Ata da 142ª Sessão Não Deliberativa em 18 de outubro de 1999

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Ata da 142ª Sessão Não Deliberativaem 18 de outubro de 1999

1ª Sessão Legislativa Ordinária Da 51ª Legislatura

Presidência dos Srs.: Nabor Júnior e Agnelo Alves

(Inicia-se a sessão às 14 horas e 30minutos.)

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Havendonúmero regimental, declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossostrabalhos.

O Sr. 1º Secretário em exercício, SenadorRamez Tebet, procederá à leitura do Expediente.

É lido o seguinte:

EXPEDIENTE

MENSAGEM

DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

2 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

OUTUBRO 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 3

4 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

OUTUBRO 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 5

6 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

OUTUBRO 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 7

8 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

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AVISOS

DO MINISTRO DE ESTADO DA FAZENDA

Nº 556/99, de 7 do corrente, encaminhandocópia do Memorando nº 1.086/99, elaborado pelaSecretaria de Acompanhamento Econômico, daqueleMinistério, informando que, conforme dispõe a Lei nº9.479, de 12 de agosto de 1997, a competência pararesponder aos quesitos do Requerimento nº 431, de1999, do Senador Lúcio Alcântara, é deresponsabilidade do Ministério da Agricultura e doAbastecimento.

Nº 557/99, de 7 do corrente, encaminhando asinformações parciais referentes ao Requerimento nº400, de 1999, do Senador Osmar Dias.

As informações foram encaminhadas,em cópia aos requerentes.

O Requerimento nº 400, de 1999,ficará na Secretaria-Geral da Mesa,aguardando o envio das informaçõescomplementares; e o Requerimento nº 431,de 1999, vai ao Arquivo.

AVISO

DO MINISTRO DE ESTADO DA DEFESA

Nº 1.914/99, de 15 do corrente, encaminhandoas informações referentes ao Requerimento nº 393,de 1999, da Senadora Maria do Carmo Alves.

As informações foram encaminhadas,em cópia, à requerente.

O requerimento vai ao Arquivo.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – OExpediente lido vai à publicação.

Sobre a mesa, requerimento que será lido peloSr. 1º Secretário em exercício, Senador Ramez Tebet.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 631, DE 1999

Senhor Presidente,Requeremos, nos termos do art. 218 do

Regimento Interno e de acordo com as tradições daCasa, as seguintes homenagens pelo falecimento dogrande líder da Tanzânia Julius Nyerere, ocorrido nodia 15 último:

a) inserção em ata de um voto de profundopesar;

b) apresentação de condolências à família e aogoverno da Tanzânia, por intermédio de seuEmbaixador.

Sala das Sessões, 18 de outubro de 1999. –Roberto Saturnino.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Esserequerimento depende de votação, em cujoencaminhamento poderão fazer uso da palavra os Srs.Senadores que o desejarem.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ) – Sr. Presidente, peço a palavra para encaminhara votação.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Concedoa palavra ao nobre Senador Roberto Saturnino paraencaminhar a votação.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ. Para encaminhar a votação. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,estou inscrito para falar no Expediente e, no meupronunciamento, abordarei a situação em que seencontra o Continente Africano. Quero começarlamentando o falecimento do grande Líder JuliusNyerere, ocorrido na sexta-feira última.

Sr. Presidente, apresentei esse requerimento,porque penso que o Senado do Brasil deve prestaruma homenagem e inscrever na sua ata um voto depesar pelo falecimento desse que foi um dosprincipais líderes africanos do chamado movimentodo socialismo africano. Foi praticamente o fundador, agrande figura política de fundação da Tanzânia. Era oúltimo de uma geração de líderes africanos.

Penso, Sr. Presidente, que, pelos laços queunem, cultural e economicamente, o Brasil e a África,o Senado brasileiro deve prestar essa homenagem emanifestar ao povo e ao Governo da Tanzânia, pormeio da sua Embaixada, o nosso profundo pesar pelofalecimento de Julius Nyerere.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Emvotação o requerimento.

As Srªs. e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovado.Será cumprida a deliberação do Plenário.O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Do

Expediente lido consta mensagem presidencialencaminhando o Projeto de Lei nº 35, de 1999-CN,que vai à Comissão Mista de Planos, OrçamentosPúblicos e Fiscalização.

Nos termos da Resolução nº 2, de 1995-CN, aPresidência estabelece o seguinte calendário para atramitação do projeto:

Até 23/10 – publicação e distribuição deavulsos;

Até 31/10 – prazo final para apresentação deemendas;

Até 5/11 – publicação e distribuição de avulsosdas emendas;

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Até 15/11 – encaminhamento do parecer final àMesa do Congresso Nacional.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – APresidência recebeu a Mensagem nº 187, de 1999(nº 1.468/99, na origem), de 13 de outubro docorrente, encaminhando, nos termos do inciso II, art.7º da Lei nº 9.069, de 1995, o demonstrativo dasemissões do Real, referente ao mês de agosto de1999, as razões delas determinantes e a posiçãodas reservas internacionais a elas vinculadas.

A matéria vai à Comissão de AssuntosEconômicos.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – APresidência recebeu a Mensagem nº 188, de 1999(nº 1.470/99, na origem), de 13 do corrente,encaminhando, nos termos do art. 6º da Resoluçãonº 96, de 1998, do Senado Federal, o demonstrativodo cumprimento das metas indicativas e critérios dedesempenho relativos ao Programa de ApoioFinanceiro ao Governo Brasileiro, liderado peloFundo Monetário Internacional, correspondente aosegundo trimestre de 1999.

A matéria, anexada ao processado da referidaResolução, vai à Comissão de Assuntos Econômicos.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – APresidência recebeu do Presidente da República, nostermos do art. 52, inciso V, da Constituição Federal,as seguintes Mensagens:

Nº 189, de 1999 (nº 1.473/99, na origem), de 14do corrente, solicitando seja autorizada a contrataçãode operação de crédito externo, no valor equivalentea até trezentos milhões de dólares norte-americanos,de principal, entre a República Federativa do Brasil eo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID,destinada ao financiamento parcial do ProgramaNacional de Apoio à Gestão Administrativa e Fiscaldos Municípios Brasileiros – PNAFM; e

Nº 190, de 1999 (nº 1.474/99, na origem), de 14do corrente, solicitando sejam autorizadas operaçõesfinanceiras de que trata o Contrato de Reestruturaçãode Débitos da República Unida da Tanzânia para coma República Federativa do Brasil, no valor deduzentos e trinta e dois milhões, quatrocentos enoventa e seis mil, oitocentos e cinqüenta e doisdólares norte-americanos e quatorze centavos, emconsonância com a Ata de Entendimentos celebradaem âmbito do chamado “Clube de Paris”.

As matérias vão à Comissão de AssuntosEconômicos.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) –Esgotou-se, sexta-feira, o prazo previsto no art. 91, §3º, do Regimento Interno, sem que tenha sido

interposto recurso, no sentido da apreciação, peloPlenário, das seguintes matérias:

– Projeto de Lei do Senado n.º 118, de 1999,de autoria dos Senadores Geraldo Melo e JoséAgripino, que institui a tarifa social de energiaelétrica para consumidores de baixa renda e dáoutras providências; e

– Projeto de Lei do Senado n.º 482, de 1999, deautoria do Senador Sérgio Machado, que altera o art.10 da Lei n.º 9.504, de 30 de setembro de 1997,ampliando o número máximo de candidaturaspassíveis de registro pelos partidos políticos naseleições legislativas em todos os níveis daFederação.

Tendo sido aprovados em apreciaçãoterminativa, respectivamente, pelas Comissões deServiços de Infra-Estrutura e de Constituição, Justiçae Cidadania, os Projetos vão à Câmara dosDeputados.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) –Encerrou-se, no dia 14 último, o prazo paraapresentação de emendas ao Projeto de Lei daCâmara n.º 39, de 1999 (n.º 2.447/96, na Casa deorigem), de iniciativa do Presidente da República, quedenomina “Ponte Ivan Alcides Dias” a obra-de-arteespecial localizada no Município de Camaquã,Estado do Rio Grande do Sul.

Não tendo recebido emendas, a matéria seráincluída em Ordem do Dia oportunamente.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Passa-seà lista de oradores.

Concedo a palavra ao primeiro orador inscrito,Senador Mozarildo Cavalcanti. (Pausa.)

Concedo a palavra ao Senador LeomarQuintanilha, pelo prazo de vinte minutos.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB – TO.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, oPrograma de Cooperação Nipo-Brasileira para oDesenvolvimento dos Cerrados, conhecido comoProdecer, é resultado, conforme deflui de seu nome,de um acordo binacional, cujas tratativas antecedemos idos de 1974.

Sr. Presidente, é bom lembrar que, há 20 ou30 anos, os cerrados brasileiros eram quase quetotalmente subaproveitados; mal serviam para criarou desenvolver um pecuária de animais depequeno e médio porte, com uma baixarentabilidade e com uma sustentação muitolimitada de animais por hectare.

Em termos de agricultura, praticamente não seconheciam as potencialidades e as condições que ocerrado brasileiro hoje está a oferecer, a ponto de ve-

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rificarmos, até com uma certa alegria, que a produçãode espécies de café da melhor qualidade, antes sóproduzido nas terras mais férteis do Brasil, hoje sedesenvolve no cerrado brasileiro. Vejam o exemplode Minas Gerais, onde se colhe um dos melhorescafés do Brasil e o bom exemplo que está dandotambém o cerrado da Bahia, em uma demonstraçãoinequívoca de que, com o desvendar do segredo, domistério, com os conhecimentos que a ciência e atecnologia colocaram a serviço da agricultura, ocerrado passou a ser uma fonte inesgotável eextremamente promissora de alimentos.

Comento o Prodecer, acordo binacional, paraavaliar, Sr. Presidente e Srs. Senadores, asdificuldades que tem nosso País em manter umacordo internacional. Ora, se para se desenvolveruma atividade, um programa ou um projeto, que secircunscreve às suas fronteiras e é discutido com ospares, os vizinhos e os interessados, neste País, jáexiste um grau de dificuldade, avaliem um programaque envolve interesses de outras nações.

E o povo japonês, certamente com uma visãolarga de futuro e observando, há 20 ou 30 anos, comuma preocupação que se acentua hoje, a elevaçãoquase descontrolada da população do Planeta, jáse prontificava a desenvolver programas queestimulassem a produção de alimentos em áreasantes não exploradas. O Prodecer é resultado, noBrasil, de um acordo entre o nosso País e o Japão,pelo qual este se propõe a participar com 60% dosrecursos destinados aos investimentos necessáriosà inserção de milhares de hectares no sistemaprodutivo brasileiro.

Em 1979, implantou-se o projeto piloto, umprojeto pioneiro no Brasil, em Minas Gerais. Depois,em 1985, em razão do sucesso observado naqueleprojeto piloto pioneiro em Minas Gerais, bem comoem outro projeto nesse mesmo Estado e nos Estadosde Goiás e Bahia, os Estados de Mato Grosso e MatoGrosso do Sul também puderam inserir, nos seusrespectivos territórios, parcelas consideráveis de umafaixa de terra, coberta por uma vegetação de cerrado,no sistema produtivo nacional.

Há pouco mais de dois anos, também alentadopor esse processo e com a percepção muito clara emuito nítida de que o cerrado hoje é uma dasextraordinárias reservas para a produção dealimento, os Estados do Tocantins e do Maranhão,com muito esforço, demonstrando interesse ímpar,quiseram também participar desse programabinacional. Por esta razão, nesses Estados foirealizado o Prodecer III, como é conhecido.

No Estado do Maranhão, Sr. Presidente, oagente financeiro do programa é o Banco doNordeste do Brasil. No Estado do Tocantins, o agentefinanceiro é o Banco do Brasil.

Como sabe V. Exª, sou originário dos quadrosdo Banco do Brasil, a quem servi com muita lealdade,com muito amor, por mais de vinte anos na minhavida, de modo que tenho uma relação muito estreitade admiração, de respeito e de gratidão pelo que esteBanco fez, faz e, certamente, continuará fazendo pelonosso País.

Devo, todavia, confessar, Sr. Presidente, que,para vencer a burocracia e conseguirmos implantar,no Estado do Tocantins, o Programa deDesenvolvimento do Cerrado houve uma luta imensae terrível: foi preciso que toda a Bancada deParlamentares que representam o meu Estadoparticipasse – Senadores, Deputados Federais e,principalmente, o Governador – por perceber aimportância desse empreendimento e por estaratrás de investimentos para o nosso território, a fimde que possamos estabelecer um processo dedesenvolvimento em nosso Estado. Foi difícil vencera burocracia quer na área do Poder Executivo, querna de discussão com o próprio Banco do Brasil.

Havia um quê de resistência em razão desituações de inadimplência, conforme alegavamexecutivos do Banco do Brasil, de beneficiários doProjeto Prodecer I e II. Na verdade, os projetos foramsucessos absolutos e promoveram, como eraesperado, o desenvolvimento nas regiões em queforam implantados. Cito, com destaque, a importânciado Programa de Desenvolvimento dos Cerradosimplantado no Tocantins, com o aproveitamento devinte mil hectares, que antes não produziam nada eagora passaram a produzir toneladas e toneladas dealimento com alta tecnologia, alcançando ali, comoocorrera com nos outros programas, índices deprodutividade superiores à média nacional,promovendo uma verdadeira revolução na face sociale econômica dos principais municípios atingidos peloprograma.

No meu Estado, o Município de Pedro Afonsoteve como que revitalizada sua economia com ageração de empregos, com a movimentaçãointensiva de bens e serviços que passaram a circularnaquele Município, promovendo a geração de riquezase também a geração de empregos. O Município passoua auferir mais receitas, assim como o Estado, em razãoda produção que estava desenvolvendo ali a partir dainstalação desse programa. A resistência do Banco doBrasil, todavia, foi efetivamente muito grande, a pontode exigir que o Governo do Estado de Tocan-

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tins assumisse 50% da operação. Em nenhum dosprogramas anteriormente implementados, nem oconcomitantemente implementado junto com oBanco do Brasil, o do Maranhão, foi exigido que oGoverno do Estado se associasse naresponsabilidade e no compromisso de assumirriscos da operação, para os quais a instituiçãofinanceira recebe um resultado. Não aconteceu issocom o Banco do Nordeste em relação ao Prodecer doMaranhão e nem com os outros agentes financeirosque implementaram os programas nos Estados deMinas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso doSul.

Entendemos nós da bancada parlamentar quedá sustentação ao Governo e que representa oEstado de Tocantins, mais do que nós entendeu oGovernador Siqueira Campos que esse projeto erafundamental para o processo de desenvolvimento donosso Estado, antes região inóspita, isolada, regiãoabandonada e que não dispõe de outras alternativaspara organizar a sua economia, para mitigar asmazelas sociais que o nosso povo sofre, a não serinvestindo no setor primário, destacadamente naagricultura.

Não há no Tocantins, cidade interiorana, comodiscutirmos química fina, siderurgia, indústriapesada. O que nós temos que buscar paradesenvolver a nossa economia, para gerar algumareceita e dar emprego a nossa população, é procurare explorar o extraordinário potencial que a natureza,dadivosa que foi, entregou àquele territóriotocantinense. Então, temos que discutir realmente aagricultura no Tocantins.

O Prodecer cumpria e está cumprindo a suafinalidade, apesar dos obstáculos, apesar dasdificuldades, algumas delas causadas até pelosnossos produtores, os que foram escolhidos paraimplementar o programa, dificuldades causadas pelacooperativa encarregada de operacionalizar aoperação, mais as dificuldades encontradas peloBanco do Brasil, para superar essa questão.

E imaginem, Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, como se não fosse responsabilidade doBanco do Brasil, como agente financeiro do Governo,como braço operacional do Governo, de implementarum acordo binacional, um acordo que a nação haviadecidido fazer com um país amigo, o Japão; como senão fosse o Banco do Brasil compromissado a estarpresente nas áreas de fronteira agrícola, nas áreasonde a iniciativa privada, com respeito à essência dasua estrutura, que visa exclusivamente o lucro – e oBanco do Brasil não pode pensar só no lucro, porquetem, como agente do Governo, que estar preocupado

com o estabelecimento do processo dedesenvolvimento das regiões menos favorecidasdeste País, justamente onde encontramosdificuldades um pouco maiores.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB – MS) – SenadorLeomar Quintanilha, V. Exª me permite um aparte?

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB – TO) –Nobre Senador Ramez Tebet, ouço com muitoprazer V. Exª.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB – MS) – SenadorLeomar Quintanilha, vejo que V. Exª fere umassunto de interesse do seu Estado, mas que étambém de interesse nacional. Queria pedir a V. Exªque aceitasse o testemunho de um dosrepresentantes de Mato Grosso do Sul nesta Casa.Na década de 70, mais precisamente no período emque o Presidente da República era Ernesto Geisel,Mato Grosso do Sul foi beneficiado com umprograma denominado Pólo-Centro, que alavancoua economia primária do Estado de Mato Grosso doSul. Verdadeiramente, foi um programa destinadoaos cerrados do meu Estado. A minha região dobolsão sul-mato-grossense foi altamente favorecida,ao lado da linha férrea da Noroeste do Brasil, emcerca de 330 quilômetros, acompanhando a minhacidade de Três Lagoas até a capital, CampoGrande, todo esse cerrado foi aproveitado, graças aesse programa do Presidente Ernesto Geisel.Aquela área era considerada como terraimprestável, achava-se que não tinha serventia paranada. Com a implantação do Polocentro, hojeaquela região está gerando e produzindo riquezas.Portanto, o cerrado é um solo propício à agriculturae à pecuária. Quando vejo V. Exª defender o Estadode Tocantins, com entusiasmo dou essetestemunho até mesmo com a mais viva esperançade que o Governo disponha de programassemelhantes a esse ao qual acabei de me referir,independentemente até dos acordos internacionais.Deveriam ser implementados programas como oPolocentro. Penso que V. Exª, ao ocupar essa tribunae defender o seu Estado, está alertando o Governo,dizendo ao Brasil que realmente temos todas ascondições, com a agricultura, principalmente, mais doque a pecuária, de dar uma grande contribuição paraa geração de empregos, para a geração de renda,para o desenvolvimento do nosso País. Estoutorcendo para que haja a compreensão do Banco doBrasil e do Governo, e para que realmente esseprograma dê certo no Estado do Tocantins. Esperoque o Governador, a par da sua representaçãoaqui, da qual V. Exª é um expoente, possarealmente ir a fundo para que esse programa tenha

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êxito, porque acredito que é dessa forma que o seuEstado e o Brasil possam se desenvolver. Muitoobrigado pela atenção de V. Exª.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB – TO) –Nobre Senador Ramez Tebet, a intervenção de V.Exª só vem enriquecer as modestas consideraçõesque trago a esta Casa sobre um assunto de maiorrelevo, que é esse acordo binacional.

Compreendo, cada vez mais, a relação quenos une, não só no nosso trabalho aqui, mas quetranscende essa relação de representaçãopartidária para fazer surgir entre nós até a amizadeforte, séria, fundada, não só pela admiração quenutro por V. Exª, mas pela sua competência, pelasua dedicação ao seu Estado e ao nosso País.Certamente essa identidade aumenta em razão deestarmos muito próximos, lutando juntos,permanentemente, pela defesa dos interesses dosEstados irmãos, cuja localização geográfica acabou,ao longo da História do Brasil, sendo penalizada. OsEstados interioranos e os Estados do Norte do Paísnão foram, ao longo da História do nosso País, quecompleta agora 500 anos, alvo dos investimentosmaciços que permitiram as regiões privilegiadas aimplantação, em tempo ainda muito cedo, de suainfra-estrutura, pela qual agora estamos lutando,para organizar nossa economia.

Por essa razão, programas como o Prodecer,programa de desenvolvimento do cerrado, que é umadas nossas reservas extraordinárias, e hoje a ONU jáaponta o coração do Brasil – e nós, Mato Grosso doSul, Mato Grosso, Tocantins, estamos no coração doBrasil, somos a última fronteira agrícola desteplaneta. É nessa região que está a esperança doplaneta de ver mitigada a fome.

Por essa razão, a luta pelo Prodecer deve sercontínua. É preciso implementar o Prodecer emoutros Estados que tenham áreas de cerrados quepossam ser aproveitadas.

Fico imaginando o povo japonês, aquele povoirmão, que negociou conosco. Custa entender porque os recursos concedidos ao Brasil a 2.75% ao anosão repassados aos produtores a taxas de 28%, 29%ao ano. Tenho certeza de que o povo japonês fica porentender as razões desse procedimento. Nãocompete ao Brasil ganhar dinheiro sobre umaoperação de fomento; não interessa ao Brasil ganhardinheiro em operações que visam a estimular aprodução em regiões nas quais o próprio País nãoteve recursos para investir ou para auxiliar osgovernos e produtores a promover odesenvolvimento.

O Prodecer no Tocantins está em dificuldadesenormes, Sr. Presidente. Alguns produtores têm maisdificuldades do que outros. O grau de inadimplênciatalvez não permita ao Banco do Brasil liberar, nomomento, recursos de custeio. Mas qual explicaçãopode o Banco do Brasil dar para não emprestarrecursos de custeio para os agricultoresadimplentes, aqueles que pagaram o custeio dasafra passada? Qual é a explicação? Vai deixarmatar o Prodecer? Vai deixar que o produtor sejadespido da condição que o programa criou para elesatisfazer seus compromissos, pagar suas dívidas?O produtor só pode pagar suas dívidas com o Bancodo Brasil – que, por sua vez, terá de acertar com oTesouro, que terá de acertar os compromissos com oJapão – se o produtor plantar, colher e vender suaprodução.

Chega a época da safra, e o custeio agrícolanão sai – a agricultura, atividade econômica nobre eimportantíssima, é estreitamente ligada a questõescomo a cronologia, o tempo. Se a agricultura não forfeita a tempo e hora, a plantação fica comprometida:há problemas operacionais, de resultados e deprodutividade.

Quero, Sr. Presidente, deixar este alerta aqui. Evou recorrer à Direção do Banco do Brasil para quefaça o esforço necessário para atender aosprodutores do programa Prodecer no Município dePedro Afonso, no Estado do Tocantins, sob pena decomprometer um programa extraordinário, muitoimportante para o Brasil.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Tem apalavra V. Exª pela ordem, Senador BernardoCabral.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM. Pelaordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,antes de V. Exª conceder a palavra ao eminenteSenador Roberto Saturnino – a quem peçodesculpas por fazer esta interferência –, vejo queamanhã, dia 19, a Hora do Expediente serádestinada a homenagear o Dia do Professor com asinscrições regimentais. Como estou eu inscrito emterceiro lugar para a sessão ordinária, pergunto-lhese V. Exª me garante a inscrição amanhã, logo apósa Ordem do Dia, em terceiro lugar.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – V. Exªterá sua inscrição garantida em terceiro lugar após aOrdem do Dia.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Muito obrigado, Sr. Presidente.

14 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Concedoa palavra ao nobre Senador Romero Jucá. (Pausa.)

Concedo a palavra ao nobre Senador RobertoSaturnino por 20 minutos.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, iniciomeu pronunciamento com a expressão de umlamento pelo falecimento, ocorrido na sexta-feiraúltima, do grande líder africano Julius Nyerere,fundador da Tanzânia, a unidade entre a antigaTanganica com Zanzibar. Já apresentei umrequerimento de expressão de pesar do Senado a sercomunicado ao Governo e ao povo da Tanzânia pelaEmbaixada.

Neste pronunciamento, em que vou abordarquestões ligadas ao continente africano, começoexatamente pela expressão de pesar profundo pelaperda do cenário político mundial de uma dasprincipais lideranças que, durante um certo tempo,conduziram a África para o chamado socialismoafricano. Esse movimento contou com vários líderesde reconhecimento internacional, de grande valor,que praticamente fundaram seus respectivos paísesquando os livravam da condição de colônia após a IIGuerra Mundial. Dentre eles destacam-se: KwameNkrumah, da República de Gana; Jomo Kenyatta,do Quênia; Agostinho Neto, de Angola; SamoraMachel, de Moçambique; Patrice Lumumba, doCongo.

Essas lideranças conduziram aquelecontinente a uma nova concepção política delibertação do colonialismo e da implantação de umsistema que tendia para o socialismo e que produziaascensão econômica dos respectivos países dentrode uma linha desenvolvimentista marcada pelapresença forte das iniciativas do Estado.

Ocorre, Sr. Presidente, que, antes mesmo docompleto desmoronamento do sistema soviético,com o enfraquecimento e a afirmação daunipolaridade – processo que não aconteceu deum minuto para o outro, mas que foi, durantealguns anos, manifestando-se –, esse conjunto depaíses e outros países do Norte da África foram uma um forçados a abandonar o caminho dosocialismo africano, que tinha produzido bonsresultados, para render-se – essa é a expressãocorreta – à globalização do neoliberal, dounilateralismo, da unipolaridade, que está, naverdade, devastando aquele continente.

Nobres colegas, a África é um continente queinteressa muito a nós, brasileiros. Interessa-noseconomicamente, pela complementaridade que

existe entre economias da África e a nossa economia,um sistema que tem um potencial dedesenvolvimento de trocas comerciais muitointeressante. Pertencemos ambos ao sistemaeconômico e estratégico do Atlântico Sul, que noscoloca juntos em muitas linhas de desenvolvimentodos nossos interesses.

A África nos interessa também histórica eculturalmente, pelos profundos laços que nos unemnesse sentido. Sofremos uma influência culturalafricana muito acentuada em nosso País e, poroutro lado, exercemos sobre a África, por meio daliderança política de que o Brasil desfruta nessesistema do Atlântico Sul de uma influência culturalimportante. A África, afinal, também nos interessaafetivamente, porque a nossa população negra,esse contingente enorme da população brasileira,vê a África com olhos de interesse, atenção eidentificação étnica e cultural.

Pois bem, Sr. Presidente, a África está sendodizimada — essa é que é a verdade nua e crua —pela pobreza; pela reversão daquele processodesenvolvimentista desencadeado nos anos 50 e 60;pela doença, especialmente pela AIDS, mas nãoapenas por ela, e sim por uma série de epidemias queestavam em processo de extinção e que exatamentereverteram esse processo de retração para seexpandirem a taxas altamente preocupantes; porlutas internas que duram muitos anos em váriospaíses e que têm episódios de maior ou menoratividade, mas que estão presentes em vários pontosdo continente africano; pelo cinismo e pelo abandonodas nações ricas do globo que outrora exerceramdomínio colonialista naquele continente e que hoje oentregam à sua própria sorte, a esse processo dedizimação que tem muito haver com o processo deglobalização, com o processo de financeirização daeconomia mundial e exploração através destesprocessos financeiros. Eu diria até – e estesentimento perpassa a mente de quase todo osobservadores do mundo – que essas nações maisricas do globo chegam a ocultamente se regozijaremcom o que está sucedendo na África, que para eles,em uma observação absolutamente fria, significa umfreio ao crescimento da população mundial que a elespreocupa muito, como, aliás, preocupa a todos oscidadãos do mundo.

Agora, nós brasileiros, por todas essas razõesde natureza histórica, econômica, cultural e afetiva,de maneira nenhuma, Sr. Presidente, podemosembarcar nesse sentimento cínico, nessa apreciaçãocínica do que ocorre com a África. Não podemosdeixar-nos levar por este sentimento abominável

OUTUBRO 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 15

que infelizmente existe na maioria das nações maisricas do globo.

Devemos, temos obrigação, temos sentimento einclinação para olhar para a África com atenção, comsolidariedade e com disposição de ajudar. Por quenão? Com toda a precariedade dos recursos de quedispomos, com toda a precariedade do estado emque se encontra a nossa economia, devemos que teressa disposição de ajuda a nações com as quaistemos uma profunda ligação.

Refiro-me à África como um todo, maisespecialmente a África negra, àquele conjunto depaíses de população negra que tem uma relaçãomais forte com a população negra do nosso País, comnossas origens.

Ao referir-me à África negra, falo especialmentede Moçambique e Angola, que são as duas grandescolônias que falam a nossa língua e que têm umaproximidade muito grande com a história brasileira.

Ao destacar Moçambique e Angola, querodizer que falo de maneira mais aflitiva de Angola,dada a situação dramática que aquele país vivemomentaneamente. É um país mergulhado numaguerra interna de cerca de 25 anos que devasta suaeconomia. Sua economia se encontra em estado decolapso, como em colapso está a sua moeda. É umpaís que vê ressurgirem doenças que estavamquase em extinção, como a poliomielite e a doençado sono. A fome e a mutilação estão matandocentenas de milhares de cidadãos seus, enquanto oPrimeiro Mundo assiste a tudo isso de uma formaimpassível. E são nações que propiciaram umacordo de paz firmado em 1994 entre o Governooficial de Luanda e o comando da guerrilha, quehoje ocupa mais de metade do solo angolano,liderada pelo Sr. Jonas Savimbi. Esse acordo depaz foi desrespeitado pelo Sr. Savimbi sem que asnações que assistiram, intermediaram e propiciaramesse acordo fizessem alguma coisa, um gestosequer para que ele fosse cumprido.

O que fazem os países ricos do mundo paranão intervirem de uma forma ou de outra,diplomaticamente que seja, mas de maneiraincisiva, para forçar o Sr. Savimbi a cumprir oacordo de paz estabelecido e que pode ser a únicaforma de se trazer para Angola uma paz querecupere a economia e a vida daquela população,que está sendo dizimada pela pobreza, pelamiséria, pela fome e pelos ferimentos da guerra?

As nações ricas estão muito interessadas nopetróleo, firmaram-se acordos de exploração dopetróleo angolano. Angola é um país que temriquezas muito importantes, petróleo em relativa

abundância, jazidas de diamantes, um solo fértil, já foium dos produtores importantes de café no mundo.Tudo isso está praticamente paralisado numasituação de guerra que já dura 25 anos. Enquantoisso, as nações ricas estão interessadas no petróleo.Com esse interesse, fizeram um adiantamento aoGoverno de Angola de US$900 milhões, a fim de quepossa comprar armamento para enfrentar a guerrilhaque deveria ter sido forçada, de uma forma ou deoutra, a cumprir o acordo de paz, que não cumpriu.

As nações ricas estão interessadas em ganhardinheiro, vendendo armas, explorando o petróleoangolano, comprometendo a economia de Angola –não sei por quanto tempo – e as receitas de petróleo efazendo esse adiantamento de fornecimento dearmas, para que o Governo angolano possa enfrentaras armas da guerrilha do Sr. Savimbi.

O Brasil não pode assistir a essa situação deforma impassível e tranqüila. O Governo brasileirotem de mover-se de alguma maneira, procurandointermediações e convocando os países maispoderosos do mundo, as potências, especialmente anorte-americana, para que se movam também nosentido de fazer cumprir o acordo de paz. Não épossível assistir impassivelmente à liquidação deuma nação inteira e à devastação da sua populaçãopela guerra, pela fome e pela miséria.

Nós, Senadores brasileiros, temos de nosmanifestar, fazendo chegar aos centros políticos dedecisão do mundo, por intermédio da nossarepresentação, esse desejo do Brasil de participar ede retomar uma iniciativa de intervirdiplomaticamente, mas com força e decisão, para queaquela guerra encontre um fim e para que apopulação angolana possa respirar e tratar da suasobrevivência e da sua economia, tão depauperadapor esses 25 anos de guerra.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL – AM) –Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ) – Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL – AM) – SenadorRoberto Saturnino, um aparte geralmente revela orespeito e a atenção que se tem pelo orador. Nãolhe preciso ressaltar essa circunstância, porque V.Exª há muito é credor da minha modestaadmiração.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ) – Senador Bernardo Cabral, essa dileção éespecialmente minha em relação à presença e àatuação de V. Exª.

16 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

O Sr. Bernardo Cabral (PFL – AM) – O fiocondutor filosófico do seu discurso é uma dasmaiores preciosidades que se pode medir nestemomento por uma dupla circunstância decoincidências. Em 1967 – isso dá uma idéia de comojá estamos ficando velhos –, tive a honra de ser seucolega na Câmara dos Deputados, e, ao longo dessetempo, V. Exª não perdeu o sentido exato da suaatuação. V. Exª lembrava ainda há pouco KwameNkrumak e o que era a África. Estou vindo agora –cheguei anteontem – da 19ª Conferência Bienal daAssociação dos Juristas Mundiais, em que estavapresente o Presidente da Suprema Corte de Angola.Quando V. Exª fala agora, parecer que ouço arepetição do que me disse aquele Presidente.Curiosamente, Sua Excelência falava que assepulturas sem nome não eram causadas pelospelotões de fuzilamento, mas pela fome, que levavaparte da população. Algum desavisado, quando ouvealguém falar sobre a África, poderia perguntar porque não se fala do problema do Brasil. V. Exª estácerto ao mostrar que os países de Primeiro Mundo, osricos, não estão indiferentes apenas ao problema,mas eqüidistantes da solução. Quis ouvi-lo, por saberque a matéria seria desta natureza, e cumprimento-o.Se for pouco o cumprimento, considere-me solidário àsua manifestação.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ) – Muito obrigado, Senador Bernardo Cabral. Asua solidariedade e o seu cumprimento sãoaltamente estimulantes para mim. Mas o queespecialmente me toca é que V. Exª tenha essacompreensão e esse sentimento de indignação com oque ocorre em Angola e com a atitude de frieza, dedistanciamento e de abandono por parte das grandespotências, interessadas, sim, no petróleo, em cujasnegociações estão presentes, fazendo contatos eadiantamentos na perspectiva puramente econômicaou financeira de colocarem seus interesses em jogo.Mas não têm nenhum interesse ou sensibilidade pelasorte da população de Angola.

Nós, brasileiros, temos obrigação moral, culturale histórica – para não dizer sentimento socialista, porse tratar de um sentimento particular meu, por ter sidoum dos que olharam com tanta atenção para osocialismo africano que emergia nos anos 50 e 60 –de recuperar, de resgatar laços muito profundos decultura, de afetividade e de história que temos com aspopulações da África, da África negra e muitoespecialmente de Angola – mais do que deMoçambique, porque a nossa população negra veioem proporção muito maior justamente de Angola.

A Srª Heloisa Helena (Bloco/PT – AL) –Concede-me V. Exª um aparte.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ) – Ouço V. Exª com prazer.

A Srª Heloisa Helena (Bloco/PT – AL) –Senador Roberto Saturnino, fiz questão de fazer umaparte mesmo sabendo que o tempo de V. Exª estáesgotado para dizer da minha emoção com seupronunciamento e com o aparte do SenadorBernardo Cabral, demonstrando solidariedade àÁfrica, à nossa África. Tive oportunidade de, pormuito tempo, estudar as estatísticas sociaisespecialmente relacionadas à saúde, em função deuma imposição da minha atividade antes de entrarna política. O mais doloroso é que todos osacontecimentos na área social, especialmente naárea de saúde, os acontecimentos que V. Exªmencionou, a pobreza, a fome, doenças que hojerecrudescem com muito mais força, essa mesmarealidade que vemos na África estamos vendo noBrasil. Isso é muito mais doloroso, porque asgrandes nações não estão apenas frias, distantes eindiferentes. Elas patrocinam essa pobreza, essamiséria, esse sofrimento. Quando falamos da África,não devemos ter apenas um sentimento desolidariedade para com nossos irmãos excluídos emiseráveis, mas devemos parar para pensar umpouco na nossa realidade e no que pode ser onosso futuro. Se hoje não existem as guerras, osentimento ético ou religioso, ninguém sabe o queacontecerá no futuro no Brasil. Por isso, tenho aindamais indignação com relação ao Governo Federal,porque caberia ao Brasil criar, interferir, insurgir-secontra essa ordem miserável que divide, que criaum verdadeiro abismo entre os que comem e os quenão comem neste País. O Brasil poderia fazer isso.Com seu grande potencial de recursos hídricos, deáreas agricultáveis, o Brasil poderia inserir-se naglobalização de forma diferenciada; e não o faz, nãopensa nos seus humilhados, excluídos, famintosbrasileiros, não pensa nos famintos da AméricaLatina ou da África. Quando se fala em FundoMonetário Internacional – de fato, não uma instituiçãode caridade, mas uma instituição financeira querepresenta os interesses das grandes nações e docapitalismo internacional –, não há jeito de eu nãointerferir no debate. Sempre me lembro do parasitoidismo,um fenômeno biológico que acontece entre as mesmasespécies animais e que, como o parasitismo, se trata deuma condição em que o parasita necessita dohospedeiro vivo, uma ambivalência entre o predadore a caça. O Fundo Monetário Internacional, até noseu parasitismo, está acabando com o

OUTUBRO 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 17

hospedeiro. No mínimo, talvez o FMI seja saprófitada humanidade. Isso me dói muito mais comobrasileira, como mulher da América Latina, excluída,marginalizada, que vê os nossos irmãos africanossubmetidos à fome, à miséria e ao sofrimento, comono Brasil. E o Governo Federal hoje simplesmentefala de mais uma contribuição contra inativo,vendendo uma mentira para a opinião pública,dizendo que isso vai resolver o problema dapobreza do Brasil. Desculpe-me, mas tive deaparteá-lo, emocionada pelo pronunciamento sobrea África. Muito obrigada.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB –RJ) – Agradeço, Senador Heloisa Helena, o seuaparte. V. Exª não tem que se desculpar, mas eutenho de agradecer a V. Exª essa contribuição,essa ligação que faz entre os fenômenos deempobrecimento e dizimação africana eempobrecimento e quase dizimação dosbrasileiros. O processo é o mesmo. Não é à toaque se fala em africanização da América Latina,porque o processo é perfeitamente análogo,evidentemente umas regiões estão à frente dasoutras. Porém o caminho é precisamente omesmo. Temos de estar atentos a isso e protestar,resistir, lutar, com indignação, contra esseprocesso que está levando o nosso País a estasituação e que colocou a África na condiçãotrágica e dramática em que se encontra.

Sr. Presidente, encerro o meu pronunciamentopor onde comecei, tornando a expressar meulamento e pesar pela morte do líder tanzaniano –presumo que o gentílico seja este – Julius Nyerere,um dos fundadores do socialismo africano e daRepública da Tanzânia.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) –Concedo a palavra ao nobre Senador ErnandesAmorim, por 20 minutos.

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,durante a semana passada, em Rondônia, tivemos,mais uma vez, a oportunidade de ver,repetidamente, na televisão e nos órgãos deimprensa, uma amostra do que é a criminalidade,hoje, no País.

Por trás dessa criminalidade toda, pudemosobservar que uma gama muito grande de menores,amontoados nas casas de recuperação, rebelam-se ecriam problemas.

Sabe-se que, diante daqueles espancamentos,daquela falta de condições de vida, daquelesmaus-tratos, de tudo que se pode imaginar, ninguémvai segurar as feras que estão sendo criadas, que sãoos menores. Jamais o Governo Federal e qualquerpolítica vão resolver o problema, sem fazer asmudanças necessárias para cuidar desses menores.

Digo isso, porque vim da área rural e tiveoportunidade de sair desse meio para ser empregadodoméstico, inicialmente, em Salvador. Depois fui parao Exército, onde, durante seis anos, aprendi muitacoisa que não havia aprendido no cotidiano, na minhacasa.

Meus Colegas Senadores, se eu não tivessepassado pelas escolas e não fosse filho de umtrabalhador rural, posso apostar que seria hoje ummarginal, estaria preso, teria sido aquele menorabandonado que, com os cuidados do Governo,jamais chegaria a lugar nenhum.

O que se vê hoje é uma preocupação muitogrande quanto ao número cada vez maior demenores que estão perdidos, debaixo de pontes eviadutos ou nos sinais de trânsito, passando fome,roubando, assaltando. E fala-se na FEBEM e emalgumas políticas governamentais, que, como já seviu, nenhum resultado positivo trarão.

Quero dar aqui o testemunho de uma pessoaque veio do “zero”, passou por dificuldades eingressou nas Forças Armadas como recruta.Naquele tempo, o Exército tinha recursos paramanter um efetivo composto de jovens provenientesde qualquer segmento. Esses jovens, quandochegavam àquela corporação, eram integrados aum novo momento, a uma nova educação, a umnovo ensinamento e ali compartilhavam novosconhecimentos. Aqueles que eram desprovidos dequalquer conhecimento eram encaminhados àescola primária, e os que queriam aprender algumaprofissão, aos setores competentes. O Exércitodava formação moral, profissional, em sociedade,em grupo. No batalhão em que servi, de milhomens, três ou quatro foram expulsos por maucomportamento, mas a maioria foi recuperada,preparada. Essa gente saía dali em condições deconviver em sociedade.

Hoje, estamos vendo um Exército pobre, semrecursos, que poderia estar ajudando a orientar essesjovens, e o Presidente da República, em um dos seusmaus momentos de falta de inteligência, diz que vaiconvocar o Exército para combater o narcotráfico, acriminalidade. Não adianta combater a criminalidadedo jovem de 21 anos, se jovens com menos idade, 17ou 18 anos, estão entrando no mundo do crime por

18 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO 1999

falta de opção de trabalho, por causa desse modeloeconômico criminoso que foi adotado.

Penso que estamos em um momento em que asautoridades deveriam acordar e buscar a ajuda deinstituições como o Exército. Refiro-me às ForçasArmadas como um todo: Marinha, Aeronáutica e opróprio Exército, que – acredito – poderiam contribuirna formação desses jovens, não depois que setransformam em bandidos, não depois quecompletam a maioridade, não para combater onarcotráfico.

O narcotráfico não é nada disso que estamosvendo pela televisão. Alguns Parlamentaresaparecem na mídia, denunciando todos comobandidos. Hoje, qualquer um que veste uma camisanova, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e nãotem defeitos é chamado de “cocaineiro”, detraficante, e está vivendo irregularmente. Ninguémestá procurando ver a base dos problemas, a causadessa criminalidade; ninguém está procurandosaber a origem de todo esse desemprego. Dentrode pouco tempo, não haverá mais Polícia paratomar conta dos bandidos. E quem são osbandidos? São aqueles que não têm mais opção devida; não têm emprego; não têm como viver. Essaspessoas têm que escolher entre viver ou morrer,pegar uma arma para matar ou roubar, enveredarpelo caminho do crime, do tráfico ou ater-se ao queaparecer.

O Governo ainda não viu isso. O GovernoFernando Henrique ainda está vivendo a fantasia deir à televisão e dizer que vai criar um programa, umplano, o Banco do Povo para fazer financiamentos.Tudo isso é um engodo, uma mentira de quem nãotem valores. O Senhor Presidente está preocupadoem ultrapassar os três anos que restam do seuGoverno; não quer saber quanto está valendo odólar ou quem está sendo prejudicado neste País, aque ponto está chegando a dívida interna ou se aclasse média está empobrecida, pois quem tinhaalguma coisa já perdeu para o Fundo MonetárioInternacional, com esses juros altos.

Isso depende de revisão, de um pensamento eum Congresso fortes. Na semana passada, vi umColega Senador proferir parecer favorável, em duasComissões diferentes, para um projeto que autorizao Governo a comprar no exterior, sem licitação. Ficoenvergonhado com um comportamento dessanatureza, porque o considero canibalismo,subserviência, falta de personalidade e decompetência. Ele causa nojo.

Penso que devemos, nesta Casa – onde eunão deveria estar, porque ela é para aqueles quetêm 70 ou 80 anos, para quem já foi Ministro,Governador, para quem tem experiência e vem aquiapenas para adequar o aprendizado –, reestruturareste País. No entanto, quando vejo um Senadorpegar um projeto e proferir parecer em duasComissões, para ser subserviente a um Poder efraudar os interesses do País, sinto-meenvergonhado de estar nesta Casa.

Sr. Presidente, quando aqui cheguei, fuidenunciado, massacrado; mas, por 63 votos a 8, fuiabsolvido por esta Casa. Eu, que conheço a dor deser denunciado sem dever, vejo hoje Parlamentaresaparecerem na televisão como salvadores da pátria,denunciando todo mundo. Presenciei a denúncia denosso amigo Senador Elcio Alvares, publicamente,por coisas que imagino absurdas. Ora, nós temosculpa se fulano é bandido, se o nosso amigocometeu algum erro!? Qualquer que seja o motivo,um cidadão tem que ser condenado, como foi oSenador Elcio Alvares? Isso não é correto.

Doravante, acredito que devemos acabar comessas precipitações, com essas aparições natelevisão. Esta é a Casa do equilíbrio. Há genteque gosta de aparecer na tela da televisão comoos artistas, o Ratinho ou não sei quem. Mas paraesta Casa devem vir pessoas limpas para decidirsem paixões, sem interesses particulares, embenefício de nossa Pátria.

A criminalidade assombra as autoridades e apopulação de modo geral. Portanto, é preciso quese busquem soluções. Nesse sentido, eu ainda vouapresentar um projeto a esta Casa sobre esse tema.Para tanto, vou procurar as autoridadescompetentes – e vemos aqui o Tenente-Coronel doExército, o Sr. Carneiro; o Comandante Alípio, daMarinha; está ali o representante da Aeronáutica.

Sr. Presidente, fui soldado, Cabo do Exército,em Salvador, no 19º Batalhão. Vim do interior daBahia, eu era uma pessoa simples, que não sabianem andar na cidade, não sabia nem conversar. Fuipara Salvador para ser empregado doméstico, e tive aoportunidade de servir no 19º Batalhão por seis anos,de onde saí para uma faculdade, preparado, com umaboa formação.

É preciso valorizar esta instituição no sentidode orientar nossa sociedade, nossos jovens; elesnão podem permanecer na situação em que seencontram. Como mostra a televisão, as casas decorreção estão sempre lotadas. Ontem, mostraram-semenores que foramespancados, amordaçados, pisotea-

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dos. Não é assim que se educa, que se forma umjovem!

O Governador Mário Covas disse que paramanter um desses jovens são gastos R$1.500,00.Meu Deus, será que esse povo é louco!? Será quenão existe alguém que entenda que, com essaquantia, é possível haver muitos jovensdecentemente criados e educados? Será que o povonão crê que neste País ainda não se manteve aordem, ou que ainda não existe a instituiçãodemocrática? Que as Forças Armadas não têm valor?

Não devemos esperar que aconteça aqui omesmo que no Paquistão, onde um general foidemitido e acabou por dar um golpe de estado. Nãoqueremos isso, tampouco os militares. Mas aresponsabilidade tem de ser dividida.O Presidente daRepública não pode viver em uma mansão e taparseus olhos para os problemas da sociedade.

Em Brasília, daqui a 5 anos, não haverátranqüilidade para se andar nas ruas a pé. Quem nãosabe disso? Não sabe quem não quer. Com oinchaço que vem ocorrendo na cidade, com a falta deopção na área agrícola, não haverá outro caminho.Os marginais que estão sendo criados pelaspróprias Febens vão tomar conta deste País e serãoem número maior que a instituição policial e o próprioPoder Judiciário.

Nesta Casa, tramita um projeto quecertamente será aprovado, até porque asautoridades e muitos dos Senadores que oanalisaram não têm conhecimento sobre o que é teruma fazenda. Muitos Senadores que analisaram oprojeto querem instituir uma lei que não permitepagar cobertura florestal ou indenizar por certosvalores... e nós votaremos esse projeto sem queninguém saiba o que se está votando.

Assisti ao Globo Rural sobre Santa Catarina, emque um fazendeiro preservou a sua mata por 50 anos.Com essa lei agora, o Governo vai chegar lá e diz:“vou desapropriar a sua fazenda”, e não vai pagar umcentavo pelo pé de pinho, pela mata, pelo que elepreservou.

Está-se criando uma lei porque alguémprevaricou no Governo: um fulano que desapropriou afazenda de alguém e não pagou no dia e na horacertos, deixou de pagar o cidadão durante 20 ou 30anos; tirou o proprietário da fazenda, deixou-o comobóia fria, morando debaixo de uma ponte, não pagouem dia a desapropriação. Aquilo rolou anos e anos, eagora querem acabar com o direito de o cidadãoreceber o que lhe cabe?

Não sou a favor das correções milionárias.Embora seja culpa do Governo, porque todos esses

planos aí são culpa do Governo, de quem não sabeadministrar, de alguém que cria planos e mais planos,onera com juros, põe as pessoas endividadas, e aspessoas perdem o lugar onde moram, o seupatrimônio, a sua liberdade e a sua autonomia. Nãoapóio indenizações milionárias, mas não possoadmitir que o “José Fazendeiro”, que tem a suafazenda, que não fez desmatamento porque oGoverno criou leis, nesta Casa, proibindo, sejapunido.

Sr. Presidente, quando fui para a Amazônia, há23 anos, existia um programa do Governo deocupação da Amazônia, em que era permitido odesmatamento: era integrar para não entregar. Hoje,quem foi para lá e desmatou é punido, não podepegar financiamento nos bancos, não pode pegardinheiro do Governo, é considerado bandido.

Agora, para aqueles que não desmataramaparece uma lei em que o Governo, a hora que quiser,desapropria pelo preço que ele quiser e manda ocidadão para casa sem direito a reclamar o queele preservou. Isso é um absurdo! Umaignorância! Uma falta de conhecimento, uma faltade critério desta Casa, deste Senado! Esseprojeto também teria de alcançar o cidadão dacidade, até porque essa reforma agrária deveriaservir a quem mora na área rural e na áreaurbana, até porque muitos Senadores são donosde metade de cidades, mas não têm um palmo deterra na zona rural.

Esta Casa deveria compor uma comissão paraanalisar um projeto que contemplasse o cidadãoque não tem terra, o proprietário de área urbana eo da área rural. E não fechar os olhos para aprovaruma lei ridícula e irreal. O Brasil aprova tantas leis,porém muitas não devem ser cumpridas; outras sósão aplicadas como abuso de poder, paraprejudicar adversários, como uma varinha decondão de perseguição.

Chamo a atenção desta Casa, porque naquarta-feira estaremos votando um projeto dedesapropriação sem o pagamento da indenização.

O meu amigo e colega Senador LauroCampos investiu na educação, na intelectualidade,é uma sumidade na área intelectual; eu nãoestudei e investi na área rural. Será que sereipunido aqui por alguns? Citei o Senador LauroCampos apenas como exemplo. Quem conhece aárea rural, quem pegou na enxada, vai serprejudicado? V. Exªs já pensaram o queaconteceria se o Senador Lauro Campos, que é umconceituado economista, discutisse o problema daeconomia e nós, em bloco, apoiássemos o pensa-

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mento dele, mas sobre as desapropriaçõesouvíssemos também o Senador Lúdio Coelho, que éprodutor e dá empregos? Será que alguém pensa sercorreto ir à fazenda do Senador Lúdio Coelho, cujafamília levou cinqüenta, cem anos produzindo, paradesapropriar a terra dele e não pagar o que é dedireito, simplesmente para atender a interesses dealgumas pessoas que não avaliaram o que é umadesapropriação?

Sr. Presidente, realmente, estou decepcionadocom o sistema vigente no País hoje. Esta Casa temvotado e distribuído muitos projetos para seremanalisados. Existe eqüidade no Senado, querepresenta 27 Estados. Volto a repetir que esta Casanão deveria levar em consideração as legendaspartidárias, mas deve haver eqüidade entre asrepresentações dos Estados. A amazônia estáabandonada, esquecida, porque a minoria quemanda nesta Casa representa o centro e o sul e estásatisfeita com esse modelo. Nós, da amazônia,somos abandonados, somos esquecidos. Algumasvezes, quando há alguém da amazônia, ele estáinteressado no poder e é subserviente. É umapodridão! Relatar um projeto duas vezes é sersubserviente ao poder. Isso é uma podridão!

Sr. Presidente, eu trouxe um discurso a respeitodas desapropriações para ser lido.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Otempo de V. Exª está esgotado.

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO) –Lamentavelmente, o meu tempo está esgotado, massolicito a V. Exª que, de acordo com o RegimentoInterno, mande publicar na íntegra o meupronunciamento sobre a desapropriação. Não possopermitir que o cidadão que investiu em fazenda seja.prejudicado. Já bastam os impostos que eleobrigatoriamente paga. Bastam os sem-terra que, emvirtude da fraqueza do Governo Federal, da fraquezadas instituições, invadem terras produtivas. Se oGoverno não tem força suficiente para manter o seupoder, deve, pelo menos, respeitar a propriedadeparticular.

Muito obrigado.

SEGUE NA ÍNTEGRA DISCURSO DOSENADOR ERNANDES AMORIM:

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO) – Sr.Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quarta-feira estáprevista a votação de Projeto de Lei que alteradispositivo da Lei Complementar nº. 76, de 1993, “que dispõe sobre procedimento para processo dedesapropriação de imóvel rural, por interesse social,para fins de reforma agrária.”

A alteração pretende excluir do valor daindenização o pagamento de juros compensatórios,e excluir o valor da cobertura florestal. Najustificativa, é alegado que a vegetação é deformação espontânea, não decorre deinvestimentos relevantes do homem e, por isso, nãoexiste razão para sua indenização.

Isso é um absurdo. Um contra-senso.Também a terra é de formação espontânea e

não decorre de qualquer investimento relevante dohomem, mas é um produto da natureza, do mesmojeito que a cobertura florestal.

Segundo esse entendimento, não haveria porque pagar pela terra nua na desapropriação dequalquer propriedade rural,. apenas as benfeitorias,uma vez que a terra nua também é de formaçãoespontânea.

A justificativa também menciona abusos emavaliações e sentenças judiciais.

O abuso na avaliação ou na sentença judicialnão será corrigido com a exclusão do pagamento dacobertura florestal. A cobertura florestal é um bemacessório à terra nua e integra a propriedade.Portanto, no caso da indenização, tem que serindenizada pelo preço justo – é verdade – e não porabuso de avaliação ou de sentença judicial. Mas issonão quer dizer que não integre a propriedade e que,também, que não integre seu valor.

Também não é verdade que, na Amazônia, apropriedade com cobertura florestal tenha menosvalor que a propriedade sem cobertura florestal. Aocontrário. A propriedade sem cobertura florestal nãoconsegue financiamento. E, em muitos casos, épreciso comprar propriedade com cobertura florestalpara integrar propriedade sem cobertura florestal, deforma que o conjunto das duas propriedades possater direito ao financiamento oficial.

Quando milhões de reais são gastos napreservação e conservação de florestas, dosrecursos da biodiversidade, uma proposta dessa éum contra-senso, é um convite ao desmatamentoindiscriminado, no aproveitamento irracional damadeira, ao invés do projeto sustentado. Noaproveitamento indiscriminado o ganho é imediato, ea floresta acaba. E, no aproveitamento racional,mediante projeto sustentado, o empreendedor sabeque ganhará menos por ano, mas ganhará por muitosanos.

Esses são alguns pontos sobre essa proposta,que julguei conveniente alertar, hoje, quando seaproxima sua votação.

Muito obrigado.

OUTUBRO 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 21

Durante o discurso do Sr. ErnandesAmorim, o Sr. Nabor Júnior, 3º Secretário,deixa a cadeira da presidência, que éocupada pelo Sr. Agnelo Alves.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – O apelode V. Exª será atendido.

Concedo a palavra ao Senador Lauro Campos.O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT – DF.

Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, naúltima sexta-feira, a Bolsa de Nova Iorque fechoucom uma queda de mais de 11%, que só perdeupara a queda ocorrida naquela quinta-feira negra deoutubro de 1929 e que abriu as portas do infernonão só para a sociedade capitalista como tambémpara todo o mundo.

Aquele colapso da Bolsa, que até hoje não foibem compreendido, foi o antecessor de um colapsono processo produtivo, de uma crise que fez com que,por exemplo, a produção de carros, a produção deduráveis da linha branca, despencasse de 5.300.000unidades, em 1929, produzidas nos Estados Unidos,para 900.000 unidades em 1931 e para apenas700.000 quatorze anos depois. Nesses quatorzeanos, a produção do setor mais dinâmico dasociedade capitalista caiu de 5.300.000 para 700 milunidades. As forças produtivas foram cercadas ejuguladas. As forças produtivas que o capitalismodesenvolveu até 1929 não encontraram mercado,por isso caíram. Não puderam encontrar essacumulação fantástica ocorrida até 1929 nos EstadosUnidos tampouco o trabalho humano, o excedente ea taxa de lucro produzida por aquele trabalho parasustentar o processo.

Quando isso ocorre, de vez em quandosentimos que alguém – como Alan Greenspan,Diretor-Geral do Federal Reserve Bank (FED), nosEstados Unidos – percebe que as Bolsas estãoquentes demais. O processo está criando umapressão. Trilhões de dólares se amontoam emreservas por este mundo afora. Por exemplo, só osfundos de pensão e de aposentadoria nos EstadosUnidos detêm cerca de US$17 trilhões, ou seja, doisPIBs norte-americanos. Esses fundos, devido ànecessidade de disporem de liquidez a cadamomento, são obrigados a se dirigir, principalmente,para a Bolsa de Valores. Enquanto se vai retirandoo dinheiro da produção e do comércio numaeconomia falida, para a especulação, para comprarpapéis, para comprar títulos do Governo, bonds,treasure notes nos Estados Unidos e aqui essesR$500 bilhões que se canalizaram para a comprados papéis da nossa dívida pública – R$500 bilhões

–, a atividade produtiva chora e pena, aqueles queainda podem e poderiam investir com algum lucronão têm recursos porque, nesta fase senil docapitalismo, nesta crise fantástica, foram todoscanalizados para a especulação. E essaespeculação só se manterá enquanto novosrecursos afluírem para a Bolsa, valorizando asantigas ações, esquentando ainda mais oprocesso, esquentamento que faz tremer o Sr.Alan Greenspan, Presidente do Banco Centralnorte-americano, e causa-lhe insônia.

De modo que, quando há um esfriamentocomo esse, que pode se transformar em umcongelamento total, em uma glaciação total daatividade capitalista mundial, quando se verifica umtremor desses, o qual não se sabe se vai chegaraos nove pontos da escala Richter, aqueles que jáperderam há muito tempo o fio da meada, o controledessa situação, que é absolutamente incontrolável,não têm controle algum.

Assim, é óbvio que o Presidente do BancoCentral norte-americano, um dos mais poderososhomens do mundo, treme em suas bases diante defatos sobre os quais sabe que não tem poder algume torce para que a Bolsa dos Estados Unidos esfrie,caia, deixe de esquentar tanto. Mas, quando ela caicomo aconteceu na sexta-feira, obviamente, eletambém não consegue dormir, porque não sabeaonde vai parar essa queda, uma vez já principiadana quinta-feira negra de 1929, na Bolsa de NovaIorque, e que perdurou pelo menos 14 anos.

Apenas em 1941, o PIB americano se igualouao de 1929. Ocorre que, nesse produto industrialdos Estados Unidos, em 1943, não entravam oscarros que deixaram de ser produzidos, asgeladeiras, os artigos de consumo. Esse PIBcresceu nos seus setores bélicos, militares eespaciais. Um PIB, portanto, desumano; um PIBque em nada servia ao homem, a não ser para suadestruição. As forças produtivas não foram contidasapenas, mas destruídas por esse sistema que seimplantou no mundo.

Por que o capitalismo acumula com essavoracidade? Por que o capitalismo concentra, comoestá acontecendo agora, só nos Estados Unidos,mais de 40% das riquezas do mundo? Por que 5%da população que moram nos Estados Unidospodem destruir, anualmente, mais de 40% dasmatérias-primas mundiais? Por que, como mostraramas últimas pesquisas feitas nos Estados Unidos, 1%da população norte-americana continuou a seenriquecer, enquanto os 5%, 10% mais pobres se empobre-

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ceram ainda mais durante os nove anos deprosperidade norte-americana?

Não é apenas a África; não somos apenas nósna América do Sul; não é apenas o resto do mundoque se empobrece na medida em que o capitalismocentral se enriquece e se afoga em sua adiposidade.Não pode parar de crescer e cresce até que suaadiposidade, sua gordura especulativa, sua seivaaguada, sem os conteúdos vitais necessários,mostre, numa crise fantástica, a realidade interna eoculta por um falso desenvolvimentismo.

Os Estados Unidos demonstram essa grandecapacidade de sustentar-se sobre a pobreza domundo. Além da perigosa Bolsa, que mostrou assuas garras e o grau de sua periculosidade naúltima sexta-feira, outros fenômenos preocupamdemais a potência do Norte.

Ao deixar de investir no grande setor quesustentou o processo de crescimentonorte-americano, que sustentou o emprego e o lucronos Estados Unidos, ao deixar de investir na guerra,é óbvio que aquele país só poderia sobreviver seencontrasse outras atividades lucrativas ondeinvestir os US$17 trilhões, frise-se, os US$17trilhões que foram gastos apenas na Guerra Fria.

Sobre isso, desejo reportar-me a um episódioque considero interessante. Trata-se da declaraçãodo diretor de uma agência de pesquisasnorte-americana, a TEW, que desejava saber qual ofato que os norte-americanos consideravam como omais importante deste século. Disse ele ter ficadosurpreso quando verificou que nenhum dosentrevistados se referiu a esse fato fantástico:US$17 trilhões foram gastos apenas na Guerra Fria,jogados fora em guerra e espaço. Ninguémrespondeu que este era o fato mais fantástico doséculo!

Escrevi, em 1958, em Roma, em uma tese quedefendi naquela ocasião, que, para mim, era aguerra o fato central, sem o qual não se poderiacompreender o século XX. Houve 344 guerras entre1740 e 1974. Para felicidade minha – quer dizerpara felicidade da minha tristeza –, de acordo comEric J. Hobsbawn, em seu último livro, intitulado AEra dos Extremos, é impossível entender o séculoXX sem colocar em seu centro a guerra. Diz o autorque ocorreram 76 guerras internacionais em umbrevíssimo lapso de tempo.

Desse modo, então, era natural e normal que,uma vez que esse grande centro dinamizador, ocapitalismo, desenvolvesse ao máximo as suasforças produtivas, entraria em crise e passaria,

como passou, a desenvolver as forças improdutivase destrutivas; porém, altamente remuneradas. E,para que fossem bem remuneradas e dessembastante lucro, esses setores, que atraíam maiscapitais, retiravam recursos que poderiam serinvestidos em alimentos, em roupas, em carros, emqualquer coisa, atraindo-os para o setor maislucrativo, que passou a ser o bélico, o espacial, ossetores destrutivos necessários ao capitalismo.

Volto-me, agora, para Marx, que foiconsiderado, numa pesquisa feita pela BBC, viaInternet, como já referi aqui desta tribuna, o homemmais inteligente do milênio – notem: não do século,mas do milênio. Isso depois de tantos gastos paraprovar que Marx não tinha razão; depois de tantosacrifício para mostrar que Marx estava enganado,ou ainda, para mostrar que as forças produtivas nãose desenvolveriam a ponto de causar e exigir asuperação desse estrangulamento das atividadeshumanas, do trabalho humano, da inteligênciahumana, esse estrangulamento que representacada dia mais as relações sociais do capitalismo.

Marx havia previsto, sim, a crise desobreacumulação, de excesso de capital. Oproblema do capital é o próprio capital, que sedesenvolve principalmente no seu setor metálico,mecânico, técnico, que substitui e desemprega ohomem, enriquecendo a máquina. Essa civilizaçãoobviamente iria esbarrar nos problemas criados pelopróprio capital: o capital desempregador,empobrecedor, concentrador de renda e de riqueza.

Na sessão de amanhã, a Hora do Expedienteserá dedicada a homenagear o Dia do Professor, masvou falar sobre o assunto hoje. Não acredito queeducação resolva o problema. Sou professor a vidainteira e meu pai foi professor até a sua morte. Eutinha motivos para me encantar com a possibilidadedo ensino. É óbvio que acho fantástica a possibilidadeque tem o homem de desenvolver seu intelecto, seuconhecimento, seu saber. Não tenho dúvida nenhumade que essa é uma das formas mais sublimadas que ahumanidade pode ter de aplicar a energia de suavida, erotizar o saber, erotizar o conhecimento etransformar o mundo também por meio dessastransformações que a cabeça, o cérebro, ainteligência levam até a prática. Mas é um grandeequívoco, um engodo falar que a educaçãoresolve. A educação, sozinha, não resolve coisaalguma.

Quando eu morava na Inglaterra, tive um limpadorde janela que era formado em Física, tinha mestradoem Física, em Oxford. E era limpador de janela!Milhares de PhDs estão trabalhando em postos de

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gasolina como frentistas. No Brasil vemos a todomomento médicos servindo como porteiros, comomotoristas. Alguns até conseguem ser digitadores,desempregando aqueles que teriam uma habilitaçãosuficiente para desempenhar essas funções menosqualificadas.

De modo que uma sociedade bem-educada,uma sociedade de filósofos miseráveis, maltrapilhos,uma sociedade de advogados desempregados, umasociedade de doutores esmolambados, sememprego e sem futuro, obviamente só poderá ser umasociedade com mais clareza e mais clarividência paraas suas frustrações, as suas limitações, do que odesajuste entre o ensino e a sua possibilidade deatuar na prática e voltar ao ensino novamente,ampliando o seu saber, para aplicar esse saberacrescido numa prática engrandecida. Sem essaunidade entre estes pólos – trabalho, emprego ecultura – a cultura fica com uma perna só, não sesustenta e vira mero engodo, promessa vã.

Nos Estados Unidos, com exceção daquelesque estão próximos do capital, 5% da populaçãocontinua a se enriquecer, ultrapassa os 500 mildólares por ano de renda, enquanto o seu trabalhoprincipal parece ser o de desalojar, formular com oseu saber, o downsizing, a reengenharia, as formaspelas quais a máquina, a técnica, o capital constantedesalojam e desempregam o ser humano.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Lamentoinformar a V. Exª que o tempo está esgotado.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT – DF) –Agradeço a V. Exª a paciência. Eu gostaria apenas dedizer que, quem sabe, em uma segunda ousexta-feira despovoada, eu poderia até falar algumacoisa sobre a visão que aprendi e que procurei levaravante a respeito da crise do processo dialético ecrítico que impulsiona a história do capitalismo.

Tenho convicção formada há muito tempo deque todas as contradições que Marx determinou,ainda em um capitalismo embrionário, limitado,cresceram, desenvolveram e estão se manifestandona crise completa do capitalismo mundial, que jácomeçou a se manifestar já no sudeste asiático, e hámuito tempo, desde 1990, está presente no Japão,onde há uma corrente de marxistas que fala na crisede sobreacumulação, de excesso de capital que,obviamente, ameaça a economia japonesa já hámuito tempo e que se manifestou na grande crise de1990.

Encerro meu pronunciamento e agradeço apaciência com que me permitiram colocar essaspalavras.

Muito obrigado.O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR) – Sr.

Presidente, peço a palavra como Líder do PSDB.O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Concedo

a palavra ao Senador Romero Jucá.O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR. Como

Líder. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pedia palavra pela Liderança do meu Partido pararegistrar, com muita satisfação, que hoje, dia 18 deoutubro, é o Dia do Médico.

Trata-se de um dia importante para reflexão nãosó do trabalho abnegado que fazem homens emulheres brasileiros por todo o nosso País, mas pelanecessidade que temos ainda de enfrentar nosâmbitos político, administrativo, econômico e socialpara que a saúde pública seja um direito de todocidadão. Temos a consciência de que há muito porfazer.

Na data de hoje, em nome do PSDB, nãopoderia deixar de registrar meu aplauso e meureconhecimento ao esforço abnegado e anônimo demilhares de médicos do nosso País.

Sou de uma região pobre do Estado de Roraimaque talvez seja um pouco da síntese das dificuldadesde todo o nosso País. Lá há médicos abnegadosexercendo sua profissão com muita dificuldade emvicinais, vilarejos, procurando, contudo, levar oconforto e a saúde à população mais pobre da minharegião.

Em nome desses médicos de Roraima e detodos os médicos do Brasil, quero parabenizar acategoria e dizer que reconheço o seu esforço e seique hoje existem milhares de médicosmalremunerados, trabalhando em péssimascondições, que há comunidades sem assistênciamédica e, portanto, desafios enormes a vencer.Todavia, indubitavelmente, com o preceito doJuramento de Hipócrates e com a dedicação decada médico à sua vocação de curar, este País vaitrilhar caminhos cada vez melhores na área dasaúde pública, principalmente para darmos vida aoTexto Constitucional, que garante saúde decentepara todos.

Portanto, no Dia do Médico, em nome doPSDB, quero felicitar todos esses profissionais edizer-lhes da minha confiança na sua constante lutapela melhoria das condições de saúde de nossoPaís, tornando-a digna a todos os habitantes, querdas principais cidades, quer dos rincões maisdistantes da nossa Pátria.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – EminenteSenador Romero Jucá, fique certo de que a Casaassocia-se às palavras de V. Ex.ª.

Concedo a palavra o ilustre Senador RamezTebet.

O SENADOR RAMEZ TEBET (PMDB – MS.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Senadores, omotivo que me traz à tribuna é o mesmo que levou oSenador Romero Jucá a falar em nome daLiderança do PSDB. Senti-me compelido a fazerminha inscrição no dia de hoje, porque todos nóssentimos o quanto o exercício da medicina é útil eimportante para a sociedade. Nós todos desejamos,ardentemente, que o preceito constitucional que dizque a saúde é um direito de todos e um dever doEstado se cumpra. A saúde é o bem mais preciosoque possui o ser humano. Como o Senador RomeroJucá, também venho de um Estado pobre epequeno. Falo do Estado de Mato Grosso do Sul,composto de 77 municípios. Sr. Presidente, no meuEstado, há muitas e muitas cidades que nãopossuem um hospital. Quando muito, possuem umposto de saúde. E, quando o possuem, na maiorparte das vezes, carecem da presença efetiva dosdiscípulos de Hipócrates, daqueles que exercem amedicina, daqueles que se dedicam à sacrossantamissão de saúde aos seus semelhantes, como sefossem um instrumento de Deus para zelar por essebem precioso.

No meu Estado, Sr. Presidente, há municípios,onde, mesmo pagando bem, não se consegue levarmédico. Outro dia, lá na fronteira, no Município deAntônio João, ouvi a reivindicação do Prefeito. EsseMunicípio fica a 60 km de uma cidade grande deMato Grosso do Sul, Ponta Porã. Pois bem, elepedia que o ajudasse a encontrar um médico queresidisse em Antônio João, para dar assistênciadiuturna aos seus munícipes. Ele me dizia, Sr.Presidente: “Nem pagando bem, eu estouconseguindo um médico residente na minhacidade”.

Se assim é em Antônio João, isso também severifica em outros municípios do meu Estado, comoSanta Rita do Pardo e outros. Mas o Dia do Médiconos traz à reflexão. Vejo que a Hora do Expedientede amanhã está consagrada à comemoração do Diado Professor, cuja efeméride nós todos festejamospelo Brasil, até com feriado escolar, no dia 15. Eupergunto: na medicina pode haver feriado paracomemorarmos o Dia do Médico? A saúde podeesperar, Sr. Presidente?

Essa classe merece o nosso aplauso, a nossaconsideração, mormente porque trabalha emsituação altamente difícil. Ao tempo em que querofazer com que minhas palavras sejam decongraçamento, de abraços à classe médica domeu País e, principalmente, do meu Estado, nãoposso deixar de dizer da situação dos hospitais donosso Brasil, dos hospitais de Mato Grosso do Sul.Minha filha, que trabalha no Hospital Universitário,há poucos dias, dizia-me que o pronto-socorrodaquele Hospital não tinha mais condições defuncionar. Dizia-me da angústia dos seus colegaspor não ter ali antibiótico para fornecer aosenfermos que vão à procura de tratamento médicoou àqueles que estão ali hospitalizados.

É grave o quadro da saúde neste País, Sr.Presidente. É preciso louvar o trabalho dos médicos,principalmente quando se sabe quanto o serviço desaúde pública brasileiro paga por uma consulta.Aquela observação feita pelo ex-Ministro da Saúde,Adib Jatene, ficou famosa, qual seja, de que umaconsulta médica no Brasil paga pelo setor públicovale menos do que uma engraxada em um par desapatos. Foram palavras de Adib Jatene, umacreano, um homem do interior que brilha em SãoPaulo e no Brasil e que foi Ministro da Saúde.

São intermináveis as filas de doentes nosnossos hospitais à espera de tratamento. Apopulação brasileira forma filas intermináveis embusca de uma consulta. E eu posso imaginar aangústia de um médico vendo aquela fila, que, aoreceitar, fica pensando: “Mas onde está o remédiopara tornar efetiva a receita que eu estou dandopara tentar minorar o sofrimento deste paciente?”.Não existe no hospital. O paciente tem dinheiro paracomprar?

Isso, Sr. Presidente, nos leva a uma reflexãomais profunda, porque, apesar da estabilidade damoeda, não há, no Brasil, o que tenha subido maisde preço, o que tenha custado mais caro ao bolso donosso cidadão que o remédio. Remédiosimportantes, remédios imprescindíveis, antibióticos,remédios para controle do diabetes e da hipertensãotiveram alta de quase 200% de um ano para outro. É,portanto, intolerável o que se pratica nos laboratóriose na venda de remédios. Não compreendemos isso,principalmente quando o Ministro da Saúde lutapara conter esse abuso, esse crime que se praticacontra a população do nosso País.

Isso tudo acontece no instante em que aexpectativa média de vida do brasileiro está subindo,porque a presença de determinadas doenças dimi-

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nuiu e algumas até foram erradicadas. Por outrolado, outras doenças surgiram, como a AIDS.

Tudo isso está a exigir de nós umaponderação e uma reflexão. Nada melhor do quefazer justiça àqueles que se dedicam a curar ou aminorar a dor do seu semelhante. Eu me refiro àclasse médica, que me traz a esta tribuna para lheprestar a homenagem que efetivamente merece.

O Senado da República não poderia deixarpassar em brancas nuvens este dia. Não houvenenhum requerimento para comemorar o Dia dosMédicos, a exemplo do que houve para comemoraro Dia dos Professores, que acontecerá em sessãoamanhã. Vamos prestar um tributo àqueles que,como sacerdotes, ajudam o povo brasileiro. E aúnica saída – e aqui me permito discordar doSenador Lauro Campos -, a maior saída para odesenvolvimento, sem duvida nenhuma, está naeducação. Educação e saúde constituem o binômiomais importante para o desenvolvimento e para aqualidade de vida do povo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerrominhas palavras dizendo que tramita no CongressoNacional, desde junho de 1988, o Projeto de Lei daCâmara nº 24, de 1998, que dispõe sobre o pisosalarial dos médicos e cirurgiões-dentistas,alterando, portanto, os dispositivos da Lei nº 3.999,de 15 de novembro de 1961. No Senado,felizmente, o projeto foi despachado à Comissão deAssuntos Sociais, onde recebeu parecer favorávelproferido pelo Senador Luiz Estevão, nos termos deum substitutivo que S. Exª apresentou e que fixapara a categoria o piso de R$1.337,32, a serreajustado de acordo com a política salarial adotadapelo Governo Federal para os trabalhadores emgeral.

Quero esclarecer a Casa que à matéria, noprazo regimental, não foram oferecidas emendas. Ehoje ela se encontra pronta para ser incluída naOrdem do Dia. Sendo assim, como o Senado devehomenagear a classe médica? Solicitando, como ofaço nesta oportunidade, a inclusão do Projeto deLei da Câmara nº 24, de 1998, a que me referi, naOrdem do Dia, para atender às justas reclamaçõesdos médicos do nosso País, representados pelosseus respectivos sindicatos: o Sindicato de Brasília,de São Paulo, de Goiás, do Rio Grande do Norte,do Rio Grande do Sul, do Paraná etc. Sr.Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, também recebido Sindicato de Mato Grosso do Sul apelos nessesentido, e até da Federação Médica de São Paulo.

Nesse caso, a melhor homenagem que oSenado poderia prestar a esses profissionais dasaúde, profissionais abnegados, lutadores, quetrabalham em condições inóspitas, enfrentandodificuldades para o exercício da sua profissão, seriaincluir, o mais urgentemente possível, se a Mesaatender ao requerimento que ora faço, esse projetode lei, para que a Casa possa votá-lo.

Sr. Presidente, é preciso urgência emsubmeter esse projeto à votação, porque o SenadorLuiz Estevão apresentou um substitutivo queaumenta de R$19 para mil e poucos reais, comoafirmei, o piso dos médicos e doscirurgiões-dentistas. Portanto, em aprovando osubstitutivo, a matéria terá de retornar à Câmara. Seestá pronto, prestaríamos uma grande homenagemaos médicos, aos profissionais da saúde, sesubmetêssemos o projeto, o mais rapidamentepossível, à consideração dos eminentes Senadores.

Portanto, Sr. Presidente, é esse o meurequerimento e são essas as minhas palavras emfavor daqueles que lutam no exercício da Medicina.Ao tempo em que abraço esses profissionais,formulo votos para que o preceito constitucional deque a saúde é um direito de todos e um dever doEstado se torne uma realidade neste País.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – O seupleito será encaminhado ao Sr. Presidente da Casa.Estamos certos de que V. Exª será atendido naforma regimental.

Concedo a palavra ao Senador Álvaro Dias.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR. Pronunciao seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo temassumido o compromisso de promover o incrementodas exportações brasileiras. Revela estabeleceressa prioridade ao criar o Ministério doDesenvolvimento Econômico e ao nomear para oMinistério da Agricultura especialista no setor deexportações.

É evidente que sempre se imaginou ser oMinistério da Agricultura adequado paraespecialistas do setor da produção. Mas o Governo,priorizando o setor de exportações, nomeou Ministroda Agricultura alguém extremamente ligado àsexportações no Brasil.

Trago, Sr. Presidente, até como reconhecimentodo trabalho que uma entidade realiza, a Abiove,presidida por César Borges de Sousa, algumas

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sugestões elencadas por essa Instituição aoGoverno brasileiro.

César Borges de Sousa, Presidente da Abiove,tem realizado ingentes esforços perante asautoridades federais, visando convencê-las demedidas importantes que certamente viriam embenefício de uma maior exportação do setor docomplexo soja.

O Brasil, segundo a Abiove entende, reúnecondições muito favoráveis à expansão de suasexportações do complexo soja, que historicamenterespondem por cerca de 10% do total das receitasde exportação do País. As seguintes açõesprioritárias e urgentes propiciarão a melhoria dacompetitividade, o incremento das exportações doPaís e a elevação do nível de emprego doagronegócio:

Restabelecer o ressarcimento do PIS/Cofins eincluir as compras de matéria-prima efetuadas depessoa física e cooperativa;

Restabelecer o prazo de 360 dias para asoperações de financiamento e equalização doPROEX de óleo e farelo de soja;

Eliminar a Taxa de Classificação, através demedida provisória;

Extinguir a cobrança do ICMS na origem;

Incluir o óleo de soja em bruto e o farelo desoja em linhas de financiamento à exportaçãomantidas pelo BNDES;

Inserir a indústria processadora no EGF –Empréstimos do Governo Federal;

Instituir política agrícola de estímulo àprodução e produtividade, provendo um volumeadequado de recursos oficiais para o custeio,comercialização e investimento/redução do custo doaval da CPR;

Promover gestão com os EUA – eliminação depráticas distorcidas;

Gestionar politicamente pela eliminação da“Retencion” sobre a exportação de soja – Argentina(harmonização da política tributária);

Negociar redução tarifária no acesso da Chinaà OMC e diminuição acentuada doprotecionismo/subsídios na rodada do milênio;

Apoiar o desenvolvimento do transportemultimodal;

Reduzir custos portuários.

Os efeitos da caótica estrutura tributáriabrasileira estão ainda mais devastadores neste ano.

A indústria brasileira paga 7% a mais de tributos doque a indústria argentina, a principal concorrente –que deslocou o Brasil da liderança mundial do farelode soja. É urgente a necessidade de negociaçõespara harmonização da política tributária dos doispaíses, eliminando a “Retencion” de 3,5% cobradana exportação de soja em grão, conforme propostopelo Presidente Carlos Menem, para vigorar a partirde 1º de janeiro de 2000.

A indústria brasileira continua onerada peloPIS/Cofins (elevado para 3%), ICMS interestadual eTaxa de Classificação, tributos que não incidemsobre a exportação de matéria-prima.Conseqüentemente, em razão de um tratamentotributário desigual na cadeia produtiva, o Paísexporta cada vez mais soja em grão e menosprodutos industrializados.

Por incrível que pareça, a situação piorouneste ano com a suspensão do ressarcimento doPIS/Cofins, encurtamento do prazo do Proex dosprodutos de 360 dias para 60/90 dias e otravamento do projeto de lei que extingue aobrigatoriedade de pagar a Taxa de Classificação.

O ressarcimento do PIS/Cofins, instrumentopara desonerar as exportações, continua suspenso.O Proex do óleo e do farelo de soja, que foiaprovado pela Camex com a finalidade específicade compensar o setor processador pelo excesso detributos, foi inviabilizado com um prazo tão curto.

A Medida Provisória da Taxa de Classificação,aprovada pela Camex em 19 de fevereiro de 1998,que foi transformada no Projeto de Lei do Executivonº 4.257/98, tramita há mais de um ano na Câmarados Deputados, mas não recebeu ainda o primeiroparecer, pois está sendo obstruído. Assim, énecessário que o Projeto nº 4.257/98 seja editadona forma de medida provisória ou, pelo menos, queo complexo soja seja excluído da PortariaInterministerial (Fazenda, Planejamento eAgricultura) nº 531/94 e da Portaria do Ministério daAgricultura nº 61/88, bem como revogadas asPortarias do Ministério da Agricultura nºs 262/83 e795/93, para que o setor não seja onerado enquantotramitar o Projeto de Lei.

O prazo de transição a ser negociado naReforma Tributária para implementação dacobrança do ICMS no destino precisa ser o maiscurto possível, para desonerar do ICMS a produçãode farelo e óleo exportados.

Quanto mais exportam, mais as indústrias deóleo acumulam créditos de ICMS da compra dematéria prima de outros Estados, enquanto que a mes-

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ma soja vai abastecer a indústria concorrente deoutros países sem qualquer ônus.

Desde a implementação da Lei Kandir, quecriou o desequilíbrio tributário na cadeia da soja, onível de industrialização do País caiu 3%, enquantoque, na Argentina, cresceu 55%; e, nos EstadosUnidos, 14%.

A qualidade da comercialização brasileira vaimelhorar, resultando em preços de exportação maiselevados, quando a indústria contar com o EGF,que permitirá uma melhor distribuição das vendasexternas, e com financiamentos à exportação doBNDES, para poder fazer frente às vendas de fareloe óleo de soja financiadas em até vinte anos, quesão realizadas pelos Estados Unidos.

É desejável que a política agrícola, por meiodo crédito rural oficial e da CPR, alivie o custofinanceiro mais elevado no Brasil. A elevação devolumes adequados de recursos permitirá aexpansão da fronteira agrícola, viabilizará maisprodução com o estímulo ao uso de tecnologiasmais produtivas, como o plantio direto, e propiciaráuma melhor distribuição das vendas e preços maiselevados. O desenvolvimento do transportemultimodal, com ênfase na hidrovia e ferrovia,reduzirá acentuadamente os custos decomercialização.

Gestões de alto nível são necessárias, paraconter os subsídios concedidos aos sojicultoresnorte-americanos. A tentativa de expansão artificialda produção derrubou os preços internacionais parao nível mais baixo dos últimos 27 anos, causandoum prejuízo expressivo ao Brasil, que só não foimaior em razão do clima seco ter quebrado a safrados Estados Unidos.

A Rodada do Milênio e as negociações deacesso da China à OMC são oportunidades únicaspara buscar uma redução significativa das barreirastarifárias que obstruem o acesso do óleo e do farelobrasileiros aos principais mercados consumidores.

Nesse sentido, avançou significativamente anegociação realizada, desde setembro de 1996,com as indústrias dos principais países que, como oBrasil, participam da IASC, Internacional Associationof Seed Crushers, que objetiva cortar as tarifas deimportação e eliminar práticas que distorcem ocomércio mundial de produtos oleaginosos.

Na reunião ocorrida em Paris, em 31 deagosto passado, a indústria dos países da UniãoEuropéia, dos Estados Unidos, da Argentina e doBrasil, que, juntas, respondem por 74% doprocessamento mundial de soja, acordaram em

subscrever uma declaração conjunta, pararecomendar aos seus governos a extinção depráticas que prejudicam artificialmente o comérciointernacional.

São recomendações da Abiove, presidida porCésar Borges de Sousa, como contribuição paraque o setor de exportações do Brasil possa, comodeseja o Governo, realmente alcançar os seusobjetivos de crescimento. Trata-se de contribuiçãoindispensável para o processo de desenvolvimentoeconômico do Brasil.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) –Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR) – Ouço V.Exª com prazer.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Meu caroSenador Álvaro Dias, ao trazer o tema da soja e danecessidade do seu fortalecimento, V. Exª trata nãosó da comercialização, mas da produção desseproduto, um dos alavancadores do processo deexportação brasileiro. É necessário realmente quese busquem caminhos para fortalecer a política deplantação e de comercialização da soja. Temosdado, no Norte do Brasil, passos importantes paralevar a plantação da soja à Amazônia. QuandoGovernador, tive a condição de iniciar, emexperimentos, a plantação de soja no Estado deRoraima; e agora vemos um processo deimplantação em Roraima, em Rondônia e no Estadodo Amazonas, inclusive com a construção determinais que utilizarão a hidrovia exatamente paraa exportação. Portanto, há um potencial muitogrande no País de produção da soja que o mundoprecisa. Mas é realmente necessária uma políticavoltada para a definição e para a solução deentraves. Temos de buscar um caminho para que oBrasil possa se tornar um grande país produtor.Temos a responsabilidade com os brasileiros e como restante do mundo. Os países que têm condiçãode ser celeiro da humanidade precisam ter essavisão social e esse compromisso com o mundo.Parabenizo-o pelo seu pronunciamento.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR) – Muitoobrigado, Senador Romero Jucá, pelo seu aparte.

Fiz questão de fazer a leitura das sugestõesda Abiove, por ser uma entidade que estuda emprofundidade a questão e por colocar-se comoparceira do Governo, oferecendo idéias importantespara que realmente as metas de exportaçãopropostas pelo Governo possam ser alcançadas,especialmente valendo-se da soja, hoje líder dasexportações brasileiras, cumprindo o papel que no passado

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foi do café e do açúcar. É o melhor jeito para sefazerem divisas, para motivar a abertura de lavourasem terras cada vez mais distantes do nosso País.Esse produto tem sido realmente pioneiro edesbravador, abrindo áreas importantes no Brasil,ampliando as fronteiras da nossa agricultura.

Sr. Presidente, solicito, na forma regimental,que V. Exª determine a publicação de trabalhoredigido sobre a questão, para que figure nos Anaisda Casa como um estudo a respeito desse assuntotão importante para a economia do Brasil.

A soja tem um papel estratégico nas políticasagrícola e econômica do País, pela sua capacidadede gerar divisas ou pelo incremento de empregos doagronegócio. Aliás, quando se fala em geração deempregos, fala-se sobre o desafio maior domomento no País e no mundo. Deve o Governopriorizar estímulos ao setor mediante instrumentos epolíticas econômicas como ele mesmo jádemonstrou no Plano Safra 99/2000.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OSR. SENADOR ÁLVARO DIAS EM SEUPRONUNCIAMENTO:

Soja. A líder das exportações brasileiras cumpre o papelque no passado foi do café e do açúcar. É o melhor jeito para sefazer divisas, motivação para abrir lavouras em terras cada vezmais distantes. No futuro, a época atual poderá ser conhecidacomo o “ciclo da soja”. A grande vantagem do Brasil com a sojasempre foi colher na entressafra americana, por causa dainversão das estações do ano com relação ao hemisfério norte.

“Uma parte da colheita brasileira é exportada naforma de grãos, mas a maior parcela é industrializadano País. Nos últimos anos, a Argentina, que tem asafra na mesma época que a brasileira, aumentoumuito suas exportações, anulando parte da vantagembrasileira. Este ano, porém, em todo o mundo estásobrando soja e outros produtos que concorrem comela no fornecimento de óleos comestíveis e farelospara ração animal.

O farelo de soja reina no mercado de fontes deproteínas para alimentação animal. Por isso, a suademanda sofre influência do mercado de carnes. Oóleo de soja também é o mais negociado, mas éperseguido de perto por outros, como o de palmaproduzido na Ásia e o de girassol. A crise emtradicionais importadores como a Ásia e a Rússiareduziu a demanda mundial. Ao mesmo tempo, os trêsmaiores ofertantes de soja no mercado, EstadosUnidos, Brasil e Argentina, numa rara coincidência,tiveram boas safras por dois anos consecutivos.

Como costuma acontecer nos mercados, o quemais influi na fixação dos preços é a combinação entrea oferta e demanda, mas também pesam outrosfatores. O preço da soja nos negócios internacionaissegue a cotação da Bolsa de Chicago, nos EstadosUnidos, que é um mercado sofisticado e costumaoscilar nervosamente como um eletrocardiograma.Uma das influências mais expressivas são as

especulações com relação ao comportamento do climanas regiões produtoras (conhecidas como “cotaçõesmeteorológicas”) ou sobre o comportamento decompradores e vendedores.

Apesar dos novos ventos, a mudança cambialnão é nenhum prêmio para o setor produtivo. Elesestão recebendo o mesmo valor, em reais, do anopassado. O motivo é o preço internacional da soja, hojeno nível mais baixo dos últimos 25 anos.

Além disso, os produtores de maior portecontraíram dívidas em dólar, o que anula parte dosganhos proporcionados pelo câmbio favorável àsexportações. Outras perdas serão sentidas no próximoplantio porque mais da metade dos adubos edefensivos utilizados são importados. É claro que adívida em dólar não está sendo paga, e simrenegociada, mas “o preço atual não dá lucro aoprodutor. Este é o ano da indústria”. Ainda assim, osagricultores deverão ter um ganho de renda de 10%neste ano. E nos próximos a tendência é de que partedo que foi perdido, por conta do câmbio valorizado,seja recomposto.

Mesmo com uma política cambial que nãofavorecia a exportação, a produção de soja subiu, nosúltimos dois anos, da faixa de 25 milhões de toneladasanuais para mais de 31 milhões. Se o mercado estimular,ainda pode crescer bastante no País. Depois de invadir oMato Grosso, o seu cultivo ocupou na última décadaextensas áreas no oeste da Bahia, onde se produz maisde 1 milhão de toneladas anuais, e já chega aoMaranhão, que deve colher mais de 400 mil toneladas.

Esses números gigantescos dão a dimensão dacultura da soja. Iniciado no Brasil no começo do séculona região de Santa Rosa, noroeste do Rio Grande doSul, onde era “o” soja (até hoje, os gaúchos e parte dosparanaenses e catarinenses ainda tratam soja nomasculino), a sua produção ganhou expressão háexatos 30 anos, quando atingiu o primeiro milhão detoneladas numa safra, quase toda colhido no RioGrande do Sul. Na segunda parte dos anos 70,colheitas de 15 milhões de toneladas anuaistransformaram o Brasil no segundo maior produtormundial, chegando a 25 milhões de toneladas no iníciodesta década.

Hoje, são 243 mil produtores em todo o País,que cultivam uma média de 54 hectares cada um. Mas,no Mato Grosso, a média é de 875 hectares para cadaprodutor. É para esse tipo de propriedade que a sojacaminha. Mato Grosso, com 7 milhões de toneladasanuais, há três anos produz mais que o Rio Grande doSul, onde predominam as propriedades pequenas emédias. Só fica atrás do Paraná, onde as propriedadestambém são pequenas. Para encontrar-se com suavocação de grandeza, o cultivo da soja espalhou-serumo ao Centro-Oeste e Nordeste.

Soja – produção e perspectivasA previsão para a safra mundial de 1998/99,

realizada pelo USDA em julho/98, é de 154,0 milhõesde toneladas, 1,0% abaixo da safra anterior. A pequenaqueda da safra mundial de soja para a temporada1998/99 será decorrente da queda da produção de 77milhões de toneladas, novo recorde, ultrapassando asuper-safra de 1997. Esse volume de soja somado àprodução dos outros países produtores do hemisfério

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norte e às safras brasileira e argentina de 1998/99formarão a oferta de soja para a temporadasetembro/98 a agosto/99.

As exportações mundiais de soja deverãototalizar 37,6 milhões de toneladas, com os EstadosUnidos participando com 63% desse volume, o Brasilcom 21,8% e a Argentina com 4%. O volume exportadoem relação ao total produzido no mundo não tem semodificado muito nos últimos anos, porém já foi maissignificativo nos anos 70 e 80, vindo a cair nos anos90, mostrando que alguns países produtores têmaumentado seu consumo interno, oferecendo menossoja para a comercialização.

O consumo mundial de soja para a temporada98/99 deverá situar-se em torno de 149 milhões detoneladas, 96,7% da produção, podendo haverreposição de estoques, que não se encontram mais emníveis tão baixos como em 1995/96. Essa ofertamundial, sem a respectiva demanda firma como o anode 1997 poderá deprimir os preços que já seencontram em torno de US$200,00/t. Estima-se que oconsumo direto na alimentação humana, a produção desementes e as perdas, somem 7% da produçãomundial.

O esmagamento para 1998/99 está estimado em127,8 milhões de toneladas, ou seja, 83% da produçãomundial. Com o coeficiente técnico médio de 79%,esse esmagamento deverá resultar em uma produçãode 100,96 milhões de toneladas de farelo de soja queserão totalmente consumidas na fabricação de raçõespara alimentação, principalmente de aves e suínos. Aexportação de farelo de soja em 1998/99 deverá ser daordem de 37,8 milhões de toneladas, 1,0% acima dovolume exportado na temporada anterior.

A produção de óleo está estimada em 23,12milhões de toneladas, 1,4% acima da produção da safraanterior. Desse total, a comercialização mundial deveráser de 6,9 milhões de toneladas, praticamente 30% dototal.

Perspectivas de produção de soja no Brasil(oferta e demanda)

É importante lembrar que, quando se fala emprodução de soja no Brasil, não se pode negligenciar aprodução de soja no mundo, pois como a maior partedos produtos originários da soja são exportados, aprodução e comercialização mundial tem influênciamarcante na decisão interna de semear essaoleaginosa.

Dessa forma, o fenômeno da “globalização” éextremamente importante nesse contexto. Quando semenciona a palavra “globalização”, imediatamente sepensa num fato novo, recente, que está acontecendono presente ou que se iniciou há pouco tempo.

Na verdade a globalização, como fenômeno deintegração e competição entre países, bloco de paísesou mesmo continentes, é tão antiga quanto a própriaexistência do homem na face da terra.

Acontece que, com o avanço dos meio decomunicação e a informática, o processo hoje étotalmente evidente e avança a uma velocidade incrível.No que diz respeito ao capital financeiro, o processo deglobalização já atingiu uma fase em que aplicadorespodem investir, de dentro de suas casas ou de seusescritórios, em qualquer empresa do mundo em questãode segundos.

Se este processo é tão rápido, no que dizrespeito ao capital financeiro, não se pode dizer o

mesmo em relação à produção agrícola, por suascaracterísticas peculiares de oferta. Além disso,enquanto as aplicações financeiras são extremamentevoláteis, os aspectos relativos à produção agrícola nãotêm a mesma velocidade, pelo menos a curto prazo.

Nesse contexto, portanto, como o processo deglobalização atinge a agricultura nos diferentes países?Qual a relação entre um produtor de soja no Municípiode Campo Mourão – PR, com um produtor de soja deIllinois, EUA ou da China? A resposta a essas questõesé complexa, porém pode ser resumida em uma únicapalavra: competitividade. Com a globalização surgeuma ameaça que deve ser transformada emoportunidade: é a “Terceira Guerra Mundial”. Nestaguerra não existem armas, nem convencionais nematômicas. A arma empregada, que será mortal aocompetidor, denomina-se competitividade, através dealta produtividade e de baixo custo unitário.

Assim, cada vez mais, a produção agrícolanecessitará de um insumo, sem o qual a permanênciano setor produtivo estará fadada ao fracasso. Esseinsumo, sob o ponto de vista mais global, chama-se“informação” e sob o ponto de vista mais específico,dentro do setor produtivo, “tecnologia”.

Dessa forma, no sentido mais global de“tecnologia”, o produtor deve procurar empregar astécnicas mais apropriadas referentes ao seu tipo deatividade; e, no sentido mais global de “informação”,deve procurar conhecer as perspectivas da demandado produto.

Oferta

Os dados da discussão da oferta foramcoletados até 1997.

Quando se fala em oferta de soja faz-senecessário discutir a oferta de outras oleaginosas e a ofertatotal de grãos, pois no caos das oleaginosas, muitas delassão competidoras da soja e no caso dos grãos, na maioria,complementares. Portanto, existe uma relação estreita naprodução total de grãos e oleaginosas com a oferta de sojano mundo.

A produção total de grãos e oleaginosas, em1997, estimada em 2,10 bilhões, de toneladas (1,85 bilhão detoneladas de grãos e 0,260 bilhão de toneladas de oleaginosas)deverá ser de 4,20 bilhões de toneladas em 2027. A produçãode grãos, em 1996, era de 988 milhões de toneladas, 1,8 vezesmenor. Dessa forma, é plausível imaginar que daqui a 30anos a produção possa dobrar ou até mais do quedobrar, uma vez que os aprimoramentos tecnológicossão e serão cada vez mais sofisticados.

Acontece que a área disponível no mundo paraaumento de produção gira em torno de 10%. Quandose observa o aumento da produção de grãos nosúltimos 30 anos, que foi de 87%, nota-se que oaumento de área foi responsável por 6% desseacréscimo (655 milhões de ha em 1966 para 695milhões de ha em 1996) e a produtividade foiresponsável por 81% (1,6 toneladas/ha em 1996 para2,65 toneladas/ha em 1996).

A produção mundial de oleaginosas de 1966 foide 45 milhões de toneladas, numa área de 35 milhõesde ha, com um rendimento de apenas 1,29 t/ha. Em1996, a produção mundial foi de 260 milhões detoneladas, numa área de 175,6 milhões de ha com umrendimento de de 1,47 toneladas/ha. Como pode servisto, ao contrário dos grãos não oleaginosas, a área deoleaginosos foi responsável por 400% do aumento daprodução e o rendimento por apenas 14%, dos 414% de

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aumento da produção nos últimos 30 anos. Mesmoassim, esse aumento de produtividade foi liberado pelasoja, que apresentou uma taxa de 55% no períodototal. Dessa forma, não resta muita área para oaumento da produção, nem de grãos não oleaginosos,tampouco de oleaginosas.

Esse fato mostra claramente que oabastecimento mundial de alimentos dependeexclusivamente da manutenção das instituições depesquisa agrícola a nível mundial e da transferênciadas tecnologias para o produtor rural.

Nesse contexto, com respeito ao aumento deárea, as regiões que mais podem incorporar fronteirassão a África e a América Latina, principalmente o Brasil.

Em termos de ganho de produtividade não édiferente, pois ainda se tem muito a percorrer na África,Ásia e América Latina.

Particularmente, em relação a soja e milho, asmaiores chances de aumento de produção estão noBrasil, tanto em relação à área quanto à produtividade.

Demanda

De acordo com dados do FMI (Fundo MonetárioInternacional), o crescimento econômico dos países doTerceiro Mundo, principalmente da Ásia, nos próximosanos deverá ser da ordem de 6% a 7% ao ano, emmédia. O crescimento econômico de um continenteonde vivem em torno de 55% dos habitantes doplaneta, associado a uma elasticidade-renda dademanda de alimentos bastante elástica, possui umainfluência decisiva no que se refere à demanda mundialde alimentos. O crescimento econômico dos paísesricos, da União Européia, Estados Unidos e Canadánão tem influência significativa na demanda dealimentos, mesmo porque o aumento da renda percapita nesses países e/ou bloco de países não irápressionar esse tipo de demanda, pois seus habitantesjá consomem calorias suficientes para sua manutenção(baixa elasticidade-renda da demanda de alimentos).

Os 23 países mais ricos do mundo (renda percapita acima de US$13,000.00) possuem umapopulação total de 813,6 milhões de habitantes e asoma do seu PIB (Produto Interno Bruto) é da ordemde 21 trilhões de dólares. Isso representa 62,5% detoda a riqueza do mundo nas mãos de apenas 14,5%da população mundial.

Dessa forma, o aumento da renda per capitanos países mais pobres indicam pressão de demandade alimentos, principalmente países altamentepopulosos. Para se ter uma idéia dessa potencialidadebasta calcular a necessidade de carne na China secada habitante incorporar em sua dieta 1kg de carnepor ano. Será necessário um adicional e 1,2 milhão detoneladas de carne para atender esse demanda. Essademanda de carne, considerando a conversãoalimentar média de 2,8:1 e as perdas da carcaça,resulta numa demanda de ração animal de 4,2 milhõesde toneladas. Como a composição média da ração éde 20% de farelo de soja e 70% de milho, seriamnecessárias 840.000 t de farelo de soja e 2,94 milhõesde toneladas de farelo de milho.

Essa análise mostra que a demanda dealimentos para os próximos anos deverá se manterfirme.

Os estados que mais produzem atualmente sãoo Paraná, o Mato Grosso e o Rio Grande do Sul. Atendência de produção de soja no Brasil é de se

concentrar no Centro-Oeste, com produçõessignificativas no Nordeste e Norte. A produção daRegião sul tende a manter ou mesmo diminuir a área,embora a produção total dessa região possa aumentarcom o aumento do rendimento.

Produção

Quanto ao sistema de produção, a soja nãopossui diferenças significativas no seu sistema decultivo em todo o território nacional pois, praticamenteem todo o País, utiliza-se o sistema convencional desemeadura e o sistema direto, que vem aumentandobastante. Quanto a estrutura agrária, o tamanho dapropriedade vem aumentando, mostrando que a soja éuma cultura de grande escala, sendo desaconselhávela produção em pequenas propriedades, pelo menospara fins comerciais. Analisando-se os censos de 1980e 1985 nota-se que a parcela produzida em grandespropriedades vem aumentando bastante.

Pode ser visto que em 1980, 37% da produçãode soja era proveniente de propriedades de 100 ha emenos, que representavam 90% do número depropriedades que produziam soja, ao passo que 25%da produção era proveniente de propriedades cuja áreaera de mais de 1.000 ha que representavam 0,64% dosestabelecimentos. Já em 1985, apenas 20% daprodução provinha daqueles estabelecimentos cujaárea era de 100 ha ou menos, que representavam 89%do total dos estabelecimentos, ao passo que 45% daprodução já era proveniente dos estabelecimentosacima de 1.000 ha, que representavam 1,23% do total.Essa tendência é uma realidade não só no setor deprodução da matéria prima soja, mas também nocomplexo agroindustrial de soja. Estudos do IEPE(Instituto de Estatísticas e Pesquisa Econômica, Ufrgs),demonstram que plantas esmagadoras de soja comcapacidade menor que 1.500 t/dia não sãoeconômicas.

Quanto as perspectivas de produção de soja,para atender a demanda futura, foram feitas algumasprojeções até o ano 2010 utilizando-se basicamenteduas metodologias. Em primeiro lugar utilizando-se asprojeções de crescimento da população, de renda percapita e de elasticidade-renda da demanda da soja.

Os dados da projeção do crescimentopopulacional e da taxa de crescimento da renda percapita foram extraídos do Boletim Macrométrica. Ovalor inicial da elasticidade-renda da demanda de sojafoi extraído da publicação do IPEA “Estudos dePolítica Agrícola nº 25, Tab. 6, pág. 80. O valor inicialutilizado foi 0,90 e a partir de 1998 considerou-se umaqueda gradativa nesse valor até o ano 2010. O mesmovalor foi utilizado para a elasticidade-renda dademanda de farelo de soja.

A segunda metodologia utilizada foi a projeçãobaseada na taxa geométrica de crescimento doconsumo de farelo de soja de 1995.

Além dessas duas metodologias, considerou-seas projeções realizadas pelo Departamento deAgricultura dos Estados Unidos, constante napublicação ERS Staff Paper nº 91. Também foramconsiderados os resultados das projeções.

De acordo com as projeções realizadas,verifica-se que para o ano 2010 o Brasil deverá estarproduzindo cerca de 57 milhões de toneladas de soja.É óbvio que as projeções dependem de um grande númerode fatores e a consideração da simples taxa de cresci-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 31

mento anterior deve ser vista com muita cautela. Poroutro lado, quando se considera a taxa de crescimentopopulacional, a renda per capita e a elasticidade-rendada demanda, essas variáveis também estão sendoprojetadas para o futuro, embora dentro de critériosracionais. De qualquer maneira, a manutenção dademanda de soja, como é uma demanda derivada dademanda de carnes, principalmente de aves e suínos,depende bastante do desenvolvimento econômico e dadistribuição de renda de todos os países do mundo.Assim, pode-se enumerar alguns fatores que mais sedestacam na demanda de soja e outras oleaginosas.

Fatores que deverão impulsionar a demanda desoja e outras oleaginosas:

I – crescimento de renda per capita,principalmente dos países cuja elasticidade-renda dealimentos é alta;

2 – distribuição mais eqüitativa de rendaacompanhando o crescimento da economia;

3 – crescimento econômico e distribuição derenda de países populosos (China, Índia);

4 – maior penetração do capitalismo com aabertura de países até então fechados (Leste Europeue Comunidade dos Estados Independentes, ex-UniãoSoviética)

5 – crescimento econômico sem distribuição derenda, desestruturando os países emergentes e limitandoa demanda apenas às camadas privilegiadas, cujaelasticidade-renda do consumo de alimentos é baixa;

6 – desestruturação dos elos ajustantes dascadeias produtivas ocasionado por altos preços damatéria-prima.

Diante dessa análise, é possível chamar aatenção para o produtor de soja, que observeatentamente alguns fatores, tais como:

1 – investir em tecnologia, ou seja, rendimentopor unidade de área, baixando os custos unitários;

2 – procurar sempre as mais recentesinformações de mercado e das tendências dos preçosa curto prazo;

3 – não realizar mais de 30% da produção emvenda antecipada, a não ser que o mercado apontecom grande possibilidade de queda de preços; e

4 – realizar vendas escalonadas e sempre quepossível aproveitar as épocas de compra de insumosquando a demanda desses fatores de produçãoencontra-se arrefecida.

5 – Estar atento à Reforma Tributária emtramitação no Congresso Nacional.

“Soja – créditos oficiais

Entre 1970 e 1990, a soja recebeu US$28bilhões ou 17% do total estimado de US$166 bilhõesem créditos oficiais destinados à safra agrícola. O totalde investimento subsidiado durante as duas décadas éconservadoramente estimado em US$4,0 bilhões, ouuma média de, aproximadamente, US$192 milhões porano. Essa estimativa não inclui os subsídios derivadosde empréstimos distribuídos ou empréstimos altamentesubsidiados desembolsados via programas regionaisde desenvolvimento. Se esses subsídios foremincluídos, o total médio acumulado passa para pelomenos um quarto de bilhão de dólares por ano noperíodo de 1970-1990. Em adição aos benefícios doscréditos subsidiados de produtores, cooperativas emercados intermediários, processadores de soja

também colheram benefícios substanciais dosprogramas de crédito governamentais.

Ainda que o volume de crédito oficial e ossubsídios tenham sido muito grandes durante a décadade setenta e oitenta, existe pouca evidência empíricade que os programas oficiais de crédito tenham afetadodiretamente a produção agrícola. Isso também éverdade no caso da soja: nenhuma análise mostra umarelação direta entre o volume de crédito e a produção.A razão para isso não é inteiramente clara, mas aexplicação mais lógica é que uma grande parte dosfundos não tenha sido aplicadas aos créditos dentrodos objetivos propostos.

Com as taxas de retorno em outros ativosfinanceiros, incluindo os títulos do governo, muito maiselevadas que o custo do crédito agrícola, parecepossível que o crédito agrícola tenha sido desviadopara outros investimentos, e com efeito pode ter sidoreemprestado para o governo a taxa de juros muitomais elevadas.

A despeito de prováveis desvios de grandevolume de recursos, é muito dificil de se concluir que ocrédito oficial não teve impacto na agricultura ou naprodução de soja. Certametne, a disponibilidade decrédito oficial propiciou uma renda maior para osproprietários de terra. Assim, talvez o impactodominante dos programas oficiais de crédito na sojatenha sido o impacto nas decisões privadas deinvestimentos, relativos aos investimentos em terra. Oinvestimento em terra tinha três atrações financeiras: 1)a terra é geradora de rendas; 2) a terra serve comoforma de defesa contra a inflação; e 3) os proprietáriosde terra têm acesso ao crédito subsidiado. Em umambiente econômico de altas taxas de inflação,pode-se argumentar que o programa de crédito afetousignificavamente o desenvolvimento da capacidadenacional de produção de soja por meio de estímulo àabertura de novas áreas."

Em relação à política agrícola, cabe lembrar queo governo lançou o plano de safra 1999/2000 calcadoem quatro pilares: 1) volume de recursos para ocrédito rural; 2) agricultura familiar no contexto doNovo Mundo Rural; 3) ajustes nos Preços Mínimo deGarantia; e 4) medias de suporte estrutural.

No conjunto das medidas de política agrícola eoutras ações governamentais de apoio à agriculturano próximo ano/safra 1999/2000 anunciadas, ficaevidente o tratamento prioritário dispensado peloGoverno ao setor rural, não apenas pela boaperformance do setor nesses últimos anos, comimportante contribuição à estabilidade do “PlanoReal”, mas, sobretudo, pelo reconhecimento danecessidade de expansão desse segmento produtivoda economia, tão importante na geração de emprego,de renda e de divisas para o País.

Com a divulgação do montante de R$13,1bilhões para financiar as operações de custeio einvestimento agropecuário no ano/safra 1999/2000, oGoverno dá mostras de sua determinação em apoiaro setor agrícola brasileiro, com vistas a atingir umaprodução da ordem de 90 milhões de toneladas, na pri-

32 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

meira colheita do milênio. Para custeio ecomercialização, foram destinados R$11 bilhões, oque corresponde a um acréscimo de 44,7% emrelação aos R$7,6 bilhões efetivamente aplicadosnessa modalidade, na safra passada. Paraoperações de investimento, os agricultores vãocontar com 2,1 bilhões, 16,6% acima dos R$1,8bilhão aplicados anteriormente.

Os limites de financiamento, com recursoscontrolados do crédito rural, para as culturas demilho e de soja foram ampliados. Para o cultivo demilho, o limite de crédito de custeio passou deR$150 mil para R$ 00 mil, por beneficiário. A sojateve o limite ampliado de R$40 mil para R$100 mil,por beneficiário, nos estados produtores da regiãoNordeste, igualando-se, dessa maneira, ao limiteque já vinha sendo praticado nas regiõesbrasileiras. Além de ir ao encontro dos interessesdos agricultores, a adoção dessa medida significaráum incentivo ao aumento da área plantada,implicando numa maior normalidade doabastecimento futuro desses produtos.

Não obstante o aumento da taxa anual deinflação, a taxa de juros incidente sobre os recursoscontrolados do crédito rural estão mantidas em 8,75%aa e em 5,75% aa para os refinanciamentos a seremconcedidos dentro do contexto do Novo Mundo Rural,o que significa uma redução em termos reais.

No que diz respeito ao comércio internacional,cabe ressaltar as seguintes considerações:

a) – o Brasil, a aderir a um acordointernacional pelo menos em termos formais,deveria abster-se de ações unilaterais de caráterlegal, que contrariem os dispositivos acordados;

b) – os eventuais conflitos entre os paísessignatários devem ser resolvidos por meio dosmecanismos e nas instâncias acordadas quando doestabelecimento do tratado;

c) – tradicionalmente, quando da identificaçãode práticas comerciais prejudiciais a umdeterminado país, a intervenção do governo deste,além de levar formalmente os problemas aosorganismos internacionais de arbitragem, ocorremediante medidas técnico-administrativas, como porexemplo o estabelecimento de barreirasnão-tarifárias, como exigências de certificação deorigem e de compatibilização de créditos sanitários,dentre outras.

Assim, embora muitas vezes a práticacomercial envolva a utilização de práticasaparentemente conflitantes com a legislação emvigor, o estabelecimento de tais práticas por via delegislação específica não constitui procedimentousual por parte dos governos envolvidos.

É oportuno destacar, também, os benefíciosadvindos dos programas de desenvolvimentoregionais, que tiveram importância especial no

fomento da abertura e ocupação das áreas doscerrados para a produção de soja.

“Desde o início dos anos setenta, tem havidovários programas mistos de desenvolvimento (públicose privados) na área de fronteira dos cerrados do Brasil.Esses programas não foram especificamentedirecionados para fomentar a produção de soja, masdespertaram e movimentaram forças que tiveramnotáveis impactos na produção de soja dessas regiões.

O primeiro programa começou em 1972.Conhecido como Programa de Crédito Integrado (CPI),ele era um programa de crédito integrado para oscerrados que envolvia recursos do Banco Mundial parao desenvolvimento de 300.000 ha em Minas Gerais.Um ano mais tarde, um programa conhecido comoPadap foi direcionado para a área de cerrado do AltoParnaíba. Os estados de Rondônia, Mato Grosso, MatoGrosso do Sul e Goiás apoiaram o esforço deassentamento e colonização, envolvendo algunsmilhões de hectares e alguns milhares de famílias demigrantes. Entretanto, os dois maiores programasforam o Polocentro, implementado pelo governo federalem 1975, e o programa de cooperação nipo-brasileiro(Prodecer I e II) executado durante os anos oitenta.

Programa Polocentro

O programa Polocentro foi um esforço ambiciosofeito pelo governo federal para realizar odesenvolvimento rápido e a modernização dasatividades agrícolas no Centro-Oeste e no BrasilCentral. Ele era concentrado em doze diferentes locaisnos cerrados. Esses locais eram selecionados combase na existência de infra-estrutura básica, inclusiveestradas e eletrificação rural, e de depósitos decalcário. O objetivo do governo era fortalecer ainfra-estrutura dessas áreas, de forma que elasservissem de pólos de desenvolvimento para aagricultura das áreas circunvizinhas.

A área destinada a sofrer o impacto doPolocentro de 1977 a 1979 era de 3,7 milhões dehectares: 1,8 milhão em lavouras, 1,2 milhões emmelhoria de pastos, e 700.000 em reflorestamento. Oorçamento do programa para os primeiros três anos foifixado em US$1,5 bilhão. Isso inclui o equivalente aUS$1 bilhão para crédito “com taxas de juros especiais,que permitiria aos produtores desenvolverem oprograma conforme objetivos do governo”.Adicionalmente, o orçamento destinou US$180 milhõespara investimento direto em estradas, armazenagem eeletrificação e mais de US$410 milhões de incentivosfiscais.

Os termos do programa especial de crédito eramrealmente especiais. Os prazos dos créditos eram realmenteespeciais. O prazo do crédito de investimentos era concedidopor período de até 12 anos, com seis anos de carência e taxade juros fixa, variando entre zero e 14% ao ano. Os tomadorespoderiam obter empréstimos que cobriam entre 75% e 100%do custo total do investimento. O crédito de custeio foi colocadodisponível a taxas de juros fixos entre 10% e 14%.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 33

Com a taxa de inflação variando entre 29% em 1975 e100% em 1980, a grande porção do empréstimo era narealidade um presente do governo.

Devido à alta taxa de inflação entre 1975 e1982, é difícil determinar as magnitudes financeirasreais do Polocentro. Uma fonte que utilizou dados deuma avaliação do programa menciona que oequivalente a quase US$630 milhões foi desembolsadoapenas através de um programa especial de crédito. Amaior parte do crédito concedido foi para grandesprodutores: perto de 90% foi para propriedades commais de 200 ha e daquela quantia quase metade foipara propriedades com mais de 200 ha.

Um importante componente do programa foi oincentivo dado à pesquisa agronômica. Os recursosfornecidos à Embrapa ajudaram a desenvolvertecnologias que tornaram o cerrado tecnicamenteviável. Sem dúvida, esses avanços técnicos tiveram umprofundo efeito na expansão agrícola da região.

O Polocentro não alcançou todos os objetivosmencionados, mas teve um impacto substancial.Quase 2,5 milhões de hectares foram incorporadas àagricultura intensiva e à pecuária. As lavouras maisbeneficiadas foram a da soja e a do arroz. Dentro daárea do projeto, a área da soja passou de 82.000 haem 1975 para 520.000 ha em 1980, e a área de arrozalcançou mais de 600.000 ha. O arroz, como seobservou, foi a lavoura de transição, depois que seabriu a terra para pastos ou para a soja.

Talvez o maior impacto do Polocentro tenha sidoo efeito demonstração: o programa demonstrou que aprodução agrícola intensiva nos cerrados eratecnicamente viável, abriu a região para odesenvolvimento agrícola rápido e despertou forçasque continuam a ter efeito positivos na economia.

Os programas Prodecer

Os programas Prodecer I, II e III consistiramnuma mistura de programas de colonização públicas eprivadas na área dos cerrados. Eles eram esforços decooperação da Agência Japonesa para CooperaçãoInternacional com várias entidades brasileiras. OProdecer I foi estabelecido em 1980 na parte oeste deMinas Gerais. Perto de 70.000 ha de terras foramabertas e colonizadas com a assistência de programasde crédito baseado em cooperativas. O Prodecer II,estabelecido em 1980 em três diferentes locais doscerrados, totalizou 100.000 hectares. O Prodecer III,estabelecido em 1993 em duas áreas, uma no estadodo Maranhão, outra no Estado do Tocantins, ocupouem cada um dos projetos um total de 40.000 ha.

Comparados com o Polocentro, os programasdo Prodecer geraram impactos bem modestos. Asmodalidades de crédito eram atraentes, masaparentemente não envolveram subsídios damagnitude das do Polocentro. Durante a duração dostrês programas, estima-se que perto de 200.000 hatenham sido colonizados por 600 famílias deagricultores. Como no caso do Polocentro, o grandeimpacto foi o efeito demonstração, que estimulou amigração de milhares de agricultores para os cerrados.

Do exposto, podemos concluir que o complexosoja tem um papel estratégico na política agrícola e

econômica global do País, seja pela sua capacidadede gerar divisas e ou pelo incremento de empregosdo agronegócio. E, dessa forma, concluimos quedeve o governo priorizar os estímulos ao setor,mediante instrumentos e demais políticaseconômicas, como ficou bem demonstrado no“Plano Safra 1999/2000".

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – V. Exªserá atendido na forma regimental.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – APresidência lembra ao Plenário que o tempodestinado aos oradores da Hora do Expediente dasessão deliberativa ordinária de amanhã serádedicado a comemorar o Dia do Professor, de acordocom o Requerimento nº 620, de 1999, da SenadoraEmilia Fernandes e outros senhores Senadores.

Esclarece, ainda, que continuam abertas asinscrições para a referida comemoração.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Sobre amesa, Projetos de Lei do Senado que serão lidos peloSr. 1º Secretário em exercício, Senador Ramez Tebet.

São lidos os seguintes:

PROJETO DE LEI DO SENADONº 575, DE 1999

Altera a Lei nº 9.612, de 19 defevereiro de 1998, que institui o Serviçode Radiodifusão Comunitária e dá outrasprovi- dências, para instituir o serviço detelevisão comunitária.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Altera as redações dos arts. 1º e 5º do §

5º do art. 9º da Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de1998, que institui o Serviço de RadiodifusãoComunitária e dá outras providências, para instituir oserviço de televisão comunitária, passando a ter asseguintes redações:

“Art. 1º Denomina-se Serviço deRadiodifusão Comunitária a radiodifusãosonora ou de sons e imagens, em baixapotência e cobertura restrita, outorgada afundações e associações comunitárias, semfins lucrativos, com sede na localidade deprestação do serviço que será operado:

I – em freqüência modulada, o deradiodifusão sonora; e

II – em freqüência VHF ou UHF, o deradiodifusão de sons e imagens.

34 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

§ 1º Entende-se por baixa potência oserviço de radiodifusão sonora ou de sons eimagens prestados a comunidade comaltura do sistema irradiante não superior atrinta metros e potência limitada a ummáximo de, respectivamente, 25 watts ERPou 250 watts.

§ 2º Entende-se por cobertura restritaaquela destinada ao atendimento dedeterminada comunidade de um bairro e/ouvila." (NR)

.............................................................“Art. 5º O Poder Concedente

designará, em nível nacional, para utilizaçãodo Serviço de Radiodifusão Comunitária:

I – um único e específico canal nafaixa de freqüência do serviço deradiodifusão sonora em freqüênciamodulada;

II – pelo menos dois canais deoperação de serviço de radiodifusão desons e imagens sendo um na freqüênciaVHF e outro na freqüência UHF.

Parágrafo único. Em caso demanifestar impossibilidade técnica quantoao uso do canal especificado pararadiodifusão sonora, ou de qualquer doscanais para radiodifusão de sons eimagens, em determinada região, seráindicado, em substituição, canal alternativo,para utilização exclusiva nessa região."(NR)

..............................................................“Art. 9º ..................................................§ 5º Não alcançando êxito a iniciativa

prevista no parágrafo anterior, o PoderConcedente procederá à escolha daentidade levando em consideração o critérioda representatividade, evidenciada por meiode manifestações de apoio de associaçõesrepresentativas da comunidade abrangida,aprovadas pela maioria dos associados,considerado o número de membros de cadaassociação." (NR)

..............................................................Art. 2º A Lei nº 9.612, de 19 de

fevereiro de 1998, passa a vigorar acrescidado seguinte art. 25-A:

Art. 25-A. O Poder Concedenteoutorgará autorização precária a todos osServiços de Radiodifusão de naturezaComunitária que estejam ou estiveram emfuncionamento no período de 19 defevereiro de 1998 até a data de publicação

desta lei, pelo prazo de até 24 mesescontados desta data.

§ 1º A autorização precária de quetrata este artigo vigorará, observada alimitação temporal prevista no caput, pelotempo suficiente a que sejam regularmenteprocessados os procedimentos previstos noart. 9º.

§ 2º A cassação da autorizaçãoprecária de que trata este artigo, nãoconstitui ato arbitrário da autoridade, salvopor vício apurado no procedimento previstono art. 9º.

Art. 2º É concedida anistia às entidades,associações e pessoas físicas ou jurídicas queexploravam radiodifusão de natureza comunitáriadesprovidos de autorização, ressalvado os direitos dereparação civil por danos eventualmente causados aterceiros pela operação irregular.

§ 1º Os equipamentos eventualmenteapreendidos, em razão do exercício do poder depolícia de órgão ou entidades públicos, deverão serdevolvidos aos seus proprietários alcançados pelaanistia de que trata este artigo.

§ 2º Na hipótese do parágrafo anterior, nãoserá indenizável o ato da autoridade pública quetenha dado outra destinação aos bens apreendidos,desde que o ato tenha observado os requisitoslegais vigentes até a data de publicação desta lei.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de suapublicação.

Justificação

A implantação do serviço de radiodifusãocomunitária mediante a Lei nº 9.612, de 1998,representou um grande avanço na democratizaçãodos meios de informação no país. Por outro lado, oavanço tecnológico tem proporcionado substanciaisreduções dos custos de implantação e de operaçãode sistemas de amplitude restrita, viabilizando que oserviço de radiodifusão comunitária seja ampliadopara a transmissão de sons e imagens em prol deuma comunidade específica.

Nesta ótica, da democratização da informação,apresentamos o presente projeto de lei que objetivaa ampliação do serviço de radiodifusão comunitáriapara possibilitar que esse serviço seja prestadotambém na forma de televisão.

Com efeito, o projeto visa promover as seguintesalterações na redação da Lei nº 9.612, de 1998: doart. 1º, para modificação conceitual, antes restrita

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 35

à radiodifusão sonora, para incluir a possibilidade detransmissão de sons e imagens; do art. 5º, para adefinição dos canais tanto para a radiodifusãosonora, quanto para a de sons e imagens; do § 5ºdo art. 9º, para estabelecer que o critério demensuração do apoiamento entre entidadesinteressadas deverá ser tomada por voto da maioriade seus membros filiados, de maneira a retirar ainfluência direta do Conselho diretor dessasentidades, democratizando ainda mais o processo.

Propõe-se o acréscimo de artigo objetivandoa solução de conflitos decorrentes da disputaentre as entidades que vinham prestando, demaneira precária, serviços de radiodifusãocomunitária, mediante a outorga de autorizaçãoprecária a todas quantas estivessem, na data dapublicação da Lei 9.612, de 1998, em atividade,Esta autorização com vigência máxima de doisanos, caducaria com a outorga da autorização deque trata o art. 9º, em processo regular, comoque estabelecendo regra de transição de que nãocuidou a lei em tela e que tem se constituído emconflitos nas comunidades atendidas.

Propõe-se, ainda, a concessão de anistia àspessoas e entidades ou associações que vinhamprestando irregularmente o serviço deradiodifusão de natureza comunitária edeterminando a devolução dos equipamentoseventualmente apreendidos, tomando a cautelade estabelecer que o eventual ato de disposiçãodos referidos equipamentos, pela autoridadedetentora do poder de polícia, desde que dentrodos procedimentos normativos em vigor, nãogerará direito a indenização. Limita, ainda, aanistia às conseqüências administrativas,ressalvando as eventuais reparações civis pordanos que a operação irregular tenha causado aterceiros.

Submetemos, pois, à consideração dos nossosnobres pares a presente proposta que, segundonosso entendimento, tem por finalidade ofortalecimento dos vínculos comunitários comoinstrumento de exercício da cidadania, medianteamplo e irrestrito acesso à informação.

Como conseqüência, estaremos contribuindopara o fortalecimento da própria democracia, namedida em que serão ampliadas as possibilidadesde expressão do pensamento, participação eorganização popular.

Sala das Sessões, 18 de outubro de 1999. –Senador Paulo Hartung.

LEGISLAÇÃO CITADA

...................................................................................

LEI N. 9.612, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998

Institui o Serviço de RadiodifusãoComunitária e dá outras providências.

O Presidente da República, faço saber que oCongresso Nacional decreta eu sanciono a seguintelei:

Art. 1º Denomina-se Serviço de RadiodifusãoComunitária a radiodifusão sonora, em freqüênciamodulada, operada em baixa potência e coberturarestrita, outorgada a fundações e associaçõescomunitárias, sem fins lucrativos, com sede nalocalidade de prestação do serviço.

§ 1º Entende-se por baixa potência o serviçode radiodifusão prestado a comunidade, compotência limitada a um máximo de 25 watts ERP ealtura do sistema irradiante não superior a trintametros.

§ 2º Entende-se por cobertura restrita aqueladestinada ao atendimento de determinadacomunidade de um bairro e/ou vila.

Art. 2º O Serviço de Radiodifusão Comunitáriaobedecerá aos preceitos desta lei e, no que couber,aos mandamentos da Lei nº 4.117, de 27 de agostode 1962, modificada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28de fevereiro de 1967, e demais disposições legais.

Parágrafo único. O Serviço de RadiodifusãoComunitária obedecerá ao disposto no art. 223 daConstituição Federal.....................................................................................

Art. 5º O Poder Concedente designará, em nívelnacional, para utilização do Serviço de RadiodifusãoComunitária, um único e específico canal na faixa defreqüência do serviço de radiodifusão sonora emfreqüência modulada.

Parágrafo único. Em caso de manifestaimpossibilidade técnica quanto ao uso desse canalem determinada região, será indicado, emsubstituição, canal alternativo, para utilizaçãoexclusiva nessa região.....................................................................................

Art. 9º Para outorga da autorização paraexecução do Serviço de Radiodifusão Comunitária,as entidades interessadas deverão dirigir petição aoPoder Concedente, indicando a área ondepretendem prestar o serviço.

§ 1º Analisada a pretensão quanto a suaviabilidade técnica, o Poder Concedente publicará comu-

36 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

nicado de habilitação e promoverá sua mais ampladivulgação para que as entidades interessadas seinscrevam.

§ 2º As entidades deverão apresentar, no prazofixado para habilitação, os seguintes documentos:

I – estaturo da entidade, devdamente registrado;

II – ata da constituição da entidade e eleiçãodos seus dirigentes, devidamente registrada;

III – prova de que seus diretores sãobrasileiros natos ou naturalizados há mais de dezanos;

IV – comprovação de maioridade dosdiretores;

V – declaração assinada de cada diretor,comprometendo-se ao fiel cumprimento das normasestabelecidas para o serviço;

VI – manifestação em apoio à iniciativa,formulada por entidades associativas ecomunitárias, legalmente constituídas e sediadas naárea pretendida para a prestação do serviço, efirmada por pessoas naturais ou jurídicas quetenham residência, domicílio ou sede nessa área.

§ 3º Se apenas uma entidade se habilitar paraa prestação do Serviço e estando regular adocumentação apresentada, o Poder Concedenteoutorgará a autorização à referida entidade.

§ 4º Havendo mais de uma entidade habilitadapara a prestação do Serviço, o Poder Concedentepromoverá o entendimento entre elas, objetivandoque se associem.

§ 5º Não alcançando êxito a iniciativa previstano parágrafo anterior, o Poder Concedenteprocederá à escolha da entidade levando emconsideração o critério da representatividade,evidenciada por meio de manifestações de apoioencaminhadas por membros da comunidade a seratendida e/ou por associações que a representem.

§ 6º Havendo igual representatividade entre asentidades, proceder-se-á à escolha por sorteio.....................................................................................

Art. 25. O Poder Concedente baixará os atoscomplementares necessários à regulamentação doServiço e Radiodifusão Comuntária, no prazo decento e vinte dias, contados da publicação desta lei.....................................................................................

(Às Comissões de Serviços deInfra-Estrutura e de Educação, cabendo àúltima a decisão terminativa.)

PROJETO DE LEI DO SENADONº 576, DE 1999

Inclui como tema transversal noscurrículos de ensino fundamental emédio a Prevenção Contra o Uso deDrogas.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica incluída como tema transversal nos

currículos do ensino fundamental e médio aPrevenção Contra o Uso de Drogas.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor no primeiro dia útildo ano seguinte ao de sua publicação.

Justificação

Os temas transversais já devidamentedivulgados pelo Ministério de Educação (MEC) eadotados nas nossas escolas abrangem apenas asseguintes áreas: Ética, Pluralidade Cultural, MeioAmbiente, Noções de Saúde e Orientação Sexual.Todos eles já permeiam o currículo de nossas escolase estão previstos nos parâmetros curriculares doensino fundamental, que foram sugeridos pelo MECem publicação oficial.

O tema transversal denominado Noções desaúde é amplo demais para que, por meio dele, sepossa proporcionar aos estudantes do ensinofundamental e médio condições para umaaprendizagem efetiva da questão das drogas emnossa sociedade.

Daí a importância de se incluir entre os temastransversais a Prevenção Contra o Uso de Drogas,pois, com esse tema, será possível aos professoresdos níveis fundamental e médio transmitireminformações aos seus alunos para que estes, naconstrução de seus conhecimentos, tenham aoportunidade de se prepararem para um dosproblemas, que, fatalmente, terão que enfrentar,mais cedo ou mais tarde.

Ao aprovarem este Projeto, os SenhoresCongressistas estarão oferecendo uma contribuiçãoefetiva para o melhor método de prevenção contra osvícios e as doenças das drogas, ou seja, a formaçãode uma consciência crítica e bem informada arespeito.

Fica evidente, portanto, a relevância desteProjeto que, se transformado em lei, constituir-se-áem um instrumento a mais para a conscientização dajuventude brasileira e a melhoria de sua qualidade devida.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. –Senadora Luzia Toledo.

(À Comissão de Educação – decisãoterminativa.)

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 37

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 577, DE 1999

Inclui como tema transversal noscurrículos de ensino fundamental Noçõesde Turismo.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica incluído entre os temas transversais

dos currículos do ensino fundamental “Noções deTurismo”.

Art. 2º Esta lei entra em vigor no primeiro dia úitildo ano seguinte ao de sua publicação.

Justificação

O Ministério da Educação (MEC) divulgou, hápouco tempo, com as publicações sobre osparâmetros curriculares, os principais temastransversais sugeridos para as escolas do ensinofundamental brasileiro.

No entanto, não inclui entre eles Noções deTurismo, tema que, indubitavelmente será um dosmais importantes no início do próximo século vistoque o turismo estará entre as três áreas da economiamundial que mais deverão crescer, segundo osmaiores especialistas em tendências, para o próximoséculo, como John Naisbitt e Alvin Toffer.

Estudar o turismo dentro de qualquer um dostemas já apresentados pelo MEC, como Ética,Pluraridade Cultural, meio Ambiente, Noções deSaúde e Orientação Sexual, será praticamenteimpossível, o que justifica a aprovação deste Projeto.

Com efeito, o tema Noções de Turismo é amplademais para ser incluído dentro dos que citamos, e asua adoção proporcionará aos estudantes do ensinofundamental condições para uma aprendizagemefetiva sobre uma das áreas que mais possibilidadesde novos empreendimentos e de emprego ofereceráno início do século XXI.

A aprovação deste Projeto significa, portanto,uma contribuição de enorme valor tanto para odesenvolvimento do turismo em nosso país, comopara a preparação de nossos jovens para, aotérmino do ensino fundamental terem condições de,com conhecimentos gerais na área, atuar em umadas diversas profissões e atividades relacionadascom o turismo.

Sala das Sessões, 18 de outubro de 1999.Senadora Luiza Toledo.

(A Comissão de Educação – decisãoterminativa.)

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Osprojetos lidos serão publicados e remetidos àsComissões competentes.

Sobre a mesa, requerimento que será lido peloSr.1º Secretário em exercício, Senador Ramez Tebet.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 632, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos regimentais, requeiro a tramitação

conjunta dos Projetos de Lei do Senado nº 266, de1996, e 560, de 1999, por versarem sobre aprestação de serviços de saneamento.

Sala das Sessões, 18 de outubro de 1999. –Senador Paulo Hartung.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Orequerimento lido será publicado e, posteriormente,incluído em Ordem do Dia, nos termos do art. 265,inciso II, alínea c, item 8, do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Apalavra está facultada.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) – Sr.Presidente, peço a palavra.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) –Concedo a palavra ao Senador Luiz Estevão.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores aimprensa de todo o País noticiou, com grande emerecido destaque, o esforço que o GovernoFederal vem fazendo no sentido de procurar reduziras taxas de juros, o grande fator de inibição daatividade econômica em nosso País no momento.

Com efeito, se examinamos o trabalho doPresidente do Banco Central, Dr. Armínio Fraga,desde a sua posse até os dias de hoje, temos o deverde cumprimentá-lo por ter conseguido, nesse períodode tempo, cumprir uma de suas promessas, quandoda sabatina a que foi submetido neste Senado, a dereduzir, no menor prazo possível, a taxa básica dejuros — naquele momento, da ordem de 49% ao ano— para patamares bem mais palatáveis para aeconomia brasileira.

Promessa feita, e é preciso que se diga:promessa cumprida. Há alguns meses, o Brasilvem convivendo com uma taxa básica de juros daordem de 19%, quase três vezes menor do queaquela praticada no mês de fevereiro, quando desua posse. Sem dúvida, essa era uma dasprincipais providências reclamadas pelosParlamentares, pelos dirigentes empresariais, portodos aqueles que apostam no desenvolvimentodo País como a grande ferramenta para nostirar do impasse em que nos encontramos. Tra-

38 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

ta-se de um país em que muitos trabalham; em queoutros gostariam de trabalhar, mas não podem,porque não têm emprego. Lamentavelmente, é umpaís que vem empobrecendo a cada ano.

Se da parte do Banco Central e do Ministério daFazenda a tarefa foi cumprida com a redução da taxabásica de juros de 49% para 19%, lamentavelmente,percebe-se que esse benefício não chegou ao seudestinatário. Ou seja, a redução da taxa de juros, porexemplo, para o financiamento da atividade produtiva,para capital de giro das empresas, para operações decurto prazo, para financiamento de aquisição de bensde consumo, praticamente permaneceu inalterada,como se ainda vigesse no País aquela taxa de jurospraticada em fevereiro deste ano. Na semanapassada, o Governo Federal fez mais um esforço nosentido de proporcionar essa indispensável alavancaao desenvolvimento do País.

Em matérias publicadas na imprensa deontem, notadamente nas revistas Veja e Época,estão as justificativas apresentadas pelos bancospara que a baixa de juros na captação não sejatransferida para o consumidor final. Da leitura dosnúmeros apresentados pelos bancos, por meio daimprensa, só resta uma alternativa: rir, e rir para nãochorar, pois simplesmente se vê que, enquanto parao aplicador é paga, no depósito de longo prazo, umataxa de remuneração de 1,6% ao mês, a taxacobrada de pessoas físicas para o uso do chequeespecial é de 8,9%, portanto, quase seis vezesmaior, com lucro bruto entre a diferença de custo ede venda de cerca de 600%. Em qualquer ramo deatividade, essa margem de lucro bruto seriarealmente uma distorção em relação ao resto domundo. E o mesmo acontece com as taxas de jurosdo nosso País. Não é à toa que o Brasil hoje pratica amaior taxa de juros ao consumidor do mundo.

Qual a justificativa para uma diferença tãogrande entre o custo de compra do dinheiro e o seupreço de venda? Conforme uma resposta publicadapela imprensa, segundo os bancos, de cada R$10,00cobrados a mais de lucro bruto sobre a diferença decaptação e de venda do dinheiro, R$2,00 seriamreferentes a despesas administrativas. Ora, isso éuma piada, porque nunca vimos nenhum ramo deatividade em que a despesa administrativa pudessecorresponder a mais do que o custo de compra doinsumo básico, que é a captação do dinheiro. Mais doque isso, é preciso que se diga que os bancos hojecobram taxa por todos os serviços que prestam,inclusive pelo fornecimento de extratos, talões decheque, cobrindo, portanto, grande parte dessa

despesa administrativa, já com a venda que fazemdos serviços, sem os quais, aliás, é impossível, paraqualquer correntista, movimentar uma contabancária.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) –Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) – OuçoV. Exª, nobre Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Meu caroSenador Luiz Estevão, V. Exª traz um tema que éextremamente grave e precisa ser debatido pelasociedade brasileira. Trata-se da vergonhosa taxade juros que é cobrada em nosso País. O Governotem feito um esforço no sentido de baixar medidasque, de certa forma, procurem descomprimir essadiferença entre a taxa de juros básica e os juros demercado, mas, na verdade, tudo isso tem sido muitopouco, quando se compara — como V. Exª estáfazendo nesta tarde — o resultado prático dasmedidas com a taxa de juros que o cidadão paga nofim da linha. Sem dúvida, os juros são escorchantes.Não há economia de mercado que possa sobrevivercom a taxa de juros hoje praticada no Brasil. Não háatividade produtiva que possa remunerar qualquerempréstimo com taxa de juros de 200% ou 300%. Issoé uma insanidade. Apesar das medidas tomadas peloGoverno, como a redução de depósito compulsório, adiminuição da taxa de IOF e outras que visam, de certaforma, a facilitar e baratear a atuação dos bancos, nãohá reciprocidade do lado destes no tocante a umavisão social e econômica do País. Os bancos deveriamser os grandes impulsores da atividade econômica. E,hoje, a taxa de juros é, na verdade, o inverso: o grandeinibidor ou quebrador das atividades econômicas. Elafaz com que a falência e as contas de juros inviabilizema produção nacional. Então, penso que o Governo — oPresidente disse isso muito claramente na semanapassada — vai procurar um mecanismo para tornarclaras à população a concorrência e a questão dosjuros cobrados por diversos bancos. No entanto,temos que buscar caminhos duros. Não é possívelque a produção brasileira fique sujeita à taxação dejuros dos bancos da forma como está. Osmecanismos dos bancos oficiais e outros mecanismostêm que ser utilizados no sentido de gerar um padrãodiferente, para puxar para trás esse ciclo vicioso queapenas leva a nossa economia — e,conseqüentemente, a condição de vida da população— a uma situação de extrema dificuldade. Não queroalongar-me neste aparte. Na verdade, a análiseeconômica de tudo isso não tem razão de ser. Na

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 39

conjuntura internacional, analisando os jurosinternacionais e os brasileiros, como V. Exª bemdisse, talvez o Brasil seja o país do mundo em queeles são mais altos. No entanto, não existe hojeuma economia equilibrada, com as taxas de jurosque o País está pagando. Somente países queestão quebrando — como a Rússia — ou vivendoum momento de extrema dificuldade pagam umataxa de juros como essa; não um país equilibrado,estabilizado, como em tese é o Brasil. Portanto,parabenizo V. Exª pelo tema que levanta. Semdúvida, é preciso que a sociedade brasileira, aclasse política e o Governo intervenham com rigor edureza no sentido de baixar essas vergonhosastaxas de juros que hoje são cobradas no País.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) –Agradeço o oportuníssimo aparte do SenadorRomero Jucá. S. Exª usou um termo muitoapropriado e que os bancos, inclusive, costumamcobrar de seus clientes: a chamada reciprocidade. Éo momento de cobrar, realmente, dos bancos nãouma política de generosidade com a sociedade,mas uma política de realidade com a sociedade.

Quer dizer, não é à toa que os bancos tiveramlucros recordes no primeiro semestre deste ano, noBrasil. Aliás, esses foram construídos à mercê dacrise econômica pela qual passou o nosso País. Maso que eles fazem hoje, simplesmente a longo prazo, éinviabilizar completamente a sobrevivência daempresa brasileira. Porque, por outro lado – e oSenador Romero Jucá abordou o tema com muitapertinência –, as empresas multinacionais têmdisponibilidade de oferta de recursos lá fora, nomercado internacional, a juros extremamentereduzidos, o que faz com o empresário brasileiroperca, por mais esta razão, as condições decompetitividade e desenvolvimento que precisava ter.

Portanto, o que está acontecendo no Brasil é amorte da livre iniciativa, em função das diferenças depossibilidade de captação de recursos com que sãotratadas hoje as empresas brasileiras e as empresasmultinacionais instaladas no nosso País.

Mas essa conta mágica dos bancos tem aindaalguns números realmente de impossívelcompreensão: de cada R$10,00 cobrados de spread,dizem os bancos que gastam R$1,90, que é o custoda inadimplência, e R$4,00, que seria o custo dainadimplência no caso das empresas das pessoasjurídicas.

Ora, todos nós sabemos que o mal devedor éprovisionado; quando não paga essa despesa, ela éprovisionada contra a contribuição para o Imposto de

Renda. Portanto, aquele que não paga tem o seudébito lançado em uma conta-prejuízo e esse valor éabatido no Imposto de Renda. O que vemos aqui éum lucro em duplicidade, em que os bancos cobramdo tomador o custo daqueles que não vão pagar osseus empréstimos, e, do outro lado, voltam a cobraressa mesma conta do Governo, abatendo isso doImposto de Renda a pagar sobre os seus lucros. Porconseguinte, o tomador do empréstimo paga uma veze a sociedade brasileira paga de novo, já que nãorecebe o Imposto de Renda decorrente em função doabatimento dessas operações.

Por outro lado, admitem aqui que têm comolucro 31% do spread, no caso das operações depessoa física, e 1,8%, no caso das operações depessoa jurídica. Ora, da mesma forma, no menorcaso, o lucro representa mais que o custo damatéria-prima, que é o dinheiro comprado aR$1,60. No segundo caso, representa duas vezes ocusto do dinheiro que foi adquirido do investidor nomercado de aplicações.

Hoje temos, simplesmente, uma conta que nãoresiste à análise de nenhuma criança que tenha feitopelo menos um curso de aritmética durante o seuprimário. Porque é impossível que alguém compre umproduto a R$1,60, venda a R$10,00 e aleguesimplesmente que não pode reduzir a sua margem deganho, porque, de outra forma, teria prejuízo. Élamentável, porque a Brasil sofre e paga um preçoenorme por isso: a redução da nossa atividadeeconômica, o endividamento da nossa sociedade, adiminuição da atividade de emprego, comcrescimento, portanto, do desemprego no nosso Pais.

O Governo Federal, alertado pelaspreocupações da sociedade e pelas liderançaspolíticas, tomou as medidas que teria de tomarreduzindo o Imposto sobre Operações Financeiras –como foi bem lembrado pelo Senador Romero Jucá –,reduzindo o recolhimento compulsório sobre osdepósitos e sobre as operações. Mas parece que, dolado dos bancos, tudo que se faz é simplesmenteaumentar a conta nas costas do tomador deempréstimo.

Dessa maneira, penso que já passou da hora deexigir dos bancos a reciprocidade de tratar o tomadorde empréstimo com o mínimo de respeito. Está nahora, isto sim, de serem tomadas medidas duras a fimde que a sociedade brasileira pare de pagar um preçotão alto pelo lucro de tão poucos.

Muito obrigado.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OSR. SENADOR LUIZ ESTEVÃO EM SEUPRONUNCIAMENTO:

40 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 41

42 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Nadamais havendo a tratar, a Presidência vai encerrar ostrabalhos, lembrando às Sras e aos Srs. Senadoresque constará da sessão deliberativa ordinária deamanhã, a realizar-se às 14 horas 30 minutos, aseguinte:

ORDEM DO DIA

– 1 –PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO

Nº 65, DE 1999

Primeiro dia de discussão, em segundo turno, daProposta de Emenda à Constituição nº 65, de 1999, deautoria do Senador Jefferson Peres e outros senhoresSenadores, que altera a redação do § 3º do art. 58 daConstituição Federal para acrescentar poderes àsComissões Parlamentares de Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, Relator: SenadorAmir Lando, oferecendo a Redação do Substitutivoaprovado em primeiro turno.

– 2 –PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 57, DE 1998

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei daCâmara nº 57, de 1998 (nº 4.688/94, na Casa deorigem), que dispõe sobre a criação e ofuncionamento de Cooperativas Sociais, visando àintegração social dos cidadãos, conforme especifica,tendo

Parecer favorável, sob nº 231, de 1999, daComissão de Assuntos Sociais, Relator: SenadorSebastião Rocha.

– 3 –PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 23, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei daCâmara nº 23, de 1999 (nº 2.597/96, na Casa deorigem), de iniciativa do Presidente da República, queautoriza a Universidade Federal do Rio Grande doNorte a alienar bem imóvel de sua propriedade, e dáoutras providências, tendo

Parecer sob nº 614, de 1999, da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, Relator: SenadorLúcio Alcântara, favorável, com as Emendas nºs 1 e2-CCJ, que apresenta.

– 4 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 39, DE 1997(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 39, de 1997 (nº 338/96, na

Câmara dos Deputados), que aprova o ato querenova a permissão outorgada à Rede Central deComunicações Ltda. para explorar serviço deradiodifusão sonora em freqüência modulada naCidade de Campinas, Estado de São Paulo, tendo

Parecer sob nº 256, de 1999, da Comissão deEducação, Relator: Senador Djalma Bessa, favorável,com abstenções dos Senadores Sebastião Rocha,Roberto Saturnino e Pedro Simon.

– 5 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 82, DE 1999(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 82, de 1999 (nº 674/98, naCâmara dos Deputados), que aprova o ato querenova a concessão deferida à Rádio Cabugí Ltda.para explorar serviço de radiodifusão sonora em ondamédia na cidade de Natal, Estado do Rio Grande doNorte, tendo

Parecer sob nº 699, de 1999, da Comissão deEducação, Relator: Senador Gerson Camata,favorável, com abstenções da Senadora Marina Silvae dos Senadores Pedro Simon e Agnelo Alves.

– 6 –MENSAGEM Nº 159, DE 1999

(Escolha de Chefe de Missão Diplomática)(Votação secreta)

Discussão, em turno único, do Parecer daComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional,Relator: Senador Gilberto Mestrinho, sobre aMensagem nº 159, de 1999 (nº 1.122/99, na origem),pela qual o Presidente da República submete àdeliberação do Senado a escolha do Senhor PauloTarso Flecha de Lima, para, cumulativamente com afunção de Embaixador do Brasil junto à RepúblicaItaliana, exercer a de Embaixador do Brasil junto aRepública da Albânia.

O SR. PRESIDENTE (Agnelo Alves) – Estáencerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 17 horas e 6minutos.)

ATA DA 127ª SESSÃO NÃO DELIBERATIVAREALIZADA EM 24 DE SETEMBRO DE 1999

(Publicada no DSF, de 25-9-99)

RETIFICAÇÃO

Trecho de Ata, às Páginas nºs 25183 a 25186,referente ao Parecer nº 667/99-CAS, sobre o Ofício nºS 37/99 (nº 150/99, na origem), tratando do relatórioda Comissão Parlamentar de Inquérito (Assem-

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bléia Legislativa do Estado de Minas Gerais) criadapara apurar a entrada de medicamentos falsos narede hospitalar pública e privada, bem como sobre acomercialização dos mesmos naquele Estado, que serepublica por haver saído com incorreções no anterioro seguinte:

PARECER Nº 667, DE 1999

Da Comissão de Assuntos Sociais,sobre o Ofício “S” nº 37 de 1999 nº 150/99na origem), tratando do relatório daComissão Parlamentar de Inquérito(Assembléia Legislativa do Estado deMinas Gerais) criada para apurar aentrada de medicamentos falsos na redehospitalar pública e privada, bem comosobre a comercialização dos mesmosnaquele Estado.

Relator: Senador José Alencar

I – Relatório

Trata-se de ofício do Deputado AndersonAdauto, Presidente da Assembléia Legislativa doEstado de Minas Gerais, encaminhando o Relatórioda Comissão Parlamentar de Inquérito constituídanaquela Casa para apurar a entrada demedicamentos falsos na rede hospitalar pública eprivada, bem como investigar a comercializaçãodesses medicamentos, naquele Estado.

A referida CPI foi criada em virtude derequerimento, de autoria do Deputado Irani Barbosa,datado de julho de 1998, e funcionou desde aqueladata – supostamente, uma vez que não há registro,no Relatório, da data de sua instalação – até o dia 16de dezembro do mesmo ano, data de apresentaçãodo Relatório.

O objetivo da CPI era de, “no prazo de 120 dias,apurar a entrada de medicamentos falsos na redehospitalar pública e privada, bem como sobre acomercialização dos mesmos no Estado”.

Para bem desincumbir-se dessa missão, a CPIrealizou nove reuniões ordinárias, oito extraordináriase duas especiais; colheu o depoimento de 61pessoas(1); realizou duas visitas(2); recebeu eanalisou “várias denúncias recebidas por uma linhatelefônica especialmente instalada para essafinalidade, e analisou 21 documentos.

Como freqüentemente acontece, as diligênciase investigações da CPI pudera evidenciar que afalsificação de medicamentos era apenas um detalhede um grande e grave problema envolvendo aassistência e o comércio farmacêuticos no Estado deMinas Gerais e no País.

A CPI constatou que, além de falsificação,estavam ocorrendo, em escalas variadas, fraudes demedicamentos; desvios de medicamentos da antigaCentral de Medicamentos; roubo e receptação decargas de medicamentos; irregularidades notransporte, estocagem e acondicionamento demedicamentos, da produção até o comércio e adispensação; venda de medicmentos com prazo devalidade vencido; comercialização de amostras grátis;farmácias funcionando sem a presença deresponsável técnico e “empurroterapia”, expressãoempregada pelo relator para caracterizar o exercíciolegal da Medicina e da Farmácia por balconistas defarmácias que prescreviam e dispensavammedicamentos.

Mais grave que tudo isso, constatou a omissão ea negligência dos organismos do Estadoencarregados da questão. Secretarias de Saúde,Polícia, Ministério Público, Sistema de Defesa doConsumidor e conselhos de fiscalização do exercícioprofissional, quando acionados pelas vítimas ouprocurados pela imprensa, “em nenhum momentodemonstraram interesse em participar da apuraçãodos fatos, prestar auxílio financeiro ou qualquer tipode informação às vítimas”, nas palavras do Relatório.

1 Nos depoimentos foram ouvidos representantes de laboratóriosprodutores de medicamentos, distribuidoras, farmácias,sindicatos, hospitais públicos e privados, dos organismos devigilância sanitária do Estado e do Município, do sistema de defesado consumidor, de organismos policiais, do conselho defiscalização da farmácia, especialistas e autoridades na matéria,autoridades sanitárias e vítimas e seus familiares.2 As duas visitas foram feitas no 1º Distrito Policial de Santo André,SP (para colher o depoimento de José Celso Machado de Castro,principal responsável pela distribuição do medicamento Androcurfalsificado, que aí se encontrava detido, e do Delegado GuerdsonFerreira, responsável pela condução do inquérito sobre falsificaçãode medicamentos no Estado de São Paulo) e ao Centro de Triagemda Penitenciária Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, MG (paracolher o depoimento de Márcio Eustáquio Ribeiro, acusado deproduzir clandestinamente medicamentos, e ouvir o Delegado HélioRomão, sobre o processo movido contra ele). Em São Paulo, a CPIouviu, ainda, o Dr. Antônio Carlos Zanini, especialista e autoridadena área de medicamentos e vigilância sanitária.

II – Análise

“Ficou evidenciado, sem sombra de dúvida, queas mais diversas formas de delito grassam no setor,estimuladas pela inoperância, ou pela convivência doEstado. Os fraudadores vinham atuando livremente,até que o problema foi denunciado pela imprensa, esua repercussão exigiu, do Poder Público, a adoção dealgumas medidas, ainda que precárias e tardias,visando a coibir as irregularidades. Mesmo assim, aação do Estado encontra-se muito aquém do que es-

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peram e desejam os cidadãos em termos de proteçãoe segurança.”³

São conclusões da CPI:1) inexistência de uma polítia de medicamentos;2) desarticulação entre órgãos do Estado no

combate à produção e à comercialização demedicamentos irregulares;

3) necessidade de maior integração policial efazendária entre os Estados do Sudeste;

4) necessidade de descentralização das açõesde vigilância sanitária e de defesa do consumidor;

5) inexistência de um código sanitário no Estado;6) inexistência de legislação estadual relativa ao

controle da produção e circulação de medicamentos;7) necessidade da criação do cargo de fiscal

sanitário;8) necessidade de ampliação da capacidade de

Estado para realizar análise fiscal de medicamentos;

³ Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Comissão

Parlamentar de Inquérito para, no prazo de 120 dias, apurar a

entrada de medicamentos falsos na rede hospitalar pública eprivada, bem como a comercialização dos mesmos no Estado.

Relatório Final. Belo Horizonte, dezembro de 1998. (item 6 –conclusões).

9) necessidade de normalizar as licitaçõespúblicas para compra de medicamentos;

10) necessidade de maior controle fiscal sobre acirculação de medicamentos;

11) importância da criação de uma delegacia decrimes contra a saúde pública;

12) necessidade de informar e orientar apopulação;

13) questões relativas ao exercício profissional;14) questões que demandam investigação policial.A CPI fez as seguintes propostas:1) instituir uma política de medicamentos para o

Estado – para o que apresenta projeto de lei;2) instituir o Código Sanitário do Estado –

apresentando o correspondente projeto de lei;3) instituir normas sobre o controle de

medicamentos no Estado, bem como disciplinar aatuação dos órgãos públicos estaduais no que serefere à questão – matéria que também foi objeto deprojeto de lei apresentado;

4) solicitar ao Secretário de Estado da Fazendaque apresente ao Conselho de Política Fazendáriaproposta de revogação de isenção do Imposto sobreCirculação de Mercadorias e Serviços sobremedicamentos, nas operações realizadas por hospitaisfilantrópicos;

5) solicitar à Assembléia Legislativa de MinasGerais que realize um fórum técnico sobre a questão

dos medicamentos no Estado, com o objetivo dediscutir os projetos de lei apresentados e propormedidas para uma maior integração entre os diversosórgãos envolvidos com o problema;

6) recomendar à Assembléia Legislativa deMinas Gerais a criação de comissões especiais como objetivo de apurar a ocorrência de irregularidades enegligências nas licitações para compra demedicamentos por parte dos órgãos públicosestaduais e a ocorrência de sonegação fiscal nacomercialização de medicamentos;

7) recomendar ao Governo do Estado a criaçãoimediata da carreira e do cargo de fiscal sanitário, acriação de uma delegacia de polícia especializada emcrimes contra a saúde pública; e a adoção demedidas que visem a ampliar a capacidade daFundação Ezequiel Dias (FUNED) para análise fiscaldos produtos farmacêuticos;

8) recomendar à Secretaria de Estado da Saúdea adoção de medidas para agilizar a descentralizaçãodas ações de vigilância sanitária para os municípios,mormentes as de menor complexidade;

9) recomendar às prefeituras municipais que seestruturem para assumir as ações de vigilânciasanitária; que criem serviços de proteção aoconsumidor que se consorciem para adquirirmedicamentos diretamente dos laboratóriosprodutores, visando eliminar a intermediação dedistribuidores e reduzir custos; que, nas licitações paracompra de medicamentos, adotem procedimentospara limitar a perda de medicamentos por vencimentodo prazo de validade e para impedir a participação deestabelecimento cujo proprietário tenha sidocondenado por crimes ligados à questão;

10) recomendar à Secretaria de Estado daFazenda a adoção de medidas que objetivemviabilizar uma ação efetiva de controle e fiscalizaçãodo transporte e da comercialização de medicamentose a apuração da ocorrência de sonegação fiscal nacompra de medicamentos por hospitais filantrópicos ena comercialização de amostras grátis;

11) recomendar à Delegacia de OrdemEconômica, da Polícia Civil, que atuem juntamente comos órgãos fazendários na apuração desses fatos;

12) recomendar ao Conselho Nacional de PolíticaFazendária que empreenda esforços visando à maiorintegração fazendária entre estados do Sudeste, com oobjetivo de coibir irregularidades na circulação demedicamentos e que adote regime especial detributação para medicamentos;

13) recomendar à Delegacia de Ordem Econômicada Polícia Civil que agilize as investigações e inquéritosconcernentes a ilícitos relacionados a medicamentos;

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14) recomendar à Polícia Federal queempreenda esforços, por meio de uma açãoarticulada com os estados, visando a tornar maisefetiva a repressão aos crimes relacionados commedicamentos;

15) encaminhar ao Conselho Regional deFarmácia a relação dos laboratórios, distribuidoras,drogarias e farmácias em que foram detectadasirregularidades graves, solicitando urgente e rigorosaapuração da responsabilidade dos profissionaisfarmacêuticos daqueles estabelecimentos e aadoção imediata das providências cabíveis;

16) encaminhar ao Conselho Regional deMedicina pedido de apuração dos fatos envolvendomédicos e de investigação dos casos de iatrogeniaocorridos em decorrência do uso de medicamentosfalsificados, com o objetivo de apurar aresponsabilidade médica quanto à administraçãodesses produtos;

17) encaminhar à Delegacia de OrdemEconômica da Polícia Civil a documentação referenteà Distribuidora Acesso, para investigação do caso eapuração de responsabilidades;

19) encaminhar cópias do Relatório da CPI aoGovernador do Estado, às Secretarias de Estado daSaúde, da Fazenda e da Segurança, ao MinistérioPúblico, ao Ministério da Saúde, à Câmara Federal,ao Senado Federal, ao Conselho Nacional de PolíticaFazendária, ao Conselho de Secretários Municipaisde Saúde de Minas Gerais, à Prefeitura e à CâmaraMunicipal de Belo Horizonte.

O Relatório contém, em anexo, três projetos delei: um dispondo sobre a Política Estadual deMedicamentos; um projeto de Código Sanitário doEstado; e um que “dispõe sobre o controle e afiscalização da produção, do transporte, dacomercialização e distribuição de medicamentos noEstado”.

III – Voto

Em vista da gravidade dos problemasidentificados pela CPI cujo Relatório apreciamos,propomos o encaminhamento à autoridades federaiscom responsabilidade relativa ao tema, dos seguintespedidos de informação sobre as providências por elastomadas, segundo solicitação ou recomendação daCPI da Assembléia Legislativa de Minas Gerais:

REQUERIMENTO Nº 558, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do § 2º do art. 50 da Constituição

Federal, combinado com o art. 216 do RegimentoInterno do Senado Federal, e em vista do RelatórioFinal da Comissão Parlamentar de Inquérito(Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais)criada para apurar a entrada de medicamentos falsos

na rede hospitalar pública e privada, bem comoinvestigar a comercialização de tais medicamentosnaquele Estado, requeremos sejam prestados peloExmº Sr. Ministro de Estado da Justiça, informaçõessobre as providências tomadas pela Polícia Federalpara tornar mais efetiva a repressão aos crimesrelacionados com medicamentos.

Sala das Sessões – Senador Osmar Dias,Presidente da Comissão de Assuntos Sociais.

REQUERIMENTO Nº 559, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do § 2º do art. 50 da Constituição

Federal, combinado com o art. 216 do RegimentoInterno do Senado Federal, e em vista do RelatórioFinal da Comissão Parlamentar de Inquérito(Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais)criada para apurar a entrada de medicamentos falsosna rede hospitalar pública e privada, bem comoinvestigar a comercialização de tais medicamentosnaquele Estado, requeremos sejam prestadas peloExmº Sr. Ministro de Estado do Trabalho informaçõessobre as providências tomadas pelos ConselhosRegionais de Medicina e de Farmácia de MinasGerais para apurar a responsabilidade dosprofissionais envolvidos com os episódiosinvestigados pela referida CPI, bem como paracorrigir a situação encontrada.

Sala das Sessões, Senador Osmar Dias,Presidente da Comissão de Assuntos Sociais.

REQUERIMENTO DE Nº 560, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do § 2º do art. 50 da Constituição

Federal, combinado com o art. 216 do RegimentoInterno do Senado Federal, e em vista do RelatórioFinal da Comissão Parlamentar de Inquérito(Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais)criada para apurar a entrada de medicamentos falsosna rede hospitalar pública e privada, bem comoinvestigar a comercialização de tais medicamentosnaquele Estado, requeremos sejam prestadas peloExmº Sr. Ministro de Estado da Saúde informaçõessobre as providências tomadas por esse órgão paratornar mais efetiva a fiscalização sanitária demedicamentos.

Sala da Comissão, 22 de setembro de 1999. –Osmar Dias, Presidente – José Alencar, Relator –Marluce Pinto – Luzia Toledo – Eduardo SiqueiraCampos – Sebastião Rocha – Leomar Quintanilha– Carlos Bezerra Geraldo Cândido – MoreiraMendes – Emília Fernandes sem voto – GeraldoAlthoff – Djalma Bessa – Maria do Carmo Alves –Heloísa Helena – Pedro Simon – Antero Paes deBarros – Tião Viana – Juvêncio da Fonseca –Romero Jucá – Marina Silva – MozarildoCavalcanti.

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Ata da 143ª Sessão Deliberativa Ordináriaem 19 de outubro de 1999

1ª Sessão Legislativa Ordinária da 51ª Legislatura

Presidência dos Srs.: Antonio Carlos Magalhães, Ademir Andrade, Carlos PatrocínioNabor Júnior, Sebastião Rocha e Mozarildo Cavalcanti

ÀS 14 HORAS E 30 MINUTOS, ACHAM-SEPRESENTES OS SRS. SENADORES:

Ademir Andrade – Agnelo Alves – Alvaro Dias –Amir Lando – Antero Paes de Barros – Antonio CarlosMagalhães – Antônio Carlos Valadares – Arlindo Por-to – Artur da Távola – Bello Parga – Carlos Bezerra –Carlos Patrocinio – Casildo Maldaner – Djalma Bessa– Eduardo Suplicy – Emília Fernandes – ErnandesAmorim – Francelino Pereira – Freitas Neto – GeraldoAlthoff – Geraldo Cândido – Gerson Camata – Gilber-to Mestrinho – Gilvam Borges – Heloísa Helena – IrisRezende – Jader Barbalho – Jonas Pinheiro – JorgeBornhausen – José Agripino – José Alencar – JoséEduardo Dutra – José Fogaça – José Jorge – JoséRoberto Arruda – Juvêncio da Fonseca – Lauro Cam-pos – Leomar Quintanilha – Lúcio Alcântara – LúdioCoelho – Luiz Estevão – Luiz Otavio – Luiz Pontes –Luzia Toledo – Maguito Vilela – Maria do Carmo Alves– Marina Silva – Marluce Pinto – Mauro Miranda – Mo-zarildo Cavalcanti – Nabor Júnior – Ney Suassuna –Osmar Dias – Paulo Hartung – Paulo Souto – PedroPiva – Pedro Simon – Ramez Tebet – Renan Calhei-ros – Roberto Requião – Roberto Saturnino – RomeroJucá – Romeu Tuma – Sebastião Rocha – Sérgio Ma-chado – Silva Júnior – Teotônio Vilela Filho – Tião Via-na – Wellington Roberto.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – A lista depresença acusa o comparecimento de 70 Srs. Sena-dores. Havendo número regimental, declaro aberta asessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos tra-balhos.

O tempo destinado aos oradores da Hora doExpediente da presente sessão será dedicado a ho-menagear o Dia do Professor, nos termos do Requeri-mento nº 620, de 1999, da Senadora Emilia Fernan-des e outros Srs. Senadores.

Como primeiro orador inscrito para o período dahomenagem, concedo a palavra ao Senador Mozaril-do Cavalcanti.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP)– Sr. Presidente, solicito a V. Exª a palavra, pelaordem.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Concedoa palavra, pela ordem, ao Senador Sebastião Rocha.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP)– Sr. Presidente, é apenas para solicitar a V. Exª aminha inscrição, se for possível e no momentooportuno, para proferir uma comunicação inadiável.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – V. Exªficará inscrito e, no momento oportuno, se houverpossibilidade de V. Exª falar, a Mesa dará a palavra aV. Exª.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Concedoa palavra, pela ordem, ao Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –Sr. Presidente, da mesma maneira, gostaria de meinscrever para uma comunicação inadiável, porocasião da Ordem do Dia, se for possível.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Após ocumprimento da parte da sessão destinada ahomenagear o Dia do Professor, a Mesa examinará apossibilidade de conceder a palavra também a V.Exª.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Com apalavra o Senador Mozarildo Cavalcanti.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL – RR.Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªs eSrs. Senadores, não poderia deixar transcorrer a datacomemorativa dos professores, ocorrida na últimasexta-feira, dia 15 de outubro, sem prestar minhahomenagem a esses importantes profissionais doensino.

É prática corrente, em discursos alusivos ao Dia doProfessor, fazer um contraste entre, por um lado, a relevânciada função desempenhada pelos professores e, poroutro lado,o pouco caso com que é tratada a categoria entre nós, brasileiros.Esse pouco caso pode ser atestado pelo nível baixo deremuneraçãodosprofessores, principalmente os da rede pública

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de ensino, pelo grau insuficiente de qualificaçãoobtido pela maioria deles e pelo pouco prestígiosocial de que gozam. Nada mais justo do que chamara atenção para esses fatos. Nessas condiçõesprecárias, a profissão de professor assume caráter deverdadeiro sacerdócio.

Mas não abordarei as mazelas que afligem oensino no Brasil. Quero, num breve discurso,vislumbrar as coisas de um ângulo otimista, daquipara a frente, olhos postos adiante, na medida emque isso for possível. Há mister de se reconhecer,aliás, que, embora ainda tímidos, alguns esforços têmsido realizados para melhorar o lote dos professores,pelo menos em seu aspecto material. Está aí,produzindo efeitos, o relevantíssimo Fundo deDesenvolvimento do Ensino Fundamental eValorização do Magistério (Fundef). Esse fundo, aocriar padrão mínimo de remuneração dos professoresda rede pública do ensino básico em todo o territórionacional, estabelece, por assim dizer, a fundaçãosobre a qual, a partir de agora, pode-se reconstruir oensino público no Brasil. Isso porque a indignidaderepresentada por níveis ridiculamente baixos deremuneração ao professorado impede, na prática,qualquer tentativa de melhoria qualitativa do ensino.

Esperemos, portanto, que o aumento doinvestimento em cursos melhores de formação deprofessores – que, no fundo, é o que interessa –possa ser a seqüência lógica de um programa deresgate do ensino público fundamental.

Como deixei entrever, sou otimista: penso que oBrasil conseguirá avançar na questão do ensino. Jáestá conseguindo. Lentamente, mas já estáconseguindo. Creio que os professores estarão àaltura do desafio imposto pelas necessidadeseducacionais e culturais trazidas pelo século que seavizinha, um século que, por exemplo, não reservanenhum lugar, nenhuma função produtiva para otrabalhador de baixa escolaridade. Esse trabalhador,que freqüentou pouco ou sequer freqüentou a escola,sem qualificação profissional, está destinado a serum desempregado crônico, sustentado, ao longo desua vida, pelos programas assistenciais do Estado.Vê-se, assim, que o desafio é grande.

Também cumpre dizer que, errada ouacertadamente, espera-se cada vez mais da escolana formação moral e social dos jovens. A isso leva oritmo da vida moderna, em que ambos os paistrabalham fora do lar e, por isso, dispõem de menostempo para a família. A escola jamais substituirá aformação que um jovem deve obter no seio familiar, eesse equívoco tem levado a alguns sérios problemassociais, como a delinqüência juvenil. Todavia, éinegável: a escola deve estar preparada para cumprir

as lacunas deixadas pela família até o ponto em queisso seja possível. Mais um enorme desafio para osprofessores, que, diga-se de passagem, são os maisimportantes profissionais do terceiro milênio: aquelesque, como no passado, moldarão o tipo desociedade, o tipo de cidadãos que teremos.

Termino este discurso em homenagem aosprofessores com a citação de um trecho de poema.Horácio, o conhecido poeta latino da Roma clássica,cerca de 20 anos antes de Cristo, escreveu:

Quo semel est inbuta recens servabitodorem testa diu.

Ou seja, “a ânfora nova conservará por muitotempo o odor com que, uma vez, foi impregnada”.

Que fiquem esses versos como uma alusão àalta responsabilidade dos professores, que é a deformar cidadãos preparados para a vida emsociedade. Aquilo que os jovens receberem da escolaficará marcado, para sempre, em sua personalidade eem seu caráter.

Era o que tinha a dizer.Muito obrigado.

Durante o discurso do Sr. MozarildoCavalcanti, o Sr. Nabor Júnior, 3ºSecretário, deixa a cadeira da presidência,que é ocupada pelo Sr. Sebastião Rocha.

O SR. PRESIDENTE (Sebastião Rocha) –Concedo a palavra à nobre Senadora EmiliaFernandes.

A SRA. EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT –RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão daoradora.) – Sr. Presidente, Senador Sebastião Rocha,nobre Senador Mozarildo Cavalcanti, falo, nestemomento, nesta sessão, como se o nosso plenárioestivesse repleto de parlamentares. Falo sobreeducação pensando e sonhando que este Paíspoderia um dia vir a reconhecer a educação comoimportante, como estratégica para o desenvolvimentoe, principalmente, para a sua inclusão no contextomundial dos países que pensam, pesquisam,educam, criticam e, acima de tudo, têm consciênciado valor da formação das suas crianças, jovens eadultos.

Quero, sem dúvida, falar muito mais do que paraesta Casa, quero falar para o Brasil, para os meuscolegas professores, a quem tenho orgulho derepresentar aqui, eu que exerci o magistério durante23 anos e saí da sala de aula para assumir, pelaprimeira vez, uma mulher, um cargo no Senado daRepública, mas cujo compromisso e amor pelaprofissão continuam mais fortes do que qualquer umaoutra posição ou idéia.

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Nesta sessão dedicada ao Dia do Professor,gostaria de, além de abordar dificuldades e apresen-tar propostas, prestar minha homenagem à determi-nação que tem pautado o desempenho de todos ostrabalhadores em educação, em todos os campos.

Diante do atual quadro, antes de mais nada, épreciso afirmar alto e bom som que os professores,de forma especial, são os verdadeiros heróis destaNação que luta desesperadamente para encontrar oseu caminho, o seu presente e o seu futuro.

É dentro das salas de aula de todo o territórionacional, com todas as dificuldades imagináveis, que,neste momento, está se travando a grande batalha doque seremos, do nosso papel no mundo e do nossograu de civilização.

Educação, hoje, mais do que nunca, é parâme-tro definidor de desenvolvimento, de distribuição derenda, de justiça social, de integração regional, de so-berania nacional, de cultura, de paz e de igualdade nasociedade humana.

O avanço surpreendente das novas tecnologias,o que é sempre bem-vindo, não pode transformar-seem privilégio de poucos e, mais grave, em instrumen-to para promover a exploração de países e de pesso-as, postas à margem do progresso pela ignorância in-voluntária – ou premeditadamente planejada peloscentros de poder.

Neste contexto de desigualdade de acesso aosbens sociais, decorrente de um sistema econômicoextremamente excludente, difunde-se – cada vezcom mais vigor – o discurso da “qualidade total” e in-daga-se acerca de sua possível aplicabilidade naeducação.

Orquestradamente, a “qualidade total” é aponta-da como o mais avançado símbolo da produtividade,da produção material e das atividades de bens e ser-viços, o que se tenta passar de forma hegemônicacomo uma aparente compreensão nacional da referi-da expressão.

Embora tenhamos presente que o tema “quali-dade” é um significante impregnado de conotaçõesvalorizativas, “a qualidade total”, dependendo da óti-ca de quem a define, incorpora significados diferen-tes, o que, em sua forma vigente, não se coadunacom a educação que queremos.

Atualmente, nos discursos oficiais, propagande-ados, inclusive, pelos meios de comunicação, pelagrande mídia, advoga-se a favor da qualidade totalcomo neutralidade objetiva, ancorada na lógica indivi-dualista de reconversão produtiva, escamoteando oforte componente ideológico e deslocando para ocampo individual, para a responsabilidade pessoal a

intensificação das já profundas contradições, exclu-sões e marginalizações sociais.

Srªs e Srs. Parlamentares, a educação não tema virtude, por si só, de resolver todas as demais ques-tões de natureza política, econômica, ambiental e cul-tural, mas é, sem dúvida, condição necessária para oequacionamento de todas as demais questões. E oque é mais interessante: talvez seja a política socialmais fácil de equacionar e conduzir, a curto e médioprazo, apesar de todas as dificuldades.

Especialistas admitem que “diferenças educaci-onais” são a principal causa das desigualdades socia-is no Brasil, mais que sexo, cor, religião, ocupação ouqualquer outra variável que se possa considerar, dan-do, sem dúvida, a dimensão da sua importância doponto de vista estratégico.

E, por outro lado, também afirmam os especia-listas, Senador Romeu Tuma, que os investimentosem educação são altamente produtivos, e os países eregiões que investem em educação são os que maisaumentam sua produtividade e mais conseguem atra-ir e fixar investimentos em benefício de suas popula-ções.

Hoje está comprovado que a grande fonte de ri-queza é a população informada, esclarecida e educada.

Recentemente, a Marcha pela Educação, coor-denada pela Confederação Nacional dos Trabalhado-res em Educação, CNTE, pela Associação Nacionaldos Docentes de Ensino Superior, ANDES, pelaUnião Nacional dos Estudantes, UNE, pela UniãoBrasileira dos Estudantes Secundaristas, UBES, es-teve em Brasília, junto com outras entidades e parti-dos; vieram mais de 15 mil professores, funcionáriosde escolas, pais e estudantes defender a escola públi-ca. Este é um exemplo concreto da resistência e dagarra que os trabalhadores em educação neste Paísainda têm. Eles vieram alertar a sociedade para a ur-gência de se promover um amplo debate nacional so-bre o verdadeiro papel da educação e dos educado-res, principalmente como compromisso dos gover-nos. Até hoje não se conseguiu retirar da Constituiçãoesse conceito.

E eles trouxeram várias reivindicações aos po-deres constituídos. Também denunciaram que, nesteprimeiro ano de implementação do Fundef, Fundo deDesenvolvimento do Ensino Fundamental e Valoriza-ção do Magistério, ficou evidenciado que a melhoriados salário dos professores, tão alardeada por oca-sião da sua votação, ainda não se verificou na totali-dade. Por quê? Porque o valor do cálculo mínimo poraluno está abaixo do que prevê a lei, e os recursos,

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em alguns casos, ou estão sendo desviados ou estãochegando com atraso aos Estados e Municípios.

Por outro lado, os recursos são insuficientespara o ensino fundamental, pois houve remaneja-mento e não houve ampliação da oferta de recursos.A educação infantil, a educação de jovens e de adul-tos, o ensino médio e a erradicação do analfabetismonão estão contemplados nessa lei e estão sendo alta-mente prejudicados.

Além disso, as recentes ameaças impostas pelocritério do “fator previdenciário”, que logo esta Casavai estar discutindo, para as aposentadorias dos tra-balhadores, bem como a nova tentativa de sobretaxaros inativos do funcionalismo público, agravam aindamais a situação dos trabalhadores e, em especial,dos trabalhadores em educação, que, na sua maioria,são mulheres.

A verdade é que o Brasil precisa ampliar os re-cursos destinados à educação – rever a política dedestinar praticamente 60% do Orçamento da Uniãopara pagamento de juros das dívidas interna e exter-na, e investir nessa área estratégica e fundamentalpara os destinos da Nação.

Enquanto os países desenvolvidos, e não poracaso, investem, em média, 7% do Produto InternoBruto em educação, o Brasil compromete apenas3,7% – o que precisa ser aumentado na próxima dé-cada para, pelo menos, 10%, para que o discurso demelhoria do ensino tenha, de fato, efeitos práticos econcretos para a sociedade brasileira.

Diversas reivindicações foram trazidas ao Con-gresso Nacional, sendo que uma, principalmente, éfundamental: os trabalhadores da área de educaçãopedem uma maior participação na elaboração do Pla-no Nacional de Educação. As lideranças do movimen-to estiveram com os Presidentes da Câmara e do Se-nado, em audiência da qual participamos, juntamentecom outros parlamentares, e alertaram: um Plano Na-cional de Educação que se impõe à sociedade brasi-leira e que não se constrói com a participação daque-les que são os principais responsáveis, certamentenão será aquele que a sociedade deseja e espera, edo qual precisa.

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT – AP) –Permite-me V. Exª um aparte, Senadora Emilia Fer-nandes?

A SRA. EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT –RS) – Ouço, com muito prazer, o aparte de V. Exª, no-bre Senador Sebastião Rocha.

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT – AP) – No-bre Senadora Emilia Fernandes, em primeiro lugar,quero congratular-me com V. Exª pela iniciativa de,

juntamente com outros Srs. Senadores, destinar otempo da Hora do Expediente desta sessão a um de-bate sobre a educação nacional, em homenagem aoDia do Professor, que transcorreu no dia 15 passado.Ao mesmo tempo, manifesto o meu apoio a todas asiniciativas dos professores do nosso País, ao movi-mento que esteve em Brasília, a Marcha Pela Educa-ção, ocorrida recentemente, colocando-me inteira-mente à disposição para todas as questões relaciona-das à defesa da educação nacional, desde o ensinofundamental até o ensino superior. Enfatizo o ensinouniversitário, haja vista a função de médico que exer-ço. Aproveito também a oportunidade desta sessãode homenagem aos professores para dedicar pelomenos alguns segundos aos médicos do nosso País.Ontem, dia 18 de outubro, comemorou-se o Dia doMédico. Na condição de médico, quero prestar estahomenagem, salientando a importância da luta pelasaúde no Brasil. Recentemente, também esteve aquiuma marcha em favor da saúde, que pleiteava a apro-vação de dispositivo para vincular recursos para o se-tor da saúde tanto no âmbito federal quanto no muni-cipal e no estadual. É uma luta que estamos travando.Em breve, no Senado, certamente haveremos de dis-cutir essa matéria. Encerro dizendo que participo des-ta homenagem na esperança de que possamos darum futuro melhor para as nossas crianças, para osnossos adultos e para os nossos jovens, principal-mente, com uma educação de melhor qualidade euma saúde pública digna e mais eficiente em nossoPaís. Muito obrigado, Senadora Emilia Fernandes.

A SRA. EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT –RS) – Agradeço ao Senador Sebastião Rocha, Líderda nossa Bancada, pelo seu aparte, que incorporo aomeu pronunciamento, somando-me também à home-nagem prestada aos médicos. V. Exª, com a sensibili-dade e a dedicação que tem mostrado nesta Casacom a área da saúde, pode tranqüilamente ter e incor-porar esse sentimento no que se refere à educação.Se tivéssemos, neste País, pessoas mais conscien-tes, mais esclarecidas, que conhecessem realmentecomo preservar a sua saúde, teríamos um povo muitomais saudável. Sempre digo que as pessoas da áreada saúde, principalmente, têm a capacidade de incor-porar a sensibilidade, porque sabem que estão lidan-do com a vida. Neste País, hoje, não se trata a vida,não se trata a saúde. Corre-se atrás da doença, ten-tando fazer com que alguns não morram, quando tan-tos estão morrendo. Em determinados momentos –algo triste e injusto – chega-se ao ponto de escolheraquele que não vai morrer. Na educação acontecealgo semelhante. As pessoas que são da área da sa-

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úde têm essa sensibilidade especial e nós nos incor-poramos à sua luta em defesa da saúde. Se tivésse-mos pessoas mais esclarecidas, pessoas que enten-dessem que cuidar do meio ambiente é educação,pessoas que entendessem que exigir direitos é educa-ção, que defender saneamento básico nas comunida-des é educação e é saúde, teríamos, sem dúvida, umpovo mais saudável, um povo mais respeitado e viven-do em condições mais dignas. Agradeço o aparte.

Exatamente nessa linha de raciocínio que esta-mos seguindo, manifestei-me sobre a Marcha pelaEducação. Destaquei e reafirmo aqui que não é pos-sível continuarmos assistindo ao desmantelamentoda educação pública brasileira. É extremamente im-portante a educação pública, principalmente se levar-mos em conta que 85% dos estudantes brasileiros emescolas públicas pertencem às parcelas mais pobresda população.

A falta de compromisso mais amplo e definitivocom a educação – algo que percebemos e lamenta-mos a todo momento – verifica-se sob vários ângulos.Por exemplo, os salários aviltantes pagos aos profes-sores. É simplesmente uma vergonha que um profis-sional que precisa se qualificar, que precisa se profis-sionalizar e que precisa ter gosto e estímulo para de-sempenhar suas funções ganhe hoje R$100, R$200,R$300, R$400, R$500. Esse é um desafio que estáposto e precisa ser vencido neste País.

Além disso, são precárias as condições de tra-balho oferecidas. Sabemos da existência de inúmerasescolas que nem poderiam receber esse nome, taisas condições em que funcionam. E ainda se diz queelas são locais de trabalho! Sabemos que as suascondições de funcionamento são precaríssimas e há,inclusive, riscos para a saúde das nossas crianças edos nossos professores.

Estamos também diante de algo que consideroser uma agressão à visão da educação como estraté-gia para o desenvolvimento. Refiro-me à ameaça dese cortar recursos do Programa Especial de Treina-mento, PET. Esse programa vem cumprindo umagrande missão durante mais de vinte anos no Brasil etem um papel fundamental no campo da formação edo desenvolvimento tecnológico. Inclusive, é impor-tante que se diga que, numa investida coletiva parasalvar o PET, a Comissão de Educação da Câmaraestá apresentando uma emenda destinando a esseprograma R$20 milhões. Todos os parlamentaressensíveis ao assunto estão apoiando essa emenda.

Ainda no âmbito da educação – é importanteressaltar -, importantes emendas foram apresenta-das. A Comissão de Educação aprovou emendas

para o ensino universitário, para a alfabetização dejovens e adultos e para as escolas técnicas destePaís, que estão sucateadas. Se nós não investirmos naqualificação da nossa mão-de-obra, como poderemosesperar o desenvolvimento? É preciso também con-templar a alfabetização de mulheres, de trabalhadoresnos assentamentos rurais. Há todo um contingente queprecisa, na prática, ser levado em consideração.

Acreditamos numa educação voltada para a“pessoa toda”, uma educação que, sendo um ato pe-dagógico integrado e participativo, esteja voltada paraa particularidade individual, sim, mas sem desconsi-derar todas os aspectos do contexto social.

Queremos “uma pessoa educada por inteiro”,que construa o seu próprio conhecimento, que pense,que aja, que faça e, acima de tudo, que “seja”, umapessoa integrada e participante da história em quevive, que construa a sua própria história.

Não podemos mais pensar em educação ape-nas como algo imediato, que não atente para as ques-tões mais amplas. Acreditamos em uma educaçãoque também seja capaz de formar pessoas com senti-mentos mais universais e menos individualistas.

Srs. Parlamentares, com certeza, estaríamos vi-vendo em um país bem melhor, com progresso, comjustiça social e igualdade se imperassem na sociedadee nos governos valores como o desprendimento, o espí-rito de solidariedade e o compromisso com o desenvol-vimento do ser humano em todos os seus aspectos.

Há necessidade urgente de se identificar a edu-cação com valores, como também repensar a ques-tão da própria educação dos valores. Sabemos que aeducação se desenvolve através de valores culturaise sociais, que identificam e assinalam os objetivos aserem alcançados. A importância dos valores está naescolha dos mesmos e na sua apresentação. Muitosfalam em valores. Mas que valores hoje estão sendopassados para as nossas crianças, os nossos jovens,dentro e fora da escola? A educação dos valores nãoé alguma coisa a ser ensinada, mas sim a ser vivida.

Os novos tempos estão aí a desafiar a educa-ção, os educadores, os governos e a sociedade. Nãose pode definir modernidade como destruição dos fa-tos do passado e nem pela imposição de tendênciasdos novos tempos. A educação voltada para o futuronecessita contemplar essas questões com uma abor-dagem qualitativa, que reconheça as inovações, for-me cidadãos com visão crítica, com coragem, táticase estratégias que se configurem para a realização denovas gerações, onde o medo e a exclusão sejam su-perados pelos sonhos e ações transformadoras.

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A onda competitiva bate forte na educação àmedida em que tentam introduzir no sistema escolaros mecanismos do mercado, com ênfase no controlee na avaliação; na remuneração por mérito; no apoio àlivre iniciativa; na busca de maior racionalização ad-ministrativa, por exemplo. Por trás da vinculação, hátodo um ideário mistificador que precisa ser visto ecompreendido.

Para nos tornarmos um país competitivo, não épreciso transformar a educação em mercado, nempensar no lucro como um resultado, mas integrar osistema escolar, recolocar a valorização profissional eo bom produto – o aluno – como desejado, inserindo aescola como fonte de geração de renda, de empregoe de distribuição de capital e de conhecimento, inclu-indo essas metas nas ações estratégicas importantese necessárias dos governos. Aí sim a educação terá oseu valor e o seu espaço. Caso contrário, a educaçãoé enganação e objeto de dominação do pensamentoe do futuro das novas gerações.

Portanto, neste momento da vida do País, é fun-damental, além de apoiar os professores, inclusivecom melhores salários e condições de trabalho, ou-vi-los, integrá-los plenamente nos processos em dis-cussão, principalmente agora, quando estamos dis-cutindo o Plano Nacional de Educação. Repito: fazerum plano nacional de educação sem ouvir as nossasuniversidades, os nossos professores, os funcionári-os de nossas escolas, os nossos estudantes, é fazerum plano de cima para baixo, que logo, logo vai per-der valor aos olhos da sociedade brasileira.

O Brasil do presente e do futuro se faz com edu-cação, com formação técnica e tecnológica, com pro-moção da inteligência nacional. E isso significa apos-tar em nossas escolas e universidades, pois somenteo Estado, a sociedade, os brasileiros e, entre eles, ostrabalhadores e as trabalhadoras em educação, têmcompromisso com o nosso destino.

Parabéns, colegas professores, pela nossa luta,pela nossa garra, pela resistência e determinaçãocom que estamos construindo esta grande Nação.

Obrigada.

Durante o discurso da Sra. Emilia Fer-nandes, o Sr. Sebastião Rocha, deixa a ca-deira da presidência, que é ocupada peloSr. Mozarildo Cavalcanti.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) –Com a palavra o Senador Romeu Tuma.

O SR. ROMEU TUMA (PFL-SP. Pronuncia oseguinte discurso. Sem revisão do orador.) –Primeiramente, Senadora Emilia Fernandes, querocumprimentá-la pelo requerimento que fez para que

hoje pudéssemos homenagear a classe dostrabalhadores do ensino. Fez V. Exª um diagnósticoprofundo de todas as aflições e problemas que têmdificultado o trabalho daqueles que se dedicam aoensino.

Mais uma vez o Senado Federal dedica-se aprestar uma justa homenagem aos agentesprecursores do progresso, que viram sua datanacional transcorrer há quatro dias. Todavia, tantascomemorações do Dia do Professor houvesse, jamaisconseguiríamos expressar o reconhecimento devidopela sociedade brasileira àqueles que têm atranscendente missão de transmitir conhecimentosde uma geração a outra, de forma a sustentar odesenvolvimento intelectual e a moldar o caráter deseres humanos. Uma missão que se torna mais difícila cada dia, não só por causa dos transtornospessoais causados pela deficiente retribuiçãosalarial, como também por se desenvolver em umcontexto em que a criminalidade violenta,especialmente o narcotráfico, tenta incessantementefixar raízes entre os jovens, levando terror a mestres ealunos. Um contexto de insegurança que vitimacrianças às portas das escolas e também policiaisdesignados para protegê-las.

Apesar dos percalços, os mestres continuam agarantir-nos acesso à única herança legada pelosnossos antepassados que é imune à usurpação, ouseja, conhecimentos e recursos intelectuaisnecessários para se atingir a sabedoria. Têm osprofessores o sublime dever de orientar os sereshumanos na busca de uma existência feliz aogravar-lhes na memória registros que podem balizaracertos ou erros, avanços ou retrocessos nacaminhada em direção ao estágio supremo daevolução humana, tendo o respeito à vida e àliberdade como parâmetros máximos dessaevolução.

Há milênios, Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, como acontecia no antigo Egito, China eJudéia, esse nobilíssimo trabalho estava impregnadode religiosidade e empirismo, porque exclusivamentea sacerdotes e profetas estava reservado seuexercício. Já se escoou muito tempo desde que aforma racional, com a qual chegou aos nossos dias,começou a lhe ser dada pelos antigos gregos. O quemais importa, neste momento, é termos consciênciade que o nível máximo de evolução entre os povossempre será ocupado pelos que entregam a cidadãosbem formados – os professores – a responsabilidadepela educação sistemática da juventude. Mas longocaminho foi percorrido pela humanidade até percebere aceitar esse fato.

Nas sociedades medievais, bastava o saber aci-ma da média em relação a algum assunto para o re-

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conhecimento de alguém como professor na matéria.Já na Renascença, mestres como o italiano Vittorinoda Feltre, o alemão Johannes Sturm e o inglês JohnColet ganharam o respeito público ao notabiliza-rem-se por seus conhecimentos e habilidades deeducadores. Entretanto, pouca atenção era dedicadaà formação profissional de professores. A ascensãodos princípios democráticos contribuiu decisivamentepara propagar pelo mundo a certeza de que o desen-volvimento político, econômico e social das naçõespoderia ser acelerado pela educação individual doscidadãos, o que determinou o surgimento de institui-ções destinadas à formação profissional dos mestres.

Entre os registros históricos relativos ao adven-to dessas instituições, o mais antigo atribui a primaziaao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, estabele-cido em 1685, em Reims, França, pelo Padre e SantoS. João Batista de la Salle. No século XVIII, outras insti-tuições do gênero surgiram na França e Alemanha.Uma dessas escolas francesas, fundada em 1794, compatrocínio governamental, foi a primeira a seguir osprincípios do filósofo Jean Jacques Rousseau.

Rousseau, cujo pensamento continua vivo e anortear muitos programas pedagógicos, afirmava queos educadores devem dedicar-se, inicialmente, aodesenvolvimento mental e físico dos alunos para, de-pois, cuidar da matéria a ser ministrada. Esse princí-pio deu origem à doutrina básica que gerou toda a te-oria educacional existente e guiou sucessivas refor-mas do ensino brasileiro. Entre os inúmeros educado-res que aplicaram e desenvolveram as teorias peda-gógicas de Rousseau, o mais conhecido é o reforma-dor suíço Joahnn Heinrich Pestalozzi, que viveu noséculo XVIII.

Outro importante avanço para a formação deprofessores consolidou-se na Prússia do século XIX,graças ao pensamento do educador Johann FriedrichHerbart. Cabe a ele a iniciativa de estudar sistemati-camente os processos psicológicos do aprendizadocomo meio de planejar programas educacionais fun-damentados nas aptidões, habilidades e interessesdos estudantes. O sucesso dos métodos de Herbartlevaram à sua adoção em numerosos países, entreeles o Brasil.

Todas essas doutrinas repercutiram nas suces-sivas reformas feitas em nosso sistema educacionaldesde a Regência. Antes, a partir do momento emque aportaram os primeiros jesuítas com o Governa-dor-Geral Tomé de Sousa, tivéramos alguma educa-ção escolar promovida pelos religiosos. Aliás, o Brasilse desenvolveu ao redor de colégios jesuítas, criadose geridos de acordo com diretrizes educacionais

apresentadas pelo Pe. Manoel da Nóbrega e queabrangiam desde o ensino das primeiras letras até estu-dos humanísticos, filosóficos e teológicos. E, entre osprimeiros mestres, notabilizou-se o Pe. José de Anchie-ta, expoente daquele sistema de ensino, praticamenteúnico em três séculos de nossa vida colonial.

Embora a colonização brasileira se tenha inicia-do em 1530, nosso sistema de habilitação pedagógi-ca, na verdade, tomou forma efetiva há pouco mais deum século, tanto que a primeira escola normal foi fun-dada em 1835, em Niterói. Seguiram-se a da Bahia,em 1836; a do Ceará, em 1845; e a de São Paulo, em1846. Ocorre que, ao longo desses anos, por diversascausas, houve visível deterioração no respeito que asociedade deve aos professores, que se viram cons-trangidos a aceitar padrões de retribuição salarial ede trabalho incompatíveis com a magnitude de suastarefas. Estabeleceu-se um círculo vicioso no qual asdificuldades financeiras levaram ao excesso de traba-lho, e este, à inexistência de tempo para o aperfeiçoa-mento profissional.

Hoje, felizmente, temos um professor na Presi-dência da República e um Ministro da Educação à al-tura do esforço nacional para revalorizar o magistérioe, por conseqüência, o próprio ensino. O resultadodesses esforços já se faz sentir em qualidade e emquantidade em todo o solo pátrio, onde mais de 1,6milhão de professores atuam da pré-escola ao ensinomédio e cerca de 156 mil docentes lecionam no ensi-no superior.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é paramim por demais gratificante poder participar hoje des-ta merecida homenagem do Senado Federal aos ci-dadãos investidos da responsabilidade de educar edar forma ao nosso povo. Isso porque meu relaciona-mento com essa maravilhosa profissão aprofun-dou-se em casa, onde sempre senti bem de perto asangústias e as alegrias vividas pelos professores. Mi-nha esposa, Zilda, querida companheira de todas ashoras, exerceu a profissão por mais de 25 anos até setornar diretora, também por concurso público, e apo-sentar-se dez anos depois de assumir o cargo. Trêsdécadas como partícipe de suas preocupações foitempo mais que suficiente para me dar a noção exatada importância da categoria profissional que estamoshomenageando.

Graças a Zilda, posso regozijar-me com o fatode nossos quatro filhos, Romeu Júnior, Rogério,Ronaldo e Robson, por ela alfabetizados na escolapública, terem encontrado base sólida para virem a setornar Delegado de Polícia, Médico neurologista,Odontólogo, Bacharel e Deputado Federal, o caçula,

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numa notável demonstração do que deve terrepresentado sua passagem como docente peloensino público. Tenho, portanto, a felicidade de podercultuar em família um autêntico símbolo dessahonrosa e meritória profissão.

O Sr. Gerson Camata (PMDB – ES) – V. Exª mepermite um aparte?

O SR. ROMEU TUMA (PFL – SP) – Pois não,Senador Gerson Camata, com muita honra e prazer.

O Sr. Gerson Camata (PMDB – ES) – SenadorRomeu Tuma, quero me solidarizar com a homena-gem que está prestando aos professores brasileiros.V. Exª lembra bem o fato de que eles moldam, formame constróem o País através da educação e, às vezes,sofrem muito. Sofrem incompreensões, sofrem pres-sões por parte da sociedade, muitas vezes com umadiscriminação que vai até para a área econômica.Assim, nesta homenagem que V. Exª está prestandoao professor, vou trazer à reflexão e ao pensamentouma conversa que tive há poucos dias, em Vitória,com uma professora – cujo nome não vou dizer por-que ela não me autorizou – que se aposentou há oitoanos. Depois de oito anos sem dar aulas, uma colega,que estava precisando se ausentar por uma semana,pediu que ela a substituísse, na mesma escola ondehavia trabalhado. E ela me contou que o mundo haviamudado em oito anos. Ela me disse: “Os alunos nãorespeitam mais o professor: jogam giz na gente, falampalavrões. O mundo mudou de uma maneira que,hoje, eu não seria mais professora”. Isso em apenasoito anos. Ela me disse ainda: “A família, ao invés deiniciar dentro da própria casa a educação, transfere-atotalmente – até a educação ética e moral – para oprofessor, para a escola. Muitos meninos chegam àescola sem apreço e sem respeito pelo professor epela escola. E, muitas vezes, o professor é vítima, atéquando repreende o aluno, da incompreensão de al-guns pais”. De modo que, nesta homenagem ao pro-fessor, devemos refletir um pouco sobre isso: essasestranhas mudanças na sociedade que tornaramuma profissão tão nobre e tão bonita, que deveria serpraticamente carregada pelas asas dos anjos, numacarga tão pesada, num caminho cheio de espinhos,nódulos e pedras, difícil de atravessar. Ao me associ-ar à homenagem que V. Exª rende aos professores,esperamos que – como V. Exª citou o exemplo da suafamília – os pais façam da escola um complemento doprocesso educacional que, antes de tudo, deve ser fe-ito no lar, em casa.

O SR. ROMEU TUMA (PFL – SP) – SenadorGerson Camata, é sempre uma honra ser aparteadopor V. Exª, não só pela sua experiência como adminis-

trador público, mas também pela sua visão global domundo de hoje e das dificuldades que enfrenta cadacategoria profissional.

A história que V. Exª traz ao nosso conhecimen-to – permito-me incorporá-la ao meu discurso – não édiferente daquela que minha esposa se referiu ao seaposentar. Não havia mais nem condições de prepa-rar as aulas por antecipação, como de hábito, à noite,em casa, tranqüilo.

Hoje, o Ministro da Educação esteve na Comis-são Mista de Combate à Pobreza – inclusive, o Sena-dor Pedro Simon elogiou o trabalho que S. Exª vemdesenvolvendo à frente do Ministério da Educação,que merece todo o nosso respeito e simpatia – e per-guntei-lhe como evitar que a violência invada a esco-la, como vem ocorrendo. Ontem, vi pela televisão asimagens da fuga de prisioneiros de uma delegaciaque funcionava ao lado de uma escola pública em Pi-rituba, um bairro de trabalhadores na periferia de SãoPaulo. Os marginais pularam o muro da escola, a polí-cia tentou recapturá-los e houve um tiroteio imenso.Foi chocante a imagem de crianças de quatro a seisanos desesperadas, chorando, apelando pela pre-sença dos pais, trancadas dentro da escola pelos pro-fessores, que também sentiam uma angústia profun-da e não sabiam que caminho dar àqueles alunos,porque os marginais não tinham respeito, invadiram aescola e trocavam tiros com os policiais. Situaçõescomo essa acovardam o professor. Atualmente, o pro-fessor fica inibido e receoso de ter que enfrentar mar-ginais, às vezes os próprios alunos, que traficam ouusam drogas e agridem quem não têm de agredir, oprofessor.

V. Exª traz não só um princípio importante para re-flexão, mas também mostra a necessidade de mudaressa situação, senão as futuras gerações terão sobre si,sem dúvida alguma, marcas para toda a vida.E isso nãoserá bom para o País e para a formação moral e profis-sional de cada uma dessas crianças.

Antes de encerrar, quero reproduzir um textoque encontrei no site do Ministério da Educação,que parece retratar por inteiro os vários papéis as-sumidos pelos professores nas salas de aula. Tra-ta-se de síntese do que se lê na obra “A Arte do Ma-gistério”, numa tradução de Edmond Jorge, e que dizo seguinte:

“Ser professor é ser...”“... um guia na jornada do aprendiza-

do. Como guia, baseado na sua experiên-cia, no seu conhecimento da estrada e dosviajantes, o professor fixa as metas, estabe-lece os limites da viagem, determina o cami-

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nho a ser tomado, enriquece todos os as-pectos da jornada e avalia o progresso. “

“...um professor que ajuda o estudantea aprender aquilo que desconhece e a com-preender o que aprende. O professor éaquele que torna clara as coisas obscuras,esforça-se para se tornar cada vez mais ca-paz em atividades e processos que contri-buem para tornar significativas as coisas di-fíceis.”

“...um modernizador que traduz a ex-periência do homem em termos que têmsignificado para o estudante. O professorfaz a ponte entre gerações, traz as expe-riências e realizações do homem ao longode sua existência, de maneira a atravessaro abismo entre os conhecimentos de épo-cas anteriores à do estudante.”

“...um modelo para os seus estudantese para todos os que nele pensam como pro-fessor. Ser um exemplo pode enriquecer osignificado do ensino se o professor souberaceitar e usar esse papel com capacidade ehumildade, sem considerá-lo um fardo ouuma presunção.”

“...um pesquisador, aquele que investi-ga e está eternamente à procura da verdadee do conhecimento. O entusiasmo pelo sa-ber e pela compreensão torna-se um anseiopela ampliação das fronteiras do conhecidoe pela diminuição das fronteiras da ignorân-cia.”

“...um conselheiro e um confidentepara seus estudantes e, muitas vezes, paraseus pais. A própria natureza do ensino co-loca o professor nessa posição, já que o es-tudante está sempre enfrentando a necessi-dade de tomar decisões e busca no profes-sor a ajuda para fazer a escolha certa.”

“...um criador, aquele que demonstra eliberta o processo criador. A sala de aula deum professor funciona como a miniatura deum universo e seu papel é estimular a capa-cidade criadora.”

“...uma autoridade, aquele que sabe esabe que sabe. O professor deve saber, nãotudo, naturalmente, nem nada, completa-mente, pois isso é impossível, mas deve sa-ber muito e mais dos que o acompanhamem determinada jornada de aprendizado.”

“...um inspirador que oferece uma vi-são de grandeza para seus estudantes. O

professor é inspirado pela idéia de que o en-sino, em seu mais alto grau, sempre foi es-sencialmente o desenvolvimento, libertaçãoe aperfeiçoamento daquilo que está contidono estudante.”

“...um rotineiro que faz, com certa ha-bilidade e desembaraçadamente, incontáve-is rotinas. O professor, como outros profissi-onais, enfrenta o trabalho repetitivo e procu-rar praticar essa rotina com estilo, de manei-ra que ela passe a ser mais um meio para ocrescimento e eficiência do que um fardo euma frustração.”

“...um desbravador, aquele que estásempre em marcha. Ele ajuda os estudan-tes a abandonar o velho para que o novopossa ser experimentado.”

“...um contador de histórias que, usan-do o som humano, devolve a vida ao me-nestrel, morto há muito tempo, que outroranarrava contos de guerra, de reis e de civili-zações distantes, das esperanças e sonhosda humanidade, das tragédias e malogrosdo homem como ele era e é, da terra e detudo nela contido.”

“...um ator que estuda a sua platéia empotencial, o estudante, e inventa meios pe-los quais pode conquistar a atenção dessaplatéia em determinado dia, prendendo-a aum trecho da matéria que ele, o professor,determinou que será o foco da atenção na-quele momento.”

“...um cenarista que entra numa salavazia e a transforma no seu palco. Visual,verbalmente ou de ambas as maneiras, oprofessor cria um cenário, um momento, umplano de cores e um projeto que apoiarão omaterial que está sendo ensinado.”

“...um construtor de comunidades queprocura proporcionar caminhos de compre-ensão e respeito entre os estudantes, demodo que eles possam se comunicar livre-mente e respeitar os padrões individuaisuns dos outros, ao mesmo tempo que coo-peram e constroem uma comunidade maiore melhor na qual todos possam viver.”

“... um aluno que aprende dos seus es-tudantes e com eles. Se o professor pára decrescer como aluno, corre o perigo de tor-nar-se apenas um treinador que está presoem seu próprio desenvolvimento.”

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“ ... aquele que enfrenta a realidade demodo a ajudar os estudantes a descobrirema interação e o propósito do conhecimento,relacionando o que aprenderam com a suaprópria realidade.”

“ ... um emancipador que vê o potenci-al no estudante. O professor percebe a ne-cessidade de experiência, de reconheci-mento e estímulo do aluno e por isso se es-força para libertá-lo da imagem infeliz de simesmo, da ignorância e de sentimentos derejeição e inferioridade.”

“ ... um avaliador que, independente-mente do progresso que o estudante tenhafeito (uma vez que todos avançam em velo-cidades e níveis diferentes), é capaz de lou-var e encorajar o estudante em termos doseu próprio êxito.”

“... um conservador, aquele que redi-me, salva e conserva. Como tal deve sergeneroso e abnegado, sejam quais forem asfraquezas ou erros cometidos pelos estu-dantes.”

“... aquele que atinge o auge, que fo-caliza periodicamente o processo de apren-dizado dando-lhe um sentido de conclusãoe realização. Ele planeja a situação deaprendizado de forma que haja pontos cul-minantes, términos ou finais.”

“... uma pessoa que desenvolve ativi-dades que só têm realidade e significadosse forem expressas por uma personalidadeindividual. A essência da arte do ensino estáno caráter da pessoa.”

Era o que me cabia dizer, Sr. Presidente.Obrigado pela tolerância.O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) –

Encerrada a lista de oradores inscritos para prestarhomenagem pelo transcurso do Dia do Professor, aMesa se associa às homenagens justas aqui presta-das a todos os professores do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) – OSr. Senador Mauro Miranda enviou discurso à Mesa,para ser publicado na forma do disposto no art. 203do Regimento interno.

S. Exª será atendido.O SR. MAURO MIRANDA (PMDB – GO) – Sr.

Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ocupo hoje estaTribuna para registrar a passagem de uma data muitoespecial. Trata-se do Dia do Professor, comemoradona última sexta-feira, 15 de outubro. Gostariasinceramente que minha intervenção não seja

recebida como mero gesto protocolar. Meu objetivo éo de reconhecer o trabalho diuturno e patriótico dosmestres brasileiros, que têm a enorme e dignificanteresponsabilidade de, tanto pelo exemplo quanto pelatransmissão do saber, preparar nossas crianças,nossos adolescentes e nossos jovens para a vida.

Creio que este momento é uma boaoportunidade para a reflexão sobre o exercício domagistério em nosso país. A rigor, vai longe o tempoem que a educação formal, aquela que ocorre nassalas de aula, era privilégio de uns poucos.Felizmente, nos dias de hoje, o sistema educacionaltransformou-se de tal forma que podemos falar emeducação de massas. Basta lembrar que, naatualidade, algo em torno de 96% de nossas criançasem idade escolar estão matriculadas no ensinofundamental.

Essa universalização só vem sendo possívelgraças às ações do Poder Público, sob a pressão dasociedade civil, mas principalmente graças à adesãoabnegada, responsável, competente e apaixonadade nossa classe de professores. Não existe políticaeducacional, por mais eficiente que seja, que consigasubstituir o trabalho do professor junto a seus alunos.Não há aporte tecnólogico algum, por mais atraentee dinâmico que seja, que tenha a força e a magia dapresença do mestre na sala de aula!

Senhoras e Senhores Senadores, apesar daimportância dos professores na formação de nossasociedade, ainda vivemos uma realidade muito tristequanto às recompensas obtidas pelos profissionaisde educação. Salário medíocres e péssimascondições de trabalho ainda são a marca dominanteno mercado de trabalho dos profissionais de ensino.Não basta apenas o reconhecimento moral pelagrandeza de seu trabalha no desenho do nossofuturo. É imperativo mudar as políticas oficiais paraassegurar contrapartidas que levem à dignidade e àvalorização do professor.

Deve-se reconhecer que alguns avanços nãodeixam de estar ocorrendo. A criação do Fundef, ofundo voltado para o financiamento do ensinofundamental e a valorização do magistério, emboraainda dependente de aperfeiçoamentos, estácontribuindo para tornar menos absurdo os saláriospagos aos professores. Em algumas regiõesbrasileiras, como o Nordeste, segundo asinformações do MEC, a remuneração chegou a sertriplicada.

Entretanto, também sabemos que essasconquistas são ainda muito tímidas. É precisoavançar muito mais, de modo a fazer do magistériouma profissão atraente em todos os sentidos, tanto no planoda realização pessoal quanto no plano da realização

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material. É mínimo que se pode exigir comoretribuição a quem faz de sua vida um exercíciocotidiano de doação e de amor ao seu semelhante.

Nessa perspectiva, Senhoras e Senhores Sena-dores, eu diria que as ações do MEC ainda são extre-mamente tímidas para a valorização da comunidade dedocentes do nosso país. É claro que o governo alcan-çou vitórias importantes nas suas políticas educaciona-is, mas ainda há muito por fazer para o professor.

Considero que pelo menos em dois aspectosessenciais as políticas para o setor devem ser revis-tas. De um lado, o esforço para a fixação de um pisosalarial compatível com o trabalho realizado pelosprofessores; de outro, tão ou mais importante que oprimeiro, a elaboração de uma política nacional volta-da para a formação inicial e continuada dos docentesbrasileiros.

Não temos o direito de ignorar que hoje, em todoPaís, atuam na educação básica cerca de seiscentosmil professores que jamais tiveram acesso a um cursode graduação. Parece não haver dúvida de que essadeficiência na formação docente fatalmente se refleti-rá no trabalho de sala de aula. Assim, se realmenteestivermos dispostos a promover sensível melhoriano desempenho de nossos estudantes, reduzindodrasticamente os índices de evasão e de repetência aprimeira providência será a de oferecer a esses mi-lhares de professores a chance de seguir em seus es-tudos.

Senhor Presidente, sabemos que as condiçõesdo mundo contemporâneo são bem distintas daque-las existentes há algumas décadas. Hoje, a velocida-de da informação obriga à valorização crescente daformação continuada. Não é um luxo, mas uma ne-cessidade. Manter atualizado o conhecimento é o mí-nimo que se exige de um professor. Cabe ao PoderPúblico oferecer as condições necessárias para queisso ocorra.

No último dia 15 de outubro, o MEC anunciou osparâmetros que deverão nortear os cursos formado-res de docentes. É sem dúvida uma postura positivado governo, mas ainda é pouco diante de tantas ne-cessidades. As universidades precisam repensarseus cursos de licenciatura, tornando-os adequadosàs novas exigências dos tempos atuais. Estados eMunicípios não podem retardar as ações que são desua responsabilidade na Lei de Diretrizes e Bases,quanto à formação do professor. E ao MEC, acima detudo, cabe propor uma política nacional de formaçãoinicial e continuada dos docentes.

Acredito que essa seria a melhor maneira de va-lorizar a passagem do Dia do Professor. A preocupa-

ção do Governo e de toda a sociedade deve ser nosentido de reconhecer e louvar o trabalho brilhante epaciente que é realizado pelos profissionais de edu-cação, mas, acima de tudo, de não ignorar as dificul-dades para a plena realização do ofício de professor.Todos nós, nesta Casa, temos essa responsabilidadede alertar o Poder Público para suas graves e intrans-feríveis responsabilidades. E eu, particularmente,quero me associar a esta causa. Não há caminho me-lhor para a construção de um Brasil com o qual todossonhamos: um Brasil de paz, justiça, fraternidade e ci-dadania.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muitoobrigado.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) –Sobre a mesa, expediente que passo a ler.

É lido o seguinte

EXPEDIENTE

MENSAGENS

DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Nº 191, de 1999 (nº 1.480/99, na origem), de 18do corrente, restituindo autógrafos do Projeto de Leinº 14, de 1999-CN, que abre aos Orçamentos Fiscal eda Seguridade Social da União, em favor de diversosÓrgãos do Poder Judiciário, crédito suplementar novalor global de quatro milhões, duzentos e quarenta eseis mil, duzentos e trinta e sete reais, sancionado etransformado na Lei nº 9.843, de 18 de outubro de1999; e

Nº 192, de 1999 (nº 1.481/99, na origem), de 18do corrente, restituindo autógrafos do Projeto de Leinº 16, de 1999-CN, que abre ao Orçamento Fiscal daUnião, em favor do Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior, crédito suplementar novalor de trinta e seis milhões, novecentos e oitenta etrês mil e setecentos reais, sancionado e transforma-do na Lei nº 9.844, de 18 de outubro de 1999.

AVISOS

DO MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE

Nº 621/99, de 13 do corrente, encaminhando asinformações referentes ao Requerimento nº 389, de1999, do Senador Ademir Andrade. e

Nº 622/99, de 13 do corrente, encaminhando asinformações referentes ao Requerimento nº 261, de1999, do Senador Geraldo Melo. Ao Arquivo.

As informações foram encaminhadas,em cópia, aos requerentes.

Os requerimentos vão ao Arquivo.

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58 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) –Passa-se à lista de oradores.

Com a palavra o Senador Paulo Hartung, porpermuta com o Senador Álvaro Dias.

O SR. PAULO HARTUNG (PPS – ES.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aconclusão do Estudo dos Eixos Nacionais deIntegração e Desenvolvimento, parte integrante doPrograma Brasil em Ação, trouxe à luz uma notávelbase de informações para o País, sobretudo nasáreas de transportes, energia e comunicações. É dese destacar que, pela primeira vez, o diagnóstico dasnecessidades de infra-estrutura produtiva foiconduzido em conjunto com o diagnóstico dasnecessidades sociais. Pensar integradamente oeconômico e o social é fundamental àcompetitividade sistêmica do nosso País. E é isso quediferencia esse plano de tantos outros.

Assim, o que temos ao final do Estudo é umamplo painel comparativo das diversas Regiõesbrasileiras, contendo dados sobre as oportunidadesde investimentos produtivos, necessidade deinfra-estrutura produtiva e demandas sociais. Dadosque, sem dúvida alguma, poderão nortear oplanejamento das ações de longo prazo, tanto doGoverno Federal quanto dos Governos Estaduais,das prefeituras, enfim, de todos os níveis de governo,como também, Sr. Presidente, da própria iniciativaprivada.

Essa base de informações trouxe subsídiosextremamente relevantes para a melhor alocação dosrecursos públicos, especialmente os recursos geridospela União. Ao mesmo tempo informa para a iniciativaprivada as diferentes perspectivas de desenvolvimentopara os distintos setores da economia brasileira, bemcomo para determinadas frações do território nacional.

É importante enfatizar, Sr. Presidente, que asprioridades em matéria de infra-estrutura queemergiram do Estudo, e que integram a proposta doPlano Plurianual de Aplicações do Governo Federal –PPA, visam a dar qualidade e capacidade de resoluçãoao investimento público, na medida em que este passa,agora, a estar orientado para programas e projetos bemdefinidos e com propósitos bem claros. O que rompecom uma maldita tradição de pulverização de recursospúblicos.

Mais precisamente, os projetos assinalados noPPA têm como propósito nítido a busca de ordeminfra-estrutural que seja capaz de preservar epromover a solidariedade entre as Regiõesbrasileiras e, ao mesmo tempo, dotar o País decondições de acesso competitivo aos diversosmercados do Globo. Uma ordem infra-estrutural nocampo econômico e social, portanto, capaz depropiciar ao Brasil as bases para uma definitiva

integração interna e uma progressiva integraçãoexterna – nos dias de hoje, Sr. Presidente, doispilares fundamentais para a sobrevivência dequalquer nação soberana.

Em suma, quando se busca proporcionar ao Paísum novo ordenamento infra-estrutural, base para umanova ordem territorial fundada na integração interna eexterna com já mencionei anteriormente, o PPAapresenta-se como um instrumento indispensável para aorientação das ações governamentais em todos osníveis, seja na alocação dos recursos públicos, seja nodesenho e na busca de parcerias com o capital privado.

O conjunto de investimentos em infra-estruturaeconômica e social identificado pelos Estudos dos Eixose relacionado no PPA representa a primeirapreocupação explícita com projetos de economia físicadesde que se instalou no Brasil o chamado monopólio damacroeconomia, para não dizer a ditadura damacroeconomia, em fins dos anos setenta. Na verdade,Sr. Presidente, é o maior esforço deliberado deordenamento infra-estrutural do País desde o Plano deMetas de JK e o maior esforço de investimento produtivodesde que o II PND foi engavetado na segunda metadedos anos setenta.

Para o Espírito Santo, Estado que tenho a honrade representar, os projetos contidos no Avança Brasilsão os seguintes: gasoduto Cabiúnas, que vai trazer ogás de Campos à região metropolitana da GrandeVitória; duas termoelétricas, uma na regiãometropolitana e outra no norte capixaba; oalargamento e melhorias da BR-101 Sul; a ferroviaLitorânea Sul; o porto de Barra do Riacho; o Porto deUbu; projetos de infra-estrutura hídrica; o novoaeroporto de Vitória; e o terminal de contêineres doPorto de Vitória.

É bom que se diga, Sr. Presidente, que,apesar desses projetos previstos, queconsideramos importantes, o Espírito Santo nãoaparece claramente contemplado no Estudo dosEixos, pois ao Corredor Centro-Leste, nos últimosquarenta anos o nosso principal vetor dedesenvolvimento, não foi dado o status de EixoNacional de Integração e Desenvolvimento. Aocontrário, todo o Corredor Centro-Leste, suaspeculiaridades, suas potencialidades e suaimportância, tanto para o Espírito Santo quantopara o leste de Minas Gerais e para outros Estadosda região central do País, foi singelamente diluídono conceito de Rede Sudeste. Essa diluição, alémde encobrir as heterogeneidades internas daRegião Sudeste, permitiu que o centro políticoeconômico da Região fosse perigosamentedeslocado para São Paulo e para o centro-sul doRio de Janeiro, o que na minha visão não é nadacompatível com os objetivos desse novo modo deplanejar o Brasil – que tem como fundamento a

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desconcentração econômica, a integração dasregiões, como disse anteriormente, e a diminuição docusto Brasil. Pior, Sr. Presidente, o CorrredorCentro-Leste foi reduzido à condição de mera estradade ferro, fato que decorre do deslocamento da noçãode Corredor Centro-Leste para o Rio de Janeiro(porto de Sepetiba) e para São Paulo (porto deSantos).

Temos a convicção, Sr. Presidente, de que foium erro do Estudo dos Eixos não ter conferido ao Cor-redor Centro-Leste o status de Eixo Nacional de Inte-gração e Desenvolvimento. Mais ainda, os Estudosdeveriam ter apontado explicitamente investimentosque procurassem alargar sua área de influência noBrasil central, especialmente pela sua efetiva ligaçãocom a região do triângulo mineiro, a partir de Belo Ho-rizonte; com o Distrito Federal, também a partir BeloHorizonte, via Pirapora e Unaí.

O Sr. Gerson Camata (PMDB – ES) – V. Exª mepermite um aparte?

O SR. PAULO HARTUNG (PPS – ES) – Conce-do um aparte ao Senador Gerson Camata com muitoprazer.

O Sr. Gerson Camata (PMDB – ES) – SenadorPaulo Hartung, V. Exª aborda com muita propriedadee com o conhecimento e com a habilidade que lhe sãopeculiares um tema que é muito caro aos capixabas.Nós, hoje, enfrentamos – e V. Exª o sabe muito bem –dois problemas muito sérios. Um deles é a competi-ção com o Estado do Rio de Janeiro, onde um portoartificial, sem nenhuma estrutura no mapa do Brasil,está sendo inventado com enormes investimentos doGoverno Federal, tirando do centro das discussõesou do centro da economia os portos capixabas, quesão, em todo o seu complexo, o maior complexo por-tuário não do Brasil ou da América do Sul, mas doContinente Sul, abaixo do Equador. Há pouco eu es-tava almoçando – e o disse a V. Exª – com o Ministrodos Transportes dos Estados Unidos. Naquela oca-sião, juntamente com o representante diplomático da-quele País, S. Exª enfatizava a necessidade da inte-gração da América do Sul com a América do Norte,dizendo que sem transportes não há economia. Expli-quei a S. Exª o que significa o porto de Vitória para oBrasil, principalmente para o centro do País. E V. Exªmenciona agora – talvez por um erro ou um lapso dememória que ocorreu no planejamento – o porquê deesse não ter sido considerado até mesmo o principalcorredor. V. Exª sabe que o pão que comemos aqui,em Brasília, entra pelo porto de Vitória e chega detrem até aqui. Já existe um corredor, embora preciseser incrementado; existem nós que precisam ser refe-itos. V. Exª, então, aborda essa posição. Ele é impor-

tante para o Espírito Santo, mas é muito mais impor-tante para o Brasil, porque esse corredor pode até – eV. Exª sabe que há estudos bem adiantados nessesentido, feitos fora do Brasil – avançar por Goiás,Mato Grosso e ligar o oceano Atlântico ao OceanoPacífico. Esse é o grande projeto. Assim os nor-te-americanos o vêem; assim os japoneses o vêem,porque as mercadorias brasileiras, a soja brasileira egrande parte da nossa produção pode sair pelo Pací-fico e alcançar a Ásia com maior rapidez e com maioreconomia de transporte. Quero voltar ao início do seupronunciamento, quando V. Exª enfatizou que o Bra-sil está se vendo de uma maneira diferente em rela-ção ao PPA que vamos começar a discutir – aliás, já oestamos discutindo. O importante e o interessantedesse projeto – e aí cito como exemplo, para ilustrar oque V. Exª disse – é que nunca vi, e creio que V. Exªtambém não, um Ministro de Estado ficar dois dias noEspírito Santo. Já vi uma vez, quando um Ministro es-teve na praia de Guarapari, num sábado e num domin-go. Mas o Ministro Martus ficou no Espírito Santo comtoda a equipe do Ministério, como V. Exª sabe, um dia euma noite, trabalhando, sentado, junto com os cabeçasdo Estado, com os empresários e com quem mais qui-sesse discutir problemas do Estado. S. Exª saiu de lá –percebi isso – como um dos brasileiros que mais enten-dem de problemas do Espírito Santo e da integração doEstado com o resto do Brasil. De modo que V. Exª enfo-ca, com muita oportunidade, essa exigência do Brasil,que acaba desaguando no Espírito Santo pela posiçãoestratégica do Estado, que fica na costa da América doSul e do Brasil, que é a implementação do corredor cen-tro-leste. Cumprimento-o e associo-me a V. Exª em re-lação ao que disse em seu pronunciamento.

O SR. PAULO HARTUNG (PSDB – ES) – Muitoobrigado, Senador Camata.

Creio que V.Exª tocou no ponto fundamental.Naverdade, não se está pedindo um favor à União. Essaé uma forma de ajudar o Brasil efetivamente a cres-cer, a se desenvolver, a gerar emprego, a gerar renda,a integrar as suas regiões, a desconcentrar o desen-volvimento econômico que tantos problemas têm tra-zido para as grandes metrópoles, como é o caso doRio de Janeiro, como é o caso de São Paulo. Por issofrisamos a importância desse planejamento no iníciodo pronunciamento, o ponto positivo que isso significana conjuntura.

Como procedeu, por exemplo, em outros eixosidentificados – a exemplo do Araguaia-Tocantins ouaté mesmo o do São Francisco – o estudo deveria terassociado a estrada de ferro Vitória-Minas ao rioDoce e considerado, ambos, integradamente, ele-

66 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

mentos vertebrados do eixo de desenvolvimento docentro-leste brasileiro.

Sem a potencialização, Sr. Presidente, do usoda estrada de ferro e sem um grande esforço de aden-samento do desenvolvimento ao longo do seu traçado,para o qual a água do rio Doce, em quantidade e quali-dade, representa uma condição indispensável, especi-almente para o consumo humano e para o desenvolvi-mento da agricultura, dificilmente teremos condições deextrair do corredor centro-leste, como ele se apresentahoje, o seu grande potencial de desenvolvimento para oEspírito Santo, sim; para Minas Gerais, sim; para Bra-sília, para Goiás e para o Brasil – repito.

Entendemos que o Espírito Santo, assim comooutras unidades da Federação, abriga regiões que es-tão a depender de uma ação mais presente e pró-ativapor parte da União. Mas temos também a clareza deque, em contrapartida, o Espírito Santo pode, como osoutros Estados da Federação, em muito ajudar o País,sobretudo pelo extraordinário potencial de in-fra-estrutura ali instalada, especialmente portos e ferro-vias, a qual, a despeito de necessidades prementes demodernização, encontram-se ainda amplamente ociosa– é bom que eu o repita para que o Brasil nos ouça.

O melhor aproveitamento do potencial do co-mércio exterior localizado no litoral capixaba pode,pela dinamização da economia dos Municípios do in-terior do Estado, ajudar o País a solucionar os gravesproblemas de desenvolvimento das regiões estagna-das, especialmente daquelas localizadas em nossopróprio território.

No entanto, Sr. Presidente, a verdade é que, nosúltimos anos, o Brasil esteve um pouco “de costas” parao Estado do Espírito Santo. Ao longo de toda a décadade 90, o Espírito Santo vem sendo progressivamentemarginalizado no concerto dos Estados brasileiros. Issoé inaceitável! O fato é que não aceitamos, em hipótesealguma, ser reduzidos à condição de Estado periférico –como creio que nenhum Estado deve aceitar essa con-dição. O nosso Estado merece – e não abre mão – umtratamento proporcional ao seu potencial e à sua contri-buição ao desenvolvimento nacional.

Por último, deve ficar claro que essa correçãonos eixos nacionais de integração e desenvolvimento,pela explícita consideração do eixo nacional de de-senvolvimento do centro-leste, não interessa apenasa um Estado ou a dois ou a três, interessa a uma re-gião que congrega os Estados de Minas Gerais, Go-iás, Brasília e outros. Enfim, Sr. Presidente, interessaa todas as unidades da Federação que congregam ochamado Brasil central.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB – AP) – V. Exª meconcede um aparte?

O SR. PAULO HARTUNG (PSDB – ES) – Commuito prazer, Senador Gilvam. Quero saudá-lo, inclu-sive, porque V. Exª esteve recentemente no nossoEstado e fez uma longa caminhada, valorizando mui-to o nosso litoral, as nossas tradições culturais, a nos-sa religiosidade. Quero antecipadamente saudá-lo.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB – AP) – SenadorHartung, realmente quero me congratular com V. Exª,quando ocupa esta tribuna defendendo propostas efazendo uma avaliação atualizada e estratégica doEstado de V. Exª. A convite da Senadora Luzia Toledo,estive no Espírito Santo, como o disse há pouco aoSenador Camata. Realmente fiquei encantado comaquele Estado, onde fiz os Passos de Anchieta – 105quilômetros. Quando nos lembramos do Espírito San-to, não pensamos apenas no potencial do café, mastambém no ferro, no porto. Observei ainda o grandepotencial turístico que é a costa do Estado. Quero mecongratular com V. Exª e dizer que, lá, recebi um cari-nho especial e vi um povo fabuloso, tão bem retratadotanto por V. Exª, pelo Senador Camata, como pela Se-nadora Luzia Toledo. Para nós foi realmente um moti-vo de orgulho. V. Exª, dessa tribuna, defende, tececonsiderações sobre as necessidades urgentes echama a atenção do Brasil para as prioridades do seuEstado, o Espírito Santo. Realmente, foi fabuloso. Ca-minhei com Anchieta e digo a V. Exª que, de acordocom o contato espiritual que tive, o movimento parasua canonização não deve continuar, porque Anchie-ta não quer ser canonizado. Senti isso nessa cami-nhada. No poço onde ele parava para beber água, tiveum contato muito importante. Conversarei sobre isso,particularmente, com V. Exª, um dos líderes, para lhefornecer algumas informações a respeito dessa nos-sa grande caminhada. Portanto, Senador Paulo Har-tung, estão de parabéns V. Exª e todo o povo do Esta-do do Espírito Santo.

O SR. PAULO HARTUNG (PPS – ES) – Sena-dor Gilvam Borges, já terminando o meu pronuncia-mento, agradeço o aparte que V. Exª me oferece, for-talecendo as idéias que eu trouxe para a discussão.Tais idéias não são regionais, são nacionais, e inte-gram o regional no contexto do País, envolvendo deforma solidária as regiões.

O modelo de desenvolvimento do País – estámuito claro – foi equivocado. Os problemas, as conse-qüências e a concentração do desenvolvimento eco-nômico são radiografias dessa afirmativa que acabeide fazer.

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Agradeço muito a V. Exª pelo seu aparte e tam-bém por ter aceito o convite de percorrer um trecho dosmais belos do litoral brasileiro, que vai da Capital até acidade de Anchieta. A presença de V. Exª engrandeceuainda mais esse movimento que os capixabas e os bra-sileiros têm feito, de seguir os passos de Anchieta, forta-lecendo ainda mais as nossas convicções religiosas e,ao mesmo tempo, abrindo uma janela para o turismo,uma potencialidade muito grande do nosso Estado e donosso País, mal explorada de norte a sul.

Agradeço-o pelo aparte, bem como o faço aoSenador Gerson Camata, pelo aparte, e ao Presiden-te, pela paciência.

Muito obrigado.

Durante o discurso do Sr. Paulo Har-tung, o Sr. Mozarildo Cavalcanti, deixa a ca-deira da presidência, que é ocupada suces-sivamente pelos Srs. Ademir Andrade, 2º Vi-ce-Presidente e Antonio Carlos Magalhães,Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Convoco as Srªs e os Srs. Senadoresque estão em outras dependências da Casa paravirem ao plenário, porque teremos votação nominalcom efeito administrativo.

Prorrogo por 10 minutos a Hora do Expedientepara que possam fazer uso da palavra os Srs.Senadores Sebastião Rocha, Eduardo Suplicy eMaguito Vilela para uma comunicação inadiável.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB – GO) – Sr.Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Pela ordem, concedo a palavra aoSenador Maguito Vilela.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB – GO. Pelaordem. Sem revisão do orador.) – Gostaria derequerer minha inscrição para uma comunicação, sehouver tempo, no horário regimental. Obrigado.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP.Para uma comunicação inadiável. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,tenho pautado minha atuação no Senado daRepública pelo zelo e pelo cuidado ao tratar, comprioridade, as questões de interesse do meu Estado ede interesse nacional, deixando um pouco de lado asquestões paroquiais, chamadas provincianas, queenvolvem o Governo do Estado, sobretudo em funçãode ser de Oposição em meu Estado e, em nívelnacional, em função de o PDT ser um aliado do PSB,Partido do Governador Capiberibe. A situação emmeu Estado, sob alguns aspectos, extrapolou essaminha cautela e esse meu zelo. Portanto, estou sendoobrigado a vir à tribuna do Senado para apelar ao

Governador do Estado sobre alguns assuntos com osquais não podemos, de forma alguma, concordar eaceitar, porque fogem da normalidade e prejudicamsobremaneira a cidadania em nosso Estado.

Refiro-me, em primeiro lugar, a um edital deabertura de inscrições para concurso público que oGoverno do Estado do Amapá vai realizar no mês dejaneiro. Trata-se do primeiro concurso público a serrealizado em cinco anos e causa uma grandeexpectativa em meu Estado. Alguns aspectos desseedital não podem prosperar, não podem vigorar porqueferem, com eu disse, o princípio da cidadania, daigualdade.

Tratam-se de três pontos, essencialmente:primeiro, o contrato sem licitação. O Governo doEstado do Amapá contratou a Fundação CarlosChagas, uma instituição certamente idônea, pararealizar um concurso, e o fez sem licitação, alegandoo aspecto da qualificação. Sabe-se muito bem quemuitas outras instituições ou entidades estãoqualificadas para elaborar esse concurso. Além domais, vai-se pagar pelo concurso R$1,25 milhão, semqualquer licitação, sem qualquer tipo, portanto, deliberdade de participação de outras entidades. Issopode indicar, de certa forma, manipulação doconcurso, embora respeite a idoneidade daFundação Carlos Chagas.

O segundo aspecto é que o Governo decidiuincluir na prova uma pergunta sobre PDSA, Plano deDesenvolvimento Sustentável do Amapá. Ora,desenvolvimento sustentável é uma estratégia deGoverno. Sobretudo com relação ao Estado doAmapá, não existe qualquer literatura à disposição danossa juventude que vai concorrer às vagas, quesomam algo em torno de duas mil e quarenta equatro. Então, não concordamos com a inclusão doPDSA, porque não existe literatura a respeito, efazemos um apelo para que o Governo modifiqueesse item do edital.

O terceiro aspecto agravante é que as provasserão realizadas, em várias áreas, em São Paulo eFortaleza. Ora, sabemos que, por princípio, o Estadodeveria divulgar o edital em São Paulo, Fortaleza, Riode Janeiro, Brasília, pelo Brasil afora, mas, até peloprincípio de que deve ser dada uma oportunidadeaos amapaenses, a prova deveria ser realizada noEstado do Amapá. Estamos contestando tambémesse item do concurso público, porque, da formacomo está proposto, não haverá concorrência emigualdade de condições entre os amapaenses ea queles de outros Estados, principalmente osde São Paulo e Fortaleza, que vivem numambiente com um nível cultural e educacionalmuito superior e que, portanto, terão melhorescondições de serem aprovados no concurso. Isso

68 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

causa prejuízo concreto aos cidadãos do Estado doAmapá, à sua juventude, razão pela qual estou aqui,a questionar esse aspecto.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB – AP) – V. Exª meconcede um aparte?

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP)– Infelizmente, Senador Gilvam Borges, estou fazen-do uma comunicação inadiável e não me é possívelconceder-lhe o aparte.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em comunicação, infelizmente, não pode ha-ver aparte,

O Sr. Gilvam Borges (PMDB – AP) – Eu estavaum pouco desatento e peço-lhe desculpas.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP)– Refiro-me à deterioração das relações interinstituci-onais entre Governo, Assembléia Legislativa, Tribunalde Justiça e, por fim, imprensa do Amapá. Considerolegítimo que o Governo do Amapá recorra de deci-sões da Assembléia Legislativa e até do Tribunal deJustiça, mas não se pode admitir que o Governo tenteestabelecer uma hegemonia, uma preponderância,um domínio sobre os demais Poderes, porque issonão é democrático – sempre assistimos a um discur-so em favor da democracia e da cidadania por partedo Governador Capiberibe.

Portanto, essa prática de tentar assacar impro-périos e ataques contra o Poder Legislativo e contra oPoder Judiciário não é própria da democracia. Por últi-mo, contra a imprensa. O Governo tenta, de todas asformas, oprimir a imprensa do Amapá, cercear os ca-nais de comunicação, inclusive partindo diretamente,quando qualquer denúncia é feita contra o Governodo Amapá, para a indenização, sem nem sequer exi-gir o direito de resposta, como preliminar.

Então, entendemos que seria lógico que o Gover-no requeresse o direito de resposta e tomasse outrasprovidências, mas há casos até risíveis dentro da políti-ca do Estado do Amapá hoje. Uma jornalista local, porexemplo, mencionou na sua coluna que a assessora decomunicação do Governo estava de mau humor. Porisso, em função de notícias publicadas por um outro jor-nal, que alegam desvios de recursos públicos no Esta-do, e simplesmente por mencionar que a assessora es-tava de mau humor, está sendo processada e o Gover-no do Estado, por meio de sua assessoria de comunica-ção, está exigindo uma indenização milionária.

São esses aspectos que gostaria de mencionar,e até, de certa forma, me desculpar diante dos Sena-dores, mas a situação se agravou de tal maneira quefoi necessária a minha vinda a esta tribuna. Apelo aoGoverno do Amapá para que reconduza o Estado a

uma situação de normalidade, sob o ponto de vista dademocracia, e preserve a cidadania e os direitos dosamapaenses, em especial com relação a esse con-curso. Não podemos concordar de forma alguma comos pontos mencionados, os quais repito: contrato deR$1,250 mil sem licitação, a inclusão do PDSA comomatéria para a prova e a realização das provas emSão Paulo e Fortaleza.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães)

– Concedo a palavra ao Senador Eduardo Suplicy.O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.

Para uma comunicação inadiável. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, reali-zou-se, na tarde de ontem, um encontro promovidopelo Instituto Cidadania, organização não-governa-mental dirigida pelo Presidente de Honra do PT, LuizInácio Lula da Silva, pelas Faculdades Trevisan e pelarevista IstoÉ, do qual participaram Luiz Inácio Lula daSilva, Antoninho Marmo Trevisan, o Presidente do Se-nado, Antonio Carlos Magalhães, o ex-GovernadorCristovam Buarque e o economista Reinaldo Gonçal-ves. Pela manhã, participaram desse encontro oseconomistas Andrea Calabi, Paulo Rabelo de Castro,Aloízio Mercadante e Luciano Coutinho, que, sob acoordenação de Guido Mantega, discutiram os cami-nhos do desenvolvimento. Na parte da tarde, o temafoi o combate à pobreza.

Sr.Presidente, ainda que levando em considera-ção as observações feitas pelo Senador Roberto Re-quião, considerei positiva a iniciativa do Lula ao convi-dar V. Exª para esse encontro, que acabou tendoenorme repercussão.

O fato político ocorre muitas vezes com muito mai-or força na hora dos contrastes, quando há o encontroentre pessoas que não pensam necessariamente damesma forma, entre pessoas de diferentes partidos.

Mas, se tantas vezes na história da humanidadeos encontros mais importantes para a solução de pro-blemas ocorreram entre adversários, entre pessoascomo Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, ou entre RichardNixon e Mao Tse-Tung, para citar apenas algunsexemplos, é mais do que natural que, considerando aproposição feita pelo Senador Antonio Carlos Maga-lhães de instituir o Fundo de Combate e Erradicaçãoda Pobreza e o respeito que há entre Lula e o Presi-dente Antonio Carlos Magalhães, por maiores diver-gências que possam ter tido ao longo da história, oimportante é que houve uma troca de idéias sincera,num clima muito positivo e construtivo, em que asproposições de c ada um dos presentes foi examina-

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da. Obviamente, haverá uma repercussão sobre oque está realizando o Congresso Nacional, em espe-cial a Comissão proposta pela Senadora Marina Sil-va, que estava presente ao encontro, e presidida peloSenador Maguito Vilela, que está examinando as ca-usas da pobreza bem como as formas de erradicá-la.

Lula ponderou a importância de termos um siste-ma de progressividade dos impostos que existem naConstituição e que precisam ser efetivamente arrecada-dos, de tal maneira que aquelas pessoas que detêmmais possam dar a maior contribuição, para que haja re-cursos necessários para a erradicação da pobreza.

O Presidente Antonio Carlos Magalhães reiteroua sua proposta de criação de um fundo e que da arreca-dação dos diversos impostos existentes, inclusive daCPMF, haja uma destinação suficiente para erradicaçãoda pobreza ao longo dos próximos 10 anos.

Ouvimos as diversas proposições de CristovamBuarque, desde a Bolsa-Escola, a realização da Re-forma Agrária, dentre outras, como a criação do servi-ço civil, destinado a promover mais oportunidadespara os jovens. Ouvimos a proposição do EconomistaReinaldo Gonçalves quanto à criação do imposto desolidariedade, mencionado por Lula, segundo o qualhaveria uma taxação das fortunas das 400 mil famíli-as de maior patrimônio em nosso País, arrecadandocerca de R$100 bilhões no prazo de cinco anos, re-cursos suficientes para garantir renda para todas aspessoas e erradicar a pobreza.

A minha contribuição foi sobre a importância decaminharmos rumo ao Século XXI de tal forma a as-segurarmos a todos os brasileiros uma renda básica,segundo a qual todos teriam o suficiente para suasnecessidades fundamentais.

Sr.Presidente, Srªs e Srs.Senadores, esse encon-tro representou um fato positivo e contribuirá para que anossa Comissão do Congresso Nacional tenha aindamais elementos para apresentar um bom resultado.

Ressalto que a viagem realizada na semanapassada por integrantes da Comissão Mista do Con-gresso Nacional aos Estados de Pernambuco, Alago-as e Ceará foi muito frutífera. Teremos ainda a oportu-nidade de relatar o resultado dessa viagem, mas an-tes vamos combinar com o Senador Maguito Vilela.Portanto, quero me inscrever para, na quinta-feira,pela manhã, expor o que observei e senti, as contribu-ições e reflexões que tenho e acredito que de todosos que participaram daquela viagem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao último orador inscrito,Senador Maguito Vilela.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB – GO. Parauma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.)– Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Universida-de Salgado de Oliveira, conhecida como Universo,cuja matriz está situada no Rio de Janeiro, foi reco-nhecida em 1993, por meio da Portaria Ministerial n°1.283.Em 1995, com base em resolução do ConselhoFederal de Educação, iniciou-se um processo de ex-pansão no Brasil, com a criação de novos Campi emGoiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo,Paraná, Pernambuco e Ceará.

Após a extinção do Conselho Federal de Educa-ção, o MEC entendeu que a Universo não estaria habili-tada a promover a abertura de novas unidades de ensi-no, criando, assim, um imbróglio jurídico de conseqüên-cias desastrosas para esses estudantes. A Universida-de recorreu à Justiça e ganhou em duas instâncias, masa autorização ministerial ainda não foi consolidada.

No final deste ano, como disse, centenas de alu-nos concluirão os estudos e ficarão, mantendo-seessa situação, impossibilitados de trabalhar em suasrespectivas profissões.

Existem diversas versões sobre a negativa doMinistério da Educação, que nesse mesmo período jáconcedeu autorizações semelhantes a outras univer-sidades, inclusive para Goiás.

Uma dessas versões, gravíssima, diz que a au-torização não sai em função de pressão de políticosinfluentes, ligados ao PSDB goiano, que teriam inte-resses comerciais e financeiros ligados a outra insti-tuição. Entretanto, não me passa pela cabeça acredi-tar que o Ministro Paulo Renato, um dos mais compe-tentes ministros deste Governo, um homem sério ehonrado, submeter-se-ia a esse tipo de pressão.

É por isso que apresento o presente requerimento,solicitando ao MEC informações sobre o porquê da nãoregularização dessa universidade chamada Universo.

E aproveito, Srªs e Srs. Senadores, para fazerum apelo ao Ministro Paulo Renato, homem públicosério em quem deposito enorme confiança, para quese debruce sobre o assunto e encaminhe uma soluçãourgente aos estudantes que estão se formando no finaldo ano. Afinal, eles não têm culpa nenhuma neste pro-blema. A universidade tinha autorização e, com basenela, eles prestaram o vestibular e estudaram ardua-mente durante quatro anos. Não podem, agora, ser pu-nidos por uma pendência, não se sabe se jurídica oupolítica, que já se arrasta há pelo menos três anos ecom a qual eles não têm absolutamente nada a ver.

São essas as minhas palavras e aproveito paraencaminhar o requerimento devidamente assinado.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

70 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

SEGUE DOCUMENTO A QUE SEREFERE O SR. SENADOR MAGUITOVILELA EM SEU PRONUNCIAMENTO:

REQUERIMENTO Nº , DE 1999

Solicita informações ao Ministro de Estado

da Educação.

Senhor Presidente,Nos termos do art. 50, § 2º, da Constituição Federal, com-

binado com os arts. 215 e 216 do Regimento Interno do SenadoFederal, requeiro que seja encaminhado ao Ministro de Estadoda Educação o seguinte pedido de informações:

1 – Situação legal da Universidade Salgado de Oliveira –Universo, mantida pela Associação Salgado de Oliveira de Edu-cação e Cultura – ASOEC, perante esse ministério, quanto a au-torização para funcionamento e autonomia de suas atividades deensino, pesquisa e extensão de suas atividades, com suas ra-zões e fundamentações.

2 – situação das turmas de formandos que concluirão seuscursos ao final deste ano de 1999, quanto ao certificados de con-clusão, diplomas e habilitação para exercerem suas profissões.

Justificação

O presente requerimento, ao Ministério da Educação, obje-tiva esclarecer a situação de centenas de estudantes de meu esta-do. São jovens que, após quatro anos de esforço árduo e estudocontínuo, completam no final deste ano o curso superior e estãoameaçados de não poderem exercer suas profissões em função deuma batalha que travam a Universidade Salgado de Oliveira e oMEC.

A Universidade Salgado de Oliveira, conhecida como Uni-verso, cuja matriz está situada no Rio de Janeiro, foi reconhecidaem 1993, através da Portaria Ministerial número 1.283. Em 1995,com base em resolução do Conselho Federal de Educação, inici-ou um processo de expansão no Brasil, com a criação de novos“Campi” em Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo,Paraná, Pernambuco e Ceará.

Após a extinção do Conselho Federal de Educação, oMEC entendeu que o Universo não estaria habilitada a promovera abertura de novas unidades de ensino, criando um imbróglio ju-rídico de conseqüências desastrosas para esses estudantes. AUniversidade recorreu à Justiça e ganhou em duas instâncias,mas a autorização ministerial ainda não foi consolidada.

No final deste ano centenas de alunos concluirão os estu-dos e ficarão, mantendo-se esta situação, impossibilitados de tra-balhar em suas respectivas profissões.

É por isso que apresento o presente requerimento, solici-tando ao MEC informações sobre o porque da não regularizaçãoda Universo.

A Universidade tinha autorização e, com base nela elesprestaram o vestibular e estudaram arduamente durante quatroanos. Não podem, agoram, serem punidos por uma pendênciasem sequer haver uma explicação lógica.

Sala das Sessões,– Senador Maguito Vilela.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a mesa, requerimento que será lidopelo Sr. 1º Secretário em exercício, Senador Jonas Pi-nheiro.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 633, DE 1999

Retirada de requerimento.

Senhor Presidente,Nos termos do art. 256, § 2º, inciso I, do Regi-

mento Interno, requeiro a retirada, em caráter definiti-vo, do Requerimento nº 590, de 1999, de minha auto-ria, em que solicito audiência da Comissão de Consti-tuição, Justiça e Cidadania sobre o Projeto de Lei doSenado nº 74, de 1999-Complementar.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. – Se-nador Romero Jucá.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – O requerimento lido é deferido pela Presi-dência nos termos do Regimento Interno.

Sobre a mesa, projetos de lei do Senado que se-rão lidos pelo Sr. 1º Secretário em exercício, SenadorJonas Pinheiro.

São lidos os seguintes:

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 578, DE 1999

Autoriza a criação do Conselho Fe-deral e dos Conselhos Regionais da Pro-fissão de Técnico de Segurança do Tra-balho e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica autorizada a criação do Conselho

Federal e dos Conselhos Regionais da Profissão deTécnico de Segurança do Trabalho, na forma do regi-me instituído pelo art. 58 da Lei nº 9.649, de 27 demaio de 1998.

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Justificação

O presente projeto de lei “Autoriza a criação doConselho Federal e dos Conselhos Regionais da Pro-fissão de Técnico de Segurança do Trabalho e dá ou-tras providências”.

É uma iniciativa para a valorização da profissãodos Técnicos de Segurança do Trabalho, que reclamafiscalização como qualquer profissão regulamentada oque se coaduna com o desejo crescente pelo aprimora-mento técnico e qualificação da mão-de-obra.

Não se trata de uma medida corporativa, antespelo contrário, é medida que visa salvaguardar a integri-dade da empresa e o exercício regular da profissão.

O art. 58 da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998(DOU 5-6-98), estabelece que “os serviços de fiscali-zação de profissões regulamentadas serão exercidosem caráter privado, por delegação do poder público,mediante autorização legislativa”.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 71

Assim, é preciso que o Congresso Nacional faça asua parte, ou seja, ofereça as condições legais para queseja instituído o Conselho de Fiscalização Profissional dosTécnicos de Segurança do Trabalho, preenchendo-seuma lacuna que já ultrapassa mais de quatorze anos.

A instituição dos Conselhos Profissionais possibili-tará o aprimoramento e a formação de mão-de-obra es-pecializada, com o aumento do nível de instrução dosprofissionais, que sentirão a necessidade cada vez maiorde especialização em suas áreas de atuação.

Na medida em que os mercados se globalizam,o staff de uma empresa exige profissionalismo e,com isso, o Técnico de Segurança do Trabalho se tor-na cada vez mais importante no processo de preven-ção de acidentes do trabalho.

Este Projeto é resultado de uma sugestão daFederação Nacional dos Técnicos de Segurança doTrabalho com consenso de toda categoria que há muitobusca esse nível maior de representação, visando aten-der o desejo de aprimoramento técnico e qualificaçãoda mão-de-obra que irão gerar retornos relevantes parao Governo e a nossa sociedade como um todo.

Sala da Sessões, 19 de outubro de 1999. – Se-nadora Emilia Fernandes – PDT/RS.

LEGISLAÇÃO CITADA

..........................................................................

LEI Nº 9.649, DE 27 DE MAIO DE 1998

Dispõe sobre a organização da Pre-sidência da República e dos Ministérios edá outras providências.

..........................................................................Art. 58. Os serviços de fiscalização de profis-

sões regulamentadas serão exercidos em caráter pri-vado, por delegação do poder público, mediante auto-rização legislativa.

§ 1º A organização, a estrutura e o funcionamentodos conselhos de fiscalização de profissões regulamen-tadas serão disciplinadas mediante decisão do plenáriodo conselho federal da respectiva profissão, garantin-do-se que na composição deste estejam representa-dos todos seus conselhos regionais.

.........................................................................

(À Comissão de Assuntos Sociais –decisão terminativa.)

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 579, DE 1999

Dispõe sobre utilização e a exploraçãode aeroportos e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Os aeroportos e suas instalações serãoprojetados, construídos, mantidos, operados e explo-rados diretamente pela União ou por entidades daAdministração Indireta, especialmente constituídaspara aquelas finalidades ou, ainda, mediante conces-são ou autorização, obedecidas as condições nelasestabelecidas.

Art. 2º A efetiva utilização de áreas, edifícios,instalações, equipamentos, facilidades e serviços deum aeroporto está sujeita ao pagamento referenteaos preços que indiquem sobre a parte utilizada.

§ 1º Os preços a que se refere o caput deste ar-tigo serão constituídos por tarifas aeroportuárias epreços específicos de uso.

§ 2º Os preços serão pagos, pelo usuário, à enti-dade concessionária do aeroporto de acordo com asnormas específicas vigentes.

Art. 3º As tarifas aeroportuárias a que se refere oartigo anterior são assim denominadas e caracterizadas:

I – tarifa de embarque: devida pela utilizaçãodas instalações e serviços de despacho e embarqueda Estação de Passageiros, incide sobre o passagei-ro do transporte aéreo;

II – tarifa de pouso: devida pela utilização dasáreas e serviços relacionados com as operações depouso, rolagem e estacionamento da aeronave atétrês horas após o pouso incide sobre o proprietário ouexplorador da aeronave;

III – tarifa de permanência: devida pelo estacio-namento da aeronave, além das três primeiras horasapós o pouso, incide sobre o proprietário ou explora-dor da aeronave;

IV – tarifa de armazenagem e capatazia: devidapela utilização dos serviços relativos à guarda, manu-seio, movimentação e controle da carga nos Arma-zéns de Carga Aérea dos aeroportos; incide sobre oconsignatário, ou o transportador no caso de cargaaérea em trânsito.

Art.4º Os preços específicos de uso a que se refe-re o § 2º do art. 2º são devidos pela utilização de áreas,edifícios, instalações, equipamentos facilidades e servi-ços não abrangidos pelas tarifas aeroportuárias.

Art. 5º Os recursos provenientes do pagamentoa que se refere o art. 2º e os decorrentes de multascontratuais, correção monetária e juros de moraconstituirão receita da concessionária do aeroporto.

Art. 6º O atraso no pagamento das tarifas aero-portuárias, depois de efetuada a cobrança, acarretaráa aplicação cumulativa, por quem de direito, das se-guintes penalidades:

I – os mesmos juros definidos em lei como aplicá-veis nos pagamentos em atraso dos tributos federais;

72 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

II – multa de mora de 0,33% (trinta e três centé-simos por cento) por dia de atraso;

III – após cento e vinte dias de atraso, suspen-são ex ofício da concessão ou autorização;

IV – após cento e oitenta dias, cancelamento su-mário da concessão ou autorização.

Art. 7º Ficam isentos de pagamento:I – Da Tarifa de Embarque:a) os passageiros de aeronaves militares e de

aeronaves públicas brasileiras da Administração Fe-deral Direta;

b) os passageiros de aeronaves em vôo de re-torno, por motivos de ordem técnica ou meteorológicaou, ainda, em caso de acidente, por ocasião do reem-barque;

c) os passageiros em trânsito;d) os inspetores de Aviação Civil, quando no

exercício de suas funções;e) os passageiros de aeronaves militares ou pú-

blicas estrangeiras, quando em atendimento à reci-procidade de tratamento.

II – Da Tarifa de Pouso:a) as aeronaves militares e as aeronaves públi-

cas brasileiras da Administração Federal Direta;b) as aeronaves em vôo de experiência ou ins-

trução;c) as aeronaves em vôo de retorno por motivo

de ordem técnica ou meteorológica;d) as aeronaves militares públicas estrangeiras,

quando em atendimento à reciprocidade de tratamento.III – Da Tarifa de Permanência:a) as aeronaves militares e as aeronaves públi-

cas brasileiras da Administração Federal Direta;b) as aeronaves militares e públicas estrangei-

ras, quando em atendimento à reciprocidade de trata-mento;

c) as demais aeronaves:1 – por motivo de ordem meteorológica, pelo

prazo do impedimento;2 – em caso de acidente, pelo prazo que durar a

investigação do acidente;3 – em caso de estacionamento em áreas arren-

dadas pelo proprietário ou explorador da aeronave.Art. 8º A utilização das instalaçaões e serviços

destinados a apoiar e tornar segura a navegação aé-rea, proporcionada pelo Governo ou por entidade es-pecializada está sujeita ao pagamento das tarifas queincidirem sobre a parte utilizada relativa ao uso das co-municações e dos auxílios à navegação aérea em rota.

Art. 9º As tarifas a que se refere o artigo anteriorsão assim denominadas e caracterizadas:

I – tarifa de uso das comunicações e dos auxíli-os à navegação aérea: devida pela utilização dos ser-viços de informações aeronáuticas, tráfego aéreo,meteorologia, facilidade de comunicações, auxílio ànavegação aérea e outros serviços auxiliares de pro-teção de vôo proporcionados pelo Ministério da Defe-sa ou por entidade especializada, incide sobre o pro-prietário ou explorador da aeronave;

II – tarifa de uso das comunicações e dos auxíli-os rádio e visuais em área terminal de tráfego aéreo:devida pela utilização dos serviços de tráfego aéreo,facilidades de comunicações, auxílio para aproxima-ção, pouso e deceolagem em áreas terminais de trá-fego aéreo proporcionados pelo Ministério da Defesaou por entidade especializada, incide sobre o proprie-tário ou explorador da aeronave.

Parágrafo único. Aplicam-se aos usuários dasinstalações e serviços destinados a apoiar e tornarsegura a navegação aérea as penalidades estabele-cidas no art. 6º e as isenções previstas no art. 7º.

Art. 10. Sobre as tarifas aeroportuárias e sobreas tarifas relativas ao uso dos auxílios à navegaçãoaérea das telecomunicações será cobrada contribui-ção adicional no valor de cinqüenta por cento.

Parágrafo único. A contribuição de que trata ocaput deste artigo destina-se à aplicação em melho-ramento, reequipamemento, reforma, expansão dasinstalações aeroportuárias e da rede de telecomuni-cações e auxílio à navegação aérea.

Art. 11. Os recursos originados pela contribui-ção adicional incidente sobre as tarifas aeroportuári-as serão distribuídos da seguinte forma:

I – oitenta por cento a serem utilizados direta-mente pelo Governo Federal no sistema aeroviário deinteresse federal;

II – vinte por cento destinados à aplicação pelosEstados em aeroportos e aeródromos de interesseregional ou estadual, bem como na consecução deseus planos aeroviários.

§ 1º As tarifas aeroportuárias a que se refereeste artigo abrangem somente as tarifas de embar-que, de pouso, de permanência, de armazenagem ecapatazia.

§ 2º A parcela de vinte por cento a que se refereo inciso II deste artigo constituirá o suporte financeirode um programa federal de auxílio a aeroportos, esta-belecido por meio de convênios celebrados entre osgovernos federal e estaduais, de acordo com os pla-nos aeroviários estaduais.

§ 3º Somente serão contemplados com os re-cursos previstos no § 2º os aeroportos constantes dosplanos aeroviários estaduais.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 73

§ 4º Os convênios de que trata o § 2º deverãoconter cláusula de definição de percentual de recur-sos a serem alocados, por cada uma das partes, paraa realização das obras conveniadas.

§ 5º O compromisso de contrapartida estadualde que trata o § 4º deste artigo será de, no mínimo,trinta por cento dos valores investidos no projeto, ne-les inseridos os montantes relativos às in-fra-estruturas básica e operacional, instalações eequipamentos, ressalvados os dispositivos que regu-lam as relações entre a União e os Estados.

Art. 12. Para a aplicação dos recursos geradospela contribuição adicional são condições prévias:

I – haver consignação orçamentária, federal e esta-dual, de todas as receitas e aplicações programadas;

II – a existência de projetos básicos individuali-zados para os aeroportos objetos das aplicações;

III – a realização de audiência pública, conduzi-da pelo Ministro da Defesa, para seleção dos projetosde aeroportos constantes de programa federal de au-xílio a aeroportos a serem incluídos no programa deinvestimentos;

Art. 13º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação, revogadas as Leis 6.009 de 26 de dezem-bro, de 1973, 7.920, de 12 de dezembro de 1989,8.399, de 7 de janeiro de 1992, e o Decreto-Lei n.1.896, de 17 de dezembro de 1981.

Justificação

O transporte aéreo tornou-se instrumento indis-pensável ao bom desempenho da economia do País.Importante ferramenta de desenvolvimento, essemeio de transporte cresce proporcionalmente à inten-sificação das atividades do comércio, indústria, turis-mo, agropecuária e serviços. Não se pode negar queo setor aéreo tem prestado importantíssimo apoio noprocesso de desenvolvimento econômico-social doPaís, numa época em que a eficiência e a velocidadedos deslocamentos são imprescindíveis.

As recentes medidas adotadas pelo GovernoFederal, que tiveram o mérito de promover uma maiordescentralização na operação das linhas de aviaçãoregular, aliadas a uma política de incentivo à competi-ção entre as empresas de transporte aéreo, promove-ram, no período de 1997 a 1998, uma espetacular re-dução no preço das passagens aéreas, com conse-qüente e significativo aumento do número de passa-geiros e cargas transportadas.

Paralelamente, observa-se o uso cada vez maisrotineiro da aviação, com um significativo aumento dafrota brasileira que, hoje, está situada entre as trêsmaiores do planeta. É uma realidade indiscutível a im-

portância cada vez maior da presença rotineira daaviação civil nas comunidades brasileiras. Essa pre-sença é real tanto nas grandes cidades como nasmais longínquas áreas do interior do País.

Torna-se, portanto, fundamental para o sistemaaeroviário nacional o aperfeiçoamento da legislaçãovigente, em especial nos aspectos relacionados aodesenvolvimento e interação entre os aeroportos depequeno, médio e grande portes, com reflexos alta-mente positivos no atendimento das demandas desseimportante segmento da vida nacional.

Os significativos montantes de recursos quetêm sido aplicados na infra-estrutura aeroportuáriarepresenta considerável parcela do esforço de in-vestimentos dispendido pela União Federal para de-senvolvimento do País nos últimos anos. Por se tra-tar de segmento econômico que conta com expres-sivos recursos gerados no próprio sistema de avia-ção civil, notadamente pela cobrança de tarifas es-pecíficas, além de um adicional tarifário, existe ainadiável necessidade de maior participação da so-ciedade na escolha de prioridades de investimentos.

Desta forma, faz-se oportuna a aprovação deuma lei, como a que ora apresentamos a esta Casa,que melhor disponha sobre as condições para utili-zação e exploração dos aeroportos brasileiros. Emface de todo o exposto, esperamos contar com oapoio dos nobres Pares para aprovação da matéria.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. –Senador Carlos Bezerra.

LEGISLAÇÃO CITADA

..........................................................................

LEI Nº 6.009, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1973

Dispõe sobre a utilização e a explo-ração dos aeroportos, das facilidades ànavegação aérea e dá outras providências.

..........................................................................LEI Nº 7.920, DE 12 DE DEZEMBRO DE 1989

Cria o Adicional de Tarifa Aeropor-tuária, e dá outras providências.

..........................................................................LEI Nº 8.399, DE 7 DE JANEIRO DE 1992

Especifica a destinação dos recur-sos originados por adicional tarifário cri-ado pela Lei nº 7.920, de 12 de dezembrode 1989, que “cria o Adicional de TarifaAeroportuária e dá outras providências”.

..........................................................................

74 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

DECRETO-LEI Nº 1.896DE 17 DE DEZEMBRO DE 1981

Dispõe sobre a utilização de instala-ções e serviços destinados a apoiar etornar segura a navegação aérea, e dáoutros providências.

..........................................................................

(Às Comissões de Constituição, Justi-ça e Cidadania e de Assuntos Econômicos,cabendo à última a decisão terminativa.)

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 580, DE 1999

Regulamenta a profissão de esteti-cista e cosmetologista e dá outras provi-dências.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º É assegurado o exercício da profissão de

esteticista e cosmetologista, de nível superior, aos di-plomados por instituições públicas ou privadas, reco-nhecidas pelo órgão competente do Poder Executivo.

§ 1º O curso superior referido no caput terá aduração de 4 (quatro) anos, com a estrutura curriculare carga horária determinadas pelo órgão competentedo Ministério da Educação e Desportos.

§ 2º Os diplomas ou certificados de conclusãode cursos realizados no exterior serão revalidados naforma do regulamento desta lei, atendidas a equiva-lência curricular e a carga horária.

Art. 2º As atribuições profissionais dos esteticis-tas e cosmetologistas compreendem a utilização deprocessos físicos, químicos e biológicos com a finali-dade de aformoseamento e aprimoramento estéticodos órgãos tegumentares do corpo humano.

Parágrafo único. A atividade descrita no caputserá exercida segundo a orientação e supervisão demédico dermatologista regularmente inscrito no Con-selho Regional de Medicina.

Art. 3º Aos profissionais que se encontrarem noefetivo e comprovado exercício das atividades de esteti-cista e cosmetologista, é assegurado o direito à continu-idade dessa prática, desde que requerida a licença emprazo que não exceda de 6 (seis) meses da data de pu-blicação dessa lei, em conformidade com os critérios erequisitos estabelecidos em seu regulamento.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

Justificação

A finalidade desta proposição é, fundamentalmen-te, atender às reivindicações vindas das mais diversas

regiões do País, que nos chegam constantemente, naqualidade de representantes dos interesses da socieda-de no sentido de regulamentar as atividades profissiona-is relacionadas à Estética e à Cosmetologia.

Tal preocupação é compreensível, vez que, com oacelerado desenvolvimento de processos químicos, físi-cos e biológicos de tratamento das afecções da pele,uma crescente demanda por esses serviços vem-se fa-zendo observar em todo o território nacional, seguindotendência idêntica corrente no cenário mundial.

Assim, faz-se necessário o adequado treina-mento e capacitação dos profissionais dessas áreas,pelo que tomamos a iniciativa de regulamentar a ativi-dade, inscrevendo-a no âmbito de curso superior es-pecializado, ao mesmo tempo que, preocupados coma máxima segurança do usuário-consumidor, articu-lamos o exercício dessa atividade com a de médicodermatologista.

Crendo na compreensão dos pares desta Casafrente a essa relevante questão social, esperamos aaprovação deste projeto de lei.

Sala das Sesões, 19 de outubro de 1999. –Senadora Luzia Toledo.

(À Comissão de Assuntos Sociais –decisão terminativa.)

PROJETO DE LEI DO SENADONº 581, DE 1999 – Complementar

Dá nova redação ao § 2º, do art. 15,da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964,que “estatui normas gerais de Direito Fi-nanceiro para elaboração e controle dos or-çamentos e balanços da União, dos Esta-dos, dos Municípios e do Distrito Federal”.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O § 2º, do art. 15, da Lei nº 4.320, de 17

de março de 1964, que “estatui normas gerais de Di-reito Financeiro para elaboração e controle dos orça-mentos e balanços da União, dos Estados, dos Muni-cípios e do Distrito Federal”.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O § 2º, do art. 15 da Lei nº 4.320, de 17 de

março de 1964, que “estatui normas gerais de Direito Fi-nanceiro para elaboração e controle dos orçamentos e ba-lanços da União, dos Estados, dos Municípios e do DistritoFederal”, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 15 (...).§ 1º (...).§ 2º Para efeito de classificação da

despesa, considera-se material permanenteo de duração superior a dois anos, com

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 75

exceção dos livros e dos meios de registro ereprodução magnéticos, integrantes deacervos documentais pertencentes àadministração pública."

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.

Justificação

O presente Projeto de Lei, ao promover a altera-ção da classificação de despesa com livros e meiosmagnéticos na elaboração e controle dos orçamen-tos, tem como objetivo precípuo abrir caminhos paraa agilização dos mecanismos de compra e de conse-qüência atualização dos acervos públicos.

A exclusão dos livros e dos meios de registro ereprodução megnéticos da rubrica de material per-manente – como atualmente os classifica a legislaçãoem vigor – propiciará a reposição e a atualização dosacervos pertencentes à administração pública commaior rapidez e critérios mais flexíveis, permitindo aadoção de procedimentos isentos da burocracia exigi-da para a aquisição do material assim considerado.

Antiga aspiração dos especialistas do setor, aexclusão em causa supre essa reinvindicação, quejulgamos procedente, com o adequado suporte legal.O material documental, pelo simples fato de perten-cer a acervos franqueados ao público, está sempresujeito a rápida deterioração. Os livros, em particular,por conta do freqüente manuseio, solicitam uma ágilreposição, naturalmente dificultada pela sua classifi-cação como material permanente. Da mesma forma,estão os livros, assim como o material de registromagnético, permanentemente sujeitos a extravios efuturos, exigindo, com isso, rapidez de reposição.

É conhecida a expectativa de grande parte dasbibliotecas públicas do país em relação à alteração dalegislação vigente. A alta demanda de informação e avelocidade da produção dos seus meios de divulga-ção reclamam uma ordenção legal mais compátivelcom as práticas atuais.

Nessa quadra, em que os programas de implan-tação e incremento de bibliotecas e acervos públicostêm sido a tônica da política para o setor, nada maispertinente e oportuno que permitir, por intermédio daprovidência que ora adotamos, a oportunidade deuma adequada adaptação do conteúdo da Lei nº4.320/64 à realidade do nosso tempo.

Nesse sentido, esperamos que o presente Projetode Lei mereça acolhimento por parte dos ilustres Pares.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. – Se-nadora Luzia Toledo.

LEGISLAÇÃO CITADA

LEI N. 4.320, DE 17 DE MARÇO DE 1964

Estatui Normas Gerais de Direito Fi-nanceiro para elaboração e contrôle dosorçamentos e balanços da União, dosEstados, dos Municípios e do Distrito Fe-deral.

..........................................................................Art. 15. Na Lei do Orçamento a discriminação da

despesa far-se-á (Vetado) por elementos.1º Vetado.2º Para efeito de classificação da despesa, con-

sidera-se material permanente o de duração superiora dois anos.

...........................................................................

(Á Comissão de assuntos Econômi-cos.)

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 582, DE 1999

Institui a obrigatoriedade de seguronas operações imobiliárias que especifi-ca e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Esta lei institui o seguro obrigatório de en-

trega de imóvel, nas condições e prazos pactuadosno contrato de compra e venda.

I – Do Objeto

Art. 2º Fica estabelecida, nos pactos de comprae venda de imóvel na planta, ou em primeira ocupa-ção, a obrigatoriedade de seguro que garanta a entre-ga do imóvel, nas condições e prazos especificadosno contrato.

Parágrafo único. O seguro de entrega de imóvelnão se aplica à compra e venda com entrega imediatado imóvel.

II – Das Condições

Art. 3º São condições ao seguro de que trataesta Lei:

I – o cadastramento prévio da empresa vende-dora do imóvel no Instituto de Resseguros do Brasil;

II – a existência de contrato, para a realização doempreendimento, firmado entre as empresas cons-trutora, proprietária ou incorporadora e a empresavendedora do imóvel;

III – a existência de contrato de compra e vendado imóvel, firmado entre a empresa vendedora e opromitente comprador;

76 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

IV – a observância das taxas de juros e das de-mais condições estabelecidas pelo Instituto de Res-seguros do Brasil;

V – a possibilidade jurídica para atuar, sem res-trições legais, processuais ou técnicas, das empresasconstrutora, proprietária, incorporadora e vendedorado imóvel.

§ 1º Da apólice de seguro imobiliário constarãoos termos contratuais relativos às condições de habi-lidade e à data de entrega do imóvel.

§ 2º É dispensado o contrato referido no inciso IIse a venda do imóvel se realizar diretamente pela em-presa construtora, e essa condição constar, expres-samente, no contrato de compra e venda.

§ 3º O seguro imobiliário compreende o conjun-to de unidades im obiliárias pertencentes à mesmaedificação ou, por opção do adquirente, a cada imóvelindividualmente.

III – Da Responsabilidade

Art. 4º A contratação do seguro imobiliário é res-ponsabilidade da empresa que realiza a venda doimóvel.

Parágrafo único. As pessoas físicas que inte-gram a empresa que realiza a construção, incorpora-ção ou a venda do imóvel respondem com seu patri-mônio pessoal por irregularidades ou omissões quecausem prejuízos a terceiros ou ao mercado.

Art. 5º A empresa vendedora do imóvel respon-de por irregularidades contratuais relativas às taxas eencargos, inclusive as referidas no inciso IV do art. 3º,e por valores acrescidos aos custos da construçãosupervenientes aos valores contratados.

Art. 6º A omissão na efetivação do segu-ro-garantia, ou a interrupção do pagamento do prê-mio, se efetuado em parcelas, à companhia segura-dora, sujeita a empresa vendedora do imóvel às san-ções previstas no art. 16 dessa lei.

Art. 7º Ao adiquirente do imóvel, inadimplenteno pagamento do prêmio do seguro imobiliário, apli-ca-se, além dos juros de mora, multa de dez por centosobre valor devido.

Art. 8º As empresas construtora e incorporadorasão co-responsáveis:

I – por vinte anos, pela segurança da edificação,a contar da data da expedição da carta dehabite-se;

II – por cinco anos, por defeitos de cálculo, insta-lação e outros não decorrentes do uso.

§ 1º O prazo de vinte anos relativo à segurançada edificação torna-se indeterminado, enquanto nãoforem corrigidos os defeitos que comprometam a se-gurança dos moradores.

§ 2º A expedição da carta de habite-se não gerapresunção de inexistência de defeitos de cálculo einstalação de componentes, equipamentos e acessó-rios no imóvel.

§ 3º Confirmada, na edificação, a existência dedefeitos comprometedores da segurança dos mora-dores, será imediatamente decretada, em ação judici-al própria, a indisponibilidade dos bens dos proprietá-rios da empresa construtora e, se for o caso, também,os dos proprietários da empresa vendedora.

§ 4º A empresa construtora responde à razão de umcentésimo por mês de paralisação da obra, independentede outras sanções penuniárias e administrativas.

IV – Da Apólice de Seguro Imobiliário

Art. 9º O seguro imobiliário tem vigência en-quanto o imóvel não apresentar perfeitas condiçõesde habitabilidade.

Art. 10. A apólice de seguro pode, por iniciativadas partes seguradas e da companhia seguradora:

I – tratando-se de conjunto habitacional, ter seuprazo de validade estendido até a data de entrega daúltima unidade;

II – prever formas alternativas para o pagamentode seguro;

III – estender-se a outros grupos de pessoas in-teressadas no empreendimento.

Art. 11. O contrato de seguro imobiliário nãoconstitui óbice à celebração de outros seguros, indivi-duais ou coletivos, relativos ao imóvel.

IV – Do Prêmio e do Seguro Imobiliário

Art. 12. O prêmio do seguro imobiliário, conformeo estabelecido no contrato de compra e venda, serápago pelo adquirene do imóvel diretamente à compa-nhia seguradora, ou à empresa vendedora, que, nestecaso, o repassará à companhia seguradora.

Parágrafo único. O pagamento do valor do prê-mio do seguro imobiliário, pago pela vendedora doimóvel à companhia seguradora, será demonstradoao adquirente, em separado de outros demostrativos,na planilha de custos do imóvel.

Art. 13. O valor do seguro imobiliário será libera-do pela companhia seguradora ao adquirente segura-do ou a pessoa por ele indicada no mês subseqüenteao do inadimplemento da cláusula contratual referen-te à entrega do imóvel.

Art. 14. O pagamento, pela companhia segura-dora, do valor segurado, não impede a reparação deeventuais danos morais ou materiais, a aplicação desanções de natureza cívil ou criminal, se for o caso, ea multa ou a cláusula penal prevista em contrato.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 77

V – Da Fiscalização

Art. 15.O Banco Central do Brasil e o Instituto deResseguros do Brasil, conforme suas atribuições le-gais e regimentais, serão responsáveis pelo acompa-nhamento do efetivo cumprimento do disposto nestaLei.

VI – Dos Valores

Art. 16. A reparação de danos cíveis correspon-derá a:

I – um centésimo do valor contratual de venda doimóvel, devidamente atualizado, por mês de impossibi-lidade de sua ocupação regular, até doze meses;

II – dois centésimos do valor contratual de vendado imóvel, devidamente atualizado, por mês de impossi-bilidade de sua ocupação regular subseqüente ao déci-mo segundo mês, até o vigésimo quarto mês;

III – devolução em dobro dos valores já pagospelo adquirente, a qualquer título, se a impossibilida-de de ocupação ultrapassar a vinte e quatro meses dadata prevista para a entrega do imóvel, acrescida dedois centésimos do valor de venda do imóvel, devida-mente atualizado, por mês de inadimplência posteriorao décimo quarto;

IV – multa de dez por cento sobre o valor de ven-da fixado no contrato;

V – suspensão, por cinco anos, da autorizaçãopara construir imóveis, mediar venda de imóveis ouparticipar de licitação pública.

Parágrafo único. Os proprietários, construtorese responsáveis técnicos respondem pela incolumida-de pública, na forma dos arts. 250 e seguintes do Có-digo Penal.

Disposições Finais

Art. 17.Cabe ação regressiva da empresa vende-dora contra a empresa construtora, proprietária ou in-corporadora, e seus respectivos consorciados, e contraos demais responsáveis pela realização imobiliária.

Art. 18. O disposto nesta Lei rege-se, subsidiari-amente, pelo que estabelece a Lei nº 8.078, de 11 desetembro de 1990 (Código de Proteção e Defesa doConsumidor).

Art. 19. O Poder Executivo regulamentará estaLei no prazo de cento e oitenta dias, contados do iní-cio de sua vigência.

Art. 20. Esta Lei entra em vigor na data de suapublicação.

Justificação

São ainda recentes as cenas dramáticas da tra-gédia ocasionada pelo desmoronamento do EdifícioPalace II, na cidade do Rio de Janeiro.

Lamentavelmente, esse não foi episódio isola-do. Ao contrário, problemas sérios com a construçãoe segurança de prédios habitacionais também se ve-rificaram no município de São José do Rio Preto, comos edifícios Portugal e Espanha, e, ainda, em Niteróicom o edifício Saint Marie. No caso do Edifício PalaceII, infelizmente, ainda ocorreram vítimas fatais, soter-radas nos escombros de um prédio edificado com aargamassa da ambição desmedida. Naquele tristeacontecimento, ruíram também todas as esperançase os sonhos daquelas famílias que, de repente, assis-tiam impotentes a perda de toda uma vida inteira desacrifícios e renúncias para poupar os recursos ne-cessários à aquisição de um novo lar.

A falência da Construtora Encol, de triste lem-brança, igualmente levou de roldão, nessa torrente deirresponsabilidade, administrações temerárias e ga-nância desmensurada, a expectativa de centenas defamílias em ter a sua tão almejada moradia.

A esse tipo de comportamento e diante de tama-nha irresponsabilidade, não pode o Poder Públicopermanecer indiferente. É preciso reagir. É necessá-ria a adoção de medidas tendentes a proteger o eco-nomicamente mais fraco cotnra a ânsia de certos em-presários desonestos, que acabam por dilapidar o pa-trimônio de seus clientes, quando não põem em riscoa própria vida dessas pessoas, em busca do lucro fá-cil.

É com este propósito de propiciar um mínimo degarantia aos adquirentes da casa própria dos incor-poradores imobiliários que apresentamos o presenteprojeto, esperando que ele seja aprovado tão pronta-mente quanto o permita o processo legislativo.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. – Se-nadora Luzia Toledo.

LEGISLAÇÃO CITADA

....................................................................................

DECRETO-LEI Nº 2.848, DE 7 DEDEZEMBRO DE 1940

Código Penal

O Presidente da República, usando da atribui-ção que lhe confere o art. 180 da Constituição, decre-ta a seguinte Lei:....................................................................................

IncêndioArt. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a

vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e

multa. Aumento de pena.§ 1º. As penas aumentam-se de um terço:

78 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

I – se o crime é cometido com intuito de obtervantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;

II – se o incêndio é:a) em casa habitada ou destinada à habitação;b) em edifício público ou destinado a uso próprio

ou a obra de assistência social ou de cultura;c) em embarcação, aeronave, comboio ou veí-

culo de transporte coletivo:d) em estação ferroviária ou aeródromo;e) em estaleiro, fábrica ou oficina;f) em depósito de explosivo, combustível ou in-

flamável;g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.Incêndio culposo.§ 2º. Se culposo o incêndio, a pena é de denten-

ção, de (seis) meses a 2 (dois) anos.ExplosãoArt. 251. Expor a perigo a vida, a integridade físi-

ca ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, ar-remesso ou simples colocação de engenho de dina-mite ou de substância de efeitos análogos:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, emulta.

§ 1º. Se a substância utilizada não é dinamite ouexplosivo de efeitos análogos:

Pena – reclusão de 1(um) a 4 (quatro) anos, emulta.

Aumento de pena§ 2º. As penas aumentam-se de um terço, se

ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, doartigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer dascoisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.

Modalidade culposa§ 3º. No caso de culpa, se a explosão é de dina-

mite ou substância de efeitos análogos, a pena é dedetenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos; nos de-mais casos, é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)ano.

Uso de gás tóxico ou asfixianteArt. 252. Expor a perigo a vida, a integridade físi-

ca ou o patrimônio de outrem, usado de gás tóxico ouasfixiante:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, emulta.

Modalidade culposaParágrafo único. Se o crime é culposo:Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)

ano.Fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou

transporte de explosivo ou gás tóxico, ou asfixiante

Art. 253. Fabricar, fornecer, adquirir, possuir outransportar, sem licença da autoridade, substância ouengenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou mate-rial destinado à sua fabricação:

Pena – detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, emulta.

InundaçãoArt. 254. Causar inundação, expondo a perigo a

vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e

multa, no caso de dolo, ou dentenção, de 6 (seis) me-ses a 2 (dois) anos, no caso de culpa.

Perigo de inundaçãoArt. 255. Remover, destruir ou inutilizar, em pré-

dio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a inte-gridade física ou patrimônio de outrem, obstáculo na-tural ou obra destinada a impedir inundação:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, emulta.

Desabamento ou desmoronamentoArt. 256. Causar desabamento ou desmorona-

mento, expondo a perigo a vida, a integridade físicaou o patrimônio de outrem:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, emulta.

Modalidade culposaParágrafo único. Se o crime é culposo:Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um)

ano.Subtração, ocultação ou inutilização de material

de salvamentoArt. 257. Subtrair, ocultar ou inutilizar, por oca-

sião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro de-sastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquermeio destinado a serviço de combate ao perigo, desocorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar servi-ço de tal natureza:

Pena – recusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, emulta.

Formas qualificadas de crime de perigo comumArt. 258. Se do crime doloso de perigo comum

resulta lesão corporal de natureza grave, a pena pri-vativa de liberdade é aumentada de metade; se resul-ta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, sedo fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se demetade; se resulta morte, aplica-se a pena cominadaao homicídio culposo, aumentada de um terço.

Difusão de doença ou pragaArt. 259. Difundir doença ou praga que possa

causar dano a floresta, plantação ou animais de utili-dade econômica:

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 79

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, emulta.

Modalidade culposaParágrafo único. No caso de culpa, a pena é de

detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990Código de Defesa do Consumidor

Dispõe sobre a proteção do consu-midor e dá outras providências

O Presidente da RepúblicaFaço saber que o Congresso Nacional decreta e

eu sanciono a seguinte Lei:....................................................................................

(À Comissão de Assuntos Econômicos– decisão terminativa.)

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Os projetos serão publicados e remetidos àsComissões competentes.

Sobre a mesa requerimentos que serão lidospelo Sr. 1º Secretário em exercício, Senador Jonas Pi-nheiro.

São lidos os seguintes:

REQUERIMENTO Nº 634, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do disposto no artigo 258, do Regi-

mento Interno do Senado, requeiro Tramitação emConjunto do Projeto de Lei do Senado nº 555/99, que“Concede desconto no preço do ingresso em eventosculturais a idosos de que trata a Lei nº 8.842, de 04 dejaneiro de 1994, e dá outras providências”, ao Projetode Lei do Senado nºs 511/99, que “Concede descontode 50% no preço do ingresso de eventos culturais àspessoas com mais de 60 anos de idade, e dá outrasprovidências”, por versarem sobre matéria correlata.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. – Se-nador Osmar Dias.

REQUERIMENTO Nº 635, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do disposto no artigo 258 do Regi-

mento Interno do Senado, requeiro Tramitação emConjunto do Projeto de Lei do Senado nº 538/99, quealtera os artigos 6º, 9º e 14 da Lei nº 7.802, de 11 dejulho de 1989, que “dispõe sobre a pesquisa a experi-mentação, a produção, a embalagem, a comercializa-ção, a propaganda comercial, a utilização, a importa-ção, a exportação, o destino final dos resíduos e em-balagens, o registro, a classificação, o controle, a ins-peção e a fiscalização de agrotóxicos, seus compo-

nentes e afins, e dá outras providências”, ao Projetode Lei do Senado nº 526/99, que altera a Lei nº 7.802,de 11 de julho de 1999, que “dispõe sobre a pesquisa,a experimentação, a produção, a embalagem e rotu-lagem, o transporte, o armazenamento, a comerciali-zação, a propaganda comercial, a utilização, a impor-tação, o destino, a classificação, o controle, a inspe-ção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componen-tes e afins, e dá outras providências”, por versaremsobre matéria correlata.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. – Se-nador Osmar Dias.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Os requerimentos serão publicados e poste-riormente incluídos na Ordem do Dia, na forma doRegimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – A Presidência recebeu, do Supremo TribunalFederal, o Ofício nº S/49, de 1999 (nº 128/99, na ori-gem), de 8 do corrente, encaminhando, para os finsprevistos no art. 52, inciso X, da Constituição Federal,cópia das Leis nºs 6.989, de 29 de dezembro de 1966,10.921, de 30 de dezembro de 1990, e 10.805, de 27de dezembro de 1989, todas do Município de São Pa-ulo, do Parecer da Procuradoria-Geral da República,da versão do registro taquigráfico do julgamento e doacórdão proferido por aquela Corte, nos autos do Re-curso Extraordinário nº 210586, que declarou a in-constitucionalidade dos arts. 7º, I e II, e 27 Lei nº6.989, de 1966, na redação dada pelas leis municipaismencionadas.

O expediente vai à Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, em decisão terminativa.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Encerrou-se ontem o prazo para apresenta-ção de emendas aos seguintes Projetos de Resolu-ção:

Nº 99, de 1999, que autoriza o Estado do Piauí acontratar operação de refinanciamento de dívidas doEstado, consubstanciada no contrato de confissão,assunção, consolidação e refinanciamento de dívi-das, celebrado com a União, em 20 de janeiro de1998, com base no protocolo de acordo firmado entrea União e o Governo do Estado do Piauí, no âmbito doPrograma de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fis-cal dos Estados, no valor de duzentos e cinqüenta mi-lhões, seiscentos e cinqüenta e quatro mil, novecen-tos e trinta e sete reais e quarenta e um centavos; e

Nº 100, de 1999, que autoriza a República Fe-derativa do Brasil a contratar operação de crédito ex-terno no valor equivalente a até quarenta e quatro mi-lhões de dólares norte-americanos, de principal, junto

80 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

ao Banco Internacional para Reconstrução e Desen-volvimento – BIRD.

Não tendo recebido emendas, as matérias se-rão incluídas em Ordem do Dia oportunamente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – A Presidência comunica ao Plenário que,na sessão não deliberativa de ontem, foi lido o Avisonº 1.914/99, do Ministro de Estado da Defesa, enca-minhando as informações referentes ao Requeri-mento nº 393, de 1999, que interrompeu a tramita-ção do Projeto de Lei do Senado nº 91, de 1999.

As informações foram anexadas ao referidoProjeto, que volta à Comissão de Constituição, Jus-tiça e Cidadania, para continuar a sua tramitação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a mesa, ofícios que serão lidos peloSr. 1º Secretário em exercício, Senador Carlos Pa-trocínio.

São lidos os seguintes:

OF./GAB/I/Nº 1.074

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Encaminho a Vossa Excelência os nomes dos

Deputados do PMDB que comporão a Comissão Mis-ta destinada a emitir parecer sobre a Medida Provisó-ria nº 1.922, de 5 de outubro de 1999, em substituiçãoaos anteriormente indicados.

Titulares SuplentesRita Camata Ricardo NoronhaJúlio Delgado Lamartine Possella

Por oportuno, renovo a Vossa Excelência pro-testos de estima e consideração. – Deputado Henri-que Eduardo Alves, Vice-Líder do PMDB no exercí-cio da Liderança.

OF./GAB/I/Nº 1.079

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Encaminho a Vossa Excelência os nomes dos

Deputados do PMDB que comporão a Comissão Mis-ta destinada a emitir parecer sobre a Medida Provisó-ria nº 1.923, de 6 de outubro de 1999, em substituiçãoaos anteriormente indicados.

Titulares SuplentesMilton Monti Jurandil JuarezEdinho Bez Edison Andrino

Por oportuno, renovo a Vossa Excelência pro-testos de estima e consideração. – Deputado Henri-que Eduardo Alves, Vice-Líder do PMDB no exercí-cio da Liderança.

OF./GAB/I/Nº 1.080

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Encaminho a Vossa Excelência os nomes dos

Deputados do PMDB que comporão a Comissão Mis-ta destinada a emitir parecer sobre a Medida Provisó-ria nº 1.924, de 7 de outubro de 1999, em substitui-ção aos anteriormente indicados.

Titulares SuplentesPaulo Lima Armando MonteiroJurandil Juarez Cézar Schirmer

Por oportuno, renovo a Vossa Excelência pro-testos de estima e consideração. – Deputado Henri-que Eduardo Alves, Vice-Líder do PMDB no exercí-cio da Liderança.

OF./Nº 265/99-GLPFL

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Nos termos regimentais, solicito seja feita a

substituição na indicação dos membros da ComissãoMista incumbida do estudo e parecer da Medida Pro-visória nº 1.924, de 7 de outubro de 1999, que “Alteraa legislação tributária federal e dá outras providênci-as”, ficando assim constituída:

Titulares SuplentesGeraldo Althoff Moreira MendesMaria do Carmo Alves Carlos Patrocínio

Atenciosamente, – Senador Francelino Perei-ra, Líder do PFL, em exercício.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Serão feitas as substituições solicitadas.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Passa-se à

ORDEM DO DIAItem 1:

Primeiro dia de discussão, em segun-do turno, da Proposta de Emenda à Cons-tituição nº 65, de 1999, de autoria do Sena-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 81

dor Jefferson Péres e outros senhores Se-nadores, que altera a redação do § 3º doart. 58 da Constituição Federal para acres-centar poderes às Comissões Parlamenta-res de Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, da Co-missão de Constituição, Justiça e Cidada-nia, Relator: Senador Amir Lando, oferecen-do a Redação do Substitutivo aprovado emprimeiro turno.

Em discussão o projeto. (Pausa.)Não havendo quem peça a palavra, a discussão

da matéria constará da Ordem do Dia da sessão ordi-nária de amanhã.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 2:

Discussão, em turno único, do Projetode Lei da Câmara nº 57, de 1998 (nº4.688/94, na Casa de origem), que dispõesobre a criação e o funcionamento de Coo-perativas Sociais, visando à integração soci-al dos cidadãos, conforme especifica, tendo

Parecer favorável, sob nº 231, de1999, da Comissão de Assuntos Sociais,Relator: Senador Sebastião Rocha.

Não foram oferecidas emendas no prazo regi-mental. Passa-se à discussão do projeto em turnoúnico.

Em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.

As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovado.

A matéria vai à sanção.

É o seguinte o projeto aprovado:

PROJETO DE LEI DA CÂMARANº 57, DE 1998

(Nº 4.688/94, na Casa de origem)

Dispõe sobre a crição e o funciona-mento de Cooperativas Sociais, visandoà integração social dos cidadãos confor-me especifica.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º As Cooperativas Sociais, constituídas

com a finalidade de inserir as pessoas em desvanta-

gem no mercado econômico, por meio do trabalho,fundamentam-se no interesse geral da comunidadeem promover a pessoa humana e a integração socialdos cidadãos, e incluem entre suas atividades:

I – a organização e gestão de serviços soci-os-sanitários e educativos; e

II – o desenvolvimento de atividades agrícolas,industriais, comerciais e serviços.

Art. 2º Na denominação e razão social das en-tidades a que se refere o artigo anterior, é obrigató-rio o uso da expressão “Cooperativa Social”, apli-cando-se-lhes todas as normas relativas ao setorem que operarem, desde que compatíveis com osobjetivos desta Lei.

Art. 3º Consideram-se pessoas em desvanta-gem, para os efeitos desta Lei:

I – os deficientes físicos e sen-sociais;II – os deficientes psíquicos e mentais, as pes-

soas dependentes de acompanhamento psiquiátrixopermaneente, e os egressos de hospitais psiquiátri-cos;

III – os dependentes químicos;IV – os egressos de prisões;V – os idosos com sessenta anos ou mais;VI – os condenados a penas alternativas à de-

tenção;VII – os adolescentes em idade de adequada ao

trabalho e situação familiar díficil do ponto de vistaeconômico, social ou afetivo.

§ 1º Pelo menos cinqüenta por cento dos tra-balhadores de cada Cooperativa Social deverão serpessoas em desvantagem, as quais, sempre queisso for compatível com seu estado, devem tambémser sócias da Cooperativa.

§ 2º As Cooperativas Sociais organizarão seutrabalho. especialmente no que diz respeito a insta-lações, horários e jornadas, de maneira a levar emconta e minimizar as dificuldades gerais e individu-ais das pessoas em desvantagem que nelas traba-lharem, e desenvolverão e executarão programasespeciais de treinamento com o objetivo de aumen-tar-lhes a produtividade e a independência econô-mica e social.

§ 3º A condidção de pessoa em desvantagemdeve ser atestada por documentação proveniente deórgão da administração pública, ressalvando-se o di-reito à privacidade.

Art. 4º O estatuto da Cooperativa Social poderáprever uma ou mais categorias de sócios voluntários,que lhe prestem serviços gratuitamente, e não este-

82 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

jam incluídos na definição de pessoas em desvanta-gem.

Art. 5º Aplicam-se às Cooperativas Sociais, na-quilo que couber, os dispositivos constitucionais refe-rentes às cooperativas, bem como os da Lei n º 5.764,de 16 de dezembro de 1971, e os da Lei Orgânica daAssistência Social (Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de1993).

Parágrafo único. As Cooperativas Sociais inse-rem-se na esfera de competência do Conselho Nacio-nal de Assistência Social instituído pelo art. 17 da Leinº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 3:

Discussão, em turno único, do Projetode Lei da Câmara nº 23, de 1999 (nº.2.597/96, na Casa de origem), de iniciativado Presidente da República, que autoriza aUniversidade Federal do Rio Grande doNorte a alienar bem imóvel de sua proprie-dade, e dá outras providências, tendo

Parecer sob nº 614, de 1999, da Co-missão de Constituição, Justiça e Cidada-nia, Relator, Senador Lúcio Alcântara, favo-rável, com as Emendas nºs 1 e 2-CCJ, queapresenta.

Não foram oferecidas mais emendas no prazoregimental de cinco dias. Passa-se à discussão, emconjunto, do Projeto e das Emendas da CCJ em tur-no único.

Em discussão. (Pausa.)Não havendo quem peça a palavra, encerro a

discussão.Em votação o Projeto, sem prejuízo das Emen-

das.As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovado.Votação em globo das Emendas de nºs 1 e 2 da

CCJ.As Srªs e os Srs. Senadores que as aprovam

queiram permanecer sentados.Aprovadas.A matéria vai à Comissão Diretora para redação

final.

São os seguintes o projeto e as emen-das aprovadas:

PROJETO DE LEI DA CÂMARANº 23, DE 1999

(Nº 2.597/96, na Casa de origem)(De iniciativa do Presidente da República)

Autoriza a Universidade Federal doRio Grande do Norte a alienar bem imó-vel de sua propriedade, e dá outras pro-vidências.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica a Universidade Federal do Rio Gran-

de do Norte autorizada a alienar ao Governo do Esta-do do Rio Grande do Norte o domínio útil do terrenoforeiro do patrimônio municipal de Natal, com área de2.540,50 m2 (dois mil, quinhentos e quarenta metrose cinqüenta centímetros quadrados), limitando-se aoeste com a Av. Rio Branco, ao rumo de 28º37’SW,com 43,10m; ao sul, com propriedade de Elvira Amé-lia Machado Felinto Manso Maciel, ao rumo de63º53’SE, com 16,00m; a leste, com a Rua PrincesaIsabel, com 28º07’NE, com 36,10m; e ao norte, com aRua Professor Zuza, com 62º13’NW, com 64,75m,beneficiado com um prédio de dois pavimentos, situa-do na Av. Rio Branco nº 743, Bairro da Cidade Alta,onde funcionou a Televisão Universitária.

Art. 2º O valor adquirido com a alienação dobem de que trata o artigo anterior será utilizado inte-gralmente no campus da Universidade Federal doRio Grande do Norte, atendidas as determinações doart. 4º da Lei nº 6.120, de 15 de outubro de 1974.

Art. 3º A alienação de que trata o art. 1º deveráobedecer às disposições contidas na Lei nº 8.666, de21 de junho de 1993, e suas alterações.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de suapublicação.

Art. 5º Revoga-se o art. 3º da Lei nº 6.995, de 31de maio de 1982.

EMENDA Nº 1-CCJ

Suprima-se do art. 1º do Projeto da Câmara nº23/99, a seguinte expressão: “ao Governo do Estadodo Rio Grande do Norte”.

EMENDA Nº 2-CCJ

Substitua-se o art. 1º do PLC nº 23, de 1999,por:

“Art. 1º Fica a Universidade Federal doRio Grande do Norte autorizada a alienar odomínio útil do terreno foreiro do patrimôniomunicipal de Natal, com área de2.540,50m2, limitando-se a oeste com aAvenida Rio Branco, ao rumo de 28º37’SW,com 43,10m; ao sul, com propriedade de

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 83

Elvira Amélia Machado e Felinto Manso Ma-ciel, ao rumo de 63º53’SE, com 16,00m; aleste, com a Rua Princesa Izabel, com28º07’NE, com 36,10m; e ao norte com aRua Professor Zuza, com 62º13’NW, com64,75m; beneficiado com um prédio de 2(dois) pavimentos, situado na Avenida RioBranco, nº 743, bairro da Cidade Alta”.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 4:

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVONº 39, DE 1997

(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projetode Decreto Legislativo nº 39, de 1997 (nº338/96, na Câmara dos Deputados), queaprova o ato que renova a permissão ou-torgada à Rede Central de ComunicaçõesLtda. para explorar serviço de radiodifusãosonora em freqüência modulada na Cida-de de Campinas, Estado de São Paulo,tendo

Parecer sob nº 256, de 1999, da Co-missão de Educação, Relator: Senador Djal-ma Bessa, favorável, com abstenções dosSenadores Sebastião Rocha, Roberto Sa-turnino e Pedro Simon.

Em discussão o Projeto, em turno único. (Pau-sa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.A Presidência esclarece ao Plenário que, de

acordo com o art. 223, §§ 1º a 3º da Constituição Fe-deral, a matéria depende, para sua aprovação, dovoto favorável de dois quintos da composição daCasa, devendo a votação ser feita pelo processo ele-trônico.

As Srªs e os Srs. Senadores já podem votar.O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Blo-

co\PSB – SE) – Sr. Presidente, posso encaminhar avotação desse Projeto de Decreto Legislativo?

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a Rádio de Campinas? V. Exª é con-tra ou a favor?

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES(Bloco\PSB – SE) – Gostaria de saber de V. Exª seposso fazer o encaminhamento.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Da votação, sobre a Rádio de Campinas,pode. Não pode é mudar o tema.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES(Bloco/PSB – SE. Para encaminhar a votação) – Ló-gico que é sobre o tema.

Sr. Presidente, fiz uma leitura do relatório e doparecer do Senador Djalma Bessa sobre o DecretoLegislativo a que se refere esta matéria. Trata-se deemissora que já funciona no Estado de São Paulodesde os idos de 1989, durante a vigência do gover-no do Presidente José Sarney, e que tem como umdos seus eminentes proprietários o ex-Senador,ex-Governador, ex-Prefeito e ex-Vereador OrestesQuércia. O ex-Governador Orestes Quércia está embaixa, e poucos são os brasileiros que se dispõem areconhecer os méritos e o trabalho de S. Exª. Comoum simples e ex-Governador de um Estado nordes-tino, quero aproveitar esta oportunidade para en-grandecer o trabalho que o ex-Governador OrestesQuércia fez em favor do Estado de Sergipe no setorturístico, conseguindo reunir as maiores empresasde turismo do Estado de São Paulo. Nessa ocasião,colocou o Governo do Estado de São Paulo à dispo-sição do Estado de Sergipe para abrir oportunida-des ao nosso Estado, a fim de que as empresas li-gadas ao turismo de São Paulo pudessem desenca-dear um processo de arregimentação de turistas,fortalecendo, em conseqüência, a economia doEstado de Sergipe.

Sr. Presidente, no momento em que se votao Projeto de Decreto Legislativo nº 39, que aprovao ato que renova a permissão outorgada à RedeCentral de Comunicação Ltda. para explorar servi-ço de radiodifusão sonora em freqüência modula-da na Cidade de Campinas, Estado de São Paulo,não poderia deixar de dar o meu apoio a uma em-presa que tem o comando do ex-Governador Ores-tes Quércia, que foi um amigo do Estado de Sergi-pe. E, como Senador do Estado que representa oEstado de Sergipe, a minha palavra é de total e in-teiro agradecimento ao ex-Governador OrestesQuércia.

Sr. Presidente, o meu voto é favorável ao De-creto Legislativo nº 39, de 1997.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – As Srªs. e os Srs. Senadores já podem vo-tar.

(Procede-se à votação.)

84 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 85

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Votaram SIM 54 Srs. Senadores; e NÃO 1.

Houve 7 abstenções.Total de votos: 62Aprovado.A matéria vai à Comissão Diretora para a reda-

ção final.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Sobre a mesa, parecer da Comissão Direto-ra, oferecendo a redação final, que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador Carlos Patrocí-nio.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 824, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final do Projeto de DecretoLegislativo nº 39, de 1997 (nº 338, de1996, na Câmara dos Deputados).

A Comissão Diretora apresenta a redação fi-nal do Projeto de Decreto Legislativo nº 39, de1997 (nº 338, de 1996, na Câmara dos Deputa-dos), que aprova o ato que renova a permissão ou-torgada à Rede Central de Comunicação Ltda.para explorar serviço de radiodifusão sonora emfreqüência modulada na cidade de Campinas,Estado de São Paulo.

Sala de Reuniões da Comissão, 19 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente– Nabor Júnior, Relator – Lúdio Coelho – JonasPinheiro – Carlos Patrocínio.

ANEXO AO PARECER Nº 824, DE 1999

Faço saber que o Congresso Nacional aprovou,e eu, Presidente do Senado Federal, nos termos doart. 48, item 28, do Regimento Interno, promulgo o se-guinte:

DECRETO LEGISLATIVO Nº , DE 1999

Aprova o ato que renova a permis-são outorgada a “Rede Central de Comu-nicação Ltda.” para explorar serviço deradiodifusão sonora em freqüência mo-dulada na cidade de Campinas, Estadode São Paulo.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º É aprovado o ato a que se refere a Por-taria nº 156, de 15 de setembro de 1989, que reno-

va, por dez anos, a partir de 30 de janeiro de 1988,a permissão outorgada a “Rede Central de Comuni-cação Ltda.” para explorar serviço de radiodifusãosonora em freqüência modulada na cidade de Cam-pinas, Estado de São Paulo.

Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigorna data de sua publicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em discussão a redação final. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.As Srªs e os Srs. Senadores que a aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada.A matéria vai à promulgação.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Item 5:

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVONº 82, DE 1999

(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projetode Decreto Legislativo nº 82, de 1999 (nº674/98, na Câmara dos Deputados), queaprova o ato que renova a concessão defe-rida à Rádio Cabugí Ltda. para explorar ser-viço de radiodifusão sonora em onda médiana cidade de Natal, Estado do Rio Grandedo Norte, tendo

Parecer sob nº 699, de 1999, da Co-missão de Educação, Relator: Senador Ger-son Camata, favorável, com abstenções daSenadora Marina Silva e dos Senadores Pe-dro Simon e Agnelo Alves.

Discussão do projeto em turno único. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.

A Presidência esclarece ao Plenário que, deacordo com o art. 223, §§ 1º a 3º da ConstituiçãoFederal, a matéria depende, para sua aprovação, dovoto favorável de dois quintos da composição daCasa, devendo a votação ser feita pelo processoeletrônico.

As Srªs e os Srs. Senadores já podem votar.

(Procede-se à votação nominal.)

86 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 87

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Votaram SIM 49 Srs. Senadores; e NÃO 1.

Houve 9 abstenções.Total: 59 votos.Aprovado.A matéria vai à Comissão Diretora para a reda-

ção final.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Sobre a mesa, parecer da Comissão Direto-ra, oferecendo a redação final, que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador Carlos Patrocí-nio.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 825, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final do Projeto de DecretoLegislativo nº 82, de 1999 (nº 674, de1998, na Câmara dos Deputados)

A Comissão Diretora apresenta a redação finaldo Projeto de Decreto Legislativo nº 82, de 1999 (nº674, de 1998, na Câmara dos Deputados), que apro-va o ato que renova a concessão deferida à Rádio Ca-bugi Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sono-ra em onda média na cidade de Natal, Estado do RioGrande do Norte.

Sala de Reuniões da Comissão, 19 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente –Nabor Júnior, Relator – Lúdio Coelho – Jonas Pi-nheiro – Carlos Patrocínio.

ANEXO AO PARECER Nº 829, DE 1999

Faço saber que o Congresso Nacional aprovou,e eu, Antonio Carlos Magalhães, Presidente do Sena-do Federal, nos termos do art. 48, item 28, do Regi-mento Interno, promulgo o seguinte

DECRETO LEGISLATIVONº , DE 1999

Aprova o ato que renova a conces-são deferida a “Rádio Cabugí Ltda.” paraexplorar serviço de radiodifusão sonoraem onda média na cidade de Natal, Esta-do do Rio Grande do Norte.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º É aprovado o ato a que se refere o Decre-

to s/nº, de 15 de setembro de 1994, que renova, pordez anos, a partir de 1º de novembro de 1993, a con-cessão deferida a “Rádio Cabugí Ltda.” para explorar,sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusãosonora em onda média na cidade de Natal, Estado doRio Grande do Norte.

Art. 2º Este Decreto Legislativo entra em vigorna data de sua publicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em discussão a redação final. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.As Srªs e Srs. Senadores que a aprovam quei-

ram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada.A matéria vai à promulgação.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Item 6:

MENSAGEM Nº 159, DE 1999(Escolha de Chefe de Missão Diplomática)

(Votação secreta)

Discussão, em turno único, do Parecerda Comissão de Relações Exteriores e De-fesa Nacional, Relator: Senador GilbertoMestrinho, sobre a Mensagem nº 159, de1999 (nº 1.122/99, na origem), pela qual oPresidente da República submete à delibe-ração do Senado a escolha do Senhor Pau-lo Tarso Flecha de Lima, para, cumulativa-mente com a função de Embaixador do Bra-sil junto à República Italiana, exercer a deEmbaixador do Brasil junto a República daAlbânia.

Sobre a mesa, parecer que será lido pelo Sr. 1ºSecretário em exercício, Senador Carlos Patrocínio.

É lido o seguinte:

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO. Lê oseguinte parecer.) – Sr. Presidente, a indicação do Sr.Paulo Tarso Flecha de Lima obteve a aprovação daComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacionalpor 11 votos favoráveis e nenhum voto contrário; por-tanto, pela unanimidade dos Membros presentes.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em discussão o parecer. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.De acordo com a deliberação do Senado do dia

6 de maio de 1998, e nos termos do disposto no art.383, inciso VII, do Regimento Interno, deve ser proce-dida por escrutínio secreto, em sessão pública.

Esclareço ao Plenário que a votação será pelosistema eletrônico.

As Srªs e os Srs. Senadores já podem votar.

(Procede-se à votação secreta.)

88 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Votaram SIM 56 Srs. Senadores; e NÃO 2.

Houve 7 abstenções.Total: 65 votos.Aprovado o nome do Sr. Embaixador Paulo Tar-

so Flecha de Lima.Será feita a comunicação ao Sr. Presidente da

República.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Esgotada a matéria constante da Ordem doDia.

Sobre a mesa, parecer da Comissão Diretoraoferecendo a redação final das Emendas do SenadoFederal ao Projeto de Lei da Câmara nº 23, de 1999,que será lido pelo Sr. 1º Secretário em exercício, Se-nador Carlos Patrocínio.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 826, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final das Emendas do Se-nado ao Projeto de Lei da Câmara nº 23,de 1999 (nº 2.597, de 1996, na Casa deorigem).

A Comissão Diretora apresenta a redação finaldas Emendas do Senado ao Projeto de Lei da Câma-ra nº 23, de 1999 (nº 2.597, na Casa de Origem), queautoriza a Universidade Federal do Rio Grande doNorte a alienar bem imóvel de sua propriedade, e dáoutras providências.

Sala de Reuniões da Comissão, 19 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente –Nabor Júnior, Relator – Lúdio Coelho – Jonas Pi-nheiro – Carlos Patrocínio.

ANEXO AO PARECER Nº 826, DE 1999

Autoriza a Universidade Federal doRio Grande do Norte a alienar bem imó-vel de sua propriedade, e dá outras pro-vidências.

EMENDA Nº 1(Corresponde à Emenda nº 1-CCJ)

Suprima-se do art. 1º do Projeto a seguinte ex-pressão:

“ao Governo do Estado do Rio Grandedo Norte.”

EMENDA Nº 2(Corresponde à Emenda nº 2-CCJ)

Dê-se ao art. 1º a seguinte redação:

“Art. 1º É a Universidade Federal doRio Grande do Norte autorizada a alienar odomínio útil do terreno foreiro do patrimôniomunicipal de Natal, com área de2.540,50m², limitando-se a oeste com aAvenida Rio Branco, ao rumo de 28º37’SW,com 43,10m; ao sul, com a propriedade deElvira Amélia Machado e Felinto Manso Ma-ciel, ai rumo de 63º53’SE, com 16,00m; aleste, com a Rua Princesa Izabel, com28º07’NE, com 36,10m; e ao norte com aRua Professor Zuza, com 62º13’NW, com64,75m; beneficiado com um prédio de 2(dois) pavimentos, situado na Avenida RioBranco, nº 743, bairro da Cidade Alta.”

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a mesa, requerimento que será lidopelo Sr. 1º Secretário em exercício, Senador CarlosPatrocínio.

É lido e aprovado o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 636, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do art. 321 do Regimento Interno,

requeiro a dispensa de publicação do Parecer, paraimediata discussão e votação da redação final dasEmendas do Senado ao Projeto de Lei da Câmara nº23, de 1999 (nº 2.597/96, na Casa de origem), de ini-ciativa do Presidente da República, que autoriza aUniversidade Federal do Rio Grande do Norte a alie-nar bem imóvel de sua propriedade, e dá outras provi-dências.

Sala das Sessões, 19 de outubro de 1999. – Lú-cio Alcântara.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Aprovado o requerimento, passa-se à ime-diata apreciação da redação final.

Em discussão a redação final. (Pausa.)Não havendo quem peça a palavra, encerro a

discussão.Em votação.

As Srªs e os Srs. Senadores que a aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovada.

O projeto volta à Câmara dos Deputados.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a mesa, pareceres que serão lidospelo Sr. 1º Secretário em exercício, Senador CarlosPatrocínio.

São lidos os seguintes:

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 89

PARECER Nº 827, DE 1999

Da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, sobre o Projeto deLei da Câmara nº 17, de 1999, (nº2.872/97, na Casa de origem), que dispõesobre o processo e julgamento da argui-çã o de descumprimento de preceitofundamental, nos termos do § 1º do art.102 da Constituição Federal.

Relator: Senador José Eduardo Dutra

I – Relatório

O projeto de lei em epígrafe, originário daCâmara dos Deputados, onde foi aprovado sob o nº2.872, de 1997, “Dispõe sobre o processo ejulgamento da arguição de descumprimento depreceito fundamental, nos termos do § 1º do art. 102da Constituição Federal”.

Apresentado pela ilustre Deputada SandraStarling, visava inicialmente possibilitar oestabelecimento do controle abstrato incidental noprocesso legislativo, que seria promovido peloSupremo Tribunal Federal mediante solicitação de umdécimo dos membros da Câmara dos Deputados oudo Senado Federal, diante da ocorrência dedescumprimento de preceito fundamental do textoconstitucional, em face de interpretação ou aplicaçãodos regimentos internos das respectivas Casas ou doregimento comum.

Tratava-se, portanto, de propositura de alcanceespecífico, qual seja o de viabilizar o questionamentoperante o Supremo Tribunal Federal no caso deinobservâqncia do devido processo legislativoquando da elaboração das normas.

A idéia central do projeto mereceu inteiroacolhimento e irrestrito aplauso por parte do seuRelator na Comissão de Constituição e Justiça e deRedação da Câmara dos Deputados, ressalvando-se,no entanto, que para a sua aprovação demandava-senovo tratamento no plano da técnica legislativa e naprópria formulação jurídica, o que foi feito através desubstitutivo apresentado e finalmente aprovado.

Entendeu-se, assim não se deveria restringir ocampo de abrangência do preceito constitucional aosatos resultantes de interpretação regimental noâmbito das Casas congressuais, devendo o institutoda arguição de descumprimento alcançar quaisqueratos do Poder Público, para, em benefício dacidadania, atender outras situações merecedoras domesmo amparo processual.

Nesse sentido, ampliou-se não só o universodos legitimados para a propositura da arguição junto

ao Supremo, como estendeu-se o campo daprestação jurisdicional até aos atos municipais.

Além disso, o texto aprovado estabeleceuregras processuais em relação ao rito da argüição,objetivando discipliná-lo adjetivamente de formaminuciosa, para que não pairem dúvidas quanto aoseu ajuizamento.

II – Voto do Relator

Assunto de viva atualidade, o controle deconstitucionalide tem agitado constantemente oespírito dos legisladores e jurisconsultos pátrios,mormente com o advento da Carta de 1998, quando,extraindo as lições de um passado republicano quasesempre manchado pelo autoritarismo, nossosconstituintes ampliaram o leque de instrumentosdisponíveis para o seu exercício.

O objetivo do projeto sub examine, dentrodessa mesma linha, visa aperfeiçoar essesmecanismos de controle, preenchendoadequadamente uma lacuna encontrada nalegislação pátria, que não permitia o saneamentoapriorístico dos textos legais e, bem assim,democratizar o acesso à prestação jurisdicional como alargamento dos legitimados para a competenteargüição.

O escopo prático e a razão finalística do projetoestão plenamente justificados e atendem à desejáveltutela que se pretende estabelecer, de resguardoquanto à desobediência de preceitos constitucionais,cuja ocorrência deve ser evitada em qualquerhipótese e notadamente em relação a um processolegislativo suscetível de estar viciado por eventuaisdesmandos de cúpulas diretivas despreparadas oumal-intencionadas.

Despicienda seria a longa enumeração de fatosilustrativos dos desrespeitos que se verificaram, noâmbito congressual, dentro na nossa históriarepublicana. Mas tantos e notórios são, que hoje setorna indiscutível a necessidade de freios para coibiressa condenável prática, derivando-se para umaradical mudança quanto ao entendimento social epolítico do que verdadeiramente representa orespeito à Constituição para os destinos de um país.

Para atingir esse mister, nota-se, no projeto, umacertado processo evolucionista em relação aosocorro judicial contra os desmandos,consignando-se uma abertura que se mostrareceptiva à contribuição de todos os cidadãos napreservação dos comandos constitucionais, e nãoapenas de alguns, consoante se permitia. A tutelajurisdicional adquire, assim, um sentido geral e isentode restrições.

Foi nesse sentido que a redação original doprojeto, de autoria da ilustre Deputada Sandra Starling,

90 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

sofreu substancial modificação ampliativa com osubstitutivo aprovado, da lavra do operoso DeputadoPrisco Viana, de modo a dar maior abrangência eagilidade ao instituto. Essa iniciativa, longe de afirmara má estrutura do projeto inicial, contribuiu para sanarpossíveis deficiências das quais poderiam sebeneficiar os vocacionados para o arbítrio.

Já se disse que pior do que ferir a Constituição éignorá-la. A solução encontrada pelo projeto, além denão manchar a textura constitucional, valoriza ocontrole da constitucionalidade das leis ao estendê-lopara dentro do processo de sua elaboração.

É uma propositura isenta das paixões que, nãoraro, afetam a capacidade de raciocínio. Exala dela,com toda a clareza, o objetivo de posicionar osinteresses gerais do País acima das pretensões departidos, grupos ou pessoas. É uma solução honesta,fruto de acurada análise, que rejeita o fácil recursodos paliativos momentâneas ou transitórias, parafixar-se em normas estáveis e isentas de empirismo,traduzindo-se, isso mesmo, numa cuidadosaconcatenação de medidas destinadas à salvaguardapermanente dos verdadeiros e superiores interessesdo povo brasileiro.

Não nos parece necessário tecer maioresconsiderações, sejam elas históricas, doutrinárias oujurídicas, a respeito do projeto ora analisado. Elaspraticamente foram esgotadas, judiciosamente, tantona justificação apresentada pela lúcida e preclaraautora como no voto do preparado e fecundo relatorque lhe apresentou substitutivo aperfeiçoar. Dessaseruditas peças emergem, cristalinos, a metodologia,a ponderação, a sobriedade e o sistemático realismoque caracterizaram a sua elaboração.

Não nos parece que esteja ele a requererajustes que lhe permitam ser mais expedito ou lhetragam maior eficácia quanto à sua funcionalidade.Pelo contrário, afigura-se-nos bastante completo,apropriado e oportuno, ao remover os óbices queentravam, por falta de lei que regule o seu processo, opleno exercício da cidadania através da argüição dedescumprimento de preceito fundamental, previstano § 1º do art. 102 da Constituição Federal.

Do ponto de vista político, já se passou da horade cristalizarmos, de uma vez por todas, uma novaescala de valores, em que os direitos e as obrigaçõesdecorrentes do poder público, sejam do executivo oudo Legislativo, submetam-se incondicionalmente aosprimados da Constituição. Sem isso, propicia-se aeternização do aspecto mais preocupante do nossoproblema constitucional, qual seja, o de que a CartaMagna transmita a sensação de letra morta,

distanciada do espírito da nossa época edesenquadrada no tempo e no espaço dosverdadeiros estados democráticos de direito.

Essa é, precisamente, a finalidade do projeto,que nos parece de redação clara, consubstanciadopor boa técnica jurídica e convincente quanto à suafundamentação.

Por todo o exposto, voto pela sua aprovação,enfatizando a necessidade de que se acelere a suavotação, para que as leis não continuem a serdesmoralizadas pela falta de freios contra osdesrespeitos à Lei Maior.

Sala da Comissão, 31 de agosto de 1999. –José Agripino, Presidente – José Eduardo Dutra,Relator – Roberto Requião, Iris Rezende, ÁlvaroDias, Juvêncio da Fonseca, Pedro Simon, AntônioCarlos Valadares, Romeu Tuma, Maria do CarmoAlves, Lúcio Alcântara, Francelino Pereira.

PARECER Nº 828, DE 1999

Da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, sobre o Projeto deLei da Câmara nº 57, de 1997, (nº 474/95,na Casa de origem), que acrescentaparágrafo único ao art. 4º da Lei nº 6.015,de 31 de dezembro de 1973, que dispõesobre os registros públicos e dá outrasprovidências.

Relator: Senador Jefferson Péres

I – Relatório

Examina esta Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania do Projeto de Lei da Câmara nº57, de 1997, (nº 474, de 1995 na Casa de origem),que “acrescenta parágrafo único ao art. 4º da Lei nº6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobreos registros públicos e dá outras providências”.

A presente proposição legislativa tem porobjetivo estender para os cartórios de notas osprocedimentos que já são utilizados pelos cartóriosde registro de (de imóveis, de títulos e documentos epessoas jurídicas e das pessoas naturais), no que dizrespeito à abertura, numeração autenticação eencerramento dos seus livros.

A constitucionalidade do Projeto de Lei nº 57,de 1997, é evidente. Diz o art. 22, XXV, daConstitução Federal:

Compete privativamente à União legislar sobre:XXV – registros públicos;Examinando a proposição legislativa sob

enfoque no que concerne à iniciativa, vê-se que elaencontra respaldo no art. 61 da Carta Magna, pois trata

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 91

de matéria cujo processo legislativo pode ser iniciadopor projeto apresentado por qualquer membro doCongresso Nacional.

A juridicidade da proposição é induvidosa e seapresenta em total harmonia com as leis vigentes.

Devemos resslatr que a obrigação determinadana presente proposição legislativa está sendoinserida na Lei dos Registros Públicos, para sercumprida po cartórios não registradores (os cartóriosde notas), o que na nossa opinião, não constituiempecilho intransponível para a aprovação doprojeto, por se tratar de atividades correlatas eassemelhadas.

Verifica-se, no dia-a-dia dos cartórios de notas,que aluns deles já adotam o procedimentorecomendado na proposição sob exame.

A aprovação do projeto sob comento dariamaior uniformidade do uso dos livros cartoriais detodo o país, proporcionando aos jurisdicionados auma melhor segurança quanto à prática dos atos dejurisdição voluntária (jusrisdição não contenciosa).

II – Voto

Em face do exposto, manifestamo-nos pelaaprovação do PLC nº 57, de 1997, por ser meritório,por atender aos aspectos da constitucionalidade, dajuridicidade e de boa técnica legislativa e,especialmente, por constituir-se em importanteaperfeiçoamento do sistema cartorário do país.

Sala das Comissões, 1º de setembro de 1999. –José Agripino, Presidente – Jefferson Péres,Relator – Lúcio Alcântara – Iris Rezende – JoséAlencar – Eduardo Suplicy – Álvaro Dias – ÉdisonLobão – Amir Lando – José Eduardo Dutra – JoséFogaça – Pedro Simon – Luzia Toledo.

ADENDO

Ao parecer da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, sobreo Projeto de Lei da Câmara nº 57, de 1997(nº 474, de 1995, na Casa de origem),para atender ao Ofício nº SF/828/99, doPresidente do Senado Federal.

Em atendimento ao Ofício nº SF/828/99, doExmº Sr. Presidente do Senado Federal, SenadorAntonio Carlos Magalhães, apresentamos Adendo aonosso voto perante a Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania desta Casa, visando a adaptar aredação do Projeto de Lei da Câmara nº 57, de 1997,às normas da Lei Complementar nº 95, de 26 defevereiro de 1998, nos seguintes termos:

I – Relatório

....................................................................................

II – Voto

Em face do exposto, manifestamo-nos pelaaprovação do Projeto de Lei da Câmara nº 57, de1997, por atender aos aspectos daconstitucionalidade e juridicidade e por constituir-seem importante contribuição para o aperfeiçoamentodo sistema cartorário do País.

Quanto à técnica legislativa, no entanto, enecessário propor a seguinte alteração, que nãoatinge o mérito da proposição e que, tão-somente,visa a adequá-la aos preceitos da Lei Complementarnº 95, de 26 de fevereiro de 1998:

Suprima-se o art. 3º do projeto, em obediênciaao art. 9º da Lei Complementar nº 95 de 1998."

Sala da Comissão, – José Agripino, Presidente– Jefferson Péres, Relator.

DOCUMENTOS ANEXADOS PELASECRETARIA-GERAL DA MESA, NOSTERMOS DO ART. 250, PARÁGRAFOÚNICO DO REGIMENTO INTERNO.

OF. SF/ Nº 828/99

Brasília, 14 de setembro de 1999

Exmº Sr.Senador Jefferson PéresSenado Federal

Senhor Senador,Tomo a liberdade de pedir a atenção de V. Exª

para as disposições da Lei Complementar nº 95, de26 de fevereiro de 1998, que afetaram a redação doProjeto de Lei da Câmara nº 57, de 1997, relatado porV. Exª na Comissão de Constituição, Justiça eCidadania, cujo parecer foi aprovado por aqueleÓrgão no dia 1º do corrente, em especial ao dispostono art. 9º (cláusula revogatória genérica) constantedo art. 3º da referida matéria.

Em razão do exposto, remeto a V. Exª a matéria,encarecendo-lhe as providências necessárias àadequação do seu texto às novas regras de redaçãolegislativa contidas na mencionada lei.

À oportunidade, reitero a V. Exª meus protestosde consideração e apreço. – Senador AntonioCarlos Magalhães, Presidente.

PARECER Nº , DE 1999.

Da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania sobre o Projeto deLei da Câmara nº 57, de 1997 (nº 474, de1995, na Casa de origem), que Acrescentaparágrafo único ao art. 4º da Lei nº 6.015, de31 de dezembro de 1973, que dispõe so-

92 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

bre os Registros Públicos e dá outrasprovidências.

Relator: Senadora Regina Assumpção

I – Relatório

Encontra-se sob exame desta Comissão oProjeto de Lei da Câmara nº 57, de 1997 (nº 474, de1995, na Casa de origem), que “Acrescenta parágrafoúnico ao art. 4º da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de1973, que dispõe sobre os Registros Públicos e dáoutras providências.”

O referido projeto, de autoria do Deputado FeuRosa, visa a sistematizar aspecto relativo á atividadenotarial, mediante a uniformização de procedimentosconcernentes aos livros em que são reaizados osassentos pelos notários.

A proposição estende, portanto, aos cartóriosde notas os procedimentos que são utilizados peloscartórios de registro, conforme o estabelecido no art.4º da Lei nº 6.015/73.

No âmbito da Câmara dos Deputados, apresente iniciativa não recebeu emendas e foiaprovada por unanimidade pela Comissão deConstituição e Justiça e de Redação.

II – Voto

O exame da realidade revela que o acréscimodo parágrafo único ao art. 4º da Lei nº 6.015/73 écompatível com a atividade notarial, uma vez que elatem se organizado de acordo com os termos dapresente iniciativa, ou seja, o projetos estebelecenormas a serem observadas pelo notório, as quais jávêm sendo adotado em muitas serventias.

Conforme alega o próprio autor do projeto, aproposição teria o mérito de estender ao notariadoprática já consagrada na maioria dos Estados. Paratanto, optou-se modificar a Lei nº 6.015/73, muitoembora tal diploma seja específico para regular asatividades dos registradores.

O exame da constitucionalidade eregimentalidade da matéria permite dizer que nãoforam detectados vícios que impeçam a aprovação doprojeto.

Diante do exposto, opinamos pela aprovação doProjeto de Lei da Câmara nº 57, de 1997, na formacomo foi remetido a esta Casa.

Sala da Comissão, 4 de dezembro de 1997. –Senadora Regina Assumpção.

LEGISLAÇÃO CITADA, ANEXADAPELA SECRETARIA-GERAL DA MESA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL

* Art. 22. Compete privativamente à Uniãolegislar sobre:

I – direito civil, comercial, penal, processual,eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e dotrabalho;

II – desapropriação;III – requisições civis e militares, em caso de

iminente perigo e em tempo de guerra;IV – águas, energia, informática,

telecomuniocações e radiodifusão;V – serviço postal;VI – sistema monetário e de medidas, títulos e

garantias dos metais;VII – política de crédito, câmbio, seguros e

transferências de valores;VIII – comércio exterior e interesdual;IX – diretrizes da política nacional de transportes;X – regime dos portos, navagação lacustre,

fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;XI – trânsito e transporte;XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e

metalurgia;XIII – nacionalidade, cidadania e naturalização;XIV – populações indígenas;XV – emigração e imigração, entrada,

estradição e expulsão de estrangeiros;XVI – organização do sistema nacional de

emprego e condições para o exercício de profissões;XVII – organização judiciária, do Ministério

Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal edos Territórios, bem como organização administrativadestes;

XVIII – sistema estatístico, sistema cartográficoe de geologia nacionais;

XIX – sistemas de poupança, captação egarantia da poupança popular;

XX – sistemas de consórcios e sorteios;XXI – normas gerais de organização, efetivos,

material bélico, garantias, convocação e mobilizaçãodas polícias militares e corpos de bombeiros militares;

XXII – competência da polícia federal e daspolícias rodoviárias e ferroviária federais;

XXIII – seguridade social;XXIV – diretrizes e bases da educação nacional;XXV – registros públicos;XXVI – atividades nucleares de qualquer

natureza;XXVII – normas gerais de licitação e

contratação, em todas as modalidades, para asadministrações públicas diretas, autárquicas efundacionais da União, Estados, Distrito Federal eMunicípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, epara as empresas públicas e sociedades deeconomia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III;

XXVIII – defesa territorial, defesa aeroespacial,defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 93

XXIX – propaganda comercial.Parágrafo único. Lei complementar poderá

autorizar os Estados a legislar sobre questãoespecíficas das matérias relacionadas neste artigo.....................................................................................

*Art. 61. A iniciativa das leis complementares eordinárias cabe a qualquer membro ou comissão daCâmara dos Deputados, do Senado Federal ou doCongresso Nacional, ao Presidente da República, aoSupremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores,ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, naforma e nos casos previstos nesta Constituição.

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente daRepública as leis que:

I – fixem ou modifiquem os efetivos das ForçasArmadas;

II – disponham sobre:a) criação de cargos, funções ou empregos

públicos na administração direta e autárquica ouaumento de sua remuneração;

b) organização administrativa e judiciária,matéria tributária e orçamentária, serviços públicos epessoal da administração dos Territórios;

c) servidores públicos da União e Territórios,seu regime jurídico, provimento de cargos,estabilidade e aposentadoria;

d) organização do Ministério Público e daDefensoria Pública da União, bem como normasgerais para organização do Ministério Público e daDefensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal edos Territórios;

e) criação, estruturação e atribuições dosMinistérios e órgãos da administração pública;

f) militares das Forças Armadas, seu regimejurídico, provimento de cargos, promoções,estabilidade, remunerações, reforma e transferênciapara a reserva.

§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pelaapresentação à Câmara dos Deputados de projeto delei subscrito por, no mínimo, um por cento doeleitorado nacional, distribuído pelo menos por cincoEstados, com não menos de três décimos por centodos eleitores de cada um deles.

*EC Nº 18/98.

*EC Nº 19/98.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – A Presidência comunica ao Plenárioque o Projeto de Lei da Câmara nº 57, de 1997 (nº474/95, na Casa de origem), e Projeto de Lei daCâmara nº 17, de 1999 (nº 2.872/97, na Casa deorigem), cujos pareceres foram lidos anteriormente,ficarão perante a Mesa durante cinco dias úteis, a fim

de receber emendas, nos termos do art. 235, II, “d”,do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Volta-se à lista de oradores.

Concedo a palavra ao nobre Senador ErnandesAmorim.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Concedo a palavra, pela ordem, aonobre Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,na semana retrasada, estava presidindo a sessão oPresidente em exercício, Senador Geraldo Melo, aquem informei sobre o diálogo que mantive com oPresidente do Banco Central, Sr. Armínio Fraga,relatando a S. Sª que não havia o Senado Federalrecebido cópia do acordo firmado entre o Governobrasileiro e o Fundo Monetário Internacional depoisda modificação da política salarial em janeiro último.O Presidente Geraldo Melo disse-me, então, que iriadiligenciar no sentido de que isso fosse feito.

Sr. Presidente, pergunto, primeiro, se oPresidente Fernando Henrique Cardoso, o Ministro daFazenda, Pedro Malan e o Presidente do Banco Centraljá enviaram os termos do referido acordo do FundoMonetário Internacional com o Governo brasileiro,retificado depois das modificações que foram, inclusive,objeto de explicação quando da visita do Ministro PedroMalan e do Presidente do Banco Central ao Senado.

O Presidente em exercício naquela ocasião,Senador Geraldo Melo, afirmou que iria determinarprovidências, uma vez que o referido acordo nãohavia chegado à Mesa até semana passada.

Assim, se chegaram os termos do acordo, qual oencaminhamento que V.Exª, como Presidente, irá dar?

V. Exª, como Presidente do Congresso Nacional edo Senado, tem manifestado que seria importante parao Governo brasileiro rever os termos do acordo com oFMI. Como ainda não vieram – e devem vir, porque éobrigação constitucional do Executivo enviar a matériaao exame do Senado –, seria a oportunidade dediscutirmos, depois de conhecermos em profundidadeos termos acordados, a fim de propormosmodificações.

Esta, a informação que peço a V. Exª que dê amim e ao Plenário do Senado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Ontem, recebi um pedido de V. Exªnesse sentido e mandei diligenciar. Assim que tenhao resultado da diligência, informarei ao nobreSenador.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Concedo a palavra ao nobre SenadorErnandes Amorim.

94 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,ocupamos esta tribuna, mais uma vez, principalmentepela vontade de vários Senadores da Região Norte,acredito que em sua maioria. Região Norte que estevesempre fora dos programas governamentais e que,dentro desses programas orçamentários, é esquecida,não é atendida. Assim, Sr. Presidente, diante dessesfatos, é que farei, daqui a instantes, umpronunciamento.

Antes, contudo, gostaria de informar a estePlenário que, há alguns dias, tivemos uma reunião dediversos Secretários de Agricultura, na Capital doEstado de Rondônia, Porto velho, ondecompareceram o Ministro Raul Jungmann e orepresentante do Ministro da Agricultura. Àquelareunião estiveram presentes 18 dos 27 Secretáriosde Estado da agricultura.

Naquela ocasião, pudemos perceber que umadas alegações dos Secretários é que a desculpa doMinistro da Agricultura ou do Governo Federal paranão aplicar recursos na área da agricultura eram asemendas parlamentares, que estariam fazendo comque o Governo Federal não investisse na agricultura,ou seja, não cumprisse o Plano Plurianual.

Ora, Sr. Presidente, nobres Senadores, todossabemos que as emendas de bancada, as emendasparlamentares não foram liberadas, quando nadapara o nosso Estado. Até hoje, sequer o Governo deuatenção aos Srs. Senadores. Parece até que essasemendas foram feitas com a idéia de que osSenadores seriam beneficiados.

Na verdade, Sr. Presidente, V. Exª e os Srs.Senadores sabem que, quando nos dirigimos aosnossos eleitores pedindo os votos necessários parachegarmos a esta Casa, nossa intenção é, aqui,buscar recursos e apoio para nossos Estados. Ocorreque, para tanto, a única oportunidade que temos,como parlamentares, são essas emendas, no valorde R$1,5 milhão cada uma. Para o Governo Federal,essa quantia nada representa, principalmente seconsiderarmos que o ex-Presidente do Banco Centraldepositou esse valor em sua conta particular noexterior, sem que ninguém procurasse sequeraveriguar. Todavia, para atender a um parlamentar,principalmente nas reivindicações dos seusmunicípios...

Nesta Casa, são três parlamentares por Estado,o que equivale a R$4,5 milhões, e, até agora, nãofomos atendidos pelo Senhor Presidente,principalmente nós, da Região Norte. O povo danossa região já está cansado, já não admite maisessa distorção, essa distribuição perversa dosrecursos nacionais contra os interesses daAmazônia.

Por isso, Sr. Presidente, a organização doorçamento em programas com objetivos definidos,

com as ações e seus produtos quantificados,conforme tem salientado o Presidente FernandoHenrique Cardoso, realmente permite à sociedadeparticipar e influenciar no resultado dos programasem que o dinheiro público é aplicado. Além disso, deimediato, revela distorções da AdministraçãoFederal, possibilitando que os responsáveispromovam a correção necessária.

Por exemplo, em relação ao Plano Plurianual parao ano 2000, o Programa Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar – PRONAF, com o objetivo defortalecer a agricultura familiar e promover a suainserção competitiva no mercado, estão previstasassistência técnica e extensão rural a 1,2 milhão defamílias, com o benefício do crédito de 623 milprodutores.

Sr. Presidente, é praticamente uma operação decrédito para cada dois produtores que receberemassistência técnica pelo Programa. Todavia, adistribuição desse benefício entre as diferentesregiões brasileiras é extremamente desigual. NoNorte, para cada 11 produtores assistidos pelaextensão rural, é previsto um financiamento,enquanto, no Nordeste, a cada 5 produtores, 2financiamentos, e, no Sul, há 2 financiamentos paracada produtor assistido. No Sudeste, cada 3produtores têm um financiamento.

Outro exemplo de desigualdade, também emprejuízo do Norte, é o Programa de Cestas deAlimentos. Neste caso, há previsão de aquisição de304 milhões de toneladas de alimentos paradistribuição já determinada entre as regiõesbrasileiras.

Por habitante, per capita, serão R$0,44 nonorte ou 1,4Kg de alimentos; no nordeste, R$1,10 ou3,4Kg; no centro-oeste, R$0,75 ou 2,3Kg; e no sul,R$0,50 ou 1,5Kg.

Há ainda outro exemplo de discriminação com onorte do Brasil: o Programa Carta de Crédito, que temo objetivo de reduzir o déficit habitacional qualitativo equantitativo mediante financiamento para aquisiçãode imóvel, construção e reforma.

No norte, a previsão é de um imóvel para maisde 800 habitantes; no nordeste, um imóvel para 580habitantes; no sudeste, um imóvel para 490habitantes, sendo que, no sudeste e no norte, oinvestimento previsto é de R$13.300 por imóvel, emmédia, para construção, aquisição ou reforma, e, nonordeste, de R$14.500.

No programa denominado Desenvolvimento doEnsino de Graduação, destinado a ampliar a oferta,manter e melhorar a qualidade do ensino superior,também não é diferente. São 58 mil alunos no norte,12% dos alunos matriculados em universidadesfederais; e para o funcionamento dos cursos teremos6,5% dos recursos. Teremos R$280 milhões dosR$4,3 bilhões destinados a essa ação:Funcionamento de Cursos de Graduação.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 95

Claro que há casos, como a USP, onde cadaaluno custa R$70 mil por ano à União. Mas a médianacional é R$8.900 e no Norte a média é R$4.800.Imaginem, Sr. Presidente e Srs. Senadores, que, paracada 39 alunos no norte, haverá um livro novo. Nonordeste, será um livro novo para cada sete alunos;no centro-oeste e no sul, para cada grupo de cincoalunos haverá um livro; no sudeste, será um livro paracada dois alunos.

Para cada 80 alunos do Norte, há previsão de seconstruir um metro quadrado nas universidadesfederais. No Nordeste, a mesma área será construídapara cada 12 alunos; no Sudeste, para cada 1,2 alunos;no Sul, para um aluno. No Centro-Oeste, cada trêsalunos terão um metro quadrado de construção eampliação.

Trata-se de outra distorção, Sr. Presidente, daqual estamos reclamando ao expor esses dados.Para reforma das instalações, não há nada no norteenquanto há um metro para cada três alunos nosudeste.

Ninguém pense que há compensação nosprogramas dirigidos à Amazônia – biodiversidade,biotecnologia, desenvolvimento sustentável,Amazônia, Sivam, Sipam, Tele Norte, etc. Naverdade, não se investe no desenvolvimento daeconomia local. Ao contrário, todas as ações são derepressão ou de estudo de projetos, estudos, estudosde papel.

O que a região Norte recebe é uma perseguiçãodesmesurada do Ibama, prendendo pessoas,proibindo que se desenvolvam. Imaginem os Srs.Senadores que o clima na região Norte é totalmentediferente do da região Sul. Às vezes nesta região estáchovendo, enquanto naquela o verão é eterno.Apesar disso, baixaram há poucos dias um decretoque proíbe queimadas no Brasil. Eu fico a imaginar:será que as autoridades ministeriais, os responsáveispelo Ibama não sabem que o clima da região Norte édiferente do clima do nordeste e do sul? E baixamdecretos.

A propósito, Sr. Presidente, o que ocorre é que ocidadão vai ao Ibama, paga uma taxa dedesmatamento ou uma taxa de queimada, o que étotalmente legal, e, daqui a pouco, baixam um decretocontra uma lei, proibindo o mesmo cidadão dequeimar ou desmatar o que foi já de direito requerido.Esses abusos todos são impostos a quem mora naAmazônia. Nós da Amazônia sofremos todos essesdesajustes de conhecimento, essa falta deresponsabilidade das autoridades federais. Quandotêm que mandar, ou demonstrar, as organizações daONU e os interesses internacionais escolhem aregião Norte – e por sorte escolhem Rondônia –,perseguindo madeireiros, agricultores, empresários,dizendo que estão dando o exemplo. Assim,

invertem-se os objetivos, os interesses de quem foipara a Amazônia.

E não se diga que há isenção de imposto naZona Franca de Manaus, para justificar essadiscriminação.

O Norte não se restringe a Manaus, e asempresas beneficiadas não são de lá, estão lá, e obenefício significa que o brasileiro compra produtoseletroeletrônicos a custo menor.

Também não se diga que existem recursos noFundo Constitucional do Norte – FNO. Na verdade,metade desses recursos são desviados de suafinalidade de financiar a atividade produtiva e sãoaplicados em títulos do Tesouro, para assegurar rendaque permita o pagamento das despesas defuncionamento do BASA. Tudo na cartilha doMinistério da Fazenda.

Então, mais uma vez quero alertar: é precisomais seriedade no trato da Amazônia, da populaçãoda Amazônia.

O Governo brasileiro precisa mudar sua atitudee procurar ser justo. Senão, qualquer dia dessesteremos a própria população da Amazônia lutandopela sua emancipação ou incorporação emprotetorado da ONU ou o que o valha.

Nosso pensamento, evidentemente, não éentregar a Amazônia. Sou nacionalista. Brigo a todocusto nesta Casa, porque somos contra esseentreguismo da Amazônia aos interessesinternacionais, contra o abandono da Amazônia peloGoverno. Tememos que daqui a pouco se levanteuma bandeira diferente dentro do território nacional.

Vejam que nos Estados Unidos já aprovaram leide proteção às florestas tropicais, prevendo trocardívidas com o Governo americano por projetos depreservação administrados por pessoas indicadaspelo próprio Governo americano.

Mais uma vez quero alertar: se o Brasil nãosouber valorizar quem vive na Amazônia, no mundohá quem saiba e quer a parceria daquela população,para desenvolvimento econômico no aproveitamentoracional de seus recursos naturais. Não na proibição.Na repressão.E o Brasil ainda não está sabendo fazeresse aproveitamento econômico. E sacrifica nossapopulação.

Sr. Presidente, é preciso que nós da regiãoAmazônica busquemos, aqui, neste Plenário, aproteção, o apoio dos nobres colegas Senadores paraajudar aquela região. Afinal de contas aquilo é o Brasil,não os brasis que pensam que é a Amazônia. Não sedeve dar as costas a uma região tão produtiva; não sedeve dizer – como chegaram os amigos secretáriosda Agricultura de outros Estados no Estado deRondônia – que o Governo não está encaminhandorecursos à região Norte por causa das emendas dasbancadas ou dos parlamentares. Não posso aceitar isso

96 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

em momento algum, até porque considero isso umdesrespeito a nós Parlamentares.

Peço ao Sr. Presidente que, junto ao PresidenteFernando Henrique, reclame um dever sagrado, queé o do Parlamentar não ser mentiroso, de um Senadornão chegar às suas bases pedindo voto, dizendo quevem representar o seu município, o seu povo, e dentrode um orçamento trabalhado durante um ano, dentrode um orçamento trabalhado durante um ano, emvárias reuniões da Comissão, em que foramdistribuídas emendas com a finalidade de atender àcomunidade, para, em seguida, não sermosatendidos.

Afinal de contas, Sr. Presidente, Sras e Srs.Senadores, este é o antepenúltimo mês do ano – dezmeses já se passaram – e o Governo FernandoHenrique Cardoso não teve o mínimo respeito pelosParlamentares. Não estamos pedindo dinheiro paranós, mas para desenvolver as nossas regiões. Foipara isto que viemos aqui: defender os interesses dosnossos Estados.

Sr. Presidente, desejamos de V. Exª e dos nobresPares apoio para a Amazônia e queremos convidá-lospara visitar Rondônia. O Ministro Raul Jungmann ficouapaixonado pelo meu Estado e prometeu voltar váriasvezes. No dia em que V. Exª e os nobres Colegas forema Rondônia vão encontrar um Estado promissor e cheiode vontade de crescer e que busca apoio.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães)

– Concedo a palavra ao Senador Bernardo Cabral.A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC) – Sr.

Presidente, depois do Senador Bernardo Cabral,peço a palavra pela Liderança do Bloco.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Após o Senador Bernardo Cabral,concedo a palavra à Senadora Marina Silva pelaLiderança do seu Partido.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Sr.Presidente, Sras e Srs. Senadores, o que me traz àtribuna é um acontecimento que não pode deixar defigurar nos Anais da Casa. No início deste mês, do dia3 ao dia 10 de outubro, a Associação Mundial dosJuristas realizou a sua 19ª Conferência Bianual; e afez em Budapeste, na Hungria, e em Viena, naÁustria.

Do dia 3 ao dia 10, desfilou naquele anfiteatromundial do Direito o número imenso de 38 países. Aliestavam concentrados os seguintes países: Filipinas;Nigéria; Moçambique; Áustria; Hungria; Bangladesh;República Popular da China; Itália; Estados Unidos;Costa do Marfim; Ucrânia, Israel; Noruega; Argentina;Haiti; Zâmbia; Coréia; Índia; Austrália; Irlanda; Malta;França; Espanha; Suécia; Venezuela; Alemanha;

Geórgia – desligada da União da República SocialistaSoviética –; Japão; Sri Lanka; Vaticano; Bélgica;Indonésia; Romênia; Iugoslávia; Macau; Turquia;África do Sul e Brasil. Portanto, Sr. Presidente, 38países, com a participação de 465 membros.

O Brasil participou apenas, lamentavelmente,com seis delegados: o Ministro Ilmar Galvão e suafilha, S. Exª representando o Supremo TribunalFederal e a Presidência do Supremo; o Dr. PhelippeDaou e esposa, na qualidade de Presidente e jurista;e este orador que ocupa a tribuna, representando, naqualidade de Presidente da Associação Mundial dosJuristas no Brasil, o nosso País.

Logo devo dizer, Sr. Presidente, que não custouum centavo ao Erário, o que é muito bom. E foi umaviagem em que o Brasil fez questão de mostrar quenão está absolutamente deslocado do que se passano Direito Internacional.

O tema que me coube relatar não deixou de teralgumas divergências porque dizia respeito ao DireitoInternacional Constitutivo, de lege ferenda, e aexigibilidade de sujeição dos Estados às normas ditasperemptórias. Isso é um assunto novo que o mundointeiro começa a debater. Para alegria do seucompanheiro de Partido, o trabalho apresentado foiaprovado ao final da reunião.

É interessante registrar, Sr. Presidente, que, nafronteira da Hungria com a Áustria, em 1989, fazia-seo corte da chamada barreira que o mundo inteiroconheceu como Cortina de Ferro.

Dez anos depois, o Chanceler de então, já hojecom os cabelos mais embranquecidos que os nossos,repetiu seu discurso lembrando que era naquele local– o Portão de Santa Margarete – que, em 1949, aCortina de Ferro colocava a barreira entre os doispaíses irmãos: Áustria e Hungria.

Ali foi erigido o Monumento ao Princípio Geral doDireito, como celebração do 10º aniversário da quedada Cortina de Ferro. Sem nenhuma jactância – masque deixarei para os meus netos –, ali está incluído omeu nome como um dos participantes da reunião.

Quero trazer para os Anais da Casa, primeiro, apublicação que foi feita, curiosamente, em inglês e,virando-a, na nossa língua portuguesa; segundo, acarta que foi expedida ao final da reunião.

Sr. Presidente, nesta declaração, que é mais doque uma carta de princípios, há uma longaabordagem sobre direitos humanos, sobre terrorismointernacional, sobre a luta contra o crime no mundo inteiro,sobre o desenvolvimento das democracias, sobre direitoe tecnologia, sobre a proteção dos direitos humanosdas futuras gerações, sobre a educação legal, sobredireito internacional, sobre economia e finanças,sobre a União Européia, e a abordagem que se

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faz interessante e que hoje é uma bandeira de todosos Partidos: o combate à fome.

Participando dessa reunião englobando 38Países e 465 participantes e sendo a fome alienfocada, só lamentei que V. Exª – que capitaneouontem uma reunião fazendo com que outroscompanheiros se sentissem bem na defesa contra afome –, não estivesse ali também.

Há uma harmonia entre os Partidos. Hojeninguém tem mais o direito, a prerrogativa de dizerque é exclusivo da sua atuação tentar minorar a fomeno País porque ela mata muito mais do que certospelotões de fuzilamento. Quantas sepulturas seminscrição, sem nome, em função da fome. Ouvi osrepresentantes de Bangladesh, de Moçambique, deAngola. Ainda ontem, eu me referia a um discurso em

aparte que fiz ao eminente Senador RobertoSaturnino nesse sentido.

Creio que o Senado proporcionou-me a grandeoportunidade de poder, em estando ali, dizer o queesta Casa faz, por que este Poder luta pelo quereivindica, e, lembrando Vieira, “ele não pedepedindo; ele pede exigindo”.

Sr. Presidente, por isso tudo requeiro a V. Exªque determine à Secretaria Geral da Mesa, comonorma em assuntos que tais, que sejam incluídos nosAnais da Casa.

Muito obrigado.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OSR. SENADOR BERNARDO CABRAL EMSEU DISCURSO.

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O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – V. Exª será atendido na forma doRegimento.

Com a palavra a Senadora Marina Silva.A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC.

Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão daoradora.) – Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores,estamos vivendo um momento de emergência, tantoem relação àquilo que precisa ser feito, quanto notocante às possibilidades que podem surgir, em faceda crise por que estamos passando, momento esseque considero bastante importante para a História donosso País, como já disse anteriormente. E não hádúvida de que a situação de exclusão social queenfrenta o nosso País, com 78 milhões de pessoasvivendo com R$136, e 43 milhões, com menos deUS$2 por dia, precisa urgentemente de algum tipo desocorro. Do contrário, teremos de administrar o que éinadministrável, ou seja, o caos socl, decorrente dasituação de miséria a que estão submetidos os menosfavorecidos.

O que trago nesta tarde a esta tribuna, Sr.Presidente, está relacionado ao que acabei demencionar anteriormente, pelo fato de ter visitado osbolsões de miséria do Nordeste do País,configurando-se numa situação de exclusão queconsidero ainda mais extremada pelas populaçõesatingidas, exatamente as indígenas, maisespecificamente os guaranis-caiovás, índios do MatoGrosso do Sul, os quais, segundo a imprensa, vêm-sesuicidando. Ao todo já são mais de 300 suicídios. Amaior quantidade na faixa etária dos 12 aos 25 anos.Das mais diferentes formas, a prática do suicídio éintroduzida nessa comunidade, e quem olha em umprimeiro momento a distância, talvez tenhadificuldade de entender o porquê de esses índiosvirem praticando suicídio. Quem tem a oportunidadede conhecê-los de perto — como tive neste final desemana, no Município de Dourados —,compreenderá que, além do sistema de crenças queenvolve toda a problemática do suicídio para osguaranis-caiovás, temos de fundo um processoperverso de desapropriação de sua cultura, de suacondição de povo, de identidade sociocultural, e,acima de tudo, de desterritorialização de umacomunidade que ainda guarda sua língua e suastradições religiosas talvez por um milagre, o daresistência daqueles que insistem em ter umaidentidade.

Estive no Município de Dourados, no MatoGrosso do Sul, e ali tive a oportunidade de, nacomunidade do Panambizinho, conhecer um grupode mais de 300 índios — pouco mais de 360 — quevivem em 60 hectares de terra. De um lado, estão oscolonos, que foram assentados naquelas áreas —

identificadas por antropólogos, por técnicos, comoterritórios de origem da comunidade dosguaranis-caiovás — pelo Presidente Getúlio Vargas,que foram titulados e que hoje, com justa razão,reivindicam o direito sobre aquelas terras. Só que,também com justa razão, os índios que milenarmenteocupam aquele território reivindicam a posse e acontinuidade da reprodução de sua cultura sobre osmesmos territórios.

Sr. Presidente, nunca vi situação tão dramática.Venho de um Estado que tem 11 mil índios em 13povos diferentes. Esses 11 mil índios são detentoresde 10% das terras do meu Estado. No Estado do MatoGrosso, 60 mil índios vivem apenas com 1% doterritório. E aí, Sr. Presidente, qual não é a minhasurpresa: pois cada “branco”, cada proprietárioindagado sobre a titularidade dessas terras, aresposta é a mesma: “essas terras são nossas, sãodo Governo, aqui não existiam índios, esses índiosapareceram depois”. Não existe lugar algum onde sechegue que alguém admita que naquele localexistiam índios. É como se eles tivessem chegadonuma nave de um outro planeta e, de repente,começassem a reivindicar as suas posses e as suasterras. Nunca vi um processo de inversão darealidade e da verdade dos fatos de forma tãoperversa como o que é praticado, com os índios doMato Grosso, por parte de alguns proprietários.

Além desse problema, existe o do preconceito, odo desrespeito à cultura das comunidades indígenas,à sua forma de reproduzir a sua sobrevivência, à suaforma de tratar os seus processos culturais, sociais,religiosos e morais, que são diferentes dos nossoscódigos. As pessoas os identificam como feios, comopreguiçosos, como incapazes em comparação com anossa cultura, como se fosse possível, correto eviável, compararmos culturas. Culturas são diferentespor processos históricos diferentes, antologicamentediferentes, não há como comparar as culturas e, apartir daí, chegarmos à conclusão de que esse é maisevoluído, de que esse é menos evoluído.

E aí tenho que ficar com a frase do meu queridocantor Caetano Veloso de que vivemos em umacivilização que sofre a Síndrome de Narciso: acha feioaquilo que não é espelho, aquilo que não reflete anossa imagem. Aquilo que é diferente é feio; aquiloque é diferente deve ser intolerado, e portanto, deveser transformado em igual ou destruído.

Como os índios resistem em não ser iguais,como insistem em ter identidade própria, em manteros seus processos que chegarão aonde devemchegar – não sabemos aonde e, pelo que vejo, dadasas condições, talvez não cheguem a lugar nenhum –então, eles são destruídos.

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Na comunidade próxima ao Panambizinho,onde também tive a oportunidade de conhecer umaliderança indígena que, em um depoimentodramático, me dizia: “Senadora, já nos deram a ordemde despejo. Eles estão em uma terra onde, há mais oumenos 30 a 40 anos, eles viviam. Hoje é uma fazendacom milhares e milhares de hectares que foi vendidana época do Governo Getúlio Vargas.” Atualmenteestão reivindicando três mil hectares desta fazenda.Mais de 200 pessoas foram até lá e ocuparam essepedaço de terra. E já há uma ordem de despejo porparte da Justiça”. Mas que, segundo eles, o veneno jáestá comprado e, se não ficarem na terra, preferempraticar um suicídio coletivo.

Apelo a esta Casa para que, nas vésperas dos500 anos do descobrimento, seja capaz de olhar paraesse povo. Quando os brancos portugueses aquichegaram, havia cinco milhões de habitantes, comlínguas, culturas e processos diferentes. Eramcantados em verso e prosa como sendo a inocênciado silvícola, como sendo os que viviam numa terraquase santa, pois intocada pelo pecado, pelasdoenças e pela malícia daqueles que vinham comuma lógica de mercado, de mercantilismo, deprodução de acúmulo. Na véspera dos 500 anos,precisamos olhar para esse problema, denunciadocom tanta força no Mato Grosso do Sul.

Em uma reunião com a equipe do GovernadorZeca do PT, com seus Secretários da Saúde, do MeioAmbiente, da Educação e da Produção, discutíamosque atitudes poderia o Governo do Estado tomar paraminorar o sofrimento dessa população aviltada emassacrada, com 1% das terras que eram todas suasantes da chegada dos brancos. O Governador e a suaequipe são sensíveis. Mas esse não é um esforçoapenas do Governo do Estado, por ser umacompetência do Governo Federal. Por considerarmosque a competência é do Presidente da República e daFunai – se é que a Funai ainda tem competência paratratar de um problema tão grave como este, pois nãotem recursos nem política indigenista e capenga paradar repostas às situações fáceis –, seria muitocômodo, da parte do Governador ou da minha, que,como Pilatos, lavássemos as mãos.

Mas prefiro ir ao local não para dizer que temoscomo resolver – quem sou eu para resolver? –, maspela solidariedade, pelo apoio. Senti a dor daquelascrianças, daquelas mães, naquele relato dramáticode um líder indígena que disse ter visto um fazendeiroperverso colocando fogo em sua choça, onde suamãe e seus dois irmãos – todos índios – dormiam.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a nossacontribuição nesta Casa, além de viabilizarmos os

recursos para ampliação das terras indígenas, tirá-losdas periferias das cidades, dos lixões – existemvários alimentando-se do lixo dos brancos nascidades –, além disso, devemos colocar para aopinião pública brasileira que é fundamental quetambém os brasileiros comecem a pressionar osGovernos Federal e estaduais e o CongressoNacional para que encontrem soluções para essesproblemas.

O responsável pela política indigenista doGoverno mostrou-me uma pilha de cartas, detelegramas e uma série de manifestações de pessoasdo mundo inteiro em solidariedade aos índiosGuarani e Caiovás. Perguntei-lhe quantas cartas desolidariedade tínhamos dos jovens brasileiros, e eleme disse que havia algumas, muito poucas.

Sr. Presidente, talvez estejamos tratando commuita tranqüilidade, quase de forma banal aquilo queocorre em nosso País. Por nos considerarmos umPaís injusto, acostumamo-nos com o fato de termos78 milhões de pobres, com o fato de que 43 milhõesde pessoas subsistem com apenas US$1 por dia eque não têm onde morar ou viver, sequer do ponto devista físico. Talvez tivessem que se precipitar naatmosfera e desaparecer, como o que vem ocorrendocom essas comunidades indígenas, que são apenasseis diferentes povos, somando 60 mil pessoas.

Esses povos precisam de uma resposta, que, domeu ponto de vista, tem de vir por dois viés. Emprimeiro lugar, a resposta deve ser ética, desolidariedade e também moral. Em segundo lugar, elaprecisa ser política, porque compreendo que apolítica se submete a uma determinada ética, queespero seja a ética do respeito ao diferente, a ética dadefesa dos direitos humanos, a ética de possibilitarque aqueles que têm processos diferentes dosnossos possam viver com decência, respeito edignidade.

Na comunidade próxima ao Panambizinho, oPajé disse que, se fossem fazer o seu despejo, prefe-riria morrer de joelhos ou tomar o veneno que haviacomprado para morrerem coletivamente. Isso, paramim, foi um gesto muito forte. Ele, enquanto falava co-migo, abaixou-se, acariciou e pegou um punhado deterra, empunhou-a na minha frente com uma forçaque nunca senti, nem na época em que eu e o ChicoMendes enfrentávamos os fazendeiros, fazendo osembates. Nunca senti tamanha força! Eu estava alinuma missão de solidariedade, e ele me entendiacomo parceira. A sua força era enorme ao empunharna minha frente aquela porção de terra que lançou naboca e engoliu, dizendo: “Esta terra é o meu alimento.Sem ela, Senadora, eu não existo; prefiro morrer”. Sentique ele falava a verdade. Não se t ratava de uma

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jogada para me impressionar, até porque não precisode tanto para ficar comovida com essas situações,que já vivenciei.

Há 20 anos, tive a oportunidade de participar deum processo de luta que parecia insano parademarcar a terra dos índios do Acre, enfrentandofazendeiros, seringalistas – que também matam eoprimem. Mas, graças a Deus, atualmente, o meuEstado tem 80% das terras indígenas demarcadas.Hoje, o Governo do PT pode dizer: “Estamos fazendoum programa de saúde, de educação e dedesenvolvimento econômico para as comunidadesindígenas”, porque existe comunidade e terraindígena – 10% para 11 mil. Podemos agradecer aDeus.

Ainda há três povos que não foram contatados –e não manteremos contato com eles. O Governo doEstado do Acre e a Funai estão decidindo proteger oentorno e conversar com o governo peruano para quefaça o mesmo, a fim de que essa comunidade nãoseja contatada para não ocorrer o genocídio que hou-ve com outros grupos.

O Sr. Artur da Távola (Sem Partido – RJ) – Per-mite-me V. Exª um aparte?

A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC) – OuçoV. Exª com prazer.

O Sr. Artur da Távola (Sem Partido – RJ) – Se-nadora Marina Silva, é muito desagradável interrom-pê-la quando V. Exª fala sobre o índio, sobre a flores-ta, sobre Brasil, do qual V. Exª é uma representantenotável. Apenas ressalto o ponto central do que V. Exªestá a dizer, além dos episódios que vem relatando.Como uma cultura dominante se dispõe a massacraroutra cultura? Os grandes assassinatos de povos ocor-rem por motivos culturais. Quando se mata uma cultu-ra, mata-se o povo, porque, de certa maneira, a culturaé a expressão viva do modo de ser daquele povo. Acultura não é o que se elaborou intelectualmente, como pensamento elevado; a cultura é o que emana dasraízes profundas de um povo em expressão, em lin-guagem, em arte. Eu, que sou uma pessoa extrema-mente moderada – segundo um amigo, sou um radicalda moderação –, não sou absolutamente moderado naforma pela qual a raça branca trata os indígenas brasi-leiros. O tratamento é o pior possível. O fazendeiro bru-to não assassina apenas diretamente, por interesse deterras, mas mata pelo ridículo, por tentar interferir emuma cultura que não precisa de interferência. A idéiade aparteá-la surgiu quando V. Exª lembrou que o Go-verno do Acre vai manter duas ou três comunidades in-dígenas sem contato. Aí está um dos pontos funda-mentais porque, se todo o passado de dois séculos foia ilusão de que o contato com o branco seria redentor

para os índios, ao trazê-los para a sua cultura – o quesó redundou em destruição, em enfermidade, em de-sagregação cultural –, preservar culturas intactas tema importância de um respeito humano que jamais de-veria ter desaparecido no trato dos brancos para comos índios. Não há nenhuma razão pela qual se possasupor que uma cultura é superior à outra apenas por-que é dominante. A cultura branca, fora da Ciência,não tem dado assim tantos exemplos de sabedoria.Ela tem feito guerras terríveis, destruído o meio ambi-ente; é uma cultura predatória, em certo sentido, e dedominação, como demonstram as histórias das guer-ras. E ela sempre se supõe superior. As culturas mile-nares estão como um milagre de sobrevivência, e nãoconseguimos, mesmo nas pessoas que pensambem-intencionadamente na questão indígena, que orespeito real por essa cultura, pela vida de um povoexista. Não temos sabido fazer a convivência com es-sas nações que coabitam conosco neste País e quesempre se relacionaram com a natureza sem depre-dá-la. A nossa cultura é predatória da natureza, des-trói cidades, envolve tudo em violência, não tem ne-nhuma articulação. Quero cumprimentar V. Ex.ª e de-sejar que, sobretudo nesse ponto — por isso tomei aliberdade de interrompê-la —, haja êxito; que seja le-vada muito mais do que a este Senado, mas a todosos recantos, a importância de uma experiência quesignifica não interferir em outra cultura para matá-la,na suposição de que a cultura interferente é superioràquela e, por isso, deve ter uma atitude paternalista,quando deve ter uma atitude de interdependência ede respeito. Parabéns a V. Exª.

A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC) – Agra-deço o aparte de V. Exª e o incorporo ao meu pronun-ciamento.

Concluindo, Sr. Presidente, devo dizer que ascomunidades indígenas, em seus territórios, têm umaforma própria de se relacionar com a natureza, daqual retiram seu sustento. No entanto, até em funçãodo seu avanço técnico, elas têm um potencial de des-truição dessa natureza incomparavelmente inferior atoda e qualquer intervenção do branco praticada atéhoje. É completamente diferente o roçado de subsis-tência que é posto por um índio, do roçado que é pos-to por motosserra, no qual se queimam milhares dehectares. Eu desafio quem diz que os índios são tãopredadores quanto qualquer outro a comprová-lo.

Sobrevôo milhares de quilômetros dentro doAcre e observo pequenas clareiras que há milhares deanos estão sendo trabalhadas por comunidadesindígenas. Isso ocorre, porque os índios têm uma formadiferente de vida. É claro que eles pescam e caçam;enfrentam-se, inclusive, como povos. Há alguns povos

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que são guerreiros. No entanto, até isso o branco fezdiferentemente deles; fez com que eles pudessem seunir. Antigamente, pensar em união de Kulina, deKaxinauá com Kampa ou com Jaminauá, no Acre,talvez fosse impossível. Hoje, todos eles se entendemcomo povos na defesa dos seus direitos comocomunidades indígenas. E mais: são capazes dedefender os seringueiros, que, muitas vezes, são maisindefesos do que eles, já que não tinham a mesmaproteção que o índio tem diante das autoridadesfederais.

É nesse sentido, Sr. Presidente, que os índiosdo Panambizinho precisam ficar no território. E oscolonos não podem ficar com o prejuízo. O Governobrasileiro tem necessariamente que indenizá-los: doponto de vista do valor real da terra, porque sãoproprietários, já que foram titulados pelo Governo; porsuas benfeitorias, porque, inclusive, são colonosmuito produtivos — cada um tem 30 hectares,parece-me, da área que ocupam; por danos morais,porque, hoje, estão sendo colocados como aquelesque invadiram a terra dos índios. Não foram eles, maso Governo do Presidente Getúlio Vargas que osassentou na terra dos índios.

Não quero aqui dizer que aqueles colonos nãomerecem respeito. Eles merecem respeito. Tambémnão quero exigir que tenham compreensão sobre osíndios e sua cultura, essa que eu e o Senador Artur daTávola acabamos de mencionar; talvez isso não sejapossível para alguns brasileiros. No entanto, nós, quetemos o dever de ter essa compreensão por sermosda Casa das Leis, temos de fazer prevalecer o queestá na Constituição de 1988, que é o direito dosíndios sobre os seus territórios originários, bem comoo de reproduzir a sua cultura nas condições do seuavanço cultural, social e econômico, guardada toda aproporção do seu desenvolvimento na relação quehoje é impossível ter com os brancos, no caso dosíndios do Mato Grosso do Sul.

Acredito que, apesar de tudo isso que foiidentificado lá não apenas por mim, mas peloProfessor Brand, da Universidade Católica do Estadodo Mato Grosso do Sul, por outras pessoas, porONGs, pelo próprio Governo do Estado, peloCongresso Nacional e pela Funai, por meio de seuorganizador e gestor — um índio terena que, comdificuldade e muito boa vontade, está disposto aajudar a mediar o conflito, embora não tenha meiospara tal —, ainda falta um antropólogo, para fazer oestudo técnico e caracterizar a área do Taquara comode origem indígena. O Governo do Estado já vaicontratar esse antropólogo e colocar a sua equipepara realizar o trabalho de agrimensura e topografia,enfim, todo o levantamento técnico que precisa serfeito, mas caberá necessariamente a qualquer juizque for dar uma liminar naquele processo pensar no

que pode estar acontecendo quanto à decisão dedespejar aqueles índios das terras queoriginariamente são suas.

O Professor Antônio Brand, da UniversidadeCatólica, disse que essa área, no Museu do índio,está discriminada como a terra dos índios da épocado despejo. Cita, inclusive, o número de famílias queforam tiradas daquela fazenda.

Ora, se há todo um processo que comprova aocupação dos índios em relação àqueles territórios, oque temos de fazer é montar um processo e indenizaro fazendeiro ou quem quer que seja, se for o caso,mas essa é uma questão de vida ou morte para asculturas indígenas do Mato Grosso do Sul.

Simbolicamente, se o Panambizinho, ondeacontece o maior número de suicídios, não tiver umaresposta, fico pensando no que pode acontecer comas demais comunidades, que não têm o mesmo apelodo ponto de vista da mídia tanto no plano nacionalcomo no internacional.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE ASRA. SENADORA MARINA SILVA EMSEU PRONUNCIAMENTO.

Visita aos Guaranis-Kalowás Mato Grosso do Sul(16-10-99)

O que motivou a visita

1 – Há muito impressionam-me as notícias sobre os índiosKaiowás. Contudo, denúncias recentes, feitas por índios e ONGsao meu gabinete no Senado e pela imprensa em geral, melevaram a visitar algumas comunidades daquele grupo Guarani,no último fim de semana, em Mato Grosso do Sul.

2 – Formamos uma comitiva, composta por pesquisadoresda Universidade Católica de Campo Grande, representantes doGoverno do Estado, uma equipe da TV Senado, representantesda Secretaria Executiva para Assuntos Indígenas do PT, além demeu assessor Anselmo Forneck e eu.

São 60 mil índios no MS

3 – Mato Grosso do Sul tem a segunda maior populaçãoindígena entre os estados brasileiros. São 60 mil índios, numasituação fundiária caótica.

Indiferença e omissão

4 – Nas últimas décadas, aquelas comunidades recebemdo Governo Federal indiferença e omissão alternadas compopulismo e paternalismo.

Visitas a Panambizinho e Taquara

5 – Visitamos as comunidades indígenas de Panambizinhoe Taquara.

Ali, sem roçados, sem acesso à caça, à pesca e à coletana mata, sem espaço para seus rituais religiosos, em situaçãoverdadeiramente desesperadora de miséria e abandono, muitosse suicidam, especialmente entre os jovens.

Ameaças de suicídios

6 – No encontro com eles, ouvimos do cacique Taquara:“Não queremos sangue nem guerra, mas se for para sairmos da-

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qui vou tomar o veneno que comprei, porque não agüento maisver meu povo sofrer tanto.”

7 – Da indignação do líder Natácio Berralta, doPanambizinho, ouvimos: “A comemoração dos políticos dogoverno para os 500 anos do Brasil é ver índios e colonos sematando, para deixar os fazendeiros tranqüilos.”

8 – Entre os guaranis, os Kaiowás são o grupo maisapegado à mata. Muitos preferem morrer a tornarem-se peões defazenda. Para eles, essa transformação se constitui no caminhopara as drogas e o furto.

Este ano, seis casos de suicídio

9 – A aldeia do Parambizinho, no município de Dourados,tem 1.200 hectares, porém apenas 60 hectares estão sob ofetivodomínio dos 340 índios daquela aldeia. Ali, só este ano já houveseis casos de suicídio.

10 – A área indígena do Parambizinho foi destinada aoassentamento de colonos agrícolas, no Govenro de GetúlioVargas.

Relação Tensa

11 – Hoje, é muito tensa a relação entre colonos e índiosque ocupam aquela área. E em ambos os lados cresce a revoltacontra autoridades e representantes políticos em geral, que nãosolucionam as questões básicas que alimentam o conflito.

12 – Os colonos estão determinados a só desocuparem aárea indígena se forem indenizados com o suficiente paraadquirirem terras em outra região.

13 – Na aldeia Taquara, município de Kaarapó, são 280índios ocupando uma área que foi retomada em 27 de abrilpassado.

Histórico

14 – Em 1953, aqueles índios foram retirados de suasterras pelo antigo SPI, para implantação da Fazenda MateLaranjeira; houve muita violência, com casas queimadas,incluindo o caso de uma senhora e duas crianças queimadasdentro de casa;

15 – Em 1960, as terras foram vendidas a Brasiléia do Sul.16 – Este ano, a 27 de abril ocorreu reocupação da área

pelos índios. A fazenda tem 9 mil hectares, dos quais os índiosreivindicam 3 mil e 200 hectares.

Vivendo de sacolões

17 – Contudo, na aldeia Taquara não há cultivo sequer demandioca. A alimentação daquela população é mantida por“sacolões” do governo estadual e de ONG. A situação é demiséria absoluta.

18 – Apesar da ocupaçaõ efetivada pelos índios, ofazendeiro proprietário da fazenda já conseguiu ordem dedespejo dos índios junto à Justiça Federal.

Pouca atenção do Ministério da Justiça

19 – Segundo o administrador da Funai em Dourados,aquele órgão “tenta” reverter a situação, mas o Ministério daJustiça não repassa os recursos para despesas com olevantamento técnico da área.

20 – Segundo Antônio Brand, da Universidade Católica deCampo Grande, o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, temregistrado dados que comprovam a imemorialidade Kaiowánaquelas terras – como, por exemplo, o número de famíliasretiradas em 1953.

21 – Há muita tensão nas duas áreas visitadas, indicandoo iminente agravamento de um conflito entre colonos e índios, deresultados imprevisíveis.

22 – Segundo informações dos representantes daUniversidade Católica, da FUNAI e dos próprios índios, há outrasáreas, naquela região, em idêntica situação.

Reunião com equipe do governo estadual(16-10-99)

1 – Depois de visitar as comunidades indígenas,reunimo-nos com uma equipe do Governo estadual. Participaramrepresentantes das comunidades indígenas, um representante dogovernador, vários secretários de estado, representantes daSecretaria de Assuntos Indígenas do PT, da UniversidadeCatólica, ONG, além da equipe da TV Senado.

2 – Naquela oportunidade, ficou claro para todos nós que,muito embora o esforço das secretarias do estado no sentido deincluir a questão indígena na ação governamental como um todo,ressentem-se da falta de articulação para além de questõespontuais.

3 – Concordamos e comprometemo-nos com oencaminhamento das seguintes providências:

a) compor um grupo de trabalho, via Funai, para avaliaçãodas áreas em conflito fundiário;

b) realizar manifestação indígena em Brasília, parachamar a atenção das autoridades federais;

c) formar equipe técnica do Mato Grosso do Sul, comrepresentantes do Governo estadual, Universidade Católica eONG, para formular uma proposta de política indigenista noestado; e

d) trabalhar por uma conclusão exemplar para os casosPanambizinho e Taquara, com resultados favoráveis aos índios,de modo a evitar “uma avalanche” de despejos de índios dasfazendas recém-ocupadas.

4 – Ao Governo do Estado e à Universidade Católicacoube o compromisso de organizarem um seminário sobrepolíticas de governo para populações indígenas.

5 – A mim especialmente incumbiram de tratar do assuntoem audiência com o Ministro da Justiça e da interlocução com osórgãos sediados em Brasília.

Durante o discurso da Sra. MarinaSilva, o Sr. Antonio Carlos Magalhães,Presidente, deixa a cadeira da presidência,que é ocupada pelo Sr. Carlos Patrocínio, 2ºSecretário.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao eminente Senador OsmarDias.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR. Pronuncia oseguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Sras e Srs. Senadores, penso que nem oPresidente da República, Fernando HenriqueCardoso, tem o direito de fechar os olhos para asgraves denúncias de corrupção que a imprensa temdivulgado em relação a membros do seu Governo.Nenhum Senador da República tem o direito de se calar,de se omitir, diante das mesmas denúncias. O Senado daRepública não tem o direito de se omitir, de jogar paradebaixo do tapete denúncias graves que envolvemmembros do Executivo. É obrigação do Presidente daRepública, de qualquer Senador e deste Senadotomar providências e dar andamento aos processos,para investigar, pelo menos, as denúncias que têmsido divulgadas. Estou-me referindo, Sr. Presidente,ao Ministério do Esporte e Turismo e ao seu Ministro,

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por coincidência um paranaense, Sr. Rafael Greca,que, nos últimos meses, têm sido alvo de denúncias.

Sr. Presidente, comunico que o tempo que estásendo marcado não é o real. Pretendo usar o meutempo regimental.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Eminente Senador Osmar Dias, V. Exª ainda dispõede 30 minutos.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Não, Sr.Presidente, disponho de 50 minutos; comecei o meupronunciamento agora. Aquele tempo foi marcadoerrado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – V.Exª certamente terá o seu tempo assegurado.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – V. Exªme permite um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Eu gostariade evoluir no meu pronunciamento para depoisconceder o aparte a V. Exª.

Sr. Presidente, não posso me calar diante dasdenúncias. Elas estão sendo publicadas todos osdias.Estou falando de um Ministério que era ocupado,até o ano passado, pelo atleta do século, peloexemplo de dignidade que foi e é Pelé, pelo campeãode caráter que é o Pelé, e, de repente, este Ministério,ocupado agora pelo Ministro Rafael Greca, vemsendo alvo de denúncias gravíssimas na imprensaque começaram no dia 9 de agosto de 1999, numartigo publicado pelo jornalista e cronista esportivoJuca Kfouri, que, num trecho, diz o seguinte:

A concessão de autorização para ofuncionamento de casas de bingo e aliberação de máquinas eletrônicas setransformaram no grandecalcanhar-de-aquiles do Ministério doEsporte, porque são acusadas de estarangariando fundos para a futura campanhado Ministro Rafael Greca, com vistas aoGoverno do Paraná.

Há uma denúncia grave de que as máquinaseletrônicas e as casas de bingo estão sendo liberadasmediante cobrança de propina para a futuracampanha do Ministro Rafael Greca como candidatoao Governo do Paraná.

É uma denúncia grave, escrita na Folha de S.Paulo do dia 29-8-99 pelo jornalista Juca Kfouri. OMinistro respondeu dizendo que havia autorizadoapenas três casas de bingo. O jornalista Juca Kfouricontestou dizendo que o Ministro mentia, porque atéentão já havia autorizado, na verdade, 78 bingoseventuais e 17 renovações, num total de 102, já quehavia também 18 autorizações para a realização de

bingos eventuais e 17 renovações anteriores ao dia21 de junho de 1999.

Tanto o jornalista Juca Kfouri quanto as outrasdenúncias que vieram posteriormente colocam sobsuspeita o Sr. Luiz Antônio Buffara, assessor doMinistro Rafael Greca desde os tempos da Prefeiturade Curitiba. Aliás, o coordenador financeiro ou otesoureiro de suas campanhas, aquele quetrabalhava na arrecadação de fundos para ascampanhas do atual Ministro, Rafael Greca, em todasas denúncias o Sr. Antônio Buffara aparece, é citado –e não sei se por coincidência, acredito que não.

Numa denúncia encaminhada ao Gabinete doSenador Requião por um cidadão e protocolada porS. Exª junto ao Palácio do Planalto e entregue aoPresidente da República, diz:

Encaminhamos, para seuconhecimento, notas explicativas dacorrupção comandada pelo Sr. MinistroRafael Greca de Macedo, junto ao Indesp,orquestrada pelo seu atual Presidentesubstituto, Sr. Luiz Antônio Buffara e seuirmão, Sérgio Buffara, codinome “Vieira”,Deputado Abelardo Lupion, codinomeLampadinha e André Manfredini, codinome“Elvis”, entre outros...

E diz mais:

João Elias Cardoso/Diretor deFiscalização e Credenciamento do Indesp, ea chefe de Departamento Srª Dileny são osfuncionários que não aceitaram os acordosfirmados pela quadrilha, formulados pelosSrs. Luiz Antônio Buffara, Sérgio Buffara ePaulo Araújo.

João Elias e Dileny, sabedores doesquema, tentaram evitar oscredenciamentos e autorizações, fazendocom que todas as entidades e bingueirosapresentassem documentos já protocoladosjunto ao Indesp, sendo somente liberadosdois credenciamentos e outros cinco pordeterminação judicial. Foram “derrubados”pelo presidente substituto do Indesp, LuizAntônio Buffara, já que estavam criandodificuldades nas tramitações junto aEntidades e bingueiros que estão noesquema.

Segue adiante fazendo uma série dedenúncias, dando inclusive uma relação de 20bingos permanentes que fizeram contribuições.

No caso dos “maquineiros”, eles tinham oseguinte objetivo:

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Regulamentação e manipulação da leiregulamentadora para a comercialização demáquinas eletrônicas (caça-níquel), a qualgerou a Portaria nº 23, de 8 de junho de1999.

O valor pago pelos “maquineiros” era deUS$150 mil cada.

Monopólio no mercado brasileiroimpossibilitando outros representantes deconseguir credenciamento junto ao lndesp.

Pagaram US$150 mil, segundo denúnciarecebida pelo Gabinete do Senador Roberto Requião.

Objetivo dos bingos eventuais:Pedágio de US$15 mil para liberação

de credenciamento, autorização parafuncionamento.

Acesso à nova lei e suas alterações.

Portanto, US$150 mil por cada um dos“maquineiros” e R$15 mil pelos bingos eventuais. Asdenúncias prosseguiram sem que nada tivesse sidofeito até então.

No dia 8 de setembro, a revista Veja publicoumatéria com o título Bingo, bingo! Ex-servidoresdenunciam fraude no Ministério do Esporte. Diz anota:

Alegre e falante, o Ministro do Esportee Turismo, Rafael Greca, trombou nasemana passada com um assunto nadafestivo. Um órgão de seu ministério, oInstituto Nacional de Desenvolvimento doDesporto, o Indesp , está sob investigação.A suspeita é de que o Indesp, encarregadode autorizar a abertura de salões de bingopelo País, estaria mordendo o bolso dosinteressados em obter uma permissão defuncionamento, e o dinheiro estariaescorrendo para o caixa de campanha deGreca, cuja ambição é virar Governador doParaná.

O problema é que a denúncia, aocontrário do que ocorre com as calúniaslevianas, vem acompanhada de tantosdetalhes que a Procuradoria da Repúblicaresolveu mergulhar no caso.

A portaria que disciplina a abertura dosbingos, publicada em junho passado, porexemplo, andou trilhando caminhosestranhíssimos. Em vez de ser feitaexclusivamente por gente do Ministério doEsporte e Turismo, como seria oconvencional, o papel circulou pelaCompanhia Nacional de Abastecimento –

Conab, órgão do Ministério da Agriculturaque cuida dos estoques de alimentos e nãotem nada a ver com bingos ou máquinas dejogos. Da Conab, conforme fax aos quaisVeja teve acesso, eram enviadas cópias daminuta da portaria aos donos de bingos, queretornavam dos bingueiros para a Conabcom alterações. (Explica-se a exóticapresença da Conab: o procurador do órgão,nessa época, era o advogado Paulo Araújo,que em seguida esteve no Ministério dosEsportes cuidando, olha que coincidência,justamente da área de bingos.)

A presença nessa história de doisalienígenas, a Conab e Paulo Araújo, e atroca de fax com bingueiros, mostra que osdonos de bingos, na surdina, foramconsultados e modificaram o conteúdo daportaria que o ministério estava elaborando.

Na Veja está escrito que foi alterado o teor, Sr.Presidente, da Portaria do Ministério pelos própriosbingueiros, ou seja, aqueles que, segundodenúncias, estão oferecendo recursos paracampanha do Ministro Rafael Greca.

Mais adiante, surge novamente o nossopersonagem, o Sr. Luiz Antônio Buffara:

Depois dos indícios de que houvenegociações por baixo do pano, o caso ficoumais estranho na semana passada, quandoGreca foi pego em flagrantes atentados àverdade. Primeiro, numa carta paraespantar as insinuações de irregularidades,disse que, em sua gestão, só foramliberados três pedidos de bingo. Negou quehouvesse uma auditoria em seu ministérioe, por fim, afirmou que o cacique do Indesp,Luiz Antonio Buffara, jamais fora seutesoureiro de campanha no Paraná. Averdade é que, em sua gestão, foramliberados 98 pedidos de autorização debingo, 7 permanentes e 91 eventuais – enão apenas 3, como ele disse. A auditoriaque o ministro nega existe, sim, só que nãoé formal.

Então, Sr. Presidente, mais uma denúncia emque aparece aqui um antigo assessor do MinistroRafael Greca, Sr. Luiz Antônio Buffara.

No dia 5 de outubro, o Diretor do Indesp, ManoelJosé Gomes Tubino, pediu demissão da Presidênciado Instituto Nacional de Desenvolvimento doDesporto, reforçando todas as denúncias até entãodivulgadas pela imprensa. Até esse momento, o Sr.Ministro Rafael Greca apenas enviou uma carta aosjornais, contendo–segundorespostasdospróprios jornais –,

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inverdades, ou seja, mentiras. Por quê? O senhorMinistro afirmava ter autorizado apenas 3 bingos, e,segundo a Veja, eram 98, e o jornalista Juca Kfouriafirmara ser 102. Além do mais, o Sr. Ministro RafaelGreca dizia nunca ter sido seu tesoureiro decampanha o Sr. Luís Antonio Buffara. Os própriosjornalistas, recorrendo da história política do Paraná,devolveram ao dizer que, mais uma vez, o ministromentia.

Na carta do Sr.Manoel Tubino, há um trecho quediz o seguinte:

Por outro lado, em reportagem domesmo dia, na Folha de S. Paulo, sob o títu-lo Parlamentares Fazem Lobby Sobre Bin-gos, o mesmo diretor, Luiz Antônio Buffarade Freitas, intocável, disse que o órgão(INDESP) é uma “bagunça” e que era um“prostíbulo”, arranhando a ética, atingindo opróprio governo (o “antes” também era go-verno Fernando Henrique Cardoso e os mi-nistros anteriores foram Edson Arantes doNascimento e Paulo Renato Souza), e aindase dá ao direito de ofender todos os funcio-nários do Indesp, principalmente os do sexofeminino, que trabalhavam e continuam tra-balhando no órgão. E Vossa Excelência,mais uma vez, estranhamente,...” — ele di-zendo ao Ministro, a quem pediu demissão— “...protege Luiz Buffara, tornando-se, decerta forma, cúmplice desse quadro de sus-peitas, falta de ética e desrespeito às institui-ções públicas e às pessoas, num momentoem que o próprio Presidente da Repúblicaimpõe um código de ética aos seus escalõessuperiores” — a propósito das declaraçõesdo próprio Presidente da República. (...)

“É importante esclarecer que as nome-ações dos diretores do Indesp são de com-petência do Ministro de Esporte e Turismo, e,por isso, o diretor Buffara, embora não tives-se mais condições éticas de permanecer nafunção, foi mantido por Vossa Excelência. —disse Manoel Tubino ao Ministro Greca.

Por tudo isso, Excelentíssimo SenhorMinistro, atendendo a solicitação, apresento omeu pedido de exoneração, mas não possodeixar de afirmar que estou aliviado por nãomais fazer parte desse quadro confuso de in-verdades, jogos de politicagem, denúnciasnão apuradas, protecionismo e interesses in-confessáveis, que tanto estão entrevando odesenvolvimento do esporte no Brasil.

É bom lembrar que o Presidente do Indesp, Ma-noel Tubino, pediu demissão a pedido do próprio Mi-nistro Rafael Greca, que, publicamente — temos issotambém nos jornais —, solicitou-lhe a função de Presi-dente do Indesp para nomear um representante doPFL — e os jornais estão aí, revelando, inclusive,quem indicou esse representante do PFL para ser no-meado Presidente do Indesp: foi a pedido do próprioMinistro que o Sr. Manoel Tubino pediu demissão.

No dia 6 de outubro, a Folha de S.Paulo publicaoutra notícia sob o título Cúpula do Esporte Federalentra em Crise, que diz:

O Ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca,está sendo acusado de impedir a apuração dos bingos.

A seguir, em uma extensa matéria, Sr. Presiden-te, menciona novamente o comportamento do Sr. LuizAntônio Buffara e as irregularidades que vêm sendopraticadas e resumidas aqui em oito: falta de ação fis-calizadora; indícios de favorecimentos e cobrançasde pedágio na liberação dos bingos e das máquinaseletrônicas pelo Governo Federal; existência de bin-gos clandestinos sem autorização do Indesp; instala-ção de máquinas de caça-níqueis ou bingos fora decasa de bingo como bar e restaurante, etc; existênciade bingos oficiais que desrespeitam a legislação; sus-peita de fraudes cometidas pelos bingos regularescontra a Receita Federal por meio de emissão de car-tela frias; suspeita de fraudes nos sorteios ou quelesa os apostadores; por falta de fiscalização, oIndesp firmou o convênio com loteria de doze Esta-dos e perdeu o controle do funcionamento do bingonesses locais. “Bagunça instalada”, segundo a Folhade S.Paulo.

Na reportagem do dia 13 de outubro, a IstoÉ es-tampa uma foto do Ministro do Esporte, Rafael Greca– pela foto, vê-se que não podia ser Ministro doEsporte, não é Sr. Presidente? A matéria, sob o títuloUma Farra Esportiva, diz:

Presidente do Indesp sai, acusa Grecade só estar preocupado com festas e de-nuncia corrupção”.

Diz a matéria:

Na última semana, parte do PFL acio-nou uma operação para salvar o Ministro deEsportes e Turismo, Rafael Greca, alvejadopor críticas de ex-funcionários do InstitutoNacional de Desenvolvimento do Desporto(Indesp). Manoel Tubino, ex-presidente doinstituto, deixou o Ministério na segun-da-feira 4, mas fez questão de lavar a roupasuja. Disse que o ministro é “analfabeto emesportes”, “que está muito preocupado com

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festas e é um especialista em pirotecnia” e oacusou de fazer vista grossa às denúnciasde que há um esquema de cobrança de pro-pinas no Ministério em troca do credencia-mento de bingos.

“Eu resolvi abrir uma sindicância à re-velia do Ministro”, disse Manoel Tubino, umdia depois de pedir a exoneração do cargo.Tubino revelou que desocupou a vaga a pe-dido do ministro, que precisava do cargopara acomodar um aliado do Senador Agri-pino Maia (PFL – RN), o ex-Deputado doRio Grande do Norte Augusto Viveiros. “

Está escrito na IstoÉ, não sou eu queestou afirmando.

E continua a revista:Greca rebate a principal acusação de

Tubino, com um ofício do dia 3 de setembro,assinado pela secretária-executiva do Minis-tério, Tereza Castro. No documento, ela de-termina a abertura de sindicância interna euma auditoria pela Secretaria de ControleInterno do Ministério da Fazenda. Ele estámentindo, fui eu quem mandou abrir a sindi-cância. Se ele quisesse fazer algo sobre, te-ria afastado o Buffara, até que os fatos fos-sem averiguados’, desafia Tubino.

Tubino chama o Ministro de mentiroso, dizen-do que, na verdade, ele não quer apurar os fatos,porque, se quisesse, teria afastado Buffara, que é oDiretor de Administração e Finanças do Instituto eacusado de operar o caixa dois do Ministério.”

Caixa dois do Ministério, Sr. Presidente? Esta-mos perto dos 500 anos. É impossível admitir que te-nhamos de ouvir que, no Ministério do Esporte e Tu-rismo, tenha caixa dois! Está escrito na IstoÉ do dia13 de outubro.

Segue a revista IstoÉ:

O primeiro capítulo dessa novela sur-giu há cerca de dois meses, quando JoãoElias Cardoso, funcionário do Indesp, pediuexoneração do cargo e insinuou existênciade corrupção no Ministério. Também há de-núncias de licitações irregulares.

Desde então, Greca entrou na linha defritura. Na última semana, surgiram notíciasde que o Presidente Fernando HenriqueCardoso ligou duas vezes para o ex-ministroPelé, pedindo a sua volta a Brasília. Agora,a ala do PFL, representada pelo Vi-ce-presidente Marco Maciel e o Senador

Jorge Bornhausen (SC), está empenhadaem segurar Greca no cargo.

Sr. Presidente, pior mesmo é a denúncia dodia 16 de outubro. Nenhum Presidente de qualquerpaís do mundo tem o direito de ignorar uma denún-cia de tamanha gravidade. O Sr. Presidente Fernan-do Henrique Cardoso não tem esse direito, não temesse direito o Senado Federal, não tenho eu o direi-to de me omitir diante disso que vou ler.

Diz o jornal O Globo, de 16 outubro, sábadopróximo passado:

Ministério Público acusa Indesp de co-nivência com a Máfia – Instituto estaria per-mitindo que bingos virem cassinos e empre-sas de fachada para lavar o dinheiro do trá-fico.”

Deus me livre! Deus me livre se essa denúncia forverdadeira, Sr. Presidente. Então, a podridão está com-pleta.Máfia, estão falando aqui em Máfia! O Indesp estásendo acusado de conivência com a Máfia.

Segue o jornal O Globo:

Com a conivência do Instituto Nacionaldo Desenvolvimento do Desporto (Indesp),bingos se transformaram em cassinos e em-presas de fachada para lavar dinheiro do nar-cotráfico internacional e de outras atividadesilícitas. Essa é a conclusão de da Direção deInvestigação Anti-Máfia (DIA) da Procuradoriada República da Itália e do Ministério PúblicoFederal brasileiro”.

Sr. Presidente, isso é muito grave; já se transformouem assunto internacional. Quem está fazendo essa de-núncia não sou eu;é a Direção de Investigação Anti-Máfia.Vejam aonde chegamos.Festa, pirotecnia, máfia, tudo pa-rece combinar bem, mas não no Ministério. Pelo amor deDeus! Precisamos apurar isso.

“Essas instituições identificaram até apresença de testas-de-ferro da máfia italianaem reuniões governamentais para tratar doassunto. Nessas reuniões, foram produzidosum decreto e uma portaria inconstitucionais”.

A notícia narra mais adiante:

“A Procuradoria da República do DistritoFederal está impetrando ação de improbidadeadministrativa contra o Indesp e o Diretor deFiscalização” – mais uma vez – Luiz AntônioBuffara.

‘Só me pronunciarei depois que foremconcluídas a auditoria no órgão e as investi-

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gações que pedi à Polícia Federal” – disse oMinistro do Esporte, Rafael Greca’.”

Diante de todas essas denúncias, ocorridasdurante meses, o Ministro sente-se no direito de,ocupando um cargo público, só se pronunciar depo-is de concluída a investigação.

Está publicado no jornal:

“Amigo do Ministro, Buffara estariafazendo vista grossa para a atuação damáfia italiana em bingos. Um auxiliar deGrega garantiu que, se isso for provado,Buffara será demitido”.

Só isso, Sr. Presidente? Ele apenas serádemitido se isso for provado? Não há cadeia paramafioso?

Não estou acusando. Mas se for provado o seuenvolvimento com a máfia, ele só será demitido, Sr.Presidente? Quem se envolve com a máfia é mafioso.

“De acordo com o relatório da DIA,enviado ao Supremo Tribunal Federal, amáfia italiana, através do espanholAlejandro Ortiz de Viveros, organizou trêsfirmas no Brasil para comercializar asmáquinas caça-níqueis, apesar de o jogoser terminantemente proibido. Foraminvestidos US$ 20 milhões para amontagem das empresas Bingomatic,Betatronic e Nevada. Depois, Ortiz montoutambém a Neojuegos Administração eFomento.

O dinheiro entrou no Brasil em contabancária da Astro Turismo no RepublicNational Bank, de Miami.”

Sr. Presidente, lê-se tudo isso no Jornal OGlobo.

Continuando:

“Essas empresas, segundo o relatórioda Procuradoria italiana, foram bancadaspelos lucros com o narcotráfico, obtidos pelaorganização mafiosa La Banda de LaMagliana, comandada pelo romano FaustoPellegrinetti. O responsável pelasoperações no Brasil foi Lillo RosarioLauricella, preso na Itália.

Rastreando as atividades de Ortiz, oMinistério Público Federal identificou que orepresentante das empresas do espanholcredenciado no Indesp é Tiago Loureiro. Eleparticipou das reuniões para elaborar aPortaria 023, que criou, em junho, os“bingos eletrônicos” (máquinas caça-níqueis

disfarçadas). E a primeira empresa a secredenciar para vender os caça-níqueispara os bingos, de acordo com documentoobtido no Indesp, foi exatamente aNeojuegos. Essa portaria é inconstitucionalporque a Lei Pelé, aprovada no anopassado, só admite o funcionamento debingos tradicionais com cartelas.

“Greca já avisou ao Palácio doPlanalto que está aguardando uma medidaprovisória degolando a portaria” – relatou oauxiliar do ministro.”

Como se vê, o Ministro Rafael Greca só estáaguardando. Enquanto isso, as denúnciascontinuam. Se forem comprovadas, a podridão émuito grande, Sr. Presidente.

Está aqui no jornal O Estado do Paraná, do dia16 de outubro:

“Bingos encobrem lavagem e tráfico”

Vou ler apenas o resumo:

“Bingo serve de fachada para a máfia.A Procuradoria da Itália e o Ministério

Público concluíram que as casas de bingono Brasil se transformaram em fachada paralavar dinheiro do narcotráfico e da máfiaitaliana. Tudo isso, com a conivência doIndesp, órgão do Ministério do Esporte eTurismo. A Procuradoria da República estáimpetrando ação de improbidade contra oIndesp e seu diretor, Luiz Antônio Buffara.“Só me pronunciarei depois que foremconcluídas a auditoria no órgão e asinvestigações que pedi à Polícia Federal”,disse o ministro Rafael Greca.”

No dia 17:

“Procuradoria apura ligação entremáfia e bingos”.

A letra está muito pequena, não estouconseguindo ler, Sr. Presidente, nem com óculos; oxérox ficou pequeno. Mas aqui está escrito que aProcuradoria da República do Distrito Federal estáentrando com ações – esta notícia é de anteontem,então ontem a Procuradoria deve ter entrado já comações – exatamente para investigar as denúncias deenvolvimento do Indesp com a máfia.

Hoje ainda, 19 de outubro, o jornalista JucaKfouri volta a publicar:

“Pequenas, grandes e graves mentirasde Greca.”

132 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

E aqui ele fala de várias mentiras, inclusive voltaa citar o fato de ter sido o Sr. Luís Antônio Buffaratesoureiro de campanha do Ministro Rafael Greca.Vou ler um trecho:

“E detalhes de arrepiar, porque com oenvolvimento da máfia italiana, espanhola,drogas etc.

A futura campanha de Greca para ogoverno do Paraná está custando caro aopaís e ao esporte brasileiro.”

Está escrito por Juca Kfouri. Vou ler de novo:

“A futura campanha de Greca para ogoverno do Paraná está custando caro aopaís e ao esporte brasileiro.

Quanto ao bingo já se sabe. Desdeque o notório ex-deputado OnairevesMoura, cassado por falta de decoro...”

Quero lembrar que foi cassado naquelacompra de deputados, quando políticos foramtransferidos de um partido para outro, naquelanegociata, naquele jogo espúrio que ocorreu algumtempo atrás. Aliás, é bom que se verifique paraquem estão indo as casas de bingo no Paraná.Recebi uma notícia de que é para o mesmoex-deputado Onaireves Moura.

Não estou fazendo nenhuma afirmação, masapenas dizendo que recebi a notícia de que estariasendo ele contemplado com a maioria das casas debingo do Paraná.

Vou ler novamente:

“Desde que o notório ex-deputadoOnaireves Moura, cassado por falta dedecoro, o introduziu como contrabando naLei Zico, e Pelé e foi derrotado ao tentartirá-lo, incluindo uma CPI que só fezavalizá-lo, o que trouxe muito mais prejuízoque vantagem à imagem e ao cofre doesporte nacional.

Está escrito que, evidentemente, hácomprovação de que o Sr. Luís Antônio Buffara foitesoureiro da campanha do Greca,

Diz um trecho:

“A pior mentira, porém, é pública.Greca tem dito que quer moralizar os bingose que para tanto encaminhou uma medidaprovisória ao presidente da República.

Só que em sua gestão, em junhopassado, foram publicados uma portaria eum ofício que, ao contrário de moralizar,consolidaram a brecha para introdução dosbingos eletrônicos (caça-níqueis) no Brasil”.

Isso tudo, Sr. Presidente, torna muito pequenaa denúncia de gasto de R$30.800,00 com a reformado apartamento do Ministro Greca, o qual foi pintadode verde e amarelo. Ela já pode ser rasgada, nãotem importância nenhuma, porque é, realmente,uma denúncia muito pequena diante de tudo issoque a imprensa está denunciando. Sobre isso, nãohouve sequer um pronunciamento do MinistroGreca, que está aguardando as investigações,embora o Ministério Público italiano já tenhaconcluído as suas e a Procuradoria do DistritoFederal esteja entrando com ações, para investigaras denúncias que se entrelaçam e se interligam etornam este assunto de gravidade nacional einternacional e que exige — vou repetir — doPresidente da República uma providência.

O Senador Suplicy fez um requerimento que foilido, mas não foi votado. Vou pedir ao SenadorAntonio Carlos Magalhães, Presidente desta Casa eautor do requerimento para criar a CPI destinada amoralizar o Judiciário e que tem dado apoio à CPI doSistema Financeiro, que tem dado apoio às causasque buscam a moralização dos Três Poderes, quetem manifestado publicamente sua posição nosentido de combate à corrupção, a qualquer custo,neste País, pedir ao Presidente, Senador AntonioCarlos Magalhães, que votemos esse requerimentode convocação do Ministro Rafael Greca, de autoriado Senador Eduardo Suplicy.

Digo isso, Sr. Presidente, porque,pessoalmente, apresentarei, na Comissão deAssuntos Sociais, um requerimento, convidando ouconvocando algumas pessoas. Convidando o Sr.Manoel José Gomes Tubino e aqueles funcionários,que foram demitidos por não concordarem com osacordos que vinham sendo feitos, e convocando o Sr.Luís Antônio Buffara para depoimento na Comissãode Assuntos Sociais. Faço isto porque se trata de umassunto de extrema gravidade, que não pode ficarescondido nos tapetes nem do Palácio, nem doMinistério.

Nenhum Presidente tem o direito de esconder averdade da nação, e o Presidente da República é umhomem digno. Nunca ninguém, aqui, fez denúnciaalguma contra a moral do Presidente da República.Espero que Sua Excelência tome providências paracontinuar dessa forma, Sr. Presidente, não deixandoque se pense que Sua Excelência está sendoconivente com esta situação que está ocorrendo noMinistério do Esporte e Turismo.

Infelizmente, Sr. Presidente, é um representantedo Paraná. O Paraná é um Estado de povo sério, tra-balhador e que exige respeito para com o dinheiro

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público. E venho, em nome do povo do Paraná e dopovo deste País, exigir esse respeito com o dinheiropúblico. E vou, agora, Sr. Presidente, tomar minhasprovidências: a primeira delas, convocar aqueles quejá citei aqui. Contudo, não vou ficar por aí.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) –Senador Osmar Dias, V. Exª me concede um aparte.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Concedo oaparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Bemciente está V. Exª, Senador Osmar Dias, a respeito dorequerimento que menciona, assinado por diversosSrs. Senadores, convocando o Ministro Rafael Greca,do Esporte e Turismo, para que compareça aoSenado Federal a fim de esclarecer os diversosassuntos mencionados por V. Exª. Esse requerimentodata – e agora me dirijo ao Presidente CarlosPatrocínio – do dia 10 de setembro.Regimentalmente, haveria 30 dias para que ele fossecolocado em pauta. Gostaria ainda de dizer que,justamente na semana retrasada, coincidiu de estarno Senado Federal o Ministro Rafael Greca.Encontrando S. Exª no corredor do Senado, disse-lheeu que avaliava como importante que S. Exª viesse aesta Casa prestar esclarecimentos. S. Exª conversoucomigo e disse que estava disposto a fazê-lo, nãosem deixar de mencionar, contudo, que tinha umacerta preocupação de vir a esta Casa, porque havia,como ele mesmo qualificou, um desafeto seu aqui –referia-se ao ex-Governador e Senador RobertoRequião. Todavia, disse que consideravaimportante...

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – S. Exªs sãoamigos de infância.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Sãoamigos de infância. Então, mais uma razão para quepossa S. Exª aqui comparecer sem qualquerproblema. Quero esclarecer ainda que, naquelasemana, dialoguei com os Senadores HugoNapoleão, José Roberto Arruda, Líderes do Governo,e também com o Presidente Antonio CarlosMagalhães, a quem sugeri que fosse colocado empauta o requerimento citado. Como, na semanapassada, estivemos em missão oficial, pelaComissão Mista de Combate à Pobreza, no Nordeste,ponderei ao Senador Antonio Carlos Magalhães quepreferiria que o requerimento fosse colocado empauta em dia que eu pudesse estar presente,portanto, nesta semana.S.Exª me garantiu que assimseria feito. Como não estou vendo, no planejamentoda Ordem do Dia das próximas sessões, que orequerimento esteja para ser colocado em pauta, Sr.Presidente, quero lembrar que isso deve ser feito.Deve ter havido algum esquecimento. Então, gostariade relembrar à Mesa.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – AMesa observará isso com absoluta certeza, eminenteSenador Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Seriapróprio, Sr. Presidente, já tendo sido ultrapassado oprazo, que pudesse ser colocado em votaçãoamanhã. Obviamente, os Líderes do PFL e do PSDBpoderão ponderar, em diálogo com o Ministro RafaelGreca, a respeito da necessidade da convocação.Quero lembrar que o jornalista Juca Kfouri foi aquelapessoa que dialogou com o Presidente FernandoHenrique Cardoso, ainda no primeiro mandato, arespeito do convite feito ao Ministro Edson Arantes doNascimento, o que foi uma grande surpresa, muitobem-guardada até o último momento. Assim, apessoa que dialogou com o Presidente a respeito doPelé, pelo que a imprensa noticiou, havia sido JucaKfouri. Refiro-me ao episódio porque tenho a certezade que, diante disso e também pelo fato de ser JucaKfouri um jornalista muito respeitado, admirado, nãoapenas pelo que fala do esporte, mas de tantosoutros assuntos – e, no caso, é um assunto deesporte e política –, certamente, o PresidenteFernando Henrique Cardoso tem respeito pelojornalista Juca Kfouri; sabe mesmo Sua Excelênciaque ele não escreveria uma coluna como essa se nãohouvesse razões profundas. Então, tenho aimpressão de que o Presidente Fernando HenriqueCardoso será o primeiro a recomendar que o MinistroRafael Greca atenda a essa convocação e que, semproblema algum, possa aqui enfrentar os Senadores,inclusive alguns como o Senador Pedro Simon, que,por vezes, como me relembra aqui a SenadoraMarina Silva, dirige assertivas muito veementes aosministros que porventura tenham se envolvido emproblemas. De qualquer sorte, S. Exª terá todaoportunidade de esclarecer as colocações aqui feitas.Portanto, eu gostaria de justamente solicitar à Mesaque, de fato, seja colocado em pauta amanhã orequerimento de convocação do Ministro RafaelGreca.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – SenadorSuplicy, tenho convicção de que o Presidente doSenado colocará em votação o requerimento de V.Exª. Agradeço o apoio que V. Exª dá a essanecessidade de investigar, porque aqui ninguém,nem eu, nem V. Exª, ao menos, está fazendoacusações ao Ministro Rafael Greca. O que estamosquerendo é verificar se as denúncias feitas contra oSr. Ministro Rafael Greca são verdadeiras ou não,porque, sendo verdadeiras, extrapolam todos osníveis de racionalidade, de aceitação por qualquercidadão decente deste País. Não bastasse acobrança de propinas, conforme está sendodenunciado, para a composição de um fundo decampanha, fala-se aqui em lavagem de dinheiro do

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narcotráfico e envolvimento com a máfia italiana. Esabemos que o Sr. Ministro Rafael Greca gosta muitoda Itália, como eu, mas não tenho tanta oportunidadede visitar aquele País como S. Exª.

De qualquer forma, não estou fazendo umaacusação; quero apenas que o Ministro Grecaesclareça essas denúncias para o País. S. Exª é umMinistro; ocupa um cargo público; não pode, pois,omitir-se de dar essas explicações, assim como oPresidente da República não pode demorar paramandar investigar, apurar os fatos e tomarprovidências. Enquanto esperamos, os bingos estãosendo instalados, as maquininhas estão sendoinstaladas, as propinas estão por aí, correndo soltas.

Também considero o Sr. Juca Kfouri umjornalista sério, ponderado nas suas posições. Ele,inclusive, escreve uma manchete implacável:Pequenas, Grandes e Graves Mentiras de Greca. Emoutros países, o fato de mentir, sem um pedidopúblico de desculpas, pode derrubar até presidentes,e por motivos menos vergonhosos do que este.

Acredito que, se Juca Kfouri não fosse umjornalista sério, não escreveria esta frase: “a futuracampanha de Greca para o governo do Paraná estácustando caro ao País e ao esporte brasileiro”. Essaafirmação do jornalista Juca Kfouri, publicada naFolha de S.Paulo, edição de ontem, 18 de outubro,tem que ser apurada, e logo.

O Sr. Roberto Requião (PMDB – PR) –Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Concedo oaparte a V. Exª.

O Sr. Roberto Requião (PMDB – PR) –Senador Osmar Dias, como V. Exª deixou claro emsua intervenção, recebi em meu gabinete uma série dedenúncias de pessoa conhecida e fidedigna. Aliás, asrecebi quando estive em São Paulo, na companhia doDeputado Paes de Andrade, que não participou daconversa. Fui procurado no hotel e recebi asrevelações sobre uma quadrilha que agia em torno doMinistério do Turismo. A pessoa se identificou,pediu-me sigilo com medo de ser eliminada, porqueestava denunciando uma quadrilha de bicheirosenvolvidos com a máfia italiana.Essa pessoa reduziu aum texto as suas denúncias, e eu o encaminhei àPresidência da República. Logo depois, recebi ainformação de que a Presidência da República haviadeterminado que essas denúncias fossemencaminhadas ao Ministério Público Federal, à PolíciaFederal e se iniciassem as investigações. No entanto,temos de dar ao Ministro paranaense – não por serparanaense, mas por ser Ministro, e não por serMinistro, mas por ser um cidadão no uso de seusdireitos – a oportunidade da defesa. Passei a suspeitar

dessa denúncia no momento em que a Veja endossouas acusações. Fiquei pensando comigo: será que oRoberto Civita está querendo um bingão e nãoconseguiu a liberação da licença? Porque a Veja éuma revista de chantagem. Neste plenário, pordiversas vezes, já enumerei chantagens conhecidaspor parte da revista Veja e do Sr. Roberto Civita emrelação, por exemplo, ao Banco Bamerindus ou a mimmesmo, tentando silenciar minha voz. Quando a Vejase envolve com um problema, temos de colocá-lo sobsuspeição. Temos, então, que dar ao Ministro RafaelGreca a oportunidade da defesa. As pessoasenvolvidas no processo usam codinomes. O Vieiraassim era conhecido porque morava num apartamentona Avenida Vieira Souto, no Rio de Janeiro. OLampadinha foi o nome atribuído a um deputadofederal do Paraná. Tem o Elvis, em função do topeteque usava. Esses nomes eram utilizados paratornarem indecifráveis as conversas telefônicas, paraevitar que um grampo identificasse os personagens.Recentemente, recebi a informação de que o líder detodo o processo responderia pelo codinome deChuchu ou Maria Rita. Seria a figura com maior poderdecisório nesse processo. É preciso que o MinistroRafael Greca venha ao Senado explicar essasacusações e as que, posteriormente, surgiram naimprensa brasileira. É preciso que ouçamos tambémos funcionários do Indesp e uma figura que pode falarmuito sobre o Ministro Rafael Greca, que conhece asua vida pregressa, a origem do seu comportamento eque, certamente, se disporá a comparecer, com esseintuito, no Senado da República. É o Sr. Francisco deAssis Varela, que já reduziu a termo, em cartório, coma sua assinatura, uma série de denúncias queenvolvem o comportamento e a vida pregressa doMinistro Rafael Greca. A responsabilidade ouirresponsabilidade da sua nomeação foi doPresidente da República. Perdoe-me, Senador, masparece a Academia Brasileira de Letras no chá das5 horas da tarde. O Presidente da República é umhomem honrado e nomeou o Ministro Rafael Greca.Nomeou também o Sr. Armínio Fraga, que eraoperador de um especulador internacional, o famosohúngaro George Soros, para a presidência do BancoCentral. Se o Presidente da República entregou aeconomia brasileira para um especulador que operoua falência da Tailândia, que quebrou um país, jogandocentenas de milhares de pessoas na miséria, por quenão iria, de sponte própria, sem nenhum escrúpulo,entregar os bingos do Brasil e esses desejadoscassinos à máfia italiana? Acredito que isso faz partede uma operação, sim, que envolve as intençõesglobalizantes do Governo Federal. Máfia italiana,Rafael Greca, Lampadinha, Maria Luiza, Chuchu, Elvis,

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Vieira, nomes de história em quadrinho. Temos deaprofundar a investigação sobre essas questões. E apresença do Sr. Francisco de Assis Varela no plenáriodo Senado Federal ou numa reunião secreta de umacomissão mostraria, com toda a clareza, quem é oMinistro Rafael Greca. Depois, caberia ao Presidenteda República explicar por que, sabendo disso tudo –pois não posso acreditar que Sua Excelência nãosaiba quem nomeou para esse importante Ministériodo Esporte e do Turismo – nomeou quem nomeou. Omedo que tenho é que o Presidente da Repúblicaacabe demitindo o Ministro Rafael Greca e nomeandoo Sr. Francisco de Assis Varela em seu lugar.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – SenadorRoberto Requião, não penso como V. Exª na parte emque diz que o Presidente da República participa dissoe nomeia sabendo. Não. Nós somos paranaenses econhecemos o Ministro Greca. Mas o Presidente daRepública não o conhecia da forma que oconhecemos e o nomeou por indicação. Talvez sejapor isso, Senador Roberto Requião, que eu nãoconcorde com essa estratégia e essa forma denomear ministros neste País, acolhendo indicaçõesque atendem interesses partidários. Muitas vezesacontece a nomeação sem se tomar conhecimentodo currículo de quem está sendo nomeado.

O Sr. Roberto Requião (PMDB – PR) –Senador, quero que se caracterize, com muitaclareza, o sentido que V. Exª dá à palavra conhecer.Nós, paranaenses, conhecemos a história do MinistroRafael Greca; nós não o conhecemos no sentidobíblico da palavra.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Agora,concordo com V. Exª. Aliás, ficou uma dúvida, no seuaparte, quanto aos codinomes. Alguém poderápensar que Luís Antonio Buffara é o Chuchu ou aMaria Rita. E não o é. Embora ele esteja, segundo asdenúncias, comandando, parece-me que isso não serefere a ele. V. Exª não declinou o nome, mas vourespeitar, evidentemente, a sua posição.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Nobre Senador Osmar Dias, V. Exª tinha razãoquando alertou a Presidência sobre o tempo. De fato,havia sido digitado de maneira errada. Todavia, alegoque os 50 minutos de V. Exª já se encerraram às 18horas e 17 minutos, e temos que terminar a sessãoexatamente às 18 horas e 30 minutos.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Voucontribuir para isso, Sr. Presidente.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT – AC) –Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Concedo oaparte à Senadora Marina Silva.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT – AC) –Cumprimento V. Exª pelo pronunciamento que faznesta tarde, e, muito rapidamente, até para não repetiro que já foi dito com mais competência pelos colegasque me antecederam, considero oportuna a aprovaçãodo requerimento do Senador Eduardo Suplicy paraque o Ministro Rafael Greca venha a esta Casa. Sefizermos um levantamento de todos aqueles que sãoacusados de praticar improbidade administrativa, denão honrarem a função pública para a qual sãodestinados, vamos observar que todos eles se senteminjustiçados. Alguns deles, inclusive, fazem o que oMinistro fez com o que está denunciado: aviltam ainteligência das pessoas. Por que dizer que foramapenas três concessões, permissões, e, após seremcomprovadas noventa, dizer que uma pessoa que tema comprovação histórica da sua vida, da sua relação,não trabalhou com ele, e, em seguida, é comprovadoque isso ocorreu? Isso é subestimar a inteligênciapolítica e moral das pessoas que estão lidando comesses temas. Em todas as oportunidades, a primeiraatitude que essas autoridades têm é de seinocentarem, como se isso fosse suficiente, sem asinvestigações, sem os devidos levantamentos, paraque já tivessem, de pronto, sob o sacrossanto mantoda inocência. Então, acho que a vinda do Ministro – V.Exª e o Senador Eduardo Suplicy têm razão – nãosignificará uma condenação a priori. Pelo contrário,significa uma oportunidade para S. Exª esclarecer asgraves denúncias que estão nos jornais e que V. Exªcom muita propriedade traz para esta Casa. Eu, sefosse Presidente da República, tomaria a iniciativa defazer um levantamento sobre as denúncias que estãosendo feitas sobre a vida do Ministro, sob pena de ficarconivente com esse tipo de irresponsabilidade edesrespeito para com nosso País. V. Exª poderia seracusado em função de disputa política com o Ministroque porventura tenha. Mas, se essas conexões estãosendo feitas desse jeito lá na Itália, onde não hánenhum interesse político regional ou paroquial, entãoé algo que deve ser investigado com o rigor que asdenúncias merecem. E o Congresso Nacional, comcerteza, estará fazendo a sua parte trazendo o Ministroaqui para que dê as devidas explicações. Pedi apalavra para parabenizar V.Exª e dizer que, se de certaforma, em vindo aqui, o Ministro tiver dedesincompatibilizar-se de suas funções ou renunciar ocargo, isso não é motivo para que o Ministro tenha otemor que manifestou ao Senador Eduardo Suplicy. Seele for inocente, nenhum dos Srs. Senadores iráutilizar-se de má-fé ao ouvir suas explicações.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – SenadoraMarina Silva, fique tranqüila em relação à possibilida-

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de de haver uma disputa entre mim e o Ministro. Nãohá. Não sou candidato a Ministro de Esporte; nãotenho vocação para ser Ministro do Turismo. Temospreferências muito diferentes. Portanto, não hánenhuma disputa em jogo. Também garanto a V. Exªque faço isso na defesa da probidade administrativa eda moralidade no serviço público.

Não estou fazendo nenhuma denúncia levianaao Ministro. Na verdade, estou lendo denúncias que aimprensa tem publicado. E não é só a Revista Veja,Senador Roberto Requião: Veja, IstoÉ, Folha deS.Paulo, Estado de S.Paulo, O Globo, Estado doParaná e tantos outros jornais pelo Brasil afora, quesão lidos pela imensa maioria da população brasileiraque lê jornal e revista e que quer, como eu, aapuração desses fatos.

Se o Ministro Rafael Greca não tiver nada a vercom isso aqui, volto à tribuna e digo que ele não temnada a ver. Mas, antes, ele vai ter que provar que nãotem, porque as denúncias são graves.

O Sr. Álvaro Dias (PSDB – PR) – V. Exª meconcede um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – V. Exª tema palavra.

O Sr. Álvaro Dias (PSDB – PR) – Essa históriacomeçou com o pedido de demissão de doisfuncionários que, com ousadia e espírito público,foram denunciar os fatos ao Ministério Público. Essegesto, por si só, ressalta a gravidade das denúnciasque foram repercutidas, como aqui já se disse, porórgãos da imprensa da maior respeitabilidade, comoFolha de S.Paulo, O Globo, Estado de S.Paulo,Revista Veja, Revista IstoÉ, e até pelo ex-Ministro doEsporte, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, noPrograma Supertécnico, da Rede Bandeirantes.Portanto, os indícios são de tal importância querecomendam a correta prática administrativa. A boaprática administrativa implica afastar do cargo queocupam, quando os indícios são muito fortes, osacusados, para que a investigação se dê com a maioreficiência possível sem nenhum tipo deconstrangimento. É evidente que qualquer inquéritoadministrativo, qualquer investigação policial terátramitação de maior eficiência, se os acusadosestiverem ausentes da sua função; a presença delesnos cargos que ocupam, certamente, dificultaráqualquer tipo de investigação mais cuidadosa.Portanto, o Presidente da República nos oferece umexemplo de prática administrativa que não deve seradotada. De outro lado, se o Presidente não age como rigor que deve agir nesse caso, deve mudar o nomedesse Ministério. Aliás, recordo-me de artigo escritopelo extraordinário Jornalista Villas Boas Corrêa,onde ele afirmava que o esporte foi expulso desteGoverno desde a nomeação do atual Ministro. Quem

sabe esse Ministério deva ter um outro nome. Prefiroque o Presidente da República, ainda em tempo,antes que eu sugira um nome para esse Ministério – esei que minha sugestão jamais será acatada –, prefiroque o Presidente da República, sem nenhum tipo deressentimento, possa corrigir rumos e determinar aapuração dos fatos, afastando dos cargos aquelesque estão sendo acusados com fortes indícios deresponsabilidade. Sr. Presidente, com as minhasescusas pela utilização desse tempo no aparte queme concedeu o Senador Osmar Dias, diria, paraconcluir, que mais importante do que a presença doMinistro nesta Casa é a presença dos funcionários,que demonstraram altivez, coragem e espírito públicoao pedirem demissão em um País dedesempregados. Pediram demissão e, com ousadia,recorreram ao Ministério Público para oficializar adenúncia. Portanto, não se acovardaram nem seesconderam no anonimato. Esses funcionários, sim,devem ser convocados para depor nesta Casa.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Encerro,Sr. Presidente, apenas justificando por queapresentarei o requerimento na Comissão deAssuntos Sociais. Não porque sou o Presidente destaComissão, o que facilitaria a aprovação dorequerimento, mas, sim, porque está para ser votadona Comissão de Assuntos Sociais o projeto que liberaou não os jogos no País: cassinos, bingos e outrosjogos.

Quero dizer aqui que, enquanto não ouvir aspessoas que serão convidadas e convocadas, nãopoderei colocar o projeto em votação na Comissão deAssuntos Sociais.

O assunto é grave e exige uma tomada deprovidências do Senado Federal e do Presidente daRepública. Nós a tomaremos, Sr. Presidente. OMinistro Greca tem o direito de se defender, deapresentar os seus argumentos e a sua posição, masnão podemos esperar por muito tempo, pois o tempourge.

Temos que tomar providências. Estou pedindoisso ao Senado e ao Presidente da República.

Muito obrigado pela tolerância.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – A

Presidência consulta o eminente Senador LeomarQuintanilha se ainda deseja fazer uso da palavra, jáque dispõe tão-somente de dois minutos.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB – TO) –Sim, Sr. Presidente. Mas, como sou o quinto inscrito e aMesa foi extremamente tolerante com o orador que meantecedeu, permitindo-lhe extrapolar seus 50 minutos,gostaria de falar pelo menos durante cinco minutos.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio.Fazendo soar a campainha) – Consulto o Plenáriosobre a prorrogação da sessão por três minutos, paraque o orador conclua sua oração. (Pausa.)

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 137

Não havendo objeção do Plenário, estáprorrogada a sessão por três minutos.

Concedo a palavra ao Senador LeomarQuintanilha.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB – TO.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,cumprindo compromissos fora desta Casa, não pudeparticipar da primeira fase do Expediente, quando oSenado, em muito boa hora, rendeu uma singular –porém significativa e justa – homenagem aoprofessor, ao mestre, àquele que se dedicainteiramente a transferir a sua experiência e o seuconhecimento ao preparo das pessoas para oexercício da cidadania. Nada mais justo, Sr.Presidente, que nesta Casa se renda essahomenagem a um dos agentes mais importantes,ativos e atuantes da sociedade.

Sr. Presidente, lembro, com certa nostalgia, operíodo em que freqüentava as aulas, lembro comsaudade a minha infância, quando, acompanhandominha mãe, que também era professora, eu me dirigiadiariamente da minha casa para a sala de aula,buscando apreender as informações, compreenderos caminhos, apreender os conhecimentos que meensinariam a trilhar melhor os caminhos da vida; ehoje vejo quão significativo, quão importante é otrabalho desenvolvido pelo mestre, pelo professor.Não se pode pensar em desenvolvimento de um povoou de uma nação sem o investimento maciço naeducação, e nem sempre o mestre tem aquelereconhecimento à altura da responsabilidade, daimportância do trabalho que ele desempenha.

Por isso, este gesto singular desta Casa,registrando em seus Anais essa homenagem devários de seus próceres, de vários de seus membros,representantes de todos os quadrantes do Brasil;essa homenagem oportuna, essa homenagemsincera, dedicada ao professor.

Sr. Presidente, acabo de visitar uma pequeninaescola, ainda hoje, uma escola singular, diferente,que cuida de alunos portadores de dupla deficiência –a mental e a física. Nós já temos, prestando uminestimável serviço à sociedade, as APAEs, quecuidam dos deficientes mentais. Temos outrainstituição que cuida dos deficientes físicos, mas é aprimeira que vejo, a Lumen, prestando assistênciaaos portadores dessa dupla deficiência, a mental e afísica.

Vi crianças, num quadro para o qual não tenhopalavras que possam descrever a emoção que sentiao vê-las e ao perceber a alegria que aquelascrianças, umas que não falam, outras que não semovimentam, outras que têm dificuldades, outras

com atraso mental, mas que estão sendo ali objeto deatenção não só de natureza pedagógica, mascercadas de profissionais qualificados que atuam nasmais diversas atividades, procurando dar um rasgode vida, de alegria, de discernimento para essaspessoas que quis o destino viessem ao mundoportadoras dessas deficiências, dessas dificuldades.

Fiquei sensibilizado com os professores que láse encontravam porque procuram superar-se natarefa de querer estimular as crianças comdeficiências físicas e mentais, de estimulá-las a seaproximarem da sensibilidade que as criançasnormais têm. Eles dão de si muito mais que o seuconhecimento intelectual; dão muito do amor próprio,do sentimento de solidariedade do povo brasileiro.

Por isso, Sr. Presidente, gostaria de registrar,nesta tarde, em nome dos professores da Lumen,uma nova instituição que tem agora oreconhecimento de entidade pública, tem um quadrode professores extraordinário, magistrais, que sededicam a trazer um pouco de felicidade e um poucode vida a essas crianças portadoras de deficiências.

No dia em que se comemora o Dia do Professor,gostaria de render também essa homenagem deforma especial aos professores que integram oquadro desta nova instituição: a Lumen.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Não

há mais oradores inscritos.Os Srs. Senadores Francelino Pereira e Maria

do Carmo Alves enviaram discursos à Mesa paraserem publicados na forma do disposto no art. 203 doRegimento Interno.

S. Exªs serão atendidos.O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG) –

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, será entreguehoje, em Brasília, o 1º Prêmio da Unesco criado como objetivo de tornar público o reconhecimento aos 10melhores projetos em ações sociais desenvolvidos aolongo do ano no Brasil.

Entre os contemplados, destaco a figura deDona Geralda, uma mineira simples, igual a muitasoutras que vivem no nosso País, trabalhando de sol asol, mas que, não obstante, encontram tempo paradar um pouco de si aos seus semelhantes.

Dona Geralda, como é chamada Maria dasGraças Marçal, é catadora de papel nas ruas de BeloHorizonte, apura de dois a quatro salários mínimospor mês, criou 9 filhos, e conseguiu, com muitoesforço, mas também com extraordinária força devontade, que todos eles pudessem estudar, do maisvelho, de 32 anos, ao caçula, de 14.

Ela foi uma das 10 pessoas escolhidas pelaUnesco, como reconhecimento a essa sua iniciativa

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de amor aos que, com ela, vivem do trabalho de catare de reciclar papel .

Figuras assim, de alma aberta, sabem comoninguém o que é a vida, na sua rudeza, nos rigoresque a todos impõe, mas que poucos conseguemsuperar.

Na humildade de sua faina diária, ela tem muitodo que se orgulhar. Seu orgulho vem da postura comque sempre encarou a vida, sem jamais reclamar,pelo contrário, orgulha-se do que faz.

Na singeleza da sua forma de encarar a vida,Dona Geralda diz com orgulho:

– Não tive estudos. E assim que medei conta de que esse era o meu trabalho,passei a amá-lo !

São palavras, Srs. Senadores, de quemverdadeiramente tem fé no ser humano e no trabalhoque exerce no dia-a-dia. São palavras sobretudobrotadas do sentimento de quem tem consciência doseu dever no meio social, exercendo a atividade queescolheu com dignidade, sem jamais se esquecer deseus semelhantes.

Mais do que amar seu trabalho, essa mineirade fibra e de luta diuturna, soube ir além.

A vida ensinou à Dona Geralda que seriapossível melhorar as condições de cada uma daspessoas que se dedicam ao mesmo trabalho queela. Movida, assim, pelo seu sentimento desolidariedade, essa mineira de fibra liderou, comoutras pessoas, a criação da Associação dosCatadores de Papel, Papelão e MateriaisRecicláveis, de Belo Horizonte.

É por esse trabalho, de profundo caráter social,que Dona Geralda será merecidamentehomenageada hoje, em Brasília. Ela e os demaisagraciados recebem esta noite, das mãos doEmbaixador Jorge Whestlin, representante daUnesco no Brasil, o prêmio a que fazem jus, no HotelNaoum.

A Associação dos Catadores de Papel, que elaajudou a constituir, é uma entidade vitoriosa,contando com sede própria e dois galpões alugados.

Dona Geralda tem consciência da importânciadesse seu trabalho e do que ele representa do pontode vista social, como, ainda, em favor do meioambiente. Por isso, periodicamente comparece acolégios e a empresas públicas e privadas da Capitalmineira.

Ela ali vai para explicar, em palestras informais,a importância da reciclagem de papel e outrosmateriais, em nome do meio ambiente.

O trabalho de Maria das Graças Marçal, a DonaGeralda, já dura 10 anos. A Associação congrega235 profissionais, entre catadores e triadores

(triagem), produzindo 350 a 400 toneladas dematerial reciclável por mês.

Sua iniciativa já merecera o reconhecimento daOrganização das Nações Unidas, a ONU, que aconvidou a comparecer a Nova Iorque, ondeparticipou, para orgulho de todos nós, mineiros ebrasileiros, de um projeto sobre desenvolvimentosustentado, onde relatou sua extraordináriaexperiência pessoal.

Registro, nesta mesma oportunidade, que umoutro mineiro, o fotógrafo Sebastião Salgado, tambémserá contemplado com a premiação da Unesco, aolado de outras importantes figuras, como o ArcebispoD. Helder Câmara in memoriam e o Professor PauloNogueira Neto, da USP.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esse é orelato de uma grande mulher brasileira. Este é o relatoda vida de Maria das Graças Marçal, a Dona Geralda, aquem tributamos, desta tribuna, também oreconhecimento do Senado Federal pelo seu esforço epela sua dedicação, daí o reconhecimento, agora daUnesco.

Parabéns, Dona Geralda!Muito obrigado.A SRA. MARIA DO CARMO ALVES (PFL – SE) –

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo,para os próximos quatro anos, objetiva colocar todasas crianças na faixa de 7 a 14 anos na escola,elevando o índice de escolarização do Primeiro Grau,que já neste ano de 1999 chegou a 96%, para 100%.O Plano Plurianual de Investimentos delineia em seuplanejamento uma série de programas e açõesvisando o aumento da oferta de vagas, o apoiofinanceiro a famílias carentes para manterem seusfilhos na escola, transporte escolar, merenda, einiciativas de melhoria no magistério.

Os quadros docentes do País, cuja situaçãovaria em cada Unidade da Federação, aindaressente-se de dois aspectos fundamentais: aqualificação e a remuneração. Ainda temos um índicemuito elevado de professores não habilitados noPrimeiro Grau, eles são mais da metade do númerode vagas ocupadas no ensino médio fundamental, eque não têm curso superior completo, onde, emvários Municípios não chegam a ganhar um saláriomínimo. Apesar das escolas e faculdadescontinuarem formando mais professores a cada ano,a baixa remuneração, comparativamente a outrasocupações do mercado e as condições de trabalho,vêm estimulando a evasão de docentes para outrasatividades de maior remuneração.

Há municípios em nosso País, Sr. Presidente,que a escola existe e funciona porque tem um professor,uma professora abnegada, que trabalha quase

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 139

de graça, mas que mantém vivos o dinamismo e aalma da escola.

Dos vários depoimentos que ouvimosrecentemente de especialistas sobre a situação e aorigem da pobreza em nosso País, existe umaunanimidade, um consenso, de que uma boa partedas raízes deste problema que tanto nos angustia eque causa tanto sofrimento no seio de nosso povoestá na história de nossa educação. O processo demarginalização começa nos bancos escolares, tantona falta de condições para as famílias ingressaremseus filhos em nossas escolas, quanto na evasãoprematura das crianças que abandonam o ensinopara trabalharem mais cedo, num círculo viciosodifícil de se romper.

O atual Governo, nos últimos anos, promoveualgumas iniciativas importantes para melhorar aeducação em nosso País, mas os investimentos, osrecursos financeiros ainda são muito limitados paradar a esta importante função governamental odestaque de que precisa para impulsionar o nossodesenvolvimento com a força extraordinária queoutros países desenvolvidos, como o Japão,elegeram para alcançar os caminhos do progresso.

Para superarmos nossas dificuldades, erradicara pobreza crônica que nos envergonha e constrange,para progredirmos com maior rapidez, precisamosinvestir maciçamente em educação. Além demelhorarmos fisicamente as nossas escolas,aperfeiçoar os currículos e manter todas as nossascrianças na escola, precisamos apoiar, valorizar,qualificar e remunerar condignamente os nossosprofessores, pois em suas mãos, e aos seuscuidados, está a parte mais preciosa do tesouronacional, que é a formação de nossos jovens.

Transcorreu, no último dia 15, o Dia doProfessor, e neste dia, em todo o País, em todas asescolas, eles foram lembrados em homenagens quecom justiça lhes foram prestadas.

Onde a nossa educação vem alcançandosucesso, onde a escola, apesar das imensasdificuldades, vem cumprindo os seus objetivos comou sem apoio governamental, aí está o idealismo, adedicação e o trabalho valioso do professor formandonossas crianças, profissionalizando nossos jovensnas universidades, construindo na mente e nainteligência de nossa mocidade a grandeza e o futurode nosso País.

Com estas breves palavras, Sr. Presidente,gostaria de associar-me às comemorações do Dia doProfessor e, desta tribuna do Senado da República,render a minha homenagem aos professores

sergipanos que, a exemplo de todos os professoresbrasileiros, contribuem com o seu trabalho dedicado,com a sua inteligência e o seu patriotismo, para aconstrução de um mundo melhor e de um Brasil maisjusto, mais solidário e mais humano.

Era o que eu tinha a dizer.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – A

Presidência convoca sessão solene do CongressoNacional a realizar-se no dia 4 de novembro próximo,quinta-feira, às onze horas, no Plenário do SenadoFederal, destinada a comemorar o sesquicentenáriode nascimento de Rui Barbosa, que transcorrerá nopróximo dia 5 de novembro.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Nadamais havendo a tratar, a Presidência vai encerrar ostrabalhos, lembrando as Srªs. e os Srs. Senadoresque constará da sessão deliberativa ordinária deamanhã, a realizar-se às 14 horas e 30 minutos, aseguinte:

ORDEM DO DIA

– 1 –PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO

Nº 65, DE 1999

Segundo dia de discussão, em segundo turno,da Proposta de Emenda à Constituição nº 65, de1999, de autoria do Senador Jefferson Peres eoutros senhores Senadores, que altera a redação do§ 3º do art. 58 da Constituição Federal paraacrescentar poderes às Comissões Parlamentaresde Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, Relator: SenadorAmir Lando, oferecendo a Redação do Substitutivoaprovado em primeiro turno.

– 2 –PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 10, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei daCâmara nº 10, de 1999 (nº 2.960/97, na origem), deiniciativa do Presidente da República, que dispõesobre o processo e julgamento da ação direta deinconstitucionalidade e da ação declaratória deconstitucionalidade perante o Supremo TribunalFederal, tendo

Pareceres sob nºs 192 e 778, de 1999, daComissão de Constituição, Justiça e Cidadania, 1ºpronunciamento (sobre o Projeto), Relator: SenadorBernardo Cabral, favorável, nos termos da Emenda nº1-CCJ, que oferece, acolhendo, ainda, a EmendaModificativa nº 2-CCJ, do Senador Romeu Tuma,tendo sido juntadas ao Parecer três Decisõesunânimes do STF; e 2º pronunciamento (sobre asEmendas de Plenário nºs 3 e 4), Relator do vencido: Sena-

140 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

dor Romeu Tuma, pela rejeição, com votoscontrários dos Senadores Jefferson Peres, ÁlvaroDias, Antonio Carlos Valadares e, em separado, dosSenadores Bernardo Cabral e José Eduardo Dutra.

– 3 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 86, DE 1998(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 86, de 1998 (nº 552/97, naCâmara dos Deputados), que aprova o ato querenova a permissão outorgada à Colatina Rádio SomLtda. para explorar serviço de radiodifusão sonora emfreqüência modulada na cidade de Colatina, Estadodo Espírito Santo, tendo

Parecer sob nº 289, de 1999, da Comissão deEducação, Relator: Senador Gerson Camata,favorável, com abstenções do Senador Pedro Simone da Senadora Marina Silva.

– 4 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 61, DE 1999(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 61, de 1999 (nº 645/98, naCâmara dos Deputados), que aprova o ato querenova a concessão da Rádio Internacional Ltda.para explorar serviço de radiodifusão sonora emonda média na cidade de Quedas do Iguaçu, Estadodo Paraná, tendo

Parecer sob nº 553, de 1999, da Comissão deEducação, Relator: Senador Álvaro Dias, favorável,com obstenções do Senador Pedro Simon e daSenadora Heloísa Helena.

– 5 –PROJETO DE LEI DO SENADO

Nº 224, DE 1999-COMPLEMENTAR

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei doSenado nº 224, de 1999-Complementar, de autoriado Senador Luiz Estevão, que modifica a LeiComplementar nº 53, de 1986, para nela incluir aisenção do Imposto sobre Produtos Industrializados –IPI, na compra de veículos por paraplégicos eportadores de defeitos físicos, tendo

Parecer sob nº 247, de 1999, da Comissão deAssuntos Econômicos, Relator: Senador JoséFogaça, favorável, nos termos da Emenda nº 1-CAE

(Substitutivo, matéria de lei ordinária), que oferece,com abstenção do Senador Luiz Estevão.

– 6 –PROJETO DE LEI DO SENADO

Nº 336, DE 1999-COMPLEMENTAR(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei doSenado nº 336, de 1999-Complementar, de autoriado Senador Ademir Andrade, que altera dispositivosda Lei Complementar nº 76, de 6 de julho de 1993,que dispõe sobre o procedimento contraditórioespecial, de rito sumário, para o processo dedesapropriação de imóvel rural, por interesse social,para fins de reforma agrária, tendo

Parecer favorável, sob nº 615, de 1999, daComissão de Constituição, Justiça e Cidadania,Relator: Senador José Fogaça.

– 7 –PARECER Nº 794, DE 1999

(Escolha de Autoridade)(Votação secreta)

Discussão, em turno único, do Parecer nº 794,de 1999, da Comissão de Constituição, Justiça eCidadania, Relator: Senador Romeu Tuma, sobre aMensagem nº 173, de 1999 (nº 1.314/99, na origem),de 21 de setembro do corrente ano, pela qual oPresidente da República submete à deliberação doSenado a escolha do General-de-Exército José LuizLopes da Silva, para exercer o cargo de Ministro doSuperior Tribunal Militar na vaga decorrente daaposentadoria do General-de-Exército Edson AlvesMey.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Está encerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 18 horas e 36minutos.)

AGENDA CUMPRIDA PELOPRESIDENTE DO SENADO FEDERAL

SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES

19-10-1999Terça-Feira

15h30 – Sessão Deliberativa Ordinária do SenadoFederal

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 141

Ata da 144ª Sessão Deliberativa Ordináriaem 20 de outubro de 1999

1ª Sessão Legislativa Ordinária da 51ª Legislatura

Presidência dos Srs.: Antonio Carlos Magalhães, Ademir AndradeCarlos Patrocínio e Nabor Júnior

ÀS 14 HORAS E 30 MINUTOS, ACHAM-SEPRESENTES OS SRS. SENADORES:

Ademir Andrade – Agnelo Alves – Alberto Silva– Alvaro Dias – Amir Lando – Antero Paes de Barros– Antonio Carlos Magalhães – Antonio Carlos Vala-dares – Arlindo Porto – Artur da Távola – Bello Par-ga – Bernardo Cabral – Carlos Bezerra – Carlos Pa-trocinio – Casildo Maldaner – Djalma Bessa – Edu-ardo Suplicy – Emília Fernandes – Francelino Perei-ra – Freitas Neto – Geraldo Althoff – Geraldo Cândi-do – Gerson Camata – Gilberto Mestrinho – GilvamBorges – Heloísa Helena – Iris Rezende – JaderBarbalho – João Alberto Souza – Jonas Pinheiro –Jorge Bornhausen – José Agripino – José Alencar –José Eduardo Dutra – José Fogaça – José Jorge –José Roberto Arruda – Juvêncio da Fonseca – Lau-ro Campos – Leomar Quintanilha – Lúcio Alcântara– Lúdio Coelho – Luiz Estevão – Luiz Otavio – LuizPontes – Luzia Toledo – Maguito Vilela – Maria doCarmo Alves – Marina Silva – Mauro Miranda – Mo-reira Mendes – Mozarildo Cavalcanti – Nabor Júnior– Ney Suassuna – Osmar Dias – Paulo Hartung –Paulo Souto – Pedro Piva – Pedro Simon – RamezTebet – Renan Calheiros – Roberto Freire – RobertoRequião – Roberto Saturnino – Romero Jucá – Ro-meu Tuma – Sebastião Rocha – Sérgio Machado –Silva Júnior – Teotonio Vilela Filho – Tião Viana –Wellington Roberto.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – A listade presença acusa o comparecimento de 72 Srs.Senadores. Havendo número regimental, declaroaberta a sessão.

Sob a proteção de Deus iniciamos nossos traba-lhos.

O Sr. 1º Secretário em exercício, Senador Edu-ardo Suplicy, procederá a leitura do Expediente.

É lido o seguinte:

EXPEDIENTE

PROJETO RECEBIDODA CÂMARA DOS DEPUTADOS

PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 47, DE 1999(Nº 3.939/97, na Casa de origem)

(De iniciativa do Presidente da República)

Institui o Fundo para o Desenvolvi-mento Tecnológico das Telecomunicações– FUNTTEL, e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Fica instituído o Fundo para o Desenvol-vimento Tecnológico das Telecomunicações –FUNTTEL, da natureza contábil, com o objetivo deestimular o processo de inovação tecnológica, incen-tivar a capacitação de recursos humanos, fomentar ageração de empregos e promover o acesso de pe-quenas e médias empresas a recursos de capital, demodo a ampliar a competitividade da indústria brasile-ira de telecomunicações, nos termos do art. 77 da Leinº 9.472, de 16 de julho de 1997.

Art. 2º O Fundo para o Desenvolvimento Tecno-lógico das Telecomunicações será administrado porum Conselho Gestor e terá como agentes financeiroso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico eSocial – BNDES e a Empresa Financiadora de Estu-dos e Projetos – FINEP.

§ 1º O Conselho Gestor será constituído pelosseguintes membros:

I – um representante do Ministério das Comuni-cações:

II – um representante do Ministério da Ciência eTecnologia;

III – um representante do Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior;

IV – um representante da Agência Nacional deTelecomunicações – ANATEL;

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 142

V – um representante do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social – BNDES;

VI – um representante da Empresa Financiado-ra de Estudos e Projetos – FINEP.

§ 2º Cabe ao Poder Executivo nomear os mem-bros do Conselho Gestor do Funttel, devendo a pri-meira investidura ocorrer no prazo de até noventadias a partir da publicação desta lei.

§ 3º O Conselho Gestor será presidido pelo re-presentante do Ministério das Comunicações e deci-dirá por maioria absoluta.

§ 4º O mandato e a forma de investidura dosconselheiros serão definidos em regulamento.

§ 5º Os agentes financeiros prestarão contas deexecução orçamentária e financeira do Fundo aoConselho Gestor.

§ 6º Será definida na regulamentação a formade repasse dos recursos pelos agentes financeirospara a execução dos projetos aprovados.

§ 7º Os membros do Conselho Gestor não serãoremunerados pela atividade exercida no Conselho.

§ 8º O Ministério das Comunicações prestará aoConselho todo o apoio técnico, administrativo e finan-ceiro.

Art. 3º Compete ao Conselho Gestor:I – aprovar as normas de aplicação de recursos

do Fundo em programas, projetos e atividades priori-tárias na área de telecomunicações, em consonânciacom o disposto no art. 1º desta lei.

II – aprovar, acompanhar e fiscalizar a execuçãodo Plano de Aplicação de Recursos submetido pelosagentes financeiros e pela Fundação CPQd;

III – submeter, anualmente, ao Ministério dasComunicações a proposta orçamentária do Funttel,para inclusão no projeto de lei orçamentária anual aque se refere o § 5º do art. 165 da Constituição Fede-ral, observados os objetivos definidos no art. 1º destalei, as políticas de desenvolvimento tecnológico fixa-das pelos Poderes Executivo e Legislativo e a existên-cia de linhas de crédito;

IV – prestar conta da execução orçamentária efinanceira do Funttel;

V – propor a regulamentação dos dispositivosdesta lei, no âmbito de sua competência;

VI – aprovar seu regimento interno;VII – decidir sobre outros assuntos de interesse

do Funttel.Art. 4º Constituem receitas do Fundo:I – dotações consignadas na lei orçamentária

anual e seus créditos adicionais;II – parcela, a ser determinada pela lei orçamen-

tária anual de, no mínimo, um por cento dos recursos

a que se referem as alíneas c, d, e, f e j do art. 2º daLei nº 5.070, de 7 de julho de 1966, com a redaçãodada pelo art. 51 da Lei nº 9.472, de 16 de julho de1997;

III – contribuição de meio por cento sobre a re-ceita bruta das empresas prestadoras de serviços detelecomunicações, nos regimes público e privado, ex-cluindo-se, para determinação da base de cálculo, asvendas canceladas, os descontos concedidos, oImposto sobre Operações relativas à Circulação deMercadorias e sobre Prestações de Serviços deTransportes Interestadual e Intermunicipal e de Co-municação – ICMS, a contribuição ao Programa deIntegração Social – PIS e a Contribuição para o Fi-nanciamento da Seguridade Social – COFINS;

IV – contribuição de um por cento devida pelasinstituições autorizadas na forma da lei, sobre a arre-cadação bruta de eventos participativos realizadospor meio de ligações telefônicas;

V – o produto de rendimentos de aplicações dopróprio Fundo;

VI – o produto da remuneração de recursos re-passados aos agentes aplicadores;

VII – doações;VIII – outras que lhe vierem a ser destinadas.Parágrafo único. O patrimônio inicial do Funttel

será constituído mediante a transferência de cem mi-lhões de reais oriundos do Fistel.

Art. 5º O art. 3º da Lei nº 5.070, de 7 de julho de1966, com a redação dada pelo art. 51 da Lei nº9.472, de 16 de julho de 1997, passa a vigorar com aseguinte redação:

“Art. 3º Além das transferências para oTesouro Nacional, para o Fundo de Univer-salização dos Serviços de Telecomunicações– FUST, e para o Fundo para o Desenvolvi-mento Tecnológico das Telecomunicações –FUNTTEL, os recursos do Fundo de Fiscali-zação das Telecomunicações – FISTEL se-rão aplicados pela Agência Nacional de Tele-comunicações – ANATEL:

............................................................."

Art. 6º Os recursos do Fundo serão aplicadosexclusivamente no interesse do setor de telecomuni-cações.

§ 1º A partir de 1º de agosto de 2001, vinte porcento dos recursos do Fundo serão alocados direta-mente à Fundação CPQd.

§ 2º A partir de 1º de agosto de 2002, é facultadoao Conselho Gestor alterar o percentual definido noparágrafo anterior, levando em consideração a neces-sidade de recursos para preservação da capaci-

143 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

dade de pesquisa e desenvolvimento tecnológico daFundação CPQd, nos termos do art. 190 da Lei nº9.472, de 16 de julho de 1997.

§ 3º Os recursos referidos nos parágrafos ante-riores serão aplicados sob a forma não reembolsável.

§ 4º A Fundação CPQd apresentará, anualmen-te, para apreciação do Conselho Gestor, relatório deexecução dos Planos de Aplicação de Recursos, naforma que dispuser a regulamentação.

§ 5º Os recursos do Funttel ficarão depositadosnos agentes financeiros, que se encarregarão do re-cebimento e manutenção em depósito das receitasdo Fundo, bem como dos repasses e aplicações de-terminados pelo Conselho Gestor.

§ 6º As contas dos usuários de serviços de tele-comunicações deverão indicar, em separado, o valorda contribuição ao Funttel referente aos serviços fatu-rados.

§ 7º As entidades recebedoras de contas deserviços de telecomunicações deverão, na mesmadata em que efetuarem crédito em favor das presta-doras de serviços, repassar os valores referentes àcontribuição ao Funttel a seus agentes financeiros.

Art. 7º Os recursos destinados ao Funttel, nãoutilizados até o final do exercício, apurados no balan-ço anual, serão transferidos como crédito do mesmoFundo no exercício seguinte.

Art. 8º O Poder Executivo expedirá a regulamen-tação necessária ao pleno cumprimento desta Lei noprazo de noventa dias.

Art. 9º Esta lei entra em vigor cento e vinte diasapós a sua publicação.

MENSAGEM Nº 1.451DE 27 DE NOVEMBRO DE 1997

DO PODER EXECUTIVO

Senhores Membros do Congresso Nacional,Nos termos do art. 61 da Constituição Federal,

submeto à elevada deliberação de V. Exªs, acompa-nhado de Exposição de Motivos do Senhor Ministrode Estado das Comunicações, o texto do projeto delei que “Institui o Fundo para o Desenvolvimento Tec-nológico das Telecomunicações – FDTT, e dá outrasprovidências”.

Brasília, 27 de novembro de 1997. – FernandoHenrique Cardoso.

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS Nº 333/MC, DE 19 DENOVEMBRO DE 1997, DO SR. MINISTRO DEESTADO DAS COMUNICAÇÕES

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Tenho a honra de submeter à elevada conside-ração de Vossa Excelência o incluso projeto de lei queinstitui o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológicodas Telecomunicações – FDTT e dá outras providên-cias, em cumprimento ao disposto no art. 77 da Lei nº9.472, de 16 de julho de 1997.

2) O objetivo do FDTT, estabelecido pela Lei nº9.472/97, é estimular a pesquisa e o desenvolvimentode novas tecnologias, incentivar a capacitação dos re-cursos humanos, fomentar a geração de empregos epromover o acesso de pequenas e médias empresasa recursos de capital de modo a ampliar a competiçãona indústria de telecomunicações.

3) O presente projeto estabelece, como princi-pal fonte de recursos para o FDTT, um percentual dasreceitas auferidas com as concessões, permissões eautorizações de serviços de telecomunicações e deuso de radiofreqüências, bem como com a aprovaçãode laudos de ensaios de produtos, percentual esse aser estabelecido anualmente pela Lei Orçamentária.

4) O FDTT será gerido pela Agência Nacionalde Telecomunicações, tendo como agente financeiroo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico eSocial – BNDES. Sua proposta de orçamento será in-cluída no Projeto de Lei Orçamentária Anual, nos ter-mos do § 5º do art. 165 da Constituição Federal.

5) Em merecendo a devida acolhida, referidoprojeto certamente contribuirá para o aperfeiçoamen-to desse setor importante para a economia e o desen-volvimento do País, gerando empregos e promoven-do o acesso de pequenas e médias empresas aomercado, sobre incentivar e ampliar a competição.

Respeitosamente, – Sérgio Motta, Ministro deEstado das Comunicações.

PROJETO DE LEI ORIGINAL Nº 3.939, DE 1997

Institui o Fundo para o Desenvolvi-mento Tecnológico das Telecomuncia-ções – FDTT, e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica instituído o Fundo para o Desenvol-

vimento Tecnológico das Telecomunicações – FDTT,sob a gestão da Agência Nacional de Telecomunica-ções, com o objetivo de estimular a pesquisa e o de-senvolvimento de novas tecnologias, incentivar a ca-pacitação dos recursos humanos, fomentar a gera-ção de empregos e promover o acesso de pequenase médias empresas a recursos de capital, de modo aampliar a competição na indústria de telecomunica-ções.

Art. 2º Constituem receitas do Fundo:

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 144

I – dotações consignadas na lei orçamentáriaanual e seus créditos adicionais;

II – parcela, a ser determinada pela lei orçame-tária anual, na forma do art. 4º desta lei, dos recursosa que se referem as alíneas c, d, e e j do art. 2º da Leinº 5.070, de 7 de julho de 1966, com a redação dadapelo art. 51 da Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997;

III – rendimentos de aplicação do próprio Fundo;IV – doações;V – outras que lhe vierem a ser destinadas.Art. 3º O art. 3º da Lei nº 5.070, de 1966, passa a

ter a seguinte redação:

“Art. 3º Além das transferências para oTesouro Nacional, para o Fundo de Univer-salização dos Serviços de Telecomunica-ções – FUST e para o Fundo para o Desen-volvimento Tecnológico das Telecomunica-ções – FDTT, os recursos do Fundo de Fis-calização das Telecomunicações – FISTELserão aplicados pela Agência Nacional deTelecomunicações:

............................................................."

Art. 4º A Agência Nacional de Telecomunica-ções elaborará, anualmente, a proposta de orça-mento do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológi-co das Telecomunicações, para inclusão no projetode lei orçamentária anual a que se refere o § 5º doart. 165 da Constituição Federal, observando as po-líticas de desenvolvimento tecnológico fixadas pelosPoderes Legislativo e Executivo e levando em consi-deração:

I – a existência de linhas de crédito; eII – os projetos, as atividades e os programas

apresentados e aprovados na forma da regulamenta-ção por ele expedida, referentes à pesquisa e ao de-senvolvimento tecnológicos na área de telecomunica-ções, à capacitação de recursos humanos, à geraçãode empregos no setor, bem como ao acesso de pe-quenas e médias empresas a recursos de capital, demodo a ampliar a competição na indústria de teleco-municações.

Art. 5º Os recursos do Fundo serão aplicadospelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social – BNDES, de acordo com o Plano de Aplica-ção dos Recursos por ele editado, observando a leiorçamentária, sob a forma de empréstimos reembol-sáveis.

§ 1º Os recursos, enquanto não utilizados, serãoaplicados na aquisição de títulos federais.

§ 2º O BNDES apresentará anualmente, paraapreciação da Agência Nacional de Telecomunica-

ções, relatório de execução do plano de aplicaçãodos recursos.

Art. 6º A Agência Nacional de Telecomunica-ções baixará as normas e os instrumentos comple-mentares necessários ao pleno cumprimento destalei.

Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Brasília,

LEGISLAÇÃO CITADA, ANEXADAPELA SECRETARIA GERAL DA MESMA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivoestabelecerão:....................................................................................

§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá:I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da

União, seus fundos, órgãos e entidades da adminis-tração direta e indireta, inclusive fundações instituí-das e mantidas pelo poder público;

II – o orçamento de investimentos das empresasem que a União, direta ou indiretamente, detenha amaioria do capital social com direito a voto;

III – o orçamento da seguridade social, abran-gendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados,da administração direta ou indireta, bem como os fun-dos e fundações instituídos e mantidos pelo poder pú-blico.....................................................................................

LEI Nº 5.070, DE 7 DE JULHO DE 1966

Cria o Fundo de Fiscalização das Te-lecomunicações e dá outras providências

....................................................................................Art. 2º O Fundo de Fiscalização das Telecomu-

nicações será constituído:a) das taxas de fiscalização;b) das dotações orçamentárias que lhe forem

atribuídas no Orçamento Geral da União;c) dos créditos especiais votados pelo Congresso;d) do recolhimento das multas impostas aos

concessionários e permissionários dos serviços deTelecomunicações;

e) das quantias recebidas pela prestação de ser-viços por parte do Laboratório e demais órgãos técni-cos do Conselho Nacional de Telecomunicações;

f) das rendas eventuais;g) do recolhimento de saldos orçamentários e

outros;h) dos juros de depósitos bancários.

145 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Parágrafo único. Os recursos a que se refere esteartigo serão recolhidos aos estabelecimentos oficiais decrédito, em conta especial, sob a denominação de “Fun-do de Fiscalização das Telecomunicações”.

Da Aplicação do Fundo

Art. 3º Os recursos do Fundo de Fiscalizaçãodas Telecomunicações serão aplicados pelo Conse-lho Nacional de Telecomunicações, exclusivamente:

a) na instalação, custeio, manutenção e aperfei-çoamento da fiscalização dos serviços de telecomu-nicações existentes no País;

b) na aquisição de material especializado ne-cessário aos serviços de fiscalização;

c) na fiscalização da elaboração e execução deplanos e projetos referentes às telecomunicações.....................................................................................

LEI Nº 9.472, DE 16 DE JULHO DE 1997

Dispõe sobre a organização dosserviços de telecomunicações, a criaçãoe funcionamento de um órgão reguladore outros aspectos institucionais, nos ter-mos da Emenda Constitucional nº 8(1),de 15 de agosto de 1995.

....................................................................................Art. 51. Os arts. 2º, 3º, 6º e seus parágrafos, o

art. 8º e seu § 2º, e o art. 13, da Lei nº 5.070, de 7 dejulho de 1966, passam a ter a seguinte redação:....................................................................................

“Art. 3º Além das transferências para oTesouro Nacional e para o Fundo de Univer-salização das Telecomunicações, os recur-sos do Fundo de Fiscalização das Teleco-municações – FISTEL serão aplicados pelaAgência Nacional de Telecomunicações ex-clusivamente:

..............................................................d) no atendimento de outras despesas

correntes e de capital por ela realizadas noexercício de sua competência."

....................................................................................Art. 77.O Poder Executivo encaminhará ao Con-

gresso Nacional, no prazo de cento e vinte dias da pu-blicação desta lei, mensagem de criação de um fundopara o desenvolvimento tecnológico das telecomuni-cações brasileiras, com o objetivo de estimular a pes-quisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, in-centivar a capacitação dos recursos humanos, fo-mentar a geração de empregos e promover o acessode pequenas e médias empresas a recursos de capi-tal, de modo a ampliar a competição na indústria detelecomunicações.

....................................................................................Art. 190. Na reestruturação e desestatização

das Telecomunicações Brasileiras S.A. – TELEBRÁSdeverão ser previstos mecanismos que assegurem apreservação da capacidade em pesquisa e desenvol-vimento tecnológico existente na empresa.

Parágrafo único. Para o cumprimento do dispos-to no caput, fica o Poder Executivo autorizado a criarentidade que incorporará o Centro de Pesquisa e De-senvolvimento da Telebrás, sob uma das seguintesformas:

I – empresa estatal de economia mista ou não,inclusive por meio de cisão a que se refere o inciso Ido artigo anterior;

II – fundação governamental, pública ou privada.....................................................................................

(Às Comissões de Assuntos Econômi-cos e de Educação.)

PARECER

PARECER Nº 829, DE 1999

Da Comissão de Constituição, Justi-ça e Cidadania, sobre o Projeto de Lei doSenado nº 194, de 1999, que “altera a Leinº 9.504, de 30 de setembro de 1997, que‘estabelece normas para as eleições’,para ampliar a segurança e a fiscalizaçãodo voto eletrônico”.

Relator do Vencido: Senador Romeu Tuma

I – Relatório

O ilustre Senador Roberto Requião apresentouo Projeto de Lei sobre exame, cujo propósito é alterara Lei Eleitoral (Lei nº 9.504, de 30 de setembro de1997), em seus dispositivos que dispõem sobre o sis-tema eletrônico de votação, para dispor sobre a segu-rança desse sistema.

Nos termos do projeto, “a urna eletrônica impri-mirá o voto em cédula individualizada, previamenterubricada pelo Presidente da Mesa e mesários, paraconferência do eleitor, que o depositará em urna con-vencional, se não reclamar de qualquer divergênciade dados entre a tela da urna e o voto impresso”. (re-dação proposta para constar da Lei nº 9.504 como o §4º do art. 59.)

Dispõe ainda que, “se ao conferir o seu voto im-presso, o eleitor não concordar com os seus dados,solicitará a anulação do seu voto e repetirá a votação.Caso persista a divergência entre os dados da tela daurna eletrônica e o voto impresso, a urna será subme-tida a um teste por, pelo menos, dois fiscais de parti-dos ou coligações concorrentes, os quais, se verifica-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 146

rem a existência do problema, solicitarão ao Presi-dente da Mesa que comunique imediatamente ao juizeleitoral da respectiva zona para tomar as providênci-as cabíveis à continuação da votação e providenciara abertura do competente inquérito criminal para apu-rar o fato e punir os infratores”.

Os votos impressos de pelo menos três por cen-to das urnas eletrônicas deverão ser recontados me-diante processo manual, estatui o § 6º. As urnas queserão submetidas à essa recontagem serão escolhi-das em quantidades iguais pelos partidos ou coliga-ções participantes do pleito eleitoral. Para cada urnarecontada que for constatada discrepância com o re-sultado da contagem eletrônica outros dez terão osseus votos impressos recontados manualmente, ob-servada a escolha das urnas na forma antes definida.

Para preservar o eleitor da identificação de seuvoto, a redação proposta para o parágrafo único doart. 61 estatui que “a identificação do eleitor não po-derá ser feita em equipamento que tenha qualquertipo de ligação ou comunicação com a urna eletrôni-ca, nem que permita a gravação da ordem de votaçãodos eleitores”.

Designado relator da matéria, o eminente Sena-dor Ramez Tebet proferiu parecer por sua rejeição,por “não acreditar que essa ou aquela regra técnicaque venha a ser adotada tenha o condão de sanar ashistóricas mazelas de nosso processo eleitoral”. Parao eminente colega sul-matogrossense “a participaçãovigilante da cidadania, a amplitude, a transparênciade um processo eleitoral democrático e aberto sãomais eficazes para assegurar a lisura do pleito do quemétodos técnicos complexos, mais ou menos avan-çados, sempre superáveis por manobras igualmentecomplexas”. Além disso, o Senador Ramez Tebet de-clarou-se preocupado com possível retardo do pro-cesso de votação, em razão do uso dos recursos pos-sibilitados por este projeto de lei.

Entretanto, durante o debate da matéria nestaComissão de Constituição, Justiça e Redação, inú-meros colegas, dentre eles o autor da proposição,eminente Senador Roberto Requião, assim como osSenadores Álvaro Dias, Bernardo Cabral, José deAlencar e Antonio Carlos Valadares, dentre outros,manifestaram-se por sua aprovação, por entenderque os avanços na segurança do voto eletrônico, porele possibilitado, são de importância capital para oprocesso democrático, de modo a tornar menores osargumentos desfavoráveis.

Além disso, o ilustre Senador Bello Parga, aoapresentar suas dúvidas quanto à inviolabilidade dovoto secreto sugeriu emenda, acatada pelo eminente

autor da proposição, com o objetivo de espancar dúvi-das com relação à matéria. Após debates, ocorreuconsenso em torno da sugestão do Senador Bello Par-ga, na forma dada pelo próprio Senador Roberto Re-quião, segundo qual o § 4º do art. 59 da Lei nº 9.504,de 1997, passa a viger com a seguinte redação:

EMENDA Nº 1 – CCJ

“Art. 59. ..................................................................................................................................................

§ 4º A urna eletrônica imprimirá o votoem cédula individualizada e não identificá-vel, previamente rubricada pelo Presidenteda Mesa e mesários, para conferência doeleitor, que o depositará em urna convencio-nal, se não reclamar de qualquer divergên-cia de dados entre a tela da urna e o votoimpresso."

Sala da Comissão, 15 de setembro de 1999. –José Agripino, Presidente – Romeu Tuma, Relatordo Vencido – Bello Parga – Jefferson Péres – LúcioAlcântara – José Eduardo Dutra – Francelino Pe-reira (vencido) – Álvaro Dias – Antonio Carlos Vala-dares – Bernardo Cabral – José Alencar – RobertoRequião (autor: abstenção).

TEXTO FINAL(Do Projeto de Lei do Senado nº 194, de 1999)

Na Comissão de ConstituiçãoJustiça e Cidadania que:

Altera a Lei nº 9.504, de 30 de se-tembro de 1997, que “estabelece normaspara as eleições” para ampliar a seguran-ça e a fiscalização do voto eletrônico.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Acrescente-se aos arts. 59 e 61 da Lei nº

9.504, de 30 de setembro de 1997, os seguintes pará-grafos:

Art. 59. ...............................................................................................................§ 4º A urna eletrônica imprimirá o voto

em cédula individualizada e não identificá-vel, previamente rubricada pelo Presidenteda Mesa e mesários, para conferência doeleitor, que o depositará em urna convencio-nal, se não reclamar de qualquer divergên-cia de dados entre a tela da urna e o votoimpresso.

§ 5º Se ao conferir o seu voto impres-so, o eleitor não concordar com os dados,solicitará a anulação do seu voto e repetirá

147 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

a votação. Caso persista a divergência en-tre os dados da tela da urna eletrônica e ovoto impresso, a urna será submetida ateste por, pelo menos, dois fiscais de dife-rentes partidos ou coligações concorrentes,os quais, se verificarem a existência doproblema, solicitarão ao Presidente daMesa que comunique imediatamente aojuiz eleitoral da respectiva zona para tomaras medidas cabíveis à continuação da vo-tação e providenciar a abertura do compe-tente inquérito criminal para apurar o fato epunir os infratores.

§ 6º Os votos impressos de pelo me-nos três por cento das urnas eletrônicas de-verão ser recontados mediante processomanual.

§ 7º As urnas a serem submetidas àrecontagem prevista no parágrafo anteriorserão escolhidas em quantidades iguais pe-los partidos ou coligações participantes dopleito eleitoral.

§ 8º Para cada urna recontada que forconstatada discrepância com o resultado dacontagem eletrônica outras dez terão osseus votos impressos recontados manual-mente, observada a escolha das urnas doparágrafo anterior.

..............................................................Art. 61. .................................................Parágrafo único. A identificação do

eleitor não poderá ser feita em equipamentoque tenha qualquer tipo de ligação ou comu-nicação com a urna eletrônica, nem quepermita a gravação da ordem de votaçãodos eleitores.

Art. 2º Esta lei entra em vigor após sua publi-cação observado, no entanto, o disposto no art. 16,da Constituição Federal, com a redação dada pelaEmenda Constitucional nº 4, de 1993.

Sala das Comissões, 15 de setembro de 1999. –José Agripino, Presidente.

VOTO EM SEPARADO VENCIDO, DOSENADOR RAMEZ TEBET, SOBRE O PLSNº 194 NA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO,JUSTIÇA E CIDADANIA.

Senador: Ramez Tebet

I – Relatório

Trata-se de proposição de autoria do eminenteSenador Roberto Requião, cujo propósito é promover

alterações na Lei Eleitoral – Lei nº 9.504, de 30 de se-tembro de 1997 – especificamente em seus dispositi-vos que dispõem sobre o sistema eletrônico de vota-ção e da totalização de votos.

Observemos, de início o que diz a Lei Eleitoral,em sua redação atual:

“Art. 59. A votação e a totalização dosvotos serão feitos pelo sistema eletrônico,podendo o Tribunal Superior Eleitoral autori-zar em caráter excepcional, a aplicação dasregras dos arts. 83 a 89.

§ 1º A votação eletrônica será feita nonúmero do candidato ou da legenda partidá-ria, devendo o nome do candidato e o nomedo partido ou a legenda partidária aparecerno painel da urna eletrônica, com a expres-são designadora do cargo disputado nomasculino ou feminino conforme o caso.

§ 2º Na votação para as eleições pro-porcionais, serão computadss para a legen-da os votos em que não seja possível aidentificação do candidato, desde que o nú-mero identificador do partido seja digitadode forma correta.

§ 3º A urna eletrônica exibirá para oeleitor, primeiramente, os painéis referentesàs eleições proporcionais e, em seguida, osreferentes às eleições majoritárias.

(...)Art. 61. A urna eletrônica centralizará

cada voto, assegurando-lhe o sigilo e inviola-bilidade, garantida, aos partidos políticos, co-ligações e candidatos, ampla fiscalização".

O Projeto de Lei que ora examinamos mantéma redação desses dispositivos nos termos supra-transcritos, mas acrescenta aos arts. 59 e 61 diver-sos parágrafos, nos termos a seguir:

“Art. 59. ................................................(...)§ 4º A urna eletrônica imprimirá o voto

em cédula individualizada, previamente ru-bricada pelo Presidente da Mesa e mesári-os, para conferência do eleitor, que o depo-sitará em urna convencional, se não recla-mar de qualquer divergência de dados entrea tela da urna e o voto impresso.

§ 5º Se ao conferir o seu voto impressoo eleitor não concordar com os seus dados,solicitará a anulação do seu voto e repetirá avotação. Caso persista a divergência entre osdados da tela da urna eletrônica e o voto im-

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presso, a urna será submetida a um teste por,pelo menos, dois fiscais de diferentes partidosou coligações concorrentes, os quais, se veri-ficarem a existência do problema, solicitarãoao Presidente da Mesa que comunique imedi-atamente ao juiz eleitoral da respectiva zonapara tomar as providências cabíveis à contri-buição da votação e providenciar a aberturado competente inquérito criminal para apuraro fato e punir os infratores.

§ 6º Os votos impressos de pelo me-nos três por cento das urnas eletrônica de-verão ser recontados mediante processomanual.

§ 7º As urnas a serem submetidas àrecontagem prevista no parágrafo anteriorserão escolhidas em quantidades iguais pe-los partidos ou coligações participantes dopleito eleitoral.

§ 8º Para cada urna recontada que forconstatada discrepância com o resultado dacontagem eletrônica outras dez terão osseus votos impressos recontados manual-mente, observado a escolha das urnas doparágrafo anterior.

(...)

Art. 61. .................................................Parágrafo único. A identificação do

eleitor não poderá ser feita em equipamentoque tenha qualquer tipo de ligação ou comu-nicação com a urna eletrônica nem que per-mita a gravação da ordem de votação doseleitores".

O art. 2º da proposição cuida da cláusula de vi-gência, atentando para os dispositivos constitucio-nais – art. 16, CF, na redação dada pela EmendaConstitucional nº 4º, de 1993 – pelo qual a lei quealterar o processo eleitoral não se aplica à eleiçãoque ocorra até um ano da data de sua vigência.

II – Voto

Compartilhamos da preocupação do eminenteSenador Roberto Requião quanto à necessidade deque se promovam alterações na Lei Eleitoral de modoa tornar mais seguros tanto o processo de votaçãoquanto o de apuração, seja na votação dita eletrônica,seja na votação pelo sistema tradicional.

Na espécie, o ilustre colega paranaense propõesejam aditados parágrafos aos arts. 59 e 61 da menci-onada lei, com o propósito de assegurar que a vonta-

de do eleitor seja efetivamente registrada pela urnaeletrônica.

Confessamos, entretanto, não acreditarmos queessa ou aquela regra técnica que venha a ser adotadatenha o condão de sanar as históricas mazelas denosso processo eleitoral.

A participação vigilante da cidadania, a amplitu-de e a transparência de um processo eleitoral demo-crático e aberto são, a nosso juízo, mais eficazes paraassegurar a lisura do pleito do que métodos técnicoscomplexos, mais ou menos avançados, sempre supe-ráveis por manobras técnicas igualmente complexas.Os chamados hackers, que muitas vezes são adoles-centes com grande prática na Internet, têm criadoproblemas para empresas e governos cujos sistemassão tidos como de grande segurança.

Preocupa-nos, na proposta do Senador Re-quião, a possibilidade de que, em face dos recursos eda possibilidade de anulação e repetição da votação,fique o processo mais complexo e demorado, além decaro, em prejuízo do andamento rápido da votação edas contas públicas.

Ademais, não me parece razoável instituir, emlei, a possibilidade de que um eleitor possa, ao alegardiscordância entre o seu voto eletrônico e o que rece-beu impresso, induzir a abertura de inquérito criminalpara apurar o fato e punir eventuais infratores, umavez que não se sabe se esse eleitor dirá a verdade so-bre os seus votos. Assim, abre-se a possibilidade deque partidos políticos e coligações prejudiquem o fun-cionamento de determinada seção eleitoral, dada aceleuma que se criará toda vez que um eleitor alegardiferença entre o seu voto eletrônico e o impresso.

A proposta, ademais, implica aumento de gas-tos, num momento em que toda a sociedade brasilei-ra preocupa-se com o problema do déficit público.Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral tem reivindi-cado, coerentemente, o aumento dos recursos desti-nados àquela Corte, com o fito de ampliar ao máximoa abrangência do voto eletrônico. Adotada a presenteproposta, os custos do sistema aumentariam, tornan-do ainda mais difícil estender o voto eletrônico a todoo eleitorado.

Junte-se a tudo isso a argumentação trazidapela atual direção do Tribunal Superior Eleitoral, napessoa do digno Ministro Néri da Silveira, juntamentecom o corpo técnico da mais alta corte eleitoral doBrasil, no sentido de garantia de segurança do siste-ma, tal como hoje é operado.

Assim, por todo o exposto, e embora ressaltan-do os elevados propósitos que moveram seu eminen-te autor, somos pela rejeição do Projeto de Lei do Se-nado nº 194, de 1999.

Sala das Comissões, – Ramez Tebet.

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Fragmento das Notas Taquigráficas daReunião da Comissão de Constituição, Jus-tiça e Cidadania, realizada no dia 15 de se-tembro de 1999, referente à apreciação doProjeto de Lei do Senado nº 194, de 1999.

Passamos à apreciação do Item 2 da pauta –Projeto de Lei do Senado (terminativo) que altera aLei n.º 9.504, de 30/09/97, que estabelece normaspara as eleições para ampliar a segurança e afiscalização do voto eletrônico, de autoria do SenadorRoberto Requião; Relator: Senador Ramez Tebet,que ofereceu parecer pela rejeição do Projeto. Tendoem vista a ausência do Relator, solicito ao SenadorÁlvaro Dias que funcione como Relator ad hoc, lendoo parecer do eminente Senador Ramez Tebet.

O SR. ÁLVARO DIAS – Sr. Presidente, Srs.Senadores, o Senador Ramez Tebet diz compartilharda preocupação do Senador Roberto Requião quantoà necessidade de que se promovam alterações na LeiEleitoral de modo a tornar mais seguros tanto oprocesso de votação quanto o de apuração, seja navotação dita eletrônica, seja na votação pelo sistematradicional. Afirma o Relator que o Senador peloParaná propõe sejam aditados parágrafos aos arts.59 e 61 da mencionada lei com o propósito deassegurar que a vontade do eleitor seja efetivamenteregistrada pela urna eletrônica. Confessa, entretanto,não acreditar que essa ou aquela regra técnica quevenham a ser adotadas tenham o condão de sanar ashistóricas mazelas do nosso processo eleitoral.Preocupa-se o Senador Relator com a possibilidadede que, em face dos recursos e da possibilidade deanulação e da repetição da votação, fique o processomais complexo e demorado, além de caro, emprejuízo do rápido andamento das votações e dascontas públicas.

Entende o Relator que não parece razoávelinstituir em lei a possibilidade de que um eleitor, aoalegar discordância entre o seu voto eletrônico e oque recebeu impresso, induzir à abertura de inquéritocriminal para apurar os fatos e punir os eventuaisinfratores, uma vez que não se sabe se esse eleitordirá a verdade sobre o seu voto. Assim, abre-se apossibilidade de que Partidos políticos e Coligaçõesprejudiquem o funcionamento da seção eleitoral dadaa celeuma que se criará todas as vezes que um eleitoralegar diferença entre o seu voto eletrônico e o seurecibo impresso.

A proposta, segundo o Relator, implica elevaçãodos gastos no momento em que toda a sociedadebrasileira se preocupa com o problema do déficitpúblico. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral tem

reivindicado, coerentemente, os aumentos dosrecursos destinados àquela Corte com o fito deampliar ao máximo a abrangência do voto eletrônico.Adotada a presente proposta, segundo o Relator, oscustos do sistema aumentariam, tornando ainda maisdifícil estender o voto eletrônico a todo o eleitorado.Junte-se a tudo isso a argumentação trazida pelaatual Direção do Tribunal Superior Eleitoral, napessoa do digno Ministro Néri da Silveira, juntamentecom o corpo técnico da mais alta Corte eleitoral doBrasil, no sentido da garantia de segurança dosistema tal como hoje é operado.

O Relator opta, portanto, pela rejeição doProjeto de Lei do Senado n.º 194, de 1999.

É o parecer do Senador Ramez Tebet.O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – A

matéria está em discussão.Com a palavra o Senador Roberto Requião.O SR. ROBERTO REQUIÃO – Sr. Presidente,

na verdade, o Tribunal Eleitoral tem pressionado oufeito um lobby junto ao Senado para que nãoprospere o projeto de urnas com contrafé. Comoargumento inicial, cito a campanha em que o Sr.Leonel Brizola foi eleito Governado do Estado do Riode Janeiro. Não houvesse a contrafé, jamais teríamosuma forma de detectar aquele famoso diferencialdelta que era feito na computação. O sistemabrasileiro, no mundo, é o único sistema informatizadoque dispensa a contrafé.

Quero aduzir mais um argumentointeressantíssimo: na semana passada, recebi orelatório do meu cartão de crédito Visa, do Banco doBrasil. Uma compra que eu havia feito no BalneárioCamboriú, Santa Catarina, estava lançada duasvezes. Não tivesse eu a contrafé, jamais teria meiosde evitar o pagamento em duplicata.

O processo é extremamente fácil. A extração dacontrafé se remonta a um processo utilizado emqualquer caixa eletrônico. Você vai a um caixaeletrônico, faz uma operação – pede um saldo ou fazuma transferência – e imediatamente o caixaeletrônico libera uma cessão de uma bobina de papelcom a operação impressa.

O meu projeto não é de iniciativa apenas minhapessoal; o meu projeto foi discutido, inclusive, viaInternet, com uma série de técnicos em computação queme trouxeram subsídios extremamente interessantes.Um desses técnicos, que debateu através da Internetesse processo, o engenheiro Amilkar Brunaso Filho,enviou uma carta, dirigida a mim e ao Senador RamezTebet, onde fazia algumas considerações sobre a críticafeita ao projeto pelo Senador Ramez Tebet, a qual mepermito ler neste plenário, por ser

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extraordinariamente interessante. E destaque-se ofato de que o Instituto Tecnológico da Aeronáutica –ITA iniciou uma discussão sobre a segurança do votoeletrônico no Brasil. A carta do Sr. Amilkar Brunaso éa seguinte... E também é objeto do debate feito pelaInternet sobre as urnas eletrônicas.

Antes da carta, uma experiência pessoal. Acre-dito que muitos dos Srs. Senadores têm outras expe-riências pessoais para aduzir. Nós damos crédito àspesquisas de opinião porque elas extrapolam dadosde um dado universo para um universo inteiro. Naapuração da eleição ao Governo do Estado do Para-ná, na Sociedade Talia, tínhamos um grupo de dezoi-to urnas de uma mesma região. Eu perdi a eleição emdezesseis urnas, mas, em duas delas, a urna eletrôni-ca não funcionou e o processo foi feito manualmente.E nós tivemos aí um acidente, uma diferença rigoro-samente impossível: eu ganhei nas duas urnas manu-ais a eleição com uma margem enorme, inverten-do-se completamente a tendência estabelecida pelasurnas eletrônicas. Isso colocou, para mim, o sistema,de forma absoluta, em suspeita. Nem recorri ao Judi-ciário porque não teríamos nenhuma condição deapurar o voto sem a contrafé, sem a contraprova. Issose tornaria um processo absolutamente ocioso.

Mas passemos à interessantíssima carta do Sr.Amilkar Brunaso, encaminhada a mim e ao Sr. Rela-tor, Senador Ramez Tebet. Diz ele:

Tive acesso a uma cópia do vosso pa-recer, como Relator, relativo ao Projeto deLei de autoria do Senador Roberto Requiãopara quem estou enviando uma via dessamensagem. A cópia a que tive acesso estátranscrita abaixo – é exatamente a cópia doparecer do Senador Ramez Tebet, que es-tava na Internet.

Permita-me, caro Senador, manifestara minha opinião pessoal a respeito dos ar-gumentos por vós apresentados, manifesta-ção essa que faço com o único intuito decontribuir e enriquecer o vosso parecer.

1) Alvo das alterações propostas. Logona introdução do vosso parecer é dito: “Tra-ta-se de proposição de autoria do eminenteSenador Roberto Requião cujo propósito é ode promover alterações na Lei Eleitoral, es-pecificamente em seus dispositivos que dis-põem sobre o sistema eletrônico de votaçãoe da totalização dos votos. Apenas para dei-xar bem claro e sem ambigüidade, vale res-saltar que as alterações propostas pelo Se-nador Roberto Requião abrangem apenas e

tão-somente o subsistema de votação eapuração, e não o sistema de totalizaçãodos votos.

Penso que o parecer do Senador Ramez Te-bet se equivoca na avaliação inicial do processo.Não estou me preocupando com o sistema de apu-ração, mas com o sistema de votação. Enfim, atin-gem apenas a urna eletrônica, e não a rede de com-putadores utilizada na totalização. Portanto, o argu-mento dos gastos excessivos e da mudança do sis-tema já falece a partir dessa observação.

Essa diferença deve ser claramente co-locada, pois o senhor não enfocou o proble-ma corretamente, ao escrever: “Confessa-mos, entretanto, que não acreditamos queessa ou aquela regra técnica que venha aser adotada tenha o condão de sanar as his-tóricas mazelas do nosso processo eleitoral.

A participação vigilante da cidadania, aamplitude e a transparência de um processoeleitoral democrático e aberto são, a nossojuízo, mais eficazes para assegurar a lisurado pleito do que métodos técnicos comple-xos, mais ou menos avançados, sempre su-peráveis por manobras técnicas igualmentecomplexas. Os chamados hackers, que mu-itas vezes são adolescentes com grandeprática na Internet, têm criado problemaspara empresas e governos cujos sistemassão tidos de grande segurança.

É a observação do parecer do Senador RamezTebet, assessorado pelos técnicos do Tribunal Su-perior Eleitoral, como S. Exª deixou claro em seuparecer, lido pelo Senador Álvaro Dias.

Vem aqui a observação do Sr. Brunaso:

Sem dúvida, a participação da cidada-nia é muito importante, mas deve ficar claroque as urnas eletrônicas não são vulneráve-is aos hackers.

Outra vez a crítica feita ao meu projeto não temnada que ver com o projeto, porque as urnas estãoabsolutamente desconectadas de um sistema infor-mação e são de impossível acesso externo por telefo-ne, rádio ou fibra ótica, ou qualquer outro processoque se possa utilizar para acessar um servidor.

As urnas eletrônicas não são vulnerá-veis aos hackers, pois são equipamentosindependentes, não conectados a nenhumarede e não passíveis de ser invadidos porhackers.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 152

A parte que poderia ser vulnerável aos hackersseria a rede de totalização.

Dessa rede nós não tratamos no projeto, e ela ébastante segura com relação aos objetivos, ao tornarobrigatório o sistema de entrega dos boletins de urnasaos Partidos.A rede trabalha com os boletins de urnas,que são a garantia de que a rede, invadida ou não,pode ser posteriormente auditada. Estou tratando daauditoria e da comprovação do voto na urna singular.Dessa forma, os Partidos Políticos podem auditar a to-talização e descobrir eventuais falhas ou fraudes,como ocorreu no caso da Proconsult. A Proconsult sópode ser desmascarada porque os boletins de totaliza-ção existiam. Não existissem os boletins e o Brizola ja-mais teria sido o Governador eleito pelo povo do Rio,onde nós teríamos tido outro Governador eleito pelopessoal que operava os computadores.

Vamos à frente:

A urna eletrônica é vulnerável a ataquede um agente estatisticamente muito maisdanoso e sub-reptício do que os tais hac-kers, a saber: o agente interno desonesto, eestes infelizmente não são tão famosos,mas qualquer estatística séria sobre golpeseletrônicos mostra que esses é que são osresponsáveis pelas grandes fraudes eletrô-nicas em todo o mundo.

Não é o Ministro Néri da Silveira, não são os juí-zes do Tribunal eleitoral, mas a vulnerabilidade dasurnas a um funcionário corrupto, a um funcionário de-sonesto. E a Lei nº 9.504 é muito fraca a respeito dosistema eletrônico de apuração e não impõe nenhummecanismo que permita a auditoria do sistema.

Sim, a participação da cidadania é fun-damental, mas os cidadãos precisam de leisque garantam o direito a exercê-la. A Lei nº9.504 atual impõe a auditagem da totaliza-ção, impõe a auditagem da apuração dosvotos tradicionais, mas nada diz sobre a au-ditagem da apuração eletrônica. Sem havermeios legais para auditar a apuração eletrô-nica, não há como os eleitores ou os parti-dos políticos detectarem nenhuma falha oufraude no sistema eletrônico de apuração,nem o direito a reclamar em juízo é dado,pois, pela lei atual, o resultado da apuraçãovejam bem não a totalização de cada urnaescrito no boletim de urna está legalmenteaprovado pelos Partidos Políticos no mo-mento da lacração da urna, o que é rigoro-samente um absurdo.

Sei que isso parece uma brincadeira –prossegue o Sr. Amilkar Brunaso –, mas éassim que hoje ocorre. A Lei não prevê ne-nhum motivo que permita impugnação ourecontagem da apuração em urna eletrônicanem mesmo casos sintomáticos clássicoscomo o desvio da média local – foi o dadoque passe a V. Exªs sobre a urna da Socie-dade Talia, em Curitiba – é motivo para umpedido de recontagem; é motivo legal paraimpugnação em urnas tradicionais – essemotivo é legal –, não existe para as urnaseletrônicas. E não temos nenhuma condiçãode reavaliação.

Por isso, a Lei nº 9.504 precisa sercorrigida no que diz respeito à votação eapuração eletrônica. Já quanto á totaliza-ção, a lei é suficiente.

É preciso que fique bem claro que não estoupreocupado com a totalização; estou preocupadocom a conferência do voto através de uma contrafé.E destaque-se que o sistema da contrafé na eleiçãoanterior a essa última já existia. Foi sem nenhummotivo suprimido pela Justiça Eleitoral.

Vamos lá:

Direitos distintos. Gostaria de ressaltarque o projeto visa atender a dois direitosfundamentais e constitucionais do eleitor,mas direitos diferentes entre si, a saber: odireito à inviolabilidade do voto ou o direitoao voto secreto; segundo, o direito à justaapuração do voto. Para atender a essesdois direitos foram sugeridas modificaçõesem dois artigos da lei como o Sr. Relatorressaltou. Primeiro, o direito à inviolabilida-de do voto é atendido pelo parágrafo acres-cido ao art. 61, que impede a identificaçãodo eleitor e a coleta seja feita pelo mesmoequipamento.

O sistema como está é uma gracinha. A digita-ção vai sendo feita pela ordem de chegada dos eleito-res, e essa ordem de chegada é a ordem das assina-turas, ou seja, ela pode ser controlada. E o computa-dor estabelece também em sua memória uma ordem,Então, você pode saber exatamente pela ordem devotação no computador, comparada à ordem de che-gada dos eleitores, quem votou em quem. E nós esta-mos propondo, através desse acréscimo ao art. 61,uma forma de que não se possa consistir o terminalde presença com o terminal de votação, e de uma for-ma extraordinariamente singela.

153 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Segundo, o direito à justa apuração éatendido pelas modificações do art. 59, quecriam um meio de se auditar a apuraçãocomo defesa contra um software de apura-ção viciado.

Nos argumentos pela rejeição do pro-jeto, o Senador Ramez Tebet apenas se re-fere às modificações no art. 59. Ele diz o se-guinte: “Na espécie, o ilustre colega parana-ense propõe sejam aditados parágrafos aoart. 59 e 61 da mencionada lei com o propó-sito de assegurar que a vontade do eleitorseja efetivamente registrada pela urna ele-trônica”. Esta sua afirmação não é precisa.A alteração ao art. 61 não se destina a quea vontade do eleitor seja respeitada, e simassegurar a inviolabilidade do seu voto, oque é uma coisa muito diferente.

Para justificar o voto, o Relator alega o seguin-te: “Preocupa-nos na proposta do Senador RobertoRequião a possibilidade de que em face dos recur-sos e da possibilidade de anulação e repetição davotação, fique o processo mais complexo e demora-do, além de caro, em prejuízo do andamento rápidoda votação e das contas públicas. Não procede oargumento! Não estamos pedindo a repetição de vo-tação; não estamos viabilizando um pedido de repe-tição de votação; nós apenas estamos viabilizando,com a emissão da contrafé, a possibilidade da re-contagem, jamais a repetição de votação, que nãoteria sentido algum. Portanto, equivoca-se, aí tam-bém, o parecer.

A possibilidade de anulação e repeti-ção de votação se referem a alterações in-troduzidas no art. 59 – impressão e confe-rência de votos.

Imprecisa a análise do Relator, que continua:“Ademais não me parece razoável instituir em lei apossibilidade de que um eleitor possa, ao alegar dis-cordância entre o seu voto eletrônico e o que recebeuimpresso, induzir à abertura de inquérito criminal paraapurar os fatos e punir eventuais infratores, uma vezque não se saberá se esse eleitor dirá a verdade so-bre seu voto”. Isso não tem sentido nenhum! Se elevotou e se a contrafé que ele introduziu na urna poste-riormente mostrou o voto dele, ele não tem mais re-clamação alguma a fazer, a não ser uma provávelconferência quanto à totalização. Diz o Relator:“Assim, abre-se a possibilidade de que Partidos Políti-cos e Coligações prejudiquem o funcionamento dedeterminada seção eleitoral dada a celeuma que se

criará todas as vezes que um eleitor alegar diferençaentre seu voto eletrônico e o impresso”. Novamente, oargumento se refere às modificações propostas aoart. 59 – impressão do voto.

Eu gostaria de ressaltar que em todos os paísesem que se adotou a mecanização do voto, o voto im-presso é mostrado ao eleitor, que não precisa aceitar ovoto impresso com o qual não concorde. Se ele teclouum voto e o voto impresso é outro, é evidente que eletem o direito de dizer que não votou daquela maneira,e negar-se essa possibilidade ao eleitor e se garantirpor lei a fraude do sistema eleitoral. Isso é universal, eas eleições, apesar da opinião do TSE, são possíveisno mundo inteiro; isso não inviabiliza eleição em paísalgum. O único país em que se verifica essa brincadei-ra de eleição sem contrafé é o nosso.

Diz o Relator, ainda, influenciado pelo TSE, que“a proposta, ademais, implica aumento de gastos, nomomento em que toda a sociedade brasileira se preo-cupa com o déficit público”. Ora, isso é uma piada!Nós não vamos agora admitir as fraudes nas eleições;não vamos criar um sistema deficiente sobre o pretex-to de que a democracia custa um pouco mais caro.Esse argumento é terrível, que jamais poderia ter ori-gem no TSE.

Essa explicação também se refere às modifica-ções do art. 59, pois a alteração proposta ao art. 61 –eliminação da identificação eletrônica ou lista de vota-ção conectada á urna – diminui o custo da urna, nãoaumenta, como reconhece o Sr. Paulo César Cama-rão, digníssimo Secretário de Informática do TSE emseu livro O Voto Informatizado, pág. 81, item 01, co-mentando sobre a colocação da identificação do elei-tor dentro da própria urna, sem o terminal separadoque permite a consistência. Então, vemos que o prin-cipal técnico do TSE não concorda com a opinião dopróprio TSE trazida ao Relator da matéria.

“A instalação da lista de votação no equipamen-to” – diz o Relator – ”acarreta o acréscimo do custo dasolução adotada além de não permitir que seja dis-pensada a emissão da lista de votação”. Crítica: as-sim, caro Senador Ramez Tebet, V.Exª propõe a rejei-ção da alteração ao art. 61, que visa garantir a inviola-bilidade do voto, sem ter apresentado nenhum argu-mento contra e ter apresentado um argumento a fa-vor, que é exatamente a diminuição do custo.

Terceiro, o custo do voto impresso. Quanto àquestão do custo introduzido pelas modificações noart. 59, que impõe que o voto seja impresso e mostra-do ao eleitor – isso é fundamental: como é que o indi-víduo pode votar sem ter a contrafé do seu voto – sali-entamos que as urnas eletrônicas já possuem o equi-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 154

pamento principal que é a impressora, pois elas impri-mem o relatório final. Então, não há custo adicional al-gum. A impressora, que imprime o relatório final, queé o boletim de urna, é aquela que imprimirá uma con-trafé para cada voto. Não há custo adicional. As urnasde1996 imprimiam o voto, deixando de fazê-lo em1998, mas a impressora continuou existindo, e o cus-to dessas antigas urnas não diminuiu, nem as novasurnas de 1998 deixaram de ter impressoras. De formaque a modificação proposta, ainda que aumentasse ocusto, não deveria aumentar o custo para muito alémdo que é hoje. Certamente, se aceitarmos essa tese,cerca de 5% a mais no custo final.

Quanto ao argumento sobre o aumento do défi-cit público, é uma brincadeira.É bom ressaltar que an-tes da urna eletrônica, o Brasil não precisava recorrera empréstimos externos para fazer eleições. Com aimplantação da urna eletrônica, foi tomado financia-mento externo porque o Presidente do TSE à época,eminente Ministro Carlos Veloso, entendia – e enten-dia bem – que informatizar a votação – e a apuração,a totalização já eram informatizadas naquela época –seria a melhor forma de diminuir as fraudes eleitorais,e valia o custo imposto. O Tribunal, quando tomou ainiciativa da informatização já sabia que tinha um cus-to, recorreu a empréstimo externo, que foi aprovadopelo Congresso Nacional, e o TSE sabia que valia àpena o investimento. Parece-me incoerente alegarnão querer implementar uma defesa contra a maiordas fraudes, o desvio sistemático de votos por soft-ware viciado para não aumentar apenas um pouco ocusto do sistema.

Cumulação de poderes. Finalmente –e lembro que essa carta é dirigida ao Sena-dor Ramez Tebet –, peço apenas um poucomais de paciência para ouvir essa última crí-tica ao seu parecer. V. Exª disse: “junte-se atudo isso a argumentação trazida pela atualDireção do Tribunal Superior Eleitoral napessoa do Ministro Néri da Silveira...”

Estranho até que quando anunciei em plenárioque ia entrar com esse projeto o Tribunal não tivesseme procurado. Eu não fui procurado por ninguém doTribunal e a mim nenhum argumento foi trazido.

“...juntamente com o corpo técnico, nosentido de garantir a segurança do sistematal como é operado hoje.”

Uma garantia do Presidente do Tribunal. Ora, oPresidente do Tribunal não é técnico em eletrônica.Eu tenho garantia de que pode assegurar a imparcia-lidade dos julgamentos – e sou testemunha disso. To-

das as injustiças que forma cometidas contra mim noEstado do Paraná foram, sistematicamente, corrigi-das pelo Tribunal Superior Eleitoral. Agora, não reco-nheço aos Ministros do TSE condições de fazer afir-mações sobre a validade técnica de um sistema doqual eles seguramente não entendem.

No Brasil, o TSE tem um poder inco-mum durante as eleições. O TSE legisla –isso é uma falha do Congresso – 90% da re-gulamentação sobre voto eletrônico.

Então, há que se salientar que 90% dessas re-gulamentação foi feita por regulamentações escritase aprovadas pelos Juízes do TSE, já que a Lei nº9.504 é bastante incompleta a esse respeito. Portan-to, nós estamos nas mãos não dos Juízes, mas dostécnicos de informática dos tribunais, que podem ounão ser sérios.

O TSE executa, primeiro, o projeto, de-senvolvimento, financiamento e implantaçãodo voto eletrônico. Tudo isso é feito pelasequipes montadas e administradas pelosJuízes. O TSE julga. Qualquer ação contravotação eletrônica, em última instância, aca-ba sendo julgada por um Juiz do TSE.

Se eles partem do pressuposto de que não exis-te nenhum defeito no sistema, nós já temos a garantiade que não aceitarão nenhuma interpelação de umasistema que eles garantem à Comissão de Constitui-ção. Justiça e Cidadania do Senado da República serperfeito. E não é perfeito.

Em resumo, sobre eleições onde o Po-der Legislativo se omite, o TSE acumula ostrês Poderes: o Legislativo, o Executivo e oJudiciário.

Isso vale para qualquer lei, porque sabemosque, quando o Legislativo se omite, o Judiciário acabasuprindo a falha. É assim e é bom que seja assim; se-não teríamos leis inviabilizadas.

Certamente, perguntar a quem escreveu a regu-lamentação e desenvolveu e implantou o voto eletrô-nico se o sistema é seguro não poderia resultar emnada que não na aprovação dos seus próprios atos.

Então, penso que, se o Senador Ramez Tebetqueria contraditar o meu voto, deveria ter procuradotécnicos em sigilo de computadores e não as pessoasque propuseram o sistema, dominam, controlam e jul-gam os processos originados e as dúvidas surgidasde sua operação.

Como Presidente da CPI dos Tribunais,o senhor bem sabe – e essa carta é dirigida

155 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

ao Senador Ramez Tebet – que o Poder Ju-diciário não aceita fiscalização externa comfacilidade. Ao perguntar ao TSE se o votoeletrônico era seguro ou se precisava decontrole externo como a auditoria impostapelas modificações do art. 59, o TSE res-pondeu que o voto era seguro e que não eranecessário os Partidos auditarem a apura-ção – dispensou os Partidos Políticos. Cabedecidir então se essa opinião é realmenteisenta.

Há três anos como moderador do de-bate do voto eletrônico na Internet, venhoapontando falhas no projeto de segurançado voto eletrônico baseado em argumentosestritamente técnicos. Muitas e muitas ve-zes consultei o TSE por escrito ou pelaInternet para obter explicações que eventu-almente mostrassem estar os meus argu-mentos errados. Vários funcionários do TSEparticiparam do nosso fórum, mas até hojenunca o TSE apresentou um único argu-mento técnico que invalidasse diretamenteas críticas e as colocações que colocavamem dúvida o sistema. Os argumentos vindosdo TSE que ouço são sempre vagos e semfundamentação técnica e aberta. A argu-mentação trazida pela atual Direção do TSEno sentido da garantia do sistema tal comohoje é operado não tem suporte técnico,não tem consistência alguma.

A boa técnica de segurança dos siste-mas informatizados diz: “sistema informati-zado, cuja segurança dependa da confiançado projetista operador, deve ser considera-do intrinsecamente inseguro. Não são anjos;não são duendes os funcionários que ope-ram o sistema, e, muitas vezes, não são se-quer funcionários do TSE; são funcionáriosde empresas contratadas para operar o pro-cesso de votação no Brasil.

Então, são intrinsecamente inseguros os proje-tos.

Com essas considerações, que acrescento àsconsiderações que eu pessoalmente fiz, como os er-ros do cartão Visa, os exemplos dos saldos bancáriose a facilidade absoluta que nós temos em fazer comque a impressora imprima cada voto e que esse votoseja observado pelo eleitor e colocado, automatica-mente ou não, em uma urna para permitir a consistên-cia e a futura aprovação, peço aos Srs. Senadores,em nome da segurança do voto, da evolução da de-

mocracia e conforme o exemplo aprendido em outrospaíses, que se introduza a contrafé que, aliás, já exis-tia nas eleições anteriores às últimas.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Para dis-cutir, tem a palavra o Senador Jefferson Péres.

O SR. JEFFERSON PÉRES – Sr. Presidente,um esclarecimento ao Senador Roberto Requião.

A contrafé seria expedida no ato da votação?O SR. ROBERTO REQUIÃO – Sim.O SR. JEFFERSON PÉRES – E seria colocado

em uma urna?O SR. ROBERTO REQUIÃO – Sim.O SR. JEFFERSON PÉRES – E vai registrar em

quem o eleitor votou?O SR. ROBERTO REQUIÃO – A contrafé não

identifica o eleitor; ela permite ao eleitor verificar oseu voto.

O SR. JEFFERSON PÉRES – Se o seu voto foiregistrado. Mas aquilo será colocado em uma urna?

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Sim. Daí tere-mos a apuração eletrônica. Se houver alguma dúvidasobre a apuração eletrônica, no boletim, nós podere-mos ter aquela urna recontada porque a contrafé cor-responde a exatamente o voto de cada eleitor. E es-sas dúvidas surgem da mesma forma que o voto ma-nual. É quando há uma disparidade, uma alteração nacurva devotação. Se, por exemplo, nós temos, emuma cidade, na maioria das urnas, uma determinadaproporção para Partidos ou candidatos e de repenteisso, em determinadas seções se inverte, nós temoso direito e o Tribunal tem aberto a possibilidade da re-contagem. É o caso que nós temos assistido do ValdirPires na Bahia.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Para dis-cutir, com a palavra o Senador José Alencar.

O SR. JOSÉ ALENCAR – Sr. Presidente, Srs.Senadores, penso que a matéria é de grande impor-tância. A meu juízo, hoje, a tecnologia permite que aComissão conhecesse o processo. Então, eu gostariade propor, se isso for possível, e tenho pouca familiari-dade com o Regimento e sou apenas suplente aqui naComissão de Constituição e Justiça, mas se for possí-vel eu gostaria de propor que o autor do projeto, emi-nente Senador Roberto Requião, exibisse para nósatravés de uma companhia de informática essa moda-lidade de urna que oferece esse voto ao eleitor e a for-ma com que se repetiria o voto. Ele daria o voto eletrô-nico e mais essa contrafé depositada em uma urna.Obviamente, essa urna seria apenas para efeito...

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Mas, Senador,essa urna já existia na eleição anterior. Foi nessa elei-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 156

ção que o TSE suprimiu. Esse era o sistema de vota-ção eletrônica feito no Brasil.

O SR. JOSÉ ALENCAR –Mais fácil ainda.Se...O SR. ROBERTO REQUIÃO – Nós votamos

nela; provavelmente V. Exª votou nessa urna na elei-ção anterior, eu votei, bem como todos os demais Se-nadores.

O SR. JOSÉ ALENCAR – Meu município eleito-ral é a cidade de Ubá, no interior. Naquela época nãohavia a urna eletrônica. Agora, não sei se todos osmembros da Comissão conhecem o processo que éproposto pelo Senador Roberto Requião. É claro queoferece uma segurança – isso é absolutamente indu-bitável. Ela oferece uma segurança para uma verifica-ção; agora, a viabilidade técnica e econômica que po-deria ser examinada pela Comissão, tendo em vistauma exposição aqui de um equipamento dessa natu-reza.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Para dis-cutir tem a palavra o Senador Romeu Tuma.

O SR. ROMEU TUMA – Sr. Presidente, Srs. Se-nadores, nós e o próprio Senador Roberto Requiãofez questão de demonstrar a dignidade e a isençãocom que o Ministro Néri da Silveira tem conduzido oTribunal Superior Eleitoral e também o aprimoramen-to do processo que vem, ao longo desses anos, sen-do uma das lutas do Tribunal Superior Eleitoral de in-formatizar todas as seções eleitorais do País.

Então, recebi um documento do Prof. Del Pic-chia, que foi Diretor de uma das Escolas da Politécni-ca, que é, em tese, uma das melhores escolas de en-genharia em segmentos de eletro-eletrônica do Bra-sil, no sentido da carta que V. Exª recebeu sobre apossibilidade – e mão se fala aqui em suspeita gene-ralizada ou que possa influenciar o trabalho do TSEou dos TREs, mas da segurança que se queira impor,com mais qualidade no atendimento da vontade po-pular.

Então, o Prof. Del Picchia fez vários argumentosno sentido das argumentações da carta que V. Exªleu. E o objetivo não é trazer sob suspeita o trabalhodo Tribunal, em hipótese alguma, nem nós aceitaría-mos aqui que houvesse, até por conhecer o Prof. Nérida Silveira, hoje Ministro, há longos anos, e a sua con-duta moral nunca até na Justiça Comum deixariaqualquer dúvida sobre o seu comportamento e sobrea sua direção.

Contudo, aí, eu gostaria de trazer algumas pon-derações que fez a Politécnica no sentido do projetode V. Exª cujo resultado do trabalho tive a honra de re-ceber, é trazer uma maior segurança no resultado ele-itoral e que ele de fato espelhe a vontade popular. Não

traz nenhuma dúvida sobre o processo, porque aindatem o Tribunal que caminhar, porque nem todas asJuntas dispõe da urna eletrônica. Como diz o nossoSenador José Alencar, muita gente ainda vota no sis-tema antigo e não tem a contrafé nem no modelo anti-go de votação eletrônica, suspenso, segundo o Sena-dor Roberto Requião.

Depois poderia trazer essa manifestação doProf. Del Picchia e nós estudarmos em profundidadea matéria. Mas penso que o objetivo do Senador Ro-berto Requião é trazer mais segurança ao resultadodas urnas.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Senador RomeuTuma, as urnas de 1996 sistematicamente imprimiamo voto. Então, não há nenhuma dificuldade operacio-nal.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Para dis-cutir, o Senador Bello Parga.

O SR. BELLO PARGA – Sr. Presidente, Srs. Se-nadores, a iniciativa do Senador Roberto Requião,efetivamente, trata de um assunto que é a parte vul-nerável, no meu entender, da votação eletrônica, ouseja, não há mais aquela segurança que o eleitor ti-nha anteriormente, quando votava na cédula que elemesmo colocava na urna. Mas pela maneira comoestá sendo proposta essa nova sistemática pelo Se-nador Roberto Requião, ela vem vulnerar, ferir a invio-labilidade do voto ou o voto secreto.

Estipula o §4º que “a urna eletrônica imprimirá ovoto em cédula individualizada”. Como a cédula é in-dividualizada, ela irá portanto identificar o eleitor.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – V. Exª me permi-te um aparte?

A cédula é individualizada no sentido de quenão é um boletim de votação seqüencial; ela não serefere ao autor do voto de forma alguma. É uma cédu-la para cada voto; ela não se refere ao eleitor, eviden-temente.

O SR. BELLO PARGA – Se ela é individualiza-da...

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Ela é individuali-zada porque não é uma relatório que seria seqüenci-al. A cédula é avulsa. Poderíamos até trocar até a ex-pressão “individualizada” por “avulsa”, porque ela, ca-indo na urna, ela fica fora de seqüência. Se fosse umrelatório, como nós temos a ordem de entrada na ca-bine de votação, poder-se-ia identificar os votos.

O SR. BELLO PARGA – Entendi isso muitobem, Senador. Ocorre que, como está posto aqui, acédula individualizada vai identificar o eleitor. O eleitorvai conferir se o voto dele foi registrado exatamentecomo ele o fez eletronicamente.

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O SR. ROBERTO REQUIÃO – Mas não é identi-ficada; é individualizada.

O SR. BELLO PARGA – Individualizar é identifi-car.

O SR. ROBERTO REQUIÃO –A cédula é indivi-dualizada, não o eleitor.

O SR. BELLO PARGA – Senador Roberto Re-quião, estou aqui procurando expender a minha opi-nião, por mais errônea que ela seja, acho que tenho odireito de fazê-lo. Então, se temos uma cédula indivi-dualizada em que está lançado que, por exemplo, Bel-lo Parga votou em Jefferson Péres. Eu confiro, estácerto, mas não vou ficar com essa contrafé. Ela serádepositada em uma outra urna convencional para futu-ra referência. Ora, se ela é individualiza de forma aconstituir uma contrafé, ficou registrado no sistemaque A votou em B. Isso fere, no meu entender, SenadorRequião, o princípio da inviolabilidade do voto. A meuver, deve-se procurar uma outra maneira para assegu-rar o eleitor de que efetivamente o voto que ele deuserá conferido. Mas, com uma cédula individualizada,vai ficar registrado em quem ele votou.

Seriam esses os meus argumentos.O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Tem a

palavra o Senador Álvaro Dias.O SR. ÁLVARO DIAS – Sr. Presidente, penso

que toda iniciativa que tenha por objetivo assegurar orespeito à vontade popular deve merecer a nossaconsideração. É evidente que há um custo; mas semdúvida vale o custo quando se trata de assegurar res-peito à vontade popular.

O próprio Senador Roberto Requião já afirmouque não houve nenhum manifestação oficial de inte-resse de parte do TSE no que diz respeito à rejeiçãodessa proposta. E próprio fui procurado apenas nosentido de uma manifestação pessoal de um membrodo TRE do Paraná e pedi que aquela Corte nos subsi-diasse a respeito. Como nenhum subsídio foi encami-nhado a nenhum membro desta Comissão, a impres-são que fica é que a proposta é indiscutivelmente cor-reta e objetiva evitar fraudes tantas vezes denuncia-das no processo eleitoral brasileiro.

Dessa forma, quero antecipar o meu voto favo-rável à proposta do Senador Roberto Requião.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA – Sr. Presidente,pela ordem.

V. Exª pretende estender os trabalhos até quehoras?

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Nós es-tamos encerrando a discussão dessa matéria e va-mos colocar em votação em seguida. Essa é a últimamatéria.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA – Fiz essa indaga-ção a V. Exª porque gostaria de contar com a compre-ensão dos nobres Senadores e da Presidência, queevidentemente depende da anuência do Plenário,para que colocássemos em votação, extrapauta, umrequerimento que não suscita nenhuma polêmica epode perder a oportunidade. Trata-se de um requeri-mento do Senador Geraldo Melo no sentido de que sefaça um voto de congratulações pelo transcurso dos60 anos do Diário de Natal , que se dará agora no dia18 de setembro. Assim, se nós não aprovarmos hoje,vai perder a oportunidade.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Se V.Exªs concordarem com a votação do requerimentoextrapauta, a matéria será incluída na Ordem do Dia.

Até mesmo, se todos estiverem de acordo, po-demos incluí-la agora e de já apreciá-la.

Os Srs, Senadores que a aprovam queiram per-manecer sentados. (Pausa.)

Aprovado o requerimento do Senador GeraldoMelo que apresenta votos de congratulações ao Diá-rio de Natal pelo transcurso de seus 60 anos.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA – Sr. Presidente,apenas desejo registrar que, das figuras que vi aqui, éum nome que merece todo o nosso apreço, um dosfundadores, Djalma Maranhão, ex-prefeito de Natal,foi cassado e foi um homem que fez um administraçãopopular e inclusive profundamente preocupado com aquestão da educação. Faço esse registro até porqueV. Exª teve também no seu currículo a honra de tersido prefeito de Natal.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – E tive emDjalma Maranhão um dos meus modelos de adminis-trador, repetindo isso ao longo dos quatro anos emque fui prefeito. Foi um homem de bem, decente e quedeixou um legado administrativo apreciado pela cida-de de Natal.

Agradeço a oportunidade do que V. Exª colocaesse voto e a compreensão dos membros da Comis-são que aprova liminarmente o voto de congratula-ções.

Devolvo a palavra ao Senador Antonio CarlosValadares para discutir o projeto de autoria do Sena-dor Roberto Requião.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES – Sr.Presidente, quero manifestar o meu apoio à propostado Senador Roberto Requião porque ela viabiliza,sem dúvida alguma, a segurança do voto do cidadão.A resposta ele terá de imediato, no instante em queele usa a urna eletrônica, de imediato, a impressoramostra o voto que ele deu em seu candidato e colocaa confirmação desse voto, a que o Senador chama

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 158

contrafé, na urna complementar que já está ali porocasião em que ele votou secretamente. De sorte quenão há, neste caso, nenhuma forma de inviabilidadedo voto do eleitor; pelo contrário, a proposta mantémessa condição, esse direito do cidadão, garantindo, nocaso de uma possível recontagem, a manifestação doPoder Judiciário, por meio da Justiça Eleitoral, fazendoos cálculos devidos, não em função de uma urna ele-trônica que não deixa nenhum vestígio. Pelo contrário,mantém uma fraude limpa e irretocável, impossível deser descoberta. Mas, se existe a contraprova em umaurna suplementar, pois o eleitor não votou duas vezes;ele apenas votou uma vez na urna eletrônica, e estaurna proporciona a transparência do seu voto, que édepositado em uma urna suplementar; o mesmo votoproduzido na votação eletrônica.

Já tive oportunidade, Sr.Presidente, de requererao TSE uma recontagem de votos, e essa reconta-gem de votos deu ao nosso Partido o legítimo direitode obter uma cadeira de Deputado Estadual naAssembléia de Sergipe, só foi possível porque a vota-ção havia sido no interior e naquela cidade onde sepraticou a fraude não existia a urna eletrônica. Toda-via, se existisse a urna eletrônica no Estado de Sergi-pe em uma cidade do interior, com o sistema que hojeé utilizado, a cadeira de Deputado Estadual não teriasido conquistada pelo nosso Partido e a fraude nãoteria sido descoberta.

De sorte que para suprir a votação tradicional,só há essa maneira, essa saída, ou seja, aquela idea-lizada de forma inteligente, competente pelo SenadorRoberto Requião, que visa sobretudo garantir o votodo eleitor, não permitindo a fraude eletrônica, que écomplexa e difícil de ser descoberta, e dar ao Tribunalum instrumento capaz de, na hipótese de uma recon-tagem de votos, prevista em lei se na totalização hou-ver média destoante. Ora, Sr. Presidente, se algumcandidato quiser requer a recontagem de votos peloprocesso eletrônico da forma como hoje é feita a vota-ção é impossível. Mas com essa saída inteligente eobjetiva, proposta pelo Senador Roberto Requião, aísim, toda e qualquer fraude por mais “limpa” que seja,por mais “competente” poderá ser desvendada peloPoder Judiciário e amparar os candidatos que formaludibriados durante a eleição.

Por essas razões, meu voto é favorável.O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Com a

palavra o Senador Bernardo Cabral para discutir.O SR. BERNARDO CABRAL – Sr. Presidente,

venho acompanhando com atenção a discussão. E,ao fazê-lo, Sr. Presidente, que um ponto foi tocadoque me parece digno de análise. Se declara que estaproposta do Senador Roberto Requião implica au-

mento de gastos no momento em que toda a socieda-de brasileira se preocupa com o problema do déficitpúblico. Este é o argumento que está aí posto. Ocor-re, Sr. Presidente, que isso pode ser valor, mas de-mocracia eleitoral não tem preço, Sr. Presidente. Nãohá como, em uma hora em que se pretende evitar quese cometam desonestidades – e tenho a impressãode que todos nós aqui fomos vítimas delas; eu mes-mo fui vítima de ter votos surrupiados por concorren-tes – e acho que o Senador Roberto Requião faz umasugestão, sobretudo para essa recontagem obrigató-ria, que é oportuna. Volto a dizer que nesta hora au-mento de gastos não tem nada que ver; o que nósqueremos é que o eleitor tenha o seu voto preserva-do, respeitado a fim de que, em um caso de reconta-gem de votos, quando haja suspeita de fraude, nãopossa isso ser afastado.

Quero dizer ao Senador Roberto Requião que omeu voto é “SIM”.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Tem apalavra para discutir o Senador José Eduardo Dutra.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA – Sr. Presiden-te, concordo com a preocupação do Senador RobertoRequião, mas a forma como está a proposta – e nãose trata da mesma preocupação do Senador BelloParga – existe um tipo de voto muito utilizado em al-guns locais, que é o chamado voto corrente, que foiinviabilizado com a votação eletrônica, é aquele votoem que o eleitor coloca na urna qualquer pedaço depapel, sai com a cédula oficial, entrega a cédula ofici-al em branco para o chefe daquela seção – voto formi-guinha em alguns lugares – que preenche o voto, en-trega para o eleitor e o comprovante do pagamento étrazer de volta a cédula em branco. A contrafé seria acédula em branco. Se houvesse uma modificação...

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Mas não há cé-dula em branco.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA – Sim; mas seo eleitor vai receber a cédula... Veja que estou lendo oque está escrito.

(Discussões paralelas, fora do microfone.)O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA – O que dis-

põe a lei: “A urna eletrônica imprimirá o voto em cédu-la individualizada, previamente rubricada pelo Presi-dente e mesários para conferência do eleitor que odepositará em urna convencional”. Então, voltamos àsituação em que o eleitor deposita o voto. Se houveruma alternativa que o Senador Roberto Requião es-tava apresentando na conversa informal que é a for-ma de o eleitor visualizar aquele voto com o que eleteclou e a própria urna, sem o manuseio do papel piorparte do eleitor, a própria urna eletrônica deposita o

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voto na urna de pano, acho que isso resolveria o pro-blema. Concordo com a preocupação de S. Exª nosentido de que haja a possibilidade, por parte do elei-tor, de saber que o que ele teclou corresponde àquiloque vai para a urna, abrindo-se daí a possibilidade derecontagem. Se houver essa alternativa sem o riscoque levantei, ótimo.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Senador, pensoque há um problema de interpretação. Vamos tentarreproduzir o processo: não há cédula em branco. Elesó vai poder votar com a cédula na impressora; se elevotou, a impressora imprime e ele confere. Ele nãotem como levar a cédula em branco para fora da urnapara ser marcada, porque o processo não é manual.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA– Basta ele vo-tar em branco que vai sair uma cédula em branco.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Se ele digitar ovoto em branco, o voto dele não será um voto omisso;será em branco. Sairá da impressora nulo, ou anula-do, não sendo possível imprimir nada em cima disso.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA – Mas vai ter quesair alguma coisa.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Claro; vai sair aanálise do voto em branco. Então, ele não vai poderrepetir isso. A cédula não pode ser gravada fora daurna para ser votada, porque ela só é impressa pelaimpressora do computador. Não existe essa hipótese.Só o eleitor vai ver; ninguém vai poder preencher issomanualmente.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA – Então, há a hipó-tese de, sendo um formulário contínuo, emitindo umcarimbo de depósito, de que amanhã voce possa fa-zer a relação.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Por isso a cédulaé destacada.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Eu pedi-ria que os Senadores, ao se manifestarem, que o fa-çam ao microfone.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA – Sr. Presidente, seé destacada, nada impede que ele não coloque naurna, podendo levar no bolso...

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Se ele não colo-car na urna, o computador não vai funcionar. Isso éum problema tecnicamente banal de ser resolvido.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Tem apalavra o Senador José Alencar.

O SR. JOSÉ ALENCAR– Então, Sr. Presidente,há uma dúvida quanto ao processo ou sobre como éque se dá esse procedimento. É claro que o autor doprojeto, o eminente amigo Senador Roberto Requião,não tem dúvidas, mas elas estão se verificando. Daípor que eu haver sugerido que fosse exibido para a

Comissão, porque o assunto é de uma importânciamuito grande para uma eleição. Eu concordo com anecessidade de maior segurança, inclusive na hipóte-se de uma recontagem, no que é louvável a propostaem exame, tanto que voto a favor do projeto. Agora,considerando essa importância e considerando o fatode que todos nós gostaríamos de conhecer melhoramecânica do processo, e hoje os recursos da tecnolo-gia permitem que uma ou mais de uma dessas com-panhias de informática se disponha a fornecer esseequipamento ao TSE, que o trouxesse aqui para nosmostrar um protótipo, para vermos de que forma seriaesse procedimento.

Agora, é claro que a minha proposta deve serobjeto de deliberação e aprovação do próprio autor doprojeto. Ainda que S. Exª não concorde, voto a favordo projeto, porque estou a favor da segurança. Estouvotando meio que no escuro, porque não sei de queforma esse equipamento vai processar a votação.

O SR. ROMEU TUMA – (Intervenção fora do mi-crofone.)

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Senador RomeuTuma, esse equipamento já foi utilizado em 1996, sóque agora haveria uma modificação: não haveriaaquele terminal externo estabelecendo a seqüência –e isso está bem claro aqui; é um processo conhecido.A meu ver, se alguém quer ter alguma experiênciaque vá a um caixa do Banco do Brasil e peça um ex-trato bancário.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – SenadorBello Parga, tem a palavra V. Exª para encerrar a dis-cussão.

O SR. BELLO PARGA – Sr. Presidente, já dissee quero reiterar aqui que considero absolutamentelouvável o intuito do Senador Requião, de vez que as-segura ao eleitor que ele tenha garantia de que o votoque foi dado ali eletronicamente era o que ele efetiva-mente queira dar. Agora, tenho dúvidas quanto à invi-olabilidade do voto secreto. Se S. Exª alterar a reda-ção, substituindo a expressão “individualizada” para“avulsa”, e havendo um texto que diga que está impe-dido ou que não seja possível a identificação do elei-tor, acompanho o voto de S. Exª.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Sim; perfeita-mente. Está acata a emenda.

O SR. BELLO PARGA – Não estou fazendouma emenda.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Acatada pelo au-tor...

O SR. BELLO PARGA – Que se declare expres-samente que não seja permitida...

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 160

O SR. ROBERTO REQUIÃO – que essa indivi-dualização se refere à unidade do voto e não à pes-soa.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA – Não é identi-ficada ; é individualizada.A meu ver pode até substitu-ir por “avulsa”, mas...

O SR. BELLO PARGA – Individualizada pode su-gerir isso. Penso que se deve deixar bem claro isso.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Podemos aindacolocar: “individualizada e não identificada”.

O SR. BELLO PARGA – Acompanho porqueconsidero louvável.

O SR. ROBERTO REQUIÃO – Então, Sr. Presi-dente, onde se lê “votação individualizada”, que seleia “votação individualizada e não identificável”. Sempossibilidade de identificação do eleitor. Acrescentoao projeto.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Pediria àSecretaria que registrasse o acréscimo feito pelo Se-nador Roberto Requião, autor do projeto, por suges-tão do Senador Bello Parga, porque vamos colocarem votação o parecer, que tem preferência.

Assim, os que votarem contra o parecer estarãovotando automaticamente a favor do projeto que aca-ba de receber uma modificação de redação, que éfundamental.

Em votação o parecer.Quero dizer que deixaram votos consignados,

porque tiveram de se ausentar do plenário, o SenadorBernardo Cabral, contra o parecer, o Senador France-lino Pereira, a favor do parecer, o Senador ÁlvaroDias, contra o parecer; e o Senador Jefferson Péres,contra o parecer.

(Procede-se à votação nominal.)

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – O pare-cer foi rejeitado por doze votos. Está aprovado, por-tanto, o projeto.

Designo o Senador Romeu Tuma como relatordo vencido.

Os Srs. Senadores estão de acordo? (Pausa.)Aprovado.O SR. ROBERTO REQUIÃO – Sr. Presidente,

eu queria propor, em benefício dos trabalhos do Se-nado e da Comissão, que nós retomássemos essa re-união plenária depois da Ordem do Dia.

O SR. PRESIDENTE (José Agripino) – Nós fare-mos uma comunicação, no plenário, de uma reuniãoextraordinária desta Comissão para logo após aOrdem do Dia da reunião plenária de hoje.

Está encerrada a reunião.

(Levanta-se a reunião às 13h22min.)

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – O Expedi-ente lido vai à publicação.

Sobre a mesa, requerimentos que serão lidospelo Sr. 1º Secretário em exercício, Senador EduardoSuplicy.

São lidos os seguintes:

REQUERIMENTO Nº 636, DE 1999

Ao Senhor Ministro de Estado do Pla-nejamento, Orçamento e Gestão com per-guntas sobre o Programa de DesligamentoVoluntário – PDV – instituído pela MedidaProvisória nº 1.917/99, e suas reedições.

Senhor Presidente,Nos termos do disposto no art. 50, § 2º, da

Constituição Federal e no art. 216 do RISF, requeiroque a Mesa do Senado Federal encaminhe ao SenhorMinistro do Planejamento, Orçamento e Gestão asperguntas seguintes, para resposta no prazo legal:

1 – Quantos servidores, discriminadamente porunidade da Federação e por carreira e categoria fun-cional, aderiram ao Programa em questão?

2 – Quantos servidores estão excluídos da ade-são ao PDV, como determinado no art. 3º da MedidaProvisória?

3 – Quantos servidores requereram, e obtive-ram, a redução da jornada de trabalho, com remune-ração proporcional, discriminadamente por unidadeda Federação e por carreira e categoria funcional?

4 – Quantos servidores se beneficiaram da li-cença instituída pelo art. 8º da Medida Provisória, equantos a tiveram indeferida e porque?

5 – Qual foi a despesa despendida com a indeni-zação aos servidores, discriminadas da mesma for-ma solicitada na pergunta nº 1?

6 – Qual foi a despesa despendida com a anteci-pação do pagamento dos valores retroativos da dife-rença de 28,86%, de que trata a MP nº 1.904-17/98,discriminada da mesma forma da pergunta anterior?

7 – Quais foram os treinamentos efetuados, onúmero de matrículas ou previsão de oferecimento decursos destinados a preparar esses servidores para aabertura de empreendimento próprio, bem como osrespectivos conteúdos programáticos?

8 – Qual a quantidade e os valores dos emprés-timos já concedidos ou em processo de concessão nalinha de crédito instituída para que esses servidoresabram ou expandam empreendimento, discriminadospor unidade da Federação?

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-nador Luiz Estevão

(À Mesa, para decisão.)

161 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

REQUERIMENTO Nº 637, DE 1999

Ao Senhor Ministro de Estado do Pla-nejamento, Orçamento e Gestão, com per-guntas sobre a vantagem de 28,86% deque trata a Medida Provisória nº 1.704/98, esuas reedições, cujo prazo de adesão foiprorrogado pelo art. 28 da Medida Provisó-ria nº 1.917/99, e suas reedições.

Senhor Presidente,Nos termos do disposto no art. 50, § 2º da Cons-

tituição Federal e no art. 216 do RISF, requeiro que aMesa do Senado Federal encaminhe ao Exmo. Sr. Mi-nistro de Planejamento, Orçamento e Gestão as per-guntas seguintes, para resposta no prazo legal:

1 – quanto servidores optaram por receber osvalores da referida vantagem, discriminando-se a res-posta por unidade da Federação, carreira e categoriafuncional, e por aqueles que o fizeram mediante acor-do ou transação?

2 – quais são os valores parciais e total devidosa esses servidores e os valores já dispendidos, discri-minados na mesma forma da pergunta anterior?

3 – qual foi o incremente mensal da folha de pa-gamento com a extensão administrativa da vantagemna remuneração mensal dos servidores?

4 – explicitar se a alteração na tabela de venci-mentos com a aplicação da vantagem implicou emmodificação permanente dessa tabela, beneficiandoa todos os servidores, inclusive aqueles que ainda es-tão por ingressar no serviço público.

5 – Quantas e de que natureza foram as diver-gências de que trata o art. 10 da medida provisória emtela?

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-nador Luiz Estevão.

(À Mesa para decisão.)

REQUERIMENTO Nº 638, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do § 2º do art. 50 da Constituição

Federal, combinado com o disposto no art. 216 doRegimento Interno do Senado Federal, econsiderando as irregularidades que vêm ocorrendona administração das finanças do Estado do Paraná,transgressões a leis federais e à lei orçamentária;geração de desequilíbrios orçamentáriosconsecutivos; e, ainda, evidente ausência dequalquer compromisso com a necessidade depromover o saneamento das finanças com a buscade soluções estruturais para a questão fiscal,

requeiro sejam prestadas pelo Exmo. Ministro deEstado da Fazenda as seguintes informações:

1 – Posição das dívidas interna e externa doEstado do Paraná em 31 de dezembro, anualmente,entre 1992 e 1998, incluindo o Aviso 9/MF, informan-do o saldo devedor, os prazos médios e as taxas dejuros em dólares equivalentes;

2 – Posição das dívidas interna e externa doEstado do Paraná em 30-9-99, incluindo o saldo de-vedor, os prazos médios e as taxas de juros em dóla-res equivalentes;

3 – Relação das dívidas e o PIB do estado, apartir de 1992;

4 – Montante dos precatórios não pagos peloEstado do Paraná até 31-7-99;

5 – Montante atual da dívida do estado comfornecedores (obras e serviços);

6 – Saldo dos respectivos restos a pagar em31 de dezembro, nos exercícios de 1994 a 1998;

7 – Cópia dos relatórios, bem como dasrespectivas análises e conclusões previstos naPortaria nº 89, de 1995, do Ministério da Fazenda esuas alterações;

8 – Cópia do relatório sobre a situaçãofinanceira do Estado do Paraná, elaborado portécnicos da STN após missão ao estado, paraanálise da antecipação de royalties.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-nador Álvaro Dias.

(À Mesa para decisão.)

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Os reque-rimentos lidos serão despachados à Mesa para deci-são, nos termos do inciso III do art. 216 do RegimentoInterno.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – APresidência recebeu a Mensagem n° 193, de 1999 (nº1.486/99, na origem), de 19 do corrente, pela qual oPresidente da República, nos termos do art. 52, incisoV, da Constituição Federal, solicita seja autorizada acontratação de operação de crédito externo, no valorequivalente a até cento e cinqüenta milhões de dólaresnorte-americanos, de principal, entre a RepúblicaFederativa do Brasil e o Banco Internacional paraReconstrução e Desenvolvimento – BIRD, destinadaao financiamento parcial do Projeto de Descentralizaçãodo Sistema de Trens Metropolitanos de Salvador-BA.

A matéria vai à Comissão de AssuntosEconômicos.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) –Esgotou-se ontem o prazo previsto no art. 91, § 3º, doRegimento Interno, sem que tenha sido interposto recur-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 162

so no sentido da apreciação, pelo Plenário, doProjeto de Lei do Senado nº 235, de 1999, de autoriado Senador Fernando Bezerra, que institui o dianacional de prevenção e combate à hipertensãoarterial, e dá outras providências.

Tendo sido aprovada em apreciação terminativapela Comissão de Assuntos Sociais, a matéria vai àCâmara dos Deputados.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Encer-rou-se ontem o prazo para apresentação de emendasao Projeto de Lei da Câmara nº 36, de 1999 (nº4.183/98, na Casa de origem), que altera a Lei nº9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Códi-go de Trânsito Brasileiro.

Não tendo recebido emendas, a matéria será in-cluída em Ordem do Dia oportunamente.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Esgo-tou-se ontem o prazo previsto no art. 91, § 3º, do Regi-mento Interno, sem que tenha sido interposto recursono sentido da apreciação, pelo Plenário, do Projeto deResolução nº 101, de 1999, que suspende, em parte,a execução da Lei nº 6.747, de 1990, do Município deSanto André, Estado de São Paulo.

Tendo sido aprovado em decisão terminativapela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania,a matéria vai à promulgação.

Será feita a devida comunicação ao SupremoTribunal Federal.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Esgo-tou-se ontem o prazo previsto no art. 91, § 3º, do Regi-mento Interno, sem que tenha sido interposto recursono sentido da apreciação pelo Plenário do Projeto deLei do Senado nº 279, de 1999, de autoria da Senado-ra Luzia Toledo, que acrescenta dispositivo ao art. 38da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962, que instituio Código Brasileiro de Telecomunicações.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – O SenhorPresidente da República adotou em 14 de outubro de1999 e publicou no dia 15 do mesmo mês e ano, aMe-dida Provisória nº 1.925, de 1999, que “Dispõe so-bre a Cédula de Crédito Bancário”.

De acordo com as indicações das lideranças, enos termos dos §§ 4º e 5º do art. 2º da Resolução nº1/89-CN, fica assim constituída a Comissão Mista in-cumbida de emitir parecer sobre a matéria:

Senadores

Titulares Suplentes

PFL

Djalma Bessa Eduardo Siqueira CamposPaulo Souto Francelino Pereira

PMDB

Jader Barbalho José FogaçaNabor Júnior Carlos Bezerra

PSDB

Sergio Machado Osmar Dias

Bloco Oposição (PT/PDT/PSB)

Marina Silva Antônio Carlos Valadares

PPB

Leomar Quintanilha Ernandes Amorim

Deputados

Titulares Suplentes

PFL

Inocêncio Oliveira Abelardo LupionPauderney Avelino Aldir Cabral

PMDB

Geddel Vieira Lima Milton MontiCezar Schirmer Fernando Diniz

PSDB

Aécio Neves Jutahy Junior

PT

José Genoíno Arlindo Chinaglia

PPB

Odelmo Leão Gerson Peres

De acordo com a Resolução nº 1, de 1989-CN,fica estabelecido o seguinte calendário para a trami-tação da matéria:

Dia 20-10-99 – designação da Comissão MistaDia 21-10-99 – instalação da Comissão MistaAté 20-10-99 – prazo para recebimento de

emendas e para a Comissão Mista emitir o parecersobre a admissibilidade

Até 29-10-99 – prazo final da Comissão MistaAté 13-11-99 – prazo no Congresso Nacional

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Será fei-ta a devida comunicação à Câmara dos Deputados.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – A Presi-dência lembra ao Plenário que o tempo destinado aosoradores da Hora do Expediente da sessão deliberati-va ordinária de amanhã será dedicado a comemoraros cento e cinqüenta anos de nascimento de JoaquimNabuco, bem como o cinqüentenário da FundaçãoJoaquim Nabuco, nos termos do Requerimento nº

163 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

437, de 1999, do Senador José Jorge e outros senho-res Senadores.

Esclarece, ainda, que continuam abertas as ins-crições para a referida homenagem.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Passa-seà lista de oradores.

Concedo a palavra ao Senador Álvaro Dias.O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –

Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Tem a pa-

lavra V. Exª, Senador Eduardo Suplicy.O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.

Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,gostaria de me inscrever para uma comunicação ina-diável, nos termos do Regimento, por ocasião da horapropícia junto à Ordem do Dia.

Também gostaria de passar às mãos de V. Exªmaterial referente ao acordo com o FMI, para que oPresidente Antonio Carlos Magalhães possa ter to-dos os elementos para a sua decisão quando da infor-mação que nos dará respondendo à questão de or-dem que formulei ontem. Isso porque o PresidenteArmínio Fraga me informou que os dados relativos aoacordo com o FMI estariam no Sisbacen ou na Inter-net, mas verifiquei, junto ao Sisbacen – acesso quenós, Senadores, temos – e constatei que o que existeali é o memorando técnico de entendimentos entre oGoverno brasileiro e o FMI, as metas e as informa-ções econômicas. Não há o texto do acordo entre oFMI e o Governo brasileiro.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – A Mesa

aguarda o encaminhamento do documento paraapreciação do Presidente Antonio Carlos Magalhães.E V. Exª fica inscrito para uma breve comunicação noperíodo adequado.

Com a palavra o Senador Álvaro Dias, por 20minutos.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR. Pronuncia oseguinte discurso.Sem revisão do orador.) – Sr.Presi-dente, Srªs e Srs. Senadores, volto ao tema que foimotivo de pronunciamento na última semana, destatribuna, porque o considero, sem dúvida, a questãomais importante para abordagem do Senado da Re-pública neste momento. A dívida pública, repito, é omaior problema do País.

Talvez seja oportuno indagar quem se importacom a dívida pública. Muitos não se importam, porquea dívida é pública. Lamentavelmente, aqueles quenão se importam ignoram as conseqüências da dívi-da pública no que diz respeito a esse sonho brasileirode uma melhor qualidade de vida. Os problemas eco-

nômicos e sociais existentes no País são decorrentesdesta matriz geradora de todos os problemas, que é adívida pública do País.

E nós, no Senado da República, temos uma res-ponsabilidade maior. É prerrogativa constitucional,conforme estabelece o art. 52, tratarmos do endivida-mento público, aprovando ou negando novos emprés-timos, avalizando, avaliando as conseqüências da ro-lagem de dívidas, etc. Com essa responsabilidade,especialmente em relação ao meu Estado, trago hojeum pedido de informações que justifico neste pronun-ciamento.

A dívida do Paraná – e repito que isto pode ser sur-preendente, mas é absolutamente verdadeiro – foi a quemais cresceu no País nos últimos anos. E quero, aqui,repetir números dessa dívida.Conforme o Departamen-to da Dívida Pública do Banco Central do Brasil, apenasa dívida fundada do Estado do Paraná, incluindo Gover-no Estadual e Municípios: R$8.710.631.000,00. E a dívi-da referente apenas ao Governo Estadual:R$7.321.348.000,00.

É bom destacar que, sem dúvida, foi o Estadoque mais fez crescer a sua dívida nos últimos anos,porque temos esse relatório de todos os Estados bra-sileiros e a demonstração nos revela que, em janeirode 1998, a dívida do Paraná estava orçada emR$4,847 bilhões e, em junho de 1999, R$8,71 bilhões.Portanto, houve um crescimento assustador da dívidapública fundada do Estado. Não estamos incluindonessa dívida, por exemplo, o déficit de 1998, que foida ordem de R$2,338 bilhões; não estamos incluindoa segunda parcela de repasse do Banco Central parao saneamento financeiro do Banco do Estado do Pa-raná, que, segundo o governo estadual, é da ordemde R$1,7 bilhão; não estamos incluindo o resultadoda agregação ao Tesouro Estadual dos títulos podresdepositados no Banco do Estado do Paraná, valor ori-ginal em torno de R$500 milhões, com correção, hoje,em torno de R$1 bilhão – só isso faria com que a dívi-da ultrapassasse R$12 bilhões –; não estamos inclu-indo outros restos a pagar, dívida com fornecedores,obras e serviços no setor de obras e de serviços; nãoestamos incluindo os precatórios vencidos e não pa-gos; não estamos incluindo aquilo que o governo es-tadual deve aos funcionários através do Fundo dePrevidência dos Funcionários Públicos do Paraná, re-cursos recolhidos pelo governo do Estado junto aosfuncionários públicos que não estão necessariamen-te depositados no Fundo de Previdência que o gover-no estadual pretende criar agora.

E não estamos também considerando aquiloque significou dilapidação do patrimônio público,

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 164

como a venda de ações da Companhia de EnergiaElétrica do Paraná, que é, sem dúvida, uma empresaexemplar, modelo de eficiência e de competência,com um quadro técnico fantástico. Hoje, o Estado de-tém apenas 31,1% do patrimônio líquido dessa em-presa, orçado em cerca de R$4,6 bilhões. O restante,o governo estadual colocou como alavancagem deempréstimos obtidos junto ao BNDES, empréstimosesses que não resultaram em obras, em investimen-tos com retorno assegurado; que não significaramuma prestação de serviço público de melhor qualida-de, quer seja na área educacional ou na área de saú-de; mas empréstimos que se esvaíram por entre osdesvãos da administração estadual, provavelmenteno pagamento de uma folha que extrapola os limitespossibilitados pela legislação vigente no País.

Houve também a venda das ações da Copel,venda, portanto, de ativos da maior importância, em-pobrecendo o Estado; a privatização da Ferroeste,pelo governo do Estado, por preços insignificantes; eaquilo que é mais grave: o Banco do Estado do Para-ná, um banco de conceito ímpar no País – recordo-meque, quando assumi o Governo do Estado do Paraná,em março de 1987, o Banco do Estado era o 17º noranking nacional; quando concluímos o nosso man-dato, o Banco do Estado do Paraná era o 7º banco noranking nacional, sendo o 2º banco estadual do País–, foi, lamentavelmente, nos últimos anos, levado à in-solvência. Hoje, o Estado vale-se de empréstimos daUnião para o saneamento financeiro dessa instituiçãoque será repassada à iniciativa privada, ficando parao governo estadual uma dívida de mais de R$4 bi-lhões que deve ser resgatada em 30 anos junto aoGoverno da União.

Portanto, essa é uma situação de gravidade semprecedentes na história administrativa do Paraná.

Lamento, profundamente, ter que fazer um pro-nunciamento para destacar a dramaticidade das fi-nanças públicas do meu Estado, que vêm se deterio-rando de forma incrível nos últimos anos. Confessoque não sei o que será do Paraná no futuro.Neste mo-mento, temos a responsabilidade de apurar o queestá ocorrendo, pois, sem dúvida, há crimes de res-ponsabilidade sendo praticados na gestão das finan-ças públicas do Paraná.

Encontra-se na Câmara dos Deputados umaproposta do Poder Executivo encaminhando projetode responsabilidade fiscal que tem por objetivo puniros governantes gastadores que participam dessa far-ra de irresponsabilidade, com gastos de recursos pú-blicos sem precedentes, o que leva o País a passarpor dificuldades econômicas.

No entanto, na lei vigente, há como estabelecerpenalidades àqueles que não administram bem o di-

nheiro público. Estamos identificando, no Paraná, cri-mes contra a lei orçamentária e crimes decorrentesde ilegalidades de atos contábeis que ferem preceitosconstitucionais, como o art. 88 da Constituição Esta-dual, incisos IV, VI e VII; o art. 85 da Constituição Fe-deral, incisos V, VI e VII; e também o art. 167 daConstituição Federal, inciso IV.

Sr.Presidente, o art. 88 da Constituição do Para-ná estabelece o seguinte:

“Art. 88 – São crimes de responsabili-dade os atos do Governador que atentaremcontra a Constituição Federal, a Constitui-ção do Estado e, especialmente:

..............................................................IV – a lei orçamentária;..............................................................VI – a probidade na administração;VII – o cumprimento das leis e das de-

cisões judiciais”.

Esses são crimes praticados pela administra-ção pública no Paraná, crimes de responsabilidade.

E a Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, prevêpenalidades para os crimes de responsabilidade pra-ticados por governantes. Diz o art. 75:

“Art. 75. É permitido a todo cidadãodenunciar o Governador perante a Assem-bléia Legislativa por crime de responsabili-dade”.

E o art. 77:“Art. 77. Apresentada a denúncia e jul-

gada objeto de deliberação, se a Assem-bléia Legislativa, por maioria absoluta, de-cretar a procedência da acusação, será oGovernador imediatamente suspenso desuas funções”.

Portanto, temos legislações em vigor para pu-nir os governantes que, infelizmente, por irresponsa-bilidade ou por incompetência, e quem sabe até pordesonestidade, dilapidam o patrimônio público e de-terioram as finanças, inviabilizando a administraçãopública de determinados Estados. E esse é o casoespecífico de um Estado tido até então como orga-nizado, que caminha para uma desorganização dra-mática, infelizmente.

Há, também, na prática administrativa que sedesenvolve no Paraná, transgressões às regras daLei nº 4.320/64, que é a lei que estatui normas geraisde Direito Financeiro para a elaboração e controledos orçamentos e balanços da União, dos Estados,dos Municípios e do Distrito Federal.

165 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Portanto, Sr. Presidente, estamos procurandojustificar um requerimento que a Mesa encaminharáao Ministro da Fazenda, onde solicitamos informa-ções que nos permitam tomar outras providências emrelação aos fatos relatados .

Há uma esperteza que deve ser denunciadatambém como crime de responsabilidade: a previsãode receita acima do possível, gerando um continuadodesequilíbrio orçamentário. É o que vem ocorrendoconstantemente no Paraná. Tomo, como exemplo, oano de 1998. A receita estimada no Orçamento foi deR$12,161 bilhões, como se isso fosse possível diantede uma receita no ano anterior de pouco mais de R$4bilhões. Portanto, multiplicou-se por três a estimativade receita para o exercício de 1998. Isso para flexibili-zar oportunidades no que diz respeito a receitas decapital, com alienação de bens e com operações decrédito, que, em 1998, alcançaram a cifra de umR$1,131 bilhão, com alienação no valor de R$659 mi-lhões, que foram ações da Copel negociadas, e ope-rações de crédito da ordem de R$425 milhões. So-mando a receita alcançada com a alienação de bense operações de crédito, chegamos a uma receita rea-lizada da ordem de R$6,007 bilhões.

Portanto, a receita estimada foi de R$12,161 bi-lhões e a receita realizada foi de R$6,007 bilhões, me-nos da metade do que se estimou no Orçamento de1998.

E a despesa? A despesa suplantou – e bastante– a receita realizada. A despesa foi de R$8,346 bi-lhões, portanto 39% superior à receita realizada, comum déficit de R$2,338 bilhões no exercício de 1998.

Esses números são da maior gravidade, Sr. Pre-sidente. A dívida histórica do Paraná, desde o primei-ro interventor no Estado até 1994, era de R$1,3 bi-lhão. E, hoje, como se vê, a dívida ultrapassa, e bas-tante, a casa dos R$12 bilhões. Em cerca de cincoanos apenas, a dívida pública do Paraná deu essesalto, lamentavelmente dramático para o futuro donosso Estado.

Acrescento mais às ilegalidades administrativaspraticadas, que, a nosso ver, implicam crime de res-ponsabilidade: os empenhos ilegais em restos a pa-gar de despesas para economizar gráfico orçamentá-rio, com o objetivo de simular redução de despesas.Trata-se de transgressão à Lei nº 4.320/64.

Portanto, além da esperteza de flexibilizar oOrçamento com a estimativa de uma receita muito su-perior à possível, a administração do Estado tambémse utiliza do expediente desonesto de empenhar ile-galmente despesas para economizar gráfico orça-mentário.

Outro descumprimento da Constituição: onão-cumprimento dos prazos, a não-publicação derelatórios previstos na Constituição Estadual e naConstituição Federal.

Deixa-nos também em situação desconfortáveldiante da Comunidade Financeira Internacional a ina-dimplência e o não-cumprimento dos prazos e contra-partidas dos programas fiananciados pelo BIRD eBID no Paraná.

Relato esses fatos, Sr. Presidente, para justificaro requerimento que estamos apresentando hoje me-diante o qual pretendo obter oficialmente do Ministroda Fazenda as seguintes informações:

1. Posição das dívidas interna e externa doEstado do Paraná em 31 de dezembro, anualmente,entre 1992 e 1998, incluindo o Aviso nº 09/MF, infor-mando o saldo devedor, os prazos médios, as taxasde juros em dólares equivalentes;

2.posição das dívidas interna e externa do Esta-do do Paraná em 30/09/1999, incluindo o saldo deve-dor, os prazos médios e as taxas de juros em dólaresequivalentes;

3. relação das dívidas e o PIB do Estado a partirde 1992;

4. montante dos precatórios não pagos peloEstado do Paraná até 31/07/99;

5. montante atual da dívida do Estado com for-necedores (obras e serviços);

6. saldo dos respectivos restos a pagar em 31de dezembro, nos exercícios de 1994 a 1998;

7. cópias dos relatórios, bem como das respecti-vas análises e conclusões previstos na Portaria nº 89,de 1995, do Ministério da Fazenda e suas alterações;

8. cópia do relatório sobre a situação financeirado Estado do Paraná, elaborado por técnicos da Se-cretaria do Tesouro Nacional após missão ao Estado,para análise da antecipação de royalties, que é solici-tada pelo governo estadual.

A confissão de insolvência feita pelo Governo doEstado do Paraná está no ato de reivindicar ao Gover-no Federal a antecipação dos royalties de Itaipu dospróximos vinte e três anos. Essa seria uma antecipa-ção de receita jamais vista em nossa história. Não bas-tasse o comprometimento das finanças para o presen-te, o que se insinua é arruinar o futuro. Imaginem se to-dos os prefeitos municipais do País seguissem esseexemplo e tentassem antecipar vinte e três anos doFundo de Participação dos Municípios. Creio que esseprecedente seria extremamente perigoso. Deve mere-cer, por essa razão, cuidados, uma análise de profun-didade técnica da parte do Governo Federal.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 166

Sr. Presidente, solicito à Mesa, na forma regi-mental, que esse requerimento seja encaminhado omais rapidamente possível ao Ministério da Fazenda,para que possamos ter respostas a essas indaga-ções. Dessa forma, providências poderão ser toma-das em tempo. Aliás, não diria em tempo, pois creioser um pouco tarde, uma vez que a situação financei-ra do Paraná já é, sem dúvida, de extrema gravidade.No entanto, é preciso evitar o agravamento dessa si-tuação.

Procuro sempre me referir a números oficiais.Jamais, em pronunciamento algum aqui feito, apre-sentei qualquer número que não fosse retirado dopróprio balanço do Estado, do seu orçamento e doDepartamento da Dívida Pública do Banco Central doBrasil. Apesar disso, toda vez que esse assunto é pro-movido a debate, o Secretário da Fazenda do Paranátenta, espertamente, mistificar, procurando mascarara gravidade da situação com outros números. Daí aimportância das respostas do Ministro da Fazenda. S.Exª tem a análise em profundidade da situação das fi-nanças públicas de cada Estado brasileiro.

Sr. Presidente, mais uma vez, enfatizo a impor-tância da agilização dos procedimentos para que es-sas informações do Ministro cheguem rapidamente.Só assim poderemos estudar outras alternativas eprovidências. Temos, por exemplo, a possibilidade deencaminhar ao Tribunal de Contas da União solicita-ção para uma auditoria emergencial, e ao MinistérioPúblico Federal o acompanhamento dessas auditori-as. Mas o que devemos fazer é assumir a nossa res-ponsabilidade de fiscais do Estado, com responsabili-dade de natureza constitucional, no que diz respeitoao endividamento público de todas as unidades daFederação.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Durante o discurso do Sr. Álvaro Dias,o Sr. Nabor Júnior, 3º Secretário, deixa acadeira da presidência, que é ocupada peloSr. Carlos Patrocínio, 2º Secretário.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – No-bre Senador Álvaro Dias, o requerimento de V. Exªserá regimentalmente encaminhado à Comissão Di-retora, que certamente haverá de conferir a celerida-de que V. Exª solicita.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Pela or-dem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – V.Exª tem a palavra pela ordem.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Solicitoinscrição para uma comunicação inadiável.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Naprorrogação da Hora do Expediente V. Exª será aten-dido pelo prazo de cinco minutos.

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL – MT) – Pela or-dem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Coma palavra o Senador Jonas Pinheiro.

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL – MT) – Solicitoinscrição para uma comunicação inadiável.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Igualmente V. Exª será atendido na prorrogação daHora do Expediente.

Concedo a palavra ao eminente Senador Juvên-cio da Fonseca.

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PFL – MS.Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, confesso aos meus pares que te-nho enriquecido o meu espírito e os meus conheci-mentos sobre este Brasil de tantas contradições apartir do momento que passei a integrar esta Casa e aComissão para Erradicação da Pobreza, de inspira-ção do nosso Presidente Antonio Carlos Magalhães.Digo isso porque as audiências públicas que se reali-zam levam depoimentos cada vez mais esclarecedo-res sobre a verdade da nossa riqueza e da nossa po-breza.

Em razão disso, passei a observar com outrosolhos a questão fundiária no Brasil e, de modo especi-al, no meu Estado, Mato Grosso do Sul. Um Estadopotencialmente rico, mas que, a despeito das suas ri-quezas e do grande esforço da sua gente na produ-ção da terra, tem assistido crescer a cada dia o núme-ro de pobres, especialmente na zona rural e, de modoainda mais especial, nas faixas de domínio das estra-das públicas, as federais. Essa horda de pobres é fru-to das promessas de reforma agrária num Estado quetem terras para todos. Mais do que isso: num Paísonde há consenso em todas as camadas sociais emfavor da reforma agrária, inclusive na classe política,seja ideologicamente de esquerda ou de direita.

A Nação deveria estar vivendo momentos deconfiança nos instrumentos da democracia para aconstrução de uma sociedade mais justa, seja nocampo, seja nas cidades.

No entanto, não é o que está ocorrendo.Há um festival de vontades em convergência,

mas há também um vácuo de lógica nos fatos, quenos leva à conclusão de que o Governo não deseja areforma agrária que prega.

Não adianta tanta terra agricultável. Pouco im-porta a manifestada opção política do Governo Fede-ral de executar a reforma agrária. De nada vale o apo-

167 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

io popular e político para que se faça de uma vez portodas o corte das áreas e os assentamentos sonha-dos. Também já não é suficiente a concordância dosproprietários com a desapropriação mediante paga-mento em títulos da dívida agrária.

O que está faltando? Está faltando a opção polí-tica do Governo Federal de fazer definitivamente a re-forma agrária.

Enquanto isso, preocupa-nos a figura dosem-terra, acampado nas estradas, nas faixas de do-mínio das BRs, no interior deste País. É uma figuracomplexa, de difícil definição. É um homem com es-perança no peito em razão das promessas, muitasdelas utópicas, do Governo e das organizações dossem-terra. Por outro lado, é um homem aflito que nãovê, na prática, a realização do seu prometido pedaçode terra. Na estrada, com a família, é um conduzido.Representa a execração pública da pobreza, mistura-da com sua condição de pré-invasor da propriedadealheia. Se de um lado é considerado um excluído, dooutro é considerado um vilão.

De consideração em consideração, sua famíliavai perecendo. O que é pior, com o perecimento desua família, também perece a paz no campo. Do ladode cá da cerca, há a ameaça do sem-terra. Do lado delá, a ameaça do proprietário rural na defesa da suapropriedade.

Excluído ou vilão, aí está o homem, nosso ir-mão, brasileiro como nós e enganado como nós. Nãohá dinheiro nem para os sem-terra, nem para os pro-dutores. Há, e muito, para o pagamento da dívida ex-terna – com juros estratosféricos –, que aniquila anossa soberania política e econômica.

O Ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann,em seu depoimento na Comissão para a Erradicaçãoda Pobreza, afirmou que dinheiro não falta para desa-propriar terras suficientes para assentar todos ossem-terra do Brasil, justificando que não faz isso por-que a reforma agrária não se faz só com terra, e simcom ela e com a infra-estrutura necessária para a pro-dução. E confessa que para tudo isso não há recursossuficientes.

Eu diria ao Ministro Raul Jungmann, como umde seus admiradores, pelo seu talento de administra-dor do quase impossível, mas com inteligência e diá-logo democrático que, nessas alturas, dar só a terra jáé um grande avanço. Em grande parte dos assenta-mentos hoje feitos, sequer existe água potável ouenergia, uma escola ou um posto de saúde. Que o di-gam os prefeitos municipais, que se esforçam em soli-dariedade com os assentados para dividir a sua po-breza fiscal com a deles. Sensibilizados, os prefeitos

comprometem a sua minguada receita, inviabilizandoo município diante dos olhos irresponsáveis do Go-verno Federal.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, no Mato Grossodo Sul, atualmente, existem 76 assentamentos feitospelo Incra, com 12.031 famílias assentadas em342.747 mil hectares. Segundo relatório do próprioIncra, esses assentamentos precisam de 60 escolaspara atender 51 dos 76 existentes. Quarenta e quatroprecisam de água; 24, de concessão de crédito parahabitação e de 535 km de estradas.

Desse mesmo relatório do Incra consta a se-guinte informação:

Escolas e Postos de Saúde – É opor-tuno esclarecer que também em função dalimitação de recursos, há vários anos nãotem sido possível a locação de recursospara a execução de obras visando ao aten-dimento às áreas de educação e saúde porparte do Incra. A orientação transmitida àscomunidades assentadas tem sido a de en-caminharem os pleitos aos respectivos Mi-nistérios (Educação e Saúde), via órgãossubordinados, no âmbito Municipal e Esta-dual – ou seja, por intermédio do prefeito edo governador do Estado.

Por outro lado, o chamamento dos excluídospara a reforma agrária está fazendo aumentar a multi-dão de acampados nas estradas. Em razão da lenti-dão do Governo em dar a terra, os acampados, insu-flados politicamente e sob a bandeira de apressar areforma agrária, invadem terras produtivas, cometemcrimes contra o patrimônio e contra o meio ambiente.

Em meu Estado e em outros Estados, o conflitoviolento entre os acampados e os proprietários ruraisestá por um fio. Os proprietários rurais têm tido a pa-ciência, não sei até quando, de dar tratamento jurídi-co e político às invasões, especialmente àquelas dasterras produtivas. Sabem eles que qualquer ato de vi-olência, mesmo em legítima defesa da sua proprieda-de, levantará a ira dos defensores dos pobres e exclu-ídos e acabarão como vilões também.

A pobreza da iniciativa do Governo Federal deefetivamente realizar a reforma agrária está jogandoo sem-terra e o proprietário rural numa mesma vala –a vala dos vilões.

A questão é grave. Daí pode nascer um movi-mento de ódio e rancores que não condiz com a for-mação do brasileiro. Por isso é urgente a adoção deprovidências para restabelecer não só o Estado deDireito, mas para dar solução definitiva para essas

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 168

populações esperançosas de terra que acampam nasestradas deste Brasil.

A reforma agrária é urgente. Nosso povo nãopode esperar por mais tempo.

Eu gostaria de me socorrer da imprensa do meuEstado para dar um retrato do que se passa no meiorural sul-mato-grossense – que não é diferente domeio rural de outros Estados. São reportagens dosjornais do meu Estado.

Vejamos:

(...)Até quando esses latifúndios desuma-nos vão continuar pisando nessas pessoas, in-dagou o Governador Zeca do PT? Para acres-centar: “Vamos trabalhar com firmeza paraevitar arbitrariedades contra os sem-terra.Agiremos dentro da lei, mas para controlar asituação de humilhação às famílias.

(Folha do Povo, 2 de outubro);“Sem-terras resistem e queimam pon-

tes”.Uma demonstração de resistência dos

sem-terra que há três meses invadiram aFazenda Austrália, com três mil hectares,em Deodápolis, surpreendeu ontem a tropade 200 soldados da Polícia Militar, que foiaté a local garantir o despejo. Os invasoresincendiaram duas pontes de madeira e umaterceira parcialmente. Também colocaramvários obstáculos no meio de três estradas,dificultando o acesso até o acampamentodeles.

(Correio do Estado, 25-9-99)“Tribunal de Justiça condena 16

sem-terra por saque”.Eles receberam pena de três anos de

reclusão e terão que pagar multa.Os condenados lideraram grupo com

mais de 300 sem-terra, armados com ferra-mentas agrícolas no saque ao caminhãoMercedes-Benz, placa PX 1336, de Casca-vel, no Paraná. Em apenas cinco minutos,conseguiram roubar cerca de 15 toneladasde alimentos e outras mercadorias que fo-ram distribuídas entre 250 famílias acampa-das na região.

(Correio do Estado, em 24-9)“Polícia Militar mobiliza 400 para o

despejo de sem-terra”.Tropa de policiais foi enviada ontem

para a retirada de 550 famílias sem-terra nointerior (...)

(Folha do Povo, em 24-9)

Outra reportagem. Os deputados ameaçampedir intervenção federal no Estado. Aliados toma-ram essa iniciativa para garantir o restabelecimentoda ordem em Mato Grosso do Sul.

Os deputados ameaçam pedir inter-venção federal em Mato Grosso do Sul se oGovernador José Orcírio dos Santos (PT)não tomar duras medidas para restabelecera ordem no Estado. Os próprios aliados doGoverno levantaram essa questão, preocu-pados com as invasões de terras, seqües-tros, abates de reses e desobediência doGovernador em não cumprir ordens judiciaisde reintegração de posse.

(Correio do Estado, 23-9-99)Outra reportagem:“Pode haver mais saques, diz o MST”.Movimento diz que fome pode levar fa-

mílias a saquear, devido ao atraso na distri-buição das cestas básicas.

O alerta foi feito ontem pelo Coordena-dor do Movimento dos Trabalhadores RuraisSem-Terra, em Mato Grosso do Sul, Sr. Egí-dio Brunetto.

Ele disse que já conversou com osacampados, mas alega que a fome é deter-minante entre os acampados da região deItaquiraí, que, nesta semana, saquearam61,7 toneladas de alimentos. “Chega umahora que não dá para segurar”, comentou,ontem, o coordenador do MST.

(Folha do Povo, 23-9-99)“Sem-terra vão ficar sem cestas”Zeca do PT avisou, ontem, que vai

cortar o envio de cestas básicas para osacampamentos dos sem-terra.

Inspirado no sábio chinês Confúcio,Zeca afirmou que não vai mais entregar ospeixes, mas ensinar os sem-terra a pes-cá-los.

“Todo mundo vai ter de pegar no cabodo guatambu”, advertiu.

(Folha do Povo)“Tensão no campo”Governador reage depois de ser criti-

cado por falta de ação contra os sem-terra.O Governador José Orcírio dos Santos

(PT) fez, ontem, a primeira crítica públicaaos sem-terra do Estado. Em Dourados, elecondenou as invasões de fazendas queaterrorizaram os proprietários nos últimosmeses e colocaram em risco a governabili-

169 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

dade. “Os trabalhadores rurais não podemcontinuar pensando que podem tudo emnome da reforma agrária”, advertiu o Gover-nador.

Ele foi duramente criticado, até por ali-ados políticos na Assembléia Legislativa,pela falta de controle das ações dossem-terra. Os Deputados ameaçaram inclu-sive com o impeachment do Governador sea medida não fosse adotada para minimizaro clima de tensão nas propriedades rurais.

O Governador reagiu prometendo agircom pulso firme para manter a ordem noEstado. Ele quer mostrar que não perdeu aautoridade, condenando as invasões indis-criminadas, e mantém o idealismo pela de-fesa da reforma agrária.

Nas críticas aos invasores, Orcírio dosSantos não citou, porém, o Movimento dosTrabalhadores Sem Terra (MST) como oresponsável pela anarquia que se alastrouno campo. Em recente encontro com Depu-tados estaduais, José Orcírio teria dito quenão estava defendendo a violência nem asinvasões de propriedades e, depois, prome-teu desocupar as áreas invadidas pacifica-mente. Mas, agora, o Governador endure-ceu o discurso contra os invasores de terrano Estado. Não deixou de criticar, também,a morosidade da implantação da reformaagrária no Estado. “As doze mil famíliasacampadas em várias partes do Mato Gros-so do Sul depõem contra o Estado”, obser-vou o Governador.

(Correio do Estado, 14-10-99)“José Orcírio tenta acabar com clima

tenso e reaglutinar sua base aliada naAssembléia.”

O Governador José Orcírio dos Santos(PT) foi, ontem, à Assembléia Legislativa re-atar as relações com os Deputados, aca-bando com o clima tenso e de confronto, de-pois de passar duas semanas atacando osseus aliados, inclusive a Bancada Federal.Ele ouviu muitas queixas, principalmente dasua base aliada, com atuação do Governona busca da solução para os conflitos nocampo.”

(Correio do Estado, 14-10-99)“Sem-terra nos últimos dias invadiram

oito fazendas e ontem bloquearam aMS-160”

Os sem-terra resolveram revidar osataques do Governador José Orcírio Miran-da dos Santos promovendo uma série deações. Mas lembraram que os protestos es-tão sendo feitos desde o início da OperaçãoDespejo, realizada pela Polícia Militar no fi-nal do mês passado. O Coordenador daCUT (Central Única dos Trabalhadores), Pa-ulo César Farias, disse que todas as pro-messas feitas pelo Governador e em nomedele não foram cumpridas.

Ontem mesmo eles bloquearam aMS-160, a 20 Km do centro de Sete Que-das. Cerca de oitocentos homens, mulherese crianças paravam os veículos que passa-vam pela estrada. Os bloqueios relâmpagoforam feitos também no feriadão, para anga-riar dinheiro. O congestionamento chegou aquatro quilômetros. Segundo Paulo César,os caminhões que transportam alimentossão saqueados.

Enquanto isso, os sem-terra ligados àFetagri (Federação dos Trabalhadores naAgricultura) estão desafiando, além do Go-vernador, as autoridades judiciais e policiaiscom invasões em série. Durante o último fi-nal de semana e o início desta, eles invadi-ram oito fazendas no Estado. Segundo ga-rantiram, é apenas o começo de uma sériede ocupações.

A meta é ocupar trinta propriedadesrurais até o fim do ano. O Presidente da en-tidade, Sr. Geraldo Teixeira de Almeida, dizque a única forma de parar as invasões éabrindo novos assentamentos. Terça-feira,eles entraram nas fazendas Pouso Alegre eDois Irmãos do Buriti, com dezenove milhectares, ambas situadas em Bataguassu.Na madrugada do dia seguinte, invadiram aFazenda Rancho Loma, em Iguatemi, comdois mil e quinhentos hectares.

No final da semana passada, ossem-terra da Fetagri invadiram também asfazendas Guarani e Tererê, localizadas emSidrolândia. No mesmo dia, entraram naAlegrete e Cachoeira Bonita, as duas emRio Brilhante, além de terem invadido a fa-zenda Cachoeira Bonita, em Iguatemi. Sãooito invasões em apenas sete dias.

Deste o início do ano, aconteceram oi-tenta e nove invasões de fazendas, sob a

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 170

responsabilidade dos movimentos dos quecoordenam os sem-terra.

(Correio do Estado, 15-10-99)

É natural que o Senhor Governador pregue aluta em favor dos sem-terra, radicalizando, inclusive,unilateralmente a sua opção. É natural que os pro-prietários rurais defendam suas terras. É natural queos Parlamentares exijam a defesa do Estado de Di-reito. É natural que o povo peça paz no campo, paraproduzir melhor, exigindo a reforma agrária já. Maso que não é natural e nem tolerável por todos nós éque essa situação perdure por mais tempo.

Que reforma agrária é essa que instiga o desejopela terra, mas a oferece mitigadamente, fazendocrescer o desespero do trabalhador, colocando-o emconfronto com o produtor, com prenúncios fortes deiminente violência?

O Ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann,tem merecido de todos nós os elogios pelos avançosque proporcionou à reforma agrária. Os resultadossão acanhados, não pela falta do seu interesse e dasua pertinaz busca de soluções, mas por falta da dis-ponibilização dos recursos necessários para a suamelhor execução.

Como membro da Comissão para a Erradicaçãoda Pobreza, ouvi as melhores autoridades sobre a ex-clusão social. Se fosse por mim, fosse só por mim, ad-vogando os interesses do meu povo e da minha Pá-tria, eu decretaria o fim da pobreza com a efetiva e ur-gente reforma agrária, com recursos inclusive do im-posto sobre a remessa de dólares para o exterior. Re-conciliaria os homens do campo, os sem-terra e oscom-terra, antes que ambos sejam considerados, in-justamente, os promotores da violência que, histori-camente, como Nação não aceitamos, e se tornemeles os vilões da Pátria.

Que Deus nos guarde.Muito obrigado.

Durante o discurso do Sr. Juvêncio daFonseca, o Sr. Carlos Patrocínio, 2º Secre-tário, deixa a cadeira da presidência, que éocupada pelo Sr. Ademir Andrade, 2º Vi-ce-Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Pror-rogo a Hora do Expediente por 15 minutos, para oatendimento de três inscrições de comunicação ina-diável.

Concedo a palavra, em primeiro lugar, ao Sena-dor Eduardo Suplicy, por 5 minutos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do

orador.) – Sr. Presidente, em seu depoimento ontem,na Comissão Mista de Combate à Pobreza, o Ministroda Educação, Paulo Renato Souza, revelou os dadosmais atualizados relativos à aplicação da Lei nº 9.533,que autoriza o Governo Federal a financiar 50% dosgastos dos Municípios que implantarem Programasde Renda Mínima associados à educação.

Houve, mais de um ano e dez meses da sançãoda Lei pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso,uma ligeira aceleração da aplicação da Lei.

Mas, pelos cálculos do Ipea, conforme ressaltaa Folha de S.Paulo de hoje, das 10,3 milhões famíli-as brasileiras que potencialmente seriam beneficiári-as do Projeto de Renda Mínima, até agora, 3% estãosendo beneficiadas. O número de municípios é de573, conforme a revelação feita ontem pelo Ministro.

O valor dos convênios já assinados pela União éde R$30,6 milhões, mas efetivamente já foram repas-sados R$15 milhões para os municípios. O valor mé-dio mensal do beneficio está em R$35,60, dos quais oGoverno Federal financia 50% e o município os outros50%. O número de famílias beneficiadas nestes 573municípios corresponde a 298.580; e o número de cri-anças de sete a 14 anos seria de 604.288.

Sr. Presidente, quando comparamos o volumede recursos até agora destinados para o Programa deRenda Mínima com o volume de recursos a serem pa-gos, neste ano, para juros reais – sendo estes superi-ores a R$70 bilhões –, ficamos pensando no grau deprioridade que efetivamente o Governo está dandopara a erradicação da pobreza absoluta no Brasil.

Sr. Presidente, é importante que sacudamos oGoverno Fernando Henrique Cardoso. Ontem, quan-do coloquei essas questões para o Ministro Paulo Re-nato, ele respondeu : “Puxa! Mas parece que vocêsnão observam que há hoje um número muito signifi-cativo de pessoas que, no Nordeste e em todo o Bra-sil, recebem a aposentadoria pela LOAS, Lei Orgâni-ca da Assistência Social”. Como se fosse extraordiná-rio que pessoas de 65 anos, 70 anos ou mais estives-sem recebendo, como um direito à cidadania, um sa-lário-mínimo da ordem de R$136. Esse número tãogrande – segundo ele – de pessoas refere-se àquelasque, ao longo da nossa história, não tiveram oportuni-dade para ganhar o seu direito à sobrevivência. Den-tre outros, quais são aqueles que não conseguem re-ceber qualquer coisa que não seja essa salá-rio-mínimo nas regiões mais pobres do Brasil? São osdescendentes dos escravos. São aqueles que traba-lharam na roça por tantos anos, sem quaisquer direi-tos, e, depois, não tiveram qualquer outra alternativade sobrevivência para si e para as suas crianças, por-

171 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

que muitas delas vivem em torno daquele salá-rio-mínimo.

Sr. Presidente, afirmar que não estamos enxer-gando aquilo que a Constituinte de 1988 definiu comoum direito de todos os brasileiros é não olhar para arealidade.

Amanhã diremos ao Ministro Malan, quando dasua presença na comissão que examina os proble-mas da pobreza e as suas soluções, que muito maiorprioridade deve ser dada ao ataque à pobreza e à pro-moção de maior justiça e igualdade no Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Con-cedo a palavra ao Senador Jonas Pinheiro, por cincominutos, para uma comunicação inadiável.

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL – MT.Para brevecomunicação. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, Srªs e Srs.Senadores, aproveitando a presença doSenador José Fogaça, Relator da Medida Provisórianº 1.918, apelamos ao Senado Federal e ao Congres-so Nacional para que não deixem que essa medidaseja reeditada, porque a Medida Provisória nº 1.918 éo que o meio rural brasileiro está aguardando nosdias de hoje. Essa medida provisória é esperada commuita ansiedade, uma vez que o calendário agrícolanão pode aguardar a sua reedição. Ela deve ser apro-vada. Pedimos encarecidamente ao Congresso Naci-onal, ao Presidente Antonio Carlos Magalhães queconvoque para amanhã, se possível, uma reunião doCongresso Nacional, tendo em vista que, além de suaimportância, essa medida provisória foi exaustiva-mente negociada com o Governo Federal, sob o co-mando do Relator, Senador José Fogaça, e do Presi-dente da Comissão, Deputado Carlos Melles.

Segundo a negociação, para as dívidas securiti-zadas – Lei nº 9.138/95 –, estabeleceu-se para o pro-dutor que pagar a sua parcela em dia um bônus deadimplência de 30% sobre o valor da parcela a serpaga, quando esse saldo, apurado em 31 de julho de1999, não ultrapassar R$50 mil. Se a dívida securiti-zada ultrapassar esse valor, em 31 de julho de 1999,a parcela a ser paga terá um bônus de adimplência de15% sobre o valor da parcela.

Também sobre as dívidas securitizadas, as ne-gociações da Comissão Mista estabeleceram que asdívidas de até R$10 mil, em 31 de julho de 1999, comparcelas vencíveis em 31 de outubro de 1999 e 2000,terão prazo de pagamento prorrogado, respectiva-mente, para o primeiro e o segundo ano subseqüenteao do vencimento da última parcela anteriormentepactuada.

Para dívidas acima de R$10 mil, em 31 de julhode 1999, a parcela vencível em 31 de outubro de 1999

será prorrogada para 31 de dezembro de 1999 parapagamento de 10% do seu valor, ficando prorrogadoo prazo dos restantes 90% para o primeiro ano subse-qüente ao do vencimento da última parcela anterior-mente pactuada.

Para dívidas também acima de R$10.000, em31 de julho de 1999, a parcela vencível em 31 de ou-tubro de 2000 terá pagamento de 15% do seu valor, fi-cando os 85% para o segundo ano subseqüente aodo vencimento da última parcela anteriormente pac-tuada – portanto, daqui a 11 ou 12 anos.

As dívidas que não foram securitizadas – queestão dentro do Programa PESA, o Programa de Sa-neamento do Ativo – foram contraídas até 20 de junhode 1995. O esforço dessa Comissão incluiu as opera-ções contratadas até 31 de dezembro de 1997. Por-tanto, as dívidas até essa data figurarão também nes-sa negociação, desde que nos respectivos contratosestejam previstos indexadores, como nos FundosConstitucionais, BNDES, Prodecer e da chamada 63caipira. Também está consignado que há um rebatede juros, no PESA de 8 a 10% ao ano, passando a serde 6 a 8% ao ano, conforme o volume de pagamento.

Por fim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, oGoverno permitiu que fosse autorizado aos agentesfinanceiros o financiamento da aquisição dos títulosdo Programa PESA (10,37%) do valor da dívida.

Portanto, Sr. Presidente, mais uma vez fazemosum apelo para que o Congresso Nacional se reúnaaté amanhã para que proceda à aprovação dessamedida provisória, tão importante para a agriculturabrasileira e o meio rural de todo País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Lem-

bramos aos Srs. Senadores que se encontram emseus gabinetes que teremos votação nominal de qua-tro matérias e por isso pedimos a S. Exªs que compa-reçam ao plenário.

Sobre a mesa, Projetos de Lei do Senado queserão lidos pelo Sr. 1º Secretário em exercício, Sena-dor Nabor Júnior.

São lidos os seguintes:

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 583, DE 1999

Dispõe sobre a alienação de títulosextrajudiciais relativos a créditos inscri-tos em dívida ativa, e dá outras providên-cias.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º A dívida ativa é bem móvel passível de

cessão onerosa a terceiros.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 172

§ 1º A cessão de que trata o caput será feitapela modalidade de leilão, observada a legislação es-pecífica aplicável à espécie.

§ 2º Ao devedor é garantido o direito de prefe-rência, no prazo de 48 horas, no mínimo pelo mesmopreço oferecido pelo vencedor do leilão.

§ 3º A Fazenda Nacional pode condicionar o di-reito de preferência à aquisição dos direitos dos de-mais créditos do lote, se houver.

§ 4º O cedente é responsável perante o cessiná-rio, pela existência do crédito, mas não pela solvênciado devedor, arcando apenas com os danos emergen-tes suportados pelo cessionário, na eventualidade dedesconstituição do crédito.

§ 5º O cessionário sub-roga-se em todos os di-reitos, garantias e privilégios do cedente, mas assu-me integralmente os riscos do êxito da cobrança.

§ 6º Recolhido o valor da alienação ao TesouroNacional, com dinheiro à vista, ou a prazo de 3(três)dias, a dívida ativa terá imediatamente sua inscriçãocancelada.

Art. 2º O pagamento da dívida ativa, bem comoda cessão de direitos sobre dívida ativa, pode ser feitomediante compensação com crédito líquido e certocontra a Fazenda Nacional, inclusive de terceiros ouconstantes de precatório.

Parágrafo Único. Na hipótese de que trata esteartigo, a adjudicação da cessão de direitos caberá aolicitante que oferecer à Fazenda Nacional a melhorvantagem considerando a soma algébrica dos desá-gios dos créditos a serem compensados.

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Justificação

A recuperação de créditos inscritos em dívidaativa constitui-se num dos mais sérios e desafiadoresproblemas da administração fiscal. Não obstante todoo esforço das Procuradorias, o montante só faz cres-cer a cada ano. Os recebimentos, seja em cobrançaadministrativa, seja em parcelamentos concedidos,ou ainda em execução judicial, revelam-se semprecom proporção ínfima, girando em torno de um a doispor cento do estoque total.

Somente a União, juntando-se os créditos daadministração direta e da Previdência Social, obser-va-se estoque que ultrapassa a casa dos 150 bilhõesde reais e, todavia, segue crescendo.

Na Previdência Social, por exemplo, o montantesaldou de R$16,9 bilhões em 1994 para R$30,7 bi-lhões em 1997. O índice de recuperação desses cré-

ditos foi de 0,66% em 1994, 1,61% em 1995, 5,73%em 1996 e de 3,17% no ano de 1997.

A incapacidade do Poder Público em cobrarseus créditos cria noção de impunidade. Os maus pa-gadores, que já desfrutam da possibilidade de umagrande delonga na constituição do crédito, proporcio-nada pela generosidade das regras processuais, sa-bem que, mesmo depois que sua dívida assumiu ocaráter de liquidez, certeza e executoriedade (pelasimples inscrição em dívida ativa) ainda assim goza-rão de abrigo seguro, dado que em raríssimos casosa cobrança terá desfecho efetivo.

Com este projeto, são oferecidas duas possibili-dades de encaminhar solução para o problema: a ali-enação da dívida e a compensação dos créditos con-tra o Governo.

A idéia da alienação parte do pressuposto deque é mais vantajoso para o Governo recuperar parci-almente um crédito do que mantê-lo íntegro, porém,inútil e incobrável. Até mesmo porque, quanto maisantigo o crédito, menores são as probabilidades desua realização. Atuam nesse sentido, por exemplo, odesaparecimento da empresa devedora e o cresci-mento da importância a pagar, pelo acúmulo de en-cargos, tornando-o desproporcional em relação aopatrimônio do devedor.

Tornando a dívida pública um valor mobiliário, épossível até que se forme um mercado secundárioem que ele seja renegociado.

A segunda alternativa, constante do projeto,para encaminhamento da solução para o problema, éa compensação de débitos. Sucede que, assim comoa Fazenda tem montanhas de créditos inscritos emdívida ativa para cobrar, tem, de outro lado, pendênci-as de débito de várias origens e natureza, tais comoprecatórios judiciais, pagamentos a empreiteiras deobras e serviços, restituição de impostos etc.

Abrindo caminho para a compensação de taisvalores, o projeto contribui para a regularização dasfinanças públicas, com inúmeros aspectos positivos.

À consideração de Vossa Excelências.Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999.– Se-

nador Luiz Estevão.

(Às Comissões de Constituição, Justi-ça e Cidadania e de Assuntos Econômicos,cabendo à última a decisão terminativa.)

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 584, DE 1999

Dispõe sobre delegação a advogadoparticular para cobrança de créditos ins-critos na dívida ativa, e dá outras provi-dências.

173 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º A Fazenda Nacional poderá delegar, medi-

ante outorga de mandato, a representação judicial e ex-trajudicial a advogado particular, especificamente paraa cobrança da dívida ativa, mediante remuneração deêxito não excedente a dez por cento do valor efetiva-mente recebido, mais encargos de sucumbência.

§ 1º A anuência à delegação implica:I – aceitação da supervisão, o acompanhamen-

to e o controle dos serviços delegados, bem assim aintervenção da Fazenda Nacional, por meio de seusprocuradores, sempre que julgado necessário, direta-mente nos processos patrocinados por advogadoparticular;

II – impedimento automático para advogar con-tra a Fazenda Nacional.

§ 2º O mandato será cassado sem pagamentode honorários ou ressarcimentos, tão logo evidencia-da negligência ou má condução do processo, passí-veis de criar risco considerável para seu êxito ou decausar prejuízo à Fazenda Nacional.

§ 3º O mandatário equipara-se a agente públicopara os fins do disposto na Lei nº 8.429, de 2 de junhode 1992, bem como sujeita-se, no que couber, às co-minações dos arts. 312 a 327 do Código Penal.

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Justificação

A recuperação de créditos inscritos na dívidaativa é um dos mais sérios problemas da administra-ção fiscal. As Procuradorias, por mais que tentem,não conseguem cobrar as dívidas, que só aumentama cada ano. Apenas conseguem repor aos cofres pú-blicos uma média de dois por cento do estoque total.

150 bilhões de reais é o montante do estoquedevido à União, juntando-se os créditos da adminis-tração direta e da Previdência Social. Isso, hoje. Ama-nhã, com certeza será maior.

Apenas na Previdência, o montante saltou deR$16,9 bilhões em 1994 para R$30,7 bilhões em1997. O índice de recuperação desses créditos foi de0,66% em 1994, 1,61% em 1995, 5,73% em 1996 ede 3,17% no ano de 1997.

A incapacidade de o Poder Público cobrar taiscréditos gera a impunidade. Os maus pagadores, ci-entes dessa odiosa anomalia, não se preocupam emquitar seus débitos, nem mesmo sabendo-os líqui-dos, certos e passíveis de imediata execução.

Como o projeto contém uma possibilidade desolução para o problema: a terceirização da cobran-

ça, para suprir a lacuna da Fazenda Pública, não rarodesfalcada em seus serviços jurídicos.

Há argumentos contrários à idéia, talvez basea-dos no excesso de zelo dos elementos corporativos.

Uma experiência insatisfatória não deve, emprincípio, inviabilizar outra alternativa.Justamente paracorrigir os equívocos ocorridos, o projeto oferece a se-guinte segurança: o profissional que aceitar a incum-bência, aceitará a supervisão, o controle e o acompa-nhamento estrito de advogado de ofício; o procuradorpoderá intervir no processo quando verificar estar omesmo sendo mal conduzido; o advogado ad hoc ficaequiparado a agente público para fins penais.

À consideração de Vossas Excelências.Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-

nador Luiz Estevão.

LEGISLAÇÃO CITADA

LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992

Dispõe sobre as sanções aplicáveisaos agentes públicos nos casos de enri-quecimento ilícito no exercício de man-dato, cargo, emprego ou função na admi-nistração pública direta, indireta ou fun-dacional e dá outras providências.

....................................................................................

Código Penal

....................................................................................

Art. 312. Apropriar-se o funcionário público dedinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públicoou particular, de que tem a posse em razão do car-go, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, emulta.

* Vide Decreto-Lei nº 3.240, de 8 de maio de 1941 (se-qüestro de bens por crimes de que resulta prejuízo para a Fazen-da Pública).

* Vide Decreto-Lei nº 502, de 17 de março de 1969, queestabelece medidas acauteladoras para o confisco de bens.

§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionáriopúblico, embora não tendo posse do dinheiro, valor oubem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidadeque lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Peculato culposo§ 2º Se o funcionário concorre culposamente

para o crime de outrem:Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)

ano.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 174

§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparaçãodo dano, se precede à sentença irrecorrível, extinguea punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade apena imposta.

Peculato mediante erro de outrem

Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquerutilidade que, no exercício do cargo, recebeu porerro de outrem:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, emulta.

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou docu-mento

Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer do-cumento, de que tem a guarda em razão do cargo;sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, seo fato não constitui crime mais grave.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas

Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicasaplicação diversa da estabelecida em lei:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, oumulta.

* Vide art. 1º, II, do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereirode 1967, sobre responsabilidade dos prefeitos e vereadores.

Concussão

Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, diretaou indiretamente, ainda que fora da função ou antesde assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevi-da:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, emulta.

* Vide art. 438 do Código de Processo Penal.

Excesso de exação§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribui-

ção social que sabe ou deveria saber indevido, ou,quando devido, emprega na cobrança meio vexatórioou gravoso, que a lei não autoriza:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, emulta.

** § 1º com redação determinada pela Lei nº 8.137, de 27de dezembro de 1990.

§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprioou de outrem, o que recebeu indevidamente para re-colher aos cofres públicos:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, emulta.

Corrupção passiva

Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou paraoutrem, direta ou indiretamente, ainda que fora dafunção ou antes de assumi-la, mas em razão dela,

vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal van-tagem:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, emulta.

§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, emconseqüência da vantagem ou promessa, o funcioná-rio retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofícioou o pratica infringindo dever funcional.

* Vide art. 438 do Código de Processo Penal.* Vide Lei nº 5.553, de 6 de dezembro de 1968 (retenção

de documentos).

§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticarou retarda ato de ofício, com infração de dever fun-cional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)ano, ou multa.

** Vide art. 438 do Código de Processo Penal.

Facilitação de contrabando ou descaminho

Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcio-nal, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, emulta.

** Pena alterada pela Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de1990.

* Vide art. 334 do Código Penal.* Processo e julgamento do crime de contrabando ou des-

caminho trata o art. 61 da Lei nº 5.010, de 30 de maio de 1966.* Vide Decreto-Lei nº 16, de 10 de agosto de 1966 (produ-

ção, comércio e transporte clandestino de açúcar e álcool).* Vide Lei nº 6.910, de 27 de maio de 1981.* Sobre apuração do crime de contrabando ou descaminho

trata o art. 510, § 2º, do Decreto nº 91.030, de 5 de março de1985.

* Vide art. 144, § 1º, II, da Constituição Federal de 1988.* Perda do credenciamento do despachante ou ajudante

de despachante aduaneiro, nos casos dos crimes de contrabandoou descaminho, trata o art. 30, III, do Decreto nº 646, de 9 de se-tembro de 1992.

* Sobre a competência da Polícia Rodoviária Federal noscasos de prevenção e repressão nos crimes de contrabando oudescaminho trata o art. 1º, X, do Decreto nº 1.655, de 3 de outu-bro de 1995.

* Vide Súmula 560 do STF.* Vide art. 1º, II, do Decreto nº 2.730, de 10 de agosto de

1998.

PrevaricaçãoArt. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevi-

damente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposiçãoexpressa de lei, para satisfazer interesse ou senti-mento pessoal:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)ano, e multa.

* Vide art. 438 do Código de Processo Penal.

Condescendência criminosa

175 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência,de responsabilizar subordinado que cometeu infraçãono exercício do cargo ou, quando lhe falte competên-cia, não levar o fato ao conhecimento da autoridadecompetente:

Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um)mês, ou multa.

Advocacia administrativaArt. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, in-

teresse privado perante a administração pública, va-lendo-se da qualidade de funcionário:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, oumulta.

Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)

ano, além da multa.* Vide art. 91 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 (lici-

tações e contratos da administração pública).

Violência arbitráriaArt. 322. Praticar violência, no exercício de fun-

ção ou a pretexto de exercê-la:Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três)

anos, além da pena correspondente à violência.* * Vide Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, conside-

ra revogadora do art. 322 do Código Penal (TACrimSP – 2º Câm.– Ap. Crim. 6.404, Rel. Paula Bueno, j. 26-9-68. RT. 398:298).

Abandono da funçãoArt. 323. Abandonar cargo público, fora dos ca-

sos permitidos em lei:Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um)

mês, ou multa.§ 1º Se do fato resulta prejuízo público:Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)

ano, e multa.§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na

faixa de fronteira:Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e

multa.* Sobre a faixa de fronteira: Decreto-lei nº 9.760, de 5 de

setembro de 1946, arts. 204 e 205; Decreto-lei nº 1.414, de 18 deagosto de 1975; Lei nº 6.634, de 2 de maio de 1979; e Decreto nº85.064, de 26 de agosto de 1980.

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou pro-longado.

Art. 324. Entrar no exercício de função públicaantes de satisfeitas as exigências legais, ou continuara exercê-la, sem autorização, depois de saber oficial-mente que foi exonerado, removido, substituído oususpenso:

Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um)mês, ou multa.

Violação de sigilo funcional

Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em ra-zão do cargo e que deva permanecer em segredo, oufacilitar-lhe a revelação:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais gra-ve.

* Vide, sobre preservação do sigilo profissional, o art. 3º e§§ 1º a 5º, da Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995.

Violação do sigilo de proposta de concorrênciaArt. 326. Devassar o sigilo de proposta de con-

corrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejode devassá-lo:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)ano, e multa.

** Prejudicado este artigo pelo disposto no art. 94 da Lei nº8.666, de 21 de junho de 1993 (licitações e contratos da adminis-tração pública), constante deste volume.

* Vide arts. 85 e 99 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de1993 (licitações e contratos da administração pública).

Funcionário PúblicoArt. 327. Considera-se funcionário público, para

os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ousem remuneração, exerce cargo, emprego ou funçãopública.

§ 1º Equipara-se a funcionário público quemexerce cargo, emprego ou função em entidade para-estadual.

* Primitivo parágrafo único passado a § 1º pela Lei nº6.799, de 23 de junho de 1980.

§ 2º A pena será aumentada da terça partequando os autores dos crimes previstos neste Capítu-lo forem ocupantes de cargos em comissão ou de fun-ção de direção ou assessoramento de órgão da admi-nistração direta, sociedade de economia mista, em-presa pública ou fundação instituída pelo poder públi-co.

** § 2º acrescentado pela Lei nº 6.799, de 23 de junho de1980.

.Vide arts. 83 e 84 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993(licitações e contratos da administração pública).

(Às Comissões de Constituição, Justi-ça e Cidadania e de Assuntos Econômicos,cabendo à última a decisão terminativa.)

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Osprojetos lidos serão publicados e remetidos às Co-missões competentes.

Sobre a mesa, ofício que será lido pelo Sr.1º Se-cretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 176

OF. Nº 57/99 – CCJ

Brasília, 15 de setembro de 1999

Senhor Presidente,Em cumprimento ao art. 91, §2º, comunico a V.

Exª que, em reunião realizada nesta data, estaComissão deliberou pela aprovação do Projeto de Leido Senado nº 194, de 1999, de autoria do SenadorRoberto Requião que “altera a Lei nº 9.504, de 30 desetembro de 1997, que ‘estebelece normas para aseleições’ para ampliar a segurança e a fiscalização dovoto eletrônico”.

Cordialmente, Senador José Agripino Maia,Presidente da Comissão de Constituição, Justiça eCidadania.

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Comreferência ao ofício que acaba de ser lido, aPresidência comunica que, nos termos do art. 91, § §3º e 5º, do Regimento Interno, fica aberto o prazo decinco dias úteis para a interposição de recursos, porum décimo da composição da Casa, para que oProjeto de Lei do Senado nº 194, de 1999, cujoparecer foi lido anteriormente, seja apreciado peloPlenário.

Sobre a mesa, Recurso que será lido pelo Sr. 1ºSecretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

RECURSO Nº 23, DE 1999

Recorremos, nos termos do art. 91, § 3º, doRegimento Interno do Senado Federal, da decisãoterminativa nas Comissões, para o Projeto de Lei nº194/99, de autoria do Senador Roberto Requião, sejaapreciado pelo Plenário.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. –Bello Parga – José Fogaça – Carlos Patrocínio –Nabor Júnior – Jefferson Péres – LeomarQuintanilha – Ramez Tebet – Geraldo Cândido –Jonas Pinheiro – Lúcio Alcântara.

O Sr. Ademir Andrade, 2ºVice-Presidente, deixa a cadeira dapresidência, que é ocupada pelo Sr. AntonioCarlos Magalhães, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Está deferido o recurso.

Sobre a mesa, ofícios que serão lidos pelo Sr. 1ºSecretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

São lidos os seguintes:

OF. Nº 416/99

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Indico a Vossa Excelência, nos termos

regimentais, o Sr. Deputado Fernando Gonçalves(PTB – RJ) para, na qualidade de Titular, integrar aComissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos eFiscalização, em substituição ao Sr. DeputadoRenildo Leal (PTB – PA), que passa a ser Suplente,juntamente com o Sr. Deputado Nelson Marquezelli(PTB – SP), em vagas existentes naquela Comissão.

Ao ensejo, renovo a Vossa Excelência protestosde estima e apreço. – Deputado Roberto Jefferson,Líder do PTB.

OF. PSDB/I/Nº 1.376/99

Brasília, 20 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Nos termos regimentais, indico a Vossa

Excelência o Senhor Deputado Antonio Cambraia,como membro titular, para integrar a Comissão Mistadestinada a analisar a MP 1924/99, em substituiçãoao anteriormente indicado.

Atenciosamente, Deputado Aécio Neves, Líderdo PSDB.

OF. GLPMDB Nº 292/99

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Nos termos regimentais, comunico a V. Exª a

indicação do Senador Renan Calheiros, comomembro suplente, em substituição ao SenadorDjalma Falcão na Comissão Parlamentar deInquérito, destinada a apurar fatos contendodenúncias concretas a respeito de irregularidadespraticadas por integrantes dos Tribunais Superiores,de Tribunais Regionais e de Tribunais de Justiça.

Colho o ensejo para renovar a V. Exª votos deapreço e estima. – Senador Jader Barbalho,Líder doPMDB.

OF. Nº 114/99-LPSDB

Brasília, 20 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Solicito a V. Exª determinar as providências

necessárias no sentido de proceder as seguintesalterações quanto à composição do PSDB nasComissões de Assuntos Sociais, de AssuntosEconômicos, de Serviços de Infra-estrutura e deEducação:

– Retirar o Senador Paulo Hartung de todas ascomissões acima relacionadas e incluir o Senador

177 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Romero Jucá como titular da Comissão de Assun-tos Econômicos e o Senador Sérgio Machado comotitular da Comissão de Assuntos Sociais.

Na oportunidade, renovo protesto de elevadaestima e distinta consideração. – SenadorSérgio Ma-chado, Líder do PSDB.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Serão feitas as substituições solicitadas.

Sobre a mesa, ofício que será lido pelo Sr.1º Se-cretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

OF. GLPMDB Nº 291/99

Brasília, 19 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Nos termos regimentais, comunico a V. Exª a in-

dicação do Senador Luiz Estevão, como membro titu-lar, na Comissão de Educação – CE.

Colho o ensejo para renovar a V. Exª votos deapreço e estima.

Senador Jader Barbalho, Líder do PMDB.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – A Presidência designa o Sr. Senador LuizEstevão, como titular, para integrar a Comissão deEducação, de conformidade com o ofício que acabade ser lido.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Passa-se à

ORDEM DO DIA

Item 1:

Segundo dia de discussão, em segun-do turno, da Proposta de Emenda à Cons-tituição nº 65, de 1999, de autoria do Sena-dor Jefferson Peres e outros senhores Se-nadores, que altera a redação do § 3º doart. 58 da Constituição Federal para acres-centar poderes às Comissões Parlamenta-res de Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, da Co-missão de Constituição, Justiça e Cidada-nia, Relator: Senador Amir Lando, oferecen-do a Redação do Substitutivo aprovado emprimeiro turno.

A Presidência esclarece ao Plenário que, nostermos do disposto no art. 363 do Regimento Interno,a matéria constará da Ordem do Dia, durante trêssessões deliberativas ordinárias, em fase de discus-são em segundo turno, quando poderão ser ofereci-das emendas que não envolvam o mérito.

Transcorre hoje a segunda sessão de discussão.

Em discussão a Proposta. (Pausa)Não havendo quem peça a palavra, a Proposta

voltará na Ordem do Dia da sessão deliberativa ordi-nária, de amanhã.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 2:

Discussão, em turno único, do Projetode Lei da Câmara nº 10, de 1999 (nº2.960/97, na origem), de iniciativa do Presi-dente da República, que dispõe sobre o pro-cesso e julgamento da ação direta de in-constitucionalidade e da ação declaratóriade constitucionali dade perante o SupremoTribunal Federal, tendo

Pareceres sob nºs 192 e 778, de 1999,da Comissão de Constituição, Justiça e Ci-dadania, 1º pronunciamento (sobre o Proje-to), Relator: Senador Bernardo Cabral, favo-rável, nos termos da Emenda nº 1-CCJ, queoferece, acolhendo, ainda, a Emenda Modi-ficativa nº 2-CCJ, do Senador Romeu Tuma,tendo sido juntadas ao Parecer três Deci-sões unânimes do STF; e 2º pronunciamen-to (sobre as Emendas de Plenário nºs 3 e4), Relator do vencido: Senador RomeuTuma, pela rejeição, com votos contráriosdos Senadores Jefferson Peres, ÁlvaroDias, Antonio Carlos Valadares e, em sepa-rado, dos Senadores Bernardo Cabral eJosé Eduardo Dutra.

Discussão em conjunto do projeto e das emen-das, em turno único. (Pausa)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Sobre a mesa, requerimento de retirada dasEmendas nºs 1 e 2, da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, que será lido pelo Sr. 1º Secretá-rio em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

OF. Nº 62/99 – CCJ

Brasília, 20 de outubro de 1999

REQUERIMENTO Nº 639, DE 1999Senhor Presidente,Nos termos do § 1º do art. 256 do Regimento

Interno, comunico a Vossa Excelência que esta Co-missão deliberou pela retirada das Emendas nºs 1 e 2– CCJ, oferecidas ao Projeto de Lei da Câmara nº 10,de 1999, que “dispõe sobre o processo e julgamentoda ação direta de inconstitucionalidade e da ação de-claratória de constitucionalidade perante o Supremo

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 178

Tribunal Federal”, constante da Ordem do Dia daSessão Deliberativa do Senado Federal, de hoje, dia20 de outubro de 1999.

Sala da Comissão, 20 de outubro de 1999. –José Agripino, Presidente – Bernardo Cabral –Romeu Tuma.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em votação o requerimento que acaba de serlido.

Solicito aos Srs. Líderes de Partido e de Gover-no que prestem atenção às matérias que serão vota-das a partir deste instante.

Em votação o requerimento.As Srªs e Srs. Senadores que o aprovam quei-

ram permanecer sentados. (Pausa)Aprovado.Aprovado o requerimento, passa-se à votação

do projeto, sem prejuízo das emendas de Plenário.Sobre a mesa, requerimento de destaque que

será lido pelo Sr. 1º Secretário em exercício, SenadorNabor Júnior.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 640, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos regimentais, destaque

para votação em separado, das expressões “...res-tringir os efeitos daquela declarção ou...” e “...ou deoutro momento que venha a ser fixado.”, constante doart. 27 do Projeto de Lei da Câmara nº 10/99.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. –Ma-rina Silva.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em votação o requerimento.

As Srªs e os Srs. Senadores que concedem odestaque queiram permanecer sentados. (Pausa)

Rejeitado o destaque.Em votação o projeto, sem prejuízo das Emen-

das nºs 03 e 04-Plen.O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –

Sr. Presidente, peço a palavra para encaminhar a vo-tação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª para encaminhara votação.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Para encaminhar. Sem revisão do orador.) – Sr. Presi-dente, Srªs e Srs. Senadores, trata-se de projeto deiniciativa do Presidente da República, pelo qual sebusca regular a chamada jurisdição constitucional, ouseja, o processo e julgamento da ação direta de in-

constitucionalidade e da ação declaratória de consti-tucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal.

É importante esclarecer, inicialmente, como sedá, nos dias atuais, o chamado controle de constituci-onalidade das leis no Brasil. Temos aqui aquilo que osautores comumente chamam de sistema híbrido oumisto do controle de constitucionalidade das leis.

Até a aprovação da Emenda Constitucional nº16, de 1965, o Brasil adotava uma técnica de controlede constitucionalidade copiada do sistema nor-te-americano. O modelo ianque foi introduzido pelaSuprema Corte daquele País, em 1803, no famosocaso Marbury vs. Madison, relatado pelo Presidentedaquele Tribunal, o Chief Justice John Marshall.

Em que consiste o modelo norte-americano?Consiste na prerrogativa inerente a todo juiz, de qual-quer instância, de, diante de um caso concreto, compartes contrapostas e contencioso acerca de determi-nado interesse jurídico, declarar esse mesmo magis-trado a inaplicabilidade de certa lei tida como referen-cial ao exame da matéria, por ser ela incompatívelcom a Constituição (lei inconstitucional).

O mais importante é que essa declaração deconstitucionalidade só gera efeitos entre as partesenvolvidas na polêmica. Por esse caminho, no Brasil,para que essa declarada inconstitucionalidade deuma lei tenha caráter definitivo e seja observada emtodos os casos futuros, por todos os juízes, urge quea matéria venha a ser examinada pelo Supremo Tri-bunal Federal (STF) e que esse órgão reconheça aalegada inconstitucionalidade. Mas o procedimentonão se esgota aí. Posteriormente, cabe ao SenadoFederal, uma vez comunicado pelo STF, tomar a pro-vidência de determinar a suspensão da execução dalei considerada inconstitucional pela Suprema Corte,nos termos do art. 52, inciso X, da Constituição Fede-ral. Destarte, por esse meio, a palavra definitiva acer-ca da inconstitucionalidade de uma lei não é do STF,mas do Senado Federal, que, querendo, pode recu-sar-se a suspender a execução da lei.

Esse processo é conhecido como controle difu-so, incidental ou “em concreto” (diante de um casoconcreto) da inconstitucionalidade das leis.

Entretanto, depois da referida Emenda Constitu-cional nº 16, de 1965, o Brasil passou também a copi-ar a técnica de tribunais europeus, particularmente daCorte Constitucional Alemã, em matéria de controlede constitucionalidade das leis. Desde então, admi-te-se o controle concentrado, ou controle em tese, ouainda controle em abstrato da constitucionalidade dasleis. É esse segundo processo que a proposição pre-tende regulamentar.

179 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Em que essa segunda forma de controle se dife-rencia da primeira?

- nessa, não há necessidade de um caso con-creto, no qual, incidentalmente se coloca para o juiz anecessidade de definir, de forma preliminar, se a leiaplicável é ou não compatível com a Constituição; porisso fala-se em controle em tese ou em abstrato;

- no segundo caso, o processo é, portanto, obje-tivo, isto é, não existem partes contrapostas, como sóiacontecer no chamado controle difuso;

- na segunda modalidade, a competência paradeclarar uma lei constitucional ou não é exclusiva doSupremo Tribunal Federal;

- desde 1975, mediante parecer do Ministro Mo-reira Alves, datado de 11 de novembro daquele ano(Diário de Justiça 16.05.77), o Supremo Tribunal Fe-deral entende que as decisões em controle concen-trado (abstrato) de constitucionalidade de lei têm efi-cácia erga omnes, isto é, devem ser imediatamenteobservadas por todos os juízes para situações idênti-cas futuras, ou já em curso. Desta forma, o STF afir-mou entendimento de que, doravante, tão-somentenos casos de controle difuso (incidental) é que sus-pensão da execução de uma lei seria definitiva a par-tir de resolução do Senado Federal.

Na atual Constituição Federal, o controle con-centrado se faz por dois tipos de processo: a ação di-reta de inconstitucionalidade – Adin (na qual se pre-tende a declaração de incompatibilidade da lei com aConstituição) e a ação declaratória de constitucionali-dade – ADC (na qual se pede a confirmação da cons-titucionalidade de uma lei).

Quais as vantagens de uma e de outra forma decontrole?

No controle difuso, na medida em que muitospodem ser os membros da Judicatura a opinar sobrea questão, o consenso decorre de maior reflexão ematuração sobre o tema e é mais facilmente absorvi-do pelo mundo jurídico, pelos operadores do direito.

No controle concentrado, tem-se a vantagem dese defender a Constituição de forma mais imediata ede se afirmar a certeza ou segurança jurídica tambémde maneira mais célere, espancando de vez dúvidassobre certa lei.

Normalmente, a Adin é utilizada pelos segmen-tos políticos de oposição ou minorias. A ADC é o meiode que se valem o governo e a base parlamentar ma-joritária de sustentação do Executivo. Ambas estãoprevistas no art. 102 da Constituição Federal.

Ninguém desconhece a importância dessa re-gulamentação. Isso impede que o STF, autocratica-mente, por via de seu Regimento Interno ou de ques-

tões de ordem, defina o procedimento a ser adotado,como atualmente vem sendo feito.

Entretanto, há que se destacar as seguintes res-trições ao texto:

a) os procedimentos propostos tornam as deci-sões das Adins mais lentas (em prejuízo das oposi-ções) e aceleram os procedimentos judiciais dasADCs (em favor do Governo);

b) a lei fixa o princípio de que uma declaraçãode inconstitucionalidade, como regra geral, só geraefeitos a partir do pronunciamento do STF (ex nunc) enão retroativamente, a partir da sanção ou promulga-ção do ato normativo(ex tunc);

c) a lei, transportando um ponto da sistemáticaconstitucional alemã, autoriza a expedição cautelarem ação declaratória de constitucionalidade, o que,na prática, impede o controle difuso de constituciona-lidade, por qualquer juiz, em questões relevantes (aConstituição só prevê medida cautelar para as açõesde inconstitucionalidade para o fim de suspensãoimediata de uma lei presumidamente inconstitucio-nal). Esse expediente já está sendo consideradocomo a restauração do instituto da avocatória, adotadono “pacote de abril” de 1977, pela Emenda Constitucio-nal n° 7, de 1977 (letra “o” do inciso I do art. 119, CF),outorgada pelo Presidente Ernesto Geisel, com o fecha-mento do Congresso Nacional, com base no AI-5;

d) finalmente, o art. 27 da lei mitiga os efeitos dadeclaração de inconstitucionalidade de uma normaqualquer “por razões de segurança jurídica ou de ex-cepcional interesse social”. Ora, como pode o STF, o“guardião da Constituição” (art. 102, caput, CF), de-clarar que uma lei é inconstitucional, mas que, toda-via, deve ser observada em termos, em nome de “se-gurança jurídica”, quando o que está em jogo é o ele-mento mais importante da segurança jurídica noEstado Democrático de Direito, que é a observânciada Constituição? Como pode o STF encontrar em ou-tra fonte de Direito, que não a própria Constituição,fruto da vontade soberana de um povo, o tal de “ex-cepcional interesse social” que não esteja ajustado aopróprio texto constitucional? Tal como redigido, o art.27 é absolutamente inadmissível.

Por todo o exposto, Sr. Presidente, recomenda-mos à aprovação do Projeto com destaque para asEmendas n°s 3 e 4, de Plenário, que corrigem osequívocos supramencionados nos itens “b” e “c” edestaque para a supressão de expressões do art. 27,pelos motivos retroexpostos no item “d” da minha ex-posição.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 180

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – As Srªs e os Srs. Senadores que aprovam oprojeto, sem prejuízo das emendas, queiram perma-necer sentados. (Pausa)

Aprovado.Passa-se à votação em globo das Emendas nºs

03 e 04-Plen, que têm parecer contrário.Sobre a mesa, requerimento de destaque que

será lido pelo Sr. 1º Secretário em exercício, SenadorNabor Júnior.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 641, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos regimentais, destaque

para votação em separado da Emenda nº 3-PLENapresentada ao Projeto de Lei da Câmara nº 10/99.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. –Marina Silva.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães)– Em votação o requerimento que acaba de ser lido.

As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa)

Rejeitado.O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –

Sr. Presidente, peço verificação de votação, comapoiamento regimental.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – O nobre Senador Eduardo Suplicypede verificação de votação. Sendo regimental asolicitação, S. Exª será atendido.

Solicito às Srªs e aos Srs. Senadores que seencontram em outras dependências da Casa paravirem ao plenário votar.

Srªs e Srs. Senadores, queiram ocupar os seuslugares para a verificação solicitada pelo nobreSenador Eduardo Suplicy. (Pausa.)

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF)– Sr. Presidente, a Liderança do Governo encaminhao voto “não”, contrário às duas emendas.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR) – Sr.Presidente, a Liderança do PSDB encaminha o voto“não”.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL – RR)– Sr. Presidente, o PFL encaminha o voto “não”.

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS – PE) – Sr.Presidente, o PPS encaminha favoravelmente, atéporque é um dos signatários. Fui um dos signatáriosdesta emenda, e talvez fosse interessante dizer queela criaria, no Brasil, dentro de um regimedemocrático, um instrumento de força maior do que aavocatória que o Regime Militar implantou.

No caso concreto, significa uma medidacautelar nas ações diretas de inconstitucionalidade,que é a tentativa de se entregar ao Supremo TribunalFederal o poder de paralisar todo e qualquer lide, todoe qualquer processo que achar cautelarmenteinteressante parar. Isso, evidentemente, é um abusode poder, embora venha a ser chancelado por uma leiaprovada pelo Senado Federal.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – OPMDB recomenda o voto “não”, Sr. Presidente.

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT – AC) – Sr.Presidente, embora não sendo jurista e não tendo oalcance que tem o Senador Roberto Freire comrelação a essa matéria, compreendo que o que estásendo debatido nesta tarde é um projeto da maiorimportância, porque trata exatamente desalvaguardar o interesse maior do povo brasileiro,que, do ponto de vista das leis do nosso País, estácongregado na nossa Constituição, dita Cidadã, de1988.

A partir da lei que aqui está sendo aprovada,estaremos dando instrumento para a sociedadebrasileira, para que a fiscalização do desrespeito e donão cumprimento da observância constitucional possaser salvaguardada a partir das medidas aquiapresentadas.

No entanto, sem a Emenda nº 4, entendo queesse processo fica prejudicado do ponto de vista daobservância da lei, pois permite que o SupremoTribunal Federal possa evocar para si as decisões emprimeira instância dos juízes, o que, de certa forma,compromete os processos jurídicos do nosso País.

Isso já vem ocorrendo neste País, ou seja,embora algumas ações sejam ganhas portrabalhadores em primeira instância, o Governo,observando a série de derrotas que vem sofrendo nostribunais, nos Estados, pode evocar para si o poder dedecisão, declarando que a ação do juiz, na verdade,não tem efeito. Considero, então, bastante prejudiciale lamento que o Congresso Nacional, que temobrigação de fazer a observância da Constituição,esteja introduzindo, neste momento, um mecanismoda época da ditadura para fazer frear o direitodaqueles que, em última instância, só poderiamrecorrer à Lei Maior do nosso País, que é aConstituição Federal.

Portanto, a Liderança do Bloco vota favoravelmente àemenda e lamenta profundamente o que estamos fazendoaqui com relação a essa emenda e com relação ao que foio art. 27.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magahães)– As Srªs e os Srs. Senadores já podem votar. (Pausa.)

(Procede-se à votação.)

181 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 182

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Votaram SIM 17 Srs. Senadores; e NÃO 36.

Houve 2 abstenções.Total: 55 votos.O requerimento foi rejeitado.Sobre a mesa, requerimento de destaque que

será lido pelo Sr. 1º Secretário em exercício, SenadorNabor Júnior.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 642, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos regimentais, destaque

para votação em separado da Emenda nº 4-PLEN,apresentada ao Projeto de Lei da Câmara nº 10/99.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999 – Ma-rina Silva.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Votação do requerimento de destaque paravotação em separado da Emenda nº 4, de Plenário(apresentada no Projeto de Lei da Câmara nº 10, de1999), de autoria da nobre Senadora Marina Silva.

As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa.)

Rejeitado.Votação em globo das Emendas nº 3 e 4-Plen,

de parecer contrário.As Srªs e os Srs. Senadores que aprovam as

emendas de parecer contrário queiram permanecersentados. (Pausa.)

Rejeitadas.O Projeto vai à sanção.

É o seguinte o projeto aprovado:

PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 10, DE 1999(Nº 2.960/97, na Casa de origem)

(De iniciativa do Presidente da República)

Dispõe sobre o processo e julga-mento da ação direta de inconstituciona-lidade e da ação declaratória de constitu-cionalidade perante o Supremo TribunalFederal.

O Congresso Nacional decreta:

CAPÍTULO IDa Ação Direta de Inconstitucionalidade e da

Ação Declaratória de Constitucionalidade

Art. 1º Esta lei dispõe sobre o processo e julga-mento da ação direta de inconstitucionalidade e da

ação declaratória de constitucionalidade perante oSupremo Tribunal Federal.

CAPÍTULO IIDa Ação Direta de Inconstitucionalidade

SEÇÃO IDa Admissibilidade e do Procedimento da

Ação Direta de Inconstitucionalidade

Art. 2º Podem propor a ação direta de inconstitu-cionalidade:

I – o Presidente da República;II – a Mesa do Senado Federal;III – a Mesa da Câmara dos Deputados;IV – a Mesa de Assembléia Legislativa ou a

Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal;V – o Governador de Estado ou o Governador

do Distrito Federal;VI – o Procurador-Geral da República;VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advoga-

dos do Brasil;VIII – partido político com representação no

Congresso Nacional;IX – confederação sindical ou entidade de clas-

se de âmbito nacional.Parágrafo único. As entidades referidas no inci-

so IX, inclusive as federações sindicais de âmbito na-cional, deverão demonstrar que a pretensão por elasdeduzida tem pertinência direta com os seus objeti-vos institucionais.

Art. 3º A petição indicará:I – o dispositivo da lei ou do ato normativo im-

pugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em re-lação a cada uma das impugnações;

II – o pedido, com suas especificações.Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada

de instrumento de procuração, quando subscrita poradvogado, será apresentada em duas vias, devendoconter cópias da lei ou do ato normativo impugnado edos documentos necessários para comprovar a im-pugnação.

Art. 4º A petição inicial inepta, não fundamenta-da, e a manifestamente improcedente serão liminar-mente indeferidas pelo relator.

Parágrafo único. Cabe agravo da decisão que in-deferir a petição inicial.

Art. 5º Proposta a ação direta, não se admitirádesistência.

Parágrafo único. O relator determinará a publi-cação de edital no Diário da Justiça e no Diário Ofi-cial, contendo informações sobre a propositura da

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ação direta de inconstitucionalidade, o seu autor e odispositivo da lei ou do ato normativo.

Art. 6º O relator pedirá informações aos órgãosou às autoridades das quais emanou a lei ou o atonormativo impugnado.

Parágrafo único. As informações serãoprestadas no prazo de trinta dias contado dorecebimento do pedido.

Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceirosno processo de ação direta de inconstitucionalidade.

§ 1º Os demais titulares referidos no art. 2ºpoderão manifestar-se, por escrito, sobre o objeto daação e pedir a juntada de documentos reputadosúteis para o exame da matéria, no prazo dasinformações, bem como apresentar memoriais.

§ 2º O relator, considerando a relevância damatéria e a representatividade dos postulantes,poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observadoo prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestaçãode outros órgãos ou entidades.

Art. 8º Decorrido o prazo de informações, serãoouvidos, sucessivamente, o Advogado-Geral daUnião e o Procurador-Geral da República, quedeverão manifestar-se, cada qual, no prazo de quinzedias.

Art. 9º Vencidos os prazos do artigo anterior, orelator lançará o relatório, com cópia a todos osMinistros, e pedirá dia para julgamento.

§ 1º Em caso de necessidade deesclarecimento de matéria ou circunstância de fato oude notória insuficiência das informações existentesnos autos, poderá o relator requisitar informaçõesadicionais, designar perito ou comissão de peritospara que emita parecer sobre a questão, ou fixar datapara, em audiência pública, ouvir depoimentos depessoas com experiência e autoridade na matéria.

§ 2º O relator poderá, ainda, solicitarinformações aos Tribunais Superiores, aos TribunaisFederais e aos Tribunais Estaduais acerca daaplicação da norma impugnada no âmbito de suajurisdição.

§ 3º As informações, perícias e audiências a quese referem os parágrafos anteriores serão realizadasno prazo de trinta dias, contados da solicitação dorelator.

SEÇÃO IIDa Medida Cautelar em

Ação Direta de Inconstitucionalidade.

Art. 10. Salvo no período de recesso, a medidacautelar na ação direta será concedida por decisãoda maioria absoluta dos membros do Tribunal,

observado o disposto no art. 22, após a audiência dosórgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou atonormativo impugnado, que deverão pronunciar-se noprazo de cinco dias.

§ 1º O relator, julgando indispensável, ouvirá oAdvogado-Geral da União e o Procurador-Geral daRepública, no prazo de três dias.

§ 2º No julgamento do pedido de medidacautelar, será facultada sustentação oral aosrepresentantes judiciais do requerente e dasautoridades ou órgãos responsáveis pela expediçãodo ato, na forma estabelecida no Regimento doTribunal.

§ 3º Em caso de excepcional urgência, oTribunal poderá deferir a medida cautelar sem aaudiência dos órgãos ou das autoridades das quaisemanou a lei ou o ato normativo impugnado.

Art. 11. Concedida a medida cautelar, oSupremo Tribunal Federal fará publicar em seçãoespecial do Diário Oficial da União e do Diário daJustiça da União a parte disposta da decisão, noprazo de dez dias, devendo solicitar as informações àautoridade da qual tiver emanado o ato,observando-se, no que couber, o procedimentoestabelecido na Seção I deste capítulo.

§ 1º A medida cautelar, dotada de eficáciacontra todos, será concedida com efeito ex nunc,salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lheeficácia retroativa.

§ 2ª A concessão de medida cautelar tornaaplicável a legislação anterior acaso existente, salvoexpressa manifestação em sentido contrário.

Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, orelator, em face da relevância da matéria e de seuespecial significado para a ordem social e asegurança jurídica, poderá, após a prestação dasinformações, no prazo de dez dias, e a manifestaçãodo Advogado-Geral da União e do Procurador-Geralda República, sucessivamente, no prazo de cincodias, submeter o processo diretamente ao Tribunal,que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação.

CAPÍTULO IIIDa Ação Declaratória de Constitucionalidade

SEÇÃO IDa Admissibilidade e do Procedimento da Ação

Declaratória de Constitucionalidade

Art. 13. Podem propor a ação declaratória deconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal:

I – o Presidente da República;II – a Mesa da Câmara dos Deputados;III – a Mesa do Senado Federal;

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IV – o Procurador-Geral da República.Art. 14. A petição inicial indicará:I – o dispositivo da lei ou do ato normativo ques-

tionado e os fundamentos jurídicos do pedido;II – o pedido, com suas especificações;III – a existência de controvérsia judicial

relevante sobre a aplicação da disposição objeto daação declaratória.

Parágrafo único. A petição inicial, acompanhadade instrumento de procuração, quando subscrita poradvogado, será apresentada em duas vias, devendoconter cópias do ato normativo questionado e dosdocumentos necessários para comprovar aprocedência do pedido de declaração daconstitucionalidade.

Art. 15. A petição inicial inepta, nãofundamentada, e a manifestamente improcedenteserão liminarmente indeferidas pelo relator.

Parágrafo único. Cabe agravo da decisão queindeferir a petição inicial.

Art. 16. Proposta a ação declaratória, não seadmitirá desistência.

Art. 17. O relator determinará a publicação deedital no Diário da Justiça e no Diário Oficialcontendo informações sobre a propositura da açãodeclaratória de constitucionalidade, o seu autor e odispositivo da lei ou do ato normativo.

Art. 18. Não se admitirá intervenção de terceirosno processo de ação declaratória deconstitucionalidade.

§ 1º Os demais titulares referidos no art. 103 daConstituição Federal poderão manifestar-se, porescrito, sobre o objeto da ação declaratória deconstitucionalidade no prazo de trinta dias a contar dapublicação do edital a que se refere o artigo anterior,podendo apresentar memoriais ou pedir a juntada edocumentos reputados úteis para o exame damatéria.

§ 2º O relator, considerando a relevância damatéria e a representatividade dos postulantes,poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observadoo prazo estabelecido no parágrafo anterior, amanifestação de outros órgãos ou entidades.

Art. 19. Decorrido o prazo do artigo anterior,será aberta vista ao Procurador-Geral da República,que deverá pronunciar-se no prazo de quinze dias.

Art. 20. Vencido o prazo do artigo anterior, orelator lançará o relatório, com cópia a todos osministros, e pedirá dia para julgamento.

§ 1º Em caso de necessidade deesclarecimento de matéria ou circunstância de fato oude notória insuficiência das informações existentes

nos autos, poderá o relator requisitar informaçõesadicionais, designar perito ou comissão de peritospara que emita parecer sobre a questão ou fixar datapara, em audiência pública, ouvir depoimentos depessoas com experiência e autoridade na matéria.

§ 2º O relator poderá solicitar, ainda,informações aos Tribunais Superiores, aosTribunais federais e aos Tribunais estaduais,acerca da aplicação da norma questionada noâmbito de sua jurisdição.

§ 3º As informações, pericias e audiências a quese referem os parágrafos anteriores serão realizadosno prazo de trinta dias, contados da solicitação dorelator.

SEÇÃO IIDa Medida Cautelar em

Ação Declaratória de Constitucionalidade

Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, pordecisão da maioria absoluta de seus membros,poderá deferir pedido da medida cautelar na açãodeclaratória da constitucionalidade, consistente nadeterminação de que os juízes e os Tribunaissuspendam o julgamento dos processos queenvolvam a aplicação da lei ou do ato normativoobjeto da ação até seu julgamento definitivo.

Parágrafo único.Concedida a medida cautelar, oSupremo Tribunal Federal fará publicar em seçãoespecial do Diário Oficial da União, a partedispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendoo Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazode cento e oitenta dias, sob pena de perda de suaeficácia.

CAPÍTULO IVDa Decisão na ação direta de

inconstitucionalidade e na ação declaratóriade constitucionalidade.

Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidadeou a inconstitucionalidade da lei, ou do ato normativosomente será tomada se presentes na sessão pelomenos oito Ministros.

Art. 23.Efetuado o julgamento, proclamar-se-á aconstitucionalidade ou a inconstitucionalidade dadisposição ou da norma impugnada se num ou noutrosentido se tiverem manifestado pelo menos seisMinistros, quer se trate de ação direta deinconstitucionalidade ou de ação declaratória deconstitucionalidade.

Parágrafo único. Se não for alcançada a maiorianecessária à declaração de constitucionalidade ou deinconstitucionalidade, estando ausentes Ministros emnúmero que possa influir no julgamento, este será

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suspenso a fim de aguardar-se o comparecimentodos Ministros ausentes, até que se atinja o númeronecessário para prolação da decisão num ou noutrosentido.

Art. 24. Proclamada a constitucionalidade, jul-gar-se-á improcedente a ação direta ou procedenteeventual ação declaratória; e, proclamada a inconsti-tucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ouimprocedente eventual ação declaratória.

Art. 25. Julgada a ação, far-se-á a comunicaçãoà autoridade ou ao órgão responsável pela expediçãodo ato.

Art. 26. A decisão que declara a constitucionali-dade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato nor-mativo em ação direta ou em ação declaratória é irre-corrível, ressalvada a interposição de embargos de-claratórios, não podendo, igualmente, ser objeto deação rescisória.

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade delei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segu-rança jurídica ou de excepcional interesse social, po-derá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de doisterços de seus membros, restringir os efeitos daqueladeclaração ou decidir que ela só tenha eficácia a par-tir de seu trânsito em julgado ou de outro momentoque venha a ser fixado.

Art. 28. Dentro do prazo de dez dias após o trân-sito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal Fede-ral fará publicar em seção especial do Diário da Jus-tiça e do Diário Oficial da União a parte dispositivado acórdão.

Parágrafo único. A declaração de constituciona-lidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a inter-pretação conforme a Constituição e a declaração par-cial de inconstitucionalidade sem redução de texto,têm eficácia contra todos e efeito vinculante em rela-ção aos órgãos do Poder Judiciário e a AdministraçãoPública federal, estadual e municipal.

CAPÍTULO VDas Disposições Gerais e Finais

Art. 29. O art. 482 do Código de Processo Civilfica acrescido dos seguintes parágrafos:

“Art. 482. ..............................................§ 1º O Ministério Público e as pessoas

jurídicas de direito público responsáveispela edição do ato questionado, se assim orequererem, poderão manifestar-se no inci-dente de inconstitucionalidade, observadosos prazos e condições fixados no Regimen-to Interno do Tribunal.

§ 2º Os titulares do direito de proposi-tura referidos no art. 103 da Constituiçãopoderão manifestar-se, por escrito, sobre aquestão constitucional, objeto de apreciaçãopelo órgão especial ou pelo Pleno do Tribu-nal, no prazo fixado em Regimento, sen-do-lhes assegurado o direito de apresentarmemoriais ou de pedir a juntada de docu-mentos.

§ 3º O relator, considerando a relevân-cia da matéria e a representatividade dospostulantes, poderá admitir, por despachoirrecorrível, a manifestação de outros ór-gãos ou entidades."

Art. 30. O art. 9º da Lei nº 8.185, de 14 demaio de 1991, passa a vigorar acrescido dos se-guintes dispositivos:

“Art. 8º .................................................I – .......................................................................................................................n) a ação direta de inconstitucionalida-

de de lei ou ato normativo do Distrito Fede-ral em face da sua Lei Orgânica;

..... .........................................................§ 3º São partes legítimas para propor

a ação direta de inconstitucionalidade:I – o Governador do Distrito Federal;II – a Mesa da Câmara Legislativa;III – o Procurador-Geral da Justiça;IV – a Ordem dos Advogados do Bra-

sil, seção do Distrito Federal;V – as entidades sindicais ou de clas-

se, de atuação no Distrito Federal, demons-trando que a pretensão por elas deduzidaguarda relação de pertinência direta com osseus objetivos institucionais;

VI – os partidos políticos com repre-sentação na Câmara Legislativa.

§ 4º Aplicam-se ao processo e julga-mento da ação direta de inconstitucionalida-de perante o Tribunal de Justiça do DistritoFederal e Territórios as seguintes disposi-ções:

I – o Procurador-Geral de Justiça serásempre ouvido nas ações diretas de consti-tucionalidade ou de inconstitucionalidade;

II – declarada a inconstitucionalidadepor omissão de medida para tornar efetivanorma da Lei Orgânica do Distrito Federal, edecisão será comunicada ao Poder compe-tente para adoção das providências neces-

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sárias, e, tratando-se de órgão administrati-vo, para fazê-lo em trinta dias;

III – somente pelo voto da maioria ab-soluta de seus membros ou de seu órgãoespecial, poderá o Tribunal de Justiça de-clarar a inconstitucionalidade de lei ou deato normativo do Distrito Federal ou suspen-der a sua vigência em decisão de medidacautelar.

§ 5º Aplicam-se, no que couber aoprocesso de julgamento de ação direta deinconstitucionalidade de lei ou ato norma-tivo do Distrito Federal em face de sua LeiOrgânica as normas sobre o processo e ojulgamento da ação direta de inconstituci-onalidade perante o Supremo TribunalFederal ."

Art. 31. Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

São as seguintes as emendas rejeita-das:

EMENDA Nº 3 – PLEN

Dê-se ao § 1º do art. 11 do projeto a seguinte re-dação:

“§ 1º A medida cautelar, dotada de efi-cácia contra todos, será concedida com efe-ito ex tunc, salvo se o Tribunal entenderque deva conceder-lhe eficácia ex nunc.”

EMENDA Nº 4 – PLEN

Dê-se ao art.21 do Projeto de Lei da Câmaranº 10,de 1999, a seguinte redação:

“Art. 21. Não se concederá medidacautelar na ação declaratória de constitu-cionalidade, para suspender a prolação dequalquer decisão de juízo ou tribunal emprocessos que envolvam a aplicação de leiou ato normativo de alegada inconstitucio-nalidade.”

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Srªs e Srs. Senadores, a partir de setembrode 1993, todos os projetos de decreto legislativo quetratam de autorização para o serviço de radiodifusãosonora e de sons e imagens, que eram submetidos aoPlenário em votação simbólica, passaram a ser vota-dos pelo processo nominal.

Essa sistemática foi adotada em decorrência daaprovação do Parecer nº 252, de 1993, da Comissãode Constituição, Justiça e Cidadania, proferido em vir-tude da questão de ordem levantada em plenário so-

bre a aplicação das disposições constitucionais inser-tas no §2º do art. 223 da Lei Maior.

Dispõe o §2º do art. 223 da Constituição que:

“a não-renovação da concessão ou permissãopara o serviço de radiodifusão sonora e de sons eimagens dependerá da aprovação de, no mínimo,dois quintos do Congresso Nacional em votação no-minal.”

A interpretação dessas disposições, no sentidoque lhe deu a douta Comissão de Constituição, Justi-ça e Cidadania, não é mansa e pacífica, tanto que, naCâmara dos Deputados, a Comissão de Constituiçãoe Justiça e de Redação chegou a entendimento diver-so, concluindo que a votação nominal e o quorum es-pecial, duas exceções constitucionais, somente seaplicam em relação à hipótese de negativa da renova-ção.

Naquela Casa, em virtude do mesmo parecer,os projetos de decreto legislativo referentes a essasmatérias passaram, ainda, a ser discutidos e votadosem decisão terminativa pela comissão competente,dispensada a competência do Plenário, nos termosdo disposto no inciso I do § 2º do art. 58 da Constitui-ção Federal.

Por outro lado, o art. 406 do Regimento Internodo Senado considera simples precedente a decisãodo Plenário sobre questão de ordem, que só adquireforça obrigatória quando nele incorporada.

Tendo em vista que o princípio adotado peladecisão do Senado não está incorporado ao Regi-mento Interno, esta Presidência, visando principal-mente à economia processual, tendo havido concor-dância de todas as lideranças partidárias, e não ha-vendo objeção do Plenário, irá submeter, a partir dehoje, à votação simbólica os projetos de decreto le-gislativo que outorgar e renovar concessão, permis-são e autorização para o serviço de radiodifusão so-nora e de sons e imagens, resguardado o direito dequalquer Senador, se assim o desejar, requerer,em casos específicos, que a deliberação se pro-cesse nominalmente, nos termos do disposto noart. 294 do Regimento Interno.

Acredito que o assunto está devidamente es-clarecido. As Lideranças de todos os partidos apoia-ram a decisão. Neste caso, votaremos o próximoitem já em caráter simbólico, registrando os votoscontrários ou as abstenções dos que assim deseja-rem.

Se o Plenário não se manifestar contra, passa-rei ao Item 3 da pauta. (Pausa.)

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 187

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 3:

– 3 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 86, DE 1998(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projetode Decreto Legislativo nº 86, de 1998 (nº552/97, na Câmara dos Deputados), queaprova o ato que renova a permissãooutorgada à Colatina Rádio Som Ltda. paraexplorar serviço de radiodifusão sonora emfreqüência modulada na cidade de Colatina,Estado do Espírito Santo, tendo

Parecer sob nº 289, de 1999, daComissão de Educação, Relator: SenadorGerson Camata, favorável, com abstençõesdo Senador Pedro Simon e da SenadoraMarina Silva.

Em discussão o projeto em turno único.A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC) – Sr.

Presidente, peço a palavra para discutir o projeto.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Concedo a palavra à nobre SenadoraMarina Silva, para discutir o projeto.

S. Exª dispõe de 10 minutos.A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Para

discutir. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente,durante os 5 anos de meu mandato e durante operíodo em que o Senador Eduardo Suplicy era Líderdo PT no Senado, um grupo de Srs. Parlamentares, enão apenas do Bloco de Oposição, tinha como meiode luta política, para que fosse instalado o ConselhoNacional de Comunicação, a prática da votaçãocontrária às novas outorgas e a prática da abstençãopara a renovação das concessões.

Tal postura deveu-se ao fato de compreendermosque o foro adequado para as decisões referentes àconcessão de rádios e televisões é o ConselhoNacional de Comunicação, instrumento criado a partirda Constituição Federal de 1988. Infelizmente, nãohouve a instalação daquele Conselho, o que consideroum prejuízo muito grande para o País do ponto de vistada democratização da exploração dos meios decomunicação.

E agora, por acordo das Lideranças, inclusiveda Liderança do Bloco de Oposição, haverá votaçãosimbólica dos projetos que possibilitam a exploraçãode emissoras de rádio e televisão.

No entanto, quero reafirmar a posição do Blocode Oposição e do Partido dos Trabalhadores: éfundamental que se crie o Conselho Nacional deComunicação, instrumento de democratização das

concessões de rádio e tevê, porque, infelizmente, emnosso País, a maioria das concessões é direcionadapoliticamente. Se analisarmos o mapa dasconcessões, verificaremos para quem elas vão maisfacilmente.

Nesse sentido, embora concordando que avotação simbólica seja o instrumento correto, poisfacilita a tramitação dos processos, devo advertir estaCasa de que estamos abrindo mão de umaprerrogativa que temos, a de fazer funcionar, a defazer operar o Conselho Nacional de Comunicação.

Assim, Sr. Presidente, mantemos a posição devotar contrariamente quando se trata de novasconcessões, e de nos abstermos quando se trata derenovação, embora compreendendo que a nossaprática política recai muitas vezes sobre instituiçõesque têm respeito no trato das concessões e quepodem estranhar nosso comportamento.

No entanto, não podemos usar dois pesos eduas medidas nesse processo, votandofavoravelmente àqueles segmentos que sãoresponsáveis, que são operadores competentes edemocráticos no uso das concessões públicas, econtra aqueles que usam as concessões comoverdadeiros instrumentos de barganha política e depromoção de determinados segmentos emdetrimento de outros.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Concedo a palavra ao Senador PedroSimon, para discutir.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, com todo o respeito pela decisãodas Lideranças e pelo pronunciamento da Liderançado PT, ouso recordar as razões pelas quais oConselho Nacional de Comunicação não foi instalado.

Ilustre Líder, o Conselho não foi instalado,porque, criado que foi, quando os nomes indicadospela Câmara dos Deputados chegaram ao Senadopara serem votados, em uma reunião de lideranças –eu era Líder do Governo no Senado, convocado peloPresidente José Sarney – verificamos que eramtodos ligados aos proprietários de rádio e televisão.Todos. O representante da OAB era um advogadoligado aos proprietários de televisão; o representanteda ABI era um advogado ligado aos donos de televisão;o representante do Senado era um cidadão ligado aosdonos de televisão, assim como o da Câmara dosDeputados. Enfim, todos. E foi unânime a decisão dosLíderes de que os membros do Conselho tinham deser independentes ou criaríamos um conselhocomunitário que teria autoridade para dar a últimapalavra, para representar a sociedade mas verdade,

188 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

apenas homologaria as decisões tomadas. Essa foi adecisão.

Desde então ficamos com a responsabilidadede reorganizar o Conselho, de rever a fórmula de cria-ção do Conselho, para garantir que ele seja compostode pessoas que tenham a devida independência. Etenho visto muitas lideranças, equivocadamente, afir-marem que é uma barbaridade que o Conselho nãotenha sido instalado.

Sou um dos responsáveis – eu e os demais Lí-deres – pela não instalação do Conselho, porque, daforma como está previsto, ele será composto de re-presentados dos donos de televisão.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – V. Exªme permite um aparte, Senador?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Com omaior prazer.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Re-cordo-me, também, da decisão tomada pelos Srs. Lí-deres e da discussão havida sobre a composição doConselho Nacional de Comunicação. E V. Exª tem ra-zão. De fato, havia na composição daquele Conselhopessoas que poderiam, segundo a análise dos Líde-res presentes, mais representar os proprietários. Porisso, adiou-se sine die a votação. Mas quero sugerir aV. Exª, como responsável pela subcomissão que estáhoje examinando a qualidade dos meios de comuni-cação: que dentre as principais sugestões e conclu-sões do trabalho da subcomissão se especifique umórgão que possa dar um parecer ao Senado Federalsobre a qualidade dos serviços prestados pelas emis-soras de rádio e televisão. Dessa forma, não ficare-mos mais nesse impasse, sobretudo o PT e o Blocode Oposição. É a sugestão que dou a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Concor-do plenamente. Em primeiro lugar, agradeço a refe-rência feita por V. Exª, que participou da reunião naqual tomamos a decisão.

Em segundo lugar, é correta a proposta de V. Exª,mas esclareço que a subcomissão ainda não avan-çou no seu trabalho porque está esperando que o Mi-nistério das Comunicações envie o projeto da nova leidas comunicações, que regulamentará a matéria. Tal-vez o Conselho que estamos imaginando seja criadonessa lei. A Internet já publicou a quinta versão doprojeto. Cinco diferentes versões foram publicadaspela imprensa e quando nos reunimos para deba-tê-las dizem-nos que já há uma nova versão. Estamosesperando a versão definitiva.

Concordo com V. Exª. Quando chegar a estaCasa o projeto do Poder Executivo da lei das comuni-

cações, teremos obrigação de fazer o que V. Exª estádizendo.

Falando nisso, quero felicitar V. Exª, Sr. Presi-dente, que está vivendo momentos de glória – os jor-nais publicaram inclusive algumas charges muito bo-nitas da participação democrática de V. Exª na reu-nião do Partido dos Trabalhadores. Divergindo ounão, V. Exª se saiu com muita competência.

O extraordinário jornalista Fernando CésarMesquita tem debatido uma grande proposta, um pro-jeto da Mesa, de V. Exª, que considero uma das coi-sas mais fantásticas que o Senado pode fazer: a TVSenado, montando uma torre de UHV, poderá fazerum convênio com as Câmaras de Vereadores de todoo Brasil, que, além de retransmitirem a programaçãoda TV Senado, terão duas horas para a programaçãolocal. Essa é uma das coisas mais fantásticas que sepode imaginar. De repente, não mais do que de re-pente, os municípios pequenos e médios vão ter duashoras de programação local para debater, para discu-tir, enfim, para se conhecerem. Não vão ficar naquelasituação de só conhecerem as redes de televisão doRio e de São Paulo.

Parece, Sr. Presidente, que o nosso ilustre Mi-nistro das Comunicações está tendo algum problemacom isso e teríamos que alterar um decreto-lei ouuma regulamentação para viabilizar essa idéia. Tenhocerteza de que o Senado, por unanimidade, concordacom essa proposta, e também os vereadores. Aliás,recebi, há poucos minutos, uma delegação de Patosde Minas, composta pelo Presidente da Câmara deVereadores e por todos os vereadores daquela cida-de, que aqui vieram – e os enderecei ao jornalista Fer-nando César Mesquita – para dizer que desejam tersua repetidora, com as duas horas de programaçãolocal a que terão direito. Isso é fantástico!

Não estamos percebendo o que isso irá signifi-car. Todos os municípios do Brasil vão ter duas horasde programação local para se conhecerem. Se nósimaginarmos, por exemplo, que Mozart, com cincoanos, já era gênio! Quantas pessoas poderão apare-cer de cuja existência não temos chance nenhuma desaber, porque só tem existência quem vai para o Rioou para São Paulo.

Repito, eu considero o projeto sensacional e en-tendo que tanto V. Exª como nós poderíamos fazersentir ao nosso querido amigo, Deputado Pimenta daVeiga, Ministro das Comunicações, a importância deaceitar essa proposta feita pela Mesa do Senado,pela TV Senado.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 189

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Agradeço a V. Exª. Todas essas medidas sãosempre inspiradas em V. Exª.

Com a palavra o Senador Artur da Távola.O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Sem Partido – RJ.

Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, Srªs e Srs. Senadores, nós ficaremos a discutir,possivelmente ad aeternitatem, a questão da forma-ção do Conselho de Comunicação. É só fazer algu-mas contas.

A sua criação foi votada na Constituição de1988. Estamos em 1999, onze anos depois, e atéagora ele não saiu do papel. O Senador Pedro Simontocou no ponto central: não saiu porque foi organiza-do de modo corporativo. Era a mobilização de corpo-rações desesperadas, angustiadas, eu diria paranói-cas em relação ao comando do processo da comuni-cação.

O Senador José Fogaça possui estudos interes-santes sobre a matéria. Já fez esforços notáveis paraque houvesse uma nova organização do Conselho eaté hoje ele patina na dificuldade. A meu ver essa difi-culdade está no que disse muito bem o Senador Pe-dro Simon: ele não está constituído de pessoas alta-mente competentes no setor; há, sim, a tentativa or-ganizar uma maioria ou do setor privado ou do patro-nato ou do setor laboral. Não há conselho que funcio-ne assim.

O Conselho Nacional de Educação, hoje, nãofunciona assim. Os conselhos existentes são funcio-nais quando compostos por pessoas competentes.Portanto, tenho a impressão de que nós, Parlamenta-res, temos um caminho fora do conselho.

Fiz uma tentativa, quando Presidente da Comis-são de Educação, na qual, devo dizer, não tive qual-quer êxito. Nada obstante, acho que essa tentativaainda está aí e sugiro-a a muitos Srs. Parlamentares.Todo o problema da renovação de concessão está ba-sicamente num ponto: na questão da programação,que é a única a não ser considerada nos processosque tramitam pela Comissão de Educação, que temque dar o parecer.

No caso da renovação de uma emissora de tele-visão, como Relator, solicitei à emissora que se com-prometesse ao cumprimento do dispositivo constituci-onal, para que eu pudesse dar o parecer favorável àrenovação. No primeiro momento, a emissora assus-tou-se enormemente e ficou com a idéia de que que-ríamos prejudicá-la. Não era a hipótese. Num segun-do momento, raciocinando com mais calma, ela sedeu conta de que se assumisse um compromissocom a Comissão de Educação do Senado Federal e

também com a da Câmara, com os Plenários da Câ-mara e do Senado, que aprovam essa matéria, elaestaria coberta, do ponto de vista jurídico, e se obriga-ria ao cumprimento de dispositivos mínimos, que sãoos quatro pontos constantes do art. 221 da Constitui-ção Federal.

Não é muito pedir, Sr. Presidente, é tão-somentesolicitar que, dentro de uma programação que vise omercado, no caso das emissoras privadas, possa-seali dentro ter o cumprimento de quatro obrigaçõesque estão na Constituição e que podem perfeitamen-te estar dentro da programação, sem nenhum prejuí-zo mercadológico.

Agora, por que as emissoras têm dificuldade emcumprir isso? Por causa de todo um passado de con-cessões dadas por razões políticas. Então, o queacontece? No interior, quem domina uma emissorade rádio não dá acesso ao adversário na rádio de suapropriedade; assim na televisão. Mas muitas conces-sões foram dadas exclusivamente por critérios políti-cos a, como chamá-las, religiões, crenças, seitas, nãose sabe. Esse espectro, portanto, é hoje um espectroque está viciado na origem quanto ao sentido demo-crático da concessão. E é muito difícil agora corrigi-lo,a não ser no tempo.

O Governo poderia adotar uma postura maisclara na matéria de concessão.Não adota.O Governoadota uma posição de retranca, não compensou o es-pectro radiofônico e televisual, por exemplo, com aconcessão a universidades, a concessão a organiza-ções da sociedade civil e, portanto, não agiu nessamatéria.

O quarto e último ponto, que, a meu ver, é fulcralnessa questão: votamos sobre concessão e sobre re-novação de concessão, mas não há uma linha sequersobre o caso de concessionários que, uma vez ganhaa concessão, não podendo arcar com o custo de im-plantação dos projetos, vendem a concessão a tercei-ros. Sobre isso não há qualquer regulamentação. Euma variante dessa prática: o contrato de gaveta,através do qual a venda é feita nada obstante o nomedo concessionário anterior predomine como dono daconcessão em questão.

Esta é, portanto, uma matéria que está ao léu.Não há como o próprio Parlamento criar condições decoesão para organizá-la. O Senador Pedro Simon,com grande esforço, já pela segunda vez, o SenadorHugo Napoleão também – e eu, modestamente, parti-cipei –, organizaram subcomissões no Senado exclu-sivamente para estudar essa matéria. Hoje mesmouma dessas comissões se reúne.

190 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Enquanto não tivermos coesão para um projetocomum do Parlamento, levando a sério essa questão,vamos ficar eternamente a circular nessa hipótese decarimbar projetos, porque eles estão apenas com asformalidades cumpridas, sem nenhuma consideraçãosobre o essencial dessa matéria, que é o conteúdo daprogramação. Ali está o problema. Por isso, acreditoque, enquanto não se organizar essa matéria e nãohouver coesão no Parlamento para fazê-lo, cabe acada Relator – e deixo a sugestão com os Relatores –exigir, no momento de dar um parecer, a obrigação doconcessionário de cumprir a Constituição Federal na-quilo que ela determina quanto ao conteúdo dastransmissões radiofônicas e televisuais.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT – SE) –Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Sem Partido – RJ)– Com prazer, Senador José Eduardo Dutra.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT – SE) –Senador Artur da Távola, concordo plenamente comV. Exª. Eu queria apenas fazer um registro, para livrarum pouco a “cara” do Senado. Em relação à lei quecriou o Conselho de Comunicação Social, que foi mui-to criticado em função do seu caráter excessivamentecorporativista, já houve um outro projeto de iniciativada Câmara dos Deputados, que modificava a lei. Foiinclusive modificado no Senado, sendo aprovado aquiem 1997, se não me engano, e diluía consideravel-mente esse caráter corporativo, aumentando a repre-sentação da sociedade, por meio de membros indica-dos pelo Congresso. O Senado votou o projeto e o de-volveu para a Câmara. Até hoje, infelizmente, a Câ-mara não se pronunciou nem sobre o projeto originaldela nem sobre as modificações do Senado, que po-deriam viabilizar a instalação do Conselho, caso es-sas modificações viessem a ser aprovadas. Muitoobrigado.

O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Sem Partido – RJ)– Muito obrigado.

Sr. Presidente, acredito que possamos atenuara falta de um conselho, fazendo com que cada relatorexija determinados mínimos relativos à programação,para que se crie dentro da Casa a consciência e o cal-do de cultura necessários a não dar a renovação aqualquer preço e a fazer uma análise desse conteúdo.

Sugiro que V. Exª, nessa fase tão magnânimaem que se encontra, V. Exª, Sr. Presidente, que hojese situa acima do bem e do mal na cena política brasi-leira, que dentre as excelentes iniciativas que tem to-mado, como a CPI dos bancos, como a recente e im-portante defesa da questão da pobreza, V. Exª coroea sua administração na Presidência da Casa, ou pelo

menos continue com ela, quem sabe deixando – como poder que V. Exª hoje tem, não apenas na opiniãopública, mas entre seus pares – organizado o Conse-lho de Comunicação. Por certo deixará V. Exª, porcima de interesses corporativos e visando exclusiva-mente a melhoria, o benefício de um setor que tem navida brasileira uma importância fundamental.

Deixo portanto também com V. Exª essa suges-tão. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Quero informar ao Senador Artur da Távolaque nós já cumprimos com a nossa parte. Agora, es-tamos insistindo com a Câmara dos Deputados – jádirigi três cartas ao Presidente Michael Temer – parafazer com que ande na nossa Câmara dos Deputadoso processo.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao nobre Senador JoséFogaça.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB – RS. Para dis-cutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs eSrs. Senadores, tem razão V. Exª, Senador AntonioCarlos Magalhães, o Senado cumpriu a sua parte.Sinto-me no dever de, sempre que essa matéria retor-na, tentar recuperar um pouco da memória.

Logo após a Constituinte, o saudoso e inesque-cívell Senador Pompeu de Souza, um cearense querepresentava o Distrito Federal, apresentou um proje-to de lei, regulamentando o Conselho de Comunica-ção Social. Na ocasião, ocorreu a casualidade de euser o Relator da matéria. Eu briguei um pouco com ogrande Senador Pompeu de Souza, porque S. Exª es-tava estabelecendo uma proposta extremamente cor-porativista: metade para os donos de rádio e televisãoe a outra metade para os empregados de empresasde rádio e televisão. Conseguimos um pequeno avan-ço extracorporativo, que foi transformar o Conselhoem onze membros, sendo que eram quatro represen-tantes de empregados, quatro representantes de em-pregadores e três representantes genéricos da socie-dade civil. Ainda assim, havia uma supremacia corpo-rativa que haveria de tornar o Conselho de Comunica-ção Social numa espécie de palco ou de arena, ou decenário para conflitos e brigas de natureza trabalhis-ta. Quatro entidades de representação corporativados empregados, de um lado, contra quatro entidadesrepresentantes dos proprietários de rádio e televisão,de outro, iriam fazer do Conselho de ComunicaçãoSocial do Congresso Nacional uma espécie de fórumpropício para causas trabalhistas. Portanto, fugiria in-teiramente ao seu objetivo.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 191

A partir da conscientização de que era precisoretirar o caráter corporativo, ampliar uma participaçãolivre da sociedade civil, iniciou-se aqui no Senado umtrabalho, realizado pelo Senador Coutinho Jorge, doPará, que já não se encontra mais nesta Casa. Toda-via, precisa ser homenageado pelo trabalho que fez –acaba de ser lembrado pelo Senador José EduardoDutra –, onde qualificou melhor o conselho, retirou asupremacia corporativa, deu representação majoritá-ria à sociedade civil. Evidentemente, o conselho iriaatender às expectativas. No entanto, a matéria saiudo Senado, há três ou quatro anos – já nem me recor-do, tanto tempo já faz –, e foi dormir, como tantas ou-tras matérias, naquelas generosas e acolhedoras ga-vetas da Câmara dos Deputados. E está lá à esperade decisão.

Faço esse registro, primeiramente para recupe-rar a memória; segundo, para também retornar a umpronunciamento que já fiz há alguns meses a respeitode conclusões que tirei desse quadro de dificuldades.

Eu me convenci, Sr. Presidente, eu me conven-ci, Senador Artur da Távola, eu me convenci, SenadorPedro Simon, de que há uma visceral objeção noCongresso Nacional ao Conselho de ComunicaçãoSocial.

Colhi a impressão de que, por mais que se aper-feiçoe a legislação, por mais que se procure moderni-zar estruturalmente o Conselho, na verdade, a obje-ção é de conteúdo; a objeção é ao Conselho e à suaprópria existência. É uma objeção ontológica, Sena-dor Artur da Távola.

Infelizmente, não vejo futuro para o Conselho deComunicação Social. Não se trata de um desejo nemde uma proposta; trata-se de uma constatação. Porisso, modifiquei um pouco o meu ponto de vista e evo-luí para uma outra concepção: a de que, tal como emoutros países, cujo regime de concessões é muito pa-recido com o do Brasil, poderíamos instituir no País aAgência Nacional de Comunicação Social – Anacom–, um órgão independente que, tal como a FederalCommunication Comission – FCC – dos Estados Uni-dos, pudesse fazer a fiscalização, o acompanhamen-to e a outorga das concessões de rádio e de televisão.É muito competente e eficaz a ação fiscalizadora daFCC nos Estados Unidos.

Por outro lado, o depoimento aqui trazido peloSenador Pedro Simon demonstra claramente o se-guinte: se há um lugar, um ambiente onde não há ne-nhuma independência, nenhum equilíbrio, nenhumaautonomia, é exatamente o âmbito político e princi-palmente o Congresso Nacional. Os interesses aquientrechocam-se de maneira brutal. Há uma forte pre-

sença e uma grande influência de ambos os lados –tanto dos proprietários quanto dos funcionários dasempresas. Age-se sempre com corporativismo. Umórgão independente agiria tal como a Anatel em rela-ção às telecomunicações, a Aneel no que tange àenergia elétrica e a ANP quanto ao petróleo, estabe-lecendo as multas, acompanhando a programação,fazendo a revisão do cumprimento dos contratos deconcessão, enfim, dando uma qualidade política mai-or a essa relação.

Sei que alguns Senadores temem que, tirando-adaqui, os poderosos influenciarão. A pergunta é: aquidentro os poderosos não influenciam? Aqui dentro fu-gimos dessa correlação de forças? Não me pareceque isso ocorra.

Então, Sr. Presidente, só tenho que constatarque o Conselho de Comunicação Social dificilmenteserá instalado no Congresso. Digo isso sem despre-zo, sem desconsideração com a reivindicação aqui fe-ita pelo PT, sem depreciação àquilo que alguns Sena-dores aqui defenderam. O Conselho, há onze anos,vem sendo defendido por nós, vem sendo reivindica-do, vem sendo solicitado e não se instala. É como setivesse enterrado um sapo preto ao lado do Conselhode Comunicação Social na Constituição.Não vai sair!

E é por isso, Sr. Presidente, que penso que, parafugir do poder político, para fugir do poder de influên-cia do poder econômico, não há nenhuma dúvida deque o caminho é o órgão autônomo, o órgão indepen-dente, com pessoas que detenham o mandato e quenão possam ser demitidas, que não possam sofrernenhuma influência de quem quer que seja. Tem sidoassim nos países democráticos e modernos do mun-do. “Como o CADE – Conselho Administrativo de De-fesa Econômica”, bem lembrou o Senador Pedro Si-mon. Não tenho nenhuma dúvida de que pessoas do-tadas de mandato passam a ter um papel enorme-mente importante em defesa dos interesses majoritá-rios da sociedade.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Não havendo mais quem peça a palavra, en-cerro a discussão.

Em votação.

As Sras e os Srs. Senadores que o aprovam quei-ram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovado, com as abstenções dos SenadoresJosé Eduardo Dutra, Pedro Simon, Eduardo Suplicy,Lauro Campos, Tião Viana, Marina Silva, Heloisa He-lena, Roberto Saturnino e Geraldo Cândido.

192 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

A matéria vai à Comissão Diretora para a reda-ção final.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a mesa, parecer da Comissão Direto-ra, oferecendo a redação final, que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 830, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final do Projeto de DecretoLegislativo nº 86, de 1998 (nº 552, de1997, na Câmara dos Deputados)

A Comissão Diretora apresenta a redação finaldo Projeto de Decreto Legislativo nº 86, de 1998 (nº 552,de 1997, na Câmara dos Deputados), que aprova oato que renova a permissão outorgada à Colatina Rá-dio Som Ltda. para explorar serviço de radiodifusãosonora em freqüência modulada na cidade de Colati-na, Estado do Espírito Santo.

Sala de Reuniões da Comissão, 20 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente –Jonas Pinheiro, Relator – Nabor Júnior – CarlosPatrocínio.

ANEXO AO PARECER Nº 830, DE 1999

Faço saber que o Congresso Nacional aprovou,e eu, Presidente do Senado Federal, nos termos doart. 48, item 28, do Regimento Interno, promulgo o se-guinte

DECRETO LEGISLATIVO Nº , DE 1999.

Aprova o ato que renova a permis-são outorgada a “Colativa Rádio SomLtda.” para explorar serviço de radiodifu-são sonora em freqüência modulada nacidade de Colatina, Estado do EspíritoSanto.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º É aprovado o ato a que se refere a Porta-

ria nº 60, de 4 de fevereiro de 1997, que renova pordez anos, a partir de 23 de maio de 1986, a permissãooutorgada a “Colatina Rádio Som Ltda.”, para explo-rar, sem direito a exclusividade, serviço de radiodifu-são sonora em freqüência modulada na cidade deColatina, Estado do Espírito Santo.

Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor nadata de sua publicação.

O SR. PRESIDENTE ( Antonio Carlos Maga-lhães) – Em discussão a redação final. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.As Sras e os Srs. Senadores que a aprovam quei-

ram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada.O projeto vai à promulgação.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Item 4:

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVONº 61, DE 1999

(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projetode Decreto Legislativo nº 61, de 1999 (nº 645/98,na Câmara dos Deputados), que aprova oato que renova a concessão da Rádio Inter-nacional Ltda. para explorar serviço deradiodifusão sonora em onda média na cida-de de Quedas do Iguaçu, Estado do Paraná,tendo

Parecer sob nº 553, de 1999, da Co-missão de Educação, Relator: SenadorÁlvaro Dias, favorável, com abstenções doSenador Pedro Simon e da Senadora Heloi-sa Helena.

Discussão do projeto em turno único. (Pausa.)Não havendo quem peça a palavra, encerro a

discussão.Em votação.As Sras e os Srs. Senadores que o aprovam quei-

ram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovado, com as abstenções dos Senadores Car-

los Bezerra, .José Eduardo Dutra, Pedro Simon, EduardoSuplicy, Tião Viana, Lauro Campos, Roberto Saturnino,Heloisa Helena, Geraldo Cândido, Marina Silva.

O projeto vai à Comissão Diretora para a reda-ção final.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sobre a mesa, parecer da Comissão Direto-ra, oferecendo a redação final, que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 831, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final do Projeto de DecretoLegislativo nº 61, de 1999 (nº 645, de1998, na Câmara dos Deputados).

A Comissão Diretora apresenta a redação finaldo Projeto de Decreto Legislativo nº 61, de 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 193

(nº 645, de 1998, na Câmara dos Deputados), queaprova o ato que renova a concessão da Rádio Inter-nacional Ltda. para explorar serviço de radiodifusãosonora em onda média na cidade de Quedas do Igua-çu, Estado do Paraná.

Sala de Reuniões da Comissão, 20 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente –Jonas Pinheiro, Relator – Nabor Júnior – CarlosPatrocínio.

ANEXO AO PARECER Nº 831, DE 1999

Faço saber que o Congresso Nacional aprovou,e eu, Presidente do Senado Federal, nos termos doart. 48, item 28, do Regimento Interno, promulgo o se-guinte

DECRETO LEGISLATIVO Nº, DE 1999

Aprova o ato que renova a conces-são da “Rádio Internacional Ltda.” paraexplorar serviço de radiodifusão sonoraem onda média na cidade do Iguaçu,Estado do Paraná.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º É aprovado o ato a que se refere o Decre-

to s/nº, de 2 de junho de 1997, que renova a conces-são da “Rádio Internacional Ltda.” para explorar, peloprazo de dez anos, a partir de 22 de março de 1995,sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusãosonora em onda média na cidade de Quedas do Igua-çu, Estado do Paraná.

Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor nadata de sua publicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em discussão a redação final. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.As Sras e os Srs. Senadores que a aprovam quei-

ram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada.A matéria vai à promulgação.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Item 5:

Discussão, em turno único, do Projetode Lei do Senado nº 224, de1999-Complementar, de autoria do Sena-dor Luiz Estevão, que modifica a Lei Com-plementar nº 53, de 1986, para nela incluir aisenção do Imposto sobre Produtos Industri-alizados – IPI, na compra de veículos por

paraplégicos e portadores de defeitos físi-cos, tendo

Parecer sob nº 247, de 1999, da Co-missão de Assuntos Econômicos, Relator:Senador José Fogaça, favorável, nos ter-mos da Emenda nº 1-CAE (Substitutivo, ma-téria de lei ordinária), que oferece, com abs-tenção do Senador Luiz Estevão.

Discussão em conjunto do projeto e do substi-tutivo em turno único. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – A Presidência presta os seguintes esclareci-mentos ao Plenário:

a) Quanto à isenção de ICMS, segundo o Pare-cer da Comissão de Assuntos Econômicos, há empe-cilho constitucional, pois a Lei Complementar nº 53/86,objeto do projeto, perdeu a eficácia a partir de 1º demarço de 1989, data da vigência do novo Sistema Tri-butário Nacional, instituído pelos constituintes queatribui ainda ao Conselho Nacional de Política Fazen-dária — Confaz, a competência para deliberar sobre areferida isenção.

Quanto à isenção do IPI, a matéria é objeto delei ordinária, manifestando-se aquela Comissão favo-ravelmente à mesma na forma do substitutivo queapresentou e que será submetido à deliberação doPlenário por maioria simples de votos, uma vez quetem preferência regimental.

Votação da Emenda nº 1, da CAE, que é o subs-titutivo, que tem preferência regimental.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB – RS) – Sr.Presi-dente, peço a palavra para encaminhar e tambémcomo Relator da matéria.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Para encaminhar, concedo a palavra a V. Exª.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB – RS. Para enca-minhar. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, aproposta do Senador Luiz Estevão cria uma isençãopermanente para a aquisição de veículos automoto-res especiais para paraplégicos.

Como sabemos, a legislação atual tem um cará-ter transitório, temporário. A cada ano é preciso umanova lei ou uma medida provisória para renovar a con-cessão dessa isenção tributária.

A proposta apresentada pelo Senador LuizEstevão estabelece a isenção permanente. Portanto,vejo nisso uma vantagem. Apenas não concordei comS.Exª na extensão da isenção para veículos im-

194 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

portados. Portanto, mantive que a isenção só se apli-cará a veículos de fabricação nacional.

Por outro lado, dá-se ao projeto, que é muitobem intencionado e vai produzir resultados sociaisimportantes, o caráter de lei complementar, para queuma lei complementar modifique outra lei comple-mentar, evidentemente.

Era apenas isso, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Votação da emenda nº 1-CAE (substitutiva)que tem preferência regimental.

As Sras e os Srs. Senadores que a aprovam quei-ram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovada.Aprovado o substitutivo, fica prejudicado o pro-

jeto.A matéria vai à Comissão Diretora, afim de redi-

gir o vencido para o turno suplementar.

É o seguinte o substitutivo aprovado:

EMENDA Nº 1–CAE (SUBSTITUTIVO)

Dispõe sobre a isenção do Impostosobre Produtos Industrializados – IPI, naaquisição de automóveis por pessoasportadoras de deficiência física.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Ficam isentos do Imposto sobre Produtos

Industrializados – IPI, os automóveis de passageirose os veículos de uso misto, de fabricação nacional, deaté 127HP de potência bruta (SAE), que apresentemcaracterísticas especiais e sejam adquiridos por pes-soas portadoras de deficiência física que as impossi-bilite de conduzir veículos comuns.

Art. 2º As características especiais referidas noart. 1º são aquelas, originais ou resultantes de adap-tação, que permitam a adequada utilização do veiculopor pessoas portadoras de deficiência física, admitin-do-se, entre tais características, o câmbio automáticoou hidramático e a direção hidráulica.

§ 1º A adaptação a que se refere o caputpoderáser efetuada na própria montadora ou em oficina es-pecializada.

§ 2º O imposto incidirá normalmente sobre qua-isquer acessórios opcionais que não seja equipamen-tos originais do veículo adquirido, não se consideran-do opcionais as partes, peças e acessórios que confi-ram ao veículo as características especiais aludidasno caput.

Art. 3º O benefício de que trata o art. 1º poderáser utilizado uma vez a cada três anos.

Art. 4º Para habilitar-se ao gozo da isenção tri-butária, o adquirente deverá apresentar laudo de perí-cia médica fornecido pelo Departamento de Trânsitodo Estado onde residir permanentemente, especifi-cando o tipo de defeito físico e atestando a total inca-pacidade do requerente para dirigir automóveis co-muns, bem como sua habilitação para fazê-lo emveículos com adaptações especiais, discriminadas nolaudo.

Art. 5º Fica assegurada a manutenção do crédi-to do IPI relativo às matérias-primas, aos produtos in-termediários e ao material de embalagem efetiva-mente utilizados na industrialização dos produtos re-feridos nesta Lei.

Art. 6º A transferência de propriedade ou uso doveículo, a qualquer título, sujeita o cedente ao préviopagamento do imposto dispensado, acrescido deatualização monetária, juros de mora e multa de moraou de ofício, nos termos da legislação tributária, semprejuízo das sanções penais cabíveis.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não seaplica ao veículo transferido, a qualquer título:

I – a pessoa que goze de igual tratamento tribu-tário, mediante prévia autorização da autoridade fiscal;

II – após o decurso do prazo de três anos de suaaquisição.

Art. 7º Esta Lei entra em vigor no primeiro dia doexercício financeiro seguinte ao de sua publicação.

Sala da Comissão, 18 de maio de 1999. – Fer-nando Bezerra, Presidente – José Fogaça, Relator– Ney Suassuna – Carlos Bezerra – Luiz Estevão(abstenção) – Roberto Saturnino – João AlbertoSouza – Eduardo Suplicy – Antero Paes de Barros– Bello Parga – Freitas Neto – Romeu Tuma – Lú-cio Alcântara – Pedro Piva – Gilberto Mestrinho.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT – SE)– Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Comunico que ainda teremos uma votaçãonominal a ser realizada imediatamente.

Concedo a palavra a V. Exª, pela ordem.O SR.JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT– SE) –

Sr. Presidente, pela ementa, diz-se que o item 5 é leicomplementar. Portanto, teria que ser votação nomi-nal, salvo engano.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Senador José Eduardo Dutra, fiz um esclare-cimento dizendo que a isenção do IPI era matéria delei ordinária e que a outra é que teria que ser feita pormeio do Confaz. A decisão da Comissão foi a votaçãodessa emenda substitutiva em relação só ao IPI.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 195

O SR.JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT– SE) –Sr. Presidente, o Relator informou que teria dado ca-ráter complementar. Daí a minha dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Senador, haverá turno suplementar, mas leicomplementar, não, data venia do ilustre Relator.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB – RS) – Sr.Presi-dente, como se trata de um projeto de lei que alterauma lei complementar, entendeu a Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania que a matéria preci-saria ser caracterizada como lei complementar. Se háoutro entendimento da Mesa, evidentemente que nãohá, da nossa parte, objeção alguma.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Senador José Fogaça, o parecer, se não meengano, concluiu pela ineficácia da Lei Complemen-tar nº 53, levando-se em conta que a Constituição de1988 traduz que esses assuntos não seriam mais re-solvidos em Lei Complementar, mas sim em reuniãodo Confaz.

Então, foi apresentado o IPI, que é matéria de leiordinária. A parte inicial seria, se não fosse a Consti-tuição de 1988. Esse é o entendimento da Mesa, sal-vo melhor juízo.

O SR. JOSÉ FOGAÇA ( PMDB – RS) – O Rela-tor entende que a interpretação da Mesa é adequada.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Agradeço a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 6:

PROJETO DE LEI DO SENADONº 336, DE 1999-COMPLEMENTAR

(Votação nominal)

Discussão, em turno único, do Projetode Lei do Senado nº 336, de1999-Complementar, de autoria do SenadorAdemir Andrade, que altera dispositivos daLei Complementar nº 76, de 6 de julho de1993, que dispõe sobre o procedimentocontraditório especial, de rito sumário, parao processo de desapropriação de imóvel ru-ral, por interesse social, para fins de reformaagrária, tendo

Parecer favorável, sob nº 615, de1999, da Comissão de Constituição, Justiçae Cidadania, Relator: Senador José Fogaça.

Passa-se à discussão, em turno único.Sobre a mesa, requerimentos que serão lidos

pelo Sr. 1º Secretário, Senador Carlos Patrocínio.

São lidos os seguintes:

REQUERIMENTO Nº 643, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos do art. 279, inciso I, do

Regimento Interno do Senado Federal, a remessa doPLS nº 336/99 à Comissão de Assuntos Econômicos.

Justificação

O PLS nº 336/99 ao pretender alterar a Lei Com-plementar nº 76, de 6 de julho de 1993, adentra emmatéria de competência exclusiva da CAE, DireitoAgrário, conforme estabelece o art. 99, inciso II, doRISF.

Tendo em vista que o aludido projeto só teve pa-recer da CCJ é necessária sua remessa à Comissãoespecializada para análise e parecer.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-nador Moreira Mendes, PFL – RO.

REQUERIMENTO Nº 644, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos do art. 279, inciso I, do

Regimento Interno do Senado Federal, a remessa doPLS nº 336/99 à Comissão de Assuntos Econômicos.

Justificação

O PLS nº 336/99 ao pretender alterar a Lei Com-plementar nº 76, de 6 de julho de 1993, adentra emmatéria de competência exclusiva da CAE, DireitoAgrário, conforme estabelece o art. 99, inciso II, doRISF.

Tendo em vista que o aludido projeto só teve pa-recer da CCJ é necessária sua remessa à Comissãoespecializada para análise e parecer.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-nador Amir Lando, PMDB – RO.

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB – PA)– Sr. Presidente, peço a palavra.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – V. Exª pede a palavra para uma questão deordem ou para encaminhar a votação do requerimento?

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB – PA) –Peço a palavra para encaminhar a votação do reque-rimento, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao Senador AdemirAndrade, para encaminhar a votação do requerimento.

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB – PA.Para encaminhar a votação.) – Sr. Presidente, gosta-ria de encaminhar contra o adiamento da votaçãodessa matéria, considerando as seguintes questões:primeiro, essa matéria foi aprovada na Comissão de

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Constituição, Justiça e Cidadania quase por unanimi-dade; segundo, o que estamos propondo vai de en-contro ao que o Governo está propondo e ao que opróprio Ministro Extraordinário de Política Fundiáriatem colocado permanentemente. Inclusive é o queV. Exª, como Presidente do Congresso Nacional, temmanifestado em várias oportunidades, no que se refe-re às superindenizações criadas pelo Poder Judiciá-rio, que são amparadas basicamente nas lacunas dasleis. Por isso é que estamos apresentando uma pro-posta mudando a Lei de Desapropriação em dois as-pectos. O primeiro aspecto é no sentido de acabarcom o juro compensatório. Esse juro compensatóriopermanece na desapropriação para fins sociais,quando o Governo se interessa em desapropriar al-guma coisa porque ele precisa daquela coisa. Mas,na questão da reforma agrária, a desapropriação é fe-ita quando a propriedade não é produtiva; quando éárea, no caso da Amazônia, acima de mil hectares.Se ela não é produtiva, o cidadão não está perdendonada ao deixar de receber esse juro compensatório,até porque o meu projeto diz exatamente:

“O valor da indenização corresponderáao valor apurado na data da perícia ou aoconsignado pelo juiz, corrigido monetaria-mente até a data do seu efetivo pagamento,excluído unicamente o juro compensatório.”

Ora, como vou compensar a produção de al-guém que não produzia absolutamente nada?

O segundo ponto, Sr. Presidente, refere-se àquestão da cobertura florística.A própria emenda pro-visória do Governo que está vigente hoje coloca que,quando se aplica o valor à propriedade, neste valor seincluem todos os bens: as benfeitorias, a terra nua, acobertura florística, tudo isso fazendo parte de umúnico produto e de um único bem. O que tem aconte-cido? O proprietário recebe a indenização e, depoisdisso, entra com uma ação específica para receber afloresta que está sobre a área.

Ora, o próprio Ministro Extraordinário de PolíticaFundiária – e aqui está o documento de S. Exª, o livrobranco das superindenizações – diz:

“A propósito da cobertura vegetal nati-va ou cobertura florística, trata-se de umdos principais artifícios usados para elevar ovalor das indenizações. Para tanto, os peri-tos calculam, para o que chamam de terranua, valores próximos aos de mercado e aeles acrescem o suposto valor da vegeta-ção, o que ocorre até mesmo em áreas dosemi-árido nordestino.”

Então, nosso projeto é simples, objetivo, foi am-plamente discutido na Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, teve parecer favorável do Sena-dor José Fogaça, creio que tem o apoio da Liderançado PFL – ainda não conversei com a Liderança doPMDB –, é uma posição que vai de encontro ao que opróprio Ministro Extraordinário de Política Fundiáriadeseja e, portanto, não vejo nenhuma razão para oadiamento desta matéria. Por isso, voto contra o adia-mento da matéria e solicito às Lideranças, à Lideran-ça do Governo inclusive, que atentem para o proble-ma e que definamos esta lei ainda nesta sessão, paraque ela possa ser encaminhada à Câmara dos Depu-tados.

E aí eu gostaria de dizer que, como ela é umaemenda a uma lei complementar, está sendo tratadatambém como uma lei complementar nesta Casa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Com a palavra, para encaminhar, o SenadorAmir Lando.

O SR. AMIR LANDO (PMDB – RO. Para enca-minhar. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, a matéria não é tão simples quantoparece e nem é uma inovação surgida do nada, comose não existisse uma história na reforma agrária e nalegislação agrária brasileira.

Farei um breve histórico sobre a reforma agrá-ria. A Emenda Constitucional nº 10, de 30 de novem-bro de 1964, introduziu modificação essencial naConstituição Federal, permitindo a indenização daterra nua – e aí já é uma distinção da própria Constitu-ição –, em títulos da dívida agrária, e às benfeitoriasmanteve a indenização em dinheiro.

Era naquela época a indenização justa e prévia.Nós, que conhecemos o andar dessa carroça, pode-ríamos dizer que graves problemas estavam sendoenfrentados na Justiça, exatamente enquanto a inde-nização prévia e justa dificultava sobremodo a execu-ção da reforma agrária. Aí é preciso que os Srs. Sena-dores saibam que o Ato Instituição nº 9 novamenteveio e alterou essas disposições, dizendo simples-mente que a desapropriação, para fins de reformaagrária, far-se-ia por meio de justa indenização, naforma que a lei estabelecesse.

Vejam V. Exªs que o AI-9 modificou a Constitui-ção e abriu essa possibilidade de a lei definir o que é“justa indenização”. E o que acontece? Na seqüência,o Decreto-Lei nº 554, estabelecendo o rito da desa-propriação, também em seu art. 3º, estabelecia o con-ceito da expressão “justo preço”, que, traduzindo, sig-nificava:

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a) o valor obtido através do acordo entre as par-tes;

b) o valor obtido através de avaliação do Incra;

c) o valor declarado para fins de cálculo do ITR.

Temos essas três hipóteses, e o art. 11 estabe-lecia também que, em qualquer caso, não se poderiade maneira alguma, ultrapassar o valor declaradopara fins do ITR.

O que aconteceu, Sr. Presidente? As ações econtestações pululavam, e o Supremo Tribunal Fede-ral, em ação direta de inconstitucionalidade, declarouque o justo preço não poderia a lei fixá-lo, mas o justopreço era aquele obtido através de perícia e por sen-tença judicial irrecorrível.

Essa tentativa, agora, de a lei excluir ou acres-centar, não é a lei que pode fazê-lo. A lei não tem essecondão enquanto não se alterar a Constituição.

É preciso dizer a V. Exªs que a Constituição de1988 foi um retrocesso nesse ponto. Lembro-me deque estive à época discutindo com vários Parlamenta-res a necessidade de manter o texto da Constituiçãoanterior. Infelizmente, as disputas políticas na áreaagrária acarretaram um retrocesso, e restaurou-se aidéia da justa e prévia indenização. Realmente, acon-teceu um retrocesso.

Sr. Presidente, estamos diante de um texto quedispõe sobre a justa e prévia indenização. E a cober-tura florística, enquanto bem de valor econômico, é in-denizável, Quem o distinguiu foi a Constituição, oEstatuto da Terra e toda a legislação posterior. Não hácomo fazer uma separação. A avaliação das benfeito-rias, bem como da cobertura florística, não se faz emação separada, mas no bojo da desapropriação.Quem faz essa distinção é o Estatuto da Terra, a de-claração de propriedade no Incra, porque, num caso,indeniza-se em dinheiro; noutro, em títulos da dívidaagrária.

Por isso, vejo eiva de inconstitucionalidade,como aconteceu com o Decreto-Lei nº 554. Háexemplos de diversos acórdãos do Supremo TribunalFederal de casos de declaração de inconstitucionali-dade em concreto, assim como dos diversos tribuna-is, e de ações diretas de inconstitucionalidade.

Sr. Presidente, esta matéria merece análisemais profunda. Assim, a volta é a oportunidade de es-coimar as inconstitucionalidades. Não legislemoscontra a Constituição, para que não passemos pelovexame de, amanhã, considerar que fizemos umamedida de caráter populista, sem respaldo na Consti-tuição.

A causa da minha vida é a causa da reformaagrária. Conheço profundamente o que é a reformaagrária e como ela deve ser feita. Mas não vamos pôra lei diante de um confronto com a Constituição.

O SR. MOREIRA MENDES (PFL – RO) – Sr.Presidente, peço a palavra para encaminhar.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. MOREIRA MENDES (PFL – RO. Para en-caminhar a votação. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o momento não épara discutir o mérito do requerimento apresentado,mas para justificá-lo. Embora o ilustre Senador autorda matéria considere que não há relevância no reque-rimento em questão, esclareço que se trata de algoextremamente importante, tendo em vista que com-pete à Comissão de Assuntos Econômicos, segundodispõe o art. 99, inciso II, manifestar-se e opinar sobredireito agrário e o decorrente.

Portanto, é perfeitamente cabível a proposição.Como disse o Senador Amir Lando, a matéria é rele-vante, é importantíssima e não pode ser discutida deafogadilho, razão pela qual deve ser acolhido o reque-rimento e encaminhada a matéria à Comissão deAssuntos Econômicos para opinar.

O SR.JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT– SE) –Sr. Presidente, peço a palavra para encaminhar.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT – SE.Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.)– Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, concordo queo assunto é importante e não pode ser discutido deafogadilho, mas alerto o Plenário pois está sendo vo-tado um requerimento para que a matéria seja anali-sada pela Comissão de Assuntos Econômicos.

As intervenções dos Senadores Amir Lando eMoreira Mendes abordam questões de natureza jurí-dica. A matéria teve o parecer favorável da Comissãode Constituição, Justiça e Cidadania, que é o órgãoadequado para analisar os aspectos ponderados porS. Exªs. Como se está votando um requerimento paraanálise pela Comissão de Assuntos Econômicos detemas de natureza eminentemente jurídica, não vejomotivo em encaminhar para a CAE, porque a Comis-são técnica adequada é a CCJ, que já se pronunciou,inclusive com a presença do Senador Amir Lando,conforme consta nos autos.

Nesse sentido, encaminho o voto contrário aorequerimento.

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O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em votação o requerimento nº 643, de 1999.

As Sras e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovado o requerimento, contra os votos dosSenadores Tião Viana, Heloisa Helena, Antero Paesde Barros, Geraldo Cândido, Roberto Saturnino, Se-bastião Rocha, José Eduardo Dutra, Antonio CarlosValadares, Marina Silva, Ademir Andrade, LauroCampos e Eduardo Suplicy.

O SR.JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT – SE) –Sr. Presidente, gostaria de saber se já decorreu umahora entre a última verificação e esta, pois desejo pe-dir verificação, porque vejo que a maioria do Plenáriovotou contra.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Não, a maioria não votou contra.Citamos ain-da há pouco os nomes. Sou o maior fã de V. Exª; mas,como matemático, tenho minhas dúvidas.

O SR.JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT– SE) –Alguns Senadores levantaram a mão e não foram ci-tados. Se houver interstício suficiente, quero pedir ve-rificação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – V. Exª ainda não pode pedir verificação.

A matéria vai ao exame da Comissão de Assun-tos Econômicos.

Fica prejudicado o Requerimento nº 644, de1999.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Sr.Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra V. Exª.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM. Pelaordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,como a votação desta matéria foi nominal, eu justifi-caria a minha ausência, porque, juntamente com oSenador Gilberto Mestrinho, estava examinando asemendas de Bancada, e solicitaria a V. Exª que deter-minasse o registro de nossa presença nesta oportuni-dade.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – A Ata registrará a observação de V. Exª, como apoio da Mesa.

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB – MT) – Sr.Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB – MT. Pelaordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, do

mesmo modo, não pude comparecer à verificação re-alizada na sessão de hoje.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – A Ata registrará a presença de V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Item 7:

PARECER Nº 794, DE 1999(Escolha de Autoridade)

(Votação secreta)

Discussão, em turno único, do Parecernº 794, de 1999, da Comissão de Constitui-ção, Justiça e Cidadania, Relator: SenadorRomeu Tuma, sobre a Mensagem nº 173,de 1999 (nº 1.314/99, na origem), de 21 desetembro do corrente ano, pela qual oPresidente da República submete à deli-beração do Senado a escolha do Ge-neral-de-Exército José Luiz Lopes daS ilva, para exercer o cargo de Ministrodo Superior Tribunal Militar na vaga de-corrente da aposentadoria do Gene-ral-de-Exército Edson Alves Mey.

Sobre a mesa, requerimento que será lido pelo1º Secretário em exercício, Senador Carlos Patrocí-nio.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 645, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos do art. 279, inciso III, do

Regimento Interno do Senado Federal, o adiamentoda discussão do Parecer nº 794/99 da CCJ, que sub-mete à deliberação do Senado a escolha do Gene-ral-de-Exército, José Lopes da Silva, para exercer ocargo de Ministro do Superior Tribunal Militar, a fim deque seja feita na sessão do dia 2 de dezembro próximo.

Sala das Sessões, 20 de outubro de 1999. – Se-nador Geraldo Cândido.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em discussão.

Concedo a palavra ao autor do requerimento,Senador Geraldo Cândido, por cinco minutos.

O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT – RJ.Para encaminhar. Sem revisão do orador.) – Sr. Presi-dente, Srªs e Srs. Senadores, encaminhei o requeri-mento solicitando o adiamento da discussão e vota-ção pelo seguinte motivo: no dia seguinte ao da apro-vação da indicação, pela CCJ, do nome do GeneralJosé Luiz Lopes da Silva para o STM, recebi um tele-fonema do Bispo da Diocese de Volta Redonda, Bar-

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ra Mansa e Rezende, Dom Valdyr Calheiros, exter-nando sua indignação com relação à indicação donome do General para o STM, indignação de quetambém compartilho, porque, à época da ocupaçãoda CSN - quando o General José Luiz comandou omassacre na siderúrgica que culminou com a mortede três operários (Wiliam de Freitas Monteiro, 27anos, Walmir Fernando Leite, 22 anos e Carlos Au-gusto Barroso, 19 anos, cujo pai está até hoje semaposentadoria, vivendo de cestas básicas doadaspela Diocese de Volta Redonda.) -, na noite do mas-sacre, houve uma reunião entre o representante doSindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda, DomValdyr Calheiros, o Prefeito de Volta Redonda e o Ge-neral. Nessa reunião, Dom Valdyr perguntou: “Gene-ral, por que tanta violência?”. Ele disse que lamenta-va as mortes dos operários, mas esperava que aque-las servissem de lição para os outros operários.Como se tivessem saído de uma operação de guerra.Então, o General dizia que lamentava a morte, masque ela servia de exemplo para outros operários, ouseja, para que ninguém se atrevesse a tomar açõesdaquele tipo.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, é um absurdo,porque, na época, como dirigente da Central Únicados Trabalhadores, estive em Volta Redonda, ondenão havia apenas os três mortos, mas mais de 40 feri-dos em estado grave nos hospitais. Eram feridos àbala, com estilhaços de granada. Foi uma operaçãoextremamente violenta. Inclusive, na hora, mil operá-rios estavam trabalhando nos altos fornos, que nãopodem ser desligados.

Portanto, estamos protestando contra essa indi-cação. Recebi, hoje, da Assembléia Legislativa do Riode Janeiro, uma moção de repúdio em relação à indi-cação do nome do General. Recebi também, em meugabinete, uma relação com 5.500 assinaturas, vindade Volta Redonda, como protesto contra a indicação.

Por isso, Srªs e Srs. Senadores, estou propondoa retirada de apreciação do nome do General, nestasessão do Senado Federal.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Em votação o requerimento.

As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovam quei-ram permanecer sentados. (Pausa.)

Rejeitado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Passa-se à discussão do parecer, em turnoúnico.

Para discutir, concedo a palavra ao SenadorEduardo Suplicy, que dispõe de dez minutos. Posteri-ormente, a palavra será dada aos Senadores PedroSimon, Marina Silva e José Eduardo Dutra.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, tenho a convicção de que a decisão que o Senadoestá por tomar é de extraordinária importância para ahistória do Brasil, das Forças Armadas, do Exércitobrasileiro, dos empresários, dos trabalhadores.

Encontra-se na tribuna de honra do Senado Fe-deral o Presidente Nacional da Central Única dos Tra-balhadores, Vicente Paulo da Silva, Vicentinho, com asua mulher Roseli, que tem uma audiência com o Pre-sidente Antonio Carlos Magalhães. Isso coincide como fato de ser esta uma oportunidade importante, por-que se trata da decisão de aprovarmos, ou não, a indi-cação para o cargo de Ministro do Superior TribunalMilitar de um oficial das Forças Armadas que, em no-vembro de 1988, Coronel do Exército, responsávelpor operações na área do Estado do Rio de Janeiro,comandou a operação de desocupação da Usina deVolta Redonda, da Companhia Siderúrgica Nacional,uma vez que os trabalhadores haviam ocupado a em-presa.

Os trabalhadores estavam, na época, reivindi-cando melhores condições salariais, melhores condi-ções de vida. Era uma reivindicação social normal, eaos trabalhadores, conforme está previsto na Consti-tuição Federal, assegura-se o direito de greve, de pa-ralisação. O direito de ocuparem o recinto da fábrica,obviamente, pode até ser discutível, mas a ação dostrabalhadores era pacífica.

Operações como a de sentar-se em algum lugare ocupar áreas estão tipicamente registradas entreaquelas mais importantes. São movimentos como es-ses que caracterizaram as ações dos grandes pacifis-tas como Mahatma Gandhi e Martin Luther King Júni-or. Não havia qualquer iniciativa violenta por parte dostrabalhadores. Estavam, sim, ocupando uma área eavaliando que era importante defender, por aquelemétodo, o que tanto consideravam essencial.

Lembramos que, em 1988, havia um processoinflacionário. O aumento dos preços deteriorava rapi-damente o poder aquisitivo dos trabalhadores; era na-tural que pudessem protestar e reivindicar. A CSN erauma empresa pública; aquela ação preocupou o Go-verno José Sarney. O Presidente e o Ministro do Exér-cito resolveram pedir a desocupação.

Há duas semanas, na Comissão de Constitui-ção, Justiça e Cidadania, indagamos ao General deExército, José Luiz Lopes da Silva, a respeito daquele

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episódio, porque, afinal de contas, ele está sendo in-dicado pelo Presidente da República para juiz e anali-sar ações que podem até se parecer com a do conflitoque existiu — oficiais instados a tomar decisões gra-ves. Naquele dia, conforme o Senador Geraldo Cân-dido já mencionou, 40 operários foram feridos, e trêsmorreram.

Ora, Sr. Presidente, os trabalhadores WilliamFernandes Leite, Carlos Augusto Barroso e WalmirFreitas Monteiro certamente fazem com que toda acomunidade de Volta Redonda e de Barra Mansapense: “O comandante daquela operação que levou àmorte três trabalhadores da CSN será agora levado àcondição de Ministro do Superior Tribunal Militar?”

O Senador Pedro Simon levantou questão nosentido de como o Presidente da República havia de-signado esse general e se não pensara suficiente-mente a respeito do assunto. Perguntei ao GeneralJosé Luiz Lopes da Silva: “O senhor não pensou quetalvez fosse adequada a utilização de balas de borra-cha, se alguma ação tivesse que ser exercida pelasForças Armadas?”

Há quatro semanas, na Febem, em São Paulo— eu próprio presenciei —, foram usadas pelas for-ças da Polícia Militar balas de borracha para conter osjovens. Até mesmo pais e mães foram feridos com ba-las de borracha; pessoas tombaram, mostraram suasferidas, mas nenhuma foi ferida gravemente. Os sol-dados, parece-me, são treinados a não atingir osolhos, porque obviamente uma bala de borracha podedeixar uma pessoa cega; se atirada à queima-roupa,a meio metro de distância, chega a matar, mas, quan-do a maior distância, o ferimento é leve, embora o su-ficiente para conter a ação de uma pessoa. Por quenão se fez isso? Respondeu-me o General que oExército não tinha balas de borracha. Pois, então, eraa PM que tinha de fazer isso. E, obviamente, ele tam-bém disse: “Sim, seria um trabalho para a PM, jamaispara o Exército”. E por que, naquela oportunidade,não tomou a decisão, como Comandante do Exército,e disse ao próprio Ministro do Exército: “Ministro, nãovamos fazer essa operação; chame uma tropa da PMmais especializada em conter distúrbios, ocupações”.Por isso aquela tragédia aconteceu. Ora, eu dissecom franqueza ao General de Exército José Luiz Lo-pes da Silva: “Em memória dos trabalhadores de Vol-ta Redonda, para que nunca mais ocorra uma situa-ção como essa, em que as Forças Armadas sejaminstadas a conter movimentos sociais com o uso dearmas mortíferas; para que nunca mais ocorra umepisódio como esse, Sr. General, infelizmente nãoposso votar a favor da sua indicação. Portanto, votei

contra na Comissão de Constituição, Justiça e Cida-dania.

Gostaria de lembrar que o Senado deveria to-mar a decisão importante de sinalizar, para que fiquena História do Brasil, para os trabalhadores brasilei-ros que essa pessoa foi responsável, ainda que invo-luntariamente – sei que ele não teria qualquer inten-ção, mas a operação levou a isso -, pela morte deoperários. O General saberá reconhecer que houveum erro que não pode ser esquecido, e que, portanto,ele não pode ser premiado.

O Bispo Dom Waldyr Calheiros Novaes nos dis-se que a aprovação da escolha do nome do Generalpara o Superior Tribunal Militar seria uma condecora-ção, um desrespeito aos que morreram naquele dia.O General disse a Dom Waldyr Calheiros que o inci-dente serviria de lição, porque, senão, na Petrobrás,os trabalhadores fariam o mesmo. Ora, não pode seressa a lição.

Agora, é o Senado que precisa dar a lição. Daí arecomendação pelo voto não.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Com a palavra a Senadora Marina Silva.

A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Paradiscutir. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente,Srªs e Srs. Senadores, não repetirei os argumentosapresentados pelo Senador Suplicy, até porque, nainvasão da Companhia Siderúrgica Nacional, no dolo-roso episódio que envolveu as famílias daqueles queforam assassinados – inclusive, são as informaçõesque temos –, alguns dos militares, dos recrutas queestavam na operação, eram filhos dos operários queestavam ocupando aquela Companhia.

Em declarações sobre o episódio, Dom Waldyrdisse que o responsável pela operação teria dito quea ação deveria servir de exemplo.

Sr. Presidente, tenho absolutamente claro queestamos vivendo um momento novo na história políti-ca do nosso País. Houve um processo de anistia, enão cabe ficarmos remoendo o passado, buscandorevanche. A postura que o Congresso Nacional deveter em relação a este episódio não pode ser entendi-da como objeto de revanche. Poderia, se fosse paraproibir o desempenho de suas funções enquanto mili-tar. Mas o que está sendo proposto pelo PresidenteFernando Henrique é que ele seja premiado, seja pro-movido à condição de juiz. E, para ser promovido àessa condição, é bom que se faça uma breve reflexãosobre qual é o papel do juiz.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 201

Para o policial, está correto o princípio de que aPolícia tem como objetivo prático, no exercício desuas funções, em muitos momentos, o processo dadissuasão. Então, o policial vai lá para dissuadir deter-minados movimentos. Mas com o juiz ocorre exata-mente o oposto. Seu processo é o da persuasão. Per-suadir é exatamente o oposto de dissuadir. Mas eleusou métodos condenáveis como o de assassinarpessoas por motivos políticos – e digo sem nenhummedo, sem nenhum problema

Outros episódios ocorreram, como foi o caso daMannesmann, em Minas Gerais. No entanto, nãohouve a ação criminosa de matar pessoas por posi-ções políticas, muito embora os objetivos fossem se-melhantes.

Estamos aqui, sucessivas vezes, submetendo oCongresso Nacional a constrangimentos. Sinto-meembaraçada. No dia da votação da indicação de outrojuiz, um outro caso em que havia denúncias sobre onão-reconhecimento da paternidade pelo juiz, comrelação ao problema de menores que foram constran-gidos, aquela votação foi um constrangimento paramim e para esta Casa. Neste momento, o embaraçotalvez seja igual ou maior.

Sr. Presidente, não posso admitir que o Con-gresso Nacional seja cúmplice de um Tribunal em quea maioria é militar. No Brasil não há pena de morte,mas parece que nos Tribunais militares é possível overedicto da pena de morte – que me reparem aqui ossrs. juristas.Não podemos apoiar alguém com a cultu-ra de eliminar pessoas por posições políticas, com acultura do assassinato.

Chamo a atenção desta Casa para o que esta-mos votando.

Poderia dizer que me causa estranheza a posi-ção do Presidente Fernando Henrique Cardoso, pornão ter considerado esse episódio, mas já não tenhoo que estranhar, pois, como dizia a minha avó, “o cos-tume do cachimbo é que põe a boca torta”. Se, por su-cessivas vezes, o Presidente submete indicações aesta Casa sem qualquer problema, pois é Governo,tem a maioria, e aprova o que é enviado, acredito que,desta vez, não será assim.

Esta é a oportunidade de a Casa mostrar queprecisamos de critérios na escolha de indicações.Esta indicação é para o Superior Tribunal Militar, mas,por ser militar, não perde a sua característica de es-paço de realização da justiça sob decisão de juízes enão de militares. Portanto, se, como militar, ele podeaté ser absolvido, como juiz, ele jamais o será.

Por tudo isso, votamos contra.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao nobre Senador PedroSimon. V. Exª dispõe de dez minutos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS. Para discu-tir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, se eu ti-vesse o prestígio que V. Exª tem hoje junto ao Presi-dente da República, eu pegava o telefone de V. Exª aolado e dizia: Presidente, retire essa mensagem. Sefosse Líder do Governo, neste momento, como tal,encaminhava dizendo: vamos ajudar o Governo, va-mos colaborar com o Governo, vamos votar contra.

Sr. Presidente, imaginei que, com a votaçãodesta matéria na Comissão de Constituição, Justiça eCidadania, a essa altura, o Presidente da Repúblicajá teria determinado sua retirada.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Se V.Exª quiser, o telefone está aqui. (Risos)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Não adi-anta, Sr. Presidente. Houve época em que eu resol-via, mas, agora, quem diria, o meu velho e queridoamigo Fernando Henrique está muito mais ligado aotelefonema de V. Exª do que ao meu. Se eu pudesse,faria. Faço agora de público ao Líder do Governo:peça ao Presidente Fernando Henrique que retireesta matéria.

Ouça a carta que recebi, Sr. Presidente:

Excelentíssimo Sr. Senador Pedro Si-mon.

Em nome de Dom Waldyr CalheirosNovaes, Bispo Diocesano da Barra do Piraí– Volta Redonda, encaminho a V. Exª cópiade um Documentário Memorial da Greve so-bre o conflito em Volta Redonda, para suaapreciação e eventuais providências.

Dom Raymundo Damasceno Assis.Secretário-Geral da CNBB.

Manda-me uma cópia da fita. Não sei, Sr. Pre-sidente, se poderia pedir a V. Exª para suspender ostrabalhos, para assistirmos a uma cópia da fita e,baseados nesta cópia, recuarmos ao passado, tra-zermos de volta, ressuscitarmos o que pensávamosque já não existia mais, para podermos decidir so-bre a matéria.

Cumpro a determinação de Dom Damasceno.Está aqui a fita, se acharem por bem votar... Mas pen-so que não podemos votar antes de assistirmos aesta fita.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Infelizmente, não será possível passar afita, porque não há esse precedente. V. Exª saberá

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exprimir tudo que há na fita com a inteligência queDeus lhe deu.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Não co-nheço a fita, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Aí é o mal de V. Exª: trazer, para o conheci-mento do Plenário, algo que V. Exª desconhece.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Sr. Presi-dente, conheço a figura de Dom Damasceno. Se DomDamasceno me entrega uma fita, pedindo para eumostrar ao Plenário do Senado, tenho respeito peloSecretário-Geral da CNBB. Claro que eu não estariaaqui se fosse um requerimento de Joaquim Manoelda Silva ou de sei lá quem, mas este requerimento éde Dom Damasceno, Secretário-Geral da CNBB, queme entregou a fita para que eu tomasse providências.Creio que ele merece respeito, agora, eu não conhe-ço a fita.

Não é a questão desse General, de quem tiveboa impressão. Não tive nada contra ele.

O absurdo é o Sr. Fernando Henrique Cardosonão ter nenhuma sensibilidade política, esquecer oseu passado e cometer o absurdo de ressuscitar essamatéria. Ele não tinha o direito de fazer isso no Gover-no dele! Ele não tinha o direito de fazer isso com essegeneral! Ele não tinha o direito de fazer isso com estaCasa! Ressuscitar essa matéria!

Quem não se lembra do que aconteceu em Vol-ta Redonda? Tenho certeza de que o Presidente Sar-ney não deu a ordem, nem o General Leônidas, queconheço também.A determinação foi de ir lá para orien-tar, e não para matar operário. E não para matar ope-rário!

Isso aqui não é nem para dizer para esquecer,porque já foi depois da anistia. A anistia já havia aca-bado, estávamos num Governo democrático. Nuncase respeitou tanto a democracia como no GovernoSarney, que permitiu recorde de greve na história des-te País. E de repente, não mais que do que repente,um general vai e faz isso que ele fez.

Eu era Governador do Rio Grande do Sul e con-siderava grave o fato de os operários invadirem VoltaRedonda e tentarem esfriar o forno, o que causariaum prejuízo incalculável. Eu achava que os operáriosdeveriam ser orientados, que a saída deles deveriaser determinada.A briga não estava em torno dos queestavam lá fora, mas da saída dos que estavam ládentro, se é que eles estavam ameaçando esfriar oforno. Mas aí, sem mais nem menos, quando menosse imagina, acontece um tiroteio que deixa três mor-tos e 70 feridos.Mas aquilo passou, aquilo é história.

Agora vem o Sr. Fernando Henrique Cardosocom essa competência que lhe é característica emanda o nome deste General para ser confirmadopara o Superior Tribunal Militar. A troco de quê? Ficouprovado que ele foi o homem de Volta Redonda. Elenos contou que, quando da visita do Papa, foi o ho-mem encarregado da segurança no Rio de Janeiro ese saiu muito bem; ele nos contou que, quando houvea Conferência Mundial no Rio de Janeiro, foi o homemque fez a segurança e se saiu muito bem; ele tambémcontou que, no final do Governo Brizola havia confu-sões e dificuldades na transmissão de governo, foi ohomem chamado e se saiu muito bem. Ele é especia-lizado em segurança.

O Sr. Fernando Henrique não disse que temosque ter um representante permanente no Conselhodas Nações Unidas? Ele que vá lá, é um general, paraser orientador ou coordenador, para participar doConselho de Segurança. Mas no Superior TribunalMilitar? Não é a especialidade dele. Não é a históriadele. Não é o precedente dele. E o Presidente mandaro nome de um general que comandou a morte de trêsoperário é uma bofetada no povo brasileiro. O Sr. Fer-nando Henrique não tinha o direito de fazer isto. Elepode até pedir que esqueçamos o que ele escreveu.Ele pode até estar fazendo um governo neoliberalcontrário a toda a sua história e a toda a sua biografia,mas há questões que fazem parte do caráter, da dig-nidade, da seriedade, e isto ele não pode fazer.

Ele tinha a obrigação de telefonar e retirar estamensagem, não expor colegas seus, parlamentaresdo Governo, que estão aqui apavorados entre a suabiografia, a sua história, a sua obrigação e a sua res-ponsabilidade com este Governo.

Ressuscitar essa matéria? Por quê? Quem éesse cidadão? É um jurista? Qual é a obrigação denomear esse cidadão? O que há por atrás da nomea-ção desse cidadão?

Sr. Presidente, eu não entendo mais. Está muitodifícil entender o Sr. Fernando Henrique Cardoso.Está muito difícil e complicado, porque essa é umadaquelas causas que não é possível entender. Não épossível entender que o Sr. Fernando Henrique Car-doso recue a esse ponto.

Eu voto contra. Quero dizer ao general que nãovoto contra ele. Voto contra o Sr. Fernando HenriqueCardoso, contra a incompetência política, a incapaci-dade política, a irresponsabilidade de um Presidentesubmeter a Nação a isso que está aí.

Está aqui a carta do Bispo de Duque de Caxias,contando, rememorando toda a história, contandouma história diferente da que o general contou na Co-

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missão de Constituição, Justiça e Cidadania, bem di-ferente. Há aquilo que o Senador Eduardo Suplicydiz, no sentido de que isso deve servir de lição paraos operários do Brasil inteiro! Eu não sei. O generalnão disse isso, mas não tenho porque duvidar da pa-lavra do bispo, que assistiu. E se tivermos alguma dú-vida entre a palavra do general, que diz que agi-u100% e a palavra do bispo que diz que ele fez isso,está aqui a fita. Suspendamos a sessão e vamos as-sistir à fita, que nos foi entregue pelo Secretário-Geralda CNBB, dizendo ser importante que nós assista-mos à fita.

Eu entrego a fita. Eu cumpro a minha parte. Masacho até que não devíamos nem ver a fita, nem colo-car na TV Senado para rememorar aquelas horas tris-tes que já passaram, que não queremos ressuscitar.

É hora de rejeitar o nome do General José LuizLopes da Silva, dizendo o que eu lhe disse na – Co-missão de Constituição, Justiça e Cidadania : “Gene-ral, tive a melhor impressão de V. Exª. Não tenho nadacontra V. Exª. Vou votar contra o Governo, o SenhorFernando Henrique, que não podia ter posto V. Exªnessa situação, não podia ter posto o Senado nessasituação, não podia colocar o Superior Tribunal Militarna situação em que quer colocar”.

Dá para entender agora por que os níveis daPresidência da República estão tão baixos; dá paraentender agora como um cidadão pode ir se isolandodo mundo, daqueles que compõem a sua vida ao lon-go da vida. Chega na Presidência e, de repente,transforma-se num outro homem. Esse não é o Fer-nando Henrique que conheço, que conheci, em quemvotei, que recebi quando veio do exílio, com tantos po-líticos, que julguei como homem de maior cultura, ma-ior capacidade que conheci, o mais bem preparadopara chegar à Presidência da República. Posso dis-cordar da política econômica, das privatizações, demil coisas, mas isso é discordar da falta de sensibili-dade.

O sociólogo Fernando Henrique, o homem queconhece a vida, a sociedade, o dia-a-dia do nossoPaís, é insensível a ponto de não entender o que estáfazendo. Ele está rasgando a biografia dele, ofenden-do esta Casa e as Forças Armadas, e ressuscitando oque já deveria ter sido esquecido. Ninguém mais selembrava desse episódio! Ninguém mais se lembravade Volta Redonda! De repente, a CNBB manda umacarta para cá, pedindo que o Senado assista à fita. E,se formos votar, como é que vamos dizer não àCNBB?

Faço-lhes um apelo, meus amigos, do fundo docoração. Juro pelos meus filhos que eu, Líder do Go-

verno, votaria contra. Como amigo do Fernando Hen-rique, votaria contra. Eu, se desejo ajudar o Governo,voto contra. Porque, votando contra, daqui a um mês,ele vai dizer: “Obrigado. Eu fiz uma baita besteira,” –desculpe-me o termo, referindo-se ao Presidente daRepública – “uma baita besteira, mas vocês não meajudaram.” Contudo, se votarmos a favor, vamos tis-nar esta Casa e cair junto com o Presidente.

Sr.Presidente, faço-lhe um apelo.V.Ex.ª tem de-monstrado a vontade e o desejo de acertar. Indepen-dentemente das posições e das divergências, temsurpreendido o País e esta Casa. A par de sua histó-ria, em várias oportunidades, V. Ex.ª busca exata-mente encontrar o entendimento. V. Ex.ª sabe melhordo que eu, pois foi Ministro do Sarney por cinco anose eu, só no primeiro ano, que o então Presidente Sar-ney lutou pela manutenção da democracia. Nunca sefizeram tantas greves, tantas injustiças! Nunca seatingiu tanto uma CPI criada neste Senado e que ter-minou sendo glorificante para o Sarney. Houve umaCPI tentando denegrir a vida dele, e ele agüentoutudo com a maior serenidade, com a maior tranqüili-dade. Não me lembro de nada desse tipo de que oGoverno Sarney tenha participado. O Presidente Sar-ney foi ao meu Estado para lançar a duplicação dopólo petroquímico, para duplicar a refinaria AlbertoPasqualini, e foi recebido com vaias e agüentou com amaior grandeza e com a maior tranqüilidade.

Conheci o General Leônidas.Posso dizer que sehá homens que merecem o maior respeito – tambémconheci o General Ivan, Chefe do SNI, convivi com ele–, são esses generais. Então, não dá para dizer queobedeceram a ordem superior. Ordem superior dequem? Do General Leônidas? Do General Ivan? DoPresidente Sarney? Do Ministro da Justiça, PauloBrossard? Duvido que deles tenha saído qualquer de-terminação que terminasse em sangue e morte. Foiresponsabilidade do comandante de lá.

O Senhor Fernando Henrique está fazendo isto:está assumindo essa responsabilidade. Faço um ape-lo em nome do Fernando Henrique, faço um apelo emnome da sua biografia, faço um apelo em nome doseu passado, faço um apelo em nome do seu futuro,faço um apelo em nome daqueles que rezam paraque o Governo do Sr. Fernando Henrique dê certo: re-jeitem. Rejeitem. É o máximo que podemos fazer a fa-vor do Brasil e a favor de Fernando Henrique.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Com a palavra, o Senador José Eduardo Dutra.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT – SE.Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, Sras e Srs. Senadores, há cerca de 15 dias, na Co-

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missão de Constituição, Justiça e Cidadania, quandoanalisávamos uma consulta feita por mim, a partir deuma intervenção do Senador Roberto Freire por oca-sião da indicação do Sr. Armínio Fraga, a respeito doque significava “reputação ilibada”, houve um debatemuito interessante sobre o processo de votação noSenado sobre indicação de autoridades. Embora oSenado seja uma Casa política e todos reconheçamque a decisão tomada a respeito da aprovação ounão do nome de qualquer pessoa indicada pelo Presi-dente da República para ocupar os cargos de embai-xador, ministro de tribunais ou presidente do BancoCentral, tem uma carga política muito grande, che-gou-se ao consenso de que o Senado deveria debru-çar-se sobre os antecedentes da vida das pessoas —e aí não apenas o currículo profissional — e vincu-lá-los à função para a qual elas estariam sendo indi-cadas.

O General José Luiz, que está sendo indicadopara Ministro do Superior Tribunal Militar, era o Co-mandante da 1ª Brigada de Infantaria Motorizada, se-diada em Petrópolis, por ocasião da greve de VoltaRedonda, em 1988. Como já lembrou muito bem oSenador Pedro Simon, não se trata de uma discussãode esquecimento ou não; não se trata de uma discus-são de anistia; não se trata de uma discussão seme-lhante àquela que levantou o Senador José Serra porocasião da indicação de um embaixador – não melembro para qual País – relativo ao desempenho quehavia tido quando funcionário da representação diplo-mática do Brasil no Chile. Esse episódio aconteceuem 1988, após, portanto, a anistia. O General JoséLuiz vai para o STM. Portanto, possivelmente poderáser convocado a se posicionar a respeito de possíveisinquéritos policiais militares decorrentes, por exem-plo, de morte de pessoas atingidas por balas oriundasde armas do Exército, o que é exatamente o caso.Como se posicionaria o General José Luiz para julgarum episódio dessa natureza, episódio do qual ele foium dos principais participantes? Alguns poderão di-zer que foi mera fatalidade, que houve um processode radicalização durante a greve, quando a Compa-nhia Siderúrgica Nacional foi ocupada e era necessá-rio o uso da força e então aconteceu uma fatalidade.Será que o uso da força desenvolvido por ocasião dagreve da CSN, da forma que foi utilizado, era inevitá-vel? Gostaria de lembrar outro episódio de outra gre-ve de ocupação, comandada inclusive pelos setoresmais radicalizados do movimento sindical cutista. Re-firo-me à greve da Mannesmann, em Belo Horizonte,de que os Senadores Francelino Pereira e José Alen-car devem se lembrar muito bem. Foi a chamada gre-

ve dos encapuzados, em que também houve ocupa-ção e em que houve um processo inclusive muitomais radicalizado do que na greve da CSN. No entan-to, a Polícia Militar de Minas Gerais, ao estabelecer oprocesso de desocupação, não agiu como a 1ª Briga-da de Infantaria Motorizada.

Portanto, o conflito e a posterior tragédia daCSN não eram inevitáveis. Aconteceu por causa daforma como aquela operação foi comandada pelo Ge-neral José Luiz, esse mesmo homem que está sendoindicado agora para ocupar uma vaga de juiz do STM.

Gostaria muito, Sr. Presidente, Sras e Srs. Sena-dores, que o Presidente Fernando Henrique Cardosoatendesse ao apelo do Senador Pedro Simon. Gosta-ria muito, aliás, que Sua Excelência nem tivesse leva-do esta Casa a tomar essa deliberação. Mas na medi-da em que isso não aconteceu, a tarefa do SenadoFederal, neste momento, é julgar essa indicação nãoapenas como indicação do Presidente da República eque, portanto, tem que ser aprovada pela sua base deapoio. Gostaria que as Sras e os Srs. Senadores nãosó analisassem os episódios que estão sendo relacio-nados aqui, mas que também vinculassem esses epi-sódios à função que passará a exercer o Sr. José LuizLopes da Silva caso venha a obter a aprovação doSenado.

De antemão, quero afirmar que votarei contra,até porque dois anos antes desse episódio, na condi-ção de Presidente de um sindicato, participei, em Ser-gipe, de uma greve de ocupação da empresa Petro-brás Mineração. Possivelmente, se o processo de de-socupação daquela unidade tivesse sido desenvolvi-do pela 1ª Brigada de Infantaria Motorizada, coman-dada pelo general José Luiz Lopes da Silva, eu nãoestaria aqui tendo o prazer de debater com V. Exªsesta matéria. Portanto, voto contra.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao Senador Roberto Re-quião.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB – PR. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras

e Srs. Senadores, devemos agradecer ao Rio Grandedo Sul por nos ter mandado de volta o Senador PedroSimon. Em alguns momentos da vida congressual, apalavra vibrante, a gesticulação napolitana e a emo-ção do Senador Pedro Simon são rigorosamente in-dispensáveis.

O Senador Pedro Simon falou por mim, pelomeu Partido, pelo PMDB do Paraná. S. Exª não fezuma condenação absurda e dura contra um coman-dante militar, mas abordou, com extrema precisão, aimportância simbólica dessa indicação. O General

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não combatia uma insurreição ou um movimento di-versionista dentro do País; o General enfrentava umadas dezenas de greves operárias que ocorreram du-rante o Governo Sarney. E, no Exército, a responsabi-lidade é do comando.

A responsabilidade maior, neste momento, é doPresidente da República, que nos manda, para homo-logar, o nome do General, responsável, quando nocomando, pela morte de três operários em Volta Re-donda.

Senador Pedro Simon, certa feita, não me recor-do se como Prefeito de Curitiba ou Governador deEstado, visitava o Congresso Nacional em uma con-venção partidária, se não me engano, e registrei, deforma indelével, as palavras iniciais de um discursodo nosso Presidente Ulysses Guimarães.Dizia S.Exª:“Nosso índio errante vaga. Mas por onde quer que elevá, os ossos dos seus carrega. Carrega-os não para avindita, mas porque também os mortos vigiam e go-vernam os vivos.”

Voto com os três operários mortos, com a liber-dade sindical e a democracia. Voto contra a humilha-ção que se traduz no envio do nome do responsávelpelo massacre de Volta Redonda ao Plenário do Se-nado da República. Voto com o PMDB do Paraná, porrecomendação do Diretório Estadual e de sua Execu-tiva. Voto com os paranaenses que me elegeram.Voto, com consciência absoluta, contra a indicaçãodo General de Volta Redonda para o Superior Tribu-nal Militar.

Não é revanche. Não se trata de discutir anistia.É uma greve operária indevidamente reprimida porforças militares. O Exército jamais deveria ter-se en-volvido nesse processo. Para a desgraça dele, o ge-neral era o comandante. Hoje, a sua indicação para oSuperior Tribunal Militar simboliza, de uma forma mui-to clara, o prestígio à violência e ao arbítrio.

Termino esta intervenção, que quero breve, comuma ironia: que não vote o Senado para o SuperiorTribunal Militar um general que jamais poderá visitar aInglaterra.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao Senador Geraldo Cân-dido.

O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT – RJ.Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, Srªs e Srs. Senadores, nesta semana, em uma re-vista de grande circulação nacional, foi publicada umareportagem em que o jornalista dizia a seguinte frase:“De quem foi a idéia de jerico de indicar o GeneralJosé Luiz Lopes da Silva para Ministro do SuperiorTribunal Militar?” Isso, de fato, parece uma idéia de je-

rico. Aliás, o nosso Presidente da República, Fernan-do Henrique Cardoso, com freqüência tem feito indi-cações típicas de pessoas que realmente pensammuito pouco no que estão fazendo. São exemplosdisso: a indicação para o Banco Central do Sr. Armí-nio Fraga, cidadão de dupla nacionalidade; a indica-ção daquele policial torturador para a Direção da Polí-cia Federal; e, agora, a indicação de um general, quecomandou o massacre em Volta Redonda, para o Su-perior Tribunal Militar.

Na época do massacre de Volta Redonda, o De-legado Renato Coelho, responsável pelo inquérito,concluiu que as três mortes poderiam ser enquadra-das como homicídios qualificados. E foram assassi-natos, sim.

Depois, o pior aconteceu: nós, do movimentosindical, solicitamos ao grande arquiteto Oscar Nie-meyer um projeto para que construíssemos um mo-numento em memória dos três operários assassina-dos; e ele, de fato, com a sua genialidade, elaborou enós construímos o referido monumento.que seria ina-ugurado no dia 1º de maio. Exatamente na madruga-da do dia 30 de abril, o monumento foi destruído pelaexplosão de uma bomba. Passado algum tempo, oCapitão do Exército Dalton de Melo Franco declarouque destruiu o monumento, em cumprimento de or-dens expressas do Comando Militar.

Na Comissão de Constituição, Justiça e Cidada-nia desta Casa, quando foi perguntado ao General oporquê da explosão do monumento, ele disse o se-guinte: “que os militares entendiam que aquele monu-mento era uma afronta ao Exército brasileiro”. Ora,imaginem, o monumento foi erguido em Volta Redon-da, em frente ao portão da CSN, na Praça JuarezAntunes, um líder sindical de expressão naquela cida-de, ex-prefeito do município, ex-deputado federal eque também foi morto de forma questionável em umacidente automobilístico. Diga-se de passagem, a for-ma como foi levado à morte Juarez Antunes parecemuito com a tática usada para se assassinar oex-Presidente Juscelino Kubitscheck, ou seja, em umacidente de automóvel de forma questionável.

Assim, tendo sido o monumento erguido emfrente à CSN, na praça construída em homenagemao trabalhador Juarez Antunes, não podemos enten-der, da mesma forma como o General, que aquilo te-ria sido uma afronta ao Exército brasileiro.

Infelizmente em nosso País o que ocorre é quepessoas que deveriam estar fora do nosso convívio,por exemplo, acabam sendo premiadas. Aquele capi-tão do Rio Centro, hoje, é coronel do Exército. O Ge-neral Newton Cruz continua solto. Hoje, inclusive, o

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jornal O Globo já falava sobre a condenação do Capi-tão Wilson, hoje coronel do Exército.

Na verdade, Srªs e Srs. Senadores, esse tipo deacontecimento nos causa indignação, porque nós,trabalhadores, que sofremos no dia-a-dia as misériasdo sistema que oprime a classe trabalhadora, senti-mo-nos como se isso fosse uma afronta ao nossopovo e à memória dos trabalhadores.

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,em respeito ao povo de Volta Redonda, Barra Mansa,Resende e uma parte da população do Rio de Janei-ro, em respeito aos Parlamentares da Assembléia Le-gislativa do Rio de Janeiro, que aprovaram a moçãode repúdio contra a indicação do General, em respei-to ao grupo “Tortura Nunca Mais”, em respeito aopovo do nosso Estado, votamos contra a indicação doGeneral para Ministro do STM. No nosso entendimen-to, o General, m vez de ser indicado para compor ocorpo de Ministros do STM, ele deveria estar lá paraser julgado como réu por aquela Corte Militar.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao nobre Senador Ante-ro Paes de Barros.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB –MT.Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, Srªs. e Srs. Senadores, o Senador Pedro Simonsintetizou com muita propriedade este momento. OGoverno deveria ter mais cuidado nas suas indica-ções para análise desta Casa. Recentemente, tive-mos o dissabor de assistir ao episódio que ocorreu naPolícia Federal, em que, posteriormente, as entida-des de direitos humanos tiveram que provar à socie-dade brasileira e ao Congresso Nacional que era in-compatível a continuidade, na chefia da Polícia Fede-ral, de alguém que havia participado de um processode tortura.

Agora, o cargo é o de juiz do Superior TribunalMilitar. A indicação é inteiramente descabida. Os re-gistros sobre os acontecimentos feitos pela imprensaestão por demais recentes na memória da populaçãobrasileira. Não se pode atribuir a negativa a essenome a revanchismo, até porque os acontecimentosse deram após o processo da anistia. O que existe éuma incompatibilidade do nome indicado para o cargo.

A função de governar não é apenas do Presi-dente da República. O Governo é formado pelos trêsPoderes. Neste caso, estaremos convalidando umaindicação que não faz bem ao Brasil nem sequer aoGoverno.

Lamento que tenha sido derrotado, nesta Casa,o requerimento do Senador Geraldo Cândido, pedin-do adiamento da discussão. Entendo que, até o mo-mento em que se estiver apurando o painel, a únicaalternativa ainda é a retirada do nome. A continuar apersistência da inabilidade, a persistência da imposi-ção de um nome que é inteiramente inadequado, nãoresta ao Senado da República outro comportamentosenão o de rejeitar o nome.

Faremos um grande serviço ao Brasil e ao Pre-sidente da República. ao alertarmos o serviço de in-formações do Governo para que tenha mais cuidadoquando essas matérias forem encaminhadas ao Se-nado Federal.

Sou do PSDB. Em homenagem à história domeu Partido e à ética com que fomos criados, em ho-menagem aos compromissos radicais com a demo-cracia brasileira, em homenagem ao compromissocom o direito de greve e com os direitos humanos, po-sicionamo-nos pela rejeição do nome do General.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-

lhães) – Concedo a palavra ao Senador Antonio Car-los Valadares.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES(Bloco/PSB – SE. Para discutir. Sem revisão do ora-dor.) – Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, participeida argüição, perante a Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania do Senado, ao General José Luizda Silva. Considerei o seu depoimento frio, de um ho-mem convicto de que, estando no comando, como es-teve, naquele movimento de Volta Redonda, estava S.Sª acima do bem e do mal. Tudo poderia acontecer,até mortes, como aconteceram, mas os objetivos se-riam plenamente alcançados. Ou seja, acabar com omovimento grevista a qualquer custo seria o objetivopredeterminado do comandante daquela missão,mesmo que à custa de vidas humanas, muito emboraestivéssemos já vivendo um período de plena demo-cracia, com as liberdades plenamente garantidas,sob a vigência da Constituição de 1988.

Naquele episódio, com o depoimento que ouvido General José Luiz da Silva na Comissão de Cons-tituição, Justiça e Cidadania, transformou-se o seutrabalho num verdadeiro tribunal de exceção; nós quefazemos parte do Senado Federal, em cuja história,principalmente a mais recente, não se registra a der-rubada da indicação de qualquer membro dos tribu-nais superiores cujos nomes tenham vindo aqui parasubmeter-se ao crivo desta Casa.

Sr. Presidente, tenho certeza de que, apesar deJosé Aparecido, que foi Ministro do Governo Itamar,

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jamais ter cometido qualquer ato desabonador emsua vida, seja de desonestidade, seja de violência, aoser indicado para representar o Brasil comoEmbaixador em Portugal, ganhou por apenas umvoto dos Srs. Senadores. E hoje, que perda terá oPresidente da República se o general não foraprovado pelo Senado Federal? Nenhuma perda.Antes pelo contrário, o Senado Federal estarásalvaguardando o seu passado de homem de lutas em favorde um regime democrático, das liberdades constituídas e derespeito aos direitos humanos. Repito, antes pelo contrário,aqui Sua Excelência teráa possibilidade de, corrigindo oseu equívoco, mandar um nome que esteja à alturado seu passado e da responsabilidade do SenadoFederal.

Sr. Presidente, participando da Comissão deJustiça do Senado Federal, fiquei estarrecido com afrieza do General ao dizer que a sua missão tinha sidoêxito pleno. Eu então disse: mas, General, morreramtrês, e o senhor diz que sua missão teve êxito pleno?E que a manifestação espontânea de solidariedade decompanheiros àqueles que foram trucidados, construindoum monumento, seria uma afronta? Se seus soldados, quenão estavam na mesma situação dos operários, ou seja,apesar de estaremarmados, algum ou outro morresse,será que estaria eu aqui, ou os próprios operários,condenando a construção de um monumento emhomenagem a esses soldados mortos? Eles nãomorreram, e não poderiam, simplesmente porque osoperários estavam desarmados.

Aquele acontecimento ocorreu no governo deum homem tranqüilo, de um homem conciliador, deum homem pacífico, o Presidente José Sarney, nossoColega aqui no Senado Federal.

Por isso, Sr. Presidente, votei contra a indicaçãona Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.Voto contra, porque tenho certeza de que, naqueledia, hora e momento, o General assumiu aresponsabilidade de criar, por sua contra própria, umtribunal de exceção, para trucidar, se fossenecessário, trabalhadores que estavam ali nummovimento grevista.

Era só o que tinha a dizer, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador RobertoSaturnino.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB – RJ.Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei breve. Asrazões já foram todas aduzidas. Só tenho a dizer aosnobres Colegas que me lembro muito bem dosacontecimentos de Volta Redonda, em 1988, um dosepisódios que mancharam mais profundamente avida política deste País, um episódio que se tornousímbolo da truculência da repressão à classetrabalhadora.

Tornou-se um símbolo tão forte que foi erigidoum monumento àquele episódio de truculência. OComandante daquela operação foi o General JoséLuiz Lopes da Silva, o que, para mim, é razãosuficiente para que não referendemos essa indicaçãoabsolutamente infeliz.

Ilustres Colegas, o Senado não pode e não deveaprovar essa indicação por uma razão muito simples:será uma vergonha!

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador RobertoFreire.

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS – PE. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, já foi feito aqui o histórico doindicado pelo Presidente da República e de suaatuação num episódio marcante que, em plenoregime democrático, marcou o Governo doPresidente José Sarney, que, se estivesse aquipresente, muito provavelmente não poderiaencaminhar favoravelmente.

Dando continuidade a alguns discursos,poderíamos ter o mesmo posicionamento deindignação pela indicação do PresidenteFernando Henrique Cardoso ora feita. Acredito,porém, que o Plenário do Senado talvez tenha dediscutir a questão nos seus devidos termos. Nãoestamos tratando de uma questãoGoverno/Oposição. O Senado está exercendo umacompetência constitucional de indicar um membro doSuperior Tribunal Militar. Discutimos a indicação deEmbaixadores, Ministros do STF. Deveríamos,em todas as oportunidades, exercerplenamente essa nossa competência, até porque,na maioria das vezes, nós nos transformamos quaseque num cartório referendador.

Causa estranheza que uma indicação possa vira ser contestada. Faço minha contestação aqui, comooutros Senadores o fizeram, no tocante ao currículomilitar do indicado. Mas o que quero trazer aoPlenário como acréscimo para o debate é o fato deque estamos aprovando ou não a indicação de umjuiz. Da mesma forma que discutíamos se oPresidente do Banco Central tinha reputação ilibadapara aquela função – e não discutíamos suahonestidade pessoal –, da mesma forma quediscutíamos a adequação do candidato a Presidentedo Banco Central para aquele cargo que o nossoexercício de competência constitucional indica,assim deveríamos estarmos aqui exercitando.Podemos ter posições divergentes em relação ao que oGeneral, na sua carreira militar, praticou,especialmente na repressão à greve em VoltaRedonda. Podemos até ter posições – e não é a donosso Partido o u pessoal minha – revanchis-

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tas. Mas este não é o caso. Não se está discutindo oque ocorreu, até porque essa discussão o próprioExército poderá fazer, como o faz hoje com oRio-Centro.

O que temos de analisar é se, pelas atitudes quetomou, é homem indicado para ser juiz de uma CorteSuprema. Se é capaz de ter isenção devida e sensibi-lidade e de honrar o Superior Tribunal Militar. Essa é adiscussão; e essa é uma responsabilidade nossa.Não é apenas o fato de um Presidente indicar, tendouma base de sustentação para aprovar. Trata-se doSenado, exercendo, plenamente a sua competência.

E é isso que gostaria que levássemos em consi-deração. Alguns representantes do Partido do próprioPresidente, da base de sustentação do Governo, aquise posicionaram contrariamente.

Talvez seja com essa visão, com a idéia de queprecisamos definir se é compatível o indicado com ocargo, é que nós vamos preencher com o nosso voto.E acredito que o nosso voto deve ser contra, para quese comece a ter, no Senado, a perspectiva de que nãosomos cartórios referendadores, mas, sim, o Poderda República que preenche cargos fundamentaispara a República brasileira.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Ma-galhães) – Concedo a palavra ao Senador Paulo Hartung.

O SR. PAULO HARTUNG (PSDB – ES. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,Srªs. e Srs. Senadores, é uma votação secreta. Estouusando a tribuna apenas para registrar o meu votocontrário à indicação. Está mais do que claro, na pala-vra de diversos oradores, que é uma indicação equi-vocada. Por isso, faço questão de deixar, nesta tribu-na, o meu voto registrado. Voto contra, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra à Senadora Heloisa Helena.

A SRA. HELOISA HELENA (Bloco/PT – AL.Para discutir. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presiden-te, embora todos os argumentos já tenha sido feitos, ecom os quais concordo – mesmo porque, até o mo-mento, ninguém fez a defesa dessa indicação; embo-ra esta seja uma tarde de muita tristeza para milhõesde brasileiros, tenho a obrigação de dizer da minhaalegria pessoal em ser livre e não compactuar nemcom a cumplicidade, nem com a omissão, com a indi-cação de quem deveria estar no banco dos réus e quepassará a ocupar o papel de juiz.

Portanto, declaro o meu voto contrário à indica-ção.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao Senador Álvaro Dias.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR.Para discutir.Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, primeiramente, lamento a infelicidade po-lítica dessa indicação presidencial. Às vezes, a im-pressão que fica é que o Presidente está distraído e,lamentavelmente, mal assessorado.

Posiciono-me de forma pública por um dever deconsciência e até em respeito àqueles que votarão fa-voravelmente a esta indicação, para justificar o nossoposicionamento. É inevitável que os debates focali-zem única e exclusivamente os tristes episódios deVolta Redonda.

A vida pública tem esta perversidade: corre-seriscos e há marcas inapagáveis, que ficam para sem-pre.Não se trata de apontar culpados por aqueles epi-sódios. Não se trata tampouco de julgar, porque nãosomos tribunal para qualquer natureza de julgamentoneste momento. Não se trata, portanto, de condenar oGeneral, mas creio não podemos admitir também ahipótese de premiá-lo. Não nos cabe, repito, apontarculpados pelas mortes, mas o que importa constataré que elas ocorreram.

Fico a imaginar a melancólica frustração de fa-miliares, de colegas de trabalho, ao ouvirem, se istoocorrer, a proclamação de um resultado favorável aesta indicação, no Senado da República. Imagino osofrimento revivido, a amargura redescoberta peloSenado Federal no atendimento de uma indicação doPresidente da República.

Creio que exercer o direito do voto no processodemocrático, acreditando na consolidação das institu-ições democráticas, de forma definitiva no País, semreceio de qualquer crise de natureza política em fun-ção do nosso gesto, é prestar serviço à história, rejei-tando esta indicação.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lamentoprofundamente não poder acompanhar o Presidenteda República. Lamento, sobretudo, que Sua Excelên-cia tenha sido mais uma vez tão infeliz nesta indica-ção. Não está em discussão o passado do General,mas há uma marca indelével no seu currículo. Embo-ra não possamos julgá-lo nem avaliar se agiu comcompetência e habilidade ou se foi incompetente einábil, bastaria esta frase, atribuída ao General, e aquipublicada por Dom Waldyr Calheiros: “A morte dostrabalhadores, pelo menos, serviu de lição para o Bra-sil”. Era um recado para os trabalhadores.

Sr. Presidente, é lamentável esse tipo de reca-do, de lição. Não podemos compactuar com isso. Nãopodemos compactuar com a postura do Presidenteda República ao fazer essa indicação.

Por isso, o nosso voto é contrário.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 209

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Encerrada a discussão.

Passa-se à votação do Parecer nº 794, de 1999,que, de acordo com o disposto no art. 383, inciso VII,combinado com o art. 291, inciso I, alínea e, do Regi-mento Interno, deve ser procedida por escrutínio se-creto.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB – AL) – Sr.Presidente, peço a palavra para encaminhar a vota-ção.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao nobre Senador RenanCalheiros.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB – AL. Paraencaminhar a votação. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em função decomo a votação vai-se proceder, é fundamental quese abra o voto. Gostaria, portanto, de declarar o meuvoto, com todo o respeito.

Entendo que o Governo, que lamentavelmentenão tem tido critérios para escolher nomes e reme-tê-los a esta Casa, continua a reincidir e a ferir ques-tões de princípios. Talvez o fundamental, neste mo-mento, seja que possamos rejeitar esse nome atépara colaborar com o Governo, para que, quem sabe,amanhã, venha a adotar algum critério.

Por isso, o meu voto é contrário, com todo o res-peito.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Aos Srs. Senadores que não votaram, peçoo obséquio de fazê-lo.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF)– Sr. Presidente, peço a palavra como Líder paraencaminhar a votação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra ao Senador José Ro-berto Arruda para encaminhar a votação.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF.Como Líder. Para encaminhar a votação. Sem revi-são do orador.) – Sr. Presidente, ouvindo os nobresSenadores que fizeram suas avaliações, antes detudo, concordo com um pensamento: evidentemen-te, seria mais confortável que o nome desse Gene-ral não tivesse sido encaminhado.

Ele foi à Comissão de Constituição, Justiça e Ci-dadania e teve a oportunidade de expor toda a suavida profissional dedicada ao Exército Brasileiro, deouvir as dúvidas dos Senadores que lá comparece-ram e de esclarecê-las – sobretudo no que tange aoepisódio de Volta Redonda. Na referida Comissão,

depois do depoimento do General, ele foi aprovadopor ampla maioria, porque, certamente, no plano daavaliação popular, é muito mais simples dizer: “EsseGeneral, com uma folha de trabalhos prestados aoExército e ao País, esteve comandando o Exército emVolta Redonda; por isso, é culpado e não se votanele”. A avaliação popular é muito mais tranqüila.

Sr. Presidente, ainda estudante e muito jovem,fui preso pelo regime militar. Anos depois, encontreinos corredores do Congresso aquele que me haviaprendido também com um mandato popular. Conver-samos muito. Eu, que fui perseguido, muito jovem,aprendi que é preciso respeitar as pessoas, cada umadentro da sua circunstância histórica. Fui atento naexposição que fez o General na Comissão de Consti-tuição, Justiça e Cidadania. Quando o infeliz episódioocorreu a quilômetros de distância de onde ele esta-va, com tiros dos dois lados e pessoas morrendo, oGeneral, com o pulso firme, fez a sua tropa recuar eevitou naquele momento o que seria uma tragédia.Trata-se de um General, mas trata-se de um demo-crata.

Conversei pessoalmente com o Senador ElcioAlvares, hoje Ministro da Defesa, e perguntei a S.Exª, que freqüentou esta Casa, qual era seu julga-mento pessoal sobre o nome que encaminhou ànossa consideração. Assegurou-me S. Exª, comuma longa passagem na vida pública, democrataque é, que o General é um homem de bem, profissi-onal correto com uma folha de serviços irretocável eque naquele episódio, pela sua firmeza, fez justa-mente o contrário do que o acusam: evitou que osânimos acirrados gerassem muito mais vítimas doque as que geraram.

Claro, Sr. Presidente, que seria melhor, maisconfortável, principalmente para a base de apoio doGoverno, que não fosse esse o nome indicado, quenão tivéssemos que trazer essas explicações.

Conversei com colegas Senadores que foram àCCJ, que ouviram o depoimento do General e eles,em sua grande maioria, estão convencidos da firme-za, do caráter e do espírito democrático do nome quevem à apreciação do Senado.

O Sr. Pedro Simon (PMDB – RS) – Mas quemfaz o pronunciamento é V. Exª. Estão tão firmes quesomente V. Exª está falando agora. Nenhum veio fa-lar para mostrar essa firmeza.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF)– Porque é mais cômodo, Senador Pedro Simon, émais tranqüilo atacar as pessoas ainda que não asconheçamos.

210 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

O Sr. Pedro Simon (PMDB – RS) – Mais cô-modo é votar a favor do Governo.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF)– V. Exª, quando Líder do Governo nesta Casa,também enfrentou momentos difíceis.

O Sr. Pedro Simon (PMDB – RS) – Comoeste, não.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF)– E o fez, Senador Pedro Simon, da maneira quefaço agora, com respeito ao contraditório – eu o ouviatentamente.

O Exército Brasileiro e o Ministério da Defesa,quando fizeram a indicação desse nome – assegu-rou-me o Ministro Elcio Alvares –, não desejaram fa-zer dentro de seus quadros nenhum tipo de preconce-ito em relação àqueles que agiram corretamente nocumprimento de seu dever.

Por isso, Sr. Presidente, não quero também co-meter a injustiça de punir um cidadão, um profissio-nal, para ficar bem com um episódio que efetivamenteé negativo e não agrada nenhum de nós.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Desejoapenas fazer um esclarecimento ao Líder do Go-verno. S. Exª disse que prestou atenção ao depoi-mento do General José Luiz Lopes da Silva, afir-mando que o General estava a quilômetros de dis-tância. O General, conforme seu depoimento, es-tava em Volta Redonda e comandou de fato e pes-soalmente a operação. É importante que o Líderdo Governo esteja ciente disso.

A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC) – Sr.Presidente, peço a palavra para encaminhar.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – V. Exª pode orientar a sua Bancada.

A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Paraencaminhar. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presi-dente, o debate que tivemos nesta tarde foi acirra-do. Boa parte dos Srs. Senadores que estão discu-tindo e acompanhando a matéria não se estão com-portando como Oposição e Situação neste episódio.Compreendo que os Srs. Senadores que irão votarcontra esse episódio estão votando no mérito daquestão, nos princípios que a envolvem. Não queroque esta discussão seja reduzida a uma disputa en-tre Oposição e Governo. Esta é uma disputa que

está sendo dada nos marcos da democracia do nos-so País, na defesa da autonomia do Congresso Na-cional, de não o deixar passar pelo constrangimentoque está passando.

Lembro aos Srs. Senadores que essa instân-cia superior de Justiça, STM, é a única em que estáprevista a pena de morte. Da sua composição, fa-zem parte dois terços de militares e um terço de ci-vis. Nessa instância, é prevista a pena de morte.Pensem bem, Srs. Senadores, numa instância ondeé possível o veredito da pena de morte, como pode-mos ter uma pessoa com esse tipo de antecedenteque, em vez de encarar o conflito do ponto de vistada sua resolução pacífica, prefere a eliminação físi-ca de pessoas?

Argumenta ainda o General que o resultado po-deria ser pior. Isso é admitir – não quero dizer isso,não quero colocar essas palavras na boca do Líder doGoverno –, é dizer que foram apenas três. Para mim,não importa se foram apenas três. O que importa éque foram ceifadas vidas, devido a posicionamentospolíticos diferentes.

O Congresso Nacional não está numa dispu-ta, numa queda-de-braço entre Situação e Oposi-ção. Trata-se de uma questão de autonomia doCongresso Nacional de não se deixar submeter aesse constrangimento. Estão de parabéns todosos Srs. Senadores que, neste momento, estão co-locando esta questão acima das disputas partidá-rias, entendendo que se trata de defesa da autono-mia do Congresso Nacional, da democracia e dopovo brasileiro.

Segundo o Senador Pedro Simon, amigo doPresidente Fernando Henrique Cardoso, “é para obem do próprio Presidente”. Ele precisa aprender, in-clusive com a sua própria base, que não se trata ape-nas de indicar qualquer nome para esta Casa, quenão há problema. Há problema, sim. Aqui, existempessoas criteriosas, que colocam, acima dessa dis-puta reducionista entre Oposição e Situação, os inte-resses do nosso País.

Encaminho o voto contrário à indicação dessesenhor, que é mais concebido como um justiceiro doque como alguém que defende a Justiça.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – A Senadora Marina Silva falou para orientara sua Bancada, que, hoje, é mais numerosa que on-tem.

O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS – PE) –Talvez seja para orientar o Senado.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 211

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Sessenta e seis Srs. Senadores já votaram.

O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS – PE) –Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS – PE.Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Quero quepelo menos conste dos Anais desta Casa que nãopode um Líder do Governo imaginar que estamosjulgando alguém. Não estou julgando o General – eo condeno do ponto de vista pessoal –, mas aquiestou exercendo um poder de saber se é compatívelo Sr. General José Luiz Lopes da Silva com o cargode Ministro do Superior Tribunal Militar. É o que es-tou fazendo. Não sou juiz para julgar o ato por elepraticado em Volta Redonda, nem o Senado. Cadaum pode ter a sua posição – e tenho a minha – masnão é isso que estamos fazendo.

Não desejo que, no futuro, seja dito que fizeramalgo que a história da humanidade conheceu bem: ocumprimento do dever. Os nazistas o fizeram.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Todas as Srªs e Srs. Senadores já vota-ram?

Vou aguardar, apenas, 5 minutos para encer-rar a votação.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL – RN) – Sr. Pre-sidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL – RN. Pela or-dem. Sem revisão do orador) – Sr. Presidente,após a Ordem do Dia, a Comissão de Constitui-ção, Justiça e Cidadania realizará uma reuniãoextraordinária para apreciar as emendas coleti-vas da Comissão.

Aproveito a oportunidade para convidar osmembros a se fazerem presentes, para que possa-mos organizar e entregar, em tempo hábil, as cincoemendas coletivas da CCJ ao Orçamento da União.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Sr.Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB. Pela or-dem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, lem-bro que, logo após a votação, haverá reunião daCAE.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Concedo a palavra a V. Exª.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presiden-te, ontem formulei uma questão de ordem para queseja colocado na pauta de votação da próxima se-mana, com o prazo regimental de aviso necessário,o requerimento de convocação do Ministro RafaelGreca, que já está com o prazo regimental de 30dias ultrapassado e que foi assinado por diversosSenadores. Peço a atenção de V. Exª para que o re-querimento possa ser votado. Os Senadores podemdecidir, depois, se são a favor ou contra, mas pelomenos que seja apreciado o requerimento.

De outra forma, Sr. Presidente, no início dasessão de hoje, encaminhei documento referenteàquilo que está contido nas informações que oBanco Central envia a todos nós Senadores e quetemos acesso pelo Sisbacen. Ali estão inúmerastabelas que falam das metas do acordo do FMIcom o Governo, mas não está o texto do acordo re-alizado pelo Governo Federal com o Fundo Mone-tário Internacional.

Então, quero lembrar a solicitação que fiz nosentido de o Senado Federal avisar o Governo Federalque, até agora, depois de ter havido a mudança da polí-tica cambial em janeiro último e de terem sido refeitosos termos do acordo do FMI com o Governo Brasileiro,não recebeu o documento relativo ao acordo.

Obviamente, o Governo está em falta, e caberáa nós demandar esse documento, apreciá-lo, anali-sá-lo e votá-lo.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Há uma solicitação do Senador TeotônioVilela Filho. S. Exª está vindo votar, pois estavano Serviço Médico do Senado. Sendo uma causajusta, penso que devemos esperar um pouco mais.(Pausa.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Vamosesperar o Senador, Sr. Presidente. A saúde de S.Exª não inspira cuidados?

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Tanto não inspira cuidados, que S. Exª jávotou, está no plenário, e sei que V. Exª está felizcom isso.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Princi-palmente pela memória do pai.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Vou encerrar a votação.

(Procede-se a votação.)

212 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 213

214 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 215

216 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 217

218 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 219

220 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 221

222 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 223

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – O Projeto de Decreto Legislativo nº226, de 1999, resultante do parecer que acaba de serlido, constará da pauta da Ordem do Dia da sessãodeliberativa ordinária de amanhã, nos termos do art.353, parágrafo único do Regimento Interno,oportunidade em que poderão ser oferecidasemendas até o encerramento da discussão.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – O Sr. Senador Lúcio Alcântara envioudiscurso à Mesa para ser publicado na forma do art.203 do Regimento Interno.

S. Exª será atendido.O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB – CE) – Sr.

Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o dia 16 deoutubro, data da fundação da Organização dasNações Unidas para a Alimentação e a Agricultura –FAO, em 1945, após o término da Segunda GuerraMundial, foi simbolicamente escolhido, em 1979, paracomemorar o Dia Mundial da Alimentação.

Trata-se de uma data oportuna paraproclamarmos que o direito à alimentação é umdireito básico e fundamental de todos os sereshumanos, pois é condição indispensável para apreservação da vida.

Ao registrar o transcurso desse dia, comemoradointernacionalmente desde 1981, gostaria de iniciar minhafala dizendo que a Declaração Universal dos DireitosHumanos reconhece que não padecer de fome é um dos“direitos iguais de todos os membros da família humana”,pois a debilidade causada pela fome impede o exercíciodo direito à vida, à liberdade e à segurança.

No mundo globalizado em que vivemos, nestavirada de século, o dia de hoje é uma data realmentepropícia para fazermos uma profunda reflexão sobrea necessidade de serem tomadas medidas maiseficazes para a eliminação do flagelo da fome noMundo, e em nosso País, em particular.

Os números são preocupantes: apesar de todosos esforços empreendidos nas últimas décadas,existem ainda cerca de 800 milhões de sereshumanos sofrendo de má nutrição crônica, somentenos países em desenvolvimento.

Desse total, mais de 190 milhões são criançasmenores de 5 anos de idade, com deficiências deingestão de proteínas e calorias. Outras centenas demilhão são vítimas de diversos transtornos, comoatrasos de crescimento, bócio, cegueira parcial outotal, entre outros, porque em sua alimentação faltamvitaminas e minerais essenciais.

É dramático sabermos que essas crianças, quesobrevivem à fome e sofrem de carências nutricionaisprofundas, terão altíssimas probabilidades de

apresentar retardo de crescimento edesenvolvimento, baixo rendimento escolar, e,posteriormente, também limitado desempenhoprofissional.

Sr. Presidente, as conseqüências são a perda depotencial humano e o comprometimento da capacidadedas novas gerações que deverão conduzir os destinosda humanidade no novo milênio que se aproxima.

Segundo a FAO, existem populações vítimas deescassez de alimentos em 88 países do mundo, amaior parte deles localizados na África e na Ásia. Emnosso Continente, 9 países integram esta estatísticae, lamentavelmente, o Brasil é um deles.

As maiores causas da fome, em nosso País,são, sem dúvida, a perversa concentração de renda eas desigualdades regionais.Sabemos que milhões debrasileiros, principalmente os das Regiões Nordeste,Norte e Centro-Oeste, vivem em péssimascondições, no mais completo estado de pobreza.

Segundo dados revelados por D. Mauro Morelli,incansável batalhador na luta contra a fome em nossoPaís e em prol da Segurança Alimentar, cerca de 44%da população brasileira do meio rural, justamenteonde os alimentos são produzidos, vive abaixo dalinha da pobreza, em condições subumanas.

Estatísticas não faltam. Um estudo do Institutode Pesquisa – IPEA, cujos resultados forampublicados em 11 de setembro passado, pelo jornalCorreio Braziliense, estima que cerca de 37% danossa população, cerca de 60 milhões de brasileiros,já se enquadram abaixo da linha da pobreza.Sabemos que esses números estarrecedores sãoquestionáveis. Outros estudos apontam a existênciade 40 milhões de pessoas, ou seja um quarto danossa população vivendo abaixo dos níveis mínimosde subsistência.

Embora existam divergências de dados, nãopodemos deixar de reconhecer, numa datasignificativa como esta, que a fome e a miséria, emnosso País, são absolutamente vergonhosas eexigem providências urgentes.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, como ofaz todos os anos, por ocasião do Dia Mundial daAlimentação, a FAO escolhe um tema para reflexão. Otema escolhido para a última Campanha deste séculoe para a décima nona comemoração da data, é“Juventude contra a fome”.

Essa escolha é verdadeiramente oportunapois 85% dos jovens do mundo vivem em paísesem desenvolvimento e a maior ia deles jáenfrentou problemas como a fome e a pobreza.U m d o c u m e n t o d a FA O d i v u l g a d o p a r a ac o m e m o r a ç ã o d e s t a d a t a , n o a n o de1999, menc iona que ond e quer que esses jovens

224 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

vivam, sua criatividade, ideais, e energia representamrecursos vitais para a continuidade do desenvolvimentode suas sociedades. Se esse idealismo e força nãoforem subestimados, a juventude pode participarprofundamente na redução e, até mesmo, na eliminaçãoda fome. Com treinamento, apoio e recursos, os jovenspodem se tornar parceiros inovadores e altamenteprodutivos.

Srªs. e Srs. Senadores, a FAO estima que achave para derrotar a fome está em concentraresforços para se saber tanto o que pode ser feito paraa juventude como também o que pode ser feito pelajuventude, se as barreiras forem removidas e asoportunidades expandidas.

Trata-se de uma oportunidade estratégica parao envolvimento da juventude na campanha “Alimentopara todos”.

A meu ver, é realmente necessário que os jovens,que têm uma participação de cerca de 17% no total de 6bilhões de habitantes do Planeta, marca recentementeregistrada, sejam conscientizados da gravidade doproblema da fome e da subnutrição, e de suasconseqüências desastrosas para o futuro dahumanidade.

É urgente conscientizar a juventude,principalmente a que vive na área rural, onde moram472 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, daimportância de seu engajamento na luta contra afome e a má nutrição e seu envolvimento nacampanha “Alimento para todos”. A fome e mánutrição crônica são obstáculos para a vida humana erepresentam potencial humano perdido, acarretandobloqueios no acesso à educação e repercutindonegativamente na qualificação e na vida profissionalfutura.

Srªs. e Srs. Senadores, neste ano, a direção daFAO, na pessoa de seu Diretor-Geral, Jacques Diouf,aproveita o transcurso dessa data significativa parareafirmar que “qualquer estratégia destinada aerradicar a fome deve basear-se em dois objetivosprincipais: aumentar a produção de alimentos paradar de comer a uma população mundial cada vezmaior; melhorar as condições de vida, para que todospossam dispor do mínimo vital em matéria dealimentação.”

Isso significa que os países emdesenvolvimento, os mais afetados pelos problemasda fome e da subnutrição, devem dedicar umaatenção muito maior ao setor agrícola, se quiseremreduzir a pobreza.

Neste Dia Mundial da Alimentação, em que aFAO realiza eventos em cerca de 150 países parasensibilizar os seres humanos em geral, e os jovens,em particular, para a gravidade do problema da fomee da subnutrição, sabemos o quanto é importante quea classe política manifeste publicamente sua

determinação de buscar soluções para essas que sãoas mais dramáticas questões do nosso tempo, emcentenas de países: a pobreza, a miséria e a fome.

Ao concluir meu pronunciamento quero reafirmarque a nossa geração tem de enfrentar com mais vigor oenorme desafio de reduzir a fome e a subnutrição emnosso País. Só assim nossas crianças e nossos jovensterão direito a um futuro melhor e o Brasil poderá, nonovo milênio, ser uma Nação socialmente mais justa.

Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.

Muito obrigado!O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) - A Presidência comunica aos Srs.Senadores que, amanhã, às 12 horas e 30 minutos,haverá sessão do Congresso Nacional para votar aMedida Provisória nº 1.918, de 1999, que dispõe sobreo alongamento das dívidas originárias do crédito ruralde que trata a Lei nº 9.078, de novembro de 1995, e dedívidas para com o Fundo de Defesa da EconomiaCafeeira, Funcafé, instituída pelo Decreto nº 2.295, de21 de novembro de 1983, e que foram reescalonadasaté 1997.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) - Nada mais havendo a tratar, aPresidência vai encerrar os trabalhos, lembrando asSras e os Srs. Senadores que constará da sessãodeliberativa ordinária de amanhã, a realizar-se às 10horas, a seguinte

ORDEM DO DIA

– 1 –PROPOSTA DE EMENDA À

CONSTITUIÇÃO Nº 65, DE 1999(Votação nominal)

Terceiro e último dia de discussão, em segundoturno, da Proposta de Emenda à Constituição nº 65, de1999, de autoria do Senador Jefferson Peres e outrossenhores Senadores, que altera a redação do § 3º do art.58 da Constituição Federal para acrescentar poderes àsComissões Parlamentares de Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, Relator: SenadorAmir Lando, oferecendo a Redação do Substitutivoaprovado em primeiro turno.

– 2 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 226, DE 1999(Em regime de urgência, nos termos do

art. 353, parágrafo único, do Regimento Interno)

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 226, de 1999 (apresentado pelaComissão de Assuntos Econômicos como conclusãode seu Parecer nº 832, de 1999, Relator: Senador Luiz

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 225

Otávio), que aprova a “Programação Monetáriarelativa ao quarto trimestre de 1999.”

À matéria poderão ser oferecidas emendas atéo encerramento da discussão.

– 3 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 69, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto de Decre-to Legislativo nº 69, de 1999 (nº 651/98, na Câmarados Deputados), que aprova o ato que renova a con-cessão da Rádio Cultura de Arapongas Ltda. para ex-plorar serviço de radiodifusão sonora em onda médiana cidade de Arapongas, Estado do Paraná, tendo

Parecer favorável, sob nº 401, de 1999, da Co-missão de Educação, Relator: Senador Álvaro Dias.

– 4 –PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 180, DE 1999

(Incluído em Ordem do Dia, nos termos doRecurso nº 19, de 1999)

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei doSenado nº 180, de 1999, de autoria do Senador JoséAgripino, que altera a redação dos arts. 41 e 48 da Lei9.096, de 1995, e do § 1º do art. 47 da Lei nº 9.504, de1997, revoga o art.57 da Lei 9.096, de 1995, e dá outrasprovidências, a fim de vedar o acesso aos recursos dofundo partidário e ao tempo de rádio e televisão aospartidos que não tenham caráter nacional, tendo

Parecer sob nº 600, de 1999, da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, Relator:Senador Edi-son Lobão, favorável, nos termos da Emenda nº 1-CCJ(Substitutivo), que oferece, com votos contrários do Se-nador Roberto Freire e, em separado, dos SenadoresAntônio Carlos Valadares e José Eduardo Dutra.

– 5 –REQUERIMENTO Nº 564, DE 1999

Votação, em turno único, do Requerimento nº564, de 1999, do Senador Romero Jucá, solicitando atramitação conjunta do Projeto de Lei do Senado nº131, de 1999, com os Projetos de Lei do Senado nºs122, 198, 223 e 356, de 1999, que já se encontramapensados, por regularem a mesma matéria.

– 6 –REQUERIMENTO Nº 571, DE 1999

Votação, em turno único, do Requerimento nº571, de 1999, do Senador José Fogaça, solicitando atramitação conjunta das Propostas de Emenda àConstituição nºs 5 e 16, de 1999, por regularem amesma matéria.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Maga-lhães) – Está encerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 18 horas e 45minutos.)

_____________

ATA DA 143ª SESSÃO DELIBERATIVAORDINÁRIA, REALIZADA

EM 19 DE OUTUBRO DE 1999

(Publicada no DSF de 20 de outubro de 1999)

RETIFICAÇÕESNo Sumário da Ata, à página 27888, 1ª coluna,

Onde se lê:1.3.1 – Matéria apreciada após a Ordem do DiaRedação final das Emendas do Senado ao Pro-

jeto de Lei da Câmara nº 23, de 1999 (Parecer nº 826,de 1999-CDIR). Aprovada, nos termos do Requeri-mento nº 636, de 1999. À Câmara dos Deputados.

Leia-se:1.3.1 – Matéria apreciada após a Ordem do DiaRedação final das Emendas do Senado ao Pro-

jeto de Lei da Câmara nº 23, de 1999 (Parecer nº 826,de 1999-CDIR). Aprovada, nos termos do Requeri-mento nº 635-A, de 1999. À Câmara dos Deputados.

.........................................................................Na página nº 27931, 2ª coluna, na leitura de re-

querimento de dispensa de publicação para o Parecernº 826, de 1999-CDIR, referente às Emendas do Se-nado ao Projeto de Lei da Câmara nº 23, de 1999:

Onde se lê:REQUERIMENTO Nº 636, DE 1999

Leia-se:REQUERIMENTO Nº 635-A, DE 1999

.............................................................................

AGENDA CUMPRIDA PELOPRESIDENTE DO SENADO FEDERAL

SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES

20-10-1999Quarta-feira

12h15 – Senhor Li Changchun, Membro do BureauPolítico do Comitê Central do PartidoComunista da China, acompanhado dedelegação do PCCh

15h30 – Sessão Deliberativa Ordinária do SenadoFederal

226 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Ata da 145ª Sessão Deliberativa Ordináriaem 21 de outubro de 1999

1ª Sessão Legislativa Ordinária da 51ª Legislatura

Presidência do Sr.: Antonio Carlos Magalhães

ÀS 10 HORAS, ACHAM-SE PRESENTES OSSRS. SENADORES:

Ademir Andrade – Agnelo Alves – Alberto Silva– Alvaro Dias – Amir Lando – Antero Paes de Barros –Antonio Carlos Magalhães – Antonio CarlosValadares – Arlindo Porto – Artur da Távola – BelloParga – Bernardo Cabral – Carlos Bezerra – CarlosPatrocinio – Casildo Maldaner – Djalma Bessa –Eduardo Suplicy – Emília Fernandes – FrancelinoPereira – Freitas Neto – Geraldo Althoff – GeraldoCândido – Gerson Camata – Gilberto Mestrinho –Gilvam Borges – Heloísa Helena – Iris Rezende –Jader Barbalho – João Alberto Souza – JonasPinheiro – Jorge Bornhausen – José Agripino – JoséAlencar – José Eduardo Dutra – José Fogaça – JoséJorge – José Roberto Arruda – Juvêncio da Fonseca– Lauro Campos – Leomar Quintanilha – LúcioAlcântara – Lúdio Coelho – Luiz Estevão – Luiz Otavio– Luiz Pontes – Maguito Vilela – Maria do CarmoAlves – Marina Silva – Marluce Pinto – Mauro Miranda– Moreira Mendes – Mozarildo Cavalcanti – NaborJúnior – Ney Suassuna – Osmar Dias – PauloHartung – Paulo Souto – Pedro Piva – Pedro Simon –Ramez Tebet – Renan Calheiros – Roberto Freire –Roberto Requião – Roberto Saturnino – Romero Jucá– Romeu Tuma – Sebastião Rocha – Sérgio Machado– Silva Júnior – Teotonio Vilela Filho – Tião Viana –Wellington Roberto.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – A lista de presença acusa ocomparecimento de 72 Srs. Senadores. Havendonúmero regimental, declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos nossostrabalhos.

O tempo destinado aos oradores da Hora doExpediente da presente sessão será dedicado acomemorar os 150 anos de nascimento de JoaquimNabuco e o cinqüentenário da Fundação JoaquimNabuco, nos termos do Requerimento nº 437, de1999, do Senador José Jorge e outros Srs.Senadores.

Com a palavra o Senador José Jorge.O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE. Pronuncia o

seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Antonio Carlos

Magalhães; Sr. Vice-Presidente da República, MarcoAntonio Maciel, Srs. Ministros do Tribunal de Contasda União, Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça eGuilherme Palmeira; Srs. membros da famíliaNabuco, netos de Joaquim Nabuco aqui presentes,Afrânio de Mello Franco Nabuco e José TomásNabuco de Araújo; Srªs Senadoras, Srs. Senadores,Sr. Everardo Maciel, Secretário-geral da ReceitaFederal; Sr. Fernando de Mello Freyre, Presidente daFundação Joaquim Nabuco; Srs. Deputados, minhassenhoras e meus senhores, demais autoridadespresentes, reúne-se a Câmara Alta do País paratributar mais uma das homenagens, nunca excessivasou indébitas, a Joaquim Nabuco. Desta feita, desejamosdele recordar, em breves palavras, uma parte da vidaconstrutiva, da obra perene e inexcedível, ao ensejo dascomemorações do sesquicentenário de nascimento doinsigne brasileiro e dos cinqüenta anos de existência daFundação que leva e honra o seu ilustre nome.

A Fundação Joaquim Nabuco nasceu dainiciativa de Gilberto Freyre, outro notávelpernambucano. Considerando o hoje patrono dacultura do nosso Estado “um exemplo a seguir”,propôs ao Legislativo Federal, que então integrava, acriação de um instituto de estudos e pesquisas com onome do famoso abolicionista, que ora completa meioséculo de produtiva existência. O Instituto, criado nocentenário de Joaquim Nabuco, nascido em 19 de agostode 1849, e patrono dos numerosos eventos que emnosso Estado comemoram o Dia da CulturaPernambucana, foi idealizado para “estudar ascondições de vida do trabalhador brasileiro da regiãoagrária do Nordeste e do pequeno lavrador, visandoao melhoramento dessas condições”.

Sua primeira pesquisa sociológica, realizadaem 1951, abrangeu as condições de habitação daRegião Norte do País, por solicitação do GovernoFederal. Com o passar do tempo, os trabalhosdesenvolvidos nessa área contribuíram para erguer econsolidar o nome da entidade, atraindo uma correntede financiamentos direcionados à expansão de suasatividades científicas e culturais. Com a Lei nº 4.209, de1963, modificou-se a sua denominação para InstitutoJoaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, mantendo a

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 227

atribuição de produtor de ciência na área desociologia e o encargo de promover a formação depesquisadores no Nordeste. E, pela Lei nº 6.687, de1979, alterou-se a natureza jurídica do Instituto, umaautarquia federal, para uma fundação de direitoprivado, a Fundação Joaquim Nabuco, que oracompleta cinqüenta anos de profunda e extensadedicação ao País.

Portanto, congratulo-me com o Presidente daFundação, Fernando Mello Freyre, filho do sociólogoe grande pernambucano Gilberto Freyre, que foi ocriador da Fundação, tendo sido seu presidente etambém presidente do conselho durante muitos anos,até a sua morte. Obrigado pela presença de V. Sª.

A Joaquim Nabuco pertenceu, até 1910, acadeira 27 da Academia Brasileira de Letras,patrocinada pelo conterrâneo Maciel Monteiro,justificado orgulho da gente pernambucana.Sucederam-se, de então a esta parte, DantasBarreto, Gregório Fonseca, Levi Carneiro e Otávio deFaria, sendo Eduardo Portella o seu atual ocupante.

A academia, com inteira justiça, dedicou aJoaquim Nabuco a edição de sua Revista Brasileira,correspondente ao segundo trimestre do corrente ano.Reportando-se a Luís Viana Filho, com o seu “Rui &Nabuco”, de 1949, estabeleceu comparação segundoa qual, partindo de dois princípios essenciais, numencontra-se Nabuco, um reformador, e noutro Rui,mais radical, “que se definia pela vocação de políticoenquanto Nabuco seria, ao revés, um literato”.

Também a coluna “Prosa & Verso”, de O Globo,assinada por Wilson Martins, comenta, a respeito, oacaso que “reúne na morte dois homens que viveramgrande parte da existência unidos nas idéias”, RuiBarbosa e Joaquim Nabuco. Personalidadesdiferentes, pela origem, temperamento ou destino,ambos se reencontraram em múltiplos níveis deaproximação, confirmando o agrupamentoconsagrado pela posteridade nas comemoraçõesoficiais.

Não se recusa a Nabuco, escritor, político,diplomata, intelectual, o Nabuco do abolicionismo, ocidadão, o fato de ingressar na história como exemplode homem invulgar, pela aguda inteligência e“inestimáveis serviços que prestou à nacionalidade”e, acima de tudo, “pelas proporções admiráveis comque a natureza o dotou”. É uma legenda, nuncaignorada, embora falte à posteridade a condição deavaliá-lo em toda a sua dimensão.

É incontroverso o reconhecimento deseu r igor ético e de sua substância cultural,de suas l ições permanentes e insubsti tuíveisda melhor polít ica, no pregar, já na suaépoca, o combate à exclusão social. É cer to,por igual, que a “vocação polít ica de Nabuco

aparecia na tendência irresistível que o levou aostemas da História, quando abandonou a políticamilitante, porque na História era ainda a política que obuscava”. Demonstra-o Um Estadista do Império,uma obra-prima da literatura política.

O sempre citado Ministro Marcos ViniciosVilaça, aqui presente, sintetiza essa peculiaridadecom o costumeiro acerto e brilhante texto,identificando dois Nabucos ou muitos Nabucos, todosconvergentes e “apenas aparentementecontraditórios: o renaniano e o católico, oconservador e o reformador social, o embaixadorrefinado e o amigo de escravos que se arrojaram aseus pés, o cidadão do mundo e o homem daprovíncia que se declara escravo da sua terra e brada:“Esse é o torrão sagrado e agora tudo que se refere àsua história é objeto de meu culto filial”.

Sempre será muito pouco o que se disser sobrea vida, o pensamento e a obra de Joaquim Nabuco, “aesperança da Pátria, o futuro da família, o filho docoração, orgulho de seu pai”, o Senador Nabuco deAraújo.O Jornalista e Presidente da Associação Brasileirade Imprensa, ABI, Barbosa Lima Sobrinho, tambémex-Governador do Estado que aqui representamos,enfatizou, em conferência pronunciada no TeatroSanta Isabel, que “longe de ser um sibaritadescuidado ou um saudosista deslumbrado com apoesia do passado, teve Joaquim Nabuco o senso, adecisão, a bravura dos reformadores, defendendoardentemente as classes humildes, os escravoscomo os lavradores, os rendeiros como os moradoresdos mocambos do Recife”, num País de classessociais reduzidas ao “opulento senhor de escravos eos proletários”.

Pioneiro do trabalhismo, a atualidade deJoaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo pode serconsiderada pela observação, há tanto e até hoje, desuas notórias qualidades de reformador social, inscritasem seguidos pronunciamentos favoráveis às reformascomplementares à abolição da escravatura. À época,defendia uma lei agrária, expressando oentendimento de que “a propriedade não temsomente direitos, tem também deveres, e o estado depobreza entre nós, a indiferença com que todosolham a condição do povo, não faz honra àpropriedade, como não faz honra ao Estado”.Juntava, dessa forma, a questão da emancipação dosescravos à democratização do solo, considerandouma complemento da outra, e que, não bastandoacabar com a escravidão, era preciso destruir a suaobra.

Em Suplemento ao Diário do Estado dePernambuco, a Secretaria de Cultura disserta sobre“o mundo e o pensamento de Joaquim Nabuco”,lembrando o período de “reclusão voluntária que se se -

228 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

guiu à causa da Abolição”, do qual surgiram “algumasdas suas páginas mais belas, e que imprimirão umtraço de imortalidade à obra do escritor”. Produtosdesse fecundo período, Um Estadista do Império e aMinha Formação, tão diferentes em gênero, dão bema medida do estilista, que alcança a um só tempo asimplicidade da forma, a segurança da frase e abeleza da imagem.

Na idade madura, o apogeu do escritorapontava o termo da missão do político, substituídapela vez do “observador, ensaísta e escritor, que,através da pena, deixava para a posteridade ahistória dos dias por ele vividos”, junto,complementamos, à riqueza de um legado de tantose inestimáveis valores.

Estamos concluindo, Sr. Presidente, esta breveparticipação consignando a nossa especialadmiração e o nosso reconhecimento à obra que vemsendo desenvolvida pela Fundação Joaquim Nabuco,no cinqüentenário de sua profícua existência, eregistrando a nossa homenagem a Joaquim Nabuco,festejando-lhe a vida, pontilhada de êxitos, eexaltando-lhe a memória, plena de edificantesexemplos.

O ilustre brasileiro fez por merecer a reverênciae o aplauso dos seus pósteros, mercê de se haverinscrito, com inexcedível mérito e invulgar talento, nãoapenas no rol dos pernambucanos mais notáveis,mas também no seleto elenco dos vultos maiores daedificação política nesta ainda jovem Nação.

Era o que tínhamos a dizer.Muito obrigado. (Palmas!)O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador EduardoSuplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Senador Antonio CarlosMagalhães; Sr. Vice-Presidente, prezado MarcoMaciel; Senador Carlos Patrocínio, Srs. Afrânio deMello Franco Nabuco, José Tomás Nabuco de Araújo,Dr. Fernando de Mello Freyre, Presidente daFundação Joaquim Nabuco; senhoras e senhoresfamiliares de Joaquim Nabuco, Srªs e Srs.Senadores,fiz questão de inscrever-me para falar nesta sessãode homenagem que o eminente Senador José Jorgepropôs pela passagem do sesquicentenário denascimento de Joaquim Nabuco e também peloscinqüenta anos de existência da extraordináriaFundação Joaquim Nabuco.

Essa fundação nos tem brindado comexcelentes estudos a respeito da situação dostrabalhadores no Brasil.

Com a força das palavras incansáveis, a todomomento renovadas ao longo da sua vida, desde

quando jovem se tornou Deputado até o final de suavida, da tribuna da Câmara dos Deputados, noCongresso Nacional, nos seus livros, artigos, nosseus manifestos, Joaquim Nabuco tinha por propósitoo alcance da justiça, da liberdade e do direito de todasas pessoas usufruírem da riqueza de nossa Nação.

Inúmeros são os seus escritos que mereceriamser lembrados por nós. Mas de todos, talvez um dosmais importantes – e eu gostaria de aqui mencionar –é o manifesto com cuja redação ele contribuiu e quepretendia acabar com a escravidão no Brasil.

Eu gostaria de recordar algumas de suaspalavras.

“Há trezentos anos celebrou-se oprimeiro contrato para introdução deafricanos no Brasil e há trezentos anos queestamos existindo em virtude dessecontrato.”

“O fato de ter sido o partido, que é emtoda parte o representante natural dagrande propriedade privilegiada, domonopólio da terra e do feudalismo agrícola,o autor do grande ato legislativo queparalisou a escravidão mostra, por si só,que, no momento em que o País puder detodo aboli-la, ela não achará até mesmoentre seus melhores aliados senãodesertores.”

“A situação liberal torna-se depositáriada escravidão e promete entregar o depósito,intacto, com as mesmas lágrimas e osmesmos sofrimentos que fazem a suariqueza.”

“Não se enganem os nossos inimigos:nós representamos o direito moderno. Acada vitória nossa o mundo estremecerá dealegria; a cada vitória deles, o país sofreráuma nova humilhação. O Brasil seria oúltimo dos países do mundo se, tendo aescravidão, não tivesse também um partidoabolicionista; seria a prova de que aconsciência moral não havia aindadespontado nele. O que fazemos hoje é nointeresse do seu progresso, do seu crédito,da sua unidade moral e nacional.”

“Levantando um grito de guerra contraa escravidão; apelando para o trabalho livre;condenando a fábrica levantada a tanto custosobre a supressão da dignidade, do estímulo,da liberdade nas classes operárias;proclamando que nenhum homem pode serpropriedade de outro, e que nenhuma naçãopode elevar-se impunemente sobre as lágrimase os sofrimentos da raça que a sustentoucom o melhor do seu sangue e das suas

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forças, mostramos somente sermos dignosde pertencer ao país livre que quiséramosver fundado. Há muitos anos que foicolocada a primeira pedra do grandeedifício, mas chegamos ainda a tempo delançar os nossos obscuros nomes nosalicerces de uma nova pátria.”

Falando, em suas conferências, a respeito dabatalha pela abolição da escravatura, JoaquimNabuco, certo dia, em Lisboa, fez a seguintereflexão sobre seus atos e procedimentos:

“E por que não procederia eu assim? Ahistória não está cheia de exemplos que mejustificam? Por que ter contemplações comuma instituição que não se sacia delágrimas humanas, que não tem horror aosangue, que precisa, para existir, daignorância e da degradação? Que povojamais sofreu despotismo igual ao daescravidão doméstica, ao martírio da raçanegra, à perseguição dos escravos? O quequeríamos era fazer a escravidãoenvergonhar-se de si mesma, e essavergonha já apareceu. Era que a escravidãonão se confundisse com a pátria, não seidentificasse com ela, e que, pelo contrário,o brasileiro tivesse o direito de denunciá-la àEuropa e à América como inimigo mortal doseu país.”

Sr. Presidente, essa era a batalha de quem,todos os dias, chegava ao Congresso Nacional e diziaque não se podia continuar com aquela situação.Tenho a convicção de que se hoje Joaquim Nabucoestivesse vivo, ele estaria continuando a sua batalha.

Ainda ontem, o Presidente Nacional da CentralÚnica dos Trabalhadores, Vicente Paulo da Silva, emcerimônia no Ministério do Trabalho, entregou aoMinistro do Trabalho, Francisco Dornelles, e também,em visita ao Senado, ao Presidente Antonio CarlosMagalhães, o mapa da população negra no mercadode trabalho no Brasil.

Nesse estudo, realizado pelo DIEESE na regiãometropolitana de São Paulo, Salvador, Recife, BeloHorizonte, Porto Alegre e Distrito Federal, do InstitutoSindical Interamericano pela Igualdade Racial,nota-se que a situação do negro no Brasil, hoje, em1999, é muito pior do que a do branco. Com odesemprego, por exemplo, é ele quem mais sofre. EmBelo Horizonte, a taxa de desemprego da populaçãonão-negra é de 13,8%, contra 17,8% da populaçãonegra; no Distrito Federal, 17,5%, contra 20,5% dosnegros; em Porto Alegre, 26% para os negros e

15,2% para os demais; em Recife, 23% para osnegros e 19,1% para os demais; em Salvador, 25, 7%para os negros e 17,7% para os outros; em SãoPaulo, 22,7% para os negros e 16,1% para os outros.

Eles também estão ganhando bem menos. Seexaminarmos o rendimento médio mensal por etnia,veremos que, em Belo Horizonte, para os outros, osalário médio é de R$735, e, para os negros, R$444;no Distrito Federal, R$1.122 para os outros e R$165para os negros; em Porto Alegre, R$628 para osoutros e R$ 409 para os negros; em Recife, R$619para os outros e R$363 para os negros; em Salvador,R$859 para os outros e R$403 para os negros; e emSão Paulo, R$1.005 para os outros e R$ 512 para osnegros.

No Distrito Federal, enquanto para o homembranco o salário médio é de R$1.306, para o homemnegro é de R$898. Para a mulher branca, R$923; epara a mulher negra, R$614.

Esses dados demonstram que a luta pelalibertação do ser humano, independentemente desua origem, raça, sexo, qualquer que seja a suacondição, ainda precisa continuar. Tenho a convicçãode que, se Joaquim Nabuco estivesse hoje nestatribuna, estaria transmitindo ao Presidente FernandoHenrique Cardoso, ao Vice-Presidente, MarcoMaciel, e a todos nós, Parlamentares, que é chegadaa hora de libertarmos efetivamente o ser humano e decolocarmos em suas mãos condições desobrevivência digna. O Congresso deveriaestabelecer que toda pessoa residente no Brasil temde ter condições adequadas para freqüentar a escola,condições adequadas de moradia, condiçõesadequadas de alimentação.

É preciso que todos tenham os ativosnecessários que possibilitem o seu desenvolvimento,para que depois não sejam discriminados – o queainda ocorre. Os dados que acabo de ler denotamcom clareza que o Brasil, desde 1888, abolida aescravidão, ainda não tomou as atitudes necessáriospara reverter as conseqüências de mais de 300 anosde escravidão. É preciso fazer isso, e precisamosingressar no século XXI com esse direito definido.

Tenho certeza, Sr. Presidente, de que, estivessehoje Joaquim Nabuco estudando, como sempre fez –mesmo nas suas viagens à Europa procurava manterrelações com aqueles que estavam pensando emcomo garantir liberdade e justiça ao ser humano -,estaria ele interagindo com as pessoas que hojeestão batalhando para que, em cada nação domundo, se defina como um direito à cidadania umarenda básica; o direito à garantia de uma rendamínima como um direito inalienável da pessoahumana.

230 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Quero cumprimentar o Senador José Jorge pelainiciativa desta homenagem. Tenho certeza de que,em breve, neste País, a consciência será geral.

Joaquim Nabuco ressaltou que até mesmo oPartido, constituído principalmente por proprietários ebeneficiários da escravidão, em certo momento nãoquis mais defendê-la. Hoje, até mesmo um dosprincipais políticos do PFL, da base de Governo, queparticipou durante anos do regime de exceção nestePaís, está também dizendo que não podemoscontinuar, de maneira alguma, com o grau demiserabilidade que existe na nossa Nação. Tenhosaudado o Presidente Antonio Carlos Magalhães poressa atitude. S. Exª tem dito que é preciso um esforçoda Nação e do Congresso Nacional, diferentementede outros que criticam seu encontro com o Presidentede Honra do Partido dos Trabalhadores, Luiz InácioLula da Silva, para que se possa acabar com amiséria no País.

Acho que foi positivo esse encontro e ficoimaginando como Joaquim Nabuco o teria visto. Nãoposso adivinhar, mas acredito que, se convidado paraparticipar do diálogo de segunda-feira última, teriaexpressado, com convicção, palavras como aquelasque eu há pouco citei, dizendo que o Brasil nãopoderia compactuar com o crime da escravidão, damesma maneira que, hoje, não pode compactuar, demaneira alguma, com o fato de haver cerca de umterço da população brasileira vivendo com menos doque o suficiente para sobreviver e atender as suasnecessidades vitais.

Espero que iniciemos o Século XXItransformando essa triste realidade.

Muito obrigado. (Palmas)

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Tendo falado um representante daforça do Governo e um da Oposição, tenho a honra deconceder a palavra ao Dr. José Thomaz Nabuco paraagradecer a homenagem, em nome da família.

O SR. JOSÉ THOMAS NABUCO DE ARAÚJO– Senador Antonio Carlos Magalhães, Presidente doSenado Federal; Sr. Marco Maciel, Vice-Presidenteda República; Srªs Senadoras, Srs. Senadores,minhas senhoras e meus senhores, quero apenasdizer uma palavra de agradecimento e gratidão dafamília de Joaquim Nabuco, aqui representada porum de seus netos, por esta homenagem que oSenado Federal presta ao nosso avô, o qual nãoconhecemos, mas que é muito chegado a nossa vidae ao nosso coração. Conhecemos muito a sua viúva,nossa avó, que sempre esteve presente na nossainfância. Sua nora, minha mãe, graças a Deus aindaestá bem e mora no Rio de Janeiro.

Quero agradecer muito especialmente aoSenador José Jorge pelas palavras e pela iniciativadesta sessão, e ao Presidente da Fundação JoaquimNabuco, aqui presente, Fernando Freyre, que tantotem feito para engrandecer a memória do patronodessa grande Instituição pernambucana.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Srªs e Srs. Parlamentares, minhassenhoras e meus senhores, esta sessão dehomenagem a um dos maiores vultos da vidanacional em todos os tempos, Joaquim Nabuco, é,portanto, uma festa brasileira e, particularmente,pernambucana.

Não é sem razão que aqui se encontra oVice-Presidente Marco Maciel, homem digno,competente, responsável e leal, que exerce aVice-Presidência da República, honrando seu Estadoe o País. S. Exª fez questão de vir até aqui, comooutros pernambucanos ilustres que aqui vejo e aquem me dirijo, como o Ministro Marcos Vilaça,Everardo Maciel, a família Nabuco e Fernando Freyre,Presidente da Fundação Joaquim Nabuco, quecarrega, além dessa responsabilidade, o nome doseu grande pai, Gilberto Freyre, que tive a honra deconhecer e cujo centenário, no próximo ano,haveremos de comemorar com justas festas, pararememorar a figura notável do grande mestre deApipucos, e tantos que aqui se encontram.

A iniciativa do nosso querido colega, SenadorJosé Jorge, merece os maiores elogios. É até penaque esta sessão seja realizada numa quinta-feira,quando todas as Comissões do Senado estãoreunidas, não só as Comissões de Inquérito, como asComissões de Constituição, Justiça e Cidadania e deAssuntos Econômicos. Daí por que acredito quetodos deveriam participar, mas participam emsentimento desta sessão para homenagear a figurade Joaquim Nabuco.

Memorialista, orador, jornalista, historiador eensaísta, foi privilegiado protagonista da Históriabrasileira, do Segundo Império e do início da própriaRepública. No ambiente nacional, a vida e obra deJoaquim Nabuco caracterizam sua figura comodestacado reformador social. Defensor daMonarquia – parece um paradoxo, mas só JoaquimNabuco o conseguia -, foi um dos principaisabolicionistas, engajando-se nessa campanha comextraordinário amor. É célebre o episódio de suaviagem a Roma para, em audiência com o PapaLeão XIII, conseguir do Chefe da Igreja Católica umaclara e inequívoca declaração favorável à aboliçãono Brasil. Político e diplomata, foi Deputadodurante o I m p é r i o e E m b a i x a d o r e m Wa s -

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 231

h i n g t o n , j á n a é p o ca republicana. Um dosfundadores da Academia Brasileira de Letras, foi oseu secretário-geral; escritor elegante, deixou-nosduas obras de grande importância, entre muitasoutras. Não há quem, na juventude, na mocidade,não tenha lido Minha Formação, ou O Estadista doImpério, obra sobre a vida do seu pai, Nabuco deAraújo, político realizado, modelo perfeito que seufilho, com a queda do Império, por mais que quisesse,não conseguiu imitar completamente.

Gilberto Freyre, esse outro grandepernambucano, considerou seu conterrâneo “umadas expressões mais altas da literatura em línguaportuguesa”. Foi o idealizador da Fundação JoaquimNabuco, hoje presidida por seu ilustre filho, FernandoFreyre.

Aqui se falou, evidentemente, de todos osângulos da vida de Nabuco. E eu diria: se Nabucoestivesse vivo, estaria lutando contra asdesigualdades; não apenas as desigualdades raciais,mas as desigualdades de comportamento da vida,sem fazer exceção de etnias, lutando para que o Paísfosse menos desigual, dada a concentração de rendaatualmente existente e que é dificilmente suportável.

Nabuco estaria inspirando o Parlamento a umaação dinâmica e reformadora, como reformador elefoi, apesar de monarquista. Daí por que gostaria dedizer nesta hora que a figura de Nabuco aindacontinua viva em todos aqueles que estudaram a suavida.

Há um livro do Luiz Vianna, citado pelo SenadorJosé Jorge, numa edição de 1949, Rui e Nabuco, queé um primor na comparação entre essas duasgrandes figuras que nortearam o pensamento doBrasil durante muito tempo. Tinham praticamente amesma idade, e, cada um, honrando o seu Estadonatal, honrava mais ainda a Pátria brasileira.

Fico extremamente feliz de participar destasessão e de dizer que os ensinamentos de Nabucocontinuam vivos, não só em seus seguidores, dentreos quais destaquei alguns – perdoem que eu citemais uma vez o Presidente Marco Maciel -, como emseus ilustres netos, e ainda na nossa querida esempre atuante Dª Maria do Carmo.

Quero dizer, nesta hora, que estou muitosatisfeito. Dizia, ainda agora, ao ouvido doVice-Presidente Marco Maciel: Nabuco era conhecidocomo “Quincas, o belo”, por sua beleza física, mastambém por sua integridade moral e pelos serviçosque prestou, com sua elegância e seu mérito, aonosso País.

É e s s e h o m e m q u e , n e s t e i n s t a n t e , oPa r l amento brasi le i ro, por intermédio doSenado Federal, homenageia, para que ele sirva

d e e s t í m u l o às gera- ç õ e sd e a g o r a e d o f u t u r o , p a r a b e m s e r v i r e ma o B r a s i l .

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Os Srs. Senadores Francelino Pereira,Ney Suassuna e Romero Jucá enviaram discursos àMesa para serem publicados nos termos do art. 203do Regimento Interno.

S. Exªs. serão atendidos.O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG) –

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, parlamentar,advogado, diplomata, escritor, jornalista, historiador,mas, também e sobretudo, abolicionista.

Falo de Joaquim Nabuco, que de tão nobre idealfez a razão superior de sua existência, quase todadedicada à causa da libertação dos escravos.

É esse o motivo da homenagem do SenadoFederal à memória do grande brasileiro, notranscurso dos 150 anos de seu nascimento emterras pernambucanas de Recife.

Se há motivos para evocar a figura dessenotável brasileiro, amplia-se nossa responsabilidadenos dias atuais, diante da constatação de que,lamentavelmente ainda resta muito por fazer paratornar realidade a advertência do próprio Nabuco,para quem ao triunfo da abolição deveria seguir-se aadoção de medidas complementares em benefíciodos libertados.

A liberdade aos negros foi alcançada, mas aindaprevalece, no limiar de um novo milênio, tratamentodesigual a iguais.

A dedicação de Joaquim Nabuco em favor daabolição talvez possa nos servir agora de estímulo àcontinuidade de sua luta e, assim, quem sabe maiscedo que supomos, possam ser rompidas asbarreiras do preconceito racial em nosso País,sobretudo no mercado de trabalho.

A simples leitura dos jornais permite-nos, emqualquer dia, o levantamento de uma realidade quenos amargura. Como, por exemplo, a indicação doDIEESE de que, no Brasil, os negros recebemsalários menores do que os brancos, são maioria nospostos de trabalho precários e convivem maios com odesemprego, além de se situarem mais distantes doscargos de chefia.

Entendo, Sr. Presidente e Srªs. e Srs.Senadores, ser este momento oportuno para trazer àlembrança ideais dessa grandiosidade, que movem oser humano em suas lutas.

Joaquim Nabuco, a esse propósito, sustentavaque “um homem em geral não leva a efeito mais deuma idéia. E afirma, com humildade:

“Eu dediquei-me todo à abolição.”

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Esta homenagem estende-se também àFundação Joaquim Nabuco, nossa notável instituiçãonascida de uma idéia de Gilberto Freyre e que, nesteano, está comemorando meio século de umaexistência de êxito, comprovado pelas suasnumerosas realizações, estudos e pesquisas sociais,que vão da economia ao meio ambiente..

Suas origens datam de 1948, quando o entãoDeputado Federal Gilberto Freyre – o grandesociólogo e antropológo brasileiro – apresentouprojeto de lei aprovado pelo Congresso e sancionaldopeloPresidente da República, Eurico Gaspar Dutra,convertendo-se na Lei nº 770, de 21 de julho de 1949.

Além de seminários que promoveperiodicamente, a notável Fundação pernambucanadisponibiliza aos estudiosos e ao público em geral,inclusive pela INTERNET, publicações, estudos eestatísticas versando sobre praticamente todas asáreas do conhecimento.

Volto a falar de Nabuco, o abolicionista.Além de desempenhar atividades

parlamentares por 10 anos, nosso grandeabolicionista também se manifestava em outrastribunas, sobretudo a popular, dirigindo-se a todos ossegmentos da sociedade civil, numa pregação emque sistematicamente incluía o tema querepresentava sua meta principal.

Na avaliação do trabalho desse orador patrício ,os historiadores são unânimes em atribuir a suaeloqüência a razão da justa fama com que era vistono País e até no exterior.

Realmente, essa eloqüência estendera-se parafora do território brasileiro. Nos Estados Unidos, porexemplo, ele retomou o discurso público e seuspronunciamentos influíram decisivamente norelacionamento entre aquele país e as naçõeslatino-americanas, notadamente o Brasil.

Nosso mais importante poeta parnasiano, OlavoBilac, que conhecia Nabuco, considerava seu estilocomo “modelo de concisão e clareza”,acrescentando, ademais, que “o seu talento,amadurecido em pleno outono fecundo, produziafrutos opimos de sábia política e diplomaciaprevidente e providente”.

Foi, inegavelmente, como político, e com abandeira que nesse campo empunhava que JoaquimNabuco mais se destacou, depois de alguns anos deexercício de vida diplomática, primeiro em Londres ea seguir em Washington.

Seu ingresso no cenário parlamentar não foi,contudo, muito fácil. A idéia de candidatar-se era algocom o que jamais sonhara, sobretudo porque a vidapolítica nunca lhe despertara qualquer atrativo.

O que o induziu a enveredar por esse caminhofoi o acaso, na forma de um pedido da mãe, que lherevelara ser esse o desejo manifestado, pouco antesde morrer, pelo pai, o Senador José Thomaz Nabucode Araújo.

Ao apelo ele aquiesceu, sem no entanto suporjamais que a insistência materna e o amor filial nãoapenas o estavam conduzindo à vida parlamentar,mas, também, a uma brilhante carreira política.

O êxito alcançado pelo esforço pessoal,lastreado em sólida formação intelectual, não evitouque, em seu caminho, enfrentasse as asperezas deum começo árduo, diante das resistências opostaspelos grupos que então detinham o poder emPernambuco.

Inicialmente conhecido apenas pelo seu ladoliterário e artístico e recém-saido da diplomacia,Nabuco não encontrou receptividade entre ospernambucanos, mas, ao contrário, viu-se às voltascom uma forte oposição ao lançamento de seu nomecomo candidato.

A rejeição, inicialmente restrita aos bastidoresdo antigo Partido Liberal foi vencida, mas, entre oeleitorado nada mudava, mantendo-se asresistências por mais algum tempo.

As dificuldades da fase inicial de umapromissora carreira fizeram o novo parlamentarentender a grande, talvez a maior lição da naturezahumana.

Mas como a vida é um permanenteaprendizado, tais obstáculos serviram-lhe deestímulo para que, investido do mandato, desse tudode si e demonstrasse que o voto popular que oguindara ao Poder Legislativo não fora em vão.

Nabuco, desde logo, deixou isso bem evidente .E, a partir daí, foi presença constante em plenário,exercitando com saber e dignidade o novo mister, aoqual se dedicava na plenitude.

Sua estréia na tribuna ocorreu no dia 1º defevereiro de 1879, não tendo sido necessários maisque uns poucos pronunciamentos, para que aCâmara toda percebesse que realmente Nabuco nãoestava ali à-toa.

“Vejo uma situação liberal, homensliberais, mas não vejo idéias liberais – diziaNabuco para que todos os ouvissem. E aisso acrescentava, ainda com maiorveemência: “Não há senão um meio pararesistir a esse destino implacável; ésubstituir os grandes homens, que nósperdemos, pelas grandes idéias !”

Por grande idéia Nabuco entendia a luta pelaemancipação dos escravos, fazendo questão, pelapostura que desenvolvia, de deixar isso bem claro.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 233

Essas idéias, i.é, sua opção pelo fim dopredomínio escravocrata, eram como que “brasaquente”, pelo poder de sua oratória e pela firmeconvicção com que Joaquim Nabuco levava avantesua quase obstinada luta.

Essa convicção é que tornava brilhante suaatuação como político militante. Do repúdio aotrabalho escravo, seu discurso passou também aexaltar o trabalho livre, revelando grandepreocupação com o futuro sócio-econômico doex-escravo.

Srªs. e Srs. Senadores, os discursos de Nabucosempre eram acompanhados atentamente pelosDeputados e pelas galerias. A Câmara, de fato,tornou-se a arena predileta de Nabuco.

Ali, ao falar, recebia aplausos e manifestações,dos colegas parlamentares e também das galerias.

Ele mesmo, Nabuco, faz uma autocrítica de seuprimeiro ano de atuação como parlamentar:

“Foi um ano de atividade e deexpansão único em minha vida, esse de1879, em que fiz a minha estréiaparlamentar. Posso dizer que ocupei atribuna todos os dias, tomando parte emtodos os debates, em todas as questões...O favor com que era acolhido, os aplausosda Câmara e das galerias, a atenção queme prestavam, eram para embriagarfacilmente um estreante...”

De fato, sua presença na tribuna erapraticamente diária, abordando todos os temaslevados a debate. Falava sempre de improviso, sobreimposto de renda, sobre reforma constitucional, deeleições diretas e de política externa, mas tambémsobre a causa da liberdade religiosa.

Seu tema primordial, porém, era oabolicionismo.

Os abolicionistas depositavam esperanças nosdiscursos públicos e também nas campanhas que aimprensa desenvolvia com o objetivo deemancipação dos escravos.

A idéia humanitária por ele conduzida em seuspronunciamentos na Câmara levou Graça Aranha,escritor, diplomata e amigo de Nabuco, a assimclassificar o abolicionista por excelência:

“Quando Joaquim Nabuco aparecia naplataforma, tratava-se de um cruzado,vestido na armadura brilhante de suaeloqüência.”

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apesar deseu êxito como orador no Parlamento, Joaquim Nabucoexperimentou duro revés em sua pretensão derecandidatar-se à Câmara dos Deputados. Os dir-

igentes do partido não aceitaram sua pretendidacandidatura devido aos seus ideais de libertação dosescravos .

Em consequência, ficou ausente da atividadeparlamentar ao longo da legislatura 1881-1884 e agota d’água que mais influiu para que sua candidaturativesse sido vetada terá sido o projeto queapresentara em 1880, determinando a extinção daescravidão no Brasil.

Por já não contar com a antiga tribuna parapropagar sua luta em favor da emancipação dosescravos, Nabuco percebeu então a necessidade de,num outro canal, estender a todo o País as ações queele e seus seguidores desenvolviam com aqueleobjetivo.

Foi, assim, fundada a SociedadeAnti-Escravagista Brasileira.

A nova entidade abraçou de corpo e alma acampanha abolicionista, colhendo os louros da idéiaacalentada por Nabuco em 13 de maio de 1883,pouco tempo após essa intensificação dapropaganda pró emancipação.

Surgira, finalmente, o fim da escravidão negrano Brasil. Essa a maior contribuição de Nabuco aoBrasil. E o instrumento de que se valera para essapregação,- instrumento decisivo, – foi o grande poderde sua oratória exuberante.

Chegava-se, também, ao desfecho de uma vidade luta nem sempre compreendida.

Um desfecho que ao Brasil só engrandecia.E que, para o grande artífice desse esforço a

emancipação dos escravos, representava ocoroamento de uma causa que lhe servira de posturade vida.

Vale aqui, por oportuno, lembrar que essa foiuma causa iniciada anos antes, num determinado diaem que – quis o destino – Joaquim Nabuco secomoveu diante de uma cena de tristeza imensurável.

A cena é registrada em “Minha Formação”, aautobiografia de Nabuco, onde se lê:

“Eu estava uma tarde sentado nopatamar da escada exterior da casa,quando vejo precipitar-se para mim umjovem negro desconhecido, de cerca de 18anos, o qual se abraça aos meus pés,suplicando-me pelo amor de Deus que ofizesse comprar por minha madrinha, parame servir. Ele vinha das vizinhanças,procurando mudar de senhor, porque odele, dizia-me, o castigava, e ele tinhafugido com risco de vida.”

E, como que para justificar sua luta pelaemancipação dos escravos, completa:

234 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

“Foi esse o traço inesperado que medescobriu a natureza da instituição com aqual eu vivera até então familiarmente, semsuspeitar a dor que ela ocultava... Por isso,combati a escravidão com todas as minhasforças, repeli-a com toda a minhaconsciência...”

Por isso, também, ele, Joaquim Nabuco, émerecer da homenagem que hoje lhe tributa oSenado Federal. Como, igualmente, da homenageme do reconhecimento de todos os brasileiros.

Muito obrigado.O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Sr.

Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, “acabar com aescravidão não basta. É preciso destruir a obra daescravidão”. Com essas palavras, síntese mais queperfeita do pensamento e da ação política de JoaquimNabuco, inicio meu pronunciamento nesta sessãodedicada a celebrar a passagem dos cento ecinqüenta anos de nascimento desse notável homempúblico que Pernambuco deu ao Brasil.

Nada de fortuito teve a escolha dessa epígrafe.A um só tempo, ela traduz a extraordinária visão queNabuco desenvolveu acerca do Brasil –especialmente quanto ao comportamento de suaselites, das quais era oriundo – e sua arguta visãohistórica. Exatamente por isso, suas idéiasatravessam a linha do tempo, jamais perdendo aatualidade.

Fixemos, desde já, nossa análise na crucialquestão do escravismo que, situado na base dos trêsséculos de colonização do Brasil, manteve-se emvigor por quase todo o século XIX, a despeito dasprofundas transformações então operadas naeconomia mundial. Para Nabuco, o problema daescravidão assumia uma dimensão plural: era uma“nódoa”, sob o ponto de vista social, inconcebívelante os mais elementares padrões éticos e morais;em termos econômicos, era a ponta- de-lança doatraso, incapaz de permitir o desenvolvimento do Paísdentro dos parâmetros estabelecidos por umcapitalismo liberal, fundado na industrialização quese universalizava; mas, acima de tudo, era a negaçãointrínseca da possibilidade de a democracia deitarraízes em terras brasileiras.

Para ele, a persistência do regime escravocratacondenava o Brasil a ser “um país sem povo”, pelaabsoluta ausência de cidadania. Monarquista, não viana República a garantia da democracia, somentepossível com a valorização do trabalho livre. Não poracaso, por volta de 1886 – quando a campanhaabolicionista atingia seu auge – ofereceu a Pedro II osábio conselho para salvar a Monarquia: “Procurar o

povo nas suas senzalas ou nos seus mocambos evisitar a Nação no seu leito de paralítica”.

Creio residir nesse ponto, Senhor Presidente, amarca mais fulgurante do ideário de Joaquim Nabuco.Jamais teve a ilusão de que a democracia pudesseser confundida com meros jogos políticos. Apropósito, sempre teve clareza quanto ao caráter“fraudulento” do Parlamentarismo que aqui sepraticava, sofrível encenação de um espetáculoemoldurado por maneirismos ingleses.

Foi além, no entanto. Teve a coragem intelectuale a grandeza cívica de apontar o desconforto de umcenário político, como o que tínhamos no SegundoImpério, em que o bipartidarismo nada mais era queroupagem distinta a cobrir corpos semelhantes.“Nada mais parecido com um liberal do que umconservador no poder”, ou, “liberais e conservadoressão farinha do mesmo saco”, expressõesconsagradas pela sabedoria popular, refletiam umasituação minuciosamente analisada e desnudada porNabuco. Para ele, nossos Partidos ressentiam-se decrônica abstinência de idéias, de um corpodoutrinário, de modo a apontar-lhes diferençassignificativas.

Muito adiante de seu tempo, nossohomenageado de hoje tinha consciência de que,vencida a barreira interposta por muitos setores daselites brasileiras, a abolição do trabalho escravohaveria de acontecer. No entanto, antevia comprecisão que essa decisão, conquanto bem-vinda eindispensável, não poderia esgotar-se em si mesma.Conforme suas premonitórias palavras, eranecessário dar o grande salto à frente, destruindo aobra produzida por quatro séculos de escravidão.

Nesse sentido, Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Senadores, faço uso das lúcidas palavrasdo grande Gilberto Freyre, o fundador da Sociologiabrasileira, a quem tanto devemos para a adequadacompreensão de nossa formação histórica. Para omestre de Apipucos, enquanto os políticostradicionais desenvolviam uma visão apenas políticaou somente econômica do problema da escravidão,Nabuco “a todos excedeu na amplitude social,humana, suprapartidária, que deu ao seu apostoladoa favor dos escravos. E foi esse apostolado que fezdele um radical, com alguma coisa de socialista –socialista ético – em sua crítica ao sistema detrabalho e de propriedade dominante no BrasilImpério: homens donos de homens; terras imensas,dominadas feudalmente por umas poucas eprivilegiadas famílias; escravidão, latifúndio”.

Penso ter Gilberto Freyre apreendido o sentidomais profundo do Nabuco reformador social. Quando

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 235

o filho do Conselheiro e Senador do Império JoséThomaz Nabuco de Araújo insiste na abolição,seguida de atitudes concretas que extingam as“instituições auxiliares da escravidão”, está pensandono indispensável fim do “monopólio territorial”; estádefendendo o trabalho efetivamente livre comocondição para “o futuro, a expansão, o crescimentodo Brasil”; está falando da valorização do trabalhador,alguém que carece de liberdade, proteção e amparo“em toda a extensão do País, sem diferença de raçanem de ofícios”.

Fiel às suas crenças, Nabuco jamais esmoreceuem seu valente combate. Escreveu nos jornais. Usou,destemido, a tribuna parlamentar. Viajou mundo aforaem busca de adesão à campanha abolicionista. Em1880, ei-lo fundando a Sociedade Brasileira contra aEscravidão, lançando manifesto e editando o jornal OAbolicionista. Percorreu as capitais de Portugal,Espanha, França e Inglaterra, buscando e recebendoapoios.

Como bem registra a Enciclopédia Barsa, “de1882 a 1884 exilou-se voluntariamente em Londres,onde escreveu O Abolicionismo, em que expôs suasidéias para a libertação dos escravos e pela primeiravez usou a expressão ‘reforma agrária’, ao defender aidéia de que a emancipação só teria sentido seacompanhada pela democratização da terra”.

De volta ao País e às atividades políticas, comoDeputado eleito por Pernambuco, vemos Nabucoplenamente empenhado por uma monarquiafederativa e pelo abolicionismo. Diversos opúsculosdefendendo o fim da escravidão foram por ele escritose divulgados. Em 1886, em Londres, vamos encontrarJoaquim Nabuco apresentando moção antiescravistana conferência da Associação de DireitoInternacional. Incansável, vai ao encontro do PapaLeão XIII, a quem solicita um ato pessoal em favor dalibertação dos escravos.

Quando se examinam as teses de Nabuco é quese confirma sua extraordinária atualidade! Comefeito, se pensarmos nas questões estruturais que secolocam na ordem do dia deste Brasil de 1999,haveremos de encontrar, em posição de relevo, osproblemas envolvendo o acesso à terra e osdecorrentes da exclusão social. Se voltarmos nossosolhos para um pouco mais de cem anos atrás, láencontraremos Nabuco alertando para essasquestões, identificando na manutenção da ordemescravista e na miopia das elites a razão de taisproblemas.

A propósito, Sr. Presidente, em bela matériapublicada em sua edição de 20 de agosto último, oJornal do Brasil, que teve em Nabuco um de seusfundadores, assim se expressou: “Neste fim de século

que o Brasil transpõe carregando o estigma daconcentração de renda, os 150 anos do nascimentode Joaquim Nabuco realçam a atualidade da suavisão histórica. No fim de século que viveu, Nabucofez da sua posição privilegiada na elite política doImpério trincheira de luta contra a ‘nódoa’ daescravidão, que ainda persistia só aqui e em Cuba”.

Destaco, ainda, no texto do JB, algumasobservações que convergem para a análise que aquiprocedo. Em primeiro lugar, o sentido maior de suaobra: “Com o talento múltiplo de advogado, político,jornalista e historiador, ensinou em três livrosfundamentais – O Abolicionismo (1883), Um Estadistado Império (1897) e Minha Formação (1900) – como aresistência da elite escravocrata, reunida no Estadoimperial sob o arbítrio de Pedro II, impediu que o paísentrasse no século 20 com a questão da democraciaresolvida”.

O segundo ponto que recolho do citado texto doJornal do Brasil é uma espécie de conclusão que sepode fazer a respeito do fervor com que Nabuco seentregou à causa abolicionista, mas rigorosamenteatento ao que se deveria fazer para dar consistênciae densidade ao fim da escravidão. Diz o jornal: “Nosonho de Nabuco, a Abolição era coroada porreformas sociais e econômicas que sacudiriam opaís do atraso que vinha das fazendas”. São asreformas que, mais de um século depois, o Brasil nãoconseguiu completar!

Tal como o pai, avesso às honrarias, Nabucorecusou o título de visconde que o governo imperiallhe concedeu. Fiel à Monarquia e ao imperador,afastou-se da atividade política com a instauração doregime republicano. Exatamente nesse período deaguda introspecção é que produziu a famosabiografia de seu pai – Um Estadista do Império –,marco da literatura histórica e política do Brasil. Osespecialistas são unânimes em afirmar ser esta amais significativa obra de análise da política brasileirano Segundo Reinado; enfim, um primoroso painel denossas instituições ao longo da segunda metade doséculo, notadamente pelo que informa sobre asações e o pensamento das elites de nosso País noperíodo.

Em 1900, dois acontecimentos marcantes navida de Joaquim Nabuco. Depois de dez anos “de lutopela monarquia extinta”, finalmente aceita um conviteformulado pelo governo republicano: atendendo aoapelo do Presidente Campos Salles, assume o cargode ministro plenipotenciário em Londres, com amissão precípua de enfrentar o contenciosoenvolvendo os limites territoriais entre o Brasil e aGuiana Inglesa.

236 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

No mesmo ano, outro marco na vida de nossohomenageado: a publicação de Minha Formação.Considerada por muitos a melhor autobiografiajamais escrita por um brasileiro, é sua principal obraliterária. Dela, disse Gilberto Freyre: “Da paisagemque Minha Formação evoca não há exagero emdizer-se que é a mais brasileira das paisagens: a docanavial; a do trópico úmido, onde, com o canavial,desenvolveu-se a primeira civilização que deuexpressão mundial ao Brasil; e que foi a civilização doaçúcar, a do engenho; a da casa-grande; a dasenzala; a da capela de engenho; a do rio ao serviçodos engenhos”.

Nabuco encerrou sua carreira nos EstadosUnidos, onde faleceu, em janeiro de 1910, aos 61anos de idade. Nomeado, em 1905, nosso primeiroembaixador em Washington, percorrera a América doNorte de ponta a ponta, realizando conferências,sempre difundindo o Brasil e a língua portuguesa.

Sinto-me feliz, Sr. Presidente, Srªs. e Srs.Senadores, de ter o privilégio de, na condição deSenador da República, participar dessas justashomenagens que esta Casa presta a um dos maisilustres filhos que o Brasil conheceu. Por tudo o queaqui se disse, podemos e devemos nos orgulhar deum compatriota que, nascido em berço de ouro, foicapaz, como poucos, de compreender a almabrasileira; um político que jamais se deixou prender àrotina partidária, optando por entregar-se por inteiro àcausa eleita; um intelectual que, convencido danecessidade de reformas profundas em seu País,ousou unir à inteligência que abre caminhos a paixãoque os torna iluminados.

Era o que tinha a dizer.O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR) – Sr.

Presidente, Srªs e Srs. Senadores, passar por estemundo, todos passam.Deixar uma marca, no entanto,nem todos deixam. Mas, mesmo que muitos deixemuma marca, deixar uma contribuição indelével, noentanto, é tarefa para poucos. Felizmente, há os quepassam, deixam a marca, a marca viceja, produzfrutos para a posteridade e continua marcando omundo. É a uma dessas pessoas, uma das quedeixam uma marca frutífera, que quero homenagearhoje: Joaquim Nabuco.

Nascido pernambucano, esse brasileiro saiuespalhando sua sabedoria, sua vivência, suasimplicidade não só em sua terra natal, mas em todoo Brasil. Falecido, inspirou a criação de uma fundaçãoque leva seu nome e que continua a executar seuspropósitos de melhor conhecer o Brasil paratransformá-lo.

Como não é hábito entre nós cultuar a memóriade figuras como ele, permitir-me-ei fazer um breve

passeio pela biografia de Joaquim Nabuco, a fim deque todos possam apreciar sua vida e obra.

Comemoramos este ano, em 19 de agosto, os150 anos de seu nascimento. Tendo nascido na metadedo século passado e vivido até os dez primeiros anosdeste século, ele pôde participar de alguns dos maisimportantes eventos de nossa história. Como seu nomeestá ligado à Fundação Joaquim Nabuco, sua memóriaperpetuará, também, nesse século que nasce.

Não faltava a Nabuco uma ascendência ilustre:do lado do pai, ele próprio Senador (José TomásNabuco), alguns de seus ancestrais foram Senadoresdo Império, desde o Primeiro Reinado; do lado damãe, os Paes Barreto, descendia de uma linhagem denobres e de administradores públicos. Criado numengenho (Massangana), levaria para sempre namemória a questão dos escravos. Talvez por isso, suaopção, não obstante toda a sua origem aristocrática,tenha sido de lutar contra as desigualdades.

Saindo de Pernambuco, teve a oportunidade deestudar no Rio de Janeiro (Nova Friburgo) até oSecundário; estudou Direito em São Paulo, sendocontemporâneo de figuras ilustres, como RuiBarbosa, Castro Alves, Rodrigues Alves e AfonsoPena. Posteriormente, no Recife, concluiria seusestudos.

Em Recife, escreveu A escravidão, umamanifestação de seu compromisso. Naquela cidadechocou a elite ao defender, em um júri, um escravonegro que assassinara o seu senhor.Uma escolha quemarca bem sua trajetória de “rebeldia”, mesmo que,aos olhos de alguns, tenha sido considerado umconservador.

Em 1870, transferiu-se para o Rio de Janeiro, ondecomeçou a atuar no escritório de advocacia do pai einiciou-se no jornalismo, no A Reforma. Dois anosdepois, passa um ano na Europa, em contato comintelectuais e políticos. O contato com culturas de outrospaíses, aliás, marcaria sua vida pública e intelectual.Assim, seu primeiro cargo público é de adido da legaçãobrasileira nos Estados Unidos; coincidentemente, seuúltimo cargo será também nos EUA, como embaixador.

Entre 1879 e 1889, com algumas interrupções,exerceu o cargo de deputado, com participaçãodestacada, tendo em vista sua oratória e,principalmente, independência frente ao governo.Algumas de suas atuações mais destacadas, foram:

– Campanha contra a escravidão, em favor daabolição da escravatura;

– Combate a um projeto de exploração do Xingue defesa dos direitos dos indígenas;

– Crítica a uma proposta de estímulo à migraçãode chineses que deveriam substituir os escravos nasatividades agrícolas;

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 237

– Fundação da Sociedade Brasileira Contra aEscravidão;

– Defesa do projeto de libertação dossexagenários, apesar de considerá-lo muitomoderado;

– Defesa de projeto de lei em favor da federaçãodas províncias.

Em sua luta pelo abolicionismo, chega a ter, em1888, uma audiência particular com o Papa Leão XIII,em que relatou a luta pelo abolicionismo no Brasil.Possivelmente, sua atuação influenciou o grandePontífice na elaboração de uma encíclica contra aescravidão. Nesse mesmo ano, dá grandecontribuição à elaboração da Lei Áurea.

Em 1889, foi eleito deputado por Pernambuco,para a última legislatura do Império, mesmo sem ir aoRecife e sem solicitar o apoio do eleitorado. Com aProclamação da República, posiciona-se comomonarquista e recusa cadeira na AssembléiaConstituinte de 1891.

Entre 1893 e 1899, Nabuco dedica-seintensamente à atividade intelectual, sendo que, em1896, participa da fundação da Academia Brasileirade Letras, que teve Machado de Assis como seuprimeiro presidente e Nabuco como secretárioperpétuo.

Volta a assumir um cargo público em 1899 paradefender o Brasil na questão de limites com a entãoGuiana Inglesa, causa da qual era árbitro o rei VictorEmanuel da Itália. Nessa ocasião, iniciou umprocesso de afastamento do grupo monarquista e asua conciliação com a República.

Em 1905, Nabuco foi nomeado embaixador doBrasil em Washington. Nessa condição ligou-se muitoao governo norte-americano e defendeu uma políticapan-americana, baseada na doutrina de Monroe.Naquele país, viajou bastante e proferiu dezenas deconferências em universidades. Essa militância olevaria a organizar a III Conferência Pan-americana,realizada no Rio de Janeiro, com a presença dosecretário de Estado dos Estados Unidos.

Na condição de embaixador, veio a falecer emWashington, após um longo período de doença.

Mas seu espírito inovador serviu de inspiração amuitos políticos e intelectuais. Tanto é assim que, nalegislatura de 1946-1950, Gilberto Freyre apresenta oprojeto de criação do Instituto Joaquim Nabuco. Aidéia era homenagear Nabuco como reformadorsocial. A criação desse instituto reconduz o Recife aoantigo “esplendor de Centro de Renovação Social eIntelectual do Brasil".

Foram muitas as dificuldades enfrentadas peloprimeiro diretor, José Antônio Gonsalves, com osentraves burocráticos e a falta de recursos. Num

levantamento feito por Clóvis Cavalcanti, nos primeirosdez anos, devido às dificuldades, foram poucas asproduções científicas. Mas nos trinta anos seguintes,seria fecunda a produção da hoje Fundação JoaquimNabuco.

Mas o que mais se precisa destacar é opropósito dessa instituição: a produção e veiculaçãode conhecimentos voltados para romperdesigualdades, no mesmo espírito de JoaquimNabuco. Se em seu tempo, a principal desigualdade aser combatida era a da escravidão, hoje, com todo oavanço político, econômico e tecnológico,multiplicaram-se por muitas as desigualdades. Sãodesigualdades regionais, econômicas e culturais.Partindo das desigualdades regionais, vemos que oNordeste continua figurando como região menosprivilegiada da produção econômica nacional.Passando para as desigualdades de naturezatecnológica, temos que o agricultor nordestinocontinua a utilizar meios ultrapassados de produção.Chegando à desigualdade cultural, vemos que acultura nordestina luta para se manter viva, diante dainvasão propiciada pelos meios de comunicação.

A todos esses setores – e a mais alguns –dedica-se a Fundação Joaquim Nabuco. Muitas sãoas questões que ocupam o trabalho da FUNDAJ,como revelam os nomes de seus órgãos e projetos:

Cultura, Identidade e Pensamento Social noBrasil;

Estado, Cidadania e Atores Sociais;Gênero, Família e Idade;Desenvolvimento Regional, Urbano;Políticas Públicas, População e Exclusão Social;Agricultura e Meio Ambiente;Pesquisa, Conservação e Restauração de

Documentos e Obras de Arte;Museu do Homem do Nordeste;Escola de Governo e Políticas Públicas;Desenvolvimento Profissional;Produções Multimídia;Editora;Estudos sobre a Amazônia.Tanto o trabalho de Joaquim Nabuco quanto o

da Fundação Joaquim Nabuco revelam um sócompromisso: o conhecimento a serviço datransformação social. Ao primeiro, rendemos asnossas justas homenagens, nestes 150 anos de seunascimento; à segunda, nos seus 50 anos defundação, expressamos o nosso desejo de sucessonos projetos que vem desenvolvendo.

Que práticas como essa se multipliquem, poissomente com o desenvolvimento de conhecimentointensivo seremos capazes de desenvolver o Brasil;não apenas desenvolvê-lo economicamente; não

238 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

apenas ampliar a riqueza material; mas enriquecer aspessoas; universalizar a educação; socializar osconhecimentos e, por fim, acabar com asdesigualdades que ainda imperam entre nós. Comofaria o próprio Joaquim Nabuco, se vivo fosse. Essa,sim, é a maior homenagem que podemos prestar aele.

Era o que tinha a dizer.Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Está suspensa a sessão.

(Suspensa às 11 horas e 3 minutos, asessão é reaberta às 11 horas e 18 minutos.)

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Está reaberta a sessão.

Sobre a mesa, Expediente que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador Carlos Patrocínio.

É lido o seguinte:

EXPEDIENTE

AVISO

DO MINISTRO DE ESTADO DA FAZENDA

Nº 569/99, de 15 do corrente, comunicando daimpossibilidade de responder as informaçõesreferentes ao Requerimento nº 444, de 1999, doSenador Osmar Dias, por envolverem matériaprotegida pelo sigilo bancário.

Os esclarecimentos foramencaminhados, em cópia, ao requerente.

O requerimento vai ao Arquivo.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – O Expediente lido vai à publicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Esgotou-se ontem o prazo previsto noart. 91, § 3º, do Regimento Interno, sem que tenhasido interposto recurso, no sentido da apreciação,pelo Plenário, das seguintes matérias:

– Projeto de Resolução nº 102, de 1999, quesuspende a execução da expressão “vedado oaproveitamento do valor do imposto relativo àaquisição da mesma”, constante da parte final daalínea b do inciso III do art. 22 do Decreto nº 24.224,de 28 de dezembro de 1984, do Estado de MinasGerais, com a redação conferida pelo Decreto nº29.273, de 14 de março de 1989;

– Projeto de Resolução nº 103, de 1999, quesuspende, em parte, a execução da Lei nº 2.677, de1983, com a redação dada pela Lei nº 3.083, de 1987,do Município de Jundiaí, Estado de São Paulo;

– Projeto de Resolução nº 104, de 1999, quesuspende a execução do art. 24 da Lei Municipal nº3.563, de 16 de dezembro de 1988, do Município deVitória – ES;

– Projeto de Resolução nº 105, de 1999, quesuspende a execução do art. 1º da Lei nº 4.759, de 22de novembro de 1990, do Município de São José doRio Preto; Estado de São Paulo;

– Projeto de Resolução nº 106, de 1999, quesuspende a execução do art. 7º, “caput” e parágrafoúnico, da Resolução nº 70, de 24 de novembro de1994, da Câmara dos Deputados; e

– Projeto de Resolução nº 107, de 1999, quesuspende a execução dos incisos II e III do art. 1º daLei Federal nº 8.033, de 12 de abril de 1990.

Tendo sido aprovadas terminativamente pelaComissão de Constituição, Justiça e Cidadania, asmatérias vão à promulgação.

Será feita a devida comunicação ao SupremoTribunal Federal.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Esgotou-se ontem o prazo previsto noart. 91, § 3º, do Regimento Interno, sem que tenhasido interposto recurso, no sentido da apreciação,pelo Plenário, das seguintes matérias:

– Projeto de Lei do Senado nº 415, de 1999, deautoria do Senador Lúcio Alcântara, que institui o DiaNacional da Doação de Órgãos; e

– Projeto de Lei do Senado nº 480, de 1999, deautoria do Senador Luiz Estevão, que faculta oacesso gratuito de idosos a Parques Nacionais, e dáoutras providências.

Tendo sido aprovadas terminativamente pelaComissão de Assuntos Sociais, as matérias vão àCâmara dos Deputados.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – A Presidência recebeu, da ComissãoParlamentar conjunta do Mercosul, relatório sobre oProjeto de Decreto Legislativo nº 15, de 1999 (nº718/98, na Câmara dos Deputados), que aprova otexto do Protocolo de Assistência Jurídica Mútua emAssuntos Penais, concluído em São Luiz, RepúblicaArgentina, em 25 de junho de 1996.

A matéria vai à Comissão de RelaçõesExteriores e Defesa Nacional, onde, nos termos doart. 376, III, do Regimento Interno, terá, o prazo decinco dias úteis para recebimento de emendas,findo o qual a referida Comissão terá quinze diasúteis, prorrogáveis por igual período, para opinarsobre a proposição.

É o seguinte o relatório recebido:

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 239

240 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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242 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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244 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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246 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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248 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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254 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

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OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 267

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – O projeto lido será publicado e remetidoà Comissão competente.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Passa-se à

ORDEM DO DIA

Item 1:

PROPOSTA DE EMENDA ÀCONSTITUIÇÃO Nº 65, DE 99

(Votação nominal)

Terceiro e último dia de discussão, emsegundo turno, da Proposta de Emenda àConstituição nº 65, de 1999, de autoria doSenador Jefferson Péres e outros senhoresSenadores, que altera a redação do § 3º doart. 58 da Constituição Federal paraacrescentar poderes às ComissõesParlamentares de Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, daComissão de Constituição, Justiça eCidadania, Relator: Senador Amir Lando,oferecendo a Redação do Substitutivoaprovado em primeiro turno.

Em discussão. (Pausa.)O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) Peço a

palavra para discutir, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador Pedro Simon.O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS. Para

discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, faço questão de falar, para salientara importância da aprovação deste projeto.

Penso que o Congresso Nacional viveumomentos de interrogação, quando decisões queforam tomadas pelo Judiciário praticamenteparalisaram as comissões parlamentares deinquérito. Àquela época, chamei a atenção da Casano sentido de que não estava em jogo apenas a CPIdo Sistema Financeiro, mas o futuro da CPI.

Tenho muito respeito pelas CPIs, Sr. Presidente.Um grande amigo, Deputado Odacir Klein, escreveuuma obra sobre essa questão e me alertouprincipalmente quanto às CPIs em câmaras devereadores ou em algumas assembléias legislativas.Essas, muitas vezes, são levadas por questão menosde princípio e mais de conteúdo pessoal, de antipatiaou simpatia, mexendo com a dignidade, abrindo ascontas ou coisa que o valha. Essa argumentação deOdacir Klein, por quem tenho a maior admiração erespeito, é importante, mas o que estava em jogo

aqui, neste momento, era o destino da CPI doCongresso Nacional. Se não podemos abrir ascontas, quebrar o sigilo bancário ou postal, se nãopodemos determinar a apreensão de documentos,não há razão para a realização de uma CPI, queacaba por transformar-se numa delegacia de polícia.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a meuver, esse projeto de lei não era muito necessário.Entendo que a Constituição é clara e transparente, ediz que a comissão parlamentar de inquérito daCâmara, do Senado ou do Congresso Nacional ficainvestida dos poderes de investigação do Judiciário.Quer dizer, passamos a ter a atribuição de investigar,que é própria do Judiciário. Essa é a grandecaracterística da CPI. A investigação é um dospoderes do Judiciário, é o primeiro deles. Mas, paradesempenhar o seu papel, o Judiciário tem outrosdois poderes fundamentais. Um é a denúncia, que éfeita pelo promotor ou pelo procurador – e alguém sópode ser processado se for denunciado. O CongressoNacional pode cassar o mandato do Presidente, podecassar o mandato do parlamentar, mas não podedenunciar ninguém – isso é claro na Constituição. Oprocesso vai para o Juiz, que o envia ao promotor ouao procurador para apresentar, ou não, a denúncia.

Não podemos condenar ninguém, porque acondenação é própria do Juiz ou dos tribunais. Porisso, muita gente cobra da CPI, dizendo que “essaCPI é uma demagogia. Fazem um carnaval, hámanchetes de jornal, os parlamentares gritam,berram, fazem muitas coisas, e não acontece nada.Até cassam um Presidente, mas ele não vai para acadeia, não se pega o dinheiro dele de volta. Atécassam parlamentares, mas eles continuam por aí”.Houve um que ganhou 250 loterias com o apoio doDeus, dizendo que Jesus lhe dava os números, e nãoaconteceu nada!

A CPI dos Precatórios, com o bravo SenadorRoberto Requião, apresentou inúmeras provas. Hánomes e provas em relação a bancos, – como oBradesco, por exemplo –, prefeito, governador e asmais variadas autoridades. É só o que podemos fazer.Se fossem deputados, poderíamos cassá-los, masnão eram. Não podemos cassar prefeitos, nemgovernadores; não podemos mandar para a cadeiapresidente de banco. Podemos apenas ultimar asconclusões da CPI e mandá-las para a procuradoria.Podem, entretanto, ficar na gaveta da procuradoria oudo tribunal.

Na verdade, a imprensa está constantementeem cima do trabalho e da movimentação das CPI´s,noticiando-os e colocando-os em capa de jornal.Muitos acham que nós fazemos CPI´s para aparecer no

268 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

jornal, e muitos acham que esse é o mal da CPI,porque suas apurações aparecem nas manchetes e,depois, nada acontece. Entretanto, ocorreexatamente o contrário: a CPI é uma demonstração edeve ter continuidade, para que realmente os fatosapurados ali sejam executados. Ou o cidadão éabsolvido e tem perdão público da sociedade, ou eleé condenado, devolve o dinheiro e vai para a cadeia.A CPI incomoda alguns procuradores, juízes e atéministros. Querer imaginar que a solução é cortar ospoderes da CPI significa pôr a corrupção debaixo dotapete. “Vamos parar de apurar! Vamos esquecerisso! Vamos deixar que as coisas continuem assim!Para que investigar?!”

O Senador Ramez Tebet apresentou umaproposta que, já aprovada aqui, foi encaminhada àCâmara dos Deputados. Esta é uma decisãoimportante: conclusão de CPI não pode ficar nagaveta de, promotor, procurador, Juiz, ou tribunal.Esses podem ter 500 mil processos, mas não podempôr as conclusões da CPI no final da fila, em segundoplano, ou na gaveta. Eles têm de manifestar-se arespeito delas! Podem pedir o arquivamento,alegando ser ridículo, ou dizendo que a CPI nãodispõe de prova alguma e que fez um montão debobagens. Podem fazê-lo ou, então, apresentardenúncia. Não podem simplesmente deixar deanalisar as conclusões de uma comissão parlamentarde inquérito, porque isso causa o mal da sociedade. ACPI dos Anões do Orçamento, por exemplo, foimanchete de todos os jornais. Fizeram uma série decoisas, e não aconteceu nada. Os envolvidos nãoforam nem denunciados. Isso não pode continuar.

O projeto do Senador Ramez Tebet, aprovadonesta Casa, tem de ser aprovado também na Câmarados Deputados para transformar-se em realidade.Conclusões de CPI não podem ficar na gaveta, nemno fim da fila.

Chegamos a uma conclusão feliz, Sr.Presidente. O projeto que vamos apreciar emsegundo turno deixa clara a matéria. Repito: paramim, já estava na Constituição, mas o que abundanão prejudica. Vamos votar, vamos esclarecer.

Justiça seja feita: o Supremo já aceitou essainterpretação e reconhece a necessidade deexplicações para que se autorize a quebra do sigilo deum indivíduo. Claro que sim! Como vamos abrir ascontas, quebrar o sigilo bancário, fiscal ou postal deum cidadão sem dizer por quê?

Aliás, na Comissão, deve ter ocorrido umequívoco de redação por parte do secretário. OPresidente há de concordar que, no momento dadecisão, a explicação foi completa, ou seja, iríamosabrir as contas e quebrar o sigilo por causa disso,

disso e daquilo, com provas à saciedade. Nuncahouve na Comissão decisão de abrir as contas dequem quer que seja sem a devida fundamentação,como parece terem afirmado. Não é verdade. Houveum debate, quem pedia a abertura dava a explicação,e o Presidente pedia mais explicações. Depois, avotação era feita caso a caso. Então, o SupremoTribunal Federal está absolutamente correto ao exigirdetalhadas explicações.

O Sr. Bello Parga (PFL – MA) – Permite V. Exªum aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) – Com omaior prazer, Senador Bello Parga.

O Sr. Bello Parga (PFL – MA) – Senador PedroSimon, queria acrescentar ao que V. Exª acabou dedizer que não podemos atribuir culpa à Secretaria daComissão. Trata-se de um corpo de funcionáriosdedicado, competente e eficiente. Não cabe aosfuncionários fazer a fundamentação derequerimentos de Senadores. O Senador, quandoestá convicto de que aquela medida é realmentenecessária para a apuração, para a investigação emcurso a cargo da CPI, deve fazer um requerimentofundamentando judiciosamente, ampla ejudiciosamente. Isso, infelizmente, Excelência, nãoocorreu. Em virtude disso é que o Supremo proferiuaquelas decisões, inicialmente em liminares e depoisdefinitivamente, negando essa quebra de direitospessoais. Se efetivamente houvesse um cuidadomaior na fundamentação dos requerimentos, comoocorreu, como bem foi citado na obra do DeputadoOdacir Klein, isso não teria acontecido.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS) –Felizmente essa questão está devidamenteesclarecida e nessa parte, repito, o Tribunal estácorreto.

Ao tentar romper os sigilos fiscal, bancário,telefônico ou postal de qualquer cidadão, temos que daras devidas explicações, amplas explicações. E não sódar amplas explicações: o respectivo requerimentodeve ser submetido à votação. Os membros daComissão têm que apreciar esse requerimento e ele sóserá aprovado pelo voto da maioria dos membrospresentes.

Este momento é muito importante, Sr.Presidente, porque estávamos às vésperas dodesmoronamento de um dos institutos maisimportantes da nossa Constituição, que é a ComissãoParlamentar de Inquérito. Com a decisão que oSupremo tomou – méritos ao Supremo – e com adecisão que, na dúvida, para evitar futuras novasinterpretações, nós estamos tomando agora –esclarecendo o que está na Constituição -, acho quedefinimos a sorte das comissões parlamentares deinquérito.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 269

Comissões parlamentares de inquérito nãodevem ser instauradas a todo momento, não devemtratar de um exagero de casos, mas de casosexcepcionais. No entanto, como no Brasil a Justiça élenta e demorada, a CPI vem para preencher essevazio. Que bom será o dia em que não houvernecessidade de CPI! Que bom será o dia em que,apresentada uma denúncia em manchete de jornal ouna televisão ou no rádio, invocando a honra,denunciando um Ministro ou um Senador, algoaconteça. E que o direito de resposta sejaassegurado. O Procurador tem a obrigação deapresentar denúncia se for verdade ou de tomarprovidências se não for verdade. Temos quecomemorar o dia em que isso acontecer, o dia em queeste País deixará de ser o país da impunidade, ondepara a cadeia só se manda ladrão de galinha e onde oescândalo de hoje nos faz esquecer o de ontem ecom o escândalo de hoje nós não nos preocupamosmuito, porque o futuro faz com que ele sejaesquecido. Enquanto isso não acontecer, temos quepreservar o que existe de mais importante neste Paísem termos de apuração de denúncias a respeitodaquilo que é cometido contra a lei e contra asociedade: a comissão parlamentar de inquérito.

É um grande projeto, uma grande decisão, umagrande solução que merece o apreço de todos nós.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) –

Sr. Presidente, peço a palavra para discutir.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra, ainda para discutir, oSenador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP.Para discutir. Sem revisão do orador.) – Trata-se dediscussão e votação, em segundo turno, de propostade emenda constitucional que tem como primeirosignatário o Senador Jefferson Péres. A matéria,conforme o Senador Pedro Simon salientou, já é deamplo conhecimento. Incidentalmente, o SupremoTribunal Federal obstaculizou a ação das CPIs ora emcurso no Senado Federal – tanto a do SistemaFinanceiro como a do Judiciário -, quer quanto àobrigação de o depoente prestar compromisso dedizer a verdade, quer quanto à adoção de medidasassecuratórias relativas a impedimento detransferência de domínio de bens de investigados. Hápoucos dias, a Suprema Corte reconheceu que,dentre os poderes judiciais atribuíveis às CPIs,arrolam-se as prerrogativas de quebra de sigilobancário, fiscal e telefônico, desde que justificadas asdecisões nesse sentido.

A questão diz respeito ao entendimento do quedispõe o §3º do art. 58 da Constituição Federal. Para

imprimir maior clareza ao texto constitucional, aproposição original busca explicitar esses poderes –quebra de sigilo bancário, quebra de sigilo fiscal,quebra de sigilo telefônico – como inerentes aosparlamentares integrantes de CPIs.

Na CCJ, o relator da matéria, Senador RamezTebet, ofereceu emenda substitutiva, que elencaminuciosamente os pretendidos poderes: promoçãode buscas e apreensões; quebra de sigilo bancário,fiscal e telefônico; requisição de documentos einformações e oitiva de testemunhas e indiciados,inclusive qualquer integrante dos Poderes daRepública. Mantém-se a atual prerrogativa deencaminhamento das conclusões ao MinistérioPúblico para, se for o caso, promover a apuração daresponsabilidade civil ou criminal de infratores.

Não obstante os louváveis propósitos, é precisoconsiderar que o Supremo Tribunal Federal poderáconsiderar inconstitucional a prerrogativa depromoção de buscas e apreensões – pelas razõesque vamos expor -, bem como a convocação deintegrantes dos demais poderes para prestardepoimentos (em razão do sistema de partilha depoderes – checks and balances -, referido no art. 2ºda CF).

Importa observar que o Código de ProcessoPenal distingue o procedimento de busca eapreensão (art. 240 e seguintes) das chamadasmedidas assecuratórias – seqüestro de bens móveise imóveis (art. 125 e seguintes). As primeiras teriampor escopo a instrução do processo (produção deprovas), enquanto que as medidas assecuratóriasteriam por objetivo assegurar a devida reparação aoofendido (particular ou poder público). Entretanto omesmo Código de Processo Penal (art. 132) dispõeque, existindo indícios veementes da proveniência ilícitados bens, o seqüestro de bens móveis será levado àefeito “se não for cabível a medida regulada noCapítulo XI do Título VII deste Livro”, isto é, oprocedimento de busca e apreensão. A confusão quepode gerar conflito entre o Poder Judiciário e o CongressoNacional é o fato de ser a produção de prova no processopenal função judicial indelegável que integra aprerrogativa institucional de exercício da jurisdição. Jáas medidas assecuratórias merecem compreensãomais extensiva, sendo razoável, em nome dointeresse público, aceitar que as CPIs possamadotá-las. O problema está na interpretaçãosistemática imposta pelo próprio Código de ProcessoPenal em seu art. 132.

Feitas essas considerações e tendo em vista orelevante interesse público e a importância doinstituto da CPI para o regime democrático, nósrecomendamosaaprovaçãodamatéria,nos termos da Emen-

270 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

da Substitutiva nº 1, da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, já aprovada em primeiro turno.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE(Antonio Carlos

Magalhães) – Continua em discussão. (Pausa.)Não havendo quem peça a palavra, encerro a

discussãoEncerrada a discussão, a votação fica

transferida para a próxima terça-feira.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Item 2:

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVONº 226, DE 1999

(Em regime de urgência, nos termos do art. 353,parágrafo único, do Regimento Interno)

Discussão, em turno único, do Projetode Decreto Legislativo nº 226, de 1999(apresentado pela Comissão de AssuntosEconômicos como conclusão de seuParecer nº 832, de 1999, Relator: SenadorLuiz Otávio), que aprova a “ProgramaçãoMonetária relativa ao quarto trimestre de1999.”

À matéria poderão ser oferecidasemendas até o encerramento da discussão.

Discussão do projeto em turno único. (Pausa.)Não havendo quem peça a palavra, encerro a

discussão.Em votação.As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovado.A matéria vai à Comissão Diretora para a

redação final.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Sobre a mesa, parecer da ComissãoDiretora, oferecendo a redação final, que será lido peloSr. 1º Secretário em exercício, Senador CarlosPatrocínio.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 833, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final do Projeto de DecretoLegislativo nº 226, de 1999.

A Comissão Diretora apresenta a redação finaldo Projeto de Decreto Legislativo nº 226, de 1999,que aprova a Programação Monetária relativa aoquarto trimestre de 1999.

Sala de Reuniões da Comissão, 21 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente –

Carlos Patrocínio , Relator – Nabor Júnior –Eduardo Suplicy.

ANEXO AO PARECER Nº 833, DE 1999

Aprova a Programação Monetáriarelativa ao quarto trimestre de 1999.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º É aprovada a Programação Monetária

relativa ao quarto trimestre de 1999, com estimativasdas faixas de variação dos principais agregadosmonetários, nos termos da Mensagem nº 184, de1999 (nº 1.425, de 1999, na origem).

Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor nadata de sua publicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Em discussão a redação final. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.As Srªs e os Srs. Senadores que a aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada.A matéria vai à Câmara dos Deputados.O SR PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Item 3:

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVONº 69, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projetode Decreto Legislativo nº 69, de 1999 (nº651/98, na Câmara dos Deputados), queaprova o ato que renova a concessão daRádio Cultura de Arapongas Ltda. paraexplorar serviço de radiodifusão sonora emonda média na cidade de Arapongas,Estado do Paraná, tendo

Parecer favorável, sob nº 401, de1999, da Comissão de Educação, Relator:Senador Álvaro Dias.

Em discussão o projeto em turno único.Não havendo quem peça a palavra, encerro a

discussão.Em votação.As Srªs. e os Srs. Senadores que o aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovado, com as abstenções da Sra. Senadora

Heloisa Helena, e dos Srs. Senadores Geraldo Cândido,Eduardo Suplicy e Roberto Saturnino.

A matéria vai à Comissão Diretora para a redaçãofinal.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães)– Sobre a mesa , parecer da Comissão Direto-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 271

ra, oferecendo a redação final, que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador CarlosPatrocínio.

É lido o seguinte:

PARECER Nº 834, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação final do Projeto de DecretoLegislativo nº 69, de 1999 (nº 651, de1998, na Câmara dos Deputados).

A Comissão Diretora apresenta a redação finaldo Projeto de Decreto Legislativo nº 69, de 1999 (nº651, de 1998, na Câmara dos Deputados), queaprova o ato que renova a concessão da RádioCultura de Arapongas Ltda. para explorar serviço deradiodifusão sonora em onda média na cidade deArapongas, Estado do Paraná.

Sala de Reuniões da Comissão, 21 de outubrode 1999. – Antonio Carlos Magalhães, Presidente –Nabor Júnior, Relator – Carlos Patrocínio –Eduardo Suplicy.

ANEXO AO PARECER Nº 834, DE 1999

Faço saber que o Congresso Nacional aprovou,e eu, , Presidente do Senado Federal, nos termosdo art. 48, item 28, do Regimento Interno, promulgo oseguinte

DECRETO LEGISLATIVO Nº , DE 1999

Aprova o ato que renova aconcessão da “Rádio Cultura deArapongas Ltda.” para explorar serviçode radiodifusão sonora em onda médiana cidade de Arapongas, Estado doParaná.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º É aprovado o ato a que se refere o

Decreto s/nº, de 12 de maio de 1997, que renova aconcessão da “Rádio Cultura de Arapongas Ltda.”para explorar, pelo prazo de dez anos, a partir de 1ºde maio de 1994, sem direito de exclusividade,serviço de radiodifusão sonora em onda média nacidade de Arapongas, Estado do Paraná.

Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor nadata de sua publicação.

O SR. PRESIDENTE(Antonio CarlosMagalhães) – Em discussão a redação final. (Pausa.)

Não havendo quem peça a palavra, encerro adiscussão.

Em votação.As Srªs. e os Srs. Senadores que a aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada.

O projeto vai à promulgação.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Item 4:

PROJETO DE LEI DO SENADONº 180, DE 1999

(Incluído em Ordem do Dia, nostermos do Recurso nº 19, de 1999)

Discussão, em turno único, do Projetode Lei do Senado nº 180, de 1999, deautoria do Senador José Agripino, quealtera a redação dos arts. 41 e 48 da Lei9.096, de 1995, e do § 1º do art. 47 da Leinº 9.504, de 1997, revoga o art. 57 da Lei9.096, de 1995, e dá outras providências, afim de vedar o acesso aos recursos dofundo partidário e ao tempo de rádio etelevisão aos partidos que não tenhamcaráter nacional, tendo

Parecer sob nº 600, de 1999, daComissão de Constituição, Justiça eCidadania, Relator: Senador Edison Lobão,favorável, nos termos da Emenda nº 1-CCJ(Substitutivo), que oferece, com votoscontrários do Senador Roberto Freire e, emseparado, dos Senadores Antônio CarlosValadares e José Eduardo Dutra.

Não foram apresentadas emendas.Em discussão. (Pausa.)Concedo a palavra ao Senador Roberto Freire.O SR. ROBERTO FREIRE (PPS – PE. Para

discutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, este é um dos itens da propaladareforma política intentada fundamentalmente peloPSDB e pelo PFL, contando, no final da suatramitação, também com o apoio da liderança doPMDB. No Senado – e foi reduzida ao Senado adiscussão do tema, até porque a Câmara, em boahora, paralisou toda e qualquer tentativa de se fazeressa reforma – esse tema gerou grande debate.

É claro que o País como um todo clama peloaprimoramento das instituições políticas. É evidenteque não temos, por falta de continuidadedemocrática, instituições republicanas muitoconsolidadas, dentre elas o partido político. Só que avisão autoritária, muito presente na sociedadebrasileira, imagina que vai resolver esse problema porlei, e a história nos ensina que isso não é verdadeiro.O Brasil cria e extingue partidos como se fossem umainstituição estatal, a vontade da maioria.

Por isso mesmo, em toda e qualquer rupturainstitucional, a primeira coisa que acontece émudança nos partidos, por lei, por decreto.Podemos pegar

272 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

outros exemplos, em países próximos, na AméricaLatina, e comparar. Vamos lembrar o golpe de 64 –uma ditadura meio atípica no mundo, pois permitiapráticas democráticas; sob controle, limitadas, mascom Congresso aberto –, que extinguiu os partidosdemocráticos e criou outros dois partidos. Argentina,Chile e Uruguai, que, na mesma época, formaram otriste Cone Sul da América Latina, foram entregues aditaduras militares. Implanta-se a ditadura noUruguai, no Chile e na Argentina; fecham-secongressos e colocam-se na ilegalidade e naclandestinidade todos os partidos, mas não se crianenhum outro, porque os partidos são enraizados ecom inserção na sociedade; não são criação doEstado, de uma política, de uma maioria eventual noParlamento.

No Brasil, essa prática se mantém. A ditadurafez reformas. E uma reforma foi feita aquiimaginando-se poder definir quantos partidos devehaver, como se isso não fosse um direito dacidadania, e sim exigência de um Estado ou de umamaioria eventualmente no Governo.

A reforma pretendida tinha alguns pontosdemocráticos, pois aprimorava instituições, dentreelas, a primeira, o financiamento público dacampanha. No entanto, aquilo que era democrático,até a discussão democrática do sistema eleitoral –mecanismo pelo qual se dá a representação políticaem função do voto da cidadania –, se majoritário, seproporcional, enfim, as questões que propunham oaprimoramento não tiveram continuidade. Talvezservissem apenas para emoldurar o debate, como sedemocrático fosse. No fundo, o que pretendiam com areforma – e este projeto é um exemplo disso – eralimitar, restringir, engessar, manter, portanto, a visãoautoritária de que o partido político ou a política sãocoisas do Estado.

Quero defender a tese de que é coisa dacidadania, até porque os partidos políticos existempara conformar o Estado ou mudá-lo, e não podemser por ele tutelados.

Essa é a mentalidade brasileira, e, infelizmente,ela está presente em setores democráticos.Discutem-se mudanças de partido, a lei de fidelidadepartidária. E logo aparece uma questão: a fidelidadepartidária por lei não existe em nenhum paísdemocrático do mundo; a única experiênciaconhecida é a que não é democrática, a da ditaduramilitar. Se a fidelidade fortalecesse os partidos, aArena, que durante um certo tempo foi o maior partidodo Ocidente, conforme disse o Senador FrancelinoPereira – e o Senador fica me olhando, pois sempreutilizo esse exemplo, mas não em demérito da pessoa

e sim do momento em que se vivia –, ter-se-iafortalecido e continuado a existir. Mas a história nosmostrou e a Arena acabou antes até da ditadura quea sustentava.

No primeiro confronto democrático, que foi oColégio Eleitoral, a fidelidade partidária esboroou-se.Por quê? Porque a vida foi mais forte do que qualquerdas instituições tutelares. Se não temos essacompreensão, não vamos aprimorar a democracia noBrasil. Um partido político se consolida com a práticademocrática, consolida-se na sociedade, não pordefinição legal. Se isso é verdadeiro, os projetos quetramitaram e que foram aprovados na Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, tendo o primeirodeles vindo aqui para ser votado, não representamreforma, e sim uma tentativa de restauração daslimitações para impedir que a democracia no Brasil seaprofunde.

O partido tem que ser livre, porque o direito dacidadania tem que ser resguardado. Não vamosaprimorar coisa alguma imaginando, por exemplo,que para a eleição do ano de 2000 já se tenhadefinido, com um ano de antecedência, quais serãoos atores. Pouco importa o que acontecerá durantetodo este ano nos seis mil municípios brasileiros:movimentos sociais, emergência de lideranças, tudoisso está impedido, porque um ano antes já estádecidido quem poderá do processo participar comorecebedor de votos, da confiança popular.

Que democracia é essa? E, pior, um dosprojetos em tramitação propõe o aumento desseprazo para quatro anos. Aprovado isso, estar-se-ádecidindo desde agora quais são aqueles quepoderão participar, em 2002, da eleição presidencial.Pouco importa o que aconteça no País. Essa é umavisão autoritária e, mais grave, de reserva demercado dos que estão hoje na política: para impedira emergência da cidadania, tutelá-la, limitá-la.Nenhum país democrático, que aprofunda e aprimoraa democracia, tem leis como essas.

Sobre domicílio eleitoral há hoje uma discussãoridícula em São Paulo: se o Sr. Fernando Collor temdomicílio ou não. No Senado, temos o exemplo doSenador pelo Amapá, José Sarney, homem doMaranhão que precisou criar uma ficção política poisuma lei quis limitar-lhe o direito de cidadania. Antesde 64, Leonel Brizola, que era Governador do RioGrande do Sul, foi se eleger, no Estado daGuanabara, o Senador mais votado da história destePaís, porque o povo da Guanabara assim o quis. Hojeisso é impossível, porque uma lei impede que o povopossa ter a mais plena e livre escolha.

E isso não surgiu por acaso. Surgiu na época daditadura, em 64, quando se quis impedir a candidatu-

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ra do Marechal Henrique Teixeira Lott, criando essecasuísmo. Surge pela primeira vez o termo“casuísmo”, que dizia que o candidato tinha que terdomicílio eleitoral. E ele não tinha domicílio naGuanabara, mas em Petrópolis, no Estado do Rio deJaneiro. De casuísmo em casuísmo, criaram-sedeterminadas instituições que hoje, mesmo tendosido superado o regime ditatorial, democratas aquipresentes querem restaurar. Não são reformadores;são restauradores.

Esse projeto é uma tentativa de limitar osurgimento do novo e vem com a idéia de limitar otempo na televisão e o acesso ao fundo partidário,para manter as estruturas dominantes. Como se issofosse possível! A Arena que o diga! E o próprioPMDB, que ainda se mantém grande, masevidentemente está em estado terminal, porque nãotem projetos para o País, apesar de possuir figurasque tentam fazer do partido um projeto nacional.

A discussão que nós intentamos foi muitasvezes confundida: “O Senador Roberto Freire estáquerendo defender o seu pequeno Partido.” Algunsvinham até com uma benesse: “Vamos garantir ospartidos históricos e ideológicos.” Eu não preciso degarantia alguma. Não é a lei que vai garantir a minhaexistência. A lei tentou extinguir-me, até mesmofisicamente, durante muito tempo, e não conseguiu. OPartido Comunista foi sempre perseguido, com leipara puni-lo, para extirpá-lo da vida política brasileira.E a lei não funcionou.

Quando eu defendo a plena liberdadedemocrática neste País, não estou querendo garantiade ninguém. Quem vai dar isso é o povo, que faz queum partido nasça ou possa morrer. Não é a lei.

Não vamos construir democracia neste País senão entendermos a vertente que existe no mundo, deampliação, de quebra inclusive de monopólio de arepresentação política, na democraciarepresentativa, fazer-se pelo partido. Ela já se faz poragrupamentos sociais. A França é um exemplo: láfaz-se até com a candidatura individual, avulsa, o queé um aprimoramento democrático. Amplia-se, para aemergência da sociedade civil, a forma derepresentar politicamente. Aqui, não somentequeremos manter o que a vida está removendo, comoqueremos retornar a processos ainda mais restritivos.

E hoje posso dizer com tranqüilidade – atéporque não vamos nos preocupar com barreiras –que a vida nos superou e não somos mais pequenosnem nanicos. O nosso Partido cresce e constitui-seem alternativa de poder no Brasil.

Portanto, não estou, em nome da história emuito menos do futuro, brigando contra o projeto, emdefesa de interesses do meu Partido. A sociedade já

nos deu o que precisávamos: respeito erepresentatividade. E pode nos dar inclusive o poder.Portanto, não serão leis como essa que vão impedir onosso crescimento.

Entretanto, essa proposta impede ocrescimento da afirmação e da participação dacidadania, dever de todo democrata, pois pretendelimitá-la para melhor controlá-la, para manter o statusquo, para impedir o surgimento do novo e, portanto,de uma sociedade mais justa, melhor, maisconsciente.

Se esse projeto significa, do ponto de vistapolítico, toda uma limitação, uma restauração, umretorno ao autoritarismo, ele também tem aquilo queimpede esta Casa de aprová-lo, independentementeda vontade de cada um: ele é inconstitucional. Oprojeto tenta retroagir para ferir direitos adquiridospelos partidos nas eleições – a cidadania lhesgarantiu representação parlamentar -, como o acessoao fundo partidário e à televisão, com as limitações domomento eleitoral de 1998. Querer retirar essesdireitos fazendo retroagir a lei, evidentemente é algoque infringe o texto constitucional. O projeto poderávaler para futura eleição, com todas as suaslimitações, contra todo o argumento político por mimutilizado, se a maioria assim o desejar. Mas nãopoderá retroagir.

O projeto é inconstitucional e, por isso, deve serrejeitado.

O meu voto é contrário, assim como o do PPS.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador JoséAgripino.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL – RN. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, é do conhecimento de todos quepor esta Casa tramitam projetos os mais variados.Alguns deles com especificidades técnicas que nemtodos dominam, e os votos são conduzidos pelo bomsenso dos Parlamentares, pelo estudo aprofundadoque cada um faz da matéria, e muitas vezes até pelaorientação de Líderes.

Não é o caso desta matéria. Tratamos de umtema eminentemente político. E nós, que somosSenadores, temos o dever de ser experts políticos.Esta é a nossa atividade. E o que me move aapresentar a proposta ora em votação é o desejo quetenho de ver aperfeiçoado o processo democráticobrasileiro.

Entendo como pedra de toque do aperfeiçoamentoda democracia brasileira o fortalecimento dos partidos,que precisam ter nitidez na sua formulação programáticae a identidade e o compromisso daqueles que osintegram, que estejam neles porque assim o desejam,porque com eles estão comprometidos.

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O projeto de lei que apresentei e que defendo, epara o qual peço o voto das Srªs Senadoras e dos Srs.Senadores, não é novidade alguma, até porque, nasua essência, ele se refere à Lei nº 9.096, de 1995.Desejo antecipar a vigência do que a Lei nº 9.096estabelece para o ano 2010 para logo após aaprovação e promulgação deste projeto. E a minhaproposta faz parte de um conjunto de projetos quesão instrumentos de aperfeiçoamento do processopolítico pela consolidação dos partidos.

Esta Casa votou e aprovou, há pouco tempo, aproibição de existência de coligações nas eleiçõesproporcionais, determinando àqueles que se filiamaos partidos políticos que o façam sabendo que serãocandidatos pela sigla à qual pertencem, que serãoeleitos para ficar naquele partido político.

Há um outro projeto, da maior importância, queé o da fidelidade partidária, e um outro – talvez o maisimportante –, que é o do financiamento público dacampanha, que também defendo.

Se uma reforma política de profundidade aindanão foi operada, entendo que este projeto, que chamode cláusula de desempenho, aliado ao já aprovado,de proibição de coligação em eleições proporcionais,e mais o da fidelidade partidária e o de financiamentopúblico da campanha darão aos partidos políticos, noBrasil, aos seus integrantes, nitidez diante da opiniãopública e do eleitorado e condições para que partidopequeno, médio ou grande dispute a eleição pelaqualidade de suas idéias e pela densidade dos seuslíderes.

Não pretendemos – e quero-me referir àscolocações feitas pelo Senador Roberto Freire, cujaopinião respeito; somos todos experts políticos, mascada qual tem o direito de ter o seu própriopensamento, até à luz da própria história – extinguirnenhum partido político. O projeto pretende identificaro partido político como de caráter nacional ou não; seele tem o direito ou não de ter representação naCâmara dos Deputados e no Senado Federal, comlideranças. O partido político pode existir em qualquercircunstância e o parlamentar eleito por ele podeexercer o seu mandato sem problema algum. Não sepretende, portanto, por hipótese alguma, a extinçãode partido político. O que se pretende, sim, é dar aoeleitor a oportunidade de votar em quem deseja efazer forte o partido que deseja.

Não se pretende tutelar ninguém, mas sim darao cidadão e ao eleitor o direito de votar no partido eno candidato com os quais ele, eleitor, se identifique,pela oportunidade do fundo partidário que não énegado a ninguém e pela oportunidade do tempo de

rádio e televisão, que também não é negado aninguém.

O Sr. Roberto Freire (Bloco/PPS – PE) – Claroque é.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL – RN) – Porhipótese alguma.

O Sr. Roberto Freire (Bloco/PPS – PE) – V. Exªme permite um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL – RN) – Comprazer, ouço V. Exª

O Sr. Roberto Freire (Bloco/PPS – PE) –Esqueci-me de falar de uma outrainconstitucionalidade: aqui se pretende cassar tempode televisão para quem não pertencer ao chamado“partido nacional”. O Supremo Tribunal já derrubouuma tentativa do Congresso, e é bom que todostenham em mente isso, com relação ao candidato aPresidente da República Enéas. Pelo fato de ele nãoter representação no Parlamento, queriam lhe negaro tempo de televisão como candidato a Presidente daRepública, que é o que se pretende agora. Não sequer extinguir partido – até porque seria umaviolência, o que a ditadura fez, portanto, não será umademocracia que vai fazer -, mas quer se matar porinanição: não tendo acesso à televisão, não temacesso ao fundo partidário. É evidente que, se tirarinstrumentos de atuação política junto à sociedade,está-se querendo extinguir o partido. É outrocaminho, é um caminho mais suave, é um pouco deeutanásia, pode até pensar que são democratas ouhumanitários mas, na prática, são exterminadores.Esse projeto é isso.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL – RN) – Pediria aoSenador Roberto Freire uma leitura mais atenta aoprojeto que foi aperfeiçoado, é verdade, ao longo dodebate do qual participou V. Exª na Comissão deConstituição e Justiça e Cidadania. O projeto foiaperfeiçoado e no § 2º, do art. 47, da Lei nº 9.504/97,o texto aprovado passa a vigorar com a redação:

“§ 2º Os horários reservados àpropaganda de cada eleição, nos termos doparágrafo anterior, serão distribuídos entretodos os partidos que tenham candidato, daseguinte forma:

I – um décimo, igualitariamente;II – nove décimos, proporcionalmente

ao número de representantes na Câmarados Deputados.”

Igualmente, se destina o fundo partidário atodos os partidos políticos. Esse foi um aperfeiçoamentoimportante que se introduziu à minha propos-

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ta como forma de evitar qualquer tipo decontestação quanto à sua constitucionalidade.

A proposta que está sendo votada nestemomento e que conta com o meu inteiro apoio, aquiestou para defendê-la, é o texto que acabo de ler, queé constitucional, que propõe o fortalecimento dospartidos políticos e dá a todos as mesmasoportunidades; se não as mesmas, as proporcionaisoportunidades.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, votamos,há pouco tempo, como disse, o projeto que proíbe acoligação de eleições proporcionais. Esse projeto delei, repito, pela identificação de procedimentos e peladata de vigência em que esses procedimentospassarão a vigorar com relação à definição de partidopolítico de caráter nacional e os direitos dos partidospolíticos de caráter nacional, tem o claríssimo intuitode fortalecer o processo democrático brasileiro semexcluir ninguém. Até porque, por aperfeiçoamento –que também foi introduzido para que não se acuse, nofuturo, o autor da proposta de penalizar os pequenospartidos políticos -, permite-se a federação departidos até como forma de respeitar e preservar ospartidos históricos que, na verdade, deram umacontribuição grande à evolução do processodemocrático brasileiro. Está introduzido ao texto doprojeto, que ora defendo, a possibilidade da formaçãode federação de pequenos partidos que podem sejuntar para, pela sua somação, se transformar empartidos políticos de caráter nacional. Cuidamos,portanto, com a preocupação de não excluir ninguém,mas de dar oportunidade aos partidos políticos quetenham líderes e idéias, de crescer pelo julgamentopopular.

Dito isso, peço a compreensão, o apoio e o votodos meus Pares, entendendo que dessa forma – eapresentando este projeto – estamos todoscontribuindo para o aperfeiçoamento do processodemocrático no Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador Álvaro Dias.O SR. ÁLVARO DIAS(PSDB – PR.Para discutir.

Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, recentemente, a Unesco realizoupesquisa junto a jovens do Estado do Rio de Janeiro,cuja constatação é dramática: 25% dos jovenspreferem o regime ditatorial, apenas 35% dos jovensoptam pelo regime democrático. Se somarmosaqueles que fazem opção pela ditadura com osindiferentes, chegaremos ao percentual expressivode 65%, que alegam que o sistema democráticotem-lhes conferido tão-somente falta de oportunidadede trabalho e de formação, criminalidade, violência,

desemprego. Essa é uma constatação que deve nosestarrecer. Sem dúvida, além de ser resultante doslamentáveis espetáculos de corrupção malresolvidos, com a prevalência da impunidade no País,esse estado de espírito, de desesperança e deverdadeira indignação nacional, no tocante àsinstituições públicas, aos partidos políticos e aospolíticos de maneira geral, é conseqüência de ummodelo condenado, denunciado a cada eleição pelaopinião pública, denunciado a cada pesquisarealizada junto à população brasileira e tem de seralterado, dando lugar a um modelo políticocompatível com a realidade deste País, capaz derestabelecer credibilidade nas instituiçõesdemocráticas nacionais.

Esse projeto é parte dessa manifestação devontade política em reformar o modelo vigente. Éevidente que não pode ser considerado de formaisolada, ele vem no bojo de um conjunto de propostasem discussão no Senado Federal, a meu ver, deforma ainda tímida. Precisamos ousar, agilizar, tornarmais eficiente esse processo de elaboraçãolegislativa, que possa conferir rapidamente, ao País, omodelo desejado. Essa proposta vem em função dadeterioração do processo partidário e,especialmente, do processo eleitoral no País; vem emfunção da corrupção no processo partidário e dessadesenfreada corrupção do processo eleitoralbrasileiro.

É evidente que não se acusa esse ou aquelepartido de mercenarismo, mas que há mercenarismohá; que existem partidos de aluguel, existem, e que,lamentavelmente, alguns espertalhões se reúnem econstituem comissões provisórias, registrando-as noTribunal Eleitoral para obterem acesso a recursos dofundo partidário e terem acesso também aos meiosde comunicação de massa, rádio ou televisão, não hádúvida de que isso é verdadeiro e que está presentena vida política do Brasil.

Aliás, essa invasão dos meios de comunicaçãopor partidos não autorizados pelo voto, partidos semlideranças, partidos sem eleitos, partidos sem votos,partidos sem povo, é um desrespeito flagrante àsociedade brasileira, que paga impostos e que vê osrecursos resultantes desses impostos seremdistribuídos entre partidos, na verdade, inexistentes.Há apenas siglas para registro de candidaturas, quetambém se tornam inexistentes, porque acabam nãoobtendo nem sequer apoio popular.

Esse processo inclusive de deterioração moralafasta pessoas extremamente qualificadas, queevitam o constrangimento que vivemos ao participarde uma atividade pública, extremamente desgastadaperante a opinião pública brasileira .Certamente , tería-

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mos maior qualificação na atividade que exercemos,se tivéssemos uma organização mais eficiente e ummodelo compatível com essas exigências dequalificação pertinentes à sociedade brasileira.

Não se pretende aqui cercear a organizaçãopartidária nem sequer dificultá-la. As facilidades deorganização partidária permanecem. É claro que oque se pretende é administrar o processo comorganização, estabelecendo exigências para que ospartidos se façam representar nos parlamentos epossam usufruir dos benefícios do fundo partidário e,futuramente, dos recursos do financiamento públicopara a campanha eleitoral – projeto já relatado pornós e em condições de ser votado na Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania.

Somos tremendamente desorganizados;estamos tremendamente desorganizados, e não háfuturo para uma nação desorganizada. A organizaçãoda nação começa pela organização política. Estamospreocupados em organizar politicamente o País paraque as demais reformas possam se consolidar, a fimde que o processo reformista tenha curso no Brasil comêxito e eficiência. Certamente, se já tivéssemosconcluído a reforma política no Brasil, as demaisreformas, hoje em debate, já teriam ocorrido com maioragilidade, eficiência e, naturalmente, com correção. Osmales que nos afligem atualmente, como conseqüênciado atraso nas reformas, com certeza não estariamoferecendo condições implacavelmente desumanas devida a milhares de brasileiros, se tivéssemos, comantecedência, adotado um modelo político quepossibilitasse a agilização das reformas com eficiênciano Brasil.

Essa reforma política tem que continuar, Sr.Presidente. Creio que a votação também deve serutilizada para o estímulo necessário, a fim de queesse debate prossiga na Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania. Dessa forma, o CongressoNacional poderá aprovar a matéria a tempo, antesdas eleições de 2002 – e olha que temos temposuficiente. Que esse modelo seja oferecido ao Paíspelo menos antes das eleições de 2002, para quepossamos iniciar uma nova etapa na vida públicabrasileira.

Não pretendo discutir a questão daconstitucionalidade desse projeto, já que a questãofoi amplamente discutida na Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania. Não há nada deinconstitucional na matéria ora em votação. Ela tratade regulamentar um dispositivo constitucional. Nãovem para afrontar a Constituição, mas, sim, pararegulamentar dispositivo constitucional; necessáriopara conferir organização ao processo eleitoral.

Não vamos construir democracia semorganização. Essa palavra é fundamental. Organizarpara democratizar.

Sr. Presidente, o voto, portanto, é favorável aessa proposta.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT –SE) – Sr. Presidente, peço a palavra para discutir amatéria.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães)– Com a palavra o Senador José Eduardo Dutra.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT –SE. Para discutir. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador ÁlvaroDias disse que esse projeto não pode ser analisadode forma isolada, a não ser à luz de um projeto globalde reforma política. Eu concordaria com o nobreSenador se eu não estivesse pensando em uma outrapergunta: por que esse projeto está sendo votadohoje, na frente de uma série de outros, quando, nadiscussão da reforma política na Comissão deReforma Política, que durou quatro anos nesta Casa,os outros projetos eram apresentados como muitomais prioritários?

Vou ser repetitivo, porque já disse o que voudizer agora tanto na Comissão Especial quanto naComissão de Constituição, Justiça e Cidadania.Quando se iniciou a discussão da reforma política, eume alinhava muito mais com o Senador SérgioMachado, que era o Relator dessa matéria naComissão, do que com o Senador Roberto Freire.Lembro-me inclusive que, na primeira reunião daComissão de Constituição, Justiça e Cidadania,quando se começou a discutir a matéria, tivemosinclusive um debate bastante duro, eu e o SenadorRoberto Freire. Eu entendia e acreditava que aquelerelatório, produzido na Comissão Especial, aprovadopor unanimidade – não em torno do mérito, porque asdivergências foram apontadas aqui e acolá -, viesse aser efetivado quando da discussão na Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania . No entanto, issonão aconteceu.

Vou lembrar um dos pontos que eramabsolutamente consensuais na Comissão Especial –agora começo a ter dúvidas se realmente eraconsensual ou se havia consenso apenas para inglêsver! Todos os Senadores que intervieram na Comissão deReforma Política diziam categoricamente que o primeiroprojeto que deveria ser aprovado – porque estava nabase de diminuir as desigualdades nas eleições;estava na base do fortalecimento da democracia;estava na base de garantir a vontade do eleitor, nosentido de que ela fosse expressa nas urnas, seminterferência ou pelo menos diminuindo a interferência dopoder econômico – era o financiamento público de campanha.Todos os Senadores, sem exceção, diziam que

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eram absolutamente favoráveis ao financiamentopúblico de campanha e que a reforma política deveriaser iniciada por eles.

Outro tema, não tão consensual – embora todosconcordassem que se deveria encontrar uma fórmulatalvez consensual -, era o sistema eleitoral. Mesmoaqueles que faziam restrições ao sistema distritalmisto tinham a convicção de que não se poderiamanter o atual sistema brasileiro – proporcional e comlista aberta -, porque isso estabelecia uma disputaentre candidatos do mesmo Partido, ou da mesmacoligação, mas também isso foi relegado a segundoplano. De repente, toda aquela discussão foiengavetada porque houve uma reunião, no Palácio doPlanalto, do Presidente da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, e dos Líderes do PMDB, PSDB ePFL, na qual se estabeleceram as prioridades.

O que antes era fundamental para a reformapolítica deixou de sê-lo e a prioridade passou a serapenas o acessório, que surgiria naturalmente caso seaprovassem as propostas anteriores. A prioridadepassou a ser exclusivamente o ataque aos chamadospequenos Partidos: pinçaram-se a proibição decoligação proporcional, aprovada nesta Casa e que seencontra, atualmente, na Câmara – esse projeto,inclusive, originariamente era muito pior, porquevedava o acesso dos pequenos Partidos ao fundopartidário e à televisão -, e outra proposta, tambémaprovada na Comissão mas ainda não votada aqui, deampliação do número de candidatados por Partido, oque, aliado à proibição de coligação proporcional, iriaaumentar ainda mais o favorecimento dos grandesPartidos.

O projeto que estamos votando tem duas partes– e o Senador José Agripino tem razão, pois não setrata do projeto original apresentado por S. Exª, o qualvedava o acesso dos pequenos Partidos à televisão eao fundo partidário. Uma delas é inócua e a outra,inconstitucional, porque o Relator acatou a emendado Senador Antonio Carlos Valadares que previa acriação de federações, apenas como um paliativo, emfunção da proibição de coligação.

Assim, pergunto: qual é o dispositivo dalegislação atual que proíbe a criação de federações?Não existe. Na legislação atual, se os Partidos, pordecisão de suas instâncias, resolverem,politicamente, formar uma federação e registrá-la noTSE com um nome de fantasia, ela poderá disputar aseleições formalmente, como se fosse Partido. Então,não havia necessidade de se fazer uma lei dizendoque se pode criar federação e que ela vai funcionarassim ou assado, até porque, não havendo previsãona legislação, os Partidos, se for sua vontade,poderão estabelecer, inclusive, federações mais

democráticas do que essa prevista no art. 1º doProjeto de Lei.

Em relação ao art. 47, §2º, foi contornada umainconstitucionalidade levantada na Comissão, porquea proposta original vedava o acesso dos PartidosPolíticos à televisão. Encontrou-se uma forma de sedriblar essa inconstitucionalidade estabelecendo-se oprincípio de um décimo, igualitariamente, para todosos Partidos, e de nove décimos, proporcionalmente àrepresentação na Câmara dos Deputados. Noentanto, lembro que isso diz respeito ao horário detelevisão reservado à propaganda de cada eleição, oque recai na inconstitucionalidade do art. 3º, que dizficar revogado o art. 57 da Lei nº 9.096.

Esse artigo não tratava apenas de tempo detelevisão na eleição, mas da transição ao processo deacesso à televisão, ao fundo partidário, aofuncionamento e à representação dos Partidos nasAssembléias Legislativas e na Câmara dosDeputados. Aí encontra-se a inconstitucionalidade,pois se se revoga esse artigo, estar-se-á incorrendona revogação de direitos adquiridos a partir do art. 57,que estabelecia a regra de transição na Lei nº 9.096.

Portanto, Sr. Presidente, temos mais uma vezque lamentar por todo aquele discurso, feito naComissão de Reforma Política presidida pelosaudoso Senador Humberto Lucena, ter ido por águaabaixo, para as gavetas, para as calendas. Daí,pinçam-se três projetos que não vão ajudar noaperfeiçoamento da democracia, porque teriam umacontribuição acessória se fossem aprovados aquelesoutros projetos, que eram os fundamentais. Namedida em que os outros projetos foramengavetados, não há contribuição alguma.

Vejo o Senador Francelino Pereirainscrevendo-se e, possivelmente, S. Exª dirá: “Não,mas os outros projetos serão votados um dia. Esses,realmente, continuam sendo prioritários.” Noentanto, não se tratam das prioridades da cidadaniae do eleitor, mas, sim, das prioridades dos Partidosque, conjunturalmente, são majoritários em cadaCasa do Congresso.

Faço este alerta preocupado com o PSDB, que,hoje, possui uma grande representação, mas nadacomo um dia após o outro. Possivelmente, daqui auns dois ou três anos, o PSDB até se lamentará peloapoio dado a esse projeto.

Assim, Sr. Presidente, solicitamos destaquepara o art. 3º, por entendermos que éinsconstitucional. Se tivermos oportunidade de votaro destaque, fa-lo-emos a favor da primeira parte doprojeto, em homenagem ao Senador Antonio CarlosValadares, apesar de entendermos que é inócua,porque se poderia fazer a federação independentemente dalegislação. Se o requerimento de destaque for rejeitado,

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não nos restará outra alternativa a não ser votarmoscontra todo o projeto, porque conteria um artigoclaramente inconstitucional.

Muito obrigado.O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG) –

Sr. Presidente, peço a palavra para discutir.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Concedo a palavra ao SenadorFrancelino Pereira, para discutir.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs eSrs. Senadores, entendo que devemos sintetizar estadiscussão. Ideal seria que promovêssemos aqui umgrande debate sobre a instituição parlamentar e a vidapartidária brasileira, como muitas vezes sugeriu oSenador Roberto Freire, mas, hoje, objetivamente,estamos tratando de um projeto e percebo que a Casaprecisa saber o que efetivamente está em pauta e quaissão os limites do projeto que estamos discutindo.

O Projeto de Lei do Senado nº 180, de 1999, deautoria do Senador José Agripino, dispõe sobre achamada “cláusula de desempenho” e resultou,diretamente, de um texto aprovado pela Comissão daReforma Partidária.

O que diz o Projeto nº 180 do Senador JoséAgripino? Diz que só terá direito aos recursos dofundo partidário e ao acesso gratuito ao rádio e à TV oPartido que, em cada eleição para a Câmara dosDeputados, obtiver o apoio de, no mínimo, 5% dosvotos apurados, não computados os brancos e osnulos, distribuídos em, pelo menos, um terço dosEstados, com um mínimo de 2% do total de cada umdeles.

O Senador Edison Lobão, ao relatar o projeto naComissão de Constituição, Justiça e Cidadania,observou que, na forma do §3º do art. 17 daConstituição, os Partidos Políticos têm direito arecursos do fundo partidário e ao acesso gratuito aorádio e à televisão. É o que está no TextoConstitucional vigente.

Segundo o Relator, quando a Constituição diz queos Partidos têm direito, está garantindo a todos osPartidos esse mesmo direito. A partir dessaconstatação, o Relator acolheu uma emenda aditiva doSenador Antonio Carlos Valadares, resolvendo aquestão.Como? Os Partidos políticos ficam autorizadosa reunir-se em federação, a qual, após seu registro noTSE, atuará nacionalmente, inclusive no CongressoNacional, como se fosse um único partido, preservandoa identidade e a autonomia de cada partido integrante.

Tal federação só poderá ser constituída antesdos 90 dias anteriores à data das eleições nacionaise, uma vez formada, os partidos que a integrarem

deverão permanecer a ela filiados no mínimo porquatro anos, a contar do ato de sua criação.

Se, após esse prazo, algum partido integrantequiser sair, a federação pode continuar, desde que ospartidos que ficarem tenham, juntos, as condiçõesexigidas pela legislação eleitoral.

Ora, com essa solução, os pequenos partidosque se filiarem a uma federação terão livre acessoaos recursos do fundo partidário e ao horário gratuitono rádio e na televisão, justamente porque, juntos,reúnem as condições estabelecidas pela legislaçãoeleitoral para os demais partidos, ou seja, na eleiçãopara a Câmara tenham obtido juntos 5% dos votosdistribuídos em pelo menos um terço dos Estados,com um mínimo de 2% para cada Estado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, essa é asíntese clara e objetiva do que está em discussão. Oque desejamos é apenas votar projetos que tenhamuma tramitação mais rápida e que não impliquem emmodificação do texto constitucional vigente. Osprojetos que estamos discutindo – alguns já foramvotados ou estão tramitando na Câmara dosDeputados – são para abreviar essa discussão, nãoatingindo o texto constitucional vigente.

Essa é a observação que faço, manifestando onosso apoio, inclusive do Partido que represento, aoprojeto em debate.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Com a palavra o Senador SérgioMachado.

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB – CE. Paradiscutir. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, a reforma política é um temafundamental. Costumo dizer que é a mãe de todas asreformas. Não podemos mais continuar com o sistemapartidário que temos hoje. Basta ver que, apenas nesteano, 92 deputados trocaram de partido. Não podemosmais continuar com um sistema partidário tão frágilquanto o atual, em que prevalecem os interessesindividuais em detrimento dos interesses coletivos.

Participamos da Comissão que estudou aReforma Político-Partidária, da qual fomos Relator.Discutimos aqui, durante três anos, com autoridades elideranças políticas, um projeto de reforma para o País, que temcomo eixo central o fortalecimento dos partidos. Na nossaopinião, cinco itens são fundamentais, os quais propusemos,na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, no últimodia da legislatura passada, que fossem aprovados, a fim deavançarmos, mas houve um acordo para começarmos adiscussão nesta legislatura. Nós, do PSDB, vamospriorizá-los e lutar para que todos sejam aprovados. Já foiaprovada a proibição de coligação, e hoje estamosdiscutindo a cláusula de desempenho, que

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garante que terão acesso a horário gratuito no rádioe na televisão os partidos que tiverem o voto popularde pelo menos 5% da população. Não se estáproibindo nada, se permite formar a federação dospartidos.

Agora avançaremos nas matérias relativas afinanciamento público de campanha, à fidelidadepartidária – os dois próximos projetos, queconsideramos muito importantes – e ao votoproporcional misto. São esses projetos que aComissão estabeleceu como prioritários e quediscutiremos aqui no Senado. Creio que representamo interesse da democracia.

Fiquei muito sensibilizado pela preocupação doSenador José Eduardo Dutra com o PSDB. Mas digoa S. Exª que nossa preocupação com a ReformaPolítico-Partidária não é pensando no partido A, B ouC. Os partidos vão existir em função dos votos e daspropostas que tiverem – essa é a essência dademocracia. Não podemos pensar num projeto dereforma político-partidária pensando em partido A, Bou C, porque o que é bom hoje pode ser ruimamanhã, o que é válido numa eleição não é válido emoutra.Então, se pensarmos apenas no curto prazo, noimediato, podemos até nos beneficiar numa eleição eperdermos em outra, mas o que temos que entenderé que se somos Governo hoje seremos Oposiçãoamanhã, porque a alternância do poder é a base dademocracia. E é dentro desse espírito que estamosdiscutindo a Reforma Político-Partidária.

Por isso nós, do PSDB, apoiamos a aprovaçãodeste projeto, que consideramos muito importante eque não está impedindo nenhum partido de disputar.E ninguém acaba com partido por legislação;queremos, sim, dar ampla liberdade à criação departidos. E é por meio do voto que cada partido temque ter sua representação. Mediante o percentual devoto de cada partido é que ele terá acesso aofinanciamento de campanha e ao rádio e à televisão.

Vamos votar este item hoje e vamos votar osoutros: financiamento público de campanha,fidelidade partidária, voto proporcional misto e todosos outros que representem um avanço da democraciacom o fortalecimento dos partidos. Essa a nossaposição, e é por isso que o PSDB encaminha a favorda aprovação deste projeto.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Com a palavra o Senador AntonioCarlos Valadares.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES(Bloco/PSB – SE. Para discutir. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,tenho a impressão de que todos os temasnecessários à elucidação e ao esclarecimento desteprojeto já foram amplamente discutidos por todos osSenadores que participaram deste debate.

Notadamente as explicações dos Senadores JoséEduardo Dutra e Roberto Freire mostraram, cominteligência e brilhantismo, a impropriedade daproposição, inclusive do ponto de vista constitucional.Apenas uma proposição foi aprovada pelo CongressoNacional dispondo sobre a legislação eleitoral, qualseja, a proposição que trata da compra do voto, quechamei “Lei do Bispo”, porque foi organizada, comotodos sabem, pela CNBB, que conseguiu colher ummilhão de assinaturas em todo o Brasil. Essaproposição passou pela Câmara Federal, onderecebeu as adaptações necessárias, e sua redaçãosofreu críticas profundas de diversos Senadores. Enfim,a Lei da Compra do Voto, a Lei do Bispo, que foiaprovada e está em pleno vigor, foi a única reformaeleitoral depois de mais três anos, em que o SenadoFederal gastou saliva, gastou papel, a TV Senadocolocou seus funcionários à disposição dos Senadores,que saíram no vídeo, houve discussões as maisaprofundadas, enfocando temas como financiamentopúblico de campanha, fidelidade partidária, reeleiçãoetc.

Agora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocontra-senso: aprovaram a lei que pune a compra devotos, mas, ao mesmo tempo, permitem a reeleição,em todo o Brasil, da mesma forma que permitiram areeleição do Presidente da República e dosGovernadores no cargo, com o Diário Oficial na mão,podendo fazer o que melhor lhes aprouvesse paraque suas reeleições fossem garantidas easseguradas, como de fato aconteceu. E o Brasilquase quebrou quando empresas estatais foramvendidas e torradas na época da eleição. No Estadode Sergipe, mais de meio bilhão de reais foramarrecadados com a venda da estatal energética, e odinheiro sumiu como Doril, ninguém sabe, ninguémviu.

E o Tribunal de Contas do Estado estáinvestigando, pedindo ao Governo do Estado arelação dos convênios, como foi gasto esse volumeenorme de recursos na campanha eleitoral deSergipe, como em outros Estados, onde houvereclamações diversas de Senadores, que mostraram,com dados estarrecedores, o quanto se gastou comos executivos na eleição passada, com o DiárioOficial na mão.

Agora, a reforma que se fez foi confirmar areeleição, a reeleição que não deu certo, que foi amaior porta aberta, escancarada, para a prática dafraude, da corrupção, do uso indevido da máquinaadministrativa em favor de candidatos. A compra dovoto foi aprovada, a lei do bispo, e, em função disso,da lei de captação de sufrágio, fizemos uma consultaao Tribunal Superior Eleitoral. O Relator é o eminenteMinistro Maurício Corrêa, ex-Senador da República, queespero responda positivamente à nossa pergunta – por-

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que confio naquela egrégia Corte – ou seja, que proíbadefinitivamente que se use este instrumentoescandaloso: enfeitar eleitores no dia da eleição,portando o número dos candidatos em suas camisas,nos seus bonés. Não é só a oferta da camisa, mas opagamento é realmente efetivado, feito no dia daeleição para que o boca-de-urna não apenas vote nocandidato que o contratou, mas vá para as ruas, para aspraças, fazer a propaganda desse mesmo candidato.

Sr. Presidente, sei da boa vontade que teve oSenador Sérgio Machado para imprimir, durante umcerto tempo, um ritmo mais acelerado às reformaspolíticas e eleitorais. Mas sabemos como funcionam,neste País, as forças ocultas; sabemos que existempessoas que, ao invés da transparência do resultadodas urnas e da aplicação dos recursos da campanha,preferem essa escuridão, essa penumbra. E todostêm conhecimento que corre dinheiro, mas eles nãoquerem que o povo saiba de onde o dinheiro vem,embora saibamos que o mais prejudicado nessascampanhas políticas é a população.

Quando se fala em financiamento público decampanha, as pessoas que estão nesse grupo quedeseja a perpetuação do poder se admiram: –“Financiamento público de campanha? Dar 800 milhõesde reais para campanha? Tirar da sociedade, docontribuinte, 800 milhões para a campanha dos partidospolíticos?!”

Ora, meus amigos, quantos bilhões são gastospor debaixo do pano, na escuridão, e o povo nãosabe, só toma conhecimento por meio da fome, damiséria, da falta de condições adequadas para oestudo, para a preparação do futuro de seus filhos!

De sorte, Sr. Presidente, que é realmentedecepcionante.

Mas, finalmente, pelo menos a lei do bispo foiaprovada, a lei da compra do voto. Não vai mais haver acompra do voto; a eleição do próximo ano será a maislimpa do Brasil; os Prefeitos não usarão a máquinacoisíssima nenhuma em benefício da sua reeleição; oscandidatos a Vereador não vão procurar os políticospara saber quem dá mais; os partidos políticos deoposição tiveram dificuldades em formar as suaschapas porque não tinham condições depreenchimento, uma vez que o financiamento não lhesera garantido. Então, será uma das eleições maislímpidas a que nós vamos assistir no Brasil, graças àreforma que não foi feita.

O Senado Federal e a Câmara dos Deputadosestão devendo ao Brasil uma reformapolítico-partidária e uma reforma eleitoral. Sedependesse do Tribunal Superior Eleitoral, sedependesse dos partidos de oposição, não há amenor dúvida, essa reforma já teria sido feita. Aresponsabilidade cabe ao Governo, porque quem

manda neste País é o Governo. E o Governo não quisfazer reforma alguma; prefere, antes de tudo, darforça aos empresários internacionais que estãoinfernizando os países subdesenvolvidos com asaltas taxas de juros e essa política injusta, desumana,que está sendo exigida pelo Fundo MonetárioInternacional.

Sr. Presidente, a reforma que se faz é esta:reforma monetária, para colocar o dólar sempre numaposição de superioridade em relação às moedas dospaíses subdesenvolvidos. A prioridade é dar maisdinheiro para os bancos e manter a legislação tributáriainjusta que aí está, que todos os anos é para sair, masnão sai, e quando sair, talvez, com essa briga fratricidaentre Estados, Municípios e a própria União em buscade recursos, haverá uma reforma tributária totalmentealeijada, sem interpretar os interesses da sociedade,dos empresários nacionais e dos trabalhadores.

O que se pretende, na realidade, é enfraquecero pequeno com essa Reforma da Previdência, tirandoo direito adquirido de segurados, os mendigos degravata – podemos dizer assim -, os servidorespúblicos aposentados e pensionistas, que estãovivendo na miséria, em decorrência de uma políticaque não observa que a taxa de juro e a inflação estãosubindo, mas que os salários têm de ser congelados.Temos de pagar o resultado dessa política econômicanefasta praticada no País, com o congelamento desalário e o castigo em cima dos menores. E tudo isso,Sr. Presidente, é prioridade do Governo.

A Reforma Política seria fundamental para darao nosso País uma democracia realmenteparticipativa e transparente. No entanto, as nossaselites não têm o desejo de reformar

Participo de um partido político pequeno, mascombativo – Partido Socialista Brasileiro -, lutando aolado do PT, do PDT, do PPS e de outros Senadoresque desejam alguma mudança. Estamos comendo opão que o diabo amassou, mas o nosso desejo detransformação, de mudanças, continua.

Quando aqui cheguei como Senador, há quatroanos, depois de ter sido Governador de Estado,ficando no cargo até o final do meu governo, nãoprocurei nenhum partido do Governo. E o SenadorPedro Simon, que não está aqui presente, disse-meque eu deveria ter procurado um grande partido, umpartido do Governo, e não um partido pequeno, daOposição. A minha atitude resultou de eu ter cansadode ser Governo? Não, eu cansei de ser Governo dojeito que está sendo este Governo.

Por isso, não me conformando com essa situação,estou na Oposição, pregando, de forma legítima, umamudança no quadro partidário e eleitoral do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Com a palavra a Senadora EmiliaFernandes.

A SRA. EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT –RS. Para discutir. Sem revisão da oradora.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sem dúvida, ospartidos políticos, na minha avaliação, são averdadeira essência, o fermento que dá a vida e asustentação à democracia de um país.

A nossa história é muito rica, ela mostra, deforma clara e insofismável, a construção dos partidos,o seu papel nos momentos decisivos da nossahistória, o lado em que se mantiveram emdeterminados momentos – até de conflito eu diria –de maior dificuldade do nosso País. Sem eles, umpaís deve ao seu povo um espaço maior depensamento, de posição crítica e de legitimidade emtermos daqueles que representam, pensam,decidem, fazem as leis e, de certa forma, fazem a vidados Parlamentos e dos Poderes Executivos dequalquer país.

Por outro lado, também vivemos um momento degrande preocupação à medida em que conversamoscom as pessoas, principalmente com os jovens eestudantes deste País. Olhamos pesquisas, ouvimosdepoimentos e sentimos que uma parcela significativa,principalmente daqueles que são as gerações futuras,daqueles que vão participar dos espaços de decisão ede poder deste País alimentam uma parcela muitoforte e preocupante de falta de credibilidade, deindecisão e talvez até de rejeição em relação à classepolítica. Há, por outro lado, o desconhecimento daessência, da fundamentação e dos programas dosPartidos políticos, bem como da ação dos seusintegrantes.

Então, tudo isso nos preocupa, não apenascomo integrante do Congresso Nacional, comoSenadora deste País, mas como cidadã e educadoradeste País. Confiamos nos espaços democráticos,nas instâncias democráticas, no valor e no poder queo eleitor tem a partir do momento em que éconvocado a se posicionar; por outro lado, sentimosessa fragilidade, que se reverte em falta decredibilidade, em desinteresse e, em determinadosmomentos, até mesmo em omissão, porque asnossas instâncias, os nossos espaços de poder e departicipação da sociedade ainda precisam seraperfeiçoados. Por isso, quando se buscou, aqui,estabelecer uma discussão sobre a reformapolítico-partidária, entendemos que, em algunsaspectos, ela tem, sim, uma importância muitogrande. É fundamental que se discuta numa reformapolítico-partidária a importância dos Partidos e,principalmente, a coerência dos seus programas e ocumprimento do que está escrito, registrado e

divulgado pelos seus representantes, pois é combase nisso que o eleitor decide o seu voto e o rumoque irá tomar.

A fidelidade partidária é um tema simpático, e aspessoas gostam de saber a respeito. Entretanto,quando defendemos a fidelidade partidária, quais sãoas bases e os princípios que nos orientam? Oindivíduo precisa conhecer esses princípios parapoder realmente dizer que fidelidade deseja dos seusrepresentantes. A fidelidade que defendemos, pelaqual tenho certeza de que o povo está clamando,fundamenta-se na coerência, no valor do voto e naforma como o candidato dialoga com o eleitor paraconquistar esse voto. Infelizmente, neste País,sabemos que ainda predomina o poder da compra eda venda do voto. O poder econômico muitas vezesapaga o poder da idéia, o poder da ideologia e,principalmente, a lealdade que não estamos sentindoneste País, neste momento, em relação ao que estáescrito nos programas partidários e ao que édefendido, votado e apoiado por aqueles querepresentam o povo nos mais diferentes níveis. Nãome refiro só ao Congresso Nacional.Refiro-me à maishumilde Câmara de Vereadores. Onde houver umvereador de determinado Partido, ele tem de observarde forma clara e concreta a coerência do seudiscurso, do seu voto com o que o seu Partido prega.

Por isso, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores,eu mesma já tive de colocar em xeque a permanênciada lealdade e da coerência; a permanência em umasigla ou a possibilidade de me manter coerente comos meus eleitores, com aquilo que preguei e comaquilo que estava sendo pregado e feito por aquelePartido em que eu estava.

Esse projeto não traz em seu bojo a discussãopolítica, ideológica, de credibilidade, de fazer o eleitor, onosso jovem, definir-se por um partido político. OsPartidos políticos são um espaço a mais na sociedadebrasileira, como temos os sindicatos e outrasorganizações que aperfeiçoam o processoprincipalmente da formação do pensamento daspessoas. Tenho certeza de que todos aqueles quefazem parte de um sindicato, de uma organizaçãocomunitária, ou de uma organização de trabalhadores,em que as pessoas decidem e fazem uma reflexãoconstante da conjuntura e de vários temas, se formamcomo cidadãos muito mais rapidamente e com muitomais visibilidade.

Mas o que está posto aqui? Esse projeto não vainessa linha e não faz um chamamento aos políticos,aos eleitores e aos Poderes constituídos, no sentidode que possamos realmente dizer que estamos diantede um projeto que quer que as pessoas assumamdefinitivamente a sua posição em termos partidários.Então, a pessoa vota, às vezes, naquele que faz umapropaganda melhor, no que tem mais dinheiro para

282 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

distribuir material mais farto – camiseta, sapato, sei láo que dão nessas eleições. Poucas campanhas nestePaís são feitas apenas mostrando uma fotografia eassumindo propostas claras no verso para que oeleitor possa cobrá-las depois. Posso falar, porque asminhas campanhas sempre foram assim. Nãodistribuo um lápis sequer com o meu nome. Se alguémquiser, pode fazê-lo, mas não é minha propaganda. Porquê? Porque temos de ter lealdade com o eleitor, paraconvencê-lo, trazê-lo para o nosso lado e conquistar oseu voto a partir de idéias, de coerência de posições.Não é necessário agradar a todos, e, logicamente,nunca vamos agradar. Mas que aqueles que votarampossam esperar retorno do trabalho e da posturanesse sentido.

Então, Srªs. e Srs. Senadores, vemos aí umprojeto que, de certa forma, usa de certa hipocrisiapara dizer se os Partidos vão ou não existir.Tínhamos, sim, de trabalhar com critérios deexigência no momento da formação de um novoPartido. Agora, depois que os Partidos sãoautorizados, de acordo com a legislação existente noBrasil, tentar matá-los pela desnutrição é a fórmulamais hipócrita que pode existir. Autorizamos aformação de um Partido e, depois, tiramos seusrecursos e espaços de propaganda, para que ele nãopossa se comunicar.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) (Fazendo soar a campainha.)

A SRA. EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT – RS)– E, nesse discurso de moralização, estamos nivelandotodos os Partidos: os que estão em formação e outrosque existem há muitos anos na história. Há aqueles queestão construindo suas bases com solidez e que nãoestão entrando na onda de comprar votos, deconseguirem se eleger à custa de qualquer preço.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) (Fazendo soar a campainha.)

A SRA. EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT –RS) – Sr. Presidente, ainda tenho alguns minutos, queainda não foram concluídos. Então, encaminho-mepara a conclusão dizendo exatamente isso: temosque estar aqui; é obrigação do Congresso Nacional edo Senado Federal buscar leis que aperfeiçoem oprocesso e façam despertar o respeito e o amor que oeleitor tem de ter pelos Partidos e por aqueles que orepresentam. A política não é uma coisa feia, é aessência da vida das pessoas. São alguns mauspolíticos que muitas vezes desencantam as pessoase fazem com que tantos votos nulos e votos embranco apareçam a cada processo eleitoral que serealiza.

Somo-me àqueles que pensam que este projeto foiaperfeiçoado, mas entendo que ele não responde aosanseios e às necessidades do eleitor brasileiro. Portanto,fazemos um apelo: vamos construir um espaço a mais –

embora ele não seja tão necessário -, que é afederação dos partidos; vamos deixá-lo mais claro nalei.

Quanto à questão de revogar o art. 57, referenteaos espaços em programas de rádio e televisão:poderíamos aperfeiçoar e aprofundar o debate deforma a contribuir de forma significativa parademocracia e para a vida partidária deste País.

Voto a favor do pedido de destaque, rejeitando oart. 2º da lei.

Muito obrigada.O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP)

– Sr. Presidente, gostaria que V. Exª me inscrevessepara encaminhar a votação no momento oportuno.

A SRA. MARINA SILVA – (Bloco/PT – AC) –Peço a palavra para discutir.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – V. Exª teria que se inscrever na Mesa,mas tudo bem.

Concedo palavra à Senadora Marina da Silvapara discutir e posteriormente ao nobre SenadorSebastião Rocha, para encaminhar a votação.

A SRA. MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Paradiscutir. Sem revisão da oradora.) – Obrigada,Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estadiscussão poderia estar sendo um dos momentosmais importantes da vida do Congresso Nacional: aCasa política poderia estar discutindo o destino dospartidos e dos agentes políticos. Infelizmente, em vezde uma reforma política, estamos vivendo aqui umarremedo – e um remendo muito do mal feito – dereforma. Eu nem diria que se trata de um remendo deestopa em seda, porque não há seda a serremendada com estopa. Acho mesmo que se trata deum remendo de estopa de malva em uma estopa dejunco, porque ambos precisam de mudançassignificativas.

A nossa posição em relação à retirada do art. 57tem a ver com a coerência política que temos nadefesa de que os partidos que estão em processo deorganização e de crescimento, mas que têmdensidade, programa e história política na vida donosso País, devam ser respeitados. Não deve ocorreraquilo que o Senador Roberto Freire descreveu comoeutanásia, em que se permite a vida daqueles queestão condenados a uma sobrevida, mas sabendoque num futuro bem próximo eles não terão a menorcondição de respirar politicamente. Sem espaço dedivulgação partidária, sem condições de colocaremas suas idéias para os amplos contingentes dapopulação, com certeza, esses partidos serãoprejudicados.

Por maiores que sejam as diferenças políticasentre situação e oposição, não considero que artifíciosburocráticos, artifícios legais sejam formas ade-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 283

quadas de eliminarmos essas diferenças ou de assuperarmos – prefiro o termo superar ao termoeliminar.

A discussão em curso, infelizmente, não está àaltura das necessidades do País, não está à altura darealidade partidária do Brasil. Como muito bem falouo Senador Machado, hoje vivemos uma situaçãodesconfortável em função da freqüência com queocorrem as migrações partidárias. Essa situação nãoé contemplada pela lei que estamos votando agora.Muito pelo contrário, pois a fidelidade que se quer nãoé uma fidelidade que diga respeito aos programasdos partidos, não é uma fidelidade relacionada aconteúdos políticos que possam servir de referênciapara os eleitores no momento de fazerem as suasescolhas. O que se quer é um enquadramento dasposições políticas a determinadas decisões, decisõesessas que muitas vezes ferem o programa dospartidos – programa que deveria, em última instância,ser a base para as decisões dos parlamentares.

Portanto, estamos fazendo o pedido dedestaque. Queremos votar o destaque e esperamosque ele seja aprovado para podermos discutir omérito dessa questão. A matriz da discussão emcurso, infelizmente, está completamente equivocada;não corresponde às necessidades do País, nãocorresponde às necessidades da vida partidária enão resolve os problemas já ressaltados por algunsSrs. Senadores e cuja solução é premente. Pelocontrário, cria uma distorção que prejudica a vida e aconsistência de partidos políticos que têm dado umacontribuição histórica à democracia do nosso País,independentemente de concordar ou não com essaspropostas políticas.

A nossa posição, já na Comissão, foi de crítica,contrária a esse arremedo de reforma que está sendofeito. Aqui mantemos essa posição, alertandoinclusive a Casa para o fato de que não vamosresolver os problemas aqui apresentados pelo Líderdo PSDB. Muito pelo contrário: estamos agoracriando uma espécie de expectativa de panacéia,mas com certeza a montanha dará à luz nem diria aum rato, mas, talvez, a um pequeno grilo.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Continua em discussão. (Pausa.)

Não havendo mais quem peça a palavra,encerro a discussão.

Em votação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Concedo a palavra ao SenadorSebastião Rocha, que havia feito pedido deencaminhamento de votação anteriormente.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP.Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador) –Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minhaposição é contrária à aprovação desta matéria. Nomeu entendimento, deveria o Congresso Nacionalaprimorar sim a legislação eleitoral – esse é o anseiode toda a sociedade e também uma expectativa detodos os partidos políticos -, mas esse assunto teriaque ser discutido, debatido quanto ao conjunto dasmedidas. Estamos deixando de fora, como jámencionado aqui, instrumentos importantes para oaperfeiçoamento da legislação eleitoral, como afidelidade partidária e o financiamento público dascampanhas eleitorais – este sim um mecanismo quepoderia significativamente democratizar o processoeleitoral em nosso País. O que se vota aqui é apenaso cerceamento dos partidos menores, tanto no quediz respeito à propaganda eleitoral gratuita como noque diz respeito ao fundo partidário.

Com a proposta de constituição de umafederação de partidos, cria-se um instrumentodestinado a abrigar os partidos menores. Essafederação, do ponto de vista prático, é, de fato, umbom instrumento para solucionar os problemas queos pequenos partidos vão enfrentar caso sejaaprovada esta matéria, mas, por outro lado, odispositivo propõe que a federação tenha umaduração mínima de quatro anos e a realidadenacional é diferente da realidade municipal. Se éconstituída uma federação três meses antes daeleição nacional – o projeto veda que ela sejacriada nos três meses anteriores a essa eleição -,ela vai prevalecer também para as eleiçõesmunicipais.

São aspectos como este que nos levam apensar que não se está buscando a democratizaçãodo processo eleitoral, mas sim o cerceamento dospequenos partidos. Aparentemente, há uma tentativade pressionar os partidos pequenos a se juntarem,mas eles são forçados a uma fusão; nos moldes emque essa associação foi proposta, o que se quer éuma fusão. A federação deverá se manter por nomínimo quatro anos, com pelo menos dois partidosdo conjunto daqueles que compõem a federação.

Portanto, meu encaminhamento é contrário aoprojeto e favorável aos destaques que vão serapresentados pelo Bloco de Oposição.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Sobre a mesa, requerimento dedestaque que será lido pelo Sr. 1º Secretário emexercício, Senador Carlos Patrocínio.

É lido o seguinte:

284 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

REQUERIMENTO Nº 646, DE 1999

Senhor Presidente,Nos termos do art. 312, inciso II, do Regimento

Interno, requeiro destaque, para votação emseparado, do art. 3º do Substitutivo ao PLS nº 180/99.

Sala das Sessões, 21 de outubro de 1999. –José Eduardo Dutra.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Em votação o Requerimento nº 646, de1999, que acaba de ser lido.

As Sras e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa.)

Aprovado o destaque.A parte destacada será votada oportunamente.Votação da Emenda nº 1, da CCJ, (substitutivo),

que tem preferência regimental.As Sras e os Srs. Senadores que a aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovada, com a abstenção dos Senadores

José Eduardo Dutra, Tião Viana, Eduardo Suplicy eLauro Campos, e da Senadora Marina Silva; e com ovoto contrário dos Senadores Roberto Freire,Sebastião Rocha, Ademir Andrade, RobertoSaturnino, e das Senadoras Heloisa Helena e EmiliaFernandes.

Em votação o art. 3º que foi destacado.As Sras e os Srs. Senadores que o aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Rejeitado.O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT –

SE) – Sr. Presidente, peço verificação de quorum,com o apoiamento dos Senadores Sebastião Rocha,Roberto Requião e Roberto Saturnino.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Sras e Srs. Senadores, queiramocupar os seus lugares para a verificação dequorum solicitada pelo Senador José EduardoDutra, com apoio regimental.

As Sras e os Srs. Senadores já podem votar.(Pausa.)

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT –SE) – Sr. Presidente, quero registrar que o Blocoestá em obstrução, à exceção daqueles queapoiaram a verificação.

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS – PE) – OPPS encontra-se em obstrução, Sr. Presidente.

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB – CE) – Sr.Presidente, o PSDB recomenda o voto “não”.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – A Oposição, salvo os que apoiaram odestaque, está em obstrução legal.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG) –O PFL vota “não”.

O SR. JADER BARBALHO (PMDB – PA) – OPMDB recomenda o voto “não”.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Peço aos Srs. Senadores que seencontram em outras dependências da Casa paravirem ao plenário votar, pois se trata de votaçãonominal com efeito administrativo, salvo para os queestão em obstrução.

O SR. ROMEU TUMA (PFL – SP) – Sr.Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Tem V. Exª a palavra.

O SR. ROMEU TUMA (PFL – SP. Pela ordem.Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, gostariade um esclarecimento a respeito da votação, poishá uma dúvida do que representa o voto “não”.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Quero advertir aos Srs. Líderes queestá em votação o artigo 3º do substitutivo.Quem votapelo artigo, vota “sim”.

O SR. JADER BARBALHO (PMDB – PA) – Sr.Presidente, neste caso, não sendo mais o destaque,mas o artigo, o PMDB recomenda o voto “sim”.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG) – OPFL vota “sim”.

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB – CE) – OPSDB vota “sim”.

O SR. LUIZ OTÁVIO (PPB – PA) – O PPBvota “sim”.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT –SE) – Os membros do Bloco que não estão emobstrução vão votar “não”.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Os Srs. Senadores que estãopresentes já podem votar. Peço aos Srs. Senadoresque estão em alguma Comissão para virem votar.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT –SE) – Sr. Presidente, atingido o quorum, o Blocovota “não”.

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS – PE) – Sr.Presidente, já havendo quorum, o PPS vota “não”.

(Procede-se à votação.)

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 285

286 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Está encerrada a votação.

Votaram SIM 42 Srs. Senadores; e NÃO 13.Não houve abstenção.Total: 55 votos.Aprovado o artigo 3º do substitutivo.Aprovada a emenda, fica prejudicado o projeto.A matéria vai à Comissão Diretora para a

redação do vencido para o turno suplementar.

É a seguinte a matéria aprovada:

EMENDA Nº 1-CCJ (SUBSTITUTIVO)

Acrescenta parágrafo ao art. 13 daLei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995,de modo a permitir a criação deFederação de Partidos Políticos, revogao art. 57, para permitir a vigênciaimediata do art. 13 da referida lei, e alteraa redação do § 2º do art. 47 da Lei nº9.504, de 30 de setembro de 1997.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O art. 13 da Lei nº 9.096, de 19 de

setembro de 1995, passa a viger acrescido dosseguintes parágrafos:

“Art. 13 ..................................................§ 1º Os partidos políticos poderão

reunir-se em Federação, a qual, após a suaconstituição e respectivo registro perante oTribunal Superior Eleitoral, atuaránacionalmente, inclusive na atividadeparlamentar, como se fosse uma únicaagremiação partidária, com a garantia dapreservação da identidade e da autonomiados partidos que a integrarem.

§ 2º A Federação de Partidos Políticosdeverá atender, no seu conjunto, comorequisito para o seu funcionamento legal, àsexigências do caput deste artigo, a partirdas eleições gerais de 2002.

§ 3º Os partidos políticos quepretenderem reunir-se em Federaçãoobedecerão às seguintes normas:

I – só poderão integrar a Federação ospartidos que possuírem registro definitivo noTribunal Superior Eleitoral.

II – nenhuma Federação poderá serconstituída nos três meses anteriores à datadas eleições nacionais, e os partidos que aintegrarem deverão permanecer a elafiliados no mínimo por quatro anos, a contardo ato de sua criação.

§ 4º Na hipótese de desligamento deum ou mais partidos, a Federaçãocontinuará em funcionamento, desde quenela permaneçam dois ou mais partidosque, em conjunto, preencham os requisitosdo caput deste artigo.

§ 5º O pedido de registro daFederação de Partidos deverá serencaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral,acompanhado dos seguintes documentos:

I – cópia da resolução tomada pelamaioria absoluta dos votos dos órgãos dedeliberação nacional de cada um dospartidos integrantes da federação;

II – cópia do programa e estatutocomuns da Federação constituída;

III – ata da eleição do órgão de direçãonacional da Federação."

Art. 2º O § 2º do art. 47 da Lei nº 9.504/97passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 47 ................................................................................................................§ 2º Os horários reservados à

propaganda de cada eleição, nos termos doparágrafo anterior, serão distribuídos entretodos os partidos que tenham candidato, daseguinte forma: (NR)

I – um décimo, igualitariamente; (NR)II – nove décimos, proporcionalmente

ao número de representantes na Câmarados Deputados." (NR)

Art. 3º Fica revogado o art. 57 da Lei nº 9.096,de 19 de setembro de 1995.

Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Item 5:

Votação, em turno único, doRequerimento nº 564, de 1999, doSenador Romero Jucá, solicitando atramitação conjunta do Projeto de Lei doSenado nº 131, de 1999, com os Projetosde Lei do Senado nºs 122, 198, 223 e 356,de 1999, que já se encontram apensados,por regularem a mesma matéria.

Em votação o requerimento.As Sras e os Srs. Senadores que o aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovado.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 287

Os Projetos de Lei do Senado nºs 122, 131, 198,223 e 356, de 1999, passam a tramitar em conjunto eretornam ao exame da Comissão de AssuntosSociais, em decisão terminativa.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Item 6:

Votação, em turno único, doRequerimento nº 571, de 1999, doSenador José Fogaça, solicitando atramitação conjunta das Propostas deEmenda à Constituição nºs 5 e 16, de 1999,por regularem a mesma matéria.

Em votação o requerimento.As Sras e os Srs. Senadores que o aprovam

queiram permanecer sentados. (Pausa.)Aprovado.As Propostas de Emenda à Constituição nºs 5 e

16, de 1999, passam a tramitar em conjunto eretornam ao exame da Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Esgotada a matéria constante daOrdem do Dia.

Antes de encerrar a sessão, peço ocomparecimento dos Srs. Senadores na sessão doCongresso Nacional, que será instalada dentro depoucos minutos para votar a medida provisóriarelativa ao crédito rural.

O SR. PRESIDENTE (Antonio CarlosMagalhães) – Os Srs. Senadores Lúcio Alcântara,Maguito Vilela, Geraldo Cândido, Iris Rezende eMauro Miranda enviaram discursos à Mesa paraserem publicados na forma do art. 203 do RegimentoInterno.

S. Exªs. serão atendidos.O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) – Sr.

Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a organização deajuda humanitária “Médicos sem Fronteiras” – grupovoluntário fundado por médicos franceses no início dadécada de 70 e que presta serviços às vítimas deguerras, fome e desastres naturais – ganhou oPrêmio Nobel da Paz de 1999, por seu “trabalhopioneiro de ajuda humanitária em vários continentes”.

Trata-se de notícia auspiciosa, que nos chegaàs vésperas do dia 18 de Outubro, Dia do Médico,data muito significativa para todos nós, na qualdevemos prestar uma justa homenagem aoprofissional que cuida da preservação do maisimportante bem que Deus nos deu: o dom da vida.

A saúde aparece sempre em primeiro lugardentre os bens mais desejados pelo homem, pois de

nada vale o homem possuir todas as riquezas domundo, se vier a perder a própria vida.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, muito jáse falou do importante papel do médico na sociedade,em todos os tempos, de sua missão, comparável a deum sacerdote e, portanto, capaz de contribuir para acura dos males do corpo, da mente e do espírito.

Não é meu propósito aqui exaltar ou glorificar otrabalho do médico nem, tampouco, considerar amissão do médico superior a de outras profissões.

A medicina é tão importante quanto tantasoutras profissões, e não nos cabe fazer acepção nemdiscriminar pessoas ou profissões.

Isso não significa deixar de destacar aimportância do trabalho do médico, principalmentecomo um serviço a ser prestado à pessoa humana,uma missão a ser cumprida em benefício dahumanidade, uma obrigação social e moral.

Não se trata, muito menos, de reivindicarprivilégios, benefícios especiais e tratamentodiferenciado para o trabalho do médico, pois overdadeiro médico sabe que sua missão requerdesprendimento e espírito de renúncia pessoal: overdadeiro médico tem plena consciência de que veiopara servir e não para ser servido.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, paranada serve uma formação sólida, a dedicação, apesquisa e o estudo permanentes e as horasindormidas, se não são forem oferecidas ao trabalhodo médico as condições mínimas exigíveis para que apopulação possa desfrutar de um padrão de saúdedigno.

De nada adianta a Constituição Federalconsiderar a saúde um direito de todos os brasileiros,se o médico não dispõe de equipamentos,instalações hospitalares adequadas e medicamentosnecessários para o tratamento de todos quantosprocuram os serviços públicos de saúde.

Muitas vezes essas deficiências dos serviçospúblicos de saúde são inconscientementetransferidas pelo público para a pessoa do médico,que também é uma vítima de um serviço de saúdedeficiente.

A primeira vítima da crise da saúde pública noBrasil é, sem dúvida, o próprio médico, que lutageralmente com grandes dificuldades para salvarvidas humanas em hospitais desaparelhados e semos recursos técnicos necessários.

O heroísmo, a bravura, a capacidade desacrifício e desprendimento de muitos médicospossibilitam muitos milagres: a salvação de vidashumanas em condições de grandes dificuldades.

Atualmente, os médicos chegam mesmo a seragredidos enquanto realizam seu difícil trabalho com

288 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

dedicação, já que não podem ultrapassar aslimitações da condição humana, nem contam com osrecursos existentes nos países ricos, onde se praticauma medicina altamente sofisticada.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a gravecrise por que passa a saúde pública no Brasil, osbaixos salários da grande maioria dos médicos noBrasil, a excessiva e desumana carga de trabalho,que obriga muitos médicos a exercerem dois, três oumais empregos e a falta de equipamentos, materiais econdições de trabalho nos levam a perguntar: existealgo a comemorar no Dia do Médico?

Apesar de todas essas dificuldades, aindatemos motivos para comemoração no Dia do Médico:a vocação, o patriotismo, o espírito de sacrifício e adedicação da grande maioria dos médicos de todo oBrasil, realizando todos os dias o trabalho inestimávelde salvar vidas humanas.

Não se trata de corporativismo nem, tampouco,algo de natureza meramente sentimental, mas comomédico, e filho de médico, e ex-Secretário de Saúdedo meu Estado do Ceará, não poderia deixar deprestar minha homenagem pessoal a todos osprofissionais que cuidam da saúde e bem-estar do serhumano.

O médico, como o bom samaritano, cumpre amissão meritória de aliviar a dor do semelhante e ador de todos os seres humanos acometidos das maisdiferentes enfermidades, com espírito de dedicação,dignidade, fraternidade, humanidade eprofissionalismo.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, comomédico, homem público e representante de umEstado pobre e, naturalmente, com graves problemasde saúde pública, desejo homenagear todos osmédicos do Brasil, principalmente aqueles queexercem suas atividades em condições difíceis, nasregiões menos desenvolvidas, junto às populaçõesmais pobres e desamparadas.

Não podemos abandonar o sonho, que paraalguns é utopia, de assegurar efetivamente a todos osbrasileiros o direito à saúde e a uma vida digna esaudável.

Muito obrigado.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB – GO) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há pouco mais de15 dias, juntamente com os Senadores Ramez Tebet,Paulo Souto, Carlos Wilson e Amir Lando, estive emCuiabá, a serviço da CPI do Judiciário, para averiguardenúncias feitas pelo Juiz Leopoldino Marques doAmaral, assassinado no início do setembro.

São denúncias gravíssimas contra membros doTribunal de Justiça daquele Estado, que abordamtráfico de drogas, venda de sentenças, nepotismo eassédio sexual. Durante os dois dias em quepermanecemos em Cuiabá pudemos manter contatocom integrantes da OAB, com deputados, comJuizes, desembargadores, procuradores, com oMinistério Público, a Polícia Federal e com oGovernador Dante de Oliveira.

Nas conversas com as autoridades e no contatocom cidadãos mato-grossenses pudemos perceberque Mato Grosso encontra-se em estado de choquecom a gravidade das denúncias e com o brutalassassinato do Juiz Leopoldino Marques. As pessoasnas ruas, nos hotéis, nos restaurantes só falam nesteassunto. Autoridades de todos os Poderesdebruçam-se sobre o problema, preocupados com osfatos e, principalmente, com os desdobramentosnegativos que podem advir para o Estado.

A CPI do Judiciário, tão bem presidida peloSenador Tebet, está centrando esforços nainvestigação. Iremos usar de todos os mecanismoslegais disponíveis para irmos fundo na apuração dasdenúncias.

O que quero abordar neste pronunciamento, noentanto, apresenta-se em outro vetor de análise: oEstado do Mato Grosso. É importante, nestemomento delicado, que nós ergamos a voz em defesado Mato Grosso. Os fatos denunciados são casosisolados, que devem e vão ser investigadosprofundamente. Os culpados devem serrigorosamente punidos. Mas como homens públicos,integrantes na principal Casa Política deste País, nãopodemos deixar que um Estado da importância deMato Grosso pague um preço alto demais pelos errosde uma minoria que, ao que parece, têm exorbitadono desempenho de suas privilegiadas posições.

Quando a lama dos insultos resvala nosinteresses do povo mato-grossense, a nossa reaçãotem que ser a da mais forte indignação, como temsido dos representantes daquele Estado nesta Casa,os valorosos Carlos Bezerra, Antero Paes de Barros eJonas Pinheiro.

Por Mato Grosso hoje não se entende mais apenasum Estado com grandes reservas de pastos para alojargado de criadores de outros Estados. Não. Ao contrário, éum Estado que se define num sentido muito mais alto,mais importante e mais significativo para o Brasil.

O que Mato Grosso vem praticando ao longodas últimas décadas é a política do desenvolvimentosólido e constante, e não essa prática da corrupção e docrime que estão sendo denunciados. Em Mato

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 289

Grosso pratica-se a política dos princípios e não essapolítica que subtrai a lei e renega as premissas daordem e da democracia. Convém evocarmos,portanto, as qualidades deste Estado fantástico paraque fique claro à Nação o verdadeiro Mato Grosso detodos nós, que trabalha honestamente, produz comfartura e que, por isso mesmo, tem muito dado aoBrasil para que não receba agora a justiça dasolidariedade de seus vizinhos e irmãos.

Mato Grosso é um Estado produtivo, em francaexpansão e desenvolvimento. Com um potencialturístico extraordinário. Sua agricultura encontra-senum estágio extremamente avançado, obtendoíndices invejáveis de produtividade, o que temdesencadeado um processo irreversível deagroindustrialização. Posição reforçada com ainauguração, há poucos meses, de um trechosignificativo da ferrovia Leste-Oeste.

Não é exagero, portanto, afirmar que MatoGrosso já é um dos líderes da maior fronteiraagro-industrial do Brasil que é o Centro-Oeste. Osíndices anuais de crescimento econômico do MatoGrosso tem superado a média nacional.

Como representante de Goiás, Estado irmão deMato Grosso, como cidadão honorário daqueleEstado, não poderia deixar, senhores Senadores, deme pronunciar num momento extremamente delicadopara um povo tão ordeiro, competente e trabalhador.Precisamos gritar para o país as qualidades daquelaunidade da federação, que não pode ver investidoressendo afugentados, repito, por atos isoladospraticados por uma minoria.

Nos dois dias em que lá permanecemospudemos notar que as autoridades e a sociedadeestão mobilizados para exigir punição para osresponsáveis pelos desmandos denunciados e peloassassinato do Juiz Leopoldino Marques do Amaral.Não só a CPI do Judiciário, mas todos os Senadoresdevem se unir ao Mato Grosso neste momento gravepara o Estado. O que está em jogo, neste momento, éo futuro de um Estado próspero, rico e defundamental importância para a economia do Brasil.

A minha principal bandeira de luta como homempúblico é o combate sistemático às injustasdesigualdades, tão notáveis no Brasil. Asdesigualdades regionais são gritantes e tem geradomiséria e fome nos Estados menos aquinhoados. Ainteriorização do processo de investimentosindustriais faz-se fundamental na redução dessasdesigualdades. O Mato Grosso é um dos Estadoscatalisadores de investimentos no Centro-Oestebrasileiro, exatamente pelas suas qualidades e pelas

vantagens que oferece a diversos tipos deempreendimentos.

O processo de desmoralização de que é vítima,com a tentativa de generalização de fatos que sãoisolados, em nada servem ao Brasil e ao seu povo eem nada contribuem para a diminuição das injustiças.Ao contrário, acabam encobertando asresponsabilidades daqueles que realmente deveriamser desmoralizados, execrados e punidos.

Fica aqui, portanto, o meu protesto e a minhasolidariedade. Entendam as minhas palavras comoum desagravo a essa unidade da federação tãoimportante e, por isso mesmo, merecedora do nossogesto de apoio absoluto.

Muito obrigado.O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT – RJ) –

Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, a realidadebrasileira e da maioria dos países da América Latinaevidencia, entre outras coisas, que:

1 – está em curso um processo que aprofunda adependência dos países aos centros imperialistas,especialmente aos EUA;

2 – seja na pilhagem ao patrimônio público, sejana adoção da abertura comercial irrestrita, asburguesias dos países dependentes reafirmam o papelde sócios minoritários do grande capital internacional,na exploração adicional aos trabalhadores dessespaíses;

3 – no marco das disputas entre os oligopóliosdo G-7, desenvolve-se nova rodada de concentraçãoe centralização de capital, em que o aparelhoprodutivo dos países vive o meteórico processo dedesnacionalização.

É nesse contexto que se enquadra o desastreem que as classes dominantes locais jogaram o Brasile o nosso povo, em nome da “estabilidade”.

São visíveis os sinais da estagnação docrescimento econômico, a despeito das abundantes“notícias positivas” produzidas pelo governo edifundidas pela mídia.

A economia brasileira já é a maisinternacionalizada, dentre as dos paísessubdesenvolvidos.

Das 500 maiores empresas multinacionais domundo, 400 estão presentes no Brasil. Com asobrevalorização do câmbio, as privatizações, a aberturaindiscriminadadaeconomiaetc,essasituaçãosósecristalizou.

A política posta em prática pela coligação conservadorano governo, aprofunda a desnacionalização da economiabrasileira e deprecia violentamente a poupança erguida pordiversas gerações de brasileiros.

Com isso deve prosseguir o cenário de crise einstabilidade econômica, apontando para o agrava-

290 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

mento das contradições sociais, que pode serexemplificado pela taxa de desemprego em nossopaís.

Portanto, é fato: o desemprego é o grandeproblema do Brasil. Também não é nenhuma novidadepara os brasileiros a disparidade da concentração derenda. Em tempos de estagnação econômica, asdiferenças sociais crescem ainda mais, como agora. Deacordo com o IPEA (Instituto de Pesquisas EconômicasAplicadas), cerca de 78 milhões de brasileiros vivemcom menos de R$ 149 (cento e quarenta e nove reais)mensais.

Entre os anos de 1990 a 1998, a concentraçãode renda aumentou. No início da década, os 50% maispobres detinham 12,7% de toda a renda brasileira,enquanto os 20% mais ricos concentravam 62,8%.

É fácil concluir, pois, que o desemprego é aconseqüência maior da concentração de renda emnosso país. Pesquisa da Unicamp mostra que o Brasiljá tem 5% de todo o desemprego mundial, o queequivale a 7 milhões de desempregados. Isso noscoloca em quarto lugar no mundo em número dedesempregados, atrás de países como Índia,Indonésia e Rússia. O que é mais grave: caminhamosa passos largos para assumir a segunda posição nalista.

Desde que assumiu o governo, FernandoHenrique Cardoso engrossou a massa dedesempregados, deixando os trabalhadores maispobres. Os próprios dados oficiais não conseguemesconder essa realidade. Segundo levantamento doMinistério do Trabalho e Emprego, nos últimos cincoanos cerca de 1,5 milhão de pessoas perderam seuspostos de trabalho. A maioria das vagas – 52% – foifechada entre setembro de 1998 e fevereiro último.

Em análises sobre os cinco anos do Plano Real,o Dieese apontou que a renda média do trabalhadorbrasileiro cresceu no primeiro ano, minguou em 98e vem despencando este ano. Durante a vigênciado Plano, o desemprego triplicou, crescendo emtodas as regiões metropolitanas.

O desemprego é apresentado como umafatalidade, sem maiores explicações. É, vagamente,vinculado à globalização e à suposta segunda outerceira “revolução industrial”, sem explicitar asreações de causa e efeito entre esses fenômenos.

Freqüentemente, se diz que o avançotecnológico exige novas qualificações, que ostrabalhadores não têm. O problema, então, não seriade desemprego, mas de baixa “empregabilidade” dotrabalhador brasileiro. Assim, a culpa é jogada sobreos ombros dos próprios trabalhadores, e a soluçãoseria que estes procurassem se requalificarprofissionalmente, como se as pessoas fossemresponsáveis pelo próprio desemprego.

É verdade que há necessidade detrabalhadores com novas qualificações e quequalificações anteriores ficaram superadas. Mas istosempre existiu porque o capitalismo está semprerevolucionando as bases da produção. Porém, estefenômeno só consegue explicar parcialmente odesemprego, em alguns ramos de negócios quesofreram mudanças mais bruscas e acentuadas.Jamais explica o desemprego global de hoje.

Os próprios capitalistas não procuramresolvê-lo. Estão preocupados apenas com suasnecessidades de mão-de-obra e com novasqualificações de que precisam. A criação de cursos derequalificação não faz mais que transferir para oconjunto da sociedade custos de formação que, deoutra forma, teriam que ser absorvidos pelos próprioscapitalistas interessados.

Para eles, a causa do desemprego seria o “altocusto da mão-de-obra” aqui no nosso país. Este seriacausado, por sua vez, pela “excessivaregulamentação”. A solução seria, então, tornar oemprego “mais fácil” – e mais barato – para ocapitalista. Como se o Brasil não fosse, já, um dospaíses com os menores custos de trabalho do mundo.Como se não fosse o próprio alto nível dedesemprego a causa do achatamento ainda maiordos salários. Trata-se de reduzir os já poucos direitosque os trabalhadores conquistaram em décadas delutas. E ainda por cima dizem que isto é para o bemdos trabalhadores!

Senhor presidente, senhoras e senhoressenadores, a realidade é bem outra. Com essemodelo econômico, estamos criando também odesemprego intelectual. A pessoa se forma e nãotrabalha na sua área. Consegue um empregopior ou cai no mercado informal. As poucasvagas de qualidade são geradas em setoresespecífico s, voltados às tecnologias de ponta. É acultura de hiperqualificação.

Quando se fala de uma política para reduzir odesemprego, no que é que se pensa em primeirolugar? Que o governo deve incentivar, estimular esubvencionar as empresas. Dito de outra forma: ogoverno deve dar dinheiro... aos capitalistas!Quase ninguém acha isso um absurdo. Quando oGoverno do Estado do Rio Grande do Sul serecusou a dar dinheiro para que a Ford seinstalasse no Estado, muita gente censurou,inclusive trabalhadores e sindicatos. No Rio deJaneiro, os esforços para minorar o desemprego seconcentram na tentativa de reanimar a construçãonaval através de incentivos governamentais. Em SãoPaulo, luta-se para manter um acordo de redução deimpostos com a indústria automobilística para evitardemissões.

No caso da Ford, o governo contrai empréstimos,doa terrenos, concede isenções de impostos

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 291

para uma das mais ricas empresas do mundo.Vantagens essas que não são concedidas, nem delonge, às pequenas empresas de brasileiros. Paraquê? Para instalação de uma fábrica moderna eautomatizada que contratará um número muitopequeno de trabalhadores.

A indústria naval brasileira se desenvolveu àcusta de gordas subvenções que favoreciam osgrandes armadores. Entrou em colapso quando veioà luz o escândalo da Sunamam (SuperintendênciaNacional da Marinha Mercante), responsável pelaconcessão desses privilégios. Os grandesbeneficiários do acordo com a indústriaautomobilística, que envolve redução de impostospara diminuir o preço final dos veículos, são o própriosetor automobilístico e os compradores de veículosnovos. Nenhum desses beneficiários devem serexatamente pobres.

Trata-se sempre de alterar a distribuição dariqueza produzida. O governo renuncia a uma parcelade sua parte, mas sempre em benefício dosempresários. Supostamente para favorecer ostrabalhadores. Para “gerar empregos”.

Hoje, numa situação de desemprego altíssimocomo a que vivemos, os trabalhadores e seussindicatos topam quase tudo para garantir o trabalho.Mas por que é que nunca se pensa em medidas quetransfiram riqueza diretamente para os trabalhadores?E, pior ainda, quando se fala de alguma medida dessetipo, porque ela é imediatamente descartada comoabsurda? Porque é que ela realmente parece absurdapara a grande maioria, inclusive dos trabalhadores?

Transferir bilhões para a Ford não é absurdo.Perdoar 18 bilhões de dívidas, como quer a bancadaruralista aqui no Congresso Nacional, não é absurdo.Mas aumentar o salário mínimo, ah, isto é um absurdo!

Outro fenômeno assustador é a informalizaçãodo mercado de trabalho. Estatísticas da Unicamprevelam que os trabalhadores informais representamhoje a metade do mercado brasileiro. São 25, 2milhões de pessoas, ou 48,4% do total. Estãodistribuídos no mercado informa tradicional (20,4milhões) e no setor subcontratador – conceitodesenvolvido para abrigar empresas que se dedicam àterceirização, prestação de serviços para o grande setoreconômico (indústria, serviço público), que também têmalarmantes índices de precariedade. São 4,8 milhõesde trabalhadores nesta categoria. O pico docrescimento da informalidade aconteceu entre os anosde 1990 e 1995.

Entre 1990 e 1997 foram despejados nomercado 7,4 milhões de trabalhadores nas atividadessem qualquer proteção legal. Para se ter uma idéia, émais do que o saldo de geração de postos de trabalhodo setor não agrícola da economia no período entre

1989 e 1996 (6,58 milhões de vagas).Este ano, atéagosto, o país já perdeu 38.644 postos de trabalho comcarteira assinada. (Dados do Cadastro Geral deEmpregados e Desempregados, do Ministério doTrabalho).

O número de empregados informais saltou de14,9 milhões para 20,4 milhões entre 1990 e 1997 e ode subcontratados, de três milhões para 4,8 milhões.

O setor emprega hoje a metade do queempregava no início da década. O Brasil exportouempregos para os países-sede das multinacionaisinstaladas aqui, à medida que empresas passaram afabricar cada uma das partes de um bem emcontinentes diferentes, aproveitando-se das diferençasentre os pisos salariais, carga tributária, isençõesfiscais, entre outros fatores.

Não há trabalho para todos porque se trabalhademais. Assim, só há, hoje, uma solução real para odesemprego: é a redução da jornada de trabalho. Masisto não é o suficiente. A experiência tem mostradoque é muito generalizado o uso das “horas extras”como forma de burlar a lei e prolongar a jornada realde trabalho. É preciso limitar severamente as horasextras. Temos 13,8 milhões de postos de trabalhoocupados indevidamente. Se o número deempregados, 25 milhões, que fazem horas extras,caísse drasticamente, haveria ainda mais 2,4 milhõesde vagas.

Portanto, aumento de salários e redução dajornada de trabalho são as medidas maisimportantes. Ainda mais: contribuem para areanimação da economia. Isto torna essas medidasas mais importantes para combater o desemprego noBrasil.

O PT tem uma série de propostas de combateao desemprego, dentro do modelo político atual,dentre as quais destacamos:

Redução da jornada de trabalho, semdiminuição dos salários.

Limitação das horas-extras.Regulamentação do artigo 7º, inciso I,

da Constituição, sobre dispensa imotivada.Implantação, imediata e ampla, da

reforma agrária.Ampliação das parcelas do

seguro-desemprego para 12 meses(atualmente é de 3 a 5 meses).

Por todos os aspectos levantados, devodestacar que não é suficiente ter boas propostaspara reduzir a taxa de desemprego no Brasil. Énecessário lutar para vê-las implementadas. Nessesentido, está marcado para 10 de novembro o DiaNacional de Paralisação e Protesto em Defesa doEmprego e do Brasil. A paralisação, que foi definida peloFórum Nacional de Luta por Terra, Trabalho, Cidadania e

292 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Soberania, terá como eixos principais a luta poremprego, salário, previdência, reforma agrária, pelonão pagamento das dívidas interna e externa e pordireitos sociais. Espero que essa atividade contecom a participação de todos trabalhadores e dasociedade civil organizada, como também da grandemassa de desempregados do nosso país. Com isso,poderemos dar os primeiros passos para derrotar apolítica neoliberal imposta ao Brasil pelo Governo doPresidente Fernando Henrique Cardoso.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.Obrigado.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB – GO) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo com pesaresta tribuna para registrar o falecimento de umimportante homem público que muito dignificou oEstado de Goiás e o seu povo. Trata-se do eméritoElias Gabriel Neto, ex-Vereador e ex-Vice-Prefeito deGoiânia durante o período em que administrei aCapital. Sereníssimo Grão-Mestre da Grande LojaMaçônica do Estado de Goiás, homem público quesempre se dedicou às causas dos humildes,trabalhando com amor e dedicação na busca desolução para os problemas sociais. De famíliatradicional radicada em Goiás há mais de 50 anos,sendo todos os irmãos homens proeminentes daMaçonaria goiana e que desfrutam de excelentereputação no seio da sociedade goiana e,particularmente goianiense.

A morte de Elias Gabriel Neto nos comoveprofundamente. Goiás sofre uma perda irreparável edeixa de ter no seu convívio um verdadeiro entusiastada vida pública, homem público que soube comoninguém defender com bravura e determinação assuas idéias, buscando contribuir de maneira decisivapara a prosperidade e o bem-estar de todos.

O registro que faço nesta Tribuna tem para mimum significado muito especial. Elias Gabriel Neto foium fraternal amigo e um companheiro de muitasjornadas. Estivemos juntos em diversos embateshistóricos, atuando ao lado do povo em suas lutas,abrindo caminhos e empreendendo inúmerasconquistas que em muito colaboraram nodesenvolvimento de Goiás.

Vice-Prefeito de Goiânia, sua atuação foidestacada. Elias Gabriel Neto sempre atuouativamente em todos os projetos, homem de idéiasmarcantes que jamais abria mão dos interessesmaiores de seu povo. Com habitual serenidade,soube como ninguém exercer o diálogo e alcançarbenfeitorias para os setores que representava.

Dotado de grande inteligência política, EliasGabriel Neto deixa como exemplo a garra e vontade de

fazer e de realizar, mantendo uma sintonia profunda como povo mais pobre, trabalhando incessantemente nocombate à miséria e lutando pelo bem-estar social.

Defensor incansável dos mais necessitados,possuidor de uma cultura invejável, Elias Gabriel Netodeixa uma legião de amigos e admiradores, todoseternamente gratos por tudo que fez por Goiás e peloBrasil.

Elias Gabriel neto inscreveu seu nome nahistória de Goiás e será lembrado pela sua bravura egrande senso humanista. Nesta Tribuna do Senado,portanto, prestamos uma justa homenagem a umhomem digno que soube abraçar a política com ética,dignidade e honradez.

Muito obrigado.O SR. MAURO MIRANDA (PMDB – GO) – Sr.

Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a produção ruralbrasileira vive hoje um período de grandesdificuldades. Essa situação, confirmada diariamentenos contatos que temos mantido com agricultores epecuaristas, teve recentemente mais umaconfirmação estatística. De acordo com o economistaFernando Homem de Melo, professor daUniversidade de São Paulo, os quatro primeiros anosdo Governo Fernando Henrique Cardoso trouxeramuma perda equivalente a R$ 15,1 bilhões de reais naprodução rural. Tal valor foi apurado pela comparaçãoda produção dos anos de 1995 a 1998, cuja média foide R$ 59,1 bilhões por ano, com os quatro anosanteriores, que apresentaram uma média anual deR$ 62,9 bilhões.

Tão importante quanto os dados levantados pelopesquisador é a análise que ele realiza sobre as causas dasperdas da renda agrícola.A explicação do Governo de que acrise agrícola tem origem na queda dos preçosinternacionais é contestada pelo economista, queassegura que entre 1994 e 1997 o mercadointernacional estava em alta. A explicação para asperdas de nossos produtores deve ser buscada emfatores relacionados com a atual política econômica doPaís.

Entre esses fatores estão os seguintes: avalorização da taxa de câmbio, que, ao contrário dasexpectativas, prejudicou consideravelmente as exportaçõesbrasileiras; as elevadas taxas de juros reais, que têm levadomuitos produtores à inadimplência; a redução excessivasdas tarifas de importação; as compras externasfinanciadas, e, mais recentemente, a recessãoeconômica.

Cabe enfatizar a conclusão de Homem de Melo.Segundo suaspalavras,aaberturacomercial, “embora necessária,foi realizada de maneira equivocada.O Brasil reduziu drasticamentesuastarifas de importação, sem levar emcontaossubsídiosagrícolaspraticados pelos países industrializados. A concorrência

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oi desleal.” Essa tendência da política econômicainiciou-se, na verdade, já na abertura da década,toda ela marcada por grandes dificuldades para asatividades agropecuárias no País, com uma quedade renda, de 1990 a 1998, situada nos 32,5% – ouseja, quase um terço de queda na renda agrícola.

Contra todas as dificuldades, os agricultores epecuaristas continuam produzindo, tendo prestadogrande contribuição para a contenção da inflaçãonos primeiros anos do Plano Real. Essa situação,entretanto, já não pode permanecer a mesma, semprofundos reflexos negativos para a população ruraldo país. Para fixar o homem ao campo, seja comoprodutor familiar ou como trabalhador assalariado, demodo a reduzir a migração para as cidades,precisamos de uma política agrícola responsável eeficaz. Luiz Hafers, presidente da Sociedade RuralBrasileira, detecta “um ranço intelectual no governocontra a agricultura.” Se nossas autoridadeseconômicas julgam que a agricultura não é umaatividade suficientemente importante para receber asua atenção, seria recomendável que olhassem ocomportamento dos países industrializados, os quaisdirigem vultosos subsídios para a produção agrícola.Que falsa e irrisória modernidade é essa a que nos

estão conduzindo, em que o Brasil torna-se cada vezmais um grande importador de alimentos?

Os produtores brasileiros, no entanto, não estãoreivindicando subsídios; exigem, apenas, que nãosejam sistematicamente esquecidos nas decisõesrelativas à política econômica. Nossos agricultores epecuaristas cobram, sim, que o Governo tomemedidas enérgicas para impulsionar a retomada daprodução rural, conscientes de que os benefícios vãorecair sobre a nossa economia e sobre a populaçãocomo um todo.

Por essa razão, deste Plenário do Senado,quero incorporar a minha voz aos reclamos dosnossos sofridos agricultores, conclamando osnobres Senadores a se empenharem por essacausa, de tão grande significação para odesenvolvimento econômico e social do nosso País.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos

Magalhães) – Nada mais havendo a tratar, aPresidência vai encerrar os trabalhos, lembrando asSrªs e os Srs. Senadores que constará da sessãodeliberativa ordinária da próxima terça-feira, dia 26,a realizar-se às 14 horas e 30 minutos, a seguinte:

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Ata da 146ª Sessão Não Deliberativaem 22 de outubro de 1999

1ª Sessão Legislativa Ordinária da 51ª Legislatura

Presidência dos Srs.: Carlos Patrocínio e Mozarildo Cavalcanti.

(Inicia-se a sessão às 9 horas.)

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Havendo número regimental, declaro aberta asessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos nossostrabalhos.

O Sr. 1º Secretário em exercício, Senador NaborJúnior, procederá à leitura do Expediente

É lido o seguinte:

EXPEDIENTE

MENSAGENSDO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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MENSAGEMDO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Nº 194, de 1999 (nº 1.487/99, na origem), de20 do corrente, restituindo autógrafos do Projetode Lei da Câmara nº 15, de 1999 (nº 4.492/98, naCasa de origem), de iniciativa do Tribunal Superiordo Trabalho, que altera dispositivos da Lei nº8.432, de 11 de junho de 1992, dispõe sobre atransferência da sede de Junta de Conciliação eJulgamento e define jurisdição e dá outrasprovidências, sancionado e transformado na Lei nº9.845, de 20 de outubro de 1999.

(Será feita a devida comunicação àCâmara dos Deputados.)

PROJETO RECEBIDODA CÂMARA DOS DEPUTADOS

PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 48, DE 1999(Nº 1.594/99, na Casa de origem)

(De iniciativa do Presidente da República)(Tramitando em regime de urgência, nos termos

do § 1º do art. 64 da Constituição Federal)

Altera a Legislação TributáriaFederal. (Altera alíquota do Imposto deRenda das pessoas físicas.)

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O art. 21 da Lei nº 9.532, de 10 de

dezembro de 1997, passa a vigorar com a seguinteredação:

“Art. 21. Relativamente aos fatosgeradores ocorridos durante osanos-calendário de 1998 a 2002, a alíquotade vinte e cinco por cento, constante dastabelas de que tratam os arts. 3º e 11 daLei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995,e as correspondentes parcelas a deduzir,passam a ser, respectivamente, de vinte esete inteiros e cinco décimos por cento,trezentos e sessenta reais e quatro mil,trezentos e vinte reais.

Parágrafo único. Ficam restabelecidas,relativamente aos fatos geradores ocorridosa partir de 1º de janeiro de 2003, a alíquotade vinte e cinco por cento e as respectivasparcelas a deduzir de trezentos e quinzereais e três mil, setecentos e oitenta reaisde que tratam os arts. 3º e 11 da Lei nº9.250, de 26 de dezembro de 1995."

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

MENSAGEM Nº 1.263, DE 1999

Srs. Membros do Congresso Nacional,Nos termos do art. 64, § 1º, da Constituição

Federal, submeto à elevada deliberação de V. Exªs,acompanhado de Exposição de Motivos do Sr.Ministro de Estado da Fazenda, o texto do projeto delei que “Altera a Legislação Tributária Federal”.

Brasília, 30 de agosto de 1999. – FernandoHenrique Cardoso.

EM Nº 721/MF

Brasília, 27 de agosto de 1999

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,Tenho a honra de submeter à apreciação de

Vossa Excelência o anexo Projeto de Lei, que “Alteraa Legislação Tributária Federal”.

2 – A alteração proposta ao art. 21 da Lei nº9.532, de 1997, prorrogando a vigência da alíquotade 27,5% do imposto de renda das pessoas físicaspara os fatos geradores ocorridos nosanos-calendário de 2000 a 2003, objetiva manter ofluxo de arrecadação visando o equilíbrio das contaspúblicas neste período.

Respeitosamente, – Pedro Sampaio Malan,Ministro de Estado da Fazenda.

PROJETO DE LEI ORIGINAL Nº 1.594, DE 1999.

Altera a Legislação TributáriaFederal.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O art. 21 da Lei nº 9.532, de 10 de

dezembro de 1997, passa a vigorar com a seguinteredação:

“Art. 21. Relativamente aos fatosgeradores ocorridos durante os anos-calendáriode 1998 a 2002, a alíquota de vinte e cinco porcento, constante das tabelas de que tratam osarts. 3º e 11 da Lei nº 9.250, de 1995, e ascorrespondentes parcelas a deduzir, passam aser, respectivamente, de vinte e sete inteiros ecinco décimos por cento, R$360,00 (trezentos esessenta reais) e R$4.320,00 (quatro mil,trezentos e vinte reais).

Parágrafo único. Ficam restabelecidas,relativamente aos fatos geradores ocorridosa partir de 1º de janeiro de 2003, a alíquotade vinte e cinco por cento e as respectivasparcelas a deduzir de R$315,00 (trezentos equinze reais) e R$3.780,00 (três mil,setecentos e oitenta reais) de que tratam osarts. 3º e 11 da Lei nº 9.250, de 1995." (NR)

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 352

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

Brasília,

LEGISLAÇÃO CITADA, ANEXADAPELA SECRETARIA GERAL DA MESA

LEI Nº 9.250, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1995.

Altera a legislação de Imposto sobrea Renda das pessoas físicas, e dá outrasprovidências.

....................................................................................

CAPÍTULO IIDa Incidência Mensal do Imposto

Art. 3º O Imposto sobre a Renda incidente sobreos rendimentos de que tratam os arts.7º, 8º e 12 a Lei nº7.713, de 22 de dezembro de 1988, será calculado deacordo com a seguinte tabela progressiva em Reais:

Base de Cálculoem R$

Alíquota%

Parcela a Deduzirdo Imposto em R$

até 900,00 -- --

acima de 900,00 até 1.800,00 15 135acima de 1.800,00 25 315

Parágrafo único. O imposto de que trata esteartigo será calculado sobre os rendimentosefetivamente recebidos em cada mês.....................................................................................

Art. 11. O Imposto sobre a Renda devido nadeclaração será calculado mediante utilização daseguinte tabela:

Base de Cálculoem R$

Alíquota%

Parcela a Deduzirdo Imposto em R$

até 10.800,00 -- --

acima de 10.800,00 até 21.600,00 15 1.620,00

acima de 21.600,00 25 3.780,00

LEI Nº 9.532, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1997.

Altera a Legislação TributáriaFederal, e dá outras providências.

....................................................................................Art. 21. relativamente aos fatos gerados

ocorridos durante os anos-calendários de 1998 e1999, a alíquota de 25% (vinte e cinco por cento),constante das tabelas de que tratam os arts. 3º e 11da Lei nº 9.250, de 1995, e as correspondentesparcelas a deduzir, passam a ser, respectivamente de27,5% (vinte e sete inteiros e cinco décimos porcento), R$360,00 (trezentos e sessenta reais) eR$4.320,00 (quatro mil, trezentos e vinte reais).

Parágrafo único. Ficam restabelecidas,relativamente aos fatos geradores ocorridos a partirde 1º de janeiro de 2000, a alíquota de 25% (vinte e

cinco por cento) e as respectivas parcelas a deduzirde R$315,00 (trezentos e quinze reais) e R$3.780,00(três mil, setecentos e oitenta reais) de que tratam osarts. 3º e 11 da Lei nº 9.250, de 1995.....................................................................................

(À Comissão de assuntos Econômicos.)

PARECERES

PARECER Nº 835, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação do vencido, para o turnosuplementar, do Substitutivo ao Projetode Lei do Senado nº 224, de 1999 –Complementar.

A Comissão Diretora apresenta a redação dovencido, para o turno suplementar, do Substitutivo aoProjeto de Lei do Senado nº 224, de 1999 –Complementar, que modifica a Lei Complementar nº53, de 1986, para nela incluir a isenção do Impostosobre Produtos Industrializados – IPI, na compra deveículos por paraplégicos e portadores de defeitosfísicos, esclarecendo que o Parecer nº 247, de 1999,da Comissão de Assuntos Econômicos, concluiu pelaapresentação de Substitutivo cuja matéria é objeto delei ordinária.

Sala de Reuniões da Comissão, 22 de outubrode 1999. – Carlos Patrocínio, Presidente – NaborJúnior, Relator – Casildo Maldaner – Ludio Coelho.

ANEXO AO PARECER Nº 835, DE 1999

Dispõe sobre a isenção do Impostosobre Produtos Industrializados – IPI naaquisição de automóveis por pessoasportadoras de deficiência física.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º São isentos do Imposto sobre Produtos

Industrializados – IPI os automóveis de passageiros eos veículos de uso misto, de fabricação nacional, deaté 127 HP de potência bruta (SAE), que apresentemcaracterísticas especiais e sejam adquiridos porpessoas portadoras de deficiência física que asimpossibilite de conduzir veículos comuns.

Art. 2º As características especiais referidas noart. 1º são aquelas, originais ou resultantes deadaptação, que permitam a adequada utilização doveículo por pessoas portadoras de deficiência física,admitindo-se, entre tais características, o câmbioautomático ou hidramático e a direção hidráulica.

§ 1º A adaptação a que se refere o caputpoderáser efetuada na própria montadora ou em oficinaespecializada.

353 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

§ 2º O imposto incidirá normalmente sobrequaisquer acessórios opcionais que não sejamequipamentos originais do veículo adquirido, não seconsiderando opcionais as partes, peças eacessórios que confiram ao veículo as característicasespeciais aludidas no caput.

Art. 3º O benefício de que trata o art. 1º poderáser utilizado uma vez a cada três anos.

Art. 4º Para habilitar-se ao gozo da isençãotributária, o adquirente deverá apresentar laudo deperícia médica fornecido pelo Departamento deTrânsito do estado onde residir permanentemente,especificando o tipo de defeito físico e atestando a totalincapacidade do requerente para dirigir automóveiscomuns, bem como sua habilitação para fazê-lo emveículo com adaptações especiais, discriminadas nolaudo.

Art. 5º É assegurada a manutenção do créditodo IPI relativo às matérias-primas, aos produtosintermediários e ao material de embalagemefetivamente utilizados na industrialização dosprodutos referidos nesta lei.

Art. 6º A transferência de propriedade ou uso doveículo, a qualquer título, sujeita o cedente ao préviopagamento do imposto dispensado, acrescido deatualização monetária, juros de mora e multa de moraou de ofício, nos termos da legislação tributária, semprejuízo das sanções penais cabíveis.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não seaplica ao veículo transferido, a qualquer título:

I – a pessoa que goze de igual tratamentotributário, mediante prévia autorização fiscal;

II – após o decurso do prazo de três anos de suaaquisição.

Art. 7º Esta lei entra em vigor no primeiro dia doexercício financeiro seguinte ao de sua publicação.

PARECER Nº 836, DE 1999(Da Comissão Diretora)

Redação do vencido, para o turnosuplementar, do Substitutivo ao Projetode Lei do Senado nº 180, de 1999.

A Comissão Diretora apresenta a redação dovencido, para o turno suplementar, do Substitutivo aoProjeto de Lei do Senado nº 180, de 1999, que “alteraa redação dos arts. 41 e 48 da Lei nº 9.096, de 1995, edo § 1º do art. 47 da Lei nº 9.504, de 1997, revoga oart. 57 da Lei nº 9.096, de 1995, e dá outrasprovidências, a fim de vedar o acesso aos recursos dofundo partidário e ao tempo de rádio e televisão aospartidos que não tenham caráter nacional”.

Sala de Reuniões da Comissão, 22 de outubro de1999. – Carlos Patrocínio, Presidente – Nabor Júnior,Relator – Casildo Maldaner – Lúdio Coelho.

ANEXO AO PARECER Nº 836, DE 1999

Acrescenta parágrafo ao art. 13 daLei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995,de modo a permitir a criação defederação de partidos políticos, revoga oart. 57, para permitir a vigência imediatado art. 13 da referida lei, e altera aredação do § 2º do art. 47 da Lei nº 9.504,de 30 de setembro de 1997.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O art. 13 da Lei nº 9.096, de 19 de

setembro de 1995, passa a vigorar acrescido dosseguintes parágrafos:

“§ 1º Os partidos políticos poderãoreunir-se em federação, a qual, após a suaconstituição e respectivo registro perante oTribunal Superior Eleitoral, atuaránacionalmente, inclusive na atividadeparlamentar, como se fosse uma únicaagremiação partidária, com a garantia dapreservação da identidade e da autonomia dospartidos que a integrarem.

§ 2º A federação de partidos políticosdeverá atender, no seu conjunto, comorequisito para o seu funcionamento legal, ásexigências do caput deste artigo, a partirdas eleições gerais de 2002.

§ 3º Os partidos políticos quepretenderem reunir-se em federaçãoobedecerão ás seguintes normas:

I – só poderão integrar a federação ospartidos que possuírem registro definitivo noTribunal Superior Eleitoral;

II – nenhuma federação poderá serconstituída nos três meses anteriores à datadas eleições nacionais, e os partidos que aintegrarem deverão permanecer a ela filiadosno mínimo por quatro anos, a contar do ato desua criação.

§ 4º Na hipótese de desligamento deum ou mais partidos, a federação continuaráem funcionamento, desde que nelapermaneçam dois ou mais partidos que, emconjunto, preencham os requisitos do caputdeste artigo.

§ 5º O pedido de registro de federação departidos deverá ser encaminhado ao Tri-

354 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

bunal Superior Eleitoral, acompanhado dosseguintes documentos:

I – cópia da resolução tomada pelamaioria absoluta dos votos dos órgãos dedeliberação nacional de cada um dospartidos integrantes da federação;

II – cópia do programa e estatutocomuns da federação constituída;

III – ata da eleição do órgão de direçãonacional da federação."

Art. 2º O § 2º do art. 47 da Lei nº 9.504, de 30de setembro de 1997, passa a vigorar com aseguinte redação:

“§ 2º Os horários reservados àpropaganda de cada eleição, nos termos do §1º, serão distribuídos entre todos os partidosque tenham candidato, da seguinte forma:”(NR)

“I – um décimo, igualitariamente;” (NR)“II – nove décimos, proporcionalmente

ao número de representantes na Câmarados Deputados.” (NR)

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

Art. 4º É revogado o art. 57 da Lei nº 9.096, de19 de setembro de 1995.

PARECER Nº 837, DE 1999

Da Comissão de RelaçõesExteriores e Defesa Nacional sobre oProjeto de Decreto Legislativo nº 20, de1998 (nº 621/98, na Câmara dosDeputados), que aprova o texto doProtocolo Adicional ao Tratado deAmizade, Cooperação e Comércio sobreFacilitação de Atividades Empresariais,celebrado entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo daRepública Oriental do Uruguai, emMontevidéu, em 6 de maio de 1997.

Relator: Senador Pedro Simon

I – Relatório

Esta Comissão é chamada a pronunciar-sesobre o Projeto de Decreto Legislativo nº 20, de 1998(nº 621, de 1998, na Câmara dos Deputados), que“aprova o texto do Protocolo Adicional ao Tratado deAmizade, Cooperação e Comércio sobre Facilitaçãode Atividades Empresariais, celebrado entre oGoverno da República Federativa do Brasil e o

Governo da República Oriental do Uruguai, emMontevidéu, em 6 de maio de 1997.”

Em cumprimento ao disposto no art. 49, inciso I,da Constituição Federal, o Presidente da Repúblicasubmete à apreciação parlamentar o texto deste atointernacional.

O diploma legal em apreço foi aprovado pelaCâmara dos Deputados em 12 de fevereiro de 1998,tendo, naquela Casa, passado pelo crivo dasComissões de Relações Exteriores, de Economia, deIndústria e Comércio, e de Constituição e Justiça e deRedação.

Segundo a Exposição de Motivosencaminhada a esta Casa pelo Ministério dasRelações Exteriores, o Acordo para a Facilitação deAtividades Empresariais constitui mais um marcoinovador na política migratória brasileira,inserindo-se no quadro privilegiado das relaçõesentre o Brasil e o Uruguai. Trata-se, ademais, deinstrumento relevante para a consecução dosobjetivos do Mercosul, uma vez que possibilita aosempresários de ambos os países procedimentoslegais mais ágeis e simplificados para a suapermanência em qualquer dos dois países, noexercício de suas atividades. Oferece o diplomalegal em tela a necessária normatização jurídicadas relações de negócios estabelecidas entreempresários do Brasil e Uruguai, no contexto doesquema de integração regional iniciado à luz doTratado de Assunção.

O art. 2º do instrumento internacional emexame estende aos empresários de nacionalidadeuruguaia ou brasileira a faculdade deestabelecerem-se, no território do outro EstadoParte do Acordo, para o exercício de suasatividades, sem outras restrições, exceto aquelasemanadas das disposições que regem asatividades dos empresários do Estado Receptor,excetuadas aquelas cujas legislações nacionaisconsiderem privativas de seus respectivoscidadãos.

O artigo III define o que sejam “empresários”,que são as pessoas físicas que desenvolvamatividades de investimento ou sejam membros deuma diretoria, administradores, representantes legaisou gerentes de empresas dos setores de serviços,comércio ou indústria. Segundo o Artigo IV, cada umadas Partes compromete-se a facilitar aosempresários da outra o seu estabelecimento o livreexercício das atividades empresariais, agilizando aavaliação dos processos e a expedição dosrespectivos documentos de identidade epermanência.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 355

O acordo, em seu Anexo I, enumera os requisitosque os nacionais de ambos os países deverão cumprirpara que possam ser beneficiados pelo mesmo.

Tais condições incluem uma declaraçãoexpedida pela autoridade competente do país deorigem, certificando a existência da (ou das)empresas de que é titular ou participa o requerente;exige referências comerciais ou bancárias; e no casode investidores, exige um montante mínimo deUS$100,000.00. No caso de membros de diretoria,administradores, representantes legais ou gerentes,exige-se que a empresa comprove, mediante seusbalancetes, possuir patrimônio mínimo deUS$50,000.00.

O Anexo I ainda acrescenta outras atividadespermitidas sob o amparo do visto correspondente,dentre as quais incluem-se a realização de todo tipode operações bancárias permitidas por lei, aadministração de empresas, a internalização noterritório do Estado receptor de equipamentos,ferramentas, amostras ou afins, necessários para odesempenho de sua atividade, conforme as normasdo Estado receptor, a representação legal e jurídicada empresa; a realização de operações de comércioexterior; e a assinatura de balanços.

É o relatório.

II – Voto

O ato internacional sob exame vem corroborar aimportância conferida pelo Governo brasileiro àsiniciativas conducentes à integração econômica doCone Sul. Com efeito, a adoção de um quadro jurídicoestável, que sirva de marco para a inserção legal deempresários dos Estados Partes que queiramestabelecer-se no território vizinho, constitui umimportante passo a proporcionar a base legalnecessária ao almejado fortalecimento edinamização dos fluxos de comércio entre Brasil eUruguai.

Tal iniciativa do Governo brasileiro, que facilita acirculação de empresários brasileiros e uruguaios noUruguai e no Brasil, respectivamente, permitindo-lheso adequado acompanhamento dos negócios einvestimentos efetuados à luz dos instrumentos daintegração, traduz mais um significativo avanço naconstrução do Mercosul. Com efeito, o objetivo finaldo esquema de integração iniciado ainda nosGovernos Sarney-Alfonsin é o estabelecimento deum mercado comum na sub-região, e, comosabemos, um mercado comum pressupõe a livrecirculação de fatores, ou seja, de capital e trabalho,pelas fronteiras.

Assim, sendo, e dada a importância de que sereveste o Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade,

Cooperação e Comércio sobre Facilitação deAtividades Empresariais, celebrado entre Brasil eUruguai, para a efetiva implementação do MercadoComum do Sul, opinamos favoravelmente à suaaprovação.

Sala da Comissão, 11 de maio de 1999. – JoséSarney, Presidente – Pedro Simon, Relator – LúdioCoelho – Bernardo Cabral – Mozarildo Cavalcanti– Tião Viana – Mauro Miranda – Carlos Wilson –Moreira Mendes – Romeu Tuma.

DOCUMENTOS ANEXADOS PELASECRETARIA-GERAL DA MESA NOSTERMOS DO ART. 250, PARÁGRAFOÚNICO DO REGIMENTO INTERNO.

OF. SF/ Nº 409/99

Brasília, 18 de maio de 1999

Exmº Sr.Deputado Júlio RedeckerPresidente da Comissão Parlamentar Conjunta doMercosulCâmara dos Deputados

Senhor Presidente,Em face do disposto na Resolução nº 1, de

1996-CN, de 21-11-96, que “dispõe sobre aRepresentação Brasileira na ComissãoParlamentar Conjunta do Mercosul”, encaminho aV. Exª o Projeto de Decreto Legislativo nº 20, de1998 (nº 621/98, na Câmara dos Deputados), que“aprova o texto do Protocolo Adicional ao Tratadode Amizade, Cooperação e Comércio sobreFacilitação de Atividades Empresariais, celebradoentre o Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República Oriental do Uruguai, emMontevidéu, em 6 de maio de 1997".

À oportunidade, reitero meus protestos deestima e consideração. – Antonio CarlosMagalhães, Presidente.

Relatório

Da Representação Brasileira naComissão Parlamentar Conjunta doMercosul, sobre o Projeto de DecretoLegislativo nº 20, de 1998 (nº 621, de 1998,na Câmara dos Deputados), que “Aprova otexto do Protocolo Adicional ao Tratado deAmizade Cooperação e Comércio sobrefacilitação de Atividades Empresariais,celebrado entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo daRepública Oriental do Uruguai, emMontevidéu, em 6 de maio de 1997".

Relator: Senador Pedro Piva

356 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

I – Relatório

Com base no art. 84, inciso VIII, daConstituição Federal, o Senhor Presidente daRepública, por intermédio da Mensagem nº 752, de7 de julho de 1997 (fls. 4), submete à consideraçãodos Senhores Membros do Congresso Nacional otexto do “Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade,Cooperação e Comércio sobre Facilitação deAtividades Empresariais”, celebrado entre oGoverno da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Oriental do Uruguai, em 6 demaio de 1997. Acompanha o citado documento acompetente Exposição de Motivos nº 266/MRE (fls.11 a 12), datada de 4 de junho de 1997, do Sr.Ministro de Estado das Relações Exteriores.

Quando da sua regular tramitação na Câmarados Deputados, a matéria obteve a aprovação daComissão de Constituição e Justiça e de Redação(Relator – Deputado Nilson Gibson à fls. 15 e 16 doSumário anexo), da Comissão de Economia,Indústria e Comércio (Relator designado pelaMesa, Deputado Israel Pinheiro, à fls. 20) e daComissão de Relações Exteriores e de DefesaNacional (Relator – Deputado Mário Cavallazzi, àfls. 11 a 13 do Sumário).

II – Voto do Relator

O Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade,Cooperação e Comércio entre o Brasil e o Uruguai,ora sob exame desta Casa Legislativa, tem comometa precípua oferecer cobertura jurídicainternacional ao desempenho dos empresários deambos os países em suas atividades profissionais.Louvadas em tratados sobre cooperação e comércioanteriormente subscritas por ambas as Partes,encaminham-se estas, agora, para inserir taisempresários num contexto de melhoria em nível dequalificação das empresas, objetivando a suaintegração na economia regional e mundial. Com taldesiderato, o protocolo em causa concede um elencode medidas racionalizadoras para o melhorcumprimento das atividades empresariais exercidaspor pessoas físicas de ambos os países. Dentre taismedidas, podemos destacar o livre estabelecimentode uma Parte no território da outra (Artigo II), “semoutras restrições” além das estabelecidas pordisposições legais locais. O livre exercício dasatividades empresariais está condicionado à tomada,por ambas as Partes, das facilidades devidas (ArtigoIV), as quais envolvem trâmites burocráticos. Asconcessões de vistos ou permissões de residênciatemporária ou permanente aos empresários (Artigo

V) serão deferidas, caso por caso, dentro decondições que permitam “Atos de aquisição,administração ou disposição necessários para si,familiares ou para o exercício da respectiva atividadeempresarial”. A cooperação recíproca para aaplicação do Protocolo, por meio de compatibilizaçãocom normas nacionais está prevista (Artigo VII), como propósito não só de obter facilidades equivalentes,mas de alcançar os objetivos integracionistas doTratado de Assunção (Artigo VIII).

Em seqüência ao acima exposto, penetramosna Parte adjetiva do presente Protocolo Adicional,iniciada com a concessão de tratamento maisfavorável e sua aplicação (Artigo IX), indicação dasautoridades competentes de cada Parte paraaplicação do Protocolo (Artigo X), bem como seusórgãos respectivos, incumbidos do seu cumprimentoe envolvidos com imigração, assuntos consulares ejurídicos (Artigo XI). Reuniões de caráter anual ouextraordinárias estão asseguradas (Artigo XII) e terãopor finalidade “Analisar questões relacionadas com aaplicação do presente Protocolo”. Possíveismodificações no Anexo I do ato “Serão formalizadaspor troca de Notas (Artigo XIII)”. Por fim, matérias,como duração do Protocolo, data de sua entrada emvigor, denúncia e feitura (Artigo XIV), estão deconformidade com as normas comuns voltadas paraa espécie.

A fls. 9 e 10 está o Anexo I, contendo requisitosque deverão ser cumpridos pelos nacionais de ambosos países para que recebam a qualificação deempresários, bem como lista de atividades que lhesserão permitidas praticar em tal contexto. Taisrequisitos nos parecem legítimos e ponderáveis,tendo em vista o alto grau de responsabilidade queenvolve o exercício da atividade prescrita.

Diante do quadro acima exposto, parece-nosfora de dúvida o elevado alcance do ato internacional,ora sob exame desta Casa Legislativa, Brasil eUruguai, geograficamente fronteiriços e aliados noMercosul, unem-se, uma vez mais, para fortalecer aintegração econômica entre os seus países, agorapara possibilitar um maior desenvolvimentoempresarial, dentro de um quadro jurídico pautadopela aplicação de procedimentos ágeis e práticos.

Em assim sendo, e com a certeza de que o presenteProtocolo Adicional ao Tratado de Amizade, Cooperação eComércio entre a República Federativa do Brasil e aRepública Oriental do Uruguai contribuirá, certamente, paraestreitar, ainda mais, os laços comerciais já existentes entreos dois países, votamos pela sua aprovação integral.

É o parecer.Sala da Comissão, – Pedro Piva, Relator.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 357

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVONº 20, DE 1998

(Poder Executivo)

PARECER DA COMISSÃO

A Representação Brasileira na ComissãoParlamentar Conjunta, em reunião ordinária realizadahoje, aprovou, unanimemente, o Relatório doSenador Pedro Piva oferecido ao Projeto de DecretoLegislativo nº 20/98, concluindo pela aprovação doProjeto que aprova o texto do Protocolo Adicional aoTratado de Amizade, Cooperação e Comércio sobreFacilitação de Atividades Empresariais, celebradoentre o Governo da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Oriental do Uruguai, emMontevidéu, em 6 de maio de 1997.

Estiveram presentes os SenhoresParlamentares:

Deputado: Júlio Redecker, Presidente; FeuRosa, Secretário-Geral Adjunto; Santos Filho,Confúcio Moura e Luiz Mainardi, titulares, DeputadosCelso Russumano e Paulo Delgado, suplentes.Senadores: Geraldo Althoff, titular. Marluce Pinto,suplente.

Sala da Comissão, em 23 de setembro de 1999.– Deputado Júlio Redecker, Presidente.

PARECER Nº 838, DE 1999

Da Comissão de Assuntos Sociais,sobre o Projeto de Lei da Câmara nº 25, de1996 (nº 3.729/93, na Casa de origem), que“Altera o art. 1º da Lei nº 8.287, de 20 dedezembro de 1991, que ‘Dispõe sobre aconcessão do benefício doseguro-desemprego a pescadoresartesanais, durante os períodos de defeso’”,e sobre o Projeto de Lei do Senado nº 54, de1999, de autoria do Senador Lúcio Alcântaraque “dispõe sobre a concessão doseguro-desemprego aos trabalhadores dapesca, durante o período de defeso, e dáoutras providências”, que tramita emconjunto, nos termos do Requerimento nº301, de 1999.

Relatora: Senadora Maria do Carmo Alves

I – Relatório

Retornam a esta Comissão duas proposições jáexaminadas e que tratam da concessão deseguro-desemprego, durante o período de defeso,

aos pescadores artesanais: o Projeto de Lei daCâmara nº 25, de 1996, de autoria do DeputadoJackson Pereira, e o Projeto de Lei do Senado nº 54,de 1999, de Senador Lúcio Alcântara. Essas matériaspassaram a tramitar em conjunto, em face daaprovação do Requerimento nº 301, de 1999, deapresentado pelo autor da segunda iniciativa.

A tramitação em conjunto justifica-se poreconomia procedimental e, conforme veremos, pelacompatibilidade existente entre as matérias.

A iniciativa da Câmara permite que o pescadorartesanal continue fazendo jus ao seguro-desemprego,ainda que exerça sua atividade com o eventual auxíliode terceiros. Compatibiliza-se, dessa forma, o texto daLei nº 8.287, de 1991, referente à concessão dessebenefício, com o texto da Lei nº 8.212, de 1991, quedispõe sobre o custeio da Previdência Social. Essacompatibilização decorre da classificação, na leiprevidenciária, dos pescadores artesanais comosegurados especiais.

Por sua vez, a proposição do nobre SenadorLúcio Alcântara é bem mais ampla e revoga alegislação vigente a respeito da concessão doseguro-desemprego para os pescadores artesanais.

É o relatório.

II – Análise

A matéria objeto das proposições em análise jáfoi debatida anteriormente nesta Comissão, tendosido reconhecida a constitucionalidade, juridicidade etécnica legislativa dos projetos. A iniciativa do nobreSenador Lúcio Alcântara foi objeto de emendasubstitutiva, constante do parecer aprovado, deautoria da nobre Senadora Heloísa Helena.

No que se refere ao mérito, é inegável a presençade razões plenamente justificadoras em ambas asproposições. No primeiro caso, há umacompatibilização necessária entre a legislação doseguro-desemprego e a da Previdência Social. Nosegundo caso, trata-se de proposição que corrigealgumas distorções detectadas na prática dasconcessões desse benefício aos pescadoresartesanais.

Além de corrigir impropriedades da legislaçãoatual, pretende-se facilitar a concessão doseguro-desemprego aos pescadores artesanais,evitando que entraves burocráticos acabemimpedindo o acesso ao benefício. Amplia-se tambémo número de trabalhadores beneficiados, em funçãoda mudança no conceito legal de pescador artesanal.

Na realidade, o substitutivo à proposição destaCasa, já aprovado, contempla, em seu texto, amudança prevista na iniciativa da Câmara. Dessa forma,são plenamente compatíveis os conteúdos aprova-

358 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

dos, podendo ser utilizada, em sua íntegra, a redaçãoda Emenda Substitutiva nº 1-CAS, constante doParecer nº 278, de 1999.

III – Voto da Relatora

Em face de todo o exposto e considerando ser aproposta oriunda do Senado Federal maisabrangente do que aquela da Câmara, votamos pelaaprovação do Projeto de Lei do Senado nº 54, de1999, na forma da Emenda Substitutiva nº 1-CAS,constante do Parecer nº 278, desta Comissão, cujosubstitutivo segue abaixo, ficando, em conseqüência,prejudicado o Projeto de Lei da Câmara nº 25, de1996.

EMENDA Nº 2-CAS (SUBSTITUTIVO)

Dispõe sobre a concessão doseguro-desemprego aos trabalhadoresda pesca, durante o período de defeso, edá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º A concessão do seguro-desempregoaos pescadores artesanais durante o período deproibição da atividade pesqueira para apreservação de espécies-defeso obedecerá aodisposto na presente lei.

§ 1º O benefício do seguro-desemprego a quese refere este artigo será pago à conta do Fundo deAmparo ao Trabalhador – FAT, instituído pela Lei nº7.998, de 11 de janeiro de 1990.

§ 2º Considera-se pescador artesanal, para osefeitos desta lei, o profissional que exerça atividadepesqueira, individualmente, em regime de economiafamiliar ou de modo cooperativo, por grupo depescadores, com ou sem auxílio eventual deterceiros, com finalidade comercial ou desubsistência.

§ 3º O valor do benefício será de um saláriomínimo mensal, durante o período de defeso,vedada a sua percepção cumulativa com o benefícioprevisto na Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990.

§ 4º O período de proibição da atividadepesqueira é o fixado pelo Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis –IBAMA em relação à espécie marinha, fluvial oulacustre a cuja captura o pescador se dedique.

Art. 2º Para se habilitar ao benefício, opescador artesanal deverá apresentar ao órgão

competente para a concessão doseguro-desemprego:

I – certidão de registro de pescadorprofissional do Ibama, ou matrícula junto à Capitaniados Portos do Ministério da Marinha, nos termos dodisposto no § 1º do art. 28 do Decreto-Lei nº 221, de28 de fevereiro de 1967, emitidas, no mínimo, umano antes da data de requerimento do benefício.

II – atestado ou declaração:

a) da Colônia de Pescadores a que estejafiliado; ou

b) do órgão do Ibama, com jurisdição sobre aárea onde atue o pescador artesanal; ou

c) de proprietário de embarcação em situaçãoregular, devidamente comprovada; ou

d) de dois pescadores profissionais idôneos,comprovando:

I – o exercício da profissão na forma do § 2º doart. 1º desta lei;

2 – que se dedicou à atividade, em caráterininterrupto, durante o período transcorrido entre aparalisação anterior e aquela em curso; e

3 – que a sua renda não é superior a umsalário mínimo mensal; e

III – comprovantes do pagamento dacontribuição previdenciária, observada eventualfaculdade de recolhimento cumulado, conforme atonormativo próprio do INSS.

Art. 3º Sem prejuízo das sanções civis epenais cabíveis, todo aquele que fornecer atestadofalso ou dele tirar proveito para fim de obtenção debenefício de que trata esta Lei estará sujeito a:

I – demissão do cargo que ocupa, se servidorpúblico;

II – suspensão de suas atividadesprofissionais, com cassação de seu registro noIbama, por dois anos, se pescador profissional;

III – cassação da licença vigente eimpedimento por dois anos de sua renovação parapesca da espécie a que se refere o defeso, seproprietário de embarcação.

Art. 4º A suspensão ou cancelamento dopagamento dos benefícios previstos nesta Leiobedecerá ao disposto nos arts. 7º e 8º da Lei nº7.998, de 11 de janeiro de 1990.

Art. 5º O benefício assegurado nesta Leisomente poderá ser requerido a partir de 1º dejaneiro de 2000.

Art. 6º esta Lei entra em vigor na data de suapublicação.

359 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Art. 7º Revoga-se a Lei nº 8.287, de 20 dedezembro de 1991.

Sala das Comissões, 20 de outubro de 1999. –Osmar Dias, Presidente – Maria do Carmo Alves,Relatora – Marina Silva – Tião Viana – Luiz Estevão– Sebastião Rocha – Juvêncio da Fonseca –Moreira Mendes – Mozarildo Cavalcanti – AnteroPaes de Barros – Lúcio Alcântara – Maguito Vilela– Heloisa Helena – Geraldo Althoff – LeomarQuintanilha – Djalma Bessa – Emilia Fernandes –José Roberto Arruda – Jonas Pinheiro.

LEGISLAÇÃO CITADA, ANEXADAPELA SECRETARIA-GERAL DA MESA

....................................................................................

DECRETO-LEI Nº 221,DE 28 DE FEVEREIRO DE 1967

Dispõe sobre a proteção eestímulos à pesca e dá outrasprovidências.

....................................................................................Art. 28. Para a obtenção de matrícula de

pescador profissional é preciso autorização prévia daSuperintendência do Desenvolvimento da Pesca(SUDEPE), ou de órgão nos Estados com delegaçãode poderes para aplicação e fiscalização desteDecreto-Lei.

§ 1º A matrícula será emitida pela Capitania dosPortos do Ministério da Marinha, de acordo com asdisposições legais vigentes.

PARECER Nº 839, DE 1999

Da Comissão de AssuntosEconômicos sobre o Ofício “S” nº 17, de1999, (nº 1.533/99, na origem) queencaminha ao Senado Federal ParecerDedip/Diare-99/117, de 28-4-99, contendomanifestação do Banco Central do Brasilacerca do pedido do Estado de Roraimapara contratar operação de crédito juntoà Corporación Andina de Fomento, novalor de US$26,000,000.00 (vinte e seismilhões de dólares), equivalentes aR$57.200.000,00 (cinqüenta e setemilhões e duzentos mil reais), a preçosde 29-1-99, cujos recursos serão

destinados à distribuição de energiaelétrica .

Relator: Senador Gilberto Mestrinho

I – Relatório

É submetido à apreciação desta Comissão oOfício “S” nº 17, de 1999, do Senhor Presidente doBanco Central do Brasil, que encaminha ao SenadoFederal solicitação do Governo do Estado deRoraima para contratar operação de créditoexterno, junto à Corporación Andina de Fomento –CAF, no valor de US$26,000,000.00 (vinte e seismilhões de dólares), equivalentes aR$57.200.000,00 (cinqüenta e sete milhões eduzentos mil reais), a preços de 29-1-99.

Os recursos do empréstimo serão destinadosao financiamento parcial do “Projeto Suprimento deEnergia Elétrica para o Estado de Roraima”.

Segundo o Parecer Dedip/Diare-99/117, de28-4-99, do Banco Central do Brasil, a operação sobexame contém as seguintes características:

a) Garantidor: República Federativa do Brasil;b) Valor: US$26,000,000.00 (vinte e seis

milhões de dólares);c) Juros: até 2,1% a.a. acima da Libor semestral

para dólares dos Estados Unidos, incidente sobre osaldo devedor do principal, a partir da data de cadadesembolso dos recursos no exterior;

d) Prazo: 10 anos;e) Carência: 42 meses;f) Comissão de Compromisso: até 0,75% a.a.

sobre o saldo devedor não desembolsado, contado apartir da data da assinatura do contrato;

g) Comissão de financiamento: até 1,0% sobreo valor do empréstimo;

h) Despesas gerais: até 0,1% do valor doempréstimo;

i) Juros de Mora: até 2,0% a.a. acima da taxaoperacional;

j) Período de desembolso: 9 meses parasolicitar o primeiro desembolso e 36 meses para oúltimo, contado a partir da data de assinatura docontrato;

k) Condições de pagamento:

• do Principal: em 14 parcelas semestrais,consecutivas e iguais, vencendo-se aprimeira 42 meses após a assinatura docontrato, porém, não antes do últimodesembolso;

• dos Juros: semestralmente vencidos, sendo aprimeira parcela 180 dias após a data daassinatura do contrato, desde que tenhahavido algum desembolso;

360 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

• da Comissão de Compromisso:semestralmente vencida, sendo a primeiraparcela após a emissão do Certificado deAutorização;

• da Comissão de Financiamento:simultaneamente ao primeiro desembolso;

• das Despesas Gerais: após a emissão doCertificado de Registro, mediantecomprovação, em reais, exceto aquelasincorridas no exterior que só possam serpagas em moeda estrangeira.

A presente operação de crédito externo ésubmetida à apreciação desta Casa, porquantofigura entre aquelas que dependem deautorização específica do Senado Federal,conforme determina o art. 21 da Resolução nº78/98, do Senado Federal.

A operação foi devidamente credenciada peloDepartamento de Capitais Estrangeiros do BancoCentral (FIRCE), e desse modo, atende à política decaptação de recursos externos do País (cf. fls. 3).

Com relação ao atendimento dos limites econdições para contratação de operações decrédito pelos estados, conforme estabelece areferida Resolução nº 78/98, o Banco Centralinforma que a presente operação se enquadra noslimites fixados pelo art. 5º e incisos I, II e III do art. 6ºda citada norma.

Quanto à instrução processual, o BancoCentral esclarece que o Estado cumpriu todos osrequisitos mínimos aplicáveis à operação, conformeart. 27 da citada Resolução. Quanto aos requisitosnão essenciais aplicáveis ao pleito, o Estadoatendeu o disposto no inciso V, do art. 13, qual seja,apresentou a Certidão do Tribunal de Contas relativaa 1998. Embora essa certidão não estejaacompanhada do demonstrativo de execuçãoorçamentária, o documento atesta que o pleiteantecumpriu todos os requisitos constitucionais exigidospela Resolução do Senado.

Assim, o Banco Central manifestou-sefavoravelmente à operação, “tendo em vista o baixonível de endividamento do Estado, as condições definanciamento, a importância do projeto, ocumprimento de todos os requisitos mínimos, e queo não atendimento integral de um dos requisitos nãoessenciais independe de iniciativa do Estado” (cf.Parecer às fls. 1 a 6 do proc.).

A mencionada Resolução nº 78/98 estabeleceque, além da documentação prevista em seu art. 13,os pedidos de autorização de empréstimo interno ouexterno que envolvam aval ou garantia da União (cf.

art. 15) serão encaminhados ao Senado Federalinstruídos com os seguintes documentos:

1 – Mensagem do Presidente da República;2 – Exposição de Motivos da Ministro da Fazenda;3 – Pareceres da Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional e da Secretaria do TesouroNacional.

Em atendimento a esses requisitos, constam doprocessado a Mensagem nº 918, de 29-6-99; aExposição de Motivos MF s/n, de junho de 1999; oParecer da Procuradoria-Geral da Fazenda NacionalPGFN/COF/nº 847/99, de 29-6-99, e o Parecer daSTN/COREF/DIREF nº 242, de 28-6-99.

Na Exposição de Motivos, o Sr. Ministro daFazenda informa que autorizou o Ministério a darprosseguimento à análise para a concessão dagarantia pela União, tendo em vista, entre outrosaspectos, a relevância econômica e social doPrograma para os municípios do Estado; o elevadoretorno financeiro do investimento; ascontragarantias oferecidas à União e o potencial doEstado reverte o déficit primário, em decorrência dosbenefícios da implementação do presente Projeto,juntamente com o esforço de arrecadação.

A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,conforme Parecer PGFN/COF/Nº 847/99, de 29-6-99,informa que as formalidades prévias à contratação,prescritas na Constituição Federal e na Resolução nº96/89, do Senado Federal, restabelecida pelaResolução nº 17/92, que rege a matéria, foramcumpridas. Assinala ainda o Parecer que “foiobservado o disposto no art. 5º da Res. nº 96/89, doSenado Federal, que veda disposição contratual denatureza política, atentatória à soberania nacional e àordem pública, contrária à Constituição e às leisbrasileiras, bem assim que implique compensaçãoautomática de débitos e créditos” (cf. item 4 do citadoParecer).

A Secretaria do Tesouro Nacional, mediante oParecer STN/COREF/DIREF nº 242, de 28-6-99,declara que, quanto aos limites de endividamento daUnião, há margem para a concessão da garantiapleiteada, manifestando-se, assim, favoravelmente asua concessão, desde que, previamente àformalização dos instrumentos contratuais, sejaatendida a condiconalidade prevista na minutade contrato de empréstimo. Isto é, a apresentação àCAF, pelo mutuário, de um Estudo Ambientalacompanhado da respectiva licença emitida pelasentidades ambientais competentes (cf. item 8do Parecer citado). A STN informa, ainda, “quea operação de crédito em tela está incluída noPrograma de Ajuste Fiscal do Estado, nãoh a v e n d o p e n d ê n c i a s p o r p a r t e d o m e s-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 361

mo no que concerne aos compromissos assumidosjunto a esta Secretaria”.

É o Relatório.

II – Voto do Relator

Conforme o exposto, a operação encontra-sedentro dos limites de endividamento do Estado e opedido satisfaz as exigências processuais emanadasdesta Casa. Por outro lado, não há óbices quanto àconcessão de garantia por parte da União à referidaoperação.

Cabe enfatizar que o presente empréstimo seráconcedido pela Corporación Andina de Fomento –CAF. Trata-se de uma instituição financeiramultilateral integrada pelos cinco países membros doPacto Andino, ou seja, Colômbia, Peru, Venezuela,Bolívia e Equador. Como se sabe, o Brasil tornou-seacionista dessa instituição, mediante a assinatura do“Convênio de Subscrição de Ações”, em 30 denovembro de 1995, posteriormente ratificado peloCongresso Nacional.

Por outro lado, de acordo com informações dosecretário da fazenda do Estado, a contrapartidanacional, a cargo da Eletrobrás, foi totalmenterealizada no ano de 1998, no valor de US$13,1milhões. Ademais segundo dados do estudo deviabilidade, o projeto terá retorno em 4 anos, no valorestimado de R$132,6 milhões, sendo R$57,55milhões decorrente da economia com a desativaçãode 28 usinas de pequeno e médio portes e R$75,1milhões, com a compra e venda de energia. O projetobeneficiará os municípios abrangidos, interiorizandoos benefícios decorrentes da linha de transmissãoenergética Guri/Boa Vista e efetivando a extensão dosistema de transmissão Stª Elena do Uiarén/BoaVista para Caracaraí, Alto Alegre, Bonfim,Normandia, Cantá, Amajaraí e Novo Paraíso, a partirda subestação de Boa Vista.

Além do aumento de capacidade de produçãode energia não poluente, o projeto viabilizará aimplementação dos programas de desenvolvimentodo Estado nas áreas de agropecuária e agroindústria,de apoio a pequenos produtores rurais deinfra-estrutura, de saúde e de educação.

Espera-se que, com a viabilização de pólosprodutivos ao longo das linhas de transmissão, sejamincorporados 2,5 milhões de hectares de cerrado, 365mil hectares de várzeas e 1 milhão de hectares decapoeira para a produção de grãos, hortigranjeiros epecuária.

Finalmente, com a consolidação do suprimentoenergético e a pavimentação dos eixos rodoviários(BR-174 e BR-401), há expectativa de que tanto as

atividades industriais como as do turismo sejamfortalecidas pela integração de mercados (Amazonase países limítrofes – venezuela e Guiana) e queocorra a intensificação do intercâmbio comercial coma Venezuela e a Guiana.

Por essas razões e considerando a relevânciasocial e econômica do Projeto em apreço,manifesto-me favoravelmente às autorizaçõessolicitadas a forma do seguinte:

PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 108 DE 1999

Autoriza o Governo do Estado deRoraima a contratar operação de créditoexterno, com aval da União, no valor deUS$26,000,000.00 (vinte e seis milhões dedólares), equivalente a R$57.200.000,00(cinqüenta e sete milhões e duzentos milreais), a preços de 29-1-99, junto àCorporación Andina de Fomento – CAF,cujos recursos serão destinados àdistribuição de energia elétrica.

O Senado federal resolve:Art. 1º É o Governo do Estado de Roraima

autorizado, nos termos da Resolução nº 78/98, doSenado Federal, a contratar operação de créditoexterno com aval da União, no valor deUS$26.000.000,00 (vinte e seus milhões de dólares),equivalentes a R$57.200.000,00 (cinqüenta e setemilhões e duzentos mil reais), a preços de 29-1-99,junto à Corporación Andina de Fomento – CAF, cujosrecursos serão destinados a financiar, parcialmente oProjeto Suprimento de Energia Elétrica do Estado deRoraima.

Art. 2º É a União autorizada, nos termos daResolução nº 96/89, do SenadoFederal,restabelecida pela Resolução nº 17/92, aconceder garantia à operação autorizada no art. 1ºdesta Resolução.

Art. 3º A operação de crédito a que se refere oart. 1º compreende as seguintes características econdições:

a)Mutuário: Estado de Roraima;b) Mutuante: Corporación Andina de Fomento –

CAF;c) Garantidor: República Federativa do Brasil;d) Valor: US$26,000,000.00 (vinte e seis

milhões de dólares), equivalentes a R$57.200.000,00(cinqüenta e sete milhões e duzentos mil reais), apreços de 29-1-99;

362 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

e) Juros: até 2,1% (dois inteiros e um décimopor cento) a.a. acima da Libor semestral para dólaresdos Estados Unidos, incidente sobre o saldo devedordo principal, a partir da data de cada desembolso dosrecursos no exterior:

f) Prazo: 10(dez)anos;g) Carência: 2(quarenta e dois) meses;h) Comissão de Compromisso: até

0,75%(setenta e cinco centésimos por cento) a.a.sobre o saldo não desembolsado, contado a partir dadata de assinatura do contrato;

I) Comissão de financiamento: até 1,0%(um porcento) sobre o valor do empréstimo;

j) Despesas gerais: até 0,1% (um décimo porcento) do valor do empréstimo;

k) Juros de Mora: até 2,0% (dois por cento) a.a.acima da taxa operacional;

l) Período de desembolso: 9 (nove) meses parasolicitar o primeiro desembolso e 36 (trinta e seis)meses para o último, contado a partir da data deassinatura do contrato;

m) Condições de pagamento:

• do Principal: em 14 (quatorze) parcelassemestrais, consecutivas e iguais,vencendo-se a primeira 42 (quarenta e dois)meses após a assinatura do contrato, porém,não antes do último desembolso;

• dos Juros: semestralmente vencidos, sendo aprimeira parcela 180 (cento e oitenta) diasapós a data da assinatura do contrato, desdeque tenha havido algum desembolso;

• da Comissão de Compromisso:semestralmente vencida, sendo a primeiraparcela após a emissão do Certificado deAutorização;

• da Comissão de Financiamento:simultaneamente ao primeiro desembolso;

• das Despesas Gerais: após a emissão doCertificado de Registro, mediantecomprovação, em reais, exceto aquelasincorridas no exterior que só possam serpagas em moeda estrangeira;

n) Contragarantias: vinculação de quotas derepartição constitucional previstas nos arts. 157 e159, I a e II, complementadas pelas receitastributárias próprias estabelecidas no art. 155, nostermos do § 4º do art. 167, todos da ConstituiçãoFederal, conforme autorizado pela Lei Estadual nº194, de 23-3-98, alterada pela Lei nº 205, de12-6-98.

Art. 4º A autorização concedida por estaresolução deverá ser efetivada no prazo máximo de

quinhentos e quarenta dias contados da data de suapublicação.

Art. 5º O exercício da presente autorização ficacondicionado a que o Estado de Roraima comprove aadimplência, junto ao Banco Central do Brasil,relativamente ao Instituto Nacional do Seguro Social(INSS) e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço(FGTS).

Art. 6º Esta resolução entra em vigor na data desua publicação.

Sala da Comissão, 20 de outubro de 1999. –Ney Suassuna, Presidente – Gilberto Mestrinho,Relator – Bello Parga – José Alencar – RobertoSaturnino – Jorge Bornhausen – Paulo Souto –Lúdio Coelho – Romeu Tuma – Jonas Pinheiro –Francelino Pereira – Mozarildo Cavalcanti –Eduardo Suplicy – Pedro Piva.

LEGISLAÇÃO CITADA, ANEXADAPELA SECRETARIA-GERAL DA MESA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos,cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I – cancelamento da naturalização por sentençatransitada em julgado;

II – incapacidade civil absoluta;III – condenação criminal transitada em julgado,

enquanto durarem seus efeitos;IV – recusa de cumprir obrigação a todos

imposta ou prestação alternativa, nos termos do art.5º, VIII;

V – improbidade administrativa, nos termos doart. 37, § 4º....................................................................................

* Art. 155. Compete aos Estados e ao DistritoFederal instituir impostos sobre:

I – transmissão causa mortis e doação, dequaisquer bens ou direitos;

II – operações relativas à circulação demercadorias e sobre prestações de serviços detransporte interestadual e intermunicipal e decomunicação, ainda que as operações e asprestações se iniciem no exterior;

III – propriedade de veículos automotores.§ 1º O imposto previsto no inciso I:I – relativamente a bens imóveis e respectivos

direitos, compete ao Estado da situação do bem, ouao Distrito Federal;

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II – relativamente a bens móveis, títulos ecréditos, compete ao Estado onde se processar oinventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador,ou ao Distrito Federal;

III – terá a competência para sua instituiçãoregulada por lei complementar:

a) se o doador tiver domicílio ou residência noexterior;

b) se o de cujus possuía bens, era residente oudomiciliado ou teve o seu inventário processado noexterior;

IV – terá suas alíquotas máximas fixadas peloSenado Federal.

§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá aoseguinte:

I – será não-cumulativo, compensando-se o quefor devido em cada operação relativa à circulação demercadorias ou prestação de serviços com omontante cobrado nas anteriores pelo mesmo ououtro Estado ou pelo Distrito Federal;

II – a isenção ou não-incidência, salvodeterminação em contrário da legislação:

a)não implicará crédito para compensação como montante devido nas operações ou prestaçõesseguintes;

b) acarretará a anulação do crédito relativo àsoperações anteriores;

III – poderá ser seletivo, em função daessencialidade das mercadorias e dos serviços;

IV – resolução do Senado Federal, de iniciativado Presidente da República ou de um terço dosSenadores, aprovada pela maioria absoluta de seusmembros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis àsoperações e prestações, interestaduais e deexportação;

V – é facultado ao Senado Federal:a) estabelecer alíquotas mínimas nas

operações internas, mediante resolução de iniciativade um terço e aprovada pela maioria absoluta de seusmembros;

b) fixar alíquotas máximas nas mesmasoperações para resolver conflito específico queenvolva interesse de Estados, mediante resolução deiniciativa da maioria absoluta e aprovada por doisterços de seus membros;

VI – salvo deliberação em contrário dos Estadose do Distrito Federal, nos termos do disposto no incisoXII, g, as alíquotas internas, nas operações relativasá circulação de mercadorias e nas prestações deserviços, não poderão ser inferiores às previstas paraas operações interestaduais;

VII – em relação às operações e prestações quedestinem bens e serviços a consumidor finallocalizado em outro Estado, adotar-se-á:

a) a alíquota interestadual, quando odestinatário for contribuinte do imposto;

b) a alíquota interna, quando o destinatário nãofor contribuinte dele;

VIII – na hipótese da alínea a do inciso anterior,caberá ao Estado da localização do destinatário oimposto correspondente á diferença entre a alíquotainterna e a interestadual;

IX – incidirá também:a) sobre a entrada de mercadoria importada do

exterior, ainda quando se tratar de bem destinado aconsumo ou ativo fixo do estabelecimento, assimcomo sobre serviço prestado no exterior, cabendo oimposto ao Estado onde estiver situado oestabelecimento destinatário da mercadoria ou doserviço;

b) sobre o valor total da operação, quandomercadorias forem fornecidas com serviços nãocompreendidos na competência tributária dosMunicípios;

X – não incidirá:a) sobre operações que destinem ao exterior

produtos industrializados, excluídos ossemi-elaborados definidos em lei complementar;

b) sobre operações que destinem a outrosEstados petróleo, inclusive lubrificantes,combustíveislíquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica;

c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art.153, § 5º;

XI – não compreenderá, em sua base decálculo, o montante do imposto sobre produtosindustrializados, quando a operação, realizada entrecontribuintes e relativa a produto destinado àindustrialização ou à comercialização, configure fatogerador dos dois impostos;

XII – cabe á lei complementar:a) definir seus contribuintes;b) dispor sobre substituição tributária;c) disciplinar o regime de compensação do

imposto;d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição

do estabelecimento responsável, o local dasoperações relativas á circulação de mercadorias edas prestações de serviços;

e) exclui da incidência do imposto, nasexportações para o exterior, serviços e outros produtosalém dos mencionados no inciso X, a;

f) prever casos de manutenção de crédito,relativamente à remessa para outro Estado e exportaçãopara o exterior, de serviços e de mercadorias;

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g) regular a forma como, mediante deliberaçãodos Estados e do Distrito Federal, isenções,incentivos e benefícios fiscais serão concedidos erevogados.

§ 3º À exceção dos impostos de que tratam oinciso II do caput deste artigo e o art. 153, I e II,nenhum outro tributo poderá incidir sobre operaçõesrelativas a energia elétrica, serviços detelecomunicações, derivados de petróleo,combustíveis e minerais do País.....................................................................................

* EC 3/93.

Art. 157. Pertencem aos Estados e ao DistritoFederal:

I – o produto da arrecadação do imposto daUnião sobre renda e proventos de qualquer natureza,incidente na fonte sobre rendimentos pagos, aqualquer título, por eles, suas autarquias e pelasfundações que instituírem e mantiverem;

II – vinte por cento do produto da arrecadaçãodo imposto que a União instituir no exercício dacompetência que lhe é atribuída pelo art. 154, I.....................................................................................

Art. 159 A União entregará:I – do produto da arrecadação dos impostos

sobre renda e proventos de qualquer natureza esobre produtos industrializados, quarenta e sete porcento na seguinte forma:

a) vinte e um inteiros e cinco décimos por centoao Fundo de Participação dos Estados e do DistritoFederal;

b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por centoao Fundo de Participação dos Municípios;

c) três por cento, para aplicação em programasde financiamento ao setor produtivo das regiõesNorte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suasinstituições financeiras de caráter regional, de acordocom os planos regionais de desenvolvimento, ficandoassegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dosrecursos destinados à região, na forma que a leiestabelecer;

II – do produto da arrecadação do impostosobre produtos industrializados, dez por cento aosEstados e ao Distrito Federal, proporcionalmente aovalor das respectivas exportações de produtosindustrializados.

§ 1º Para efeito de cálculo da entrega a serefetuada de acordo com o previsto no inciso I,excluir-se-á a parcela da arrecadação do Imposto deRenda e proventos de qualquer natureza pertencenteaos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,nos termos do disposto nos arts. 157, I, e 158, I.

§ 2º A nenhuma unidade federada poderá serdestinada parcela superior a vinte por cento domontante a que se refere o inciso II, devendo oeventual excedente ser distribuído entre os demaisparticipantes, mantido, em relação a esses, o critériode partilha nele estabelecido.

§ 3º Os Estados entregarão aos respectivosMunicípios vinte e cinco por cento dos recursos quereceberem nos termos do inciso II, observados oscritérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I eII.....................................................................................

*Art. 167. São vedados:I – o início de programas ou projetos não

incluídos na lei orçamentária anual;II – a realização de despesas ou a assunção de

obrigações diretas que excedem os créditosorçamentários ou adicionais;

III – a realização de operações de créditos queexcedam o montante das despesas de capital,ressalvas as autorizadas mediante créditossuplementares ou especiais com finalidade precisa,aprovados pelo Poder Legislativo por maioriaabsoluta;

IV – a vinculação de receita de impostos aórgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição doproduto da arrecadação dos impostos a que sereferem os arts. 158 e 159, a destinação de recursospara manutenção e desenvolvimento do ensino,como determinado pelo art. 212, e a prestação degarantias às operações de crédito por antecipação dareceita, previstas no art. 165, § 8º, bem assim odisposto no § 4º deste artigo;

V – a abertura de crédito suplementar ouespecial sem prévia autorização legislativa e semindicação dos recursos correspondentes;

VI – a transposição, o remanejamento ou atransferência de recursos de uma categoria deprogramação para outra ou de um órgão para outro,sem prévia autorização legislativa;

VII – a concessão ou utilização de créditosilimitados;

VIII – a utilização, sem autorização legislativaespecífica, de recursos dos orçamentos fiscal e daseguridade social para suprir necessidade ou cobrirdéficit de empresas, fundações e fundos, inclusivedos mencionados no art. 165, § 5º.

IX – a instituição de fundos de qualquernatureza, sem prévia autorização legislativa;

X – a transferência voluntária de recursos e aconcessão de empréstimos, inclusive por antecipaçãode receita, pelos Governos Federal e Estaduais esuas instituições financeiras, para pagamento de

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despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

XI – a utilização dos recursos provenientes dascontribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, eII, para a realização de despesas distintas dopagamento de benefícios do regime geral deprevidência social de que trata o art. 201.

§ 1º Nenhum investimento cuja execuçãoultrapasse um exercício financeiro poderá seriniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ousem lei que autorize a inclusão, sob pena de crimede responsabilidade.

§ 2º Os créditos especiais e extraordináriosterão vigência no exercício financeiro em que foremautorizados, salvo se o ato de autorização forpromulgado nos últimos quatro meses daqueleexercício, caso em que, reabertos nos limites deseus saldos, serão incorporados ao orçamento doexercício financeiro subseqüente.

§ 3º A abertura de crédito extraordináriosomente será admitida para atender a despesasimprevisíveis e urgentes, como as decorrentes deguerra, comoção interna ou calamidade pública,observado o disposto no art. 62.

§ 4º É permitida a vinculação de receitaspróprias geradas pelos impostos a que se referemos arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam osarts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestaçãode garantias ou contragarantias à União e parapagamento de débitos para com esta.

....................................................................................

* EC Nº 3/93, EC Nº 19/98 e EC Nº 20/98

....................................................................................

DOCUMENTO ANEXADO NOSTERMOS DO ART. 250, PARÁGRAFOÚNICO, DO REGIMENTO INTERNO.

REQUERIMENTO Nº 445, DE 1999

Senhor Presidente,

Nos termos regimentais, requeiro sejamprestadas pelo Senhor Ministro da Fazenda, comvistas a instrução do Ofício nº S/17, de 1999, peloqual o Governo do Estado de Roraima solicita

autorização para contratar operação de crédito juntoà Corporacion Andina de Fomento, no valor deUS$26,000,000.00 (vinte e seis milhões de dólares),equivalentes a R$57.200.000,00 (cinqüenta e setemilhões e duzentos mil reais), a preços de 29-1-99,cujos recursos serão destinados à distribuição deenergia elétrica, as seguintes informações:

a) Quais os motivos que serviram de base paraa Cefem/Difem concluir que o Estado de Roraimanão apresenta capacidade de pagamento para arcarcom os compromissos decorrentes da operação,estando, portanto, enquadrado na categoria “C”?

b) Quais os critérios utilizados pelo SenhorMinistro da Fazenda para a manifestação deexcepcionalidade para a operação pretendida?

Sala das Sessões, 18 de agosto de 1999. –Senador Romero Jucá.

(À Mesa para decisão.)

AVISO Nº 536/MF

Brasília, 27 de setembro de 1999

Anexos: 2/5A Sua Excelência o SenhorSenador Ronaldo Cunha LimaPrimeiro-Secretário do Senado FederalBrasília – DF

Senhor Primeiro-Secretário,

Refiro-me ao Ofício nº 836 (SF), de 15-9-99,por intermédio do qual foi remetida, para exame emanifestação, cópia do Requerimento deInformação nº 445/99, de autoria do Exmo. Sr.Senador Romero Jucá, sobre solicitação do Estadode Roraima para contratar operação de crédito juntoà “Corporation Andina de Fomento”, no valor deUS$26,000,000.00 (vinte e seis milhões de dólares),equivalentes a R$57.200.000,00 (cinqüenta e setemilhões e duzentos mil reais).

2 – A propósito, encaminho a VossaExcelência, em resposta ao quesito a, do referidoRequerimento, cópia da Nota TécnicaSTN/Corem/Dinot nº 1.510, de 24-9-99, elaboradapela Secretaria do Tesouro Nacional.

3 – Por oportuno, esclareço que os critériosutilizados para a manifestação de excepcionalidadeà operação pretendida são aqueles mencionados noparágrafo sexto da Exposição de Motivos nº 515, de29-6-99, anexada por cópia.

Atenciosamente, – Everardo Maciel, Ministrode Estado da Fazenda, Interino.

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O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – OExpediente lido vai à publicação.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – DoExpediente lido constam mensagens presidenciaisencaminhando os Projetos de Lei nºs 36 a 38, de1999-CN, que vão à Comissão Mista de Planos,Orçamentos Públicos e Fiscalização.

Nos termos da Resolução nº 2, de 1995-CN, aPresidência estabelece o seguinte calendário para atramitação dos projetos:

Até 27-10 – publicação e distribuição de avulsosAté 4-11 – prazo final para apresentação de

emendas;Até 9-11 – publicação e distribuição de avulsos

das emendas;Até 19/11 – encaminhamento dos pareceres

finais à Mesa do Congresso Nacional.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – A

Presidência comunica ao Plenário que o Projeto deLei da Câmara nº 48, de 1999, lido anteriormente,terá tramitação com prazo determinado de quarenta ecinco dias, nos termos do art. 64, § 1º, daConstituição, combinado com o art. 375 doRegimento Interno.

De acordo com o art. 122, II, b, do RegimentoInterno, a matéria poderá receber emendas, peloprazo único de cinco dias úteis, perante a Comissãode Assuntos Econômicos.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – APresidência comunica ao Plenário que o Projeto deResolução nº 108, de 1999, resultante de parecer lidoanteriormente, ficará perante a Mesa durante cincodias úteis, a fim de receber emendas, nos termos doart. 235, II, f, do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Passa-se à lista de oradores.

Concedo a palavra ao Senador CasildoMaldaner, como primeiro orador inscrito, pelo prazode 20 minutos.

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB – SC.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Leidos Medicamentos Genéricos, recentementeaprovada, na prática ainda não entrou em vigor. Emfunção disso, trago algumas considerações.

Estamos vivendo uma época surrealista, emque o Supremo Tribunal Federal é freqüentementecriticado por membros do Governo e pela mídia pornão adotar decisões de interesse do Poder Executivosobre matérias pendentes naquela Corte.

Leis são feitas e não cumpridas. A moda é dizerque tal lei “pegou” ou tal lei “não pegou”. E nadaacontece.

A Lei n° 9.787, Lei dos MedicamentosGenéricos, sancionada em fevereiro deste ano, atéhoje não funciona. Essa lei obriga a fixação, em cadamedicamento, do nome genérico, e contém quasetodas as salvaguardas necessárias para que o Brasilpossa ter medicamentos de qualidade.

O Presidente Itamar Franco havia tentadoinstituir o uso de genéricos no País, em benefício deuma população sofrida e miserável. O Decreto n° 793,de seu Governo, que tratava do assunto, acabouvirando letra morta, cedendo ao lobby dasmultinacionais.

Os esforços desenvolvidos pelo atual Ministroda Saúde acabaram conseguindo a aprovação da Leidos Genéricos, ainda não implantada, cujo mercado ealvo de disputa gira em torno de R$14 bilhões. Nomeio dessa batalha, estão os consumidores, queserão os maiores prejudicados com a recente decisãodo Governo de adiar a sua implantação.

Pela lei, testes de bioequivalência ebiodisponibilidade precisam ser feitos antes de osmedicamentos genéricos receberem o aval daAgência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVS. Sóentão podem ser disponibilizados para a venda.

O prazo para essas exigências está vencido eos genéricos continuam desaparecidos, sofrendoforte campanha não só da indústria farmacêuticanacional, mas também da internacional. Ameaças desanções comerciais têm sido freqüentes aos paísessubdesenvolvidos e em desenvolvimento com ointuito de desestimular o uso dos genéricos. O atualcandidato democrata ao governo dos EstadosUnidos, Al Gore, ameaçou a África do Sul comviolentas sanções caso continuassem vendendogenéricos para o tratamento da sua imensapopulação soropositiva. Outros países, como aTailândia, a Argentina, a Nova Zelândia e aGuatemala, também receberam pressões por suasatuações independentes no ramo da farmacologia.

A indústria farmacêutica insiste em dizer que osgenéricos são similares, quando, no mercado,genéricos são os medicamentos conhecidos pelo seuprincípio ativo, a substância química que atua sobre adoença. Os genéricos são produzidos a partir daextinção do prazo de validade de uma patente.

A crise na saúde pública mundial fez com que taltipo de medicamento fosse adotado em muitospaíses, com grande economia para os usuários epara os próprios governos, compradores de remédiospara a rede de saúde pública.

Em alguns países desenvolvidos, como aFrança, a Austrália, a Itália e a Espanha, o mercadode genéricos não se desenvolveu porque os preçosdos medicamentos são viáveis a toda a população. Aí é

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outra história. Ao contrário desses países, ocrescimento do mercado de genéricos tem sidosignificativo na Alemanha, nos Estados Unidos, naHolanda e na Inglaterra, onde os remédios de marcasão caros. Nesses países, os genéricos têm ummercado extraordinário.

Nos Estados Unidos, a partir de 1984, vigoramnormas semelhantes às contidas em nossa Lei dosMedicamentos Genéricos.

Vejam bem, Sr. Presidente, nobres colegas, nosEstados Unidos, desde 1984, vigoram leis nessesentido. Quer dizer, lá pode; aqui, não. É interessanteisso!

As mudanças introduzidas nos Estados Unidosforam benéficas para o consumidor, pois taismedicamentos custam, em média, 40% a menos doque os de marca, sendo que a maioria dos médicospassou a receitá-los, a fim de que o consumidortivesse uma opção a mais.

Os brasileiros gastam o equivalente a US$8bilhões por ano em medicamentos – Senador CarlosPatrocínio, V. Exª, que é médico, deve saber disso –,mas a previsão é de que tal quantia seja reduzida coma adoção plena e total dos genéricos. Ou seja, vamoseconomizar enormemente se implantarmos osgenéricos.

O Brasil é o quarto mercado mundial deconsumo de medicamentos, oligopolizado pelaindústria multinacional, que detém 84% dofaturamento da produção nacional. Seu lucro é muitogrande que, mesmo durante o tão propalado Plano deEstabilidade Econômica os medicamentos nãopararam de subir. Só neste ano, tiveram uma alta demais de 60%. O negócio é tão lucrativo que já temosmais farmácias e distribuidoras de remédios do querecomenda a própria Organização Mundial de Saúde– OMS.

Em recente artigo sobre o aumento abusivo dopreço dos medicamentos e do boicote à Lei dosGenéricos, publicado na Folha de S.Paulo, ocolunista Jânio de Freitas disse: “Leis não faltam.Sobram, até. Mas falta o que antes das feministas sechamava de macheza, muitos continuam chamandode falta de caráter, outros estão convictos de que sãomodos de improbidade administrativa, corra dinheiroou não. Seja lá o que for, respeitável é que não é”.

Por isso, Sr Presidente, nobres colegas, no anopassado, o Laboratório Noel Nutels analisou o teor doprincípio ativo de aproximadamente 20medicamentos, de seis categorias diferentes,fabricados por 13 diferentes laboratórios públicos eprivados. As conclusões foram estarrecedoras. Todosos resultados estavam de acordo com as normas da

legislação vigente e, espantosamente, os genéricostinham um princípio ativo mais próximo do teordeclarado do que os remédios de marca comercial.

Vejam bem como são as coisas, os preços sãomais altos unicamente em função da marca. Mas issoocorre em tudo: roupas, calçados, etc. Sabemosdisso. No entanto, com relação aos medicamentos,que servem para restabelecer a saúde, o PoderPúblico tem que interferir, porque é o princípio deeconomia das pessoas. Há muitos aposentados queganham dois ou três salários mínimos e gastamquase todo o dinheiro em remédios para o mês,porque ninguém doa medicamento. Por que nãocomprar o genérico, com o mesmo princípio ativo,40% mais barato? Para quem ganha R$100,00 ouR$130,00 é uma boa economia, em média, por mês.Então, essas são questões fundamentais.

Repito, Sr. Presidente: espantosamente, osgenéricos tinham um princípio ativo mais próximo doteor declarado do que os remédios de marcacomercial. Como se constata, não se trata apenas deum problema econômico, mas sim de crime contra aeconomia popular, com graves riscos para a saúde dobrasileiro.

Essa análise foi importante, uma vez que veiocomprovar que o preço dos medicamentos no País épraticado de forma aleatória, sem o menor respeitoaos direitos do consumidor. Assim é que o Feldene,da Pfizer, com 98,8% do teor de piroxican declarado,custava R$15,82, enquanto que o Piroxican, da Teuto,com 99,5% do mesmo teor – vejam bem, com maiorpercentagem de teor –, custava R$3,85, umadiferença de 305% no preço.

São dados claros. Muitas vezes, gasta-se umdinheirão por causa de uma marca e não em funçãode um princípio ativo. Tudo isso é muito sério e temque ser analisado, pois é uma questão de economiapopular.

Finalizando, Sr. Presidente, diante das notíciasveiculadas esta semana, desejo conclamar o MinistroJosé Serra e demais autoridades governamentais aadotarem medidas mais enérgicas contra os cartéisque estão pleiteando o adiamento da aplicabilidadeda lei.

O Sr. Nabor Júnior (PMDB – AC) – V. Exª mepermite um aparte, nobre Senador CasildoMaldaner?

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB – SC) –Ouço, com muita honra, o eminente Senador NaborJúnior.

O Sr. Nabor Júnior (PMDB – AC) – SenadorCasildo Maldaner, quero cumprimentar V. Exª pelainiciativa de abordar um tema de tão grande importân-

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cia e de tanto interesse para a população brasileira: afabricação dos remédios genéricos. E aargumentação expendida por V. Exª na tribuna nosprovoca uma atitude de incerteza, em relação aoslaboratórios filiados à Abifarma e sua campanha,através das emissoras de rádio e televisão e dosjornais, contra a lei que assegura a fabricação dosmedicamentos genéricos. Ora, se, como disse V. Exª,existe a legislação que permite a fabricação degenéricos e se vários laboratórios já os estãoproduzindo e fornecendo às drogarias – eu mesmo jácomprei remédios genéricos por preços muitoinferiores àqueles cujas marcas “de fantasia”constavam na receita do médico – por que aAbifarma, entidade representativa dos laboratóriosmais tradicionais atuantes no Brasil, quase todos comsede no Exterior, está concitando a população a nãocomprar o medicamento genérico? Por que aAbifarma está fazendo ampla campanha contra umalei federal, aprovada pelo Congresso Nacional esancionada pelo Presidente da República? Outradúvida que também me ocorre: por que oslaboratórios que produzem os medicamentosgenéricos os colocam no mercado por preços muitoinferiores ao dos medicamentos tradicionais? Por queos laboratórios fabricantes dos medicamentos comgriffe não reduzem os preços, se o agente ativo é omesmo? Isso deveria ocorrer, mas não estáacontecendo. E como os genéricos são mais baratos,a tendência é a população dar prioridade a suaaquisição, pedindo ao médico que prescreva ossucedâneos do medicamento tradicional. Por que,então, os laboratórios, sempre tão ciosos na defesados princípios do livre mercado, não tornam menosdolorosos os seus custos?

Essa é a dúvida que gostaria que oslaboratórios esclarecessem, talvez através da suaentidade, a Abifarma, hoje tão empenhada emdesmoralizar os medicamentos genéricos, numaatitude que parece ignorar a existência de uma leifederal, que assegurou a fabricação do medicamentogenérico. Agradeço a V. Exª a oportunidade que meconcedeu de dirigir-lhe este aparte.

O SR. CASILDO MALDANER – Senador NaborJúnior, recolho as ponderações de V. Exª. Como V. Exª,tento entender o pensamento desses laboratórios edessas entidades.

A lei diz que o genérico poderá ser produzido namedida em que a patente de determinadomedicamento for extinta. E a concessão de umapatente dura de cinco a dez anos; vencido o prazo, elanão será renovada e o genérico passará a serproduzido.

V. Exª pergunta por que as entidades querepresentam os laboratórios fazem essa campanha.Porque, no momento em que os genéricos tomarem omercado, os medicamentos com marcas deixarão deocupar esse espaço e perderão uma receita enorme.Portanto, a campanha existe justamente para gerarna população uma certa confusão.

No encerramento dessas ponderações, querocumprimentar o Ministro da Saúde, José Serra, queestá se dedicando ao problema e teve muita coragemde enfrentar multinacionais poderosas, que têm muitaforça.

Quero, também, conclamar a população paraque exija que essa lei entre em vigor, a fim de que setenha a opção de comprar remédios com preços maisreduzidos. É importantíssimo que se faça ummovimento para que o Ministério da Saúde e acomunidade brasileira ligada à saúde ajam com forçanesse assunto e que todos nós tambémempreendamos esforços nesse sentido.

Por isso, ao finalizar, Sr. Presidente, nobresColegas, diante das notícias veiculadas esta semana,desejo novamente conclamar o Ministro da Saúde edemais autoridades governamentais a adotarem medidasenérgicas quanto aos cartéis que estão pleiteando oadiamento da aplicabilidade da lei, contrariando, assim, osinteresses de toda a sociedade brasileira, particularmenteas camadas mais pobres da população. No momento emque as nações atravessam uma crise econômica mundial,não há que se falar em concessões para aqueles que, aolongo das décadas, de um certo modo sugaram econtinuam sugando, literalmente, o sangue dos paísesem desenvolvimento.

Países como os Estados Unidos, Alemanha,Inglaterra, Holanda adotaram os genéricos – osEstados Unidos, desde 84 –, com 40% de custo amenos. Por que lá é possível e, nos paísessubdesenvolvidos, há uma pressão para que osgenéricos com o mesmo princípio ativo não sejampermitidos? Se não nos rebelarmos, se não nosmexermos, seremos como crianças que, se não choram,não ganham mamadeira da mãe. É um ditado muitoconhecido. Então, se não gritarmos, se não nosorganizarmos, vamos ficar apanhando, penando, comose diz na gíria. Logo, essa sacrossanta revolta nossaprecisa acontecer.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT – AC) – V. Ex.ª mepermite um aparte?

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB – SC) –Antes de concluir, concedo o aparte ao Senador TiãoViana, que também é ligado à saúde, é médico, aquem ouço com muita alegria.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT – AC) – SenadorCasildo Maldaner, eu gostaria de parabenizá-lo por

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um pronunciamento tão oportuno, que se aproximado sentimento da Nação brasileira com respeito aessa dificuldade em se adquirirem medicamentosneste País. Hoje, se formos ouvir as pessoas de maisidade, vamos verificar que elas têm um consumomédio mensal entre R$300,00 a R$600,00 commedicamentos para se manterem saudáveis eenfrentarem as dificuldades de saúde que têm pelaprópria idade. Lamentavelmente, o Brasil temconseguido ser insensível a uma política demedicamentos. Diria que o grande erro do Governobrasileiro foi a extinção da Ceme, a Central deMedicamentos do Ministério da Saúde, em função deuma tese de reduzir o papel do Estado na políticaeconômica, dentro da economia global. Entendo quea Ceme era um problema grave de ordemadministrativa, mas a sua existência era de sumaimportância em função da grande contribuição queprestava às populações carentes. Hoje, o Governobrasileiro tenta recuperar, via Ministério da Saúde, viapensadores no campo da saúde, como a FundaçãoOswaldo Cruz, que trabalha na Biomanguinhos, naFarmanguinhos, a política de produção demedicamentos. Para alegria nossa, informou-me estasemana o Dr. Pedro Chequer, da CoordenaçãoNacional de DST-AIDS, que o Governo brasileiro jáestá com capacidade de produção de mais de 70%dos medicamentos para AIDS, utilizados no coquetelanti-AIDS. Então, eu imagino que o nosso País temque olhar neste sentido, nesta direção, de ter umacesta básica de medicamentos que permita que opobre brasileiro, que aqueles que têm dificuldadepossam ter acesso a remédio na hora de umadoença. Já testemunhei, como médico, pessoas nãoterem três reais para comprar um antiarrítmico paratratar uma arritmia cardíaca. Isso é muito ruim. Émuito triste saber que são medicamentos que nãoestão disponíveis na rede pública básica. E, quandohá um avanço, como esse proporcionado pelo projetode lei do Deputado Eduardo Jorge, que garante aprodução dos genéricos, apoiado e defendido pelopróprio Ministério da Saúde, o cartel dos grandeslaboratórios, lamentavelmente, numa ação ruim,antiética eu diria, por meio da Abifarma, vai para oshorários nobres da televisão, dos telejornais, dizer aopovo que tome cuidado ao consumir remédiosgenéricos, porque podem não estar com a qualidadedevida. Ora, nobre Senador, isso é uma afronta àAgência Nacional de Vigilância Sanitária, que temtentado agir com profunda responsabilidade e quetem a competência de garantir a qualidade dosmedicamentos neste País. Seis meses de adiamentona liberação oficial dos genéricos e naobrigatoriedade de eles estarem nas farmácias

significam, para a indústria farmacêutica, que já temuma receita anual de mais de US$12 bilhões, umlucro extra de mais de US$5 bilhões até a entrada dogenérico no mercado. Então, lamento profundamentee considero um caso de polícia, e não mais doMinistério da Saúde, essa ação combinada dealgumas multinacionais para querer deturpar aconsciência nacional colocando como perigosos osgenéricos. A África do Sul enfrentou o mesmoproblema e conseguiu se livrar. Os países da AméricaCentral, como a Guatemala, enfrentam a mesmapressão para não colocar em circulação ummedicamento mais barato. Há um marketing por trásdessa situação que gera 40% de investimento empropaganda com o objetivo de deturpar a consciênciado médico e do consumidor para impedir o acesso dapopulação a um medicamento básico e que tem omesmo valor e o mesmo benefício para arecuperação da saúde. Cumprimento V. Exª e admiroprofundamente esse pronunciamento, porque vai aoencontro do direito do povo brasileiro de não serenganado por multinacionais de medicamentos.Muito obrigado.

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB – SC) –Depois de ouvir o eminente Senador Nabor Júnior,que, como Governador do Acre, viveu esse drama, eouvir o Senador Tião Viana, que é da área, queentende do assunto, cujo aparte considero umcoroamento da análise que faço nesta manhã, atésenti saudade da Ceme. Isso se reflete nas questõesde primeira necessidade de aposentados, comoabordei antes na minha reflexão, aqui endossadapelo Senador Tião Viana, que ganham um ou doissalários mínimos e seus recursos estão todos osmeses destinados à aquisição de medicamentos.

A verdade é que há uma cartelização. Osgrande laboratórios gastam enormes fortunasveiculando suas propagandas em horários nobres“advertindo“ a população brasileira da periculosidadedos genéricos, quando, na verdade, não querem abrirmão de seus lucros. O preço da marca é a própriamarca, e isso se verifica em todos os setores, comodisse antes: no setor de calçado, de tecido, de roupa,de automóvel, etc. Essas propagandas têm um preçoalto. Penso ser inadmissível o setor de medicamentofazer uma propaganda como essa, que envolve asaúde das pessoas, que apela para a desgraça daspessoas a fim de poder vender seu produto, já que,para poder vender, tem que ter havido desgraça nasfamílias para que as pessoas passem a consumir omedicamento. O automóvel, pelo menos, é para aqueleque vai bem; mas o medicamento, que envolve umapropaganda caríssima, é para aquele que vai mal, que

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está na UTI, e que, às vezes, tem que vender algopara comprar determinado medicamento.

Isso, Sr. Presidente, é um afronta àquele queestá sofrendo. Penso que não é mais uma questão davigilância sanitária, como disse o Senador Tião Viana,mas de polícia.

Vejo que o nosso tempo já está encerrando. V. Exªjá nos adverte silenciosamente, com um gesto, mas jáencerro o meu pronunciamento.

Sr. Presidente, temos que gritar, já que nosEstados Unidos é permitida a adoção dessa medida,bem como na Alemanha, Inglaterra e em outrospaíses, enquanto que aqui há toda essa pressão nosentido de inibir a adoção dos genéricos. Precisamosrefletir, precisamos gritar, precisamos fazermovimentos, precisamos nos organizar, precisamosformar parcerias, precisamos nos libertar dessasamarras, dessas peias, digamos assim, que noscerceiam, a fim de que possamos respirar melhor,com mais tranqüilidade, com mais autonomia.

Nesse sentido é que deixo aqui essasponderações em relação a essa questão, Sr.Presidente, nobres colegas.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE(Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao eminente Senador NaborJúnior, por cessão do Senador Francelino Pereira.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB – AC.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foicomemorado ontem, em Rio Branco, o 25ºaniversário da TV Acre, Canal 4, emissora pioneira dacapital do meu Estado e que também deu osprimeiros passos no sentido de levar o som e aimagem das comunicações nacionais aos municípiosdo interior.

Acompanhei de perto e, se me permitem aimodéstia, tenho orgulho de poder lembrar queparticipei, ativamente, desse vitorioso processo deintegração do Acre à cultura e à realidade cotidianado Brasil. O testemunho que se pode prestar sobre opapel desempenhado pela Rede Amazônica deRádio e Televisão, à qual está integrada a TV Acre,reveste-se de consideração e reverência.

Nem poderia ser diferente, porque à frentedesse vitorioso complexo de comunicação eletrônicaestá o jornalista e empresário Phelippe Daou,Presidente da Rede, a quem me ligam profundos esinceros laços de amizade e de respeito recíproco,laços construídos a partir de nossa juventude, comoestudantes, em Manaus.

Todas as grandes qualidades que formam abase da carreira jornalística e empresarial do Dr.Phelippe já estavam presentes em sua atuaçãoescolar e política, numa década em que ascampanhas patrióticas se revestiam de particularfervor na capital amazonense. E para nós, que desdeentão acompanhávamos a sua trajetória, não foisurpresa vê-lo dar os primeiros passos para formar amaior rede de rádio e televisão da Região Norte e,sem descansar um momento sequer, torná-la cadavez mais ampla, mais forte, mais atuante na defesadas boas causas da sociedade.

Foi com tal espírito desbravador e obstinadoque Phelippe Daou, em 1974, lançou aos aresacreanos as primeiras imagens da TV-Acre, Canal 4 –justamente a façanha que estamos comemorandohoje, neste Plenário, ecoando as festas ocorridasontem, em Rio Branco, capital do Estado, quecontaram com a presença do Governador do Estado,Engenheiro Jorge Viana, e de representantes dospoderes constituídos, bem como empresários,jornalistas e convidados.

Lamento não ter podido comparecer, mas oconvite só me chegou às mãos ontem mesmo, emmeu gabinete, às 16h. E isso, é óbvio, tornouabsolutamente inviável a intenção de viajar para oAcre e abraçar, em pessoa, todos os que fazem daTV-Acre o orgulho da brava comunidade que tenho ahonra de representar no Congresso Nacional.

Falei, no início deste pronunciamento, doorgulho de ter participado do processo deconsolidação e expansão da Rede Amazônica deTelevisão na capital e nos municípios acreanos – fatoocorrido no período em que fui Governador doEstado, na primeira metade da década de 80.Quandoassumi, em 1983, apenas Rio Branco recebia o sinalde televisão ao vivo, por intermédio do Canal 4.

Fiz contato com o Dr.Phelippe Daou, Presidenteda Rede de Televisão Amazônica, a qual sesubordina a TV-Acre, e acertamos a forma de levar omilagre da imagem eletrônica aos demais Municípios,por meio de antenas parabólicas. Toda a sociedadese empenhou nessa tarefa, desde o Governador, osPrefeitos e técnicos das empresas então estatais atélíderes do comércio, do setor de serviços erepresentantes da indústria que forneceriamaparelhos no Estado.

O empenho de todos levou à vitória que hojecomemoramos.

Guardo ainda, com particular emoção, oespanto e a alegria que dominaram Tarauacá, minhacidade natal, quando apertei o botão que iluminou aprimeira tela de televisão do Município.

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Confesso que o mais emocionado de todos eraeste humilde filho do Seringal Ariópolis, que, mesmotendo percorrido longo caminho na vida, por meio dediversas cidades, exercendo cargos e missões degrande relevo nacional, jamais abandonou suasraízes, profundamente fincadas naquele solo fértil egeneroso.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT – AC) – V. Exª meconcede um aparte?

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB – AC) –Concedo um aparte ao nobre Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT – AC) – SenadorNabor Júnior, eu gostaria apenas de compartilhar dasua alegria, da sua homenagem à Rede de TelevisãoAmazônica, no caso específico, a TV-Acre. É umaemissora filiada à Rede Globo de Televisão e, de fato,foi a pioneira na história da comunicação visual nonosso Estado. Lembro-me exatamente do primeirodia em que pude assistir à programação local daRede Amazônica dentro do Estado do Acre. Foi ummomento de grande emoção para as crianças, queviam aquilo pela primeira vez e que compartilhavamde um momento novo na história da comunicaçãonacional. Acredito que a homenagem que V. Exª faz àfigura do Dr. Phelippe Daou é profundamente justa,sincera e não poderia ficar ausente dos Anais doSenado Federal, em função da sua coragem e da suaousadia. O Dr. Phelippe trabalhou com os veículos decomunicação de maneira pioneira na nossa região.Sabia que aquilo não era um oásis, que não era umafonte de enriquecimento, mas apenas o compromissode um empresário que acreditava na comunicaçãoamazônica como uma base de construção do nossodesenvolvimento e das nossas integrações nacional eregional. Lamento profundamente que ainda não hajaprogramação local em todos os Municípios doEstado, apenas em Rio Branco. Nos outrosMunicípios, há programações muito tímidas, emfunção da dificuldade de integração da rede.Lamentavelmente, com isso, surge um graveproblema geopolítico: a população do interior doEstado está mais voltada para a programação daRede Globo do Amazonas e em nível nacional do quepara uma programação local. Esse fato gera muitadificuldade de compreensão, de análise e de juízocrítico político em relação ao que está acontecendona vida pública do Acre todos os dias. Mas não deixade ser um desafio a mais para o Dr. Phelippe Daou epara as outras emissoras que atuam no Estado. Queelas possam, de fato, garantir uma interiorizaçãointegrada de comunicação e fazer com que ocrescimento da cidadania se torne cada dia maissólido no Estado do Acre. Fico muito feliz em poder

compartilhar da sua alegria e da sua justahomenagem à figura inesquecível para nós, daRegião Norte, que é do Dr. Phellipe Daou e da RedeAmazônica de Televisão. Muito obrigado.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB – AC) –Agradeço, Senador Tião Viana, o oportuno apartede V. Exª. Ele vem reforçar sobremaneira osargumentos que estou expendendo no dia de hojepara registrar a passagem do 25º aniversário daTV-Acre, Canal 4, dirigida, com muita competência,empenho e até com muito patriotismo, pelo Dr.Phelippe Daou.

V. Exª tem razão quando reivindica que aprogramação captada pelas estações de televisãodos Municípios do interior do Estado, seja gerada emRio Branco, e não em Manaus ou no Rio de Janeiro.Aliás, a nossa Constituição Federal prevê exatamenteisso, ao tornar obrigatória uma programação localpelas emissoras, que têm a concessão do Estado, afim de que a população possa tomar conhecimentodaquilo que está acontecendo e diz respeito a suaspeculiaridades regionais.

Ocorrem em Rio Branco fatos e situações queseriam do mais alto interesse em todo o Interior, cujapopulação, todavia, deles não toma conhecimento –justamente porque a imagem distribuída fora daCapital quase sempre vem direto dos grandes centrosgeradores, no Centro-Sul ou em Manaus.

Realmente é um desafio, como disse V. Exª,mas é apenas mais um desafio, que faz parte daspreocupações do Dr. Phelippe Daou, de quem já ouvia determinação de resolver a questão.

Evidentemente essa solução vai depender dealguns ajustes operacionais e administrativos, como,por exemplo, a obtenção de canais no satélite para aretransmissão, o que é difícil, pois quase todos ossatélites que cobrem a Região Amazônica já estãodevidamente ocupados e, nessas condições, écomplicado fazer essa geração da imagem em RioBranco e retransmiti-la às estações no interior.

De qualquer sorte, hoje temos a satisfação dedizer que, nos lugares mais distantes do Estado. Porexemplo, quanto fui à fronteira com o Peru, no alto rioJuruá, em uma localidade do Município de MarechalTaumaturgo – não propriamente na sua sede – já secaptava a imagem da televisão por meio de antenaparabólica, a programação direta da TV Globo do Riode Janeiro.

É particularmente grata aquela lembrança de quefalei há pouco, do dia em que, como Governador,inaugurei a estação de TV em Tarauacá, através daantena parabólica daquela localidade. Eramaproximadamente 11h e, devido à diferença de fuso horário,

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no Rio de Janeiro eram 13h. Quando acionei o botãoe entrou no ar a imagem da TV Globo, começamos areceber, instantaneamente, a edição do Jornal Hoje,apresentado pela famosa jornalista da Rede GloboMárcia Mendes, que, infelizmente, morreu poucotempo depois, no auge de sua simpática e brilhantecarreira.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, toda apopulação de Tarauacá, cerca de 3 mil pessoas,compareceu à inauguração daquela pequena antenaparabólica e começou a assistir à programação da TVGlobo.

Algo inédito!Havia lá uma repetidora, e eles mandavam o

filme de Rio Branco para ser rodado em Cruzeiro doSul, em Tarauacá, em Sena Madureira, em Xapuri,etc. Anteriormente, a população recebia as notíciascom três, quatro dias de atraso, depois dos fatos játerem sido divulgados em todo o País. A antenaparabólica proporcionou o recebimento instantâneoda imagem, gerada no Rio de Janeiro e em SãoPaulo, pela TV Globo.

Foi um grande avanço. Hoje, temos antenasparabólicas em todos os Municípios, não só parareceber a programação da TV Globo, mas também deoutras emissoras, das Redes Bandeirantes e Record,e assim por diante. Foi, como se vê, um avanço muitogrande, o que tivemos no setor das telecomunicações– e o Dr. Phelippe Daou nele desempenhou o habitualpioneirismo: acreditou no futuro do nosso Estado aoinstalar em sua Capital, há 25 anos, a TV Acre, canal4, que ainda hoje é a emissora de maior audiência noEstado do Acre.

Agradeço o oportuno aparte de V. Exª.Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao deixar

o Governo do Estado do Acre, em maio de 1986, paradisputar a primeira eleição para Senador, já haviainaugurado outras estações no interior – em Brasiléia,Cruzeiro do Sul, Feijó, Sena Madureira, Xapuri,Plácido de Castro, Senador Guiomard e Mâncio Lima.E, mais tarde, acompanhei o gigantesco esforçodesempenhado por meu sucessor, Flaviano Melo,para dar prosseguimento à obra de integrar o Acrepela televisão – sempre destacando, nessa tarefa, apessoa de Phelippe Daou e os seus auxiliares.

Os grandes momentos de uma comunidade sefazem de pequenas conquistas. O simples ato deacionar o botão de uma caixa mágica e dela recebersom, imagem, entretenimento, cultura, lazer einformações, esse gesto é que dá ao cidadão acerteza de participar do progresso usufruído pelosirmãos das grandes cidades. Mas é importantelembrar que tais conquistas são pequenas apenas naaparência, porque, para se tornarem viáveis, exigem

gigantescos investimentos financeiros e esforçostécnicos, trabalhos de engenharia e sofisticadosmecanismos eletrônicos. Acima de tudo, precisa-sede coragem, determinação e espírito construtivo,valores destacados na essência da Rede Amazônicade Rádio e Televisão, empresa que reflete o caráter,a determinação e o talento do seu líder e dirigentemáximo, Phelippe Daou.

Sr. Presidente, rogo a V. Exª que este discursoseja enviado, na íntegra, ao Diretor Presidente daRede Amazônica de Televisão, Dr. Phelippe Daou, eaos profissionais que compõem sua equipe. Em ofazendo, estará o Senado Federal cumprindo a tarefade reconhecer, em nome de todo o povo brasileiro, omuito que aquela vitoriosa empresa, por meio daTV-Acre, constrói no Estado – acima de tudo,consolidando, em suas transmissões, a efetivaintegração da Amazônia ao grande Brasil que todosnos propomos a construir.

Muito obrigado.

Durante o discurso do Sr. Nabor Júnior,o Sr. Carlos Patrocínio, 2º Secretário, deixaa cadeira da presidência, que é ocupadapelo Sr. Mozarildo Cavalcanti.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) – V.Exa. será atendido na forma do Regimento. Concedoa palavra ao próximo orador inscrito, Senador CarlosPatrocínio.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO.Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, todos aqui são testemunhas doquanto temos nos batido – o meu Partido, o PFL,principalmente – pelo fortalecimento do mercado noBrasil. Todos sabem, igualmente, quanto temoslutado para a redução do papel do Estado naeconomia, mas essa redução significa,principalmente, redução da participação direta. Nãosignifica, em momento algum, redução do papel doEstado na condução dos destinos da sociedade.Nesse particular, essa nova modalidade departicipação deve-se dar na esfera daregulamentação e da fiscalização.

Nesse sentido, aplaudo as iniciativas do CADE– Conselho Administrativo de Defesa Econômica. AoCade “compete prevenir e reprimir as infrações contraa ordem econômica, orientado pelos ditamesconstitucionais de liberdade de iniciativa, livreconcorrência, função social da propriedade, defesados consumidores e repressão ao abuso do podereconômico”.

Todos queremos um mercado forte. Entretanto,sabemos que as leis de mercado podem ser, algumas vezes,cruéis para alguns segmentos, por desconsi-

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derarem aspectos que não digam respeito a seusditames de aumento da produtividade e do lucro.Mesmo nestes tempos de globalização, em que seacena com a universalização dos benefícios domercado para todos os países, devemos ter cuidado,pois há interesses privados que se podem chocarcom os interesses da nacionalidade. E, como bemexpressa a norma do Cade, compete ao PoderPúblico observar os ditames constitucionais, reprimiros atos que ameacem a ordem econômica e, acimade tudo, cabe ao Governo defender os consumidorese os trabalhadores, que constituem a parte mais fracanas relações de mercado.

Alguns exemplos de atuação do Cade jádeixaram claro a que ele veio. No episódio de fusãodas empresas fabricantes das duas maiores marcasde dentrifícios no País, aquela instituição acatou afusão desde que a empresa abrisse mão de uma dasmarcas, para não se configurar o monopólio.

Neste ano, desde julho, estamos de olho no quepode acontecer com as duas maiores companhias decervejas e refrigerantes, detentoras das marcas maisvendidas no País. A fusão da Brahma com aAntarctica gerou a Companhia de Bebidas dasAméricas – também registrada como Compañia deBebidas de Las Americas e American BeverageCompany. Anunciada a fusão, o Cade tratou logo defazer tudo que estava a seu alcance para que o PoderPublico pudesse se posicionar.

De fato, pelos números envolvidos, cabe algumaatenção:

– Antarctica, Brahma, Skol e Bavaria,as quatro marcas mais vendidas,correspodem a 76,5% das vendas decerveja;

– as duas empresas estão presentesem dezoito Estados brasileiros e, alémdisso, têm fábricas na Argentina, Uruguai eVenezuela;

– o patrimônio líquido dessasempresas é de R$2,8 bilhões;

– as vendas no mercado interno,apenas, somam R$10,3 bilhões;

– as margens de lucro das empresasde bebida aumentaram em cerca de 40%,de 1989 para cá;

– no passado, as duas empresas jáempregaram mais de cinqüenta miltrabalhadores; hoje, empregam apenasdezoito mil funcionários;

– existe a possibilidade – denunciadapela Federação dos Trabalhadores nasIndústrias de Alimentação de São Paulo –

de até quinze mil demissões no setor debebidas e afins;

– desde julho, quando foi anunciada afusão, teriam ocorrido mais de mildemissões, segundo sindicalistas dacategoria;

– embora tenha afirmado que asempresas de distribuição continuarãoindependentes, é pouco provável que issoocorra, pois é contra a lógica de aumento daprodutividade; nesse caso, centenas deempresas regionais seriam desarticuladas,aumentando ainda mais o desemprego noPaís.

Em função dos diversos aspectosenvolvidos, o Cade tomou uma medida deprecaução: cautelarmente, paralisou parte dofuncionamento da AmBev que é a fusão dessasduas empresas. A medida de maior interessepara os trabalhadores é aquela que impedequalquer demissão enquanto não for confirmadaa fusão. Caso descumpra essa determinação, aAmBev terá que pagar multa diária de R$92 mil.

Com essa medida cautelar, o Cade suspendeuatos que tornariam irreversível a fusão. Não é umposicionamento sobre a fusão; entretanto, demonstrao quanto os conselheiros estão preocupados com oefeito desse verdadeiro monopólio que poderia sercriado.

Observem, Srªs e Srs. Senadores, que o fato deser criada uma grande empresa brasileira no setor debebidas, em si, não é algo ruim. Devemosreconhecer, também, que no mundo inteiro há umprocesso de concentração das empresas do setor eque só estará na concorrência quem tiver grandepoder de fogo. Mas nada disso pode permitir que oconsumidor fique desamparado.

Alguns poderão alegar que a cerveja é umabebida alcoólica; que, como tal, é opcional; que não éum alimento essencial; que bebe quem quer; quebebe quem pode, e assim por diante. Enfim, pode-sealegar muitas coisas, mas nem por isso se podepermitir tamanha concentração de mercado em umúnico grupo, sem salvaguardas para o consumidor.Para se ter uma idéia do quanto as empresas debebidas estão preocupadas com o consumidor, bastaver o que ocorre com as embalagens.

Como o transporte tem um alto custo, asempresas têm optado por reduzir o máximo possívelnesse setor. Uma das grandes medidas tomadas foi ofim das embalagens retornáveis. Hoje, é praticamenteimpossível se comprar uma bebida com embalagemretornável em um supermercado. Temos de levar abebida e pagar muito mais caro pela embalagem,

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que, em alguns casos, apresenta grandes problemasde deposição. Ao contrário do vidro, facilmentereciclável, os plásticos são de difícil deposição, sendocausadores de inúmeros problemas nas grandescidades. Parte das enchentes, por exemplo, sãocausadas pelo entupimento dos bueiros, provocadopor plásticos – embalagens de bebidas, inclusive –jogados nas ruas. Nesse jogo das embalagens, querespeito tem sido demonstrado ao consumidor? Equal o compromisso com a manutenção de umambiente saudável?

Congratulo-me com o Cade pela correta linhade atuação adotada neste episódio e, principalmente,torço para que suas decisões continuem a favorecer,antes de tudo, os consumidores e os trabalhadoresbrasileiros.

Era o que tinha a registrar nesta manhã, Sr.Presidente.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) –Concedo a palavra ao próximo orador inscrito,Senador Bernardo Cabral.

O SR.BERNARDO CABRAL (PFL – AM.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs. e Srs Senadores, erameu propósito, nesta manhã, fazer um duplopronunciamento. Sabe V. Exª e a Casa do meucuidado em ocupar esta Tribuna com a devida enecessária raridade não somente porque não meparece justo tomar o tempo dos eminentesSenadores, como porque o tema a ser abordado deveser de alta importância, a exemplo do que fez, aindahá pouco, o Senador Carlos Patrocínio quando sereferiu ao Cade.

Pretendi, Sr. Presidente, então, fazer o meupronunciamento em dois instantes: primeiro, parafalar sobre a TV-Acre que ontem comemorou o seu25º aniversário.Quem, como eu, é daquela região e sabia dadificuldade de se criar uma forma pela qual o homem seintegrasse à região – e isso somente pôde ser feito porintermédio dos meios de comunicação -; quem, como eu,acompanhou desde o primeiro instante, uma vez que,desde os bancos escolares do antigo GinásioAmazonense Pedro do Amazonas – hoje ColégioEstadual do Amazonas – a trajetória de PhelippeDaou e do seu companheiro Superintendente, Dr.Milton Cordeiro de Magalhães, entende o porquê daminha satisfação.

É que ontem o Governador do Acre, emcomemoração aos 25 anos da TV-Acre, condecorou oDr. Phelippe Daou com a chamada CondecoraçãoEstrela do Acre. Eu estava nos estúdios da RedeAmazônica de Televisão, quando assisti aopronunciamento do Presidente da República

destinado ao povo do Acre e à solenidade bonita eemocionante que quase arrancava lágrimas do Dr.Phelippe Daou.

O eminente Senador Nabor Júnior – ninguémmelhor do que S. Exª, pela sua propriedade, porcarregar no seu currículo o mandato de Governadordo Estado – fez um pronunciamento que me leva ainterromper o meu não por falta dos méritos que eupudesse ter, mas pela forma escorreita, pelo ladohistórico como abordou o assunto. Peço a sua S. Exªque me inclua no seu discurso, que possa eu dele fazerparte, com as singelas palavras que ficaram no silêncio– e o silêncio é o clamor de tudo aquilo que não fala.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR) –Senador Bernardo Cabral, V. Exª me permite umaparte?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Eupediria apenas um instante ao Senador Nabor Júnior,porque eu havia pedido autorização a S. Exª parafigurar em seu discurso. Solicitei, ao mesmo tempo,ao Presidente que, quando o Senado Federal fizessea comunicação à Rede Amazônica, incluísse meunome entre os que estão prestando estahomenagem. V. Ex me responde, Senador NaborJúnior?

O Sr. Nabor Júnior (PMDB – AC) –Perfeitamente, Senador Bernardo Cabral. Fico muitohonrado com a deferência que V. Exª me confere.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Merecidamente.

O Sr. Nabor Júnior (PMDB – AC) – Honra-me,então, o fato de V. Exª endossar, como se fossem desua própria lavra, os termos do pronunciamento queacabo de fazer neste plenário, em homenagem aotranscurso do 25º aniversário da TV Acre, Canal 4.Desde a década de 40, em Manaus, convivi com o Dr.Phelippe Daou, nosso comum amigo, na políticaestudantil e, nos idos de 1946 a 1951, na partidária. O Dr.Phelippe Daou merece realmente a homenagem doSenado Federal e, portanto, reitero a solicitação feita àMesa no sentido de que encaminhe o meupronunciamento, agora referendado pelo discurso deV. Exª, ao Dr. Phelippe Daou, para o seuconhecimento. Muito obrigado.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Agradeço a V. Exª, Senador Nabor Júnior, pelaanuência em me permitir figurar na manifestação deV. Exª, inclusive com o registro que há de ser feito pelaPresidência da Mesa.

Ouço V. Exª com muito prazer, SenadorMozarildo Cavalcanti.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR) –Senador Bernardo Cabral, aproveito o pronunciamentode V. Exª, visto que não tive oportunidade de apartear

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o Senador Nabor Júnior por me encontrarmomentaneamente presidindo os trabalhos.Associo-me à homenagem prestada ao Dr. PhelippeDaou, que, na verdade, tem propiciado a grandeintegração da Amazônia, por intermédio da RedeAmazônica de Televisão. No Acre, no Amazonas, emRondônia, em Roraima e no Amapá, a RedeAmazônica faz cobertura, divulgando notíciasregionais e integrando a Amazônia ao Brasil. Tenhocerteza de que, se não fosse a Rede Amazônica deTelevisão, a Amazônia estaria muito mais distante doque se encontra hoje em relação ao Brasil litorâneo.Solicito a V. Exª e ao Senador Nabor Júnior que meincluam na homenagem justamente prestada ao Dr.Phelippe Daou. Muito obrigado.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Sr.Presidente, veja V. Exª o que é a chamadacoincidência. O Amazonas é pautado pelo seubelíssimo rio, e os rios na nossa terra, desde ascabeceiras, vão cavando seus próprios leitos. Sãorios pequenos, mas, à medida que cavam, com aságuas emprestadas que se começam a achegar,tornam-se caudalosos. Veja o rio pequeno da minhamanifestação, com a água emprestada do aparte,como acaba se tornando caudaloso, para se juntar aomar que foi a manifestação do Senador Nabor Júnior.

Sr. Presidente, não poderia ser de outramaneira senão desta, pelo reconhecimento, pelavirtude, por não se ter transformado num balcão denegócios, a homenagem à Rede Amazônica deTelevisão. Acolho o aparte do Senador MozarildoCavalcanti, como já me acolheu no regaço do seudiscurso o Senador Nabor Júnior, e peço a V. Exª,Sr. Presidente, que, quando fizer a comunicação,junte o nome do eminente Senador MozarildoCavalcanti ao meu próprio.

A segunda manifestação, Sr. Presidente, quequeria fazer, vou deixar de pronunciá-la com a leitura,mas vou pelo menos dar notícia de uma homenagemque quero prestar a um dos jovens maestros quehonram o Brasil. Refiro-me ao maestro Sílvio Barbato,que eu conheço desde a época em que meu velhoamigo Cláudio Santoro, maestro de incríveismanifestações de talento, por causa da sua coerênciapolítica e ideológica, acabou se exilando do País –mas que acabou talvez se transformando, sobretudono Leste Europeu, no maior nome brasileiro que amúsica clássica de todos os tempos conheceu.Amazonense de nascimento, Cláudio Santoro trouxepara o seu lado o então jovem Sílvio Barbato, quehoje, além de ter sido o seu principal discípulo, euafirmo que se iguala ao mestre. É um homem querecebeu, em Milão, o Diploma de Alta Composição.

Ainda na Itália, freqüentou a classe de Franco Ferrarae colaborou com o maestro Romano Gandolfi noTeatro Alla Scalla.

Ele estreou há muitos anos, Sr. Presidente,quase cinco lustros, no Teatro Municipal. E eu lhepresto esta homenagem com este discurso. Peço a V.Exª que determine a sua transcrição, por inteiro, nosAnais, e que transmita ao eminente maestro SílvioBarbato este discurso – relativamente pequeno, deoito páginas, mas que cresce, agiganta-se peloenfoque que se dá a quem é o homenageado –, a fimde que ele saiba que está, ainda que não servindo demodelo, porque alguns, talvez por inveja, não queiramreconhecê-lo, mas, por certo, de exemplo para outrosjovens músicos, que têm reconhecimento popular eerudito com esse trabalho que ele está fazendo.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB – MS) – V. Exª mepermite um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Ouço V. Exª com muito prazer, Senador RamezTebet.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB – MS) – SenadorBernardo Cabral, a presença de V. Exª na tribunasempre representa algo de muita importância. Hoje,por exemplo, V. Exª ocupa a tribuna para prestarhomenagens. No meu entender, homenagens têmum sentido altamente educativo, constituem amemória de um povo. A nova geração precisavalorizar o feito daqueles que prestam serviços àsociedade. É por isso que quando V. Exª ocupa atribuna para saudar ou comemorar o aniversário deuma rede de televisão que atinge toda a regiãoamazônica, que V. Exª tão bem representa, nofundo V. Exª está querendo dizer à sociedade quepreste atenção, que reverencie quem lhe prestarelevantes serviços. V. Exª é um mestre em cultivarno seu coração o sentimento da região amazônica,o sentimento da brasilidade e também da gratidão,pois sabe olhar para os que têm realizações e fazcom que todos, no mínimo, se interessem – se jánão conhecem – pela figura do maestro SílvioBarbato. A música, entendo, é a mais sublime dasfilosofias. Precisamos cultivar a cultura, que tem amúsica como uma expressão viva. Querocumprimentar V. Exª e também aqueles aos quaispresta homenagem. Esse é um bom serviço queV. Exª e outros que seguem a sua trilha prestamquando ocupam a tribuna para lembrar os feitosnão só dos nossos antepassados mas tambémdaqueles que estão na ativa, lutando ou prestandobons serviços à comunidade, à sociedade.Cumprimento-o e peço a V. Exª que permita a incorporaçãodeste meu aparte ao discurso oportuno, didático e

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educativo que faz, o que é importante. Muitoobrigado a V. Exª.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Senador Ramez Tebet, é claro que os que nãoconhecem o nosso relacionamento hão de pensarque V. Exª presta um tributo a uma cultura. Mas osque conhecem o nosso relacionamento sabem que V.Exª fala com o coração e presta, portanto, um tributo àamizade que há entre mim e V. Exª. O aparte de V. Exª,é evidente, tem o aspecto de quem olha sabendover, porque muita gente olha sem saber enxergar,divisar. A distância é muito longa e há os que nãosabem encurtá-la. Quando V. Exª diz que o fiocondutor filosófico desta manifestação é exatamentepremiar a cultura, eu quero render-lhe as minhashomenagens. V. Exª consegue, qual escafandristaque vai ao fundo do mar e recolhe dali o que entende,penetrar no meu pensamento e entender que éexatamente isto que, nesta hora, Sr. Presidente, euquero fazer. É homenagear duplamente. Um que fazque a Amazônia se integre, que o povo não mais fiquepreocupado com a fronteira do lado de lá, do vizinho,que já começava a aprender – e posso dizer isso commuita tranqüilidade, pois Tabatinga e BenjaminConstant são dois Municípios do meu Estado – oidioma do país vizinho. Pois é a Rede Amazônica deTelevisão. E a segunda, Senador Ramez Tebet, éV. Exª reconhecer que é preciso premiar essajuventude que cada dia mais exprime o seu valorcultural, o caso do maestro Sílvio Barbato. Éevidente que V. Exª nem precisava pedir permissãopara figurar, com o brilhantismo que lhe é peculiar,nesta tranqüila, mas singela homenagem. E nãoprecisava fazê-lo por uma razão muito simples: oseu mérito pessoal já lhe teria dado créditosuficiente para que eu pedisse ao eminentePresidente que, quando for enviado ao maestroSílvio Barbato este discurso, a ele se acrescente onome em particular do Senador Ramez Tebet, masem geral de todos os que aqui se encontram,porque o silêncio nada mais é do que aconcordância com o que estou aqui a dizer.

Por essa razão, Sr. Presidente, encerro,pedindo aos meus eminentes colegas queregistrem o meu agradecimento por me teremouvido. E quando nada mais tivesse eu a dizer,encerraria dizendo: feliz do País que cultiva osseus grandes homens públicos!

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OSR. SENADOR BERNARDO CABRAL EMSEU PRONUNCIAMENTO.

Plenário do Senado FederalDiscurso “Maestro Silvio Barbato”

Brasília – DF

Senador Bernardo CabralSenhor Presidente, Senhoras Senadoras, Senhores

Senadores, não é novidade para ninguém que, em algunsaspectos, a auto-estima do brasileiro não é muito grande.Embora a Pátria brasileira tenha se identificado com algumasatividades que a elevam, tanto em nosso território como em nívelmundial, em outras áreas, sempre nos sentimos aquém do quepoderia ser. Se no futebol, o Brasil é a própria “pátria dechuteiras”; se o nosso atletismo começa a ganhar realce nosjogos pan-americanos; se até mesmo no tênis, temos motivos deorgulho, o mesmo não ocorre em outros segmentos.

Nas artes não é diferente. Embora tenhamos entre nósgrandes valores artísticos, temos fome de reconhecimento internacional,numa espécie de competição positiva. Todos se lembram dos recentesepisódios envolvendo filmes, diretores, atores e atrizes que, ao concorrer aprêmios reconhecidos mundialmente, despertaram nosso espíritonacionalista. Naqueles momentos, parecia que elevavam o próprio Brasil.Por isso a torcida, à semelhança do que ocorre com os eventosesportivos.

Na música, particularmente, é grande a nossa competênciae versatilidade. E passamos mesmo a ter o reconhecimentomundial, com a música popular brasileira, em especial com abossa nova, a partir da década de 60. Mas parece que, para aauto-estima musical nacional isso é pouco. Por isso gostaríamosde ser reconhecidos também em outros segmentos, como o damúsica erudita, uma vez que temos e tivemos grandes talentosnessa área. A música erudita é um padrão europeu. Uma partecom a qual a nacionalidade brasileira sempre quis se identificar.Por isso, sempre se sente aquém.

Carlos Gomes, com certeza, abriu caminho, comocompositor de óperas, nos mesmos padrões que os grandescompositores europeus, com temas brasileiríssimos, como o caso deO Guarani e de O Escravo, obras encenadas, até hoje, com grandesucesso. De ninguém menos que Verdi, do Rigoletto, Nabuco, LaTraviata, Aída, Otelo, mereceu a frase histórica pronunciada no palcodo teatro Scalla de Milão: “Maestro! Vós começais por onde eutermino”. Villa Lobos foi, com certeza, o grande talento erudito queafirmou a brasilidade no cenário mundial. E nesse passo, valerecordar Cláudio Santoro que, além do talento, demonstrou grandefecundidade, ao compor 14 sinfonias.

Por isso, Senhoras e Senhores, saúdo com grande alegriaa ascensão de um jovem maestro brasileiro, o carioca Sílvio Barbato. Umtalento que não só promete muitas glórias à nossa música erudita comotambém um reconhecimento cada vez maior de nossos talentos musicais.

Tendo estudado piano e violino, Sílvio Barbato formou-se emcomposição e regência, em 1982, pela Universidade de Brasília, sob a batutado expediente Cláudio Santoro. Com esse notável maestro, por sinal, trabalhou emintensa colaboração, por mais de 12 anos, sendo classificado como seu principaldiscípulo. Sílvio Barbato tem feito uma fulgurante carreira. Em seguida a sua formaçãobrasileira recebeu, em Milão, o Diploma de Alta Composição. Ainda na Itália,freqüentou a classe de Franco Ferrara e colaborou com o maestroRomano Gandolfi no Teatro Alla Scalla.

Em 1985, então com apenas 26 anos, Sílvio Barbato estreou no TheatroMunicipal do Rio de Janeiro, com a ópera Tosca. Em 1986 se tornariamaestro estável naquele teatro e, em 1989, assumiria a direçãomusical do Teatro Nacional de Brasília.

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Em sua incansável busca de aperfeiçoamento, esteve emChicago, onde estudou a obra de Carlos Gomes. Recentemente,foi aclamado pelo Times que afirmou: “Silvio Bonaccorsi Barbatoconduziu a Florida Orchestra com precisão e vigor mostrando seuprofundo conhecimento em trabalhar sonoridades”. É nosEstados Unidos, como principal regente convidado do BaléFlórida, que Barbato tem mantido a sua atuação internacional nosúltimos anos.

Em sua trajetória, já regeu algumas das estrelas damúsica mundial, como Aprile Millo, em Nova Iorque, PlácidoDomingo, na Washington Opera, Montserrat Caballé, no TeatroArthur Azevedo, assim como Roberto Alagna e Angela Gheroghiuno Festival de Campos do Jordão.

Pelo seu trabalho na área cultural, recebeu em 1998inúmeras condecorações do governo brasileiro, entre elas apromoção ao grau de Comendador da Ordem do Rio Branco.

Um episódio, há dois anos, marcou o reconhecimento queBarbato tem de seus pares, assim como o carisma que exerce.Mesmo estando licenciado para estudos, nos Estados Unidos, foiescolhido para ser Maestro Titular da Orquestra Sinfônica doTheatro Municipal do Rio de Janeiro, numa “eleição” informalpromovida pelos músicos.

Atualmente, além de ser regente da Orquestra Sinfônicado Municipal do Rio, é diretor artístico da Orquestra Sinfônica doTeatro Nacional Cláudio Santoro. Por igual, tem se dedicado,também, a outras atividades, como a direção musical do filmeVilla Lobos, uma Vida de Paixão, que tem Zelito Viana comodiretor. Outra atividade é a edição crítica das 14 sinfonias deCláudio Santoro, trabalho pelo qual mereceu o Prêmio Vitae.

Em sua agenda para este ano e para o próximo estão acondução de concertos nos Estados Unidos (Balé da Flórida),Itália (Orquestra de San Remo, Maggio Musicale de Florença),Russia (São Petesburgo) e Egito (Ópera do Cairo).

Entre os seus trabalhos que terão continuidade pelospróximos anos está a gravação da obra completa de CláudioSantoro, com a colaboração da família do falecido maestro.Trata-se do projeto Santoro Vive, para o qual já fez algumasgravações e recuperação de partituras antigas.

Em Brasília, para onde retornou este ano, como principaldirigente dos trabalhos da Orquestra do Teatro Nacional CláudioSantoro, é grande a expectativa em função de seu trabalho. Játendo realizado alguns concertos com obras de famososcompositores brasileiros – Carlos Gomes, Villa Lobos, CláudioSantono – Barbato anuncia sua proximidade com cantores damúsica popular, pois, segundo ele, não se pode ter preconceitoscom a cultura popular e sim investigar o elo desta com nossasraízes.

De certo modo, o trabalho frente à Orquestra do TeatroNacional já deu frutos, pois obteve recursos para recompor oquadro da orquestra e para aquisição de novos instrumentos, oque é apenas o primeiro passo para que essa orquestra venha ater um padrão internacional, como é propósito do Maestro Barbato.

Encerro essa minha pequena homenagem na esperançade que pessoas como o Maestro Sílvio Barbato passem a termaior reconhecimento popular e erudito, pois, certamente, seubrilhante trabalho fará elevar a nossa auto-estima de brasilidade,ao lado de nossos maiores compositores.

Era o que tinha a dizer.Muito obrigado.

Durante o discurso do Sr. BernardoCabral, o Sr. Mozarildo Cavalcanti, deixa a

cadeira da presidência, que é ocupada peloSr. Carlos Patrocínio, 2º Secretário.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Eminente Senador Bernardo Cabral, V. Exª seráatendido em sua reivindicação, assim como oSenador Mozarildo Cavalcanti e o Senador RamezTebet, na homenagem que prestam à RedeAmazônica de Televisão e ao maestro Sílvio Barbato.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Tenho certeza de que V. Exª, na qualidade dePresidente da Mesa, se associará às homenagensprestadas.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Certamente, a Mesa Diretora associa-se a todas asmanifestações de elogio feitas hoje neste Plenário.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) –Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao eminente Senador Tião Viana.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC.Pronuncia oseguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de dividircom o Senado Federal a responsabilidade em umassunto que acredito seja de interesse da Naçãobrasileira, de interesse e responsabilidade diretos doMinistério da Saúde.

Trata-se de projeto que está sendo elaborado econcluído com muito zelo pela área técnica dedermatologia sanitária do Ministério da Saúde, por intermédiodo Dr. Gerson Fernando Mendes Pereira, coordenadornacional da área técnica de dermatologia sanitária. Esseprojeto aborda, a meu pedido, a possibilidade de nós,brasileiros, eliminarmos a hanseníase do território nacional.

Venho tratando desse assunto há muito tempo,desenvolvendo uma interação, uma aproximaçãocom a política nacional de saúde quando se fala napossibilidade do combate direto à hanseníase nestePaís.

Trago o testemunho da história de uma doençaque, no Estado do Acre, tem marcado muito as populaçõestradicionais, os nordestinos que migraram para a nossaregião, e aqueles que viveram na Amazônia brasileira, embuscadoouronegro,queeraaborracha.Ali,encontraramasmaisdistintas doenças, o beribéri, a malária, a febre amarela, e aindaencontraram uma grande barreira de interação e de liberdadesocial, que foi a grande prevalência da hanseníase.

Nesse caso, temos de nos reportar não só aoEstado do Acre, mas também aos Estados do Amazonase do Pará, onde o escritor baiano, grande figuraamazônica, Artur Viana, fez as primeiras grandesdescrições do comportamento da hanseníase na regiãoamazônica ainda no século XIX. Mostrou ele o

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enriquecimento amazônico por meio da extração daborracha – o ouro negro –, cujo quilo chegou a ter ovalor de mais de US$200 e, em alguns casos, mais deUS$350. Tínhamos, no Estado do Amazonas,especificamente em Manaus, a possibilidade deimaginar que ali estava a chamada “Paris dasSelvas”, uma cidade rica do ponto de vistaeconômico, cuja renda per capita, em função doenriquecimento da borracha, levava a Amazônia adisputar o primeiro lugar no PIB nacional. Assim, agrande produção de borracha, junto com o café,projetava o Brasil.

O grande impulso da indústria americanaocorreu com a expansão da borracha, em especialnas indústrias de pneumáticos, com conseqüênciaspositivas para o governo americano no ano de 1890.Acredito que o grande parque industrial americano,hoje, tenha que ter uma lembrança de gratidão paracom a borracha, grande propulsor da prosperidadeamericana.

E, dentro da Amazônia brasileira, com essagrande força econômica que era a borracha, surgiu ahanseníase, como a marca de uma tragédiaamazônica que atravessa os tempos e até hoje afligeprofundamente a população dos nossos Estados,especialmente os Estados do Acre, Amazonas ePará. Alguns Estados do Centro-Oeste são tambémvítimas das estatísticas, que ainda apontam umgrande crescimento da hanseníase, inclusive com oaparecimento de casos novos. Em 1997, registramosmais 105 mil casos de hanseníase, e estamosfechando este ano com mais de 49 mil casos novos. OBrasil é o primeiro país em registro de casos dehanseníase em toda a América, e o segundo país nomundo. Em alguns casos, por interpretaçõesestatísticas distintas, o Brasil se confunde com a Índiacomo primeiro país do mundo em hanseníase.

Temos um grande desafio pela frente. AOrganização Mundial de Saúde estabeleceu, em1991, que os países do terceiro mundo, as maioresvítimas da hanseníase, tinham de ter a ousadia de,até o ano 2000 – num período de 9 anos –, conseguireliminar essa doença. Marcadamente, o Brasil teriaessa possibilidade. Não houve essa conquista até oano 2000, e, hoje, há uma dúvida: em quanto tempo épossível eliminar a hanseníase? Em queoportunidade? Com que brevidade?

Temos uma situação de impasse, e, na condiçãode médico da área de doenças infecciosas eparasitárias, acredito ter trabalhado intimamente pelocontrole e combate dessa doença no meu Estado.Sou testemunha de uma grande, fantástica eadmirável ação do Estado do Acre no combate àhanseníase. Na década de 70, tínhamos cerca de 110

casos de hanseníase em cada 10.000 pessoas e,hoje, temos menos de 7 casos em cada 10.000pessoas. Uma equipe atua naquela região sob acoordenação do Dr. John Woods, um irlandês quetrabalha voluntariamente no combate à doença. O Dr.Jonh Woods recebeu o título de Cavaleiro da CoroaBritânica, por outorga da Rainha Elizabeth, pela lutacontra a hanseníase na região amazônica, e catalogacasos de 1932 no Estado do Acre, uma memóriafantástica do combate à doença.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,vislumbramos hoje a possibilidade técnica de eliminaressa doença.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR) – V. Exªme permite um aparte?

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Comprazer ouço o colega amazônico e também médicoSenador Mozarildo Cavalcanti.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR) –Senador Tião Viana, V. Exª, como sempre, abordacom muita competência a questão da saúde naAmazônia e no Brasil. Nesse primeiro tópico do seupronunciamento, V. Exª está abordando a questão dahanseníase. Ao concordar com as palavras de V. Exª,também queria chamar a atenção para aleishmaniose, a oncocercose e a malária que,segundo dados da própria OrganizaçãoPanamericana de Saúde, está aumentando nestesúltimos anos na Amazônia. Esse é um atestado vivoda incompetência do Ministério da Saúde na região.Portanto, é preciso haver, por parte do CongressoNacional, e principalmente de nós, representantes daAmazônia, uma forte cobrança ao Ministério daSaúde e à Fundação Nacional de Saúde, a fim de queessa situação seja revertida.Enquanto o Ministério daSaúde investe em assuntos menos importantes,vemos doenças que já deveriam estarcompletamente abolidas dos registros estatísticosaumentarem a cada dia. Agora, por exemplo, oMinistério da Saúde, por intermédio da FundaçãoNacional de Saúde, está terceirizando as ações desaúde nas comunidades indígenas. Para mim, é umavergonha para o País que um órgão do Ministérioterceirize, inclusive para organizaçõesnão-governamentais, de origem duvidosa, a ação deassistência aos índios da Amazônia. Portanto, aoendossar as palavras de V. Exª, registro este protesto epeço que haja, por parte do Senado, uma cobrançamais forte de ação do Ministério da Saúde naAmazônia. Muito obrigado.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Agradeçoao nobre Senador Mozarildo Cavalcanti que, por serda Amazônia brasileira, do Estado de Roraima,convive com o drama dos indicadores de saúde da

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nossa região. De fato, como V. Exª muito bem coloca,a hanseníase é uma doença nacional, que tem umaprevalência muito significativa no Centro-Oestebrasileiro. Teve um passado de muita presença naRegião Sul, mas, hoje, os Estados do Paraná e do RioGrande do Sul, que já foram vítimas da prevalênciada hanseníase, conseguiram eliminá-la. Espero,sinceramente, que o Brasil possa mudar o seu perfil,deixando de ser o campeão das Américas naprevalência da hanseníase.

Gostaria de dizer que uma marca depreconceito acompanha essa doença. O próprioGovernador Constantino Neri, no século passado, naépoca do auge da borracha na economia amazônica,aplicava uma multa de mil réis às famílias quepermitissem que hansenianos ficassem às margensdos rios ou das ruas de Manaus. Assim, os turistasque visitavam a “Paris das Selvas” não seriamincomodados pela presença de hansenianos nasruas.

Então, a doença, que tem uma trajetóriahistórica admirável, reafirmando sempre por ondepassa, desde os períodos bíblicos, o preconceito,encontra hoje uma possibilidade de eliminação nasmãos do Governo Federal.

Estou com um projeto da área técnica doMinistério da Saúde, por solicitação minha, e odesafio está posto. Já tratei deste assunto com oSenhor Presidente da República, quando visitou oEstado do Acre. Sua Excelência demonstrousensibilidade e a possibilidade real de assumir ocompromisso, compartilhado, de eliminar essadoença no Brasil. Estou fazendo o detalhamentocrítico do projeto do Ministério da Saúde, que tentareilevar ao Senhor Presidente da República, junto com aárea técnica do Ministério da Saúde, na presença demembros do Ministério Público Federal que atuam naárea de saúde deste País. Esperamos, assim, podercompartilhar com o Movimento do Hansenianos doBrasil um compromisso efetivo do Governo brasileirocom a eliminação dessa doença.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Permite-meV. Exª um aparte, nobre Senador Tião Viana?

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC ) – Concedoum aparte, com muita honra também, ao SenadorRomero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Meu caroSenador Tião Viana, ao endossar as palavras de V. Exª,lembro que estamos em um momento propício paraque essa discussão venha à tona, pois estamosiniciando na Comissão de Orçamento, a partir dapróxima semana, a discussão técnica e operacionalda confecção do Orçamento do próximo ano. Acreditoser este o momento exato para obter a

suplementação de recursos para programas que jáexistem no Ministério e até buscar novos caminhos nosentido de que a saúde, na Amazônia, possa serreforçada, inclusive com a criação de parcerias entregovernos estaduais e municipais – reforçar parceriasdesse tipo é condição essencial para se trabalhar naregião amazônica. Portanto, quero louvar opronunciamento de V. Exª e lembrar que estaremos,na Comissão de Orçamento, lutando por mais verbaspara Amazônia e, especialmente, para o setor desaúde, que é tão carente na nossa região. Meusparabéns.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Agradeçoao nobre Senador Romero Jucá. Compartilho osentimento de que o caminho a ser trilhado passapela Comissão de Orçamento e pelo PlanoPlurianual. Inclusive, gostaria de comunicar aoPlenário que está no Plano Plurianual – tive apreocupação de observar – o compromisso daeliminação da hanseníase no Brasil nos próximosanos.

Tenho tentado descobrir o porquê de ahanseníase e a tuberculose serem da competênciade um setor do Ministério da Saúde que deveria estarmais preocupado com a assistência e não com o controlede endemias, como é o caso dessas duas doenças. Oatual dirigente da Fundação Nacional de Saúde, Dr.Mauro Ricardo, tem mostrado profunda sensibilidade nocombate às doenças endêmicas da região e talvez sejaele a figura mais habilitada a assumir aresponsabilidade de conduzir o controle de duasgrandes e inaceitáveis endemias neste País: atuberculose, que registra mais de 90 mil de casos e ahanseníase, que seguramente vai se aproximar doscem mil novos casos neste ano também. O Ministérioda Saúde deve assumir oficialmente o ousadocompromisso de eliminar a hanseníase do territórionacional. É possível, basta decisão política, Sr.Presidente.

Se o Presidente da República der prioridade aesse objetivo, ainda em seu mandato poder-se-ácomemorar neste País algo que será motivo deorgulho nacional: a eliminação de uma doença milenar.Basta termos ousadia e determinação política paraalcançarmos esse objetivo. Com a compra antecipada demedicamentos para o controle da hanseníase por partedo Ministério da Saúde, talvez até o ano 2003possamos reverter essa situação. Acreditoplenamente que, com decisão política, o GovernoFederal possa comemorar, junto com os 500 anos doBrasil e como forma de homenagem ao povo brasileiro,a eliminação da ameaça representada por essa doença.Basta uma ação efetiva de vigilância epidemiológica,alerta à sociedade - por meio de rádio - e uma ação di-

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reta em 280 municípios, principalmente nos estadosdo Norte, Centro-Oeste e alguns do Nordeste, paraque possamos atingir essa meta de maneira segura eabsolutamente tranqüila.

Vou levar esse projeto ao Senhor Presidente daRepública e espero que Sua Excelência queira somaresforços para fazer com que o Brasil possa sair dacondição de campeão das Américas em hanseníasee transformar-se no país que conseguiu eliminá-la emum período muito breve de tempo, algo que trarágrandes benefícios às vítimas mutiladas pelahanseníase, os herdeiros da falta de uma políticanacional de saúde.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao eminente Senador LúdioCoelho.

O SR. LÚDIO COELHO (PSDB – MS. Pronunciao seguinte discurso. Sem revisão do orador) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a estatribuna hoje para dar conhecimento ao SenadoFederal e à Nação brasileira de acontecimentos damaior gravidade no meu Estado.

“Sem-Terra resistem e queimam pontes”,“Baderna acaba com a governabilidade”: estas sãonotícias de ontem, do meu Mato Grosso do Sul. Oproblema dos sem-terra no meu Estado está seagravando de uma maneira preocupante. Alertei pordiversas vezes, desta tribuna, a área federal sobre apossibilidade de acontecimentos de grandegravidade.

Os sem-terra estão ocupando propriedades nomeu Estado, queimando pontes, interrompendoestradas, baleando peões, atirando em gado – numafazenda, há pouco, eles mataram quarenta bois eferiram uma quantidade enorme de animais; elesatiram, se o animal não cai no lugar, corre e vai morrernoutro lugar.

Faço essas afirmações aqui para pedir à áreafederal que interceda junto ao Governo do Estado nosentido do cumprimento da lei. Falo com tranqüilidadeporque, logo após as eleições, como presidente doPSDB em Mato Grosso do Sul, dei apoio a S. Exª, oSr. Governador Zeca do PT. Entendi que a população,ao eleger o Governador Zeca, recomendou tambémaos parlamentares que viabilizassem o seu governo eé isso o que nós estamos fazendo. O Governador doPT tem feito coisas boas para o nosso Estado. Elesconseguiram melhorar consideravelmente aarrecadação pública do Estado: em cerca de 30%. Eutenho afirmado ao pessoal do PT do meu Estado que,se o Governador Zeca conseguir ordenar as finançaspúblicas de Mato Grosso do Sul em um ano de

governo, estará fazendo algo muito bom para o nossoEstado. O que nós não podemos permitir é que abaderna venha a ameaçar a segurança da sociedadee a área rural do nosso Estado.

Mato Grosso do Sul é um Estado muito bom, éum Estado que tem uma população boa e umasituação geográfica excelente. Mato Grosso do Sulrepresenta o tampão entre o Brasil, a Bolívia e oParaguai, fica perto da Argentina, faz divisa com SãoPaulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Éum Estado com uma agricultura muito desenvolvida,com uma pecuária muito avançada, mas está sendotumultuado pelo desrespeito à Constituição. Ossem-terra não estão cumprindo os mandados dedesocupação e o Governo do Estado não estátomando as providências que seriam de suaresponsabilidade para fazer cumprir a Constituição.

Portanto, estou nesta tribuna hoje para alertaros meus companheiros do Senado e a área federalpara que intervenham junto ao Governador do Estadoa fim de que restabeleça a ordem e a tranqüilidade domeio rural.

Era isso, Srs. Senadores, o que desejavatransmitir neste momento.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao próximo orador inscrito,Senador Mozarildo Cavalcanti.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL – RR.Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªse Srs. Senadores, antes de abordar o tema de meupronunciamento de hoje – a educação –, quero fazerum registro desta tribuna. Trata-se do lançamento doprimeiro número da revista Amazônia 21, umperiódico editado em Manaus que vem se somar,oportunamente, ao coro que a bancada amazônicatem feito, aqui da tribuna do Senado e na Câmara dosDeputados, a respeito da situação em que vive anossa Amazônia, principalmente no que tange àcobiça internacional, à biopirataria, à ação, enfim, denarcotraficantes que ameaçam a soberania brasileiranaquela região.

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,venho hoje a esta tribuna com o propósito de pedir aatenção da Casa para um documento da maiorimportância no que concerne à situação presente eàs perspectivas futuras da educação brasileira.Refiro-me à Carta de Teresina, documento síntese dareunião do Conselho Nacional de Secretários deEducação – CONSED, realizada naquela capital, nosdias 26 e 27 de agosto do corrente ano.

Essa reunião do órgão colegiado integradopelos titulares das Secretarias de Educação dos Esta-

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dos e do Distrito Federal teve por objetivo a discussãode dois tópicos principais. Foram enfocadas, emprimeiro lugar, estratégias de desenvolvimento doregime de colaboração entre as três esferas doGoverno. Como segundo tópico, os Secretáriosdiscutiram os caminhos para fortalecer osmecanismos de financiamento do ensino público, osquais sustentam os esforços de universalização emelhoria da educação básica, empreendidos commaior determinação ao longo desta década.

Reputo a Carta de Teresina um documento damaior importância, por fazer ela uma avaliaçãoprofunda e acurada tanto dos progressos que o Paíslogrou na área educacional no período mais recentequanto das ameaças que pairam sobre acontinuidade e a consolidação desses avanços.

A carta começa por lembrar que a satisfaçãodas necessidades básicas de aprendizagem dapopulação corresponde a preceito consagrado pelaCarta democrática de 1988, “que reconhece o direitode todos à educação e o dever intransferível doEstado de atendê-lo, em colaboração com a família ea sociedade”. Levando em conta o mandamentoconstitucional e conscientes das grandes carênciasque o País ainda enfrenta para garantir o seu fielcumprimento, os Secretários de Educação de todo oPaís expressam sua preocupação “frente às gravesameaças à viabilidade financeira da escola públicaque se apresentam neste momento” e reiteram seucompromisso “com a defesa da gratuidade e dauniversalidade da educação básica pública”.

Com objetividade e percuciência, o documentoaponta as três frentes em que os mecanismos definanciamento do ensino público vêm sofrendoataques que os fazem periclitar. A primeira dessasfrentes de ataque tem por palco o próprio CongressoNacional, onde avultam as pressões políticas visandoembutir na Reforma Tributária proposta que reduzdrasticamente os recursos vinculados à educação.Uma segunda ameaça está configurada na oposiçãode alguns setores ao Fundef – Fundo de Manutençãoe Desenvolvimento do Ensino Fundamental e devalorização do Magistério. Quanto a esse importanteinstrumento de melhoria do ensino fundamental,aliás, é imperativo reconhecer que ele já foi fragilizadopela decisão da área econômica do Governo de nãorespeitar a regra de reajuste do valor mínimo poraluno/ano. Por fim, o terceiro e relevante elementodesestabilizador dos mecanismos de financiamentodo ensino público está na ofensiva judicial contra osalário-educação, objeto de milhares de ações quecontestam a legalidade da sua cobrança.

Depois de listar essas ameaças de retrocessoque pairam sobre o financiamento ao ensino público,a Carta de Teresina faz breve apanhado dossignificativos avanços educacionais que o País logrounas últimas décadas, os quais, no atual cenário deincertezas, ficam sob risco de serem colocados aperder, não obstante os grandes sacrifícios queexigiram do conjunto da sociedade. Afinal, essesprogressos só se tornaram possíveis com a fixaçãode percentuais mínimos das receitas públicas aserem aplicados na educação.

O documento lembra, por exemplo, que o Brasiljá praticamente assegurou a universalização doacesso ao ensino fundamental, pois ele já atendecerca de 96% das crianças na faixa de 7 a 14 anos.Também no ensino médio, o salto foi espetacular, poisas matrículas nesse nível de ensino experimentaramcrescimento de nada menos de 114% nas redesestaduais, no período de 1991 a 1998.

A par de apontar esses dados tão positivos, odocumento dos Secretários de Educação não seomite de reconhecer a persistência de um quadroeducacional de “acentuados déficits de qualidade eagudos contrastes regionais, que somente serãosuperados com a garantia de continuidade das atuaispolíticas de educação básica”. Nesse contexto, nãopodemos esquecer que, apesar do grandeincremento no número de matrículas, a cobertura doensino médio ainda é baixa, atingindo apenas cercade 30% dos jovens de 15 a 17 anos. Não menospreocupante é a média de escolaridade da populaçãobrasileira, que permanece em torno de seis anos deestudos, quando a própria Constituição reconhececomo escolaridade mínima para o exercício pleno dacidadania os 11 anos da educação básica.

Tendo em vista que o atendimento nos níveisfundamental e médio de ensino é feito com amplapredominância pela rede pública, não resta qualquerdúvida de que alcançar aquela meta de escolaridademínima para o conjunto da população brasileiraexigirá o aumento dos investimentos governamentaisem educação. Essa predominância é, aliás,avassaladora, pois as escolas públicas respondempor cerca de 92% das matrículas no ensinofundamental e de 85% no ensino médio. As redesestaduais e municipais de ensino atendem 42,5milhões de alunos nos diferentes níveis emodalidades da educação básica. Somente noensino fundamental, são cerca de 36 milhões dealunos, dos quais 33 milhões freqüentam escolasmantidas pelos Estados e Municípios.

A construção e manutenção desse vastosistema, que precisa continuar se expandindo, sobretudo

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no ensino médio, têm exigido investimentoscrescentes. No entanto, a esmagadora maioria dosEstados e Municípios vê-se envolta em aguda crisefinanceira, que acaba por representar, hoje, sérioempecilho ao desenvolvimento da educação básica,mormente em vista de que a participação do GovernoFederal no seu financiamento é pequeníssima.

Sr.Presidente, Srªs e Srs.Senadores, o relatóriopreliminar da Reforma Tributária, divulgado no iníciode agosto, provocou um sobressalto entre aquelesque têm responsabilidade com os rumos daeducação no País, pois propunha mudanças queimplicavam uma dramática redução dos recursosvinculados ao desenvolvimento do ensino público, apar de debilitar ainda mais a capacidade fiscal dosEstados e Municípios. O corte previsto, estimado emquantia superior a astronômicos R$10 bilhões ao ano,atingiria principalmente as fontes de financiamento doensino fundamental, comprometendo irremediavelmenteos esforços de universalização e de melhoria daqualidade.

As três alterações da Constituição Federalpropostas pelo relatório que teriam conseqüênciasdanosas para a educação eram, em síntese, asseguintes: extinção do salário-educação, semvincular uma nova fonte para compensar os,aproximadamente, R$2,8 bilhões anuais providos poressa contribuição social; a redução da base decálculo da receita vinculada à educação, medianteexclusão das transferências aos Poderes Legislativoe Judiciário nas três esferas de Governo; asubstituição do ICMS por outro imposto, sem acorrespondente consignação para o Fundef,conforme estabelece a Emenda Constitucional nº 14.

Felizmente, o debate da Reforma Tributária emcurso no Congresso Nacional aponta para a reversãode todos esses pontos claramente equivocados dorelatório, com a concordância, já manifestada, dopróprio relator.

Simultaneamente, porém, continua sendotravada, nos tribunais, a batalha, ainda mais urgente,para recuperar as receitas do salário-educação,dilapidadas pelas ações movidas por milhares deempresas que questionam a legalidade da suacobrança. Esse ataque, em particular, aos recursosque financiam o ensino público se intensificou nosúltimos dois anos. Hoje, já são cerca de 17 mil ações,que representam um universo de mais de 20 milempresas. Em função de decisões liminaresproferidas pelo Poder Judiciário nesses processos, areceita do salário-educação despencou 11% em1998, e, neste ano, deverá cair mais 5%. O prejuízodaí decorrente para o ensino público, em apenas doisanos, ascende a quase R$1 bilhão. É importante

lembrar que desses recursos depende a continuidadede ações indispensáveis para o funcionamento e amelhoria do ensino público.

Na tentativa de frear e reverter esse processode acelerada corrosão das receitas proporcionadaspelo salário-educação, o CONSED vem atuando emtrês frentes distintas, em parceria com o Ministério daEducação. De um lado, promove uma campanha deesclarecimento buscando mostrar à opinião pública aimportância dos recursos do salário-educação para oensino público. Por outro lado, acompanhaatentamente a tramitação da Ação Declaratória deConstitucionalidade nº 3/98, que virá dirimir, emúltima instância, a controvérsia. Com a primeirainiciativa, os secretários de educação esperamsensibilizar os empresários; com a segunda, buscamsensibilizar os Ministros do Supremo Tribunal Federal.Por fim, a terceira frente de atuação do Consedconsiste em aliar o apoio dos secretários de Estadoda Fazenda para coibir a concessão de subsídiosfiscais a empresas que não recolhem a contribuiçãosocial do salário-educação.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como sepode perceber, o quadro é, de fato, preocupante,marcado por incertezas. Fica bastante clara agravidade das ameaças que pairam sobre aviabilidade financeira da escola pública. A sociedade,por seu turno, mobiliza-se de forma crescente,exigindo uma ação mais eficaz do Poder Público,especialmente na prestação de serviços básicos,como o é a educação.

Nesse contexto, sinto-me compelido aexpressar minha irrestrita solidariedade às propostasdefendidas pelo Consed.

Queremos garantir que a educação sejaconsiderada prioridade estratégica para um projetonacional de desenvolvimento que favoreça asuperação das desigualdades na distribuição derenda e a erradicação da pobreza.

Lutamos pela conjugação de esforços e meiospara colaboração, cooperação e co-responsabilidadeentre União, Estados e Municípios, com o objetivo depromover o fortalecimento integrado da educaçãobásica.

Defendemos a consolidação do Fundef comomecanismo de financiamento do ensino obrigatório,fortalecendo seu caráter redistributivo medianteuma participação mais efetiva da União, a sergarantida por meio da imediata revisão do valormínimo por aluno/ano, de forma a dar fielcumprimento ao estabelecido pela Lei nº 9.424, de1996.

Postulamos que os recursos correspondentes àcomplementação da União para o Fundef sejam reti-

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rados dos recursos constitucionalmentedefinidos para manutenção e desenvolvimento doensino, a exemplo do critério estabelecido para osEstados e Municípios, reservando a contribuiçãosocial do salário-educação para outros programas dedesenvolvimento da educação básica.

Reivindicamos a manutenção da contribuiçãosocial do salário-educação como fonte adicional definanciamento do ensino público, em nível básico, eflexibilização da norma constitucional, a fim de que osrecursos possam ser utilizados tanto nodesenvolvimento do ensino fundamental como dosdemais níveis da educação básica, ou seja, educaçãoinfantil e ensino médio.

Queremos garantir que a reforma tributáriarecomponha e amplie o nível de investimento públicona educação, para fazer frente aos novos encargoseducacionais dos Estados e dos Municípios e aocumprimento do Plano Nacional de Educação.

Pleiteamos que qualquer mecanismoalternativo que venha a ser proposto para substituir osalário-educação discipline, na própria emendaconstitucional, o princípio vigente dedescentralização dos recursos, assegurandoflexibilidade de sua aplicação consoante ascompetências e responsabilidades de cada nível degoverno.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Cartade Teresina traz por epígrafe a seguinte afirmação dosaudoso educador Anísio Teixeira:

“Só existirá uma democracia no Brasilno dia em que se montar a máquina queprepara as democracias. Essa máquina é aescola pública...”

Nesse brevíssimo trecho, o Prof. Anísio Teixeiradá mostra de extraordinária lucidez e de visão políticaà frente de seu tempo. O espírito que animou aincansável labuta do Prof. Anísio Teixeira, ao longo detoda a sua vida, em prol da educação brasileira viria aser plenamente consagrado pelo legisladorconstituinte de 1988. O conjunto dos preceitosconstitucionais atinentes ao tema da educaçãovinculam-na, indissociavelmente, ao exercício dacidadania, à igualdade de oportunidades, à liberdadee ao pluralismo.

Infelizmente, quase trinta anos decorridos dofalecimento do grande mestre, o Brasil ainda ostentagravíssimas carências na área educacional,particularmente no que tange à qualidade do ensino eà cobertura do ensino médio. A duras penas,conseguimos importantes avanços ao longo dapresente década. Não podemos permitir, no entanto,

que propostas equivocadas venham a inviabilizar asustentação financeira da escola pública e a jogar porterra os esforços de universalização e melhoria daeducação básica.

Vamos todos cerrar fileiras em torno darecomposição e da ampliação do nível deinvestimento público na educação!

Esse é o chamamento que faço a todos osilustres Srs. Senadores.

Era o que tinha a dizer.Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao eminente Senador RomeroJucá.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR. Pronunciao seguinte discurso. Sem revisão do orador) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo estatribuna em respeito ao povo de Roraima que meelegeu e porque entendo que devo, em todos osmomentos da minha vida parlamentar, demonstrar àpopulação do meu Estado o compromisso histórico,de lutas, de responsabilidade que tenho com todos osroraimenses, independente de terem ou não votadoem mim na eleição para o Senado Federal.

Entendo que o povo de Roraima precisaconhecer em detalhes a discussão que se trava nestaCasa sobre o endividamento do Estado e oempréstimo que solicitado pelo Governo estadual àCorporação Andina de Fomento, para a realização deuma obra de interiorização da energia da Hidrelétricade Guri, na Venezuela.

Diz uma máxima que uma mentira repetidamuitas vezes pode-se tornar verdade; logo, éimportante esclarecer as mentiras, para que não setornem verdade. Infelizmente, durante algum tempo,essas mentiras podem enganar, por isso tenho apreocupação de esclarecer um assunto que, apesarde ser regional, merece a atenção da Nação e,especialmente, do meu Estado.

Há algumas décadas, a propaganda nazista deHitler fez com que, durante certo tempo, a Alemanhadetestasse os judeus – tudo obra de propaganda e dedirecionamento de informações erradas.Não quero ser maisuma vítima desse tipo de propaganda, Sr. Presidente. Porisso, quero esclarecer esse fato e mostrar a minha posição arespeito.

Durante alguns dias, os jornais ligados ao Governador– os jornais oficiais do Estado e as emissoras de rádio querecebem verbas oficiais – têm-me atacado dizendo queestou contra um financiamento para interiorizar a energia deGuri e contra os interesses do Estado.

E estou aqui exatamente para demonstrar ocontrário: ao agir com cuidado, discutindo o endivida-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 389

mento de Roraima, estou, na verdade, protegendo omeu Estado. E mais que isso, protegendo oscidadãos de Roraima que pagam impostos.

Não sou contra a obra de interiorização daenergia de Guri. Ao contrário, Sr. Presidente, quandoGovernador, tive a honra de acompanhar oPresidente José Sarney em viagem à Venezuela paradiscutir o acordo binacional que tratava dofornecimento de energia da Hidrelétrica de Guri, naVenezuela, para Boa Vista.

Posteriormente, como Senador, ajudei aaprovar recursos federais para que a Eletronorteconstruísse a linha de transmissão principal,responsável pelo deslocamento da energia de Guriaté Boa Vista. Essa obra será concluída no próximoano.

A obra de interiorização da energia, ou seja, quelevará a energia de Boa Vista até o interior, ficou acargo do Governo de Roraima e foi orçada, segundodocumento da Eletrobrás, em R$27.956.660,00; algoem torno de US$ 26 milhões.Por quê? Porque o dólar,em 1996, quando da proposta de financiamento, eraparitário de um para um, ou seja, US$ 1.00correspondia a R$ 1,00.

Muito bem, Sr. Presidente; como aresponsabilidade de fazer essa obra deinteriorização, orçada em R$ 27 milhões, eraatribuição do Governo do Estado, o Governo doEstado solicitou à Corporação Andina de Fomento –CAF –, um empréstimo de US$ 26 milhões,exatamente equivalente, naquele momento, a R$ 26milhões – isso em 1996.

De lá para cá, muita coisa aconteceu. AEletronorte me afirma em documento que, dos R$ 27milhões necessários para realizar a obra, a Eletrobrásjá emprestou ao Governo do Estado cerca de R$ 14milhões. De lá para cá, Sr. Presidente, o Governo doEstado vendeu R$ 50 milhões de títulos que possuíada Eletrobrás e arrecadou R$ 25 milhões. Portanto,de 1996 para cá a Companhia de Energia de Roraimarecebeu R$ 14 milhões da Eletrobrás e R$ 25 milhõesda venda das elets, o que perfaz R$ 39 milhões,portanto um valor maior do que os R$ 27 milhões doprojeto inicial para toda a interiorização da energia deGuri.

Há alguns dias, fomos surpreendidos, aqui, noSenado Federal, com a tramitação de um pedido definanciamento do Governo do Estado para a CAF.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, de 1996 paracá, também mudou a paridade do dólar com o real. Seem 1996 U$1.00 valia R$1,00 e, portanto, R$26milhões – que é o valor da obra – correspondia aU$26 milhões, agora, U$1.00 corresponde a R$2,00.Portanto, o pedido de financiamento não é mais de

R$26 milhões e sim de R$52 milhões. Ou seja, oGoverno do meu Estado, segundo a Eletrobrás, estápedindo para concluir uma obra que só faltam R$13milhões um empréstimo de R$52 milhões. É umaenorme discrepância!

Por isso, pedi informações na Comissão deEconomia, primeiro, por conta dessa diferença. Se oprojeto de financiamento é específico, se essedinheiro não pode ser usado em outro caminho, porque vai se pedir R$52 milhões para, segundo aEletrobrás, concluir uma obra que só faltam R$13milhões? Essas respostas não vieram porque,infelizmente, se fez uma manobra na Comissão deAssuntos Econômicos e não pude discutir o meurequerimento.

Não quero aqui desconfiar, longe de mim essaidéia, que tenha havido irregularidades nessalicitação, nessa obra, por estar sendo realizada porum sobrinho do Governador, o Sr. Jefferson Linhares,segundo diz a Polícia Federal e o Ministério Público –não sou eu que estou afirmando isso. Não quero aquiquestionar isso e nem o fato de que a venda dospostes para essa obra esteja sendo feita peloex-Secretário da Fazenda, o Dr. Jair Dalagnol, quetambém é parente do Governador. O que estouquestionando aqui são fatos concretos que dizemrespeito a esse financiamento.

Entendo que o financiamento deve ser feito nãopara o Governo do Estado. Tenho documentos daprópria Companhia de Energia de Roraima quecontêm declarações do seu Presidente, StênioNascimento, e também posicionamentos daEletrobrás que dizem que dentro de poucos meses,talvez até o final do ano, a Companhia de Energia deRoraima deverá estar sendo encampada pelaEletrobrás, via Eletronorte. Ora, se é uma obra deenergia, por que a dívida a ser firmada não é feitapara a Companhia de Energia e sim para o Governodo Estado? Defendo que o financiamento, dentro damedida necessária, seja feito com a Companhia deEnergia de Roraima, para que essa dívida, ao ser aCompanhia de Energia encampada pela Eletrobrás,também seja repassada para a Eletrobrás. Não temsentido o Estado se endividar para fazer uma obraque vai ser repassada para a Eletrobrás, que temmuitos recursos e pode fazer essa obra semfinanciamento. Se os Estados não se endividarampara fazer Itaipu, não se endividaram para fazerBalbina, não se endividaram para fazer grandeshidrelétricas, por que o pequeno e pobre Estado deRoraima vai se endividar para fazer uma obra que aEletrobrás só podia fazer com recursos a fundoperdido? Neste Orçamento de agora mesmo, eucoloquei uma emenda, no PPA, de R$14 milhões

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para o Governo do Estado para fazer a fundo perdidoessa obra.

Para quê endividar o Estado? Não quero aquifazer ilações. Será que o Governador estáendividando o Estado somente porque vai começar apagar essa dívida daqui a 42 meses, depois que sairdo governo e, portanto, o próximo Governador équem vai pagar essa dívida? Qual é a situação doEstado de Roraima, hoje? Está nadando emdinheiro? Será que, hoje, está podendo se endividar?Penso que não, Sr. Presidente.

Eu quero discordar do documento doGovernador Neudo Campos, encaminhado estasemana à Comissão de Economia, que diz que oEstado de Roraima, no ano de 1998, teve umsuperávit de R$16 milhões. Será que o Governadortem em caixa R$16 milhões, Sr. Presidente? Se tem,por que não está pagando os empresários do meuEstado, que estão quebrando? Por que não fazconvênio com os prefeitos? Eu vejo aqui presentesprefeitos do meu Estado. Por que não ajudam osprefeitos a desenvolverem, a gerar empregos nointerior do Estado? Por que não paga as suas contas?Por que não paga o Cadin? Está aqui, Sr. Presidente,o Cadin de ontem. O Governo do Estado estádevendo à Caixa Econômica. O Governo do Estadoestá devendo ao INSS mais de R$100 milhões. E oPresidente Fernando Henrique Cardoso estáquerendo taxar inativos, quando podia estarrecebendo esse tipo de recursos. O Governo estádevendo ao Banco Central. O Banco de Roraima, queeu abri quando fui Governador, foi quebrado peloatual Governo e está devendo lá R$40 milhões. Estádevendo dinheiro à Eletronorte; não paga as contasde luz do Estado há anos. Como esse Governador vaise endividar mais? Essa é a minha preocupação.Creio que esse endividamento ao Governo do Estadonão pode ser feito. Se tiver que se endividar, que seendivide a Companhia de Energia que serárepassada ao Governo Federal.

Conversei pessoalmente com o Dr. Firmino,Presidente da Eletrobrás, negociando recursos parao Governo de Roraima fazer essa obra a fundoperdido, sem precisar tomar empréstimo. Tenho essecompromisso com o meu Estado. Porém, ao pediressas informações, destampei a ira dos seguidoresdo Governador que me agridem, mentem,disseminam boatos dizendo que o Senador RomeroJucá é contra o Estado.

Ora, Sr. Presidente, quem é contra o Estado?Veja a seguinte manchete: “Auditoria do TCUEncontra Nove Irregularidades na Companhia deEnergia.” Tenho em mãos documentos de

irregularidades e de desvio de verbas de recursos jáfederais da Eletrobrás e o relatório do Ministério daAgricultura, que diz que o dinheiro da eletrificaçãorural foi desviado em fraudes. O técnico que verificouas obras chega a dizer que foi montada, em Roraima,uma fraude de proporções amazônicas. Comoconheço bem a Amazônia e sei que ela é grande,imagino o tamanho dessa fraude. Tudo isso precisade explicação. Não se trata de impedir a obra; a obravai ser feita. E ela devia ser feita, volto a afirmar, comrecursos da Eletrobrás. Quem já arranjou R$14milhões, como a Eletrobrás, consegue mais 13.Porém, endividar o meu Estado em mais R$ 50milhões para o próximo governador pagar, eu nãoaceito. E o Ministério da Fazenda diz, hoje, que oEstado não tem capacidade de pagamento.

Desculpem-me, mas o Ministério da Fazendanão analisou bem esse processo. Existem falhasformais. A lei da Assembléia Legislativa está errada.O Governo está inadimplente no Cadin. Faltamdocumentos no Tribunal de Contas. Falta tudo!

Do jeito que o Ministério da Fazenda analisouesse processo, desculpe-me, Sr. Presidente, mas nãovamos aqui barrar o endividamento de ninguém. Ficoaté preocupado. Daqui a pouco o Escadinha, do Riode Janeiro, vai pedir financiamento para montar oComando Vermelho nos morros, e o Ministério daFazenda vai dar parecer positivo, porque não estãomais analisando documentação.

Não é possível um fato desses! E nós, quetemos que zelar pelo Estado, somos taxados de agircontra o Estado, porque não queremos que ele seendivide irresponsavelmente.

Em todos os fatos positivos e necessários,vamos apoiar o Estado. A Oposição votou a favor naAssembléia Legislativa, quando se quis criar umfundo de desenvolvimento industrial. Eu, agoramesmo, fui o Parlamentar que mais aprovou emendasnas Comissões. Para quê? Para levar dinheiro para omeu Estado, para ajudar os prefeitos e o Governador.Fazemos uma Oposição construtiva; porém, séria.Não queremos nem mais nem menos; queremos queas obras sejam bem realizadas, com preço certo.

A BR-174 está aí. Fornecemos recursos. Euajudei a levar recursos para as BRs 401 e 174. ABR-174 foi inaugurada pelo Presidente da Repúblicae o pelo Governador, no final do ano passado. Poisbem, a estrada já foi recuperada duas vezes e já estácheia de buracos novamente.

É o patrimônio público que está indo embora. Eo que tenho que fazer como Parlamentar do meuEstado? Tenho que me vender como alguns? Olharpara o outro lado ou tenho que enfrentar essa ques-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 391

tão e cobrar uma obra bem feita? Tenho que fecharos olhos ou tenho que abri-los e cobrar a moralidadepública? Tenho que olhar de lado. Não, tenho queolhar no olho de cada eleitor, de cada cidadão deRoraima e dizer: eu estou cumprindo o meu papel deSenador pelo Estado.

Estou verificando os endividamentosirregulares, estou trazendo recursos para o Estado,estou protegendo o cidadão e estou, Sr. Presidente,colaborando com o Governador. Na hora em que aOposição responsável mostra os erros e faz críticas,se o Governador tivesse um pouco de humildade, emvez de hoje ele estar discutindo taxação de inativos,ele deveria abrir o coração, ter mais humildade e ouviras nossas indicações, os nossos apontamentos paracorrigir as falhas.

Não queremos um Estado de Roraima cada vezpior; queremos um Estado de Roraima cada vezmelhor. Trabalhamos para isso e mostramos oresultado do nosso trabalho. É por isso que osprefeitos de Oposição, no Estado de Roraima, são osque mais trabalham. É por isso que os prefeitos deOposição, no Estado de Roraima, aplicam bem asverbas públicas. É por isso que os prefeitos deOposição, no Estado de Roraima, têm oreconhecimento da população. É porque se trabalhacom seriedade. É só isso o que queremos.

Quero dizer que vou trabalhar para que essesrecursos sejam colocados para o Estado a fundoperdido. Mesmo que o Governador Neudo Camposnão queira, vou trabalhar para levar recursos para elea fundo perdido; para tentar fazer com que o Estadonão se endivide mais.

O Estado de Roraima só pode se endividar, Sr.Presidente, no dia em que pagar aos seusfornecedores, que está devendo há mais de um ano.Há pessoas quebrando, há pessoas perdendo opatrimônio de uma vida, porque o Governo não lhespaga. Não paga, de um lado, mas cobra impostosescorchantes de outro. Coloca a fiscalização na portado fornecedor, do empresário, do comerciante,cobrando impostos que ele não pode pagar. Como éque um Estado que não paga ninguém vai seendividar mais ainda, Sr. Presidente? E como é que oMinistério da Fazenda diz que o Estado não podepagar, mas dá o aval para que esse empréstimo sejafeito?

Não é assim que vamos resolver o problema doendividamento do País. Não adianta. Isso tem que serdiscutido, e o lugar para essa discussão não é aqui. Éna Comissão de Assuntos Econômicos.

Fiz um requerimento, pedi vista. Eu estavapronto para discutir e trazer saídas produtivas, mas,infelizmente, a discussão virá para o plenário.

Quero registrar o meu compromisso com oEstado de Roraima e quero repudiar as agressões eas mentiras daqueles que, não podendo explicar asirregularidades e os fatos errados dessefinanciamento, trilham pelo caminho dos nazistas,trilham pelo caminho daqueles que tentam fazer damentira a verdade e tentam denegrir a minha honra ea minha imagem de trabalhar pelo meu Estado.

Volto a fazer o desafio que fiz em Roraima:desafio qualquer parlamentar federal a vir mostrarque trouxe mais recursos para o Estado do que eu.Desafio qualquer um a mostrar ações concretas eestruturais pelo Estado de Roraima mais do quemostrei.

Sr. Presidente, fui Governador durante um ano etrês meses. Implantei uma universidade federal. Abrium banco estadual, que eles quebraram. Porintermédio do Governo Federal, consegui oenquadramento de mais de oito mil servidores noEstado, o que resolveu o problema da folha depagamento e da receita do Estado, inclusive para asprefeituras do interior. Dupliquei a Polícia Militar. Leveiágua para todos os Municípios e fiz muito mais, Sr.Presidente. Como Relator da reforma administrativa,consolidei a situação dos servidores federais, relatandoe deixando na Constituição a tranqüilidade que osservidores de Roraima e do Amapá precisavam.

Portanto, não me venham falar que sou contra oEstado. Contra o Estado é quem desvia verba; contrao Estado é quem mente para o povo; contra o Estadoé quem não paga em dia; contra o Estado é quemcompromete a saúde, a educação e o futuro do povode Roraima.

É por isso que venho aqui fazer este desabafo,Sr. Presidente, e dizer que, mesmo com as mentiras,estarei vigilante. Estou pronto a discutir, estou prontoa debater, estou pronto a construir o futuro deRoraima com todos.

No momento da eleição, vamos disputá-la.Agora não estamos em momento de eleição.Estamosno momento de disputar a responsabilidade; estamosno momento de construir o futuro, e estou pronto asentar-me à mesa com todos os segmentos para vercomo vamos buscar caminhos que evitem que oEstado se endivide sem necessidade. É só isso.

Não sou contra a obra, volto a afirmar. Sou a favoraté mesmo de um financiamento, se for necessário,para a Companhia de Energia. Garanto que iremos aoMinistro Tourinho, das Minas e Energia; iremosao Presidente da Eletrobrás e pediremos o seu

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aval para o financiamento a ser dado à Companhiade Energia de Roraima.

Não adianta endividar o Estado e passar opatrimônio da CER para a União, porque vai sobrarpara o povo de Roraima somente a dívida, e isso nãoajuda ninguém.

Quero aqui repudiar as agressões que estourecebendo. Recebi recortes de jornais nesse sentido.Aqueles que estão dizendo que o Senador RomeroJucá atrapalha o Estado serão interpelados naJustiça, que é o caminho. Não vou bater boca comninguém, Sr. Presidente. Interpelarei na Justiça todosaqueles que, querendo desviar o foco da discussão,tentam, por meio dos organismos de comunicaçãoestatais ou mantidos pelo Estado, agredir a minhahonra e o meu trabalho.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –

Sobre a mesa, ofício que será lido pelo Sr. 1ºSecretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

OF. GLPMDB Nº 312/99

Brasília, 21 de outubro de 1999

Senhor Presidente,Nos termos regimentais, comunico a Vossa

Excelência a indicação do Senadores Ney Suassunae João Alberto Souza, como membros suplentes, emvagas existentes, na Comisão Mista de Planos,Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMPOPF.

Colho o ensejo para renovar a Vossa Excelênciavotos de apreço e estima. – Senador JaderBarbalho, Líder do PMDB.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – APresidência designa os Srs. Senadores NeySuassuna e João Alberto Souza, para integrarem,como suplentes, a Comissão Mista de Planos,Orçamentos Públicos e Fiscalização, deconformidade com o ofício que acaba de ser lido.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – APresidência comunica ao Plenário que o Projeto deLei do Senado nº 279, de 1999, de autoria da SenadoraLuzia Toledo, que acrescenta dispositivo ao art. 38 daLei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962, que institui oCódigo Brasileiro de Telecomunicações, aprovadoterminativamente pela Comissão de AssuntosSociais, vai à Câmara dos Deputados.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Encerrou-se ontem o prazo para apresentação deemendas ao Projeto de Lei do Senado nº 31, de 1999,de autoria do Senador José Roberto Arruda, que cria

o Conselho Federal e os Conselhos Regionais deLeiloeiros Oficiais, dispõe sobre a regulamentação daprofissão de Leiloeiro Público Oficial e dá outrasprovidências.

Foram oferecidas 24 emendas, que, de acordocom o art. 235, II, d, do Regimento Interno, deveriamreferir-se ao texto do Projeto. Entretanto, foiconstatado que, salvo as de nºs 22, 24 e 25, todas asoutras emendas são referentes ao texto dosubstitutivo apresentado como conclusão do Parecerda Comissão de Assuntos Sociais.

As emendas vão ao exame da referida Comissão.

São as seguintes as emendasoferecidas:

EMENDAS (DE PLENÁRIO), APRE-SENTADAS AO PROJETO DE LEI DOSENADO Nº 31, DE 1999, QUE CRIA OCONSELHO FEDERAL E OS CONSELHOSREGIONAIS DE LEILOEIROS OFICIAIS,DISPÕE SOBRE A REGULAMENTAÇÃODA PROFISSÃO DE LEILOEIRO PÚBLICOOFICIAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

EMENDA Nº 2 – PLEN

Dê-se ao § 1º ao art. 3º do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

“§ 1º. O valor da caução é de 200,00(duzentos mil) UFIRs”.

Justificação

A emenda visa a ter sempre o valor da cauçãocorrigida com a data de entrada do Leiloeiro PúblicoOficial, nos Conselhos Regionais.

Sala das Sessões em 21 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 3 – PLEN

Dê-se ao art. 5º do Projeto de Lei do Senado nº31, de 1999, a seguinte redação:

“Art. 5º O número de Leiloeiros PúblicosOficiais não excederá a cinco nos Estadoscom mais de cem mil e menos de um milhãode habitantes e, nos Estados com mais deum milhão de habitantes, haverá cincoleiloeiros para cada um milhão de habitantes.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei do Senadonº 31/99, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissão emtodo o Brasil.Entendemos, ainda, que a alteração por nós

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 393

proposta não criará qualquer dificuldade em suaimplantação e irá fazer justiça a esses profissionais.

Sala das Sessões, 21 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 4 – PLEN

Modifique-se ocaput do art. 6º do Projeto de Leido Senado nº 31, de 1999, passando a vigorar com aseguinte redação:

Art. 6º O processo de habilitação parao exercício profissional dependerá documprimento dos seguintes requisitos porparte do interessado:

Justificação

Em atendimento ao previsto no inciso XIII do art.5º da Constituição Federal que assegura o “livreexercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,atendidas as qualificações profissionais que a leiestabelecer”, é que proponho a redação referenciadaacima.

Sala das Sessões, 21 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 5 – PLEN

Suprima-se o parágrafo único do art. 7º doProjeto de Lei do Senado nº 31, de 1999.

Justificação

A presente emenda supressiva não pretendedesvirtuar o importante objetivo contido no Projeto deLei do Senado nº 31/99, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros oficiais que já exercem aprofissão em todo o Brasil. Entendemos, ainda, que asupressão proposta se faz necessária em razão dasdiferenças regionais existentes, nas situaçõespeculiares a esses profissionais das regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste, visto que o caput desseartigo e seus incisos são explícitos na sua redação.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 6-PLEN

Dê-se ao art. 9º do Projeto de Lei do Senado nº31, de 1999, a seguinte redação:

“Art. 9º A seleção do Preposto doLeiloeiro Público Oficial far-se-á nosmesmos termos do processo de habilitaçãoreferido no art. 6º.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhores

condições aos prepostos, que são os substitutoslegais dos leiloeiros. Entendemos, ainda, que aalteração por nós proposta consagrará o direitoadquirido da classe dos prepostos.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 7-PLEN

Dê-se ao § 2º do art. 12 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

“§ 2º Condenado pelo ConselhoRegional, o Leiloeiro Público Oficial serásuspenso do exercício da profissão peloprazo máximo previsto nesta lei, podendorecorrer ao Conselho Federal, conformenormas previstas no seu RegimentoInterno.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições e justiça aos leiloeiros. Entendemos,ainda, que a alteração por nós proposta não criaráqualquer dificuldade na sua implantação.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 8-PLEN

Dê-se ao § 2º do art. 16 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

“§ 2º Em decorrência das infraçõesaos incisos VI, VII, VIII e IX será aplicada apena de suspensão de trinta a trezentos esessenta e cinco dias, além da nulidade dosatos e da restituição dos valoresarrecadados irregularmente.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições e justiça aos leiloeiros. Ela se faznecessária, tendo em vista o lapso existente naproposição que não estabeleceu prazo dasuspensão.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 9-PLEN

Dê-se ao § 3º do art. 16 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

394 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

“§ 2º As infrações aos incisos X e XI,além de implicarem nulidade dos atospraticados, serão punidas com pena demulta de quinhentas a cinco mil UnidadesFiscais de Referência – UFIR.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31/99, de 1999, que é o de propiciarmelhores condições e justiça aos leiloeiros. Ademais,a alteração que propomos se faz necessária a fim deespecificar o valor da multa que ficou omisso noprojeto.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 10-PLEN

Dê-se ao § 1º do art. 22 do Projeto de Lei doSenado nº 99, de 1999, a seguinte redação:

“§ 1º Não havendo leiloeiro livrementeescolhido pelo credor, o Conselho Regionalo nomeará, salvo os casos previstos em lei.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil. Entendemos, ainda, que a alteraçãopor nós proposta irá agilizar mais ainda a efetivaçãodo leilão.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 11-PLEN

Dê-se ao § 2º do art. 22 do Projeto de Lei doSenado nº 99, de 1999, a seguinte redação:

“§ 2º Na falta de Leiloeiro PúblicoOficial ou seu Preposto em leilões judiciais eextra-judiciais e onde houver dificuldade decomparecimento do Leiloeiro, poderá o Juizda Comarca cometer o leilão o praça aOficial de Justiça-Avaliador, salvo os casosprevistos em lei.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil. Entendemos, ainda, que a alteração

por nós proposta se faz necessária, uma vez que nãohá leiloeiros em todas as cidades do Brasil.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 12 - PLEN

Suprima-se o art. 28 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999.

Justificação

As empresas públicas já são obrigadas apublicar os editais, na forma determinada na Lei nº8.666/93.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 13 - PLEN

Acrescente-se ao art. 28 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, o Parágrafo único.

“Parágrafo único – exceto os leilõesjudiciais.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 14 – PLENÁRIO

Dê-se ao art. 31 do Projeto de Lei do Senado nº31, de 1999, a seguinte redação:

“Art. 31 Os leilões judicialmenteautorizados serão realizados em dias ehorários, conforme vier a ser ajustado entreo leiloeiro e a autoridade judicial.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissão emtodo o Brasil. Entendemos, ainda, que a alteração pornós proposta irá ter um direito de ir e vir da realizaçãodo leilão, e alcançar melhores condições e preços.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 15 – PLENÁRIO

Dê-se ao § 1º do art. 34 do Projeto de Lei doSenado nº 31/99, a seguinte redação:

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 395

“§ 1º Na falta de estipulação prévia,aplicar-se-á a taxa mínima aos vendedorese compradores dos leilões realizados.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil.

Sala das Sessões 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 16-PLEN

Dê-se ao § 2º do art. 34 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

“Os compradores pagarão 2% (doispor cento) sobre o valor estipulado para olance mínimo e 5% (cinco por cento) sobreo que exceder este montante.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 17-PLEN

Dê-se ao § 3º do art. 34 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

“Prestado o compromisso, se o leilãojudicial ou extrajudicial não for realizado emvirtude da extinção do processo porqualquer motivo somente será devido aoleiloeiro público o reembolso das despesasque houver efetuado para a realização doleilão.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 18-PLEN

Dê-se ao art. 36 do Projeto de Lei nº 31, de1999, a seguinte redação:

“Art. 36. Na alienação de bens móveisou imóveis pertencentes à União, aosEstados, Distrito Federal, Municípios, àsFundações e Autarquias, os LeiloeirosPúblicos Oficiais funcionarão pordistribuição, a ser realizada pelo critério daantigüidade.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem a profissãoem todo o Brasil. Entendemos, ainda, que a alteraçãopor nós proposta é necessária, pois as empresaspúblicas e as sociedades de economia mista sãoregidas pela Lei nº 6.404/76.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 19-PLEN

Dê-se ao § 3º do art. 36 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999, a seguinte redação:

“§ 3º Nas vendas de bens de qualquernatureza pertencentes a órgãos daadministração pública, os leiloeiros cobrarãosomente dos compradores a comissãoestabelecida no art. 34, correndo por contada parte vendedora, quando formalmenteautorizadas, as despesas de anúncios,reclamos e propaganda dos leilões.”

Justificação

A presente emenda não pretende desvirtuar oimportante objetivo contido no Projeto de Lei doSenado, de 1999, que é o de propiciar melhorescondições aos leiloeiros que já exercem profissão emtodo o Brasil.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 20-PLEN

Dê-se ao art. 37 do Projeto de Lei do Senado nº31, de 1999, a seguinte redação:

“Art. 37. O fornecimento da conta devenda dos leilões e o respectivo pagamentoserão realizados até 5 (cinco) dias úteisdepois dos correspondentes pregões, daentrega dos objetos vendidos ou assinaturada escritura de venda.”

396 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Justificação

Com o desenvolvimento tecnológico ocorridonesses 63 anos, com a informatização, nada justificaaumentar este prazo para 10 dias úteis.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 21 - PLEN

Suprima-se o § 2º do art. 38 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999.

Justificação

Uma vez que com a aprovação do Projeto de Leiem questão, os leiloeiros não terão mais qualquervinculação com a Junta Comercial, é injustificável ainserção do referido § 2º que isenta a cobrança porparte da Junta Comercial quando da autenticaçãodos livros mencionados nos incisos IV e VI do art. 69do Projeto de Lei nº 31, de 1999.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 22-PLEN

Suprima-se o art. 39 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999.

Justificação

O art. 39 do texto ao condicionar o exercício daprofissão à prestação de caução, vulnera o inciso XIIIdo art. 5º da Constituição Federal que assegura o“livre exercício de qualquer trabalho, ofício ouprofissão, atendidas as qualifiações profissionais quea lei estabelecer”. Assim, a caução não sendoqualificação profissional, tal exigência restringirá oacesso à profissão de leiloeiro. Isto posto, solicito aexclusão do art. 39 do projeto em tela.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999 –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 23-PLEN

Dê-se ao art. 39 do Projeto de Lei do Senado nº31, de 1999, a seguinte redação:

“Art. 39. O Diário de Entrada, exigívelapenas nos casos de vendas realizadas nosarmazéns ou depósitos de leiloeiros,registrará em ordem cronológica, os bensrecebidos para leilão, em conformidade coma autorização referida no art. 22.”

Justificação

A emenda visa a corrigir possível erro dedigitação ao se fazer referência ao art. 53 quando ocorreto é o art. 22.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999 –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 24-PLEN

Suprima-se o art. 40 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999.

Justificação

O art. 40, assim como o art. 39 do Projeto de Leinº 31/99, ao condicionar o exercício da profissão àprestação de caução, vulnera o inciso XIII do art. 5º daConstituição Federal que assegura o “livre exercíciode qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas asqualificações profissionais que a lei estabelecer”.Assim, a caução não sendo qualificação profissional,tal exigência restringirá o acesso à profissão deleiloeiro. Isto posto, solicito a exclusão do art. 40 doprojeto em tela.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

EMENDA Nº 25-PLEN

Suprima-se o art. 41 do Projeto de Lei doSenado nº 31, de 1999.

Justificação

O art. 41, assim como os arts. 39 e 40 doreferido Projeto de Lei nº 31/99, ferem o inciso XIII doart. 5º da Constituição Federal que assegura o livreexercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,atendidas as qualificações profissionais que a leiestabelecer. Isto posto, solicito a exclusão do art. 41do projeto em tela.

Sala das Sessões, 22 de outubro de 1999. –Senador Moreira Mendes.

(À Comissão de Assuntos Sociais.)

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – APresidência recebeu, do Supremo Tribunal Federal,o Ofício nº S/50, de 1999 (nº 130/99, na origem), de20 do corrente, encaminhando, para os fins previstosno art. 52, inciso X, da Constituição Federal, có-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 397

pia da Lei nº 2.175, de 24 de novembro de 1989, doMunicípio de Osasco, São Paulo, do Parecer daProcuradoria-Geral da República, da versão doregistro taquigráfico do julgamento, da certidão detrânsito em julgado e do acórdão proferido por aquelaCorte, nos autos do Recurso Extraordinário nº 228735,que declarou a inconstitucionalidade do art. 4º dareferida lei municipal (IPTU progressivo).

O expediente vai à Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania, em decisão terminativa.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – APresidência recebeu o Aviso nº 36, de 1999 (nº 939/99,na origem), de 11 do corrente, do Tribunal de Contasda União, encaminhando o Relatório das suasAtividades, referente ao segundo trimestre de 1999.

O expediente vai à Comissão de Fiscalização eControle.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Nãohá mais oradores inscritos.

O Sr. Senador Maguito Vilela enviou discurso àMesa para ser publicado na forma do disposto no art.203 do Regimento Interno.

S. Exª será atendido.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB – GO) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há dois dias subia essa tribuna para dar minha palavra de apoio aosmato-grossenses que, em função de casos isoladosenvolvendo membros do Poder Judiciário do Estadodo Mato Grosso, sofrem um processo violento dedifamação, que ameaça prejudicar até investimentosque para lá estão se deslocando.

A mesma solidariedade, a mesma palavraamiga e o mesmo apoio quero manifestar aos irmãosacreanos que, de forma semelhante, têm sofrido umacampanha difamatória inadmissível. Não se podetaxar negativamente um Estado como o Acre emfunção de ações criminosas de uma pessoa ou deuma gangue.

Ali reside uma população imensa, trabalhadorae honesta. Ali existem políticos sérios, preocupadosem construir um Estado forte economicamente. Paralá estão sendo canalizados pesados investimentosindustriais e de infra-estrutura, que não podem sofrersolução de continuidade em função de erros de umaminoria que tem feito política no Estado apenas comoinstrumento de realização de projetos pessoais.Esses são apenas uma minoria criminosa, que deveser combatida com vigor. O Estado não. É muito mais,mais forte e não pode pagar pelo pecado de

irresponsáveis que jamais deveriam ter entrado paraa política.

As notícias publicadas de forma genéricadifamam o Estado como Unidade Federativa e emnada contribuem com o esclarecimento dos casos. Aocontrário, geram prejuízos incalculáveis para o povo edesviam a atenção daqueles que realmente precisamsofrer a força da punição da Justiça.

Não restam dúvidas que um dos grandesdesafios nacionais é a luta contra as desigualdadesregionais. Ao longo da História, investimentosindustriais e tecnológicos concentraram-se empoucos Estados, gerando desníveis inadmissíveis,porém remediáveis, desde que o País volte suasatenções para essas regiões menos desenvolvidas.

Quando vemos, especialmente na imprensa,fatos isolados ganharem dimensão tal que o Estadose vê prejudicado, temos que erguer a voz. Como jádisse aqui mesmo nessa tribuna, nós, que fazemosparte da mais importante Casa política deste País,não podemos deixar que um Estado como o Acrepasse por um processo tão violento dedesmoralização.

É necessário que ergamos a voz para mostraraos investidores que o Acre não é, como tentam tachar,um “narcoestado”. O Acre é um Estado fantástico, depotencialidades imensas, onde grandes investimentostêm sido feitos com resultados extraordinários.

Registro, portanto, o meu apoio e a minhasolidariedade aos irmãos do Acre e aos líderespolíticos sérios daquele Estado, tão bemrepresentados nesta Casa pelos Senadores NaborJúnior, Tião Viana e Marina Silva. E o meu repúdio atoda forma de desmoralização perpetrada contraesse Estado, pela imprensa ou por quem quer queseja.

Que o Congresso Nacional saiba reagir deforma vigorosa todas as vezes que algum estadobrasileiro esteja sofrendo injustiças tão gritantes que,se não combatidas, acabam por prejudicar aeconomia local e seu povo.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Nada mais havendo a tratar, a Presidência vaiencerrar os trabalhos, lembrando às Srªs. e aos Srs.Senadores que a sessão de segunda-feira, dia 25de outubro, será não deliberativa.

Está encerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 11horas e 9minutos.)

398 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

Ata da 147ª Sessão Não Deliberativaem 25 de outubro de 1999

1ª Sessão Legislativa Ordinária da 51ª Legislatura

Presidência dos Srs.: Ademir Andrade, Carlos PatrocínioNabor Júnior, Leomar Quintanilha e Moreira Mendes

(Inicia-se a sessão às 14 horas e 30minutos.)

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – Havendonúmero regimental, declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos nossostrabalhos.

Há Expediente que passo a ler:

É lido o seguinte:

EXPEDIENTE

PARECERES

PARECER Nº 840, DE 1999

Da Comissão de Educação, sobre oProjeto de Decreto Legislativo nº 211, de1999 (nº 140/99, na Câmara dosDeputados), que aprova o ato queautoriza a Prefeitura Municipal deCariacica a executar serviço deradiodifusão sonora em freqüênciamodulada, na cidade de Cariacica,Estado do Espírito Santo.

Relatora: Senadora Luzia Toledo

I – Relatório

Por meio da Mensagem Presidencial nº 43, de1999, o Senhor Presidente da República submete aoCongresso Nacional, nos termos do art. 49, incisoXIII, combinado com o § 1º do art. 223 da ConstituiçãoFederal, ato constante da Portaria nº 320, de 21 dedezembro de 1988, que autoriza a PrefeituraMunicipal de Cariacica a executar serviço deradiodifusão sonora em freqüência modulada, comfins exclusivamente educativos, na cidade deCariacica, Estado do Espírito Santo.

Nos termos do § 10 do art. 16 do Regulamentodos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo Decretonº 52.795, de 31 de outubro de 1963, com a redaçãodada pelo Decreto nº 2.108, de 24 de dezembro de1996, a outorga será concedida medianteautorização do Senhor Presidente da República eformalizada sob a forma de convênio, após aaprovação do Congresso Nacional, conformedisposto no § 3º do art. 223 da Constituição Federal.

A documentação anexada à MensagemPresidencial informa que o processo foi examinadopelos órgãos técnicos do Ministério dasComunicações, constatando-se estar devidamenteinstruído e em conformidade com a legislaçãopertinente.

O presente projeto, examinado pela Comissãode Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informáticada Câmara dos Deputados, recebeu parecerfavorável de seu Relator, Deputado Romeu Queiroz, eaprovação unânime daquela comissão. Já naComissão de Constituição, Justiça e de Redaçãodaquela Casa, o projeto foi considerado jurídico,constitucional e vazado em boa técnica legislativa,contra os votos dos Deputados Antônio CarlosBiscaia, José Dirceu, Waldir Pires, Marcelo Déda e Dr.Rosinha.

II – Voto do Relator

O processo de autorização, pelo PoderExecutivo, para execução de serviço de radiodifusãoeducativa condiciona-se ao cumprimento deexigências distintas daquelas observadas nos casosde concessões ou permissões para exploração decanais comerciais de rádio e televisão. A legislaçãopertinente estabelece que a outorga para exploraçãodeste tipo de serviço não depende de edital. Tambémnão se aplicam à radiodifusão educativa as exigênciasda Resolução do Senado Federal nº 39/92 que “dispõesobre formalidades e critérios para a apreciação dosatos de outorga e renovação de concessão, permissãopara o serviço de radiodifusão sonora de sons eimagens”.

Devido à sua especificidade, os canais deradiodifusão educativa são reservados à exploraçãoda União, Estados e Municípios, universidades efundações constituídas no Brasil, com finalidadeeducativa, conforme preceitua o art. 14 do Decreto nº236, de 28 de fevereiro de 1967, que complementou emodificou a Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962,que instituiu o Código Brasileiro deTelecomunicações.

Diante da regularidade dos procedimentos e documprimento da legislação, opinamos pela aprova-

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 399

ção do ato de outorga em exame, na forma do projetode decreto legislativo.

Sala das Comissões, 19 de outubro de 1999. –Freitas Neto, Presidente – Luzia Toledo, Relatora –Emilia Fernandes – Amir Lando – GeraldoCândido (abstenção) – Sebastião Rocha –Mozarildo Cavalcanti – Ney Suassuna – AgneloAlves – Romeu Tuma – Roberto Saturnino –Francelino Pereira – Jonas Pinheiro – Marina Silva(contrário) – Jorge Bornhausen – Bello Parga.

LEGISLAÇÃO CITADA, ANEXADA PELASECRETARIA-GERAL DA MESA

LEI Nº 4.117, DE 27 DE AGOSTO DE 1962

Institui o Código Brasileiro deTelecomunicações.

...........................................................................

DECRETO Nº 52.795, DE31 DE OUTUBRO DE 1963

Aprova o Regulamento dosServiços de Radiodifusão.

...........................................................................

DECRETO-LEI Nº 236DE 28 DE FEVEREIRO DE 1967

Complementa e modifica a Lei nº4.117(*), de 27 de agosto de 1962

...........................................................................Art. 14. Somente poderão executar serviço de

televisão educativa:a) a União;b) os Estados, Territórios e Municípios;c) as universidades brasileiras;d) as fundações constituídas no Brasil, cujos

estatutos não contrariem o Código Brasileiro deTelecomunicações.

§ 1º As universidades e fundações deverão,comprovadamente, possuir recursos próprios para oempreendimento.

§ 2º A outorga de canais para a televisãoeducativa não dependerá da publicação do editalprevisto no art. 34 do Código Brasileiro deTelecomunicações.

...........................................................................

DECRETO Nº 2.108DE 24 DE DEZEMBRO DE 1996

Altera dispositivos do Regulamentodos Serviços de Radiodifusão, aprovadopelo Decreto nº 52.785(1), de 31 deoutubro de 1963, e modificado pordisposições posteriores.

..............................................................

PARECER Nº 841, DE 1999

Da Comissão de Educação, sobreProjeto de Decreto Legislativo nº 212, de1999 (nº 187/99, na Câmara dosDeputados), que aprova o ato de outorgae permissão à Fundação Rômulo NevesBalestrero para executar serviço deradiodifusão sonora em freqüênciamodulada na cidade de Vitória, EspíritoSanto.

Relatora: Senadora Luzia Toledo

I – Relatório

Chega a esta comissão, para parecer, o Projetode Decreto Legislativo nº 212, de 1999 (nº 187, de1999, na Câmara dos Deputados), que aprovao ato que outorga a permissão à FundaçãoRômulo Neves Balestrero para explorarserviço de radiodifusão sonora em freqüênciamodulada n a cidade de Vitória, Espírito Santo.

Por meio da Mensagem Presidencial nº 688, de1999, o Presidente da República submete aoCongresso Nacional o ato constante da Portarianº 50, de 7 de maio de 1999, que outorga apermissão para exploração de canal, deradiodifusão sonora, nos termos do ar t. 49,XII, combinado com o § 1º do ar t. 223, ambosda Consti tuição Federal .

A exposição de motivos do Ministro dasComunicações ao Presidente da República,documento que integra os autos, dá conta de que apresente solicitação de renovação foi instituída deconformidade com a legislação aplicável, o que levouao seu deferimento.

É o seguinte o quadro diretivo da FundaçãoRômulo Neves Balestrero:

Diretor Presidente – Rômulo Neves Balestrero

Diretor Vice-Presidente – Gentil Payer Cantarela

Diretor de Operações: Marco Aurélio Romanha

O presente projeto foi examinado pelaComissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação eInformática da Câmara dos Deputados, tendorecebido parecer favorável de seu Relator, DeputadoPaulo de Almeida, e aprovação unânime daquelacomissão.

Na Comissão de Cons t i t u i ção e Jus t i çae de Re d a ç ã o d a q u e l a C a s a , o p r o j e t of o i c o n s i d e r a d o j u r í d i c o , c o n s t i t u c i o n a le v a z a d o e m b o a t é c n i c a l e g i s l a t i -

400 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

v a , c o n t ra o s vo tos do s Deputados AntônioCarlos Biscaia, José Dirceu, Waldir Pires, MarceloDéda e Dr. Rosinha.

II – Voto do Relator

O processo de exame e apreciação, peloCongresso Nacional, dos atos que outorgam erenovam concessão, permissão ou autorização paraque se executem serviços de radiodifusão sonora ede sons e imagens, praticados pelo Poder Executivo,nos termos do Art. 223 da Constituição Federal, deveobedecer, nesta Casa Legislativa, às formalidades eaos critérios estabelecidos pela Resolução nº 39, de1992, do Senado Federal. Essa norma internarelaciona uma série de informações a seremprestadas e exigências a serem cumpridas pelaentidade pretendente, bem como pelo Ministério dasComunicações, que devem instruir o processosubmetido à análise desta Comissão de Educação.

Tendo em vista que o exame da documentaçãoque acompanha o PDS nº 212, de 1999, evidencia ocumprimento das formalidades estabelecidas,ficando caracterizado que a Entidade FundaçãoRômulo Neves Balestrero atendeu a todos osrequisitos técnicos e legais para habilitar-se à outorgada permissão, opinamos pela aprovação do ato, naforma do Projeto de Decreto Legislativo originário daCâmara dos Deputados.

Sala da Comissão, 19 de outubro de 1999. –Freitas Neto, Presidente – Luzia Toledo, Relator –Emília Fernandes – Amir Lando – Geraldo Cândido(abstenção) – Sebastião Rocha – Ney Suassuna –Agnelo Alves – Romeu Tuma – Roberto Saturnino– Bello Parga – Francelino Pereira – JonasPinheiro – Mozarildo Cavalcanti – Marina Silva –Jorge Bornhausen.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) – OExpediente lido vai à publicação.

Sobre a mesa, requerimento que passo a ler.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO

REQUERIMENTO Nº 647, DE 1999

Senhor Presidente,Requeremos, nos termos do artigo 218 do

Regimento Interno e de acordo com as tradições daCasa, as seguintes homenagens pelo falecimento doempresário maranhense Haroldo Corrêa Cavalcanti.

a) inserção em ata de um voto de profundopesar;

b) apresentação de condolências à família, aoEstado, à Associação Comercial do Maranhão, à

Câmara dos Dirigentes Lojistas e à Federação dasIndústrias do Estado do Maranhão.

Sala das Sessões, 25 de outubro de 1999. –Bello Parga – Edison Lobão.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - Esterequerimento depende de votação, em cujoencaminhamento poderão fazer uso da palavra osSrs. Senadores que o desejarem.

Para encaminhar a votação, concedo a palavraao nobre Senador Bello Parga.

O SR. BELLO PARGA (PFL - MA. Paraencaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encontra-seenlutada a classe produtora do Estado do Maranhãocom o falecimento do meu conterrâneo HaroldoCorrêa Cavalcanti, ocorrido na semana passada,quando estava em atividade relacionada à entidadede classe a qual pertencia e dirigia.

Ele dirigia-se para o Rio de Janeiro, naqualidade de Conselheiro Emérito da Federação dasIndústrias do Estado do Maranhão, para participar deuma reunião na Confederação Nacional da Indústria.Podemos dizer que morreu na trincheira, na luta emdefesa das idéias, dos ideais e dos princípios quenorteavam a atividade empresarial maranhense.

Haroldo Corrêa Cavalcanti, maranhense de SãoLuís, faleceu aos 77 anos de idade. Estava emtrânsito, como disse, no Rio de Janeiro e em Brasília,e faleceu, vítima de um fulminante infarto domiocárdio.

A notícia entristeceu e abalou mesmo apopulação maranhense, principalmente a de SãoLuís, onde se destacou pelas suas qualidadespessoais, pela sua inteligência e pelo rumo políticoque sempre deu às suas atividades empresariais e àsentidades que dirigiu. Era um defensor extremo daliberdade de iniciativa do regime capitalista com aresponsabilidade do Estado na gerência e na funçãode mediador dos interesses entre empresários eempregados.

Seu corpo foi velado na Associação Comercialdo Maranhão, onde foram muitos dos seusconterrâneos, amigos e admiradores prestar-lhe aderradeira homenagem.

Haroldo Corrêa Cavalcanti nasceu em São Luís,em 30 de dezembro de 1922. Desde cedo, aindarapaz, saído da adolescência, trabalhou com seu paina firma comercial. Depois, ele mesmo tomouiniciativa de tornar-se independente e formar suaprópria empresa. Com pouco mais de 20 anos,quando mal havia adquirido a maioridade, fundou suaprimeira firma individual. Dedicou-se inicialmente ao ramoda importação e, mais tarde, convidado por membros dasua família, passou a integrar também a direção de um

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 401

estabelecimento industrial – um dos últimos doMaranhão, fato que ocorreu na década de 40, quandoainda havia um dos últimos alentos, ou seja, quando aantiga Manchester brasileira era situada em São Luizdo Maranhão.

Desde cedo Haroldo Corrêa Cavalcanti integrouas entidades de classe, dando importantecontribuição para a consolidação e crescimentodaquele segmento. Dirigiu importante indústria têxtildo Estado - o Contonifício Cândido Ribeiro Ltda, noqual introduziu medidas administrativas e técnicas afim de dar uma vida empresarial e industrial maior emais extensa à empresa. Infelizmente, o ramoindustrial maranhense, que tinha no começo doséculo cerca de vinte estabelecimentos industriais,devido à falta de uma cultura industrial - essesestabelecimentos não se renovaram tecnicamente -aos poucos foi rareando e escasseando aquelaatividade.

Haroldo foi um dos últimos a pregar anecessidade da renovação e do reequipamentoindustrial maranhense. Todavia, em sua pregação não foifeliz. A sua inquestionável liderança diante da classeempresarial, o primeiro empresário maranhense a sereleito Presidente da Confederação Nacional das Indústrias,na época com sede no Rio de Janeiro. Isso ocorreu noinício da década de 60.

Entendendo ser necessário que a classeempresarial tivesse seus representantes noCongresso Nacional, pregava a inserção dos capitães deindústria, dos homens do comércio, dos homens daprestação de serviços nos partidos políticos não só levandoa sua mensagem mas também fazendo-se representar.

Candidatou-se a Deputado Federal e, emboranão tenha sido eleito pelo Partido TrabalhistaBrasileiro do Maranhão, alcançou uma suplência, oque o fez, em algumas oportunidades, exercer omandato de Deputado Federal na antiga CapitalFederal.

Nessa sua atividade política, ele filiou-se àfacção que defendia a reintegração do PresidenteGoulart aos seus plenos poderes de Presidente daRepública, combatendo, portanto, o regimeparlamentarista, que vigorava naquela ocasião. Foifeliz no início, porque o Presidente João Goulartacabou, como conseqüência do plebiscito, reavendo todos seusdireitos de Presidente da República de regime presidencialista.Todavia, essa sua atitude,sua atividade franca, aberta, leale destemida granjeou-lhe a antipatia dos seuscontrários. E, infelizmente, em 1965, nos excessosque bem caracterizaram aquela fase do regimediscricionário que se implantou no Brasil, Haroldo

Cavalcanti teve cassada a Presidência da CNI e aCarta da Patente da Federação das Indústrias doMaranhão.

Passou algum tempo na obscuridade. Seguindoo conselho do político francês de que há o tempo dofluxo e refluxo da maré, recolheu-se às atividades da suaempresa, esperou que a maré tivesse o refluxo. Com onovo fluxo da maré, no Governo estadual José Sarney,procurou dar maiores condições para a expansão dasatividades empresariais no Estado. Haroldo Cavalcantivoltou à cena e tornou-se, desde logo, um dosprincipais líderes da Associação Comercial e daFederação das Indústrias do Maranhão.

Em 1969, foi eleito o primeiro vice-presidente daAssociação Comercial do Estado, cargo que exerceuaté 1978, quando foi eleito presidente.

Fundou o Clube de Diretores Lojistas, que deuorigem à atual Câmara de Dirigentes Lojistas, tendo sidopresidente por dois mandatos, de 1979 a 1983.Atualmente,era membro do Conselho de Administração daquelaentidade. Representou o Brasil em reuniões daOrganização Internacional do Trabalho - OIT, tendotambém integrado diversas delegações querepresentaram o País no exterior.

Antes de ter sido cassada a Carta Patente daFederação pela Justiça do Maranhão, ele foi chamado pelogoverno anterior ao Governo Sarney, para dirigir o InstitutoMaranhense do Arroz, uma experiência que não foi adiante,não por falta da combatividade e das iniciativas de HaroldoCavalcanti, mas porque, efetivamente, se tratava de umaentidade que visava a defender e implantar amonocultura no Estado, tese que não condizia com asnecessidades e realidades da economiamaranhense.

Posteriormente, foi Presidente da Federaçãodas Indústrias do Estado do Maranhão, novamente;Presidente do Sistema Sest/Senat; Presidente daConfederação Nacional das Indústrias; Presidente daCâmara de Dirigentes Lojistas (CDL); Presidente doCentro de Apoio à Pequena Empresa; Conselheirotitular de recursos fiscais do Estado; Conselheiro daCâmara de Dirigentes Lojistas e, finalmente,Conselheiro emérito da Federação Nacional dasIndústrias, além de ter exercido, em algum momento,a Presidência do Centro das Empresas de Serviço doMaranhão e o cargo de Juiz Classista do TribunalRegional do Trabalho.

Foi sempre um estudioso, procurava sempre estarinterpretando os fenômenos econômicos.Em termos pessoais,recordo-me bem de que recebi cerca de 4 ou 5 visitassuas em meu Gabinete, onde, além de trocarmosidéias e de ele trazer o pensamento daAssociação Comercial e da Federação das

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Indústrias do Maranhão, ele se mostravainteressado no encaminhamento das questõeslegislativas. Ele sempre solicitava - e eu lhe fornecia -as publicações do Senado, notadamente aquelas quetratavam da história da economia e dos estudoseconômicos levados a efeito pelas Comissões doSenado.

Como disse, Sr. Presidente, a classeempresarial maranhense está de luto. E todosaqueles que, de uma certa forma, representam opovo do Maranhão, seja no Legislativo, seja nosórgãos de classes, estão hoje diminuídos com aausência de Haroldo Corrêa Cavalcanti, umverdadeiro líder do comércio e da indústria do Estadodo Maranhão.

Espero receber dos meus Pares o apoio àaprovação do requerimento de que ora estoutratando.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Durante o discurso do Sr. Bello Parga,o Sr. Nabor Júnior, 3º Secretário, deixa acadeira da presidência, que é ocupada peloSr. Carlos Patrocínio, 2º Secretário.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Emvotação o requerimento.

As Sras. e os Srs. Senadores que o aprovamqueiram permanecer sentados. (Pausa)

Aprovado.Será cumprida a deliberação do Plenário.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Sobre

a mesa projetos de lei do Senado que serão lidos peloSr. 1º Secretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

São lidos os seguintes:

PROJETO DE LEI DO SENADONº 586, DE 1999

Permite a utilização do FGTS paracompra de casa própria, em qualquersistema de financiamento habitacional, edá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º O inciso VII do art. 20 da Lei nº 8.036, de

11 de maio de 1999, passa a vigorar com a seguinteredação:

“Art. 20. .................................................VII – liquidação ou amortização

extraordinária do saldo devedor definanciamento imobiliário, concedido noâmbito de qualquer sistema definanciamento habitacional, desde que oadquirente não possua outro imóvel de suapropriedade, observadas as condiçõesestabelecidas pelo Conselho Curador doFGTS.

Art. 2º O Poder Executivo regulamentará estalei em até 90 dias após a sua publicação.

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

Justificação

Atualmente, a fim de se adquirir uma casaprópria, o trabalhador só dispõe da possibilidade deutilizar seus créditos no Fundo de Garantia por Tempode Serviço se o imóvel for financiado pelo SistemaFinanceiro de Habitação-SFH ou obedecendo àscondições do mesmo.

Entretanto o que temos observado,principalmente devido à diversificação econômicados últimos anos, é o fato de que essa hipóteserestritiva prejudica a liberdade individual e acabatendo efeitos negativos sobre o sistema econômicocomo um todo.

O presente projeto de lei tem como objetivofundamental permitir que o trabalhador integrante doSFH possa contar com a possibilidade de utilizar-selivremente dos respectivos créditos, na aquisição daprópria moradia. Com esta medida, permitir-se-ámaior dinamismo ao setor da construção civil,contribuindo paralelamente com o aumento do nível deemprego.

Devemos também ressaltar que, com ainstituição do Sistema de Financiamento Imobiliária –SFI (em 1997), a medida aqui proposta adquiriu umaimportância ainda maior, visto propiciar umincremento da oferta de imóveis.

Ressalte-se que, na legislatura anterior, o entãoSenador Epitácio Cafeteira havia apresentadoproposta sobre esta mesma matéria.

Assim, a aprovação da presente proposição éde suma importância, tanto do ponto de vista socialcomo do ponto de vista econômico.

Sala das Sessões, 25 de outubro de 1999. –Carlos Patrocínio.

LEGISLAÇÃO CITADA

LEI Nº 8.036, DE 11 DE MAIO DE 1990

Dispõe sobre o Fundo de Garantiado Tempo de Serviço, e dá outrasprovidências.

....................................................................................Art.20.A conta vinculada do trabalhador no FGTS

poderá ser movimentada nas seguintes situações:....................................................................................

VII – pagamento total ou parcial do preço daaquisição de moradia própria, observadas asseguintes condições:

a) o mutuário deverá contar com o mínimo de 3(três anos) de trabalho sob o regime do FGTS, namesma empresa ou empresas diferentes;

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 403

b) seja a operação financiável nas condiçõesvigentes para o SFH;....................................................................................

(À Comissão de Assuntos Sociais –decisão terminativa.)

PROJETO DE LEI DO SENADONº 587, DE 1999

Modifica o art. 10, II, a) da Lei nº8.842, de 4 de janeiro de 1994, parapriorizar o atendimento ao idoso na áreada saúde.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º A alínea a do item II do art. 10 da Lei nº

8.842/94 passa a vigorar com a seguinte redação:

“a) garantir ao idoso doente com maisde 60 anos de idade prioridade naassistência à saúde, nos Prontos Socorros,Postos de Saúde, Clínicas conveniadas,eximindo-o, especialmente, da espera emfilas.”

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

Justificação

A Legislação tem assegurado ao idoso doenteprioridade no atendimento, por motivos óbvios. Noentanto, a proteção é estabelecida de modo genérico,o que dificulta sobremaneira a sua aplicaçãotornando-a até ineficaz e inócua. Fica então claro, quehá necessidade de normas específicas, definindocondutas e procedimentos que propiciem aos idosos oatendimento previsto em lei. Há necessidade de umaregulamentação específica, que, no entanto, não existe.

Com o presente projeto, procura-se, pelo menos,a garantir o atendimento ao idoso sem o mesmo ficarem filas, conduta que já chegou até mesmo a custarvidas, como se vê, a todo o momento, pela imprensa.

À consideração de Vossas Excelências.Sala das Sessões, 25 de outubro de 1999. –

Luiz Estevão.

LEGISLAÇÃO CITADA

LEI Nº 8.842/94

....................................................................................

CAPÍTULO IVDas Ações Governamentais

Art. 10. Na implementação da política nacionaldo idoso, são competências dos órgãos e entidadespúblicos:

I – na área de promoção e assistência social:a) prestar serviços e desenvolver ações

voltadas para o atendimento das necessidadesbásicas do idoso, mediante a participação dasfamílias, da sociedade e de entidadesgovernamentais e não governamentais;

b) estimular a criação de incentivos e dealternativas de atendimento ao idoso, como centrosde convivência, centros de cuidados diurnos,casa-lares, oficinas abrigadas de trabalho,atendimentos domiciliares e outros;

c) promover simpósios, seminários e encontrosespecíficos;

d) planejar, coordenar, supervisionar e financiarestudos, levantamentos, pesquisas e publicaçõessobre a situação social do idoso;

e) promover a capacitação de recursos paraatendimento ao idoso;

II – na área de saúde:a) garantir ao idoso a assistência à saúde, nos

diversos níveis de atendimento do Sistema Único deSaúde;

b) prevenir, promover, proteger e recuperar asaúde do idoso, mediante programas e medidasprofiláticas;

c) adotar e aplicar normas de funcionamento àsinstituições geriátricas e similares, com fiscalizaçãopelos gestores do Sistema Único de Saúde;

d) elaborar normas de serviços geriátricoshospitalares;

e) desenvolver formas de cooperação entre asSecretarias de Saúde dos Estados, do DistritoFederal e dos municípios, e entre os centros dereferência em Geriatria e Gerontologia paratreinamento de equipes interprofissionais;

f) incluir a Geriatria como especialidade clínica,para efeito de concursos públicos federais, estaduais,do Distrito Federal e municipais;....................................................................................

(À Comissão de Assuntos Sociais –decisão terminativa.)

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Osprojetos que acabam de ser lidos serão publicados eremetidos à comissão competente.

Sobre mesa requerimento que será lido pelo Sr.1º Secretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 648, DE 1999

Senhor Presidente,Requeiro, nos termos do art. 335, do Regimento

Interno do Senado Federal , o sobrestamento do estu-

404 ANAIS DO SENADO FEDERAL OUTUBRO DE 1999

do do Projeto de Lei do Senado nº 307, de 1999, deminha autoria, a fim de aguardar o recebimento deoutra proposição sobre a mesma matéria.

Sala das Sessões, 25 de outubro de 1999. –Luiz Estevão.

(À Comissão de Constituição, Justiça eCidadania.)

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Orequerimento lido será publicado e remetido àComissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

Sobre a mesa ofício que será lido pelo Sr. 1ºSecretário em exercício, Senador Nabor Júnior.

É lido o seguinte:

Sr. Presidente do Congresso Nacional,Indico, em substituição à indicação dessa

Presidência os Senadores do PSDB que comporão aComissão Especial Mista destinada a apreciar aseguinte medida provisória:

MP Nº: 1923Publicação DOU: 7-10-99Assunto: Institui o Programa de Recuperação

Fiscal – REFIS.Titular: Sérgio MachadoSuplente: Pedro PivaBrasília, 7 de outubro de 1999. – Sérgio

Machado, Líder do PSDB.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) – Será

feita a substituição solicitada.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –

Passa-se à lista de oradores.Com a palavra o eminente Senador Sebastião

Rocha, por permuta com o Senador Moreira Mendes.O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT – AP.

Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, nestaoportunidade, comunico à Casa que, na próximaterça-feira, dia 26, às 17h30min, ou seja, após aOrdem do Dia, será realizada na Comissão deEducação do Senado uma audiência pública paradiscutirmos o Projeto nº 73/97, do qual sou Relator. Oprojeto é de autoria da Deputada Telma de Souza,que propõe a instituição da Semana de Combate ePrevenção ao Câncer de Próstata, um assunto que étabu no nosso País. Essa audiência pública tem porfinalidade discutir, debater o projeto e contribuir paraque haja uma superação desse tabu, haja vista agrande incidência de câncer de próstata napopulação mundial e brasileira.

Gostaria também de registrar que amanhã, 26de outubro, é a data de nascimento do ex-SenadorDarcy Ribeiro. Recentemente o Congresso Nacionalaprovou, e o Presidente do Senado e do Congresso

Nacional, Senador Antonio Carlos Magalhães,promulgou, resolução que institui o Diploma do MéritoEducativo Darcy Ribeiro, que deverá ser atribuído àpessoa física ou jurídica que tenha oferecidocontribuição relevante à causa da educação nacional.

Portanto, anualmente, a partir do ano que vem,no dia 26 de outubro ou no primeiro dia útilsubseqüente, o Congresso Nacional conferirá aessas pessoas ou à pessoa selecionada que se tenhadestacado em alguma causa, em algum trabalho emdefesa da educação nacional, o Diploma do MéritoEducativo Darcy Ribeiro. Haverá uma comissão decinco membros do Congresso Nacional para julgar ostrabalhos, para fazer a escolha dos nomes. Os nomesdas pessoas interessadas e que tiverem acomprovação de trabalhos em favor da educaçãodevem ser enviados à Mesa até o último dia deagosto.

Aproveito que amanhã será dia 26 de outubro,para fazer referência a esta resolução que está emvigor e institui o Diploma do Mérito Educativo DarcyRibeiro, deixando um estímulo às pessoas quetrabalham em favor da educação nacional paraapresentarem seus trabalhos até 31 de agosto dopróximo ano e assim poderem concorrer a esteDiploma.

Outro assunto que trago nesta oportunidaderefere-se à reunião da Executiva Nacional do PDThoje, no Rio de Janeiro. Embora seja membro titularda Executiva, na condição de Líder no Senado, emfunção de outros compromissos, não pude estarpresente. Essa reunião é muito importante para oPDT, haja vista que debaterá o convite que foi feitopelo Presidente Fernando Henrique Cardoso para oencontro da sua assessoria direta com o Líder doPDT na Câmara, Deputado Miro Teixeira. Este convitesurgiu logo após a reunião do Presidente daRepública com os governadores, e a ExecutivaNacional do PDT orientará a postura a ser adotadapelas duas Bancadas do PDT, a da Câmara e a doSenado.

Do meu ponto vista, penso que o encontro podeacontecer, é salutar para a democracia, mas acreditoque o fórum adequado para este encontro seja oCongresso Nacional. Desde que a assessoria doPresidente Fernando Henrique Cardoso se disponhaa vir conversar com as Lideranças do PDT, seja naCâmara ou no Senado, entendo que não haveránenhum problema, nenhuma dificuldade, pois o PDTé um partido amadurecido, um partido responsávelpara com o País e, portanto, não pode excusar-se dedialogar com autoridades do Poder Executivo,embora seja bem conhecida a condição de oposiçãodo PDT ao Presidente Fernando Henrique Cardoso.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 405

Então, embora ausente da reunião daExecutiva, a minha opinião é de que o encontro devaacontecer, mas que seja organizado numa das Casasdo Congresso Nacional, para fazer valer, inclusive, aautonomia e a liberdade para que o PDT possa atuarnuma linha de oposição ao Governo FernandoHenrique Cardoso.

Sr. Presidente, também uso da palavra nestemomento para referir-me ao trabalho do GovernadorAnthony Garotinho, não só pelo espaço que S. Exªvem tendo junto à Imprensa nacional, paramencionar, discutir e debater as questões do seuEstado, mas também por certa posição de destaqueque o Governo do Rio de Janeiro teve na reunião doPresidente da República com todos osGovernadores.

É bom que se diga também que, com relaçãoaos inativos, os do Rio de Janeiro, há algum tempo, jácontribuem para a Previdência Social.Portanto, o Governodo Rio de Janeiro não se viu obrigado a defender a medidajunto à Bancada, uma vez que esta certamenteapresentará uma reação a essa proposta da cobrança dosinativos. Esta, ao menos, é uma tendência dentro daBancada do PDT.

A participação do Governador AnthonyGarotinho na reunião foi bastante importante esalutar, e é compreensão da Executiva Nacional doPDT que o Governador tem liberdade e autonomiapara tratar dos assuntos de interesse do seu Estado eda Nação em reuniões com o Poder Executivo.

Nesta oportunidade, faço referência ao fato de oGovernador Garotinho ter tido seu nome relacionado entre osvencedores do Prêmio da Paz, conferido pela Universidade paraaPaz,entidade ligadaàONU,queédadoapersonalidadesquese destacam na luta contraa violência. O prêmio decorre doLivro Violência e Criminalidade, escrito pelo GovernadorAnthony Garotinho em períodos anteriores à campanhaeleitoral, no qual S. Exª defende propostas concretas decombate à violência, tanto no Estado do Rio de Janeiro comono País. Aspectos desse conjunto de propostas já estãosendo implementados na administração do Rio de Janeiro, eo Governador, com altivez, corageme determinação, temencarado a violência e o crime organizado, o queportanto lhe valeu o importante prêmio pelo qual mecongratulo com S. Exª.

Pelo exposto, decidi que, no dia de hoje,homenagearia o Governador Garotinho com umdiscurso a respeito de sua trajetória política e dealguns aspectos importantes de sua vida individual eprivada.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, diante dacrise avassaladora que atinge o País e tem provocado

inúmeras dificuldades financeiras aos Estados - quese encontram endividados ou praticamente falidos -,sinto-me no dever de fazer com que os nobres Parese toda a sociedade brasileira tomem conhecimentodo processo de transformação que ora acontece noRio de Janeiro, onde uma jovem liderança, vinda dointerior, tem demonstrado que, com criatividade,disposição e trabalho, é perfeitamente possívelsuperar os obstáculos e construir um governo voltadopara o povo e para as suas necessidades. Refiro-meao Governador apontado por diversas pesquisascomo o melhor e mais popular do País atualmente:Anthony Garotinho.

Anthony Willian Matheus de Oliveira - queganhou aos 15 anos o apelido de Garotinho, quandocomeçou a trabalhar como locutor numa rádio de Campos- tem imprimido à frente da administração do Rio deJaneiro um novo estilo de governar. Entre seus Pares,destaca-se pela trajetória pouco convencional. Aos 39anos, já foi Deputado Estadual uma vez e Prefeito deCampos duas vezes. Religioso, freqüenta a IgrejaPresbiteriana de Laranjeiras. Casado, é pai de novefilhos: quatro naturais e cinco adotivos. A primeirafilha foi adotada com 8 anos de idade e hoje tem 24anos. Àquela época, Garotinho não imaginava sequerser Prefeito da sua cidade, muito menos Governadordo Rio de Janeiro.

Formou-se na política de Campos, quando oMunicípio estava emparedado entre duas liderançastradicionais que se revezavam no Poder - Zezé Barbosa eAlair Ferreira. Superou-os nos programas quetransformaram o locutor Anthony Willian Matheus de Oliveirano Garotinho.

Em 1986, pressionou o PDT, que se recusava afiliá-lo, e se candidatou a Deputado Estadual por São Joãoda Barra, porque em Campos não lhe davam legenda.Elegeu-se com 40.000 votos. Dois anos depois, eraPrefeito de Campos.Dez anos depois, Governador do Riode Janeiro.

Ao assumir, encontrou as finanças do Estado comdéficit operacional de R$168 milhões mensais, além deuma dívida com fornecedores de R$3,8 bilhões e, com aUnião, de R$23,7 bilhões.

Diante desse cenário, precisou implementar medidasenérgicas: estabeleceu teto salarial para o funcionalismo,enxugou cargos em comissão e criou o contrachequeúnico.

Valeu-se da criatividade e procurou formasalternativas de aliviar o orçamento e buscar recursos, como,por exemplo, o adiantamento junto ao GovernoFederal dos royalties da extração da Bacia de Campose a criação do Rio Previdê cia fundo previden-

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ciário que terá recursos próprios e passará a geriras aposentadorias e pensões, o que representaráuma economia de R$180 milhões por mês,equivalente ao pagamento de quase 200 milaposentados e pensionistas.

No desenvolvimento regional e na geração deemprego, problema que parecia insolúvel, Garotinhotem atraído investimentos consideráveis.

No momento, empresas internacionais dos maisvariados setores, além de grandes grupos nacionais,estão se fixando ou expandindo seus negócios no Riode Janeiro, aproveitando as oportunidades criadaspelas altas taxas de crescimento econômicoexperimentadas pelo Estado nos últimos meses.

Maior produtor brasileiro de petróleo e gás, oRio está recebendo, neste momento, investimento deUS$7,7 bilhões, somente da maior empresa nacional,a Petrobrás, que tem sua sede no Estado. Há, ainda,aplicações de US$10,4 bilhões em infra-estrutura ede US$5,6 bilhões para a implantação de 204projetos industriais.

Outra estratégia que vem sendo colocada naprática no processo de atração de novosinvestimentos é a desconcentração de oportunidadesde negócios, com a interiorização dos novosinvestimentos. Há grandes projetos em implantaçãono interior fluminense, como em Volta Redonda, ondea Companhia Siderúrgica Nacional está investindoUS$1,2 bilhão na expansão de suas instalações; aRiopolímeros, em Duque de Caxias, BaixadaFluminense, aplica US$800 milhões, e o EstadoMauá, em Niterói, US$400 milhões.

Os investimentos em segurança pública, nesteano, chegarão a R$60 milhões, contra apenas R$5milhões no ano passado. O número de homicídioscaiu 14% em relação ao primeiro semestre do anopassado. O de assalto a bancos diminuiu 17%. Opercentual de apreensão de armas subiu 17% e osseqüestros praticamente não ocorrem mais no Rio deJaneiro.

Transformações importantes, se bem que maislentas e menos evidentes, estão ocorrendo tambémna saúde, na educação, no esporte e no turismo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, diantedesse breve sumário dos primeiros nove meses doGoverno Garotinho, podemos afirmar que as coisasmudaram no Estado do Rio de Janeiro.

O bom desempenho do Governador pode seratestado nas pesquisas de opinião pública, que oapontam como o mais bem avaliado e popular entreos dez Governadores dos Estados mais importantesdo País.

Muito além das obras e realizações concretas,Garotinho conseguiu o feito de imprimir seu estilo nocenário político nacional e protagonizou a cena maisbonita da política brasileira nos últimos tempos: subiuo morro da Mangueira e foi pedir desculpas àcomunidade pelo assassinato de um garoto de 14anos. Percorreu as trilhas pelas quais o menino,desarmado e ferido num braço, tentou fugir depoliciais que foram ao morro para “achacar”traficantes.

Garotinho subiu até o casario de Três tombos,no terço superior da Mangueira, lugar aonde asautoridades só vão em campanha eleitoral ou festa depromessa de obra. Na subida do morro, deram-lhecápsulas deflagradas pela polícia e contaram-lhedetalhes da execução do menino.

O povo pobre e humilde que habita as 600favelas do Rio de Janeiro já estava até seacostumando. A polícia chegava sem aviso, enfiava opé nas portas dos barracos, gritava, ofendia, não raromatava ou feria – e ficava tudo por isso mesmo.Porém, num sábado, 15 de maio, o GovernadorGarotinho subiu o Morro da Mangueira para anunciarque as coisas mudaram. Como a polícia, ele chegousem aviso, mas, ao invés de ofender, estava ali parapedir desculpas. “Perdão, nós também erramos”,curvou-se o Governador. Ele falava para os mesmosfavelados que, no dia anterior, haviam incendiado ummicroônibus e fechado com barricadas a RuaVisconde de Niterói, indignados com o assassinatodo adolescente.

Aqueles que consideram que um Governadorsubindo morro é lance de oportunismo e demagogiasão, muitas vezes, os mesmos que se comovemquando o Presidente Clinton visita as comunidadesnorte-americanas afetadas pelas freqüentesexplosões de violência, típicas daquele país. Nãopassa pela cabeça de ninguém acusar de “populista”o chefe da nação do “politicamente correto”.

Um político capaz de pedir desculpas pode sertudo o que o Brasil precisa para se reconciliar comseus governantes. A arrogância e o distanciamentosão relativamente recentes na política brasileira. OBrasil já teve homens públicos como JuscelinoKubitschek, capaz de demitir um amigo e dizer: “Nãotenho compromisso com o erro”.

Garotinho é, ao mesmo tempo, uma novidade euma retomada da tradição política brasileira e trazconsigo números que o habilitam a um papel dedestaque no cenário nacional. A indústria do Estadodo Rio de Janeiro cresceu 5,3% no último ano,enquanto o conjunto do País regrediu 2,3%. Seudesempregoéumdosmaisbaixos.NaSemana Santa,o turismo

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teve um movimento 30% superior ao do ano passado.A criminalidade teve uma queda brutal.

Garotinho reascendeu, na população carioca, aauto-estima e o orgulho de morar e trabalhar no Riode Janeiro. Há, hoje, no Rio, Sr. Presidente, um climade expectativa e esperança nos dias que estão por vir,aliado a uma enorme satisfação da população emsaber que o Palácio da Guanabara está ocupado porum Governador que não tem medo do povo, mas que,muito pelo contrário, o respeita.

Em uma pesquisa da agência de publicidadeComente, realizada com 3.416 cariocas, o nome deGarotinho foi o mais citado nas respostas à pergunta:“Quem é a cara do Rio?” Ele teve 277 menções.Deixou para trás o craque Romário – que teve 157 –e, quem diria, até o Cristo Redentor – 127.

Não temos aí, Srªs e Srs Senadores, umprenúncio de que o Brasil, a exemplo do Rio deJaneiro, também precisa encontrar “a sua cara”?

Garotinho leva-nos a acreditar que osgovernantes, se assim o quiserem, podem encurtar adistância que os separa de seus eleitores e produziruma gestão legítima e participativa, sem abrir mão daautoridade do cargo e dos princípios partidários.

Sr. Presidente, o escritório do Governo doEstado do Rio de Janeiro em Brasília foi inauguradona semana passada pelo Governador Garotinho efuncionará no prédio da Varig. Trata-se de umescritório muito bem organizado e dotado decondições satisfatórias para que o Governador do Riode Janeiro, Anthony Garotinho, possa, aqui emBrasília, manter os contatos com os PoderesExecutivo, Legislativo e Judiciário, tendo todo o apoiode sua equipe e dos Parlamentares do seu Partido.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –

Concedo a palavra ao eminente Senador LuizEstevão.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF. Pronunciao seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nas últimassemanas, entre os muitos temas que ocuparam oespaço da imprensa do nosso País relativos àsdiscussões entre o Executivo, o Legislativo e oJudiciário, à pauta dos formadores de opinião e àgrande parte da nossa sociedade, esteve a decisãodo Supremo Tribunal Federal que considerouinconstitucional o aumento das alíquotas daPrevidência Social para os contribuintes do serviçopúblico e a cobrança de desconto previdenciárioprogressivo para os aposentados e pensionistasbrasileiros.

Houve muita emoção e, na minha opinião,pouca dose de razão. Se examinarmos o montante dereceita que o Governo Federal deixa de auferir emvirtude da decisão do Supremo Tribunal Federal,tomada de maneira muito clara e objetiva com basena flagrante inconstitucionalidade do tema, veremosque o número total em debate não ultrapassa R$2,5bilhões.

Passadas duas semanas, o Governo Federalarticula-se para retomar essa proposta no CongressoNacional não mais por intermédio de um projeto delei, mas através de um projeto de emenda àConstituição, visando superar o óbice inconstitucionalque impediu a colocada em vigor da decisão anteriore assegurar que essa contribuição não ultrapasseR$2,5 bilhões – uma vez que pretende isentaraqueles que percebem até R$600 –, mas que fiqueentre R$1,2 bilhão a R$1,5 bilhão por ano.

Como se vê, o volume de dinheiro pretendidoarrecadar pelo Governo, com a taxação e aumento daalíquota dos militares e com a alíquota progressivados pensionistas e aposentados, significará, em umprimeiro momento, uma receita anual da ordem deR$1,2 bilhão. Será que esse número justifica oneraraqueles que durante tantos anos contribuíram para aPrevidência, aceitando as regras vigentes na época,na certeza de que, ao final do tempo de contribuição einício da percepção de sua aposentadoria, as regrasdo jogo seriam mantidas? O que significa R$1,2bilhão em relação ao Orçamento Geral da União, emrelação à despesa efetiva do Governo Federal emdiversas áreas?

Chamo a atenção dos colegas Senadores eDeputados e dos formuladores da política econômicado Governo para o fato de que R$1,2 bilhãorepresenta, na verdade, o equivalente a três dias –apenas três dias – de juros da nossa dívida interna.Pretendo que as autoridades reflitam sobre estaremimpondo um sacrifício desnecessário, desmedido einjusto àqueles que por tantos anos contribuíram paraa Previdência Social; que as autoridades reflitamsobre não estarem priorizando uma medida degrande dificuldade de aprovação no CongressoNacional e de pouquíssimo efeito prático, numérico efinanceiro, sobre as contas do Governo; e, mais doque isso, sobre não estarem discutindo osverdadeiros problemas do País, aqueles que causamo astronômico, o assombroso, o inacreditável déficitpúblico nacional e o crescimento cada vez maior danossa dívida interna. Todas as lideranças pensantesdo nosso País estão concentradas na discussão deuma matéria injusta, equivocada e que gerasacrifícios para um segmento da população.

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Ora, basta o melhor equacionamento da dívidainterna brasileira, o alongamento do seu perfil, o fimda necessidade de o Governo se financiarpraticamente a cada dia, o que elevou a dívida internado nosso País de 7% da receita operacional líquida,em 1995, para 26%, no primeiro semestre de 1999.Exemplifico o período de 1995 a 1999 para que nãose possa imputar a desmandos, desencontros eincompetência de governos anteriores o assombrosocrescimento do serviço da nossa dívida interna.

Mais do que isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, apenas como efeito de comparação, oscustos dos juros da dívida interna, no primeirosemestre de 1999, ultrapassaram, pela primeira vezem nossa história, o total da folha de pagamentos daUnião, incluídos os servidores ativos, os inativos e ospensionistas.

A reflexão é clara: estamos priorizando apequena parte do problema, atacando com umamedida radical e injusta algo que pode dar-nos umresultado muito modesto e deixando de lado o examedas verdadeiras razões dos problemas daPrevidência Social.

Trago uma reportagem de ontem, do jornal ZeroHora, que diz, simplesmente, que os desvios daPrevidência Social, nos últimos 33 anos, somam R$400 bilhões.

Quem fez esse estudo? Foi, por acaso, umopositor do Governo? Foi alguém que confabula econspira contra o sucesso do Governo FernandoHenrique Cardoso? Não. Foi o ex-Presidente doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico eSocial, Mendonça de Barros, uma das figuras de proado Governo Federal.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – V. Exª mepermite um aparte?

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) – Ouço,com muita atenção, o aparte de V. Exª, SenadorRomero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Meu caroSenador Luiz Estevão, V. Exª traz a debate o tema domomento: a busca estrutural da solução para o déficitda Previdência Social. E parte das constatações éimportante: o histórico desvio de recursos daPrevidência, bem como o posicionamento dasociedade brasileira, hoje, com a finalidade de buscaruma solução estrutural e definitiva para equacionar oproblema da Previdência. Temos que fazer isso. OPaís reclama por isso; a sociedade espera. Devemoster a responsabilidade de, efetivamente, procurarcaminhos que levem a uma solução positiva e não àfalência da Previdência. Não adianta fazerdemagogia, e, daqui a cinco, seis ou dez anos, a

Previdência não poder pagar as aposentadorias.Penso que este é um momento decisivo para aquestão previdenciária no País. Agora, assim comoV. Exª, comungo também de uma preocupação, que éexatamente o desvio do encaminhamento desolução. No momento em que há uma radicalizaçãoda sociedade no sentido de buscar soluções duraspara o encaminhamento desse problema; nomomento em que há a consciência política – deGovernadores, Prefeitos, Parlamentares, de todos ossegmentos políticos brasileiros – de que algodefinitivo tem de ser feito, vemos que o proposto, ouseja, a cobrança dos inativos, não atende a umasolução estrutural, muito menos à cobertura do déficitfinanceiro. Não sei se essa é a solução. Por umaquestão de modelo teórico, em tese, entendo queinativo não tem mais que pagar à Previdência; quemtem de fazê-lo é o servidor ativo. Se os inativos estãorecebendo mais do que deviam, há que se buscaruma solução, que não é a cobrança específica daPrevidência, mas um modelo auto-sustentável, que,por meio de cálculos atuariais, faça com que quempaga receba e quem não paga receba o mínimo emcondição de sobrevivência. Acredito que esse é oâmago do problema. Portanto, fico até triste, ao verque toda a discussão no País está migrando parauma solução que não resolve o problema e queapena, tecnicamente, de forma errada, a Previdência,por meio da taxação dos aposentados. Quero queesse debate seja feito de uma forma muito forte. Éimportante discutirmos. V. Exª tem um mérito grandeem trazer essa discussão para o Senado hoje, porquenão podemos furtar-nos a buscar uma solução. Emais: essa solução tem que ser feita de formaharmônica, para que não venham, amanhã, aprovarum modelo na Câmara e dizer que o Senado nãopode mexer. Novamente, vamos engolir a discussãoem prol de uma solução emergencial para odesequilíbrio econômico-financeiro do País? Éimportante que a discussão ocorra nas duas Casas,ao mesmo tempo. Agora, tecnicamente, não vejo ataxação dos aposentados como a melhor solução,nem considero que ela vai resolver estruturalmente oproblema da Previdência no País. Meus parabéns aV. Exª.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) –Agradeço o aparte muito oportuno e pertinente doSenador Romero Jucá, em que S. Exª aponta doisdados importantes. Primeiro, a necessidade da discussãoconjunta das duas Casas a respeito do tema, porque,conforme muitas vezes são conduzidas as questõesno Parlamento, a Câmara dos Deputados aprova umprojeto exaustivamente debatido, e o Senado, medi-

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ante o argumento de que não deve emendá-lo paranão retardar a sua aprovação, perde a oportunidadede dar a sua contribuição, de aperfeiçoá-lo. V. Exªtambém usa a palavra demagogia, que significaexatamente isto: apresentar à sociedade umapseudo-solução que, na verdade, mesmo queimplementada, não traz, efetivamente, a correção doproblema. E vemos que, pelo tamanho do problema,apresentou-se apenas um segmento da solução,quando sabemos que não é por esse caminho que aquestão será equacionada.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB – MS) – V. Exª mepermite um aparte?

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) – Ouço V.Exª, com prazer.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB – MS) – EminenteSenador Luiz Estevão, não tenho dúvida de que esseassunto que V. Exª aborda tomará conta dos debatestanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senadoda República. A par dos judiciosos argumentosapresentados por V. Exª e do ilustrativo aparte que aoseu excelente pronunciamento aduziu o SenadorRomero Jucá, quero olhar por um ângulo diferente, oda crença da sociedade nas instituições. EminenteSenador Luiz Estevão, é fantástico o quepresenciamos neste País. Não estamos tomandoconhecimento de que os 27 Governadores aplaudema emenda constitucional, o que significa que aOposição – que sempre criticou a majoração dos tributos,que foi contrária à qualquer taxação e que continuamentefazia um grande discurso com relação à contribuiçãoprevidenciária – também se une à Situação e ficainteiramente a favor, falando a mesma linguagem doGoverno.Teremos algo que não sei se será benéfico paraa sociedade do ponto de vista da sua crença, da sua fénas instituições. O Partido dos Trabalhadores, porexemplo, por intermédio da sua Executiva, proibiuque os seus Governadores comparecessem aodiálogo com o Presidente, e estes, constrangidos,cedem ao apelo do Partido, dizem que nãocomparecerão, mas mandam recados ao Presidenteda República, declarando-se constrangidos, masfavoráveis à emenda. Pergunto o que a sociedadeestá pensando dos partidos políticos. E algo mais mepreocupa, eminente Senador Luiz Estevão; trata-se dagrande indagação que se faz: a Constituição foi feitapara ser cumprida ou não? Quem deve adaptar-se aela? Devem os governantes adaptar-se à Constituição,ou esta, à vontade deles? A nossa Constituição,elaborada em 1988, já recebeu 29 emendas, e estaque foi enviada pelo Presidente da República será a30ª. Eminente Senador Luiz Estevão, a questão é

mesmo estrutural, de difícil solução, e, sobretudo, ela,cada vez mais, faz com que a sociedade descreia nasinstituições, o que lamento profundamente.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) –Agradeço o aparte do Senador Ramez Tebet.Corroborando e confirmando tudo que S. Exª, homempúblico com experiência parlamentar, afirmou, digoque essa emenda constitucional, efetivamente,sacrifica um segmento importante da nossasociedade e não traz solução para a questão daarrecadação previdenciária.

Hoje, talvez tenhamos a melhor gestão efetivados recursos da Previdência na história do Brasil.Sabemos do esforço, dedicação e competência doMinistro Waldeck Ornelas, que tem procurado fazermágica para que o seu orçamento deficitário renda omáximo e possa dar conta de seus compromissos.Mas, evidentemente, não será esse acréscimo deR$1,2 bilhão em sua receita que resolverá o drama dodéficit da Previdência Social, um problema gerado nopassado pela aplicação de seus recursos em obrasabsolutamente sem retorno. Eu poderia enumerarvárias obras feitas ainda antes da unificação, nostempos do IAPETEC, IAPI, IAPC, IAPB e outrosinstitutos de previdência.

Outra razão é que funcionário e empregadorcontribuem para previdência privada, mas, no serviçopúblico, a contribuição é apenas a do funcionário, nãoexiste a contrapartida do empregador. Aliás, isso já nãoocorre nos fundos de previdência, em que todos têmuma contrapartida do empregador, porque, de outraforma, seria impossível garantir, num cálculo atuarial, ocasamento entre as receitas e as despesas daaposentadoria e da previdência.

O Sr. Agnelo Alves (PMDB – RN) – Permite-meV. Exª um aparte?

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) – Ouço,com muita atenção, o aparte do Senador AgneloAlves.

O Sr. Agnelo Alves (PMDB – RN) – SenadorLuiz Estevão, V. Exª está apreciando, com muitapropriedade, o caos que hoje é a Previdência Social.V. Exª remonta aos tempos passados, mas esqueceoutro fato: Brasília foi feita pelos institutos dePrevidência Social. Há um fato inegável: se topou,não há mais saída a não ser gravar quem paga paraela ou quem dela recebe. Não há empresa no mundoem que os gastos com pagamento de pessoal ouqualquer gasto sejam superiores aos arrecadados.Qual é a solução? Nós, o Congresso Nacional de umamaneira geral, criamos leis ambíguas, que fazem a festados advogados e que levam o Judiciário a decisões as mais

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contraditórias: um juiz ali decide a favor, o do Amazonasdecide contra, o do Rio Grande do Norte decide a favor,o do Rio Grande do Sul decide contra e assim vamosvivendo até quando não sei. Esta emenda atende aopartido tal e qual, mas, ao mesmo tempo, não podeacrescentar “Y” porque o outro partido é contra; ou nãopassa na Câmara, mas passa no Senado; passa noSenado, não passa na Câmara; o senador fulano é afavor, o deputado sicrano é contra; assim por diante.Vivemos a contradição própria de uma Constituição ditacidadã, mas que, na verdade, é vilã, porque realmentedesatende ao interesse público. Estamos marchando,Sr. Senador Luiz Estevão, para uma situação de caosirremediável. Lembro-me do então Presidente JoséSarney dizendo: “Esta Constituição torna o Brasilingovernável”. De lá para cá, caiu o Sr. FernandoCollor, o atual Governador de Minas Gerais está aostrancos e barrancos.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) –Governador Itamar Franco.

O Sr. Agnelo Alves (PMDB – RN) – Assumiu oSr. Fernando Henrique Cardoso. Sua Excelênciaatravessou razoavelmente o primeiro mandato, eagora está sem saber como chegar ao primeiroaniversário de seu segundo governo.Lamentavelmente, estamos vivendo uma época deambigüidades. Não sabemos ainda para ondeestamos marchando.

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB – DF) – SenadorAgnelo Alves, V. Ex.ª tem toda a razão. Vivemos umaépoca de ambigüidades, contradições, paradoxos.

Efetivamente, citei as obras feitas pelos antigosInstitutos de Aposentadoria e Previdência – IAPI,IAPC, IAPB, IAPTEC, entre outros -, lembrando queBrasília foi, de fato, construída, trazendo um enormeretorno para o País, não só com a interiorização dodesenvolvimento como também com a agregação detodo o Centro-Oeste no processo dedesenvolvimento nacional. Se não fosse a construçãode Brasília, o Brasil seria até hoje um país litorâneo,com agricultura incipiente, o que, graças ao cerrado eao Centro-Oeste, não se verifica mais.

Houve, porém, outros investimentos que nãotrouxeram nenhum retorno. O mesmo ocorreria se oGoverno investisse recursos dos fundos deprevidência estatais ou privados, de maneirairresponsável, em ações absolutamente semperspectiva de retorno e, daqui a 10 ou 15 anos,quisesse que os contribuintes dos fundos, que vêmpagando mensalmente a sua contribuição, fossemconvocados a pagar, no momento em que já estãoaposentados, pelos desvios de recursos ocorridos,mesmo já tendo cumprido a sua parte no processo.

Vivemos num País que, daqui a 25 anos, teráquase 20% de sua população com idade acima de 60.E uma das maiores preocupações futuras do Brasil edo mundo será a questão previdenciária, peloalongamento da expectativa de vida das sociedades.

Sr. Presidente, o assunto é extremamenteimportante e, antes de encerrar, gostaria apenas delembrar às Lideranças do Governo que existem outrasmaneiras, talvez muito mais produtivas, de equacionaressa questão.Uma delas – como disse aqui - é sobre serinadmissível que os Fundos de Previdência Estataisapliquem apenas 5% do seu patrimônio em TítulosFederais da Dívida Pública, enquanto que os Fundos dePrevidência de Empresas Privadas ocupam mais deduas vezes, ou seja, investem 12% dos seus ativosnesses papéis. Se fosse igualado esse percentual, se osFundos de Previdência do Governo investissem emPapéis da Dívida Pública Federal 12% dos seus ativos,grande parte do custo de financiamento da dívida internaestaria diminuído e o perfil dessa dívida estaria alongado,trazendo uma economia para o Governo Federal muitomaior que a contribuição previdenciária dosaposentados.

Outro fato muito interessante. A revista Veja deontem, na página Contexto, publica um breve artigointitulado: “Muito Cigarro e Pouca Fumaça”, em que dizque a produção de cigarros no País cresceu de 94 a 99,de 164 bilhões para 173 bilhões, e o consumo teria caídode 109 para 97. São dados estatísticos que não cabemrefutar;mas lê-los com atenção.Será que o Brasil produz173 bilhões de maços de cigarro, consome apenas 97bilhões e exporta 80 bilhões, ou seja, quase tantoquanto consome? Ora, qualquer pessoamedianamente articulada e que se dedique a raciocinarsobre os dados percebe que esses são números deuma das mais vergonhosas fraudes tributárias queocorrem em nosso País. Nunca vi um cigarro brasileirosendo vendido em qualquer país do mundo. Aonde vaiesse cigarro com isenção de ICMS, com isenção de IPI eque, na verdade, é exportado a um preço 35% inferior aovendido para o revendedor em nosso País que paga osseus tributos?

Esse produto nunca é exportado! É umaexportação falsa, geralmente feita para paísesvizinhos ao território nacional, não chega a sair denosso País, em uma inacreditavelmente grande redede sonegação de tributos, cujo resultado, se fosseefetivamente recolhidos, seria, em muito, superior aessa tentativa de R$1,2 bilhão em cima dosaposentados.

Esse é apenas um exemplo, que encontrariasolução em um projeto de lei muito simples, apresentadopelo colega, Senador Roberto Requião, na sema-

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na passada, em que S. Exª propõe que todas asmarcas de cigarros destinadas à exportação tenhamuma tarja em seu maço, uma faixa vermelha, em quese colocaria: “Produto destinado à exportação.Proibida a venda no mercado interno”. Com isso,seria o fim da sonegação; o fim do falso exportadorque fica no mercado interno, e o aumento daarrecadação que, sem dúvida alguma, o nosso Paísanda tão precisado. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao nobre Senador MoreiraMendes, por permuta com o Senador SebastiãoRocha.

O SR. MOREIRA MENDES (PFL – RO.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, aolongo deste ano ocupei algumas vezes a tribunanesta Casa para denunciar as invasões depropriedades privadas e protestar contra elas. É umproblema que muito vem preocupando asautoridades, a sociedade brasileira em geral e osproprietários rurais em particular.

Retorno hoje à tribuna para enfatizar essasdenúncias, defender o respeito ao constitucionaldireito da propriedade e cobrar providênciasenérgicas do Governo Federal e dos GovernosEstaduais, a fim de que as decisões judiciais sejamexecutadas sem tardar.

No meu Estado, Rondônia, e em várias outrasUnidades da Federação, a propriedade privada estádeixando de ser respeitada, causando desordem,desequilíbrio, intranqüilidade, tensões, prejuízos eproblemas para as autoridades.

Em agosto deste ano, a Federação deAgricultura do Estado do Paraná – FAEP – divulgou orelatório das invasões de propriedades rurais doEstado do Paraná no ano de 1999. Segundo asconclusões do documento, as invasões de terra têmcomo principal fator a impunidade. A impunidadeconduz a novas invasões – esta é a conclusãoobrigatória a que chega quem analisa a grandeza dosnúmeros apresentados, demonstrando o perversocírculo vicioso que está sedimentado naqueleimportante Estado da Região Sul. Não sendoreprimidas pelas autoridades governamentais, aspróprias invasões criam, junto aos sem-terra, acondição e o direcionamento para mais invasões.

Essa impunidade é evidenciada pelo flagrantedesrespeito à lei, pela violência ao patrimônio privadoe pelo desenvolvimento de uma estratégia que buscao confronto permanente com as instituiçõesdemocráticas.

Sr.Presidente, Sras e Srs.Senadores, atualmenteexistem 117 propriedades invadidas no Estado do

Paraná, totalizando uma área de aproximadamente180 mil hectares. Desse total, 51 têm liminar dereintegração de posse, porém seus proprietáriosgostariam que houvesse uma ação efetiva e umempenho maior do Governo Estadual para que asdecisões judiciais fossem verdadeiramenteexecutadas.

Essas propriedades rurais particulares foraminvadidas por aproximadamente sete mil famílias,com variados graus de radicalização e violência. Sónos primeiros oito meses deste ano, ocorreram 34novas invasões.

Em Rondônia não é diferente. Temos tambémum excelente exemplo desse processo de invasão deterras produtivas. O mais recente foi a ocupação daFazenda Urupá, próspera e produtiva propriedade deWalter de Castro Cunha, protótipo empresarial quenada ficava devendo às grandes propriedades ruraisdo Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste brasileiros.

Em maio de 1997, após o Incra fazer umavistoria na propriedade, constatando a sua altaprodutividade, integrantes do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra – MST – invadiram aFazenda Urupá. Pouco tempo depois, a Justiçaconcedeu liminar favorável, decretando areintegração da posse em junho. Entretanto, Sr.Presidente, a ordem só foi cumprida em novembrodaquele ano, quando ocorreu a desocupação. Apósexaustivas negociações, os sem-terra foram parauma área próxima ao Município de Mirante da Serra.

No início deste mês, em sua edição de 6 deoutubro, o jornal O Estadão, de Porto Velho,estampou a seguinte manchete: “MST invade Urupánovamente”. Segundo a matéria, a causa foi aomissão deliberada do Governo do Estado de ignorara decisão do Tribunal de Justiça tomada em 14 deabril deste ano e que estabeleceu direitos e deverespara as duas partes envolvidas.

Em ocorrência policial sobre pessoaspertencentes ao MST do acampamento PadreEzequiel, consta o seguinte: “armados commetralhadoras e fuzis AR-15, centenas de sem-terratreinados por guerrilheiros do grupo terroristaSendero Luminoso, do Peru”, invadiram a sede dafazenda, atearam fogo e, por cerca de 30 minutos,trocaram tiros com os seus empregados. Há tambémfortes indícios de estarem infiltrados entre ossem-terra membros do MCC, que já denunciei.Trata-se do Movimento Camponês Corumbiara, deesquerda radical e controlado por guerrilheiros daColômbia.

Sr. Presidente, episódios lamentáveis epreocupantes como esses indicam que é preciso que osGovernantes resolvam respeitar as decisões da Justiça,

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promovam a desocupação das áreas produtivasinvadidas, quando necessário, e coíbam novasinvasões, mediante o cumprimento sistemático da leie não a simples adoção de tímidas ações pontuais,como freqüentemente vem ocorrendo.

Sras e Srs. Senadores, aproveito também essaoportunidade para destacar os preocupantes desviosde rumo e as radicalizações políticas do Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Essesdesvios, que têm como pano de fundo a questãoda reforma agrária, vêm angustiando asautoridades dos Estado de Rondônia, do Acre, doParaná, de Mato Grosso e de outras Unidades daFederação.

A revista Veja desta semana, em artigosobre a reforma agrária no Brasil, intitulado“Marchando para trás”, afirma que “quando surgiucomo movimento, o MST atraiu muita simpatia porquedefendia uma bandeira justíssima: a reforma agrária.”

Nos últimos tempos, porém, “os líderes domovimento mudaram de rumo.” Segundo o InstitutoNacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra–, eles passaram a invadir terras produtivas. Hojesas estatísticas evidenciam que “um terço dasterras tomadas pela turma da bandeira vermelha éde áreas produtivas”.

Depois, passaram a promover saques. Emapenas um mês, em 1998, fizeram mais de umacentena de pilhagens. Agora, o objetivo do MST éoutro: há quinze dias, o líder do movimento, JoãoPedro Stédile, pregou o quebra-quebra de pedágiosnas rodovias brasileiras.

A situação é séria e merece uma profunda reflexão.Todos os dias, os jornais noticiam que os Governadoresdos diversos Estados da Federação enfrentam problemasenvolvendo área de segurança, com tal nível de gravidadeque deveriam ser resolvidos pela esfera federal.

No meu Estado, Rondônia, a existência dochamado Movimento Camponês Corumbiara –MCC, incitador da desordem e da guerrilha,sobre o qual já falei longamente do plenáriodesta Casa, em maio deste ano, é extremamentepreocupante. Da mesma forma, é preocupante aexistência, no Acre, de um outro movimento,denominado Liga Camponesa Operária – LCO –,que instrui populações com técnicas de guerrilha.

Esses movimentos justificam-se tentandoconvencer os poderes constituídos e a opiniãopública de que seus atos de violência objetivamacelerar as medidas governamentais atualmente emcurso, concernentes à reforma agrária.

Tudo indica, no entanto, Sr. Presidente, quesuas verdadeiras intenções são a luta armada, com o

claro objetivo de desestabilizar o regime democrático.A reforma agrária é uma espécie de pano de fundopara acobertar interesses provavelmente vinculadosa um movimento de desestabilização social, a cargode minorias radicais, tal como existe em vários paísesvizinhos.

É mais do que justo e urgente alterar a injustaestrutura fundiária do País. É preciso, entretanto, queas autoridades fiquem atentas e façam uma reformaagrária que, realmente, contemple os que querem aterra para trabalhar e sustentar suas famílias e nãopara fazer política com a terra.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Permite-meV. Exª um aparte?

O SR. MOREIRA MENDES (PFL – RO) –Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Meu caroSenador Moreira Mendes, pedi-lhe um aparte pararegistrar a minha preocupação com o quadro que V.Exª coloca. V. Exª, que tão bem representa aAmazônia e o Estado de Rondônia, trata de umaquestão extremamente grave para a nossa região.Eu gostaria de lembrar que esses regimes, ouessas lutas, ou esse campo fértil para a pregaçãorevolucionária, ocorrem em regiões onde não hámais esperança de desenvolvimento. Portanto éimportante que, cada vez mais, as nossas vozes sesomem no sentido de clamar pela retomada doprocesso de desenvolvimento da Amazônia eespecialmente pelo investimento nas áreas defronteira, por meio do Projeto Calha Norte, doProjeto Sivam, e por novo rumo para of inanciamento de projetos auto-sustentados naSudam e na Suframa. A Amazônia, com todo oseu espaço, com toda a sua população, de certaforma à margem das ações governamentais edos serviços públicos, é um barril de pólvora.Caberá a nós esticar ou não o rastilho, mas, naverdade, a insensibilidade no trato d as matériasrelativas ao desenvolvimento da região vai, cada vezmais, encurtando esse rastilho, e poderá explodiruma grave crise e uma convulsão social a qualquermomento. Essa problema dos países limítrofes daAmazônia brasileira já é um sinal de alerta, e V.Exª, mais uma vez, traz à tribuna esse tema, que émuito sério e diz respeito não só à regiãoamazônica, mas a todo o Brasil, porque o potencialde riqueza e a brasilidade que existem em nossaregião têm de ser encampados por todos osbrasileiros. Quero parabenizar V. Exª e dizer queesse sinal de alerta é impor tante e deve servircomo indutor de um novo projeto dedesenvolvimento auto-sustentado paraa região , e

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n ão apenas para ações que não vão aoencontro dos anseios da população, que é teresperança e melhorar de vida.

O SR. MOREIRA MENDES (PFL – RO) – V. Exªtocou em um ponto importantíssimo. Efetivamente,estamos sentados num barril de pólvora. Às vezes mequestiono: de que adianta voltarmos aqui e tocarmossempre na mesma tecla? Todavia é preciso que nãopercamos as esperanças de que as nossasautoridades deixem de fazer ouvido de mercador comrelação a essas questões importantíssimas,sobretudo para os Estados de Mato Grosso do Sul,Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima eAmapá, que têm fronteiras com países que,indiscutivelmente, vivem um clima de tensão e atéenfrentam guerrilhas. Isso tudo tem de serdenunciado por esta Casa.

Sr. Presidente, concluo dizendo que aquelesque usam o movimento pela reforma agrária comobjetivo político precisam ser identificados eresponsabilizados criminalmente pelos atosirresponsáveis e violentos que praticam ou incitamoutros a praticar, desrespeitando a lei, a ordem e apropriedade privada, porque ninguém está acima dalei.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –

Concedo a palavra ao próximo orador inscrito,Senador Osmar Dias.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR. Pronuncia oseguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Sras e Srs. Senadores, volto a tratar de umassunto de extrema gravidade. Na semana passada,comecei o meu pronunciamento dizendo que oPresidente da República ou qualquer cidadão destePaís não tem o direito de varrer para debaixo dotapete as denúncias graves que estão sendo feitascontra o Ministro do Esporte e Turismo, Sr. RafaelGreca, e um dos seus assessores diretos, o Sr. LuísAntônio Buffara, atual Diretor Financeiro do Indesp.

As denúncias, Sr. Presidente, repito aqui, nãoforam colocadas no pronunciamento de umparlamentar que é adversário do Ministro Greca,como ele afirmou. Este parlamentar apenas leudenúncias que a imprensa nacional divulgou emjornais de grande circulação, como O Globo, OEstado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Jornal doBrasil, e em jornais do Estado do Paraná e tambémnas revistas Veja e IstoÉ. Os noticiários de televisão,como “Jornal Nacional” e o da Record, apresentadopelo jornalista Boris Casoy, repetiram as denúnciasque considero de extrema gravidade. Elas vão desdea formação de caixa de campanha para o Ministro

Rafael Greca, que, utilizando-se do Diretor deFinanças do Indesp, Sr. Luís Antônio Buffara, estariacobrando propinas, que, segundo essas revistas eesses jornais, chegam a US$150 mil para a liberaçãode uma casa permanente de bingos e de US$15 milpara as de funcionamento eventual. Isso significa, Sr.Presidente, que esta denúncia, em resumo, diz oseguinte: o Ministro Rafael Greca, para liberar umacasa de jogo permanente, estaria cobrando US$150mil, e esse dinheiro não ia para o caixa do Governo,mas para o caixa de campanha do Ministro. Essa foi adenúncia feita, e que li aqui.

Não adianta o Ministro querer desqualificar meupronunciamento e nem dizer que é bobagem aquiloque eu disse, que ele poderá ser convocado paradepor aqui, que não tenho autonomia paraconvocá-lo. De fato, não tenho, mas o Senado temautonomia. Nesse sentido, existe um requerimento doSenador Suplicy, que deverá ser votado nestasemana, segundo compromisso do próprioPresidente do Senado, Senador Antonio CarlosMagalhães. Aprovado esse requerimento peloPlenário do Senado, o Ministro deverá ser convocado.Também a Comissão de Assuntos Sociais, que hojeanalisa o projeto que trata da liberação do jogo, temautonomia para convidar ou convocar o Ministro.Aliás, já convocamos o seu assessor Luís AntônioBuffara, que é sem dúvida nenhuma o maior acusadode toda essa confusão que se formou no Ministério doEsporte, criado para apoiar o esporte no País e que éalvo de denúncias até de envolvimento com a máfiaitaliana. Tal dinheiro, segundo consta, poderia estarvindo dessa organização. O Ministro não pode, nãotem o direito de dizer que não vem ao Senado porqueo Senador Osmar Dias não tem autonomia paraconvocá-lo. Eu não tenho, mas a maioria dosSenadores da Comissão de Assuntos Sociais jádecidiu que o Sr. Luís Antônio Buffara terá que deporna Comissão. Faremos uma acareação, colocaremosfrente a frente o Sr. Luís Antônio Buffara e o Sr.Manoel Tubino, ex-presidente do Indesp, que, ao sedemitir, fez gravíssimas acusações ao Ministro Greca.Queremos ouvir os dois até para que o Ministro tenhaa oportunidade da defesa. Não queremos prejulgar,queremos dar ao Ministro a oportunidade de sedefender, mas é preciso que ele reconheça que asdenúncias são graves, pois vão desde a formação decaixas de campanha pelo Ministro Rafael Greca até oenvolvimento com a máfia italiana e a espanhola. Nãopodemos admitir que essas denúncias não sejaminvestigadas.

O Presidente da República, como resposta,publicou um decreto que transfere a autorização dofuncionamento de novas casas de bingos para a Caixa

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Econômica Federal. Sr. Presidente, não sei se oPresidente da República, Fernando HenriqueCardoso, acredita que com essa medida resolveu oproblema. E o que aconteceu desde o dia da possedo Ministro Rafael Greca até a assinatura dessedecreto? Vai ficar assim? E os 98 bingos que foramautorizados pelo Ministro Rafael Greca, segundodenúncias, repito, das revistas IstoÉ e Veja e dosjornais O Globo, Jornal do Brasil, O Estado deS.Paulo, Folha de S.Paulo, como o pagamento depropina, de até 150 mil dólares, para o funcionamentodessas casas.

Tudo isso vai ficar esquecido ou estaríamos aquirepetindo aquela história que já se contou destatribuna – não sei quem, mas alguém a contou – de ummarido que, chegando em casa, flagra a mulher emplena traição e resolve que, retirando o sofá da sala,estaria resolvido o problema?

O Presidente está retirando e até queimando osofá da sala, mas, evidentemente, não estáresolvendo o problema das denúncias graves. Se elasocorreram, o Ministro do Esporte e Turismo cometeuuma grave traição contra Presidente da República,que confiou em S. Exª ao nomeá-lo Ministro doEsporte e do Turismo do País, bem como para ajuventude. Terá sido um péssimo exemplo para ajuventude do País, Sr. Presidente. Se o Presidente daRepública não tinha o direito de varrer para debaixodo tapete essa sujeira que está sendo anunciada edenunciada pela Imprensa, não tem o direito de “tiraro sofá da sala e atear-lhe fogo”, entendendo queassim terá resolvido o problema.

O problema é muito grave, agride a inteligênciados paranaenses e dos brasileiros. Não pode serignorado pelo Presidente, que não pode acreditar quejá o resolveu, ao transferir por decreto a prerrogativade instalação de novas casas de bingo no País.

O Ministro saiu do Palácio do Planalto satisfeito,disse que o Presidente deu total apoio e até brincou.No jornal, afirmou que, quando chegou ao gabinetedo Presidente, disse: “Aqui está chegando o chefe damáfia italiana.” O Presidente teria respondido: “E aquiestá aquele que tem contas nas Ilhas Cayman.” Ora,esse não é um assunto para se brincar, é um assuntomuito sério.

Sr. Presidente, o Sr. Ministro do Esporte eTurismo se encontra sob denúncia e suspeitanacionais. A denúncia escrita nos jornais diz que oMinistro Rafael Greca estava cobrando propina para ainstalação de casas de bingos no País: US$15 milpara jogos eventuais e US$150 mil para a instalaçãode casas de bingos permanentes. Foram 91 bingoseventuais e sete bingos permanentes. Não é difícilfazer a conta de quanto o esquema instalado no

Ministério do Esporte e Turismo arrecadou para ocaixa de campanha do Sr. Ministro, se essa denúnciafor efetivamente verdadeira. Os funcionários pediramdemissão, denunciando que não concordam comessa prática dentro do Ministério do Esporte.

Sr. Presidente, o caso é grave. Precisamosapurá-lo. O Senado da República também não podese omitir. Essa não é uma questão de Partido, mas demoralidade pública.

O novo Presidente da Argentina, Fernando de laRúa, ganhou as eleições falando especificamentesobre moralidade pública. Na Argentina, a Oposiçãoganhou a eleição porque o discurso do candidato àPresidência da República foi o da moralidade pública.

Sr. Presidente, nesta quadra difícil em queestamos vivendo, o País está numa enormeturbulência enorme diante da crise do desemprego,das dúvidas, da incerteza que toma conta dapopulação brasileira no que se refere à economia doPaís.

Aqui já ouvi um Senador dizer que o Brasil pagajuros de US$10 bilhões ao mês, quando a folha depagamento de todos os servidores públicos chega aUS$4 bilhões. Não podemos ignorar que são essaspráticas da corrupção que arrastam os recursosque faltam para a creche, a escola, a saúde, asegurança pública, a agricultura, odesenvolvimento e o emprego. São esses recursosroubados que acabam fazendo muita falta para obem-estar da população.

Sr. Presidente, não faço aqui nenhumprejulgamento ou acusação. O Ministro do Esporte,em vez de, no final de semana, ocupar-se de dizeraos jornais do Paraná que, mais uma vez, estamostrabalhando contra o Paraná, porque estamosacusando e atacando o Ministro do Paraná, deveriapreocupar-se em limpar o seu nome dessasujeirada, porque dela pode até escapar, emvirtude da benevolência, da complacência dopróprio Governo. No entanto, não escapará dojulgamento da população, que, indignada, não suportamais as denúncias de corrupção sem apuração devidae sem a responsabilização dos verdadeiros culpadospor cada caso de corrupção denunciado e jogadodebaixo do tapete.

O Presidente da República ou qualquer outrocidadão deste País não tinha – repito – o direito dejogar debaixo do tapete essa lama. O Presidenteda República não tem o direito de “tirar o sofá dasala, de queimar o sofá” e considerar que esseproblema está resolvido. Ou teremos que apagar damemória dos computadores, dos jornais, das emissorasde televisão e de rádio deste País as denúncias que estãogravadas na memória de cada cidadão que leu, ouviu

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ou assistiu, pela televisão, denúncias queenvolvem o Ministro Rafael Greca. Não vale apenasuma resposta malcriada do Ministro nos jornais. Eleestá, sim, sob suspeita, está sendo denunciado, e,muito mais do que uma resposta malcriada, precisadar satisfação à Nação brasileira daquilo que vempraticando dentro do Ministério. Se não tiver nada aver com essa lama, com essa sujeirada, tudo bem,voltaremos aqui para reconhecer. Mas exigimos queesse caso seja apurado. E ele começará a serapurado a partir dessa audiência pública naComissão de Assuntos Sociais.

Além disso, Sr. Presidente, esperamos que aCPI que apura os problemas ocorridos com onarcotráfico neste País possa também convocar oMinistro Rafael Greca para lá depor, já que há adenúncia, feita pelos jornais e pelas revistas, doenvolvimento de dinheiro do narcotráfico na liberaçãode jogos neste País.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Permite-meV. Exª um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Concedoaparte ao Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Meu caroSenador Osmar Dias, o discurso de V. Exª é muitosério e precisa de uma resposta. Gostaria de fazerduas considerações a respeito do seu discurso. Aprimeira delas é que sou o Relator da lei que estuda aabertura dos cassinos no Brasil e tenho queapresentar um parecer para a Comissão de AssuntosSociais, que é a última Comissão que aprecia esseprojeto aqui, no Senado. Sem dúvida nenhuma,considero extremamente importante que essasquestões sejam esclarecidas. Devemos votar comconsciência a questão da abertura ou não do jogo noBrasil, sabendo exatamente como vem funcionandoessa sistemática hoje e quais são, inclusive, osproblemas que existem no seu funcionamento, paraque não ocorra, se tivermos que abrir os cassinos, amesma coisa que, em tese, me parece estarocorrendo hoje. Então, como Relator, consideroextremamente importante que a Comissão deAssuntos Sociais esclareça efetivamente essasdenúncias e essas questões que estão postas. ComoPresidente da Comissão de Fiscalização e Controle,gostaria de dizer a V. Exª que essa Comissão tem opoder, sim, de convocar o Ministro Greca, e que, se V.Exª ou qualquer Senador encaminhar uma denúnciae posicionamento circunstanciado sobre essaquestão, a Comissão irá apreciar o pedido deconvocação. Portanto, quero deixar colocado aquiesse instrumento a mais de condição de averiguaçãodos fatos, para que o Senado possa efetivamenteapurar qualquer deslize e qualquer ato deimprobidade que exista no âmbito do Poder Público

Federal. É para isso que existe a Comissão deFiscalização e Controle do Senado, e coloco a V. Exªessa questão e essa prerrogativa da Comissão. Muitoobrigado.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB – PR) – Agradeço,Senador Romero Jucá. Além de tomarmosprovidências na Comissão de Assuntos Sociais, ondeestá o projeto de liberação dos jogos, avaliaremosessa sugestão de V. Exª, já que temos aqui um grandedossiê de denúncias que envolvem o Ministro RafaelGreca.

Gostaria de encerrar, Sr. Presidente, lendo aquium trecho de um artigo escrito pelo jornalista JucaKfouri no dia 19 de outubro. Diz o jornalista JucaKfouri: “A futura campanha de Greca para o Governodo Paraná está custando caro ao País e ao esportebrasileiro.”

É grave. Quem escreveu isto foi o jornalista JucaKfouri, do jornal Folha de S. Paulo, que, no sábado,dia 23 de outubro, escreveu o seguinte editorial, quepassarei a ler brevemente:

O Ministro e o JogoO Ministro Rafael Greca mostrou-se

aliviado com a transferência, de sua Pastapara a Caixa Econômica Federal, dacompetência de fiscalizar o controvertidomercado dos bingos e com a proibição demáquinas eletrônicas de jogo. Chegou adesabafar entre microfones: a partir deagora, enfim, seria o Ministro do Turismo edos Esportes, não o Ministro do jogo.

Mas tais decisões não colocam umapedra sobre as suspeitas de ter havidoirregularidades na autorização e nofuncionamento de atividades ligadas aobingo e de máquinas caça-níqueis quando oassunto estava sob a responsabilidade doMinistro Greca.

Não se esclareceu, por exemplo, opapel de Luiz Antônio Buffara, Diretor doInstituto Nacional do Desporto, naautorização do funcionamento dos bingos.Buffara tem relações com Greca pelomenos desde o tempo em que o Ministroera Prefeito curitibano. Pesam sobre Buffarasuspeitas de favorecimento em concessões.O Ministério Público o acusa de favorecerpessoas ligadas à Máfia na implantação demáquinas de jogo.

É certo, pelo menos, que não hácritério objetivo e transparente naconcessão dos bingos,... “e assim pordiante.

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Sr. Presidente, como meu tempo está quaseencerrado, aproveito este minuto final para dizer quea matéria que envolve o Sr. Luís Antônio Buffara,Diretor-Financeiro do Indesp, com a Máfia italiana,não foi publicada apenas no Editorial do jornal Folhade S.Paulo de sábado, mas encontra-se também emvários jornais em várias ocasiões.

Tudo isso deve ser lido e não pode ser ignoradopor qualquer cidadão sério deste País, principalmentepelo Presidente da República, que, nesse ato deassinar um decreto transferindo a liberação das casasde bingos e das máquinas eletrônicas para a CaixaEconômica, até agora só tirou o sofá da sala, mas nãotomou nenhuma providência que possa deixartranqüila a população brasileira de que SuaExcelência vá, efetivamente, moralizar a questão dosjogos e dos bingos, porque a moralidade pública éhoje a grande exigência da população brasileira.

Talvez o Presidente tenha, dessa forma, agrande oportunidade de demonstrar que o seuGoverno pode até pagar juros da dívida de formaexagerada, mas não é conivente com a corrupção ecom a imoralidade. Se foram denunciadas, têm de serapuradas e quem deve determinar a apuração dessasdenúncias e dessas irregularidades, aqui publicadaspela imprensa, é o próprio Presidente da República.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) –Concedo a palavra ao eminente Senador Álvaro Dias.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR. Pronuncia oseguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, éresponsabilidade de grande importância do PoderLegislativo fiscalizar os atos do Poder Executivo. Nãotenho dúvidas de que o Governo perde credibilidadequando não assume o compromisso de combaterimplacavelmente a corrupção.

Evidentemente, todos reconhecemos que oPresidente da República é um homem honesto. Masnão basta ser honesto. É preciso também combater adesonestidade. Se essa é nossa responsabilidade,obviamente, a denúncia há de ser madura.

Denunciamos, há alguns dias, osuperfaturamento na licitação da estrada da Ribeira –que liga o Paraná ao Estado de São Paulo, realizadapelo DNER. Encaminhamos requerimento deinformações ao Sr. Ministro dos Transportes, pedindoesclarecimentos e providências para impedir que umato de improbidade administrativa tivesse o aval doGoverno Federal.

Sr. Presidente, entendo ser do meu devercomunicar à Casa que providências foram adotadas.O Ministro determinou a suspensão da publicação do

resultado da concorrência que havia conferido vitóriaà empresa colocada em oitavo lugar de formaestranha e desonesta, com um superfaturamento daordem de 30% convalidado pela comissão delicitação do DNER.

Espera-se, agora, não somente a anulação doresultado – e a medida administrativa ou jurídicaadotada pelo Governo pouco importa, o que importarealmente é que o Erário público não seja assaltadoem R$14 milhões, como seria, se prevalecesse alicitação que conferiu vitória à empresa colocada emoitavo lugar com um superfaturamento de 30%.Importa também que a impunidade não seja maisuma vez ressaltada nesse episódio como verdadeabsoluta neste país. São necessárias providênciasrigorosas em relação aos responsáveis pela práticade improbidade administrativa. É preciso que puniçãorigorosa se aplique.

Venho à tribuna, Sr. Presidente, Srs. Senadores,para prestar contas também dos resultados advindosde outra denúncia que aqui fizemos. Esta é relativa auma concorrência pública realizada pela Anatel paraa exploração de satélite brasileiro para transporte desinais de telecomunicações. Uma empresaespanhola, a Hispasat, em afronta à legislaçãovigente no País – a Constituição Federal, a Lei deTelecomunicações, o Edital de Licitação da Anatel e opróprio Regulamento da Anatel -, foi declaradavencedora da licitação, quando, na verdade, ela nãodeveria ser sequer habilitada, já que habilitada foi aoarrepio da legislação vigente no País.

E a principal infringência é grave: trata-se dainfringência ao princípio da soberania nacional. Oprincípio da soberania nacional, estampado no art. 1ºe 170, inciso I, da Constituição Federal, e que deveser conjugado com a independência do país, previstano art. 4º da Carta Política, é aquele que encerra ainexistência de subordinação do Estado Brasileiro emsuas relações com outros Estados, não se sujeitandoa qualquer determinação de outros centrosnormativos ou entes politicamente organizados.

A Lei Geral de telecomunicações, em seu art. 5º,erigiu tal princípio como o primeiro daqueles quedevem informar a prestação de serviços detelecomunicações.

Eis o que dispõe o art. 5º da Lei nº 9.472/97:

“Na disciplina das relaçõeseconômicas no setor de telecomunicações,observar-se-ão, em especial, os princípiosconstitucionais da soberania nacional, funçãosocial da propriedade, liberdade de iniciativa,livre concorrência, defesa do consumidor,

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redução das desigualdades regionais esociais, repressão ao abuso do podereconômico e continuidade do serviçoprestado no regime público.”

Ocorre que a habilitação da empresa HISPASATpara explorar satélite brasileiro para transporte desinais de telecomunicações na licitação em referênciaé uma temeridade, já que ameaça diretamente aestrita observância da inviolabilidade da soberanianacional.

Na verdade, a HISPASAT é instrumento depolítica pública relativa às telecomunicações dogoverno espanhol. Tal verificação começa pelo atoque lhe deu origem remota. Em 7 de abril de 1989,reuniu-se o Conselho de Ministros da Espanha,compondo-se dos Ministérios do Transporte, Turismoe Comunicações, Ministério da Defesa, Ministério daIndústria e Energia e Ministério da Economia e daFazenda.

O sistema HISPASAT, assim definido, é umsistema de satélites multimissão que presta serviçosde telecomunicações civis e da Defesa Nacional.

“A implantação de um sistema de taiscaracterísticas tem, por sua vez, importantepapel dinamizador da indústria aeroespaciale de telecomunicações do País,impulsionando o crescimento dos citadossetores e o seu acesso a novas tecnologiasde elevada sinergia e valor agregado.”

Por esse motivo, por propostas dos Ministros daEspanha, resolveu-se aprovar o HISPASAT 92,elaborado por aqueles Ministérios, que servirá deprograma de atuação para o desenvolvimento dosistema na Espanha. E o objetivo social daquelasociedade, segundo aquele estatuto, será aexploração dos sistemas de comunicação por satéliteque lhe foram encomendados pelo Governo para asua prestação às empresas e sociedades titulares deserviços portadores de telecomunicação.

Portanto, é visível e inquestionável ser aempresa HISPASAT estatal espanhola. Assim, ahabilitação fere a soberania nacional. Ora, asoberania nacional, a par de constituir princípioconstitucional básico, sem o qual a existência e aautodeterminação do País ficam ameaçadas, éprevista como primeiro princípio formador dadisciplina das relações econômicas no setor detelecomunicações, como se pode ver no art. 5º da Leinº 9.472, de 1997, que é a chamada Lei Geral dasTelecomunicações.

A comissão de licitação da Anatel parece ter seesquecido de que os princípios constitucionais e asnormas legais são aplicáveis a um processo licitatório

no Brasil; que nem mesmo eventualdesconhecimento jurídico poderia servir de escusa aesta comissão de licitação. É que o próprio edital,logo em seu preâmbulo, dita que a presente licitaçãoreger-se-á pela Lei nº 9.472, a Lei deTelecomunicações. Portanto, não poderia estacomissão de licitação da Anatel simplesmente ignorara Constituição do País e a própria Lei deTelecomunicações.

É indiscutível, Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, a existência do controle desta empresapelo Governo da Espanha. É o governo espanhol quecontrola a HISPASAT. Isso é irrefutável; está provadodocumentalmente. E como se não bastasse, paradeixar bem claro o nível de influência e controle dogoverno espanhol na empresa, destaque-se que oseu próprio objeto social prevê que a exploração dossistemas de exploração de satélites pela HISPASATsomente se fará na medida dos interesses dogoverno espanhol. Isso é parte fundamental doestatuto da empresa espanhola e foi literalmenteignorado pela comissão de licitação da Anatel.

O estatuto daquela dispõe que:

“A exploração do sistema decomunicação por satélite HISPASAT – 1,assim como a exploração dos sistemas decomunicação por satélite que o Governo lheencomende para sua prestação àsentidades e sociedades titulares de serviçosportadores de telecomunicações...”

Portanto, exploração de sistemas que oGoverno espanhol encomendar.

Além de a ingerência do Governo espanhol nasatividades da HISPASAT decorrer da sua participaçãosocietária e no conselho da empresa – o que já é umatemeridade –, o que mais põe em risco a soberanianacional no âmbito da exploração dastelecomunicações via satélite pela HISPASAT é que,por disposição expressa do seu estatuto social, suasatividades neste ramo deverão obedecer o que for“encomendado” pelo Governo espanhol, ou seja,somente se farão as comunicações que interessaremdiretamente ao Governo da Espanha.

Também neste sentido, a habilitação daHISPASAT na licitação em questão é atentatória àinviolável soberania e independência do Brasil emseus sistemas de telecomunicações via satélite, nostermos do exigido nos arts. 1º e 4º da ConstituiçãoFederal e, especificamente, no art. 5º da Lei deTelecomunicações, uma vez que esta atividade nas mãosda HISPASAT ficará subordinada às “encomendas” doGoverno espanhol e dependente dos interesses daquelepaís, que, a qualquer momento, pode determi-

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nar à empresa a suspensão ou o encerramento dascomunicações via satélite para o Brasil para atender aseus interesses próprios. E nenhuma eventualsanção contratual impedirá o Governo espanhol deexercer seus interesses neste setor estratégico paraqualquer país.

Ora, a exploração de satélite de comunicaçãonão é atividade que passará ao controle direto doBrasil, como ocorre na aquisição de materiais bélicos,radares, etc, de outro país, mas permanecerá sob ocontrole da empresa concessionária que assim, casoordenado pelo seu controlador, poderá fazer deixarde funcionar o sistema, bem como coletar dadosestratégicos que por esse satélite irão trafegar. Essa éuma característica típica da atividade detelecomunicações e daí decorre a premência naobservação da garantia da soberania nacional nasconcessões de exploração de serviços destanatureza.

Vejam Sr. Presidente, Srs. Senadores, agravidade.

A submissão das atividades da HISPASAT àsencomendas do Governo espanhol, previstas nopróprio objeto social da empresa, deixam claro o graude intervenção do Governo daquele País na empresaem questão. Como se não bastasse, lembrem-se deque, por meio dos satélites a serem explorados pelavencedora da licitação, passarão telecomunicaçõesde órgãos vitais de nosso País, inclusive daPresidência da República e das Forças Armadas, quenão podem ficar submetidas à ingerência do Governoespanhol. Note-se, nesse passo, que o Conselho deMinistros da Espanha reconhece expressamente queo Programa HISPASAT tem como um dos seusobjetivos a defesa nacional da Espanha.

Imagine, Sr. Presidente, a inconseqüência deuma atitude de governo que submeterá o País a essetipo de risco, ou seja, informações da Presidência daRepública, das Forças Armadas, que podem sersigilosas e estratégicas em determinados momentos,estarão à inteira disposição de um governoestrangeiro.

Não se trata de mera xenofobia, Sr. Presidente,mas de súplica à observação expressa da Lei, queveda a dependência de nossas telecomunicações àingerência de qualquer Estado estrangeiro, pois issosignifica desrespeito e ameaça à nossa soberania eindependência, que, num momento de globalizaçãocomo o que enfrentamos neste fim de século, ganhaainda mais importância quando o setor econômicoem discussão é atividade essencial ao Estado e àpopulação.

A Hispasat S/A, na condição de empresaestrangeira, jamais poderia se habilitar no presentecertame.

Com relação às condições de participação dasproponentes, em seu Item 4.1, o Edital estabeleceque:

Respeitado o disposto em 4.6,poderão participar da presente licitaçãoProponentes que não estejam enquadradasnas vedações previstas neste Edital e que,se adjudicatária, assuma o compromisso deestar constituída, antes da assinatura doDireito de Exploração, como empresasujeita às leis brasileiras, e com sede eadministração no País, e observar odisposto na Lei nº 9.472/97 e naregulamentação dela decorrente,especialmente o Decreto nº 2.617, de 5 dejunho de 1998, no que couber.

E a ressalva a ser respeitada, previstano Item 4.6, estabelece que:

A pessoa jurídica estrangeiraintegrante de consórcio deve comprovar quepossui representante(s) legal(is) ouprocurador(es) no Brasil, com poderes para,em seu nome, receber citação e responderadministrativa ou judicialmente. (grifosnossos)

Portanto, o Edital em referência define ouniverso dos proponentes, prevendo a participaçãode empresas estrangeiras apenas quando forintegrante de consórcio, mas jamais de formaisolada, sem que exista qualquer outra empresabrasileira a seu lado. Se assim não fosse, o Item 4.6do edital não teria exigido a comprovação daexistência de representante legal no Brasil apenasdaquelas empresas estrangeiras consorciadas.

Trata-se de conclusão lógica evidente, uma vez que,se fosse permitida a participação de empresa estrangeiraindependente, o Item 4.6 limitar-se-ia a se referir aempresas estrangeiras (em geral), e não àquelasconsorciadas, já que, se num consórcio em que,obrigatoriamente, há que existir um representante desteno Brasil, o edital também exige um representante daempresa estrangeira consorciada, quanto maisexigível seria a existência de um representante legalno Brasil de uma empresa estrangeira, caso estapudesse concorrer sozinha à licitação.

Sr. Presidente, eu poderia alinhar uma série deoutras irregularidades sobre as quais a Comissão deLicitação da Anatel passou olimpicamente; mas vejo quemeu tempo está se esgotando.Embora nesta Casa sejahabitual os oradores extra polarem indefinidamenteo prazo regimental – como se fôssemos Se -

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nadores de primeira e de segunda categoria, ou deprimeira e de segunda classe -, não pretendo abusarda boa vontade de V. Exª, Sr. Presidente. Portanto,concluo meu pronunciamento apenas ressaltandoque a Comissão adotou um esdrúxulo procedimento,ao admitir como válidas promessas de cumprimentode exigências do edital. Confesso que, em muitosanos de atividade pública, não tive oportunidade deassistir a algo parecido.

Citarei apenas dois exemplos de exigências nãocumpridas do edital: a empresa proponente nãoapresentou registro no Conselho Regional deEngenharia e Arquitetura – CREA. A Comissão deLicitação aceitou a declaração da Hispasat de que,“obtendo o direito de exploração, preencherá todos osrequisitos para atuar sob a lei brasileira”. Isso seriarisível, cômico, não fosse dramaticamente desonesto.Além disso, a Hispasat não apresentou profissionaldetentor de Anotação de Responsabilidade Técnica;a Comissão, da mesma forma, aceitou a declaraçãoda empresa de que, “obtendo o direito de exploração,preencherá todos os requisitos para atuar sob a leibrasileira, inclusive no que diz respeito a profissionalcom ART”.

Como se vê, trata-se de acatamento de formamuito singela, para não dizer irresponsável, de umapromessa tomada como se fosse cumprimento deuma obrigação de natureza legal.

Sr. Presidente, concluindo,: a Anatel declaravencedora de uma licitação tão importante umaempresa, mas só na hora de assinar o contrato é que“exige” que a outorgada declare que “possuiqualificação técnica” e que “detém capacidadeeconômico-financeira, regularidade fiscal e que estáem situação regular com a Seguridade Social”. Émais uma demonstração de irresponsabilidade amanifestação de confiança absoluta numa empresaestrangeira. Esse tipo de confiança não se dá, emmomento algum, quando se trata de empresanacional.

Portanto, diante desses fatos, foi concedidamedida liminar para que seja o Conselho Diretor daAnatel proibido de, enquanto perdurar a liminar,homologar a licitação e/ou adjudicar o objeto dalicitação em questão à Hispasat S/A.

Embora o Governo ainda não nos tenhaoferecido explicações convincentes sobre asdenúncias apresentadas, a Justiça atua de formadiferente neste caso: já concede liminar, proíbe ahomologação da licitação e decidirá sobre a anulaçãoda decisão da Comissão de Licitação, que, ignorandoas ilegalidades aqui apontadas, habilitou a empresaespanhola.

O que se pretende é que sejam declaradosinválidos todos os atos administrativos praticados ao

arrepio da lei, e que sejam efetuados respeitando asnormas legais, principalmente a Constituição, emconsonância com os princípios da boa práticaadministrativa e da moralidade pública.

Sr. Presidente, viemos à tribuna exatamentepara demonstrar que as denúncias que formulamossão sempre alicerçadas na seriedade, no espíritopúblico, com o desejo e a vontade política de ver oPresidente da República estabelecendo, com rigor, amoralização da atividade pública neste País, porque,lamentavelmente, têm sido a omissão e a conivênciagovernamental a causa maior da descrençageneralizada que se abate sobre o povo brasileiro emrelação ao seu Governo.

No que diz respeito ao pronunciamento doSenador Osmar Dias, adianto que, na próximaquarta-feira, estarei nesta tribuna para posicionar-mea respeito dos fatos que ocorrem no âmbito doMinistério dos Esportes. Aguardo ainda acareaçãoque ocorrerá na Comissão de Assuntos Sociais, àsdez horas de quarta-feira, para também meposicionar a respeito, porque entendo serresponsabilidade desta Casa acompanhar e fiscalizaros atos do Poder Executivo, especialmente quandodenúncias que apresentam indícios de seriedadeprecisam ser devidamente apuradas, para serestabelecer a verdade e para punir eventuaisculpados pela deterioração do processoadministrativo no Brasil.

A justiça decidirá sobre a anulação da decisãoda Comissão de Licitação que, ignorando asilegalidades aqui apontadas, habilitou a empresaespanhola.

O que se pretende é que sejam declaradosinválidos todos os atos administrativos praticados aoarrepio da legislação. E que estes atos sejampraticados em respeito às normas legais e emconsonância com os princípios de boa práticaadministrativa e da moralidade.

Durante o discurso do Sr. Álvaro Dias,o Sr. Carlos Patrocínio, 2º Secretário, deixa acadeira da presidência, que é ocupada peloSr. Ademir Andrade, 2º Vice-Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) –Concedo a palavra ao Senador Ramez Tebet, porvinte minutos.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS. Pronunciao seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, motivado pelainquietação de uma grande parcela da juventudeestudiosa do Brasil e por ter recebido, pessoalmentee por correspondência, a insatisfação e a incredulidade deuma parcela numerosa dos universitários brasileiros,

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venho a esta tribuna para referir-me ao CréditoEducativo.

O caminho natural, a via mais propícia para oaluno que vem da camada mais pobre e mais sofridada população é a escola pública, indispensável emum País de tantas desigualdades, como o Brasil. Aescola pública é imprescindível. Ao lado dela, tem umpapel muito importante, significativo e indispensável aescola particular em todos os níveis de ensino.Entretanto, o caminho natural da escola públicadeveria estar reservado ao estudante mais sofrido,mais necessitado. Já a escola particular deveriaabrigar em seu seio os filhos daqueles que têm umacondição econômica melhor.

Infelizmente, isso não ocorre no Brasil. NestePaís, têm acesso à escola pública universitária, pelascondições próprias da vida, os estudantes de famíliade melhor condição financeira. Eles não têmproblemas desde o seu nascimento, estando sempreamparados por uma situação econômica que lhespermite boa alimentação, assistência médica eorientação no seus estudos. Esses alunosfreqüentam os melhores colégios de primeiro e desegundo graus e, conseqüentemente, ao enfrentarema tormenta do vestibular – que constitui quase umflagelo para aqueles que querem ingressar no ensinosuperior no Brasil –, terão naturalmente melhorescondições de estudar nas universidades públicasbrasileiras.

Sr. Presidente, os famosos cursinhos queacompanham o ensino de segundo grau constituemuma verdadeira fábrica de dinheiro, por serem umafonte de renda para seus donos. Muitospronunciamentos feitos nesta Casa por eminentes ecultos parlamentares mais afeitos à questãoeducacional em nosso País já o constataram edenunciaram.

Chegamos à conclusão de que o ensino públicono Brasil é elitizado. Como contornar a situação?Tenho visto projetos de todas as naturezas nestaCasa. Eu mesmo, Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, na legislatura passada, recebi pressão doGoverno para impedir que a Comissão de AssuntosSociais torpedeasse ou não desse andamento aoprojeto que apresentei que permitia ao estudantepobre e necessitado, ao trabalhador usar os recursosdo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – quelhes pertence – para pagar os seus estudos. Emsuma, pretendia o projeto que os recursos do FGTSpudessem ser utilizados no setor educacional.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o créditoeducativo no Brasil existe há mais de vinte anos, e,agora, ao invés de melhorar, piorou, porque ninguémestá entendendo mais nada do que vem a ser o

crédito educativo. Eu até diria que o crédito educativovirou quase uma operação bancária comum. Paraficar desse jeito, seria melhor que se baixassemnormas autorizando os bancos a cobrarem juros de9% ao ano já que se exige fiador. Os estudantes nãoestão nem sabendo quem lhes defere o créditoeducativo: se é o estabelecimento de ensino paraonde devem levar seus papéis, numa burocraciainterminável; ou se é o Ministério da Educação quedecide, pelos critérios apontados na medidaprovisória e na portaria do Ministro da Educação,quem tem direito ao crédito educativo.

Com tudo isso, chega-se à conclusão de quequem é muito pobre não tem direito. Na análise docrédito educativo, leva-se em conta a renda familiardo aluno. Então, há crédito educativo sendoindeferido por ser a renda familiar muito baixa.Infere-se, com isso, que, ao término do curso, o alunoe seu fiador não terão condições de pagar à CaixaEconômica Federal e que a inadimplência que hojeatinge R$1 bilhão pode ser acrescida de outro bilhão,o que não convém às autoridades, que, ao invés depensarem na finalidade social do Crédito Educativo,priorizam, talvez, em sua análise, se aquela pessoatem ou não condições de pagá-lo, ao término do seucurso.

E o pior e mais sério, Srs. Senadores, é que,pela nova lei, não existe sequer carência. Já noprimeiro ano da formatura, recebido o diploma denível superior, o formando tem que começar aamortizar o seu débito com a Caixa EconômicaFederal.

Então, quais são as condições? Nove por centoao ano; fiador; renda familiar analisada; condições demoradia. Estas últimas não foram explicitadas. Indagose elas dizem respeito àquele que mora em umcasebre, com sua família, ou em uma república. Oque vêm a ser essas condições de moradia, a que sereferem as exigências do Ministério da Educação?

Isso, Sr. Presidente e Srs. Senadores, estádeixando insegura a mocidade que precisa dessecrédito para estudar. Ele estava suspenso e voltou,agora, dessa forma que reputo injusta, porquesempre há injustiça, quando os critérios não sãodefinidos com total transparência e objetividade.

O Sr. Carlos Patrocínio (PFL – TO) – SenadorRamez Tebet, V. Exª me permite um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Ouço V.Exª, com muita honra.

O Sr. Carlos Patrocínio (PFL – TO) – NobreSenador Ramez Tebet, V. Exª, como sempre, estáabordando um tema de muito interesse para apopulação brasileira. V. Exª está debatendo o CréditoEducativo e o ensino de terceiro grau em nosso País e

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afirma, com muita propriedade e conhecimento decausa — talvez V. Exª seja um dos Senadores quemais entendem dessa questão —, que o ensino deterceiro grau em nosso País está totalmente invertido;por isso, vemos, nos pátios das universidadesfederais deste País, carros de luxo, modelosimportados. O cidadão rico é quem está conseguindochegar à Universidade Federal, ou seja, ter acesso aoensino público e gratuito de terceiro grau, porquefreqüentou os melhores cursinhos — fábricas dedinheiro, como V. Exª afirma —, teve asuplementação escolar sempre que precisou, nuncalhe faltou recurso. E o pobre é obrigado a freqüentar oensino privado, muitas vezes caríssimo, ou estárelegado a fazer tão-somente o segundo grau. Este éum assunto que devemos rever. Tivemos aoportunidade de ouvir as explicações do Ministro daEducação, Dr. Paulo Renato, quanto à novamodalidade de crédito, em que se exige o fiador — opai, a mãe ou pessoa interessada em avalizar oestudo do requerente — e cujo pagamento já começano primeiro ano de exercício da profissão. Trata-se deum tema que devemos abordar sempre, até quepossamos modificar essa situação de injustiça.Penso que já fiz a minha parte, eminente SenadorRamez Tebet. Apresentei, recentemente, um projetode lei que estabelece que o estudante pobre poderá,de maneira voluntária, ao se formar, pagar aoGoverno pelo estudo na escola privada. Por meio deum sistema de crédito educativo, ele poderá prestarserviços à comunidade, na área em que se formou.Infelizmente, parece que o projeto recebeu parecercontrário, tendo em vista que não seria possívelobrigar um cidadão a trabalhar para o Governo semque o quisesse. Tentarei saber por que deramparecer contrário a esse projeto de lei; se necessário,eu o modificarei e mostrarei ao Relator que a nossaintenção é a melhor possível. Apresentei, também,eminente Senador Ramez Tebet, uma proposta deemenda à Constituição que estabelece a escolamista, ou cooperativa escolar, ou escola deco-gestão, que seria aquela escola que o Governoentregaria à sociedade e que seria gerida pelosprofessores e pelos pais dos alunos. Evidentemente,os professores seriam pagos pelos pais dos alunos,que poderiam exigir um ensino de excelentequalidade. Isso permitirá que alunos pobres tenhamcursos de alto desempenho e possam competir emcondições de igualdade com os estudantes maisricos. O Congresso tem procurado fazer a sua parte,mas estamos vendo hoje, eminente Senador RamezTebet, a população, a classe média cada vez maisempobrecida. Os médicos, colegas do meu Estado,que antigamente detinham um status acima do

apresentado pela média da população, estão tirandoos filhos das escolas particulares, porque nãoconseguem pagar as mensalidades. Temos queencontrar uma solução para isso! Fiz a minha parte —apresentei a PEC e esse projeto de lei —, e V. Exªestá fazendo a sua, chamando a atenção para umassunto que é gravíssimo. Temos que resolver isso.Estou lutando, com todas as minhas forças, para criara Universidade Federal do Tocantins, porque é umEstado que está sendo discriminado, o único doBrasil que não possui universidade federal. Os jovensdo meu Estado estão deixando de estudar por falta deoportunidade — que o Governo Federal não quer dar—, contrariamente ao que ocorre em todos os outrosEstados da Federação. Falei com o Ministro PauloRenato, porque penso que deve ser mudada asistemática vigente hoje. Sabe-se que o ensinosuperior gratuito, federal ou estadual, consome 60%dos recursos destinados à educação. Temos quemodificar isso. Portanto, aqui deixo esta modestacolaboração, um aparte ao magnífico discurso que V.Exª faz nesta tarde, chamando a atenção dasautoridades para o fato de que não podemos tratar aspessoas diferentemente ou deixar os filhos daspessoas pobres sem futuro, sem esperança de teruma profissão digna no dia de amanhã.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – SenadorCarlos Patrocínio, V. Exª, em seu aparte, mostrou-seindignado e está coberto de razão, porque váriasvezes tem ocupado esta tribuna para abordarassuntos referentes à educação, que é o caminhomais natural para o desenvolvimento deste País.

Ainda há poucos dias, recebemos o Ministro daEducação, que, de forma brilhante, disse, naComissão que cuida da erradicação da pobreza noPaís, que é por meio da educação que diminuiremosas injustiças sociais. E V. Exª vem defendendo, comardor, a implantação de uma universidade pública emTocantins, já que é o único Estado da Federaçãobrasileira que não a tem. Quantas vezes tenhopresenciado V. Exª na tribuna a levantar este assunto.De sorte que acolho o aparte de V. Exª, um Senadorrealmente interessado, que luta para diminuir asinjustiças sociais no campo da educação e no Brasil,de modo geral.

O crédito educativo tem uma finalidade socialmuito grande e é primordial para o sistemaeducacional brasileiro, pois democratiza o acesso aoensino superior. No entanto, está tornando-seimpraticável, pela exigência de que o fiador tenharenda igual ao dobro da mensalidade a ser financiada.Isto é colocar o crédito educativo à altura de um créditocomercial; é a mesma coisa, Senador Carlos Patrocínio.Parece-me que o estudante brasileiro, para ter direito ao

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Crédito Educativo, tem de agir como se fosse a umestabelecimento de crédito. Como se faz quando sevai a um estabelecimento de crédito pedirempréstimo? É exigido avalista e a pessoa estarásubmetida a juros. Quanto ao Crédito Educativo,também é exigido avalista e os juros são de 9% aoano. É verdade que o estudante só terá de pagarquando concluir o curso, mas logo no primeiro ano.

O projeto de que V. Exª fala não pode serinconstitucional. É inconstitucional um ser humano,um estudante cheio de ideais dizer à sua Nação, aoMinistério da Educação: “permita-me concluir o cursoque depois devolverei em dobro em favor dacoletividade”? Que inconstitucionalidade há? Ele nãoestá sendo obrigado, as condições lhe estão sendoapresentadas antecipadamente.

Via de regra, são muitos os profissionais liberaisque fazem isso logo que concluem os seus cursos. Eumesmo, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, meucaro amigo Carlos Patrocínio, quando me formei emDireito – e até antes de me formar -, necessitando doaprendizado, ia para o fundo dos cárceres, à cadeiapública advogar junto à Defensoria Pública aprendere prestar serviços à comunidade.

Então, o que custa adotar um projeto daenvergadura do que V. Exª está propondo ao Senadoda República?

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – V. Exªme permite um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – A Mesame lembra o tempo, mas, Sr. Presidente, peço que mepermita conceder um aparte ao Senador ErnandesAmorim.

Ouço o aparte do Senador Ernandes Amorim.O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – Nobre

Senador Ramez Tebet, V. Exª traz ao plenário umassunto importante – a educação -, para o qualmuitas pessoas não olham. Na semana passada, emmeu discurso, disse que a Universidade Federal doRio de Janeiro paga R$70 mil por aluno, enquanto, naRegião Norte, o valor pago é de R$5 mil. Hoje, V. Exªtrata da questão do crédito educativo, do qualtambém fiz uso. Na época, o Crédito Educativo estavaao alcance de todos. Se cobrassem e exigissem omesmo que as instituições de crédito, eu jamais teriaconcluído o curso superior. Como está, parece que oCrédito Educativo está filiado ao sistemainternacional e não mais ao Governo brasileiro,parece que foi jogado na vala comum. O GovernoFederal e o Ministro da Educação não podemdiscriminar o aluno ou tornar impossível seu acesso.A nossa região deveria contar com mais médicos,com estudantes de medicina que, depois deformados, prestariam um serviço de que tantoprecisamos. O Senador Carlos Patrocínio é autor de

um projeto que, além do pagamento em dinheiro,permite o pagamento do Crédito Educativo comserviço. Essa possibilidade permitiria o ingresso doaluno pobre na universidade. Parabenizo V. Ex.ª porestar trazendo ao conhecimento do povo brasileiro oque está ocorrendo com esse financiamento na áreada educação. Muito obrigado.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) –Agradeço o aparte de V. Ex.ª, Senador ErnandesAmorim.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB – TO) –Senador Ramez Tebet, V. Ex.ª me permite umaparte?.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Commuita satisfação, ilustre Senador Leomar Quintanilha.

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) –Senador Ramez Tebet, o tempo de V. Ex.ª esgotou háquatro minutos. Logo, peço ao aparteante que sejabreve.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB – TO) –Agradeço a deferência da Mesa. Considero meudever aduzir algumas considerações e trazer a minhasolidariedade ao registro que faz, nesta tarde, o nobreSenador Ramez Tebet acerca de um assuntoextremamente relevante e circunstancial, que vem aoencontro das necessidades da juventude brasileira.Ora, o Crédito Educativo revela-se como a únicaalternativa para que o filho de família pobre possaefetivamente freqüentar o ensino superior. E asdificuldades, como V. Ex.ª, nobre Senador RamezTebet, bem descreveu, estão aumentando, pois estáse transformando num empréstimo comercial comooutro qualquer, com as dificuldades de praxe.Entendo que essa preocupação precisa realmentecrescer e estimular a discussão à larga, não sócalcada numa proposta apresentada pelo eminenteSenador Carlos Patrocínio, cujo arquivamento oRelator da Comissão de Assuntos Sociais haviarecomendado. Seria uma sugestão de busca dealternativas para pagamento do Crédito Educativo.Esta proposição não podia simplesmente serarquivada sem que a discutíssemos à exaustão, semque buscássemos uma saída para o filho da famíliapobre. Ele, sim, precisa do Governo e da ação deseus representantes. Esta é nossa função: buscaressa alternativa para que haja igualdade detratamento, para que o filho da família pobre brasileiratambém possa freqüentar o ensino superior.Gostaria,então, de trazer essa solidariedade e cumprimentar V.Exª pela propriedade do assunto trazido a esta Casa.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) –Agradeço muito a V. Exª, Senador LeomarQuintanilha, cujo aparte enriquece o meu modestopronunciamento.

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Eu não poderia encerrar sem dizer o que estousentindo neste momento. O Crédito Educativo, dojeito que está, fortalece, sem dúvida nenhuma, asinstituições privadas de ensino. Essas estãoplenamente garantidas.

Gostaria, Sr. Presidente e Srs. Senadores, dedizer que, a par do fortalecimento das instituiçõesprivadas de ensino, que tão bons e relevantesserviços têm prestado ao nosso País, saíssemfortalecidos os estudantes pobres e que precisam,estudantes de Odontologia, de Medicina, que pagam,no mínimo, R$800 por mês. Gostaria de vê-losbeneficiados, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Esse sentimento sai do meu coração, porque,quando vou ao meu Estado, recebo estudantesangustiados, que chegam a implorar um auxílio parapoder continuar os seus estudos, pais que, nãohavendo escolas em suas cidades, desejam colocaros seus filhos em meu Estado; ou, então, tendoconquistado um lugar apenas no Estado de SãoPaulo ou em outros da Federação, correm aflitos embusca de uma saída que lhes permita fornecer oindispensável a todos os cidadãos brasileiros:educação. Os pais têm obrigação de dar educação aseus filhos e estão sentindo que, cada vez mais, háobstáculos e dificuldades que precisam ser vencidas,mas só conseguirão se o Governo der prioridade àeducação.

Sr. Presidente, muito obrigado pela tolerânciade V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) –Concedo a palavra ao Senador MozarildoCavalcanti.(Pausa)

Concedo a palavra ao Senador CarlosPatrocínio por 20 minutos.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,penso que meu modesto pronunciamento na tarde dehoje vem muito na esteira dos pronunciamentos feitosno dia de hoje. O Senador Luiz Estevão falou dacobrança previdenciária dos inativos e o SenadorRamez Tebet, do Crédito Educativo.

Temos apresentado sugestões, Sr. Presidente,mas, não sei por que, elas parecem ser de difícilaplicabilidade.

Volta e meia, a Imprensa toca num ponto quemerece a atenção mais duradoura e a atuação maisfirme por parte de nossas autoridadesgovernamentais. Trata-se da questão do patrimônioda União, que, numa primeira avaliação, correspondeà astronômica quantia de R$400 bilhões. É uma

primeira estimativa do valor do patrimônio da União,que rendeu, no ano passado, em aluguéis, laudêmiose outras rendas, a ínfima cifra de R$121 milhões.

A União é hoje a maior imobiliária do País, Sr.Presidente. Possui três milhões de imóveis,compreendidos aí, na acepção mais ampla doconceito de bens e imóveis públicos, todos os imóveispertencentes às pessoas políticas e as suasrespectivas autarquias, fundações, empresaspúblicas e sociedades de economia mista, quecompõem a administração pública indireta. Essepatrimônio inclui desde prédios e ilhas a imóveisabandonados e ocupados por mendigos. Ontemmesmo, alguns sem-teto ocuparam enorme prédio depropriedade do Governo de São Paulo, que nãoestava sendo usado.

A opinião pública sempre alimentou a suspeitade que nem o próprio Governo conhecia a exatadimensão desse verdadeiro império imobiliário e,assim, deveria desconhecer também a situação emque se encontrava a maioria desses imóveis. Aopinião pública não estava errada. O Governo, defato, não detinha o conhecimento total da situação deseus imóveis. Tanto é verdade que a então Secretáriada Administração, Cláudia Costin, surpreendeu-secom o que viu, ao percorrer o País recentemente paravisitar parte dos imóveis da União.

Matéria sobre esse fato foi publicada no jornal OGlobo, no dia 3 de junho do corrente ano. Areportagem revela algumas surpresas encontradaspela então Secretária da Administração, por ocasiãode sua visita a algumas capitais.

Consta que ela teria se surpreendido aoencontrar, em Vitória, dois prédios luxuosos àbeira-mar, ambos da União, que abrigavamescritórios regionais do TCU e do Ministério Público.

Ora, não há nada contra funcionários públicostrabalharem em locais com linda vista para o mar,mas, em se tratando de imóveis públicos, temos deconsiderar a melhor destinação a ser dada a eles, demodo a torná-los mais lucrativos. É óbvio, Sr.Presidente, que tais prédios, situados em locaispropícios a hotéis, restaurantes, residências, melhorserviriam à União se, por exemplo, fossemarrendados, caso em que proporcionariam uma boarenda para o Governo.

Outra surpresa manifestada por Cláudia Costinfoi ter encontrado, no centro de Cuiabá, em plenosetor comercial, um imenso terreno, de propriedadeda União, sendo usado como campo de tiro peloMinistério do Exército. Revela a reportagem de OGlobo que esse caso já foi resolvido, tendo sido aárea transferida à Prefeitura, para ser transformadanum parque.

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Casos como esses devem existir aos punhados,Sr. Presidente! Lembro-me de que, há meses, oJornal do Brasil, em sua edição de 4 de abril,noticiou alguns casos esdrúxulos de imóveisconstruídos em terrenos proibidos pela Constituição.Segundo a Secretária de Patrimônio da União, DrªMaria José Barros Leite, a maioria das construções àbeira-mar estão irregulares, porque ocupam terrenosde propriedade do Governo. Diz ela: “Não é permitidoconstruir nada na areia; por isso, as arenas que foramfeitas nas areias da praia de Copacabana tambémsão irregulares.”

Essa irregularidade atinge construçõesfamosas, como o Beach Park, em Fortaleza, que temuma parte edificada na faixa da praia, e o HotelTambaú, em João Pessoa, erguido sobre a areia dapraia. A situação desse hotel é pitoresca. Segundo aSecretária Maria José, na época de sua construção,somente para que ele pudesse ser levantado naareia, aprovou-se uma lei à revelia de outras leis.

Também em terras pertencentes à União,encontra-se o luxuoso condomínio Alphaville, situadoa cerca de 30km da Cidade de São Paulo. Construídosobre terras de antigas aldeias indígenas, o imóvelvem sendo regularizado pelo Governo Federal desdeo ano passado, com atualização cadastral dosforeiros. Nesse caso, os proprietários de imóveis nocondomínio detêm apenas o domínio útil do terreno,que corresponde a 83% do seu valor. Os 17%restantes pertencem à União, que tem o domíniodireto do terreno. Esses 17%, contudo, podem servendidos pela União, o que daria aos condôminos odomínio pleno do terreno.

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) –Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO) –Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – NobreSenador Carlos Patrocínio, V. Exª aborda um temaque foi objeto, há dois anos, de um projetoapresentado por mim, nesta Casa, no sentido de queo Governo Federal fizesse um levantamento dosimóveis do INSS abandonados no País. Ninguémtomou qualquer atitude a respeito. Agora, oPresidente da República submete-nos a umconstrangimento. Sua Excelência quer queaprovemos um projeto, para que se retire da míseraquantia com que vivem aposentados e pensionistas –mísera quantia com a qual compram remédios e, namaioria dos casos, mal conseguem sobreviver – umacontribuição previdenciária. Esse projeto deveráprovocar profunda inquietação a muitos Senadores,que deverão, mais uma vez, rejeitar essa pretensão.

Se o Governo tem um patrimônio monstruoso comoesse, abandonado, à mercê de invasores que outilizam a um custo zero, ele deveria, primeiramente,vender os imóveis a que V. Exª se refere, objeto delevantamento da Secretária Cláudia Costin, por umvalor de mercado. O resultado dessa vendapropiciaria os recursos necessários à Previdênciasem que se maltrate os aposentados com um projetoque nos colocaria em situação difícil. O caminhocorreto é atender o apelo de V. Ex.ª e o nosso.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO) –Eminente Senador Ernandes Amorim, V. Exª tem todaa razão. Fiz questão de frisar, no início de meupronunciamento, a oportunidade dos discursos dealguns Senadores que me antecederam, como o daquestão da cobrança da contribuição previdenciáriaaos aposentados e pensionistas e o da questão docrédito educativo, que se deteriora cada vez mais.Provarei aqui, no decorrer do meu discurso, que se osrecursos oriundos de aluguéis de imóveis fossembem administrados poderiam render R$500 milhõesmensais. Quantas pessoas não estão seaproveitando desses imóveis da União, alugados hávários anos por preços simbólicos?

Lembro-me de quando V. Exª apresentou umprojeto a respeito desse assunto e o discutiujuntamente com outros Parlamentares. Todavia, atéhoje, nada se fez para que a União e os Estadosobtivessem algum lucro com esses imóveis.

Entendo que é chegada a hora de o Governopromover uma verdadeira reforma patrimonial paradar uma destinação adequada ao patrimônio daUnião. Não me incluo entre os que pregam a totaldestituição do patrimônio pelo Estado, porque, paracumprir sua destinação política, o Estado necessitapossuir bens, de maneira semelhante aosparticulares, que também possuem patrimônio. E demaneira semelhante, mas não idêntica, a intençãoprincipal do Governo deve ser a mesma de qualquerproprietário de um bem, qual seja, deve tornar oimóvel o mais rentável possível.

Eu disse “de maneira semelhante, mas nãoidêntica”, porque os bens públicos estão vinculadosao atendimento de finalidades públicas e só para estefim estão disponíveis. Desse modo, não se podepensar que uma boa reforma patrimonial implique nasimples e pura venda de todos os bens públicos.

Na reavaliação que o Governo vem fazendo deseu patrimônio, os imóveis foram divididos em quatrocategorias: os que podem ser vendidos; os que estãoaforados ou alugados a terceiros; os que podem terdestinação social; e aqueles que têm potencial turísti-

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co. Essa diferenciação é extremamente necessário, econsidero-a muito adequada.

Na categoria de imóveis que podem servendidos, estão o Hotel das Cataratas, em Foz doIguaçu, e o Hotel das Paineiras, no Rio, ambospropriedades da União. O atual inquilino do luxuosoHotel das Cataratas é a Companhia Tropical de Hotéis,de propriedade da Varig, que paga 19 mil reais dealuguel. Uma verdadeira mixaria, todos concordam! Emais gritante o disparate se torna se tomarmos comoreferência as diárias cobradas pelo hotel. Consta que adiária na suíte presidencial custa perto de 1.200 reais.Adiária custa 1.200 reais, e o aluguel, 19 mil reais pormês.Além do mais, não faz sentido a União ser dona dehotéis.

No início de julho, a jornalista Márcia CarmoKaram noticiou, em sua coluna no Jornal do Brasil, avitória da União em ação cível pública na Vara Federalde Foz do Iguaçu, para desalojar do hotel seu atualinquilino. São ações dessa natureza que se espera doGoverno, Sr.Presidente! Se determinado imóvel, depoisde devidamente avaliado, foi classificado na categoriados que deveriam ser vendidos, e não havendointeresse, de qualquer natureza, em a União mantê-locomo parte de seu patrimônio, deve ele ser posto àvenda, ultimando-se todas as ações para atingir essefim.

Os imóveis que estão alugados ou aforados aterceiros, considerada esta a situação adequada aser mantida, devem ter as taxas de ocupaçãoconvenientemente atualizadas. Há casos em que arenda do imóvel não cobre sequer os custos demanutenção e conservação.

Também é preciso redirecionar o uso de algunsimóveis, para virem a desempenhar uma função socialimportante para as comunidades onde estãolocalizados. É o caso dos armazéns do extinto InstitutoBrasileiro do Café – IBC, localizados, em sua maioria,em cidades de pequeno porte. A União pretendedestiná-los a projetos sociais, como quadras deesporte, creches e escolas.

Quanto a propriedades do Governo compotencial turístico, como fortes e faróis, a idéia étransformá-los, em parceria com a iniciativa privada,em hotéis e pousadas, a exemplo do que acontece naEuropa, onde castelos e fortes foram transformadosem hotéis.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB – TO) –Senador Carlos Patrocínio, V. Exª permite-me umaparte?

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO) –Concedo o aparte a V. Exª com muito honra, nobreSenador Leomar Quintanilha.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB – TO) –Senador Carlos Patrocínio, discutir o patrimôniopúblico é muito oportuno neste momento. Aspremissas de privatização há muito praticamentetomaram conta da consciência dos nossosgovernantes. Defendi a privatização e votei a favordela, conforme V. Exª deve ter acompanhado, já queentendo que o serviço público não deve cuidar deações de natureza econômica. Exª aborda umassunto muito interessante quando fala sobre ogerenciamento do patrimônio público, principalmentedo patrimônio imobiliário. Imediatamente nos vem àlembrança monumentos públicos que hoje estãoociosos. V. Exª lembra que o valor do aluguel dealguns prédios públicos não correspondem aospreços de mercado; é sempre aviltado.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL – TO) –Quase sempre, Sr. Senador.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB – TO) – Quasesempre são alugados por preços aviltados. E arecíproca não é verdadeira, porque o serviço público usamuitos imóveis de terceiro e, conseqüentemente, o custodo aluguel é o de mercado ou até um pouco mais. Masgostaria de lembrar outra situação. Talvez o alerta de V.Exª sirva para que o encarregado do serviço públicofederal analise uma questão que estamos vivenciandono Estado de Tocantins, onde alguns órgãos públicosenfrentam dificuldades de funcionamento em razão denão ter um local próprio e definitivo. Eu destacaria aDelegacia do Ministério da Agricultura, que é um órgãofederal importantíssimo para o Tocantins, já queestreitamente ligado à atividade econômica maisimportante do nosso Estado, que é a agropecuária.Tendo em vista que há tantos prédios públicossobrando em outras localidades do País, nessetrabalho de gerenciamento a União poderia alugar ouvender um imóvel em outro lugar e permitir que, aexemplo do que ocorre no Tocantins, onde nãohouvesse prédio público e fosse necessária a suaconstrução, um imóvel ocioso fosse cedido para permitiro funcionamento de tal órgão. Era a contribuição que euqueria dar ao pronunciamento importante que V.Exª faznesta tarde.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL-TO) –Incluo as sábias observações de V. Exª. Penso quequalquer tipo de negócio poderia ser feito com os imóveisda União que estão sendo subalugados, que não estãosendo utilizados. Poderia haver uma permuta, uma trocapor um prédio particular em outro município, e assim pordiante. O que não pode, Sr. Senador, é continuarmos amanter esse grande patrimônio, R$400 bilhões, três milhões deimóveis, sem render nada para a União – rendeu R$121milhõesporano,conformeassegurei.Isso é verdadeiramenteum absurdo.É a má administração, má gestão pública.

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Estamos chamando a atenção para esse problema,para que isso acabe em nosso País.

Enfim, Sr. Presidente, há boas idéias sobre oque fazer com o imenso patrimônio da União, mas hámuitos anos se fala em reforma patrimonial e ela nãosai. Esperamos, desta vez, que tais idéias venham aser efetivamente implementadas, para que se dê aosimóveis da União a destinação mais adequada econveniente.

Além do mais, os cofres da União muitoagradeceriam se a reforma viesse a se concretizar.Segundo cálculo dos técnicos do Ministério doPlanejamento, o Governo poderia arrecadar, apenasrenegociando aluguéis baixos e vendendo edifíciossem uso, pelo menos R$500 milhões por mês. Essa éa estimativa dos técnicos do ex-Ministério doPlanejamento, hoje Ministério do Orçamento eGestão. Esta é mais uma razão para desejarmos areforma patrimonial, particularmente num tempo emque escasseiam os recursos públicos e aumentam asdemandas sociais. Aumentando-se a renda auferidapela União, temos esperança de que tambémaumentem os recursos destinados à melhoria dascondições de vida de nosso povo mais sofrido.

Era o que tinha a dizer.Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Por

permuta com o Senador Romero Jucá, concedo apalavra ao Senador José Roberto Arruda.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fizquestão de vir à tribuna – agradeço a gentileza doSenador Romero Jucá, que permutou comigo – e nãome utilizar do tempo que teria para uma comunicaçãocomo Líder – faço questão de fazer este registro -,porque hoje estou aqui como Senador eleito peloDistrito Federal, para responder, da tribuna, asdeclarações feitas pelo ex-governador CristovamBuarque na entrevista que deu à revista Veja destasemana.

Num dos trechos dessa entrevista diz oex-governador:

“Nunca sofri perseguições deFernando Henrique no que se refere a verba(...). Sofri a influência de um senador e deum secretário que inviabilizaram umfinanciamento do Banco Interamericano deDesenvolvimento, BID. O senador, diz ele,“é José Roberto Arruda, e essefinanciamento seria usado para asfaltar ascidades pobres do Distrito Federal.”

Ora, Sr. Presidente, o ex-Governador, além deinjusto, foi incoerente nas suas declarações. Tragoaqui uma cópia do Correio Braziliense de 28 deoutubro, do que ele dizia à imprensa e ao público queo ouvia naquele dia. Segundo o jornal, “o próprioCristovam, no seu discurso, não esqueceu dos elogiosa Arruda para a platéia atenta.” “O Senador Arruda semostrou um homem preocupado com os problemas doDistrito Federal. Ele conseguiu trazer recursos, e eu seique vocês podem contar com ele”, disse Cristóvam aose referir a uma reivindicação dos moradores”.

Não é só por isso que o ex-Governador foi injustoe incoerente. No início do seu governo em Brasília, noano de 1994 mais precisamente, todos os recursos queo Governo Federal passou para Brasília somaramR$1,070 bilhão. No último ano do seu governo – e nos 4anos, tivemos uma inflação acumulada de menos de10% – ele recebeu do Governo Federal R$2 bilhões, umaumento de 100% para uma inflação de 10%.

Esqueceu-se o ex-Governador de que,coordenando a Bancada de Brasília nos quatro anosem que governava a cidade e mesmo sendo seuadversário político, fizemos emendas coletivas. ABancada de Brasília abriu mão das emendasindividuais e todo o dinheiro das emendas coletivasfoi para o Governo do Distrito Federal.

Mais do que isso, Sr. Presidente, Sras e Srs.Senadores, fui com o Governador Cristovam Buarqueao Presidente da República e ao Ministro da Fazendavárias vezes. E conseguimos liberar mais de R$300milhões para a obra do metrô. Como Líder doGoverno no Congresso Nacional, atendi a todas assolicitações do então Governador CristovamBuarque. Não sou eu que estou dizendo, ele própriofoi à televisão, no segundo turno das eleições, epublicamente – guardo com apreço as fitas –agradece meu empenho em trazer dinheiro para oseu governo. Seria o caso de eu imaginar que oex-Governador Cristovam Buarque mentia àquelaépoca com o objetivo de conquistar os votos daquelesque, no primeiro turno, tinham votado em mim. Ou,então, é o caso de pensar que ele mente agora,quando diz que fui eu um dos que não deixou odinheiro do BID chegar ao seu Governo. Ou mentiuantes ou mente agora. Em qualquer das hipóteses,está sendo injusto e incoerente. Injusto porque,mesmo não sendo do seu Partido, mesmo não sendoda sua base de sustentação, nunca coloqueidiferenças político-partidárias como obstáculo aomeu trabalho por Brasília. A cidade toda étestemunha de que tudo que pude fazer para trazerrecursos para o Distrito Federal eu fiz.

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Mais do que isso, estão aqui os recortes dejornais sobre o assunto. Guardo todas as fitas devídeo com os elogios públicos do próprio Governadore fico extremamente incomodado de ter de dizer datribuna – repito – que, se o dinheiro do BID não saiu,foi – vamos deixar claro – por incompetência, porinépcia administrativa de quem não renegociou adívida do Estado, como era do seu dever, não inseriuno orçamento recursos de contrapartida, nãoobedecendo, portanto, às regras básicas daResolução nº 78 do Senado Federal.

Admitamos que esse empréstimo tivesse vindopara o Senado, que eu não o tivesse defendido comempenho ou tivesse sido contra ele. Isso, porém, nãoocorreu. Essa matéria sequer foi encaminhada aoexame do Senado Federal.

O ex-Governador Cristovam Buarque, na suaentrevista à revista Veja, faz uma crítica àsprivatizações, mas, ao mesmo tempo, diz: ”Eu nãoreveria o processo de privatização. O custo dereestatizar tudo de volta seria muito alto”.

Ora, Sr. Presidente, em primeiro lugar, digo que,de fato, eu não teria a competência que ele teve emcriticar o PT, nem seria tão duro. Penso que esta é amaior crítica que o citado partido recebe em toda asua história.

Contudo, esqueceu-se do seu próprio governo,quando, em vez de privatizar a SAB – o Governo deBrasília era dono de uma rede de supermercados -,preferiu fechá-la. Demitiu ou transferiu osfuncionários, fechou a empresa e alugou os antigossupermercados para uma rede privada desupermercados. Pergunto: o interesse público nãoteria sido melhor atendido se o tivesse vendido, já queiria fechá-lo? Quanto é que o povo e o Governoganharam com isso? Pior ainda foi a privatização daCEB. Ele simplesmente vendeu ações da empresa,sem que houvesse, antes, uma avaliação devida –como, aliás, fez o Governo Federal em seus casos. Edepois de ter feito, pelo menos, dois movimentosdanosos ao interesse público para fugir da palavra“privatização”, no caso da SAB e da CEB, vem dizerque não reveria o processo de privatização doGoverno Federal? Ele não tinha outro caminho, poisesse era o único.

Em outro trecho da entrevista, afirma: “Nãopodemos deixar de conversar com nenhum dosrepresentantes de qualquer setor da sociedade.”Referia-se ao encontro do Presidente de Honra doPT, Lula, com o Presidente desta Casa, AntonioCarlos Magalhães. Nesse trecho da entrevista, tenhoque concordar com o ex-Governador CristovamBuarque. O que me parece é que aqui ele produziu acrítica mais contundente ao Partido dos

Trabalhadores pela punição que impôs ao DeputadoEduardo Jorge, porque este resolveu conversar como Ministro Aloysio Nunes. Ou então ele, que já foiGovernador, pensava alto. Caso fosse Governador,teria descumprido as determinações do seu Partido eteria comparecido à reunião com o Presidente daRepública na última sexta-feira, até porque, quandoGovernador do Distrito Federal, adotou, no exercíciodo governo, a limitação de teto de salário propostaagora pelo Governador Garotinho e aprovada peloFórum de Governadores.

Mais na frente, na entrevista à revista Veja, Sr.Presidente, comentando uma suspensão que lhe foiimposta pelo Tribunal Regional Eleitoral, ele faz aseguinte alusão: “Fiquei surpreso com essa decisão. Elavem justamente no momento em que meu nome estáganhando dimensão nacional, e o atual Governador doDistrito Federal sofre acusações de receber dinheiro debicheiros”.

Aí, Sr. Presidente, o ex-Governador não estásendo incoerente, ele está sofrendo um processo deamnésia. Pergunto: qual a diferença em serfinanciado por bicheiros – e eu não estou dizendo quefoi ou que não foi, deixe que a Justiça comprove – eser financiado por empreiteiros? Porque ele,ex-Governador Cristovam, recebeu US$200 mil daAndrade Gutierrez e US$200 mil da Via Engenharia,ficou quatro anos fazendo lista de doações para pagaras empreiteiras, não pagou até hoje, esqueceu e já écandidato a Presidente. Ora, então, aqui já não setrata de incoerência, mas de amnésia.

Mas não pára por aí, Sr. Presidente. Num trechoseguinte, ele diz: “A primeira coisa a fazer é dizer aopovo brasileiro que não somos capitalistas, mas que agente vai governar dentro das instituições que aíestão. Eu ainda acredito que vamos encontrar umafórmula melhor, mas devemos ter a humildade dedizer que não sabemos que fórmula é essa”.

Será que ele pensa em ser candidato aPresidente da República para fazer do Brasil umlaboratório? Para fazer da administração pública umlaboratório das suas experiências – criativas, éverdade, mas administrativamente reprováveis?

Mais na frente, fala o ex-Governador Cristovam:“Hoje, esses dirigentes (do PT) não conseguemrepresentar de maneira correta o que pensa a maioriados petistas. Muitos deixam até de militar no Partidoporque simplesmente estão desiludidos com asúltimas posições que temos tomado. São eleitoresque estão envergonhados de certas idéias queadotamos, como a de tirar o Presidente da Repúblicado cargo.”

Aqui, Sr. Presidente, ele foi duro. Talvez essaseja a crítica mais dura que o PT já recebeu. Eu,

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comoLíder do Governo e tendo o PT como Oposição,não iria tão longe.

Depois, ele diz: “Eu gostaria muito que meunome fosse apreciado como uma opção real do PTpara a candidatura a presidente.”

Sr. Presidente, aqui, fiz uma reflexão. Será que,em nome desta ambição, vale qualquer coisa?Inclusive mentir, como fez, ou nessa entrevista, ouquando era Governador e declarou publicamente ocontrário?

Realmente, numa entrevista nacional, nasdimensões que têm as páginas amarelas da revistaVeja, ele arrumar espaço para fazer uma referência aeste pobre mortal me faz pensar que, de um lado, eleolha a possibilidade de dar uma rasteira no Lula paraser candidato a Presidente; de outro, está de olhomesmo em disputar uma vaga de Senador. É a únicaexplicação que encontro para ele se desdizer eatacar-me, gratuitamente, deselegantemente, emuma entrevista como essa.

Nesse caso, é legítima a ambição doex-Governador de ser candidato ao Senado – jápoderia ter sido na última eleição. Se o for e se acircunstância política fizer com que eu tambémconcorra a uma reeleição no Senado, iremos disputarcom a elegância que sempre presidiu o nossoconvívio pessoal ou político. Acredito ser antecipadoe ambicioso demais, fugindo aos padrões decomportamento de pessoas politicamente civilizadas,esse tipo de agressão.

Por último, Sr. Presidente, o ex-Governador fazuma declaração que merece a nossa reflexão. Ele diz:“Em qualquer lugar há golpistas. No Palácio do Planalto,no Exército, na Direita e na Esquerda. No PT, algumaspessoas pensam e explicitam seu pensamento nasreuniões, mas esse não é o discurso oficial”.

Nesse ponto, mesmo estando pessoalmentemagoado e chateado por uma agressão que mepareceu extremamente injusta, tenho quecumprimentar publicamente o ex-Governador por tersido o primeiro militante do Partido dos Trabalhadoresa reconhecer textualmente que a bandeira “ForaFHC” é golpista e antidemocrática. As palavras sãodele.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, confessoo meu desconforto pessoal e político de vir a estatribuna tratar de um tema regional. Esse desconforto,provavelmente, só é menor do que o dele por terusado uma entrevista nacional para abordarquestiúnculas locais.

Estou convencido, Sr. Presidente, de que oex-Governador, neste momento, deve estarlembrando-se das visitas que fizemos juntos aoMinistro Pedro Malan, de quando telefonou-mequando estava de férias em Minas Gerais, na casa de

minha família, e de que tive de vir a Brasília promover,a seu pedido, um encontro com o Presidente daRepública. Ele deve estar lembrando-se de que, noseu Governo, o Governo Federal aumentou deR$1,07 bilhões para R$2 bilhões os repasses daUnião para Brasília. Ele deve estar-se recordandodas inúmeras vezes que acompanhei seusSecretários de Estado – aliás, sempre muito corretosem reconhecer publicamente o meu esforço – a fimde trazer dinheiro para o metrô e recursos da CaixaEconômica Federal para saneamento básico nascidades satélites de Brasília. Muito provavelmente,ele já deve lembrar-se, Sr. Presidente, de que,mesmo no caso do BID, em que não conseguiusucesso, enviei correspondência oficial ao Ministro daFazenda pedindo liberação do dinheiro – acompanheio próprio Governador numa audiência para fazer asolicitação.

Sr. Presidente, sempre tive pelo ex-Governadorapreço pessoal e sempre o respeitei como cidadão ehomem público. Parece claro que, embora criativo,algumas vezes até alucinadamente criativo, está-serevelando, de fato, um mau administrador. Essa é ahistória da sua passagem pela Reitoria da UnB quese desorganizou àquela época e é a sua história dapassagem pelo Governo de Brasília. E está-serevelando mais: um mau fazedor de projetos.Confesso que considero o projeto do BIDextremamente importante para Brasília e que, damesma forma que defendi a sua liberação noGoverno Cristovam, vou continuar defendendo-a esomente vou descansar no momento em que odinheiro tiver sido aplicado em Brasília para melhorara qualidade de vida das pessoas.

E está-se revelando um mau perdedor. Omesmo candidato que me elogiava publicamente noCorreio Brazilense e no programa eleitoral gratuitovem me fazer uma crítica tão contundente um anodepois do pleito eleitoral. Além de mau administrador,mau fazedor de projetos e de mau perdedor, sinto queo ex-Governador é mal-agradecido. Não mearrependo, Sr. Presidente, de tudo o que fiz porBrasília no Governo dele; de tê-lo ajudado aconseguir os recursos que eram fundamentais para anossa cidade. Mas confesso a minha tristeza de terque fazer esse registro de que, efetivamente,lamentavelmente, Sr. Presidente, essa injustiça eessa incoerência do Governador Cristovam sãomaiores do que eu poderia imaginar. Na verdade, ficocom uma dúvida, Sr. Presidente e Srs. Senadores: seo ex-Governador está sendo mais injusto com o PT,que o acolheu depois de sua trajetória no PMDB e noPDT, ou comigo, que sempre o ajudei e sempre otratei com muito respeito, pública e particularmente.

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Confesso, Sr. Presidente, minha tristezaextremamente negativa com a infeliz e injustasituação do ex-Governador Cristovam Buarque, quemostra, sobretudo, como a ambição pode desvirtuar ainteligência, a memória e a coerência de pessoas queantes pelo menos conseguiam passar uma imagemde equilíbrio e de ponderação.

Sr. Presidente, antes de vir a esta tribuna,comuniquei, oficialmente, à Liderança do Partido dosTrabalhadores que faria este pronunciamento, como éde bom tom.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) –

Concedo a palavra ao Senador Tião Viana, por vinteminutos.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC.Pronuncia oseguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não memanifestei quando do pronunciamento do SenadorJosé Roberto Arruda, em função de não ter qualquerinformação prévia sobre a matéria veiculada narevista Veja. Eu aguardo informações parafundamentar minha manifestação em relação ao seupronunciamento, que é uma resposta dura, a meu ver,à figura política e pública do ex-Governador doDistrito Federal, Cristovam Buarque. Acredito que onosso Partido também se manifestará de maneiraoportuna sobre o assunto.

O que me traz à tribuna do Senado Federal é apreocupação com um assunto que está na ordem dodia do Conselho Regional de Medicina de São Pauloe da Associação Médica Brasileira, e que interessa atodos os médicos do Brasil, a todos os profissionaisde saúde do Brasil: a criação ou não de novas escolasde Medicina no nosso País.

Lembro ao Senado Federal que o ConselhoRegional de Medicina de São Paulo, que tem umatrajetória de grande responsabilidade e maturidadepolítica e de formação, tem tratado o assunto demaneira clara e objetiva, estabelecendo de maneiracontundente que é contrário à criação de novoscursos de Medicina no Brasil. Há até uma frase quejulgo exagerada, que extrapola a razão normal de umconselho regional de Medicina, segundo a qual“novas escolas de Medicina fazem mal à saúde.”

Confesso que não entendo bem a razão desseslogan, dessa frase, e prefiro imaginar que haja uminconformismo, um incômodo muito grande doConselho Regional de Medicina de São Paulo, emrelação à abertura exagerada e inconseqüente denovas escolas médicas no País, que tenta, com aseriedade dos seus conselheiros, apontar umcaminho de mais responsabilidade, de maiscoerência e mais qualidade na hora de se tratar deste

assunto. Acredito ser esse o posicionamento doConselho Regional de Medicina de São Paulo.

Sr.Presidente, Sras.e Srs.Senadores, gostaria deme reportar a um documento, deste ano, muito útil eextremamente importante, que a Associação MédicaBrasileira apresenta para os médicos do Brasil, para asautoridades de educação e saúde do Brasil, falandosobre os requisitos mínimos para a criação efuncionamento de escolas de Medicina, que diz oseguinte:

A Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº9.394, de 20 de dezembro de 1996), bemcomo o Decreto nº 2.306, de 19 de agostode 1997, proporcionaram condiçõesextremamente liberais para que os Estadose Municípios pudessem decidir livrementesobre a criação de escolas de medicina eoutras na área de saúde. A competência daUnião, fixada no art. 10, inciso IX, da LDB,foi limitada exclusivamente ao sistemafederal de ensino superior. Com isto, nosdois últimos anos, quase uma dezena denovas escolas médicas foram criadas eoutras caminham a passos largos, sem aimprescindível necessidade social decursos.

Desta forma, a Associação MédicaBrasileira empenhou-se em apresentar aoMEC uma contribuição decisiva paradisciplinar a abertura de cursos médicos, aomesmo tempo em que busca encontrar umcaminho para que a Lei seja alterada. Paraisso espera contar com o apoio do Ministérioda Educação e de todo o CongressoNacional.

No primeiro Documento do EnsinoMédico, editado pela AMB em 1990, aProfessora Alice Reis Rosa já conclamava:“Somente sejam criadas escolas deMedicina em condições que lhes permitampromover adequada capacidade dosgraduados. É este o primeiro dosprocedimentos indispensáveis ao esforço deoferecer médicos competentes àsociedade.”

Este documento elaborado pelosmembros da Comissão de Ensino Médico ePós-Graduação da Associação MédicaBrasileira não pretende analisar todos osrequisitos para o funcionamento de umaescola de Medicina, mas, de forma sintética,ordenar as exigências imprescindíveis quedevem constar de norma jurídica – incluindosugestões de texto de Lei e Portaria Intermi-

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nisterial – a serem discutidas e aprovadascom base em subsídios adicionais.

Somente com cursos de graduaçãocapazes de preparar profissionais de sólidaformação técnica, ética e humanitária é quepoderemos assegurar melhor qualidade naassistência à saúde no Brasil.”

O documento é assinado pelo ProfessorAntonio Celso Nunes Nassif, figura marcante datrajetória de luta da AMB por qualidade deassistência neste País, e encerra com uma frase deMontesquieu, que diz: “Uma coisa não é justaporque é lei, mas deve ser lei porque é justa.”

De acordo com a proposta da AMB, definem-seseis perfis: o objetivo do projeto, os recursos humanosnecessários, o corpo discente, os recursos físicos, ocorpo administrativo e o corpo profissional.

Sr. Presidente, este é um assunto de enormeimportância para o nosso País e diz respeito àrepresentatividade dos profissionais de saúde e aointeresse pelo seu futuro de vinculação ao trabalhoque tanto o honra, porque a alma do homem é o seutrabalho. Ao mesmo tempo, há uma grandepreocupação de não incorrermos em preconceitos,em uma atitude que possa discriminar a formação emsaúde em algumas regiões deste País.

Tanto eu como o nobre Senador MoreiraMendes já registramos neste plenário uma afirmaçãodo Embaixador da Bolívia no Brasil de que há 8 milestudantes brasileiros fazendo cursos na área desaúde e outras, cursos que não estão sendo julgados,não passam por um juízo crítico, por uma análise, umcritério de qualidade. Ao mesmo tempo, na Amazôniabrasileira, temos inúmeros Municípios, de até 20 milhabitantes, onde não dispomos ainda de nenhummédico residente.

Portanto, há que se questionar qual é anecessidade e qual o melhor caminho para se tratardeste assunto. Pessoalmente, entendo que aAssociação Médica Brasileira ainda não tem claro seé o número de médicos que é excessivo ou se é apopulação que não tem condições de acesso àassistência médica. Não estamos oferecendo aomédico o necessário, o básico, para ele se inserircomo cidadão, como um profissional responsávelpela vida humana e pela qualidade de vida da nossapopulação.

Temos hoje uma carência extrema deespecialistas em áreas de grande necessidade.Podemos citar a área de geriatria. Teremos daqui apouco 34 milhões de idosos no País e não temosprofissionais preparados e nem sendo formados paraisso. Temos 32 milhões de pessoas alérgicas e não

temos especialistas preparados para atender a essaspessoas. Mais de 80% dos municípios brasileiros nãotêm a figura do cardiologista, do neurocirurgião, doendocrinologista, de uma série de médicos comespecialidades fundamentais à saúde da população.

Portanto, fazemos este questionamento à AMB,aos Conselhos Regionais de Medicina, ao ConselhoFederal de Medicina: qual é a necessidade doprofissional que temos? Qual é o perfil do profissionalque queremos colocar à disposição do povobrasileiro, que esteja inserido na sociedade e tenha acapacidade de exercer com dignidade a suaprofissão?

Não podemos olhar para o médico como umapeça de mercado. Isso é ferir toda a história da saúdepública brasileira, da saúde pública universal, daMedicina, que tem uma das mais belas histórias amostrar para a humanidade. Não podemos tratar omédico apenas como uma peça, deixando que odinheiro, a força do capital, determine quem deve ounão entrar no mercado para o exercício profissional.

Peço que a AMB faça uma reflexão muitoprofunda sobre esse assunto. Cuba trabalha com ummédico para cada 200 pessoas, e as escolas nãosofreram nenhum abalo. A área de formação médicacontinua a prosperar tranqüilamente, tentandoatender à vocação e à necessidade populacional. Onosso País tem o dever de não deixar as suas regiõesdesprotegidas, de ter uma política de grande alcancee de atenção às necessidades de saúde dapopulação e, ao mesmo tempo, de se colocar numacondição em que o dinheiro seja o menos importantena escala de valores, e o papel do salvador de vidastenha toda a atenção, para determinar uma políticaque possa mudar os indicadores de doença e demortalidade no País.

Imagino que estamos num momento muitoespecial. Não discordo do ponto de vista de quedevemos nos preocupar com o surgimento de novasescolas médicas. E a AMB é muito feliz quandoestabelece critérios muito exigentes para a aberturade novas escolas. Deveríamos talvez fechar a metadedas escolas médicas do País, porque não oferecemcondições mínimas para a formação de umprofissional qualificado e pronto para contribuir com asociedade. Mas não simplesmente fechar, pensandorestritivamente no mercado de trabalho.

O Sr. Moreira Mendes (PFL – RO) – V. Exª meconcede um aparte, Senador Tião Viana?

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Concedoo aparte ao nobre Senador Moreira Mendes.

O Sr. Moreira Mendes (PFL – RO) – NobreSenador Tião Viana, V. Exª ocupa a tribuna mais uma

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vez com a competência e o conhecimento que lhe sãopeculiares. Desta feita, traz ao debate uma questãode extrema importância para a Região Norte,sobretudo para os Estados de Rondônia, Acre,Roraima e Amapá: a dos cursos de Medicina. Osestudantes rondonienses, acreanos emato-grossenses são obrigados a procuraruniversidades bolivianas porque não encontramespaços em nossos Estados. Ainda há pouco li emmeus manuscritos os levantamentos que fiz, porquehoje pensava em proferir aqui um pronunciamentoexatamente nessa esteira de raciocínio, danecessidade da criação de cursos de Medicina, deVeterinária, de Enfermagem na Região Norte. Podeser que o Sul e o Sudeste tenham excesso demédicos – não sei, ouço informações sobre isso -,mas nós, da Região Norte, certamente temosdificuldades com essa mão-de-obra especializada.Tanto é verdade que, no exercício da atividade deParlamentar, tenho encaminhado vários pedidos deprefeituras do interior do meu Estado ao Ministério doTrabalho, com o fim de regularizar a situação demédicos estrangeiros, sobretudo peruanos ebolivianos, para prestarem serviços nessaslocalidades distantes. É um contra-senso. No Brasil,impõem-se uma série de restrições e dificuldadespara a criação dos cursos de Medicina e deVeterinária, o que contribui para que nossosestudantes busquem ensinamentos em outrospaíses; contudo, depois, esses cursos não sãoreconhecidos no Brasil. Felicito V. Exª por tratar deassunto tão relevante para nossos Estados.Finalizando, tal qual V. Exª, admito que devamos sercriteriosos na criação de novas faculdades; noentanto, não podemos fazer discriminações. Essa é aquestão que defendo. Os Estados de Rondônia, Acre,Amapá, Roraima e Tocantins devem ter o mesmotratamento dos outros Estados quanto aos cursossuperiores, notadamente quanto ao curso deMedicina.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Agradeçoao nobre Senador Moreira Mendes, que, por ser deRondônia, da Amazônia brasileira, está vivendo napele o problema da falta de profissionais para osmunicípios do interior.

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) –Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) – Concedoo aparte ao nobre Senador Ernandes Amorim.

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – SenadorTião Viana, nós, que somos da Região Norte,conhecemos de perto o problema da falta de médicos.O pior são as mães e os pais cujos filhos estudam naBolívia, que se formarão em Medicina, mas não terãoseus registros reconhecidos para trabalhar no Brasil.

Tendo em vista a evasão de reais ou dólares do Brasilpara manter os estudantes na Bolívia, já era tempo deo Governo Federal e o Ministro da Educaçãotomarem conhecimento desse fato, buscandoresolver o problema. Não sei por que há milhares emilhares de Faculdades de Direito formandoadvogados para defenderem advogados, formandoadvogados para não terem clientes. Por que não criarmais Faculdades de Medicina? Veja-se o esforço doSenador Carlos Patrocínio e de outros Senadores,desde que ingressei nesta Casa, para instalarem umaFaculdade de Medicina no Tocantins. Será que háalguém preocupado com a saúde, com a educação?Será que o Ministro não enxergou isso? Na RegiãoNorte, existem Municípios que não têm nenhummédico. É preciso trazê-los de outro local. Se emRondônia, por exemplo, há médicos servindo a trêscidades, imaginem nos outros Estados! Ainda assim,ninguém toma providências. Felicito V. Exª por abordareste assunto. Tomara que os responsáveis pela área daEducação ouçam essas reclamações e nos atendam!Muito obrigado.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT – AC) –Agradeço-lhe o aparte, eminente Senador ErnandesAmorim. Concordo plenamente com V. Exª. Talvez ocaminho inicial que se deva tomar neste País junto aoMinistério da Educação, à AMB e ao ConselhoFederal de Medicina seja estabelecer o motivo queleva oito mil brasileiros, forçados ou estimulados pelomercado de trabalho, a fazerem curso de formaçãosuperior na Bolívia ou em outros países da AméricaLatina.

O segundo ponto seria definir o nível dequalificação desse profissional que retorna ao País,como também o critério de tratamento adotado paraos médicos dos países vizinhos que atuam naAmazônia e noutros Estados brasileiros sem oacompanhamento rígido dos nossos Conselhos e dasentidades públicas brasileiras.

O terceiro ponto seria estabelecer critérios deseleção e de qualificação que nos permitissemavaliar, de fato, a qualificação atual das escolas deensino médico no Brasil.

Feito isso, poderíamos até discutir a abertura denovas escolas. Parece-me que o procedimento deapenas frear a abertura de novas instituições émuito equivocado e precipitado, tratando oensino apenas como peça de mercado,atendendo talvez ao corporativismo médico.Além disso, isso poderia ferir profundamente osEstados que começam a ter personalidade própria,a afirmar uma postura pública, regional e aténacional.

Dessa forma, pelo respeito histórico que tenhopela Associação Médica Brasileira, pelo Conselho

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Regional de Medicina de São Paulo e pelo ConselhoFederal de Medicina, faço um apelo para que hajadiscussão mais aprofundada sobre esse assunto.Precisamos encontrar um ponto comum para nãodiscriminar e não proibir a realização de sonhos degrande parte da população brasileira. Muitos almejamser, um dia, um profissional à altura de seus direitos edas liberdades que fazem parte da luta e da formaçãosocial deste País, mas ainda não foramcontemplados com essa possibilidade.

Para terminar, deixo o exemplo de figurarenomada da Medicina deste País – o Professor AdibJatene. Se não fosse sua condição própria e familiarque lhe permitisse sair, quando criança, de umseringal do interior do Acre, lá do Município de Xapuri,e chegar a uma escola médica em São Paulo, talveznão tivéssemos o avanço que tivemos na cardiologiabrasileira, porque ele não poderia ter sido médico.

Assim, discriminar, não; ter critérios dequalificação, sim; e tratar com a mais absolutaseriedade, solidariedade e igualdade todos osEstados e regiões do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Durante o discurso do Sr. Tião Viana,o Sr. Ademir Andrade, 2º Vice-Presidente,deixa a cadeira da presidência, que éocupada pelo Sr. Leomar Quintanilha.

O SR. PRESIDENTE (Leomar Quintanilha) –Concedo a palavra ao nobre Senador AdemirAndrade, por cessão do nobre Senador CasildoMaldaner.

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB – PA.Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão doorador.) – Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, osfuncionários do Banco do Estado do Pará – Banpará– voltam a viver um momento difícil, em virtude darecente implantação do Programa de DesligamentoVoluntário e Incentivado – PDVI. Portanto, da tribunadesta Casa, manifesto publicamente a todos eles aminha solidariedade.

No ano passado – todos aqui se recordam -, foitravada verdadeira batalha para se conseguirem doisempréstimos que permitiriam a capitalização doBanco do Estado do Pará, batalha que culminou coma aprovação, pelo Senado Federal, de um projetonesse sentido para aquela importante Instituiçãofinanceira de meu Estado.

Os funcionários do Banpará contribuíramdiretamente para a solução do problema. No início de1998, aceitaram a redução de 20% de seus saláriosdurante um ano, pois, segundo argumentos daDireção da Instituição àquela época, esta seria aúnica forma de obter o equilíbrio exigido pelo Banco

Central do Brasil para conceder o PROES e,conseqüentemente, a capitalização do Banpará, sema demissão de pelo menos 300 integrantes de seuquadro de pessoal.

Sou conhecedor da árdua batalha entãotravada, pois tive participação direta e decisiva noprocesso, colocando gabinete e assessoria àdisposição das entidades envolvidas na luta, quevieram a Brasília para defender a capitalização doBanco e o fortalecimento da Instituição. Por essarazão, neste momento não posso deixar de declararminha preocupação com as recentes medidasadotadas pelo Governador do Pará.

Em 21 de setembro deste ano, apenas novemeses após a aprovação do projeto de capitalizaçãodo Banco pelo Senado Federal, em 15 de dezembrode 1998 – último dia da sessão legislativa do ano –,eis que o sacrifício dos funcionários é“recompensado” com a proposta do Programa deDesligamento Voluntário Incentivado, PDVI, com oobjetivo textualmente declarado de “reduzir asdespesas administrativas do Banco, de modo aassegurar a manutenção do seu equilíbrio financeiro,diante do cenário de redução de taxas de juros”.

No momento da luta, em fins de 1998, mais dequarenta mil paraenses subscreveram umabaixo-assinado em defesa da capitalização e darecuperação do Banpará. Talvez não o fizessem sesuspeitassem que, em tão breve tempo, a diretoriatomaria a decisão de reduzir o seu quadro de pessoal.

Srªs e Srs. Senadores, sabemos muito bem oque isso significa. Na atual conjuntura, essa manobraservirá para arregimentar dezenas ou até mesmocentenas de pais e mães de famílias que já estão emdificuldades – passando pelas agruras docongelamento e posterior redução dos seus própriossalários em 20% –, para depois jogá-los na rua daamargura. Seguramente, esse PDVI vai acabarfuncionando como mais um indutor do já preocupantee crescente índice de desemprego registrado emnosso País.

Sabemos também que a grande maioria dosque aderiram aos PDVs anteriores implantados emdiversas outras instituições financeiras públicas noPaís inteiro arrependeu-se amargamente. Numprimeiro momento, a demissão parece ser voluntária,mas, depois, começa a haver pressão sobre osfuncionários, que acabam aderindo.

O que está ocorrendo no Banpará é a repetiçãoda experiência traumática já vivida pelos funcionáriosdo Banco do Brasil e de outras instituições do gênero.Trata-se de uma estratégia que também vem sendoimplantada em outros Bancos estaduais. Osconsultores financeiros contratados pelo Banpará são os

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mesmos do Banco do Estado do Maranhão – que, porsua vez, também lançou o PDV no final de setembro –e acredito que sejam os mesmos indicados peloBanco Central do Brasil.

Sr. Presidente, a única proposta para a soluçãodos problemas dos Bancos estaduais tem sido aadoção de Planos de Demissão Voluntária, PDV. Osque apresentam propostas tão “racionais” nãoconseguem avaliar convenientemente a importânciadessas instituições para os Estados. Negam-se aconsiderar o relevante papel social desempenhadopor elas.

Os PDVs ora em curso são o prenúncio do fimdessas instituições financeiras estaduais que levarame levam serviços e créditos a localidades onde não háum Banco privado sequer, promovendo seudesenvolvimento.

Em meu Estado, não se pode negar o papelsocial desempenhado pelo Banco do Estado do Paráao longo de sua existência.

Todos sabemos que os funcionários cooptadospelos PDVs, que se iludem com a miragem de setornarem patrões do dia para a noite, muitas vezes, sãoprecisamente aqueles que menos oneram a folha depagamento. Na maioria dos casos, o funcionárioreceberá uma quantia irrisória e não conseguirá, comomentirosamente se apregoa, montar um pequenonegócio para sobreviver e garantir o sustento de suafamília.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, norecém-lançado programa do Banpará, há umagravante em relação aos PDVs anteriores: apresença de algumas condições claramentecoercitivas. Dessa vez, quem aderir ao Plano deDemissão Voluntária Incentivada – que nada tem devoluntária – só recebe os incentivos se abrir mão dereclamar qualquer direito na Justiça. O atualrequerimento de adesão, anexo à Portaria nº 045/99,faz o funcionário declarar-se “ciente e de pleno acordocom os dispositivos expressos no respectivo programa ede pleno acordo com seus termos, nada tendo a pedirem juízo ou fora dele contra o Banpará” e dando-se“por inteiro satisfeito”.

Nesta oportunidade, Sr. Presidente, queromanifestar o meu desacordo em relação à decisãotomada unilateralmente pela direção do Banpará,cobrando um posicionamento oficial do Governo emdefesa dessa instituição. Sei que uma reestruturaçãoda política de pessoal do Banpará precisa ser feita,mas isso pode ocorrer sem o desmantelamento desua estrutura administrativa e do grande patrimônio queseus recursos humanos representam.

No período de crise em que vivemos, conseguir umnovo emprego é verdadeiro milagre. Por trás das novas

medidas propostas pela direção do Banco, estão,sem dúvida, as pressões das autoridades federais,que preconizam a privatização das instituiçõesfinanceiras estaduais e os interesses do setorprivado, ávido por lucros.

Ao concluir o meu pronunciamento, manifestouma vez mais a minha solidariedade aos funcionáriosdo Banpará e apelo ao Governador Almir Gabriel,cobrando um posicionamento do Governo do Estadoem defesa dos funcionários daquela instituição tãoimportante para o povo paraense.

Se eu fosse o Governador, Sr. Presidente, nãopermitiria que o Banco do Estado do Pará reduzisse asua estrutura e se fechasse, como fez recentementeuma agência no Distrito Federal – uma agência própria–, sem dar oportunidade aos funcionários que aquiestavam. Pensaria em fazê-lo crescer, projetar-se,criando postos do Banco associados a prefeitos devários municípios do Estado, colocando ao menos umfuncionário do Banco à disposição da comunidade queprecisa de crédito, à disposição principalmente daquelecrédito do Fundo de Desenvolvimento Estadual. Àsemelhança dos fundos constitucionais que criamos naesfera federal, no Estado do Pará existe também umfundo constitucional chamado Fundo deDesenvolvimento Estadual, que corresponde a umaparcela da arrecadação do ICMS e deve ser guardadapara aplicação no setor produtivo. Ao invés de financiaro setor produtivo, o Governo usa esse recurso parafazer convênios com prefeituras que não realizamsuas obras.

O GovernodeveriaampliaroespaçodeaçãodoBancodoEstado do Pará e colocar, em associação ou em convênio comcada uma das prefeituras do nosso Estado, pelo menos, umfuncionário do Banco, mesmo trabalhando na sede daprefeitura, para, junto ao sindicato de trabalhadoresrurais e às associações e cooperativas existentes nosvários municípios de nosso Estado, trabalhar naelaboração de projetos que pudessem financiar o seudesenvolvimento, a sua agricultura, a sua pesca,trazendo mais progresso e mais desenvolvimento,criando a agroindústria nos vários municípiosparaenses. O Governador deveria, sim, ampliar a açãodo Banco e não buscar simplesmente um Plano deDemissão Incentivada que acarretará a uma reduçãodrástica dos quadros do Banco e na impossibilidade deacesso a crédito para vários segmentos existentes em nossoEstado.

O Banco do Estado do Pará deveria voltar a financiaro FNO, delegação sua antes de sê-lo do Banco daAmazônia, para levar aos municípios onde não existiao Banco da Amazônia, o FNO aos nossostrabalhadores. Isso foi suspenso. O Banco do Estado doPará deveria administrar os recursos do BNDES, ser

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um agente repassador dos recursos do BNDES.E nem isso ele teve coragem de fazer, porque nãoquis assumir o risco da inadimplência de quem tomaempréstimo. Não quer contratar técnicos; não querfazer acompanhamento dos empréstimos nem análisetécnica de viabilidade econômica dos projetos que sãopropostos ao BNDES. Tudo isso traz, de certa forma,uma paralisação no desenvolvimento do nossoEstado.

O Governador do Pará e a direção do Banco doEstado do Pará deveriam pensar dessa forma e nãocriar um programa como o PDVI, ummal-agradecimento ao esforço enorme que osfuncionários do Banpará fizeram na luta pela aprovaçãode dois empréstimos que aqui foram aprovados em finalde 1998.

Espero que a direção do Banco repense essasituação, que os funcionários não adiram a esseprograma e que o Banco pense no seu crescimento eno seu desenvolvimento, com a possibilidade decontratar mais funcionários e não de demitir os que láestão.

Era a manifestação que eu queria fazer, Sr.Presidente.

Muito obrigado.O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO) – Sr.

Presidente, há muito pedi cinco minutos para fazeruma comunicação e ninguém deu satisfação.

O SR. PRESIDENTE (Leomar Quintanilha) – V.Exª está inscrito como orador. Eu não tinhaconhecimento da solicitação de V. Exª.

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO) – Pediao Presidente que não me colocasse como orador.

O SR. PRESIDENTE (Leomar Quintanilha) –Concedo a palavra ao Senador Nabor Júnior.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB – AC Pronunciao seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srs.Senadores, a Argentina elegeu ontem seu novoPresidente, para substituir Carlos Menem, quecumpriu dois mandatos consecutivos.

Os números oficiais ainda não estão fechados,mas as últimas pesquisas preconizam a obtenção damaioria absoluta pelo candidato Fernando De La Rúaainda em primeiro turno, com pouco mais de 50% dosvotos. Essa vitória foi reconhecida pelo própriogovernante atual, que ligou a seu provável sucessorontem mesmo, à noite, dando-lhe os parabéns peloresultado.

No próximo dia 31, será a vez de o Uruguaitambém eleger um novo governante, concluindo assucessões na região platina.

Ambos os eventos têm grande interesse para oBrasil, pois Argentina e Uruguai são paísesimportantes dentro do contexto do Mercosul,instituição na qual repousam todos os projeto de

progresso social e desenvolvimento econômico docontinente. E existem, de fato, problemas sérios,carentes de soluções profundas e urgentes, parareavivar o sonho de integração do chamado Cone Sule países vizinhos, sonho que tem na ComunidadeEuropéia sua máxima inspiração.

Todos os despachos das agênciasinternacionais e as matérias dos jornalistasbrasileiros, especialmente enviados à Argentinapelos grandes jornais e emissoras de TV, falam datranqüilidade que marcou o processo eleitoral, nãoapenas na capital, mas também no interior do país,onde praticamente não se registraram distúrbios ouatos de violência por parte das facções em disputa.

A campanha culminou com a ausência debandeiras e de panfletos nas principais ruas deBuenos Aires, e o reforço da vigilância policialrepresentou apenas um ato de cautela e deprudência.

Isso denota o amadurecimento das instituiçõesnaquele país, tão maltratado pelas contradiçõesinternas nas três décadas passadas. O povo já seacostumou a votar — e o fez em ordem etranqüilidade, imbuído da importância do momentovivido pela Argentina e toda a América do Sul.

O Presidente do Brasil foi o primeiro Chefe deEstado a cumprimentar o novo governante argentino.Fernando Henrique Cardoso passou o domingorecebendo informações do Itamaraty sobre a votaçãoe as pesquisas de boca-de-urna e telefonou paraFernando de La Rúa pouco após as 20horas, horaoficial de Brasília, tão logo se confirmou a suatendência de vitória já no primeiro turno.

Nessa presteza, vemos uma demonstração dointeresse devotado à parceria com os vizinhos do sul,a qual tem sido dificultada em virtude de algumasatitudes assumidas pelo Presidente em final demandato, Carlos Menem, de priorizar as relações deseu país com os Estados Unidos. Com isso, o Sr.Menem tentou furar o bloqueio do Nafta e entrar,sozinho, no mercado norte-americano, canadense emexicano.

A diplomacia brasileira, considerando todosesses aspectos, espera ver concretizados oscompromissos do Sr. Fernando de La Rúa de nãoprosseguir na política de alinhamento automáticocom Washington e de voltar-se para a integraçãoregional, indo além do simples intercâmbio mercantil,para desenvolver os projetos de infra-estruturacomuns, como as conexões rodoviárias, além daredução de barreiras protecionistas que tantoprejudicam o livre intercâmbio de produtosessenciais.

Ou seja, existem perspectivas concretas de que asdivergências não mais se converterão automaticamenteem crises; ao contrário, todas as palavras do futuro Pre-

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sidente indicaram sua intenção de fortalecer o diálogo,impedindo que disputas em torno de questõesespecíficas se transformem em impasses litigiosos.

Em contrapartida, se efetivamente abandonar oalinhamento automático com os Estados Unidos,Fernando de La Rúa terá de enfrentar os portentososdesafios de resolver o grande impasse: manter aestrutura dolarizada de todos os fatores econômicos emseu país, onde a paridade entre o peso e o dólargarantiu o fim da inflação, por meio do chamado PlanoCavallo, e, ao mesmo tempo, devolver aos produtos eserviços argentinos uma competitividade há muitoperdida, principalmente depois que, no primeirosemestre de 1999, o Brasil promoveu amaxidesvalorização do Real e, com isso, provocou umainegável alteração nos sentidos do fluxo comercialentre nossos dois países.

Não basta gritar ameaças, nem prometerretaliações; deve-se ter paciência, objetividade eespírito construtivo para desatar os nós que tanto têmembaraçado o desenvolvimento do Mercosul. Éimperiosa a união em torno das identidades e daquiloem que nos complementamos; existem maisaproximações que rejeições, nos dois lados dafronteira.

Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, a eleiçãoargentina é um fato novo, ainda em processo deconsolidação, o que exige, portanto, muita cautela emsuas análises. O chamado “efeito Orloff”, que prevê arepetição no Brasil de tudo o que ocorre no vizinhoplatino, tem sido uma constante nos últimos anos; porisso, devemos estar atentos às primeiras atitudes donovo Presidente, pois o que tivemos até agora deveser tratado apenas como manifestação de intençõese promessas de campanha.

A partir de hoje, tudo o que o Sr. Fernando de LaRúa disser terá o respaldo que lhe conferiu seu povo— e deverá ser examinado pelo Brasil conforme seuspróprios interesses e projetos.Da mesma forma, até opróximo domingo, acompanharemos os últimospassos da campanha e a realização das eleiçõesuruguaias, que, tradicionalmente, são maisapaixonadas e emotivas que as de seus vizinhos.

Jamais esqueçamos que o futuro do Brasil estávinculado, indissoluvelmente, aos destinos daArgentina, Uruguai e demais parceiros do Mercosul,porque, sem uma comunidade econômica forte, aAmérica do Sul continuará sendo a região dodesencontro, da estagnação econômica e do atrasosocial.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Durante o discurso do Sr. Nabor Júnior,o Sr. Leomar Quintanilha, deixa a cadeira da

presidência, que é ocupada pelo Sr. MoreiraMendes.

O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) –Concedo a palavra ao nobre Senador ErnandesAmorim, para uma comunicação inadiável, pelo prazode cinco minutos, nos termos do que dispõe o art. 14,VII, do Regimento Interno.

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO. Parauma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.)– Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na verdade,ainda há pouco, falei sobre o desconto nos saláriosdos aposentados. Eu, que sou contra esse desconto,estive pensando: por que não criar, nesta Casa, umacomissão para fazer um levantamento, em todo oBrasil, dos imóveis do Governo Federal, do próprioINSS? Eles poderiam ser vendidos ou arrendados.Com esse dinheiro — mais de R$1 bilhão seriamlevantados —, o Presidente Fernando HenriqueCardoso deixaria de fazer a cobrança aosaposentados.

Enquanto existirem juros altos, ou os “caveiras”que vivem da cobrança desses juros ao Governo, ouesse sistema financeiro mal administrado no País, nãoadiantará cobrar dos aposentados, porque não valeránada. Quando fizerem essa cobrança, virão mais jurosaltos, e os “caveiras”, que comem sem trabalhar eimpedem a produção e o desenvolvimento do País,estarão, dia e noite, corroendo os cofres da Naçãobrasileira.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso, parapagar juros, não deveria cobrar do cidadão querecebe R$700,00 mensais de aposentadoria; a saídanão seria essa. Deveria vender os imóveis, até tomarcoragem e acabar com o aumento dos juros. Tenhocerteza de que há outros caminhos, mas falta coragem doPresidente da República; falta homem sério na áreaeconômica, com projetos diferentes desses que estãosendo apresentados. Por isso, não devemos sacrificar aclasse dos aposentados.

Outro assunto é o encaminhamento de umrequerimento meu à Casa — também endereçado aoGoverno do Estado de Rondônia, ao Tribunal de Contas doEstado de Rondônia, ao Ministério Público do Estado e àAssembléiaLegislativa—paraquemesejamapresentadasacópia das notas técnicas do contrato de abertura de créditopara o Estado de Rondônia, autorizado a partir da Resoluçãodo Senado Federal nº 27, de 16.04.98, sobre o termo dererratificação do objeto do aviso do Ministério daFazenda.

Por esse contrato, do qual V.Exª, Sr.Presidente, temconhecimento, estamos sofrendo, Senador Moreira Mendes, asconseqüênciasdamaneiracomoaáreaeconômicaatropelouestaCasa.OSenadoconcedeuumaautorizaçãodeaberturadecrédito,mas a área econômica não só emprestou o dinheiro

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como criou um novo termo técnico. Ultrapassando aautoridade desta Casa, aumentou a dívida do Estadode 160 milhões para aproximadamente 600 milhões,sem autorização.

Este projeto já deveria ter sido votado, masainda não o foi, e requeremos seu retorno àComissão de Assuntos Econômicos, para lá, nobreSenador, junto a nossos colegas Senadores,mudarmos, criarmos novos dispositivos.

O Governo Federal quer cobrar do Estado deRondônia mais de R$3 milhões ilegalmente. Contudo,não houve autorização, tampouco essefinanciamento foi aprovado por esta Casa. Mesmoassim, o Ministério da Fazenda quer que o Estado deRondônia pague essa dívida, o que não podemospermitir. Para tanto, a Bancada de Rondônia pedirá oapoio dos outros Srs. Senadores. Já somosabandonados, perseguidos, menosprezados emtodas as atitudes do Governo Federal e da áreaeconômica. Não podemos receber esse castigo; nemrecebemos nenhum benefício. A dívida do Estado deRondônia aumentou de 160 para 600 milhões. Numacrise como esta, querem que um Estado pobre comoRondônia tire três milhões e pouco para pagar umerro do Banco Central, do Ministério da Fazenda, daárea econômica federal.

É preciso que o Governo Federal busque, nasua equipe econômica, colocar pessoascompetentes, que analisem tudo o que estáocorrendo no País. São distorções e mais distorções,juros altíssimos que serão pagos pelo povo brasileirosimplesmente pela incompetência e inércia doPresidente da República ao buscar uma saída paraeste País.

Presidente Fernando Henrique, não éalimentando os agiotas, como Vossa Excelência o fazdesde o mandato passado até hoje, que vai tirar oBrasil da miséria. Não é assim que vamos exportar,dar emprego, melhorar. Não é com o dinheiro dosaposentados que vamos pagar o buraco criado pelosjuros altos. Não há como fazer dinheiro para pagaraos agiotas, aos caveiras que querem acabar comnosso País.

Sr. Presidente, peço que considere como lido odiscurso atinente a este assunto. Oxalá a equipeeconômica do Presidente Fernando HenriqueCardoso tenha um pouco mais de responsabilidadepara orientá-lo, pois o Presidente, que talvez nãotenha formação para cuidar dessa área, também nãoteve competência para dela tratar. Que ponha, então,gente responsável na área econômica para que nãosacrifique o povo brasileiro! Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) –Concedo a palavra ao eminente Senador Romero

Jucá pelo tempo restante da sessão, isto é, seisminutos.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR. Pronunciao seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr.Presidente, Sras e Srs. Senadores, temos discutidoaqui neste plenário a questão indígena brasileira e,muitas vezes, a atuação da própria Funai – FundaçãoNacional do Índio.

Venho hoje ao plenário registrar que estouapresentando um projeto cujo objetivo é procurarmodernizar a atuação do Governo brasileiro noassunto. Fui Presidente da Funai por três anos, nagestão de três Ministros distintos, quando o hojeSenador José Sarney era Presidente. Vi no órgão aimportância de proteger, articular a questãoindígena, atuando sobre ela.

Muito tempo já se passou de lá para cá, e hoje arealidade e a conjuntura da atuação dessa questãomudou. Se, no passado, era importante a Funai fazerintervenções diretas, quando agia isolada e sozinhaem cerca de 8% do território nacional, chegou a horade inverter esse pólo de atuação; chegou a hora de aFunai induzir e buscar a participação da sociedade –o que já tem, de alguma forma, acontecido.

Temos visto várias organizações não-governa-mentais e segmentos religiosos atuando na questãoindígena. Aprovamos uma lei neste Senado que iráabrir a mineração em terra indígena, de formacontrolada. Esse projeto está tramitando celerementena Câmara dos Deputados. Vimos aqui, na realidadeatual, a questão da saúde indígena passar da Funaipara a atuação da Fundação Nacional de Saúde.Estamos vendo e discutindo, também, a questão danecessidade de a educação indígena ser, de certaforma, fortalecida, através do Ministério da Educação.Estamos discutindo no Ministério da Agricultura e noMinistério da Regularização Fundiária a questão doProcera e Pronaf para as comunidades indígenas,como uma forma de atuar, fomentar e apoiar aprodução nas comunidades indígenas.

Chegou a hora, Sr. Presidente, de a Funai viraruma entidade que articule, agregue, congregue,apóie e busque a atuação da sociedade. Por isso,estou apresentando um projeto nesta semana emque proponho a transformação da Funai – FundaçãoNacional do Índio – na Agência de Proteção eDesenvolvimento Indígena, tendo a sigla de Apodi.Por que isso? Porque entendo que é hora de a Funaiarticular a atuação desses diversos segmentos.

O Sr. Agnelo Alves (PMDB – RN) –Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR) – Ouçoo nobre Senador Agnelo Alves.

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O Sr. Agnelo Alves (PMDB – RN) – SenadorRomero Jucá, V. Exª está apresentando uma idéiabrilhante. Espero que seu projeto tenhaconseqüências no Senado, no Congresso. Queroinformar a V. Exª que, por conseguinte, vou tambémmandar estudar o problema da Fundação Nacional deSaúde, hoje um mero cabide de emprego, deprotecionismo político e de corrupção. Vou apresentarum projeto transformando a Fundação Nacional deSaúde também numa agência nacional de saúde,para ver se, assim, com o apoio das ONGs e dasociedade brasileira, teremos uma melhoriaconseqüente de uma fundação que hoje cuida edescuida de água, de abastecimento de água, deconstrução de casas, de malária e de todo tipo deinfecção. E, na realidade, o Brasil inteiro sabe que aFundação Nacional de Saúde dedica-se hoje, única eexclusivamente, ao protecionismo político dosagentes dos Estados e dos Municípios. Muitoobrigado.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR) –Agradeço o aparte de V. Exª, Senador. E queroregistrar que, com a experiência que tenho daquestão indígena e da Amazônia, já discuti com oMinistro da Justiça e com a equipe técnica doMinistério da Justiça exatamente a maneira detransformar a Funai na Apodi, nessa agência queentendo ser um caminho importante para articular aquestão dos recursos naturais, a participação deentidades não-governamentais, enfim, a questão dopatrimônio indígena e da atuação do Governobrasileiro. Modernizando a Funai, dando estabilidadea seus dirigentes, criando uma estrutura ágil,pequena e moderna, fazendo com que os recursos daFunai sejam aplicados na ponta, nas comunidades,nas áreas indígenas, e não na máquinaadministrativa, teremos condição de articular e deprestar um serviço importante aos índios brasileiros.

O Brasil tem uma excelente legislação deproteção indígena. O que falta é condição material, éencaminhamento político para efetivamentedirecionar uma ação mais moderna, como tenho dito,em benefício da população indígena brasileira.

Deixo aqui a minha proposta da criação daAgência de Proteção de Desenvolvimento Indígena –Apodi – ou da transformação da Funai neste órgão.Estou apresentando o projeto, vou discuti-lonovamente no Ministério da Justiça e espero dar umacontribuição efetiva para que a causa indígena, que játem tido atenção do Governo brasileiro, sejareforçada, ganhando a população indígena umamelhor atuação nas áreas de saúde, educação, depreservação de recursos naturais, de preservaçãoambiental e, principalmente, de articulação para

auto-afirmação das populações indígenas no nossoPaís.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) – Sobre

a mesa projeto de lei do Senado que passo a ler.

É lido o seguinte:

PROJETO DE LEI DO SENADONº 588, DE 1999

Dispõe sobre a compensação dedívidas do Distrito Federal com a União.

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica ao Poder Executivo autorizado a

abater, na dívida fundada do Distrito Federal com aUnião, mediante compensação, os títulos emitidospelo Governo do Distrito Federal para pagamento deprecatórios com a finalidade de cobrir despesas depessoal nas áreas de saúde, educação e segurançapública.

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de suapublicação.

Justificação

Em decorrência de mandamento constitucional,art. 21, XIV, na redação dada pela EmendaConstitucional nº 19/98, a União tem sido responsávelpela prestação de assistência financeira ao DistritoFederal para execução de serviços públicos, por meiode fundo próprio.

Essa contribuição tem se concretizado nas áreasda educação, da saúde, e da segurança pública.Independentemente, no entanto, da normaconstitucional, esses repasses tem ocorrido desde 1956,quando o Presidente Juscelino Kubistchek de Oliveiraincluiu-os na legislação que fundamentou a criação deBrasília.

No entanto, os recursos repassados nãocobrem pagamento de precatórios para pagamentodos quais o Governo do Distrito Federal teve queemitir títulos respectivos.

Ainda, porém, que o GDF tenha emitido taistítulos, com o intuito de cumprir decisão judicialtransitada em julgado, os recursos respectivos,que se destinam ao pagamento de pessoal nasáreas de saúde, de educação e de segurançapública, continuam sendo de responsabilidadeda União.

É de se registrar, ainda, que tais despesas que sepretende compensar não foram geradas pelo atualGoverno do Distrito Federal, mas, ao contrário,decorrem de emissões de Administraçõesanteriores, que vem se acumulando desde entãode maneira preocupante.

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Este projeto tem, pois, a finalidade de mitigar talsituação, propiciando ao Governo do Distrito Federala solução deste problema angustiante.

À consideração de Vossas Excelências.Sala das Sessões, 25 de outubro de 1999. –

Senador Luiz Estevão.

(Às Comissões de Constituição,Justiça e Cidadania, e de AssuntosEconômicos, Cabendo à última a decisãoterminativa.)

O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) – Oprojeto lido será publicado e remetido às Comissõescompetentes.

O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) – OsSrs. Senadores Ernandes Amorim e José Jorgeenviaram discursos à Mesa, para serem publicadosna forma do disposto no art. 203 do RegimentoInterno.

S. Exªs serão atendidos.O SR. ERNANDES AMORIM (PPB – RO) – Sr.

Presidente, Sras e Srs Senadores, estouencaminhando ao atual Governador de Rondônia, aoTribunal de Contas do Estado de Rondônia, aoMinistério Público e à Assembléia Legislativa, asprovidências que couberem, cópia de Notas Técnicassobre contrato de abertura de crédito para o Estadode Rondônia, autorizado a partir da Resolução doSenado Federal n.º 27, de 16.04.98; e sobre termo dere-ratificação objeto do Aviso n.º 936/MF, de 28.12.98,que, modifica prazo e valor de amortização semdeliberação do Senado Federal. Embora o dispostono art. 1.º da Resolução SF nº. 69, de 1995,compreenda tal aditamento como operação decrédito subordinada às suas normas, dentre as quais,nos termos de seu art. 13, o encaminhamento aoSenado Federal, pelo Estado, de pedido deautorização para a realização das operações decrédito de que trata. O que não aconteceu.

Informo que expirou o prazo fixado para oexercício da autorização concedida naquelaResolução, de até 270 dias contado a partir da datade sua publicação, sem que fosse aprovado noSenado Federal o contrato de refinanciamento quetramita sob o Ofício S/30, de 1998, cuja eficácia écondição de validade do contrato de abertura decrédito, nos termos de sua cláusula sétima.

Ainda sobre o contrato de abertura de crédito –objeto da autorização que caducou sem implementode condição suspensiva, e sua re-ratificação semautorização do Senado Federal, que autoriza a Uniãosacar das contas bancárias do Estado cerca de 3milhões e 800 mil reais mensais -, cumpre registrarque compulsando a legislação estadual, a Lei n.º 737,de 11.08.97, autoriza o Poder Executivo a contrairfinanciamento nos termos da Medida Provisória

1556-12, de 10.07.97, e que apenas com a MedidaProvisória n.º 1556-14, de 04.09.97, foi inseridaalteração incluindo instituição financeira sob regime deadministração especial entre aquelas cuja extinção outransformação em instituição não financeira pode serfinanciada pela União. Caso das instituições financeirasdo Estado de Rondônia, e da operação objeto doreferido contrato.

Também encaminho cópia do Ofício DIRET-98/01472, de 04.06.98 (Aviso n.º 484/MF, de 10.06.98),cujo item 4 informa que o Banco Central não adiantourecursos ao pagamento das obrigações da instituiçãosubmetida ao Regime de Administração EspecialTemporária para seu saneamento tempestivo,conforme dispõe o Decreto – Lei n.º 2321, arts. 9º, §1º ; 10º ; e 14, § 2.º ;

E, ainda, cópia do Ofício DIRET-98/ 2342, de28.08.98 (Aviso n.º 753/MF, de 05.10.98), sobreprovidências adotadas em razão do Ofício n.ºP/814/97, de 11.11.97, da Assembléia Legislativa doEstado de Rondônia, que encaminha o RelatórioFinal da Comissão Parlamentar de Inquéritodestinada a investigar as possíveis causas quemotivaram o agravamento da situação financeira doBanco do Estado de Rondônia – BERON, nos últimos3 anos. Bem como dimensionar a responsabilidadedo Banco Central.

Conforme o item 5 do referido Ofício DIRET-98/2341, de 1998, as obrigações do Banco do Estadocresceram de 146,5 milhões de reais para 502,6milhões de reais, da decretação do regime especialaté março de 1998. E os itens 2 e 3 desse Avisoexplicam o agravamento da situação financeira dasinstituições do Estado de Rondônia durante a gestãodo Banco Central porque as causas de suadecretação foram mantidas, e não se procedeu aosaneamento tempestivo previsto no Decreto-lei n.º2321, de 1987 – que institui e regula o regime deadministração especial temporária que o BancoCentral pode optar decretar, ao invés de fazer aintervenção prevista na Lei n.º 6.024/74. Pois asações recomendadas estiveram subordinadas aprocedimentos e iniciativas do Governo do Estadoviabilizadas com o cumprimento de formalidadeslegais estabelecidas pela Medida Provisória n.º1.702-26, de 30.6.98, no âmbito do Programa deIncentivo à Redução da Participação do Setor Públicoestadual na Atividade Bancária – PROES. Emboraaquele Decreto – Lei, recepcionado como leicomplementar, não possa ser alterado por MedidaProvisória.

Dessa forma Sr. Presidente, com a orientaçãoprestada nas Notas Técnicas, e os Avisos Ministeriaisque responderam requerimento de earada, no âmbitode sua competência.

Era o que eu tinha a dizer.

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 439

Muito obrigado.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) – Sr. Presidente,Srªs. e Srs. Senadores, a cultura brasileira, e maisespecificamente a literatura e a poesia, foi fortalecida eengrandecida ao longo dos últimos cinqüenta anos pelacontribuição de um grande homem que nasceu para essefim, e que morreu sem deixar lacunas ou imperfeições nasua missão de iluminar o povo desta Nação. Infelizmente,já não podemos desfrutar da sabedoria e da arte que ogrande poeta e escritor João Cabral de Melo Neto teve agenerosidade de transmitir a todos aqueles que souberamprover-se de humildade e um espírito aberto capazes desorver cada palavra da sua poesia.

João Cabral de Melo Neto, o diplomata cujaprofissão exerceu por 40 anos, era, acima de tudo, umpoeta preocupado com a construção literária, suasformas e imagens, sim, mas voltado também para osproblemas sociais que atormentam a gente pobredeste rico e grande Brasil, em particular, do NordesteBrasileiro, voltando grande parte de sua obra paradenunciar esse triste estado de coisas, o que se vêprincipalmente no antológico Morte e Vida Severina.

Nascido em Recife, no dia 09 de janeiro de1920, filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de DonaCarmem Carneiro Leão, João Cabral, apesar daorigem metropolitana, tem, do interior, as melhoresmemórias da sua infância onde passou os seus 10primeiros anos, convivendo com engenhos de açúcare plantando aí as primeiras sementes para a carreirade poeta. Foi nessa época que travou suas primeirasrelações com a atração e o fascínio que as palavras ea ficção exercem sobre o espírito humano, ao ler,pequenino ainda, histórias para os trabalhadores dacana que se reuniam todos à sua volta, atentos echeios de espanto com as narrativas dos versos decordel recitados pelo menino. Cinco décadas depois,relembraria, com saudades, essa fase de inocência,ao produzir, no final dos anos 70, o seguinte poema:

“No dia-a-dia do engenho,toda a semana, durante,cochichavam-me em segredo:saiu um novo romance.E da feira do domingoMe traziam conspirantesPara que lhes lesse e explicasseUm romance de barbante...”

Voltando ao Recife, em decorrência deperseguições políticas à família, João Cabral estudouno Colégio Marista até os 15 anos de idade, quandoconcluiu o curso secundário. É dessa época,inclusive, uma das suas lembranças mais felizes: a

conquista do campeonato juvenil de futebol, jogandopelo Santa Cruz Futebol Clube.

Aos 17 anos começou a freqüentar, no CaféLafayette, o círculo da intelectualidade recifense deentão, onde conheceu personalidades como o pintorVicente do Rego e os escritores Ledo Ivo, Gastão deHolanda e Willy Levin, sendo por este últimoapresentado a Carlos Drummond de Andrade e aoutros escritores e intelectuais no Rio de Janeiro.

Aliás, Carlos Drummond foi, reconhecidamente,uma inspiração, uma influência e uma grandeamizade. Dizia Cabral, numa entrevista ao Jornal deBrasília, quando perguntado em que medida a poesiade Carlos Drummond foi importante para a sua própria:“Foi a poesia de Carlos Drummond que me convenceude que eu seria capaz de escrever”. E essa influênciafez sentir-se no início da obra de Cabral, nos seusprimeiros livros, tendo recebido uma herança muitogrande do antilirismo coloquial do poeta mineiro, mas, apartir dos livros seguintes, ele passou a cunhar o seupróprio caminho e o seu próprio estilo literário.

E não se pode dizer que, àquela época, JoãoCabral era um homem experimentado e ciente dagravidade das exigências da vida, afinal A Pedra doSono, seu primeiro livro, cuja edição custeou de seupróprio bolso, nasceu ainda no seus 22 anos de idade,mas pode-se afirmar que sua obra é fruto de alguémque desde cedo preocupou-se em desfrutar de boascompanhias e em freqüentar círculos intelectuais dasrodas literárias, mesmo quando mudou-se para o Riode Janeiro, onde, em 1945, publicou O engenheiro.

Versátil, prestou concurso para o Itamaraty e,aos 25 anos, já ingressava na carreira diplomáticaservindo em países como Paraguai, Senegal,Honduras e Portugal e, principalmente, na Espanha,onde passou grande parte da vida e onde conheceuvários outros artistas contemporâneos como osplásticos Joan Brossa, Antônio Tápies e Miró.

Mesmo exercendo suas funçõesrepresentativas do governo brasileiro, o poeta não sedescuidou da produção literária: escreveu Psicologiada Composição, Cão sem Plumas, Paisagens comFiguras, Uma faca só Lâmina e Morte e VidaSeverina, obra que lhe rendeu o prêmio de MelhorAutor Vivo do Festival de Nancy, com a apresentaçãodo espetáculo homônimo pelo grupo Tuca, em 1966,mesmo ano em que publicou A Educação pela Pedrapelo qual também conquistou diversos prêmios.

Em 1968, tendo editado Poesias Completas,pela Editora Sabiá, teve o seu talento e a grandiosidadeda sua obra mais uma vez reconhecidos ao ser eleitopara a Academia Brasileira de Letras-ABL, ins-

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tituição que já lhe concedera, em 1955, o PrêmioOlavo Bilac. E acrescente-se à glória de ser um entreos imortais, o fato de que, a exemplo de tudo o queconquistou na sua prodigiosa vida, a recebeu emidade bastante jovem, aos 48 anos.

Viúvo, em 1986, de Dª. Stella Maria Barbosa deOliveira, com quem fora casado por 40 anos e da qualtivera 5 filhos, João Cabral veio a se casar, depois,com a poeta Marly de Oliveira que o acompanhou atéo final de seus dias. Considerava a família, um dosmaiores valores do homem, tanto os entes presentes,e do círculo mais íntimo, como aqueles de grau deparentesco um pouco mais afastado, ainda que játenham partido desta vida. Assim é que um de seusgrandes orgulhos era a herança genético-culturalrecebida de grandes expoentes da literatura nacionalcomo Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Mauro Motae Antônio Moraes e Silva, o famoso Moraes doDicionário de Língua Portuguesa.

Explica-se por esse nomes o grande talento e aperfeita afinidade entre o homem e as palavras, quefizeram dele o poeta que foi. Não foi Cabral apenasum dos grandes poetas do modernismo, mas um dosgrandes poetas do século e da humanidade. Era umtalento talhado para o Prêmio Nobel de Literatura, e senão o recebeu, a falta está não em sua obra – que éperfeita e completa – mas, fundamentalmente, na faltade visão do mundo para com a literatura brasileira.

Nas palavras de Carlos Garcia, Secretário deCultura de Pernambuco, “João Cabral era o maiorpoeta vivo da língua portuguesa. Então, com a partidadele, quem perde não é Pernambuco, nem o Brasilapenas, mas a própria língua”.

Igualmente feliz, em sua definição daimportância de João Cabral, não poderia deixar deser o Vice-presidente Marco Maciel que, quandoGovernador de Pernambuco condecorou o poeta coma Medalha do Mérito dos Guararapes, ao afirmar: “EmJoão não sei quem é maior, se o homem ou sua obra.Exemplo de vida digna, sua poesia, impregnada dosocial, era, a um só tempo, pernanbucanamentetelúrica e abrangentemente universal”.

No último dia 09, aos 79 anos, vítima de umainjusta cegueira que lhe tirou o maior prazer – aleitura, João Cabral morreu enquanto rezava, demãos dadas com a esposa. Morto ele, perdemos umluzeiro que abrilhantava a nossa cultura e nos faziaum povo mais culto e orgulhoso do poeta quetínhamos. Mas a herança que nos deixou mostra quenão ficamos órfãos, nem, tampouco, às escuras; obrilho da sua obra, nada poderá ofuscá-lo. O tempopassará, outras gerações virão, mas saberemos

todos, os do presente e os do futuro, que um dia pisounesta terra João Cabral, o poeta que iluminou osnossos olhos e espíritos com suas palavras, e nostornou uma nação mais rica pelo bem que nos deixou.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) – Nadamais havendo a tratar, a Presidência vai encerrar ostrabalhos, lembrando as Srªs. e os Srs. Senadores queconstará da sessão deliberativa ordinária de amanhã, arealizar-se às 14 horas e 30 minutos, a seguinte:

ORDEM DO DIA

– 1 –PROPOSTA DE EMENDA À

CONSTITUIÇÃO Nº 65, DE 1999(Votação nominal)

Votação, em segundo turno, da Proposta deEmenda à Constituição nº 65, de 1999, de autoria doSenador Jefferson Peres e outros senhoresSenadores, que altera a redação do § 3º do art. 58 daConstituição Federal para acrescentar poderes àsComissões Parlamentares de Inquérito, tendo

Parecer sob nº 772, de 1999, da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, Relator: SenadorAmir Lando, oferecendo a Redação do Substitutivoaprovado em primeiro turno.

– 2 –PROJETO DE LEI DA CÂMARA

Nº 24, DE 1998

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei daCâmara nº 24, de 1998 (nº 4.556/94, na Casa deorigem), que dispõe sobre o piso salarial dos médicose cirurgiões-dentistas, alterando dispositivos da Lei nº3.999, de 15 de dezembro de 1961, tendo

Parecer sob nº 571, de 1999, da Comissão deAssuntos Sociais, Relator: Senador Luiz Estevão,favorável, nos termos da Emenda nº 1-CAS(Substitutivo), que oferece.

– 3 –PROJETO DE LEI DA CÂMARA

Nº 39, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto de Lei daCâmara nº 39, de 1999 (nº 2.447/96, na Casa deorigem), de iniciativa do Presidente da República, quedenomina “Ponte Ivan Alcides Dias” a obra-de-arteespecial localizada no Município de Camaquã,Estado do Rio Grande do Sul, tendo

OUTUBRO DE 1999 ANAIS DO SENADO FEDERAL 441

Parecer favorável, sob nº 769, de 1999, daComissão de Educação, Relator ad hoc: SenadorHugo Napoleão.

– 4 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 87, DE 1998

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 87, de 1998 (nº 553/97, naCâmara dos Deputados), que aprova o ato querenova a concessão da Rádio Difusora SantarritenseLtda. para explorar serviço de radiodifusão sonora emonda média na cidade de Santa Rita do Sapucaí,Estado de Minas Gerais, tendo

Parecer favorável, sob nº 364, de 1999, daComissão de Educação, Relator: Senador FrancelinoPereira, com abstenção da Senadora Heloísa Helena.

– 5 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 88, DE 1998

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 88, de 1998 (nº 555/97, naCâmara dos Deputados), que aprova o ato querenova a concessão da Rádio Princesa do Sul Ltda.para explorar serviço de radiodifusão sonora em ondamédia na Cidade de Goiatuba, Estado de Goiás,tendo

Parecer favorável, sob nº 619, de 1998, daComissão de Educação, Relator ad hoc: SenadorLeomar Quintanilha, com abstenção da SenadoraBenedita da Silva.

– 6 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 162, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto de DecretoLegislativo nº 162, de 1999 (nº 745/98, na Câmara dosDeputados), que aprova o ato que outorga concessão àFundação Agripino Lima para executar serviço deradiodifusão de sons e imagens (televisão) na cidade dePresidente Prudente, Estado de São Paulo, tendo

Parecer favorável, sob nº 741, de 1999, daComissão de Educação, Relator: Senador DjalmaBessa, com abstenção do Senador Geraldo Cândido.

– 7 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 43, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 43, de 1999 (nº 781/99, naCâmara dos Deputados), que aprova o texto doProtocolo de Defesa da Concorrência do Mercosul,assinado em Fortaleza, no dia 17 de dezembro de

1996, bem como o respectivo Anexo, assinado emAssunção, em 18 de junho de 1997, tendo

Parecer favorável, sob nº 695, de 1999, daComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional,Relator: Senador Artur da Távola.

– 8 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 124, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 124, de 1999 (nº 59/99, naCâmara dos Deputados), que aprova o texto doProtocolo de Emenda ao Tratado de CooperaçãoAmazônica (TCA), firmado em Caracas, em 14 dedezembro de 1998, tendo

Parecer favorável, sob nº 705, de 1999, daComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional,Relator: Senador Tião Viana.

– 9 –PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 134, DE 1999

Discussão, em turno único, do Projeto deDecreto Legislativo nº 134, de 1999 (nº 75/99, naCâmara dos Deputados), que aprova a adesão daRepública Federativa do Brasil ao texto do Acordo deCooperação entre a República Popular de Angola, aRepública de Cabo Verde, a República da GuinéBissau, a República Popular de Moçambique, aRepública Portuguesa e a República Democrática deSão Tomé e Príncipe no Domínio do Desporto,concluído em Lisboa, em 20 de janeiro de 1990, tendo

Parecer favorável, sob nº 706, de 1999, daComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional,Relator: Senador Mauro Miranda.

– 10 –REQUERIMENTO Nº 574, DE 1999

Votação, em turno único, do Requerimento nº574, de 1999, de autoria do Senador Pedro Piva,solicitando, que sobre o Projeto de Lei da Câmara nº60, de 1995 (nº 4.805/90, na Casa de origem), queinstitui a gratificação de adicional por tempo de serviçoaos empregados em geral e dá outras providências,além da Comissão constante do despacho inicial dedistribuição, seja ouvida, também, a de AssuntosEconômicos.

O SR. PRESIDENTE (Moreira Mendes) – Estáencerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 18 horas e 32minutos.)

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