Artefatos em ação: skateboard e ressignificação do espaço urbano
Condições da ação no processo coletivo
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Universidade Anhanguera-UniderpRede de Ensino Luiz Flávio Gomes
CONDIÇÕES DA AÇÃO NOS PROCESSOS COLETIVOS
ARISTÓTELES DUARTE RIBEIRO
2
ARISTÓTELES DUARTE RIBEIRO
CONDIÇÕES DA AÇAO NOS PROCESSOS COLETIVOS
Monografia apresentada ao Curso
de Pós-Graduação Lato Sensu
TeleVirtual como requisito
parcial à obtenção do grau de
especialista em Direito
Processual Civil.
Universidade Anhanguera-Uniderp
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
Orientador: Prof. FREDERICO THALES DE ARAÚJO MARTOS
4
SÃO LUÍS-MARANHÃO
2012
RESUMO
O presente trabalho visa analisar as condições da ação nosprocessos coletivos e a necessidade de flexibilização dessascondições da ação. É feita uma análise de doutrina ejurisprudência a respeito do assunto.Inicialmente são abordadas a necessidade e as vantagens dautilização dos processos coletivos.Analisa-se de forma genérica o direito de ação e as condiçõespara o exercício de tal direito, tais como a legitimidade e ointeresse de agir. Faz-se uma análise critica da legitimidadepor substituição processual, ou seja, a respeito dapossibilidade de um terceiro que não o lesado defenda osinteresses deste último.
Palavras-chave: Condições da Ação, Processos coletivos,Legitimidade, Interesse.
5
ABSTRACT
The present work seeks to analyze the conditions of collectiveaction processes and its need of flexibility. It is based on ananalysis of doctrine and jurisprudence about this subject.Initially are discussed the necessity and advantages of the useof collective processes. The analysis has its focus on theright of action and its conditions to exercise such right, asthe legitimacy and interest to act. It is a critical view ofprocedural legitimacy by substitution, which means, the
6
possibiliy of a third person other than the victim to defend thevictim's interests.
Keywords: Conditions of Action, Collective Processes,Legitimacy, Interest.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................
.....................................................
1. PROBLEMA DE
PESQUISA.................................................
.........................
2.
OBJETIVOS................................................
..................................................
3.
METODOLOGIA..............................................
...............................................
4. REFERENCIAL
TEÓRICO..................................................
...........................
5. DESENVOLVIMENTO DO
TRABALHO.................................................
.......
5.1. Legitimidade para
08
11
12
13
14
17
20
29
32
33
41
43
46
9
agir.....................................................
..........................
5.2 Do interesse-de-
agir.....................................................
..............................
5.3 Da defesa dos interesses difusos e
coletivos.........................................
5.4 Legitimidade: Substituição
processual...............................................
....
5.5 Interesse necessidade: uso da
jurisdição..............................................
CONSIDERAÇÕES
FINAIS...................................................
............................
REFERÊNCIAS..............................................
....................................................
INTRODUÇÃO
10
O direito de ação é o poder de exercer posições jurídicas
no processo. O exercício do direito de ação pode ser
condicionado, mas não o direito de ação.
O direito de ação não se confunde com o direito de
petição. O primeiro é o poder de exercer determinadas posições
jurídicas no processo e de ter o seu mérito analisado pelo
Judiciário. O segundo é o direito de encaminhar determinada
pretensão a um órgão público, seja do Poder Legislativo,
Executivo ou Judiciário.
Neste trabalho será utilizado o termo condições da ação,
apesar de ser possível questionar a utilização desse termo.
O direito de ação está contido no núcleo dos direitos
fundamentais.
As ações coletivas são importantes e úteis na medida em
que com elas é possível resolver o problema de várias pessoas ao
mesmo tempo e minimizar o risco de decisões contraditórias.
Vivemos em uma sociedade de massa e nesta sociedade temos
inúmeras relações extremamente similares a outras. É o contrato
de adesão assinado por vários consumidores, ou um dano moral
causado por uma indústria que afeta várias pessoas, etc. Para
isso, é importante o processo coletivo, na medida em que resolve
o problema de várias pessoas ao mesmo tempo, além de minimizar
as probabilidades de termos decisões contraditórias. Por isso, é
preciso que o Judiciário dê preferência e celeridade na
tramitação dos processos coletivos. A respeito da celeridade
processual nos ensina Pedro Lenza1:A prestação jurisdicional dentro de um prazo razoável eefetivo já vinha prevista, como direito fundamental do ser
1 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 13º edição. São Paulo:Saraiva, 2009.
11
humano, dentre outros dispositivos, nos arts.8º, §1º e 25,§1º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
O estado só se pronuncia sobre o mérito da demanda se
estiverem sendo preenchidos requisitos (ou condições da ação)
como legitimidade das partes e interesse-de-agir.
É possível subdividir a legitimação em ordinária e
extraordinária. A primeira ocorre quando alguém defende em nome
próprio, direito próprio. É a que vemos com mais frequência nos
processos. A segunda ocorre quando alguém defende em nome
próprio direito alheio. É a que ocorre nos processos coletivos.
É necessário diferenciar representação processual,
sucessão processual e substituição processual.
A maioria das ações coletivas é proposta pelo Ministério
Público. É muito bom que tal órgão tenha ganho com a
Constituição de 1988 maior poder de defesa dos direitos
fundamentais e que esteja cumprindo muito bem essa sua função.
Contudo, é importante que a sociedade civil organizada atue com
maior frequência na defesa dos direitos fundamentais. Para isso,
é importante que o governo cumpra sua missão constitucional de
incentivar o associativismo e o cooperativismo.
O Ministério Público possui legitimidade para a defesa
dos direitos individuais homogêneo, se esse interesse individual
homogêneo tiver relevância social.
É necessário conscientizar as pessoas, sobretudo em
escolas e universidades, sobre os seus direitos fundamentais e
as formas de defendê-los. Muitas vezes, a sociedade civil não
defende os seus próprios direitos por não ter consciência ou do
seu direito ou da forma de defendê-los.
12
Uma associação de moradores, por exemplo, possui
legitimidade para propor ação coletiva para defender os
interesses dos moradores de seu bairro.
Uma comissão da Assembléia Legislativa possui
legitimidade possui legitimidade para a propositura de ação
coletiva.
Merece críticas o dispositivo da lei de ação civil
pública que veda a propositura de ação civil pública para
veicular pretensões que envolvam tributos ou FGTS, por exemplo.
A respeito da vedação da ação coletiva para propor ação coletiva
que envolva tributo é possível alegar que o objeto da ação civil
pública se confundiria com o objeto da Ação Direta de
Inconstitucionalidade.
Para Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino2, a vedação
imposta no art.1º da Lei de Ação Civil Pública, ou seja, a
vedação à possibilidade de veicular matérias tributárias em
ações civis públicas, está em conformidade com a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal a respeito do assunto.
A possibilidade de execução coletiva é benéfica, na
medida em que impede que várias execuções individuais sejam
feitas no Poder Judiciário. É importante ressalvar que devem ser
criados mecanismos para que o detentor do direito possa usufruir
do mesmo. É necessário combater a corrupção que infelizmente
existe em alguns sindicatos e associações.
Para defender o direito de um determinado grupo, não é
preciso anexar uma lista com o rol dos substituídos. Caso tal
2 ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO, Vicente de. Direito AdministrativoDescomplicado. 20º ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.
13
lista seja anexada, deve-se interpretar esse rol como um rol
meramente exemplificativo.
O promotor de justiça ou o procurador da república não
tem a obrigação de demonstrar a existência de reclamações da
sociedade contra um determinado ato para que tenha interesse-de-
agir para propor ação coletiva. Ele pode verificar um
determinado evento e com base em sua independência funcional
decidir se deve ou não propor a ação coletiva.
A era industrial introduziu o risco na sociedade. Com
isso, surgiu a maior necessidade de defender direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos.
Atualmente possuem legitimidade para a defesa de
interesses difusos e coletivos o Ministério Público, a
Defensoria Pública, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade
de economia mista, a associação que possua entre os seus fins
institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
A legitimidade para a propositura de ação coletiva é
concorrente, ou seja, o legitimado pode atuar sem a participação
dos demais.
A Defensoria Pública possui legitimidade para propor Ação
Civil Pública, desde que seja para defender os necessitados. Não
é preciso que só hajam necessitados dentre os protegidos na ação
coletiva pela Defensoria Pública.
A atuação do Judiciário no julgamento de ações que
envolvam direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos
deve ser célere e efetiva.14
1. DO PROBLEMA DA PESQUISA
A escolha do tema ocorreu devido à maior necessidade de
estudo e aperfeiçoamento do processo coletivo. Em uma sociedade
de massa é cada vez mais comum a violação por parte de governos,
grandes empresas, fazendeiros, etc. de direitos pertencentes a
um grande número de pessoas e, por isso, é preciso que o
Judiciário tenha mecanismos para combater essas lesões em massa
e o processo coletivo é um desses mecanismos.
Infelizmente, alguns requisitos como as condições da ação
não têm sido flexibilizados para julgar o mérito da ação
coletiva e resolver o problema de uma vez por todas.
No trabalho serão analisadas as condições da ação no
processo coletivo e o que pode ser feito caso as mesmas não
tenham sido preenchidas.
O trabalho visa responder algumas perguntas, tais como:
Quais as condições da ação no processo coletivo? É possível
flexibilizá-las? Quais os legitimados para atuar no processo
coletivo? 15
O tema condições da ação nos processos coletivos é
importante na medida em que existe pouco estudo a respeito do
tema e é um tema bem importante, na medida em que a cada dia
vemos lesões a um grupo muito grande, determinado ou não, de
pessoas. A escolha do tema tem muita relação com a disciplina
Processo Civil na Atualidade, pois em duas das aulas o tema foi
o processo coletivo. É insuficiente o número de trabalhos
publicados sobre o tema. Podem se beneficiar da pesquisa
empresas, bancos, governos, associações, sindicados, Ministério
Público, advogados, estudantes de direito e sociedade civil em
geral. O presente trabalho visa contribuir para o estudo e
aperfeiçoamento das ações coletivas.
2. OBJETIVOS
Este trabalho visa examinar as condições da ação no
processo coletivo, refletindo a respeito da legitimidade e
interesse de agir. Pretende ainda refletir a respeito da
necessidade de flexibilizar determinados requisitos de
admissibilidade processual.
16
O presente trabalho utilizará como fonte de pesquisas
principalmente as fontes bibliográficas e da internet, mas
poderão ser analisados casos concretos e serem feitas
entrevistas com pessoas que tem relação direta com as ações
coletivas, tais como representantes do Ministério Público, da
OAB e de associações, magistrados, etc.
18
4. REFERENCIAL TEÓRICO
Vivemos em uma sociedade de massa, onde existem muitos
conflitos envolvendo toda uma coletividade de pessoas. Temos o
governo que viola o direito de milhares de cidadãos, o banco que
cobra tarifas ilegais de milhões de consumidores, as industrias
que despejam substancias poluentes nos rios e com isso
prejudicam vários moradores de comunidades ribeirinhas, como o
meio ambiente e a sociedade como um todo, empresas de serviços
públicos (telefonia, planos de saúde, companhias de água, etc)
que prestam serviços de péssima qualidade, além de fazendeiros
que não respeitam nem o meio ambiente, nem os consumidores e nem
os trabalhadores, etc.
Para resolver tais problemas inerentes a uma sociedade de
massa, é importante o processo coletivo, além de outros
instrumentos, tais como a súmula vinculante e a súmula
impeditiva de recursos.
Assim leciona Ana Cruz Leão Augusto3:Na pós-modernidade, os direitos difusos e coletivosganharam notoriedade, com a crescente massificação dasociedade, com a padronização de comportamentos e com oacúmulo de questões que se repetem, numa onda de longapropagação que, descendo às camadas menos favorecidas, tomadimensões gigantescas.
3 AUGUSTO, Ana Lucia Creão. Condições da ação na defesa de direitos difusos ecoletivos. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2708, 30 nov. 2010. Disponívelem: <http://jus.com.br/revista/texto/17953>. Acesso em: 22 maio 2012.
19
É interesse da sociedade e do Estado o julgamento do
mérito do processo coletivo. Por isso é preciso flexibilizar
algumas condições da ação a fim de resolver problemas que afetam
toda uma coletividade de pessoas. Sendo assim, o ideal é que
apenas em raríssimas situações em que não seja possível julgar o
mérito da demanda que o processo seja extinto sem julgamento de
mérito. No mesmo sentido nos ensina Gregório Assagra de Almeida4:O Poder Judiciário no sistema constitucional atual exerceuma função fundamental para a efetivação dos direitos egarantias fundamentais. Deixou assim de ser um órgão queresolve apenas conflitos interindividuais e passou aassumir uma nova realidade social. Ele assim o faz noexercício da jurisdição coletiva. É por essa viapotencializada que o Poder Judiciário terá condições decumprir melhor os seus objetivos. É dessa forma que osdireitos fundamentais terão maior efetividade.
É dever do Judiciário julgar conflitos individuais e
coletivos, segundo podemos interpretar a partir da leitura do
art.5º, XXXV da Constituição Federal. Através do direito
processual coletivo comum que o Judiciário pode enfrentar
grandes causas sociais a fim de transformar a realidade social e
promover a justiça5.
Para ser respeitado política e socialmente deve o
Judiciário sempre que possível enfrentar o mérito dos processos
que envolvem grandes conflitos sociais6.
É importante que o Judiciário flexibilize os requisitos
de admissibilidade processual, para enfrentar o mérito do
processo coletivo e legitimar sua função social7.
Enfrentar o mérito dos processos coletivos não significa
violar o princípio da imparcialidade. Significa apenas que o4 ALMEIDA, Gregório Assagra. Direito Processual Coletivo Brasileiro: um novoramo do direito processual. Editora Saraiva, 2003, p.571-5725 idem6 idem7 idem
20
Judiciário tem que ter a predisposição de resolver as grandes
causas sociais, podendo julgar a favor do autor ou do réu8.
Atualmente são legitimados para a propositura de ação
civil pública o cidadão (ação popular), conforme o inciso LXXIII
do art.5º da Constituição Federal, o Ministério Público,
associações, sindicados e órgãos públicos e mais recentemente a
Defensoria Pública, conforme o art.5º da Lei 7347/1985 para
propor ações civis públicas, partidos políticos para impetrar
mandado de segurança coletivo e, se adotarmos a tese de que as
ações de controle de constitucionalidade são ações coletivas
podemos acrescentar o Procurador-Geral da República, o
Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa de
Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal, o Governador de Estado ou Distrito Federal, o Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, partido político com
representação no congresso nacional e confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional, conforme o art.103 da
Constituição Federal.
O rol dos legitimados para a propositura de ação civil
pública deve ser interpretado como um rol meramente
exemplificativo, com base nos princípios da máxima proteção dos
direitos fundamentais e do interesse jurisdicional no
conhecimento de mérito do processo coletivo. Caso, por exemplo,
se constate que o autor não possui legitimidade para propor a
ação coletiva, a saída não deve ser pela extinção do processo
sem resolução do mérito, mas a remessa dos autos ao Ministério
Público, de preferência, para que o mesmo decida se quer ou não
dar continuidade ao feito.
8 idem21
Para Maria Sylvia Zannela di Pietro9, são sujeitos ativos
da ação civil pública o Ministério Público, a União, os Estados,
os Municípios, as autarquias, empresas públicas, fundações,
sociedades de economia mista, assim como associações que
estiverem constituídas há pelo menos um ano, nos termos da lei
civil, e incluam, entre as suas finalidades institucionais, a
proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patromônio
histórico, estético, artístico, paisagísticos, dentre outros
interesses difusos e gerais.
9 PIETRO, Maria Sylvia Zannella di. Direito Administrattivo. 20º ed. SãoPaulo: Atlas, 2007.
22
5. DESENVOLVIMENTO
A respeito do direito de ação leciona Ana Lucia Creão
Augusto10:O direito de ação é um poder conferido ao cidadão peloEstado moderno, que reservou para si o exercício da funçãojurisdicional, assim, a ação é o instrumento que viabilizaao cidadão levar uma demanda até aos órgãos judicantes.Para acionar o direito ao exercício da funçãojurisdicional, é necessário provocar o Poder Judiciárioatravés do exercício do direito de ação: "Somente oexercício do direito de ação pode ser condicionado (ademanda), jamais o direito de ação, constitucionalmentegarantido e decorrente do direito fundamental àinafastabilidade."
Não devemos confundir o direito de ação com o direito de
petição. No primeiro caso o direito só é exercido quando
estiverem presentes determinados requisitos, tais como
legitimidade ativa e passiva e interesse de agir, nas
modalidades adequação e necessidade. O exercício do direito de
petição é exercido a partir do momento em que o cidadão entrega
sua pretensão ao Legislativo, Executivo ou Judiciário. A pessoa
que viu extinto seu processo sem julgamento de mérito exerceu o
direito de petição, mas não o direito de ação. Essa é, em10 Op. cit
23
apertada síntese, a teoria eclética da ação. Nesse sentido, Ana
Lúcia Creão Augusto11:No ordenamento jurídico brasileiro adotou-se a TeoriaEclética da Ação, para a qual o direito de ação é o direitoao julgamento do mérito da demanda, desde que esta preenchaas condições da ação. Essa concepção é resultado dotrabalho de Enrico Tullio Liebman que elegeu como condiçõesda ação: a legitimidade ad causam, o interesse de agir e apossibilidade jurídica do pedido. [04] O art. 267,VI doCódigo de Processo Civil determina que a falta de qualquerdas condições da ação acarreta a extinção do processo semjulgamento do mérito.
A respeito das condições da ação, leciona Alexandre
Freitas Câmara12:Em primeiro lugar, devo manifestar minha adesão à teoriaabstrata da ação. A meu juízo, a ação é uma posiçãojurídica capaz de permitir a qualquer pessoa a prática deatos tendentes a provocar o exercício, pelo Estado, dafunção jurisdicional existindo ainda que inexista o direitomaterial afirmado. Devo, ainda, asseverar que vez que estaexiste ainda que aquelas não sejam preenchidas. Além disso,não parece adequado chama-las “condições”, já que o termonão é aí empregado no sentido de “evento futuro e incerto”a que se subordina a eficácia de um ato jurídico”, razãopela qual sempre me parece melhor denominá-las de“requisitos do provimento final”.
Neste trabalho será usado o termo condições da ação por
ser mais consagrado na doutrina e na jurisprudência, apesar do
enorme respeito pelo professor Alexandre Freitas Câmara.
Para Humberto Theodoro Júnior a ação é o direito
subjetivo à prestação jurisdicional13.
A parte, frente ao Estado-juiz, dispõe de um poder que
consiste na possibilidade de receber a definição das situações
11 idem12 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio deJaneiro: Lumen Juris, 2009, p.112.13 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil: teoria geraldo direito processual civil e processo de conhecimento. 45º edição.Rio deJaneiro: Forense, 2006.
24
jurídicas controvertidas. É o direito de ação, de natureza
pública, por se referir a uma atividade pública do Estado14.
Para ter direito à solução jurisdicional do mérito de sua
controvérsia é necessário atender a determinadas condições. Tais
condições são denominadas condições da ação15.
Os pressupostos processuais dizem respeito à validade do
processo, enquanto as condições da ação dizem respeito à
possibilidade de obter solução do mérito de uma determinada
lide16.
Antes da promulgação do atual código de processo civil
haveria controvérsia sobre as condições da ação. No atual
código, tais questões não foram postas no âmbito do mérito da
causa17.
Direito de ação não é apenas o poder de dar início ao
processo, mas o poder de ocupar qualquer posição ativa no
processo, consoante podemos interpretar dos ensinamentos de
Alexandre Freitas Câmara18.
Não se deve confundir direito de ação com direito de
demanda, ato de impulso inicial da atividade jurisdicional. É
natural que a demanda seja ato exclusivo do autor, por esta
razão, também chamado demandante. Porém o direito de ação é
normalmente exercido tanto pelo autor quanto pelo réu19.
Segundo Alexandre Freitas Câmara, ação é o poder de
exercer posições jurídicas no processo20.
14 idem15 idem16 idem17 idem18 Op.cit19 idem20 idem
25
Segundo a teoria abstrata a ação é o poder de provocar a
atuação do Estado juiz. Pela teoria eclética, ação é o poder de
obter um provimento de mérito. Por fim, a teoria concreta da
ação é o direito de obter no processo um resultado favorável21.
Para Ana Lucia Creão Augusto22 o direito de ação está
contido no núcleo de direitos fundamentais. E continua nos
ensinando a mesma autora a respeito do princípio do devido
processo legal23:O princípio do devido processo legal é o alicerce quesustenta o direito de ação através de sua forçaconstitucional e dimensão processual que garantem a todos oacesso à justiça, o contraditório e a ampla defesa, o juiznatural, a paridade de armas processuais, a decisãojudicial fundamentada e o direito aos recursos disponíveis.
Vemos no inciso LV do art.5º da Constituição que ninguém
será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal.
O direito de ação é importante no plano individual, mas é
bem mais importante no plano coletivo na medida em que com o
exercício desse direito é possível solucionar o problema de
várias pessoas ao mesmo tempo e correndo-se um menor risco de
serem proferidas decisões conflitantes24.
Por essas e outras razões, os processos coletivos merecem
ter preferência na tramitação no Poder Judiciário, tendo em
vista que toda uma coletividade de pessoas não pode ficar anos
esperando por uma decisão a fim de saber se podem ou não exercer
um determinado direito.
Atualmente podemos falar da existência de um novo ramo do
direito processual, qual seja, o direito processual coletivo. É
21 idem22 Op.cit23 idem24 idem
26
um novo ramo processual na medida em que possui princípios e
institutos próprios25.
5.1 Da legitimidade para agir
A primeira das condições da ação é a legitimidade das
partes, também designada legitimatio ad causam. Esta pode ser
definida como a pertinência subjetiva da ação. Em outros termos,
pode-se afirmar que tem legitimidade para a causa os titulares
da relação jurídica deduzida, pelo demandante, no processo.
Explique-se: ao ajuizar sua demanda, o autor precisa alegar, em
sua petição inicial, a existência de uma relação jurídica,
25 idem27
chamada res in iudicta deducta. Assim, por exemplo, aquele que propõe
“ação de divórcio” sustenta existir, entre ele e a parte
adversa, uma relação matrimonial. Da mesma forma, aquele que
propõe “ação de despejo” afirma existir entre ele e o réu uma
relação de locação. Ao alegar em juízo a existência de uma
relação jurídica, o autor deverá, obviamente, indicar os
sujeitos da mesma. Esses sujeitos da relação jurídica deduzida
no processo é que terão legitimidade para estar em juízo. Assim,
por exemplo, aquele que propõe “ação de despejo” a legitimidade
passiva (ou seja, para figurar como demandado) é daquele que o
autor apontou como sendo o locatário. Da mesma forma, em uma
“ação de cobrança”, legitimado ativo será aquele que se diz
titular de um direito de crédito, e legitimado passivo aquele
apontado pelo autor como devedor, conforme podemos aprender com
Alexandre Freitas Câmara26.
Salvo em raríssimas hipóteses o Estado só se pronuncia
sobre determinada pretensão se estiverem preenchidos
determinados requisitos. No âmbito judicial chamamos esses
requisitos de condições da ação. Uma dessas condições é a
legitimidade para agir.
Para Ana Lúcia Creão Augusto27 a legitimidade para agir
significa que deve haver coincidência entre a parte que faz um
determinado pedido e o detentor do direito pleiteado. A
legitimidade investiga os sujeitos da demanda.
Podemos chamar a legitimidade para agir de legitimidade
ativa.
26 Op.cit27 Op.cit
28
Pode-se classificar a legitimidade ativa em legitimidade
ordinária e legitimidade extraordinária. A primeira ocorre
quando alguém ingressa em juízo para tutelar direito próprio. É
o que acontece na maioria dos casos. Vemos essa regra no art.6º
do Código de Processo Civil que dispõe que ninguém poderá
pleitear em nome próprio direito alheio, salvo quando autorizado
por lei. A segunda hipótese ocorre quando alguém ingressa em
juízo para defender em nome próprio direito alheio. Podemos
chamar esse fenômeno de legitimação anômala ou substituição
processual. É preciso que uma lei ou a Constituição Federal
autorize tal substituição. Neste sentido, Ana Lúcia Creão
Augusto28.
A mesma autora29 distingue representação processual,
sucessão processual e substituição processual. Substituição
processual é situação em que pessoa física ou jurídica ingressa
em juízo defendendo em nome próprio, o direito alheio, devido a
permissão constitucional ou infraconstitucional, Sucessão
processual é a mudança dos sujeitos do processo devido a uma
modificação subjetiva na relação subjetiva processual e, por
fim, é a representação processual em que pessoa física ou
jurídica que não é parte no processo defende direito alheio em
nome alheio.
A respeito da legitimação, nos ensina Fredie Didier Jr30:Retornando o tema, a clássica regra de legitimação expressarevela-se: o autor é o próprio titular do direito afirmado.Assim, quando o titular do direito subjetivo se identificacom o autor, tem-se a legitimação ordinária; quando, porém,o direito subjetivo é defendido por terceiro (alheio àrelação de direito material afirmada), em nome próprio,
28 idem29 idem30 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 6. Ed. Salvador:JusPODIM, 2006, v.4.
29
tem-se a legitimação extraordinária. O essencial à figurada substituição processual (espécie de legitimaçãoextraordinária, para alguns) é que a parte legitimada nãose afirma titular do direito material. A regra ordináriadiz o contrário: o usual, o comum, é que o próprio titulardo direito subjetivo seja o legitimado.
Sobre o mesmo tema, nos ensina Hugo Nigro Mazzilli:31
A legitimação será extraordinária, ou anômala, quando oEstado não levar em conta a titularidade do direitomaterial para atribuir a titularidade da sua defesa emjuízo. Em alguns casos, o Estado permite que a defesajudicial de um direito seja feita por quem não é o própriotitular do direito material, ou pelo menos por quem nãoseja o titular exclusivo desse direito
Nas ações coletivas a legitimação quase sempre é anômala.
Na maioria das vezes o substituto processual é o Ministério
Público. A título de exemplo, mais de 95% das ações civis
públicas que visam proteger o meio ambiente são propostas pelo
Ministério Público32. Em casos como na ação popular, o autor da
ação também é titular do direito, mas não é o titular único
desse direito, razão pela qual também na ação popular podemos
falar que existe uma legitimação extraordinária.
Entendem Eduardo Nobre e Bruno Molina Meles que a
legitimidade do Ministério Público deve ser condicionada à
importância social do interesse que se pretende defender em
juízo33.
Sustentam os mesmos autores que o Ministério Público não
teria legitimidade para propor ação civil pública pleiteando a
devolução de um produto adquirido pelo consumidor34.31 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 25ºed.Editora Saraiva, 2012.32 NASCIMENTO, Bruno do. Rio de Janeiro: 2003 Disponível em <http://www.casadacidadania.org.br/article.php3?id_article=114>. Acesso em 30de julho de 2012.33 NOBRE, Eduardo; MELES, Bruno Molina. Observações jurisprudenciais sobre o interesse de agir nas ações coletivas versando sobre direitos individuais homogêneos. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3232, 7 maio 2012. Disponívelem: <http://jus.com.br/revista/texto/21702>. Acesso em: 31 jul. 2012. 34 idem
30
Existem decisões do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que o Ministério Público só pode tutelar direitos
individuais homogêneos, caso haja relevância social na proteção
desses interesses. Senão Vejamos:ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃOCIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NADEFESA DE INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.ARTS. 127 E 129, III E IX, DA CF. VOCAÇÃO CONSTITUCIONAL DOMINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.DIREITO À SAÚDE. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. RELEVÂNCIAPÚBLICA. EXPRESSÃO PARA A COLETIVIDADE. UTILIZAÇÃO DOSINSTITUTOS E MECANISMOS DAS NORMAS QUE COMPÕEM OMICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA. EFETIVA E ADEQUADAPROTEÇÃO. RECURSO PROVIDO.1. "O Ministério Público é instituição permanente,essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhea defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dosinteresses sociais e individuais indisponíveis" (art. 127da CF).2. "São funções institucionais do Ministério Público: III -promover o inquérito civil e a ação civil pública, para aproteção do patrimônio público e social, do meio ambiente ede outros interesses difusos e coletivos; IX - exerceroutras funções que lhe forem conferidas, desde quecompatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada arepresentação judicial e a consultoria jurídica deentidades públicas" (art. 129 da CF).3. É imprescindível considerar a natureza indisponível dointeresse ou direito individual homogêneo - aqueles quecontenham relevância pública, isto é, de expressão para acoletividade - para estear a legitimação extraordinária doMinistério Público, tendo em vista a sua vocaçãoconstitucional para a defesa dos direitos fundamentais.4. O direito à saúde, como elemento essencial à dignidadeda pessoa humana, insere-se no rol daqueles direitos cujatutela pelo Ministério Público interessa à sociedade, aindaque em favor de pessoa determinada.5. Os arts. 21 da Lei da Ação Civil Pública e 90 do CDC,como normas de envio, possibilitaram o surgimento dodenominado Microssistema ou Minissistema de proteção dosinteresses ou direitos coletivos amplo senso, no qual secomunicam outras normas, como o Estatuto do Idoso e o daCriança e do Adolescente, a Lei da Ação Popular, a Lei deImprobidade Administrativa e outras que visam tutelardireitos dessa natureza, de forma que os instrumentos einstitutos podem ser utilizados com o escopo de "propiciarsua adequada e efetiva tutela" (art. 83 do CDC).
31
6. Recurso especial provido para determinar oprosseguimento da ação civil pública.(REsp 695.396/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 27/04/2011)
É importante que o direito individual homogêneo defendido
na ação coletiva pelo Ministério Público tenha relevância
social. Contudo, não é imperioso que hajam várias representações
para que o Ministério Público possa atuar na defesa dos direitos
fundamentais, tendo em vista que o Ministério Público possui
autonomia, liberdade e independência para exercer o seu papel
constitucional. O Ministério Público possui liberdade para atuar
sem a necessidade de provocação de agentes externos, conforme
podemos interpretar das lições de Hugo Nigro Mazzilli.35
É importante que a cada dia outras entidades tutelem seus
próprios direitos. O Ministério Público tem exercido muito bem o
seu papel constitucional de defensor dos direitos fundamentais.
A população, em regra, confia no Ministério Público e por isso
costuma representar neste órgão quando se sente insatisfeita com
determinado fato. Contudo, o Ministério Público não tem
condições de tutelar os direitos de todas as pessoas e, por
isso, é importante que a sociedade civil organizada (OAB,
sindicatos, conselhos profissionais, associações civis, etc.)
defenda os seus próprios direitos. Muitas vezes tais entidades,
principalmente associações civis, não defendem judicialmente os
interesses de seus associados por desconhecimento do sistema
processual brasileiro que visa ampliar ao máximo a possibilidade
de tutelar direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
É imperioso que seja feito um trabalho de
conscientização, principalmente nas escolas e universidades, a
respeito dos direitos fundamentais e das formas de defendê-los.35 Op.cit
32
Uma associação de moradores, por exemplo, possui
legitimidade ativa para pleitear a construção de uma creche, um
hospital, melhora no fornecimento de água e energia elétrica,
desde que esta esteja constituída a pelo menos um ano e seus
estatuto estabeleça essa possibilidade.
No inciso XXI do art.5º da Constituição Federal vemos que
as associações quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente.
Com muito acerto, o Superior Tribunal de Justiça decidiu
que uma comissão do Poder Legislativo possui legitimidade para
propor ação civil pública: DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL.AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE DE ÓRGÃO DO PODERLEGISLATIVO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO. ESTATUTO DO IDOSO.PLANOS DE SAÚDE. REAJUSTE DE MENSALIDADES EM RAZÃO DEMUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. VEDAÇÃO.1. Da conjugação do art. 21 da Lei n.º 7.347/85 (Lei daAção Civil Pública), com os dispositivos do Título III doCDC, extrai-se que os colegitimados do art. 82, III, desseCódigo podem se utilizar da ação civil pública na defesados interesses e direitos do consumidor.2. O art. 82, III, do CDC prevê, como requisito essencial àlegitimação dos órgãos da Administração Pública para proporações coletivas, a atuação desses na defesa dos direitos doconsumidor.3. Exigir a menção no Regimento Interno da recorrente(Órgão do Poder Legislativo) sobre a atuação em juízoprivilegiar-se-ia o excesso de formalismo, em detrimento dafinalidade perseguida pelo legislador de facilitar aatuação das entidades e órgãos de defesa do consumidor emjuízo.4. Veda-se a discriminação do idoso em razão da idade, nostermos do art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso, o que impedeespecificamente o reajuste das mensalidades dos planos desaúde que se derem por mudança de faixa etária; essavedação não envolve, todavia, os demais reajustespermitidos em lei, os quais ficam garantidos às empresasprestadoras de planos de saúde, sempre ressalvada aabusividade.5. Recurso especial conhecido e provido.
33
(REsp 1098804/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRATURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 27/03/2012)
Muito acertada a decisão do STJ, pois os requisitos para
a admissão de uma ação coletiva devem ser flexibilizados, sempre
que isso for necessário para beneficiar os interesses da
população. No caso, o plano de saúde aumentou de forma abusiva
os valores devidos aos consumidores idosos, unicamente em razão
de sua idade, o que não se afigura algo justo e nem
proporcional. Extinguir o feito sem resolução de mérito seria
deixar que milhares de consumidores idosos continuassem sofrendo
nas mãos do plano de saúde.
Dispõe o parágrafo único do art.1º da Lei de Ação Civil
Pública que não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias,
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos
de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados. Tal dispositivo foi acrescentado
pela medida provisória nº2180-35/2001.
Merece criticas esse dispositivo legal acrescentado pela
medida provisória acima mencionada, na medida em que o Poder
Público é quem mais desrespeita a constituição e as leis do
nosso país. Não poder propor ação civil pública contra lesões a
milhares ou até milhões de pessoas só contribui para o aumento
das ações propostas no Poder Judiciário. O ideal é que, diante
dessa previsão legal, que o Promotor de Justiça ou o Procurador
da República encaminhem ao Procurador Geral da República ou ao
Procurador-Geral de Justiça as provas necessárias para que o
mesmo proponha a Ação Direta de Inconstitucionalidade. Contudo,
quando a ação civil pública envolver matéria tributária, mas por
conta do ato estatal for possível haver lesão ao patrimônio e ao34
erário público, pode o Ministério Público propor ação civil
pública. Neste sentido, já decidiu o Superior Tribunal de
Justiça:PROCESSUAL CIVIL. LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIAPROFERIDA EM SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM MATÉRIATRIBUTÁRIA (DEFESA DO DIREITO DOS CONTRIBUINTES DE NÃORECOLHEREM TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA). ILEGITIMIDADE ATIVA"AD CAUSAM" DO MINISTÉRIO PÚBLICO DECLARADA "EX OFFICIO"PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. EXAME DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO EMQUALQUER TEMPO E GRAU DE JURISDIÇÃO. EXTINÇÃO DOPROCEDIMENTO DE LIQUIDAÇÃO. POSSIBILIDADE. EXECUÇÃOINDIVIDUAL. EXTENSÃO "IN UTILIBUS" DA COISA JULGADA DOPROCESSO COLETIVO.1. A ilegitimidade ativa do Ministério Público (paradeduzir em juízo pretensão de natureza tributária em defesados contribuintes), ainda que não debatida no processo deconhecimento, pode ser suscitada no âmbito de liquidação desentença ou de execução de ação civil pública, para fins deaferição da legitimatio ad causam nessa fase de cumprimentoda sentença.2. É cediço que o Ministério Público não ostentalegitimidade para deduzir em juízo pretensão de naturezatributária em defesa dos contribuintes, quer no processocognitivo, quer no processo satisfativo, sendo certo que oSupremo Tribunal Federal, no âmbito do RecursoExtraordinário 576.155/DF (Rel. Ministro RicardoLewandowski, julgado em 12.8.2010), ressalvou alegitimidade do parquet para ajuizar ações civis públicasem defesa de interesses metaindividuais, do erário e dopatrimônio público, consoante se depreende de excertoextraído do Informativo STF nº 595, verbis: "... a açãocivil pública ajuizada contra o citado TARE não estarialimitada à proteção de interesse individual, mas abrangeriainteresses metaindividuais, pois o referido acordo, aobeneficiar uma empresa privada e garantir-lhe o regimeespecial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicarlesão ao patrimônio público, fato que, por si só,legitimaria a atuação do parquet, tendo em conta,sobretudo, as condições nas quais celebrado ou executadoesse acordo (CF, art. 129, III).Reportou-se, em seguida, à orientação firmada pela Corte emdiversos precedentes no sentido da legitimidade doMinistério Público para ajuizar ações civis públicas emdefesa de interesses metaindividuais, do erário e dopatrimônio público.Asseverou-se não ser possível aplicar, na hipótese, oparágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85, que veda que oMinistério Público proponha ações civis públicas paraveicular pretensões relativas a matérias tributárias
35
individualizáveis, visto que a citada ação civil públicanão teria sido ajuizada para proteger direito dedeterminado contribuinte, mas para defender o interessemais amplo de todos os cidadãos do Distrito Federal, no querespeita à integridade do erário e à higidez do processo dearrecadação tributária, o qual apresenta naturezamanifestamente metaindividual.No ponto, ressaltou-se que, ao veicular, em juízo, ailegalidade do acordo que concede regime tributárioespecial a certa empresa, bem como a omissão doSubsecretário da Receita do DF no que tange à apuração doimposto devido, a partir do exame da escrituração docontribuinte beneficiado, o parquet teria agido em defesado patrimônio público." 3. In casu, o Juízo a quo extinguiu o "processo" deliquidação de sentença, diante do reconhecimento ex officioda ilegitimidade ativa ad causam do Ministério PúblicoEstadual para, em sede de ação civil pública, proceder àdefesa de direitos puramente individuais, de naturezadisponível. Consignou ainda que: "... possuem oscontribuintes – titulares de direito individual, certo,patrimonial, identificável, divisível e disponível – umagama de instrumentos legais para a tutela de seus direitos,como o mandado de segurança, ação declaratória deinexistência de relação jurídico-tributária, embargos àexecução, até mesmo de repetição de indébito. Por isso, nãose afigura admissível, no casos dos autos – contribuição deiluminação pública – a ação coletiva movida pelo MinistérioPúblico, assim como a liquidação de sentença daquela ação”(...) Vai, assim, indeferida a inicial, julgando-seextinto, de ofício, o processo, não-conhecido o agravo deinstrumento." 4. Abalizada doutrina assenta que: "Obtida a sentençagenérica de procedência na ação coletiva, cessa alegitimação extraordinária. A ação específica para seucumprimento, em que os danos serão liquidados eidentificados os respectivos titulares, dependerá deiniciativa do próprio titular do direito lesado, que será,por conseguinte, representado, e não substituído, noprocesso. Aliás, memso quando ajuizada coletivamente, comoprevê o art. 98, da Lei 8.078/90, a ação de cumprimento sedesenvolverá pelo procedimento comum e em litisconsórcioativo, em que os titulares do direito serão nomeadosindividualmente e identificados particularmente asrespectivas situações jurídicas. Assim, ainda nestes casos,a ação de cumprimento será proposta em regime derepresentação, e não de substituição processual.Nos termos do art. 100, do CDC, 'decorrido o prazo de 1(um) ano sem habilitação dos interessados em númerocompatível com a gravidade do dano, poderão os legitimadosdo art. 82 promover a liquidação e execução da indenização
36
devida. Parágrafo único. O produto da indenização devidareverterá para o Fundo criado pela Lei 7.347, de 24 dejulho de 1985. Aqui, sim, o regime é de substituiçãoprocessual: os legitimados atuam em juízo em nome próprioem favor de interesses alheios.(...) A solução do CDC, todavia, só é aplicável àshipóteses específicas das ações coletivas dele decorrentes.Não há, aqui, aplicação subsidiária ou analógica paraoutras ações coletivas, e isso por várias razões. Emprimeiro lugar, porque em outras ações coletivas, mormenteas promovidas por entidades associativas ou sindicatos, emfavor de seus membros ou filiados, não existem asdificuldades antes referidas, de localizar os credores oude demonstrar a sua relação com o fato ou ato causador dodano. Por outro lado, a norma do art.100 é norma delegitimação ativa, e, como tal, é insuscetível de extensãopor analogia. Em matéria de legitimidade ad causam paraações coletivas, há disciplina própria e específica paracada um dos casos em que a ação é admitida, o que tambémdispensa a aplicação subsidiária de qualquer outra norma."(Teori Albino Zavascki, in "Processo Coletivo - Tutela deDireitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos", 2ª ed.,Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2007, págs. 204/206) 5. Destarte, o trânsito em julgado da decisão deprocedência proferida no âmbito de ação civil pública,conquanto tenha seu comando acobertado pela imutabilidade,não tem o condão de transfigurar o Ministério Público emparte legítima para promover a execução coletiva do títuloexecutivo judicial que veicula pretensão relativa a matériatributária individualizável.6. Assim, malgrado o trânsito em julgado da ação coletivaintentada pelo Ministério Público (parte ilegítima), cabeaos reais destinatários do provimento de definição dedireitos, observado o prazo prescricional, a liquidação eexecução do título executivo judicial, utilizando-se datécnica da res judicata in utilibus (aproveitamento daparte útil do conteúdo do julgamento coletivo).8. Recurso especial desprovido.(REsp 997.614/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,julgado em 09/11/2010, DJe 03/12/2010)
A respeito da legitimidade para a associação fazer a
execução coletiva, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que
não é necessária a aprovação expressa do filiado para essa
execução. Senão Vejamos:PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVOREGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL.ASSOCIAÇÃO. CONHECIMENTO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SENTENÇACOLETIVA. EXECUÇÃO INDIVIDUAL. FILIADO. LEGITIMIDADE.
37
1. Ainda que o filiado de entidade de classe não tenhaautorizado, expressamente, sua associação ou sindicato pararepresenta-lo no processo de conhecimento, tem legitimidadepara promover execução individual de título judicialproveniente de ações coletivas.(Precedentes.) 2. Agravo regimental a que se nega provimento(AgRg no AgRg no Ag 1157030/GO, Rel. Ministro HONILDOAMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP),QUINTA TURMA, julgado em 04/11/2010, DJe 22/11/2010)
A possibilidade de execução coletiva é benéfica, na
medida em que impede que várias execuções individuais sejam
feitas no Poder Judiciário. É importante ressalvar que devem ser
criados mecanismos para que o detentor do direito possa usufruir
do mesmo. É necessário combater a corrupção que infelizmente
existe em alguns sindicatos e associações.
O fato da execução poder ser feita pela associação ou
sindicato não impede que um trabalhador ou servidor público, por
exemplo, execute de forma individual o valor que o mesmo tem
direito. É necessário, contudo, que sejam criados mecanismos que
defendam o réu de sofrer a execução individual e a coletiva e
que quem tente fraudar a lei seja duramente punido. A respeito
dessa possibilidade de execução, já decidiu o Superior Tribunal
de Justiça. Senão Vejamos:ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.AÇÃO COLETIVA. ENTIDADE DE CLASSE. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL.EXECUÇÃO INDIVIDUAL. POSSIBILIDADE. AUTORIZAÇÃO.DESNECESSIDADE.1. O servidor possui legitimidade para propor execuçãoindividual oriunda de ações coletivas, ainda que não tenhaautorizado a associação ou o sindicato de sua categoriapara lhe representar na ação de conhecimento.2. "Tendo a Associação Goiana do Ministério Público atuadona ação de conhecimento na qualidade de substitutaprocessual dos seus filiados, ainda que não a tenhaautorizado, expressamente, para representá-la naqueleprocesso, a servidora tem legitimidade para propor execuçãoindividual oriunda da ação coletiva." (AgRg no Ag n.º1.024.997/SC, Rel. Min. LAURITA VAZ, Quinta Turma, DJe15/12/09).
38
3. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no Ag 1186993/GO, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTATURMA, julgado em 17/08/2010, DJe 06/09/2010).
Para ter legitimidade para propor ação coletiva, o
sindicato ou associação não tem obrigação de entregar relação
nominal dos seus associados que sejam beneficiados. Vemos isso
no art.82, IV do Código de Defesa do Consumidor:Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, sãolegitimados concorrentemente:IV - as associações legalmente constituídas há pelo menosum ano e que incluam entre seus fins institucionais adefesa dos interesses e direitos protegidos por estecódigo, dispensada a autorização assemblear.
Empresas públicas e sociedades de economia mista possuem
legitimidade para a propositura da ação civil pública. Neste
sentido, termos ensinamentos de Maria Sylvia Zannela di Pietro36
e Hugo Nigro Mazzilli37.
5.2 Do interesse-de-agir
A respeito do interesse de agir, leciona Ana Cruz Leão
Augusto38:No âmbito da ação, o interesse é entendido de modo amplocomo interesse processual, que é formado pelo interesse deagir, pelo interesse de recorrer, pelo interesse deproduzir provas e outros interesses que moverão o processoaté sua conclusão. A doutrina dá ênfase ao interesse deagir, tal como foi destacado por Liebman, analisando o casoconcreto para verificar se estão evidentes o interesse-necessidade e o interesse-adequação.
36 Op.cit37 Op.cit.38 Op. cit
39
Há interesse necessidade quando no ajuizamento da demanda
a providência jurisdicional é considerada imperiosa para a
solução do conflito, em que há uma obrigação de cumprir e que
não poderia ser resolvido por outra via39.
Existe o interesse adequação quando a parte escolheu o
procedimento correto para obter a sua pretensão40.
O interesse de agir, também é chamado “interesse
processual”. Este não se confunde com o interesse de direito
material, ou interesse primário, que o autor pretende fazer
valer em juízo. Pode-se definir o interesse de agir como a
“utilidade do provimento jurisdicional pretendido pelo
demandante”. Tal “condição da ação” é facilmente compreensível.
O Estado-juiz não pode exercer suas atividades senão quando esta
atuação se mostre absolutamente necessária. Assim, sendo
pleiteado em juízo provimento que não traga ao demandante
nenhuma utilidade (ou seja, faltando ao demandante interesse de
agir), o processo deverá ser encerrado sem que se tenha um
provimento de mérito, visto que o Estado estaria realizando
atividade desnecessária ao julgar a procedência (ou
improcedência) da demanda ajuizada. Tal atividade inútil estaria
sendo realizada em prejuízo daqueles que realmente precisam da
atuação estatal, o que lhes causaria dano (que adviria, por
exemplo, do acúmulo de processos desnecessários em um juízo ou
tribunal). Por esta razão, inexistindo interesse de agir, deverá
o processo ser extinto sem resolução de mérito41.
O interesse de agir é identificado pela presença de dois
elementos, que fazem como que esse requisito do provimento final39 idem40 idem41 idem
40
seja verdadeiro binômio: “necessidade da tutela jurisdicional” e
adequação do provimento pleiteado”. Fala-se, assim, em
interesse-necessidade e em interesse-adequação. A ausência de
qualquer dos elementos componentes desse binômio implica
ausência do interesse de agir, conforme podemos interpretar das
lições do professor Alexandre Freitas Câmara42.
Quando for possível julgar o mérito de uma ação
improcedente, deve o magistrado fazer isso em vez de extinguir o
processo sem resolução de mérito por ausência de interesse de
agir a fim de resolver logo o problema.
Alegam Eduardo Nobre e Bruno Molina que o interesse de
agir do Ministério Público deve ser demonstrado no caso concreto
através de reclamações da própria sociedade e não apenas porque
no entender do promotor de justiça alguém violou direitos
individuais homogêneos da sociedade43.
Tal entendimento não deve prosperar na medida em que os
membros do Ministério Público possuem autonomia e liberdade para
exercer sua profissão. O Promotor de Justiça ou Procurador da
República possuem liberdade para diante de uma lesão a direitos
fundamentais atuar para defender a sociedade e não precisam
esperar várias reclamações.
O interesse de agir do Ministério Público é presumido
pela própria norma que lhe confere atribuição, segundo
interpretação dos ensinamentos de Hugo Nigro Mazzilli.44 Sendo
assim não necessita o promotor de justiça ou outro membro do
Ministério Público anexar à sua peça vestibular reclamações de
pessoas que se sentem lesadas. Até porque vivemos em um país em42 Op.cit43 Op. cit.44 Op.cit
41
que a grande maioria da população não tem consciência de seus
direitos e fazer tal exigência seria dificultar a tutela de
direitos transindividuais, sobretudo no interior dos Estados,
onde a educação é de qualidade ainda mais baixa que nas
capitais, em regra.
Apesar do interesse de agir do Ministério Público ser
presumido, é possível que no caso concreto o mesmo não tenha
interesse de agir, como no caso em que o Ministério Público pede
que uma fábrica instale filtros para poluir menos e a mesma já
não esteja mais em atividade. Neste caso, faltará ao Ministério
Público o interesse necessidade45. É possível ainda que falte ao
Ministério Público o interesse adequação como no caso em que o
Ministério Público impetra um mandado de segurança quando o
remédio cabível seria a ação civil pública.
O interesse de agir do Ministério Público também é
presumido como órgão interveniente em ações coletivas, podendo
este nobre órgão, realizar pedidos, aditando a inicial, produzir
provas, recorrer, etc.
Na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos, possui o Ministério Público legitimidade para
recorrer tanto quando atua como órgão agente quanto quando atua
como órgão interveniente, segundo lições de Hugo Nigro
Mazzilli46.
Com a Constituição Federal de 1988 o Ministério Público
ganhou novas atribuições e tem exercido muito bem essas novas e
importantes atribuições, tanto que o Ministério Público é uma
das instituições que possuem maior confiança da sociedade.
45 idem46 idem
42
Sendo assim, deve-se sempre evitar amesquinhar o papel
constitucional do Ministério Público, extinguindo as ações
propostas pelo mesmo sem resolução de mérito.
5.3 Da defesa dos interesses difusos e coletivos
A era industrial introduziu na sociedade o risco47. Com a
introdução desse risco na sociedade surgiu uma maior necessidade
de proteção de direitos difusos, coletivos e individuais
47 Op. Cit.43
homogêneos, principalmente, tendo em vista que antes da
revolução industrial as relações não eram tão massificadas.
Segundo Ana Lucia Creão Augusto48, historicamente as
camadas mais pobres da sociedade são as destinatárias de danos
materiais e morais.
48 idem44
5.4 Legitimidade: substituição processual
A parte interessada deve buscar o Estado em busca de uma
demanda para ver concretizado o seu direito material, segundo
Ana Lucia Creão Augusto49.
Para que o cidadão tenha direito de ver o Estado julgando
o mérito de sua pretensão, é necessário que no estejam
preenchidas todas as condições da ação50. As condições da ação
são legitimidade, interesse de agir e para muitos a
possibilidade jurídica do pedido.
Classicamente a defesa de interesses em juízo ocorre pela
legitimação ordinária, ou seja, é o próprio lesado quem defende
seu interesse51.
Contudo, não é isso que ocorre com a defesa de direitos
transindividuais. Neste sentido, nos ensina Ana Lúcia Creão
Augusto:Essa sistemática individual de provocar a jurisdiçãoestatal não se aplica aos interesses transindividuais, emfunção de suas características de indeterminação datitularidade, da indivisibilidade do direito e daindisponibilidade do interesse. Neste caso, a lei permiteque determinado legitimado, que não seja titular do direitomaterial, vá a juízo na defesa de interesse alheio,configurando a legitimação extraordinária, situaçãoexcepcional que depende de autorização legal, chamadaSubstituição Processual.
Atualmente possuem legitimidade para a defesa de
interesses difusos e coletivos o Ministério Público, a
Defensoria Pública, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade49 idem50 idem51 idem
45
de economia mista, a associação que possua entre os seus fins
institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, nos
termos do art.5º da Lei de Ação Civil Pública.
É necessário interpretar esse rol como meramente
exemplificativo, pois o Estado deve sempre fazer todo o possível
para julgar o mérito das ações coletivas. As ações coletivas
somente devem ser extintas quando não existir meio de resolver o
mérito da demanda. Ter interesse em julgar o mérito da demanda
não significa estar propenso a julgar a favor do autor ou do
réu, mas apenas ter necessidade de resolver um conflito de
massa. Neste sentido, nos ensina Gregório Assagra de Almeida52.
Com a ação popular deve ser adotada a mesma conclusão.
Caso, o magistrado entenda que o cidadão não possui legitimidade
ou interesse de agir para propor a ação coletiva deve encaminhar
os autos ao Ministério Público para que este decida se quer ou
não continuar com a ação. Além do mais, mesmo em casos em que o
magistrado desde o início entenda que não estão presentes todas
as condições da ação em determinada ação popular, deve remeter
os autos ao Ministério Público, pois o mesmo quando fiscal da
lei possui os mesmos poderes e ônus das partes. Sendo assim,
pode fazer pedidos, aditando a inicial e suprir eventual
ausência de uma das condições da ação e com isso dar
continuidade à ação coletiva, que passará a seguir o rito da
ação civil pública.
O Judiciário precisa entender que ele não deve
amesquinhar a utilização da ação popular. A ação popular é um
52 Op. cit46
dos principais instrumentos de participação política do cidadão
e quando propõe a ação, o cidadão quer ver o mérito de sua ação
popular analisado pelo Estado. Além do mais, a extinção da
maioria das ações populares propostas, só desestimula ainda mais
o cidadão a lutar contra lesões a direitos fundamentais,
sobretudo lutar contra o mau uso do dinheiro público.
O Poder Judiciário no sistema constitucional atual exerce
uma função fundamental para a efetivação dos direitos e
garantias fundamentais. Deixou assim de ser um órgão que resolve
apenas conflitos individuais e passou a assumir uma nova
realidade social. Ele assim o faz no exercício da jurisdição
coletiva. É por essa via potencializada que o Poder Judiciário
terá condições de cumprir melhor os seus objetivos. É dessa
forma que os direitos fundamentais terão maior efetividade53.
É dever do Judiciário julgar conflitos individuais e
coletivos, segundo podemos interpretar a partir da leitura do
art.5º, XXXV da Constituição Federal. Através do direito
processual coletivo comum que o Judiciário pode enfrentar
grandes causas sociais a fim de transformar a realidade social e
promover a justiça54.
Para ser respeitado política e socialmente deve o
Judiciário sempre que possível enfrentar o mérito dos processos
que envolvem grandes conflitos sociais55.
É importante que o Judiciário flexibilize os requisitos
de admissibilidade processual, para enfrentar o mérito do
processo coletivo e legitimar sua função social56.
53 idem54 idem55 idem56 idem
47
Enfrentar o mérito dos processos coletivos não significa
violar o princípio da imparcialidade. Significa apenas que o
Judiciário tem que ter a predisposição de resolver as grandes
causas sociais, podendo julgar a favor do autor ou do réu57.
A respeito do interesse jurisdicional no conhecimento do
mérito de uma ação coletiva, leciona Fredie Didier Jr58:Também está aqui presente outra perspectiva, o subprincípiodo interesse jurisdicional no conhecimento do mérito doprocesso coletivo. Outra disposição referente a esseprincípio pode ser encontrada na previsão da coisa julgadasecundum eventum probationis, seguindo a premissa da legislaçãode que não haverá coisa julgada, poderá ser reproposta ademanda, quando o julgamento for de improcedência porinsuficiência de provas (art.103, incisos e parágrafos do CDC,art.16 da LACP, art.18 da LAP. O que o legislador quis foigarantir o julgamento de mérito, não uma mera ficçãodecorrente da aplicação do ônus da prova como regra dejulgamento (art.333 do CPC).
Também a respeito do principio do interesse estatal no
julgamento de mérito de ações coletivas, vemos o seguinte
julgado do Superior Tribunal de Justiça:PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVILPÚBLICA. VÍCIO NA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. EXTINÇÃO DOFEITO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DADEMANDA COLETIVA. INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS.LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITOS INDIVIDUAISHOMOGÊNEOS. REPERCUSSÃO SOCIAL. CONTROLE INCIDENTAL DACONSTITUCIONALIDADE. POSSIBILIDADE.1. Cuida-se de ação civil pública ajuizada por associaçõesde defesa dos consumidores para discutir a fixação do prazode validade para a utilização dos créditos adquiridos pelosusuários do serviço de telefonia celular, sob a modalidadepré-pago, cuja regulamentação foi realizada pela Norma03/98 da ANATEL. Na aludida ação, além de ser pleiteada aobrigação dos réus de não mais limitar a validade dosreferidos créditos, buscou-se também a condenação desses aopagamento de indenização por danos morais coletivos, a serarbitrada pelo juízo. O processo foi extinto sem resoluçãodo mérito, ao fundamento de não ser cabível ação civilpública para discutir a inconstitucionalidade de lei. OTribunal Regional Federal anulou a sentença e determinou oprocessamento da ação civil pública. Nos embargos de
57 idem58 Op.cit
48
declaração, a empresa ora recorrente apontou a nulidadeprocessual, uma vez que, após a interposição do recurso deapelação, houve a renúncia dos mandatários da parte autorae, mesmo após intimação para a nomeação de novos patronospara a causa, não foi sanado o aludido vício, tendo oTribunal a quo julgado indevidamente a demanda.2. Quanto ao recurso da telefônica, não se conhece daalegação de divergência jurisprudencial, pois não hásimilitude fática entre o acórdão paradigma e o acórdãoimpugnado. Aquele não retrata a peculiaridade de que serevestem as demandas coletivas, não se adequando à situaçãoposta no presente caso.3. No que tange ao recurso da União, não se conhece daalegação de contrariedade ao art. 535 do CPC, porquanto, apretexto da indigitada violação, a recorrente limita-se afazer alegações genéricas, atraindo, por analogia, aincidência da Súmula 284/STF.4. Não há vício de fundamentação no acórdão recorrido.Embora argumente que não seria possível o saneamentoprocessual no âmbito dos aclaratórios, a negativa do pleitode nulidade foi expressamente fundamentada no princípio pasde nullité sans grief e no § 3º do art. 5º da Lei 7.347/85.5. A norma inserta no art. 13 do CPC deve ser interpretadaem consonância com o § 3º do art. 5º da Lei 7.347/85, quedetermina a continuidade da ação coletiva. Prevalece, nahipótese, os princípios da indisponibilidade da demandacoletiva e da obrigatoriedade, em detrimento da necessidadede manifestação expressa do Parquet para a assunção do póloativo da demanda. Em outras palavras, deve-se darcontinuidade às ações coletivas, a não ser que o Parquetdemonstre fundamentadamente a manifesta improcedência daação ou que a lide é temerária.6. A extinção do processo sem resolução do mérito, na formado art.267, IV, e 369 do CPC apenas seria admissível, caso oTribunal a quo procedesse a prévia intimação do órgãoministerial para a específica finalidade de prosseguir coma ação e houvesse justificada manifestação do Parquet emsentido contrário à continuidade da demanda, dada aatribuição legal deste último em prosseguir com o feito.7. No caso, o Ministério Público, intimado para ofertarparecer sobre o recurso, posicionou-se pelo provimento daapelação, o que, consoante o princípio da instrumentalidadedas formas, demonstra a viabilidade processual da demandaposta em juízo e reforça a necessidade da sua continuidade.8. A legitimidade do Ministério Público para a defesa dosdireitos individuais homogêneos está evidenciada, dada arepercussão social da matéria em exame, que se refere àprestação de serviço de telefonia, atingindo milhares depessoas.
49
9. A análise da litispendência encontra-se prejudicada noâmbito do presente apelo, porquanto não constam dosdocumentos juntados aos autos a data do protocolo da açãomencionada, nem a situação processual da mesma quando dapropositura da presente demanda.Ademais, em consulta ao sítio do Tribunal Regional da 4ªRegião, não foi encontrado processo com a numeraçãoinformada pela recorrente.10. No âmbito da ação civil pública, é possível adeclaração incidental da inconstitucionalidade, quando acontrovérsia constitucional não figura como pedido, mascomo causa de pedir, fundamento ou simples questãoprejudicial da questão principal, como é o caso dos autos,em que as autoras buscam, entre outras providências, areparação de danos decorrentes de práticas abusivascometidas no mercado de consumo. Precedentes.11. Recursos conhecidos em parte e, no mérito, nãoprovidos.(REsp 855.181/SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDATURMA, julgado em 01/09/2009, DJe 18/09/2009)
Quando o magistrado detectar que não existe legitimidade
por parte da autora da ação coletiva, deve remeter os autos ao
Ministério Público ou para outro legitimado para que o mesmo
decida se quer ou não dar continuidade à ação.
Logo, não deve o Judiciário extinguir por falta de
legitimidade uma ação civil pública proposta por uma associação
de moradores para defender os habitantes de seu bairro, se o
estatuto contiver entre os fins da associação a defesa judicial
dos moradores daquela comunidade. Neste sentido, já decidiu o
Superior Tribunal de Justiça. Senão Vejamos:AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. PRESERVAÇÃO ARQUITETÔNICA DOPARQUE LAGE (RJ). ASSOCIAÇÃO DE MORADORES. LEGITIMIDADEATIVA. PERTINÊNCIA TEMÁTICA CARACTERIZADA. CONCEITO LEGALDE "MEIO AMBIENTE" QUE ABRANGE IDEAIS DE ESTÉTICA EPAISAGISMO (ARTS. 225, CAPUT, DA CR/88 E 3º, INC. III,ALÍNEAS "A" E "D" DA LEI N. 6.938/81).1. O estatuto da associação recorrente prevê, em seu art.4º (1), que um de seus objetivos é "[z]elar pela manutençãoe melhoria da qualidade de vida do bairro, buscando mantersua ocupação e seu desenvolvimento em ritmo e graucompatíveis com suas características de zona residencial".2. Desta cláusula, é perfeitamente possível extrair sualegitimidade para ação civil pública em que se pretende o
50
seqüestro do conjunto arquitetônico "Mansão dos Lage", acessação imediata de toda atividade predadora e poluidorano conjunto arquitetônico e a proibição de construção deanexos e de obras internas e externas no referido conjuntoarquitetônico. Dois são os motivos que levam a talcompreensão.3. Em primeiro lugar, a Constituição da República vigenteexpressamente vincula o meio ambiente à sadia qualidade devida (art. 225, caput), daí porque é válido concluir que aproteção ambiental tem correlação direta com a manutenção emelhoria da qualidade de vida dos moradores do JardimBotânico (RJ).4. Em segundo lugar, a legislação federal brasileira quetrata da problemática da preservação do meio ambiente éexpressa, clara e precisa quanto à relação de continênciaexistente entre os conceitos de loteamento, paisagismo eestética urbana e o conceito de meio ambiente, sendo queeste último abrange os primeiros.5. Neste sentido, importante citar o que dispõe o art. 3º,inc. III, alíneas "a" e "d", da Lei n. 6.938/81, queconsidera como poluição qualquer degradação ambientalresultante de atividades que direta ou indiretamenteprejudiquem a saúde e o bem-estar da população e afetemcondições estéticas do meio ambiente.6. Assim sendo, não há como sustentar, à luz da legislaçãovigente, que inexiste pertinência temática entre o objetosocial da parte recorrente e a pretensão desenvolvida napresente demanda, na forma do art. 5º, inc. V, alínea "b",da Lei n. 7.347/85.7. Recurso especial provido.(REsp 876.931/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,SEGUNDA TURMA, julgado em 10/08/2010, DJe 10/09/2010)
Não deve também o judiciário extinguir sem resolução de
mérito por ausência de legitimidade processual a ação proposta
por centro acadêmico para a defesa dos alunos do curso que o
mesmo representa. Neste sentido, o seguinte julgado do STJ:AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CENTRO ACADÊMICO DE DIREITO.LEGITIMIDADE. ASSOCIAÇÃO CIVIL REGULARMENTE CONSTITUÍDA.REPRESENTAÇÃO ADEQUADA. LEI N.º 9.870/99. EXEGESESISTEMÁTICA COM O CDC.1. Os "Centros Acadêmicos", nomenclatura utilizada paraassociações nas quais se congregam estudantesuniversitários, regularmente constituídos e desde quepreenchidos os requisitos legais, possuem legitimidade paraajuizar ação civil pública em defesa dos direitosindividuais homogêneos, de índole consumerista, dosestudantes do respectivo curso, frente à instituição deensino particular. Nesse caso, a vocação institucional
51
natural do centro acadêmico, relativamente aos estudantesde instituições de ensino privadas, insere-se no rolprevisto nos arts. 82, IV, do CDC, e art. 5º da Lei n.º7.347/85.2. A jurisprudência do STF e do STJ reconhece que,cuidando-se de substituição processual, como no caso, não éde exigir-se autorização ad hoc dos associados para que aassociação, regularmente constituída, ajuíze a ação civilpública cabível.3. Por outro lado, o art. 7º da Lei 9.870/99, deve serinterpretado em harmonia com o art. 82, IV, do CDC, o qualé expresso em afirmar ser "dispensada a autorizaçãoassemblear" para as associações ajuizarem a ação coletiva.4. Os centros acadêmicos são, por excelência e por força delei, as entidades representativas de cada curso de nívelsuperior, mercê do que dispõe o art. 4º da Lei n.º7.395/85, razão pela qual, nesse caso, o "apoio" a que fazmenção o art. 7º, da Lei n.º 9.870/99 deve ser presumido.5. Ainda que assim não fosse, no caso houve assembléiaespecificamente convocada para o ajuizamento das açõesprevistas na Lei n.º 9.870/99 (fls. 76/91), havendo sidocolhidas as respectivas assinaturas dos alunos,circunstância em si bastante para afastar a ilegitimidadeaventada pelo acórdão recorrido.6. Recurso especial provido.(REsp 1189273/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTATURMA, julgado em 01/03/2011, DJe 04/03/2011).
A legitimidade para a defesa dos interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos é concorrente, ou seja, cada
legitimado pode atuar sem a participação dos demais. Isso traz
uma série de vantagens para a sociedade, pois, em determinados
casos seria impossível que todos os lesados propusessem ações
individuais, sem contar que haveria um risco muito maior de
decisões contraditórias, segundo Ana Lucia Creão Augusto59. Além
da legitimidade ser concorrente, ela é disjuntiva, ou seja, um
legitimado não precisa de autorização do outro para atuar, e nem
existe necessidade de litisconsórcio, segundo ensinamentos de
Hugo Nigro Mazzilli60.
59 Op. Cit.60 Op.cit.
52
Ana Lucia Creão Augusto61 elenca os três posicionamentos
a respeito da natureza jurídica da legitimidade ativa para a
propositura para a ação civil pública:- A legitimidade ativa seria de natureza ordinária, pois,todos os legitimados atuam em nome de interesses desociedade ou grupo, categoria ou classe de pessoas etambém, em nome próprio, em cumprimento de funçãoinstitucional; por ex. o Ministério Público ao tutelar omeio ambiente.- A legitimidade ativa seria de natureza extraordinária,pois, os interesses transindividuais têm como titular todaa coletividade, e os legitimados não seriam os titulares dointeresse em juízo; por ex. o Ministério Público em ação deregularização de parcelamento irregular do solo.- A legitimidade ativa não seria nem ordinária, nemextraordinária e sim, autônoma e, portanto, diferente daclassificação tradicional, pois, tutela interessesindivisíveis e de titularidade indeterminada, daí porqueexige legislação específica, como a Lei 7.347/85.
Apesar do debate doutrinário a melhor interpretação é a
de que os legitimados para a propositura de ações coletivas são
substitutos processuais, consoante interpretação dos
ensinamentos de Ana Lúcia Creão Augusto62. A legitimidade,
portanto, seria extraordinária. No mesmo sentido leciona Hugo
Nigro Mazilli63.
Determinadas entidades precisam demonstrar que atendem a
requisitos de representatividade adequada, tais como as
associações civis e os órgãos públicos. A primeiras precisam
demonstrar a pré-constituição a mais de um ano e a pertinência
temática, enquanto os últimos precisam demonstrar a pertinência
temática64.
Como a Lei de Ação Civil Pública não fez distinção entre
fundações públicas e privadas deve o juiz admitir a legitimidade
61 Op.cit62 idem63 Op.cit64 Op.cit.
53
processual de ambas. É possível dispensar a pré-constituição a
mais de um ano quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano. Ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido65.
A lei não exige representatividade adequada do Ministério
Público e das pessoas jurídicas de direito público interno66.
Com a introdução da Defensoria Pública no rol dos
legitimados, surgiu um debate se só teria legitimidade em
determinados casos ou se teria uma legitimidade incondicionada
assim como o Ministério Público67.
A melhor interpretação parece ser a de que a Defensoria
Pública pode defender interesses de toda uma coletividade de
pessoas desde que existam pobres nesse grupo. Seria possível
argumentar que a Defensoria Pública possui legitimidade
incondicionada, pois a lei não estabeleceu nenhum tipo de
limitação e que pelo principio da necessidade de julgamento de
mérito das ações coletivas, quanto maior o número de legitimados
ativos, mais protegida estará a sociedade contra lesões a
direitos fundamentais. Contudo, a interpretação do dispositivo
da Lei de Ação Civil Pública deve ser feita junto com a
interpretação constitucional do papel da Defensoria Pública.
Consoante vemos no inciso LXXIV do art.5º e 134 de nossa lei
maior a Defensoria Pública possui a atribuição de defender os
pobres. Se tiver uma legitimidade incondicionada e se realmente
exercer essa legitimidade, os Defensores Públicos terão menos
tempo para defender os pobres. Não podemos nos esquecer que por
falta de pessoal e problemas de estrutura a Defensoria Pública65 idem66 idem67 idem
54
tem dificuldades para atender os pobres da forma que os mesmos
merecem ser atendidos, apesar da Defensoria Pública estar
melhorando gradativamente a qualidade de seus serviços e apesar
da honestidade e capacidade da maioria dos Defensores Públicos.
A respeito do tema, assim fala Ana Lúcia Creão Augusto68:Assim, a atuação da Defensoria Pública nas ações civispúblicas orienta-se pelo fundamento de sua missão, ou seja,apenas na defesa dos necessitados. Portanto, não possui aDefensoria Pública legitimação ativa universal para todasas ações civis públicas, mas apenas para aquelas em queesteja evidente a proteção e defesa de direitos dosnecessitados.
Segundo Hugo Nigro Mazilli69 o requisitos de
representatividade adequada e pertinência temática são
pressupostos processuais, não se confundindo com as condições da
ação. Uma associação pode ser constituída a menos de um ano e
ter interesse processual (o juiz pode dispensar o pressuposto,
mas não uma condição da ação).
Fredie Didier Jr 70não concorda com a tese da legitimação
ordinária nas ações coletivas:Revela-se incorreta a tese da legitimação ordinária, quepoderia advir do entendimento de que os legitimados paraagir são os “adequados portadores” deduzindo interessepróprio em juízo e, ao mesmo tempo, interesse de todos quese identificam no coletivo, para obtenção de um provimentode mérito extensível à coletividade. Ocorre que a adoçãodessa teoria resultaria “irrefutável a necessidade dapesquisa em torno das finalidades estatutárias dos entesque se afirmam para agir em juízo, eis que é de suaconstatação que ressalta a afirmada titularidade da lide e,portanto, a legitimação ordinária. Assim, estaria reduzidaa participação e aplicação das ações coletivas. Não setrata de legitimação ordinária. Por outro lado, ocorrendoum reconhecimento pelo direito da posição de titular dedireito subjetivo ao sindicato, entidade de classe ouassociação em decorrência da sua afinidade temática com o
68 idem69 MAZZILLI, Hugo. Questões polêmicas sobre a ação civil pública. Revista daEscola Nacional de Magistratura, v. 1, n. 1, abr. 2006, p. 226.70 Op. cit
55
direito objetivo violado (meio ambiente), dar-se-álegitimação ordinária para impetrar ação ordináriaindividual ou algum outro procedimento especial cabível,por exemplo, o mandado de segurança individual.
5.5 Interesse necessidade: uso da Jurisdição
Quando propõe uma ação coletiva, o jurisdicionado e o
substituto processual acreditam que apenas com o ajuizamento de
uma demanda será possível resolver o seu problema. Sendo assim,
a atuação do Judiciário deve ser célere e efetiva, na medida em
56
que o problema envolve toda uma coletividade de pessoas. No
mesmo sentido, Ana Lucia Creão Augusto71.
Na defesa dos direitos difusos e coletivos, o Ministério
Público sempre possui interesse de agir, não necessitando
demonstrar esse interesse em todos os casos concretos72. Vemos no
art.129 da Constituição Federal que o Ministério Público possui
a função de promover a defesa do patrimônio público e social, do
meio ambiente e de outros direitos difusos e coletivos.
É possível caracterizar a litispendência como uma espécie
de ausência de interesse de agir. Ocorre a litispendência quando
alguém propõe uma ação idêntica à outra anteriormente ajuizada
que ainda não transitou em julgado. Para que duas ações sejam
idênticas, é necessário que tenham as mesmas partes, mesma causa
de pedir e mesmo pedido. Contudo, já decidiu o Superior Tribunal
de Justiça que para analisar se houve ou não a litispendência,
não se deve analisar o substituto processual, mas os
beneficiários da ação coletiva:AGRAVO REGIMENTAL. MEDIDA CAUTELAR. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTODO MÉRITO. LITISPENDÊNCIA COM O MS 13.582/DF. PRETENSÃO DEIMPEDIR O DESCONTO DOS DIAS PARADOS EM RAZÃO DE MOVIMENTOGREVISTA. AUDITORES FISCAIS. EXTENSÃO DOS EFEITOS DALIMINAR CONCEDIDA NOS AUTOS DA AÇÃO MANDAMENTAL. ALEGAÇÃODE EXISTÊNCIA DE ACORDOS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. RECURSODESPROVIDO.1. Para a configuração do instituto da litispendência emações coletivas, deve-se levar em conta os beneficiários datutela pleiteada e não o substituto processual que figurano pólo ativo, para fins de verificação da identidade departes no processo.2. A indivisibilidade do objeto dos interesses coletivos,muitas das vezes, importará na extensão dos efeitosfavoráveis da decisão a quem não manteve vínculoassociativo com a entidade impetrante, que, na verdade, nãoé a titular do direito, mas tão-somente a adequadasubstituta processual na tutela dos interesses da
71 Op.cit72 idem
57
categoria, a quem a lei conferiu legitimidade autônoma paraa condução do processo; nessas hipóteses, portanto, diz-seque o bem da vida assegurado pela decisão é fruível portodo o universo de integrantes da categoria, grupo ouclasse e não somente pelos filiados à entidade que propôs aação.3. O fato de as ações possuírem ritos processuaisdiversos, não impede o reconhecimento da ocorrência delitispendência, uma vez que a identidade jurídica dospedidos implica na inocuidade de uma demanda, caso a outraseja deferida; a ratio essendi do instituto dalitispendência é impedir que a parte promova duas demandascom a mesma pretensão, além da ocorrência de resultadosopostos para a mesma situação fática.4. Não ficou comprovada a existência de acordosrealizados entre o Poder Público e algumas entidadesrepresentativas da categoria, que permitisse o desconto emvalor superior aos 10% deferidos na decisão liminar;inviável a consideração de argumento desprovido decorroboração fática, que somente reforça a falta dademonstração do direito subjetivo do Estado em não cumpriro decisum.5. Agravo Regimental desprovido.(AgRg na MC 14.216/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIAFILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/10/2008, DJe23/10/2008)
Por exemplo, se dois cidadãos propuserem a mesma ação
popular, haverá litispendência. Contudo, a existência da
litispendência não deve implicar na extinção do processo sem
julgamento de mérito, mas na possibilidade dos dois figurarem no
processo, sendo o segundo um assistente jurídico ou segundo
alguns, um litisconsorte.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O direito de ação é o poder de exercer posições jurídicas
ativas no processo.
Não se deve confundir o direito de ação com o direito de
petição. O primeiro é o poder de assumir posições jurídicas
ativas no processo, conforme leciona Alexandre Freitas Câmara73,
ou segundo alguns outros doutrinadores o direito de ter o mérito
do seu caso analisado pelo Poder Judiciário. O direito de
petição é o direito de encaminhar ao Estado uma determinada
pretensão, podendo ser encaminhada ao Legislativo, Executivo ou
Judiciário.
73 Op.cit.59
O direito de ação está contido no núcleo dos direitos
fundamentais. É direito básico de todo cidadão poder levar seu
problema para que o Estado resolva. No momento em que o Estado
toma para si o poder de solucionar os conflitos, assume a
obrigação de solucioná-los, deixando poucos casos para que o
cidadão se valha da autodefesa.
Como as ações coletivas normalmente visam tutelar os
interesses de um número bem grande de pessoas, deve o Judiciário
dar preferência a esse tipo de ação. É importante que o Conselho
Nacional de Justiça estabeleça tal medida aos juízes e
tribunais, pois ao julgar uma ação coletiva, os juízes estarão
dando solução a um problema de interesse de toda uma
coletividade de pessoas. Com o processo coletivo é possível
resolver o problema de uma coletividade ao mesmo tempo e se
diminui o risco de haver decisões contraditórias.
O Judiciário somente se pronuncia a respeito do mérito de
uma demanda, se estiverem presentes determinados requisitos
chamados condições da ação. Contudo, em processos coletivos, ao
se perceber que o legitimado não atende a uma das condições da
ação, deve o Judiciário encaminhar os autos ao Ministério
Público para que este decida se deve ou não dar continuidade à
ação. Na ação popular, mesmo que sem citar o réu, o magistrado
entenda que não estão presentes todas as condições da ação, deve
encaminhar os autos ao Ministério Público para que este decida
se quer ou não dar continuidade ao feito. Além do mais, na ação
popular, por exemplo, caso o magistrado entenda que a ação
popular não é o meio adequado, mas que o meio adequado é a ação
civil pública e o Ministério Público aditar o pedido, a ação
popular não deve ser extinta sem julgamento de mérito por60
ausência de interesse adequação, mas deve tramitar sob o rito da
ação civil pública, pois o Ministério Público quando atua como
fiscal da lei possui os mesmos poderes e ônus das partes e, por
isso, pode fazer pedido e o Judiciário não estará julgando o
pedido do cidadão, mas o pedido do Ministério Público.
Na maioria das ações propostas para defender direitos
individuais a legitimação é ordinária, ou seja, alguém defende
em nome próprio direito próprio. Contudo, o oposto ocorre nas
ações coletivas, onde em geram a legitimação é extraordinária,
ou seja, alguém defende em nome próprio direito alheio. Em
regra, essa legitimação extraordinária ocorre por substituição
processual.
A maior parte das ações coletivas são propostas pelo
Ministério Público. Por um lado isso é bom, pois demonstra que
esse órgão está cumprindo bem a sua função conferida pelo
Constituinte de 1988. Por outro lado isso não é tão bom, pois
demonstra que a sociedade civil ainda atua pouco na defesa seus
direitos. É necessário que o Estado incentive o associativismo e
cooperativismo, além de conscientizar as pessoas de seus
direitos fundamentais e das formas de defendê-los por intermédio
de ações coletivas. A tendência é que a Defensoria ocupe um
papel de maior destaque na defesa dos direito coletivos agora
que possui legitimidade para a propositura de ação civil
pública.
Felizmente a Constituição e as leis vem aumentando o rol
de legitimados ativos em defesa de interesses transindividuais,
consoante ensinamentos de Hugo Nigro Mazzilli74.
74 Op.cit.61
O Ministério Público possui legitimidade para defender
direitos individuais homogêneos, se existir uma relevância
social que justifique a defesa do Ministério Público daquele
determinado interesse. É função institucional do Ministério
Público defender os interesses sociais, consoante vemos em nossa
Lei Maior.
Apesar do Ministério Público possuir interesse de agir
presumido e abstrato é possível que no caso concreto ele não
possua esse interesse de agir, como no caso em que o Ministério
Público propõe uma ação civil pública pedindo que uma fábrica
instale filtros para poluir menos e esta já não esteja mais em
atividade. Neste sentido, nos ensina Hugo Nigro Mazzilli75.
Associações de moradores possuem legitimidade ativa para
a defesa de moradores do bairro.
Uma comissão de defesa do consumidor da Assembléia
Legislativa possui legitimidade para a defesa a titulo coletivo
dos consumidores.
Atualmente possuem legitimidade para a defesa de
interesses difusos e coletivos o Ministério Público, a
Defensoria Pública, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade
de economia mista, a associação que possua entre os seus fins
institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
A legitimidade para a propositura da ação coletiva é
concorrente, ou seja, o legitimado pode atuar sem a participação
75 idem62
dos demais. Além de ser concorrente ela é disjuntiva, ou seja,
um legitimado pode atuar sem a autorização dos demais.
A atuação do Judiciário no julgamento de ações coletivas
deve ser célere e efetiva.
É preciso que o Judiciário flexibilize o máximo possível
as condições da ação nos processos coletivos. São os juízes os
profissionais do direito que mais se queixam do excesso de
trabalho e da existência de várias causas repetitivas e são
justamente os magistrados que mais criam empecilhos para que em
uma ação coletiva o problema de várias pessoas ao mesmo tempo,
reduzindo a carga de trabalho deles.
Além do mais, a maior efetivação da tutela coletiva é
benéfica para o cidadão, pois reduz o risco de decisões
contraditórias e o povo não aguenta mais saber que o
reconhecimento de seu direito depende de qual juiz irá julgar a
sua causa.
63
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