Ensaio-Andrea Portugal

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@ Andréa Portugal Fellows Kuhnert Dourado Universidade de Brasília Centro de Desenvolvimento Sustentável Disciplina: Ciência e Tecnologia – Uma Introdução Professor: Ricardo Neder 2º/2010 TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS, RESPONSABILIDADES. Andréa Portugal Fellows Kuhnert Dourado 1 Resumo Este ensaio faz uma reflexão sobre desenvolvimento econômico e social, muitas vezes medido pelo acesso as tecnologias e foi baseado na Teoria Crítica da Tecnologia de Feenberg² em teóricos e pesquisadores da área, baseado ainda em pesquisas em páginas eletrônicas, participação em seminários, debates e grupos de trabalhos tendo observado a regulamentação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, com foco nos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, e o consumismo tecnológico. Sumario Introdução Política Nacional dos Resíduos Sólidos Consumo Educação – Ferramenta de transformação Considerações Finais Notas 3

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@ Andréa Portugal Fellows Kuhnert Dourado

Universidade de BrasíliaCentro de Desenvolvimento SustentávelDisciplina: Ciência e Tecnologia – Uma IntroduçãoProfessor: Ricardo Neder2º/2010TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA

RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS,RESPONSABILIDADES.

Andréa Portugal Fellows Kuhnert Dourado 1

ResumoEste ensaio faz uma reflexão sobre desenvolvimento econômico e social, muitas vezes

medido pelo acesso as tecnologias e foi baseado na Teoria Crítica da Tecnologia de

Feenberg² em teóricos e pesquisadores da área, baseado ainda em pesquisas em páginas

eletrônicas, participação em seminários, debates e grupos de trabalhos tendo observado a

regulamentação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, com foco nos resíduos de

equipamentos eletroeletrônicos, e o consumismo tecnológico.

Sumario

IntroduçãoPolítica Nacional dos Resíduos Sólidos

ConsumoEducação – Ferramenta de transformação

Considerações FinaisNotas

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@ Andréa Portugal Fellows Kuhnert Dourado

1 Andréa Portugal Fellows Kuhnert Dourado está como Coordenadora Geral do Comitê para Democratização da Informática do Distrito Federal e Entorno e aluna especial do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília – UnB. E­mail:andré[email protected]

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Introdução

O impacto do desenvolvimento social e econômico não­sustentável vem gerando

algumas situações como a dos REEE (Resíduos de Equipamentos eletroeletrônicos) não

apenas no descarte de forma inadequada, antes ainda ao descarte temos o consumo

desmedido e a produção e importação sem crítica.

Incentivado pelo capitalismo o consumidor, na busca de um status, poder, etc. é levado

a crer que o desenvolvimento das tecnologias = desenvolvimento social e econômico

trazendo a ilusão de ascensão pessoal aquelas que possuem as novidades “tecnológicas”,

enquanto isso muitos fabricantes diminuem o tempo de obsolescência do artefato,

computadores, celulares, monitores, etc. As mudança e “evoluções” tecnológicas nem

sempre contribuem para um verdadeiro desenvolvimento.

Ainda que seja óbvio que a tecnologia desempenha um papel

importante nas mudanças sociais, é pouco provável que em cada

caso tenha sido o único fator ou causa inicial. Também há pressões

do tipo político, econômico e social. A tecnologia pode fazer que em

certas circunstâncias haja mudanças sociais, mas não as origina ou

determina como se desenvolverão. (Elliott3)

O consumo é culturalmente aceito e incentivado pelo capitalismo, mas, ao

observarmos percebemos que as necessidades humanas não são nem ilimitadas, nem

biologicamente fixadas, mas constantemente redimensionadas e condicionadas socialmente

de acordo com as potencialidades e determinações produtivas do intercâmbio metabólico

estabelecido com a natureza. (Zanetti, 2009)4. O consumo avança por meio de uma

crescente subordinação das necessidades determinadas pelo mercado ocupando um

espaço antes ocupado por valores como família, religião, comunidade, a marca vai além da

utilidade. (FONTENELLE, 2002)5.

A educação formal e não­formal pode reforçar ou entrar em conflito com essa forma de

sociedade capitalista hoje aceita. A Teoria Crítica da Tecnologia busca o controle humano

no desenvolvimento da tecnologia através da discussão e instituições representativas. A

existencia de um modelo democrático para discutir o desenvolvimento das tecnologias, na

essencia e na existência de acordo com Feenberg (NEDER, 2009)7. Algumas propostas

educacionais vem de encontro a teoria crítica proposta por Feenberg, a educação popular,

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de acordo com o educador Paulo Freire6, busca a participação do educando em sua

formação, a comunicação adquiriu em Freire uma dimensão política, em vista do caráter

problematizador, gerador de reflexão (consciência crítica) e de transformação da realidade

que possui o diálogo. Este não é possível sem um “compromisso com seu processo”.

Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS)

O Brasil é campeão na geração de lixo eletrônico a partir de computadores, de acordo

com estudo realizado, em onze países emergentes, pelo Programa Ambiental das Nações

Unidas8 (Unep ­ 2010) e pela organização não­governamental Solving the E­Waste Problem

(StEP)9. É líder também na América Latina, segundo Materials Testing and Research

(Empa)10 apesar desse cenário inicialmente desolador, sabemos também que 94% desse

material pode ser reciclado retornando para a cadeia produtiva.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei nº 12.305, de 03 de agosto de

2010 – estabelece novos princípios, objetivos e instrumentos para a gestão de resíduos

sólidos no Brasil. Pelo princípio da responsabilidade compartilhada, talvez o principal marco

conceitual da nova Lei, geradores de resíduos, tanto públicos como privados – incluindo os

consumidores –, têm responsabilidade definida e devem cooperar para que os objetivos da

PNRS sejam alcançados.

Os problemas ambientais mundiais são oriundos dos valores sociais

até então vigentes e da percepção geral da humanidade sobre a

natureza, no que tange a crença na eficiência das atividades

humanas, na maximização de lucros e na valorização da razão

tecnológica e da racionalização econômica, o que gerou uma

“sociedade deformada, desintegrada e desintegradora do meio

ambiente(MMA, 2001)

A regulamentação da PNRS em dezembro de 2010 aponta os diversos atores,

(TÍTULO III, DAS RESPONSABILIDADES DOS GERADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS E

DO PODER PÚBLICO) dividindo as responsabilidades entre Os fabricantes, importadores,

distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza

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urbana e de manejo de resíduos sólidos são responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos e

agendando prazos para aplicação. Entretanto é difícil crer na execução nessas metas

apontadas pelo governo, mesmo pensando em consórcio de municípios, aconteça até

agosto de 2014,

A situação atual dos municípios brasileiros é que mais da metade ­ 50,8% ­ depositam

seus resíduos em lixões a céu aberto, de acordo com um levantamento divulgado dia 20 de

agosto de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)11 com dados

colhidos em 2008. Em alguns estados do Nordeste, como Piauí e Maranhão, esse número

chega a 95%. A presença de catadores de lixo em 27% dos municípios brasileiros foi

constatada nessa pesquisa do IBGE que apontou também para a existência no Distrito

Federal dos catadores em todos os lixões ou aterros da localidade.

A maioria das cidades brasileiras ainda não possui coleta seletiva ou não possui a

coleta que seja eficiente com raríssimas exceções e em sua maioria nas regiões SUL e

SUDESTE. Embora a coleta seletiva tenha dobrado entre 2000 e 2008, segundo o IBGE,

analisando o quadro atual onde até a reciclagem do papel ainda não é realizada em grande

escala e vendo o exemplo de Brasília, capital do Brasil, despejando seu rejeito e resíduos em

um lixão a céu aberto na Estrutural, ao lado do Parque Nacional de Brasília, fica difícil crer

que no prazo estimado até agosto de 2014 será cumprido sem uma mudança significativa de

comportamento de toda sociedade junto com investimento governamental de forma geral e

integrada, com o fim dos lixões e consórcio para construção e operação de aterros

sanitários em todo Brasil.

A priorização dos catadores no recebimento dos resíduos, que hoje já funcionam de

maneira informal, deverá contar com uma formação específica para a seleção e triagem de

acordo com a regulamentação da PNRS ­ TÍTULO V, DA PARTICIPAÇÃO DOS

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E REUTILIZÁVEIS9 Art. 40. O sistema de

coleta seletiva de resíduos sólidos e a logística reversa priorizarão a participação de

cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis constituídas por pessoas físicas de baixa renda. Os atuais atores da coleta

seletiva hoje deveriam ser chamados a conhecer e contribuir com o desenvolvimento da

tecnologia de reciclagem, como uma parte significativa dos catadores trabalham com

autonomia, não vinculados as cooperativas, como será feita essa troca de conhecimento e

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acordo entre as partes? Durante o Grupo de Trabalho realizado nos anos de discutir a

PNRS, entre 2009 e 2010 pelo CONAMA9 foram convidados diversas representações da

sociedade: academia, sociedade civil (ongs), indústria, comercio, logística, para discutir

como intervir na PNRS e sua regulamentação propondo um documento com os acordos

entre setores.

Os resíduos eletroeletrônicos possuem uma enorme quantidade de materiais tóxicos

nocivos a saúde, as placas não são recicladas ainda no Brasil, apesar de não termos ainda

tecnologia ambientalmente adequada para a extração dos metais preciosos existentes nos

REEE, alguns sucateiros, que por falta de informação, tentam extrair os metais preciosos

queimando as placas que possuem ouro, prata e outros metais, mas que junto exalam

chumbo, mercúrio, berílio, etc

Autores como Latour e Callon, ao explorar o conceito de Rede de Atores, avançam no

sentido de propor uma espécie de tratamento conjunto da Ciência e da Tecnologia. A ciência

não consistiria em pura teoria, nem a tecnologia em pura aplicação, senão que ambas

seriam integrantes de redes de cujos nós também fazem parte todo tipo de instrumentos,

seres e objetos relevantes à atividade que se desenvolve no seu entorno.(DAGNINO) 11

Consumo

Sem um esforço considerável para alterar os atuais padrões de produção e consumo

não é realista querer uma sociedade mais justa e mais responsável do ponto de vista do uso

dos recursos naturais, com os relatórios sobre aquecimento global estabelecem

providências urgentes.

Para os brasileiros, que estão consumindo eletrônicos em uma escala cada vez maior,

é o momento de se mobilizar em torno de mais esse perigo ao meio ambiente. Pesquisa

realizada em 2009 no Brasil demonstra que foram comercializados cerda de 10,5 milhões

naquele ano, sendo que sua vida útil em média é de 3 a 4 anos e que quando falamos em

celular a situação é mais crítica ainda pois foi a comercialização em 2009 foi de 21 milhões

de aparelhos.com tempo de vida útil mais curto ainda de 1 a 1,5 anos. (FGV­SP)

O Relatório da ONU divulgado em fevereiro 2010, o levantamento mostra que os

computadores que vão para o lixo todos os anos, no Brasil, somam mais de 0,5 quilo de

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resíduos por habitante equipamentos que poderiam ser recondicionados, continuar em uso,

ou ser reciclados, para que os componentes voltassem à cadeia de produção. Mas são

descartados, e, pior, sem nenhum cuidado para impedir que os itens tóxicos contaminem o

ambiente. Depois do Brasil, no estudo, estão África do Sul, México e Marrocos, que geram

entre 0,4 e 0,5 quilo por habitante/ano de lixo; Peru e China, com 0,2 quilo/habitante/ano; e

Senegal, Kenya, Uganda, Colômbia e Índia (0,15 por habitante/ano). Se forem considerados,

além de computadores, outros equipamentos eletrônicos, a quantidade de lixo eletrônico

gerada pelos brasileiros chega a 1,9 quilo por habitante por ano.

Comparativamente a outros países o seguinte quadro:

O lixo tecnológico é mais uma das facetas da agressão ao meio ambiente provocada

pela humanidade mais representativa nos últimos anos, já que seu crescimento é de 3 vezes

superior ao lixo comum (Ruediger Kuehr – UNU)

A participação ativa dos consumidores pode fazer toda diferença no desenho e construção

dos equipamentos que chegam ao mercado.

Não basta reconhecer o caráter social das decisões técnicas, o

problema é como construir o sujeito social que tome as decisões de

maneira que as opções do futuro dependam do que se decida

coletivamente. E isso não é alheio à racionalidade, pelo contrário, a

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racionalidade coletiva é uma das formas mais difíceis de conseguir

da racionalidade e um dos projetos de mais desesperançada

urgência. (Broncano, 2000, apud por DAGNINO 2008, pág.73)10.

O pesquisador paquistanês Adnan Shahid, citado pela página

eletrônica do Planeta Sustentável11, aconselha a opção pelos

computadores verdes. Como não existe um selo padrão nacional, o

pesquisador que os consumidores procurem saber sobre qual a

porcentagem reciclável do computador, se o fabricante se

compromete a recolhê­lo e encaminhá­lo para a reciclagem, ao fim

de sua vida útil, se ele economiza energia e se contém chumbo,

entre outros critérios.

Já existe solda sem chumbo, máquinas com maior eficiência

energética, que oferecem menor risco para a saúde, com mais

materiais recicláveis, placa­mãe de fácil manuseio e processo de

reciclagem mais completos. Cabe ao consumidor a decisão de

compra e isso pressiona os fabricantes. Para simplificar o trabalho,

procurar pelo ISO 14001 de gestão ambiental e pelo ISO 9001 de

qualidade também é uma boa opção.

O desenvolvimento da Ciência e Tecnologia têm sido crescentemente impulsionadas

pela busca de hegemonia mundial das grandes potências e pelas exigências do

desenvolvimento industrial e as pautas de consumo que ali se geram e difundem para as

sociedades que imitam esses processos de modernização (DAGNINO, 2008)10, essa forma

de encarar o desenvolvimento cria um círculo vicioso sem dar muito tempo para reflexões

sobre a participação dos atores e sua sustentabilidade.

EDUCAÇÃO – Ferramenta de transformação

A manutenção de uma educação bancária, onde o pensamento crítico e colocado de

lado priorizando o ensino tradicional onde o professor “transmite” seus conhecimentos e o

aluno “recebe” sem intervir ou enriquecer com sua experiência, anseios, etc. dificulta que a

Teoria Crítica da Tecnologia venha a se desenvolver.

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Avançando nas pesquisas realizadas nas universidades carregada de valores temos o

seguinte quadro. (Gorz, 1974, p.173 a 175, apud DAGNINO,2008, pág.103).A pesquisa

fundamental, cujo objetivo ainda é, por muitos, percebido como ligado à aquisição de

conhecimento, é crescentemente influenciada pelas prioridades da produção e financiada,

ainda que com recursos públicos, em função das possibilidades de aplicação rentável dos

seus resultados. O avanço das ciências tende a ser cada vez mais desigual,

desenvolvendo­se muito mais rapidamente as ciências susceptíveis de serem

"capitalizadas" e "valorizadas" no processo de produção, do que as relacionadas, por

exemplo, à saúde e saneamento públicos, transmissão de conhecimentos, melhoria das

condições de trabalho, conservação ambiental e qualidade de vida.

A falta de comprometimento com os saberes populares, necessidades da comunidade

resultam muitas vezes em tecnologias que só atendem a determinados núcleos. Noble

admite que poucos engenheiros estejam empenhados em “destruir diretamente o povo”

(Noble, 2001, p. 16, apud, DAGNINO, 2008). Seu objetivo é fazer seu trabalho da melhor

forma possível. No entanto, geralmente eles constroem soluções boas para aqueles que

detêm o poder mas que são desastrosas para o resto da sociedade, em particular os

trabalhadores. Com isso, eles acabam reforçando as relações de classe vigentes. Segundo

ele, isso aconteceria porque os técnicos têm pouco contato com o mundo dos

trabalhadores, porque durante sua educação e carreira profissional somente se comunicam

com as elites de poder: primeiro os professores e pesquisadores e, depois, com a direção

das empresas.

A libertação desse circulo deve vir através da educação, a mudança de uma sociedade

de oprimidos, que não questionam C&T, para uma sociedade onde temos C&T&S só é

possível através de uma educação que valorize o educando, essa mudança é a

preocupação básica da pedagogia de Paulo Freire. (Moacir Gadotti, 1979, prefácio Educação

e Mudança, FREIRE, Paulo) Paulo Freire tem ainda o mérito de denunciar uma educação

supostamente neutra, sendo pedagogia das classes dominantes e a pedagogia dos

oprimidos.

A pedagogia dialógica se faz essencial para uma mudança de postura diante da

tecnologia ou estudo cientifico apresentado, educandos que pensam, refletem, não estão

confinados as salas de aula para busca de seu conhecimento, um educação horizontal,

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onde os saberes são respeitados para o desenvolvimentos de tecnologias sociais e que

possam apoiar e discutir o que está sendo desenvolvido pela academia, governo, empresas,

etc. O diálogo que busca dentro de um conflito posicionamentos e não somente

convergências.

A instrumentalização das escolas muitas vezes vem esconder a sua postura induzindo

a crer na neutralidade através do uso das tecnologias inovadoras.

Por que se a realidade, criada pelos homens, dificulta­lhes

objetivamente seu atuar e seu pensar autênticos, como podem,

então, transformá­la para que possam pensar e atuar nela

verdadeiramente? Se a realidade condiciona seu pensar e atuar

não­autênticos, como podem pensar corretamente o pensar e o

atuar incorretos? (FREIRE, Paulo, Educação e Mudança, 1979)16

Ainda os homens que são impedidos de atuar, refletir encontram­se

feridos em si mesmos como seres do compromisso.

Considerações Finais

Tendo como referencial teórico a Tecnologia Crítica de Feenberg, entendendo que a

sociedade tradicional está presa a paradigmas, costumes e mitos, o questionamento frente a

ciência e tecnologia vem quebrar esse círculo vicioso, a participação crítica desde a idéia,

modelagem e produto passariam por novos processos caso a sociedade fosse chamada, ou

melhor ainda, se sentisse participante e responsável pelas linhas de pesquisa, pela

tecnologia implementada, etc.

O poder decisório ainda está confinado a um grupo restrito ligado ao sistema de

produção capitalista, onde o faturamento está acima de tudo. O investimento na divulgação e

empoderamento das Tecnologias Sociais pela sociedade seria uma forma de quebrar esse

forma que vem, basicamente, de grupos específicos, que acreditam no Determinismo para

justificar as escolhas. Infelizmente a própria população ainda não acredita em seu poder de

desenvolvimento, apropriação e adequação das Tecnologias Sociais.

Podemos visualizar alguns movimentos alinhados a tecnologia crítica quando grupos

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contestam e sinalizam a necessidade de mudanças frente a um grande impacto ambiental,

fabricação e resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, citados nesse artigo, em forma de

boicotes aos fabricantes, fortalecendo políticas públicas que cobram e normatizam a

necessidade de adequações, alguns movimentos são sentidos. Já temos a mudança na

fabricação de componentes eletroeletrônicos, tentando minimizar o uso de elementos

tóxicos, industrias que fazem a logística reversa se responsabilizando pela destinação final e

correta, empresas ainda em movimentos tímidos recolhem seus equipamentos em final de

uso dos consumidores, por exemplo: ITAUTEC, DELL, Phillips, entre outros.

A participação popular ainda é pequena e apesar de algumas ações movidas por

instituições: CDI, Instituto Ethos, Lixo Eletrônico, Planeta Sustentável, etc. a produção e

venda dos celulares aumenta a cada ano16 com modelos que induzem o consumismo e as

propagandas não falam das substâncias tóxicas presentes no produto. O investimento se

faz dentro de inovações como câmeras de melhor resolução sem mudar os componentes

tóxicos.

A falta de informação e postura crítica dos consumidores fortalece esse

posicionamento das empresas no foco exclusivo do lucro.

A PNRS e sua regulamentação, focando o fortalecimento dos catadores e associações

de baixa renda, com formação já é um grande passo, mas sem a mudança na educação

formal, fomentando o cidadão crítico e participativo, nada disso vai adiante, pois o estado não

tem como coibir a todo o momento ações de descarte incorreto por exemplo, ou de decidir a

compra por um produto que tem um comprometimento de redução de impacto de fato ou

ainda na decisão da redução do consumo consciente, não por questões financeiras, mas por

posicionamento e responsabilidade.

Mas como mudar esse modelo pedagógico? Como estruturar as escolas formais e não

formais nesse sentido? Como educar a população, fora dos bancos escolares?

NOTAS

² FEENBERG, Andrew ­ is Canada Research Chair in Philosophy of Technology in the School of Communication, Simon Fraser University, where he directs the Applied Communication and Technology Lab. He is the author of Critical Theory of

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Technology (Oxford University Press, 1991)

3ELLIOTT, D. y ELLIOT, R. El control popular de la tecnología. Colección Tecnología ySociedad, Editorial Nueva Sociedad, 1980.

4 ZANETI, Izabel Cristina Bruno Bacellar; SÁ, Laís Mourão . Artigo ­ Insustentabilidade eprodução de resíduos: a face oculta do sistema do capital – UnB (2009)5FONTENELLE, Isleide Arruda. O Nome da Marca. São Paulo, Boitempo Editorial, (2002).

6 NEDER, Ricardo (org.) – A Teoria Crítica de Andrew Feenber: RacionalizaçãoDemocrática poder e Tecnologia (2010)

7FREIRE, Paulo ­ educador e filósofo brasileiro, É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. (link)8UNEP ­ 2010 Universidade das Nações Unidas (link) (Unep ­ 2010)9STEP ­ uma iniciativa de várias organizações das Nações Unidas com o objetivo global deresolver o problema do lixo eletrônico.(link) 10EMPA ­ uma instituição de pesquisa (link)11IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – (link)12Conselho Nacional do Meio Ambiente ­ CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo doSistema Nacional do Meio Ambiente­ (link)

13Planeta Sustentável ­ Lixo eletrônico: consumidores fazem toda diferença (link)

14DECRETO Nº 7.404, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2010 ­ Regulamenta a Lei no 12.305, de 2de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos

15DAGNINO, Renato ­ Um Debate sobre a Tecnociência: neutralidade da ciência edeterminismo tecnológico (2008)

16FREIRE, Paulo – Educação e Mudança (1979)

17Revista, Negócios Época – O que está errado com este produto? (link)

V Fórum da A3P ­ O Ministério do Meio Ambiente ­ MMA em parceria com outras instituições

públicas, realizou em 3 de dezembro de 2010 que teve como tema o Resíduo

Eletroeletrônico na Administração Pública. (link)

PLANO DE AÇÃO PARA PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS – PPCS, Portaria nº44, de 13 de fevereiro de 2008 – MMA

Bibliografia

DAGNINO, Renato. As trajetórias dos Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade e da

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Política Científica e Tecnológica na Ibero­américa1

NEDER, Ricardo (Org.). A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática,poder e tecnologia. Brasília: Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na AméricaLatina/CDS/UnB/Capes, 2010

Why Recycle Is Not Good Enough and How to Eliminate e­Waste

Documentário resgata discussão sobre problema dos lixões e dos catadores no Brasil ­http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1644484­17665,00.html

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