ENTRE PRÁTICAS E INCERTEZAS: AÇÕES PEDAGÓGICAS INOVADORAS DE DOCENTES DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO...

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1 ENTRE PRÁTICAS E INCERTEZAS: AÇÕES PEDAGÓGICAS INOVADORAS DE DOCENTES DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE FEIRA DE SANTANA Ana Maria Fontes dos Santos Profa. Adjunta da UEFS e-mail: [email protected] Jefferson da Silva Moreira Graduando de Pedagogia da UEFS e-mail: [email protected] Maysa dos Santos Bacelar Graduanda de Pedagogia da UEFS e-mail: [email protected] RESUMO A partir do debate sobre inovação na docência universitária este trabalho apresenta parte dos resultados de pesquisa, que buscou analisar as perspectivas inovadoras na docência de alguns dos sujeitos que se lançaram no projeto pioneiro de implantar faculdade pública que tinha a finalidade de formar professores. Trata-se da Faculdade Estadual de Educação de Feira de Santana, cujo funcionamento ocorreu entre 1968 e 1976. Naquele período em que se programavam a modernização do ensino superior e dos demais níveis da educação nacional, essa Faculdade de Educação também foi uma das pioneiras na oferta de cursos sob a forma de “licenciaturas curtas”, nas áreas de Letras, Ciências e Estudos Sociais. O foco da abordagem aqui elaborada são as memórias de e sobre três professores que atuaram em cada um desses cursos, situando os aspectos relativos às suas próprias práticas e vivências pedagógicas, no processo de implantação do ensino superior no interior da Bahia. Tais professores foram alguns dos indicados, em levantamento prévio realizado com egressos daquela instituição, que reconheceram que existiam docentes que, de alguma forma, se destacaram no seu modo de conduzir a aula. Embora reconhecendo o cerceamento imposto pelo regime de exceção e perante as especificidades e ambiguidades do ensino superior, foram possíveis as ações inovadoras e resistências nas experiências de docentes daquele período. Esta pesquisa revela que mesmo perante as incertezas de constituição de uma cultura de professor do ensino superior no interior baiano, na Faculdade de Feira de Santana foi desenvolvida uma experiência

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ENTRE PRÁTICAS E INCERTEZAS: AÇÕES PEDAGÓGICASINOVADORAS DE DOCENTES DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE

FEIRA DE SANTANA

Ana Maria Fontes dos SantosProfa. Adjunta da UEFS

e-mail: [email protected]

Jefferson da Silva MoreiraGraduando de Pedagogia da UEFS

e-mail: [email protected]

Maysa dos Santos BacelarGraduanda de Pedagogia da UEFS

e-mail: [email protected]

A partir do debate sobre inovação na docência universitáriaeste trabalho apresenta parte dos resultados de pesquisa, quebuscou analisar as perspectivas inovadoras na docência dealguns dos sujeitos que se lançaram no projeto pioneiro deimplantar faculdade pública que tinha a finalidade de formarprofessores. Trata-se da Faculdade Estadual de Educação deFeira de Santana, cujo funcionamento ocorreu entre 1968 e1976. Naquele período em que se programavam a modernização doensino superior e dos demais níveis da educação nacional, essaFaculdade de Educação também foi uma das pioneiras na ofertade cursos sob a forma de “licenciaturas curtas”, nas áreas deLetras, Ciências e Estudos Sociais. O foco da abordagem aquielaborada são as memórias de e sobre três professores queatuaram em cada um desses cursos, situando os aspectosrelativos às suas próprias práticas e vivências pedagógicas,no processo de implantação do ensino superior no interior daBahia. Tais professores foram alguns dos indicados, emlevantamento prévio realizado com egressos daquelainstituição, que reconheceram que existiam docentes que, dealguma forma, se destacaram no seu modo de conduzir a aula.Embora reconhecendo o cerceamento imposto pelo regime deexceção e perante as especificidades e ambiguidades do ensinosuperior, foram possíveis as ações inovadoras e resistênciasnas experiências de docentes daquele período. Esta pesquisarevela que mesmo perante as incertezas de constituição de umacultura de professor do ensino superior no interior baiano, naFaculdade de Feira de Santana foi desenvolvida uma experiência

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pedagógica inédita e inovadora para a época, que envolvia ocoletivo dos professores e, ao mesmo tempo, abria espaço paranela se destacarem professores que buscaram fazer o melhor nocampo da formação de professores.

Palavras-chaves: Ensino superior, formação de professores,inovação pedagógica.

INTRODUÇÃO

A questãoda pedagogia universitária é aqui discutida na

perspectiva histórica, no sentido de contribuir para

compreensão das práticas pedagógicas que estiveram na origem

da interiorização do ensino superior na Bahia, que ocorreu

durante o período militar.O objetivo é reconstituir as

práticas educativas a partir das memórias de docentes da

Faculdade de Educação de Feira de Santana, que atuaram nos

cursos de Letras, Ciências e Estudos Sociais, no período de

1968 até 1976, quando a Faculdade foi extinta e implantada a

Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

No período em que no país implantava-se o projeto político

de modernização da economia, sob a batuta do regime ditatorial

implantado em 1964, o setor educacional foi considerado como

um dos fatores chaves para alcançar os objetivos do

desenvolvimento econômico proposto. Entre os principais

legados dessa época destacam-se a “reforma universitária”, a

“reforma do ensino de primeiro e segundo graus”, acompanhadas

da ampliação desordenada da oferta de vagas, em todos os

níveis.

De acordo com Santos (2011), no estado da Bahia

presenciou-se um momento singular, pois o seu primeiro governo

“biônico”, iniciado em 1967, buscou o estabelecimento das

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condições consideradas necessárias para implantar uma política

de educação que atendesse àqueles objetivos. Para isso,

estendeu o “planejamento científico”, outrora restrito às

secretarias preocupadas com a economia do estado, para a

gestão dos negócios da educação. Assim, entre outras mudanças

ocorridas na Secretaria Estadual de Educação, que passou a

assumir também a gestão dos assuntos sobre Cultura

(denominação incorporada ao nome da secretaria, que passou a

chamar-se Secretaria de Educação e Cultura – SEC), foram

implantados o Centro de Estudos e Planejamento (CEP), dirigido

por um egresso do setor de planejamento educacional da Sudene,

e o Departamento de Educação Superior e Cultura (DESC). O

Secretário de Educação era Luís Navarro de Brito, conhecido

professor da Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia.

A dimensão das mudanças ocorridas nessa gestão é avaliada pela

professora Elvira1 (nome fictício), da Faculdade de Educação de

Feira de Santana, da seguinte forma:Navarro entrou e foi assim uma ruptura com todo opassado da Secretaria da Educação. Todo aquelepassado que se tinha visto de “nomeia professor”por indicação política, ele rompeu. [...]Foi umainovação total. A primeira inovação: concursopúblico para professor entrar no Estado. Não tinhaconcurso há anos, anos, anos e anos. Não tinha.Então ele fez o primeiro concurso. Mas fez qualquerconcurso? Não. Fez um concurso inovador, porque eleouviu a APLB [Associação dos ProfessoresLicenciados da Bahia]. O que a APLB arquitetou? “Oconcurso não pode ser decidido por uma prova;oconcurso tem que ser algo que o professor que vátrabalhar demonstre mais, ele tem maisoportunidade”. Então fez o concurso das “cemhoras”. Sabe o que significou isso? – Um mês de

1Os nomes dos professores da Faculdade de Educação de Feira de Santana entrevistados,citados nesta pesquisa,são fictícios.

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trabalho de todos os candidatos ao concurso. Oprofessor não foi avaliado por uma prova. Ele foiavaliado durante trinta dias. [...] uma coisaimpensável, inviável, hoje! Mas foi. Foi uma coisainovadora. O concurso foi pensado assim, para serinovador, para você escolher os melhores [...]. Apontuação resultou de inúmeras atividades. Você eraavaliado na sua dinâmica de grupo; você eraavaliado na sua comunicação oral, você era avaliadona sua produção escrita.

Atentemos para a continuidade do depoimento da mesmaprofessora:

[...]. Então, eleentrou e rompeu com tudo, o quehavia no Estado, de clientelismo. Isso foi umchoque. E a primeira coisa que aconteceu quandosaiu o resultado do concurso: o que era que faziacom os que lá estavam interinamente? Que nãopuderam nem concorrer porque não tinham graduação?Tiveram que ser demitidos [...] e essas vagas foramocupadas pelos licenciados. Foi a primeira vez queFeira de Santana teve licenciado, porque não tinha.Os professores eram todos de uma só formaçãopedagógica: dos Cursos Normais; uns eramengenheiros, outras coisas e outros profissionaisliberais.

A exposição acima demonstra as limitações que a educação

baiana vivia naquele momento. E o que dizer da educação

superior? Além de restrita, a oferta restringia-se, quase

exclusivamente, aos limites da capital (exceto duas Faculdades

de Agronomia, uma localizada em Cruz das Almas e a outra em

Juazeiro, no Alto São Francisco), fora disso prevalecia no

imenso interior baiano a formação de professores em Escolas

Normais, cujos egressos ocupavam os espaços de atuação docente

do ensino primário (ao qual se destinavam), do ensino ginasial

e do ensino médio (os dois últimos níveis compartilhados por

bacharéis das diversas procedências formativas).

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Naquele contexto de mudanças nos negócios da educação

baiana, o ponto alto das ações da secretaria estadual de

educação foi a elaboração do Plano Integral de Educação e

Cultura (PIEC), lançado em 1968. Além de diversas metas para

todos os níveis de ensino e para a cultura no estado, nesse

documento previa-se a criação de faculdades para formação de

professores, em quatro das principais cidades do interior,

selecionadas a partir de critérios que visavam a formação de

mão-de-obra para atender os objetivos imediatos de inserção da

Bahia no circuito industrial do país. A intenção era melhorar,

sobretudo, os quadros docentes do antigo ginásio (referente

aos quatro anos finais do ensino fundamental), pois se visava

a profissionalização nesse nível de ensino, já antecipando a

legislação que entraria em vigor em 1971, a Lei 5692.

Para a interiorização do ensino superior também constava

no planejamento da SEC a criação de universidade na Região

Sul, onde até aquela época tratava-se do principal polo

agroexportador do estado da Bahia. Ou seja, a implantação de

quatro faculdades de formação de professores e a proposta de

uma universidade para o interior, foram iniciativas da gestão

estadual, relativamente, ousadas para a época. Posteriormente,

essas faculdades formaram a base que deram origem ao sistema

estadual de universidades do interior baiano, atualmente

formado por quatro instituições universitárias.

Por outro lado, a realização de concurso público por parte

da gestão de Navarro de Brito, na tentativa de melhorar e

moralizar a profissão docente repercutiria naquele ambiente de

muito clientelismo (que o regime militar pouco rompeu), onde a

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maioria dos profissionais liberais que ocupavam cargos

públicos no interior (geralmente médicos, dentistas,

advogados) também era nomeada para os ginásios e colégios

estaduais.

Na cidade de Feira de Santana foi implantada a primeira

das faculdades previstas no PIEC, sobretudo, por ser a cidade

mais populosa depois da capital e com possibilidades de

industrialização. A faculdade de formação de professores aí

instalada recebeu o nome de “Faculdade de Educação”, em razão

de que nessa cidade estava abrigado um movimento organizado da

sociedade local a favor da interiorização do ensino superior,

que visava a criação de Universidade (SANTOS, 2011; SANTOS e

ROSA, 2012).

Diante do cenário acima descrito, podem-se antever as

dificuldades para a definição dos quadros docentes para os

Cursos que foram implantados em Feira de Santana:

licenciaturas curtas em Letras (implantado ainda no segundo

semestre de 1968), em Ciências (implantado um ano depois) e em

Estudos Sociais, criado em 1970.

A pesquisa focaliza os professores que atuaram na

Faculdade de Educação reconhecidos como inovadores em suas

práticas pedagógicas. Os mesmos foram selecionados, entre os

docentes indicados como inovadores, a partir deenquete

realizada com egressos. Por sua vez, esses egressos foram

escolhidos entre os sujeitos que atuam como professores na

UEFS, a eles, além de perguntado sobre quais os docentes da

referida Faculdade de Educação eram inovadores, também foi

indagado sobre quais os seus próprios conceitos sobre inovação

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pedagógica. Portanto, aqui são consideradas tanto as falas de

antigos professores, quanto às de egressos dos Cursos de

Letras, Ciências e Estudos Sociais. Os dados foram levantados

em duas diferentes etapas de pesquisa: na primeira foi

realizada enquete com oito egressos e na segunda realizaram-se

entrevistas com professores indicados como inovadores2. Trata-

se, portanto, de pesquisa com enfoque qualitativo, que recorre

a relatos orais3 de sujeitos que atuaram na implantação do

ensino superior na cidade de Feira de Santana, enquanto

memória social de um dado contexto da História do ensino

superior no Estado da Bahia. O conceito de inovação pedagógica

auxilia-nos a entender os percursos históricos das práticas

pedagógicas consideradas inovadoras,de docentes que atuaram na

primeira instituição pública de ensino superior do interior

baiano, conforme apresentamos no tópico seguinte.

2. OS SENTIDOS DA INOVAÇÃO PEDAGÓGICA

A inovação pedagógica é aqui entendida nos seus

aspectosdinâmicos: como um fenômeno histórico-social e

comoação deliberada de rompimento com paradigmas pedagógicos

tradicionais. Neste sentido, concordamos com Cunha (2001, p.

128),que evidencia o caráter-história das ações pedagógicas

inovadoras, para ele: “Não é possível pensar os processos

inovativos sem levar em conta seu caráter histórico-social.

2Aqui são analisados os dados coletados no Eixo II da pesquisa intitulada“Pedagogia no Ensino Superior: Trajetória Histórica de Práticas EducativasInovadoras”, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Pedagogia Universitária(NEPPU/UEFS); financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado daBahia (FAPESB).3Aqui são consideradas as discussões sobre memória social (cf. SANTOS,2012a) da História Oral (AMADO e FERREIRA, 1996).

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Eles se constroem num tempo e espaço e não podem ser

percebidos como mera produção externa, nem ingenuamente como

algo espontâneo e independente”.Além disso, Cunha (2001,

2009)compreende a inovação como resultado de tensões e não

apenas a inserção de novidades técnicase tecnologias modernas.

Na sua argumentação, elucida que a inovação está implicada em

uma ruptura com o já posto e atua no sentido da

mudança,expressando uma visão emancipatória, articulada a um

projeto alternativo de sociedade.

No mesmo sentido, Lucarelli (2007, p. 80) defende a

perspectiva de que a inovação distingue-se por “ruptura com o

estilo didático habitual e o protagonismo que identifica os

processos de gestação e desenvolvimento da pratica nova”.

A partir do pressuposto de que as práticas dos

professores estão revestidas das concepções sobre o homem, a

sociedade e a educação, Zanchet e Cunha (2007, p.186),

explicitam que as inovações devem ser “entendidas como

rupturas paradigmáticas, [pois] exigem dos professores

reconfiguração de saberes e favorecem o reconhecimento da

necessidade de trabalhar para transformar”. Ou seja, a

inovação pedagógica traduz uma dimensão emancipatória,

exigindo do docente a problematização do conteúdo trabalhado e

de suas práticas pedagógicas na tentativa de produzir

transformações.

A perspectiva de Veiga, Resende e Fonseca (2000) corrobora

a ideia de que as inovações devem ser compreendidas como algo

que extrapola as modificações estéticas na sala de aula e

acrescentam que “mais do que os experimentos e as tentativas

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individuais, [as inovações pedagógicas] devem buscar a

composição de um projeto coletivo” (p.163). Também as

compreendem como uma ruptura de paradigma, que visam sanar as

necessidades circunstanciais do momento histórico,no sentido

de caracterizá-las no contexto da ciência emergente que se

encontra em transição paradigmática, num longoprocesso cujos

resultados são imprevisíveis. As autoras admitem ser uma ação

concebida historicamente, não neutra, mas impregnada de

intencionalidades.

Portanto, naquele contexto da história a própria

implantação da instituição, mesmo enquanto uma proposta

nascida de cima para baixo e num ambiente de autoritarismo

político, pareceu a alguns dos seus professores uma ação

inovadora, como salienta a professora Elvira4, na sua memória

atualizada:Apesar das contradições [...] vi que era uma coisaséria, que eles se propunham a fazer algo novo,alguma coisa inovadora, bem integrada, com umcurrículo já pensado nas suas inter-relações,rompendo com a tradição que a Faculdade deFilosofia tinha de fazer a formação pedagógica nofinal do curso, então a formação pedagógicacomeçava no primeiro semestre para que as pessoasse convencessem de que eles estavam ali para seremprofessores; então é essa discussão que tem hoje[...]Então a Faculdade foi pensada assim e foiinstalada assim, como uma coisa muito inovadora.

ENTRE PRÁTICAS E INCERTEZAS

Pesquisa desenvolvida por Santos (2011)demonstra que a

própria administração de Navarro de Brito sucumbiu perante os

imperativos da ditadura que cada vez mais enrijecia contra as4 A entrevista com a professora Elvira faz parte dos arquivos da profa. AnaMaria Fontes dos Santos.

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atitudes e as ações democráticas, cujo emblema foi o Ato

Institucional número cinco, o famigerado AI-5, de dezembro de

1968 (Brito fora afastado do cargo antes do final do mandato).

Por outro lado, as iniciativas de modernização da educação

baiana para o ensino superior, embora limitadas e fortemente

articuladas ao projeto desenvolvimentista autoritário, ajudou

a produzir mudanças significativas no cenário educacional

interiorano, a partir da criação das quatro faculdades de

formação de professores (em Feira de Santana, Vitória da

Conquista, Serrinha e Jequié, respectivamente). No caso

estudado, enquanto primeira instituição implantada, foi

necessário construir uma cultura de ensino superior com

maioria de professores que não tinham como meta a docência

universitária, tanto em seus horizontes formativos e como nos

profissionais (SANTOS, 2011 e 2013).

Na primeira fase da pesquisa, quando perguntado paraos

egressos entrevistadosse existiam professores inovadores em

seus cursos, maioria respondeu “não”. Mas, quando instigados

novamente a falar, sobre quais professores desenvolviam

práticas inovadoras, todos foram unânimes na afirmação de que

existiam professores que se destacaram no exercício das suas

atividades. Isto é, todos os entrevistados citaram nomes de

professores que, mesmo perante o contexto político

autoritário, vivido na época, desenvolvia algum tipo de

prática diferenciada dos demais, identificada pelos alunos

comoinovadora.

Ao citarem os nomes de professores, pudemos perceber que o

conceito de professor inovador variava para os sujeitos aqui

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pesquisados, sendo destacados aspectos desde as posturas dos

docentes em sala de aula e suas relações com os estudantes,

até o papel da escuta e do diálogo no processo educativo. A

afetividade também aparece como elemento diferenciador dos

demais docentes daquele contexto. Mas,ressaltando a

necessidade de se levar em conta a marca que o regime

ditatorialimprimia sobre o ensino. Conforme se pode observar

na fala dos entrevistados, transcritas abaixo:

Na época, é isso que eu disse: inovador no sentidoradical. Estávamos na ditadura e com ele [professorMonteiro] não tínhamos medo de pensar, de dialogar, numaépoca em que havia muita desconfiança.[...]; fazer issona ditadura era uma coisa profundamente inovadora;diferente da aplicação de técnicas modernosas, semmodificar as pessoas, técnicas desenraizadas do mundo.(Egresso 5)

[...] mesmo num contexto de impedimento de análises, elaera uma professora que fazia! Como professora, ela erauma mulher destemida (Egresso 1, referindo-se àprofessora Luíza).

Ou seja, o conceito de inovação pedagógica explicitado

por esses egressos sugere a noção de inovação como ruptura com

o que estava posto, acompanhando um processo de rompimento com

o paradigma vigente (de acordo com a abordagem de autores

citados no tópico anterior). Mesmo entre aqueles entrevistados

que indicaram a inserção de novas técnicas pedagógicas como

indício de inovação, os mesmos associaram a elas as posturas

dos professores: seja no campo afetivo(“Ela [profa. Maria, do

Curso de Ciências] ficava muito junto do aluno”, cf. Egresso

3), seja no campo do domínio do conhecimento (“Por articular

os conceitos filosóficos à História e à Pedagogia”, mediante a

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fala do Egresso 8, referindo-se ao professor Carlito, da área

de Matemática). Portanto, naquele ambiente da Faculdade de

Educação de Feira de Santana, na opinião dos egressos

entrevistadoseram inovadores os docentes que dominavam o

conteúdo, mas aliado à coragem de reflexão e diálogo com os

discentes, numa difícil época para a democracia brasileira.

Mas voltemos ao último pronunciamento da professora

Elvira: “Então a Faculdade foi pensada assim e foi instalada

assim, como uma coisa muito inovadora”. Referindo-se à

propostade “faculdade de formação de professores”, implantada

em Feira de Santana, cuja proposta formativa apresentava-se

diferenciada, pois inseria o aluno nos assuntos da docência

desde o primeiro semestre, diferente da antiga “faculdade de

filosofia”. De fato, até aquela data (1968) não havia exemplos

na Bahia, quiçá em outros estados da federação, de que se

adotava essa perspectiva de formação de professores (no caso,

com mais uma novidade: sob a forma de licenciaturas curtas,

com três anos de duração). As responsáveis pela implantação

da faculdade de Feira de Santana, as professoras Zahidée

Machado Neto e Joselice Macedo, ambas da Faculdade de

Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), puseram em

prática uma proposta de formação cuja concepção foi elaborada

por diversas mãos: as do Secretário de Educação Navarro de

Brito, de seus assessores, sobretudo, de Anísio Teixeira, que

segundo um desses assessores, entrevistado por Santos (2011),

não participava da equipe da SEC, mas,como convido, participou

de diversas reuniões que precederam a elaboração do PIEC.O

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indício, portanto, é o de que houve contribuição de Anísio na

concepção dessas faculdades de formação de professores.

Assim, a instalação e coordenação do primeiro curso

implantado, o de Letras, ficou por conta de Joselice Macedo. A

escolha dos professores para lecionar no curso recaiu sobre

uma maioria de licenciados recém-formados.A proposta de

mudança já se fez presente no próprio processo de escolha dos

alunos, pois o primeiro vestibular realizado constou, além da

tradicional prova escrita, de teste psicológico e de

entrevista. “Tanto que, quando nós começamos a trabalhar só

com o curso de Letras, nós sabíamos todas as pessoas: quem

eram as pessoas que estavam ali”, lembra a professora Elvira,

destacando a importância das entrevistas. Outra prática,

presente na memória desta e de outros professores, eram as

reuniões mensais realizadas por Joselice Macedo com o grupo de

professores. Vejamos algumas dessas lembranças:Joselice Macedo, eu já a conhecia, há bastantetempo, porque ela foi minha professora lá no cursoclássico de Latim. E então, eu a chamava de“professora Joselice” com todo o respeito! Era umapessoa assim, muito pronta, muito posta, não é?!Bom, ela fazia aquela reunião com todos osprofessores, tanto com os de Letras, quanto com osde Estudos Sociais. Ela estava assim, praticamente,digamos assim, ensinando as pessoas, osprofessores, como era que tinha que funcionardentro de uma Faculdade. As reuniões eram mais oumenos assim. Então, eu enquanto professora do cursode Estudos Sociais participei de várias daquelasreuniões, com todo mundo. (professora Luíza).

Portanto, caberia à Macedo implantar uma cultura

universitária naquela primeira Faculdade interiorana, dando

suporte aos, então, novos docentes. Embora com formação

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clássica (no sentido de tradicional), essa professora comandou

processos inovativos que imprimiram uma dinâmica pouco

exercitada ou mesmo desconhecida, até aquele momento, no

âmbito das práticas do ensino superior. Embora o objetivo

fosse o de “ensinar os professores como era que tinha que

funcionar dentro de uma faculdade” (como disse a profa.

Luíza), os resultados foram animadores para os professores

neófitos naquele ramo de ensino, como constatamos nas falas

abaixo transcritas, do professor Monteiro e da professora

Margarida.

De certa forma, o que me deu cobertura foi,exatamente,Joselice Macedo. [...] foi professora deFilologia e era coordenadora geral do Curso. Elavinha de Salvador e permanecia na Faculdade doisdias e nos momentos após as aulas, tínhamos asaulas por áreas, e Joselice realmente coordenavaisso com saber e capacidade e estimulando a nósprofessores que estávamos ainda verdes. (ProfessorMonteiro5)[...] já trabalhava interdisciplinarmente sem teressa consciência dessa coisa dainterdisciplinaridade e tal; mas, sempre, de quinzeem quinze dias, fazíamos reunião para discutir otrabalho: como é que cada um estava sentido aturma, que dificuldades estavam tendo, como era areação dos alunos. E isso era feito naturalmente,normal; nas reuniões a gente sempre tinha essadiscussão, e havia realmente essa interação entreos professores. (Professora Margarida)

A partir dos pronunciamentos dos professores

entrevistados é possível inferir que o trabalho realizado pela

coordenadora do Curso de Letras, Joselice Macedo6, tinha uma5Esta entrevista com o professor Monteiro faz parte dos arquivos da profa. Ana Maria Fontes dos Santos.6Quando começou a trabalhar em Feira de Santana, Joselice Macedo já tinhadoutorado em Linguística, realizado na França, e era identificada por seuspares como uma professora de postura pedagógica tradicional. Mas, naquele

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função do tipo “assessoramento pedagógico” (mediante discussão

de LUCARELLI, 2009, p. 213) aos professores da Faculdade,

enquanto condição auxiliar para o desenvolvimento da inovação

naquele contexto educativo, mesmo que na ocasião a preocupação

fosse com os conteúdos trabalhados e não, exatamente, com as

questões pedagógicas. Pois, a convivência e o diálogo que as

reuniões propiciavam foram importantes para a preparação

daqueles sujeitos ao ambiente acadêmico, conforme percebemos

em suas memórias atualizadas.

A atitude protagonista de Joselice Macedo, conforme

salienta Santos (2014, p. 10), “pode ser auscultado na sua

própria fala: [...]‘eu treinei os professores e quando eu

chegava passava o dia todo aí [em Feira de Santana] e

aproveitava os momentos para conversar com os professores,

orientar, indicar bibliografia, cobrar deles um trabalho’.”

Ou seja, nessaoportunidade, a inovação impunha-se quase

como necessidade e estratégia de sobrevivência para o campo

universitário que se constituía, como podemos também inferirna

voz da professora Margarida: “E a faculdade começou assim, não

é? Com muito trabalho integrado. Eu sinto saudades disso”.

Maior significado daquela experiência de “assessoramento

pedagógico” ficou marcado na lembrança dos professores, quando

se recordam dos encontros coletivos para apreciação e

discussão das avaliações com os estudantes. A memória da

professora Elvira, descrita abaixo, sintetiza alguns aspectos

desses encontros:

contexto assumia atitudes, em relação aos seus pares, que foram inovadoras(cf. SANTOS, 2011 e 2014).

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Então as avaliações que nós fazíamos, mensais, dosalunos: os professores se reuniam, era um grupomuito pequeno [...], nós sentávamos, levávamos osnossos resultados, líamos as provas que noschamavam atenção, e nós discutíamos o que é queprecisava. Até, por exemplo, “fulano ainda temdificuldade de expressão escrita, então temos quetrabalhar com esse aluno”. Então era isso(Professora Elvira).

Portanto, naquele ambiente de tessituras se foram gestando

os perfis da docência do ensino superior dos sujeitos

fundadores desse nível ensino.O comentário do professor

Monteiroexpõe a importância das reuniões de professores,

enquanto elementos que lhe oportunizaram importantes subsídios

para o desenvolvimento das atividades como docente. A troca de

experiências com os demais colegas, a conversa sobre o

desenvolvimento dos estudantes são alguns aspectos destacados.

Vejamos:[...] Isso foi enriquecedor para mim, que eu vinhade uma linha muito mais estudioso, de perfilestudioso individual, não é? [...] Na faculdade euaprendi a estar com os outros, vi qual é a demanda,como os outros estavam resolvendo os problemas e euacredito que foi uma experiência marcante nafaculdade, que na avaliação não era o professorisolado considerando o aluno, os professores estavamtodos reunidos(Professor Monteiro).

E mais nos diz o professor citado, que corrobora a

participação efetiva dos professores e o comprometimento com

aquilo que realizavam: [...] Os salários, como sempre foram, não erammuito convincentes, mas havia um entusiasmo pelotrabalho. A equipe dos três cursos de Letras,Estudos Sociais e Ciências, realmente, aqueles

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professores eram dedicados. Vestia-se a camisa daFaculdade. (Professor Monteiro7)

Observemos que na opinião de Masetto (2012 p. 31) para que

ocorra o sucesso de uma inovação, um dos critérios mais

eficazes para sua construção é “contar com a participação

daqueles que o construirão desde o seu início. É fundamental

que o sentimento de “pertença” ao projeto seja vivenciado e

trabalhado [...]”. Neste sentido, inferimos que aqueles

sujeitos, ao“vestir a camisa da Faculdade”, enquanto

sentimento de pertença, já trabalhavam as dificuldades de se

fazerem docentes universitários.

Outro aspecto identificado nesta pesquisa, diz respeito à

indicaçãopelos egressos da referida Faculdade,de professores

com posturas inovadoras que, embora jovens, já iniciavam suas

carreiras de docentes também na UFBA, dentre eles: professora

Luíza, e professor Carlito (já falecido). Sobre os mesmos,

assim falaram os egressos:[...] Tinha conhecimentos profundos dos fundamentosda matemática, com demonstração e tudo o que tinhadireito. Começava com conhecimento corriqueiro edaí para a matemática avançada (Egresso 3, sobre oprofessor Carlito)

Era um modelo de professora. Era a aula queconvencia o estudante da sua exposição. E oestudante saia com vontade de saber mais. (Egresso1, sobre a professora Luíza)

A principal característica desses docentes era a de que,

naquele momento, eles eram reconhecidos por serem os melhores

quando estudantes, na visão de seus ex-professores, requisito

que lhes garantiria espaço na academia. Ambos cursaram pós-

7Idem nota número seis.

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graduações (mestrado e doutorado) ainda na década de setenta

do século passado. Professora Luíza assumira naquela

Universidade por ter sido monitora e já indicada pelos seus

professores para a docência (cf. declarou na entrevista

concedida a esta pesquisa) e professor Carlito, que foi

assistente de Omar Catunda, um famoso matemático. A dedicação

aos estudos, o domínio das teorias, a formação e a visão

interdisciplinar garantiam-lhes espaço na opinião de egressos,

como professores que iam além do que se esperava deles.

Vejamos como exemplo a professora Luíza, que abaixo relata

sobre como se apropriava de outros conhecimentos além dos

necessários à sua disciplina: Uma coisa que ajuda muito na minha experiência coma História é porque eu, também, amo Geografia.[...] então eu trabalhava muito com a História,mas, também, com a Geografia da África. [...] Eapartir de um certo tempo parecia que eu estava lá.[...]. E, também, muita leitura sobre Antropologia.Pois, Antropologia da África é a Antropologia douniverso, aquilo é um verdadeiro universo. Mas, aGeografia foi a que, sobretudo, me ajudou muito ame situar.

Sobresua ida para a faculdade interiorana, assim relatada:

“Quando, eu recebi o convite para ir lá para a Faculdade de

Educação, e Katia Matoso, a lendária Katia Matoso. [...]

Pediram a ela pra indicar o nome de uma pessoa, que pudesse ir

pra lá, ela indicou meu nome.” Ao contato com Matoso,

professora Luíza atribui seus conhecimentos sobre a relação

que conseguiu estabelecer, ainda naquela época, entre ensino e

pesquisa, conforme declarou. Que eu estava, assim, encantada pela técnica decomentários de textos históricos. Que foi uma

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técnica que, quem trouxe essa prática pra cá, paraUFBA, foi Kátia Matoso. Na verdade, Kátia Matoso,não. É uma coisa que todo professor de História,todo historiador faz. Mas, Katia Matoso trouxe asistemática. Como sistematizar um comentário detexto histórico e como transformar isso numaferramenta não só para as aulas, como também para apesquisa. Porque era uma metodologia que... Eranão, é. Que é aplicada na própria pesquisahistórica. Só que naqueles anos setenta havia umaseparação muito grande entre ensino e pesquisa.[...] Então, essa prática de trazer para sala deaula uma metodologia que era da pesquisa histórica,foi uma coisa que Kátia Matoso trouxe,sistematizou, e eu fiz parte do primeiro grupo queela treinou para fazer esse trabalho.

Portanto, essa professora já levou para a Faculdade de

Educação, alguma experiência acadêmica, pois iniciava o

contato com a pesquisa equando estudante atuou como monitora

no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), da UFBA, onde

começou ministrando cursos sobre História da África (conforme

declarou).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos nesta pesquisa que na opinião da maioria dos

professores, que vivenciaram o ambiente histórico em estudo,

no estado da Bahia se gestava um processo de inovação, não

como uma imposição da ditadura militar, mas como uma

necessidade do contexto, onde imperava o clientelismo e a

falta de professores capacitados nos níveis mais elevados da

educação.

Assim, perante os dados coletados, foi possível inferir

que se tratava de experiência de ensino superior inédita no

município de Feira de Santana, onde a maioria dos docentes era

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de licenciados no início da carreira. Mas a forma colaborativa

do trabalho inicial, sob a assessoria de Joselice Macedo, deu

segurança aos docentes iniciantes como disse o professor

Monteiro8: “Foi uma experiência muito rica nesse sentido de que

a gente não tinha simplesmente [professores] jovens, tínhamos

já pessoas amadurecidas, batalhadoras na área de educação que

davam uma certa tônica no trabalho que a gente realizava”.

Embora reconhecendo o cerceamento imposto pelo regime de

exceção e perante as especificidades e ambiguidades do ensino

superior, foram possíveis as ações inovadoras e resistências

nas experiências de docentes daquele período, seja como forma

de compromisso ou como estratégia de sobrevivência.

REFERÊNCIAS

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LUCARELLI, Elisa. Pedagogia universitária e inovação In: CUNHA(Org.). Reflexões e práticas em pedagogia universitária. Campinas, SP, Papirus, 2007. LUCARELLI, Elisa. Prácticasprotagónicas e innovación em launiversidad In: CUNHA, SOARES, RIBEIRO (Orgs). Docência Universitária: profissionalização e práticas educativas. Feirade Santana: UEFS editora, 2009.8 Ibidem nota número seis.

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