Ação social, revisão gilmara
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1
O que é ação social?
Na visão de Max Weber1, a função do sociólogo é
compreender o sentido das chamadas ações sociais, e fazê-lo
encontrar os nexos casuais que as determinam. Entende-se que
as ações imitativas, nas quais não se confere um sentido para
o agir, não são ditas ações sociais, mas o objeto da
sociologia é uma realidade infinita e para analisá-la é
preciso construir tipos ideais, que não existem de fato, os
tipos ideais servem de modelos e a partir deles a citada
infinidade pode ser resumida em quatro estações fundamentais,
a saber, ação social racional com relações afins, ação social
racional com relação a valores, ação social afetiva e ação
social tradicional2.
Mas os que significam a ações sociais mais além de ser
expressão dos direitos sociais? Como se situam no conjunto da
sociedade? A riqueza social existente, fruto do trabalho
humano, é redistribuída entre os diversos grupos sociais sob
a forma de rendimentos distintos, o salário da classe
trabalhadora, a renda daqueles que detêm o capital, parte da
riqueza socialmente gerada é canalizada para o Estado,
principalmente sob a forma de impostos e taxas pagos por toda
a população. Assim parte do valor criado pela classe
trabalhadora e apropriado pelo Estado e pelas classes1 Max Weber, jurista, economista e sociólogo Alemão. 2 www.brasilescola.com
1
dominantes é redistribuída a população sob a forma de
serviços, entre os quais os serviços assistenciais,
previdenciários ou sociais no sentido amplo. Assim é que tais
serviços nada mais são, na sua realidade substancial, do que
uma forma transfigurada de parcela do valor criado pelos
trabalhadores e apropriado pelos capitalistas e pelo Estado,
que é devolvido a toda a sociedade em especial aos
trabalhadores, que deles mais fazem uso sob a forma
transmatada de serviços sociais. Reafirmando, tais serviços
sociais, públicos ou privados, nada mais são do que a
devolução à classe trabalhadora de parcela mínima do produto
por ela criado, mas não apropriado, sob uma nova roupagem a
de serviços ou benefícios sociais, através da ação social
proposta pelas classes dominantes3.
Quando estudamos com profundidade sobre a história da
ação social nos deparamos em primeiro lugar com a Idade
Antiga onde, observamos que naquela época as pessoas
necessitadas, doentes e idosas eram de total responsabilidade
de suas famílias ou de sua tribo de convívio, sendo assim, as
autoridades não lhes davam qualquer assistência seja na área
da saúde, habitação ou alimentação; na Idade Média marcada
pela formação de uma sociedade feudalista que se fundamentava
pelas posses de terra, a caridade era considerada benefício
para que se pudesse alcançar a salvação, com a crise do
3 IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e serviço social no Brasil p. 98- 992
sistema feudal e as conseqüências por ela gerada, como o
empobrecimento da dieta alimentar da população, falta de mão
de obra, e o surgimento das pestes dá-se inicio a Idade
Moderna na qual era necessário conhecer a natureza para poder
explorá-la, com a formação das pequenas cidades protegidas
por muros forma-se então a burguesia4. Essa expressão passou
a ser usada para designar o grupo que se estabelecia como
força econômica, pois estavam entre os grupos que poderiam
mudar os meios de produção sempre se dedicando às atividades
de comércio no intuito de obter lucro, no choque entre
feudalismo e burguesia, consolida-se o Iluminismo que foi um
movimento intelectual centrado na ciência e na racionalidade
que recusava o dogmatismo que se refere ao conjunto de
preceitos de caráter incontestável segundo a Teologia, com a
chegada da revolução industrial que surgiu no século XVIII na
França, podemos notar que se deu início à passagem do
capitalismo comercial para capitalismo industrial, fazendo
com que as cidades obtivessem um crescimento desordenado e
acelerado onde causou uma onda de conseqüências desastrosas
como a exploração do trabalhador onde crianças e mulheres
eram submetidas a jornadas de trabalhos insalubres e com
4 Cf. Dicionário Aurélio, burguesia s.f, classe social dominante no regimecapitalista, porque seus membros possuem ou dispõem dos meios deprodução.
3
remunerações inferiores a dos homens dentre outras
catastróficas5.
A definição mais aceita de ação social é aquela que a
defende como uma ação que é orientada pelas ações de outros,
isto é, ação social é todo comportamento cuja origem depende
da reação de outras partes envolvidas, essas outras partes
podem ser indivíduos ou grupos, próximos ou distantes,
conhecidos ou desconhecidos por quem realiza a ação6.
A ação social teve suas origens dentro da igreja
católica e visava preparar a grande massa operária para o
capitalismo industrial, período este chamado de conservador.
Dessa forma, o objetivo era preparar essa população para o
sistema socioeconômica político da época, Nesta perspectiva
surge então o serviço social como um departamento da Ação
Social, a ação Social, nascida por influência direta da
igreja católica, em âmbito de formação, prática e discurso de
seus agentes, tinha como suporte filosófico o neotomismo7 da
escolástica medieval8.
5 www.entendedoservicosocial.blogspot.com.br6 www.voluntariosemfronteiras.com.br7 Cf.infopédia, neotomismo, é a tentativa de fazer renascer o tomismo, o
sistema filosófico de São Tomás de Aquino, que considera representar o
ponto mais elevado da escolástica medieval, segundo os neotomistas, o
pensamento de São Tomás de Aquino foi o ponto culminante do saber
filosófico e dai o apelo para a necessidade de a ele retornar.
8www .sociologosp.blogspot.com.br 4
Em sua primeira fase, intervém no aparecimento da
questão social, produzida pela relação de trabalho em moldes
capitalistas, com o surgimento do trabalho livre
profundamente marcado pela escravidão, seu passado recente.
Momento em que a força do trabalho é tornada mercadoria, e o
proprietário do capital não mais é um senhor em particular,
mas há uma classe de capitalistas que capitalizam em torno da
mais valia do trabalho operário, que a troca pelo salário
para sustento de si e de sua família, a exploração a que é
submetido o operariado aparece para o restante da sociedade
burguesa como uma ameaça a seus mais sagrados valores. Impõe
a partir daí, a necessidade de controle social da exploração
da força de trabalho e o surgimento de uma regulação jurídica
do mercado de trabalho através do Estado, dessa forma, as
leis sociais marcam deslocamento da questão social de ser
apenas a contradição entre abençoados e desabençoados pela
fortuna, pobres e ricos, ou entre dominantes e dominados,
para constituir-se, essencialmente, na contradição antagônica
entre burguesia e proletariado, independentemente do pleno
amadurecimento das condições necessárias à sua superação,
então na sociologia, ação social refere-se a qualquer ação
que leva em conta ações ou reações de outros indivíduos e é
modificada baseando-se nesses eventos, o termo ação social
foi introduzido por Max Weber, em sua obra Ensaios de
Sociologia, obra transcrita de seu discurso em um congresso
5
na universidade de Heidelberg, Max Weber foi personagem
influente na política alemã de seu tempo, dando importantes
contribuições a mesma9.
1.1
A origem da ação social no Brasil.
As primeiras instituições ligadas à filantropia e a ação
social no Brasil surgiram com a igreja, possuíam os
inconvenientes típicos dessa relação, tais como o
clientelismo e a troca de favores por lealdade ou vantagens,
devido ao processo de desenvolvimento colonialista imposto ao
país desde o seu descobrimento10.
O surgimento da ação social no Brasil remonta aos
primeiros anos da década de 30, como fruto da iniciativa
particular de vários setores da burguesia, fortemente
respaldados pela igreja católica, e tendo como referencial o
serviço social europeu, evidentemente não pode ser entendido
como uma simples transposição de modelos ou mera importação
de idéias, pois suas origens estão profundamente relacionadas
com o complexo quadro histórico conjuntural que caracterizava
o país naquele momento, a acumulação capitalista deixava de
se fazer através das atividades agrárias e de exportação,
centrando-se no amadurecimento do mercado de trabalho, na
consolidação do pólo industrial e na vinculação da economia
ao mercado mundial, o processo revolucionário em curso no9 www.sociologia.seed.pr.gov.br10www .sapientia.pucsp.br
6
Brasil desde a segunda metade da década de 20 vinha exigindo
uma rápida recomposição do quadro político, social e
econômico nacional11.
O adensamento de tal movimento, especialmente no período
compreendido e seu amadurecimento político eram realidades
inegáveis. A luta pela vida, pela sobrevivência, pelo
trabalho, pela liberdade levava o proletariado a avançar em
seu processo organizativo, o que era visto com muita
apreensão pela burguesia o Estado que despontou na República
Nova foi uma entidade global mítica, acima das classes, mas
considerando-se legítimo defensor de seus interesses e se
auto, atribuindo a missão de resgatar o clima de harmonia
social entre os trabalhadores dos grandes polos industriais12.
Para tanto, buscou o fortalecimento de suas alianças com
a igreja e com os setores mais abastados da burguesia, com os
quais dividiu a tarefa de reescrever a hegemonia do poder ao
restrito âmbito da classe dominante, os movimentos leigos,
que nesse momento já tinham grande expressão no Brasil,
inclusive contando com certa estrutura organizacional, foram
os parceiros acionados pela igreja para atuar com os
operários. Em São Paulo, numa conjugação de esforços da
nascente burguesia e de setores da própria igreja católica
havia sido criado, na esteira do movimento constitucionalista
da década de 30, o centro de estudos e ação social de São11 IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e serviço social no Brasil. p.13312 MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço Social identidade e alienação. p. 121- 122.
7
Paulo, que desempenhou um importante papel no sentido de
qualificar os agentes para a realização da prática social13.
Nesse Centro, como fruto da iniciativa das cônegas de
Santo Agostinho14, no Brasil realizou-se o primeiro curso de
preparo para o exercício da ação social, que, sob a
denominação de curso intensivo de formação social para moças,
foi ministrado pela belga Adèle de Loneux15, da escola
católica de serviço social de Bruxelas, a clientela desse
primeiro curso foi constituída por jovens católicas, algumas
já participantes de atividades assistenciais ou militantes de
movimentos da igreja, e todas pertencentes a famílias da
burguesia paulista, na convulsionada conjuntura histórica
nacional e paulista que caracterizava o quadro político,
social e econômico da época da realização do curso, iniciado
em março do ano de 1932, a burguesia encontrava-se
atemorizada diante dos rumos que vinham tomando os
acontecimentos históricos, e esse, foi o evento que marcou o
primeiro passo da longa caminhada do serviço social no solo
brasileiro, que já se iniciou sob o revelador signo da
aliança com a burguesia e suas intenções de dominar as
classes menos favorecidas16.
13 IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e serviço social no Brasil p. 15714 Cf. Wikipédia, Santo Agostinho, foi um bispo, escritor, teólogo,filósofo, padre latino e doutor da igreja católica.15 Adèle de Loneux, assistente social belga.16 IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e serviço social no Brasil p. 158
8
No plano de discurso oficial, o objetivo se situava na
busca do consenso entre o governo e os diferentes setores da
sociedade civil e, mais ainda, na tentativa de restaurar o
clima de ordem social, tal discurso era recebido com grande
entusiasmo pelos grupos mais conservadores da sociedade, que
viviam em permanente tensão em face dos movimentos políticos
e reivindicatórios que marcavam o cenário social, para
reverter esse quadro, o governo, valendo-se de uma manobra
política, tratou de absorver a pressão da classe trabalhadora
através da criação de organismos normatizadores e
disciplinadores das relações de trabalho, como desdobramentos
dessa iniciativa surgiram o ministério do trabalho, indústria
e comercio, em 1930, e as juntas de conciliação e julgamento
em 193217.
As lutas dos trabalhadores por organismos políticos
autônomos foram praticamente anuladas por um sindicalismo
oficializado, que reduzia o sindicato a uma instância
corporativa de poder, controlada pelo Estado, através de seu
aparato repressor. O ponto culminante desse processo de
radicalização do fechamento político foi o golpe de 10 de
novembro de 1937, através do qual se instaurou o Estado Novo
no país18.
Foi em meio a esse complexo quadro que a ação social
iniciou a trajetória em direção à sua profissionalização no17 www.brasilescola.com18 MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço Social identidade e alienação p. 127- 126
9
Brasil, o interesse marcadamente utilitarista da burguesia e
a ética que lhe dava sustentação tornavam justificada a
atitude da classe dominante de se apropriar dos trabalhos
desenvolvidos pelos filantropos e pelos agentes sociais,
conferindo-lhes uma conotação política e ideológica em termos
de controle e repressão. Através do processo de reificação19,
fortemente impregnado na estrutura da sociedade burguesa,
forjava-se uma perspectiva de pratica social moldada para
responder as exigências do capitalismo20.
Um segundo aspecto a considerar será relativo ao tipo de
população sobre a qual pretende atuar a fundação Leão XIII,
cabe aqui a consideração de que será justamente junto à
população favelada que aparecerá de forma mais chocante a
acumulação de miséria correspondente à grande acumulação de
capital que se realiza em períodos imediatamente anteriores.
Nessas aglomerações habitacionais se concentra uma parcela
importante da superpopulação relativa, isto é, segmentos da
força de trabalho que ultrapassam as necessidades médias de
expansão do capital, ao mesmo tempo produto e condição
necessária de acumulação, vegetando na indigência, as grandes
favelas serão um dos pontos de encontro e aglutinação, nos
grandes centros urbanos industriais, dessa multidão de
miseráveis mantidos na ociosidade forçada em contrapartida ao
trabalho excessivo de outras parcelas da população19 Dicionário Aurélio, reificação s.f, filosofia, transformação em coisa.20 IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e serviço social no Brasil p. 159
10
trabalhadora, desempregados, subempregados, vitimas da
indústria, mutilados, viúvas, órfãos e crianças abandonadas,
aposentados, elementos refugados pelo mercado de trabalho,
seja pela idade, incapacidade de adaptar-se às novas
situações e, ainda, vagabundos, criminosos, prostitutas,
segmentos que caem no banditismo ou lumpesinato21; conjunto
onde é marcante a presença de populações recentemente
expulsas do campo22.
A fundação Leão XIII é vinculada a Secretaria de Estado
de ação social e direitos humanos do estado do Rio de Janeiro
e atua estrategicamente no enfrentamento da pobreza e risco
social, coordenando e executando programas e projetos
sociais, em consonância com a política de assistência social.
Sua atribuição é de atuar como órgão executor das políticas
de assistência social do estado do Rio de Janeiro, exercendo
as funções de assessoramento, gerenciamento, coordenação de
programas e projetos sociais, articulando ou implementando
serviços assistenciais de âmbito regional ou local no que for
necessária, quando constatado não atendimento da demanda
pelos municípios, a ação social no Rio de Janeiro apresenta,
já nesse momento um caráter oficial que aparece
explicitamente no relato do encontro entre governo e estado23.21 Cf. dicionário informal, lumpesinato, é a camada social carente deconsciência politica, constituída pelos operários que vivem na pobrezaextrema.22 IAMAMOTO, Marilda Vilella. Relações sociais e serviço social no Brasil, p. 305-30623 www.leao.rj.gov.br
11
1.2
A relação da ação social com a educação secular.
A escola como um dos principais equipamentos sociais,
tem sido desafiada cotidianamente em articular o conhecimento
que é trabalhado no contexto escolar com a realidade social
do aluno, ou seja, seus problemas e necessidades sociais.
Neste sentido, se tornam essencial e fundamental que a escola
comece a conhecer a realidade social dos seus alunos, podendo
também encurtar a distância que a separa do universo
familiar, ela é a reprodução social das classes, ou seja, é
uma instituição onde se deve elaborar o conhecimento e os
valores sociais dos sujeitos. E mais que isso, a escola deve
ser capaz de preparar os indivíduos para a vida em sociedade,
dá-se nesta perspectiva, a importância do trabalho com grupo
de famílias no contexto escolar, a fim de fortalecer e
encaminhar para a sociedade, não somente as crianças e
adolescentes, como também seus pais. Para que a escola possa
desempenhar o seu papel político, ela deve desenvolver o
senso crítico do aluno, precisando estar em sintonia não só
com a realidade do aluno, como também com a realidade da
comunidade na qual ele se encontra inserida. Deve, assim,
respeitar a realidade social, cultural e econômica dos seus
alunos e partindo dela, a iniciativa de propiciar a
participação da família no processo sócio pedagógico da
escola. Desta maneira, a inserção do serviço social na
12
escola, deve contribuir para que tornem a educação como uma
pratica de inclusão social, de formação da cidadania e
emancipação dos sujeitos sociais. Ambos, tanto a escola como
o serviço social, trabalham diretamente com a educação, com a
consciência, com a oportunidade de possibilitar as pessoas
que se tornem conscientes e sujeitas de sua própria
historia24.
A educação social é um processo de formação humana, ou
hominização, é de natureza social e sofre interferência das
condições existenciais que demarcam os aspectos subjetivos,
culturais, materiais, históricos, entre outros, em que homens
e mulheres se constituem humanos25.
No exercício da prática docente, podemos perceber
algumas dificuldades, por parte de muitas escolas e
educadores, em entenderem os conceitos da diferença e
desigualdade, o professor geralmente confunde diferença com
desigualdade, e o não discernimento entre estes dois
conceitos podem trazer consequências às crianças e jovens,
isto porque a desigualdade é algo construído socialmente o
que de certo modo, acaba produzindo sentimentos de
inferioridade, dessa forma o educador e a escola devem estar
preparados para considerar as características próprias de
24 www.brasilescola.com25 www.senept.cefetmg.br
13
seus alunos e que tais características não podem servir de
condição para possível hierarquia dos indivíduos26.
Pode-se considerar que responsabilidade social e
educação completam-se em uma ação coletiva e mobilizadora, à
medida que valoriza a cidadania, promove a inclusão social e
restaura a civilidade, de forma critica e sustentável com
toda comodidade escolar, com preservação de recursos
ambientais e culturais para futuras gerações, respeito a
diversidade e promoção da redução das desigualdades sociais,
a escola estimula todos os públicos com que se relaciona ao
exercício pleno da cidadania, contribuindo através de uma
gestão participativa e eficaz desenvolver capacidades que se
permitam intervir na sociedade para transformá-la, a
participação e a democratização num sistema público de ensino
é a forma mais prática de formação para a cidadania, neste
sentido, fala-se de planejamento estratégico para as escolas
como um elemento onde todos possam contribuir com suas
ideias, afim de encontrar caminhos e alternativas positivas
para o ensino e ação social27.
A questão social pode ser percebida na educação pela
violação de outros direitos como falta de emprego,
alimentação, habitação, saúde e saneamento básico. A falta de
acesso a esses direitos vai comprometer as relações
familiares e principalmente o rendimento escolar violando26 www.efdeportes.com27 www.eclipsesocial.blogspot.com.br
14
assim mais um direito à educação, e trazendo grandes
dificuldades do aprendizado em todo o seu contexto, levando a
criança a não desenvolver perfeitamente uma estrutura escolar
de base28.
A importância da ação social na vida escolar é de que a
atuação do assistente social na escola pública poderá
contribuir para a ampliação da política educacional, uma vez
que em muitos momentos as questões sociais mais pertinentes
não são trabalhadas pela escola, o impulso inicial que
norteou a reflexão da atuação do assistente social na escola
pública foi a proposição dos projetos de lei nº 3.688 de
200029, que dispõem sobre a introdução de assistente social no
quadro de profissionais da educação, e o projeto de lei nº
837 de julho de 2005, que dispõe sobre a introdução de
assistentes sociais e psicólogos nas escolas. As perspectivas
de avanços do profissional de serviço social no sistema
escolar publicadas foram levantadas o aspecto mais importante
da atuação do assistente social na área educacional, que
ocorreu em duas escolas públicas em que os pais, alunos e
professores se dispuseram a contribuir com a pesquisa.
Salienta-se que tendo em vista que a educação é uma política
pública de direito constitucional, este, portanto, deve ser
garantido não somente com a democratização do acesso do
sujeito à educação, mas, sobretudo à qualidade do ensino, a28www.cress-mg.org.br29 www.mec.gov.br
15
fim de promover o crescimento cultural do individuo enquanto
cidadão, nesse contexto cabe ao profissional, por meio de sua
prática, ampliar e contribuir para a sua garantia30.
Compreender a missão da escola perante as novas
configurações da sociedade torna-se essencial para avaliar
sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e
de suas implicações no processo educativo atual, além disso,
a escola, mergulhada nesse contexto não pode ficar alheia as
transformações sociais e culturais advindas da sociedade31
A prática pedagógica na assistência social representa um
processo de descoberta e tomada de consciência das pessoas
sobre as suas responsabilidades no exercício de direitos e
cumprimento e deveres, e na organização social por novas
conquistas, baseando-se no referencial histórico e cultural
do povo brasileiro, a possibilidade de construir um novo
processo de descoberta e resignificação de ser cidadão e
pertencer a um coletivo32.
A educação também é uma questão social para o assistente
social, ele tem o compromisso com a população em garantir o
acesso aos direitos sociais, sendo a educação um direito, a
ação social tem um campo vasto de possibilidades para
30 www.uel.brq/revistas31 www.ucs.br32 www.fecam.org.br
16
desenvolver um trabalho junto as escolas na relação com
estudantes e suas famílias33.
1.3
Qual a relação da teologia com a ação social?
Na teologia do Evangelho social, tendo suas raízes em
Friedrich Schleiermacher34, considerado cristocêntrico,
visionário pelos racionalistas, e radical para ortodoxos, o
evangelho social sofreu também a influência de Albert
Ritschl35, que ressaltou o conteúdo ético social da teologia.
Como uma das expressões mais características da teologia
liberal norte americana, o evangelho social teve como o seu
maior interprete o pastor batista Walter Rauschembusch36,
professor no Seminário Batista de Rochester, em Nova York, de
1987 até o seu falecimento, embora originasse de meados do
século passado, a teologia do evangelho social, alcançou
maior sucesso nos anos seguintes a primeira Guerra Mundial,
pelo fato de se atribuir às injustiças sociais as causas da
grande conflagração internacional que ceifou milhos de vidas,
Walter Rauschembusch37, filho de um missionário luterano,
junto aos alemães quando pastoreava a segunda igreja batista33 www .cress-mg.org.br34 Friedrich Schleiermacher, pregador em Berlim na igreja da trindade eprofessor de filosofia e teologia em Halle na der Saale, traduziu asobras de Platão para o alemão.35 Albert Ritschl, teólogo e filósofo alemão.36 Walter Rauschenbusch, teólogo batista, que ensinou no Seminário Batistade Rochester, figura chave no movimento do evangelho social norteamericano.37 Idem 36
17
alemã de Nova York, em 1886, impressionou-se com as
deprimentes condições sociais ali existentes38.
A obra mais importante de Walter Rauschenbusch, foi sua
obra social, foi a última que escreveu uma teologia para o
evangelho social, publicada em 1917, embora tenha o cuidado
de evitar qualquer repudio público às crenças doutrinarias
fundamentais do protestantismo, o professora batista liberal
reorientou a teologia, desviando sua atenção dos dogmas a
respeito de realidades sobrenaturais para a ética social. As
categorias principais desta teologia eram o reino do mal, e o
reino de Deus, e a salvação de seres super pessoais39.
No Brasil, que passa agora por uma fase de transformação
como a ocorrida nos Estados Unidos, em fins do século XIX, a
teologia social está presente numa tendência de querer unir a
igreja às massas empregadas contra as outras classes, assim
ensina que a igreja deve assumir um compromisso com os pobres
e que tal compromisso não é uma tarefa a vir depois de uma
revolução, mas que se impõe já, como uma condição de nossa fé
na obra de Jesus Cristo, afirma sua fé nos pobres e nas
possibilidades deles se organizarem e obterem a libertação da
escravidão em que vivem, entende que a igreja tem por missão
denunciar a riqueza geradora de injustiças e protestar contra
ela40.
38 GUIMARÃES, Daniel. Teologia da Libertação. p.10439 www.teologiacontemporanea.com.40 GUIMARÃES, Daniel. Teologia da Libertação. p.105
18
A influência perniciosa e nefasta do liberalismo
teológico do século XX, em particular das teologias do
evangelho social e da libertação, foi um dos fatores que
colaboraram para a polarização entre evangelização e a ação
social no meio evangélico. O esforço de se combater a
teologia do evangelho social e depois a teologia da
libertação, por causa da ênfase social à parte do evangelho
bíblico e de uma filosofia marxista, principalmente desta
última, provocou um mal-estar na igreja brasileira,
resultado, no afã de se preservar o espiritual, a igreja
acabou se equivocando e não enxergou à mensagem social
autêntica que o mesmo evangelho oferecia-se, de um lado as
teologias liberais mencionadas cometeram o pecado do social
sem espiritualidade, a igreja evangélica brasileira, por
outro lado, pecou na espiritualidade sem encarnação, contudo,
há de se admitir que, por sua vez, tanto o evangelho social
quanto a teologia da libertação provocaram uma reação
positiva na igreja, a igreja foi levada a refletir seus
valores, dando uma reviravolta considerável nessa história
toda, hoje em dia, boa parte das igrejas brasileiras está
envolvida em trabalhos sociais, e sem qualquer preocupação de
ser rotulada e perseguida por isso, como ocorria em tempos
atrás41.
41www.joaoweslley1.blogspot.com19
A discussão a respeito de uma determinada igreja local
pregar o evangelho ou fazer ação social não é algo novo,
basta estudar a história da igreja, para encontrar momentos
em que a igreja ora tendia mais para evangelização, ora, para
a ação social, não é difícil entender que o homem está
separado de Deus, e que o homem está separado do próximo não
é novidade, pois ele consegue tirar a vida do outro, seja
como agressão física ou psicológica, pode-se entender também
que o homem esta separado da natureza, extraindo somente da
mesma, matéria prima e alimentação para seu próprio
sustento42.
Jesus Cristo não saiu apenas pregando, impondo seus
pensamentos, além de pregar ele praticou e pregou, teologia
necessita de ação e prática, para que sua pregação desse
resultado, ele formou uma comunidade que colocou em prática
uma ética com base na justiça, na verdade no amor, no perdão,
na misericórdia, Jesus Cristo tinha e tem amor para oferecer,
ele curava, ensinava e salvava, dava o pão porque amava, ele
valorizava mais as pessoas do que as coisas, Jesus Cristo não
organizou nenhum exército para derrubar o Império Romano, não
saiu roubando pão para distribuir aos pobres, não saiu
vendendo saúde ou curando, somente aqueles que aceitassem a
sua mensagem, sua teologia era da prática social, estar
42 www.teologiabrasileira.com.br20
sempre próximo ao povo e oferecer seu melhor, em todo o
tempo43.
A prática teológica de Jesus Cristo simplesmente era de
entregar o Reino dos céus como projeto de salvação para o
homens e suas questões morais, pessoais e sociais, a fim de
colocar Deus como o centro da mensagem de salvação para o
homem, salvação de vida de transformação de outra maneira de
olhar para o ser humano como um todo44.
Inicialmente, é bom notar que o cristão valoriza o ser
humano por inteiro na unidade de suas dimensões, está
antropologia45 integral assume o ser humano enquanto corpo,
enquanto ser comunitário e social, bem como na sua dimensão
espiritual, cultivar essas dimensões é crescer na vida de
maneira integral e amadurecida, criam-se vazios existenciais
facilmente preenchidos por esquemas enganosos de
compensações, tais como o consumismo, o sexo banalizado, a
droga e, algumas vezes, o próprio suicídio46.
A ação social analisada considerando-se a influência
religiosa em seu surgimento através da convocação da igreja à
sociedade, para o desenvolvimento da ação social, da prática
da ajuda, do exercício da caridade e da solidariedade,
destaca-se, portanto, a influência católica e protestante e a
43 www.teologiadet.com.br44 www.filosofante.org45 Cf. dicionário Houaiss, antropologia é uma ciência que se dedica aoestudo aprofundado do ser humano. 46 www.niloagostini.com.br
21
filosofia em sua origem, por conseguinte, hoje a ação social,
trabalha as questões sociais visando à efetivação da
cidadania e a garantia de direitos aos cidadãos47.
Os puritanos48 tem sua base moral e teológica para a ação
social cristã. No lado moral os mesmos estavam convencidos de
que os cristãos são responsáveis por aqueles em necessidade,
sua ação social estava arraigada na consciência moral cristã,
a verdadeira moralidade, ou a ética cristã é o amor a Deus e
ao homem, incitado pelo espirito de Jesus Cristo pela fé, e
exercido nas obras de piedade, justiça, caridade e
temperança, servir ou beneficiar os outros é um dever que
pertence a todos os homens, amor a Deus não pode subsistir
sem esta caridade pelo próximo nem o pode qualquer verdadeira
religião, houve também um lado teológico do envolvimento
social puritano, em contraste com as perspectivas católicas
das boas obras como algo que ajuda a assegurar a salvação, os
puritanos acreditavam que o novo nascimento resulta em
preocupação social, a piedade genuína produz boas obras, que
são atos de gratidão e não mérito49.
João Calvino50, bem como os outros reformadores, deu
atenção aos problemas sociais de sua época, talvez por ser da
47 www.tede.est.edu.br48 Cf. dicionário Houaiss, puritano, é aquele que é puro, integro e seguede maneira integral a Bíblia.49 www.superandoasheresias.blogspot.com.br50 Cf. portal Mackenzie, João Calvino foi um teólogo cristão francês, JoãoCalvino teve uma influência muito grande durante a reforma protestante.
22
segunda geração de reformadores, este tinha uma visão mais
ampla e amadurecidas sobre o assunto, esforçou-se para
entender qual deveria ser o papel da igreja cristã na
reconstrução de uma sociedade justa que refletisse a vontade
de Deus em termos de justiça social essa questão
essencialmente teológica era extremamente aguda para os
reformadores, particularmente pelo fato de viverem numa época
e numa situação de grandes problemas sociais, não é de
admirar-se que, frequentemente trata de questões relacionadas
com a responsabilidade social da igreja e do Estado51.
Não somente hoje, mas por diversas fases da história a
teologia tem se esquivado da sua responsabilidade social
remetendo a tarefa social diretamente para a igreja bem como
aos leigos que exercem sua fé por meio dela, Em se tratando
de igrejas protestantes hoje, o que se pode observar é que a
função social está ligada a áreas isoladas das igrejas como,
campanha de agasalhos, alimentação a carentes, casas de
recuperação a dependentes químicos, se for mantido o foco
neste prisma o que se verá é que pouco tem se feito frente a
tantos problemas que são enfrentados diariamente, porém pode-
se reconhecer os esforços dessas pessoas que sê dispõe a
trabalhar para a melhoria do meio onde vivem, acredita-se que
a teologia esta longe de exercer um papel sólido frente a
sociedade, pois o que se pode observar que o hoje é o retrato
51 www.ministeriorazaoefe.webnode.com.br23
do evangelho capitalizado, o que torna a sociedade mais
suficiente e menos fraternal, existe problemas sociais que a
teologia poderia atuar com maior eficácia, como a reforma
agrária, assentamentos de sem terra, vale a pena olhar para
os exemplos bíblicos, divisão justa de terra, perdão de
dividas, partilha, igualdade, solidariedade, amparo a viúvas
e órfãos, e a distribuição incondicional do amor de Deus,
entre os outros, ou seja na bíblia a teologia tem sua função
social bem definida e se colocada em prática será uma
teologia atuante em todo o mundo52
2.
A prática de ação social segundo algumas linhas
denominacionais.
O significado e o lugar da ação social no meio Metodista
usa como fonte o metodismo histórico como fonte de reflexão
para definir o significado e o lugar da ação social, é visto
que a ação social deve ser vista não como algo a parte, não
usado como verdadeiro marketing em meio a tantas opções
religiosas, ou mercado religioso, usando-se os termos e
lógicas da sociedade de consumo capitalista do presente
século, do qual não se deve tomar a forma, tendo como fonte o
referencial posto à ação social faz parte do cerne da igreja
Metodista, do seu centro irradiando e doando sentido, e
significa para essa prática como igreja manifestando a real
52 www.ejesus.com.br24
vocação histórica dos metodistas, que é o exercício da
relação de serviço amoroso ao mundo e ao próximo, externando
assim em frutos aprazíveis a Deus e aos homens que se está no
caminho da perfeição cristã53.
A principal característica da Igreja Luterana é
acreditar que a salvação vem apenas pela fé e não com
resultados de obras e boas ações, mas isso não impede a forte
ação social, a juventude evangélica luterana do Brasil, vem
trabalhando com grande desenvoltura na área de ação e serviço
social, prestando atendimento as comunidades, beneficiando
através de reformas, alimentação, saúde e educação54.
A Assembleia de Deus tem como objetivo da ação social
cristã, proporcionar as pessoas e comunidades condições de
vida mais condignas, o suprimento básico das carências
humanas fundamentais no plano material, como, moradia,
alimentação, saúde, educação e trabalho, quanto à sua
amplitude de atuação, a ação social pode ir desde o
atendimento de necessidades emergenciais, muitas vezes
chamados por assistencialismo, até aquela atuação mais ampla,
que visa resolver os problemas de modo permanente, embora as
condições sociais e culturais de hoje sejam, como já foi
dito, radicalmente diferente, a ação social continua sendo um
importante negócio mesmo, não quando o foco ou o objetivo são
interesseiros, como alias, se vê muito no mudo de hoje,53 www.1re.metodista.org.br54 www.jelb.org.br
25
especialmente na má política partidária, ou não, está se
falando sim, de ação quando as reais necessidades do próximo
são supridas e cuja motivação real seja unicamente o amor não
fingido55.
Os Adventistas do sétimo dia creem na ação social como
uma maneira de demonstrar a religião de forma prática na
comunidade, compreende, ainda que a Bíblia Sagrada da forte
ênfase no trabalho social como parte integrante da
transformação de vida que Jesus Cristo ensinou às pessoas que
desenvolvessem, na saúde, alimentação, educação e meio
ambiente, a rede de educação adventista tem por princípio
preservar o meio ambiente como uma resposta à gratidão pela
criação de Deus, nesse contexto estudantes são motivados a
estudar sobre preservação ambiental em sala de aula e a
realizar ações como plantio de árvores, reciclagem,
distribuição de sementes à comunidade, entre outras
atividades, o projeto tem como uma das principais datas a
semana mundial do meio ambiente no mês de junho56.
A comunidade evangélica Jesus vive, tem como finalidade
a partir de seus membros e do ministério de ação social
ajudar a cumprir o desejo de Jesus Cristo, atendendo
solidariamente as necessidades daqueles que procuram a
igreja, de maneira a tornar a mensagem extremamente simples,
externada através de gestos de amor, além dos atendimentos55 www.assembleiadedeus.org.br56 www.adventistas.org
26
sociais que realiza na igreja, promove outros projetos
sociais específicos para atendimento de famílias, como cestas
da solidariedade, que são assistidas recebendo além de cesta
básica, atendimento dentário, encaminhamento para exames e
compra de medicamentos, encaminhamento para empregos, pessoas
com problemas de dependências químicas são encaminhadas para
a casa de dependência sinal de vida-associação de apoio ao
dependente químico, instituição filantrópica57que mantém
parceria, alem de outras obras na área de educação e
socialização dos pacientes recuperados da dependência
química58.
2.1
As pastorais da igreja católica.
A pastoral e a ação da igreja católica no mundo ou
conjunto de atividades pelas quais a igreja realiza a sua
missão, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres,
para que todos tenham vida, rumo ao reino definitivo, a
palavra pastoral deriva de pastor, palavra recorrente na
Bíblia, as pastorais tem organização própria e se articulam
para realizar a chamada pastoral de conjunto, a partir de
objetivos e prioridades comuns, que pode se conhecer no plano
regional de pastoral, em âmbito regional, contam com o apoio
dos bispos, que se dividem, para acompanhar pessoalmente cada
57 Cf. dicionário Houaiss, tem origem grega e significa, amigo do serhumano, amor a humanidade, caridade58 www.cejv.org.br
27
organização, neste contexto são chamados os bispos
referenciais, as pastorais atuam diretamente em áreas
especificas como juventude, família, vocações, nas questões,
agrária e indígena, por exemplo, as pessoas que atuam nestas
organizações, em geral, leigos voluntários, são chamados
agentes de pastoral, desde as comunidades locais até
instâncias de coordenação regionais e nacionais, doam parte
do seu tempo para ajudar na ação evangelizadora da igreja de
maneira organizada e sistemática, estes agentes podem estar
em ambientes eclesiais cultivando as vocações sacerdotais, em
áreas de risco na defesa da vida e dos direitos humanos e
diversos outros locais59.
Pastoral é toda a ação da igreja, fundamentada na ação
de Jesus, com vista à implantação do Reino de Deus, a
pastoral exercida pela igreja tem como finalidade concretizar
a mensagem da boa nova, seja nas estruturas sociais, seja no
testemunho diário e constante, pelo qual somos chamados a ser
sal e luz do mundo, a pastoral consiste em atualizar para o
nosso tempo as atitudes de Jesus como bom pastor, a boa
organização pastoral é fundamental para vivencia comunitária,
o aprofundamento e a perseverança na fé, os organismos vivos
da organização pastoral devem ser voltados para as exigências
da ação evangelizadora do serviço, dialogo, anuncio e
59www.institucional.cnbbsul4.org.br28
testemunho, com base no amor fraternal de Jesus Cristo e sua
obra pela humanidade60.
2.1.1
A pastoral da criança.
A pastoral da criança é um organismo da conferencia
nacional de bispos do Brasil, alicerça sua atuação na
organização da comunidade e na capacitação de lideres
voluntários que ali vivem e assumem sua tarefa de orientar e
acompanhar as famílias vizinhas em ações básicas de saúde,
educação, nutrição e cidadania tendo como objetivo o
desenvolvimento integral das crianças promovendo, em função
delas, também suas famílias e comunidades, sem distinção de
raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou
político. Sua visão é de trabalhar por um mundo sem mortes
materno-infantis evitáveis e onde todas as crianças, mesmo as
mais vulneráveis, viverão num ambiente favorável ao seu
desenvolvimento. A missão da pastoral da criança é promover o
desenvolvimento das crianças, à luz da evangélica opção
preferencial pelos pobres, do ventre materno aos seis anos,
contribuindo para que suas famílias e comunidades realizem
sua própria transformação, por meio de orientações, básicas
de saúde, nutrição, educação e cidadania, fundamentadas na
mística cristã que une fé e vida. Seus valores e crenças são,
que a gloria de Deus é a vida, vivenciar a fé, por meio de
60 www.catedraldeguarulhos.org.br29
ações concretas na comunidade, Deus se revela
preferencialmente aos pobres, partilha e solidariedade,
adesão a missão da pastoral da criança, ética, transparência,
honestidade, justiça e equidade, compromisso com os
resultados, perseverança, valorização das crianças, gestantes
e das famílias, alegria em servir, multiplicar o saber, ir ao
encontro e busca proximidade. A Pastoral foi fundada em 1983,
na cidade de Florestópolis, Paraná, pela Doutora Zilda Arns
Neumann61 e pelo então Arcebispo de Londrina, hoje cardeal
emérito, Dom Geraldo Majella Agnelo62, a pastoral hoje se faz
presente em todo o território brasileiro e em outros vinte e
um países, fazendo um trabalho e resocialização e
desenvolvimento de famílias e cidades destes países, para o
capacitação social e cultural, dando-lhes liberdade social e
educacional63.
2.1.2
A pastoral do idoso
A pastoral da pessoa idosa tem por objetivo assegurar a
dignidade e a valorização integral das pessoas idosas,
através da promoção humana e espiritual, respeitando seus
direitos, num processo educativo de formação continuada
destas, de suas famílias e de suas comunidades, sem distinção
61 Zilda Arns Neumann, Médica Sanitarista e pediatra.62 Dom Geraldo Majella Agnelo, Cardeal brasileiro, Arcebispo Emérito daArquidiocese de São Salvador na Bahia.63www.pastoraldacriança.org.br
30
de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso
ou político, para que as famílias e as comunidades possam
conviver respeitosamente com as pessoas idosas, protagonistas
de sua auto-realização, por meio das seguintes atividades,
promover o desenvolvimento físico, mental, social,
espiritual, cognitivo e cultural dos idosos; promover o
respeito à dignidade e a valorização das pessoas idosas,
colaborando para a divulgação e implementação do estatuto do
idoso de Lei de nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003.
Promover o convívio das pessoas idosas com as demais
gerações, estimulando uma velhice ativa e buscando uma
longevidade digna; estimular e respeitar a espiritualidade
das pessoas idosas, valorizar a historia de vida, as
experiências, o ser biográfico, a sabedoria adquirida ao
longo da vida de cada pessoa idosa, respeitando-a como
guardiã da memória coletiva; capacitar agentes de pastoral
para acompanhamento das pessoas idosas na visita domiciliares
e nas outras atividades complementares afins; organizar redes
de solidariedade humana nas comunidades e nos diferentes
níveis pra promover o bem estar dos idosos; incentivar a
criação e participação nos conselhos de direitos do idoso em
todos os níveis; realizar parcerias, somando esforços com
outras pastorais, comunidade cientifica, associações de
geriatria e gerontologia, organizações de defesa dos direitos
dos idosos, de assistência social e outras entidades afins;
31
democratizar noticias e informações sobre os idosos nos meios
de comunicação social, promover esclarecimentos sobre os
preconceitos contra as pessoas idosas, a fim de que sejam
superados, e valorizar a vida até sua fase final, apoiando os
programas de cuidados paliativos, que assegurem o caráter
espiritual da existência humana, assim como seu meio de
sobrevivência através de programas que atendam na área da
alimentação, saneamento básico, saúde e educação, valorizando
o ser como um todo64
2.1.3
A pastoral do meio ambiente.
O planeta Terra não passa de um grão de areia na
imensidão do universo, mas é um grão de areia habitado, onde
pulsa um coração vivo e vibrante. Nele, o ciclo da vida se
reproduz há bilhões de anos. É o único planeta conhecido onde
a vida viceja exuberante. A mulher e o homem são chamados a
habitar esta grande casa, a manter viva a sinfonia da
criação, a cuidar, respeitar e conviver com a variedade e
pluralidade das formas de vida, o ser humano foi colocado
neste planeta como em um jardim do qual deve cuidar, o
cuidado é uma maneira de viverem diferentes das relações de
domínio e de mercado, pela ganância, multidões adoecem e
sobrevivem na indigência, à humanidade, com seu ritmo de
devastação, está consumindo mais do que o planeta pode
64www.pastoraldapessoaidosa.org.br32
oferecer, isso significa que demos início a um processo de
autodestruição, o desafio agora é refazer a sinfonia
universal, o respeito para com a criação é respeito ao
Criador, cuidar do planeta não é um slogan, mas um dever da
nossa fé e um dever para com a vida, por isso, a Pastoral da
Ecologia quer envolver, em primeiro lugar, as comunidades
católicas num processo de conscientização acerca da
necessidade de um engajamento na defesa do ecossistema, nada
acontece sem uma mudança de mentalidade, proporcionando uma
maior sensibilidade, a pastoral quer promover ações concretas
de cidadania e educação ambiental, lutando por políticas
públicas eficazes de preservação, cuidado, responsabilidade.
A partir da segunda metade do século XX, o mundo foi marcado
por um impulso desenvolvimentista, porém, foi o século que
causou o aquecimento global descontrolado, colocando em risco
a sobrevivência do planeta, o desafio para o século XXI e
para o terceiro milênio é buscar desenvolvimento com
sustentabilidade, é uma tarefa que responsabiliza a todos;
por isso, a Pastoral Ecológica é ecumênica em sua essência,
reunindo pessoas de boa vontade das diversas religiões,
dispostas a lutar pela causa comum da preservação e engajadas
no sonho de ter um mundo mais humano e habitável, nessa
perspectiva não se olha para doutrina, denominação ou linha
teológica de pensamento, se não o defender o sistema
33
ambiental do planeta, para que haja sustentabilidade para
todas as pessoas65.
A Igreja, através das pastorais, presta serviço de
caráter evangelizador, as pastorais sociais enfrentam as
questões ligadas à justiça, à dignidade humana, à defesa da
vida, ora, no início do Terceiro Milênio, a Igreja se abre à
imperiosa e urgente tarefa de salvar o planeta da destruição,
fruto de um sistema político-econômico que privilegia o lucro
e o consumo desenfreados, as grandes cidades enfrentam o
problema da poluição do ar, da impermeabilização do solo, da
contaminação das águas, a morte dos rios e mananciais, a
destruição da fauna e da flora, a falta de áreas verdes, a
falta de cuidado da população que joga lixo em qualquer
lugar, o início do ano de 2004 foi marcado por grandes
enchentes, e o término, com a triste tragédia do Tsunami, é
resposta da natureza, devolvendo aos seres humanos a agressão
que eles lhe fizeram, o ano de 2005 foi de furacões,
enchentes, destruições e mortes nos Estados Unidos e da
inimaginável grande seca no Amazonas66.
A pastoral da Ecologia, ou pastoral do Meio Ambiente,
comporta uma reflexão, a partir da Sagrada Escritura, sobre o
sentido e da beleza da criação, obra de Deus, o livro do
Gênesis narra que Deus, ao criar o Universo e a Pessoa
humana, viu que tudo era muito bom, foi a partir desta65www.arquidiocesesp.org.br66www.arquidiocesesp.org.br
34
reflexão que, no início de 2003, nasceu a pastoral da
Ecologia da Arquidiocese de São Paulo. As reflexões, os
apelos do próprio Meio Ambiente, as Campanhas da Fraternidade
com seus temas pertinentes e os documentos da Igreja muito
contribuíram para que a Pastoral da Ecologia pudesse ir se
formando, lembramos, em 2004, a Campanha da Fraternidade com
o tema Água, fonte de vida, e, em 2007, mais uma contribuição
valiosa da campanha da Fraternidade: Fraternidade e Amazônia,
vida e missão neste chão. Os princípios teológicos que regem
a pastoral do Meio Ambiente são a vida é o maior dom de Deus
a ser defendido, significa reconhecer e manter o kosmos67, a
harmonia entre Criador, criatura humana e seres criados, ar,
água, animas e plantas, tudo que a pessoa humana cria, o
resultado do progresso e da técnica, por exemplo, deve estar
a serviço do bem comum; isto é, a serviço de todos os seres
humanos e da preservação ambiental68.
2.2
A missão integral da Igreja Batista
O pastor e professor João Batista Cavalcante69
estabeleceu alguns princípios básicos da teologia da missão
integral, segundo o mesmo, a teologia da missão integral
67 Kosmos, do grego antigo, ordem, organização, harmonia, é um termo quedesigna o universo em seu conjunto, toda a estrutura universal em suatotalidade.68www.arquidiocesepr.org.br69 João cavalcante, Teólogo, pastor, escritor da teologia da missãointegral
35
aborda questões, antropológicas, o homem é mais do que alma,
eclesiológicas, teologia e missão se fazem com corpo
coletivo, e não individualmente e por ultimo cristolólicas,
não cremos em um universalismo soteriológico, mas cremos na
universalidade do Reino de Deus. Falando sobre o sofrimento,
o pastor afirma que a teologia cristã entende que o problema
humano inclui as diversas dimensões de sofrimento, incluindo
de modo especial o problema do pecado, missão integral
significa anunciar Jesus e a salvação, e ter compaixão diante
de todo sofrimento humano70.
Ariovaldo Ramos71 diz que a missão integral esta
relacionada com a expressão e vivencia da fé em Jesus Cristo
por parte da igreja, de uma forma não dividida e em todos os
aspectos da vida, missão integral não é somente uma questão
de que o evangelismo e o envolvimento social devam ser feitos
concomitantemente. Ao invés disso, na missão integral a nossa
proclamação tem conseqüências sociais ao motivarmos as
pessoas a amarem e se arrependerem em todas as áreas da vida,
o nosso envolvimento social tem conseqüências evangelísticas
ao testemunharmos a graça transformadora de Jesus Cristo. A
missão integral aparece nos atos mais corriqueiros e nos mais
sublimes, e ela aparece inclusive, naqueles sublimes que nós
tornamos corriqueiros, como a gravidez em como a capacidade
70 http://renas.org.br71 Ariovaldo Ramos, Pastor, teólogo batista, autor de vários livros
voltados para a missão integral da igreja.36
de uma mulher de carregar no seu ventre um sinal de
esperança. A missão integral aparece em todos os atos de
Deus, é isso que o pastor Ariovaldo Ramos afirma, que a
missão integral é estar em missão com Deus, é estar
integralmente envolvido na recuperação de toda a criação e de
todos os relacionamentos, dentro da sociedade e para com
Deus, integrando o homem como um ser completo em todas as
áreas de sua vida, dentro de um relacionamento em sociedade e
espiritual de interação mutua, para lidar com as questões
sócias, econômicas e espirituais do cotidiano72.
O evangelho todo, para o homem todo, para todos os
homens do pacto de Lausanne73, o paradigma da missão integral,
o movimento da missão integral, ou teologia da missão
integral, que vem dar sustentação aos trabalhos dessa linha
de pensamento74.
Popularizado após o congresso internacional de
evangelização mundial realizado em Lausanne, Suíça em 1974,
ganhou as ruas no Brasil somente depois que o pacto de
Lausanne foi publicado em português, dez anos após a sua
elaboração, desde então a expressão missão integral ficou
restrita ao debate a respeito da relação entre evangelização
72 http://ceifeirosemchamas.net.br73 Cf Wikipédia, pacto de Lausanne, é um documento produzido durante umcongresso na Suíça em 1974, que contou com 2.700 participantes, vindos dediferentes regiões do planeta, marco que moldou mais de uma geração delideres da igreja de vários continentes.74 www.teologiaemissao.org.br
37
e responsabilidade social, e chegou aos nossos dias tão
reduzidos que qualquer igreja que tem uma creche acredita
estar fazendo missão integral, evidentemente isto é uma
distorção do conceito em seus termos originais, até porque o
pacto de Lausanne é uma síntese de muitos outros documentos e
de um riquíssimo debate teológico, pastoral e missionário que
ocorreu na América Latina, inclusive anos antes de Lausanne,
como por exemplo, no primeiro congresso latino americano de
evangelização, em Bogotá, 1969 e no surgimento da
fraternidade de teólogos latino americanos, em Cochabamba,
197075.
Ed Rene Kivitz76 entende que uma reflexão a respeito do
conceito mais fundamental da teologia ou movimento da missão
integral, expresso no tema central do Pacto de Lausanne, a
saber, o evangelho todo para o homem todo, nos levará muito
além das fronteiras definidas pela relação evangelização e
responsabilidade social. O paradigma do evangelho integral
para quebrar o paradigma missão integral igual evangelização,
mais responsabilidade social, proponho a substituição do
termo missão integral por evangelho integral. Por evangelho
integral quer dizer o evangelho como lente para leitura da
vida em sua totalidade, o evangelho aplicado a todas as
dimensões do humano, o evangelho aplicado a todas as
75 www.Ibab.org.br76 Ed Rene Kivitz, Bacharel em teologia, bacharel em filosofia, pastor
batista.38
dimensões da vida, o evangelho aplicado a todas as dimensões
das relações humanas, o evangelho aplicado a todas as
dimensões da vida em sociedade, o evangelho que afeta todas
as dimensões da vida em sociedade77.
A ausência de unicidade presenciada entre grupos e
lideranças que parecem pender mais para a religião que para a
essência da graça proporcionada por Jesus Cristo, por meio do
perdão dos pecados, estão mais preocupados com preceitos
religiosos que com a autenticidade do serviço cristão, uma
coisa é ser religioso fiel e outra é ser cristão autêntico
altamente informado de seu papel e de seu compromisso com
Deus e com os Homens, nesse sentido a igreja-religião pouco
difere do sistema de liderança secular geralmente praticado
nas culturas humanas tradicionais78.
Ariovaldo Ramos79 diz que, cada ser humano passa a ser
valorizado pelo que tem, não pelo que é, o ser não importa,
mas sim as conquistas, na cidade só a espaço para vencedores,
sempre reconhecidos por suas posses e vitórias na área
econômica e financeira e jamais por seu caráter, sua
filantropia ou qualidade afins. Pode-se dizer que a cidade
tende a despersonalizar as pessoas80.
77 http://edrenekivitz.com78 SOAREZ Battista, A igreja cidadã. p. 31-3279 80 RAMOS, Ariovaldo. A ação da igreja na cidade. p. 15
39
Ed Rene Kivitz, diz que o evangelho de Jesus nos oferece
vida em todas as dimensões, o ser humano é ao mesmo tempo
físico e espiritual mental e psicoemocional, pessoal e
social, e por ser integral, experimenta a vida e a morte em
todas as dimensões sua existência, por isso a salvação que
Cristo oferece é também integra. Entre os teólogos da missão
integral, costuma-se dizer que, corpo sem alma é defunto;
alma sem corpo é fantasma, Jesus não veio para defuntos e nem
para fantasmas, Jesus veio para o ser humano integral, veio
nos dar vida plena, aqui e agora, na historia e neste mundo,
no céu e na eternidade81.
Ao voltar à atenção inicialmente para as Igrejas
Protestantes Históricas, verificamos que sua atuação na área
assistencial nas primeiras décadas do século XX se dava por
iniciativas de membros das igrejas, como visitas a hospitais,
asilos e presídios com a finalidade de levar a palavra de
Deus. No que se refere às atividades organizadas e
sistematizadas que contavam com o apoio e incentivo da
administração da igreja, estas se voltaram majoritariamente
para a educação formal, cuja finalidade consistia em expandir
a mensagem evangélica ao maior número possível de pessoas,
mas, principalmente, conquistar e garantir legitimidade em
81 KIVITZ, Ed René. Talmidim o passo a passo de Jesus. p.36940
uma sociedade na qual predominavam os ideais e os valores
católicos apostólicos romanos82.
Escolas e colégios para crianças e adolescentes, assim
como universidades para os jovens, foram criados nos
principais centros urbanos brasileiros. Também há que se
destacar a criação de hospitais para atendimento à população
em diversas cidades, supondo-se que também com a finalidade
de garantir maior espaço público e legitimidade social, já
que a atenção à saúde era, e ainda é de interesse de todos,
independentemente de classe social e confissão religiosa.
Contudo, a partir da segunda metade do século XX, teólogos e
intelectuais dessas igrejas voltaram seus olhos para as coisas
do mundo, isto é, os problemas sociais. Esse novo olhar para
as necessidades sociais de homens e mulheres exigiu a
elaboração de uma teologia que avaliasse e compreendesse as
condições materiais e espirituais da sociedade, dando origem
à denominada Teologia da Missão Integral da Igreja, cujo
propósito era a atenção à evangelização e à ação social83.
Para a maioria dos evangélicos, a missão da igreja tem
como base a grande comissão segundo o evangelho de Mateus.
Portanto, a missão é fundamentalmente o cumprimento de um
mandato que Cristo deu a seus discípulos e que, antes de
tudo, tem a ver com a pregação do evangelho a todas as nações
82 www.Anpuh.org.br83 www.Anpuh.org.br
41
da terra. A grande comissão segundo o evangelho de Mateus
desempenhou um papel preponderante na obra missionária no
século passado, já no final do século XVIII, William Carey84
em seu tratado sobre a obrigação que os cristãos tem de usar
meios para a conversão dos pagãos, havia apelado a essa
passagem para fomentar o espírito missionário nas igrejas.
Com esse antecedente, o mandato evangelístico de Cristo
chegou a ocupar um lugar central nas diferentes sociedades
missionárias que surgiram na Inglaterra e nos Estados
Unidos85.
Há três respostas distintas que qualquer igreja pode dar
à sua cidade, a resposta que essa igreja escolher decidirá se
está desempenhará um papel importante na revitalização dos
pobres, se proporcionará ações sociais nascidas de sua
generosidade ou se simplesmente ignorará os necessitados ao
seu redor, quais são essas três respostas que serão boas
novas libertadoras ou repressão sufocante para os pobres e
marginalizados da cidade? A primeira é a de que pode ignorar
a cidade e as necessidades das pessoas ao seu redor,
centralizando seus esforços em preservar sua própria vida,
pode ver a si mesma como a salvadora da comunidade, a segunda
é a de que pode oferecer serviços sociais e fazer boas obras
84 William Carey foi um ministro evangelista batista missionário inglêsconhecido como o pai das missões modernas, foi um dos fundadores dasociedade batista missionária de Londres, na Inglaterra.85 RENE Padilla C. O que é missão integral? p.31
42
para e pela gente da cidade, pode ver a si mesma como a
salvadora da comunidade86.
No trabalho comunitário é essencial que se tenha um
equilíbrio saudável no exercício do ministério, no que diz
respeito à questão da espiritualidade, vida com Deus, unção,
direção e capacitação sobrenatural, por um lado, é a questão
das boas obras, por outro, é comum pendermos perigosamente
para um lado ou para o outro, em contextos em que há pessoas
envolvidas com a ação social na igreja é comum observarmos a
área de vida com Deus e direção do Espírito negligenciada em
prol de programas e projetos tecnicamente bem delineados, em
muitos casos, ignora-se que o desenvolvimento comunitário é
uma das mais efetivas armas de batalha espiritual, à medida
que aproxima as pessoas das intenções que Deus tem para
elas87.
Devemos salvar a alma dos homens ou a sociedade? Os
teólogos colocam-na em termos mais obscuros, devemos
trabalhar para a transformação do individuo ou para a
transformação das estruturas sociais? Estas perguntas estão
erradas, pois decorre do conceito grego da humanidade,
expresso na dicotomia88entre corpo e espírito89.
86 LINTHICUM, Robert C. Revitalizando a igreja: como desenvolver sua igreja para umministério urbano efetivo p. 72-7587 CUNHA, Mauricio José Silva. O reino entre nós – transformação de comunidade peloevangelho integral p.9888 Cf .Dicionário online de português, Dicotomia, é a divisão de umelemento em duas partes. 89 GRIGG, Viv, Servos entre os povos. p. 131
43
A visão hebraica não reconhece tal dicotomia, não dá
para escolher entre salvar almas ou salvar corpos, entre o
espiritual e o político, quando se vê pessoas morando ao lado
de um terreno coberto de lixo e infestado de ratos, isto
aconteceu nas Filipinas90.
A missão integral tinha ambições maiores, queria
deflagrar um movimento comprometido com uma teologia
holística; buscava diferenciar-se dos demais evangélicos pelo
anglicismo91 evangelical por acreditar não haver separação
entre o anúncio do evangelho e as ações sociais da missão da
igreja. Pareceu viável que evangélicos também partilhassem
das contestações democráticas que enfrentavam regimes
totalitários espalhados pela América Latina, a missão
integral significava para muitos a possibilidade de a igreja
participar na construção de sociedades mais justas e
solidarias92.
Uma igreja que atua somente em Jerusalém e se esquece
dos demais lugares está fora da vontade de Deus, por outro
lado, uma igreja que pensa somente nos confins da terra e se
esquece de sua Jerusalém, também esta fora da vontade de
Deus, o mesmo quer ser glorificado em toda a terra, no meio
90 GRIGG, Viv, Servos entre os povos. p. 13191Cf. Dicionário online português, anglicismo, são palavras provenientesdo inglês que se utiliza em português, seja devido à necessidade dedesignar objetos ou fenômenos novos, para quais não existe designaçãoadequada.92 GONDIM, Ricardo. Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica. p. 66
44
de todas as nações, parece que a igreja perdeu essa visão
bíblica deve-se agir com seus propósitos e mandamentos, a
igrejas e pastores medíocres na visão de Reino de Deus para
os homens.93
Glorificar a Deus, edificar o corpo de Jesus Cristo e
alcançar o mundo, vivenciando relacionamentos comprometidos e
saudáveis, de acordo com a sua missão, a igreja tem como
objetivo servir a Jesus Cristo, único cabeça e guia, de
acordo com a sua palavra, única regra de fé e prática, no
cumprimento e edificação de seus membros, a missão integral
da igreja é realizada no templo, nos lares, nas missões e em
outros recintos apropriados à adoração, proclamação,
comunhão, edificação e instrução cristã, a missão integral da
igreja é desenvolvida através de atividades eclesiásticas e
da vida diária de seus membros94
Já que a missão integral seria uma teologia com foco na
missão, na ação da igreja, em diálogo com as ciências humanas
e sociais, o papel do jovem é muito importante, em primeiro
lugar porque muitos jovens cristãos cursam faculdades na área
das ciências humanas e sociais, o papel do jovem é muito
importante, em segundo lugar porque têm sido os jovens os
grandes impulsionadores da causa de evangelização por meio de
muitas agencias e instituições, os resultados dessa discussão
93 QUEIROZ, Edison. A igreja local e missões, incluindo uma estratégia missionária para aigreja local. p. 9394 www.pibpenha.org.br
45
são projetos, sonhos, ações pontuais e sistemáticas que visam
implantar a lógica da missão integral nas igrejas95.
Para que a igreja possa dar alguma contribuição à
sociedade, é preciso atentar para o seu contexto imediato e
apontar perspectivas para esta sociedade, buscando
convergências que possam de alguma maneira contribuir para o
bem comum, tendo sempre o evangelho de Jesus Cristo como
foco, neste sentido, é preciso ler o tempo presente com
lentes adequadas procurando apontar caminhos para uma
pastoral que olhe para além dos muros institucionais de uma
denominação, uma dessas lentes é a pastoral urbana,
contextualizada na missão integral batista, a pastoral urbana
procura dar conta da enorme dificuldade que a igreja tem em
compreender a sua dimensão urbana e sua missão nas cidades
brasileiras com os seus problemas diversos e seus desafios
holísticos, a igreja tem demonstrado certas articulações com
a sociedade no sentido de enxergar aqueles que estão de fora
dela96.
2.3
A ação social do movimento neopentecostal
Com o propósito de superar precárias condições de
existência, organizar a vida, encontrar sentido, alento e
esperança diante de situação tão desesperadora, os estratos
mais pobres, mais sofridos, mais escuros e menos95 www.juberj.com.br96 www.revistatheos.com.br
46
escolarizados da população, isto é, os mais marginalizados,
distantes do catolicismo oficial, alheios e sindicatos,
desconfiados de partidos e abandonados à própria sorte pelos
poderes públicos, têm optado voluntária e preferencialmente
pelas igrejas pentecostais97.
Nas igrejas protestantes clássicas, a teologia da missão
integral é muito popular, talvez só percam para a teologia
reformada, os batistas, metodistas e clássicos independentes
são os mais entusiastas da missão integral, o presbiteriano é
claro, da teologia reformada, os pentecostais, teoricamente
seriam conservadores, resistentes a ação social e ignorante
no assunto, há quem defina o pentecostalismo como grupo
alienado, sentido sociológico do termo, preso a politicagem e
longe da urgência da ação social, é perigoso generalizar os
pentecostais, a teologia dispensacionalista do tipo o mundo
vai de mal a pior, não ajuda na ideia de transformação
social, a ação social dos pentecostais é uma realidade, no
Brasil, não há grupo religioso mais próximo dos pobres do que
os pentecostais há grandes trabalhos de casas de apoio,
creches, cestas básicas, sopões e outras atividades
desempenhadas por pentecostais por todo país, é a ação social
coletiva98.
As mudanças no comportamento das igrejas neopentecostais
em face dos problemas sociais que se apresentam no cotidiano97 MARIANO, Ricardo. Neo Pentecostais, sociologia do pentecostalismo no Brasil. p. 1298 www.teologiapentecostal.com
47
de homens e mulheres, com isso, os pastores e fiéis têm sido
levados a adotar ações que vão além de uma resposta na esfera
espiritual ou de ações com ênfase em iniciativas individuais
em situações como fome, desemprego, uso e dependência de
entorpecentes químicos, mas esse maior envolvimento com os
problemas sociais não vêm de longa data99.
Uma segunda resposta foram as práticas sociais e a
criação de instituições com este fim principalmente voltadas
para crianças e adolescentes, pessoas em situação de extrema
pobreza e usuários de entorpecentes químicos, chama a atenção
o fato que essas ações passaram a ganhar visibilidade após a
publicação de um documento no qual as igrejas evangélicas
deveriam se comprometer com as questões sociais que se
apresentavam na realidade daquele momento o denominado pacto
de Lausanne100.
3.
A ação social cristã na era pós-moderna.
Os teólogos apenas analisam a situação social, política
e econômica do nosso mundo contemporâneo e apenas constatam a
existência dessa luta de classes que é sempre deplorada por
eles, nenhum teólogo da libertação achará o Evangelho
classista no sentido sociológico moderno, por outro lado,
estariam cegos se não percebessem no evangelho a clara
99 www.uel.br100 www.sbsociologia.com.br
48
condenação dos ricos e a mais clara ainda opção pelos
pobres101, este é o entendimento na visão da teologia da
libertação, para Jaci Maraschin102,
Uma das consequências da pós-modernidade foi à
secularização, a modernidade colocou a técnica no lugar de
Deus, colocou suas esperanças na educação do ser humano,
chegou a confundir, muitas vezes, capacitação técnica com
educação, basta analisar algumas das características mais
fortes da pós-modernidade, o colapso das crenças, a busca do
exótico, a descrença das instituições, as igrejas e
denominações mais institucionalizadas são mais afetadas, a
necessidade de escandalizar, um estilo de vida hedonista103,
individualista e narcisista104, a perda do sentido de
história, as pessoas vivem em função de eventos e não de um
projeto de vida, assim não existe mais valores cristãos para
com o próximo, para com o envolvimento social e as suas ações
sociais, Jesus falou a linguagem dos pobres, as bem-
aventuranças e o sermão do monte não faziam sentido para os
ricos de seu tempo, como acontece hoje com a maioria dos
cristãos de classe média do século XX105.
101 MARASCHIN, Jaci. A teologia da libertação torna-se adulta. p.7102 Jaci Maraschin, Teólogo e filósofo da estética.103 Cf. Dicionário informal: hedonista, indivíduo que prioriza o prazer ea supressão da dor como objetivo de vida.104Cf. Dicionário informal: Narcisista, individuo que nutre amor excessivoa si mesmo, a sua imagem.105 www.bibliapage.com/moderno.html
49
Jorge Pinheiro106, diz que é interessante notar que os
analistas sociais estão tomando o fator religioso como um dos
componentes fundamentais da reorganização social, Samuel P.
Huntington107 diz que o choque intracivilizacional de ideias
políticas está sendo substituído por um choque
intracivilizacional de cultura e religião, Manuel Castells
Oliván108 diz que para os atores sociais excluídos ou que
tenham oferecido resistência à individualização da
identidade, relacionadas à vida nas redes globais de riqueza
e poder, as comunas culturais de cunho religioso, nacional ou
territorial parecem ser a principal alternativa para a
construção de significados em nossa sociedade.109
Justiça começa como sinônimo de bem estar e respeito à
vida, reconhecendo e dando visibilidade aos seres humanos que
não existem para os padrões da sociedade de consumo, para
esse tipo de sociedade, aqueles que não apresentam poder de
compra não têm existência, o compromisso com a justiça é mais
que dar voz às petições e necessidades dos menos favorecidos,
é estar com eles e auxiliá-los na construção de caminhos que
conduzam a dignidade como seres humanos, não se trata de
estabelecer participação social e transformação pelas vias
106 Jorge Pinheiro, Teólogo, mestre e doutorado em ciências da religiãopela Umesp.107 Samuel P. Huntington, Economista estadunidense, escritor do livro Choque deCivilizações. 108 Manuel Castells Oliván, Sociólogo espanhol lecionou na universidade de paris entre1967 e 1979109 PINHEIRO, Jorge. Teologia e Modernidade p. 176-177
50
atuais de poder, tampouco não será colocado cristãos em
posição de autoridade político-partidária que vamos alcançar
maior justiça, a justiça será realidade, sobretudo, se a
transformação atingir as próprias estruturas do poder.110
As interpretações teológicas da modernidade se dividem
em duas correntes principais, de um lado a valorização da
concordância entre a consciência de liberdade na época
moderna, determinada pela reforma protestante, e a orientação
da teologia cristã conforme ao espírito do cristianismo, no
meio encontramos a procura de um equilíbrio entre a
manutenção da tradição e uma renovação pratica guiada pelas
mudanças da consciência universal, para Georg Wilhelm
Friedrich Hegel111, o principio da época nova é a doutrina da
liberdade, característica do reino do espírito que começou
com a reforma112
A grande tentação da teologia, para Etienne Higuet113,
sempre foi de a de ser uma teoria da ação social e política,
ela mudou seu discurso porque percebeu que o modo como estava
propondo a ação social e política não funcionou diante do que
o mundo tem vivido114.
110 OLIVEIRA, Mesquiati. Missão cultural e transformação, desafios para a práticamissionária comunicativa.p.106111 Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Filósofo alemão, Hegel foi um doscriadores do idealismo alemão e naturalmente da gênese do que é chamadode hegelianismo.112 HIGUET, Etienne A. Teologia e modernidade. p. 17113 Etienne Higuet, Teólogo Belga114 DOS SANTOS, Jorge pinheiro, Teologia e Modernidade. p. 195
51
É verdade que o cristianismo tem mais afinidades com
determinadas formas de organização social, na modernidade
encontra-se a ética da solidariedade que leva o cristianismo
a ter uma postura critica diante da ordem social, que se
apoia na opressão e na exclusão, a ética da solidariedade a
critica da ordem social que esta erigida sobre o egoísmo
político e econômico e proclama a necessidade de uma ordem na
qual o sentido de comunidade seja o fundamento da organização
social, a ética da solidariedade denuncia o capitalismo
selvagem da globalização e dos governos que capitulam a tais
propósitos, que levam à expropriação de muitos em benefícios
de poucos, e propõe uma economia solidaria onde a alegria não
seja fruto do ganho, mas do próprio trabalho, e condena o
egoísmo de classe, onde cada qual procura enriquecer através
da exploração de seu próximo115
3.1
Assistencialismo é pratica social cristã?
O assistente social é um profissional que tem como
objeto de trabalho a questão social com suas diversas
expressões, formulando e implementando propostas para seu
enfrentamento, por meio das políticas sociais, públicas,
empresariais, religiosas, de organizações da sociedade civil
e movimentos sociais, cabe ressaltar, que nesse momento a
questão social e assistencialista é vista a partir de forte
115 DOS SANTOS, Jorge Pinheiro, Deus é brasileiro, as brasilidades e o reino de Deus. p. 7352
influência do pensamento social da igreja, que a trata como
questão moral, como um conjunto de problemas sob a
responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam,
embora situados dentro de relações capitalistas, trata-se de
um enfoque individualista, psicológico e moralizador da
questão, que necessita para seu enfrentamento de uma
pedagogia psicossocial, que encontrará no serviço social
efetivas possibilidades de desenvolvimento116.
No trabalho comunitário é essencial ter um equilíbrio
saudável no exercício do ministério, no que diz respeito à
questão da espiritualidade, vida com Deus, unção, direção e
capacidade sobrenatural, por um lado, é a questão das boas
obras, por outro é comum olhar perigosamente para um lado ou
para o outro, em contextos em que há pessoas envolvidas com o
serviço social, na igreja é comum observarmos a área de vida
com Deus e direção do Espírito Santo, negligenciada em prol
de programas e projetos tecnicamente bem delineados, em
muitos casos, ignora-se que o desenvolvimento comunitário é
uma das mais efetivas armas de batalha espiritual, à medida
que aproxima as pessoas das intenções que Deus tem pra elas,
como resultados veem pessoas despreparadas e com um fraco
entendimento da relevância de uma espiritualidade forte e
116 www.books.scielo.org53
saudável para exercer esse tipo de ministério de assistência
social117.
O objetivo da ação social cristã é proporcionar às
pessoas e comunidades condições de vida mais condignas, o
suprimento básico das carências humanas fundamentais no plano
material, moradia, alimentação, saúde, educação e trabalho,
quanto à sua amplitude de atuação, a ação social poder ir
desde o atendimento de necessidades emergenciais, muitas
vezes chamados de assistencialismo, até aquela atuação mais
ampla que visa resolver os problemas de modo mais permanente
e profundo, um exemplo disso seria não somente fornecer
alimento para uma pessoa ou família, mas proporcionar-lhe
meios de educação, capacitação profissional e oportunidade de
trabalho para que ele mesmo possa ganhar o seu sustento,
libertando-se da dependência externa118.
Ao definir ação social é importante destacar que há
outros termos que são constantemente confundidos, como sendo
sinônima, a assistência social e serviço, tem definições
próprias e não podem ser confundidos ao conceito essencial de
ação social, estes três termos podem ser explicados como, a
assistência é dar um peixe a alguém, serviço social é
ensinar-lhe a pescar e ação social é despoluir o rio para que
nunca faltem peixes para a pescaria, no que tange a
117 CUNHA, Mauricio José Silva. O reino entre nós- transformação decomunidades pelo evangelho integral.118 www.mackenzie.br
54
assistência social, temos a filantropia, a beneficência,
objetivando atender as necessidades imediatas dos seres
humanos, a igreja de Cristo tem feito isso ao longo da
história, temos o exercito da salvação, mostrando sua ênfase
no assistencialismo, ao avaliar a situação assistencial
prestada pela igreja hoje, notará que no passado havia mais
ênfase à essa tarefa, questões teológicas envolvendo o
conceito de salvação, talvez tenham feito pender para o
extremismo de não se realizar boas obras, já que elas não são
fundamentais para a salvação, Isaltino Gomes Coelho Filho119,
apresenta um estudo contextualizado da epistola de Tiago,
mostrando que a Igreja de Cristo precisa apresentar as obras
como uma prova de sua fé, como consequência do que se crê e
do que se vive, no meio batista nos dias atuais.120
“Parem com o barulho de suas canções religiosas; não quero maisouvir a musica de harpas, em vez disso, quero que haja tantajustiça como as águas de uma enchente e que a honestidade seja comoum rio que não para de correr. Amós 5.23121
O serviço cristão em qualquer das suas formas deve ser
entendido pelos crentes como uma autêntica vocação divina,
como uma preciosa contribuição dos desígnios de Deus no
mundo, o leigo cristão não precisa entrar para o ministério a
fim de obedecer ao chamado de Cristo para a ação, o aspecto
do testemunho cristão que poderia ser definido como ação119 Isaltino Gomes Coelho Filho, Bacharel em Teologia, pastor batista,escritor do jornal batista.120 www.opbbcarioca.com.br121 Bíblia Shedd
55
social, deveria inserir-se no contexto de experiência do
crente, exercido com a mesma naturalidade com que se espera
que ele cumpra as suas demais responsabilidades sociais no
reino de Deus, a ação social cristã é, pois, uma tarefa para
todos122.
Foi o educador Paulo Reglus Neves Freire123, quem trouxe
um significado para a palavra empoderamento, Paulo Reglus
Neves Freire, diz que implica, conquista avanço e superação
por parte daquele que se empodera, e não uma simples doação
ou transferência por benevolência, a estas variáveis, deve-se
somar uma mudança de atitude que impulsione as pessoas,
grupos ou instituições para a ação prática, metódica e
sistemática, no sentido dos objetivos e metas traçadas,
abandonando-se a antiga postura meramente reativa ou
receptiva124.
O evangelho assistencialista que está arraigado à
teologia da prosperidade, ou por um evangelho triunfalista
vivido nas américas, cuja qual está apegada aos bens
materiais, ainda mais apegada ao bem estar total do fiel125.
3.2
A barganha como moeda do evangelismo.
122 www.redecslatina.org.br123 Paulo Reglus Neves Freire, educador e filósofo, é patrono da educaçãobrasileira, considerado um dos pensadores mais notáveis da história dapedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogiacrítica.124 www.paulofreire.org125 www.ensaioscristaos.wordpress.com
56
Segundo o Evangelho de Mateus, os seguidores de Jesus
são chamados para uma lei maior, lei esta que convoca a se
envolverem compassivamente com o pobre e o necessitado,
conforme esta escrito em Mateus 6.1-4.126
“Quando fizerem o bem, tenham o cuidado para que seu gesto não virepeça de teatro, pode até ser um bom espetáculo, mais Deus não vaiaplaudir, quando for ajudar alguém, não chame atenção para vocêmesmo, você já viu gente assim em ação, tenho certeza, eu os chamoatores, eles vão orar nas esquinas como se elas fossem palcos,atuando para o público, interpretando para as multidões, elesrecebem aplausos, sim, mas é tudo que conseguirão, quando vocêajudar alguém, não pense na impressão que vai causar, apenas ajude,com simplicidade e discrição, é assim que Deus, que o criou comtodo amor, faz, ele age nos bastidores para ajudar você”127.
Exercendo uma vida de oração intercessória,
comprometendo-se com a formação espiritual pessoal, e
mantendo um espírito moderado e oculto, os seguidores de
Jesus Cristo decidem não ter poder, prestigio, posses, ou a
defesa de seu próprio grupo, por eles viverem baseados na lei
maior de Jesus Cristo que substitui até mesmo a lei dos
escribas128 e fariseus129, sendo seus ensinamentos maiores do
que a própria lei.130
126 LINTCHICUM, Robert, C. Revitalizando a igreja, como desenvolver sua igreja para umministério urbano efetivo. p.20127 Bíblia a Mensagem, Bíblia na linguagem contemporânea.128 ESCRIBAS, secretario, judeu versado na Torá, eram burocratas antigosde um sistema de escrita para melhorar a administração, tinham funçãopública, o sacerdote, que era escriba ou mestre era conhecido com pai.129 FARISEUS, significa separados, partido religioso hebreu, surgiu porvolta do século II antes de Cristo, a liderança farisaica, obteverepresentação no Sinédrio, o supremo tribunal e na assembleia legislativados judeus em Jerusalém, acreditavam na ressureição.130 LINTCHICUM, Robert, C. Revitalizando a igreja, como desenvolver sua igreja para umministério urbano efetivo. p.20
57
“Um Homem era segundo o coração de Deus, quando era para os outros,o que era para Deus, e era para Deus o que era para os outros. E mais, quando vivia sem a compulsão de expropriar o próximo pela simples razão de desejá-lo. Quando buscava justiça, independentemente das interpretações dos demais, e o fazia conformea certeza da fé que carregava em seu coração, pois, não tinha barganhas a fazer”131
Um dos maiores erros dos defensores da teologia da
prosperidade é orientar seus seguidores a barganharem com
Deus, como se uma oferta ou um dízimo fosse o suficiente para
que Deus se tornasse nosso devedor, muitos têm tratado estas
e demais contribuições como investimentos como toma-lá-dá-cá,
como se Deus se prendesse a gestos feitos pelos homens, Deus
tem compromisso com a sua palavra, portanto nada disso é
previsto nas escrituras como um laço que obrigue Deus a
enriquecer quem quer que seja, na verdade nossas
contribuições financeiras, sejam elas dízimos ou ofertas, são
um reconhecimento de que já fomos abençoados por Deus132.
A dicotomia133 entre o que se diz e o que se faz são
tão predominantes na igreja e na sociedade que se acaba
realmente acreditando-se nessas ilusões e racionalizações, e
agarrando-as ao peito como um brinquedo favorito, na adoração
de domingo como em toda a existência finge-se acreditar que
todos são pecadores, consequentemente tudo que se pode fazer
131 Reverendo, Caio Fabio, www.caiofabio.net132 www.luloure.blogspot.com.br133 Cf. dicionário Houaiss, dicotomia significa, é a divisão de umelemento em duas partes, em geral contrarias, como a noite e o dia, o beme o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno.
58
é acreditar que todos foram perdoados, como resultado toda
vida espiritual é pseudo-arrependimento e pseudo-bem-
aventurança, projetamos no Senhor nosso padrão mensurado de
aceitação, ele nos amará se formos bons, éticos e diligentes,
mas troca-se as bolas, tenta-se viver de modo a que ele ame,
em vez de viver porque ele nos amou de tal maneira que nos
deu o seu único filho, para que por ele fossemos salvos e
também assim levar essa salvação ao próximo, e fazer os
mesmos entenderem que existe o perdão e o arrependimento e
assim serem livres do pecado134.
O evangelismo de hoje reduz as boas novas a uma
liquidação do tipo, venha e compre o que quiser, fazendo de
tudo para tirar todos os ossos, tudo que poderia ofender
alguém, ou fazer algum hesitar ou adiar sua decisão, às vezes
a ansiedade para ver as conversões, para então publicar
quantos foram salvos na ultima campanha, é oferecida a
salvação como um comércio, você entrega a Jesus Cristo o seu
pecado, e Ele te dará a vida eterna em troca, a salvação é um
dom, não pode-se conquistar, comprar, ou dar qualquer coisa
em troca por ela.135
O entendimento da obrigatoriedade da
reorganização, aproximando-se da secularização religiosa leva
a inúmeras denominações a prometerem, de forma bastante
convincente, a satisfação dessas demandas, isso favorece para134 MANNING, Brennan, O Evangelho maltrapilho p.69135 www.solascriptura-tt.org
59
que a decisão dos candidatos à conversão, na maioria das
vezes, parta da percepção de que a situação mesmo parecendo
muito ruim, as vezes até insuportável, não deve ser
eternizada na resignação religiosa, pois o mercado da
religião está a oferecer inúmeras possibilidades de
mudanças136.
É exatamente nesta hora que surge o chamado nicho137·,
para os representantes da fé, lançando mão de diversos
estímulos mercadológicos e publicitários, portadores de
argumentação convincente e de retóricas especificas os porta-
vozes de Deus, cria no consumidor em potencial, um desejo
inquietante de experimentar um algo novo que se proponha a
solucionar o seu problema, no conjunto de desejos e promessas
de realização, cabe ao marketing138, a criação, o planejamento e
o desenvolvimento de estratégias que levem os indivíduos,
ávidos pela satisfação de suas necessidades, a buscarem na
religião a realização do seu sonho de consumo, quando se
pensa em sonho de consumo, é muito comum se associar um
planejamento de marketing voltado apenas para bens tangíveis
ou no máximo para prestação de serviços, entretanto no
136 www.encipecom.metodista.br137 Cf. Dicionário Houaiss, é a porção especifica de um mercado,geralmente uma parte pequena, com necessidades e hábitos específicos, comconsumidores exigentes.138 Cf. Dicionário Houaiss, Marketing, em inglês significa, mercado, emsentido estrito, é o conjunto de técnicas e métodos destinados aodesenvolvimento das vendas, mediante quatro possibilidades, preço,distribuição, comunicação e produto.
60
religioso o processo não é diferente, um fiel nunca compra um
produto seja ele tangível ou intangível, ele compra de fato a
satisfação de um desejo, e se o desejo permeia toda a
essência humana, com certeza, a esfera espiritual não fica
excluída139.
Este evangelho da barganha, o qual não é evangelho mas
uma perversão, é terrível, por muitos motivos, primeiro
porque torna o sangue de Jesus Cristo um produto vendável e
rentável, um suco de uva em pó, algo dispensável, diluído e
barateado, o sujeito consumidor que não o deseja, pode
simplesmente optar por outro produto, posto que no mercado
existem outras opções mais atrativas, como, sabonetes,
toalhas, rosas, novenas, ritos, campanhas, tudo se traduz em
produtos que tornam o milagre em benção e proteção, uma
possibilidade sem a necessidade do eterno sangue do Cordeiro,
outro motivo é a suplantação e rejeição da maravilhosa graça,
no sistema de troca com Deus, a graça é doutrina envelhecida,
não a verdade do coração, deste modo, o padrão de
comportamento é a insensatez, sendo assim a graça é para os
fracos, uma vez que os que optam pelo poder da barganha optam
pela teologia da retribuição do mérito, ou seja, ele merece
porque é santo, porque paga mensalmente ao poder fiscal
celestial seus dízimos140 e ofertas, porque não é como139 www.metodistadosul.edu.br140 Cf. dicionário bíblico Templus, o dízimoo foi instituído pelo reiSalomão para sustentar seu aparato oficial, o dizimo era sobre oscereais, animais e sobre a produção de vinho, no judaísmo o dízimo era
61
publicanos141 pecadores e assim por diante, barganhar com Deus
não traz benefícios, não traz benção e afasta os homens de
Deus, por causa do coração voltado as riquezas e prazeres
deste mundo142.
3.3
O evento da multiplicação dos pães e peixes como ação
social.
O peixe foi um dos símbolos do cristianismo, o
peixe era alimento básico entre o judeu, embora tenha sido
duas vezes objeto de milagre, e assim como o pão tornou-se
símbolo de Jesus Cristo, assim também o peixe pode ser
lembrado como provisão de Deus, uma vez que o peixe era o
alimento essencial, a profissão de pescador era comum, o
Senhor Jesus Cristo usou a figura do pescador e da pesca para
exemplificar o discipulado e a abrangência do Reino de Deus,
os ministros de Deus são chamados pescadores, porquanto
procuram conquistar os homens para Jesus Cristo e para o
reino, o peixe tornou-se o mais famoso acróstico143 da
antiguidade e de toda história, sem duvida foi criado pelos
primitivos cristãos144.
para o sacerdotado.141 Cf. dicionário bíblico Templus, publicano, cobrador de rendimentospúblicos entre os romanos, havia duas espécies de recebedores detributos, os recebedores gerais e os seus delegados em cada província.142 www.ibcpalmeiras.com.br143 Cf. dicionário Houaiss, além de poesia, pode ser uma forma deconceituar um significado para cada uma de suas letras.144 www.pastoradaocarvalho.blogspot.com.br
62
Além de ser o símbolo mais conhecido, esse foi também o
mais perigoso em toda a história, a pratica do cristianismo
só se tornou totalmente liberada no inicio do século IV,
durante o primeiro século da era cristã, os cristãos foram
perseguidos e presos, muitos deles faleceram nas arenas
romanas, lutando contra leões, a associação de qualquer
cidadão romano com esse símbolo, sinal secreto de adesão a
doutrina cristã, bastava para que ele se tornasse uma vitima
da intolerância religiosa do estado romano145.
Como simbolizar a ressurreição, através de algo que
expresse a vida, e não se conhece melhor símbolo do que o
pão, alimento universal, é encontrado em quase todos os
povos, seja feito de trigo, milho, mandioca, centeio, cevada
ou qualquer outro grão ou tubérculo. 146
“Ora quando o dia começava a declinar, aproximando-se os doze,disseram-lhe, despede a multidão, para que, indos às aldeias e aossítios em redor se hospedem, e achem o que comer; porque aquiestamos sem lugar deserto. Mas ele lhes disse. Daí-lhes vós decomer. Responderam eles: não temos senão cinco pães e dois peixes;salvo se nós formos comprar comida para todo este povo. Pois eramcerca de cinco mil homens. Então disse a seus discípulos: fazei-osreclinar-se em grupos de cerca de cinquenta cada um. Assim ofizeram, mandando que todos se reclinassem. E, tomando Jesus oscinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, os abençoou epartiu, e os entregava aos seus discípulos para os porem diante damultidão. Todos, pois, comeram e se fartaram; e foram levantados,do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços, Lucas 9. 12-17”147.
145 www.antoniocarlos.misoesamando.com146 www.oglobo.com/rio147 Bíblia do discípulo.
63
O gesto de abençoar não é o causador do milagre da
multiplicação dos pães e dos peixes, sua causa está antes no
disponibilizar o ainda pouco para todos, a benção é como o
aval ou a aceitação de Deus àquele gesto, temos pouco, mas o
que temos é colocado em comum, Deus abençoa ao que dá com
alegria, ao que disponibiliza o mínimo que tem para ajudar o
outro, e faz multiplicar o que aos olhos humanos parece
pouco, por fim, o resultado que reflete o convite de Jesus à
partilha do que se tem, se tudo é colocado em comum e a
serviço de todos, se terá sempre a abundância, note-se que a
multidão é saciada e ainda há sobra, portanto, abundância!148
Cinco mil homens, mais mulheres e crianças, já três dias
famintos, necessitam-se duzentos denários149o ordenado de um
ano de um operário e, no deserto, mais André150atentamente, há
cinco pães e dois peixes, mas para que servirá está miséria,
é o mesmo problema dos dias atuais, a desproporção, qual
seria então a solução dispersar a multidão faminta? Jesus
Cristo prefere alimentar a multidão151.
Nas periferias152, as pessoas têm fome e sede de tudo,
inclusive do evangelho, elas têm fome e sede do saber, do148 www.amaivos.uol.com.br149 Cf. Denário, moeda de prata usada pelos romanos durante os períodos daRepública e do Império, circulou pela primeira vez por volta de 269 A.C,desapareceram de circulação no século III150Cf. dicionário bíblico Templus, André, irmão de Pedro, pescador deBetsaida, discípulo de João Batista, discípulo de Jesus. 151 www.padrealbertohurtado.cl152 Cf. dicionário Houaiss, periferia significa, o que fica nos arredores,nas circunjacências de algum lugar.
64
conhecer, do comer, do beber, do vestir, do calçar, enfim
fome e sede de justiça, como bem enfatizou o Senhor Jesus
Cristo no sermão do monte, a igreja de Jesus Cristo tem
condições de executar essas tarefas, na arrecadação de
fundos, com finalidade de construírem-se oficinas de
aprendizagem ou clinicas de atendimento médico para pessoas
realmente carentes153.
Jesus Cristo mostrou compaixão pelos necessitados,
operou milagres, alimentou multidões, sempre apresentando o
Reino de Deus, Jesus Cristo desejava uma comunidade forte
espiritualmente e também alimentada, uma comunidade que
apresenta condições satisfatórias de nutrir-se da fonte
inesgotável de alimentação que é o Senhor Jesus Cristo,
afinal Jesus Cristo é o pão que mata a fome dos famintos.154
A fome de uma comunidade não deve restringir-se somente
à pregação da palavra, deve ainda nutrir-se da comunhão, do
amor, do partir do pão e do trabalho para com o semelhante, a
solidariedade faz parte da igreja, que se alimenta do pão da
vida, no sermão do monte Jesus Cristo ensina que existe o
momento do repartir a palavra, repartir o evangelho, mas a o
momento de repartir e alimentar o próximo, o sermão do monte
norteia a direção que seus discípulos têm de tomar, ensinar
da palavra de Deus, pregar o reino, mas também ter um
153 SOAREZ Battista. A igreja cidadã, p.258154 www.slideshare.net/joelmanhaes
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envolvimento pessoal, para com o próximo e suas questões
sociais155.
Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos, a generosidade
e a hospitalidade, deu atenção a todos e beneficiou a muitos,
Jesus Cristo, mexeu com o ego da sociedade ao multiplicar os
pães e peixes, ensinou a seus discípulos a doação de tempo e
vida156.
Com a multiplicação dos pães e peixes, Jesus Cristo quis
dar as multidões um sinal de proximidade amiga de Deus que
deseja estabelecer uma relação de amor com os homens, um
relacionamento fortificante e alimentador da existência,
assim como foi, com o maná no deserto, com os pães e peixes,
Jesus Cristo ensina a compartilhar os dons da vida, pondo em
comum tudo os se possui, sabe-se que nos evangelhos, não se
promete bens materiais, sabe-se que tudo é devido ao Criador,
não se é dada nenhuma garantia de que Jesus Cristo operará
milagres quando se entra em crise de bens materiais ou
carências na saúde, ou nos negócios, o que se pede é uma
amizade com Deus, semelhante à de Deus com a humanidade,
desinteressada e altruísta157, buscando o bem do outro158.
O fato da multiplicação dos pães e peixes, milagre
realizado por Jesus Cristo e narrado pelos quatro
155 www.ftsa.edu.br156 Revista, Lições bíblicas para EDB, terceiro trimestre de 2011, CPAD.157 Cf. dicionário Houaiss, Altruísta, aquele que pensa, nos outros, ouque pensa mais nos outros do que em si.158 www.rr.sapo.pt
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evangelistas é carregado de ensinamentos, fonte inesgotável
para a vida cristã em todos os tempos, de forma muito clara,
abre ainda as mentes e os corações para o milagre cotidiano,
com o qual, Jesus Cristo se faz presente no repartir, dentre
tantas riquezas da multiplicação, pode-se voltar os olhos
para o menino descrito no texto que ofereceu os pães e
peixes, para que fosse realizado o milagre, as crianças nem
eram contadas, tanto que o numero de cinco mil homens pode
ser multiplicado, pelas mulheres e crianças, certamente
presentes ao episódio, Jesus Cristo acolhe quem nem mesmo
vale para a sociedade de seu tempo, recolhe o pouco que pode
ser oferecido e multiplica, o cristianismo aprendeu desde
cedo com o mestre à verdade da partilha, ponto de partida
para a intervenção da graça, que efetivamente multiplica o
que se pode oferecer, do menor ao maior, para chegar a todos,
que podem entrar cada dia numa igreja, ter os olhos voltados
para o altar e ali aprenderem a lição perene da multiplicação
e aprender a oferecer o que se tem de melhor mesmo que sejam
os cinco pães e dois peixes do menino, ou qualquer outra
forma de repartir desenvolvida nos evangelhos159.
Não se pode enganar, nada que se faça para servir ao
próximo resolverá globalmente os problemas urgentes, porém
isto não é razão para se cruzar os braços e conformar-se
diante da magnitude da tarefa, Deus chama homens e mulheres
159 www.rccbrasil.org.br67
para estabelecer seu reino sobre a terra, Deus chama para o
arrependimento, incluindo a injustiça, o preconceito racial,
o abuso de poder, a exploração irresponsável da natureza o
materialismo, o capitalismo e suas consequências que afastam
o homem de Deus e do sagrado, os levando para a perdição e
trazendo consigo desgraça espiritual e social160.
Pode-se perfeitamente aplicar que o mar é o mundo e os
peixes são os homens, da mesma maneira que se pode pescar com
caniço, com redes, com tarrafa e com anzol, também existem
projetos de evangelismo, juntas missionárias, através de
cultos, através de serviços comunitários, precisa-se entender
que mesmo sendo a palavra de Deus eterna e imutável, a sua
abordagem será personalizada de acordo com a situação e o
tipo de pessoa que Deus coloca diante da igreja, não se pode
iludir, nada disso dará resultado se a igreja não estiver no
lugar certo e com as estratégias de ações sociais corretas, a
igreja precisa ir até as águas pescar, a mesma não conseguira
nada se ficar na praia ou nas margens dizendo venha peixe!161
Jesus Cristo, nessa passagem da multiplicação dos
pães e peixes, ensinou aos seus discípulos a entregarem-se
como instrumentos de Deus para a cura e restauração da
multidão, da cidade, ele os ensinou a não subestimarem os
recursos recebidos de Deus, mas, com espírito de gratidão,
multiplicá-los para o beneficio de todos que estavam ali,160 RENÉ, Padilla, C. O que é missão integral? p.83161 www.ebdonline.com.br
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cinco pães e dois peixes foram transformados em milhares de
pães e peixes, pelo simples fato de terem sido entregues para
Deus com a disposição séria de serem usados para a satisfação
das necessidades, não dos discípulos puderam contar com o
poder de Deus, ao colocar em suas mãos os recursos
disponíveis com o objetivo de abençoar aqueles de quem Jesus
Cristo se compadece, este se acredita, é o grande ensinamento
da multiplicação dos pães, e é também um grande desafio para
a igreja, pra ganhar à cidade a igreja se assumir como
resposta de Deus às necessidades que se apresentam diante
dela162.
Tão amplas e significativas responsabilidades certamente
que não poderiam ser enfrentadas sem uma preparação adequada
que capacite a igreja para a ação, esta capacitação exigirá
uma compreensão clara da natureza da missão da igreja, o
exercício de um juízo profético e o estudo apurado da
realidade social do local163.
162 RAMOS, Ariovaldo, Ação da igreja na cidade p. 32163 LESSA, Helcio da Silva, Ação social cristã p. 32
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