Educação e emancipação. A libertação das crianças sob o olhar da filosofia política(2008)

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1 EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: a libertação das crianças sob o olhar da filosofia política 1 Suzana Albornoz Quando profissionais da educação se reúnem em torno do tema PESQUISA EM EDUCAÇÃO E INSERÇÃO SOCIAL, que define este Seminário, expressam evidente preocupação científica, que possui também clara dimensão ética e, além disto, uma importante conotação política. As pesquisas científicas que se desenvolvem sobre as questões da inserção social distribuem-se generosamente pelos domínios das ciências biológicas da saúde, física e mental, bem como dos estudos sociais aplicados, variados como os da administração, da economia, do serviço social, do direito, e o das ciências humanas e sociais, ou seja, a história, a sociologia, a antropologia cultural. Assim, atingem muito especialmente o domínio da educação, foco comum dos que se reúnem neste encontro. Portanto, suponho que muitos dos colegas aqui presentes farão suas comunicações relatando a riqueza das pesquisas científicas que se vêm fazendo no Brasil, pesquisas de cunho teórico ou empírico, com as diversas metodologias que a ciência autoriza, sejam qualitativas, quantitativas ou mistas, ou métodos inovadores, levando a interpretações igualmente inovadoras, introduzindo no debate dados que informam e surpreendem; e com certeza, assim contribuirão para o 1 Texto correspondente a comunicação oral apresentada em Itajaí, junho de 2008, no Encontro da ANPED-Sul. Nesta forma atual deve ser publicado proximamente como capítulo de livro.

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EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: a libertação das crianças sob o

olhar da filosofia política1

Suzana Albornoz

Quando profissionais da educação se reúnem em torno do tema

PESQUISA EM EDUCAÇÃO E INSERÇÃO SOCIAL, que define

este Seminário, expressam evidente preocupação científica, que possui

também clara dimensão ética e, além disto, uma importante conotação

política. As pesquisas científicas que se desenvolvem sobre as questões

da inserção social distribuem-se generosamente pelos domínios das

ciências biológicas da saúde, física e mental, bem como dos estudos

sociais aplicados, variados como os da administração, da economia, do

serviço social, do direito, e o das ciências humanas e sociais, ou seja, a

história, a sociologia, a antropologia cultural. Assim, atingem muito

especialmente o domínio da educação, foco comum dos que se reúnem

neste encontro. Portanto, suponho que muitos dos colegas aqui

presentes farão suas comunicações relatando a riqueza das pesquisas

científicas que se vêm fazendo no Brasil, pesquisas de cunho teórico ou

empírico, com as diversas metodologias que a ciência autoriza, sejam

qualitativas, quantitativas ou mistas, ou métodos inovadores, levando a

interpretações igualmente inovadoras, introduzindo no debate dados que

informam e surpreendem; e com certeza, assim contribuirão para o

1 Texto correspondente a comunicação oral apresentada em Itajaí, junho de 2008, no Encontro da ANPED-Sul.

Nesta forma atual deve ser publicado proximamente como capítulo de livro.

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aperfeiçoamento das práticas educativas. Tais enriquecimentos das

ciências humanas a serviço da educação possuem ainda o mérito de

estarem preocupados com a inserção social, de contribuir efetivamente

para o bem-estar daqueles que precisam de mais atenção dos educadores,

dos socialmente menos bem situados. Portanto, tais pesquisas contam

com todo o meu respeito e apoio, e meu reconhecimento de seu acerto

moral e político.

Por outro lado, apresentando estas breves considerações neste

Seminário no contexto do eixo temático FILOSOFIA E EDUCAÇÃO,

sinto-me como um pescador que as correntes marítimas levaram a

perder-se em alto mar e que, para retornar à enseada onde se encontram

seus companheiros, tem de navegar quase sem vento nas velas de sua

frágil embarcação, e com ela atravessar uma estreita passagem entre dois

rochedos: de um lado, a alta montanha da tradição filosófica, da longa

produção de conceitos e estudos rigorosos, que impõem disciplina ao

pensamento; do outro lado, a rocha também imponente dos estudos

científicos e técnicos sobre pedagogia, com seus variados métodos e o

esforço de aperfeiçoamento da arte de educar e ensinar. É, pois, com a

consciência de carecer de resultados concretos de pesquisa científica de

caráter empírico; e não querendo tampouco afetar uma pesquisa livresca

que ameace desviar a atenção da tessitura concreta de problemas tão

relevantes e complexos; ainda assim, com a esperança de contribuir para

maior clareza da compreensão dos problemas envolvidos, para o

3

encaminhamento de soluções; e apenas como introdução ao debate

coletivo, peço licença para apresentar aqui um breve registro sobre o que

se pode chamar “a libertação das crianças”, a partir de uma leitura

particular no âmbito da filosofia política, apoiada em pesquisas de caráter

histórico, da história da infância, sobretudo no mundo ocidental, e da

história do pensamento moderno sobre a educação.

Para tanto, trago comigo um livro, quase como um pretexto; este é o

remo que, espero, fará avançar minha canoa, entre a filosofia e a ciência e

arte da educação. Um pretexto, um livro: A libertação das crianças 2, do

filósofo francês contemporâneo Alain Renaut 3, autor de várias obras de

filosofia política, na descendência da filosofia política moderna e da

filosofia crítica. Procurarei apresentar aqui, pois, de modo resumido, a

interpretação de Renaut tal como se desenvolve na obra referida, ainda

menos conhecida entre nós, no Brasil, embora traduzida para o

português desde 2004, sobre a realidade atual das crianças que são, sem

dúvida, o sujeito-objeto principal dos estudos e da prática dos

educadores e, por outro lado, parecem constituir-se hoje em dia,

mundialmente, num novo grupo em transformação, ou seja, situam-se

no front da mudança, do movimento pela inserção e a emancipação

2 A libertação das crianças. Contribuição filosófica a uma história da infância. Paris:

Hachette, 2003.

1ª ed., Paris: Calmann-Lévy e Bayard, 2002. Lisboa: Piaget, 2004. 3 Alain Renaut é professor na Universidade Paris-IV, Sorbonne, e autor de obras de filosofia,

algumas em parceria com Luc Ferry. Entre suas obras se destaca A era do indivíduo(Gallimard, 1989) e a organização da História da Filosofia Política( Calmann-Lévy,

1989).

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social. A interpretação do referido autor movimenta-se no âmbito

filosófico, partindo do ponto de vista da filosofia política, portanto,

recorre, em primeiro lugar, como base para suas considerações, à história

das idéias políticas, mas também se apóia muito na pesquisa

historiográfica sobre a infância, que tem sido pródiga no domínio da

disciplina inaugurada por Phillipe Ariès, que interessaria autores tão

diversos como Michel Foucault, no outro extremo da palheta da

orientação político-ideológica.

A libertação das crianças, incluindo sua atual reivindicação de maior

autonomia, ou sua pouca disposição para a obediência, pode parecer

lugar-comum da reflexão pedagógica contemporânea, e assim, ser

entendida como uma queixa geral, sem cientificidade, dos responsáveis

pela educação, na escola como na família. Para superar as reflexões

ingênuas e observações simplificadoras sobre este fenômeno, que dá a

pensar e desperta a opinião pública, provocando a manifestação de

pessoas com os mais diversos pontos de vista, parece-me interessante

considerá-lo com mais vagar à luz de pesquisas que se valem da erudição

filosófica como das ciências sociais históricas, especialmente, da

historiografia.

Os estudos de história, mesmo depois dos primeiros tempos da

modernidade até o século XIX, detinham-se quase exclusivamente nos

eventos da vida política em seu sentido estrito, consistindo em relatos

das ações, decisões e façanhas dos homens de governo, reis e príncipes,

5

expedições, guerras, revoluções. É especialmente com a tradição de

pesquisa que se formou pelo trabalho do grupo de historiadores ligados à

Escola dos Anais, na França, quando se voltou a lente do pesquisador

também sobre o âmbito _ até então quase invisível para a memória dos

povos _ da vida privada, dos eventos do cotidiano, dos costumes e

experiências de longa duração. Postos no interior do doméstico, da vida

das famílias, no interior da economia em seu detalhe mais próximo da

experiência individual, o esforço pedagógico, como a representação

social das crianças e sua história real, recém no último século tornaram-

se objeto de pesquisa sistematizada, esta que tem a capacidade de fazer

revisar os preconceitos e as crenças que costumam idealizar o passado

em detrimento do presente.

Considerando as muitas e variadas investigações que se têm realizado

nos últimos tempos sobre a história da infância e sobre as representações

sobre a infância, desde a publicação dos primeiros trabalhos de Ariès

sobre o tema4, Renaut oferece uma instigante interpretação da atual crise

da educação, convidando a considerar as mudanças operadas nas

relações entre adultos e crianças, nas famílias transformadas do presente,

assim como também nas demais instituições educacionais e, muito

especialmente, nas escolas, como um progresso irresistível, embora de

decorrências ainda imprevisíveis, que se deve compreender como parte

4. Principalmente em seu livro de 1960: A criança e a vida familiar sob o Antigo Regime,

antecipado pelo ensaio A criança na família, de 1948, in: História das populações francesas e de suas atitudes diante da vida depois do séc. XVII.

6

da afirmação dos ideais políticos modernos de liberdade e de igualdade.

A epígrafe que introduz o livro aqui destacado é uma citação que ainda

hoje parece pertinente, do filósofo político francês do século XIX, Alexis

Tocqueville:

“Ao mesmo tempo em que o poder escapa à aristocracia, vê-se desaparecer o que havia

de austero, de convencional e de legal no poder paternal, e uma espécie de igualdade se

estabelece no lar doméstico. Não sei se, tudo considerado, a sociedade perde com esta

mudança, mas sou levado a crer que o indivíduo ganha com isto. Penso que à medida

que os costumes e as leis são mais democráticos, as relações de pai e filho se tornam

mais íntimas e mais doces; a regra e a autoridade diminuem; a confiança e a afeição

freqüentemente são maiores e parece que o elo natural se fortifica, enquanto o laço

social se distende”. (A democracia na América, III, 8)

Aberta com essa epígrafe, a obra nos remete a pesquisas históricas de

detalhe sobre a história da exclusão das crianças, especialmente sobre a

longa tradição do abandono dos filhos, dos antigos aos modernos; envia-

nos a uma revisão do humanismo educativo, começando pelos

pensadores renascentistas; convida-nos a considerar o abalo das

autoridades tradicionais que na modernidade atingem em cheio a

educação, na família e na escola; culmina com uma reflexão sobre as

questões atuais do direito ante a criança, sobre os direitos das crianças e

adolescentes, e se encerra com a proposta de uma ética da solicitude e do

apoio moral. Com a exploração das pesquisas historiográficas das últimas

7

décadas, o autor realiza uma análise própria sobre a construção histórica

do sentimento paternal e a compreensão da infância, sobre as percepções

novas do seu comportamento e do seu lugar social, ante um universo em

que a autoridade se dilui, os valores democráticos de igualdade e

liberdade se afirmam, e as famílias se transformam substancialmente,

também sob a influência dos novos meios de comunicação de massa.

Renaut se refere algumas vezes ao célebre ensaio de Hannah Arendt

sobre a crise da educação5, no qual detecta a marca da idealização do

passado, quando a filósofa afirmava que em nossa época

contemporânea6, quando as crianças parecem ter obtido mais autonomia

e estaria mais controlada pela lei a sua repressão e a punição, dentro das

escolas e das famílias, e por causa da crise da autoridade, em

conseqüência, a crise da proteção paterna, a situação das crianças seria

ainda “pior que antes”. Esta nossa breve reflexão terá como eixo central,

pois, a apresentação desenvolvida pelo autor no livro referido, que se

movimenta, como mencionamos, no domínio da filosofia política, e cuja

posição não se identifica nem com a já clássica interpretação de Ariès da

história da infância, ancorada sobre a presunção de que o

reconhecimento da peculiaridade da infância seria fenômeno surgido nos

tempos modernos; nem com a compreensão de Michel Foucault, que via

na atuação da modernidade antes um falso reconhecimento da infância,

por sua integração repressiva dentro do sistema; mas tampouco se

5 “A crise da educação”, in: Crises da república, São Paulo: Perspectiva, 1973. 6 O momento histórico que faz o cenário do ensaio de Arendt, evidentemente, não é mais presente;

trata-se dos meados do século XX.

8

espelha no famoso ensaio de Hannah Arendt, sobre o qual sobrepaira a

sombra do saudosismo de uma melhor época perdida, cuja existência as

pesquisas não conseguem comprovar.

Comecemos pela pergunta se a história das crianças deve ser contada

como história de uma exclusão ou história da liberdade. A história da

infância pode ser compreendida, como o foi de fato na linha das

interpretações próximas à de Foucault, como história de uma exclusão;

porém, também pode ser interpretada como história da liberdade, como

inserida na história da afirmação dos ideais de liberdade e de igualdade

próprios da era moderna. Desenvolvendo essa segunda interpretação,

Renaut reflete sobre a história da infância em sua perspectiva mais longa,

da Antigüidade ao final da Idade Média e aos tempos modernos, até o

presente; e a partir do Renascimento, avançando pelos séculos

modernos, compreende a ligação da história da infância com a da

afirmação dos ideais políticos de liberdade e de igualdade, pelo que se

pode dizer que é efetivamente apresentada pelo autor como parte,

paradoxal e problemática, do progresso irresistível dos ideais democráticos

modernos.

O caminho foi longo desde a Antigüidade, quando o pátrio poder do

chefe de família dava-lhe direito de decidir da vida e da morte das

crianças, de seus filhos assim como dos escravos e das mulheres. Por

outro lado, os costumes determinavam mais ou menos rigidamente o

lugar do indivíduo em sua cidade, em seu povo, pelo que a educação

tinha importância limitada, devendo apenas preparar para o destino, ou o

9

lugar social próprio. Até há pouco na história moderna, a autoridade do

poder, ou o poder da autoridade paterna, aliás, como da autoridade em

geral, apoiava-se em fonte transcendente, e isto tornava quase

inquestionável a manutenção das tradições domésticas ou públicas no

que se refere ao modo de tratar os “menores”.

Uma das tradições mais tristes, que nos impede de manter ilusões

sobre a situação da infância no passado, foi, ao longo dos séculos, a

prática do abandono das crianças. Sendo integrada nos costumes e

mesmo legal na Antiguidade, persistiu, contudo, ainda na modernidade

como uma prática freqüente e tolerada, de certo modo socialmente

aceita, até não muito tempo atrás. Alain Renaut refere números muito

expressivos mostrados por pesquisas baseadas em registros do século

XVIII que, embora não se possa afirmar a exatidão de tais registros,

causam espanto, ao mostrar a sobrevivência das práticas de abandono

das crianças no século das Luzes na França.7 Também no século XIX

não foram afastadas as práticas de abandono dos filhos; e o autor não

deixa de apontar que ainda na segunda metade do século XX podem ser

encontrados dados dolorosos sobre o abandono de crianças _ por

exemplo, na China, onde, sobretudo, meninas foram abandonadas pelas

famílias e entregues a instituições que vieram a constituir-se em

verdadeiros “morredouros”, pois só a minoria dos bebês sobreviveria.

7 Documentos de 1786 registram que, em 1700, em Paris, teriam sido recolhidas 1738 crianças; em 1750, na

mesma cidade haviam sido recolhidas 3789 crianças; enquanto, em 1772, foram recolhidas 7676 (dado de

pesquisa de John Boswell, 1987, referida por RENAUT, op.cit., 2002, p.142)

10

Ao revisar a história moderna da educação e do pensamento sobre a

infância, Alain Renaut aponta vários momentos de crise da educação, ou

seja, identifica várias crises da educação na história moderna. Uma

primeira crise da educação tradicional se encontra no nascimento da

modernidade, no extraordinário período conhecido como Renascença,

ou Renascimento, motivado pelas mudanças de visão do mundo,

influenciadas pelo rompimento dos limites da visão eurocêntrica, mesmo

“terrocêntrica”, também por efeito das descobertas da astronomia e do

desenvolvimento das navegações. Associado à grande riqueza das artes e

às descobertas geográficas e científicas, acontece também na época

importante movimento de idéias e de mudança de valores, fortemente

marcados pelo questionamento da autoridade e da hierarquia. Neste

período da emergência e afirmação do humanismo moderno, da rebeldia

ante a autoridade que predominara durante a Idade Média, surgem

pensadores com nova percepção sobre a natureza do homem, portanto,

em consequência, também com novas concepções e sugestões para a

educação e da afirmação de um humanismo pedagógico.

Entre os trabalhos que no período renascentista influenciariam as

idéias sobre educação e sobre a infância, Renaut destaca Pico de la

Mirandola e Erasmo de Rotterdam,8 em cujo pensamento emerge já a

modernização moderna da educação. É especialmente interessante

lembrar que o humanismo de Erasmo o levou a pensar a educação como

8 Erasmo de Rotterdam: Da educação das crianças, 1529; ou “Sobre a necessidade de instruir as crianças o mais

cedo possível e de modo liberal”; em latim: De pueris statim ac liberaliter instituendis, às vezes referido apenas

como De pueris.

11

algo mais que a educação espiritual, da educação cristã tradicional, como

um desenvolvimento que se deveria buscar em três níveis: 1. No nível do

corpo, dever-se-ia visar a afirmação da liberdade humana em relação à

tirania dos impulsos não dominados, pois a disciplina, como educação

física, previne da escravização do homem por seus desejos; 2. No nível

dos sentimentos, a instituição do humano consistirá na educação da

sensibilidade para as artes e as letras, para o que chamamos de cultura,

que nos libera da imediatidade possessiva da necessidade; 3. No nível da

inteligência, enfim, será cultivada a da instrução, como educação do

saber, que liberta das opiniões e das crenças cegas que conduzem ao

dogmatismo e ameaçam a própria razão, em suas formas ilusórias que O

elogio da loucura estigmatiza, mostrando os fanatismos de que pode ser

presa.9

Na continuidade da crise da educação inaugurada pelos humanistas da

Renascença, nos primeiros séculos da era moderna, o caminho da

afirmação da infância, ou da liberdade das crianças, evoluiu na proporção

do enfraquecimento e do abalo da autoridade tradicional. Este processo

teve causas complexas e diversas, mas Renaut defende sua interpretação

como correlato da evolução dos ideais políticos, que os pensadores

políticos modernos trataram: Na Inglaterra do século XVII, para

Thomas Hobbes, que em geral se interpreta como um autor conservador

nas questões de autoridade e liberdade, contudo, no que tange à maneira

de considerar a infância, sua influência já trabalharia na direção do

9 Conferir RENAUT, op.cit, p.195.

12

enfraquecimento da autoridade; pois que para Hobbes a autoridade

paterna não é uma decorrência natural das situações familiais e de relação

entre as idades da vida. A autoridade paterna foi compreendida por

Hobbes como convencional. E quando o filósofo do Leviatã considerava

a autoridade paterna como convenção, embora a defendesse, esta

consideração atingia a convicção tradicional que, para Aristóteles e seus

seguidores através da Idade Média, era a de ser natural a autoridade do

pai sobre os filhos, sendo, mesmo, a autoridade doméstica vista como o

modelo natural para a autoridade política.

Na mesma Inglaterra de Hobbes, na geração seguinte que acompanha

o século XVIII, a história da filosofia nos apresentaria a John Locke,

outro dos filósofos contratualistas fundadores da filosofia política

moderna, pensador central no processo da transformação da concepção

da autoridade paterna, cujas reflexões terão consequência direta para as

idéias sobre a educação, constituindo-se em degrau importante nessa

evolução.10 Para Locke, a educação, como a política, é necessária por

causa do pecado e da queda, como conseqüência do pecado e para

correção da natureza decaída. Por causa da decadência da natureza

humana, fruto do pecado, torna-se necessário o esforço educativo, assim

como a organização do estado e da sociedade civil. No pensamento de

Locke continua a afirmar-se a autoridade dos adultos sobre as crianças;

contudo, o direito parental, dos pais, pai e mãe, substitui o direito

paternal, do pai, o que é bem novo na história das idéias sobre tais

10

Ver LOCKE: Pensamentos sobre a educação.Conferir RENAUT, 2002, p.227 e ss.

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relações. Apesar de suas ambigüidades, John Locke defende que educar é

formar um ser livre. Assim como era originariamente livre antes do

pecado, o homem deve reencontrar pela educação a sua liberdade

própria. Por isso, deve-se educar para a liberdade, e o sentido da

educação é formar um ser livre, para o que convém educar pela

liberdade.

Uma segunda crise da educação tradicional seria aberta pelo escândalo

Jean-Jacques Rousseau. Rousseau, sobretudo com a publicação do livro

Emílio ou Da educação (1762), constitui-se num divisor de águas na história

das idéias, assim como sobre os fundamentos do governo e da

democracia, também quanto às idéias sobre a educação das crianças,

sobre o tratamento das crianças pelos adultos, e sobre a parte de

liberdade e a parte de destino na experiência dos homens ainda não

maduros. Com o seu discurso sobre a educação das crianças, Rousseau

se inseria no grande interesse do séc. XVIII pela educação, por isso é

surpreendente, e é preciso investigar cuidadosamente, para entender o

porquê da polêmica em torno de sua obra e de suas idéias sobre a

educação das crianças expressas em seu romance filosófico, situado entre

os tantos ensaios pedagógicos da época. Até hoje a pergunta permanece

e Renaut a repõe: por que o escândalo dos iluministas ante O Emílio de

Rousseau? É verdade que Rousseau interrogava os valores da civilização

e, ainda mais do que os valores da civilização, questionava a própria idéia

moderna de humanidade. Porém, será isto suficiente para explicar o

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grande escândalo? O que haveria na concepção de natureza humana de

Rousseau para tanto escandalizar a sua época?

Rousseau não prezava tanto a razão como a única, talvez nem mesmo

como principal característica a fazer de um homem um homem; e isso

deveria ser chocante, no século em que a razão se afirmava como um

dogma. Todavia, provavelmente o mais novo e escandaloso, na

concepção rousseauniana de natureza humana, seja a afirmação da sua

dimensão de perfectibilidade, o que dá novo peso de responsabilidade à

tarefa pedagógica e educativa, ante o indivíduo e ante o povo. Jean-

Jacques Rousseau afirma que o caráter da espécie não é ser racional, ou

ser político, nem de ser isto ou aquilo, mas de ser perfectível. O caráter

específico da humanidade é a capacidade e necessidade de receber uma

educação para se aperfeiçoar conforme aos fins que o próprio homem

escolhe, portanto, conforme à liberdade humana. Esta é uma idéia que

tem elos com a antropologia filosófica do “homem como ser em

possibilidade” que encontramos no pensamento de Ernst Bloch,11 que

concebe o estado de indeterminação _ ou seja, de possibilidade, quer

dizer, de liberdade _ como o próprio do ser humano.

É verdade que as interpretações das idéias de Rousseau são inúmeras e

variadas, e requereriam nossa atenção mais paciente, mais longo estudo;

Alain Renaut nos faz refletir sobre as dúvidas sobre elas, sobre quais

serão as mais acertadas, quais os mal-entendidos, e sobre quais as

contradições de Rousseau que também hoje ainda provocam a polêmica 11 Conferir BLOCH, Ernst: Princípio esperança _ I, II e III. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005 e 2006. Ver

especialmente o artigo: “O homem como ser em possibilidade”, Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1966.

15

e o debate. No entanto, não é aqui o momento adequado para nos

deixarmos enveredar por esse caminho sinuoso da polêmica sobre

Rousseau, sem dúvida importante para ser revisada, especialmente pelos

pesquisadores da área da educação. Rousseau apresentou avanços, mas

também retrocessos, com relação a, por exemplo, as posições de Locke,

no que concerne ao respeito à natureza humana, às crianças e sua

liberdade. Todavia, como um fecho decisivo para a questão da

importância das concepções de Rousseau, pensador que pôde (e ainda

pode, talvez) ser considerado irregular, porque se expressava muitas

vezes por ensaios literários, que usou mesmo o gênero do romance e o

de memórias para expor suas idéias, além da contraditória notoriedade

em seu tempo, aliada a incontestável influência sobre a posteridade _ nas

ciências humanas, no direito, na política, vale lembrar o reconhecimento

e o aplauso recebido do grande filósofo da Aufklãrung, Emmanuel Kant.

Na Pedagogia (1765), e na Antropologia (1798), Kant reconhece a

importância e a centralidade de Rousseau, e Renaut nos recorda o juízo

kantiano de que, a partir de então, só se poderia ser “contra ou a favor

de Rousseau”, mas não seria mais possível desconsiderá-lo, ao continuar

a obra de reflexão, precisemos, sobre as realidades humanas em geral,

políticas e pedagógicas em particular.

Após Rousseau, na história das humanidades no horizonte ocidental, e

isto com dimensão mundial, constata-se uma evolução paradoxal que

pode ser dita simultaneamente como desenvolvimento das ciências

sociais e como decadência ou esquecimento da filosofia política.

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Sacudido nesse movimento contraditório, no bojo de conflitos que

fariam o eixo político da era das revoluções e da era dos extremos,12 continuaria

o progresso da afirmação dos ideais de igualdade e de liberdade. Assim,

no século XIX, onde se encontram juntos Alexis Tocqueville e Karl

Marx, a filosofia política cederia espaço à ciência social, à economia, bem

como à filosofia da história ligada aos movimentos sociais. Desde o

momento romântico e utópico do século XIX, avançando pelo XX, e

apesar das vicissitudes da evolução política e do pensamento social, das

ideologias e dos eventos trágicos dos totalitarismos, contudo, continuou

seu caminho o progresso, descontínuo e incerto, mas irresistível, dos ideais

de igualdade e liberdade. É nesse mesmo tempo, paradoxal e violento

dos extremos, quando se registram conquistas legais e efetivas dos

movimentos pela afirmação política de grupos oprimidos _ das classes

sociais trabalhadoras, das etnias escravizadas, dos povos colonizados, das

mulheres submetidas.

Assim, no caminho da evolução da sociedade mundial no sentido da

liberdade e da igualdade, uma terceira crise da educação emergirá a partir

do centro do século passado, desde em torno de 1950 até o presente.

Após a segunda guerra mundial, durante as décadas de grande

desenvolvimento científico e tecnológico da segunda metade do século

XX, talvez mesmo por causa do progresso científico-tecnológico, o

mundo continuou a desenvolver-se na direção da ainda maior queda da

autoridade e da hierarquia _ na sociedade em geral, nas organizações 12 Expressões do historiador Eric Hobsbawn, que se constituíram em títulos dos volumes de sua história da época

contemporânea, referentes aos séculos XIX e o XX.

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particulares e nas relações intersubjetivas, quer dizer, também nas

relações com a juventude e com a infância, entre adultos e crianças, na

família e na escola. O avanço da liberdade e da igualdade nos últimos

cinqüenta anos pode ser questionado, como um processo ainda

insuficiente, incompleto, defeituoso, de um fenômeno mal distribuído, às

vezes desviado, mascarado, perverso, contudo, não pode ser negado

como algo irreal ou inexistente. O avanço da igualdade se dá com o

avanço da afirmação do sistema democrático de organização política, em

regiões do mundo em que ela não existia ou não era tradição no começo

do século XX.

Também na América Latina podemos constatar, e as pesquisas nas

ciências sociais com certeza o poderão confirmar, embora interrompido

por décadas de tensa reação em forma de ditaduras, podemos reconhecer

o avanço dos ideais democráticos em nosso continente, um amplo

processo de avanço embora irregular e nem sempre linear da liberdade e

da igualdade. As classes populares e os grupos oprimidos em geral, como

as minorias étnicas historicamente discriminadas, as mulheres

historicamente submetidas, encontram também na América Latina um

caminho de afirmação e reconhecimento, em busca de igualdades

econômicas e sociais, além das políticas e culturais. Também pela

influência dos novos meios de comunicação, sobretudo com o advento

das novas tecnologias, afirmam-se formas de relacionamento inter-

pessoais, e entre grupos sociais, mais igualitários, sendo bastante forte a

sua associação com o amplo processo de globalização acelerada nas

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últimas décadas. É bem próprio de nosso último tempo a afirmação de

uma variada e inovadora legislação que interfere no doméstico para

proibir e coibir a repressão e a violência na escola e na família.

A reivindicação coletiva, histórica, pelas mulheres, de maior liberdade e

igualdade jurídica, política, se efetivou em grande parte por uma maior

igualdade econômica e social, com variações conforme as regiões do

planeta e os grupos determinados. De certo modo e parcialmente, foram

realizadas as reivindicações das mulheres, pela conquista de direitos

iguais à participação, à propriedade, ao estudo, ao trabalho, às condições

de dignidade. As mulheres continuam lutando com as discriminações, as

dificuldades específicas, o preconceito, a violência doméstica, mas nessa

luta estão mais amparadas pela lei, pelas instituições jurídicas, e pela

compreensão mais difundida na opinião pública. De modo que é recém

agora quando as mulheres parecem estar criando elos com a política

propriamente dita, experimentando exercer maior poder em suas cidades,

em seus países.

É nesse contexto, pois, do avanço paulatino dos ideais e das práticas de

igualdade e liberdade, interferindo e transcendendo o domínio

doméstico, das relações do âmbito privado onde tradicionalmente

viveram as mulheres, onde se situa a atual reivindicação e problemática

dos direitos das crianças e dos adolescentes, ou seja, dos menores, a que

se dedica especialmente a educação. Após tais mudanças evidentes,

depois da perda da situação tradicional, estariam as crianças ainda “pior

que antes?” Quando, como já vimos acima, Hannah Arendt dizia que em

19

nossa época contemporânea, quando parecem ter obtido mais autonomia

e estaria mais controlada a repressão e a punição dentro das escolas e das

famílias, por causa da crise da autoridade e a crise da proteção paterna, a

situação para as crianças seria pior que antes, Alain Renaut julga ter sido

a filósofa, nessa reflexão, influenciada por uma idealização injustificável

do passado, que seria injusto defender, ante o imenso sofrimento

registrado pela história da infância, na época antiga e medieval mas

também no período moderno, da realidade do abandono, do direito

paterno à punição dos filhos, do direito do mestre à punição do

discípulo.

No século XX ocorreram as primeiras declarações internacionais dos

direitos das crianças. Dois séculos depois do Iluminismo, que deu origem

às primeiras declarações dos direitos do homem, começam a ser

reconhecidos, pelo menos formalmente, os direitos da criança, como de

um “pequeno homem”. Nas primeiras declarações oficiais _ a da

Sociedade das Nações, em 1924, e a da ONU, de 1959_, o objetivo

evidente era o de promover a proteção das crianças, expostas a tantos

perigos e sofrimentos no período que vai do começo da primeira grande

guerra mundial até o final da segunda. Por outro lado, a declaração da

ONU de 1989, muito mais longa e explícita, registra uma transformação

substancial de intenções e disposição, e já reconhece aos menores

direitos ligados a liberdades.

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Na Declaração de 1989 misturam-se e confundem-se duas tradições de

conquistas de direitos, duas espécies de direitos13: os direitos-créditos, ou

seja, direitos sociais _ à vida, à saúde, à proteção, e direitos-liberdades, ou

direitos políticos, se é que se pode dizer assim, ao nos referirmos a

crianças. Nas declarações dos direitos do homem adulto também se

misturaram e podem ser distinguidas essas duas ordens de direitos: uma

influenciada pelo avanço das idéias modernas oriundas do liberalismo; a

outra, resultado das lutas democráticas mais ligadas à corrente do

socialismo e à militância sindicalista. E não só acontece certa confusão,

carente de melhor esclarecimento, numas como noutras declarações,

bem como, além disso, processa-se claramente uma inversão, que se

torna evidente ao compararmos as Declarações dos direitos do homem

referentes aos adultos, com as Declarações dos direitos das crianças.

Sobretudo, há uma inversão de avaliação do que parece no presente

como direito certo e inquestionável ou como direito polêmico, duvidoso,

alvo de discussão. Assim, o que é tido como inquestionável para os

homens adultos, ou seja, os direitos à liberdade _ de crença, de

pensamento, de opinião, de expressão, de reunião, são os direitos

questionados quando se trata das crianças. E o que é tido como

inquestionável para as crianças, como o direito à proteção, à educação, à

saúde, etc., é posto em dúvida em relação aos adultos. O direito ao

trabalho, por exemplo, que é reconhecido quase como um dever para os

adultos, é negado, quase como um crime, para as crianças. O

13

Ver Norberto Bobbio, A era dos direitos. Rio de janeiro: Campus, 1992.

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inquestionável e relevante é que, de um modo ou de outro, avança o

reconhecimento dos direitos humanos das crianças, como homens em

todo o sentido, embora ainda não plenamente desenvolvidos e maduros,

muito embora permaneçam, ante a moderna evolução do

reconhecimento dos direitos infantis, algumas perguntas ainda sem

resposta.

A primeira pergunta que causa dúvida e discussão é se é possível

pensar a criança como cidadão. Pode-se constatar a correção de que a

criança seja considerada pela lei como cidadão, enquanto um cidadão em

desenvolvimento, mas em que medida e a que momento deste

desenvolvimento ser-lhe-ia dado o direito e a responsabilidade de

participar, com sua vontade, voz e voto, na política de seu país? Em que

momento deveria ser considerado um cidadão a parte inteira? Por

outro lado, há que manter a consciência dos riscos de uma formalização

jurídica das relações entre pais e filhos, adultos e crianças, professores e

alunos, que ameaça as teias da vida em que estão imersas as crianças.

Tomando este caminho, a negociação se impõe em todo tempo e lugar.

E parece bem questionável se nas maneiras de convivência entre pais e

filhos pequenos, por exemplo, a constante negociação seja o melhor

caminho, em toda ocasião. Com certeza, esses são os dois pólos entre os

quais oscila a questão da mudança consciente das formas de convívio

entre adultos e crianças, pais e filhos, professores e alunos, entre mais

liberdade ou mais segurança, mais liberdade ou mais proteção para as

crianças. E outra pergunta difícil de responder é se as crianças podem ser

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consideradas como um grupo social oprimido. Mesmo no que se refere

às mulheres, a linha entre a situação a superar e a situação de superação é

mais clara. As mulheres declaradas plenamente adultas pela lei, cidadãs a

parte inteira, podem ser consideradas como emancipadas, mesmo se

continuarão a buscar outras formas de liberdade e reconhecimento

dentro das situações econômicas e sociais concretas. Quanto às crianças,

uma vez que, por definição, pela idade da vida em que se encontram,

estão em evolução e mudança até outra forma de ser humanos como

adultos, sendo portanto sua existência mesma, enquanto crianças,

provisória, e sendo o seu modo próprio de ser humano ainda não de

todo maduro, as perguntas que ocorrem aos que trabalham sobre os seus

direitos são muitas e não se acham ainda todas as respostas.

Para além do direito, é preciso elaborar uma ética da solicitude e do

apoio moral, que contemple e colabore para aperfeiçoar a atitude dos

adultos diante das crianças, que se tornaram sujeitos de novos direitos.

Alain Renaut sugere e recomenda que, compreendendo embora como

um progresso irresistível a transformação sofrida nas relações entre pais e

filhos, adultos e crianças, na ótica da história política e de conquista de

reconhecimento dos ideais e das práticas da liberdade e da igualdade,

contudo, não se julgue suficiente, nem veja como suficiente a passagem

da ausência de lei ao plano do direito e da lei, que levaria a uma resposta

formal, jurídica, às questões e conflitos trazidos pelas novas situações e

expectativas. E assim, o estudo em questão termina com a proposta de

busca coletiva de um aperfeiçoamento ético que pense as obrigações dos

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adultos diante das crianças, ou seja, com a recomendação de uma nova

ética das obrigações dos adultos ante as crianças, pois que os direitos das

crianças requerem correspondentes obrigações dos adultos. Para avançar

nesse caminho, Renaut refere os trabalhos de Onora O’Neill, estudiosa

da filosofia prática kantiana que tem trabalhado sistematicamente sobre

uma ética das obrigações dos adultos ante os menores, levando em conta

a vulnerabilidade e a carência infantil de apoio moral, posto que os

direitos das crianças requerem correspondentes e adequadas obrigações

dos adultos.14 Restam-nos desta leitura, pois, muitas sugestões, para

empreendimentos futuros de pesquisa em educação, com vistas a tal

desenvolvimento ético, diante das crianças a caminho da igualdade e da

liberdade.

Referência principal

RENAUT, Alain: La libération des enfants. Paris: Hachette, 2003. 1ª ed., Paris: Calmann-Lévy, 2002. A libertação das crianças. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

Referências secundárias ARENDT, Hannah: “A crise na educação”, in: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972. BOBBIO, Norberto: A era dos direitos. Rio de janeiro: Campus, 1992. ROUSSEAU, Jean-Jacques: Emílio ou Da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999. TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998.

14

Na recomendação da ética da solicitude percebe-se afinidade com a reflexão de Paul Ricoeur;

conferir Rosa M.F. Martini, in: Ò meus amigos, não há amigos, Movimento/Edunisc, 2010.