A Revolta dos Malês na História

24
1 “A Revolta dos Malês na História: uma análise sobre a resistência dos escravos e o saber histórico frente a implementação da Lei 10639/2003”. Por Juarez de Assis Fernandes e Clarissa F. do Rêgo Barros 1 I) Introdução Com o objetivo de realizar uma breve crítica historiográfica sobre a representação da Revolta dos Malês na historiografia e as diversas formas encontradas pelos negros cativos para fugir do controle do senhor, em especial, este artigo pretende compreender “O Grande Levante dos escravos Malês na Bahia em 1835”, como um acontecimento que merece uma atenção maior na história das resistências escravas por ter sido uma revolta marcada por uma rede de complexidades, em que negros escravos e libertos de origem muçulmana lutaram contra as autoridades baianas em pleno cenário político do período regencial. Além de nos aprofundarmos nos aspectos historiográficos da Revolta dos Malês, torna-se necessário incitar a discussão da não inclusão do tema, como um fato que exemplifica a participação dos escravos enquanto sujeitos históricos nos livros didáticos e no próprio ensino de Historia. Para tal questão, discutiremos posteriormente a partir de depoimentos de professores de História de escolas públicas a inclusão ou não da Revolta dos Malês como um objeto de estudo frente a implementação da Lei 10639/2003, que legitima o ensino de História da África nas escolas brasileiras Para refletirmos o tema proposto faz-se necessário concentrarmo-nos fundamentalmente em três aspectos: por um lado a escravidão presente na sociedade brasileira no inicio do século XIX, e por outro lado, as diversas formas encontradas pelos escravos para resistir e quebrar a ordem do sistema escravista da época e o grande debate historiográfico em torno do assunto na Academia. O processo de evidente crise do regime escravista e a incipiente construção da identidade nacional determinou a resistência escrava como um assunto que merece ser bem estudado, como sugerem alguns historiadores especialistas no tema, como: Flávio dos Santos Gomes, João José Reis e Eduardo Silva, a fim de construir uma outra forma de narrar a História, não oficial, vista de forma diferente, sob outra maneira de narrar os 1 Juarez de Assis Fernandes é Historiador e possui Pós-Graduação em História da África. Clarissa F. do Rêgo Barros é Historiadora, Professora de História e atualmente mestranda da Pós- Graduação em Serviço social da UERJ. Bolsista Faperj.

Transcript of A Revolta dos Malês na História

1

“A Revolta dos Malês na História: uma análise sobre a resistência dos escravos e o saber histórico frente a

implementação da Lei 10639/2003”.

Por Juarez de Assis Fernandes e Clarissa F. do Rêgo Barros1

I) Introdução

Com o objetivo de realizar uma breve crítica historiográfica sobre a

representação da Revolta dos Malês na historiografia e as diversas formas encontradas

pelos negros cativos para fugir do controle do senhor, em especial, este artigo pretende

compreender “O Grande Levante dos escravos Malês na Bahia em 1835”, como um

acontecimento que merece uma atenção maior na história das resistências escravas por

ter sido uma revolta marcada por uma rede de complexidades, em que negros escravos e

libertos de origem muçulmana lutaram contra as autoridades baianas em pleno cenário

político do período regencial.

Além de nos aprofundarmos nos aspectos historiográficos da Revolta dos Malês,

torna-se necessário incitar a discussão da não inclusão do tema, como um fato que

exemplifica a participação dos escravos enquanto sujeitos históricos nos livros didáticos

e no próprio ensino de Historia. Para tal questão, discutiremos posteriormente a partir de

depoimentos de professores de História de escolas públicas a inclusão ou não da

Revolta dos Malês como um objeto de estudo frente a implementação da Lei

10639/2003, que legitima o ensino de História da África nas escolas brasileiras

Para refletirmos o tema proposto faz-se necessário concentrarmo-nos

fundamentalmente em três aspectos: por um lado a escravidão presente na sociedade

brasileira no inicio do século XIX, e por outro lado, as diversas formas encontradas

pelos escravos para resistir e quebrar a ordem do sistema escravista da época e o grande

debate historiográfico em torno do assunto na Academia.

O processo de evidente crise do regime escravista e a incipiente construção da

identidade nacional determinou a resistência escrava como um assunto que merece ser

bem estudado, como sugerem alguns historiadores especialistas no tema, como: Flávio

dos Santos Gomes, João José Reis e Eduardo Silva, a fim de construir uma outra forma

de narrar a História, não oficial, vista de forma diferente, sob outra maneira de narrar os 1 Juarez de Assis Fernandes é Historiador e possui Pós-Graduação em História da África. Clarissa F. do Rêgo Barros é Historiadora, Professora de História e atualmente mestranda da Pós-Graduação em Serviço social da UERJ. Bolsista Faperj.

2

fatos afim de que não sejam contados apenas na visão dos dominantes, mas, através da

visão do cativo, na qual, este direcionou suas artimanhas para resistir e fugir do controle

do dominador. Diante destes paradigmas teóricos, surgem as questões: como esse

escravo deixou seu anonimato para se tornar sujeito ativo da nossa História sendo

inserido nos livros, tanto escolar como universitários? Como esses negros puderam lutar

de maneira espetacular para se manterem vivos dentro de uma estrutura fortemente

armada pelo senhor? Uma estrutura que às vezes dava ao negro um grau de liberdade,

mas que ao mesmo tempo lhe tirava essa liberdade, ou seja, uma política muito bem

montada pelo senhor de escravos, cheia de complexidade em suas bases.

II) A Revolta dos Malês: história e resistência na Bahia de 1835. O personagem central deste tema são os escravos e libertos muçulmanos em

Salvador – os Malês. (sujeito-escravo). O enredo é a resistência permanente de homens

e mulheres vivendo seus anseios e limites numa sociedade escravista fortemente

marcada pela exclusão social e racial. 2

Para o historiador João José Reis (2003), os escravos não foram vítimas nem

heróis o tempo todo, se situando na sua maioria e em grande parte do tempo numa zona

de indefinição entre um e outro pólo.3 O escravo aparentemente acomodado e até

submisso, certamente poderia se tornar o rebelde do dia seguinte, dependendo da

oportunidade e das circunstâncias que o levaram a cometer o ato de se rebelar.

João Reis (2003) afirma que tais negociações, por outro lado, nada tiveram a ver

com a vigência de relações harmoniosas entre escravo e senhor como descreveu o

sociólogo Gilberto Freyre no livro Casa Grande & Senzala, publicado em 1933.

Segundo Gilberto Freyre (1963), “desde logo salientamos a doçura nas relações

de senhores com escravos domésticos, talvez maiores no Brasil do que em qualquer

outra parte da América” 4. A frase expressa com clareza a visão que perpassava sobre a

historiografia da escravidão brasileira, admitindo uma harmonia nas relações sociais

entre senhores e escravos, sobretudo se comparada a de outros países escravista. Essa

visão, com certeza, dá margens a polêmicas historiográficas sobre a caracterização do

sistema escravista, até hoje não resolvida, pois esta interpretação da historiografia

2 JOSÉ REIS, João e Eduardo Silva. Negociação e Conflitos. A Resistência Negra No Brasil Escravista.

Companhia das Letras. 1989. 3 JOÃO JOSÉ, Reis. Rebelião Escrava No Brasil. A História do levante dos malês em 1835. ed. Ver. e

ampl. São Paulo: Comp. Das Letras.2003. 4 FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala, Brasília, ed. Universidade de Brasília, 1963, p.393.

3

condicionou ideologias que respaldaram o hibridismo como algo particular de nossa

identidade e de certa forma, negou a diversidade dos sujeitos presentes em nossa

História, apesar do autor descrever particularidades culturais dos indígenas, negros e

portugueses. Neste sentido, o problema da História não é apenas cultural, ele também se

encontra nas relações sociais.

Contudo, José Reis (2003) tem um cuidado ao descrever que, mesmo com tanta

violência imposta ao escravo, havia também um espaço onde as relações sociais entre

escravos e senhores se teciam tanto de barganhas quanto de conflitos.

Dessa forma, os escravos negros, para resistirem a situação de oprimidos em que

se encontravam, criaram uma rede de alianças e lutas, a fim de se salvaguardarem social

e mesmo biologicamente do regime que os condicionava à escravidão. No entanto, os

senhores de escravos montavam estratégias para controlar as ações dos revoltosos,

cristalizando assim, a hierarquia social na sociedade brasileira da época.

Práticas de inferiorização racial do cativo também eram usadas pelos senhores

para legitimar o sistema escravista e condicionar o negro à escravidão, mas este negro

por muitas vezes fugia dos engenhos em busca de uma vida melhor, fora das fazendas.

O açoite do feitor era a forma encontrada pelo senhor para castigar os rebeldes, quando

suas ordens não eram cumpridas pelos escravos que muitas vezes se rebelavam para não

se subordinar ao sistema escravista da época.

5

Em busca da tão sonhada liberdade, os escravos se organizavam através das

festas, danças, lutas, dos quilombos, das maltas de capoeiras, dos rituais religiosos.

Desempenhavam serviços domésticos, faziam serviços nas ruas da cidade como oficial

5 Aplicação do castigo- negros no tronco ( DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e história ao Brasil.

6º ed. São Paulo, Martins/ Brasilia/df, INL, 1975).

4

de barbeiro, artesão, vendedores de flores, carregadores, vendedores de frutas e até

mesmo se suicidavam para não serem condicionados à escravidão do senhor.

A Bahia do século XIX foi um cenário cheio de inquietações da população

escrava, a rivalidade entre senhores e escravos se pautava nos desejos e anseios de

homens e mulheres que lutavam por sua liberdade. Este período foi extremamente

marcado pela crescente insubordinação dos cativos africanos e seus aliados libertos. Na

Revolta dos Malês (1835), os escravos muçulmanos, principalmente os nagôs e haussás

foram peças chaves na organização sofisticada, e na tentativa da montagem de uma rede

conspiratória à submissão a que estavam sujeitos,mas também fizeram parte da revolta

como protagonistas, os insurretos não islamizados, em geral mobilizados em função de

pertencerem à etnia africana majoritária na Bahia da época, os nagôs. Embora a revolta

não tenha sido obra exclusivamente de nagôs e muçulmanos escravos, também

participaram do movimento os libertos africanos, até porque, os libertos estavam

diretamente relacionados com as relações escravistas na cidade da Bahia, pois na

província, escravos e libertos trabalhavam juntos no sistema de ganho ou simplesmente

vivenciando a maior flexibilidade (inclusive no anonimato), proporcionada pelo

ambiente urbano, onde desenvolveram, aperfeiçoaram, e aprofundaram solidariedades

étnicas e religiosas a partir das quais puderam organizar um discurso convincente de

críticas à escravidão na Bahia. (REIS, 2003).

A rebelião de 1835 teve uma multiplicidade de sentidos religiosos, étnicos e

classistas, que se entrecruzaram num momento de crise da hegemonia senhorial numa

Bahia politicamente dividida, pois o período coincidia com as incongruências políticas e

divergências partidárias do Período Regencial.

Apesar das justificativas sociais e históricas, relacionadas diretamente à

insatisfação com a escravidão a nomenclatura da revolta esteve relacionada com o

contexto histórico da época, onde na Bahia de 1835, os africanos muçulmanos eram

conhecidos como malês, porém para muitos historiadores o nome da revolta suscita

discussões. O historiador Braz do Amaral (apud REIS, 2003), por exemplo, sugeriu que

o nome da revolta derivasse de “má, lei”, que seria como os católicos consideravam o

Islã, em oposição à “boa lei”, da religião católica. Braz enfatizava que o termo era

pejorativo e portanto recusado pelos muçulmanos. No entanto, enfatizou um erro, pois

malê não parecia possuir tal carga negativa, pelo menos nesse período. Porém, o

historiador norte americano R. K. Kent associou malê com malam, a palavra haussá

tomada do árabe um allim, que significa clérigo, ou mestre.

5

Para o historiador José Reis (2003), na Bahia, malês não denominava o conjunto

de uma etnia africana particular, mas o africano que tivesse adotado o Islã, pois malês

seriam apenas os nagôs islamizados. No entanto, nagôs, haussás, jejes, tapas – enfim,

indivíduos pertencentes a diversas etnias eram tidos, se muçulmanos, por malês, apesar

dos nagôs - os afro-muçulmanos na Bahia, não se autodenominarem majoritariamente

assim.

III) O motim.

A rebelião de 1835 estava planejada para acontecer na manhã de domingo de 25

de janeiro, dia de Nossa Senhora da Guia. Naquela época, nessa data se comemoravam

as festas do Bonfim, portanto, seria um bom dia para os escravos se rebelarem, já que

estariam mais livres da vigilância das autoridades baianas. Segundo Reis (2003, p.55), a

escolha de dias santos, domingos e feriados para a prática das revoltas fazia parte do

modelo de conspiração entre os escravos na Bahia e do mundo sendo diferenciada dos

movimentos modernos, que concentram seus protestos nos dias de trabalho – a greve

sendo o modelo típico.

A partir do momento em que homens e mulheres armados com uma espada na

mão e na outra o Corão (livro sagrado do islamismo) invadiram as ruas de Salvador,

para derrotar as autoridades baianas, o cenário político da sociedade baiana foi se

caracterizando por uma rede de conflitos e revoltas, onde as autoridades baianas se

viram aterrorizadas na madrugada do dia 24 para 25 de Janeiro de 1835.

“De espada em punhos, uns 50 homens negros partiram enfurecidos em direção

ao grupo de policiais, gritando ‘mata soldados’ e algumas palavras de ordem em

idiomas africanos”. (Freitas apud Reis, 2003). Num instante, o papel de escolta do juiz

de paz Caetano Galião, chefe da diligência, deu lugar a uma reação súbita para salvar a

própria vida. Os soldados policiais num gesto desesperador carregaram as espingardas,

mas não puderam fazer muita coisa para impedir o avanço dos guerreiros africanos que

mataram um soldado e feriram outros quatro, conquistando, desta forma, alguns espaços

na cidade.

Para alguns historiadores como Décio de Freitas, a religião islâmica foi um dos

fios condutores que desencadeou o grande levante, unindo os escravos contra a opressão

do dominador. Segundo o historiador, os escravos tinham a intenção de ao amanhecer,

reunirem o maior número possível de africanos para depois tomar o poder e matar todos

os nascidos no Brasil, inclusive outros negros, embora não se possa afirmar isto com

tanta precisão.

6

Para João José Alberto da Costa (2003) a solidariedade étnica, bem como a

condição de africano e de escravo, teriam sido determinantes na mobilização dos que

saíram armados às ruas .

“A rebelião, baseava-se no princípio de que todo africano representava

um aliado potencial, uma interpretação que se choca frontalmente com

a opinião de quem viu e (vê) nela nada mais é que uma Jihad a clássica

guerra santa muçulmana contra infiéis de todas as cores e origens” e

de quem atribuiu aos rebeldes o plano de massacre(...) os africanos

fetichistas junto com os brancos e crioulos”. (COSTA, 1003, p.150).

Para Alberto da Costa (2003), a jihad, significa que os juristas muçulmanos

acreditam no dever de crente, que assume formas conforme o lugar, a época e as

circunstâncias políticas.

Uma guerra santa que não tomou um cariz, na arregimentação de combatentes,

muito distinto da que ocorrera na Hauçalândia e em Ilorim. Uma guerra na qual não se

pode separar, por islâmica, a religião da política.

Além disso, somam-se à solidariedade étnica, os nagôs que não eram

muçulmanos e, movidos por um sentimento de liberdade e de revanche contra os

brancos, negros de outras nações, que saíram às ruas com eles. Não sendo encontrados

relatos por João Reis (2003) de grupos não-islamitas com papel de relevo no preparo, no

deflagrar e na condução do levante.

Segundo os dados apresentados por Reis(2003) não há vestígios que garantam

quais seriam realmente os planos dos rebelados. O que se tem são declarações, copiadas

pelas autoridades, segundo as quais os revoltosos pretendiam eliminar “todos os

brancos, pardos e crioulos”. Mas “o certo é que os rebeldes pretendiam romper com a

dominação branca e que viam mulatos e crioulos como cúmplices dos brancos, não

vítimas como eles, mas é possível que, caso a história tivesse dado essa chance, uma

vez no poder os africanos terminariam por estabelecer um modus vendi com os afro-

baianos”. (Reis, 2003, p.68).

Gradativamente as investigações feitas pelo governo baiano sobre o levante

foram revelando uma rede clandestina de propaganda islâmica, que unia os cativos

vindos da África muçulmanos a outros convertidos no Brasil e a africanos adeptos de

outras religiões.

7

João Reis (2003) acha ser impossível que os rebeldes contassem com alianças

importantes fora de seu grupo étnico. Mas Nina Rodrigues, sugeriu que os nagôs, por

intermédio da sociedade secreta Ogboni, teriam comandado esse movimento. No

entanto, Reis (2003) vê o contrário, pois para ele a Ogboni era originária do reino ioruba

de Oyó, onde se dedicava ao culto da terra e tinha importante função de controle do

poder do alafin (rei de Oyó, significando senhor do palácio, ou do afin). Outros estados

iorubas tinham organizações similares, com outros nomes. Se a Ogboni possuía

ramificações na Bahia, suas funções eram evidentemente diferentes. Talvez a de manter

viva, mesmo deste lado do Atlântico, a identidade Iorubá e a hegemonia política dos

nagôs de Òyó.6

Contudo, foi a mobilidade social que alguns escravos tinham dentro do ambiente

um pouco menos sufocante da escravidão urbana na Bahia, que os malês conseguiram

criar uma organização rebelde de caráter diferenciado, se levarmos em conta as

rebeliões quilombolas, em grande parte formadas por escravos fugidos das grandes

propriedades rurais.

Por tudo isso, pode-se destacar que boa parte dos escravos de Salvador (dos

quais 63% tinham nascidos na África)7 gozava de um grau de liberdade insuspeito. Eles

se diferenciavam dos negros que se esfalfavam nos engenhos, grande parte desses

negros nem morava com seus senhores ou, quando isso acontecia, trabalhavam horas do

dia fora de casa. Era a chamada escravidão de ganho, na qual os escravos exerciam os

mais variados ofícios (vendedores ambulantes, pedreiros, carregadores de cadeiras,

barbeiros) para sustentar o seu próprio dono trazendo-lhe depois de longo dia de

trabalho nas ruas o que conseguiam com o fruto do trabalho. Alguns até podiam ficar

com uma porcentagem mínima, obviamente do que ganhavam, e com esse dinheiro

compravam mais tarde a tão sonhada liberdade através da alforria.

No entanto, chamo atenção para esse tipo de relação entre o senhor e o escravo,

porque deixar que os escravos circulassem pelas ruas da cidade não significava que o

senhor estivesse sendo cordial com o cativo. Entende-se que esse era apenas um

mecanismo utilizado pelo senhor a fim de controlar os sujeitos de ganho, a medida que

este indivíduo tinha a promessa de ser liberto após pagar determinada quantia à seu

6 Para o historiador João Reis, é preciso observar esse ponto de vista, porque o que estaria fazendo uma

organização ioruba num movimento predominantemente de cunho religioso ( haussá) 7 Esses dados podem ser encontrados na edição da revista. Aventuras na História ed. 02 agosto de 2003.

8

dono. Por outro lado, esse sistema permitia que os negros montassem sua própria rede

de amizades e contatos.

Os Malês, por exemplo, não era raro encontrar um liberto morando no andar

térreo de um sobrado cuja loja era alugada (um modelo de porão das casas coloniais )

para um escravo, e este por sua vez, alugava uma parte do cômodo a outro amigo.

De modo geral, a revolta começou a tomar corpo em Salvador no ano de 1835

por meio da idéia de mobilidade social e das teias de amizade construídas entre escravos

e libertos, além da facilidade com que os traficantes de escravos agiam, possibilitou a

entrada dos guerreiros experientes, mas também levou pessoas que freqüentavam

escolas, onde se ensinavam a ler e escrever em árabe, a recitar as suras ou versículos do

Alcorão e a seguir os ensinamentos do profeta Maomé.

Envolvidos na revolta estiveram presentes homens como Ahuna e pacífico

Licutan, pessoas vividas, com um certo grau de intelectualidade, carismáticas, que logo

se puseram a unir em torno de si seus companheiros que já eram muçulmanos e a

espalhar a palavra de Maomé entre outros escravos. De fato, tanto a união em torno do

islã quanto a solidariedade étnica influenciaram os rebeldes.

Para o historiador Décio de Freitas (apud. REIS, 2003), foi o fator religioso

conseguiu unir povos diferentes e até inimigos entre si no mesmo levante. Contudo,

Reis (2003) faz a crítica aos argumentos do historiador. O autor baiano parte de outro

ponto polêmico. Afirma com mais precisão e com outros argumentos mais calibrados, a

importância da construção de identidade étnica no movimento e a complexidade

existente entre identidades religiosas e de classe, pois nem todo muçulmano entrou na

revolta e nem todo rebelde era muçulmano. Os haussás, por exemplo, constituíram o

grupo étnico mais numeroso entre os mais islamizados, contribuíram com poucos

guerreiros. Na verdade, o movimento foi levado a sério sobre tudo por muçulmanos de

origem ioruba, os nagôs, o que ratifica, tendo ou não sido uma jihad, uma dimensão

étnica fundamental devido a participação de negros nagôs. A dimensão social é também

indiscutível, pois tratava-se de rebeldes na sua maioria escravos e uma minoria de

libertos que visavam, não apenas a emancipação, mas a tomar o poder, onde o social se

mistura também com o político.

Algo mais circulava pelas ruas de Salvador. O temor das autoridades baianas que

obrigavam os moradores dos sólidos sobrados, dos palacetes e das casas simples saírem

às ruas, esses faziam-no com alguma cautela e muito receio. Afinal de contas, as ruas,

vilas e becos – em geral estreitos, irregulares, sujos e mal iluminados –, eram lugares

9

onde se aglomeravam os escravos, mendigos, “desocupados”, e outros tipos sociais, que

naquela sociedade não possuíam algum direito. E não por outra razão, estavam sempre

prontos para revelar sua presença.

Funcionários, negociantes, religiosos, artesãos, proprietários de escravos e de

terras, autoridades e muitos outros temiam os capoeiras, que em bando vagavam pelo

centro e redondezas. Temiam os assaltantes, cujo número crescia junto com a cidade.

A escravidão africana no Brasil durou mais de três séculos e sustentou a

economia do país, da lavoura da cana de açúcar ao trabalho urbano. Mas os cativos

sempre acharam um jeito de lutar por sua liberdade e por justiça. Foi então que

explodiram os confrontos, por volta de 1h30 da manhã, na loja onde morava Manoel

Calafate, um dos líderes malês.

Tentaram arrombar a casa onde parte dos conspiradores se reunia, mas a patrulha

ficou impotente diante dos muitos guerreiros muçulmanos, armados de espadas e

vestindo o abadá, espécie de camisolão branco que era o traje ritual dos malês. As

informações sobre o levante vazaram no começo da noite anterior, por meio de alguns

libertos, como Guilhermina Rosa de Souza, que sabendo do plano dos malês, o

denunciaram a seus ex-senhores. Esses, por sua vez, alertaram as autoridades baianas,

que reforçou a guarda do palácio do governo.

Após travarem longa batalha contra as autoridades, os negros malês foram

derrotados. Alguns foram mortos, outros aprisionados, condenados à morte, deportados

de volta à África. Não se pode dizer com certeza qual teria sido o destino da rebelião, se

ela tivesse sido vitoriosa.

Para João José Reis (2003), a delação certamente selou a sorte dos rebeldes mais

cedo, mas os fatores se encontram tanto entre os africanos como entre seus adversários.

O controle sobre os escravos cresceu na Bahia, mas a revolta também ajudou a impor

uma redução do tráfico negreiro, e finalmente, sua extinção em 1850, por medo de que

mais africanos se unissem como os malês. 8

IV) Debatendo a Revolta dos Malês em sala de aula.

A proposta para este capítulo é fazer uma análise preliminar sobre os livros

didáticos como materiais de circulação do saber histórico, identificando nestas

8 Esses dados podem ser encontrados na edição da revista.apud. Aventuras na História ed.02 p.59.02

agosto de 2003.

10

produções da historiografia didática as revoltas escravas, em especial, a Revolta dos

Malês ocorrida nas ruas da cidade de Salvador em 1835.

Para tal é necessário investigar o sentido dado pela historiografia didática ao

levante dos escravos e libertos muçulmanos que lutaram nas ruas da capital baiana no

período Regencial determinando a relação diferenciada entre as duas vertentes

educacionais: didática e acadêmica na História do Brasil descrevendo a maneira como

esses revoltosos islamizados estão sendo inseridos nos livros de História do Brasil. A

este propósito, algumas questões poderão ser deixadas em aberto. É importante,

portanto, levar-se em consideração a banalização de alguns temas sobre as resistências

escravas do período Regencial como a Revolta dos Malês, sendo contada apenas aquilo

que privilegia a História oficial.9. Neste ensaio a história da Revolta dos Malês em 1835

será interpretada nos livros destinados aos ensinos Fundamental e Médio nas últimas

décadas dos anos 1980 e 1990, através do diálogo com professores e estudantes de

graduação de História.

Os anos de 1980 e 1990 foram palco da emergência de movimentos sociais,por

isso as lutas dos profissionais da área de educação, desde as salas de aulas até as

universidades, ganharam maior expressão com o crescimento das associações de

historiadores e geógrafos, que assumiram cadeiras docentes de primeiro e segundo graus

e ampliaram a batalha pela volta de História e Geografia aos currículos escolares e a

extinção dos cursos de licenciatura de Estudos Sociais. A partir de então, novos temas

passaram a ser estudados pela academia e também incluídos nos livros escolares

destinados ao público de Ensino Fundamenta e Médio.

Diante do contexto de um mundo altamente marcado por ações políticas e

ideológicas, onde as agitações de liberdade e construção da Pátria estiveram presentes

na sociedade brasileira. Surgem assim novas questões em torno da compreensão da

História do Brasil para o registro da memória de nossos feitos e ações.

9 A História, oficial consiste em documentos e registros daqueles que se encarregaram de contar uma

versão dos que venceram.

11

“A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma

permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável

de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário,

luta por ela precisamente porque não a tem. Não é idéia que se faça

mito. É condição indispensável ao movimento de busca em que estão

inscritos os homens como seres inconclusos.(...)A liberdade, por isto, é

um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce deste parto é um

homem novo que só é viável na e pela superação da contradição

opressores-oprimidos, que é libertação de todos”. (Freire, 1975)

A liberdade descrita por Paulo Freire,(1975) quando pensada em relação à

disciplina da Historia como uma disciplina libertadora de jovens e adultos por meio do

conhecimento de nossas memórias, permite que o aluno na condição de oprimido tente

através dos conhecimentos adquiridos em sala de aula libertar-se em suas origens da

história oficial, contada a partir da História do opressor-oprimido, e descobrir a

liberdade a partir do encontro com novos sujeitos históricos..10

O passado oprimido apenas com a valorização do discurso dominador

eurocentrico e etnocêntrico assume novas formas e interpretações. 11. O discurso feito

de acordo com os interesses hegemônicos, adquiriu novas abstrações voltadas não mais

para mascarar as desigualdades sociais, a dominação oligárquica e a ausência da

democracia social, e sim debatê-las a partir de novas perspectivas historiográficas.

Mas apesar da abstração e coerção, a produção histórica foi se renovando com o

emprego da dialética entre os historiadores como método de abordagem e com a

inovação de temas de pesquisa abrangentes e direcionadas a ruptura do método

tradicional positivista. A historiografia brasileira passou por uma releitura: baseou–se na

identificação, nas diferenças de espaços, de formação, de organização, de lutas e de

resistências sociais.

O regional e a história local foram cada vez mais estudados em suas imbricações

no nacional e no social, em diversos temas sobre a escravidão, que se distribuíram pelo 10 Efetivamente, nos últimos anos, o ensino de História tem sofrido um processo crescente de revisão dos esquemas Globalizantes e Homogeneizadores, os quais, por muito tempo nortearam as teorias e as práticas historiográficas. Neste sentido percebemos que houve uma ampliação do campo da História, marcada pela busca de novos problemas, novas abordagens e novos objetos de estudos. 11 O conceito de eurocentrismo está associado a visão historiográfica a partir do olhar europeu. E o conceito de etnocentrismo implica na idéia de uma cultura dominante e superior as demais. Ambos os conceitos constroem na História do Brasil uma memória voltada para a narrativa européia como protagonista dos fatos, extinguindo assim os diálogos com os demais sujeitos – indígenas e negros africanos.

12

espaço brasileiro. Esta vasta produção surgida no final dos anos 1970, no entanto, ficou

em grande parte restrita às academias, não atingindo o grande público das escolas de

ensino fundamental e médio. Seja pela situação de ditadura, seja pelo controle

“asfixiante” da censura ou pela própria resistência de alguns professores em abordar

determinados temas nas salas de aulas.

Para a autora Elza Nadai, “com o fim da ditadura militar e com a emergência do

Estado Constitucional, a partir do final dos anos 1970 e início dos 1980, ocorreu a

emergência de novas propostas curriculares em todos os Estados da Federação, que

vêm procurando concretizar a readequação dos currículos, programas e métodos e o

redirecionamento da escola fundamental de 8 anos”12.

A historiadora abre uma reflexão em torno da idéia da existência de um saber

escolar que não corresponde nem à justaposição nem à simplificação da produção

acadêmica. Portanto, aceitar a idéia de que o conteúdo não pode ser tratado de forma

isolada, e sim, em conjunto com outros fatores, implica em não ensinar quantidades,

substituindo esta pratica pela noção de que o aluno é sujeito do processo de

aprendizagem, carregando consigo uma trajetória histórica, o que auxilia na construção

de um conhecimento historiográfico a partir de uma reflexão crítica.

Neste sentido, os objetivos do ensino de História passam a adquirir uma

expressividade emancipadora, baseada na autodeterminação e na autonomização do

educando (...) isso pressupõe a compreensão da emancipação a um só tempo e

inseparável do indivíduo no seio da sociedade” (Funari, 1992) 13

Por isso, é importante a superação da dicotomia ensino/pesquisa já que o ponto

de partida do currículo escolar é resultante da interação entre alunos, professores e o

meio social, o que determinaria um diálogo entre escola e academia e consequentemente

das produções didáticas de ambas as instituições.

A compreensão de que alunos e professores são sujeitos da história (do processo

escolar, do trabalho comum, da vida do dever); são agentes que interagem na construção

do movimento social, permite viabilizar a História, enquanto uma memória social

alicerçada num discurso que relaciona o passado e o presente. 12 NADAI, Elza. “O ensino de História no Brasil: Trajetória e perspectiva”, (Apud). IN: RB de H, SP, V13, N 25/26, P. 158. 13 FUNARI, Pedro A. A História e o Sentido das escolas técnicas. São Paulo, SP, CEETEPS / UNESP, 1992. A História tem permanecido no currículo escolar, constituindo o que se chama de saber histórico escolar. No diálogo e no confronto com a realidade social e educacional, no contato com valores e anseios das novas gerações, na interlocução com o conhecimento histórico e pedagógico, o saber histórico tem mantido tradições, tem reformulado e inovado conteúdos, abordagens, métodos, materiais didáticos e algumas de suas finalidades educacionais e sociais.

13

“O que fabrica o historiador quando faz História”? Para quem

trabalha? Que produz? Interrompendo sua deambulação

erudita pelas salas dos arquivos, por um instante ele se

desprende do estudo monumental que o classificará entre seus

pares, e, saindo para a rua, ele se pergunta: O que é esta

profissão?” 14

O autor Michel de Certeau (apud Ribeiro, 2002) nos leva a pensar, o que vem a

ser o “oficio do historiador”, interrogando-se sobre a importância desta profissão.

Contudo, para o que nos interessa neste trabalho, será argumentado de forma descritiva,

a institucionalização da profissão do professor de História relacionando-o ao ensino da

História, buscando a compreensão enquanto uma disciplina do saber social e cultural da

relação professor/historiador e a sua importância para construção da História do Brasil.

Alguns livros de história do Brasil nutriram-se de uma conjuntura política, onde

para muitos setores da sociedade brasileira, era fundamental a ausência crítica em

relação ao regime militar e seus “entulhos autoritários” no período de 1964/1979.

“A família branca é passada ao aluno como padrão e o negro,

freqüentemente, aparece em posições socialmente inferiores. As fotos e

gravuras enfatizam, na maioria das vezes, o branco. Em alguns livros,

repetem-se antigos preconceitos, já superados há muito tempo por

pesquisas históricas. Fala-se, por exemplo, que o índio, por ser

indolente e acostumado à liberdade não se adaptou à escravidão. Daí a

preferência do colonizador pelo negro”. (Folha de São Paulo , 23 abr.

1994).

Apesar destas justificativas terem sido registradas durante longos anos nos livros

de História adotaram um registro voltado para História econômica e política, o

revisionismo historiográfico possibilitou a noção de uma nova perspectiva em relação

ao índio e ao negro como sujeitos históricos. Neste sentido, é comum verificar em

14 DE CERTEUA, Michel. “A invenção do cotidiano”. Apud. RIBEIRO, Renilson Rosa (org.). Cadernos

da Graduação. O negro em folhas brancas.IFCH/ UNICAMP. No 2. 2002.

14

algumas obras didáticas o índio como protagonistas de resistências, hábitos culturais, o

que determina um novo olhar e idéia da História do Brasil.

No final dos anos de 1970 são abandonados os jargões marxistas, economicistas

e politicista em contraposição a perspectiva social e cultural. Por exemplo, quando

pensamos em escravidão o negro não assume apenas a função de mão de obra e escravo

na História, ele passa a se colocar como sujeito histórico de revoltas, protagonizando até

mesmo um outro significado para a Abolição, além da assinatura da carta pela Princesa

Isabel em 1888, e por isso a própria Revolta dos Malês também passam a aparecer em

alguns livros de didáticos e também como objeto de estuda na academia.

A reflexão crítica dos anos de 1990 acentuou o tema do preconceito e da

discriminação, próprio do período de lutas sociais e também dos reflexos da

Constituição de 1988: “a Constituição Cidadã”. No entanto, os livros não sofreram

mudanças radicais apesar do debate acadêmico da época.

“A História serve para interpretar o passado, tendo em vista a

compreensão do presente. O objetivo é adquirir consciência do que

fomos para transformar o que somos. Transformar para melhor. Assim,

num país como o Brasil, marcado por tantas injustiças sociais, o estudo

da História pode servir para ampliar nossa consciência sobre a imensa

e urgente tarefa de construir uma sociedade mais justa, mais digna e

mais fraterna’. (Gilberto Cotrim. História & Consciência do Brasil V. I,

P: 9)

Segundo o professor e historiador Contrin, a História contada nos livros

didáticos é sempre a História do vencedor em contraposição a participação dos

vencidos. O significado deste registro implica na construção de uma relação de

feedback entre sociedade/História/ ensino, onde a historiografia possa assim dialogar

com as memórias sociais, novos vestígios e a oralidade como instrumento de uma nova

interpretação da História.

V) Os Profissionais de História. “Uma imagem tradicional do professor de História (e mesmo do Historiador) é a de “narrador de

Histórias (...) mas ainda é tempo de viver e contar. Certas histórias não se perderam”(Carlos Drummond de

Andrade)..

15

Para o historiador Carlos Vesentini (1982), ainda restam pontos possíveis de

serem discutidos com outros historiadores que sem dúvida alguma o tempo não

sepultou 15. Devemos começar nosso debate com ressalvas, sem partir da posição

fechada de Professor ou de Historiador, falando de cima, armado com o peso de seu

conhecimento, para aqueles que ainda labutam no ensino fundamental, médio, nos pré-

vestibulares, ou até mesmo nas Universidades brasileiras.

Primeiro serão analisados os perfis dos profissionais de Ensino Fundamental e

Médio, especificamente os professores de História das escolas públicas e particulares do

sistema educacional brasileiro, no bairro de Paciência, e posteriormente, relacionados

aos professores e ao perfil didático, a importância do ensino de História da África e das

culturas afro-brasileiras no espaço escolar como divulgador de conhecimento histórico a

partir da implementação da lei 10.639 de nove de janeiro de 2003, que tornou

obrigatório o ensino de História da África e da História dos Africanos no Brasil nas

escolas de todo o país.

Foram entrevistados neste ensaio, professores, pesquisadores e alunos de

graduação para compreensão desta relação entre docente, ensino e História.16Considero

que ao observar o profissional de História num conjunto de relações diversas, o

aprofundamento acadêmico e o cotidiano escolar do professor, permitem uma visão

ampla da implementação da lei 10.639 e suas repercussões nos livros didáticos, para o

que nos interessa: a presença da Revolta dos Malês.

A escola, especificamente a sala de aula, se coloca como esse lugar reservado ao

professor para o exercício de uma função num círculo de relações sociais. A escola

aparece enquanto espaço em que o papel social do professor se exerce e é através desse

conjunto que ele participa de relações sociais mais abrangentes. O centro do espaço

estabelecido como “nosso” é ocupado pela sala de aula e é aí que o professor se

relaciona com seus alunos. Essa ligação parece constituir ponto fundamental do

processo de ensino/ aprendizagem, pois exatamente neste ponto o “professor” adquire

importância frente a sua profissão e função social.

15 VESENTINI, Carlos Alberto. Escola e Livro didático de História, In: Silva, Marcos A. da. Repensando

a história. Ej: Marco Zero, s/d [1982?] 16 Pra auxiliar a escritura do artigo os entrevistados fora escolhidos em relação à proximidade dos autores, no caso, como Juarez Assis Fernandes é morador de Paciência, as escolas públicas e profissionais foram entrevistados neste bairro.

16

“Em geral, eu sou contra a confusão deplorável dos que concedem ao

livro e à ilustração o poderio excessivo de formar a piedade, o caráter

ou mesmo a ciência no homem. (... )Quando e onde a cartilha fez um

cristão?Quando e onde uma gramática fez um homem falar a

língua?Quando e onde umas tinturas de direito público formaram um

único cidadão?”.(Silvio Romero, 1890)

Talvez as interrogações de Silvio Romero (1890) no século XIX, possam nos

levar a investigações do papel do público leitor na interpretação da leitura, das formas

como se apropriavam da palavra impressa e das relações que estabeleciam com a obra

didática de ensino escolar, nas escolas públicas e particulares do Brasil.

A partir deste alicerce teórico, surgiram questões sobre como são direcionados

os saberes históricos presentes nos livros didáticos nas escolas atuais, por meio de uma

análise dos professores e alunos na relação ensino/aprendizagem..

Em seguida, no caso dos professores, busquei identificar seu papel nas salas de

aula e seu público alvo: os alunos. Em uma relação de ensino-aprendizagem entre

ambos nas escolas, onde professores e alunos constroem juntos os conhecimentos

históricos descritos nos livros didáticos, no ato de apreensão do texto, já que este espaço

é entendido como local de conflito entre ambos.

Ao analisar as idéias dos professores das escolas, foi caracterizada de forma

sistemática a importância de se ensinar a História da África e do Negro no Brasil e sua

contribuição no processo de formação da sociedade brasileira na busca da reconstrução

identidade nacional. Portanto, neste ensaio é fundamental pensar o movimento dos

professores, educadores e da sociedade na busca de construir pistas para se compreender

o processo de transformação nas escolas brasileiras nos tempos atuais.

VI) Entrevistas:

Ana Luíza Rufes,17 historiadora e estudante de jornalismo da UERJ, afirma

desconhecer a lei 10.639/2003, e coloca que muitos docentes desconhecem desconhece

o tema nas escolas, e nos currículos acadêmicos a interpretação da lei é mais

17 Ana Luíza, atualmente trabalha na Fundação Osvaldo Cruz, no setor de pesquisas de história da Ciência e Saúde. A mesma tem previsão de terminar o curso de História em 2007.1 e o de Jornalismo em 2009. Não tem uma religião definida. Esta pesquisa foi realizada às 13h do dia 16/04/2007. na Fundação Oswaldo Cruz.

17

preconceituosa do que a ausência em si, na medida em que se agrupa a história de todo

um continente, heterogêneo em uma só cadeira.

No entanto, a professora reconhece que a compreensão do continente africano

como matéria foi esquecido pelo sistema educacional, que se interessou apenas em

ressaltar a África como um espaço de extração de riquezas naturais e mercado

consumidor. Seus argumentos nos levam a pensar que os alunos vêem a África com um

significado de continente negro, de origens escravas, onde as pessoas morrem de fome e

AIDS, ou seja, a África é vista apenas sob uma perspectiva negativa.

Quando foi perguntado a Ana Luiza, se ela havia estudado a História da África

na graduação, ela respondeu que na UERJ esta disciplina foi criada agora, após uma

reforma curricular relacionado a implementação da disciplina de história da África de

forma obrigatória. Mas no seu currículo escolar havia apenas um professor que

ministrava uma disciplina eletiva sobre África, porém a entrevistada não chegou a

cursá-la. Sobre a Revolta dos Malês, para ela a história que se conta nos livros

didáticos, mostra a visão marcadamente européia, onde a África, Ásia, e o Leste

Europeu são excluídos de diversos períodos da nossa História. A América pré-

colombiana também só foi recentemente incluída nos currículos, em função de uma

lógica compensatória, implementada a partir de políticas de inclusão dos grupos

socialmente excluídos, como as cotas. No campo da história, os excluídos sonham com

um espaço na sociedade. Construir sua identidade brasileira.

Com relação ao sistema educacional brasileiro, Ana Luíza acha que há uma

grande encenação, no qual os professores fingem ensinar, os alunos fingem aprender e o

que importa mesmo é o número de aprovados e não a formação de alunos que possam

refletir sobre a realidade da sociedade.

Após a fala da Profa. Ana Luiza, verifica-se que a educação é entendida como

forma de ascensão social, continuará voltada para a aprovação e para a competição

dentro da méritocracia. É preciso que se monte uma estrutura econômica que dê maiores

oportunidades a grupos cada vez maiores, permitindo uma formação educacional que

não seja voltada simplesmente ao mercado de trabalho, mas para uma educação

importante em si mesma, valorizada pelo que intrínseco ao indivíduo como a cultura,

capacidade crítica, reflexão e o prazer que os leve à busca da conscientização como um

todo.

18

A docente Márcia Máximo18, pensa na implementação da Lei 10.639 como algo

importantíssimo, mas esta importância só será eficaz quando todo sistema educacional

brasileiro estiver unido. Para Márcia torna-se necessário estudar as origens do povo

brasileiro, ou seja, um outro olhar sobre o continente africano, distante da visão

eurocêntrica. Segundo seus argumentos, o continente africano nos fornece culturas e

riquezas múltiplas que não conhecemos. Porém, a docente não trabalha o ensino de

História da África com seus alunos, porque lhe falta uma base de estudos e trabalhos

acerca do tema.

Os discentes têm a visão da África, como um universo de reconhecimento de

identidade. Contudo, sua experiência como docente não lhe possibilita trabalhar com a

disciplina em sala de aula. Apesar de ter estudado sobre a História da África na sua

graduação, a disciplina não era obrigatória para os alunos no currículo da Universidade.

Em relação a Revolta dos Malês, Márcia afirma que chegou a estudar no curso

de Brasil II na graduação, ministrado por um professor negro e distante de grupos mais

tradicionais da academia. Para ela, um dos motivos da ausência do tema nos livros de

história teria sido a predominância de estudos mais tradicionais repletos de conceitos e

visões preconceituosas, na qual o sistema educacional brasileiro, torna-se pessimista,

deficiente, desigual, no qual o professor da rede pública se destaca em seu papel e não é

reconhecido. “Para termos uma educação de qualidade, que eleve o padrão de vida do

povo brasileiro é preciso montar uma integração. Isso quer dizer que a educação não

pode se dá por si só. Toda uma lógica e mentalidade que imperam na sociedade atual

precisam mudar”.(Finaliza).

Fábio Gomes Borges19 historiador/professor nos diz que o sistema educacional

brasileiros nos dias atuais está com vários problemas estruturais, como a falta de

professores; baixos salários e as escolas estão destruídas.

Segundo Fábio, a implementação da Lei. 10.639 é justa, mas não resolve o

problema racial do Brasil, pois o ensino aplicado nas salas de aula, muitas vezes

desvaloriza o continente africano num contexto de história tradicional e eurocêntrica.

Para o professor, a África é vista de forma pessimista, como uma região muito

18 Márcia Maximo tem 24 anos e trabalha no mesmo setor que a professora citada anteriormente, não tem religião e leciona na rede particular de ensino, onde seus alunos acreditam que o continente africano é um universo de reconhecimento de identidade. 19 Fábio Gomes Borges tem 26 anos, é historiador, professor da rede particular de ensino, formou-se em 2005, foi influenciado por um antigo professor do curso pré-vestibular a ser professor de História. Entrevista realizada em 23/03/2007.

19

explorada e com várias desigualdades, mas que, no entanto, possui valores e

características próprias que precisam ser respeitadas e interpretadas por todos.

Em suas turmas Fábio trabalha muito pouco o tema de História da África,

principalmente na relação entre à história da escravidão negra e da colonização

imperialista no século XIX e XX, pois a história da África é vista de uma forma

preconceituosa e menos importante por seus alunos.

Quando perguntei ao docente se o mesmo havia estudado a história da África no

seu tempo de graduação, ele respondeu que muito pouco, apenas em relação à

escravidão e o processo de descolonização africana. No que diz respeito à Revolta dos

Malês obtive a mesma afirmação.

Para Fábio Gomes assim como para Márcia, a ausência da história do continente

africano em alguns livros escolares se deu por se privilegiar a história tradicional feita

de uma forma eurocêntrica que não valorizava os contextos históricos dos menos

favorecidos. “Mas isso, está mudando à medida que o povo está se conscientizando

mais sobre o seu significado no mundo” – termina Fábio.

A docente Suzi Aguiar,20 que resolveu ser professora de História por gostar de

estudar História e achar que se trata de uma disciplina perfeita para se compreender o

passado, pensar no presente e planejar o futuro, acredita que a implementação da

Lei.10.639/2003. foi de suma importância para o ensino de história e para a sociedade

brasileira como um todo. Para ela estava faltando nos currículos de história esse tema.

“Agora com a nova lei já temos alguma “coisa”, mas precisamos de profissionais

qualificados para ministrarem a disciplina nos cursos de história das escolas e

Universidades brasileiras” - disse a professora.

Para Suzi Aguiar, a África é um continente importantíssimo, o berço da

humanidade, no qual precisamos estudá-lo, compreendê-lo melhor, trabalhando com

seus alunos a historiografia africana, desmistificando certas histórias contadas nas salas

de aulas de ensino fundamental e médio ou até mesmo no universitário. Em sala de aula

a professora percebe que seus alunos necessitam de um estudo mais afinado sobre a

historiografia do continente africano, que muitas vezes foi contada de forma a

estereotipar a figura dos povos existentes em África.

Quando foi perguntado a docente se ela havia estudado História da África na

graduação sua resposta foi sim, num curso de um ano, organizado entre o Departamento

20 Suzi Aguiar é professora de história da rede particular de ensino, formou-se também em Pedagogia no ano de 1998. Leciona no Centro Universitário Moacir Bastos.

20

de História da Puc-Rio e os alunos, mas, a Revolta dos Malês não foi colocada em

momento algum do curso em questão.

A ausência de temas relacionados à vida dos africanos em África nos livros de

história é explicada por nossa docente de maneira diferenciada dos outros entrevistados,

tendo como justificativa da ausência, a falta de interesse do mundo Europeu Ocidental,

depois a África é considerada um continente miserável e que deu conta somente de

fornecer negros para serem escravos. “Agora porque a África está sendo visitada, ou re-

visitada, há um esforço em trazer a sua história. A própria África busca através de seus

homens e mulheres recuperar seu lugar na história do Mundo” – diz Suzi.

A professora considera o estudo sobre o tema primordial para a formação e

quebra das diferenças sociais, étnicas, religiosas, culturais e políticas na sociedade

brasileira. “Nós, professores, devemos fazer a diferença em sala de aula, onde

estivermos” – termina.

Para a educadora Doraneis Batista da Silva21, acredita que o fato de ter estudado

história desmistificou alguns conceitos que estavam em sua mente, então, passou a

afirmar aquilo que acreditava. “Todos nós somos agentes ativos da História. Nós

fazemos a História sem heroísmo. As conquistas humanas são frutos de muitas lutas,

muito suor das sociedades, disse a professora. Por acreditar nisso a docente decidiu

seguir a carreira de magistério”.

Para Doraneis, as desigualdades sociais e econômicas são enormes, mas ela vê

uma luz no fim do túnel, na organização do povo para mudar o rumo de nossa História,

mesmo que o sistema educacional brasileiro nos dias de hoje esteja camuflado, ou seja,

voltado para resultados que venham a satisfazer o padrão internacional na conquista de

prêmios e verbas; colocando aprovação automática; não se preocupando com o real

aprendizado dos alunos.

No que se refere à implementação da famosa Lei. 10.639/2003 sua visão é que

embora seja um grande começo para a sociedade brasileira valorizar suas raízes, torna-

se necessário capacitar os docentes, bibliotecários, produzir material de qualidade e

acessível a todos. “Isso significa dizer que nossos professores não terão condições de

ensinar a História da África se não forem preparados para tal. Em sua graduação o

21 Doraneis Batista da Silva é professora da rede pública de ensino fundamental e médio do colégio Estadual Raul Ryff. De religião Católica, formou-se em 1993, e decidiu ser professora de História por sempre duvidar dos heróis, dos grandes feitos, e dos grandes atos atribuídos a uma pessoa ou a um pequeno grupo.

21

estudo do tema não foi conteúdo relevante, a bibliografia sobre o assunto não chegava

às mãos de todos” – afirma Doraneis.

A visão da professora em relação ao continente africano se dá a partir da idéia de

um espaço rico em diversidade e muito explorado. E confirma que os educandos têm

um certo desinteresse pela história da África, pois a sua visão dos alunos e de outros

professores ainda está associada à escravidão e ao sofrimento de um povo. Contudo, a

professora nos conta que no período em que cursou a faculdade de História, o conteúdo

da História da África não foi relevante. E que sinceramente não se recorda de ter ouvido

falar na Revolta dos Malês na sala de aula da faculdade.

Sobre a ausência do tema por certo tempo nos livros de História a professora

Doraneis tem a seguinte opinião: “como sempre foi a elite que determinou o que deve

ou não ser ensinado, conhecer e valorizar África deixaria a população mais consciente,

mais questionadora. Sem o conhecimento da sua verdadeira história, de suas raízes fica

mais fácil a dominação. Se a ênfase não for acompanhada de estrutura para que a Lei

seja implementada, será mais uma Lei que não sairá do papel”. Entretanto, a docente

acredita na educação como um caminho para elevarmos o padrão de vida do povo

brasileiro, mas com algumas ressalvas a fazer, pois o modelo educacional brasileiro

atual está sucateado, profissionais da educação mal remunerados, formação precária,

material didático insuficiente, além de prédios escolares caindo aos pedaços.

VI) Considerações Finais

O “poder” da palavra do professor nas salas de aulas cria inerência à concepção

do conhecimento, entendendo-se que o professor de História é eixo de ligação entre o

ensino/aprendizagem da história do Brasil em suas relações com o mundo. Tal

concepção, permeada de interrogações por parte daqueles que, efetivamente, estão

engajados no processo de ensino/aprendizagem, certamente dão aos docentes a função

de transmissor do conhecimento histórico. No entanto, o professor também deve

promover a socialização da leitura de forma igualitária, tendo como meta desenvolver

hábitos individuais no aluno.

Podemos perceber de certa forma que a variada produção acadêmica dos anos

anteriores, distanciou a ação dos nossos professores com a sala de aula, que de maneira

explícita estabelece uma constante relação entre textualidade e oralidade. Efetivamente,

os educadores de ensino fundamental e médio, fizeram parte de um sistema de

22

aprendizagem que envolveu leitura e transmissão oral. O professor, isoladamente, não

consegue cumprir seus propósitos educativos.

Ao buscar entender o papel dos professores como divulgadores de

conhecimentos coletivos, na função de transmissor de conhecimento histórico junto com

a figura do aluno na sala de aula, não pude desviar a atenção do exercício do magistério

criado e planejado para divulgar o conhecimento uniforme, mas que, constantemente,

foi manuseado por diferentes órgãos, oriundos de diferentes experiências de vida.

Desta forma, podemos dizer que os nossos professores são responsáveis diretos

no caminho de formação da sociedade brasileira. Porque neles está depositada a

esperança de um mundo melhor através da educação. No entanto, o educador só é

importante à medida em todos os seus esforços são reconhecidos pelos órgãos

governamentais, pais, alunos, e pela sociedade em geral.

Sendo assim, o professor poderá desempenhar melhor seu trabalho metodológico

do ensino que se propõe em sala de aula através do conhecimento que ele adquiriu em

seus tempos de graduação e experiência de vida, mas os educadores têm nos dias de

hoje como concorrentes, os meios de comunicação de massa, o cinema, a televisão, o

jornal e seu mundo de imagem. Para divulgar mecanismos de utilização, com a intenção

de legitimar um discurso controlador das ações dos homens.

Precisamos rever os novos currículos escolares e os temas em sentido mais

amplo, unindo professores, comunidade, pais, governantes, alunos e elaboradores de

projetos visando melhorar a qualidade do ensino brasileiro dentro e fora das escolas, nas

universidades públicas e privadas, de maneira a integrar os saberes históricos às escolas

de ensino fundamental e médio, inserindo temas considerados relevantes para a

formação de uma sociedade mais justa. A produção histórica nas universidades deve

estar interagindo com os ensinamentos das produções didáticas. Nossos governantes

precisam criar medidas para solucionar a ausência de certos temas nos currículos de

ensino fundamental e médio, acabar com certos distanciamentos entre as duas vertentes

educacionais. Escolares e acadêmicas, para não encontrarmos justificativas de

desconhecimento em relação à História da áfrica e a Revolta dos Malês.

23

BIBLIOGRAFIA:

ABUD, Kátia Maria. “O livro didático e a popularização do saber histórico”, In: SILVA,

Marcos A. da. Repensando a história. EJ: Marco Zero, [s/d]

BITTENCOURT, Circe. “Livros didáticos entre textos e imagens”, In: BITTENCOURT,

Circe (org.) O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997.

CERTEUA, Michel. “A invenção do cotidiano”. Apud. RIBEIRO, Renilson Rosa (org.).

Cadernos da Graduação. O negro em folhas brancas.IFCH/ UNICAMP. No 2.

2002.

DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e história ao Brasil. 6º ed. São Paulo, Martins/

Brasilia/df, INL, 1975).

FLORENTINO, Manolo & GÓES, José Roberto. A paz das senzalas: famílias escravas e

tráfico atlântico. Rio de Janeiro, 1790 – 1850. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1997.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Apud. 3ºed. Rio de Janeiro, Paz & Terra, 1975.

Renilson rosa (org.). Cadernos da Graduação. O Negro em folhas brancas.

IFCH/UNICAMP-N 2 – 2002.

FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da

economia patriarcal. 3ª edição.Rio de Janeiro: Record, 1995.

FUNARI, Pedro A. A História e o Sentido das escolas técnicas. São Paulo, SP,

CEETEPS / UNESP, 1992.

LIMA, Mônica. “A África na sala de aula” in Nossa História n. 4, Rio de Janeiro:

Fundação Biblioteca Nacional, 2004,pp.84-87.

MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar editora, 2000: Ilustração – descobrindo o Brasil.

MUNAKATA, Kazumi. “Histórias que os livros didáticos contam, depois que acabou a

ditadura no Brasil.”, In: FREITAS, Marcos Cezar de (org). Historiografia

brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998.

NADIA, Elza. “O ensino de história no Brasil: trajetória e perspectiva”, In: Revista

Brasileira de História, São Paulo, Nº. 13; 25; 26. PP. 143-162, setembro de 1992 e

agosto de 1993.

VESENTINI, Carlos Alberto. “Escola e livro didático de História”, In: SILVA, Marcos

A. da. Repensando a história. EJ: Marco Zero, [s/d]

24

REIS, João José & SILVA, Eduardo. Negociação e Conflito: a resistência negra no Brasil

escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SILVA, Alberto da Costa e. “Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na

África”, - Rio de Janeiro: nova Fronteira: ed. UFRJ, 2003.

Revistas, artigos e documentos: Revista: Super Interessante: Aventuras na história para viajar no tempo. Edição nº. 2 agosto de 2003. Revista. Aventuras na História ed. 02 agosto de 2003 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) Terceiro e Quarto ciclos do Ensino Fundamental. História do Brasil, 1998. Jornal o GLOBO, sábado, 16 de agosto de 2003, PP. 12. Jornal o GLOBO, quarta-feira, 1 de junho de 2005, PP. 8.Jornal o GLOBO, sábado, 12 de março de 2005, PP. 14;15.