ARTE EM QUADRINHOS: A PERSPECTIVA DO ENSINO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA AULA DE ARTE
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
PLATAFORMA FREIRE
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
CLAUDIA CAVALCANTE CEDRAZ CARIBÉ DE OLIVEIRA
JOSÉ ANTÔNIO CORREIA DE SOUZA
ARTE EM QUADRINHOS: A PERSPECTIVA DO ENSINO DE
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA AULA DE ARTE.
SALVADOR 2013
CLÁUDIA CAVALCANTE CEDRAZ CARIBÉ DE OLIVEIRA
JOSÉ ANTÔNIO CORREIA DE SOUZA
ARTE EM QUADRINHOS: A PERSPECTIVA DO ENSINO DE
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA AULA DE ARTE.
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Artes Visuais da Plataforma Freire do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia. Orientação: Prof.ª Patrícia Nicolau Magris.
SALVADOR
2013
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592
Oliveira, Cláudia Cavalcante Cedraz Caribe de
Arte em quadrinhos: a perspectiva do ensino de histórias em quadrinhos na aula de arte /
Cláudia Cavalcante Cedraz Caribe de Oliveira; José Antônio Correia de Souza. - Salvador,
2013.
72f
Orientadora: Patrícia Nicolau Magris.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Plataforma Freire. Campus I. 2013.
Contém referências e apêndices.
1. História em quadrinhos na educação. 2. História em quadrinhos - Estudo e ensino. 3.
Ensino - Meios auxiliares. I. Souza, José Antônio Correia de. II. Magris, Patrícia Nicolau.
III. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação.
CDD: 371.332
CLÁUDIA CAVALCANTE CEDRAZ CARIBÉ DE OLIVEIRA
JOSÉ ANTÔNIO CORREIA DE SOUZA
ARTE EM QUADRINHOS: A PERSPECTIVA DO ENSINO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA AULA DE ARTE.
Monografia apresentada no curso de graduação à Universidade do Estado da Bahia,
Departamento de Educação, Plataforma Freire, para conclusão do curso de
Licenciatura em Artes Visuais.
Área de concentração: Arte. Educação.
Salvador, 12 de novembro de 2013
Resultado: ___________________________
BANCA EXAMINADORA
Patrícia Nicolau Magris (Orientadora) Prof.ª Ms ____________________ Universidade do Estado da Bahia André Luiz Souza da Silva (Betonnasi) Prof. Dr. ____________________ Universidade do Estado da Bahia Luciano Sérgio Ventin Bomfim Prof. Dr. ____________________ Universidade do Estado da Bahia Claudia Sisan Prof.ª Ms ____________________ Universidade do Estado da Bahia Ednelza Badaró Prof.ª _______________________ Universidade do Estado da Bahia
Dedico este trabalho, especialmente aos amigos, colegas e professores pelo apoio e incentivo.
José Antônio
AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Lucineide e Antônio Luiz pela régua e compasso. A Andersen pela parceria e apoio. A Henrique e Raquel pela tolerância com as ausências. Aos colegas do curso que transformaram o cansaço da jornada, na alegria do encontro; especialmente José Antônio que foi simplesmente INCRÍVEL. A alguns professores que me mostraram que a educação é a chave de tudo e outros professores que me indicaram o caminho que não devo nunca seguir. Ao coordenador Joceval Bitencourt por me ensinar a ser paciente. A professora Patrícia Magris por me indicar novos caminhos. Ao departamento por me lembrar que há muita coisa a ser transformada. À Parfor por me lembrar que eu posso!
Cláudia
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, a meus irmãos e irmãs, aos amigos, aos colegas professores, pelo companheirismo na caminhada. A todos os professores do curso de Artes Visuais do Departamento de Educação, UNEB, PARFOR, pelo compartilhar de seus saberes. À professora Ivone França e ao professor Joceval Bitencourt pela dedicação como coordenadores do curso e à orientadora Patrícia Magris pelo incentivo e apoio e pela oportunidade de importantes aprendizados. Ao professores Pedro Eduardo de Lima e Claudia Cedraz, pela parceira e pela confiança. A Deus, pelo dom da vida.
José Antônio
RESUMO
O presente trabalho, elaborado a partir de revisão bibliográfica e de coleta de dados, possui caráter qualitativo e exploratório e pretende identificar possibilidades do uso das histórias em quadrinhos na sala de aula de Arte. Além disso, busca identificar quais os princípios que podem ser adotados no trabalho com histórias em quadrinhos na aula de Arte, de forma a contemplar a criatividade, a percepção visual, a leitura imagética e crítica das HQ. Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico em que são apresentados resumos das principais obras referentes ao tema. Em seguida são analisados e apresentados os resultados de uma oficina de história em quadrinhos realizada com alunos de uma escola pública. Ao final do trabalho consideramos que é possível utilizar as histórias em quadrinhos nas aulas de arte, não apenas como distração ou para chamar a atenção para determinados temas, mas tornando os alunos produtores e autores de quadrinhos.
Palavras-Chave: História em quadrinhos. Ensino de arte. Quadrinhos na sala de
aula.
ABSTRACT
This paper results of a bibliographic study and also data collection and analysis. It has a qualitative and exploratory nature, aiming to identify the possibilities of use of comics in the Arts classroom. Besides, the study aims to identify which principles may be taken into consideration in the work with comics in the Arts classroom when approaching creativity, visual perception, image reading and the understanding of comics from a critical perspective. Bibliographic research was carried out being the main authors’ accounts presented in this report. This part of the study was followed by the analysis of results achieved in a comics workshop done with students of a public school. The study has shown that it is possible to use comics in the Arts class not only as a means of distraction our just to draw students’ attention to some topics, but also to get students to write and produce comics of their own. Keywords: Comics. Arts teaching. Comics in classroom.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Balão de cochicho....................................................................... 31
Figura 2 Balão de grito.............................................................................. 31
Figura 3 Balão de sonho ou pensamento................................................. 31
Figura 4 Plano geral.................................................................................. 31
Figura 5 Plano médio................................................................................ 31
Figura 6 Primeiro plano............................................................................. 32
Figura 7 Plano de detalhe......................................................................... 32
Figura 8 Onomatopeia............................................................................... 32
Figura 9 Metáfora visual............................................................................ 32
Figura 10 Movimento .................................................................................. 32
Figura 11 Balões de “cochicho”................................................................... 57
Figura 12 Balões “pensamento”.................................................................. 57
Figura 13 Balões de “grito”.......................................................................... 57
Figura 14 Onomatopeias............................................................................. 57
Figura 15A Ampliação dos balões................................................................. 58
Figura 15B Ampliação dos balões................................................................. 58
Figura 16 Exemplo de balões e onomatopeia elaborados pelos alunos..... 59
Figura 17 Tira de historia em quadrinhos.................................................... 60
Figura 18 Dinâmica realizada – construção de HQ com cartazes.............. 60
Figura 19 Alunos na produção.................................................................... 63
LISTA DE QUADROS
Quadro I Idade, sexo e série dos participantes......................................... 47
Quadro II Motivações para participar da oficina de quadrinhos.................. 49
Quadro III Historias favoritas....................................................................... 50
Quadro IV Uso de HQ nas aulas.................................................................. 51
Quadro V Abordagem de história em quadrinhos nos livros didáticos
usados pelos alunos...................................................................
52
Quadro VI Perspectiva dos participantes quanto ao aprendizado por HQ... 52
Quadro VII Experiência dos participantes na produção de histórias em
quadrinhos.................................................................................
53
Quadro VIII Opinião sobre o uso das HQ nas aulas...................................... 53
Quadro IX Elementos que mais despertam a atenção dos participantes
em uma HQ.................................................................................
54
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
12
1 ENSINO DE ARTE NO BRASIL
14
2 A ORIGEM DAS HISTORIAS EM QUADRINHOS 24 2.1 OS QUADRINHOS EM SALA DE AULA
27
3 CONTEUDOS DE ARTE E QUADRINHOS 34 3.1 AS HISTORIAS EM QUADRINHOS NA SALA DE AULA 36 3.2 A PRODUÇÃO DE HISTORIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DE ARTE
39
3.3 O PNBE E AS HISTORIAS EM QUADRINHOS
41
4 OFICINA DE HISTORIAS EM QUADRINHOS 44 4.1 METODOLOGIA 44 4.1.1 Contexto da Pesquisa 44 4.1.2 Instrumento de Coleta de Dados 46 4.1.3 os Participantes da Pesquisa 47 4.2 ANÁLISE DOS DADOS 49 4.3 ANALISE DO PROCESSO
55
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
64
REFERÊNCIAS
66
APENDICE Apêndice A – Edital do Projeto 69 Apêndice B – Oficio 70 Apêndice C – Cartaz da Oficina 71 Apêndice D – Questionário dos alunos 72
12
INTRODUÇÃO
As Histórias em quadrinhos foram criadas e sempre acompanharam e
contextualizaram com a história da humanidade, oferecendo ao leitor uma variedade
de personagens, situações e soluções gráficas que estimulam o interesse do leitor
em diversas fases da sua vida. Contudo, têm tido seu uso muitas vezes,
negligenciado no ensino de Artes, ao passo em que são utilizadas de maneira ampla
por outros componentes curriculares, especialmente nas áreas de linguagens e
Ciências Humanas.
Os quadrinhos infantis recebem inúmeras críticas de professores e profissionais de
educação que acreditavam que este tipo de leitura poderia prejudicar o
desenvolvimento intelectual das crianças. Estes profissionais argumentavam que por
ser bastante ilustrada as Histórias em quadrinhos, inibiam a leitura das palavras e a
compreensão do texto, fazendo com que os alunos deixassem de ler e estudar.
Contrário a este movimento “anti-quadrinhos”, a opinião sobre elas mudou e foi
provado que elas podem ser um importante suporte para os educadores.
O uso das HQ nos livros didáticos vem ganhando uma popularidade enorme nas
últimas décadas. Há o uso de tirinhas e páginas inteiras de HQ em livros das mais
diferentes disciplinas, como apregoa VERGUEIRO (2009) que afirma também que
em muitos países, os órgãos oficiais de educação implantaram em seus currículos
escolares o uso das HQ. Como se pode ver, não é uma tendência somente dos
autores de livros didáticos do Brasil, mas sim uma tendência global.
São várias as motivações dos leitores contumazes das HQ. Segundo (REZENDE,
2009, p. 126) “as HQ podem ser vistas como objeto de lazer, estudo e investigação.
A maneira como as palavras, imagens e as formas são trabalhadas apresenta um
convite à interação autor e leitor”.
Embora o uso das HQ seja recomendado pelos especialistas, a exemplo de Flávio
Calazans e outros autores, são necessários alguns critérios em sua utilização para
fins pedagógicos. De acordo com Calazans (2005) “O grande problema do uso do
13
quadrinho em sala de aula é a questão do humor. Ele tem que ser muito bem
dosado para que não vire bagunça.”
Este trabalho procura identificar possibilidades do uso das histórias em quadrinhos
na sala de aula de arte respondendo ao questionamento: quais os princípios que
podem ser adotados no trabalho com histórias em quadrinhos na sala de Arte. Na
tentativa de identificar possibilidades do uso dos quadrinhos como recurso nas aulas
de Arte, de forma a contemplar a criatividade, a percepção visual, a leitura imagética
e crítica das HQ.
Quanto à metodologia adotada, este trabalho que possui caráter bibliográfico,
qualitativo e exploratório, adotou os seguintes procedimentos:
- Revisão bibliográfica com consultas em bibliotecas e artigos publicados em formato
digital, cujos textos foram lidos, fichados e/ou resenhados e tiveram partes
selecionadas que aparecem como citação direta ou paráfrase, informando sempre a
referência dos autores e as fontes consultadas.
- Coleta de dados durante a Oficina de História em Quadrinhos realizada em uma
escola da rede pública de ensino, com utilização de instrumentos previstos em
pesquisa participante: 1) anotações em diário de campo e 2) questionário
desenvolvido pelos pesquisadores de acordo com os objetivos desse estudo e
aplicado aos alunos participantes da oficina.
- Análise dos questionários e das anotações acerca das observações do processo
de criação, consideradas no banco de dados, à luz da bibliografia visitada, com
apresentação de recortes dos dados coletados.
14
1 ENSINO DE ARTE NO BRASIL
Na tentativa de situar o uso das histórias em quadrinhos como instrumento
pedagógico, consideramos a necessidade de fazer uma contextualização, ainda que
breve, da história do ensino de Arte no Brasil. Para fazer isso, recorremos à
construção de uma periodização1 que paralelamente apresenta e estabelece
relações entre a Educação, a Arte e o ensino de Arte em diferentes momentos da
história do Brasil.
O Período Jesuítico é compreendido entre 1549 e 1759, durante o qual teve início a
história da Educação no Brasil. Esse início deu-se, primeiramente, com a chegada,
em 1549, dos primeiros padres jesuítas à então colônia portuguesa, o que acabou
por inaugurar uma fase que por fim deixaria marcas profundas na cultura e
civilização do futuro país. A corrente de ensino que abarca o período é a pedagogia
jesuítica.
Uma das medidas mais profundas do período foi o investimento religioso dos padres
que, movidos por intenso sentimento religioso de propagação da fé cristã, se
estabeleceram como praticamente os únicos educadores do Brasil. Embora
tivessem fundado inúmeras escolas que visavam ensinar a ler, contar e escrever,
seu principal foco foi a escola secundária. Nesse grau de ensino, organizaram uma
rede de colégios reconhecida por sua qualidade, alguns dos quais chegaram mesmo
a oferecer modalidades de estudos equivalentes aos de nível superior.
Em matéria de educação escolar, os jesuítas souberam construir a sua hegemonia. Não apenas organizaram uma ampla ‘rede’ de escolas elementares e colégios, como o fizeram de modo muito organizado e contando com um projeto pedagógico uniforme e bem planejado, sendo o Ratio Studiorum a sua expressão máxima (SANGENIS, 2004, p.93).
No que concerne às Artes em geral, o Período Jesuítico coincidiu com a estética
Barroca, produzindo narrativas de fundo teológico na literatura e a construção de
1 Este periodização e parte de seus argumentos tomou por base um Quadro-resumo que foi elaborado a partir de anotações feitas durante as aulas do Componente Curricular História da Educação, ministrado pela professora Maria Alba Guedes Machado Mello no curso de Artes Visuais, DEDC-I, UNEB nos períodos de 3 a 10 de julho de 2010, de 1 a 7 de agosto de 2010 e de 4 a 11 de setembro de 2010.
15
Igrejas que resultavam da valorização do sacro também nas Artes Plásticas.
Também coincidiu, na filosofia, com o período conhecido como Iluminismo. Quanto à
relação entre ensino e Arte, os jesuítas priorizaram a organização nos aldeamentos
e colégios, nos quais o ensino do desenho como elemento técnico para formação
em carpintaria e marcenaria era privilegiado.
Mais de duzentos anos após a chegada dos jesuítas ao Brasil, sua presença deixou
de ter interesse comercial para a metrópole. Dessa forma, em 1759, Marques de
Pombal, que então tinha grande poder político no reino, expulsou os padres de
Portugal e de todas as suas colônias, o que resultou em considerável vazio
educacional que não foi preenchido nas décadas seguintes. Assim, ficou conhecido
como Pombalino o período compreendido entre 1760, ano seguinte à expulsão dos
jesuítas, e 1808, quando a Família Real transferiu-se para o Brasil.
Utilizando-se do alvará que assinou em 28 de junho de 1759, Pombal suprimiu as
escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias. Além disso, criou as aulas
régias de Latim, Grego e Retórica, que eram autônomas e isoladas, sem articulação
entre si, com professor único e pedagogia tradicional. Os docentes dessas
disciplinas não eram necessariamente preparados para a função, já que eram
improvisados e mal pagos. Seu cargo resultava de nomeação indicada ou sob
concordância de bispos que se tornavam "proprietários" vitalícios das aulas régias.
Como se percebe, nesse período, resultou que a decisão de Pombal reduziu, no
início do século XIX, a importância da Educação a muito pouco (ou nada) para a
sociedade. Nas Artes, o período coincidiu com o Barroco no Brasil e o
Neoclassicismo português e também com o racionalismo e empirismo na filosofia e
na ciência. O ensino de Arte primou pelo aprendizado do Desenho Industrial e a
Representação figurativa.
Em 1808 teve início o Período Joanino, que se estenderia até 1821. A mudança da
Família Real para o Brasil permitiu uma ruptura com a situação anterior. Para
atender às necessidades de sua estadia no Brasil, D. João VI inaugurou Academias
Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real e o Jardim Botânico. Além
16
dessas, houve também sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a
Imprensa Régia.
As inovações de D. João VI, entretanto, não tomaram a educação como primordial,
continuando esta a ter uma importância secundária. As aulas régias tiveram
continuidade, apesar de agora a educação ter por principal finalidade a formação
das elites. Assim, D. João abriu o Liceu de Artes de Ofícios, que buscava o
desenvolvimento da mineralogia. A fundação das academias e instituições, ao
buscar a formação de elites, pouco contribuiria para a mudança social por não
atender às necessidades das classes populares.
Nas Artes, predominou o estilo neoclássico, reforçado com a vinda da Missão
Artística Francesa. No âmbito filosófico, predominou a valorização da razão sobre a
fé, característica do Iluminismo, e da ciência sobre a religião, com a valorização do
racionalismo e do empirismo. O ensino de Arte, tendo como principal representante
o Liceu de Artes e Ofícios, buscava o ensino voltado à formação de artífices e
artesãos. A Academia de Belas Artes, por sua vez, não buscava a formação de
artistas, e sim a compreensão da arte como representação figurativa.
De 1822 a 1889 deu-se o Período Imperial. Com a volta de D. João VI a Portugal,
em 1821, movimentos pela independência da colônia tornam-se mais viáveis. Em
setembro de 1822, D. Pedro I, filho do rei de Portugal, proclamou a independência
do Brasil. Em 1824, o novo imperador outorgou a primeira Constituição brasileira.
Assim, logo no início do período, a configuração política do Brasil ganhou novos
direcionamentos, apesar de ainda bastante influenciada pela agora ex-metrópole
portuguesa.
A Educação teve diversos avanços nesse período. Em 1826, quatro graus de
instrução foram instituídos, com a inauguração das Escolas Primárias, dos Liceus,
dos Ginásios e das Academias. Em 1827, um projeto de lei propôs a criação de
pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame de seleção de
professores antes de sua nomeação. Além disso, o projeto propunha a abertura de
escolas para meninas.
17
Em 1834, por meio de Ato Adicional à Constituição, dispôs-se que províncias
passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário.
Em 1837, foi criado o Colégio Pedro II. O objetivo principal dessa abertura foi que o
Colégio se tornasse modelo pedagógico para o curso secundário. Entretanto, até o
fim do império, o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar para atingir tal
objetivo. A corrente pedagógica que vigorou ao longo desse período foi, ainda, a
tradicional.
Nesse período as artes estavam impregnadas pelo estilo neoclássico e o Positivismo
dominava, enquanto corrente filosófica. Quanto ao ensino de Arte propriamente dito,
apesar da abertura das novas instituições, a educação artística restringiu-se aos
Liceus de artes e ofícios e à Academia de Belas Artes.
Com o fim do império no Brasil, teve início o período conhecido como República
Velha, compreendido entre os anos 1889 e 1929. Proclamada a República, adotou-
se o modelo político estadunidense. Tal modelo era baseado no sistema
presidencialista. Nesse período, na organização escolar percebeu-se a influência da
filosofia positivista. A reforma de Benjamin Constant tinha como princípios
orientadores a liberdade, o ensino laico e a gratuidade da escola primária. Esses
princípios seguiam a orientação do que estava também estipulado na Constituição
brasileira. Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador
de alunos para os cursos superiores, além de substituir a predominância literária
pela científica. No currículo, houve a introdução da cadeira de Moral e Cívica. Nas
correntes pedagógicas, a continuidade da influência religiosa (Igreja) se contrapunha
às novas ideias dos pioneiros da chamada Nova Escola, com os pioneiros na
educação.
Os estilos Neoclássico e Modernista tiveram papel preponderante nesse período,
com forte influência filosófica do Positivismo. Buscava-se a relação entre
democracia, ciência e o pensamento republicano. Nesse período, um marco
histórico das artes No Brasil, que foi a Semana de Arte Moderna, ocorrida em São
Paulo em 1922 influenciará os anos que viriam a seguir. Esboçam-se intenções no
sentido de estender o ensino de Arte em todos os níveis de ensino.
18
Entre 1930 e 1945 deu-se o Primeiro governo da Era Vargas, em que a democracia
e a cidadania ganharam foco como princípios republicanos a serem defendidos e
promovidos. Ganhou força a Escola Nova como corrente pedagógica que defendia a
Educação como direito. Também ganhou força a visão da aprendizagem com foco
no aluno e a experiência como base da aprendizagem. Defendeu-se nesse período
a educação única, pública, laica e gratuita. Nas Artes, ganhou força a influência
deixada pelo modernismo, emblematicamente retratado na Semana de Arte de
1922.
A Escola Nova trouxe uma concepção para educação em artes, a de educar
esteticamente a criatividade. A Arte ganhou na educação uma importância figurativa
e também de engajamento social, principalmente nos Liceus e nas Academias.
Dessa forma, o ensino de Arte vinculou-se principalmente ao desenho livre no
ensino primário e o geométrico e o imitativo no ensino secundário.
Iniciando-se dentro do período correspondido à Primeira República, em 1937, e
estendendo-se também até 1945, temos o Estado Novo. Nesse período, uma nova
Constituição foi aprovada, em 1937, rompendo com os ideais da Escola Nova e
impondo uma educação voltada para a ordenação moral e civil. A finalidade principal
desse movimento dentro da educação era a formação da força de trabalho.
Dessa forma, ganhou espaço a corrente tecnicista da educação voltada para
preparar os estudantes para o mundo norteado pelo capitalismo e a preparação da
mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Nesse sentido, a nova
Constituição enfatizou o ensino pré-vocacional e profissional, mantendo-se a
gratuidade e a obrigatoriedade apenas para o ensino primário.
Outro aspecto importante foi o fato de a educação assumir caráter doutrinador e
ideológico. Em 1942, por iniciativa do ministro Gustavo Capanema, foram
reformados alguns ramos do ensino. Estas reformas receberam o nome de Leis
Orgânicas do Ensino, sendo compostas por decretos-lei que criaram o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, valorizando o ensino
profissionalizante. O ensino ficou organizado em cinco anos de curso primário,
19
quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo este último ser na modalidade
clássica ou científica.
Para Libâneo (s.d.), a escola liberal tecnicista vem atuar no aperfeiçoamento da
ordem social vigente (o sistema capitalista), e articula-se diretamente com o sistema
produtivo; e para atingir seus objetivos emprega a ciência da mudança de
comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental.
Ainda sendo as Artes fortemente influenciadas pelos modernistas, seu ensino focou
trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias. Na
educação, propôs-se que arte, ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual e
à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares. Dessa maneira, o Estado
absteve-se do dever maior de fornecer educação.
Entre 1946 e 1963 deu-se a República Nova. Nesse período, o fim do Estado Novo
consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição, de cunho liberal e
democrático. Esta nova Constituição, na área educacional, determinou a
obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e deu competência à União para
legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, a nova
Constituição fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos.
Nesse período, deu-se a regulamentação do Ensino Primário e do Ensino Normal,
com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC,
atendendo a mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930. Com
base nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o ministro Clemente
Mariani criou uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma
geral da educação nacional.
Em 1950, em Salvador, Anísio Teixeira inaugurou um Centro Popular de Educação
(Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e
escola-parque. Em 1952, em Fortaleza, o educador Lauro de Oliveira Lima iniciou
uma didática baseada nas teorias científicas de Jean Piaget. Em 1953 foi criado o
Ministério da Educação e Cultura. Já em 1961, Paulo Freire propunha alfabetizar em
40 horas adultos analfabetos.
20
Em 20 de dezembro de 1961, promulgada a Lei 4.024 e sem a pujança do
anteprojeto original, prevaleceram as reivindicações da Igreja Católica e dos donos
de estabelecimentos particulares de ensino. Tais reivindicações confrontavam com
os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros. Em
1962 foi criado o Conselho Federal de Educação, que substituiu o Conselho
Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação. Também em 1962
foi criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização,
pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirados no método de Paulo Freire.
As correntes pedagógicas privilegiadas nesse período foram o escolanovismo, a
pedagogia liberal e a histórico-crítica. Ainda com influências do modernismo, porém
já com ares contemporâneos, a Arte e seu ensino passaram a ocupar lugar de
destaque na educação, principalmente com o retorno aos princípios da Escola Nova.
O Regime Militar, instaurado em 1964 e se estendendo até 1985, constituiu-se outro
período a ser considerado na Educação brasileira, nas Artes e no seu ensino. Em
1964, o golpe abortou todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira.
Isto sob o pretexto de que as propostas eram muito subversivas e, portanto,
contrárias à ordem social imposta pelo regime.
O Regime Militar espelhou na educação o caráter antidemocrático de sua proposta
ideológica de governo. Professores foram presos e/ou demitidos, universidades
foram invadidas, estudantes foram presos e feridos (alguns mortos), movimentos
estudantis foram coibidos e a União Nacional dos Estudantes foi proibida de
funcionar pelo Decreto-lei 477/19692.
Apesar desse movimento retrógrado, universidades foram expandidas. Foi instituído
o vestibular classificatório como instrumento de avaliação para o acesso ao ensino
superior. Em 1964 foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL,
sendo substituído em 1985 pela Fundação Educar. Pela Lei 5.962, de 1971, foi
2 Decreto-Lei No 477/1969 - de 26 de fevereiro de 1969. Esse decreto definia infrações disciplinares
praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino públicos ou particulares.
21
instituída a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cuja característica mais
marcante era buscar a formação educacional com cunho profissionalizante. Dessa
forma, a educação tecnicista preponderou como corrente pedagógica nesse período.
A Arte foi incluída no currículo escolar em 1971. Para isso, cunhou-se o nome
Educação Artística, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
5692/1971), no entanto o ensino de Arte passava a ser uma categoria que não
possuía o status de disciplina, mas de “atividade educativa” incluindo desenho, artes
aplicadas, música, canto coral, trabalhos manuais, entre outros.
Com o fim do Regime Militar, em 1985, instaurou-se o período da Nova República
(1986-2003). Promulgada em 1988, a nova Constituição foi o marco principal nos
anos seguintes logo após o fim do Regime, com vistas à redemocratização do Brasil.
Na educação, teve destaque o Projeto de Lei da nova LDB, em 19883. Houve
inovações e compromissos, com destaque para a universalização do Ensino
Fundamental e a erradicação do analfabetismo. O Governo Collor de Mello, em
1990, lançou o projeto de construção de Centros Integrados de Apoio à Criança -
CIACs, em todo o Brasil. Em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresentou um novo
projeto da lei, que acaba por ser aprovado em dezembro de 1996.
Na fase politicamente marcante na educação teve destaque o trabalho do Ministro
Paulo Renato Souza, que estava à frente do Ministério da Educação. Logo no início
de sua gestão, por meio de uma medida-provisória, o ministro extinguiu o Conselho
Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao
Ministério da Educação e Cultura. A corrente pedagógica tecnicista prosseguiu
marcante nesse período, acompanhada da liberal e da histórico-crítica.
“No Brasil a pedagogia crítico-social é uma das correntes da pedagogia crítica que
propõe uma educação vinculada à realidade econômica e sociocultural dos
3 Consideramos o ano de 1988, o ano que marcou o início dos debates que resultariam na nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação que teve seu projeto inicial modificado e finalmente foi
promulgado em 1996.
22
educandos, ligando ensino e ação transformadora da realidade, ação e reflexão,
prática e teoria. Sustenta a ideia de que o conhecimento está comprometido com a
emancipação das pessoas, com a liberdade intelectual e política. Por isso, associa
as tarefas do ensino a uma análise crítica sócio-histórico-cultural do contexto em que
as pessoas vivem” (LIBÂNEO, s.d.).
Nas Artes, tiveram forte presença as tendências contemporâneas, abrigando os
artistas e as estéticas que não se restringiam a uma determinada área geográfica.
Tiveram destaque movimentos como o Op Art (movimento em que a arte é
construída criando-se uma ilusão óptica), a Pop Art (movimento que utiliza o uso
repetitivo das mesmas figuras, imagens de artistas famosos e cores vivas),
Happenings, o Minimalismo (movimento em que não se usavam muitos detalhes), o
Movimento Cobra e a Arte Conceitual (em que o conceito vale mais do que a obra
em si).
Com a LDB de 1996 (lei no. 9.394/96), revogam-se as disposições anteriores e a
Arte foi considerada disciplina obrigatória na educação básica. Tal obrigatoriedade
na Lei consta conforme o seu artigo 26, parágrafo 2°, que determina que o ensino de
arte constitua componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação
básica, visando ao desenvolvimento cultural dos alunos. A partir da LDB 9.394/96
surgiu sob a influência das ideias de Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934) e
Wallon (1879-1962), numa perspectiva sócio-histórica.
Quanto a metodologias, destacam-se o uso dos materiais (lápis de cor, tinta, carvão,
lápis de desenho, réguas, compasso, pincéis, entre outros), bem como algumas
teorias e técnicas, como as cores primárias, secundárias e terciárias, monocromia,
policromia, diferenciação e construção de objetos bidimensionais e tridimensionais,
além de se buscar fazer recortes, colagens e dobraduras, técnicas de esboço para
facilitar o desenho de alguns objetos, entre outros.
Tem força a leitura de obras de arte, sejam elas quadros, fotografias, esculturas ou
outras, analisando-se o que o artista usa para realizar a obra e os motivos que o
levaram a fazê-la, além de fazer intervenção nas mesmas, através de releituras.
Prevalece o ensino das Artes Plásticas.
23
O período mais recente da relação Arte e Educação no Brasil teve início em 2003 e
prossegue até os dias atuais. Nesse período tem havido a discussão de novas
técnicas educacionais e da educação como política pública. Quanto ao caráter
regimentar, houve a proposta da nova LDB e da visão de diferentes linguagens no
ensino de artes nos PCN, incorporando novas tecnologias de ensino e deixando a
prevalência do ensino apenas de Artes Plásticas. As correntes pedagógicas vigentes
são a tecnicista, a liberal e a crítico-social dos conteúdos, com a valorização da arte
contemporânea e das produções artísticas populares.
Para finalizar essa periodização, consideramos que os anos que se seguem após a
LBB/1996 marcam a relação Arte e Educação no Brasil, pois a partir desse período
se inicia a discussão de novas técnicas educacionais e da educação como política
pública. A nova LDB amplia a visão de diferentes linguagens no ensino de artes nos
PCN, incorporando novas tecnologias de ensino e deixando a prevalência do ensino
apenas de Artes Plásticas. As correntes pedagógicas vigentes são a tecnicista, a
liberal e a crítico-social dos conteúdos, com a valorização da arte contemporânea e
das produções artísticas populares.
Em 2008, com aprovação da Lei Federal 11.769, o ensino de música passou a ser
obrigatório, devendo ser ministrado por professor com licenciatura plena em Música,
tendo os sistemas de ensino três anos para se adequarem à mudança. Assim,
atualmente o ensino de Arte está voltado para as seguintes linguagens: música,
dança, teatro e artes plásticas.
Num processo ainda em construção, os aspectos sociais e culturais passaram a ser
considerados no processo de se conhecer Arte. A apreciação, a contextualização e
o fazer artístico passam a nortear a prática pedagógica na Arte, aliadas ao
reconhecimento da necessidade de se considerar as diferentes identidades culturais
dos alunos como um elemento importante na escolha de seus conteúdos.
24
2 A ORIGEM DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
As histórias em quadrinhos são o resultado de um longo processo de construção
que vai das pinturas nas cavernas feitas na pré-história até o início do século XX,
onde finalmente vão ser organizados e criados todos os elementos que a
caracterizam como linguagem artística única, recebendo denominações diferentes
em várias partes do mundo a exemplo de fumetti na Itália, mangá no Japão, bande
desinée na França, comics nos Estados Unidos e gibi no Brasil. O termo gibi tem
origem em um suplemento infanto-juvenil encartado em jornal de grande circulação
no Brasil em 1939, O Gibi, trazia histórias de vários personagens com continuação
no número seguinte.
O uso de imagens como forma de comunicação permite atingir um público muito
mais amplo, visto que o domínio da leitura formal e da escrita caligráfica foi, durante
muito tempo, privilégio de poucos até o final do século XIX. Na pré-história
encontramos desenhos que são representações simbólicas da narração oral de
alguns grupos humanos, característica muito presente nas histórias em quadrinhos
através das metáforas visuais. Na Mesopotâmia as narrativas eram ilustradas e a
leitura era feita em linha, em uma a leitura era feita da esquerda para a direita, na
seguinte da direita para a esquerda.
O Egito apresenta ilustrações dispostas em tiras ao lado figuras e hieróglifos que
podiam complementar a cena ou indicar a fala dos personagens. Em Roma os
baixos-relevos que narravam as vitorias dos Imperadores em colunas ou nos arcos
de triunfo tinham as cenas delimitadas por árvores ou construções, um prenuncio
dos quadros. Os primeiros cristãos vão narrar episódios bíblicos através de
ilustrações dispostas em tiras divididas por colunas, mas os episódios são colocados
de forma aleatória, não há uma narrativa linear; muitas vezes as cenas são repetidas
para difundir as imagens da mitologia cristã, principio utilizado até hoje pelas
grandes editoras, onde a maioria dos personagens das histórias em quadrinhos
veste sempre a mesma roupa.
25
Encontramos na Idade Média algumas ilustrações feitas por monges copistas, onde
a fala de alguns personagens era disposta sobre uma fita, recurso que se
transformará séculos depois nos balões. A contribuição renascentista as histórias
em quadrinhos virá através da autoria dos trabalhos, a assinatura do artista passa a
ter tanta importância quanto a própria obra.
“(...) mas as pinturas rupestres, os hieróglifos antigos ou as iluminuras medievais
NÃO são histórias em quadrinhos. Os quadrinhos são uma forma de narrativa visual
moderna, associada à imprensa” (SRBEK, 2006, p.60). Do século XVIII ao XIX os
jornais fazem coberturas de fatos e utilizam ilustrações para enriquecer o texto;
surgem as charges e as histórias ilustradas onde as cenas vem com legendas e
distribuídas de forma sequencial.
Daí as histórias em quadrinhos tomam o formato que tem hoje e surgem como
linguagem artística no início do século XX. Sua origem não tem data de nascimento,
como invenção de uma pessoa especifica, surgiram através de um processo
evolutivo que teve sua origem nas ilustrações dos jornais, passando depois a ter
legenda e assim surgem as charges.
Com sua popularidade passam a ter mais quadros, surgindo assim as tirinhas que
não tinham ainda cenários, closes ou onomatopeias e sempre tratavam da comedia
de costumes; evoluem naturalmente para mais quadros ocupando uma ou mais
páginas, incorporando cenários, onomatopeias e outros planos de enquadramento.
No Brasil a saga das histórias em quadrinhos começa em 1866, com Ângelo Agostini
publicando charges e ilustrações; italiano de nascimento, residindo no Brasil desde
os 17 anos, Agostini lançou a semente das histórias em quadrinhos em território
nacional. A primeira revista exclusiva de quadrinhos no Brasil só viria em 1905 e
chamava-se O Tico-Tico sendo muito popular entre crianças e adolescentes.
Importante lembrar que apesar de muitos considerarem as histórias em quadrinhos
como produto infantil, em sua origem era direcionada para adultos, leitores à época
dos jornais, do sexo masculino. Apenas na virada do século XX com o surgimento
dos suplementos dominicais nos Estados Unidos e com a publicação de revistas
26
europeias, o público infantil começa a ser contemplado. O humor foi um gênero que
deu origem as histórias em quadrinhos e que persistiu por vários anos como única
possibilidade neste universo.
Em 1929 as Aventuras de Tarzan estrearam como tiras diárias de um jornal,
deixando a piada e introduzindo a emoção e o suspense às histórias em quadrinhos,
surgindo o gênero de aventura. Junto com Tarzan veio Buck Rogers, introduzindo o
gênero de ficção cientifica. Dick Tracy inaugura o gênero policial. O primeiro super-
herói foi o Superman e com ele surgiram uma legião de super-heróis que foram
usados como armas ideológicas pelo governo dos Estados Unidos e dos países
aliados na Segunda Guerra Mundial, a exemplo do Capitão América. Como gênero
nas histórias em quadrinhos ainda encontramos terror, guerra, eróticos, entre outros.
Na década de 1950 vários representantes da sociedade como religiosos, jornalistas,
políticos, psicólogos e educadores se uniram contra as histórias em quadrinhos. O
psiquiatra Frederic Wertham publica um livro onde atacava os heróis, culpando-os
por todos os vícios da juventude, indo além, dizia que emburrecia os leitores.
Atualmente grande parte dos educadores e pesquisadores apregoam as benesses
das histórias em quadrinhos em sala de aula.
O fato é que, nas últimas décadas, os quadrinhos passaram por um processo de amadurecimento estético e temático que não permite que os consideremos um mero “instrumento” ou apenas um simples “passatempo”. Extrapolando os limites de seus veículos tradicionais (jornais e revistas), a linguagem dos quadrinhos chegou ao cinema e a teve, difunde-se hoje pela publicidade e a cada dia é mais presente na internet graças a influência europeia e latino-americana (na produção de quadrinhos e na produção de reflexões teóricas sobre eles), o que antes era considerado apenas um produto de consumo passou a ter status de produção cultural relevante (SRBEK, 2005, p. 56).
Daí a importância de estudarmos esta linguagem artística e propiciar aos nossos
alunos a oportunidade de consumirem e produzirem histórias em quadrinhos com
qualidade estética, gráfica e textual.
27
2.1 OS QUADRINHOS NA SALA DE AULA
No mundo de hoje, onde a linguagem falada e escrita se sobrepõe às outras
linguagens, tais como a gestual, as expressões faciais, a fotografia, os quadrinhos,
torna-se imprescindível que elas sejam apresentadas aos alunos, para que estes se
integrem com o mundo não textual, tão rico e diversificado.
Principalmente, porque essas linguagens estão presentes no nosso dia-a-dia, sendo
necessária uma apropriação delas permitindo aos educandos esse conhecimento.
Segundo Groensteen (2004), as pessoas que desconhecem e não entendem signos
e ícones, cuja formação foi essencialmente textual, têm dificuldades em acompanhar
a leitura de um quadrinho. Fazendo uma analogia aos analfabetos, ele as rotula de
“anicônicos”.
Quando se fala em usar as histórias em quadrinhos em sala de aula, não se está
falando em quadrinhos para ensinar ciências ou português; fala-se em usar as
histórias em quadrinhos por elas mesmas, na combinação de texto e imagem, da
análise da sua sequência de imagens a apreciação dos seus desenhos.
Mas, muitos educadores e autoridades consideravam, até bem pouco tempo atrás,
as histórias em quadrinhos como atividade infantil, apropriada para semianalfabetos
ou para os que têm preguiça de pensar. Este preconceito em relação aos
quadrinhos surgiu durante a década de 50, eles eram acusados de provocar a
delinquência juvenil e de deixar as crianças com preguiça mental.
Tudo começou nos Estados Unidos da América com o lançamento do livro Sedução
dos Inocentes, pelo Dr. Frederic Wertham, onde ele afirmava que as histórias em
quadrinhos de aventura transmitiam mensagens de violência. Segundo Álvaro de
Moya, no Brasil as revistas em quadrinhos eram tomadas pelos professores e
queimadas durante o recreio (SRBEK, 2006, p. 13).
28
Hoje não se fala mais em queimar as revistas de histórias em quadrinhos, pelo
contrário existe uma preocupação e muitas pesquisas procurando meios de utilizar
esta linguagem em sala de aula. Percebemos que a maioria destes professores e
pesquisadores se preocupa apenas com as
(...)intenções utilitaristas: de ‘chamar’ e ‘prender’ a atenção do aluno, ser uma mera ‘distração’ em momentos de recreio ou de servir como introdução ao letramento. Não digo que estas não sejam funções que lhes possam ser atribuídas; o problema é que se restringir a elas é subestimar os quadrinhos, é não compreender o que eles podem representar em termos de desenvolvimento da percepção e cognição ou (no caso do quadrinho-arte) que enriquecimento simbólico eles podem trazer para nosso imaginário pessoal (SRBEK, 2006, p. 16).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram publicados e os professores ao serem
pressionados a usar as histórias em quadrinhos na sala de aula não souberam como
utilizá-los, surgindo várias pesquisas e textos com sugestões de uso deste recurso
em sala de aula.
A partir daí surgiram algumas inquietações: as histórias em quadrinhos precisam ser
ensinadas, já que não conhecemos nenhuma pessoa que foi obrigada a ler histórias
em quadrinhos? Se qualquer pessoa é capaz de pegar uma revista e ler seus
quadrinhos é necessário ensinar história em quadrinhos? Lembremos que todas as
pessoas falam, desde que frequentem ambientes onde haja pessoas falando ou não
tenham nenhuma limitação física, mas para ler e escrever precisamos passar por um
processo de alfabetização; o mesmo ocorre com as imagens, todos enxergamos
mas precisamos aprender a ver.
Vivendo em um mundo repleto de imagens e informações visuais, precisamos
orientar o olhar do aluno para as estruturas gráficas e imagéticas que o cercam; nas
histórias em quadrinhos é preciso que ele perceba além do personagem e do texto.
Outros elementos dos quadrinhos, como representação de movimentos, a
estruturação dos quadros, estilização de roupas e cenário, se não são familiares ao
leitor, aparentemente não impedem a comunicação se tiverem como suporte outras
linguagens como cinema, teatro e até televisão. Já com o texto escrito, as legendas
e onomatopeias vão exigir a alfabetização do leitor, o que não impede que pessoas
29
analfabetas e crianças no pré-escolar estejam proibidas de manusear as HQ; muito
pelo contrário, isso deve ser estimulado.
O interesse pelos quadrinhos começa desde cedo nas crianças. Como já foi dito, é a
sua primeira leitura espontânea, e isso não pode ser descartado nem
menosprezado: a curiosidade com relação ao destino dos personagens motiva os
leitores mirins. E, para os analfabetos, pode ser um incentivo para querer aprender a
ler. A narrativa em quadrinhos apresenta uma combinação de palavras e imagens,
permitindo que a criança exerça suas habilidades de interpretação, visuais e verbais.
Os aspectos inerentes ao desenho (perspectiva, cor, simetria, entre outros) e à
linguagem (gramática, semântica, estilística) combinam-se na formação do sentido
da história. Além do esforço intelectual necessário para sua apreensão, a criança
desenvolve sua percepção estética. Cabe lembrar o preconceito que existe sobre as
Histórias em Quadrinhos: que são vistas como artigo infantil, simples
entretenimento, ou ainda, ilustração de conteúdo e avaliações.
Os quadrinhos existem em toda parte do mundo, produzidos em diversas línguas e
com os mais variados tipos de desenhos e formatos. São publicados em jornais,
revistas, almanaques, encartes, entre outros, fazendo parte do cotidiano da
sociedade, num contato direto e inevitável. A arte dos quadrinhos, como toda Arte,
reflete os valores socioculturais de sua época; e desde que foram criados, há cerca
de cem anos, os quadrinhos vêm registrando e evidenciando os acontecimentos
históricos, sociais e culturais do homem.
Percebemos na utilização de histórias em quadrinhos em sala de aula, que a
linguagem quadrinistica é subutilizada; em geral os professores se preocupam
apenas com a narrativa ou o texto alfabético das histórias, restringindo seu uso
como distração para os alunos, como meio para alcançar conteúdo de outras
disciplinas ou para alfabetizar as crianças. Segundo Groensteen, 2004
agiríamos mal em concluir que as imagens de uma história em quadrinhos precisam necessariamente do texto para adquirir inteligibilidade; é em princípio a disposição em uma sequência icônica que firma a significação de cada uma entre elas. É nas articulações internas em elos de imagens que
30
se fixa o sentido, jogando o texto, por este ângulo, frequentemente, apenas um papel complementar (p.43-44).
As histórias em quadrinhos ajudam no desenvolvimento da percepção, da cognição,
enriquecem o imaginário simbólico particular do aluno e desenvolvem seu senso
crítico. Deve-se orientar os alunos sobre a construção da narrativa ou o uso correto
de seus elementos constituintes como balões, onomatopeias, planos de
enquadramento, metáforas, entre outros. Os professores que utilizam as histórias
em quadrinhos como recursos pedagógicos, incluindo aí muitos da área de Arte,
desconhecem os elementos constituintes desta linguagem ou quando os conhecem
não entendem suas possibilidades narrativas e expressivas que vão além da simples
ilustração de um texto.
As histórias em quadrinhos são uma linguagem artística e como tal possui signos
que precisam ser conhecidos e utilizados para efetivamente transmitir a mensagem
a que se propõe. Encontramos inclusive várias histórias em quadrinhos que não
contem texto e no entanto seu poder linguístico não fica prejudicado. Quando a
artista conhece todos os códigos presentes em determinada linguagem e faz uso
destes respeitando sua significância, a mensagem transmitida por ele é facilmente
assimilada por todos.
Saber que os balões comportam as falas dos personagens é reduzir este elemento a
mero coadjuvante de uma narrativa textual, os balões vão além e indicam também o
personagem que está falando, se o mesmo está no quadrinho ou não, através do
rabicho; indicam também o tom utilizados pelos personagens em suas falas: se o
contorno do balão é tracejado ele está cochichando, falando em segredo ou fazendo
uma confidencia (figura 1); se a silhueta do balão é formada por linhas quebradas
indica irritação, grito ou que a voz vem de um aparelho elétrico (figura 2). Um
rabicho formado por pequenos círculos indica que o texto é apenas um pensamento
ou sonho (figura 3).
31
Fonte: CEDRAZ, Antônio. A Turma do Xaxado.
E a disposição dos balões no quadrinho deve obedecer nossa ordem de leitura, da
esquerda para a direita, de cima para baixo. Sendo assim o personagem que fala
primeiro deve ter seu balão mais alto ou mais à esquerda do que fala depois.
Esta ideia não se aplica apenas aos balões, os planos de enquadramento, além de
representarem o espaço onde ocorre a ação, auxiliam o autor em sua narrativa.
Quando se utiliza o plano geral é apresentado ao leitor o personagem e o local onde
ocorre a ação (figura 4). Se utilizarmos o plano médio, podemos não perceber o
ambiente, mas percebemos claramente a ação do personagem porque neste plano o
personagem é representado a partir de sua cintura (figura 5). Ao utilizarmos o
primeiro plano o quadrinista poderá mostrar mais claramente a expressão do
personagem, porque neste plano é representado o rosto do personagem (figura 6).
No primeiríssimo plano ou plano de detalhe percebemos um objeto ou parte do
corpo que em outro plano não seriam percebidos (figura 7).
Figura 4 – Plano geral
Figura 5 – Plano médio
Fonte: CEDRAZ, Antônio. A Turma do Xaxado.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
32
Figura 6 – Primeiro plano
Figura 7 – Plano de detalhe
Fonte: CEDRAZ, Antônio. A Turma do Xaxado.
É importante para o aluno como produtor e leitor de histórias em quadrinhos saber
como funcionam estes elementos e suas reais possibilidades expressivas, tornando-
se um leitor mais competente e um criador mais expressivo.
Mas não é só de balões e planos de enquadramento que se constituem uma história
em quadrinhos, existem outros recursos e elementos que ajudam o quadrinista a
contar sua história: os personagens e suas expressões corporais que reforçam seus
pensamentos e atitudes; os quadros e suas sequencias que auxiliam o leitor a dar
continuidade às histórias; as onomatopeias que representam os sons através de
palavras (figura 8); as metáforas visuais (figura 9) e movimentos (figura 10) que
enriquecem as histórias em quadrinhos.
Figura 8 – onomatopeia
Figura 9 – metáforas visuais
Figura 10 - movimento
Fonte: CEDRAZ, Antônio. A Turma do Xaxado.
É perceptível que as histórias em quadrinhos são utilizadas nas salas de aula como
recurso pedagógico, mas subutilizadas como linguagem artística. Não é uma leitura
simples a de uma linguagem que utiliza movimentos, sons e metáforas, com bases
materiais diferentes de seus atributos.
O fato é que, nas últimas décadas, os quadrinhos passaram por um processo de amadurecimento estético e temático que não permite que os
33
consideremos um mero “instrumento” ou apenas um simples “passatempo”. Extrapolando os limites de seus veículos tradicionais (jornais e revistas), a linguagem dos quadrinhos chegou ao cinema e a tevê, difunde-se hoje pela publicidade e a cada dia é mais presente na internet graças a influência europeia e latino-americana (na produção de quadrinhos e na produção de reflexões teóricas sobre eles), o que antes era considerado apenas um produto de consumo passou a ter status de produção cultural relevante (SRBEK, 2005, p.56).
Ler uma revista em quadrinhos é uma atividade que desenvolvemos desde criança e
que por isso nos parece simples. É uma linguagem que todos entendem, mas que
poucos se utilizam para expressar suas próprias ideias e histórias. É nesta
perspectiva de construtor de linguagem que se torna importante o ensino das
histórias em quadrinhos nas aulas de arte.
34
3 CONTEÚDOS DE ARTE E QUADRINHOS
Hoje em dia vivemos cercados por imagens, em outdoors, cartazes, televisão,
internet, entre outros e se faz necessário aprender a fazer a leitura destas imagens.
As imagens geradas por nos são um reflexo da nossa cultura e em sua construção
são utilizados signos que transmitem informações sobre nosso modo de comer,
vestir, divertir, entre outros.
Para tornar efetiva a leitura destas imagens é importante que nossos alunos
aprendam a identificar e utilizar os elementos gráficos e simbólicos que são
utilizados na construção destas imagens. Que saibam identificar para fazerem a
leitura imagética compreendendo o significado da mensagem e para que se
apropriem destes signos para construírem mensagens que sejam significativas da
ideia que ele quer transmitir, em resumo que tenham uma apreensão cognitiva.
A apreensão cognitiva é um momento em que minha atenção se detém na imagem particular, gerando uma intelecção; é quando um significante visual torna-se significativo para mim, que lhe atribuo significado através de qualidades e ações, um contexto e uma temporalidade. Enfim, é quando atribuo identidade as informações visuais que passo a ver como ambientes, personagens e objetos de uma trama; é quando me transformo num animador, naquele que transmite anima às imagens inertes (SRBEK, 2005, p.43).
Pensamos que o aluno seja leitor e produtor de conhecimento utilizando a linguagem
artística, que são veículos que possibilitam dar forma às ideias e cada pessoa tem
um vocabulário próprio. “Nossa penetração na realidade, portanto é sempre
mediada por linguagens, por sistemas simbólicos” (MARTINS, 1998, p.37). Como
reflexo do desenvolvimento de várias linguagens diferentes e com os avanços
tecnológicos empreendidos no final do século XIX, a exemplo da criação da
imprensa e do computador, tornou-se importante ampliar o termo de artes plásticas
para artes visuais o que engloba as histórias em quadrinhos.
Com esta perspectiva percebemos que o ensino de artes visuais na educação
básica privilegia o ensino do desenho e da pintura, técnicas muito utilizadas pelas
35
artes plásticas, negligenciando outras áreas; mas cada linguagem artística
proporciona experiências de recepção muito diferentes.
Uma destas linguagens são as histórias em quadrinhos que são em si um meio de
comunicação eficiente que utiliza uma sequência de imagens onde o leitor preenche
mentalmente os espaços em branco entre um quadro e outro; que utiliza
simultaneamente a linguagem textual e gráfica, juntamente com outros elementos
como os balões, onomatopeias, metáforas visuais e movimento. Diversas vezes
tirados do seu meio original, estes elementos são utilizados para reforçar ideias e
sentidos em outros meios como a televisão e a publicidade.
Percebemos que nossos alunos, apesar de muitas vezes serem leitores frequentes
das histórias em quadrinhos, desconhecem seus elementos formais, seu conteúdo
simbólico e sua possibilidade como linguagem artística. São leitores das histórias
contadas através de quadros, onde se faz a leitura pelo texto e pela imagem, mas
não são produtores destas obras, porque não refletem sobre esta linguagem e seu
contexto de produção. Como não existe reflexão e produção fica difícil para os
alunos incorporarem elementos gráficos específicos das histórias em quadrinhos em
suas produções artísticas, textuais, culturais ou sociais.
Outra importante afirmação é de que como em qualquer linguagem artística, “nem
toda e qualquer história em quadrinhos contribui para a formação de uma pessoa
(muitas só vêm torná-la mais ‘adequada’ aos padrões de massificação)” (SRBEK,
2006, p.15). Não queremos com isto abolir as revistas da Turma da Mônica (suas
histórias podem ser ambientadas em qualquer lugar do mundo), dos super-heróis
americanos (que fazem propaganda do modo de vida dos norte-americanos) ou da
Turma da Disney (trazem muitos problemas ideológicos) que são amplamente
consumidas em território nacional; estas e quaisquer outras histórias em quadrinhos
devem ser utilizadas de maneira crítica e a escola deve capacitar os alunos a fazê-
lo.
Este desconhecimento, dos códigos e signos utilizados nas artes visuais incluindo aí
as histórias em quadrinhos, gera um grupo social que não está habilitado a dar
forma as suas ideias e tem dificuldade de se comunicar nos diversos meios que
36
frequenta, agregado a isto, temos uma indústria cultural4 que utiliza elementos e
personagens dos quadrinhos para divulgar e vender produtos de consumo e
quadrinistas que se submeteram ao mercado capitalista, criando a ideia de que os
quadrinhos são apenas um recurso comunicativo e não uma linguagem artística.
Quanto ao uso de histórias em quadrinhos na sala de aula de Arte iremos analisar
três publicações que tratam especificamente do assunto, são elas Como usar as
histórias em quadrinhos na sala de aula organizada por Ângela Rama e Waldomiro
Vergueiro; Traça traço quadro a quadro: a produção de histórias em quadrinhos no
ensino de Arte de João Marcos Parreira Mendonça e Quadrinhos na educação,
organizado por Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos.
Escolhemos estas publicações por apresentarem propostas de uso das histórias em
quadrinhos na sala de arte, dois dos livros propõe o uso dos quadrinhos em diversas
áreas da educação, passando por Português, História, Geografia, e também Arte. O
outro escreve apenas sobre as possibilidades do uso das histórias em quadrinhos na
sala de Arte, apontando uma das possibilidades educativas que esta linguagem nos
apresenta. Os autores são pesquisadores dos quadrinhos e apresentam uma
preocupação em tornar mais efetivo o uso dos quadrinhos nas salas de aula.
3.1 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA SALA DE AULA5
Com organização de Rama e Vergueiro, traz em seu primeiro capitulo um breve
resumo da evolução da linguagem imagética e dos recursos gráficos utilizados por
vários povos como forma de transmissão de conhecimento e ideias, até chegar a
criação das histórias em quadrinhos no final do século XIX, a evolução desta forma
de comunicação, sua condenação na década de 1950 por religiosos, médicos e
educadores até sua redenção e aceitação como importante recurso pedagógico.
4 Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), teóricos da escola de Frankfurt, conceberam o conceito de Indústria cultural. Para estes autores toda produção artística e cultural é submetida, de modo a serem moldados aos padrões comerciais e assim serem facilmente reproduzíveis. 5 RAMA, Ângela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
37
Pontua que no Brasil as histórias em quadrinhos já são reconhecidas pela LDB (Lei
de Diretrizes e Bases) e pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais).
Vergueiro cita alguns motivos para utilizar os quadrinhos no ensino: aumentam a
motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas aguçando sua curiosidade e
desafiando seu senso crítico; palavras e imagens juntas ensinam de forma mais
eficiente; existe um alto índice de informação nos quadrinhos; eles auxiliam no
desenvolvimento do habito de leitura; enriquecem o vocabulário dos estudantes; o
caráter elíptico da linguagem quadrinistica obriga o leitor a pensar e imaginar;
podem ser utilizados em qualquer nível escolar e com qualquer tema” (p. 22-24).
Ajudando o aluno a desenvolver várias habilidades e competências.
Cita também o fato das histórias em quadrinhos serem acessíveis e de baixo custo;
sua utilização pode ser feita “para introduzir um tema que será desenvolvido por
outros meios, para aprofundar um conceito apresentado, para gerar uma discussão
a respeito de um assunto, para ilustrar uma ideia, como uma forma lúdica para
tratamento de um tema árido ou como contraposição ao enfoque dado por outro
meio de comunicação” (p. 26). As possibilidades de utilização de quadrinhos na sala
de aula são muito amplas, podendo ser utilizado por todas as áreas de
conhecimento.
Vemos que Vergueiro restringe o uso das histórias em quadrinhos apenas como
linguagem facilitadora do desenvolvimento de conteúdos outros, sugerindo que o
professor conheça os elementos constituintes desta linguagem, suas características
e história para poder “incorporar os quadrinhos de forma positiva em seu processo
didático, dinamizando suas aulas, ampliando a motivação de seus alunos e
conseguindo melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem” (p. 29).
As possibilidades expressivas dos quadrinhos como linguagem artística são
ignorados pelo autor.
No segundo capitulo Vergueiro nos escreve sobre a necessidade de uma
alfabetização da linguagem dos quadrinhos para o aluno decodificar as mensagens
presentes nele e assim o professor obter melhores resultados utilizando-o. Explica
sobre a leitura das imagens e sobre os elementos característicos das histórias em
38
quadrinhos – planos de enquadramento, montagem, personagens, metáforas
visuais, balão, texto, legenda – explicando cada um destes elementos.
Em seguida temos um capítulo sobre os quadrinhos nas aulas de Língua
Portuguesa, outra sobre quadrinhos no ensino de Geografia, um sobre quadrinhos
na aula de História e por fim um capítulo sobre quadrinhos no ensino de Arte, no
qual nos deteremos.
O capítulo sobre quadrinhos na aula de Arte foi escrito por Alexandre Barbosa que
no primeiro parágrafo nos coloca que “as HQS podem vir a ser uma poderosa
ferramenta pedagógica, capaz de explicar e mostrar aos alunos, de forma divertida e
prazerosa, a aplicação prática de recursos artísticos sofisticados (grifo nosso), tais
como perspectiva, anatomia, luz e sombra, geometria, cores e composição” (p. 131).
Logo depois começa a explicar as técnicas desenvolvidas desde o Renascimento
que são necessárias para o artista desenvolver uma história em quadrinhos.
Explica a técnica de perspectiva sugerindo que os trabalhos, sejam de pinturas ou
quadrinhos, que não a utilizam não são tão refinados. Explica cada técnica de
perspectiva fazendo um paralelo entre artistas plásticos que a utilizam e quadrinistas
que fizeram uso delas em suas histórias. Na parte de anatomia cita a importância de
estudar esta técnica na hora de desenhar super-heróis e como o conceito de beleza
feminina mudou através dos tempos, mudança percebida na construção de
personagens femininos, tanto nas artes plásticas quanto nos quadrinhos. O uso de
luz e sombra e a organização da composição podem ser trabalhados a partir do
estudo dos quadrinhos.
No final do capitulo propõe que as histórias em quadrinhos sejam utilizadas em sala
de Arte não apenas para explicar elementos das artes plásticas, mas como exercício
prático, incentivando os alunos a criarem suas próprias histórias em quadrinhos,
sendo necessário para isto dominar elementos como argumento, roteiro, arte final,
esboço do personagem e da cena, entre outros a partir daí discorre sobre os
detalhes técnicos na roteirização, layout e finalização dos quadrinhos.
39
3.2 A PRODUÇÃO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DA ARTE6
Livro publicado em 2008, surgiu da dissertação de mestrado de Mendonça que
ganhou o troféu HQ MIX 2007 (o Oscar dos quadrinhos). No primeiro capítulo o
autor define história em quadrinhos e traça um panorama da história da arte onde
em outros períodos históricos alguns elementos constituintes da linguagem dos
quadrinhos se fazem presentes. Narra um pouco do contexto histórico e cultural que
inicialmente não consideraram os quadrinhos como expressão artística e cultural.
Surgido juntamente com o conceito de cultura de massa e fugindo da ideia de
produto exclusivo e obra única, os quadrinhos foram imediatamente alçados a
condição de representante desta cultura, isto contribuiu para que durante muito
tempo as histórias em quadrinhos não fossem reconhecidas como produto artístico.
O autor aborda também em seu livro alguns artistas que contribuíram com inovações
criativas que ajudaram a diminuir o preconceito em relação as histórias em
quadrinhos, ajudando a serem reconhecidas como objeto artístico. Cita Winsor
McCay que em 1905 criou O pequeno Nemo no pais dos sonhos, influenciado pela
Art nouveau surpreendendo pela temática: abordava o mundo dos sonhos, e a
questão estética utilizando planos com ângulos insólitos, inovando na distribuição
dos quadros com muita criatividade, usando cores e imagens muito bem
trabalhadas; sem reconhecimento dos críticos do seu tempo, hoje alguns de seus
originais estão no acervo do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Tarzan, surgido em 1929 traz também importantes contribuições para os quadrinhos
serem reconhecidos como objeto cultural, pela primeira vez os personagens eram
desenhados de forma realista respeitando a anatomia humana em cenários bem
acabados. Timtim, desenhado por Hergé, apresentou as figuras humanas
cartunizadas em meio a paisagens realistas, influenciando muitos desenhistas na
Europa. Superman foi a primeira história publicada em revista, até então só se
6 MENDONÇA, João Marcos Parreira. Traça traço quadro a quadro: a produção de histórias em quadrinhos no ensino de Arte. Belo Horizonte: C/Arte, 2008.
40
publicada quadrinhos em jornais, isto contribuiu para consolidar o processo de
popularização dos quadrinhos.
Em 1940, surge Will Eisner que fazendo uso de forma não convencional dos
elementos das histórias em quadrinhos: achatando e alongando os quadros,
desenhando títulos de formas diferentes, utilizando ângulos distorcidos e variando as
cenas a cada quadro, foi importante no reconhecimento dos quadrinhos como arte.
O autor traz até os dias de hoje um pouco da história dos quadrinhos e sua
utilização como ferramenta didática e sua transformação em objeto artístico. Conclui
este primeiro capitulo afirmando
Apesar de a maioria das pesquisas relacionadas aos quadrinhos estarem relacionadas à área de comunicação – principalmente no âmbito da linguística e da semiologia - seu caráter artístico e estético ainda é pouco explorado na área acadêmica. Além das possibilidades conhecidas e usualmente utilizadas das HQ tais como recursos didáticos, analise de conteúdo e forma, utilização em livros didáticos, identificação projetiva de personalidade através das personagens, entre outras, os quadrinhos ainda tem um amplo espaço a ser explorado no âmbito escolar – principalmente nas aulas de Arte – como uma modalidade artística, sendo uma opção na qual o estudante trabalhe conceitos do ensino de Arte (p.40-41).
No segundo capitulo o autor faz reflexões sobre a importância do ensino de Arte na
educação formal, “Entre vários aspectos, a arte na educação contribui de forma
substancial e significativa para incitar o pensamento, sendo agente transformador e
formador do cidadão que reconheça a si mesmo, reforce a relação com a cultura em
que está inserido, sendo esse um dos principais apontamentos do ensino de Arte na
contemporaneidade” (p.43). Importância que muitas vezes é desconhecida pela
população de maneira geral e pela escola de maneira particular.
Escreve sobre as mudanças no currículo de Arte, que contemplava os códigos
dominantes de uma erudição europeia e branca, passando pela livre expressão
desvinculada da interação com a sociedade para a perspectiva pós-moderna onde o
currículo de arte valoriza o fazer artístico com criticidade e reflexão, relacionado com
o contexto cultural que o aluno está inserido.
41
Diante disso o autor propõe utilizar as histórias em quadrinhos “como uma
modalidade artística e expressiva nas aulas de arte através da apreciação, do fazer
e da contextualização” (p. 47). Ao final do capitulo Mendonça faz uma análise
artística, estética da obra em quadrinhos Santô, e os pais da aviação do cartunista
Spacca, livro adotado pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), do
Governo Federal.
No capitulo três é apresentada uma proposta metodológica para a produção de
histórias em quadrinhos no ensino fundamental.
Partindo de uma concepção em que a construção do conhecimento em arte acontece quando possibilitamos experiências significativas em apreciação, reflexão e elaboração artística, este estudo se propõe a ser uma opção para o desenvolvimento dessas características em todas as etapas que permeiam a proposta metodológica, contemplando a produção das HQ como manifestações artística expressiva onde seja possível construir conhecimento em arte (p. 71).
Esta proposta é dividida em cinco etapas que vão da construção de cartuns e
personagens, passando pelo estudo dos elementos formais dos quadrinhos e pelos
elementos formais das artes visuais presentes nos quadrinhos, até a produção de
uma história e posterior construção de uma revistinha em quadrinhos. O autor
descreve o percurso metodológico de cada etapa apresentando sugestões de
atividades para alcançar os objetivos propostos em cada uma delas.
3.3 QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO: DA REJEIÇÃO À PRATICA7
Neste livro Vergueiro apresenta os livros adquiridos pelo PNBE (Programa Nacional
de Biblioteca na Escola) e a crescente inserção de quadrinhos nas listas de livros
adquiridos pelo Programa. No primeiro capítulo, mostra como a partir da inserção
das histórias em quadrinhos no edital de compra de livros para as escolas públicas,
as editoras passaram a publicar mais quadrinhos; e aponta uma relação entre os
7 VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo (Org.). Quadrinhos na educação: da rejeição à pratica. São Paulo: Contexto, 2009.
42
tipos de obras selecionadas, a literatura e os quadrinhos, a maioria dos selecionados
são adaptações para os quadrinhos de obras literárias.
Nos capítulos seguintes os livros adquiridos no programa são agrupados por temas,
e há uma apresentação de propostas pedagógicas para utilizar com eficiência as
histórias em quadrinhos no ambiente escolar, sem descaracterizar, nem reduzir
estas historias a simples narrativas ilustradas.
As propostas de atividades incluem várias disciplinas – Arte, Língua Portuguesa,
Geografia, Filosofia, Historia, Física, Sociologia, Religião – e os livros foram
organizados em 6 grupos assim distribuídos: biografia em quadrinhos, quadrinhos de
aventura, mangás em sala de aula, literatura em quadrinhos, quadrinhos infantis e
humor nos quadrinhos; cada capitulo um autor apresenta o gênero gerador do título
do capitulo, explica sua origem e um pouco de sua história apresentando propostas
de utilização dos quadrinhos nas salas de aula da educação básica. São sugestões
de propostas pedagógicas que contemplam várias disciplinas, sendo algumas
dessas ideias interdisciplinares.
Ao analisar os três livros aqui apresentados percebemos que o primeiro propõe o
uso dos quadrinhos nas aulas de arte como suporte para o ensino de conteúdos
específicos da linguagem das artes plásticas, não que os quadrinhos e as artes
plásticas não tenham elementos em comum, mas não podemos reduzir a força
expressiva dos quadrinhos a meros exemplos da utilização de elementos plásticos
na construção de imagens; a linguagem dos quadrinhos trabalha com a
intertextualidade, o aluno precisa conhecer seus signos e elementos constituintes e
a partir deles resignificar suas construções plásticas.
O segundo livro apresenta uma proposta bem pratica do uso da linguagem dos
quadrinhos explorando suas possibilidades plásticas em si mesma. Propõe a
utilização desta linguagem como técnica expressiva, como meio de apropriação
cultural, como desenvolvedor de habilidades cognitivas. Apresenta a importância do
estudo de Arte na educação básica e da linguagem dos quadrinhos como elemento
cultural-artístico.
43
No terceiro livro vemos como as histórias em quadrinhos estão aumentando sua
popularidade no ambiente escolar e acadêmico, servindo como elemento para
pesquisas cientificas cujo objetivo maior é melhorar o desempenho dos alunos e
prover os professores de subsídios para auxiliar os alunos neste desenvolvimento.
Apresenta curiosidades sobre o mercado editorial brasileiro, apresenta títulos que
podem ser abordados pedagogicamente em sala de aula, disponíveis nas bibliotecas
das escolas públicas e propõe atividades em várias áreas diferentes para que as
histórias em quadrinhos sejam plenamente utilizadas no ambiente escolar.
44
4 OFICINA DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Neste capítulo apresentamos, primeiramente, a metodologia escolhida para a
realização deste trabalho, caracterizando-o como pesquisa participante. Os
instrumentos utilizados para coleta de dados são descritos, bem como o contexto em
que o estudo se deu. Além disso, trazemos informações referentes aos alunos que
atuaram como participantes e os caracterizamos segundo categorias de sexo, faixa
etária e escolaridade. Em seguida, apresentamos e analisamos os dados com vistas
a alcançar os objetivos traçados para o estudo.
4.1 METODOLOGIA
Levando em conta os objetivos propostos neste trabalho, esta pesquisa
caracterizou-se como pesquisa participante, aquela em que, de acordo com
SEVERINO (2007, p. 120), o pesquisador, “para realizar a observação dos
fenômenos, compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados, participando, de forma
sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das suas atividades”. Foi
a partir das respostas aos questionários e das observações registradas e descritas
durante o processo de realização da Oficina de Quadrinhos que fizemos as análises
e considerações.
4.1.1 Contexto da Pesquisa
A Oficina de História em Quadrinhos foi realizada durante um dia (manhã e tarde)
em uma escola da rede estadual e teve como público os alunos do ensino médio e
ensino fundamental, num total de 15 alunos.
De acordo com o Relatório de Totalização de Matrícula, no ano de 2013, o colégio
tem 1620 (mil seiscentos e vinte) alunos matriculados, que são distribuídos em três
turnos. Conta com um quadro de 62 professores, sendo todos licenciados, um
45
diretor, dois vice-diretores e pessoal de apoio, distribuídos entre a portaria, a
secretaria, a cantina e auxílio na disciplina. Localizado em Mussurunga, o colégio
atende alunos oriundos principalmente das seguintes localidades: Rua da Adutora,
Colinas, Vila Verde, Bairro da Paz, Estrada Velha do Aeroporto, Parque São
Cristóvão e São Cristóvão.
O colégio dispõe de 16 salas de aula, auditório para cerca de 300 pessoas,
laboratório de Ciências, biblioteca, laboratório de informática, cozinha semi-industrial
com depósito, sala de professores, um arquivo morto, secretaria, sala da vice-
direção, sala da direção, coordenação, quadra poliesportiva, horta e área de
recreação.
A escola participa do projeto Mais Educação8 desde abril de 2009, o Programa tem
por objetivo ampliar o tempo e o espaço educacional dos alunos da rede pública.
Trata-se de uma contribuição para a formação integral de crianças, adolescentes e
jovens, pela articulação de ações, projetos e programas do governo federal. A
iniciativa promove ações sociais e educacionais em escolas e em outros espaços
socioculturais. Os alunos participam de atividades no turno oposto ao das aulas
regulares.
Na escola, de acordo com informações fornecidas pela coordenação local, o
Programa Mais Educação atende quatro macro-campos referentes ao
acompanhamento pedagógico (letramento e matemática), esporte e lazer (aulas de
futebol de salão, karatê e jiu-jitsu); arte (oficina de teatro) e inclusão digital
8 O Programa Mais Educação foi criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007. A iniciativa é coordenada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), em parceria com a Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Sua operacionalização é feita por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O programa visa fomentar atividades para melhorar o ambiente escolar, tendo como base estudos desenvolvidos pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), utilizando os resultados da Prova Brasil de 2005. Nesses estudos destacou-se o uso do “Índice de Efeito Escola – IEE”, indicador do impacto que a escola pode ter na vida e no aprendizado do estudante, cruzando-se informações socioeconômicas do município no qual a escola está localizada. Por esse motivo a área de atuação do programa foi demarcada inicialmente para atender, em caráter prioritário, as escolas que apresentam baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), situadas em capitais e regiões metropolitanas. Fonte: http://portal.mec.gov.br
46
(introdução à informática), e mais recentemente incluiu Iniciação Musical, com aulas
de violão e percussão.
Participam do projeto cerca de 400 alunos entre os turnos matutino e vespertino,
recebendo 3 refeições diárias na Unidade Escolar. Os alunos recebem também os
equipamentos para a prática das atividades relacionadas.
A escolha da escola deu-se pelo fato de já termos realizado nela, algumas
intervenções ao longo do curso de Artes Visuais em outras oportunidades e também
pela receptividade, por parte da Direção e de alguns professores da escola, que de
pronto aceitaram a nossa proposta e se empenharam em colaborar naquilo que
precisávamos para a realização da Oficina. Foram garantidos o espaço, os materiais
necessários e todo o apoio no dia da realização da oficina, como fornecimento de
lanche e almoço para os participantes.
Cabe ressaltar que a boa acolhida por parte da escola reforçou nos pesquisadores a
crença de que a escola pública é o espaço ideal para práticas dessa natureza, que
possibilitem cada vez mais a sua integração com a Universidade, transformando a
escola num ambiente de pesquisa e de prática de ações que venham a mudar o
cenário atual do ensino público.
4.1.2 Instrumentos de Coleta de Dados:
De acordo com Severino (2007, p. 125), questionário é “um conjunto de questões,
sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por
parte dos sujeitos pesquisados, com vista a conhecer a opinião dos mesmos sobre
os assuntos em estudo”. Para efeito deste trabalho, o instrumento utilizado
constituiu-se de questionário composto por oito perguntas abertas, pertinentes ao
objeto deste trabalho, para que os participantes respondessem expondo as suas
impressões sobre as HQ.
47
Algumas variáveis foram consideradas para a composição do questionário como
instrumento de coleta de dados: sexo, faixa etária e série dos participantes, grau de
conhecimento e frequência de leitura de histórias em quadrinhos, preferências por
personagens e histórias, o aparecimento e uso das HQ nos livros e nas aulas e a
influência dos quadrinhos na aprendizagem.
4.1.3 Os Participantes da Pesquisa
A oficina ocorreu na biblioteca da escola e contou com dois monitores-
pesquisadores que atuaram no desenvolvimento das atividades com os alunos. Os
participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos do trabalho e em seguida o
tema passou a ser discutido com os alunos: definição do que é uma história em
quadrinhos, com as contribuições dos alunos, os elementos das HQ, a função de
cada elemento como tipos de balões, narrador, tipos de histórias, construção de
balões, manuseio e leitura de revistas variadas e por fim o processo de criação, que
ocorreu em grupo com a criação de desenhos e narrativas elaboradas pelos próprios
alunos.
Participaram da pesquisa 15 participantes. Quanto às categorias sexo e faixa etária,
identificou-se no grupo de alunos participantes da Oficina que todos os alunos eram
do sexo masculino e suas idades variavam entre 11 e 17 anos. Em relação à
escolaridade, constatou-se a participação de alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio. O Quadro I abaixo apresenta os
participantes do estudo organizados quanto às categorias faixa etária, sexo e série.
48
Quadro I – Idade, sexo e série dos participantes
SUJEITO IDADE SEXO SÉRIE
01 11 Masculino 6º ano EF
02 11 Masculino 6º ano EF
03 12 Masculino 6º ano EF
04 13 Masculino 7º ano EF
05 13 Masculino 8º ano EF
06 14 Masculino 6º ano EF
07 14 Masculino 2º ano EM
08 14 Masculino 8º ano EF
09 15 Masculino 1º ano EM
10 15 Masculino 8º ano EF
11 15 Masculino 8º ano EF
12 15 Masculino 7º ano EF
13 16 Masculino 1º ano EM
14 16 Masculino 7º ano EF
15 17 Masculino 1º ano EM
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Embora esta pesquisa não pretenda abordar as questões de gênero, não
poderíamos deixar de comentar o fato de apenas meninos se inscreverem para a
oficina. A bibliografia consultada para a elaboração desta pesquisa também não
aborda o tema. Apesar de esse dado nos ter intrigado, decidimos não nos
debruçarmos em sua análise devido ao tempo e ao espaço para elaboração deste
trabalho, além de tal abordagem escapar aos objetivos traçados para este estudo.
49
A ausência de meninas fazendo a Oficina, a nosso ver, pode dizer muito sobre o
preconceito que existe em alguns setores da produção literária, resultando de uma
situação que perpassou séculos de exclusão feminina quando o assunto é o direito
da mulher à educação. Mas, como já dissemos, esse trabalho não se propôs a
discutir essa questão, e essa é uma opinião formulada a partir das vivências dos
pesquisadores. Por considerarmos ser este um dado importante que foi derivado
desta pesquisa, sugerimos que pode ser explorado em outros trabalhos.
4.2 ANÁLISE DE DADOS
Algumas respostas dos questionários foram agrupadas em quadros para em seguida
serem analisadas. A primeira pergunta do Questionário de Pesquisa refere-se às
motivações dos alunos quanto à sua participação na Oficina de História em
Quadrinhos. Indicaram o gosto pelo desenho e o desejo de aprender a fazer HQ
como elementos motivadores para se inscreverem na oficina como pode ser
verificado no Quadro II. Demonstram também a partir de algumas respostas que
possuem um forte vínculo com as HQ e dão importância à aprendizagem a partir dos
quadrinhos.
Ao analisarmos as respostas, de acordo com as idades e as séries dos
participantes, verificamos que não há coerência, no que diz respeito a respostas
mais ou menos elaboradas segundo esse critério. Outra informação quanto a isso
diz respeito ao nível de elaboração e coerência entre às respostas de outros
quesitos do questionário.
Ainda sobre esse quesito do questionário, a maioria das respostas relaciona suas
motivações com o desejo de aprenderem, ou seja, os participantes atribuem, em sua
maioria, algum valor pedagógico às HQ e poucos relacionam os quadrinhos apenas
ao prazer da leitura. Acreditamos que o ambiente de pesquisa, nesse caso a Oficina
de Quadrinhos tenha influenciado nas respostas.
50
Quadro II – Motivações para participar da oficina de quadrinhos
PARTICIPANTE MOTIVOS
01 “Aprender a ler e escrever histórias em quadrinhos”
02 “Por que é muito importante para mim”
03 “Por que gosto muito de desenhar e quero aprender a fazer histórias em quadrinhos”
04 “Por que tudo que envolve aprendizado é bom e gosto muito de desenhar”
05 “Aprender mais”
06 “Sempre gostei de desenhar, mas nunca tive uma aula que ensinasse a fazer histórias em quadrinhos”
07 “Aprender histórias em quadrinhos”
08 “Por indicação de um amigo e porque gosto de ler histórias em quadrinhos”
09 “Para aprender coisas novas”
10 “Por recomendação da professora”
11 “Por que amo história e quadrinho”
12 “Por que desenhar e escrever faz bem e aprender mais sempre é bom”
13 “Para ocupar o meu tempo e ficar com os amigos”
14 “Para melhorar nas aulas”
15 “Para aprender um pouco mais sobre o assunto”
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
O Quadro III abaixo está relacionado com a pergunta número 2 do Questionário:
(Você tem o hábito de ler histórias em quadrinhos? Quais?). A esta pergunta todos
os participantes responderam que possuem o hábito de ler HQ, não mencionando,
porém, a frequência com que fazem essas leituras. As histórias mais mencionadas
foram: Turma da Mônica, Turma do Chaves, Super-Homem, Menino Maluquinho,
Mickey e Homem-Aranha.
51
Quadro III – Histórias favoritas
PARTICIPANTE PERSONAGEM PREFERIDO
01 Turma da Mônica
02 Chico Bento
03 Menino Maluquinho
04 Super-homem
05 Super-homem
06 Homem Aranha
07 Turma do Chaves
08 Turma do Chaves
09 Mickey
10 Homem Aranha
11 Turma da Mônica
12 Turma da Mônica
13 Marvel
14 Histórias da Bíblia
15 Super-homem
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013.
Este resultado aponta para uma grande aceitação da leitura de quadrinhos entre os
participantes. Aponta também para a preferência por histórias de personagens
infantis e por super-heróis. As preferências dos participantes apontam uma pouca
variedade de personagens e a prevalência dos mais populares. Isso indica um
pouco conhecimento sobre personagens e estilos de HQ menos populares, de
produção mais sofisticada, prevalecendo os mais comercializados e de facil acesso.
As respostas à pergunta de número 3 do questionário (Você se recorda de alguma
aula em que o professor tenha usado uma história em quadrinhos para falar sobre
algum tema?) apresentou o resultado que está descrito no Quadro IV abaixo:
52
Quadro IV – Uso de HQ nas aulas
PARTICIPANTES RESPOSTAS
08 SIM
07 NÃO
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Este resultado aponta para algumas reflexões, entre elas a de que uma parte
significativa dos professores ainda não compreendeu a importância das histórias em
quadrinhos para a prática educativa, na contramão das pesquisas que apontam os
benefícios das histórias em quadrinhos nas escolas, destoando do que recomendam
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997) que reafirmam que as Histórias
em quadrinhos devem estar inseridas nos conteúdos dos temas transversais: Saúde,
Orientação Sexual, Cultura, Meio Ambiente e Ética, como no conteúdo de Arte.
A pergunta 4 do questionário (Você já observou se em seus livros didáticos
aparecem histórias em quadrinhos?) resultou nas respostas apresentadas no
Quadro V a seguir:
Quadro V – Abordagem de HQ nos livros didáticos usados pelos alunos
PARTICIPANTES RESPOSTA
15 SIM
00 NÃO
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
A unanimidade das respostas dos participantes ao afirmarem que as histórias em
quadrinhos estão presentes em seus livros didáticos aponta para o atendimento das
orientações dos PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais. No entanto, ao
confrontarmos esta questão (4) com as respostas da questão anterior (3), percebe-
se que conteúdos dos livros didáticos podem estar sendo negligenciados em alguns
casos, haja vista o fato dos participantes apontarem que as histórias em quadrinhos
estão presentes em seus livros e ao mesmo tempo, uma parte significativa dos
participantes (quase 50%) responderem que não se recordam de alguma aula em
que o professor tenha usado uma história em quadrinhos para falar sobre algum
tema.
53
Além disso, as respostas à pergunta de número 2 apontando que todos os
participantes têm o hábito da leitura de quadrinhos nos levam a afirmar que esse
interesse está sendo pouco aproveitado no âmbito escolar já que tais leituras
ocorrem fora dele.
A pergunta 5 do questionário (Em sua opinião, é possível aprender sobre algum
assunto a partir de uma história em quadrinhos?) resultou nas respostas
apresentadas no Quadro VI a seguir:
Quadro VI – Perspectiva dos participantes quanto ao aprendizado por HQ
PARTICIPANTES RESPOSTA
15 SIM
00 NÃO
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
As respostas dos participantes de forma unânime que é possível aprender a partir de
histórias em quadrinhos, entendendo que os quadrinhos podem ajudar na
compreensão dos conteúdos curriculares, corroboram com a hipótese apresentada
neste trabalho e com o que apregoam diversos autores, alguns deles
exaustivamente citados no presente trabalho.
As respostas dos participantes à pergunta 6 do questionário (Você já escreveu e/ou
desenhou alguma história em quadrinhos?) foram organizadas no Quadro VII a
seguir:
Quadro VII – Experiência dos participantes na produção de HQ
PARTICIPANTES RESPOSTA
10 SIM
05 NÃO
TOTAL DE PARTICIPANTES 15
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Embora a maioria dos participantes não possua domínio da linguagem das histórias
em quadrinhos, como comprovado na experiência vivenciada na Oficina, os
54
participantes revelam afinidade com as histórias e um numero significativo revela
que já vivenciou experiências com o desenho e com a escrita relacionada com os
quadrinhos. As informações dos quadros IV e VII se complementam e demonstram
coerência nas respostas dos participantes quanto às suas experiências com HQ nas
aulas.
As respostas dos participantes à pergunta 7 do questionário (Qual sua opinião a
respeito do uso de HQ nas aulas?) estão apresentadas no Quadro VIII abaixo:
Quadro VIII – Opinião sobre o uso das HQ nas aulas
PARTICIPANTE RESPOSTA
01 “É muito legal”
02 “Ajuda a entender os assuntos”
03 “É interessante”
04 “É muito bom”
05 “É melhor para entender os assuntos”
06 “A aula fica melhor”
07 “É melhor para aprender”
08 “Aumenta o interesse e deveria ser mais frequente”
09 “Acho legal”
10 “Bem legal e interessante”
11 “É bom para aprender”
12 “Muito legal”
13 “É divertido”
14 “É um bom lazer”
15 “Ajuda no geral”
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Os participantes, de modo geral, opinaram de maneira favorável quanto ao uso das
histórias em quadrinhos nas aulas. Fazendo isso, corroboram com aquilo que é a
principal questão desta pesquisa e com o pensamento de autores como Barbosa
(2004), ao afirmar que “[o]s quadrinhos podem ser utilizados em sala de aula não
apenas para explicar elementos das artes plásticas, mas também como exercício
55
prático, uma oportunidade de discutir e praticar o processo criativo” (p. 143). Oliveira
(2005), também sugere que
[o]s quadrinhos podem realmente suscitar um maior interesse das crianças pela leitura, pois eles são excelentes instrumentos no processo educativo, entendendo-se que educar não é apenas transmitir conhecimentos de português, matemática, etc., por meio de regras pré-estabelecidas, e sim possibilitar as relações cognitivas e a construção do conhecimento que as HQ oferecem sobre o prazer da leitura.
À pergunta 8 do questionário (O que mais chama a atenção em uma HQ?), os
participantes forneceram as respostas constantes no Quadro IX abaixo:
Quadro IX – Elementos que mais despertam a atenção dos participantes em uma HQ
PARTICIPANTE RESPOSTA
01 “Os desenhos”
02 “A história em si”
03 “A ideia de movimento dos personagens”
04 “Os personagens”
05 “A ação dos personagens”
06 “O desenho”
07 “A pintura dos desenhos”
08 “Os personagens”
09 “Os desenhos”
10 “Os desenhos, os traços de expressão e a pintura”
11 “Tudo me chama a atenção”
12 “Principalmente o humor”
13 “Os desenhos e a história”
14 “Os personagens e o cenário da história”
15 “A pintura”
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013.
A história, o que na linguagem dos quadrinhos corresponderia ao argumento, em
seguida os desenhos, a cor, os cenários, ideia de movimento, dentre outros
elementos, aparecem como elementos que chamam a atenção na leitura dos
quadrinhos pelos participantes. Essas respostas revelam que os participantes
56
buscam observar as histórias em quadrinhos a partir dos elementos da linguagem
visual: cores, linhas, texturas, planos, equilíbrio, movimento, entre outros,
confirmado indagações iniciais colocadas neste trabalho no que se refere às
possibilidades dos quadrinhos serem utilizados para estudar tais elementos nas
aulas de Arte. Revela a possibilidade de uso da linguagem dos quadrinhos na
elaboração de conceitos formais comuns nas obras de artes visuais.
4.3 – A OFICINA DE QUADRINHOS - ANÁLISE DO PROCESSO
A oficina de quadrinhos começou as 08:30 com uma conversa informal a partir da
qual os participantes relataram suas experiências com quadrinhos, ideias que tinham
sobre esta linguagem e perspectivas sobre a oficina. A maioria revelou intimidade
com os quadrinhos e gosto pelo desenho. Os quadrinhos que eles mencionaram
são, em sua maioria quadrinhos comerciais como Turma da Monica, Turma do
Chaves, Menino Maluquinho, dentre outros.
Os participantes desconheciam o mercado editorial brasileiro e principalmente
baiano, tinham a ideia geral de que escrever quadrinhos não é atividade profissional.
A esse respeito, um aluno revelou que participou da outra oficina (serigrafia) devido
a facilidade de profissionalização que esta experiência poderia render, revelando
total desconhecimento sobre o mercado profissional de quadrinhos.
Na segunda parte da oficina foi feito um levantamento do conhecimento que os
alunos tinham sobre elementos gráficos das histórias em quadrinhos, paralelo a isto
foi sendo feita a explicação. Conheciam alguns balões e entendia sua função na
história; desconheciam o rabicho, a terminologia, mas entendiam sua função no
balão, indicar quem estava falando; alguns balões de uso menos frequente a
exemplo do balão duplo eles desconheciam sua função, confundindo seu uso de fala
pausada para fala extensa.
57
Depois dos balões foram explicadas as onomatopeias os alunos conheciam
graficamente, mas desconheciam a terminologia. Fizemos dois exercícios após
estas explicações. O primeiro consistia em desenhar em uma folha de papel oficio
dividida em 8 quadros, os tipos de balões estudados: fala normal, cochicho, grito,
balão duplo e pensamento utilizando a forma do balão mas o texto deveria ser
expressões dos próprios alunos obedecendo a função do balão, exemplo: colocar no
balão de cochicho alguma coisa que eles gostariam de falar baixinho para alguém,
um segredo (figura 11); colocar no balão correspondente um pensamento (figura
12); no balão de grito, algo que eles tinham vontade de gritar e não tinham coragem
(figura 13).
Contemplamos cinco quadros e nos outros três desenhamos onomatopeias a partir
de sons observados no ambiente ou criados pelo aluno (figura 14).
Figura 11 – Balão de cochicho
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Figura 12 – Balão pensamento
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
58
Figura 13 – Balão de grito
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Figura 14 - Onomatopeias
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013
Ao final trocamos os desenhos entre os participantes e cada um recebeu meia folha
de cartolina para escolher um dos balões e ampliá-lo (figura 15a e 15b).
Figura 15a – ampliação dos balões
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013 Foto: SOUZA, J.A.C (sem título). 2013. Fotografias.
59
Figura 15b – ampliação dos balões
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013 Foto: SOUZA, J.A.C (sem título). 2013. Fotografias.
O balão foi desenhado com pincel atômico preto em cartolinas coloridas. Conforme
imagens abaixo (figura 16).
Figura 16 - Exemplos de balões e onomatopeias elaboradas pelos alunos.
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013 Foto: CEDRAZ, C. (sem título). 2013. Fotografias.
60
Após esta construção foi feita uma dinâmica com os alunos, as mesas foram
afastadas e eles deveriam passear pela sala com seus cartazes observando a
produção dos colegas, ao sinal pré determinado pelos monitores, os alunos
deveriam se agrupar em grupos de três pessoas, inicialmente fizemos os
agrupamentos que eram desfeitos e eles voltavam a andar pela sala, tentando
ocupar todos os espaços e sem formar grupos.
Depois do terceiro grupamento, pedimos que quando agrupados eles tentassem
formar uma história com os balões que eles tinham em mãos, se organizando
imitando a estrutura das tiras (Figura 17), “sequencia narrativa em quadros dispostos
na horizontal, embora existam tirinhas com apenas um ou dois quadros” (SRBEK,
2006, p. 63).
Figura 17 – Tira de história em quadrinhos
CEDRAZ, Antônio. A Turma do Xaxado. 2. ed. ver. e aum. Salvador: Editora e Estúdio Cedraz, 2006,
1 v. p. 29
Neste momento a participação dos alunos que estava meio morna, ganhou uma
dinâmica, os alunos começaram a se divertir com as construções das tiras
animadas, aproveitando a animação dos alunos introduzimos novos elementos
gráficos das histórias em quadrinhos (figura 18)
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Figura 18 - Dinâmica realizada – construção de HQ com cartazes
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013 Foto: CEDRAZ, C. (sem título). 2013. Fotografias.
Terminamos a dinâmica com os balões e apresentamos o ‘movimento’ representado
por linhas que indicam o espaço percorrido ou traços curtos que rodeiam o
personagem indicando vibração ou tremor; foram apresentadas também as
metáforas visuais,
(...)elas se constituem em signos ou convenções gráficas que tem relação direta ou indireta com expressões do senso comum, como por exemplo, “ver estrelas”, “falar cobras e lagartos”, “dormir como um tronco”, etc. as metáforas visuais possibilitam um rápido entendimento da ideia (VERGUEIRO, 2004, p. 54).
Nas metáforas, após a explicação eles identificaram vários exemplos observados em
suas leituras de quadrinhos. Estes exemplos foram desenhados no quadro.
Levamos algumas revistas em quadrinhos de autores a exemplo de: São Jorge da
Mata Escura de Marcello Fontana e André Leal, que narra uma história acontecida
no bairro de Mata Escura aqui em Salvador; D. João Carioca de Lilia Moritz
Schwarcz e Spacca, um quadrinho histórico narrando à vinda da corte portuguesa
ao Brasil; A força da Vida de Will Eisner, este que é considerado o criador do
62
quadrinho-arte, onde ele subverte os quadros e a própria narrativa; O Messias de
Gonçalo Junior e Flavio Luiz, uma história em quadrinhos sem texto e balões;
Caraíba de Flavio Colin, um artista brasileiro que tem um traço e uma narrativa bem
característica; para os alunos conhecerem e perceberem a diversidade de estilos,
construção gráfica, design e tema encontrado no universo quadrinistico,
principalmente em produções nacionais e locais.
A tarde, após o almoço falamos sobre os planos de enquadramentos e sua utilidade
na narrativa das histórias: plano geral, utilizado quando o desenhista precisa indicar
o local onde o personagem está inserido; plano americano, quando o desenhista
quer destacar a expressão corporal do personagem, visto que ele é desenhado
apenas até o joelho; plano de detalhe, “limita o espaço em torno de parte de uma
figura humana ou de um objeto em particular. Serve para realçar um elemento da
figura que normalmente passaria despercebido ao leitor” (RAMA, 2004, p. 42).
Depois da apresentação dos planos de enquadramento foi explicado que alguns
artistas fazem toda a produção da história, do argumento a arte-final, enquanto
outros a exemplo da Turma da Mônica, onde cada etapa de produção é feita por um
especialista. Os alunos ficaram muito surpresos com esta informação, acreditavam
que todas as histórias em quadrinhos eram feitas por um único artista; foi proposto
que em grupo eles criassem uma tirinha, em virtude da escassez do tempo para a
produção de uma história de uma página. Neste momento percebemos que os
alunos começaram a aplicar todos os conhecimentos adquiridos durante a oficina.
Em grupo, os participantes determinaram tema e personagens, definiram quem seria
o desenhista, o arte-finalista e o colorista. Depois na elaboração do argumento
começaram a discutir quais os melhores planos para narrar a história, os balões
mais apropriados, se havia a necessidade de onomatopeias e metáforas visuais.
Construíram o argumento em uma folha de papel oficio e fizeram o desenho em
meia folha de cartolina branca, desenhando as tiras maiores, processo similar ao
profissional, onde o artista desenha em tamanho maior para depois reduzir para o
formato final da história; este recurso auxilia no desenho de mais detalhes na
história.
63
Terminado o desenho orientamos os alunos quanto à utilização de canetas pretas
para fazer a arte-final do desenho, tínhamos a nossa disposição três canetas com
pontas de grossuras diferentes, o pincel atômico mais largo, o piloto com ponta
media e canetas pretas para traços mais delicados (figura 19).
Figura 19 – Alunos na produção
Fonte: Questionário aplicado na Oficina de Criação com Histórias em Quadrinhos, 2013 Foto: SOUZA, J.A.C. (sem título). 2013. Fotografias.
O tempo não permitiu a colorização das tirinhas, mas o envolvimento e participação
dos alunos não deixaram dúvidas da viabilidade de utilizar as histórias em
quadrinhos na aula de Arte. A esse respeito, um dos alunos ficou muito surpreso ao
ser informado da duração da oficina de apenas oito horas, chegando a pensar que a
oficina fosse mais longa.
64
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto aos seus objetivos, este trabalho procurou identificar possibilidades do uso
das histórias em quadrinhos na sala de aula de arte respondendo questionamentos
acerca da percepção dos alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio sobre o
uso das histórias em quadrinhos, os princípios que podem ser adotados no trabalho
com histórias em quadrinhos e os significados dos elementos artísticos presentes
nas histórias em quadrinhos, sempre pensando no ensino de Arte.
Para alcançarmos os objetivos propostos lançamos mão de revisão bibliográfica e
coleta de dados. Por sabemos que os trabalhos científicos em seus diferentes níveis
e modalidades não carregam em si a pretensão de serem conclusivos, optamos em
fazer algumas considerações a respeito dos resultados alcançados, apontando para
a confirmação de nossas indagações iniciais e para a necessidade de continuidade
e aprofundamento da pesquisa sobre as HQ, no sentido de possibilitar ao tema um
aspecto mais significativo e elucidativo.
As histórias em quadrinhos constituem um produto artístico relativamente recente,
em comparação com outras linguagens artísticas a exemplo da pintura, da escultura
e da música que acompanham o homem desde o primórdio dos tempos; mas isto
não diminui seu valor ou sua força como objeto artístico. Percebemos que é preciso
ir além no uso das histórias em quadrinhos em sala de aula. Muito usada como
distração, para prender ou chamar a atenção dos alunos ou para servir a interesses
de outras áreas do currículo escolar, ela deve ser encarada como uma linguagem
artística com suas especificidades e importância.
Nas aulas de Arte podemos ir além da simples “alfabetização” dos alunos no uso de
seus elementos gráficos, a exemplo dos balões, metáforas, onomatopeias e planos
de enquadramento, tornando-os produtores e autores de quadrinhos, enriquecendo
seu imaginário pessoal. Ainda através do conhecimento destes elementos é possível
estabelecer um diálogo entre o autor e o leitor, onde a obra do autor será sempre
recriada por cada leitor, a cada nova leitura.
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Através do estudo das histórias em quadrinhos podemos contemplar outro objetivo
do ensino nas escolas, a leitura. Aqui se entende leitura como o ato de compreender
as ligações imagéticas que dão forma às ideias, importante porque nossa apreensão
da realidade é sempre mediada por uma linguagem, que nada mais é do que a
utilização de signos para representar nossas ideias. No caso da Arte que utiliza
várias linguagens: visual, musical, cênica, cinematográfica, entre outros; os
quadrinhos auxiliam na leitura imagética.
Podemos estudar as diversas produções em seu contexto histórico e estilístico,
contemplando principalmente as produções locais e nacionais. Estudar o uso da
linha, da cor, do espaço nas revistinhas; conhecer os diversos gêneros das histórias
em quadrinhos e produzir histórias respeitando a diversidade de linguagem
encontrada em cada um dos gêneros; conhecer a vida e o trabalho de quadrinistas
nacionais e internacionais.
As possibilidades de uso das histórias em quadrinhos em sala de aula de Arte são
inúmeras, mas é necessário que o professor pesquise e se qualifique para
desenvolver estas atividades, fugindo de estereótipos. Que seja um leitor de
histórias em quadrinhos. Este, aliás, foi o gerador desta pesquisa, o fato dos dois
pesquisadores serem leitores de histórias em quadrinhos e professores de Arte e
entenderem que as possibilidades construtivas e narrativas dos quadrinhos não
eram utilizados na sala de Arte; a partir daí partiram para uma pesquisa para uma
melhor apropriação do tema.
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REFERÊNCIAS
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BRASIL. LEI Nº 11.769, DE 18 DE AGOSTO DE 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/lei/L11769.htm>. Acesso em: 15 out. 2013. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Programa Mais Educação. Ministério da Educação – MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=586&id=12372&option=com_content&view=article. Acesso em: 04 nov. 2013. CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara (Org.). As histórias em quadrinhos no Brasil: teoria e prática. São Paulo : INTERCOM/Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, GT Humor e Quadrinhos, 1997. (Coleção GT INTERCOM, v. 7). CEDRAZ, Antônio. A Turma do Xaxado. 2 ed. Salvador: Editora e Estúdio Cedraz, 2006, 2 v. GROENSTEEN, Thierry. História em quadrinhos: essa desconhecida arte popular. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2004.
67
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola, 1990. ________, José Carlos. Fundamentos Teórico-metodológicos da Pedagogia Crítico-Social (perspectiva histórico-cultural) Universidade Católica de Goiás, s.d. Disponível em: <http://professor.ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/5146/material/Pedagogia%20criticosocial.doc>. Acesso em: 16 out. 2013. MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. MELLO, Maria Alba Guedes Machado. História da Educação. Aulas ministrada no curso de Artes Visuais, DEDC-I, UNEB nos períodos de 3 a 10 jul. 2010, de 1 a 7 ago. 2010 e 4 a 11 set. 2010. MENDONÇA, João Marcos Parreira. Traça traço quadro a quadro: a produção de histórias em quadrinhos no ensino de Arte. Belo Horizonte: C/Arte, 2008. OLIVEIRA, M.J.A. A dinamização de coleções de histórias em quadrinhos nas bibliotecas populares do Rio de Janeiro. 2005. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005. Disponível em: <http://infoculura.info/rabci/node/54>. Acesso em: 15 out. 2013. PEREIRA, Kátia Helena. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007. RAMA, Ângela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004. SANGENIS, Luiz Fernando Conde. Franciscanos na Educação Brasileira. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Câmara. Histórias e Memórias da Educação no Brasil – Vol. I – Séculos XVI-XVIII. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. p.93-107. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. – 23ª ed. rev. e atual. – São Paulo: Cortez, 2007.
68
SRBEK, Wellington. Quadrinhos & outros bichos. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2006. ______, Wellington. Um mundo em quadrinhos. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2005. VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo (Org.). Quadrinhos na educação: da rejeição à pratica. São Paulo: Contexto, 2009.
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Apêndice A – Edital do Projeto
Os professores Claudia Cavalcante C. C. de Oliveira e José Antônio Correia de Souza, no uso de suas atribuições, torna público para conhecimento dos interessados, o presente edital de seleção para a OFICINA DE CRIAÇÃO COM HISTORIAS EM QUADRINHOS, a ser desenvolvido em escola pública da rede estadual de ensino de Salvador. 1. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 1.1. A seleção destina-se a estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio da Rede Pública Estadual de Ensino. 1.2. A oficina será desenvolvida no Colégio Estadual Padre Palmeira, localizado em Mussurunga em Salvador. 2. DA INSCRIÇÃO 2.1. A inscrição do interessado implicará na ciência e na tácita aceitação das normas e condições estabelecidas neste Edital, bem como de todos os termos dos seus Anexos, em relação aos quais não poderá alegar desconhecimento. 2.2. As inscrições são gratuitas e os interessados poderão se inscrever na escola onde será ministrada a oficina. 3. DA OFICINA 3.1. As oficinas terão duração de 1 dia (05 de outubro de 2013), com carga horária de 8 horas, das 08:00 as 12:00 e das 13:30 as 17:30. 3.2. Serão selecionadas por este edital o número total de até 20 (vinte) alunos. 4. OBJETIVO 4.1 Desenvolver a criatividade dos alunos utilizando elementos gráficos das Histórias em Quadrinhos. 4.2 Utilizar outras técnicas plásticas para construção de elementos gráficos específicos das Histórias em Quadrinhos. O presente projeto propõe uma realização de uma oficina de artes visuais com o objetivo de estabelecer um diálogo entre as Histórias em quadrinhos e as Artes Plásticas, desenvolvendo no aluno habilidades de percepção visual, noções cromáticas, possibilidades de novas construções imagéticas, reelaboração do pensamento construtivo quando da reelaboração dos conceitos de HQ, elemento plástico e novas possibilidades construtivas. A construção deste material teórico formal –a monografia – será feita a partir do estudo da linguagem gráfica das HQ, elementos plásticos usuais nas artes visuais como colagem, uso de cor, pintura, textura, entre outros; entrevista com os participantes das oficinas antes e após a realização da mesma sobre as perspectivas de formação anteriores a ela e após a realização da mesma; relato da experiência com foco na aprendizagem dos alunos durante a oficina. A escolha dos alunos do Ensino Fundamental II e ensino Médio deve-se a percepção de que estes alunos já trazem uma bagagem imagética, gráfica e teórica sobre as Artes Plásticas o que proporcionaria uma construção de significados mais elaborada.
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Apêndice D – Questionário dos Alunos
Dados de Identificação da Pesquisa:
Título: O USO DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NA
EDUCAÇÃO BÁSICA.
Instituição à qual pertencem os pesquisadores: Universidade do Estado da Bahia
Responsáveis pela Pesquisa:
Claudia Cavalcante Cedraz Caribé de Oliveira
José Antônio Correia de Souza
Professora orientadora: Patrícia Nicolau Magris
Dados do participante
Nome:______________________________________________________________
Sexo: ( ) masculino; ( ) feminino Idade:____________ Série: ________
1. Quais o(s) motivo(s) que levaram você a se inscrever e participar da Oficina de História
em Quadrinhos?
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2. Você tem o hábito de ler histórias em quadrinhos? Quais?
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3. Você se recorda de alguma aula em que o professor tenha usado uma história em
quadrinhos para falar sobre algum tema?
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4. Você já observou se em seus livros didáticos aparecem histórias em quadrinhos?
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5. Em sua opinião, é possível aprender sobre algum assunto a partir de uma história em
quadrinhos?
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6. Você já escreveu e/ou desenhou alguma história em quadrinhos?
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7. Qual sua opinião a respeito do uso de história em quadrinhos nas aulas?
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8. O que você mais lhe chama a atenção em uma história em quadrinhos:
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