Entrevista da Anilia Francisca com Curingas do CTO- AUGUSTO BOAL ANO 2002

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Entrevista feita, na UNIRIO,pela aluna Anília Francisca com Claudete e Geo Brito, curingas do CTO{Centro do Teatro do Oprimido}, quando das aulas de AGCTB, que foram ministradas pela professora Ana Maria Bulhões no primeiro semestre de 2002. Transcrição da gravação da entrevista: Anília- Boa tarde! Eu sou Anília Francisca e hoje, aqui, no trabalho.........da professora Ana Bulhões, ......Atores, grupos , e companhias no Teatro Brasileiro, nós....... Eu tive o prazer de trazer o CTO Rio , a Claudete e o Geo, que vão falar um pouco sobre o grupo deles , e todo o trabalho que eles vêm desenvolvendo ao longo desses anos no Rio. Anília - Boa tarde, Claudete! Boa tarde, Geo! Claudete- É um prazer tá aqui. Obrigada pelo convite. Pra gente é muito importante------ Anília- Então, eu peço a vocês pra que vocês falassem um pouco mais sobre o CTO, para que os estudantes pudessem ter um material para , futuramente, inclusive ficarem sabendo um pouco mais do trabalho que vocês fazem, que muita gente desconhece, apesar de tanto tempo. Eu queria saber, eu queria que voc6es explicassem para a gente, para a platéia, para o pessoal todo , como é que surgiu o método que o Augusto Boal ele.... Como é que surgiu o método do Teatro do Oprimido, e como Boal desenvolveu esse método? Como é que foi a História, o surgimento da História desse Teatro do Oprimido? Geo- Bom, o método do Teatro do Oprimido , ele surge ,

Transcript of Entrevista da Anilia Francisca com Curingas do CTO- AUGUSTO BOAL ANO 2002

Entrevista feita, na UNIRIO,pela aluna Anília Francisca com

Claudete e Geo Brito, curingas do CTO{Centro do Teatro do

Oprimido}, quando das aulas de AGCTB, que foram ministradas pela

professora Ana Maria Bulhões no primeiro semestre de 2002.

Transcrição da gravação da entrevista:

Anília- Boa tarde! Eu sou Anília Francisca e hoje, aqui, no

trabalho.........da professora Ana Bulhões, ......Atores, grupos ,

e companhias no Teatro Brasileiro, nós....... Eu tive o prazer de

trazer o CTO Rio , a Claudete e o Geo, que vão falar um pouco

sobre o grupo deles , e todo o trabalho que eles vêm desenvolvendo

ao longo desses anos no Rio.

Anília - Boa tarde, Claudete! Boa tarde, Geo!

Claudete- É um prazer tá aqui. Obrigada pelo convite. Pra gente é

muito importante------

Anília- Então, eu peço a vocês pra que vocês falassem um pouco

mais sobre o CTO, para que os estudantes pudessem ter um material

para , futuramente, inclusive ficarem sabendo um pouco mais do

trabalho que vocês fazem, que muita gente desconhece, apesar de

tanto tempo. Eu queria saber, eu queria que voc6es explicassem

para a gente, para a platéia, para o pessoal todo , como é que

surgiu o método que o Augusto Boal ele.... Como é que surgiu o

método do Teatro do Oprimido, e como Boal desenvolveu esse método?

Como é que foi a História, o surgimento da História desse Teatro

do Oprimido?

Geo- Bom, o método do Teatro do Oprimido , ele surge ,

cronologicamente, quando Boal era diretor do Teatro de Arena; ele

começou esse trabalho em 56, assim que ele voltou dos Estados

Unidos nos estudos dele com John Gardner .Ele começou a dirigir o

Teatro de Arena, que tem uma repercussão muito grande no Teatro

Nacional; o resgate do teatro uma forma-----------dramaturgia ,

determinada interpretação, trabalhando com vários atores ,

revelando vários atores: Francisco Xavier, Dina Sfat; o próprio

trabalho com musicais também: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria

Betânia

E o Boal fez esse trabalho em 56, e foi desenvolvendo no

Arena , fazendo várias peças. E , em 64, que tem a Ditadura, ele

surge fazendo um trabalho, mostrando várias facetas da sociedade

brasileira da época, fazendo várias críticas. Em 68 vem o golpe

e , dentro do golpe, o AI5, e eles continuam esse trabalho; só que

, nesse momento ,pós 68,a repressão passa a ser maior .A partir

desse momento, os teatros são proibidos, fazer teatro dentro do

espaço arquitetônico. quando você fala teatro, as pessoas pensam

na arquitetura, mas o golpe........você pode fazer teatro em todos

os lugares, até no teatro. Então, a partir desse momento, fica

muito difícil fazer teatro dentro da arquitetura,do espaço,do

teatro físico--------tem vários sindicatos, com------, Igrejas,

principalmente,......a partir de 71------chamo Teatro Jornal. O

que era o Teatro Jornal? Foi a primeira técnica do Teatro do

Oprimido, e você na época....a censura imperava, e , então, nos

jornais também não tinham notícias. Você começava a ler e, de

repente, vinha uma receita de bolo,as notícias eram

proibidas.Então , o que eles faziam? Eles pegavam jornais, liam

pela manhã, improvisavam ,faziam cenas rapidamente relacionando

algumas ações. Por exemplo, o jornal falava sobre a dívida externa

e a seca do Nordeste, o que tem haver a seca com a seca no

Nordeste.

E várias outras técnicas existiam....eram 16, se eu não me

engano que o Teatro Jornal desenvolveu .E as pessoas faziam

essas representações, e iam para os mais diversos locais, para as

ruas, para os sindicatos , para as Igrejas .Foi assim que começou

o Teatro do Oprimido.

Anília- anran

Geo{continuando}- Em 71 Boal foi preso, né? Ele é torturado, e é

gentilmente, convidado a se retirar do país. Ele é exilado e vai

para a Argentina, onde começa todo o processo da técnica,que vem o

Teatro Invisível, depois vem o Teatro Imagem, depois vem o Teatro

Fórum---------Importante que o Teatro do Oprimido é uma técnica ,

um método vivo. A partir de um problema que acontece, você cria

uma nova técnica.

Anília- É-------improvisações que se dá o Teatro do Oprimido?

Geo- Não só a partir de improvisaçõe...claro que.....

Anília- Você pega o material verdadeiro, material real, a partir

daí você cria a ficção.....Seria isso mais ou menos?

Geo- É a gente pode até dizer. O que é ficção, né? Ficção, se

existe, só seria a palavra em si. A partir do momento que você

está fazendo uma cena, aquela cena se torna real de alguma forma;

mesmo que seja uma imagem do real, ela se torna real, ela ,

enquanto imagem. Certo? Isso acontece muito no Teatro do Oprimido,

só que ela é , ela, ela é uma realidade, mas se tem várias formas

da realidade se mostrar.

Então , às vezes, tem um problema que o Boal---------desenvolveu

na época 60/70.A ditadura começou a imperar não só no Brasil, mas

como em vários países da América Latina, inclusive na Europa,

Portugal, Espanha, onde ainda estava a ditadura. E o Boal chegou

na França, e ele começou a desenvolver essa técnica, a técnica

do Teatro do Oprimido Fórum, que era uma técnica, que são

técnicas mais objetivas;e ele chegando na França, muitas pessoas

viam para ele falando, assim, que ele estava acostumado com o

problema da polícia vir dar porrada , do exército bater, da

tortura. Eram coisas muito impactantes.

Então ele chega na França, e disse “O meu problema é que eu não

consigo me comunicar ”. Então, o Boal até fala “Então, você está,

então, no progresso. Você já consegue falar, só não consegue se

comunicar, então já é alguma coisa”.

Aquelas técnicas que eram mais objetivas não, não se encaixavam

nesse problema. Então , a partir de problemas novos, ele cria uma

nova técnica .Isso que é importante: não pegar a técnica que

encaixa na pessoa; a partir de como......o problema que ele traz

para gente , a gente fala--------técnicas existem no Teatro do

Oprimido não dá conta disso; então, a gente tem que ter uma nova

técnica.

A partir daí , Boal criou------------que , num primeiro momento,

inclusive ele chamou “O tira na cabeça”. A polícia nunca está

fora, ela está dentro da cabeça das pessoas. Por que eu não

consigo fazer isso? Porque é que eu quero falar com a minha mãe

que eu quero sair de casa, e não consigo falar com ela? Por que eu

não quero terminar com a minha namorada e chego na frente dela e

não consigo falar isso? Quem é que impede isso? Então isso seja

uma-------------subjetiva.

Anília- E foi quando , aproximadamente, foi fundado o CTO? Não no

Rio , mas foi fundado o CTO; porque o Boal disse assim “Agora ,eu

vou fazer, criar, um grupo que só vai trabalhar com esse tipo de

método que eu desenvolvi”?

Claudete- Isso foi, mais ou menos, no final da década de 70, meu

primeiro CTO, o primeiro Centro do Teatro do Oprimido foi em

Paris, porque ele, Boal, depois disse que----------exílio , como o

Geo tava falando, faltou falar do Peru que Boal trabalhou com

Paulo Freire. E , nesse momento, né? .....as vertentes da

Pedagogia do Oprimido, do Teatro do Oprimido , começaram a trilhar

um caminho mais concreto, cada uma na sua proposta. E Boal

trabalhava na parte de teatro, no Peru, num programa que tinha

naquela época-71/72-, e o Paulo Freire trabalhava na parte de

Educação da Pedagogia do Oprimido.

Depois desse percurso pela América do Sul, chegando à Portugal

e França. O primeiro Centro do Teatro do Oprimido existente no

mundo é o de Paris, que existe até hoje, e tem quase 20 anos.

Anília- E o CTO Rio , quando é que ele foi fundado? O que vocês

fazem parte, né?

Claudete- A gente faz parte do Centro do Oprimido, que foi

fundado em 1986.Boal foi convidado a retornar ao Rio , ao Brasil,

pelo Darci Ribeiro. Darci Ribeiro era secretário de Educação na

época,em 86, e encontrou Boal na França, e chamou Boal para fazer

um projeto chamado “Fabrica de Teatro Popular”, que é um dos

grandes projetos do Teatro do Oprimido; é um dos grandes sonhos do

Boal, que é uma fábrica de Teatro Popular , onde você encontra

todas as possibilidades de Teatro, todas as linguagens possíveis

para você formatar um espetáculo de teatro. Então, em 86,Boal veio

ao Brasil e fez um trabalho- uma oficina de 2 meses com 35

animadores culturais de todo Estado do Rio de Janeiro- e desse

grupo surgiram 5 espetáculos;5 espetáculos criados pelos próprios

grupos. Então, os grupos se separaram por temas e surgiu uma peça

sobre violência urbana, sobre a violência contra crianças, sobre

questões de família como gravidez na adolescência, sobre

Educação;e essas peças foram apresentadas ao longo de um ano,

ainda quando o Darci Ribeiro era Secretário de Educação; mas aí,

depois, não teve estrutura. O governo mudou, houve uma transição ,

o novo governo não apoiou esse trabalho. Mesmo assim, o Centro do

Teatro do Oprimido se formou,5 pessoas ficaram

insistindo,convidaram, Convidamos o Boal para dirigir o Centro

do Teatro do Oprimido; desde então, a proposta do Centro do Teatro

do Oprimido concretizou, formado por um grupo que existe no Rio

desde 86.

Anília-Bom, você já falou que existe -----, raízes, e eu queria

saber se existe CTO em outros Estados do Brasil; e se vocês se

comunicam, se vocês têm contato.......CTO daqui com o CTO de outro

lugar. Como é que se dá isso?

Claudete -CTO no Brasil?! A gente pode falar do Rio, CTO do Rio ,

que é onde o Boal está, e onde Boal dirige, ele permanente está em

contato semanalmente ,nas reuniões gerais,.fazendo trabalhos, Boal

dirige. O elenco de componentes do CTO faz acompanhamentos dos

grupos populares que a gente trabalha também.

Agora, fora do Rio, a gente tá começando , depois de 16 anos. É

muito tempo, mas é pouquíssimo pra quem tem limitações em alguns

campos, em relação à questão que tá formando vários grupos.O que a

gente é... são pessoas que se organizam e trabalham com a

metodologia do Teatro do Oprimido ;a gente tem no Rio Grande do

Norte , tem um grupo da Universidade de Natal chamado GABOTU

;GABOTU é “Grupo Augusto Boal de Teatro Universitário”, que tem

uma peça de Teatro Fórum , que trabalha com “X tempo”,tem um

trabalho iniciadoou terminado, iniciando-a gente tá sempre

voltando em ique-Xique na Chapada de Diamantina, no Sertão baiano

.O pessoal discute a questão do êxodo rural, naqueles povoados,

como Teatro Fórum. E onde mais Geo?

Geo- Mas nesses últimos anos, a gente conseguiu um salto nesse

ponto de vista, de está ampliando pro Brasil mesmo.

A gente faz um trabalho há mais de 5 anos, mais 4, 5 anos, na

Prefeitura de Santo André, que ela convidou a gente para fazer um

trabalho a nível nevrálgico da própria estrutura da Administração

Municipal. O Pedro Pontual, que é um secretário local, inclusive

foi assessor do Paulo Freire na época que era Secretário de

Educação,e ele coordena uma Secretaria, que é a Secretaria de

Cidadania da PF de Santo André, que hoje trabalha em várias outras

Secretarias , de Educação, de Saúde, orçamento participativo.

Anília- São Funcionários da Prefeitura?

Geo- Ele pegou um grupo de várias secretarias, que já tinham

atuações em algum programa de participação popular ;então nós

pegamos essas pessoas , porque uma das idéias do Teatro do

Oprimido é,justamente, essa:da multiplicação, da formação., da

capacitação das pessoas. Nossa idéia...Nós não nascemos sabendo o

Teatro do Oprimido,então a idéia é você está passando os meios de

produção teatral para as pessoas poderem estar levando isso

também. Hoje,em Santo André, tem um grupo do Teatro do Oprimido

que se chama “Ondas da Rua”, que faz esse trabalho; praticamente

em todas as secretarias tem alguma experiência no Teatro do

Oprimido; no orçamento participativo. sempre antes das

plenárias,né?... que acontecem, acontece uma peça de Teatro do

Oprimido, porque é uma temática muito complexa,né?...”orçamento

participativo” Muita nunca falar nessa palavra. Então, é um

teatro muito nevrálgico o que acontece, hoje, na Prefeitura de

Santo André.

Além disso, a gente fez um trabalho , ano passado, em 37

presídios em Sào Paulo. Entendeu? Então, a gente formou cerca de

50 monitores, porque, em São Paulo, todo presídio tem uma escola

dentro do presídio. Então , a gente formou esses professores para

estarem com o Teatro do Oprimido , então eles formaram, grupos com

os próprios presos , e discutem temas como os direitos humanos e

tudo mais.

A gente chegou a fazer um trabalho com a Prefeitura de porto

Alegre .A gente tá fazendo agora com a Prefeitura de Juiz de Fora

também, né?.... e com o MST, a gente fazia trabalho de formação;

tem um grupo chamado de Brigada Nacional do Teatro do Oprimido

Patativa do Assaré, eles vieram para cá no ano passado, num

número de 20, e eles foram capacitados...eram de 15 a 16 Estados,

e eles voltaram para os seus locais. E,hoje, existe interesse no

Teatro do Oprimido nesses 16 Estados, ou grupos ou eles utilizaram

a técnica para discussão de seminários, eventos. Então, o Teatro

do Oprimido,hoje, está , cada vez mais, se espalhando pelo Brasil.

Anília- Será que vocês podiam, assim, explicar.....eu sei que é

super difícil, a gente estava tentando ver se trazia um Fórum pra

que pudesse trazer para os estudantes, demonstrar e tal...Mas eu

queria que vocês tentassem explicar , mais ou menos, assim como é

que um Teatro Fórum pra quem nunca viu, porque eu vi pela primeira

vez o Teatro Fórum,em 2000,no CTO e tal, CTO RIO, num festival

que eu participei, de teatro da FETAERJ.... Arcozelo.

Aí a primeira impressão que eu tive, quando eu vi o Teatro

Fórum, eu falei ”Gente que coisa mais linda! Que jeito

maneiro,assim, de se passar uma informação e tal”. Eu queria que

vocês tentassem , mais ou menos, explicar com palavras , se é que

isso é possível, como é que é o Teatro Fórum, que é o Teatro que

vocês trabalham dentro do Teatro do Oprimido, né?

Claudete- Quando existe, vários os projetos...... Certos projetos

do CTO visam a criação de um grupo,né?.... e que esse grupo possa

trabalhar, prioritariamente, o Teatro Fórum. O Teatro Fórum ele se

baseia em exercícios e jogos, e técnicas também. Os exercícios e

jogos são sistematizadas em primeira categoria(sentir que se

toca), segunda categoria(escutar o que se ouve), terceira

categoria(estímulos de várias sentidos sem o auxílio da visão),e

quarta categoria(ver o que se olha).

Então , a gente tem os exercícios sistematizados nessas

categorias para poder chegar numa comunidade, né?...e pode

apresentar esses exercícios e jogos pra que as pessoas possam se

descondicionar o máximo possível, desmecanizar um pouco e ter um

prazer que os exercícios e jogos teatrais trazem para a gente .E

tem várias técnicas também: técnicas de imagem, técnicas de

ensaio, .e tem um momento que o curinga, ele trabalhando,

discutindo com o grupo, começa a montagem de uma peça , e a peça é

sempre com a iniativa , com a criação, com a discussão do tema

através do grupo , que eu deixo ,ele é coletivamente feito:o

roteiro , as músicas a questão de como vai ser o tema, qual é a

história. É o curinga que trabalha essa questão com o grupo. O

grupo traz essa informação; por exemplo, o grupo de trabalhadores

domésticos ,que eu trabalho e tem 4 anos , esse grupo era de uma

escola , um supletivo, que nos pediu que fôssemos fazer uma

oficina , uma oficina pros professores pra discutir a questão

educacional, e depois pediram para a gente trabalhar no supletivo;

desde então, a gente mantém um grupo de mesmas pessoas no que a

gente levou exrecícios e jogos ,técnicas,elas contaram as

histórias de vida e montamos.

Anília- São sempre não atores, né?

Claudete- São sempre não atores! A gente sempre trabalha com

pessoas que têm o sonho do teatro, adoram , queriam fazer ,

mas.......

Anília- Eu lembro que teve gente no grupo que nunca havia

estudado teatro antes , que nunca nem tinha visto e já estava

estavam lá fazendo.

Claudete- É .....já estava atuando e fazendo sempre bem, porque

contam a sua história de vida, tipo assim :quando você conta a sua

história, quando você vai mostrar.....entào, tipo assim , para

ficar mais claro, para pontuar essa questão do Fórum. Esse grupo

de trabalhadores contaram várias histórias que sistematizamos, eu

e o Onivar, que é outro curinga, também, do CTO; são cinco

curingas :eu, Geo, Olivar, a Helen, e a Bárbara, com a direção do

Boal. São esses curingas que vão as comunidades, que vão formar os

grupos,e que vão ministrar as técnicas do Teatro do Oprimido.

E aí , então ,contaram as histórias , e aí tem uma cena que a

empregada doméstica não consegue ter a sua carteira profissional

assinada, porque a patroa..... porque tem uma coisa que acontece

muito com elas; elas contavam histórias que a patroa ,geralmente,

não pode, deixa para depois,aí paga atrasado, aí não tem hora

extra. Têm várias questões que a gente montou um cenário..... a

gente trabalha com cenários de material reciclado, mas é um

cenário bonito,é um cenário vistoso; quando a gente vai para a

rua, quando a gente vai para o teatro,tambáem, escolas, e espaços

alternativos....Então, gente tem um cenário,um diretor musical que

trabalha com o grupo.... então, eles aprenderam a cantar;

inicialmente desafinados, agora estão super afinados. .né? Tem

toda uma estrutura teatral....

Anília-E a participaçào do público?

Claudete -Então tem essa cena em que a Maria, né?....A Maria está

discutindo lá com a patroa, ela não consegue convencer a patroa.

No Teatro do Oprimido, é claro que a gente tem um personagem

protagonista, que é o oprimido, ele não consegue realizar o seu

desejo, insiste muito, mas não consegue, porque existe tem um

personagem que a gente chama “O opressor”.... na dramaturgia do

Teatro do Oprimido existe o oprimido e o opressor com essas

características .O opressor impede o desejo do oprimido de se

realizar.

E aí , nesse momento, o curinga, depois que termina a peça, o

curinga pergunta a pla téia: o que vocês fariam no lugar da Maria?

Quem vem aqui , veste o avental que ela estava usando e consegue

mudar essa situação? Quem traz uma alternativa?. E as pessoas

sempre trazem idéias, trazem conselhos, trazem questões. Mesmo

assim, mesmo quem não sabe o que fazer,mesmo quem fica sentado, já

está atuando, porque tem a opção , tem a opção de ficar sentado

ficar pensando outras questões, ou entrar em cena e poder propor

uma ação concreta. Então, o Teatro Fórum,ele se dá dessa maneira,e

a gente faz em todos os espaços que nós podemos alcançar.

Anília-Na ruatambém,né?

-Geo- Só para pontuar uma questão que você colocou. Sempre com não

atores, porque nós priorizamos o trabalho com não atores,até

porque nós acreditamos na cultura como vocação. Todas as pessoas

podem fazer teatro até os atores. Isso não quer dizer que todo

mundo vai ser um ator profissional,mas é o prazer de exercer algo

que a gente acha que é importante para se ---------enquanto se

humano. Não é que todo tem que ser um Ronaldinho , mas o hábito de

todo mundo querer jogar bola é sempre maravilhoso; o ato de pintar

,também, não precisa ser um Van Gogh, mas, se você se descobrir

para pintar, é sempre interessante. Então, a gente prioriza os não

atores, mas as técnicas do Teatro do Oprimido, os exercícios, as

técnicas de ensaios, elas são tão usadas tanto pra não atores como

para atores.

Quando Boal vai fazer uma peça mais convencional , como ele

fez agora a Carmem de Bizet,essa ópera..... o método que ele

trabalhou com a Fernanda Montenegro, ou quando ele trabalhou,

recentemente – um ano ou dois – ,com a High Shakespeare Company,

que é uma das companhias mais conhecidas do mundo, que trabalha só

com Shakespeare na Inglaterra ,ele usou as técnicas do Teatro do

Oprimido para trabalhar, e são atores, assim, super

profissionais.

Então, gente acredita que essas técnicas podem ser usadas de

diferentes formas e com diferentes objetivos para essas pessoas.

Em relação a essa questão, também, que a Claudete colocou da

dramaturgia do Teatro do Oprimido e do opressor ,isso são

elementos fundamentais, porque a gente acredita que para ter

teatro tem que ter conflito. Tem que ter alguém que quer alguma

coisa e alguém que não quer, mas isso não quer dizer que é uma

questão maniqueísta, onde o personagem oprimido, ele aceita o

oprimido, ou que o personagem opressor,ele aceita o opressor. A

gente sabe que, em diferentes momentos na nossa vida, a gente pode

ser um opressor como pode ser um oprimido. Então, todo personagem

quanto mais contradição, mais contraditório ele for, mais rico ele

vai se tornando.

Anília – Esse combate do teatro, do opressor com o oprimido sempre

traz, é muito .......... é é político, no sentido de debate.

Vocês, então, desenvolvem um teatro nitidamente político.

Eu queria saber qual é o tipo de vantagem, quais os tipos de

desvantagens (gaguejando) e quais os tipos de críticas que vocês

recebem por fazer esse tipo de teatro nitidamente político?

Geo - Eu acho essa pergunta super importante. Porque essa gente

não acredita que faça teatro político. A gente acredita que todo

teatro é político, porque a gente acredita que os seres

humanos........ a palavra política, ela vem da pólis, que é da

cidade.... onde as pessoas buscavam as melhores formas de estarem

se organizando, da sua ação política. A gente acredita que nós

fazemos teatro como política, da mesma forma que um advogado,ele

advoga como política, ou defende uma pessoa ou acusa...né?...é uma

ação política como mérito também. O ato dele cuidar de alguém ou

deixar de cuidar. Nós acreditamos que todas as pessoas têm ações

políticas no seu cotidiano; então nós acreditamos que todo

teatro,ele é político,então nós fazemos teatro como política.

Claro que, muita das vezes, as pessoas....porque o teatro

político,ele tem uma data, ,assim ,historicamente colocando; ele

tem o Brecht, tem o---------, essas pessoas todas que tinham essa

idéia que o teatro político, é o quê ? Você montava uma peça

onde... vocês devem fazer isso!; então mostrava o operário....Não,

você deve fazer a greve!..... A gente não sabe se tem de fazer

greve. O que a gente faz é de ir até o operário, né?.. e

conversar com ele, e encenar uma peça, e ele descobrir o queé que

ele acha que ele deve fazer. Nós chegamos com uma pergunta do que

ele quer falar, sobre o que ele quer falar....Às vezes ele quer

falar sobre a esposa dele,ou sobre alguma outra questão que ele

tem, né? E ele vai responder pra gente com uma outra pergunta,

fazendo uma pergunta teatral. Então, é bem diferente essa questão.

São questões que envolvem a questão da participação, do debate,

né? A gente acredita exatamente no diálogo, né? .....A gente

acredita muito na importância do diálogo, e muita das vezes,

realmente, acontece isso.

Acho até super importante a gente tá aqui na UNIRIO, porque,

muita das vezes, as pessoas classificam que o Teatro do Oprimido

não é teatro, é política. Então, nós acreditamos que o Teatro do

Oprimido, antes de tudo, é teatro. Então muita das vezes, algumas

portas são fechadas para a gente, né? Tanto do ponto de vista da

universidade ou do ponto de vista de grupos ..... como você falou

nisso...ditos teatrais ou outros e, em alguns momentos ,ela é

aberta; quer dizer, isso é um lado bom e um lado ruim das coisas.

Acho que tenho um interessante, que é no sentido de você ter uma

identidade,porque, também, você ..........se todo mundo gostar de

você, acho que tem alguma coisa errada, né? tem pessoas que gostam

de você e não gostam do seu trabalho pra que você tenha uma

identidade....você consegue apresentar uma proposta clara dos seus

objetivos.

Anília- Como é que se dá o treinamento dos curingas, dos cinco

curingas que o Boal ele trabalha ?Como é que se dá o treinamento

de vocês para lidar com o povo----, para elaborar as diversas

técnicas do Teatro do Oprimido? Como é que isso acontece?

Claudete- Como se transformar num curinga!?

Geo- A gente tá falando no curinga...

Claudete- É..

Geo- O curinga é uma função do Teatro do Oprimido criado por

Augusto Boal, e que o curinga é aquele personagem,como na carta,

jogos de cartas,você coloca em qualquer posição , ele sempre faz

parte, ele sempre ganha o jogo, ele tem sempre uma possibilidade a

mais, ele pode ser colocado em várias posições, ele tem sempre uma

função, ele é sempre importante, o curinga.

Então,o curinga no Teatro do Oprimido ,ele tem várias

funções: nós somos diretores, nós somos produtores, nós

trabalhamos ,também, parte de cenário, parte figurino. A gente

trabalha a questão também de lidar com a platéia, pra convidar a

platéia para entrar em cena para fazer Teatro Fórum.

Então, o curinga é aquele que tem várias funções. Nessa

questão de produzir os meios teatrais, a gente provoca, a gente

estimula, e a gente orienta também, né? Neste momento que a gente

faz contato com a comunidade para poder apresentar um espetáculo,

para depois formar um grupo, chegar até o grupo, conversar,

aplicar os exercícios de jogos, montar a peça, montar o roteiro,

manter o grupo “ligado”, estimulado, nessa produção e, depois,

apresentar o espetáculo com cenário, com figurino, com música, com

todas as possibilidades e até mesmo fazer outras apresentações.

Anília – É difícil esse envolvimento dos curingas

----------------, esse relacionamento dos curingas, com, com, com,

o elenco que é formado de não atores? É difícil a relação

é......... Trabalhar com não atores é mais difícil do que

trabalhar com atores?

Geo - Depende, né? Acho que cada, cada um, tem um caso. Às vezes,

a gente tem problemas, quando você vai trabalhar com pessoas que

já são atores que, às vezes, muita da é...... às vezes.

Anília (ajudando o entrevistado) – Já vem com vícios ...

Geo - Já vem com vícios, exatamente! De achar..... se propor

alguma coisa diferente, alguns não estarem abertos, né? Ou,

talvez, não; ou outras vezes não, outras vezes têm atores que são

super abertos a fazer, a tarem dispostos a uma troca muito grande.

O trabalho com o não ator, eu sou apaixonado por esse

trabalho, porque eu acho que ele é um trabalho que têm várias

linhas. Ele não é só um trabalho de diretor de teatro. Quando você

vai montar uma peça, você pega assim ....... Ah, eu vou fazer a

peça Romeu e Julieta ... Ah, então eu vou chamar o João que ele

tem biotipo “assim, assado”, vou chamar Maria que é “assim,

assado”. Você vai escolhendo nesses atores, né?...... pessoas

encima de determinados papéis..... e você pode até, durante o

ensaio ou o outro, dizer “Você não pode, não! Tchau”, ou “Você não

serve, não! Vou chamar o outro!”. E o trabalho que a gente faz,

ele tem uma função, tem um lado, uma consciência social muito

forte; quer dizer, a gente tá, a gente acredita que o trabalho de

teatro feito dentro de uma comunidade, por exemplo, que é o que a

gente tem feito muito aqui no Rio, ele tem um objetivo muito

grande de resgate do ser humano da auto estima.

Então, sempre que as pessoas chegam para as oficinas que a

gente dá ,a gente nunca,nós nunca excluímos ninguém....... nunca

falamos “Você não pode fazer teatro, você não serve parapara fazer

teatro”; até porque eles ouvem a vida inteira isso: “Você não sabe

fazer isso, você não sabe fazer aquilo”, seja em casa ou,

infelizmente, em muitas escolas, quando a gente conhece muitos

professores que ......... “Não, você não sabe escrever, você não

pode fazer isso, não pode fazer aquilo”. Quer dizer, eles estão

vendo muito “Não, não, não”. Então, eles são muito castrados em

seus desejos, e o que a gente quer é, justamente, que eles se

construam, não só enquanto atores, mas enquanto seres humanos. O

que a gente acredita é que a grande imagem, que é a do teatro, é

que o ator, ele lida com aquilo que o ser humano lida no seu dia a

dia, ou seja, com a sua voz – a gente fala no nosso dia a dia-,só

que o ator sabe que se ele falar um pouquinho mais para cá, se ele

forçar mais a sua voz num personagem “x” ou “y”, ele via ser mais

potente, né?; se ele colocar o corpo diferenciado naquele

personagem, se ele caracterizar de uma forma diferente, ele vai

ter uma----------. Então a linguagem não é só a palavra mas é a

forma como a palavra é dita, o volume que a palavra é falada, a

forma do corpo ..... quer dizer, todas essas linguagens nós usamos

no dia a dia, só que nós não temos noção; e o ator ele tem noção,

ele sabe se ele entrar daquele jeito, vai ter um significado; se

ele entrar de outro jeito, vai ter um outro significado.

Então, é muito importante essas pessoas terem acesso a todas

essas informações, a essas técnicas ,para elas poderem no seu dia

a dia.... não só elas poderem ser atores, quem sabe um dia atores

profissionais, é uma questão de opção que elas possam vir a ter,

ou mesmo que ela não venha a se tornar um ator profissional,em

qualquer atividade que ela venha a fazer, ela tem conhecimento,

ela tem o poder do corpo dela, de saber como ela pode tá agindo em

determinados locais, determinadas situações, que ela tenha uma

consciência de que cada situação que ela tá se encontrando existe

alguma situação de poder, seja quando ela for falar com o patrão

dela, seja quando ela tiver em casa, seja nas relações sociais

que ela têm de uma forma geral.

Claudete -Ainda nessa questão de como se transformar em curinga,

nessa questão que você estava falando, essa dificuldade que pode

ter, e essa facilidade, também, de lidar com as pessoas que não

têm acesso, né? ......a questão do meio.... da produção teatral.

Então o que acontece com o curinga! ?Primeiro a gente começa

trabalhando como voluntário; todos nós começam voluntariamente

acompanhando Boal. Boal fazia a oficina,a gente acompanhava,; de

repente,a gente começou a fazer alguns exercícios e jogos, e , na

prática, a gente foi assimilando. Não existe um curso específico

para curinga. Existe um trabalho prático, que....ser curinga é

você praticar o tempo todo, né?....descobrindo, pesquisando, na

teoria, o embasamento no teatro popular desde os primórdios da

época grega até hoje em dia. Claro que não é uma coisa isenta de

você fazer uma pesquisa numa discussão teórica sobre teatro, mas,

também,de você praticar com pessoas que não têm esse acesso, e

poder estimular as pessoas a poder tá produzindo, para poder se

sentir ator ou atriz.

Então, a gente se transforma(em curinga) ao longo de algum

tempo, de algum período.Então, primeiro eu, Geo,..........pessoas

que estamos desde a época da fundação, um pouco mais , um pouco

menos . Agora, novos curingas estão sendo formados, também pessoas

de comunidade que agora elas vão também, nos acompanham, e elas ,

também, montam trabalhos com grupos populares em vários projetos;

esse de Santo André , as pessoas nos acompanham até Santo André,

formam grupos novos lá .Em São Paulo, o Teatro das

Prisões,Direitos humanos encenae que o Geo estava colocando. A

gente tá formando na prática, no lidar do dia a dia.

Anília- Em 1993, o Boal, ele foi vereador do Rio de Janeiro pelo

PT. Eu quero saber o que que isso.......aju.....;como é que o CTO

ele se desenvolveu nessa época do mandato dele ?Como é que ele

tentou é, através do Legislativo, ele , ele , ele, ele tentou

é....é trazer um teatro à tona, porque parecia que o teatro estava

meio que.......E le fez um resgate, né?

Claudete- Surge um novo projeto, né?------------que é o Teatro

Legislativo .É a gente trabalhar em comunidade, a gente trabalhar

o Teatro Fórum, né?......que fazia....

Anília-O Teatro Legislativo, ele tem uma diferença do Teatro

Fórum?

Claudete- O Teatro Legislativo complementa o Teatro Fórum.O Teatro

Fórum é: você montar a peça com o grupo escutando o que o grupo

queira, as histórias que o grupo conta, né?....monta aquela peça e

aí você apresenta. A questão do Teatro Legislativo vai muito mais

além, sempre tem uma questão, se você tem um problema,uma

deficiência dessas na construção desses conflitos, né?.....alguma

coisa que possa ser a nível legal, que a gente possa discutir

tanto com o grupo como com a platéia ; o teatro legislativo se

propõe a se extender, a gente discutir com a platéia uma lei, uma

lei ou um encaminhamento legislativo que é possível para a questão

levantada.

Anília(constatando)-Para solucionar esse problema,né?

Claudete- É , tipo assim: no ano passado, a gente montou uma, a

gente fez.... Toda vez que a gente trabalha com os grupos, a gente

sempre se preocupa em fazer festivais; pegar uma mostragem com ,

com , com grande peso em todos os grupos.

Anília- Vocês vão fazer um festival agora, né?....do Teatro

Legislativo.

Claudete- Vai Ter um , vai Ter um ....um festival que a gente vai

convidar as pessoas , mas no finalzinho , tá? Aí na---------Mas só

para complementar, então...quer dizer, desse último trabalho que a

gente fez em São Paulo, que foi feito um festival, né? Havia

pessoas da área legislativa, pessoal da Secretaria de Justiça, da

Escola, de Administração Penitenciária, ----- parlamentares

presentes no Parlativo, né?.. Lá em São Paulo.......presentes e

três peças foram apresentadas :uma de agentes penitenciários, uma

dos detentos masculinos, e outra de mulheres presas; e que a

grande questão que as mulheres quiseram colocar é de se ter um

filho na prisão .A mulher teve um filho, o filho vai fazer seis

meses, né?....Então, aos seis meses, o bebê, obrigatoriamente, sai

de perto da mãe e vai para onde ,né? Então, a questão era essa, a

pergunta era essa :.A mãe não tem onde deixar.... Ou , se ela tem

com quem deixar, como é que ela faz? Ela vai ficar totalmente

afastada dela cumprir a pena dela? Que outras possibilidades têm?

Então, isso foi uma coisa que comoveu muito as pessoas, né? E se

teve uma questão da creche , de poder Ter uma creche , e discutir

essa questão , uma creche na comunidade, mas tem um vínculo com a

penitenciária, que a mãe possa está trabalhando mais próximo do

seu filho.

Então, a gente fez uma grande discussão ...provocou, assim, uma

emoção muito grande, né? Além da questão legislativa que foi

amplamente discutida em relação ao que a gente pode fazer a partir

de um problema apresentado em cena. Então, a gente pode criar uma

lei sim, né?É possível que nós, cidadãos comuns,

né?........possamos criar uma lei que benificie o nosso grupo , a

nossa sociedade.

Geo- Porque essa questão...só.....Essa questão legislativa é muito

importante, porque a gente acha que é muito restrita------------a

questão da lei. , quando a gente fala, talvez não possa

é........., porque não dá para mostrar ,só através das palavras.

A gente sabe , os gregos, desde a época da Grécia, eles, se

tinham algum problema, alguma questão ,diziam “Vamos fazer um

teatro e vamos discutir” .Eles discutiam através do teatro, né?

Por quê? Porque o teatro tem uma potência muito grande, né/Ele

trabalha com a subjetividade , com a objetividade; ele usa muito

a palavra, não vale..e consegue.....A própria questão da arte

cênica, como eu estava falando , trabalha com diversas

linguagens , então la não se restringe , muito pelo contrário,

ela amplia, né ?Ela trabalha com a Estética, com a linguagem

sensorial, e isso é muito importante.

Então, quando a gente vai discutir a questão do Teatro

Legislativo, a gente, na verdade, não é só fazer uma lei, porque

lei por lei qualquer um de nós pode fazer; eu tenho uma idéia

aqui, ah! e vou fazer uma lei assim. E o nosso grande desafio não

era só isso.....Boal queria fazer milhões de leis...ele é um homem

super inteligente, mas não era essa a questão. A grande questão é

que a lei... nós consultássemos a população através do teatro e ,

através do teatro, das discussões teatrais, as pessoas faziam a

lei; não só fazia a lei....mas, quando você cria uma lei que venha

a partir de uma discussão séria, de uma série de comunidades, essa

lei tem um peso e uma força muito maior. As pessoas se sentem

responsáveis pela criação de lei. Não foi o “João da Silva” que lá

no Congresso criou a lei, mas essa lei foi discutida com toda

população e que ela passou a ter um poder agora ou mesmo, quando

ela não é uma lei, como esse caso dos presídios, que a gente fez

um trabalho com as presidiárias............e existe uma lei no

Brasil que já permite a visita íntima dentro dos presídios, só que

ninguém respeitava essa lei, só que estava no papel. Só que a

partir do momento que a gente colocou essa discussão dentro dos

presídios femininos, isso foi de tão impacto, forte, através do

teatro, que hoje nos presídios , em São Paulo, essa lei já passou

a ser respeitada. Quer dizer, isso foi o poder do teatro, que ,

hoje, nos presídios em São Paulo, essa lei já passou a ser

respeitada. Quer dizer, isso foi o poder do teatro que conseguiu

interferir nessa questão.

Anília- Olha só, deixa eu fazer uma pergunta aqui. No ano passado,

é.......vocês participaram com o grupo das “Marias do Brasil” no

prêmio Pasqualino é....é...de 2001, e a , atriz, na verdade, a

Maria que fazia a atriz , né?.......porque é.......ela ganhou o

prêmio de revelação do festival no , no Pasqualim. Como é que ela

lidou com esse prêmio que ela ganhou ?E como é que ....O que isso

mudou na vida dela depois disso, depois do prêmio em si?

Claudete- Primeiro, assim , o grupo das “Marias do

Brasil” ....muito

Anília- É feito só por empregadas domésticas,né?

Claudete- Feito só por empregadas domésticas. ”Marias do Brasil”,

porque a gente , se for apresentar o grupo aqui, a Maria da

Conceição, a Maria José, Maria Alice, A Maria...

Anília-Todas se chamam Maria.....

Claudete- Maria, Maria,” Marias do Brasil”, é uma coisa muito

legal!. Todas vêm também de fora do Rio, a maioria .Então , são

pessoas que vêm de fora em busca de um emprego, e ficam aqui

trabalhando de empregadas domésticas.

Mas , assim, foi muito importante para elas entrarem num

festival como foi o da AFETAERJ, isso se deu um impacto muito

grande....isso deu uma valorizada grande para elas ,

pessoalmente, profissionalmente, profissionalmente, também, porque

são pessoas capazes de atuar , e atuar muito bem ,né?...Isso foi

muito importante para todo grupo; e depois , quando uma delas,

né?..., que recebeu em nome de todas,porque,na verdade , ela mesma

falou “Eu só consigo, porque eu estou atuando em

conjunto”...né? ...Então, para ela, foi muito importante , porque

foi um sinônimo, um sintoma de orgulho, assim , muito forte, e deu

uma alegria muito maior ao grupo. Hoje em dia, o pessoal é muito

mais alegre, é muito mais solto; é , e tá muito mais conhecedor da

sua própria capacidade. Eu acho que o que acontece é você

estimular a capacidade de uma pessoa de ele poder atuar, e atuar

de uma maneira muito forte, muito eficiente, muito apaixonada,

porque contam histórias de si mesmas; então, para elas, é muito

fácil.

E esse prêmio , ele fala até hoje, a Maria Vilma, até hoje fala

“Eu ganhei menção honrosa como melhor atriz”.

Anília-Ela.......é importante dizer que ela não fez uma oprimida.

Ela não fez a oprimida, ela fez , justamente, a opressora, que era

a patroa, né?......e surpreendeu todo mundo, porque ela fazia com

uma paixão que parecia que ela tinha sido patroa a vida toda. O

que ela é o contrário , né?

Claudete-É o contrário !Mas conhece muito bem, porque ela lida o

tempo todo com pessoas que fazem um papel antagônico ao delas;

então, ela conhece esse personagem. Então, para ela, é muito fácil

.E é importante , quando se tem essa premiaçào, no sentido de

valorizar o trabalho para elas e, também, .....eu ia falar outra

coisa e esqueci

Anília- Tudo bem! Fora esse grupo das “Marias”, eu sei que existem

outros grupos que só trabalham com homossexuais, têm vários tipos

de trabalhos diferentes , diferentes tipos de trabalho. Como é que

o CTO se organiza atualmente?......assim ...essa pergunta eu ia

fazer depois , mas existe uma sede. Como vocês se organizam

administrativamente?

Claudete- A gente tem uma sede na Avenida Rio algum

tempo....é.....e por bastante tempo que a gente tem essa sede, e

também a gente fez um projeto em que a gente tava num espaço ,

numa casa , que a gente teve que reformar, uma casa de 1907, na

Lapa.-----------

A gente tem uma casa que funciona para receber as pessoas, fazer

oficinas também, fazemos oficinas nesse espaço. Tem uma, uma

estrutura....Temos um administrador , temos uma assistente de

administrador, a gente tem o diretor musical, tem o cenógrafo, um

figurinista, uma costureira, que nos acompanham, mas que também

fazem de acordo com a demanda. Somos cinco curingas.

Anília- Eles trabalham pra cinco grupos; esse pessoal , eles

trabalham para todos os grupos?

Claudete- Para todos os grupos..... com uma pesquisa com os em

relação à cena , em relação ao espetáculo....que tipo vai ser

usado para o cenário? Que tipo de material vai ser usado nos

figurino?

Anília- Todos opinam?

Claudete- Todos opinam! Todos opinam, e , basicamente todos põem a

“mão na massa” ;as pessoas opinam, mas , também, fazem. Então, a

gente conversa , discute a questão da unidade do espetáculo, mas,

também, que cada um possa fazer a sua parte; não só fazer só o seu

, mas fazer um pouco de cada e aprender, também, a construir o

espetáculo, não só nas opiniões, mas , também, no aprendizado de

uma técnica de um papel marché ou outra coisa que o cenógrafo ,

que a figurinista, e o diretor musical possa estar implementando ,

possa tá trazendo como uma proposta para as pessoas estarem

trabalhando nos seus espetáculos.

Anília- Como é que se dá a captação financeira , de recursos, para

que vocês possam sustentar o CTO, e sustentar a sua sede, essa

administração , que, que é dividida por todos?

Claudete- Deixa eu só iniciar, depois você vai. Só para pegar o

gancho da questão do mandato . Então , assim, quando a gente tava

no mandato de vereador por uns quatro anos, a gente tinha

estrutura que a Câmara nos propiciava; então , a gente tinha um

gabinete com tudo funcionando, e nós íamos às comunidades fazendo

as perguntas , para que trouxessem em forma de teatro, em forma de

lei, e de discussão do conhecimento da lei.; não só a constituição

da lei , a confecção da lei, mas , também, o conhecimento da

lei .

Então, aí, nós montamos sessenta grupos, mais ou menos, nesses 4

anos em várias comunidades (Borel, Morro da Saudade, Maré, Brás de

Pina, Chapéu Mangueira), grupos ,também, de universidade. A gente

tinha um grupo de universitários negros, tinha um grupo na áreade

saúde mental, Casa de Palmeiras.

São vários grupos que nós criamos, e nós trabalhamos essa

questão legislativa com todos eles, e treze projetos de lei foram

promulgados a partir desse momento. Mas aí , depois, depois a

gente já tinha , já tinha um trabalho----------------e aí a gente

o projeto...

Anília- ---------------

Claudete(continuando) -.....começou um projeto, né? E aí o projeto

teve início com o apoio da Fundaçào Ford, isso foi em 97, quando a

gente saiu. Então,

Anília(compreensiva)-Anran

Claudete(Continuando)-..aí começou os vários projetos , e um dos

apoios que a gente começou foi com a fundação Ford, e outras

iniciativas que a gente foi implementando sempre com o Teatro do

Oprimido, sempre com a proposta do Teatro Fórum, e formação de

grupos.

Geo-A gente não se diferencia de algumas dessas

áreas--------------através de projetos , né?.....que a gente sabe

que são........uma instabilidade da própria situação brasileira.

Então, a gente tá sempre fazendo projetos, cada vez mais

aprimorando , né?...Esse ano....a gente tá fazendo....vai começar

um agora na área de Educação ambiental com------------------em

doze cidades da Baia de Guanabara, e a gente tá sempre .....o

projeto se inicia e a gente já manda outro projeto, né?....com

entidades governamentais, entidades nào governamentais, entidades

internacionais,diversas parcerias que a gente busca, né?...

O Teatro do Oprimido, ele existe em setenta países ,em cinco

continentes. A gente também faz parcerias a nível exterior. Esse

projeto , por exemplo, do presídio , ele vem da---------inglesa,

que ela tem uma pasta- são cinco ou quatro-, que ela investe em

países , em projetos sociais, então------------- várias outras

parcerias.

Mas, também, você tinha perguntado uma questão dos grupos do Rio

.A gente tem outros grupos do Rio, inclusive tem o

“Artimanha”;-------------a gente nunca só com isso,ou só com

aquilo ou só com aquilo; a gente tá sempre buscando diálogo, a

gente acredita que as pessoas se juntar por uma

identidade-------------questão da sexualidade, ou por questão

Étnica. Mas a gente , mesmo que esses grupos se formem, a gente

busca que realize um diálogo; que nosso objetivo é que se crie uma

rede de solidariedade, porque, muitas vezes, num grupo de negros

tem problemas que são semelhantes a um grupo de homossexuais, a um

grupo de mulheres , a um grupo de estudantes. Então, a idéia é que

ele (grupo) não se feche não.

Anília- Que ele solucione os problemas, né?

Geo- Exatamente.......pela solidariedade.., que ele busque

objetivos que , muita das vezes, o objetivo é comum, né?...Cada um

tem a sua espeficidade , mas tem um objetivo comum de ser

feliz------que todos nós queremos.

Então, tem o “Artimanha”, que , inclusive, tem na ANFETAERJ;

esse ano , que era o “Marias do Brasil” ganhar essa menção honrosa

, e , de novo, esse ano .Eles tiveram ano passado com o “Fruto

Proibido” e , de novo, esse ano com uma peça nova que a “Vícios”,

que é formada por um grupo de várias comunidades, e que eles têm

alguma identidade-------------movida pela sexualidadediscutir a

questão da AIDS, do homossexualismo, o preconceito em relação a

isso.

A gente tem outro grupo que se chama “Panela de Opressão”,

que ele existe a partir de duas comunidades de Jacarepaguá-o Anil

e o Tirol- né?...que eles fizeram a primeira peça que foi sobre a

questão da habitação, porque o lugar que eles moravam, o Anil, a

Prefeitura na época estava derrubando as casas. Agora eles fizeram

uma nova peça sobre a questão da AIDS, só que do ponto de vista da

mulher...como é que a mulher casada que ela pega Aids, como é que

acontece isso?.....uma das---------do grupo trabalha no posto de

saúde.

A gente tem outro grupo, no Complexo da Maré, que se chama

“Maré Arte” e tem uma parceria com o --------------, uma ONG

local, que trabalha a questão da violência doméstica e das

drogas.

A gente tem o grupo “Corpo em cena” ,também , que é na

Pedreira, que tem uma peça que é abordada pela Educação do

Trânsito.

E tem um grupo novo que tá surgindo-essa idéia da

multiplicação-.....Um antigo integrante do grupo “Artimanha” agora

está sendo curinga e , e ----------grupo se torna independente

-----------como um filho;um filho você cuida , depois ele cresce e

vai viver.....então, a ídéia é que ele se torne independente Então

, um desses integrantes do “Artimanha” está formando um grupo novo

com os integrantes do “Maré Arte”, eles formaram um novo grupo na

própria Maré, por que a Maré são 130 mil habitantes;então é o

“Arte Vida” que está surgindo agora.

Claudete- São esses seis grupos que vão está se apresentando na

primeira semana de setembro .É muito importante.....Seria muito

importante ter a presença de vocês para poder conhecer o trabalho

, para poder depois conversar com o grupo, pra depois dar

idéias , para poder fazer uma troca.

Então, no dia 2, vai ser o lançamento da revista, uma revista

internacional bilíngue do Teatro do Oprimido, que é a revista

METAXIS, em português e inglês.

Anília- É super legal um grupo que se preocupa em publicar alguma

coisa. Augusto Boal têm várias coisa publicadas Ele criou o método

do Teatro do Oprimido, que é um método que é usado por várias

pessoas , independente do CTO. Vocês se baseiam em outros

métodos(obs;os entrevistados já tinham comentado isso) sem ser o

criado pelo Boal? Vocês têm uma outra referência física...(obs:

Anília percebe que errou)ou outra referência técnica para poder

desenvolver o teatro?

Claudete- A Gente trabalha com o método do Teatro do Oprimido,

né?...A gente....não é que não possa pegar uma oficina com um

grupo aqui , um grupo ali , mas a gente trabalha , basicamente,

com o método do Teatro do Oprimido. A gente se propõe a tá sempre

desenvolvendo técnicas.O método, como eu falei ,é um método vivo.

Então, para cada situação, seria uma nova forma. Por exemplo,

quando a gente foi trabalhar em presídios, a gente vai trabalhar

em presídios; você não podia dar a mesma oficina que você dava pra

uma oficina da comunidade, ou pra uma oficina de artes cênicas.

Então, como você é que você transforma o Teatro do Oprimido , que

era usado nesse lugar, pra dentro de uma prisão?Imagina , você tá

dando aula dentro de uma prisão cercada de guardas por todos os

lados....-portas fechadas, como é que você se relacionava com

esses presidiários que , até que provem o contrário, eles são

culpados; eles estão ali , eles sabem que tem a questão da

justiç;é uma questão bem complicada. Então para cada momento, tem

um novo desafio.A gente, inclusive, vai começar um trabalho,

agora de três anos, com o DEGASE. Vamos trabalhar só com menores

também. A gente sabe que a faixa etária da criminalidade ,

infelizmente, está cada vez mais.........

A gente acredita muito no método. A gente trabalha,

basicamente, com o método no Teatro do Oprimido.

Claudete(complementando)-Que é uma sistematização feita pelo Boal

de vários outros métodos, né?...A base do Teatro do Teatro do

Oprimido é uma pesquisa. É a sistematização da manifestação

popular do Teatro, então não é uma coisa isenta-------------claro

que tem um estudo muito preparado encima de outras bases.

Geo----------------Ele sempre.....Boal bebeu muito do Stanilavsky,

do próprio Brecht,-----------esses autores que ele viveu. Ele

estudou com John Gardner. Ele tá sempre aberto às mais diversas

tendências. Essa coisa que você falou , que eu tinha esquecido, da

sistematização. A gente acha fundamental isso , do ato de você

poder escrever algo, de você poder passar para as pessoas o que

vocês estão realizando. nosso .A revista METAXIS é um grande

desafio nosso. A idéia de que um grupo teatro brasileiro hoje, tem

uma revista semestral que é-------no mundo inteiro; entendeu? A

gente acha fundamental isso para você tá dialogando com as pessoas

que não conhecem o Teatro do Oprimido tanto quantocom as pessoas

que trabalham no Teatro do Oprimido e , às vezes, se deparam com

as situações que elas não saberiam exatamente o que fazer. Então,

quem sabe, ele indo na revista, ela buscando na revista , ela pode

ter um apoio.

Claudete- Deixa só para complementar. Têm textos que são sobre as

pessoas que praticam o Teatro do Oprimido, pessoas da comunidade,

pessoas que criaram poesias, que criaram a sua própria teoria

sobre o teatro realizado como , também, pessoas de fora, pessoas

que pesquisam o Teatro do Oprimido de outros lugares e ,

inclusive, também estagiários. A gente recebe muitas pessoas de

fora.. tem gente da África, tem gente da Ásia, tem gente da

Austrália, tem gente de vários lugares, e que vem aqui buscar

informações , vem trabalhar na pratica e na teoria a

sistematização do Teatro do Oprimido, e , depois que saem, também

revigorados com o conhecimento, e trazem ,mandam para a

gente ,formam grupos lá fora, e trazem para gente informações

através de textos, que a gente publica também.

Anília- Eu queria saber , não vai dá tempo de eu fazer perguntas

como eu gostaria, né?...porque são tantas.

Eu queria que vocês contassem algum fato interessante que

tenha acontecido no Teatro Fórum. É um teatro tão, tão,..assim

é..., é....da surpresa, né? Toda vez é um espetáculo diferente.

Nunca é o mesmo espetáculo, porque o público participa e , com a

participação do público, o espetáculo muda, ele muda de figura,

ele muda de fim , de tudo.O público, ele traz idéias e as idéias

mudam o fim do espetáculo, muda o espetáculo de forma geral.

E aí eu queria que, se vocês pudessem lembrar de alguma

coisa que aconteceu de legal ou de interessante, ou até de

embaraçoso, para que as pessoas pudessem se interessar depois,

né?...e procurassem ver o Teatro Fórum, estudar mais sobre o

teatro. E eu já vi e a achei o maior barato.

Claudete- Uma que eu me lembro muito me remete imediatamente é

quando esse grupo de presidiários apresentou um espetáculo, e que

uma tava com o filho nas mãos e era uma cena muito bonita. Tinha

------Tava com um boneco nas mãos.

Anília- Cênico?

Claudete- Cênico....Tinha uma cena que tinha a assistência social,

tinha uma pessoa da família; e as pessoas que iam para pegar o

filho, iam tirando partes daquele era muito bonito, muito

emocionante, você vê , na verdade, uma criança, ele tem uma mãe

cometendo delito, né?........Ela também acaba cometendo o mesmo

delito que a mãe; ela paga um preço também, né? E aí é bonito ver

as cenas....as pessoas dilacerando aquela criança, mas que

constitui a entrega para a mãe. Você tem que entregar o seu filho

daqui há seis meses-daqui há algum tempo, já tava fazendo seis

meses-seja para quem for, para uma instituição, para um orfanato,

você tem que entregar o seu filho.

E uma cena que foi muito bonita, na hora do Fórum, que uma

das mulheres vai até lá substituir o personagem que tem os filhos

no braço; ela tem que entregar o filho, mas ela não sabe o que

fazer, e vai uma adolescente que é mãe também -ela devia ter uns

18 anos, mais ou menos, essa pessoa que entrou na platéia, tava na

platéia assistindo- .Ela tinha 18 anos e entrou com a filha no

colo, e falou ” Deixa eu entrar com a minha filha” e ficou

argumentando com a assistente social: “Se eu fizer outra

coisa.....Eu não posso trabalhar aqui e , de repente, minha filha

poder ficar.....Eu não posso deixá-la mais perto? Não tem um lugar

na comunidade que eu possa ir até lá, que alguém da comunidade

possa trazer minha filha?”

Ela tentou de tantas formas ficar com a filha, independente

do problema que acontece no....., independente do sistema ,de como

ele ignora , muitas vezes, o ser humano, né?.....e vê o problema;

ele é um muro na estatística...... isso é muito bonito. Você vê

que uma pessoa entra em cena , mantém o filho no colo, e briga por

alguma coisa que é ele, né?...Ela se sente exatamente mobilizada ,

enquanto mãe.Tá certo que a pessoa tá ali , ela não é presidiária,

mas enquanto mãe...o que se faz com uma mãe que tem um filho, e

esse filho tá pagando .....

Anília(complementando)-A pena da mãe.

Claudete(continuando)-A pena da mãe; complicado, porque ela tá

chegando agora, o que eles fizeram ,tá feito.

Anília- Vocês sempre fazem teatro, e a maioria das peças são na

rua...são ao ar livre, e tem uma dificuldade de ah.....ah......não

é que elas não possam ser feitas em espaço fechado, porque eu já

até vi em teatro e tal .Eu queria saber quais são as dificuldades

de se fazer teatro na rua?Assim ,a interferência....Não é a mesma

coisa que você fazer num espaço propício para o teatro.

Geo Só voltando. A gente ........histórias .A gente têm milhares

de histórias , felizmente, né?..que são milhares...é sempre

emocionante. A gente tá falando de histórias...têm várias delas.

Quando a Claudete conta essa cena de mulher do boneco cênico, onde

o guarda, o agente penitenciário pega o boneco e vai arrancando os

pedaços do boneco. A gente acredita piamente que arte não precisa

reproduzir a realidade. Ela tem que representar essa

realidade .Conforme a gente pode representar essa realidade, de

forma as pessoas entendendo melhor o que está acontecendo......a

estética da linguagem sensorial..............Se eu chegar

---------De que forma eu posso tá sacudindo as pessoas mostrando

------------o que---------Mas o que significa para você entregar o

filho para ela ? “Ah, para mim, é como se o filho tivesse sendo

espedaçado”; entào , faz! A gente trabalha sempre em cima da----

pessoas...........................................................

....

Anília- Como é o convênio do, do CTO com a UNESCO e no programa de

estágio; vocês parecem que têm estagiários no CTO fora do Brasil?

Anília- Eu fiquei sabendo que o CTO e .vai ser tema de escola de

samba em 2003,né?....Eu queria que voc6es falassem qual é a

escola, e como eles pesquisaram o enredo; eles foram lá com..... e

pediram para desenvolver tal isso?

Anília- Bom, para terminar, eu queria que voc6es pudessem falar um

pouco sobre as perspectivas de voc6es, as coisas que vocês têm

programadas pro.......Como vocês vêem o teatro no Brasil, assim ,

daqui para o futuro?...., e, e agradecer, quando vocês

concluírem, obviamente, agradecer a presença de vocês aqui,

porque, com certeza, a platéia vai, deve querer fazer alguma

pergunta sobre o trabalho de vocês, e , e que vocês falassem,

assim, qual é ,quais são, os planos para o futuro, e como vocês

vêem o teatro no Brasil, assim, aqui atualmente.