As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia 1524-1558
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III EIJHM 2013 Évora | III Encontro Internacional de Jovens Investigadores em História Moderna III International Meeting of Young Researchers in Early Modern History
As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia
1524-15581 Succession Letters in the Portuguese State of India
Ana Cláudia dos Santos Joaquim Mestranda em História Moderna e dos Descobrimentos
Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Short Abstract
Propõe-se como tema de comunicação “As Vias de Sucessão no Estado
Português da Índia de 1524-1558”. Isto é, procura-se esclarecer o que são as “vias de
sucessão” e a sua importância no funcionamento do Estado Português da Índia.2
Explicando que as mesmas só começaram a ser utilizadas em 1524 pelo que, grosso
modo, nos restringiremos ao reinado de D. João III (1521-1557).
Entre outras, procura-se responder a perguntas como: “O que terá mudado para
que as vias de sucessão começassem a ser prática corrente só a partir de 1524, quando
tínhamos um representante directo e permanente da Coroa Portuguesa na Índia desde
1505?”, “Quais os Governadores/Vice-Reis, desta época, que chegaram ao poder
vindos de Lisboa e quais os que chegaram por via de sucessão? E, de entre estes, quais
os títulos que receberam e quanto tempo ficaram no poder? Foram os três anos
regulamentares ou menos tempo?”.
Em suma, procura-se concluir de que modo este mecanismo criado por D. João III
se revelou, ou não, eficaz para controlar uma periferia do seu Império. E se mesmo
com a criação desta solução continuaram a existir conflitos (inerentes a dúvidas sobre
a sua aplicação) resultantes da mesma, ou não.
1 Originalmente realizado como trabalho final do Seminário, O Império Português: Centros e Periferias
(séc. XV-XVIII), no âmbito do Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa. Seminário leccionado pela Professora Doutora Alexandra Pelúcia, a quem se agradece todo o acompanhamento e auxílio prestado. 2 Segundo Luís Filipe Thomaz, a expressão “Estado da Índia” só se generalizou na segunda metade no
século XVI. No entanto, no âmbito deste trabalho, iremos utilizar a mesma, ainda assim, para o período anterior, por uma questão de comodidade. Esta expressão designava, no período em análise, um conjunto de territórios, pessoas, bens e interesses oficialmente tutelados pela Coroa portuguesa, desde o cabo da Boa Esperança até ao Japão. Não designando, portanto, um espaço geograficamente bem definido. Cf. Luís Filipe Thomaz, «Estrutura Política e Administrativa do Estado da Índia no Século XVI» in De Ceuta a Timor, s.l., Difel, 1994, p. 207.
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Paper
A Origem das Vias de Sucessão
Aquando da partida do Vice-Rei D. Vasco da Gama para a Índia, em 1524, João
de Barros diz-nos que: “Quanto á entrega que o Governador faz na India a quem o
succede, as mais vezes costuma ser feita em alguma Igreja das que temos fundadas
naquelle Oriente (...) e quando algum Governador lá falece, tem-se estoutro modo. Em
poder do Veador da fazenda da India, que he a segunda pessoa no governo da fazenda
depois do Governador, está hum cofre com tres, ou quatro Patentes d’El Rey, fechadas,
e asselladas, as quaes chamam sucessões, e tem per cima esta escritura: Sucessão de
foão, e isto nomeado ao que então governa, que nos outros por se não saber quaes são
os que estam por vir, chamam ás taes, segunda, terceira, quarta sucessão, e aqui
assigna El Rey. E na escritura que tem dentro declara El Rey haver por bem que elle
succeda a foão quando falecer (...) Este he o modo que se tem no prover dos
Governadores da India, e damos esta noticia (...) porque daqui em diante veremos huns
aos outros succeder per obito, o que té ora não vimos, e o perigo em que a India esteve
por se não guardar este modo de abrir as successões.3”
Isto é, segundo este cronista, o único que nos apresenta uma explicação genérica
sobre o funcionamento deste sistema, as vias de sucessão eram, portanto, alvarás
régios, dados pelo Monarca ao Vice-Rei (ou governador) antes de este partir de Lisboa.
Em caso da sua morte, deveria ser aberto o primeiro alvará e o nome que lá se
encontrasse deveria assumir o governo do Estado Português da Índia. Todavia, caso
essa pessoa já tivesse regressado ao Reino ou se já tivesse falecido, dever-se-ia abrir o
segundo alvará e assim sucessivamente.
Como já foi referido, João de Barros afirma que o sistema das vias de sucessão
foi criado em 1524, aquando da nomeação de D. Vasco da Gama para Vice-Rei do
Estado Português da Índia e, de facto, todos os cronistas parecem concordar com este
facto.
Francisco de Andrada, por exemplo, diz-nos que “E porque atê aquelle tempo
[altura de nomeação de D. Vasco da Gama para Vice-Rei] se não custumaua prouerse
nas socessoẽs da gouernança da India como agora se costuma, entendendo sua alteza
camanho inconueniente era para aquelle estado morrendo algum gouernador delle no
tempo de sua gouernança ficar a eleyçaõ de quem o gouernasse aos mesmos que nelle
estauão, de que alguns o deuiaõ pretender, pollos bandos differenças & dissensoẽs que
3 Cf. João de Barros, Da Ásia: dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos mares e terras
do Oriente, década III, livro ix, capítulo 1.
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podia auer sobre isso, ordenou que fossem este anno tres vias assinadas por elle,
cerrada & sellada cada huma dellas com tres sellos das armas reais, repartidas logo de
cá com titulo de primeyra, segunda, & terceyra, em cada huma das quais hia nomeado
o homem que sua Alteza auia por seu seruiço que socedesse ao Visso Rey, sendo caso
que fallecesse, das quais ninhuma se auia de abrir em quanto elle fosse viuo. E esta
ordem mandou que se guardasse daly por diante, & se guarda inda oje todas as vezes
que se proue de nouo a gouernança da India.4” Mais à frente, quando Andrada nos
enumera todos os autos que são feitos em 1526, aquando da sucessão de D. Henrique
de Meneses, este afirma “Deligencias todas, que num negocio novo, & de tanta
importancia parecião devidas & necessarias.5”
Mas também Diogo do Couto atribui a criação deste sistema de sucessão a D.
João III. Aquando da morte de D. Henrique de Meneses é nos dito que: “ E presentes
todos [os nobres], abrio o Veador da fazenda hum cofre, em que estavam guardadas
as sucessões da governança da India, que eram tres, que trouxe comsigo o Conde
Almirante D. Vasco da Gama quando veio por Viso-Rey, que foram as primeiras que á
India vieram; porque antes delle não havia esta ordem, nem nós pudemos saber a que
El Rey D. Manoel tinha dado, sendo caso que falecesse o Governador da India; porque
nem João de Barros, nem Damião de Goes o declaram.6”
E por este motivo a dúvida impõe-se. Por que razão este sistema só apareceu 19
anos depois de termos uma presença permanente na Índia, com a nomeação de D.
Francisco de Almeida?
A criação deste sistema poder-se-ia, simplesmente, explicar pelo facto de ser
uma ideia nova de um novo Rei, recém-chegado ao poder. Mas no decurso da nossa
pesquisa procurou-se formular outras hipóteses que não apenas esta. E a primeira que
considerámos foi o factor “idade”.
De facto, por comparação com todos os Vice-Reis/governadores nomeados por
D. Manuel I, D. Vasco da Gama era o mais velho Vice-Rei nomeado até então. Este teria
cerca de 58 anos aquando da sua nomeação. Mas, ainda assim, esta não nos parece
ser a justificação mais plausível. Este factor pode, sem dúvida, ter influenciado esta
tomada de decisão do Rei, mas a diferença de idades entre D. Vasco da Gama e os seus
4 Cf. Francisco de Andrada, Chronica do Muyto Alto e Muyto Poderoso Rey destes Reynos de Portugal
Dom João o III deste nome, parte I, capítulo lviii. 5 Cf. Idem, Ibidem, parte II, capítulo ii.
6 Cf. Diogo do Couto, Da Ásia: dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos mares e
terras do Oriente, década IV, livro i, capítulo 1.
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antecessores, nomeadamente Lopo Soares de Albergaria ou Diogo Lopes de Sequeira
não é assim tão grande. Estes, à data das suas nomeações, teriam cerca de 55 e 52
anos, respectivamente.7
Por outro lado, temos a justificação adiantada por Francisco de Andrada e a que
já se aludiu. Segundo este cronista, D. João III terá criado o sistema das vias de
sucessão para evitar que, em caso de morte do Vice-Rei, a eleição de um novo
governador ficasse a cargo dos nobres presentes na Índia. Uma vez que estes, pelo
interesse próprio de ocuparem o lugar ou que alguém da sua família ou circuito
familiar o fizesse, se dividiriam e dificilmente chegariam a um acordo.8
No entanto, era impossível esta nova nomeação ficar a cargo do Rei, presente
em Portugal. Pelo menos num curto espaço de tempo. Tomemos o caso de D. Vasco da
Gama como exemplo. Este faleceu a 24 de Dezembro de 1524 e, tendo em conta o
sistema de monções, o Rei só conseguiria fazer chegar um novo governador à Índia por
volta de Setembro de 1526. Isto é, um ano e 9 meses depois da morte de D. Vasco da
Gama. E é óbvio que o Estado Português da Índia não poderia ficar desprovido de um
governador durante tanto tempo. Assim, e como o Rei não quereria que a eleição
ficasse a cargo dos nobres presentes no território, terá criado este sistema.9
No entanto, a verdade é que consideramos que podemos encontrar três
antecedentes, durante o reinado de D. Manuel I, à criação das vias de sucessão por D.
João III.
O primeiro prende-se com a questão da nomeação de Lopo Soares de Albergaria,
em 1515. Pelo facto do Rei se ter arrependido da sua decisão de nomeá-lo, entre
outras disposições, previa que caso Albergaria falecesse durante a viagem para a Índia
que deveria ser substituído por Afonso de Albuquerque.10 Claro que neste caso não
estamos a falar da existência de uma via de sucessão propriamente dita e claro que o
Rei prevê isto mais pelo facto de desejar que seja Albuquerque a continuar no poder
do que pelo facto de estar preocupado com uma possível sucessão.
No entanto, ao estipular isto, percebemos que D. Manuel I tinha a consciência
que poderia existir qualquer fatalidade a um homem por si designado para ocupar o
7 Vide, em anexo, a tabela n.º1: Governadores/Vice-Reis anteriores a 1524, p.20.
8 Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte I, capítulo lviii.
9 Sobre o funcionamento do sistema de monções veja-se Felipe Fernández-Armesto, «A Expansão
Portuguesa num Contexto Global» em A Expansão Marítima Portuguesa, 1400-1800, Francisco Bethencourt e Diogo Ramada Curto (dir.), Lisboa, Edições 70, 2010, pp. 508-509. 10
Cf. Alexandra Pelúcia, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem: Trajectórias de uma elite no Império de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, Centro de História de Além-Mar, 2009, pp. 217-218.
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poder na Índia. Poderia falecer durante a viagem para a Índia, mas também poderia
falecer já no exercício das suas funções.
Mas ainda que não se considere esta estipulação de D. Manuel I como um
antecedente à criação das vias de sucessão, em 1524, a verdade é que existem outros
dois elementos que consideramos como claros antecedentes.
Datado possivelmente de 1502,11 encontrámos um alvará de D. Manuel I em que
este estipula que por morte de D. Vasco da Gama, durante a viagem para a Índia,
Vicente Sodré o substitua com os mesmos poderes. Isto é, como capitão-mor da
armada.12
Para além deste, ao consultar os documentos do Corpo Cronológico, do Arquivo
Nacional da Torre do Tombo (ANTT), encontramos um outro alvará em que D. Manuel I
dá ordem para que, em caso de morte de D. António, seu sobrinho e escrivão da
puridade, D. Nuno de Mascarenhas o substitua como capitão-mor da armada. Este
alvará data de 1515 e é referente à expedição levada a cabo na Mamora, onde se
procurava construir uma nova fortaleza.13
Portanto, seria de esperar que D. Manuel I tivesse pensado numa possível
sucessão para a viagem da Carreira da Índia e para Marrocos, um território muito mais
perto do Reino e de, portanto, mais fácil substituição do responsável governativo, e
não se tivesse lembrado de algo semelhante para a Índia?
O Rei tinha consciência, como já vimos, que o governador por si designado podia
falecer no exercício das suas funções. Provam-no a disposição de uma possível
sucessão de Albergaria por Albuquerque, mas também a própria nomeação, em 1505,
de D. Francisco de Almeida.
Segundo Damião de Góis, D. Francisco de Almeida não seria a primeira escolha
de D. Manuel I para Vice-Rei do Estado Português da Índia. Seria, sim, Tristão da
Cunha. Porém, ainda em Portugal, este tem um ataque de cegueira temporário, sendo
substituído por Almeida.14 Assim, ainda em Lisboa, D. Manuel I tem a primeira prova
da fragilidade do Estado Português da Índia, assente na vida e na saúde dos seus
representantes.
11
Uma vez que esta parece ser a data da ida de Vicente Sodré à Índia, pelo menos com Vasco da Gama. Não encontrámos qualquer referência ao facto de este ter ido com Vasco da Gama em 1497. Cf. Luís de Albuquerque S. V. «SODRÉ, Vicente» em Dicionário dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, s.l., Círculo de leitores, 1994, p. 997. 12
Cf. ANTT, Colecção de Cartas, Núcleo Antigo 876, n.º 50. 13
Cf. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 18, n.º 3. 14
Cf. Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei Dom Emanuel, livro II, capítulo i.
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Deste modo, e tendo já criado o sistema das vias de sucessão para a Carreira da
Índia e para a expedição a Marrocos, pelo menos, como é que D. Manuel I não sente a
necessidade de criar o mesmo para a Índia?
Como a Carreira da Índia funcionava anualmente, talvez o Rei tivesse pensado
numa substituição pelo capitão-mor da armada que chegasse a cada ano. O que
também não nos parece muito seguro porque pegando, uma vez mais, no exemplo de
D. Vasco da Gama, ter-se-ia que esperar cerca de 9 meses, até Setembro do ano
seguinte, para que chegasse a nova armada do Reino e o Vice-Rei fosse substituído.
Neste caso, quem governaria durante este espaço de tempo?
Por outro lado, talvez os governadores do tempo de D. Manuel I já levassem vias
de sucessão aquando da sua partida de Lisboa, mas como só em 1524 foi preciso se
socorrer a uma só então aí é que as crónicas as referiram. Talvez, os governadores as
levassem mas como estas nunca foram utilizadas, acabaram por ser enviadas de volta
para o Reino e destruídas.
O certo é que todas as crónicas nos apontam para 1524 como o ano da criação
deste sistema. Se juntarmos a justificação avançada por Andrada mais o factor idade
de D. Vasco da Gama, talvez tenhamos encontrado os factores decisivos que levaram
D. João III a implementar este sistema.
Porém, julgamos também que há um inegável antecedente de D. Manuel I.
Mesmo que este não tivesse implementado o sistema das sucessões em Marrocos
como mais tarde D. João III criou para a Índia, em que cada Vice-Rei levava vários
alvarás, o certo é que é que este sistema já existia. Ou, pelo menos, já existia em certas
alturas especiais, como foi o caso da expedição à Mamora, em 1515. 15
Aliás, a fórmula das vias encontradas para o reinado de D. Manuel I é bastante
parecida à das vias encontradas para D. João III. Em ambos os casos, os Reis começam
por enumerar todos os nobres que têm presentes nos seus territórios ultramarinos,
dizendo-lhes que no caso da morte do capitão-mor da armada, no caso de D. Manuel I,
ou do governador, no caso de João III, este deve ser substituído pela pessoa tal, na
qual têm muita confiança e afirmam saber que esta os irá servir bem. No entanto, diz-
se sempre que a morte dessa pessoa deve ser algo que Deus deve defender, mas,
ainda assim, mesmo que aconteça, todos os vassalos do Rei de Portugal devem
15
Na realidade, esta é uma questão a tentar perceber posteriormente. Se, por exemplo, o sistema das vias de sucessão para Marrocos já havia sido criado por D. Manuel I ou, até mesmo, por algum Rei antecedente deste.
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obedecer à pessoa cujo nome aparece nomeado naquele alvará. Pessoa, essa, que terá
sempre os mesmos poderes e alçada que aquela que irá substituir.
Pelo exposto, se depreende que esta não é, apenas, uma nova ideia de um novo
Rei, como afirmámos inicialmente. D. João III absorveu, claramente, alguma da
experiência desenvolvida pelo seu pai. Assim, consideramos que, quanto muito, se
pode falar numa nova prática mas para um espaço concreto, para a Índia, visto que
este sistema já existia, para outros espaços e outros contextos, ainda que com
possíveis diferenças.16
Problemáticas analisadas
Todavia, outras dúvidas se levantaram no desenrolar no trabalho, que não
apenas esta relacionada com a origem das vias de sucessão.
Averiguadas as idades de cada um dos governadores do reinado de D. João III,
procurámos perceber quais os que tinham chegado à Índia vindos directamente de
Lisboa e quais os que haviam chegado por via de sucessão, através da leitura das
crónicas. E concluímos que, em 34 anos, houve 14 governadores na Índia17, dos quais
exactamente metade chegou vinda directamente de Lisboa e outra metade por via de
sucessão.18
De seguida, tivemos a preocupação de saber qual o cargo ocupado por cada um
destes homens no exercício das suas funções. Se o cargo de Vice-Rei se o de
governador.19 Tendo chegado às seguintes conclusões: Todos os nomeados por via de
sucessão adquiriram o título de governador. E nenhum viu o seu tempo de governo
renovado, tendo, no máximo, governado durante 3 anos. O que nos leva a concluir que
era menos prestigiante se chegar ao governo do Estado Português da Índia por via de
sucessão do que se sendo directamente nomeado pelo Rei para o cargo. No fundo, não
se era a primeira opção do Rei, pelo que muito dificilmente uma pessoa que chegasse
ao poder através de via de sucessão poderia aspirar a tornar-se Vice-Rei.
Em relação aos sete homens que partiram de Lisboa com o governo da Índia,
temos três situações possíveis: ou levaram logo o título de Vice-Rei20, ou adquiriram
esse título em exercício de funções21 ou, pelo menos, viram o seu triénio renovado.22
16
Os capitães de armada podiam só levar um alvará, por exemplo. 17
Já contando com o Pêro Mascarenhas, apesar de este nunca ter chegado a governar efectivamente. 18
Cf. Em anexo tabela nº2: Governadores/Vice-Reis posteriores a 1524, pp. 21-24. 19
Questão meramente nominal, uma vez que a alçada do poder era exactamente a mesma. 20
Caso de D. Vasco da Gama, D. Garcia de Noronha, D. Afonso de Noronha e D. Pedro de Mascarenhas.
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No entanto, temos uma excepção a estas três situações. Referimo-nos a Martim
Afonso de Sousa, o único enviado de D. João III que não foi nem reconduzido nem
recebeu o título de Vice-Rei. Porém, a verdade é que o próprio Martim Afonso de
Sousa pediu ao Rei que este lhe enviasse sucessor, não querendo ser reconduzido.
Em 1543, Diogo da Silveira chegou à Índia e, segundo Diogo do Couto, este iria
com a especial missão de suceder a Martim Afonso de Sousa. Tendo Martim Afonso de
Sousa invernado em Moçambique em 1541, D. Francisco de Lima quando ia a caminho
do Reino, em Dezembro desse ano, encontrou-o bastante doente e, chegado ao Reino,
informou o Rei desta situação, dizendo que Martim Afonso de Sousa, naquela altura, já
estaria morto.23 Desta forma, em 1543, Diogo da Silveira chega à Índia, onde “Diziam,
que trazia Diogo da Silveira huma carta, ou Alvará d’ El Rey em segredo, pera que se
achasse Martim Affonso de Sousa morto, e ou morresse estando elle na India, se
abrisse, em que se affirmava, que succederia o mesmo Diogo da Silveira na
governança, sendo porém (...) que mandava, que estando D. Estevão na India, ficasse
governando; e sendo ido pera o Reyno, se entregasse a Inda a Diogo da Silveira (...).24”
E se Diogo da Silveira serviria, hipoteticamente, para suceder a Martim Afonso de
Sousa na governança da Índia, também serviu para levar um recado ao Rei: “(...)
estando [Martim Afonso de Sousa] hum dia ouvindo Missa na Sé, levantando-se o
Divino Sacramento, dissera a Diogo da Silveira, que estava com elle, esta palavras:
«Dizei, Senhor, a El Rei, que me mande nestas náos successor, porque me não atrevo a
governar a India, pela mudança que nella achei nos homens, na verdade, e no primor;
senão que juro por aquella Hostia consagrada, e pelo verdadeiro Corpo de Christo, que
nella está, que hei de abrir as successões, e entregar este Estado á pessoa de quem S.
A. o confia nellas, e que não queira arriscar hum vassalo como eu a lhe cortar a
cabeça.» Isto lhe disse de todo seu animo; e certo que se lhe El Rey não mandára
successor, que o houvera de fazer, porque era hum Fidalgo muito determinado.25”
Assim, apesar de Martim Afonso de Sousa constituir uma excepção àquelas três
situações anteriormente enumeradas, a verdade é que ele próprio pediu ao Rei que
não o reconduzisse, jurando abrir as vias de sucessão, se o Rei não lhe enviasse
sucessor.
21
Caso de D. João de Castro que, em 1548, vê o seu triénio renovado e recebe o título de Vice-Rei, pelo seu sucesso em Diu. 22
Caso de Nuno da Cunha e D. João de Castro. 23
Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década V, livro viii, capítulo 2. 24
Cf. Idem, Ibidem, década V, livro ix, capítulo 9. 25
Cf. Idem, Ibidem, década V, livro ix, capítulo 9.
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Mas depois de averiguado o facto de que nenhum homem designado por via de
sucessão foi reconduzido, tentámos perceber quanto tempo é que estes ficaram no
poder. Se os mesmos três anos que, à partida, ficavam os que vinham directamente de
Lisboa, ou não.26
Destes governadores, apenas dois o ficaram. São eles Lopo Vaz de Sampaio e
Francisco Barreto. Em relação aos restantes, estes ou morreram no exercício das suas
funções27 ou foram substituídos por outros governadores, enviados do reino, antes do
fim dos 3 anos de governo.
Temos o caso de D. Estevão da Gama e o caso de Jorge Cabral.
Em relação ao primeiro caso, Gama é substituído em 1542 por Martim Afonso de
Sousa, primeira opção28 do Rei em caso de morte de D. Garcia de Noronha, nas vias de
sucessão. Porém, como, em 1540, Martim Afonso de Sousa já tinha regressado ao
reino é aberta a segunda via de sucessão, sendo nomeado D. Estevão da Gama como
governador. No entanto, quando o Rei sabe desta situação, apressa-se a enviar Martim
Afonso de Sousa como novo governador, o que é uma situação altamente
desprestigiante para D. Estevão da Gama.29
Por seu turno, Jorge Cabral acaba por ser substituído por D. Afonso de Noronha,
ao fim de pouco mais de um ano de governo. De facto, o Rei não sabia que era Jorge
Cabral que estava no poder, mas sabia que D. João de Castro havia falecido.30 E
quando sabe da morte deste apressa-se a nomear um novo governador. Mas não seria
de esperar que confiasse nas pessoas que tinha nomeado nas vias de sucessão?
Aliás, segundo Couto, Jorge Cabral não se entusiasma muito quando sabe que é
o novo governador, porque sabe que se as cartas que se enviaram por terra ao Rei a
26
Nesta análise, não considerámos Pêro Mascarenhas, uma vez que este não governou efectivamente. 27
Caso de D. Henrique de Meneses e de Garcia de Sá. Porém, segundo Francisco de Andrada, Meneses iria governar durante três anos, uma vez que o Rei, em 1526, lhe envia uma provisão para que este governe durante três anos. No entanto, quando a armada chega à Índia, D. Henrique de Meneses já havia morrido. Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte II, capítulo ix. 28
Segundo as crónicas consultadas. 29
De facto, aquando da sua sucessão, Gama apressa-se a enviar notícia ao Rei do sucedido, bem como ao Conde da Vidigueira, seu irmão, e ao Conde do Vimioso, seu sogro, a fim de estes pressionarem o Rei no sentido de o deixar permanecer como governador. Porém, o certo é que devido à influência do Conde da Castanheira “que então mandava tudo”, segundo Diogo do Couto, o Rei acaba por nomear Martim Afonso de Sousa, seu primo co-irmão, para sucessor de D. Estevão. Pelo que, claramente, Couto afirma que entrou “valia” nesta eleição, apesar de, ainda assim, considerar esta pessoa muito acertada, pelo seu saber e prudência. Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década V, livro viii, capítulo 1. 30
A quem sucede Garcia de Sá que acaba, também, por falecer em 1549.
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informar sobre a morte de D. João de Castro tivessem chegado a Lisboa antes das naus
terem partido para a Índia, viria um novo governador a caminho. Se tal acontecesse,
Cabral seria governador durante um mês ou, no máximo, durante um ano. Que foi,
precisamente, o que sucedeu. Deste modo, Cabral preferia governar mais quatro anos
como capitão de Baçaim, cargo que ocupava, e regressar ao reino com mais dinheiro
do que aquele que teria sendo governador por tão pouco tempo. No entanto, a
verdade é que acaba por aceitar o cargo.31 Mas aqui levanta-se outra questão: Se,
efectivamente, Cabral recusasse o cargo o que aconteceria? Abriam a 5ª sucessão? É
algo a que as crónicas não nos dão uma resposta.
Todavia, depois de tudo isto, começámos a perceber que, por vezes, quando os
governadores já estavam na Índia o Rei enviava novos alvarás. Deste modo, procedeu-
se à criação de um inventário de todos os casos conhecidos para esta situação,
cruzando, para isso, os dados encontrados nas crónicas bem como nos documentos
consultados no ANTT, tentando compreender por que motivo o Rei, por vezes, mudava
de ideias a meio do mandato dos governadores.
Desta forma, encontrámos quatro casos destes.
O primeiro remonta a 1526 e é o caso, na nossa opinião, mais fácil de explicar.
De facto, aquando da chegada ao poder de D. Henrique de Meneses, em 1524, Afonso
Mexia, Vedor da Fazenda, e Pêro Mascarenhas, o segundo nomeado nas vias de
sucessão levadas por D. Vasco da Gama em 1524, tiveram uma quezília. Mascarenhas
era Capitão de Malaca e, como tal, quis levar de Goa para a sua fortaleza um paiol com
arroz. Porém, Afonso Mexia tê-lo-á mandado despejar o mesmo a fim de levar lá
roupas, ao que Mascarenhas lhe pede que não o faça uma vez que o arroz seria para
alimentar as pessoas da fortaleza de Malaca. Afonso Mexia volta a ordenar que ele
retire o arroz, ao que Mascarenhas responde que irá perguntar ao Governador o que
se deve fazer. Posto isto, o vedor terá respondido que para aquela questão “(...) não
era necessario o governador porque na fazenda Del Rey elle o era.”32 Dando,
claramente, a entender que em assuntos de fazenda quem mandava era ele e não D.
Henrique de Meneses. Ainda assim, Mascarenhas desobedece-lhe, pelo que Mexia
acaba por escrever ao Rei o que se passou. Deste modo, o Rei acaba por fazer novas
sucessões, enviando-as, em 1526, a Afonso Mexia e pedindo-lhe que não se usassem
31
Aliás, segundo Diogo do Couto, a mulher de Cabral ter-lhe-á dito que era melhor ser governador “nem que fosse por quinze dias”, uma vez que, desta forma, receberia mais honras e mercês do Rei. Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década VI, livro viii, capítulo 1. 32
Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte I, capítulo lxxviii.
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as antigas, enviadas aquando da partida de Gama do reino, que deveriam ser enviadas
ao Rei fechadas e seladas.33
Porém, esta situação levou a que a confusão se instalasse no Estado Português
da Índia, entre 1526 e 1529. Uma vez que D. Henrique de Meneses falece em Fevereiro
de 1526, antes da chegada das novas vias. Deste modo, são abertas as vias levadas por
Gama em 1524, sendo Pêro Mascarenhas o governador designado. No entanto, este
estava em Malaca, de onde só poderia partir em Abril.34 Desta forma, os fidalgos
presentes na cerimónia de abertura das vias de sucessão não sabem o que fazer e
acabam por se dividir. Uns pensam que o melhor será eleger um governador interino
por maioria, enquanto outros, encabeçados por Afonso Mexia,35 pensam que o melhor
será abrir-se a terceira via de sucessão, a fim de se encontrar um governador
provisório. Assim, é aberta a última das vias levadas em 1524, sendo encontrado o
nome de Lopo Vaz de Sampaio, que presta juramento, em que se compromete a
governar bem e de forma justa, apenas até à chegada de Mascarenhas a Goa. Tendo,
nessa altura, que lhe entregar o poder, que lhe pertencia por direito.
Todavia, com a chegada das novas vias, em 1526, o nome de Sampaio surge em
primeiro lugar na sucessão a Meneses, e só em segundo aparece o de Mascarenhas,
pelo que os nobres acabam por se dividir e não saberem a quem devem obedecer.36
Para além deste caso, temos o caso de D. Garcia de Noronha, que também
recebe novas vias. No entanto, até à data, a justificação para o envio destas vias ainda
não foi descortinado, visto as mesmas terem sido enviadas pelo Rei em 1541, altura
em que este já sabia que D. Garcia de Noronha havia falecido37 e altura em que já
havia, inclusivamente, nomeado Martim Afonso de Sousa como Governador. Pelo que
a existência destas vias, com esta datação, não faz qualquer sentido.38
33
Cf. Idem, Ibidem, parte II, capítulo ix. 34
Sendo que só chegava a Goa cerca de 14 meses depois da sua nomeação, por volta de Abril do ano seguinte. Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década IV, livro i, capítulo 1. 35
Este tinha receio que Pêro Mascarenhas, sendo governador, se aproveitasse para se vingar do que se tinha passado entre ambos. Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte II, capítulo i. 36
Cf. Idem, Ibidem, parte II, capítulo ix-x. 37
Segundo Diogo do Couto, o Rei recebe a informação da morte de Noronha em Outubro 1540. Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década V, livro viii, capítulo 1. 38
Cf. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 69, n.º 87. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 69, n.º 84. E ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 69, n.º 78.
12 |Ana Cláudia Joaquim, As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia 1524-1558
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De seguida, surge-nos o caso de Martim Afonso de Sousa que, tendo levado vias
aquando da sua nomeação, em 1541, também recebe outras em 1544, das quais duas
se encontram no ANTT.39
E, por fim, temos D. João de Castro para quem acontece algo de semelhante. Em
1545, data da sua partida de Lisboa, este leva três vias de sucessão40, mas em 1548,
data da sua recondução como Vice-Rei, o Rei envia-lhe 5 novas vias. No entanto, não
nos foi possível encontrar no ANTT, nem as vias enviadas em 1545 nem as enviadas em
1548.41
Deste modo, e tirando o caso das vias enviadas em 1526, para o qual, à partida, a
justificação parece óbvia, não nos foi possível compreender, em tempo útil, os motivos
que levaram o Rei a mudar de ideias, ao nomear novos nomes nos seus alvarás.
Posteriormente, consideramos importante perceber se, por exemplo, os que estavam
na Índia haviam todos desagradado ao Rei, ou se os novos nomeados tinham feito,
entretanto, algo de particularmente importante, que os levasse a serem agraciados
desta forma, por exemplo.
No entanto, esta não é a única questão que fica em aberto. Existe outra que se
prende com as contradições existentes entre as fontes. Visto uma coisa ser a teoria,
patente nas vias de sucessão encontradas no ANTT, e outra ser a prática, patente nas
crónicas. Assente no que aconteceu, na realidade.
Por exemplo, é sabido que, ao fim de 9 anos de governo, Nuno da Cunha não é
reconduzido e, pelo contrário, é mandado voltar para o Reino sob ordem de prisão.42
No entanto, segundo um alvará de sucessão encontrado no ANTT, datado de 1538, é
estipulado que, em caso de morte de D. Garcia de Noronha na viagem para a Índia,
Nuno da Cunha deveria permanecer no poder, porque, caso contrário, a Índia ficaria
sem uma pessoa no governo com a prática e a experiência necessárias na ocupação do
mesmo. Porém, ainda no mesmo alvará, é dito que Nuno da Cunha deve entregar o
poder a D. Garcia, só podendo continuar governador na condição de este falecer
39
Cf. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 74, n.º 82. E ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 74, n.º 81. 40
Vias, essas, que o Rei, em 1548, pede que sejam devolvidas. Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte IV, capítulo xxix. 41
O que seria importante para se confirmar se alguma das pessoas nomeadas em 1545 se mantém em 1548 e para se perceber, afinal, a ordem das vias datadas de 1548, visto os autores não coincidirem entre eles. De facto, segundo Diogo do Couto, D. Jorge Tello seria o segundo na sucessão a D. João de Castro e Garcia de Sá o terceiro, enquanto que Francisco de Andrada nos diz que a ordem é exactamente a contrária. Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década VI, livro vii, capítulo 1. E Francisco de Andrada, Op. Cit., parte IV, capítulo xxix. 42
Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década V, livro v, capítulo 5.
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durante a viagem. Caso contrário, dever-lhe-ia entregar o poder de imediato, assim
que Noronha chegasse à Índia.43 Como explicar que o Rei queira Nuno da Cunha preso
e, ao mesmo tempo, pense nele como um hipotético sucessor ao Vice-Rei que o vai
substituir?
Para além disto, as sucessões encontradas para 1538, não coincidem com o que
nos é dito nas crónicas. Segundo estas, Martim Afonso de Sousa seria o primeiro na
ordem de sucessão a D. Garcia de Noronha, enquanto que D. Estevão da Gama seria o
segundo. Todavia, segundo as vias encontradas no ANTT, a ordem seria a seguinte: em
1º lugar estaria o nome de Nuno da Cunha, em 3º lugar44 D. João de Castro, em 4º D.
Estevão da Gama e, por fim, D. Pedro de Castelo Branco, cuja via também aparece
numerada com o número quatro, outra questão que queda por resolver.45
Terá o Rei feito estas vias em 1538, se arrependido de imediato e feito as que
nos são apresentadas na crónica? Isto explicar-nos-ia a chegada ao poder de D.
Estevão da Gama, bem como duas vias numeradas com o número “4”. Uma vez que
uma das mesmas podia pertencer às vias feitas inicialmente46, enquanto que a outra
pertenceria às vias que efectivamente foram levadas por D. Garcia de Noronha, e das
quais duas foram abertas em 1540. Ainda assim, esta é uma hipótese que se encontra
por provar, apesar de a considerarmos válida, visto a via encontrada para D. Estevão
da Gama datar de dia 24 de Março de 1538, enquanto que a de D. Pedro de Castelo
Branco data de 28 do mesmo mês.
Por fim, em relação aos três governadores nomeados em Lisboa que não
morreram no exercício das suas funções tentámos descobrir quais as hipotéticas
sucessões que o Rei lhes havia assegurado.
Deste modo, para Nuno da Cunha, Gaspar Correia fala-nos numa presumível
sucessão de António de Saldanha. Uma vez que, segundo o cronista, este ter afirmado
que tinha esperança de suceder a Nuno da Cunha, em caso de morte do mesmo.47
Já para Martim Afonso de Sousa, por seu turno, temos a possível sucessão de
Diogo da Silveira, bem como o envio de novas vias em 1544, tal como já foi
mencionado. Estas duas situações poderiam levantar a questão de se, efectivamente, 43
Cf. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 61, n.º 22. 44
A via numerada com o número dois não foi encontrada, pelo que se pode considerar que seria esta que continha o nome de Martim Afonso de Sousa. 45
Cf. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 61, n.º 19. E ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 61, n.º 10. 46
Provavelmente a de D. Estevão da Gama, uma vez que foi este que acabou por chegar ao poder, pelo segundo lugar na ordem de sucessão. 47
Cf. Gaspar Correia, Lendas da Índia, volume V, pp. 283-284.
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o Rei teria, ou não, dado vias a Martim Afonso de Sousa quando este partiu de
Portugal, em 1541. No entanto, como vimos, o Governador jura abrir as vias caso o Rei
não lhe envie sucessor, no fim do seu triénio, pelo que, à partida, o Rei lhe deu, de
facto, vias em 1541.48
Por fim, para D. Afonso de Noronha, não nos foi possível encontrar qualquer tipo
de referência a possíveis sucessões ao mesmo, nem nas crónicas nem na
documentação consultada no ANTT.
Conclusões
Porém, o certo é que este sistema, institucionalizado por D. João III em 1524,
acabou por se revelar eficaz. Prova disso é o facto de o mesmo continuar a existir
depois da morte do monarca49, bem como o facto de existirem evidências da aplicação
do mesmo noutro contexto que não o governo do Estado Português da Índia,
nomeadamente nas capitanias do mesmo. De facto, a este respeito, Fernão Lopes de
Castanheda diz-nos que Martim Afonso de Sousa enviou Simão Botelho por capitão de
Malaca, dando-lhe “(…) hũ aluara de sucessão na capitania se morresse Ruy Vaz
Pereira, que hia por capitão (…).50”
De igual modo, pelo exposto acima, se depreende que existia um grande nível de
secretismo em torno da questão das sucessões. Aliás, basta lermos apenas um destes
alvarás para compreendermos isto mesmo. Em todos eles o Rei afirma: “E este mando
que se cumpra e guarde como nele se comtem posto que nom seja passado pela
chamcelaria sem enbarguo da ordenança em comtrairo.” Ou seja, à partida, o Rei e o
seu escrivão eram as únicas pessoas que sabiam quais as pessoas que estavam
nomeadas em cada uma das sucessões. E este é um facto que é reforçado através da
leitura da crónica de Gaspar Correia, uma vez que o mesmo, aquando da chegada ao
poder de D. Estevão da Gama, afirma redundantemente: “ninguém sabe o segredo das
sucessões.51”
Para além destes dois factos, há a acrescentar um último e a que já se referiu
brevemente em cima. Referimo-nos ao facto de as vias que não eram utilizadas terem
que ser mandadas de volta para o reino, fechadas e seladas. Isto é visível quando, em
48
Ou as vias a que Martim Afonso de Sousa se estava a referir eram outras que recebeu entretanto? 49
Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte I, capítulo lviii. 50
Cf. Fernão Lopes de Castanheda, História do Descobrimento & Conquista da Índia pelos Portugueses, livro IX, capítulo xxxi. 51
Cf. Gaspar Correia, Op. Cit., volume VII, p. 120.
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1548, D. João III reconduz D. João de Castro e lhe envia novas vias, pedindo-lhe que
devolva as três que tem consigo e que, em caso de necessidade, se abram as cinco
novas vias que acaba de enviar.52 Mas também é visível quando, em 1526, o Rei envia
duas novas vias e pede que as que foram enviadas em 1524, por D. Vasco da Gama,
sejam devolvidas sem serem abertas, o que já tinha acontecido.53
Ainda a este respeito, aquando da abertura de uma via, havia um grande
procedimento cerimonial. A título de exemplo, tomaremos a primeira destas
cerimónias como referência. Na mesma, Lopo Vaz de Sampaio informa os nobres
presentes de que o Rei enviou sucessões.54 E as mesmas passam das mãos do
secretário para as de Sampaio que, de seguida, as mostra a todos os presentes, sendo
que alguns pegam na mesma para confirmar que esta está em perfeitas condições. De
seguida, Sampaio pergunta se alguém tem dúvidas, fazendo-se um auto disse mesmo.
Depois disto, Andrada diz-nos que cada via tinha três selos de armas reais e que as
segunda e terceira vias foram de novo metidas dentro do saco de onde tinham sido
retiradas. Por sua vez, este foi de novo cosido e selado com o selo das armas reais e foi
colocado dentro de um cofre.55 O que nos mostra, efectivamente, o grande cuidado e
secretismo que envolvia esta questão. O Rei não queria que se soubesse, antes do
tempo, qual a pessoa que tinha nomeado para substituir o governador que nesse
momento estava no poder. Nem queria que, no caso de mudar de ideias, se soubesse
quais tinham sido as suas escolhas iniciais. Aliás, de facto, aquando da chegada das
novas vias em 1526, várias são as vozes que se levantam contra a abertura das
mesmas, uma vez que tal significaria a desonra para Pêro Mascarenhas, anterior
escolha do Rei.56 E era exactamente por este tipo de motivos, de honra e desonra, e de
favorecimento de certas redes clientelares, que esta questão das sucessões sempre
foi, o mais possível, secreta. O Rei nunca quis que se soubesse quais os hipotéticos
sucessores, a fim de tentar evitar que isso interferisse em alguma coisa nas acções dos
que estavam designados nas mesmas (ou, até mesmo, dos que não estavam e que
pretendiam estar).
52
Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte IV, capítulo xxix. 53
Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte II, capítulo ix. 54
O que nos dá a ideia de que as mesmas não eram, de facto, conhecidas pelos nobres. 55
Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte I, capítulo lxv. 56
Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década IV, livro i, capítulo 9.
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Ainda assim, o certo é que as crónicas também nos apresentam claros indícios de
fugas de informação a este respeito. Detectam-se, pelo menos, 4 casos que reflectem
esta situação.
O primeiro remonta, tal como já foi referido anteriormente, ao governo de Nuno
da Cunha, em que António de Saldanha tinha a convicção de que, em caso de morte do
mesmo, seria ele o novo governador: “(...) Antonio de Saldanha (...) trazia presunção
que n’estas cartas que trazia vinha prouisão d’ElRey pera que elle gouernasse a India se
Nuno da Cunha nom passasse á India ou falecesse no caminho.57” Não sabemos se esta
convicção tinha, ou não, algum fundo de verdade, uma vez que as vias entregues pelo
Rei a Nuno da Cunha não foram encontradas. Porém, esta afirmação deixa
transparecer a ideia de que António de Saldanha poderia ter alguma informação de
que seria o efectivo sucessor a Nuno da Cunha.
Por outro lado, aquando do governo de D. Garcia de Noronha, o Conde do
Vimioso terá escrito a Estevão da Gama que caso Martim Afonso de Sousa voltasse
para o reino que ele se deveria deixar ficar na Índia. Mas que no caso de este não
voltar que poderia Gama fazê-lo. O que dá claramente a entender que este sabe que é
D. Estevão o seguinte na ordem das sucessões.58
Por seu turno, aquando da abertura da terceira via de sucessão de D. João de
Castro, Jorge Cabral terá dito “Dera alguma cousa agora por saber qual he o rapaz da
quinta sucessão, que a quarta bem sei que sou eu.59” E, de facto, era este o quarto
nomeado, tanto que acabou por se tornar governador, por morte de Garcia de Sá, em
1549.
Por fim, D. Pedro de Mascarenhas, antes da sua partida para a Índia, terá pedido
a D. João III que lhe dissesse quem estava nomeado nas suas vias, ao que o Rei terá
respondido que ele tivesse muito em conta Francisco Barreto, dando-lhe a entender
claramente que seria este o nomeado.60
Pelo exposto, se conclui que as vias de sucessão foram um mecanismo criado
pelo centro para controlar uma periferia, devido à impossibilidade de fazer chegar, em
tempo útil, um novo governador. E que apesar de o Rei, a acreditar-se no que diz
Andrada, advogar para si a responsabilidade de assegurar a sucessão do governo do
Estado Português da Índia, pelo facto de não querer que esta ficasse a cargo da
57
Cf. Gaspar Correia, Op. Cit., volume V, pp. 283-284. 58
Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década V, livro vi, capítulo 7. 59
Cf. Idem, Ibidem, década VI, livro i, capítulo 1. 60
Cf. Idem, Ibidem, década VII, livro i, capítulo 3.
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nobreza presente na Índia, a fim de evitar divisões entre a mesma, a criação deste
sistema não implicou, necessariamente, o fim deste problema. Pelo menos, não numa
fase inicial.
E a provar-nos isso mesmo está o problema criado em 1526, uma vez que, por
falta de indicações precisas do Rei, sobre o que se deve fazer no caso de D. Henrique
de Meneses já ter falecido e já se terem aberto as vias enviadas em 1524, a nobreza
presente no local se acaba por dividir e não saber, exactamente, a que governador
deve obedecer. Porém, devido exactamente a esta questão, a partir de então, o Rei
começa a criar salvaguardas nas vias, declarando que “E nam semdo o dito dom pedro
de castel branco/ presente por ser fora em alguma armada ou em outra parte ey por
bem/ que gouerne o capitam moor do mar e o veedor da fazenda e o capi/tam de guoa
todos juntamente (...) e nom podendo ser/ gouerne hum soo segundo estaa declarado,
os quaes seram loguo mandados/ chamar pera gouernarem e gouernaram atee vir o
dito dom pedro de castelbranco/ que loguo isso mesmo sera chamado,e estando o dito
veedor da fazenda/ soo na dita gouernanca ou com alguum dos sobre ditos ou todos
lha/ entreguaram loguo tanto que vier pera gouuernar segundo forma desta/
prouisam.61” Ou seja, o Rei tenta evitar que se abram as vias seguintes, como
aconteceu em 1526, e que se espere pelo governador nomeado até este chegar a
Goa.62 O que nos mostra, claramente, que o Rei queria, ao máximo, evitar novos
problemas e novas divisões no seio da nobreza presente na Índia.
Pois, de facto, é inegável que esta influenciava, de certo modo, o funcionamento
do sistema das vias de sucessão. Pelos seus feitos, ou pelos feitos dos que lhe eram
mais próximos, os fidalgos exerciam uma certa pressão sobre o Rei para que este os
agraciasse. E, no século XVI, não haveria recompensa melhor do que se ser nomeado
Vice-Rei ou Governador do Estado Português da Índia, nem que fosse nas vias de
sucessão. O que, aliás, nos prova a suposta fala da mulher de Jorge Cabral, que lhe terá
dito para este aceitar o cargo de governador “nem que fosse por quinze dias”, uma vez
que sê-lo constituía uma imensa honra para o indivíduo. Bem como ser destituído do
cargo, como foi D. Estevão da Gama, era, pelo contrário, extremamente desonroso.
61
Cf. ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, maço 61, n.º 19. Este exemplo foi retirado da via de sucessão de D. Pedro de Castelo Branco a D. Garcia de Noronha, mas a cláusula é igual em todas as vias encontradas, mudando apenas o nome do eventual sucessor. 62
Claro que este caso não se aplicava às pessoas que já tinham voltado para o Reino, daí que, em 1540, não se espere por Martim Afonso de Sousa, por exemplo.
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Mas a fidalguia portuguesa presente na Índia também influenciava este sistema
de outro modo, precisamente oposto. Pelas queixas que os nobres faziam uns dos
outros ao Rei, o mesmo poderia ser pressionado a mudar de ideias e,
consequentemente, a enviar novas vias com novos nomes ou com novas ordens para
os mesmos. Que foi, precisamente, o que sucedeu em 1526. Pela quezília entre Afonso
Mexia e Pêro Mascarenhas, o Rei mudou a ordem das vias de sucessão, o que veio
lançar o Estado Português da Índia numa profunda confusão. O que acabou por levar a
que, em 1529, Lopo Vaz de Sampaio fosse preso e considerado um usurpador do poder
que, legalmente, pertenceria a Pêro Mascarenhas.
No entanto, na altura da sua prisão, Sampaio terá dito ao enviado de Nuno da
Cunha: “Dizei ao Governador, que eu prendi, e elle me prende, lá virá quem o prenda a
ele.63”
O que, de facto, aconteceu. E o que, de facto, aconteceu a muitos dos
governadores que não morreram em exercícios de funções, não só no governo de D.
João III. O que nos prova que apesar de os governadores do Estado Português da Índia
terem uma ampla área de decisão, nem sempre o Rei, à posteriori, concordava com a
mesma, levando muitos homens a caírem na desgraça depois de chegados ao reino.
E por receio de não concordar, também, com as escolhas dos nobres presentes
na Índia, o Rei cria este sistema, a fim de garantir a sucessão do governo da Índia nas
mãos de uma pessoa da sua confiança. Ao confiar na pessoa, e ao honrá-la dando-lhe
tal cargo, espera que a mesma, à partida, o sirva bem.
De facto, se analisarmos as escolhas do Rei, compreendemos que o mesmo
sempre procurou exercer a sua política rodeado de pessoas da sua absoluta confiança.
Por um lado, apoiava-se em veteranos como António de Saldanha, D. Garcia de
Noronha ou D. Pedro de Mascarenhas, por exemplo. E, por outro lado, mantinha,
também, junto de si os indivíduos da sua geração e que tinham crescido consigo,
nomeadamente Martim Afonso de Sousa, D. Pedro de Castelo Branco, Diogo da
Silveira ou D. Henrique de Meneses.
Aliás, logo as primeiras escolhas do Monarca deixam transparecer esta sua dupla
política. Se, por um lado, dava mostras de respeitar uma geração mais velha, enviando
D. Vasco da Gama por Vice-Rei em 1524, por outro lado, no segredo das vias
sucessórias, apostava, em primeiro lugar, num jovem que seria da sua estrita
63
Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década IV, livro vi, capítulo 6.
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confiança. E só em alternativa a este indivíduo inexperiente é que o Rei voltou a
indicar veteranos da Índia, nomeadamente Pêro Mascarenhas e Lopo Vaz de Sampaio.
Desta forma, e pelas imensas teias familiares e clientelares que se tecem em
torno das várias personagens que alcançaram o poder no Estado Português da Índia ou
que estiveram, pelo menos, na linha de sucessão do mesmo, esta é uma questão que
também necessitará de maior desenvolvimento no futuro. Por tudo o que foi exposto,
consideramos que se compreende que as relações familiares de cada um destes
indivíduos determinaram as suas nomeações. Bem como, nalguns casos, as amizades
pessoais com o Rei o fizeram. Mas uma análise mais detalhada queda por realizar,
nomeadamente no caso dos hipotéticos sucessores. Tal como já referimos, há que
tentar compreender por que motivo, por vezes, o Rei mudava de ideias e elaborava
novos alvarás de sucessão. Todavia, esta é uma questão que, por enquanto, ficará por
responder.
Tal como outras, aliás, o ficam. De facto, muitas questões foram deixadas em
aberto ao longo deste trabalho, tal como se foi referindo à medida que estas
apareciam, e que só poderão ser desenvolvidas no âmbito de um trabalho de maior
amplitude e investigação sistemática sobre o assunto.
Por agora, cabe-nos deixar estas questões em aberto, avançando apenas
algumas hipóteses para as mesmas, ressaltando que as mesmas apenas existem por os
homens, nem sempre, se preocuparem em deixar para a posteridade todos os factos
bem esclarecidos. Tal como afirma João de Barros, “Muitas cousas leixam de escrever
os Escritores da historia por serem mui sabidas, e notas aos vivos daquelle Reyno, e
tempo, em que elles escrevêram, donde se segue ficarem elles sepultados no decurso
do tempo, cuja memoria he mui fraca, senão he ajudada da escritura. Porém quando
em alguma particular achamos cousa do que elles não fizeram menção, ora seja de
caso aquecido, ora de costume, e governo da nossa propria patria, deleitamo-nos
muito com esta tal novidade, e ás vezes tomamos a mesma cousa passada pera
exemplo do presente governo (…) Porque ainda que estas cousas a nós os presentes
sejam commuas, podem ser conhecimento aos estranhos de como governamos
aquelles estados do Oriente, e os nossos que depois vierem, saibam como se conservou
per bom conselho (…)”.64
64
Cf. João de Barros, Op. Cit., década III, livro ix, capítulo 1.
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Anexos
Tabela n.º 1: Governadores/Vice-Reis anteriores a 152465
Tabela n.º2: Governadores/Vice-Reis posteriores a 152467
65
Informações retiradas de Genealogias dos Vice-Reis e Governadores do Estado Português da índia no Século XVI. Disponível em: http://www.cham.fcsh.unl.pt/GEN/Index.htm [Consultado a 7 de Outubro de 2012]. 66
Apesar de ter governado durante o reinado de D. João III, D. Duarte partiu de Lisboa a 5 de Abril de 1521, pelo que ainda foi nomeado por D. Manuel I. Cf. Damião de Góis, Op. Cit., livro IIII, capítulo lvx. 67
Informações retiradas de Genealogias dos Vice-Reis e Governadores do Estado Português da índia no Século XVI. Disponível em: http://www.cham.fcsh.unl.pt/GEN/Index.htm [Consultado a 7 de Outubro de 2012].
Nome Data de
Nascimento
Anos de
Governo
Idade à
data da
nomeação
Reinado
D. Francisco
de Almeida c. 1457 1505-1509 c. 48 anos D. Manuel I
Afonso de
Albuquerque c. 1462 1510-1515 c. 48 anos D. Manuel I
Lopo Soares
de Albergaria c. 1460 1515-1518 c. 55 anos D. Manuel I
Diogo Lopes
de Sequeira 1466 1518-1521 c. 52 anos D. Manuel I
D. Duarte de
Meneses ? 1521-1524 ? D. Manuel I66
21 |Ana Cláudia Joaquim, As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia 1524-1558
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Nome Data de
Nascimento
Anos de
governo
Idade à
data da
nomeação
Vindo de
Lisboa ou
nomeado
por via de
sucessão?68
Cargo
ocupado
Os que
sucedem
ficam quanto
tempo no
poder?
Quem está nomeado nas vias de
sucessão?
D. Vasco da
Gama
c. 1466 1524 c. 58 anos Vindo de
Lisboa
Vice-rei Vias enviadas em 1524 (não
encontradas):
1ª – D. Henrique de Meneses
2ª – Pêro de Mascarenhas
3ª – Lopo Vaz de Sampaio
D. Henrique
de Meneses
1496 1525-
1526
c. 29 anos Via de
Sucessão
(1º)
Governador Não cumpre
os 3 anos
porque
morre
Vias enviadas em 1526 (não
encontradas):
1ª – Lopo Vaz de Sampaio
2ª – Pêro de Mascarenhas
Pêro
Mascarenhas
Data
incerta
? Via de
Sucessão
(2º)
Governador
Lopo Vaz de
Sampaio
Data
incerta
1526-
1529
? Via de
Sucessão
(3º)
Governador 3 anos
Nuno da
Cunha
1487 1529-
1538
c. 42 anos Vindo de
Lisboa
Governador Hipotética sucessão de
António de Saldanha, segundo
Gaspar Correia.
Vias não encontradas
D. Garcia de
Noronha
Data
incerta
1538-
1540
? Vindo de
Lisboa
Vice-rei Vias enviadas
em 1538:
1ª- Nuno da
Cunha
3ª – D. João de
Castro
4ª – D.
Vias
enviadas em
1541:
2ª – D.
Francisco de
Meneses.
3ª – Diogo
Lopes de
68
A ordem apresentada para as vias de sucessão é a ordem que as crónicas nos apresentam.
22 |Ana Cláudia Joaquim, As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia 1524-1558
III EIJHM 2013 Évora | III Encontro Internacional de Jovens Investigadores em História Moderna III International Meeting of Young Researchers in Early Modern History
Estevão da
Gama
4ª – D. Pedro
de Castelo
Branco
Sousa
4ª –
Francisco de
Sousa
Tavares
D. Estevão da
Gama
1505 1540-
1542
c. 35 anos Via de
Sucessão
(2º)
Governador Não cumpre
3 anos
porque o Rei
nomeia
Martim
Afonso de
Sousa, que
seria a sua 1ª
opção nas
vias de
sucessão de
D. Garcia de
Noronha.
Martim
Afonso de
Sousa
1500 1542-
1545
c. 42 anos Vindo de
Lisboa
Governador Hipotética sucessão de Diogo
da Silveira.
Vias enviadas em 1542?
Vias enviadas em 1544:
1ª – D. Francisco de Meneses
3ª – D. Garcia de Castro
Restantes vias não
encontradas
D. João de
Castro
27/02/150
0
1545-
1548
45 anos Vindo de
Lisboa
Governador
(mandato
renovado
em 1548
com o título
(vias de 1545 não
encontradas)
23 |Ana Cláudia Joaquim, As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia 1524-1558
III EIJHM 2013 Évora | III Encontro Internacional de Jovens Investigadores em História Moderna III International Meeting of Young Researchers in Early Modern History
de Vice-Rei) Vias de
154869 (não
encontradas):
1ª – D. João
de
Mascarenhas
2ª – D. Jorge
Tello
3ª – Garcia de
Sá
4ª – Jorge
Cabral
5ª - ?
Vias de
154870 (não
encontradas):
1ª – D. João
de
Mascarenhas
2ª – Garcia de
Sá
3ª – D. Jorge
Tello
4ª – Jorge
Cabral
5ª - ?
Garcia de Sá c. 1478 1548-
1549
c. 70 anos Via de
Sucessão
(3ª,
segundo
Diogo do
Couto. 2ª,
segundo
Francisco
de
Andrada)
Governador Não cumpre
os 3 anos
porque
morre
Jorge Cabral Data
incerta
1549-
1550
? Via de
Sucessão
(4ª)
Governador Não cumpre
os 3 anos
porque o rei
envia D.
Afonso de
Noronha,
quando sabe
da morte de
D. João de
Castro. Não
seria de
esperar que
confiasse nos
que estavam
69
Cf. Diogo do Couto, Op. Cit., década VI, livro vii, capítulo 1. 70
Cf. Francisco de Andrada, Op. Cit., parte IV, capítulo xxix.
24 |Ana Cláudia Joaquim, As Vias de Sucessão no Estado Português da Índia 1524-1558
III EIJHM 2013 Évora | III Encontro Internacional de Jovens Investigadores em História Moderna III International Meeting of Young Researchers in Early Modern History
nas vias de
sucessão?
D. Afonso de
Noronha
Data
incerta
1550-
1554
? Vindo de
Lisboa
Vice-rei Vias não encontradas
D. Pedro
Mascarenhas
c. 1484 1554-
1555
c. 70 anos Vindo de
Lisboa
Vice-rei Vias de 1554 (não
encontradas)
1ª – Francisco Barreto
Restantes?
Francisco
Barreto
1520 1555-
1558
c. 35 anos Via de
Sucessão
(1ª)
Governador 3 anos