ENSAIO DE COMPARAÇÃO INTERLABORATORIAL – ACÚSTICA – CRITÉRIO DE INCOMODIDADE SONORA

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Acústica 2008 20 - 22 de Outubro , Coimbra, Portugal Universidade de Coimbra ENSAIO DE COMPARAÇÃO INTERLABORATORIAL – ACÚSTICA – CRITÉRIO DE INCOMODIDADE SONORA JorgeFradique 1 , Fátima Inglês 2 , Mário Mateus 3 , Ana Falcão 4 , Isabel Leal 1 , Sónia Antunes 5 1 Direcção Regional da Economia de Lisboa e Vale do Tejo, Estrada da Portela – Zambujal Apartado 7546 – Alfragide, 2611-858 Amadora, Portugal [email protected] [email protected] 2 Arsenal do Alfeite, Alfeite, 2810-001 Almada, Portugal [email protected] 3 ADAI – Departamento de Engenharia Mecânica, Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra – Pólo II, 3030-201 Coimbra, Portugal [email protected] 4 Direcção Regional da Economia do Norte, Rua Direita do Viso 120,4269-002 Porto, Portugal [email protected] 5 Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Av Brasil 101, 1700-066 Lisboa, Portugal [email protected] Resumo A Relacre promoveu um Ensaio de Comparação Interlaboratorial (ECI) de Acústica – Critério de Incomodidade Sonora, que decorreu entre Novembro de 2007 e Janeiro de 2008. Este ECI teve por objectivo analisar o desempenho dos laboratórios participantes na aplicação do critério de incomodidade definido no Regulamento Geral do Ruído, de acordo com a NP 1730 e com a Circular clientes n.º 2/2007 IPAC. Para o efeito foi simulada uma situação de incomodidade produzida por uma fonte sonora, no interior de uma sala. Foi solicitado a cada laboratório participante que caracterizasse o nível sonoro produzido pela fonte, ruído ambiente, o respectivo nível de avaliação bem como o ruído residual. O presente artigo discute as dificuldades encontradas na preparação do ensaio, apresenta a metodologia utilizada na análise dos resultados, os resultados obtidos e as principais conclusões. Palavras-chave: interlaboratorial, comparação, ensaio, incomodidade, ruído ambiente. Abstract Relacre, an association of accredited laboratories, promoted an interlaboratory comparison in acoustics entitled “Acoustics – Noise Annoyance Criteria”, which took place from November 07 to January 08. The goal of this interlaboratory comparison was evaluating the performance of the participating laboratories when applying the noise annoyance criteria defined in the Portuguese law and applicable national standards. The noise annoyance situation inside a room was simulated with a sound source placed in an adjacent room. Each participating laboratory should characterize the sound produced by the source, the environmental noise, its rating level as well as the residual noise. This article discusses some difficulties encountered in the preparation of the comparison, presents the methodology applied in the analysis of the results, the results and the main conclusions. Keywords: interlaboratory, comparison, testing, annoyance, environmental noise.

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Acústica 2008 20 - 22 de Outubro , Coimbra, Portugal

Universidade de Coimbra

ENSAIO DE COMPARAÇÃO INTERLABORATORIAL – ACÚSTICA – CRITÉRIO DE INCOMODIDADE SONORA

JorgeFradique1, Fátima Inglês2, Mário Mateus3, Ana Falcão4, Isabel Leal1, Sónia Antunes5

1Direcção Regional da Economia de Lisboa e Vale do Tejo, Estrada da Portela – Zambujal Apartado 7546 – Alfragide, 2611-858 Amadora, Portugal

[email protected] [email protected]

2Arsenal do Alfeite, Alfeite, 2810-001 Almada, Portugal [email protected]

3ADAI – Departamento de Engenharia Mecânica, Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra – Pólo II, 3030-201 Coimbra, Portugal

[email protected] 4Direcção Regional da Economia do Norte, Rua Direita do Viso 120,4269-002 Porto, Portugal

[email protected] 5Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Av Brasil 101, 1700-066 Lisboa, Portugal

[email protected]

Resumo A Relacre promoveu um Ensaio de Comparação Interlaboratorial (ECI) de Acústica – Critério de Incomodidade Sonora, que decorreu entre Novembro de 2007 e Janeiro de 2008. Este ECI teve por objectivo analisar o desempenho dos laboratórios participantes na aplicação do critério de incomodidade definido no Regulamento Geral do Ruído, de acordo com a NP 1730 e com a Circular clientes n.º 2/2007 IPAC. Para o efeito foi simulada uma situação de incomodidade produzida por uma fonte sonora, no interior de uma sala. Foi solicitado a cada laboratório participante que caracterizasse o nível sonoro produzido pela fonte, ruído ambiente, o respectivo nível de avaliação bem como o ruído residual. O presente artigo discute as dificuldades encontradas na preparação do ensaio, apresenta a metodologia utilizada na análise dos resultados, os resultados obtidos e as principais conclusões.

Palavras-chave: interlaboratorial, comparação, ensaio, incomodidade, ruído ambiente.

Abstract Relacre, an association of accredited laboratories, promoted an interlaboratory comparison in acoustics entitled “Acoustics – Noise Annoyance Criteria”, which took place from November 07 to January 08. The goal of this interlaboratory comparison was evaluating the performance of the participating laboratories when applying the noise annoyance criteria defined in the Portuguese law and applicable national standards. The noise annoyance situation inside a room was simulated with a sound source placed in an adjacent room. Each participating laboratory should characterize the sound produced by the source, the environmental noise, its rating level as well as the residual noise. This article discusses some difficulties encountered in the preparation of the comparison, presents the methodology applied in the analysis of the results, the results and the main conclusions.

Keywords: interlaboratory, comparison, testing, annoyance, environmental noise.

JorgeFradique, Fátima Inglês, Mário Mateus, Ana Falcão, Isabel Leal, Sónia Antunes

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1 Introdução

A realização de ensaios de comparação interlaboratorial (ECI) é cada vez mais uma exigência dos organismos de acreditação de laboratórios. De facto a participação continuada dos laboratórios em ECI permite demonstrar a sua competência técnica perante os organismos de acreditação e perante os próprios clientes. Por outro lado, a análise dos resultados obtidos permite também aos laboratórios corrigir ou melhorar os próprios procedimentos e técnicas de ensaio, em função da comparação com valores de referência ou, como é aqui o caso, com valores resultantes de um grande conjunto de outros laboratórios semelhantes.

1.1 Critério legal de incomodidade sonora

O ensaio de comparação interlaboratorial apresentado no presente artigo corresponde à aplicação do critério de incomodidade definido no Regulamento Geral do Ruído [1], utilizando para o efeito a metodologia descrita na Norma Portuguesa NP 1730 - Acústica. Descrição e medição do ruído ambiente [2], e na Circular clientes n.º 2/2007 IPAC [3]. Para efeitos de aplicação do regulamento, são definidos três períodos de referência, o período diurno, das 7h às 20h, o período do entardecer, das 20h às 23h e o período nocturno, das 23h às 7h. De acordo com o artigo 13.º do referido regulamento, as actividades ruidosas permanentes ficam sujeitas ao cumprimento do critério de incomodidade considerado como a diferença entre o valor do indicador LAeq do ruído ambiente determinado durante a ocorrência do ruído particular da actividade ou actividades em avaliação e o valor do indicador LAeq do ruído residual, determinado na ausência do ruído particular da actividade ou actividades em avaliação, diferença que não pode exceder 5 dB(A) no período diurno, 4 dB(A) no período do entardecer e 3 dB(A) no período nocturno, considerando as correcções do anexo I do Regulamento. O valor de LAeq do ruído ambiente determinado durante a ocorrência do ruído particular deve ser corrigido de acordo com as características tonais ou impulsivas do ruído particular, passando a designar-se por nível de avaliação, LAr, de acordo com a expressão seguinte:

LAr=LAeq+K1+K2 (1)

onde K1 é a correcção tonal e K2 é a correcção impulsiva. Os valores destas correcções são K1=3 dB(A) ou K2=3 dB(A) se for detectado que as componentes tonais ou impulsivas, respectivamente, são características específicas do ruído particular. Se estas componentes não forem identificadas, serão K1=0 dB(A) ou K2=0 dB(A). Caso se verifique a coexistência de componentes tonais e impulsivas a correcção a adicionar é de K1+K2=6 dB(A). Para a detecção das características tonais e impulsivas do ruído, o anexo I define os métodos a utilizar, de acordo com a descrição seguinte. O método para detectar as características tonais do ruído dentro do intervalo de tempo de avaliação, consiste em verificar, no espectro de um terço de oitava, se o nível sonoro de uma banda excede o das adjacentes em 5 dB(A) ou mais, caso em que o ruído deve ser considerado tonal. O método para detectar as características impulsivas do ruído dentro do intervalo de tempo de avaliação, consiste em determinar a diferença entre o nível sonoro contínuo equivalente, LAeq , medido em simultâneo com característica impulsiva e fast. Se esta diferença for superior a 6 dB(A), o ruído deve ser considerado impulsivo. Aos valores limite referidos deve ainda ser adicionado o valor D, determinado a partir da relação percentual entre a duração acumulada de ocorrência do ruído particular e a duração total do período de referência, de acordo com a tabela apresentada em seguida.

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Tabela 1 – Valores de D

Valor da relação percentual (q) entre a duração acumulada de ocorrência do ruído particular e a duração total do período de referência

D em dB(A)

q ≤ 12,5 % 4 12,5 % < q ≤ 25 % 3 25 % < q ≤ 50 % 2 50 % < q ≤ 75 % 1

q > 75 % 0 No caso particular do período nocturno, os valores de D=4 e de D=3 não se aplicam, mantendo-se o valor de D=2 para qualquer percentagem igual ou inferior a 50 %. Para as actividades com horário de funcionamento até às 24 horas, excepciona-se ainda a possibilidade de aplicar o valor de D=3. O n.º 4 do Anexo I do Regulamento Geral do Ruído estipula ainda que o intervalo de tempo a que se reporta o indicador LAeq corresponde ao período de um mês, devendo corresponder ao mês mais crítico sempre que se verifiquem situações de marcada sazonalidade anual. Esta necessidade levou á emissão da Circular clientes n.º 2/2007 IPAC, a qual visou definir um conjunto de critérios mínimos com vista a assegurar a representatividade requerida. Assim, de acordo com a referida circular, o ensaio deve basear-se na recolha de pelo menos duas amostras de ruído ambiente e de ruído residual, em dias distintos e em condições normais de funcionamento da actividade (incluindo fins-de-semana, se aplicável). No caso de a diferença entre os níveis LAeq do ruído ambiente, obtidos nas duas amostras anteriores, ser superior a 5 dB(A), realizar-se-á uma ou mais amostras adicionais, de modo a verificar este critério.

1.2 Simulação da situação de incomodidade

Para simular a situação de incomodidade a caracterizar, foram utilizadas duas salas adjacentes nas instalações da ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, em Coimbra. Numa das salas, designada por sala emissora, a que os laboratórios participantes não tinham acesso, foi colocada uma fonte sonora estável e controlada por elementos da ADAI. Na sala adjacente, designada por sala receptora, os laboratórios deviam caracterizar o ruído ambiente, com a fonte sonora em funcionamento, e o ruído residual, com a fonte sonora desligada.

Figura 1 – Fonte sonora instalada na sala emissora

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A fonte sonora reproduzia uma gravação de ruído branco, com a duração de 30 minutos, que incluía uma componente tonal na banda de 1/3 de oitava de 1600 Hz. Pretendia-se simular uma fonte sonora com um período de funcionamento compreendido entre as 7h e as 20h, aplicando o critério de incomodidade aos resultados obtidos. Cada laboratório devia caracterizar o ruído, dispondo de 30 minutos para caracterizar o LAeq do ruído ambiente medido na presença do ruído particular e 30 minutos para caracterizar o ruído residual. Os dados deviam ser interpretados na perspectiva do cumprimento do regulamento geral do ruído. Em caso de necessidade, era permitido aos laboratórios disporem de mais tempo de medição, quer para o ruído ambiente quer para o ruído residual. Em virtude de se tratar de uma situação simulada, em que a estabilidade temporal da fonte sonora era garantida pela definição de condições do ensaio, cada laboratório dispunha apenas de um período (manhã ou tarde) para efectuar a recolha de dados.

2 Local dos ensaios

O local escolhido para a realização dos ensaios foi seleccionado com base na disponibilidade de salas contíguas, afastadas tanto quanto possível das zonas mais movimentadas do edifício e onde a instalação de uma fonte sonora com um nível relativamente elevado em funcionamento quase permanente não se revelasse um incómodo significativo para os utilizadores habituais do edifício, no decurso das suas actividades diárias. As salas utilizadas, disponibilizadas pela ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, em Coimbra, cumpriam razoavelmente estes requisitos. Para analisar a situação do ponto de vista acústico e definição concreta das condições necessárias para a realização do ECI, foi efectuado um primeiro conjunto de ensaios, pelos elementos da comissão técnica, em Novembro de 2007. Foi definido o sinal a utilizar como fonte sonora, bem como as condições e o equipamento de emissão, instalado na sala emissora e a forma de monitorizar o sinal, electricamente através de um voltímetro e acusticamente por meio de um sonómetro.

Figura 2 – Ensaios e pontos de medição na sala receptora

Relativamente à sala receptora, foi definida uma malha de 12 pontos, que cobria toda a zona disponível para colocação dos pontos de medição, cumprindo os requisitos normativos, isto é, com afastamentos mínimos de 1 m em relação às paredes da sala e de 1,5 m relativamente a portas e janelas. Foi efectuado um conjunto alargado de medições, nesta malha de pontos, com o objectivo de

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simular as condições de medição durante o ECI e antecipar assim dificuldades e problemas que pudessem surgir. Como resultado deste trabalho verificou-se que se obtinham dispersões muito elevadas, quer entre pontos quer mesmo em cada ponto, ao longo das várias medições efectuadas. Por outro lado, também as medições de ruído residual, com a fonte sonora desligada, sofriam alguma influência do ruído de tráfego exterior, que se fazia sentir através das janelas da sala. Verificou-se que os problemas encontrados se deviam em grande parte aos tempos de reverberação particularmente elevados que se verificavam na sala receptora e, no que respeita ao ruído residual, ao fraco isolamento sonoro das janelas do edifício.

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frequência

Tr,

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un

do

s

semabsorção

Figura 3 – Tempos de reverberação na sala receptora

Com o objectivo de melhorar as condições do ensaio foram então introduzidas algumas alterações na sala receptora. Foi reforçado o isolamento sonoro das janelas, que foram duplicadas com recurso a painéis de gesso cartonado, perdendo-se naturalmente a entrada de luz natural, que não era relevante para a realização do ensaio. No que respeita ao tempo de reverberação, foram colocados na sala diversos elementos com elevada absorção sonora, que permitiram conseguir uma redução significativa dos tempos de reverberação anteriormente verificados. Nestas condições, e após mais alguns ensaios de teste, considerou-se estarem criadas as condições mínimas para prosseguir com a realização do ECI, dando-se então início aos ensaios por parte dos laboratórios participantes.

Figura 4 – Sala receptora após tratamento com absorção

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comabsorção

Figura 5 – Evolução dos tempos de reverberação na sala receptora

3 Laboratórios participantes

Participaram neste ECI os 67 laboratórios constantes da tabela seguinte.

Tabela 2 – Laboratórios participantes

Laboratórios A. Ramalhão – Laboratório de Ensaios ABIMOTA – LEA Acústica Hertz – Laboratório de Acústica ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica

Industrial ADESUS, Lda AMBERLAB – Laboratório de Ensaios da AMBERGO AMBIACÚSTICA AMBIENTE GLOBAL – Serviços Ambientais, Lda AMBIMINHO – Ensaios e Análises Ambientais, Lda ARSENAL DO ALFEITE AUDIRISCO – Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, Lda Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia CATIM – Laboratórios Estudos de Ruído CERTIFER CINFU – Centro de Formação Profissional da Indústria da Fundição CONSULGÉS, Lda CONTRARUÍDO – Acústica e Controlo de Ruído (VAGAeng, Lda)

CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro

DBLAB – MAIA A. Ramalhão – Laboratório de Ensaios ABIMOTA – LEA Acústica Hertz – Laboratório de Acústica ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial

ADESUS, Lda

AMBERLAB – Laboratório de Ensaios da AMBERGO AMBIACÚSTICA AMBIENTE GLOBAL – Serviços Ambientais, Lda AMBIMINHO – Ensaios e Análises Ambientais, Lda ARSENAL DO ALFEITE AUDIRISCO – Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, Lda Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia CATIM – Laboratórios Estudos de Ruído CERTIFER CINFU – Centro de Formação Profissional da Indústria da Fundição CONSULGÉS, Lda CONTRARUÍDO – Acústica e Controlo de Ruído (VAGAeng,

Lda) CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro DBLAB – MAIA DIRECÇÃO REGIONAL DA ECONOMIA DO ALENTEJO DIRECÇÃO REGIONAL DA ECONOMIA DO ALGARVE –

Laboratório de Acústica DIRECÇÃO REGIONAL DE LISBOA E VALE DO TEJO DIRECÇÃO REGIONAL DO NORTE – Núcleo de Acústica EAPS LAB – Laboratório de Ensaios Eco 14 – Serviços e Consultadoria Ambiental, Lda – Laboratório de

Acústica e Vibração Ediacustica – Estudos e Medições Acústicas, Lda ENARPUR – Estudos Atmosféricos e Energia, Lda ENGACÚSTICA – Ensaios e Medições Acústicas, Lda Engenharia de Acústica e Ambiente, Lda Enviestudos – Consultoria Ambiental, Lda ENVIRO – Engenharia e Gestão Ambiental, Lda GAMA AUDIVEL – Projecto e Medição Acústica Unipessoal, Lda. GELTRO – Laboratório de Acústica e Vibrações IDAD – Instituto do Ambiente e Desenvolvimento IDIT – Instituto de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica IEP – Instituto Electrotécnico Português INETI – São Mamede de Infesta – Laboratório

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Laboratórios INFINITECH ENGENHARIA – Laboratório de Acústica da INSITU

INOVA – Instituto de Inovação Teccnológica dos Açores

Inspecção-geral do Ambiente e do Ordenamento do Território – João Romano

Inspecção-geral do Ambiente e do Ordenamento do Território – José Paulo Santos

Inspecção-geral do Ambiente e do Ordenamento do Território – Nuno Gomes

IRG – Organismo de inspecção

ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade – Laboratório de Ruído ITeCons – Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Ciências da Construção

LABORATÓRIO TOMÁZ – ANÁLISES CLÍNICAS, Lda LABORSEGUR – Trabalho em Segurança, Lda LCA – Laboratório de Caracterização Ambiental - INEGI LNEC MANUEL MARTINS. Lda – Laboratório MOTA ENGIL, S.A MPT – Medicina e Prevenção no Trabalho, Lda NÚCLEO DE ENSAIOS ACÚSTICOS DO GOVERNO CIVIL DE

BRAGA OITAVA – Avaliação e Controlo de Ruído, Lda PEDAMB – Engenharia Ambiental, Lda PROENSAL – Projectos de Engenharia de Segurança, Lda PROTERMIA – Projectos Térmicos Industriais e de Ambiente, Lda QUESTÃO DE SOM – LABORATÓRIO DE ACÚSTICA SAMTRA – Saúde e Ambiente de Trabalho - Estudos e Projectos,

Lda SAS – Sistemas de Ambiente, Qualidade e Segurança, Lda SASHITLAB – Laboratório de Ensaios de Ruído da SASHIT SECIL – Laboratório de Ambiente SONOMETRIA, Lda Versegura – Unipessoal, Lda Visa Consultores de Geologia Aplicada e Engenharia do Ambiente,

S.A. VLM – Consultores, S.A XZ Consultores, S.A.

Destes laboratórios, 34 possuíam acreditação para o ensaio em avaliação. Inscreveram-se ainda mais dois laboratórios, que vieram posteriormente a desistir da participação no ensaio. Os Laboratórios deviam levar o seu equipamento, adequado ao ensaio a realizar. A instrumentação utilizada pelos diversos laboratórios participantes foi a constante da tabela que se segue.

Tabela 3 – Equipamentos utilizados

Equipamentos Marca Modelo

Sonómetros Brüel & Kjær 2260

Brüel & Kjær 2250

Brüel & Kjær 2238

RION NA-27

Solo Premium 01dB LR 90

CESVA SC 310

CEL 573 – C1/K1

01dB – Metravib Blue Solo 01

01 dB Symphonie

QUEST MODEL 2900

Calibradores Brüel & Kjær 4231

RION NC-74 – Classe 1

CESVA CB-5

SOLO LR 93

CEL 284/2

QUEST QC-10

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4 Análise de resultados

4.1 Cálculo da média e medidas de dispersão

A metodologia adoptada para o tratamento estatístico dos dados fornecidos teve por base o estabelecido pela norma ISO 5725 [5] e [6]. De acordo com esta norma foram efectuados os Cálculos da Média e de Medidas de Dispersão. A média para cada parâmetro é obtida a partir da equação:

å=p

iiy

pY

1 (2)

Sendo p o número de laboratórios. Em virtude de não existir um valor de referência, a média de todos os laboratórios, obtida após a eliminação de “aberrantes”, é considerada como sendo o verdadeiro valor amostral. O desvio padrão das médias obtidas pelos diferentes laboratórios é dado por:

1

)(1

2

-

-=å=

p

YYs

p

ii

(3)

4.2 Avaliação do desempenho

Foi também calculado o indicador de desempenho – Z-Score, por meio da expressão:

s

YYz i

i-

= . (4)

Onde: Yi – Média individual do laboratório Y – Média global dos laboratórios, após eliminação dos valores aberrantes s – Desvio padrão (após eliminação dos valores aberrantes). O desempenho do Laboratório é avaliado, por cada parâmetro ensaiado, de acordo com os seguintes critérios do valor numérico do factor Z:

Tabela 4 – Parâmetro Z-Score

Valores de Z Desempenho

3³Z Inaceitável

32 << Z Questionável

2£Z Aceitável

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4.3 Determinação de valores aberrantes

No tratamento de dados foi efectuada inicialmente a identificação de valores aberrantes utilizando o teste estatístico de Grubbs, que permite a eliminação de valores aberrantes com base na variabilidade interlaboratorial. Para aplicação deste teste é calculado o parâmetro G, a partir da equação:

s

yyG

pi -=

max (5)

Onde: yi – resultado do laboratório i, yp – média dos resultados de cada laboratório, s - desvio padrão O valor G é comparado com os valores críticos da tabela estatística constante na norma ISO 5725 [5]. Considera-se o valor obtido pelo Laboratório como aberrante se o valor de G calculado através da equação (5) for superior ou igual ao valor de G retirado da tabela estatística. Os resultados aberrantes (99%), para cada parâmetro, encontram-se assinalados a rosa (Grubbs), enquanto que os valores suspeitos (95%) encontram-se assinalados a negrito. Segundo o Teste de Grubbs, os resultados aberrantes (99%) detectados, foram eliminados. Os valores suspeitos (95%) detectados foram apenas assinalados, mas não eliminados.

5 Resultados obtidos

No caso dos parâmetros LAeq do ruído residual (LAeq, rr) e do critério de incomodidade sonora (LAr – LAeq,rr), não foram calculados os índices de desempenho. Esta opção é justificada pela elevada dispersão verificada nos valores de ruído residual encontrados, cuja responsabilidade não pode ser imputada aos laboratórios, e cuja contabilização iria tornar inconclusivos os resultados. Assim, as conclusões do ECI baseiam-se na análise dos resultados obtidos para o parâmetro LAr, que se apresentam nos gráficos e tabela seguintes.

45,00

47,00

49,00

51,00

53,00

L1

L2

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L4

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L9

L10

L11

L12

L13

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L32

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L41

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L51

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L65

L66

L67

L68

L69

LA

r

Y yi

Figura 6 – Resultados obtidos

JorgeFradique, Fátima Inglês, Mário Mateus, Ana Falcão, Isabel Leal, Sónia Antunes

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Tabela 5 – Resultados obtidos

Laboratórios LAr Z-score Laboratórios LAr Z-score

L1 46,8 -2,3 L36

L2 49,7 0,7 L37 48,8 -0,2

L3 48,8 -0,2 L38 50,1 1,1

L4 49,7 0,7 L39 48,4 -0,6

L5 48,2 -0,8 L40 47,5 -1,6

L6 48,0 -1,0 L41 48,5 -0,5

L7 48,0 -1,0 L42 50,7 1,8

L8 48,7 -0,3 L43 51,0 2,1

L9 48,2 -0,9 L44 51,2 2,3

L10 50,5 1,6 L45 48,4 -0,6

L11 49,6 0,6 L46 47,3 -1,8

L12 49,1 0,1 L47 48,1 -0,9

L13 48,9 -0,1 L48 49,4 0,4

L14 50,5 1,6 L49 49,8 0,8

L15 48,6 -0,4 L50 48,9 -0,1

L16 48,6 -0,4 L51 47,8 -1,3

L17 49,0 0,0 L52 48,2 -0,8

L18 48,8 -0,2 L53

L19 48,4 -0,6 L54 48,0 -1,0

L20 44,3 L55 49,0 0,0

L21 51,6 2,7 L56 48,6 -0,4

L22 49,3 0,3 L57 49,7 0,7

L23 50,4 1,4 L58 47,3 -1,8

L24 49,6 0,6 L59 48,6 -0,4

L25 49,9 0,9 L60 48,0 -1,0

L26 48,6 -0,4 L61 49,0 0,0

L27 49,8 0,8 L62 49,0 0,0

L28 48,8 -0,2 L63 48,6 -0,4

L29 49,1 0,1 L64 48,8 -0,2

L30 48,6 -0,4 L65 49,7 0,7

L31 49,2 0,2 L66 48,8 -0,2

L32 48,7 -0,3 L67 49,3 0,3

L33 48,9 -0,1 L68 49,4 0,4

L34 44,1 L69 50,8 1,9

L35 48,3 -0,7 Média (Y) 49,0

Desvio Padrão (s) 0,96

Desistiu

Desistiu

Z-score

-3,0

-2,0

-1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

L1

L2

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L45

L46

L47

L48

L49

L50

L51

L52

L54

L55

L56

L57

L58

L59

L60

L61

L62

L63

L64

L65

L66

L67

L68

L69

Figura 7 – Análise gráfica do parâmetro Z-Score

Acústica 2008, 20 - 22 de Outubro, Coimbra, Portugal

11

Apresentam-se de seguida os resultados indicados pelos laboratórios para o critério de incomodidade, bem como a respectiva estimativa de incerteza. Pelas razões atrás referidas, não foi efectuada qualquer análise destes resultados.

Tabela 6 – Resultados obtidos para o critério de incomodidade e respectiva incerteza

LaboratóriosRuído

Residual, LAeq

LAr-LAeq

residualIncerteza

ExpandidaLaboratórios

Ruído Residual,

LAeq

LAr-LAeq

residualIncerteza

Expandida

L1 29,3 17,5 0,1 L36L2 30,3 19,4 1,0 L37 30,9 17,9 1,7L3 28,9 19,9 1,3 L38 28,1 22,0 7,3L4 29,3 20,4 1,0 L39 31,4 17,0 1,7L5 28,7 19,5 2,0 L40 31,7 15,8 2,7L6 28,0 20,0 3,0 L41 29,3 19,2 3,5L7 31,0 17,0 2,6 L42 29,7 21,0 2,7L8 31,5 17,2 1,0 L43 29,0 22,0 2,4L9 30,7 17,5 0,3 L44 30,5 20,7 **L10 25,2 25,3 0,9 L45 29,4 19,0 2,0L11 26,8 22,8 3,4 L46 28,0 19,3 0,8L12 30,1 19,0 1,9 L47 28,7 19,4 2,4L13 29,2 19,7 1,6 L48 29,9 19,5 3,4L14 27,5 23,0 3,9 L49 28,2 21,6 2,1L15 31,0 17,6 1,9 L50 30,1 18,8 1,0L16 28,3 20,3 ** L51 31,1 16,7 1,0L17 36,0 13,0 2,8 L52 28,0 20,2 1,3

L18 27,4 21,4 1,9 L53

L19 29,2 19,2 2,1 L54 28,7 19,3 **L20 29,6 14,7 ** L55 30,0 19,0 3,8L21 32,2 19,4 2,2 L56 28,8 19,8 1,8L22 30,1 19,2 1,5 L57 28,6 21,1 1,4L23 29,9 20,4 1,8 L58 30,0 17,3 1,1L24 32,5 17,1 7,3 L59 30,1 18,5 **L25 29,2 20,7 0,8 L60 30,0 18,0 0,9L26 29,3 19,3 1,6 L61 30,0 19,0 4,1L27 29,0 20,8 2,0 L62 27,0 22,0 2,3L28 29,3 19,5 1,9 L63 30,8 17,8 2,5L29 28,7 20,4 1,2 L64 28,2 20,6 1,2L30 30,7 17,9 4,0 L65 29,8 19,9 3,6L31 30,1 19,1 3,4 L66 30,3 18,5 3,0L32 31,8 16,9 0,5 L67 30,5 18,8 2,1L33 29,1 19,8 1,6 L68 30,6 18,8 4,0L34 33,1 11,0 2,2 L69 33,3 17,5 2,8

L35 32,3 16,0 1,7

Desistiu

Desistiu

(**) – O laboratório não apresentou o valor da estimativa da incerteza

As fontes de incerteza declaradas pelos laboratórios participantes, constam da tabela seguinte.

Tabela 7 – Fontes de incerteza

Fontes de incerteza declaradas pelos laboratórios Arredondamento do valor do Critério de Incomodidade Inc. do cálculo do LAeq, r.r Classe de sonómetro Incerteza do Calibrador Correcção da pressão atmosférica Influência do observador Correcção da temperatura Posição do microfone Correcção R.A/R.R Repetibilidade Ruído Ambiental Duração Repetibilidade Ruído Residual EMA calibrador /Exactidão do calibrador Resolução do Calibrador Estabilidade Resolução do sonómetro Humidade Verificação "in Situ" Inc. do cálculo do LAeq, r.a

JorgeFradique, Fátima Inglês, Mário Mateus, Ana Falcão, Isabel Leal, Sónia Antunes

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6 Conclusões

Neste Ensaio de Comparação Interlaboratorial, não foi detectado qualquer desempenho insatisfatório na avaliação de LAr. Os laboratórios L1, L21, L43 e L44 apresentaram um desempenho questionável na determinação do LAr. Pelo Método de Grubbs, que permite a detecção de valores aberrantes com base na variabilidade interlaboratorial, foram eliminados os valores dos laboratórios L20 e L34 no Nível de Avaliação LAr. A partir da análise dos relatórios enviados, constatou-se que estes 2 laboratórios não consideraram o ruído tonal (K=3), o que justifica os valores claramente baixos declarados para LAr. Apresentam-se também os valores da incerteza declarados pelos laboratórios, com a excepção dos laboratórios L16, L20, L44, L54 e L59, que não indicaram este valor. É de realçar que, apesar de se tratar de uma situação muito controlada, como já foi descrito, o valor do desvio padrão obtido para os resultados de LAr dos vários laboratórios foi cerca de 1 dB. Uma conclusão imediata é que alguns valores de incerteza apresentados serão sem dúvida irrealistas (0,1 ou 0,3 dB). Por outro lado, valores de 7 ou mesmo 4 dB também parecem francamente exagerados. É importante que os laboratórios utilizem estes resultados para efectuar uma reflexão sobre os seus métodos de medição na prática: questões como o número de pessoas presentes na sala ou o número de pontos de medição devem ser repensadas, pelo menos em algumas situações mais críticas como no caso da existência de ruído tonal ou de espaços com reverberação elevada; alguns cálculos de incertezas merecem sem dúvida um aperfeiçoamento; a implementação de acções correctivas na sequência destas análises é sem dúvida uma mais valia da participação neste tipo de Ensaios de Comparação Interlaboratorial. Mesmo para aqueles que apresentam bons desempenhos, este tipo de análise pode levar à identificação de acções de melhoria, um objectivo que deve estar sempre presente na actuação dos laboratórios, desta ou de qualquer outra área.

Agradecimentos

Agradece-se à ADAI pela cedência das instalações bem como por toda a colaboração prestada para a realização deste ECI.

Referências

[1] Decreto-Lei 9/2007, de 17 de Janeiro, Lisboa, 2007.

[2] NP 1730 – 1: 1996 - Acústica Descrição e medição do ruído ambiente. Parte 1: Grandezas fundamentais e procedimentos.

[3] NP 1730 – 2: 1996 - Acústica Descrição e medição do ruído ambiente. Parte 2: Recolha de dados relevantes para uso do solo.

[4] Circular clientes n.º 2/2007 IPAC – Critérios de acreditação transitórios relativos a representatividade das amostragens de acordo com o Decreto-Lei nº 9/2007.

[5] ISO 5725 - 2: 1994, Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Part 2: Basic method for the determination of repeatability and reproducibility of a standard measurement method.

[6] ISO 5725 – 3: 1994, Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Part 3: Intermediate measures of the precision of a standard measurement method.