De acordo com o Acordo

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D D E E A A C C O O R R D D O O C C O O M M O O A A C C O O R R D D O O Maria Lucia de Castro Gomes

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AACCOORRDDOO

Maria Lucia de Castro Gomes

Maria Lucia de Castro Gomes 2

DE ACORDO COM O ACORDO

O objetivo do Acordo Ortográfico de 1990 foi unificar a ortografia da

língua portuguesa, após várias tentativas frustradas de unificação. A

negociação para o Acordo teve início em1980 e foi assinado em Lisboa em

dezembro de 1990, por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde,

Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 2004, o

Timor Leste também aderiu ao Acordo. Apesar de assinado em 1990, sua

entrada em vigor data de 1º. de janeiro de 2007, mas só foi ratificado por

Portugal em maio de 2008. A ratificação era uma exigência para que o Acordo

Ortográfico de 1990 entrasse em vigor. Como o propósito do Acordo é a

unificação, espera-se que todos os países de língua portuguesa o ratifiquem.

As alterações só valerão para os países que o ratificarem. No Brasil, em 29 de

setembro de 2008, em solenidade na Academia Brasileira de Letras, o

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Acordo Ortográfico. Mas a

Resolução no. 17, de maio de 2008, já autorizava a adequação dos livros

escolares de ensino fundamental e médio às mudanças implementadas pelo

Acordo. No Brasil ficou estabelecido o período de 2009 a 2012 para a

convivência entre as duas normas ortográficas, que serão aceitas em

concursos públicos e vestibulares.

O QUE MUDOU

Foram basicamente quatro os pontos de mudança para unificação:

1. O alfabeto passa a ter 26 letras com a inclusão das letras k, w e y.

2. Eliminação das consoantes mudas, em palavras como acção,

optimismo, director, baptismo, que passam a ser grafadas ação,

otimismo, diretor, batismo.

o Para nós brasileiros essa mudança não faz nenhuma diferença,

pois já grafávamos sem a consoante muda.

o Nos casos de oscilação de pronúncia, ambas as grafias são

aceitas: aspecto/aspeto, sector/setor, facto/fato, e outros.

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3. Acentuação Gráfica

o Abolido o trema em que, qui, gue e gui : quinquênio, linguiça,

aguentar.

o Abolido o acento do 1º. o do hiato oo: voo, enjoo, abençoo.

o Abolido o acento do 1º. e das formas dos verbos crer, dar, ler e

ver: creem, deem, leem, veem.

o Deixam de ter acento os ditongos abertos ei e oi nas palavras

paroxítonas: plateia, geleia, heroico, alcaloide.

o Acento diferencial – permanecem somente em:

� pôde (pretérito perfeito) pode (presente do indicativo)

� pôr (verbo) por (preposição)

o Acento diferencial – formas facultativas:

� dêmos (1ª. pess. plural do presente do subjuntivo)

demos (1ª. pess. plural do pretérito perfeito do indicativo)

� fôrma ( substantivo)

forma (substantivo e 3ª. pess. sing. presente do indicativo e

2ª. pess. sing. do imperativo do verbo formar)

� cantamos (presente do indicativo) cantámos (pretérito

perfeito do indicativo) – verbos da 1ª. conjugação.

o Dupla grafia:

� algumas palavras paroxítonas e proparoxítonas com

variação na pronúncia:

• ônix / ónix

• bônus/bónus

• pônei/pónei

• fêmur/fémur

• cômodo/cómodo

• acadêmico/académico

4. Emprego do hífen – ocorreram mudanças apenas no uso do hífen com

prefixos e pseudoprefixos. A ideia básica é a seguinte: a regra é não

emprego do hífen com prefixos e falsos prefixos. O hífen deve ser

empregado, no entanto, se:

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o o segundo elemento começa por h;

o se o prefixo termina pela mesma vogal com que começa o

segundo elemento;

o alguns outros (vide abaixo nas regras do hífen).

Essas mudanças acontecem para adequação à norma portuguesa,

como, por exemplo, a eliminação do trema, ou para adequação à norma

brasileira, como a eliminação da consoante não articulada. Por isso, todos os

usuários da língua portuguesa terão que se adaptar a novas regras.

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REGRAS DE ACENTUAÇÃO

As regras de acentuação não sofreram grandes mudanças. Apenas as

palavras com oo, com ee, os ditongos abertos em paroxítonas e alguns

acentos diferenciais que ainda restavam na língua, conforme mencionado

acima. Eis as regras gerais de acentuação.

Palavras proparoxítonas ...������

- TODAS

Palavras paroxítonas ...�����

� terminadas em r, x, n, l, ps (caráter, ônix, pólen, útil, bíceps)

� terminadas em i (is), us (júri, lápis, bônus)

� terminadas em um, uns (álbum, álbuns)

� terminadas em ã(s), ão(s) (ímã, ímãs, sótão, sótãos)

� terminadas em ditongos orais: amáveis, fáceis, cárie, glória, amêndoa (o

Acordo considera as palavras paroxítonas terminadas em ditongo

crescente – semivogal + vogal – como proparoxítonas, pois os ditongos

podem ser pronunciados como hiato – gló-ria ou gló-ri-a)

Palavras paroxítonas ...����

� terminadas em a, e, o seguidos ou não de s (pá, pé, pó, sofá, café, jiló,

paletó, jacarandá)

o Obs: - as formas verbais oxítonas terminadas em a, e, o seguidas

dos pronomes oblíquos lo-la-los-las, também recebem o acento

(amá-lo, vendê-lo, repô-lo)

� terminadas em em, ens (também, porém, refém, reféns, armazéns)

o Obs: - os monossílabos terminados em em, ens não são

acentuados (bem, bens, nem, tens)

o Verbo ter e vir – presente do indicativo

tem (3ª. pess. singular) têm (3ª. pess. plural)

vem (3ª. pess. singular) vêm (3ª. pess. plural)

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o Os derivados de ter e vir – acento agudo para o singular

(contém, intervém etc) e acento circunflexo para o plural (contêm,

intervêm etc)

� terminadas em ditongos abertos éu, éi, ói seguidos ou não de s

(chapéu, céu, anéis, mói, anzóis)

� variação de pronúncia:

o bebé / bebê

o bidé / bidê

o croché / crochê

Letras i e u

� quando sozinhas na sílaba ou acompanhada de s (sa-í-da, sa-ú-de,

ju-í-zes, ba-ús)

o Obs1: não receberão acento:

� se seguidos de nh (ra-i-nha, ta-i-nha)

� se precedidos por ditongo (fei-u-ra, bai-u-ca, Sau-i-pe)

o Obs2: receberão acento:

� se precedidos por ditongo em palavra proparoxítona

(mai-ús-cu-lo, fei-ís-si-mo)

� em palavras oxítonas, mesmo precedido de ditongo

(Pi-au-í, tui-ui-ús)

o Obs3: não se acentuam os ditongos tônicos iu e ui precedidos de

vogal: dis-tra-iu, pa-uis.

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EMPREGO DO HÍFEN

O hífen é usado para ligação de palavras compostas formadas pela

junção de mais de um radical. Mas os elementos da composição podem ou não

estar ligados por hífen, como em couve-flor e pontapé. É também usado nas

formas verbais como em fazê-lo, comprá-lo.

O Acordo Ortográfico de 1990 estabelece que se emprega o hífen nos

seguintes casos:

• Palavras compostas por elementos que mantêm um significado e acento

próprios (substantivos, adjetivos, numerais ou verbos)

abaixo-assinado, longa-metragem, bate-boca, primeiro-ministro,

segunda-feira, médico-cirurgião etc.

• Palavra composta com sentido figurado

copo-de-leite, mesa-redonda, saia-justa, criado-mudo

Obs: diferencia-se das expressões com sentido literal copo de leite,

mesa redonda, saia justa, criado mudo.

• Nome de lugar composto iniciado por grã ou grão, ou por forma verbal,

ou com elementos ligados por artigo

Grã-Bretanha, Grão-Pará, Passa-Quatro, Trás-os-Montes, Baía de

Todos-os-Santos.

• Palavras que designam espécies botânicas e zoológicas

couve-flor, mico-leão-dourado, quero-quero, feijão-verde.

• Compostos com os advérbios bem e mal, quando seguidos de palavras

que começam com h ou vogal.

bem-humorado, bem-amado, mal-agradecido.

Obs: bem-criado / malcriado, bem-nascido/malnascido

Benfazejo, benfeito

• Compostos com elementos além, aquém, recém e sem:

Além-mar, recém-nascido, sem-teto.

• Algumas locuções consagradas:

cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-

roupa.

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PREFIXAÇÃO E SUFIXAÇÃO

Regra geral: não se usa hífen para separar prefixo ou sufixo do radical: infeliz,

contrarregra, hidroelétrico, biorritmo, lealdade, felizmente.

No entanto, alguns vocábulos receberão hífen com sufixos e prefixos. As

regras são as seguintes:

1. As palavras com sufixos só terão o hífen, se os sufixos forem de origem

tupi-guarani.

jacaré-açu, jatobá-mirim, sabiá-guaçu

2. As palavras com prefixo terão hífen:

a. se o segundo elemento começar por h (ante-histórico, anti-herói,

co-herdeiro, neo-helênico.

b. se o prefixo ou falso prefixo terminar com a mesma vogal que

inicia o segundo elemento (anti-inflamatório, arqui-inimigo, semi-

integral)

c. os prefixos circum e pan serão separados por hífen do segundo

elemento que começar por h, vogal, m e n (pan-americano,

circum-navegação)

d. os prefixos hiper, inter, super separam-se por hífen se o segundo

elemento começar por r (super-rancoroso, hiper-requintado, inter-

regional)

e. os prefixos acentuados graficamente (pré, pós, pró) serão

separados por hífen de elementos que têm vida à parte (pré-

datado, pós-graduação, pró-reitor)

f. prefixos ex, sota, soto, vice, vizo sempre serão separados por

hífen do segundo elemento (ex-prefeito, vice-rei, sota-piloto, soto-

mestre, vizo-rei)

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Não se usa hífen

1. se o prefixo (ou falso prefixo) terminar em vogal e o segundo elemento

começar por r ou s, duplicando essa letra (antessala, teleaula,

antirroubo, minissérie, ultrassom, ultrarromântico)

2. se o prefixo (ou falso prefixo) terminar em vogal e o segundo elemento

começar por uma vogal diferente (anteato, coarrendar, geoeletricidade,

plurianual, sobreaviso, teleobjetiva)

Obs: o prefixo o, que se junta com a vogal o, não se separa por hífen

(cooperar, coordenar, coopositor)

3. em formações em que o segundo elemento perdeu o h inicial

(desumano, inábil)

Como se pode ver, as regras são muitas e as dificuldades de emprego

podem continuar. Por isso, na dúvida, é sempre importante recorrer a um bom

dicionário.

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HISTÓRICO DA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

A ortografia de uma língua pode refletir a sua fonética, isto é, o som da fala

ou pode refletir a origem da palavra, trazendo elementos de sua etimologia. A

ortografia da língua portuguesa teve três períodos, um fonético, outro

pseudoetimológico, e outro chamado simplificado.

• O fonético – até o século XVI – as palavras eram escritas como se

pronunciavam.

• O pseudoetimológico – do século XVI até 1904 – influência Greco-latina

(theatro, crystal, thesoura, phamacia)

• O simplificado – 1904 - com a publicação da Ortografia Nacional por

Gonçalves Viana, em que foram eliminados os dígrafos ph, th, Rh, ch e

as consoantes duplas (exceto rr e ss).

As reformas e tentativas de unificação

1911 – primeira grande reforma – não considerou a grafia brasileira

1931 – primeiro acordo entre Brasil e Portugal – não produziu efeito

1943 – nova tentativa, também sem sucesso – o Brasil adota essa reforma

1945 – nova tentativa, mas somente Portugal adere.

• Existem duas normas oficiais, a de 1943 adotada pelo Brasil e a de

1945 adotada por Portugal.

1971 – Lei 5.765, que veio simplificar algumas questões -

• Portugal só adere em 1973.

1975 e 1986 – novas tentativas de acordo

• fracassam por tentar 100% de unificação.

1990 – consegue-se o Acordo Ortográfico, unificando 98% do vocabulário geral

da língua.

O acordo Ortográfico de 1990 procurou privilegiar o critério fonético, no

entanto, muitas palavras ainda são grafadas segundo o critério etimológico,

principalmente, palavras com h ( homem – do latim homine).

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As principais modificações foram a eliminação das consoantes mudas

não articuladas, que terá impacto apenas para os portugueses e africanos, pois

nós, brasileiros, já grafamos assim; eliminação de algumas regras de

acentuação; simplificação no emprego do hífen; eliminação do trema;

manutenção de dois tipos de acentuação, quando a palavra é pronunciada de

forma diferente, como em termômetro ou termómetro.