Desenhar no Vazio o Caso de Estudo da Feira Popular

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! DESENHAR NO VAZIO: O CASO DE ESTUDO DA FEIRA POPULAR Mafalda Teixeira de Sampayo E-mail:[email protected] ISCTE – Departamento de Arquictectura Apresento aqui um projecto realizado para um Concurso Público de Ideias intitulado “VAZIOS URBANOS”. Promovido pela Secção Regional do Sul da Ordem dos Arquitectos, no âmbito da Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa 2007. A escolha do local da Feira Popular para o Concurso Público de ideias - Intervenções na Cidade, foi sustentada pelo facto de se tratar de uma área com enormes potencialidades, constituindo um desafio a vários níveis. A sua condição de excepção é justificada pela presença de uma porção plana de terreno com uma dimensão considerável (cerca de 4,5 hectares), para além de assumir uma localização privilegiada, numa área urbana central. 1. BREVE ENQUADRAMENTO À GÉNESE DO VAZIO URBANO O encerramento em Outubro de 2003 deste amplo espaço na cidade de Lisboa foi desde o início alvo de polémicas, tornando-o num terreno apetecível para a especulação imobiliária. As questões associadas à permuta de terrenos entre a Câmara Municipal e a Bragaparques continuam na ordem do dia, motivando uma reflexão à cerca do que fazer com o local. Os aspectos que conduziram ao seu encerramento estiveram fundamentalmente associados com a degradação sucessiva das estruturas, já de si precárias. A desadequação dos equipamentos às exigências dos nossos tempos fazia adivinhar uma intervenção de reabilitação difícil. A manutenção do local enquanto Parque de Diversões era então uma hipótese cada vez mais distante nas mentes dos políticos, aliciados pela hipótese de reverter estes usos em prol de outros mais lucrativos. O encerramento acabou por ser inevitável, remetendo o local para uma condição de vazio no centro da cidade. A proposta que a seguir se apresenta procura desenvolver estratégias de intervenção para a área, assumindo uma postura de abstracção face aos interesses económicos e imobiliários. Os conceitos apresentados traduzem uma visão ideal para o local, mais do que uma previsão para o que poderá vir de facto a acontecer. 2. INTERPRETAÇÃO DO CONCEITO DE VAZIO URBANO O caso da Feira Popular constitui uma situação particular no que diz respeito aos vazios. Ao passo que muitas destas áreas se assumem aparentemente desprovidas de funcionalidades, esquecidas ou remetidas para as periferias urbanas; o espaço em causa encontra-se claramente sedimentado na memória dos lisboetas. É algo a que ninguém é indiferente, passível de suscitar reacções polémicas e diversas, quaisquer que sejam os futuros desenvolvimentos atribuídos ao local. Se por um lado a tarefa dos projectistas em muitos dos terrenos vagos consiste na identificação dos usos potenciais (incutindo-lhes elementos passíveis de gerarem sentimentos de apropriação por parte da comunidade); assiste-se aqui a um desafio completamente diferente. O passado de intensa utilização pública assim o determina; fazendo adivinhar as expectativas da população face à atribuição de um uso público.

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DESENHAR NO VAZIO: O CASO DE ESTUDO DA FEIRA POPULAR Mafalda Teixeira de Sampayo E-mail:[email protected]

ISCTE – Departamento de Arquictectura

Apresento aqui um projecto realizado para um Concurso Público de Ideias intitulado “VAZIOS URBANOS”. Promovido pela Secção Regional do Sul da Ordem dos Arquitectos, no âmbito da Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa 2007. A escolha do local da Feira Popular para o Concurso Público de ideias - Intervenções na

Cidade, foi sustentada pelo facto de se tratar de uma área com enormes potencialidades, constituindo um desafio a vários níveis. A sua condição de excepção é justificada pela presença de uma porção plana de terreno com uma dimensão considerável (cerca de 4,5 hectares), para além de assumir uma localização privilegiada, numa área urbana central. 1. BREVE ENQUADRAMENTO À GÉNESE DO VAZIO URBANO O encerramento em Outubro de 2003 deste amplo espaço na cidade de Lisboa foi desde o início alvo de polémicas, tornando-o num terreno apetecível para a especulação imobiliária. As questões associadas à permuta de terrenos entre a Câmara Municipal e a Bragaparques continuam na ordem do dia, motivando uma reflexão à cerca do que fazer com o local. Os aspectos que conduziram ao seu encerramento estiveram fundamentalmente associados com a degradação sucessiva das estruturas, já de si precárias. A desadequação dos equipamentos às exigências dos nossos tempos fazia adivinhar uma intervenção de reabilitação difícil. A manutenção do local enquanto Parque de Diversões era então uma hipótese cada vez mais distante nas mentes dos políticos, aliciados pela hipótese de reverter estes usos em prol de outros mais lucrativos. O encerramento acabou por ser inevitável, remetendo o local para uma condição de vazio no centro da cidade. A proposta que a seguir se apresenta procura desenvolver estratégias de intervenção para a área, assumindo uma postura de abstracção face aos interesses económicos e imobiliários. Os conceitos apresentados traduzem uma visão ideal para o local, mais do que uma previsão para o que poderá vir de facto a acontecer. 2. INTERPRETAÇÃO DO CONCEITO DE VAZIO URBANO O caso da Feira Popular constitui uma situação particular no que diz respeito aos vazios. Ao passo que muitas destas áreas se assumem aparentemente desprovidas de funcionalidades, esquecidas ou remetidas para as periferias urbanas; o espaço em causa encontra-se claramente sedimentado na memória dos lisboetas. É algo a que ninguém é indiferente, passível de suscitar reacções polémicas e diversas, quaisquer que sejam os futuros desenvolvimentos atribuídos ao local. Se por um lado a tarefa dos projectistas em muitos dos terrenos vagos consiste na identificação dos usos potenciais (incutindo-lhes elementos passíveis de gerarem sentimentos de apropriação por parte da comunidade); assiste-se aqui a um desafio completamente diferente. O passado de intensa utilização pública assim o determina; fazendo adivinhar as expectativas da população face à atribuição de um uso público.

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A proposta procurou conciliar este incentivo à utilização da comunidade à evocação da memória e significado que o espaço representa. Optou-se por não restringir esta exploração simbólica às memórias da Feira Popular, embora estas também sejam evocadas; tendo-se procurado aproveitar este pretexto para a representação de algo mais amplo na sociedade portuguesa das últimas décadas. Tratando-se porventura de um dos períodos mais marcantes da história recente, a criação de um Memorial à Guerra Colonial deverá constituir uma oportunidade para a criação de um espaço a que ninguém ficará indiferente. Questionado pela revista Arquitecturas em Julho de 2005 sobre futuro da Feira Popular, o sociólogo Vítor Matias Ferreira realçou o facto das pessoas se encontrarem altamente “expectantes sobre o que lá vier a acontecer. Se o que acontecer for público, inovador e

espectacular a adesão será com certeza imediata”, afirmou. A opção por um tema polémico deverá jogar a favor desta tese, conciliada à intenção de conferir uma identidade forte ao local. O Memorial poderá assumir para alguns um carácter de questionamento sobre os dramas da guerra, para outros poderá traduzir-se numa valorização dos que nela combateram e arriscaram a vida. Longe de corresponder à apologia do conflito armado e dos seus propósitos, o lugar que aqui se pretende formalizar procurará fazer justiça aos seus combatentes, muitos deles ainda vivos. A homenagem em vida torna-se pertinente para aqueles que esperam por um reconhecimento desde então 1. Outro dos aspectos que sustentou a escolha do tema do Memorial teve por base a interpretação do conceito de vazio urbano enunciada no Regulamento do Concurso que nos foi disponibilizado. Nele podia ler-se a sua definição enquanto “espaços que potenciem a

memória, a identidade colectiva ou o uso quotidiano na expressão da troca e do comércio,

da informação e da comunicação, do debate e da manifestação”. 3. FORMALIZAÇÃO DE UM “VAZIO UTIL” .…………..….. INCENTIVO AO USO PÚBLICO: A vivência que se propõe para o espaço estará fortemente associada ao tipo de apropriação que as pessoas fizerem dele. Além de se criar um lugar que por si só evoca um tema polémico, a participação pública deverá ser potenciada pela concepção espacial adoptada e pelo tipo de relação estabelecida com a envolvente. A adopção de um espaço de características labirínticas e a dissolução dos limites actuais deverão convidar à presença humana. > CONCEPÇÃO INTERNA Espaço de características labirínticas: Potenciação do espaço percorrido e convite à descoberta do local !"$%&'(')&*+" ,-" #.../" +" 0%12+" ,34&5+" *&" 2&416&7" 8+2&21+%&*+" 4&)&" +" ,9,16+" 7+2&71:&;3," <'%6+" *+" =+)6," *+" >+-"

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> RELAÇÃO ESTABELECIDA COM O EXTERIOR Dissolução dos limites (concentração do edificado no limite Nascente) _ Relação de permeabilidade com a envolvente 3.1. DISSOLUÇÃO DOS LIMITES O espaço da Feira Popular assumiu até agora uma condição de “ilha” na malha urbana, perfeitamente murado e separado por vias de trânsito de intensa circulação automóvel. A intenção de oferecer o espaço à comunidade deverá ser acompanhada pela criação de acessos mais confortáreis a partir do exterior. Em primeira medida, seria ideal proceder às alterações das condições de trânsito nas vias envolventes, tornando-as menos agressivas do ponto de vista da circulação automóvel. No que diz respeito à proposta propriamente dita, a permeabilidade com o exterior será conseguida pela eliminação dos limites murados, concentrando os elementos edificados a Nascente e libertando o restante espaço para o uso público.

3.2. ESTRUTURA ESPACIAL DE MATRIZ LABIRÍNTICA Ao mesmo tempo que se procurou potenciar os percursos e diversificar as vivências de lazer e estadia, a concepção de um espaço de matriz labiríntica teve em conta a garantia de um sentido de orientação espacial; característica essencial à concepção de um memorial. A opção de dividir o local numa série de porções quadradas com a mesma dimensão (36 x 36m), deverá facilitar a identificação espacial dos seus componentes; sem abdicar da constituição de um todo coerente. Procurou-se potenciar o sentido de descoberta e surpresa inerente aos espaços labirínticos, abdicando contudo do estabelecimento de um único objectivo, de uma única “saída”. Ao passo que esta costuma ser a opção da grande parte dos labirintos tradicionais, assiste-se aqui a uma lógica de sucessão de etapas. Cada uma das regiões quadrangulares constitui uma unidade num todo global; um objectivo integrado numa progressão de objectivos sequenciais no sentido Sul-Norte. 3.2.1. “REGIÕES LABIRINTICAS” FORMAM UM CONJUNTO COERENTE Tratando-se de um memorial, cada uma das ditas áreas deverá estar vinculada a cada uma das realidades a evocar. Com o intuito de facilitar a identificação destes elementos, considerou-se pertinente associar a cada uma delas um agrupamento de designações: organizadas pelas iniciais/apelidos dos combatentes ou pelos nomes dos Batalhões e Províncias Ultramarinas onde combateram. 3.2.2. SUPERFÍCIES VERDES PAPEL DESEMPENHADO NA CRIAÇÃO DE REFERÊNCIAS VERTICAIS

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Cada uma das “regiões labirínticas” poderá estar associada à existência de superfícies verdes com uma conformação geométrica, pressupondo por sua vez a presença de elementos arbóreos com uma forte componente vertical. O carácter escultórico dos ciprestes deverá possibilitar este facto, optando-se pela sua disposição em maciços ou alinhamentos. A escolha desta espécie deverá adequar-se ao carácter de memorial, apoiando-se nas associações ao universo funerário e aos espaços evocadores da memória. As áreas em causa poderão ainda compreender a existência de exemplares com um porte mais significativo, possibilitando uma visibilidade a maiores distâncias. A opção pelo pinheiro traduz-se na marcação de elementos pontuais com uma forte presença volumétrica, funcionado simultaneamente como referências verticais para cada uma das porções quadrangulares onde se inserem. Os elementos arbóreos anteriormente referidos estão incluídos em porções relvadas, que constituem por sua vez sub-regiões das porções labirínticas mais amplas. No que diz respeito ao material vegetal, estas últimas poderão contemplar ainda a existência de muros com trepadeiras e sebes de arbustos, ambos com uma composição claramente geométrica. A utilização de arbustos talhados em topiária cumprirá este objectivo, aludindo à imagem dos labiríntos tradicionais concebidos com recurso a sebes de buxo e murta. Os muros associados à vegetação constituem elementos com uma presença vertical mais forte, aplicados sobretudo nas situações onde se pretendem espaços com uma componente altimetrica marcada. 3.2.3. ELEMENTOS CONSTRUÍDOS (BETÃO / AÇO CORTEN)

… PAPEL DESEMPENHADO NAS DESIGNAÇÕES A INCLUIR NO MEMORIAL Os elementos inertes que compõe cada uma das “regiões labirínticas” recorrem a estruturas construídas em betão e aço córten, aplicadas numa matriz de calçada. Descrevendo um esquema ortogonal de linhas quebradas, atribuem-se aos ditos elementos as funções de identificação dos componentes do memorial: designações que deverão ser gravadas nas suas superfícies verticais. Sem se sobreporem excessivamente ao espaço, as estruturas em causa constituirão uma unidade coerente, afirmando-se pela sobriedade do conjunto. A estratégia adoptada possibilitará a criação de uma atmosfera solene de respeito pelo tema, evitando simultaneamente a criação de um ambiente excessivamente pesado. 4. ELEMENTOS LINEARES (REFLEXOS NA ESTRUTURA E HIERARQUIZAÇÃO ESPACIAL) PERMEABILIDADE FACE À ENVOLVENTE E PAPEL DESEMPENHADO NA FLUIDEZ DOS PERCURSOS As regiões geométicas que compõem labirinto resultam da sua intersecção por uma série de eixos: uma sequência de alinhamentos transversais com espaçamentos constantes e um grande eixo central. Além de constituem acessos privilegiados a partir da envolvente, estes elementos deverão possibilitar percursos alternativos: para quem queira viver o espaço sem entrar nos recintos labirínticos ou para quem queira sair deles. Para além disto, a sua existência deverá ser complementada pela existência de faixas de pavimento escuro, assumindo uma condição de contraste com a envolvente.

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4.1. EIXOS TRANSVERSAIS A existência de uma série de atravessamentos perpendiculares à direcção privilegiada dos percursos, possibilita um desenvolvimento altimétrico sucessivo ao nível de cada uma das “regiões labirínticas”. Esta progressão nas alturas dos elementos construídos potencia uma hierarquização espacial ao nível das diferentes porções de território: as áreas a Sul pressupõem uma estrutura espacial “agarrada” ao terreno; e à medida que se caminha para Norte assiste-se a uma maior presença de estruturas verticais. Constituindo interrupções na estrutura labiríntica, estes atravessamentos pressupõem a existências de espaços mais desafogados, onde é o possível “respirar”. A criação de uma área relvada mais ampla deverá possibilitar este facto, constituindo simultaneamente uma área de interface privilegiada com a envolvente. 4.2. EIXO LONGITUDINAL EIXO CENTRAL de (ENTRE)CAMPOS … … espaço de ligação entre o Campo Grande e o Campo

Pequeno

O maior destaque atribuído às suas características formais justifica o entendimento deste eixo enquanto ligação privilegiada à envolvente, contribuído simultaneamente para a formalização de um “contínuo verde” entre o Campo Grande e o Campo Pequeno. Para além de ter sido sustentada na apropriação do vocábulo Entrecampos (designação desta zona da cidade), o dito eixo deverá traduzir-se numa maior qualidade ambiental para o espaço urbano. A manutenção do local enquanto um vazio; a incorporação de elementos vegetais e a criação de uma continuidade física ao nível das áreas verdes adjacentes deverá possibilitar este facto. Além da componente pedonal, o dito eixo poderá suportar ainda outras funções: a criação de uma faixa central com alguns elementos de estadia é complementada pela existência de duas faixas adjacentes, preparadas para a instalação de uma ciclovia. A ligação à ciclovia do Campo Grande deverá adaptar-se dentro do possível às passadeiras existentes, estratégia equivalente à que se prevê adoptar para a ligação ao Campo Pequeno. 4.3. ELEMENTOS AXIAIS [RELAÇÃO ESTABELECIDA COM A MATRIZ DE CALÇADA] ESTRATÉGIA DE DEMARCAÇÃO ESPACIAL E SOLUÇÕES DE ILUMINAÇÃO Os alinhamentos transversais poderão pressupor a existência de porções revestidas a calçada de calcário preto, em oposição à calçada branca envolvente. Adoptando a mesma lógica, o eixo central poderá contemplar a existência de continuidades lineares revestidas com lajes de basalto polido; opção justificada pelo facto de se tratar de um acesso privilegiado. A utilização de materiais nobres sustenta também o recurso a elementos de iluminação com uma maior potência face às demais zonas. Optou-se pela disposição de focos de luz embutidos nas lajes de pedra, contribuindo para a marcação de um eixo forte, tanto de dia como de noite. Este não deverá ser contudo o único elemento associado à presença de focos de iluminação à superfície. Por questões de segurança e pela intenção de explorar as qualidades formais dos elementos construídos, propõe-se a existência de elementos de iluminação em toda a área. Assumindo uma disposição pontual, estes elementos deverão induzir efeitos esteticamente interessantes, explorando a particularidades materiais das superfícies (aço corten, muros de betão e sebes

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arbustivas). A sua existência enquanto elementos de carácter linear é estendida aos eixos transversais, pela disposição de focos de luz demarcando claramente os acessos a partir da rua. Para além dos elementos de iluminação de maior potência, o eixo central deverá demarcar-se pela disposição particular que se propõe para os alinhamentos arbóreos. A implantação alternada de uma série de Jacarandás deverá ser suficientemente forte para o estabelecimento do dito eixo; sustentando ainda uma lógica de integração na envolvente. 4.4. OUTROS COMPONENTES LINEARES DA ESTRUTURA ESPACIAL: ALINHAMENTOS ARBÓREOS e VOLUMES EDIFICADOS Para além do eixo principal, os volumes edificados que se propõem para o limite Nascente constituem uma das componentes lineares com maior presença no local. Para além destas, propõem-se uma série de alinhamentos arbóreos, sustentados numa lógica e integração na envolvente. Para além dos elementos que acompanham o eixo central, propõem-se outros dois grandes conjuntos lineares de Jacarandás. O alinhamento da Av. 5 de Outubro dá o mote para a criação de um outro adjacente, bem como para a definição de um eixo paralelo à Av. da República, no lado oposto ao volume edificado. 5. POSTURA FACE ÀS PREEXISTÊNCIAS Com o intuito de conferir maior liberdade e flexibilidade à proposta, considerou-se pertinente abdicar da maior parte das preexistências do local; tendo em conta o facto do mesmo se encontrar actualmente em processo de desmantelamento. A presença do que outrora foi a Feira Popular deverá reflectir-se sobretudo no uso público pretendido para o local, bem como na sua manutenção do enquanto espaço não edificado. A existência de equipamentos culturais de cariz museológico poderão incorporar aspectos da história recente, não só da Feira Popular como também dos espaços que lhe antecederam. Além das estruturas de recreio que vão sendo progressivamente desmanteladas, os aspectos que estiveram na base da anulação das referências edificadas fundamentaram-se sobretudo pelo estado de degradação que as mesmas apresentavam. São de referir neste âmbito o caso do Mercado Geral dos Gados e do Teatro Vasco Santana, desactivados desde há bastante tempo. O único caso que não padece desta condição de abandono diz respeito ao edifício do limite Nordeste, embora se tenha considerado projectualmente mais aliciante pressupor a sua anulação. O conjunto destas escolhas permiti-nos encarar o local como um verdadeiro vazio, em todas as acepções da palavra. As “préexistências físicas” a considerar estão limitadas à envolvente, com a qual se procuram fomentar relações espaciais. As “preexistências de significados” estão fortemente vincadas à memória que se pretende evocar.

6. VOLUME EDIFICADO _ DISPOSIÇÃO ESPACIAL E FUNÇÕES A ATRIBUIR Os volumes propostos desenvolvem-se longitudinalmente à Av. da República, constituindo um elemento de equilíbrio aos elementos edificados do outro lado da Avenida. A sua existência poderá compreender diversas funções (comércio e serviços, escritórios, habitação e equipamentos culturais); considerando-se interessante atribuir uma predominância a estes últimos. A existência de espaços museológicos poderão conferir um carácter próprio e identificativo ao conjunto edificado, apelando a um universo de memória. Será interessante evocar as memórias da Feira Popular, para além de se tornar pertinente a existência de um Centro Interpretativo associado à Guerra Colonial; auxiliando a uma melhor compreensão do

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que se pretende evocar no memorial. Ainda no que concerne à evocação da memória do local, poderá ser interessante considerar a existência de um Teatro, retomando a localização do Teatro Vasco Santana (Luzia Maria Martins), no topo de limite Nordeste. Seguem-se imagens da proposta:

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