FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS

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FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS MAÍRA COUTINHO DE OLIVEIRA PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL 1

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FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS

MAÍRA COUTINHO DE OLIVEIRA

PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL

1

POUSO ALEGRE - MG

2014

2

MAÍRA COUTINHO DE OLIVEIRA

PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL

Trabalho de conclusão de curso,

apresentado como requisito para

obtenção do grau de Bacharel em

Direito no Curso de Direito da

Faculdade de Direito do Sul de

Minas.

Orientador: Prof. Dr. Renato

Tavares.

3

POUSO ALEGRE

2014

FICHA CATALOGRÁFICA

Precisa ver na biblioteca o número de cutter da monografia e as

palavras-chave.

4

MAÍRA COUTINHO DE OLIVEIRA

PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL

FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS

Data da aprovação: ___/___/_____

Banca Examinadora

_______________________________________

Orientador: Prof. Dr. Renato Tavares.

FDSM

_____________________________________

Prof.:

Instituição:

______________________________________

Prof.:

Instituição:

5

Pouso Alegre - MG

2014

6

Dedico para minha mãe, Dinah,

para meu pai, e a todos os amigos

7

pelo apoio e amizade; obrigado

por fazerem parte desta

trajetória. Agradeço a Deus, por

sempre me guiar, e por permitir

concluir mais essa etapa da minha

vida.

8

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Dr. Renato Tavares, pela dedicação e

paciência nesta conclusão de curso.

Aos meus professores que ao decorrer deste curso colaboraram para

meu crescimento tanto profissional quanto pessoal.

Aos meus pais e familiares pela paciência, apoio e credibilidade

de sempre.

Aos amigos pelo apoio e amizade de sempre.

E a todos que, de alguma forma contribuíram para que este

trabalho fosse possível.

9

RESUMO

OLIVEIRA, Maíra Coutinho de. Provas Ilícitas No Processo Penal.2013. 54f. Trabalho de conclusão de curso (graduação em Direito)

– Faculdade de Direito do Sul de Minas, Pouso Alegre, 2013

10

ABSTRACT

OLIVEIRA, Maíra Coutinho de. Illegal Evidence in CriminalProcedure. In 2013. 54f. Completion of course work (graduation inLaw) – Faculdade de Direito do Sul de Minas, Pouso Alegre, 2013

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................101. DA PROVA.................................................121.1. Conceito e sua finalidade..............................121.1.1Direito Romano.........................................131.2 Objeto.......................................................................................................................131.3 Seus meios e elementos..................................141.4 Classificação das provas................................141.4.1 Provas diretas ou indiretas...........................161.4.2 Provas pessoais ou reais..............................161.4.3 Prova plena e não plena...............................171.4.4 Prova Lícita..........................................171.4.5 Prova ilícita.........................................181.5 Ônus da prova...........................................192. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS RELATIVOS À PROVA.................222.1 Dispositivo ou verdade formal...........................222.2 Do contraditório e da ampla defesa......................232.3 Da imediação............................................232.4 Da identidade física do juiz............................242.5 Do livre convencimento motivado.........................243. PRODUÇÃO DAS PROVAS......................................263.1 Produção antecipada da prova............................274. ESPÉCIES DE PROVAS.......................................284.1 Testemunhal.............................................284.1.1 Capacidade para ser testemunha........................29 4.2 Documental..............................................314.3 Pericial................................................325. DA PROVA ILICITA.........................................355.1 Direito de prova........................................355.2 Conceito de prova ilícita...............................365.3 Das provas ilegais, ilícitas e ilegítimas...............385.4 Prova ilícita na constituição da república de 1988......385.4.1 Dispositivos constitucionais relativos às provas ilícitas............................................................405.5 Prova ilícita no direito processual penal brasileiro....405.5.1 Corrente da inadmissibilidade ou teoria obstativa.....41

12

5.5.2 Corrente da admissibilidade ou teoria permissiva......425.5.3 Corrente intermediária ou teoria da proporcionalidade.435.5.4 Corrente da prova ilícita pro reo....................................................445.5.4.1 Corrente da prova ilícita pro societate......................................465.6 Prova Ilícita no Código de Processo Penal com a Lei 11.690/08............................................................475.7 Prova ilícita por derivação.............................48CONCLUSÃO...................................................50BIBLIOGRAFIA................................................52

INTRODUÇÃO

A prova é algo de suma importância para o Direito Penal,

uma vez que, através dela, será possível convencer o juiz de que

o fato tido como crime ocorreu ou não, tendo em vista que o

magistrado não se encontrava no dia dos fatos. Assim, cabe a

defesa fazer a prova de que o fato criminoso não ocorreu ou de

que o réu é inocente, pleiteando a sua absolvição, e a acusação

provar que o fato ocorreu e que o réu foi o autor desse fato.

Dessa forma, o juiz julgará a causa.

Trata-se de elemento fundamental para o processo, pois, por

meio da prova, desenvolve-se todo o processo.

No presente trabalho o tem principal é a prova ilícita no

Processo Penal Brasileiro que, segundo a Constituição Federal de

1988, em seu artigo 5º, inciso LVI, é inadmissível no processo.

13

Um ponto de discussão é se a interpretação dada ao aludido

artigo deve ser rígida ou não, a fim de se evitar que injustiças

sejam cometidas. Assim, questiona-se se deve prevalecer a

persecução penal, mesmo que embasada a apuração do delito através

de uma prova ilícita. E mais, tendo em vista a inadmissibilidade

da prova ilícita no processo, o acusado deve ficar impune,

garantindo seus direitos e garantias individuais.

Trata-se de teme de grande relevância na esfera jurídica e

social.

A pesquisa tem como fim demonstrar qual é o alcance desse

dispositivo da Constituição Federal, o qual menciona que as

provas ilícitas são inadmissíveis no processo, estabelecendo um

consenso para que o dispositivo constitucional seja interpretado

de forma mais adequada ao caso concreto, resguardando os direitos

e garantias individuais dos envolvidos no processo, bem como de

toda coletividade.

No primeiro capítulo serão abordados: o conceito de prova,

a prova no Direito Romano, bem como o objeto da prova e sua

classificação. Tópicos esses essenciais para a compreensão do

tema. No segundo, serão abordados os princípios relativos à

prova, como por exemplo, o princípio do dispositivo e do livre

convencimento do juiz.

O terceiro capítulo trata da produção da prova e o quarto

aborda as espécies de provas existentes no processo.

Já o quinto capítulo apresenta o tema central do trabalho,

ou seja, a prova ilícita, abordando conceito, diferenças da prova

14

ilícita e das provas ilegais e ilegítimas. Além de abordar as

teorias que admitem e não a provas ilícitas no processo.

Por fim, o sexto capítulo traz a prova ilícita no Código de

Processo Penal Brasileiro com a Lei nº 11.690/2008, encerrando-

se com a prova ilícita por derivação.

15

1. DA PROVA

1.1. Conceito e sua finalidade

A palavra prova é originária do latim probatio, tendo como

significado demonstrar, reconhecer, examinar e persuadir todo

elemento que possa levar ao conhecimento de um fato ou de

alguém.1

Nos termos do artigo 155, do vigente Código de Processo

Penal, e segundo De Plácido Silva2: “Entende-se, assim, no

sentido jurídico a denominação que se faz, pelos meios legais, da

existência ou veracidade de um fato material ou de um ato

jurídico, em virtude da qual se conclui por sua existência do

fato ou do ato demonstrado”.

Dessa forma, durante a instrução do processo, por meio da

prova é possível demonstrar alguns fatos, a fim de que se

convença o juiz para que o réu seja ou não condenado. Logo, a

prova constitui a “demonstração a respeito da veracidade ou

falsidade de imputação, que deve gerar no juiz a convicção de que

necessita para o seu pronunciamento”.3

1 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.2 SILVA, De Pláciso. Vocabulário Jurídico. 30 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.3 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. 7ed. São Paulo: Atlas, 2012.

16

Assim, pode-se dizer que o que irá constituir a prova é a

pretensão do autor da ação em demonstrar que determinado fato ou

ato ocorreu e a posição do réu em resistir a essa pretensão,

formando a convicção do juiz a respeito.

Nos dizeres de Moacyr Amaral Santos 4:

Quando dados fatos são propostos pelas partes, cabe a

estas e ao juiz fazê-las ao processo, segundo a forma

determinada na lei. Por isso, o que existe, realmente, é a

demonstração, a exibição, a investigação dos fatos,

respeitadas as regras processuais. Será bem a apuração dos

fatos no processo. Daí pode-se formular uma definição –

prova é a soma dos fatos produtores da convicção, apurados

no processo.

1.1.1 Direito Romano

O Direito Romano possui grande relevância para o Direito

Penal, uma vez que contribuiu para a criação de vários

princípios, dentre eles o da legítima defesa, culpa e agravantes.

Foi no Direito Romano que surgiu o ônus da prova, uma vez

que o ônus da prova não cabia a réu, até mesmo nos casos em que

se negava a autoria do delito, ou seja, os fatos alegados pelo

autor. Assim, vislumbra-se que cabia a parte que alegava a

ocorrência do fato fazer a sua prova. No entanto, caso a parte ré

alegasse a existência de fato novo, tal ônus caberia a ela.

4 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova Jurídica no Cível e Comercial. 2 ed. São Paulo: Max Lominad, 1952.

17

1.2 Objeto

A palavra provar tem o sentido de demonstrar aquilo que se

alega. Nas palavras de Mirabete,5

Aquilo sobre o que o juiz deve adquirir o conhecimento

necessário para resolver o litígio processual é a prova,

que abrange não só o fato delituoso, mas também todas suas

circunstâncias objetivas e subjetivas que possam

influenciar na responsabilidade penal e na fixação da pena

ou imposição de medida de segurança.

Assim, o objeto da prova são todos os fatos, acontecimentos

e circunstâncias, úteis e relevantes, que formarão a convicção do

juiz acerca do fato ocorrido. Ou seja, por meio dela é possível

obter a demonstração ou veracidade dos fatos alegado no processo,

cabendo a parte que fez a alegação demonstrar a veracidade das

razões que pretende defender.

No entanto, Mirabete6 destaca que não serão demonstrados

apenas o ato delituoso e sua autoria, mas “também todas as

circunstâncias objetiva e subjetivas que circundam e possam

influir na responsabilidade penal e na fixação da pena ou

imposição de media de segurança”.

Porém, cabe destacar que aqueles fatos que são presumidos

por lei independem de prova. Já o fato incontroverso ou admitido5 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. 7ed. São Paulo: Atlas, 2012

6 Idem/Ibidem

18

necessita de prova, pois o juiz chegará à verdade dos fatos. É o

que ocorre, por exemplo, com a confissão, pois, embora ela possa

ocorrer no processo, não será o bastante para a condenação do

réu, sendo necessária a produção de outras provas.

Quando a sua classificação, o objeto de prova pode ser

direito, ou seja, quando se referir imediatamente ao fato

probando. Ou, ainda, indireto, ou seja, quando se afirma outro

fato do qual se chega ao que se pretende provar, porém, necessita

de um trabalho de raciocínio indutivo. 7

Cabe destacar que alguns fatos não necessitam ser provados,

são aqueles conhecidos como fatos intuitivos ou evidentes, pois

há a certeza dos acontecimentos, dispensando a dilação

probatória. Assim, não há necessidade de prova quando a presunção

legal é a conclusão decorrente da lei, podendo tal conclusão ser

absoluta ou condicionada.

Existem, ainda, os fatos inúteis, que são aqueles que não

possuem qualquer tipo de proveito jurídico. Além do fatos

notórios, que não necessitam de provas, uma vez que faz parte da

cultura de uma sociedade. 8

Dessa forma, no processo todos os fatos que são relevantes

para o esclarecimento do litígio devem sem provados, seguindo a

regra do ônus da prova.

7 ARANHA, Adalberto José Q. T. de Camargo. Da Prova no Processo Penal. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.8 Teoria Geral das Provas no Processo Penal. Disponível em <meumaterialdeconcurso.blogspot.com/2008/05/teoria-geral-das-provas-no-processo.htm>

19

1.3 Seus meios e elementos

O Direito Processual é o responsável por regulamentar os

meios de prova, que são entendidos como técnicas para a

averiguação da ocorrência de determinado fato. Os meios de provas

são documentos, testemunhas, depoimento pessoal das partes,

perícia, entre outras.

Nos dizeres de Tourinho Filho9

Na verdade, enquanto o juiz “não penal” deve satisfazer-se

com a verdade formal ou convencional que surja das

manifestações formuladas pelas partes, e a sua indagação

deve circunscrever-se os fatos por elas debatidos, no

Processo Penal o juiz tem o dever de investigar a verdade

real, procurar saber como os fatos se passaram na

realidade, quem realmente praticou a infração e em que

condições a perpetrou, para dar base à cerca da justiça.

Em seus artigos 158 a 250,o Código de Processo Penal traz

os meios de prova, sendo estes úteis para a formação da verdade

real, ou seja, tudo aquilo que possa comprovar o fato ou a

afirmação, sendo fenômenos internos do processo, devendo observar

os ditames legais. Cabe destacar que, todas as provas obtidas por

meios lícitos são admitidas e não apenas aquelas previstas no

Código de Processo Penal.

No entanto, há provas que são proibidas pela lei, quais

sejam as ilícitas e as ilícitas por derivação.

9 TOURINHO FILHO. Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

20

1.4 Classificação das provas

Para que haja o convencimento do juiz, ou seja, para

demonstrar a verdade real dos fatos, podem ser utilizadas todos

os tipos de provas admitidas no Direito.

“Não há prova sem percepção do juiz, uma vez que ela pode

recair diretamente sobre o objeto ou sobre um fato do qual se

possa concluir, segundo a experiência, a existência de um outro

fato”10.

1.4.1 Provas diretas ou indiretas

O meio de prova direta é aquele em que o juiz, por meio da

percepção direta do objeto, vai obter o seu conhecimento, ou

seja, refere-se, de forma direta, ao fato probando. Isso ocorre

quando a própria prova consegue demonstrar o fato a ser provado.11

Já o meio de prova indireta é aquele em que o juiz obtém o

conhecimento do objeto da prova através de terceiros. Não há

referencia direta ao fato probando, mas utiliza-se de raciocínio,

presunções, indícios e até mesmo de outros fatos. Ou seja, o fato

é demonstrado por raciocínio lógico-dedutivo.12 Esse tipo de prova

também é conhecido como circunstancial, uma vez que é deduzido a10 MENDES. João de Castro. Do Conceito de Prova. Lisboa: Ática, 1961.11 Teoria Geral das Provas no Processo Penal. Disponível em

<meumaterialdeconcurso.blogspot.com/2008/05/teoria-geral-das-provas-no-

processo.htm>

21

partir da um fato ou vários fatos que se aplicam, imediatamente,

ao fato principal.

1.4.2 Provas pessoais ou reais

As provas pessoais ou reais estão ligadas ao sujeito da

prova, ou seja, aquele que alega um fato, qual seja a pessoa, ou

aquele que demonstra a existência de um fato, qual seja a coisa.

A prova pessoa é obtida por meio da manifestação humana.

Tal manifestação tem que se dotada de boa-fé, além de ser

consciente. É o que ocorre, por exemplo, por meio do testemunho,

depoimento e interrogatório.13

No que diz respeito à prova real, esta é aquela obtida

através do próprio fato, ou seja, por meio de apreciação de

elementos físicos. Como exemplos, há a fotografia, apresentação

da arma.14

1.4.3 Prova plena e não plena

12 DUARTE, Liza. Desafios do Direito. Disponível em

<http://www.conjur.com.br/static/text/45406,1 > 13 MAGNO. Alexandre. Direito Processual Penal. Disponível em

<http://alexandremagno.com/read.php?n_id=99 >

14 Idem/Ibidem

22

A prova plena ou não plena está ligada aos efeitos que ela

produz. Assim, a prova plena é aquela que é convincente, ou seja,

conduz ao juízo de certeza:

A prova plena é o equivalente lógico-jurídico ao não

repúdio, expressão oriunda da comunidade técnica

informática que, juridicamente, não passa de uma falácia

(visto que o repúdio sempre poderá ocorrer num incidente de

falsidade). A prova plena é o máximo de validade e eficácia

que o direito vigente nas democracias liberais admite como

força probatória.15

No que tange a prova não plena é aquela em que há juízo de

probabilidade no que diz respeito a um fato ou autoria.

1.4.4 Prova Lícita

Algumas provas são permitidas no Direito, no entanto, todas

devem respeitar os limites impostos pela lei. Aquelas provas que

são permitidas pelo Direito são tidas como provas licitas. Ou

seja, aquelas que não contrariam a previsão legal.

No que tange a essa espécie de prova, Mirabete explicita:

A busca da verdade real e o sistema de livre convencimento

do juiz, que conduzem ao princípio da liberdade probatória,

levam também a doutrina a concluir que não se esgotam nos

artigos 158 a 202, do Código de Processo Penal, os meios de

15 FERREIRA, Paulo Roberto G. Autenticidade e Privacidade na ICP-Brasil. Disponível em

<http://www.iti.gov.br/twiki/view/OLD/Forum/ArtigosD203 >

23

provas permitidos na nossa legislação. A previsão legal não

é, portanto, exaustiva, mas exemplificativa, sendo

admitidas as chamadas provas inominadas, aquelas não

previstas expressamente na legislação. Entretanto, essa

ampla liberdade da prova encontra limites além daqueles

estabelecidos no art. 155 do CPP, e em outros dispositivos

da lei processual. Segundo a doutrina, são também

inadmissíveis as provas que sejam incompatíveis com o

princípio de respeito ao direito de defesa e à dignidade

humana, aos meios cuja utilização se opõem às normas

reguladoras do direito que, com caráter geral, regem a vida

social de um povo. Lembra-se também a proibição de

invocação ao sobrenatural.16

1.4.5 Prova ilícita

O Código de Processo Penal, em seu artigo 157, não admite

as provas ilícitas e, caso elas estejam presentes, ano serão

admitidas no processo.

As provas ilícitas são aquelas que contrariam a lei, sendo

elas vedadas e inadmissíveis no processo, ou seja, são conhecidas

como provas vedadas. Ada Pellegrini Grinover conceitua

A prova colhida com infringência às normas ou princípios

colocados na Constituição e pelas leis, frequentemente para

a proteção das liberdades públicas e especialmente dos

direitos de personalidade e mais especificamente do direito

à intimidade.17

16 MIRABETE. Julio. Fabbrini. Processo Penal. 4ed. São Paulo: Atlas, 2012.

24

Assim, pode-se dizer que as provas ilícitas são aquelas

obtidas por meio da prática de crime ou uma contravenção, bem

como aquelas que afrontam as normas constitucionais e

infraconstitucionais.

Tais provas são tidas como inadmissíveis no processo,

segundo inteligência do artigo 5º, inciso LVI, da Constituição

Federal, e artigo 157, do Código de Processo Penal.

1.5 Ônus da prova

No que diz respeito ao ônus da prova, pode-se dizer que não

se trata de uma obrigação processual das partes, uma vez que não

possuem o dever de provas, não sendo imposta qualquer tipo de

sanção. Assim, pode-se dizer que haverá um risco ou prejuízo.

É o entendimento de Guilherme de Souza Nucci

Ônus da prova quer dizer encargo de provar. Ônus não é

dever, pois este é uma obrigação, cujo não cumprimento

acarreta uma sanção. Quanto ao ônus de provar, trata-se do

interesse que a parte que alega o fato possui de produzir

prova ao juiz, visando fazê-lo crer na sua argumentação.18

17 GRINOVER. Ada Pellegrini. As nulidades no Processo Penal. 6 ed. São Paulo: Saraiva,

2010.18 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

25

Já nos dizeres de Fernando Capez o ônus da prova é “o

encargo que tem os litigantes de provas, pelos meios admissíveis,

a verdade dos fatos”.19

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Mirabete

Numa perspectiva subjetiva, ônus da prova (ônus probandi) é

a faculdade ou encargo que tem a parte de demonstrar no

processo a real ocorrência de um fato que alegou em seu

interesse, o qual se apresenta como relevante para o

julgamento da pretensão deduzida pelo autor da ação penal.20

Assim, num processo as partes possuem o ônus de produzir a

prova e não um dever, pois, o dever, quando não cumprido gera

sanção, já o ônus não produzido traz como consequência à parte a

não obtenção de uma vantagem. É o entendimento de Rangel

[...] Sob o ponto de vista jurídico processual, podemos

dizer que o ônus é o encargo que as partes têm de provar as

alegações que fizeram em suas postulações. Trata-se de uma

obrigação para consigo mesmo que, se não for cumprida,

ninguém, a não ser o encarregado, saíra prejudicado.

Diferente do dever, que é sempre para com outrem e faz

nascer o direito subjetivo. O ônus não, pois não

corresponde a nenhum direito subjetivo e, se o encarregado

de realizar o ato não o faz, apenas ele sofrerá com sua

inércia ou ineficiência.21

19 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

20 MIRABETE, Julio. Fabbrini. Processo Penal. 4ed. São Paulo: Atlas, 2012.

21 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 12 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

26

Fernando Capez 22defende que aquele que tem o interesse

de afirmar, terá o ônus de provas. Aquele que apresenta a

pretensão tem o ônus de comprovar o fatos constitutivos. Quem

oferece exceção, tem o ônus de provas os fatos extintivos,

impeditivos ou modificativos.

O Código de Processo Penal, em seu artigo 156, primeira

parte, dispõe que cabe àquele que fizer a alegação o ônus da

prova. Logo, à acusação cabe a prova da materialidade do fato e

autoria e ao acusado cabe provar a inexistência do fato.

No entanto, a regra do artigo 156, primeira parte do CPP,

não é absoluta, uma vez que em seu inciso II está previsto que o

juiz possui a faculdade de determinar a realização de diligências

em caso de dúvidas, seja antes ou depois da instrução do

processo.

Porém, tal faculdade é supletiva. Entendimento este de

Tourinho Filho 23 “[...] o Juiz, somente em casos excepcionais,

deve empreender a pesquisa de ofício. Seu campo de ação na área

de pesquisa probatória deve ser por ele próprio limitado, para

evitar uma sensível quebra da sua imparcialidade”.

E ainda, Fernando Capez

Somente em casos excepcionais, quando a dúvida persistir no

espírito do magistrado, é que este poderá dirimi-la,

determinando as diligências nesse sentido. Essa pesquisa

probatória a ser efetivada pelo juiz deve restringir-se a

22 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.23 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva,

2006.

27

uma área de atuação por ele delimitada, com o fito de

evitar a quebra da imparcialidade.24

Destaca-se, ainda, o disposto no artigo 156, inciso I,

do Código de Processo Penal, o qual dispõe que o juiz pode

ordenar a produção antecipada das provas que forem consideradas

urgentes e relevantes, antes mesmo de iniciada a ação penal,

desde que observados a necessidade, adequação e

proporcionalidade.

Assim, tendo em vista que o processo penal brasileiro

segue um sistema acusatório, face a previsão legal mencionada,

percebe-se a figura de um juiz investigador, bem como de um

processo inquisitivo.

2. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS RELATIVOS À PROVA

2.1 Dispositivo ou verdade formal

O princípio do dispositivo ou da verdade formal significa

que as partes do processo devem ter a iniciativa de levar ao

processo todas as alegações, bem como todas as provas a fim de

formar o convencimento do juiz.

No entanto, cabe destacar que, naqueles países onde tal

princípio é consagrado de forma absoluta, é defeso ao juiz24 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

28

determinar a produção de determinada prova que, no seu

entendimento, é necessária, mas, que não foi requerida por uma

das partes do processo, pois as partes teriam o poder exclusivo

de fazer as afirmações e apresentar as provas que entenderem

pertinentes para demonstrar a veracidade de suas alegações. Dessa

forma, as pessoas que defendem esse entendimento, afirmam a

necessidade de se preservar a imparcialidade do juiz.

No Brasil, o Direito Processual Penal determina que as

partes possuem a iniciativa, exclusiva, no que diz respeito aos

fatos alegados no processo, sendo defeso ao juiz proferir uma

sentença tendo como base uma situação fática entranha à lide.

Ademais, levando-se em consideração a autonomia do Direito

Processual Penal, enquadrando-se no ramo do direito público,

entendido, ainda, como poder-dever do Estado em prestar a

jurisdição, o sistema brasileiro não adota o principio do

dispositivo ou da verdade formal de forma irrestrita, pois o juiz

é uma parte ativa no processo.

Fernando Capez, em seus ensinamentos

Este principio é próprio do processo civil. Contudo, nota-

se clara tendência publicista no processo, levando o juiz a

assumir uma posição mais ativa, impulsionando o andamento

da causa, determinando provas ex officio e reprimindo condutas

abusivas e irregulares.25

Por fim, chega-se à conclusão de que o principio do

dispositivo ou da verdade formal, no que tange à produção de

provas, foi relativizado no sistema processual penal brasileiro.

25 ? CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

29

2.2 Do contraditório e da ampla defesa

Segundo inteligência do artigo 5º, inciso LV, da

Constituição Federal, as partes do processo, seja ele judicial ou

administrativo, assim como os acusado em geral, possuem como

garantia o contraditório e a ampla defesa, abrangendo os meios e

recursos a ela inerentes.

O direito de defesa é garantido para ambas as partes, seja

autor seja réu, uma vez que elas possuem o direito de alegar

fatos e de fazer prova dos mesmos através de meios lícitos.

No que diz respeito à produção de provas, vislumbra-se o

contraditório na oportunidade que as partes possuem de requerer a

produção de provas, o direito de participar, de forma direta, da

sua produção, assim como de pronunciar sobre os resultados da

produção. Tal princípio será observado durante toda fase de

instrução processual, sob pena de cerceamento de defesa.

2.2 Da imediação

O princípio da imediação tem como finalidade aproximar o

juiz da prova oral a fim de que, quando da prolação da sentença,

o magistrado tenha meios e condições de se aproximar da verdade,

proferindo a decisão mais justa. Dessa forma, é vedado que a

produção da prova oral seja mediada por uma terceira pessoa.

30

O objetivo principal desse princípio é fazer com que o

julgador consiga constatar, de forma direta, se as testemunhas

estão falando a verdade, possuindo melhores meios para avaliar a

prova oral.

2.4 Da identidade física do juiz

O juiz é o responsável pela produção da prova oral, assim

como o responsável pela finalização da audiência de instrução e

julgamento e prolação da respectiva sentença, seja ela

condenatória ou absolutória. Assim, o princípio da identidade

física do juiz exige que aquele que concluiu a audiência de

instrução, julgue a lide.

Dessa forma, será garantida que a decisão do juiz seja a

mais eficiente e justa para o caso concreto, uma vez que aquele

que colheu as provas orais e praticou o atos, de forma

concentrada na audiência, profira a sentença.

2.5 Do livre convencimento motivado

No Direito Processual Brasileiro há três grandes sistemas

de avaliação da prova, sendo eles o sistema de prova legal ou

31

tarifada, o da livre apreciação e o do livre convencimento

motivado ou sistema de persuasão racional.

O sistema a prova legal ou tarifada leva em consideração

que cada prova possui um valor previsto pela lei, sendo vedada a

valoração das provas de acordo com as próprias impressões do

juiz, devendo ele observar o que a lei dispõe quando da avalição

de todo conjunto probatório.

Sendo assim, supondo que uma prova produzida em um processo

não demonstre a verdade, mas a lei lhe atribui valor, o juiz

decidirá com base na prova produzida, mas desconsiderando os

fatores racionais que poderiam formar o seu convencimento.

Já no sistema de livre apreciação da prova, o juiz está

livre para formar o seu convencimento a respeito dos fatos,

podendo utilizar suas convicções pessoais, mesmo que não decorram

das provas e dos fatos constantes do processo. Esse sistema se

opõe ao critério da prova legal, pois, o juiz não tem a obrigação

de observar o disposto na lei quanto à valoração das provas.

Cabe mencionar que, os sistemas probatórios modernos não

utilizam o critério da prova legal, tampouco o da livre

apreciação da prova.

O sistema adotado é o modelo misto, também chamado de livre

convencimento motivado ou da persuasão racional, que tem como

características as dos dois sistemas anteriormente mencionados,

sendo esse o sistema adotado pelo Direito Processual Brasileiro.

Ada Pellegrine Grinover:

32

O conteúdo do princípio compreende: 1. O enunciado das

escolhas do juiz, com relação: a) à individualização das

normas aplicáveis; b) à análise dos fatos; c) à sua

qualificação jurídica; d) às consequências jurídicas desta

decorrentes. 2. Aos nexos de aplicação e coerência entre os

referido enunciados.26

Dessa forma, o juiz irá apreciar a prova atendendo aos

fatos e circunstâncias existentes nos autos, mesmo que não

alegados pelas partes, no entanto, quando da sentença, deverá

indicar os motivos que formaram o seu convencimento.

O magistrado, em regra, não esta adstrito à lei, no que

tange à valoração das provas, mas, também não tem a liberdade

total de apreciação, uma vez que há a condição de que se observe

os elementos probatórios pertencentes ao processo. Atente-se,

ainda, ao disposto no artigo 93, inciso IX, da Constituição

Federal, que exige decisão fundamentada do juiz.

Insta destacar, ainda, que o artigo 157, do Código de

Processo Penal, antes de sofrer as alterações da lei 11.690/2008,

mencionava que o juiz formaria a sua convicção pela livre

apreciação da prova. No entanto, após a alteração sofrida, “são

inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas

ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas

constitucionais ou legais”.

26 GRINOVER. Ada Pellegrini. Liberdades Públicas e Penais. 2 ed. São Paulo: RT, 1982.

33

3. PRODUÇÃO DAS PROVAS

Nos dizeres de Elmir Duclerc, a prova tem a finalidade de

“formar a convicção do juiz sobre os elementos necessários para a

decisão da causa. Para julgar o litigio precisa o juiz ficar

conhecendo a existência do fato sobre o qual versa a lide”27.

Nessa mesma linha de pensamento, Jacinto Coutinho:

A produção da prova no processo penal tem por objetivo

formar a convicção do juiz a respeito da existência ou

inexistência dos fatos e situações relevantes para a

sentença. É, em verdade, o que possibilita o

desenvolvimento do processo enquanto reconstrução de um

fato pretérito, conforme restou demonstrado.28

Dessa forma, cabe àquele que alegou fazer a prova de sua

alegação, ou seja, ao acusado cabe provar a inocência e a não

ocorrência do delito, já à defesa cabe provar que o fato

criminoso ocorreu e que o acusado é o autor do fato. Assim,

entende-se que a prova é um ônus das partes.

Embora haja o princípio da imparcialidade do juiz,

princípio este mitigado, o magistrado pode determinar a produção

de provas que não foram requeridas pelas partes, nas situações em

que entender que são relevantes para a reconstituição dos fatos.

27 DULCLERC, Elmir. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Lúmem Juris, 2005.28 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Crítica à Teoria Geral do Direito Penal. Rio de

Janeiro: Renovar, 2000.

34

O objeto da prova deve abranger todos os fatos, sejam eles

primários ou secundários, a fim de elucidar a lide.

Tendo em vista que no Processo Penal busca-se a verdade

processual, respeitados alguns princípios, dentre eles o devido

processo legal, mesmo o fato sendo controvertido ou não, devem

ser provados. Destaca-se que nem mesmo a confissão do acusado tem

valor absoluto, devendo ser levadas em consideração as demais

provas existentes nos autos.

3.1 Produção antecipada da prova

Nas situações de urgência e relevantes, desde que observado

o contraditório, as provas poderão ser produzidas perante o juiz

antes do seu momento oportuno ou antes de iniciado o processo. É

o que está previsto no artigo 225, do Código de Processo Penal:

“Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por

enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo de

instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a

requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o

depoimento”.

Assim, cabe ao magistrado decidir se a produção antecipada

da prova é conveniente e oportuno para o processo, desde que

caracterizada a sua urgência.

35

Para que ocorra a produção antecipada da prova, dois

pressupostos são necessários: o fumus boni iuris e o periculum in mora.

Nos dizeres de Andrey Borges de Mendonça:

A relevância se verifica pela urgência – ou seja, que a

prova diga respeito aos fatos de eventual processo futuro

ou do próprio processo já instaurado. (...) A urgência, por

sua vez, caracteriza-se pelo risco de desaparecimento da

prova, ou seja, pela presença do periculum in mora.29

4. ESPÉCIES DE PROVAS

4.1 Testemunhal

29 MENDONÇA, Andrey Borges de. Reforma do Código de Processo Penal. São Paulo: Método,2008.

36

A prova testemunhal é aquela que corresponde à afirmação

pessoal, ou seja, decorre de depoimento de uma terceira pessoa

estranha a lide, mas que tem conhecimento de fatos sobre o delito

objeto do processo. Consiste numa reprodução oral de pessoas que

presenciaram ou tiverem conhecimento do fato.30

O Código de Processo Penal, em seus artigos 202 a 225,

disciplina essa espécie de prova. Assim, o juiz pode valorá-la

conforme seu livre convencimento.

Importante ressaltar que, no antigo sistema, conhecido como

da prova legal, prevalecia o entendimento de que apenas uma

testemunha não valia como prova. O que nos dias atuais é bem

diferente, pois, com apenas uma testemunha, pode haver a

condenação do réu. Ao passo que várias testemunhas também podem

não ser suficientes para uma condenação. Sendo assim, não há

relevância o número de testemunhas arrolada em um processo,

mas ,sim, a qualidade e a credibilidade de seu depoimento.31

Conceitua Arruda Alvim32 “prova testemunhal é aquela

produzida oralmente perante o Juiz, através de depoimento

espontâneo de pessoa estranha à lide, exceto nos casos em que a

lei vede esse meio de prova”.

30 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.31 AQUINO, José Carlos G. Xavier de. A prova testemunhal no Processo Penal brasileiro. São

Paulo: Saraiva, 1987.32 ALVIM NETO, José Manoel de Arruda. Manual de Direito Processual Civil. 6ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

37

A testemunha é considerada aquela pessoa que presta um

depoimento de fatos relevantes para a apuração de um crime ou

infração penal, o qual tomou conhecimento ou presenciou.

No entanto, muitos doutrinadores conceituaram a prova

testemunhal como “a prostituta das provas”, devido a

possibilidade de falhar durante a instrução de processo.

Nos dizeres de Frederico Marques33

No processo penal não há as limitações criados pelo

processo civil a respeito da prova testemunhal. Ao revés,

de largo uso é essa prova, a qual além disso, pode supor a

produção de outras mais adequadas ao caso, como se

verifica, verbi gratia, nas hipóteses previstas nos arts.

167 e 168, §3º, respectivamente, do Código de Processo

Penal.

Por fim, destaca-se que a prova testemunhal é uma das

provas mais antigas, podendo-se dizer, até mesmo, que não há como

imaginar a realização de prova sem a testemunha, até mesmo

porque, muitas das vezes, é o único meio de se comprovar os fatos

objeto da lide.

4.1.1 Capacidade para ser testemunha

Segundo inteligência do artigo 202 e seguintes, do Código

de Processo Civil, “toda pessoa poderá ser testemunha”, porém,

33 MARQUES, José Frederico. Elementos do Direito Processual Penal. Campinas: Bookseller,

1997.

38

pessoas essas capazes de perceber ou deduzir os fatos e

transmiti-los.

Cabe destacar que a capacidade para ser testemunha não se

confunde com a capacidade civil, uma vez que tanto pessoas

surdas, mudas e enfermas também podem ser testemunhas em um

processo. O surdo-mudo, que se comunica por sinais, pode ser

testemunha de fatos que tenha presenciado. O maior de 16 anos e

menos de 18 anos também pode testemunhar, mas não responderá pelo

crime de falso testemunho, vez que inimputável. No Direito de

Família, o menor de 16 anos pode ser ouvida como informante.34

A testemunha não pode ter qualquer tipo de interesse na

causa. E mais, a pessoa intimada para ser ouvida como testemunha

em uma audiência, caso não compareça, poderá ser conduzida

coercitivamente, podendo até mesmo responder por crime de

desobediência.

De acordo com o artigo 206, do Código de Processo Penal,

algumas pessoas são dispensadas de depor, como por exemplo, o

cônjuge, ascendente, descendente, irmão e parentes afins em linha

reta. Estas pessoas são chamadas de informantes, pois, caso

queiram podem prestar depoimento, mas, não estão obrigadas.

Segundo entendimento de Fernando Capez:

São proibidas de depor, contudo, as pessoas apontadas no

art. 207, CPP: as pessoas que devem guardar sigilo em razão

de função, ministério, ofício ou profissão. Função é o34 MACHADO, Ângela C. Cangiano; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER,

Paulo Henrique Aranda. Elementos do Direito: Processo Penal. 5ed. São Paulo: Premier,

2006.

39

exercício de atividade de natureza pública ou assemelhada

(juiz, delegado, promotor, síndico de massa falida, jurado,

comissário de menores, escrivão de cartório, diretor

escolar). Ministério é o encargo de natureza religiosa ou

social (sacerdotes e assistentes sociais). Ofício é a

atividade manual (marceneiro, costureiro, etc). Profissão é

a atividade predominantemente intelectual (médicos,

advogados e os profissionais liberais, de um modo geral).

Quase todos os códigos de ética relativos a uma profissão

impedem a revelação de sigilo profissional. O Cânone 1.550,

§2º, inciso I, do Codex Iuris Canonici considera o sacerdote

como testemunha incapaz em relação ao que ficou sabendo em

função de seu ministério. A parte final permite o

depoimento se o interessado dispensar o sigilo (interessado

aqui não é só quem passou a informação, ou acusado, mas,

também, o órgão de classe ao qual pertence o profissional).

Os deputados e senadores também não estão obrigados a

testemunhar sobre informações recebidas em função do

mandato (art. 53, § 5º, CRF/88 – em regra extensível aos

deputados estaduais, se assim dispuser a Carta Estadual).

Também não podem depor como testemunha o membro do

Ministério Público e o juiz que oficiaram no inquérito

policial ou na própria ação penal. O advogado, mesmo com o

consentimento do titular do segredo, está sempre impedido

de depor a respeito do segredo profissional, pois o cliente

não tem suficientes conhecimentos técnicos para avaliar a

consequências gravosas que lhe pode advir da quebra do

sigilo.35

35 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

40

4.2 Documental

Conforme disposto no artigo 232, do Código de Processo

Penal, são considerados documentos “quaisquer escritos, papéis

públicos ou particulares “. É entendido ainda como uma prova

impossível de se produzir oralmente, com o objetivo de fazer fé

sobre a verdade dos fatos nele afirmados.

Fernando Capez define:

Documento é a coisa que representa um fato, destinado a

fixa-lo de modo permanente e idôneo, reproduzindo-o em

juízo. Instrumentos são os escritos confeccionados já com

finalidade de provar determinados fatos, enquanto papeis

são os escritos não produzidos com o fim determinado de

provar o fato, mas que, eventualmente, podem servir como

prova. Em sentido estrito, documento é o escrito que

condensa graficamente o pensamento de alguém podendo provar

um fato ou a realização de algum ato de relevância

jurídica. É a coisa ou o papel sobre o qual o homem insere,

mediante qualquer expressão gráfica, um pensamento.36

Pode-se dizer, ainda, que em sentido amplo, documentos são

todos os objetos que servem para mostrar ao juiz a verdade de um

fato, como os escritos, fotografias, pinturas. Já em sentido

estrito, somente os escritos podem ser utilizados como prova em

juízo. 37

36 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.37 MACHADO, Ângela C. Cangiano; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER,

Paulo Henrique Aranda. Elementos do Direito: Processo Penal. 5ed. São Paulo: Premier,

2006.

41

Já no âmbito jurídico, a palavra documento possui sentido

mais restrito, sendo entendido como todo meio de prova pelo qual

a representação se faz pela escrita, sinais de palavra falada,

que seja passível de servir como prova. No entanto, no direito

penal, a prova documental não possui tanta relevância como no

direito civil, embora possa ser elemento fundamento para alguns

crimes (ex.: sonegação fiscal).38

Nos dizeres de José Frederico Marques39

O documento no processo penal pode ser objeto de prova ou,

então, meio de prova. É ele objeto de prova quando tem de

ser determinado como fato representativo, em seus aspectos

externos e no tocante ao que representa como seu conteúdo

material, notadamente para se lhe determinar a

autenticidade.

Os documentos, ainda, podem ser públicos ou particulares.

Públicos são aqueles provenientes de um funcionário público,

confeccionados no exercício de sua atividade, conforme a lei.

Particulares são aqueles elaborados e assinados por particular

sem a intervenção de um funcionário público no exercício de sua

função.

Segundo inteligência do artigo 231, do CPP, em regra, os

documentos podem ser juntados em qualquer fase do processo. No

entanto, há casos especiais, como por exemplo, o artigo 406, §2º,

do Código de Processo Penal, que dispõe que os documentos no júri

38 MALESTA, Nicola Flamarino dei. A lógica das provas em matéria criminal. 6ed. São Paulo: Bookseller, 2005.39 MARQUES, José Frederico. Elementos do Direito Processual Penal. Campinas: Bookseller,

1997.

42

não poderão ser juntados nas alegações finais; o artigo 475, do

Código de Processo Penal, que prevê que os documentos a serem

lidos no plenário do Tribunal do Júri devem ser juntados com,

pelo menos, três dias de antecedência.

E mais, o artigo 233, do Código de Processo Penal, prevê,

ainda, que “as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por

meios criminosos, não serão admitidas em juízo”. Porém, em seu

parágrafo único, serão permitidas desde que apresentadas pelo

destinatário para defesa de seu direito.

Fernando Capez40 entende que o juiz deve indagar a respeito

de um documento juntado.

4.3 Pericial

A prova pericial é aquela por meio da qual se exterioriza a

afirmação da coisa, ou seja, trata-se de prova material. No que

tange a sua forma, consiste em qualquer materialidade da prova,

mais especificadamente se refere aos objetos, como por exemplo,

os instrumentos utilizados para a execução do crime, exames,

vistorias. 41

O magistrado utiliza-se da prova pericial a fim de que

obter informações específicas da materialidade do fato, aqueles

40 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.41 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas do Direito Processual Civil. 21 ed.

São Paulo: Saraiva, 2000.

43

que necessitam de conhecimentos técnicos, assegurando ao juiz

sobre as informações do objeto que se pretende provar.

De Plácido e Silva42 conceitua a prova pericial:

Em sentido lato, a diligência realizada ou executada, por

peritos, a fim de que se esclareçam ou se evidenciem certos

fatos. Significa, portanto, a pesquisa, o exame, a

verificação, acerca da verdade ou da realidade de certos

fatos, por pessoas que tenham reconhecida habilidade

técnica ou experiência na matéria de que se trata (...). A

perícia, segundo princípio da lei processual, é, portanto à

medida que vem mostrar o fato, quando não haja meio de

prova documental para mostra-lo, ou quando se quer

esclarecer circunstâncias, a respeito do mesmo, que não se

acham perfeitamente definidas.

O exame pericial será realizado por um perito ou técnico

habilitado, que servirá como auxiliar da Justiça, ou seja, pessoa

que possui conhecimento técnico e cientifico em determinada área.

Segundo inteligência do artigo 159, caput, do Código de

Processo Penal, a perícia deve ser realizada pelo perito oficial,

que tenha diploma em curso superior. Já em seu §1º, prevê a

possibilidade da perícia ser realizada por duas pessoas idôneas

portadores de diploma em curso superior, na área específica.

Segundo Júlio Fabbrini Mirabete:

Não possuindo o juiz conhecimentos enciclopédicos e tendo

de julgar causas das mais diversas e complexas, surge a

necessidade de se recorrer a técnicos e especialistas que,

42 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 24 ed. Rio de Janeiro: Forense,

2004.

44

por meio de exames periciais, com suas descrições e

afirmações relativos a fatos que exigem conhecimentos

especiais, elucidam e auxiliam no julgamento. Entende-se

pericia o exame procedido por pessoa que tenha determinados

conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou

condições pessoais inerentes ao fato punível a fim de

comprová-los.43

Assim, pode-se dizer que a perícia está adstrita ao

processo e irá auxiliar o magistrado na elucidação dos fatos, dos

quais o juiz carece de conhecimento técnico e específico.

A perícia pode ser classificada em dez modalidades44: a)

Judicial – aquela determinada pela Justiça, de ofício ou a

requerimento das partes; b) Extrajudicial – aquela feito a pedido

das partes, particularmente; c) Necessária ou obrigatória –

aquela imposta por lei ou pela natureza do fato, quando a

materialidade do fato se prova pela perícia; d) Facultativa –

aquela que pode ser provada por outros meios; e) Oficial – aquela

determinada pelo Juiz; f) Requerida – aquela solicitada pela

partes do litígio; g) Contemporânea ao processo – aquela

realizada no decorrer do processo; h) Cautelar – aquela realizada

na fase preparatória da ação; i) Direta – quando presente o

objeto da perícia; j) Indireta – aquela realizada pelos vestígios

deixados.

Quando realizada a perícia, o perito confecciona um laudo,

documento escrito que possui alguns requisitos45: I – Preâmbulo:

43 MIRABETE. Julio Fabbrini. Processo Penal. 18 ed. São Paulo, Atlas: 2008.44 Pericia. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/resumos/x/82/22/82/45 Idem/Ibidem

45

contém o nome do perito, seus títulos, nome da autoridade que o

nomeou, motivo da perícia, nome e qualificação do indivíduo que

será examinado; II – Histórico: colheita de informações do caso;

III – Descrição: deve ser feita de forma minuciosa, relatar as

lesões e sinais do indivíduo; IV – Discussão: diagnóstico onde o

perito externa sua opinião; V – Conclusão: é o resumo do ponto de

vista do perito; VI – Resposta aos quesitos: aquelas

eventualmente prestadas pelo perito.

Assim, conclui-se que o laudo pericial conterá as

conclusões do perito que realizou a perícia, servindo como prova

do fato, dependendo de conhecimento específico.

5. DA PROVA ILICITA

5.1 Direito de prova

O direito de ação e o direito à prova são garantias

fundamentais de todos os cidadãos, de acordo com a Constituição

Federal vigente. Assim, o cidadão pode demandar judicialmente,

pleiteando ao Estado-Juiz a prestação da tutela jurisdicional.

Já no que tange ao direito à prova, trata-se de uma

consequência lógica do direito constitucional de ação, pois o

indivíduo, requerendo a tutela jurisdicional, deverá apresentar

46

as provas, preexistentes ao ajuizamento da demanda, postulando a

produção das provas cabíveis.

Cabe destacar os ensinamentos de José Carlos Barbosa

Moreiras:

No pensamento praticamente unânime da doutrina atual, não

se deve reduzir o conceito de ação, mesmo em perspectiva

abstrata, a simples possibilidade de instaurar um processo.

Seu conteúdo é mais amplo. Abarca série extensa de

faculdades cujo exercício se considera necessário, em

princípio, para garantir a correta e eficaz prestação da

jurisdição. Dentre tais faculdades sobressai o chamado

direito à prova. Sem embargo da forte tendência, no

processo contemporâneo, ao incremento dos poderes do juiz

na investigação da verdade, inegavelmente subsiste a

necessidade de assegurar aos litigantes a iniciativa – que,

em regra, costuma predominar – no que tange à busca e

apresentação de elementos capazes de contribuir para a

formação do convencimento do órgão judicial.46

Assim, a respeito da garantia constitucional do direito à

prova, surgem os debates no que tange a admissibilidade ou não

das provas ilícitas ou provas obtidas por meios ilícitos.

5.2 Conceito de prova ilícita

46 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A Constituição e as Provas Ilícitas Adquiridas. Revista da Ajuris, 68/13.

47

Segundo inteligência do artigo 5º, inciso LVI, da Carta

Magna, no rol dos direitos e garantia individuais, encontra-se a

referência às provas ilícitas: “são inadmissíveis, no processo,

as provas obtidas por meios ilícitos”.

As provas ilícitas são espécies das chamadas provas

vedadas, uma vez que a lei dispõe que as mesmas não podem ser

trazidas a juízo, assim como não podem ser invocadas como

fundamento de um direito. Por esse mesmo motivo, encontram-se

dentro das provas ilegais e ao lado das provas ilegítimas. As

provas ilegais são gêneros das espécies provas ilícitas e provas

ilegítimas.

No entanto, as provas ilícitas não se confundem com as

provas ilegítimas, pois aquelas são obtidas com violação ao

direito material e, estas, são obtidas em desrespeito do direito

processual.

Fernando Capez esclarece:

Provas ilícitas são aquelas produzidas com violação a

regras de direito material, ou seja, mediante a prática de

algum ilícito penal, civil ou administrativo, tais como: a

diligência de busca e apreensão sem prévia autorização

judicial ou durante a noite; a confissão obtida mediante

tortura; a interceptação telefônica sem autorização

judicial; o emprego de detector de mentiras; as cartas

particulares interceptadas por meios criminosos. Enquanto,

provas ilegítimas são as produzidas com violação a regras

de natureza meramente processual, como: o documento exibido

em plenário do Júri, com desobediência ao disposto no art.

475 CPP; os documentos juntados na fase do art. 406

48

CPP. Melhor dizendo, a ofensa ao direito pode se verificar

no instante em que a prova é colhida, havendo, assim,

violação às regras de direito material, dos costumes, dos

princípios de direito e da moral, bem como no exato momento

em que a prova é introduzida no processo, infringindo,

nesse caso, as normas processuais. Assim, no primeiro caso,

temos as provas ilícitas, e, na segunda hipótese, as

chamadas prova ilegítimas.47

Abordando o assunto com proficiência, Luiz Francisco

Torquato Avolio48 leciona que:

A prova ilegítima é aquela cuja colheita estaria ferindo

normas de direito processual. A sanção para o

descumprimento dessas normas encontra-se na própria lei

processual. Então, tudo se resolve dentro do processo,

segundo os esquemas processuais que determinam as formas e

as modalidades de produção da prova, coma a sanção

correspondente a cada transgressão, que pode ser uma sanção

de nulidade. Diversamente, por prova ilícita, ou

ilicitamente obtida, é de se entender a prova colhida com a

infração a normas ou princípios de direito material –

sobretudo de direito constitucional, porque, como vimos, a

problemática da prova ilícita se prende sempre à questão

das liberdades públicas, onde estão assegurados os direitos

e garantias atinentes à intimidade, à liberdade, à

dignidade humana; mas também, de direito penal, civil,

administrativo, onde já se encontram definidos na ordem

infra-constitucional outros direitos ou cominações legais

que podem se contrapor às exigências de segurança social,

investigação criminal e acertamento da verdade, tais os de

47 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.48 AVOLIO, Luiz Torquato. Provas Ilícitas. São Paulo: RT, 1995.

49

propriedade, inviolabilidade de domicilio, sigilo da

correspondência, e outros. Para a violação dessas normas, é

o direito material que estabelece sanções próprias.

Ada Pellegrini Grinover49 entende por prova ilícita:

A prova colhida com infringência às normas ou princípios

colocados pela Constituição e pelas leis, freqüentemente

para proteção das liberdades públicas e especialmente dos

direitos de personalidade e mais especificamente do direito

à intimidade. É necessário observar, também, que certas

provas ilícitas podem, ao mesmo tempo, ser ilegítimas, se a

lei processual também proibir sua produção em juízo. Nesse

sentido, a citada processualista leciona que: Determinadas

provas, ilícitas porque constituídas mediante a violação de

normas materiais ou de princípios gerais do direito, podem

ao mesmo tempo ser ilegítimas, se a lei processual também

impede sua produção em juízo.

Chega-se à conclusão, dessa forma, que ao levar em

consideração que todas as provas obtidas por meios ilícitos são

inadmissíveis, ao interpretar a Constituição Federal, esta deve

ser realizada de forma ampla, ou seja, proibindo-se tanto as

provas ilícitas quanto as provas ilegítimas.

5.3 Das provas ilegais, ilícitas e ilegítimas

49 GRINOVER, Ada Pellegrini. As nulidades no processo penal. 6 ed. São Paulo: Saraiva,2010.

50

De acordo com a doutrina brasileira, as provas

incompatíveis com os princípios que dizem respeito ao direito de

defesa e à dignidade da pessoa humana, bem como as que se opõem

às normas reguladores do direito, são tidas como inadmissíveis.

Em suma, a prova será tida como proibida quando restar

caracterizada a violação de normais legais ou de princípios do

ordenamento, sejam eles de natureza processual ou material. Tal

ofensa pode ser constada no momento em que a prova é colhida, bem

como no momento em que a prova é introduzida no processo. Fala-se

em prova ilícita, prova ilegitimamente admitida, prova ilegítima

ou, ainda, prova obtida ilegalmente.

5.4 Prova ilícita na constituição da república de 1988

Comparando-se a Constituição Federal de 1988 com as suas

antecessoras, no que diz respeito aos aspectos processuais, a

vigente pode ser considerada distinta, pois as anteriores jamais

trataram da matéria processual com tanta abrangência.

A Carta Magna de 1988, em seu artigo 5º, inciso LVI, afirma

que são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios

ilícitos. Assim, se refere a todos os processos indistintamente,

ou seja, na esfera civil, penal, administrativo e demais ramos do

Direito. Dessa forma, existente uma ação judicial, as partes não

poderão utilizar, em regra, das provas obtidas por meios

ilícitos, face a vedação constitucional.

51

No entanto, quando a norma constitucional expressa o termo

“no processo”, este deve ser interpretado de forma a incluir a

vedação ao inquérito policial ou qualquer forma de investigação

criminal, pois visa a tutela do acusado, sob pena de violação ao

princípio da isonomia.

Assim, cabe destacar os dizeres de Julio Fabbrini Mirabete50

:

É irrealístico pensar que se logre evitar totalmente a

conveniência (ou melhor, a necessidade) de temperar a

aparente rigidez da norma. Para não ir mais longe: como se

procederá se um acusado conseguir demonstrar de maneira

cabal sua inocência com apoio em prova que se descobre ter

sido ilicitamente adquirida? Algum juiz se animará a

perpetrar injustiça consciente, condenando o réu, por mero

temor de contravir à proibição de fundar a sentença na

prova ilícita?

Cabe destacar que, por muito tempo, no Brasil imperava o

regime autoritário, no qual o Estado se achava no direito de

intervir na esfera particular do indivíduo, cometendo, assim,

arbitrariedades, abusos, violações à intimidade a à vida privada;

os direitos fundamentais não eram respeitados e o cidadão não

podia reclamar a respeito.

José Carlos Barbora Moreira51 ensina que:

50 MIRABETE, Julio Frabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. 7 ed. São Paulo:

Atlas, 2012.51 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A Constituição e as Provas Ilícitas Adquiridas. Revista da

Ajuris, 68/13.

52

A melhor forma de coibir um excesso e de impedir que se

repita não consiste em santificar o excesso oposto” Quis

dizer, ainda, que: “Não obstante a queda recente do regime

autoritário quando do advento da Constituição de 1988,

autoritarismo este violador dos direitos fundamentais dos

cidadãos, os elaboradores do texto constitucional atual não

deveriam ter sido tão radicais a ponto de se posicionarem

no outro extremo.

Destaca-se que a Constituição Federal, em seu artigo 5º,

inciso LVI, as provas ilícitas são inadmissíveis. Já a maioria da

doutrina e da jurisprudência defendem a necessidade de se levar

em conta os bens conflitantes e o caso concreto, sempre

utilizando o princípio da proporcionalidade.

5.4.1 Dispositivos constitucionais relativos às provas ilícitas

Como já mencionado, no que tange a admissibilidade das

provas ilícitas em juízo, a Constituição Federal veda

expressamente, o que contribuiu com a doutrina que defendia o

entendimento de que o juiz não poderia utilizar como fundamento

de uma sentença a prova obtida por meios ilícitos. Assim, chega-

se a conclusão de que com a Carta Magna, tanto no processo penal

como no processo civil são inadmissíveis a provas ilegítimas.

Cabe mencionar alguns dispositivos que mencionam a respeito

de algumas provas ilícitas. Segundo inteligência do artigo 5º,

inciso XII, são ilícitas as provas proibidas pelas normas de

direito processual, as provas ilícitas obtidas com violação de

53

correspondência, de transmissão telegráfica e de dados, bem como

a captação não autorizada, judicialmente, das convenções

telefônicas. Já o artigo 5º, em seu inciso XI, proíbe as provas

obtidas com violação de domicilio, salvo as hipóteses de

flagrante. Em seu inciso X, veda aquelas obtidas com violação da

intimidade. Além de serem proibidas as provas obtidas com abuso

de poder e tortura.

No entanto, não são tidas como provas ilícitas aquelas

quando o interessado consente na violação de seus direitos que

são assegurados pela Constituição Federal ou por legislação

ordinária, porém, desde que se tratem de bens ou direitos

disponíveis. Alguns exemplos são: entrada na residência com a

permissão do morador, gravação de conversa entre duas pessoas em

fita magnética, por uma delas. É permitido, ainda, a gravação de

conversa mantida em local público por terceira pessoal. Nesses

exemplos mencionados, a prova deixa de ter a ilicitude para

configurar prova ilícita, exigida pela Constituição Federal.

5.5 Prova ilícita no direito processual penal brasileiro

No que tange a possibilidade de provas obtidas por meios

ilícitos não serem tidas como ilegítimas pelo ordenamento

jurídico, a jurisprudência e a doutrina possuem entendimentos

diversos.

Cabe destacar, mais uma vez, que as provas ilícitas não se

confundem com as ilegais ou ilegítimas. Enquanto aquelas são

obtidas com violação ao direito material, as ilegítimas são

54

obtidas com violação ao direito processual e as provas ilegais

são gêneros das espécies ilícitas e ilegítimas, uma vez que são

obtidas com violação de norma, seja ela material ou processual.

Dessa forma, há aquelas correntes que defendem a produção

de provas ilícitas, outras que entendem pela sua impossibilidade

e algumas que são conciliadoras.

5.5.1 Corrente da inadmissibilidade ou teoria obstativa

A corrente da inadmissibilidade ou teoria obstativa defende

que toda e qualquer prova obtida por meios ilícitos devem ser

rejeitadas. Ou seja, considera inadmissível a prova obtida por

meio ilícito em qualquer hipótese.

Assim, é pautada no entendimento de que há afronta ao

direito positivo, aos princípios gerais de direito e aos direitos

e garantia individuais.

Entendimento esse do doutrinador Francisco das Chagas Lima

Filho52 “a prova obtida por meios ilícitos deve ser banida do

processo, por mais altos e relevantes que possam se apresentar os

fatos apurados”.

Ada Pellegrine Grinover53 52 LIMA FILHO, Francisco das Chagas. Provas Ilícitas – Repertório IOB de

jurisprudência: civil, processual, penal e comercial. São Paulo. nº14/98,

p.288/296, 2ª quinzena de julho de 1998.53 GRINOVER, Ada Pellegrini. As provas ilícitas na Constituição: Livro de Estudos

Jurídicos. Rio de Janeiro, 1991.

55

Nesses casos incide a chamada atipicidade

constitucional, isto é, desconformidade do

padrão, do tipo imposto pela Carta Magna. E,

também, porque os preceitos constitucionais

relevantes para o processo têm estatura de

garantia, que interessam à ordem pública e à boa

condução do processo, a contrariedade a essas

normas acarreta sempre a ineficácia do ato

processual, seja por nulidade absoluta, seja pela

própria inexistência, porque a Constituição tem

como inaceitável a prova alcançada por meios

ilícitos.

Segundo a teoria obstativa, o direito não pode proteger a

pessoa que infringiu algum preceito legal com o intuito de obter

alguma prova, causando prejuízo alheio. Caso tal situação ocorra,

o juiz tem o dever de determinar o seu desentranhamento dos

autos, não reconhecendo, assim, a sua eficácia.

5.5.2 Corrente da admissibilidade ou teoria permissiva

Para a teoria permissiva, aquela prova obtida por meio

ilícito deve ser reconhecida como válida e eficaz, pois deve

prevalecer o interesse da justiça em descobrir a verdade, não

podendo a ilicitude da obtenção da prova ser utilizada como

fundamento para retirar o seu valor como elemento indispensável

para formar o convencimento do juiz.

56

Assim, a prova obtida ilicitamente deve ser aceita de forma

válida e eficaz no processo, pois a ilicitude estaria na sua

obtenção e não no seu conteúdo. Ou seja, o agente infrator será

penalizado pela infração cometida, porém, a prova deverá

contribuir para a formação da convicção do magistrado.

Destaca-se o entendimento do doutrinador Fernando de

Almeida Pedroso54 :

Se o fim precípuo do processo é a descoberta da verdade

real, aceitável é que, se aprova ilicitamente obtida

mostrar essa verdade, seja ela admissível, sem olvidar-se o

Estado da persecução criminal contra o agente que infringiu

as disposições legais e os direitos do réu.

5.5.3 Corrente intermediária ou teoria da proporcionalidade

A teoria da proporcionalidade é a corrente intermediária,

não defendendo a possibilidade nem a impossibilidade da prova

ilícita.

Julio Fabbrini Mirabete55 :

A prova colhida com transgressão aos direitos fundamentais

do homem é totalmente inconstitucional e, conseqüentemente,

deve ser declarada a sua ineficácia como substrato

probatório capaz de abalizar uma decisão judicial. Porém,

há uma exceção: quando a vedação é abrandada para acolher a54 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal: O direito de defesa – repercussão, amplitude e limites. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p.163.55 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

57

prova ilícita, excepcionalmente e em casos excepcionalmente

graves, se a sua aquisição puder ser sopesada como a única

forma, possível e admissível, para o abrigo de outros

valores fundamentais, considerados mais urgentes na

concreta avaliação do caso.

Essa teoria defende o entendimento de que a proibição das

provas ilícitas é um principio relativo, ou seja, podendo não ser

levado em consideração sempre que estiver diante de interesse de

maior relevância.

A teoria da proporcionalidade é adotada pela maioria dos

doutrinadores brasileiros. O principio da proporcionalidade

defende que deve haver uma proporcionalidade dos bens jurídicos,

assim, não se deve aceitar todas as provas ilícitas e nem proibir

qualquer prova por ser ilícita.

Destaca-se o entendimento de Nelson Nery Júnior56

Não devem ser aceitos os extremos: nem a negativa

peremptória de emprestar-se validade e eficácia à prova

obtida sem o conhecimento do protagonista da gravação sub-

reptícia, nem a admissão pura e simples de qualquer

gravação fonográfica ou televisiva. A propositura da

doutrina quanto à tese intermediária é a que mais se

coaduna com o que se denomina modernamente de princípio da

proporcionalidade, devendo prevalecer, destarte, sobre as

radicais.

56 NERY JUNIOR, Nelson. Proibição das provas ilícitas na Constituição de 1988. 3 ed. São

Paulo: Atlas, 1999.

58

Assim, não há um conflito entre as garantias fundamentais,

havendo uma harmonização na qual o princípio de menor relevância

se submete ao de maior relevância.

É o que defende o constitucionalista José Gomes Canotilho:

“De um modo geral, considera-se inexistir uma colisão de direitos

fundamentais quando o exercício de um direito fundamental por

parte do seu titular colide com o exercício do direito

fundamental por parte de outro titular”.57

Fernando Capez também segue o mesmo raciocínio:

O direito à liberdade (no caso da defesa) e o direito à

segurança, à proteção da vida, do patrimônio etc. (no caso

da acusação) muitas vezes não podem ser restringidos pela

prevalência do direito à intimidade (no caso das

interceptações telefônicas e das gravações clandestinas) e

pelo princípio da proibição das demais provas ilícitas.58

Segundo a teoria da proporcionalidade, há duas situações

que devem ser observadas. A primeira situação ocorre quando o

direito de maior relevância é violado. Nesse caso, o direito será

tutela pelo Poder Judiciário e a prova ilícita não poderá ser

aceita. Já a segunda situação ocorre quando o direito que se

originou da prova ilícita possui relevância maior que o direito

violado para que a prova fosse obtida. Logo, a prova ilícita

poderá ser aceita.

57 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. 6 ed. Coimbra: Livraria Almeida,

1993. 58 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

59

Sendo assim, serão analisados os interesses e os direitos,

a fim de que se chegue à conclusão de qual possui maior

relevância. O juiz, diante dessa situação, fixará preferência

axiológica de um dos bens, conforme o momento da apreciação.

5.5.4 Corrente da prova ilícita pro reo

No âmbito do Direito Processual Penal, quando a prova é

obtida por meio ilícito e, ainda, foi favorável ao réu, tanto a

doutrina quanto a jurisprudência têm acolhido a prova ilícita,

atendendo o direito de defesa e o principio do favor rei.

Segundo entendimento de José Carlos Barbosa Moreira59:

É possível a utilização de prova favorável ao acusado ainda

que colhida com infringência a direitos fundamentais seus

ou de terceiros, quando indispensáveis, e, quando produzida

pelo próprio interessado (como a de gravação de conversação

telefônica, em caso de extorsão, p. ex.), traduzindo a

hipótese de estado de necessidade, que exclui a ilicitude.

Sendo assim, é reconhecida a possibilidade de se usar

provas obtidas com violação a direitos fundamentais do próprio

réu ou de terceiros, desde que tenha o intuito de favorecer o

réu, utilizando-se como fundamento a Teoria da Proporcionalidade.

Destaca-se os dizeres de Antônio Scarance Fernandes:

Já se começa a admitir a aplicação do princípio da

proporcionalidade, ou da ponderação quanto a

inadmissibilidade da prova ilícita. Se a prova foi obtida

59 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A Constituição e as provas ilícitas adquiridas. Revista da Ajuris, 68/13.

60

para resguardo de outro bem protegido pela Constituição, de

maior valor do que aquele a ser resguardado, não há que se

falar em ilicitude e, portanto, inexistirá a restrição da

inadmissibilidade da prova ilícita.60

Chega-se a conclusão de que a prova obtida por meio

ilícito, mas que favorável ao réu, é considerada legítima, uma

vez que tem o objetivo de comprovar a inocência do acusado.

Luiz Francisco Torquato Avolio:

A aplicação do princípio da proporcionalidade sob a ótica

do direito de defesa, também garantido constitucionalmente,

e de forma prioritária no processo penal, onde impera o

princípio do favor rei, é de aceitação praticamente unânime

na doutrina e na jurisprudência.61

O Superior Tribunal Federal se posicionou no sentido de que

é aplicável o principio da proporcionalidade, no que tange as

provas ilícitas, apenas em favor do réu, pois a ilicitude é

eliminada pelas causas excludentes de antijuridicidade, face o

princípio da inocência.

Assim, a tendência da doutrina brasileira é adotar o

entendimento da Corrente da Prova Ilícita em pro reo, admitindo-se

que sejam utilizadas no processo penal as provas ilícitas, no

entanto, desde que sejam favoráveis ao réu.

Entende-se, dessa forma, que a regra de exclusão das provas

ilícitas não pode ser acatada de forma absoluta. A Constituição

60 FERNANDES, Antonio Scarance. Justiça Penal, críticas e sugestões. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 1988, p. 12.61 AVOLIO, Luiz Torquato. Provas Ilícitas. São Paulo: RT, 1995.

61

Federal não afasta qualquer posicionamento, pois os direitos e

garantias fundamentais não podem ser compreendidos de forma

absoluta, uma vez que encontram algumas restrições, havendo até

mesmo interpretação harmônica das liberdades constitucionais.

É o entendimento de Ada Pellegrini Grinover “Os direitos e

garantias fundamentais não podem ser entendidos em sentido

absoluto, em face da natural restrição resultante do princípio de

sua convivência, que exige a interpretação harmônica e global das

liberdades constitucionais”.62

Por fim, conclui-se que a Teoria da Proporcionalidade tem

como objetivo o equilíbrio dos interesses sociais e o direito

fundamental do individuo, reconhecendo que a ilicitude da prova,

no entanto, admitindo-a face o interesse social predominante.

5.5.4.1 Corrente da prova ilícita pro societate

Como já mencionado, a doutrina tende a acolher a Teoria do

Princípio favor rei, a fim de que o acusado seja beneficiado,

admitindo-se as provas ilícitas no processo penal. Mesmo quando

obtidas ilegalmente, poderão ser aceitas face o princípio da

proporcionalidade.

Quando houver a produção de provas sem a devida autorização

judicial, haverá duas posições: a primeira no sentido de que o

princípio da proporcionalidade dever ser aceito em somente em

62 GRINOVER, Ada Pellegrini. As provas ilícitas na Constituição: Livro de Estudos Jurídicos. Rio de Janeiro, 1991.

62

favor do réu, corrente estas majoritária; e a segunda no sentido

de que deve ser aceito pro societate ou pro reo.

5.6 Prova Ilícita no Código de Processo Penal com a Lei

nº11.690/08.

Segundo inteligência do artigo 5º, inciso LVI, da Carta

Magna, rege o princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas.

No entanto, tal assunto foi disciplinado pela Lei Ordinária nº

11.690/2008.

De acordo com a nova redação do artigo 157, do Código de

Processo Penal, as provas ilícitas “as obtidas em violação a

normas constitucionais ou legais". Ou seja, a prova ilícita é

aquela que viola a regra de direito material, constitucional ou

legal, quando do momento de sua obtenção. Cabe ressaltar que essa

obtenção se dá fora do processo.

Dessa forma, cabe mencionar os artigos relacionados a prova

que sofreram alterações com a nova lei do Código de Processo

Penal.

“Art. 155.  O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da

prova produzida em contraditório judicial, não podendo

fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos

colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não

repetíveis e antecipadas.

63

Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão

observadas as restrições estabelecidas na lei civil”.

“Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,

porém, facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção

antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,

observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da

medida; 

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir

sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre

ponto relevante”.

“Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do

processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em

violação a normas constitucionais ou legais. 

§ 1o  São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,

salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e

outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte

independente das primeiras. 

§ 2o  Considera-se fonte independente aquela que por si só,

seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação

ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da

prova.

§ 3o  Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada

inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial,

facultado às partes acompanhar o incidente”.

64

Anteriormente, era entendido que o artigo 5º, inciso LVI,

da Constituição Federal, era aplicável às provas ilícitas,

ilícitas e ilegítimas, aplicando-se o sistema de

inadmissibilidade. Para as provas exclusivamente ilegítimas,

seria aplicado o sistema da nulidade.

No entanto, depois da alteração do artigo 157, do Código de

Processo Penal, quando tal dispositivo mencionou a violação de

normas constitucionais ou legais, não fez menção se a norma é

material ou processual. Assim, entende-se que a violação do

devido processo legal conduz à ilicitude da prova.

5.7 Prova ilícita por derivação

Assunto de relevante importância é a questão das provas

ilícitas por derivação, ou seja, quando a prova deriva de outra

prova que foi obtida ilicitamente. Assim, as provas são licitas

em si, porém são oriundas de alguma informação extraída de outra

prova ilícita.

Alguns exemplos podem ser mencionado como: aquela obtida

por meio de tortura e a interceptação telefônica clandestina.

As provas derivadas de provas ilícitas são eivadas de

ilicitude originária, uma vez que a prova derivada só foi obtida

em decorrência da original ter ser sido alcançada por meios

obscuros ao Direito.

65

Luiz Francisco Torquato entende que a prova é ilícita por

derivação quando "a prova foi obtida de forma lícita, mas a

partir da informação extraída de uma prova obtida por meio

ilícito".63

As provas ilícitas por derivação foram reconhecidas pela

Suprema Corte Norte-Americana através da “teoria dos frutos da

árvore envenenada”, para a qual o vício da planta se transmite a

todos os seus frutos.

A Teoria das provas ilícitas por derivação tem como fim

impedir que o indivíduo, ao produzir a prova ilícita, posse se

utilizar dela para obter provas novas que somente seriam obtidas

a partir daquela ilícita.

No ordenamento jurídico brasileiro, não há disposição legal

a respeito da prova ilícita por derivação, sendo a solução obtida

através das doutrinas e jurisprudências que, em regra, afastam

esse tipo de prova.

O doutrinador Antonio Scarance Fernandes64 defende que a

ilicitude da prova se transmite a tudo aquilo a que dela advier,

sendo tais provas inadmissíveis no ordenamento: “Na posição mais

sensível às garantias da pessoa humana, e conseqüentemente mais

intransigente com os princípios e normas constitucionais, a

ilicitude da obtenção da prova transmite-se às provas derivadas,

que são igualmente banidas do processo”.

63 AVOLIO, Luiz Torquato. Provas Ilícitas. São Paulo: RT, 1995.64 FERNANDES, Antonio Scarance. Justiça Penal, críticas e sugestões. São Paulo: Revista

os Tribunais, 1988, p.12.

66

Nesse mesmo sentido é o entendimento de Ada Pellegrini

Grinover

A posição mais sensível às garantias da pessoa humana e,

conseqüentemente, mais intransigentes com os princípios e

normas constitucionais, é a que professa a transmissão da

ilicitude da obtenção da prova às provas derivadas, que

são, assim, igualmente banidas do processo.65

Destaca-se, ainda, os dizeres de Alexandre de Moraes:

A atual posição do Supremo Tribunal Federal é pela

inadmissibilidade das provas ilícitas por derivação"

(MORAES, 1997, p. 105). A posição majoritária do STF é no

sentido de que a prova ilícita originária “contamina” as

demais provas que dela derivam, face a Teoria da Árvore dos

Frutos Envenenados.66

No entanto, Fernando Capez diverge em seu pensamento:

Não é razoável a postura inflexível de se desprezar,

sempre, toda e qualquer prova ilícita. Em alguns casos, o

interesse que se quer defender é muito mais relevante do

que a intimidade que se deseja preservar. Assim, surgindo

conflito entre princípios fundamentais da Constituição,

torna-se necessária a comparação entre eles para verificar

qual deva prevalecer. Dependendo da razoabilidade do caso

concreto, ditada pelo senso comum, o juiz poderá admitir

uma prova ilícita ou sua derivação, para evitar um mal

maior, como, por exemplo, a condenação injusta ou a

impunidade de perigosos marginais. Os interesses que se

65 GRINOVER, Ada Pellegrini. As provas ilícitas na Constituição: Livro de Estudos

Jurídicos. Rio de Janeiro, 1991.66 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999.

67

colocam em posição antagônica precisam ser cotejados, para

escolha de qual deva ser sacrificado.67

Percebe-se que parte da doutrina brasileira entende que as

provas ilícitas por derivação também sofrerão a incidência do

princípio da proporcionalidade, admitindo-se, em situações

excepcionais, a prova ilícita com base no princípio do equilíbrio

entre os valores.

Nelson Nery Júnior entende que “admitir uma prova ilícita

para um caso de extrema necessidade significa quebrar um

princípio geral para atender a uma finalidade excepcional

justificável".68

67 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2012.68 NERY JUNIOR, Nelson. Proibição das Provas Ilícitas na Constituição de 1998.

68

CONCLUSÃO

Através do presente trabalho, restou demonstrado que a

prova tem como objetivo suprimir e até mesmo solucionar a dúvida

no que tange a existência ou não de determinado fato considerado

como ilícito.

As provas servem, ainda, para a formação de sua convicção

do juiz, que fundamentará a sua decisão com base na provas

produzidas no decorrer do processo.

No que diz respeito ao objeto da prova, é tido como tudo

aquilo que a parte pretende demonstrar, ou seja, tudo aquilo que

deve ser levado a conhecimento do magistrado, para o desfecho do

litígio. Assim, as partes se utilizam dos meios de provas, que

são os recursos utilizados para demonstrar a verdade dos fatos,

seja direta ou indiretamente.

Cabe destacar que a prova trata-se de um ônus da parte e

não de um dever, uma vez que caso não utilize da prova, nenhuma

sanção será imposta a parte, apenas sofrerá prejuízos pela falta

ou pela omissão da prova.

Ademais, a matéria probatória ainda deve observar alguns

princípios, como o princípio do dispositivo ou da verdade formal,

o qual estabelece que as partes, envolvidas em uma ação, devem

69

levar ao processo todas as alegações, bem como todas as provas a

fim de formar o convencimento do juiz.

Outro aspecto de grande importância é a possibilidade de

antecipação das provas, nas situações de urgência e relevância.

Por fim, discutiu-se a tema central do trabalho, qual seja

a prova ilícita no processo penal. O conceito de prova ilícita

restou claro, ou seja, é aquela prova obtida em contraponto com o

que a lei determina, não podendo fazer parte do conjunto

probatório. Isso se deve ao fato da previsão tanto da

Constituição quanto da norma infraconstitucional.

Assim, surgem diversas teorias que se posicionam contra, a

favor e utilizando-se da proporcionalidade. Aqueles que defendem

a previsão legal utilizam como fundamento a violação de direitos

e garantias constitucionais. Já os que são contra a previsão

legal, que entendem pela mitigação do princípio constitucional da

inadmissibilidade da prova ilícita, agindo com equilíbrio,

respeitando limites a fim de que sejam resguardados os direitos

do indivíduo e da coletividade.

No entanto o Supremo Tribunal Federal tem se posicionado no

sentido de que a sociedade não pode se tornar refém daqueles que

usam garantias constitucionais para se manterem impunes, tornando

possível, assim, a possibilidade de utilização das provas

ilícitas em alguns casos. Esse mesmo entendimento também alcança

as provas ilícitas por derivação.

Por fim, com o presente trabalho, restou demonstrado que há

várias correntes com pontos de vista diferentes, sobre a

70

possibilidade ou não da utilização das provas ilícitas no

processo penal. Todavia, as provas ilícitas podem ser utilizadas

em alguns casos, quando for necessário a proteção e a defesa dos

interesse da coletividade.

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