ACIDENTE DO TRABALHO NO CONTEXTO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE

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1 ACIDENTE DO TRABALHO NO CONTEXTO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE Olívio Antonio Palheta Gomes 1 RESUMO: Este artigo busca analisar os procedimentos adotados por órgãos competentes em relação ao acidente ocorrido no trabalho e contribuir para a conscientização dos trabalhadores sobre as instruções de prevenção e procedimentos necessários para garantir seus direitos legais. O meio ambiente e saúde do trabalho são os focos principais desta pesquisa. A elaboração foi de cunho exclusivamente bibliográfico. A problemática existente é saber até que ponto os trabalhadores têm conhecimento dos seus direitos que lhes são assegurados por lei. Ao relatar todas as abordagens foi constatado que a lei está explícita, clara e que é de fácil acesso aos trabalhadores podendo ser cumprida de forma correta por todos que fazem parte do processo. Palavras-chave: Acidente de Trabalho, Segurança, Saúde e Meio Ambiente. INTRODUÇÃO A legislação vigente nº 8.213 expressa no artigo 19 da Constituição e publicada em 24 de julho de 1991, conceitua: "acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de caráter temporário ou permanente". Essa lesão pode 1 Administrador Mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. SENAC – SP. E-mail: [email protected]

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ACIDENTE DO TRABALHO NO CONTEXTO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE

Olívio Antonio Palheta Gomes1

RESUMO: Este artigo busca analisar os procedimentos adotados por órgãos competentes

em relação ao acidente ocorrido no trabalho e contribuir para a conscientização dos

trabalhadores sobre as instruções de prevenção e procedimentos necessários para garantir

seus direitos legais. O meio ambiente e saúde do trabalho são os focos principais desta

pesquisa. A elaboração foi de cunho exclusivamente bibliográfico. A problemática

existente é saber até que ponto os trabalhadores têm conhecimento dos seus direitos que

lhes são assegurados por lei. Ao relatar todas as abordagens foi constatado que a lei está

explícita, clara e que é de fácil acesso aos trabalhadores podendo ser cumprida de forma

correta por todos que fazem parte do processo.

Palavras-chave: Acidente de Trabalho, Segurança, Saúde e Meio Ambiente.

INTRODUÇÃO

A legislação vigente nº 8.213 expressa no artigo 19 da Constituição e publicada em 24

de julho de 1991, conceitua: "acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho

a serviço da empresa, ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão

corporal ou perturbação funcional, de caráter temporário ou permanente". Essa lesão pode

1 Administrador Mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. SENAC – SP. E-mail: [email protected]

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provocar a morte, perda ou redução da capacidade para o trabalho. A lesão pode ser

caracterizada apenas pela redução da função de determinado órgão ou segmento do

organismo, como os membros.

A ocorrência do acidente do trabalho é descrita com propriedade técnica pela perícia

médica do INSS, mediante a identificação do vínculo entre o trabalho e o motivo grave da

queixa do acidente. É considerado estabelecido este vínculo quando é verificado nexo

técnico epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da

incapacidade, elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID).

A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de

proteção e segurança da saúde do trabalhador, sendo também seu dever prestar informações

detalhadas sobre os riscos da operação a executar e do produto a manipular. Podendo

constituir contravenção penal, punível com multa, caso deixe de cumprir as normas de

segurança e saúde do meio ambiente do trabalho.

O pagamento pela Previdência Social das prestações decorrentes do acidente do

trabalho é obrigatório a responsabilidade civil da empresa ou de terceiros.

Com a preocupação de informar regularmente as atividades prevencionistas e as causas

de acidentes do trabalho, as instituições de ensino, associações de classe, sindicatos, órgãos

públicos e outros meios vem promovendo palestras instrutivas para conscientização da

população brasileira, principalmente aos trabalhadores.

Diante desta premissa questiona-se: até que ponto os trabalhadores têm conhecimento

dos seus direitos que lhes são assegurados por lei? É o que se relata neste artigo com o

objetivo de esclarecer todos os procedimentos adotados pelos órgãos competentes no

Brasil. Neste intere, se conhece todo histórico da lei sobre acidente do trabalho, as doenças

e os acidentes que são considerados pela legislação e como é feito toda a investigação dos

acidentes de trabalho.

Relata-se através do anuário estatístico de acidente de trabalho, documento publicado

pelo Ministério da Previdência Social, o registro de acidentes e de doenças ocupacionais

graves que provocam o afastamento do trabalhador por mais de 15 dias. E demonstra-se os

índices dos acidentes de trabalho no Brasil.

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Identifica-se os investimentos empresariais em prevenção de acidentes, a importância

da intervenção de forma tripartite e suas políticas utilizadas para esta prevenção.

Analisa-se ainda o meio ambiente do trabalho onde no processo entre empresa e

acidente ocorrido, o trabalhador é a principal vítima das conseqüências negativas da

deterioração do meio ambiente interno e externo, sofrendo uma tripla agressão, tanto como

empregado, cidadão e consumidor.

Aborda-se o papel das Instituições do meio ambiente do trabalho dando ênfase, nas

previsões constitucionais e a postura do Ministério Público perante o acidente de trabalho.

Finaliza-se mostrando quais os meios de incentivo à preservação e proteção do meio

ambiente de trabalho.

A proposta metodológica para elaboração deste artigo é uma pesquisa com abordagens

descritivas, tendo base na fundamentação teórica relatada através das pesquisas

bibliográficas coletadas em livros, mídias impressas especializadas, documentos eletrônicas

e dados estatísticos do Ministério Público.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Acidentes do trabalho no contexto da legislação vigente

A realidade existente na integração dos mercados e liberação do comércio

internacional é perceptível no âmbito da globalização econômica, pois as condições dessa

nova ordem determinam significativas mudanças na vida da população e principalmente no

mundo do trabalho, pois os níveis de emprego, meio ambiente, segurança e saúde da

humanidade recebem toda influência.

As profundas mudanças percebidas nas organizações visam o aumento da

produtividade e redução dos custos e a relação trabalho-saúde dos trabalhadores vem

recebendo muita importância no processo operacional, ressaltando que nem sempre vem

acompanhada de melhorias das condições de trabalho aos profissionais.

Em relação à saúde dos trabalhadores, observar-se nos países do "terceiro mundo", a

existência de antigas formas de produção, como os processos artesanais ou mecanicistas

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que ainda estão em vigor nas relações de trabalho: o trabalho escravo, o trabalho infantil, as

diversas formas de parceria, o trabalho informal, etc. Estas maneiras ultrapassadas de

trabalho convivem também com novas tecnologias e empresas globalizadas cujas normas e

padrões são deliberadamente inferiores aos das matrizes.

Estas duas formas de produção são refletidas no perfil de morbi-mortalidade, que são

as antigas doenças profissionais: intoxicação por silicose, mercúrio e chumbo além de

tantas outras doenças pulmonares.

Os altos índices de acidentes do trabalho, ocorrem com uma alta incidência de Lesões

por Esforços Repetitivos (LER), também conhecidos como (DORT), câncer e sofrimento

mental, entre tantas outras doenças crônicas.

Diante desta premissa destaca-se o papel desempenhado pelos cipeiros (trabalhadores

responsáveis pela prevenção no local de trabalho e eleitos para a paritária Comissão Interna

de Prevenção de Acidentes- CIPA).

A CIPA possibilita a ação dos trabalhadores em seu local de trabalho, pois é uma

representação legalmente obrigatória, que atua juntamente com a CUT, e vem melhorando

a legislação de forma a equipará-la às normas européias.

É necessário que se faça cumprir democraticamente o exercício do direito universal à

promoção, atenção e defesa daqueles que trabalham independentemente da sua forma de

inserção no processo produtivo.

3. HISTÓRICO DO ACIDENTE DE TRABALHO

A Lei de Acidente do Trabalho surgiu em 1919 no Brasil e tinha como base o conceito

de "risco profissional", que era considerado como sendo normal à atividade profissional.

Esta Lei assegura o pagamento de indenização ao trabalhador ou à sua família, mesmo não

sendo um seguro obrigatório, mas é calculada de acordo com a gravidade das seqüelas do

acidente, incluindo também a prestação do socorro médico-hospitalar e farmacêutico ao

empregador.

Entre 1934 a 1995 houve significativas mudanças na legislação brasileira A legislação

atualmente em vigor é a Lei Nº 8.213, de 24 de julho de 1991, posteriormente

regulamentada pelo Decreto Nº 611, de 21 de julho de 1992 (Plano de Benefícios da

Previdência Social). De acordo com essa legislação, a empresa deve contribuir com o

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financiamento proporcional ao grau do acidente e é também responsável pela adoção e uso

de medidas individuais e coletivas de segurança e proteção da saúde do trabalhador, Os

percentuais, incidentes sobre o total das remunerações pagas no decorrer do mês, equivalem

a 1%, 2% e 3% para os graus de riscos leve, médio e grave respectivamente.

No caso de um acidente de trabalho, a empresa deve proceder imediatamente com a

comunicação à Previdência Social, através da emissão da CAT - Comunicação de Acidente

de Trabalho, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, é de

suma importância que a autoridade policial competente seja inserida no processo. O

acidentado, os seus dependentes, e o sindicato da categoria, deverão receber cópia fiel da

CAT.

É importante ressaltar que na falta da comunicação por parte da empresa, possui

direitos em emitir a CAT o próprio acidentado, o médico que o assistiu, a entidade sindical

competente, os seus dependentes, e ainda qualquer autoridade pública.

Toda e qualquer comunicação sobre o acidente é detalhadamente especificado nos

relatórios diários rotineiros, e levado ao chefe responsável pelo setor e ao trabalhador

acidentado. Qualquer funcionário poderá fazer os registros obrigatórios de acordo com as

regras e padrões da organização.

Para que se possa adentrar definitivamente no mérito do assunto em questão, deve-se

entender o que vem a ser Acidente do Trabalho e suas peculiaridades.

Segundo o artigo 19 da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, "acidente do trabalho é

aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercício do

trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de

caráter temporário ou permanente". Podendo causar desde um simples afastamento, à perda

ou a redução da capacidade para o trabalho, ocasionando até a aposentadoria por invalidez

ou até mesmo a morte do segurado.

São elegíveis aos benefícios concedidos em razão da existência de incapacidade

laboratorial decorrente dos riscos ambientais do trabalho todos os segurados empregados,

os trabalhadores avulsos e os segurados especiais, no exercício de suas atividades.

3.1. São consideradas como doenças do trabalho:

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a) A doença adquirida em função das condições especiais em que o trabalho é

realizado e com ele se relacione diretamente;

b) O acidente ocorrido no percurso entre a residência e o local de trabalho do

segurado;

c) A doença profissional desencadeada pelo exercício do trabalho próprio a

determinada atividade;

3.2. Não são consideradas como doenças do trabalho:

a) A doença degenerativa, aquela inerente a grupo etário;

b) A doença endêmica, aquela adquirida por habitantes de região onde ela se

desenvolva, exceto se comprovado que resultou de exposição ou contato direto

determinado pela natureza do trabalho;

c) A que não necessita de acompanhamento médico.

3.3 São considerados como acidente do trabalho:

a) O acidente de trabalho que tenha afetado diretamente na perda ou

comprometimento da capacidade de exercer suas funções, ou que tenha produzido

lesão que exija acompanhamento médico para a recuperação ou até mesmo para a

morte do segurado;

b) O acidente no local e horário do trabalho praticado por qualquer companheiro de

trabalho ou por terceiros, seja qual for o motivo que possa causar agressão física ou

moral, e/ou uso sistemático do terror e/ou ainda pelos danos nas instalações da

empresa;

c) Ato de indolência, de imprudência, ou de imperícia de terceiro, ou de

companheiro de trabalho. Ofensa de todas as formas, sendo intencional, inclusive de

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terceiro. Desmoronamento, incêndio, enchente, e outros casos decorrentes de

alguma imprevisão;

d) O acidente ocorrido fora do local e horário de trabalho, mas na realização de

ordem da prestação de serviço à empresa que possa gerar benefícios à mesma.

Estando em deslocamento entre cidades, independentemente do meio de locomoção

utilizado, mesmo sendo no veículo de propriedade do segurado. Incluindo também

estudo para qualquer tipo de formação acadêmica, quando financiada por ela, dentro

de suas metas para melhor capacitação de capital intelectual.

É importante salientar que no exercício do trabalho o segurado que estiver em seu

horário de destinado para refeição, e também por suas necessidades fisiológicas possui

completa cobertura a qualquer dano que porventura possa ocorrer com ele na empresa.

Perícia Médica do INSS é responsável em dar o parecer técnico do acidente ocorrido,

só ela tem autonomia para diagnosticar o acidente e direcionar as possíveis necessidades do

empregado de afastamento e outros procedimentos a serem realizados. Só através do laudo

médico do perito legalmente capacitado que são fundamentados os procedimentos

necessários ao segurado.

3.4. A Investigação do Acidente de Trabalho.

Para que a organização consiga atingir índice zero em acidentes no trabalho é

necessário que haja a investigação das causas do um acidente ocorrido no trabalho e este

procedimento é obrigatório, sendo do mais simples ao mais grave. Os procedimentos

resultam na melhor forma de prevenir futuros acidentes no trabalho e por alertar aos

empregados como proceder quando a situação houver fatores de riscos e assim eliminar a

ocorrência de novos acidentes.

Segundo Monteau (1977) “O método da árvore de causas, é o

instrumento de investigação preconizado pela Organização

Internacional do Trabalho (OIT). Esse método baseia-se na Teoria de

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Sistemas, sendo o acidente considerado como um sinal de disfunção do

sistema. É representada sob forma de diagrama”.

Fundamenta-se a investigação de forma concisa, direta e objetiva e detalha-se dos fatos

envolvidos na ocorrência do acidente de trabalho a partir do exercício que o empregado

estava efetuando ao cometer ou ser cometido pelo acidente, identificando todos os fatos,

denominados “fatores antecedente”.

Para que o acidente de trabalho seja registrado, de acordo com GROTT (2003):

“... é necessária a ocorrência de, pelo menos, uma variação em relação à situação habitual de trabalho, e esse método estabelece que se reconstitua a história do acidente a partir da identificação das variações e dos fatores antecedentes”.

Conforme o método da "árvore de causas" compreende-se que o trabalho constitui a

atividade que, por sua vez, é decomposta em quatro elementos: o indivíduo, a tarefa, o

material e o meio de trabalho.

Logo, a investigação de todo e qualquer acidente de trabalho consiste, então, na

identificação de todas as ocorrências em cada um dos quatro elementos.

4. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DE ACIDENTES DE TRABALHO.

Conforme a publicação do Ministério da Previdência Social em conjunto com o

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), apontou no Anuário Estatístico de Acidentes de

Trabalho de 2006 que, “o registro de acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais

graves que provocam o afastamento do trabalhador por mais de 15 dias, diminuiu de 2004

para 2006”. Diante desse fato, demonstram-se os índices dos acidentes de trabalho no

Brasil.

4.1. O perfil do acidente de trabalho no Brasil.

É de suma importância abordar que houve um aumento significativo de trabalhadores

formais durante o período de 2004 a 2007, ou seja, há quatro anos que algumas

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organizações vêm tentando buscar a excelência e a redução dos casos de acidente e doenças

ocupacionais demonstrando assim, um esforço pela melhoria contínua com sua

administração e preocupação com seus empregados. Infelizmente pode-se perceber que

ainda falta uma consciência global de tantas outras empresas.

O anuário revela que os afastamentos por mais de 15 dias caíram 19,35%, os casos de

incapacidade permanente diminuíram 35,08% e os óbitos, 4,3%.

Apesar das quedas nestes índices, o documento indica que os casos que exigem apenas

assistência médica ao trabalhador aumentaram 22,47% entre 2004 e 2007.

O Secretário de Políticas de Previdência Social, Helmut Schwarzer (2007) explana

“que o aumento se deve ao fato da comunicação mais efetiva por parte das empresas com

relação a acidentes e doenças do trabalho”.

O maior número de acidentes e doenças do trabalho foi apontado nas Regiões Sudeste

e Sul, onde se reúne a maior quantidade de trabalhadores formais no Brasil, conforme o

boletim eletrônico nº 17042006 divulgado em dezembro de 2007.

Os setores que lideram com maior registro de acidentes e doenças ocupacionais, são os

de logística e construção civil no Brasil, seguido do comércio e serviço, que possui 1/3

desses acidentes de trabalho foram danos nas mãos e nos punhos, provocados por

esmagamento, queimaduras ou cortes.

Percebe-se que há máquinas obsoletas e inseguras para o manejo nestas áreas, além da

falta de capacitação para os processos de trabalho. Os trabalhadores na faixa etária entre 25

e 29 anos respondem pelo maior número de acidentes de trabalho, especialmente os do sexo

masculino.

Apesar da redução dos casos de acidente e doenças ocupacionais no Brasil ainda

acontecem aproximadamente 410 mil acidentes de trabalho por ano, que matam 3 mil

brasileiros, em média oito trabalhadores por dia e custam cerca de R$ 32 bilhões ao país,

conforme registros no Ministério do Trabalho.

As pesquisas estatísticas do Ministério só consideram “os trabalhadores da economia

formal que têm carteira assinada e pagam o INSS”. Esta conta, entretanto, é muito maior do

que apontam os registros do Ministério da Previdência Social, pois deixam de fora

aproximadamente 40 milhões de pessoas que não contribuem para a previdência, são os

chamados trabalhadores da economia informal.

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Os números são exorbitantes, mas, infelizmente, retratam o descuido de boa parte do

empresariado com as normas de segurança e com seus funcionários e também a inoperância

do Governo em organizar políticas verdadeiramente eficazes no sentido de com suas

fiscalizações ostensivas, forçarem os empresários a cumprirem leis e normas já existentes

no País, buscando evitar que milhares de trabalhadores sofram acidentes; adquiriram em

suas funções doenças com as quais terão de conviver pelo resto de seus dias ou até mesmo

pereçam com acidentes que os levem a morte.

4.2. Investimentos empresariais em prevenção de acidentes.

Infelizmente muitos dirigentes de grandes, médias e pequenas empresas não entendem

a prática da prevenção e como um investimento é rentável, pois esta a ferramenta é a mais

importante para evitar a incapacitação de milhares de trabalhadores. Enquanto este quadro

não mudar será difícil conseguir reduzir o número de acidentes de trabalho.

Como forma de minimizar os efeitos nocivos que a própria rotina de trabalho e

algumas profissões ocasionam, é necessário que haja algumas mudanças. Já é comum em

muitas empresas a prática da ginástica laboral, que previne contra a LER. Muitas outras

oferecem momento de descontração no horário do almoço e palestras sobre qualidade de

vida, que comprovam a melhoria da produtividade do trabalhador.

Na opinião do médico Gutemberg Fialho, Especialista em Medicina do Trabalho, relata

em seu artigo que “... as empresas não consideram rentável investir na segurança do

trabalho porque após o 15º dia de afastamento quem garante o salário do acidentado é a

Previdência Social”. Concorda-se que ele propõe uma mudança que revolucionaria o setor e

que mudaria a legislação e obrigaria os empregadores a pagarem todos os custos dos

acidentes de trabalho ocorridos com seus empregados, no caso de negligência da empresa.

“A partir do momento em que o empresário sentir no bolso os custos dos acidentes, ele vai

se preocupar em investir em prevenção e saúde ocupacional”, afirma Fialho. É uma idéia

para ser debatida por empregados, empregadores e governo.

4.3. A importância da intervenção de forma tripartite.

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Além de diligenciar para que se realize de forma democrática toda o sistema de análise

para revisão ou criação de normas relacionadas a saúde do trabalhador, a CTPP também

gerencia a meta "trabalho é vida" do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade.

Destacam-se abaixo alguns projetos em discussão:

4.3.1. Revisão e reconstrução do Modelo de Organização de Sistema Integrado de

Segurança e Saúde no Trabalho.

• Analisar o conteúdo e a forma efetiva do atual modelo de organização e legislação

em SST;

• Discutir abertamente e negociar um novo modelo de SAT;

• Debater sobre Código Nacional de Saúde do Trabalhador;

• Avaliar os princípios, responsabilidades, diretrizes e papéis dos diversos atores

sociais que objetiva a definição de um novo modelo estrutural.

4.3.2. Potencialização das políticas em saúde e segurança no trabalho.

• Aprimorar a atenção ao trabalhador acidentado e/ou portador de doenças

profissionais;

• Articular as ações governamentais dos ministérios da Saúde, Previdência, Trabalho

e Meio Ambiente visando unificar as ações e legislação pertinentes;

• Aperfeiçoar a inspeção nos locais de trabalho;

• Melhorar os sistemas de atendimento à saúde e reabilitação.

• Programar campanhas de esclarecimento às famílias dos acidentados sobre seus

direitos;

4.3.3. Implementação de sistema Integrado de Gestão em Saúde e Segurança no Trabalho:

• Negociar cláusulas compensatórias aos acidentados em convenções e acordos

coletivos;

• Apresentar o tema da segurança e saúde em todas as negociações coletivas;

• Criar e implantar um programa nacional articulado de campanhas;

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• Incluir nos currículos formais profissionalizantes e programas de qualificação e

requalificação profissional, conteúdos básicos relacionados à Segurança, Saúde e

Meio Ambiente;

• Realizar eventos e cursos nacionais, regionais e locais relacionados à SST;

• Negociar planos de ação para redução de acidentes e mortes nos setores prioritários.

4.3.4. Aperfeiçoamento e Organização de Sistema Integrado de informação e de Pesquisa

de interesse da área:

• Apontar os setores prioritários e fazer diagnósticos para guiar as ações posteriores;

• Criar banco de dados de pesquisas sobre SST;

• Padronizar os indicadores;

• Aperfeiçoar os bancos de dados e criar sistema integrado de informações à

sociedade em geral;

• Identificar de modelos nacionais e internacionais bem-sucedidos na prevenção e

eliminação de riscos;

• Definir e promover pesquisas para o controle e eliminação de riscos.

5. POLÍTICAS DIRIGIDAS À PREVENÇÃO

Para que se possam construir suportes essenciais à modificação das condições

insalubres e fortalecer a noção de que saúde não se vende e nem se delega, devemos

construir uma política dirigida à prevenção no sentido de:

a) Criar normas comuns a fim de igualá-las aos mesmos procedimentos já adotados na

União Européia, incentivando a elaboração de projetos de cooperação entre países

desenvolvidos e em desenvolvimento, pois visa aproximação do primeiro e do terceiro

mundo possibilitando melhorias nas condições de trabalho nos países cooperantes.

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b) Proporcionar intercâmbio entre profissionais capacitados e os recursos humanos nos

diferentes campos do conhecimento para que a pró-atividade seja uma constante na

organização;

c) Criar e estabelecer estratégias conjuntas de ações sindicais, contratos, metas e

instrumentos de intervenção às negociações, etc, para a melhoria das condições de trabalho,

saúde e do meio ambiente, como também para a defesa do empregado, reforçando a

democracia nos locais de trabalho e a formação de agentes de intervenção, como os

cipeiros, membros de comissão de fábrica e delegados sindicais.

Analisa-se o que está ocorrendo na máquina do Estado, não há sinais de que existe

prioridade por parte do governo federal no que se refere ao MS, pois, com as questões que

envolvem a saúde dos trabalhadores, se observa o principal objetivo setorial desse

Ministério e as áreas de financiamento de pesquisas por ele mais contempladas. No caso do

MTE, recente polêmica colocou frente a frente duas instâncias a ele vinculadas, o DSST e a

Fundacentro, que atuam na saúde e segurança do trabalho e estavam “disputando” poucos

recursos do Plano Plurianual 2004-2007. Quanto ao MPS, também se preocupa com a

estratégia de “apostar todas as fichas” no chamado “Perfil Profissiográfico

Previdenciário” (PPP), cuja lógica operacional pode incorporar o “espírito” das Ordens de

Serviço emanado do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e que contribuem de

maneira visível para a descaracterização de nexos entre agravos no trabalho, possibilitando

a negação de benefícios acidentários por parte da Perícia do INSS e a maquiagem, para

menos, das estatísticas de doenças profissionais, nas quais as Lesões por Esforços

Repetitivos (Ler) eram cada vez mais prevalentes. Daí a necessidade de revogação da

Ordem de Serviço (INSS número 606), reivindicada pelos militantes.

Assim, entende-se que os males aqui apontados na atuação dos órgãos de governo que

atuam na saúde dos trabalhadores devem ser enfrentados tendo como referência as

diretrizes e princípios do SUS, os quais deverão nortear uma verdadeira Política de Estado

voltada para a intervenção no campo das relações de Trabalho/Saúde, ou seja, permitir o

acesso a toda a cidadania, possibilitando a integralidade das ações tanto de caráter curativo,

como preventivo, individual ou coletivo. Buscar a eqüidade nas ações e, desenvolver ao

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máximo os canais de participação da sociedade organizada na perspectiva de valorizar os

espaços de controle social das ações de Estado.

É do SUS o papel principal na coordenação das políticas nesse campo, as quais têm

caráter eminentemente intersetorial, atuando como a instância de articulação das várias

estruturas do Estado e que desenvolvem as atividades que devem compor de maneira

integrada ações em Saúde do Trabalhador. Neste sentido, a intervenção sobre os processos,

condições e ambientes de trabalho visa o controle de riscos e danos e está calcada na

perspectiva da Vigilância em Saúde do Trabalhador, a partir de uma abordagem

epidemiológica e coletiva, considerando o conhecimento do território no qual se situa o

parque produtivo.

Conforme ressalta NOGUEIRA (2007),

“As necessidades de saúde da população que nele habita e trabalha suas instâncias de representação social e política. O mesmo rumo deve nortear as ações de assistência à saúde dos trabalhadores, seja na rede básica, seja nos níveis hierarquicamente mais altos do SUS”.

Trata-se, portanto, de incluir a temática da Saúde do Trabalhador na agenda de

compromissos nacionais, e possivelmente internacionais, dentro dos marcos da

globalização não excluso e do desenvolvimento sustentável, na perspectiva da soberania

dos anseios do povo brasileiro.

6. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

Constata-se que existe uma abordagem limitada quando se trata das questões relativas

ao meio ambiente do trabalho, pois sofrem conseqüências semelhantes às situações de risco

e os impactos ambientais decorrentes dos processos produtivos, pois comprometem o

conjunto dos trabalhadores e as coletividades vizinhas, tendo seus custos transferidos para a

sociedade. Nesse processo, o trabalhador é a principal vítima das conseqüências negativas

da deterioração do meio ambiente interno e externo, sofrendo uma tripla agressão:

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1) Como trabalhador, ao ocupar uma função na produção ou na prestação de serviços,

através da exposição a métodos de trabalho e substâncias agressivas que

contaminam o interior das indústrias com maior intensidade em função de seu grau

de concentração mais elevado nos próprios locais de trabalho.

2) Como cidadão, pela contaminação do solo, água e ar, especialmente se residir, nas

proximidades da indústria ou das rotas de transporte dos materiais produzidos ou

utilizados na produção.

3) Como consumidor, ao utilizar-se de uma série de produtos e serviços dos quais

desconhece as possibilidades tóxicas.

É natural admitir que o homem passasse a integrar plenamente o meio ambiente do

trabalho no caminho para o desenvolvimento sustentável preconizado pela nova ordem

ambiental mundial. Segundo ANDRADE (2004), “Entende-se que o meio ambiente do

trabalho é um conjunto de fatores que interligados estão presentes e envolvem o local de

trabalho do indivíduo”. Diante disto, pode-se afirmar que o meio ambiente do trabalho deve

ser considerado como bem a ser protegido pelas legislações para que o trabalhador possa

usufruir de uma melhor qualidade de vida.

Como ainda explica ANDRADE (2004):

“A defesa do meio ambiente incorporou-se definitivamente como uma das principais reivindicações dos movimentos sociais no Brasil e no mundo. Tradicionalmente classificado em quatro espécies distintas, quais sejam, meio ambiente natural, artificial, cultural e laboral”

É o Ministério Público do Trabalho que possui a responsabilidade de zelar pela defesa

da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis referentes à última.

Segundo Celso Antônio Pacheco Fiorillo, no Curso de Direito Ambiental Brasileiro

(2003, p. 22/23), o meio ambiente do trabalho também é definido como:

“... local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do

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meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc)”.

6.1. As Papel das Instituições do meio ambiente do trabalho

No âmbito das repartições públicas federais, estaduais e municipais o papel é zelar pela

proteção e fazer da saúde no ambiente de trabalho a melhor qualidade possível do meio

ambiente. Vários órgãos apresentam uma defasagem estrutural, ou na ausência de materiais

ou de pessoal capacitado. Em outros casos, o problema é de ordem política, quando há

pressões empresariais ou das opções políticas dos governos estaduais e municipais. Outras

vezes, o problema é no campo normativo, quando a própria lei restringe o alcance da

intervenção dos órgãos ou prevê multas irrisórias para os infratores da lei. Segundo

ARAÚJO (2003), “A burocratização excessiva constitui outro obstáculo, pois tira a

agilidade da maioria das instituições públicas, tornando sua ação muito morosa”. Fazer com

que estas instituições resolvam seus problemas relacionados a condições de trabalho e meio

ambiente, constitui um direito de cidadania. Fiscalizar a veracidade e competência com que

esses órgãos cumprem seu papel, mais do que um direito, constitui obrigação da sociedade

civil organizada.

6.2. Previsão Constitucional para o meio ambiente do trabalho

Na proteção ao meio ambiente prevista na Constituição Federal, insere-se também o

meio ambiente do trabalho, pois como afirma FIORILLO (2003):

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações”

Além de competir ao sistema único de saúde “colaborar na proteção ao meio ambiente,

nele compreendido o do trabalho” (artigos 200, VIII e 225). Além disso, a Carta Magna

estabelece expressamente como direito social dos trabalhadores urbanos e rurais a “redução

dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (artigo

7º, XXII).

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Também constam no Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras

atribuições, nos termos da lei: (…) E no inciso. VIII - colaborar na proteção do meio

ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Laura Martins Maia de Andrade esclarece que:

‘’Deduzimos, pois, que na proteção do meio ambiente do trabalho é de rigor observar o contido no art. 7º, inciso XXII, que determina a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, coibindo-se, desta forma, a degradação das condições ambientais, desde que efetivamente observado o quanto resta estabelecido tanto na Consolidação das Leis do Trabalho, como na Portaria n. 3.214/1978, do Ministério do Trabalho, e, também, nas Constituições e leis estaduais e municipais, além, das convenções e acordos coletivos do trabalho, no que respeita à preservação da saúde dos trabalhadores. É direito fundamental de a pessoa humana ter assegurada sua vida (art. 5°, caput, da CF) e saúde (art. 6°, da CF), no meio em que desenvolve suas atividades laborais’’.

6.3 Postura do Ministério Público perante o acidente de trabalho

O objetivo principal da atuação do MPT é prevenir para dar reais condições de saúde e

segurança no trabalho. O Ministério Público age a partir do recebimento de denúncia ou ao

ter notícia de que as normas de saúde e segurança não estão sendo respeitadas.

A garantia de um meio ambiente de trabalho seguro e saudável está entre as prioridades

de atuação do Ministério Público do Trabalho. Em sua atuação nessa área, baseia-se no

conceito de saúde e segurança elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nas

normas da Organização Internacional do Trabalho, na Constituição Federal, na CLT, bem

como nas portarias e normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego.

Sua ação visa prevenir a ocorrência de acidentes do trabalho ou doenças profissionais.

O MPT adota todas as providências necessárias para afastar ou minimizar os riscos à saúde

e à integridade física dos trabalhadores, obrigando o cumprimento das normas referentes ao

meio ambiente de trabalho.

A função institucional do Ministério Público do Trabalho é Promover a ação civil

pública, o inquérito civil e outros procedimentos administrativos para a proteção do

patrimônio público e social; do meio ambiente do trabalho; dos interesses difusos, coletivos

e individuais homogêneos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente

garantidos.

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Conforme a Constituição Federal de 1988 “... também se põe ao auxílio quando dispõe

que é direito de todos terem um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um

bem de uso comum do povo”. Percebe-se a preocupação com a qualidade de vida e com o

dever do Poder Público da coletividade de proteger as gerações presentes e futuras.

Entre os ramos do direito, afirma-se que o direito tributário possui um instrumento

eficaz para o Estado intervir na política ambiental. Isso pode e devem ocorrer com

incentivos fiscais a tecnologias, atividades e produtos desenvolvidos de maneira

ecologicamente corretos, como assegura ANDRADE (2004):

“O Estado deve se comprometer em estimular para que um maior número de pessoas e empresas utilize estes produtos, aplicando diferenciação de alíquotas conforme a seletividade e essencialidade dos produtos e atividades que contribuam com a preservação ambiental”.

7. MEIOS DE INCENTIVO À PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DO MEIO

AMBIENTE DE TRABALHO

O estudo de impacto ambiental, a educação ambiental, áreas de proteção ambiental,

reserva legal, projetos ecológicos, planos direção ecológica, aterros sanitários, reciclagem

do lixo, tratamento de esgoto, e outros tantos, são meios de incentivo à preservação do meio

ambiente do trabalho e dos colaboradores.

Estimular as pessoas físicas e jurídicas a agirem de modo ecologicamente correto. É

responsabilidade do Poder Público que tem o papel constitucional estabelecido para impor

os meios de incentivos ao meio ambiente.

Aplicadas em sua maioria, as ações estatais em torno da proteção ao meio ambiente

consistem em sancionar, com a previsão de aplicação de multas entre outras sanções

administrativas e penais.

No ponto de vista ambiental é necessário haver incentivos que atinjam o

comprometimento dos trabalhadores em toda a cadeia produtiva, com intuito de estabelecer

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o desenvolvimento de produtos, atividades e tecnologias consideradas ecologicamente

corretas. Segundo ARAÚJO (2003),

“Um dos mais importantes incentivos à proteção do meio ambiente pode partir de instrumentos econômicos e tributários voltados para as políticas ambientais, que possam influenciar de maneira decisiva na mudança de comportamento dos agentes poluidores”.

Comprova-se claramente que o meio ambiente é um bem jurídico-constitucional

elevado ao caráter de direito fundamental, visto que garante a sobrevivência da vida no

planeta. Diante do exposto, é inegável que a conscientização ambiental deve atingir a todos,

principalmente ao Poder Público, que tem o dever constitucional estabelecida em promover

políticas de incentivos ambientais.

Ainda complementa ARAÚJO (2003) que “... pode-se alcançar esse fim através do uso

de impostos, já que nesse caso, o maior objetivo não é a obtenção de receitas para o Estado,

e sim a proteção efetiva a um bem inestimável para a sobrevivência humana”. Nesta

dimensão, acredita-se que o mecanismo mais eficiente que o Poder Público tem para

intervir na preservação do meio ambiente é por intermédio da tributação ambiental.

E, dentre os tributos o de maior abrangência é o ICMS, que caminha por toda a cadeia

produtiva, e deve ser explorado ambientalmente na sua função fiscal, com incentivo à

prática de comportamentos ecologicamente corretos.

O uso do ICMS com priorização ambiental é o que vem sendo realizado naqueles

Estados que destinaram uma parcela da sua quota-parte do ICMS para atender fins

ecológicos, como forma do Poder Público cumprir com seu dever de preservação do meio

ambiente.

No entanto, esse denominado ICMS Ecológico, na forma como é usado hoje, deve ter

seu conceito ampliado, com objetivo de atingir um número maior de pessoas, com

contribuição mais ampla para o meio ambiente.

Esse incentivo fiscal poderá fazer com que a população, de modo geral, priorize a

utilização e o consumo dos produtos ecologicamente corretos, em detrimento de outros que

agridem o meio ambiente.

Afirma ainda ARAÚJO (2003) que:

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“desta maneira, que a extra fiscalidade tributária do ICMS é um importante instrumento para fomentar o desenvolvimento de um meio ambiente saudável, com respeito à sadia qualidade de vida para os presentes e futuras gerações”.

São os resultados de fatores sociais que permitiram até mesmo impulsionam a

realidade sob forma jurídica, pois concretiza o meio ambiente ecologicamente equilibrado e

de forma explícita mostra a sua relevância para o desenvolvimento das relações sociais.

Na doutrina, a valoração dogmática desse direito não é uniforme. Como considera

FIORILLO (2003), “... o direito da personalidade e, simultaneamente, como um direito é

uma garantia constitucional”, ou seja, direito fundamental na visão constitucional de 1988 e

direito de personalidade, na perspectiva do Direito Privado. Outros o reputam,

simultaneamente, como um direito e princípio, ou, ainda, encarnação de direito humano ou

de direito subjetivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O meio ambiente de trabalho adequado é um dos mais importantes direitos do

cidadão trabalhador, cujo desrespeito agride a toda a sociedade que finalmente paga para a

previdência social. E para se prevení-lo, se faz necessária uma atuação conjunta dos meios

de fiscalização do Ministério do Trabalho e do SUS, incluídos neste os Centros de

Referência de Saúde do Trabalhador, que na prática têm prestado prontos e relevantes

serviços nessa tarefa que é de todos. Todas essas posições têm em comum a inclusão da

proteção ambiental no plano mais elevado do caderno de direitos reconhecido do cidadão.

CONCLUSÃO

A prevenção ao acidente de trabalho consta obrigatoriamente nas normas de

segurança, saúde e meio ambiente e precisa ser eficaz para a atuação integrada dos

principais atores sociais: empregados e empregadores, por meio de seus legítimos

representantes de órgãos públicos para que se faça cumprir a legislação vigente. Logo, é de

suma importância que haja interação e legitimidade nas tomadas de decisões e ações

prevencionistas de todos os órgãos envolvidos no processo.

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A lei é clara e espera-se que com estas reflexões despertem interesse para os

assegurados e empresários com o objetivo de sensibilizar a todos quanto à necessidade de

se prevenir os acidentes do trabalho, melhorar a segurança dos trabalhadores, assegurar

saúde e conservação do meio ambiente de trabalho, pois acontece que muitos irmãos

brasileiros, labutando pelo sustento diário, continuarão perdendo suas vidas ou tornando-se

inválidos da Previdência Social.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Laura Martins Maia de. Meio ambiente do trabalho e a ação civil publica

trabalhista. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2003, pgs. 143-44.

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 7.°ed.

ver. ampl. Atual, 2004.

ARAÚJO, Claúdia Campos de; FERREIRA, Maria Isabel Reis; SANTOS, Simone

Marques dos. Meio ambiente e sistema tributário: novas perspectivas. São Paulo: Editora

SENAC São Paulo, 2003.

BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 4ª ed. São

Paulo: Ed. Saraiva, 2003.

GROTT, João Manoel. Meio Ambiente do Trabalho, Prevenção e Salvaguarda do

Trabalhador. Curitiba: Juruá Editora, 1.ªed., 2.ª tiragem, 2003.

NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Direito Ambiental – Coleção Estudos Direcionados. São

Paulo: Editora Saraiva, 2007.

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VADEMECUM, 6.ª ed., Editora RIDEEL, 2007.

Sites Consultados:

www.bndes.gov.br/conhecimento/revista, acesso em 06 de julho de 2008 às 16:45 h.

http://www.previdenciasocial.gov.br/anuarios, acesso em 07 de julho de 2008 às 20:00 h.

http://www.fundacentro.gov.br, acesso em 07 de julho de 2008 às 17:15 h.

http://www.pgt.mpt.gov.br/pgtgc/, acesso em 07 de julho de 2008 às 19:20 h.