Análise dos aplicativos para iPad desenvolvidos pela Folha de São Paulo

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ISBN: 978-85-99679-47-0

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SEMANA DA COMUNICAÇÃO 2013

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação

Unesp ‐ Universidade Estadual Paulista

CADERNO DE RESUMOS

Comissão Científica

Maria Cristina Gobbi

Arlindo Rebechi Júnior

Bárbara Maria da Costa

Gabriela Sanches Lima

Giovani Vieira Miranda

Isabelle Almeida Macedo

Kelly De Conti Rodrigues

Paula Cristina dos Reis Costa

Wagner Benito Alves

Gobbi, Maria Cristina; Júnior, Arlindo Rebechi

Anais da Semana da Comunicação 2013/ Arlindo

Rebechi Júnior e Maria Cristina Gobbi – 1. ed. --

Bauru: FAAC/ Unesp – Campus de Bauru, 2013

1015 p.

ISBN 978-85-99679-47-0

1. Comunicação. 2. Jornalismo. 3. Radialismo.

4.Relações Públicas.

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Análise dos aplicativos para iPad desenvolvidos pela Folha de São Paulo480

Laís Bianquini ELIAS481

; Letícia Passos AFFINI482

.

INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda a questão da digitalização e da convergência de conteúdos

informacionais, tem-se como objeto a análise do aplicativo desenvolvido pelo Jornal Folha de

São Paulo para iPad. O desenvolvimento crescente da tecnologia e principalmente a

popularização dos dispositivos móveis como meio de informação obrigam os veículos a

repensarem a transposição do jornalismo impresso para o digital, reconfigurando o conteúdo

ao adaptá-lo para os vários suportes (tablet, samrtphone, notbook e computador de mesa).

A inovação tecnológica tem marcado nosso mundo em ritmo acelerado desde a

década de 1990, era de expansão da internet para a população em geral, quando surgiram

vários navegadores, como, por exemplo, o Internet Explore. Mas foi a partir de 2006 que a

nova era digital começou. Com o avanço das redes sociais, e junto a ela, surgiu a necessidade

de se estar conectado e informado o tempo todo. Assim, o mercado percebeu que crescia

novas necessidades e mudanças de hábitos de consumo dessas tecnologias e por esse motivo

começou-se a criação de dispositivos móveis e a corrida por aparelhos cada vez mais

sofisticados. Nesse mesmo ano a empresa Apple lança o iPhone, que determina as novas

bases para a competição por tecnologia.

A criação do iPad no início de 2010, e dos posteriores tablets, androids, criados no

ano seguinte, têm sido foco de grande parte dessas inovações, devido a sua possibilidade de

acesso móvel, instantâneo e permanente conexão à informação, além de unir a função de

comunicação original com recursos de informação e entretenimento. Toda essa inovação faz

com que o público migre para internet, tornando-a ferramenta quase única de busca de

informação. Hoje a maioria das cidades já está servida pela telefonia móvel e os custos

decrescentes tornaram os dispositivos móveis ainda mais capazes e acessíveis. Junto a isso, o

público tornar-se cada vez mais exigente em relação ao conteúdo encontrado no ciberespaço.

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Artigo submetido na Semana da Comunicação 2013 da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC/Unesp),

campus de Bauru (SP) 481

http://lattes.cnpq.br/5834072445565363 482

http://lattes.cnpq.br/8417343618934636

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Assim, surge a preocupação de uma grande parte dos veículos midiáticos em

conseguir atender a essa nova demanda de informação. Os jornais fazem a passagem de seu

conteúdo informativo para plataformas digitais. Porém, muitos ainda estão no começo desse

processo, e sem muita dedicação acabam apenas por transferirem o conteúdo impresso para

as plataformas digitais, sem adaptá-lo ao novo meio, usando aplicativos complicados e sem

interatividade.

Mas com a crescente tecnologia de hoje, em questão de dispositivos móveis e o

aumento de interesse da população em utilizar esses dispositivos como meio de informação,

os veículos se viram obrigados a repensar o modo de seu jornalismo online. Foi preciso uma

reconfiguração do conteúdo e uma adaptação para os suportes digitais, como o iPad para que

o grande fluxo de informação que temos na internet seja válido. Buscando diferenciar seu

conteúdo, cada jornal desenvolve um aplicativo para iPad, tendo como meta proporcionar

uma agradável leitura online utilizando recursos multimídias que convergem vídeo,

infográfico, animação e texto possibilitando a interação do público com o conteúdo.

Passa-se a aproveitar mais a informação, pois através da convergência midiática o

conteúdo da notícia estará disponível 24 horas por dia, podendo assim, o usuário escolher

quando consumi-la. SALAVERRIA (2008) define o conceito de convergência jornalística

referindo-se a um processo de integração de meios de comunicação tradicionalmente

separado, que afeta as empresas, a tecnologia, os profissionais e o publico em todas as fases

de produção, distribuição e consumo de conteúdos. Essa convergência só foi possível com a

digitalização da mídia e a tecnologia de informação decorrentes da transformação dos meios

de comunicação.

As plataformas móveis representam uma das tecnologias atuais mais promissoras

(Ahonen, 2011) e é a única capaz de replicar todas as potencialidades dos meios de

comunicação anteriores e ainda incorporar oito vantagens exclusivas: ser pessoal, portátil,

estar permanentemente ligada, ter um sistema de pagamento integrado, estar sempre presente

no momento do impulso criativo, permitir a identificação precisa das audiências, capturar o

contexto social na altura do consumo e ainda massificar o conceito de realidade aumentada.

Este conjunto de características torna a mídia móvel uma ótima plataforma para a difusão de

conteúdos jornalísticos, devido à ampla abrangência e aos recursos tecnológicos dos

aparelhos.

O jornalismo digital representa uma revolução no modelo de produção e distribuição

das notícias e, através de recursos multimídia como imagens, animações, áudio e vídeo, estão

ampliando as possibilidades da mídia impressa, além de modificar também a rotina dos

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próprios jornalistas, criando um novo repórter, o denominado mobile journalist e estimular a

participação dos cidadãos na produção da notícia.

Ocorre a hibridização da linguagem no nível verbal, sonoro, visual e interativo. Neste

tipo de mídia, a notícia se apresenta como uma linguagem híbrida, composta por estruturas

textuais diversas, como descritiva, narrativa e dissertativa, porém havendo a integração do

cibernauta no processo de comunicação. Quando comparado com as estruturas de linguagem

do jornalismo impresso, percebe-se que à notícia são inseridas as necessidades dinâmicas dos

processos de comunicação e cultura do tempo e do espaço. Caracterizando-se essencialmente

como uma forma de mídia interativa, os jornais na Internet permitem ao usuário traçar seu

próprio percurso discursivo.

Através desse novo modo de fazer jornalismo foram incorporadas seis características,

encontradas no texto de Marcos Palacios (2003), que o produto jornalístico para plataformas

móveis deve apresentar: acessibilidade, instantaneidade, multimidialidade, hipertextualidade,

interatividade e globalidade. Refere-se à acessibilidade a forma como o veículo de

comunicação explora as novas tecnologias para tornar seu conteúdo acessível para todos os

públicos. A instantaneidade é a capacidade de atualização contínua que antes não era possível

no jornal impresso, a informação não conseguia chegar até os leitores minutos após o

acontecimento, como acontece hoje através da internet. A multimidialidade ou convergência,

que é a capacidade de explorar texto, imagem e som em seu conteúdo jornalístico. A

hipertextualidade, que é a habilidade de ligar as informações através de links, sendo possível

assim, cada um selecionar as informações de seu interesse, criando um consumo pessoal dos

conteúdos, uma personalização. O leitor tem a possibilidade de estabelecer seu próprio fluxo,

em infinitas possibilidades de consumo do conteúdo noticioso. O fluxo de leitura não é

contínuo e o conteúdo não é apresentado com alguma lógica sequencial, fazendo com que a

experiência seja entrecortada, composta por micro-fluxos de leitura, tendo a possibilidade de

retornar a home-page em busca de um novo direcionamento para outros conteúdos. Através

do hipertexto há um rompimento com a linearidade do texto, não há mais a necessidade de

seguir os padrões tradicionais, cronológicos ou convencionais de narração. A interatividade é

a possibilidade de o público construir uma relação com o conteúdo, cria-se a sensação de que

o leitor faz parte da produção da notícia. E por último, a globalidade, que avalia se os

conteúdos criados são pensados de antemão em um mundo plural e sem fronteiras, para que

possa atender os diferentes públicos.

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Além dessas características essenciais, os dispositivos móveis trazem uma nova

característica, a tactilidade, que é a capacidade de interação dos usuários com os aplicativos

através de movimentos dos dedos sobre a tela dos dispositivos sensíveis ao toque.

Os produtores de conteúdo não podem continuar a produzir um produto pelo qual o

publico não demonstra mais interesse. Eles precisam incorporar essas seis características que

são essenciais para se criar um conteúdo digital que vá atrair leitores. Elas precisam ser mais

bem exploradas e incorporadas.

Esse estudo vem abordar a digitalização e convergência dos conteúdos

informacionais, que ainda possui pouco material a seu respeito. Trata-se de um tema bastante

atual e é de grande importância para o novo cenário jornalístico que acaba de surgir. As

tecnologias digitais causaram um imenso impacto na cultura popular, muda-se o modo de

leitura da população e cria-se um novo habito informacional. A chamada ―revolução da

informação‖ é na verdade uma ―revolução no relacionamento‖. Qualquer um que esteja

envolvido hoje com essas tecnologias passa por um redirecionamento nas questões de

relacionamento, tanto os consumidores, produtores de notícia e empresas jornalísticas.

Um importante fator que surge junto a essa nova tecnologia é a competitividade entre

as grandes empresas de comunicação, que perceberam que podem produzir e distribuir

conteúdos online cada vez melhor e distribuí-los gratuitamente, o que acaba por aumentar

seus lucros e atrair cada vez mais leitores e consequentemente, atrair um maior número de

anunciantes que visam atingir grandes públicos.

Esse trabalho apresenta a transição tecnológica e a necessidade de criação de um

espaço empresarial estável no digital, ou seja, que haja produção de conteúdos de raiz digital

e não a digitalização de conteúdos analógicos, ditos tradicionais. A mudança passa pelo

renovar das empresas de media, ao nível da organização do trabalho, estrutura, gestão

financeira, criatividade, etc. Há também, grande importância na distribuição de conteúdo, em

que os donos das redes e agregadores de conteúdos passam a ter capacidade de influenciar os

comportamentos de consumo e de navegação.

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MÉTODOS

Esta pesquisa utiliza a metodologia dos Estudos de Caso tendo como base o texto de

Robert K. Yin (2010). Ela trata da passagem do jornalismo impresso para as plataformas

digitais, o modo como o conteúdo é proposto e distribuído, além das mudanças ocasionadas

pela migração de plataformas.

Serão consideradas como categoria de análise as definições encontradas nos textos de

Bardoel & Deuze (2001) e as seis características abordadas por Marcos Palacios (2003):

multimidialidade/convergência, hipertextualidade, interatividade, memória, personalização,

instantaneidade do acesso/atualização contínua. De acordo com suas definições:

Multimidialidade/convergência Palacios (2003) diz que:

―A convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na

narração do fato jornalístico. A convergência torna-se possível em função do processo de

digitalização da informação e sua posterior circulação e/ou disponibilização em múltiplas

plataformas e suportes, numa situação de agregação e complementaridade‖. (Palacios, 2003,

p.3)

Hipertextualidade: proporciona a personalização do conteúdo. Para Palacios (2003):

―Interconexão de textos através de links

(hiperligações)‖

Interatividade: Para Bardoel e Deuze (2001) ―a notícia online possui a capacidade de

fazer com que o leitor/usuário sinta-se mais diretamente parte do processo jornalístico. Isto

pode acontecer de diversas maneiras: pela troca de e-mails entre leitores e jornalistas, através

da disponibilização da opinião dos leitores, como é feito em sites que abrigam fóruns de

discussões, através de chats com jornalistas, etc‖ (Bardoel & Deuze, 2001, p:5).

Memória: no jornalismo online o conteúdo produzido é armazenado em bases de

dados, podendo assim, o usuário acessar qualquer conteúdo criando seu próprio fluxo de

leitura.

Palacios (1999) argumenta que a acumulação de informações é mais viável técnica e

economicamente na Web do que em outras mídias. Desta maneira, o volume de informação

anteriormente produzida e diretamente disponível ao Utente e ao Produtor da notícia é

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potencialmente muito maior no jornalismo online, o que produz efeitos quanto à produção e

recepção da informação jornalística.

Personalização: A personalização consiste na opção oferecida ao Utente para

configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses individuais. Há sites

noticiosos que permitem a pré-seleção dos assuntos, bem como a sua hierarquização e

escolha de formato de apresentação visual (diagramação). (Palacios, 2002, p. 3-4)

Instantaneidade/ Atualização continua: A rapidez do acesso, combinada com a

facilidade de produção e de disponibilização possibilita o acompanhamento contínuo em

torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse. (Palacios, 2002, p.4)

Essas características foram observadas e coletadas em maio e junho de 2013, através

de uma assinatura do aplicativo para iPad do jornal Folha de São Paulo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados e analisados dois formatos digitais do jornal a Folha de São Paulo,

uma vez que o próprio jornal não faz uma distinção entre eles. Para facilitar a análise e a

redação do texto nomeamos formato A e formato B.

O formato digital A trata-se de um escaneamento da versão impressa, que é

disponibilizado na internet, para acessá-lo é preciso fazer o download da edição de interesse

do leitor o qual demora cerca de 10 minutos em redes de banda larga wi-fi e um tempo ainda

maior na rede 3G. Não possuí conteúdo multimídia nem hipertexto. Possui uma frequência

diária de atualização. A leitura nessa versão se adéqua melhor na posição vertical do

dispositivo móvel. São necessários cinco toques na tela para se chegar à página desejada. A

interface propicia fácil manuseio. Apresenta mobilidade.

Já o formato digital B é mais bem visualizado na posição horizontal do aparelho.

Possui conteúdo multimídia, hipertexto e maior tactilidade. Chega-se ao conteúdo desejado

em apenas três toques. O sistema oferece o aplicativo em forma de pop-up e em seguida já

acessa a página inicial do jornal. O formato não permite personalização. Possuí atualização

contínua. As reportagens são separadas por editorias. A interface é colorida, tendo cada

editoria uma cor. A interface propicia fácil manuseio. Apresenta mobilidade. O aplicativo

disponibiliza os cadernos semanais.

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A partir dessa pesquisa foi possível avaliar as novas características desenvolvidas para

textos de plataformas digitais e compará-las com a leitura de mídias impressas, percebendo

que cada plataforma possui suas características próprias. A leitura do jornal impresso segue

um fluxo de leitura, que se inicia na capa com as principais manchetes daquela edição, e vai

se aprofundando no interior do jornal, seu fluxo segue uma sequencia que foi pensada na hora

da diagramação. Já na leitura online, a partir da homepage o leitor pode criar seus micro-

fluxos próprios de leitura voltando à homepage, seus fluxos não são contínuos e o conteúdo

não possui nenhuma lógica sequencial.

Aplicativo A Aplicativo B

Sim Não Sim Não

Multimidialidade/

Convergência

x x

Hipertextualidade x x

Interatividade x x

Memória x x

Personalização x x

Instantaneidade/

Atualização contínua

x x

Tactilidade x x

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta análise percebe-se a necessidade de existir jornais digitais em meio a

uma sociedade que vive a base das novas tecnologias. Constataram-se as características

principais da interface dos aplicativos: necessidade de maior quantidade de conteúdo

multimídia; inserção de hiperlinks entre as matérias que tratam do mesmo tema ou

apresentam interligação; diminuição do número de toques para acesso ao conteúdo;

compressão de dados para agilizar o carregamento das matérias; pois a velocidade para se

acessar o conteúdo ainda é muito lenta no Brasil se comparada com outros países,

principalmente nas cidades do interior, onde o custo de uma banda larga ainda é considerado

caro e não acessível para toda a sua população. Seriam necessários também, profissionais se

dedicando apenas a essa área, para que se tenha uma atualização constante dos conteúdos e

melhor aprofundamento deles.

Quanto aos aspectos positivos temos: mobilidade e personalização, que é uma das

principais características atrativas desse novo formato.

O tema abordado ainda está no começo de seus estudos, não é um fenômeno

concluído, e, sim, em construção e, no decorrer do tempo vem sofrendo transformações e

aprimorações significativas que vem realizando melhorias na interação entre os usuários e os

sites de notícias. Ainda não é possível concluir se os aplicativos analisados serão realmente

capazes de definir um padrão a ser seguido pelos novos aplicativos noticiosos para tablets, ou

se representarão apenas uma transição entre formatos, portanto ainda é necessário

acompanhar as transformações ao longo dos anos.

REFERÊNCIAS

YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Bookman, 2010.

PALACIOS, M. Jornalismo Online, Informação e Memória: Apontamentos para debate.

VII Congresso Latino-Americano de Ciências da Comunicação, da Associação

Latinoamericana de Pesquisadores em Comunicação (ALAIC). Faculdad de Periodismo y

Comunicación da Universidad Nacional de La Plata, Argentina, 2004.

SALAVERRÍA, R; GARCÍA-AVILÉS, J. A. La convergencia tecnológica en los medios de

comunicación: retos para el periodismo. Trípo- dos, 2008, n. 23, pp. 31-47.

DEUZE, Mark; BARDOEL, Jo. Network journalism: converging competences of media

professionals and professionalism. 2001.