Gods and Monsters - VISIONVOX

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Transcript of Gods and Monsters - VISIONVOX

Ele era um artista. Ela era sua musa.

Para todos na cidade, Abel Adams era a cria do diabo, um garoto que nunca deveria ternascido. Um monstro.

Para Evie Hart, de 12 anos, ele era apenas um garoto de cabelos dourados, camisetasmacias e uma câmera. Um garoto que adorava tirar uma foto dela e roubar seus chocolatesantes do jantar. Um garoto que a fez se sentir especial.

Apesar dos avisos de sua família, ela o amou em segredo por seis anos. Eles seencontravam em salas de aulas vazias e se beijavam nos armários escuros da igreja. Até queeles não puderam.

Até chegar a hora de escolher entre o amor e a família, Evie escolheu o Abel.

Porque o amor deles valia o risco. O amor deles era uma lenda.

Mas o problema das lendas é que elas são fábulas. Elas são feitas de escolhas e erros. Epara Abel e Evie, o artista e a musa, esses erros surgem na forma de luzes, câmera e sexo.

Disponibilidade:

Federicci

Tradutora e Revisora Inicial:

Federicci

Revisoras Finais:

Bia e Li

Leitura Final:

Tuka

Diagramação:

Federicci

Arlequina’s Legacy Traduções

ALT

Dedicação

Para meu marido - eu não estaria escrevendo sem ele.

E para aqueles que amaram de forma imprudente, perdidamente, insanamente...

Eu não tenho medo de monstros.

Nunca tive. Nem quando eu era pequena e a minha mãe costumava dizer que se eu comessechocolate antes do jantar, o monstro debaixo da minha cama iria me pegar.

Bem, eu sempre pensei, por que ele iria me pegar se eu comesse chocolate? Por que ele seimportaria com o que eu comi? Ele queria meu chocolate para ele? Ele estava com fome? Porquese estivesse eu poderia compartilhar totalmente.

Então, quando tinha cinco anos, decidi que, se algum dia conhecesse um monstro, eu daria aele um pedaço do meu chocolate e pediria para ele parar de tentar ser assustador.

Isso não vai funcionar comigo, eu diria.

Não acho que os monstros sejam todos maus ou perversos, na verdade. Acho que o que elestêm é uma história e gosto mais de histórias do que de qualquer outra coisa no mundo. Eu possogostar mais de histórias do que de chocolates - Toblerone, especificamente.

Enfim, eu tenho doze anos agora. Continuo achando isso e como chocolate antes do jantar,não importa o quê. Na verdade, eu tenho um esconderijo secreto aqui. Minha casa na árvore.

É o meu lugar favorito no mundo. É pequeno e aconchegante, com almofadas no chão, umadas quais estou ocupando agora e um tapete multicolorido. Mas a parte mais impressionante é acor das paredes. Parece ensolarado, pintado de amarelo por toda a parte. Meu pai a pintou noverão passado no meu aniversário. Combina com a cor do sol e também com o meu cabelo. Meubem mais precioso é um baú velho que fica bem ao meu lado. Ele carrega todos meus segredos:meu estoque de Toblerone, muitos e muitos livros e meus diários.

Escrevo em diários desde que eu me lembro. Acho que vou ser escritora um dia. Mas nãosei sobre o que vou escrever. Por enquanto, escrevo sobre minha vida, sobre o que faço todos osdias. E um dia, quando adulta, voltarei e contarei uma história.

Um dia, as pessoas lerão o que eu escrevi sentada na minha casa da árvore ensolarada,comendo o meu Toblerone e brincando com os fios soltos dos meus cabelos amarelos. Eles lerãoas minhas histórias, as relerão. Talvez eles as amem, as odeiem ou talvez não sintam nada. Maseles vão se lembrar de mim, e talvez até falem de mim há anos.

Não seria melhor? Vivendo para todo o sempre.

Normalmente, eu posso ficar sentada aqui por um longo tempo, mas hoje não consigo mesentir confortável. Minha bunda ficou dormente e estou tendo que mover e arrumar minhaposição a cada cinco segundos.

Ah.

Eu odeio isso. Eu odeio ser uma mulher agora. Foi assim que minha mãe falou quandoentrou no meu quarto para me acordar hoje e viu meus lençóis florais manchados de sangue.

Estava grudento e fedido e, no meu estado grogue, pensei que ia morrer. Que alguém veiodurante a noite quando eu estava dormindo e cortou minhas entranhas, e eu estava sangrando.Lágrimas escorreram pelo o meu rosto enquanto pensava em todas as coisas divertidas emaravilhosas que eu não conseguiria fazer neste verão. Eu ia morrer sem escrever a minhahistória. Eu precisava escrever. Essa era a única coisa que eu sempre quis.

— Mamãe, eu vou morrer, não é? – eu sussurrei.

Minha mãe me deu um olhar severo e me disse para enxugar minhas lágrimas. — Você nãoé mais um bebê, Evie. Não seja tão dramática. É apenas a sua menstruação.

Menstruação.

Ah, ok. As coisas se encaixaram depois disso. Claro, eu sabia disso.

Sei sobre menstruações. Quem não? Mas o sangue pode torná-la estúpida e pensar em coisasterríveis. Embora eu desejasse saber como era desconfortável usar um absorvente. É como andarcom um cuecão constantemente. Odeio estar menstruada. Odeio. Detesto. Desprezo. Abomino.

Ok, é isso. Essas são as palavras que eu sei que descrevem o ódio. Eu amo sinônimos. Atétenho um dicionário grosso dentro do baú que leio todos os verões apenas por diversão.

— Você pode parar de se mover por um segundo? – Sky, minha melhor amiga, murmura. —Eu preciso me concentrar.

Olho para cima de onde estou sentada e me concentro nela. O nome dela é Skylar, mastodos a chamam de Sky. Como o meu nome é Evangeline, mas todo mundo me chama de Evie.Ela é a minha melhor amiga no mundo inteiro.

No momento, ela está ocupada amarrando a tira de borracha em volta do galho de árvore emforma de garfo. Ela está fazendo um estilingue. Sua arma preferida, ela diz.

Sim, Sky é um tipo de garota que precisa de armas em sua vida. Eu teria medo dela se nãofosse sua amiga. Porque ela é sedenta de sangue e odeia quase todo mundo, e ela tem uma longalista de pessoas que quer matar. Seu rosto está abaixado e eu só posso ver seus cabelos pretos ebagunçados enquanto os fios do comprimento do queixo tocando seu rosto.

— Não consigo me sentir confortável. – eu resmungo.

Ela abaixa o estilingue pela metade e olha para cima; seus olhos cinza estão arregalados etempestuosos. — É aquilo?

— Sim.

Ela faz uma careta. — Então, tipo... você sente alguma coisa?

— Como o quê?

— Eu não sei, como quando isso sai.

— Ai credo. Que nojo. Não.

— Sério? Nada mesmo? Quero dizer, está saindo de você.

— Você é a pessoa mais nojenta que já conheci. – eu estreito os olhos e tento me mover umpouco. Eu sinto algo, uma sensação estranha como se uma bolha está saindo de mim. — Ah. Eusenti isso agora.

O rosto de Sky está tão horrorizado que quero rir. Mas estou muito ocupada sentindo omesmo horror.

— Ah, meu Deus. – ela suspira.

— Mal posso esperar para você ter isso também, para que possamos ficar infelizes juntas.

Ela recua como se eu tivesse dado um tapa nela. — Não acredito que você acabou de dizerisso. Eu sou sua melhor amiga. Por que você desejaria isso para mim?

— Porque isso acontece com todos. Quero dizer, toda garota.

Ela estreita os olhos, brincando com a arma, como se planejasse um assassinato. — Euodeio isso. Eu absolutamente odeio isso. Tipo, temos que pagar o preço por ser uma garota. – elaolha para cima, como se estivesse falando com Deus. — Ei, eu nunca pedi para ser uma garota,ok? – Olhando para baixo, ela balança a cabeça. — Isso é besteira e por causa disso eu vou terpeitos. Eu não quero peitos. Eu odeio peitos. Quer saber? Tem que haver uma maneira de pararisso.

Essa é a Sky. Ela é uma espécie de justiceira. Se alguém puder mudar o mundo, será ela.Eu? Estou feliz com o jeito que as coisas são. Eu estou bem em ter peitos. Na verdade, estouansiosa para isso. Eu sei que vou ter peitos grandes. Isso é de família. Minha mãe e todas asminhas tias têm eles grandes. É assim que as mulheres de nossa família são constituídas:curvilíneas e baixas, e eu estou bem com isso.

Não quero mudar o mundo. Eu só quero ficar nesta casa da árvore para todo o sempre,suspensa entre o céu e a terra, e escrever no meu diário e comer meu chocolate.

Mas isso não é possível.

Olho para cima e, através da abertura nas ripas, percebo que o céu ficou laranja. Droga. Osol está se pondo e logo estará escuro.

— Nós temos que ir. Minha mãe vai ficar brava. – eu fecho o meu diário e como o últimopedaço de Toblerone derretido antes de guardar tudo no meu baú.

— Cara, quando a sua mãe não está brava? – Sky resmunga, mas guarda suas coisas.

Nós duas nos levantamos e o chão pintado de amarelo range. Sky é a primeira a descer. Elanão pode sair daqui rápido o bastante; ela odeia esta casa na árvore porque tem medo de altura.Mas ela negará isso completamente. Ela é durona demais para ter medo.

Admito, peitos à parte, que realmente não vejo o ponto de sangrar todos os meses, e essenegócio de absorventes é nojento. Discretamente arrumo minha calcinha e desço a escada.

Nós duas chegamos ao chão e, como sempre, Sky começa a correr, com suas botas decombate batendo no chão. Não acredito que ela não está absorvendo as coisas. Ela não estáabsorvendo os raios moribundos do sol ou sentindo a suavidade da grama ou tocando a cascaáspera das árvores, ou mesmo cheirando a milho.

Poderia passar toda minha vida aqui fora na floresta ou na propriedade. Na verdade, o meupai diz que quando eu era pequena, tinha cabelos e olhos escuros como meus pais, e tinha ohábito de vagar pelos milharais de nossa casa. Eu costumava ficar aqui fora por horas antes quealguém pudesse me encontrar. Isso costumava deixar minha mãe superbrava, e então um dia elesme encontraram nos campos com cabelos amarelos e olhos azuis. Papai diz que eu absorvi a cordo sol e do céu. É uma bela história, mesmo que eu saiba que é impossível.

Papai também gosta de histórias. Eu herdei o vírus de leitura dele.

Minha casa na árvore está localizada no meio da floresta atrás da minha casa. Não éprofunda ou densa ou algo parecido com a floresta real onde os animais vivem. É apenas umconjunto de árvores muito altas que são agrupadas e formam um dossel no alto. O chão temflores silvestres e a grama mais macia que você já sentiu. É como andar sobre seda. Fica muitobonito quando chove, todas as cores são nítidas e desmatado.

Eu saio da floresta e entro na propriedade que meu pai possui. Eu posso ver nossa casa àdistância, subindo o caminho de terra que corta os longos campos de milho. É branco, comjanelas com persianas cinza e uma varanda envolvente. Existem degraus de madeira que levam àporta da frente, mas não posso usá-la se tiver passado muito tempo fora. Isso significa que estousempre usando a porta dos fundos que cruza a cozinha. Mamãe diz que fico muito suja para umagarota de doze anos. Olho para mim mesma e noto manchas da grama no meu vestido rosa, pés epanturrilhas enlameadas.

É isso mesmo.

Perdi meus sapatos novamente. Juro que estava com eles quando estava na casa da árvore.Devo voltar e conferir? Mamãe vai ficar tão, tão brava. Tipo, superlouca onde ela belisca asminhas coxas e minha cintura para chamar a minha atenção. Assobio quando a dor surge no ladodireito da minha cintura, onde mamãe foi bastante brutal na última vez que perdi meus sapatosna floresta e apareci com pés enlameados e cortados.

Estou pronta para voltar, porque eu não correrei o risco de ser beliscada novamente, masnoto Sky lá na frente, de pé junto à caixa de correio, com os olhos em alguma coisa. Não consigover o que é, mas fiquei curiosa, então continuo andando.

Quando a alcanço alguns segundos depois, uma caminhonete branca entra em minha visão.Está mais enferrujada do que branca, com a tinta descascando nas laterais e nas portas. Eleestremece e faz barulho como se fosse quebrar a qualquer segundo quando seguisse pelocaminho de terra. O caminho de terra que cruza a rodovia e ao redor de nossa propriedade,levando à casa do vizinho.

Peter Adams.

Ele é o bicho do mato da cidade. Ele quase não sai nem fala com as pessoas. Houve apenas

algumas vezes que eu o vi pela cidade. Ele tem cabelos loiros escuros e pouco grisalhos, e olhosque parecem um pouco perdidos às vezes. Ele é quieto e sempre foi bom comigo.

No ano passado, eu tinha uma enorme torre de livros que tinha acabado de pegar nabiblioteca da cidade e, enquanto caminhava pela rua até onde mamãe havia estacionado o carro,tropecei e deixei cair todos eles. O Sr. Adams veio em meu socorro e me ajudou a pegar todos oslivros. Quando agradeci, ele não disse nada e foi embora. As pessoas estavam me dando olharesestranhos e os rumores disso chegaram até a minha mãe. É claro que ela retaliou - ela retaliavacontra tudo o que tem a ver com a família Adams. Ela gritou comigo por cerca de uma hora. Osmachucados daquela semana foram mais brutais do que qualquer coisa que já tenha sofrido.

Ah, bem. As coisas são como são. Embora nunca tenha falado com o Sr. Adams depoisdisso, ainda acho que minha mãe exagerou demais. Seu ódio por Peter Adams é um poucoexagerado. Quero dizer, ele não é responsável pelo que aconteceu quinze anos atrás. Ele não éresponsável pelo que o seu irmão, David, fez. E daí que o Peter Adams pertence à mesmafamília?

A caminhonete para embaixo de uma árvore sem folhas. É verão e há vegetação por todaparte, mas nunca vi essa árvore ter folhas. Quanto estranho é isso? Sempre foi fina e esquelética.Como se tivesse morrido há muito tempo. Isto me deixa triste. Todo mundo merece um pouco decor em sua vida.

A porta do lado do motorista se abre e sai Peter Adams. Ele está vestindo uma camisaxadrez e calça desbotada. O cabelo dele ficou mais ralo no último ano e quase todos os fios sãogrisalhos. Ele caminha até a traseira da caminhonete e abre a porta traseira com um barulhogigante e abaixa uma pequena mala.

Ele tem visitas? Mas nunca vi ninguém o visitando antes. Estou muito curiosa agora eparece que Sky está da mesma maneira.

Um par de pernas longas sai da cabine e atinge o chão. Quem quer que seja, seus sapatosestão sujos: esse é o meu primeiro pensamento. Tênis de lona branca com manchas de lama portoda parte. Ah, eu posso me identificar totalmente com isso. Nunca consigo manter meus sapatoslimpos, se estiver usando eles. Movo os meus dedos sujos e expostos na lama, odiando o fato deque eu vou sofrer uma boa contusão por minha mãe.

Todos os pensamentos de ser punida desaparecem da minha cabeça quando a visita sai dacaminhonete. É um garoto.

Um garoto alto, com roupas largas e amassadas, e uma mochila no ombro. Parece maispesada que a mala que o Sr. Adams está carregando. Há um rasgo no jeans do garoto e fiosbrancos pendurados como um conjunto de presas.

Seu cabelo está todo bagunçado, tocando suas sobrancelhas. Brilha ao vento que de repenteparece ter aumentado. É loiro. Bem, não é como o meu loiro. Meu cabelo é amarelo como o sol,enquanto o dele é mais um tipo de loiro escuro. Como se você mergulhasse o sol em um cafécremoso e saísse com uma sombra que combina com o cabelo dele. Dourado.

Sr. Adams se aproxima dele e o garoto vira os olhos para encará-lo. Uau. Há muita raiva

neles. Eu nunca vi alguém tão bravo. Nem minha mãe. Se eu fosse o Sr. Adams, estariatremendo. Puxa, esse garoto é alto. Ele é mais alto que o Sr. Adams, até. E os seus punhos estãofechados como se ele quisesse dar um soco no rosto de Adams.

As narinas do garoto inflam e sua mandíbula fica tensa, como se ele estivesse rangendo osdentes. Estou fazendo uma careta, pensando que isso vai acontecer a qualquer segundo agora. Ogaroto vai dar um soco no Sr. Adams.

Ah, meu Deus, devo fazer alguma coisa? Gritar? Pedir ajuda? Por que ele está tão bravocom ele, afinal?

Mas então o garoto se vira, mais como um giro, e bate a porta da caminhonete. Ele faz issocom tanta força e rapidez que toda a cabine treme; Juro que vejo manchas de tinta voando. Osom é como um trovão. Uma explosão de bomba. Um grande estrondo.

O silêncio que se segue é muito mais nítido. Posso ouvir Sr. Adams dizendo algo para ele -não parece bom - antes que ele caminhe até a casa com raiva, deixando o garoto para trás.

Eu posso ouvir minhas próprias respirações. Eu posso até ouvir as respirações altas dogaroto. Sinto-me tremendo, como se estivesse com frio, o que é ridículo porque faz calor hoje.Estou suando também, mas não consigo parar de tremer.

Ainda estou olhando o garoto enquanto ele fica lá sozinho, com os punhos fechados,olhando para o céu laranja, quando um som alto destrói tudo. O silêncio e a paz tensa.

— Evie!

Essa é minha mãe me chamando com uma voz estridente.

— Vamos, Evie. – Sky murmura e se vira.

Mas não consigo me mexer. Meus pés estão presos na lama; meus dedos estão encolhidos.Porque naquele exato momento em que minha mãe chamou meu nome, o garoto olhou para mime nossos olhos se encontraram.

Meu tremor para e sinto uma explosão de calor por todo o lado. Ele ainda está bravo, ajulgar pela grande cara feia e pelos olhos estreitados. Meu coração começa a bater muito rápido.Posso sentir isso nos meus dentes e na minha têmpora. Quando seus olhos abaixam nas minhaspanturrilhas cheias de poeira, meu coração palpita também, e me sinto constrangida. Segurandomeu vestido, coço a panturrilha direita com o dedão do pé esquerdo.

Ok, então não estou muito apresentável no momento, mas quer saber? Ele também não está.Os sapatos dele estão sujos. Sua camiseta preta tem buracos por toda a gola e seu jeans estárasgado.

Eu franzo a testa para ele também. Ele está me julgando? Porque se ele está, então eu nãogosto dele e eu gosto de todos.

Na luz do sol, não consigo ver os mínimos detalhes do rosto dele, mas juro que o que vejo...me faz derreter. Não é como sorvete, mas meio que escorre. Sua cara feia desapareceucompletamente e os seus lábios meio que se movem. Contraindo-se em um sorriso de lado.

— Evangeline Elizabeth Hart, volte aqui agora. – Minha mãe chama novamente.

— Droga. – murmuro baixinho. Minha mãe é muito, muito brava. O nome completo éreservado para situações urgentes.

Com um último olhar para o novo garoto, que ainda acho que está sorrindo para mim poralgum motivo, eu me viro e começo a correr. Sky já está na minha varanda, longe da minha mãe.Elas não são grandes fãs uma da outra.

Enquanto minha mãe está me arrastando para dentro de casa, eu me viro e o encontro paradono mesmo lugar. Ele é apenas uma silhueta lá.

Um contorno com cabelos dourados, camiseta preta e uma mochila contra o céu laranja.

Moramos em um lugar chamado Prophetstown, em Iowa. É uma pequena cidade onde todosse conhecem, com milharais exuberantes e céu aberto. É o tipo de lugar onde você vai quererandar descalço e ficar lá fora o tempo todo com o cabelo solto e despenteado. É assim que eujustifico não querer usar sapatos e não querer trançar meu cabelo.

Existem duas coisas que definem esta cidade: nossa igreja, o edifício mais alto e maisantigo, e a lenda. A lenda de David Adams e Delilah Evans. Bem, as pessoas não chamam assim,mas é assim que eu chamo.

Anos atrás, David e Delilah se amavam. Ninguém sabia sobre seu caso até que Delilahapareceu grávida, e então o inferno começou. Eles trancaram Delilah porque ela era uma garotamuito má. Já ouvi a palavra vagabunda associada a ela. Eles iriam colocar David na prisãotambém. Mas de alguma forma, os dois fugiram antes que isso acontecesse. Eu não tenho certezade como tudo aconteceu, mas desde então as pessoas os odeiam, tipo, muito. Eles sãoprovavelmente as pessoas mais odiadas depois do diabo.

Ouvi minha mãe dizer que depois que eles saíram da cidade, Sr. Adams, o pai de Davidmeio que definhou e morreu alguns anos depois. Isso foi um choque para um cidadão honesto da

cidade, que criou os filhos sozinho depois que sua esposa faleceu de câncer. Minha mãe disseque ele era muito querido e veja o que esses monstros fizeram com ele. Depois que Sr. Adamsmorreu, Peter Adams, irmão de David e outro filho do Sr. Adams, meio que se afastou ecomeçou a se manter sozinho.

Sabe, David e Delilah nunca deveriam se apaixonar um pelo outro, muito menos ter umfilho juntos. Delilah era prima de David e Peter. Ela veio morar com eles quando era apenas umacriança e seus pais haviam morrido. Basicamente, ela cresceu com David e Peter, e todos ostratavam como irmãos de verdade, e não como primos. Todos ficaram horrorizados quandosouberam do caso. Isso era errado, imoral e doentio. E aquele bebê? As pessoas o chamam deabominação. A cria do diabo. Eles disseram que apenas monstros podem ser criados a partir deum amor como o de David e Delilah.

Alguns dizem que eles foram para Nova York, a cidade grande e má. Mas alguns dizem queeles deixaram o país. Aposto que minha mãe sabe. Ela sabe de tudo, mas obviamente, ela não vaime dizer. De acordo com minha mãe, os dois eram monstros e deveriam ter sido internados emum asilo psiquiátrico. Ou talvez um acampamento onde as pessoas recebem choques elétricospara obter a cura para seus cérebros. Sim, essa é a solução da minha mãe para tudo.

Já ouvi inúmeras histórias de mães que mantiveram suas filhas sob vigilância rigorosa apóso escândalo. Eles não as deixariam ficar fora muito tarde. O toque de recolher era uma loucura.Todos os garotos da cidade eram suspeitos de transgressões. Cada história de amor foi frustrada episoteada. Sra. Weatherby, a fofoqueira da cidade e a melhor amiga da minha mãe, chama issode tempos sombrios, quando o amor havia morrido e a pureza dele estava manchada.

“Tudo por causa daqueles pecadores: David e Delilah”, disse ela. “Só Deus sabe o queaconteceu com aquele bebê. Ele não poderia ter sobrevivido, você sabe. Não tem como. Bebêsassim nunca são normais. Eles morrem antes da hora.”

Portanto, David e Delilah são os nossos próprios Adão e Eva, e quatorze anos atrás, elesderam à luz a um garoto. Seu nome é Abel.

Ele está muito vivo, no entanto. É o garoto com cabelos dourados e uma camiseta preta. Foiele que meio que sorriu dos meus pés sujos e vestido sujo de grama.

Ele é meu novo vizinho. Abel Adams.

A noite passada foi a pior de todas. Nunca vi minha mãe tão brava. Sky também ficouintimidada e ela nunca tem medo de minha mãe. Esperamos em um silêncio tenso até que a Sra.Davis, a mãe de Sky, veio buscá-la. Sra. Davis é a senhora mais doce de todos os tempos, com omesmo cabelo escuro e olhos cinza de Sky. Eu a amo; ela é muito mais divertida do que minhamãe.

Assim que as duas foram embora, com Sky me dando um olhar compreensivo por cima doombro, a gritaria começou. Minha mãe gritou sobre como eu era suja, selvagem, rude,incivilizada e não refinada. Bem, não com todas essas palavras bonitas, mas tudo bem. Então elame mandou direto para o banheiro, onde jogou água fria em mim enquanto eu ainda estavausando roupas, e esfregou meus pés e pernas por horas. Era bom que o chuveiro estivesse ligado,na verdade. Minha mãe não conseguia ver minhas lágrimas.

— E o que você estava fazendo olhando para aquele garoto novo? – Seus olhos escurosestavam tão agressivos que eu realmente tive que dar um passo para trás. — Você não deve serelacionar com ele, está me ouvindo, Evie? Aquele garoto não deve nem chegar perto de você. Seele fizer alguma coisa, você me diz, entendeu?

Eu queria perguntar por que, mas apenas balancei a cabeça. Na época, eu não tinha ideia dequem era aquele garoto. Mas eu sabia que se minha mãe estava ficando tão descontrolada, entãoele devia ser parente dos Adams.

Depois do jantar, ouvi minha mãe e meu pai conversando na sala de estar. A mãe contou aele sobre a chegada do novo vizinho e perguntou se todos os boatos eram verdadeiros. A voz daminha mãe é estridente e em contraste com isso, a voz do meu pai é mais baixa e calma. Saí damesa de jantar onde estava lendo um livro e me escondi atrás da parede para ouvir.

Foi quando eu soube que o bebê monstro estava vivo e ele se mudou para cá da cidade deNova York, a grande e má cidade, afinal.

— David e Delilah estão mortos. – papai disse. — Eles morreram em um acidente de carro.Peter é seu único parente vivo.

— Bem, boa viagem, então. Deus vê tudo. É hora de fazer justiça e derrotar o mal.

Minha mãe acredita muito em Deus e nos monstros. Não sei de onde ela tira essas ideiasporque na igreja não falamos sobre o diabo. O padre Knight fala sobre perdão, mas tanto faz.Minha mãe acha que Deus tem um jeito de punir o mal e matar os monstros. Deus está semprevendo, diz ela. Meu pai, no entanto, é supercalmo. Ele nunca levanta a voz e nunca discute com amamãe. Tento imitá-lo. É melhor quando a mamãe pensa que manda aqui. Para que todos nóspossamos ter paz.

Mas naquele momento, eu estava com raiva e triste. Tão triste. David e Delilah estavammortos. Só para que saiba: eu não os odeio, não como as outras pessoas odeiam, não como minhamãe odeia. Eu não acho que eles são monstros. Embora eu admita que estou curiosa. Ao longodos anos, eu me perguntei como tudo isso aconteceu. Como eles poderiam ter se apaixonadoonde não havia chance de se apaixonarem? É como cultivar uma flor em um pântano. Como algoassim acontece?

No meu quarto no andar de cima, enquanto me preparava para dormir e fazer uma oração,pensei em Abel Adams. Na minha tristeza, esqueci que ele era o único sem mãe e pai. Nãoconseguia me imaginar sozinha assim no mundo. Mesmo que minha mãe pudesse ser um poucoexagerada, eu ainda a amava. Além disso, meu pai era um máximo. Ele era o melhor pai de todosos tempos.

Saí da cama e me arrastei até a janela. Envolvendo minhas mãos em torno das grades deaço, olhei para a noite, em direção à casa do Sr. Adams com a árvore sem folhas e uma varandacaindo aos pedaços, me perguntando o que Abel estava fazendo naquele segundo.

Eu esperava que ele estivesse dormindo bem.

Agora é domingo de manhã e estou sentada em um banco duro na igreja, nos fundos.

Minhas pernas são curtas, então não chegam até o chão e eu as balanço para frente e para trás,imaginando que estou do lado de fora, no parque em um balanço de verdade. De preferência,sem os estúpidos sapatos de igreja - sapatilhas pretas - e sem a trança apertada que está fazendomeu couro cabeludo coçar.

Lamento dizer, mas o culto de domingo pode ser um pouco chato. Sem ofensa a Deus nemnada. É que prefiro estar ao sol. Além disso, é sempre lindo às nove da manhã aos domingos.Não é minha culpa.

De qualquer forma, estou sentada nos fundos com a Sky, cujos pés tocam o chão. Odeioisso. Minha mãe está na frente com Sra. Weatherby e estão ocupadas conversando sobre algo,provavelmente sobre quanto fermento em pó adicionar em seus biscoitos. Meu pai está sentadocom o Sr. Knight, o policial, e a pessoa mais importante da cidade, além de seu irmão, o padreKnight. Meu pai e o Sr. Knight são grandes amigos, foram para a escola juntos e tudo mais.

Todos estamos esperando o culto começar quando Sky se inclina. — Acho que devemos darum tempo.

— O que?

Ela gesticula com o queixo. — A porta. Vamos sair escondido.

— De jeito algum. – Meus olhos se arregalam. — Seremos pegas.

— Não se fizermos certo.

— Não. Não vamos fazer isso. – eu balancei a minha cabeça. Uma grande sacudida.

Ela se recosta com um bufo. — Você é uma desmancha-prazeres, Evie. Você arruína asminhas festas.

— Eu não. – eu a cutuco com meu cotovelo. Uma cutucada forte.

— Ai. – Sky grita e retalia. Obviamente.

Ela cravou o cotovelo no meu lado e agora sou eu que estou dizendo ai. Antes quepercebamos, estamos batendo uma na outra, sussurrando, gritando e dando olhares uma para aoutra quando alguém limpa a garganta por cima de nós. Alto.

Nós duas paralisamos com as mãos para cima, prontas para atacar. Sky é quem vê quem é;minhas costas estão viradas.

Ela sorri para a pessoa. — Ei, Sr. B. Como vai?

Eu fico aliviada, abaixando os meus braços. Ah! Graças a deus. É apenas o Sr. Bernard. Eleé o homem mais legal de todos os tempos, com um rosto amável e enrugado, e um tufo de cabelobranco. Ele é quem me traz chocolates quando a minha mãe não está olhando. Com ele étotalmente seguro. Achei que fosse outra pessoa, alguém como minha mãe ou a Sra. Weatherbyou qualquer outro fofoqueiro.

— Ótimo. Excelente. – ele ri. — Embora vocês, senhoritas, não pareçam estar indo muitobem. Estamos brigando de novo?

Eu me viro para encará-lo, sorrindo. — Ei, Sr. B. Você sabe como a Sky é violenta.

Sky bate no meu ombro por trás. — Evie também não é tão gentil.

— Ei! – eu aponto meu dedo para ela. — Eu sou gentil, ok? Eu sou uma dama. – eu viro devolta para encarar o Sr. B. — Diga a ela, Sr. B. Diga a ela... – eu paro quando vejo alguémsaindo de trás do Sr. B.

É o novo garoto. Abel.

É uma coisa surpreendente porque Peter Adams, seu tio, nunca vem à missa. Então,imaginei que Abel também não viria. Mas ele está aqui, todo alto e... dourado.

Seu cabelo dourado brilha à luz do sol que entra pela porta marrom brilhante da igreja. Eletem uma cruz de prata em volta do pescoço e há uma camada de pelos dourados em seusantebraços bronzeados. Seus dedos são longos e bronzeados também, e estão segurando na alçade sua mochila. Sua mochila? O que ele está fazendo aqui com ela? Na Igreja.

Ah meu Deus, ele já está indo embora?

Eu olho para cima em seu rosto e percebo que seus olhos estão em mim. Os olhos dele. Elessão tão calorosos, marrons cor de xarope, como mel grosso ou xarope de bordo. Ah droga.Preciso de panquecas agora, de preferência com gotas de chocolate.

Pressiono a minha mão na minha barriga, sentindo fome e, em seguida, com calor por todo omeu vestido branco de verão, como se eu tivesse ficado sentada sob o sol por muito tempo.

— Dizer a ela o quê? – Sr. B pergunta com um sorriso.

Corando, desvio o olhar de Abel e me concentro nele. — Ah, nada.

Ótimo. Minha voz soa tão insegura. Por alguma razão, fiquei muito tímida e minhasbochechas estão vermelhas.

Sky se intromete, então. — Você é o garoto novo, certo?

Contei a ela sobre Abel e tudo o que ouvi ontem à noite assim que cheguei à igreja. Agoraestou me arrependendo. Sky é franca e ela nem percebe que não tem filtro. Espero que ela não oofenda.

Sr. B é quem a responde. — Sim, este belo jovem é Abel Adams. Ele acabou de se mudarpara a cidade e o encontrei vagando pelas ruas, então me ofereci para guiá-lo na direção certa. –ele se vira para Abel. — Não é mesmo?

Sr. Bernard é um rebelde e é bom para todos, haja o que houver. Sempre gostei dele, mashoje gosto muito mais dele.

Abel acena com a cabeça uma vez em resposta à pergunta do Sr. B, com seu rosto sério efeito de ângulos nítidos. Ele está vestindo uma camiseta preta novamente e a cruz em seupescoço parece tão prateada e brilhante, como se contivesse uma luz interior.

— Nós sabemos. Ele é de Nova York, certo? Eu quero tanto ir lá. – ela se dirige a Abel: —

Ei, lá é legal? Gosta do que eles mostram na TV?

Antes que Abel possa responder, o Sr. B fala: — Garotas boazinhas como vocês não estãofalando sobre o novo garoto pelas costas, estão? Vocês nunca fariam isso. – ele nos dá um olharpenetrante. — Estou certo?

Puxa, acho que as minhas bochechas estão pegando fogo. Fogo. Arrisco um olhar para Abele o seu olhar está focado em mim, sua mandíbula que parece tão tensa e esculpida, está fechada eseus olhos estão mais malvados do que alguns segundos atrás. Quero me desculpar e prometerque nunca vou falar sobre ele pelas costas.

Mas Sky responde por nós duas, dizendo que não, e então Sr. B segue em frente, levandoAbel com ele, e eles se sentam do outro lado da igreja. Embora eu ainda tenha uma visão clara deseu perfil.

— Bebê monstro. – Sky murmura ao meu lado.

— Ele não é um monstro. – eu digo asperamente.

Suas sobrancelhas escuras tocam seu couro cabeludo. — Você está brincando comigo?

— O que? – eu olho para ela com irritação.

— Você vai falar com ele, não é? Você gosta dele.

— Eu não. – eu digo e cruzo as minhas mãos afetadamente no meu colo antes de olhar parao altar na frente. Quando o padre Knight chegará aqui?

— Ah, por favor. – ela revira os olhos. — Você estava olhando para ele e nunca olhou paraum garoto assim.

— Eu não estava olhando. – eu minto.

— Pare com isso. Eu conheço você. – ela fica séria e balança meu ombro para chamarminha atenção. — Sua mãe vai te matar se você olhar para ele, você sabe disso, certo? Mas omais importante, eles vão queimá-lo vivo porque você é a princesa da cidade.

— Não sou.

— Ah, meu Deus. – ela joga as mãos para cima. — Pare de mentir e me escute por umsegundo. Você é. Sua mãe está no comitê da igreja. Seu pai é dono da maior e mais lucrativafazenda de todas as três cidades vizinhas e vocês são amigos da família Knight. – Seu rosto ficatriste quando ela menciona os Knights - Sky não gosta dos Knights ricos e bem educados. —Pessoas como você, Evie. Você se sai bem nas aulas e é amigável com todos. Vocês são bemconhecidos, então sim, sua mãe vai expulsá-lo da cidade se vocês se tornarem amigos. Portanto,faça-lhe um favor e fique longe dele.

Meus olhos parecem embaçados e tensos e há uma ardência no nariz. Eu vou chorar e é tudoestúpido porque, por que diabos choraria? Eu nem conheço o Abel Adams.

Sky está certa. Minha mãe me mataria, e então ela o mataria ou, pelo menos, o expulsaria dacidade. Ele já está sob vigilância suficiente. Todos notaram sua chegada e estão olhando para ele,

sussurrando sobre ele, olhando para ele e para Sr. B com um olhar julgador. Não consigoimaginar como deve ser a sensação de ser excluída e analisada.

Então, sim, eu não posso ser amiga do filho de David e Delilah, o monstro da cidade.

Mas como é que tudo que consigo pensar é que ele não se parece em nada com ummonstro?

Nada. Absolutamente nada.

Ele parece solitário, sentado ali com a mandíbula tensa, enquanto as pessoas o encaram, etudo que eu quero fazer é sentar ao lado dele.

— Você... – Sky aponta o dedo, que está tremendo com sua raiva.

Seu alvo é um garoto chamado Duke. Duke Knight. Ele é a razão pela qual Sky odeia afamília mais influente da cidade, com gerações de padres e policiais.

Duke e Sky são arqui-inimigos. Eles são assim desde que nasceram. Na verdade, dizem queeles nasceram no mesmo dia e no mesmo hospital. Quando a enfermeira foi verificar o Duke

alguns dias depois, ela o encontrou olhando para o bebê à sua direita. E quem diria? Esse bebêera a Sky e ela estava olhando para ele. Só Deus sabe o que o Duke de dois dias deve ter feitopara irritar minha melhor amiga. Mas ele certamente fez algo e eles têm sido inimigos desdeentão.

Eu amo essa história. Eu acho isso fofo. Mas nunca direi isso para Sky. Além disso, estoudo lado dela e se ela quer matar o príncipe desta cidade, filho de um policial e sobrinho de umpadre, então estou com ela.

Duke sorri enquanto se inclina contra o armário, de frente para ela. — Eu?

Ele está sempre tão calmo e relaxado enquanto minha melhor amiga está atirando. Qualqueroutro garoto teria abrandado agora, mas não Duke. Ele é arrogante e confiante, e acho quesecretamente adora irritar Sky. Ele é um idiota, basicamente. Mas sempre digo a Sky para não serindulgente com ele. Ser a pessoa superior.

“Que se foda, ser a pessoa superior.” disse ela uma vez enquanto estávamos na aula, e o Sr.Hanson, nosso professor de Inglês, teve que nos calar.

Sim, não vou me meter nisso. Mas eu vou apoiá-la emocionalmente e fisicamente. Estouguardando os livros no armário da escola, já que terminamos o dia, e fico de olho em ambos.

— Você fez isso de propósito. Você me empurrou e me fez derramar o meu suco, e agoraestá nas minhas roupas, seu idiota do caralho.

Sky está de costas para mim enquanto ela enfrenta Duke. Ela é a garota mais alta da escola,mas Duke é ainda mais alto do que ela. Ele é provavelmente o cara mais alto e também o alunomais popular da escola. As pessoas o adoram e seu sorriso encantador, seu cabelo escuroespetado com gel e seus olhos supostamente gentis.

Não há nada de gentil sobre ele; Eu sei disso. Ele é como uma praga da existência para aminha amiga.

Duke levanta o queixo e ri. — Olha o linguajar, Skylar. Não queremos que os professoresouçam ou você passará sua primeira semana de volta à escola na detenção.

Ele tem razão. Sky tem um problema com palavrões. Todo mundo sabe sobre sua boca sujae ela já foi para detenção um milhão de vezes por causa disso.

Ela suspira. — Como se você não dissesse palavrões.

Ele balança a cabeça olhando para ela com diversão, completamente relaxado. — Claro quenão.

Os punhos de Sky se fecham ao lado do corpo. — Mentiroso.

Ele está sorrindo agora, com o sorriso encantador que todos caem, enquanto sussurra alto obastante para nós duas ouvirmos. — Psicopata.

Sky está balbuciando e não importa o quanto brava ela fique comigo depois, eu decidointervir. — Duke, chega, ok? Você já se divertiu.

Ele me dá um olhar inocente, levantando as palmas das mãos. — Eu nem fiz nada. Suaamiga me atacou.

Os alunos que circulam pelo corredor sorriem enquanto fazem suas atividades. Discussõesentre Duke e Sky não são incomuns. Ninguém lhes dá atenção, mas se você perguntasse, diriamque foi a Sky. Ela que começou. Porque ela é sempre aquela que causa problemas. Duke é omocinho, o melhor aluno da turma.

Sky dá um passo à frente, mas eu envolvo minha mão em torno de seu braço, impedindo-a.— Todos nós sabemos quem fez o quê, ok? Você não é o príncipe que as pessoas pensam quevocê é. Então pare de assediá-la e colocá-la em problemas.

Seus lábios se curvam em um sorriso frio enquanto ele encara a furiosa Sky, ainda falandocomigo. — Sua amiga já é um problema. Estou apenas ajudando a humanidade trazendo à tona oque há de melhor nela, porra.

Sky fica tensa com o uso deliberado da palavra com P.

Balanço minha cabeça e puxo Sky para longe dele. — Estamos indo embora.

— Tão cedo? – Duke cruza os braços sobre o peito. — Quem vai limpar essa bagunça?Devemos ligar para sua mãe?

Ele diz isso em voz alta, referindo-se ao fato de que a Sra. Davis, a mãe de Sky, é umaempregada doméstica. Ela faz limpeza para muitas famílias, incluindo os Knights.

Ah, e isso está ficando cada vez melhor. Um professor ouve Duke e se aproxima de nós.Mesmo que eu proteste e insista que foi culpa de Duke, ele ordena que Sky limpe a bagunça.

Ótimo, e tudo estava indo tão bem no primeiro dia de volta à escola.

Eu a ajudo a limpar enquanto planejamos maneiras de causar a queda de Duke. Então,somos as últimas a sair do prédio da escola. Nós nos separamos nos portões altos onde o ônibusainda está esperando. Graças a Deus. Sky mora na cidade, então ela vai para a escola todos osdias, mas como eu moro na periferia, tenho que pegar o ônibus.

Quando subo a bordo, sou imediatamente atingida pelos sussurros baixos e vaias.Normalmente, há bolinhas de papel amassadas voando por toda parte. Alguém está chamandoalguém de idiota estúpido ou alguém está rindo como se estivesse prestes a morrer. Mas nadadisso está acontecendo hoje. As pessoas estão trocando olhares furtivos umas com as outras,enquanto olham para algo por cima dos ombros.

Eu sigo seus olhos e encontro a fonte.

É o Abel.

Ele está sentado atrás, onde normalmente me sento e escrevo no meu diário.

Isso é um pouco chocante no início, mas então, eu percebo, é claro. Claro, que ele estaráaqui. Nossas escolas são opostas uma à outra. Eu vou para o ensino fundamental deProphetstown e ele para o ensino médio. Estamos separados apenas por um caminho sinuoso de

lama, mas tudo o mais é o mesmo. Até compartilhamos o mesmo campo de jogo. Eu estavaatrasada esta manhã, então meu pai me trouxe e eu perdi Abel completamente no ônibus.

No mês passado, eu o vi na cidade e em torno de sua casa. Eu até o vi na floresta uma vezquando estava descendo da minha casa na árvore. Foi meio estranho, na verdade. Eu paralisei,olhando para ele como uma idiota. Disse a mim mesma para desviar o olhar, mas não desviei. Eucontinuei olhando para ele e olhando fixamente, até que seus lábios se contraíram e um lado desua boca se curvou em um sorriso, mais como um sorriso malicioso. Então me virei e corri. Nãosei por que fiz isso, mas algo acontece comigo quando ele está por perto. Fico estranha e tímida,e meus lábios se abrem porque começo a respirar pela boca. Isso não é bonito.

O que Sky me disse na igreja semanas atrás ainda é verdade. Não consigo nem falar comele, muito menos ser amiga dele. Eu não deveria querer ser. Minha mãe iria nos matar.

Mesmo assim, quero perguntar a ele um milhão de coisas sempre que o vejo. Tipo, por queele sempre carrega uma câmera? Ou se preto é sua cor favorita, porque ele não usa mais nada.Ou por que ele me encara e por que não consigo desviar o olhar dele? Tem que haver umaexplicação para isso.

Respiro fundo e caminho pelo corredor. Está acontecendo de novo. Eu não consigo desviaro olhar, não importa o quanto eu tente. Sua cabeça está inclinada sobre algo que não posso ver,então ele não me notou. Mas sei, eu sei que ele vai. É apenas uma daquelas coisas. Natural e pré-programado.

Eu estou tão focada nele e neste fenômeno estranho que acontece sempre que estamos pertoum do outro, que não vejo ninguém agarrando meu braço até que eu seja parada. Eu me viro paraver quem pegou meu braço e é Jessica Roberts, uma das minhas colegas.

Jessica e eu sempre nos demos muito bem. — Desculpe, não queria te assustar. Mas eu só...– ela olha para a esquerda, depois para a direita. — Você gostaria de sentar aqui? Conosco?

Franzo a testa para ela. — Ah. Hum, bem, isso é tão gentil, mas acho que vou ficar no meuantigo lugar.

— Você tem certeza? – ela parece nervosa, mordendo o lábio. — Quero dizer, temos lugaresna frente.

— Mas... – eu meio que rio, não porque isso seja engraçado, mas porque a oferta dela éestranha. Eu nunca sento na frente. Mas antes que eu possa pensar muito sobre isso, um lado domeu rosto formiga. Meu olhar a deixa e se volta para o garoto sentado atrás.

Abel está me observando com seus olhos de cor de xarope de bordo. Sinto-me aliviada porele sentir minha presença, que o fenômeno é real. Eu não estou inventando. Embora a questãoseja: por que diabos isso está acontecendo?

— Evie. – Jessica chama minha atenção de volta para ela. — Você é bem-vinda para sesentar conosco. Na verdade, acho que podemos usar esse tempo para talvez conversar... – elaolha para Abel antes de olhar para mim. — O que a Sra. Johnson nos ensinou. Francamente,fiquei confusa, então adoraria sua ajuda.

Agora eu vejo o que está acontecendo. Todo mundo sabe que a parte de trás do ônibus émeu território. Eu sento em um canto e ninguém me incomoda. Mas Abel está sentado lá agora ea maioria das pessoas tem medo dele, como Jessica e sua turma.

Deus, quando as pessoas vão deixar de ter medo dele?

Particularmente, acho que alguns deles estão sendo maus e levando isso longe demais. Elenão é mau. Ele não deu sinais de ser nada além de legal. Tipo, outro dia, ele manteve a porta daigreja aberta para a Sra. Weatherby, mas aquela bruxa se recusou até mesmo a entrar. Ela torceuo nariz e não se mexeu até que a mandíbula de Abel ficou realmente tensa como no primeiro dia,quando ele estava com o Sr. Adams, e ele foi embora. Tentei chamar sua atenção naquele dia,mas ele não olhou para mim. Embora eu soubesse que ele estava ciente de mim. Ele está sempreatento.

Ele não é um monstro, eu quero gritar. Em vez disso, digo: — Vou ficar bem. Obrigada.

Jessica abre a boca para dizer algo, mas eu levanto minha mão e a paro. — Eu disse que vouficar bem. Você não precisa se preocupar comigo.

Com isso, volto a andar para os fundos. Os ossos do rosto de Abel estão tão proeminentesagora, tão altos e lapidados. O castanho de seus olhos parece ficar mais escuro quanto mais pertoeu chego. Eu vou para ficar diante dele, o mais próximo que já estive dele, e ele engole.

Agora que estou aqui e todas as pessoas no ônibus estão olhando para mim, não sei o quefazer. Eu sei o que gostaria de fazer. Eu gostaria de sentar ao lado dele e dizer oi. Eu gostaria desorrir para ele e dizer que sinto muito por todas as coisas que as pessoas estão fazendo a ele.

Mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, o ônibus balança bruscamente e sai, e eutropeço para frente, ofegante. Então sinto um aperto forte em meus ombros - um aperto quente -me firmando, me colocando de pé. Mais do que isso, porém, eu sinto cheiro de maçãs cheirosas.

Abel Adams cheira a maçãs.

Ele está tão perto de mim que posso contar seus cílios, que são mais escuros que seu cabeloe grossos, provavelmente como uma selva. Vai demorar, mas tenho certeza que posso contá-los.

Abel Adams também está me tocando. Em plena luz do dia, na frente de todas essaspessoas, com o sol brilhando em seus cabelos dourados.

Ah, meu Deus.

Isso é exatamente o que não deveria estar acontecendo. Eu não deveria estar tão perto dele enão deveria estar contando seus cílios ou pensando em seus olhos castanhos.

— Obrigada. – eu sussurro por me salvar da queda.

Ele me empurra até que eu ficar de pé. — Não tem de quê.

Como uma idiota, nunca me perguntei sobre sua voz. Quer dizer, eu o vi falar com o Sr. B ealgumas outras pessoas nas lojas da cidade, mas nunca tinha a ouvido antes. A voz dele não écomo a de nenhum garoto que eu conheço. Não é infantil nem nada, mas também não adulta. Eu

diria que talvez esteja prestes a ser adulta.

Abel se virou e agora está olhando pela janela. Percebo um caderno de desenho em seu colo,que está fechado com um lápis aparecendo por cima da borda. Ele desenha e gosta de fotografia?Outra pergunta adicionada à lista de perguntas que nunca vou perguntar a ele.

— Você vai se sentar? – ele pergunta, olhando para o cenário que passa antes de olhar paramim. — Ou você vai me encarar todo o caminho de volta?

Ele levanta as sobrancelhas e elas atingem os fios bagunçados de seu cabelo. Estoufamiliarizada com esse olhar. Esse é o olhar que Sky sempre tem quando está tentando meconvencer a fazer algo.

Há um sorriso completo em seus lábios e suas sobrancelhas não baixaram. Ah, e ele estábloqueando o lugar ao lado dele com suas pernas longas e esticadas. Ele está me desafiando asentar na frente.

Coloco minha mão no meu quadril e dou a ele um olhar arrogante - por cerca de doissegundos antes de o ônibus balançar novamente e eu tropeçar. Novamente. Ele pressiona oslábios, sem dúvida tentando não rir de mim. Eu não acho que gosto muito dele agora.

— Bem, se você quer saber, eu vou sentar. – Minha voz, em comparação com a dele, éestridente, aguda e tão infantil. Odeio minha voz por ser tão estúpida e odeio sua voz por ser tãoincrível. Não há justiça no mundo.

Tiro a minha mochila e levanto as minhas próprias sobrancelhas, pedindo a ele para abrirespaço para mim, o que ele faz com os lábios trêmulos. Eu me sento no banco e enfio a mochilaentre as pernas.

Algumas pessoas ainda estão me observando, então eu estreito meus olhos para elas.Sentando, eu escorrego no banco e me recosto. Eu não vou dizer uma única palavra. Não. Osmeus lábios estão selados. Eu balanço minhas pernas. As pontas dos meus sapatos tocam o chão.Eu olho para o teto de metal branco.

— Não tenho medo de você. – digo a ele.

Droga. Eu cedi.

Suas roupas farfalham contra o banco de couro e eu o sinto se virando para mim. — É?Poderia ter me enganado.

Olho para ele com o canto dos olhos. — O que isso deveria significar?

Ele encolhe os ombros como se não se importasse de uma forma ou de outra e se vira para ajanela, mantendo o silêncio.

Eu o enfrento totalmente então. — Não, me diga. Por que você acharia que tenho medo devocê?

Zombando, ele me dá toda a sua atenção novamente. — Olha, eu não me importo de jeitonenhum, certo? Não me importo se você mal consegue olhar para mim ou foge quando estou por

perto. Não importa para mim. Agora, se você me deixar em paz, eu ficarei grato, porra.

Eu suspiro. Não é como se eu não tivesse ouvido a palavra com P antes. Quando você é amelhor amiga da Sky, ouve de tudo. Mas Abel diz isso como se estivesse dizendo desde o dia emque veio a este mundo, como se porra foi sua primeira palavra. Parece forte, confiante e ensaiadaem sua boca.

— Ei. – eu cutuco meu dedo em seu bíceps; a pele dele está quente, mas não quero pensarnisso agora. — Eu não fujo quando você está por perto. – Isso não é exatamente verdade, mas elenão precisa saber disso.

Ele zomba novamente.

— Não, sério. Eu não tenho medo de nada. Muito menos você. – eu insisto, revirando osolhos.

Abel se inclina contra a janela, esparramado no banco e cruzando os braços sobre o peito.Ele está vestindo uma camiseta preta novamente. Eu gostaria de poder dizer a ele para usar outracor. O preto é tão... chato.

— Sério? Você não tem medo de nada.

— Não.

— Certo. – ele acena, mas não acredita em mim; isso está em seu tom. — E se eu te dissesseque mordo?

— O que? – eu ri.

— Sim. Eles me chamam de monstro, certo? E se eu dissesse que sou exatamente como mechamam e, além disso, tenho dentes afiados. E então? Você vai ter pesadelos esta noite?

Eu fico olhando para ele por exatamente cinco segundos. Sim, eu os conto. Então me inclinoe pego meu pedaço de Toblerone comido pela metade e o agito no ar como uma arma. — Então,eu diria que você não vai me morder.

Ele olha para o chocolate com diversão. — Como você sabe disso?

— Porque eu não sou comida. E se você realmente quisesse morder alguma coisa, eu dariaisso. Meu chocolate.

Ele ri e eu engulo. Sua risada soa como sua voz. Não é o som que já ouvi de um garoto, etambém não de um adulto.

Ele está me olhando como sempre. — Então, eu diria que não gosto de chocolate.

Minha mão paralisa no ar e minha boca se abre. — Você não gosta de chocolate?

— Não.

— Sem chance. – eu faço uma careta, com minha mão caindo no meu colo com um baque.— Ah, meu Deus. – eu não estava preparada para isso. Não estava preparada para o monstrodizer que não gosta de chocolate. Exceto, que Abel não é um monstro e eu realmente não ia dar a

ele meu chocolate.

Uma risada curta surge dele enquanto ele olha para mim. — Por que tenho a sensação deque você está mais preocupada com a minha falta de amor por chocolate do que o fato de queposso ser seriamente perigoso?

— Ah, por favor. – eu aceno minha mão. — Você não é perigoso, mas que tipo de pessoanão gosta de chocolate?

— Do tipo que gosta... – ele encolhe os ombros. — Eu não sei... frutas?

— Você gosta de frutas? – grito, então olho ao redor para encontrar Jessica e a turmaobservando nossa interação. Mas assim que olho para eles, todos eles disfarçam.

— Isso está piorando a cada minuto, não é?

— Dã. Como você pode gostar de frutas e não de chocolate? – eu balanço minha cabeça,franzindo a testa. — Eu nem consigo entender isso. Isso não é normal.

Rindo, ele encolhe os ombros. — Talvez nada sobre mim seja normal, Pixie.

Pixie? Ele acabou de errar meu nome?

— Meu nome não é Pixie. – eu levanto minhas sobrancelhas para ele, sentindo-meestranhamente desapontada e irritada. — É Evie.

— Evangeline Elizabeth Hart. Eu sei.

Ah, Deus.

Ele não deveria ter dito meu nome com aquela voz incrível dele. Agora, isso é tudo queestou ouvindo. Meu nome completo em sua voz quase adulta, fazendo-me sentir como se eufosse adulta. Como se eu pudesse sentir coisas - grandes coisas que apenas pessoas mais velhasdeveriam sentir.

— Eu... então por que você me chamou de Pixie?

— Porque esse é o meu apelido para você.

— Você não pode me dar apelidos. Nem mesmo nos conhecemos.

Dando-me um sorriso de lado, ele lambe o lábio inferior e se inclina para mais perto demim. O cheiro de maçãs arde o meu nariz e estou paralisada como uma estátua. — Talvez sevocê ficar mais um pouco quando eu estiver por perto, em vez de fugir, possamos nos conhecer.

Eu pisco. E então eu pisco novamente. Percebo que quero dizer sim para conhecê-lo tãointensamente que não posso dizer nada. Estou sem palavras. Sem voz, estupefata, com a línguapresa e muda. Além disso, sinto que o sol está me assando, embora eu esteja sentada dentro doônibus.

Rindo, ele esfrega a nuca, deslizando para trás e sentando-se encostado na janela. Eutambém me movo. Abro a embalagem prateada do meu Toblerone e coloco um pedaço quasemole e derretido na boca. Enquanto mastigo, olho para Abel e o encontro olhando para mim.

Eu engulo o chocolate meio mastigado. — Você me encara muito.

Ele fica em silêncio por alguns segundos antes de sussurrar: — Você quer que eu pare?

— Não. – eu digo a ele, honestamente.

Ele me dá um meio sorriso. — Então eu não vou.

Eu inspiro pela boca enquanto a minha pele se arrepia. — Eu não posso ser sua amiga.

Ele encosta a cabeça na janela de vidro. — Eu sei.

Meus olhos estão pesados, quase sonolentos, mas não realmente. Eu os abaixo e olho parasuas mãos em seu colo. A luz do sol está atingindo seus dedos longos e pulsos fortes. Existemmanchas ao redor da ponta de seu polegar. Manchas pretas. Ele os pegou com o lápis que enfioudentro do caderno de desenho?

— Eles não vão deixar. – eu confesso.

— Eu sei.

Olho para cima, sentindo todos os tipos de inquietação. Preciso que ele entenda. Eu não souuma má pessoa. Não estou fazendo isso para ser mau. — Eu quero ser, no entanto.

Abel está me olhando de uma nova maneira. Eu nunca fui olhada assim. Como se elemovesse os olhos, eu desapareceria e ele nunca mais me veria. Seu olhar me atinge no estômagoe borboletas surgem em meu corpo. Posso ouvi-las batendo as asas. Aposto que ele também podeouvi-las.

— Mas você sempre segue as regras. – ele comenta.

Aceno, mas tenho uma vontade estranha de balançar minha cabeça e dizer não, eu não digo.— As regras são importantes. Elas mantêm a paz.

O hematoma na minha cintura esquenta, me dando vontade de coçá-lo. Mas sei que nãodeveria. Não será bonito se eu fizer isso. Vai coçar mais e pode começar a sangrar como daquelavez.

— Paz. Entendi. – Sua mandíbula está tensa.

Eu aperto meu vestido. — Eu sinto muito.

Seu sorriso não se parece como um sorriso que deveria ser. É frio como o inverno. Está tudoerrado em seu rosto. — Não importa.

Isso importa para mim.

— Nossa parada é aqui. – diz ele, desviando o olhar e guardando o caderno de desenho emsua mochila.

Ele tem razão. O ônibus não está mais se movendo e pela janela vejo quilômetros equilômetros de plantações e duas casas: uma branca e organizada e a outra caindo aos pedaços edegradada.

Vou guardar o chocolate restante na mochila quando paro e me dirijo a ele: — Sei que vocêodeia chocolate ma... mas você aceita isso? – ele franze a testa para mim e eu explico: — Ah,você não... você não tem que comer. Quer dizer, você pode simplesmente colocá-lo no seuquarto ou na geladeira. Você sabe, para evitar que derreta? Assim você pode...

Ele envolve a sua mão na minha, me fazendo quase ofegar com o calor. Tenho certeza que ochocolate vai derreter e escorrer por entre nossas mãos unidas, sua pele está tão quente.

— Eu posso o quê?

Eu não quero dizer isso, mas ele está olhando para mim com tanta curiosidade. — Vocêpode pensar em mim quando olhar para ele.

Ah, Deus. Eu quero morrer. Talvez haja uma chance de ele não ter ouvido porque eu dissemuito baixo e ele não pegou o chocolate da minha mão. Tento puxar a minha mão para trás,sentindo o chocolate grudento deslizar entre nossos dedos. Vou precisar de um lenço de papelpara limpar isso antes que mamãe veja.

Ele aperta seu aperto por um segundo, antes de me soltar. Minha oferta ainda está no meioda palma da minha mão.

— Não preciso de chocolate para pensar em você.

Meu rosto está apoiado na mão enquanto ouço o padre Knight falar sobre a importância deouvir nossos pais no estudo da Bíblia.

— Obediência é como você mostra a Deus que O ama. – diz ele em sua voz alta e confiante.— Você O respeita. Que você reconhece que Ele é o criador de todas as coisas e é por isso... –Padre Knight sorri. — Ele tem autoridade sobre todas as coisas. Filhos de Deus são obedientes.Eles são os crentes. Como você pode implementar isso em sua vida diária? Obedecendo a seuspais. Ao ouvi-los. Porque os pais são a face de Deus. Entendi? Ouça o que sua mãe diz. Se eladisser para comer todo o jantar, coma. Ela tem razão. Se seu pai diz para fazer sua lição de casaantes de jogar videogame, você faz exatamente o que ele mandar, ok?

Ele sorri e todos sorriem também.

Normalmente sou uma dos sorridentes. Mas esta noite meus lábios estão muito pesados parase curvar. Eu não tenho certeza se gosto mais desta lição. Eu já ouvi isso inúmeras vezes. Osfilhos de Deus obedecem a seus pais.

Eu obedeço meus pais. Eu sigo as regras.

Mas todas as noites, agarro as grades da minha janela e olho para a casa com a árvore semfolhas e varanda caindo aos pedaços. Todas as noites penso no garoto que mora lá. O garoto quenem é meu amigo. Às vezes me sinto tão mal que tenho vontade de chorar, o que é estúpido; Eunem o conheço.

Abel Adams não é meu amigo e nunca será.

Se eu precisasse de um lembrete disso, recebi no dia seguinte àquela conversa com ele noônibus. Minha mãe e sua amiga, a Sra. Weatherby, o atacaram enquanto ele estava saindo daloja, onde pego todos os meus materiais para a escola. Minha mãe estava franzindo a testa, aindamais do que o normal, com seu coque de cabelos escuros fazendo-a parecer severa. Semmencionar que Abel estava carrancudo também.

Deus, eu odiava ficar perto do nosso carro e assistir isso acontecer.

Alguém no ônibus contou aos pais deles e os pais deles contaram à minha mãe sobre o fatode eu ter conversado com ele. Ela ficou furiosa. Mesmo deixá-la controlar sua raiva não foieficaz. Ela beliscou, balançou e puxou meu cabelo. Ela gritou repetidamente que eu não deveriame relacionar com ele. Os hematomas que tive naquela noite foram uns dos piores.

Eu tinha certeza de que ela estava dizendo algo desagradável para Abel. Eu odiava,detestava isso. Ele nem mesmo fez nada; nem mesmo foi culpa dele. Fui eu que me sentei comele. Eu. Ele nem mesmo me convidou. Isso foi tão injusto. Quando ele saiu e passou por mim,implorei e supliquei em minha mente para que ele olhasse para mim para que eu pudesse medesculpar, mas ele não olhou, embora eu pudesse ver a expressão séria de raiva em seu rosto.

Eu não o vi desde então. Nem na escola, na cidade ou mesmo na igreja. Minha mãe meproibiu de andar de ônibus. Ela é quem me leva para a escola todos os dias, antes de ir para ascoisas importantes da igreja.

Quando o estudo da Bíblia termina, Sky e eu saímos da igreja. Ela sabe que algo estáacontecendo comigo. Eu disse a ela que foi a mamãe.

— Um dia desses, vou colocar sua mãe no lugar dela, eu juro. – ela resmunga. Eu a amo porse importar tanto comigo.

Eu volto com a minha mãe. Em casa, ela diz que estou muito inquieta e agitada, então elame deixa ir para a casa da árvore depois do jantar. Obrigada, meu Deus. Não vou à casa daárvore há dias. Mamãe me manteve muito ocupada em casa ou na igreja com o próximochurrasco no bairro.

— Mas volte em uma hora. Ou não haverá mais casa na árvore nas próximas duas semanas.

Eu prometo e saio correndo de casa para o ar puro. Enquanto corro pelo caminho de terra,rezo a Deus para que o veja. Talvez ele esteja na floresta como naquela vez. Eu prometo que voucorrer em direção a ele em vez de fugir dele.

Talvez se você ficar mais um pouco quando eu estiver por perto, em vez de fugir, possamosnos conhecer.

Na escada da casa da árvore, olho ao redor, mas não há sinal dele. Está tudo quieto etranquilo, do jeito que geralmente é. A decepção é tão espessa e pesada que faz meus ombroscaírem.

Eu subo e chego ao destino e enquanto estou subindo, vejo uma forma escura encostada naparede. Meu grito sai da minha boca quando percebo que sei quem é.

É Abel.

Ele está aqui. Dentro da minha ensolarada casa na árvore amarela.

— Jesus, porra. – Abel xinga e arranca os seus fones de ouvido brancos com o meu grito. —Você me assustou.

Fico olhando para ele de onde estou agachada na entrada. Ele está aqui. Aqui. Como ele estáaqui? Ele parece enorme dentro do meu lugar favorito no mundo. Um gigante. Suas pernas estãoesticadas e ele quase toca a parede oposta com seus tênis brancos sujos.

— Pixie? – ele franze a testa para mim com um sorriso curioso. — Você vai entrar?

Meus lábios se abrem enquanto perco o fôlego com a menção de seu apelido para mim.Uma explosão de energia me faz pular para dentro e me jogar sobre ele, abraçando-o com força.Enterro meu nariz em sua garganta, sentindo o cheiro de maçãs. Deus, nunca me senti tãoanimada em cheirar maçãs. E, nossa, sua camiseta. Mesmo sendo preta, é a coisa mais maciaque já toquei.

— Você não está brava por eu ter entrado na sua casa da árvore? – ele pergunta, com umsorriso em sua voz.

Não sei por que, mas paraliso com suas palavras. Pode ser porque de repente me dou contado braço dele ao meu redor.

Claro, idiota.

Isso é um abraço. Claro, que seus braços estariam em volta de mim. Só que estou meiochocada comigo mesma por abraçar um cara, abraçá-lo. Isso foi puramente instinto. Algo que eunão pensei.

Ah, meu Deus.

Estou abraçando Abel Adams. Isso não pode acontecer, tipo, de jeito nenhum.

Eu me afasto de seu abraço, horrorizada. Abel está olhando para mim com uma cara feiaenquanto me afasto e apoio minha coluna contra a parede oposta. Mas então sua cara feiadesaparece, e ele sabe por que fiz isso.

Nós nos observamos por alguns segundos silenciosos. Tenho tantas coisas para dizer a ele,pedir desculpas pelo comportamento de minha mãe e perguntar por que ele não estava na igrejaou por que não o via há tantos dias. Mas eu fico calada. Minhas palavras não estão cooperandoneste momento.

— Eu sei que isso é contra suas regras. – ele sussurra, por fim. — Mas eu não pude...

— Não pôde o quê? – pergunto, combinando com o seu sussurro.

Ele engole, com seu pomo de adão movendo. Percebo que as veias em seu pescoço sãogrossas e verdes, e tão tensas. Em contraste com isso, seus olhos castanhos estão tão nítidos. —Não pude deixar de ver você.

Eu fungo. — Sinto muito pelo que quer que minha mãe tenha dito a você outro dia nacidade. Ela é... – eu balanço a minha cabeça, trazendo meus joelhos para cima e apoiando meuqueixo neles, mexendo os dedos dos pés. — Ela não é muito legal. Com qualquer um, naverdade.

Com isso, sua cara feia retorna e fica realmente feroz, francamente assustador, ou algo quedeveria me assustar. Mas não tenho medo dele. Acho que nunca terei medo dele.

— Até com você? – Seus olhos percorrem rapidamente pelo meu rosto como se ele estivesseprocurando por uma cicatriz, uma marca ou algo assim.

Os hematomas na minha cintura e coxa doem mais do que o normal. Eu não vou chorar.Não vou chorar. — Já estou acostumada. – sussurro, fungando e balançando a cabeça.

Ele não acredita em mim. — Pixie, se ela...

Eu o interrompo e pergunto: — O que ela disse a você? Tipo, o que exatamente ela disse avocê?

Ele não diz nada por um segundo, simplesmente observando meu rosto. Eu mostro umaexpressão doce. Doce e inocente, como se eu não me importasse com o mundo, como se minhascontusões não estivessem latejando. Mas não quero falar sobre isso, quando podemos falar sobretantas outras coisas.

Suspirando, ele apoia a cabeça na parede. — Nada que as pessoas não tenham dito desde

que cheguei aqui.

Ah. David e Delilah.

— Você está pensando nisso, não é? – Seu rosto está resignado, um pouco magoado e umpouco zangado.

Eu balancei minha cabeça, imediatamente. — Não.

Ele solta uma risada curta. — Você não consegue mentir para mim, Pixie.

Algo acontece comigo quando ele diz esse apelido. Sinto-me quente, animada e inquieta. —Eu, hum, pensei sobre isso. Sobre eles. – Seu rosto fica sério e eu me apresso para explicar: —Quer dizer, eu não penso como os outros pensam ou o que a minha mãe pensa. Eu nunca penseique eles fossem maus ou algo assim.

— É? Você não acha que eles eram loucos? Você não acha que é estranho e nojento eles seapaixonarem quando, para todos os efeitos, eles eram irmão e irmã?

Ele diz as palavras como se fossem veneno. E talvez sejam porque não é... certo ou naturalque irmãos se apaixonem um pelo outro e tenham um bebê.

Um bebê monstro.

Abel Adams está longe de ser um monstro. Ele é calmo e me faz sentir quente e ele é... fofo.Tipo, muito, muito fofo, com seu sorriso de lado e cabelo bagunçado, e até mesmo suascamisetas pretas. E ele é tão alto. Puxa, nunca pensei que gostaria de pessoas altas... ou caras.Nunca pensei que sentiria por um cara o que sinto por ele. Isso é estranho, emocionante einexplicável.

Mas, voltando à sua pergunta, eu respondo, escolhendo minhas palavras com cuidado: —Não é o ideal. Mas talvez eles tivessem um motivo.

— Eles tinham um motivo, está bem!

— Qual foi? – eu deixo escapar sem pensar.

Sim, eu preciso pensar. Ele está confundindo todos os meus miolos. Antes que ele possaficar bravo com isso, eu digo: — Está tudo bem. Você não precisa me dizer. Na verdade, vocênão precisa dizer nada. Eu sinto muito.

Estou olhando para os dedos dos pés, tentando manter o meu constrangimento sob controle,quando ele diz: — Eles eram solitários, eu acho. Eu os ouvi uma vez, falando sobre esta cidade, einsisti para que explicassem. Minha mãe não queria, mas meu pai finalmente quis. Ele explicoucomo as coisas estavam ruins para eles em casa. Eles tinham apenas um ao outro. Como o paideles, meu avô, era abusivo. Ele... – ele balança a cabeça, fazendo uma careta, com seu rosto àbeira de se enrugar. — Ele era um bêbado. Ele iria bater neles, matá-los de fome, eu acho. Nãosei todos os detalhes sórdidos, mas juntei as peças. Eles não tiveram escolha a não ser recorrerum ao outro. Meu pai disse que minha mãe era o único sinal de cor em sua vida sombria naquelaépoca. Eu disse que era besteira. Eu disse por muito tempo. Eu os odiava, não conseguia suportara visão deles. Levei muito tempo para aceitar que meus pais não eram normais ou algo assim. –

ele olha para cima então, com seus olhos avermelhados e sua mandíbula tremendo. — Mas eleseram meus pais e eu os amava. E agora eles se foram e eu continuo me lembrando do que meupai disse sobre minha mãe.

Abel não desiste, no entanto. Ele não deixa suas lágrimas caírem como eu estou deixando asminhas. Ele é forte. Tão forte, e sua história é verdadeira. Não como as outras histórias e fofocassobre eles que ouvi ao longo dos anos. Cidadãos exemplares, uma ova. Posso sentir isso. Minhaspróprias contusões me dizem que é verdade.

Isso me afeta muito. Seu choro sem lágrimas me afeta tanto que renuncio tudo o que é certoe errado e rastejo até ele. Desta vez, meu abraço é bem pensado. Estou fazendo isso com todos osmeus sentidos. Eu envolvo meus braços em torno de seu corpo alto e grande e pressiono minhaorelha em seu peito.

— Ei. – ele sussurra, enxugando as lágrimas da minha bochecha. — Eu não disse isso parafazer você chorar.

Devo parecer um desastre, com os olhos e nariz escorrendo, todos vermelhos e escorrendo.Isso não pode ser uma visão bonita para Abel. Mas ele continua enxugando minhas lágrimas eme silenciando.

Como posso não ser amiga dele? Como posso não quebrar as regras por esse garoto? Elenão é nada parecido com o que as pessoas pensam que ele é, e isso me faz chorar ainda mais.

Abel me abraça contra o peito e eu babo por toda a sua camiseta. Ele me balança,murmurando palavras doces e gentis.

— Pare de chorar, Pixie, ok? Volte a conversar comigo sobre chocolate e frutas e como nãotem medo de mim, embora eu morda.

Minha risada se transforma em um soluço. — Chocolates são muito melhores que frutas.Todo mundo sabe. E eu sei que você não morde.

Seu peito vibra com sua risada. — Sim, isso é muito melhor.

— Eu... – eu soluço e olho para ele. — Posso ser sua amiga.

Ele está surpreso; Posso ver isso em seu rosto, sentir em seus dedos que se movem em meucabelo e nas minhas costas. — Você quer quebrar suas regras. Por mim? O monstro da cidade?

Eu aperto sua camisa; de alguma forma minhas mãos encontram a corrente de prata e asagarram junto com o tecido. — Você não é um monstro.

Ele segura minhas bochechas em suas grandes palmas, quase as afogando. — Isso não é oque eles pensam.

Eu resmungo. — Eles são estúpidos. Todos eles são estúpidos, ok? E eu os odeio.

Os lábios de Abel se contraem em um sorriso. — Lembre-me de nunca mexer com você.

— Dã, eu sou perigosa.

Balançando a cabeça, ele ri. Mas então seus olhos ficam sombrios e ainda mais nítidosenquanto ele passa o polegar sobre a maçã do meu rosto, fazendo cócegas na minha pele. — Nãovai ser fácil, Pixie. Eles vão tornar tudo muito difícil para nós.

Meu coração está batendo muito rápido e borboletas estão batendo suas asas dentro daminha barriga. Nunca me senti mais animada e com tanto medo em toda a minha vida.

— Não importa. Meu pai diz que todas as coisas boas da vida são difíceis.

— Eu me pergunto o que ele vai dizer sobre isso.

— Talvez um dia possamos contar a ele. Ele é muito mais legal do que minha mãe. Então?Posso ser sua amiga?

Seu sorriso faz o meu coração bater mais forte. É de lado e já posso dizer que é seu sorrisomarcante. Ele pressiona nossas testas juntas, com nossos narizes quase batendo um no outro.

— Porra, sim.

Abel e eu somos amigos há cerca de doze meses.

Ele disse que não seria fácil e que tornariam tudo mais difícil para nós. Eles tornaram, decerta forma. Eu não posso falar com ele onde as pessoas possam nos ver. Tipo, na escola. Eu ovejo do lado de fora do prédio na hora do almoço, mas não posso ir dizer oi para ele.

Ele é facilmente o cara mais alto das duas escolas juntas. Ele sempre se destaca e, namaioria das vezes, está sozinho. Existem algumas pessoas que falam com ele e às vezes elasandam juntos durante o almoço, mas normalmente, ele está sozinho. Normalmente, os malvadosfalam sobre ele, mas nunca com ele. Algumas das turmas populares passam por ele, olhando paraele, sendo rudes, e eu quero pular a cerca e socá-los. Eu nunca percebi que era tão sanguináriaquanto a Sky até conhecer Abel.

Abel não se importa, no entanto. Seus olhos estão sempre em mim. Não importa ondeestejamos, na igreja, na escola ou na rua. Se estou perto, ele está olhando para mim. O estranhofenômeno que acontece quando estamos perto um do outro só aumentou. É como se nossossentidos estivessem fundidos.

Bem, mesmo sem o fenômeno estranho, seria difícil desviar o olhar dele. Parece que a cadadia ele fica alguns centímetros mais alto e alguns centímetros mais largo. Seus olhos ficam aindamaiores e com mais cor de xarope de bordo, e seus sorrisos de lado só conseguiram deixar ofriozinho na minha barriga pior. Ultimamente, tenho me encontrado observando a forma de seuslábios. Como se esticam quando ele sorri e como e se movem em torno das palavras. Na verdade,

é constrangedor, o jeito como estou fascinada com sua boca. Eu sou uma tarada diplomada.

Eu não deveria estar olhando para os lábios do meu amigo assim, certo? Você não pensaconstantemente em seu amigo como eu penso. Eu definitivamente não penso muito na Sky.

Mas algo torna Abel Adams diferente. Talvez seja a maneira como ele fica me olhando àdistância. Ninguém existe para ele além de mim.

— Você viu Josh Anderson? Deus, eu o odeio tanto. Ele foi tão rude com você. Tipo, olá?Você esbarra em alguém, para e pede desculpas. Onde estão as boas maneiras? – eu tenho umacesso de raiva um dia, referindo-me a um dos malvados.

— Quem diabos é Josh Anderson?

— O cara que deliberadamente empurrou você. Hoje? Esta manhã? Na escola. – QuandoAbel ainda me dá um olhar confuso, eu dou um tapa em seu bíceps. — Você não se lembra, nãoé?

Sorrindo, ele balança a cabeça.

— Como você pode não se lembrar?

— Porque eu estava olhando para você. – ele diz isso de forma tão simples, como se nãofosse me fazer hiperventilar ou corar.

Limpo minha garganta. — Então talvez você não devesse estar olhando para mim, masprestando mais atenção ao mundo.

— Sim. Eu não acho que isso esteja acontecendo.

— Por que não?

— Você só tem esse tipo de rosto.

— Que rosto?

— O tipo do qual é difícil desviar o olhar.

Certo. Sinal de hiperventilação.

Então, sim, Abel não é nada como Sky. Ele está em uma categoria totalmente diferente.

Mesmo que minha mãe me pegue todos os dias na escola e ela tenha espiões por toda parte,nós encontramos maneiras de ser criativos. Quase sempre sentamos bem separados na hora doalmoço, eu do meu lado da cerca, com Sky e um bando de outras garotas, e ele no lado dele,encostado em uma árvore, mordendo sua fruta favorita, uma maçã. Ainda assim, fingimos estarcomendo juntos. Ou faço questão de esperar ele chegar na escola, no início do dia. Nós nosencaramos do outro lado do caminho de terra e às vezes a sorte está do nosso lado e há apenasalgumas pessoas ao redor, e eu dou a ele um pequeno aceno e um sorriso. Seu sorriso de lado emresposta faz meu coração disparar. Até fiz uma torta de maçã para ele no seu aniversario dequinze anos. Peguei a receita da minha mãe e tudo, falando que queria aprender a assar. Mamãeficou superfeliz.

Abel e Evie ganham!

Não podemos nos ver muito durante o dia, mas depois da escola, eu o vejo quase todas astardes na minha casa da árvore. Graças a Deus, mamãe odeia ir na floresta, então minha casa naárvore é uma área segura. Na verdade, fazemos nosso dever de casa juntos. Bem, eu faço o meu;Abel desenha.

Um dia descobri que quase todos os desenhos em seu caderno são de mim.

Por um minuto inteiro, eu não me movo. Posso sentir meu coração batendo e aquelasmalditas borboletas se levantando dentro do meu corpo. Posso sentir o fluxo do meu própriosangue enquanto ele se arrepia e corre pelas minhas veias.

— Esta sou eu. – eu sussurro estupidamente depois de um tempo.

— Eu te disse, você só tem um daqueles rostos.

Nossas cabeças estão inclinadas sobre seu caderno de desenho e juntos vemos cada pequenodesenho que ele fez de mim. Eu. Evie Hart. Quer dizer, ninguém nunca prestou muita atenção emmim. Claro, que não sou negligenciada, mas também não sou a musa de ninguém. Eu gostaria depoder pensar em sinônimos para isso, mas meu cérebro está confuso.

Deus, ele é tão talentoso. Um artista.

Na maioria dos desenhos, meu cabelo flui ao vento, meus vestidos têm lindas flores, minhaspanturrilhas estão manchadas de lama e estou descalça. Em alguns, estou cercada por milharais eem outros, estou na escola debruçada sobre um livro ou dentro da casa da árvore, escrevendo emmeu diário.

Abel me disse que o dos milharais se inspirou na primeira vez que me viu. Eu estava nomilharal, toda selvagem e parecendo com uma fada, com cabelos loiros esvoaçantes.

— Sua pele estava vermelha como maçãs. – ele diz e então, ele segue em frente e dá umamordida na maçã em suas mãos, sugando todo o ar e me deixando sufocar com minhasborboletas.

No meu aniversário de treze anos, ele me dá um desenho de mim mesma. Mas seuverdadeiro amor não é desenhar, não. O verdadeiro amor de Abel Adams é a fotografia. Ele temcentenas de fotos em seu celular. Ele sempre carrega sua câmera com ele onde quer que vá. Eletem fotos dos milharais, do terreno da escola, da igreja e de tantos outros lugares que eu nuncavisitei, embora tenha vivido aqui desde sempre.

Digo a ele que ele é o fotógrafo mais incrível e está destinado a ser o maior artista de todosos tempos. Mas tudo o que ele faz é rir, infelizmente.

— Acho que me faz sentir invisível. Estar atrás da lente. Faz me sentir que ninguém podeme ver. Ninguém pode saber de onde vim e minha existência. Quem eram meus pais e o que eleseram um para o outro. – ele balança a cabeça, com seus olhos quase à beira de escorrer, mas dealguma forma, segura as lágrimas. — Isso é estúpido.

Eu o abraço. Com força. Para que eu possa absorver toda a sua dor. Para que eu possa fazer

com que ele veja o que vejo. Um artista e um garoto forte.

— Mas Abel, você para o tempo.

— O que?

Outro dia choveu muito. O caminho de lama que conduz à floresta parecia uma maré deterra. Nunca fui fã de chuva; Eu gosto mais do sol. Quando acabou, o mundo ficou muito maisbrilhante. O verde, o marrom e o azul. Desejei que continuasse assim para sempre - sem a chuva,é claro. E assim foi. Porque Abel capturou tudo com sua câmera.

— Você faz. Olhe... – eu o puxo para frente para que ele possa ver o que vejo. — Você parao tempo. Não acho que você pode ficar invisível. Você é muito talentoso para isso. É como sevocê congelasse o mundo neste momento e isso vai ficar assim para todo o sempre.

Eu o sinto sorrir, com sua bochecha extremamente perto da minha. — Para todo o sempre,não é?

Eu aceno com entusiasmo, olhando para a foto, embora eu queira olhar para ele. Eu querover aqueles malditos lábios novamente.

Por que continuo pensando neles?

Mas ele está tão perto. Não sei se aguento olhar para ele.

— Talvez eu pare o tempo agora. – ele sussurra, com seu hálito quente soprando em minhapele e despertando arrepios.

— Porque agora? – sussurro também, como se estivéssemos na igreja e não possamos falarmais alto do que isso, o que é estúpido porque estamos na casa da árvore.

— Para que você nunca me deixe.

Não falo muito depois disso porque eu estou inquieta e corando. Porém, percebo algo. Algomuito épico.

Abel Adams é um deus.

Porque só os deuses podem parar o tempo e congelar os momentos, se quiserem. Só osdeuses podem fazer o que ele faz com uma câmera.

Hoje é um dia triste. Estou deixando Abel.

Por um mês inteiro.

Minha avó, mãe da mamãe, ela está doente e mamãe quer ir vê-la enquanto continuamos deférias na escola. Para ser honesta, odeio ver minha avó. Ela é como a minha mãe, só que pior.Cada vez que a visitamos, ela me conta todas as coisas que há de errado comigo. Meu cabelorebelde e indisciplinado; eu correndo; minha predileção pelas cores rosa, amarelo e vermelho;meu amor pelo ar livre.

Basicamente, sou uma pagã e meus pais - especialmente minha mãe - têm muita má sorte deter uma filha que é tudo menos uma dama. Pode ser daqui que minha mãe tirou todas suas ideiassobre pagãos, demônios e monstros. De sua própria mãe. Não importa o quanto eu tente mecomportar e ser boa, nada faz minha avó gostar de mim.

Este ano nem vou tentar. Estou muito amarga. Não poderei ver o garoto da casa ao lado porum mês inteiro, quando o vi quase todos os dias durante o ano passado.

Meus passos não são entusiasmados enquanto me arrasto até a casa da árvore para nossaúltima noite juntos por um tempo.

Ele já está lá quando subo, desenhando em seu caderno, e me sento ao lado dele. Estou tãoapática e deprimida que tudo o que quero fazer é colocar minha cabeça em seu ombro, colocarmeu nariz em sua garganta e brincar com sua cruz de prata. Eu quero que ele acaricie suabochecha no meu cabelo e coloque seus braços em volta da minha cintura.

Ele me faz sentir segura e aquecida. Seu corpo é tão sólido, duro e firme que não sei quenada pode me tocar enquanto estou tocando nele.

Embora eu não saiba quando começamos a sentar assim - talvez tenha sido por volta doNatal, quando o ar costumava ser tão frio que eu precisava de seus suéteres macios e peito quente- mas é assim que nos sentamos agora. Muitas vezes me pergunto se os amigos se sentam assim.Se os amigos conversam sussurrando como nós. Outras vezes penso que tudo é tão natural paranós que por que haveria de questionar.

Antes que eu possa me aproximar dele, porém, ele pega algo de sua mochila. É um celular.Um minúsculo celular que as pessoas usavam anos atrás.

— Não tenho permissão para ter um celular até ir para o ensini médio. – digo a ele, olhandopara ele como se nunca tivesse visto um celular antes. Mas é verdade. Não posso ter nenhumaparelho eletrônico antes dos quatorze anos e do ensino médio. Eu uso o notebook do meu paipara fazer a lição de casa ou vou para o estilo antigo: biblioteca.

— Eu sei. – ele começa a apertar os botões. — Veja, é por isso que comprei um pequenopara que você possa escondê-lo facilmente. Ficar com você o tempo todo, entendeu? Você nãoirá querer que as pessoas acidentalmente o encontrem em algum lugar. E já salvei meu número,ok?

— Você quer que eu leve comigo para a casa da minha vovó?

Pergunta idiota. Eu sei. Mas não consigo perguntar as certas. Estou muito ansiosa, enquantoapenas alguns segundos atrás, estava cansada demais para até querer respirar.

— Sim. – diz ele com cautela.

— Por quê?

— Por que você acha? – Sua voz é aguda e seus traços são ainda mais nítidos.

Eu engulo. — Eu... eu não...

Seu suspiro é frustrado. Balançando a cabeça, ele joga o celular dentro de sua mochila. —Esqueça.

Eu coloquei minha mão em seu ombro, com meus dedos traçando a maciez de sua camisetae os músculos firmes. Por alguma razão, eu quero tocar esses músculos sem o tecido. Isso meabala, me confunde completamente, então tiro minha mão e a torço no meu colo.

— Abel, não fique bravo. Por favor? – eu sussurro me desculpando. — Eu estou indoembora amanhã. Eu não quero brigar.

Ele zomba enquanto fecha o zíper de sua mochila, quase rasgando-a no processo. — Olha,foi estúpido de qualquer maneira. Achei que poderíamos manter contato enquanto você estiverfora. Falar ou enviar uma mensagem de texto ou algo assim. Achei que isso tornaria as coisasmais fáceis. Suportável. Mas acho que isso é demais.

Eu fico de joelhos e seguro sua bochecha; Eu estou morrendo de vontade de qualquermaneira. Sua mandíbula está pulsando enquanto ele olha para mim. — Tornar o que suportável?

— Você não sabe?

Seu pomo de adão vibra com suas palavras, assim como o meu coração. — Diga-me.

Abel agarra meu pulso com força. Esfrego o meu polegar em sua bochecha, tentandoamenizar a sua expressão. Ela está tão feroz e sobrecarregada.

— Desde que você me disse que iria embora por um maldito mês, não tenho conseguidodormir. Porque sinto que se eu fechar meus olhos, você vai embora. Eu não quero perder umúnico momento de você estar na casa ao lado parecendo com um maldito pervertido, ficoolhando para a sua janela escura, imaginando você dormindo em sua cama, rezando a Deus para

que... – Seu polegar toca o pulso trêmulo em meu braço. — Que de alguma forma minha Pixieesteja sonhando comigo.

Minha Pixie. Ele disse... minha Pixie. Eu sou dele, não sou?

Meu pulso lateja. Aposto que ele pode sentir em seu polegar, tocando minha pele, tentandose libertar a cada latejar que dá.

Quando olho para ele e sua expressão intensa, percebo que este é o big bang. É assim quegarotos com cabelos dourados e expressões de raiva entram em sua vida. É assim que as estrelascolidem e os mundos são feitos. É assim que todas as histórias de amor começam.

A nossa é assim?

— Nã... não somos apenas amigos, somos?

Ele balança a cabeça. — Não.

Todo o ano passado aparece na frente dos meus olhos. O jeito que eu queria falar com ele,ser sua amiga contra todas as regras. A maneira como o abracei sem pensar, apenas por instinto,quando o vi aqui na casa da árvore. Seus comentários brincalhões que me fizeram corar. Amaneira como ele passa horas fazendo desenhos de mim. O fato de que tudo o que faço é pensarnele. A maneira como somos atraídos um pelo outro.

— Isso significa que você é meu... namorado?

Mesmo que seus olhos estejam ardendo, seus lábios se contraem. — Você descobriu isso,não é?

Franzo a testa, de repente me sentindo estúpida. — Bem, você nunca me pediu para ser suanamorada. Os namorados devem pedir isso às namoradas.

— È?

— É. – eu fungo, tentando me afastar, mas ele aperta seu aperto. — Me solta.

— Nunca. – ele diz isso como se fosse uma promessa. Não deveria me sentir derretida earrepiada, mas sinto. — Você quer ser a minha namorada, Pixie?

Ele está olhando profundamente nos meus olhos e está fazendo algo comigo, além de mefazer sentir toda mole por dentro. — Não. – eu sussurro, tentando evitar que meu grande sorrisoapareça.

Rindo, ele abaixa a cabeça. Meus dedos afundam em seu cabelo e estremeço com o quantomacio é. Todo dourado, macio e liso. Eu quero esfregar todo em meu rosto, meus lábios, até. Issome dá uma pausa. Mas meu coração não para. Está disparando com a ideia de colocar meuslábios em qualquer lugar perto de Abel Adams.

Ele levanta os olhos e esqueço tudo sobre seu cabelo incrível. Eles são tão castanhos ebrilhantes e seus cílios são os mais bonitos que eu já vi. — Você vai me fazer implorar, não é?

— Talvez. – Mordendo o meu lábio, encolho os ombros e o marrom em seu olhar brilha.

Reluz, brilha, resplandece.

— O que posso fazer para você mudar de ideia?

Finjo pensar nisso. — Chocolates. Compre-me toneladas de chocolates.

— Feito.

— E me dê um buquê de flores.

— Ok.

Eu rio, mas levanto as minhas sobrancelhas, tentando parecer arrogante e firme. — Bem,então volte mais tarde e me pergunte de novo.

Abel ri. — Então é assim, hein?

— Uhum.

Ele se endireita para que fiquemos da mesma altura, mesmo com ele sentado e eu dejoelhos. — Que tal eu convencê-la de outra maneira, bem aqui, agora?

Meus olhos vão para os seus lábios novamente. Imediatamente, automaticamente, como sealgo dentro de mim já soubesse o que ele queria dizer. Como se eu já carregasse esseconhecimento em algum lugar profundo. Meus arrepios aumentam, quase me deixando semfôlego. — Nã... não, eu só quero chocolates. – minto.

— E flores, certo?

— Sim. Então, hum... – eu me afasto dele, com as minhas mãos apertando nervosamentemeu vestido. — Você deve voltar mais tarde.

— Sim, não vai funcionar para mim. – ele abre minhas mãos e entrelaça nossos dedos. —Que tal concordar em ser a minha namorada agora e selarmos com um beijo e eu trazer para vocêtodas as coisas que você tão docemente exigiu na próxima vez que eu estiver aqui?

Ok, então... eu não ouvi mais nada, exceto selarmos com um beijo. E, claro, meu coraçãoentoando sim, sim, sim.

— Vo... você quer me beijar?

— Porra, sim. Desde que te vi.

— Mas isso foi há um ano.

— Eu sei.

Meus olhos e boca ficam arregalados. Ele está pensando em me beijar há doze meses. Todasessas coisas em que estive pensando enquanto encarava seus lábios e analisava como seu lábioinferior parece mais macio do que o superior, e como também é mais grosso e vermelho... Eletambém tem pensado nessas coisas?

Bem, dã. O que mais seu olhar fixo significaria, não é? Não sei por que estou tão chocada.

Eu já deveria saber.

Seus olhos descem para os meus lábios e ele sussurra: — Posso te beijar, Pixie?

É uma coisa boa que ele está segurando minha mão e nossas mãos estão dadas porque euteria caído no chão com aquele tom. Sua voz é rouca e grossa. Eu fico pensando que um dia voume acostumar com o quanto diferente é a voz dele, mas até agora isso não aconteceu.

Eu queria isso há muito tempo, mas agora estou nervosa. Eu não sei o que fazer. Devopressionar meus lábios nos dele ou, tipo, morder como faço com o meu chocolate? Parece tãofácil na TV.

— Apenas um beijo. – eu sussurro, percebendo que é um bom momento para começar. Seeu for péssima, ele não saberá e posso meio que aprender com isso também.

— Você quer que eu morra, não é?

— Não, eu...

Ele levanta os olhos. — OK. Apenas um.

— Pro... promete?

— Sim. – ele balança a cabeça e sinto seu cabelo fazendo cócegas na minha testa, melembrando o quanto perto estamos. Nunca estive tão perto de outro ser humano. Eu nem sabiaque as pessoas podiam ficar tão perto umas das outras.

— Ok. – eu sussurro.

Ah, Deus. Ah, Deus. Abel Adams vai me beijar. Ele vai me beijar na boca.

Ah, Deus.

Sinto sua respiração antes de sentir qualquer outra coisa. Em meus lábios, como uma pena.Como uma pena quente. Acaricia o contorno da minha boca e traça a forma dela, fazendo-mesentir... estimada. Como sua respiração tocando minha pele pode me fazer sentir assim? Mas éverdade.

Então sinto o calor de seus lábios macios nos meus. Eu não esperava que fossem assim tãomacios. Como um travesseiro ou uma nuvem. É um choque tão grande para o meu sistema quetenho que agarrar sua mão com ainda mais força. Porque se eu não fizer isso, vou cair com seusbeijos suaves e delicados. Delicado, gracioso, perfeito. Mesmo que a última não sejatecnicamente uma palavra, eu a aceitarei.

Eu também vou mexer os meus próprios lábios. Não acho que eles possam ficar parados,mesmo que estejam nervosos e tremendo. Eu os passo sobre seu lábio inferior e quase perco ofôlego com o quanto doce é o gosto. Acho que são todas as maçãs que ele consome diariamente.

Eu não consigo parar de prová-los agora. Nosso beijo é lento, mas tão intenso que meucoração bate mais forte do que nunca.

Todas essas sensações não me prepararam para a próxima. Aquele em que Abel abre a boca

e chupa meu lábio inferior. Está molhado. Deus, tão molhado. Mas também é forte e cativante eeu suspiro com o quanto estranho é. Estranho e um pouco doloroso. Não, na verdade é muitodoloroso, mas a dor não vem da minha boca. Está vindo dos hematomas na minha cintura.

Abel solta o meu lábio com um som. — Pixie? Porra, isso foi... foi demais?

Quando suas mãos foram para minha cintura?

Estou agarrando sua camisa para me equilibrar, mas ele próprio está instável agora. Olhosde uma fera e peito arfante. Ele está segurando meu vestido na minha cintura, pressionando apele sensível. Ele me solta quando eu me afasto dele, com meus olhos lacrimejando.

— Eu... – eu me sento e coloco meus braços em volta de mim, esfregando a áreamachucada, tentando aliviar a dor.

Os olhos de Abel estão ainda mais frenéticos do que antes. — O que há de errado? Eu...Porra, eu machuquei você?

Não aguento sua expressão agonizante. — Não. Foi... Não foi você.

Ele está passando os dedos pelo cabelo quando para e fecha o punho antes de soltar os fios.— Então quem foi?

— Ninguém. – eu dou um riso falso. — Não é nada.

— Pixie. – ele avisa.

— Abel. – eu rio de qualquer jeito.

— Você não consegue mentir, sabe disso, não é? – Então, algo ocorre a ele. — Foi a suamaldita mãe?

Sim, ele não é fã da minha mãe.

Estou pronta para negar, mas ele sabe. Como ele sabe de tudo?

— O que ela fez? – ele está tremendo.

Se eu não o conhecesse, estaria com medo dele agora. Um garoto alto que mal cabia dentroda minha casa da árvore, vibrando de raiva, com seus traços todos nítidos e acanhados. Eu seique não adianta mentir para ele. É melhor dizer a ele e fazê-lo ver que não é nada sério.

— É apenas algo que minha mãe faz quando fica com raiva. Eu estava falando ao telefonecom Sky e perdi a noção do tempo, ela ficou brava e meio que me beliscou. Não é nada. Nemdói.

— É por isso que você está prestes a chorar? Porque não dói?

— Abel, não é nada. Sério.

— Aquela maldita vadia. – Seus punhos estão fechados nas coxas. — Eu vou...

Cubro suas mãos e o paro. — Você não vai fazer nada. Me prometa, ok?

— Não.

— Por favor. Eu não posso perder você. – eu imploro. — Prometa que não vai fazer nada.Eu estou bem. – eu sei que ele ainda está com raiva, então eu jogo a carta que ele não será capazde recusar. — Você vai... você vai me abraçar?

Ele solta uma respiração funda, piscando. Ele acena com a cabeça e essa é toda a permissãode que preciso. Eu me abaixo e me ajusto nas curvas de seu corpo enquanto ele envolve os seusbraços em volta das minhas curvas sutis.

Ficamos assim por um tempo, até que sua raiva se esgote. Ele está me segurando com forçacomo se nunca fosse me soltar, acariciando meu cabelo, circulando minhas costas e beijandominha testa. Puxa, esse garoto. Não é à toa que não consigo parar de pensar nele. Ele é incrível.O melhor cara que já conheci.

Estamos relaxados agora, embora seu domínio sobre mim não tenha diminuído. Mas entãome lembro do que começou tudo isso.

Celular.

Ah, meu Deus. Ele me comprou um celular. Como ele comprou isso? Onde ele conseguiu odinheiro? Eu sei que seu tio, Peter Adams, dá a ele uma quantia mínima de mesada, que muitasvezes vai para seus almoços comprados e outros suprimentos.

Peter Adams não é um guardião muito presente, pelo que tenho visto. Eles mal se cruzamdurante o dia. Ele deixava Abel sozinho, o que eu odeio totalmente. É por isso que levo para elebiscoitos e sanduíches amendoim e geleia quando mamãe não está olhando.

— Abel? – eu me sento direito. — Como você comprou o celular?

— Da maneira normal. Fui à loja e pedi.

— Você sabe o que quero dizer. – eu bati em seu ombro. — Como você pagou por isso?

Ele esfrega o local. — Droga, você é mandona. Alguém já te disse isso?

Eu suspiro. — Sim. Meu namorado. – Seus olhos brilham pelo namorado e meu coraçãovacila. Mas, concentre-se! — Diga-me como você pagou por ele.

Com isso, toda brincadeira desaparece de seu rosto e ele suspira. — Eu não posso mentirpara você, Pixie. Não me faça mentir para você.

Agora, estou realmente preocupada. Meu coração está batendo forte contra meu peito, mas oritmo das batidas é diferente. Não é emoção, mas medo. — O que você fez?

— Não importa.

— Isso importa. – eu agarro a corrente de prata em seu peito. — Diga-me, Abel. Por favor.Diga-me o que você fez.

— Eu vendi minha câmera.

Eu não respiro por um segundo. É como se algo duro tivesse batido no meu peito e fiquei

chocada.

Sua câmera. Ele vendeu sua câmera.

Ele a herdou de sua mãe. Ela e a corrente de prata que ele usa. Essas são as únicas coisasque restou de seus pais.

Às vezes choro até dormir pensando em como ele é solitário. Eu rezo por ele na igreja. Rezopara que ele seja menos solitário. E agora, ele perdeu uma das duas coisas que mais importavampara ele.

Por minha causa.

Eu recupero minha força porque estou com raiva - dele, de mim? Eu não sei, mas estou.Todas aquelas orações, todas as vezes que chorei por ele e como uma idiota, ele desperdiçoutudo.

Deus, eu o odeio. Eu odeio.

Eu não odeio.

— Pixie, agora ouça por um segundo...

— Eu te odeio. – Minto com um grito. — Eu te odeio tanto, Abel. Eu te odeio. Te odeio. Teodeio.

— Não, você não odeia. – ele range os dentes com a raiva brilhando em seus olhos.

Eu me debato contra seu aperto com uma força e paixão que nunca senti. — Estou tão bravacom você. Tão brava. Como você pôde fazer isso? Como você poderia vender? Era da sua mãe evocê adorava. Por que você desistiu dela?

Seu domínio sobre meu corpo aumenta. Ele aperta a ponto de doer, a ponto de eu malconseguir respirar e estou ofegante. Mas também pode ser porque estou chorando agora. Deus,eu nunca pensei que o meu coração pudesse se partir tanto. Por qualquer coisa. Por ele.

Deveria ser a única a consolá-lo, mas em vez disso, estou chorando como uma criança decinco anos, porque não consigo nem imaginar a dor que ele deve ter sentido ao desistir de algotão precioso.

— Ouça-me, Pixie, e ouça atentamente. – Sua voz afetada me tira da minha raiva.Mantendo-me alinhada com seu corpo, ele levanta a mão e enxuga minhas lágrimas gentilmente,totalmente o oposto da cadência de sua voz, áspera e bruta. — Quando eu vim aqui pela primeiravez, eu odiava esse lugar. Eu estava pronto para fugir no dia seguinte até que o Sr. B meencontrou na rua e me levou para a igreja. Ele disse que queria que eu encontrasse paz em Deus.– ele zomba. — Foda-se Deus. Foda-se Ele e todo o Seu poder. Ele levou meus pais. Ele medeixou órfão. Ele tomou o meu controle. Eu não preciso de Deus. Seria meu próprio Deus. Fariaminhas próprias regras. Mas então eu vi você.

Sua voz abaixa para um sussurro, palavras tão escassas e parecidas que tenho que pressionarminha palma para onde está seu coração, para que eu possa sentir que ele é real. Isso o que ele

está dizendo é real. Que pertence a este mundo e não a uma terra dos sonhos.

— Você estava discutindo sobre algo. Sua voz era doce pra caralho. Sabia que você erabonita quando a vi pela primeira vez, mas na igreja, sob aqueles vitrais... Jesus Cristo, vocêparecia uma deusa. O tempo todo em que estive lá minha mão coçou. Eu tive que coçar contrameu jeans. Queria tocar em você e desenhar seu rosto, e depois tocar em você novamente. – elelambe os lábios e sinto a pulsação nos meus. — Essa foi a primeira vez em dias que não penseinaquele telefonema que recebi sobre meus pais. Eu estava pensando em outra coisa. Sobre você.

Sua mão sobe e segura meu cabelo solto, puxando as mechas. Arde e eu gemo, mas ele nãome dá alívio. Tenho a sensação de que ele não pode. Não sei como sei disso, mas sei. Ele tem umgrande ressentimento e as suas emoções estão afetando suas ações. Nunca o vi assim, ouqualquer outra pessoa, por falar nisso. Tão agitado e... e agressivo.

— Eu quero você, Pixie. Eu quero você na minha vida e se eu tiver que vender tudo quetenho, até minha alma, eu farei isso. Minha mãe costumava dizer que pessoas sem alma sãomonstros. Não me importo de ser um se eu conseguir ficar com você. E eu não vou desistir devocê, Evie. – Um arrepio passa por mim quando ele diz o meu nome verdadeiro. — Não voudesistir de você, porra. Nem mesmo Deus pode tirar você de mim.

Ah.

OK.

Muitas coisas estão acontecendo agora. Muitas. Coisas.

Eu não consigo entender todas elas. A dor no meu couro cabeludo. O vigor em meu sangue.As batidas do meu coração. Existe uma emoção. Isso me assusta como parece emocionante. Issoé tão confuso. Está bagunçando minha cabeça. Mas sei de uma coisa com certeza. Eu sei quequero que ele me beije, e não me importarei se ele fizer aquela coisa de lamber os lábios de novo.

Mas primeiro preciso dizer algo a ele. Algo que é importante. — Eu não te odeio.

Nossos peitos estão colidindo como se fôssemos estrelas no céu. Eu estava errada antes. Issoé o big bang. Isso está colidindo. É assim que nossa história de amor nasce.

— Sim. – Seus dedos seguram meu cabelo.

— Eu... eu acho que... te amo.

Desta vez, seu sim sai como um suspiro de alívio. Doce, doce alívio.

— Mas o amor não é como... como uma coisa de adultos? Quero dizer, não somos... nãosomos muito jovens para nos sentirmos assim?

Não sei se isso é normal. Ele está puxando o meu cabelo até doer. Como isso pode sernormal? Como posso querer que ele faça mais isso? Além disso, tenho apenas treze anos e elequinze. O amor não é um grande evento para as pessoas da nossa idade?

— Quem disse? Deus? – ele zomba.

— E as pessoas. – eu grito.

— Foda-se Deus, Pixie. Foda-se o mundo. Nós seremos nossos próprios deuses. Você é omeu e eu serei o seu.

Estou tonta. Eu literalmente me sinto tonta agora. Minha visão está embaçada. Tudo o queposso ver é ele. Seu cabelo dourado, seus olhos castanhos de cor de mel e aqueles lábiosvermelhos como maçãs. Foi isso que Adão e Eva sentiram quando quiseram morder aquelafruta? Foi isso que Delilah sentiu quando David a pediu para ser dele, contra todos os homens econtra a natureza?

Eu gostaria de saber. Eu gostaria de saber se isso é o que todos eles sentiram, porque então,eu seria capaz de dizer não. Eu seria capaz de dizer o que é isso. Eu acho que isso é pecado.Quero dizer, ele não falou mal de Deus? Eu não acredito nisso. Eu não gosto de brincar comDeus ou falar mal dele. Eu sou uma crente, não sou?

Mesmo assim, eu aceno porque parece tão certo. — Sim.

Seu sorriso está super perto da minha boca que sinto seus lábios se esticando. E então, eunão me importo com mais nada. — Você vai me beijar assim?

— Assim como?

— Como você fez antes. Com aquela coisa de chupar os lábios.

Ele ri baixinho. — Eu te amo, Pixie.

Com isso, ele me beija como pedi. É molhado e profundo. Forte e gentil. Isso vira o meumundo de cabeça para baixo e faz faíscas percorrerem sob minha pele, e eu nunca quero que elepare.

Mais tarde,em casa, sento-meà mesa de jantarcom o meu novo celular no bolso do vestido. Coloco as minhas mãos na minha frente enquantomamãe reza e penso sobre aquele beijo. Eu passo o polegar pelos meus lábios formigando epercebo que agora sou uma crente. Agora, com o choque ainda percorrendo sob minha pele e asestrelas disparando em meus lábios, finalmente tenho a prova de sua existência.

— Você tem gosto de açúcar. – Abel sussurra contra os meus lábios, me fazendo corar.

— Você tem gosto de maçã. – eu sussurro também.

— É? – ele esfrega o nariz abaixo da minha orelha, me fazendo cócegas.

— Abel, pare. – digo, rindo. — Não podemos ser barulhentos.

— Em um segundo.

Ele está dando beijos suaves como pena em toda a curva da minha garganta e estou muitofraca para resistir a ele. Eu deixo minha cabeça cair para trás e olho para o teto escuro do armárioda igreja.

O culto está prestes a começar e eu disse a Sky que precisava ir ao banheiro. Temos apenascerca de cinco ou, no máximo, dez minutos, se eu estiver disposta a mentir sobre meu sistemadigestivo.

Não quero pensar nisso quando Abel está me fazendo sentir tão bem, leve e intensa. É comose meus pés não tocassem o chão quando ele está tão perto e me beijando. Tudo o que possofazer é agarrar sua camiseta macia entre meus dedos e me inclinar contra ele.

Seus beijos nem sempre são tão gentis, no entanto. Não. Eles podem ser bruscos e úmidoscom seus dentes me mordendo. Uma vez eu disse a ele que beijos não deveriam doer. Ele sorriue mordeu meu lábio inferior suavemente, dizendo não é? Lembra que eu disse que mordo. Talvezvocê devesse ter me ouvido.

Além disso, se estou sendo honesta, não faria de outra maneira. Houve um tempo em que euestava obcecada por seus lábios. Tipo, realmente obcecada. Ainda estou, mas acrescentei maisalgumas coisas à minha lista de obsessões: seus dentes e sua língua.

Não consigo parar de pensar neles. De verdade. Não consigo parar de pensar em como seus

dentes pegam meu lábio inferior carnudo e mordem apenas o suficiente para me fazer querermais, e como sua língua deixa rastros molhados ao longo do contorno da minha boca. Às vezes,nossos dentes batem uns contra os outros porque estamos tão desesperados. Mas ele está sempreatento às minhas lesões.

Abel odeia a minha mãe ainda mais agora. Ele olha para ela, deliberadamente quando cruzao seu caminho na igreja. Minha mãe e a Sra. Weatherby não ficam felizes. Elas se arrepiam aovê-lo. Eu continuo dizendo a ele para se acalmar, mas é claro que ele não escuta.

— Ela te machuca, Pixie. Eu não vou recuar. Na verdade, eu deveria falar com ela sobreisso.

— Não. Absolutamente não.

Algumas semanas atrás, minha mãe ficou sem queijo para lasanha e fomos até a loja do Sr.B. Ele contratou Abel alguns meses atrás para trabalhar para ele. Assim que minha mãe viu Abelestocando o corredor de cereais, ela quis sair de lá. Mas Sr. B continuou conversando com ela nacaixa registradora. Tive a sensação de que ele sabia sobre Abel e eu, e nunca amei mais o Sr. B.Eu sabia que nosso segredo estava seguro com ele.

Mesmo tendo uma visão desobstruída de Abel, eu estava apenas olhando para ele de lado,porque mamãe estava bem ali. Mas Abel não se importou. No começo, ele olhou abertamentepara minha mãe e, em seguida, passou a me observar. Eu estava corando, embora soubesse queisso o faria sorrir, o que me faria corar ainda mais. Estava tão nervosa, suada e vermelha. Fiqueiabaixando minha cabeça e escondendo meu rosto com meu cabelo. Mas, droga, meu cabeloestava trançado porque mamãe não me deixava sair de casa com o cabelo solto e selvagem, entãonão adiantava. Aposto que ele estava se divertindo muito com isso.

Quando nós saímos, mamãe literalmente me arrastou pelo braço. Engolindo, dei um últimoolhar para ele por cima do ombro e ele piscou para mim. Idiota.

Naquela noite, quando fui para a cama, digitei uma mensagem com os dedos trêmulos.

E: Por que você estava me olhando daquele jeito na loja?

R: Porque não posso deixar de olhar para você quando você está por perto.

E: E se fôssemos pegos? Minha mãe teria matado você.

R: Não tenho medo de sua mãe. Mas isso teria valido a pena.

E: Você é louco.

R: Somente por você.

E eu sou louca por ele.

Mas nosso tempo no armário acabou e eu preciso voltar ao culto. Eu relutantemente o afastoe seus lábios perspicazes para longe e digo a ele que preciso ir. Ele não está feliz com isso. Ele

franze a testa e dá um beijo forte na minha boca, pressionando nossos corpos.

Dói cada vez que tenho que deixá-lo, mas isso precisa ser feito. Às vezes penso, e se eu nãotivesse que deixá-lo? E se eu pudesse ficar com ele o tempo todo?

Estamos nacasa da árvore,como de costume.

Estou escrevendo no meu diário, que ainda não mostrei ao meu namorado. Embora ele sejaintrometido. Eu continuo dizendo a ele que é pessoal e ele continua me dizendo que não há nadapessoal entre duas pessoas apaixonadas. Bem, eu não acho que isso seja verdade. Então, estoumantendo isso longe dele.

Mas agora, não estou interessada em escrever.

Olho para Abel. Ele está meio esparramado com uma perna esticada em linha reta, e meioagachado também, com a outra perna encolhida na altura do joelho e seu caderno de desenho nacoxa. Sua camisa amarela me faz sorrir.

Ele comprou para mim. Eu disse a ele que ele precisa de mais cor em sua vida; ele estásempre vestido de preto e perguntou sobre minhas cores favoritas.

“Amarelo.” eu disse, sorrindo maldosamente.

“Legal.”

“Você vai comprar uma camisa amarela? Porque é minha cor favorita.”

“Claro. Por que não?”

Eu não acreditei nele até que ele realmente a usou um dia, e eu não conseguia recuperar ofôlego. Eu ainda não consigo.

— Pare de olhar para mim, Pixie. – ele sorri e eu quero tanto beijá-lo.

Tanto.

Sei que se eu começar, não vou conseguir parar e ficaríamos o tempo todo nos beijando.Não que seja ruim; nós fizemos isso. Mas estou com vontade de outra coisa.

Empurro meu diário de lado e rastejo até ele, me encaixando contra seu corpo. Como umapervertida, sinto o cheiro de sua garganta. Tenho reunido coragem para tocar a pele nua de seutorso com os dedos. Até agora, eu tenho sido realmente covarde.

— Me conte uma história.

Ele sorri e beija minha testa, pegando seu celular no bolso.

Abel me conta histórias sobre sua mãe e seu pai. David e Delilah. Ele me conta como seupai costumava fazer sua mãe rir. Seu pai fazia algo bobo e ela fingia estar com raiva dele, masela sempre acabava rindo.

Manuseando a tela de seu celular, Abel solta uma risada nostálgica. — Então, desta vez eleestava atrasado. Ele deveria estar em casa por volta das cinco, mas ele se atrasou. E mamãe ficoumuito brava porque eles estavam indo em seu jantar romântico. Papai trouxe flores para ela e nãoentraria em casa até que mamãe o perdoasse. Ele ficou literalmente de joelhos, cantando cançõesestúpidas. – ele ri. — Aquilo foi tão constrangedor. Eu disse a ele, pai, levante-se. E ele disse,não. Não até que a sua mãe me ame de novo. Ele costumava dizer, nunca aceite não comoresposta da mulher que você ama, Abel. Continue assim. Ela vai desistir eventualmente. Ela vaiver o quanto você a ama.

No celular, posso ver duas pessoas, um homem de cabelos dourados e uma mulher decabelos escuros com um sorriso enorme. Eles parecem jovens e tão felizes em meio a toda acidade de Nova York e o sol poente. Abel me disse que eles estão no topo do Empire StateBuilding. Eles parecem tão apaixonados.

Eu já sabia que nunca poderia odiá-los. Eu nunca odiei. Mas agora acho que estou meapaixonando um pouco pela história de amor deles.

Isso me torna nojenta ou estranha?

Talvez.

Eu o abraço. Meu Abel.

Se isso me torna estranha, então que seja.

Ao meu lado está um garoto que foi gerado por eles e sente falta deles, e eu o amo. Não háescolha a não ser amar seus pais e o amor deles.

Seu corpo está tenso e parece tão frágil, como se ele fosse quebrar a qualquer segundo. Nopôr do sol, seu cabelo parece exatamente como o de seu pai.

— O que você acha que acontece com as pessoas quando morrem? – ele pergunta, com umavoz dolorosa e solitária. De alguma forma, isso ainda consegue ecoar dentro da casa da árvore.

Eu fico ainda mais perto dele, colando o lado do meu corpo ao dele. — Talvez elas setornem estrelas.

Nós dois olhamos para cima e vemos a minúscula faixa de céu laranja através da abertura notelhado.

— É? Você não acha que simplesmente... desaparecem? Tornam-se comida para vermes?

— Não. – eu movo meus olhos para longe do céu e olho para ele. — Eu sei que você nãoacredita em Deus ou algo parecido, mas e se houver um? E se a maneira como nos conhecemos,a maneira como nos apaixonamos... Foi tudo por causa dele e de seus pais. Talvez estejam nosobservando agora, esperando que resolvamos tudo. Eles podem estar torcendo por nós, sabe.

— Ou talvez as estrelas sejam apenas estrelas e Deus está morto. E eu tenho que descobrirpor conta própria como manter minha deusa para sempre.

— Você é um idiota. – eu reviro meus olhos, mesmo enquanto beijo seu peito. Deus, ele é

realmente duro, forte e quente. Quando terei coragem de beijá-lo sem sua camisa?

Bem, agora não é a hora. Eu continuo: — Se eu sou sua deusa, então concedo seu desejo.Você pode me ter para sempre.

— Sim? Você não está brincando?

— Não. – eu aceno a minha mão sobre sua cabeça e balanço meus dedos. — Desejoconcedido.

— Ótimo. Agora só preciso encontrar um anel.

— O que?

— Bem, você vai precisar de um anel agora que estamos noivos.

Demoro alguns segundos para realmente entender o que ele quer dizer. E então, eu estousaindo de seu controle e olhando para ele com os olhos arregalados. — Noivos?

— Sim. Não é isso que significa para sempre? Noivos para se casar.

— O que? – eu grito. — Não estamos noivos!

— Bem, o que você acha que para sempre significa então?

— Eu quis dizer... – eu estou gaguejando, olhando ao redor do espaço. É o caso dehiperventilação novamente. Como ele pode dizer isso? Ele nem mesmo me pediu em casamento.Além disso, hum... não somos um pouco jovens para pensar sobre isso? Quer dizer, eu estouenlouquecendo com quatorze anos e ele não está em melhor situação também aos dezesseis.

Como sempre, ele usa seu tamanho para me intimidar. Ele se senta ereto, elevando-se sobremim, e segura meu cabelo. Ele tem um fascínio estranho por isso. Ele está sempre brincandocom os fios, bagunçando-os, embora eu diga não a ele todas as vezes. Bem, eu secretamentequero que ele faça isso, então não me importo muito com isso.

— O que você quis dizer, Pixie?

Eu estico meu pescoço para encontrar seus olhos. — Eu quis dizer... Você nunca me pediu.Você deveria pedir. É a coisa de namorada de novo.

Ele esfrega os seus lábios entreabertos nos meus. — Continuo estragando tudo, não é?

— Sim. – eu suspiro com a destreza de nossas bocas. Nossos lábios estão praticamentedeslizando um sobre o outro.

Eu gemo. É um som estranho. Eu já gemi antes? Não me lembro agora. Mas tudo que euquero fazer é implorar e gemer e fazer sons que não me lembro de ter feito.

Os olhos de Abel estão todos brilhantes novamente; com sua respiração está mais quente doque o normal. — Então, você quer se casar comigo, Pixie?

Ah. Não.

Certo?

Por que isso é tão emocionante?

Afastando meus lábios, coloco meu dedo em seu peito. — Não, e desta vez, quero dizerisso. Não estamos falando sobre isso agora. Nem deveríamos estar pensando sobre isso. – eleabre a boca para dizer algo, mas eu o impeço. — E nada daquela lógica estranha que você medeu da última vez. Não. Minha resposta é não.

Ele leva meu dedo indicador aos lábios e o morde em sua boca quente. É nojento, mas nãoé. Isso acelera minha respiração e me deixa tonta, especialmente quando ele geme no fundo dopeito, fazendo sons próprios.

Eles fazem alguma coisa comigo. Algo... intenso e formigante e puxo minha mão de volta.Por causa do quanto eu a quero em sua boca. É mais sujo do que morder e tudo isso.

Ele sorri. — Bem, então vou continuar até você ceder.

Essas são as palavras de seu pai.

Não acho que ele esteja jogando limpo. Não acho que Abel saiba jogar limpo. Ele é louco.

Louco.

No jantar, minha mãe me pergunta o que faço na casa da árvore. — Talvez você deva pararde ir lá agora. Você não é mais uma criança.

Com o coração acelerado, mantenho meus olhos na comida. Deus, por favor, não. Esse é oúnico lugar onde posso vê-lo sem medo de ser descoberta.

Mas então, meu pai vem em meu socorro. — Deixe-a em paz, Beth. Está bem. Não estámachucando ninguém.

Eu não sei o que faria sem meu pai. Ele é meu salvador.

Sério? Ele é?

Por que ele não faz nada sobre os beliscões da mamãe, então? Por que Abel é o único queestá incomodado? Por que a paz é mais importante para meu pai do que eu?

Eles começam sua discussão diária, onde mamãe fala e fala e papai simplesmente ignora. Euos ignoro e penso em David e Delilah. Como eles estavam felizes. Penso no filho deles, o garotopor quem estou apaixonada, cujos beijos me ajudam durante o dia.

Então, peço a Deus que me dê forças, porque por mais louco que seja, eu queria dizer simquando ele me pediu em noivado.

Amar Abel Adams é um trabalho árduo.

Achei que ser amiga dele seria difícil, mas amá-lo em segredo é mais. Que bom que não meimporto com trabalho árduo. Eu sou boa nisso, na verdade. Eu sou boa em proteger nosso amor.Eu o mantenho escondido dentro do meu coração, guardo o segredo com minha vida. Emboraqueira gritar, dizer a todos que estou apaixonada pelo cara mais incrível de todos.

Sou boa em manter as coisas na surdina agora. Eu minto. Eu invento histórias para vê-lo.

Digo a minha mãe que estou na biblioteca para estudar. Mas, na verdade, estou com Abelem Lover’s Creek. Ele não cabe mais na minha pequena casa da árvore, então perdemos omelhor esconderijo de todos os tempos. Mas Lover’s Creek também é bom, eu acho. Fica dooutro lado da cidade, no limite. Ele nos conduz na velha caminhonete de seu tio que comproudele. Aquele lugar é superlindo. Com um riacho correndo de um lado e arbustos em abundância.

Pessoas que não querem ser encontradas vão lá. Pessoas como nós.

Porém, eu tenho fé. Tenho toda a fé de que, quando chegar a hora, Deus vai nos ajudar. Nãoestamos fazendo nada de errado. Estamos apaixonados. Não importa o quanto meus pais ealgumas outras pessoas de mente pequena odeiem David e Delilah. Não importa que pensem queAbel é mau. Nada importa porque no final, estaremos juntos. O amor sempre vence, certo?

Abro o meu armário e encontro um pequeno bilhete entre os meus cadernos, como umsegredo mais precioso que uma pessoa possa ter. Eu mal posso conter meu sorriso. Eu sei dequem é.

Abel.

O garoto que amo é totalmente romântico.

Desde que começamos a dividir a mesma escola há um ano - eu estou no segundo ano eAbel está no último ano - ele tem me deixado barras de Toblerones e cartas de amor no meuarmário. Pequenas frases que parece tanto autoritárias quanto suplicantes.

Não use esse vestido, Pixie. Você está tentando me matar?

Desfaça sua trança, baby. Faça isso muito devagar.

Quero beijar você. Posso te beijar, Pixie? Por favor? Posso colocar minha boca em você?

Então, talvez ele não seja um romântico. Como seus beijos, ele é um romântico safado, maseu aceito, e minha resposta é sempre sim. Para tudo o que ele diz.

A única coisa que supera ver seus bilhetinhos é ver Abel em pessoa, o que acontece todos osdias. Às vezes, várias vezes ao dia.

Eu o vejo caminhando pelos corredores, carregando uma mochila. Às vezes, ele tem umcaderno de desenho em uma das mãos enquanto gira o lápis com a outra. Ou às vezes ele está dooutro lado do refeitório, mordendo sua maçã, compartilhando o almoço comigo à distância.

Às vezes, quando o fluxo de alunos é abundante e de desconhecidos, Abel não se contentaem apenas olhar. Ele chega mais perto. Ele passa por mim no corredor, tocando os meus ombros,dificultando a minha respiração. É uma pequena amostra de seu corpo quente e camisetas maismacias do que as nuvens e eu sempre acabo querendo mais. Muito mais.

Não demorou muito para Sky descobrir o que estava acontecendo. Acho que ela descobriuisso na primeira semana em que começamos o ensino médio. Eu neguei, é claro. Mas ela mepegou.

— Há quanto tempo isso está acontecendo?

— Não muito.

— Evie.

— Droga. Um ano agora, eu acho. Mas ele diz que começou no dia em que nosconhecemos. Não tenho certeza se acredito nele.

— Ah, meu Deus. Isso é tipo... tão intenso e louco. Você está apaixonada por ele?

— Sim.

— Ahmeudeus. Você está tão morta. Vocês dois. Acho que sua mãe vai matá-lo primeiro, eentão ela vai trancá-la em algum lugar e deixá-la morrer.

— Não vai ser tão ruim. Nós temos tempo. Não precisamos contar a eles agora.

— Que tal nunca contar a eles. Que tal fugir?

— O que? Não. Não estamos fugindo. Por favor. Quando chegar a hora, eu direi a eles. Voucontar ao papai primeiro. Ele é muito mais legal e então, eu direi a mamãe. Ela vai ficar brava,

sim, mas quer saber, eu não me importo. Ela acabará mudando de ideia.

— É? Descobrir o fato de que sua filha preciosa está apaixonada por um monstro?

— Ele não é...

— Eu sei. Eu sei. Mas ela sabe?

Bem, se minha mãe não sabe, então ela é uma idiota. Pronto. Eu disse isso. Sim, Abel temsido menos agradável com ela, mas tudo bem. Não é como se estivesse causando problemas. Eleé bem comportado. Um pouco intenso, mas isso é só comigo.

Mas não vou me preocupar com isso hoje, quando seu bilhete diz para encontrá-lo na sala302. Ela é bem no final do corredor, tipo, nos fundos, onde as pessoas não vão com tantafrequência.

Conto a Sky sobre o local de encontro e ela revira os olhos porque tem que ficar de guardana porta. — Eu não quero ouvir nenhum barulho de beijo, ok? Portanto, mantenha isso baixo.

— Cale-se. – eu bati nela com meu caderno, já imaginando todos os beijos e outras coisasque estaríamos fazendo.

Deixando Sky do lado de fora, abro a porta da sala. Do outro lado do mar de mesas vazias,encostado na parede nos fundos, está ele. Meu Abel.

A luz do sol através da janela o atinge com um padrão de luz e escuridão. Ele é tão quente,sexy e bonito. Sua respiração acelera quando eu entro. Seu peito parecido com uma montanha semove para cima e para baixo, arfa e pressiona sua camiseta branca.

Ele cresceu muito nos últimos anos, ampliou na verdade. Graças a trabalhar o tempo todo.Ele é tão grande e musculoso.

Seus olhos castanhos se movem para cima e para baixo no meu corpo e, embora eu estejausando um vestido de algodão com girassóis, com um pequeno decote, me faz sentir... muitomenos vestida.

Sim, então nos últimos anos os olhares que ele me dá e a maneira como ele me tocamudaram também, aumentaram, ampliaram e se transformaram em algo que é grande demaispara nossos corpos.

É quase doloroso.

Arrepios percorrem minha pele, eu me movo em direção a ele e ele se endireita, preparadopara quando eu me jogar sobre ele. É sem vergonha? Sim, talvez. Mas não me importo. Eupreciso dele. Além disso, todas as coisas vergonhosas dentro de mim, que só agora estoudescobrindo, também estão dentro dele.

Nós combinamos em todos os sentidos.

Eu corro até ele, e então o mundo inteiro encolhe para caber apenas nós dois. Eu me levanto,fazendo dele meu território. Seus ombros se tornam minha montanha e o doce hálito de sua bocase torna meu ar. E seu cabelo macio? Torna-se a grama na qual posso afundar meus dedos.

Foram-se os dias em que eu não entendia meu próprio corpo. Eu não entendia os batimentoscardíacos acelerados, o rubor constante e as respirações interrompidas.

Como Abel, eu também cresci. É como se uma noite fui dormir e no dia seguinte acordeicom uma fome profunda que não tinha nada a ver com comida e tudo a ver com Abel.

Meu corpo parece novo. Novas sensações. Novas curvas. Nova delicadeza earredondamento. Meus seios cresceram, redondos, grandes e pesados, e cada vez que penso emseus beijos, em suas mãos, sinto um formigamento. Meus mamilos furam o tecido de algodão domeu sutiã, dolorido e insaciável.

Abel me levanta e me senta em uma mesa, colocando seu grande corpo entre as minhascoxas.

Sim. Ah, Deus. Esse é o local perfeito. Tão perfeito.

Eu já sei o que fazer. Já sei que minhas coxas vão envolver em torno de seus quadrisesbeltos e musculosos e meus tornozelos vão se entrelaçar e minhas sapatilhas vão cair dos meuspés, e meus calcanhares vão cravar na parte de trás de suas coxas.

E ele vai gemer.

Mal posso esperar por esse gemido. É tão gutural e rústico, e então ele vai começar a semover, como se não conseguisse se controlar. Seus quadris vão começar a pressionar na junçãodas minhas coxas. Grande idiota e desesperada.

Deus, sim.

Abel faz as coisas em grande, alto e bom som. Essa é a única maneira de descrevê-lo e assuas ações. Uma de suas grandes mãos irá para minha cintura, agora sem hematomas por algumtempo porque Abel me aconselhou a ficar longe de minha mãe, literalmente, e ele agarra o meuvestido como se fosse rasgá-lo com o dedo. O outro encontrará seu lar em meu cabelo,desfazendo a minha trança, ou em meus seios necessitados. Tão necessitados. Isso não éengraçado. Não há nada de engraçado nessa situação, na verdade.

Não quando ele resmunga que o machuca estar longe de mim. Dói tanto que ele nem mesmose arrepende de me encoxar como uma pessoa louca e excitada. Ele precisa fazer isso antesmesmo de dizer oi para mim. Ele nem se arrepende quando goza em suas calças, diz ele.

Não, não é engraçado. Totalmente doloroso e penoso. Porque me machuca também.

A primeira vez que aconteceu - nós gozamos - foi dentro do armário da igreja. Um segundonós estávamos nos beijando e então, ah meu Deus, meu corpo inteiro pegou fogo e minhacalcinha encharcou.

Fiquei tão envergonhada. Foi como se tivesse sido eletrocutada, mas não deveria ser tãobom, certo? Logo depois do meu orgasmo, Abel gozou também.

Eu quero isso agora. Eu estive tão dolorida e inquieta a noite toda.

Abel deixa cair a cabeça no meu ombro com um suspiro e dá beijos suaves, mas molhados

na minha clavícula.

— No minuto em que você fizer dezoito anos, vou pegá-la, jogá-la por cima do ombro elevá-la até ao cartório mais próximo para que possa dizer sim. – ele murmura, tatuando essaspalavras na minha pele.

Minhas mãos se enterram em seus cabelos enquanto minhas costas arqueiam em direção aele, desejando o relevo de seu peito contra meus seios arredondados e macios, lançando faíscaspor toda parte.

— Você nem me pediu com jeitinho, ainda. – eu sussurro, expondo minha garganta para suaboca exploradora. Ele não pediu. Já se passou mais de um ano desde que ele tocou no assunto nacasa da árvore e eu disse não. Desde então, ele gosta de brincar sobre isso, mas ainda não mepediu formalmente.

— Eu não preciso. Eu já sei a resposta.

— Um pouco arrogante, não é?

— Ah, sim, isso é definitivamente o que eu sou. – ele ri, chupando a pele do meu pescoço,me fazendo tremer e corar. Opa. Duplo sentido.

A maneira como ele está chupando minha pele está se traduzindo em um chupão. — Abel,não. Isso vai deixar uma marca.

Ele resmunga e ergue os olhos. O castanho de seus olhos se foi completamente, como umagota de mel afogada por um lago negro de desejo. — Um dia vou beijar você na frente do mundointeiro e se eles não gostarem, que se fodam.

Vi a frustração em seu tom, a raiva reprimida, e isso machuca meu coração. Ninguém deveser obrigado a esconder seu amor. Ninguém. É muito puro, muito bonito para se manterescondido. Eu acaricio sua mandíbula pulsante. — OK. Beije-me no nosso casamento, então. Nafrente do mundo inteiro.

Um sorriso lento se espalha por seus lábios e eu quero encher minha boca com ele. —Então, você está dizendo sim?

Balanço a minha cabeça para ele e dou um sorriso malicioso. — Talvez.

Ele dá um beijo forte na minha boca. — Sequestrarei você, então.

— Ah, meu Deus, você é louco. – eu ri.

Mas ele o absorver com a boca. Ele está me beijando, realmente me beijando. Tipo, eleperdeu toda a paciência comigo e não pode mais ser um cara bom. Ele precisa ser mau. Eleprecisa sugar meus lábios em sua boca e beber meu sabor direto da torneira. Ele precisa morderminha pele para chegar lá, fazer seu caminho para dentro dos poros e nos fundir.

O aperto no meu estômago fica mais forte. Meus olhos se fecham enquanto me contorço namesa. A madeira parece escorregadia, embora grude na parte de trás das minhas coxas com osuor.

Minha mão desliza para baixo de seu cabelo e encontra sua cruz de prata enquanto eu odeixo me devorar. Os ruídos que ele faz hoje são ainda mais guturais. Ainda mais potentes.Ninguém faz esse tipo de som até que esteja no fim da linha, até o fim de sua vida.

Talvez nossa luxúria seja um hematoma, com risco de vida. Talvez estejamos ambosmorrendo de muito amor.

— Eu te quero tanto. – ele sussurra intensamente, com suas mãos indo por baixo do meuvestido e parando tão perto do elástico da minha calcinha. Quero olhar para baixo e vê-las sobmeu vestido levantado, mas não consigo desviar o olhar dele, pela necessidade absoluta em seurosto. — Você sabe o que isso significa?

— Nã... não.

Ok, isso é uma mentira. Uma grande mentira. Claro, que sei o que ele quer dizer. Claro. Elequer... sexo. Eu vi filmes e vi as cenas de amor neles, quando mamãe não está por perto. Sei queum dia isso vai acontecer entre nós. Na verdade, eu fico acordada à noite pensando em tocar suapele nua, mover contra ele quando estamos... sem usar nada.

Mas - e é um grande mas - estou com medo. Eu sou uma covarde e tenho medo de toda essacoisa de sexo. Mesmo que às vezes sinta que estou morrendo por isso.

— Você não consegue mentir, Pixie.

— Eu não estou mentindo.

Ele apoia sua testa na minha e as nossas peles deslizam uma contra a outra, todas suadas equentes. — Você pensa sobre isso, não é? À noite?

Quando ele está me perguntando dessa forma, de uma forma cúmplice, eu não posso negar.— Si... sim.

Abel não para por aí. Ele continua: — Eu também. A noite toda eu fico batendo punheta,esfregando meu pau deixando-o em carne viva, pensando em você. Seu sorriso, seu rosto. Seucabelo. Deus, as coisas que quero fazer com o seu cabelo. – ele geme como se estivesseimaginando isso agora.

— O que... que coisas?

Ele balança a cabeça uma vez, soprando seu hálito doce sobre meus lábios. — Há um vídeode que gosto. A garota é loira como você e tem cabelo comprido como o seu. – ele fecha os olhoscom força. — O cara puxa o cabelo dela e aperta seu pau. Porra. Gozo toda vez que vejo isso.Toda vez.

A reação que percorre o meu corpo agora, não é nada comparado a quando gozei. Não. Demodo algum. É muito mais potente, mais emocionante. É como se meu corpo já estivessepegando fogo e estou amando cada segundo doloroso disso.

Como as suas palavras vulgares e indecentes podem ser mais poderosas do que umorgasmo?

— Vídeo significa...

Abel abre os olhos. — Pornô. Sim. Estou tão apaixonado por você que procuro garotas quetenham seu cabelo. Eu assisto e me masturbo, mas não fico satisfeito. Porque ninguém é comovocê. Ninguém. – ele engole. — Você me odeia? Você acha que eu sou um idiota por assistirpornografia e pensar em você?

Eu?

As pessoas fazem isso? E se fizerem, é ruim, certo? É ruim e errado e... sim. São todas ascoisas que nunca pensei que gostaria, mas de alguma forma gosto. Gosto disso. Gosto de seudesespero porque também estou desesperada. Eu sou apenas covarde para fazer qualquer coisasobre isso.

— Não. Eu nunca poderei odiar você.

Com isso, ele me beija e estamos nos esfregando um no outro. Suas palavras já me deixaramtão quente que não preciso de muito atrito, e gozo com um suspiro. E então, ele goza também.

Ele gozou porque eu gozei.

Se isso não é a coisa mais poderosa e maravilhosa do mundo, eu não sei o que é.

No fundo da minha mente, me preocupo em me limpar e obter calcinhas novas e secas. Eucarrego roupas íntimas extras na minha mochila; é uma necessidade. Mas todos os pensamentosdesaparecem quando Abel se recupera e me observa com um sorriso satisfeito. — Você é tãolinda assim. Ruborizada. Seus olhos azuis arregalados e vidrados. Eu gostaria de poder tirar umafoto sua assim.

Ah, sim. Abel finalmente conseguiu a sua câmera. Ele próprio comprou com o dinheiro queeconomizou com seu trabalho. Ele diz que adora me desenhar, sendo cuidadoso e meticulosocom o meu rosto. Mas às vezes meu rosto é tão bonito que só uma câmera pode me fazer justiça.

— Você é o pior. – digo a ele.

— Mas você me ama.

— Por enquanto. – E só para garantir, acrescento: — E nada de sexo. Não, não. Não atécontarmos aos meus pais sobre nós ou... – Então uma ideia me ocorre. — Ou nós nos casarmos,tipo, bem, bem no futuro.

Ok, eu admito: adoro torturar o cara. Eu não estou esperando pelo casamento, mesmo queminha mãe diga isso. Mas eu estou nervosa. É verdade, ok? Estou com medo de sexo agora.Agora, só quero que brinquemos e darmos orgasmos deliciosos um ao outro.

Rindo, ele me beija novamente e abaixa a barra do meu vestido, me cobrindo gentil edocemente. — Ok. Nada de sexo e eu não vou tirar uma foto sua assim. Não até que eu te leve àigreja e me case com você na frente de Deus e dos homens. – ele me puxa para frente e para forada mesa, segurando meu vestido na cintura. — E então, quando eu der tudo a você, eu vou pegar.O que eu quiser.

Abel está comendo sua maçã, dando grandes e suculentas mordidas, o tempo todo olhandopara mim do outro lado do corredor. Hoje é seu último dia de aula. Ele está se formando, masainda estou presa aqui por mais dois anos.

Ele ainda estará na cidade, no entanto. Ele vai trabalhar com o Sr. B, que até lhe ofereceuacomodações, logo acima da loja. Então Abel não vai ser mais meu vizinho também.

Já falamos sobre ele ir para a faculdade, mas ele não quer. Ele não quer mais ser preso porregras. Isso é estúpido. Todo mundo vai para a faculdade. É assim que você descobre sobre suavida. Além disso, ele é tão bom com uma câmera. Imagine o que ele poderia fazer com umpouco de formação acadêmica e um diploma. Mas não. Segundo ele, a fotografia é apenas umhobby, não é uma carreira para ele. Um dia, vou fazê-lo perceber que tem muito a oferecer a estemundo. Sua câmera não está lá para fazê-lo se sentir invisível, mas é sua ferramenta para olhar omundo de uma maneira diferente.

Além disso, a verdadeira razão pela qual não vai para a faculdade é porque eu estou aqui.Ele não disse isso, mas eu sei. Eu não posso nem ficar brava com ele por isso. Embora eu estejacom raiva de mim mesma por estar dois anos atrás dele.

Não consigo desviar o olhar dele, embora a maneira como ele está comendo aquela frutaestúpida me lembre de como ele devora meus lábios. E a maneira como ele limpa o suco de seuslábios me lembra de como ele chupa os dedos depois de me fazer gozar.

Mesmo que eu esteja olhando para ele agora e dizendo para parar com isso, eu tenho queadmitir que vou sentir falta. Vou sentir falta de vê-lo pela escola, sorrindo e me fazendo corar,suas cartinhas de amor e seus chocolates. Eu vou sentir falta de me encontrar com ele em salas deaula vazias.

A escola acaba e assim que eu arrumar minhas coisas e esvaziar meu armário, Abel e euvamos para o riacho antes do início do verão e se tornará muito difícil vê-lo. Minha mãe ficarágrudenta e não me deixará sair de casa sem ela. Não conseguirei ver Sky ou Abel comfrequência. Achei que tirar minha carteira de motorista me daria um pouco de liberdade, masnão. Estou presa como sempre.

— Basta fazer sexo com o cara. Ele está praticamente fodendo sua maçã agora. – Sky ri aomeu lado.

— Cale a boca. – eu murmuro, abaixando minha cabeça.

Sim, ainda não fizemos nada. Eu sei que ele quer. Pela a maneira como ele me toca, seusdedos puxando meu cabelo e o meu vestido. Pela a maneira como ele geme, resmunga e memorde quando nos beijamos. Meus lábios estão perpetuamente inchados agora. Sei que ele estáimpaciente.

Eu também. Sei que estamos indo nessa direção. Eu sei que seremos os primeiros um dooutro, mas é tão divertido brincar com ele e deixá-lo desesperado. Eu sou má? Talvez. Mas euamo muito isso. Adoro ser o centro das suas atenções, algo que o consome como um louco.

Ele me tocou... lá embaixo; ele me fez gozar. Eu sei que seu pau é duro e aveludado. Puxa,isso é tão quente. É como se ele fosse mais quente lá embaixo. Sem mencionar que ele é tãogrosso. Eu não vi, mas o toquei e às vezes me pergunto como cabe em sua calça jeans,especialmente quando está duro. Quando eu o toco e passo meus dedos no comprimento dele ebrinco com a cabeça úmida, ele goza com mais força. Seus gemidos são mais altos então.

Mesmo que ele nunca me force, às vezes ele fica tão frustrado. E como punição, não tenhopermissão para me tocar. O que é tão injusto. Ele se masturba o tempo todo; ele até assiste atodos aqueles vídeos. Mas, para me torturar, ele me diz para não assistir. Como uma idiota, eu oobedeço. É como se eu fosse fisicamente incapaz de desobedecê-lo. É como se eu gostasse deobedecê-lo. Gosto de dar a ele o que ele quiser. É estúpido e não faz sentido, mas aí está.

— Odeio isso. – digo a ele. — Te odeio. Você é malvado.

Ele ri. — Não. Você está apenas frustrada porque me quer muito.

— Não, eu não. Se é assim que você quer sexo, não vai funcionar.

— Ah, eu vou acabar com você, Pixie. Você vai ver.

Acho que ele adora quando digo não. Ele também gosta desses jogos. Idiota.

Estou perdida em pensamentos quando Duke se aproxima de nós. Na verdade, ele está seaproximando de mim. Ele nem olhou para Sky.

Duke Knight tem sido um grande problema para mim no ano passado. Minha mãe o ama,obviamente. Todo mundo o ama. Mas está ficando cada vez pior. Minha mãe começou a insinuarsobre ele e eu saindo. Tipo, sair em encontros.

É o suficiente para me fazer estremecer. Eu o odeio. Bem, não tanto quanto minha melhoramiga o odeia. Mas eu odeio. Além disso, não tenho interesse em sair com ninguém, excetoAbel. O quanto triste é que estivemos apaixonados um pelo outro desde sempre, mas nuncativemos um encontro? Nunca compartilhamos uma refeição juntos, nunca nos demos as mãos empúblico ou fomos ao cinema.

— Ei, Evie. – Duke me cumprimenta levantando o queixo.

— Ei.

Duke é o único cara quase tão alto quanto meu Abel. Mas meu namorado ainda é maior e

mais musculoso. Enquanto Abel é bronzeado com cabelos dourados, um solitário e grosseiro, oDuke é pálido. Ele é o centro na multidão, calmo e brilhante, com um sorriso encantador.

Ele se concentra em mim como se não houvesse mais ninguém no corredor, com seus olhosazuis fixos em mim. — Então, eu queria saber se você viria para a festa na minha casa nopróximo sábado. É o fim do ano letivo. Será simples, mas vai ser divertido.

Eu literalmente ouço Sky resmungando atrás de mim. Abro a boca para dizer algo, masdepois fecho. Duke e eu não somos amigos. Na verdade, todo mundo sabe que eu saio com Sky,e Sky e ele não se dão bem. Eu não sei por que ele de repente está interessado em mim.

Limpando minha garganta, tento novamente. — Bem, isso é legal da sua parte, mas achoque vou passar. Mas obrigada.

Uma rejeição curta e gentil. Estou tão feliz que acabou.

Só que não acabou porque ele não vai embora. Ele sorri para mim. Com um daquelessorrisos inocentes e charmosos. — Você tem outros planos? Porque eu adoraria ter você lá.

— Eu, hum, bem, mais ou menos. Quero dizer...

Duke se aproxima de mim. Não tão perto a ponto de chamar de impróprio, mas mais pertodo que ele jamais esteve de mim. — Vamos, Evie. Significaria muito para mim se você viesse.

— Eu...

De repente, sou empurrada para trás e Sky está na frente de Duke. — Corta essa, idiota. Elanão quer ir. Portanto, deixe-a em paz.

— Ei. – Duke levanta a mão em sinal de rendição simulada. — Estou apenas fazendo umapergunta. Tenho certeza de que Evie pode responder por si mesma.

— E ela disse não, não foi? Você precisa ir embora.

Ele se inclina contra o armário e cruza os braços sobre o peito. — Eu não entendo por quevocê está sendo tão agressiva, Skylar. Eu nem estava falando com você.

Sky zomba. — Porra, você não estava. Você estava tentando chamar minha atenção e sabede uma coisa, idiota? – ela o cutuca no peito. — Você conseguiu isso.

Duke sorri antes de se endireitar. Juro que neste momento, seu cabelo espetado e aquela pelepálida e olhos azuis frios o fazem parecer o diabo.

— Skylar, acho que você tem uma mente muito perversa.

Ela o empurra, mas ele não se move. — Não me faça bater em você, Duke. Você sabe queeu posso fazer isso.

Duke abaixa a voz para que apenas Sky e eu possamos ouvir seu próximo comentário. —Você está com ciúmes de eu ter perguntado a sua amiga e não a você? É disso que se trata? Querdizer, você pode ir à festa se quiser. Tenho certeza que vamos precisar de uma empregada. Douuma gorjeta muito generosa.

Depois disso, o inferno se abre. Sky grita e usa todo seu peso para empurrar o peito dele.Duke não estava preparado para isso, eu acho, porque ele tropeça para trás. Seus olhos ficamrealmente sérios e brilham como geleiras enquanto ele avança em direção a ela.

Tento puxar Sky para trás, mas não adianta. Ela tem uma força terrível e ela não estárecuando. Nem mesmo quando Duke chega na cara dela e murmura algo que não consigo ouvirpor causa dos barulhos e gritos. Ela dá um soco no rosto dele, mas ele bloqueia sua mão. Entãoela confia nas pernas e pisa no pé dele, o tempo todo gritando com ele, xingando-o.

Ah, Deus. Ela realmente foi para um lugar escuro. O que diabos aconteceu para deixá-laassim?

Recebo minha resposta quando, no meio de todo xingamento, ela diz: — Como você ousoume beijar? Vou colocar fogo em seu pau, seu idiota de merda.

O que?

Estou momentaneamente atordoada com esta revelação, com meus dedos perdendo ocontrole sobre a camiseta de Sky, onde estou tentando segurá-la. Duke beijou minha melhoramiga? Quando isso aconteceu? Por que Sky não me disse nada?

Acontece que não preciso me preocupar com essa coisa toda de Duke e Sky porque tenhocoisas maiores com que me preocupar agora.

Como meu namorado. Abel está aqui e ele está parado entre o Duke e a Sky, com suaexpressão trovejante, e está toda focada no príncipe da cidade.

Isso não vai acabar bem.

Saio do meu choque e puxo Sky para trás, que está ofegante, ainda olhando com raiva para oDuke. — Fique aí, ok? Você já causou problemas o bastante. – eu digo e ela vira seu olharassassino para mim. Balanço minha cabeça para ela, dizendo-lhe com os meus olhos que vamosconversar sobre a coisa toda do beijo mais tarde. Se houver um mais tarde.

Então eu me viro para Abel quando ele diz: — Cai fora

Duke está arfando; há alguns arranhões na mandíbula e ao longo do pescoço. Uau, Sky odeixou em mau estado. — Você precisa ficar fora disso. – ele se dirige a Abel. — Para o seupróprio bem.

— O que eu preciso é que você caía fora. – A voz de Abel é grossa, marcada pela violência.

Duke enxuga a boca com a manga da camisa. Essa é a primeira vez que o vejo fazer algobrusco. — Você realmente não quer fazer isso.

— Apenas vá antes que eu faça o que eu realmente quero fazer. – Abel dá um passo àfrente, todo ameaçador.

Ok, chega. Não posso ficar aqui e assistir. Preciso intervir. Preciso puxar Abel de volta edizer a ele para parar. Só que, se eu fizer isso, as pessoas saberão meu segredo. Ou pelo menos,eles saberão que Abel e eu não somos estranhos como todos pensavam que éramos.

Ainda me lembro do que aconteceu da última vez que falei com ele. Posso sentir a pelemachucada nas minhas coxas e cintura. Tenho sido boa em evitar chegar perto da mamãe, entãonão tenho hematomas. Mas isso vai estragar tudo.

Duke levanta o queixo e se aproxima também. — Claro, o que?

Foda-se.

Acabei de dizer um palavrão na minha cabeça? Bem, não há tempo para analisar isso. SalvarAbel é mais importante. Os professores estão correndo em direção ao caos, mas não conseguemver Abel no meio dele.

Corro para onde esses dois idiotas estão se enfrentando. Felizmente, posso ficar entre seuscorpos duros e, de frente para Abel, coloco a mão em seu peito onde seu coração está batendodescontroladamente. — Deixa pra lá, Abel.

Seu olhar pousa em mim, e a minha respiração fica presa com o quanto escuro seus olhosestão. Quanto agressivo. Ele nunca pareceu mais alto e largo do que agora, como uma espécie deurso. Urso furioso com narinas dilatadas, coração batendo forte e veias furiosas correndo paracima e para baixo em seu pescoço.

— Ele quer você. – diz ele, com as suas palavras arrastadas e distorcidas. Ele ouviu, nãofoi? Ele ouviu Duke me convidando para sua festa idiota.

— Ele não quer. – eu balanço a minha cabeça e o empurro para trás. — Você precisa seacalmar, ok? Apenas se acalme.

Claro, que ele não se move. Ele coloca a sua mão sobre a minha, olhando para mim com

uma cara fechada feroz e sussurra: — Você é minha.

Seu toque me atordoa mais do que a revelação chocante de Sky. Ele me tocou. Em público.Tipo, na frente de todas essas pessoas. Sua mão grande e áspera está na minha mão pequena epálida.

Meu coração vai queimar a qualquer segundo com o quanto rápido e forte está batendo. Estácom medo, apavorado. E meu corpo? Meu corpo vai explodir em chamas com o quanto querojogar meus braços em volta dele e dizer a todos que ele é meu e eu sou dele.

Deus, eu nunca odiei esta cidade e a minha mãe mais do que este momento. Eu os odeio. Euos odeio tanto.

De alguma forma, consigo juntar algumas palavras. — Precisamos se afaste, ok? Apenas semova.

É como se ele não me entendesse, ou talvez entenda, mas ignora as minhas palavras. Ele meencara com tanta carência absoluta que estou completamente convencida de que todo mundo vaidescobrir agora.

— Mas você é minha, não é? – ele sussurra ferozmente, apenas para meus ouvidos, e apertaminha mão, fazendo meu coração apertar com a mesma força.

Mas antes que eu possa responder a ele, o apocalipse está sobre nós. Os professores descemde todos os lados e estão extremamente furiosos, especialmente quando veem o Abel. O corredorinteiro explode com o caos. Aclamações e gritos e corpos esbarrando uns nos outros. Cada umtem sua própria história e em todas as histórias meu Abel é o vilão. Sky também, aparentemente.

Um dos professores separa Abel e eu, e as nossas mãos perdem o contato, deixando-meimediatamente com frio. Fico olhando para ele por cima da multidão, esfregando meus braçosnus como se o calor tivesse sido sugado para fora do espaço.

A próxima coisa que sei é que estão levando Abel e Sky embora. Sky está reagindo, masAbel não parece se importar. Ele vai facilmente, como sempre soube que isso iria acontecer, aspessoas apontavam o dedo para ele, aconteça o que acontecer. Quando eles viram o corredor,Abel olha por cima do ombro e nossos olhos se encontram pela última vez.

Apocalipse.

Dizimação.Armagedom. Fim do mundo. Eu nunca pensei que veria isso em minha vida. Sempre pensei quefosse em um futuro distante. Se existe uma coisa chamada Apocalipse.

Particularmente chamo isso de tempos sombrios. O termo que eu roubei de ninguém menosque da Sra. Weatherby. Não sei se é semelhante ao que aconteceu depois que as pessoasdescobriram sobre David e Delilah, mas com certeza parece que a escuridão nunca vai acabar.

O sol não tem sido bom desde o incidente na escola, meses atrás. Alguns dias ele está seescondendo atrás das nuvens, deixando a terra fria e cinza, e em outros, é demais, com os raiosde sol quase queimando o solo.

Eu disse ao diretor que não era culpa dele. Eu disse a eles e disse a eles repetidamente. Abelnão fez nada; ele nem tocou em Duke. Até a Sky é inocente. Ela estava cuidando da própria vida.Foi Duke quem provocou Sky. Aquele bastardo do caralho. Sim, estou falando palavrão agora.Está bem. Eu não tenho medo de ir para o inferno.

Naquele dia na escola, nada realmente aconteceu entre Duke e Abel. Não houve socosenvolvidos de verdade. A discussão, ou o que quer que tenha sido, foi sem importância,provavelmente digna de detenção. Então, ninguém podia fazer nada.

Mas isso importava para minha mãe? Não.

Ela ainda me bateu por defender Abel na frente do diretor. Todos viram como minha mãoestava em seu peito e como ele a cobriu com sua própria mão. Obviamente, ela descobriu e medeixou de castigo por semanas, e isso teria se transformado em meses se meu pai não tivesseinterferido.

— Você quer matá-la de fome? Você a viu ultimamente? Ela estava apenas ajudando suamelhor amiga e colega de escola.

— Não quero nem pensar naquela selvagem da Skylar Davis. Sua mãe deveria saber quenão deve deixá-la se comportar por aí assim. E aquele garoto não é outro colega de escola. Elesdeveriam ter me ouvido quando eu disse a eles para rejeitar sua matrícula. Aquele garoto nemdeveria estar aqui. Ele deveria estar...

— Você pode deixar isso pra lá? Ele é apenas um garoto. Ele tem todo o direito de ir àescola, se quiser.

— Você está se ouvindo? Você esqueceu quem eram os pais dele? Irmãos tendo um caso.Você entende como isso é doente? Você tem uma irmã. Você tem primos. Você consegueimaginar uma coisa dessas?

— Já chega! Ele não é os pais dele.

Essa foi a primeira vez que ouvi meu pai levantar a voz. Minha mãe também ficou chocada.Ao longo dos anos, percebi a razão pela qual meu pai não diz nada para mamãe. É porque ele aama. Um pouco demais, acho. Ele permite que ela controle sua vida; ele a deixa comandar ascoisas porque é isso que faz minha mãe feliz. Em estar no controle das coisas.

Tenho visto a maneira como ele olha para minha mãe, com amor e um pouco de frustração.Fico triste que meu pai faça de tudo para deixá-la feliz, inclusive às vezes me negligenciando,mas a minha mãe não percebe isso.

Mas naquele momento, eu poderia ter abraçado o meu pai por defender Abel. Eu nãopoderia, no entanto; Eu estava me escondendo dentro do meu quarto, evitando mamãe e suasmãos bruscas.

— Bem, você deve se lembrar de suas palavras porque vai engoli-las. Você e sua filha. Elevai se tornar como os pais dele: corrupto e imoral. Os laços de sangue são muito fortes, não é? Eo sangue dele é ruim; você não pode mudar isso.

Achei que as coisas ficariam mais fáceis depois que o castigo acabasse. Mas não.

Minha mãe me leva para a escola como costumava fazer. Ela não me deixa sair debaixo deseus olhos nem por um segundo. Não tenho permissão para ir para minha casa da árvore ou ficarna biblioteca.

Só vejo Abel passando pela cidade, onde ainda trabalha para o Sr. B, ou na igreja, onde, porcausa da minha mãe e da Sra. Weatherby, ele se tornou ainda mais famoso. Mas ele continua,mantém a cabeça erguida porque sabe que estarei lá. Ele mantém sua raiva escondida. Por mim.

Droga, eu não sei o que fazer. Alguns dias são tão difíceis. Tão difíceis pra caralho. Nãoquero me levantar de manhã. Quero continuar dormindo na chance de eu sonhar com ele e verseu sorriso malicioso ou tocar sua camiseta macia, músculos quentes e cabelo lindo.

— Quero abraçar você. – digo a ele uma noite pelo minúsculo celular secreto que ele medeu há muito tempo, que agora escondo sob o piso solto do meu quarto.

— Feche seus olhos.

Com seu sussurro, meus olhos se fecham. — OK.

— Você me vê?

— Eu sempre vejo você.

— Agora imagine eu me inclinando e colocando meus braços em volta da sua cintura.

Eu faço. Eu imagino isso. Eu envolvo minha própria mão em volta de mim, embora meubraço não seja tão pesado ou quente, nem me faça sentir tão segura. Sinto o cheiro do ar e finjoque cheira a maçãs, quando provavelmente é naftalina e sabão em pó.

Quero chorar, mas prometo a mim mesma que não vou. Eu estarei livre das lágrimas estanoite. Ninguém quer uma namorada chorona. — Você está segurando meu vestido?

— Você está usando seu vestido rosa sexy pra caralho?

Eu aperto minhas coxas juntas. — Sim. Para você.

Ele geme e ouço um farfalhar. — Porra.

— E você está cheirando a minha pele? – eu mordo o meu lábio, esfregando meu ombro naminha bochecha, imaginando seu nariz macio e lábios aveludados no local.

— E chupando.

— Mas você não pode deixar uma marca em mim.

— Um dia eu vou.

— Abel... – eu gemo, imaginando as marcas vermelhas e roxas por todo o meu corpo. Elasvão doer e latejar como hematomas. Mas eu não vou me importar com elas. Não, eu vou recebê-las porque elas são feitas com amor. Muito amor. Algo tão apaixonado que se torna doloroso.

— Você está imaginando, não é?

— Sim.

— Sim. Você quer que eu marque você. E quer saber, Pixie?

— O... o quê?

— Eu não pararia no seu pescoço. Eu marcaria você em todos os lugares. Em suas costas,sua cintura e sua barriga macia. Aposto que é sedosa. Sedosa e macia pra caralho. Vou chupar apele, usar meus dentes e soltar com um som. Estará vermelha quando eu terminar com isso.Talvez tão vermelha quanto os seus mamilos. – Um gemido. — Fico pensando neles. Ficopensando na sua boceta. Como ela fica molhada. Como é delicada. Porra, ela é tão delicada.Mais delicada do que qualquer coisa neste maldito mundo. Provavelmente deveria ser gentil comela, você sabe. Tipo, muito gentil e devagar, mas eu não acho que posso ser.

— Por que não? – eu me contorço na cama, deslizo meus pés para cima e para baixo,perdendo a cabeça.

— Porque eu esperei muito por isso. Muito tempo, porra. – Há um farfalhar do seu lado. —Você me fez esperar, não é? Você me deixou louco por essa boceta gostosa.

Eu adoro quando ele fala assim, quando seu desespero se torna tão forte que altera sua voz.Mas ele está certo. Eu sou uma grande idiota por fazê-lo esperar e jogar esses jogos. Ele me amamuito e eu também o amo. E agora não podemos nos ver com tanta frequência. Achei quetínhamos tempo até que o arrancaram de nós.

— Você gosta, não é? Você gosta quando imploro. Quando fico louco de tesão com umsorriso seu e eu gozo nas minhas calças.

Eu estremeço, com o meu núcleo pulsando com suas palavras. — Abel…

— Admita. Admita que é por isso que você continua dizendo não.

— Eu... – eu olho para o teto escuro, envergonhada e com tesão. — Sim. Eu amo que vocêfique tão louco por mim. É... uma espécie de libertação. Faz me sentir poderosa.

Ele ri. — Ah, então minha Pixie gosta de me provocar. Quem diria?

Suspiro, balançando a minha cabeça. — Eu não gosto. Eu não gosto tanto. Além disso, vocême provoca também. Você não me deixa tocar em mim mesma como punição. Você fica medizendo o que fazer e isso não é legal.

Ok, então eu posso gostar um pouco de provocar. Mas ele é um idiota também, mandandoem mim. É divertido ter um pouco de poder. Porque vi o que não ter poder faz a uma pessoa. Euprometi a mim mesma que nunca vou acabar como meu pai. Embora Abel não seja nadaparecido com minha mãe, não é?

— E você me obedece, não é?

— Sim. Como uma idiota. – eu resmungo.

— Que tal eu dizer para você se tocar agora, como estou fazendo.

Eu me esqueço de manter o controle e outras coisas porque estou me afogando em luxúriaagora. — Você está... se tocando?

— Porra, sim. Estou me masturbando com sua voz. Isso te deixa com tesão?

Engulo, imaginando ele segurando seu pau em suas mãos grandes. Droga. Eu quero tocá-lo.Eu. Quero ver seu rosto quando ele gozar em minha mão. — Sim.

— Então vou ser legal com você, Pixie. Então você saberá o quanto eu te amo. O quanto eusofro por você.

— Como? – eu respiro, apertando as minhas pernas, com meus dedos brincando com a barrado meu pijama.

— Eu vou dizer a você para tocar seu pequeno clitóris rígido por mim. Você pode fazerisso?

Digo a ele que sim e os meus dedos se atrapalham no escuro, alcançando minha parte maisdolorida. E quando ele me diz para colocar um dedo dentro, eu faço isso também. Sigo todas assuas orientações até gozar antes de dormir, pensando que esta foi uma boa noite.

Mas algumas noites são difíceis. Algumas noites, as lágrimas fluem livremente, escorrendopara o meu cabelo, encharcando os fios e encharcando o meu travesseiro. Algumas noites eu souuma namorada chorona.

— Eu não sei por quanto tempo eu posso fazer isso. Sinto tanta falta sua. Eu odeio estacidade.

— Não, você simplesmente me ama.

— Claro que te amo, seu idiota de merda. Por que você não está tão bravo com isso quantoeu?

— Minha Pixie está agindo toda adulta com seus palavrões e outras coisas.

— Abel, pare de fazer piadas, certo? Fique bravo comigo. – eu sussurro.

— Eu não posso.

— Por que não?

— Porque se eu começasse, não saberia como parar.

Eu agarro o celular com mais força com as vibrações violentas em seu sussurro. Violentas eferoz. Ele está com raiva e fica mais irritado a cada dia, não é? Eu odeio isso por ele, por nós, pornosso amor.

— Eu quero dizer a eles, Abel. Acho que meu pai vai ficar do nosso lado. – Bem, não tenhocerteza do que ele pode fazer na frente da mamãe, mas talvez ele venha em nossa defesa comofez antes, sobre Abel.

— Não.

— Mas Abel...

Ele me interrompe, com a sua voz áspera. — Não, Pixie. Você não dirá a eles. Não até queeu possa fazer algo a respeito. Não até que eu tenha o poder.

— O que isso significa?

— Isso significa que nós precisamos ser inteligentes. Precisamos esperar. Eu preciso teralgum dinheiro guardado e você precisa ser de maior. Então, se as coisas derem errado, podemosfazer algo a respeito.

Ele está me assustando. — Como o quê?

— O que for preciso. Porque não vou deixar você, Pixie. Não vou desistir de você. Lembraque eu te disse isso?

— Sim.

— Eu falei sério. – ele declara.

Vou fazer dezoito anos em apenas cerca de um mês. Nunca esperei por um aniversário comoeste.

Em quatro semanas, vou contar aos meus pais sobre mim e Abel. Eu sei que isso não vai seragradável e minha mãe provavelmente vai pirar. Mas ela vai mudar de ideia. Tenho quase certezade que papai ficará do meu lado; ele pode não tornar isso conhecido, no entanto.

Simplesmente não há provas contra o Abel. Bem, exceto que ele é um Adams, e minha mãeodeia essa família.

Por mais que eu queira esquecer o que aconteceu há quase dois anos, eu não posso. Aspessoas me olham com desconfiança, como se eu fosse uma estrela em extinção, pronta paradesabar sobre mim mesma. Na escola, quando passo pelo local onde Abel segurou a minha mãoe disse que eu era sua, lembro-me daquele dia. Sua expressão devastada e zangada. Como sehouvesse alguma maneira de eu escolher um idiota como Duke em vez de Abel.

Meu Abel é um artista. Ele é um achado. Ele é apaixonado, romântico, intenso e brincalhão.Ele pode ser um pouco possessivo e controlador, mas tudo bem. Eu posso lidar com ele. Eununca o deixaria. Nunca.

Mas primeiro preciso fazer uma coisa. Eu preciso sobreviver a este último insulto ao nossoamor. Ir ao baile com o Duke Knight.

Lembra como eu disse que minha mãe começou a me empurrar para o Duke? Está piorando.Agora ela não confina suas sugestões à nossa casa. Ela as expressa em público, principalmentena igreja.

— Acho que vocês, crianças, deveriam sair mais. – Minha mãe riu ao lado do Sr. Knight, opai de Duke. — Minha Evie está sempre ocupada com seus livros. Graças a Deus, ela parou de irpara a casa da árvore e correr pelos campos. Mas ela realmente precisa sair mais.

— Acho que vocês deveriam ir ao baile juntos. – sugeriu o Sr. Knight.

Duke sorriu rigorosamente e murmurou algo sobre ser capaz de conseguir um encontrosozinho. Esse idiota. Ele se virou para mim e perguntou - com os lábios, enquanto seus olhosdiziam que ele preferia estar em qualquer outro lugar do mundo agora. Graças a Deus, a Skyainda não havia chegado. Eu esperava ter a mesma sorte com meu namorado, mas não tive. Eleestava lá e assistiu a tudo. Ele parou do outro lado do lugar, com o seu foco em mim e seu olharcheio de raiva, enquanto minha mãe me cutucava com o cotovelo e dizia sim em meu nome.

Achei que alguém estava me estrangulando. Eu me senti tonta, com minha visão ficandoturva com lágrimas não derramadas. Mesmo assim, balancei a minha cabeça uma vez, tentandotransmitir ao garoto que amo que isso não importava. Não o bastante para ele arriscar outroincidente. Embora tenhamos brigado sobre isso no celular.

Temos brigado desde então. É mais como uma guerra fria, onde ele parece frustrado e comraiva, e eu choro silenciosamente, e então ele se desculpa por me fazer chorar. Na noite seguinte,fazemos tudo de novo.

Pensei em dizer que estava doente, enfiar um dedo na garganta para me fazer vomitar. Entãomamãe acharia que não estou bem para ir. Mas isso é ainda pior do que ficar em casa, onde euestou sob uma nuvem constante de suspeitas. Isso daria a ela mais combustível de que sua filhaestá realmente tendo um caso com o monstro.

Eu também pensei dizer a ela. Serão apenas quatro semanas. O que ela pode fazer de pior?Mas então, eu me lembro do que eles fizeram com minha colega de classe, Jessica Roberts.Todos ficaram surpresos quando ela apareceu grávida no ano passado. Ela estava indo para afaculdade para fazer medicina, mas cometeu o pecado e se tornou uma vagabunda. Palavras daminha mãe, não minhas. E, naturalmente, a minha mãe pensou que foi o Abel. Até que Jessicaapareceu e admitiu ter se apaixonado por um universitário que estava visitando a cidade. Nofinal, seus pais a mandaram embora. Eu não sei onde ela está no mundo, mas espero que elaesteja bem.

Então não posso arriscar. Não posso arriscar ser mandada embora para Deus sabe onde,quando estamos tão perto do propósito.

Quando o Duke chega em minha casa, mal lhe dou uma olhada. Minha mãe tira fotos e tudoque eu faço é olhar para ela com todo o ódio que senti ao longo dos anos. Enquanto a câmera deAbel me faz sentir viva, livre, até mesmo imortal, cada clique da câmera da minha mãe mata meu

espírito. Ela me diz para sorrir e eu a ignoro. Olhamos um para o outro enquanto meu pai fica delado. Eu o odeio muito também. Eu odeio todo mundo agora.

Assim que as fotos terminam, nós partimos. Não percebo quando o carro sai da garagem, enem me importo. Estou olhando pela janela, mas mal presto atenção na rua ou na paisagem.Quando o carro para, tiro o cinto de segurança, pronta para sair e me afastar do cara ao meu lado.Mas faço uma pausa, percebendo que não estamos na escola. Estamos na cidade. Masprincipalmente, estamos na frente da loja do Sr. B. Onde Abel mora, lá em cima.

— O que... O que estamos fazendo aqui?

As mãos de Duke permanecem no volante enquanto ele encolhe os ombros. — Vá.

— O que?

Ele se vira para mim. — Vá. Ele provavelmente já está tramando meu assassinato lá.

Meu coração começa a bater forte. — O... o quê? Quem? – É uma pergunta idiota e não soutão boa atriz quando confrontada diretamente.

— Sério? – ele suspira e me encara. — Olha, eu sei que você me odeia. Acredite em mim,não era minha intenção magoar Adams ou magoar você. Eu só estava...

— Você estava apenas mexendo com a Sky como sempre faz.

Ele aperta os olhos, provavelmente pensando em uma mentira. Mas ele me surpreende. —Sim.

Eu o observo. Ele parece o mesmo: cabelo espetado com gel, camisa engomada, relógiocaro. Mas seus gestos, o seu comportamento, são diferentes. — Por que você a beijou?

Depois que tudo se acalmou, perguntei a Sky sobre o beijo. Ela disse que isso veio do nada.Em um minuto, eles estavam brigando e no seguinte, seus lábios estavam nos dela. Eu pergunteia ela como ela se sentiu e ela disse que teve gosto de merda. Uma descrição muito gráfica edesnecessária. Mas tive a sensação de que ela estava mentindo, até para si mesma.

Algo surge no rosto de Duke, como se estivesse revivendo a memória. Como se estivesserevivendo desde que aconteceu. Eu conheço esse olhar.

— Porque eu quis.

— Você queria beijar Sky, sua arqui-inimiga.

Ele zomba. — Sim. Ela é essa, não é? – ele bate com a cabeça no encosto de cabeça. — Elasempre foi tão louca?

Apesar de tudo, eu sorrio. — Você quer dizer, sanguinária? Sim.

— Por quê? – ele parece tão perplexo, como se não tivesse ideia de quando a inimizadedeles começou. Como se ele tivesse esquecido por anos que estava tentando colocá-la emproblemas.

— Bem, se você está perguntando por que ela quer matar você, acho que você já sabe a

resposta. Mas se está perguntando em geral, então eu diria... – eu penso sobre isso. — SkylarDavis, também conhecida como Sky, também conhecida como a minha melhor amiga, quermudar o mundo. Ela odeia que sua mãe seja empregada doméstica e pessoas como você adesprezem por causa disso.

— Mas Sky é uma empregada doméstica. Ela não pode mudar isso. Você não pode mudarquem você é e quem você deveria ser.

— Não, Duke. Sky não é uma empregada doméstica. A mãe dela é. E não há nada de erradocom isso, a propósito. – eu balancei minha cabeça. — Estou começando a pensar que talvez eladevesse mudar o mundo. Porque o mundo está cheio de cuzões como você.

Sua risada ecoa nos confins revestidos de couro do carro. — Ah. Evie Hart disse umpalavrão. Acho que é o que seu namorado está fazendo.

— Meu namorado vale dez vezes mais caras como você. Na verdade, meu Abel é melhor doque esta cidade inteira.

Duke sorri. — Então não deveria perder seu tempo conversando comigo. Você deveriasubir.

— Qual é o truque?

— Sem truques.

— Sério? Você realmente quer que eu acredite nisso?

Ele acena com a cabeça. — Olha, considere isso minha boa ação. Eu fodi tudo para você,então agora estou meio que consertando as coisas. Além disso, sem ofensa, mas não quero passarminha noite com uma versão vadia de você. Então, eu voltarei para te levar para casa a tempo.

— Ah, o Duke Knight disse dois palavrões. Eu não sabia que você falava palavrão. Skysabia, no entanto.

— Sky. – ele suspira, longo e meio solitário. — Eu me pergunto o que ela está fazendo estanoite.

— Ei, não mexa com ela. Ela não precisa das suas bobagens.

Ele ri como o diabo que é e ignora completamente o que eu acabei de dizer. — Tiquetaque,Cinderela. Vá. O tempo está acabando.

Não me lembro de sair do carro de Duke ou de subir as escadas frágeis que levam aoapartamento do meu namorado, mas estou parada na frente da porta dele.

É branco, mas tem manchas amarelas. A pintura está descascando e a maçaneta de bronzeestá riscada e arrancada. Esta é a primeira vez que a vejo; Tive tanto cuidado para nunca fugirpara a casa dele para que alguém não me visse, mas esta noite não me importo. Certamente, estaé uma porta que eu não olharia duas vezes. Esta é uma porta velha, caindo aos pedaços comoessas paredes brancas desbotadas.

Mas meu Abel mora do outro lado.

Isso é tudo que importa para mim. Coloquei minha mão na madeira desbotada e mal pintadaque estava prestes a bater, mas ela se abriu antes que eu pudesse, me fazendo tropeçar um poucopara trás.

Abel está na soleira com uma cara feia e seu peito pressionando sua camiseta preta comcada respiração que ele dá. Seu cabelo está todo bagunçado, como se ele tivesse dormido poruma década, mas seus olhos estão vermelhos, sugerindo que ele não dormiu nada.

— Pixie? – Sua voz é rouca e é tão bom ouvi-la pessoalmente que todo meu corpo suspira.Não me lembro da última vez que conversamos pessoalmente. Eu tinha esquecido o formato deseus lábios, como eles se moldam ao redor do meu nome, Pixie. Como se fosse o nome maisimportante que ele já disse ou que dirá.

— Abel. – sussurro, sorrindo enquanto meus olhos parecem pesados com todas as emoçõesreprimidas.

Ele está me olhando de cima a baixo, passando o olhar por todo o meu corpo e, pelaprimeira vez, me sinto como uma garota, talvez até uma mulher. Por dias a fio, não penso nasroupas que estou vestindo ou na trança que minha mãe me manda fazer. Eu não sinto nada. Nemuma só coisa. O momento em que realmente me sinto viva é quando seus olhos estão em mim,ou quando ele está sussurrando em meu ouvido, à noite.

Eu me sinto viva agora. Meu coração está disparado no meu peito, batendo contra minhacaixa torácica. Cada respiração que dou me faz perceber que estou usando um vestido com umdecote baixo, não muito baixo, mas mais baixo do que o que eu costumo usar, com um pequenodecote. As mangas e o corpete do meu vestido são de pura renda com flores e me caem comouma segunda pele até os quadris. E então, ele se transforma em ondas brilhantes de tecido echega um pouco acima dos meus joelhos.

Ele gostou? É sua cor favorita: preto. Embora eu saiba que ele gosta de rosa em mim maisdo que qualquer coisa.

Por que ele não está dizendo nada? Olho para os meus pés e mexo os dedos dos pés dentrodos meus sapatos pretos de salto baixo. Então eu olho para cima, me sentindo mais insegura doque nunca. Normalmente, é ele quem me puxa para dentro de armários e salas de aula, meenvolvendo em seus braços, me tocando de uma forma ou de outra. Mas ele não está fazendonada disso agora.

— Posso entrar? – Minha voz falha quando faço a pergunta.

Ele pisca, acordando de uma espécie de sono, e então, ele faz o que sempre faz, me puxapara dentro e fecha a porta com um baque, seus gestos ruidosos e seguros.

— O que... pensei que estava sonhando. – ele engole, com as palmas das mãos apoiadas namadeira, de cada lado meu, formando uma gaiola de músculos bronzeados e ossos. — Eu estiveenlouquecendo o dia todo, pensando em você com aquele filho da puta. Tenho me chutado porser um idiota com você a semana toda. – ele se inclina para baixo, com seu peito fortementearfante pressionando em mim. — Eu ia levar você.

Algo em seu tom me faz estremecer. — Me levar de onde?

— Dele. Da sua escola. Eu sabia que você estaria chegando agora, então eu estava indobuscá-la. Vou dizer ao mundo inteiro que você é minha.

Eu sei que ele não está mentindo. Eu sei que ele teria feito isso, seja o que for que ele estavapensando em fazer antes de eu chegar aqui.

Isso não deveria me deixar toda derretida e evasiva. Não deveria me fazer apertar minhascoxas, porque eu juro por Deus, isso é assustador. Quase criminoso e louco. E eu sei que se eletivesse decidido me levar, eu não teria resistido. Eu teria ido com ele, com o coração batendoselvagemente e uma boa dose de medo e excitação no estômago.

Pego a barra de sua camiseta. — Você não tem que me levar. Estou aqui.

— Como diabos você está aqui?

— Duke me deixou. Ele disse que voltaria para me levar para casa mais tarde. – Suamandíbula aperta e seus olhos atiram fogo ao nome de Duke. Eu seguro sua mandíbula tensa esem barba e fico na ponta dos pés. — Shh. Não. Ele não vale a pena.

— A única razão pela qual ele está andando sobre duas pernas agora é porque você continuasalvando-o de mim.

Eu tenho que rir disso porque ele é um idiota. Eu beijo seu queixo. — Eu não o estousalvando. Eu estou salvando você. É sempre você, Abel. Não quero que minha mãe tenha maiscombustível contra você. Nós chegamos tão longe. Temos sido inteligentes, como você disse.Não posso deixar ninguém estragar isso para nós. Nem mesmo você, seu animal.

Seus lábios se curvam e, por fim, seus olhos cativantes, perdem o ardor. — Eu sou umanimal, não é?

Aceno, sorrindo levemente, observando o tom mais claro de marrom em seu olhar, envoltopor cílios mais escuros. — Sim, mas você tem olhos lindos.

— É? – ele me dá um sorriso de lado. — Eu estava pensando a mesma coisa.

— Sério?

— Não. Eu estava pensando em como a sua boquinha é quente e como eu quero foder comminha língua agora.

Um arrepio desce pela minha coluna. Quente e ardente, e eu bato em seu ombro. — Abel.Isso é…

— O que? Inapropriado?

— Dã. – eu coro.

— Que tal se eu disser que quero fazer amor com a sua boca com a minha língua? Isto émelhor?

Estou lutando para não sorrir. É uma batalha que perco em cerca de três segundos. — Então

eu diria... – eu me inclino para ele e sussurro em seu ouvido, com uma ousadia que mal possosentir. — Menos conversa e mais foda.

Ele estremece e fica boquiaberto para mim com o choque, e eu sorrio para ele. Seus olhosardem em chamas e ele tira as mãos da porta e as coloca onde elas pertencem, na minha cintura.— Alguém já te disse que você é mandona, Pixie?

Envolvo meus braços em volta do pescoço dele e tiro meus sapatos, ficando descalça. —Sim, meu namorado.

Rindo, ele se abaixa e me beija. Eu suspiro em sua boca e ele geme na minha. É um beijoque estive esperando por toda a minha vida, ao que parece. Eu sigo minhas mãos por todo o seucorpo, ombros, peito e barriga. Eu sinto sua camiseta macia, tentando memorizá-la para que eupossa reviver este momento em que estiver sozinha na cama esta noite e todas as noites pelaspróximas quatro semanas.

Ele faz o mesmo. Suas grandes mãos se movem por todas as minhas costas, minha cinturafina, embolando meu vestido. Seus dedos apertam minhas nádegas e percorrem até minhascoxas, me forçando a levantar minha perna e envolver minha panturrilha em torno de seu quadril.

Gemendo, ele segura as minhas bochechas e vira meu rosto do jeito que ele quer para queele possa aprofundar o beijo. Não sei por quanto tempo nossos lábios colidem, mas quandovoltamos a respirar, estamos esfregando um contra o outro e minhas mãos estão sob sua camisa,com minhas unhas cravando em sua barriga.

Tiramos grandes quantidades de ar nebuloso e com hormônio infundido. De alguma forma,posso sentir seu coração bater na minha palma, embora eu não esteja nem perto de seu peito. Seupau está pressionando contra meu núcleo molhado, me fazendo perceber quanto tempo se passoudesde que ele me tocou lá, quanto tempo se passou desde que eu o toquei.

Eu me movo contra ele, com meus dedos coçando para sentir seu pau quente e aveludado.Ele estremece, com seu aperto em volta de mim ficando mais forte. O prazer lá embaixo é forte,tão forte, como se um punho estivesse pesando sobre minha região pélvica. Sua calça jeansesfrega tão bem contra minhas coxas.

É isso. Esse é o momento. Eu quero ir até o fim.

Eu fui uma idiota, negando-o e torturando-o. Não quero jogar jogos de poder. Eu só o quero.Quero que ele tenha porque é dele de qualquer maneira.

— Abel...

— Você está com fome? – ele pergunta.

— O que?

Ele sorri, embora seus olhos ainda mantenham a intensidade de momentos atrás. Elelentamente separa nossos corpos, abaixa meu vestido gentilmente e coloca meu cabeloembaraçado atrás das orelhas. Mas a confusão que nosso beijo fez dentro do meu corpo, avibração, a luxúria, os mamilos latejantes... Eu não sei como vou conseguir colocar isso de volta

no lugar.

Estou confusa. O que está acontecendo?

— Quer um pouco de queijo grelhado? – ele dá um passo para trás.

— Eu o quê?

— Deixe-me fazer um queijo grelhado para você.

Com isso, ele vai até sua pequena cozinha e fico tremendo, com minha cabeça confusa. Oque acabou de acontecer? Ele... Ele me rejeitou?

Meu coração encolhe no meu peito, pensando... E se eu levar isso longe demais e ele não mequiser mais?

Minha Pixie gosta de me provocar.

Ele está bravo comigo por causa disso? Bem, eu não vou provocar mais. Poxa. Eu o quero.Eu quero fazer isso. Mas como posso dizer isso a ele? Talvez possa tirar minhas roupas e ficarpelada? Isso deve enviar a ele uma mensagem clara.

Ah. Não. Eu não posso fazer isso. Não sou tão corajosa ou louca.

Decepcionada, olho ao redor do apartamento. Ele é um apartamento com uma pequenacozinha de um lado, um sofá no meio e sua cama ocupando o outro lado, perto da janela. Ésimples e funcional. Nada chique. Desordenado e rústico, como o garoto que mora aqui. Emboraseja um pouco desarrumado. Apesar de tudo, sorrio para as pilhas de roupas no chão e a camadesfeita com travesseiros espalhados.

Meu Abel é um desleixado.

Enquanto caminho mais para dentro, eu pego suas roupas do chão e as coloco no saco deroupas que fica bem ao lado de sua cômoda. Arrumo os seus tênis sujos e os coloco debaixo dacama. Isso me deixa tonta, fazendo essas pequenas coisas para ele.

Fico no meio do quarto enquanto Abel trabalha na cozinha, com as suas costas largas e osseus braços flexionando enquanto ele vira o sanduíche na frigideira, fazendo-o chiar. Nestemomento, posso ver o futuro. Eu e ele juntos. Vou fazer a limpeza, é claro, porque não seicozinhar. Embora farei para ele todas as tortas de maçã que ele quiser. Às vezes pediremos e àsvezes ele cozinhará para mim. Teremos uma casa em algum lugar, com um grande quintal, umaárvore e um balanço. Ele vai me dar um empurrão e eu vou tocar o céu. Ele vai me beijar e euvou sentir o sol.

Em quatro semanas, eu contarei a meus pais e então a minha vida mudará para melhor.Vamos nos casar e viver juntos. Tenho uma bolsa de estudos para uma faculdade a algumashoras daqui. Eles têm um ótimo curso de escrita, então estou animada para ir. Sei que Abel vaime seguir; ele fez todos os planos para isso. Mas não tenho certeza se quero mais ir. Quero darao nosso amor uma chance de crescer; a faculdade pode acontecer mais tarde. Mas de qualquerforma. Eu ainda não decidi totalmente. Eu tenho tempo.

Primeiro, preciso fazer com que ele faça sexo comigo esta noite. Eu também vou implorar,se isso o fizer se sentir melhor.

Concentro-me na grande e longa mesa perto da parede, com montanhas de papéis, ao ladode sua câmera, é claro. Eu sei o que eles são. São os desenhos que ele fez e, na parede, fotos denós dois juntos, pregados como estrelas.

Olho seus desenhos; eles têm tudo, o mundo inteiro. Os milharais, as pequenas lojas aolongo do centro da cidade, as pessoas e a estrada sem fim. Os prédios de Nova York que só vinos filmes e nas fotos dele. As pontes enfeitadas com luzes de Natal, lençóis de água, banco deparque com um pássaro pousado no encosto, uma pipa solitária no céu. É tudo que você pensa eé tudo que você ignora.

Que artista.

Meus dedos passo nos desenhos, nas fotos, tão rápido que minha cabeça gira e meu coraçãodispara. E então para porque no centro, eu me encontro.

Um desenho de mim deitada em uma cama, a cama dele, nua.

Nua, exposta, despida, sem roupa. Meu cabelo comprido está espalhado em seu travesseiro,algumas mechas até saindo da cama e tocando o chão. Meus olhos estão fechados e os meuslábios estão separados. Um dos meus joelhos está encolhido e uma das minhas mãos está naminha barriga, escondendo o meu umbigo. E meus seios estão sobressaindo do meu corpo. Comos mamilos levantados e duros.

Como diabos ele desenhou isso? Ele nunca me viu nua. Bem, ele viu meus seios, mas nadamais baixo do que isso.

Não existe apenas um desenho. Existem centenas. Eu estou em posições diferentes. Com acabeça jogada para trás. Punhos segurando os lençóis. Os dentes mordendo o meu lábio. Acoluna se arqueando da cama. Mas em todos eles estou nua e claro, excitada. Eu toco meu corpono papel e o sinto na minha pele, causando arrepios. Quando ele fez isso? Há quanto tempo eleos faz? E por que de repente me sinto nua, tão nua quanto no papel?

Não registro a proximidade de Abel até que sua mão envolva minha cintura e seu hálitodoce sopre em meu ouvido. Que bom que ele está aqui, porque eu estava prestes a desmaiar.Minhas pernas estão tremendo loucamente.

— Porra. – ele murmura quando vê o que estou vendo e coloca a cabeça em meus ombros.

— Eu... você nunca me viu pelada.

Ele levanta a cabeça e sua mandíbula esfrega contra o lado do meu rosto. — Eu sei.

Gemo com a ardência. — Então, como você...

— Eu tenho uma imaginação fértil. – Sua palma esfrega círculos em volta do meuestômago, como se acalmasse as borboletas por dentro, domesticando-as com seu toque. — E eutoquei em você, senti as suas curvas contra o meu corpo. Posso preencher as lacunas em branco.

— Desde quando?

Eu o ouço engolir. — Meses.

Eu o imagino sentado sozinho em sua cama, me desenhando, à procura de vídeos onlinepara fantasiar sobre mim, enquanto as pessoas da nossa idade estão apaixonadas ou dormindoprofundamente, sonhando com isso.

Talvez seja a separação que tivemos de suportar por tantos motivos injustos, ou talvez eutenha crescido agora, mas não sou uma garotinha que queira mais jogar. Que provavelmenteestava mantendo a sua virgindade com muita força porque ela nunca teve uma palavra a dizer emqualquer outra coisa em sua vida. E como uma adulta - uma mulher - entendo suas necessidadesmuito bem agora. Eu me conheço bem. Algo dentro de mim - esse desejo que sempre esteve lápara agradá-lo cria raízes, floresce. Isso me torna fraca e forte.

Quero alimentá-lo, aliviar sua dor, agarrá-lo ao meu corpo e nunca mais ir embora. Eu querodar tudo a ele. Quero obedecê-lo porque isso me dá prazer. Eu fui concebida para isso. Para ele.

Pressiono minha bunda em sua pélvis e arqueio minhas costas. Seus lábios tocam minhabochecha e a curva da minha garganta.

— Você está duro. – eu sinto o seu pau através das camadas de roupas: sua calça jeans emeu vestido. Mas o calor está queimando tudo lentamente.

— Constantemente. – ele resmunga.

Seu tom solitário desce até meu coração, perfura a minha pele e é doloroso. Não sei se é tãodoloroso quanto sua luxúria por mim. Mas espero em Deus que seja. Quero sentir sua dor porquenunca quero que ele sinta nada sozinho.

Eu coloco minha mão sobre seu braço que está em volta da minha barriga e entrelaço nossosdedos. — Eu posso... eu posso te mostrar como eu sou, então você não precisa imaginar.

Normalmente, sou eu que estou perdendo o fôlego. Eu sou aquela que paralisa quando seucoração está batendo como se estivesse em uma corrida louca. Mas desta vez é ele. Ele parou derespirar. Quase posso sentir seu coração batendo forte na minha coluna, onde seu peito estáembutido comigo. Eu o surpreendi.

Mas isso não dura muito. Com um puxão, ele me vira e me empurra contra a mesa. Abeirada machuca minhas costas e agarro seus bíceps para permanecer estável.

— O que você acabou de dizer?

Os papéis farfalham contra meu vestido enquanto mudo de pé. — Eu... eu disse que possomostrar a você.

Ele está respirando trêmulo, observando meu rosto. — Você está brincando comigo, nãoestá? Porque se você estiver, Pixie, é uma coisa cruel de se fazer.

Olhando para ele agora, eu entendo por que ele se afastou de mim antes, quando estávamosnos beijando. Ele pensou que eu o rejeitaria novamente. Ele pensou que eu diria não e frustraria

seus avanços e o pobre rapaz estava tão cansado disso.

Ah, Abel.

Eu acaricio sua bochecha, olhando em seus lindos olhos castanhos. — Eu juro que não estoubrincando. Eu... quero que você me tenha, e...

— E o que?

Eu abaixo os meus olhos e agora os meus batimentos cardíacos provavelmentecorrespondem aos dele. — Não quero que me esqueça depois que eu for embora, então... eu sereisua musa também.

Silêncio. Um silêncio épico.

Ok, então talvez eu tenha falado demais. Talvez eu devesse ter facilitado para ele. Mas aquestão é que não quero fácil. Não tinha percebido isso até agora. Eu não tinha percebido a fomeintensa dentro de mim. Por ele. Para ser dele. De todas as maneiras.

Eu não tinha percebido que o queria mais do que jamais poderia querer qualquer coisa nestemundo. Na verdade, eu nem quero o mundo, só quero ele.

— Você está dizendo que posso tirar uma foto sua? – Eu concordo com a cabeça. — Fotosnuas? – Eu aceno novamente. — Pixie... eu...

Ele lambe os lábios, com os seus olhos cautelosos e cheios de excitação. O marrom de suaspupilas foi engolido inteiro com luxúria negra e suas bochechas estão um tom mais escuro com orubor. Ele quer isso. Ele quer muito isso.

— Eu odiava o ano passado, tipo, realmente, realmente odiava. – digo com uma voz firme.— Eu odiava ficar longe de você. Eu odiava não poder tocar em você, falar com você. Não seicomo isso aconteceu, mas de alguma forma, você é a única pessoa com quem me sinto segura.Você é tudo para mim, Abel. E eu quero fazer isso. Por você e por mim. Porque eu amo você. –eu fico na ponta dos pés e dou um beijo em seus lábios imóveis. — Além disso, em quatrosemanas você vai me levar e me jogar por cima do ombro, de qualquer maneira. Você estará melevando a um cartório, então posso dizer que sim. Então você pode pegar o que quiser de mim,certo?

Suas narinas inflam e ele acena com a cabeça.

— Então por que não fazer agora. Esta noite? Estou pronta.

Isso o faz baixar a cabeça para trás e olhar para o teto como se tivesse perdido todas as suasforças. Ele engole, com seu pomo de adão movendo. Antes de perder a coragem, vou até a camae me viro para encará-lo.

Com seus olhos percorrem todo o meu corpo, meu vestido parece muito apertado,especialmente em torno dos meus seios. Minha calcinha está muito molhada e muitoconstrangedora. Quero abaixar meus cílios e olhar para os dedos dos pés movendo, masmantenho meu olhar sobre ele. Levanto minhas mãos e seguro ao redor do zíper. Mas eu paropor alguns segundos quando ele senta na mesa, limpando a boca com as costas da mão.

Meus dedos estão tremendo violentamente. Algumas vezes, o zíper desliza pelos meusdedos suados como se eu estivesse tentando segurar areia ou água. Com uma respiraçãoprofunda, pego uma alça e puxo para baixo. Desce suavemente, afrouxando o corpete do meuvestido, com o ar atingindo minha pele suada e ansiosa. Seus olhos brilham. Sua língua deslizapara fora e lambe seus lábios, com o seu olhar colado onde o vestido se abrirá para revelar meusseios.

Estou quase terminando quando atinjo em um obstáculo e o zíper emperra. Franzindo atesta, tento consertar, mas nada acontece.

— O que há de errado? – ele murmura, em uma voz que não soa como a sua.

— Está preso. O zíper.

Ele solta uma respiração reprimida, mas depois ri. É tenso e divertido, um pouco resignado eirritado. — Talvez seja um sinal, Pixie. Talvez o seu Deus não queira que você se mostre paramim. O monstro da cidade.

— Cale-se. Não se chame assim. Apenas me ajude com isso, ok? – eu murmuro, revirandoos olhos, mesmo quando entendo o seu tom amargo. O ano passado foi difícil para nós.

Mas só mais quatro semanas antes de poder ficar com ele para sempre.

Eu me viro e ouço sua respiração. Ele se aproxima de mim com passos ruidosos e coloca asmãos na minha cintura sobre o vestido, segurando o tecido, como se estivesse com medo desoltar.

Você sabe quando você pode querer muito algo que está com medo de realmente ter? Vocêestá com medo de como isso vai mudar você se segurar essa coisa em suas mãos. Talvez sejadisso que ele tem medo também. Como vamos continuar morando e existindo na mesma cidadepor um mês inteiro, depois de fazer isso? Depois de finalmente dar o passo e ser um.

Porque inferno, sim. Vou dormir com ele esta noite. Não há dúvida sobre isso.

— Abel. – sussurro seu nome como se ele fosse dormir novamente, perdido em seuspensamentos.

Uma lufada de ar na minha nuca e, em seguida, ele está puxando o zíper para baixo, até quenão haja mais para onde ir. A trilha está feita e meu vestido está folgado o bastante para eu tirar.

Puta merda. Estou realmente fazendo isso.

Eu agarro o tecido da frente e o mantenho preso ao meu peito antes de deixá-lo deslizar parabaixo e formar uma poça ao redor dos meus pés. Sua exalação devastada é tão alta que toca cadacentímetro do meu corpo. Cada centímetro.

Um segundo depois, são seus dedos tocando a minha pele nua, passando ao longo da alça domeu sutiã. São gentis, mas lentos, até tocarem no meu cabelo. Então, eles se tornam insistentes,agressivos e prejudiciais. Ele está enrolando os fios em volta da mão e esfregando a maciezsedosa nas minhas costas. Juro que eu ouço um gemido, mas é muito baixo para ser consideradoum som. Eu mordo meu lábio, ficando úmida entre minhas pernas.

— Vire-se, baby. – ele comanda em voz baixa.

Cravando as unhas em minhas coxas nuas, eu me viro. Cada músculo do meu corpo estátenso. Cada veia correndo sob minha pele está bem tensa. Eu nunca estive tão nua na frente deninguém. Nenhuma outra pessoa nesta terra viu meu corpo dessa maneira. Exceto Abel.

Meus seios são grandes, maiores do que a maioria das garotas com quem frequento a escola,e na maioria dos dias parecem volumosos e pesados, às vezes doloridos também. Minha cintura épequena, mas não é o tipo que você vê na TV, onde tudo é firme e musculosa. Não, minhabarriga é maleável e inchada. São todos os Toblerones ao longo dos anos. Minha pele é pálidacom veias azuis e as minhas coxas e bunda são acentuadas. Enquanto estou aqui, percebo comosou arredondada e macia em comparação a ele. Mesmo coberto por roupas, ele parece esculpidoe musculoso.

— Rosa. – ele sussurra, com os seus olhos abrasadores através do tecido do meu sutiã.

— Para você.

É verdade. Escolhi a minha calcinha para ele, embora eu estivesse saindo com o Duke. Érendada - mais rendado do que o que eu costumo vestir. Eu não sabia que ele estaria vendo isso.

Seu sorriso é tenso e incrédulo. Bem quando acho que ele vai me tocar, ele dá um passo paratrás. Eu o vejo andar para trás, com seus olhos nunca deixando meu corpo, meus seiosespecificamente, e eu fico me sentindo tímida e corada. Eu o questiono com meus olhos sobre oque ele está fazendo, mas ele está em silêncio agora e não revela nada.

Suas coxas atingem a mesa e ele estende a mão para pegar sua câmera. A ação não faznenhum som, mas de alguma forma ecoa por todo o quarto. Ele encara o objeto preto uma vezantes de levantar os olhos.

— Tire o resto de suas roupas.

Agora aquele som - sua voz - vai sempre ecoar sob o céu noturno, como se fosse apenas umtelhado cravejado de estrelas e o mundo inteiro nada mais fosse do que um grande espaço negro.Um espaço onde Abel Adams é o rei. Um deus em uma camiseta preta, calça branca, uma cruzprateada e cabelo dourado, e eu sou sua discípula.

Ele tirou meu livre arbítrio com seu comando, e eu saio da piscina do meu vestido preto,com meu cabelo amarelo balançando nas minhas costas. Com as mãos trêmulas, eu faço a tarefa.Eu desabotoo meu sutiã e o deixo cair, e eu me curvo e deslizo para baixo minha calcinha. O arque toca os meus mamilos e a minha fenda molhada é quente e frio ao mesmo tempo.

Eu me endireito. Nua. Completamente e totalmente nua.

Seus olhos ficam arregalados e famintos. Os dedos segurando o a parte superior da câmerase flexionam e se movem. Seus lábios se movem, mas nenhum som sai. Embora pareça que eleestá dizendo um palavrão e dizendo algo no sentido de me foder.

Ele não sabe para onde olhar primeiro. Eu o vejo me observar, traçar meus seios nus, meusmamilos protuberantes e, em seguida, descer no meu núcleo e nos pelos pubianos ao redor dele.

Por um segundo, acho que ele vai abandonar toda a sessão de fotografia e se lançar sobremim. Ele vai perder toda a paciência, saciar seu desejo pelo meu corpo, indiferente ao meuconforto, indiferente como esta é minha primeira vez também, e tirar tudo de mim. Isso teria meassustado ontem, mas ontem eu era apenas uma garota apaixonada. Hoje, eu o idolatro. Nãoestou com medo - nervosa, trêmula e excitada, sim, mas não estou com medo.

De alguma forma, ele consegue manter sua respiração selvagem sob controle e manter umcontrole firme de sua câmera. Com a mão livre, porém, ele alcança a protuberância distinta emseu jeans, massageando a ereção. Quero gritar que devo tocar nele. Nos permitir. Mas estoumuda. Se meu sexo estava molhado antes, está pingando agora. Está inchando e há um fortepulsar no meu clitóris. Especialmente quando ele abaixa o olhar e se concentra nele - no meunúcleo.

— Eu amo seus cachos. – Seu olhar está colado nele, me prendendo no lugar.

Gozo com suas palavras, quase sem acreditar que ele está tocando no assunto. Ele já ostocou antes, meus cachos, mas nunca os viu. Mas enfim. As pessoas não tocam no assunto. Eudeveria saber, no entanto. Abel Adams não segue regras, certo?

— Eu, hum, meio que não quero nada cortante perto do meu... você sabe.

— Eu gosto disso.

— Você gosta?

Ele concorda. — Significa apenas que tenho que me esforçar um pouco mais para pegar oque é meu. E se eu quiser sua boceta depilada, serei eu quem fará isso.

Espere um segundo, o quê? Ele acabou de dizer que vai... me depilar?

Isso é nojento. Então, por que estou apertando minhas coxas, imaginando seus longos dedossegurando uma lâmina?

O ar fica mais pesado e a hora de conversar acabou. Ele faz um gesto com o queixo. — Vápara a cama.

Minhas pernas cedem e sento na beirada antes de deslizar para trás. Seus lençóis escuros eamarrotados arranham minha pele, quase como sua mão, mas não tão quentes ou cheios de vida eenergia.

— Deite-se.

Eu me deito. Suspiro quando a minha cabeça atinge o travesseiro. Não porque é macio, não.Seu travesseiro é irregular e eu não consigo imaginá-lo dormindo nele. Mas o fato de que ele faz,de que é aqui que ele apoia a cabeça à noite, inunda meu corpo com todo o amor por este garoto.

Só que ele não é um garoto.

Ele é todo másculo, com músculos bronzeados e olhos escuros.

Observá-lo da minha posição, deitada em sua cama, me faz sentir vulnerável e pequena e...amada. Como se apenas pairando sobre mim como uma sombra, ele pode me proteger de todos

os desastres do mundo.

Abel tem que se recompor visivelmente ao me ver. Seus dedos continuam flexionando aover os meus seios, como se ele estivesse imaginando suas mãos apertando-os. Eu também estouimaginando isso. Ele continua engolindo, lambendo os lábios quando se concentra no meunúcleo, como se preferisse lamber isso que sua boca. Meus dedos do pé encolhem.

Mais uma vez, ele percebe que pode continuar. Ele estreita os olhos e inclina a cabeça, meobservando. Objetivamente. Ele está pensando em como me quer. Está pensando como ele devearrumar meus membros para conseguir a foto que deseja. Aquela que ele estará olhando, emnoites solitárias pelas próximas quatro semanas.

Mordendo o lábio, ele coloca a câmera em volta do pescoço e se abaixa. Nossos olhos seencontram e eu engulo em seco. Há tanto ardor nas profundezas de seu olhar, caloroso eabrasador. É uma surpresa que eu ainda não me derreti. Agarro os lençóis, cruzando as minhascoxas, pressionando-as juntas com força.

Em completo contraste com seu olhar intenso, seus dedos percorrem minha barriga,casualmente e levemente. Encolho a minha barriga, prendendo a respiração. Ele circula o meuumbigo, fazendo tremer e arrepiar. Os mesmos dedos percorrem para o lado e traçam cicatrizesantigas de hematomas. Ele está com raiva, com seus dedos tremendo como meu corpo.

— Não dói. – eu garanto a ele em um sussurro e lhe dou um sorrisinho para dizer que estoubem.

Ele range os dentes, mas não diz nada. Seus dedos, entretanto? Eles não param. Eles vãopara cima, traçando a parte inferior dos meus seios e o vale entre eles. Ele até dá um tapinha emum mamilo, como se fosse algo não planejado, e ele se forma, ficando com um tom irritado devermelho. Gemo seu nome, arqueando minhas costas. Minhas coxas estão escorregadias; Tenhocerteza de que eu estou deixando a minha umidade em sua cama.

Estendo a mão para tocá-lo, mas ele se afasta, deixando-me segurar ao ar frio em vez dapele quente.

— Levante seus braços. Coloque-os no travesseiro. – ele prepara a câmera e leva-a até orosto.

Droga. Odeio isso. É assim que ele está se sentindo todo esse tempo? Todo excitado einquieto, sem nenhum alívio à vista?

Eu gosto de provocar, então. Então obedeço agora. Coloco os meus braços no travesseiro.

— Arqueie suas costas. – ele diz.

Eu também faço isso.

Mas Abel não está satisfeito. Ele abaixa a câmera, observando o meu corpo mais uma vez.Então, ele começa a arrumar meus membros de uma forma satisfatória. Ele pressiona a palma damão aberta na parte inferior da minha barriga e minha coluna sai da cama em um ânguloacentuado. Ele coloca as mãos sobre as minhas e as faz agarrar o travesseiro com força. Ele

chega a arrumar minhas pernas: encolhendo uma perna para cima e forçando minhas coxas a sepressionarem.

É como se eu estivesse me movendo ao orgasmo em sua cama. Só que eu não estou. Eu vouficar parada para que ele possa capturar a fantasia.

E então, uma corrente de energia percorre toda a extensão da minha coluna quando ouço oclique. Em seguida, clique, clique, clique.

— Morda o lábio. – ele diz.

Eu faço.

Clique. Clique. Clique.

— Ponha uma mão na barriga.

Minha mão vai para a minha barriga.

— Perfeito. – ele sussurra, e sorrio levemente. — Porra, mantenha essa pose.

Eu mantenho.

Clique, clique, clique.

Gemo e mesmo que você não consiga capturar o som em uma foto, algo pode ter mudado nomeu rosto porque Abel me elogia novamente e tira várias fotos.

A cada clique, fico mais excitada, mais sensual e mais livre. Meu núcleo está ganhandopotência, todo sensível. Meus mamilos estão latejando. Meu coração está prestes a explodir comtodo o amor que sinto por ele.

Ele circula a cama, se curva para um lado e para o outro, apertando os olhos, olhando paramim através das lentes. E poso para ele, obedeço a todos os seus comandos ao máximo.

Chupe seu polegar.

Belisque seu mamilo.

Aperte seu peito.

Deite-se de lado. Arqueie sua bunda.

Eu faço tudo. Cada coisa. Gemo, movo meus quadris e gemo. Eu me entrego às sensações.Embora no fundo da minha mente, eu perceba que ele nunca me pede para abrir minhas pernas emostrar minha fenda. Ele nunca pede para ver. Eu quero saber por quê.

Ele está ficando mais suado, com a sua voz ficando mais rouca. Finalmente, chega a horaem que ele abaixa a câmera com as mãos trêmulas e apenas me encara com os olhos nus. Suarespiração ruidosa enche o quarto.

— Diga-me que você quer isso. – ele resmunga.

— Eu quero.

Ele fica todo solto, então. Anos de perseguição afetaram meu Abel. Em um flash, suacâmera se foi e sua camiseta também. Meus olhos tentam se fixar em cada extensão de seu peitonu. Seus peitorais firmes, aqueles pequenos mamilos marrons em uma pedra, as curvas rígidas eseu tanquinho, seu umbigo quase escondido sob o tufo de pelo que desce até onde seu jeans estábaixo em seus quadris.

Mantenho os meus braços abertos para o meu deus e ele anda em minha direção. Minhaspernas se abrem sozinhas e ele está entre elas, com suas calças esfregando contra a pele macia daparte interna das minhas coxas.

Quando ele está cara a cara comigo, eu sussurro: — Você não pediu para ver a minha... vocêsabe. Você não quer uma foto dela?

Ele estremece, agarrando meu cabelo, com sua risada soando mais como um ladrarenferrujado. — Eu estava tentando ser um cara bom. Um cara que não pede a sua namorada paramostrar sua boceta apenas para que ele possa capturá-la e se masturbar mais tarde.

Coloquei minha mão em suas costas suadas; está movendo com os músculos. — Mas você éesse cara.

— Sim.

— Então você deveria saber que eu também sou essa garota. Eu teria feito isso. Eu teriafeito qualquer coisa por você.

Há paz em admitir isso. Tanta paz em ceder que sorrio. Ele geme e agarra meu queixo comforça. — Você deve olhar para o teto e começar a rezar a Deus. Porque é isso. Eu não vou parar.Você entende isso? Não vou parar porque esperei muito tempo por isso. Você me fez esperarmuito tempo e estou muito duro. Estou faminto demais para isso. Pela sua boceta rosa. E vocêsabe o que mais?

Eu balanço minha cabeça, segurando as mechas de seu cabelo.

— Olhei nos olhos do seu Deus e rezei a Ele. Eu. Eu nem acredito Nele. Você me reduziu aisso. Você me reduziu a acreditar em algo que nem mesmo existe.

Eu estou escorrendo. Minha boceta rosa, como ele a chama - meu coração e meus olhos.Tudo está cheio até a borda com hormônios, luxúria e amor.

Mas seus avisos são inúteis agora. Prendo minhas pernas ao redor de seus quadris eestremeço com o primeiro contato de sua pele nua. Eu agarro a cruz de prata, pendurada em seupescoço, atingindo-me no queixo. — O que você reza?

Ele fica ainda mais perto de mim, com o pelo suave em seu peito forte esfregando contrameus mamilos inchados. — Por você. Para você estar de joelhos na minha frente. Olhando paramim com os seus olhos inocentes, enquanto envolvo seu doce cabelo amarelo em volta do meupulso e alimento você com meu esperma. Até a última gota dele. E quando tudo acabar, eu rezopara que você me implore com seus lábios carnudos para foder você. Então, posso reivindicaressa última parte de você, como você reivindicou cada parte de mim. – Outra risada enferrujada.— Não é loucura, não é? Rezo para um deus que está morto. Ele provavelmente morreu há muito

tempo.

Pisco para me livrar das lágrimas e aperto meus membros em torno dele para nos fundir. —Foda-me, Abel. Por favor.

É um sussurro, mas ele ouve, e então todo o seu corpo desaba sobre mim. Ele está mebeijando com a boca, com os dedos, as palmas das mãos, os pés... seu corpo inteiro me abraçacomo sua boca molda muito bem a minha enquanto estamos nos beijando. Cada parte de mimtoca cada parte dele. Até mesmo nossos corações se tocam, através de nossos peitos.

Boom. Boom. Boom.

Nunca tinha ouvido esse som antes. Tão alto. Dois corações batendo como um só. Masentão o som muda, se transforma em outra coisa. Algo ainda mais alto. Mais áspero, irritado einsistente.

Nós nos separamos, com nossas respirações chocando uma contra a outra. A porta de seuapartamento vibra. Está quase à beira de quebrar. Uma explosão. Abel abre no último segundopara evitar que seja destruída.

Mas meu mundo explode de qualquer maneira. Porque do outro lado estão meus pais e seusolhos cheios de fúria.

Eu pensei que estava vivendo no apocalipse nos últimos dois anos. Achei que meu mundo jáestava destruído - nada poderia ser pior do que não ver Abel, não ser capaz de tocá-lo.

Eu estava errada.

Isso é pior. Este é o fim do meu mundo. O terremoto. A destruição. Só que nada de belosairá disso. Nenhum novo mundo ou novos ares surgirá depois disso.

Não existe depois.

Sento-me dentro do meu quarto, sob a minha janela com grade, e coisas que aconteceramhoras antes me vêm em partes.

Os gritos, os choros e os olhares furiosos. A dor de um tapa que minha mãe me deu ao vermeu corpo nu envolto em um lençol. O choro. Ah, Deus, o choro. Da mamãe e o meu. Seussoluços e os meus soluços. Ela me chamando de prostituta, dizendo como eu arruinei as coisaspara mim e para minha família. Como desisti de minha preciosa virgindade com um garotoinútil.

— Eu sempre soube disso. Sempre soube que ele iria arruinar você. Você acha que nãoconsigo ver? Você acha que eu não sei? Eu sou sua mãe. Ele te forçou? Diga-me que ele forçouvocê. É melhor chamar de estupro seja isso o que for.

— Ele não me forçou. – eu solucei. — Ele não fez nada. Nada aconteceu.

Mas, acima de tudo, eu me lembro do rosto de Abel. Sua raiva. Provavelmente era maisassustador do que qualquer outra coisa dentro daquela sala.

— Deixe-a em paz. – ele gritou. — Não toque nela, porra. Não toque na minha Pixie, porra.Ela é minha.

Seus gritos foram mais chocantes para eles do que meu corpo nu.

Eles não sabem, vê. Eles não entendem o meu Abel. Não entendem que quando um garotocom calor suficiente para queimar o sol se apaixona por uma garota, ele incendeia o mundointeiro. Eles não entendem sua intensidade e sua paixão.

Ele não parou com as palavras e as enviou para eles, especialmente para minha mãe, com osseus olhos em chamas, seu corpo enorme e pesado. Ele a teria matado, eu sei disso. Ele a teriamatado se não fosse por aquele som.

O som que até agora não me deixa dormir: o estilhaçar de sua câmera.

As coisas pararam quando meu pai a encontrou. Eu nunca o tinha visto tão bravo. Eu nuncatinha visto os olhos do meu pai vermelhos e cheios de ódio. Ele jogou a câmera na parede,quebrando-a em um milhão de pedaços.

Abel simplesmente ficou ali, observando seu bem precioso quebrar como se nossos coraçõesestivessem se partindo. Então o meu pai se virou para mim. Ele olhou para mim como se eu fosserealmente uma prostituta. Uma semente do mal. Uma filha que realmente estragou tudo.

— Ele... você o deixou tirar uma foto sua assim? – Meu pai perguntou, com seus olhoscheios de lágrimas de raiva acusadoras.

— Pai, não é assim. Eu... Eu... Nós nos amamos. Não é... ruim nem nada. – eu implorei aele. — Eu o amo, pai. Por favor. Não fique bravo.

Meu pai levou alguns segundos para entender à minha confissão. Naqueles poucossegundos, rezei a Deus. Eu pedi a compreensão do meu pai. Rezei para que ele visse além de suaraiva e entendesse. Abel e eu não tínhamos feito nada de errado.

Em meio aos gritos e acusações da minha mãe, o meu pai se aproximou do amor da minhavida e deu um soco nele. Meu pai, a única pessoa com quem eu contava para me ouvir, ouvirmeu lado das coisas, destruiu os sonhos que havia tecido ao longo dos anos. Eu sabia então que

não entenderia. Ele nunca entenderia. Ninguém iria, provavelmente. Mas então, eu não deveriater ficado surpresa, certo? Meu pai quase nunca veio em meu socorro.

Abel não se mexeu. Ele aceitou isso. Com seus olhos em mim, ele levou a surra e nãoretaliou. Eu podia vê-lo fechando os punhos ao lado do corpo, as veias saltadas e alertas, mas elenão fez nada.

Implorei ao meu pai para parar.

— Eu o amo, pai. Por favor. Solte-o. Ele não fez nada. Nada aconteceu entre nós.

Implorei e supliquei, mas nada. Poucos minutos depois, eles me arrastaram para fora doapartamento de Abel nua, com apenas um lençol enrolado em meu corpo. Mamãe murmuroualgo sobre eu ser uma vagabunda e eu merecia ser exibida como uma. Isso vai te ensinar a seprostituir em nome do amor.

Abel respirava ruidosamente, com uma gota de sangue quase escorrendo dos seus cílios. —Pixie! Não a leve embora. Solte-a. Juro por Deus, vou matar todo mundo, porra. Não amachuque.

Seus olhos tinham um brilho maníaco quando meu olhar encontrou o dele por um brevemomento. Eu era um farrapo do meu antigo eu, aquele que chegou, ofegante e desesperada paravê-lo. Sinto muito, murmurei enquanto ele desaparecia da minha vista.

Lá fora, as pessoas enchiam a rua, conversando, observando, com algumas me dandoolhares furiosos e outras me olhando com simpatia.

Sua mãe provavelmente não lhe ensinou nada.

Ela é a última pessoa que esperávamos engravidar, mas é o que vai acontecer.

Talvez Abel a tenha forçado? Não consigo imaginar a Evie quieta e estudiosa fazendo isso.

Deus, que vagabunda.

Os mais quietos são os piores, sabe. Toda aquela sexualidade reprimida.

Ouvi minha mãe dizer que ele me obrigou, tirou minha foto nua e me enganou. — Mas oque mais você esperava de um Adams? Eu simplesmente não esperava isso da minha filha.

— Ele não me forçou. Eu o amo. Estamos apaixonados. – gritei para todos e para ninguémem particular.

Eu provavelmente parecia uma garota maluca. Com o cabelo solto, sem roupa, com a feiçãodilacerada, olhos e nariz escorrendo, parada no meio da rua gritando por amor. Mas eu não meimportei. Eu queria que todos soubessem.

— Eu amo o Abel. Eu o amo. Eu o amo há anos. Ele não me forçou. Nada aconteceu entrenós.

Meus gritos ecoaram na noite, mais altos do que qualquer trovão, mas ninguém ouviu. Elesainda culpavam o Abel. Eles ainda falavam sobre me mandar embora para encontrar Deus e

jogar Abel na prisão por seus crimes. Com a menção da prisão, tentei fugir. Tentei fugir damultidão e ir até ele, para avisar ou algo assim. Mas alguém me agarrou por trás, pisando no meulençol, quase arrancando-o do meu corpo. Ouvi risadinhas. Seus olhos olhando para mim comjulgamento e ódio, com minha mãe sussurrando insultos em meu ouvido.

Nenhuma pessoa me ouviu. A única pessoa que pensei que me ouviria, meu pai, subiu asescadas com o policial, Sr. Knight.

— Ei, você está bem?

Sky me sacode. Eu me pergunto de onde ela veio. Percebo que eu ainda estou sentada nochão, bem embaixo da minha janela com grade, ainda pensando na noite passada, revivendo ohorror sem parar. Pela dormência e rigidez do meu corpo, passei horas aqui embaixo.

— O... o quê?

— Deus, você está tremendo. – Sky esfrega minhas costas e tira o cabelo bagunçado do meurosto.

Eu pisco para ela; minha visão está um pouco nublada. — O que você está fazendo aqui?

Ela me levanta e me leva para a cama. — Eu queria ver como você estava, e que bom quevim, hein? Você parece um desastre. – Fazendo uma careta, ela se senta ao meu lado. —Desculpe, isso saiu errado. Quer dizer, você parece um e eu odeio isso. Enfim, olha, não temosmuito tempo, ok? Sua mãe não está em casa. Graças a Deus. E seu pai me deixou subir, masapenas por alguns minutos.

Ela está falando muito rápido para mim. Não consigo entendê-la. Eu ainda estou presa nomomento em que o meu pai voltou para o apartamento de Abel com um policial.

— Levaram o Abel, não é? Eles o levaram. – Lágrimas escorrem pelo meu rosto, meu corpofrágil e inútil. Tento me levantar da cama, mas minhas pernas estão tremendo muito. — Eupreciso... eu preciso ir dizer a eles para soltá-lo. Nada aconteceu entre nós. Ele não fez nada. Eleadora a câmera, sabe, e eu disse a ele para tirar minhas fotos. Fui eu. Eu quis isso. Eu...

Sky aperta meu ombro. — Eu sei. É por isso que você tem que me ouvir. Eles o soltaram,certo? Ele passou a noite na prisão, mas eles o soltaram.

— Eles soltaram?

— Sim. Eles o soltaram com uma condição. Eles querem que ele saia da cidade. Esta noite.

— O que? Ele não pode...

Sky olha por cima do meu ombro. — É por isso que estou aqui. Falei com ele, ok? Foi elequem me mandou vir até aqui. Ele não achou que era seguro ligar para você com tudo isso. – elame encara. — Ele está indo embora, Evie. Eles o estão forçando a ir e ele queria que vocêsoubesse que ele está bem e que ele te ama e... – ela suspira. — Ele me disse para lhe dizer quenão vai fazer você escolher. Entre ele e seus pais. Ele não vai colocá-la nessa posição. Ele…

Eu não consigo ouvir nada. Suas palavras são sem sentido para mim agora.

Ele não vai me fazer escolher? O que isso deveria significar? Isso é uma piada?

Não tenho escolha. Não há escolha alguma. É ele. Sempre será ele.

— Eu o escolho. Sempre vou escolhê-lo. – eu repito os pensamentos em minha cabeça.

— O que?

— Sim. Ele é um idiota. Não há uma escolha. Sem discussão.

— OK. E isso significa o quê?

— Isso significa... – eu respiro fundo. — Que eu vou com ele.

Não acredito que estou pensando nisso, pensando em fugir. Como David e Delilah. Mas euestou.

Porque ele é o meu Abel. Eu o amo mais do que qualquer outra coisa no mundo. Só a ideiade estar com ele me enche de energia elétrica. Pela primeira vez depois de ontem à noite, euposso sentir meus batimentos cardíacos. Eu posso sentir meus membros. A dormência estádesaparecendo.

— Ah, meu Deus, sério? – Os olhos da Sky estão arregalados e animados.

Só isso já deveria me dizer que é uma ideia maluca, mas que se foda. Foda-se tudo. Eu vouaonde ele vai. Não posso ficar aqui. Eu não posso ficar aonde ninguém vai me ouvir. Posso sentiros seus olhos julgadores cravando em minha pele. Eu posso ouvir seus sussurros, me xingando.Minha mãe dizendo que eu sou uma vagabunda quando nada aconteceu entre nós, quando aindasou virgem. Meu pai quebrou a câmera de Abel quando era algo que nós fizemos por amor. Elemenosprezou, fez com que parecesse um crime.

— Sim. – eu engulo, com a saliva ardendo a minha garganta. — E...eu não posso viver semele.

Talvez seja isso o que aconteceu com Delilah também. Talvez ela tenha enfrentado omesmo desafio, o mesmo dilema. Ela escolheu o amor e eu vou escolher o amor também.

— É uma loucura. – eu sussurro. — Mas eu preciso fazer isso.

Arrepios surgem na minha pele. O pelo fino do meu corpo ficam de pé, desafiando agravidade. Desafiando as leis, as normas. Cada átomo em meu corpo vibra, movendo com aenergia. Sinto um calor nos ossos.

— O que é o amor sem um pouco de loucura?

Sky sorri, isso rapidamente se transforma em um sorriso grande e gigante, e embora euesteja fraca e apavorada e com muita raiva, não posso deixar de sorrir também. Euprovavelmente dou risada também. Tão inapropriada em um momento como este. Mas éexatamente certa.

Pela primeira vez na minha maldita vida, vou ser corajosa. Eu vou ser imprudente. Eu estouapaixonada, porra.

Logo nossos poucos minutos acabam e eu a acompanho até a porta da frente, sob os olhosavaliadores de meu pai e a abraço com força.

— Vou sentir sua falta. – eu sussurro.

— Eu também.

— Diga a ele para me encontrar na beira da estrada à meia-noite. Diga a ele que estarei lá.

— OK.

Passo o dia me sentindo leve, me sentindo viva. Tomo a pílula do dia seguinte que a minhamãe me deu porque ela não quer que eu engravide, embora eu nunca tenha feito sexo. Semmencionar que os meus pais querem que eu vá a aquele acampamento bíblico linha-dura duranteo verão. Porque o que diabos há de errado comigo se eu deixar um garoto tirar uma foto minhapelada?

— De que adianta ter filhos se eles vão te humilhar na frente do mundo inteiro? – Minhamãe disse. — Você os educa de certa maneira, faz sacrifícios por eles e é assim que elesretribuem. É assim que mancham o bom nome de seus pais. É assim que garotas inocentesacabam na internet.

Exceto que, não acho que sou mais tão inocente. Minha inocência foi perdida no momentoem que minha mãe decidiu me fazer desfilar seminua na frente do mundo.

Eles decidiram contar para a cidade inteira que o Abel Adams me estuprou e, se eu negasse,eles iriam me mandar para um lugar ainda pior do que um acampamento bíblico. Só possoassumir que é o hospital psiquiátrico onde dão choques elétricos para obter a cura para seuscérebros. Acho que minha mãe também tem a prescrição pronta. O marido da Sra. Weatherby épsiquiatra.

Foi ela quem colocou fogo no meu mundo. Ela me viu subindo as escadas para oapartamento de Abel e decidiu tagarelar para todos que conhecia. Levou quarenta minutos parareunir todos e contar para minha mãe.

Quarenta minutos.

Eu fiquei no apartamento de Abel por apenas quarenta minutos e pareciam quarenta dias.Pareceram quarenta segundos.

À noite, sento-me ao lado de meus pais, rezo e como sua comida. Estas são as pessoas quedeveriam ter me apoiado. Estas são as pessoas que deveriam ter me ouvido, ou pelo menos medeixado colocar minhas roupas antes de me arrastar para fora do apartamento do meu namorado.

Observo as mãos do meu pai enquanto ele toma a sopa. Ele quebrou a câmera de Abel comelas. Ele o socou com elas. Seus nós dos dedos estão inchados e arrebentados. Espero que doa.Espero que doa como seu abandono me machucou.

Assim que o jantar termina, subo as escadas. Eu conto as horas e quando é hora de dormir,meu pai entra no meu quarto. Na verdade, ele não entra. Ele está no limiar, como se não pudessesuportar estar no mesmo cômodo que eu.

— Paguei a fiança dele. Eu quero que você saiba disso. Eu não sou seu inimigo, Evie. Vocêé meu bebê. Você é a única coisa que mais amo no mundo. E é por isso que não posso deixá-loser sua ruína. – Seus olhos estão vermelhos; as lágrimas estão grudadas em seus cílios. —

Porque é isso que vai acontecer se você não acabar com isso agora. Aquele garoto será suaruína. Olha o que ele já te fez fazer. As fotos. Do jeito que você estava... – ele pisca, como façoquando preciso me livrar da água salgada. — Não está certo. Mas é apenas o jeito que amamos,você e eu. Não posso deixar isso acontecer com você porque isso aconteceu comigo. Então,amanhã de manhã, você vai para aquele acampamento e se purificar dessa... loucura.

Sou filha dele. Não posso vê-lo chorar. Está na minha composição genética machucar elequando ele está triste, mesmo que eu queira que ele se machuque. Então me levanto da cama evou até ele. Ele fica rígido quando coloco meus braços em volta dele e o abraço. Ele não retribuio abraço.

— Eu te amo, pai. – digo a ele porque não vou vê-lo por um tempo. Talvez eu nunca o veja,porque se ele não pode aceitar o Abel e o meu amor por ele, então estamos terminados.

Mas você já terminou com seus pais? Você já terminou com o lugar de onde você veio?

Ele vai embora, provavelmente pensando que amanhã de manhã irei para o acampamento eserei sua antiga Evie novamente.

Mas a antiga Evie se foi. Não há nenhuma Evie.

Há apenas a Pixie do Abel, e ela irá embora antes que o sol nasça e ilumine esta parte domundo onde vivem monstros.

O relógiomarca meia-noite e

saiosorrateiramente do meu quarto.

Curiosamente, meus pais compraram esta casa quando nasci porque precisavam de um lugarmaior. Antes de mim, eles moravam na cidade. Mamãe não queria esta casa porque era muitopróxima da família Adams. Mas o meu pai amava a propriedade, então eles compraram. Eu mepergunto se foi uma das últimas discussões que ele teve, antes de seu amor o afogar.

Caminho sobre as tábuas soltas espalhadas pela casa e fecho a porta atrás de mim.Comparado com o interior, o exterior é barulhento. Trovão, raio e chuva. Uma chuvainterminável. A terra desapareceu e tudo o que posso ver é um canal de água abundante. Comose a terra inteira fosse inundada pelo oceano e eu tivesse que nadar para atravessar.

Com um último olhar para a casa que está silenciosa e escura, eu saio.

Eu corro e corro, carregando uma pequena mochila com apenas um punhado de pertences daminha antiga vida, com a água espirrando nas minhas panturrilhas nuas. A chuva me apunhalacomo minúsculas facas, causando-me pequenas mortes. Eu não ficarei surpresa se encontrar

manchas vermelhas de sangue em meu vestido branco.

Mas eu não me importo. Eu sei que nada pode me matar esta noite. A Pixie de Abel éimortal, assim como nosso amor.

Tudo está coberto por nuvens escuras. Sem estrelas ou lua. O vento é meu único amigo. Éferoz e me leva para frente, como se eu tivesse asas.

Finalmente, eu chego à beira da estrada, longe da minha casa, dos milharais, do bosque e detudo que já conheci.

Meus pés param quando o vejo. Ele é apenas uma silhueta, uma figura escura, mas é osuficiente para vacilar meu coração.

No próximo segundo, o céu se abre e o cobre com uma luz fraca e posso vê-lo: com o cabelogrudado na testa, a cruz prateada em volta do pescoço. Ele está ao lado de sua caminhonete, comas costas encostadas na porta, encharcado e sozinho. Quando ele me vê, ele fica de pé e emalerta. Nós nos observamos por um momento. Não sei o que estou esperando até que ele abra osbraços, grandes e largos, acenando para mim.

Uma risada tingida de lágrimas me escapa e eu voo para ele com as pernas transformadasem asas. Ele me pega do chão assim que atinjo seu corpo e me abraça com força. Seu cheiroatinge meu nariz e eu sinto que posso respirar novamente.

— Deus, Pixie. Você me assustou por um minuto. – ele ofega no meu ouvido. — Por umsegundo, pensei que você não fosse aparecer. Eu pensei que algo aconteceu. Eles fizeram algocom você. Eu pensei... que nunca mais te veria. Que eu ficaria sozinho. – Sua voz estremece,com um intervalo no final.

Meus olhos ardem enquanto o céu chora comigo. — Você nunca precisará ficar sozinho.

— Você deveria ir para a faculdade. Eu...

— Foda-se a faculdade. Foda-se tudo. Nada importa para mim além de você.

— É isso. Nós nunca poderemos voltar aqui novamente. Você tem certeza disso? Sobre... –Engolindo, ele diz em voz baixa. — Mim?

Há um mundo de vulnerabilidade em suas palavras. Isso me corta profundamente. Até anoite passada, ele estava confiante e agressivo. Ele ia me tirar da escola porque eu ia ao bailecom outro cara. Mas agora, ele parece tão frágil. Eu o abraço ainda mais forte. — Sim. Você é aúnica coisa da qual tenho certeza.

Ele ri. — Vamos fazer isso, então.

Eu me afasto para olhar para ele. De perto, posso ver que seu rosto está inchado, marcadopor hematomas e cortes. — O que eles fizeram com você?

— Nada que eu não pudesse lidar. – ele me dá seu sorriso de lado característico através deseu lábio arrebentado. Aperta meu coração vê-lo fazer piadas.

Por que é tão fácil para as pessoas odiar, mas não entender? Por que é tão fácil julgarem e

tirarem conclusões, mas não perder um segundo para ouvir? Provavelmente porque têm medo deperceber o quanto são semelhantes às coisas que odeiam. Como eles são semelhantes aosmonstros dos quais têm tanto medo.

— Eu sinto muito. Sinto muito pela minha mãe e pelo meu pai. Sua câmera. Eu realmentepensei que ele nos apoiaria. Eu realmente pensei que ele entenderia. Eu...

— Não importa. Nada disso importa. Estamos deixando tudo isso para trás, Pixie.

— Para onde estamos indo?

Ele sorri, com seus cílios escorrendo água. — A maior cidade do mundo.

— Nova York?

— Sim.

Eu engulo, bebendo a chuva de verão, com meu coração batendo forte no peito. — OK.

Abel acaricia minhas bochechas molhadas. — Você tem medo da cidade grande?

— Não.

Ele beija minha testa docemente. — Você não consegue mentir, Pixie. Eu vou cuidar devocê, você sabe disso, certo? Sempre vou cuidar de você. Você é minha agora, ok? Minha.Minha razão. Minha vida. Meu propósito.

Propósito.

Sim, essa é a palavra. Isso é o que sinto por ele. Ele é o meu propósito. Meu propósito deviver, amar, cuidar. Me importar.

Eu concordo. — Você é o meu também.

— Além disso, um noivo deve cuidar de sua futura noiva, certo?

— Noiva?

Ele olha para o céu e se afasta de mim. Eu o observo, confusa, enquanto ele se ajoelha,como se ele não aguentasse mais ficar de pé. Tipo, ele tem que se ajoelhar.

— Abel? O que foi?

Ele está apertando os olhos contra a chuva enquanto olha para mim. — Eu queria fazer issono seu aniversário. Mas não quero perder mais tempo. Você sempre me diz que não pedigentilmente. – ele abre os braços. — Este sou eu. Sendo todo gentil e educado pra caralho. Vocêvai finalmente dizer sim para se casar comigo?

Eu comecei a rir e isso se transformou em um soluço. Deus, ele é louco. E eu sou louca porele. Eu o vejo de joelhos, com a sujeira grudada em sua calça jeans, seu rosto todo machucado,seus braços abertos como se ele fosse pegar o céu se ele cair sobre nós e me salvar.

Aquele garoto será sua ruína.

Dizem que a história se repete a maior parte das vezes. Existe poesia na natureza. Umasimetria. Mas digo que não. A história não se repetirá. Mesmo assim, estamos fugindo como seuspais, David e Delilah, não acabaremos como meus pais, Elizabeth e William, destruídos e tóxicosum com o outro.

Caindo de joelhos na frente dele, eu digo: — Sim. Sempre foi um sim, seu grande idiota.

Eu o abraço e ele segura meu cabelo, puxando meu pescoço para trás e me encara comferocidade. Você pensaria que ele iria devorar meus lábios agora, me comer e beber de mim. Masnão. Seu beijo é doce e terno.

Ainda me observando, ele tira um anel do bolso. É pequeno, fino e, com um minúsculodiamante branco em cima. Não é chamativo nem caro, mas é meu e vou usá-lo até o dia deminha morte.

Abel coloca o anel no meu dedo, beijando-o. — Você está pronta para uma aventura, Pixie?

— Sim. – eu beijo o anel também. — Nós seremos nossos próprios deuses. Você será o meue eu serei a sua.

— É isso aí.

Quando vemos a cidade no espelho retrovisor da caminhonete, ouço as palavras do meu painovamente. Giro o anel em meu dedo e eu prometo a mim mesma que nunca vou deixar suaspalavras se tornarem verdadeiras.

Abel Adams nunca será minha ruína.

No dia seguinte, chegamos a Nova York exatamente quando o sol está se pondo sobre oEmpire State Building.

Depois de deixar Prophetstown, continuamos dirigindo pela I-80. Exceto para gasolina e umpouco de comida, não paramos em lugar nenhum. Nós dois estávamos paranoicos, embora eusoubesse que Abel queria parar quando me visse adormecendo em um ângulo estranho.

Mas o risco era muito grande. E se eles nos encontrassem? E se eles me levassem embora?Então, continuamos fugindo, continuamos nos afastando das pessoas que quase nos separaram.

Mas agora estamos aqui. Em Nova York.

Ela é exatamente como Abel descreveu. Prédios altos se projetando para o céu, multidõesconsumindo a terra. O vapor está subindo dos cilindros. As buzinas estão tocando. Os carros eônibus estão correndo entre si. E pessoas. Meu Deus, acho que nunca vi tantas pessoas juntas emum só lugar. Nem mesmo na igreja.

Assim que entramos na cidade, sei que amo isso. Não é nada como a cidade que deixeimenos de vinte e quatro horas antes. É selvagem e indomável. É um pouco intimidante e podedemorar um pouco para me acostumar com a grandeza dela, mas sinto em meus ossos que é aquique eu deveria estar. Tenho a sensação de que Nova York tem um lugar para todos: os fugitivos,os incompreendidos, os amantes, os lutadores, os errantes e os bem-sucedidos.

Nesta cidade, nosso amor vai crescer. Esta é a nossa aventura agora.

Este bolsão em particular está cheio de cores e gosto imediatamente. Os edifícios sãovermelhos, laranja e creme. Os símbolos nos sinais de trânsito estão em inglês e o que acho que échinês. O próprio ar ressoa com esses símbolos exóticos falados em voz alta e o cheiro deamendoim.

É aqui que vive o amigo de infância de Abel, Ethan. Eu já vi Ethan antes em fotos no celularde Abel. Ele concordou em nos deixar ficar em seu apartamento por alguns dias, atéencontrarmos algo nosso.

A caminhonete de Abel meio que morre quando ele o estaciona no estacionamento, como seestivesse esperando para nos entregar a esta cidade antes de dar seu último suspiro. Eu acho queele pode sentir falta, já que está a dirigindo por aí há muito tempo. Ele desce em uma rua estreita,mas movimentada. Sem esperar que ele abra minha porta, eu mesma saio. Mas eu tropeço emmeus pés, já temendo a queda feia que estarei sofrendo. Mas eu deveria saber.

Eu deveria saber que Abel vai me pegar.

Ele agarra meus bíceps, me firmando e me trazendo para seu corpo. E então, estou parada nacidade de Abel.

— Ei, Pixie. – ele murmura, colocando os braços em volta da minha cintura, o lugar que elemais ama.

Eu agarro sua cruz. — Ei.

— Você está bem?

— Sim. Lembra como você me salvou naquele dia no ônibus? Quando eu estava prestes acair sobre você?

— Sim. – ele acena com a cabeça, sorrindo. — Você foi uma vítima do meu charme, eu sei.

— Foi o ônibus. Ele se moveu e me desequilibrou.

Ele estreita os olhos como se estivesse tentando olhar para o passado, lembrar-se daqueledia. — Não, tenho quase certeza de que fui eu.

Eu rio. — Você é louco.

— Apenas por você.

Ele diz isso tão seriamente, com tanta seriedade que toda a minha raiva sai em forma delágrimas. Como eles poderiam não ver o quanto nos amamos? Como eles poderiam pensar emnos separar? Como meu pai pôde fazer aquilo com ele?

À luz do dia, seus hematomas parecem piores. Seu rosto há manchas roxas, amarelas eazuis, e passo meus dedos sobre os montes inchados. — Isso dói?

— Nem um pouco.

— Você é um mentiroso.

Ele sorri e depois pressiona um beijo forte na minha boca com seu lábio partido. Eu meafasto dele, colocando a mão em seu queixo machucado. — Abel, não tão forte. Vai doer.

— Não tanto quanto não beijar você, Pixie. Isso me machuca mais.

Então, ele me beija bruscamente, sem se importar com os seus hematomas, e eu o abraço,sem me importar com as pessoas ao redor.

— Maldito Abel Adams.

Nós nos separamos. Por um segundo, meu coração para de bater. Eu sou atirada de volta aontem, quando o mundo inteiro estava contra nós, e eu aperto meu aperto em sua camiseta.

Deus, não.

Eu não vou deixá-lo ir. Desta vez, se eles vierem, vou me envolver em torno de seu corpo enos fundir. Em seus olhos, vejo o mesmo pensamento.

Nós contra o mundo.

Abel se inclina e dá um selinho seco e casto em meus lábios. — Está tudo bem. É apenas oEthan.

Em seguida, ele coloca o braço em meus ombros e me puxa para o seu lado, desmentindocompletamente suas palavras calmas.

Ethan está caminhando em nossa direção. Ele tem cabelos castanhos ondulados e olhosverdes alegres. Seu sorriso é fácil e amigável como se ele tivesse sorrido durante toda a sua vidae nunca tivesse tido um motivo para parar.

— Jesus Cristo, eu não pensei que veria você de novo. – Então ele franze o nariz. — Apesarde tudo. O que você fez com seu rosto?

Abel ri. — Levei um soco como um homem, em vez de me esquivar como uma garota.

— Uma vez, cara. Uma porra de uma vez. Esqueça isso. Já se passaram seis anos. – Ethanresmunga, balançando a cabeça. Então ele vira os olhos para mim. — E quem é essa garotabonita que você não largou desde o segundo que te vi?

Ah, Merda. Abel deveria pelo menos ter dado um aperto de mão a seu amigo perdido hámuito tempo, mas ele não parou de me tocar. Eu provavelmente deveria empurrá-lo para frente,mas prendo meu dedo em seu cinto. Eu não acho que podemos parar de nos tocar sem um medointenso de alguma forma, estarmos separados.

Abel beija minha testa e me apresenta. — Esta é a minha Pixie. A minha noiva.

Meu corpo esquenta com a palavra noiva. Eu flexiono o dedo que segura seu anel,reivindicando-me como sua. Durante todo o caminho até aqui, brinquei com o anel branco e odiamante. Eu queria beijá-lo repetidamente. Eu queria beijá-lo repetidamente.

Eu sorrio para Ethan. — Oi.

— Não brinca. – ele murmura, completamente surpreso, olhando para mim.

— Nunca. – eu sorrio e decido fazer o papel de uma noiva e parar de ser carente,oferecendo-lhe minha mão para apertar.

Ele a pega, ainda me olhando com curiosidade. — É um nome interessante. Pixie.

Eu sorrio para Abel, que encolhe os ombros timidamente. Mas antes que ele possa secorrigir, eu digo: — Sim. Ele é.

Chame isso de loucura, mas não quero corrigir meu noivo. Eu não quero mais ser Evie. Euquero ser a Pixie de Abel.

— Solte-a, idiota. – Abel resmunga. — A menos que você queira que eu me livre do seubraço para você.

Rindo, Ethan tira a mão. — Ele é assim o tempo todo? – Então, ele abaixa a cabeça e encarao chão. — Ah, ok. Ainda não.

— Ainda não o quê? – pergunto, franzindo a testa para o chão também.

— Nada. Só queria verificar se ele já fez um círculo ao seu redor.

Eu rio, enquanto Abel resmunga sobre mim. — Apenas continue observando o espaço.Talvez um dia desses.

— Droga. Eu gosto dela, cara.

Corando de prazer, olho para os meus pés e Abel beija meu cabelo, murmurando: — Sim,eu gosto dela também. Muito.

Nova York vai ser incrível.

Ethan moraem cima de um

restaurante chinês. As escadas que levam até seu apartamento são frágeis, ainda mais frágeis einstáveis da que onde Abel morava até ontem. Mas não estou com medo como deveria. Eu seique Abel não vai me deixar cair.

Assim que alcançamos o topo, porém, faço uma pausa, mais como um paralisamento. Hásons emergindo de uma das três portas vermelhas amontoadas. Alguém está gemendo como seestivesse com dor. Isso é estridente e suplicantes, marcado por gemidos e gritos. Meus olhos searregalam quando percebo o que são. Eles são sons sexuais.

Alguém está fazendo sexo. Dois alguéns. Existem dois tipos de sons, um masculino e outrofeminino. Ah, e eles são altos.

Uau.

Não deveriam ser... menos barulhentos? Eles sabem que podemos ouvi-los? Ah meu Deus,está vindo do apartamento de Ethan?

A cada pergunta, sinto meu coração disparar mais rápido. Sinto meu corpo cansadodespertando de muitas maneiras. Estou um pouquinho fascinada e um pouco... excitada quandoouço o som de um rangido ficando mais alto e um gemido se fundindo a outro, tornando-se umsom constante de luxúria.

Ontem eu estava nua com minhas coxas em volta dos quadris de Abel, pronta para ceder. Euteria soado assim? Toda a cidade saberia que eu estava fazendo sexo com meu Abel? Bem, elesjá acham que eu fiz, não é? Já pensam que cedi. Que me tornei uma prostituta porque abriminhas coxas para o cara que amo.

Bastardos.

Engulo enquanto meus mamilos incham e uma agitação começa no meu estômago. Euagarro a barra da camiseta de Abel, me sentindo como uma garotinha perdida que está nervosa,excitada e com raiva.

Ele para e olha para mim. Ele percebe que estou confusa porque coloca a mão na minhabochecha e sussurra: — Você confia em mim?

— Apenas em você.

— Então, vamos lá.

Ele pega minha mão e me puxa para frente.

— Vizinhos barulhentos. – Ethan confirma, destrancando a porta do meio e me deixandomais à vontade porque não é seu apartamento que faz barulho.

A primeira coisa que noto sobre seu apartamento é que é minúsculo e tem cheiro de frutosdo mar; Suponho que seja o restaurante abaixo. Mas então, conforme caminho mais, eu me chutopor notar essas coisas. Porque essas não são as coisas a se reparar quando você entra em umespaço como este.

Não, o que se deve notar no apartamento de Ethan é que ele está coberto de espelhos.Existem espelhos por toda parte, em cada parede. Alguns pequenos, alguns deles grandes e altos.De pé no meio da combinação sala de estar/jantar, segurando a mão de Abel, eu olho ao redor.

Estamos refletidos em cada canto, Abel e eu. Nós dois parecemos um desastre, cabelo

bagunçado, roupas amassadas, secas e manchadas de sujeira depois da chuva da noite passada.Mas eu me concentro em nossas mãos juntas. Isso parece lindo. Parece que é para ser assim. Euaperto sua mão e ele aperta também. Sorrimos com as reflexões um do outro.

Então eu me viro para Ethan, que está pegando algumas cervejas da geladeira. — Então,você tem uma queda por espelhos, não é?

Ele ri. — Sim. Essa é uma maneira de colocar isso.

Bem, isso é estranho. Mas quem sou eu para julgar?

Colocamos nossa bagagem em um dos dois cômodos localizados nos fundos doapartamento, em um corredor. O quarto tem apenas um colchão - sem cama - um pequenoarmário e, claro, um espelho de corpo inteiro. Eu rio para Abel, mas ele apenas me dá um olharardente, como se estivesse pensando algo indecente.

Depois de nos revezarmos no banho no menor banheiro do mundo, onde você não consegueficar com os braços bem abertos, pedimos uma pizza e a comemos como nunca havíamoscomido antes. Só quando estou lambendo os meus dedos e observando Abel rir com Ethan é quepercebo que não rezei antes de comer. Esta é a primeira vez que perdi isso. Isso me faz pensarem casa. Na mamãe e do papai.

Agora, eles devem saber que fui embora. Devem saber que escolhi Abel em vez deles.Acima de tudo. Eles estão procurando por mim? Sky seria a primeira suspeita. Deus, eu nempensei sobre como isso a afetaria. Talvez eu deva ligar para ela.

— Qual é a história aqui, então? Vocês estão fugindo da polícia, pais irritados? Ambos? –Ethan brinca, sentado no chão com Abel.

Fico rígida no sofá; a pizza cai como uma pedra no meu estômago. Abel percebe a minhaangústia e interrompe: — Por que, você está com medo de um pequeno problema?

— Cale-se, idiota. Estou falando sério. Se for esse o caso, então vocês precisam ter cuidado,entendeu? Pais irritados têm muito poder, acredite em mim. Falando por experiência própria.

A mandíbula de Abel fica tensa e estou lamentando minha escolha de lugar. Eu deveria tersentado mais perto dele, onde poderia tocá-lo. Como está, minhas palavras terão que sersuficientes. — Meus pais não podem me levar embora. Eles não são tão poderosos.

— Ninguém é tão poderoso. – diz Abel, fechando os punhos. — Nem uma única pessoa. Euvou matá-los primeiro.

Por alguns segundos, tudo que posso fazer é olhar meu noivo. Tudo o que posso fazer éolhar em seus olhos cheios de raiva e seu rosto espancado. Sua violência me acalma, ao mesmotempo que atiça minha própria raiva. Ele tem razão. Ninguém pode nos separar.

Não posso deixar isso acontecer. Eu não vou deixar isso acontecer. É imperativo que noscasemos o mais rápido possível porque não vou conseguir descansar até lá. Não vou conseguirdescansar até ser completamente sua.

— Calma. – Ethan respira. — Ok, está resolvido, então. Meus novos colegas de quarto são

um bando de assassinos. Então que tal uma cerveja e um pouco de Netflix? Vocês sabem, pararelaxar?

O momento é interrompido. A intensidade se foi. E por algum motivo, isso me faz rir.Talvez seja o cansaço e toda a qualidade surreal dessa situação que me faz rir. Eu bato minhamão na minha boca e os lábios de Abel se contraem.

— Netflix é ótimo. – digo quando meu riso está sob controle.

Rastejo até Abel e me pressiono em seu corpo, enquanto assistimos algo estúpido na TV. Eusó estou prestando atenção pela metade porque Abel e Ethan estão conversando e fazendobrincadeiras juntos.

Isso me faz perceber que nunca vi Abel tão feliz. Ele ri comigo, com uma risadinha. Mas elenunca teve realmente ninguém em nossa cidade. Ele tinha alguns conhecidos na escola, mas nãoeram realmente seus amigos.

Abel estava preso lá atrás.

Por minha causa. Ele não foi embora porque aquela cidade era meu lar. Estou tão feliz portermos saído de lá. Eu estou tão feliz que nós terminamos com aquele lugar.

As coisas já estão funcionando. Ethan também é fotógrafo e diz que vai levar Abel para seuestúdio e tentar arrumar um emprego para ele. Não é maravilhoso?

Abel vai ser fotógrafo e eu vou procurar um emprego para mim e tentar escrever no meutempo livre. Não era isso que eu queria fazer? Sempre quis ser escritora e agora estou na cidademais artística do mundo. Imagine todas as histórias que Nova York tem. Imagine todas aspessoas que posso encontrar e sobre as quais posso escrever.

Giro o anel em meu dedo e ele chama a atenção de Abel. Ethan ainda está dizendo algo, masAbel está me observando. Sorrindo, eu murmuro eu te amo, e ele me dá sua respostacaracterística: um sorriso malicioso.

Sim, Nova York vai ser a melhor aventura de nossas vidas.

Aquele garoto será sua ruína.

Pulo acordando com a voz do meu pai falando em meus ouvidos. Por um segundo, me sintovazia, desolada, como se tivesse dormido com a tristeza envolvida em meu corpo em vez de umcobertor.

Mas então tudo volta rapidamente. A chuva, a fuga, o pedido de Abel, o trajeto, o vento emmeu cabelo e a estrada. Nova York.

Estamos a salvo. Estamos em Nova York. E eu estou dormindo ao lado do garoto que amo.

Seu braço está jogado sobre minha cintura, quase me esmagando na cama. Ah espere, nós sótemos um colchão. Seus dedos bronzeados estão super perto dos meus seios. Na verdade, seupolegar está tocando meu mamilo que agora está em posição de sentido. Minhas costas estãoalinhadas com seu peito - peito nu - e sua grande coxa está presa entre minhas pernas.

Estou suando com meu próprio aquecedor pessoal na minha coluna. Bem, o que mais vocêpode esperar quando dorme com o sol? A janela logo acima de nós não tem cortinas ou gradescomo a minha janela antiga, então posso ver partes do céu. É rosa e roxo com o amanhecer aalguns minutos de distância.

Mordendo meu lábio, mexo a minha bunda e sinto o seu pau. Abel geme, mas não acorda.Ele deve estar morto de cansaço. Depois de um jantar cedo ontem à noite, nós dois dormimos.Adormeci assim que minha cabeça atingiu o travesseiro e acho que ele também. Os eventos dasúltimas quarenta e oito horas nos haviam esgotado.

Lentamente, eu me viro em seus braços e o encaro. Eu o observo maravilhada. Então, éassim que Abel se parece logo de manhã: com seu cabelo bagunçado para cima; aquela correntede prata, jogada para o lado, apoiada em seu travesseiro; a barba por fazer; os seus lábios rosadosse separaram ligeiramente. A única ocorrência incomum são os hematomas coloridos edeformados.

Estávamos apenas brincando um com o outro. Abel estava apenas tirando fotos e eu tivevontade. Ele não estava machucando ninguém. Ele tem sido evasivo, mas acho que foram rudescom ele na prisão. Acho que a única razão pela qual o mantiveram lá foi para assustá-lo. Paramostrar que eles eram mais poderosos do que ele e do que nós.

Toco seus hematomas, cautelosamente, com cuidado, tentando não adicionar nenhuma doradicional. Sua barba por fazer é áspera contra minha pele, faz cócegas, mas é pontuda. Meusdedos percorrem até sua mandíbula tensa, a curva de sua garganta e sobre a protuberância de seupomo de adão.

— Você é linda.

Meus olhos movem ao som de seu sussurro sonolento. — Desculpe, acordei você? Eu nãoqueria.

— Se você não estivesse tentando me acordar, não deveria ter me tocado.

Eu rio baixinho. — O que, você é o meu próprio príncipe adormecido agora? Eu toco em

você e você acorda do sono?

Não sei como ele faz isso, mas mesmo na primeira hora da manhã com a confusão do sonopairando sobre nós, ele me dá seu sorriso típico e perfeito. — Acho que você está esquecendo ahistória, Pixie.

— Sério?

— Uhum. – ele se espreguiça, todo musculoso e sexy, e apoia a cabeça na mão, olhandopara mim com um brilho perverso nos olhos. — Você tem que beijar o príncipe para acordá-lo.

Eu balanço minha cabeça, sorrindo e deslizo para mais perto dele, e beijo seu queixo. —Aqui. Você está totalmente acordado agora?

— Não é o tipo de beijo que eu tinha em mente. Não na área que eu tinha em mentetambém. Talvez tente ir mais baixo. Muito mais baixo.

Ele cutuca minha barriga com seu pau, o que parece a coisa mais dura de todas. A coisamais dura e maior que já senti. — Você é tão...

Abel ri, agarrando as minhas mãos e me virando de costas. Ele encontra um lar entre minhascoxas, me fazendo perceber que estou vestindo apenas minha camisola fina com girassóis, e eleestá vestindo apenas uma boxer preta.

— Eu sou o quê? – ele toca no meu nariz com o dele.

— Um cavalheiro. – eu reviro meus olhos.

— Droga. Eu preciso melhorar meu jogo. Minha Pixie não gosta de cavalheiros.

— Ela gosta também.

Isso o faz rir ainda mais. — Ela prefere isso. Minha conversa de sacanagem a deixaexcitada, no entanto.

Quando ele está rindo assim, não posso nem fingir que estou com raiva dele. Eu tambémnão consigo desviar o olhar. Deus. Deus. Ele é tão sexy e tão meu.

— Não acredito que estou acordando ao seu lado.

Sua mandíbula aperta enquanto seus olhos se enchem de emoções. — Acredite nisto, baby.Esta é a nossa vida agora. Você e eu. Juntos.

Toco as bordas de um hematoma amarelo em sua mandíbula enquanto o amor por ele surgedentro de mim. Amor e luxúria e uma necessidade inata de agradar. Como uma mulher agrada aseu homem. Uma rainha agrada seu rei. Eu quero de alguma forma agradecê-lo, fazê-lo ver queele é o homem mais poderoso da Terra. — Eu quero que você tire. – sussurro, com o coração naminha garganta, na minha boca.

Ele franze a testa por um segundo antes de a confusão se dissipar e ele entender o que querodizer. Se meus pais não tivessem aparecido naquela noite, eu teria dormido com ele. Teria dado aele a última parte da minha alma.

Eu quero fazer isso agora. Esta é a nossa nova vida e quero começar bem.

Seus olhos ficam escuros, como acontece quando a luxúria o domina. Escuro, maravilhoso esem fim, e a sua pele fica ainda mais quente, como se o sangue estivesse correndo, queimandoem suas veias em uma velocidade vertiginosa.

Então, estou surpresa que ele tente se afastar. Não o deixo ir. Eu o envolvo com as minhascoxas e cruzo meus tornozelos em suas costas, mantendo-o colado em mim.

— Pixie, pare.

— Não. – eu arqueio os meus quadris e praticamente empurro meu núcleo molhado em seupau duro.

Droga. Gostaria de não estar usando calcinha para que ele pudesse sentir como estoumolhada. Sendo assim, estou esfregando minha boceta coberta para cima e para baixo nocontorno de sua ereção, esperando e rezando para que ele entenda que é para ele. Toda essaumidade e suavidade; são suas para tomar.

— Eu não vou te foder, entendeu? – ele se esforça contra o meu aperto, mas prendo todos osmeus membros em torno dele.

— Por que não?

— Porque não.

— Isso não é uma resposta. – eu agarro sua cruz de prata e o puxo ainda mais perto. —Diga-me o porquê.

Abel me encara com luta em seus olhos, mas então cede, com a tensão deixando seu corpo.— Não vou te foder na primeira manhã em que estamos juntos em Nova York.

Ok, isso parece ridículo para mim porque ninguém vai vir e nos interromper mais. Podemosfazer o que quisermos, certo? Pergunto novamente: — Por que não? Estamos aqui. Estou pronta.Por que você não vai?

— Não é óbvio? Eu já peguei muito. Eu tirei você da casa dos seus pais e trouxe você aqui.Para este lugar estranho com paredes finas do caralho. Você está dormindo no chão. Eu nãoposso... não posso tirar sua virgindade também. Não até nós conseguirmos um lugar decente euma cama. Nem tenho um emprego agora. Eu tenho algum dinheiro economizado, mas precisosaber que posso cuidar de você. Isso eu posso providenciar. Você é minha agora, Pixie. – elesegura meu cabelo. — É como se eu estivesse morrendo de vontade de chamá-la de minha eagora que você é, estou apavorado. E se eu não puder mantê-la? E se eu não for um bom marido?

— Ok, primeiro: escolhi vir com você. Eu escolhi você. – eu rangi meus dentes, abraçando-o com mais força. — Segundo: você terá um emprego amanhã. Eles vão te amar lá. Você é tãotalentoso, Abel. Suas fotos são incríveis. E quem se importa onde vamos morar por um tempo?Sim, há barulhos sexuais e um fetiche de espelho estranho, mas acredite em mim, ok? Nãoimporta. E terceiro... – eu levanto minhas sobrancelhas. — Eu não sou a única virgem nestequarto. Você pode estar teoricamente preparado depois de assistir seus vídeos e tudo mais. Mas

todos sabem que o conhecimento prático é muito útil. Talvez você esteja com medo de medecepcionar, mas tudo bem. Eu vou entender.

Seus músculos movem sob meu toque enquanto ele olha para mim com pura arrogância. —Ah, você vai entender, não é?

Funcionou. Ah, caras e seus grandes egos. Devo lembrar disso para seu governo. Mas, poragora, estou feliz que a sombra negra em seu rosto se foi. Não consigo vê-lo abatido.

— Uhum. – eu dou para ele um sorriso doce, jogando junto. — Então não tem nada com quese preocupar. Você sempre me deixou satisfeita antes. Tenho certeza que você fará um bomtrabalho agora também.

Ele ri, com seu punho realmente apertado no meu cabelo. — Você conseguiu agora, baby.

Arqueio meus quadris, me sentindo estranhamente feliz e satisfeita. — O que eu consegui?

— Então, minha Pixie gosta de me provocar e ela adora cutucar um urso, certo?

— Talvez. – eu encolho os ombros. — Mas só porque sei que meu urso está com fome.

Ele toma a minha boca com um beijo. Um grande beijo molhado. Com cada toque de nossaslínguas, o beijo fica mais selvagem. Nossas bocas pressionam e os nossos dentes batem. Deveestar doendo o lábio machucado, mas ele não parece se importar. Sua língua invade minha boca,acariciando e movendo, entrelaçando, me fazendo gemer.

Meus gemidos são música para seus ouvidos; ele fica inquieto, faminto e gemendo. Suasmãos puxam e levantam a minha camisola, tentando tirá-la, mas em vez disso, forçando o tecidocontra meu corpo, como se ele não pudesse se imaginar deixando minha boca ir para livrar meucorpo das roupas. Como se o beijo fosse muito importante e minhas roupas pudessem se foder.Eu teria rido se não pensasse o mesmo.

Minhas unhas quase imperceptíveis se arrastam pela extensão de suas costas. Agora entendopor que as garotas são loucas por manicure e unhas compridas e sensuais. Eu poderia terenfeitado suas costas com arranhões. Feridas de amor.

Quando a falta de ar se torna um problema, seus lábios descem, úmidos e quentes. Ele estáchupando meu pescoço, pegando a pele entre os dentes, aspirando dentro de sua boca. Isso doeue todo o meu sangue correu para o local, fazendo-o latejar. Abro minha boca para dizer a ele paraparar. Minha mãe vai ver.

Mas então percebo que não estou mais em casa. Estou aqui. Eu sempre esqueço que estoulivre. Apesar da dor no pescoço, sorrio para o teto manchado de água, expondo minha gargantaaos dentes. Ele chupa e suga até minhas coxas tremerem em torno de sua cintura, então ele mesolta antes de lamber a pele com sua língua quente.

— Você tem a minha marca agora, Pixie. Agora o mundo inteiro saberá que você pertence amim. – ele murmura.

— Abel... – Meus quadris saem da cama e esfregam em sua ereção, fazendo-o estremecer.— Agora.

Ele levanta a cabeça e olha para mim com olhos sonolentos e cheios de luxúria. — Tãomandona.

Eu agarro seu cabelo, gemendo seu nome.

Divertido, ele se livra do meu aperto fraco e rasteja pelo meu corpo. Ele alcança minhabarriga e minhas coxas têm que se separar ainda mais para caber na largura de seus ombros. Éuma maravilha que eu não tenha vergonha desta posição, coxas abertas, roupas levantadas,calcinha - calcinha molhada - em exibição. Uma semana atrás eu estaria, mas depois daquelanoite, depois de testemunhar seu desejo no papel, depois de perceber meus próprios desejos eposar para ele nua, eu não estou. Eu nunca posso ser. Não com meu Abel.

Suas mãos ásperas apertam minha camisola ainda mais, deslizando-a para cima até que euesteja nua da cintura para baixo, exceto pela calcinha muito molhada e muito branca. Seus olhosestão fixos nela e seus lábios se curvam. Ele tira uma mão das minhas coxas e desliza na costurada minha calcinha em volta da minha cintura, parando na pequena flor no meio. — Você temuma margarida em sua boceta.

Tenho uma queda por roupas íntimas floridas; ele sabe disso. Ele viu algumas na escola enão deixa de me lembrar o quanto linda ele as acha. Eu gostaria de não estar tão excitada parapoder estreitar meus olhos para seus olhos alegres, como eu costumo fazer. Sendo assim, eu mecontento com um murmurado cale-se, o que o faz sorrir ainda mais. Ele se inclina e dá um beijona flor.

Isso... ele não tinha feito antes e eu pulo um pouco.

Em seguida, ele puxa o elástico da minha calcinha para baixo, para baixo e para baixo, atéque ele sai e meu sexo esteja à mostra. O ar toca meus pelos pubianos molhados e ainda maisúmidos, fazendo-a apertar, e ele testemunha tudo isso enquanto o sol sobe no céu.

Faminto e com tesão, Abel se ajoelha entre minhas coxas e as força ainda mais para longe,até que estou quase abrindo as pernas, sentindo a pressão em meus músculos e agarrando oslençóis. Ele encara o meu núcleo como se nunca fosse conseguir vê-lo novamente, e eu o encaro.

Na outra noite, as coisas aconteceram muito rápido. Eu não tive tempo para observá-lo. Masagora observo. Vou usar minha vida inteira para observá-lo, guardar seu corpo na memória paraque, quando eu morrer, eu o veja aparecer diante dos meus olhos.

Eu começo em seu pescoço, gracioso e barbudo com veias rígidas e um pomo de adão. Umdia desses, vou lamber, provar o seu sabor. Seus ombros são feitos de músculos protuberantes,uma quantidade tensa de força que descem até seus bíceps e antebraços.

Seu colar de prata desce até seu peito, quente e sexy, movendo levemente com a suarespiração. O redor dos seus peitorais são rígidos e esculpidos com pele bronzeada que querorastrear e mapear com minhas unhas. Assim como seu tanquinho. O leve toque de seus pelos nopeito me faz querer acariciar meu nariz antes de enfiá-los na base da sua garganta.

Engulo quando os meus olhos descem para os pelos ligeiramente mais escuros que seguem edesaparecem em sua cueca boxer. Caramba, seu pau está fazendo uma tenda feroz naquele

tecido. Há um monte inteiro lá embaixo. Provavelmente não sou a única garota a pensar isso,mas... como isso sequer vai caber dentro de mim?

— Eu preciso provar sua virgindade antes de tirá-la. – ele murmura, se abaixando, com suacruz de prata oscilando com seus movimentos e atingindo minha fenda.

— Ah, Deus... – gemo, tremendo como se tivesse sido eletrocutada.

Isso foi um sacrilégio. Tão pecaminoso e errado, mas certo pra caralho.

Mas não tenho tempo para pensar nisso porque o Abel dá uma cheirada. Um longo sopro naminha fenda e meu cérebro paralisa. Ele geme com o cheiro e eu juro que sinto essas vibraçõesbem no meu estômago.

— Abel, pare. Isso é nojento.

Ele esfrega o nariz do lado de fora do meu buraco, fazendo minha bunda esfregar contra acama. — Você deveria ter pensado nisso antes, Pixie. – ele cheira minha boceta novamente eolha para mim, esfregando seu queixo com barba por fazer em meus lábios inchados. — Não vouparar agora, não até ter você gozando na minha língua. Vamos ver se consigo colocar minhashabilidades teóricas em prática.

Eu devoro a luxúria nítida em seus olhos. Ele está escuro e corado. Mesmo que ele estejadeitado de bruços, com seu rosto quase enterrado entre minhas pernas, ele parece maior do queeu, esta cama, este quarto até.

Sua primeira lambida é quente e quase me manda para o telhado. É uma coisa boa que nemconsigo me mover porque o Abel está me segurando. Minhas mãos vão para seus ombros e euseguro os seus músculos movendo. A parte plana de sua língua passa de baixo para acimaenquanto ele prova a minha excitação. Ele é guloso em suas lambidas. Elas são grandes e amplase abrangem todo meu núcleo, e toda vez que meu gosto atinge sua língua, ele geme.

Deus, esses sons me deixam tão selvagem quanto a sua língua lambendo. Ele está realmenteme comendo, como se eu fosse uma iguaria ou um alimento que ele está degustando pelaprimeira vez. Mas ele não tem vergonha disso. Ele não está dando lambidas curtas e inseguras.Ele está faminto. Morrendo de fome. Um homem caminhando no deserto por tanto tempo quecada átomo dentro de seu corpo anseia por água. Você não pode pedir a ele para ir devagar. Vocênão pode torturá-lo dando-lhe um gole de cada vez, mesmo que beber tudo de uma vez o deixemal. Então abro minhas pernas ainda mais, os músculos sem uso em minhas coxas, minha bundaaté mesmo, abrindo com força. E eu pressiono meu núcleo em sua boca.

Abel fica louco então. Ele lambe, quase dá um tapa na minha boceta com a língua, como seestivesse com raiva dela. Seus polegares pressionam os dois lados dos meus lábios, segurando-osaté que ele os coloque em sua boca.

— Ah, Deus... eu...

Isso é tão indecente, rude e obsceno. Não tenho mais palavras para isso. Quem faz isso?Enfiar minha boceta inteira dentro de sua boca, chupando-a?

Mesmo quando penso nisso, meu estômago está apertando, vibrando dentro de mim setransformando em algo grande. Inclino minha cabeça para frente e para trás no travesseiro,puxando seu cabelo ou arranhando seus ombros e em tudo o que eu possa colocar minhas mãos.

Acho que não aguento mais. Acho que estarei morta nos próximos cinco segundos. Masnão. O que venho sentindo não é nada comparado ao que sinto agora, neste segundo quandoAbel volta sua atenção para aquela pequena protuberância no topo. Meu clitóris. Ele morde e eugrito. Sua risada curta ecoa no quarto.

Abel acalma a dor com a língua antes de fazer novamente. Desta vez, abafo meu grito notravesseiro e quando abro os olhos, estou olhando para mim mesma.

Ah, merda.

Eu esqueci do espelho. Ele fica ao lado da cama, todo alto e grande e posso me ver e acabeça dourada de Abel nele. Posso ver meu cabelo bagunçado e desgrenhado, espalhado. Minhacamisola está entreaberta, revelando o topo dos meus seios, vermelho e arfante. Vejo minhasmãos em seus cabelos, empurrando-o, puxando-o para perto. Minhas coxas estão abertas etremendo, uma jogada sobre seu ombro nu, a outra indo direto para o final do colchão.

A cabeça de Abel está se movendo, para cima e para baixo, de um lado para o outro. Isso énojento. É como eu vi animais comerem sua comida, com naturalidade, ou talvez pessoas nostempos antigos. O primeiro homem pode ter comido sua comida dessa maneira. Ele deve terencontrado no chão e caído sobre ela. Então ele deve ter a tomado, lambido e engolido inteiro,sem usar as mãos.

Mas ele esfregou sua pélvis na terra? Ele fodeu o chão em êxtase por finalmente provar algotão bom?

Não, eu não penso assim. Não acho que alguém fez o que Abel está fazendo agora. Ele estátão excitado, tão envolvido que está se esfregando na cama. Posso ver a sua bunda durinha semovendo, esfregando no colchão.

A imagem me deixa louca. Tão louca que estou à beira do orgasmo. Só que este vai sergrande e explosivo.

— Abel... – eu gemo alto, provavelmente soando como o casal ao lado.

Então, sinto um desconforto e ouço um palavrão. — Porra, sim.

O desconforto aumenta e eu percebo que Abel está enfiando o dedo - dois dedos, três -dentro do meu úmido núcleo quente e é isso. É quando o jogo acaba e eu caio. E que quedagloriosa é esta. Minhas coxas estão tremendo enquanto o meu estômago está todo agitado eapertado, e estou arqueada em direção ao telhado. Meus seios apontam para o céu, enquanto elediz um palavrão em meu canal pulsante e eu gemo seu nome repetidamente. Se isso não éreligião, então não sei o que é. Se isso não for a coisa mais pura, então não quero viver nestemundo.

Volto para a terra e sinto o colchão nas minhas costas suadas quando Abel se afasta. Suaboca está molhada e os lábios brilhando com a minha excitação. Ele está ofegante. Cada

respiração libera um resmungo. Seus olhos estão todos escuros agora. Escuros e vazios dequalquer emoção, exceto luxúria. Como os olhos de um demônio. Um arrepio percorre meucorpo com o estado em que ele está agora.

Ele fica em cima de mim e tira o short. Tudo o que posso fazer é observá-lo e se contorcerna cama quando seu pau aparece.

Ah, meu Jesus amado.

É grande. Eu sabia que seria. Eu sabia. Mas... Ele é coroado com uma coloração furiosa e háuma veia correndo na parte de baixo. Toda a tonalidade de seu pau está escura, com raiva e comaparência dolorosa. Abel agarra a base, bombeia para cima e para baixo, depois aperta a partesuperior, gemendo com a cabeça jogada para trás.

Quando ele abre os olhos, ele sussurra: — Tenho que fazer isso. Ou eu vou morrer, Pixie.

Ele cai de joelhos novamente, e minha mão se estende para tocar seu peito. Ah, Deus, eleestá queimando, com o seu coração batendo descontroladamente. Eu o acalmo com a mão, passoa minha palma em círculos e ele estremece. A mão segurando seu pau começa a se mover,movendo para cima e para baixo, rapidamente, até que tudo que vejo é um borrão.

— Você está bem na minha frente e estou tão maluco que mal posso esperar. – ele diz.

Por que isso é tão excitante? Sua necessidade por mim, o seu desespero.

Eu me levanto então e tiro minha camisola inútil antes de me deitar novamente. Tudo quequero é que ele goze e quero ajudá-lo, talvez oferecer meu corpo para que seu esperma caia.Pressiono minhas mãos onde eu mais preciso, onde sei que ele vai adorar vê-las, como as fotosque ele desenhou e as que tirou: meu sexo ainda pulsante e meus seios. Com uma mão, segurominha boceta e com a outra, coloco a palma em um monte macio. Eu gemo com o prazer queisso dá. Meus seios estão tão doloridos, todos inchados, pesados e sensíveis, e meu núcleo aindaestá disparando minúsculas ondas de orgasmo.

Isso é demais para o meu Abel. A imagem vergonhosa que faço. Com uma última bombadano seu pau, ele goza. Uma série de palavrões escapa de seus lábios enquanto esperma espumosojorra de seu eixo, espirrando sobre o meu corpo nu: meus seios, minha garganta e meu estômago.É quente e grudento e tem um cheiro almiscarado distinto.

Ele goza e goza até ficar mole, tanto quanto pode com aquele corpo másculo. Ele abre osolhos e olha para mim. Dou a ele um pequeno sorriso e passo meus dedos ao longo dos rastros docreme que ele me deu. Eu quero provar, e eu provo. Eu giro meu dedo nele e coloco na minhaboca. O sabor picante explode na minha língua e eu gemo, fechando os olhos, me sentindosonolenta e satisfeita.

Agora estou completa. Agora posso talvez descansar um pouco antes de me entregar a ele.

— Porra, você é a coisa mais linda que já vi. – diz ele com admiração e eu tenho que rir. Eunão sou tão bonita. É Abel quem me faz isso.

Mantenho meus braços abertos e ele se encaixa sobre o meu corpo antes de me beijar. Nós

nos beijamos por muito tempo, beijos sutis e lentos. Com a boca aberta e molhada. Sinto que éassim que as pessoas se beijam aos domingos, levando mais tempo, na cama, sem pressa de ir àigreja e confessar seus pecados. Porque os beijos já os absolveram de todos os pecados quecometeram. Beijos molhados batizaram todos eles, de alguma forma.

É assim que caí no sono nesta manhã de domingo. Batizada e absolvida de todos os meuspecados.

No dia seguinte, Abel saiu antes de eu acordar.

Não posso acreditar que dormi sem parar por cerca de um dia. Não, na verdade eu não possoacreditar que desmaiei pouco antes de fazermos sexo.

Depois daquele orgasmo intenso, eu mal conseguia manter meus olhos abertos para osbeijos de Abel. Nós dois dormimos e antes que eu percebesse, um estômago roncando estava meacordando. Comemos pizza. Novamente. Então ele me alimentou com Toblerones e eu prometi aele que ficaria acordada. Eu estava determinada a perder minha virgindade - nossas virgindades.Infelizmente, adormeci em seu peito. Lembro-me de seu corpo tremendo de tanto rir e dele beijarmeu cabelo antes de cair no sono agarrado à mim.

No travesseiro, encontro um bilhete dele. Isso me faz sorrir, me lembrando das cartinhas deamor que ele deixava para mim no meu armário, até que eu as lesse.

Estou indo com o Ethan para seu estúdio. Fique aqui. Eu volto em breve.

PS: Você ronca durante o sono, Pixie.

— Eu não. – digo para o quarto vazio, franzindo a testa. Idiota.

Ah bem. Eu não posso ficar brava quando estou tão animada por ele. Eu sei que ele vaiconseguir o emprego. Não há outra opção com o quanto talentoso ele é. Embora eu me sinta umpouco triste porque, quando finalmente acordo, ele saiu.

Eu saio da cama, com meu corpo dolorido e tenso de tanto dormir. Faço minhas coisas nobanheiro. Minha barriga ronca me dizendo que preciso comer algo antes de descobrir meu planopara hoje. Eu vou para a cozinha e então saio do meu corpo, gritando. Alguém já está lá - uma

garota. Ela está vestindo um roupão de banho, enquanto come um biscoito e bebe cerveja.

Por uma fração de segundo, acho o pior. Ela é uma ladra que está aqui para nos roubar, oumelhor, Ethan, já que este é o apartamento dele. Droga. Sky seria ótima em uma situação comoessa. Eu me divirto com seus estilingues, mas aquela garota tem uma excelente mira. Deus, eusinto falta dela.

Foco!

Tento parecer intimidante, mas a garota simplesmente sorri para mim, dando uma mordidaem seu biscoito e engolindo-o com sua cerveja. — Ei. Eu sou Blu. Estou apenas esperando porEthan. Você é nova?

Ela leva isso na esportiva, minha aparição repentina. Eu não sei o que pensar. — Ah. Hum,mais ou menos. – Ela levanta uma sobrancelha curiosa e não ameaçadora e, por algum motivo,sou compelida a explicar: — Quer dizer, na cidade.

— Sério? Você acabou de se mudar? – Com o meu aceno, ela me olha de cima a baixo e mesinto constrangida. — Uau. Amei seu cabelo. Essa é a cor verdadeira? Tudo amarelo?

Eu passo os dedos pelas mechas do meu cabelo amarelo, inquieta. — Hum, sim. Sim, ele é.

— Sem chance. Puxa, as loiras são tão populares. As pessoas adoram. Tipo, eu não possonem dizer quanto. Então, onde ele encontrou você?

— Onde quem me encontrou?

Ela sorri para mim, toda calma. — Ethan.

Ou essa garota é superesquisita ou não tenho ideia de como as pessoas falam na cidadegrande. — Estou aqui com o Abel. Amigo do Ethan. Ele está nos deixando ficar em seuapartamento até encontrarmos nosso próprio lugar. Hum, eu sou E... Você pode me chamar dePixie.

— Nome bonito. – ela sorri. — Biscoito?

— Claro. – Grata, pego a sua oferta e devoro em exatamente zero vírgula cinco segundos.

— Então você acabou de se mudar para cá? Com seu namorado, você disse?

Colocar algo no estômago já está começando a me fazer sentir melhor. — Ele é meu noivo esim. Só.

— Hã. Desculpe. Ethan não disse nada.

— Sim, foi meio repentino. Não estávamos planejando nos mudar. – Ou fugir. Quando elaparece curiosa de novo, eu meio que mudo de assunto. — Na verdade, eles estão juntos agora.Eles foram para o estúdio do Ethan. Abel também é fotógrafo, e Ethan disse que poderia tentarconseguir um emprego para ele.

Apesar da minha cautela, eu sorrio. Eu não consigo parar de sorrir. Provavelmente nuncairei. Quem pode quando estão apaixonadas por um cara como o Abel? A marca em meu pescoço

lateja. Eu aperto minhas coxas pensando sobre a maneira intensa como ele me devorou. Tãointenso que desmaiei. Grande jogada, essa.

— Não brinca. Um fotógrafo?

Bem, lá se vai meu sorriso. Não gosto da expressão dela, surpresa e meio condescendente.Ela acha que Abel é inferior de alguma forma ou algo assim?

— Sim, ele é. – eu reluto. — Na verdade, ele é um dos melhores fotógrafos que conheço. –Honestamente, Abel é o único fotógrafo que conheço, mas falo a verdade. Ele é o melhor, ou senão for, será.

Depois de me observar por um momento, ela levanta as mãos em sinal de rendição. — Eunão quis dizer nada com isso. Tenho certeza de que Abel é ótimo. Eu só... – Ela procura aspalavras e eu estreito meus olhos para ela. — Fiquei um pouco surpresa quando você disse queEthan ia arranjar um emprego para ele. Isso é tudo.

— Por quê? – eu estou desconfiada. — Você acha que ele está mentindo? Ethan?

Ela ri. — Não. Não. Ethan é legal. Eu só... eu não esperava ver você aqui e descobrir queEthan havia saído. Eu deveria me encontrar com ele.

Eu faço um som evasivo. Eu não gosto dela. Eu sinto que ela está escondendo algo. Ela estáaqui para roubar do Ethan, afinal? Porque quem diabos vai encontrar alguém de roupão? Estouprestes a perguntar isso a ela quando seu celular toca e seu foco muda. Aproveito o momentopara observar o seu rosto maquiado, os olhos castanhos esfumaçados, batom vermelho e cabelosescuros ondulados. Ela é bonita, eu acho, alta e atlética, como uma modelo e diferente de mim.Acho que ela é um pouco mais velha do que eu também. Talvez em seus vinte e poucos anos.

Por fim, ela ergueu os olhos do celular e me deu um sorriso calmo. — Era o Ethan. Ele seesqueceu de me dizer que nosso compromisso foi cancelado. – ela termina o último pedaço deseu biscoito. — Bom, de qualquer forma. Eu vou ir agora. Foi bom conhecê-la. Espero quegostem da cidade. É um ótimo lugar para se viver.

Ela se levanta e pega sua bolsa de onde estava na bancada, me dizendo que ela precisa usaro banheiro por um segundo. Eu não posso exatamente pará-la; não é minha casa. Enquanto elasai, procuro café e algumas torradas. Estou tentando ligar a máquina de café e me perguntandosobre a estranha presença da garota, quando ouço passos e encontro Blu na sala de estar, com umvestido marrom.

É quando entendo. Blu é uma modelo, alguém que Ethan conheceu em seu trabalho. E elaestava aqui para fazer sexo com ele. É isso aí. Esse é todo o segredo. Isso explica o roupão agora.Ela provavelmente estava nua por baixo, esperando por Ethan, mas em vez disso, me encontrou.

Agora me sinto mal por ela. Ele deveria ter dito a ela que não estaria aqui para o seucompromisso. Quem diabos chama isso de um compromisso, a propósito?

Algo em tudo isso parece suspeito para mim.

— Foi muito bom conhecê-la. – ela diz novamente.

— Sim, eu também.

— Ouça, sei que você é nova e sinto que começamos com o pé esquerdo. Mas se vocêprecisar de ajuda ou algo assim, é só me avisar.

— Sim. Ok, obrigada. – Ela sorri e com um aceno final, se preparando para sair, quandopenso em algo. — Na verdade, você pode me dizer onde posso comprar uma câmera?

Uma hora depois, equipada com instruções da Blu, me aventuro lá fora sozinha, carregandominha mochila. Há uma loja não muito longe daqui que posso comprar uma câmera boa edecente. Espero encontrar a que Abel goste e que caiba no meu orçamento, porque tenho apenasuma quantidade limitada de dinheiro. No entanto, não é meu dinheiro. Peguei da bolsa da minhamãe na noite em que fugi.

Sim, roubei o dinheiro.

Eu estava descendo as escadas, tentando não fazer barulho, e então o raio caiu e iluminou abolsa que estava sobre a mesa no hall de entrada. Eu não pensei, simplesmente agi. Estendi amão e peguei todo o dinheiro que estava lá.

Duas vezes agora, Abel perdeu sua câmera por minha causa. Ele perdeu a câmera da mãeporque precisava me comprar um celular, que ainda carrego comigo. Eu não podia deixá-loperder a segunda que comprou com seu próprio dinheiro suado.

Sim, eu roubei. Queime-me na fogueira, se quiser. Foi meu último foda-se para meus pais eminha primeira tentativa de cuidar do meu Abel.

Eu encontro a loja facilmente. Ela está localizada a apenas uma quadra de onde moramos.Ao longo dos anos, Abel conversou muito sobre as câmeras e seu funcionamento interno e outrascoisas, então estou bastante familiarizada com as coisas. Eu escolhi aquela que sei que ele ama,mas tinha uma versão mais antiga: Canon EOS Rebel T6.

Após a compra, resolvo explorar um pouco o bairro. Eu sei que não vamos viver aqui pormuito tempo, mas ainda assim, este é meu primeiro dia em uma nova cidade. Sinceramente: nãosou boa com direções. Em absoluto. Eu me viro facilmente e não consigo descobrir o norte e osul e qualquer coisa. Mas sinto que vou ficar bem porque olhe para a quantidade de pessoas nestelugar. Posso facilmente perguntar a alguém se me perder, certo? Fácil, fácil. Além disso, comovou encontrar histórias e aventuras se estou enfiada dentro do apartamento?

Eu começo a andar e observar. As ruas e calçadas que eu vejo estão supermovimentadas. Aslojas estão praticamente rastejando umas sobre as outras. Com o grande fluxo de pessoas, édifícil me mover sem esbarrar em ninguém. Algumas ruas estão cheias de sacos de lixo pretos e acalçada está cheia de lixo.

Mas mesmo assim, adoro as cores, a energia, as buzinas altas e as sílabas desconhecidasenquanto as pessoas falam. Eu paro em uma loja que vende lanternas chinesas vermelhasbrilhantes penduradas. Puxa, elas são tão bonitas. Compro uma para o nosso quarto.

Amo o fato de que aqui as pessoas não olham para outras pessoas. Elas não têm tempo.Ninguém aponta para as duas garotas se beijando no canto, perto da lotérica. Em Prophetstown,

aquelas duas garotas teriam sido enviadas para se confessar com o padre Knight. Na verdade,nem acho que nós temos lésbicas lá. Talvez sim, mas as pessoas simplesmente não demonstram.Eu não as culpo.

Meus pés param quando tropeço em uma placa de Temos vaga na porta de vidro de um dosrestaurantes. Não consigo ler o nome que está escrito no toldo amarelo, mas acho que não vaidoer entrar e dar uma olhada.

O homem com quem me encontro é totalmente rabugento e se autodenomina Milo. Ele éminúsculo, olhar severo e cabelo escuro, e está procurando uma garçonete. Ele me diz que nãopode me contratar porque tenho zero experiência. Mas sou persistente. Sinto que preciso fazerisso, embora ser garçonete não seja o emprego dos meus sonhos. Não posso deixar que Abel façatudo. Somos um time agora. E esta é minha primeira chance de independência - eu não possovoltar atrás sem lutar.

Acontece que ser persistente funciona porque saí do restaurante com meu primeiro emprego.

Fico sob o céu ensolarado e olho para cima, sorrindo. Tudo é perfeito. E por que não seria?Nós vimos muito. Nós sofremos muito. É a nossa vez agora. Nós merecemos toda a felicidade domundo, não é?

Quando eu olho para baixo, porém, minha respiração fica presa. Lá, na minha frente,andando pela rua, está meu pai. Seu cabelo escuro se destaca na multidão, e ele é o únicovestindo uma camisa xadrez. Ele não me viu ainda, mas ao vê-lo, uma grande pontada atingemeu peito. Meu coração incha, batendo, batendo, batendo. Sinto falta dele. Muita. Sinto falta deseu rosto gentil, de sua mão reconfortante e do fato de que passei a adorar livros e históriasporque ele costumava ler para mim quando eu era pequena.

Dou um passo em direção a ele antes de me recompor. Eu não posso estar sentindo faltadele. Eu não posso estar pensando nele. Veja o que ele fez comigo, com o Abel. Ele não é maismeu pai. Não posso deixar ele me ver. Como ele me encontrou?

Só então ele se vira em minha direção e eu vou embora. Eu começo a correr. Não sei paraonde estou indo ou como estou abrindo caminho para mim mesma no meio da multidão depessoas. Tudo que sei é que preciso fugir, o mais longe possível. Eu não posso voltar. Eu nãoposso voltar para aquela cidade. Se eles me pegarem, nunca mais me deixarão ver Abel. Eles vãome prender e prendê-lo até.

Ah, Deus. Eu não posso... eu não posso deixar isso acontecer.

Eu não me importo com o que eles façam comigo, mas eu nunca vou deixá-los tocar no meuAbel novamente. Eles já o torturaram o suficiente ao longo dos anos. Ele não merece mais essasasneiras. Ele não merece se sentir inferior do que ninguém, menos do que poderoso. Porque elenão é.

Minha visão está embaçada e estou ofegante, pronta para entrar em colapso, mas de algumaforma minha raiva e medo me mantêm de pé. Até que esbarro em alguém e caio no chão. Oconcreto atinge minha bunda e qualquer respiração que eu tinha dentro de mim retorna.

A pessoa que eu esbarrei é uma mulher de cabelos grisalhos e um carrinho de lavanderia,cujas coisas foram jogadas por causa do impacto. Foi como um alerta, este estrondo. É como seeu pudesse respirar novamente após a perda inicial de ar. Ele não era meu pai, eu percebo. Nãoera. O homem que se parecia com ele era muito mais jovem. Seu cabelo era escuro como o domeu pai, mas não era um pouco grisalho. O cabelo do meu pai tem fios de prateados, semmencionar que ele é muito mais alto do que o homem que vi na rua.

Deus, eu sou uma covarde.

Enxugo minhas lágrimas e me levanto, gemendo, e ajudo a senhora. Ela está resmungandoalgo no que presumo ser mandarim e quando todas as suas coisas estão de volta, ela me dá umolhar furioso e sai andando.

Ótimo. Simplesmente ótimo.

Quando vou perceber que estou livre? Que eu fugi. Eu fugi. Estou aqui agora. Estou comAbel e em breve nos casaremos. Uma vez que estamos, ninguém pode nos separar. Giro o anelem meu dedo, sentindo falta dele com uma dor.

Só quero tocá-lo uma vez, ter certeza de que isso é real e que tudo ficará bem.

Talvez ele já saiba disso. Talvez ele possa sentir o quanto sinto falta dele porque meuminúsculo celular começa a tocar e é ele.

— Abel? – eu ofego no celular. Droga. Eu preciso me controlar. Eu não quero soar chorona.

Há um minuto de silêncio. — Pixie. O... o que há de errado?

Solto um suspiro e pressiono a mão no meu peito, tentando acalmar os meus batimentoscardíacos. — Nada.

Que maneira de ser convincente.

Ele resmunga. Claro que sim. Ele percebeu. — Pixie, o que há de errado? Onde diabos vocêestá?

— Em casa.

— Pixie. – ele adverte.

Eu me encolho com minha falta de habilidade para mentir, então olho para cima, tentandoler as placas. Nada parece familiar. Bem, é compreensível; nada nesta cidade é familiar paramim. Mas nem acho que estou mais em Chinatown, ou talvez esteja; Eu não posso dizer. Quandopensei em sair, não levei em consideração o fato de que ficaria tonta e em pânico, e que minhacapacidade de ler ficaria comprometida.

— Eu acho que... eu estou meio perdida.

— O que? Que porra você está falando? Como diabos você está perdida?

— Hum. Eu vim dar uma volta. Eu só queria explorar a vizinhança e...

— E o que?

Eu engulo; Não vou contar a ele sobre meu alarme falso. Isso não importa agora. Meu painão está aqui. Não há perigo.

— Eu acho que acabei de virar ou algo assim. Mas...

— Jesus Cristo. Eu não disse para você ficar parada, Pixie? Você não sabe nada sobre estacidade. Você não tem ideia de para onde está indo. Você é ruim para direções. E você nãopoderia...

— Você pode parar de ser um idiota por um segundo? – eu o interrompi. — Posso encontrarmeu caminho para casa, ok? Você não tem que me lembrar do quanto incapaz eu sou.

Lágrimas surgem nos meus olhos com seu tom áspero. Admito que fui estúpida, mas nãoqueria estar trancada dentro de quatro paredes quando poderia ir a qualquer lugar que euquisesse. Ninguém está me dizendo o que fazer, como usar meu cabelo, como me vestir ouquando voltar para casa.

Outro resmungo. — Olhe as placas. Diga-me em que rua você está. Tem que haver algo aoseu redor.

Fungando, olho para cima de novo, desta vez com uma respiração calma. Os raios do solcegam meus olhos e tenho que levantar minha mão livre para bloquear o clarão. Vejo uma placaverde neon que diz Baxter Street com provavelmente sua tradução chinesa embaixo. Ok, entãoeu ainda estou em Chinatown. — Baxter Street. Eu acho, eu, um... – Há um poste e um bancocom pessoas sentadas, bem em frente de onde estou encostada na parede de tijolos. — Acho quetem um ponto de ônibus bem perto de mim.

— Ok. Ótimo. Fique bem aí. Estou indo te buscar.

— Você não tem que vir. Eu disse que posso...

— Pixie? Fique. Parada.

A linha fica muda e eu encosto na parede quente, enxugando as minhas lágrimas. Eu o odeiopor ser tão mandão. Mas também o amo por estar vindo me buscar.

Ah, quem diabos estou enganando? Eu simplesmente o amo e agora, quero seus braços emvolta de mim. Quero esquecer o que vi, o que minha mente conjurou.

Não sei quanto tempo se passou antes de ver Abel do outro lado da rua. Fico de pé com aspernas cansadas e trêmulas, colocando a mochila no ombro. Meu alívio é enorme quando meaproximo da faixa de pedestres, parando diretamente em sua linha de visão.

Abel parece louco. Ele é o cara mais alto e mais largo da multidão e está caminhando emminha direção com um único propósito, embora não seja sua vez de atravessar a rua.

Percebo um táxi amarelo vindo em sua direção e balanço a cabeça, gritando seu nome e digopara voltar. Mas ele não escuta. Ele continua andando, como se fosse o táxi - a caixa de metalandando em alta velocidade - que deveria ter medo de seus músculos e ossos.

O táxi passa por ele, quase tocando em sua calça jeans, buzinando como um louco, quando

ele me alcança. Ele não se incomoda com o fato de que algo poderia ter acontecido com eleagora. Que ele poderia ter sido atropelado.

Meu coração está batendo forte, acelerando, pressionando contra minha caixa torácica, e eufaço o mesmo. Eu empurro o peito de Abel com todo meu poder, com toda a força dentro demim.

— Você está louco? O que você tem? Você poderia ter morrido. – eu grito. — O que vocêestava pensando?

Suas narinas estão infladas enquanto ele olha para mim, todo zangado e furioso. Ele agarraos meu bíceps e me puxa para seu peito, esmagando nossos corpos, fazendo-os colidir e fazendodoer. — Eu estava pensando que a minha Pixie estava em perigo. Estava pensando que ela estavaperdida e com medo quando eu disse especificamente a ela para ficar no apartamento.

Ranjo os meus dentes. — Eu estava bem. Eu estava lidando com isso.

— Estava? – ele murmura. — Então por que diabos seus olhos estão vermelhos? Por quediabos você estava chorando?

— Você está realmente bravo comigo porque eu estava chorando?

Ele pressiona sua testa na minha, com seus dedos cravando em minha pele. — Não, estoucom raiva de você porque depois de tudo, de cada maldita coisa, ainda estou com medo deperder você. Estou com medo de perder você e você simplesmente não se importa.

Eu balanço minha cabeça com a agonia em sua voz. — Abel...

— Você não entende, não é? Não entende o que passei, sentado naquela cela, pensando quenunca mais veria você. Seus punhos não me machucaram tanto quanto o simples pensamento denunca mais te ver. Aquilo foi um bombardeio, Pixie. Um maldito bombardeio.

Sua voz gutural traz minhas lágrimas novamente e eu me levanto e envolvo meus braços emvolta de seus ombros, fazendo dele meu mundo. O resto é apenas um vazio. Eu não ligo paraisso.

— Sinto muito. – sussurro em sua mandíbula inchada e machucada.

— Seu pai veio até mim depois que eles me soltaram no meio da noite. Eu tinha acabado desair e ele estava lá. Ele me disse que o que eu fiz com a câmera, as fotos... Ele disse que se eurealmente te amasse, nunca teria pedido que fizesse aquilo por mim. Aquilo não foi nobre.Aquilo não foi divino. Ele disse que é assim que os monstros amam. Monstros tiram e tiram, maso que eu sabia. Meus pais fizeram a mesma coisa. Eles não pensaram em ninguém além de simesmos. Eles se renderam aos seus desejos errôneos. – ele engole, com os seus olhos vermelhospassando rapidamente pelo meu rosto. — Ele me disse para te deixar em paz, sair da cidade. Nãome lembro de alguma vez ter ficado com tanta raiva ou medo. Eu estava com tanto medo, Pixie.Quer saber por quê?

— Por quê?

— Porque eu sabia que se deixasse aquela cidade sozinho, eu nunca conseguiria.

— Abel... – eu sussurro seu nome, incapaz de formar palavras e incapaz de formarpensamentos.

— Eu sabia que ia morrer. Sabia que largaria o volante, sairia da estrada e bateria em umaárvore. Exatamente como meus pais fizeram. Eu sabia que a história se repetiria se eu nuncamais voltasse a vê-la.

Eu sou uma bobona chorona, mas de alguma forma consigo dizer: — Apenas me leve paracasa, ok? Agora mesmo. Por favor.

Abel me carrega para casa, com meus membros envolvendo seu corpo grande e musculoso.

As pessoas podem estar nos dando olhares estranhos enquanto andamos pelas ruas, mas nãome importo. Eu não me importo com nada além dele e de mim. Vou levar muito tempo para merecuperar de sua confissão. Eu o aperto toda vez que penso nela. Não é estranho que nossospensamentos sejam os mesmos? Na noite em que fugi, pensei a mesma coisa: não poderia deixara história se repetir. Eu não queria acabar como meus pais, e ele estava com medo de acabarcomo os dele.

Eu me pergunto quantos filhos e filhas carregam o fardo de seus pais. Eu me pergunto sepassaremos os mesmos fardos para os filhos que teremos.

Meus pensamentos rebeldes desaparecem assim que entramos no apartamento estranho eespelhado. Abel chuta a porta com um estrondo que me faz rir. Parece muito com o primeiro somque ele fez quando colidiu em minha vida, com a batida da porta de sua caminhonete.

Um big bang.

Isso faz meu estômago apertar e meu coração bater mais rápido, muito mais rápido. Quandoele me coloca no chão, sei o que vai acontecer. Com este big bang, não serei mais minha. Nemmesmo uma única parte de mim pertencerá a mim mesma.

Eu serei toda dele. Do Abel.

Isso não me assusta. Eu sei que posso lidar com isso. Eu sei que posso me perder nele semreservas. Estou pronta. Já estou pronta há algum tempo.

Estamos parados no meio do quarto, com Abel olhando para mim e sua mão em meu cabelo,puxando minha cabeça para trás. Estou pressionada contra ele, cada contorno rígido de seu corpopressionando os contornos suaves do meu.

Eu sinto o sabor do meu coração em minha língua, batendo freneticamente, loucamente,pavorosamente, enquanto eu coloco minha mão em sua mandíbula, traçando o mesmo hematomanovamente. Não sei por que essa contusão em particular me incomoda tanto. Pode ser porque é

maior, está inchada e tem a aparência mais dolorida.

— Você é louco, você sabe disso, não é? Você não pode pensar assim. Você não podepensar em bater seu carro em uma árvore ou algo assim.

Ele sorri, então. — Você não precisa sentir pena de mim, Pixie. Não com o que estouprestes a fazer.

— O que você está prestes a fazer?

Curvando-se, ele lambe o contorno dos meus lábios trêmulos. — Estou prestes a pegar essaúltima parte de você. Eu gostaria de ser nobre, mas não sou. Não quando se trata de você. Eu voufazer você minha e ser seu no processo.

Eu o beijo gentilmente. — Pegue. Isso é seu de qualquer maneira.

Seus lábios descem em mim, com seus beijos molhados, urgentes e esmagadores. Não hásutileza neles, apenas desespero. Suas mãos estão por toda parte, na minha cintura, agarrandomeu vestido, empurrando-o para cima, agarrando minha bunda, apertando a polpa. Eu gemo como quanto forte ele me aperta, como esfrega meu núcleo sobre sua ereção. Mas Abel precisa demais. Mais contato e mais fricção. Apenas mais. Então, ele me puxa pela bunda e eu envolvominhas coxas em volta de sua cintura.

Ofegante, ele interrompe o beijo e apenas me encara. Ele passa seus longos dedos da minhatesta até meus lábios. Eu suspiro sob seu toque, cedendo, arqueando meu pescoço.

— Como você ficou tão bonita? – Há admiração em sua voz que atinge profundamenteminha alma.

— Para você.

Ele dá um beijo forte na minha boca e me carrega para o sofá, e eu puxo seu cabelo. —Abel, vamos para o nosso quarto.

— Não.

— O que? Não podemos fazer isso aqui. E se... – eu paro quando ele se inclina e me deita nosofá. Eu imediatamente tento me levantar, mas ele me supera em um flash.

— E se o quê?

— E se Ethan voltar para casa?

— E se o quê?

Eu o empurro, ou tento; ele não se move. — Ele vai nos ver.

— Eu escondi o meu amor por você por anos, Pixie. O que te faz pensar que me importo seele nos vê ou não? Na verdade, deixe o mundo ver. Deixe a porra do universo inteiro ver oquanto eu te amo. – ele chupa meu lábio inferior. — E como eu faço você minha.

Meus olhos ficam arregalados em choque, mesmo quando uma forte emoção percorreatravés de mim, umedecendo minha calcinha. — I... isso é loucura. – eu não sei quantas vezes

pensei ou disse isso desde que conheci Abel, mas caramba, isso é superlouco.

— Eu sei. – ele se move contra mim e eu não tenho escolha a não ser abrir minhas pernaspara acomodá-lo. — Você me deixaria fazer isso, entretanto? Você me deixaria te foder aqui,mesmo sabendo que alguém poderia nos flagrar?

— E se nós trancarmos a porta?

— Não. – ele murmura, mordendo a pele da minha clavícula, me fazendo gemer. — Qual éa diversão nisso? Qual é a graça de amar atrás de portas trancadas quando podemos fazer issoabertamente?

Eu agarro seus ombros e sua camisa, só não sei se o estou trazendo para mais perto ouempurrando-o para longe. Não que ele vá a lugar algum. — Este sofá é realmente desconfortável.– eu argumento, sem entusiasmo. Não é, não realmente.

Abel abaixa as alças do meu vestido; ele é justo, que cruza meu ombro e braço. Mas elebeija a pele exposta, fazendo-me esquecer a leve dor disso.

— É? Você me odiaria se eu dissesse que não me importo? – ele sopra uma lufada de arquente no meu peito e me prende com o olhar. — Eu não me importo, Pixie. Eu não me importose a porta não estiver trancada. Não me importo que meu amigo de infância possa nos flagrar.Tudo que me importa é isso. – ele aperta meu peito e eu arqueio para ele.

Ele se empurra para o lado, levanta meu vestido até a minha cintura e passa o polegar pelolimite da minha calcinha. Ele sorri ao ver a flor, um girassol hoje, e não consigo achar graça emficar brava com ele por fazer graça.

— Então, qual é o veredito, baby? – ele beija a pulsação na lateral do meu pescoço. —Posso foder você aqui?

Tenho certeza que ele pode sentir minha resposta antes mesmo de eu dizer. Cada parte daminha pele está quente, com cada átomo excitado. Mesmo que haja um nervosismo, isso éabafado pela batida emocionante do meu coração. A emoção de ser descoberta, de ser observada.

— Si... sim.

— Porra, sim.

Sorrindo, ele me puxa para que ambos estejamos de pé. Estou um pouco atordoada com aluxúria correndo em minhas veias em vez de sangue. Mas ele cuida de mim. Ele abre o zíper domeu vestido e o abaixa, o tempo todo beijando os centímetros de pele à medida que fica exposta.Quando estou nua, ele gentilmente me deita no sofá que parecia mais áspero e duro um minutoantes. Mas agora, parece que vou me entregar ao garoto que amo.

Ele faz um trabalho rápido com suas roupas, ficando nu em algum momento. À medida queele fica em cima de mim, percebo que seu corpo é um reino; cada detalhe, cada músculo é bempensado. É um universo em si, que me cobre de cima a baixo.

Encontramos-nos no meio em nosso beijo. Beijos desconexos, molhados e desconexos. Elessão selvagens, caóticos e confusos. Mas, acima de tudo, eles são gananciosos.

Eles me fazem ansiar por coisas. Eles me fazem desejar seu pau. Dentro de mim. Eles mefazem doer, embora eu saiba que a dor por vir é ainda maior. Isso vai doer. Ele vai me fazersangrar, mas tudo bem.

Eu arqueio meus quadris e me esfrego contra sua ereção, deslizando para cima, com osnossos membros escorregando com o suor. Cada estocada de seu eixo sobre o meu sexo medeixa mais perfeita, mais úmida, até que estou encontrando seus impulsos com impulsospróprios. Abel diz um palavrão na minha boca, pressionando nossas testas juntas, e eu sinto suaporra.

— Eu te amo. – eu respiro, esperando que de alguma forma minhas palavras se fundam emsua corrente sanguínea e ele nunca tenha que pensar em estar sozinho, impotente ou com medo.

Sua mandíbula aperta enquanto seus olhos escuros brilham com a emoção. Ele coloca a mãoem cada lado meu, levantando-se. O suor faz com que cada canto de seu corpo brilhe e sedestaque totalmente. Abro minhas pernas - tanto quanto posso, dado o espaço apertado do sofá -enquanto ele se ajoelha entre elas e alinha seu pau pulsante em minha boceta.

Nós dois observamos aonde ele vai se juntar a mim. Ainda não consigo acreditar que elegosta de mim não depilada. E eu não posso acreditar o quanto isso é excitante.

Em um movimento completamente obsceno, Abel lambe a palma da mão e lubrifica seueixo, misturando a minha umidade com sua saliva. Mas eu não acho que ele vai precisar dequalquer lubrificante com o ritmo que o meu núcleo está indo, escorrendo a minha lubrificaçãogrudenta. Estou manchando este sofá com meu gozo.

Os tendões de seu pulso se contraem quando ele pressiona minha abertura com a cabeça deseu pau e eu me esqueço de respirar, ficando tensa. Seu olhar colide com o meu enquanto eletenta pressionar novamente. E novamente, eu aperto.

Abel resmunga, como se estivesse com raiva de mim. Com raiva de quanto pequena eu sou.Depois de anos de espera, não vou deixá-lo entrar. Irracionalmente, penso, e se nãoencaixarmos? E se todo esse desejo e angústia acabou sendo em vão? Somos incompatíveis damaneira mais natural. Quanto cruel seria isso? Quanto cruel seria Deus se Ele tirasse essa únicacoisa de nós? Talvez Ele nos amaldiçoou com a luxúria transbordante apenas para nuncasatisfazê-la.

Mas todos os pensamentos deprimentes desaparecem quando sinto o polegar de Abelbrincando com meu clitóris. Ele circula, uma, duas, três vezes, até que eu perco a conta e estoumovendo meus quadris porque é tão bom. Sinto meu canal ficar todo molhado e quente, e entãovem uma forte pressão, alertando-me que Abel conseguiu rompê-lo.

Eu gemo. De alívio. De dor. Na verdade, a dor nunca foi tão boa. A dor nunca me fez sentirtão viva.

Meus ruídos são abafados pelo gemido de Abel. É bruto e excitado, semelhante à sua voz.— Ah, isso é tão... – ele fecha os olhos com força antes de abri-los; eles parecem bêbados. —Tão bom pra caralho.

Os lábios do meu buraco parece esticado como um elástico. Eu me mexo um pouco, só umpouco, mas Abel range os dentes, como se pudesse sentir aquele minúsculo movimento ecoandodireto em sua alma. Seu peito se move com sua grande respiração, quase vibrando. Há um somem sua garganta. Deus, ele adora isso. Ele ama muito estar dentro de mim. Isso por si só já fazvaler toda a dor, toda a pressão forte.

Ele tem que se recompor antes de poder falar novamente. — Você está bem?

Eu aceno, embora eu queira balançar a cabeça e dizer a ele que dói. Isso dói muito, muitomesmo. Mas eu gosto. A dor é incrível. É gloriosa.

— Você não consegue mentir para mim, Pixie. Mas vou deixar sua mentira passar. Porqueeu preciso tanto da sua boceta que estou disposto a fazer qualquer coisa por ela. – Sua voz falhano final e seus bíceps estão tremendo.

Ele se abaixa sobre mim, mudando o ângulo e eu me empurro, estremecendo. É como sealgo estivesse se expandindo dentro de mim, inchando a cada respiração e eu não sei como fazerpara parar. E eu não quero que isso pare. É uma guerra estranha. Eu amo a dor, mesmo que doa.

Abel se inclina totalmente para baixo, meio que se afundando em mim. Como se eleestivesse finalmente em seu lar. Finalmente aliviado por estar dentro de mim, mesmo que aindanão esteja totalmente. Então ele começa a mover, lento e gentilmente.

Eu estremeço com a pressão, mas sua pélvis está se arrastando sobre o meu clitóris, então ésuportável, um pouco indutor de prazer também. Ele toma minha boca em um beijo,acrescentando aquele minúsculo prazer, e eu suspiro. Ele está fazendo tudo ficar melhor com aboca, o que seu pau está destruindo lá embaixo.

— Eu posso sentir isso. – ele sussurra.

— Sentindo o quê? – eu agarro os seu bíceps suado, com os meus olhos arregalados.

— Seu hímen. Meu pau está o pressionando. – diz ele maravilhado, como se meu hímenfosse a melhor coisa que Deus já fez.

Estou ao mesmo tempo contente e apavorada. Ok, mais apavorada, então tudo que possodizer é um ah ofegante.

Ele ainda está movendo contra mim murmurando palavras confusas. — Vai doer.

Minhas unhas cravam em sua pele tensa. — Eu sei.

Uma careta e um movimento de quadris. — Você é tão apertada. Mais apertada do que meupunho. – Outra careta. — Mas eu tenho que me mover. Eu tenho que entrar.

Eu concordo. — Eu sei. Eu quero que você entre.

Parando, ele observa meu rosto por alguns segundos. Em seguida, ele enfia os braços sob asminhas costas, me levantando do sofá e pressionando nossos peitos ruborizados. Eu coloco meurosto em seu pescoço, respirando-o. Seu cheiro de maçã é abundante.

— Você adora pegar minha cruz, Pixie, não é? – ele sussurra em meu ouvido e eu aceno. —

Por quê?

— Isso me faz sentir perto de você. Como se Deus nos ligasse de alguma forma, mesmoantes de nos conhecermos.

Ele chupa minha orelha. — Eu quero que você a agarre agora, ok? Morda se doer demais.

Em resposta, coloco meu dedo em volta da corrente e aperto a cruz de prata com força. Elebeija meu cabelo suado, minha garganta, como se estivesse acalmando meu corpo. Sua língualambe uma gota do meu suor e eu faço o mesmo. Eu lambo a curva de seu ombro e o lado do seupescoço.

Unidos de cima a baixo, com as nossas peles grudadas, nós nos encaramos. Sem quebrar ocontato visual, ele se movimenta. Ele se afasta um pouco e então se firma, com força, rompendoo meu hímen e se enterrando dentro de mim.

Foi quando eu me solto. Deixo de lado seu olhar e aperto os meus olhos, gemendo alto. Eumantenho minha promessa a ele e mordo com força a cruz de prata, sentindo as pontas afiadasdela na minha língua.

Parece que estou morrendo. Isso não pode ser nada além da morte. A morte é assim. Éenorme e latejante e não consigo parar de chorar. Mas então, minhas lágrimas são lambidas pelogaroto que primeiro invadiu meu coração, depois minha alma e, finalmente, meu corpo. Ele sedesculpa com cada lambida de sua língua, até que estou respirando novamente. Até que meuspunhos se abram e meus dentes se abram, e a morte não pareça tão mal.

Abro meus olhos e observo seu rosto. Está desfigurado. Não apenas por seus hematomas,mas também por sua cara feia, o contorno severo de sua mandíbula, suas narinas infladas. Eleestá com dor.

— Dó... dói para você também? – eu pego sua cruz.

— Sim.

Arregalo meus olhos e flexiono meus músculos internos. — É por minha causa?

Sua testa pressiona sobre a minha com um gemido. — Jesus. Porra. Você é tão apertada, tãoquente e tão... flexível. Dói não me mexer.

Meus lábios se abrem com a percepção. Obviamente. Dói-me quando ele se move e dói-mequando não se move. Por que tem que ser tão difícil? Por que transformar algo tão puro em taltortura?

Bem, tudo isso mudou. Estou quebrando o ciclo. Eu estou o tendo ele e ele está me tendo,não importa como.

Engolindo, eu me movo. Eu levanto meus quadris e esfrego contra sua pélvis. Abelestremece, gemendo. Não importa o que ele disse sobre querer entrar em mim, querer se mover,ele não irá. Ele não vai me machucar conscientemente. Então vou me machucar. Vou sofrer a doraté melhorar. Não é nada novo, de qualquer maneira. É nossa história de amor.

— Pixie, o que...

Eu me movo, esfregando o meu clitóris ao longo de sua pélvis, deixando de lado a cruz. —Estou nos fazendo sentir bem.

Sua testa franze, seu pau lateja, como se houvesse uma bomba presa dentro de mim. Só queesta bomba tem a capacidade de me fazer sentir bem antes de explodir. Ele tira os braços ao meuredor e me deita no sofá, e sua corrente me atinge no queixo. Ela balança quando Abel começa ase mover e eu a pego na boca mais uma vez.

Seus olhos ardem, me queimam viva enquanto chupo a cruz como um pirulito. Eu nãopreciso disso para a dor agora. Eu preciso disso para o prazer.

Nossos movimentos são mais suaves, com seus impulsos deslizando facilmente. Mas, aomesmo tempo, eles parecem ásperos. Meu clitóris atinge sua pélvis; os meus pés encontramapoio em suas panturrilhas e esfregam contra o pelo áspero. O sofá arranha minhas costas eminha bunda.

Atrito. Preciso de todo o atrito do mundo. Para que eu possa colocar fogo.

Eu gemo em torno da cruz, deixando Abel louco. Ele tira a corrente da minha boca e mebeija. Chupo os seus lábios como se estivesse chupando o metal antes. Isso está me deixandoselvagem. Isso está me fazendo me mover contra ele.

E algo acontece. Algo estranho e sobrenatural, e nós interrompemos nosso beijo e viramosnossos olhares para olhar para o lado ao mesmo tempo. Como poderia ter esquecido o espelho? Égigante e alto, como o do nosso quarto.

Ah, Deus, parecemos uma confusão. Nossa pele está molhada de suor, grudada e nossosmembros deslizando um ao lado do outro. Estou toda desfigurada corada, mas de alguma formapálida também. Abel está escuro e imenso, como uma nuvem, com seus músculos contraídos etensos.

— Você está vendo isso, Pixie? – Abel sussurra.

— Você e eu.

— Sim.

Seus olhos ficam alegres por um segundo, mas então eles se tornam maus, assim como suasestocadas. Eles se tornam nítidos e eu quero fechar meus olhos, mas eu continuo olhando,gemendo de dor. Fico olhando para meus olhos azuis embaçados. Com uma mistura de prazer,dor e luxúria.

Abel lambe o lado do meu pescoço. — Você sabe o que é isso?

— O... o quê?

— Isso é amor.

Ele relaxa com seus impulsos de punição e vejo minha cara fechada desaparecer e meusolhos ficam úmidos. Mas no próximo segundo, Abel geme com a força de seu impulso e minha

cara fechada volta. Meus olhos ficam embaçados com o desconforto.

— É assim que o amor se parece. Um pouco de dor e um pouco de prazer. – ele murmura.— Você quer ver como é o nosso amor, baby?

Meus olhos lacrimejam e eu concordo comm a cabeça.

Seu corpo inteiro vibra quando ele enfia seu pau, empurrando seu corpo contra o meu. Eleestá descontando anos de frustração reprimida em mim, fazendo doer. É como os primeirossegundos depois que ele rompeu. Grito e agarro o seu ombro. Mas ele não desiste. Não, elecontinua entrando, me fodendo com toda a força de seu corpo e do mundo.

Por que isso é tão excitante? A dor não deveria ser boa. Mas conosco - com ele - sim.

Isso é um ritmo que pune e preciso, e então ele se abaixa no meu corpo novamente e capturaa minha boca em um beijo. Seu beijo é tão forte quanto seus impulsos, mas alivia a ardência.Lentamente, meu canal encharca e escorre, e tudo que posso sentir é prazer. A sensação de apertoé apenas isso: um efeito colateral do ato amoroso brutal e glorioso.

— Abra seus olhos. – Abel respira. — Olhe para nós. – Quando meus olhos encontram osdele no espelho, ele me diz: — Esse é o nosso amor. Ele é tão enorme, tão grande que você nãoconsegue contê-lo. Ele nos consome. Dói pra caralho amar tanto, mas você quer que essa dorchegue. Porque o amor é tão bom. Você e eu, não temos escolha a não ser sofrer, Pixie.

Ele tem razão.

Esse é o nosso amor. Dor e prazer e sem vontade própria. É a coisa mais mágica do mundo.

Então ele me machuca com o seu pau, repetidamente, e eu me agarro aos montes de seusombros, esfregando meus seios nos vales de seu peito. Abel toma a minha boca em um beijocarente e feroz e eu retribuo o favor. Eu o ressuscito com um beijo, como ele me ressuscita. Eu obeijo e beijo até que eu sinto a barragem se abrir e eu mergulho em um grande e giganteorgasmo. Desta vez, uma luz pisca em meu corpo. Eu sinto. Sinto uma explosão de luz brancaviajando por cada átomo, cada molécula e quase desmaio de prazer e de amor.

Nosso tipo de amor. Um amor que é lendário. Um amor pelo qual as pessoas escreverãohistórias sobre anos depois de nossa partida.

Um amor pelo qual deixei tudo.

Quando abro meus olhos, vejo Abel se masturbando e ejaculando sobre minha barriga. Seusdedos e seu eixo estão molhados e grudentos com nosso orgasmo e meu sangue. Quando eletermina, ele deita sobre mim, cansado e exausto.

Aliviado.

Ele está aliviado. Sua respiração é ofegante, mas de alguma forma mais tranquila também.Seu corpo está fraco, com os seus músculos relaxados. Ele está seguro de que me possui. Ele temtudo de mim. Ele está esperando por este momento há anos.

Sorrindo, eu o abraço com mais força. Eu também o tenho. Nunca conheci uma paz como

esta. Eu nunca conheci tanta felicidade.

Abel sempre me fez sentir segura, mas isso é diferente. Isso é algo grande, cósmico.Provavelmente está escrito na minha pele agora, que sou estimada. Que eu sou uma mulher quepertence completa e totalmente a um homem. E, ao mesmo tempo, é tão pequeno quanto umsegredo. Algo que só eu posso sentir.

É estranho, mas eu adoro isso. Eu amo isso.

— Eu te amo. – eu sussurro.

Ele fica tenso sobre mim e enrijece. Como se eu tivesse sugado todo o relaxamento de seusistema falando. Droga. Talvez eu devesse dar a ele mais tempo para se recuperar. Minha mãovai automaticamente para suas costas e esfrega em círculos.

Abel se levanta e passa os olhos por cima de mim, meu rosto, meu pescoço, meu peito, atémesmo minha barriga. Seu olhar está frenético e sua testa franzida. — Eu... você está bem?

— Sim. Mais do que bem. – eu sorrio para ele, esfregando os seus ombros rígidos.

Seus olhos estão cheios de arrependimento e vergonha quando ele olha nos meus. — E... eunão pensei. Eu não queria te machucar assim. É só... Jesus, porra, foi tão bom e eu fico tão loucoàs vezes. Eu perco todo o controle quando estou com você. Eu esqueço a diferença entre certo eerrado. Tudo que sei é que... – ele engole, com suas palavras ficando presas em sua garganta. —Tudo que sei é que preciso de você. Preciso de você perto de mim, mais perto do que fisicamentepossível. Eu...

Eu coloquei um dedo em seus lábios. — Está tudo bem. Eu sei. Eu sinto o mesmo. Você nãome machucou, Abel. Não doeu. Você me amou. Da única maneira que você sabe e eu adoreiisso. Eu ansiava por isso.

Ele beija a ponta do meu dedo, acariciando minha bochecha. — Eu juro que tinha planosmelhores do que foder você no sofá de algum estranho.

Eu rio. — Você tinha?

— Sim. Até três dias atrás, eu planejava contar a seus pais sobre nós e então me casar comvocê. E então eu ia te levar a um bom hotel em Chicago e reservar um quarto para esta noite. Euia pedir para eles colocarem um enorme pote de Toblerones no travesseiro e alguns girassóis. –Seus olhos castanhos estão brilhando com seu amor e desejo. — Eu ia tentar me controlar e nãoser um animal, pela primeira vez. Eu ia tornar isso especial para você.

Minhas lágrimas estão deixando tudo embaçado. Eu sinto que mal consigo respirar. Meuamor por ele está me sufocando. Minha raiva está sugando todo o oxigênio. Abel me envolve emseus braços, murmurando palavras doces.

Não é a primeira vez que penso na absoluta injustiça de tudo isso. A absoluta injustiça deminha mãe e meu pai. Como eles não puderam ver nosso amor? Como alguém poderia odiar meuAbel?

— Eu não preciso disso. – eu sussurro em seu peito, depois de um tempo. — Não preciso deuma cama chique ou um hotel ou qualquer coisa assim. Tudo que preciso é você. Contanto quevocê esteja comigo, eu não me importo com o resto. Eu nunca me importei e nunca meimportarei. Você é o único com quem me importo. Você é o único em quem confio.

Ele estremece no final do meu pronunciamento.

Não entendo. Não entendo sua reação estranha às minhas palavras ou quando ele se afastade mim. Ou quando vejo seus olhos meio alertas e vulneráveis, ao mesmo tempo.

— Abel?

Ele abaixa a cabeça e passa os dedos pelo cabelo bagunçado. — Deixe-me limpar você. –ele se levanta, todo nu e descoberto, deixando-me deitada no sofá.

Não consigo nem parar para admirar sua forma musculosa porque algo me ocorre. Eu nemmesmo perguntei a ele sobre seu trabalho. Ele estava me ligando para contar as novidades antesde eu atrapalhar completamente a conversa?

— Ei, como foi? Você gostou? Você gostou do trabalho?

Ele não para pra me responder. Completamente nu, ele vai até o banheiro e então, eu ouço atorneira aberta. Sento-me e pego minhas roupas, sentindo-me desolada.

O que acabou de acontecer?

Um segundo estávamos conversando e tudo estava bem, mas agora algo parece errado.Colocando meu vestido de volta, vou atrás dele e o encontro saindo do banheiro, segurando umpano molhado.

— Eu ia limpar você. – diz ele, franzindo a testa.

— Eu não quero que você me limpe. O que foi...

— É meu trabalho cuidar de você. – Há uma abundância de irritação em seu tom quando eleme interrompe, e isso me deixa em alerta.

— Não. Não é. Eu posso cuidar de mim, muito obrigada. – eu marcho até ele e tentoarrancar o pano de sua mão, mas ele não me deixa pegá-lo. — Solte.

Ele range os dentes. — Não.

Eu puxo o tecido, mas é inútil. Irritada, eu olho para seu rosto de pedra. — O que estáacontecendo? Por que você está sendo um idiota de repente?

— Estou tentando cuidar de você, mas você não deixa. – ele repete.

— Isso é tão estúpido. Por que estamos... – eu vejo sua expressão séria, com seus olhosraivosos e percebo o quanto insensível estou sendo. Bem, ele está sendo insensível também, masveremos isso mais tarde.

É importante para ele poder cuidar de mim. Não é por isso que ele queria adiar o sexocomigo na outra noite? Porque ele não tinha certeza se teria um emprego ou se seria capaz de me

sustentar. Talvez seja uma daquelas coisas que os homens realmente ficam chateados.

Eu solto o pano e me aproximo ainda mais dele. — Você está bem? É... É sobre o trabalho?Você sabe, não importa para mim se você não gostou ou se você, você sabe, não conseguiu oemprego. Talvez simplesmente não fosse certo para você. Para nós. Eu não...

Sua mandíbula range. — O trabalho é meu, se eu quiser.

Demoro um segundo para entender o que ele quis dizer, e então um sorriso aparece em meuslábios. — Sério?

Abel acena com a cabeça. — Sim.

— Ah, meu Deus. Essas são ótimas novidades. Vê? Eu te disse. Eu disse que você teria umemprego. – eu o abraço, mas ele não me abraça também. — Abel, o que foi? O que há de errado?Você não gostou?

Há um tom de desafio em seu tom quando ele responde: — Eu gostei. Acho que ele éperfeito para mim.

— OK. Então qual é o problema?

Ele fica em silêncio por um momento e minha inquietação aumenta.

— Bem, o que foi? O que há de errado? O que está acontecendo? – pergunto em uma vozestridente.

— Você pode não gostar. – diz ele, finalmente.

Fico rígida, com o meu coração batendo forte no peito. — Por... Por quê?

Abel pode sentir a minha ansiedade e ele suspira, perdendo sua expressão séria. — Estousendo um idiota, não estou?

— Sim. – eu fungo.

— Porra, venha cá. – ele envolve o seu calor em volta de mim, me abraçando com força. —São apenas muitas horas. Muito trabalho. Então, posso ficar fora muito tempo.

Eu agarro sua cruz, ainda não completamente convencida. — Tem certeza que é isso? É issoo que está errado?

Ele beija minha testa. — Sim. Eu não quero que nada fique entre nós, Pixie. Muito menosmeu trabalho. Depois de ficar longe de você por tanto tempo, não quero ficar mais um minutolonge de você, se não precisar.

Eu seguro sua bochecha. — Nada pode se interpor entre nós, Abel. Nada mesmo. Alémdisso, temos que trabalhar, não é? E eu tenho meu próprio emprego.

— Você tem? – ele franze a testa para mim e eu sei que uma discussão está chegando. Possosentir isso, mas não estou com vontade de brigar.

— Uhum. É apenas uma coisa de garçonete a alguns quarteirões de distância. Totalmente

seguro. Portanto, não há necessidade de surtar. Pensei em trabalhar durante o dia, ganhar algumdinheiro, ajudá-lo para que nós possamos encontrar um novo lugar mais rapidamente e escreverdurante a noite. Então, vê? As coisas já estão dando certo.

Ele sorri. — Elas estão.

Fico na ponta dos pés e beijo seu pulso acelerado. — Seremos muito felizes.

— É?

— É. Porque nós merecemos. E porque nosso amor é maior do que qualquer outra coisa nomundo.

Seus braços envolvem minha cintura e ele me puxa para cima. Eu enterro minhas mãos emseus cabelos, rindo.

— É? – ele pergunta com os olhos brilhantes.

Eu aceno e dou um beijinho em seu nariz. — Nosso amor é uma lenda.

Seu rosto fica triste novamente, mas desta vez está cheio de intensidade. Tanta intensidade,paixão e apropriação. Meu núcleo pulsa.

— Agora pare de ser um idiota e me ame. – eu ordeno.

Abel estende uma grande palma na minha cabeça e dá um beijo forte na minha boca. — Euvou te fazer feliz, Pixie. Tão feliz que você vai esquecer como ficar triste. Você vai esquecertudo, exceto eu e meu amor. Vou fazer disso minha maldita missão.

Parece que ele quer dizer algo mais, mas ele se contenta em me beijar, forte, firmemente eprofundo, e me carregar para o nosso quarto. Ele me deita no colchão, pega o pano do corredoronde a deixou cair antes e volta. Ele se ajoelha diante de mim e limpa minha boceta, gentilmente,com reverência. O pano quente e áspero é um bálsamo reconfortante. Eu me contorço e gemosob seus cuidados criteriosos.

Assim que estou limpa, ele tira meu vestido, se abaixa e enche meu rosto e meus ombros debeijos. Beijinhos, minúsculos e vibrantes como borboletas.

— Sinto muito, Pixie. Eu sinto muito. Porra, sinto muito, baby. Não me odeie. – elemurmura.

— Eu não... – eu lamento.

Com cada beijo, ele me diz que me ama, me fazendo fundir sob ele. A cada beijo, ele me dizque é um idiota por ter sido tão brutal com minha boceta antes.

— Vai ser legal agora. – ele diz e desce.

Então ele me devora, com cada lambida de sua língua quente um pedido de desculpas. Cadareação suave de seus lábios diz que sou tudo para ele. Em pouco tempo, chego ao orgasmo equando ele me envolve em seus braços fortes, pressiono o punho em seu peito, onde está seucoração. Está batendo, como uma batida de desastre de trem.

Mesmo assim, eu estou relaxada, não posso deixar de sentir que seu coração está tentandome dizer algo. Algo que seus lábios não podem dizer.

— Abel?

— O que?

— Tem... tem certeza que é isso? Tem certeza de que não há mais nada?

Ele fica tenso por um instante antes de relaxar. — Eu não consigo mentir para você, Pixie.

Eu engulo; minha garganta está seca. — Eu confio em você.

Algo surge em seu rosto por um microssegundo antes de sumir e ele me beija como só elepode.

Áspero, doloroso e carinhoso.

Nos próximos dias, Abel me mostra toda a cidade de Nova York. Qualquer coisa e tudo quevocê possa pensar, você pode encontrar aqui. Os edifícios altos e pontudos que tocam as nuvens;a caótica Times Square com luzes suficientes para iluminar o mundo inteiro; a reluzente e cara5th Avenue; moderna e eclética Union Square feita de sonhadores.

Nova York é tão grande e tão pequena. Você fica em uma extremidade da rua e pode ver afileira de táxis amarelos e semáforos, descendo até a outra extremidade. O peso das pessoasrachou as calçadas e afundou as ruas sujas e cheias de folhas em alguns lugares. E há tantaspessoas.

Eu aprendo todos os sinais, as ruas e as avenidas. Acontece que ninguém realmente se perdeem Nova York. Há um pequeno sistema legal chamado grelha. Avenidas e ruas logicamentenumeradas. Então, basicamente, andar pela cidade de Nova York tem que ser a coisa mais fácilde todas, mesmo para alguém tão geograficamente desafiado como eu. Quem diria?

Nós pegamos a balsa e vemos a Estátua da Liberdade de perto. Abel segura minha mão otempo todo porque ele acha que vou cair na grelha, embora esteja sendo cuidadosa.

— Bem, você não iria pular atrás de mim e me salvar? – eu sorrio para ele, com vento emmeu rosto e Abel em meus olhos.

— Não. – ele balança a cabeça, com seus dedos entrelaçando com os meus.

— O que? Você tem que me salvar. Um noivo deve cuidar de sua futura noiva. – eu levantomeu queixo para parecer ofendida.

— Não, um noivo não deve deixar sua futura noiva cair.

Eu o beijo, então. Porque como não posso?

Quanto mais vejo esta cidade, mais percebo que Abel não poderia ter nascido em outrolugar. Ele não poderia ter vindo de qualquer outro lugar. Ele estava destinado a nascer aqui, emum lugar que é maior do que qualquer sonho ou imaginação. Ele é muito mais do que um garotode cabelo dourado que cresceu e se tornou um homem. Ele é um deus.

Um deus com uma câmera.

Quando conto que comprei uma câmera nova para ele com o dinheiro que roubei dos meuspais, ele fica bravo, furioso, enfurecido. Ele não quer nada com meus pais.

— Meu pai quebrou sua câmera, é justo que ele pague por ela.

— Eu não quero isso, porra, Pixie. Posso pagar pela minha própria câmera.

Nós brigamos, e então eu tiro minhas roupas e exijo que ele tire minha foto com a câmeraexata que o dinheiro dos meus pais comprou. Isso chama sua atenção. Posso sentir uma vibraçãode excitação nele. Isso me deixa excitada também e sorrindo, eu me submeto a ele. Ele tira fotoapós foto de mim, até que sua luxúria se torna a coisa mais poderosa na sala e ele tem queabandonar a sessão de fotos improvisada para saciá-la em meu corpo.

Ele nunca usa camisinhas, no entanto. O grande idiota. Diz que não quer nada entre nós.

— Você é louco. Você está literalmente louco. Tirar antes nem sempre é um método quefunciona, você sabe disso, certo? Você quer povoar a Terra com pequenos Abels?

— Não, eu quero povoar a terra com pequenos Pixies.

Reviro meus olhos para ele. Somos tão jovens. Não podemos ter filhos. Mas, droga, parecetão incrível. Se ele me engravidar, então há outro vínculo entre nós que ninguém pode ousarquebrar. Mas é claro, esse não deve ser o motivo para trazer uma criança a este mundo.

Não, uma criança deve ser trazida a este mundo pelos motivos certos. Sobre isso, eu nuncavou ceder.

Embora, eu admita que adoro todo o processo de fazer bebês. Na verdade, isso é tudo quesempre quero fazer. Tenho vergonha de admitir, mas há momentos em que nem quero que Abelsaia do meu corpo. Eu gostaria de poder dormir assim, com ele enterrado dentro de mim. Eu nãoestou sozinha em meus desejos; Abel se sente da mesma maneira. Na verdade, até nossasdiscussões terminam em sexo. Principalmente quando grito para ele pegar suas roupas porque éum desleixado ou exijo que feche a porta enquanto mija, como ele diz.

— Limites, Abel!

Ele ri, termina suas coisas no banheiro e me fode contra a parede do corredor.

— Você não entende, Pixie? Não há lugar nem limites entre nós. Eu não vou permitir.

Por que ele tem que ser tão louco? Por que isso tem que me excitar tanto? Por que não meimporto de me afogar nele, em sua luxúria sombria e em desejos não convencionais?

Porque acredite em mim, eles não são convencionais.

Não há consideração de lugar e hora para ele. Mesmo se estivermos fora, andando de metrôou andando na rua, ele vai me tocar em lugares menos apropriados. Eu coro e fico brava com elee digo a ele para parar, como eu costumava fazer nos corredores da escola, mas ele não escuta, eisso me faz sorrir.

— Vamos, Pixie. Qual é a graça em me esconder quando posso simplesmente te pegar, jogarvocê por cima do meu ombro e te foder contra essa parede de tijolos agora?

A parede de tijolos em questão é aquela no beco atrás de um restaurante chinês ondeacabamos de jantar.

— Você gostaria disso, não é? – ele sussurra, puxando minhas roupas, me pressionandocontra a parede. — Acho que você gostaria, Pixie. Acho que você adoraria.

— Nã... não. – Mesmo que eu diga, eu sei que estou excitada. Eu sei que estou provocandoele deliberadamente.

— Você não consegue mentir, Pixie. – ele me puxa em direção a ele e minhas pernas nãotêm escolha a não ser envolvê-lo, e minha coluna não tem escolha a não ser arquear, esfregandomeu núcleo em seu pau duro.

— Ma... mas as pessoas vão nos ver. Não podemos. – eu sussurro, beijando-o,contradizendo minhas palavras, deixando-o mais quente.

— Deixe-as. – ele morde o meu lábio inferior, ajustando minhas pernas em volta dele paraum aperto mais firme, e então coloca as mãos sob meu vestido e brinca com meu clitóris. —Deixe-as ver, Pixie. Que apontem o dedo, nos xinguem, falem sobre nós. Deixe-as pensar quenão temos moral. Porque acredite em mim, baby, elas são mentirosas. Elas vão fingir que estãocom nojo, mas quando estão sozinhas, elas se masturbam. Elas vão pensar que queremos amarcomo elas. Queremos ser lendas como elas.

Estou delirando de luxúria. Meu desejo está escorrendo do meu núcleo e encharcando seusdedos, fazendo sons molhados. Tudo que sei é que o quero dentro de mim. Foda-se as ruas.Foda-se as pessoas. Não consigo sequer fazer um protesto simulado.

— Abel... – eu gemo.

— Mas elas não podem ser, certo, Pixie? – ele move os quadris, com suas mãos se afastandoda minha boceta e apertando minha bunda. — Elas não podem ser lendas porque só há um Abele Evie, certo? Apenas um Abel e sua Pixie. E ninguém ama como nós.

Sim. Ninguém. Nem uma única pessoa pode amar como nós. Nem uma única pessoa podecompreender nosso desejo de exibir nosso amor.

Estou tão excitada que dói. Literalmente dói.

— Foda-me agora, ok? Apenas me foda.

Rindo como o diabo, ele fode. Ele tira seu pau para fora e penetra em mim em um flash, efechando meus olhos, eu sorrio. É isso. Este é o nosso amor. Desavergonhado, imprudente, umpouco doloroso e muito glorioso.

É perfeito.

Ou melhor, seria, se não fosse por essa dúvida minúscula em minha mente.

Não sei por que, mas ainda acho que Abel está escondendo algo de mim. Não posso tercerteza, mas tenho essa sensação que não vai embora. Cada vez que pergunto sobre seu trabalho,ele paralisa. Às vezes, ele evita falar sobre isso. Às vezes ele fica irritado com minhas perguntas.Ele fica acordado até tarde da noite trabalhando em seu notebook, mas se eu o flagrar, ele fecha atampa.

Ou pelo menos, acho que ele a fechou. Eu não sei.

Não sei se está na minha cabeça ou o quê. Porque minha cabeça não é um bom lugar para seestar. Às vezes vejo meu pai na rua. Eu não fico assustada do jeito que fiquei da primeira vez,mas ainda assim meu coração dá um solavanco. Ouço sua voz em meus sonhos ou pesadelos, aocontrário. Sua profecia sobre como Abel será minha ruína. E acabo abraçando Abel com maisforça. Eu não posso fazer essa insegurança ir embora.

Meu pai plantou uma semente de dúvida dentro de mim e eu o odeio por isso. Eu me odeiopor manchar a confiança que tenho em meu Abel.

Odeio que um dia a dúvida seja tão forte que ajo pelas costas de Abel e abro seu notebook,que está na bancada da cozinha. Eu quero ver no que ele trabalha. Mas assim que eu abro, umvídeo começa. Um vídeo sexy. Um casal está se beijando, nus. Ah, Deus. Minhas bochechascoram, embora eu tenha visto essas coisas com Abel algumas vezes depois que nos mudamospara cá.

A garota tem cabelos escuros, com seu rosto contraído em êxtase e com o coração batendoforte, eu percebo que a conheço. Eu a vi em algum lugar, o que é ridículo, porque onde eu a teriavisto? Mas juro que não posso negar que ela parece familiar.

Estou tentando identificá-la e esperando que logo ela revele suas feições ou, com sorte, ascostas musculosas do cara não bloqueiem tanto seu rosto, quando Ethan entra e meuconstrangimento aumenta.

Eu clico para pausar e me sento. Ele olha para mim e depois para o notebook. — O que vocêestá fazendo com isso?

— Hum, nada. – eu me mexo em meu banco.

— Isso é meu. – ele me diz antes de pegar o notebook, me fazendo estremecer e ficar maisquente do que nunca.

— Ah, eu sinto muito. Eu só estava... pensei que fosse de Abel.

— Não é. – Ethan pressiona o notebook contra o peito, franzindo a testa, e depois perguntaem um tom suspeito: — Por que você está o usando quando ele não está aqui?

— Eu, hum... Porque... – eu engulo, com meu coração acelerando. — Be... bem, eu nãoposso? Quero dizer, ele é meu noivo. Tenho certeza de que posso ver o notebook dele.

Meu tom é defensivo. Ethan sabe disso. Eu sei disso e nunca me senti mais envergonhada demim mesma. Eu não sei se ele pode dizer quais eram as minhas intenções ou se algo está errado,mas não suporto sua investigação.

O que Abel pensaria se soubesse que eu o estava espionando?

Peço licença e me tranco em nosso quarto. Droga. Eu não posso acreditar que fiz isso. Nãoposso acreditar que deixei meu pai me afetar.

Eu me odeio. Eu odeio meu pai.

Mesmo assim, não posso deixar de me perguntar sobre aquela mulher que vi.

Eu odeio que todas as noites, quando Abel chega do trabalho todo excitado e elétrico, meuprimeiro pensamento antes de me perder na luxúria é o porquê. Por que ele está tão desesperadopara me foder? Por que ele está tão eufórico de excitação? Existe um novo brilho em seus olhos?Eu me pergunto por que ele não consegue manter suas mãos longe de mim.

— O que há de errado, querido? – eu odeio ter perguntado a ele uma noite em que ele nãome deixa dormir. Ele apenas gozou na minha bunda e eu estava adormecida quando ele me viroude costas e me penetrou de uma vez.

Ele para, com seus olhos brilhantes e bem apertados. — Você nunca me chamou assim.

— O que?

— Querido. Você nunca me chamou assim antes.

— Nunca?

— Não. – ele começa a mover, acelerando o ritmo. — Eu gosto disso. Minha mãecostumava me chamar assim.

— Então vou continuar chamando você assim. – eu gemo, com meu coração repleto e minhagarganta sufocou.

Suas estocadas são brutais e mesmo que a minha boceta esteja dolorida e machucada, eu nãoquero que ele pare. Arco minhas costas para deixá-lo entrar ainda mais fundo, o mais fundo queele puder chegar. Quero que ele elimine todas as minhas dúvidas e suspeitas. Eu quero que eleme purifique com sua luxúria.

Gemendo, eu arranho suas costas. Ele murmura que eu sou a mulher mais bonita que ele jáviu e, de repente, o medo faz um lar dentro do meu peito. Apesar de tudo, começo a suar,tremendo tanto que Abel precisa parar.

— Pixie?

Ah, meu Deus, isso é óbvio. Isso é tão óbvio.

— Ei, Pixie? O que há de errado? – ele pergunta, novamente.

— Você tem certeza? – eu puxo seu cabelo, incapaz de me impedir.

— Sobre o que?

— Que sou a mulher mais bonita que você já viu? – ele está confuso; Eu posso dizer. Maseu preciso saber. É por isso que o seu comportamento mudou?

— Tem certeza de que não viu uma garota mais bonita do que eu? No seu trabalho, querodizer.

É quando ele entende.

Ele fica em silêncio por um segundo. Vejo descrença e mágoa cruzarem seu rosto, e o meucoração aperta. Eu sou uma idiota. Como posso pensar assim? Nosso amor é maior do que isso.Muito maior. Casos, traição... essas coisas são brincadeira de criança. Nosso vínculo está alémdesse tipo de merda. Abro a boca para me desculpar, mas ele solta uma risada. Ela é cruel eimplacável. Ele acelera o ritmo; na verdade, ele acelera dentro de mim. O quarto ecoa com assuas estocadas e tudo que posso fazer é apertar aquela cruz de prata entre os dentes para meimpedir de gritar muito alto.

Nós dois gozamos ao mesmo tempo. Ele ejacula na minha barriga e cai sobre mim. Seu pesoé muito grande, mas não o afasto. Eu o abraço com força.

— Se você acha isso, Pixie, então minha vida inteira foi um desperdício. Minha vida inteira,porra. – ele diz e uma lágrima escorre pelo meu olho, e cai do lado de sua bochecha.

Hoje é nossovigésimo sexto diana cidade, o que significa que hoje é o dia em que me casarei com Abel Adams.

Ah, e hoje é meu aniversário também. E daí? A única coisa que vale a pena lembrar hoje éque vou ser dele, para todo o sempre, na frente de Deus e dos homens.

Sky me liga para me desejar um feliz aniversário e eu conto a ela sobre o casamento, e peçodesculpas por não ter ligado antes. Eu estava com medo de colocá-la sob mais vigilância, caso aspessoas estivessem a vigiando.

— Eles não sabem que você está em Nova York. – diz ela. — Tudo está bem. Estou bem.Eles não estão procurando por você. Você vai se casar, ok? Concentre-se no seu grande dia.

Quero perguntar mais, mas deixo por isso mesmo e me despeço. — OK. Eu sinto sua falta.Falo com você em breve.

Então eles não sabem. Eles nem estão procurando por mim. Toda essa angústia dos últimos

dias foi em vão. Estou aliviada. Bem, eu deveria estar aliviada, mas acho que não é o sonho demuitas meninas se casar sem os pais. Até um mês atrás, pensei que eles estariam lá quando mecasasse com Abel. Eu sabia que eles poderiam não gostar, mas eu não tinha ideia de que não osveria neste dia.

Eles não estão procurando por você.

Mas está tudo bem. Eu sobrevivi à humilhação de ser exibida em um lençol pela minhaprópria mãe, posso me casar sem eles. Felizmente.

Eu uso meu vestido rosa e seguro um buquê de girassóis na minha mão. Abel veste umacamisa branca, com as mangas arregaçadas para expor as veias dos antebraços, e calça socialpreta. Ethan e um cara barbudo de seu trabalho são nossas testemunhas.

Ficamos na frente de um juiz e em questão de minutos, acabou, e Abel me beija na frente detodos, como ele disse que faria à muito tempo quando estávamos naquela cidade. Seu beijo édesesperado e aliviado, e quando o interrompe e olha para mim, pela primeira vez em semanas,acho que ele está realmente feliz. Não vejo vibração de desespero percorrendo sua pele oubrilhando em seus olhos.

E eu não tenho dúvidas. Está tudo bem; Eu posso sentir isso.

— Eu tenho que te dizer uma coisa.

Essas são as primeiras palavras que meu marido me diz no dia seguinte ao nosso casamento.Elas são sombrias e faladas em um tom abafado. Elas não me chocam, no entanto. Não. Isso nãoé assustador? Petrificante, aterrorizante e alarmante.

Tenho andado enlouquecida nas últimas semanas pensando que algo estava acontecendo eagora eu tenho minha comprovação. Quase não a quero. Quase não quero que ele me diga algo.

Mas eu aceno, segurando a barra do meu vestido de noiva rosa. Após a curta cerimônia, nóscaminhamos pela cidade e então, Ethan comprou cerveja para comemorarmos. Foi a primeira vezque experimentei álcool, diretamente do meu marido enquanto ele derramava o líquido de sua

boca na minha. Isso foi decadente e incrível, e só fiquei bêbada depois de uma garrafa. Tenhocerteza de que dormi antes que pudéssemos consumar nosso casamento.

— Você vai comigo a um lugar? Eu tenho que te mostrar uma coisa. – ele observa meurosto, traçando seu dedo ao lado dele, olhando para mim com tanta intensidade e tanta paixão.

— Ok, deixe-me tomar banho.

Ele acena, ainda olhando para mim antes de se abaixar para beijar minha testa. — Eu teamo, Pixie. Eu não sou nada sem você.

Com isso, ele se levanta do colchão e sai, e fico com uma sensação de mau presságio. Euvou e tomo banho para que ele possa me levar para onde quiser.

É no Brooklyn. O que ele quer me mostrar. Pegamos o metrô e chegamos lá em cerca demeia hora. Nesses trinta minutos, não falamos. Abel está inquieto e talvez até com medo, e issoestá me deixando com medo. O que pode ser tão ruim que ele nem consegue dizer? Não é capazde dizer isso há semanas.

Nosso destino é um armazém de tijolos. Toda essa área é forrada de cercas de metal egrandes caminhões carregando entregas. Em todas as vezes que vim para este bairro, nuncacoloquei os pés aqui.

Ao nos aproximarmos da porta de metal, Abel aperta minha mão com força. No arsilencioso e parado, seu gesto é alto.

— Você confia em mim? – ele pergunta, com os olhos bem abertos e vulneráveis.

É a mesma coisa que ele me perguntou quando nós chegamos ao apartamento de Ethan eouvimos aqueles barulhos sexuais. Eu respondi que sim, então. Eu percebi que nem mesmo tiveque pensar sobre isso. Mas eu faço agora e isso o corta - me corta - profundamente.

Respirando fundo, eu aceno. — Sim.

Não há outra resposta quando se trata dele. Mas de alguma forma, eu sei que minha vidanunca mais será a mesma depois disso. Ele acena para mim antes de empurrar a porta de metal eum barulho soa, violando a santidade do silêncio.

Eu entro com os pés trêmulos.

Honestamente, estou convencida de que verei cadáveres. Eu já sei que eles estarãopendurados no teto. Haverá sangue por toda parte. Verei plástico presos às paredes e pessoas emmacacões empunhando armas. Qualquer coisa que garanta o tipo de silêncio que Abel estámantendo tem que se tratar de a morte.

Eu estou errada.

Silêncio é a última coisa que ouço neste lugar. O que ouço é o que nunca, em um milhão deanos, esperei ouvir. Gemidos. Alto, excitado e sem vergonha. Corresponde aos gemidos queouço através das paredes do nosso apartamento, só que são dez vezes mais altos.

E o que vejo é mais fantasioso do que quaisquer sonhos que eu possa ter tido. Existem

camas com lençóis brancos. Três delas, na verdade. Elas estão espalhadas pelo grande espaçosemelhante a um estúdio, formando um ângulo entre si. Embora elas sejam divididas comcortinas pretas, de onde estou perto da porta posso ver todos elas.

Elas sustentam corpos. Corpos nus, pele bronzeada contra lençóis brancos, e estão secontorcendo, arqueando, deslizando e empurrando.

Eles estão fazendo sexo.

Como se isso não bastasse, há pessoas reunidas ao redor das camas. Sim, pessoas segurandocâmeras. Pessoas segurando luzes. Eles estão circulando, inclinando-se para um lado e para ooutro enquanto tiram foto após foto após foto.

Click. Click. Click.

É estranho, mas eu ouço o som da câmera, embora meus próprios batimentos cardíacossejam abafados sob o gemido erótico. Então meu coração para completamente porque ouço umgemido muito parecido com o meu. Quase poderia ser eu.

— Ah, Deus. – diz e eu não tenho escolha a não ser caminhar em direção a ele.

Eu caminho pelo lugar. Tem cheiro de maquiagem, sexo e suor. O chão é uma selva de fiosonde cada passo ecoa. Ou talvez só me pareça assim porque tudo neste lugar é ampliado.

Eu me aproximo da cama no meio das três; está localizado bem à frente e bem atrás. Umhomem e uma mulher estão transando sobre ela. Bem, não transando. Eles estão se movendo. Eleestá a penetrando e ela está segurando os lençóis, com a boca aberta. Ela está de quatro, comseus seios balançando. Ela usa uma corrente de ouro em volta do pescoço que balança a cadaestocada do pau do homem.

Ele não está sendo gentil com ela, não. Ele está transando com ela como um animal oucomo um homem que só conhece a luxúria e nada mais. Ele está gemendo; cada músculo estátenso e esticado e parece tão enrijecido. Seus olhos se estreitam enquanto ele observa suas curvasmover e seus dentes à mostra.

Eles não estão dizendo nada um ao outro, mas de alguma forma, eu ainda os ouço. Possoouvir a história deles na minha cabeça.

Você sente isso, baby? Você sente o quanto eu te amo?

Si... sim.

Você sente o quanto você me tortura?

Mostre-me.

Ele mostra a ela. Ele bate em sua bunda, fazendo-a pular, fazendo-a gemer de prazer. Eleaperta o seio dela, gemendo, beliscando o mamilo, e ela morde o lábio, ofegante. Ele é forte eestá desesperado porque está morrendo por ela. Ela está aceitando e amando porque sabe o quefaz com ele. Ele faz isso com ela também.

Então algo acontece. Algo bizarro. Ela agarra o lençol e eu agarro meu vestido. Suas coxas

vibram com cada estocada desconcertantes de seu eixo venoso, e eu sinto minhas próprias coxastremerem. Ele dá um tapa na bunda dela novamente, deixando-a vermelha e dolorida, e eu sinto aardência na minha bunda. Quando ele envolve seu cabelo escuro em torno de seu pulso, sinto opuxão no meu.

De repente, tudo que posso sentir é o meu corpo. Todos os meus sentidos foram perdidos.Sinto o meu estômago apertar, minha coluna fazendo cócegas pelo meu suor, meus seios ficandopesados e meus mamilos formigando. Eu sou toda corpo e nenhum pensamento. Eu sou todahormônio e luxúria. Estou respirando com dificuldade, provavelmente cambaleando. Eu teriacaído se não fosse pelo braço em volta da minha cintura e aquela montanha dura de um corpocontra minha coluna. Uma parede quente com cheiro de maçã está me abraçando.

— Quem... quem são eles? – eu sussurro, ainda olhando para eles.

— Eu não sei. Apenas artistas.

— Que lugar é este?

Abel beija minha nuca e sinto isso por toda parte, por dentro e por fora. — É um estúdio.Chama-se Skins.

— O que eles fazem aqui?

— Eles fazem vídeos.

— Vídeos de sexo?

— Sim.

Agora, o homem está prestes a gozar. Eu sei porque ele ficou rígido, com o seu pescoçovibrando com o esforço. Assim como o de Abel quando está prestes a ter um orgasmo. Como eu,a garota se soltou, todo o seu corpo está flexível, para que o homem possa agarrá-la com toda aforça que quiser. Portanto, o homem pode despedaçá-la, se quiser. Com um gemido alto, ele tiraseu pau e ejacula nas costas dela. Seus gemidos são os mais altos que já ouvi. Sua rendição é amaior que eu já vi.

Mas o momento acabou.

O transe foi quebrado. Finalmente posso ver outra coisa além do casal. As câmeras paramde rodar. O click, click, click se foi. Algumas pessoas entram em cena com roupões de banho. Ohomem pega um e uma garrafa de água; a mulher pega o outro roupão e a garrafa, junto com umelogio da garota que os distribui.

Mas, apesar de todas as distrações, ainda posso sentir Abel. Posso sentir seu corpo atrás demim, com seu pau na parte inferior das minhas costas. Está duro e ele está esfregando em mim, eestou me esfregando nele. Ele fica excitado com isso.

Estamos excitados.

Eu me masturbo como se alguém tivesse me dado um tapa. A umidade da minha calcinhafosse errado e repugnante. Meu suor parece veneno.

Eu me afasto do abraço do meu marido, mas não olho para ele; Tenho medo do que vouencontrar. — Eu tenho que ir.

Com isso eu começo a correr e saio correndo de lá. Abro a porta e saio para a luz do sol.Depois das luzes ostensivas do interior, o sol parece mais nublado. Tenho pontos pretos piscandoem minha visão.

— Pixie. – Abel grita.

Corro ainda mais rápido. As ruas estão vazias. Estranhamente, ninguém está por perto a estahora do dia. Todo este lugar está abandonado, esquecido por Deus.

— Pixie, porra. Pare de correr, caramba.

Sua voz me segue, alertando-me para o fato de que ele está atrás de mim. Por que ele nãopode me deixar em paz? Por que ele não pode me dar um pouco de privacidade? Sinto-meclaustrofóbica ao ar livre.

Abel é mais rápido do que eu. Muito mais rápido. Malditas pernas longas. Ele está bem atrásde mim quando viro e chego a um beco sem saída.

Ofegante, fico olhando para a parede de tijolos úmidos e mofados. Ele está forrado comlatas de lixo pretas e caixas descartadas. É tão estreito que a luz do sol mal consegue penetrar,envolvendo o lugar na escuridão.

— Pixie. – Abel diz, ofegando atrás de mim. — Vire-se, baby, por favor.

Não. Eu não vou. Eu não quero. Não quero olhar para o rosto dele e ver todas as respostasestampada nele. Eu também não quero fazer perguntas.

Eu balancei minha cabeça.

— Por favor, baby. Estou aflito. Apenas… Apenas vire, ok? Deixe-me ver seu rosto. – Suavoz está embargada. Ele nunca fala assim. Cada gesto seu, cada palavra é tão cheia de vida eenergia. E sexo. Sim, é sempre sedutor e tentador.

Isso é o que muda minha ideia e me faz virar. Sua voz solitária.

Seus olhos estão arregalados e preocupados. Ele tenta se aproximar, mas eu o impeço. —Não faça isso.

Ele fecha os punhos nas laterais do corpo e com o maxilar rangendo, esperando.

— Este é o seu trabalho, não é?

Ele acena com a cabeça. — Sim.

— É pornografia. Eles estão fazendo filme pornô lá dentro. É isso.

Outro aceno de cabeça.

— Então, o que você faz? Faz vídeos?

— Fotografias. Eu tiro as fotos. O vídeo é um departamento diferente.

— Departamento. Certo. Claro, existem departamentos.

— Pixie...

Enxugo minhas lágrimas com raiva. Eu não quero chorar mais. Eu não quero ser patética.Tenho enlouquecido nos últimos dias pensando que havia algo errado. Eu sabia que ele estavaescondendo algo de mim. Eu sabia. Mas eu fui tão estúpida, não fui? Não agora.

— Continuei perguntando e perguntando para você. Você me deixou pensar que não havianada acontecendo. Você mentiu para mim. Você tem mentido para mim. Você tem me deixadolouca todas essas semanas. Você... – Então algo me ocorre e eu paro.

Ele quer que eu faça isso? Ele quer que eu faça sexo com ele na frente das câmeras?

Eu me abraço, sentindo-me nua sem deixar cair um centímetro de roupa. Eu sinto a umidadena minha calcinha. De repente, parece muito claro. É tudo em que consigo pensar. Só consigopensar naquele casal lá. A maneira como se moviam. A maneira como eles foderam. A maneiracomo ele a amou como Abel me ama. Rude e desesperado.

Só consigo pensar em como Abel estava excitado, em como eu estava excitada, enquanto osobservávamos.

Ah, Deus, eu perdi o juízo. Isso não é normal. Pessoas educadas e normais não fazem isso.Eles não fazem sexo na frente das câmeras.

Abel está dizendo algo, mas eu o interrompo.

— Eu não vou fazer isso. Eu nunca vou fazer isso.

Agora, se eu pudesse, de alguma forma, parar de ver aquele casal na minha cabeça.

Seu maxilar fica muito tenso, com a veia em sua têmpora pulsando. — O que você medisse?

Eu mantenho minha posição. Eu piso firme. Finco raízes. Não me movo, não cedo, porquejuro por Deus que não vou tirar a roupa na frente do mundo inteiro.

— Eu disse que não vou fazer isso. Não importa que tenhamos feito sexo no beco aquelavez. Isso não conta. Não importa se estamos casados agora. Não foi por isso que você me trouxeaqui? Para me mostrar? Não foi por isso que você esperou para me contar até que eu estivessecasada com você? Você pensou que eu não vou dizer não porque somos casados. Não admiraque não tenha me contado. Não é à toa que escondeu isso de mim. Não admira que estejamentindo para mim. Porque não importa o que você diga ou o quanto excitado você estava, vocênão pode me obrigar a fazer isso. – Minha voz é um grito quando termino. Meus olhos são umrio correndo enquanto olho para ele. O desprezando.

Nada se move. Nada faz barulho. O mundo não pode estar vazio, mas com certeza está.

— Você quer saber por que eu não te contei, Pixie?

Eu não respondo. Estou muito alterada para dizer qualquer coisa agora, com a maneira comoele está me olhando, todo magoado e com raiva, como se fosse minha culpa. Como se euestivesse fazendo algo errado. Como se eu fosse a única tirando fotos de pessoas nuas ementindo sobre isso.

Um momento depois, seus ombros caem. Eles perdem todas as suas lutas. Seu queixo caiquando ele abaixa a cabeça. Isso me faz sofrer e me odeio por isso.

Não me importo se o sol está mais nublado ou mesmo se ele queimar. Eu não me importoque este beco esteja envolto em escuridão porque a luz é muito fraca para entrar. Eu não meimporto com nada disso quando o homem que eu amo, meu marido, está olhando para seus pés.Quando ele é o que mais brilha para mim. Quando ele é quem tem o poder de olhar para o céu, osol, Deus, todos.

Estou tão confusa.

Só quero voltar a esta manhã, quando as coisas estavam bem. Quero voltar para a primeiranoite em Nova York, quando éramos apenas dois fugitivos. Sem empregos, apenas aspirações.Sem mentiras, apenas promessas.

— Não contei porque sabia que você me olharia do jeito que está me olhando agora. – dizele, finalmente, levantando a cabeça.

— Como estou olhando para você?

— Como se eu fosse algo repugnante. Como se eu fosse um monstro.

Meu marido é um mentiroso.

Ele também faz pornô. Bem, não exatamente. Ele não consegue fazer isso. Ele só tira asfotos. O vídeo é um departamento totalmente diferente.

Eu gostaria de pensar que sou forte. Gostaria de pensar que a única razão pela qual volteipara o apartamento com Abel é porque sou madura e casada. E os casais conversam sobre coisas.E nós devemos também.

Mas assim que chegamos ao apartamento, corri para o nosso quarto e tranquei a porta. Abelbateu nela, exigiu que o deixasse entrar, mas eu recusei. Eu não queria estar perto dele e nãoqueria ficar longe. Isso faz algum sentido? Eu queria saber que ele estava por perto, mas nãoperto o suficiente para que ele pudesse me tocar. Eu sabia que ele estava morrendo de vontade.Eu sabia que ele daria qualquer coisa para me tocar e eu queria puni-lo. E eu queria ouvir suarespiração. Respirações selvagens e ferozes.

É noite agora, com a escuridão em abundância. Abel ficou quieto; ele parou de bater naporta. Eu sei que ele está por perto.

Não consigo dormir; o colchão está muito vazio e minha mente está muito cheia de coisas.Agarro o travesseiro contra o peito como faria com Abel e choro nele. Mas é muito macio e nãoquente o suficiente. Não tem braços e não coloca sua coxa pesada em cima da minha cintura.Não respira, não fala durante o sono como meu Abel faz às vezes. O travesseiro idiota me fazchorar ainda mais.

Deus, eu sinto tanto a falta dele e ele está apenas do outro lado da porta, esperando. Eu nãoquero passar a minha segunda noite como uma esposa sozinha. Ele deveria estar comigo, ao meulado, fazendo amor comigo. Ele deveria estar aqui. Ponto final.

Mas eu não posso deixá-lo entrar.

Na minha mente, eu vejo o armazém e aquelas pessoas. Quando eu estava lá, olhando paraeles, pensei que estavam apaixonados. Eu realmente pensei isso. Agora penso, e se elesestivessem apaixonados? Quanto mágico teria sido? Quanto selvagem, químico e explosivo? Elesteriam colocado fogo na frente das câmeras. As pessoas estariam falando sobre eles por dias.Então penso que é só pornografia. É barato e nojento. Não tem nada a ver com amor.

Penso em nossos vizinhos, que são barulhentos. Eles estão apaixonados, não estão? Achoque sim. Só os vi poucas vezes, ambos magros e altos e de cabelos escuros, e estão sempreconcentrados um no outro. Eles têm que saber que falam alto. Eles simplesmente não seimportam? Eles não se importam que outros possam ouvi-los? Talvez eles estejam tãoapaixonados que isso nem passa pela cabeça deles.

Na escuridão da noite, não parece tão ruim fazer sexo diante das câmeras, fazer sexo em umbeco, fazer sexo onde as pessoas podem nos ver. Minha pele formiga quando imagino os olhosdas pessoas em nós. A pele da parte superior das minhas coxas parece irritada depois da maneiracomo esfreguei minhas pernas. Estou enlouquecendo. Estou louca por pensar isso.

Quando chega o amanhecer, estou exausta, mas ainda não consigo dormir. Estou pensandoem ligar para Sky, mas é muito cedo para ela. Ela deve estar dormindo. Além disso, acabei defalar com ela e não quero dizer que em apenas 24 horas consegui bagunçar meu casamento.

Meus pais ficariam felizes, certo? Na verdade, presumo que os pais percebam esse tipo decoisa. Não é surpreendente. Compartilhamos genes, hábitos e comportamento. Faz sentido queeles saibam quando seu filho está com problemas. Minha mãe deve estar dormindo como umamorta esta noite, sem se importar e sem se preocupar. Meu pai deve estar se sentindo mais leve,porque ele já sabia que Abel seria ruim para mim.

Então, eles ganharam.

Estou chateada e com raiva pra caralho e quero quebrar alguma coisa. Quero abraçar Abel enunca mais soltar.

Mas eu não posso. Porque ele mentiu para mim. Ele quer que eu faça coisas indizíveis nafrente de uma câmera.

Ele disse?

Ele nunca disse isso, nunca disse as palavras. Eu supus. Mas então por que ele estavaexcitado?

Por que eu estava?

Não me lembro de ir dormir, mas quando acordo o quarto está superclaro. Abro a porta evejo Abel debruçado na parede oposta. Seu pescoço está inclinado em um ângulo estranho. Elevai ter um torcicolo por dormir de mau jeito. Ele faz isso. Ele geralmente dorme de mau jeito edepois reclama de dores no pescoço. Comprei um bom travesseiro para ele alguns dias atrásporque sei que ele não comprará um para si mesmo. Isso é outra coisa que ele faz. Ele tem zerodesejos materialistas. Todos os seus desejos são emocionais ou carnais.

Como se eu fosse algo repugnante. Como se eu fosse um monstro.

Vejo a sua expressão solitária e desapontada no beco. Ouço a falha em sua voz. Isso parte omeu coração. Isso me faz sentir vergonha de mim mesma. Como sou diferente das pessoas queme criaram se nunca dei a ele a chance de se explicar? Como sou... melhor? Mais uma vez, sintovontade de abraçá-lo. Eu quero beijar toda a sua dor, mas não quero. Eu não posso. Não até querealmente falemos sobre isso.

Vou até a cozinha e começo a preparar o café da manhã. Eu sou uma cozinheira de baixaqualidade, então geralmente é trabalho de Abel cuidar do aspecto alimentar. Eu acho que elegosta. Isso o faz sentir que está me sustentando.

Abel entra na cozinha no momento em que estou servindo café em uma xícara branca elascada. Ele está na bancada, com os olhos vermelhos e privado de sono. Nós olhamos um para ooutro através do espaço. Sei que ele quer se aproximar; Eu quero chegar mais perto dele também.A cama estava tão fria e solitária sem meu aquecedor humano.

Também sirvo uma xícara de café para ele e me sento na bancada. Ele faz o mesmo,sentando-se à minha frente.

— Tenho estado tão paranoica nos últimos dias que um dia decidi espionar você. Abri seunotebook e odiei cada segundo disso. Achei que estava quebrando sua confiança. Achei que

estava deixando todo mundo - meu pai - me atingir. – eu zombo. — Ele era o seu notebook, nãoera? Ethan mentiu por você. Ele te disse isso?

Abel balança a cabeça, envergonhado, com o arrependimento escorrendo por cadacentímetro de seu belo rosto. Claro, que era o seu notebook. Eu não sei por que acreditei emEthan.

— E aquela mulher que eu vi. Ela era Blu, não era?

Descobri um tempo ontem à noite que aquela mulher no auge da paixão era a mesma que euconheci no apartamento, semanas atrás. Lembro-me de dizer a Ethan e Abel sobre ela, e o Ethanficou envergonhado, enquanto Abel lhe deu um sermão sobre deixar estranhos entrar enquantosua noiva estava aqui. Não pensei que fosse grande coisa, mas deveria ter percebido. Não éengraçado como o cérebro funciona? Ele protege. Ele bloqueia as coisas. Ele rejeita apossibilidade de que algo esteja errado. Que a pessoa que você mais ama também pode ser apessoa que está machucando você.

— Sim.

Balanço minha cabeça, rindo. — Deus, você deve pensar o quanto estúpida eu sou, não é?

— Pixie, eu não... – ele para antes de dizer: — Não, eu não acho isso. Na verdade, acho queeu fui estúpida. Fui muito egoísta por mentir para você. Eu odiei isso. Odiei cada segundo disso.Houve momentos em que eu não queria voltar para casa e olhar em seu rosto confiante. Houvemomentos em que quase te disse. Quase arranquei minhas entranhas porque doía pra caralhoolhar em seus olhos, ver o quanto incomodada você estava e era por minha causa. E então umanoite você me perguntou se havia... – ele suspira, puxando seu cabelo bagunçado. — Não hámais ninguém para mim, Pixie. Nunca pode haver. Todos os dias eu me afogo em você e nãoquero voltar para respirar. Como pode haver outra pessoa? Eu não quero outra pessoa.

— Então, por que não me contou? Como você pode mentir para mim quando você me amatanto?

Ele parece estar organizando seus pensamentos e eu o deixo fazer isso, mesmo que queiragritar com ele, bater nele, fazer algo totalmente louco agora. Mas eu mereço uma explicação,uma explicação honesta.

— Meus pais e eu tínhamos um relacionamento difícil. Quando descobri sobre eles, houvedias em que os odiei por me contarem. E então os odiei por não terem me contado antes. Leveimeses, anos para me adaptar ao fato de que eles eram parentes e de que, não importa o queacontecesse, eu os amava. E essa era a raiz do problema. O fato de que eu os amava. Eles fizeramtudo que podiam para me dar uma vida normal. Eles me amaram. Eles cuidaram de mim. Eradifícil odiá-los, mas eu queria.

Abel respira fundo e passa os dedos pelos cabelos novamente. — E então, eles morreram eeu fui enviado para uma cidade onde as pessoas realmente os odiavam. Xingaram-os. Mexingaram. Eu... – ele balança a cabeça, com seus olhos lacrimejando.

Por que acho que hoje ele vai perder a batalha e suas lágrimas vão cair? Estou temendo esse

momento.

— Isso bagunçou minha cabeça. Eu queria revidar. Eu queria... destruir algo. Cada dia erauma luta. Todos os dias eu queria deixar aquela porra de cidade e ir para algum lugar que aspessoas não soubessem sobre eles e sobre mim. Você foi a única que tornou as coisas melhores.Você foi a única que me fez sentir melhor comigo mesmo. Você me olhou como se eu fossealgum tipo de milagre. Que eu era importante. Mas mesmo isso foi tão difícil de conseguir. Atéver você foi tão difícil. E tudo por causa dos meus pais, de onde eu vim. Quando eles morreram,eu prometi a mim mesmo que não os odiaria. Que faria todos os esforços para perdoá-los e nãojulgá-los. Eu não mancharia meu amor com ódio e confusão. Mas eu manchei. Quebrei minhapromessa.

— Eu te via pela cidade, na igreja e na escola. Eu via você rindo. Eu via como fazia vocêcorar. Como você estava morrendo de vontade de se aproximar de mim, mas não conseguia. Issome fez odiar meus pais novamente. Isso me fez sentir como aquele garotinho que não conseguiaentender o fato de que seus pais nunca deveriam ser pais de uma criança. Eles nunca deveriamser assim um com o outro. E agora por causa deles eu não poderia amar minha garota do jeitoque eu queria.

Deus, ele está partindo meu coração agora. Eu não consigo parar as minhas lágrimas. Aágua salgada escorre pelo meu rosto enquanto ouço o amor da minha vida abrindo seu coração.

— Muitas vezes eu pensei que deveria recuar. Eu pensei, se tantas pessoas estão dizendo amesma coisa, talvez estejam certos. Talvez meu sangue seja realmente ruim. Talvez eu nãomereça você. Mas sempre que pensei em desistir de você, eu... – ele esfrega o peito. — Nãoconseguia respirar. Era como se alguém estivesse esmagando o meu coração. Como se houvesseum peso dentro do meu peito e eu estivesse morrendo. Então não desisti. Eu não desisti de você.Não me arrependo disso, Pixie. Não me arrependo de te amar do jeito que amo.

— Eu também não. – sussurro, sabendo do fundo da minha alma, do fundo do meu ser queestou dizendo a verdade.

O músculo em sua mandíbula faz tique, mas ele não diz nada por um tempo. Eu gostaria queele falasse. Eu gostaria de saber sobre suas lutas. Nunca quis que ele se sentisse assim por seuspais. Eu nunca quis que ele os odiasse. Eles estavam apaixonados e, sim, pode ser errado eantinatural ou o que seja. Mas isso não é culpa do Abel. Por que isso é tão difícil para as pessoasentenderem?

Ele ri amargamente. — Quando Ethan me levou para o estúdio e eu vi o que era, pensei queele estava brincando comigo. O mesmo motivo que seu pai queria que eu fosse embora estavabem na minha frente. Como uma tentação ou algo assim. De um milhão de empregos nestacidade, eu consegui aquele pelo qual eles me condenaram. Era como se o universo estivesse medando um tapa na cara. Me dizendo que não sou bom o suficiente. Eu não sou normal osuficiente para você. Achei que fosse Deus me dizendo que eu deveria desistir de você. Quandodiabos isso iria acabar? Por que eles não me deixam em paz, pensei. Tudo que eu quero é minhaPixie. Por que tem que ser tão difícil?

Eu pego sua mão. Os hematomas em seu rosto desapareceram, mas nunca contei com os

ferimentos internos. Nunca pensei que se você ouvir algo cem vezes, você começa a acreditarque é verdade. — Abel, querido...

— Eu deveria ter ido embora. Eu deveria ter dito não. Mas, foda-se. Foda-se o mundo.Foda-se ser normal. Seus pais, sua cidade inteira não conseguiram me manter longe de você e eunão vou deixar Deus nos separar também. Eles não podem me julgar. Eles podem me odiar sequiserem, mas não podem me dizer o que fazer. Então, aceitei. Aceitei o trabalho porque possofazer o que eu quiser, contanto que...

— Contanto que o quê?

— Contanto que você não me odeie. – ele engole. — Eu sei que o que fiz foi errado. Eudeveria ter dito a você desde o início. Eu deveria ter feito você entender, mas fiquei com medo.Achei que você fosse me deixar. Achei que você iria começar a acreditar no que as pessoassempre lhe disseram. E... eu não seria capaz de aguentar. Eu estive separado de você por tantotempo que não seria capaz de fazer isso de novo. Você me escolheu na noite em que fugimos,você me deu o privilégio de estar com você para sempre e eu não seria capaz de deixá-la ir. Eunão sou tão forte.

Mesmo que o meu coração esteja completamente partido, despedaçado, preciso dizer a ele:— Você não pode fazer isso, Abel. Você não pode tirar minha escolha. Você tem que confiar emmim, ok? Acredite em mim que sempre vou escolher você. Você não pode mentir para mim.Você não pode quebrar minha confiança. Você não pode. Eu não aguento. Eu não acho que euconseguiria lidar se isso acontecesse. Promete-me. Por favor.

— Eu prometo.

Eu aceno, enxugando minhas lágrimas e olho para o meu café frio.

— Não tenho vergonha disso. – diz ele em tom desafiador, como um garotinho que estátentando se defender. — O trabalho, quero dizer. É um trabalho. Não é convencional, mas nãotenho vergonha.

Isso aperta meu coração. — Eu sei.

— E eu... eu nunca obrigaria você a fazer nada que não quisesse. Eu nunca pediria a vocêpara foder na frente nas câmeras.

Minha respiração dificulta com as suas palavras. A vibração, os arrepios que venho tentandoconter começam novamente. Pressiono minhas coxas juntas. — Você... você já pensou sobreisso?

Suas narinas dilatam quando ele respira fundo e me conta a verdade. — Eu sou um cara. Eupensei sobre isso, sim.

Não sei por que estremeço, mas eu estremeço. Estremeço e arrepio e meus mamilosenrijecem. Uma correnteza percorre todo o comprimento do meu corpo. É mais do que umacorrenteza. É uma rebelião. Sob minha pele, circulando em meu sangue. Parece um terremotoque vem se acumulando há anos.

— Você me odeia? Você me odeia por pensar nisso? – ele me pergunta em um pequenosussurro.

Eu me deixei levar, então. Minha dor, minha raiva é grande demais para as lágrimassilenciosas. Minha dor tem sons. Tem agonia. Então choro e soluço. Choro pelo homem naminha frente. Choro pelo garoto que me amava tanto que começou a odiar os próprios pais. Euchoro pelo que meus pais fizeram com ele. Choro porque estou cansada de carregar esse ódio,esse sentimento de injustiça. Eu quero curar isso. Eu quero fazer algo para expurgar isso do meucorpo. Eu quero machucá-los como eles nos machucaram. Eu quero justiça. Quero mudar omundo para que nenhuma criança tenha que arcar com as consequências dos atos de seus pais.

Balanço minha cabeça quando Abel se levanta e me leva em seus braços. Eu vejo umalágrima escorrendo pelos contornos rústicos de sua bochecha e isso me faz chorar ainda mais.Abel sempre foi tão forte, um pilar que nunca deixa suas lágrimas caírem, mas hoje ele chora. Euchoro e soluço até não poder mais.

E então olho para ele. — Eu também os odeio, você sabe. Meus pais. No primeiro dia aquiquando me perdi, vi meu pai na rua. Achei que ele estava aqui para me aceitar de volta. Eu aindao vejo às vezes. Nas ruas. Nos meus sonhos.

Seus braços flexionam em volta da minha cintura. Sua respiração muda. Ele está zangado.— Ninguém pode tirar você de mim. Você é minha.

Eu me coloquei em seu lugar, reduzindo meu mundo a ele. Eu respiro em sua boca trêmula eraivosa. — Mostre-me. Ame-me do jeito que só você pode. Ame-me como se estivéssemosmorrendo e nossa luxúria é a única coisa que pode nos salvar. Ame-me como sua esposa.

Ele faz. Ele me carrega para o nosso quarto, me joga na cama e me penetra.

— Mais fundo... – eu gemo.

— Sim. Vou entrar dentro de você, Pixie. Para que você nunca mais fuja de mim.

— Eu nunca vou fugir de você. – eu prometo enquanto ele penetra com uma violência quebalança todo o meu corpo.

Ele pressiona um beijo suave no lado do meu pescoço antes de lamber a curva com sualíngua quente. Como um animal. — Ótimo. Porque você tem que estar fora de si para pensar queum dia vou deixá-la ir.

Sorrindo, eu gozo, escorrendo sobre seu comprimento duro. Gozo no pau do meu marido.Eu gozo como sua esposa. Meu orgasmo traz o dele e ele tira seu pau para ejacular na minhabarriga.

Não há nada mais doce do que estar unida ao homem que você ama, o homem com quemvocê é casada. É um nível diferente de intimidade. Mas, pela primeira vez, sinto que quero mais.Eu quero algo além disso. Abel olha nos meus olhos e eu vejo a mesma fome nas profundezas deseu olhar.

Mas o que poderia ser mais íntimo do que isso? O que poderia ser mais íntimo, mais

revolucionário do que ser um com a pessoa que você ama?

Abel tira alguns dias de folga simplesmente para ficar comigo e eu também.

Meu chefe, Milo não está feliz com isso, mas não é como se eu fosse a funcionária do mêsou algo assim. Não, eu nem sou uma boa garçonete. Na verdade, odeio meu trabalho. Odeio terque ficar de pé o dia todo e que as pessoas me chamem, por favor, em vez de pelo meu nome.Meu uniforme consiste em shorts pretos, exatamente o que eu odeio. Minhas costas doemquando volto para o meu apartamento, com vizinhos barulhentos e maníacos por sexo.Principalmente, eu odeio o fato de ser uma garçonete fracassada. Deixo as coisas caírem comfrequência. Mesmo que o Abel me diga para desistir, eu não vou. Eu vou ser uma adulta eaguentar. Mas é bom ter alguns dias de folga.

Passamos todos os momentos do dia juntos, principalmente enfiados em nosso quarto,conversando ou fazendo amor.

— Eu não ronco, seu grande idiota. – eu bato em seu peito nu. — Além disso, você faladurante o sono.

Estamos no colchão, com ele deitado de costas e eu apoiando minha cabeça em seu ombro.Estamos falando sobre todas as coisas que não sabíamos um do outro antes de morarmos juntos.

— O que? Isso é insano. – ele bate na minha bunda como recompensa.

Eu pressiono meu queixo em seu peito, fazendo-o rir. — Você fala.

Sorrindo, ele agarra meu cabelo porque bem, isso é coisa dele. — É, o que eu digo?

Mordo meu lábio, sorrindo. — Você diz o quanto ama minhas tortas de maçã. Você sentemuito por ter deixado toda a sua roupa suja no chão e como você deve beijar os pés de suaesposa por limpar sua sujeira.

Ele me vira para que eu fique de costas e ele entre minhas coxas. — Ah, eu definitivamentefalo sobre isso. Definitivamente falo sobre beijar minha esposa, deixá-la suja e comer sua torta.

Rindo, eu me contorço sob ele. — Você é tão cafona, Abel. O cara mais cafona de todos.

— Mas você ainda me ama.

Eu aceno antes de arquear minhas costas e o convidar para estar dentro do meu corpo. — Euamo.

Assim que nossa luxúria foi saciada por enquanto, digo a ele que em algumas partes domundo é realmente normal se casar com seu primo-irmão. Não há tabu contra isso.

— Você não deveria odiá-los, Abel. Principalmente não por minha causa. Principalmentepor causa do nosso amor. Prometa que você não vai odiá-los. Prometa-me, Abel. Nosso amornão será a razão de mais ódio.

Ele concorda. — Eu prometo que vou tentar.

— Obrigada. – eu beijo seu queixo.

Enquanto caio no sono em seu peito nu e suado, me pergunto como alguém pode se vingardo amor. Eu me pergunto por que as pessoas travam guerras em nome dele, quando tudo o que oamor pede é paz.

Logo, porém, nossa folga chega ao fim. Abel tem que voltar a trabalhar e peço a ele que meleve junto. Embora tenhamos conversado sobre seu trabalho e como tudo funciona, nãoabordamos o tópico sobre estarmos na frente das câmeras. Acho que ambos temos medo de falarsobre isso, reconhecer as coisas que estamos sentindo. Ou talvez seja só eu. Não posso deixar depensar em como isso é anormal. Quanto é inaceitável. Tão pouco convencional. E o quanto estouintrigada com tudo isso.

Estamos nos preparando no banheiro para ir para o armazém. Abel está tomando banhoenquanto eu faço o que quase nunca faço: colocar um pouco de maquiagem. Mas sinto quepreciso disso hoje. Eu preciso parecer melhor possível. Eu cuidadosamente aplico o delineador eo rímel, e pinto meus lábios com um tom mais escuro de rosa antes de enrolar meu cabelo liso.

Abel puxa a cortina do chuveiro, que julgo estar crescendo algo no fundo, onde encontra aágua. Definitivamente, precisamos acelerar nosso jogo na procura de um apartamento.

Ele está molhado, com seu cabelo loiro escuro penteado para trás, gotas de água grudandoem seus músculos e ele está nu. Deus, meu marido é o homem mais sexy do mundo.

Ele pega uma toalha do gancho da porta e a enrola na cintura. — O que você fez com meucabelo? – Abel franze a testa, olhando para meu cabelo.

— Seu cabelo? – eu levanto minhas sobrancelhas para ele.

Ele pega uma mecha longa e enrolada e a esfrega suavemente entre os dedos, desmentindototalmente o tom de sua voz e seu olhar. — Uhum.

Como é que ele me faz sorrir e querer bater nele ao mesmo tempo? — Eu fiz o estilo. O quefoi? Parece estúpido?

Ele olha meu rosto, passando os olhos por todo o lado. Eu me sinto constrangida. Querdizer, não sou uma especialista, mas acho que posso colocar um pouco de maquiagem. Todagarota nasce com esse gene, certo? Eu só preciso de um pouco de prática. Ele se inclina na minhadireção, todo molhado e quente.

— Abel, você está pingando no meu vestido. – eu repreendo, olhando para as manchasmolhadas no tecido rosa.

Segurando o meu queixo, ele estica o meu pescoço e me beija completamente. Ele devorameus lábios, mordendo o contorno e lambe meu batom. No momento em que ele levanta acabeça, estou respirando com dificuldade, segurando a sua corrente. — Nunca coloque essa corestranha nos meus lábios.

Limpando a boca com as costas da mão, ele sai, arruinando tudo que eu coloquei tantoesforço e me fazendo meio que sorrir.

Quando chegamos ao armazém, Abel abre a porta de metal, mas faz uma pausa. Ele olhapara trás e estende a mão em minha direção, com a palma para cima. A pele em sua palma éáspera e eu sei como é bom quando ela toca a minha pele. Não importa se ele está acariciandominha bochecha ou batendo na minha bunda. Suas mãos nunca deixam de me proteger.

Eu deslizo minha mão na dele.

Juntos, entramos em outro mundo. Luz. Há tanta luz aqui. Isso não é natural. Como estrelasvão morrer neste lugar, liberando toda a luz dentro delas que nenhum mero mortal podecontrolar. Abel assina para mim na porta e consegue um crachá de visitante. Algo que nãopercebi quando estive aqui da última vez.

O número de camas é o mesmo. Três. Mas as cenas são diferentes. Hoje, dedico um tempopara observar todas elas.

Na primeira cama, mais próxima da porta, uma garota se contorce nos lençóis. Seu cabeloescuro parece quase um com o tecido preto. Seus lábios estão vermelhos; sua pele está todavermelha e úmida, seios virados para o céu. Sua mão está entre as pernas enquanto ela se dáprazer. Espero ver um homem em algum lugar, mas entra outra mulher. Esta é loira, mas maismagra que a da cama. Ela tem um pequeno piercing no umbigo quase imperceptível.

Isso me faz pensar em minha própria barriga, com toda a sua maleabilidade e parecendouma almofada. Abel adora brincar com ela, apertar, mas é realmente tão boa assim? Quer dizer,

não estou nem perto de ser tão tonificada e esfomeada quanto essas garotas.

Não sei por que, mas me faz sentir... decepcionada por não ser tão perfeita ou pronta paraficar na frente das câmeras. Isso me faz sentir que minha primeira tentativa de maquiagem foi umgrande fracasso.

Bem, o que isso importa? Não sou eu que estou fazendo todas essas coisas, certo?

Certo?

Engolindo, eu desvio o olhar e Abel me conduz para frente. Ele está me deixando levar omeu tempo. Não me fazendo apressar enquanto absorvo este lugar de outro mundo. Não sei porque parece assim quando sexo é a coisa mais básica do mundo.

Na verdade, provavelmente deve ter sido a primeira coisa no mundo.

Um dia Adão deve ter voltado para casa, comendo todas as maçãs, e deve ter dito a Eva: Ei,o que vamos fazer quando morrermos? Quem fica com tudo isso? Nossa cabana e todas asroupas de folhas que fizemos.

Então Eva deve ter dito: E se pudermos encontrar mais pessoas de duas pernas como nós?

Então, eles devem ter passado horas pensando e ponderando, até que ocorreu a Adão.Vamos cultivá-los. Cultivamos tudo o mais por nós mesmos. Por que não podemos cultivarpessoas?

Só que eles não sabiam fazer isso. Mas eles devem ter sentido coisas - coisas com tesão -então eles seguiram seus instintos e nove meses depois, voilà. Eles tiveram uma criatura de duaspernas.

Coloco minha mão na minha boca para parar minha risada histérica. Eu perdi a cabeça. Euperdi completamente a cabeça.

— Você está bem? – Abel me pergunta, olhando para mim com tanta preocupação e amor.

Eu não posso evitar, então. Eu fico na ponta dos pés para que possa beijá-lo. O toque denossos lábios diminui a decadência deste lugar.

Na segunda cama, uma mulher com cabelo loiro mel está deitada em cima de um homem, decostas para o peito dele. Ah, meu Deus, ela está totalmente exposta. Tipo, as pernas dela estãoem cada lado das coxas dele e eu posso ver sua boceta. Está tudo esticado e tão rosa, com suaereção dentro dela, e ela está se esfregando nele. Admito que adoro a maneira como seus quadrisse movem, de um lado para o outro, para cima e para baixo, os músculos das coxas tensos. Seusgemidos são altos, e sim, falsos, eu acho. Mas eu não consigo parar de assistir.

Um segundo depois, outro homem entra em cena. Ele é alto e bonito daquele jeito maquiadoque você vê na TV. Ele caminha até a cama, todo nu, com seu pau - pau grande - em seu punho,bombeando para cima e para baixo.

Jesus Cristo, isso não pode ser de verdade. Seu pau deve ter pelo menos 38 cm. É tãoenorme, grosso e duro. Eu nem acho que pode ficar de pé. Por causa da gravidade.

Então não consigo ver nada além do peito do meu marido. — Pare de olhar, porra.

— Mas você olhou para a coisa dele? Nunca tinha visto algo assim antes. – eu aceno minhamão. — Quer dizer, eu só vi o seu, mas ainda é. O seu não é tão grande.

Um músculo lateja em sua mandíbula. Antes que eu perceba, estou rente ao seu corpo, commeus seios esmagados contra seu peito e seus braços em volta da minha cintura. — Você querdizer isso para mim de novo?

— Abel... – eu observo seu rosto, parando. — Você é ciumento?

— Não tenho ciúme de coisas falsas. – ele resmunga.

Enrolo as pontas de seu cabelo em seu pescoço, rindo. — Ótimo. Porque não acho que eleseja verdadeiro. Além disso, nem consigo imaginar o quanto doloroso seria.

— Tudo que você precisa imaginar é meu pau dentro da sua boceta.

Mordendo meu lábio, eu olho para ele através dos meus cílios. — E quanto a você? Eu nãosou como essas garotas aqui. Meu corpo não é todo tonificado e musculoso, você sabe.

— Vamos voltar a discutir esse assunto de novo, Pixie? – ele abaixa o rosto até que seunariz toque no meu. — Quer saber o que penso quando olho para eles?

Eu aceno.

— Você. Eu penso em você. Eu sei que este lugar é decadente pra caralho. Sei que é falso,feio e você não fala sobre isso com pessoas educadas. Inferno, as pessoas não admitem verpornô, muito menos fazer. Há luxúria e pecado em cada canto.

Ele beija minha testa. — Mas mesmo assim, você consegue romper. Ouço um gemido falsoe penso nos verdadeiros. Vejo uma garota mordendo o lábio para parecer tímida, penso na minhagarota e como ela morde o lábio porque é tão bom para ela. Você não entendeu? Você torna tudobom e puro. Você faz de tudo uma aventura. Quando estou com você, não tenho medo de nada.Não tenho medo de ser um pecador. Não tenho medo de ir para o inferno. Porque meu céu estácomigo.

Meu nariz está formigando e preciso piscar algumas vezes. Estou sem palavras.

Abel ri. — Você vai chorar por mim aqui?

— Talvez. – eu começo a chorar.

A sessão de fotos de Abel leva cerca de uma hora ou mais, e até então fico de lado. O casalque ele está tirando fotos é um dos mais apaixonados, eu acho. Eles estão olhando muito nosolhos um do outro. Ele está sussurrando coisas em seus ouvidos enquanto a joga na cama.

Estou com tesão e inquieta. Quero que o meu marido termine o trabalho para que possamosfazer sexo.

— Oi. – Uma garota parada ao meu lado me cumprimenta.

É Blu. Então, ao que parece, além de trabalhar aqui, Ethan tem um negócio paralelo. Ele faz

vídeos de sua casa e Blu estava lá naquele dia para atuar para ele. Os espelhos de seuapartamento proporcionam uma vista excelente, diz ele.

— Hum, oi. – eu digo, envergonhada.

— É bom ver você novamente. – ela me oferece sua pequena mão saindo de um roupãogrande e macio.

— Sim. – eu aperto a mão dela. — Você também.

Seu sorriso é gentil, enquanto ela me observa. — Sabe, eu não disse nada porque não penseique fosse da minha conta. Além disso, tínhamos acabado de nos conhecer e não queria causarnenhum tipo de problema.

— Está tudo bem. – eu me obrigo a não corar. — Eu não... eu não a culpo por nada.

— Vocês se casaram, então?

Sorrindo, eu olho para meu marido que está estreitando os olhos por trás da câmera, focadono casal. — Sim. Na semana anterior.

— Isso é ótimo. Parabéns.

— Obrigada.

— Para que conste, ele realmente ama você. – ela aponta o queixo para Abel. — Eutrabalhei um pouco com ele. Ele só fala sobre você.

Ah, eu sei que ela trabalhou com ele. Vi o vídeo dela no notebook do Abel.

Ele está se curvando agora, agachado sobre os calcanhares. — Eu também. Ele é tudo paramim.

Então ela sorri e me cutuca. — Estou muito feliz em conhecer outro casal, a propósito. – elaestende seu grande anel de diamante gigante. — O meu está ali. Nick. – ela aponta com o queixoem direção a um cara tatuado com uma câmera no pescoço, conversando com outro cara tatuadoperto da janela.

Por um momento, estou surpresa. Embora eu não saiba por que isso seria. Abel e eu nãopodemos ser as únicas pessoas casadas aqui. Mas ela não estava no apartamento de Ethan paraatuar? E quem era aquele cara com ela naquela fita?

— O que você está pensando? – ela pergunta brincando.

— Nada. – Então: — Você está esperando para uma cena?

— Ah não, eu acabei de fazer a minha.

— Mesmo? Onde? – Existem apenas três camas neste espaço e tenho observado todas elasde perto. Até mesmo o trio. Minhas bochechas coram com o pensamento.

— Lá atrás. – ela aponta com um dedo e com certeza, há um corredor no final do espaçosemelhante a um estúdio que é flanqueado por portas. — Isso é mais radical, sabe. É silencioso,

mais físico lá atrás. Para ter a sensação de amador.

Eu aceno como se eu entendesse.

— Então você, hum, faz isso com seu marido, então? – Caramba, eu não deveria bisbilhotar.Mas eu não posso evitar.

Ela está se divertindo. — Não. Ele é quem está tirando fotos, no entanto.

Tantas perguntas. Mas não vou perguntar a eles. Isso não é educado. Além disso, não é daminha conta.

— Certo.

Ela ri. — Isso te incomoda? Eu fazendo sexo com outra pessoa na frente das câmeras.

Abro minha boca e, em seguida, fecho. — Não. Claro que não.

— Está tudo bem. Eu não me importo. – ela olha ao redor da sala. — Isso é realmentetemporário para nós. Na verdade, vamos nos mudar em alguns meses. Entrei na UCLA.

— Ah, uau. Isso é tão bom. Parabéns.

— Obrigada. É, estou superorgulhosa. Eles têm um ótimo curso de psicologia.

Eu me viro completamente para ela. — Você é uma graduada em psicologia?

— Eu sou, sim.

Ok, eu estou fazendo isso. Eu estou fazendo a pergunta.

— Não me leve a mal, mas... – eu faço uma careta. — Por que você faz isso?

Blu apenas ri e me dá toda a atenção. — Dinheiro, basicamente. Nick é fotógrafo. Foi elequem me trouxe quando ele se envolveu. Eu já tinha sido modelo e pensei, por que não? Édinheiro fácil e também é meio libertador e emocionante. Além disso, nós nos casamos muitojovens e não tínhamos dinheiro, então não podíamos ir para a faculdade imediatamente. Masagora podemos. Nós dois vamos para a UCLA e tudo aconteceu por causa disso.

— Percebi.

Ela sorri como uma irmã mais velha e me sinto tão jovem agora. — Posso te contar umacoisinha? Sem ofensa, mas eu sinto que você é doce e um pouco perdida.

— OK. – eu puxo meu cabelo mal enrolado para trás.

— É apenas um trabalho. Você sabe como em cada trabalho você encontra diferentes tiposde pessoas? Você os encontrará aqui também. Para alguns, é apenas um bico. Como eu e Nick.Uma maneira fácil de ganhar dinheiro. Para alguns é uma maneira fácil de chamar atenção, de sesentir em destaque, sabe? Muitas pessoas aqui queriam ser atores, mas não foi assim queterminou. Muitas pessoas vêm porque são viciadas em sexo e luxúria, e esta é apenas umamaneira legítima de ganhar dinheiro e fazer o que amam. Alguns realmente não sabem mais oque fazer. Isso é tudo que eles sabem.

Ela suspira. — Mas algumas pessoas vêm aqui porque é uma espécie de válvula de escapepara elas. A vida toca a todos nós, certo? Todos nós começamos com estrelas em nossos olhos,mas nem sempre é estrelado e colorido. Merdas acontecem e às vezes você não sabe para onde ir.Você vem aqui. Não é muito diferente do que injetar drogas ou olhar para o fundo de umagarrafa. Pelo menos lhe dá algum poder. Você pode manipular emoções, despertar as pessoasmesmo quando elas não querem ficar excitadas. Às vezes, a vida tira seu poder e você faz coisaspara recuperá-lo imediatamente. Na verdade, isso é muito humano.

Cutucando meu ombro, ela sorri novamente. — Na verdade, essa é a própria definição deser humano. Você está sofrendo, então devolve ao universo de alguma forma. Você assume opoder em suas próprias mãos e quem se importa com o que o mundo pensa.

Suas palavras ecoam em minha cabeça. Elas ecoam e ecoam até que seja tudo que eu possoouvir. Nem os gemidos, nem os cliques e gritos.

Eu quero machucá-los como eles nos machucaram.

Meus olhos vão para Abel. Ele está ereto, com sua câmera abaixada. Ele está observando ocasal não com as lentes grossas que usa para tornar tudo imortal, mas com seus próprios olhos.Seus lábios estão separados e mesmo de longe, posso ver o rubor escuro em suas bochechas.Posso ler a tensão em seu corpo.

Ele está excitado; Eu também. E eu sei que ele está pensando em mim, assim como eu estoupensando nele. Não fico surpresa quando seus olhos me encontram e se fixam. Eu conheço meumarido de dentro para fora; Eu posso ler essas órbitas escuras.

Posso ler o desejo neles, a fome de poder.

Isso fala com minha alma. Meu coração está disparado. Acho que talvez tenha encontradoexatamente o que estávamos procurando. Eu descobri algo que vai além da intimidade para oreino do revolucionário. Eu encontrei uma saída para nossa raiva.

Eu encontrei nossa rebelião.

Estou na janela do nosso quarto. É meio da noite, mas as ruas ainda estão acesas, as pessoasainda estão acordadas e caminhando. Eu não conseguia dormir e eu não queria acordar o Abel

com todos meus movimentos, então vim aqui.

Mas eu deveria saber. Abel não consegue dormir sem mim, então ele acorda alguns minutosdepois e vem para ficar atrás de mim. Seus dedos quentes agarram meus quadris nus enquantoele esfrega sua bochecha mal barbeada sobre meu cabelo.

— O que você está olhando, Pixie?

— Eles. Do outro lado da rua.

Um casal está parado na calçada, abraçados. Eles são jovens, devem ter a nossa idade, talvezalguns anos mais novos. A garota tem um topete e o cara está usando um boné que esconde orosto. Eles estão encostados na parede enquanto o cara a beija. Eles estão de mochila, os tênispraticamente um em cima do outro enquanto suas mãos agarram e puxam para aproximar um dooutro. Mais perto do que fisicamente possível. Eu conheço o sentimento.

As pessoas passam por eles sem desperdiçar um olhar. Eles podem ser menores de idade,pelo que parece. Podem ser parentes, pelo que parece. Mas ninguém questiona seu amor, amaneira como devoram a boca um do outro. Aposto que ela está gemendo alto, mas é abafadopelos sons da meia-noite da cidade.

— Por que dói tanto? Olhar para eles assim. – eu pressiono contra ele, esfregando minhabunda para cima e para baixo em seu pau, acordando-o, tornando-o duro.

Seus dedos apertam enquanto ele aperta minha pele. Ele começa a se esfregar contra mimtambém, passando sua ereção venosa para cima e para baixo na fenda da minha bunda. Eu sintoque está ficando úmido e grudento enquanto seu pau escorre pré-sêmen.

— Porque eles têm o que nós nunca tivemos. Liberdade para estarem apaixonados.

Suas palavras emocionadas atingem os meus ouvidos, a nuca e a inclinação dos meusombros, e viajam até os meus seios. Eles ficam inchados e pesados, sendo puxados para baixo,ao que parece, pela força da terra. Há um formigamento em todos os lugares, em meus mamilos,meus dedos dos pés, as pontas dos meus dedos, no fundo do meu estômago. Em meu núcleo. Euesfrego minhas coxas.

— Por que você não consegue dormir, baby?

— Eles não estão procurando por nós, Abel.

Ele fica tenso atrás de mim. — O que?

Não contei a ele sobre a conversa que tive com Sky dias atrás. Eu não sabia o que dizer aele, como explicar o que estava sentindo. Eu pensei que isso iria passar. Mas não consigoesquecer. Eu não posso esquecer aquela noite. Não consigo esquecer seus olhos maldosos eperversos. Como meu pai jogou o garoto que amo na prisão. Como ele o espancou. As acusaçõesda minha mãe.

É assim que garotas inocentes acabam na internet. Você as educa de uma certa maneira e éassim que elas retribuem.

Agora, eu sei que ele também está sentindo. A raiva pela injustiça. A raiva por ser chamadodo que não é. Não podíamos fazer nada sobre isso antes. Não dissemos nada. Ficamosimpotentes.

Mas não estamos agora. Somos livres. Nós somos nossos próprios deuses. Podemos fazer oque quisermos. Podemos pegar esse poder de volta, quebrar as regras, prejudicar o universo, aténos sentirmos melhor.

Podemos fazer dessa nossa aventura. Nossa primeira aventura como casal.

— Meus pais. Eles não estão procurando por nós. Eles não se importam. Elesprovavelmente dormem à noite, um sono sem sonhos, sem a culpa os corroendo pelo que fizerama nós. Eles nos crucificaram sem nenhum motivo e eles... – eu bebo as minhas lágrimas, engulo-as enquanto olho para o casal, ainda se beijando. — Não estão sendo punida por isso.

Abel abaixa a cabeça em meu ombro; Posso senti-lo tremendo, vibrando, com o seu peito seexpandindo com respirações furiosas. — Eu quero matá-los. Cada um deles. Cada vez que pensono que fizeram você passar, quero colocar fogo naquela cidade.

Afundo meus dedos em seu cabelo macio, me esfregando contra ele.

— Eu também. Pensei que queria mais nada com aquele lugar, mas não. Eu quero puni-los.Ser o pior pesadelo deles. – sussurro, expondo a minha garganta, e ele vai para a matança.

Toda a agressão que ele está sentindo, ele coloca isso marcando minha pele. Todas aspretensões se foram. Não estamos nos tocando acidentalmente no escuro ou esfregando nossoscorpos inocentemente. É mais do que isso. É o começo de algo. Ele está movendo seus quadrisem um ritmo constante e longo, usando suas mãos para separar as minhas nádegas, percorrendo ocomprimento de seu pau entre a dobra.

Quando ele sobe para respirar, eu viro e fico de joelhos, olhando para ele.

Ele brilha em laranja, vermelho e amarelo, cortesia do poste e das placas de néon. Deus, eleé tão grande, alto e robusto, com o seu pau latejando.

— Pixie... – ele tenta se afastar um pouco, mas eu agarro suas coxas fortes e peludas. Tãosuave mas ásperas ao mesmo tempo.

— Deixe-me chupar você. Eu quero fazer isso. Por favor.

É uma surpresa para mim que ainda não o fiz. Provei seu esperma, lambi a coroa roxa de seupau, mas nunca o chupei. Não tenho certeza do porquê. Às vezes ele está muito impaciente parame penetrar e às vezes estou morrendo de vontade de ele me preencher.

Mas esta noite, eu quero fazer isso.

Abel acaricia o meu cabelo com seus longos dedos. — Como quiser, baby. Mas não podeme responsabilizar pelo que acontecer quando você envolver seus lindos lábios rosados em voltade mim.

Eu me inclino para frente e dou uma pequena lambida, fazendo-o sibilar e agarrar meu

cabelo. — É? O que vai acontecer?

De joelhos, ele parece enorme. Uma torre. Um prédio. O Empire State: o prédio mais altoque já vi. Cada protuberância de seus músculos, cada curva precisa está em exibição e eu querolambê-lo todo.

— Eu posso acabar fodendo sua boca minúscula como eu fodo sua boceta minúscula e amelhor parte é que não terei que tirar. Vou inundar seu buraco desta vez. – ele murmura.

Abro a boca e chupo a coroa salgada como se fosse um pirulito. Seu queixo abre e suacabeça cai para trás. Eu gemo em torno de sua coroa inchada. — Sim, eu quero isso. Eu querosua porra, Abel. Isso vai me fazer sentir melhor.

Ele abaixa a cabeça, com seus olhos mais escuros do que nunca e sua pele vermelha elaranja como a de um demônio. — É? Você quer seu remédio, baby?

Eu aceno, agarrando a base de seu eixo quente e passando em todos os meus lábiosmolhados. — E vitaminas. Quero minhas vitaminas ou posso morrer.

— Não podemos ter isso, podemos? Se você morrer, eu morro também. – ele paira sobremim, como uma sombra vermelha e escura, prendendo meu cabelo em um punho, arqueandomeu pescoço. — Então chupe meu pau, Pixie. Faça-me o homem mais feliz do mundo.

Uma corrente vibra pelo meu corpo, inunda meu núcleo, e eu faço isso. Chupo seu pau.Minha boca se abre, se estica como minha boceta fez semanas atrás no sofá sujo e áspero e eu oconsidero. Ele é quente, almiscarado e salgado.

Meus dentes colidem com sua pele aveludada e ele estremece, gemendo. Estou girandominha língua em todo seu comprimento sexy, provando-o, guardando-o na memória para que eupossa continuar durante o dia quando ele se for e eu não puder chegar ao seu pau. Ele é a coisamais saborosa que já comi na minha vida. Nem o chocolate se compara ao gosto do meu marido.

— Porra, Pixie, você vai me matar.

Eu rio em torno de seu pau e ele estremece. Agora, ele está me deixando fazer o que euquiser. Lambe-lo por inteiro, de cima a baixo. Giro minha língua em torno de sua coroa, pegandoseu pré-sêmen daquele buraco de alfinete. Apertando a base de seu eixo e torcendo-o, apertandocomo eu o vi fazer. Mas eu sei que em breve ele usará minha boca como usa meu pequenoburaco e o fode com sua agressividade. Então o cutuco com minha língua, brinco com suasbolas, passo minhas unhas para cima e para baixo em suas coxas.

E então, começa: com seu movimento lento. No início, é apenas superficial; seu pau vai parao fundo da minha boca, isso é apenas um pouco desconfortável. Mas então, ele empurra parafrente, me fazendo tomar quase tudo dele. Eu cravo minhas unhas na pele áspera de suas coxasenquanto os meus joelhos cravam no chão de madeira, e minha bunda e costas batem na parede.

Estou sufocando com seu comprimento e ele sabe disso. Ele me encara com olhos maldosose encobertos. — Estou curando você, Pixie?

Gemo, fazendo-o sentir as vibrações em seu comprimento, arqueando o meu pescoço para

que eu possa tomá-lo mais.

Ele mostra os dentes, como se fosse um animal ou um selvagem dos tempos antigos. —Você é uma deusa maldita, baby.

Seus gemidos, palavrões e elogios estão tornando tudo melhor. É difícil respirar e minhaboca está completamente esticada, mas eu não me importo. Sim, ele está me fazendo sentirmelhor com suas estocadas brutais e seus dedos cruéis no meu cabelo. Ele está me curando, mefazendo esquecer tudo. Meu curandeiro.

Eu deixo ele me usar e nisso, eu o uso também. Eu brinco com meus seios pesados, beliscomeus mamilos doloridos e esfrego meu clitóris.

Meu corpo estremece e minhas curvas saltam com suas estocadas e, em seguida, estougozando em minha mão e gemendo ao redor de seu pau. Ele não aguenta muito depois disso. Elecomeça a disparar seu esperma na minha garganta. Disparo após disparo de seu creme salgado edoce. Tusso um pouco, mas principalmente engulo. Encho o meu estômago com o remédio queele me dá; só então posso respirar.

Abel solta meu cabelo e os fios caem nas minhas costas enquanto ele puxa, com o seu pautodo molhado e brilhante, coberto com seu próprio esperma e minha saliva. Fios molhados decuspe ligam meus lábios doloridos ao topo de seu eixo, como uma espécie de fio erótico de vida.Ele está prestes a se inclinar e me levantar para que possa envolver seus braços em volta de mim;Eu sei. Mas eu pressiono minhas mãos com força em suas coxas e o detenho.

De joelhos, esticando o pescoço, olho para ele, meu marido, meu deus. — Eu estouassustada.

Eu não digo a ele sobre o que, mas ele já sabe. Ele toca meus lábios molhados e inchados,olhando para mim. — Eu cuidarei de você. Sempre vou cuidar de você.

— Isso é loucura.

— Então que seja assim.

— Eu não me importo se for um pecado.

— Não é pecado. Nada que fazemos juntos é pecado. Não importa o quanto poucoconvencional seja ou errado para outras pessoas, é certo para nós.

— Sim. Isso é. Isso é certo para nós. Para mim e para você. Eu não quero seguir mais regras.Eu não quero ser como as outras pessoas. – Engolindo, eu aceno. — Eu quero fazer isso.

As palavras escaparam e isso me fez sentir mais leve. Faz-me sentir viva.

— Tem certeza, Pixie?

— Eu acho que preciso. Acho que nós precisamos. Precisamos de nosso próprio mundo,onde definimos as regras. Este mundo não é suficiente para nós.

Ele se inclina para baixo, com sua cruz de prata balançando, tocando meus lábios, e melevanta. Mas ele não me deixa pisar no chão nem por um segundo. Suas mãos vão para minha

bunda nua e me levantam, com minhas coxas envolvendo em torno de sua cintura.

Apoiando sua testa sobre a minha, ele sussurra: — Se você quiser um mundo diferente,Pixie, vou construí-lo com minhas próprias mãos. Vou construir o solo, o céu e a porra dasestrelas. Vou construir para você um universo inteiro. Mas você tem que me prometer algo.

Coloquei a minha mão em sua bochecha. — Vou te prometer qualquer coisa.

— Você não vai derramar uma única lágrima por seus pais ou por aquela cidade. Nenhuma.Não mais.

— Eu prometo.

Ele dá um beijo forte e me leva para a cama. Nosso mundo. Nosso reino.

Nossa primeira sessão de fotos está marcada para este domingo.

Sim, eu estou fazendo isso. Nós estamos fazendo isso. Mas não significa que seja fácil paraeu aceitar que dentro de sete dias estarei nua na frente de uma câmera. Vou fazer sexo enquanto aluz vermelha de um dispositivo preto pisca, e então a lente vai me capturar, capturar o nossoamor e isso será colocado na frente do mundo inteiro.

A semana inteira, assisto pornô no notebook de Abel. É barulhento e espalhafatoso e umpouco nojento.

Aprendi que existem diferentes tipos de pornografia para diferentes tipos de pessoas. Pesadocom histórias bregas. Pornografia com fetiche que não pude assistir. Erotismo centrado na

mulher onde as coisas são românticas e de bom gosto, mas ainda um pouco falsas. E então, hávídeos em que o casal realmente parece que está se divertindo. Sua intimidade transparece emseus olhares, os seus gemidos e os seus movimentos. Acho que é disso que Blu estava falandooutro dia: vídeos de sexo amadores.

Amo esses vídeos. Acho que sou viciada neles. Repetidamente, eu assisto sua intimidade àamostra. Vejo como o cara puxa o cabelo dela e a faz olhar para a câmera. Observo como agarota adora e estremece quando goza. Principalmente, eu adoro quando ambos terminam, masainda assim, sua fome um pelo outro permanece e eles se beijam porque não sabem como parar.

Há alguns que me deparei em minha pesquisa. Eles são casados; eles usam alianças decasamento. Ele é enorme e tatuado, com cabelo escuro cortado rente, e ela é bronzeada, masdelicada com cabelos loiros. Seu sexo é explosivo. É tão bom que quase posso ter um orgasmosó de vê-los juntos. Essa é a primeira coisa que faço quando volto para casa do trabalho. Eu osassisto e, quando Abel chega em casa, estou com tanto tesão que estou morrendo por suamedicação.

Eu me pergunto quantas pessoas realmente gravam a si mesmas enquanto fazem sexo. Eusei que nem todo mundo o divulga, mas quanto mais eu assisto, mais me pergunto. Parece tãonatural. O próximo passo. Imortalizando seu amor um pelo outro.

Então, na semana anterior à nossa sessão de fotos, eu aprendi que os vídeos de sexo podemnão ser tão sobrenaturais quanto eu pensava que eram. Pode ser muito comum, muito... normal.

No dia da filmagem, Abel me acorda com seus beijos carinhosos e ternos. Permanecemos nacama e nos abraçamos. Ele me alimenta com Toblerones e eu o alimento com maçãs. Ele lava omeu cabelo no chuveiro, onde mal cabemos. Nossos cotovelos batem na parede toda vez queviramos. Assim que estamos todos vestidos, saímos.

Só que, ele me para na porta e beija meu cabelo úmido. — Você confia em mim?

A resposta é um sim retumbante. — Mais do que tudo.

Ficamos de mãos dadas durante todo o trajeto. O céu está ensolarado e claro quando saímosdo trem e caminhamos para o armazém. Esta é a terceira vez que vou entrar e desta vez, vou ser aúnica deitada em uma cama, não de pé nas sombras.

Ethan armou isso para nós. Ele diz que é um tipo de audição. Se eles gostarem de nós, elesnos darão mais atuações. Nunca pensei que seria tão fácil entrar neste mundo. Além disso,usaremos uma das salas nos fundos. Graças a Deus. Eu não acho que posso fazer isso aqui, ondeos ruídos são muito altos e falsos. Isso quebra a santidade do que estamos tentando fazer: tentarconstruir um mundo em um terreno baldio abandonado.

Caminhamos pelo mesmo caminho, pavimentado com cimento e fios. Os sons são osmesmos, gemidos, resmungos e gritos eróticos. Desta vez, porém, eles não têm força para meparar e me fazer olhar fixamente. Não, estou aqui com um propósito.

Mas isso não significa que eu estou bem e relaxada. Eu estou enlouquecendo. Não importaquantas pesquisas fiz, não me sinto preparada. Eu não me sinto destemida. Os cliques das

câmeras tirando fotos, as vozes dando ordens, as pessoas circulando em volta das camas, osroupões de banho, o calor. Tudo está me deixando um pouco nauseada. Muito nauseada, naverdade.

Eu me aproximo de Abel, aumentando meu aperto em sua mão. Ele me faz melhor e colocao braço em volta do meu ombro, colando-me ao seu corpo e beijando meu cabelo.

— Você é a coisa mais pura do meu mundo. – ele sussurra enquanto me inspira, e eu agarroa barra de sua camiseta preta, esfregando meu nariz no oco de sua garganta. Ele é a coisa maispura na minha.

A luz no corredor é mais fraca do que a do espaço aberto, como um estúdio. Isso me fazrespirar um pouco mais fácil. As portas de cada lado estão fechadas, então não sei para queservem. Tenho um forte desejo de abrir cada uma delas e olhar para o outro lado. Eles vão serbrilhantes e reconstituídos, com lençóis de seda e travesseiros macios? Ou vão ser normais,despojados de toda a fachada, com roupa de cama caseira e cotidiana - como os lençóis da minhacama, ou melhor, o colchão?

Paramos no final do corredor e Abel abre uma porta marrom brilhante, conduzindo-me paradentro. A primeira coisa que vejo são as pessoas. É obvio; eles estão por todo lado. São trêspessoas no total e todos são homens.

O cara mais alto com tatuagens nos braços está usando o tipo de câmera que Abel tem. Eleestá apertando os olhos e ajustando as lentes como vi meu marido fazer inúmeras vezes. O outrocara tem uma barba preta espessa e está mexendo nas luzes. Parece uma lâmpada industrial, comuma haste preta que faz um movimento e segura a maior e mais brilhante lâmpada que eu já vi. Ocara está ajustando a altura da haste para que a lâmpada ilumine a cama muito grande no melhorângulo.

A cama tem lençóis de cor creme. Eles se parecem com algodão. Graças a Deus. É algo queeu compraria para mim, para minha própria casa. Isso facilita um pouco para mim.

O último cara, no entanto, acaba com toda a minha tranquilidade. Ele não é o mais alto, maso mais largo de todos os homens. Ele tem cabelo bagunçado e está vestindo uma camiseta preta,como o meu Abel. Mas, ao contrário do meu marido, este homem não parece caloroso ouacolhedor. Pode ser porque é ele quem está instalando a câmera de vídeo em um tripé, de frentepara a cama.

Engulo em seco e fico paralisada no meu lugar enquanto Abel entra mais.

Meu marido aperta a mão do homem de cabelo bagunçado que imediatamente começa aexplicar as coisas. Ele está falando rápido demais para eu entender. Não estou gostando dele dejeito nenhum, e a antipatia só aumenta quando ele diz que estará aqui conosco. Ele explica que acâmera tripé é para o visual amador, mas também tem uma de mão que usará para tirar fotos dediferentes ângulos. O grande tatuado com a câmera no pescoço vai tirar fotos e o cara das luzesestará aqui para lidar com quaisquer problemas de iluminação que possam ter.

— É muito simples, realmente. Basta seguir seus instintos. – ele está gesticulando com asmãos e o cabelo bagunçado balançando. — Faça o que vocês fazem em seu próprio quarto. Deve

parecer totalmente natural e espontâneo, ok? Faça ela chupar seu pau ou comê-la, sabe?Qualquer coisa com que você se sinta confortável. A questão toda é que isso pareça um vídeocaseiro, certo? As pessoas acreditam nessa merda de amador.

Ele diz outra coisa, mas não consigo ouvi-lo por causa do barulho em meus ouvidos. Meucorpo está enlouquecendo. Meu coração está acelerando, pulando na minha garganta e caindo nomeu estômago. Eu sinto isso deslizar para fora do meu corpo pelas minhas extremidades, medeixando vazia e tonta. Meu cérebro está rejeitando todo esse cenário. Não foi isso que imaginei.Não sei o que imaginei, na verdade. Mas não é isso. Eu não posso fazer isso.

Estou tremendo tanto que eu preciso me firmar na parede surpreendentemente fria. Relaxe,digo a mim mesma.

Acalme-se. Está tudo bem. As coisas estão bem.

Se eu não quiser fazer isso, não faremos. Certo? Ninguém está apontando uma arma paramim ou Abel. Esta é nossa escolha.

Mas, caramba, estou desapontada.

Estou escorregando pela parede, com minhas pernas com espasmos. Em um piscar de olhos,meu marido está ao meu lado. Ele enterra meu rosto em seu peito e eu inalo seu cheiroalmiscarado com aroma de maçã.

— Você está bem, baby? Eu estou aqui. – ele murmura enquanto simplesmente me segura,como uma montanha me dando abrigo. Em seguida, ele comanda, sem se virar ou olhar paranada além de mim. — Saiam.

— O que? – A esta altura, eu conheço a voz do cara da câmera do tripé e sei que essarefutação contundente vem dele.

— Apenas dê o fora. – Abel ordena, me apertando.

— O que? Do que diabos você está falando?

Eu o sinto se aproximando de nós e me agarro a Abel com força. Não tenho orgulho disso,sendo uma tola nervosa, mas não consigo evitar.

Meus olhos estão fechados com força, mas eu os abro quando uma voz calma entra nadiscussão. — Vamos lá, cara. Vamos. Olhe para ela, ela está tremendo.

Então dou uma olhada no homem que acabou de dizer isso e percebo que ele é Nick, omarido de Blu. Ele é aquele com a câmera em volta do pescoço e tatuagens nos braços.

— E como isso é problema meu? Se ela não tinha certeza, ela não deveria ter vindo aqui.Não estamos aqui para perder nosso tempo.

Abel resmunga, pronto para reagir, mas eu agarro sua camisa e o paro. — Abel, não. NãoEle tem razão.

— Não vou deixar ninguém falar assim com você.

— Está tudo bem.

Sua mandíbula aperta e eu aumento meu domínio sobre ele. Não estamos aqui para brigarcom ninguém ou ser presos. Abel não precisa disso. Além disso, posso lutar minhas própriasbatalhas. Eu solto um suspiro e saio de seu abraço. Ele está relutante em me soltar, mas eu douum tapinha em seu peito, na esperança de dizer a ele que está tudo bem. Eu enfrento o homemque está olhando para mim. — Eu sinto muito. É minha culpa. Eu, hum, eu preciso de um poucode tempo. Tudo bem?

Abel não consegue se conter, obviamente, então ele responde antes que o homem possa. —Está mais do que bem. Agora dê o fora desta sala antes que eu te chute para fora.

O homem não gosta disso e já está atacando Abel, mas Nick o impede e o puxa de volta pelacamiseta. — Você está louco, cara? Não estamos aqui para começar uma briga. Venha, vamos.Você é quem está perdendo tempo. Se você continuar parado aqui como um idiota, ela nunca vaifazer isso, ok? Então, deixe isso pra lá.

Um minuto depois, depois de muitos olhares furiosos e arfantes, os homens saem e nósestamos sozinhos dentro da sala.

Encaro meu marido, que está me olhando com uma intensidade que torna seu olhar umacoisa sólida e tangível. Estou prestes a dizer a ele que não posso fazer isso porque sou a maiorcovarde da história do mundo, mas ele não deixa. Ele caminha, se abaixa e me levanta em seusbraços, como uma noiva. Tudo o que posso fazer é suspirar seu nome, segurar seus ombrosenquanto ele caminha até a cama e se senta comigo em seu colo.

— Você está bem? – ele franze a testa, com seu polegar traçando a forma dos meus lábios.

— Sim. Eu sinto muito. Eu sou uma idiota. Eu... – eu balanço minha cabeça. — Eu entreiem pânico.

— Está tudo bem. Não tem problema. Eu não me importo. Se você não quiser fazer isso, nósnão faremos.

— Você não ficará desapontado? Porque eu estou. Estou super decepcionada.

Ele ri. — Uma chance de te foder na frente das câmeras? Porra, sim, eu adoraria isso. Desdeque coloquei os pés neste lugar, tenho vontade de fazer isso. Mas tenho uma imaginação muitointensa, Pixie. Eu não preciso de uma câmera e uma luz vermelha para imaginar um cenário ondeas pessoas estão nos assistindo foder e gozar em suas calças.

Abaixo minha cabeça, rindo dele e rindo de mim mesma. — É uma loucura como você podeme fazer corar. Eu deveria estar acostumada com sua boca suja agora.

Seu peito treme de tanto rir. — Isso é parte do meu charme.

Eu o abraço, suspirando. Minhas pernas estão balançando, mexendo os dedos dos pés nochão. Em algum lugar no último minuto, quando Abel me pegou e me sentou em seu colorobusto, perdi minha sapatilha e meus pés estão descalços agora.

Meu marido está quieto, simplesmente respirando, acariciando meu cabelo com o rosto.

Como uma estranha, estou cheirando seu pomo de adão. Alguns minutos se passam em silêncioantes de eu falar. — Eu fico imaginando meus pais. Tipo, o que eles pensariam se me vissemassim? O que eles pensariam se soubessem o quanto quero fazer isso com você? Eu não deveriaestar procurando pela aprovação deles. Na verdade, o ponto principal disso é que não meimporto. Mas eu não consigo me livrar disso. O que toda a cidade pensaria? Sky? A maldita daSra. Weatherby que estragou tudo. Sr. B. Seu tio.

Abel suspira. — Meu tio provavelmente está caído em um bar em algum lugar, dormindo nasua bebedeira. Ele não se importa com o que está acontecendo no mundo agora.

— Seu tio bebe? – eu olho para ele.

Ele abaixa o rosto, com seu queixo mal barbeado arranhando minha testa. — Sim, Pixie.Meu tio é um bêbado. Ele geralmente dirige algumas cidades para que ninguém descubra. Eumesmo tive que buscá-lo algumas vezes.

— Sem chance. Eu nunca soube disso.

Ele enfia uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Você nunca soube porque eu nuncadisse a você.

— Você guardou segredos de mim?

— Não. Isso não era importante o suficiente para dizer. Eu não me importo com PeterAdams e ele não se importa comigo. Morávamos juntos porque não tínhamos escolha. Querodizer, ele teve uma escolha. Ele poderia ter me expulsado, mas ficou comigo e, em troca, eumantive seu segredo.

— Eu sinto muito. Deve ter sido horrível. Você deveria ter me contado.

Dando-me seu sorriso de lado, ele balança a cabeça. — Você tornou tudo suportável.

Engolindo um nó de emoção, beijo seus lábios suavemente. Eu amo muito esse homem.Estou constantemente surpresa com o quanto eu o amo e como continuo me apaixonando por eletodos os dias.

Quando nos separamos, ele diz: — Quanto ao resto da cidade, eles também não se importamcom o que está acontecendo. Eles estão todos na igreja.

— Ah, claro. É domingo. – eu aceno. — Igreja.

Não vou à igreja desde que chegamos a Nova York. Eu não quero. Em algum lugar bem nofundo, também estou com raiva de Deus.

Achei que Ele nos ajudaria quando chegasse a hora, fazer a coisa certa. Mas ele não ajudou.Ele assistiu às margens enquanto eles espancavam meu Abel e me humilhavam. O relâmpagonão os atingiu. O céu não se abriu de indignação. Talvez não fosse de qualquer maneira, mas euteria apreciado alguém intervindo e parando aquilo. Isso teria sido um milagre o suficiente.

— Você sente falta? – Abel pergunta. — De ir para a igreja?

— Não. Acho que não. E você?

Zombando, ele murmura: — A única razão pela qual fui à igreja foi para ver você.

Eu mordo meu lábio, fazendo seus olhos brilharem. — Não acredito que você foi só para mever. Principalmente no começo, quando nem conversávamos.

— Ok. Não foi tão ruim. Eu me mantive ocupado.

— Com o que?

— Contigo. Eu costumava ficar olhando para você. Muito. Eu observava você sussurrar algono ouvido de Sky ou rir de algo baixinho. E então eu fechava meus olhos à noite e via seussorrisos em meus sonhos, sorrindo também. Sim, os domingos eram muito emocionantes paramim. – ele beija meu nariz, me fazendo rir, como se eu estivesse de volta à igreja. — E então eucostumava desenhar você, sentada lá, enquanto o padre Knight falava sobre a vida e a morte etoda aquela besteira.

Suspiro, com os lampejos correndo sob a minha pele. — Você costumava desenhar naigreja? É por isso que sempre que eu olhava para você, sua cabeça estava baixa.

— Você costumava me olhar, Pixie? – ele sorri.

— Não. Quer dizer, às vezes. Sermões são chatos. – eu murmuro, ficando envergonhada.

— Sim. Eu não acho que seja isso. Acho que você sempre me achou gostoso.

Tento não sorrir. — Ah, por favor. Você foi o único que se apaixonou por mim primeiro.Logo no primeiro dia.

Ele lambe os lábios, com seu hálito quente soprando na minha boca. Eu gostaria de poderengolir tudo, todas suas respirações, seus suspiros e seus gemidos. Ele.

— Sim, eu me apaixonei. – ele admite. — Eu estava com tanta raiva naquele dia, e então euvi você, cercada pelos milharais e pela floresta. Minha Pixie. E tudo foi embora.

Meu coração está acelerado agora. Chegamos tão longe daquele dia. Nós crescemos esuportamos muito. Anos mentindo, se escondendo e depois fugindo. Mesmo com tudo isso, eleainda me dá frio na barriga. Ainda me faz pensar que sou aquela garota ingênua e inocente quese apaixonou pelo garoto novo.

— Eu sempre desejei poder sentar com você. Na Igreja. Ou talvez na escola para quepossamos almoçar juntos.

— Talvez você possa. – ele sorri, embora os seus olhos estejam ardendo. — Você pode.Sentar ao meu lado no banco. Estamos sentados no fundo, enquanto o padre Knight está falandoasneiras e todos estão olhando para ele como se suas palavras fossem preciosas.

Algo acontece comigo com suas palavras. Uma mudança em meu pensamento. Um racharem minha pele. Há significado em seu olhar. Significado, poder e magia, e isso me torna cientedo fato de que, nos últimos quinze minutos, estive sentada no colo forte do meu marido, comminha bunda pressionando o que agora está se tornando uma ereção impressionante.

— Nos fundos?

— Sim.

— Com aquele... vitral? Onde você me viu pela primeira vez? Quando você entrou com oSr. B?

— Porra, sim. A luz está brilhando em seu cabelo, tornando-o muito bonito. E meus dedosestão doendo para tocá-lo. Enrolar os fios. Puxá-los em meu punho.

— E... eu acho que você pode, agora.

— Eu posso?

Eu concordo. — Eu sou sua esposa agora, não sou? Você pode fazer o que quiser comigo. Eadivinha? Eu também.

Um brilho perigoso aparece em seu olhar; isso me faz estremecer. Meu coração ruge e bateem meu peito, e eu aperto sua cruz.

— Você não quer me dar carta branca, Pixie. Não com a cidade inteira tão perto.

Eu me contorço em seu colo, mas de alguma forma parece que a parte de trás das minhascoxas está deslizando pela madeira brilhante do banco, com meus dedos dos pés tocando no chãoda igreja da minha cidade natal.

— Por que não?

— Porque vou fazer algumas coisas muito indecentes com você enquanto ouve o seu padre,e não vou deixar você controlar seus gritos. Na verdade... – Seu peito vibra, com as vibraçõesecoando em meus seios pesados, que são esmagados contra ele. — Na verdade, vou garantir quevocê grite para que as pessoas vejam você. A princesa da cidade gemendo de prazer ou talvez dedor. E você sabe onde eu estarei?

— Onde?

— Eu estarei ajoelhado no chão, com minha cabeça sob seu vestido rosa, lambendo suaboceta. – Sua mão fica sob o meu vestido enquanto ele desliza seus dedos calejados pela minhacoxa trêmula. — Eles não serão capazes de me ver no início, Pixie. Eles não serão capazes dedizer por que Evangeline Elizabeth Hart, uma garotinha tão boa, está arqueando as costas,empurrando os seios, apertando os mamilos vermelho cor de cereja através do vestido. Eles nãovão entender por que você está gemendo assim. Por que está olhando para o céu, dizendopalavrões, dizendo a alguém para parar, mas um segundo depois, você está dizendo a ele paracontinuar.

Os dedos de Abel estão agora na minha calcinha. Ele pode sentir como estou molhada,como estou encharcada. Como minha boceta está pulsando, profunda e apertada como um punho,através do tecido fino. Ela está morrendo por ele, por seus dedos, por sua língua, até mesmo porseus dentes.

— Abel... – eu sussurro quando o sinto enfiando os dedos dentro da minha calcinha eesfregando os lábios molhados do meu núcleo.

— Porra, baby. Você acabou de dizer a eles. Você apenas sussurrou meu nome e revelounosso segredo. Agora eles estão todos começando a se levantar de seus bancos. Eles estãoolhando para você. O padre Knight está se perguntando o que diabos está acontecendo. Mas eunão consigo parar.

Ele cutuca seu pau duro sob minha bunda enquanto seus dedos ganham velocidade. Ele nãoestá tocando o único lugar que eu quero que ele toque: meu clitóris. Mas ele está enterrando osdedos nas curvas da minha boceta e nos meus pelos pubianos molhados.

— Eu não consigo parar de comer você. Você é muito saborosa. Muito deliciosa. Comoaçúcar. Você me deixa com tanto tesão, Pixie.

— Ma... mas eles vão levar você embora. Mesmo se eu for sua esposa. Eles vão prendê-lo sevocê fizer algo assim. Eu... na igreja. – eu protesto, me aproximando dele, me esfregando em seucolo, tentando guiar seus dedos para onde eu preciso dele.

Protesto como se estivéssemos realmente na igreja e meu coração estivesse batendo fortecomo um pássaro nervoso. Estamos sussurrando agora. Quando respiro, sinto o cheiro do incensoe do verniz. Eu posso ouvir o som dos sapatos de alguém caminhando pelo chão. Posso ouvir obarulho, os sussurros de alguém se mexendo em seus bancos. A limpeza de gargantas. Ossuspiros. Eu posso vê-los se levantando, um por um, franzindo a testa, tentando descobrir o queestá acontecendo. Posso sentir seus olhares me fuzilando e jogando pedras em mim.

Estou tão excitada. Estou corada e suando como se estivesse pegando fogo. Como se eutivesse engolido o próprio sol. Eu posso ouvir a respiração de Abel ao meu lado, toda animada eficando mais selvagem a cada segundo.

E eu não - nunca - quero que ele pare.

— Eles não vão. – ele lambe o canto da minha boca e eu não tenho escolha a não ser pegarsua língua, chupar a ponta dela e beber seu sabor.

— Por que não?

— Porque quando eu levantar o seu vestido... – ele está fazendo isso agora, movendo otecido para cima, até que minha calcinha molhada fique à vista. Eu entrei totalmente no meupapel e tento fechar minhas coxas, mas ele não deixa. Ele abre a palma da mão na minha pele esepara minhas pernas, me abrindo. Para ele mesmo. Para a cidade.

— Sua calcinha vai ficar encharcada. Veja. – ele esfrega os dedos brilhantes para cima epara baixo no local molhado, atingindo meu clitóris através do pano encharcado, fazendo-meestremecer e mover meus quadris.

Nós dois olhamos para onde ele está me esfregando. Isso é tão pervertido, obsceno e eróticopra caralho. Minhas coxas pálidas se abrem, esfregando contra sua calça jeans. Em seguida, eleempurra a minha calcinha branca para o lado, expondo minha boceta. Eu agarro seu pulso e olhopara ele com medo, excitada e fora da minha mente.

— Não, eles verão.

Seu olhar é perverso e desesperado. Cada parte dele está morrendo de vontade de fazer isso,está morrendo de vontade de fazer isso há anos, me expor. — Mas eles têm que ver, baby. Elesprecisam ver o quanto molhada e rosa você está. Eles precisam ver porque só então eles vãoconseguir. Eles finalmente entenderão por que sou um demônio por você. Pelo o seu corpo. Elesprecisam ver sua boceta e quanto apertada ela é, como me deixa louco, como eu faria qualquercoisa por você.

Eu me molho ainda mais com suas palavras, meu clitóris pulsando com o som de sua vozáspera. Eu soltei seu pulso e o deixei puxar o tecido inútil para o lado, expondo meu buracoapertado.

— Porra, sim. – ele sussurra, com seus dedos esfregando meu calor úmido, arrastando-se emminha excitação grudenta. Então ele empurra um dedo longo e eu arqueio para cima,pressionando meus quadris em sua mão. — Sim, isso é tão bom e apertado, Pixie. Veja, agoraeles sabem. Agora eles sabem que sua boceta é mágica. Eles estão todos balançando a cabeçaagora. Agora eles entendem porque estou ajoelhado a seus pés e lambendo você como umcachorro. E por que estou arfando. Agora eles entendem por que eu preciso tanto de você.

Sua voz parece estar distante. Estou atordoada. Estou aqui nesta sala com ele e tambémestou no passado, a centenas de quilômetros de distância, em minha antiga igreja. Eu estou emtodos os lugares. Eu estou em cada pessoa. Eu estou em todas as coisas vivas.

Eu estou em Abel e ele está em mim. Sua Pixie.

Ele está me olhando com os olhos e os seus lábios entreabertos, com respirações ruidosassaindo de sua boca em rajadas. — O que eu faço agora, Pixie? Como faço para me livrar dessador, hein?

Em uma explosão de energia, eu paro seu pulso e, de alguma forma, consigo me sentar. —Você me cura todos os dias, não é? Agora eu vou curar você.

Mas quando vou me levantar, ele me impede. Ele olha nos meus olhos, bem fundo esignificativo, e meu coração começa a bater mais forte do que antes. De alguma forma, já sei oque ele vai dizer. — Todo mundo está assistindo, Pixie. O mundo inteiro.

A câmera. A luz vermelha piscando.

Estão ligadas. Isso é uma gravação.

O cara de cabelo bagunçado deve ter deixado por engano, eu acho. Se eu me levantar e tirar

a roupa e sentar no pau de Abel, a câmera vai capturar tudo. Para sempre e sempre. Aí o clipe vaiser divulgado ao mundo, na frente de um milhão de pessoas, que podem me ver com meumarido. Já posso sentir seus olhos redondos na tela, nos observando, nos julgando, nos criticandoe ficando excitados com a gente.

Mas já não aconteceu antes? Naquela noite, quando minha mãe me arrastou para fora semme deixar usar roupas, para que eu pudesse suportar minha vergonha. As pessoas já me viram,me julgaram, me criticaram. Eles já me queimaram na fogueira.

Agora, isso vai acontecer nos meus termos. Eu já sou cinzas. Mas agora, vou renascer comoa porra de uma fênix. Nós renasceremos como uma fênix.

Eu enfrento o homem que amo. Ele está esperando por mim, duro e excitado, mas aindaesperando. Eu o amo tanto que posso explodir.

Com um leve sorriso, eu me levanto. Meus arredores inclinam um pouco, mas está tudobem. Vou sobreviver. As mãos de Abel caem para os lados e seu cabelo está todo bagunçadoenquanto ele olha para mim. Eu agarro a barra do meu vestido e o tiro de uma vez. Em seguida,sai meu sutiã e minha calcinha. Eu não paro ou penso até que estou nua e corada, de pé na frentedele.

Se há um nome para o que acontece depois que você passa do estágio da luxúria, então esseé o nome de Abel, neste momento. Suas narinas dilatam-se a cada respiração. Seus dentes estão àmostra. Cada veia em seus braços, na lateral do pescoço, está florescendo na pele.

Eu coloco as duas mãos em seus ombros e monto em seu colo na cama. Minha bocetamolhada e macia toca sua protuberância coberta por jeans.

— Então deixe-os assistir. – eu sussurro, trazendo minhas mãos até sua braguilha e abrindoo zíper. — Deixe-os ver o que você faz comigo. Se você é um demônio por mim, então eu souseu monstrinho. Eu tenho unhas afiadas como você tem dentes afiados. Se você está doente, eutambém estou com um pouco de febre.

Uma vez que seu pau duro e quente está fora e em minhas mãos, eu o alinho com minhaboceta faminta, sua coroa com pré-sêmen tocando em minhas dobras. Ele geme e eu gemo.Então, na próxima respiração, desço em sua ereção, apunhalando meu núcleo com a faca maisdeliciosa que Deus já fez. O pau do meu Abel.

Instantaneamente, suas palmas agarram minha bunda e seus quadris se levantam. Eu estouno céu, com minha cabeça jogada para trás, meu cabelo comprido provavelmente fazendocócegas nas costas de suas mãos enquanto eu gemo alto e claro.

Quando abaixo meu rosto, beijo seus lábios e ele morde os meus. — Se você me comercomo um cachorro, vou te foder como se fosse sua cadela no cio.

Começo a me mover, me esfregando em seu comprimento, lentamente, com cuidado. Esta éuma nova posição para mim. Abel é sempre o que comanda. Mas estou determinada a fazer issobem, fazê-lo sentir tudo o que ele me faz sentir quando ele está se movendo dentro de mim.Então movo meus quadris, vou de um lado para o outro, deixando-o sentir as paredes

encharcadas do meu núcleo.

— Tem certeza, Pixie? – ele murmura, me observando foder ele, me observando encontrarmeu próprio ritmo. — Você vai me foder assim, hein?

Eu aceno, agora ficando de joelhos antes de descer de novo em sua ereção. — Unhum…

Abel me ajuda a me mover sobre ele, agarrando a minha bunda. — Deus, Pixie. Você não étão boa quanto todos pensavam que você era.

Olho em seus olhos escuros. Os olhos de um demônio. Um demônio que amo e adoro. — Euacho que não.

Ele bate na minha bunda, me fazendo suspirar e me contorcer sobre seu comprimento.Rindo, ele faz isso de novo. E novamente, conforme eu subo e desço e encontro um ritmo.

— Talvez seus pais devessem ter batido mais em você. Ou talvez o padre Knight devesse terpurgado o pecado de você.

Deus, por que isso é tão excitante? Isso faz minha boceta agarrá-lo com ainda mais força.Isso é doentio, errado e lindo pra caralho. Porque é meu. É nosso. Abel estava certo. Nada do quefazemos juntos pode ser errado. O relacionamento entre uma esposa e um marido - um homem esua mulher - é o mais sagrado de todos. Sagrado, único e puro.

— Não teria feito diferença. – eu confesso, ganhando velocidade enquanto meus joelhosbatem no colchão e meu corpo pula. — Eu nasci assim. Para você. Para o meu Abel perverso.

— Porra, sim, você nasceu para mim. – Com a mão livre, ele enrola meu cabelo em volta dopulso e puxa a minha cabeça para trás, arqueando-me.

Ele cheira a base da minha garganta, meu esterno, o vale dos meus seios, e eu fecho os meusolhos, suspirando de admiração, prazer e satisfação. Não tenho controle sobre essa merda agora.Talvez eu nunca tenha tido. Está tudo bem.

Com o meu cabelo na mão, ele me fode. Ele move seus quadris e pressiona meu canal.Estou suspensa sobre ele de joelhos, mantida firme por sua mão, enquanto agarro seus ombros eo seguro. Ele está me fodendo com força, brutal, com suas coxas cobertas de jeans ásperosraspando na minha pele, deixando-a toda em carne viva, vermelha e com tesão.

Ele morde a pele do meu peito, fazendo meus olhos lacrimejarem e minha boca engasgar.Ele puxa meu cabelo violentamente, enquanto passa os dentes sobre o meu mamilo, sussurrando:— Você está se sentindo bem, Pixie?

Meu pescoço está arqueado e tenso em um ângulo, mas só me sinto bem. Então eu gemomeu consentimento.

Ele solta meu cabelo e traz meu rosto para baixo, ainda me fodendo, ainda me cutucandocom seu pau, bem no fundo. — Você quer dizer a eles, baby? Você quer dizer a eles como estábom?

Meus olhos se arregalam, meu coração batendo forte em meus lábios, onde ele apenas

sussurrou essas palavras. Estou confusa. O que ele quer dizer? Dizer a eles como.

Quando me concentro nele, eu entendo. Ele precisa disso. Ele precisa desse poder. Sóexperimentei a condenação aberta das pessoas um mês atrás, mas ele tem enfrentado isso háanos. Não admira que ele esteja tão magoado.

Ele precisa dessa aprovação para completar a fantasia, este nosso ritual, e estou feliz em darisso a ele.

Eu me levanto de seu colo e tiro seu pau. Estou oscilando; meus pés não têm energia, nãotêm vida. Abel agarra meus lados e me vira, e eu desço em seu pau, com minhas costaspressionadas em seu peito que respira descontroladamente e suas coxas de cada lado de mim.

Minhas pernas estão fechadas e parece que estou simplesmente sentada, inocentemente ecasualmente. Pode ser que eu esteja sentada em um banco de igreja em seu colo. Só que estounua e a minha boceta está empalada em seu pau grande. Ele está tão grande atrás de mim, aindavestido, mas cheio de desejo. Todo-poderoso.

Sua respiração está soprando ao longo do lado da minha bochecha enquanto ele agarra osmeus quadris, me movendo, me balançando com uma mão, atingindo a parede superior da minhaboceta.

Com a outra mão, ele me força a olhar para a câmera. A luz vermelha piscando, o objetopreto inanimado me faz molhar como um rio.

— Imagine todo mundo naquela cidade, Pixie. Cada um deles. Eles assistiram. Mas elesnunca vieram para ajudar. – Seus sussurros também o estão deixando selvagem. A força de suasmãos em meus quadris aumentou. Estou me esfregando, movendo contra ele, e minha mente estávoando para aquela noite do passado.

— Agora diga a eles. Diga a eles como é bom. Diga a eles o quanto bom eu te fodo.

Meu coração está batendo forte, tentando quebrar os ossos das minhas costelas. Meus saltosem seu pau tornam-se embaraçosamente aleatórios com suas palavras. Não preciso ter vergonha,porque ele geme no meu ouvido e belisca meu mamilo. Uma represa se rompe dentro de mim,então.

Minha boca se abre e eu digo isso. Eu digo tudo. Digo a eles como é bom. Eu digo a elescomo é incrível quando ele está dentro de mim, me fodendo como um louco. Eu digo a eles queo amo e não posso viver sem ele. E não me importo com o que eles pensam. Eu não me importose eles o odeiam ou me odeiam. Eu casei com ele de qualquer maneira. Eu sou dele para o restoda vida e ele é meu também.

Digo com orgulho, ereta, com os meus olhos abertos e olhando para a câmera. Digo issocom minhas mãos nos meus seios, dando atenção aos meus mamilos porque eu simplesmentenão consigo parar. Eu não posso lutar contra o que ele faz comigo. Eu não quero. Estouapaixonada e quero que eles saibam disso.

Ele parece ficar ainda maior, ainda mais forte, ainda mais sedutor enquanto digo as palavras.Eu me perco nisso. Eu perco todo o sentido de mim mesma, minha consciência, e isso me

empurra para o limite. Eu gozo, com minha boceta pulsando sobre seu eixo, enquanto Abel aindaestá me fodendo, respirando com esforço, todo suado e almiscarado.

Enquanto o esperma escorre do meu canal, as palavras sussurradas explodiram de mim: —Eu o amo, papai. Eu o amo tanto.

E então, eu fecho os meus olhos e fico simplesmente respirando, flutuando nas nuvens.

Minha consciência retorna quando Abel geme. Ele está prestes a gozar e está em processode me empurrar para que possa se masturbar e espirrar seu esperma em algum lugar fora do meucorpo. Mas eu alcanço as suas costas e puxo seu cabelo. — Não me deixe.

Ele para todos os movimentos, observando as minhas feições. Sua mandíbula aperta e possover o oceano de emoções em seus olhos escuros. Eu passo meus dedos pelo cume acentuado desua bochecha e repito meu apelo. — Por favor, goze dentro de mim.

Abel solta um suspiro, visivelmente tremendo, e se levanta. Eu tropeço, com minha bocetasaindo de seu pau. Estou confusa quanto ao que ele está fazendo. Mas ele não me deixa fazerperguntas. Ele me joga na cama, onde salto e os lençóis são surpreendentemente bons e macioscontra minhas curvas superquentes.

Em um flash, suas roupas são tiradas. Ele está nu, com os músculos bronzeados pingandocom poder e luxúria. Ele coloca o joelho na cama, abaixando o colchão. Inclinando-se, suacorrente balança, ele agarra meus tornozelos e me puxa em sua direção. Eu vou com um grito.

— Abel, o que...

A mandíbula dele está tensa como um batimento cardíaco, ritmicamente. Deus, seu rostoestá tão tenso. Acho que nunca o vi assim.

Ele coloca pressão nas minhas coxas e as levanta até as minhas orelhas, flexionando meucorpo ao meio. Eu engulo em desconforto, mas esqueço tudo sobre isso quando ele viola minhaboceta inchada com um gemido alto, me fazendo gritar com sua invasão.

Ele está tão profundo. Eu nem sabia o significado de profundo até este momento. Eu o sintoem meu estômago e em minha garganta. Ele está me preenchendo em todos os lugares.

Colocando as mãos em cada lado meu, ele avança sobre o meu corpo contorcido e inicia umritmo. Tão forte que eu tremo com cada impulso. Tão rápido que não tenho tempo de merecuperar. Eu gostaria que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa. Mas ele não precisa. Eleestá me mostrando com seu corpo. Ele está me mostrando o que minhas palavras significam paraele.

Significava enlouquecer, ficar selvagem, voltar àquela época, muito tempo atrás, quando ohomem era indomado, quando o homem ainda era um animal governado por instintos.

No fundo da minha mente, sei que isso é loucura. Eu não estou tomando anticoncepcionalnem nada, mas não consigo me importar. Estou sendo governada por instintos animais também.Estou sendo governada por essa necessidade intensa de dar algo a ele. Algo que só eu posso dar.Algo que só uma mulher apaixonada pode desejar dar ao homem dos seus sonhos.

E então, acontece. O rosto de Abel se contrai e ele goza. Dentro de mim.

Eu sinto o primeiro jato de seu pau. É um pequeno empurrão, um pequeno terremoto. Umbig bang - o terceiro em minha vida - que dá origem a novos mundos. Seu pau ejacula e cobre asparedes pulsantes da minha boceta, me lançando em um mini-orgasmo. Abro ainda mais aspernas e estico as pernas.

Depois daquele primeiro jato, eu não consigo distinguir entre suas pulsações. É um somconstante. Uma alimentação constante da minha boceta com seu creme. Com sua força vital. Atéque ele desmorone sobre mim como um guerreiro exausto.

Uma fera exausta de um homem que acabou de cumprir seu propósito.

E de alguma forma, eu cumpri o meu também.

Abel me leva para casa.

Ele me carrega para fora daquela sala e através do armazém aquecido e retorcido. Ainda mesegurando em seus braços, ele nos coloca em um táxi e não me solta até chegarmos ao nossoapartamento. Não sei de onde ele tira forças depois do que acabamos de fazer. Mas de algumaforma, ele tira.

Em casa, tomamos banho juntos. Ele lava meu cabelo, meu corpo, suavemente, comreverência, fazendo-me sentir querida. Ele até lava minha boceta, ficando de joelhos, com seurosto vindo até meus seios encharcados.

Por um segundo, sinto como se suas mãos parassem na minha barriga, circulando, traçandoa pele ensaboada. Por um segundo, acho que ele fecha os olhos, provavelmente imaginando oque aconteceu, o que eu pedi a ele para fazer.

Mas apenas por um segundo, porque em um flash, tudo volta ao normal. Ele termina atarefa, tomando um banho rápido e depois nos seca. Deitamos juntos na cama e vamos dormir,agarrados um ao outro. Mesmo quando sinto que vou derreter com o calor de seu corpo, eu nãome afasto.

No dia seguinte, vou trabalhar atordoada. Não falo com meu marido há mais de doze horas.Não conversamos nada desde que saímos daquela sala. Eu não sei porquê. É o maior tempo queficamos sem falar desde que nos mudamos para cá. As coisas não parecem certas.

Ou talvez elas pareçam exatamente certas e eu não sei o que fazer com isso.

Estou ainda mais distraída do que antes, misturando pedidos, derramando água e tropeçandoem nada. Hoje é meu último dia aqui, posso sentir isso. Embora eu seja uma garçonete abaixo dopadrão, Milo ainda não me despediu. Acho que é por causa do meu marido. Cada vez que elepara no restaurante, Milo e Abel se encaram. É meio engraçado e apenas o pensamento me fazrir, mas hoje, eu não posso.

Não importa. Milo vai me matar e nem mesmo Abel pode impedi-lo. Talvez eu deva apenasdesistir de qualquer maneira. Sempre posso encontrar outro emprego. Eu sempre posso...

Não. Não. Não vou pensar nisso.

Não vou pensar naquele armazém ou no fato de que as pessoas realmente fazem sexo nafrente das câmeras para viver. Para nós, foi uma coisa única. Nós representamos uma fantasiaerótica e pesada, e fantasias não deveriam durar.

Certo?

E se elas durassem? E se pudermos transformar toda a nossa vida em uma fantasia?

Ok, pare.

Isso é ótimo. Meu trabalho aqui no Milo's é ótimo. Eu estou aprendendo muito.

Espere. Eu estou?

Sim. Eu estou. E talvez um dia, eu desista quando chegar a hora certa. Mas essa não é ahora.

Estou entregando outro pedido com Milo me olhando fulminando pelas minhas costasquando a porta da frente se abre com o sino tocando alto.

Meu corpo inteiro paralisa quando vejo quem é. É o homem que pode tornar tudo melhorpara mim.

Meu marido.

Ele está parado na soleira, com a palma da mão aberta na porta de vidro. Nossos olharescolidem através do espaço - o dele é intenso, cheio de necessidade, e o meu deve estar cintilante,brilhando com amor. Ele aponta o queixo para mim e murmura meu nome. — Pixie.

Meus músculos relaxam e a bandeja quase escorrega da minha mão. Mas vamos encarar:

não ia ficar no meu domínio por muito mais tempo de qualquer maneira. Eu a pego, porém, e elacai sobre a mesa com um baque e um barulho.

Eu sorrio. Por que não iria? Parece que posso respirar pela primeira vez em horas, até dias.Eu sei que Milo está resmungando atrás de mim e o casal na mesa está olhando para mim deforma estranha. Eu não me importo. Deixo tudo e corro para ele. Ele me agarra em um abraçoapertado assim que toco seu corpo.

Deus, o seu cheiro, a sua camiseta macia, os seus braços fortes e poderosos. Tudo me fazquerer abandonar o mundo e ficar com ele, trancada em algum lugar para o resto da minha vida.

— Você quer sair daqui? – ele murmura no meu cabelo.

Eu beijo o centro de seu peito antes de olhar para ele. — Sim.

Então ele está me dando um impulso e minhas coxas vão ao redor de sua cintura e meustornozelos se cruzam na parte inferior de suas costas. Estamos saindo após os gritos de Milo.

Algo se apodera de mim e faço o que nunca fiz antes. Faço um gesto obsceno. Literalmente.Digo a Milo que não preciso desse trabalho ou dele mostrando o dedo mais importante da mãohumana. Digo a ele que tenho algo melhor. Eu tenho meu Abel, e ele está me levando embora.

Quando estamos fora da vista de Milo com raiva, eu me afasto e olho para Abel. O sol estábrilhando sobre ele, fazendo seu cabelo brilhar como um halo.

— Eu sou uma garçonete ruim. – eu beijo seu nariz.

Rindo, ele beija meu nariz também. — Eu sei, baby.

Bati em seu ombro. — É um trabalho estúpido, de qualquer maneira. Eu não o quero mais.

— É? O que você quer?

Há uma tonelada de peso em suas palavras, nos olhos dele. Talvez ele esteja sentindo amesma coisa que eu. Talvez ele queira continuar essa fantasia também.

— Você não disse nada. Você não falou. Eu pensei... pensei que você estava com raiva demim ou algo assim.

— Não. Não com você. Mas talvez comigo mesmo. – ele engole, com seu olhar passandorapidamente por todo o meu rosto. — Por pensar em fazer isso de novo e de novo. Por pensar emnunca parar.

Um sorriso de alívio surge em meus lábios. — Eu também. Eu não quero parar. Ainda não.Não quando me faz sentir viva. Não quando me faz sentir tão perto de você.

Ele também está aliviado; Eu posso ver isso. — Então não vamos parar.

— Mas prometa que sempre vamos conversar um com o outro. Sempre contaremos um aooutro o que estamos sentindo.

— Eu prometo.

Eu beijo sua bochecha. — Agora, me leve para casa e me foda como um bom marido.

— Ah, mandona. Alguém já te disse isso, Pixie?

— Sim, meu marido. – eu sorrio.

— Homem inteligente.

— É, ele é.

Ele morde o meu lábio inferior, me fazendo gritar. Quando ele começa a andar, eu melembro de algo. — Ah, tenho algumas regras básicas.

Isso o diverte. — OK.

Eu bato em seu peito. — Estou falando sério.

— Eu também.

— Não goze dentro de mim.

Ele franze a testa, ainda andando. — Que se foda isso.

Eu sabia. Eu sabia disso. Eu sabia que ele amava isso. Eu também adorei. Não sei o queaconteceu comigo lá. Eu estava em transe, muito no momento.

— Abel, o que nós fizemos foi estúpido, ok? Foi além de estúpido. Não estou tomandopílula, e você é um idiota em usar camisinhas. – eu pressiono a minha testa contra a dele,tentando fazer meu ponto de vista. — Precisamos ser inteligentes. Somos tão jovens. Nãoestamos prontos para um bebê. Como vamos criar uma criança?

— Se você acha que estou gozando em algum lugar fora do seu corpinho, você perdeu acabeça.

Não posso acreditar que estamos tendo essa discussão. Na calçada. As pessoas passam pornós, algumas esbarrando em nossos corpos, mas Abel é como uma rocha. Seus passos quase nãovacilam.

Ele acha que o mundo só foi feito para nós dois.

— Tudo bem. Então vou tomar a pílula.

Ele encolhe os ombros. — Ok.

— Sério? – eu estou desconfiada. — Você não se importa.

— Não. Não posso dizer que sim.

Eu observo seu rosto. — Ah, eu sei. Você está planejando fazer algo estranho sobre isso,não é? Se eu descobrir que minhas pílulas estão faltando ou se descobrir que você as estátrocando, vou matá-lo.

Ele sorri. — Eu não preciso fazer isso.

— Por quê?

Ele pressiona a mão na minha nuca, me trazendo para mais perto. — Eu não preciso fazernada disso porque toda vez que você tomar uma pílula, vou encher você com tanto esperma queseu corpo vai ceder à minha vontade. – ele captura meu suspiro com a boca. — Você não sabedisso agora, Pixie? Se eu quiser que você engravide, você engravidar.

Eu mordo seu lábio inferior como punição, mas o idiota só gosta disso. — Essa deve ser acoisa mais arrogante que você já disse. Não, na verdade, essa deve ser a coisa mais arrogante quealguém já disse.

Ele encolhe os ombros novamente, como se ele não se importasse com o mundo. Nunca,absolutamente. — Chame do que quiser.

— Ok, marido. Eu te amo, mas vamos ver quem ganha: a ciência ou o homem que pensaque é Deus.

— Eu não penso. Eu sou seu deus.

Reviro meus olhos para ele, irritada. Mesmo assim, nada pode impedir minha felicidade.Nada pode destruir o que tenho: Abel e nossas fantasias.

Alguns diasatrás, eu saí domeu trabalho. Foiirresponsável, infantil e é exatamente o que precisávamos fazer. Temos novos desejos agora.Novas necessidades. Novas pretensões.

Novas fantasias.

Estamos vivendo em um novo mundo. Um mundo que o Abel prometeu que construiria paramim. Eu fiz uma promessa a ele também. Disse a ele que não iria derramar uma única lágrimapor aquela cidade, pelo que aconteceu, e não derramei.

Na verdade, neste mundo, eu rio muito.

Ambos rimos. Levantamos de manhã e fazemos amor devagar e preguiçosamente. Entãotomamos banho juntos e fazemos um café da manhã horrível, que geralmente acaba sendoqueimado porque meu marido está em uma missão agora. Em me engravidar.

Fiquei menstruada confirmando o fato de que não estava grávida depois daquele acidente.Fiquei estranhamente desapontada. Mas é bom que eu não esteja. Não podemos ter um bebêagora. Quando começamos a explorar novos territórios um com o outro.

Fui a um posto de saúde e o médico receitou a pílula. Me fez pensar por que não comeceiantes. Me fez pensar se eu secretamente quero um bebê, algo de Abel dentro de mim. Isso nãoimporta, no entanto. Não vai acontecer tão cedo.

Eu costumo dar muita importância a tomá-la bem na frente dele e engoli-lo, e ele consideraisso um desafio. E então ele me fode como só ele pode, com ternura e brutalidade. Semmencionar que todas as noites, ele dorme com sua grande mão cobrindo minha barriga plana,

como se ele estivesse deixando nossas peles falarem, fazendo sua mágica.

Depois que larguei o meu emprego, Abel me disse que se nós continuarmos morando noapartamento de Ethan por mais um tempo, poderemos fazer com que funcione de maneiraeconômica. Eu já sabia que ele tinha algum dinheiro economizado quando nos mudamos para cá,e agora ele diz que pode arranjar mais atuações. Além disso, podemos obter uma porcentagem dodinheiro quando atuamos para a câmera. Isso é uma coisa que eu não considerei quando fui lápara a primeira sessão de fotos. Obviamente, eu sabia que as pessoas eram pagas para esse tipode coisa, mas não tinha dinheiro na minha cabeça, apenas esse desejo estranho e forte de fazeralgo drástico.

Eu também não achei que eles colocariam nossa fita online. Não depois da maneira comosurtei. Mas eles fizeram e podemos voltar se quisermos.

Não temos um contrato ou qualquer coisa, o que eu aprendi que é uma coisa preciosa nestenegócio. Estamos sem contratos, que escolhem, que escolhem entrar em suas salas e fazer sexodiante das câmeras. É nossa escolha mostrar nosso amor ao mundo em nossos termos. É nossaescolha celebrar o que temos, o que deveríamos ter celebrado o tempo todo, mas nunca tivemos achance.

Depois de nossa primeira filmagem, Abel traz para casa uma câmera de vídeo portátil. Nocolchão, ele se ajoelha entre minhas pernas nuas, com os meus quadris em suas coxasmusculosas, meu sexo exposto e pulsando. Quando ele sacou a câmera e aquela luz vermelhapiscando acendeu, queria esconder meu rosto. Meu coração dispara e o meu estômago aperta.

Eu me sinto excitada e um pouco inquieta.

O que estamos fazendo, trazendo nossa fantasia para nossa vida diária?

— Desde o meu primeiro dia, queria trazer uma destas para casa. Só para nós, você sabe. –ele diz, ofegante, brincando com os botões. — Você vai ficar tão bonita, Pixie.

O prazer e admiração em sua voz, faz desaparecer as minhas dúvidas - é Abel; ele não vainos deixar cair - e me deixa ousada, e dou a ele meu melhor show assim que começamos atransar.

— Porra, Pixie. Você adora isso, não é? Você ama a câmera. Você foi feita para isso, porra.– Abel murmura, enquanto observa os meus movimentos na tela. Ele apontou para onde estamosligados, registrando o estiramento do meu núcleo sobre seu pau abusivo.

Eu ruborizo de prazer, com meus movimentos se tornando ainda mais sedutores. Embora emalgum lugar lá no fundo eu queira que ele olhe para mim, em vez daquele objeto em suas mãos.Mas não importa porque o orgasmo que tenho é fora deste mundo. É como um desastre de trem,o que desencadeia o clímax explosivo do meu marido.

Observo as pessoas no armazém e mesmo sabendo que é tudo falso, seus gemidos, sualuxúria e seus corpos arqueados, eu não tenho forças para julgá-los. Ainda há um pouco dehonestidade neles. Eles estão fazendo o que Abel e eu estamos fazendo.

O mundo real não é suficiente para eles. Então, estão construindo seu próprio mundo,

fazendo sua própria fantasia. Eles têm suas razões como nós temos as nossas.

Assim que entro naquela sala, sinto que estou em casa. Talvez porque as paredes sejampintadas exatamente da mesma cor da minha casa na árvore: amarelo ensolarado. É poético ereconfortante. A casa da árvore foi onde nos apaixonamos em segredo e nesta sala tudo o quefazemos juntos fica exposto.

Nesta sala, recuperamos o que perdemos. Nosso poder. O tempo que passamos separados.

Abel me leva de novo. E vou até ele sem reservas, com todo o amor que sinto por ele.

Em nossa primeira sessão, Abel me pediu para olhar para a câmera e imaginar todos danossa cidade, e dizer a eles como era bom ser fodida por ele em nossa igreja imaginária. Emnosso próprio local de adoração.

Ele me pede para fazer isso todas as vezes. É um ritual para nós. Um ritual de purificação.Ele agarra meu cabelo, puxando meu pescoço para que eu possa olhar para a luz, o tempo todome penetrando por trás. No meu ouvido, ele sussurra palavrões e ilícitas. Coisas possessivas.Coisas que me excitam e me fazem amá-lo ainda mais.

Diga a todos que você é minha, Pixie.

Diga a eles que você me ama. Diga a eles o quanto bom eu te fodo.

Diga a eles que você nunca vai me deixar. Você nunca vai voltar para eles.

Suas palavras me fazem querer absorvê-lo em meu corpo, escondê-lo de todos que podemfazer mal a ele. Mas tudo que faço é gritar meu amor por ele. Eu olho para a câmera e declaromeu amor ao mundo, a quem quiser ouvir. Com prazer. Com raiva. Com um sorriso nos lábios.

Fiquei confortável em ter pessoas dentro da sala amarela esperançosa. Não muitos, masalguns. Normalmente, o marido de Blu, Nick, está aqui conosco. Ele é tão silencioso que nunca osinto ou o ouço por perto. Além disso, com Abel dentro de mim, não sinto mais nada. O outrocara é o que estava trabalhando com as luzes na primeira vez. Desde então, eu descobri que o seunome é Gavin. Ele é tímido e legal, e está economizando para estudar eletrônica e comunicação.

Esses dois são os únicos que têm permissão para entrar comigo e Abel. Meu marido nãodeixa mais ninguém - ou seja, o cara de cabelo bagunçado que ficou bravo da primeira vez -entrar. Meu grande e feroz protetor. Nick e Gavin são amigáveis e às vezes percebo um brilho deapreciação em seus olhos. Eles até nos elogiam às vezes. Isso me faz rir. Eu não sei por que, masfaz.

Acima de tudo, me faz sentir aprovada. Na verdade, é a aprovação final do nosso amor,afetando as pessoas da maneira que fazemos, obtendo uma reação positiva delas. O carimbodefinitivo de aprovação de que o nosso amor não é errado. Que a forma como amamos,loucamente, perdidamente, sem limitações, está tudo bem. Que amar Abel assim não é pecado.

Amar Abel Adams pode ser a coisa mais pura e verdadeira que farei.

Depois de cada filmagem, ele me carrega, como fez da primeira vez. Ele me leva para casa,lava meu cabelo, dá um beijo na minha barriga e depois nos abraçamos. Não há sexo ou luxúria,

apenas companheirismo. Seus movimentos são tão suaves, seus dedos são um bálsamo paraminha alma dolorida e corpo completamente vandalizado e prazeroso.

Ele é tão cheio de camadas, meu Abel.

Ele é um produto desta sociedade. Ele é um produto de todo o ódio e mentalidade de minhacidade natal. Isso me faz pensar que os monstros não nascem, eles são criados. Não que o meuAbel seja um monstro, mas é isso. Nós os criamos, por meio de nossas ações, por meio de nossanegligência. Nós os criamos com nossas próprias mãos e então apontamos o dedo para eles.

Isso me faz chorar. Isso me faz ver como meu marido é capaz de se machucar e de ficar comraiva de seu passado. Isso me faz perceber como eu estou brava e como minha fúria tem crescidoao longo dos anos.

Tudo vem à tona agora, na frente das câmeras.

Portanto, esta é basicamente nossa própria versão fodida de terapia.

Mas quando vejo outros casais na rua, rindo, se beijando como se não se importassem com omundo, como se não tivessem nenhum fardo, eu me pergunto. Eu me pergunto se algum diachegaremos ao lugar deles, todos felizes e despreocupados.

Eu me pergunto se algum dia chegaremos a um lugar onde não estejamos mais com raiva.Algum dia seguiremos em frente?

Onde termina essa fantasia?

Estou casada com Abel há sete semanas e não falei para meus pais.

Bem, obviamente.

Eles não se importam comigo. Eles nem sabem que sua única filha está casada. Elesprovavelmente oram a Deus para que eu esteja morta, enquanto eu lhes mostro o dedo semminhas roupas.

Não deveria estar pensando neles, mas estou. Hoje é o aniversário do meu pai e isso me fazperceber que estou na cidade há cerca de três meses, mas parece uma eternidade. Parece quemoro aqui há mais tempo do que em Prophetstown.

Estou melancólica e Abel não está em casa para me distrair. Ele está saindo com seusamigos. E mesmo que eu esteja triste, me faz sorrir o fato de Abel estar se socializando.

Meu marido é um típico solitário. Ele não faz muitos amigos, mas fez alguns desde quecomeçou a trabalhar no estúdio. Ele e Ethan saíram, então eu tenho o apartamento só para mim.

Ligo para Sky. Normalmente, não pergunto sobre meus pais quando converso com ela. Mas,desta vez, deixo de lado isso e pergunto: — Como está o meu pai?

— Bem. Ele está bem. – ela diz, rapidamente. — Então, como a vida de casada está tratandovocê?

Não me deixo enganar pela falsa alegria em sua voz. — Sky, como está o meu pai? E minhamãe? – Eles sempre perguntam sobre mim? Eu não posso dizer isso, mas estou silenciosamentefazendo a pergunta.

— Eu disse que ele está bem. Eles estão bem.

Eu me sento na banqueta da bancada da cozinha. — Sky, diga-me. – eu suspiro. — Eu sei,ok? Eu sei que eles me odeiam. Estou preparada para o pior. Então, apenas, se abra comigo.

Ela fica em silêncio por alguns instantes. — Não acho que você esteja preparada para o pior.

Eu me sento, com o meu coração batendo forte no peito. — O que? Eles estão bem? Meupai está bem?

Ela zomba. — Ah, sim. Ele está bem. Eu o vi outro dia. Ele estava na igreja com sua mãe eeles estavam conversando com o Sr. Knight e aquele idiota que eu vou matar: Duke.

Uma risada decrépita sai da minha garganta. Deus, eu sinto falta da minha melhor amiga ede seu jeito sanguinário. Ela está se preparando para ir para a faculdade. Ela irá embora emalgumas semanas. Eu não pensei sobre a escola por muito tempo; quase parece que cresci demais

para isso, ou talvez não o suficiente.

— Você ainda o odeia, não é?

— Bem, sim. Faz apenas alguns meses desde que você fugiu. Não muito. Além disso,sempre odiarei aquele idiota. Ele é meu inimigo número um.

— Sério? – eu apoio meu queixo na palma da mão, pensando na conversa que tive comDuke na noite do baile. — Porque eu acho que ele pode gostar de você.

Ela gagueja e eu não posso deixar de rir. — Ele não gosta. Ai credo. Essa é a coisa maisnojenta de todas.

— É mesmo? Porque eu acho que você o odeia um pouco demais.

— Ei, sabe? Acho que você perdeu a cabeça. – diz ela, imitando meu tom. — Além disso,não existe muito ódio. Quanto mais melhor.

Eu rio de novo, mas então paro porque fico triste. Eu gostaria de poder vê-la. Eu não sei seeu irei. Gostaria de poder... voltar e ver minha cidade.

Não. Má Evie.

Eu não quero voltar. Mas às vezes eu penso e se...

E se eu disser que estou casada e feliz? Quer dizer, sei que estão com raiva, mas e se elesaparecerem? Eles são os meus pais, são biologicamente programados para me amar.

Vou dizer a eles o quanto excelente é o Abel e como ele é o marido mais maravilhoso detodos os tempos. Sim, ele me deixa louca e ele está me controlando, mas ele me ama. Eu sou omundo dele e ele é o meu.

Por que eles não podem fazer as pazes com isso? Talvez se meu pai o ver comigo, ele possase desculpar com Abel por espancá-lo e jogá-lo na prisão. Talvez eles não sejam melhoresamigos, mas podem se tolerar.

Eu reúno minha coragem novamente e digo: — Agora você vai me dizer como meus paisestão? Como eles estão?

Um grande e longo suspiro e lá se vai meu coração novamente. Está batendo, com pavor,com ansiedade. — Evie, você não quer ouvir isso.

— Ah, meu Deus, apenas me diga, ok?

— Tudo bem. Aqui está: eles não estão procurando por você e nunca vão procurar porqueestão fingindo que você está morta, ok? Sua mãe fez um velório para você. Eles disseram a todosque você está morta para eles e que eles não a apoiam.

Por um segundo, não sinto mais meu coração. Ele parou de bater. Eu não me sinto. Eu nemacho que existo.

— Evie? – Sky parece preocupada. — Ei, você está aí? Eu sinto muito. Eu sinto muito,querida.

Eu balancei minha cabeça. Não é culpa dela. É minha por perguntar. Por ter esperança. E,no entanto, não consigo evitar. — Foi meu... – eu limpo minha garganta. — Foi meu pai quemdisse isso?

— Eu não estava lá. Eu, hum, ouvi isso pela minha mãe.

— Bem, aposto que não foi o papai. Eu sei que ele está com raiva de mim, mas ele nuncadiria isso sobre mim. Aposto que foi a mamãe. – eu aceno com a cabeça, olhando para a bancadada cozinha.

Não pode ser o meu pai. Eu sei que ele nem sempre veio em meu socorro quando mamãeestava sendo uma vadia, mas ele ainda me amava. Ele me disse isso na noite em que fugi. Eledisse que estava fazendo isso para o meu próprio bem. Não importa que tenha sido errado o queele fez e eu o odiei.

— Evie, seu pai queimou a casa da árvore.

— O que?

— Ele encontrou mais fotos suas e de Abel e... – ela suspira novamente. — Todo mundo nacidade sabe disso. Ele queimou sua casa na árvore no dia em que você foi embora. – Eu ouço umpouco de estática, então a sua voz parece muito mais próxima. — Evie, seu pai também não éseu fã. Não acho que eles vão esquecer o que aconteceu. Apenas seja feliz, ok? Apenas fiquefeliz por estar com Abel. Apenas pense nisso. Pense em sua nova vida e como ela é perfeita e...

— Eu... eu tenho que ir.

Desde queconversei com Skyalgumas horas atrás, consegui ficar meio tonta com a cerveja. Eu não sou uma grande bebedorade álcool; Só bebi uma vez, na nossa noite de núpcias. A ressaca era uma merda.

Eu não me importo com uma ressaca agora. Eu não me importo com nada.

Estou vasculhando meu diário e folheando suas páginas como uma maníaca. Eu querochorar, mas a única coisa que me impede é a minha promessa a Abel. Prometi a ele que nãochoraria por aquela cidade e não chorarei.

Mas é difícil. Tão difícil.

Quando vim para Nova York pela primeira vez, tinha planos de reunir histórias e despejá-lasnas páginas, mas ao longo do caminho me esqueci completamente. Eu esqueci como queria seruma escritora e escrever histórias épicas e lendárias.

Em vez disso, me tornei uma estrela pornô.

Isso não é ótimo?

E adivinha? Eu nem sou isso. As pessoas não sabem meu nome. Eles não se reúnem ao meuredor, implorando por autógrafos. Não. Eu nem sou uma estrela pornô. Eu sou apenas uma

estranha que está com raiva. Tão brava que não sei como parar. Eu não sei mais como mecontrolar. Não sei como tirar da cabeça a imagem da minha casa na árvore em chamas.

Eu continuo vendo as chamas amarelas e laranjas consumindo meu lugar favorito na Terra.Ele deve ser cinzas agora. Desapareceu. Completamente. Misturado na lama e na sujeira em quepassei minha infância correndo.

Minha casa na árvore desapareceu.

Meu pai a construiu para mim. Ele pintou de amarelo para mim porque é minha cor favorita.Passei dias e dias naquele lugar, sonhando em ser escritora. Dentro de suas quatro paredes, eu deimeu primeiro beijo, o primeiro abraço. É o lugar onde minha história de amor começou, o lugaronde ouvi o big bang. É o lugar onde me apaixonei por meu garoto de cabelos dourados, quecresceu e se tornou o deus dos homens.

Abel.

Ah, Deus, eu o amo muito.

Eu o quero aqui comigo, dentro de mim, me fazendo esquecer e me curando. Deito na camasegurando o travesseiro que comprei para ele. Eu quero o meu marido.

E então, de repente ele está. Ele está aqui comigo. Seu braço envolve minha cinturaenquanto ele me vira de costas, e eu solto o Abel falso, o travesseiro, quando enfrento umverdadeiro e vivo.

— Abel. – eu pisco os meus olhos abertos; Não me lembro de ter adormecido.

Gemo quando as luzes atingem os meus olhos embaçados e sonolentos. Mas ele está aqui.Ele voltou. Tudo vai ficar bem agora.

Ele pressiona um beijo suave na minha testa e cheira meu cabelo. — Por que você cheira acerveja?

— Você também cheira a cerveja. – eu acaricio meu nariz em sua camiseta.

— Sim. Bebi algumas com os caras.

— Os caras. Ahh. Eu amo isso, querido. Estou tão feliz por você estar fazendo amigos. Sim.

Seu peito treme de tanto rir, e então ele está preenchendo minha visão, com sua cruz deprata se acumulando no oco da minha garganta. — Você está bêbada, baby? Quantas você jábebeu?

Eu aperto meus olhos e olho para o teto. Então levanto meus dedos: dois. Então, três, quatro.Então, eu seguro ambas as mãos abertas. — Não me lembro.

— Eu não posso te deixar sozinha, posso?

— Não. Preciso de você o tempo todo. – eu arqueio meus quadris e me pressiono contra seupau. — Eu senti tanto sua falta.

Seus dedos se enterram no meu cabelo enquanto ele passa o nariz pela minha bochecha. —

Eu também. Odiei ir sem você. Eu gostaria de poder transformá-la em uma droga e injetar vocêdireto no meu coração para que eu nunca tenha que ficar longe de você. Nem mesmo por umsegundo.

Gemendo, abaixo meu rosto para chegar a sua garganta e lambo seu pomo de adão. — Eutambém.

E então eu rio porque é engraçado. Drogas são ruins. Você não pode ser uma droga paraalguém, você só vai envenená-lo algum dia. Você só vai arruiná-los.

Arruinar.

Abel não pode ser minha ruína, lembra? Prometi isso a mim mesma. Eu também não possoser sua ruína.

Então, estou dizendo não às drogas.

Minha risada faz a minha cabeça ficar pesada e as correntezas ondulam sob minha pele.Talvez eu esteja um pouco mais embriagada do que pensava. Talvez eu esteja totalmente,completamente bêbada. Ou talvez eu esteja algo intermediário.

Mas quem se importa? Abel está aqui, ele vai me foder e me deixar melhor. Ele vai me fazeresquecer tudo, menos ele. Não vou pensar na minha casa na árvore, nas fotos queimadas e nosdiários queimados. O meu pai. Aquela cidade esquecida por Deus e seus campos.

Sorrindo, Abel beija meus lábios. — Algo engraçado, Pixie?

Eu aceno, esfregando nossos narizes. — Você. Eu. Nós. Todos. – Ele ri e eu pego seu rosto,dando um grande beijo em sua boca. — Você é tão bonito quando ri.

Suas sobrancelhas levantam. — Acho que você quer dizer que sou bonito quando rio. Ousexy.

— Não vou saber o quanto sexy você é até que você faça sexo comigo. – eu arrasto o go do“comigo” e lambo seus lábios.

— Ah, então minha Pixie está à procura do meu pau, não é?

Ah, Deus, sim. Estive esperando e aguardando por seu pau mágico a noite toda. Além disso,me sinto ultra-sensível agora.

— Sim. Por favor, Abel. Preciso disso. – eu começo a agarrar sua camiseta, puxando-a paracima, mas meus movimentos são desajeitados e lentos, e Abel assume. Ele se levanta e tira acamisa, expondo seus músculos esculpidos para mim.

Ele tem razão. Ele é tão sexy, não consigo parar de percorrer minhas mãos por todo o seupeito nu.

Então ele me faz levantar meus braços para que ele possa puxar minha camisola de girassoldo meu corpo antes de tirar minha calcinha. Quando estou totalmente nua e pronta, ele tira suasroupas e em um flash, ele está me cobrindo.

Este é o lugar mais seguro da terra, sob ele. Ele é tão forte assim. Como se ele pudesse meproteger de todos os monstros do mundo.

— Eu te amo muito, Abel. – eu sussurro, dando um beijo suave em seus lábios - ou talvezseja sua mandíbula - e segurando em seus ombros.

— Eu não posso acreditar que você é minha. Não posso acreditar que eu te fiz minha. Algotão puro, tão lindo pra caralho.

— Eu sou. Eu sou sua, Abel. Sempre serei sua. É você e eu contra o mundo. Sempre. Eu seidisso agora. Ninguém pode me tirar de você. Ninguém tem esse poder.

Definitivamente não são os meus pais. O que meu pai pensou? Ele pensou que ao queimar olugar onde me apaixonei por Abel, ele queimaria nosso amor também? Ele achava que aquelaschamas iriam nos tocar aqui, em nossa nova vida? Se ele pensou isso, então ele estava errado.Tão errado.

Vou queimar o mundo antes de deixar alguém tocar em nosso amor. Nada vai nos destruir.Eu não vou deixar e nem este homem em meus braços. Ele nunca vai deixar nada ficar entre nós.

Abel joga a cabeça para trás e emite um gemido alto ao entrar em meu corpo. Ele encontraum ritmo forte, me penetrando, com nossos corpos colidindo.

Eu sorrio. Isto é perfeito.

Nossa, eu nunca quero desviar o olhar de seus olhos magníficos.

Já sinto o início de um orgasmo nos pés e nas pontas dos dedos. Mas um momento depois,para. Tudo para e eu fico ofegante. E então o mundo vira de cabeça para baixo porque não estoumais deitada. Estou de quatro; Abel acabou de me mover.

— Abel, o que... – eu viro o meu rosto e olho para ele atrás de mim. Ele parece um poucoconfuso.

Obrigada, álcool. Eu nunca vou beber novamente. Nunca.

— Fique assim, Pixie. Eu amo essa imagem. Amo como sua bunda treme quando te fodoassim.

Fico atordoada por um segundo. Como se alguém me jogasse no chão depois de me fazervoar. Meu corpo estremece e os meus ossos tremem quando o vejo alcançar a câmera, sob umapilha de roupas sujas que eu não me importei o suficiente para pegar.

Quando ele abre a aba e a liga, percebo que não quero a câmera. Eu não quero que Abelgrave nosso sexo. Eu quero que ele olhe para mim e esteja comigo no momento.

No próximo segundo, ele me penetra mais uma vez e minhas costas arqueiam, fazendo meusprotestos se dissolverem na minha língua. A invasão é tão profunda, mais profunda do que antes,e minhas mãos escorregam e deslizam no colchão. Embora Abel me impeça de cair.

É apenas um pequeno alívio porque ele começa o ritmo novamente, o tempo todo olhandopara a tela, em vez de me ver em carne e osso.

Olhe para mim.

— Abel, pare. Sem câmera. – eu protesto, com minhas palavras tropeçando como a bêbadaque estou.

Eu não quero isso. Quero que voltemos para que Abel esteja em cima de mim como antes,olhando nos meus olhos, dizendo o quanto ele me ama com seu olhar.

Eu quero meu marido, não uma fantasia.

— O que? – ele ri, com um som enferrujado e excitado. — Baby, você não tem ideia do queestá fazendo agora. Você está deslumbrante, Pixie. Fora deste mundo. Você ama a câmera. Vejacomo você está se movendo. Você está adorando.

Não.

Eu não estou.

E eu percebo algo. Uma coisa importante. Nunca chego ao clímax antes de olhar para ele.Eu não posso. Sou incapaz. Eu preciso virar minha cabeça ou ter um vislumbre dele para gozar.É apenas o meu fetiche.

Abel enfia o polegar na boca, molhando-o. Esse movimento me prende o tempo todo. Tipo,quanto sexy é isso? Eu gemo, mordendo meu lábio e então estou mordendo o lábio porque eledesliza o polegar molhado dentro da minha bunda. Eu me empurro com a penetração, tremo eestremeço como uma folha enquanto o prazer desenrola dentro de mim. Na bunda sempre medeixa com tesão.

— Porra, Pixie. A câmera te deixa tão sexy. – ele diz.

Ele me elogia. Ele diz que fico incrível assim, fui feita para isso, feita para a câmera. Eentão ele geme, mordendo o lábio, fascinado pela tela e eu. Sua mordida no lábio me destrói e eugozo. Meu orgasmo me reclama e eu fecho meus olhos enquanto gozo e gozo, com espasmos.Meu clímax dispara e ele goza dentro de mim com um gemido.

Assim que ele termina, ele desmaia e me abraça por trás, suspirando contente. Meus olhosestão bem abertos, no entanto. Meu sono e minha confusão induzida pela cerveja desapareceram.

Nunca foi a câmera para mim.

Sim, é sexy e me deixa excitada, mas apenas porque é ele a segurando ou é ele ficando todoexcitado quando a luz vermelha acende.

É você, Abel. Sempre foi você.

Eu abraço seu braço e dou um beijo suave em seu membro coberto de pelo enquanto umalágrima escorre e cai sobre ele. Ele estremece, mas não levanta. Não estou quebrando minhapromessa chorando porque minhas lágrimas não são por minha casa na árvore queimada ou pormeus pais. Estou chorando por ele, por causa dele, por causa de algo que eu nem sabia queestava perdendo.

Meu Abel.

Em algum lugar ao longo do caminho, a câmera se tornou a terceira pessoa em nosso

casamento. Talvez tenha acontecido quando ele trouxe a câmera para casa, eu não sei. Mas paramim, sempre foi apenas uma fantasia, uma forma de terapia.

Não percebi até esta noite que, de alguma forma, para meu marido, isso se tornou umarealidade.

Estou tentando me lembrar da última vez que Abel olhou para mim enquanto fazia sexo.

Acho que foi um dia antes de nossa filmagem e nós estávamos recostados no colchão, nus, éclaro. Eu estava envolta em seu corpo, quando disse: — Você ainda está duro.

— Eu te disse. É uma doença. Eu sou um homem doente.

Sorrindo, eu o beijei docemente. — Tem certeza de que está doente por mim? Talvez sejamas maçãs. – O dia todo nós comemos sexo, Toblerones e maçãs. — Eu juro que você é comoAdão.

Ele agarrou meu cabelo embaraçado. — Quem é Adão?

— Adão. De Adão e Eva. Eles foram expulsos do jardim porque ele foi estúpido o suficiente

para comer a maçã.

Soltando meu cabelo, ele colocou os braços atrás da cabeça e riu, parecendo um rei. —Claro que não. Acho que foi a Eva. Ela o tentou.

— Ah, por favor, foi o Adão. Ele comeu a maçã porque era sua fruta favorita, e Eva tentouimpedi-lo, mas ele não deu ouvidos.

— Que monstros famintos. – ele balançou sua cabeça.

— Ou que casal de amantes famintos. A luxúria dá fome, você sabe. Já estou com desejo deuma maçã.

— E você nem gosta de frutas.

— Não.

Então ele me virou de costas e fez amor comigo, enquanto me olhava nos olhos.

Agora, eu o vejo jogar a cabeça para trás e rir. Ele está conversando com Nick, o marido deBlu, bebendo cerveja na bancada. Estamos na festa de despedida deles, em seu apartamentoestilo estúdio na vila. Eles estão partindo para Los Angeles amanhã e esta é a última vez que osveremos por um longo tempo.

Eu vou sentir falta deles. Blu se tornou uma grande amiga, uma guia, na verdade. Nasúltimas semanas, passamos muito tempo juntas. Fomos às compras, ao cinema, a jantares. Àsvezes, nós quatro vamos, quando consigo convencer Abel a ser social. Ele gosta do Nick, entãonão é tão difícil. Além disso, se eu for, ele também vai. Isso me faz sentir muito madura, saircom outro casal.

— Puxa, vocês dois são tão fofos. – Blu ri ao meu lado.

— O que? – eu desvio o olhar de Abel, cuja risada morreu para uma risada lenta. Queria queele estivesse mais perto para que eu pudesse ouvir. Eu gostaria que ele estivesse mais perto paraque eu pudesse olhar em seus olhos castanhos. Olhos que me lembram do doce xarope de bordo.

— Você não consegue tirar os olhos dele e ele não consegue tirar os olhos de você. – elatoma um gole de sua bebida rosa. — É fofo.

Isso faz meu coração afundar no estômago, todo pesado e partido.

Sinto que eu posso gritar e chorar, mas ainda não vou me sentir melhor. Menti para Abel edisse que era minha menstruação e ele sabe que não deve me incomodar então. Ele sabe que deveir à loja, comprar o máximo de chocolate possível e sentar-se em silêncio ao meu lado para queeu possa usá-lo como travesseiro. Então, ele fez exatamente isso. Embora eu tenha recusado oserviço de travesseiro e dito a ele que estava me sentindo mal-humorada e que ele precisava sairdo quarto. Ele caminhou pelo corredor, aquele idiota.

Deus, eu o amo. Ele é tudo para mim. Ele é meu mundo. Mas não sou mais o suficiente paraele?

Normalmente, eu rejeito comentários como este e sorrio, mas hoje não consigo. Eu fico

patética e pergunto: — Você acha?

— Sim. Esse cara é louco por você - você sabe disso, certo?

Tomando um gole de água, eu aceno. — Claro. Sim.

Nunca mais vou beber depois de como eu acordei de ressaca, me sentindo como se estivessemorrendo. Eu ainda me sinto como morta. É apenas por outro motivo.

As pessoas estão se misturando, entrando e saindo da minha visão, mas tudo que me importaé o homem de cabelo dourado do outro lado da sala. Eu quero que ele se vire e olhe para mim,mas ele não olha. Ainda não. Ah, ele sabe onde eu estou, mas está ocupado conversando comNick.

Ao meu lado, Blu abaixa sua bebida sem tomar um gole e me observa. — O que estáacontecendo?

— Nada.

Virando-se completamente para mim, Blu me dá um de seus famosos olhares; Nick chamaisso de olhar de terapeuta e eu concordo. — Conte-me tudo. Não estarei aqui por muito maistempo, então esta é sua chance de obter toda a sabedoria.

Suspirando, tomo mais água. — É que eu o amo tanto, sabe? Não consigo imaginar minhavida sem ele. Mas eu... – eu suspiro, piscando meus olhos para conter as lágrimas. — Não achoque ele sinta o mesmo.

— Desculpe, o que?

— Esquece.

Parece impossível, mesmo para os meus próprios ouvidos. É impossível. Ele é louco pormim e eu sou louca por ele. Mas ainda…

— Não. Não. – ela coloca uma mão reconfortante no meu ombro. — Conte-me o que sepassa. O que... O que te levou a isso?

Agarro o copo com força e olho para a água. Demoro alguns minutos para reunir minhacoragem, mas eu o faço.

— Eu não posso mais fazer isso. – eu sussurro.

— Fazer o que?

— Fazer vídeos. Eu não posso mais fazer vídeos.

Pronto. Eu disse isso.

Eu não posso ir para aquele estúdio. Porque está manchado de raiva, ódio e rebelião inútil.Isso não vai nos deixar seguir em frente. Não vai nos deixar ser felizes e presentes no momento.

— Então, não faça isso.

Meus olhos lacrimejam novamente e nem mesmo piscar pode resolver. — Nós... eu não sei,tomamos essa decisão juntos e eu sinto que o estaria traindo de alguma forma ao desistir. Achoque ele precisa muito disso. Eu...

— Não, querida. Ele não precisa disso. Ele precisa de você. – ela diz como se fosse tãoóbvio. — Aquele homem ali é muito louco por você.

— Mas ele está muito machucado. Tipo, eu nem consigo imaginar, e não posso tirar a únicacoisa que lhe dá alívio.

Blu sabe o que aconteceu conosco e por que fugimos. Isso me surpreende e me faz sentirmelhor ao ouvir sua solução.

— Ouça-me, ok? Isso é um casamento. Existe uma coisa chamada compromisso.Comunicação. Se houver um problema, você fala sobre ele. Você encontra uma solução. Vocênão sufoca e fica infeliz. Existe uma maneira infalível de terminar seu casamento. – ela olha parao marido. — Quando Nick e eu começamos a namorar, era muito louco. Ele me ligava váriasvezes ao dia. Eu ficaria tipo, cara, apenas relaxe. Eu sou a favor do amor e tudo mais, mastambém gosto do meu espaço. Então, nós nos comprometemos. É completamente normal sentirisso, confie em mim.

Franzo meu nariz, quase rindo. — Nick ligou para você várias vezes ao dia? – eu viro meusolhos para o cara grande, todo tatuado e feroz. Ele não parece alguém propenso a mostraremoções ou mesmo dizer eu te amo muito.

Ele é um cara ótimo. Ele testemunhou Abel e eu em nosso estado mais vulnerável, entãonosso relacionamento deve ser estranho. Mas isso não. É fácil conversar e sair com ele,exatamente como com a Blu. Sem falar que ele é fotógrafo, então ele e Abel têm muito o queconversar.

Embora Abel não tenha desenhado ou usado a câmera para nada além de tirar fotos nassessões nas últimas semanas. Assim como eu não escrevo há muito tempo.

Ele geralmente é tão meticuloso com as poses. Ele quer controle. Ele vai me pedir para fazeruma pose, mas geralmente não gosta. Então, ele vai me observar criticamente, percorrer os olhospor todo o meu corpo e arrumar meus membros para sua satisfação. Eu sinto falta disso. Sintofalta de ser sua musa. Sinto falta de vê-lo em seu espaço criativo.

A risada de Blu me traz de volta ao momento e eu a encontro observando seu marido comcarinho. — Ele é um fofo bem grande. Mas ele tem problemas de abandono. Em seu passado.Ele costumava pensar que o mundo explodiria se ele não me visse todos os dias. O que é ótimoter, realmente. Mas também atrapalha o aumento da confiança, entende o que quero dizer? Então,demos um passo de cada vez. Ainda os estamos dando. – Então ela se vira para mim. — Falecom seu marido. Diga a ele o que você quer. Diga a ele que você não quer fazer isso. E se eleadora isso demais, então encontre um meio-termo.

Seu sorriso é gentil enquanto ela continua: — Lembre-se de que eu disse a você quealgumas pessoas entram neste negócio porque estão tentando recuperar o que perderam. Elesestão com muita raiva. Bem, então não fique mais com raiva. Perdoe essas pessoas, deixe a raiva

desaparecer.

Não fique com raiva.

Perdoe e esqueça.

Sim eu quero isso. Eu quero seguir em frente. Quero que ele siga em frente.

Blu está certa. Nós precisamos conversar. Não prometemos que falaríamos um com o outro?

Abel é meu melhor amigo. Ele não é um leitor de mentes, no entanto. Portanto, preciso dizera ele, fazê-lo entender que temos uma escolha. Não precisamos mais ficar com raiva. Podemosser felizes.

Eu só quero ele e eu. Como antes.

Quero escrever em meus diários, fazer trabalhos ruins e quero que ele me torne sua musanovamente. Sim, eu quero isso. Quero ser sua inspiração, aquilo que o fascina tanto que nãoconsegue se controlar ao pegar no lápis ou tirar fotos.

Eu quero aquele Abel e Evie. O artista e a musa. Um garoto e uma garota apaixonados. Comsonhos em seus olhos e todo o universo em seus corações.

Eu quero dizer a ele que nossa casa da árvore desapareceu, mas está tudo bem. Ainda temosum ao outro. Sempre teremos um ao outro. Eu não quero me preocupar com as pessoas que nãose importam conosco. Não mais. É exaustivo e desgastante. Isso anula todo o propósito do nossoamor. A raiva mancha sua pureza.

Ninguém importa além de nós.

Eu posso fazer isso. Eu posso fazer isso.

Mas primeiro preciso de um pouco de ar fresco. Não sei por que estou tão nervosa com isso,mas estou. Eu me desculpo com Blu e sigo um caminho direto para a pequena varanda nosfundos. Graças a Deus, está vazio. Eu não quero companhia. Vou respirar fundo algumas vezes,acalmar meu coração palpitante e depois voltar e pedir a Abel que saia comigo. Então vou beijá-lo e contar meu plano.

Vai ficar tudo bem.

Só então, a porta se abre e o próprio homem em quem eu estava pensando está na soleira.

— Pixie.

Deus, sua voz. Eu ouvi há pouco tempo quando viemos para a festa, mas parece que foimuito tempo.

— Ei. – eu sorrio para ele.

Não posso deixar de sorrir para ele. Pela primeira vez em semanas, as coisas estão claras.Minha mente não está confusa. Eu não estou sobrecarregada.

Estou verdadeiramente livre.

Ele se aproxima de mim. — Você está se sentindo melhor?

Eu coloquei meus braços em volta de seus ombros. — Sim.

— Foram os chocolates, não é? Eles te acalmaram.

— Talvez. – eu olho para ele e passo os meus dedos sobre seu lindo rosto. Na inclinação desua mandíbula, suas maçãs do rosto salientes e seu nariz destacado. — Lembra quando você medisse que se eu não tivesse vindo para Nova York com você, você nunca teria vindo?

— Sim.

— Eu nunca tive a chance de te dizer isso... – eu respiro fundo. — Que eu também não teriafeito isso. Eles estavam planejando me mandar para algum acampamento no dia seguinte e... eujá sabia que se algo acontecesse, se eu não pudesse ir com você, eu me mataria.

A fúria envolve sua expressão e antes que ele possa dizer qualquer coisa, eu subo na pontados pés e o beijo. Eu o beijo com todo o amor e a dor do meu coração. Só disse isso a ele paraque saiba o quanto importante ele é para mim. Como ele é vital para minha própriasobrevivência. Ele é muito importante para mim para vê-lo ferido e com raiva.

Não precisamos da câmera ou qualquer outra coisa para nos fazer sentir melhor. Tudo o queprecisamos é um do outro.

Eu não quero perder um único segundo antes de dizer a ele, fazê-lo entender, então euinterrompo o beijo e respiro. Abel está agarrando a minha cintura como costuma fazer, e isso mefaz sorrir enquanto recupero o fôlego.

Em seguida, ele lambe o lado do meu pescoço, me fazendo gemer. O desejo se agita dentrode mim, com muita vontade. Mas eu quero contar a ele primeiro. Quero apagar essa fronteiraentre ele e eu, e então teremos todo o tempo do mundo para isso.

— Abel…

Ele geme, chupando meu pescoço e enrolando meu vestido. Meu núcleo pulsa e estou tãoperto de ceder, mas preciso ser forte. Preciso que nos unamos sem qualquer desconforto em meucoração.

— Abel, pare. Espere um segundo…

— Vamos, Pixie. Eu não me importo que você esteja sangrando. Eu só preciso estar dentrode você.

Ok, isso é nojento. Não digo a ele que não estou, de fato, sangrando, mas discutiremos issomais tarde. Ele colocou meu vestido até a cintura agora, expondo minha metade inferior, e euagarrei seu pulso. — Abel, pare. Agora não.

— Confie em mim, baby, posso sentir isso esta noite. – ele raspa, se esfregando em mim,dando beijos suaves na curva do meu ombro percorrendo até o meu esterno exposto.

— Sentindo o quê?

— Que esta noite é a noite. Vou engravidar você esta noite. – Seu pau fica superduro, então.Ele pressiona o meu estômago, como se pressionasse o meu útero através das camadas de roupas,músculos e ossos. — Imagine o que eles vão dizer então, hein? Sua mãe vai perder a cabeça.

De repente, há um zumbido dentro dos meus ouvidos. Meu sangue está pulsando em minhasveias muito rapidamente.

Imagine o que eles vão dizer então, hein? Sua mãe vai perder a cabeça.

Eu esqueci.

Esqueci minhas pílulas. Eu não as tomo há dias.

Como eu esqueci? Como isso aconteceu? Há quanto tempo estamos caindo? Ruindo. Semninguém para nos salvar.

Apenas ruindo.

Ah, Deus, eu vou vomitar. Vou vomitar porque sei em meus ossos: eu estou grávida. Euposso sentir isso. Sei disso como sei meu próprio nome, que é Evie.

Não é a porra de Pixie.

Abel está respirando ruidosamente, ofegando no meu pescoço, puxando o zíper da calçajeans para baixo com uma das mãos e com a outra segurando meu vestido pela cintura.

— Esta é a nossa vingança final, Pixie. Eu engravidar você é o nosso melhor foda-se.

De alguma forma, consigo a energia mesmo quando minha cabeça está girando e eu oempurro. Eu não posso fazer isso.

— Pixie?

— Eu tenho que ir.

Arrumo meu vestido e tento me afastar dele, mas ele não deixa. Claro, que ele não me deixa.Claro, que ele não me dá espaço. Ele nunca me dá espaço. Ele é tão grande e poderoso que nãohá mais espaço.

— Que porra é essa, Pixie? O que está acontecendo?

— Eu quero que você me deixe ir. – digo, com os dentes rangendo. Não quero brigar nafrente do mundo inteiro.

Um sinal de desagrado franze sua testa. Ainda há luxúria em seus olhos. Mas estádesaparecendo no momento, com a cor marrom emergindo. A bela cor marrom que me fazesquecer tudo menos ele. Ele aperta a mandíbula e finca bem os pés. Uma demonstração dedesafio e autoridade.

— Diga-me o que está acontecendo.

Isso me deixa tão brava que estou tremendo. Minha respiração está irregular. Foda-se nãobrigar na frente do mundo inteiro. Eu empurro seu peito com minha mão livre. Eu o empurro

com força, quase gritando: — Abel. Me deixe ir.

— Não até que você me diga o que diabos está acontecendo.

— O que está acontecendo é que você acha que um bebê é uma brincadeira. Você acha queme engravidar é uma vingança. O que está acontecendo é que mesmo depois de dizer não, milvezes agora, você não para. Você perdeu todo o controle.

— Perdi todo o controle, não é, Pixie? – ele zomba, com seu aperto de mão em volta do meupulso.

— Meu nome não é Pixie. É Evie.

Minha voz está alta. Muito alto, e quando seu rosto se contorce e perde a severidade, sintocomo se alguém estivesse apertando meu coração e eu não consigo respirar. Recuando, ele soltaminha mão.

Não, não, não. Eu não quero que ele recue. Eu não gosto dele assim.

Ele abre os braços, como se estivesse abraçando a cidade inteira e ninguém ao mesmotempo. — Bem, você está certa, Pixie. – ele enfatiza meu apelido e eu volto a ficar com raivanovamente. — Bem-vinda à porra do meu mundo. Um mundo sem controle. Desisti no momentoem que te vi naquele milharal. Você o tirou de mim. Roubou. Eu nem sabia o significado disso.Não entendia por que diabos meu coração estava batendo como se alguém o tivesse aumentado.Por que eu não conseguia tirar meus olhos de você. Não entendi nada, exceto essa necessidadecompulsiva de procurá-la. Para estar perto de você.

Seus braços caem para os lados e seus dedos formam um punho. — Eu não me importavaque sua mãe pensasse que eu era um desgraçado. Não me importava que as pessoas não meolhassem nos olhos, que quase ninguém falava comigo. Porque a única coisa que importava paramim era você. Eu não tive escolha a não ser aceitar o ódio. Eu não tive escolha a não ser morrerum pouco cada vez que eles te tiravam de mim, te puniam com um castigo, te mantinhamtrancada para que eu não pudesse te ver. Eu não tinha controle sobre meus sentimentos.Nenhuma escolha a não ser queimar em seu amor.

— Então, se você quer falar sobre controle, Pixie? Vamos falar sobre como você assumiu ocontrole, quando eu nem sabia o seu nome. – ele solta uma risada e bate no peito com o punho.— Se você acha que eu não entendo o significado de não, então vamos falar sobre como todos osmeus nãos desapareceram do meu vocabulário no segundo em que te vi. Como por você, euaceitei tudo. Eu sofri tudo. Tudo o que sou foi pelo ralo. Vamos conversar sobre isso.

Sua voz ecoa na noite, mais alta do que qualquer som da cidade lá embaixo, mais clara doque qualquer som que eu já ouvi. Isso estilhaça meu coração em um milhão de pedaços,transforma-o em pó e cinzas. Eu sei que não vou esquecer a expressão em seu rosto e o tom desua voz, até o dia que eu morrer. Torturado, selvagem e com raiva. rancoroso.

Você pode amar alguém tanto que acaba odiando-o? Um pensamento tão paradoxal, não é?Não faz sentido. Nada faz sentido agora.

Estou chorando. Meus olhos estão correndo rios e rios de lágrimas pelo meu rosto e as

minhas pernas estão prontas para ceder. Estou tão tonta. Eu não consigo ver direito.

Por semanas, eu o vi ficar com raiva na frente das câmeras. Achei que toda a sua raiva fossedirigida aos meus pais e à cidade. Nunca pensei que pudesse ser direcionado a mim também.

Abel parece distorcido em meio às minhas lágrimas. Ele parece um deus com um milhão demonstros presos dentro dele. Ou talvez ele sempre foi um monstro que se parece com um deus.Porque apenas monstros amam assim: loucamente, insanamente, perdidamente. Como se nãohouvesse amanhã. Como se o mundo estivesse acabando. Como se seu coração fosse explodircom todo o amor doloroso que sentem dentro daquele minúsculo órgão.

Nós dois somos monstros, então.

Eu não sei o que dizer a ele, e acontece que não preciso, porque há pessoas ao meu redor.Toneladas de pessoas. Mas Abel não desvia o olhar de mim. Nem mesmo por um segundo.

Braços macios me dão apoio para ficar de pé; é Blu. E Abel diz: — Solte-a. Não toque nela.Eu vou cuidar dela.

Balancei minha cabeça. — Eu preciso ir. Eu preciso de um pouco de espaço.

Isso o deixa louco. Isso faz seu peito arfar. — Não, você não precisa de espaço. Você nãovai embora. Eu não vou deixar você ir.

Ele dá um passo em minha direção, mas alguém o impede. É o Nick. Ele diz a Abel para medeixar ir. Mas Abel é teimoso. — Ela não pode ir embora. Ela é minha esposa, certo? Eu voulevá-la para casa.

Sei que devo dizer algo. Eu deveria dizer a Abel para parar de brigar e me ouvir. Mas eudeixei Blu me puxar para longe. Isso é mais fácil. Fugir é mais fácil do que ficar e enfrentá-lo.Ela já me conduziu até a porta da varanda e agora Abel está reagindo contra o aperto de Nick. —Pixie, pare com isso. Volte. – Para Blu, ele diz: — Não a tire de mim. Não toque nela. Ela éminha.

Estou chorando silenciosamente, me odiando por ser fraca, odiando Abel por parecer tãopoderoso e tão vulnerável ao mesmo tempo. Isso é muito parecido com a noite do baile. Estamosaté usando roupas semelhantes: ele uma camiseta preta e calça branca, e eu um vestido preto.Acho que isso é outra coisa que não percebi. Naquela noite, quando minha mãe estava mearrastando para longe dele e ele estava clamando, gritando, eu não queria ir embora e agora, nãoposso ficar.

Blu está em silêncio ao meu lado enquanto ela me conduz por entre a multidão deespectadores. Não tenho força para olhar para eles e ver o que estão pensando. Meu coração estáquebrando muito. Abel ainda está na varanda, mas posso ouvir suas palavras indignadas.

— Volte aqui, Pixie. Você é minha, está me ouvindo? Você é minha, porra, e se pensa porum único segundo que pode ficar longe de mim, você está louca. Eu não vou deixar você ficar.

Coloco uma mão trêmula na minha barriga e Blu percebe. Seus olhos brilham com acompreensão, mas balanço minha cabeça. — Não diga nada. Não diga a ele. Por favor.

Ela balança a cabeça enquanto aperta o meu ombro e continua andando. — Não sepreocupe. Seu segredo está seguro comigo.

Não posso contar ao Abel. Eu não posso dizer a ele que seu desejo já se tornou realidade.Ele já teve sua vingança. Não posso fazer isso com meu bebê - um bebê que nem tenho certezase estou carregando. Mas se eu estiver, meu filho nunca carregará os pecados de seu pai. Eu nãovou deixar isso acontecer.

Não vou deixar a raiva de Abel tocá-lo.

Bem quando a Blu está prestes a virar para o corredor, eu faço uma pausa. Fico olhandopara o meu marido. Ele está sendo contido por dois homens, mas basicamente está saindo docontrole, com a sua determinação de vir atrás de mim é tão forte. Ele está ofegante, gemendo, eseus olhos estão selvagens, seu cabelo está bagunçado. Ele é um homem e um animal agora. Umverdadeiro deus. Ele faz seu próprio caminho, suas próprias regras. Ele me ama com cadacentímetro de seu coração selvagem. E eu também.

Murmuro sinto muito, como fiz na noite do baile há três meses.

Nós duramos pouco tempo em Nova York. De volta à nossa cidade, você não poderia ternos separado, mesmo que a sua vida dependesse disso.

Quando deixamos de ser dois pombinhos para isso? Para o que quer que seja.

Balançando a cabeça, me viro e me afasto.

No meu rastro, meu marido grita o meu nome sem parar. É alto e atormentado. É um uivo. Éo big bang.

E não posso deixar de pensar que talvez seja assim que os corações morrem e todas ashistórias de amor chegam ao fim.

Minha Pixie se foi.

Ela se afastou de mim, chorando, com seu lindo rosto molhado e vermelho, os fios soltos deseu cabelo grudando em suas bochechas molhadas.

Tive pesadelos com isso. Sobre acordar um dia e descobrir que ela se foi porque não valho apena. Eu não valho a pena todos os problemas, os anos me escondendo, fugindo do único lugarque ela já conheceu e estando afastada de seus pais. Eu não valho tudo isso.

Tive pesadelos com ela finalmente percebendo que tudo o que seus pais estavam dizendo otempo todo, o que quer que sua cidade estivesse dizendo, é verdade. Abel Adams é um monstro eele não merece o amor da princesa da cidade. Uma deusa.

Mas foda-se. Ela é minha. Eu a peguei e ela vai ficar comigo. Eu não vou deixá-la escapar.

Não importa o que Nick diga. Ela não precisa de espaço. Não de mim, o seu marido.

— Vocês precisam se acalmar, ok, cara? Foi uma grande discussão. Ambos precisam dealgum tempo. Blu vai cuidar dela, então vamos te levar para casa para que você possa relaxar eter alguma perspectiva. - ele bate nas minhas costas. — Tire a noite de folga e quando ela voltarpela manhã, vocês podem conversar.

Eles ficam comigo a noite toda, Nick e Ethan. Eles roubam meu celular para que eu nãopossa ligar para ela, não me deixam sozinho por um único segundo. Esses filhos da puta. Eu irianocauteá-los, mas não importaria. Ethan se abaixaria e fugiria, e isso não intimidaria Nick. Nadaperturba aquele cara.

Ando e resmungo como fiz na noite em que me prenderam naquela cidade. Pelo menosentão eu tive a dor de me distrair de me afogar em pensamentos sobre Pixie. Esta noite, eu nãotenho o luxo. Continuo vendo seu rosto quando ela me diz que perdi todo o controle. Bem, porra,sim, eu perdi o controle. Não tive controle sobre minhas ações, sobre mim mesmo desde que avi.

Não entendo como tudo aconteceu. Um segundo ela estava me beijando e no próximo, elaqueria que eu fosse embora. Não é escolha dela. Ela é minha esposa. Ela se casou comigo e vaificar comigo para o resto da vida. Mesmo que ela não fosse casada comigo, eu ainda não adeixaria se afastar de mim.

Em algum momento durante a noite, cometo o erro de adormecer. Eu acordo com falta de arporque vejo Pixie me deixando para voltar para seus pais. Não tive esse tipo de reação nosúltimos anos. Como se alguém estrangulasse a minha garganta, pressionando minha traqueia, meimpedindo de respirar.

Abel significa fôlego, minha mãe costumava me dizer quando eu era criança.

Quando eles morreram, eu não consegui ter fôlego direito por dias. Não até que eu vi Pixie etodos os meus pensamentos se tornaram dela. Meus pesadelos foram embora e sonhei com seuvestido rosa e seu cabelo esvoaçante e dedos sujos dos pés. Eu me perguntei se havia umamaneira de tocá-la. Se eu pudesse descobrir se ela era real ou algo que eu inventei na minhacabeça de tristeza e solidão.

Ela era real, no entanto. Tão real e bonita, sentada no banco da igreja, sob os vitrais,conversando com sua amiga. Sua voz era doce. Como açúcar ou algo assim. Eu queria enfiarmeu dedo nele e colocá-lo na boca para provar.

Meio adormecido, procuro Pixie no apartamento - não que seja um lugar enorme - mas voltovazio. Onde diabos ela está? Nick se foi para o aeroporto porque Blu e ele partirão para LosAngeles daqui a pouco. Pixie deve estar de volta agora. Obviamente, ela não pode ficar na casadeles.

Ethan acordou com meus passos barulhentos e eu dou para ele um olhar furioso. Em troca,ele me joga meu celular. Bom garoto. Enquanto ando pela sala de estar, eu digito o número dePixie, mas vai direto para a caixa postal, me fazendo resmungar.

— Pixie, atenda o celular. Onde diabos você está? Você tem ideia de como estoupreocupado? Você está me deixando louco agora. – eu belisco a ponte do meu nariz. — Bastaatender o celular, ok? Você não pode me afastar. Você não pode me deixar esperando assim.Eu…

Eu paro na frente do espelho. O mais alto perto da porta. Pixie fica vermelha toda vez quepassamos por ela. Cada vez que eu a beijo na frente dele ou a faço olhar nossos reflexos juntos,ela abaixa a cabeça e dá uma cotovelada no meu peito. Abel, você é um sem-vergonha. Nãoimporta que ela ame tanto quanto eu, que fique quente em dois segundos, ela finge estarindignada.

Um torno aperta em torno do meu coração, minha garganta e minha respiração engasga. Eutenho que estreitar os olhos e cravar o punho no peito para que possa respirar direito.

O celular ainda está pressionado no meu ouvido e eu continuo: — Desculpe, ok? Sintomuito pelo que fiz, pelo que disse, mas você precisa falar comigo. Você precisa atender o celular.Eu te dei seu espaço. Você teve uma noite inteira. Agora você tem que falar comigo. Porra agora,ok? Estou indo te buscar. Você não pode ficar na Blu para sempre. Eu estou indo, e Pixie? – eusolto um suspiro. — Fique aqui. Eu não posso deixar que você se perca de novo.

Não quero desligar a ligação, mas eu o desligo. Eu quero me manter conectado a ela comopuder, mas preciso correr agora. Eu preciso ir buscá-la na casa de Nick e Blu. Chega dessa merdaespacial.

Mas antes que eu possa sair, meus olhos ficam presos no espelho, no meu reflexo, de novo.Meus olhos estão avermelhados, irritados pela falta de sono. Pixie diz que meus olhos a lembramde xarope de bordo e que toda vez que olho para ela, ela fica com fome de panquecas dechocolate. Não sei se é um elogio ou o que a deixo com fome de comida, mas vou aceitar.

Ela adora brincar com meu cabelo, diz que é a coisa mais macia que ela já tocou. Os fios

estão espetados agora, como se ela tivesse acabado de passar os dedos por todos eles. Minhacamisa também está amassada. Ela odeia preto, mas eu uso porque sei que a deixa toda nervosa.

Abel, você precisa de cor em sua vida.

Eu tenho você para isso. Toda linda e rosa.

O oco de minha garganta aparece na gola da camisa; ela adora enfiar o nariz ali. As veiasem meus braços são grossas e esticadas; ela adora traçar o dedo ao longo delas. Ela adoracomparar nossas palmas, as pequenas com as mais longas.

A cruz de prata que ela continua mordendo está no meio do meu peito arfante. Houve umtempo em que esta corrente me lembrava minha mãe, seu riso suave e voz doce, mas agora tudoque consigo pensar é nos lábios rosados perfeitos de Pixie acariciando as bordas dela, com seusdentes mordendo enquanto eu fodo ela.

Ela adora me usar como travesseiro enquanto dorme, embora diga que eu a esquento demaise tente me afastar. Eu não a deixo ir muito longe. Eu a arrasto de volta. No inverno, quandocostumávamos ficar em sua casa na árvore, ela se encolhia ao meu lado por causa do calor domeu corpo. Ainda não é inverno em Nova York, mas ela vai precisar de mim para esquentá-la.

Tudo o que sou, cada parte do meu corpo, é deliberada e cuidadosamente projetado para ela.Talvez, antes de morrer, aquele fodido deus dela tenha feito uma coisa certa. Ele me criou paraela e a moldou para mim.

Onde diabos tudo deu errado?

Você perdeu todo o controle.

Ela não estáno apartamentodeles.

Ontem à noite, ela foi a uma cafeteria com a Blu e ficou lá por algumas horas, antes devoltar para a casa deles e passar a noite lá. Mas pela manhã, ela foi embora. Não para o nossoapartamento, mas para ir a outro lugar.

— Ela se foi? Você a deixou ir, porra. – grito para Blu, que parece calma, como se tudoestivesse bem. Como se lentamente, pouco a pouco, não estou perdendo o controle da realidade.

— Não sou a guardiã dela. Ela queria ir embora, então eu a deixei ir. Ela não é uma criança,Abel. Ela tem permissão para ir a lugares.

Eu resmungo. — Você está louca? Ela se perde. Ela não tem nenhum senso de direção. Elanem tem dinheiro.

— Eu dei a ela algum. – ela suspira. — Olha, antes de sair, ela me pediu para dizer queligaria para você. Que você não deveria procurar por ela. Ela virá até você quando estiver pronta.Ah, e ela também disse que pode cuidar de si mesma. Você deve confiar nela.

Eu passo meus dedos pelo meu cabelo. — Eu deveria confiar nela?

— Sim.

— Isso é ótimo. É fantástico. Eu deveria confiar nela. – eu aceno, o tempo todo querendodar um soco em algo. — Ela me deixou. Ela não atende minhas ligações e eu estou conversandocom estranhos para descobrir onde ela está. E eu deveria confiar nela.

Colocando minhas mãos em meus quadris, eu olho para o teto de seu apartamento - oapartamento que verifiquei todos os cantos e fendas sob o olhar furioso de Nick - enquanto douuma gargalhada. Isso estica os tendões da minha garganta, fazendo-me sentir que não consigorespirar. Novamente.

Blu me observa com olhos bondosos. — Não é minha função dizer nada, mas ela te ama.Ela te ama muito. Mais do que você pode imaginar, talvez. Ela deixou tudo por você e ela nemliga porque você é tudo para ela. E tudo o que ela está pedindo em troca é que dê a ela algumtempo, ok? Tudo o que ela quer de você é um pouco de confiança e talvez um pouco depaciência também.

— O que ela disse para você?

— Acabei de te falar.

Eu quero quebrar alguma coisa. Acho que vou quebrar a porta de correr que leva a essaporra de varanda. A varanda onde tudo deu errado, onde ela me deixou como se eu nãoimportasse nada para ela. Como se toda a merda que passamos não importasse. Ela ignorou meusgritos, meus gritos enquanto eu estava sendo segurado como um animal raivoso.

— Ela me ama, não é? – Blu concorda. — Então por que ela não está falando comigo? Porque ela me deixou?

— Talvez você devesse perguntar isso a si mesmo.

Eu não a vejo há quarenta e oito horas.

Não a vi. Não falei com ela. Eu não sei onde ela está. Eu não sei se ela está bem. Não sei seela está perdida, em apuros, se precisa de mim. Liguei para ela cerca de cem vezes, mas ela nãoatendeu nenhuma vez.

Isso me lembra da noite em que meus pais morreram. Eu estava no Ethan e não voltei até asprimeiras horas da manhã. Quando passei pela porta, soube que algo estava errado. O silêncioestava muito pesado. Meu pai tinha um sono barulhento. Ele se mexia e sim, às vezes roncava.Minha mãe odiava isso. Ela sempre disse que ele precisava ir ao médico por causa de seu

problema de ronco ou ela não dormiria mais ao lado dele. Ele nunca foi e ela nunca dormiuseparada dele.

Meu celular ficou sem bateria, então eu tive que procurar o meu carregador antes quepudesse fazer qualquer ligação. Não é uma tarefa fácil. Pixie me chama de desleixado por ummotivo. Por fim, encontrei-o enterrado sob minha roupa suja, que por sua vez estava embaixo daminha cama. Assim que liguei meu celular, ele explodiu com mensagens e correios de voz. Tivemedo de abrir qualquer um deles. De alguma forma, eu sabia que seriam más notícias. A piornotícia do caralho.

Eu procurei por Pixie em todos os lugares, todos os lugares que pude pensar. O restauranteem que ela trabalhava. A cafeteria perto do apartamento que ela diz que tem os melhoresbiscoitos de chocolate. Ainda não foi provado. As estações de metrô próximas, como se elaestivesse rondando aqueles lugares fedorentos, apenas esperando que eu a encontrasse.

Como um maníaco, mostro a sua foto para pessoas aleatórias, perguntando se alguém a viu.A maioria deles olha para mim como se eu fosse louco e seguem em frente. Alguns dão uma boaolhada em seu rosto sorridente, ponderam um pouco, dizem não e depois seguem em frente.Outros nem mesmo me dão atenção.

Eu brigo com uma dessas pessoas. Eu o empurro e ele me empurra também. xingamos umao outro. Ele está um bêbado e eu pareço estar o mesmo. Uma multidão se junta ao nosso redor,como se minha vida fosse um show para ser apreciado.

Idiotas.

Eu me afasto da briga. Encontrar Pixie é mais importante. Mas depois de correr por horas,minhas pernas desistem e eu tropeço na calçada, do lado de fora de uma lavanderia. Tento ficarde pé, mas é como se todo o meu corpo tivesse desistido.

Seu corpo é como um reino ou algo assim.

Isso porque eu faço escolhas inteligentes sobre o que coloco dentro dele.

Ela riu. Talvez eu precise fazer escolhas inteligentes também. Você sabe, sobre o que eucoloco dentro do meu corpo.

Sento-me encostado na parede de tijolos, com a foto dela em minhas mãos e o ar cheirandoa sabão em pó, me fazendo perceber o quanto sujo e suado eu me cheiro. Eu perco a últimabatalha com meu corpo e uma lágrima grossa escorre pela minha bochecha.

Meus dedos se curvam e eu amasso sua foto. Eu a odeio por fazer isso comigo. Eu a odeiopor me deixar como meus pais fizeram. Eu jogo a foto amassada e ela atinge a lata de lixo antesde cair no chão.

Um minuto depois, rastejo até ela, pego e aliso o papel amassado, pressionando-o contra opeito.

— Ah meu

Deus, você perdeu minha melhor amiga. – Sky grita em meu ouvido. — Seu maldito idiota. Oque você fez?

Quando o meu celular tocou um minuto atrás, eu pulei para ele, pensando que era a Pixie.Não era. É a ameaça de sua melhor amiga.

— Você falou com ela? – Sento-me no colchão do nosso quarto.

Não me lembro de ter dormido nele. Só me lembro de Ethan vindo me buscar na frente dalavanderia e me levando para casa. Eu percebo que não agradeço ao cara com frequência. Ele medeu uma casa e um emprego. Ele mentiu por mim e eu não demonstrei meu apreço por ele.

— Sim. Ela me ligou e estava chorando. O que você fez com ela?

Uma respiração escapa de mim. É enorme. É uma rajada de vento. Jesus Cristo, ela estábem. Ela não... se foi. Mesmo agora, não consigo pensar na palavra feia: morte.

— Onde ela está? Ela está bem?

— Bem, se você chama de chorar como um bebê, tudo bem, então sim, ela está fabulosa. Enão tenho ideia de onde ela está. Ela não quis me dizer. Ela também me disse para não ligar paravocê, mas ainda estou ligando porque estou muito brava com você. – ela retruca. — Então, o quediabos você fez? Você disse algo a ela sobre a casa da árvore? Porque se você disse, então vou aíe chutar o seu traseiro.

Eu quero distanciar o celular alguns centímetros e fazer uma careta por sua voz alta, mas euo seguro com mais força com suas palavras. — A casa da árvore?

Ela fica em silêncio por alguns segundos antes de continuar. — Você não sabe?

Estou completamente acordado agora. Meu corpo está doendo pra caralho, mas vousobreviver. — O que eu não sei?

Suspirando, ela me disse: — O pai dela. Ele queimou a casa da árvore. Ele encontrou maisfotos suas e no dia em que vocês foram embora, ele queimou tudo. Eles tiveram um velório paraela, Abel, dizendo a todos que ela estava morta para eles. Eu não queria dizer a ela, mas JesusCristo, ela é teimosa e eu pensei que vocês estavam felizes aí e que vocês, eu não sei, foda-sebobo ou algo assim. Mas agora ela se foi. Ah, meu Deus. Eu nunca deveria ter dito a ela. Eu souum idiota. Eu sou tão...

— Quando você disse a ela?

— Hum, eu não sei, alguns dias atrás. Olha, eu...

Eu desligo na cara dela.

Sky não é a pessoa com quem quero falar agora. Preciso encontrar Pixie. Eu tenho queencontrar. Tenho que falar com ela, ouvir sua doce voz. Preciso discar o número dela, mas estouquase esmagando o celular nas mãos. A qualquer segundo agora, ele vai quebrar, despedaçar-seem um milhão de pedaços. Vou quebrá-lo até virar pó com minhas próprias mãos.

Eu deveria parar. Celular é minha única esperança agora. Minha única esperança é que elaatenda minha ligação e fale comigo. Minha única esperança é que ela me deixe confortá-la.

Por que ela não me contou?

Talvez ela tenha contado. Na noite em que saí, ficando totalmente entediado sem Pixie, elaestava bebendo. Ela quase nunca bebe. Ela gosta de pensar que adora, adora o gosto amargo, masnoto suas pequenas caretas. Isso me faz sorrir toda vez que ela age de forma durona.

É você e eu contra o mundo. Eu sei disso agora.

Jesus. Porra. Ela tentou me dizer e eu estava ocupado fodendo com ela. Eu estava muitocheio de luxúria e com minha necessidade por ela.

Eu realmente deveria parar agora. Não é realmente o celular que eu quero destruir, são eles:os malditos pais dela. Eles não têm ideia do que é a morte. Eles não têm ideia de como é quandoalguém que você ama se vai. Você não pode alcançá-los. Você não pode tocá-los. Você sabe emseu coração, em seus próprios ossos que eles não existem mais. Eles não existem. Onde você viuseus rostos, seus sorrisos, há apenas um vazio. Você vê o caixão. Você vê seus olhos fechados.Você vê que o peito deles não estão se movendo. Seu corpo jaz inútil.

Isso é a morte. É escuro. Um vácuo, sem corpo, sem substância. Sem respirações.

Deveria discar o número dela e orar a Deus para que ela atendesse. Mas nunca aprendi aorar. Minha mãe queria que eu aprendesse, mas eu sou como papai. Ele também nunca acreditouem Deus.

Talvez haja um Deus, Abel, mas não acredito Nele. Eu só acredito em mim mesmo.

De alguma forma, eu abro meus dedos e ligo para Pixie. Claro, que ela não atende. Isso dói.Isso dói pra caralho, mas agora, eu preciso que ela saiba que estou aqui para ela. Então, deixouma mensagem para ela. — Pixie, baby, me desculpe. Eu sinto muito, porra. Sobre a casa daárvore. Sobre tudo. Eu não sou... Eu não sou bom com palavras como você. Prefiro abraçar vocêe beijar suas lágrimas. Prefiro cobrir você com meu corpo para que nada possa chegar até você.Mas acho que não posso fazer isso agora, não é? – eu sussurro, com meus olhos ardendo. —Odeio isso. Odeio o que eles fizeram. Odeio que isso está machucando você e não estou aí paraconfortá-la como você merece. Mas, baby, você precisa falar comigo. Dê-me uma chance deconsertar. Eu vou fazer isso certo para você. Eu vou queimá-los. Vou queimar todo aquele lugar,se quiser. Apenas volte, Pixie. Por favor, volte.

Pela primeira vez em 48 horas, me pergunto se estou falando para o vazio.

O toque do meu celular me acorda. Mais uma vez, não tenho ideia de quando adormeci. Sósei que estou em nosso quarto, encostado na parede, com meu celular na mão.

E a tela diz que é a Pixie.

Sentando-me ereto, bato com o punho no peito, tentando fazer meus pulmões e coraçãodispararem, e atendo ao mesmo tempo. — Pixie?

Há silêncio, mas eu posso ouvir a respiração. Isso torna minha respiração mais fácil. Comose ela estivesse me dando vida.

— Diga alguma coisa. – sussurro. Agora que estamos ligados, eu não sei o que dizer a ela.Eu repasso todas as emoções que posso nos segundos que passam. Alívio, raiva, medo e amor.

— Sinto muito. – diz ela. — Eu sei que te deixei preocupado e não deveria ter ido sem falarcom você primeiro.

— Sim. Mas não importa agora.

— Você dormiu um pouco nos últimos dois dias?

Meus lábios se contraem em um pequeno sorriso. — Não.

— Você está procurando por mim?

— O que você acha?

Eu a ouço engolir. — Eu quero que você pare.

— O que?

— Eu não quero ser encontrada. Por você.

— O que isso deveria significar?

— Isso significa que você deve parar de procurar por mim.

Eu ri; Eu não posso evitar. Isso é engraçado. Porque, se não for, deve ser a coisa mais cruelque já ouvi. — Eles atingiram,você, não é? São seus pais. Eles finalmente convenceram você deque não sou bom o suficiente. Eles finalmente fizeram você me odiar.

— Não é... – Sua voz falha. — Não são meus pais, Abel. Não é ninguém. Ninguém meatingiu.

— Então por que diabos você está tentando me machucar? – grito, e depois me arrependo.Eu não queria gritar com ela, não quando ela está falando comigo.

Não quero repetir o que aconteceu na casa do Nick e da Blu. Eu não quero brigar. Eu sóquero abraçá-la. Eu quero esse privilégio de volta. Ela não pode tirar isso de mim agora, quandopreciso disso para viver.

— Não estou tentando machucar você, Abel. Estou tentando libertar você. – ela engolenovamente.

Eu sei que ela está tentando piscar os olhos, tentando se livrar das lágrimas, e eu aperto ocelular com mais força. Jesus, eu não quero que ela chore. Cada vez que ela chora, é como sealguém estivesse cortando minha pele. Suas lágrimas são o meu veneno. E ela estava chorandonaquela noite quando me deixou.

— Não chore. Por favor. – eu imploro em um sussurro.

Ela funga. — OK. Eu não vou. – Limpando a garganta, ela diz: — Você está com raiva,Abel. Você está tão bravo com eles.

— Eles queimaram sua casa na árvore. Claro, que estou bravo com eles. Estou com raivadeles há anos. Estou com raiva de sua mãe por abusar de você. Fiquei bravo com seu pai pornunca interferir. Fiquei bravo porque eles tornaram isso difícil para nós. Eles tornaram tudo tãodifícil para nós.

— Mas nós estamos aqui. Nós fugimos, lembra? Eu escolhi você. Você não precisa ficarcom raiva de ninguém. Nós não temos que ficar bravos. Nem com meus pais, nem com a cidade.Nem mesmo com seus pais. Você não tem que consertar nada para mim. Eu não preciso disso devocê.

Ah, então ela está recebendo todas as minhas mensagens de voz. Eu quero ficar com raivadela, mas acho que perdi toda a força. Talvez outro dia. Não agora.

— Você tem que parar de ficar com raiva. Tudo o que você faz é porque está com muitaraiva. Você pegou aquele trabalho no estúdio porque eles nos condenaram por isso. Nós criamostodas essas fantasias, fazemos vídeos porque estamos tentando provar algo. Eles não seimportam, Abel. Ninguém se importa. E está tudo bem porque não importa. Não temos queprovar nosso amor a ninguém. Não temos que nos rebelar. Ninguém está mais nos separando.Estamos apenas nos prejudicando. Essa raiva está nos devorando vivos.

Há desafio em cada átomo do meu ser. Como ela pode esquecer? Como ela pode esquecer o

que eles fizeram? O que nos fizeram passar.

— Você tem que parar de fugir, querido. – ela sussurra depois de alguns segundos. —Ninguém está mais nos perseguindo. Nós dois temos que parar de fugir.

Querido.

Meu coração pula uma batida com isso. Minha mãe foi a única que me chamou de querido.Quando ela morreu, nunca pensei que ouviria de novo. A pontada no meu peito cresce e ruge pracaralho para Pixie estar aqui. Ela precisa estar aqui. Ela pertence a mim.

— Eu vou, se você voltar. – eu digo. Eu direi qualquer coisa para ela voltar.

Ela ri. No entanto, falta seu calor habitual. — Não por mim, Abel. Faça por você mesmo.Faça porque é isso que você quer. Não porque é isso que eu quero.

— Eu vou. Eu...

— Estou devolvendo o seu controle.

Lembro-me de cada palavra que falei naquela noite. Era tudo verdade, tudo o que eu disse.Eu analisei aquela merda umas cem vezes. Disse algo que a afastou? Fui muito duro? Foi assimque não consegui parar de gritar? Só porque às vezes meu amor por ela fica grande demais paramanter dentro de mim. Ele é estrondoso, ressoa e troveja pra caralho.

— Eu não quero, está me ouvindo? Eu não quero meu controle. Eu não quero meu coração.Eu só quero você. Eu... – Minha garganta está fechando novamente, bloqueando todo o ar, e euengulo. Um grande engolir. — Eu não sou nada sem você, Pixie.

— Vê, é isso. Talvez você deva descobrir quem você é sem mim. E talvez eu precise fazer omesmo, você sabe. Precisamos descobrir quem somos um sem o outro. Porque se não sabermosdisso, então como podemos amar um ao outro?

Há uma sensação ruim no meu peito. Muito ruim pra caralho. Do tipo que tive quando entreiem minha casa vazia há pouco mais de seis anos.

— Pixie, não. Não faça isso. Não me machuque assim.

Está ficando cada vez mais difícil respirar.

— Não vou. Você não pode escrever uma história com personagens moribundos. Vai chegarao fim antes do tempo. Quero que nossa história viva. Estou a poupando porque quero que vivapara sempre. – ela sussurra. — Adeus, Abel. Eu te amo. Não me procure. Não fuja. Ninguémestá perseguindo você.

Tento acordar, mas não consigo. O sol está muito forte. Minha mente está muito confusa.Acho que bebi ontem à noite; Não tenho certeza. Mas eu cheiro mal e quero vomitar, mas nãotenho energia para isso. Cada músculo do meu corpo dói, então engulo a bile.

Ethan entra em nosso quarto, abrindo a porta com um grande baque. Gemendo, pisco commeus olhos abertos e vejo dois dele. Duas bocas, dois narizes e quatro olhos verdes. Ele diz quequer que eu coma alguma coisa. Ele diz que vou me matar assim.

— Bom. – eu estrondo, então o chuto para fora. Eu não preciso de comida.

Eu não preciso de ninguém.

Embora eu me lembre de que preciso ser mais grato a ele, então sussurro: — Obrigado.

Eu acho que ele bufa.

Não durmo há dois dias.

Liguei para Pixie cerca de um milhão de vezes. Ela provavelmente está cansada de mim,mas não me importo. Eu também não me importo que ela me disse para parar de procurá-la. Elanão está pensando direito. Nunca vou parar de procurá-la.

De jeito nenhum.

Vou continuar procurando por ela até encontrá-la e, em seguida, jogá-la por cima do ombroe trancá-la. Vou amarrá-la na cama e fodê-la e fodê-la até que ela se esqueça de tudo menos eu.Ou até que coloque um bebê nela e ela não possa fugir de mim novamente.

Eu encontrei o diário dela.

Não posso acreditar que nunca li isso. Eu a observei escrever em seus diários por anos. Elafica com uma ruga adorável no nariz quando está se concentrando, e às vezes ela até diz aspalavras em voz alta. Nada que eu possa entender, mas ouço um ligeiro zumbido.

Isso costumava me fazer agarrá-la e beijar todas as palavras de sua linda boca.

Faz muito tempo desde que eu a toquei, desde que estive dentro dela. Vejo suas roupas bemdobradas, mal ocupando espaço no quarto, e tenho que parar para cheirar o tecido. Meu pau ficaduro toda vez, pensando que ela está perto. Com o calor úmido dela ao alcance. Mas não. Eunem sequer me masturbo. Eu não quero. Nunca mais quero. Meu pau pertence à sua boceta e eunão vou parar até chegar lá.

Ela me chamaria de anormal, mas não me importo. Não tenho medo de mostrar como mesinto. Como ela me faz sentir. Louco, fora de controle e obcecado.

Talvez seja esse o problema. Talvez eu a ame um pouco demais. Talvez eu a sufoque commeu amor, com minha obsessão.

Precisamos descobrir quem somos um sem o outro. Porque, se não sabermos disso, comopodemos amar um ao outro?

Isso significa que ela não me ama? Ou pelo menos não me ama tanto quanto eu a amo?Porque se ela amasse, como ela pode aguentar isso? Como ela consegue aguentar estar longe demim? Isso não a tortura? Cada vez que ela respira, arranha sua garganta? Embora não haja outraescolha a não ser respirar.

Sentado aqui no colchão sujo, o colchão onde a amei, fodi, a idolatrei um milhão de vezes,me pergunto se ela pensa em mim. Se ela se pergunta o que estou fazendo. Como estou vivendosem ela. Onde eu durmo? Eu durmo?

Acho que ela sabe a resposta para isso, não é?

Estou tentando procurar pistas em seu diário, tentando ver se consigo encontrar algo que meleve a ela. Até agora, todas as menções são sobre mim. Isso me deixa estranhamente feliz esatisfeito.

É do último ano dela, o ano em que mal podíamos nos ver por causa do que aconteceu

comigo e com Duke há dois anos.

Na igreja hoje, Abel parecia furioso. Ele não olhou para mim por muito tempo porqueminha mãe empurrou o Duke para ser o meu encontro para o baile. Céus. Odeio muito oDuke Knight e amo muito Abel Adams.

Eu o vi na cidade hoje. Sorrimos um para o outro do outro lado da rua, mas então viminha mãe saindo da delicatessen e tive que me virar. Embora o tenha visto rangendo osdentes. Puxa, quero abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem.

Às vezes eu sinto que ele vai terminar comigo, sabe. É tão difícil estar nesterelacionamento. Minha mãe é um falcão, cara. Ela não me deixa fazer nada.

Percebi que brigamos muito hoje em dia. Eu sei que ele está com raiva, mas, por favor,Deus, deixe-o esperar um pouco mais.

Eu ouço a voz de Pixie na minha cabeça: Você está com tanta raiva, Abel. Você está tãobravo com eles.

Isso não é óbvio? Claro, estou bravo. Veja o que eles nos fizeram passar. Mesmo agora, sóde ler essas partes faz meu sangue ferver.

Depois do telefonema de Pixie, sonhei com os meus pais, uma conversa que ouvi quemudou minha vida. Não fui ao túmulo deles ou ao meu bairro desde que chegamos aqui. Eu nãoacho que posso lidar.

"Lia, você tem que parar, ok?"

"Mas e se for verdade, hein? E se for verdade desta vez?”

“Não vai se tornar realidade. Olhe para Abel. Ele está bem. Ele é o melhor garoto queconhecemos. ”

"Eu sei. Ele é perfeito, então precisamos parar enquanto estamos à frente. O Padre Knightdisse que filhos como esses filhos de pais estreitamente aparentados, dão errado. Não possocondenar o meu bebê a isso. Eu não posso... É muito difícil. Precisamos nos livrar disso. Nãopodemos desafiar o destino.”

“Lia, baby. Ouça-me, estamos aqui. Nesta cidade, ok? Estamos fora de lá. Esqueça o queeles disseram. Esqueça tudo. Não precisamos mais ter medo. Não temos que fugir.”

Eles estavam falando sobre um bebê, não estavam? Minha mãe devia estar grávida. Nãotenho irmão, então presumo que se livraram dele. Na época, eu só estava preocupado com quemera o padre Knight e o que diabos significava pais estreitamente aparentados.

Naquela noite, descobri o motivo pelo qual meus pais não eram casados. Descobri quaiseram seus nomes verdadeiros: David e Delilah. Eu os conhecia como Lia e Daniel. Elesmudaram de nome quando se mudaram para cá porque estavam com medo.

Eles estavam fugindo.

Estou fazendo a mesma coisa? Eu estou fugindo? E se eu estiver, como posso parar?

— Abel, levante-se, idiota.

Esse é o Ethan. Ele está me chutando na bunda. Literalmente.

— Que porra você quer? – eu resmungo e me viro para deitar de costas. Porra, o sol estámuito forte.

— Eu quero que você se levante e vá trabalhar. – ele olha em volta, fazendo uma careta. —E limpe este lugar. Isso fede pra caralho. Você vomitou aqui?

Minha cabeça dói, lateja quando me sento. As fotos de Pixie e seu diário, suas roupas, tudoestá espalhado pelo quarto. Ela vai ficar brava quando vir isso.

Ela não está aqui, lembra? Então, posso jogar e ser um desleixado.

Eu rio da minha própria piada. Jesus, eu vou limpar todos os dias da minha vida se eladecidir voltar.

— Impressionante. Agora você ficou completamente louco. Rindo de nada. – eu lhe mostroo dedo do meio e ele ri, batendo palmas. — Nós temos uma sessão de fotos. Vamos lá.

— Eu não vou.

— O que?

— Eu desisto. Não quero ir lá.

— Por que não? Você adora essa merda.

— Não é divertido sem a Pixie. – eu passo a mão no rosto e me sento. Este lugar cheira avômito. — Além disso, é chato.

— Pornô é chato. – Ethan quase engasga.

Isso me surpreende também. Eu não ia dizer isso, mas saiu. Isso é verdade, no entanto. Échato. Não há desafio. Tudo o que faço é fotografar aleatoriamente repetidamente, sem qualquercontrole.

Passei muito do meu tempo grudado no computador naquela cidade, quando não poderiaestar onde queria: com a Pixie. Também imaginei muito, vendo casais na tela. Não tenho orgulhodisso e nem tenho vergonha. Foi algo que fiz, como um milhão de outras pessoas.

Mas no armazém foi minha primeira experiência ao ver isso ao vivo e fiquei... viciado.Viciado no fato de que essas pessoas eram as mais vulneráveis, mas ainda de alguma forma nocontrole. Elas estavam se expondo, mas ainda eram poderosas. Se todas elas estavam indo para oinferno, elas estavam indo fodendo. Elas estavam indo em seus próprios termos. Ninguém estavadizendo a elas como viver. Elas viviam à margem da sociedade, e isso não importava para elas.Elas detinham todo o poder.

No meu primeiro dia eu soube que queria foder a Pixie na frente das câmeras. Era umanecessidade intensa, uma necessidade estranha. Como se eu estivesse incompleto sem isso.Nosso amor seria incompleto sem isso. Eu queria que todos vissem o quanto perdidamente,extremamente e irrevogavelmente estou apaixonado por essa garota. Como ela é minha eninguém pode tirá-la de mim.

Eu queria me sentir poderoso, como um rei. Um homem que pegou uma deusa. Um homemcom o mundo inteiro nas mãos.

Mas agora não posso voltar lá. Não há nada para mim lá sem a Pixie. Mesmo a minha raivanão tem significado.

— Sim, é sempre a mesma coisa. Não posso mais fazer isso. – eu me levanto e o mundo seinclina. Porra. Eu bebi ontem à noite também? Eu não consigo me lembrar. Não tenho ossintomas normais de ressaca.

— Aonde você vai?

— Eu tenho que procurar a Pixie. Acho que vou procurar em alguns hotéis ao redor.Pensões, esse tipo de coisa. Blu deu a ela algum dinheiro, então ela deve ter alugado um lugar.

Não tenho ideia de por que não pensei nisso antes. Acho que estive muito bêbado, muitoquebrado e sim, com muita raiva. Mas agora não estou. Estou pensando com clareza. Se eu disserque larguei o emprego, ela verá que não estou mais bravo. Ela vai voltar então.

— E se você a encontrar, o que acontecerá?

— Então eu vou trazê-la aqui. O que mais, cuzão?

— Aqui. – ele cruza os braços sobre o peito. — Nesse quarto. Ela vai ficar tão feliz em verisso, certo? Ela ficará muito feliz em saber que seu marido é um perdedor que acabou de sair do

emprego. Ah, e me corrija se eu estiver errado, mas você não prometeu a sua Pixie que iriaencontrar um novo lugar para ela morar? Sim, tenho certeza de que ela ficará feliz com toda essasituação.

Tenho um novo emprego agora. Na construção. Colocando telhados nas casas das pessoas odia todo. Não é um trabalho interessante, apenas algo para ganhar dinheiro e encontrar um novolar para Pixie.

Ethan está certo. Eu preciso me recompor para quando ela voltar. Pedi outro favor a ele enão disse nada especificamente relacionado a pornografia ou drogas. Ou armas. Ele me deu umsoco - ele socou como uma menina - e me colocou no meu emprego atual, embora eu tenhamuito pouca experiência com ele. Mas estou disposto a aprender.

Eu tenho uma rotina agora. Vou trabalhar de manhã, volto e procuro a Pixie. Eu ando pelasruas, ando de metrô e pego os ônibus. Procuro por hotéis, qualquer lugar onde Pixie possa estarhospedada. Eu também vou a restaurantes, livrarias, em qualquer lugar onde ela possa terconseguido um emprego. Ela está aqui sozinha; O dinheiro de Blu não pode durar muito tempo.Ela deve ter um emprego. Obviamente, esta cidade é enorme, então ela pode estar em qualquerlugar e posso estar procurando por ela no lugar errado.

Após minha busca diária, volto para casa e ligo para ela. Ela não atende, é claro, mas dou aela uma atualização detalhada do meu dia, como se eu tivesse uma vida muito interessante.

Liguei para ela e deixei uma mensagem dizendo que tinha conseguido um novo emprego.Que eu havia deixado o armazém. Achei que ela entenderia que eu não estava mais com raiva.Que eu estava fazendo um esforço e ela retornaria minhas ligações. Mas não.

Apesar de tudo, estou orgulhoso dela por se manter sozinha. Sempre soube que ela poderia.Sempre soube que ela poderia fazer o que quisesse. Talvez seja por isso que eu quis mantê-laperto, presa a mim para que ela não voasse.

Ela fez isso de qualquer maneira.

Já pensei em contratar alguém, ir à polícia, qualquer coisa que possa me dar uma pista, masnão tenho dinheiro para isso e ela saiu por conta própria. Não há muito que alguém possa fazer.Eu também incomodo muito a Sky. Nunca pensei que diria isso porque aquela garota é umapsicopata. Pixie não está atendendo seus telefonemas também.

— Muito obrigado, babaca. Eu não falo com minha amiga há anos. Eu nunca deveria tercontado a você sobre a casa da árvore.

Quando estou cansado de tanto correr, eu vou para seus lugares favoritos. Ela adoraqualquer coisa com cores e multidões: Times Square, Union Square, 5th Avenue. Ela tambémadora o Central Park. Ela adora tirar os sapatos e mergulhar os dedos dos pés na grama. Ousimplesmente deitar e olhar para o céu. Ela adora observar as pessoas, diz que está colecionandohistórias.

Estranhamente, não me lembro dela escrever nada depois que nos mudamos para cá.

Ela até parou de ler quando era quase impossível arrancá-la de um livro. Isso me deixainquieto. Isso me faz pensar que é minha culpa. Por minha causa ela não escreve mais.

É por isso que ela fugiu? Porque minha - nossa - raiva de alguma forma destruiu seu desejode escrever?

Hoje à noite, eu ligo para ela e digo que ela é livre para fazer o que quiser.

— Pixie, você pode escrever quantas histórias quiser. Você nem precisa trabalhar. Voupegar turnos extras. Eu vou... vou trabalhar o dia todo, a noite toda para que você seja a melhorescritora que puder. Volte. Por favor, volte. Eu farei qualquer coisa que você quiser que eu faça.

Hoje é o sexto dia em que venho ao parque - Central Park, o lugar favorito da Pixie nacidade. Além disso, hoje, trabalhei oficialmente com esta equipe de construção por uma semana.Eles me convidaram para tomar uma bebida, mas eu recusei.

Eu preciso fazer algo pela Pixie.

Eu disse a ela que faria qualquer coisa para ela voltar, qualquer coisa para ela ser a melhorescritora que pudesse ser, e estou cumprindo minha promessa.

Ou pelo menos tentando.

Depois de falar com o correio de voz dela, tive uma ideia. Um momento de súbitainspiração. E se eu reunir histórias para ela? A única maneira que eu sei.

Com a câmera.

Ela me disse uma vez que eu paro o tempo, então vou parar o tempo para ela. Vou tirar fotospara ela. Das pessoas, dos edifícios, das ruas, da grama, do céu e dos pássaros. Isso deve mostrara ela que estou comprometido com isso. Comprometido e solidário.

Só que eu não posso.

Eu não consigo tirar uma maldita de uma foto e estou tentando há seis dias. Cada vez quepego minha câmera - a que ela comprou para mim com o dinheiro dos pais - eu paraliso. Meusdedos não se movem. Sinto-me enjoado e sem fôlego.

Eu me sinto sufocado.

Que merda isso significa?

Sempre consegui trabalhar com a câmera. Na verdade, isso me salvou muitas e muitasvezes. Quando descobri sobre meus pais, tive vontade de desaparecer. Fiquei pensando em comofaríamos piada com Jackson Campbell e sua paixão por sua prima linda. Como todos nósachamos isso. Que brega, mas meus pais não eram diferentes. Até seus nomes eram falsos.

Eu me afastei de meus amigos depois disso. Só tinha minha câmera como companhia. Issome fez sentir invisível. Como se eu não existisse. Ninguém nota o cara atrás da lente e eu estoubem com isso.

Então, anos depois, quando me apaixonei por Pixie, mas não pude vê-la, minha câmera me

salvou novamente. Eu tirava fotos dela. Lá fora, nos milharais, em volta da cidade e no quarto.Eu gemo toda vez que penso nisso. Meu pau não abaixa por horas. Porra. Ela é a visão maisbonita que meus olhos - quaisquer olhos - já viram. Linda, pura, irresistível. Sexy.

Comecei a desenhar seus esboços, os que ela viu na noite do baile, quando todo o restofalhou comigo. Internet, revistas... nada me deu alívio. O material era sem graça, então useiminha imaginação. Nunca pensei que ela me deixaria fotografá-la nua naquela noite. Nãoimporta o que aconteceu depois, eu nunca vou me arrepender de tocar sua beleza fugaz.

O que eu não daria para capturá-la novamente? Ela é toda a porra de um universo: cabelosamarelos como o sol; olhos azuis como o céu; pele brilhante e lisa como seda; contornos e curvasacentuadas como vales.

Mas, por enquanto, só quero trabalhar com a câmera novamente sem vomitar. Eu queroreunir histórias para ela.

Mas isso não acontece. Não funciona. Então, eu a jogo no chão. De que serve se eu nãoposso ajudar a Pixie? Mas jogar não é o suficiente, então eu piso sobre ela e chuto repetidamente.

Que merda inútil.

Eu chuto, piso sobre ela e a quebro com meus pés. Eu quero quebrá-la em um milhão depedaços; talvez o pai dela estivesse realmente certo quando fez o mesmo meses atrás. As pessoasao meu redor me olham de forma estranha, mas não é nada novo.

Uma vez que a lente está rachada bem no meio, eu respiro.

De alguma forma, é fácil, minha respiração.

Esta manhã eu acordei com vontade de desenhar o rosto de Pixie.

Já faz muito tempo que não peguei em um lápis. Meus esboços são toscos e crivados deerros. Eu sou muito melhor com uma câmera ou pelo menos acho que sim, mas ela se foi agora.Há dias que se foi.

Além disso, Pixie não está em nenhum lugar ao meu redor, então preciso criá-la eu mesmo.

Gosto do peso do lápis em minhas mãos. Gosto da facilidade com que volto a desenhar.

Agora, preciso de uma tonelada de foda tranquilidade, então eu vou aceitar.

— Ei, você não vai acreditar no que aconteceu comigo hoje. – eu rio no celular, com otelefone sempre mudo. — Um cara no trabalho me viu desenhando e me disse que conhecealguém em uma galeria no centro. Eles fazem retratos e ele acha que pode me ligar. Talvez atéfaça com que possuam algumas das minhas coisas.

Eu rio de novo. Isso é embaraçoso. — Quer dizer, é muita loucura, certo? Eu não sou umprofissional. Nunca quis ser, mas... – eu suspiro. — E se eu puder ser? Eu sei que você diz queposso fazer isso, mas... é bom demais para ser verdade. Então, o que você acha, Pixie? Devo daruma olhada?

Obviamente, não recebo nenhuma resposta.

Mas e se eu recebesse? E se ela atendesse minha próxima tentativa? E se eles realmentepossuíssem minhas obras? Minhas. Algo que fiz com minhas próprias mãos.

E se...

Volto para casa depois de procurá-la.

Às nove da noite em ponto, eu me fechei em nosso quarto e disquei o número dela. Meucoração bate no meu peito como normalmente acontece nos primeiros segundos, mas então,minha esperança se esvai quando surge um som, me alertando para o fato de que ela não vaiatender. Novamente.

Estou me preparando para deixar uma mensagem quando cada parte do meu corpo ficaimóvel e paralisa. Eu ouço a voz dela do outro lado; sua caixa postal foi alterada.

— Oi, aqui é a Pixie. Deixe a sua mensagem.

Encontrei um novo apartamento para nós.

Não é muito, apenas um estúdio em Chinatown, mas é nosso e tenho orgulho disso. É aprimeira coisa que comprei para mim, para nós.

Não sei quando uma mulher sente que se tornou uma esposa, mas acho que um homem setorna um marido quando sabe que cuida da sua mulher. Eu gostaria de ter construído uma casapara ela com minhas próprias mãos, e talvez um dia o faça. Mas, por enquanto, estou satisfeitoem saber que fiz tudo o que podia para dar a ela algo para chamar de seu.

Eu não disse nada para Pixie ainda. Eu queria me mudar primeiro e chamá-la do nosso novoapartamento para lhe contar as boas notícias. Eu sei que ela ficaria em êxtase. Eu sei disso comoconheço as linhas na minha palma. Eu tenho três grandes e algumas menores, interrompidas edanificadas.

Pixie adora minhas mãos. Quando ela estava comigo, ela adorava tocar aquelas linhas quesupostamente decidem o destino, o futuro. Ela costumava dizer que isso a fazia dormir, traçando-as indefinidamente, traçando meu futuro, pensando em nossas histórias.

Eu sei que ela ainda quer. Ela ainda pensa em nossas histórias e ela vai voltar para mim umdia.

Não, ela ainda não atendeu minha ligação. Mas aquela mensagem gravada era a luz que euprocurava no fim do túnel. Foi um sinal. Eu sei disso. Eu sinto.

Ela disse Pixie.

Oi, aqui é a Pixie.

Ela pegou de volta o nome que dei a ela depois que ela o rejeitou por raiva, na varanda deNick e Blu. Isso conta para alguma coisa. Isso conta para tudo.

Não acreditei na Pixie quando ela me disse para parar de procurá-la. Mapeei a cidade inteiracom minhas pernas. Procurei por ela em todos os lugares. Às vezes, eu corria mais rápido do queNova York e às vezes Nova York corria mais rápido do que eu. Não importa o que acontecesse,eu estava sempre fora de sincronia. Meu ritmo estava ruim.

Ainda está. Não acho que eu vou recuperar o meu ritmo ou meu fôlego até que a Pixie estejacomigo. Mas estou bem agora.

Eu tenho fé.

Talvez seja por isso que as pessoas perseguem a Deus. Eles perseguem algo mais superior,maior do que eles porque é pacífico. É um alívio. Isso lhes dá tempo para viverem suas vidas nomomento e não no passado ou no futuro. É um ato de coragem colocar sua fé em algo assim.Talvez seja isso que a religião é.

Posso nunca chegar a um estágio em que me sinta confortável com um poder superior, masacredito na Pixie. Ela me pediu para confiar nela e estou confiando. Não procuro por ela há dias.

Tudo o que faço é ir trabalhar de manhã, voltar para casa e desenhar à noite porque fuicontratado para fazer algumas obras para a galeria. Sim, eles gostaram de mim. Eles gostaramdas minhas coisas. Disseram que era um pouco duro, mas gostaram do caráter que emprestou àminha arte.

Minha arte.

Eu não posso acreditar nisso. Não consigo acreditar que a Pixie estava certa. Posso serartista se quiser. Bem, eu não deveria ter ficado surpreso. Minha Pixie é a mais inteligente detodas.

Estou tirando roupas da minha mochila - não tenho muitas - e as arrumando no novoarmário, quando minha mão se fecha em torno da câmera de vídeo.

Depois que quebrei minha outra câmera, não tive coragem de olhar para a filmagem nanossa filmadora. Claro, que eu pensei sobre isso. Eu capturei Pixie nela. É a maneira mais fácilde olhar para o rosto dela quando ela não está aqui. Em vez disso, escolhi desenhá-la, aperfeiçoaros contornos de suas bochechas e a curva de seus lábios.

Algo sobre uma câmera, ou melhor, essa câmera me deixa inquieto. Talvez seja a lente, aseparação do mundo real ou a frieza do objeto. Não consigo definir o que é, mas sinto nasminhas entranhas.

Quero dar uma olhada nisso hoje, no entanto. Eu quero ser corajoso e olhar para o nossopassado, a maneira como eu a capturei. Bem, é principalmente sexo, mas ainda assim.Engolindo, pego o cartão de memória da câmera e coloco no computador. Sento-me na banquetada bancada recém-comprada, respiro fundo e dou play no primeiro vídeo.

A tela preenche com o seu sorriso tímido. Ela está corando. Seu cabelo está espalhado notravesseiro e ela está tentando esconder o rosto. Ela está vestindo sua camisola de dormir degirassol e sua pele irradia, assim como seus olhos.

Jesus Cristo, ela é linda.

Não, não é linda. Ela é deslumbrante. Etérea. Um anjo. Uma deusa.

Uma deusa que costumava ser minha antes de eu estragar tudo.

— Abel, pare. Você é um idiota. – diz ela, com o seu olhar me tocando através da câmera, eeu perco todo o controle cuidadosamente construído de minhas emoções.

Com dedos trêmulos e quentes, estendo a mão e toco seu sorriso na tela. É muito cruel comoisso é decepcionante. Para tocar na tela fria quando quero tocá-la. Seu calor, sua pele e seucabelo sedoso. Eu quero sentir sua respiração na minha pele, fazendo cócegas na minha gargantaquando ela dorme ao meu lado. Quero sentir o cheiro dela logo de manhã, quando ela estiverquente e com sono.

Eu quero a verdadeira Pixie.

Minha esposa. A garota que adora chocolates, que me deu bronca quando eu disse queadorava maçãs. A garota que me disse que eu paro o tempo, que nunca poderei ser invisívelporque sou muito talentoso. A garota que deixou tudo por mim.

A garota que chamou nosso amor de lenda.

— Pixie. – eu sussurro ou tento. Mas nenhum som é emitido. O ar está tão silencioso comosempre ao meu redor. Na tela, ela esconde o rosto com as mãos e a câmera treme enquanto façocócegas em suas costelas.

— Vamos, Pixie. Você não pode se esconder de mim. – digo a ela enquanto a faço rir, sempiedade.

— Abel, pare. Ah, meu Deus. – ela solta um suspiro, com as suas bochechas vermelhas elágrimas aderindo a seus cílios.

Lutamos inocentemente por alguns minutos antes que as coisas se tornem sexuais. Elassempre se tornaram. Éramos insaciáveis. Sempre famintos. Sempre com tesão.

Então, eu estou transando com ela. O eu na tela nem esperou para tirar todas as roupas; eleestava tão desesperado. Eu odeio isso. Eu odeio que nem sequer dediquei tempo para adorar seucorpo quando ela estava ali comigo. Eu odeio não ter beijado cada centímetro de sua pele rosadae quente.

Eu fui um idiota.

Mesmo assim, quando seus gemidos enchem o quarto, meu pau acorda. Começa a escorrerpela ponta à medida que as coisas progridem, enquanto eu me ouço dizer o quanto bonita ela é,quanto bonita sua boceta parece, quanto obscenamente ela está se esticando sobre meu pau. Issoa faz gozar e ela estremece, se move na cama, com seu rosto franzido em uma carranca erótica.

Jesus, eu vou gozar nas minhas calças, mas de alguma forma, eu me controlei.

Eu não paro depois disso. Eu não posso. Assisto vídeo após vídeo. Até que seus sorrisosfelizes se tornem vulneráveis. Até que seus olhos carentes se transformam em olhos tristes.

Em um vídeo, ela estende os braços, olhando para mim com tanto amor que, nestemomento, estou tocado por ele.

— Abel, me abraça? – ela pergunta.

Sua voz doce toca meu coração e fode minha respiração. Eu sofro com a necessidade deentrar pela tela e abraçá-la, realizar seu desejo. Realizar todos os seus desejos.

Mas o idiota na minha frente diz algo completamente diferente, uma completa besteira.

— Jesus, Pixie. Você parece tão sexy assim. Eu não posso estragar essa foto, baby.

Digo outra coisa, mas não consigo ouvir. Eu perdi a capacidade. Tudo que sei é que não aabracei quando ela queria. Eu não dei a ela o que ela queria. Eu estava muito perdido dentro daminha cabeça.

Como eu poderia estar lá com ela e não estar realmente lá?

É como se eu estivesse me vendo cometer o maior erro da minha vida. Estou me vendopular do penhasco, mas não posso fazer nada a respeito. Estou condenado a cair. Estoucondenado a cair além do limite, não importa quantas vezes pause o vídeo, retroceda e assistanovamente.

O medo está se infiltrando em minha alma, mas eu tenho que fazer isso. Eu tenho queassistir minha destruição completa e absoluta. Eu não consigo desviar o olhar. Eu não querodesviar o olhar. Eu mereço assistir isso.

Abro o navegador da Internet e procuro o site Skins. Eu procuro nossos vídeos e os assistoum por um. Como um louco, eu os assisto continuamente. Observo a Pixie, e então, volto ao

início e me observo.

Eu observo meu rosto, meu corpo e minhas expressões. Eu vejo como os meus músculosparecem tensos. Com raiva. Como minha expressão parece maldosa. Novamente, com raiva.Como meus olhos estão escuros. Parece que estou com febre; minha pele está tão vermelha esuada. Eu ouço minhas palavras. Palavras obscenas, rudes, maldosas, pedindo a Pixie para olharpara a câmera, pedindo a ela para me dizer o quanto ela me ama, pedindo a ela para dizer a seuspais o quanto ela ama me foder. Eles não são falados com uma intenção erótica, não. Não estoutentando criar uma fantasia como fiz na primeira vez que fomos àquela sala. Eu não estoutentando deixá-la excitada. Estou tentando desabafar.

Estou extravasando minha raiva.

Isso não é mais uma fantasia. É realidade. É minha realidade. Minha raiva. Minha perda decontrole.

E ela está aceitando tudo, minha Pixie.

Você perdeu todo o controle.

Você está com tanta raiva, Abel.

Pare de fugir. Ninguém está perseguindo você.

Tudo faz sentido agora. Tudo está claro. Eu sei por que comecei a odiar a câmera. Sei porque nunca tive coragem de ver esses vídeos, mesmo quando ela estava comigo.

É por minha causa. É porque eles contam a história de como eu realmente me tornei ummonstro.

Quando Pixie chega ao orgasmo na tela, eu vomito.

Não falo com Pixie, ou melhor, com o correio de voz dela há dois dias.

Tudo que fiz nas últimas 48 horas foi vomitar no meu novo banheiro. Achei que fossemorrer. Mas eu não morri.

Eu estou vivo. Porque eu quero sofrer. Cada segundo pelo resto da minha vida, eu queroqueimar, mas não quero morrer. Eu quero voltar à vida todos os dias, para que eu possa queimarnovamente.

Sabe, quando duas pessoas se apaixonam, os outros sete bilhões não importam. Não é omundo que os separa, são eles. Só eles têm o poder.

Nunca poderia ter sido seus pais, meus pais ou a cidade, porque nada disso importou.

Fui eu. Eu nos quebrei.

E o mais cruel é que posso ver isso acontecer com meus próprios olhos. Capturei tudo, o fimdo meu controle e do nosso relacionamento.

Parado na janela do nosso novo apartamento e observando a rua lentamente acordandoabaixo, eu disco o número dela novamente. Pela última vez.

Ela não vai atender; ela não deveria. Na verdade, ela deve mudar seu número para que eununca possa incomodá-la novamente. Ela deveria…

Um som de um clique, me faz franzir a testa, e então o som mais doce que Deus já criouecoa em meu ouvido.

— Abel?

Estou atordoado por um segundo. Eu estou tendo alucinações? Talvez eu esteja maisdesidratado do que pensava. Devo dizer algo? Mas se isso é uma alucinação, não importa.

Jesus, porra. Eu enlouqueci.

— Alô? Abel? – Sua voz aumenta de tom. — Você está aí? Você está bem?

— Pixie. – eu respiro porque que porra importa se é uma alucinação ou não. Ela está falandocomigo.

— Ah! Graças a Deus. Eu pensei... – Eu a ouço engolir em seco. — E... eu pensei que algoaconteceu com você quando você não ligou. Eu não sabia o que fazer. Eu...

— Você atendeu. Você... eu... – eu pressiono o punho no vidro da janela, tentando meaterrar. — Você é real? Não sei dizer.

Há uma corrente de ar e quando ela fala, eu posso ouvir um leve sorriso em sua voz. —

Tenho quase certeza de que sou real.

— Está tudo bem se você não for. Não tenho medo de perder a cabeça.

Sua inspiração me diz que minha Pixie é real, e eu não deveria ter dito isso. Não mereçodizer essas coisas agora.

Mas ela é real.

Ela atendeu minha ligação.

Tenho medo de me mover, medo de assustá-la. Com medo de fazer qualquer coisa, excetoouvir sua respiração.

— Fiquei preocupada quando você não ligou. – diz ela. — Você sempre liga.

— Sim. Eu nunca te deixo sozinha, deixo?

— Você não deixa.

Meu corpo está fraco e minha cabeça pende. A única razão pela qual estou de pé, em vez decair no chão é porque preciso contar a ela. Eu preciso confessar meus pecados, e até que eu faça,eu não mereço ajuda.

— Você estava certa. – eu sussurro.

— Sobre o que?

— Tudo isso. Eu estava fugindo e perdi todo o controle. Eu... – eu suspiro, fechando meusolhos com força. — Eu estava com raiva. Eu estava com raiva do mundo, de tudo. Eu estava comraiva porque não podemos escolher nossos pais. Não podemos escolher onde nascemos e dequem nascemos. Eu estava com raiva por ser considerado responsável pelos pecados deles. Eu sóestava... com raiva.

— E de mim? Você ficou com raiva de mim? Furioso com o fato de que você se apaixonoupor mim e não tinha controle sobre isso?

— Não. – Minha voz é feroz, tão feroz que me sacode até o âmago. Isso rouba meu fôlego.— Nunca. Nunca fiquei bravo com você, Pixie. Eu posso... sei que disse algumas coisas no calordo momento. Continuo revivendo-os. Continuo revivendo o nosso tempo aqui. Continuoassistindo aqueles vídeos, como eu te afastei e pressionei você. Como eu puni você quando tudoque você fez foi me amar. Toda minha vida, eu questionei a minha existência. Questionei o quemeus pais tiveram. O que isso me fez. E então, eu me perguntei se o que todos disseram sobremim era verdade ou não. Se eu merecia ou não algum amor. Quando eu deveria ter tido fé. Eudeveria ter tido fé no fato de que minha Pixie me amava. O que mais posso possivelmenteprecisar no mundo além disso? O que mais pode importar? Você escolheu me amar, não importao que acontecesse e eu estraguei tudo. Estraguei tudo porque eu simplesmente não conseguiasuperar o passado. O passado dos meus pais. Meu passado.

Há silêncio; é apropriado. O que você pode dizer depois de admitir seus piores crimes? Eununca fui a um confessionário antes. Mas eu entendo agora. Eu entendo por que as pessoas

optam por confessar seus crimes e por que precisam de uma divisória, por que precisam dosilêncio e da escuridão.

Não é Deus quem os está julgando. Não é nem mesmo o padre. São eles. Eles se julgam.Aos seus olhos, eles cometeram um crime e o que pode ser pior do que isso?

Não é o julgamento dos outros que devemos nos preocupar. É o julgamento que colocamossobre nós mesmos. É o fato de que é você sentado no escuro, dentro de uma pequena caixa,sozinho. É você quem tem que suportar a vergonha de seus pecados enquanto o mundo segue emfrente.

— Eu deveria ter olhado em seus olhos. – eu sussurro, apoiando minha testa no vidro frio.

— O que?

— Seus olhos dizem tudo, você sabe. É como eu soube que você realmente não queria fugirde mim quando nos conhecemos. Quer dizer, eu esperava estar lendo você direito, mas... foramseus olhos que me disseram que você queria ser minha amiga, mesmo quando não poderia ser. –eu concordo. — Eu deveria estar olhando para eles, em vez de olhar para o passado e para acâmera.

Sua respiração aumenta. — Abel, eu...

— Eu sei disso agora. Você fez a coisa certa. Você foi inteligente, Pixie. Você sempre foitão inteligente. Você estava certa em fugir de mim. Você estava certa em me deixar quando ofez. Eu teria destruído você. Eu teria destruído tudo. Você estava certa. Eu não vou...

— Você não vai o quê?

— Eu não vou te ligar depois disso. Eu não vou incomodar você. Estou te libertando.Porque você merece isso. Você merece alguém que não seja cego. Quem pode ver. Quem podeentender as coisas, avaliar as coisas. Quem não está sujeito a erros. Você merece alguémperfeito. – eu pisco meus olhos ardendo e balanço a cabeça. — Nunca pensei que diria isso, masestou libertando você. Eu te amo, Pixie. Eu te amo o suficiente para te libertar.

Isso vai me matar, mas se ela quiser o divórcio, eu darei a ela. É o mínimo que posso fazer.

— Abel, eu... – Sua respiração está alta, tão alta. — Estou grávida.

Pixie abre a porta da cafeteria e imediatamente, paralisa no local. Ela olha ao redor, franze atesta, meio que vomita antes de cobrir a boca com a mão e corre de volta para fora.

Levanto da minha cadeira, esbarrando na mesa e quase fazendo a cadeira cair no chão. Meucoração está na minha garganta quando corro atrás dela e a encontro curvada sobre uma lata delixo, vomitando suas entranhas.

— Pixie? Você está bem? Que porra é... – eu paro quando ela fica de pé, mas tropeça emseus pés.

Eu a pego pelos ombros e a pressiono no meu peito arfante. Ela agarra minha cruz, parandomeu coração completamente.

— Obrigada. – ela sussurra em minha camisa - camisa amarela - sem levantar o rosto. Eu sóposso ver o topo de sua cabeça.

Ainda estou me recuperando da proximidade dela, do fato de que ela vomitou e quase caiuno chão. Estou cambaleando. Eu acho que nunca vou parar de cambalear.

A velha senhora de avental xadrez se aproxima de nós vindo da cafeteria; ela estátrabalhando no balcão. Franzindo a testa, ela pergunta: — Você está bem, querida?

Pixie suspira e se afasta de mim. Cada fibra do meu ser me diz para não soltá-la, masdesafio cada uma delas. Meus dedos se soltam em torno das curvas delicadas de seu ombro, e eladesliza das minhas mãos.

— Estou bem. – diz ela em uma voz que me mantém acordado à noite. É uma voz queprovavelmente ouvirei mesmo depois de morrer. — É apenas o café, eu acho. Não suporto ocheiro disso. Mas pensei que estava melhor hoje.

A velha sorri. — Ah, você está grávida. – Com o aceno de Pixie, ela olha para mim,radiante. — Parabéns, para vocês dois. É um momento tão emocionante. Comigo também foiassim. Não suportava o café. Mas vai passar. Está com quantos meses?

— Quase três meses.

— O primeiro trimestre é o pior. Pelo menos foi para mim. – ela esfrega o ombro da Pixie.— Deixe-me pegar um pouco de água e um pano para limpar, ok? Você não tem que entrar.

Ela se vira para ir a cafeteria, deixando-me sozinho com Pixie na calçada movimentada.

Três meses.

Minha Pixie está grávida de três meses.

Estou grávida.

Com essas duas palavras, ela me fez perceber que eu não sabia o significado de choque atéentão. Eu não sabia o significado de saudade e arrependimento. Eu não sabia o significado denada.

Ela perguntou se eu gostaria de vê-la. Eu ri, ou quis. Como uma maldita piada. Como se issofosse até uma pergunta. Mas acho que tudo que pude fazer foi soltar um suspiro e disse que sim.Ela decidiu por esta cafeteria e aqui estamos.

Estou sem dormir, mas não posso negar que, quando ela me encara, é a coisa mais linda quejá vi. Na verdade, ela é mais bonita do que eu me lembrava. Mais bonita do que meus desenhosdela. Mais bonita do que naqueles malditos vídeos.

Seu cabelo está solto, com as longas mechas tocando seus ombros, esvoaçando com a levebrisa. Acho que ela perdeu algum peso. Ela não tem se alimentado bem? Eu sei que ela odeiacozinhar, mas ela deveria comer, certo? As mulheres grávidas deveriam comer mais. Por queoutro motivo haveria olheiras sob seus olhos? Por que outro motivo a curva de suas bochechasseria tão claras?

É minha culpa. Eu fiz isso com ela. Se não fosse por mim, ela nem estaria na cafeteria. Elanão estaria morando sozinha em uma cidade desconhecida.

— Eu não... eu não sabia. Sobre o café.

Ela enfia o cabelo atrás da orelha. — Está tudo bem. Achei que não iria me afetar. É por issoque escolhi este lugar.

Olho em volta, passando meus dedos pelo meu cabelo. — Eu, hum, nós podemos ir paraoutro lugar. Eu... eu posso procurar um lugar. Eu não sei o que vai te incomodar, mas eu posso...

Só então, a senhora sai e entrega a Pixie a água, que ela toma com gratidão. Tudo o que façoé ficar ali, indefeso, enquanto a senhora se preocupa com a mulher que amo.

Porra, é impressão minha ou eu sou o marido mais inútil do mundo?

Eu deveria saber sobre o café. Deveria saber sobre outros gatilhos também. Jesus Cristo,como as pessoas controlam essas coisas?

Livros.

Tem que haver livros, que esclarecem tudo. Preciso buscar alguns livros. Não gosto de ler,regras e seguir um livro didático, mas posso tentar. Eu vou tentar, porra.

Mesmo que seja difícil me afastar dela quando ela está realmente aqui, quente e cheirando aaçúcar, dou alguns passos para trás.

Ela percebe, imediatamente. — Abel? – Seus olhos estão arregalados, com medo. — Vo...

você está indo embora?

Pressiono o punho em meu peito; com minha respiração tornando-se selvagem. — Sim. Eupreciso buscar alguns livros.

— Que livros?

Eu aceno minha mão. — Para essas... coisas. Eu não sei de nada. Provavelmente, hum... –eu aperto a ponta do meu nariz. — Eu provavelmente deveria procurar por uma lista. Você sabe,das coisas. Isso são gatilhos, dos quais você deve ficar longe. Deve haver um livro em algumlugar. Acho que devo começar com a livraria logo depois da esquina. Eu...

A senhora ri. — Ah Deus, você não é a coisa mais fofa? Querido, você pode encontrar ummilhão de livros por aí, mas ainda assim, você não estará preparado para tudo. A gravidez é acoisa mais inconstante. É ainda mais imprevisível do que se apaixonar. Na verdade, apaixonar-seé fácil. Trazer uma nova vida a este mundo é um pouco mais complicado do que isso. – Rindo,ela recolhe tudo da Pixie. — De qualquer forma, vou deixar vocês sozinhos. Se vocês ficaremaqui e precisarem de alguma coisa, é só bater.

Quando ela vai embora, Pixie diz: — Você nem gosta de livros.

Seus lábios carnudos estão se contraindo e eu quero morder. Em vez disso, mordo o interiorda minha bochecha. — Não sei de nada. – eu admito.

Provavelmente não deveria mostrar o quanto estou apavorado, mas, para ser sincero, estouapavorado. Ela está tendo um bebê. Meu bebê. Meu filho está lá e eu não tenho ideia de comolidar com isso.

Como você lida com alguém que vai ser completamente e totalmente dependente de você?Especialmente quando você está propenso a cometer muitos erros. Quando você é o ser maisimperfeito deste planeta.

Pela primeira vez desde que ela chegou aqui, eu abaixo meu olhar e olho para sua barriga.Ela está usando um vestido branco com flores vermelhas. Sempre flores para minha Pixie. Eunão vejo nada diferente; sua barriga parece plana. Mesmo assim, quero tocá-la. Quero tocar aextensão de seu corpo onde meu filho está dormindo.

Eu quero sentir isso. Quero sentir a temperatura de seu ventre, a textura, a curva, tudo. Édiferente de antes? A pele dela está mais quente agora?

— Nem eu.

Olho para a admissão dela. Em seu olhar, vejo medos semelhantes e quero dizer a ela quetudo vai ficar bem. Eu vou fazer tudo ficar bem. Mas eu não digo. Eu fico ali como um idiota,sem me mover, sem dar a ela nenhuma palavra de conforto.

— Você quer se sentar em algum lugar? – ela pergunta.

— Sim, hum, eu preciso... – eu estou examinando a área em busca de um lugar para sentar.Sei que a cafeteria está fechada. Talvez possamos ir a um restaurante, mas também vai cheirarmal. Meu corpo se enche de pavor com toda essa coisa de não saber. Eu não sei para onde ir,

para onde levá-la...

— Abel? – Eu me concentro nela. — Podemos sentar ali. No banco. É bom aqui fora, vocênão acha?

— É outono. O outono é ótimo em Nova York. – informo-a como se isso fosse a coisa maisimportante do mundo.

Ela ri baixinho e caminha até o banco para o qual apontou. É uma coisa de madeira,localizada fora de uma delicatessen. Ela se senta e olha para mim, gesticulando para que eu façao mesmo. Engolindo, eu sento ao lado dela.

Uma brisa sopra entre nós e meus pulmões se enchem com seu cheiro doce. Se eu não tomarcuidado, vou me envergonhar e começar a cheirar a curva de seu pescoço, onde seu cheiro é maisforte. Limpo minha garganta e dou uma leve fungada no ar, de qualquer maneira. O cheiro delanão é tão forte quanto eu gostaria, mas vai servir.

— Onde você estava? – pergunto, limpando minha garganta.

Ela me dá um olhar significativo ao dizer: — Queens. Hum, no Flushing.

Meus olhos brilham com sua resposta. Abro a minha boca para responder, mas não seinenhuma palavra. Eu não sei como falar, porra.

— Eu não sabia para onde ir.

Eu concordo. Como um idiota.

Então, eu me movo no meu lugar. Quando isso não ajuda em nada para me acalmar, juntomeus dedos e coloco meus cotovelos nas coxas. Como se eu estivesse muito fraco para sentardireito. Muito fraco para manter minha cabeça erguida.

— Nunca pensei em procurar por lá. Continuei procurando por você na cidade. Nuncapensei que você fosse para lá.

— É óbvio, não é? Fui lá porque aquele lugar é especial para você. Eu queria ver onde vocêcresceu. Lembrei-me do endereço dos seus pais quando você me contou. Eu vejo a casa delestodos os dias no meu caminho para o trabalho. – Eu franzo a testa para ela em questão. — Eutrabalho naquela livraria lá em cima. É muito bom. Eles gostam de mim lá.

Fui lá porque aquele lugar é especial para você.

Isso afeta o meu coração, sua declaração. Mas eu não vou prestar atenção nisso. Não prestoatenção aos meus batimentos cardíacos. O amor dela por mim nunca foi a questão, não é? É oque eu fiz com ele. É como eu o quebrei, sufoquei e joguei fora.

— Bem, porra, sim, eles gostam de você. Por que não?

Sua risada é com lágrimas nos olhos. — Eu deveria ter trabalhado em uma livraria desde oinício. Não sei por que isso não me ocorreu. Trabalhar no Milo’s foi um fracasso.

Eu aperto meus dedos juntos, quase esmagando os ossos. — Muitas coisas foram um

fracasso.

Sem querer, meus olhos vão para sua barriga plana. Estou quase desapontado que está plana.Eu quero ver a saliência, alguma indicação de que algo que eu fiz, algo que fizemos está lá.

Meu bebê.

Ela torce as mãos no colo, olhando para mim com olhos sinceros. — Eu fiquei assustada. –Eu viro meu olhar para o dela. — Na noite em que fui embora, eu sabia que estava grávida. Bem,eu não tinha certeza, mas percebi que tinha me esquecido de tomar as pílulas e senti isso. Tipo,algo se moveu dentro da minha barriga. – ela pressiona a mão em sua barriga e meus dedos, meupróprio sangue ruge para cobri-la. — Mas você estava tão perdido com tudo. Não sabia se vocêqueria o bebê. Eu não sabia se você me queria. Eu pensei... Eu pensei que não era o suficientepara você. Achei que fosse seu troféu, uma posse e nada mais. Eu disse a Blu para não dizernada. Eu só queria ir embora. Achei que estava piorando tudo para você. Fiquei pensando que, seeu também não estivesse tão brava, se não estivesse tão envolvida em machucar meus pais,talvez eu pudesse ter impedido. Eu poderia ter parado tudo. Eu não sabia o que fazer. Eu estavatão apavorada.

A primeira coisa que minha Pixie me disse naquele ônibus há muito tempo foi que ela nãotinha medo de mim. Acho que foi quando eu soube que iria me apaixonar por essa garota deolhos azuis e cabelos amarelos. Eu sabia que ela iria possuir meu coração e me fazer de idiota.

Ela fez.

Mas então eu estraguei tudo. — Nunca quis que você tivesse medo de mim. Essa era aúltima coisa que eu queria.

— Eu sei. – ela acena com a cabeça enquanto uma lágrima escorre por sua bochecha. — Eusei que você me ama, Abel. Mas então percebi que também queria que você me escolhesse.Esses vídeos, aquela sala, tudo o que fizemos. Mais tarde, percebi que estava dando meu amor avocê e queria que você o aceitasse e se esquecesse de todo o resto.

Ela está brilhando agora, enquanto mostra seu coração. Ela está brilhando como se houvesseluz dentro dela. Pequenas lâmpadas sob a superfície de sua pele e tudo que posso fazer é sentiressa porra de uma dor gigante no meu peito. Um abismo de dor, arrependimento e saudade.

Olho em seus lindos olhos azuis e faço uma promessa. — Eu quero que você saiba que nadaassim jamais tocará nosso bebê. Eu sei que já quebrei promessas antes. Sei que parti seu coração,mas não vou quebrar este aqui. Este pequeno coração dentro de você. O que quer que eu tenhafeito, quaisquer erros que tenha cometido, quaisquer erros que cometerei... nada afetará nossofilho. Não vou deixar. Você tem minha palavra.

Ela acena com a cabeça, fungando. — Você quer este bebê, Abel?

Eu suspiro e com isso, uma risada alterada escapa. Olho para o céu, as manchas alaranjadasdo pôr do sol. Lembro-me das coisas que disse a ela antes. Eu me lembro do quanto queriaengravidá-la, colocar meu bebê dentro dela. Mas nunca pensei no bebê em si. Nunca penseisobre as mãos minúsculas, os pés minúsculos, um ser humano de verdade que nem sabe como se

alimentar.

Eu a imagino agora, imaginando-a a noite toda. Tenho a sensação de que é uma menina. Euquero que ela tenha os olhos azuis de Pixie e seu cabelo de cor claro. Eu quero que ela tenha osorriso de sua mãe, junto com sua inclinação para a leitura. Talvez ela possa aprender a gostar dedesenhar também, como seu pai. Acima de tudo, quero que ela saiba que seu pai fará qualquercoisa por ela.

Vou até mover montanhas por ela, mas sei em meu coração que o que ela mais precisa demim é eu ficar longe.

Olhando para trás, para Pixie, eu digo a ela: — Eu não vou vacilar com ela.

— O que?

— Eu não posso. Eu já a amo demais para foder isso.

— O que isso significa?

— Isso significa que eu não posso ficar com ela. Eu não posso ficar muito perto dela. Nãotenho certeza se estou melhor. Do que antes. Não tenho certeza se algum dia serei melhor do queantes.

As palavras são cacos de vidro, cortando minha língua, raspando na minha garganta ebrutalizando o meu peito. Mesmo assim, estamos sentados do lado de fora e o ar é suficiente, eunão me lembro de ter respirado.

— Então, você não vai vê-la crescer?

— De longe, talvez. Eu não estou abandonando você, Pixie. Eu... – eu passo minhas mãospelo meu cabelo. — Estarei aqui. Estarei por perto. Se você precisar de mim para alguma coisa,eu vou...

— Uau, isso é ótimo.

— Pixie...

— Você não saberá nada sobre ela, e você está bem com isso. Você está bem em nuncasaber qual é o cereal favorito dela ou qual é sua rotina de dormir, ou se ela gosta de maçãs ouchocolates ou se ela odeia os dois. Isso funciona para você.

Seu rosto está brilhando de raiva e eu quero beijar seus lábios furiosos. Pixie furiosacostumava me divertir, costumava me deixar duro, e ela ainda tem esse poder. Eu gostaria de tero privilégio de fazer algo a respeito.

Antes que eu possa responder, ela me faz a pergunta que rouba toda a minha determinaçãoem um segundo: — Você está bem em nunca tocá-la? Ou abraçá-la ou beijá-la sua testa?

Olho para seu ventre novamente enquanto as emoções passam pelo meu sistema. É como semeu corpo estivesse lutando contra mim mesmo. Minhas mãos estão tremendo, quase alcançandoe tocando o ventre da Pixie, mas de alguma forma, estou me contendo.

— Você quer, não é? – ela coloca a palma da mão na barriga. — Você quer senti-la.

Eu aceno, enquanto meus lábios dizem algo mais. — Eu não posso.

— Você pode, Abel.

— Eu não posso. Não sei se sou forte ou capaz o suficiente para escolhê-la. Eu pensei queeu era. Eu pensei que meu amor por você era tão grande e tão imenso que eu nunca poderia temachucar. Mas acabei te machucando, de qualquer forma. Acabei machucando a única pessoaque eu deveria estimar e proteger. Qual é a garantia de que não farei o mesmo com a nossa filha?

Pixie estende a mão e cobre as minhas mãos unidas com a sua pequena. Sinto uma pulsaçãodistinta onde nossas peles se encontram. Como um trovão.

Soa como batimentos cardíacos, só que mais alto e mais potente. Mais feroz e significativodo que a coisa dentro do meu peito. Eu não consigo parar de olhar para isso. Não consigo pararde olhar para onde ela está me tocando. Depois de semanas, meses. Tenho que memorizar.Memorizar sua pele macia e pálida, e como parece seda contra a minha. Como, mesmo se omundo estivesse explodindo ao meu redor, eu não seria capaz de desviar o olhar de onde ela estáme tocando.

Semanas atrás, eu teria agarrado a mão dela. Eu teria entrelaçado nossos dedos e a seguradocom força. Mais apertado do que o necessário porque eu não seria capaz de me controlar. Agora,estou apenas sentado aqui, sem fazer nenhum movimento. Uma coisa que eu sei com certeza éque mesmo se eu a arrastar de volta comigo, ela não será realmente minha. Proximidade não temnada a ver com pertencimento.

Então, ela desliza a palma da mão entre as minhas mãos unidas, desentrelaçando os meusdedos um do outro. É muito embaraçoso como eles estão suados. Uma vez que meus dedos estãolivres, ela traz minha mão para mais perto de seu corpo.

E antes que eu possa protestar, ela coloca na barriga.

Eu visivelmente estremeci. Estou tocando sua barriga. Não é tão plana quanto eu pensava.Há um ligeiro movimento. Um sinal de vida. Um sinal da minha filha. O calor de seu corpodobrou. A pulsação criada pelo toque de nossas mãos não era nada comparada ao que sintoagora.

Isso é enorme. Maior do que qualquer outra coisa que eu já experimentei. Pixie diz quequando ela me viu, houve um big bang. Talvez em algum lugar lá em cima, estrelas estivessemcolidindo e novos planetas estivessem nascendo.

É isso, eu acho. É assim que um big bang soa e se parece.

— Eu... você... é... – eu paro, ainda observando a minha grande palma, cobrindo a extensãode seu ventre.

— Bem, você não vai sentir nada agora. Quer dizer, ainda não há muito aqui. Não vaiaparecer até meu quinto mês, eu acho.

Eu movo minha mão, traçando o tecido de seu vestido, mas de alguma forma, também

sentindo a pele por baixo. — Eu sinto tudo.

Ela acena com a cabeça, sorrindo. — Eu também. Gosto de tocar minha barriga e apenassentir. Eu até mostro suas mensagens para o nosso bebê.

Eu olho para seu rosto sorridente. — Você mostra?

— Sim, quero que ela conheça a voz do papai e o que ele faz todos os dias. Lembra comovocê costumava me deixar bilhetes no armário da escola? Suas mensagens parecem iguais. Euquero que ela saiba como todos os dias seu pai vai trabalhar de manhã e depois faz desenhos ànoite. Como o pai dela é o maior artista que conheço. Como, aos poucos, ele está se apaixonandopor si mesmo.

Eu zombo. — Sim, eu não acho que isso seja verdade. Esse navio partiu no momento emque me vi na tela.

— Nada é permanente, Abel. Você não sabe disso agora?

— Parece permanente. – murmuro.

Pixie cobre minha mão com a dela novamente e pressiona em seu ventre, e eu estou tãoatordoado, tão humilde que quase caio de joelhos. — Eu disse a ela que mamãe e papai estãoapenas se separando. Mas eles ainda se amam e a amam também. Mais do que tudo. E eu disse aela que, por ela, vamos dar um passo de cada vez porque eu sei.

— Sabe o que?

— O que aconteceu não foi permanente. Levei um tempo para descobrir, mas eu sei que dealguma forma, vamos encontrar nosso caminho de volta para nós mesmos e um para o outro. Eutenho fé.

Então, eu não consigo me impedir e não quero. Eu me ajoelho, com o cimento batendo emmeus ossos e minha palma ainda tocando onde minha filha está, dentro de minha esposa. Existealgo mais religioso do que isso? Existe algo mais pacífico, mais aterrorizante, mais humilhantedo que ajoelhar-se na frente da mãe da sua filha?

Se ela não era uma deusa antes, ela é agora. Ela tem vida dentro dela.

— E... eu não sei de nada. Sobre ser pai ou algo assim. – eu confesso para ela, novamente.

— Nem eu. – ela ri. — Mas, ouvi dizer que eles têm livros.

— Por ela, vou ler todos os malditos livros que existem.

— Eu sei. – ela aperta minha mão. — Mas, só para você saber, temos falado como se fosserealmente uma menina, mas ainda não sabemos disso.

Eu olho nos olhos da única mulher que eu realmente amei, a única mulher que amarei, edigo a ela: — É uma menina, e ela será como você. Mandona, inocente, generosa e corajosa. Tãocorajosa pra caralho, ela vai deixar todos perplexos. Acima de tudo, ela vai me fazer de bobo eeu vou adorar cada segundo.

— Sério?

Eu concordo. — Eu tenho fé.

Eu não tenho medo de monstros.

Eu nunca tive e nunca terei. Sempre achei que todo monstro tem uma história e, no final dascontas, eu estava certa.

Outro dia, eu estava lendo um dos livros que Abel trouxe para casa e encontrei algointeressante. Um filósofo francês disse uma vez que todo homem nasce como uma lousa embranco. Ninguém é bom ou mau, não até que entre em contato com outras pessoas. Só então, ohomem toma forma e se torna algo, um monstro ou um deus. Muitas vezes, ambos.

Essa é a beleza de ser humano. Você pode ser o que quiser. Você pode ser tocado porcoisas: raiva, ódio, inveja, amor, luxúria. Você pode perdoar, esquecer, esperar, desistir. Vocêpode fazer qualquer coisa; existem infinitas possibilidades.

E descobri uma coisa: Abel Adams não é um deus. Ele também não é um monstro. Ele éhumano. Ele é o que os outros o fizeram.

Tudo o que deu errado conosco não começou quando ele assumiu aquele emprego noestúdio ou quando ficamos fascinados com a ideia de uma rebelião. Nem começou quando eletrouxe a câmera para casa, confundindo os limites entre nossa fantasia e realidade.

Não.

Tudo começou quando um garoto de quatorze anos abriu a porta para as fofocas de nossacidade, Sra. Weatherby, mas ela se recusou até mesmo a conhecê-lo. Tudo começou quando eleestava tentando fazer um amigo porque estava sozinho. Mas minha mãe acabou com ele. Tudocomeçou quando as pessoas eram cruéis com ele e quase ninguém interferia.

Tudo começou no momento em que ele foi concebido e eles o chamaram de bebê monstro.

Cada ação tem uma reação igual e oposta, não é? Então, reagimos. Para muitas pessoas,

podemos ser um casal de garotos punk zangados com o mundo e agindo mal. Que não sabia oque era a vida real.

Pessoas morrem todos os dias. Existem guerras acontecendo em todos os lugares. O queimporta se nosso amor foi rejeitado? Não é grande coisa. O que importa se quase fomosdilacerados? Nós fomos embora, não fomos? Devíamos ter ficado felizes. Devíamos teragradecido às nossas estrelas da sorte.

Sim, talvez devêssemos. Talvez devêssemos ter esquecido tudo e seguido em frente. Masnós não esquecemos. Escolhemos nos agarrar à mágoa, à raiva. Escolhemos nos agarrar ao nossoamor ferido.

E se as pessoas morrem todos os dias e guerreiam umas com as outras, fico feliz por nosagarrarmos à única coisa pura neste mundo. Estou feliz por termos mantido nosso amor, cedidoàs nossas emoções e nos rebelado.

Estou feliz porque somos mais fortes para isso. Perdemos todo o controle e agora sabemoscomo é. Nós entendemos o que significa estar com raiva. Entendemos que, no futuro, se tivermosque fazer uma escolha, saberemos escolher o perdão.

Saberemos escolher um ao outro e a nós mesmos, e este bebê.

Coloquei a mão na minha barriga inchada. Sete meses depois, sou uma baleia hoje em dia.Nada me serve. Nada mesmo. Normalmente, eu estou usando este roupão rosa macio queencontrei na internet e um vestido de gestante com girassol por baixo. É tão confortável.

Eu fui morar com Abel alguns meses atrás, quando comecei a ficar muito mal. O médicodisse que eu precisava de repouso e Abel estava enlouquecendo, me vendo vomitar depois damaioria dos nossos encontros e não podendo passar a noite comigo.

Meses atrás, conversamos sobre dar um passo de cada vez. Tirei essa ideia da Blu. E eraexatamente isso que estávamos fazendo.

Estávamos dando um passo de cada vez. Nós nos víamos todos os dias. Ele me levava parasair quando eu estava com vontade. Mas quando não estava, ele cozinhava para mim. Eleabastecia a minha geladeira e armários de cozinha com bolachas de água e sal. Ele também osrotulou porque eu morava em um apartamento compartilhado.

Meu Abel. Ele foi meticuloso.

Eu também sabia que toda vez que ele tinha que me deixar e voltar para a cidade, ele ficavaarrasado. Eu também. Na verdade, isso é tudo que tenho sido nos últimos meses. Devastado,quebrado e com o coração partido. Nunca pensei que deixaria Abel. Nunca pensei que fossecapaz disso.

Mas acho que uma mãe é capaz de tudo. Uma mãe é uma deusa que pode fazer qualquercoisa para proteger seu filho, inclusive machucar a si mesma.

Acho que nunca chorei tanto quanto naqueles meses em que estava separada do meumarido. Não foi fácil esperar por ele. Não foi fácil ouvir suas mensagens de voz, ouvir sobre seu

dia e suas realizações, e não dizer a ele como eu estava orgulhosa.

Mas, novamente, um passo de cada vez. Tudo sobre nossa história de amor sempre foirápido e feroz, cheio de muita paixão e intensidade. Nós dois precisávamos de um perdão.Ambos precisávamos de momentos sem dor.

Quando o médico disse que eu talvez precisasse ir com calma por alguns dias, eu sabia queera a hora certa. Já fazia algum tempo que era certa.

Então, abordei a questão, fora da clínica, na calçada. — Então, hum, você acha que eupoderia, talvez, morar com você por um tempo?

— Sim. – ele disse antes mesmo de eu terminar minha pergunta. Então, ele corou - meuAbel corou - e pigarreou. — Quero dizer, é claro. Por quanto tempo você quiser.

Mordi meus lábios para parar meu sorriso. — OK. Obrigada.

— Você não precisa me agradecer.

Com isso, não consegui me controlar e joguei meus braços em volta do pescoço dele e deium beijo forte em sua boca. Ah, foi como voltar para casa ou, finalmente, recuperar o fôlegodepois de correr por tanto, tanto tempo. Foi quando tivemos a primeira nevasca da temporada. Eusabia que era um bom presságio.

Desde então, Abel tem feito de tudo para deixar nosso apartamento aconchegante e colorido.Paredes amarelas, almofadas laranjas, cortinas azul-celeste. E livros. Muitos livros.

Em um cantinho, Abel tem seu cavalete armado. Ele ainda trabalha na construção, mas acada dia ele fica melhor em seus desenhos. Em breve, ele será o maior artista que não precisaráde um trabalho diurno. No início, ele apenas desenhava meus retratos e não posso acreditar quemeu rosto está em algumas das grandes galerias da cidade. Mas agora, ele também faz retratos deoutras pessoas. Algumas delas são seus amigos de trabalho e algumas são estranhas que vemosno parque e são gentis o suficiente para posar para ele.

Sempre soube que Abel nunca poderia ser invisível. Sua arte não deixa. Sua arte não ojulgará, tampouco as pessoas que amam seus desenhos. Para eles, ele é simplesmente AbelAdams, o seu artista favorito.

Depois que me mudei, Abel estava ao meu lado quando liguei para meus pais. Achei que erahora de acertar as coisas e fazer as pazes com o que aconteceu.

Meu pai foi quem atendeu o telefone. Aquela voz. Tão familiar. Uma voz que tenho ouvidonos últimos dezoito anos da minha vida. Deve ter sido uma das primeiras vozes que ouvi quandonasci. O que você diz a essa voz? As palavras morreram na minha garganta. Eu não conseguiafalar. Abel me envolveu em seus braços, me embalando enquanto eu criava minha coragem paradizer algo, qualquer coisa.

Mas meu pai sabia quem era porque disse meu nome suavemente. Parecia tão angustiado, etudo que eu sabia era que nunca mais queria ouvir isso.

— Papai?

Ele suspirou. — Você está bem?

Um soluço escapou de mim e eu balancei a cabeça antes de perceber que ele não podia mever. Então eu limpei minha garganta e disse: — Si... sim. Eu... eu estou bem. Como está amamãe? E você?

Ele não disse nada por um longo tempo e eu pensei que ele desligou na minha cara. Euenterrei meu rosto no peito de Abel, encharcando sua camiseta com minhas lágrimas, quandopapai falou: — Você nos fez sofrer muito, Evie. Sua mãe está doente. Ela só agora estácomeçando a melhorar, e não quero que você a perturbe.

Sua voz mudou completamente, tornou-se mais dura e talvez eu devesse ter ficado comraiva disso, com raiva por ele ainda se importar mais com minha mãe do que comigo, mas nãofiquei. Eu estava apenas triste.

— Eu só liguei para te dizer uma coisa. Eu vou ter um bebê, pai. – eu engoli. — Eu vou sermãe, e... e Abel vai ser pai.

Eu olhei para o meu marido, que tinha sido como uma rocha quente até agora. Seu rosto eraesculpido em pedra, com a sua mandíbula rangendo. Agora era a minha vez de confortá-lo, entãosegurei sua cruz e dei-lhe um sorriso gentil.

— Você, hum, precisa de alguma coisa? Dinheiro ou algo assim? Bebês podem ser caros eestou disposto a mandar algum para você, se você precisar.

Com isso, Abel falou: — Não precisamos do seu dinheiro, Sr. Hart. Sinto muito, eu deveriater dito a você que eu estava aqui também. – ele balançou a cabeça, inclinando-se sobre o celular,deixando sua voz ser ouvida com clareza. — Nós só ligamos porque queríamos que vocêssoubessem que vocês serão avôs em breve. Eu não preciso de dinheiro. Eu estou cuidando disso.Estou cuidando da minha esposa. E eu queria que você soubesse que eu... – Um suspiro. — Oque aconteceu naquela noite, o que você me disse? Fiquei com raiva daquilo por um longotempo. Muitas vezes, eu quis te machucar também, me vingar. Mas eu não sinto mais isso. Achoque o que você fez foi por causa de sua filha. Acho que você estava com medo de que eu fodessecom ela ou algo assim. Acredite em mim, sei disso agora. Sei que se houvesse a mínimapossibilidade de alguém machucar minha filha, eu provavelmente faria o mesmo. Mas…

Ele se virou para mim, olhando nos meus olhos, como se estivesse falando comigo tantoquanto com meu pai. — Quero que saiba que me esforçarei para ser um bom pai. Não sei muitosobre isso, mas vou aprender, todos os dias da minha vida. Vou proteger minha filha e vouproteger a sua também. Se ela deixar.

Ainda não tínhamos conversado sobre nosso relacionamento e o que faríamos depois queesse bebê nascesse, mas eu queria contar a ele então. Eu queria dizer a ele que estava pronta paraser sua esposa de todas as maneiras que importassem.

Alguns segundos depois, desligamos porque meu pai nos pediu para nunca mais ligarmospara lá. Sim, isso é o que ele disse quando meu marido estava sendo uma pessoa importante. Euestava tão orgulhosa de Abel. Eu queria ficar com raiva do meu pai, mas não desperdicei minhaenergia odiando alguém. Quando alguém bem na minha frente, queria meu amor mais do que

qualquer coisa neste mundo.

Eu não posso acreditar que houve um tempo em que eu estava tão envolvida no passado. Nahistória. Eu não posso acreditar o quanto eu tinha medo de que a história se repetisse, de acabarcomo meus pais.

Talvez a história se repita. Mas eu tenho uma teoria. Ela só se repete porque lhe damosmuito poder. Ou temos muito medo ou maravilhado com isso. Sempre olhamos para trás etentamos seguir ou desafiar as experiências. Em vez disso, devemos tentar fazer uma. Escrevernossa própria história, nossa própria lenda ao invés de viver a de outra pessoa.

Não contei a Abel sobre meus sentimentos naquela noite porque ainda tínhamos um terrenoa percorrer. Ainda precisávamos visitar seus demônios: seus pais. E nós fizemos isso. Visitamoso cemitério, no bairro onde ele morava. Abel me mostrou sua infância através de prédios, placasde rua e semáforos.

Foi bonito.

Fomos até a missa dominical na igreja. Sentamos no banco de mãos dadas e ouvimos opadre falar sobre um assunto que nos toca o coração: o perdão. Eu também estava com raiva deDeus. Mas percebi que você fica bravo com o poder superior quando não acredita em si mesmo enas pessoas ao seu redor. Eu havia encontrado a fé novamente e naquele dia, decidi deixar minharaiva de Deus desaparecer.

Além disso, Ele me deu forças para escolher meu caminho. Esse é o maior milagre a serpedido: força. Então, posso ser meu próprio milagre.

Agora, é hora de dizer ao homem que amo, o homem em quem confio de coração e alma,que quero ser dele para sempre. Nesta vida e na próxima, e na seguinte. Em todas as minhasvidas, quero ser a Pixie do Abel.

Quero que sejamos Abel e Evie novamente.

Vou até a cômoda em um canto e abro a primeira gaveta. Comprei algo para o Abel. Mesesatrás, escrevi este artigo sobre a sociedade e como ela nos influencia. Minha chefe na livrariaonde eu trabalhava antes de as coisas ficarem realmente difíceis com minha gravidez, Betty, leu eme disse que ela tinha uma amiga que trabalhava para uma revista. Ela insistiu que eu deixassesua amiga ler e, após algumas revisões, eles publicaram meu artigo na edição deste mês.

Não é ótimo? Eu sou uma escritora agora. O dinheiro que ganhei com isso não é muito, masfoi o suficiente para comprar isso: uma câmera.

E hoje, vou dar esta câmera para o Abel.

O bebê chuta com aprovação. Ainda não sabemos se é uma menina - estamos escolhendo sersurpreendidos - mas tenho fé que é uma menina.

Eu ouço o barulho de chaves e sei que Abel está em casa. Ele tira a neve de seu casaco pretoe olha para mim. Um sorriso domina seu rosto. — Ei.

— Ei.

Ele fecha a porta, tira as botas porque sabe que odeio quando ele traz sapatos molhados ecom neve para dentro do apartamento. — Como foi o seu dia? Você comeu?

— Um pouco.

— Vomitou?

— Um pouco.

— Droga. Acho que vou tentar outra coisa esta noite. – ele tira as luvas e o casaco de couropreto e os joga na bancada da cozinha. Ele enfia a cabeça na geladeira, mas ainda está falando:— Então eu falei com o Frankie, você conhece o cara do trabalho? Acredite ou não, sua esposaestá grávida de novo. Pela quinta vez. De qualquer forma, ele me contou sobre essa sopa que fazpara ela. Ela adora e pode segurar. O que é basicamente o que queremos agora. Então, vou tentarisso.

Frankie é um cara legal, que adora cozinhar e Abel tem aprendido com ele. Quem diria quemeu marido aprenderia a amar cozinhar? Não é tão surpreendente, no entanto. Ele adora fazercoisas com as mãos.

Colocando a câmera de volta na gaveta, ando em direção a ele. — Abel?

De dentro da geladeira, ele pergunta: — Sim?

Chego a bancada da cozinha e admiro sua bunda. Meu marido ficou ainda mais musculosonos últimos meses. É todo o trabalho na construção, eu acho. Ele está maior, mais largo, maisbronzeado, até. Não sei como consegui ficar longe dele por tanto tempo. Como fiquei sem beijá-lo e sem tocá-lo. Bem, principalmente, estive mal por causa da gravidez e estávamos indodevagar, mas tudo bem.

— O que você sentiria se eu dissesse que quero morar aqui com você, para sempre? – digoisso rápido, como se eu quisesse dizer as palavras, mas também não quero que ele as ouça deverdade.

Estou me sentindo vulnerável, de repente. Quer dizer, somos casados e sei que as coisasestão indecisas entre nós. Mas meu repouso obrigatório já acabou há um tempo, e ainda não memudei e ele também não me pediu.

Lentamente, ele sai da geladeira e me encara. Seu cabelo dourado está levemente úmido daneve, grudando em sua testa e sua camisa preta está desbotada e cheia de buracos. Sua cruz deprata se move com seu peito arfante. Com a forma como seu corpo está estremecendo, ele estárespirando todo o ar ao seu redor ou não está recebendo o oxigênio de que precisa.

— Abel?

Ele engole. — Você não está brincando.

— Não. – eu balancei a minha cabeça. — Eu quero. Já faz algum tempo que eu queria.

Ele engole novamente e seus olhos se arregalam. Meu Deus, como é possível que qualquerhomem seja tão forte e tão vulnerável ao mesmo tempo.

— Eu... – ele balança a cabeça, colocando as mãos em cima da bancada, como se precisassede apoio para se manter de pé. — Isso significa... que eu posso te dizer agora?

— Me dizer o quê?

— O quanto eu te amo.

Mordendo meu lábio, eu aceno. — Sim.

Não sei como ele faz isso. Eu não sei como ele me faz querer pular em seu colo e apertá-locontra meu peito, ao mesmo tempo. Borboletas estão se agitando dentro do meu estômagoinchado, enquanto os meus olhos estão se enchendo de lágrimas.

Sua respiração é enorme e ruidosa. Quando ele olha para mim, sinto seu olhar vibrandosobre minha pele. Cada emoção que percorre as belas profundidades castanhas de seu olhar estáme tocando também.

— Eu te amo, Pixie. – ele murmura. — Eu amei você por anos, mas não é nada comparado aquantos anos eu vou te amar. Como todos os dias eu sinto essa... coisa se expandir em meu peito.É como ver você com meu bebê crescendo - nosso bebê - me fez perceber o quanto sortudo eusou. É como se tudo de errado em meu mundo valesse a pena. Toda dor foi por isso, e eu nãomereço. Eu não mereço essa coisa linda, porque o que diabos estou fazendo com você. Estoudeixando você mal. Você vomita o tempo todo. Você não pode ir trabalhar. Você não pode nemcomer mais chocolate.

Eu rio; é uma combinação de soluços e risos. — Eu não me importo com o chocolate.

— E é isso aí, não é? Quando isso vai parar? Quando vou parar de causar dor? Por quediabos não pode ser fácil? Por que tem que ser tão difícil?

— Porque estamos construindo uma vida, Abel. Dar à luz uma vida é sempre difícil. Ésempre doloroso. Coisas quebram, colidem e explodem. É por isso que é chamado de big bang.

Olhamos um para o outro por um tempo. Estou deixando todas as minhas emoçõesaparecerem e ele também. Ele está me mostrando o quanto me ama, o quanto ele está com medo,o quanto extasiado. E eu estou fazendo o mesmo. Palavras são ótimas, mas depois de anos, nãoprecisamos delas. Nós nos conhecemos de dentro para fora.

— Eu senti, você sabe. – ele sussurra, como uma criança feliz. — Quando toquei sua barriganaquele dia. No banco. Eu sinto isso toda vez que toco. A grande explosão.

Eu sorrio. — Sim.

— Você realmente vai ficar aqui. Comigo?

— Sim. Eu sempre voltaria para você, Abel. – eu cubro suas mãos trêmulas com as minhas.Ele se acalma, então. Seus tremores param com o meu toque. — Eu sempre fui sua.

Seus olhos ficam lacrimejantes e avermelhados. — Pensei que tinha perdido você. Eu nãoteria pedido para você ficar. Estive contando os dias até que ela viesse ao mundo, mas tambémqueria parar o tempo. De alguma forma, eu queria mantê-la aqui.

— Você pode me manter, você sabe. Eu sou sua para manter.

Abel se inclina e dá um beijinho em meus lábios. Este é o primeiro beijo depois que,espontaneamente, o beijei fora do consultório médico. Este é gentil e suave, com o início de umaexplosão de necessidade.

Isso me lembra do nosso primeiro beijo. Na casa da árvore.

Abel apoia nossas testas juntas, com suas palmas agora cobrindo minhas bochechas,simplesmente me inspirando, saboreando-me. Nos saboreando.

— Você pode parar o tempo de novo, Abel. – eu sussurro.

— O que?

— Eu comprei algo para você.

Ele se acalma quando o que quero dizer se torna claro para ele. Ele tenta se afastar, mas nãodeixo. Eu mantenho suas mãos coladas no meu rosto.

— Pixie, eu não posso...

— Eu não tenho medo de você.

Talvez seja o meu tom, o tom que usei quando conversamos pela primeira vez naqueleônibus, mas estamos voltados para aquele dia, nós dois. Eu estava tão fascinada por ele, tãoencantada. Eu não conseguia parar de pensar nele, nem por um único segundo. Mesmo assim, eusabia que era dele e ele era meu. Eu não entendia, mas sabia. Eu senti.

Eu ainda sinto isso.

Abel, de quatorze anos, tentou me assustar. Agora, eu sei que foi uma mostra devulnerabilidade. Ele me queria muito, mas tinha medo da rejeição.

O Abel mais velho engole e faz o mesmo. — E se eu te disser que mordo?

— Então eu diria que ainda não estou com medo. Além disso, eu mordo também, você sabe.

Seu aperto flexiona em meu rosto, como se tudo dentro dele fosse demais para lidar. —Quase destruí tudo com isso.

— Não, nós destruímos tudo com o que havia dentro de nós. A câmera foi apenas umaferramenta. A câmera é o que você faz dela. Você a usou para se esconder antes e então, nós ausamos para a vingança. Mas agora, vamos usá-la para nos aproximar. Para capturar momentos.Para me divertir. Isso não vai governar nossa vida, Abel. Nada irá. – eu coloco as minhas mãosem suas bochechas e pressiono nossas testas juntas. — Está me ouvindo? Estamos mais fortesagora. Nós somos mais espertos e eu te perdoo. Eu perdoo. Tenho que perdoar. Este é nossaúltima tarefa. Eu quero que você se perdoe.

— Como você consegue ser tão incrível?

Eu rio, beijando seu nariz. — Porque Deus me criou para você e ele sabia que vocêprovavelmente seria um idiota às vezes.

— Sim. – Sua risada de resposta é tão doce. Tão, tão doce e sexy. — Eu te amo muito.

— Eu te amo.

— E eu a amo.

Ela chuta minha barriga. — Eu te amo, também.

Nós respiramos um ao outro por alguns segundos antes de Abel se afastar, sorrindo. Ele estátão despreocupado e brincalhão - um máximo, na verdade - que não posso deixar de sorrirtambém. Ele contorna a bancada e antes que eu possa questioná-lo, ele me pega em seus braços eme carrega para a nossa cama. Só a cama em que tenho dormido nas últimas semanas; elesempre ficava no sofá.

— Abel! Ah meu Deus, coloque-me no chão. Eu estou uma baleia.

— Você é a mãe do meu filho.

— Estou pesada.

— Não. Você está absolutamente certa.

Ele me deita no lençol de cor creme, pairando sobre mim, com sua cruz de prata balançandopara frente e para trás, enquanto ele dá um beijo suave na minha testa.

— O que você está fazendo? E quanto à câmera? As fotos?

Ele sobe na cama e rasteja, e me arrasta para o seu lado, colocando a mão na minha barrigainchada. — Ok, temos tempo para isso mais tarde. Agora, eu quero estar com minha esposa eminha filha.

Eu sorrio, com a felicidade florescendo em meu peito. Felicidade e contentamento. O tipoque só pode vir se afundar no peito de Abel e seu cheiro de maçã. — Ainda não sabemos se éuma menina.

— Ela é. Eu sei disso. – ele acaricia a minha barriga, como se estivesse embalando nossafilha para dormir.

Os movimentos de sua mão são calmantes e suaves, e algo me ocorre.

— Ei, sabe, o dia que você chegou na cidade e eu te vi? No milharal? Eu tinha acabado deter minha primeira menstruação. Acordei e vi todo aquele sangue. Achei que fosse morrer.

— Você não vai morrer, Pixie.

— O que?

— Sim. E nem eu.

— OK. – eu reviro meus olhos.

— Porque as lendas não morrem. Nossa história vai viver para sempre. Abel e a sua Pixie.

— Você é louco. – eu mal consigo conter meu sorriso.

Ele sorri e fecha os olhos. — Apenas por você.

Suspirando, fico maravilhada com os mistérios da vida. Eu o conheci quando estava prestesa me tornar mulher. Tudo estava mudando, e eu nem sabia disso. E agora estou aqui, com ele,nesta cama. As coisas estão mudando mais uma vez. Estou à beira de algo novo. A maternidade.

Existe poesia na natureza.

Fecho minhas pálpebras também e imagino uma menina que se parece com o Abel. Eununca quis mudar o mundo, exceto por um breve momento, quando eu estava com raiva esofrendo. Não sei se uma garota como eu é capaz de fazer a diferença, mas posso fazer a minhaparte.

Posso ensinar a minha filha a perdoar e ser gentil. Posso ensiná-la a nunca dormir sem fazerpelo menos uma boa ação para outra pessoa. Posso ensiná-la a ter fé em si mesma. Posso ensiná-la a ser forte, a sentir, a amar, a magoar e a amar novamente.

E eu posso contar a ela uma história sobre um garoto de cabelos dourados. As pessoas ochamavam de monstro, mas uma garota de olhos azuis pensava que ele era seu deus. Ele não eranenhum dos dois. Ele era apenas um garoto que desenhava, que queria amigos e cuja frutafavorita era maçã.

Mas, acima de tudo, ele era um garoto que sentia as coisas profundamente. Ele era umgaroto que amava, com tudo o que tinha.