A Igreja de São Martinho. Resultados preliminares de uma intervenção arqueológica de salvamento...

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51 Intervenções } A Igreja de S. Martinho. Resultados preliminares de uma intervenção arqueológica de salvamento ENQUADRAMENTO HISTÓRICO A ocupação humana conhecida da área envolvente ao Largo de São Martinho remonta à época romana, sendo conhecida a localização de vários edifícios públicos – Tea- tro, Termas e Banhos dos Cássios, Templo de Cibele. É muito provável que o centro da cidade romana, a partir do século I, e, conse- quentemente, a localização do forum se situ- assem na plataforma situada nas imediações da Sé, sendo de referir que a maior parte das inscrições honoríficas dedicadas aos impe- radores ou a membros da família imperial conhecidas foram recolhidas nesta área. Angelina Vidal refere ainda a existência de um pedestal de origem romana, à esquina, abaixo da Igreja de S. Martinho, onde se podia ler “ A cidade de Lisboa, chamada por outro nome, Felicidade Julia, levantou esta estátua a Sabina Augusta, mulher do imperador Cesar Trajano Adriano Augusto, neto do divi- no Nerva, e filho do divino Trajano, vencedor de David. Esta dedicação lhe é oferecida por Mario Gellio Rutiliano e por Julio Avito Vero(1994: p. 293). Por seu lado, se a tomada da cidade, no sécu- lo VIII, pelos muçulmanos marcou o termo de uma época, a sua estrutura urbana pree- xistente deverá ter sido absorvida pelo ema- ranhado do traçado medieval e os edifícios como teatros, pórticos e outros, reutilizados para novas funções (TORRES, 1994: p. 83). Assim, e embora se saiba que esta área se enquadra na cidade do período medieval, não se conhecem referências para a existência de edifícios específicos nesta zona. A Igreja de S. Martinho 1 Entre os séculos XII e XIX, localizou-se no Largo de São Martinho uma igreja com o mesmo nome, da qual hoje apenas se pode observar um troço da fachada da sua torre, integrada no edifício actualmente existente no local. Segundo Júlio Castilho (1937: p. 14), a paró- quia de São Martinho seria uma das mais antigas de Lisboa, encontrando-se referencia- da já em 1168 na História Eclesiástica, de D. Rodrigo da Cunha. De acordo com os ma- nuscritos do Museu do Carmo, de José Valen- tim de Freitas, citados por Júlio Castilho A Igreja de São Martinho. Resultados preliminares de uma intervenção arqueológica de salvamento 1 O levantamento da informação acerca da Igreja de São Martinho foi efectuado pela historiadora Paula Cristina de Araújo Marques Leal.

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Intervenções } A Igreja de S. Martinho. Resultados preliminares de uma intervenção arqueológica de salvamento

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

A ocupação humana conhecida da área envolvente ao Largo de São Martinho

remonta à época romana, sendo conhecida a localização de vários edifícios públicos – Tea-tro, Termas e Banhos dos Cássios, Templo de Cibele. É muito provável que o centro da cidade romana, a partir do século I, e, conse-quentemente, a localização do forum se situ-assem na plataforma situada nas imediações da Sé, sendo de referir que a maior parte das inscrições honoríficas dedicadas aos impe-radores ou a membros da família imperial conhecidas foram recolhidas nesta área.

Angelina Vidal refere ainda a existência de um pedestal de origem romana, à esquina, abaixo da Igreja de S. Martinho, onde se podia ler “A cidade de Lisboa, chamada por outro nome, Felicidade Julia, levantou esta estátua a Sabina Augusta, mulher do imperador Cesar Trajano Adriano Augusto, neto do divi-no Nerva, e filho do divino Trajano, vencedor de David. Esta dedicação lhe é oferecida por Mario Gellio Rutiliano e por Julio Avito Vero” (1994: p. 293).

Por seu lado, se a tomada da cidade, no sécu-lo VIII, pelos muçulmanos marcou o termo de uma época, a sua estrutura urbana pree-xistente deverá ter sido absorvida pelo ema-ranhado do traçado medieval e os edifícios como teatros, pórticos e outros, reutilizados para novas funções (TORRES, 1994: p. 83). Assim, e embora se saiba que esta área se enquadra na cidade do período medieval, não se conhecem referências para a existência de edifícios específicos nesta zona.

A Igreja de S. Martinho1

Entre os séculos XII e XIX, localizou-se no Largo de São Martinho uma igreja com o mesmo nome, da qual hoje apenas se pode observar um troço da fachada da sua torre, integrada no edifício actualmente existente no local.

Segundo Júlio Castilho (1937: p. 14), a paró-quia de São Martinho seria uma das mais antigas de Lisboa, encontrando-se referencia- da já em 1168 na História Eclesiástica, de D. Rodrigo da Cunha. De acordo com os ma-nuscritos do Museu do Carmo, de José Valen-tim de Freitas, citados por Júlio Castilho

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1 O levantamento da informação acerca da Igreja de São Martinho foi efectuado pela historiadora Paula Cristina de Araújo Marques Leal.

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(1937: p. 15-16), é possível que a Igreja de S. Martinho tenha sido “na sua origem uma cons-trução semelhante à primeira Sé, feita da mesma pedra dos bancos que até então havia, e ainda ha, por aquelles e mais sitios da cidade (...). Era de architectura arabe, muito simples e tosca”.Na sua demolição, aquele autor identificou diferentes elementos arquitectónicos (bases de pilastras, capitéis e pequenas colunas), cujas características apontavam, segundo ele, para o gosto árabe. Na sua descrição, refere ainda a demolição da parede da igreja “que fazia frente para o largo do Limoeiro”, dando-nos, assim, a sua localização, também apontada no mapa de Vieira da Silva (SILVA, 1987).

Norberto de Araújo (1992: II, p. 55) refere, igualmente, a sua localização em frente ao Limoeiro, encostada ao Pátio do Carrasco. No entanto, é Ferreira de Andrade quem mais informação presta acerca da localiza-ção desta igreja: “Passando a pequena artéria que no Miradouro de S. Luzia nos conduz ao Limoeiro, depara-se-nos um largo onde […] se abre a porta que deita para o Pátio do Carras-co. Está tal e qual o encontrou o terramoto de 1755. Passado esta, partia em direcção da Sé e do Aljube uma artéria de reduzida largura, era a rua direita de S. Martinho – troço que após o novo delineamento imposto pela demolição da igreja de S. Martinho, se integrou na rua do Arco do Limoeiro. [...]” (ANDRADE, 1949: p. 144). Ainda este mesmo autor refere que a fachada principal da igreja ficava para poen-te (ANDRADE, 1949: p. 147).

Houve sempre uma grande ligação entre a Igreja de S. Martinho e o Limoeiro, que durante muito tempo foi paço real, existindo uma espécie de arco ou passadiço entre esta igreja e aquele edifício. Norberto de Araújo, ao localizar a igreja, refere: “Rua do Limoeiro, e antes Rua do Arco do Limoeiro, […] Cha-mou-se a esta artéria em tempos muito antigos “do Arco” por ter existido mais acima um arco ou passadiço que ligava o Paço a-par-de S. Martinho à desaparecida paroquial desta invocação”(ed. 1992: p. 52) Este facto fez com que a Igreja de S. Martinho fosse utilizada como templo cristão por membros da família real, constituindo um dos episódios mais conhecidos o da morte do Conde de Andeiro, que ali foi sepultado.

Nas primeiras décadas do século XVII, a igreja encontrava-se num avançado estado de degradação. A sua recuperação deu-se entre os anos de 1634 e 1664, tendo-se ini-ciado os trabalhos exactamente no dia 11 de Novembro de 1634, dia de S. Martinho. As obras terão sido financiadas pelo conde de Vila Nova de Portimão, Gregório de Castelo Branco (ANDRADE, 1949: p. 147).

À semelhança de muitos dos edifícios de Lisboa, o terramoto de 1755 deixou esta igreja em ruína, como testemunha o padre Mariz Sarmento (ANDRADE, 1949: p. 148): “A ruína que padeceo esta Igreja e Freguesia no 1.º de Novembro de 55 a respeito do seu estreito e limitado ambito, foy dos grandes, prescindido

Figura 1

Malha urbana anterior ao terramoto de 1755 (a vermelho) e localização da Igreja de São Martinho (SILVA, 1987).

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do fogo que foy alli com o favor de Deus preser-vada.Primeiramente abrio a parede de tres dos lados que olha para oriente, pella porta de fora donde brotou alguãs pedras e rachou bastantemente, desmentio o arco do trono que era de cantaria, lançando hua pedra de fora delle. A abobada abrio e deo de si hua mão-travessa e da mesma forma o fecho do arco do cruzeiro que pouco lhe faltou para o largar de todo. Arruinou-se a parede mestra que se fundamentava sob o arco do trono de man.ª que se deitou abaixo todo e se fez de frontal. O corpo da igreja com a abobada e encontras ficou quazi illeso e seguro. A torre abrio por tres pes e sahirão varias pedras das sineiras e simalhas.[...] Pouco sofreu a sacristia e casa das irman-dades.As casas de residência que ficam contíguas pa-decerão grave ruína, além do que lhe causarão os roubos dos ladrões que as deixarão quazi abertas. Cahirão outras cazas que estão nas costas da mesma igreja e são também Prioraes ficando de todo destruídas”.

Os trabalhos de remoção dos entulhos terão começado no dia 10 de Março de 1756 e em 1760 foi concluída a sua reedificação. Mariz Sarmento faz posteriormente um breve relato acerca de como ficou a Igreja de S. Martinho, após a sua reconstrução (ANDRADE, 1949: pp. 149 e 151):“[...] esta igreja restaurada e em melhor estado constituida que era possivel no tempo prezente, acha-se feita de novo a sua capela mor que se fez de estuque o era abobeda. [...] Melhorou de figura, por estar patente do que athe agora se via dentro de hu estreito adro, occulto e emzombrado com huas cazas que o Prior comprou e demolido para a dezafrontar [...] As cazas de residencia principais se achão reedificadas à custa do mes-mo Prior [...]”.

Em 1835, a paróquia foi extinta e, por decre-to de D. Maria II, o terreno foi entregue à Câmara Municipal de Lisboa2 que, em 1837, decidiu proceder à sua demolição.

No hiato de tempo que mediou o fim da paró-quia e a demolição do edifício, o seu recheio foi sendo alvo de saques, tendo a decisão da Câmara Municipal e o estado de abandono em que se encontrava aquele templo sido alvo de protesto por parte de alguns cidadãos, na época. De facto, Ferreira de Andrade refere, por exemplo, a discordância do pintor José Valentim de Freitas para com a destruição da

igreja. Este decidiu fazer um requerimento à Câmara Municipal de Lisboa, pedindo auto- rização para “tirar alguns apontamentos de anti- guidades, tanto de architectura como de ins-cripções [...] naquelles edificios cuja demolição esta a cargo [da Câmara]” (ANDRADE, 1949, p. 154).

Não tendo resposta e cada vez mais indigna-do com a situação, José Valentim de Freitas fez um novo requerimento à Câmara. Desta vez, chama à atenção para o abandono e o pouco cuidado dedicado às sepulturas que se encontravam na Igreja de S. Martinho, fazen-do referência a algumas personalidades.

“[...] vendo o abandono em que se acham as sepulturas nos que outr’ora foram templos, e que se vão demolindo, é que o suplicante recorre aos pios sentimentos da illª e excª câmara municipal d’esta cidade para que nos sítios da sua jurisdi-ção se digne aplicar alguns momentos dos seus cuidados em evitar um escândalo, e em dar um exemplo, mandando trasladar para os cemitérios públicos os ossos que se acham nos referidos luga-res entre os quais haverá alguns que até merecem uma medida particular para se collocarem em separado. Nos restos da igreja de S. Martinho talvez se encontre a sepultura de João Fernandes Andeiro, bem conhecido da nossa história. Além de outros, ali se acham sepultados os condes de Villa Nova de Portimão e sua família [...]” (ARAÚJO, ed. 1992: p. 155).

2 “O terreno passou para a Câmara Municipal de Lisboa, por decreto de D. Maria II (ARAÚJO, ed. 1992: p. 55).

Figura 2

Gravura da Igreja de S. Martinho (ANDRADE, 1949: p. 150).

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OS RESULTADOS DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA

A remoção da calçada e respectivo nível de assentamento deste pavimento per-

mitiu verificar a existência de diversas infra- -estruturas em toda esta área, sendo, desde logo, visíveis diferentes cortes de valas no depósito de superfície. Estas infra-estruturas correspondem às tubagens da rede de abaste-cimento público de água, electricidade e gás, colocadas no séc. XX, incluindo a presença de alguns ramais de ligação aos edifícios mais próximos. Foram, também, identifica-das algumas valas cuja funcionalidade não foi possível perceber, tendo-se registado o interface negativo e o respectivo depósito de enchimento, mas nenhum vestígio de infra-estrutura, ou qualquer outro, que indiciasse o motivo da sua abertura.

A abertura destes interfaces afectou, quer os depósitos formados após a demolição do edi- fício da Igreja de São Martinho, quer as pró- prias estruturas deste edifício e enterramen-tos ainda existentes no seu interior. Esta cir-cunstância foi notória nas características físi-cas dos depósitos que preenchiam a maioria destes interfaces e nos espólios associados. De facto, à excepção da vala do gás – principal e respectivos ramais – que apresentava um enchimento de areias e saibros amarelados ou alaranjados, os restantes apresentavam os vestígios materiais dos contextos que destru-íram (pedras e cerâmicas de construção com argamassa das estruturas e/ou restos osteoló-gicos dos enterramentos), associados a outros materiais de cronologia actual – embalagens de plástico, cápsulas.

A demolição da Igreja, no início do século XIX, ficou registada em alguns depósitos, identificados um pouco por toda a área inter-vencionada, que cobrem directamente os ves-tígios remanescentes do edifício – fundações de paredes, pavimento do adro.

Assim, sobre o alicerce da parede oeste da Igreja registaram-se depósitos de terras cas-tanho-acinzentadas, arenosas, com inclusão frequente de fragmentos de argamassa e blocos de calcário e alguns nódulos de car-vão. Da mesma forma, ao longo da parede norte da igreja, identificou-se um depósito com inclusão muito frequente de materiais de construção – fragmentos de argamassa de areia e cal, blocos e cascalho de calcário com vestígios de argamassa. Esta unidade cobria o

topo da parede norte da igreja e assentava no depósito de terras que preenchia, em parte, o interior do edifício onde se identificaram os enterramentos (unidade 110).

Sobre a área do adro, identificou-se também um depósito de entulhos, com inclusão fre-quente de fragmentos de argamassa de areia e cal e de cerâmica de construção. Estes en- tulhos cobriam os vestígios do adro existen-te na última fase de utilização do edifício, correspondendo à reestruturação efectuada após o terramoto de 1755. Era composto por dois patamares separados por um peque-no degrau, [225], aproveitando o desnível geológico. O patamar inferior encontrava-se revestido com um pavimento de tijoleira de cerâmica rectangular, [212], disposta em espinha, assente numa base de argamassa esbranquiçada de areia de grão médio/grosso e cal, [207]. Após o degrau, este pavimento parece ter sido assente apenas com uma fina película de argamassa sobre o afloramento calcário desbastado. Talvez por esta razão os fragmentos de tijoleira sejam quase inexis-tentes nesta área.

Em direcção a Este, seguindo no sentido do que seria a entrada para o interior do espaço principal do edifício, registou-se a existência de um nível de preparação de pavimento em argamassa esbranquiçada de areia de grão médio/grosso e cal, [187], não se tendo, con-tudo, identificado qualquer vestígio respei-tante ao que seria o pavimento em si. Ainda assim, foi registada uma soleira demarcada por um bloco de calcário rectangular apare-lhado, [186], que se encontrava cimentado na argamassa. Esta soleira, com uma orientação sensivelmente Este/Oeste, pode corresponder à demarcação da entrada de uma sala situada no interior do adro, do lado norte do acesso ao espaço principal da igreja.

Devido à exiguidade do espaço intervencio-nado, aos inúmeros cortes provocados pelas infra-estruturas e à quantidade de grandes raízes, não foi viável perceber como termi-nava o adro da Igreja de São Martinho, nesta última fase de utilização, e como se fazia o acesso à rua. Contudo, foi possível verificar que, durante a reestruturação, após o terra-moto de 1755, este espaço ganhou terreno à sua envolvente. De facto, o segundo patamar encontrava-se construído sobre dois níveis de derrube, provavelmente resultantes da queda das paredes do próprio edifício ou edifí-cios adjacentes, sendo formados por entulhos

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– fragmentos de cerâmica de construção, nódulos de argamassa e blocos de calcário. Sob estes entulhos, identificou-se um nível de incêndio, associado a fragmentos de gran-des dimensões de cerâmica comum e faiança, assente sobre um pavimento de blocos de basalto, que, certamente, constituiu, anterior-mente, um espaço de via pública.

Associado à calçada que demarca o arrua-mento existente em frente à fachada princi-pal da Igreja, registou-se, no corte sudoeste da sondagem, os vestígios da parede da edifi-cação que se situaria em frente à Igreja, pelo menos no momento anterior ao terramoto. Estes vestígios correspondem a dois grandes blocos de calcário aparelhados, sendo que apenas um deles ficou bem visível na área intervencionada, e a respectiva vala de fun-dação aberta no substrato geológico.

Mais uma vez, o topo de destruição desta estrutura corresponde à vala de implantação de uma infra-estrutura, neste caso, do gás, ficando visível em corte o depósito de areias amareladas que envolve a tubagem e preen-che todo o interior da vala.

No que se refere ao edifício da igreja em si, identificou-se o que pensamos ser o alicerce da parede norte, [109]. Corresponde a uma estrutura com uma orientação Este/Oeste e cerca de 2 metros de largura. É constituída por blocos de calcário maioritariamente de pequenas e médias dimensões, apresentan-do-se, por vezes, os blocos da última fia-da preservada aparelhados e de dimensões maiores. Estes elementos encontram-se forte-mente ligados por uma argamassa de areia e cal, fazendo ainda parte da sua constituição algum cascalho miúdo e pequenos fragmen-tos de cerâmica.

No limite este da área sondada, verificou-se a presença de uma outra parede, [198], com uma orientação semelhante e em parte sobre-posta pela parede norte, [109]. Esta estrutura mais antiga era constituída por blocos irre-gulares de calcário e de margas, registando-se na última fiada preservada um bloco de calcário aparelhado, ligados por uma arga-massa amarelada de areia e cal, fazendo tam-bém parte da sua constituição fragmentos de cerâmica e cascalho de calcário. Durante a utilização do espaço interior da Igreja de São Martinho, foi muito afectada, tendo sido

Figura 3

Vista geral dos dois patamares do adro e todas as infra-estruturas actuais existentes.

Os objectivos específicos da intervenção consistiam na caracterização científica e patrimonial dos vestígios arqueológicos que pudessem surgir e na minimização do risco da afectação negativa dos mesmos pelas obras previstas para este espaço.

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cortada na abertura de valas para a realiza-ção de enterramentos, [196], e disposição de ossários/reduções ósseas, [1218] e [1231].

Ainda nesta mesma área e sob esta parede mais antiga, [198], ficou visível uma outra estrutura, [1240], constituída por pequenos blocos de margas ligados por uma argamassa esbranquiçada muito compacta de areia fina e cal, com inclusão de pequenos fragmentos de cerâmica e de cascalho miúdo. A área de escavação disponível foi muito restrita, não tendo sido possível perceber a que correspondiam estas estruturas, [198] e [1240], anteriores ao que pensamos ser a parede norte do edifício da Igreja de São Martinho, e qual a sua cronologia. Terão feito parte do edifício da Igreja de São Martinho, numa fase construtiva mais antiga, ou corres-pondem a edificações preexistentes?

No lado oeste da sondagem, após o adro, identificou-se o que pensamos ser a parede oeste do edifício. O que se conservou corres-ponde apenas ao alicerce, [155], encaixado na vala aberta para a sua construção, [184]. Trata-se de uma estrutura também com cerca

de 2 metros de largura e orientação norte/sul, apresentando o mesmo tipo de aparelho da parede norte, [109]. A vala de fundação desta parede foi aberta no nível de argilas esverdeadas e calcários, que constituem aqui o substrato geológico, [221], tendo ainda cortado um pavimento de opus signinum, [141].

Este pavimento encontrava-se associado ao alicerce de um muro, [111], constituído por blocos irregulares de calcário ligados por uma argamassa esbranquiçada, muito com-pacta, de areia e cal com alguns muito peque-nos fragmentos de cerâmica e cascalho. O tipo de construção destas estruturas, e mais especificamente o do pavimento, remete-nos claramente para uma cronologia do perío-do romano, embora não tenha sido possí-vel determinar um período mais restrito de construção/utilização ou a caracterização do espaço.

De facto, este pavimento foi afectado não só durante a construção da igreja como durante o tempo de utilização do seu espaço interior para enterramentos e, posteriormente, pela abertura das inúmeras valas de infra-estru-

Figura 4

Planta geral das estruturas identificadas da Igreja de São Martinho.

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turas. Uma destas valas situou-se a meio da nossa área de intervenção, permitindo-nos verificar que este pavimento assentou direc-tamente no nível geológico.

O espaço interiorOs dados arqueológicosNa estreita área intervencionada no espaço correspondente ao interior do edifício prin- cipal da Igreja de São Martinho, após a remo-ção dos níveis relacionados com a abertura de valas de infra-estruturas contemporâne-as, verificou-se a existência de uma prática intensiva de enterramentos, o que resultou num elevado grau de desarticulação dos es-queletos observados.

Os primeiros enterramentos encontravam-se naturalmente afectados por estas inúmeras valas contemporâneas, uma vez que a demoli-ção da igreja e terraplanagem do largo incluiu a remoção do pavimento, deixando a desco-berto o subsolo (identificado como unidade 110), com os enterramentos parcialmente a descoberto. De facto, as estruturas identifi-cadas, que se relacionavam com as paredes da igreja, correspondiam a alicerces e não se registou qualquer indício do pavimento exis-

tente no seu interior. Outro dos responsáveis pela desarticulação e fragmentação dos ossos, para além das intervenções recentes para a colocação de infra-estruturas de gás, água, electricidade, foram as inúmeras raízes das duas árvores de grande porte existentes no largo, tendo sido ali plantadas, de acordo com a informação oral dos residentes, nos anos 40 do século passado.

Com a decapagem do topo do depósito, onde se verificou a presença de uma quantidade significativa de ossos humanos desarticula-dos e espalhados, foi, então, possível observar diversos enterramentos e ossários/reduções ósseas. Muitas vezes, estes encontravam-se ainda parcialmente afectados pela abertura das valas para a colocação das infra-estrutu-ras básicas.

À semelhança do que era prática comum em qualquer edifício religioso onde o espaço é limitado e tem de ser bem gerido, as inu-mações mais antigas eram desviadas para a cabeceira e/ou pés do espaço anteriormente ocupado, ou removidas para espaços dis-tintos, para se proceder aos enterramentos mais recentes. Na área intervencionada re-

Figura 5

Vista geral do pavimento [141] e estrutura [111] e os dois cortes de infra-estruturas.

A ocupação humana da área envolvente ao Largo de São Martinho remonta à época romana, sendo conhecida a localização de vários edifícios públicos – Teatro, Termas e Banhos dos Cássios, Templo de Cibele. É muito provável que o centro da cidade romana, a partir do século I, e, consequentemente, a localização do forum se situassem na plataforma situada nas imediações da Sé.

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gistaram-se três espaços de ossário indivi-dualizados, [1218], [1230] e [1231], sobre os quais foram posteriormente depositados ou-tros enterramentos ([196], no caso do ossá-rio/redução óssea, [1218] e [1224], por sua vez coberto pelo [197], no caso do ossário /redução óssea [1230]). No que se refere aos ossários/reduções ósseas [1218] e [1231], foi possível registar parcialmente o corte da vala em que se encontravam ([1220], sepultura 5, e [1239], sepultura 6, respectivamente), devido ao facto de a sua abertura ter cortado parcialmente a estrutura [198].

Verificou-se, também, que a abertura de no- vas valas de sepultura foi, por vezes, respon-sável pelo corte de outras mais antigas, per-turbando os indivíduos aí depositados. Esta situação foi observada no caso da sepultura 1 (enterramento [115]), bem delimitada devi-do à utilização de cal colocada no interior do caixão, ao longo de todo o corpo, e cuja abertura afectou parte dos enterramentos da sepultura 4, à qual se sobrepunha. Afectou ainda parte do enterramento [116], situado imediatamente a Oeste, tendo-lhe cortado os pés. No caso deste enterramento, [116], não foi possível identificar os limites da vala de inumação.

De facto, devido às características muito ho- mogéneas dos depósitos existentes neste es-paço e à sua contínua reutilização, na maio-ria dos casos, não foi viável identificar a vala de inumação. Esta identificação foi possível apenas nos casos em que o corte abrangia já o nível geológico (sepulturas 3 e 4), afectava estruturas (sepulturas 5 e 6), ou outros esque-letos (sepultura 1, em relação ao enterramen-to [116] e à presença da cal que delimitava ainda o esqueleto [115] da sepultura 1).

Com excepção da sepultura 5, onde se regis-tou um ossário e um enterramento que se lhe sobrepunha ([1218] e [196], respectivamente), e da sepultura 4, onde se registaram três en-terramentos sobrepostos ([169], [182] e [183]) e diversos ossos dispersos de criança e bebé; nas restantes sepulturas (1, 2, 3 e 6) apenas se observou um enterramento ou um ossário (no caso da sepultura 6).

O espaço de sepultura deveria estar delimi-tado, ao nível do pavimento, por lajes, como de resto é habitual observar no interior das igrejas. No que a esta intervenção diz respei-to, as poucas valas de sepultura identificadas viram os seus limites ser apenas parcialmen-te reconhecidos. A excepção é a sepultura 4.

Figura 6

Vista geral dos enterramentos [143], [150], [158] e [159] afectados pela abertura da vala [106] que cortou ainda o pavimento de opus signinum [141].

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Devido ao facto de a abertura deste espaço ter sido, em parte, feita no geológico permitiu- -nos registar a sua forma ovalada.

Todos os enterramentos identificados no de-curso desta intervenção, associados a um es-paço delimitado de sepultura ou não, foram depositados em decúbito dorsal, com os membros superiores sobre as regiões torácica ou abdominal, com as mãos sobrepostas, e os membros inferiores em extensão. Partindo da amostra exumada, esta deposição deverá ter sido feita em caixão de madeira, pelo me-nos a sua maioria, tendo-se encontrado pe-quenos fragmentos de madeira e pequenas tachas associados a diversos esqueletos. A orientação geral dos enterramentos foi de Su-doeste/Nordeste, considerando a cabeça no extremo sudoeste.

No que se refere a cronologias para estes en- terramentos, não possuímos dados que nos permitam integrar cada um deles numa de-terminada época. O espólio associado é pra-ticamente inexistente e o que foi registado – botões, contas de rosário, anéis – não per-mite, por enquanto, qualquer datação preci-sa. Por seu lado, as moedas recolhidas junto a esqueletos, uma junto ao [115] e outra junto

ao [150], apenas nos permitiriam dizer que aqueles enterramentos foram efectuados após a data de cunhagem da moeda associada. O que, neste caso, nem mesmo este tipo de informação se pôde aplicar, devido ao mau estado dos numismas. Assim, a única crono-logia que neste momento podemos atribuir é a da existência da própria igreja – século XII/XIX. Estratigraficamente, foi possível registar uma sequência temporal de alguns dos enterramentos identificados, expressa na matriz representada.

Antropologia Funerária e Estudo paleobiológicoA área intervencionada que proporcionou inu-mações humanas correspondeu ao interior da Igreja de São Martinho, sendo a prática de enterramentos nos edifícios religiosos e nos seus adros habitual até ao século XIX.

As sepulturas ad sanctos eram muito procura-das, sobretudo por parte da população mais endinheirada que as podiam comprar (Ariès, 1988), sendo o local mais apetecível para a prática de sepultamentos. Por isso, não cons-titui motivo de espanto a grande profusão de inumações primárias e secundárias nestes espaços. De facto, estas áreas são limitadas

Figura 7

Plano final da sepultura 4.

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e utilizadas de forma intensiva, o que gerou, consequentemente, algumas soluções: prati-cavam-se inumações sobre os enterramentos mais antigos, removendo-se os ossos da cova e colocando-os ao seu canto (reduções ósseas) ou retiravam-se os ossos da sepultura, os quais eram amontoados sobre ossos desarti-culados de outros indivíduos (ossários). Estas soluções estão bem documentadas arqueolo-gicamente (e.g., Antunes Ferreira e Ferreira, 2001; Neto e Antunes Ferreira, 2002; Antunes Ferreira, Neto e Lopes, s.d.; Antunes Ferrei-ra e Santinho Cunha, s.d.).

No presente contexto, foi bastante difícil distinguir as reduções ósseas das inumações secundárias (ossários), visto que se observa-ram imensos remeximentos causados pelas obras que afectaram o subsolo desta área, também foi extremamente complicado detec-tar os limites das covas. Foram registadas 25 inumações primárias caracterizadas sobretu-do por esqueletos parcialmente articulados ou conjuntos de ossos ainda articulados e cinco eventuais inumações secundárias.

Os corpos foram depositados nas covas, em decúbito dorsal, com os membros superiores sobre a região torácica ou abdominal e os membros inferiores estendidos. A orientação assumida era Sudoeste-Nordeste, consideran-do-se a cabeça no extremo sudoeste. Encon-traram-se indícios que sugerem que alguns indivíduos foram colocados em caixões de madeira (pregos, tachas, madeira). Alguns corpos foram cobertos por cal. Destaca-se a posição de inumação do indivíduo U.E. 182 – do sexo masculino –, que tinha os membros inferiores cruzados (Fig. 9). Presume-se que constituía um gesto ritual simbólico, visto que esta acção foi intencional.

Paleobiologia3

A paleobiologia visa a reconstituição da vida dos nossos antepassados a partir da análise dos seus esqueletos. Com efeito, vários atri-butos morfológicos (e.g., dimensões, arquitec-tura) dos ossos podem permitir a determina-ção de parâmetros demográficos como a dis- tribuição por sexos e por classes etárias e es-timar a morfologia geral dos indivíduos. Para além disso, diversas patologias e agressões no

Figura 8

Matriz dos enterramentos identificados e estruturas associadas.

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Intervenções } A Igreja de S. Martinho. Resultados preliminares de uma intervenção arqueológica de salvamento

esqueleto podem deixar assinaturas nos ossos que podem ser interpretadas, permitindo tra-çar o perfil paleopatológico da amostra.

Os ossos exumados4 estão medianamente pre- servados. Observaram-se ossos que se desfi-zeram ao mínimo toque, provocando a desin- tegração completa do esqueleto, mas há outros, em quantidades mais abundantes, cu-ja integridade física é considerada bastante razoável. O estado de fragmentação é muito elevado, sobretudo das regiões epifisárias, das vértebras, dos crânios e dos ossos da ba-cia. Com efeito, as obras realizadas no local e a proliferação de raízes que chegaram a penetrar nos ossos (provocando-lhes fissuras e degradação do periósteo) são as principais responsáveis pela fragmentação observada. Nos ossos provenientes das inumações secun-

dárias, registaram-se, pontualmente, algu-mas marcas de cortes post mortem que denun-ciam a actividade dos coveiros.

Em primeiro lugar, procurou estimar-se o número de indivíduos exumados na área escavada no interior da Igreja de S. Martinho (Fig. 10). Se esta etapa foi imediata, quando se abordou os esqueletos articulados e par-cialmente articulados das inumações primá-rias, foi, no caso das inumações secundárias, mais complicada. Efectivamente, quando se lida com ossos desarticulados de vários indi-víduos que foram colocados num mesmo es- paço deve recorrer-se a metodologias mais complexas, aplicadas a todos os ossos presen-tes, que fornecerão o número mínimo de in- divíduos encontrados. Para esta contabiliza-ção, consideraram-se os métodos descritos por Hermann et al. (1990) e Ubelaker (1974), tendo sido identificada a presença de, pelo menos, 18 indivíduos. No que concerne às inumações primárias, foram registados 25 indivíduos. Em suma, a amostra examinada é formada por 43 indivíduos.

3 As metodologias utilizadas podem ser consultadas no relatório da intervenção arqueológica.

4 Todo o material osteológico proveniente das inumações primárias e secundárias foi analisado. Porém, no caso destas últimas a análise dos ossos e dentes foi, nesta fase dos trabalhos, bastante sumária, pelo que os resultados são apresentados de forma geral. Os ossos dispersos da U.E. 110 que resultaram das obras no local não foram ainda examinados.

Figura 9

Esqueleto U.E. 182, com os membros inferiores cruzados.

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Seguiu-se a determinação dos parâmetros de- mográficos: o sexo e a idade à morte. Se o primeiro diagnóstico é relativamente fiável no caso dos adultos, não se pode afirmar o mesmo acerca da idade à morte. Ao contrá-rio, nos indivíduos não adultos a estimativa da idade à morte fornece resultados com um bom grau de acuidade, enquanto que a deter-minação sexual, neste grupo etário, é muito pouco precisa, visto que este não desenvolveu ainda dimorfismo sexual, pelo que os carac-teres de um ou outro sexo são muito difíceis de se distinguir.

A estimativa sexual foi efectuada a partir de métodos morfológicos e métricos, utilizando-se preferencialmente o crânio, o osso coxal, o úmero, o fémur e a tíbia. E o tálus e o cal-câneo quando os esqueletos estavam muito incompletos ou se tratavam de ossos desarti-culados. Dos 22 adultos provenientes das inu-mações primárias, foram identificados seis do sexo feminino e treze do sexo masculino, tendo sido a diagnose sexual inconclusiva para os outros três indivíduos. Em relação aos 13 indivíduos recuperados das inumações secundárias, a estimativa sexual permitiu discriminar sete indivíduos do sexo masculi-no e cinco do sexo feminino. Um diagnóstico foi inconclusivo.

A estimativa da idade à morte incidiu sobre dois grandes grupos: não adultos e adultos. Para os indivíduos não adultos, observaram--se o grau de desenvolvimento dentário, o comprimento das diáfises dos ossos longos e a largura máxima do ilíon e a união epifesial. Nas inumações primárias, foram identifica-dos três não adultos e 22 adultos. Dos três corpos esqueletizados de não adultos recu-perados, identificaram-se um feto no último trimestre de gestação, uma criança com cerca de 5-7 anos e outra com 7-9 anos. No que

concerne à estimativa da idade à morte dos adultos, utilizaram-se o método desenvolvido por Masset (1982) que considera os graus de encerramento das suturas cranianas, a obser-vação das alterações degenerativas das extre-midades esternais das costelas, a metamor-fose da sínfise púbica, a metamorfose da superfície auricular e a ossificação da carti-lagem da tiróide. Esta estimativa revelou-se particularmente difícil, neste grupo etário, visto as áreas ósseas fundamentais, nesta análise, se encontrarem muito danificadas ou até mesmo ausentes. Para os indivíduos do sexo feminino, temos diagnósticos para ape-nas três: uma jovem adulta, com cerca de 20 anos, notando-se subtilmente linhas de fusão epifisária, uma adulta, com, aproximada-mente, 25-30 anos, e uma mulher de meia- -idade, com 45-50 anos. No caso dos indiví-duos do sexo masculino, obteve-se resulta-dos para seis: um jovem adulto, com 20-23 anos (as vértebras e os fémures exibem, de forma ténue, vestígios das linhas de fusão), um adulto ainda jovem, com 24-28 anos, um adulto maduro, com 39-44 anos, e três indi-víduos idosos, que possuem cartilagens da tiróide ossificadas.

Na estimativa da idade à morte dos indivídu-os recuperados das inumações secundárias, registaram-se 13 adultos e cinco não adultos. As classes etárias representadas são bebés, crian- ças, um adolescente, adultos jovens, adultos maduros e idosos.

A fraca representatividade da amostra não possibilita tecer ilações. Todavia, a presença de indivíduos de ambos os sexos, estando representadas praticamente todas as classes etárias, aponta para uma população natural.

No estudo morfológico, atendeu-se aos carac-teres discretos e métricos do esqueleto. A ob- servação dos primeiros, que pode revelar a existência de relações de parentesco, não mostrou percentagens significativas de qual-quer um deles. Todavia, foram analisados poucos dados, pelo que a amostra não é esta-tisticamente significativa, não se podendo tirar qualquer conclusão.

Na análise métrica, observaram-se a robustez óssea e a estatura dos indivíduos. Mais uma vez, os resultados não são significativos, visto que, para este exame, é necessário possuir ossos inteiros, que são em número reduzido. A robustez foi estimada a partir do úmero e do fémur, mostrando esta valores medianos.

Figura 10

Número de indivíduos exumados.

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Apenas foi possível estimar a estatura de um único indivíduo do sexo feminino, que mediria cerca de 153 cm. Quanto aos do sexo masculino, conseguiram-se quatro resulta-dos, a estatura média é de, aproximadamen-te, 175 cm.

A avaliação das condições patológicas que se podem detectar nos ossos e dentes podem fornecer informes valiosos acerca da interac-ção indivíduo-ambiente, condições higiéni-co-sanitárias e existência ou não de cuidados médicos. Foram examinadas as seguintes pa-tologias: oral, degenerativa, infecciosa, trau- mática, congénita e neoplásica. Foram, igual-mente, determinados os indicadores de dese-quilíbrio fisiológico.

O estudo das patologias odontológicas mos-tra que as cáries são pouco frequentes, ape-nas dois indivíduos evidenciam esta doença. Em geral, as deposições tartáreas são pouco expressivas. O desgaste oclusal dos dentes segue um dos factores etiológicos desta con-dição, a idade. De facto, os indivíduos de idades mais avançadas exibem um desgaste mais acentuado do que os adultos jovens e maduros. Mesmo assim, o desgaste nos indi-víduos mais jovens é moderado. Por exemplo, a mulher de 25-30 anos (U.E. 196) evidencia desgaste moderado, o que sugere uma dieta contendo elementos abrasivos. O mesmo se passa com a perda de dente e reabsorção do respectivo alvéolo: os indivíduos maduros e idosos têm uma maior perda de dentes do que os mais jovens.

No âmbito da patologia infecciosa, detecta-ram-se algumas costelas direitas (U.E. 115) que mostram na sua face interna reacção ós-sea, não sendo possível traçar um diagnóstico diferencial. Esta reacção não foi encontrada nas esquerdas. Todavia, salvaguarda-se que não foram recuperadas todas as costelas deste indivíduo, bem como muitas exibem a sua superfície muito erodida. O indivíduo da U.E. 116 evidencia sinais de infecção não específi-ca, designadamente de periostite na diáfise do fémur esquerdo e na região lateral da diáfise da tíbia esquerda. Estas lesões carac-terizam-se por estrias ligeiras que correm ao longo da diáfise. Identificou-se, igualmente, periostite no indivíduo da U.E. 165, esta tem uma expressão ligeira e localiza-se no fémur direito, nas tíbias (as lesões na tíbia esquerda incidem, sobretudo, na região medial da diá-fise) e no perónio direito. E no indivíduo da

U.E. 1227, que exibe esta condição em ambas as diáfises das tíbias, caracterizando-se por estrias ao longo de toda a diáfise.

Nas doenças do foro degenerativo, examina-ram-se a artrose e as entesopatias. Não obs-tante o reduzido número de observações que derivou da elevada fragmentação das regiões epifisárias dos ossos, verificou-se que os resultados obtidos para a artrose estão de acordo com o seu principal factor etiológico: a idade. Com efeito, são os indivíduos de ida- des mais avançadas que manifestam de forma mais expressiva estas patologias, não tendo sido detectadas nos indivíduos adultos com menos de 25 anos. Quando se considera a sua localização anatómica, constata-se que a sua incidência é superior nos ossos da coluna vertebral, área sujeita a grandes constrangi-mentos biomecânicos. Seguindo-se nos ossos dos membros inferiores e dos superiores, que exibem lesões menos acentuadas. Destaca-se o indivíduo da U.E. 1230, que mostra artrose secundária nos ossos do braço esquerdo (ver patologia traumática) e uma anquilose entre dois corpos de vértebras cervicais, o qual também tem três nódulos de Schmorl (Fig. 11) – que corresponde no vivo às hérnias dis-cais – em vértebras torácicas.

Dentro das entesopatias, não se evidencia ne- nhuma lesão em particular. Quando estas afectam os ossos, mostram, geralmente, uma expressividade ligeira, exceptuando-se uma situação registada numa rótula (U.E. 115) que exibe lesões severas nos ligamentos qua-drilátero e rotuliano.

Ao nível dos traumatismos, identificou-se uma situação nos ossos do membro superior esquerdo do indivíduo da U.E. 1230. Os ossos deste braço exibem artrose muito severa, claramente secundária, causada por trauma violento sobre o cotovelo e o pulso. Não se registam sinais de fractura, pelo que se suge-re que se trata de uma luxação com desloca-ção, visto que se observam uma nova faceta articular para o rádio, na extremidade distal do úmero, e outra da região proximal do cúbito. Há três ossos do carpo com artrose. O capitato está deformado. Os outros ossos da mão não são afectados. Estas lesões não são encontradas com a mesma severidade nos os-sos do braço direito. Nos ossos provenientes das inumações secundárias, também se iden-tificou uma condição traumática. Trata-se de

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uma vértebra lombar, na qual se observa uma fractura por stress biomecânico que fomentou a separação do corpo e da parte posterior.

Os indivíduos com menos de 30 anos mos-tram, quando existem, lesões degenerativas muito subtis, passando-se o mesmo com as entesopatias.

Ainda no campo da patologia articular, de-tectou-se um eventual caso de DISH (U.E. 182), uma patologia cujas causas não são bem conhecidas: quatro vértebras torácicas estão fundidas ao nível do corpo, exibindo oste-ofitos que partem lateralmente do corpo, do lado direito (Fig. 12). A artrose, como é mencionado acima, varia entre as lesões li- geiras e moderadas. As facetas articulares das partes posteriores não estão envolvidas nes-te processo anquilosante, mostrando apenas artrose ligeira.

Identificou-se uma eventual situação de oste-omalacia, uma condição metabólica associada ao défice de vitamina D e que pode provocar alterações ao nível do esqueleto. As diáfises fe- murais do indivíduo da U.E. 149 (20-23 anos) encontram-se exageradamente arqueadas, so-bretudo a esquerda.

A avaliação dos indicadores de stress fisiológi-co incidiu na observação da hiperostose poró-tica, cribra orbitalia e hipoplasias lineares do esmalte dentário. Estas situações são pon-tuais no material analisado, excetuando-se duas mulheres que exibem numerosas hipo-plasias. O indivíduo de 25-30 anos (U.E. 196) tem 18 dentes com hipoplasias lineares, dez deles chegam a possuir mais do que uma linha de paragem do crescimento.

E a mulher com cerca de 20 anos (U.E. 150) evidencia estas linhas horizontais no canino superior esquerdo, no canino inferior direi-to e no incisivo lateral inferior esquerdo. A presença de múltiplas hipoplasias lineares do esmalte dentário, nestas duas mulheres, indicia que estas passaram por graves dese-quilíbrios fisiológicos durante a sua infância, causados por doença e/ou deficiências nutri-tivas.

Por fim, destaca-se uma situação singular, que, apesar de não ser única no registo arqueológico português, é pouco frequente (Fig. 13). Trata-se do esqueleto de um feto (U.E. 159) que foi encontrado ainda na região pélvica da sua progenitora (U.E. 150). Este formava uma massa óssea incaracterística, mas foi possível constatar que a sua cabeça estava voltada para baixo em direcção do púbis. Esta posição é normalmente assumida no último trimestre de gestação (Moffett, Moffett e Schauf, 1993). Portanto, mãe e filho faleceram algum tempo antes do parto ou durante o trabalho de parto.

OS MATERIAIS

O s depósitos registados sob o pavimen to de tijoleira do último patamar do

adro da igreja, interpretados como níveis de aterro relacionados com o terramoto de 1755 ([208], [209] e [228]), estão associados a um conjunto de materiais que incluem fragmen-tos de cerâmica comum e vidrada, faianças, alguns metais. A observação deste espólio, particularmente das faianças e aponta para uma datação do séc. XVII/XVIII, o que vem corroborar a interpretação feita a partir dos

Figura 11

Nódulos de Schmorl no indivíduo da U.E. 1230.

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Figura 12

Possível caso de DISH no indivíduo da U.E. 182.

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vestígios estruturais identificados e o seu cruzamento com a informação recolhida nas fontes escritas. Referimo-nos à alteração nas dimensões do adro efectuada na reconstru-ção após o terramoto, documentada nas fon-tes e ao facto de, efectivamente, se ter obser-vado em campo que o pavimento do último patamar do adro, se encontra assente nestes depósitos de aterro, que, por sua vez, cobrem o pavimento de calçada pré-pombalina. Foram ainda recolhidos, nestes depósitos, alguns fragmentos de porcelana do período Ming, datados do século XVI.

Dentro das cerâmicas comuns, destaca-se um fragmento de bordo de um pote, cuja decoração inclui a incrustação de pequenos quartzos, sendo uma peça que se pode datar do século XVIII.

Nos depósitos associados aos enterramentos, recolheram-se algumas contas, botões de di-ferentes tipologias, dois anéis, um crucifixo, moedas, materiais que, muitas vezes, não se encontravam associados a nenhum enter-ramento em particular. Esta questão está, certamente, directamente relacionada com o grau de desarticulação dos esqueletos ob-servados. De facto, na grande maioria dos enterramentos identificados não se registou qualquer espólio que estivesse claramente associado ao corpo. No entanto, como já foi referido, observaram-se algumas excepções. É o caso do enterramento [1235], junto ao qual, na zona torácica direita, se recolheram algumas pequenas contas que pertenceriam a um terço. E é também o caso dos enterra-mentos [115] (sepultura 1) e [150], junto a cada um dos quais se recolheu uma moeda. Infelizmente, o seu estado de conservação é muito mau, sendo que nenhuma delas permi-tiu qualquer leitura.

Ainda no espaço interior da igreja, associado aos depósitos que constituíam o seu subsolo, recolheram-se, de forma ocasional, fragmen-tos de faiança de muito pequenas dimensões. A datação de produção destes materiais pare-ce situar-se no século XVII / XVIII.

CONCLUSÕES

Os trabalhos realizados no Largo de São Martinho permitiram identificar os ves-

tígios de uma ocupação do período romano, atestada pela presença de um pavimento em opus signinum, associado a um muro, sobre a

qual foi construída uma igreja com o mesmo nome. Este edifício religioso terá sido constru-ído, segundo as fontes (ARAÚJO, 1992; CAS- TILHO, 1937), no século XII, tendo funcio- nado até ao século XIX, altura em que é de- molido. Os vestígios da sua presença neste es- paço ficaram registados ao nível das funda-ções, mantendo-se ainda alguns enterramen-tos no que era o interior do seu edifício, mas também na permanência de parte da sua tor-re, integrada na construção que hoje delimita o Largo de São Martinho, a Norte e Oeste.

Nesta intervenção, foi possível caracterizar, ainda que parcialmente, a última fase da igre- ja. Corresponde a um edifício com uma orien-tação este/oeste, a entrada fazia-se por Oeste, através de um adro de dois patamares largos, pavimentados com tijoleira rectangular dis-posta em espinha, separados por um degrau.

O seu longo período de funcionamento terá, certamente, obrigado a diversas obras, mais ou menos profundas, ao longo do tempo. Nor-berto de Araújo (1992) refere a sua recons-trução, entre 1634 e 1664, e reedificação, por volta de 1760, após o terramoto que a terá deixado muito arruinada.

De facto, no limite este da nossa sondagem 1/2, identificámos a presença de um muro, [198], que se desenvolvia ao longo do que foi, pelo menos, a última parede do limite norte da igreja, [109], sendo parcialmente coberta por esta. Podendo corresponder a uma fase anterior do edifício da igreja, a parede [198] foi desactivada e parcialmente cortada pela abertura de valas de inumação e ossários.

Assim, e embora não se tenham recolhido dados que nos permitam perceber a funcio-nalidade desta parede e/ou a sua relação com o edifício da igreja, bem como da estrutura [1240] a que esta ainda se sobrepunha par-cialmente, é possível que estivessem rela-cionadas com fases de edificação anteriores. Esta falta de elementos prende-se não só com a inexistência de materiais associados que permitissem datar a sua construção, como à própria exiguidade da área intervencionada, que impediu qualquer tipo de percepção do espaço, ao nível de possíveis traçados ante-riores.

Apenas no que diz respeito à última recons-trução, a que foi efectuada após o terramoto de 1755, foi possível confirmar no registo arqueológico as alterações ao espaço referidas

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nas fontes. Segundo a descrição efectuada pelo padre Mariz de Sarmento, relativa aos acontecimentos de 1755, este menciona que, com as obras, a Igreja de São Martinho “[...]Melhorou de figura, por estar patente do que athe agora se via dentro de hu estreito adro, occulto e emzombrado com huas cazas que o Prior comprou e demoliu para a dezafrontar [...]” (ANDRADE, 1949: 151.) De facto, no que se refere ao adro, foi possível verificar que o último patamar corresponde a um es- paço ganho à rua, tendo sido construído so-bre os aterros do terramoto que cobriram a antiga calçada pré-pombalina.

O edifício é representado em alguma carto-grafia da cidade, em diferentes épocas, em-bora nem sempre esta representação corres-ponda exactamente à realidade. É o caso da

carta de Braunio de 1593, onde a igreja apare- ce representada, mas com entrada para Este.

No levantamento da cidade realizado em 1857, sob a direcção de Filipe Folque, a Igreja de São Martinho já não aparece, surgindo em seu lugar um pequeno largo.

No que se refere à utilização da Igreja de São Martinho como local de sepulcro, a pequena área identificada permitiu verificar a exis-tência de uma prática intensiva de enter-

Figura 13

Esqueleto de feto encontrado na região pélvica da sua progenitora

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ramentos neste espaço, o que resultou num elevado grau de desarticulação dos esqueletos observados.

Devido às características muito homogéneas dos depósitos existentes neste espaço e à sua contínua reutilização, não foi viável identifi-car, na maioria dos casos, a vala de inumação. Esta identificação foi possível, apenas, quan-do o corte efectuado abrangia o nível geológi-co, afectava estruturas ou outros esqueletos.

Todos os enterramentos identificados foram depositados em decúbito dorsal, com os mem-bros superiores sobre as regiões torácica ou abdominal, as mãos sobrepostas, e os mem-bros inferiores em extensão; apresentando uma orientação de Sudoeste-Nordeste, con-siderando a cabeça no extremo sudoeste. Na amostra estudada, estão representados ambos os sexos e todas as classes etárias, sugerindo a presença de uma população natural.

No que se refere ao estudo paleobiológico, não foi possível formar conclusões, devido, por um lado, ao carácter preliminar das ob-servações realizadas, em que apenas foram analisadas detalhadamente as inumações pri-márias, e, por outro, às características da própria amostra. Esta apresenta uma fraca representatividade de indivíduos, assim co-mo um elevadíssimo estado de fragmentação e de desintegração óssea.

Quanto a cronologias, não possuímos dados que nos permitam efectuar qualquer associa-ção de um enterramento a um determinado período cronológico. O espólio associado é praticamente inexistente e o que foi registado – botões, contas de rosário, anéis – não permi-te, por enquanto, qualquer datação precisa.

Figura 14

Localização da Igreja de São Martinho na carta de Braunio de 1593 (GOIS, 2002, Apêndice)

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Desenhos AutoCADJosé Pedro Machado.