Cárie dentária entre escolares do meio rural de Itaúna (MG), Brasil

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334 Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 16(5), 2004 Cárie dentária entre escolares do meio rural de Itaúna (MG), Brasil Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu, 1 Isabela Almeida Pordeus 2 e Celina Maria Modena 3 Objetivo. Investigar a presença de cárie e sua associação com variáveis socioeconômicas entre escolares do meio rural de Itaúna, Estado de Minas Gerais, em 2002. Método. Realizou-se um levantamento epidemiológico no qual 476 escolares entre 4 e 15 anos foram submetidos a um exame dentário. Todos os exames foram feitos pelo mesmo exa- minador, que utilizou a metodologia da Organização Mundial da Saúde. O levantamento das variáveis socioeconômicas (renda familiar mensal, anos de estudo formal do pai e da mãe, ocu- pação do pai e da mãe, origem da água consumida, sexo e idade da criança) foi feito a partir de entrevistas com os pais dos escolares. Resultados. Mais de três quartos dos pais recebiam até 360 reais (aproximadamente 153 dó- lares) por mês e relataram ter freqüentado a escola por, no máximo, 4 anos. Foram identifica- dos como livres de cárie em ambas as dentições 17,86% dos escolares. O número médio de den- tes permanentes cariados, perdidos e restaurados e de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados foi de 0,94 (± 1,55) e 4,00 (± 3,46), respectivamente. A análise multiva- riada mostrou que as crianças com 7 e 8 anos cuja renda familiar mensal era superior a R$ 280 tinham 2,602 (IC95%: 1,004 a 6,745) e 2,854 (IC95%: 1,044 a 7,799) vezes mais chance de apresentar cárie, respectivamente, na dentição decídua e em ambas as dentições. A escolaridade da mãe superior a 3 anos aumentou em 2,813 (IC95%: 1,221 a 6,480) vezes a chance de o es- colar com 7 e 8 anos apresentar cárie na dentição permanente. Conclusões. Tendo em vista os resultados — especialmente em relação à dentição decídua — é urgente a implementação de estratégias coletivas em saúde bucal direcionadas a uma faixa etária precoce. Os resultados sugerem que, em populações com privações econômicas, como é o caso do meio rural de Itaúna, um pouco mais de renda e educação podem significar maior acesso a hábitos que originam cárie. Escolaridade, índice CPO, renda familiar. RESUMO A cárie dentária ainda representa o principal problema de saúde bucal co- letiva no Brasil, apesar de ter sido re- gistrada uma tendência para a dimi- nuição de sua prevalência na década de 1990 (1, 2). Entretanto, a maioria dos estudos, incluindo os dois levanta- mentos realizados e divulgados pelo Ministério da Saúde até 2002 (1, 3), foi desenvolvida em meio urbano. O con- hecimento sobre as condições dentá- rias de populações rurais é pequeno, Palavras-chave Investigación original / Original research Abreu MHNG de, Pordeus IA, Modena CM. Cárie dentária entre escolares do meio rural de Itaúna (MG), Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2004;16(5):334–44. Como citar 1 Universidade Estadual de Montes Claros, Depar- tamento de Odontologia, Montes Claros (MG); e Centro Universitário Newton Paiva, Curso de Odontologia, Belo Horizonte (MG), Brasil. Enviar correspondência para este autor no seguinte en- dereço: Rua Nascimento Gurgel 750/501, CEP 30430-340, Belo Horizonte, MG, Brasil. Telefone: +55-31-3313-2384; e-mail: [email protected] 2 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Departamento de Odontopediatria e Ortodontia, Belo Horizonte (MG), Brasil. 3 UFMG, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva.

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334 Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 16(5), 2004

Cárie dentária entre escolares do meio rural de Itaúna (MG), Brasil

Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu,1

Isabela Almeida Pordeus2 e Celina Maria Modena3

Objetivo. Investigar a presença de cárie e sua associação com variáveis socioeconômicasentre escolares do meio rural de Itaúna, Estado de Minas Gerais, em 2002. Método. Realizou-se um levantamento epidemiológico no qual 476 escolares entre 4 e 15anos foram submetidos a um exame dentário. Todos os exames foram feitos pelo mesmo exa-minador, que utilizou a metodologia da Organização Mundial da Saúde. O levantamento dasvariáveis socioeconômicas (renda familiar mensal, anos de estudo formal do pai e da mãe, ocu-pação do pai e da mãe, origem da água consumida, sexo e idade da criança) foi feito a partir deentrevistas com os pais dos escolares. Resultados. Mais de três quartos dos pais recebiam até 360 reais (aproximadamente 153 dó-lares) por mês e relataram ter freqüentado a escola por, no máximo, 4 anos. Foram identifica-dos como livres de cárie em ambas as dentições 17,86% dos escolares. O número médio de den-tes permanentes cariados, perdidos e restaurados e de dentes decíduos cariados, com extraçãoindicada e obturados foi de 0,94 (± 1,55) e 4,00 (± 3,46), respectivamente. A análise multiva-riada mostrou que as crianças com 7 e 8 anos cuja renda familiar mensal era superior a R$ 280tinham 2,602 (IC95%: 1,004 a 6,745) e 2,854 (IC95%: 1,044 a 7,799) vezes mais chance deapresentar cárie, respectivamente, na dentição decídua e em ambas as dentições. A escolaridadeda mãe superior a 3 anos aumentou em 2,813 (IC95%: 1,221 a 6,480) vezes a chance de o es-colar com 7 e 8 anos apresentar cárie na dentição permanente.Conclusões. Tendo em vista os resultados — especialmente em relação à dentição decídua —é urgente a implementação de estratégias coletivas em saúde bucal direcionadas a uma faixaetária precoce. Os resultados sugerem que, em populações com privações econômicas, como é ocaso do meio rural de Itaúna, um pouco mais de renda e educação podem significar maioracesso a hábitos que originam cárie.

Escolaridade, índice CPO, renda familiar.

RESUMO

A cárie dentária ainda representa oprincipal problema de saúde bucal co-letiva no Brasil, apesar de ter sido re-gistrada uma tendência para a dimi-

nuição de sua prevalência na décadade 1990 (1, 2). Entretanto, a maioriados estudos, incluindo os dois levanta-mentos realizados e divulgados peloMinistério da Saúde até 2002 (1, 3), foidesenvolvida em meio urbano. O con-hecimento sobre as condições dentá-rias de populações rurais é pequeno,

Palavras-chave

Investigación original / Original research

Abreu MHNG de, Pordeus IA, Modena CM. Cárie dentária entre escolares do meio rural de Itaúna(MG), Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2004;16(5):334–44.

Como citar

1 Universidade Estadual de Montes Claros, Depar-tamento de Odontologia, Montes Claros (MG); eCentro Universitário Newton Paiva, Curso deOdontologia, Belo Horizonte (MG), Brasil. Enviarcorrespondência para este autor no seguinte en-dereço: Rua Nascimento Gurgel 750/501, CEP30430-340, Belo Horizonte, MG, Brasil. Telefone:+55-31-3313-2384; e-mail: [email protected]

2 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),Departamento de Odontopediatria e Ortodontia,Belo Horizonte (MG), Brasil.

3 UFMG, Departamento de Medicina VeterináriaPreventiva.

embora essas populações representemquase 20% dos habitantes do país (4).Os restritos estudos já publicadossobre saúde bucal de populações ruraisno Brasil são, em sua maioria, descri-tivos, e apresentam importantes pro-blemas metodológicos (5). Localizou-seapenas um trabalho que utiliza meto-dologia epidemiológica analítica (6).Tais estudos mostram, na década de1980 (7–12), uma prevalência maior decárie em relação a populações urbanas.Na década de 1990 (13–17), observa-seuma redução na prevalência da cárieno meio rural. No entanto, um estudorealizado na zona rural de Itamonte, noEstado de Minas Gerais, sugere que oquadro de saúde bucal ainda é bastanteprecário (18).

Da mesma forma, existe uma lacunaquanto ao perfil socioeconômico dapopulação rural no Brasil. Um maiorconhecimento acerca desse aspecto éfundamental, já que há fortes evidên-cias, na literatura nacional e internacio-nal, da associação entre os fatores so-ciais e a ocorrência de cárie (3, 19–27).

Assim, o objetivo do presente estudofoi determinar, a partir de levantamentoepidemiológico, a prevalência de cáriedentária nos escolares do meio rural de Itaúna, no Estado de Minas Gerais.Além disso, o estudo buscou relacionara experiência de cárie com o perfil so-cioeconômico, definido a partir das va-riáveis renda familiar mensal, anos deestudo formal do pai e da mãe, ocu-pação do pai e da mãe, origem da águaconsumida e sexo e idade da criança.

MATERIAIS E MÉTODOS

Itaúna, no Estado de Minas Gerais,tem uma população de 76 862 habitan-tes, dos quais 5 092 (6,62%) residem nomeio rural (4). De acordo com dadosda prefeitura, todas as crianças domeio rural estão matriculadas no en-sino fundamental público. Existemaproximadamente 40 comunidades ru-rais no município, mas apenas oitotêm escolas municipais que oferecemensino infantil e as quatro primeirasséries do ensino fundamental. Ascrianças residentes em comunidadesnão contempladas com escola são

transportadas até a escola mais pró-xima pelo poder público local (28).

A assistência à saúde bucal é feitapelo Sistema Único de Saúde (SUS),que realiza atendimento individual deatenção básica, geralmente uma vez aoano, aos escolares e à comunidade domeio rural. O programa odontológicodo meio rural envolve, ainda, entregade escovas e dentifrícios e orientaçãode escovação para os escolares (28). Apopulação-alvo do estudo foi com-posta por todos os 503 alunos de edu-cação infantil e das quatro primeirasséries do ensino fundamental do Mu-nicípio de Itaúna. A lista dos alunosregularmente matriculados foi forne-cida pela Secretaria Municipal de Edu-cação. O estudo foi aprovado peloComitê de Ética em Pesquisa da Uni-versidade Federal de Minas Gerais(UFMG).

Coleta de dados

Foram realizados contatos iniciaiscom a prefeitura para que o estudofosse viabilizado. Outras reuniõesforam feitas com os pais ou responsá-veis. Nessas reuniões, além da apre-sentação do trabalho, foi solicitada aautorização para a realização do es-tudo e o preenchimento do questioná-rio socioeconômico.

As reuniões foram feitas no início dosemestre letivo de 2002, aproveitandoa reunião dos pais e responsáveis coma escola. Nesse período, a participaçãodos pais é significativa, inclusive por-que o transporte dos pais e responsá-veis até a escola é gratuito. O contatocom os pais foi feito através de cartasou bilhetes enviados pela direção daescola. Nesse contato, além do motivoprincipal da reunião (questões especí-ficas da escola), os pais foram informa-dos acerca da participação do pesqui-sador. Foram feitas oito reuniões, umaem cada comunidade pesquisada. Aparticipação dos pais e responsáveisfoi grande, garantindo o número de476 participantes. O pesquisador prin-cipal realizou as entrevistas para pre-enchimento do questionário.

A classificação da ocupação do pai eda mãe foi feita em duas etapas. Na

primeira etapa, foi utilizada a Classifi-cação Nacional de Atividades Econô-micas (CNAE) do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE) (29).Numa segunda etapa, com base noreferencial teórico apresentado porGraziano-Silva (30), as ocupações dospais foram dicotomizadas em ocu-pações rurais agrícolas e ocupações ru-rais não-agrícolas. Os conceitos derenda familiar e de escolaridade do paie da mãe do escolar foram os mesmosutilizados pelo Ministério da Saúde(31). O consumo de água foi dicotomi-zado entre a utilização do ServiçoAutônomo de Água e Esgoto (SAAE)(água clorada) ou de outra fonte(mina, cisterna, poço artesiano particu-lar, rio, ribeirão e açude, entre outros).

Para garantir a confiabilidade dosdados sobre cárie dentária, realizou-seuma padronização de diagnóstico comum grupo de 20 crianças. O pesquisa-dor, respeitando todas as normas decontrole de infecção, examinou, emdois momentos, as mesmas crianças,utilizando os mesmos critérios diagnós-ticos. Os exames foram realizados comintervalo de 1 semana. O teste kappamostrou concordância ótima entre osdiagnósticos realizados em cada umdos exames (kappa > 0,90) (32). Alémdisso, para testar a metodologia pro-posta neste trabalho, foram examina-dos, como parte de um estudo piloto,todos os escolares em uma das comu-nidades rurais. Toda a metodologiamostrou-se adequada. Posteriormente,as crianças dessa comunidade foram re-examinadas no estudo principal.

O estudo principal para a cárie den-tária baseou-se na metodologia preco-nizada pela Organização Mundial daSaúde (OMS) (32) para levantamentosepidemiológicos em saúde bucal. Ascrianças foram examinadas na escola,sob luz natural, por um único exa-minador. Antes do exame, os alunosganhavam uma escova de dentes erealizavam escovação dentária orien-tada, visando a melhorar as condiçõesdo exame. Todas as informações foramregistradas em formulário específicopor uma anotadora treinada para afunção.

A cada 10 crianças examinadas, umexame foi realizado em duplicata. O

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examinador não era informado desseexame em duplicata para não interferirno resultado da reprodutibilidade. Oteste kappa revelou um nível ótimo deconcordância entre os diagnósticosdos exames realizados em duplicata(kappa > 0,90).

A severidade de cárie, para cadaindivíduo, foi mensurada através donúmero de dentes permanentes caria-dos, perdidos e restaurados (CPOD) edo número de dentes decíduos caria-dos, com extração indicada e obtura-dos (ceod). Posteriormente, o cálculodo CPOD e do ceod foi realizado parao grupo como um todo. Além disso,foi mensurada a prevalência de cárienas dentições permanente e decídua eem ambas as dentições (32).

Análise estatística

Um banco de dados foi montado noprograma Statistical Package for the So-cial Sciences (SPSS) versão 11 (33). Aanálise estatística descritiva baseou-seem cálculo de proporções, medidas detendência central e de variabilidadepara as variáveis prevalência de cáriedentária nas dentições permanente edecídua, severidade de cárie dentária(índices CPOD e ceod) e variáveis so-cioeconômicas. Para a avaliação danormalidade das variáveis foi utili-zado o teste de Kolmogorov-Smirnov.Toda a análise estatística dos dados(univariada e multivariada) foi reali-zada considerando o agrupamento deidades estatisticamente semelhantesem relação à experiência de cárie (P >0,05) em quatro grupos etários: 4 a 6anos; 7 e 8 anos; 9 e 10 anos; e 11 a 15anos. A estratificação da análise esta-tística pela idade é utilizada por diver-sos estudos epidemiológicos sobrecárie dentária, considerando a forte in-fluência da faixa etária sobre a doença(1, 3, 15, 17, 20, 21).

Uma análise univariada foi reali-zada para testar a influência das variá-veis socioeconômicas (variáveis inde-pendentes) na prevalência de cáriedentária (variável dependente). A va-riável dependente foi dicotomizadaentre ausência e presença da doençacárie nas dentições decídua e perma-

nente e em ambas as dentições (expe-riência total de cárie). O teste do qui-quadrado (χ2) e o teste exato de Fisherforam utilizados nesta etapa, conside-rando o nível de significância estatís-tica de 0,05 (33). A variável renda foidicotomizada pelo valor mediano e asvariáveis escolaridade do pai e da mãeforam dicotomizadas em até 3 anos deescolaridade formal (ensino funda-mental incompleto) e mais do que 3anos de escolaridade, para melhorajuste do modelo logístico. Foramconstruídos modelos de regressão lo-gística múltipla para as variáveis de-pendentes que apresentaram mais deuma covariável estatisticamente asso-ciada (P < 0,25). A opção por utilizarum nível de significância estatísticamais alto é recomendada pelos autoresque estudam regressão logística. Taisautores discutem que o uso de umnível de significância mais tradicional(como 0,05) freqüentemente não iden-tifica variáveis importantes para o mo-delo logístico (34, 35).

Para avaliar a multicolinearidade(presença de covariáveis fortementecorrelacionadas e que poderiam inter-ferir no ajuste do modelo logístico)foram calculados os coeficientes de cor-relação de Spearman para as covariá-veis quantitativas. Foram calculadas arazão de chances (odds ratio, OR) e o in-tervalo de confiança de 95% (IC95%)da OR para cada uma das covariáveis.O teste de Hosmer e Lemeshow foi uti-lizado para avaliar a adequação domodelo logístico final (34, 35).

RESULTADOS

Fizeram parte do estudo 476 (94,63%)alunos matriculados no ensino pú-blico do meio rural de Itaúna. A perdade participantes não foi superior a 20% em nenhuma das comunidadespesquisadas.

Caracterização socioeconômica

A idade dos participantes variou de4 a 15 anos, com média igual a 7,64anos (± 2,19); 91,8% dos alunos tinhamaté 10 anos de idade; havia 262 meni-

nos (55%) e 214 meninas (45%). Ocu-pações rurais não-agrícolas foram refe-ridas por 50,7% dos pais. Entre asmães, 93,9% tinham ocupações ruraisnão-agrícolas, sendo 406 donas decasa. A escolaridade média dos pais,em anos de estudo formal, foi baixa,sendo igual a 3,62 (± 2,31) entre os ho-mens e 4,14 (± 2,41) entre as mulheres.Entre os pais, 80,7% tinham até 4 anosde estudo formal. Entre as mães, essaproporção foi de 76,0%.

A renda média mensal da popula-ção era de 313,84 reais (± 190,26), sendoque 78,2% das famílias recebiam até 2salários-mínimos (na época, o salário-mínimo era de R$ 180, ou aproximada-mente 76 dólares). Apenas 28,3% dasfamílias utilizavam a água tratada comcloro fornecida pelo SAAE local.

Cárie dentária

O total de crianças com experiênciade cárie foi igual a 391 escolares. Ouseja, a prevalência de cárie para essesindivíduos, considerando ambas asdentições, totalizou 82,14%. Houve,ainda, 85 (17,86%) escolares que nuncahaviam apresentado a doença cáriedentária em nenhuma das dentições.

Quatrocentos e dois escolares apre-sentavam pelo menos um dente per-manente. A prevalência de cárie nadentição permanente desse grupo foide 37,3%, e o índice CPOD médio foiigual a 0,94 (± 1,55). O índice médioequivale à soma da média para cadaum dos componentes do CPOD: 0,34(± 0,78) dentes permanentes cariados,0,03 (± 0,23) dentes perdidos e 0,57 (±1,23) elementos restaurados.

Das crianças com dentes permanen-tes, 62,7% apresentaram CPOD igual a zero. O valor médio do CPOD ex-cluindo essas crianças foi de 2,51 (± 1,57). As médias dos componentesdo índice (dentes permanentes caria-dos, dentes permanentes perdidos edentes permanentes restaurados) fo-ram iguais a 0,91 (± 1,05), 0,07 (± 0,37)e 1,53 (± 1,61), respectivamente.

Os dentes permanentes mais acome-tidos pela cárie foram os primeirosmolares, totalizando 89,42% da expe-riência da doença. Desses dentes, 72

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necessitavam de restauração em umasuperfície, 23 necessitavam de restau-rações em duas superfícies e 18 neces-sitavam de tratamento pulpar maisrestauração. A extração era indicadaem apenas cinco dentes. Um primeiromolar necessitava de restauração tipocoroa total.

O índice ceod médio para toda a po-pulação que apresentava dentes decí-duos (n = 435) foi igual a 4,00 (± 3,46).As médias de cada componente doíndice (dentes decíduos cariados, den-tes decíduos com extração indicada edentes decíduos restaurados) foram,respectivamente, 2,21 (± 2,75), 0,26 (± 0,26) e 1,53 (± 2,02).

Os índices CPOD e ceod seguiramuma tendência oposta após os 6 anosde idade, ou seja: com o aumento daidade, observou-se uma redução no ín-dice ceod, enquanto que o CPOD ten-deu a aumentar com a idade (figuras 1e 2). O índice ceod médio, excluindo as82 crianças livres de cárie na dentiçãodecídua, foi igual a 4,93 (± 3,18). Asmédias dos componentes do índice(dentes decíduos cariados, dentes de-cíduos com extração indicada e dentesdecíduos restaurados) foram, respecti-vamente, 2,73 (± 2,82), 0,32 (± 0,90) e1,88 (± 2,09).

Os dentes decíduos mais acometi-dos pela cárie foram os primeiros e se-gundos molares, representando 80,31%de toda a experiência da doença. Dessetotal, 135 molares decíduos necessita-ram de restauração em uma superfície,424 de restauração em duas superfí-cies, 139 necessitam de tratamentopulpar e restauração e 78 precisavamser extraídos devido à cárie dentária.

Análise univariada

As tabelas de 1 a 3 apresentam a pre-valência de cárie em termos do sexo dacriança, da ocupação dos pais e da es-colaridade dos pais para cada uma dasfaixas etárias consideradas. A tabela 4apresenta a prevalência de cárie emtermos da renda familiar e da origemda água consumida para cada uma dasfaixas etárias.

Apenas a escolaridade da mãe, nascrianças com 7 e 8 anos de idade, es-

teve estatisticamente associada com aprevalência de cárie na dentição per-manente (tabela 3). A única variávelque esteve estatisticamente associadacom a experiência de cárie na dentiçãodecídua foi a renda familiar (tabela 4)entre as crianças de 7 a 8 anos deidade. Observou-se, ainda, que a cova-riável renda esteve associada com a ex-periência total de cárie na faixa etáriade 7 a 8 anos.

Análise multivariada

A maior correlação identificada naavaliação da multicolinearidade foientre escolaridade do pai e da mãe(0,324). Apesar dessa correlação ser es-tatisticamente significativa (P = 0,000),a mesma pode ser considerada fraca.Assim, todas as covariáveis associadascom a variável dependente, em umnível de significância estatístico de P <

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FIGURA 1. Distribuição do índice ceod em escolares do meio rural de Itaúna(MG), Brasil, 2002a

0

2

4

6

8

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Idade (anos)

ceod

ceod

ceod > zero

a ceod = Número de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados. A curva de ceod > zeroindica o ceod médio excluindo os escolares livres de cárie.

FIGURA 2. Distribuição do índice CPOD médio em escolares do meio rural deItaúna (MG), Brasil, 2002a

0

1

2

3

4

5

6

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Idade (anos)

cpod

cpod

cpod > zero

a CPOD = Número de dentes permanentes cariados, perdidos e restaurados. A curva de CPOD > zero indicao CPOD médio excluindo os escolares livres de cárie.

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0,25, foram incluídas na construçãodos modelos logísticos (34, 35).

A escolaridade da mãe manteve suaassociação estatística com a prevalên-cia de cárie na dentição permanente.Pode-se considerar que crianças comidade entre 7 e 8 anos cujas mães tin-ham escolaridade superior a 3 anostinham 2,813 vezes mais chance

(IC95%: 1,221 a 6,480) de apresentarcárie na dentição permanente quandocomparadas com crianças cujas mãesapresentavam escolaridade maisbaixa. A renda familiar manteve-se as-sociada com a prevalência de cáriedentária na dentição decídua, bemcomo na prevalência total de cárie nafaixa etária de 7 e 8 anos. Em relação à

dentição decídua, observou-se que es-colares com renda familiar mensal su-perior a R$ 280 tinham 2,602 vezesmais chance (IC95%: 1,004 a 6,745) deapresentar a doença cárie do que aque-les com renda mensal inferior a R$ 280.Em relação à prevalência total de cárie,identificou-se que crianças cuja rendafamiliar mensal era superior a R$ 280

TABELA 1. Análise univariada da associação entre o sexo e a prevalência de cárie, meio rural de Itaúna (MG), Brasil, 2002a

Experiência totalCPODb (No.) ceodc (No.) de cáried (No.)

Idade (anos) Sexo Ausente Presente P Ausente Presente P Ausente Presente P

4 a 6 Masculino 39 6 16 71 16 71Feminino 32 7 0,56 19 51 0,19 17 53 0,37

7 a 8 Masculino 55 23 16 63 15 64Feminino 45 25 0,42 12 58 0,63 11 59 0,60

9 a 10 Masculino 32 34 7 52 6 60Feminino 32 33 0,93 7 46 0,83 10 55 0,27

11 a 15 Masculino 13 17 4 8 8 22Feminino 4 5 1,00 1 4 1,00 2 7 1,00

a n = 476 escolares.b CPOD = Número de dentes permanentes cariados, perdidos e restaurados.c ceod = Número de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados.d Experiência de cárie em ambas as dentições.

TABELA 2. Análise univariada da associação entre a ocupação do pai e da mãe e a prevalência de cárie, meio rural de Itaúna (MG), Brasil, 2002a

Experiência totalCPODb (No.) ceodc (No.) de cáried (No.)

Idade (anos) Ocupação Ausente Presente P Ausente Presente P Ausente Presente P

Pai4 a 6 Rural agrícola 26 6 18 48 18 48

Rural não-agrícola 42 5 0,34 17 67 0,31 15 69 0,177 a 8 Rural agrícola 51 24 15 61 13 63

Rural não-agrícola 45 23 0,82 10 58 0,43 10 58 0,709 a 10 Rural agrícola 30 33 6 51 6 57

Rural não-agrícola 30 32 0,93 8 42 0,40 9 53 0,3911 a 15 Rural agrícola 9 12 2 8 4 17

Rural não-agrícola 10 12 0,92 3 4 0,59 6 12 0,47Mãe

4 a 6 Rural agrícola 5 1 4 8 4 8Rural não-agrícola 65 10 1,00 31 109 0,47 29 111 0,30

7 a 8 Rural agrícola 5 2 1 6 1 6Rural não-agrícola 91 46 1,00 24 114 1,00 22 116 1,00

9 a 10 Rural agrícola 4 4 2 6 0 8Rural não-agrícola 56 62 1,00 12 88 0,28 15 103 0,59

11 a 15 Rural agrícola 1 0 0 1 0 1Rural não-agrícola 15 22 0,42 5 10 1,00 10 27 1,00

a n = 476 escolares.b CPOD = Número de dentes permanentes cariados, perdidos e restaurados.c ceod= Número de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados.d Experiência de cárie em ambas as dentições.

apresentaram 2,854 vezes mais chance(IC95%: 1,044 a 7,799) de terem cáriedentária do que as crianças com rendafamiliar mensal inferior a R$ 280.

DISCUSSÃO

O presente trabalho avaliou a cáriedentária, maior problema de saúdebucal coletiva no Brasil, nos escolaresdo meio rural de Itaúna. Levando-seem consideração que todas as criançasdo meio rural estão matriculadas noensino fundamental, este estudo apre-senta dados de quase a totalidade dascrianças em idade escolar no meiorural da região. Esse ponto é conside-rado importante, uma vez que a maio-ria dos trabalhos sobre cárie dentáriarealizados no Brasil utilizaram técnicasde amostragem por conveniência ounão relataram a técnica de amostragem(7–9, 11, 12, 14, 15). Poucos estudosutilizaram amostragem probabilística(13, 16) ou analisaram o universo decrianças (5, 10, 15, 17). Além disso,poucos estudos (7, 8) avaliaram a den-

tição decídua no meio rural brasileiro,que tem sido considerada um motivode preocupação em relação à epide-miologia da cárie no Brasil (2, 36). Osdados apresentados pelo presente es-tudo podem ser considerados confiá-veis, considerando-se a concordânciaintra-examinador mensurada.

Além disso, a grande maioria dosestudos epidemiológicos sobre cáriedentária no Brasil mostrou grandes ne-cessidades acumuladas em relação àdoença, ou seja, descreveu populaçõessem assistência odontológica sistemá-tica. Em Itaúna, há um programa deassistência odontológica organizadopelo SUS local que envolve o atendi-mento odontológico clínico e ativida-des coletivas educativas. Dessa forma,avaliar a doença cárie em populaçõesrurais que recebem atenção odontoló-gica com uma certa regularidade é umaspecto pouco relatado na literaturanacional e internacional e, por conse-qüência, também pode permitir umavanço no entendimento dessa doença.

Em nível nacional, as discussõesmais recentes sobre o meio rural reve-

lam características heterogêneas emrelação, por exemplo, à inserção pro-dutiva e à renda dos moradores dediferentes zonas rurais (30, 37–39). Osescolares do meio rural de Itaúna, noentanto, vivem em um meio com ca-racterísticas socioeconômicas bastantehomogêneas. A única variável ava-liada que confirmou a heterogenei-dade entre as diferentes comunidadesrurais de Itaúna foi a ocupação do pai.A maioria dos escolares estudados eraproveniente de famílias de rendamuito baixa, cujos pais tinham baixonível de escolaridade; apenas a mino-ria tinha acesso à água tratada. Essesindicadores sociais desfavoráveis re-fletem a distribuição de renda desigualdo Brasil, onde mais de 57 milhões deindivíduos vivem abaixo da linha dapobreza (40).

Em relação à prevalência de cárienos dentes permanentes, observa-seque os estudos de Andrioni et al. (7),Marcos et al. (9) e Makowiecky e Silva(11) identificaram uma proporção bemsuperior de indivíduos com cárie den-tária em dentes permanentes do que os

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TABELA 3. Análise univariada da associação entre a escolaridade do pai e da mãe e a prevalência de cárie, meio rural de Itaúna (MG), Brasil,2002a

Experiência total

Escolaridade CPODb (No.) ceodc (No.) de cáried (No.)

Idade (anos) (anos) Ausente Presente P Ausente Presente P Ausente Presente P

Pai4 a 6 Até 3 23 3 12 34 12 34

Mais de 3 44 8 0,74 23 81 0,60 21 83 0,427 a 8 Até 3 41 13 12 43 12 43

Mais de 3 53 35 0,06 13 75 0,28 11 77 0,149 a 10 Até 3 22 26 6 35 6 42

Mais de 3 37 40 0,81 8 58 0,71 9 68 0,8911 a 15 Até 3 10 15 3 8 5 20

Mais de 3 6 7 0,72 1 4 1,00 4 9 0,69Mãe

4 a 6 Até 3 19 2 9 23 9 23Mais de 3 49 9 0,72 26 93 0,46 24 95 0,33

7 a 8 Até 3 37 9 10 37 10 37Mais de 3 57 39 0,01 15 81 0,40 13 83 0,24

9 a 10 Até 3 21 22 7 28 7 36Mais de 3 39 44 0,84 7 66 0,22 8 75 0,28

11 a 15 Até 3 6 10 3 4 4 12Mais de 3 10 12 0,62 2 7 0,60 6 16 1,00

a n = 476 escolares.b CPOD = Número de dentes permanentes cariados, perdidos e restaurados.c ceod = Número de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados.d Experiência de cáries em ambas as dentições.

achados do presente trabalho. Essa di-ferença pode estar associada a mu-danças nos critérios de diagnóstico dacárie dentária, implementadas a partirda década de 1990 (41). Além disso, oconsumo de dentifrícios fluoretados,largamente utilizados pela populaçãobrasileira desde o final da década de1980, é um dos principais responsáveispelo declínio da cárie (42), e pode tersido um importante fator para explicara menor prevalência da doença obser-vada no presente estudo. Mesmoassim, comparando-se os achados deItaúna com estudos mais recentes,verifica-se que a prevalência da cáriedentária na dentição permanente(37,3%) também pode ser consideradabastante inferior àquela encontradapor Dini e Silva (13) em Araraquara,Estado de São Paulo (66,8%); por Fur-tado et al. (15) em Capão Alto, Estado

de Santa Catarina (75,0%); por Sam-paio et al. (6), que estudaram o meiorural da Paraíba (81,96%); e por Trae-bert et al. (17), no Estado de Santa Ca-tarina (62,1 e 63,6%, para as duas co-munidades pesquisadas).

Em relação aos valores do CPODmédio, verifica-se que em Itaúna a se-veridade de cárie dentária foi menordo que aquela relatada por todos osestudos brasileiros em populaçõesrurais, exceto por Araújo et al. (14).Quando se comparam os dados dopresente trabalho com os dados nacio-nais do Ministério da Saúde de 1996,verifica-se que o meio rural de Itaúna,mais uma vez, apresenta menor seve-ridade de cárie dentária na dentiçãopermanente, exceto nas crianças de 6anos (36). No entanto, a populaçãorural de Itaúna apresenta uma severi-dade mais alta de cárie dentária do

que a de Belo Horizonte, capital deMinas Gerais (36). É difícil apontarcom muita certeza quais foram os mo-tivos de tais diferenças, uma vez queos outros estudos brasileiros foramapenas descritivos. Fatores sociais ebiológicos podem ser diferentes nessaslocalidades rurais, contribuindo para a maior ou menor prevalência dadoença. A idade, que é mais baixa nopresente estudo em relação a algunsoutros trabalhos, também pode tercontribuído para essas diferenças.Outro aspecto que poderia explicaresse resultado, pelo menos em parte, éa presença do serviço de saúde bucal.Em todos os outros estudos sobresaúde bucal de populações rurais,observa-se a ausência quase completade assistência odontológica. É possívelque as medidas adotadas pelo SUStenham melhorado as condições de

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Investigación original Abreu et al. • Cárie dentária entre escolares de Itaúna (MG), Brasil

TABELA 4. Análise univariada da associação entre a renda familiar mensal e a origem da água consumida com prevalência de cárie, meiorural de Itaúna (MG), Brasil, 2002a

Experiência totalCPODb (No.) ceodc (No.) de cáried (No.)

Idade (anos) Variável Ausente Presente P Ausente Presente P Ausente Presente P

Renda familiar mensal (R$)e

4 a 6 Até 280 34 6 13 56 12 57Mais de 280 35 5 0,75 21 60 0,30 20 61 0,28

7 a 8 Até 280 52 20 17 56 16 57Mais de 280 39 28 0,08 7 60 0,04 6 61 0,04

9 a 10 Até 280 26 38 7 43 7 57Mais de 280 33 26 0,09 7 49 0,82 8 51 0,66

11 a 15 Até 280 9 14 2 6 6 17Mais de 280 7 7 0,52 3 5 1,00 3 11 1,00Origem da água consumida

4 a 6 Serviço Autônomode Água e Esgotog 18 3 10 31 9 32

Outras fontes 53 10 1,00 25 90 0,73 24 91 0,887 a 8 Serviço Autônomo

de Água e Esgoto 26 18 6 38 6 38Outras fontes 73 30 0,16 21 83 0,35 19 85 0,49

9 a 10 Serviço Autônomode Água e Esgoto 20 21 4 30 6 35

Outras fontes 43 46 0,96 10 67 1,00 10 79 0,5811 a 15 Serviço Autônomo

de Água e Esgoto 4 4 1 3 2 64 a 6 Outras fontes 13 18 1,00 4 9 1,00 8 23 1,00

a n = 476 escolares.b CPOD = Número de dentes permanentes cariados, perdidos e restaurados.c ceod = Número de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados.d Experiência de cárie em ambas as dentições.e Na época do estudo, R$ 280 equivaliam a aproximadamente US$ 119,00.g Água clorada.

saúde bucal na dentição permanentedesse grupo. No entanto, as hipóteseslevantadas para explicar as diferençasidentificadas merecem ser avaliadasposteriormente através de estudosapropriados para tais objetivos.

É importante ressaltar que nem osdados de CPOD, nem os de ceod, apre-sentam distribuição gaussiana, con-forme revelou o teste de Kolmogorov-Smirnov. Assim, a média deve serinterpretada com cautela, não sendoum indicador muito útil para o plane-jamento das ações do serviço de saúde.A forma mais interessante de interpre-tar esses dados é através de pro-porções. Por exemplo, 91,5% dascrianças apresentavam até três dentespermanentes com experiência de cárie(368/402). Da mesma forma, o percen-tual de crianças livres de cárie na den-tição decídua, excluindo os 41 escola-res que não apresentavam dentesdecíduos, foi igual a 18,85% (82/435).

A concentração do CPOD em pri-meiros molares confirma outros acha-dos descritos na literatura (8, 10, 43). Otratamento restaurador nesses elemen-tos dentários é geralmente de baixacomplexidade e de fácil resolução peloSUS local. É preciso considerar, po-rém, que essa população, emborajovem, já necessita de tratamento en-dodôntico. Para esses casos, o poderpúblico municipal deveria organizartal atendimento, de forma a evitar per-das dentárias precoces.

Foi observado um aumento no ín-dice CPOD (incluindo ou não os indi-víduos livres de cárie) com o aumentoda idade, com exceção da faixa acimade 10 anos, na qual ocorreu uma dimi-nuição do CPOD (figura 2). Os dadospara as crianças acima de 10 anos, noentanto, devem ser interpretados comcautela, pois os moradores do meiorural cursam as quatro últimas sériesdo ensino fundamental no meio ur-bano de Itaúna. Assim, as criançascom idade superior a 10 anos nãoconstituem uma amostra representa-tiva dos moradores do meio rural deItaúna.

Em relação ao ceod médio no meiorural de Itaúna, observa-se que essevalor é superior àquele apresentadopor Andrioni et al. (7) e inferior ao de

Bijella e Bijella (8), os dois únicos estu-dos brasileiros que avaliaram a den-tição decídua no meio rural. Em rela-ção aos dados de 1996 referentes aoBrasil e a Belo Horizonte, observa-seque as crianças do meio rural de Itaúnaapresentaram maior severidade decárie dentária na dentição decídua (36).

Internacionalmente, os estudos rea-lizados no continente africano (44–46)mostram uma menor severidade decárie na dentição decídua comparando-se com as crianças itaunenses. Váriosfatores podem explicar essa diferença,dentre eles o consumo de sacarose.Embora o consumo de sacarose nãotenha sido avaliado no presente es-tudo, sabe-se que no Brasil o consumode sacarose é bem maior do que naÁfrica. Alguns países asiáticos, poroutro lado, apresentam maior severi-dade de cárie na dentição decídua doque a observada no presente trabalho(47–49).

A diminuição do ceod com o au-mento da idade pode ser explicadopela esfoliação ou perda fisiológicados dentes decíduos que ocorre aolongo da vida. Com a diminuição dosdentes decíduos na cavidade bucal,elementos dentários que poderiamapresentar experiência de cárie sãoperdidos. Assim, a severidade da do-ença diminui (figura 1). Esses achadosconfirmam outros relatos na literatura(7, 8, 44, 45, 49).

A OMS colocou como uma de suasmetas de saúde bucal para o ano de2000 que 50% das crianças com idadeentre 5 e 6 anos estivessem livres de cárie. Para o ano de 2010, a meta éde 90% das crianças livres de cárie (50).No entanto, no meio rural de Itaúna,apenas 21,37% das crianças nessa faixaetária apresentaram tal condição. Taisachados reforçam a preocupação emrelação à dentição decídua no Brasil (2,20, 51).

Os dados do presente estudo, prin-cipalmente na dentição decídua, mos-tram que é necessária e urgente a im-plementação de estratégias coletivasem saúde bucal em uma faixa etáriamais precoce. O fornecimento, peloSAAE, de água fluoretada, métodoconsiderado importante para o con-trole da cárie, beneficiaria menos de

um terço das famílias estudadas. Por-tanto, a utilização isolada desse mé-todo não teria um impacto forte sobrea saúde bucal. O SUS local deve, com aparticipação da população rural, e demaneira intersetorial (52), discutirquais seriam as estratégias mais ade-quadas para lidar com as questõesepidemiológicas levantadas por estetrabalho.

Além disso, seria aconselhável insti-tuir um processo de vigilância dascondições de saúde bucal nessa popu-lação, principalmente quando se consi-dera que a experiência passada decárie é considerada uma importantemedida para se avaliar o risco de cárieno futuro (53). Assim, os resultadosfavoráveis acerca da experiência atualde cárie na dentição permanente nomeio rural poderiam ser modificadosno futuro.

Um dos aspectos analisados nesteestudo foi a determinação socioeconô-mica da cárie dentária. Sabe-se queessa área tem sido analisada por diver-sos autores nacionais e internacionais(3, 19–27). Assim como em outros es-tudos (7, 11), o gênero das crianças nãose mostrou estatisticamente associadocom a experiência de cárie. O acesso àágua tratada poderia ser um indicadorde maior consciência sanitária, bemcomo de melhores condições socio-econômicas (51), e, conseqüentemente,poderia estar associado a melhorescondições de saúde. No entanto, essahipótese não foi confirmada.

A ocupação dos pais foi avaliadaconsiderando as mudanças sociaisidentificadas no meio rural brasileirona última década (30). Supunha-se que indivíduos que apresentassemocupações rurais agrícolas pudessemapresentar hábitos alimentares maistradicionais e, portanto, menor riscode cárie. Por outro lado, o contato dospais que apresentavam ocupações ru-rais não-agrícolas com atividades deestilo mais urbano poderia levá-los aum maior contato com hábitos alimen-tares ricos em sacarose. No entanto,não houve associação entre a doença eessas variáveis.

Em relação à escolaridade dos pais eà renda, o primeiro aspecto que chamaa atenção é a homogeneidade da po-

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pulação rural estudada. Como já dis-cutido anteriormente, os indicadoressociais são muito desfavoráveis para agrande maioria da população, ou seja,esta população compartilha a mesmacondição de pobreza. Assim, para amaioria das faixas etárias, não foramidentificadas associações estatistica-mente significativas entre cárie dentá-ria e as variáveis escolaridade dos paise renda familiar mensal. Em relação aesse achado, pode-se recorrer às dis-cussões de Rose (54). Segundo aqueleautor, quando as populações estãoexpostas de forma homogênea a umcerto fator de risco, torna-se extrema-mente difícil identificar, através dosmétodos epidemiológicos analíticos, arelação entre esse fator de exposição ea doença pesquisada.

Entretanto, a regressão logística re-velou, na faixa etária de 7 a 8 anos, as-sociações estatisticamente significa-tivas entre algumas covariáveis e osindicadores de cárie. A renda familiarmais alta esteve estatisticamente asso-ciada com maior chance de cárie nadentição decídua e em ambas as den-tições. A escolaridade mais alta damãe esteve associada com maior pre-valência de cárie na dentição perma-nente. Esses achados vão de encontro adiversos estudos de acordo com osquais os grupos com condições sociais

e econômicas menos favoráveis apre-sentam maior experiência da doença(3, 19–27). Tais estudos, entretanto,enfocaram populações urbanas e po-pulações que apresentavam grandesdiferenças sociais e econômicas. Parapopulações com privações econômicasimportantes, como é o caso do meiorural de Itaúna, um pouco mais derenda e educação poderia significarmais acesso a alimentos refinados (55,56) e, portanto, maior prevalência decárie. O estudo de Al-Hosani e Rugg-Gunn (47) apresentou a mesma asso-ciação socioeconômica identificada nopresente trabalho. Essa confirmação,apesar de rara na literatura, mostra-seconsistente, pois existem característi-cas metodológicas bastante semelhan-tes entre os trabalhos: ambos foramdesenvolvidos no meio rural, ava-liando a dentição decídua, com coletade informações e análise estatísticamuito semelhantes.

A associação direta entre escolari-dade da mãe e cárie dentária pode serconseqüência das características especí-ficas do meio rural estudado. EmItaúna, como comentado anterior-mente, apenas as quatro primeirasséries do ensino fundamental são cursa-das no meio rural. As séries subseqüen-tes são cursadas no meio urbano. Pode-se especular, então, que as mães com

mais de 3 anos de ensino formal tive-ram um contato maior com o meio ur-bano. Dessa forma, é possível que essasmães com maior escolaridade tenhamuma maior influência urbana na suaalimentação e, por conseqüência, con-sumam mais sacarose. Estudos realiza-dos em outros países mostram que oprocesso de urbanização está direta-mente associado com o aparecimentoda doença cárie, devido à ocidentaliza-ção dos hábitos alimentares (45, 57, 58).

Finalmente, estudos com maiorpoder analítico merecem ser realiza-dos no meio rural brasileiro para quese possa entender a complexa inte-ração entre determinantes socioeconô-micos e a doença cárie. As pesquisasqualitativas também podem ajudar nainterpretação dos dados identificadosatravés dessa metodologia transversal,para que se possam avaliar os proces-sos simbólicos na determinação socialdas doenças (59) e, mais especifica-mente, da doença cárie.

Agradecimentos. O estudo foi de-senvolvido com verbas do ConselhoNacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (CNPq) e da Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estadode Minas Gerais (FAPEMIG). Os auto-res agradecem à Prefeitura de Itaúnapelo apoio na condução da pesquisa.

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Manuscrito recebido em 3 de março de 2004. Aceito em20 de julho de 2004.

344 Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 16(5), 2004

Investigación original Abreu et al. • Cárie dentária entre escolares de Itaúna (MG), Brasil

Objective. To study the prevalence of dental caries and its association with socio-economic variables among schoolchildren living in rural communities in Itaúna, stateof Minas Gerais, Brasil, in 2002. Methods. An epidemiological survey was carried out among 476 schoolchildren be-tween 4 and 15 years of age. The children underwent a dental examination that wasperformed by a single researcher following the methodology recommended by theWorld Health Organization. Socioeconomic data (family income, parents’ educationand occupation, household source of drinking water, and the child’s sex and age)were gathered through an interview with the parents.Results. Over three fourths of the parents earned no more than 360 reais (R$) (ap-proximately US$ 153) a month and reported having 4 years of schooling at most. Con-sidering both the deciduous and permanent dentitions, 17.86% of the children werefree of caries. The mean number of permanent teeth that were decayed, missing orfilled, and of primary teeth that were filled or decayed and needed extraction, was0.94 (± 1.55) and 4.00 (± 3,46), respectively. Multivariate analysis showed that amongseven- and eight-year-old children whose monthly family income was above R$ 280,the risk of having caries in the primary (deciduous) dentition and in both dentitionswas 2.602 (95% CI: 1.004 to 6.745) and 2.854 (95% CI: 1.044 and 7.799) times greater,respectively, than among children from lower-income families. Seven- and eight-year-old children whose mothers had completed at least 3 years of elementary schoolshowed more than twice the risk [2.813 (95%CI: 1.221 to 6.480)] of having caries in thepermanent dentition than children whose mothers had less schooling. Conclusions. In view of these results, particularly those pertaining to the primarydentition, there is an urgent need to implement community dental health strategiestargeting young children in Brasil. The results suggest that in underprivileged popu-lations, such as the inhabitants of rural communities in Itaúna, families with some-what higher incomes and better schooling are more likely to adopt behaviors that leadto dental caries.

ABSTRACT

Dental caries in schoolchildren from

rural communities in Itaúna(MG), Brazil

The only way for a rich man to be healthy is by exercise andabstinence, to live as if he were poor.

[Para el hombre rico, la salud se consigue de una sola manera:mediante el ejercicio y la abstinencia, es decir, viviendo como sifuese pobre.]

Paul Dudley WhiteU. S. cardiologist / cardiólogo estadounidense