utilizados como instrumentos:entrevistas semi-estruturadas e o Teste de Asso-ciação Livre de Palavras (Talp). Os dados das en-trevistas foram categorizados pela análise de con-teúdo temática de Bardin (1977) e os Talp foramprocessados pelo software Tri-Deux-Mots, pormeio da Análise Fatorial de Correspondência. Osresultados sugeriram representações da maconhacomo planta e droga alucinógena que pode alte-rar o metabolismo humano. No que se refere àsconseqüências na vida do usuário os ACS’s objeti-varam, de forma majoritária, atitudes de violên-cia que ocasionam problemas relacionados à saú-de e à família, contribuindo para iniciação a ou-tras drogas e dependência. Concluiu-se pela im-portância da intervenção dos ACS’s na educaçãopreventiva em saúde, com o intuito de diminuir ouso indevido de drogas.Palavras-chave Maconha, Agentes comunitá-rios de saúde, Representações sociais

Ara

újo

,L.F

.et

al.

828828828828828828828828828828828

Introdução

Este trabalho teve por objetivo verificar as re-presentações sociais da maconha por parte deagentes comunitários de saúde (ACS’s), tendoem vista a importância do papel dos ACS’s en-quanto multiplicadores de informações na edu-cação, na saúde e na prevenção primária ao usoindevido de substâncias psicoativas.

A questão relacionada ao uso indevido dedrogas na atualidade é alvo de debates e ques-tionamentos nos diversos segmentos da socie-dade. O fenômeno da utilização de substânciaspsicoativas tem suscitado preocupação, consi-derando-se que o seu uso provoca uma plurali-dade de danos, não somente aos usuários, co-mo também aos seus familiares e à sociedade.

De acordo com Bastos1, a sociedade brasi-leira, com seu consumismo desenfreado, tempropagado em suas campanhas publicitáriasum apelo subliminar em favor de todos os pra-zeres e da luta pelo prazer a todo custo, que en-volve, mesmo que não explicitamente, o uso dedrogas.

De acordo com pesquisa sobre o uso dedrogas na realidade brasileira2, do Centro Bra-sileiro de Informações Acerca de Drogas Psico-trópicas (Cebrid), em 107 cidades brasileirascom mais de 200 mil habitantes, constatou-seque 6,9% das pessoas entrevistadas afirmaramter utilizado a maconha pelo menos uma vezna vida; destes, observa-se que 1% afirmou serdependente da droga.

A atual política de redução do uso abusivode drogas, implementada pela Secretaria Na-cional Antidrogas3 (Senad), estabelece uma di-ferença do usuário e dependente químico parao traficante, determinando que seja evitadoqualquer tipo de discriminação ao usuário dedroga. É uma política na qual o dependentequímico é considerado como ser biopsicosso-cial que, portanto, necessita de atenção especialpor parte dos profissionais de saúde4.

O nome científico da maconha é Cannabissativa. Em latim, Cannabis significa cânhamo,que denomina o gênero da família da planta, esativa, que significa plantada ou semeada, indi-ca a espécie e a natureza do desenvolvimentoda planta. É originária da Ásia Central, com ex-trema adaptação ao clima, à altitude e ao solo,apesar de apresentar uma variação de 1% a 15%quanto à conservação das suas propriedadespsicoativas, dependendo da região em que forproduzida, já que requer clima quente e seco eumidade adequada do solo5, 6, 7, 8, 9.

Autores como MaCrae e Simões10 disser-tam que, na realidade brasileira, o usuário demaconha está em constante situação de estig-matização social, assédio social e violência.Com relativa freqüência, as ações preventivas,no âmbito do uso de psicotrópicos, não levamem consideração os aspectos biopsicossociais eculturais que estão intrinsecamente relaciona-dos às drogas.

O relatório da Organização das Nações Uni-das11 destaca que o cultivo e o consumo abusi-vo da Cannabis continuam a ser difundidos naAmérica do Sul. A maconha cultivada na regiãoé, principalmente, destinada ao comércio dedrogas ilícitas nos países produtores e países vi-zinhos. A Colômbia continua sendo o produ-tor principal da Cannabis que é exportada à Eu-ropa e à América do Norte, embora as apreen-sões mais significativas da droga sejam feitasno Brasil e no Paraguai.

O Ministério da Saúde vem definindo, aolongo do tempo, estratégias que visam ao for-talecimento da rede de assistência aos usuáriosde maconha e de outras drogas, com ênfase nareabilitação e reinserção social dos mesmos12.

Neste sentido, destaca-se o papel do agentemultiplicador de informações preventivas aouso abusivo de drogas nas comunidades, exer-cido pelos ACS’s, realizando um canal de co-municação entre a população e os gestores emsaúde13.

Com relação às ações de prevenção ao usoindevido de drogas atualmente propostas peloMinistério da Saúde, pode-se citar o Programade Saúde da Família (PSF). O PSF pode funcio-nar como um catalisador de ações de preven-ção, promoção e recuperação da saúde das pes-soas com problemas relacionados à maconha,assim como a outras drogas, de forma integrale contínua. Desta forma, é necessário investirem ações que procurem uma formação diversi-ficada e consistente para toda a equipe do PSF,com relação aos elementos determinantes doprocesso saúde/doença.

O PSF é formado, basicamente, por umaequipe multiprofissional, composta por médi-co, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agen-tes comunitários de saúde. É no último grupo,o dos ACS’s, que a presente pesquisa foi focali-zada, tendo em vista que eles desempenhamum papel fundamental na prevenção do con-sumo de drogas e no tratamento dos usuáriosnas comunidades, sendo esta uma de suas fun-ções determinadas pelo Ministério da Saúde,por serem um elo essencial na construção do

Ciên

cia & Saú

de C

oletiva,11(3):827-836,2006

829

vínculo entre a equipe e as famílias e no pro-cesso de vigilância à saúde, a fim de acompa-nhar e intervir nos grupos vulneráveis ao adoe-cimento e às condições socioambientais desfa-voráveis.

O agente comunitário de saúde, por ser ummorador da comunidade, representa uma ri-queza de possibilidades, pois conhece as pes-soas que atende, fala a mesma linguagem dosque o procuram, passa por situações parecidase compartilha crenças com os membros da re-gião onde atua. Uma orientação dada por umcidadão nestas condições conta com credibili-dade que, dificilmente, as palavras de um téc-nico da saúde atingiriam.

Diante das premissas já mencionadas, esteestudo pretendeu verificar as representaçõessociais da maconha, no contexto do campo dasaúde preventiva, entre os ACS’s. Esta investi-gação poderá contribuir para o conhecimentodas diversas facetas que compõem o consumode drogas e para a formação de profissionaisque lidem com a temática e com a formula-ção/implementação de políticas públicas e pro-gramas de prevenção/tratamento a serem im-plementados na agenda de combate ao uso in-devido de drogas.

Teoria das representações sociais

As representações sociais (RS), enquanto sensocomum, idéias, imagens, concepções e visão demundo que os atores sociais têm sobre a reali-dade, emergem como uma realidade concretano âmbito das ciências sociais. As RS buscamnovas bases teóricas para a compreensão da re-lação indivíduo X sociedade, afastando-se daforma dicotomizada e descontextualizada. Mos-covici14 demonstra que os processos por meiodos quais os indivíduos representam o mundosão extremamente dinâmicos entre a subjetivi-dade e o mundo social dos indivíduos.

Deste modo, uma representação social nãopode ser compreendida como processo cogni-tivo individual, uma vez que é reproduzida nointercâmbio das relações e comunicações so-ciais. O referido autor ainda menciona que oobjeto, seja ele humano, social, material ouuma idéia, será apreendido por intermédio dacomunicação14, 15, 16.

As representações sociais são como siste-mas de interpretação que regem nossa relaçãocom o mundo e com os outros, orientando eorganizando nossas condutas. Elas estão liga-

das a sistemas de pensamento mais amplos,ideológicos ou culturais, a estado de conheci-mentos científicos, assim como à condição so-cial e à esfera da experiência privada e afetivados indivíduos17.

Com as representações sociais, o conheci-mento do senso comum passou a receber aatenção necessária, posto que era visto comoconhecimento confuso, inconsistente, desarticu-lado e fragmentado. Em relação ao conhecimentocientífico, o senso comum era situado num póloextremo e oposto: uma espécie de saber selvagem,profano, ingênuo18. A teoria tem como pressu-posto verificar o conhecimento comum produ-zido por intermédio das comunicações de de-terminados grupos sociais.

Na elaboração das RS faz-se necessária acontribuição de dois fatores – a objetivação e aancoragem – que são responsáveis pela inter-pretação e atribuição de significados do objetosocial, neste estudo, a maconha. Para Moscovi-ci19, esses fatores são condições sine qua non,pois ambos colaboram na maneira como o so-cial transforma um conhecimento em repre-sentação e na maneira como esta transforma osocial, indicando a interdependência entre aatividade psicológica e suas condições sociais.

Para Sá20, o processo de representar social-mente emerge da materialização dos conceitosabstratos, comuns ao grupo, o que se denomi-na objetivação, ao mesmo tempo em que criaum contexto inteligível ao objeto representadoou sua integração cognitiva, o que é denomi-nado de ancoragem. Neste processo, a repre-sentação tem por objetivo transformar em fa-miliar o não familiar.

É muito importante conhecer as represen-tações sociais que os ACS’s apresentam sobre amaconha, uma vez que eles podem desenvolverintervenções no âmbito da prevenção/promo-ção em saúde junto aos usuários e seus familia-res. Assim sendo, o presente estudo teve comoobjetivo apreender as RS da maconha entreagentes comunitários de saúde.

Método

Participantes

O presente estudo foi realizado no municí-pio de Ipojuca, localizado na Zona da Mata Suldo Estado de Pernambuco. Participaram destapesquisa 70 de um total de 104 agentes comu-nitários de saúde, escolhidos aleatoriamente,

Ara

újo

,L.F

.et

al.

830830830830830

de forma não probabilística, intencional e aci-dental, de ambos os sexos (13 % do masculinoe 87% do feminino), com média de idade de 26anos. Ressalta-se que os critérios de inclusão daamostra deram-se a partir da disposição dosACS’s em participar voluntariamente, e por es-tarem inseridos no Programa de Agentes Co-munitários (Pacs) do município pesquisado.

Instrumentos

Para a coleta dos dados, foram utilizadasentrevistas em profundidade e a técnica de as-sociação livre de palavras. As entrevistas foramdivididas em duas partes: a primeira, constituí-da de itens referentes à identificação sociode-mográfica dos participantes, definindo o seuperfil; e a segunda, composta por uma questãonorteadora, a saber: “O que você sabe sobre amaconha?”. Também foi utilizada a técnica deassociação livre de palavras, bastante difundidano âmbito da Psicologia Social, principalmentequando se trabalha com o suporte teórico dasRS, uma vez que possibilita acesso aos conteú-dos periféricos e latentes21, 22, 23, 24. Neste estu-do, foi utilizado um estímulo indutor – “maco-nha” – previamente definido, tendo como pres-suposto o estado atual da arte, bem como osatores sociais que fazem parte desta investiga-ção (agentes comunitários de saúde).

Procedimentos de coleta dos dados

Realizou-se um estudo piloto, com o intui-to de verificar a boa adequação dos instrumen-tos, e verificou-se a validade semântica dosmesmos. Em seguida, efetuou-se o estudo defi-nitivo. Inicialmente, foi mantido contato com acoordenação da Secretaria de Saúde, com a fi-nalidade de obter a listagem dos ACS’s. Poste-riormente, verificou-se a disposição dos mes-mos de participar, de forma voluntária, destapesquisa.

Oportunamente, explicitaram-se os objeti-vos e a necessidade do uso do gravador, e fo-ram garantidos o anonimato e a confiabilidadedas respostas, indicando que seriam analisadasem conjunto. É válido mencionar que foramrespeitados os parâmetros éticos, de acordocom a resolução 196/96 do Conselho Nacionalde Saúde, que rege as pesquisas com seres hu-manos.

O primeiro instrumento aplicado foi a téc-nica de associação livre de palavras, seguida deentrevista. Os instrumentos foram aplicados,

de forma individual, na própria Secretaria deSaúde, por um pesquisador previamente trei-nado e qualificado. O tempo de aplicação foi,em média, de 18 minutos para cada participan-te. Informa-se, ainda, que não houve recusapor parte de nenhum ACS. Antes da aplicaçãodo estímulo, foi feita uma simulação, utilizan-do-se de um exemplo, com o intuito de fami-liarizar o participante sobre a funcionalidadedo instrumento. Em seguida, foi apresentado oestímulo indutor, seguido da questão “O quelhe vem à mente (cabeça) quando digo a pala-vra maconha? Fale as cinco primeiras palavrasque, para o senhor (a), lembram a maconha.” Éválido mencionar que na presente pesquisaconvencionou-se o tempo máximo de um mi-nuto para a evocação das palavras associadasao estímulo indutor, perfilando um minutopor cada participante para responder ao testede associação livre de palavras.

Análise dos dados

No que se refere à interpretação dos dados des-ta pesquisa, utilizou-se a análise de conteúdotemática Bardin25, cujo objetivo é compreen-der o sentido das comunicações e suas signifi-cações explícitas e/ou ocultas. Seu procedimen-to visa, ainda, a obter a sistematização e descri-ção do conteúdo das mensagens que permitema inferência de conhecimentos relativos às con-dições de produção/recepção (variáveis inferi-das), interpretados quantitativamente pormeio da análise das freqüências e percentuais.

A análise das unidades temáticas por meiodessa técnica pressupõe o desenvolvimento dasseguintes etapas operacionais: constituição docorpus; leitura flutuante; composição das uni-dades de análise; codificação e recortes; catego-rização e descrição das categorias. Após a leitu-ra flutuante do corpus e a emersão das catego-rias empíricas, elas foram codificadas e valida-das internamente por quatro pesquisadores-juízes que trabalham com a técnica.

Os dados coletados pela técnica de associa-ção livre foram processados pelo software Tri-Deux-Mots26, versão 2.2, que permite a visuali-zação gráfica tanto das variáveis fixas (sexo,idade e estado civil), como das variáveis de opi-nião (crenças, estereótipos, enfim, o conheci-mento prático enunciado pelos participantesfrente ao estímulo indutor), analisadas pormeio da Análise Fatorial de Correspondência(AFC). O principio básico da AFC consiste em

Ciên

cia & Saú

de C

oletiva,11(3):827-836,2006

831

destacar eixos que explicam as modalidades derespostas, mostrando estruturas constituídasde elementos do campo representacional, ouseja, os conteúdos apreendidos nos discursosdos ACS’s diante dos estímulos indutores.

Resultados e discussão

As representações sociais sobre a maconha, ela-boradas pelos ACS’s, foram analisadas com ba-se no material coletado pelas entrevistas e pon-deradas pela análise temática de conteúdo, deacordo com o consenso de quatro pesquisado-res, que resultaram em quatro categorias empí-ricas e 20 subcategorias.

A tabela 1 ilustra os dados relativos a “Con-cepções/Descrições da Maconha (CDM)”. Po-de-se notar que os ACS’s destacaram a maco-nha, de forma majoritária, como uma “droga”(33%) que apresenta propriedades “alucinóge-nas” (26%) e como uma “planta” (22%), comose pode verificar nas falas dos atores sociais aseguir:

É uma droga, [...] a maconha é uma droga[...]. Eu acho que a pessoa viaja [...], a pessoa fi-ca contente [...]. Tem gente que planta [...] e asfolhas são utilizadas para fazer o cigarro [...]. Opouco que eu sei é que ela altera todo o metabo-lismo da pessoa, [...] que é um tipo de alucinóge-no [...], como se tivessem nas nuvens [...], comose as coisas fossem mais gostosas [...]. Diminui aansiedade [...] porque ela atinge os pulmões [...],atinge também o cérebro, a corrente sanguínea.

De forma semelhante aos ACS’s, Sucar27 ar-gumenta que a maconha é uma droga alucinó-gena, tendo em vista que é capaz de provocaralterações no funcionamento do cérebro (siste-ma nervoso central), de modo que pode desen-cadear nos seus usuários efeitos psíquicos co-mo delírios (falso juízo da realidade) e alucina-ções (percepção sem objeto).

Observa-se que os atores sociais desta pes-quisa ancoraram suas RS da maconha comouma planta. De fato, trata-se de uma combina-ção de flores e folhas da planta, conhecida pelanomenclatura científica Cannabis sativa, cujoprincipal princípio ativo é o THC (tetrahidro-canabinol). Sua concentração na planta depen-de, sobretudo, da forma como a Cannabis foicultivada, em que tipo de clima e solo6, 7, 8, 9.

De acordo com o observado na tabela 2acerca de “Conseqüências na Vida do Usuáriode Maconha (CVUM)”, nota-se que a maioriados ACS’s destaca, sobretudo, que a utilização

da maconha pode levar a “dependência física”(28%) e a “violência” (21%).

Entre as unidades temáticas das falas dosACS’s, foi possível destacar as representaçõessociais das conseqüências do uso da maconha:

[...] A maconha é ruim porque é um vício.[...] É prejudicial à saúde e depois que vicia nãotem mais jeito, [...] está fazendo muito mal paraas pessoas, [...] está destruindo lares, famílias, le-vando muitos adolescentes à morte. [...] Cadavez que usa mais maconha quer experimentaroutras drogas. [...] Eles perdem o trabalho, o con-trole dentro das próprias casas e ficam violentos.[...] Não quer ter um apoio da família, não querouvir o que a família quer conversar, [...] daruma orientação pra ele.

Na presente investigação, os ACS’s destaca-ram a dependência física ocasionada pelo usoindevido da maconha. De forma antagônicaaos participantes desta pesquisa, Bergeret e Le-blanc6 salientam que o uso continuado da ma-conha é mais constante no desenvolvimento deuma dependência psíquica, e não física, comoverificado nas representações sociais dos agen-tes comunitários de saúde.

Não há consenso entre os pesquisadoresacerca de qual tipo de dependência é predomi-nante nos usuários de maconha. No entanto, a

Tabela 1 Concepções/descrições da maconha.

Categoria e subcategorias ACS’sf %

Droga 28 33Alucinógena 22 26Altera metabolismo 16 19Planta 18 22Total 84 100

Tabela 2 Conseqüências na vida dos usuários de maconha.

Categoria e subcategorias ACS’sf %

Familiar 28 18Dependência física 25 16Iniciação às drogas 24 15Prejudicial à saúde 26 17Violência 33 21Auto-destruição 20 13Total 156 100

Ara

újo

,L.F

.et

al.

832

dependência psíquica é freqüentemente asso-ciada ao uso abusivo da Cannabis7.

As representações sociais acerca das conse-qüências do uso da maconha foram ancoradasna esfera orgânica, em elementos como “preju-dicial à saúde” e “dependência física”. Isto pro-vavelmente se deve à prática profissional dosACS’s junto à educação preventiva em saúde,de modo que o discurso acerca da maconha16

permeie a formação do conhecimento compar-tilhado por seu grupo de pertença e de afilia-ção.

De acordo com o V Levantamento Nacio-nal Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas EntreEstudantes do Ensino Fundamental e Médio daRede Pública de Ensino28, pode-se verificaruma significativa utilização das drogas lícitas,como o álcool e o tabaco, consumidos, respec-tivamente, por 65,2% e 24,9% dos estudantespesquisados.

De forma antagônica aos ACS’s, que men-cionaram a maconha como iniciação às drogas,verificou-se que apenas 5,9 % dos estudantespesquisados pelo levantamento já utilizaram adroga. Os dados sugerem que as drogas lícitassão responsáveis pela maior utilização de psi-cotrópicos, provavelmente por causa da acessi-bilidade legal e econômica.

Os dados da tabela 3 revelam as “Causas doUso de Maconha (CUM)”: os ACS’s apontam,de forma majoritária (28% e 25%, respectiva-mente), “curiosidade” e “influência de amigos”.Os ACS’s representaram as causas do uso damaconha nas suas falas abaixo:

[...] A pessoa começa por uma curiosidade[...], por uma timidez a pessoa se torna depen-dente [...]. É uma droga que vicia uma pessoaque às vezes quer coragem [...] e acha que usan-do aquilo vai ser melhor, vai se soltar [...]. Émuito fácil encontrar maconha, por todo canto apessoa que usa pode comprar [...], os amigos, àsvezes, oferecem. [...] O adolescente vai e usa, vaipela cabeça dos outros [...].

De modo consonante com as RS dos ACS’sacerca das causas do uso da maconha, Lapate29

argumenta que há uma série de razões que mo-tivam as pessoas a fazer uso de drogas, a saber:curiosidade ou desejo de experimentar os efei-tos prazerosos das drogas; influência do grupode afiliação, para integrar-se socialmente; vi-venciar a sensação de correr riscos; testar a vul-nerabilidade e os próprios limites.

Observa-se que o uso de drogas psicotrópi-cas é algo que acompanha a história da huma-nidade, sendo uma prática milenar do homem

experimentar estados alterados da consciência,por diversos motivos: fugir de situações desa-gradáveis, produzir sensações prazerosas, vi-venciar experiências transcendentais, religio-sas, místicas e curativas7.

No entanto, presencia-se na atualidade aveiculação de campanhas publicitárias que, deforma subliminar, fazem associação do uso dedrogas ao sucesso profissional e econômico, demodo a gerar, sobretudo nos jovens, a curiosi-dade de utilizar substâncias psicoativas1.

Faz-se necessário uma intervenção preven-tiva em saúde pelos ACS’s, respaldada no co-nhecimento científico, com o intuito de educarpara prevenir, que desmistifique o uso de subs-tâncias psicoativas e aponte sua ação no orga-nismo humano, de modo a amenizar a inicia-ção ao uso de drogas pela comunidade-alvo.

A tabela 4 possibilita a visualização do“Tratamento do Usuário de Maconha (TUM)”.Os ACS’s destacaram o “tratamento médico”,com 34%. Em seguida, os atores sociais apon-taram as “campanhas preventivas”, com 26%,permitindo inferir que, provavelmente, as indi-cações devem-se à prática desses atores sociaisna educação em saúde.

As falas dos atores sociais desta pesquisa fo-ram:

Tabela 3Causas do uso de maconha.

Categoria e subcategorias ACS’sf %

Fuga da realidade 14 10Prazer 20 14Curiosidade 40 28Influência de amigos 35 25Disponibilidade 13 09Diversão 19 14Total 141 100

Tabela 4Formas de tratamento dos usuários de maconha.

Categoria e subcategorias ACS’sf %

Médico 38 34Psicossocial 27 24Grupos de apoio 18 16Campanhas preventivas 29 26Total 112 100

Ciên

cia & Saú

de C

oletiva,11(3):827-836,2006

833

maconha, conforme pode ser observado nográfico 1, por intermédio dos dois fatores nelecontemplados (F1 e F2) e analisados pela Aná-lise Fatorial de Correspondência.

O fator 1 (F1), na linha horizontal, em ne-grito, concerne ao fator majoritário de maiorpoder explicativo, com 46% da variância totaldas respostas. Observa-se que os ACS’s contri-buíram de forma significativa nesse fator, com305 palavras evocadas. No que tange ao fator 2(F2), na linha vertical, em itálico, ele apresenta24% da variância total das respostas.

Percebe-se que houve maior contribuiçãodos ACS’s do gênero masculino na explicaçãodesse fator, com 110 palavras evocadas. No quetange às idades, os ACS’s que compreendem afaixa etária maior ou igual a 30 anos contribuí-ram, de forma majoritária, para o fator 2, com156 palavras evocadas. Na totalidade, os doisfatores têm poder explicativo de 70% de signi-ficância, portanto possuem parâmetros estatís-ticos com consistência interna e fidedignidade,tendo em vista pesquisas realizadas no âmbitodas RS24.

Na parte horizontal inferior do gráfico 1,em negrito, encontra-se o fator 1, relacionadoao campo semântico das RS da maconha (pala-vras em negrito com terminação 1) elaboradaspelos ACS’s do gênero feminino, casadas, na

[...] Porque por mais que as pessoas mostremas palestras, os meios de comunicação, rádio, te-levisão, as pessoas não querem acreditar [...]. Es-sas pessoas que usam maconha precisam de umtratamento médico, [...] uma desintoxicação[...]. Tem que ter apoio de grupos, tem esses gru-pos para usuários de drogas que podem ajudar[...] um tratamento com a família, e as pessoasque usam a maconha, com profissionais de psico-logia [...].

Quanto às “Formas de Tratamento dosUsuários de Maconha”, verificada nas RS dosACS’s, pode-se perceber que se trata de uma vi-são embasada, de forma majoritária, no mode-lo médico tradicional que prioriza os aspectosda farmacodependência em detrimento dos as-pectos históricos, sociais e culturais relaciona-dos às questões motivacionais para a utilizaçãoda substância psicoativa naquela comunidade.

As políticas de prevenção/intervenção aouso abusivo de drogas não podem se isolar deuma visão genérica das substâncias psicoativase devem ter consciência da amplitude do fenô-meno, com o intuito de elaborar estratégias deintervenção que levem em conta a realidade só-cio-histórica, antropológica, farmacológica epsicossocial da comunidade-alvo7.

A carência de estudos consistentes sobresubstâncias psicoativas na realidade brasileiradificulta a implementação de intervenções quepriorizem as particularidades regionais deacessibilidade aos programas de educação, saú-de e peculiaridades culturais, que se refletemdiretamente no consumo de drogas psicotrópi-cas30. Tal fato interfere no Pacs, do Ministérioda Saúde, quanto ao modelo eficaz de interven-ção na saúde preventiva desenvolvida pelosACS’s frente ao uso da maconha e outras subs-tâncias psicoativas.

No que diz respeito às campanhas preventi-vas elencadas pelos ACS’s, as intervenções tera-pêuticas produzem impacto positivo no âmbi-to da prevenção em saúde, quando monitora-das de forma contínua e regular. No entanto, éfato que na realidade brasileira tais campanhassão comumente realizadas com intuito ideoló-gico/político, de modo que não há um acom-panhamento quanto à eficácia na melhoria daprevenção em saúde5, 31.

Os resultados coletados por meio do testede associação livre de palavras, como instru-mento de apreensão de significados do conhe-cimento prático, possibilitaram, juntamentecom as variáveis fixas, a emersão de campos se-mânticos sobre as representações sociais da

Gráfico 1Análise fatorial de correspondência das RS da maconha.

curiosidade 1 família 1

F2

doença 1

SOLTEIROS

MASCULINO≥ 30

desestruturação 1

solidão 1

crime 1

droga 1/dependência 1

F1

FEMININO 26-29 planta 1

prazer 1

ilegal 1

violência 1

morte 1 CASADOS

loucura 1

exclusão 1

22-25

alucinação 1

Ara

újo

,L.F

.et

al.

834

faixa etária de 22 a 25 anos. Eles ancoraramsuas representações como uma substância psi-coativa derivada de uma “planta” que desenca-deia efeitos como “alucinação”, e que o seu usoé “ilegal” na realidade brasileira, sendo respon-sável pela “exclusão”, “violência” e “morte”.

Ainda nesse fator, destacam-se os ACS’s sol-teiros, na faixa etária maior ou igual a 30 anos,que ancoraram suas representações (palavrasem negrito na parte superior horizontal) acer-ca das causas do uso da maconha devido à “cu-riosidade” dos usuários pelos efeitos que asubstância psicoativa pode desencadear. No en-tanto, ela pode propiciar ao usuário “doenças”,quando consumida de forma abusiva. Salienta-se que, na técnica da entrevista, tais elementosconstitutivos das RS também foram verificadosnas causas e conseqüências do uso da maconhaentre os atores sociais desta pesquisa.

No que tange ao fator 2, na parte verticalesquerda, em itálico, percebe-se que os ACS’sdo gênero feminino, que compreendem a faixaetária de 22 a 25 anos, objetivaram de formasemelhante aos dados da entrevista acerca dascausas do uso da maconha relacionadas aos as-pectos “prazerosos” que a droga ocasiona aosseus usuários. No entanto, eles mencionaramque, por outro lado, a droga, quando adminis-trada de forma abusiva, pode levar o seu usuá-rio à “loucura”.

De forma consoante com as causas do usoda maconha elencadas pelos ACS’s, motivadaspelas sensações prazerosas, o mesmo tambémpôde ser verificado entre estudantes universitá-rios concluintes de Saúde e Direito, que men-cionaram em suas representações sociais acercada maconha a droga como produtora de efeitosde prazer aos seus usuários5, 9, 31.

No fator 2, na parte vertical, em itálico, ve-rificam-se as representações socais apreendidasentre os ACS’s do gênero masculino, que atri-buíram ao uso da maconha a “solidão” e a prá-tica de atitudes delitivas e “criminosas”, sendofruto da “desestruturação” psicossocial e afeti-va em que se encontram inseridos os usuáriosda substância psicoativa.

É fundamental a consciência de que a de-pendência degrada a condição humana do in-divíduo, e esforços devem ser desenvolvidospara amenizar a venda ilegal de drogas, postoque o uso destas substâncias pode contribuirpara a prática de atos anti-sociais e delitivos32.

Ainda no fator 2, na parte vertical à direita,em itálico, denota-se o campo semântico elabo-rado por ambos os gêneros, solteiros, que com-

preendem a faixa etária maior ou igual a 30anos, que representaram a maconha (palavrasem itálico com terminação 1) como uma “dro-ga” que pode proporcionar conseqüências, taiscomo “dependência” e problemas “familiares”.

De forma semelhante aos dados encontra-dos nas entrevistas, os ACS’s, também no testede associação, ancoraram suas representaçõessociais nos elementos concernentes a “proble-mas familiares”, “prejudicial à saúde” e “violên-cia”. Deste modo, as RS verificadas entre os ato-res sociais desta pesquisa acerca da maconhaaparecem como um conhecimento que não secaracteriza por uma contraposição ao sabercientífico, havendo uma dialética entre o co-nhecimento consensual (senso comum) e o rei-ficado (científico)16.

De acordo com Freitas33, um ambiente fa-miliar dominado por conflitos, pela falta de re-gras ou pelo desinteresse dos pais pela vida dosfilhos representa um fator de risco ao uso dedrogas. Assim, o apoio socioafetivo e psicológi-co da família é fundamental para que seja de-senvolvida uma rede de proteção ao uso inde-vido da maconha e de outras drogas.

Neste sentido, os danos relacionados ao usode drogas não se apresentam somente no indi-víduo usuário. São direta ou indiretamente afe-tados os familiares e a sociedade em geral, pormeio de comprometimentos físicos, psíquicose sociais. Assim, o uso indevido de drogas éconsiderado, na atualidade, um problema desaúde pública mundial, que demanda interven-ções na prevenção primária, secundária e ter-ciária, bem como no tratamento dos usuários efamiliares34 .

Ademais, os resultados apreendidos por es-te instrumento, além de corroborar, comple-mentam os dados oriundos das entrevistasacerca das RS da maconha. Neste sentido, amaconha foi representada como uma drogaque pode trazer inúmeras conseqüências psi-cossociais, profissionais, familiares e orgânicas.De modo que é fundamental e necessária a in-serção dos ACS’s na educação preventiva emsaúde, como interlocutores entre gestores emsaúde e a comunidade, intervindo nos fatoresde proteção ao uso de drogas.

Considerações finais

O presente trabalhou versou sobre as RS damaconha entre ACS’s. Os dados apreendidosentre os ACS’s possibilitaram representações

Ciên

cia & Saú

de C

oletiva,11(3):827-836,2006

835

consensuais e particularidades, de acordo comcada vivência de atuação na saúde preventiva.

Evidenciou-se, neste estudo, que os ACS’spossuem um conhecimento elaborado acercada maconha pautado na prevenção ao uso in-devido da droga, tendo em vista que ela podeprovocar inúmeras conseqüências aos usuá-rios, à família e à sociedade. As práticas cotidia-nas dos atores sociais, sua intervenção profis-sional na promoção em saúde, determinam eembasam as suas RS acerca da maconha.

Neste sentido, a presente pesquisa demons-trou que se faz necessária a implantação decursos de capacitação permanente, que ofere-çam subsídios aos ACS’s para melhor intervirna prevenção ao uso abusivo de drogas, postoque se presenciou uma lacuna no que concerneà qualificação destes promotores de saúde acer-ca dos efeitos e conseqüências dos psicotrópi-cos, tendo em vista o aumento crescente da de-manda existente na comunidade-alvo, devidoao uso de drogas lícitas e ilícitas.

O uso de substâncias psicoativas tem cres-cido de forma vertiginosa na realidade brasilei-

ra, principalmente o consumo de drogas lícitas(álcool, tabaco e medicamentos). Deste modo,se faz necessária a implantação de programasde promoção e prevenção ao uso indevido dedrogas, que priorizem a população-alvo e suascondições psicossociais e afetivas, bem comoquestões familiares, ideológicas e políticas,compreendendo a problemática nos seus fato-res biopsicossociais e culturais, uma vez queapenas a promulgação de leis repressoras e aadoção de modelos importados de outros paí-ses têm demonstrado total ineficácia no com-bate ao uso de drogas.

Recomenda-se maior número de estudossobre a realidade brasileira, que contemplem ouso de substâncias psicoativas e suas variáveispsicoafetivas, sociocognitivas e farmacológicas,intervindo no âmbito da saúde coletiva, com ointuito de minimizar o uso abusivo da maco-nha, por meio da implementação de políticaspúblicas de educação e promoção em saúde,em que os ACS’s se apropriem do papel de in-tegração entre gestores e comunidade.

Colaboradores

LF Araújo, AR Castanha, AP Barros e CR Castanha parti-ciparam igualmente de todas as etapas da elaboração doartigo.

Referências

1. Bastos MT. Combate ao narcotráfico. Rev Cultura-Imae 2003; 4(9):6-11.

2. Carlini E, Galduróz JCF, Noto AR. I Levantamentodomiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas noBrasil: estudo envolvendo as 107 maiores cidades doPaís. São Paulo: Cebrid/Unifesp; 2001.

3. Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). Um guia pa-ra a família. Brasília: Senad; 2001.

4. Uchoa PRYM. Sistema Nacional Antidrogas. Rev Cul-tura-Imae 2003; 4(9):22-9.

5. Araújo LF. As drogas agindo no organismo humano.Jornal Mundo Jovem no 357; 2005 Jun 1; p. 14.

6. Bergeret J, Leblanc J. Toxicomanias: uma visão multi-disciplinar. Porto Alegre: Artes Médicas; 1991.

7. Bucher R. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Ale-gre: Artes Médicas; 1995.

Ara

újo

,L.F

.et

al.

836

8. Nahas GG. A maconha ou a vida. Rio de Janeiro:Nórdica; 1986.

9. Gontiès B, Araújo LF. Os aspectos legais da maconhano contexto universitário: um estudo das representa-ções sociais. In: Coutinho MPL, Lima AS, FortunatoML, Oliveira FB, organizadores. Representações so-ciais: abordagem interdisciplinar. João Pessoa:EdUFPB; 2003. p. 293-311.

10. MaCrae E, Simões JA. Rodas de fumo: o uso da ma-conha entre camadas médias urbanas. Salvador:EdUFBA; 2000.

11. Organização das Nações Unidas (ONU). Report ofthe international narcotics control board. New York:United Nations; 2001.

12. Ministério da Saúde (MS). Programa agentes comu-nitários de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2000.

13. Silva JA, Dalmaso ASW. Agente comunitário de saú-de: o ser, o saber, o fazer. Rio de Janeiro: Editora Fio-cruz; 2002.

14. Moscovici S. A representação social da Psicanálise.Rio de Janeiro: Zahar; 1978.

15. Moscovici S. Psychologie Sociale. Paris: PUF; 1984.16. Moscovici S. Representações sociais: investigações em

Psicologia Social. Petrópolis: Vozes; 2003.17. Jodelet D. Representações sociais. Rio de Janeiro:

EdUerj; 2001.18. Nóbrega SM. Sobre a teoria das representações so-

ciais. In: Moreira ASP, organizadora. Representaçõessociais. Teoria e prática. João Pessoa: EdUFPB; 2001.p. 55-87.

19. Moscovici S. Représentations sociales: un domaineen expansive. In: Jodelet D, organizador. Les repré-sentation sociales. Paris: PUF; 1988. p. 42-9.

20. Sá CP. Representações sociais: o conceito e o estadoatual da teoria. In: Spink MJ, organizador. O conheci-mento no cotidiano. As representações sociais naperspectiva da Psicologia Social. São Paulo: Brasilien-se; 1993. p. 19-43.

21. Di Giacomo JP. Aspects méthodologiques de l’analysedes répresentations sociales. Cahiers de PsychologieCognitive 1981; 1(1):397-422.

22. Le Boudec G. Contribuition à la méthodologied’étude des représentations sociales. Curr PsycholCogn 1984; (4):245-72.

23. De Rosa AS. Sur l’usage des associations libres dansl’étude des représentations sociales de la maladiementale. Connexions 1988; (51):27-50.

24. Nóbrega SM, Coutinho MPL. O teste de associaçãolivre de palavras. In: Coutinho MPL, Lima AS, Fortu-nato ML, Oliveira FB, organizadores. Representaçõessociais: abordagem interdisciplinar. João Pessoa:EdUFPB; 2003. p. 67-77.

25. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977.

26. Cibois P. L’analyse factorielle. Paris: PUF; 1998. (Col-lection Que sais-je?).

27. Sucar JM. As drogas e seus efeitos. In: Secretaria Na-cional Antidrogas (Senad), organizadora. Formaçãode multiplicadores de informações preventivas sobredrogas. 2a ed. Florianópolis: LED/UFSC; 2002. p. 26-69.

28. Galduróz JCF, Noto AR, Fonseca AM, Carlini EA. VLevantamento nacional sobre o uso de drogas psico-trópicas entre estudantes do ensino fundamental emédio da rede pública de ensino nas 27 capitais bra-sileiras. São Paulo: Cebrid /Unifesp; 2004.

29. Lapate V. A família e as drogas. In: Secretaria Nacio-nal Antidrogas (Senad), organizadora. Formação demultiplicadores de informações preventivas sobredrogas. 2a ed. Florianópolis: LED/UFSC; 2002. p.156-92.

30. Noto AR, Formigoni ML. Drogas psicotrópicas e apolítica de saúde pública no Brasil. Ciência Hoje2002; 181(4):30-5.

31. Coutinho MPL, Araújo LF, Gontiès G. Uso da maco-nha e suas representações sociais: estudo comparati-vo entre universitários. Psicol. estud 2004; 9(3):469-77.

32. Limongi CL. Drogas – aspectos legais e jurisprudên-cia. In: Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), orga-nizadora. Formação de multiplicadores de informa-ções preventivas sobre drogas. 2a ed. Florianópolis:LED/UFSC; 2002. p. 297-308.

33. Freitas CC. As drogas na adolescência. In: SecretariaNacional Antidrogas (Senad), organizadora. Forma-ção de multiplicadores de informações preventivassobre drogas. 2a ed. Florianópolis: LED/UFSC; 2002.p. 95-113.

34. Dias JC. O tratamento do uso indevido de drogas. In:Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), organizado-ra. Formação de multiplicadores de informações pre-ventivas sobre drogas. 2a ed. Florianópolis: LED/UFSC; 2002. p. 277-93.

Artigo apresentado em 2/08/2005Artigo aprovado em 17/11/2005Versão final apresentada em 23/01/2006