Diálogo conceitual em torno do Estado plurinacional: entre o multiculturalismo e a teoria...

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O Estado plurinacional e o diálogo conceitual José Ribas Vieira 1 Letícia Garcia Ribeiro Dyniewicz 2 Resumo Este artigo examina uma possísvel ruptura do estado constitucional plurinacional em relação ao paradigma constitucional liberal, bem como se a compreensão de multiculturalismo de Will Kymlicka e Charles Taylor eliminariam o conflito inerradicável da política e, portanto, não conseguiriam compreender a situação do pós-colonialismo. Desse modo, o estudo se subdivide em três partes. Na primeira, far-se-á um resgate da teoria da dependência, da década de 60, para compreender o pós colonialismo como uma posição epistemológica que repensa as formas políticas e, principalmente, a formação dos estados a partir do Sul. Em seguida, serão realizadas algumas considerações sobre a novas geometrias institucionais que tentam se adequar ao modelo do estado plurinacional. Por fim, a discussão se dirige no sentido de tentar compreender se algumas perspectivas multiculturais podem estar de acordo com pós-colonialismo. Palavras chaves: estado plurinacional; multiculturalismo; pós-colonialismo; novas geometrias institucionais 1. INTRODUÇÃO Nas últimas três décadas (1980-2010), as transformações inseridas nos textos das Constituições da América Latina, quanto ao tratamento das relações entre os povos indígenas e o Estado nacional, foram tão impactantes, como é o caso das experiências boliviana e equatoriana, que, muitos são os autores, que acreditam em uma autêntica ruptura com o paradigma de Estado Constitucional forjado durante a modernidade. Sendo assim, um dos temas mais candentes do Novo Constitucionalismo Latino-Americano é a questão da luta pelos direitos dos povos indígenas em uma perspectiva descolonizadora. Essa deve ser compreendida como reconhecimento da isonomia entre a cultura ocidental hegemônica e a cultura dos povos ameríndios, com a consequente inserção na Constituição de elementos inerentes à cosmovisão indígena. Raquel Z. Yrigoyen Fajardo 3 pontua as etapas pelas quais atravessaram as diversas Constituições latino-americanas rumo à concretização deste projeto 1 Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor associado Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professor adjunto da Faculdade de Direito Evandro Lins e Silva/Ibmec. 2 Mestre em Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutoranda em Teoria do Estado e Direito Constitucional na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

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O Estado plurinacional e o diálogo conceitual

José Ribas Vieira1

Letícia Garcia Ribeiro Dyniewicz2

Resumo

Este artigo examina uma possísvel ruptura do estado constitucional plurinacional em relação ao paradigma constitucional liberal, bem como se a compreensão de multiculturalismo de Will Kymlicka e Charles Taylor eliminariam o conflito inerradicável da política e, portanto, não conseguiriam compreender a situação do pós-colonialismo. Desse modo, o estudo se subdivide em três partes. Na primeira, far-se-á um resgate da teoria da dependência, da década de 60, para compreender o pós colonialismo como uma posição epistemológica que repensa as formas políticas e, principalmente, a formação dos estados a partir do Sul. Em seguida, serão realizadas algumas considerações sobre a novas geometrias institucionais que tentam se adequar ao modelo do estado plurinacional. Por fim, a discussão se dirige no sentido de tentar compreender se algumas perspectivas multiculturais podem estar de acordo com pós-colonialismo.

Palavras chaves: estado plurinacional; multiculturalismo; pós-colonialismo; novas geometrias institucionais

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas três décadas (1980-2010), as transformações inseridas nos textos das

Constituições da América Latina, quanto ao tratamento das relações entre os povos

indígenas e o Estado nacional, foram tão impactantes, como é o caso das experiências

boliviana e equatoriana, que, muitos são os autores, que acreditam em uma autêntica

ruptura com o paradigma de Estado Constitucional forjado durante a modernidade. Sendo

assim, um dos temas mais candentes do Novo Constitucionalismo Latino-Americano é a

questão da luta pelos direitos dos povos indígenas em uma perspectiva descolonizadora.

Essa deve ser compreendida como reconhecimento da isonomia entre a cultura ocidental

hegemônica e a cultura dos povos ameríndios, com a consequente inserção na

Constituição de elementos inerentes à cosmovisão indígena.

Raquel Z. Yrigoyen Fajardo3 pontua as etapas pelas quais atravessaram as

diversas Constituições latino-americanas rumo à concretização deste projeto

1

Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor associado Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professor adjunto da Faculdade de Direito Evandro Lins e Silva/Ibmec. 2

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutoranda em Teoria do Estado e Direito Constitucional na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

descolonizador. A autora concebe os horizontes constitucionais em três, a saber, o liberal

monista do século XIX, o social integracionista do século XX e o pluralista, em

desenvolvimento desde a década de 1980 até os dias atuais. O horizonte do

constitucionalismo pluralista, por sua vez, no que diz respeito à cidadania, teria como

ponto de partida a Constituição canadense (1982) e se desdobraria, segundo o

entendimento da mesma autora, em três ciclos progressivos, quais sejam, o multicultural

(1982-1988), o pluricultural (1989-2005) e o plurinacional (2006-2009).

Yrigoyen Fajardo ressalta que essas etapas foram vivenciadas em um

constitucionalismo sob a marca do pluralismo. Nesse sentido, teriam sido superados os

momentos constitucionais de natureza liberal do século XIX e o sentido integracionista

social do século passado. As constituições liberais resultaram do reconhecimento de uma

cidadania formal. Exemplo disso é a submissão e a perspectiva exploratórias das

sociedades indígenas. Quanto às de sentido social, como a Constituição mexicana de

1917, possuíam objetivos assimilacionistas e de favorecer a criação de um mercado

econômico em relação aos segmentos indígenas. Nesse contexto, tais constituições não

rompiam, na verdade, com o caráter de estado-nação nem com o perfil de monismo

jurídico de suas estruturas político-institucionais.

A interpretação pluralista, segundo a mencionada estudiosa, considera “Os

contextos complexos onde se gestam as reformas impõe suas tensões e suas

contradições (aparentes ou reais) aos textos constitucionais”4 de modo a salvar a sua

estreiteza normativa. Reconhece-se, portanto, como instigante e, principalmente,

esclarecedora a contribuição de Yrigoyen Fajardo a respeito do constitucionalismo latino-

americano. No entanto, a análise em curso não enquadrará, como a autora faz no que

tange ao horizonte pluralista para as constituições desse matiz normativo, como

resultantes de procedimentos cíclicos progressivos.

A postura a ser assumida nessa reflexão aproxima-se mais de um tratamento de

processo histórico. Compreende-se que o ciclo encobre, naturalmente, uma agudeza a

respeito das contradições sociais. Isto é, a visualização cíclica não abriria margem para

destacar o aspecto conflitivo inerente ao denominado constitucionalismo pluralista. A

visão contida na categoria “ciclo” não possibilitaria dimensionar a grandeza do momento

histórico presente no titulado constitucionalismo plurinacional.

3

FAJARDO, Raquel Z. Yrigoyen. El horizonte Del constitucionalismo pluralista: Del multiculturalismo a La descolonización. In: El derecho em América Latina: Un mapa para el pensamiento jurídico del siglo XXI. GARAVITO, César Rodríguez (coord.). México: Siglo Veintiuno Editores S.A. p. 139. 4 FAJARDO. p. 141.

Concorda-se com Yrigoyen Fajardo que a plurinacionalidade, no contexto do

pluralismo, reverbera um projeto descolonizador. No entanto, há de ser acrescentado toda

a radicalidade política-institucional que estaria no entorno da plurinacionalidade. Com

esse propósito, há o compromisso, nesse estudo, de destacar o grau de relevância e

alcance político dos fundamentos do pós-colonialismo para compreender o

constitucionalismo latino-americano e o papel de sua estrutura estatal no atual quadro

histórico-social. No entanto, demonstrar-se-á, como Kymlicka e Taylor, autores da

tradição liberal canadense, que se dedicaram ao tema do multiculturalismo, tem um

posicionamento que respeita o pós-colonialismo e não conflita com este.

Retomando e sintetizando, este artigo propõe-se a refletir sobre duas perguntas,

quais sejam; o estado-plurinacional, aos moldes bolivianos e equatorianos, rompem com

o estado constitucional liberal? Kymlicka e Taylor eliminariam o conflito inerradicável da

política e, portanto, não conseguiriam compreender a situação do pós-colonialismo?

Assim sendo, este artigo subdivide-se em três partes. Na primeira, far-se-á uma

recuperação dos modelos teóricos usados para pensar a América Latina. Retoma-se,

brevemente, a teoria da dependência, desenvolvida no fim dos anos 60, para então se

demonstrar como as teorias pós-colonias tentam superar este marco, pensando a partir

do Sul, tal como propõe Boaventura de Sousa Santos. Traz-se aqui a colaboração de

Etienne Balibar para demonstrar como o processo de formação das nações se deu de

forma opressora em todo o mundo, eliminando a pluralidade. Em um segundo momento,

serão desenvolvidas considerações sobre as novas geometrias institucionais que tentam

se adequar ao modelo do estado plurinacional. Por fim, a discussão se dirige no sentido

de tentar compreender se algumas perspectivas multiculturais podem estar de acordo

com o pós-colonialismo e se, de fato, estas superam o modelo liberal.

2. A teoria da dependência e o pós-colonialismo

A teoria da dependência forjada no final dos anos 60 do século passado

representou um reconhecido avanço teórico-analítico para depreender em toda a sua

magnitude social e econômica o processo histórico das sociedades periféricas, como as

da América Latina, em relação ao centro capitalista hegemônico. A relação centro-

periferia avulta-se nesse esforço explicativo ao dar um novo dimensionamento a leitura da

obra de Lênin5. Nesta obra, apresenta-se em todo o seu espectro a teoria do

imperialismo. A denominada teoria da dependência procederá uma leitura do imperialismo

a partir de uma ótica das sociedades periféricas. Nesse ponto, atesta-se uma coincidência

com a perspectiva reflexiva do pós-colonialismo.

Assim, com um aprofundamento do comprometimento político, o modelo do projeto

descolonizador está alicerçado num universo epistemológico de uma apreensão da

realidade social a partir do “sul”6, o qual pode ser entendido, tal como afirma Boaventura

de Sousa Santos como o reconhecimento de que há uma dívida histórica e que não basta

pensar no futuro para resolver as questões7. A partir disso, faz-se presente a necessidade

de pensar em políticas que permitam um encontro com o passado. Não é suficiente o

mero reconhecimento das desigualdades. Como exemplo, o autor cita o Brasil, que até

poucos anos não se reconhecia como uma sociedade racista, afirmava que que a

marginalização dos negros decorria de um fato de luta de classes, não de um contexto

histórico8. Sendo que apenas este ano (2012) o Supremo Tribuna Federal brasileiro

reconheceu como constitucional os programas de ações afirmativas para ingresso de

estudantes negros nas universidades públicas brasileiras9.

O autor canadense, Will Kymlicka, também utiliza o exemplo do Brasil para afirmar

que a história do “Novo Mundo” ignorou por mais de século sua constituição por minorias

nacionais. Especialmente, no caso brasiliero, o preconceito em relação à populção

indígena, quase tornou uma suposta homogeneidade verdadeira10, já que a maoiria foi

eliminada. Esse fato demonstra como a formação dos estados não periféricos relaciona-

se diretamente com a história colonial. Os países centrais sempre inferiram uma

cidadania universal, na qual indígenas, que ocupavam a terra antes da chegada dos

europeu, eram vistos como inferiores. O tratamento político desprendido a eles era

sempre de ordem paternalista e assimilacionista, ou seja, além de os considerarem

incapazes de auto-determinação, também acreditavam que quando estes aceitassem a

5

LÊNIN. O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo. Brasília: Nova Palavra, 2007 6

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São Paulo; Editora Cortez. 2010. 7

SANTOS, Boaventura de Sousa. Pensal el Estado y la sociedad: desafíos actuales. Buenos Aires: Waldhuter Editores, 2009. p. 28. 8

Ibidem, p. 30. 9

Kymlicka ao analisar a sociedade norte-americana aponta para um fator importante no que diz respeito às populações negras. Isso porque além dessa população ter migrado para o “Novo Mundo” sob o signo da coação, tiveram seus lações comunitários, muitas vezes cortados. Assim, a população dominante, além de acabar com a noção de comunidade destes povos, proibindo seus ritos culturais, também não queria que estes fossem assimilados e integrados pela cultura dominante. Ver mais em: KYMLICKA, Will. Multiculturalism citizenship: a liberal theory of minority rights. UK: Oxford Press, 1995. 10

KYMLICKA, Will. Multiculturalism Citizenship: a liberal theory of minority rights. p. 21

cultura ocidental democrática liberal, e portanto, o progresso, poderiam integrar o

“mainstrem” da sociedade11.

Comparativamente, contudo, merece atenção o fato de que a arquitetura teórica

delineada por estudiosos como o citado Boaventura de Sousa Santos, além de Aníbal

Quijano, Enrique Dussel, Gayatri Charvortz Spivak e Partha Chaterjee explicita todo um

sentido de ruptura e de emancipação contido na moldura do pós-colonialismo. Nesse

diapasão, deve-se contextualizar todas as conseqüências político-institucionais a serem

depreendias dos “ciclos” do pluralismo constitucional notadamente da plurinacionalidade

antevista por Yrigoyen Fajardo. Pois, ao contrário, mesmo reconhecendo que sua análise

atesta a presença do projeto descolonizador na plurinacionalidade, torna-se imperioso

aprofundar o sentido emancipatória a ela inerente.

Essa matriz libertária avulta-se na proporção que acentua na concepção da

categoria nação toda sua dimensão histórico-social. Nessa direção, está a contribuição

conjunta de Immanuel Wallerstein e Etienne Balibar. Este traz a lição de emoldurar o

processo construtivo histórico da identidade da nação francesa, a qual teria sido

construída por um processo de construção de uma etnia pela homogeneização linguística.

Balibar, em seu texto La forma nación, historia e ideologia12, afirma que a

organização do Direito Internacional universalizou e tornou obrigatória a forma Estado. A

consequência é o encobrimento dos conflitos dentro do que se convenciona chamar por

Estado-nação. O autor considera que o Estado permitiu unir as pessoas em torno do ideal

do capitalismo, pois ao dar cidadania formal a todos, suprimiu, por exemplo, a ideia de

luta de classes. Dessa forma, o Estado consegue intervém na reprodução da economia,

na formação dos indivíduos, das famílias, interferindo diretamente na vida privada.

Ao se perguntar sobre os fatores que permitiram a nacionalização das sociedades,

demonstra a submissão de todos a uma lei comum precedida por um processo de

formação, de unificação das comunidades13 daquele determinado espaço geográfico. O

processo de unificação pode se dar, por exemplo, por guerra, pela constituição de um

inimigo externo ou massificação do povo em torno de um valor comum. Isso é necessário

para que se relativize as diferença entre os indivíduos dentro do próprio Estado, de modo

11 Ibidem. p. 22. 12

BALIBAR, Etienne. Raza, Nación y Clase. Madrid: IEPALA. 13

Sobre a passagem da Gemeischaft para a Gesellschaft, ver mais em TÖNNIES, Ferdinand. Comunidad y sociedade. Buenos Aires: Losada, 1947.

que o conflito passe a ser externo, ou seja, na diferença entre nós e os estrangeiros14 e a

Constituição passe a representar o modelo do consenso entre os cidadãos nacionais.

Nesse sentido, Balibar chamará tanto nacionalismo quanto patriotismo de religiões

modernas, já que representariam uma ideologia para a qual se transferem sentimentos

sagrados, como o amor, respeito, sacrifício e temor. A transferência se realiza na figura

do Estado-nação pela construção de uma etnicidade fictícia, que pode ser feita, como já

citado anteriormente no caso francês, pela homogeneização da língua ou pela ideia de

uma comunidade racial15. No entanto, segundo o autor, nenhuma nação se constitui

naturalmente com base étnica, o que ocorre é a construção cultural a partir de grandes

narrativas que passam a dar um sentido comum para o passado e o futuro daquela

comunidade, o que transcende a noção do indivíduo.

Raúl Prada16, no mesmo sentido do argumento de Balibar, afirma que o Estado-

nação se confunde com o Estado moderno, o qual teria como objetivo uma conformação

do estado territorial para possibilitar o capitalismo. Afirma que o princípio da liberdade

permitiu que se constituísse um todo que se sobrepunha às partes, mas que, ao mesmo

tempo, suspendia a política. Ou, seja ao primar pela liberdade individual, o estado-nação

disfarça o conflito entre grupos com temporalidades e culturas diferentes, as diferenças

econômicas17 culturas diferentes, camuflando o conflito.

Macintyre, em Is Patriotism a Virtue?18, ao retratar a formação da nação também

afirma que uma nação é construída pela ideia de uma história compartilhada, bem como

ao apelo pelos mesmos cânones. Assim que cada uma das nações centrais, por exemplo,

tem como marco uma grande obra literária, bem como na exaltação de seus heróis.

Ergue-se um estado-nação a partir dessas narrativas de características particulares, de

méritos e conquistas. As identidades coletivas são construídas pela história. O que não

14

Carl Schmitt, em seus livros O Conceito do Político e Teoria da Constituição de forma a construir uma democracia pautada no princípio hegemônico da Gemeischaft (comunidade) elabora de forma detalhada essa construção. Isso porque está preocupado em legitimar um Estado forte contrário ao modelo liberal. 15

A comunidade de raça se constituiria, segundo Balibar, quando as fronteiras de parentesco se diluem no nível da comunidade, de classe social, até que se desloque para a ideia de nacionalidade. Seria a identificação da comunidade nacional como um parentesco simbólico delimitado por normas. 16

PRADA, Raúl. Umbrales y horizontes de la descolonización. In:El Estado. Campo de lucha. CAMACHO, Oscar Vega, LINERA, Álvaro Garcia, PRADA, Raúl , TAPIA, Luis.La Paz: Clacso, 2010. 17

Raúl Prada afirma que em um mesmo Estado-nação, seja ele periférico ou não, é possível encontrar pessoas vivendo em situações que se aproximam tanto do primeiro quanto do terceiro mundo. No entanto, a ideia de uma nação homagênea, de que todos compartem uma história comum, ocultaria estas diferencas. PRADA, Raúl. Umbrales y horizontes de la descolonización. p.84. 18

MACINTYRE, Alasdair. Is patriotism a virtue? In: Debates in contemporary political philosophy: an anthoolgy. Organização: Dereke Matravers e Jon Pile. Nova York: Roultledge, 2003.

significa que realmente a história tenha ocorrido desta forma. No entanto, acredita no

patriotismo como uma virtude para a realização do bem de uma determinada comunidade.

Apesar do posicionamento a respeito da nação em Balibar, Prada e Macintyre

divergirem quanto às consequências do que a constituição do estado-nação pode resultar.

Ambos diagnosticam algo extremamente relevante para o estudo em questão: a nação

não é algo natural, mas sim uma forma de comunidade construída por um processo de

seleção de memória e esquecimento de um determinado povo que pretende encobrir as

diferenças e, portanto, o conflito entre grupos dentro de um dado território.

Diante dessa constatação, importa ressaltar que o debate aqui travado, do estado

plurinacional, tenta desconstruir a ideia desse demos que coincide com a nação política,

que coincide. Quer-se afirmar a nação como uma determinada comunidade política.

Sendo que podem existir diversas nações dentro de um mesmo Estado. Aqui aparece a

diferença entre nacionalismo e patriotismo, pois quando se confunde demos com nação

política, ou nacionalismo com patriotismo, infere-se em um tipo de etnocentrismo que

atribui valores universais ao que simplesmente são valores, saberes e práticas

particulares de uma cultura dominante, que podem ser resultantes tanto da colonização,

quanto da guerra19.

3. A plurinacionalidade e o seu aprisionamento institucional

Boaventura de Sousa Santos nota a necessidade da geometria de um estado

plurinacional20 deve ser diferente da pensada pelo constitucionalismo liberal ou por um

estado classicamente unificado. Isto porque apesar de as diversas nações conviverem

em um único estado, isso não pode ser sinônimo de uniformidade no sistema jurídico. No

liberalismo, prezava-se, como acima explicitado, por um Estado monocultural, no qual se

forjava a homogeneidade popular representada na cidadania formal21. No sul, no entanto,

novas práticas, pautadas em lutas populares, são percebidas como emancipatórias. Estas

práticas não coincidem, segundo o autor, com as teorias que estão sendo formuladas

19

LINERA, Alvaro. La potencia plebeya. Buenos Aires : CLACSO - Prometeo Libros, 2008. 20

Cabe lembrar para o fato que Alvaro Linera aponta, qual seja, de que atualmente 90 dos Estados enfrentam questões de multiculturalidade. 21

Boaventura de Sousa Santos afirma sua tese com base no fato de que no momento de fundação das Nações Unidas, a maioria dos países latino-americanos declaravam não terem em seu território minorias étnicas. Sabe-se que essa ideia não corresponde a realidade, já que a maioria dos países latino-americanos, devido à colonização, são compostos por diversas etnias.

pelos países do norte22 e, portanto, a necessidade de uma nova territorialidade, que não a

do modelo liberal, que privilegie a autonomia dos diferentes povos ou das diferentes

nações que constituem um Estado.

Raúl Prada apontará também para a necessidade de outras formas de instituições

políticas, que permitam novas relações entre Estado e sociedade. Estas seriam pautadas

nos pluralismos administrativo, de normas e de gestão para que haja a possibilidade de

uma nova forma de vida sob o paradigma pós-colonial. Boaventura de Sousa Santos

corrobora o argumento de Prada no sentido de que o estado deve ter instituições

compartilhadas e instituições apropriadas à identidade cultural das plurinações sem que

com isso se deixe de lado a unidade23. Apenas deste modo as diversas nações e povos

tradicionais teriam a possibilidade de se emancipar24. Sendo assim, o novo

constitucionalismo latino-americano não pode submeter a sociedade a um sistema jurídico

unitário, por isso reconhece o pluralismo jurídico25.

Linera também discute a necessidade dessa nova geometria em sociedades

multiétnicas ou multinacionais, afirmando que nestes casos “a comunidade política só

pode ser construída mediante mecanismos que, sem eliminar a particularidade cultural

das pessoas, garanta a elas as mesmas oportunidades e direitos para constituir a

institucionalidade política”26. Apesar disso, o autor afirma que essa discussão não é

característica exclusiva dos países do sul, já que envolveria cerca de 90% dos estados

contemporâneos.

Kymlicka, em suas reflexões principalmente sobre o estado canadense, mas que

não deixam de lado análises de países latino-americanos, também ressalta a importância

de diferenciarmos o estado-nação dos estados plurinacionais, bem como a forma de

organização desses estados27. Enquanto o primeiro é aquele em que a ideia de nação, ou

seja, de uma comunidade histórica que ocupa dado território, coincide com a ordem

política; o segundo se refere a países que contém mais de uma nação, ou seja, o estado

multicultural é aquele em que “seus membros pertencem a nações diferentes (estado

22

SANTOS, Boaventura de Sousa. Pensar el Estado y la sociedad: desafíos actuales. Buenos Aires: Waldhuter Editores, 2009..p. 146. 23

SANTOS, Boaventura de Sousa. p. 211. 24

Ibidem. p. 89. 25

Aprofundar-se na discussão do pluralismo jurídico é essencial para pensar os estados plurinacionais, no entanto, não é objeto desse estudo. Ver mais em WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico: fundamentos de uma nova cultura no direito. São Paulo: Alfa-Omega, 2001. 26

LINERA, Alvaro. La potencia plebeya. p. 294. 27

KYMLICKA, Will. Multiculturalism citizenship: a liberal theory of minority rights. UK: Oxford Press, 1995.

multinacional), ou se estes emigraram de diversas nações (estado políétinico), sempre e

quando isso suponha um aspecto importante da identidade das pessoas e da vida

política”28.Dentro desse segundo modelo, há a possibilidade de que culturas não

dominantes se estabeleçam como minorias nacionais29.

O autor também relembra o histórico de constituição desses estados, que pode

ter sido realizado por conquistas, colonização ou imigração. Para o estudo em questão,

interessa pensar Estados que sofreram processos de colonização ou conquista,

principalmente no que se refere às populações originárias (as inúmeras nações indígenas

na América Latina) e aos negros (fluxo de imigração não voluntária para trabalho escravo)

que, no momento, procuram à auto-determinação como forma de resistir e afirmar-se

perante a cultura dominante. Além disso, nestes casos, em especial, no momento de

delimitação de fronteiras, os colonizadores trataram de inserir no desenho geográfico do

país em questão, os territórios ocupados por estas povos tradicionais que já ocupavam a

terra e, que muitas vezes, eram dotados de autodeterminação própria.

Kymlicka sugere três tipos de políticas, medidas legais ou constitucionais, para

superar tal paradigma dentro de estados plurinacionais, ou seja, para que as diversas

nações e etnias possam conviver de forma estável e moralmente defensável30 dentro do

marco liberal. O autor defende a teoria liberal porque acredita que a comunidade não se

opõe necessariamente ao indivíduo e valoriza profundamente a pluralidade. Afirma, neste

sentido, que a própria pluralidade, garantida pelo que o autor chama de proteção externa

do grupo31, permitirá ao indivíduo escolher sua concepção de bem autonomamente e

mesmo alterá-la, o que não viola de forma alguma os direitos individuais32. As medidas

que sugere para isso são: auto-governo ou auto-determinação33; direitos poliétnicos34 e,

por último, direitos de representação especial35.

28

KYMLICKA, Will. Multiculturalism citizenship: a liberal theory of minority rights. UK: Oxford Press, 1995.p. 48. 29

Cabe ressaltar que o autor não utiliza na sua definição de multiculturalismo tipos de estilo de vida grupal, movimentos sociais e as associações voluntárias. Portanto, está pensando em minorias étnicas ou grupos migratórios, não em movimentos feministas, movimentos de deficientes físicos, etc. No entanto, admite que essas lutas atravessam o multiculturalismo por ele proposto e, portanto, devem também ser levadas em consideção. 30 KYMLICKA, Will. Multiculturalism citizenship: a liberal theory of minority rights. UK: Oxford Press. p.

26. 31

Kymlicka opõe a protectão externa do grupo, que seria a guarida do governo a determinadas minorias, para que estas tenham a possiblidade de manter seus costumes, tradições e cultura, à restrição interna, na qual o grupo étnico ou nacional pode perseguir o uso do poder do estado para restringir a liberdade de seus membros em nome da solidariedade do grupo, o que pode violar direitos individuais. 32

Ibidem. p. 48. 33

Ibidem. p. 27.

Para o caso dos estados plurinacionais, interessa a análise do auto-governo ou

auto-determinação, tal como adotado na Bolívia e no Equador por suas recentes

constituições. O direito à autodeterminação dos povos é reconhecido pela Carta das

Nações Unidas, no entanto, aplica-se mais ao caso de ex-colônias do que a minorias

étnicas. Mesmo assim, o autor reconhece que a maioria dos países multiculturais

enfrentam essa vontade oriunda de algumas de suas nações. Essa vontade de autonomia

foi constitucionalizado, por exemplo, na primeira parte do artigo da Constituição boliviana,

o qual afirma, que:

A Bolívia se constitui em um Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário, livre, independente, soberano, democrático, intercultural, descentralizado e com autonomias.

Ainda segundo Kymlicka, as demandas por auto-governo geralmente são feitas em

nome de uma devolução de poder a quem originalmente o possuía. Não deve

corresponder a uma medida temporária, nem apenas a um remédio para eliminar

opressão. Por isso, geralmente, são constitucionalizadas, tornando-se permanentes.

Nesse caso, a grande comunidade política, ou seja, o país em questão tem sua condição

de existência condicionada, ou seja, seu poder é derivado da aprovação das diversas

nações, já que estas transferem parte de seu poder de auto-governo para a grande

comunidade com a condição de que outros poderes permaneçam sob seu controle. Sendo

assim, a autoridade do governo central limita-se pelos poderes que cada nação o

transferiu. Isso dá o direito de que os grupos nacionais retomem esse poder que cederam,

caso se sintam ameaçados pela grande comunidade36.

Percebe-se, desse modo, a necessidade de se pensar novas formas de geometria

para acomodar tais diferenças que permitam a não dissolução do estado. No entanto, um

dos riscos de não aprofundar de forma acentuada o processo descolonizador, presente no

pluralismo constitucional destacando a plurinacionalidade, é o de reduzir a discussão à

uma perspectiva meramente institucional. Assim, as análises estariam mais voltadas para

contemplar o debate a respeito do federalismo. A titulo exemplificativo, Enric Fossas e

Ferran Riquejo organizaram uma obra com contribuições de autores para refletirem sobre

os modelos possíveis de assimetria federativa decorrente do estado plurinacional. No

34

Ibidem. p. 30. 35

Ibidem. p. 31. 36

Ibidem. p. 192.

entanto, não estão diretamente conectados com a questão de fundo, qual seja a

emancipação de culturas até pouco subjugadas37.

4. O balizamento do multiculturalismo

Raúl Prada e Boaventura de Sousa Santos rejeitam o multiculturalismo como

substrato para pensar a plurinacionalidade, já que esse se enquadra dentro da tradição

liberal. Afirma Raúl Prada que o pluralismo autonômico consiste em uma forma

inteiramente nova de modelo territorial, já que este concebe em igualdade de condições,

distintas formas de autonomia. Sendo elas: autonomia departamental, autonomia regional

e autonomia indígena. Essa última considerada a mais importante pelas características

pois se trata do lugar, do espaço, do cenário, onde se plasma realmente o Estado

plurinacional”38.

Sendo assim, ambos os autores contrapõe-se ao multiculturalismo liberal porque

esse não abandona o papel central do indivíduo na organização política, o que

impossibilitaria pensar o pós-colonialismo. Já que esse indivíduo liberal racional teria

características universais e, apesar de cada um ter concepções de bem diferentes,

poderiam todos se harmonizar dentro de uma perspectiva monocultural. Para Prada, esse

tipo de teoria ou mesmo de prática política apenas reconheceria à população certos

direitos culturais sem reconhecer a condição de subordinação que viveram até então as

diversas nações39.

Contrariamente, Will Kymlincka desenha para o contexto do multiculturalismo toda

uma articulação liberal. Presente está, desse modo, em suas elaborações teóricas,

valores universais como igualdade e liberdade para fundamentar a sua percepção

identitária. Defende, nessa direção, uma cidadania diferenciada. Não se afasta de uma

defesa arraigada da democracia liberal e de seus direitos individuais. A multicultura dá

margem a duas formas de ordem política: a multinacional integrada por nações diferentes;

e as poliétnicas compostas de emigrados de diversas nações. Como já citado

anteriormente, para o autor o problema não se coloca na supremacia do indivíduo ou da

comunidade, ou mesmo na consagração de direitos comunitários . Sua questão refere-se

37 FOSSAS, Enric. REQUEJO, Ferran. Asimetría federal y Estado plurinacional. El debate sobre la acomodación de la diversidad em Canadá, Bélgica y España. Madrid: Editorial Trotta, 1990. 38

PRADA, Raul. p. 94. 39 PRADA, Raúl. Umbrales y horizontes de la descolonización. p. 84.

à justiça entre os diferentes grupos que podem requerer direitos diferentes40 uns dos

outros.

Difere da corrente majoritária ou clássica do liberalismo na medida em que não

pensa um status de cidadania comum para que se desenvolva a identidade cívica

compartilhada, a qual daria sentido e unidade a um determinado país. Kymlicka crê que

nenhuma nação moderna consegue conviver sem a ideia de cidadania diferenciada, caso

essa signifique “a adoção de especificidades para grupos poliétnicos, representação

política ou direito de auto-determinação”41. Além disso, o autor afirma que muitos

daqueles que se posicionam de forma contrária à institucionalização do mulitculturalismo

defendem formas de política racistas ou xenófobas.

Relembra que a cidadania formal conquistada pelo liberalismo adveio

principalmente dos movimentos das classes operárias. O modelo forjado por Marshall42,

por exemplo, preocupava-se com a exclusão cultural da classe trabalhadora que se

originava de seu padrão sócio-econômico. Daí que a forma mais efetiva de promover a

cidadania e a inclusão seria por um estado de bem estar social, que fornecesse bens

materiais mínimos. Para ele, isso criaria um senso de pertencimento à comunidade

baseada no sentimento de lealdade a uma nação que trataria todos de forma igual. No

entanto, afirma Kymlicka, nem todos os grupos podem ser integrados da mesma forma

que a classe trabalhadora. No caso que se trata nesse artigo, qual seja a realidade latino-

americana, os grupos foram excluídos não só por sua condição econômica, mas também

devido a sua identidade sócio-cultural43. Sendo assim, é preciso pensar outras formas de

cidadania, não apenas pautada na distribuição de recursos.

O teórico canadense nota ainda, que, o final do século passado foi marcado pelo

neoliberalismo. Para América Latina, lembra Kymlincka, a política neoliberal fortaleceu a

noção de mercado como força regulatória. Observa o autor da obra Cidadania

Multinacional que esse arraigamento ao mercado, em casos como o da Bolívia, fez surgir

o que ele qualifica como de “radicalismo” por parte das sociedades indígenas. A

Constituição da Bolívia (2009), em especial, e a do Equador (2008), inserem-se em um

novo mapa institucional e em plena crise do capitalismo, no qual a condição plurinacional

adquiriria outra conotação.

40

Ibidem, p. 182. 41

Ibidem. p. 184. 42

MARSHALL, T.H. Cidadania, classe social e “status”. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. 43

Ibidem. p. 190.

Observando mais atentamente, tal como faz Alvaro Linera, em seu texto A

Potência Plebeia, mais especificamente, no capítulo destinado às “Autonomias Indígenas

e Estados Multiculturais”, ao se referir a Charles Taylor44, o qual, segundo Linera,

consideraria que “o reconhecimento de direitos à comunidades culturais diferenciadas

permitiria a satisfação de uma necessidade de visibilidade social, que longe de opor-se às

liberdades individuais reconhecidas a todos, cria uma base sólida e equitativa de exercício

dessas liberdades”45. Neste sentido, as constituições latino-americanas não se afastam

tanto do que se pensa a partir do multiculturalismo.

A partir da obra de Taylor e de Kymlicka, quer-se, neste momento, demonstrar

como o multiculturalismo, representado por estes dois autores se aproxima muito do

posicionamento pós-colonial apontado pelos autores que pensam a partir do Sul. Isso

porque se o modelo constitucional plurinacional, de um lado, salvaguarda certos grupos

étnicos, reconhecidos como nações46, certas garantias que não se conformam ao modelo

liberal e individualista de Estado, tal como o conhecemos classicamente, como por

exemplo, a garantia de uma jurisdição indígena e o reconhecimento do princípio sumak

kawsay, na Bolívia; de outro, a opção por um Estado plurinacional pode também ser

enquadrada como uma escolha formal de garantias de liberdades para indivíduos ou

grupos de indivíduos com concepções de bem que nada se assemelham, sem que o

Estado precise necessariamente se vincular a uma finalidade única.

No entanto, tal como já é pacífico, na teoria política, a marca da neutralidade não

faz parte da definição estatal ou política. A própria definição de uma língua comum ou de

várias línguas já implica em um posicionamento político, que nada se aproxima da

pretensa neutralidade do estado. Quanto mais se aprofunda a análise de qualquer

Constituição mais se percebe as escolhas e decisões tomadas, mesmo naquelas

consideradas mais liberais ou formais. Sendo assim, o traço substantivo finalístico que se

percebe da análise da Constituição Boliviana de 2009 está inscrito logo no seu primeiro

artigo, o qual afirma, que o Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário da

Bolívia se funda “na pluralidade e no pluralismo político, econômico, jurídico, cultural e

44

Nesse ponto, em especial, nos referimos a obra “El Multiculturalismo y la politica del reconocimiento”. TAYLOR, Charles. USA: Fondo de Cultura Economica, 2009. 45

LINERA, Alvaro. La Potencia Plebeya. p. 311. 46

Linera afirma que a diferença entre etnia e nação está em que a última se identifica com um determinado território. Além disso, uma determinada comunidade formada por indivíduos com um mesmo ou semelhante conjunto de valores tradição, língua, institucionaliza-se através de um regime de soberania estatal.

linguístico”. Ora, se o valor principal do Estado é a pluralidade, há de se afirmar que esse

valor se inscreve dentro de uma perspectiva política liberal.

Faz sentido, portanto, recuperarmos aqui os autores acima apontados, os quais

podem ser úteis para pensar como uma escolha ontológica, de antropologia humana, seja

individual ou coletiva, não necessariamente nos conduzirá a perspectivas morais ou

políticas da mesma natureza.47 O que se deseja afirmar concretamente é que, apesar de

o Estado boliviano afirmar na sua Constituição uma concepção ontológica coletivista,

justamente a partir do princípio sumak kawsay – o qual expressa um desejo por melhores

condições de vida ao lado dos demais e em plena harmonia com a natureza, vista não

como uma fonte a ser explorada e sim como a origem da vida e de sua exuberância,

implicando na busca de um bem-estar generalizado, inclusive espiritual e emocional, e a

plena harmonia com a Pachamama e com o cosmos –, bem como de uma economia

coletiva, que tem como objetivo submeter as forças econômicas a serviço do bem-estar

coletivo48, não necessariamente recai em um Estado coletivista ou pautado em uma

concepção perfeccionista de bem.

Ao contrário busca-se, a partir do reconhecimento das enormes diferenças entre

concepções de bem individuais ou coletivas dentro do Estado boliviano – as quais Linera

refere-se como “coexistência sobreposta de vários modos de produção, de vários tempos

históricos e sistemas políticos”49 – a promoção da pluralidade, característica essencial da

tradição liberal. Tal Estado valoriza uma concepção antropológica coletivista de ser

humano, ou melhor, que parte dessa premissa para desenvolver sua normatividade

máxima na busca de um ideal, que moralmente ou politicamente falando, centra-se na

lógica liberal, ainda que não a do liberalismo clássico, tal como ponderam Kymlicka e

Taylor50. O que se percebe é uma grande diferença de tons dentro das mesmas cores e,

por isso, parece aqui relevante resgatar esse debate.

47

TAYLOR, Charles. Argumentos Filosóficos. Tradução Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Edições Loyola,2000. 48

ROMEO, Francisco Palacios. . Constitucionalización de un sistema integral de derechos sociales. De la Daseinsvorsorge al Sumak Kawsay. in: Desafíos constitucionales: la Constitución ecuatoriana del 2008 en perspectiva. SANTAMARÍA, Ramiro Ávila; JIMÉNEZ, Agustín Grijalva, DALMAU, Rubén Martínez (org). Quito: Ministerio de Justicia y Derechos Humanos, 2008. 49

LINERA, Alvaro. La potencia plebeya. p. 310. 50

Isso porque, quando consideramos o debate entre comunitaristas e liberais, faz-se necessária a ressalva de que ambos fazem parte da mesma tradição. Tal qual afirma Berten, os membros de cada um desses times tem um ar familiar. Se de um lado os liberais sentem-se herdeiros de Locke, Kant e Stuart Mill, que valorizam a liberdade de consciência, o respeito aos direitos individuais; os comunitários, alguns deles com origens aristotélicas ou mesmo pautados na tradição republicana, desconfiam de uma moral universal abstrata. Mais que isso, mesmo dentro destes “times” existem divergências, que se olhadas de forma apurada, são bastante grandes, e, por isso, a impossibilidade de afirmar uma resposta liberal ou

Ainda neste sentido, Linera afirma, ao propor, ainda em 2004, um novo desenho

estatal para a Bolívia, que esse não se centrasse no modelo antigo, o qual se

caracterizava pela eliminação das nações indígenas. Tampouco desejava a

autonomização de nações indígenas, ou seja a secessão51. A configuração do estado, nas

palavras do autor, privilegiaria “a diversidade étnico cultural e a pluralidade civilizatória

dos regimes simbólicos e processuais técnicos da organização do mundo coletivo”52.

Dentro desse panorama a pergunta que Kymlicka se coloca é extremamente

relevante: quais laços unem essas diversas nações dentro de um mesmo país? Que

valores permitem que uma minoria étnica não deseje a secessão do estado a qual

pertence? O autor sugere algumas soluções. A primeira delas seria a dependência de

valores políticos compartilhados, como a liberdade e a igualdade por exemplo53. No

entanto, essa adesão seria débil, já que são inúmeros os países que compartilham estes

valores, mas não vivem dentro de uma mesma unidade política.

Sugere então que esta se dê a partir de uma identidade compartilhada, ou seja, a

partir, da história comum desses povos que pertencem a mesma nação. O que ocorre é

que, como no caso boliviano e equatoriano, em países plurinacionais, a história é um tipo

de ressentimento, de divisão entre grupos nacionais. Não há um orgulho compartilhado,

existe uma espécie de sentimento de traição de um grupo em relação ao outro, portanto,

não há possibilidade de um laço que advenha daí54. Finalmente sugere que não há uma

resposta comum, generalizada para a pergunta a qual se propõe. Apenas lembra a

necessidade de solidariedade e propósitos comuns no sentido de acomodar e não

subordinar as identidades nacionais, mesmo que por vezes conflitantes.

Interessante notar que Raúl Prada, ao realizar sua crítica ao multiculturalismo,

reconhece a existência de países plurinacionais na Europa. Centra-se, no entanto, na

Suíça para apontar que lá não há conflito entre as diferentes nações e nunca uma delas

foi dominada por outra. Esse sera um dos motivos pelo qual o multiculturalismo não seria

adequado para pesar o pós-colonialismo55, já que aqui se tenta buscar a emancipação de

uma resposta comunitária. Ver mais em: BERTEN, André; SILVEIRA, Pablo e POURTIS, Hervé. Libéraux et communautariens. Paris Presses Universitaires de France, 1997 51

Linera aponta para o fato de que os Aimaras teriam condições de existência política autonônoma. 52

Linera. p. 311. 53

Kymlicka. p. 197. 54

Ressalta-se a relevância extrema dessa afirmação de Kymlicka, para que se possa recuperar tais autores dentro de uma perspectiva pós colonial, sem que ignoremos por completo as diversas nuances liberais. 55

ALVAREZA, p. 85.

grupos até então dominados.

No mesmo sentido, quando Kymlicka discute a questão do limite tênue entre a

unidade e a secessão neste mesmo país, aponta-o como o único no qual “há um senso

de patriotismo tão forte, que a Suiça é, em certa medida, um povo único, ao mesmo

tempo que é uma federação de povos”56. Ou seja, Raúl Prada se apóia no exemplo de um

país em que praticamente não existe conflitos entre nações para deslegitimar o

multicutluralismo. Sabe-se, apesar disso, que inúmeros outros países plurinacionais vivem

em conflito, como é o caso da Espanha, da Irlanda e da Bélgica. Afirma-se neste estudo a

centralidade de não dispensar uma teoria se ela é capaz de propor questões pertinentes e

que ajudam na reflexão de um determinado problema.

Recuperando Taylor, nota-se o fato de que o único valor compartilhado em países

plurinacionais seria, portanto, a diversidade profunda. Assim, a única realidade existente,

tal como afirrma Sanin, recuperando Nancy e Ranciére, é o estar em coum57. Isto é, a

sociedade necessariamente está em conjunto na construção da diversidade, a qual exige

sacrifícios, por vezes, para que a comunidade política maior se mantenha unida. Não

necesariamente precisamos da união. Já que o conflito pode, por vezes, resultar na

secessão de uma determinada nação.

No entatno, a maneira pela qual tal acomodação ocorreria é contingente, e,

portanto, o autor irá apelar a phronêsis aristotélica. Uma noção de prudência, que

estimularia a participação pública, fortalecendo as diversas concepções comunitárias,

reconhecendo a pluralidade de valores. Permite que os diversos grupos, no caso aqui

tratado, étnicos, reclamem politicamente seus direitos sem que por isso tenham um valor

a priori estabelecido, o que poderia originar um totalitarismo comunitário.

A ideia de phronêsis é melhor desenvolvida por outros autores como Enrico Berti e

Pierre Aubenque. Por isso, aproveitando o que Taylor sugere, propõe-se um

entendimento dessa noção de prudência aristotélica como um modo de solução do caso

extremo do conflito, ou como afirma Berti, “De todos os conflitos inevitáveis trágicos da

vida ética”58. Acredita-se que este conceito é essencial para pensarmos os estados

plurinacionais, porque há momentos em que a cultura de uma nação pode se chocar de

forma vital com a de outra, ou seja, a cultura de um grupo nacional pode desaparecer

56

KYMLICKA, p. 187.

57 SANIN, Ricardo. Por qué no Habermas: del engaño liberal a la democracia radical. In: Crítica Emancipación. Revista latinoamerica de ciencia sociales. Año IV. n. 8. Segundo Semestre, 2012. 58

BERTI, Enrico. Saggezza o filosofia pratica? Etica & Politica, 2005, 2. Disponível em: <\http://www.units.it/etica/2005_2/BERTI.htm> Visualizado em 22 de outubro de 2012. p. 2.

caso outro grupo se sobreponha. E, como afirma, Pierre Aubenque, a phrônesis, traduzida

aqui como prudência, é justamente o modo de pensar a contingência59, que é onde reside

aquilo que é inerradicável da política, o conflito

Em outras palavras, quando Taylor propõe a phronêsis como uma forma de se

pensar a solução de conflitos multiculturais e recuperando aquilo que restou da Ética a

Nicômaco, pode-se pensar, tal qual faz Aubenque, que este conceito é de grande valia

para se refletir sobre o hiato entre universal e particular, que é o que está em jogo no caso

das constituições plurinacionais da América Latina. Alguns autores contemporâneos,

inclusive, preferem traduzir phronêsis como sabedoria, ou seja, um tipo de conhecimento

que tem por objeto o contingente, o acaso, já que “ela é sabedoria do homem e para o

homem”60. O autor também relembra que as tragédias gregas que questionavam sempre

sobre o que fazer num mundo dominado pelo acaso, no qual o futuro é desconhecido, e

então a resposta dos coros era sempre a prudência, a phronêsis, a sabedoria.

Nesse caso, soluções universais, pautadas em princípios, como liberdade e

igualdade, típicas do liberalismo clássico, não dariam conta de resolver o litígio. A

prudência não nega nem liberalismo, nem culturalismo, pois consiste em uma intuição

sobre o particular pautada na experiência, no mundo sensível, capaz de se adaptar a

todas as situações sem perder de vista o fim bom. Sendo assim Berti afirma:

Enquanto conhecimento do particular, a prudência pressupõe uma certa experiência, não no senso do empirismo inglês (sensação, percepção, ideia), mas no sentido aristotéilico de ser especialista, de ter vivido muitas experiências, de conhecer casos de vida; porque é mais fácil encontrar nas pessoas idosas, ou de outra forma maduras, que nos jovens (os quais, às vezes, brilham na matemática, onde, aparentemente, depois dos trinta anos não conseguem produzir mais nada

de novo).61

Parece aqui que, de alguma forma, o multiculturalismo aproxima-se bastante do

que se chama de pós-colonialismo, principalmente, do que Boaventura de Sousa Santos

chama de ecologia dos saberes62. No seu livro Gramática do Tempo, o autor

reiteradamente afirma a necessidade de uma nova epistemologia que valorize o

conhecimento tradicional, as experiências, o diálogo entre culturas diferentes. Assim,

apesar de a maioria dos autores que se dedicam ao estudo do pós-colonialismo criticarem

e abandonarem o multiculturalismo, este estudo pretendeu demonstrar que estes dois

59

AUBENQUE, Pierre. A Prudência em Aristótes. São Paulo: Discurso Editorial,2003. 60 AUBENQUE, Pierre. A Prudência em Aristóteles. p. 54. 61

BERTI, Enrico. p. 3. 62

SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: por uma nova cultura política. São Paulo: Cortêz, 2006.

discursos não se excluem. Mais que isso, ambos estão preocupados em pensar os

estados plurinacionais e formas de emancipar o sujeito.

5. Considerações Finais

Cabe nesse momento retomar duas das perguntas que perpassaram o texto, A

primeira delas que se refere a possível ruptura que estado plurinacional representaria em

relação ao paradigma do estado constitucional liberal. Enquanto a segunda, reflete-se na

última discussão, qual seja, a possibilidade de o discurso pós-colonial e multicultural,

propostos por Taylor e Kymlicka, não estarem em contradição.

Em relação à primeira pergunta, procurou-se demonstrar no texto de que forma o

Estado-nação, ou o Estado constitucional liberal, procurou durante séculos sufocar os

conflitos inerentes à política, à convivência de grupos humanos com culturas, costumes e

temporalidades diferentes. Percebeu-se, portanto, que, principalmente no caso dos países

latino-americanos, que sofreram colonização europeia, tal construção se deu de forma

arbitrária e não pela vontade de seus cidadãos. Isso resultou na submissão de diversas

culturas existentes antes da “conquista da América” a uma cultura ocidental dominante.

As constituições da Bolívia e do Equador ao proporem a plurinacionalidade, de

fato, rompem com esse modelo de Estado que buscou homogeneizar, assimilar a cultura

indígena, bem como a cultura dos imigrantes negros, que vieram escravizados para as

Américas. Nesse contexto, parece que essas novas Constituições, justamente, por terem

como origem um processo de lutas populares, podem emancipar, bem como libertar

politicamente as culturas minoritárias até então reprimidas.

A dúvida que resta é se tal modelo, apesar de emancipador, rompe, de fato, com o

modelo do Estado constitucional liberal. Nesse ponto, como já afirmado no texto, relevam-

se dois aspectos. O primeiro deles é o fato de que se mantém uma estrutura, até certa

medida, formal de constituição, bem como pluralista. Não há como negar que o pluralismo

seja o valor mais forte a ser protegido pela tradição política liberal. Apesar disso, elenca

algumas formas alternativas ao liberalismo, como a economia comunitária, e o princípio

do sumak kawsai. Mesmo assim, de uma análise comparativa com outros países

multiculturais, denota-se, que por exemplo, o Canadá ao dar autonomia ao Quebec faz

algumas escolhas de bem a priori, referentes à obrigatoriedade da língua francesa na

educação. Nesse ponto, não se permite dizer que há de fato um rompimento absoluto

com o estado liberal.

Já no que diz respeito à segunda pergunta, pode-se perceber que tanto

multiculturalismo quanto pós-colonialismo, de certa forma, estão em sintonia, por não

proporem um modelo universal, racional de indivíduo. Não parece que o pós-colonialismo

paute-se na sobreposição da comunidade perante o indivíduo, o que poderia de fato

negar o multiculturalismo. Ambos estão preocupados com a manutenção de culturas

divergentes, muitas vezes, uma dominante da outra dentro de um território único.

Sendo assim, se em nosso planeta existem mais nações que países, ambos estão

pensando novas formas de organização política, de instituições e até mesmo de vida, na

qual uma cultura não destrua, nem assimile a outra. Por isso, justamente, pelo caráter

contingente das situações que cada uma dessas constituições que abarcam diversas

nações enfrentam e enfrentarão e pela inerradicabilidade do conflito que se propõe

pensar a partir da phronêsis aristotélica. Isso porque essa forma de conhecimento não

transcendentaliza, não busca em princípios gerais soluções para casos específicos. Ao

contrário, busca na experiência humana, possíveis formas de resolver aquilo que o futuro

e os conflitos tem de novo.

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