ARNALDO MENDES DE SOUSA

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ARNALDO MENDES DE SOUSA IMPACTOS AMBIENTAIS ADVINDOS DA IMPLANTAÇÃO DE AEROPORTOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. SÃO PAULO 2004

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ARNALDO MENDES DE SOUSA

IMPACTOS AMBIENTAIS ADVINDOS DA IMPLANTAÇÃO DE AEROPORTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental.

SÃO PAULO 2004

ARNALDO MENDES DE SOUSA

IMPACTOS AMBIENTAIS ADVINDOS DA IMPLANTAÇÃO DE AEROPORTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. Orientador: Prof. MSc. Célio Daroncho

SÃO PAULO 2004

i

Dedico esse trabalho de pesquisa a todos que passaram por minha vida, ajudando

em minha formação.

ii

RESUMO

Este trabalho tem por finalidade mostrar os problemas de relacionamento aeroporto /

cidade, com base na análise do aeroporto internacional de São Paulo, em

Guarulhos, caracterizando-se, portanto um Diagnóstico Ambiental do local.

Em seu processo de elaboração foram realizadas pesquisas bibliográficas que

buscaram definir padrões, conceitos, metodologias sobre o tema e discussão e

sobre as características do empreendimento, além de um estudo de caso onde, por

meio de documentos, observações e fotos estudou-se a relação da sociedade frente

aos problemas apresentados.

Os resultados apontaram para um aumento da consciência ambiental por parte dos

órgãos legisladores e dos profissionais responsáveis pelo projeto do aeroporto,

porém aponta uma inexistência de controle no que tange a ocupação da região de

entorno, devido às recentes invasões às áreas vizinhas ao aeroporto, gerando

inúmeros transtornos à população e usuários do empreendimento.

Palavras Chave: Aeroporto Internacional de São Paulo, Guarulhos.

iii

ABSTRACT

This work has for purpose to show the relationship problems airport / city, on the

basis of the analysis of the international airport of São Paulo, in Guarulhos,

characterizing itself, therefore an Environmental Diagnosis of the place.

In its process of elaboration bibliographical research had been carried through that

they had searched to define standards, concepts, methodologies on the subject and

quarrel and on the characteristics of the enterprise, beyond a case study where, by

means of documents, comments and photos it was studied relation of the society

front to the presented problems.

The results had pointed with respect to an increase of ambient conscience on the

part of the legislating agencies and the responsible professionals for the project of

the airport, however it points a control inexistence in that it refers to the occupation of

the region in the neighborhood, which had to the recent invasions to the neighboring

areas to the airport, generating innumerable problems to the population and users of

the enterprise.

Words Key: São Paulo International Airport, Guarulhos

iv

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 5.1: Pouso da Aeronave.................................................................................22

Figura 5.2: Elementos para Registros de Aeroportos................................................24

Figura 5.3: Limites de áreas de proteção contra ruído ..............................................41

Figura 5.4: PBZR.......................................................................................................42

Figura 5.5: Modelo de ASA .......................................................................................46

Figura 5.6: PBZPA – 3D............................................................................................47

Figura 5.7: PBZPA – Planta ......................................................................................47

Figura 5.8: PBZPA – Seção ......................................................................................48

Figura 5.9: Sistema de Abastecimento Convencional ...............................................49

Figura 5.10: Distribuição do Peso da aeronave.........................................................50

Figura 6.1: Vista aérea do Aeroporto Internacional de Guarulhos.............................57

Figura 6.2: Aeroporto ................................................................................................57

Figura 6.3: Localização da Cidade de Guarulhos......................................................58

Figura 6.4: BASE AÉREA..........................................................................................60

Figura 6.5: Windshear (Tesouras de Vento) .............................................................61

Figura 6.6: Incinerador ..............................................................................................62

Figura 6.7: Incineradores ..........................................................................................62

Figura 6.8: Separação do Lixo ..................................................................................63

Figura 6.9: Decantador..............................................................................................65

Figura 6.10: Lagoa aeração ......................................................................................65

Figura 6.11: Ocupação desordenada ........................................................................67

Figura 6.12: Rio Baquirivu - Guaçu ...........................................................................68

Figura 6.13: Enchente ...............................................................................................68

Figura 6.14: Inundação do rio Baquirivu-Guaçu........................................................69

Figura 6.15: Foz do córrego Cocho Velho no rio Baquirivu-Guaçu ...........................70

Figura 6.16: Rio Baquirivu-Guaçu .............................................................................72

Figura 6.17: Rio Baquirivu-Guaçu .............................................................................72

Figura 6.18: Distribuição das mudas no Viveiro de Plantas ......................................78

Figura 6.19: Aspecto do Interior do Viveiro de Plantas .............................................78

Figura 6.20: Diversidade do Viveiro de Plantas.........................................................79

v

Figura 6.21: Distribuição externa do Viveiro de Plantas............................................79

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1: História e transportes .............................................................................11

Tabela 5.2: Receita Operacional 2003 – sem Ataero................................................18

Tabela 5.3: Programa de Licenciamento Ambiental..................................................19

Tabela 5.4: Causas de Acidentes aéreos..................................................................22

Tabela 5.5: Espacialização dos Acidentes aéreos ....................................................23

Tabela 5.6: Group Transport 2000 Plus ....................................................................39

Tabela 5.7: Classificação dos Aeroportos- PEZR .....................................................40

Tabela 5.8: Curvas de Ruído I e II.............................................................................43

Tabela 6.1: Distribuição econômica do município 1991-1997 ...................................82

Tabela 6.2: índice percentual de participação na receita geral do Estado ................82

Tabela 6.3: PIB Município de Guarulhos...................................................................83

vii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AERÓDROMO Área destinada a pouso, decolagem e movimentação de

aeronaves

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil

ASA Área de Segurança Aeroportuária

CGT Centro Gerador de Tráfego

CINDACTA Centro integrado de Controle do Tráfego Aéreo

DAC Departamento de Aviação Civil

DAESP Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo

FAA Federal Aviation Administration

IATA International Air Transport Association

ICAO International Civil Aviation Organization

INFRAERO Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária

PBZR Plano Básico de Zoneamento de Ruído

PEZR Plano Específico de Zoneamento de Ruído

PZPA Plano de Zona de Proteção de Aeroportos

PZR Plano de Zoneamento de Ruído

SBBR Aeroporto Internacional de Brasília

SBGR Aeroporto Internacional de São Paulo - Guarulhos

SBJR Aeroporto Santos Dumont – Rio de Janeiro

SBSP Aeroporto de São Paulo - Congonhas

SISDACTA Sistema Integrado de Defesa Aérea

viii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2 OBJETIVOS.........................................................................................................4

2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................. 4

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO ....................................................................................... 4

3 METODOLOGIA DO TRABALHO (OU DA PESQUISA) ....................................5

4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................6

5 ORGANIZAÇÃO DA AVIAÇÃO ..........................................................................7

5.1 TRANSPORTE AÉREO MUNDIAL....................................................................... 7

5.2 TRANSPORTE AÉREO NO BRASIL ................................................................... 9

5.2.1 HISTÓRICO DA AVIAÇÃO BRASILEIRA ................................................... 12

5.2.2 A INFRAERO.................................................................................................. 16

5.2.2.1 DADOS INSTITUCIONAIS............................................................................ 17

5.2.2.2 RECEITAS DA EMPRESA ........................................................................... 17

5.2.2.3 A INFRAERO E O MEIO AMBIENTE .......................................................... 18

5.3 IMPLANTAÇÃO DE AEROPORTOS ................................................................. 19

5.3.1 AEROPORTOS DO ESTADO DE SÃO PAULO (PÚBLICOS) ................. 20

5.3.2 ACIDENTES AÉREOS .................................................................................. 21

5.3.3 VIABILIDADE DE AEROPORTOS............................................................... 23

5.3.4 MEIO AMBIENTE .......................................................................................... 25

5.3.5 LEGISLAÇÃO................................................................................................. 29

5.3.5.1 TIPO DE LICENÇA ........................................................................................ 29

5.3.5.2 PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS E TÉCNICOS .......................... 31

5.3.6 CONTROLE DE AEROPORTOS NACIONAIS ........................................... 33

5.4 INSERÇÃO DO AEROPORTO AO MEIO .......................................................... 35

ix

5.4.1 PRINCIPAIS CONFLITOS ............................................................................ 36

5.4.1.1 MEIO FÍSICO ................................................................................................. 37

5.4.1.2 MEIO BIÓTICO .............................................................................................. 37

5.4.1.3 MEIO ANTRÓPICO ....................................................................................... 38

5.4.2 IMPACTOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 39

5.4.2.1 RUÍDO AERONÁUTICO ............................................................................... 39

5.4.2.2 USO DO SOLO .............................................................................................. 43

5.4.2.3 IMPACTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS ..................................................... 48

5.4.2.4 COMBUSTÍVEIS ............................................................................................ 49

5.4.2.5 PAVIMENTO .................................................................................................. 50

5.4.2.6 QUALIDADE DO AR E DA ÁGUA................................................................ 50

5.4.2.7 DEMAIS IMPACTOS ..................................................................................... 51

5.5 O FUTURO DO MODAL AÉREO ........................................................................ 52

6 AEROPORTO INTERNACIONAL DE SÃO PAULO .........................................56

6.1 HISTÓRIA DO AEROPORTO.............................................................................. 58

6.2 RESÍDUOS SÓLIDOS .......................................................................................... 62

6.3 SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA.................................................... 63

6.4 CONTROLE DE ENCHENTES ............................................................................ 66

6.5 IMPACTOS ÀO MEIO AMBIENTE...................................................................... 75

6.5.1 FLORA ............................................................................................................ 76

6.5.2 FAUNA ............................................................................................................ 76

6.6 QUALIDADE DO AR ............................................................................................ 79

6.7 RUÍDO AERONÁUTICO....................................................................................... 80

6.8 ASPECTOS ECONÔMICOS................................................................................ 81

6.9 AMPLIAÇÃO DO AEROPORTO......................................................................... 83

7 CONCLUSÃO ....................................................................................................86

x

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................88

ANEXO A..................................................................................................................91

1

1 INTRODUÇÃO

Atualmente o transporte e a logística adotados para circulação de pessoas e

mercadorias nas cidades representam cada vez mais a iteração do econômico, do

social e do cultural das áreas envolvidas.

As soluções adotadas em larga escala no passado (no Brasil com o apoio de

governos militares, principalmente), hoje não são aprovadas facilmente, em princípio

por haverem restrições de ordem econômica (restrições ao crédito de Estados e

Municípios e também a grande crise econômica mundial) e também por haverem

restrições de ordem ambientais (há uma tendência mundial de um prévio estudo

ambiental para a aprovação de novos projetos).

Por questões geográficas e políticas, o Brasil tornou-se uma referência na legislação

ambiental (por forte influência internacional) e na disseminação do conceito de

desenvolvimento sustentado, questionando tecnicamente a implantação de grandes

projetos, minimizando o dispêndio de dinheiro público com obras ditas “políticas” ou

degradantes, sendo esse dossiê técnico necessário á viabilidade do projeto.

“Enquadrando-se no conceito de "visão estratégica”, a questão

ambiental incorpora-se como cultura empresarial. Deixa de ser vista

como um resultado, uma conseqüência, para se incorporar à análise

e o planejamento do processo produtivo, internalizando o conceito

na empresa e assumindo que este item de qualidade também pode

2

ser diferenciador em termos de competitividade”. (VITERBO

JR.,1998).

Nesse contexto destaca-se a Aviação, que é um fenômeno do século XX, e

apresenta um envolvimento tão fantástico na mente humana, que o futuro projetado

pela ficção sempre esteve associado ao “voar humano” (FORNI,2004). Não

obstante, o transporte aéreo apresenta problemas, um deles está relacionado ao

desenvolvimento da humanidade que, com o advento da globalização (aumentando

a interdependência entre os países) e com o significativo aumento na exportação de

mercadorias, faz com que aumente a demanda por transportes de cargas e

passageiros, e que seja cada vez mais rápido e seguro.

Para ordenar e regulamentar os aeroportos Nacionais, de forma a atender a esse

crescimento foi criado o DAC (Departamento de Aviação Civil) órgão sob

responsabilidade militar. Em meados da década de 90 o DAC flexibilizou a abertura

de rotas e dos preços de tarifas aéreas num processo conhecido como

“desregulamentação” do transporte aérea brasileiro, iniciada com a privatização da

VASP (Viação Aérea São Paulo) e o crescimento de companhias menores como a

TAM (Transportes Aéreos Marília). (PAOLILO & REJOWSKI, 2003).

As medidas de maior impacto ocorreram após 1998 e principalmente no final de

2000, com o projeto para a criação da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil),

desmilitarizando o transporte aéreo brasileiro e iniciando o processo de privatização

dos aeroportos nacionais. Em 2001, no serviço aéreo nacional doméstico, atuavam

sete grandes companhias. (PAOLILO & REJOWSKI, 2003).

3

Para o futuro, a previsão feita por grandes companhias fabricantes de aeronaves,

aponta uma tendência de aumento no tamanho das aeronaves e, conseqüentemente

dos aeroportos.

Aliado a todas essas alterações no meio, a conscientização ambiental tornou-se

tema constante e uma preocupação de elevada importância no cenário da

construção civil. A avaliação dos impactos causados ao meio ambiente tornou-se

obrigatória a partir de 1986, com a resolução CONAMA (Conselho Nacional de Meio

Ambiente) passando a incluir aeroportos cujo EIA / RIMA são exigidos. Faz-se,

portanto necessário o prévio estudo desses impactos.

4

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Planejamento na construção civil implica, necessária e obrigatoriamente, em

cumprimento de prazos e redução de custos, numa visão mais específica, tem como

uma de suas funções, antecipar e prever eventos a fim de se obter soluções a

problemas que afetam uma sociedade, uma empresa ou um determinado

empreendimento. É a área de estudos onde são definidas as ações para atingir os

objetivos pré-determinados.

O planejamento, a construção e a operação de aeroportos no Brasil vêm, nos

últimos anos, se desenvolvendo a partir dos mais avançados conceitos técnicos,

tendo sido consideradas (obrigatoriamente, nos projetos mais recentes) as questões

ambientais. Observa-se hoje um importante histórico de situações que demonstram

a absoluta viabilidade de implantação de um aeroporto, ou de sua expansão, sem

causar impactos negativos relevantes ao meio-ambiente.

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

O foco principal deste trabalho é a elaboração de um planejamento estratégico, para

o estudo de impactos ambientais que se fazem necessários à implantação de

aeroportos, dando ênfase aos procedimentos normais e legais vigentes.

5

3 METODOLOGIA DO TRABALHO (OU DA PESQUISA)

A metodologia utilizada para a apresentação e montagem deste trabalho, fora

embasada na seguinte ordem:

• Leitura de artigos publicados, livros técnicos e revistas;

• Pesquisa em Normas Técnicas (Nacionais e Internacionais) referentes à

implantação das diversas estruturas constituintes do pátio de um aeroporto;

• Pesquisa junto a profissionais especialistas da área de transportes;

Como estudo de caso, será analisado o RIMA (Relatório de Impactos ao Meio

Ambiente) do Aeroporto Internacional André Franco Montoro, em Guarulhos / SP.

6

4 JUSTIFICATIVA

Este é um trabalho de pesquisa, elaborado com base em novos procedimentos e

métodos usados atualmente, para a reunião e análise de dados e técnicas usadas

para o estudo de aeroportos, que possibilitarão uma visão, de longo prazo, da

necessidade que as empresas tem em aumentar suas receitas e permanecerem no

mercado.

7

5 ORGANIZAÇÃO DA AVIAÇÃO

5.1 TRANSPORTE AÉREO MUNDIAL

Pode-se dizer que o avião no século XXI está para as cidades, como o porto estava

no século XIX (tabela 5.1), os portos eram não apenas o ponto de partida e chegada

de cargas e passageiros, mas o pólo aglutinador do progresso, desenvolvendo-se o

Brasil litorâneo, às margens do Atlântico e em função dos portos que transportavam

a riqueza e as emoções.

O transporte aéreo representa hoje negócio que envolve bilhões de dólares no

mundo todo, para se ter uma idéia, apenas o maior aeroporto do mundo (Atlanta -

EUA), movimenta mais de 80 milhões de embarques e desembarques por ano. O

maior aeroporto cargueiro, (Memphis – EUA), transporta 2,5 milhões de toneladas de

carga por ano. Os grandes aeroportos dos Estados Unidos, país responsável pelo

maior movimento aéreo do mundo na atualidade, chegam a fazer 70 mil pousos e

decolagens por mês, enquanto no aeroporto mais movimentado brasileiro, em

número de aeronaves (Congonhas), faz em média 22 mil movimentos por mês.

(FORNI, 2004).

A aviação mundial tem sido alvo de constantes regulamentações visando o conforto

e a segurança dos passageiros, tripulantes das aeronaves e demais pessoas com

influência no processo (moradores de áreas próximas ao aeroporto ou que sofrem

8

influência de sua rota), sendo que as principais regulamentações datam de 1919

(Convênio de Paris) e 1928 (Convênio Pan-americano de aviação comercial de

Havana), onde foram instituídos órgãos internacionais para cuidar das diretrizes

regulamentadoras. (PEIXOTO, 2002).

As operações de tráfego aéreo são regulamentadas por acordos entre países com

base nos direitos de reciprocidade (Liberdades do Ar), consignados através da

Convenção de Chicago, em 1944. Segundo o Código Brasileiro de Aeronáutica

(2002), são cinco as liberdades do ar:

1 .ª Liberdade do Ar: Direito de sobrevoar o território de determinado país sem

pousar (Liberdade de sobrevôo);

2 .ª Liberdade do Ar: Direito de efetuar paradas no território de determinado país,

sem direito de tráfego (pouso técnico);

3 .ª Liberdade do Ar: Direito de transportar para um determinado país, passageiros,

cargas e correios provenientes do país da bandeira da companhia aérea;

4 .ª Liberdade do Ar: Direito de recolher, no território de um determinado país,

passageiros, cargas e correios, destinados ao país da bandeira da Companhia

aérea;

5 .ª Liberdade do Ar: Direito de transportar, nos dois sentidos, passageiros, cargas e

correios do território de um país, para o território de outro, por uma companhia de

9

um terceiro país, numa rota que começa e termina no país de origem dessa

companhia;

Segundo PAOLILO & REJOWSKI (2002) após a Convenção de Chicago, mais três

Liberdades do Ar surgiram, que são:

6 .ª Liberdade do Ar: Direito de transportar passageiros, carga e correios entre dois

países por uma companhia aérea de um terceiro país, em rotas que os ligam a

esses;

7 .ª Liberdade do Ar: Direito de transportar passageiros, cargas e correios entre dois

países por uma companhia aérea de um terceiro país em rotas não associadas a

estes;

8 .ª Liberdade do Ar: Direito de transportar passageiros dentro de um país por uma

companhia aérea de outro país, em uma rota com origem e destino no país de

origem da companhia;

5.2 TRANSPORTE AÉREO NO BRASIL

Sem dúvida, o mais bem sucedido de nossos pioneiros dos céus foi Alberto Santos

Dumont. Era o representante de um País cuja República ainda engatinhava, mas já

desejava igualar-se às maiores nações do mundo. Mudou-se para Paris, sabendo

10

que aquela cidade era, na época, o maior centro de pesquisas aeronáuticas do

mundo, e onde também circulavam as maiores celebridades mundiais do fim do

século XIX. Seu primeiro balão esférico, construído em 1898, homenageava o país

que tanto amava: "Brasil". Tendo começado a estudar o vôo dos balões, livres e

dirigíveis, Santos Dumont, no entanto, vislumbrou que a solução para o problema do

vôo do homem estava nos aeroplanos. Finalmente, em 23 de outubro de 1906, é

realizado (com todas testemunhas necessárias) o vôo do mais-pesado-que-o-ar, o

Santos Dumont nº 14-Bis. Ele idealizou o primeiro horizonte artificial, adotou o

conceito de hangaragem e pensou no primeiro serviço de táxi-aéreo. Nunca tirou

patente de seus inventos, preferindo entregá-los à humanidade. (REVISTA FLY

SITE, 2004).

Nossos aviadores passaram a espalhar-se por todo o território nacional. Mais do que

isso, o Brasil tornou-se um pólo de atração a muitos estrangeiros, principalmente os

alemães, que deram inestimável contribuição ao desenvolvimento de nossa aviação

civil. Foi um alemão, Otto Ernst Meyer, o idealizador da primeira companhia aérea

do Brasil, a Varig, Viação Aérea Rio-Grandense, fundada em 07 de maio de 1927.

Além disso, foi quem contratou o primeiro brasileiro empregado de uma empresa

aérea, Ruben Martin Berta. (REVISTA FLY SITE, 2004).

Em 1º de dezembro do mesmo ano surgiu o Syndicato Condor, braço da Deustche

Luft Hansa, mas sob lei brasileiras. Essa nova empresa adquiriria mais tarde cem

por cento de identidade nacional. Em 1942, não tinha mais funcionários alemães (só

brasileiros) e passou a se chamar Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. Seria a última

11

grande empresa aérea brasileira a ser totalmente absorvida por outra, no caso, a

Varig, em 1992. (REVISTA FLY SITE, 2004).

Em cinco de janeiro de 1955, na cidade de Concórdia, Santa Catarina, nasceu a

Transbrasil, então chamada Sadia S.A Transportes Aéreos. O espírito visionário do

piloto e bacharel em direito Omar Fontana descobriria posteriormente sua vocação

para o transporte de passageiros. A Transbrasil foi a pioneira na utilização de

equipamento nacional (O BEM 110 Bandeirante) em linhas comerciais (1973) e em

1977 mudaria sua sede para a Capital Federal. (REVISTA FLY SITE, 2004).

Tratando-se em meio de transporte de massa, o transporte aéreo brasileiro vem

acompanhando o desenvolvimento do País. De início, ele nasceu baseado em duas

premissas: pioneirismo e charme. As primeiras viagens eram fruto de aventureiros,

que investiam muito dinheiro num meio de transporte pouco popular, privilégio de

poucos e que ninguém sabia se daria certo. (FORNI, 2004).

Há alguns marcos na história dos transportes brasileiros, conforme mostra tabela

5.1:

Tabela 5.1: História e transportes

Período Marcos Principais

Meados do Séc. XIX ao início do Séc. XX Desenvolvimento do transporte Ferroviário

Antes e depois da 1. ª Guerra Mundial Desenvolvimento do Transporte Marítimo

Após a 2. ª Guerra até 1973 Desenvolvimento do Transporte Rodoviário

A partir de 1973

Recuperação e Modernização dos Transportes / Intermodalidade dos meios

de transporte / Informatização e desenvolvimento tecnológico dos meios

de transportes Fonte: adaptado de PAOLILO & REJOWSKI, 2002

12

5.2.1 HISTÓRICO DA AVIAÇÃO BRASILEIRA

Como mencionado no capítulo 5.2, a aviação brasileira foi iniciada por aventureiros

mais preocupados com a emoção do vôo do que com a organização econômica da

atividade. Por isso, a estruturação da nossa aviação teve um forte componente

militar, tanto do exército quanto da marinha.

Desde o início do século, foram muitos os defensores da criação das aviações Naval

e Militar e de um Ministério do Ar, à exemplo do criado na França na década de 20,

que unificasse toda a nossa aviação. Numa época em que a maioria dos pilotos

comerciais em operação no Brasil ainda era formada por estrangeiros e grande parte

do interior de nosso País era totalmente desconhecido, só mesmo o avião poderia

acelerar o desenvolvimento do Brasil. O Ministério da Aeronáutica brasileiro foi

instituído em 20 de janeiro de 1941, através do Decreto-Lei nº 2961, como forma de

consolidar as atividades aeronáuticas no Brasil. (PEIXOTO, 2002).

O Ministério da Aeronáutica incorporou todo o material físico e humano das extintas:

“aviação Naval” e “Aviação Militar”. Seu primeiro Ministro foi o civil Dr. Joaquim

Pedro Salgado Filho, nascido no Rio Grande do Sul, que permaneceu no cargo entre

1941 e 1945. O Ministério da Aeronáutica apresentava poderes de atuar sobre todas

as categorias da aviação brasileira. Mesmo as organizações posteriores, em outros

momentos políticos, mantiveram essa subordinação, mantendo-se atuante até 10 de

junho de 1999, quando foi criado o Ministério da Defesa. A partir de então, passou a

ser denominado COMANDO DA AERONÁUTICA, tendo como primeiro Comandante

o Tenente Brig. do Ar Walter W. Bräuer. (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2004).

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Após a 2. ª Guerra Mundial, a aviação deixou de ser uma atividade essencialmente

romântica, tornando-se, gradativamente, uma atividade altamente profissional. De

início, as companhias aéreas só operavam regionalmente, mas, à medida que a

aviação se popularizava e os equipamentos tornavam-se maiores e mais confiáveis,

com a ocorrência de fusões entre algumas empresas acontecendo, suas linhas

foram avançando, distanciando-se de seus centros, alcançando lugares onde sequer

as ferrovias haviam atingido. As empresas tornaram-se nacionais e internacionais.

(REVISTA FLY SITE, 2004).

Iniciativas como a campanha “Dê Asas para o Brasil”, criada por Assis

Chateaubriand na década de 40, ajudaram no aumento do número de pilotos em

nossa aviação. A campanha de Chateaubriand contribuiu para a criação de 400

aeroclubes e aproximadamente 700 aeronaves foram para os céus brasileiros. A

VASP (Viação Aérea São Paulo), no final de 1935, havia sido a primeira empresa a

ligar regularmente São Paulo e Rio de Janeiro pelo ar, diminuindo de 12 horas

(viagem por trem) para apenas 100 minutos o trajeto entre as duas cidades,

utilizando os trimotores Junkers. (REVISTA FLY SITE, 2004).

Mas nem sempre a viagem aérea seria da preferência do passageiro. Até 1959 viajar

por terra era visto como mais seguro e havia maior regularidade de horários,

enquanto que os empresários do transporte aéreo passaram a se interessar

exclusivamente pelas rotas de longa distância, deixando livre para as concorrências

rodoviária e ferroviária os percursos mais curtos, incluindo-se aí a ligação entre as

duas principais cidades do país. Com a idéia da criação de uma “ponte aérea” entre

São Paulo e Rio de Janeiro, vários equipamentos e várias empresas desenvolveram

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o transporte aéreo de curta distância, pioneiro antes da criação de outras “pontes-

aéreas”, como a Rio-Belo Horizonte e São Paulo-Brasília. (REVISTA FLY SITE,

2004).

Em 1999, sob o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, criou-se os

estudos para uma alteração geral, com a extinção dos Ministérios Militares e suas

funções subordinadas a um Ministério da Defesa chefiado por um civil.

Atualmente esta em tramitação no Senado Federal o projeto de Lei nº 97, de

09.06.99, publicada no D.O.U. de 10.06.99, o projeto que em seu art. 21 dispõe

sobre a ordenação da Aviação Civil e cria a Agencia Nacional de Aviação Civil (o

projeto indica que será criada como órgão regulador e fiscalizador da Aviação Civil,

atual função do DAC), projeto ainda não aprovado, pois há no País defensores da

idéia de que a aviação é um meio de transporte que envolve a segurança nacional, e

baseando-se em Leis Constitucionais, não aceitam a criação da agência.

Atualmente no Brasil, existem órgãos e ferramentas, específicos para a Gestão e

Organização da Aviação Comercial de Passageiros, são estes:

• DAC (Departamento de Aviação Civil);

• SISDACTA (Sistema Integrado de Defesa Aérea);

• CINDACTA (Centro Integrado de Controle do Tráfego Aéreo);

• INFRAERO (Empresa Brasileira de Infra-estrutura aeroportuária);

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Pela importância que tem no cenário Nacional, estes órgãos merecerão destaque

posterior.

No fim da década de 90, a aviação brasileira passava por grandes modificações em

sua estrutura, que resultariam no aumento da participação das autoridades civis na

atividade.

Historicamente nossa aviação organizou-se em cinco categorias:

• Militar;

• Executiva;

• Agrícola;

• Leve e Esportiva;

• Comercial (carga e passageiros);

Tratando somente da aviação comercial brasileira de passageiros, observam-se três

níveis operacionais:

• Internacional;

• Nacional / Doméstica;

• Regional;

Em 2002, no Brasil, foram transportados mais de 80 milhões de passageiros, entre

embarques e desembarques. Calcula-se que cerca de 10 a 12 milhões de pessoas

no País utilizam o transporte aéreo. Ainda é pouco para um País com uma

16

população superior a 170 milhões de habitantes. O que se vê a cada ano é uma

gradual elevação no número de passageiros, nos últimos anos tem crescido a taxas

de 8% ao ano, o dobro da média mundial. (FORNI, 2004).

Nesses 29 anos, o avanço do transporte aéreo no Brasil foi extraordinário. Para se

ter uma idéia, há cerca de oito anos, o movimento era de 43 milhões de

passageiros/ano. Fechou-se o ano de 2002, com mais de 80 milhões de movimentos

nos aeroportos, praticamente o dobro. Os atuais números favoráveis à economia

brasileira, e a projeção positiva em todos os setores (turismo, exportação, viagens

de negócios) fazem com que tenhamos uma extensa demanda por obras.

Baseando-se nessa demanda futura, a INFRAERO é responsável hoje mais de 40

grandes obras em aeroportos do País, dando prioridade à modernização da malha

aeroportuária. De 1995 até 2002, foram 18 inaugurações de grandes aeroportos

construídos ou reformados. (FORNI, 2004).

5.2.2 A INFRAERO

Empresa responsável pela administração e operação dos maiores aeroportos do

País, a INFRAERO merece uma analise particular, e consciente da sua relevância

no âmbito Nacional, produz anual cujo conteúdo divulgado no ano de 2003,

denominado “RELATÓRIO ANUAL 2003”, lançado em 2004 é objeto deste capítulo.

17

5.2.2.1 DADOS INSTITUCIONAIS

“... a INFRAERO é uma empresa pública dotada de personalidade jurídica de direito

privado, patrimônio próprio, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao

Ministério da Defesa, tendo sido constituída nos termos da Lei n.º 5.682, de 12 de

Dezembro de 1972...” (RELATÓRIO ANUAL 2003,2004).

“... a INFRAERO é responsável pela administração dos 65 principais aeroportos do

Brasil e de 83 estações de apoio à navegação aérea. Com sede em Brasília, está

presente em todos os Estados da Federação...” (RELATÓRIO ANUAL 2003,2004).

“... os aeroportos administrados pela INFRAERO concentram 97% do movimento do

transporte aéreo regular no Brasil, o que equivale a 1,8 milhão de pousos e

decolagens de aeronaves nacionais e estrangeiras, transportando aproximadamente

71,2 milhões de passageiros e 1,2 milhão de toneladas de carga...” (RELATÓRIO

ANUAL 2003,2004).

5.2.2.2 RECEITAS DA EMPRESA

As receitas da empresa são provenientes da cobrança de tarifas no transporte aéreo

(carga e passageiros), e são divididos em Tarifas de:

18

• Embarque de passageiros;

• Pouso e permanência de aeronaves;

• Armazenagem e capatazia de cargas aéreas;

• Prestação de serviços de comunicação e auxílios à navegação aérea;

• Aluguel de espaços, instalações e equipamentos;

Com essa gama de atividades que geram captação de valores, a INFRAERO

mostra-se uma empresa rentável, como mostra o resumo das receitas da empresa

na tabela 5.2. (RELATÓRIO ANUAL 2003, 2004).

Tabela 5.2: Receita Operacional 2003 – sem Ataero

RECEITAS DA EMPRESA R$ (milhões) % Receitas Comercias

1. Armazenagem e capatazia 382,2 25,7 2. Concessão de áreas 366,9 24,7 3. Exploração de serviços 51,6 3,5

Receitas Aeronáuticas 4. Embarque 274,5 18,5 5. Pouso e permanência 222,7 15,0 6. Comunicação e auxílio à navegação aérea 188,9 12,7

Total 1486,8 100 Fonte: RELATÓRIO ANUAL 2003, 2004

5.2.2.3 A INFRAERO E O MEIO AMBIENTE

Na busca de atender às orientações governamentais e visando se adequar à

legislação, a INFRAERO adota padrões construtivos e tecnológicos que possibilitem

19

a economia de recursos naturais e a prevenção da poluição, desenvolvendo

parcerias e estudos em conjunto com Universidades e Institutos de Pesquisa.

Foram diversas as ações de melhoria em processos implementadas pela

INFRAERO, destacando-se o “Programa de Licenciamento Ambiental”, incluindo os

Licenciamentos de instalação (LI) e os Licenciamentos de operação (LO). A tabela

5.3 mostra o avanço do comprometimento da INFRAERO com o meio-ambiente.

Tabela 5.3: Programa de Licenciamento Ambiental

período Quantidade de aeroportos com Licença Ambiental

1999 04 2000 10 2001 23 2002 31 2003 36

Fonte: RELATÓRIO ANUAL 2003, 2004

5.3 IMPLANTAÇÃO DE AEROPORTOS

A implantação de um novo aeroporto é decorrente, na maioria das vezes, da

necessidade de desenvolvimento de uma região. Neste enfoque, basicamente tem-

se duas situações distintas: localidades onde a infra-estrutura aeroportuária atual,

sem condições de expansão, não atende mais às necessidade da região; ou

localidade que ainda não dispões de nenhum aeródromo. (COMANDO DA

AERONÁUTICA, 2004).

20

5.3.1 AEROPORTOS DO ESTADO DE SÃO PAULO (PÚBLICOS)

Historicamente ocupando posição privilegiada econômica e culturalmente frente ao

País, São Paulo também gerou uma companhia aérea que unir-se-ia às grandes: a

Vasp (Viação Aérea São Paulo), fundada em quatro de novembro de 1933, pioneira

na conquista do interior paulista. No início da década de 30, era a única empresa a

operar com aeronaves a partir de terra firme. Era uma verdadeira façanha, dada a

falta de aeroportos não litorâneos, com muitas pistas improvisadas em pastos

planos. Essa sua característica de utilização somente de aeronaves terrestres

provocou, em 1936, a construção de um dos mais importantes aeroportos do país,

localizado longe do litoral: Congonhas, no município de São Paulo. (REVISTA FLY

SITE, 2004).

Segundo cálculos publicados pelo DAC no relatório “Fluxo de passageiros nas

ligações aéreas nacionais”, a ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro (capitais)

apresenta o maior fluxo de passageiros do cenário nacional, porém como

conseqüência da portaria n.º GM5, de 9 de Janeiro de 1988 (que permitiu a

utilização de aeronaves de maior porte), a ligação entre o aeroporto Internacional de

Brasília e o Aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro apresenta a maior taxa

média de crescimento do grupo, de qualquer forma o mesmo estudo conclui que a

“ponte-aérea” entre São Paulo e Rio de Janeiro irá se consolidar com um

crescimento médio anual maior do que a média de todo o grupo de aeroportos

nacionais. (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002).

21

A malha aeroportuária paulista congrega, além dos sete aeroportos administrados

pela União (Cumbica, Congonhas, Viracopos, Campo de Marte, São José dos

Campos e as bases aéreas de santos e Pirassununga), uma rede de aeroportos

públicos administrados pelo DAESP (Departamento Aeroviário do Estado de São

Paulo). Apesar dessa distribuição dos aeroportos, próximo aos aeroportos de

Cumbica e de Congonhas, observa-se uma grande densidade populacional, e os

impactos ambientais provocados pela presença destes afetam sensivelmente o dia-

a-dia da população do seu entorno.

5.3.2 ACIDENTES AÉREOS

Apesar de toda a tecnologia envolvida em um vôo, tanto nos aeroportos quanto nas

aeronaves, há o risco de ocorrerem panes (humanas e/ou mecânicas). Segundo

uma pesquisa realizada pelo Cel. Antônio Junqueira, chefe do Centro de

Investigações e Prevenção de Acidentes do Comando da Aeronáutica (PAOLILO &

REJOWSKI, 2003), os aviões são:

• 07 vezes mais seguros do que as bicicletas;

• 19 vezes mais seguros do que os automóveis;

• 60 vezes mais seguros do que andar em uma moto, sem capacete;

Os acidentes aéreos podem ser agrupados segundo suas causas (o número de

acidentes é reduzido quando comparado a outros meios de transporte, e a

22

participação percentual destes acidentes deve ser aplicada a esses valores),

conforme pode ser visto na tabela 5.4.

Tabela 5.4: Causas de Acidentes aéreos

Causas (*) Participação (%) Projeto do Avião 10

Manutenção 05 Ambiente Operacional

(**) 15

Operações de Vôo 70 Fonte: Aeromagazine, 2000 (*) Metodologia AirBus Industrial (**) Meteorologia, Aeroportos, etc.

Quanto ao período de vôo, as etapas mais críticas correspondem às etapas de

pouso / decolagem (figura 5.1).

Figura 5.1: Pouso da Aeronave Aeroporto de Guarulhos

23

A espacialização dos acidentes, como mostrado na tabela 5.5, apresenta uma

relação inversamente proporcional entre o número de acidentes e a renda da

população, ou seja, entre os países analisados, os que apresentam maior poder

aquisitivo, apresentam menores índices de acidentes, e o oposto é verdade visto

que os maiores índices encontrados mostram uma grande concentração de

acidentes no Continente Africano (o Brasil apresenta índices inferiores aos da

América do Sul).

Tabela 5.5: Espacialização dos Acidentes aéreos

Área Acidentes / milhão Oceania 0,2

América do Norte 0,5 Europa Ocidental 0,7

Oriente médio e Ásia 2,7 América do Sul 5,7

África 13 Brasil 0,8

Fonte: Aeromagazine, 2000

5.3.3 VIABILIDADE DE AEROPORTOS

Para que se possa registrar o aeródromo, devem ser coligidas informações relativas

ao sítio, quanto a aspectos de identificação, natureza, auxílios e facilidades, plano

básico de proteção do aeródromo e de vôo, físicos, aeródromos e cidades próximas,

de acordo com o Manual de Projetos da Secretaria dos Transportes do Estado de

São Paulo. Estas informações também são requeridas pela NSMA 58-146 do

Ministério da Aeronáutica, para Elaboração, Revisão, Aprovação e Tramitação de

Planos Diretores Aeroportuários. (PEIXOTO, 2002).

24

Os dados físicos do aeroporto, necessários para registro, são o ponto de referência

do aeródromo, elevação do aeródromo, elevação e direção da(s) pista(s),

temperatura de referência do aeródromo, dimensões gerais dos elementos do

aeródromo e do aeroporto, se previsto, indicados esquematicamente no exemplo da

Figura 5.2.

Figura 5.2: Elementos para Registros de Aeroportos (PEIXOTO, 2002)

A escolha do sítio ideal para locação de um aeroporto deve inter-relacionar aspectos

sociais, econômicos, políticos e ambientais ou, em outras palavras, a melhor

localização do Aeroporto deve ser a que agrupe as melhores condições técnicas ao

usuário, localização quanto a acesso e que produza os menores impactos ao meio

ambiente.

25

Há também que se considerar a possibilidade de expansão – ampliação futura da

planta (de acordo com o aumento da demanda projetado), ou necessário pela

evolução aeronáutica (com a tendência de aumento no número de passageiros, há

indicação de que serão necessárias aeronaves com mais tecnologia, visto que

diminuirá o tempo de pouso / decolagem), bem como alterando-se o perfil do

aeroporto (regional para doméstico, por exemplo) serão necessárias aeronaves

maiores, que por sua vez demandam tecnologias terrestres mais avançados, pistas

maiores, e outras estruturas correlatas. Dificilmente uma aeronave muito distinta das

atuais, que necessite de alterações consideráveis nos aeroportos, teria aceitação do

mercado mundial. (PEIXOTO, 2002).

5.3.4 MEIO AMBIENTE

(apud VITERBO Jr., 1998)

O ar constitui um dos elementos básicos à vida de todo ser vivo. O ar atmosférico

compõe-se de 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e o restante de CO2, vapor

d’água e gases raros. É do ar que seres vivos retiram o oxigênio necessário à

oxidação dos compostos orgânicos, para a síntese da energia (exceção feita aos

peixes).

Com a era industrial e a grande concentração de povos, o problema da poluição

atmosférica adquiriu extrema importância, chegando a constituir motivo de

inquietação crescente.

26

Segundo conceitos europeus, a poluição do ar existe quando há a presença de

substâncias estranhas, ou há variação relevante em seus constituintes com a

possibilidade de provocar efeitos prejudiciais ou doenças.

A poluição atmosférica ocorre em três fases:

• Lançamento dos poluentes pelas fontes poluidoras (emissão);

• Transporte e difusão dos poluentes na atmosfera (dispersão);

• Recepção dos poluentes pelos seres vivos e pelo meio ambiente (imissão);

Os poluentes atmosféricos mais importantes são o dióxido de enxofre, o material

particulado, os poluentes minerais, o dióxido de carbono, os hidrocarbonetos e os

óxidos de nitrogênio.

A maneira mais eficaz de controle da poluição atmosférica consiste em trabalhar em

sua origem com a substituição de matérias-primas, mudanças em processos

produtivos ou na tecnologia de fabricação. Porém essa forma é muitas vezes inviável

do ponto de vista econômico, levando a organização a optar pelo tratamento das

correntes gasosas através da instalação de equipamentos de controle da poluição.

No caso de emissões gasosas, existem dois tipos de padrão a serem analisados: os

de qualidade do ar fixados pelo IBAMA e pelo CONAMA e os padrões de emissão

fixado pelo órgão Estadual de controle ambiental (em São Paulo, CETESB).

27

A água, bem necessário à manutenção da vida, apesar de ser encontrada em

grandes quantidades na superfície da terra, vem apresentando um uso desordenado

e também um aumento na ação poluidora do homem contribuindo para o seu

esgotamento, se faz necessária a necessidade de sua preservação.

A OMS (Organização Mundial de Saúde), apresentou a seguinte definição de

poluição das águas:

“Deve-se considerar que uma água esta poluída, quando a sua

composição ou o seu estado estão de tal modo alterado, que já não reúnem

condições necessárias (propriedades físicas, químicas e biológicas) para as

utilizações para as quais estava destinada em seu estado natural”.

Torna-se então, extremamente necessário o tratamento de esgotos e despejos

industriais antes de serem lançados nos rios e corpos receptores, assim como o

tratamento da água para o consumo humano.

A qualidade da água é representada por características intrínsecas, geralmente

mensuráveis, de natureza física, química e biológica. Estas características, devem

ser mantidas dentro de certos limites, para viabilizar seu uso.

Existem diversas formas de tratamento para os despejos que necessitam ser

tratados antes de serem lançados nos rios. Para não causar problemas ao meio

ambiente, existem padrões de qualidade fixados em normas e regulamentos

federais, estaduais e municipais, sendo aplicados para que os despejos se

28

encontrem dentro dos referidos parâmetros. Esses tratamento envolve processos

físicos, químicos e biológicos.

A resolução CONAMA n.º 20 de 18 de junho de 1986 definiu os critérios para a

classificação dos corpos receptores. Dividindo todas as águas do território Nacional

em: Doces, salobras e Salinas, de acordo com o seu grau de salinidade.

Estabelecendo, em função de seu uso, níveis de qualidade a serem alcançados ou

mantidos em um corpo d’água ao longo do tempo.

A norma NBR 10004, classifica os resíduos quanto aos seus riscos potenciais ao

meio ambiente e à saúde pública, indicando quais devem ter seu manuseio e

destinação mais rigidamente controlados, agrupando-os em três classes:

• Classe I – Perigosos;

• Classe II – Não inertes;

• Classe III – Inertes;

A melhor maneira de se reduzir a quantidade de resíduos sólidos é o combate do

problema em sua origem, isto pode ser feito através da substituição de matérias-

primas, por exemplo.

A reciclagem hoje é uma opção viável para a destinação de alguns resíduos sólidos,

na Alemanha os automóveis já atingem índices de componentes de reciclagem

superiores a 50%.

29

Os resíduos sólidos também podem ser aterrados em aterros industriais,

incinerados, tratados por co-processamento ou tratados em aterro tipo landfarming.

5.3.5 LEGISLAÇÃO

A resolução CONAMA n.º 237 de 12 de Dezembro de 1997, alterou parcialmente a

Resolução CONAMA n.º 001/86 e passou a tratar do licenciamento de forma mais

sistematizada, no artigo 3.º consagrou o EIA como espécie do gênero “avaliação de

impactos ambientais”, exigível somente quando presente o risco de significativa

degradação, consoante o disposto no artigo 225, § 1º, IV da Constituição Federal de

1988, estabelecendo os aeroportos como empreendimentos que estão sujeitos ao

Licenciamento Ambiental.

5.3.5.1 TIPO DE LICENÇA

Dentro do processo de planejamento / implementação do aeroporto, a elaboração de

EIA / RIMA é ferramenta essencial para a obtenção das licenças ambientais e, por

conseguinte, da viabilidade de implantar e operar esse tipo de infra-estrutura.

(Manual para implementação de aeroportos, 2002).

O EIA, criado pela Lei 6.938, de agosto de 1981, compreende um conjunto de

procedimentos técnicos, é elaborado para uma prévia análise das principais

30

interferências do empreendimento com o meio em que esta inserido, e indicar as

suas alternativas tecnológicas ou locacionais. O RIMA, é um “relatório” / mais

simples, para consulta pública (Manual para implementação de aeroportos, 2002).

A Resolução CONAMA n.º 237/97, estabelece em seu artigo 8.º:

O Poder público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as

seguintes licenças:

I-Licença Prévia (LP): Concedida na fase preliminar do planejamento do

empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a

viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a

serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II-Licença de Instalação (LI): Autoriza a instalação do empreendimento ou atividade

de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos

aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da

qual constituem motivo determinante;

III-Licença de Operação (LO): Autoriza a operação da atividade ou

empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das

licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes

determinados para a operação;

31

Parágrafo único: As Licenças Ambientais poderão ser expedidas isoladas ou

sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do

empreendimento ou atividade. Sendo submetido à aprovação pelos órgãos

ambientais competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).

5.3.5.2 PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS E TÉCNICOS

Os artigos 10, 11 e 2 da Resolução CONAMA n.º 237/97 tratam de procedimentos

administrativos, exigências técnicas e definem responsabilidades para a realização

dos estudos ambientais. O artigo 13 trata da responsabilidade pelos custos da

análise para a obtenção da licença ambiental. O artigo 14 trata dos prazos de

análise, enquanto o artigo 15 trata de prazos para o empreendedor atender às

solicitações do órgão ambiental. Os artigos 16 e 17 prevêem, respectivamente, o

arquivamento do pedido de licença e a apresentação de novo requerimento de

licença. O artigo 19 trata da necessidade de implantação dos Conselhos de Meio

Ambiente pelos entes federados e da necessidade de disponibilidade de

profissionais legalmente habilitados para a atividade de licenciamento.

Nesse sentido vale ressaltar o caput do artigo 6. º da Resolução CONAMA 001/86,

sobre o conteúdo do (EIA):

Artigo 6. º - o EIA desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:

32

I – Diagnóstico Ambiental da área de influência do projeto, completa descrição e

análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a

caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,

considerando:

a) O meio físico: o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os

recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os

corpos d’água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as

correntes atmosféricas;

b) O meio biológico e os ecossistemas naturais: a fauna e a flora,

destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de

valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e

as áreas de preservação permanente.

c) O meio sócio-econômico: o uso e a ocupação do solo, os usos

da água e a sócio-economia, destacando os sítios e os

monumentos arqueológicos, históricos e culturais da

comunidade, as relações de dependência entre a sociedade

local, os recursos ambientais e potencial utilização futura desses

recursos.

II – Análise dos Impactos Ambientais do projeto e suas alternativas, através da sua

identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis

impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e

adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e

33

permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e

sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III – Definição das Medidas Mitigadoras dos Impactos Ambientais Negativos, entre

elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando

a eficiência de cada uma delas.

IV – Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos Impactos

Positivos e Negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

“... a melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no

nível apropriado, de todos os cidadãos interessados...” (Princípio 10, Declaração do

rio de Janeiro).

É facultado ao órgão licenciador a solicitação de audiências públicas sobre a

proposta em questão. A Resolução CONAMA 009/87 estabelece a audiência pública

como instrumento do processo de licenciamento ambiental que objetiva expor aos

interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo

dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito.

5.3.6 CONTROLE DE AEROPORTOS NACIONAIS

O planejamento de aeroportos é fundamentado no correto levantamento das

informações relativas à infra-estrutura existente, permitindo assim a elaboração dos

34

estudos necessários para a adequada expansão das instalações e equipamentos

aeroportuários. Nesse aspecto, o IAC, realiza o inventário dos aeroportos e os

incorpora ao Sistema Gerenciador de Informações Aeroportuárias – SGIA, que é um

banco de dados com as informações sobre infra-estrutura, permitindo o manuseio

em meio digital das informações coletadas.

O IAC elabora o Estudo de demanda Detalhada dos Aeroportos Brasileiros com o

intuito de contribuir para o conhecimento das peculiaridades do setor, e seus

resultados servem como subsídio básico para um planejamento adequado dos

serviços aéreo, do uso de espaço aéreo e da demanda por infra-estrutura

aeroportuária.

De posse da Licença Prévia, os projetos finais de engenharia deverão ser

desenvolvidos.

“... de acordo com a Instrução de Aviação civil (IAC) n.º 2328-0790

(IMA 58-10), de 16 de julho de 1990, compete ao Diretor-Geral de Aviação

Civil autorizar a construção e ampliação de aeroportos e aeródromos

públicos. Compete, ainda conforme o artigo 23 da IAC, à Diretoria de

Engenharia (DIRENG) a aprovação dos projetos de engenharia e ao

Departamento de controle do Espaço Aéreo (DECEA) a aprovação dos

projetos relativos à proteção ao vôo e comunicações... (COMANDO DA

AERONÁUTICA, 2002)”.

35

5.4 INSERÇÃO DO AEROPORTO AO MEIO

Deve ser feito um controle das áreas vizinhas aos aeroportos, visando a integridade

física da comunidade (segurança e ruídos), da tripulação e dos passageiros.

Com a instalação de um aeroporto (após início das atividades de operação),

impactos recaem principalmente sobre a comunidade situada em suas proximidades.

É observado com referência à quase totalidade dos grandes aeroportos brasileiros,

que os mesmos possuem elevado potencial para atrair a urbanização para as suas

proximidades (funcionários, comerciantes, pessoas indiretamente ligadas ao

aeroporto), e que este envolvimento acaba gerando conflitos de relacionamento

(cidade-aeroporto) devido, principalmente, ao ruído aeronáutico gerado na operação

das aeronaves (PEIXOTO, 2002).

Com um planejamento adequado (projeto e obra), com meios que controlem as

várias formas de poluição e impactos que possam degradar o ambiente, o aeroporto

pode sim conviver em sintonia com a comunidade, inclusive gerando

desenvolvimento e agregando valor ao seu entorno. Do contrário, um mal

planejamento ou desordenamento no controle do uso das áreas vizinhas, pode fazer

com que o aeroporto seja considerado inseguro ou degradante, o que irá provocar

um mal relacionamento com a comunidade, e isto deve ser evitado.

Estas questões são analisadas através de Estudos de Relacionamento Urbano, que

consideram os impactos potenciais na fauna, flora, atmosfera, nos cursos d’água, no

solo e na comunidade, bem como nas várias alternativas para a compatibilização do

36

aeroporto com a sua área de entorno, visando definir qual a solução que irá afetar

menos negativamente a comunidade. Para atender a este objetivo, os estudos

abordam aspectos urbanos da área que envolve o aeroporto, em termos de uso do

solo e acessibilidade a este equipamento, contando, quase sempre, com a

participação de órgãos de planejamento afins.

Segundo PEIXOTO (2002), o menor tempo de percurso entre o CGT (Centro

gerador de Tráfego) e o aeroporto, será fator fundamental sob o ponto de vista de

acessibilidade, dentro do estudo de viabilidade do aeroporto.

Especificamente para aeroporto, o EIA aborda temas como Ruído gerado, Poluição

do ar, poluição da água, resíduos sólidos gerados e possíveis alterações na

drenagem superficial ou alterações em corpos d’água, bem como qualquer alteração

específica ao meio ambiente.

A possibilidade de ampliação, acessibilidade, distância a outros aeroportos,

ocupação das áreas vizinhas, obstáculos nas vizinhanças (altura de prédios),

condições meteorológicas e geográficas (topografia), devem ser analisados quando

da escolha do sítio.

5.4.1 PRINCIPAIS CONFLITOS

Os Estudos de Impactos na Área de Influência, necessário à elaboração do EIA, se

concentra em três grandes grupos (ou meios), que são respectivamente: Meio Físico

Meio Biótico e Meio Antrópico.

37

5.4.1.1 MEIO FÍSICO

Em uma primeira etapa de estudos, os parâmetros físicos, gerados tanto na fase de

operação, como na fase de execução, devem ser analisados, parâmetros esses

como localização do empreendimento, dados operacionais, dados relativos ao

relevo, clima, solo, áreas de empréstimo e bota-fora, entre outros. (HORONJEFF,

1996).

“O estudo de viabilidade de implantação deve associar aspectos

econômicos, sociais e políticos, dentro de grupo específico de fatores que

caracterizam o transporte aéreo. Como aeroportos domésticos ou

internacionais necessitam de áreas de dimensões consideráveis, torna-se

fundamental estudar a viabilidade do empreendimento segundo amortização

de elevado custo de desapropriação, dentre outros aspectos”.(PEIXOTO,

2002).

5.4.1.2 MEIO BIÓTICO

Diz respeito ao conjunto de características fundamentais comuns a uma série de

indivíduos.

O Projetista deve estar atento à Preservação do Patrimônio Arqueológico,

caracterização da existência de áreas ou espécies de interesse científico ou

38

econômico relevantes, e de posse desses (ou outros) dados, realizar um bom

projeto, sendo capaz de apontar alternativas mitigadoras de possíveis danos ou

interferências ao empreendimento e / ou sua preservação.

5.4.1.3 MEIO ANTRÓPICO

Com a constante evolução dos meios de informática, e de posse de dados

estatísticos (sociais, econômicos, demográficos, etc) o projetista é capaz de realizar

diversas simulações, ou seja, é capaz de “simular” o que ocorrerá no entorno do

aeroporto e, com isso, sugerir ou realizar ações mitigadoras de possíveis impactos

(caso de acessibilidade, por exemplo).

O estudo da relação do homem, a análise do Meio Antrópico, com simulações com e

sem a implantação do empreendimento, é fundamental para que não apareçam

conflitos posteriores.

Em qualquer empreendimento as características das populações contidas dentro da

sua área de influência são importantes, devendo ser feita uma análise dos planos

diretores (nas prefeituras), planos e programas de governo, e análise da infra-

estrutura existente é pré-requisito ao projeto do aeroporto.

39

5.4.2 IMPACTOS ESPECÍFICOS

De acordo com a tabela 5.6 (Group Transport 2000 Plus), o principal impacto

ambiental gerado pela implantação de um aeroporto, diz respeito à geração de ruído

(poluição sonora). Nos tópicos seguintes são analisados (um a um), os impactos

envolvidos na implantação de um aeroporto.

Tabela 5.6: Group Transport 2000 Plus

Custos Sociais Aéreo (%)

Ferroviário (%)

Hidroviário (%)

Rodoviário (%) Total (%)

Poluição do ar 2 4 3 91 100 Poluição Sonora 26 10 0 64 100 Utilização da Terra 1 7 1 91 100 Construção e Manutenção 2 37 5 56 100

Acidentes 1 1 0 98 100 Fonte: commission Européenne apud PAOLILO & REJOWSKI, 2003

5.4.2.1 RUÍDO AERONÁUTICO

Tido por muitos como o principal impacto decorrente da operação de um aeroporto,

o ruído aeronáutico é tema de extrema relevância nos estudos de viabilidade do

aeroporto (bem como nos estudos para os planos diretores municipais), visto que,

quando mal projetado o aeroporto, o ruído aeronáutico gerado chega a promover

distúrbios psicológicos às pessoas.

40

Por questões aerodinâmicas, as diferentes aeronaves existentes, apresentam

diferentes tipos de ruídos e, através de modelos de cálculo para a composição dos

PEZR’s (Plano Específico de Zoneamento de Ruído) nos aeroportos nacionais, faz-

se a previsão de como será a disseminação do ruído. Com os dados sobre a rotina

de operação do aeroporto, o modelo calcula duas curvas fechadas que delimitam

três áreas de ruído: Área I, Área II e Área III.

O incômodo produzido pelo ruído aeronáutico esta diretamente relacionado: à

distância do aeroporto (zona de pouso / decolagem) ao ponto de medição; também à

intensidade de emissão. Então, por questões de segurança, são estabelecidas

restrições ao uso do solo nas proximidades do aeroporto (áreas I e II), dependendo

das atividades envolvidas. Na área III, como normalmente não são registrados

incômodos relevantes, não são impostas restrições. (manual para implementação de

aeroportos, 2002).

Buscando proteger o entorno do sítio aeroportuário, o IAC estabelece uma

classificação dos aeroportos (ver tabela 5.7), baseando-se no tipo de aeronave que

irá fazer uso do aeroporto, e de posse destes dados, procede-se ao traçado das

curvas de ruído (áreas I, II e III).

Tabela 5.7: Classificação dos Aeroportos- PEZR

Categoria de Pista Função / Definição I Aviação de grande porte, alta densidade (*) II Aviação de grande porte, média densidade III Aviação de grande porte, baixa densidade IV Aviação de médio porte, alta densidade V Aviação de médio porte, baixa densidade VI Aviação de pequeno porte

Fonte: PEIXOTO, 2002) (1) Volume de tráfego em termos de movimentos anuais e operações noturnas

41

De posse destes dados procede-se às análises para a escolha do sítio, que deve

atender à melhor alternativa dentre os diversos itens conflitantes.

Uma etapa para análise das alternativas, diz respeito ao traçado das áreas de

influência, como mostra a figura 5.3, estas áreas são respectivamente:

Figura 5.3: Limites de áreas de proteção contra ruído (PEIXOTO, 2002)

Área I - situada mais próxima à pista, é aquela que possui uma intensidade de ruído

maior, e dependendo do tempo de exposição, pode acarretar uma série de

incômodos.

Nesta área são permitidas as seguintes atividades: de produção e extração de

recursos minerais, serviços públicos ou de utilidade pública (ETA, ETE ou cemitério)

comercial, recreação e lazer ao ar livre. (PEIXOTO, 2002).

42

Área II – com menores níveis de ruído, é possível o estabelecimento de algumas

atividades urbanas. Sendo proibidas atividades ligadas à Saúde, Educação e

Cultura. As edificações residenciais são permitidas em situações especiais,

mediante a elaboração de tratamento acústico.

Área III - externa à curva 2, não há restrição, dentro das premissas aeronáuticas aplicadas.

Na área compreendida entre as Curvas I e II, não são permitidas as atividades:

residenciais, saúde, educacional, serviços públicos ou de utilidade pública (hotelaria,

atividades religiosas, centros comunitários ou profissionalizantes), cultural.

(PEIXOTO, 2002).

No Brasil, são considerados dois tipos de Planos de Zoneamentos de Ruído (PZR):

O PBZR (Plano Básico de Zoneamento de ruído), e o PEZR (Plano Específico de

Zoneamento de Ruído), ambos devendo ser dimensionados para o último horizonte

de planejamento. (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002). Um Exemplo pode ser

visto na figura 5.4, e dimensões estão especificadas na tabela 5.8.

Figura 5.4: PBZR

(COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002)

43

Tabela 5.8: Curvas de Ruído I e II

Curva de Ruído I Curva de Ruído II Categoria de Pista a (m) b(m) A(m) b(m)

Cat. V e VI 100 300 200 500 Cat. III e IV 180 500 400 1.200 Cat. II 240 1.500 600 2.500

Fonte: COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002

5.4.2.2 USO DO SOLO

A correta análise e controle do uso ou ocupação do solo de entorno, e seu uso

adequado em função de obstáculos à navegação aérea ou implantação de

atividades de natureza perigosa à aviação, é verificada através da definição da ASA

(Área de Segurança Aeroportuária), diretamente vinculada à questão de segurança

das operações aéreas, por meio da efetiva ação de órgãos governamentais locais

(prefeituras municipais). A ASA estabelece restrições à implantação de algumas

atividades, consideradas de natureza perigosa. (Manual para Implementação de

Aeroportos, 2002).

A resolução CONAMA n.º 4, de 09 de outubro de 1995 (apud manual para

implementação de aeroportos, 2002) define, em seu artigo 1.º, a ASA como sendo a

extensão abrangida por um raio pré-estabelecido, em função do tipo de operação do

aeroporto e traçado a partir do “centro geométrico do aeródromo”. Esta dimensão

varaia de um raio de 20 km, para aeródromos que operam de acordo com as regras

de vôo por instrumenso (IFR), a um raio de 13 km, para os demais aeródromos.

44

O plano urbano deve apresentar conjunto de normas de ocupação e de uso do solo,

na forma da lei orgânica municipal visando proteger seus habitantes e regularizar as

atividades gerais, a delimitação de áreas específicas com contingência de altura,

dentro de um plano diretor, funciona como um mecanismo de proteção mútua entre

comunidade e transporte aéreo e pode ser estipulada através de métodos gráficos

indicativos dos limites de áreas não residenciais, como vista para a elaboração do

PZR. (PEIXOTO, 2002).

Em adição a portaria n.º 1.141 / GM5, de 08 de dezembro de 1987

(apud manual para implementação de aeroportos, 2002) estabelece, no seu

capítulo IX, artigo 46, que nas áreas de aproximação e áreas de transição dos

aeródromos e helipontos, não são permitidas implantações de natureza

perigosa, mesmo quando não ultrapassem os gabaritos fixados para as

rampas de aproximação e decolagem das aeronaves. O parágrafo 1.º da

referida Portaria, define como implantação de natureza perigosa toda

atividade que produza ou armazene material explosivo ou imflamável, ou

cause perigosos reflexos visuais, irradiações, fumo ou emanações. São

exemplos dessas atividades as usinas siderúrgicas ou similares, refinarias de

combustíveis, industrias químicas, depósitos ou fábricas de gases,

combustíveis ou explosivos, culturas agrícolas que atraiam pássaros, assim

como outras que possam proporcionar riscos semelhantes à navegação

aérea.

O artigo 3.º da referida Lei delega competência ao Comando Aéreo

Regional para decidir contrária ou favoravelmente à execução de implantação

45

nessas áreas (Área de Aproximação e transição dos Aeródromos e

Helipontos).

Cabe salientar que o artigo 30 da Constituição Federal estipula que

a responsabilidade pelo planejamento urbano, estruturação, ordenamento e

controle do uso do solo urbano recai sobre os governos municipais, que

devem também observar os dispositivos normativos constantes da legislação

federal sobre o assunto. Por fim acrescenta-se ainda que, conforme o artigo

182 da Constituição Federal, compete ao Governo Municipal ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de

seus habitantes. Este artigo é regulamentado pela Lei n.º 10.257, de 10 de

julho de 2001, que cria o estatuto das Cidades. (Manual para Implementação

de aeroportos, 2002).

Em outras palavras, com o intuito de coibir atividades “perigosas” no entorno dos

aeroportos, bem como aquelas que possam atrair pássaros, foi criada a ASA,

conforme modelo na figura 5.5.

O administrador / projetista deve ainda ter o cuidado com relação a altura

(restrições), segundo PEIXOTO (2002) o Brasil apresenta uma legislação especifica

sobre restrições ao entorno de aeroportos, baseadas na portaria n.º 1.141 / GM5 do

Ministério da Aeronáutica de 08 de Dezebro de 1987, no anexo 14 da ICAO e

também no capítulo 77 da FAR (Federal Aviation Regulaments).

46

Figura 5.5: Modelo de ASA (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002)

São base para a elaboração do PZPA (Plano de zona de Proteção de Aeroportos),

documentos compostos por um conjunto de superfícies imaginárias, bi /

tridimensionais, que estabelecem as restrições impostas ao aproveitamento das

propriedades localizadas dentro da Zona de proteção do Aeródromo e define uma

série de gabaritos que não podem ser ultrapassados, impondo-se limites à presença

de edificações e outros que venham a representar perigo ou risco às operações

aéreas. De acordo com as condições locais, pode ser elaborado um PBZPA ou um

PEZPA. (Manual para Implementação de Aeroportos, 2002).

47

O PBZPA contém as áreas denominadas de faixas de pista, área de aproximação,

áreas de decolagem, áreas de transição, área horizontal interna, área horizontal

externa e área cônica (aplicado para cada pista do aeroporto). (PEIXOTO, 2002). As

figuras 5.6, 5.7 e 5.8 mostram a configuração destas áreas.

Figura 5.6: PBZPA – 3D (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002)

Figura 5.7: PBZPA – Planta (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002)

48

Figura 5.8: PBZPA – Seção (COMANDO DA AERONÁUTICA, 2002)

5.4.2.3 IMPACTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS

Muitas vezes, a implantação de um aeroporto ocorre em função do desenvolvimento

sócio-econômico de uma região (ou projeto de desenvolvimento), ou então para o

atendimento de regiões carentes de outras formas de transporte.

Em função disso, ou de posse destes dados, o projetista determina a classificação

do aeroporto (ver tabela 5.7) que atenderá ao seu projeto (quanto ao tamanho das

aeronaves, frequência de pouso, etc.), o que invariavelmente, por se tratar de obras

de porte, provoca alterações ao desenvolvimento da região.

Os principais impactos sócio-econômicos são decorrentes de duas fases:

Fase de Obras: Custos com desapropriação, apoio da mão-de-obra

local para implantação do empreendimento.

49

Fase de Operação: Uso da mão-de-obra lçocal para operação /

manutenção do aeroporto, transporte interno e externo de suprimentos, mercadorias

e passageiros, construção de residências para funcionários, hotéis para passageiros.

5.4.2.4 COMBUSTÍVEIS

Os combustíveis representam para os aeroportos, como também para outros

modais, algo de extrema relevância com respeito a custos, armazenamento ou como

potencial gerador de impactos ambientais, por isso deve ser considerado em todas

as etapas do aeroporto (combustível das aeronaves, bem como dos veículos de

apoio), desde a concepção do projeto e respectivo estudo de viabilidade, até em

possíveis readequações em função de novas tecnologias ou capacidade de

atendimento do aeroporto. (PEIXOTO, 2002).

Os principais sistemas são: bombas de gasolina convencional, caminhões tanque,

sistema de hidrantes ou pits. A figura 5.8 mostra um esquema de abastecimento por

bomba convencional.

Figura 5.9: Sistema de Abastecimento Convencional

(PEIXOTO, 2002)

50

5.4.2.5 PAVIMENTO

O projeto do pavimento do aeroporto é feito baseado no método utilizado para o

dimensionamento de pavimentos rodoviários (método CBR), permitindo determinar

espessuras do pavimento aeroportuário para projeto básico, de acordo com os

ensaios simples de capacidade de suporte.

Esse método considera a posição do CG da aeronave (variável em função do

modelo), distribuído conforme demonstrado na figura 5.9.

Figura 5.10: Distribuição do Peso da aeronave (PEIXOTO, 2002)

5.4.2.6 QUALIDADE DO AR E DA ÁGUA

O reconhecimento e a interpretação dos fenômenos atmosféricos como

deslocamentos de massas de ar ou das nuvens, a avaliação das concentrações de

51

poluentes, quer seja poeira decorrente do movimento de terra e escavações no

período de obras, quer seja a poluição por gases proveniente do movimento de

equipamentos e máquinas (obras e operação), são fundamentais em navegação

aeronáutica, bem como para a determinação da locação do aeroporto. (PEIXOTO,

2002).

Devem ser analisadas as emissões de gases resultantes da queima ou incineração

do lixo e demais fontes geradoras de poluentes, tanto nos acessos ao aeroporto,

como dentro do seu sítio.

A Resolução CONAMA n.º 20 / 86, estabelece padrões para os corpos receptores de

água, o que obriga os aeroportos a terem um sistema de tratamento adequado de

seus resíduos.

O projetista deve optar por fazer um correto estudo da drenagem do aeroporto, visto

que por se tratar de uma obra de grandes dimensões em termos de

impermeabilização, um erro poderá ocasionar efeitos devastadores sobre a fauna e

a flora locais.

5.4.2.7 DEMAIS IMPACTOS

Por ser um empreendimento inserido em meio urbano, outros problemas poderão

ocorrer com relação à consumo e fornecimento de energia elétrica, problemas sobre

52

as terras cultiváveis (biota), impactos visuais (luzes e outdoors), impactos durante a

etapa de obras.

Há ainda de se considerar os impactos gerados sobre a população, insegurança

(quanto à situação futura, por exemplo), que podem ser mitigados com atitudes

simples, como comunicação clara e objetiva (sincera), porém para os demais

impactos, de igual ou maior relevância, deve se dar ênfase na elaboração do EIA.

5.5 O FUTURO DO MODAL AÉREO

O tráfego aéreo internacional e doméstico de passageiros e os movimentos turísticos

internacionais vêm apresentando taxas de crescimento similares e constantes nas

últimas décadas. Esse tráfego constitui na verdade, um setor estratégico no

crescimento das economias de muitos países. (OMT apud PAOLILO & REJOWSKI).

Atualmente os aeroportos não são somente considerados como local de

transferência entre os modais de transporte aéreo e terrestre, são vistos como

importantes centros impulsionadores do desenvolvimento urbano, quer seja pelo

aumento do potencial turístico, quer seja como gerador de empregos e opções de

lazer. (Palhares e Espírito Santo Jr., 2001 apud MELLO E GOMES, 2001).

Esta em fase de estudos a proposta que trata da construção de aeroportos,

proibindo a construção de aeroportos comerciais em perímetro urbano. A medida

53

esta sendo examinada pela Comissão de desenvolvimento Urbano e consta do

projeto de Lei 3.051, do deputado Federal Edson Ezequiel (PMDB-RJ).

Pela proposta, os aeroportos já existentes que se destinam a prática de instrução de

vôo ou à utilização por aviões pequenos e helicópteros não poderão ser adaptados

para vôos comerciais.

O projeto estabelece que o Governo Federal ficará encarregado de providenciar,

junto aos governos Estaduais e Municipais, a transferência de pequenos aeroportos

para áreas fora do perímetro urbano sempre que o crescimento demográfico e a

expansão imobiliária passarem a representar perigo para as populações adjacentes.

O projeto exclui da medida os aeroportos militares e comerciais já existentes.

O principal intuito do deputado é minimizar o risco de acidentes, segundo o mesmo,

além de prevenir a possibilidade de acidentes, o projeto evita a poluição sonora

decorrente dos pousos e decolagens (não trata a fonte geradora mas elimina os

receptores) que deterioram a qualidade de vida da população adjacente. A

localização dos aeroportos deve ser priorizada no planejamento urbano, situando-os

onde o risco de acidentes e os demais transtornos causados sejam mínimos.

A proposta que tramita em regime conclusivo, aguarda designação de um relator na

comissão de desenvolvimento Urbano e ainda deverá ser apreciada pelas

comissões de Viação e Transportes, de Constituição e Justiça e de Cidadania.

54

Contudo, em um bom projeto de engenharia, o profissional responsável deve estar

habilitado nas seguintes áreas:

• Caracterização geral de transporte: demanda, oferta, aproveitamento e

produtividade de veículos;

• Diferenciação do modo aéreo de transporte em relação aos demais;

• A importância do transporte aéreo como fator indutor de desenvolvimento de

regiões, e seu papel na economia mundial;

• Aspectos de regulamentação de transporte aéreo (acesso a mercados, oferta

e tarifas), sua evolução, o papel dos governos e entidades delegadas;

• A importância da padronização no transporte aéreo e o papel da Organização

de Aviação internacional (ICAO);

• Produtividade e desempenho operacional de aeronaves, seus custos e

perspectivas;

• A operação de uma empresa aérea e seus aspectos econômicos e

financeiros;

• As empresas “charter” e as de baixo custo (LCC);

55

• O transporte aéreo internacional, sua evolução e perspectivas e suas

alianças;

• O papel da Associação de Transporte Internacional (IATA);

56

6 AEROPORTO INTERNACIONAL DE SÃO PAULO

(GOVERNADOR ANDRÉ FRANCO MONTORO)

O aeroporto de Guarulhos situa-se na latitude de 23º26’06”S e na longitude de

046º28’22”W, a uma altitude média de 750m e está localizado a NE do município de

São Paulo, em sua Região Metropolitana, distando cerca de 25km da Praça da Sé e

ocupando uma área de aproximadamente 14km2 (Cabral, 1990).

O sítio se encontra em uma planície alveolar no vale do rio Baquirivu-Guaçu,

afluente da margem direita do Alto-Tietê. As colinas que delimitam essa planície tem

altitudes em torno de 800 m e limita-se a norte com as escarpas das serras

alinhadas nas direções E-W e ENE-WSW e com altitudes freqüentemente acima de

1000 m.

O aeroporto Internacional de são Paulo é apresentado como o maior e mais

movimentado aeroporto da América Latina, sofisticado (figuras 6.1 e 6.2), contem

dois terminais de passageiros com capacidade para movimentar 15 milhões de

passageiros / ano. Futuramente, o aeroporto deverá receber dois novos terminais,

aumentando a capacidade anual do aeroporto para aproximadamente 40 milhões de

passageiros.

57

Figura 6.1: Vista aérea do Aeroporto Internacional de Guarulhos (INFRAERO, 2001)

Figura 6.2: Aeroporto

A ampliação do aeroporto com a previsão de entrega do terceiro Terminal para 2006,

deverá gerar mais de 20.000 empregos diretos. Atualmente, o aeroporto gera 27.000

empregos diretos.

O Aeroporto Internacional de São Paulo permite a ligação a 63 países, embarcando

e desembarcando passageiros de 215 destinos diferentes, dos quais 135

58

internacionais e 80 nacionais. São 41 Companhias Aéreas, distribuídas nos dois

terminais. (INFRAERO, 2004).

6.1 HISTÓRIA DO AEROPORTO

Situado no município de Guarulhos, a 17 km da capital (figura 6.3), o Aeroporto

Internacional de Guarulhos encontra-se estrategicamente posicionado no principal

eixo de desenvolvimento do país ( Rio / São Paulo), em uma área plana, próximo à

Serra da Cantareira, com um sistema viário próprio, que inclui trevos, viadutos, ruas,

avenidas e uma rodovia com várias faixas de rolamento, o aeroporto lembra parques

públicos europeus e americanos.

Figura 6.3: Localização da Cidade de Guarulhos

(Prefeitura, 2004)

O Aeroporto Internacional de Guarulhos impressiona e emociona ao mesmo tempo.

Com os gigantescos aviões pousando e decolando a todo o momento, sua imagem

será sempre a primeira e a última vista por um viajante quando se destina ou parte

de São Paulo ou do Brasil por via aérea.

59

Em 1912, apenas seis anos após Santos Dumont ter assombrado o mundo ao voar

nos céus europeus com o lendário 14 BIS, outro pioneiro da aviação, já fazia

manobras ousadas sobre os campos onde hoje está o Aeroporto Internacional de

São Paulo / Guarulhos. Era Eduardo Pacheco Chaves com suas máquinas voadoras

rudimentares.

Mais conhecido como Edu Chaves, o aviador era visto na época como autêntico

herói graças às proezas que executava nos céus com aqueles estranhos aparelhos

mais pesados do que o ar. Corajoso e destemido, Edu Chaves era um visionário.

Tanto que criara um campo de pouso e uma escola de pilotagem na Fazenda

Guapira (na região da zona norte da cidade de São Paulo), de propriedade de sua

família.

Vinte anos depois, nos anos 30, a própria Fazenda Cumbica já reunia atividades

aéreas. Um campo de pouso para planadores funcionava dentro de seus limites.

Dez anos se passaram e, em 1940 o então presidente da República Eurico Gaspar

Dutra escolhia a Fazenda Cumbica para implantação da Base Aérea de São Paulo

(figura 6.4), que foi inaugurada em 20 de janeiro de 1945.

60

Figura 6.4: BASE AÉREA

(Interior do Aeroporto)

Em 1985, quarenta anos depois da inauguração da Base Aérea de São Paulo e

quarenta anos depois da fundação do Ministério da Aeronáutica, o Aeroporto

Internacional de São Paulo - Guarulhos tornava-se realidade e era inaugurado

solenemente.

Há diversas controvérsias quanto a localização atual do aeroporto (em Guarulhos),

visto que na época de sua implantação haviam outras alternativas de sítios, uma das

justificativas usadas no meio técnico diz que dos aeroportos nacionais, Guarulhos é

o mais problemático em se tratando do fenômeno conhecido como “Tesouras de

vento” (figura 6.5). Em estudo feito sobre os episódios de Tesouras de Vento

ocorridos naquele local entre 1988 e 1990 apontaram alguns dados importantes. As

ocorrências se verificaram em alturas que variaram de 150 a 750 pés, ou seja,

alturas muito restritas e críticas para aeronaves que se encontram em

procedimentos de pouso ou decolagem (mais críticos). Nos meses de verão, quando

a atmosfera se encontra mais instável (com maior formação de Cumulonimbus e

Cumulus Congestus), coincidem com o aumento dos casos na região, porém a

61

principal vilã são as ondas de montanha, que se formam sobre o alinhamento das

serras existentes ao norte do aeroporto. Somente no ano passado ocorreram na

área 60 episódios reportados de tesoura de vento (VILLELA, 1997).

Figura 6.5: Windshear (Tesouras de Vento) (CABRAL, 1990)

O aeroporto de Guarulhos também sofre forte influência do inverno (visibilidade),

porém dispõe de equipamentos de precisão para pousos e decolagens que

permitem operar sob forte restrição de teto e visibilidade (Cabral, 1990).

Tais sistemas são os ILS (Instrument Landing System – Sistema de pouso por

instrumento que em sua categoria II – em operação nos aeroportos de Guarulhos e

Galeão – permitem a operação para pouso com os mínimos de 400 m de visibilidade

de pista (RVR) e 100 pés (30 m) de teto ou somente 200 m de RVR para decolagem.

Um bom planejamento dos melhores horários de decolagem dos vôos é bastante

importante, principalmente no início das manhãs (Cabral, 1990).

62

6.2 RESÍDUOS SÓLIDOS

Ainda existem incineradores em operação no aeroporto de Guarulhos (figuras 6.6 e

6.7), porém seu uso esta com os dias contados. Segundo o documento balanço

Social (2003), publicado pela INFRAERO, é política da empresa a adoção de

processos de reciclagem e, paralelamente, a redução dos volumes de lixo

incinerados (figura 6.8), visando a desativar todos os incineradores e queimadores

de lixo em operação nos aeroportos até o final de 2004. A destinação final é feita em

aterros sanitários.

Figura 6.6: Incinerador

Figura 6.7: Incineradores

63

Figura 6.8: Separação do Lixo

6.3 SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Nota-se na população que mora ao entorno do aeroporto, um grande desconforto na

população no que diz respeito à ampliação do aeroporto Internacional de Guarulhos

(dizem temer a falta de água). Esse desconforto levou a INFRAERO a adoção de

algumas alterações no interior do aeroporto, uma delas é a instalação de

hidrômetros para possibilitar a macromedição da água produzida e consumida

visando o melhor controle e o gerenciamento do consumo.

No projeto de expansão de suas instalações, a INFRAERO está prevendo a

implantação de novas tecnologias que venham a permitir a reutilização das águas

oriundas das estações de tratamento de esgotos, aproveitamento das águas de

chuva, água de condensação de sistemas de ar-condicionado em sistemas e

utilizações compatíveis, onde não é necessária a utilização de água potável, o

Terminal 3 de Guarulhos já conta com estas novas tecnologias.

64

Especificamente sobre o modelo para o abastecimento de água e destinação de

esgoto, o projeto prevê que o abastecimento de água é feito por uma bateria de

poços (atualmente o Aeroporto utiliza oito poços, que operam 12 horas por dia,

fornecendo 2.700 m³ de água por dia), com a ampliação, (há a previsão de

duplicação desse volume), porém o RIMA trata somente da distribuição em todo o

aeroporto após tratamento complementar para redução de dureza e desinfecção

pelo cloro, para assegurar o atendimento de todas as condições de potabilidade.

Segundo informações contidas no Relatório de Qualidade das Águas Subterrâneas

do Estado, divulgadas pela CETESB apud ESTADO (2004) existe um déficit de 8

metros cúbicos por segundo de água para abastecer a região metropolitana,

comprometidos, segundo ambientalistas, com a ampliação do Aeroporto.

Apesar da abrangência na análise das alternativas, o medo da população decorre do

fato de que, com a falta de fiscalização na região metropolitana, e o constante risco

de racionamento de água, aumentou exageradamente a abertura de poços

(Shoppings, condomínios, hospitais e indústrias estão perfurando, em média, 900

poços por ano), chegando a um total de 12 mil na região metropolitana. Desses,

calcula-se que 5 mil sejam clandestinos (a estimativa baseada na venda de bombas

hidráulicas). A perfuração indiscriminada e sem a técnica adequada coloca em risco

a saúde da população e reduz o nível dos aqüíferos (ESTADO, 2004).

No sistema de esgoto (figuras 6.9 e 6.10), o tratamento em lagoas aeradas

mecanicamente é capaz de assegurar elevado grau de eficiência e o efluente

65

produzido é levado à lagoas de, onde a existência de fauna aquática comprova a

eficiência do tratamento (INFRAERO, 2004).

Figura 6.9: Decantador

Figura 6.10: Lagoa aeração

66

6.4 CONTROLE DE ENCHENTES

Na região do Baquirivu-Guaçu, nota-se que o crescimento acelerado e desordenado

aliado à ausência de um planejamento adequado, acarretaram profundas

modificações no uso e ocupação do solo e, em conseqüência, efeitos permanentes

nos processos de infiltração, sobretudo no tocante à drenagem das áreas

urbanizadas. O aumento do volume do escoamento superficial em ocasiona

problemas variados no controle da drenagem, na manutenção de galerias pluviais e

de canais, e na própria qualidade das águas (carreamento de solo e detritos

diversos).

A área abrangida pela bacia hidrográfica do rio Baquirivu-Guaçu, situada dentro dos

limites da RMSP, é uma das regiões que vem sofrendo nos últimos anos, um

acelerado processo de desenvolvimento, atraindo uma ocupação crescente e

desordenada (Figura 6.11), e provocando um aumento descontrolado na taxa de

urbanização. Além disso, a proximidade de pólos geradores de empregos, a

facilidade de acesso propiciada pela existência de importantes rodovias que cortam

a região, aliada a outros fatores que induzem à urbanização, tornou a cidade de

Guarulhos um importante pólo de desenvolvimento na Metrópole, hoje sendo

considerada a 3.ª arrecadação do Estado.

67

Figura 6.11: Ocupação desordenada

(bacia do córrego Cachoeirinha)

Além dos aspectos mencionados, cabe ressaltar o grande impacto urbanístico

causado pela implantação do Aeroporto Internacional de São Paulo / Guarulhos, no

distrito de Cumbica, modificando sensivelmente a drenagem do rio e com a

canalização do córrego, transformou o escoamento de um regime de baixa

velocidade para alta velocidade, sendo ainda observado um significativo aumento do

coeficiente de "run off".

Esses fatores, aliados à ocupação das margens do rio Baquirivu-Guaçu (figura 6.12),

ocasionaram aumento do volume e da frequência das cheias, fato agravado pela

baixa capacidade de veiculação de vazões de sua calha.

68

Figura 6.12: Rio Baquirivu - Guaçu (montante da ponte da Rodovia Ayrton Senna, nas proximidades da foz no rio Tietê)

Na margem esquerda do canal, percebe-se a acentuada ocupação.

Em fevereiro de 1999, a bacia foi atingida por chuvas intensas com grande

abrangência espacial, gerando inundações num extenso trecho do rio Baquirivu-

Guaçu e ao longo dos seus principais afluentes (Figuras 6.13 e 6.14).

Figura 6.13: Enchente (Lama acumulada, conseqüência do extravasamento do rio Baquirivu-Guaçu, cortesia INFRAERO)

69

Figura 6.14: Inundação do rio Baquirivu-Guaçu (proximidades da Av. Jamil João Zarif, cortesia: INFRAERO)

As inundações registradas chegaram até mesmo a provocar a paralisação do

Aeroporto Internacional, em virtude de problemas na rede de drenagem das galerias

subterrâneas, causados pelo remanso do afluente ribeirão Cocho Velho (figura

6.15).

As enchentes trouxeram outros “habituais” problemas de ordem social, econômica e

de saúde pública, tais como:

• Paralisação de atividades econômicas com a interrupção de linhas de

produção de indústrias, face à perda de equipamentos, matéria-prima,

estoques etc;

70

• Vulnerabilidade da população no que se refere ao alto risco de contaminação

por doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose, cólera e enterite,

entre outras;

• Prejuízos à integridade física e psicológica da população atingida, face à

necessidade de mudança de hábitos durante a estação chuvosa;

• Danos e até mesmo destruição de habitações residenciais e unidades

comerciais, causando desabrigo da população, além de prejuízos materiais;

• Danos aos sistemas de energia, telecomunicações, redes de água e esgoto,

equipamentos comunitários públicos e privados;

• Interrupções prolongadas no sistema viário, principalmente na Avenida Jamil

João Zarif e nas proximidades da Rodovia Presidente Dutra, com reflexos nos

demais sistemas que se interligam com as Marginais do Rio Tietê, Rodovia

Ayrton Senna e o próprio sistema urbano do município de Guarulhos.

Figura 6.15: Foz do córrego Cocho Velho no rio Baquirivu-Guaçu

(Ao fundo, Aeroporto Internacional de Guarulhos)

71

Diante desses problemas e visando equacioná-los, a Prefeitura Municipal de

Guarulhos solicitou a colaboração técnica do DAEE, para elaboração de um estudo

com proposição de alternativas de intervenções, para mitigação dos efeitos danosos

causados pelas cheias.

Independentemente desta colaboração, vale salientar que o controle efetivo das

inundações, não deve ser tratado somente por órgãos / entidades que tratam da

gestão dos recursos hídricos, mas também pelas diversas instâncias do Poder

Público que de alguma forma interferem no processo, destacando-se o controle de

uso e de ocupação do solo, atribuições das Prefeituras, pois o crescimento da

urbanização da bacia e sua conseqüente impermeabilização, implicam agravamento

do quadro de enchentes.

O Baquirivu-Guaçu, rio intermunicipal, requer uma política integrada dos municípios

de Guarulhos e Arujá para o controle efetivo das inundações. As intervenções

localizadas acabam alterando a morfologia fluvial, e conseqüentemente o

comportamento hidrodinâmico do rio.

Em Arujá a maior parte do rio já foi canalizada (Figuras 6.16 e 6.17), o que

possibilitou um aumento da capacidade de descarga da sua calha, porém com

transferência do problema para jusante. Esses efeitos localizados devem ser

evitados, com a realização de um estudo de drenagem global da bacia hidrográfica.

72

Figura 6.16: Rio Baquirivu-Guaçu (município de Arujá, já quase totalmente canalizado)

Figura 6.17: Rio Baquirivu-Guaçu

(imediatamente a jusante da travessia da Estrada municipal dos Vados, divisa Guarulhos / Arujá (final do trecho canalizado)

73

Apresentando o conceito do piscinão metropolitano, "A acumulação dos excedentes

de vazões de cheias no interior do reservatório possibilita um retardamento no seu

escoamento, que pode variar de algumas horas a até mesmo alguns dias".

O estudo apresentado pelo DAEE, teve como objetivo básico avaliar as condições

naturais do rio Baquirivu-Guaçu e dos seus principais afluentes, com vistas à

proposição de alternativas para atenuar os efeitos das inundações, a partir do

levantamento de áreas passíveis de serem usadas na implantação de reservatórios

de retenção ou armazenamento, à semelhança do que vem sendo realizado na

bacia do Alto Tamanduateí, onde seis reservatórios já se encontram em operação, e

outros sete serão executados no corrente ano ou até meados de 2001. Tais

reservatórios podem estar localizados no próprio curso principal do rio, em seus

afluentes ou ainda em terrenos adjacentes aos mesmos.

A eficiência de um reservatório na atenuação de ondas de cheias depende

diretamente da capacidade de retenção, ou seja, de seu volume útil. A cada onda de

cheia caracterizada por sua vazão máxima e volume, corresponde um volume útil

necessário para sua retenção, conforme o hidrograma natural.

Esses reservatórios de retenção, implantados geralmente por meio de escavação do

terreno, lateralmente ou em ambas as margens do curso d’água, funcionam apenas

nos grandes eventos chuvosos, permanecendo portanto vazios durante a maior

parte do tempo, quando podem ser utilizados para atividades de recreação e lazer,

através da implantação de campos de futebol, quadras de areia, ciclovias, pistas de

cooper e equipamentos rústicos de diversão (playgrounds).

74

Eventualmente, tais áreas poderão passar por tratamento paisagístico, com

vegetação arbórea integrando o reservatório.

A acumulação dos excedentes de vazões de cheias, no interior do reservatório,

possibilita um retardamento no seu escoamento, podendo este, dependendo das

dimensões, características e equipamentos de controle disponíveis, variar de

algumas horas a até mesmo alguns dias.

Pelo princípio básico de funcionamento, ao ultrapassar a lâmina d'água um

determinado nível, a água é desviada do rio ou córrego para o reservatório. Esse

desvio é feito através de um vertedor, locado em uma das margens do rio, regulando

a sua vazão. Quando a chuva termina, a água pode ser reconduzida lentamente

para o rio, por gravidade e/ou bombeamento, neste caso com o auxílio de

equipamentos acionados preferencialmente por telemetria, sem entretanto

sobrecarregar o canal a jusante, evitando-se assim o seu transbordamento e

conseqüentes inundações. Normalmente os reservatórios estarão cheios em

intervalos que compreendem a duração da chuva e mais algumas horas,

necessárias para o esgotamento dos volumes retidos, ficando fechados ao público

até que se efetue a limpeza e a completa higienização das áreas de lazer. Fora

desse período, as áreas deverão permanecer secas e liberadas ao público.

Portanto, embora denominados de bacias de retenção, os reservatórios estarão

cheios apenas durante os eventos de chuvas intensas, o que significa algumas

ocorrências por ano, concentradas naturalmente no período úmido (dezembro a

março).

75

Essas áreas deverão estar cercadas com alambrados ou proteções similares, além

de devidamente dotadas de serviços de vigilância, manutenção e operação.

O reflexo positivo nos trechos imediatamente à jusante de cada retenção implantada,

é notado de forma sensível com a redução do volume e da vazão de pico do

hidrograma, podendo esse benefício resultar cumulativo ao longo da bacia do rio

Baquirivu-Guaçu, em função dos controles viabilizados nas diversas sub-bacias.

A avaliação realizada procurou dar um enfoque global às cheias do rio Baquirivu-

Guaçu e seus principais afluentes, podendo, posteriormente, alguns aspectos ser

alterados ou complementados. Entretanto, a implantação das obras dos primeiros

reservatórios trará grandes benefícios à população atingida pelas cheias,

possibilitando uma regularização gradativa nas descargas ao longo do rio.

6.5 IMPACTOS ÀO MEIO AMBIENTE

O Município de Guarulhos apresenta um clima subtropical úmido, com temperatura

média anual de 19ºC, umidade relativa do ar média anual de 81,1%, precipitação

pluviométrica anual média de 1470 mm e ventos dominantes SE - NO - E - O. (dados

cedidos pelo Ministério da Aeronáutica - Divisão de Meteorologia apud

PREFEITURA, 2004).

Por sua condição geográfica e climática, Guarulhos apresentava uma cobertura

vegetal primitiva nativa representada pela Mata Atlântica, também denominada

76

Floresta Cantareira e, pela Mata Planaltina ou de Transição. Com a expansão

populacional e industrial essa cobertura sofreu grande desgaste.

6.5.1 FLORA

Atualmente, excluindo-se as áreas verdes resultantes do trabalho de paisagismo

(que tanto utiliza espécies nativas quanto espécies exóticas), somente restaram o

Parque Estadual Cantareira (Núcleo Cabuçú) com 2.550 ha., a fazenda de Itaverava,

algumas áreas localizadas na Tapera Grande, além de pequenos redutos de Mata

existentes na cidade, Bosque Maia, Parque Fracalanza, Aeroporto Internacional,

entre outros, preservados pela Legislação de Proteção Permanente.

Há ainda o Horto Florestal de Guarulhos, uma parte da área total que é classificada

como Reserva Biológica, também considerado como área de preservação

permanente.

6.5.2 FAUNA

O processo de urbanização de Guarulhos (inclui-se a instalação do aeroporto)

devastou a biota ao longo dos anos. Da fauna original restaram poucas espécies

mais resistentes, que sobreviveram as ações antrópicas e a um processo de

redução drástica de seus habitats, fatores que levaram a uma conseqüente redução

77

de seu potencial genético, em decorrência, reduziram a diversidade de espécies

(vegetais e animais) que aqui conviviam.

Dos mamíferos destacam-se:

• Marsupiais: de pequeno porte podem ser citados como exemplo de fauna

remanescente, como gambás e cuícas;

• Quirópteros: morcegos de várias espécies, inclusive as formas hematófagas,

espécies peridomiciliares que facilmente se adaptam à presença humana;

• Primatas: saguis e savás;

• Canídeos: cachorro do mato, um predador que, junto com os Felinos, como o

gato do mato, alimentam-se de pequenas presas, tais como ratos e mesmo animais

domésticos. Na avifauna, as ribeirinhas, aquáticas ou paludícolas, compõem o

ecossistema alado da mata. Pombos selvagens, espécies de anus, corujas,

bacuraus, beija-flor e passeriformes variados.

• Dentre os répteis: jibóias, jararacas, coral verdadeira entre outras, são

elementos herpetológicos do sistema. Nos anfíbios descreve-se um grande número

de batráquios como sapos e rãs.

• Na fauna entomológica o destaque fica com a borboleta azul (Morpho).

78

O aeroporto Internacional instituiu o “Viveiro de Plantas” (figuras 6.18 a 6.21), com a

finalidade de manter e proteger toda a área verde, coletando espécimes vegetais e

preparando a produção de mudas para posterior replantio. Possui uma área de 6,5

hectares e tem capacidade mensal de produção de 500 mil mudas e de 3000 vasos

ornamentais a serem distribuídos pelo aeroporto.

Figura 6.18: Distribuição das mudas no Viveiro de Plantas

Figura 6.19: Aspecto do Interior do Viveiro de Plantas

79

Figura 6.20: Diversidade do Viveiro de Plantas

Figura 6.21: Distribuição externa do Viveiro de Plantas

6.6 QUALIDADE DO AR

A INFRAERO contratou uma equipe de profissionais da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, por meio da COPPETEC, para a elaboração de um estudo sobre

poluição do ar decorrente da operação dos aeroportos. O referido estudo demonstra

que as concentrações de poluentes atmosféricos oriundas das atividades

80

aeroportuárias estão muito abaixo dos níveis máximos permitidos pelo CONAMA e

por outros órgãos ambientais internacionais.

E, portanto, atualmente não existe controle e coleta de amostras para análise da

qualidade do ar no aeroporto Internacional de Guarulhos.

6.7 RUÍDO AERONÁUTICO

A INFRAERO mantêm um programa de controle ao ruído cujo objetivo é o de

estabelecer medidas que minimizem os efeitos dos ruídos das aeronaves sobre as

áreas próximas ao aeroporto. Foram propostos dois projetos:

• Projeto de monitoração do ruído:

Tem por objetivo detectar os níveis de ruído das aeronaves nos pontos

estabelecidos nas áreas próximas do aeroporto. A partir da implantação do projeto,

as aeronaves que causarem ruído em nível superior ao previsto poderão sofrer

sansões por parte da autoridade competente.

• Projeto de restrições operacionais:

Tem por objetivo determinar os prazos máximos para retirada de operação das

aeronaves ruidosas. É prevista a aplicação de restrições gradativas, até a proibição

da operação no aeroporto partir de 01 de janeiro de 1996

81

6.8 ASPECTOS ECONÔMICOS

Antes da implantação do Aeroporto Industrial de Guarulhos (uma das hipóteses), a

atividade industrial caracterizava-se como principal fonte de recursos e de

desenvolvimento da cidade, ocupando papel importante na geração de empregos e

riquezas. (Prefeitura, 2004).

Para provar isso, verificou-se a existência, na década de 70, de um processo de

financeirização do capital, isto é, a separação entre capital financeiro e capital

produtivo. Neste processo, grandes grupos industriais / holdings retiram-se do

processo produtivo visando eliminar os custos de produção e o capital passa a ser

aplicado no mercado financeiro. As etapas de produção, marketing, venda, entre

outras, passam a ser realizadas por pequenas e médias empresas que são

associadas aos grupos industriais / holdings por meio de subcontratação,

terceirização ou alianças estratégicas.

É em função desses fatores que verificamos o aumento na prestação de serviços em

escala mundial. Essa tendência também pode ser detectada em Guarulhos quando

nota-se a predominância da prestação de serviços em cerca de 70% da economia

do Município entre 1991 e 1997, conforme dados apresentados pela Secretaria de

Finanças, demonstrado na tabela 6.2:

82

Tabela 6.1: Distribuição econômica do município 1991-1997

Atividades Econômicas 1997 1998 (*) Prestação de Serviços 34.441 36.860 Comércio 10.216 10.952 Industrias 1.604 1.685 Total 46.461 49.497

Fonte: Prefeitura, 2004

Responsável por inserir Guarulhos na condição de segunda cidade em arrecadação

de ICMS, (tabela 6.3), (Guarulhos, 2000), o segmento industrial reúne importantes

empresas nacionais e multinacionais em vários setores.

Tabela 6.2: índice percentual de participação na receita geral do Estado

Ano Base

São Paulo

Santo André

São Caetano do Sul

Guarulhos Diadema São

Bernardo do Campo

2000 24,96 1,57 0,84 3,79 1,16 3,41 1999 26,07 1,62 0,94 3,76 1,21 3,73 1998 26,68 1,60 1,12 3,81 1,32 4,18 1997 27,44 1,61 1,05 4,02 1,43 4,29 1996 26,92 1,74 1,17 4,04 1,42 4,28 1995 25,69 1,85 1,42 4,04 1,34 4,82 1994 27,64 1,87 1,40 3,96 1,26 4,66 1993 27,93 2,02 1,24 3,80 1,28 4,10

Fonte: Prefeitura, 2004

Não obstante o enorme potencial industrial, o setor de prestação de serviços vem

demonstrando considerável desenvolvimento nos últimos anos. Entrepostos de

cargas, shopping centeres, lojas de conveniência, franquias e empresas ligadas ao

comércio exterior e turismo de negócios são algumas das atividades em destaque no

município.

Vale ressaltar ainda o grande número de empresas de transporte, logística,

83

armazenamento e carga estabelecidas no município. A cidade conta ainda com

portos secos e entrepostos aduaneiros, proporcionando maior proteção das

mercadorias e agilidade nos procedimentos alfandegários. (Prefeitura, 2004).

Ademais, merece o destaque o crescimento do setor hoteleiro, com

empreendimentos de nível internacional, contribuindo ainda mais para a atração de

investimentos no município. O setor de comércio também ocupa grande destaque na

economia de Guarulhos. A região central, o Aeroporto Internacional e o Internacional

Shopping abrigam os mais variados ramos de comércio, desde lojas de

departamento, free-shops, magazines até cinemas, fast-foods e hipermercados.

Tabela 6.3: PIB Município de Guarulhos

PIB (Produto Interno Bruto) 6.826.113.653,33 (R$)

% em relação ao PIB da região metropolitana de SP 4,30 % % em relação ao PIB do estado de SP 2,30 % % em relação ao PIB do Brasil 0,07 % Arrecadação de ICMS (2000) R$ 9 bilhões Potencial de consumo anual (Base:2001) US$ 3,5 bilhões (*) Renda per capita anual US$ 12.278 13º mercado consumidor do país e 3º do estado de São Paulo

Fonte: Prefeitura, 2004) (*) Cotação 2.001: US$ 1 = R$1,985

6.9 AMPLIAÇÃO DO AEROPORTO

A um custo estimado para a execução da obra em torno de R$ 1.5 bilhão, serão

necessários pelo menos mais seis anos, consumidos em obras, para que o viajante

experimente os novos confortos do aeroporto.

84

A capacidade atual de Guarulhos é de 15 milhões de passageiros por ano.

mas segundo o superintendente regional da INFRAERO, Miguel Choueri

(responsável pela administração de Cumbica), até o fim de 2004, algumas obras já

em curso ampliarão esse teto para 17 milhões.

Com a construção de mais um terminal de passageiros (será o terceiro) e de mais

uma pista, Cumbica quase dobrará de tamanho. Poderão aterrissar ou decolar 29

milhões de passageiros / ano, são números elevados tratando-se de América Latina,

porém se mostram modestos quando comparados aos maiores aeroportos do

mundo.

Segundo o EIA-Rima, Cumbica se transformará em exemplo de respeito ao meio

ambiente. Esqueça-se o que acontece nos terminais 1 e 2, que têm poucas janelas e

são dependentes, 24 horas por dia, de iluminação artificial. No terminal 3, com

estruturas metálicas recobertas por uma "pele" envidraçada, a luz natural será

dominante.

A maior parte da água será reutilizada, como forma de evitar o esgotamento dos

lençóis freáticos, a mais de 100 metros de profundidade, de onde se captam os

recursos hídricos do aeroporto.

Nos banheiros, os assentos sanitários terão descarga a vácuo, como o que existe

nas aeronaves.

85

A inovação ocorrerá porque é a forma mais econômica. Enquanto uma descarga

normal usa até 20 litros de água, no sistema a vácuo o consumo cai para menos de

dois litros, segundo os técnicos.

Além disso, serão instalados sensores nas proximidades de Cumbica, como forma

de monitorar a intensidade dos ruídos emitidos pelas turbinas dos aviões. Uma vez

constatados excessos, caberá ao Departamento de Aviação Civil (DAC) acionar as

empresas infratoras.

No novo Terminal 3, com 165 mil metros quadrados de área construída (o

equivalente a 15 campos de futebol), poderão ser recebidos e embarcados

simultaneamente passageiros de até 13 aeronaves. Um estacionamento com

capacidade para 4.500 carros, distribuídos em quatro pavimentos, funcionará ao

lado.

Com o novo terminal, Cumbica crescerá, mas ainda ficará muito aquém dos maiores

e mais importantes aeroportos do mundo.

A cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, conta com um estrutura com capacidade

para 79 milhões de passageiros por ano. Londres, com o aeroporto internacional de

Heathrow, consegue receber 63 milhões. Paris, com o Charles de Gaulle, 48

milhões.

86

7 CONCLUSÃO

O planejamento, a construção e a operação dos aeroportos no Brasil, vem nos

últimos anos se desenvolvendo a partir dos mais avançados conceitos técnicos,

tendo sido considerada obrigatoriamente, nos projetos mais recentes, as questões

ambientais. Observa-se hoje um importante histórico de situações que demonstram

a absoluta viabilidade de implantação de um aeroporto, ou da sua expansão, sem

causar impactos negativos relevantes ao meio ambiente.

Especificamente tratando-se do aeroporto internacional de Guarulhos (objeto do

Estudo de Caso deste trabalho), em uma análise mais sistemática, tornam-se

questionáveis os estudos para a ampliação do aeroporto, devido principalmente a

grande quantidade de pessoas que residem irregularmente nas proximidades do

aeroporto, em zonas de ruído, ou ainda em zonas inseguras, e as medidas

apontadas pelo RIMA atual, foram consideradas inexeqüíveis técnica e

economicamente.

Não disposta a perder receitas, e de maneira independente aos estudos da

INFRAERO, a Prefeitura de Guarulhos iniciou a difícil tarefa de implantar um novo

modelo de gestão urbana nas áreas do entorno do Aeroporto de Cumbica. Um dos

principais objetivos é conter a ocupação de oito bairros da cidade (Jardim das

Malvinas, Jardim Marilena, Jardim dos Eucaliptos, Santa Lídia, Jardim Portugal,

Jardim Planalto, Jardim Seródio e Haroldo Veloso), dispostos numa área de 1,43

quilômetro quadrado decretada de utilidade pública pelo governo do Estado.

87

Durante reunião que aconteceu na Coordenadoria de Assuntos Aeroportuários da

Prefeitura de Guarulhos, foi formado um grupo de trabalho que se encarregará de

aplicar medidas que coíbam o surgimento de novas edificações na área, como a

intensificação da fiscalização concentrada nas áreas públicas.

Ainda de acordo com o decreto, os imóveis situados na área de utilidade pública

poderão sofrer desapropriação pela Infraero (Empresa Brasileira de Infra-estrutura

Aeroportuária) por conta das obras de ampliação do Aeroporto de Cumbica. Com a

medida, o município pretende impedir o crescimento da área intensificando a

fiscalização dos aterros que possibilitam a construção de novas moradias

irregulares.

Os principais setores intervenientes no projeto de um aeroporto foram tratados neste

trabalho, contudo para os novos empreendimentos, cabe à equipe de projetistas

responsáveis ponderar para que tenhamos uma perfeita harmonia entre o

atendimento das necessidades do homem com a preocupação ambiental.

88

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91

ANEXO A

CLIMATOLOGIA DOS NEVOEIROS NO AEROPORTO DE GUARULHOS

Edson Cabral Doutorando em Geografia Física – FFLCH/USP Mestre em Climatologia Urbana - FFLCH/USP

ABSTRACT

This paper analysis the climatological parameter fog at the Guarulhos International

Airport visualizing a period of almost thirty years (1969-1997) and discusses the

genesis, variability and importance of the fenomenon to aeronautical operations and

safety flight.

I –INTRODUÇÃO

O nevoeiro é um fenômeno meteorológico vinculado, via de regra, à estabilidade atmosférica e obstrui a visibilidade horizontal a menos de 1.000 m, sendo composto por pequenas gotículas de água suspensas próximas à superfície.

No caso específico de aeroportos, o nevoeiro apresenta caráter singular, tendo em vista restringir sobremaneira as operações de pouso e decolagem e afetar a segurança das aeronaves e de seus passageiros. Cabe lembrar, por exemplo, do acidente ocorrido com o Boeing 737 da VASP (Prefixo PP-SME) no Aeroporto de Guarulhos (São Paulo) em 28 de janeiro de 1986, que teve como causa direta a ocorrência desse fenômeno.

Pesquisas levadas a cabo por PILLIÉ et alli (1975), HILL (1988), SUCKLING e MITCHELL (1988), CABRAL (1990), CASTEJON DE LA CUESTA e MARTINEZ (1993), SACHWEH e KOEPKE (1995) e VILLELA (1997), entre outros, estudaram o fenômeno utilizando registros meteorológicos de aeroportos.

Este trabalho tem como escopo analisar alguns aspectos climatológicos das ocorrências de nevoeiro verificadas na área do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, tomando por base o período de quase três décadas (1969-1997).

II - ÁREA DE ESTUDO

O Aeroporto de Guarulhos situa-se na latitude de 23o26’06’’S e na longitude de 046o28’22’’W, a uma altitude média de 750 m e está localizado a NE do município de São Paulo, em sua Região Metropolitana, distando cerca de 25 km da Praça da Sé e ocupando uma área de aproximadamente 14 km2.

92

O sítio em questão se encontra em uma planície alveolar no vale do Rio Baquirivu-Guaçu, afluente da margem direita do alto-Tietê. As colinas que delimitam essa planície tem altitudes em torno de 800 m e limitam-se a norte com as escarpas das serras alinhadas nas direções E-W e ENE-WSW e com altitudes freqüentemente acima de 1.000 m.

Para fins comparativos, foram também utilizados registros climatológicos do Aeroporto de Congonhas, situado na área urbana do Município de São Paulo, na latitude de 23o37’32’’S e na longitude de 046o39’21’’W e posicionado, segundo AB’SABER (1975), em uma esplanada tabular suavizada do nível mais elevado das colinas pliocênicas (790-810 m), a SSW do bairro do Jabaquara, 10 km ao sul da Praça da Sé.

III – MATERIAIS

Para a realização deste trabalho foram utilizados registros mensais e anuais de número de dias e de horas de nevoeiro das Estações Meteorológicas da Base Aérea de Cumbica (1969-1984) e do Aeroporto de Guarulhos (1985-1997), bem como dados do número de horas mensais e anuais de nevoeiro da Estação Meteorológica de Congonhas (1972-1997), tomada como estação de apoio.

Foram levantados também registros de médias de temperaturas mínimas dos dois aeroportos em questão, em termos de seus totais mensais e anuais para o período de 1961-1997, além de dados mensais e anuais de horas de restrição meteorológica do Aeroporto de Guarulhos (1985-1996), referentes aos períodos em que o mesmo apresentou condição de operação abaixo dos mínimos de ILS CAT II (visibilidade de RVR abaixo de 400 m e/ou teto menor que 100 ft).

Adicionalmente, foram examinados todos os eventos diários de nevoeiro em Guarulhos para o período compreendido entre 1993 e 1997, em termos de suas freqüências de horas de duração e dos horários de início de sua ocorrência.

IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO

A distribuição anual de horas de ocorrência de nevoeiro cobrindo o período de 1969 a 1997, é mostrada no gráfico 1, com uma divisão abrangendo três períodos distintos:

• 1969/1979 – valores da Base Aérea de Cumbica; • 1980/1984 – valores abrangendo o período de construção do aeroporto e,

• 1985 em diante - período de operação do aeroporto.

Apesar da grande variabilidade anual do fenômeno, fica evidente a significativa tendência decrescente nos totais de horas de nevoeiro em todo o período de análise, com forte diminuição de seus valores quando da construção do aeroporto, particularmente de 1982 a 1984 e após sua inauguração, quando comparado com o primeiro período de dados. O ano de 1997, o mais recente da série estudada, apresentou somente cerca de 107 horas do fenômeno, o menor valor de toda a série temporal.

93

Gráfico 1 - Horas anuais de nevoeiro das estações de Cumbica (1969-1984) e Guarulhos(1985-1997)

Grafico 2 - Comparativo de horas de nevoeiro - Guarulhos x Congonhas (1972-1997)

________ Guarulhos

________ Congonhas

O gráfico 2 evidencia um quadro comparativo da distribuição anual de horas de nevoeiro dos aeroportos de Guarulhos e Congonhas, revelando valores bem mais elevados para Guarulhos, embora com registros decrescentes para as duas séries. Justamente no início da construção do Aeroporto de Guarulhos - início dos anos 80 - os totais de horas de nevoeiro em Congonhas se elevaram e os dados de Guarulhos sofrem queda abrupta, mostrando certamente a influência da pavimentação e da retirada de vegetação da área no que tange à ocorrência do fenômeno. A freqüência de dias de nevoeiro de Guarulhos, referentes ao período de 1969-1997, é mostrada no gráfico 3, onde pode-se verificar a grande concordância com os resultados mostrados no gráfico 1.

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Gráfico 3 - Freqüencia de dias anuais de nevoeiro da base aérea de Cumbica (1969-1984) e aeroporto de Guarulhos (1985-1997)

Com relação à distribuição de freqüência mensal de horas de nevoeiro dos dois aeroportos, mostrada no gráfico 4, pode-se afirmar que o fenômeno ocorre preferencialmente no outono e inverno, quando se verifica maior estabilidade atmosférica, menores temperaturas, menor cobertura de nuvens e, consequentemente maior resfriamento noturno devido à perda pela superfície de radiação de ondas longas. Os nevoeiros nos dois aeroportos se configuram, portanto, basicamente como nevoeiros de radiação, estando associados geralmente a sistemas atmosféricos anticiclônicos. A penetração da brisa marítima sobre o Planalto Paulistano contribui decisivamente para fomentar inúmeros episódios de nevoeiro, tendo em vista que a mesma transporta núcleos higroscópios (sal marinho e material particulado) e alto conteúdo de umidade oriunda da ascensão forçada do ar sobre a Serra do Mar. Localmente, os nevoeiros em Guarulhos surgem invariavelmente pelo setor leste, pelo lado da cabeceira da pista 27 e se espalhando por toda a área do aeródromo. As ocorrências de nevoeiro em Guarulhos têm seu máximo, em termos médios, no mês de junho, com pouco mais de 40 horas e Congonhas apresenta seus maiores valores em julho e junho, respectivamente.

Gráfico 4 - Freqüencia médias mensais de horas de nevoeiro dos aeroportos de Guarulhos e Congonhas - (1980 - 1997)

________ Guarulhos

________ São Paulo

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Foram também analisadas as médias de temperaturas mínimas anuais para os dois aeroportos (gráfico 5), se verificando valores crescentes nos dois casos e com maiores incrementos térmicos em Guarulhos quando da construção de seu aeroporto. Em termos de taxas de aquecimento em relação às temperaturas mínimas, Guarulhos apresentou cerca de 3,5°C de aumento de temperatura e Congonhas aproximadamente 1,5°C para o período compreendido entre 1961/1997, evidenciando um efeito de urbanização presente nos sítios dos dois aeroportos, porém, mais recentemente, de maneira mais efetiva no caso de Guarulhos.

Gráfico 5 - Comparativo de médias de temperaturas mínimas de Guarulhos e Congonhas (1961-1997)

_______

_ Guarulhos

_______

_

Congonha

s

O gráfico 6 revela a forte redução do número de horas de restrição meteorológica no Aeroporto de Guarulhos, no período de 1985 a 1996, devido particularmente à desintensificação dos nevoeiros naquela área, o que tem gerado uma grande melhoria das condições de segurança e na economia dos vôos, pois tem evitado que as aeronaves que tenham aquele aeroporto como destino, alternem em outros aeroportos (Campinas e Galeão, preferencialmente), com gastos de combustível, deslocamento de passageiros, tripulantes e pessoal de terra, alimentação, dentre outros.

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Gráfico 6 - Horas anuais de restrição meteorológica do aeroporto de Guarulhos (abaixo dos mínimos ILS CAT II*) - 1985-1996

Do total de eventos ocorridos nos últimos cinco anos (1993-1997), houve a concentração de horas de início de ocorrência dos nevoeiros em Guarulhos entre a 04:00 e às 07:00 local (gráfico 7), com um pico entre às 06:00 e 07:00 da manhã, em cujo horário ocorre geralmente o máximo de perda radiativa, bem como as mínimas térmicas, um pouco antes do nascer do sol, normalmente com condição de estabilidade atmosférica e pouca nebulosidade. Com menor freqüência, se verificam nevoeiros que se iniciam por volta das 21:00 h e que estão associados à entrada de brisa marítima noturna, que transporta umidade do oceano para o continente e aumenta as condições para a sua formação.

Gráfico 7 - Freqüencia de horários de início de nevoeiro no aeroporto internacional de São Paulo / Guarulhos - 1993 a 1997

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Gráfico 8 - Freqüencia de duração de horas de nevoeiros no aeroporto internacional de São Paulo /

Guarulhos - 1993 a 1997

Finalizando, mostra-se o gráfico com a freqüência de duração de horas de nevoeiros para o mesmo qüinqüênio, mostrando que a maior concentração de episódios se encontra entre uma e três horas e, gradativamente eventos mais duradouros apresentaram menores freqüências.

V - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os nevoeiros de Guarulhos tem sua origem ligada a fatores locais, de localização de seu sítio (acúmulo de ar frio na bacia, fontes de umidade – lagoas e vegetação no entorno) e conjugado aos sistemas meteorológicos atuantes na região, o mesmo podendo se inferir com relação ao fenômeno para o aeroporto de Congonhas. Pode-se destacar ainda que o fator urbanização tem contribuído sensivelmente nas alterações climáticas verificadas nos aeroportos de Guarulhos e Congonhas nas últimas décadas e para um maior grau de operacionalidade dos mesmos, ou seja, há o papel preponderante do homem atuando decisivamente à seu favor, afetando positivamente os aspectos de segurança com relação a passageiros, tripulantes e população vizinha e também nos custos envolvidos nas operações das aeronaves.

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