Artisticidade, etnicidade e política no Caribe colombiano: uma etnografia dos Zenú e seus outros
Cinema, Teatro e Outros Mundos - Breve Comentário à Palestra de Kousy Lanku
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CINEMA, TEATRO E OUTROS MUNDOS1
TEATRO AFRICANO
BREVE COMENTÁRIO SOBRE A PALETRA DE KUOSY LAMKO
Por Joaquim Borges Armando Gove2
1 Tema do I Ciclo de Palestras da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade Eduardo Mondlane realizada na semana intercalar do ano de 2011.2 Estudante do II Ano do Curso de Licenciatura em Música na ECA – UEM. [email protected]
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ABSTRACTO:
O presente artigo foi escrito com o objectivo de comentar a
reflexão de Kousy Lamko proferida numa palestra, no âmbito do I
Ciclo de Palestras da Escola de Comunicação e Artes da
Universadade Eduardo Mondlane subordinado ao tema “Cinema, Teatro
e Outros Mundos...”. Lamko dissertou sobre o teatro e artes em
África abordando a questão da “...visão e postura sobre a guerra e a politica
em África...” Apresenta-se aqui, de forma breve, a biografia do
referido orador, e discute-se sobre algumas questões por este
abordadas, no caso, a questão do “teatro africano”, “o nascimento
de actores culturais em África” e a “democratização da arte
teatral”, entre outros. Estimulado pelas reflexões de Lamko, este
documento procura fazer uma leitura sobre os fenómenos no
contexto moçambicano.
PALAVRAS-CHAVES: teatro africano; arte; cultura; actores
culturais
ABSTRACT:
This article aims to comment Kousy Lamku reflection presented I
Cycle of Lectures of Escola de Comunicação e Artes (ECA) of
Universidade Eduardo Mondlane, under the subject “Cinema, Theatre
and Other Worlds…” (“Cinema, Teatro e Outros Mundos…”). Lamku
dissertation was about the theatre and art of Africa, whereas he
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discussed issues about the “…the vision and the posture about the war and
the politics in Africa…”. This work presents a short Lamko biography, and
discusses some issues brought up by him such as “African
theatre”, “the up-coming of cultural actors in Africa” and “the
democratization of theatrical arts”, among others. Stimulated by
Lamko reflections this paper seeks to analyze such phenomenon in
the Mozambican context.
KEY WORDS: African theatre; arts; culture; cultural actors
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ÍndiceIntrodução...........................................................3Biografia de Lamko...................................................5
As Primeiras Experiências de Lamko sobre a Cultura...................5O “...nascimento do conceito que serviu de base para o chamado Teatro Africano...”.........................................................6O “Teatro Total”.....................................................9
O “Nascimento de actores culturais” e a “Democratização do teatro”. .11Conclusões..........................................................12
Bibliografia:.......................................................14
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IntroduçãoEste artigo tem por objecto comentar a palestra proferida por
Lamko no I Ciclo de Palestras da Escola de Comunicação e Artes da
Universadade Eduardo Mondlane subordinado ao tema “Cinema, Teatro
e Outros Mundos...”. Lamko propôs-se a dissertar sobre o teatro e
artes em África abordando a questão da sua própria “...visão e
postura sobre a guerra e o poder politica em África, em tanto que
actor de teatro, literatura e cultura...”(Lamko).
O presente artigo não pretende ser de um carácter crítico.
Procura-se pelo contrário realçar os aspectos destacáveis no
ponto de vista do autor e sobre estes fazer uma analogia ou mesmo
convidar o leitor a uma reflexão com o objectivo de procurar
encontrar mais valias para as artes africanas, para daí tirar
ilacções para as artes em Moçambique particularmente, em tanto
que uma nação onde apesar de a arte acontecer de modo nato como
acontece em toda África, ainda se está a iniciar a formação nas
áreas artísticas com o surgimento de instiuições de ensino
superior vocacionadas à estas áreas.
Numa altura em que se procura estimular o reconhecimento do que
pode ser considerado origináriamente moçambicano, com o devido
valor e a recuperação da auto-estima que foi sofrendo degradações
em consequência de vários factores (políticos, religiosos3 e
3 É importante fazer referência de que depois da independência de Moçambiqueas igrejas foram literalmente banidas, ou seja, estas ficaram proibidas deexercer o seu papel. Por outtro lado a religião cristâ foi imposta pelo
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socio-económicos) podendo destacar dentro destes quadros, a
tentativa de seguir uma ideologia política socialista/comunista
que foi observado no período pós-independêcia; a guerra de
desestabilização que de algum modo fragilizou os valores sociais,
económicos e culturais; a integração e recuperação económicas
pós-guerra dos 16 anos entre o Governo moçambicano (da FRELIMO4)
e as forças militares da Renamo5 então consideradas de
desestabilizadores ou bandidos armados. Como resposta ao
resultado da referida guerra e os restantes factores indicados,
aproximaram-se de vários actores estrangeiros em quase todas as
áreas da vida moçambicana, assim como ampliou-se a mistura entre
pessoas das várias regiões do país, com suas diversificadas
culturas. As influências mútuas podem tanto ter ajudado na tal
fragilização de valores, como podem ter enriquecido, mas estes
fenómenos no seu conjunto poem ter contribuido para desenvolver
um espírito do consumismo à nível dos moçambicanos.
Assim, as áreas culturais (teatro, música, dança, etc), pelo
facto de estas facilmente absorverem influências ao mesmo tempo
colonialismo ou pelo menos no período colonial, o que pode ter representado umconflito de cultura religiosa pois os africanos tem as suas próprias religiões(tradicionais). 4 Por FRELIMO aqui refere-se ao movimento da libertação de Moçambique (Frenteda Libertação de Moçambique) mais que ao partido político que detém o poderaté os dias de hoje. A importância de frisar-se este aspecto centra-se nofacto de que depois dos acordos de paz em Moçambique passou a viver-se emambiente de multipartidarismo em substituição do monopartidarismo queprevaleceu até o reerido momento. 5 Renamo (Resistência Nacional de Moçambique) é um partido politico ou pelo menos tronou-se em partido político como é reconhecido até hoje, e que foi e tem sido responsabilizado pela desestabilização por acções militares do país durante 16 anos depois da independência de Moçambique.
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que respondem rapidamente ao chamado para a comunicação com as
massas, ressentiram-se muito destes fenómenos e, é à volta de
aspectos análogos a estes e outros vividos em Moçambique que
Lamko reflecte, daí a proposta para o covinte a reflexão no nosso
próprio contexto.
Dentre vários aspectos apresentados por Lamko, importa destacar a
sua autobiografia (no que tange ao percurso da sua formação e
principais actividades pós-formação), para dimencionar, talvez, o
nível de autoridade e comprometimento deste com o assunto.
Destaca-se também o que ele referiu como “Teatro Total” praticado
na África do Oeste, pelo seu impacto nas comunidades e o percurso
que conheceu; assim como a sua análise sobre o “...nascimento do
conceito que serviu de base para o chamado Teatro Africano...”, o “...nascimento de
actores culturais...” e a “...democratização da arte teatral...”.
Para melhor percepção propõe-se a discussão de cada um destes
aspectos, usando de recursos disponíveis que incluem outras
passagens da mesma palestra e outros ligados à matéria da arte e
cultura, sempre que necessário, na análise, para que no fim se
possa trazer uma contribuição ao desejado desenvolvimento para as
artes em África.
Para a realização do presente trabalho fez-se uma pesquisa
bibliográfica com o obejctivo de enriquecer as abordagens da
reflexão assim como encontrar pontes entre as experiências e
percepções de Lamko e as realidades sócio-culturais que podem
servir para sustentar a presente reflexão.
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Biografia de LamkoLamko nasceu no Chad e depois de terminar os seus estudos ao
nível que podia no seu país teve que ir prosseguir em
Borquinafasso onde estudou Letras e Artes Dramáticas. Depois de
concluidos os seus estudos regressou ao seu país, já com alguma
experiência e pronto para trazer o seu produto à casa. O seu
sentido crítico em relacção ao poder político fez com este não
fosse bem vindo à sua própria terra tendo regressado ao
Borquinafasso de onde depois partiu para França e posteriorimente
para o Canadá onde se estabeleceu e se exilou. Criou, com a
dedicação de 4 anos da sua vida profissional, artística e
académica, o Centro Cultural Universitário de Rwawnda depois do
genocídio, por solidariedade ao povo do Rwanda. Também criou o
Centro Cultural Africano no México, onde vive. É actor de teatro,
compositor musical, escritor e cineasta.
As Primeiras Experiências de Lamko sobre a CulturaLamko apresentou as suas experiências sobre o teatro e artes.
Reteve-se sobre a questão da África Ocidental considerada por ele
de “fechada ao resto do mundo” (Lamko). Segundo o mesmo, nos anos
80, emergeram novas formas de fazer teatro – “teatro de
participação” - que veio a marcar o antes e pós 80's. É nesta
senda que começam a aparecer estudantes que vão estudar artes,
com maior destaque para o teatro, fora de África e de forma geral
em países francófonos. Regressados dos países onde realizaram
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seus estudos, estes tiveram que defrontar-se com grupos teatrais
amadores e sem iniciação académica, situação que representava uma
realidade diferente e de certa forma adversa ao que estes podiam
ter como expectativa para pós-regresso. Estes regressam com uma
visão ocidental para espaços culturais franceses (onde podiam
fazer as suas apresentações), em língua francesa numa sociedade
onde nem todos são bons falantes da língua francesa ou
simplesmente não são fluentes falantes desta língua; o seu
repertório é basicamente criado a partir de textos clássicos
(ocidentais). Uma situação que desvirtava o sentido do que podia
ser considerado de “puramente africano”. Por seu lado, os
amadores podiam fazer um teatro com que a maioria se
identificava, mas as suas oportunidades eram ofuscadas pela
ausência de apoios, que se resumia na falta de espaços e
sustentabilidade para os seus fazedores.
Assim, se por um lado estavam pessoas preparadas nos moldes
acadèmicos e científicos para fazer o teatro e munidos de
oportunidades para tal, estes não comungavam do código de
comunicação com as pessoas a quem deveriam comunicar. Por outro
lado estavam os que a seu próprio modo podiam comunicar-se
eficazmente com o povo mas desprovidos de efeciência pois não
detinham de instrumentos técnico e científicos para o efeito e
ainda lhes escasseavam as possibilidades materias ou económicas.
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O “...nascimento do conceito que serviu de base para o chamado Teatro Africano...”Neste contexto, Lamko falou sobre o desafio impostos pela
necessidade de se poder fazer “teatro para o povo”, que
ultrapassasse as questões ligadas à língua e outros signos que
eram estranhos para o povo que devia consumir as artes com
especial enfoque para o teatro trazido pelos estudiosos da
diáspora. Assim adoptadou-se a realização de colóquios, pesquisas
e outras actividades de inserção que poderiam trazer o tal
conceito. Lamko referiu que “Entre várias pesquisas, foram
direccionadas pesquisas antropológicas e sociológicas que deram
uma importância aos rituais tradicionais que serviriam para a
criação teatral; foram estudadas técnicas de comunicação oral e
outras com que o povo local podia identificar-se...”. Disse ainda
que foi com esta base que “nasceu a diversidade de formas e de
elementos constantes para o nascimennto duma dramaturgia
africanas ou teatro ritualista”.
Analisando as trajetória apresentadas por Lamko podemos
facilmente olhar para a questão da arte no nosso continente em
duas direcções: numa teríamos Arte Africana e noutra a Arte de
Africanos.ou Arte feita por Africanos - A Arte Africana seria aquela que
tem as suas raizes ou bases em tradições, signos, realidades,
simbologias, contexto, etc, africanos. Enquanto a Arte de
Africanos, a que independetemente da sua origem, desde que seja
feita por africanos pode traduzir-se como africana. Esta pode
interpretar fenómenos estrangeiros da África quer em línguas
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africanas ou estrangeiras; pode representar em moldes africanos o
que não é tradicionalmente africano ou no sentido contrário, pode
reprsentar eventos ou fenómenos africanos usando códigos de
comunicação que não se identificam com tradições africanas. Aqui
é importante realçar que ao falar de africanos e suas tradições
refere-se aos africanos no geral, cuja maioria é analfabeta e
rural e que ainda não se identifica com muitos eventos
resultantes dos efeitos globalizadores como nas urbes. Foi Lamko
quem referiu-se à questão da situação da maioria dos africanos,
concordando com vários estudos dedicados à questão.
Portanto, a arte africana tem que identificar o africano, deve
ser descodificada pelo africano, deve ser contextualizada para e
pelo africano como algo seu; cada africano dentro ou fora da sua
tradição, pode percebe-la como algo que não lhe seja será
estranha, mesmo considerando a diversidade da cultura africana
esta tem também a unidade. A história do continente permitiu aos
povos intercâmbios tais que ajudam o africano a perceber o que é
africano mesmo com as barreiras das línguas. Por exemplo, Lamko
falou das similaridades nos ritos mesmo que estes possam tomar
nomes diferentes devido às diferenças linguísticas que na partida
a maior parte tem bases comuns, caso das línguas Bantu.
Depois das reflexões apresentadas até este momento urge levantar
algumas questões sobre de facto constituiu-se aqueles países
(África Ocidental) um teatro africano? Arte africana? E, se a
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resposta é afirmativa, “será que os modelos adotados para tal
seriam aplicáveis a toda a África?”6
Para estas questões Lamko acredita que a situação vivida naqueles
países ocorre em quase toda a África no que respeita à cultura.
Justificou que pode ser pelo facto de este continente ter vivido
muitos anos sob jugo dos colonialistas que por sua vez foram
desenvolvendo e enrobustecendo as suas economias, o que
condiciona as novas realidades sócio-culturais e políticas do
mundo, e “aparentemente” torna o ocidente o único socorro para a
África, num ciclo vicioso de dependência e de facto, a cultura
ocidental torna-se “imposição” para além de condicionate da
globalização. Traduzindo o quis Lamko dizer, quando se fala da
globalização é como que se se falasse da ocidentalização, onde os
povos africanos percebem as culturas ocidentais como os modelos
de boa cultura.
Observe-se que no ensino das artes (música, teatro, cinema,
dança, etc) ainda pode dizer-se que não há países africanos que
tenham programas ou curricula baseados na sua própria realidade.
Já os países que adoptaram programas de formação que valorizem as
suas culturas tradicionais ou folclóricas, isto é mais observável
no ensino de línguas locais e os restantes aspectos culturais são
ainda entendidos como não sendo apropriados para o ensino e ainda
nalguns casos como tedência ao encorajamento para que os alunos e
as sociedades se distânciem. A título de exemplo, isto pode ver-
6 Esta foi uma das questões colocadas à Lamko por um participante durante apalestra.
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se nas peças teatrais moçambicanas de grupos amadores e
profissionais, que de alguma maneira procuram ridicularizar actos
como “lovolo”7, o curandeirismo e outros ritos, focalizando seus
aspectos que nas percepções actuais podem ser entendidos como
negativos e, todavia, genaralizando todo acto ligado à usos e
costumes da tradição.
No caso da música, os curricula são ocidentais, o que faria com
que os repertórios da música e danças tradicionais e folclóricas
perdessem a característica se se tivesse que obedecer aos
princípios composicionais aprendidos na base desses currícula,
pois estes princípios aplicam-se para música ocidental e os
instrumentos tradicionais africanos, as formas de execussão e
performance não se encaixam às teorias do modelo ocidental, entre
outros aspectos. Sendo assim, estes repertórios e os respectivos
instrumentos e performances acabam ficando relegados à gente das
zonas rurais e principalmente aos iletrados. Deste modo a arte
africana fica condenada ao desconhecimento e quando é estudada,
tende a ficar adulterada pelos métodos usados que são estranhos
às cultura e tradição africanas.
7 Lovolo, frequentemente escrito e pronunciado “lobolo” por influência da línguaportuguesa, um acto que representa o matrimónio em todas suas dimensões: dote – com opagamento ou oferecimento de uma quantia em dinheiro, tradicionalmente eram outrosbens como tihaka (fruto de uma planta rastejante chamada nkakana), castanha de cajú,ou outros produtos alimentares que vieram a ser substituidos por artigos como enxadasde ferro como a imigração dos moçambicanos para trabalhar na minas da África do Sul,gado bovino, etc. O acto da entrega destes valores poderia ser comparado ao dote dadopelo noivo aos pais da noiva entendido como forma de gratidão e compromisso;religiosidade ou sacralidade – com a invocação e comunicação aos antepassados sobre oacto acreditando-se na possibilidade de intercessão destes para o sicesso da novafamília; e outros actos que podem ter comparação ao matrimónio do ocidente.
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Do mesmo modo, no que se refere às línguas de origem africana,
que não faz parte das artes mas é um grande vector cultural,
porque é meio de comunicação, todos os países ex-colónias usam
para a educação a língua dos países que os colonizaram e as
consideram de línguas oficiais, com pequenas excepções de países
que valorizam as suas prórias línguas. No cinema, tal como no
teatro e poesia, por mais que se possa querer retratar qualquer
assunto tradicional, não se pode escapar da presença omnipotente
do ocidente que se manifesta na própria forma de representar,
mesmo quando se usam línguas locais; no tratamento da própria
comunicação, deixa-se transparecer o elemento emprestado pelo
ocidente como o sotaque a adaptação do estilo, estilo. Os
iletrados, os anciãos que não têm e não tiveram oportunidades
para conhecer estas línguas e para quem muitos destes signos são
estranhos, ficam excluidos ou atropelados por ruídos na tentativa
de receber a informação que se pretende, ou seja, estes
intrumentos de comunicação ficam votados às populações das
cidades onde há toda a sorte de tecnologia e gente minimamente
instruida em matérias da língua e linguagens do mundo, muitas
vezes em detrimento da nativa.
Mais uma vez, Lamko acredita que isto se explique, com o facto do
atraso do continente africano no desenvolvimento intelectual, nas
guerras civís que foram assolando a maioria dos países africanos
depois das suas independências, o que levou o próprio Lamko e
tantos outros africanos a sairem dos seus países para
prosseguirem com os estudos noutros países. Moçambique não foge
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deste fenómeno, bastando lembrar o percurso tomado por Eduardo
Mondlane, como exemplo dentre tantos outros e em várias fases de
Moçambique que procurando servir e melhorar a vida do seu país
foram estudar fora, fruto do atrazo programado pelo colonialismo
português.
Lamko olha de forma crítica os sistemas de poder político em
África, para além considerar que os movimentos da busca do saber
no exterior trazerem consigo e fomentam um produto estrangeiro em
detrimento do local sob o perigo de não beneficiar do necessário
suporte dos seus governos que por sua vez esperam favores das
potências internacionais (de onde se importam as culturas), e em
alguns casos são perseguidos por estes sistemas do poder político
caso ajam contrário. E, é o próprio Lamko um dos exemplo deste
impasse na tentativa de ser africano identificável através das
artes.
O “Teatro Total”A fase que se seguiu, na Áfirca do Oeste, segundo Lamko foi de
iniciativas no sentido da investigação e promoção de colóquios de
modo que se pudesse adequar o seu teatro às realidades locais e
assim passarem a ser de facto úteis aos seus destinatários, o
povo africano. É assim que aparece o chamado “Teatro Total” que
consiste em actuações teatrais mistas com música, conto de
histórias, cantigas, mímica, e toda a manifestação artístico-
cultural com o uso de línguas nativas, que identificam e se
identificam com as pessoas para quem as actividades são
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promovidas. Estas experiências são vividas no Togo e Benin, tendo
passado a ser frequentes noutros poucos países da região.
Este aspecto também chamou bastante atenção, a equiparada a
questão já colocada similar a que segue - Será que existe o teatro
africano ou então existe uma idealização de teatro africano? –
Segundo Kentia, “O estudo da cultura do continente africano é um
estudo de unidade e diversidade, devido a sua vastidão de
tradições, usos e costumes, línguas, etc, que são equiparadas à
sua vastidão territorial” (Kentia, 1974:ix). É um continente que
tem por bases para o seu desenvolvimento os padrões ocidentais,
em quase totalidade das áreas, desenvolvimento cultural,
intelectual, tecnológico, e económico, devido aos contextos
históricos já conhecidos.
Ora, tendo o continente africano uma diversidade cultural, os
povos africanos mesmo partilhando de uma série de ritos
tradicionais, estes tem as suas especificidades de região à
região; não partilham das mesmas línguas,a pesar de muitas terem
bases comuns; não constituirá isto a primeira barreira para a
constituição de tudo o que se pode considerar africano na
globalidade, mesmo como as notáveis identidades históricas? Este
continente que continua refém de favores dos seus ex-
colonizadores e outras potências económicas e tecnológicas para a
viabilidade dos seus projectos de desenvolvimento cultural,
intelectual, tecnológico e económico, que goza da simpatia dos
actores estrangeiros cuja boa vontade para ajudar as necessidades
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do continente acaba impondo as suas próprias culturas por via da
globalização, não será este um elemento suficiente que adicionado
à própria diversidade cultural da África dificultaria o
florescimento de uma arte verdadeiramente africana?
Pode chegar-se deste modo ao ponto de vista que se confirma com a
ideia da “existência de uma autonomia dentro da chamada cultura
dominada ou popular”, defendida por Bianca dos Santos no seu
artigo “Arte como processo cultural: por uma ampliação do humano”[20??
:pp357], e diz (apud Denys Cuche):
“Para Denys Cuche, “Karl Marx como Max Weber não se enganaram ao afirmar que a
cultura da classe dominante é sempre a cultura dominante”. Em sentido diverso, Slavoj
Zizek aponta que “las ideas de la clase dominante no son precisamente las ideas de
aquellos que dominan”.83 Isto porque segundo o autor, a ideologia dominante tem que
incorporar alguns desejos dos dominados para que seja aceita. Para chegar a distorção
provocada pela dominação e legitimar a sua hegemonia tem que permitir ao menos
algumas das aspirações e desejos dos oprimidos. Portanto, ao falar de cultura
dominada e cultura dominante estamos utilizando metáforas, pois na realidade, o que
existe são determinados grupos sociais em relação de subordinação a outros.
De acordo com Marilena Chauí, o lugar da cultura dominante é muito claro: “É o lugar a
partir do qual o exercício da dominação política, da exploração econômica e da exclusão
sociase realiza…”84 Isto se dá porque a cultura dominante é apresentada como única
fonte do saber,como único critério de verdade, em oposição à ignorância do povo. E o
povo por ser ignorante,deve ser dirigido. Ao negar a existência da cultura do povo por
ser considerada uma cultura “menor”, “atrasada”, e ao mesmo tempo negar o direito a
fruição a cultura entendida como “melhor”, como fonte única do saber, as elites surgem
como autoritárias por essência. Deve ser negada e ocultada qualquer manifestação da
diferença, qualquer autonomia e possibilidade de interpretação do real que seja diversa
da que interessa à classe dominante:”
I. 19 | P a g e
Isto que dizer que enquanto os africanos não se libertarem dadependência económica estes estarão sujeitos à perda dos valoresda sua própria cultura e consequentemente dos os seus valoresartísticos serão uma soma de empréstimos em alienação da suaidentidade, pois a cultura dominante não cessará de se impôr.
O “nascimento de actores culturais” e a “democratizaçãodo teatro”Será, ainda, possível falar do “nascimento de actores culturais”
e da “democratização do teatro”? existem estes fenómenos para
África? São almejos de Lamko que todavia deixa em aberto para
reflexão e exercício de modo que possam ser possíveis.
Se virmos a questão do “Teatro Total” que é uma prática africana e
que é implementada apenas por um pequeno grupo de países da
África do Oeste,de facto, se esta prática fosse do interesse das
potências que de boa vontade apoiam os africanos, quantos países
africanos, certamente, já a implementariam ou pelo menos a
conheceriam? Pode-se assim induzir-se que não haverá democracia
nas artes enquanto estas interessarem o poder político como
vehículo para canalizar os seus programas e não como um modo de
estar na cultura, um elo para ligar os povos no tempo e espaço.
Isto significa que a arte não pode ser democrática, enquanto
depender de imposições sejam elas internas (dentro dos próprios
países africanos) ou externas. Enquanto a sua prática tiver que
acomodar interesses não meramente artísticos e culturais, e
estiver à mercê dos poderes políticos e económicos, o teatro em
África fica teatro de africanos e não necessáriamente Teatro Africano pois este
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é executado por africanos, nem sempre para africanos e nem para
exprimir o ser, sentir e viver dos africanos como africanos,
passando a servir a “Indústria Cultural e Cultura de Massas”
defendidos por Ferraz (2004:24, apud Chauí:1994), no seu artigo
“A Democracia para Marilena Chauí”:
Chauí trata a Modernidade como o fim de um processo que se inicia com a Filosofia
grega: o Desencantamento [SIC] do Mundo, do mito à razão, da magia à ciência. Mas,
passado algum tempo, na sociedade pós-industrial (a partir de 1970) as artes deixaram
de ser vinculadas à Religião ou à Nobreza e passam a uma nova servidão: do mercado
capitalista e da indústria cultural. O consumo dos produtos culturais seguem no ritmo
da fabricação em série. A arte, de mítica passa a material de consumo rápido e fácil,
ditado por uma questão de moda volátil, mera propaganda e publicidade. Ao se
massificar (mas sem se democratizar), a arte perde suas três características principais:
De expressivas, acabam como reprodutivas e repetitivas;
De criação, acabam como evento de consumo rápido e fácil;
De experimentação do novo, acabam como consagração do consagrado, sem
qualquer inovação.
A questão da nova "modalidade" artística passou a ser valorizada pela exposição, pela
contemplação. Mas, com os novos patronos da arte - empresas de produção artística -, os
interesses são voltados à fruição rápida, o que deixa de lado todo o trabalho individual e
exclusivo do artista. Não se preocupa mais em conhecer o artista, mas sim se a arte será
aceite pelo mercado.
Ou seja, enquanto se falar e se concorrer para a globalização;
enquanto se depender de patrocínios e financiamentos; enquanto se
depender de meios técnicos e modelos artísticos importados, a
África ainda terá a democratização das artes e a implantação de
uma arte africana como um desafio. Assim conclui Lamko
endereçando um convite a todos os actores da sociedade a fazerem
I. 21 | P a g e
cada um de tudo para que um dia o sonho de arte africana venha a
ser uma realidade.
Conclusões No contexto moçambicano vemos as discussões que não cessam nos
orgãos de informação em torno de “Nova guarda” e “Velha guarda”
quando se fala da qualidade musical, originalidade moçambicana na
música, se as inovações musicais representam a cultura
moçambicana, etc. Procura-se resgatar alguma coisa, pois alguns
círculos acreditam que ainda que nascida em Moçambique mas é
muito longe de ser moçambicana por não ter nenhuma identidade com
elementos tradicionais da música moçambicana. Os jovens conotados
por “Nova guarda” procuram nesta indústria cultural e cultura de
massas encontrar a seu auto sustento, distanciando-se do que é
artisticamente arte em obediência às regras de mercado e ainda
insistir em considerar o seu produto de música moçambicana pelo
facto de serem mçambcanos quem a faz, mesmo cientes de que imitam
música ou estilos de outros povos. Já os artistas conhecidos como
da “Velha guarda”, por sua vez, vivem condenados à miséria
económica e artística por tentarem viver a arte como aquele
elemento de comunicação, educação, edificação da identidade, e de
expressão de sentimentos e emoções, no que acreditam ser o modo
de viver a arte como actores culturais comprometidos com a
sociedade moçambicana no seu todo. Estes acabam desasjustados com
com a camada da sociedade moçambicana que tem possibilidades de
viver a globalização através das diversas fontes de comunicação e
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mídia, que na sua maioria acaba se identificando com o alheio em
detrimento da sua própria identidade.
Será que sobreviverá a arte africana em Moçambique?
A resposta depende de muitos factores, que abrangem âmbitos
sociais, económicos, políticos locais e que vão até a política
internacional. Todos os praticantes das artes, todos
intervenientes da sociedade moçambicana tem um papel muito
importante no resgate e tentativa de manutenção de uma auto-
estima, esta que passa necessáriamente por questões de
identidade, e esta última encontra por sua vez expressão e rigor
na cultura de um povo. De qualquer modo se fora das urbes pode
falar-se de artes e cultura africana em Moçambique já nas zonas
urbanas não se pode, assim como não pode falar da valorização
destas nas instituições ligadas à formação nestas áreas, à mesma
semelhança do que Lamko discutiu. As tendências formais de
preservação são notórias mas mais políticas do que práticas e
concretas.
A semelhança do que aconteceu em alguns países da África do
Oeste, deve-se iniciar com processos de pesquisa visando
encontrar formas de integração dos símbolos culturais das
tradições nacionais, encontrando nos ritos de cada tradição
elementos que sem serem adulterados possam por sí só realizar
eventos artístico-culturais. Ou seja, se se buscar um elemento
tradicional e for apresentado sob ponto de vista ocidental, no
estilo e na forma, mesmo com o uso de línguas locais, ainda não
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se estará a comunicar ao africano sobre o africano e por um
africano.
Paralelamente, estas acções devem ser acompanhadas de um apoio em
todos os âmbitos por parte do governo, das instituições culturais
nacionais e das universidades nacionais, quem devem conduzir os
estudos e desenvolver e/ou monitorar projectos que visem a
divulgação dos materiais resultantes destas acções, servindo
assim de impulsionadoras das dinámicas do país por ser onde se
forma o conhecimento que é na última instância a última chave
para a liberdade do homem – a educação
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Bibliografia: Nkentia, J. H. Kwabena
1974 The Music Of Africa. New York . London: W.W. Norton & Company
Ferraz, Henrique
2004 “A Democracia para Marilena Chauí,” Revista Electrónica de Ciências, nº24. Sítio « sítio « http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_24/demochaui.html».
Dos santos, Bianca Caroline,
[20??]“Arte Como Processo Cultural: por uma Ampliação do Humano”, Redes.Com Nº5:343-67