Abraço completo à infância

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Abraço completo à infância

Empresa Municipal de Multimeios Ltda.Largo dos Leões, 15 • 9º andar Rio de Janeiro/RJ • BrasilCEP: 22260-210 • Tel.: 55 (XX21) 2528-8282 • Fax: 55 (XX21) [email protected] • www.multirio.rj.gov.br

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Cesar MaiaPrefeito

Sonia MograbiSecretária Municipal de Educação

Regina de AssisPresidente da Multirio

Marcos OzórioDiretor de Mídia e Educação

Maria Inês DelormeDiretora do Núcleo de Publicações e Impressos

Marcelo SalernoDiretor do Núcleo de Tecnologia da Informação

Produção de textosAndréa Relva da Fonte, Angélica Algebaile, Flávia Maria de Menezes, Joanna Miranda, Maria Inês Delorme e Vera Lúcia Messeti Lucas

Coordenação pedagógica e ediçãoJoanna Miranda e Maria Inês de Carvalho Delorme

FotosAlberto Jacob Filho

Seleção e produção de fotos Joanna Miranda e Maria Inês de Carvalho Delorme

Edição FinalCristina Campos e Martha Neiva Moreira

RevisãoAna Lúcia Richa e Jorge Eduardo Machado

Projeto gráfi coGEA

DiagramaçãoAdriana Simeone, Aline Carneiro, David Macedo e Gustavo Cadar

Produção Gráfi caVivian Ribeiro

IlustraçãoErick Grigorovsky

CapaAline Carneiro

Agradecimentos especiais CM Aldeia dos Curumins – 1ª CRE CM Criança do Futuro – 7ª CRE CM Guararapes - 2ª CRE

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Introdução 4

Adaptação 5

Alimentação 14

Banho 24

Sono 33

Xixi e cocô 42

Regras 51

Medo 60

Egocentrismo 69

Sexualidade 78

Acidentes 87

Conselhos tutelares 96

Sumário

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Introdução

Esta coleção foi criada para ajudar vocês, os respon-sáveis por suas crianças e os demais funcionários da creche na tarefa cotidiana de cuidar e de educar.

Este material se destina a alimentar boas refl exões e a desafi ar vocês e os demais adultos signifi cativos para as crianças (pais, tios, primos, avós, irmãos mais velhos) a canalizarem toda a sua atenção e suas melhores energias para o que acontece no convívio do dia-a-dia da creche. Todas as crianças de 3 meses a 3 anos e 11 meses de idade precisam de carinho, de boas histórias e de brincadeiras; de alimentação equilibrada, de cui-dados e muita atenção.

Para que cresçam felizes, tranqüilas e saudáveis, preci-sam de abraços. De muitos e de variados abraços, bem quentinhos. Acolhedores.

Elas precisam abraçar e serem abraçadas, calorosamen-te, todos os dias. Os educadores precisam “abraçar” as formas próprias de cada uma delas ser e sentir. Cabe aos adultos, também, “abraçar“ a defesa dos direitos das crianças, a construção parcimoniosa e gradual de seus deveres e, sobretudo, a luta pela realização dos seus desejos.

Secretaria Municipal de Educação e MultiRio

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“Será que o meu bebê vai conseguir dormir fora de casa? Se ele chorar, quem vai dar colo para ele? Ele se alimenta bem, é guloso, mas não gosta do banho. Como vai ser?”(mãe)

“Será que a família do bebê vai gostar de mim? Tomara que o bebê não me estra-nhe”. (educador)

Desde que nasce, a criança já é parte de um grupo social no qual desempenha um papel compatível com o contexto em que está inserida. Ao ingressar na Educação Infantil, um novo papel vai assumir, já que novas relações sociais se estabelecerão, desafi ando-a a ampliar e até transformar suas experiências, seus co-nhecimentos e valores já constituídos.

ADAPTAÇÃO

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Na creche, até que se construa uma rede de afeto, de parceria e de confi ança entre todos os envolvidos, será necessária muita conversa e aproximação entre as fa-mílias e os educadores, além de um acompanhamento atento e muito acolhedor para com a criança.

Acolher signifi ca estar apto a dar e receber afeto, procurando resgatar em si e nos outros as melho-res possibilidades de encontro e de relacionamento. Acolher, mais do que apenas adaptar, é um movimento afetivo de aceitação que equivale a abraço bem forte, abraço completo, quentinho. Signifi ca a possibilidade de se colocar no lugar do outro, estabelecendo relações de cooperação, solidariedade, cumplicidade, apoio. O profi ssional de creche acolhe suas crianças e também elas acolhem esses profi ssionais, também os novos amigos e outros adultos da creche. Os responsáveis, por sua vez, acolhem os profi ssionais com quem vão compartilhar a atenção, os cuidados e a educação de suas crianças.

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A entrada de uma nova criança na creche é um momento especial para cada um de vocês, pro-fi ssionais que trabalham na instituição, e, ainda, para as outras crianças, que podem se sentir in-seguras, desconfortáveis e desconfi adas. Assim, é necessário acolhê-las também.

Medos e ansiedadesÉ muito comum que adultos e crianças sintam medo e tenham dúvidas ao iniciar a adaptação na creche. As mães, os responsáveis e as famílias costumam fi car ansiosos, assim como vocês, com essa nova etapa. Para mini-mizar o clima de ansie-dade, uma boa alternati-va é visitar a creche para conhecer o ambiente, conversar e tirar as dúvidas. Lá, os profi ssio-nais de educação infantil devem estar preparados para entender, respeitar

Família é o nome que se dá ao grupo de pessoas que convive numa mes-ma casa, unido por laços de amor, de compromis-so e de responsabilida-de mútua: mulheres e homens que se casaram ou vivem juntos, que têm fi lhos ou não. Deste modo, há famílias muito diferentes umas das ou-tras, mas é preciso buscar conhecê-las e respeitá-las do jeito que elas são.

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e responder, sem medo, às perguntas dos responsáveis, sempre que for possível. É necessário que eles saibam o que pensam as crianças, suas preferências, seus medos, o que podem ou não podem comer e como é a vida delas fora da creche. Pode-se garantir que quando os adultos estão seguros e tranqüilos para a vivência do acolhimento, o período de adaptação se dá de modo suave e feliz.

A creche é um espaço onde a diversidade se faz pre-sente e esse reconhecimento exige desenvolver estraté-gias de atendimento particularizado.

Toda criança tem direito à crecheÉ comum os responsáveis ou os profi ssionais da creche observarem que alguns bebês demoram mais tempo do que a maioria para fi rmar a cabeça, sorrir, acompanhar sons, objetos e pessoas com a cabeça e o olhar. Sempre que houver indicadores de que o bebê é portador de alguma defi ciência, é importante procurar ajuda. No município do Rio de Janeiro, há o Instituto Helena Antipoff , onde profi ssionais especializados poderão orientar o trabalho a ser desenvolvido nas creches. É bom esclarecer que todo bebê tem o direito legal de freqüentar creches. Nenhuma criança pode ser recusada pelo fato de ser portadora de defi ciência. Isso é considerado crime e seu infrator poderá ser punido, como previsto em lei.

Quantas horas o bebê deve fi car na creche?As crianças devem fazer a adaptação aumentando gra-dativamente o número de horas que permanecerão na creche. O que determina se essa fase vai durar mais ou

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menos tempo é a reação da criança à nova experiência. Sempre que possível, os profi ssionais de creche devem negociar as decisões a serem tomadas com as famílias para todos fi carem mais seguros.

Vocês podem sugerir à família que permaneça por alguns dias e por algum tempo no espaço da creche até que a fase inicial de adaptação esteja superada. A presença da mãe ou de um outro adulto no espaço da creche pode ser tranqüilizadora para todos, especial-mente quando a criança apresenta um desconforto, algum medo, um choro intermitente etc. O importante é que a equipe da creche e as famílias se sintam seguras e busquem, juntas, o melhor para a criança.

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O registro é necessárioPara realizar um trabalho de qualidade, os educadores precisarão desenvolver a prática da leitura, discutir com os seus pares, pesquisar, observar e registrar o dia-a-dia, refl etindo na prática e escutando também os responsáveis. A observação e o registro do que acon-tece em um espaço onde, aparentemente, apenas “se brinca”, além do modo como as crianças vivenciam as brincadeiras com outras crianças e com a presença do adulto, são fundamentais. É bom lembrar que o pro-cesso de interação por meio das brincadeiras faz com que adultos e crianças se tornem sujeitos que ensinam e aprendem, que brincam e conhecem, que sonham e realizam.

Mitos e complicadoresCada uma das crianças tem uma forma própria de viver as diferentes fases da vida e de se adaptar a novas situações. Não se pode dizer que exista, por exemplo, uma idade que favoreça mais ou menos o processo de adaptação à creche. Em tese, a partir dos 6 meses de vida, os bebês começam a sinalizar um estranhamento em relação a espaços, pessoas, sons etc. que lhes sejam desconhecidos. Esses sinais podem se transformar em características típicas do temperamento de uma crian-ça e podem se manter até os 18 meses ou 24 meses. O fato é que os bebês vão crescendo e criando relações com outros adultos, com outras crianças, com sua cama, seus brinquedos etc. e passam a expressar sua ausência quando eles não estão por perto, até poderem entender, aos poucos, que aquilo que não pode ser visto nem tocado não deixa de existir.

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Quando ele volta para casa, reencontra as pessoas e as coisas que está habituado a ver e, muitas vezes, chora de saudades de um amiguinho ou brinquedo que fi cou na creche. Em qualquer idade é possível amenizar esse sentimento, por exemplo, combinando com a família que permita a essa criança levar e trazer com ela, por algum tempo, um objeto ou um brinquedo.

Buscando estratégias...Para facilitar a adaptação de novos e de antigos, há muitas estratégias como a organização de horários separados de atendimento, de espaços a serem utili-zados. O espaço delimitado e organizado não pode ser aprisionador e deve ser planejado de modo que os materiais, brinquedos e objetos estejam acessíveis às crianças. O ambiente deve propiciar a realização de

• Criar espaços para troca de informações entre os responsáveis sobre os temores, as fantasias, as dúvidas e os diferentes olhares sobre um mesmo fato;

• Permitir que pequenos grupos de crianças sejam re-cebidos em horários diferenciados para favorecer um atendimento mais individualizado;

• Convidar os responsáveis para vivenciarem junto com suas crianças, sob a orientação dos profi ssionais, algu-mas atividades especiais e as de rotina;

• Programar momentos em que as crianças que já co-nhecem a creche ou pré-escola possam estar em con-tato com as que estão chegando, de forma a realizarem juntas atividades em pequenos grupos.

O que pode ajudar na adaptação

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Saiba mais

Livros infantis O Patinho Feio, de Hans Christian Andersen, Editora Manole, 2006Dani, de Tony Ross, Zoe Ross, Editora Salamandra, 1998

Filmes para adultos

Regras da Vida, EUA, 1989, Diretor: Lasse Hallströng O Império do Sol, EUA, 1987, Diretor: Steven SpielbergPara Wong Foo, Obrigada por tudo, EUA, 1995, Dire-tor: Breban KidronEm qualquer outro lugar, EUA, 1999, Diretor: Wayne Wang O Casamento de Muriel, Austrália e França, 1994, Diretor: P.J.Hogan

atividades em que as relações interpessoais possam acontecer de forma espontânea e prazerosa.

Desde cedo, as crianças mostram um grande senso de solidariedade, dando muita atenção umas às outras e tendo uma boa capacidade de escuta. As que se sentem mais tranqüilas podem ajudar e facilitar o recebimento das mais novas. Estas, por sua vez, são desafi adas a tomar iniciativas e a responder ativamente na interação com as de mais idade ou as mais seguras.

Referências Biblio-gráfi cas:PCRJ, SME, Equipe de Educação Infantil. Roda de Conversa, no 1, feve-reiro de 2005.

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Cesar MaiaPrefeito

Sonia MograbiSecretária Municipal de Educação

Regina de AssisPresidente da Multirio

Marcos OzórioDiretor de Mídia e Educação

Maria Inês DelormeDiretora do Núcleo de Publicações e Impressos

Marcelo SalernoDiretor do Núcleo de Tecnologia da Informação

Produção de textosAndréa Relva da Fonte, Angélica Algebaile, Flávia Maria de Menezes, Joanna Miranda, Maria Inês Delorme e Vera Lúcia Messeti Lucas

Coordenação pedagógica e ediçãoJoanna Miranda e Maria Inês de Carvalho Delorme

FotosAlberto Jacob Filho

Seleção e produção de fotos Joanna Miranda e Maria Inês de Carvalho Delorme

Edição FinalCristina Campos e Martha Neiva Moreira

RevisãoAna Lúcia Richa e Jorge Eduardo Machado

Projeto gráfi coGEA

DiagramaçãoAdriana Simeone, Aline Carneiro, David Macedo e Gustavo Cadar

Produção Gráfi caVivian Ribeiro

IlustraçãoErick Grigorovsky

CapaAline Carneiro

Agradecimentos especiais CM Aldeia dos Curumins – 1ª CRE CM Criança do Futuro – 7ª CRE CM Guararapes - 2ª CRE

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Adaptação 5

Alimentação 14

Banho 24

Sono 33

Xixi e cocô 42

Regras 51

Medo 60

Egocentrismo 69

Sexualidade 78

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Conselhos tutelares 96

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Introdução

Esta coleção foi criada para ajudar vocês, os respon-sáveis por suas crianças e os demais funcionários da creche na tarefa cotidiana de cuidar e de educar.

Este material se destina a alimentar boas refl exões e a desafi ar vocês e os demais adultos signifi cativos para as crianças (pais, tios, primos, avós, irmãos mais velhos) a canalizarem toda a sua atenção e suas melhores energias para o que acontece no convívio do dia-a-dia da creche. Todas as crianças de 3 meses a 3 anos e 11 meses de idade precisam de carinho, de boas histórias e de brincadeiras; de alimentação equilibrada, de cui-dados e muita atenção.

Para que cresçam felizes, tranqüilas e saudáveis, preci-sam de abraços. De muitos e de variados abraços, bem quentinhos. Acolhedores.

Elas precisam abraçar e serem abraçadas, calorosamen-te, todos os dias. Os educadores precisam “abraçar” as formas próprias de cada uma delas ser e sentir. Cabe aos adultos, também, “abraçar“ a defesa dos direitos das crianças, a construção parcimoniosa e gradual de seus deveres e, sobretudo, a luta pela realização dos seus desejos.

Secretaria Municipal de Educação e MultiRio

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“Será que o meu bebê vai conseguir dormir fora de casa? Se ele chorar, quem vai dar colo para ele? Ele se alimenta bem, é guloso, mas não gosta do banho. Como vai ser?”(mãe)

“Será que a família do bebê vai gostar de mim? Tomara que o bebê não me estra-nhe”. (educador)

Desde que nasce, a criança já é parte de um grupo social no qual desempenha um papel compatível com o contexto em que está inserida. Ao ingressar na Educação Infantil, um novo papel vai assumir, já que novas relações sociais se estabelecerão, desafi ando-a a ampliar e até transformar suas experiências, seus co-nhecimentos e valores já constituídos.

ADAPTAÇÃO

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Na creche, até que se construa uma rede de afeto, de parceria e de confi ança entre todos os envolvidos, será necessária muita conversa e aproximação entre as fa-mílias e os educadores, além de um acompanhamento atento e muito acolhedor para com a criança.

Acolher signifi ca estar apto a dar e receber afeto, procurando resgatar em si e nos outros as melho-res possibilidades de encontro e de relacionamento. Acolher, mais do que apenas adaptar, é um movimento afetivo de aceitação que equivale a abraço bem forte, abraço completo, quentinho. Signifi ca a possibilidade de se colocar no lugar do outro, estabelecendo relações de cooperação, solidariedade, cumplicidade, apoio. O profi ssional de creche acolhe suas crianças e também elas acolhem esses profi ssionais, também os novos amigos e outros adultos da creche. Os responsáveis, por sua vez, acolhem os profi ssionais com quem vão compartilhar a atenção, os cuidados e a educação de suas crianças.

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A entrada de uma nova criança na creche é um momento especial para cada um de vocês, pro-fi ssionais que trabalham na instituição, e, ainda, para as outras crianças, que podem se sentir in-seguras, desconfortáveis e desconfi adas. Assim, é necessário acolhê-las também.

Medos e ansiedadesÉ muito comum que adultos e crianças sintam medo e tenham dúvidas ao iniciar a adaptação na creche. As mães, os responsáveis e as famílias costumam fi car ansiosos, assim como vocês, com essa nova etapa. Para mini-mizar o clima de ansie-dade, uma boa alternati-va é visitar a creche para conhecer o ambiente, conversar e tirar as dúvidas. Lá, os profi ssio-nais de educação infantil devem estar preparados para entender, respeitar

Família é o nome que se dá ao grupo de pessoas que convive numa mes-ma casa, unido por laços de amor, de compromis-so e de responsabilida-de mútua: mulheres e homens que se casaram ou vivem juntos, que têm fi lhos ou não. Deste modo, há famílias muito diferentes umas das ou-tras, mas é preciso buscar conhecê-las e respeitá-las do jeito que elas são.

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e responder, sem medo, às perguntas dos responsáveis, sempre que for possível. É necessário que eles saibam o que pensam as crianças, suas preferências, seus medos, o que podem ou não podem comer e como é a vida delas fora da creche. Pode-se garantir que quando os adultos estão seguros e tranqüilos para a vivência do acolhimento, o período de adaptação se dá de modo suave e feliz.

A creche é um espaço onde a diversidade se faz pre-sente e esse reconhecimento exige desenvolver estraté-gias de atendimento particularizado.

Toda criança tem direito à crecheÉ comum os responsáveis ou os profi ssionais da creche observarem que alguns bebês demoram mais tempo do que a maioria para fi rmar a cabeça, sorrir, acompanhar sons, objetos e pessoas com a cabeça e o olhar. Sempre que houver indicadores de que o bebê é portador de alguma defi ciência, é importante procurar ajuda. No município do Rio de Janeiro, há o Instituto Helena Antipoff , onde profi ssionais especializados poderão orientar o trabalho a ser desenvolvido nas creches. É bom esclarecer que todo bebê tem o direito legal de freqüentar creches. Nenhuma criança pode ser recusada pelo fato de ser portadora de defi ciência. Isso é considerado crime e seu infrator poderá ser punido, como previsto em lei.

Quantas horas o bebê deve fi car na creche?As crianças devem fazer a adaptação aumentando gra-dativamente o número de horas que permanecerão na creche. O que determina se essa fase vai durar mais ou

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menos tempo é a reação da criança à nova experiência. Sempre que possível, os profi ssionais de creche devem negociar as decisões a serem tomadas com as famílias para todos fi carem mais seguros.

Vocês podem sugerir à família que permaneça por alguns dias e por algum tempo no espaço da creche até que a fase inicial de adaptação esteja superada. A presença da mãe ou de um outro adulto no espaço da creche pode ser tranqüilizadora para todos, especial-mente quando a criança apresenta um desconforto, algum medo, um choro intermitente etc. O importante é que a equipe da creche e as famílias se sintam seguras e busquem, juntas, o melhor para a criança.

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O registro é necessárioPara realizar um trabalho de qualidade, os educadores precisarão desenvolver a prática da leitura, discutir com os seus pares, pesquisar, observar e registrar o dia-a-dia, refl etindo na prática e escutando também os responsáveis. A observação e o registro do que acon-tece em um espaço onde, aparentemente, apenas “se brinca”, além do modo como as crianças vivenciam as brincadeiras com outras crianças e com a presença do adulto, são fundamentais. É bom lembrar que o pro-cesso de interação por meio das brincadeiras faz com que adultos e crianças se tornem sujeitos que ensinam e aprendem, que brincam e conhecem, que sonham e realizam.

Mitos e complicadoresCada uma das crianças tem uma forma própria de viver as diferentes fases da vida e de se adaptar a novas situações. Não se pode dizer que exista, por exemplo, uma idade que favoreça mais ou menos o processo de adaptação à creche. Em tese, a partir dos 6 meses de vida, os bebês começam a sinalizar um estranhamento em relação a espaços, pessoas, sons etc. que lhes sejam desconhecidos. Esses sinais podem se transformar em características típicas do temperamento de uma crian-ça e podem se manter até os 18 meses ou 24 meses. O fato é que os bebês vão crescendo e criando relações com outros adultos, com outras crianças, com sua cama, seus brinquedos etc. e passam a expressar sua ausência quando eles não estão por perto, até poderem entender, aos poucos, que aquilo que não pode ser visto nem tocado não deixa de existir.

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Quando ele volta para casa, reencontra as pessoas e as coisas que está habituado a ver e, muitas vezes, chora de saudades de um amiguinho ou brinquedo que fi cou na creche. Em qualquer idade é possível amenizar esse sentimento, por exemplo, combinando com a família que permita a essa criança levar e trazer com ela, por algum tempo, um objeto ou um brinquedo.

Buscando estratégias...Para facilitar a adaptação de novos e de antigos, há muitas estratégias como a organização de horários separados de atendimento, de espaços a serem utili-zados. O espaço delimitado e organizado não pode ser aprisionador e deve ser planejado de modo que os materiais, brinquedos e objetos estejam acessíveis às crianças. O ambiente deve propiciar a realização de

• Criar espaços para troca de informações entre os responsáveis sobre os temores, as fantasias, as dúvidas e os diferentes olhares sobre um mesmo fato;

• Permitir que pequenos grupos de crianças sejam re-cebidos em horários diferenciados para favorecer um atendimento mais individualizado;

• Convidar os responsáveis para vivenciarem junto com suas crianças, sob a orientação dos profi ssionais, algu-mas atividades especiais e as de rotina;

• Programar momentos em que as crianças que já co-nhecem a creche ou pré-escola possam estar em con-tato com as que estão chegando, de forma a realizarem juntas atividades em pequenos grupos.

O que pode ajudar na adaptação

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Saiba mais

Livros infantis O Patinho Feio, de Hans Christian Andersen, Editora Manole, 2006Dani, de Tony Ross, Zoe Ross, Editora Salamandra, 1998

Filmes para adultos

Regras da Vida, EUA, 1989, Diretor: Lasse Hallströng O Império do Sol, EUA, 1987, Diretor: Steven SpielbergPara Wong Foo, Obrigada por tudo, EUA, 1995, Dire-tor: Breban KidronEm qualquer outro lugar, EUA, 1999, Diretor: Wayne Wang O Casamento de Muriel, Austrália e França, 1994, Diretor: P.J.Hogan

atividades em que as relações interpessoais possam acontecer de forma espontânea e prazerosa.

Desde cedo, as crianças mostram um grande senso de solidariedade, dando muita atenção umas às outras e tendo uma boa capacidade de escuta. As que se sentem mais tranqüilas podem ajudar e facilitar o recebimento das mais novas. Estas, por sua vez, são desafi adas a tomar iniciativas e a responder ativamente na interação com as de mais idade ou as mais seguras.

Referências Biblio-gráfi cas:PCRJ, SME, Equipe de Educação Infantil. Roda de Conversa, no 1, feve-reiro de 2005.

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ALIMENTAÇÃO

O abraço que fortalece, aquele que alimenta, depende de uma relação afetiva entre educadores e crianças. Exige mo-mentos de aproximação calorosa, que favoreçam experimentações, boas conversas, prazer e des-contração.

As refeições fazem parte da rotina das crian-ças. Além de a creche oferecer uma alimen-tação balanceada, deve planejar um tempo para que todos os funcioná-rios refl itam na nutrição infantil, junto com os

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“Eu gosto de cuidar do meu bebê em qualquer situação: dar banho, trocar fraldas... até limpar nariz, mas dar comida é um horror. Não tenho a menor paciência.” (mãe)

“Quando uma criança não quer comer, eu entro em pânico. Fico com medo dela fi car fraca, dos pais reclamarem comigo...” (educadora)

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responsáveis. A alimentação não é apenas a satisfação de uma necessidade fi siológica, é uma questão pedagó-gica. É preciso incluir nos centros de estudos dos pro-fi ssionais da creche a leitura dos manuais do Instituto de Nutrição Annes Dias – INAD. Neles são encontradas orientações importantes sobre alimentação.

A hora da refeição é considerada rotina na creche, porque acontece todos os dias, porém, de formas variadas: as crianças são diferentes, o cardápio muda e situações novas surgem a cada momento. Murais, varais, cadernos e calendários ampliados com espa-ços para registro são formas possíveis de organizar o planejamento dessa atividade que deverá estar acessí-vel a todos, principalmente para os responsáveis que precisam envolver-se com a rotina de seus fi lhos na creche. É recomendado que, diariamente, os educado-res façam anotações sobre a alimentação da criança: o que foi servido, quais as quantidades, se ela manifestou alguma indisposição, entre outras informações que julgarem necessárias.

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As crianças, quando bem alimentadas nos primeiros 2 anos de vida, têm mais chan-ces de permanecerem saudáveis pelo resto da infância. Cada família tem uma forma própria de se alimentar e de pre-parar os alimentos. Nas famílias nordestinas, por exemplo, é natural que a farinha e o fubá façam parte da dieta diária das crianças. O local onde fazem as refeições, a forma como a comida é oferecida, entre outros, são traços culturais que nos ajudam a conhecer melhor as crianças e suas histórias.

Leite materno e creche: como fi ca essa relação?Durante os 6 primeiros meses de vida, o leite materno, sozinho, é o alimento ideal para qualquer criança, pois contém todos os nu-trientes necessários para

O signifi cado social da alimen-tação vem confi rmar que os hábitos alimentares e os rituais que envolvem esses momentos podem variar muito em cada cultura, além dos mitos, dos ritos e daquilo que consideramos senso comum:

“criança deve comer muito, pois gasta muita energia durante o dia?”

“o sono alimenta?”

“comer feijão com legumes bati-dos no liquidifi cador é a mesma coisa que comê-los mastigando, separadamente, ainda que arru-mados num mesmo prato?”

Amamentação é um direito garantido por lei

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seu crescimento, além de protegê-la contra infec-ções comuns nessa fase da infância.

É fundamental que as mães sejam incentiva-das a amamentar seus bebês na creche. Uma dica é criar o “cantinho do peito”, que deve ser tranqüilo, confortável, arejado e com uma ilumi-nação adequada. Se a mãe estiver impossibilitada de comparecer à creche para amamentar a criança, precisará ser orientada a tirar o próprio leite, assim como a creche deverá

O que todas as famílias e co-munidades devem saber sobre aleitamento materno:O leite materno é o único alimento de que um bebê precisa durante os seus 6 primeiros meses de vida. Nenhum outro alimento, nem mesmo água, é necessário durante esse período.A amamentação freqüente faz com que a mãe produza mais leite.O aleitamento materno protege bebês e crianças pequenas de doenças perigosas. Também é responsável por criar um laço entre mãe e fi lho.A partir dos 6 meses, os bebês precisam de uma alimentação va-riada, mas o aleitamento materno deve continuar até o segundo ano de vida da criança ou mais, se for possível.A mulher que trabalha fora pode amamentar, se o fi zer sempre que estiver com o bebê.http://www.unicef.org/brazil/alei-tamento.htm

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consultar os documentos elaborados pelo INAD sobre como guardá-lo, para que não perca seus nutrientes.

Hora da alimentaçãoNos momentos de alimentar os bebês, a atenção e os vínculos afetivos são determinantes para suas vidas. Os bebês precisam ser observados “de pertinho”, olha-dos nos olhos enquanto recebem a mamadeira. Eles também gostam de ouvir músicas suaves e precisam ter quem converse com eles. Em geral, os bebês tentam segurar a mamadeira, a mão do adulto que o alimenta, tocam o corpo e o rosto próximo e, assim, vão esta-belecendo relações de carinho, afeto e segurança. É recomendado que os educadores que alimentam as crianças sejam sempre os mesmos.

Ouvir músicas suaves durante a refeição, nomear os alimentos, permitir que as crianças interajam enquanto comem são ações simples que contribuem para tornar esse momento agradável e esperado por todas as crian-ças. O respeito ao ritmo de cada criança e a sua ajuda com uma outra colher contribuem para o desenvolvi-mento de cada um.

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É comum na creche que comidas tenham que ser pre-paradas e servidas atendendo às necessidades eventu-ais ou particulares das crianças. O cardápio dos bebês com menos de 6 meses não será igual ao cardápio dos bebês a partir dos 6 meses até 1 ano. Alergias ou enfermidades são consideradas na hora da elaboração dos cardápios.

Sempre que um novo alimento for dado aos bebês é preciso observar como será a sua reação: se gostou, se rejeitou, se houve alguma alteração nas fezes ou na uri-na, no sono ou até mesmo na pele da criança (assadu-ras, irritações etc). As alterações observadas devem ser registradas e comunicadas aos responsáveis.

Com as crianças maiores, há uma infi nidade de situações que precisam ser planejadas. Há crianças que precisam se alimentar em maior quantidade do

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que outras; algumas começam a expressar suas prefe-rências; há crianças que não demonstram prazer em comer; outras rejeitam a colher, pois querem a mama-deira... É preciso observar os diferentes comportamen-tos para ajudá-las nesse processo, sempre que possível, em parceria com os responsáveis.

A alimentação nas diferentes fases da vidaConhecer como as crianças vão alterando seus hábitos alimentares é essencial. Saber por que determinado ali-mento não deve ser oferecido antes de uma certa idade ou fase da vida, como e quando introduzir um novo alimento no cardápio das crianças é muito importante.

É preciso ter atenção e não esquecer que alguns alimentos são saudáveis e altamente nutritivos, outros podem ser contra-indicados para algumas delas e, por isso, não podem ser oferecidos em nenhuma circunstância.

Os bebês precisam de um “ritual” muito próprio para a inserção de cada tipo de alimento: do leite materno ao leite em pó; do líquido ao pastoso; da introdução dos alimentos salgados até chegar ao alimento sólido, com uso de talheres e prato.

Hora da alimentação, hora de aprenderMesmo que ouçam e repitam que “comer é bom para a saúde”, as crianças, na creche, podem rejeitar determi-nado alimento e fi cam contrariadas se forem forçadas a comê-lo. É preciso criar um ambiente lúdico na hora da refeição. As cores e as formas dos alimentos podem

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chamar a atenção e incentivá-las a comê-los, assim como vão desejar tocá-los, sentir o cheiro, experimen-tar o paladar e a textura.

É importante que o espaço destinado à alimentação das crianças seja organizado para favorecer esse momento. Uma boa sugestão é a exposição de um cardápio deco-rado em um mural na salinha ou no refeitório, contendo o nome e o desenho dos alimentos, para que as crianças possam observar, conhecer e reconhecer os elementos que farão parte da sua alimentação.

Quando estão doentes ou indispostos, bebês e crianças recusam alimentos. Comer chorando, ser forçada a comer, viver situações tensas na hora da refeição, ser comparada a outras crianças, receber apelidos, ame-aças, chantagens são situações extremas e que não podem acontecer. Não há nenhuma indicação de que desse modo as crianças mudem seus padrões alimen-tares, além de transformar a hora da refeição em um

momento de insatisfa-ção e sofrimento para elas e para os adultos.

Conversar com as fa-mílias daquelas crian-ças que, freqüentemen-te, não querem comer é importante. Nem todas as situações que envol-vem as refeições se dão do mesmo modo em casa e na creche. Por

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isso, a parceria dos pro-fi ssionais da creche com as famílias é indispensá-vel, uma vez que todos precisam criar pactos comuns sobre como cuidar e educar em cada um desses espaços.

Dar comida na boca, em um primeiro momen-to, pode parecer mais prático e mais rápido, já que, quando comem sozinhas, se sujam mais e demoram mais. No entanto, é comendo so-zinhas, segurando o ta-lher, dosando a comida que aprendem a comer. Saber sentar-se, tran-qüilizar-se para iniciar a

Saiba mais

Livros parainfantisO Sanduíche de Maricota, de Avelino Guedes, Editora Moderna, 2002Quero me Jantar, de Tony Ross, Editora Martins Fontes, 1998Hora do Lanche, de Chuck Murphy, Editora Salaman-dra, 1998

Filmes para adultosSuper Size me. EUA, 2004. Diretor: Morgan SpulockO Tempero da Vida. Grécia, 2003. Diretor: Tassos BoulmetisA Festa de Babette. Di-namarca, 1988. Diretor: Gabriel Axel

Siteswww.aleitamento.org.brwww.unicef.org/brazil/alei-tamento.htm

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refeição, fazer a higiene das mãos antes e depois, masti-gar os alimentos com calma, comer de boca fechada são posturas que elas vão desenvolvendo aos poucos.

Projetos envolvendo a alimentação devem ser estimu-lados no interior da creche. Mesmo que o cardápio seja preparado por nutricionistas que não trabalham na creche, é possível permitir que as crianças opinem sobre o que vão comer, façam suas críticas e dêem suas sugestões.

Referências bibliográfi cas:PCRJ, SMS, Instituto de Nutrição Annes Dias – INAD, Manual do Programa de Alimentação – Cardápios SME – Creches/2004.

FERREIRA-ROSSETTI, M. C. (org.). Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2001.

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No banho, a criança experimenta sensações, entra em contato com a água, com temperaturas que podem variar (da água e do ambiente), com brinquedos e obje-tos de higiene, enquanto hábitos são constituídos, por meio de uma intera-ção afetiva e cuidadosa com adultos e também com outras crianças.

A hora do banho na creche deve ser sempre planejada com o obje-tivo de promover tanto o bem-estar da criança quanto uma circunstân-

Brin

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“Minha fi lha chora desde que nasceu para lavar a cabeça, bebezinha ela já chorava e hoje, que tem dois anos, ainda fala assim: ‘corpinho sim, cabecinha não’. ” (mãe)

“A hora do banho é meio confusa, né? Os pais pedem para a gente dar o banho perto da hora de ir embora, mas não dá.” (educadora)

BANHO

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cia de experimentação, de troca de afeto e de novas aprendizagens, considerando que é re-alizada, eventualmente, mais de uma vez por dia. Além desses objetivos, as diferentes experiên-cias em relação à hora do banho que você e cada criança têm em casa, na creche, na casa de outros amigos ou familiares devem ser conhecidas e conside-radas.

O banho na crecheBrincar com água é de-licioso e pode ser muito prazeroso para as crian-ças. É uma oportunidade privilegiada para a troca, a conversa, o toque, o acolhimento. Ao mesmo tempo, para as crianças maiores é o momento em que algumas regras devem ser trabalhadas, quando vão, aos poucos, aprendendo a formar hábitos de higiene, sendo capazes mais

Banho não serve só para higieni-zar e promover saúde, mas para relaxar, brincar e aprender!

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tarde de lavar as mãos e o corpo sozinhas. É uma etapa importante para a conquista de inde-pendência. Quando são menores, elas aceitam e gostam de tomar banhos em pares ou em grupos, mas, à medida que vão crescendo e, em alguns casos, por orientação familiar, pode acontecer de alguma criança não aceitar despir-se, vestir-se ou tomar banho com outras crianças. Nesse caso, não existe só a sua forma de pensar, mas, antes de mais nada, aco-lha e respeite a criança sem julgamentos prévios ou preconceituosos e, assim que possível, pro-mova um encontro com a família para, juntos, conversarem sobre a melhor conduta.

Na hora do banho, o material de higiene pes-soal – xampu, sabonete, creme, pente – deve ser colocado em recipiente plástico individual, para

A família deve fornecer à creche as informações sobre como faz a higiene de sua criança, a tempe-ratura ideal da água, os medos, prazeres e hábitos referentes à hora do banho e, também, como a criança é - mais calorenta ou friorenta - para, depois do banho, ser vestida de modo adequado e confortável.

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que você use e trans-porte com facilidade. Os objetos devem ser rotulados com o nome da criança e cuidados por elas à medida que vão adquirindo autono-mia para isso. Também é fundamental cuidar das condições de higiene e segurança, como: ba-nheiras seguras e higiê-nicas para os bebês; água limpa, em temperatura confortável; organização prévia das roupas; toa-lhas e sacos para colocar a roupa suja; e torneiras de chuveiro ao alcance das crianças maiores.

Essa atividade propi-cia uma relação com o adulto fundamental para o desenvolvimento in-fantil, no qual o toque, a massagem, o contato são essenciais para ajudar a criança a construir sua consciência corporal.

Crianças que já andam e que permanecem de pé

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com segurança podem tomar banho de chu-veiro sozinhas ou em companhia de outras, sempre com a supervi-são de um adulto, sendo respeitada a necessi-dade de privacidade de algumas delas e de atenção individualizada que cada uma requer. É importante prever tempo para essa ativi-dade, permitindo que as crianças experimentem o prazer desse momento e que aprendam a despir-se, vestir-se, ensaboar-se e enxaguar-se. A presença de um espelho grande, onde as crianças possam se ver de cor-po inteiro, ajuda a desenvolver o autoconhecimento.

Essas condições precisam garantir a segurança das crianças, a fi m de evitar quedas, queimaduras com água muito quente, choques elétricos, ingestão de pro-dutos de limpeza etc.

Dicas para o banho na crecheA temperatura da água deve ser adequada ao clima e de acordo com a indicação dos pais. Algumas crian-ças só podem tomar banho frio ou só banho morno.

Coloque o bebê na água, segurando-o com a mão, na altura das axilas, mantendo o corpo dele apoia-do no seu antebraço. Transmita segurança e calma ao bebê, pois ele pode ter medo da água.

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Comece pela cabeça. Cuidado para não deixar es-correr água com sabão nos olhos nem nos ouvidos.

O sabão não deve ser passado direto na pele da criança. Deve-se, primeiro, ensaboar as mãos e, depois, passar no corpo da criança.

Ao ensaboá-la, redobre os cuidados, pois depois a pele dela fi ca mais escorregadia.

Para lavar as costas, segure o bebê e vire-o de bruços.

Secar bem os cabelos, entre os dedos dos pés, atrás das orelhas e nas dobras é muito importante.

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Atenção EspecialNunca deixe o bebê sozinho na banheira! Nem por um minuto! Um bebê pode se afogar em um recipiente com apenas 3 cm de água e em menos de 60 segundos. Se acontecer de alguém chamar por você com urgência e se, comprovadamente, sua presença for imprescindí-vel, interrompa o banho. Em caso de urgência, é me-lhor parar a atividade, enrolar o bebê em uma toalha e levá-lo com você. Grandes acidentes acontecem em segundos e as pessoas que trabalham com crianças devem ter atenção redobrada.

ImportantePode acontecer de você perceber na hora do banho, pela proximidade e contato com a criança, indícios de que nem tudo está bem com ela. Dor em determinadas partes do corpo que aparecem quando são tocadas, di-fi culdade de certos movimentos, manchas roxas, lesões físicas como queimaduras, cortes, hematomas, feridas e até mesmo fraturas são indicadores fortes de que essa criança sofre violência física e psicológica. Há também casos de doenças diferentes das infecto-contagiosas infantis que se manifestam por meio de erupções e/ou manchas na pele que merecem cuidados médicos. Em todos os casos, converse com o grupo com quem tra-balha, sem expor a criança e sua família, mas não deixe de agir em defesa da criança.

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Medo de banho?Há muitos modos de se acolher, respeitar e co-nhecer cada uma de suas crianças. O primeiro passo consiste em ouvi-las de todos os modos – tentar compreender o que dizem com palavras, com o corpo e o choro, com o tremor ou braços e pernas tensionados, com recusas e expres-sões de medo. Há crian-ças que têm medo de alguma das situações ha-bituais do banho – sabão nos olhos, medo de lavar a cabeça... Mas algumas crianças estabelecem relações simbólicas entre a hora do banho e algum fato, real ou imaginá-rio, que pode ser desde um medo exagerado de afogamento ou, ainda, em casos mais graves, recordação de situações de assédio, de abuso e de violência sexual em banheiros. Nesses casos, não vale a pena fazer muitas perguntas

Saiba mais...

Livros para as crianças O Dia a Dia de Dadá, de Marcelo Xavier, Editora Formato, 1987.Que lambança, de Ana Maria Machado, Editora Moderna, 2004.

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à criança, evitando que ela se sinta pressionada a falar sobre o que teme, mesmo que você consi-dere que ela está fanta-siando. Converse com os outros funcionários da sua creche e observe a criança com atenção, sempre com afeto para que ela se sinta segura no espaço da creche.

Referências bibliográfi cas:ROSSETI-FERREIRA, Maria Clotilde. Os Faze-res na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2000.

CECCON, Claudius e CECCON PROTÁ-SIO, Jovelina. A Creche Saudável. Rio de Janeiro: CECIP, 1997.

“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostu-ma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se costuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender cedo a luz. E à medida que se acostuma, es-quece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão”. Marina Colasanti (crônica Eu sei mas não devia)

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“Por favor, não deixem que ele durma na creche porque, quando ele chega em casa, só quer brincar e acaba indo dormir muito tarde!” (mãe)

“É uma luta para ele dormir aqui na creche. Os amigui-nhos dormem e ele não, só querendo brincar sem parar.” (educadora)

1. Colaboração especial: Dra. Tânia Saad, Coordenadora da Neuropediatria da Santa Casa do Rio de Janeiro

O sono desempenha um papel fundamental na vida de crianças e adultos. É um período de recuperação do or-ganismo. Sentir cansaço e ter vontade de dormir deveriam determinar os horários de sono de cada pessoa, mas nem sempre isso é possível. O ato de dormir é indispensável para uma vida saudável e, por isso, deve ser um momento agradável na vida de crianças e de adultos. No entanto, acho que você já deve

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ter reparado, nem sempre os momentos destinados ao sono dão prazer, conforto ou alegria às crianças.

A hora de as crianças irem dormir, seja em casa ou na creche, muitas vezes acaba se tornando um problema para os responsáveis, para educadores e, sobretudo, para elas próprias. Em casa, as crianças e seus respon-sáveis deveriam ter um espaço de tempo reservado de encontro, interação e de brincadeira. Na maioria

das vezes, no entanto, os adultos estão muito cansa-dos, depois de um dia pleno de atividades. Apesar de todos acreditarem na importância da interação entre crianças e seus responsáveis, irmãos e familiares em casa, nem sempre isso pode acontecer. Muitas vezes os adultos fi cam ansiosos para que as crianças durmam

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o mais cedo possível, enquanto que, para elas, fi carem acordadas, próximas e em contato com os que amam, é muito mais apetitoso e agradável do que ir dormir. As-sim, nós, educadores, poderíamos orientar os respon-sáveis quanto à necessidade de atender às demandas de aproximação e de afeto quando estão em casa, juntos, sem que alguma organização seja estabelecida para que todos possam descansar e despertar renovados.

Brigando com o sonoHá crianças que dormem tranqüilamente, mas há outras que, mesmo com sono, têm difi culdade para dormir. Você sabe por que isso acontece? Para tentar descobrir a resposta, vale a pena observar e registrar como cada uma das crianças dorme, sua posição de dormir, em que horários tem sono, além de observar a

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qualidade do sono de cada uma delas. Umas dormem bem quietinhas e outras se movimentam e, às vezes, até falam enquanto dormem; umas acordam suavemente e outras assustadas, irritadas e chorosas. O ideal é que o sono seja recuperador e que, por isso, proporcione um acordar suave, descansado e alegre.

Na creche, estão em jogo elementos diferentes dos de casa, que podem favorecer ou atrapalhar um sono tranqüilo. Há bebês que choramingam para dormir, outros, ao acordar. Uns balbuciam o dia todo, alto, alegremente e outros mais pela manhã. Algumas crianças, depois do banho e da refeição, dormem pelo menos duas horas seguidas. Há crianças que choram e estranham a presença de um adulto desconhecido no berçário, outras fi cam alegres. Contudo, na creche é importante que as crianças descansem, que durmam confortavelmente, sempre que estão com sono, sob a atenção de um adulto que ofereça segurança e carinho.

Não deixe de observar o local onde as crianças dor-mem. O espaço precisa ser limpo, asseado, tranqüilo e também seguro. Objetos soltos, móveis não fi xos e com possibilidades de serem “escalados” devem ser abolidos. Tombos simples ou muito graves podem ser causados por quedas de bebês que dormem sobre camas altas, sem grades etc.

Quando as crianças são maiores, em geral, costumam sair da cama assim que acordam e, nessa hora, pode haver risco de acidentes em escadas e também situ-ações de risco em outros espaços da creche, como cozinha, banheiro, quintal etc. Por isso, é fundamental

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que exista sempre um educador acompanhan-do o sono e o despertar das crianças.

Quebrando mitos“Quanto mais dorme, mais dorme”

Há quem diga que “quan-to mais a criança dorme, mais ela tem sono”. Você já ouviu isso alguma vez? O que os especia-listas defendem é que a necessidade de sono varia muito de criança para criança. Em geral, a maioria dos bebês, assim que nasce, necessita de 16 a 20 horas de sono, por período de 24 horas. Esse ritmo muda com o passar dos meses. Nos dois primeiros anos de vida ocorre uma redução gradual do número de horas de sono total, mas aumentam os períodos dormidos sem inter-rupção. O interesse das crianças pelas pessoas e objetos justifi ca a

A responsabilidade do educador em relação às crianças permanece a mesma quando eles estão dormindo.

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diminuição das horas de sono diurno, no entanto, não se pode dizer que, quanto mais a criança durma, mais tenha sono! De fato, as crianças que dormem bem costumam ser mais tranqüilas e bem-dispostas.

Na fase adulta, em geral, uma pessoa precisa de um to-tal de 8 a 9 horas de sono por dia. Você dorme quantas horas por dia? Já sabe o número de horas que seu or-ganismo precisa para se sentir renovado, descansado?

O dia-a-dia na creche exige que sejam feitos muitos acordos e estabelecidas várias regras. Geralmente, a hora de dormir é uma delas. É necessário obedecer a um planejamento mínimo, estabelecido pelos adultos, para ser possível a convivência de todos nesse espaço coletivo. No entanto, a equação mais difícil do educa-dor consiste em conseguir respeitar a todos e a cada um.

“O sono alimenta”

Muitos adultos fazem esta afi rmação ao se referirem às crianças. Você acredita nisso? O que os especialistas dizem é que crianças que vivem cercadas de amor e de

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carinho, que recebem atenção e cuidados adequados, em geral, sentem-se seguras e confortáveis também para dormir. Assim, muitas vezes passam do horário pré-determinado para a alimentação ou para o banho etc. No entanto, não é correto afi rmar que o sono em si alimente, mas, apenas, que ele seja altamente recu-perador, tranqüilizador, o que é muito importante para uma vida saudável e feliz. Não há qualquer relação entre sono e ganho de caloria ou de peso, mas apenas o fato de que, quando a criança está dormindo, ela não está “gastando energia”, isto é, queimando calo-rias. Há diversos fatores que impactam e que podem condicionar o padrão de sono de cada pessoa, adulto ou criança, como a sua idade, o estado de saúde física, a condição psicológica, o uso de um determinado remédio etc.

Há crianças que dormem sozinhas no bercinho, há outras que precisam ouvir a voz ou ter um adulto por perto para conseguir conciliar o sono. Se as crianças forem encaminhadas para dormir nas horas em que apresentam sono, o processo é facilitado, mas nada supera a companhia agradável de um adulto que canta cantigas de ninar ou que conta histórias.

Hábitos da hora de dormir e acordar:O educador precisa saber como são os hábitos de sono das crianças. É fundamental para facilitar o horário de sono dos bebês e crianças na creche saber, com pais ou responsáveis, quais são os horários de acordar, de comer, de dormir e de tomar banho em casa. Além disso, é importante saber se dormem em camas ou em berços, se dormem sozinhas ou acompanhadas, se ma-

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mam no peito da mãe ao dormir, se acordam à noite para mamar e quantas horas por dia e à noite dormem. Da mesma forma, é necessário saber se a criança precisa ser acordada e como, se desperta alegre e bem disposta, se costuma dormir bem ou não.

Troca de afeto:Há algumas atividades que estão relacionadas ao ho-rário das crianças dormirem. Escovar os dentes é uma delas. Tanto em casa como na creche não é aconselhá-vel que as crianças se alimentem e durmam sem fazer a higiene bucal. Trocar fraldas também é outra rotina que deve ser feita antes do bebê dormir. Dormir se-quinho ajuda a evitar assaduras. Esses dois momentos, entre tantos outros, permitem a troca de afeto entre o adulto e a criança.

Educador, você procura tornar agradável a hora de as crianças dormirem?Verifi que se as roupas usadas pelas crianças estão con-fortáveis para o sono, se permitem liberdade de movi-mentos, se estão adequadas à temperatura e ao clima do dia, se o ambiente está limpo, organizado e propício para as crianças adormecerem. Que atividades estão

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Saiba mais

Livros infantis A Casa Sonolenta, de Au-drey e Don Wood, Editora Ática,1996Macaquinho, Editora Lê, 2005Medo do Escuro, Editora Ática, 1998

Filmes para adultos

Feitiço do Tempo. EUA, 1993. Diretor: Harold Ramis Monstros S.A. EUA, 2001. Diretor: Peter Doeter

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“Sonhar é um processo tão natural quanto respirar, e não existe modo de impedir o sonho” (Olga Passos)

planejadas para os que não querem dormir?

Cantigas e históriasVocê conta histórias encantadas, de fadas, de bruxas, cheias de magia para as crianças? Você canta acalantos e músi-cas bem delicadas para suas crianças dormirem? Em geral, depois do primeiro ano de vida, as crianças se interessam por histórias curtas, de fadas e bruxas, de princesas e príncipes, de animais “humanizados”. As poesias, parlendas, trava-línguas e jogos cantados possibilitam às crianças o contato com conteúdos, formas e aspectos sonoros da linguagem.

Referências biblio-gráfi cas:PASSOS, Olga. “Texto mimeo”. Os ciclos circa-dianos, o sono e o sonho. ISA-ADRS.

O fato de todas as crian-ças sentirem necessida-de de dormir algumas horas durante o dia não pode se transformar numa ameaça ou numa obrigação enfadonha. Nós, educadores, deve-mos planejar atividades relaxantes e agradáveis para as crianças que não querem dormir.

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Fral

das e

cia

.“Acho o momento de trocar a fralda muito importan-te. Sabe por quê? É um momento em que posso dar atenção a cada criança de uma vez.” (educadora)

“Ah, por favor, veja se dá para tirar as fraldas de mi-nha menina, porque em casa não dá nem para pensar nisso.” (mãe)

Fraldas, muitas fraldas. No grupo dos bebês, essa é uma peça es-sencial para garantir a saúde de todos. Além delas, outros elementos ajudam na higiene das crianças: água, sabonete, pomada para assadura, fi ta adesiva e o que mais for necessário.

Hora de fi car limpinhoTranqüilidade e atenção são fatores fundamen-tais para a rotina de

XIXI E COCÔ

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cuidados da higiene do bebê. A troca de fraldas traz conforto e sensação de bem-estar, além de mantê-lo protegido contra infecções.

O educador precisa estar atento a um fato relevante na troca de fraldas: as mãos devem estar limpas antes de iniciar o processo e também devem ser lavadas após cada troca. Essa medida, aparentemente simples, é fundamental para evitar a transmissão de doenças (verminose, hepatite, diarréia e outras).

Controle dos esfíncteresOs esfíncteres são músculos com fi bras circulares que envolvem orifícios do corpo e garantem a abertura ou fechamento deles. No nosso corpo, temos esse tipo de musculatura no estômago (esfíncter esofágico), na be-xiga (esfíncter uretral) e no ânus (esfíncter anal). Esses músculos controlam o refl uxo estomacal e a saída da urina e das fezes.

Falar do controle dos esfíncteres implica uma referên-cia direta ao controle da bexiga e do intestino, ou seja, ao controle da urina e das fezes.

Quando a criança percebe que o xixi (urina) e o cocô (fezes) são suas primeiras produções, ela costuma expressar surpresa e até satisfação. Por isso, não é à toa que, muitas vezes, elas fazem deles brinquedos: pegam, amassam, esparramam, pisam, andam deixando mar-cas nos espaços que vão conquistando.

É interessante observar que cada grupo social, parte de determinada cultura, considera as fezes e a urina

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de forma diferente. Em alguns grupos, há uma maior tranqüilidade no que diz respeito ao tempo que a criança vai levar para adquirir o controle dos esfínc-teres, mas, em geral, em nossa sociedade, o adulto transmite à criança, desde cedo, a idéia de que são coisas sujas, feias, como se elas não pudessem ocorrer. Entretanto, considerando as regras sociais, é necessário compreender que há um processo de educação para o controle dos esfíncteres – mas, como dissemos, é um processo, portanto é preciso que ocorra de forma tranqüila para a criança e também para os adultos que dela cuidam e a educam.

Está chegando a horaFamília e creche juntas educam esse controle. Nunca se deve esquecer que educar é uma ação compartilhada. Portanto, os adultos da família e os da creche devem estar em constante diálogo para ser possível estabele-cer pactos compartilhados.

Dia a dia as crianças vão ganhando maior autonomia – já fi cam sentadas; começam a andar; iniciam a sua comunicação através da fala. A retirada das fraldas representa, então, mais um aspecto dessa autonomia. As crianças tornam-se mais independentes e, a partir daí, uma nova relação se estabelece entre os adultos e as crianças.

O entendimento dessa etapa precisa ser compreendido por ambas as partes – família e creche. Esse é um dos temas que precisa ser focado nas reuniões de responsá-veis e também em encontros mais particularizados.

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Uma vida sem fraldasQuando retirar as fraldas? Em primeiro lugar, essa retirada não é tão difícil quanto parece ser. Em vez de ser encarada como algo assustador, devemos vê-la como um desafi o, entre tantos outros, que precisa ser enfrentado.

Acreditamos que por volta dos 2 anos de idade seja o momento mais adequado para vivenciarmos a retirada das fraldas, porque, em geral, nessa idade a muscu-latura (os esfíncteres) já podem corresponder a essa aprendizagem.

Como já dissemos, esse processo é compartilhado entre a família e a creche. Em que sentido? Quando a creche contribui? Como a família colabora? Vamos ver algumas ações que cabem a cada parte e que são compartilhadas.

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• Observar e registrar constantemente o desenvolvimen-to global das crianças, para que seja possível intervir, com segurança, sempre que necessário.

• Cuidar para que a retirada das fraldas ocorra somente quando a criança estiver integrada ao cotidiano da creche.

• Um dos sinais de que a criança pode iniciar a retirada das fraldas é quando ela toma consciência e avisa, de algum modo, que vai fazer xixi ou cocô. Ela começa a perceber quando está com vontade.

• Logo que iniciar o processo, ao vestir a criança, deixá-la sem fralda.

• Levar a criança ao banheiro por várias vezes, seguindo intervalos curtos.

• Oferecer brinquedos ou livrinhos para que a ida ao banheiro também se torne lúdica, sem pressa nem ansiedade.

• Observar, com sensibilidade, que algumas crianças se contorcem quando querem ir ao banheiro.

• Respeitar quando a criança, ainda que bem pequena, demonstrar constrangimento para fazer cocô ou xixi com o adulto muito próximo.

• Respeitar, da mesma forma, o medo que algumas têm de cair, ainda que o tamanho do vaso seja adequado para crianças. Muitos pedem para dar as mãos para o adulto, em geral, as duas mãos, enquanto estão no vaso, para se sentirem fi rmes.

• Limpar, tanto meninos quanto meninas, fazendo o seguinte movimento: de frente para trás.

Creche

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• As ações realizadas em relação à retirada das fraldas devem ser conversadas com as crianças.

• A criança, nessa fase, percebe seu xixi e cocô como “importantes produções”, assim, poderá fi car “intri-gada” quando as vir desaparecendo no vaso sanitário. Estratégias lúdicas – como propor a despedida ao cocô e ao xixi – podem ser bons recursos para ajudá-la a avançar.

• A descarga pode assustar o pequeno, por isso não deve ser dada com ele sentado.

• Procurar levar crianças que já usam o banheiro com autonomia junto com as que ainda estão em processo de conquista – acredita-se que o par mais experiente é um importante modelo para essa aprendizagem.

• Atentar, sempre, em relação ao oferecimento de líqui-dos e alimentos ricos em fi bras.

• Promover encontros com os responsáveis para falar sobre a retirada das fraldas. Sendo assim...

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• Em casa, habitualmente, os vasos sanitários são grandes, assim, a criança pode sentir-se mais segura usando o penico, principalmente porque ele permite apoiar os pés no chão.

• A retirada das fraldas durante o dia não indica que o mesmo pode acontecer no período da noite. Essa ocorre posteriormente – também com calma – quan-do, por exemplo, observarmos que a criança já começa a acordar seca.

• Também nos fi nais de semana o processo precisa con-tinuar, garantindo o seu desenvolvimento e a seguran-ça da criança.

Algumas dicas que podem ser dadas às famílias

Combinados com as famílias:

• Enviar mudas de roupa (principalmente cuecas ou calcinhas); saco plástico para transportar as roupas usadas e, se possível, mais um par de calçado. Afi nal, é esperado que as crianças deixem o xixi e o cocô “escapar”.

• Mandar, dentro do possível, roupas fáceis de tirar e colocar.

• Seguir as mesmas ações que cabem à creche, princi-palmente, as relacionadas à utilização de calcinhas ou cuecas e a freqüência das idas ao banheiro.

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Um dia de cada vezA creche é um espaço de desenvolvimento e de apren-dizagens, espaço de cultura, de ampliação de conheci-mentos. Como tal, é um espaço privilegiado de reco-nhecimento da diversidade, das diferenças sem valor de superioridade. Considerar a diversidade e diferença consiste em legitimar e valorizar cada criança sendo única, com seus ritmos e tempos bastante variados.

Pensar em creche é pensar em trabalho coletivo de educadores. A retirada de fraldas é um bom exemplo da ação coletiva e educativa – que deve ser processu-al, gradativa, amorosa e diferenciada – sempre me-diada pelos adultos que cuidam e educam as crianças como uma relação de aprendizado. Ao reconhecer

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que as crianças não passam por esse processo da mes-ma maneira, o ambiente da creche se reafi rma como acolhedor e democrático.

Referências Bibliográfi cas: A creche saudável. CECIP,1997.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Edu-cação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998, vol: 1 e 2.

ROSSETTI-FERREIRA Maria Clotilde (org). Os Faze-res na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2001.

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Sim

, sim

! Não

, não

! “É de menino que se torce o pepino.”“Comigo é assim: pão, pão; queijo, queijo!”“Escreveu e não leu: o pau comeu.”

Confl ito, impasse, regras, punições... Todos nós, adultos, temos guarda-das na memória, desde a infância, algumas falas ouvidas repetidamente, carregadas da intenção e, às vezes, até de deses-pero, de responsáveis e professores, para manter a ordem, para regular os comportamentos e a dis-ciplina, para fi xar e fazer cumprir certas rotinas que impunham limites à ação infantil. Hoje, como

REGRAS

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educadores, podemos perceber que algumas dessas falas e alguns desses conceitos ainda estão presentes no nosso cotidiano, carregados dos mesmos signifi cados, apoia-dos nas mesmas intenções. Quem não ouviu em algum momento: “eu sei o que é bom para sua vida, você é uma criança; quem manda em você sou eu, eu que digo o que pode e o que não pode fazer; vou contar até três para você sair daí e vir para o castigo; um, dois” etc.

Relacionamento, contato e convivênciaSabemos que a comunicação do bebê com o mundo se dá, principalmente, através do corpo. Isso quer dizer que suas manifestações estão carregadas de signifi cados, desejos e sentimentos que não sabem expressar de outro modo a não ser pelo corpo. O choro, por exemplo, pode signifi car muitas coisas: fome, dores, calor, fralda molha-da, bumbum assado...

Há pessoas que defendem que se deva deixar o bebê chorar até cansar e, quem sabe, dormir. Educadores pre-cisam refl etir e discutir em grupo sobre o choro como forma de expressão da criança, como uma linguagem, pois a demora no atendimento pode representar uma falta de reposta dos adultos, que gera sentimentos de solidão, de rejeição e até de abandono. Conversar com as crianças desde que são bebês ajuda a acalmá-las nos momentos em que não seja possível atender imediata-mente às suas necessidades.

O tempo de cada umVimos no exemplo acima que a espera faz parte do dia-a-dia e que bebês e crianças precisarão aprender a lidar com sua ansiedade e pressa, com a dos amigos, a dos

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seus responsáveis e educadores. Para bebês e crianças com até 2 anos, o tempo é “já e agora”, seus desejos são o que há de mais importante no mundo e ainda estão lon-ge de poderem compreender o que sejam “antes, depois, ontem, amanhã, daqui a pouco, só mais um pouquinho, já vai” etc. O fato de o educador e os responsáveis não poderem atender sempre, imediatamente, às demandas infantis pode ser um elemento positivo de aprendiza-gem de si mesmos, de respeito a outras crianças que também “têm pressa”, desde que a demora do adulto não seja exagerada para não sugerir sentimento de abando-no nem de negligência.

Refl etir nessa questão implica pensar, também, na organização do tempo e do espaço na creche, na rotina do cuidar e educar. Para promover a interação, a autono-mia, o respeito mútuo, o desenvolvimento e a aprendiza-gem de todo o grupo, é possível organizar o espaço das crianças com variados recursos: cantinhos, brinquedos, jogos, mobiliário etc. O espaço, assim, é educativo e o adulto fi ca, então, mais disponível para aqueles que precisam de seu cuidado, em cada momento.

Choro e birra, manha e má-criaçãoQuando a criança não consegue o que quer, em geral, chora, faz birra, pirraça ou má-criação. Se, por um lado, podemos considerar esse comportamento comum, por outro é preciso pensar em estratégias para que ele seja superado.Os educadores podem e devem ajudar a criança a se ex-pressar de outras maneiras. É preciso, então, adotar uma postura de observação atenta e de acompanhamento criterioso para descobrir por que a criança está fazen-

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do birra. Ela pode estar sinalizando que se sente pouco ouvida e que precisa agir assim para ter a atenção dos adultos. Pode também se sentir excluída do mundo dos adultos, do mundo do diálogo e da interação, quando convive apenas com adultos fora da creche. Ela pode ter descoberto algum benefício concreto com esse compor-tamento, já que, chegando a irritar os adultos à sua volta, acaba conseguindo o que quer. Há muitas explicações para esses comportamentos, mas, em todos os casos, os educadores precisam apresentar às suas crianças, tam-bém aos seus responsáveis, outras formas de negociação e de diálogo.

Limites, regras, combinadosNunca se falou tanto da necessidade de se imporem limites. Parece que a sociedade carece de regras e de leis e não do seu cumprimento efetivo. A construção dos padrões desejados de comportamento, de hábitos e de atitudes é um processo complexo que vai se constituindo ao longo da vida e depende da ação conjunta de todos: creche, responsáveis e comunidade de que são parte.

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Exercer autoridade legítima sobre a criança não pode se confundir com uma imposição autoritária e sem diálogo da vontade do adulto, o que se chama autori-tarismo. O adulto representa e exerce uma autoridade necessária quando dá o seu exemplo, quando age com lógica, com coerência e com afeto, sempre se dispondo a explicar, se necessário com fi rmeza, os motivos pelos quais está impedindo ou negando algo.

O autoritarismo, que desencadeia tantos comporta-mentos infantis, como o medo, a ocultação dos fatos, a negação e a mentira, acontece sempre que o adulto proíbe sem explicar as razões; sempre que humilha as crianças com palavras; toda vez que perde o contro-le, que grita, chegando a bater para conseguir o que quer. Uma outra manifestação de autoritarismo se dá por meio da “barganha afetiva”, quando o adulto faz chantagem e ameaça, por exemplo, não gostar mais da criança se ela não corresponder ao desejado.

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O ato de educar não se justifi ca a partir de uma lista imensa de castigos, de proibições sem entendimento, de ausências e de silêncios. Educar signifi ca estabele-cer, refl etir e entender um sistema de regras e de limi-tes que favorecem a vida em grupos, sedimentada em relação de adultos com crianças baseada no respeito e não no medo. A compreensão exigida para a constru-ção gradativa de limites acontece no convívio diário.

Combinando regras com o grupoConsiderando que cada criança desde que nasce é parte de determinada cultura e os hábitos, comportamentos, valores e as regras não são iguais em todas as famílias e comunidades, é preciso entender como encaminhar a discussão e a implementação de regras, na creche, sem desrespeitar a diversidade de culturas.

O dia-a-dia na creche (entrada, possibilidades de ati-vidades, momentos das refeições e higiene, saída...) favo-rece a construção da noção de tempo na convivência compartilhada, naquele espaço. Nesse sentido, pode-se dizer que a rotina seja estruturante na medida em que orienta o grupo sobre o que vai acontecer, sobre o plane-

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jado, desde que todos os dias não sejam sempre iguais. É importante que na rotina exista espaço para o “novo”, para o inusitado. Sempre que possível, o planejamento pode acolher sugestões das crianças, atender ao pedido de repetir certa atividade prazerosa etc. A forma de se trabalhar com regras e limites varia também com a faixa etária da criança.

Cena 1 - Um simples contato físicoUma criança tenta colocar o dedo no olho de outra e logo ouve: “Cuidado com o olho do amigo... Não pode; vai machucar”.

Trabalhar em creches é, com certeza, um desafi o. Como combinar acordos com crianças que ainda não sabem falar? Regras e limites para as de até 2 anos de idade, como vimos, são muito mais colocados pelo adulto, já que essa faixa etária se caracteriza basicamente pela ação, pelo fazer.

Cena 2 - Organizando os brinquedosUm educador organizou com sua turma uma caixa de brinquedos. No entanto, quando paravam de usar os brinquedos, as crianças os deixavam espalhados. Sentiu, então, necessidade de conversar com o grupo, pergun-tando: “O que faremos quando acabarmos de usar os brinquedos?”. O combinado foi: “Acabou de brincar, brinquedos na caixa”.

Após fazer combinados com as crianças, vale a pena escrever ou pedir que as crianças façam ilustrações do que foi decidido, em um papel grande, para deixar em local visível. Os combinados não são defi nitivos, devem

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ser revistos sempre que houver necessidade ou até deixar de ser cumpri-dos.

Liberdade, respeito e autonomiaQuando se criam opor-tunidades e situações que levem o grupo de crianças, ainda que de pouca idade, a expres-sar idéias, argumentos, hipóteses ou sentimentos frente a diferentes situa-ções cotidianas, estamos fomentando a autonomia desses sujeitos.

A necessidade de impor regras e de limitar a ação de cada um e de todos não tem qualquer valor se dissociada da sua im-portância para o estabe-lecimento do SIM, para indicar o que PODE, para abrir as portas dos espaços possíveis de li-berdade, para ser possível concretizar os sonhos e os desejos de cada um, sem desrespeitar o direi-

Saiba mais:

Livros infantisA centopéia que sonhava, de Hebert de Souza, Salaman-draMaria vai com as outras, de Silvia Orthof, Ática

Filmes de adultoSer e ter. Diretor: Nicholas PhilibertDinossauro. Walt DisneyVida de Inseto. Walt Disney

••

Autonomia signifi ca ser governa-do por si próprio.

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to do outro. Assim, os limites e as regras devem garantir a liberdade possível, de todos e de cada um, devem ilu-minar os caminhos da criatividade e da energia de vida, não apenas para cercear, podar.

Referências bibliográfi cas:BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Edu-cação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998, vol:1e2.

KAMII, Constance. A construção da autonomia na edu-cação infantil. Porto Alegre: Pátio Educação Infantil, ano 2, nº5, ago/nov 2004.

PROENÇA, Maria Alice de Rezende. A rotina como âncora do cotidiano na educação infantil. Porto Alegre: Pátio Educação Infantil, ano 2, nº4, abr/jul 2004.

RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Educação. Multieducação Temas em Debate – Educação Infantil – Revendo percursos no diálogo com os educadores. Rio de Janeiro: 2005.

RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Educação. Núcleo Curricular Básico Multieducação. Rio de Janei-ro: 1996.

ROCHA, Ruth. Minidicionário. São Paulo: Scipione, 1996.

SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Freinet: Evo-lução Histórica e atualidades. São Paulo: Siciliano,1989.

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Pode

ter

med

o!

“Tenho medo do escuro porque é lá que o monstro se esconde”. (Elisa, 4 anos)

“Morro de medo de dirigir. O trânsito é muito perigo-so”. (Noemi, 48 anos)

Ter medo faz parte da vida de qualquer pessoa. Diante de um fato inesperado é comum fi carmos assustados. As manifestações de medo traduzem o modo como cada um de nós reage e enfrenta as situações que assustam. Sentimos temor ao passar por determinados lugares que são parte de nosso roteiro diário. Cada um de nós desenvolve sentimentos e compor-

MEDO

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tamentos muito particulares para lidar com os medos do dia-a-dia.

O medo amplifi ca e dá vida a elementos abstratos e seres imaginários. Por se tratar de um sentimento des-confortável que pode vir a ser aterrorizador, há uma tendência a avaliar equivocadamente os que expressam seus temores como pessoas frágeis, acovardadas e fra-cas. Todos nós, de alguma forma, temos medo de algo.

Há medos que surgem de motivações reais e objetivas, como, por exemplo, de assaltos, de violência e de se-qüestro. No entanto, não são os dados de realidade que legitimam os medos humanos. Independente da sua natureza, da sua justifi cativa mais ou menos racional para explicar sua origem, todos os nossos temores são ameaçadores e muito difíceis de serem enquadrados nos limites da lógica e do que é previsível. A maioria das crianças temem seres e situações imaginários que jamais estiveram presentes concretamente em suas vidas. Nem por isso os medos infantis deixam de ser legítimos. Eles precisam ser respeitados e compreendi-dos pelos adultos.

Tudo o que é desconhecido pode ser um fator de medo. Embora provoque sensações desconfortáveis, o medo pode signifi car, muitas vezes, a difi culdade de se enfrentar obstáculos. Toda vez que as crianças fi cam intensamente apavoradas com alguma coisa, é preciso que o educador entenda que o inconsciente infantil, naquela situação, não consegue discernir fantasia de

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De que outros monstros ou seres assustadores você tinha medo quando era criança?

realidade e, assim, o fantasma passa a ter existência real, a mula-sem-cabeça e o velho do saco, também.

Direito de ter medoA chegada a um mundo desconhecido, ao nascer, por si só, já é um grande desafi o para as crianças. Por isso, barulhos, chei-ros, sensações, solidão, escuro, claridade, o contato com o ambiente (calor, frio, vento, água etc.) são fatores que po-dem causar desconforto e tirar sua tranqüilidade. A forma e o cuidado que devemos ter ao segu-rar e estar perto de um bebê pode diminuir as sensações desagradá-veis que, na maioria das vezes, fazem parte de sua rotina.

A creche é um espaço coletivo e, por isso, é mais difícil controlar

“Boi, boi, boi....Boi da cara pretaPega essa criança que tem medo de careta”

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as situações que podem assustar os bebês. Ainda assim, estar na creche, afastados do convívio familiar, já é um fator provocador de ansiedade nas crianças pequenas. Eles sentem falta dos seus responsáveis, dos barulhos que já estão acostumadas a ouvir, dos cheiros familiares, dos seus cantinhos, enfi m, de uma rotina já conhecida que lhes confere segurança. Os educadores devem saber que, quanto menores as crianças, maiores devem ser os cuidados para alterar suas rotinas. É importante procurar manter as mes-mas pessoas responsáveis pelo cuidado com o bebê, para que ele tenha oportunidade de estabelecer vín-culos de segurança, diminuindo, assim, sua ansiedade. As possibilidades que os educadores proporcionam às crianças pequenas de realizarem suas descobertas sobre o mundo são fundamentais para que se sintam encorajadas a enfrentar desafi os e situações novas, que podem lhes gerar medo.

Os medos não são estáticos nem defi nitivosUm elemento importante para a ação educativa é a sua possibilidade de provocar deslocamentos – a alterna-tiva de fazer com que seja possível enxergar (entender e relacionar) um mesmo fato, pessoa ou personagem em diferentes ângulos e dimensões. Assim, é sempre bom convidar as crianças a perceberem que alguns medos já não são mais os mesmos, já foram superados ou perderam sua força “ameaçadora”. Desse modo, eles descobrem que aquele medo tão perturbador não vai os assombrar pela vida toda e, também, que outras crianças têm outros medos e que os adultos também têm muitos medos.

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Crianças que se expressam bem oralmente têm maio-res possibilidades de conversar com os adultos e com outras crianças sobre seus próprios medos. Elas fan-tasiam a realidade, imaginam uma série de situações que passam fazer parte de sua vida e que lhes causam medo. Para ajudá-los a superar seus medos, o trabalho com a fantasia não pode fi car restrito a “fi nais felizes” e “bons heróis”, pois, dessa forma, as crianças não pode-rão trabalhar com seus medos sem que algum “herói” possa vir “salvá-las”.

Algumas brincadeiras em que estar no escuro é neces-sário podem ajudar as crianças pequenas a enfrentarem o medo, como, por exemplo, brincar com sombras, identifi car os barulhos e segui-los no escuro, cabra-cega, fantasminha de lençol, teatro de sombras etc. Outra pos-sibilidade é a literatura infantil. O ogro e a bruxa viram amigos e protetores das crianças, assim como o fantas-minha que deixa de ser assustador para ser legal.

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Com medo não se brincaPode-se dizer que algumas situações de medo dos adultos sejam provenientes de experiências traumáticas na infância. Queimaduras, sustos, quedas, abandono, podem traumatizar uma criança e gerar conseqüências desalentadoras para a vida adulta. Todos os esforços, atenções e cuidados são exigidos dos educadores e responsáveis para evitar o surgimento e a permanência de medos e de situações que geram ameaças.

Muitas vezes, sem má intenção, os medos infantis são conseqüência da relação delas com os adultos que, para fazer com que lhes obedeçam, assustam as crianças. Ameaçar falando do “bicho-papão”, monstro ou “velho do saco”, por exemplo, são alternativas muito comuns na busca de impor limites ao comportamento infantil.

Comprovadamente, crianças que atendem ao adulto sob ameaça costumam crescer inseguras, intranqüilas e até mesmo infelizes. Ameaças não evitam os aci-dentes, nem impedem certos perigos. O que garante a diminuição de acidentes com as crianças é uma educa-ção saudável, uma convivência com adultos, educado-res e responsáveis que as protejam, que dialoguem com elas, que expliquem e que orientem sem ameaças e sem impor medos.

Nem tanto, nem tão pouco É normal que crianças e adultos tenham seus medos. É natural, também, que os medos de cada um se transfor-mem durante a vida, dando lugar a outros e até mesmo desaparecendo. Crianças e adultos destemidos ou com medo exagerado indicam que precisam de algum tipo

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de ajuda. Quando os educadores e também os responsá-veis são pessoas tensas e/ou ansiosas, podem contribuir para a constituição de crianças excessivamente assustadas, medrosas e intranqüilas. A forma como o educador acode uma criança em situação de perigo pode assustá-la mais do que ajudá-la. Tranqüilidade e acolhimento são neces-sários para dar segurança à criança.

Tema de conversaO medo deve ser um tema de muita conversa entre adultos e crianças. Educadores e responsáveis devem falar como cada uma delas, na casa e na creche, lidam com as situações de perigo, como lidam com seus próprios medos e, ainda, se são capazes de perceber os efeitos da ansiedade adulta em suas vidas. Os adultos, especialmente os profi ssionais de creche, devem levar em consideração as manifestações de medo das crianças desafi adas em atividades que realizam junto com coleguinhas.

Há medos em situações muito específi cas, como o de água na hora do banho ou o de dormir, já que nem sempre o escuro, associado a um ambiente silencioso em que todos dormem, é seguro e relaxante para as crianças. Principalmente porque os adultos que cuidam, protegem e acompanham-nas também estão cansados e desejam dormir. Assim, quem tomará conta delas? Quem evitará que o bicho-papão ou o lobo mal surjam no cenário? Às vezes, apenas algum som conhecido, que pode vir de uma televisão ou de um rádio no ambiente, são sufi cientes para desfazer a sensação de que estão sozinhas. Nesse sentido, na creche, uma música suave ou o fato de outras crianças estarem brincando por não quererem dormir pode ser um agradável embalo para o sono.

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Não dá para determinar que isso ou aquilo possa ser agente causador de medo em crianças. Há crianças, ainda, que sentem medo de alguns adultos. Talvez a postura, o timbre da voz, a forma como se vestem, o uso de óculos, bigodes ou barba, não são atos de rejeição, apenas de estranhamento e de medo que aos poucos serão superados. O importante, nestes casos, é não supervalorizar a reação da criança e compreender que é comum, até uma certa idade, que estranhem pessoas, ambientes e coisas.

Trabalhando o medo na crecheSempre que alguma criança manifestar um sentimento de medo, o educador deve acolhê-la e tentar descobrir o que lhe assusta. É dessa forma que poderemos ajudá-las a enfrentar medos de escuro, de monstro, de fi guras fantásticas, entre outros. É importante manter um cantinho com fantoches, bonecos, dedoches, roupas para fantasias onde as crianças possam dramatizar as historinhas infantis e recriar papéis. Essa é uma boa oportunidade para trabalhar em grupo as situações e personagens que, em geral, assustam as crianças.

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Saiba mais

Livros infantis O Ursinho Apavorado, de Keith Faulkner, Companhia das Letrinhas.Quem tem medo de Mons-tro? Quem tem medo de cachorro? Quem tem medo de ridículos? de Ruth Rocha, Editora Global.O domador de Monstros, de Ana Maria Machado, Editora FTD.

Sites www.cedeca.org.br

Filmes para adultosO Sexto Sentido. Diretor: M. Night Shyamalan

A rodinha de conver-sas também é um bom momento para deixar com que elas expressem seus temores. Outra boa dica é permitir que as crianças se ajudem nesses momentos. Duas crianças juntas, orienta-das por um adulto, po-dem enfrentar situações de medo de modo mais suave, encorajando-se mutuamente. Nesse sen-tido, a creche torna-se um espaço extremamen-te adequado para lidar com tais situações. O trabalho e o convívio em grupos fazem com que cada criança não se sinta sozinha, quando percebe que outras crianças e to-dos os adultos presentes na rotina da creche estão dispostos a acolhê-la e vice-versa.

“Cai, cai balão!Cai, cai balão! Aqui na minha mão.Não vou lá! Não vou lá! Não vou lá!Tenho medo de apanhar.”

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É só

meu

!Quem trabalha com crianças pequenas ouve, com freqüência, expres-sões que indicam posse e que sugerem que um mesmo objeto possa ter muitos donos (sim, porque várias crianças podem se referir a um mesmo boneco dizendo: “É meu, é meu”). Por que será que as crianças agem dessa forma? Até quando agirão assim? Para pensarmos em encaminhamentos para essas questões, preci-samos compreender

“- Não, não, é meu.- É meu! É meu! É meu!- Me dá! É meu!Quando eu ouço isso... Sei que tenho que ver o que está acontecendo. Essa situação pode até parecer corriqueira, por isso, pode-ria nem dar muita atenção, mas é uma das que mais me angustia e me preocupa no dia-a-dia.” (educadora)

EGOCENTRISMO

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que uma das marcas da aprendizagem e do desenvolvimento da criança pequena é o egocentrismo, por isso dizemos, comumente, que ela é egocêntrica.

Um bebê recém-nasci-do não se diferencia de um outro, nem mesmo no plano corporal. Não diferencia o seu próprio corpo, nem os limites de seu desejo. Aos poucos, vai adquirindo a consci-ência dos limites e pos-sibilidades do seu corpo e as conseqüências dos seus movimentos, quan-do, por exemplo, puxa o próprio cabelo e chora; surpreso, grita de dor após morder o braço; “belisca” as orelhas; pres-siona os pés; segura uma mão com a outra.

A exploração de seu cor-po e movimentos, assim como o contato com o corpo dos outros (pais, responsáveis, educado-

Egocentrismo é a propensão que uma pessoa demonstra para referir tudo a si próprio, considerando-se sempre fi gura central. Egocêntrico é aquele que se considera o centro de to-dos os interesses; diz-se daquele que só se refere ao próprio eu, tomado como centro de todo o interesse.

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res...) são fundamentais para um início da diferen-ciação de quem é ele – bebê – e quem são as pessoas com quem interage. O adulto pode contribuir muito para essa exploração, chamando a criança pelo nome, sempre que for se dirigir a ela (ao cuidar, brincar e conversar) e interagir, brincando afetuosamente com partes de seu corpo: “Cadê o pé do neném?”; “Mãozi-nha gostosa!”; “Vou pegar essa barriga.”; “Que orelha gorducha.”; “Onde está o umbigo do bebê?”; “Hum... Cabelo cheiroso!”.

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Assim, por meio dos primeiros cuidados, a criança começa a perceber seu próprio corpo. Começa a orga-nizar suas emoções e a ampliar os seus conhecimentos sobre o mundo. O outro é, então, elemento primordial para o conhecimento de si mesma. Quanto menor a criança, mais importante são as atitudes e procedimen-tos de cuidados do adulto.

Eu, eu e... euA construção do eu corporal é condição para a cons-trução do eu psíquico (personalidade). Nesse caminho de diferenciação de quem seja ela, criança, e de quem sejam os adultos que a rodeiam, se “percebe” como o centro do mundo, ainda que já tenha começado a entender a existência do outro.

Por volta dos três anos de idade, já fazendo uso da fala, torna-se mais freqüente o emprego da palavra eu. Tendo como referencial ela própria, a criança compre-ende o outro a partir de si mesma. Em geral, pelo fato de se considerar a “dona do mundo”, são freqüentes os confl itos interpessoais. A criança, nessa fase, começa a se opor ao que distingue como sendo diferente dela. No dia-a-dia, esse comportamento aparece quando, por exemplo, resiste a uma ordem, convite ou sugestão que venha do outro, dando como contrapartida outras possibilidades, buscando testar a independência de sua personalidade. Uma outra forma de oposição talvez seja o desejo de propriedade das coisas e, no jogo do ter ou não ter, surgem as brigas, o “toma lá, dá cá” os empurrões, as mordidas...

Vejamos o que um responsável tem a nos dizer: “Eu não sei por que brigam tanto, se, logo depois que fi cam

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com o brinquedo, o abandonam num canto qualquer, mas a marca da mordida fi ca.”

Forma de expressão ou agressividade?A criança começa a se relacionar com o mundo pela boca. O recém-nascido suga e mama. O bebê um pou-co maior começa a levar à boca mãos, pés e objetos. Ao colocar objetos na boca, as crianças experimentam e conhecem as diferenças de forma, peso, textura, tama-nho etc. Pela boca, o conhecimento de mundo vai se ampliando. Quando surgem os dentes, podem surgir as mordidas, uma forma também de a criança se comu-nicar. Mordendo, ela pode perceber muitas sensações: a diferença entre o duro e o mole, ao comer; o susto, a surpresa, o choro, o espanto, quando ela própria se morde; a reação do outro, quando morde o amigo. Morder pode ser uma experiência tão fascinante, que ela pode querer repetí-la.

Cada criança tem sua maneira de reagir diante dos acontecimentos. Em situações em que se sente contra-riada ou na disputa por objetos, algumas reagem mor-dendo. Outra situação em que a mordida pode acon-tecer é quando um novo amigo entra no grupo. Por sentir-se insegura ou com ciúmes e, ao mesmo tempo,

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por não saber organizar nem expressar tranqüilamente suas emoções, a criança que costuma morder descarrega sua ansiedade no amigo novo. Portanto, mordida, nessa fase, é forma de expressão e não agressividade.

Mesmo assim, é sempre bom que você, junto com a equipe da creche, faça uma refl exão sobre os aspec-tos envolvidos no dia-a-dia da sua turma, para que se entenda porque uma ou outra criança está mordendo. Nesse caminho, é importante considerar a rotina, a organização do espaço, a quantidade e variedade de brinquedos. É preciso pensar em todos os detalhes porque, isolados ou combinados, eles podem contribuir para determinado comportamento.

Se, nessa fase, a energia está centrada na boca, não seria bom propor diferentes brincadeiras que envolvam o corpo e o movimento? Não faltam opções: macaco-mandou; corridas de diferentes maneiras; brincadeiras de roda; deslocamentos com obstáculos; brincadeiras no espaço externo com garrafas plásticas, bolas, latas, pneus, música, instrumentos de percussão. No berçá-rio, é importante que haja quantidade e variedade de brinquedos, sem esquecer que muitos deles poderão ser levados à boca, pelas crianças.

Outro fator que não pode ser esquecido é o cuidado para que nenhuma criança seja rotulada de “a mor-dedora”. Quando criamos expectativas em relação a alguma criança, ela percebe e, nesse caso, pode fi car mais ansiosa e pode morder mais uma vez. Um bate-papo com a turma ou com cada criança, se for o caso, esclarecendo sobre a dor que se sente quando é mordi-do, mostrando, assim, que há outras possibilidades de

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expressar emoções através da fala e dos gestos. Vale a pena ressaltar, também, o outro lado da moeda: assim como daremos oportunidade para que as crianças que mordem encontrem outros caminhos para se expres-sarem é preciso ajudar as crianças mordidas a falarem sobre seus sentimentos, mostrando sua insatisfação.

• Mostre seu desagrado frente ao acontecido, dizendo, por exemplo, que não é para morder; que machuca; que amigo se trata com carinho, com beijo e abraço.

• Procure saber porque foi dada a mordida, ainda que sem a expectativa de receber uma resposta precisa.

• Tente respeitar os sentimentos das crianças, mesmo que eles não sejam vistos como tão nobres e belos, como a raiva, mas que também são parte da natureza humana.

• Promova a integração das crianças envolvidas no impasse, sugerindo, por exemplo, que o colega que mordeu coloque gelo na mordida, que faça carinho no que foi mordido. Dessa forma, estaremos incentivan-do que os envolvidos vivenciem a situação de forma compartilhada.

No dia-a-dia....

Vale a pena discutir, nas reuniões de responsáveis, te-mas referentes ao desenvolvimento de nossas crianças – e mordida é um desses – visando ao esclarecimento de dúvidas, pois a ação da creche precisa ter a família como aliada.

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Diálogo sempre!É preciso lembrar que a convivência entre crianças de idades e fases de desenvolvimento e de aprendizagens diferentes pode ser muito positivo. Nesse contexto, as situações de impasse e de disputas acontecem natural-mente, o que exige atenção do educador para não deixar que as crianças se machuquem. Diante de impasses, o caminho adequado e produtivo é o diálogo que dê espa-ço a diferentes pontos de vista. A creche é um espaço de convivência e de refl exão, onde todos os adultos envol-vidos precisam contribuir para uma convivência plena, digna e feliz entre as crianças.

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Saiba mais

Livro infantil Rápido como um gafanhoto, de Audrey Wood, Ed. Bri-que-Book

CD Pandalelê – brinquedos cantados – selo Palavra Cantada

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Referências Bibliográfi cas: A creche saudável. Rio de Janeiro: CECIP, 1997.

DAVIS, Cláudia & OLI-VEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Psicologia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.

FUENTETAJA, Ana M. López. Morder é coisa de criança. Porto Alegre:Pátio Educação Infantil, ano1, nº.1, abr/jul 2003.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvi-mento infantil. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

ROCHA, Ruth. Mini-dicionário. São Paulo: Scipione,1996.

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde (org). Os Fazeres na Educação In-fantil. São Paulo: Cortez, 2001.

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“Bic

ho d

e se

te c

abeç

as?”

“Eu não sei o que é que eu faço! Meu fi lho quer o tempo todo brincar com boneca!” (mãe)

“Estou preocupada. Tenho um menino que fi ca esfregan-do o “piu-piu” no colchão até dormir.” (educador)

Ih! Sexualidade? Na creche?A expressão “sexualida-de infantil” passou a ser empregada por Freud, em l9l7, para falar sobre as experiências ocorri-das na primeira infân-cia, na qual a criança, ao descobrir o corpo, percebe que ele pode lhe dar prazer, como, por exemplo, quando suga o seio da mãe, chupa o dedo, faz xixi e cocô.

Freud: médico psiquiatra, fundador da Psicanálise e que formulou uma teoria sobre a sexualidade infantil.

SEXUALIDADE

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Sexualidade é uma energia que todos possuem, é parte essencial da vida e se manifesta no corpo de cada um. Boca, cabelos, perninhas da criança são elogiadas, mas não se fala dos seus órgãos sexuais. Por não serem citados, a criança ignora seus nomes e pode até mesmo não entender qual a função deles no seu corpo. Os adultos costumam dar oportunidade às crianças para fazerem suas descobertas em vários aspectos (pegar objetos, comer sozinhos, engatinhar, andar...), mas com a sexualidade, em geral, pensam duas vezes. Pensam? Talvez, nem cheguem a pensar.

Para alguns é muito difícil, para outros é novidade conversar sobre esse tema. Afi nal, estamos falando de crianças tão pequenas... Mas, por que isso? No decor-rer da história da Humanidade, a sexualidade já foi, e ainda é hoje, muitas vezes, considerada como “pecado”, “maldade”, “sujeira”. Isso opõe-se à idéia de como é vista a criança: um ser “ingênuo”, “puro”, “inocente” e “bondoso”. Assim sendo, a criança foi entendida como sendo assexuada durante muito tempo.

Quando deixamos de lado os tabus e preconceitos, fi ca possível reconhecer a sexualidade como algo natural, de que podemos falar abertamente, sem vergonha e com seriedade.

A cada dia, uma nova descobertaA sexualidade está presente em todas as faixas etárias. Ao lidar com o corpo da criança, por meio do toque, do olhar, da entonação que emprega ao dizer as palavras, o adulto vai transmitindo os seus modos de viver e as percepções que tem de si e da cultura do seu grupo.

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O bebê, desde que nasce, faz descober-tas. Os órgãos dos sentidos têm uma íntima relação com o centro sexual do cérebro e, por isso, a sucção ou o conta-to da pele podem provocar excitações na hora da alimenta-ção, do banho ou da troca de fraldas.

Por volta dos 2 anos, outra coisa do corpo chama a atenção da criança. Ela começa a perceber que pode controlar os esfíncteres. É comum que ela brinque com seu xixi passando a mão no chão ou colocando a mão dentro da calcinha ou da cueca, “amassando” o cocô. Ouvir um NÃO forte e horrorizado é assustador para quem quer apenas conhecer e descobrir aquilo que saiu de seu próprio corpo.

A descoberta do próprio corpo se enriquece, amplia-se com o passar do tempo. O ato de manipular os ór-gãos sexuais e perceber as diferenças entre meninos e meninas faz parte do desenvolvimento das crianças. A curiosidade estimula a masturbação e as brincadeiras sexuais com outras crianças. Em geral, as brincadeiras são feitas em grupinhos mistos, entre os 3 ou 4 anos de idade, quando brincam de médico, de papai e mamãe. Isso também faz parte do desenvolvimento da sexuali-dade.

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Essas são algumas das formas de manifes-tação da sexualidade em crianças pequenas. Mesmo os responsáveis e os educadores que se defi nem como pessoas liberais, destituídas de preconceitos, muitas vezes “travam” ao se de-frontar, na prática, com assuntos como mastur-bação e brincadeiras que envolvam os órgãos genitais.

Por que as crianças fazem isso? Porque é gostoso. É, também, um passo importante para o conhecimento do próprio corpo e a des-

Atenção! O fato de a criança se coçar e fi car buscando se roçar com muita re-gularidade pode também ser uma questão de saúde. O incômodo físico pode ser ocasionado por alergias, assaduras ou até picadas de inseto.

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coberta das sensações que o ato proporciona. A auto-exploração é uma experiência saudável e só trará prejuízos se a criança for punida, sentir-se culpada ou for repreendida.

Erotizar a infância é inadequado, já que não é desejável tentar anteci-par o desenvolvimento infantil. Isso tem sido uma prática comum que se expressa quando os adultos incentivam que crianças reproduzam discursos eróticos e chulos, usem roupinhas insinuantes, participem de danças erotizadas, usem maquiagem. Criança é criança e deve ser respeitada em cada fase da sua vida.

O toque no corpo: bom ou ruim?Sabemos que o corpo, quando tocado, guarda muitas sensações como prazer, dor, acolhimento

Como agir na creche quando crianças se masturbam?

Baseie a relação educador/criança na atenção, no afeto e na valorização do outro.Proponha atividades que também causem prazer, como pintar, correr, dançar, tocar um instrumento ou tomar um gostoso banho.Planeje atividades livres para as crianças, sem permi-tir que se sintam ociosas e sem sua atenção.Observe se a criança con-tinua se masturbando com muita intensidade e regular-mente. É hora de pesquisar se a criança tem suas neces-sidades afetivas satisfeitas na creche. Será que ela está recebendo atenção em casa? Está vivenciando momentos de ansiedade? Está vendo programação televisiva ade-quada para crianças? Costu-ma fi car isolada? Com quem a criança convive quando não está na escola? Ela tem difi culdade para participar de atividades de grupo? Tem baixa auto-estima?Convide os responsáveis para dialogar, buscando as possíveis causas e encami-nhamentos que ajudem a criança, alvo principal de nosso trabalho.Busque e compartilhe, no centro de estudos, possibi-lidades de incluir a criança em “papéis de destaque” ao longo das atividades propos-tas, como, por exemplo: ser ajudante para levar algum recado, participar da distri-buição de material, assumir papéis em brincadeiras cantadas.

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ou repulsa. O educador, na creche, deve estar sempre atento para o corpo da criança que se expressa, que diz o que sente e vive, ou seja, é um “corpo que fala”. A hiperexcitação (desejo exagerado de toque nas partes genitais), os sinais de medo (tremor, choro etc.), as marcas no corpo (mordidas, chupões, ferimentos nos órgãos genitais), locais dolori-dos podem apontar para casos de abuso ou de violência sexual.

Denunciar o abuso sexual é uma obriga-ção de todo cidadão, prevista em lei.

Como é ser menino ou ser menina?Desde que “o mundo é mundo”, as diferenças de gênero trazem questões confl itantes para a socie-dade. Assim, discutir o que signifi ca ser menino ou menina e, particu-

Abuso sexual é uma situação na qual a criança é usada por um adulto para satisfazê-lo sexual-mente. O que fazer?Não fi que apavorado. É preciso lidar com a situação com tran-qüilidade e atenção. A criança é a maior vítima, precisa de proteção e tem direito a ela.Observe a criança com cuidado, não lhe faça perguntas exagera-das, lhe dê atenção, segurança e afeto.Leve o problema para a discussão com os outros funcionários da creche, e discutam como encaminhar as ações perante os responsáveis e a Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Cuidado para não expor a criança nem sua família. Não converse com qualquer pessoa sobre as

Lei 8069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Ado-lescente - ECAArt. 245 – Deixar o médico, professor ou responsável por esta-belecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autori-dade competente os casos de que tenha conhecimento, envolven-do suspeita ou confi rmação de maus tratos contra criança ou adolescente.Pena: multa de três a vinte salários mínimos de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

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larmente, se deve haver educação diferenciada, implica buscar uma relação saudável, sem preconceitos e sem estereótipos com os dois sexos.

É bastante lógico que existam diferenças bio-psico-fí-sicas e também sociais entre meninos e meninas e que elas expliquem e impliquem comportamentos mais típicos de uns ou outros. Porém, isso não signifi ca que eles devam ser educados de forma desigual, pressupon-do que determinados papéis sociais não possam ser partilhados por ambos os gêneros.

A possibilidade de saber o sexo dos bebês antes do seu nascimento, por exemplo, já implica que seu enxoval tenha que corresponder a determinadas cores, atreladas culturalmente a um dos dois gêneros. Assim acontece com todos os adultos que educam crianças pequenas. Desde cedo, fi cam muito preocupados em ensinar culturalmente o que é ser homem e o que signifi ca ser mulher e, nesse percurso, muitas informações equivo-cadas lhes são transmitidas, como, por exemplo, a de que “homem não chora”.

Quando se permite, na creche, que o corpo das crian-ças, entendido de modo integral (integrado às emoções e à cultura) esteja em permanente e signifi cativa ativi-dade, o educador ajuda que, aos poucos, elas possam conhecê-lo também integralmente. Assim, vão perce-bendo a existência e o signifi cado de algumas diferen-ças entre os seus corpos que não implicam qualquer avaliação de superioridade ou de inferioridade, apenas diferenças. Nesse sentido, o espaço da creche deve favo-recer que interajam entre si, vivendo essas diferenças de forma saudável.

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Há momentos na rotina da creche em que as crianças vão brincar e interagir sem a participação do adulto. É um ótimo momento para observar a brincadeira delas. É na brincadeira que se torna possível representar pa-péis e quando o que é ser menino e o que é ser menina poderão ganhar muitas signifi cações. As referências que trazem da família e a infl uência da mídia televisiva e de algumas músicas, por exemplo, vão impondo às crianças determinados comportamentos que devem ser trabalhados pelos educadores para que não cons-truam, desde cedo, uma idéia equivocada sobre as diferenças de gênero.

É comum que educadores planejem atividades para meninos e para meninas, como, por exemplo: os

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meninos jogam bola e as meninas brincam de boneca. Essas situações precisam fazer parte das discussões e do plane-jamento dos educado-res, uma vez que todos precisam trocar idéias sobre suas concepções e repensá-las em relação à construção de uma pos-tura que favoreça uma educação democrática e inclusiva. Nesse senti-do, jogos, brinquedos e brincadeiras no espaço da creche precisam ser diversifi cados para que todas as crianças par-ticipem sem que sejam direcionadas as “coisas para meninos ou para meninas”.

Saiba mais...

Livros para as crianças Menino brinca de boneca, de Marcos Ribeiro, Editora: SalamandraO menino Nito, de Sônia Rosa, Editora: Pallas

Filmes para os respon-sáveis e profi ssionais da creche

Billy EliotMinha vida de cachorroO sorriso de Mona Lisa

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Cur

iosid

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Você se lembra de alguma situação de risco, de aci-dente ou de medo que aconteceu com você quando era criança? Quem estava junto com você? Como tudo aconteceu? Como essa situação poderia ter sido evitada?

As crianças usam todos os sentidos para co-nhecer o mundo. Elas querem tocar, provar, cheirar, montar e des-montar tudo. A maioria dessas experiências proporciona prazer e aprendizagem. Mas, em algum momento, isso tudo pode se transfor-mar em um pequeno ou

ACIDENTES

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grande acidente. Por isso, as crianças necessitam de um ambiente seguro para explorar, com brinquedos ade-quados à sua faixa etária e, o mais importante, estarem sempre acompanhadas de um adulto muito atento.

É comum as pessoas associarem agilidade, destreza e força como características exclusivas dos meninos, enquanto supõem que as meninas sejam mais quietas, ternas e menos levadas. Essa visão equivocada pode ter conseqüências sérias. Os mais ágeis e curiosos, aqueles que acabam sendo chamados de “levados”, sem dúvida, são mais suscetíveis a tombos, ferimentos e acidentes, independente do sexo.

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Entrar e sair, esconder-se: delícias perigosasAlgumas pessoas acham que o bebê de até 6 meses tem pouca chance de se machucar, o que não é verda-de. Nessa idade, a segurança está relacionada com as condições do lugar onde ele dorme e a convivência com crianças maiores.

No berço ou nos colchonetes, o bebê pode se sufocar com panos, fi os, travesseiros, cordões do berço ou da chupeta.

Por volta dos quatro meses, ele já rola, o que requer atenção redobrada do educador em determinadas situações. Não podemos deixá-lo sozinho em cima de lugares altos, porque corre o risco de cair, dormindo ou acordado, e se machucar seriamente.

É importante saber pegar o bebê, segurá-lo com fi rmeza e atenção. Saber retirá-lo do berço, sustentando suas cos-tas sempre com uma das mãos, enquanto com a outra se segura a nuca. NUNCA puxá-lo pelos braços, evitando, assim, contusão nos ombros ou até mesmo fraturas.

De 6 meses até 1 ano de idade, o bebê já apresenta uma maior agilidade motora: senta, engatinha e começa a andar. Nesse período, cai e se machuca com muita freqüência. É preciso estar muito atento aos seus movi-mentos. Mesmo engatinhando, o bebê é capaz de se des-locar por longas distâncias, escapar do olhar do adulto e sofrer acidentes graves, em escadas, em bacias com água, em buracos, banheiros, cozinhas, perto de objeto que pode cair ao ser puxado ou remédios e produtos que possam ser ingeridos.

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A partir dos 6 meses, além de ser curiosa e, também, por já ser capaz de deslocamentos, a criança gosta muito de entrar e de sair de ar-mários abertos, de fi car debaixo de cadeiras ou entre móveis. Enquanto experimenta e, assim, pas-sa a conhecer qual é o ta-manho do seu corpo em relação aos objetos, onde consegue caber, explora e se apropria dos espaços com mais freqüência. Essa brincadeira pode dar muitos sustos nos adultos que, de repente, perdem de vista a criança. Algumas fi cam felizes nos seus esconderijos, porém outras podem fi car em apuros, sem conseguir sair de onde entraram. Tanto o próprio corpo da criança pode fi car preso em uma caixa ou debai-xo de uma cadeira, por exemplo, como partes do seu corpo podem correr riscos graves. Em geral, fi cam em perigo mãos, dedos, pés, cabeças.

Os bebês precisam de liberdade e, ao mesmo tempo, de segu-rança para explorar os espaços.

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Nem tudo o que entra saiCrianças podem enfi ar o dedinho no buraco de uma fechadura e não conseguir retirá-lo sem ajuda, podem enfi ar a mão num ventilador que encantadoramen-te roda sem parar, podem enfi ar grampos ou dedos em tomadas sem tampa, correndo o risco de choque elétrico forte.

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O corpo da criança, com seus orifícios, também é um campo para novas experiências. Ouvidos, nariz e boca podem receber objetos desconhecidos e inadequados como chapinhas de garrafa, grãos, moedas, botões, entre muitas coisas.

É importante dizer à criança em que situações ela corre perigo, explicando as razões para tomar deter-minado cuidado, principalmente quando se faz uma proibição. No entanto, a responsabilidade de educar e cuidar inclui uma proteção irrestrita para evitar aci-dentes e acontecimentos desastrosos.

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Você já parou para observar se os móveis da creche têm cantos arredondados? Se as crianças com defi ciência física podem circular com facilidade? Sua sala deve levar em conta essas e outras questões. É dese-jável planejar um espaço que estimule e aguce a curiosidade, porém atendendo às necessida-des básicas de proteção, segurança e bem-estar da criança.

Na creche, não devem ser oferecidas balas, pirulitos, pipocas ou amendoins às crianças. Esses alimentos, além de fazer mal aos dentes e à digestão, podem provo-car acidentes como en-gasgos e sufocamentos.

É verdade que tudo o que desperta o inte-resse, a curiosidade e a imaginação de crianças pequenas, que passam a conhecer e a explorar o mundo por meio do seu corpo e de suas sensações, sempre sejam situações que envolvam algum risco. Andar de velocípede, brincar no balanço, subir no trepa-trepa têm algum risco, mas a solução não pode consistir em privá-las dessas atividades e brincadeiras. Eventu-almente, as crianças podem ferir a boca na grade do berço ou,

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mesmo estando sentadas no chão limpo, a cabeça, se perderem o equilíbrio.

Tudo pode acontecer e, tratando-se de acidentes, tudo pode acontecer muito rápido, em um piscar de olhos. Assim, cabe a nós, educadores, descobrir uma manei-ra de não impedir que as crianças conheçam, que se desenvolvam, que descubram e que inventem sempre, com o menor risco possível de acidentes.

Referências bibliográfi cas:ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde (org). Os Faze-res na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2001.

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Conselhos Tutelares

Todos os casos confi rmados ou suspeitos de violência e de abuso sexual contra crianças e adolescentes devem ser denunciados. O telefone 100, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, recebe denúncias. Pode-se recorrer, ainda, aos Conselhos Tutelares. Na cidade do Rio de Janeiro, existem 10 Conselhos:

CentroRua do Acre 42, sobradoTelefone: 2223-0117/2233-3166/9719-3705 e 9607-5782

Zona SulRua Moura Brasil 20, Laran-jeirasTelefone: 2551-5143/9232-9378/9634-8190

Vila IsabelRua Desembargador Izidro 48, TijucaTelefone: 2238-4476/9719-5413 e 9634-8214

MéierRua Dr. Leal 706, Engenho de DentroTelefone: 2595-3963 e 9645-6486

RamosRua Professor Lacê 57, RamosTelefone: 2290-4762/9718-4533 e 9873-8244

MadureiraRua Capitão Alitar Martins 211, IrajáTelefone: 3390-6420/9993-2640/9874-7673

JacarepaguáEstrada Rodrigues Caldas 3.400, prédio da administra-ção, Colônia Juliana Moreira, JacarepaguáTelefone: 2246-6508 e9968-1893

JacarepaguáTelefone: 2446-6508 e 9968-1893

BanguRua Oliveira Braga 211, RealengoTelefone: 3332-3744 e 9969-9079

Campo GrandeRua Coxilha s/nº, XVIII RA, Campo Grande Telefone: 2413-3125

Santa CruzRua Lages de Moura 58, Santa CruzTelefone: 3395-0988/9719-3432 e 9641-9689

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