A Política Antártica Brasileira no século XXI: evolução de fatores estruturais

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Anais do V Seminário Nacional Sociologia & Política 14, 15 e 16 de maio de 2014, Curitiba - PR ISSN: 2175-6880

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Anais do !V Seminário Nacional Sociologia & Política !

14, 15 e 16 de maio de 2014, Curitiba - PR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!ISSN: 2175-6880

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A Política Antártica Brasileira no século XXI: evolução de fatores estruturais

Ignacio J. CARDONE1

Resumo: O presente trabalho é um estudo descritivo de variáveis estruturais relativas às atividades

desenvolvidas pelo Brasil na Antártida desde o ano 2000 até o de 2013, considerando as variáveis

de investimento, participação no regime internacional, e pesquisas científicas no continente.

A metodologia utilizada inclui a compilação, sistematização e análise da informação oficial referida

ao orçamento da união e do CNPq, assim como documentação oficial referida à participação

brasileira nas Reuniões Consultivas do Sistema do Tratado Antártico.

O objetivo principal do trabalho é a análise das continuidades e mudanças ocorridas na política

antártica brasileira a partir da virada do século.

O crescimento do investimento global do programa experimentado nos primeiros anos registra uma

queda em 2005, com um efeito rebote em 2006 e registrando uma diminuição importante a partir de

2008, atingindo em 2011 um nível de investimento menor que o de 2007 e registrando um salto em

2012 e 2013, como consequência do investimento na reconstrução da Estação Antártica

Comandante Ferraz.

No caso dos projetos de pesquisa do CNPq, as variações constantes nos níveis de quantidade de

projetos e investimento impedem a identificação de uma tendência além da própria inconsistência

(que resulta significativa per se). O que se observa em ambos os níveis é a queda significativa a

partir de 2010, ano que registra uma recuperação da quantidade de projetos e de maior investimento

em pesquisa antártica, para cair abruptamente nos anos seguintes.

A participação do Brasil dentro do Sistema registra uma tendência geral a delegações cada vez mais

amplas e plurais, porém registra uma pequena queda do número de participantes a partir de 2008. A

variação do número de participantes e a falta de continuidade destes mostra certa instabilidade nas

equipes de representação nas reuniões, com maior estabilidade relativa dos representantes dos

Ministérios de Meio Ambiente, Defesa e Relações Exteriores.

Em termos gerais o que se observa é instabilidade dos fatores estruturais de investimento, pesquisas

científicas e formação das equipes participantes das Reuniões Consultivas, na política antártica

brasileira.

Palavras-chave: Política Antártica Brasileira, Tratado Antártico, Política Exterior Brasileira

Apresentação

O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) não têm suscitado o interesse de grande

quantidade de estudiosos. Em Fevereiro de 2012 um incêndio acontecido na Estação Antártica

Comandante Ferraz (EACF)2, com o saldo de dois militares mortos e o 70% da infraestrutura da

base comprometida (Deixando-a inutilizável), multiplicou os artigos jornalísticos dedicados ao

incidente e à Política Antártica Brasileira, porém não teve uma repercussão similar no âmbito

1 Mestrando em Ciência Política, PPG-CP/UFPR, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais

(NEPRI/UFPR), [email protected]. 2 A EACF é a única base antártica brasileira de funcionamento permanente durante todo o ano. Esta

localizada na Baia do Almirantado (Baia Laserre) da Ilha Rei Jorge (Ilha 25 de Maio).

2

académico.

O PROANTAR se desenvolve a partir do ano de 1982 e foi o responsável pela aceitação do

Brasil como Membro Consultivo do Tratado Antártico em 1983 e como membro do Scientific

Committee on Antarctic Research (SCAR) em 1986. Em 1984 se estabeleceu a EACF que foi

expandindo a sua estrutura no decorrer dos anos (de oito módulos originais passou a contar com

mais de cinquenta). A expansão das atividades científicas significou o incremento do investimento,

tanto para a pesquisa, como para a infraestrutura e logística.

Em 2003 pelo motivo da falta de recursos orçamentários, se constituiu a Frente

Parlamentar de Apoio ao PROANTAR3, com o objetivo de incrementar os recursos através de

emendas parlamentares. Na virada do século o investimento em infraestrutura antártica se

materializou particularmente nos trabalhos de manutenção e adaptação da EACF e a aquisição do

navio Almirante Maximiliano em 2009.

Contudo, uma série de incidentes ocorridos em 20124, dos quais o incêndio da EACF foi o

de maior impacto, realimentou os pedidos de maior investimento antártico e propiciou o debate

entorno do PROANTAR.

O presente trabalho procura estabelecer um estudo descritivo de variáveis estruturais do

PROANTAR a partir do ano 2000, com o intuito de sugerir algumas linhas de pesquisa futuras.

Como metodologia para a análise orçamentária recorreu-se à recopilação da informação

sobre o Orçamento Anual da União, presente no SIGA Brasil

(http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil) e a sua posterior tabulação. Os dados do CNPq

foram extraídos do site do CNPq

(http://fomentonacional.cnpq.br/dmfomento/home/fmtvisualizador.jsp) e tabulados. Para a

participação das Comitivas Brasileiras nas Reuniões Consultivas do Tratado Antártico (RCTA) e

Reuniões Consultivas Especiais do Tratado Antártico (RCETA) foram extraídos dados dos

Relatórios Finais presentes no site da Secretaria do Tratado Antártico (www.ats.aq) e consolidados

em uma base de dados de SPSS para a sua posterior análise e tabulação.

3 As fontes jornalísticas indicam a criação em 2007, mas o discurso de Lançamento da Frente Parlamentar,

quanto o registro desta indicam como 2003 o ano da criação, com registro no Diário da Câmara de

Deputados (DCD) em 11 de dez. de 2003. Ver <http://www.camara.gov.br/internet/deputados/frentes52.asp>

Acceso: 12 de Abril 2014. O que parece ter sido criado em 2007 é a Frente Parlamentar Mista de Apoio ao

PROANTAR que incorporou a Câmara de Senadores à Frente. 4 A inicios de 2012 se registraram três incidentes relativos a atividades brasileiras: um incidente com uma

embarcação de bandeira brasileira; um incidente com uma embarcação de transporte de combustível entre o

navio de aprovisionamento e a EACF; e o incêndio da EACF.

3

1 Evolução do Programa Antártico Brasileiro na Lei Orçamentaria Anual (LOA)

A evolução do orçamento do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) apresenta uma

tendência geral de crescimento, porém com grande instabilidade no decorrer do período estudado.

No que se refere ao orçamento liquidado do PROANTAR, se observam importantes

descontinuidades nos primeiros anos, com uma queda significativa em 2002 (-45%); recuperação do

nível de 2001 em 2003; e um salto positivo em 2004 (+106%). Em 2005 permanece quase sem

alterações para em 2006 triplicar o valor do ano anterior (+199%). Entre 2007 e 2009 se registra um

crescimento sustentado, mas decrescente (+29%; +17%; e +7% respectivamente). 2010 e 2011

marcam um importante retrocesso no nível de investimento (-20% e -19% respectivamente),

alcançando em 2011 um nível de investimento similar ao de 2006. 2012 é um ano de corte, com um

orçamento liquidado superior em mais de três vezes o orçamento de 2011 (+242%) e mantendo-se

em um nível similar em 2013.

Assim, podemos identificar em um período de treze anos pelo menos cinco fases

diferenciadas. Uma primeira instável entre 2001 e 2003; uma segunda estável em 2004 e 2005; uma

terceira entre 2006 e 2009 que representa um salto qualitativo e um crescimento sustentado, mas

decrescente; uma quarta em 2010 e 2011 com um retrocesso sustentado que coloca o orçamento

perto do registrado para começos do período anterior; e uma quinta em 2012 e 2013 representando

um salto considerável no nível de investimento.

Se observa-se o determinado no Projeto de Lei de Orçamento, também se verifica uma

grande instabilidade, porém com ritmos e escalas diferenciadas à do Liquidado. Mesmo que a

instabilidade possa provir do tipo de investimento necessário nas operações antárticas que implicam

grandes inversões em momentos determinados (aquisição de navios, recondicionamento da base,

aquisição de equipamento, etc.), essa instabilidade presente no projeto de lei e no orçamento

liquidado pareceria indicar no mínimo uma falta de previsão ou de projeção de longo prazo para o

PROANTAR. O grande salto apresentado em 2012 se explica principalmente pelos gastos

operativos referentes à reconstrução da EACF como consequência do incêndio e não como

resultado de um projeto de investimento planificado do governo brasileiro.

Um dado que chama a atenção é a grande diferença entre o previsto pelo Projeto de Lei e o

efetivamente liquidado. De todos os anos que se tem informação5 o projeto de Lei se encontra muito

por baixo do efetivamente liquidado (a diferença é ainda maior se se considera o orçamento

autorizado para o programa). Só em quatro dos 10 anos com que se contam informações, o projeto

de lei cobriu mais da metade do efetivamente liquidado (2005; 2007; 2008 e 2013) mas nunca mais

5 A série presente no SIGA Brasil para o projeto de lei de orçamento anual começa em 2004 (dato obtido no 1º de

março de 2014)

4

de dos terços. Em dois casos extremos (2006 e 2012) o projeto de lei apenas cobriu o 20% do que

foi liquidado.

Esta diferença indica que grande parte do orçamento do PROANTAR se decide no

processo de negociação de emendas parlamentares. No entanto isso pode responder a questões

políticas e até operativas, no mínimo indica falta de previsibilidade e estabilidade no programa, ou

melhor, falta de incorporação de um plano de investimento de longo prazo que permita prever o

crescimento esperado para as atividades brasileiras na Antártida.

GRÁFICO 1 – Projeto de Lei, Orçamento Autorizado e Orçamento Liquidado da

LOA para o PROANTAR 2001-20136

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

Desagregado o orçamento por órgão de execução, o Ministério da Defesa (MDef),

responsável pelos gastos operativos, ocupa entre um 80,4 e 99,9% do orçamento, registrando ciclos

de instabilidade similares ao orçamento geral do programa. A única exceção é a do ano 2009, cujo

orçamento registra uma queda muito significativa, cobrindo apenas um 26,8% do orçamento para

esse ano, e que pareceria estar compensado pelo incremento do orçamento correspondente ao

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para tal ano. A respeito desse ultimo ministério, e

excluindo o salto excepcional referido em 2009 (+1.562%), o orçamento apresenta valores similares

6 A partir de 2012 as partidas orçamentarias relativas à Antártida mudaram do item orçamentário 0472: PROANTAR,

ao item orçamentário 2046: Mar, Zona Costeira e Antártida, sendo consideradas deste último os subitens: para 2012:

05.571.2046.2345.0001 Missão Antártica; 18.542.2046.6618.0001 Monitoramento das Mudanças Ambientais Locais e

Globais Observadas na Antártica; e 19.571.2046.4130.0001 Fomento à Pesquisa na Antártida; para 2013:

05.571.2046.14ML.0001 Reconstrução da Estação Ant. C.F., 05.571.2046.2345.0001 Missão Antártica, e

18.542.2046.6618.0001 Monitoramento das Mudanças ambientais locais e globais observadas na Antártica. Para todos

os efeitos do presente artigo (Tabelas, Gráficos e texto) as séries da LOA 2012 e 2013 foram realizadas com as

considerações acima referidas.

5

entre 2001 e 2007, com um salto importante em 2008 (+153%), crescimento em 2010 (+35%),

estabilidade em 2011, e queda em 2012 (-57%). Este último fato pode dever-se à interrupção das

atividades de pesquisa com decorrência do incêndio da EACF. O Ministério de Meio Ambiente

(MMA), que se incorpora como órgão orçamentário a partir de 2005 registra uma grande

variabilidade com ciclos ascendentes e descendentes, podendo se identificar como tendência geral

um crescimento até 2008 e uma importante queda nos anos subsequentes.

GRÁFICO 2 – Liquidado da LOA segundo órgão de execução para o PROANTAR

2001-2013

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

Um dado que chama a atenção é a diferença entre o orçamento autorizado e o liquidado,

com subutilização geral do orçamento autorizado. Diferenciado por órgão, o MCT é o Ministério

com menos subutilização do orçamento autorizado, o qual em apenas dois anos há registro de uma

subutilização significativa: 2002 e 2012, este último podendo se explicar pela interrupção das

pesquisas decorrente do incêndio da base. O MDef apresenta subutilização significativa do

orçamento autorizado pelo menos em nove dos 13 casos estudados, com três casos entre 10 e 16%

(2003, 2004 e 2008); um caso em 24% (2011) e cinco casos entre o 40 e 50% (2005,2006, 2009,

2012 e 2013). O MMA por sua vez, apresenta seis de nove casos com subutilização significativa do

orçamento autorizado: 42% (2007), 63% (2011), 80% (2010) e três casos acima do 90% (2009,

2012 e 2013).

6

GRÁFICO 3 – Diferença (Saldo) Autorizado – Liquidado da LOA Segundo Órgão de

Execução como Porcentagem do Total Autorizado para Cada Órgão - PROANTAR

2001-2013

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

2 Evolução dos dados de Fomento à Pesquisa Antártica do CNPq

Analisados os projetos de pesquisa correspondentes ao programa de fomento à pesquisa

PROANTAR do CNPq, se observa um ritmo completamente instável de investimento entre 2000 e

2004; um descenso deste em 2005 e 2006, para começar a crescer progressiva e constantemente até

2010, ano que registra um salto qualitativo positivo, seguido de grande instabilidade e queda no

investimento para os anos subsequentes.

No que se refere à quantidade de projetos do programa, se observa grande instabilidade,

com tendência geral à redução dos números de projetos, com uma taxa de 1 a 30 projetos (excluindo

20127) e uma média de 12,7 projetos/ano, com redução em média de 2,5 projetos/ano.

7 Para vários efeitos, se considera adequada a não consideração do ano 2012, como consequência de que as limitações

foram determinadas pelo incêndio da EACF e não como resultado de uma política por parte do Estado.

7

GRÁFICO 4 – Fomento à Pesquisa para PROANTAR do CNPq – Total em R$ e

Quantidade de Projetos – 2000-2013

Fonte: Elaboração própria.

A combinação de ambos os dados mostra uma média de gastos por projeto muito variável,

o que impede a identificação de uma tendência, com ciclos descendentes e ascendentes de entre dois

e cinco anos. Sem levar em consideração o ano 2012, a variabilidade apresentada mostra valores

entre 16.497 e 604.199R$. A média para a totalidade do período resulta de 157.930R$/projeto,

sendo de 108.705R$/proj. para os primeiros cinco anos e de 119.430R$/proj. para os últimos cinco.

A ponderação do programa dentro do total investido em conceito de fomento à pesquisa

mostra uma tendência decrescente da importância relativa do PROANTAR no conjunto do CNPq,

com uma taxa que vai de 0,3 (sem considerar 2012) até 15,8 projetos do PROANTAR a cada 1000

projetos do CNPq. A média para o período de estudo fica em torno dos 3,8 projetos a cada 1000,

com uma media de 8,2 proj./1000 para os primeiros cinco anos e uma média de 0,7 proj./1000 para

os últimos cinco anos.

O investimento ponderado do PROANTAR mostra também uma grande instabilidade, não

acompanhando os ciclos da quantidade de projetos. A variabilidade mostra que o gasto do programa

fica entre 0 e 19,2R$ por cada 1000R$ investidos pelo CNPq8. A média para o conjunto do período

se encontra em 6,1/1000R$; sendo de 10,4/1000R$ para os primeiros cinco anos e 4,3/1000R$ para

os últimos cinco. Porém, devido à grande instabilidade registrada no índice não se pode considerar

indicativo de uma tendência.

8 O indicador mede a quantidade de reais investidos no PROANTAR cada 1000R$ investidos pelo CNPq em foment à

pesquisa.

8

GRÁFICO 5 – Quantidade de Projetos do PROANTAR cada 1.000 projetos

CNPq e R$ Investidos em Fomento à Pesquisa do PROANTAR cada 1.000R$ do

Total do Fomento à Pesquisa do CNPq.

Fonte: Elaboração própria.

3 Participação nas Reuniões Consultivas do Tratado Antártico.

A participação das Comissões Brasileiras nas Reuniões Consultivas do Tratado Antártico

(RCTA) mostra uma participação permanente nas Reuniões Consultivas anuais, porém com escasa

participação das Reuniões de Especialistas realizadas no período. Das quatro reuniões de

Especialistas realizadas no período: Navegação (2000); Turismo (2004); Turismo Embarcado

(2009); e Mudanças Climáticas (20100), o Brasil só tem participado da primeira.

A participação nas RCTA e RCETA9 mostra uma tendência a comissões mais plurais e

amplas, porém com grande variabilidade (de 2 a 11 participantes por comissão) com uma média de

6,4 participantes por reunião.

Enquanto aos Ministérios Participantes a dominância é do MDef e o MRE com

participações na totalidade das reuniões, sendo a média de participantes de 2,3 para o primeiro e de

2,1 para o segundo. A participação do MMA permanece constante desde 2002 com uma média

total de 1,1 participantes por reunião para o total do período (a média de participação é de 1,25 se

considerados desde 2002). O MCT10

tem algumas participações esporádicas (somando 8 no total do

período de estudo) com uma média total de 0,8 participantes por reunião, enquanto o MTur tem

uma única participação em 2011 o que se reflete em uma média de 0,1 participações por reunião.

9 Consideraram-se as RCTA e a RCETA do ano 2000, por esta última constituir um equivalente para a RCTA desse

ano. As Reuniões de Especialistas não foram consideradas porque pelo seu carácter, a participação é necessariamente

setorial e especializada. 10

Incluem-se aqui pesquisadores e representantes de Universidades e Centros de Pesquisa.

9

GRÁFICO 6 – Formação das Comitivas Brasileiras nas RCTA e RETA segundo

Ministério – 2000-2013

Fonte: Elaboração própria.

Em relação à estabilidade das equipes que formaram as comisões brasileiras em termos

gerais encontramos uma escasa estabilidade.

Analizados por ministério, o que apresenta uma maior estabilidade nos seus representantes

das comisões é o MMA, com 15 participações em 12 reuniões, distribuídas entre 5 representantes:

um com frequência de 7 participações (contínuas); dois com 3 participações (contínuas) e dois com

uma única participação. É de destacar que em só um dos doze anos que o MMA participou, a

representação do MMA na comissão não contava com representantes com experiência anterior11

.

O que segue em estabilidade é o MDef, contabilizando um total de 32 participações em 14

reuniões, distribuídas entre 18 participantes: um com 4 participações (descontínuas por um ano);

dois com 3 participações (um contínua e outro descontínua por um ano); sete com 2 participações

(contínuas); e os restantes oito com uma única participação. No conjunto, encontramos 9 reuniões

que contaram com pelo menos um representante com experiência anterior; e 4 reuniões que

contaram com representantes sem experiência anterior.

O MRE por sua parte, contabiliza um total de 30 participações nas 14 reuniões, distribuídas

entre 22 participantes: um com 4 participações (contínuas); dois com 3 participações (contínuas),

um com 2 participações (contínuas) e os restantes dezoito participantes com uma única participação.

Em 8 reuniões as comitivas contaram com pelo menos um representante do MRE com participação

11

Não se analisaram os anos anteriores pelo qual se poderiam encontrar experiências anteriores que não estão sendo

consideradas aqui. Por outro lado não se considera a primeira participação que evidentemente não conta com

experiência anterior na série analisada.

10

anterior, enquanto as restantes 5 foram formadas por pessoal sem participação anterior.

O MCT conta com 11 participações em oito das quatorze reuniões, distribuídas entre 9

participantes: um com 3 participações (Contínuas), e os restantes 8 com participações únicas.

Decorrente disso, só em duas das reuniões as comitivas contaram com pelo menos um representante

do MCT com participação anterior.

4 Conclusões.

Em termos gerais encontrou-se instabilidade em todas as variáveis estruturais analisadas.

Porém a identificação de um crescimento na maioria destas, não pode se considerar produto de um

plano estratégico de mediano ou longo prazo. A identificação de vários ciclos em um período tão

curto de tempo com ascensos e descensos revela a instabilidade das políticas relativas a

PROANTAR, e a inexistência ou ineficiência de um plano diretor.

No plano orçamentário as oscilações, subutilização orçamentária, e necessidade continua

de recorrer a emendas ao projeto de LOA para a cobertura dos gastos de PROANTAR, falam de

condicionantes importantes para o crescimento das atividades antárticas brasileiras e a

previsibilidade necessária para uma prescença crescente e de maior impacto. Uma pesquisa

preliminar12

nos discursos da Cámara de Deputados demonstra insistência por parte de um grupo de

deputados no que se refere à necessidade de incrementar o investimento na Antártida (com exepção

do ano 2009, no qual em termos gerais os parlamentares destacam o incremento do orçamento do

programa). A própria constituição da Frente Parlamentar de Apoio ao PROANTAR (Logo após

Frente Parlamentar Mista) resulta significativa das limitações que o programa tem enfrentado, mas

ao mesmo tempo que tem operado como atenuante das restrições orçamentárias, pode ter gerado

uma dinâmica de definição que resulta em instabilidade e incertidumbre para o planejamento de

longo prazo.

A respeito do programa de Fomento à Pesquisa Antártica do CNPq, chama a atenção a

variabilidade encontrada e, particularmente, a inexistência de um impacto significativo do Ano

Polar Internacional (API13

) 2007-2009 sobre os indicadores levantados coincidindo com o analizado

por alguns analistas (MADRUGA GANDRA, 2009, p.72). O Relatório de Gestão do MCT 2003-

2006 afirma ter destinado R$ 9,3 milhões dos Fundos Setoriais para a viabilização da participação

brasileira no API (MCT, S/Db, p.99), mas estes fundos não aparecem refletidos no orçamento do

12

Ao momento da publicação do presente artigo ainda não foram sistematizados e analisados os achados

dessa pesquisa preliminar, pelo qual os resultados são colocados ao modo de mera sugestão até a realização

de uma pesquisa mais sistemática. 13

IPY: International Polar Year em inglês

11

MCT ou do CNPq. Se foram implementados, estes foram aplicados através do MDef., ministério

que apresenta um incremento significativo do orçamento no ano 2006, não tendo consequências

para os indicadores de quantidade de projetos e orçamento dos mesmos no programa de Fomento à

Pesquisa Antártica do CNPq.

A variabilidade detectada coincide com declarações de deputados e jornalistas

especializados que requerem maiores recursos e continuidade no longo prazo (DE FREITAS, 2012,

p.917) para as pesquisas na Antártida:

Também há uma percepção em comum de que o modelo vigente de financiamento à

pesquisa sobre a Antártida, com editais do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) que patrocinam projetos por dois anos, merece ser

aperfeiçoado, garantindo recursos de longo prazo principalmente para programas que

coletem e forneçam dados para a pesquisa sobre as mudanças climáticas. (MARQUES,

2012, p.32)

No que se refere à participação brasileira das RCTA e RCETA pode se destacar a

instabilidade das equipes que formam as mesmas, o que limita a especialização requerida para

processos de tomada de decissões como são as citadas reuniões. Porém não seja posível identificar a

partir do presente trabalho as suas causas14

, a ausência do Brasil nas Reuniões de Especialistas (A

excepçào do ano 2000) resulta significativa porquanto implica para o Brasil ficar fora de debates

sobre questões centrais ao Tratado Antártico.

14

Possíveis causas podem ser a falta de recursos financeiros previstos para essas reuniões, a

indisponibilidade de recursos humanos, ou até incongruências operativas entre os Ministérios.

12

Referências:

CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) Avaliação Preliminar do Programa Antártico

Brasileiro: Resumo Executivo e Relatório. Dez. 2006

CNPq Fomento á Pesquisa Programa Antártico Brasileiro/PROANTAR. Disponível em:

<http://fomentonacional.cnpq.br/dmfomento/home/fmtvisualizador.jsp>. Último acesso: 11 Abr.

2014.

DE FREITAS, M. E. Lições organizacionais vindas da Antártida. Revista de Admnistração

Pública. Rio de Janeiro, v.46, n.4, p. 915-937, 2012.

FERREIRA, F. O Sistema do Tratado da Antártica: evolução do regime e seu impacto na política

externa brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009.

MADRUGA GANDRA, R. – O Brasil e a Antártida: ciência e geopolítica. Geografias. Belo

Horizonte, v.5, n.2, p. 65-74, Jul./Dez. 2009.

MARQUES, F. – Corrida Sobre o Gelo. Pesquisa FAPESP. FAPESP. São Paulo, n. 194, p. 32-37,

Abr. 2012.

MCT. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional: Plano de Ação 2007-

2010. Brasília, S/Da.

MCT. Relatório de Gestão. Janeiro de 2003 a Dezembro de 2006. Ministério da Ciência e

Tecnologia, S/Db.

MCT. Relatório Final GT – Agenda Antártica (2006-2010). Ministério de Ciência e Tecnologia,

S/Dc.

SENADO FEDERAL. Projeto Lei Orçamentária Anual 2004-2013 e Lei Orçamentária Anual

2001-2013. Disponível em: < http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil> Último

Acesso: 11 Abr. 2014

QUINTAL, J. Lançamento da Frente Parlamentar de Apoio ao PROANTAR. Plenário da

Câmara Federal, 10 Dez. 2003. Discurso do Deputado Federal. Disponível em:

<http:// >. Acesso: 1 Abr. 2014.

SOARES LEITE, P. El Programa Antártico Brasileño (PROANTAR) Rumbo a 2042. Boletin del

Centro Naval. Buenos Aires, n. 836, p. 231-234, Mai./Ago. 2013.

TRATADO ANTÁRTICO Relatório Final da 24-36 Reunião Consultiva do Tratado Antártico.

Disponível em: <www.ats.aq>

TRATADO ANTÁRTICO Relatório Final da 12 Reunião Consultiva Especial do Tratado

Antártico. A Haia, 2000. Disponível em: <www.ats.aq>

TRATADO ANTÁRTICO Reunião de Especialista do Tratado Antártico: Linhas de atuação

sobre navegação antártica e atividades relacionadas. Londres, 2000. Disponível em:

<www.ats.aq>

13

TRATADO ANTÁRTICO Relatório da Presidência da Reunião de Especialistas do Tratado

Antártico sobre turismo e atividades não governamentais na Antártida. Tromso, 2004.

Disponível em: <www.ats.aq>

TRATADO ANTÁRTICO Relatório da Presidência da Reunião de Especialistas do Tratado

Antártico sobre a gestão do turismo embarcado na Área do Tratado Antártico. Wellington,

2009. Disponível em: <www.ats.aq>

TRATADO ANTÁRTICO Relatório da vice-presidência da Reunião de Especialistas do

Tratado Antártico sobre impactos da mudança climática e os seus efeitos sobre a gestão e

governanza da Antártida. Svolvær, 2010. Disponível em: <www.ats.aq>

14

Anexo I: Siglas e Abreviaturas

- API: Ano Polar Internacional (IPY: International Polar Year)

- CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

- EACF: Estação Antártica Comandante Ferraz

- LOA: Lei Orçamentária Anual

- MCT: Ministério da Ciência e Tecnologia

- MDef: Ministério da Defesa

- MMA: Ministério do Meio Ambiente

- MRE: Ministério das Relações Exteriores

- PROANTAR: Programa Antártico Brasileiro

- Proj.: Projeto/Projetos

- RCTA: Reuniões Consultivas do Tratado Antártico

- RCETA: Reuniões Consultivas Especiais do Tratado Antártico

- SCAR: Scientific Committee on Antarctic Research

- STA: Sistema do Tratado Antártico (ATS: Antarctic Treaty System)

15

Anexo II: Tabelas

TABELA 1 – LOA: Programa PROANTAR – TOTAL

Ano Projeto

LOA

Dotação

Inicial Autorizado Empenhado Liquidado Pago

2001 2.707.253 2.707.253 2.769.430 2.769.430 2.686.025

2002 2.230.284 1.618.246 1.525.987 1.525.987 1.296.113

2003 2.594.315 2.594.315 2.235.453 2.235.453 1.854.492

2004 1.914.315 5.396.187 5.396.187 4.605.321 4.605.321 3.978.870

2005 2.763.000 7.939.000 7.939.000 4.524.387 4.524.387 3.755.708

2006 2.705.820 13.717.030 23.717.030 13.520.988 13.520.988 13.319.423

2007 9.829.000 15.229.000 18.229.000 17.446.213 17.446.213 17.238.137

2008 13.046.661 18.946.659 18.740.093 20.461.791 20.461.791 19.234.179

2009 8.421.016 27.421.016 27.421.016 21.886.840 21.886.840 10.058.412

2010 6.890.580 18.392.700 18.392.700 17.480.531 17.480.531 15.849.128

2011 6.415.125 18.372.303 18.372.303 14.083.894 14.083.894 9.275.477

2012 9.632.761 11.782.761 88.762.761 58.826.055 48.103.800 42.996.220

2013 29.927.773 53.477.773 83.264.212 55.279.497 48.548.840 48.454.681

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

TABELA 2 – LOA: Programa PROANTAR – MCT

Ano Dotação

Inicial Autorizado Empenhado Liquidado Pago

2001 352.874 352.874 342.629 342.629 323.038

2002 379.434 379.434 238.029 238.029 107.014

2003 379.000 379.000 365.430 365.430 10.351

2004 379.000 379.000 379.000 379.000 250.440

2005 379.000 379.000 379.000 379.000 374.506

2006 379.000 379.000 378.994 378.994 287.380

2007 379.000 379.000 378.733 378.733 378.733

2008 960.016 960.016 960.016 960.016 957.260

2009 15.960.016 15.960.016 15.960.016 15.960.016 5.335.757

2010 1.300.000 1.300.000 1.300.000 1.300.000 645.764

2011 1.300.000 1.300.000 1.300.000 1.300.000 345.600

2012 1.100.000 1.100.000 1.000.000 554.500 115.500

2013 0 0 0 0 0

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

16

TABELA 3 – LOA: Programa PROANTAR - MDef

Ano Dotação

Inicial Autorizado Empenhado Liquidado Pago

2001 2.354.379 2.354.379 2.426.802 2.426.802 2.362.987

2002 1.850.850 1.238.812 1.287.958 1.287.958 1.189.099

2003 2.215.315 2.215.315 1.870.022 1.870.022 1.844.141

2004 5.017.187 5.017.187 4.226.321 4.226.321 3.728.430

2005 7.050.000 7.050.000 3.635.387 3.635.387 2.886.252

2006 13.138.030 23.138.030 12.941.994 12.941.994 12.832.043

2007 13.550.000 16.550.000 16.316.481 16.316.481 16.108.870

2008 16.965.998 16.965.998 18.687.696 18.687.696 17.462.840

2009 10.911.000 10.911.000 5.875.400 5.875.400 4.671.231

2010 16.072.700 16.072.700 15.980.531 15.980.531 15.003.365

2011 16.517.758 16.517.758 12.579.349 12.579.349 8.725.332

2012 9.779.300 86.759.300 57.273.060 47.503.782 42.835.202

2013 52.841.273 82.662.742 55.265.197 48.543.358 48.449.199

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

TABELA 4 - LOA: Programa PROANTAR – MMA

Ano Dotação

Inicial Autorizado Empenhado Liquidado Pago

2001

2002

2003

2004

2005 510.000 510.000 510.000 510.000 494.950

2006 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000

2007 1.300.000 1.300.000 751.000 751.000 750.535

2008 1.020.645 814.079 814.079 814.079 814.079

2009 550.000 550.000 51.424 51.424 51.424

2010 1.020.000 1.020.000 200.000 200.000 200.000

2011 554.545 554.545 204.545 204.545 204.545

2012 903.461 903.461 552.995 45.518 45.518

2013 636.500 601.470 14.300 5.482 5.482

Fonte: Elaboração própria a partir de SIGA Brasil.

17

TABELA 5 – Fomento à Pesquisa PROANTAR do CNPq e Fomento à Pesquisa Total do CNPq: 2000-2013

Ano PROANTAR

Projetos

PROANTAR

R$

PROANTAR

US$

Total

Projetos

CNPq

Total CNPq

R$

Total CNPq

US$

Média

R$/Proj

Média

US$/Proj

PROANTAR/

TOTAL cada

1000 proj.

PROANTAR/

TOTAL

c/1000US$

2000 30 616.928 322.575 1.901 71.280.250 36.797.758 20.564,3 10.752,5 15,8 8,8

2001 22 502.988 195.059 2.731 118.031.485 50.494.305 22.863,1 8.866,3 8,1 3,9

2002 23 1.831.338 507.618 1.636 95.169.160 33.235.608 79.623,4 22.070,3 14,1 15,3

2003 1 73.119 21.461 3.081 122.699.582 41.342.229 73.119,0 21.461,0 0,3 0,5

2004 11 3.820.930 1.316.006 3.716 200.000.990 67.765.213 347.357,3 119.636,9 3,0 19,4

2005 13 573.345 258.064 5.190 217.121.053 93.200.367 44.103,5 19.851,1 2,5 2,8

2006 18 296.950 139.075 5.579 206.802.296 95.497.124 16.497,2 7.726,4 3,2 1,5

2007 19 510.367 261.305 9.611 444.048.108 237.815.850 26.861,4 13.752,9 2,0 1,1

2008 8 822.558 499.422 10.476 385.775.538 195.292.416 102.819,8 62.427,8 0,8 2,6

2009 3 1.627.511 926.541 8.115 395.181.723 203.766.250 542.503,7 308.847,0 0,4 4,5

2010 16 9.667.186 5.342.318 10.340 545.816.703 309.335.464 604.199,1 333.894,9 1,5 17,3

2011 2 502.000 304.684 5.810 314.631.141 185.094.298 251.000,0 152.342,0 0,3 1,6

2012 0 0 0 8.553 422.599.630 212.937.737 0,0 0,0 0,0 0,0

2013 12 954.214 448.674 9.276 300.460.194 148.039.513 79.517,8 37.389,5 1,3 3,0

Fonte: Elaboração Própria

18

TABELA 6 - Participação das Comitivas Brasileiras nas RCTA e RCETA por ano e Filiação Institucional: 2000-2013

Ano

Total 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Filiação

Institucional

MCT 0 0 0 2 0 0 1 0 2 1 1 1 1 2 11

MMA 0 0 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 2 15

MRE 2 1 4 3 1 3 1 2 3 2 1 3 1 3 30

MTur 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1

Mdef 1 1 1 2 1 2 2 2 2 4 4 3 3 4 32

Total 3 2 6 8 3 6 5 5 10 8 7 9 6 11 89

Fonte: Elaboração Própria

TABELA 7 – Indicadores de Participação nas Comitivas Brasileiras das RCTA e RCETA por Filiação

Institucional: 2000-2013

Participações Participantes

Reuniões

comparecidas

Média/Total

Reuniões

Média/Reuniões

atendidas

Filiação

Institucional MCT 11 9 8 0,8 1,4

MMA 15 5 12 1,1 1,3

MRE 30 22 14 2,1 2,1

MTUR 1 1 1 0,1 1,0

Mdef 32 18 14 2,3 2,3

TOTAL 89 55 14 6,4 6,4

Fonte: Elaboração Própria