Historia da Igreja Crista Jesse Lyman Hurlbut

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História da IgrejaHistória da Igreja

CristãCristã

Jesse Lyman Hurlbut

Digitalização: LuisCarlos

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ISBN 85-7367-167-X

Categoria: História

Este livro foi publicado eminglês com o título The Story of the

Christian Church

© 1967 por Zondervan PublishingHouse

© 1979 por Editora Vida

Ia impressão, 1979 8a impressão, 19952a impressão, 1986 9a impressão, 19963a impressão, 1987 10a impressão, 19984a impressão, 1989 11a impressão, 19995a impressão, 1990 12a impressão, 20006a impressão, 1992 13a impressão, 20017a impressão, 1994 14a impressão, 2002

Todos os direitos reservados na línguaportuguesa por Editora Vida, rua Júlio

de Castilhos, 280 03059-000 São Paulo,SP —Telefax: (11) 6096-6814

Capa: Hector Lozano

Impresso no Brasil, na Editora Betânia

PREÂMBULO

Este volume de História da IgrejaCristã é vívida e ardentemente decaráter evangélico. Condensada emcerto número de páginas, a Históriada Igreja Cristã é o luminoso relatoda instituição mais poderosa que tãoabundantemente serviu de bênção paraa humanidade. Este é um livro paraser lido com agrado pelo leitor, e,ao mesmo tempo, um livro-texto paraos estudiosos. Por essa razão deveráter grande aceitação entre osprofessores de Escolas Dominicais, eentre as Sociedades de Jovens.Centenas e centenas de estudantesencontrarão neste volume a matériaideal para o estudo da Bíblia.Oferecerá aos pastores matéria idealpara grande número de temas parareuniões de estudos na igrejadurante os dias da semana, e

proporcionará inspiração para todasas reuniões da mocidade.

Reconhecemos a necessidadequase imperativa de um livro comoeste, na hora presente.

De modo superficial, homens emulheres de sentimentos religiososprocuram obter um conhecimento maiscompleto relacionado com a sua fé ecom os primeiros acontecimentos davida da comunidade cristã, os quais,apesar de desconhecidos eesquecidos, ainda assim afetam demodo vital nossas atuais relaçõesreligiosas e sociais.

Nas páginas deste livroresponde-se sabiamente e de maneiraprática a todas as perguntas que sepossam fazer concernentes à Igrejaem geral e às partes que a formam.Com as perguntas surge também umacorrente emocional de página porpágina, o que torna a leituraagradável.

Daniel A. Poling

PREFÁCIO

Quando se trata de escrever umlivro destinado a apresentar em umnúmero limitado de páginas a histó-ria de uma instituição que existiudurante vinte séculos; que seramificou por todos os continentesda terra; que contou em seu seio comgrandes dirigentes e cujo poderexerceu influência em milhões depessoas, então, o primeiro requisitoé alcançar uma perspectiva correta,isto é, a capacidade de reconhecerquais foram os acontecimentos e osdirigentes de principal importância,a fim de que eles se destaquem nanarrativa, tal qual montanhas nasplanícies, e bem assim para omitirtanto o que se refere a fatos como ahomens de importância secundária,sem considerar-se a aparenteinfluência que eles exerceram naépoca. As controvérsias acerca de

doutrinas de difícil interpretaçãoque tumultuaram sucessivamente aigreja, provocando profundos cismas,parecem ser, em sua maioria,atualmente, de pouca importância.

Neste manual são de interessebásico o espírito que animava aigreja, suas tendências, as causasque conduziram a acontecimentos deimportância histórica, e,finalmente, a projeção etranscendência dessesacontecimentos.

Dois grupos diferentes foramlevados em conta na preparação destevolume, tendo-se em vista adaptá-loaos desejos de ambos. Como livro detexto para estudantes, quer se lhesensine individualmente, quer emclasses, esta obra foi planejadacuidadosamente, de modo que asdivisões e subdivisões se apresentemcom detalhes no início de cadaperíodo geral.

Procuramos fazer uma narraçãouniforme, não interrompida pelotítulo dos temas, a fim de ser lidacomo se fora uma história. O leitorpode seguir as divisões se odesejar, porém não é obrigado afazê-lo. Dessa forma tratamos deapresentar esta obra em estilo amenoe interessante, um livro que sejaexato em suas declarações e que nelese destaquem os acontecimentos demaior evidência e os dirigentes maisilustres.

Jesse Lyman Hulburt

ÍNDICE

CAPÍTULO 1................................................ 15Os Seis Períodos Gerais da História da Igreja. CAPÍTULO 2................................................ 20A Igreja Apostólica, 30-100 a.D.Primeira Parte. Igreja do Período Pentecostal. CAPÍTULO 3................................................ 29A Igreja Apostólica, 30-100 a.D.Segunda Parte. A Expansão da Igreja. CAPÍTULO 4................................................ 38A Igreja Apostólica, 30-100 a.D.Terceira Parte. A Igreja Entre os Gentios. CAPÍTULO 5................................................ 47

A Igreja Apostólica, 30-100 a.D.Quarta Parte. A Era Sombria. CAPÍTULO 6................................................ 57A Igreja Perseguida, 100-313 a.D.Primeira Parte. As Perseguições Imperiais. CAPÍTULO 7................................................ 67A Igreja Perseguida, 100-313 a.D.Segunda Parte. A Formação do Cânon do Novo Testamento.Desenvolvimento da Organização Eclesiástica.Desenvolvimento da Doutrina. CAPÍTULO 8................................................ 74A Igreja Perseguida, 100-313 a.D.Terceira Parte. O Aparecimento de Seitas e Heresias.A Condição da Igreja. CAPÍTULO 9................................................ 84A Igreja Imperial, 313-476 a.D.

Primeira Parte. Vitória do Cristianismo. CAPÍTULO 10.............................................. 93A Igreja Imperial, 313-476 a.D.Segunda Parte. Fundação de Constantinopla.Divisão do Império.Supressão do Paganismo.Controvérsias e Concílios.Nascimento do Monacato. CAPÍTULO 11.............................................. 104A Igreja Imperial, 313-476 a.D.Terceira Parte. Desenvolvimento do Poder na IgrejaRomana.A Queda do Império Romano Ocidental.Dirigentes do Período. CAPÍTULO 12.............................................. 121A Igreja Medieval, 476-1453 a.D.Primeira Parte. Progresso do Poder Papal.

CAPÍTULO 13.............................................. 133A Igreja Medieval, 476-1453 a.D.Segunda Parte. Crescimento do Poder Maometano. CAPÍTULO 14.............................................. 142A Igreja Medieval, 476-1453 a.D.Terceira Parte. O Sacro Império Romano.A Separação das Igrejas Latina e Grega. CAPÍTULO 15.............................................. 149A Igreja Medieval, 476-1453 a.D.Quarta Parte. As Cruzadas. CAPÍTULO 16.............................................. 158A Igreja Medieval, 476-1453 a.D.Quinta Parte. Desenvolvimento da Vida Monástica.Arte e Literatura Medievais. CAPÍTULO 17.............................................. 165A Igreja Medieval, 476-1453 a.D.

Sexta Parte. Início da Reforma Religiosa.A Queda de Constantinopla.Eruditos e Dirigentes. CAPÍTULO 18.............................................. 174A Igreja Reformada, 1453-1648 a.D.Primeira Parte. Influências Anteriores.A Reforma na Alemanha. CAPÍTULO 19.............................................. 182A Igreja Reformada, 1453-1648 a.D.Segunda Parte. A Reforma em Outros Países.Princípios da Reforma. CAPÍTULO 20.............................................. 191A Igreja Reformada, 1453-1648 a.D.Terceira Parte. A Contra-Reforma.Dirigentes do Período. CAPÍTULO 21.............................................. 203A Igreja Moderna, 1648-1970 a.D.Primeira Parte. O Movimento Puritano.

O Avivamento Wesleyano.O Movimento Racionalista.O Movimento Anglo-católico. CAPÍTULO 22.............................................. 211Segunda Parte. O Movimento Missionário Moderno.Dirigentes do Período.A Igreja no Século Vinte. CAPÍTULO 23..............................................226As Igrejas Cristãs nos Estados Unidos.Primeira Parte. CAPÍTULO 24.............................................. 241As Igrejas Cristãs nos Estados Unidos.Segunda Parte. CAPÍTULO 25.............................................. 255As Igrejas no Canadá. CAPÍTULO 26.............................................. 259O Evangelho na América Latina.

CAPÍTULO 27..............................................278Origem e Desenvolvimento das Assembleias deDeus. CAPÍTULO 28.............................................. 293O Movimento Pentecostal no Brasil e em Portugal. APÊNDICE................................................. 299Perguntas para revisão.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS 1 -5

I. A IGREJA APOSTÓLICA.Desde a Ascensão de Cristo, 30 a.D. Atéà Morte de João, 100 a.D.

II. A IGREJA PERSEGUIDA: Desde a Morte de João, 100 a.D. Até ao Edito de Constantino, 313 a.D.

III. Desde o Edito de Constantino, 313 a.D. Até à Queda de Roma, 476 a.D.

IV. A IGREJA MEDIEVAL. Desde a Queda de Roma, 476 a.D.Até à Queda de Constantinopla, 1453 a.D.

V. A IGREJA REFORMADA.Desde a Queda de Constantinopla, 1653 a.D. Até ao Fim da Guerra dos Trinta Anos, 1648 a.D.

VI. A IGREJA MODERNA.Desde o Fim da Guerra dos Trinta anos, 1648 a.D. Atéao Século Vinte, 1970 a.D.

O PRIMEIRO PERÍODO GERAL

— A IGREJA APOSTÓLICA. Desde a Ascensão de Cristo, 30 a.D. Até à Morte de João, 100 a.D.

/. IGREJA PENTECOSTAL (Capítulo 2).

Desde a Ascensão de Cristo, 30 a.D. Atéà Pregação de Estêvão, 35 a.D.1. Definição da Igreja.2. Seu Início: O Dia de Pentecoste, 30 a.D.3. Seu Revestimento: O Espírito Santo.(a) Iluminou.(b) Revigorou.(c) Morou Internamente.4. Localização: A Cidade de Jerusalém.5. Seus Membros:(a) Hebreus.(b) Judeus, Gregos ou Helenistas.(c) Prosélitos.6. Seus dirigentes: Pedro e João.7. Seu Governo: Os Doze Apóstolos.8. Suas Doutrinas.(a) O Caráter Messiânico de Jesus.(b) A Ressurreição de Jesus.(c) A Volta de Jesus.9. Seu Testemunho Evangélico.10. Seus Milagres.

11. Seu Espírito de Fraternidade. "Comunhão de Bens."(a) Voluntário.(b) Pequena Comunidade.(c) Pessoas Escolhidas.(d) Esperavam a Volta de Cristo.(e) Fracasso Financeiro.(f) Produziu Males de Ordem Moral.12. O único Defeito da Igreja Pentecostal: Falta de Zelo Missionário.

//. A EXPANSÃO DA IGREJA (Capítulo 3). Desde a pregação de Estêvão, 35 a.D. Até ao Concílio de Jerusalém, 48 a.D.1. A Pregação de Estêvão.2. A Perseguição Realizada por Saulo.3. Filipe em Samaria.4. Pedro em Jope e Cesaréia.(4) O Domingo da Ressurreição(d) Seus Funcionários:(1) Apóstolos.(2) Anciãos ou Bispos.(3) Diáconos.(e) A Adoração.(f) Estado Espiritual.

1OS SEIS PERÍODOS GERAIS DA

HISTÓRIA DA IGREJA

Antes de nos adentrarmos noestudo minucioso dos dezenoveséculos em que a igreja de Cristotem estado em atividade, situemo-nosmentalmente sobre o monte da visão,e contemplemos toda a paisagem, todoo campo que, passo a passo, teremosde percorrer.

De nosso ponto de observação,neste assombroso século vinte,lançando o olhar para o passado,veremos elevarem-se aqui e ali,sobre as planícies do tempo, quaissucessivos montes, os grandesacontecimentos da História Cristã,os quais servem como pontos divisó-rios, e cada um deles assinala otérmino de uma época e o início de

outra. Considerando cada um dessespontos decisivos, seis ao todo,veremos que eles indicam os seisgrandes períodos da História daIgreja. No primeiro capítulo faremosum exame geral desses períodos.

O topo culminante que assinalao ponto de partida da igreja deCristo é o Monte das Oliveiras, nãomuito distante do muro oriental deJerusalém. Ali, cerca do ano 30 a.D.Jesus Cristo, que havia ressurgidodentre os mortos, ministrou seusúltimos ensinamentos aos discípulose logo depois ascendeu ao céu, aotrono celestial.

Um pequeno grupo de judeuscrentes no seu Senhor, elevado comoMessias-Rei de Israel, esperou algumtempo em Jerusalém, sem considerar,inicialmente, a existência de umaigreja fora dos limites do Judaísmo.Contudo, alargaram gradualmente seusconceitos e ministério, até que suavisão alcançou o mundo inteiro, para

ser levado aos pés de Cristo. Sob adireção de Pedro, Paulo e seussucessores imediatos, a igreja foiestabelecida no espaço de tempo deduas gerações, em quase todos ospaíses, desde o Eufrates até aoTibre, desde o Mar Negro até aoNilo. O primeiro período terminoucom a morte de João, o último dosdoze apóstolos, que ocorreu,conforme se crê, cerca do ano 100(a.D). Consideremos, pois, essaépoca — "O Período da EraApostólica".

Durante o período que se seguiuà Era Apostólica, e que durou maisde duzentos anos, a igreja estevesob a espada da perseguição.Portanto, durante todo o segundoséculo, todo o terceiro e parte doquarto, o império mais poderoso daterra exerceu todo o seu poder einfluência para destruir aquilo aque chamavam "superstição cristã".Durante sete gerações, um nobre

exército de centenas de milhares demártires conquistou a coroa sob osrigores da espada, das feras naarena e nas ardentes fogueiras.Contudo, em meio à incessanteperseguição, os seguidores de Cristoaumentaram em número, até alcançarquase metade do Império Romano.Finalmente, um imperador cristãosubiu ao trono e por meio de umdecreto conteve a onda de mortes.

Evidentemente, os cristãos quedurante tanto tempo estiveramoprimidos, de forma rápida einesperada, por assim dizer,passaram da prisão para o trono. Aigreja perseguida passou a ser aigreja imperial. A Cruz tomou olugar da águia como símbolo dabandeira da nação e o Cristianismoconverteu-se em religião do ImpérioRomano. Uma capital cristã,Constantinopla, ergueu-se e ocupou olugar de Roma. Contudo, Roma, aoaceitar o Cristianismo, começou a

ganhar prestígio como capital daigreja. O Império Romano Ocidentalfoi derrotado pelas hordas debárbaros, porém estes foramconquistados pela igreja, e fundaramna Europa nações cristãs, em lugarde nações pagãs.

Com a queda do Império RomanoOcidental, iniciou-se o período demil anos, conhecido como IdadeMédia. No início, a Europa era umcaos, um continente de tribos semgoverno e sem leis de nenhum podercentral. Mas, gradativamente, foram-se organizando em reinos. Naquelaépoca, o bispo de Roma esforçava-senão só para dominar a igreja, mastambém para dominar o mundo. Areligião e o império de Maoméconquistavam todos os países doCristianismo primitivo. Encontramos,então, o Sacro Império Romano e seusinimigos. Observamos, também, omovimento romântico das Cruzadas novão esforço para conquistar a Terra

Santa que estava em poder dosmuçulmanos. A Europa despertava coma promessa de uma próxima reforma,na nova era. Assim como a HistóriaAntiga termina com a queda de Roma,a História Medieval termina com aqueda de Constantinopla.

Depois do século quinze, aEuropa despertou; o século dezesseistrouxe a Reforma da igreja.Encontramos Martinho Lutero afixandosuas teses na porta da catedral deWittemberg. Para defender-se,compareceu ante o imperador e osnobres da Alemanha, e quebrou osgrilhões das consciências doshomens. Nessa época, vemos a igrejade Roma dividida. Os povos da Europasetentrional fundaram suas própriasigrejas nacionais, de caráter maispuro. Encontramos, também, ematividade a Contra-Reforma, iniciadanos países católicos, para conter oprogresso da Reforma. Finalmente,após uma guerra que durou trinta

anos, fez-se um tratado de paz emWestfália, em 1648, traçando-seentão linhas permanentes entre asnações católico-romanas e as naçõesprotestantes.

Estudaremos, adiante, ainda querapidamente, os grandes movimentosque abalaram as igrejas e o povo nosúltimos três séculos, na Inglaterra,na Europa e na América do Norte.Mencionaremos os movimentos Pu-ritano, Wesleyano, Racionalista,anglo-católico e os movimentosmissionários atuais que contribuírampara edificação da igreja de nossosdias e que edificaram, não obstantesuas variadas formas e nomes, umaigreja em todo o mundo.

Notaremos, também, a grandemudança que gradualmente transformouo Cristianismo nos séculos dezenovee vinte em uma poderosa organizaçãonão só para glória de Deus, mastambém para servir aos homens pormeio de reformas, de elevação

social, enfim, de uma série deesforços ativos para melhorar ascondições da humanidade.

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A IGREJA DO PERÍODOPENTECOSTAL

Desde a Ascensão de Cristo, 30 d.C. até à Pregação de Estêvão, 35 d.C.

A igreja cristã em todas asépocas, quer na passada, presente oufutura, é formada por todos aquelesque crêem em Jesus de Nazaré, oFilho de Deus. No ato de crer estáimplícita a aceitação de Cristo porseu Salvador pessoal, para obedecer-lhe como a Cristo, o Príncipe doreino de Deus sobre a terra.

A igreja de Cristo iniciou suahistória com um movimento de carátermundial, no Dia de Pentecoste, nofim da primavera do ano 30,cinquenta dias após a ressurreição

do Senhor Jesus, e dez dias depoisde sua ascensão ao céu.

Durante o tempo em que Jesusexerceu seu ministério, osdiscípulos criam que Jesus era oalmejado Messias de Israel, oCristo. Ora, Messias e Cristo sãopalavras idênticas. Messias épalavra hebraica e Cristo é palavragrega. Ambas significam "O Ungido",o "Príncipe do Reino Celestial".Apesar de Jesus haver aceito essetítulo de seus seguidores maischegados, proibiu-lhes, contudo,proclamarem essa verdade entre opovo, antes que ele ressuscitasse deentre os mortos, e nos quarenta diasque precederam sua ascensão, isto é,até quando lhes ordenou pregassem oEvangelho. Mas deviam esperar obatismo do Espírito Santo, paraentão serem testemunhas em todo omundo.

Na manhã do Dia de Pentecoste,enquanto os seguidores de Jesus,

cento e vinte ao todo, estavamreunidos, orando, o Espírito Santoveio sobre eles de formamaravilhosa. Tão real foi aquelamanifestação, que foram vistasdescer do alto, como que línguas defogo, as quais pousaram sobre acabeça de cada um. O efeito desseacontecimento foi tríplice: a)Iluminou as mentes dos discípulos,dando-lhes um novo conceito do reinode Deus. b) Compreenderam que essereino não era um império políticomas um reino espiritual, na pessoade Jesus ressuscitado, que governavade modo invisível a todos aquelesque o aceitavam pela fé. c) Aquelamanifestação revigorou a todos,repartindo com eles o fervor doEspírito, e o poder de expressão quefazia de cada testemunho um motivode convicção naqueles que os ouviam.

O Espírito Santo, desde então,ficou morando permanentemente naigreja, não em sua organização ou

mecanismo, mas como possessãoindividual e pessoal do verdadeirocristão. Desde o derramamento doEspírito Santo, naquele dia, acomunidade daqueles primeiros anosfoi chamada com muita propriedade,"Igreja Pentecostal".

A igreja teve seu início nacidade de Jerusalém.

Evidentemente, nos primeirosanos de sua história, as atividadesda igreja limitaram-se àquela cidadee arredores. Em todo o país,especialmente na província se-tentrional da Galiléia, havia gruposde pessoas que criam em Jesus como oRei-Messias, porém não chegaram aténós dados ou informações de nenhumanatureza que indiquem a organização,nem o reconhecimento de tais gruposcomo igreja. As sedes gerais daigreja daquela época eram oCenáculo, no Monte de Sião, e oPórtico de Salomão, no Templo.

Todos os membros da IgrejaPentecostal eram judeus. Tantoquanto podemos perceber, nenhum dosseus membros, bem como nenhum dosintegrantes da companhia apostólica,a princípio, podia crer que osgentios fossem admitidos comomembros da igreja. Quando muitoadmitiam que o mundo gentio setornaria judeu, para depois aceitara Cristo. Os judeus da épocadividiam-se em três classes, e astrês estavam representadas na igrejade Jerusalém. Os hebreus eramaqueles cujos antepassados haviamhabitado a Palestina durante váriasgerações; eram eles a verdadeiraraça israelita. Seu idioma erachamado "língua hebraica", a qual,no decorrer dos séculos, haviamudado de hebraico clássico doAntigo Testamento para o dialeto quese chamava aramaico ou siro-caldaico. As Escrituras eram lidasnas sinagogas em hebreu antigo,porém eram traduzidas por um

intérprete, frase por frase, emlinguagem popular. Os judeus gregosou helenistas eram descendentes dosjudeus da dispersão, isto é, judeuscujo lar ou cujos antepassadosestavam em terras estrangeiras.Muitos desses judeus haviam-seestabelecido em Jerusalém ou naJudéia e haviam formado sinagogaspara atender a suas váriasnacionalidades.

Depois da conquista do Orientepor Alexandre o Grande, o gregochegou a ser o idioma predominanteem todos os países a este do MarAdriático e até mesmo em Roma e portoda a Itália. Por essa razão osjudeus de ascendência estrangeiraeram chamados "gregos" ou"helenistas" apesar de a palavra"heleno" referir-se a grego. Osjudeus-helenistas, como povo, forada Palestina, eram o ramo da raçajudaica mais numerosa, mais rica,mais inteligente e mais liberal.

Os prosélitos eram pessoas nãodescendentes de judeus, as quaisrenunciavam ao paganismo, aceitavama lei judaica e passavam a pertencerà igreja judaica, recebendo o ritoda circuncisão. Apesar de serem umaminoria entre os judeus, osprosélitos eram encontrados emmuitas sinagogas em todas as cidadesdo Império Romano e gozavam de todosos privilégios do povo judeu. Osprosélitos não devem ser confundidoscom "os devotos" ou "tementes aDeus"; estes eram gentios, quedeixaram de adorar os ídolos efrequentavam as sinagogas, porém nãoparticipavam da circuncisão, nem sepropunham observar as minuciosasexigências das leis judaicas. Poressa razão não eram consideradosjudeus, apesar de se mostraremamigos deles.

A leitura dos primeiros seiscapítulos do livro dos Atos dosApóstolos dá a entender que durante

esse período o apóstolo Simão Pedroera o dirigente da igreja. Em todasas ocasiões era Pedro quem tomava ainiciativa de pregar, de operarmilagres e de defender a igreja queentão nascia. Isso não significa quePedro fosse papa ou dirigenteoficial nomeado por Deus. Tudoacontecia como resultado daprontidão de Pedro em decidir, desua facilidade de expressão e de seuespírito diretivo. Ao lado de Pedro,o homem prático, encontramos João, ohomem contemplativo e espiritual,que raramente falava, porém tido emgrande estima pelos crentes.

Em uma igreja comparativamentepequena em número, todos da mesmaraça, todos obedientes à vontade doSenhor, todos na comunhão doEspírito de Deus, pouco governohumano era necessário. Esse governoera administrado pelos doze, osquais atuavam como um só corpo,sendo Pedro apenas o porta-voz. Uma

frase que se lê em Atos 5:13 indicao alto conceito em que eram tidos osapóstolos, tanto pelos crentes comopelo povo.

No início, a teologia oucrenças da igreja eram simples. Adoutrina sistemática foidesenvolvida mais tarde por meio dePaulo. Entretanto, podemos encontrarnos sermões de Pedro três pontosdoutrinários consideradosessenciais. O primeiro ponto, omaior, era o caráter messiânico deJesus, isto é, que Jesus de Nazaréera o Messias, o Cristo durantetanto tempo esperado por Israel, eque agora reinava no reino invisíveldo céu, e ao qual todos os membrosda igreja deviam demonstrar lealdadepessoal, reverência e obediência.Outra doutrina essencial era aressurreição de Jesus. Em outraspalavras, que Jesus foracrucificado, ressuscitado dos mortose agora estava vivo, como cabeça da

igreja, para nunca mais morrer. Aterceira das doutrinas cardiais,contidas nos discursos de Pedro, eraa segunda vinda de Jesus. Isto é, omesmo Jesus que foi elevado ao céu,no tempo determinado voltaria àterra, para reinar com sua igreja.Apesar de Jesus haver declarado aosdiscípulos que nenhum homem nem anjoalgum sabia quando se daria a suavinda, era geral a expectação de quea vinda de Cristo poderia ocorrer aqualquer momento, naquela geração.

A arma usada pela igreja,através da qual havia de levar omundo aos pés de Cristo, era otestemunho de seus membros. Dado quetemos registrados vários discursosou pregações de Pedro, e nenhum dosoutros discípulos, nesse período,pode-se pensar que Pedro era o únicopregador. Contudo, a leituracuidadosa da História demonstra quetodos os apóstolos e toda a igrejadavam testemunho do Evangelho.

Quando a igreja possuía cento evinte membros, o Espírito desceusobre eles e todos se transformaramem pregadores da Palavra. Enquanto onúmero de membros aumentava, au-mentavam as testemunhas, pois cadamembro era um mensageiro de Cristo,sem que houvesse distinção entreclérigos e leigos. No fim desseperíodo, encontramos Estêvãoelevando-se a tal eminência comopregador, que os próprios apóstolosficam ofuscados. Esse testemunhouniversal foi uma influênciapoderosa no crescimento rápido daigreja.

Inicialmente, o grandiosoesforço desse punhado de homens devisão necessitava de auxíliosobrenatural, uma vez que sepropunha, sem armas materiais nemprestígio social, transformar umanação, tendo de enfrentar também ospoderes da igreja nacional e doEstado. Esse auxílio sobrenatural

manifestou-se na forma de operaçãode maravilhas. Os milagresapostólicos foram considerados como"os sinos que chamam o povo àadoração". Lemos no livro dos Atosdos Apóstolos sobre a cura do coxoque estava à porta Formosa. Essemilagre atraiu a multidão para ouvira Pedro e aceitar a Cristo. Logodepois está descrita a morte deAnanias e Safira, ao seremrepreendidos por Pedro por causa doegoísmo e da falsidade. Essejulgamento da parte de Deus foi umaadvertência a quantos tiveramconhecimento dos fatos. A essesmilagres seguiram-se outros queincluíam cura de enfermidades.Contudo, esse poder não estavalimitado a Pedro nem aos apóstolos.Está escrito que "prodígios emilagres" eram realizados porEstêvão. Essas obras poderosasatraíam a atenção "do povo,motivavam investigação e abriam os

corações das multidões, parareceberam a fé em Cristo.

O amor de Cristo ardia nocoração daqueles homens e osconstrangia a mostrarem esse amorpara com seus condiscípulos, a viverem unidade de espírito, em gozo ecomunhão, e, especialmente, ademonstrar interesse e abnegaçãopelos membros da igreja quenecessitavam de socorros materiais.Lemos no livro dos Atos dosApóstolos que os mais ricos davamsuas propriedades, de forma tãoliberal, que leva a sugerir osocialismo radical na comunhão debens.

No entanto, é bom notar, quequanto a esse aspecto da IgrejaPentecostal, tudo era feitovoluntariamente, ninguém eracompelido pela lei ou pela exigênciados pobres em tomar as propriedadesdos ricos. Os ricos davamvoluntariamente. Deve considerar-se

ainda que: foi uma experiência emuma pequena comunidade onde todosestavam juntos; naquela comunidadeselecionada todos estavam cheios doEspírito Santo, aspirando, todoseles, em seu caráter, a executar osprincípios do Sermão do Monte; aexperiência surgiu com a expectativada iminente volta de Jesus, quandoentão os bens terrenos não maisseriam necessários; como experiênciafinanceira foi um fracasso, e logoabandonada, pois a igreja emJerusalém ficou tão pobre, quedurante uma geração se recolhiamofertas nas outras igrejas paraajudá-la; o sistema provocou seuspróprios males morais, poisdespertou o egoísmo de Ananias eSafira. Na verdade, enquanto estamossobre a terra somos influenciadospelo interesse próprio e pelanecessidade. O espírito dessa dádivaliberal é digno de elogios, porém oplano, ao que tudo indica, não foimuito acertado.

De modo geral, a IgrejaPentecostal não tinha faltas. Erapoderosa na fé e no testemunho, puraem seu caráter, e abundante no amor.Entretanto, o seu singular defeitoera a falta de zelo missionário.Permaneceu em seu território, quandodevia ter saído para outras terras eoutros povos. Foi necessário osurgimento da severa perseguição,para que se decidisse a ir a outrasnações a desempenhar sua missãomundial. E assim aconteceu maistarde.

3A EXPANSÃO DA IGREJA

Desde a Pregação de Estêvão, 35 a.D. Até aoConcílio de Jerusalém, 50 a.D.

Entramos agora em uma época dahistória da igreja cristã, que,apesar de curta — apenas quinze anos— é de alta significação. Nessaépoca decidiu-se a importantíssimaquestão: se o Cristianismo deviacontinuar como uma obscura seitajudaica, ou se devia transformar-seem igreja cujas portas permanecessempara sempre abertas a todo o mundo.Quando se iniciou este período, aproclamação do evangelho estavalimitada à cidade de Jerusalém e àsaldeias próximas; os membros daigreja eram todos israelitas pornascimento ou por adoção. Quandoterminou, a igreja já se havia

estabelecido na Síria, na Ásia Menore havia alcançado a Europa. Alémdisso, os membros da igreja agoranão eram exclusivamente judeus; emalguns casos predominavam osgentios. O idioma usado nasassembléias na Palestina era ohebraico ou aramaico, porém, emoutras regiões bem mais povoadas oidioma usado era o grego. Estudemosas épocas sucessivas desse movimentoem expansão.

Na igreja de Jerusalém surgiuuma queixa contra o critério adotadona distribuição de auxílios aospobres, pois as famílias dos judeus-gregos ou helenistas eramprejudicadas. Os apóstolosconvocaram a igreja e propuseram aescolha de uma comissão de setehomens para cuidarem dos assuntos deordem material. Esse plano foiadotado, e os sete foram escolhidos,figurando em primeiro lugar o nomede Estêvão, "homem cheio de fé e do

Espírito Santo". Apesar de haversido escolhido para um trabalhosecular, bem depressa atraiu asatenções de todos para o seutrabalho de pregador. Da acusaçãolevantada contra ele, quando foipreso pelas autoridades judaicas, eda sua mensagem de defesa, éevidente que Estêvão proclamou aJesus Cristo como Salvador, nãosomente para os judeus, mas tambémpara os gentios. Parece que Estêvãofoi o primeiro membro da igreja ater a visão do evangelho para omundo inteiro, e esse ideal levou-oao martírio.

Entre aqueles que ouviram adefesa de Estêvão, e que seencolerizaram com suas palavrassinceras, mas incompatíveis com amentalidade judaica daqueles dias,estava um jovem de Tarso, cidade dascostas da Ásia Menor, chamado Saulo.Esse jovem havia sido educado sob aorientação do famoso Gamaliel,

conhecido e respeitado intérprete dalei judaica. Saulo participou doapedrejamento de Estêvão, e logo aseguir fez-se chefe de terrível eobstinada perseguição contra osdiscípulos de Cristo, prendendo eaçoitando homens e mulheres. Aigreja em Jerusalém dissolveu-senessa ocasião, e seus membrosdispersaram-se por vários lugares.Entretanto, onde quer que chegassem,a Samaria ou a Damasco, ou mesmo alongínqua Antioquia da Síria, elesse constituíam em pregadores doevangelho e estabeleciam igrejas.Dessa forma o ódio feroz de Sauloera um fator favorável à propagaçãodo evangelho e da igreja.

Na lista dos sete nomesescolhidos para administrarem osbens da igreja, além de Estêvão,encontramos também Filipe, um dosdoze apóstolos. Depois da morte deEstêvão, Filipe refugiou-se entre ossamaritanos, um povo misto, que não

era judeu nem gentio, e por issomesmo desprezado pelos judeus. Ofato significativo de Filipe começara pregar o evangelho aos samaritanosdemonstra que ele se havia libertadodo preconceito dos judeus. Filipeestabeleceu uma igreja em Samaria, aqual foi reconhecida pelos apóstolosPedro e João. Foi essa a primeiraigreja estabelecida fora doscírculosjudaicos; contudo não eraexatamente uma igreja composta demembros genuinamente gentios. Maistarde encontramos Filipe a pregar ea estabelecer igrejas nas cidadescosteiras de Gaza, Jope e Cesaréia.Essas eram consideradas cidadesgentias, porém todas possuíam densapopulação judaica. Nessas cidades,forçosamente, o evangelho teria deentrar em contato com o mundo pagão.

Em uma de suas viagensrelacionadas com a inspeção daigreja, Pedro chegou a Jope, cidadesituada no litoral. Ali, Tabita ou

Dorcas foi ressuscitada. Nessa ci-dade Pedro permaneceu algum tempo emcompanhia do outro Simão, ocurtidor. O fato de Pedro, sendojudeu, permanecer em companhia de umcurtidor significa que Pedro selibertara das restritas regras doscostumes judeus, pois todos os quetinham o ofício de curtidor eramconsiderados "imundos" pela leicerimonial. Foi em Jope que Pedroteve a visão do que parecia ser umgrande lençol que descia, no qualhavia de todos os animais, e foi-lhedirigida uma voz que dizia: "Nãofaças tu imundo ao que Deuspurificou." Nessa ocasião chegaram aJope mensageiros vindos de Cesaréia,que fica cerca de quarenta e oitoquilômetros ao norte, e pediram aPedro que fosse instruir a Cornélio,um oficial romano temente a Deus.

Pedro foi a Cesaréia sob adireção do Espírito, pregou oevangelho a Cornélio e aos que

estavam em sua casa, e os recebeu naigreja mediante o batismo. OEspírito de Deus sendo derramadocomo no dia de Pentecoste,testificou sua aprovação divina.Dessa forma foi divinamentesancionada a pregação do evangelhoaos gentios e sua aceitação naigreja.

Nessa época, possivelmente umpouco antes de Pedro haver visitadoCesaréia, Saulo, o perseguidor, foisurpreendido no caminho de Damascopor uma visão de Jesus ressuscitado.Saulo, que fora o mais temidoperseguidor do evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso defensor.Sua oposição fora dirigidaespecialmente contra a doutrina queeliminava a barreira entre judeus egentios. Entretanto, quando seconverteu, Saulo adotouimediatamente os mesmos conceitos deEstêvão, e tornou-se ainda maior queEstêvão, na ação de fazer prosperar

o movimento de uma igreja universal,cujas portas estivessem abertas atodos os homens, quer fossem judeus,quer fossem gentios. Em toda ahistória do Cristianismo, nenhumaconversão a Cristo trouxe resultadostão importantes e fecundos para omundo inteiro como a conversão deSaulo, o perseguidor, e mais tarde.oapóstolo Paulo.

Na perseguição iniciada com amorte de Estêvão, a igreja emJerusalém dispersou-se por todaparte. Alguns de seus membrosfugiram para Damasco; outros forampara Antioquia da Síria, distantecerca de 480 quilômetros. EmAntioquia os fugitivos frequentavamas sinagogas judaicas e davam seutestemunho de Jesus, como sendo oMessias. Em todas as sinagogas haviaum local separado para os adoradoresgentios; muitos destes ouviram oevangelho em Antioquia e aceitaram afé em Cristo. Dessa forma floresceu

uma igreja em Antioquia, na qualjudeus e gentios adoravam juntamentee desfrutavam o mesmo privilégio.Quando as notícias desses fatoschegaram a Jerusalém, a igreja ficoualarmada e enviou um representantepara examinar as relações dos judeuscom os gentios.

Felizmente, e para o bem detodos, a escolha do representanterecaiu sobre Barnabé, homem deidéias liberais, coração grande egeneroso. Barnabé foi a Antioquia,observou as condições, e, em lugarde condenar a igreja local por sualiberalidade, alegrou-se com essacircunstância, endossou a atitudedos crentes dali e permaneceu emAntioquia a fim de participardaquele movimento. AnteriormenteBarnabé havia manifestado suaconfiança em Saulo. Desta vezBarnabé viajou para Tarso, cerca de160 quilómetros de distância, trouxeconsigo para Antioquia a Paulo, e

fê-lo seu companheiro na obra doevangelho. A igreja em Antioquia,com esses reforços, elevou-se a talproeminência, que ali, pela primeiravez, os seguidores de Cristo foramchamados "cristãos", nome dado nãopelos judeus mas pelos gregos, esomente três vezes mencionado noNovo Testamento. Os discípulos deAntioquia enviaram auxílio aoscrentes pobres da Judéia, no tempoda fome, e seus dirigentes foramfiguras eminentes da igrejaprimitiva.

Até então, os membros gentiosda igreja eram somente aqueles queespontaneamente a procuravam. Daí emdiante, sob a direção do EspíritoSanto e de acordo com os anciãos, osdois dirigentes de maior destaque naigreja de Antioquia foram enviadosem missão evangelizadora a outrasterras, pregando tanto para judeuscomo para gentios. Na história daprimeira viagem missionária notamos

certas características que se tor-naram típicas em todas as viagensposteriores de Paulo. Essa viagemfoi realizada por dois obreiros.Inicialmente menciona-se "Barnabé eSaulo", depois "Paulo e Barnabé", efinalmente, Paulo e seuscompanheiros, apontando Paulo comolíder espiritual.

Em relação à mudança do nome deSaulo pode-se explicar da seguinteforma: Era comum naqueles dias umjudeu usar dois nomes; um entre osisraelitas e outro entre os gentios.Os dois missionários levaram comoauxiliar um homem mais jovem chamadoJoão Marcos, o qual os abandonou emmeio à viagem. Eles escolheram comoprincipal campo de trabalho asgrandes cidades, visitando Salaminae Pafos, na Ilha de Chipre; Antio-quia e Icônio, na Pisídia; Listra eDerbe, na Licaônia.

Sempre que lhes era possível,iniciavam o trabalho de

evangelização pregando nassinagogas, pois nelas todos osjudeus tinham o direito de falar;tratando-se de um mestre reputadocomo era Paulo, que havia cursado afamosa escola de Gamaliel, erasempre bem recebido. Além disso, pormeio das sinagogas, não sóanunciavam o evangelho aos judeustementes a Deus mas também aosgentios, igualmente religiosos. EmDerbe, a última cidade visitada,estavam bem próximos de Antioquia,onde haviam iniciado a viagem. Emlugar de passarem pelas Portas daCilicia e regressarem a Antioquia,tomaram a direção oeste e voltarampelo caminho que haviam percorrido,visitando novamente as igrejas quehaviam fundado em sua primeiraviagem e nomeando anciãos, de acordocom o costume usado nas sinagogas.Em todas as viagens que o apóstoloPaulo fez mais tarde, o mesmo métodode trabalho foi posto em prática.

Em todas as sociedades oucomunidades organizadas, há sempreduas classes de pessoas: osconservadores, olhando para opassado; e os progressistas, olhandopara o futuro. Assim aconteceunaqueles dias. Os elementosultrajudeus da igreja sustentavamque não podia haver salvação fora deIsrael. Por essa razão, diziam,todos os discípulos gentios deviamser circuncidados e observar a leijudaica.

Entretanto os mestresprogressistas, encabeçados por Pauloe Barnabé, declaravam que oevangelho era para os judeus e paraos gentios, sobre a mesma base da féem Cristo, sem levar em conta asleis judaicas. Entre esses doisgrupos surgiu então uma controvérsiaque ameaçou dividir a igreja.Finalmente, realizou-se um concílioem Jerusalém para resolver oproblema das condições dos membros

gentios e estabelecer regras para aigreja no futuro. Convém registrarque nesse concílio estiveramrepresentados não somente os após-tolos, mas também os anciãos e "todaa igreja". Paulo e Barnabé, Pedro eTiago, irmão do Senhor, participaramdos debates. Chegou-se, então, aesta conclusão: a lei alcançavasomente os judeus e não os gentioscrentes em Cristo. Com essaresolução completou-se o período detransição de uma igreja cristãjudaica para uma igreja de todas asraças e nações. O evangelho podia,agora, avançar em sua constanteexpansão.

4A IGREJA ENTRE OS GENTIOS

Desde o Concílio de Jerusalém, 50 a.D. Até aoMartírio de Paulo, 68 a.D.

Por decisão do concíliorealizado em Jerusalém, a igrejaficou com liberdade para iniciar umaobra de maior vulto, destinada alevar todas as pessoas, de todas asraças, e de todas as nações para oreino de Jesus Cristo. Supunha-seque os judeus, membros da igreja,continuassem observando a leijudaica, muito embora as regrasfossem interpretadas de forma amplapor alguns dirigentes como Paulo.Contudo, os gentios podiam pertencerà igreja cristã, mediante a fé emCristo e uma vida reta, semsubmeterem-se às exigências da lei.

Para tomarmos conhecimento doque ocorreu durante os vinte anosseguintes ao concílio de Jerusalém,dependemos do livro dos Atos dosApóstolos, das epístolas do apóstoloPaulo, e talvez do primeiroversículo da Primeira Epístola dePedro, que possivelmente se refere apaíses talvez visitados por ele. Aestas fontes de informações pode-sejuntar algumas tradições do períodoimediato à era apostólica, queparecem ser autênticas. O campo deatividades da igreja alcançava todoo Império Romano, que incluía todasas províncias nas margens do MarMediterrâneo e alguns países além desuas fronteiras especialmente aleste. Nessa época o número demembros de origem gentia continuavaa crescer dentro da comunidade,enquanto o de judeus diminuía. Àmedida que o evangelho ganhavaadeptos no mundo pagão, os judeus seafastavam dele e crescia cada vezmais o seu ódio contra o

Cristianismo. Em quase todos oslugares onde se manifestaramperseguições contra os cristãos,nesse período, elas eram instigadaspelos judeus.

Durante aqueles anos, trêsdirigentes se destacaram na igreja.O mais conhecido foi Paulo, oviajante incansável, o obreiroindômito, o fundador de igrejas e oeminente teólogo. Depois de Paulo,aparece Pedro cujo nome apenasconsta dos registros, porém foireconhecido por Paulo como uma das"colunas". A tradição diz que Pedroesteve algum tempo em Roma, dirigiua igreja nessa cidade, e, por fim,morreu como mártir no ano 67. Oterceiro dos grandes nomes dessaépoca foi Tiago, um irmão mais moçodo Senhor, e dirigente da igreja deJerusalém. Tiago era fielconservador dos costumes judaicos.Era reconhecido como dirigente dosjudeus cristãos; todavia não se

opunha a que o evangelho fossepregado aos gentios. A epístola deTiago foi escrita por ele. Tiago foimorto no Templo, cerca do ano 62.Assim, todos os três líderes desseperíodo, entre muitos outros menosproeminentes perderam suas vidascomo mártires da fé que abraçaram. Oregistro desse período, conforme seencontra nos 13 últimos capítulos deAtos, refere-se somente àsatividades do apóstolo Paulo.Entretanto, nesse período outrosmissionários devem ter estado ematividade, pois logo após o fimdessa época mencionam-se nomes deigrejas que Paulo jamais visitou. Aprimeira viagem de Paulo através dealgumas províncias da Ásia Menor jáfoi mencionada em capítulo anterior.Depois do concílio de JerusalémPaulo empreendeu a segunda viagemmissionária. Tendo por companheiroSilas ou Silvano, deixou Antioquiada Síria e visitou, pela terceiravez, as igrejas do continente,

estabelecidas na primeira viagem.Foi até às costas do Mar Egeu, aTrôade, antiga cidade de Tróia, eembarcou para a Europa, levando,assim, o evangelho a essecontinente. Paulo e Silasestabeleceram igrejas em Filipos,Tessalônica e Beréia, na provínciade Macedônia. Fundaram um pequenonúcleo na culta cidade de Atenas eestabeleceram forte congregação emCorinto, a metrópole comercial daGrécia. Da cidade de Corinto, Pauloescreveu duas cartas à igreja deTessalônica, sendo essas as suasprimeiras epístolas.

Navegou depois pelo Mar Egeu,para uma breve visita a Éfeso, naÁsia Menor. A seguir atravessou oMediterrâneo e foi a Cesaréia; subiua Jerusalém, a fim de saudar aigreja dessa cidade, e voltou aoponto de partida em Antioquia daSíria. Em suas viagens, durante trêsanos, por terra e por mar, Paulo

percorreu mais de três milquilômetros, fundou igrejas em pelomenos sete cidades e abriu, pode-sedizer, o continente da Europa àpregação do Evangelho. Após um breveperíodo de descanso, Paulo iniciou aterceira viagem missionária, aindade Antioquia, porém destinada aterminar em Jerusalém, comoprisioneiro do governo romano.Inicialmente seu único companheirofora Timóteo, o qual se haviajuntado a ele na segunda viagem epermaneceu até ao fim, como auxiliarfiel e "filho no Evangelho".Contudo, alguns outros companheirosestiveram com o apóstolo, antes defindar esta viagem. A viageminiciou-se com a visita às igrejasda Síria e Cilicia, incluindo, semdúvida, a cidade de Tarso, ondenasceu. Continuou a viagem pelaantiga rota e visitou, pela quarta

vez, as igrejas que estabeleceu naprimeira viagem.1

Entretanto, após haver cruzadoa província de Frigia, em lugar deseguir rumo norte, para Trôade, foipara o Sul, rumo a Efeso, ametrópole da Ásia Menor. Na cidadede Éfeso permaneceu por mais de doisanos, o período mais longo que Paulopassou em um só lugar, durante todasas suas viagens. Seu ministério teveêxito não apenas na igreja em Éfesomas também na propagação doevangelho em toda a província. As

1 Ao traçar esta viagem no mapa, o estudante deve seguir a rota oferecida por W. Ramsay. "Galácia", mencionada emAtos 18:23, não se refere, conforme indicam os mapas mais antigos, a uma rota rumo norte, por Ancira, Pessinus etc.; entende-se, porém, que se refere à Galácia do Sul, à qual pertenciam tanto Licaónia como Pisídia. A terceiraviagem de Paulo obedeceu ao mesmo trajeto da primeira, e da segunda, pelaÁsia Menor.

sete igrejas da Ásia, foram fundadasquer direta, quer indiretamente porPaulo. De acordo com seu método devoltar a visitar as igrejas queestabelecera, Paulo navegou de Éfesopara a Macedônia, visitou osdiscípulos em Filipos, Tessalônica,Beréia e bem assim aqueles queestavam na Grécia. Depois dissosentiu que devia voltar pelo mesmotrajeto, para fazer uma visita finalàquelas igrejas. Navegou para Trôadee dessa cidade passou pela costa daÁsia Menor. De Mileto, o porto deÉfeso, mandou chamar os anciãos daigreja de Éfeso, e despediu-se delescom emocionante exortação. Recomeçoua viagem para Cesaréia, e subiu amontanha até Jerusalém. Nesta cidadePaulo terminou a terceira viagemmissionária, quando foi atacado pelamultidão de judeus no templo, aondefora adorar. Os soldados romanosprotegeram o apóstolo da ira dopopulacho, e o recolheram àfortaleza de Marco António.

A terceira viagem missionáriade Paulo foi tão longa quanto asegunda, exceto os 480 quilômetrosentre Jerusalém e Antioquia. Seusresultados mais evidentes foram aigreja de Éfeso e duas das suas maisimportantes epístolas, uma à igrejaem Roma, expondo os princípios doevangelho de acordo com a suaprópria maneira de pregar, e outraaos Gálatas dirigida às igrejas queestabelecera na primeira viagem,onde os mestres judaizantes haviampervertido muitos discípulos.

Durante mais de cinco anos,após sua prisão, Paulo esteveprisioneiro; algum tempo emJerusalém, três anos em Cesaréia epelo menos dois anos em Roma.Podemos considerar a acidentadaviagem de Cesaréia a Roma, como aquarta viagem de Paulo, pois, mesmopreso, era ele um intrépidomissionário que aproveitava todas asoportunidades para anunciar o

evangelho de Cristo. O motivo daviagem de Paulo foi a petição queele fez. Na qualidade de cidadãoromano apelou para ser julgado peloimperador, em Roma. Seuscompanheiros nessa viagem foramLucas e Aristarco, os quais talveztenham viajado como seus auxiliares.Havia, a bordo do navio em queviajavam, criminosos confessos queeram levados para Roma a fim deserem mortos nas lutas degladiadores. Havia, também, soldadosque guardavam os presos que viajavamno navio. Podemos estar certos deque toda essa gente que participouda longa e perigosa viagem, ouviu oevangelho anunciado pelo apóstolo.Em Sidom, Mirra e Creta, onde onavio aportou, Paulo proclamou aCristo. Em Melita (Malta) ondeestiveram durante três meses após onaufrágio, também se converterammuitas pessoas.

Finalmente Paulo chegou a Roma,a cidade que durante muitos anos foio alvo de seu trabalho e esperança.Apesar de se tratar de um preso àespera de julgamento, contudo aPaulo foi permitido viver em casaalugada, acorrentado a um soldado. Oesforço principal de Paulo, aochegar a Roma, foi evangelizar osjudeus, tendo para esse fimconvocado seus compatriotas para umareunião que durou o dia inteiro.Verificando que apenas uns poucosdos judeus estavam dispostos aaceitar o Evangelho, voltou-se entãopara os gentios. Por espaço de doisanos, a casa em que Paulo morava emRoma funcionou como igreja, ondemuitos encontraram a Cristo,especialmente os soldados da guardado Pretório. Contudo seu maiortrabalho realizado em Roma foi acomposição de quatro epístolas, quese contam entre os melhores tesourosda igreja. As epístolas foram asseguintes: Efésios, Filipenses,

Colossenses e Filemom. Há motivospara crer que após dois anos deprisão, Paulo foi absolvido e postoem liberdade.

Podemos, sem dúvida, consideraros três ou quatro anos de liberdadede Paulo, como a continuação de suaquarta viagem missionária. Notamosalusões ou esperanças de Paulo, devisitar Colossos ou Mileto. Se es-tava tão próximo de Éfeso, como oestavam os dois mencionados lugares,parece certo que visitou esta últimacidade. Visitou, também, a Ilha deCreta, onde deixou Tito responsávelpelas igrejas, e esteve em Nicópolisno Mar Adriático, ao norte daGrécia. A tradição declara que nestelugar Paulo foi preso e enviadooutra vez para Roma, onde foimartirizado no ano 68. A este últimoperíodo podem pertencer estas trêsepístolas: Primeira a Timóteo, Titoe Segunda a Timóteo, sendo que a

última foi escrita na prisão, emRoma.

No ano 64 uma grande parte dacidade foi destruída por umincêndio. Diz-se que foi Nero, opior de todos os imperadoresromanos, quem ateou fogo à cidade.

Contudo essa acusação ainda édiscutível. Entretanto a opiniãopública responsabilizou Nero poresse crime. A fim de escapar dessaresponsabilidade, Nero apontou oscristãos como culpados do incêndiode Roma, e moveu contra elestremenda perseguição. Milhares decristãos foram torturados e mortos,entre os quais se conta o apóstoloPedro, que foi crucificado no ano67, e bem assim o apóstolo Paulo,que foi decapitado no ano 68. Essasdatas são aproximadas, pois osapóstolos acima citados ja podem tersido martirizados um ou dois anosantes. E uma das "vinganças" daHistória , que naqueles jardins onde

multidões de cristãos foramqueimados como "tochas vivas"enquanto o imperador passeava em suacarruagem, esteja hoje o Vaticano,residência do sumo-pontíficecatólico-romano, e a basílica de SãoPedro, o maior edifício da religiãocristã.

Na época do concílio deJerusalém, no ano 50, não havia sidoescrito nenhum dos livros do NovoTestamento. A igreja, paraconhecimento da vida e dos ensinosdo Salvador, dispunha tão-somentedas memórias dos primitivosdiscípulos. Entretanto, antes dofinal deste período, 68 a. D.,grande parte dos livros do NovoTestamento já estavam circulando,inclusive os evangelhos de Mateus,Marcos e Lucas e as epístolas dePaulo, Tiago, 1 Pedro e talvez 2Pedro, embora questões tenham sidolevantadas quanto a autoria dessaúltima. Deve-se lembrar que é

provável que a epístola aos Hebreustenha sido escrita depois da mortede Paulo, não sendo, portanto, desua autoria.

5A ERA SOMBRIA

Desde o Martírio de Paulo, 68 a.D.Até à Morte de João, 100 a.D.

À última geração do primeiroséculo, a que vai do ano 68 a 100,chamamos de "Era Sombria", em razãode as trevas da perseguição estaremsobre a igreja, e também porque detodos os períodos da História é oque menos conhecemos. Para iluminaros acontecimentos desse período, jánão temos a luz do livro dos Atosdos Apóstolos. Infelizmente, nenhumhistoriador da época preencheu ovácuo existente. Gostaríamos de lera descrição dos fatos posterioresrelacionados com os auxiliares dePaulo, principalmente de Tito,Timóteo e Apolo. Entretanto, estes eoutros amigos de Paulo, após a morte

do apóstolo, permanecem ausentes doscomentários e registros.

Após o desaparecimento dePaulo, durante um período de cercade cinquenta anos uma cortina pendesobre a igreja. Apesar do esforçoque fazemos para olhar através dacortina, nada se observa.Finalmente, cerca do ano 120, nosregistros feitos pelos "Pais daIgreja", deparamos com uma igreja emvários aspectos, muito diferente daigreja apostólica dos dias de Pedroe de Paulo.

A queda de Jerusalém no ano 70impôs grande transformação nasrelações existentes entre cristãos ejudeus. De todas as provínciasdominadas pelo governo de Roma, aúnica descontente e rebelde era aJudéia. Os judeus, de acordo com ainterpretação que davam àsprofecias, consideravam-sedestinados a conquistar e a governaro mundo; baseados nessa esperança,

somente forçados pelas armas e pelasameaças é que se submetiam aodomínio dos imperadores romanos.Temos de admitir, também, que muitosprocuradores e governadores romanosfracassaram inteiramente nainterpretação dos sentimentos ecaráter judaicos, e, por essa razão,tratavam os judeus com aspereza earrogância.

Por volta de 66, os judeusrebelaram-se, abertamente, apesar denão terem, desde o início, condiçãode vencer. Que poderia fazer uma dasmais pequenas províncias, cujoshomens desconheciam o adestramentomilitar, contra um império de centoe vinte milhões de habitantes, comduzentos e cinquenta mil soldadosdisciplinados e peritos na arte deguerra? Além disso, os própriosjudeus estavam uns contra os outros,e matavam-se entre si, com tantaviolência como se a luta fossecontra Roma, o inimigo comum.

Vespasiano, o principal generalromano, conduziu um grande exércitoaté à Palestina. Entretanto, logodepois foi chamado a Roma, paraocupar o trono imperial. Ficou entãona Palestina, chefiando o exércitoromano, o general Tito, filho deVespasiano. Após prolongado cerco,agravado pela fome e pela guerracivil dentro dos muros, a cidade deJerusalém foi tomada e destruídapelos exércitos romanos. Milhares emilhares de judeus foram mortos, eoutros milhares foram feitosprisioneiros, isto é, escravos. Ofamoso Coliseu de Roma foiconstruído pelos judeusprisioneiros, os quais foramobrigados a trabalhar como escravos,e alguns deles trabalharam atémorrer. A nação judaica, depois detreze séculos de existência, foiassim destruída. Sua restauraçãodeu-se no dia 15 de maio de 1948.

Na queda de Jerusalém morrerampoucos cristãos; quiçá, nenhum.Atentos às declarações proféticas deCristo, os cristãos foramadmoestados e escaparam da cidadeameaçada; refugiaram-se em Pela, noVale do Jordão. Entretanto, o efeitoproduzido na igreja, pela destruiçãoda cidade foi que pôs fim, parasempre, nas relações entre oJudaísmo e o Cristianismo. Atéentão, a igreja era considerada pelogoverno romano e pelo povo, emgeral, como um ramo da religiãojudaica. Mas, dali por diante judeuse cristãos separaram-se definiti-vamente. Um pequeno grupo de judeus-cristãos ainda perseverou durantedois séculos, porém em número sempredecrescente. Esse grupo eram osebionitas, somente reconhecidos pelaigreja no sentido geral, porémdesprezados e apontados comoapóstatas, pelos judeus, gente dasua própria raça.

Cerca do ano 90, o cruel eindigno imperador Domiciano inicioua segunda perseguição imperial aoscristãos. Durante esses dias,milhares de cristãos foram mortos,especialmente em Roma e em toda aItália. Entretanto, essaperseguição, como a de Nero, foi es-porádica, local e não se estendeu atodo o império. Nessa época, João, oúltimo dos apóstolos, que vivia nacidade de Éfeso, foi preso e exiladona ilha de Patmos, no Mar Egeu. Foiem Patmos que João recebeu a reve-lação que compõe o livro doApocalipse, o último do NovoTestamento. Muitos eruditos,entretanto, afirmam que foi escritomais cedo, isto é, provavelmente noano 69, pouco depois da morte deNero. É provável que João tenhamorrido em Éfeso por volta do ano100.

Foi durante esse período que seescreveram os últimos livros do Novo

Testamento — Hebreus e talvez aSegunda epístola de Pedro, as trêsepístolas e o evangelho de João,epístola de Judas e o Apocalipse.

Contudo, o reconhecimentouniversal destes livros, comoinspirados e canônicos, só aconteceumais tarde.

É interessante notar o estadodo Cristianismo no fim do primeiroséculo, cerca de setenta anos depoisda ascensão de Cristo. Por essaépoca havia famílias que durantetrês gerações vinham seguindo aCristo.

No início do segundo século, oscristãos já estavam radicados emtodas as nações e em quase todas ascidades, desde o Tibre ao Eufrates,desde o Mar Negro até ao norte daÁfrica, e alguns crêem que seestendia até a Espanha e Inglaterra,no Ocidente. O número de membros dacomunidade cristã subia a muitosmilhões. A famosa carta de Plínio ao

imperador Trajano, escrita lá peloano 112, declara que nas provínciasda Ásia Menor, nas margens do MarNegro os templos dos deuses estavamquase abandonados, enquanto os cris-tãos em toda parte formavam umamultidão, e pertenciam a todas asclasses, desde a dos nobres, a até ados escravos, sendo que estesúltimos, no império, excediam emnúmero à população livre. Acontecia,porém, que na igreja o escravo eratratado igualmente como o livre. Umescravo podia chegar a ser bispo,enquanto seu amo e senhor nãopassava de simples membro.

No final do primeiro século, asdoutrinas ensinadas pelo apóstoloPaulo na epístola aos Romanos eramaceitas por toda a igreja, comoregra de fé. Os ensinos de Pedro eJoão, exarados nas respectivasepístolas, concordam com os dePaulo. Surgiam nesse tempo idéiasheréticas e formavam-se seitas,

cujos germens foram descobertos eexpostos pelos apóstolos; contudo, odesenvolvimento dessas heresias sóaconteceu mais tarde.

O batismo, principalmente porimersão, era o rito de iniciação naigreja em toda parte. Contudo, noano 120 aparecem menções do costumede batismo por aspersão; isso querdizer que nesse tempo já estava emuso. O dia do Senhor era observadode modo geral, apesar de não o serde forma estrita, como um diaabsolutamente separado. Enquanto aigreja fora composta de maioriajudaica, se observava o sábado;agora o primeiro dia da semana poucoa pouco tomava o lugar do sétimo. János dias de Paulo havia igrejas quese reuniam no primeiro dia dasemana, e no livro do Apocalipseesse dia é chamado "o dia doSenhor".

A Ceia do Senhor era observadauniversalmente. A Ceia, no início,

era celebrada no lar, assim como apáscoa, da qual se originou.Entretanto, nas igrejas gentílicasapareceu o costume de celebrar-seuma reunião da igreja como se fosseuma ceia qualquer, para a qual cadamembro levava a própria provisão. Oapóstolo Paulo repreendeu a igrejaem Corinto pelo abuso que essecostume havia causado. No fim doséculo a Ceia do Senhor eracelebrada onde os cristãos sereuniam, porém (talvez, por causa daperseguição), não em reuniõespúblicas. Somente os membros daigreja eram admitidos nas reuniõesem que celebravam a Ceia, que eraconsiderada como um "mistério". Oreconhecimento do domingo daressurreição como aniversário daressurreição de Cristo forasancionado e aumentava dia a dia;contudo, nessa época ainda não erade guarda universal.

O último sobrevivente dosapóstolos foi João, que morou nacidade de Éfeso até ao ano 100. Nãose lê em nenhum documento quehouvesse sucessores para o cargo deapóstolo. Contudo, no ano 120 faz-semenção de "apóstolos", que parecehaverem sido evangelistas quevisitavam as igrejas, porém semautoridade apostólica. Evidentementenão eram muito respeitados, pois àsigrejas recomendava-se que oshospedassem somente durante trêsdias.

No livro dos Atos dos Apóstolose nas últimas epístolas, os títulosanciãos (presbíteros) e bispos sãomencionados como se fossem aplicadosalternadamente à mesma pessoa. Noentanto, no fim do primeiro séculoaumentava a tendência de elevar osbispos, acima de seus companheiros,os anciãos, costume que mais tardeconduziu ao sistema eclesiástico. Osdiáconos são mencionados nas últimas

epístolas de Paulo como funcionáriosda igreja. Na epístola aos Romanos,escrita no ano 58, aproximadamente,Febe de Cencréia é chamadadiaconisa, e uma referência em 1Timóteo pode haver sido feita amulheres que desempenhavam essecargo.

O plano das reuniões nasassembléias cristãs era umaderivação das reuniões das sinagogasjudaicas, Liam-se as Escrituras doAntigo Testamento e porções dascartas apostólicas, os evangelhos;os salmos da Bíblia e os hinoscristãos eram cantados; as oraçõesdiferiam das que se faziam nassinagogas, porque nas assembléiascristãs eram espontâneas; o uso dapalavra era oferecido, semrestrições, aos irmãos visitantes.No final das reuniões era frequenteparticiparem da Ceia do Senhor.Quando lemos as últimas epístolas eo livro do Apocalipse, encontramos

misturadas luz e sombra, nos relatosque se referem às igrejas. As normasde caráter moral eram elevadas,porém o nível da vida espiritual erainferior ao que se manifestara nosprimitivos dias apostólicos.Contudo, por toda parte a igreja eraforte, ativa, próspera e seesforçava por predominar em todos osextremos do Império Romano.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS 6 – 8

SEGUNDO PERÍODO GERAL AS PERSEGUIÇÕES IMPERIAISDesde a morte de João, 100 a.D. Até ao Edito de Constantino, 313 a.D.

I. CAUSAS DAS PERSEGUIÇÕES IMPERIAIS (Capítulo 6)

1. O Caráter Inclusivo do Paganismoe Caráter Exclusivo do Cristianismo.2. A Adoração aos ídolos Entrelaçadacom a Vida

3. A Adoração ao Imperador4. O Judaísmo Reconhecido5. As Reuniões Secretas dos Cristãos6. A Igualdade na Igreja Cristã7. Os Interesses Econômicos

II. FASES DA PERSEGUIÇÃO

1. Desde Trajano até Antonino Pio, 98-161 d.C. Mártires: (a) Simeão (b)Inácio2. Marco Aurélio, 161-180Mártires: (a) Policarpo (b) Justino Mártir3. Septímio Severo, 193-211Mártires: (a) Leônidas (b) Perpétua e Felicitas4. Décio, 249-2515. Valeriano, 253-260Mártires: (a) Cipriano (b) Sexto, 2586. Diocleciano, 284-305, Galério,

305-311 7. Edito de Constantino 313

III. FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO (Capítulo 7).

IV. DESENVOLVIMENTO DA ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA (Capítulo 7). Causas:

1. Perda de Autoridade Apostólica.2. Crescimento e Expansão da Igreja.3. Perseguições Imperiais.4. O Aparecimento de Seitas e Heresias.5. Analogia do Governo Imperial.

V. DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA (Capítulo 7)

1. Escola de Alexandria.2. Escola de Ásia Menor.3. Escola do Norte da África.

VI. O APARECIMENTO DE SEITAS E HERESIAS (Capítulo 8).

1. Agnósticos.2. Ebionitas.3. Maniqueus.4. Montanistas.

VII. A CONDIÇÃO DA IGREJA (Capítulo 8).

1. Uma Igreja Purificada.2. O Ensino Unificado da Igreja.3. A Organização da Igreja.4. O Crescimento da Igreja.

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AS PERSEGUIÇÕES IMPERIAISSEGUNDO PERÍODO GERAL

Desde a Morte de João, 100 a.D. Até ao Edito deConstantino, 313 a.D.

O fato de maior destaque naHistória da Igreja no segundo eterceiro séculos foi, sem dúvida, aperseguição ao Cristianismo pelosimperadores romanos. Apesar de aperseguição não haver sido contínua,contudo ela se repetia durante anosseguidos, por vezes. Mesmo quandohavia paz, a perseguição podiarecomeçar a qualquer momento, cadavez mais violenta. A perseguição, noquarto século, durou até o ano 313,quando o Edito de Constantino, oprimeiro imperador cristão, fezcessar todos os propósitos dedestruir a igreja de Cristo.

Surpreendente é o fato de seconstatar que durante esse período,alguns dos melhores imperadoresforam mais ativos na perseguição aoCristianismo, ao passo que osconsiderados piores imperadores,eram brandos na oposição, ou entãonão perseguiam a igreja. Antes deapresentar a história, investiguemosalguns dos motivos que forçaram ogoverno, de um modo geral justo eque procurava o bem-estar de seusconcidadãos, a tentar duranteduzentos anos, suprimir umainstituição tão reta, tão obedienteà lei e tão necessária, como era oCristanismo. Podem-se apresentarvárias causas para justificar o ódiodos imperadores ao Cristianismo.

O paganismo em suas práticasaceitava as novas formas e objetosde adoração que iam surgindo,enquanto o Cristianismo rejeitavaqualquer forma ou objetos deadoração. Onde os deuses já se

contavam aos centos, quiçá aosmilhares, mais um ou menos um nãorepresentava diferença. Quando oshabitantes de uma cidade desejavamdesenvolver o comércio ou aimigração, construíam templos aosdeuses que se adoravam em outrospaíses ou cidades, a fim de que oshabitantes desses países ou cidadesfossem adorá-los. Eis por que nasruínas da cidade de Pompéia, Itália,se encontra um templo de ísis, umadeusa egípcia. Esse templo foiedificado para fomentar o comérciode Pompéia com o Egito, fazendo comque os comerciantes egípcios sesentissem como em seu próprio país.Por outro lado, o Cristianismoopunha-se a qualquer forma deadoração, pois somente admitiaadoração ao seu próprio Deus. Umimperador desejou colocar umaestátua de Cristo no Panteão, umedifício que existe em Roma atéhoje, e no qual se colocavam todosos deuses importantes. Porém os

cristãos recusaram a oferta comdesprezo. Não desejavam que o seuCristo fosse conhecido meramentecomo um deus qualquer entre outrosdeuses.

A adoração aos ídolos estavaentrelaçada com todos os aspectos davida. As imagens eram encontradas emtodos os lares para serem adoradas.Em todas as festividades eramoferecidas libações aos deuses. Asimagens eram adoradas em todas ascerimônias cívicas ou provinciais.Os cristãos, é claro, nãoparticipavam dessas formas deadoração. Por essa razão, o povo nãodado a pensar considerava-os comoseres insociáveis, taciturnos, ateusque não tinham deuses, eaborrecedores de seus companheiros.Com reputação tão desfavorável porparte do povo em geral, apenas umpasso os separava da perseguição.

A adoração ao imperador eraconsiderada como prova de lealdade.

Nos lugares mais visíveis de cadacidade havia uma estátua doimperador reinante, e ainda mais, aessa imagem era oferecido incenso,como se oferecia aos deuses. Pareceque em uma das primeiras epístolasde Paulo há uma referência cautelosacontra essa forma de idolatria. Oscristãos recusavam-se a prestar taladoração, mesmo um simplesoferecimento de incenso sobre oaltar. Pelo fato de cantarem hinos elouvores e adorarem a "outro Rei, umtal Jesus", eram considerados pelopovo como desleais e conspiradoresde uma revolução.

A primeira geração dos cristãosera tida como relacionada com osjudeus e o Judaísmo era reconhecidopelo governo como religião permitidaapesar de os judeus viveremseparados dos costumes idólatras enão comerem alimentos usados nasfestas dos ídolos. Essa supostarelação preservou os cristãos por

algum tempo da perseguição.Entretanto, após a destruição deJerusalém, no ano 70, o Cristianismoficou isolado, sem nenhuma lei queprotegesse seus seguidores do ódiodos inimigos.

As reuniões secretas doscristãos despertaram suspeitas. Elesse reuniam antes do nascer do sol,ou então à noite, quase sempre emcavernas ou nas catacumbassubterrâneas. A esse respeitocirculavam falsos rumores de queentre eles praticavam-se atosimorais e criminosos. Além disso, ogoverno autocrático do impériosuspeitava de todos os cultos esociedades secretas, temendopropósitos desleais. A celebração daCeia do Senhor, da qual eramexcluídos os estranhos, repetidasvezes era causa de acusações e deperseguições.

O Cristianismo consideravatodos os homens iguais. Não havia

nenhuma distinção entre seusmembros, nem em suas reuniões. Umescravo podia ser eleito bispo naigreja. Tudo isso eram coisasinaceitáveis para a mentalidade dosnobres, para os filósofos e para asclasses governamentais. Os cristãoseram considerados como "niveladoresda sociedade", portanto anarquistas,perturbadores da ordem social. Eispor que eram tidos na conta deinimigos do Estado.

Não raro os interesseseconômicos também provacavam eexcitavam o espírito de perseguição.Assim como o apóstolo Paulo, emÉfeso, esteve em perigo de morte, emrazão de um motim incitado porDemétrio, o ourives, assim também,muitas vezes os governantes eraminfluenciados para perseguir oscristãos, por pessoas cujosinteresses financeiros eramprejudicados pelo progresso daigreja: sacerdotes e demais

servidores dos templos dos ídolos,os que negociavam com imagens, osescultores, os arquitetos queconstruíam templos, e todos aquelesque ganhavam a vida por meio daadoração pagã. Não era coisa raraouvir-se o populacho gritar: "Oscristãos às feras, aos leões quandoseus negócios e sua arte estavam emperigo, ou quando funcionáriospúblicos ambiciosos desejavamapoderar-se das propriedades decristãos ricos.

Durante todo o segundo eterceiro séculos, e muiespecialmente nos primeiros anos doquarto século até ao ano 313, areligião cristã era proibida e seuspartidários eram considerados forada lei. Apesar dessascircunstâncias, a maior parte dotempo a espada da perseguição estavaembainhada e os discípulos raramenteeram molestados em suas observânciasde caráter religioso. Contudo, mesmo

durante estes períodos de calmaaparente, estavam sujeitos a perigorepentino a qualquer momento, sempreque um dos governantes desejasseexecutar os decretos, ou quandoalgum cristão eminente dava seutestemunho abertamente e sem medo.

Houve, contudo, alguns períodosde curta ou de longa duração, quandoa igreja foi alvo de ferozperseguição. As perseguições doprimeiro século, efetuadas por Nero(66-68) e por Domiciano (90-95)foram, não há dúvida, explosões dedelírio e ódio, sem outro motivo, anão ser a ira de um tirano. Essasperseguições deram-se de formaesporádica e não se prolongavam pormuito tempo. Entretanto, desde o ano250 a 313 d.C. a igreja estevesujeita a uma série sistemática eimplacável de atentadosgovernamentais em todo o império, afim de esmagar a fé semprecrescente.

Desde o reinado de Trajano aode Antonino Pio (98-161), oCristianismo não era reconhecido,mas também não foi perseguido demodo severo. Sob o governo dosquatro imperadores Nerva, Trajano,Adriano e Antonino Pio (os quais,com Marco Aurélio, foram conhecidoscomo os "cinco bons imperadores"),nenhum cristão podia ser preso semculpa definida e comprovada. Oespírito da época inclinava-se aignorar a religião cristã. Contudo,quando se formulavam acusações e oscristãos se recusavam a retratar-se,os governantes eram obrigados,contra a própria vontade, a pôr emvigor a lei e ordenar a execução.Alguns mártires proeminentes da féexecutados nesse período foram osseguintes: Simeão (ou Simão; Marcos6:3), o sucessor de Tiago, bispo daigreja em Jerusalém e, como aquele,era também irmão do Senhor. Diz-seque alcançou a idade de cento evinte anos. Foi crucificado por

ordem do governador romano naPalestina, no ano 107, durante oreinado de Trajano.

Inácio, bispo de Antioquia daSíria. Ele estava disposto a sermartirizado, pois durante a viagempara Roma escreveu cartas às igrejasmanifestando o desejo de não perdera honra de morrer por seu Senhor.Foi lançado às feras no anfiteatroromano, no ano 108 ou 110. Apesar dea perseguição durante estes reinadosnão haver sido tão forte como a quese manifestou depois, contudo,registraram-se vários casos demartírios, além dos dois que járegistramos.

O melhor dos imperadoresromanos, e um dos mais eminentesescritores de ética, foi MarcoAurélio, que reinou de 161 a 180.Sua estátua equestre ainda existediante as ruínas do Capitólio emRoma. Apesar de possuir tão boasqualidades como homem e governante

justo, contudo foi acérrimoperseguidor dos cristãos. Eleprocurou restaurar a antigasimplicidade da vida romana e comela a antiga religião. Opunha-se,pois, aos cristãos por considerá-losinovadores. Milhares de crentes emCristo foram decapitados e devoradospelas feras na arena. Entre amultidão de mártires desse período,desejamos mencionar apenas dois.

Policarpo, bispo de Esmirna, naÁsia Menor; morreu no ano 155. Aoser levado perante o governador, einstado para abjurar a fé e negar onome de Jesus, assim respondeu:"Oitenta e seis anos o servi, esomente bens recebi durante todo otempo. Como poderia eu agora negarao meu Senhor e Salvador?" Policarpofoi queimado vivo.

Justino Mártir era filósofoantes de se converter, e continuou,ensinando depois de aceitar oCristianismo. Era um dos homens mais

competentes de seu tempo, e um dosprincipais defensores da fé. Seuslivros, que ainda existem, oferecemvaliosas informações acerca da vidada igreja nos meados do segundoséculo. Seu martírio deu-se em Roma,no ano 166.

Depois da morte de MarcoAurélio, no ano 180, seguiu-se emperíodo de confusão. Os imperadoresfracos e sem dignidade estavamdemasiado ocupados com as guerrascivis e com seus próprios prazeres,de modo que não lhes sobrava tempopara dar atenção aos cristãos.Entretanto, Septímio Severo, no ano202, iniciou uma terrívelperseguição que durou até à suamorte, no ano 211. Severo possuíauma natureza mórbida e melancólica;era muito rigoroso na execução dadisciplina. Procurou, em vão,restaurar as religiões decadentes,do passado. Em todos os lugareshavia perseguição contra a igreja;

porém, onde ela se manifestou maisintensa foi no Egito e no norte daÁfrica. Em Alexandria, Leônidas, paido grande teólogo Orígenes, foidecapitado. Perpétua, nobre mulherde Cartago, e Felicitas, sua fielescrava, foram despedaçadas pelasferas, no ano 203. Tão cruel fora oespírito do imperador SeptímioSevero, que era considerado pormuitos escritores cristãos como oanticristo.

No governo dos numerososimperadores que se seguiram emrápida sucessão, a igreja foiesquecida pelo período de quarentaanos. O imperador Caracala (211-217)confirmou a cidadania a todas aspessoas que não fossem escravas, emtodo o império. Essa medida foi umbenefício indireto para os cristãos,pois não podiam ser crucificados nemlançados às feras a menos que fossemescravos. Entretanto, no governo deDécio (249-251) iniciou-se outra

terrível perseguição; felizmente seugoverno foi curto e com sua mortecessou a perseguição durante algumtempo.

Com a morte de Décio seguiram-se mais de cinquenta anos derelativa calma, somente quebrada emalguns períodos por breves levantescontra os cristãos. Um dessesperíodos foi no tempo de Valeriano,no ano 257. O célebre Cipriano,bispo de Cartago, um dos maioresescritores e dirigentes da igrejadesse período, foi morto, e bemassim o bispo romano Sexto.A última,a mais sistemática e a mais terrívelde todas as perseguições deu-se nogoverno de Diocleciano e seussucessores de 303 a 310. Em umasérie de editos determinou-se quetodos os exemplares da Bíblia fossemqueimados. Ao mesmo tempo ordenou-seque todos os templos construídos emtodo o império durante meio séculode aparente calma, fossem

destruídos. Além disso, exigiu-seque todos renunciassem aoCristianismo e à fé. Aqueles que onão fizessem, perderiam a cidadaniaromana, e ficariam sem a proteção dalei.

Em alguns lugares os cristãoseram encerrados nos templos, edepois ateavam-lhe fogo, com todosos membros no seu interior. Constaque o imperador Diocleciano erigiuum monumento com esta inscrição: "Emhonra ao extermínio da superstiçãocristã".2

Entretanto, setenta anos maistarde o Cristianismo era a religiãooficial do imperador, da corte e doimpério. Os imensos Banhos deDiocleciano, em Roma, foramconstruídos pelo trabalho forçado deescravos cristãos. Porém, doze2 Esta declaração, apesar de ser feita por muitos historiadores, baseia-se em provas incertas e bem pode ser que não seja verídica.

séculos depois de Diocleciano, umaparte do edifício foi por MiguelÂngelo transformada em igreja deSta. Maria dos Anjos, dedicada em1561, e ainda hoje serve paraadoração da igreja católico-romana.Diocleciano renunciou ao trono noano 305, porém seus subordinados esucessores, Galério e Constâncio,continuaram a perseguição duranteseis anos. Constantino, filho deConstâncio, servindo como co-imperador, o qual nesse tempo aindanão professava o Cristianismo,expediu o memorável Edito deTolerância, no ano 313. Por essa leio Cristianismo foi oficializado, suaadoração tornou-se legal e cessou aperseguição, para não mais voltar,enquanto durou o Império Romano.

7

A IGREJA PERSEGUIDASEGUNDA PARTE

Formação do Cânon do Novo Testamento.Desenvolvimento da Organização Eclesiástica.

Desenvolvimento da Doutrina.

Apesar de considerarmos asperseguições o fato mais importanteda história da igreja, no segundo eterceiro séculos, contudo, a pardesse acontecimento efetuaram-segrandes progressos no campo daoranização e vida da comunidadecristã. Vamos considerar algunsdesses fatos.

Já vimos que os escritos doNovo Testamento foram terminadospouco depois do início do segundo

século. Entretanto, a formação doNovo Testamento com os livros que ocompõem, como cânon ou regra de fécom autoridade divina, não foiimediata. Nem todos os livros eramaceitos em todas as igrejas, comoescritos inspirados. Alguns deles,especialmente Hebreus, Tiago, Se-gunda de Pedro e Apocalipse, eramaceitos no Oriente, porém durantemuitos anos foram recusados no Oci-dente. Por outro lado, alguns livrosque hoje não são aceitos comocanônicos, eram lidos no Oriente.Entre esses livros contam-se osseguintes: Epístola de Barnabé,Pastor de Hermas, Ensinos dos DozeApóstolos e o Apocalipse de Pedro.

Gradual e lentamente os livrosdo Novo Testamento, tal como hoje osusamos, conquistaram a proeminênciade escrituras inspiradas, ao passoque os outros livros foramgradualmente postos de lado erejeitados pelas igrejas. Os

concílios que se realizavam dequando em quando, não escolheram oslivros para formar o Cânon. Osconcílios apenas ratificaram aescolha já feita pelas igrejas. Nãoé possível determinar-se a dataexata do reconhecimento completo doNovo Testamento, tal como o usamosatualmente, porém sabe-se que nãoaconteu antes do ano 300. Qualquerpessoa que leia o "Novo TestamentoApócrifo", e o compare com oconteúdo do Novo Testamento, notaráimediatamente a razão por que taislivros foram recusados e nãoreconhecidos como canônicos.

Enquanto os primitivosapóstolos viveram, a reverênciageral para com eles, como oscompanheiros escolhidos por Cristo,como fundadores da igreja e comohomens dotados de inspiração divina,dava-lhes o lugar indiscutível dedirigentes da igreja até onde eranecessário governá-la. Quando Lucas

escreveu o livro dos Atos doApóstolos, e Paulo as epístolas aosFilipenses e a Timóteo os títulos"bispos" e "anciãos" (presbíteros)eram dados livremente àqueles queserviam às igrejas. Entretanto,sessenta anos depois, isto é, cercado ano 125, nota-se que os bisposestavam em toda parte, governando asigrejas, e cada um mandava em suaprópria diocese, tendo presbíteros ediáconos sob suas ordens. O concíliode Jerusalém, no ano 50, era com-posto de "apóstolos e anciãos", eexpressavam a voz de toda a igreja,tanto dos ministros (se é queexistiam, o que é duvidoso), como detodos os leigos. Porém, durante operíodo da perseguição seguramentedepois do ano 150, os concílios eramcelebrados e as leis eram ditadassomente pelos bispos. A formaepiscopal de governo dominavauniversalmente. A história de entãonão explica as causas que conduziram

a essa mudança de organização,contudo não é difícil descobri-las.

A perda de autoridadeapostólica fez com que serealizassem eleições de novosdirigentes. Os fundadores da igreja,Pedro, Paulo, Tiago, o irmão doSenhor, e João, o último dosapóstolos, haviam morrido sem dei-xarem homens iguais a eles, com amesma capacidade que eles possuíam.Depois da morte dos apóstolos Pedroe Paulo, num período de cerca decinquenta anos, a História da Igrejatem suas páginas em branco. Asrealizações de homens como Timóteo,Tito e Apolo são desconhecidas.Entretanto, na geração seguinte,surgem novos nomes como bispos comautoridade sobre várias dioceses.

O crescimento e a expansão daigreja foi a causa da organização eda disciplina. Enquanto as igrejasestavam dentro dos limites quetornavam possível receber a visita

dos apóstolos, poucas autoridadeseram necessárias. Porém, quando aigreja se expandiu para além doslimites do Império Romano, chegandoaté às fronteiras da índia,abarcando muitas nações e raças,então se julgou necessária aautoridade de um dirigente para suasdiferentes secções.

A perseguição — um perigo comum— aproximou as igrejas umas dasoutras e exerceu influência para queelas se unissem e se organizassem.Quando os poderes do Estado selevantavam contra a igreja, sentia-se, então, a necessidade de umadireção eficiente.

Apareciam, pois, os dirigentespara a ocasião. Essa situação durousete gerações e fez com que a formade governo se estabelecesse emcaráter permanente.

O aparição de seitas e heresiasna igreja impôs, também, anecessidade de se estabelecerem

alguns artigos de fé, e, com eles,algumas autoridades para executá-los.

Veremos, neste capítulo,algumas divisões de caráterdoutrinário que ameaçaram aexistência da própria igreja.Notaremos, também, como as contro-vérsias sobre elas suscitaram oimperativo disciplinar para se imporaos herejes e manter a unidade dafé.

Ao inquirir-se por que foiadotada essa forma de governo, istoé, um governo hierárquico, em lugarde um governo exercido por umministério em condições daigualdade, descobrimos que, poranalogia, o sistema de governoimperial serviu de modelo usado nodesenvolvimento da igreja. OCristianismo não se iniciou em umarepública na qual os cidadãosescolhiam os governantes, mas surgiuem um império governado por auto-

ridades. Eis por que quando eranecessário algum governo para aigreja, surgia a forma autocrática,isto é, o governo de bispos, aosquais a igreja se submetia, porestar acostumada à mesma forma degoverno do Estado. Convém notar quedurante todo o período que estamosconsiderando, nenhum bispo reclamoupara si a autoridade de bispouniversal — autoridade sobre outrosbispos — como mais tarde o fez obispo de Roma.

Outra característica quedistingue esse período é, semdúvida, o desenvolvimento dadoutrina. Na era apostólica a fé erado coração, uma entrega pessoal davontade a Cristo como Senhor e Rei.Era uma vida de acordo com o exemploda vida de Jesus, e como resultado oEspírito Santo morava no coração.Entretanto, no período que agorafocalizamos, a fé gradativamentepassara a ser mental, era uma fé do

intelecto, fé que acreditava em umsistema rigoroso e inflexível dedoutrinas. Toda a ênfase era dada àforma de crença, e não à vidaespiritual interna. As normas decaráter cristão eram aindaselevadas, e a igreja possuía aindamuitos santos enriquecidos peloEspírito Santo, porém a doutrinapouco a pouco se transformava emprova do Cristianismo. O CredoApostólico, a mais antiga e maissimples declaração da crença cristã,foi escrito durante esse período.Apareceram, nessa época, trêsescolas teológicas. Uma emAlexandria, outra na Ásia Menor eainda outra no norte da África.Essas escolas foram estabelecidaspara instruir aqueles que descendiamde famílias pagãs, e que haviamaceitado a fé Cristã. Entretanto,não tardou que tais escolas setransformassem em centros deinvestigação das doutrinas da

igreja. Grandes mestres ensinavamnessas escolas.

A escola de Alexandria foifundada no ano 180, por Panteno, quefora filósofo destestado na escolados estóicos; porém, como cristão,era fervoroso em espírito eeloquente no ensino oral. Apenasalguns fragmentos de seus ensinossobrevivem. Panteno foi sucedido porClemente de Alexandria (que viveu em150-215 aproximadamente), e váriosde seus livros, (a maioria delesdefendendo o cristianismo contra opaganismo) ainda existem.Entretanto, o maior vulto da escolade Alexandria, o expositor maiscompetente daquele período, foiOrígenes (185-254) o qual ensinou eescreveu sobre muitos temas,demonstrando possuir profundo sabere poder intelectual.

A escola da Ásia Menor nãoestava localizada em um determinadocentro, mas consistia em um grupo de

mestres e escritores de teologia.Seu mais expressivo representantefoi Ireneu, que "combinou o zelo deevangelista com a habilidade deescritor consumado". Nos últimosanos de sua vida, mudou-se para aFrança, onde chegou a ser bispo epor volta do ano 200 morreu comomártir.

A escola do norte da Áfricaestava estabelecida na cidade deCartago. Mediante um elevado númerode escritores e teólogos competentesfez mais do que as outras em favordo Cristianismo, no sentido de darforma ao pensamento teológico daEuropa. Os dois nomes de maiorexpressão que passaram por essaescola foram os do brilhante efervoroso Tertuliano (160-220) e odo mais conservador, porém hábil ecompetente bispo Cipriano, o qualmorreu como mártir na perseguição deDécio, no ano 258.

Os escritos desses eruditoscristãos, e bem assim os de muitosoutros que com eles trabalharam epor eles foram inspirados, serviramde inestimável fonte de informaçõesoriginais acerca da igreja, suavida, suas doutrinas e suas relaçõescom o mundo pagão que a cercava,durante os séculos de perseguição.

8

A IGREJA PERSEGUIDA, 100-313TERCEIRA PARTE

O Aparecimento de Seitas e Heresias. A Condiçãoda Igreja.

Juntamente com odesenvolvimento da doutrina teo-lógica, desenvolviam-se também asseitas, ou como lhes chamavam, asheresias na igreja cristã. Enquantoa igreja era judaica em virtude deseus membros, e até mesmo depois,quando era orientada por homens dotipo judeu como Pedro e até mesmoPaulo, havia apenas uma levetendência para o pensamento abstratoe especulativo. Entretanto, quando aigreja em sua maioria se compunha degregos, especialmente de gregos

místicos e desiquilibrados da ÁsiaMenor, apareceram opiniões e teoriasestranhas, de toda sorte, as quaisse desenvolveram rapidamente naigreja. Os cristãos do segundo eterceiro séculos lutaram não sócontra as perseguições do mundopagão, mas também contra as heresiase doutrinas corrompidas, dentro dopróprio rebanho. Neste comentárioconsideraremos apenas algumas dasmais importantes seitas desseperíodo.

Os gnósticos (do grego"gnosis", "sabedoria") não sãofáceis de definir, por seremdemasiado variadas suas doutrinas,que diferiam de lugar para lugar,nos diversos períodos. Surgiram naÁsia Menor — foco de idéiasfantásticas — e eram como que umenxerto do Cristianismo nopaganismo. Eles criam que do Deussupremo emanava um grande número dedivindades inferiores, algumas

benéficas e outras malignas. Criamque por meio dessas divindades, omundo foi criado com a mistura dobem e do mal, e que em Jesus Cristo,como uma dessas "emanações", anatureza divina morou durante algumtempo. Igualmente interpretavam asEscrituras de forma alegórica, demodo que cada declaração dasEscrituras significava aquilo que aointérprete parecesse mais acertado.Os gnósticos progrediram durantetodo o segundo século, cessando suasatividades com o término do século.

Os ebionitas (palavra hebraicaque significa "pobre") eram judeus-cristãos que insistiam naobservância da lei e dos costumesjudaicos. Rejeitaram as cartas doapóstolo Paulo, porque nessasepístolas Paulo reconhecia osgentios convertidos como cristãos.Os ebionitas eram consideradosapóstatas pelos judeus não-cristãos,mas também não contavam com a

simpatia dos cristãos-gentios, osquais, depois do ano 70, constituíama maioria na igreja. O ebionitasdiminuíram, gradualmente, no segundoséculo.

Os maniqueus, de origem persa,foram chamados por esse nome, emrazão de seu fundador ter o nome deMani, o qual foi morto no ano 276,por ordem do governo persa. O ensinodos maniqueus dava ênfase a estefato: "O universo compõe-se do reinodas trevas e do reino da luz e amboslutam pelo domínio da natureza e dopróprio homem." Recusavam a Jesus,porém criam em um "Cristocelestial". Eram severos quanto àobediência ao ascetismo, erenunciavam ao casamento. Osmaniqueus foram perseguidos tantopor imperadores pagãos, como tambémpelos cristãos. Agostinho, o maiorteólogo da igreja, era maniqueu,antes de se converter.

Os montanistas, assim chamadospor causa do seu fundador se chamarMontano, quase não podem serincluídos entre as seitas hereges,apesar de seus ensinos haveram sidocondenados pela igreja. Osmontanistas eram puritanos, eexigiam que tudo voltasse à sim-plicidade dos primitivos cristãos.Eles criam no sacerdócio de todos osverdadeiros crentes, e não noscargos do ministério. Observavamrígida disciplina na igreja.Consideravam os dons de profeciacomo um privilégio dos discípulos.Tertuliano, um dos principais entreos Pais da Igreja, aceitou as idéiasdos montanistas e escreveu em favordeles.

Acerca dessas seitas,consideradas como heresias, adificuldade em compreendê-las oujulgá-las está no fato de que (comexceção dos montanistas, e até mesmoestes, até certo ponto) seus

escritos desapareceram. Para formarnossa opinião acerca deles,dependemos exclusivamente daquelesque contra eles escreveram, e todossabemos que escreveram inspiradospelo interesse da causa quedefendiam; não eram imparciais.Suponhamos, por exemplo, que adenominação metodista desaparecesse,com todos os seus escritos; e quemil anos mais tarde, estudiososprocurassem conhecer seus ensinospesquisando os livros e panfletoscombatendo John Wesley, publicadosdurante o século dezoito. Comoseriam erradas suas conclusões, e,que versão distorcida do metodismoapresentariam!

Vamos agora, procurar descobrira condição da igreja durante osséculos de perseguição,especialmente no término, no ano313.

Um dos efeitos produzidos pelasprovações por que passaram os

cristãos desse período, foi umaigreja purificada. As perseguiçõesconservavam afastados todos aquelesque não eram sinceros em suaconfissão de fé. Ninguém se unia àigreja para obter lucros oupopularidade. Os fracos e os decoração dobre abandonavam a igreja.Somente aqueles que estavamdispostos a ser fiéis até à morte,se tornavam publicamente seguidoresde Cristo. A perseguição cirandou aigreja, separando o joio do trigo.

De modo geral, nessa época, oensino da igreja estava unificado.Tratava-se de uma comunidade demuitos milhões de pessoas,espalhadas em muitos países,incluindo muitas raças e falandovários idiomas. Apesar de tudo isso,tinham a mesma fé. As várias seitassurgiram, floresceram e pouco apouco desapareceram. Ascontrovérsias revelaram a verdade eaté mesmo alguns movimentos

heréticos deixaram atrás de sialgumas verdades que enriqueceram o"depósito" da igreja. Apesar daexistência de seitas e cismas, oCristianismo do império e dos paísesvizinhos estava unido na doutrina,nos costumes e no espírito.

Era uma igreja inteiramenteorganizada. Já descrevemos o sistemade organização na era apostólica. Noterceiro século a igreja já estavadividida em dioceses, controlando asrédeas do governo, com mãos firmes.A igreja era um exércitodisciplinado e unido, sob umadireção competente. Dentro doimpério romano exteriormenteorganizado, mas interiormente emdecadência, havia "outro" império devida abundante e de poder semprecrescente, que era a igreja cristã.

A igreja multiplicava-se.Apesar das perseguições, ou talvezpor causa delas, a igreja cresciacom rapidez assombrosa. Ao findar-se

o período de perseguição, a igrejaera suficientemente numerosa paraconstituir a instituição maispoderosa do império. Gibbon,historiador dessa época, calculouque os cristãos, ao término daperseguição, eram pelo menos adécima parte da população. Muitosescritores aceitaram as declaraçõesde Gibbon, apesar de não serem muitocertas. Porém, o assunto foirecentemente cuidadosamenteinvestigado e a conclusão a que osestudiosos chegaram, foi esta: Onúmero de membros da igreja e seusaderentes chegou a vários milhõessob o domínio de Roma. Uma prova dasmais evidentes desse fato foidescoberta nas catacumbas de Roma,túneis subterrâneos de vastaextensão, que durante dois séculosforam os lugares de refúgio ereunião, e de cimitério doscristãos. As sepulturas dos cristãosnas catacumbas, segundo o demonstramas inscrições e símbolos sobre elas,

conforme cálculos de alguns, sobem amilhões. Acrescente-se a essesmilhões muitos outros que não foramsepultados nas catacumbas, e veja-seentão quão elevado deve ter sido onúmero de cristãos em todo o ImpérioRomano.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS 9-11

TERCEIRO PERÍODO GERALA IGREJA IMPERIAL.

Desde o Edito de Constantino, 313 d.C. Até àQueda de Roma, 476 d.C.

I. A VITORIA DO CRISTIANISMO. (Capítulo 9)

1. Constantino o Primeiro ImperadorCristão.

2. Bons Resultados para a Igreja.

a. Fim da Perseguição.b. Igrejas Restauradas.c. Fim dos Sacrifícios Pagãos.d. Dedicação de Templos Pagãos ao Culto Cristão.e. Doações às Igrejas.f. Privilégios Concedidos ao Clero.g. Proclamado o Domingo Dia de Descanso.

3. Alguns Bons Resultados para o Estado.

a. Crucificação Abolida.b. Repressão do Infanticídio.c. Influência no Tratamento dos Escravos.d. Proibição dos Jogos dos Gladiadores4. Alguns Maus Resultados da Vitória Cristã.a. Todos na Igreja.b. Costumes Pagãos Introduzidos na Igreja.c. A Igreja se Faz Mundana.d. Males Resultantes da União da Igreja com o Estado.

II. FUNDAÇÃO DE CONSTANTINOPLA (Capítulo 10).

1. A Necessidade de uma Nova Capital.2. Sua Posição Geográfica.3. A Capital e a Igreja.4. A Igreja de Santa Sofia.

III. DIVISÃO DO IMPÉRIO. (Capítulo 10).

IV. SUPRESSÃO DO PAGANISMO. (Capítulo 10).

1. Constantino Tolerante.2. Seus Sucessores Intolerantes.a. Confiscação das Doações aos Templos Pagãos.b. A Repressão do Infanticídio.c. Muitos Templos Pagãos Destruídos.d. Destruição dos Escritos Anti-Cristãos.e. Proibida a Adoração de ídolos.

V. CONTROVÉRSIAS E CONCÍLIOS (Capítulo 10).

1. Arianismo — A Doutrina da Trindade.2. A Heresia Apolinária — A Naturezade Cristo.3. 0 Pelagianismo — 0 Pecado e a Salvação.

VI. O NASCIMENTO DO MONACATO (Capítulo 10).

1. Sua Origem2. Seu Fundador3. Os Santos e as Colunas4. O Monacato na Europa

VII. DESENVOLVIMENTO DO PODER NA IGREJA ROMANA (Capítulo 11).

Causas:1. Semelhança com o Governo Imperial.2. A Afirmação da Sanção Apostólica.3. O Caráter da Igreja Romana.a. Os Bispos de Roma.b. A Igreja em Roma. 4. A Mudança da Capital.

VIII. A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO OCI-DENTAL (Capítulo 11).

1. Causas de sua Ruína.

a. Cobiçadas as Riquezas do Império.b. O Despreparo das Legiões Romanas.c. O Império Debilitado pelas Guerras Civis.d. O Movimento das Tribos Asiáticas.2. As Tribos Invasoras.a. Os Visigodos, 376 d.C.b. Os Vândalos, 406.c. Os Francos, 420.d. Os Anglos-Saxões, 440.e. Os Hunos, 450.3. A Queda de Roma, 476 d.C.4. A Igreja e os Bárbaros.

IX. DIRIGENTES DO PERlODO. (Capítulo 11).

1. Atanásio, 293-3732. Ambrósio de Milão, 340-3973. João Crisóstomo, 3454074. Jerónimo, 340-4205. Agostinho, 354430

9

A IGREJA IMPERALTERCEIRO PERÍODO GERAL

Desde o Edito de Constantino, 313.Até à Queda de Roma, 476.

Vitória do Cristianismo.

No período que agora vamostratar, o fato mais notável, etambém o mais influente, tanto parao bem como para o mal, foi a vitóriado Cristianismo. No ano 305, quandoDiocleciano abdicou o trono imperal,a religião cristã eraterminantemente proibida, e aquelesque a professassem eram castigadoscom torturas e morte. Contra oCristianismo estavam todos ospoderes do Estado. Entretanto, menosde oitenta anos depois, em 380, oCristianismo foi reconhecido comoreligião oficial do Império Romano,

e um imperador cristão exerciaautoridade suprema, cercado de umacorte formada de cristãos professos.Dessa forma passaram os cristãos, deum momento para o outro, doanfiteatro romano onde tinham deenfrentar os leões, a ocupar lugaresde honra junto ao trono quegovernava o mundo!

Logo após a abdicação deDiocleciano, no ano 305, quatroaspirantes à coroa estavam emguerra. Os dois rivais maispoderosos eram Maxêncio e cujosexércitos se enfrentaram na ponteMúvia sobre o Tibre, a dezesseisquilômetros de Roma, no ano 312.Constantino era favorável aoscristãos, apesar de ainda não seconfessar como tal. Ele afirmou tervisto no céu uma cruz luminosa com aseguinte inscrição: "In Hoc SignoVinces" (por este sinal vencerás), emais tarde, adotou essa inscriçãocomo insígnia do seu exército. A

vitória entre Constantino e Maxênciopertenceu ao primeiro, sendo queMaxêncio morreu afogado no rioTibre. Pouco tempo depois, em 313,Constantino promulgou o famoso Editode Tolerância, que oficialmenteterminou com as perseguições.Somente no ano 323 foi queConstantino alcançou o posto supremode imperador, e o Cristianismo foientão favorecido. O caráter deConstantino não era perfeito. Apesarde ser considerado justo, de um modogeral, contudo, ocasionalmente eracruel e tirano. Dizia-se que "arealidade do seu cristianismo eramelhor do que a sua qualidade". Eleretardou o ato de seu batismo até àsvésperas da morte, julgando que oato do batismo lavava todos ospecados cometidos anteriormente,idéia que prevalecia entre oscristãos, naquela época. SeConstantino não foi um grandecristão, foi, sem dúvida, um grandepolítico, pois teve a idéia de unir-

se ao movimento que dominaria ofuturo de seu império.

Da repentina mudança derelações entre o império e a igrejasurgiram resultados de alcancemundial. Alguns úteis e outrosdanosos, tanto para a igreja comopara o Estado. É fácil de verificarem que sentido a nova atitude dogoverno benificiou a causa doCristianismo.

Cessaram, como já dissemos,todas as perseguições, para sempre.Durante duzentos anos antes, emnenhum momento os cristãos estiveramlivres de perigos, acusações emorte. Entretanto, desde apublicação do Edito de Constantino,no ano 313, até ao término doimpério, a espada foi não somenteembainhada; foi enterrada.

Os templos das igrejas foramrestaurados e novamente abertos emtoda parte. No período apostólicocelebravam-se reuniões em casas

particulares e em salões alugados.Mais tarde, nos períodos em quecessavam as perseguições,construíam-se templos para asigrejas. Na última perseguição,durante o tempo de Diocleciano,alguns desses templos foramdestruídos e outros confiscadospelas autoridades. Todos os templosque ainda existiam quandoConstantino subiu ao poder, foramrestaurados e aqueles que tinhamsido destruídos, foram pagos pelascidades em que estavam. A partirdessa época os cristãos gozaram deplena liberdade para edificartemplos que começaram a ser ergui-dos, por toda parte. Esses templostinham a forma e tomavam o nome da"basílica" romana ou salão da corte,isto é, um retângulo dividido porfilas de colunas, tendo naextremidade uma plataformasemicircular com assentos para osclérigos. O próprio Constantino deuo exemplo mandando construir templos

em Jerusalém, Belém, e na novacapital, Constantinopla. Duasgerações após, começaram a apareceras imagens nas igrejas. Os cristãosprimitivos tinham horror a tudo quepudesse conduzir à idolatria.

Nessa época a adoração pagãainda era tolerada, porém haviamcessado os sacrifícios oficiais. Ofato significativo de uma mudançatão rápida e tão radical em costumesque estavam intimamente ligados atodas as manifestações cívicas esociais prova que os costumes pagãoseram então mera formalidade e nãoexpressavam a crença das pessoasinteligentes.

Em muitos lugares os templospagãos foram dedicados ao cultocristão. Esses fatos sucediamprincipalmente nas cidades, enquantonos pequenos lugares a crença e aadoração pagãs perduraram durantegerações. A palavra "pagão",originalmente significava "morador

do campo". Mais tarde, porém, passoua significar, um idólatra, que nãopratica a verdadeira adoração.

Em todo o império os templosdos deuses do paganismo erammantidos pelo tesouro público, mas,com a mudança que se operara, essesdonativos passaram a ser concedidosàs igrejas e ao clero cristãos. Empequena escala a princípio, mas logodepois de maneira generalizada e deforma liberal, os dinheiros públicosforam enriquecendo as igrejas, e osbispos, os ministros, todos osfuncionários do culto cristão erampagos pelo Estado. Era uma dádivabem recebida pela igreja, porém, debenefício duvidoso.

Ao clero foram concedidosmuitos privilégios, nem sempre dadospela lei do império, mas porcostume, que pouco depois setransformava em lei. Os deverescívicos obrigatórios para todos oscidadãos, não se exigiam dos

clérigos; estavam isentos depagamento de impostos. As causas emque estivessem envolvidos osclérigos, eram julgadas por corteseclesiásticas e não civis. Osministros da igreja formavam umaclasse privilegiada acima da lei dopaís. Tudo isso foi, também, um bemimediato que se transformou emprejuízo tanto para o Estado comopara a igreja.

O primeiro dia da semana(domingo) foi proclamado como dia dedescanso e adoração, e a observânciaem breve se generalizou em todo oimpério. No ano 321, Constantinoproibiu o funcionamento das cortes etribunais aos domingos, exceto em setratando de libertar os escravos. Ossoldados estavam isentos deexercícios militares aos domingos.Mas os jogos públicos continuaram arealizar-se aos domingos o que otornava mais um feriado que um diasanto.

Como se vê, do reconhecimentodo Cristianismo como religiãopreferida surgiram alguns bonsresultados, tanto para o povo comopara a igreja. O espírito da novareligião foi incutido em muitasordens decretadas por Constantino eseus sucessores imediatos.

A crucificação foi abolida.Note-se que a crucificação era umaforma comum de castigo para oscriminosos, exceto para os cidadãosromanos, os únicos que tinhamdireito a ser decapitados, se fossemcondenados à morte. Porém a cruz,emblema sagrado para os cristãos,foi adotada por Constantino, comodistintivo de seu exército e foiproibida como instrumento de morte.

O infanticídio foi reprimido.Na história de Roma e suasprovíncias, era fato comum quequalquer criança que não fosse doagrado do pai, podia ser asfixiadaou "abandonada" para que morresse.

Algumas pessoas dedicavam-se arecolher crianças abandonadas;criavam-nas e depois vendiam-nascomo escravos. A influência doCristianismo imprimiu um sentidosagrado à vida humana, até mesmo àdas crianças, e fez com que oinfanticídio fosse banido doimpério.

Através de toda a história darepública e do Império Romano antesque o Cristianismo chegasse adominar, mais da metade da populaçãoera escrava, sem nenhuma proteçãolegal. Qualquer senhor podia mataros escravos que possuía, se odesejasse. Durante o domínio de umdos primeiros imperadores, um ricocidadão romano foi assassinado porum de seus escravos. Segundo a lei,como castigo todos os trezentosescravos daquele cidadão forammortos, sem levar-se em consideraçãoo sexo, a idade, a culpa ou ainocência. Entretanto, a influência

do Cristianismo tornou mais humano otratamento dado aos escravos. Foram-lhes outorgados direitos legais queantes não possuíam. Podiam, deacordo com a lei, acusar seu amo detratamento cruel, e a emancipaçãofoi assim sancionada e fomentada.Dessa forma as condições dosescravos foram melhoradas e aescravidão foi gradativamenteabolida.

As lutas de gladiadores foramproibidas. Essa lei foi posta emvigor na nova capital deConstantino, onde o hipódromo jamaisfoi contaminado por homens que sematassem uns aos outros para prazerdos espectadores. Contudo, oscombates ainda continuaram noanfiteatro romano até ao ano 404,quando o monge Telêmaco invadiu aarena e tentou apartar osgladiadores. O monge foiassassinado, porém, desde então,

cessou a matança de homens paraprazer dos espectadores.

Apesar de os triunfos doCristianismo haverem proporcionadoboas coisas ao povo, contudo a suaaliança com o Estado,inevitavelmente devia trazer, comode fato trouxe, maus resultados paraa igreja. Se o término daperseguição foi uma bênção, aoficialização do Cristianismo comoreligião do Estado foi, não hádúvida, maldição.

Todos queriam ser membros daigreja e quase todos eram aceitos.Tanto os bons como os maus, os quebuscavam a Deus e os hipócritasbuscando vantagens, todos seapressavam em ingressar na comunhão.

Homens mundanos, ambiciosos esem escrúpulos, todos desejavampostos na igreja, para, assim,obterem influência social epolítica. O nível moral doCristanismo no poder era muito mais

baixo do que aquele que destinguiaos cristãos nos tempos deperseguição.

Os cultos de adoraçãoaumentaram em esplendor, é certo,porém eram menos espirituais e menossinceros do que no passado. Oscostumes e as cerimônias dopaganismo foram pouco a poucoinfiltrando-se nos cultos deadoração. Algumas das antigas festaspagãs foram aceitas na igreja comnomes diferentes. Cerca do ano 405as imagens dos santos e mártirescomeçaram a aparecer nos templos,como objetos de reverência, adoraçãoe culto. A adoração à virgem Mariasubstituiu a adoração a Vênus e aDiana. A Ceia do Senhor tornou-se umsacrifício em lugar de umarecordação da morte do Senhor. O"ancião" evoluiu de pregador asacerdote.

Como resultado da ascenção daigreja ao poder, não se vê os ideais

do Cristianismo transformando omundo; o que se vê é o mundodominando a igreja. A humildade e asantidade da igreja primitiva foramsubstituídas pela ambição, peloorgulho e pela arrogância de seusmembros. Havia, é certo, aindaalguns cristãos de espírito puro,como Mônica, a mãe de Agostinho, ebem assim havia ministros fiéis comoJerônimo e João Crisóstomo.Entretanto, a onda de mudanismoavançou, e venceu a muitos que sediziam discípulos do humilde Senhor.

Se tivesse sido permitido aoCristianismo desenvolver-senormalmente, sem o controle doEstado, e se o Estado se tivessemantido livre da ditadura da igreja,tanto um quanto a outra teriam sidomais felizes. Porém a igreja e oEstado tornaram-se uma só entidadequando o Cristianismo foi adotadocomo religião do império, e dessaunião inatural surgiram males sem

conta nas províncias orientais eocidentais. No Oriente, o Estadodominava de tal modo a igreja, queesta perdeu todo o poder quepossuía. No Ocidente, como veremosadiante, a igreja, pouco a pouco,usurpou o poder secular e oresultado não foi Cristianismo, e, sim,o estabelecimento de uma hierarquiamais ou menos corrompida quedominava as nações da Europa,fazendo da igreja uma máquinapolítica.

10A IGREJA IMPERIALSEGUNDA PARTE

Fundação de Constantinopla. Divisão do ImpérioSupressão do Paganismo. Constrovérsias e

Concílios. Nascimento do Monacato.

Logo após haver sido oCristianismo elevado à condição dereligião do Império Romano, uma novacapital foi escolhida, construída eestabelecida como sede da autoridadedo Império, fato que deu motivo agrandes acontecimentos tanto para aigreja como para o Estado.

O imperador Constantinocompreendeu que a cidade de Romaestava intimamente ligada à adoraçãopagã, cheia templos e estátuas, e opovo inclinado à antiga forma deadoração;enfim, uma cidade dominadapelas tradições do paganismo. Além

disso, a posição geográfica de Roma,em meio a imensas planícies,deixava-a exposta aos ataques dosinimigos. Em épocas primitivas darepública, a cidade, mais de umavez, fora cercada por exércitosestrangeiros. Mais tarde também foracercada por exércitos das provínciasque várias vezes destronaram eentronizaram imperadores. O sistemade governo organizado por Diocle-ciano, e continuado por Constantino,não dava lugar para nenhuma parcelade autoridade do senado romano. Osimperadores possuíam agora poderesilimitados, e Constantino desejavauma capital sem os laços da tradi-ção, uma capital sob os auspícios danova religião.

Constantino demonstrou altasabedoria ao escolher a novacapital. O local escolhido foiBizâncio, cidade grega, cujaexistência contava cerca de milanos, e estava situada no ponto de

contacto entre a Europa e a Ásia,onde os dois continentes estãoseparados pelo dois estreitos: aonorte o Bósforo e ao sul oHelesponto (atualmente Dardanelos),que, juntos, tinham noventa e seisquilômetros de comprimento, e emquase toda a extensão menos de umquilômetro de largura, com ex-ceçãode alguns trechos em que alcançacinco ou seis quilômetros. Asituação dessa cidade estava tão bemfortificada pela natureza que,durante mais de vinte e cincoséculos de história, raras vezes foiconquistada por seus inimigos, aopasso que a sua rival, a cidade deRoma, várias vezes fora saqueada evencida. Em Bizâncio, Constantinoestabeleceu a capital, e planejou aconstrução da grande cidademundialmente conhecida durantemuitos anos por Constantinopla, acidade de Constantino, atualmenteIstambul.

Na nova capital, o imperador eo patriarca (esse foi o título queposteriormente recebeu o bispo deConstantinopla), viviam em harmonia.A igreja era honrada e considerada,porém eclipsada pela autoridade dotrono. Em razão da presença e dopoder do imperador e bem assim pelaíndole submissa e dócil do povo, aigreja, no Império Oriental, tornou-se escrava do Estado, apesar dealguns patriarcas, como JoãoCrisóstomo, afirmarem suaindependência.

Na nova capital não haviatemplos dedicados aos ídolos, porémnão tardou que se edificassem váriasigrejas. A maior de todas ficouconhecida como a de Santa Sofia,"Sabedoria Sagrada". Foi edificadapor ordem de Constantino. Algumtempo depois foi destruída por umincêndio, mas reconstruída peloimperador Justiniano (ano 537), comtanta magnificência, que sobrepujou

todos os templos da época. Essetemplo, durante onze séculos foiconsiderado como a catedral doCristianismo, até o ano de 1453,quando a cidade foi tomada pelosturcos. Logo após, o templo foitransformado em mesquita, até depoisda Segunda Guerra Mundial.

Logo depois da fundação da novacapital, deu-se a divisão doimpério. As fronteiras eramdemasiado extensas e o perigo deinvasão dos bárbaros era tão grande,que um imperador sozinho já nãopodia proteger seus vastos domínios.Diocleciano havia iniciado a divisãode autoridade no ano 305.Constantino também nomeouimperadores aliados. No ano de 395,Teodósio completou a separação.Desde o governo de Teodósio, o mundoromano foi dividido em Oriental eOcidental, separados pelo MarAdriático. O Império Oriental eradenominado Grego, ao passo que o

Ocidental era chamado Latino, emrazão do idioma que prevalecia emcada um deles. A divisão do impériofoi um presságio da futura divisãoda igreja.

Um dos fatos mais notáveis daHistória foi a rápida transformaçãode um vasto império, de pagão queera, para cristão. Aparentemente, noinício do quarto século, os antigosdeuses estavam arraigados nareverência do mundo romano; porém,antes que se iniciasse o quartoséculo, os templos haviam sidoabandonados à própria ruína, ouentão haviam sido transformados emtemplos cristãos. Os sacrifícios eas libações haviam cessado, e,oficialmente, o Império Romano eracristão. Vejamos como o paganismocaiu do elevado conceito que gozava.

Constantino era tolerante,tanto por temperamento como pormotivos políticos, apesar de serenfático no reconhecimento da

religião cristã. Não sancionava ne-nhum sacrifício às imagens que anteseram adoradas, e determinou quecessassem as oferendas à estátua doimperador. Contudo, favorecia atolerância para com todas as formasde religião, e procurava conversãogradativa do povo ao Cristianismo,mediante a evangelização, e não pordecretos. Conservou alguns títulospagãos do imperador, como o de"pontifex maximus", sumo pontífice,título conservado por todos os papasdesde esse tempo. Também manteve asvirgens, as vestais, em Roma.

Entretanto, os sucessores deConstantino mostraram-seintolerantes. A conversão dos pagãoscrescia rapidamente, demasiadorapidamente, para o bem-estar daigreja. Contudo, os primeirosimperadores cristãos que sucederam aConstantino procuraram acelerarainda mais o movimento deconversões, mediante uma série de

leis drásticas e opressoras. Todasas ofertas dadas aos templos pagãosou aos seus sacerdotes foramconfiscadas e quase todastransferidas para os temploscristãos. Os sacrifícios e ritos deadoração pagãos foram proibidos, e asua prática era considerada ofensapunida por lei. Logo após o reinadode Constantino, seu filho decretou apena de morte e o confisco depropriedade, para todos osadoradores de ídolos. O paganismo,na geração que antecedeu a suaextinção, teve alguns mártires;contudo, muito poucos em confrontocom os mártires do Cristianismo cujaperseguição durou dois séculos.

Muitos templos pagãos já tinhamsido dedicados ao Cristianismo; edepois de alguns anos, foi ordenadoque aqueles que ainda restavamfossem demolidos a não ser que seconsiderassem úteis para a adoraçãocristã. Um decreto proibia que se

falasse ou escrevesse contra areligião cristã, e determinou-se quetodos os livros contrários fossemqueimados. O resultado desse decretofoi que o único conhecimento quetemos das seitas hereges ouanticristãs é obtido nos livrosescritos contra elas. A execuçãodessas leis repressivas variava deintensidade nas diversas partes doimpério. Contudo, seu efeitoextinguiu o paganismo no decorrer detrês ou quatro gerações.

Logo que o longo conflito doCristianismo com o paganismoterminou em vitória daquele, surgiuuma nova luta, uma guerra no campodo pensamento, uma série decontrovérsias dentro da igreja,acerca de doutrinas. Enquanto aigreja lutava para sua própriasobrevivência contra a perseguição,conservou-se unida, apesar dosrumores de dissensões doutrinárias.Entretanto, quando a igreja se viu a

salvo e no poder, surgiramacalorados debates acerca de suasdoutrinas, e tão fortes semostravam, que lhe abalavam osfundamentos. Durante esse período,surgiram três grandes controvérsias,além de outras de menor importância.A fim de resolver essas questões,convocavam-se concílios de toda aigreja. Nesses concílios somente osbispos tinham direito a voto. Todosos demais clérigos e leigos deviamsubmeter-se às decisões que aquelestomassem. A primeira controvérsiaapareceu por causa da doutrina daTrindade, especialmente em relaçãoao Pai e ao Filho.

Ário, presbítero de Alexandria,mais ou menos no ano 318, defendeu adoutrina que considerava JesusCristo como superior à naturezahumana, porém inferior a Deus; nãoadmitia a existência eterna deCristo; pregava que Cristo teveprincípio. O principal opositor

dessa doutrina foi Atanásio, tambémde Alexandria. Atanásio afirmava aunidade do Filho com o Pai, adivindade de Cristo e sua existênciaeterna. A contenda estendeu-se atoda a igreja. Depois de Constantinohaver feito tudo para solucionar aquestão, sem obter êxito, convocou,então, um concílio de bispos, o qualse reuniu em Nicéia, Bitínia, no ano325. Atanásio, que então era apenasdiácono, teve direito a falar, masnão a voto. Apesar dessacircunstância, conseguiu que amaioria do concílio condenasse asdoutrinas de Ário, no credo deNicéia. Contudo, Ário estavapoliticamente bem amparado. Suasopiniões eram sustentadas por muitosmembros influentes pertencentes àsclasses elevadas, inclusive pelofilho e sucessor de Constantino. Poressa razão foi Atanásio cinco vezesexilado, e o mesmo número de vezestrazido do desterro. Quando um amigode Atanásio lhe disse: "Atanásio, o

mundo está contra ti", elerespondeu: "Assim seja — Atanásiocontra o mundo." Os últimos seteanos, Atanásio passou-os emAlexandria, onde morreu no ano 373.Suas idéias, muito depois de suamorte, foram vitoriosas e aceitaspor toda a igreja, tanto no Orientecomo no Ocidente. Foramconsubstanciadas no Credo deAtanásio, que durante algum tempo seacreditava haver sido escrito porele, porém mais tarde descobriu-seque outra pessoa o escreveu.

Posteriormente apareceu outrocisma acerca da natureza de Cristo.Apolinário, bispo de Laodicéia (ano360), declarou que a natureza divinatomou o lugar da natureza humana deCristo. Que Jesus, na terra, não erahomem, era Deus em forma humana. Amaioria dos bispos e dos teólogossustentavam que a Pessoa de JesusCristo era uma união de Deus ehomem, divindade e humanidade em uma

natureza. A heresia apolinária foicondenada pelo Concílio deConstantinopla, no ano 381, o quedeu motivo a Apolinário afastar-seda igreja.

A única controvérsia prolongadadesse período, surgida na igrejaocidental, foi a que dizia respeitoao pecado e à salvação. Teve origemcom Pelágio, monge que foi da Grã-Bretanha para Roma, cerca do ano410. Sua doutrina declarava que nósnão herdamos as tendênciaspecaminosas de Adão mas que a almafaz a sua própria escolha, seja parapecar, seja para viver retamente.Que a vontade humana é livre e cadaum é responsável por suas decisões.Contra essa idéia surgiu, então, omaior intelecto da história doCristianismo, depois do apóstoloPaulo, o poderoso Agostinho, quesustentava que Adão representavatoda a raça humana, que no pecado deAdão todos os homens pecaram e são

pecadores e todo o gênero humano éconsiderado culpado. Que o homem nãopode aceitar a salvação unicamentepor sua própria escolha, mas somentepela vontade de Deus, o qual é quemescolhe aqueles que devem sersalvos. A doutrina de Pelágio foicondenada pelo Concílio de Cartago,no ano 418, e a teologia deAgostinho tornou-se a regra ortodoxada igreja. Somente mais tarde, nostempos modernos, na Holanda, sob aorientação de Armínio (ano de 1600),e no século dezoito com João Wesley,é que a igreja se afastou do sistemadoutrinário agostiniano.

Enquanto esses movimentos decontrovérsias se agitavam, iniciava-se outro grande movimento quealcançou imensas proporções na IdadeMédia: o nascimento do espíritomonástico. Na igreja primitiva nãohavia monges nem freiras. Oscristãos viviam em família; apesarde evitarem misturar-se com os

idólatras, eram, contudo, membros dasociedade em que viviam. Entretanto,no período que estamos considerandonotamos o despontar e odesenvolvimento inicial de um movi-mento rumo à vida monástica.

Depois que o Cristianismo seimpôs e dominou em todo o império, omundanismo penetrou na igreja e fezprevalecer seus costumes. Muitos dosque anelavam uma vida espiritualmais elevada, estavam descontentescom os costumes que os cercavam eafastavam-se para longe dasmultidões. Em grupos ouisoladamente, retiravam-se paracultivar a vida espiritual, atravésda meditação, oração e costumesascéticos. Esse espírito monásticoteve início no Egito, favorecidopelo clima cálido e pelas escassasnecessidades de vida.

Na primitiva história cristãpodem encontrar-se casos de vidasolitária. Entretanto, o fundador do

monasticismo foi Antão, no ano 320,pois foi a sua vida de asceta quechamou a atenção, e fez com quemilhares de pessoas imitassem o seuexemplo. Ele viveu sozinho durantemuitos anos em uma caverna, noEgito. Era conhecido de todos etodos o admiravam pela pureza esimplicidade de seu caráter. Foiassim que muitos o imitaram e seretiraram para as cavernas do nortedo Egito. Esses que assim viviameram chamados "anacoretas". Aquelesque formavam essa comunidade eramconhecidos por "cenobitas". Do Egitoesse movimento espalhou-se pelasigrejas do Oriente, onde a vidamonástica foi adotada por muitoshomens e mulheres.

Uma forma peculiar de ascetismofoi adotada pelos santos dascolunas. O iniciador desse sistemafoi Simão, ou Simeão Estilita, ummonge sírio, apelidado "da Coluna".Ele deixou o mosteiro no ano de 423,

e construiu vários pilares em fila;a construção dos primeiros pilaresou colunas foi seguida de outrosmais altos, de modo que o últimotinha dezoito metros de altura, el,20m de largura. Nesses pilares oucolunas viveu Simão cerca de trintae sete anos. Milhares de pessoasseguiram-lhe o exemplo, de modo quea Síria teve muitos santos dospilares ou colunas, entre os séculosquinto e décimo-segundo. Contudoessa forma de vida não conseguiudiscípulos na Europa.

O movimento monástico na Europaespalhou-se mais lentamente do quena Ásia e na África. A vidasolitária e individual do asceta nãotardou a fazer com que na Europa sefundassem mosteiros onde o trabalhoestaria unido à oração. A Lei daOrdem dos Beneditinos, mediante aqual foram, de modo geral,organizados e dirigidos os mosteirosdo Ocidente, foi promulgada no ano

529. O espírito monásticodesenvolveu-se na Idade Média; maistarde voltaremos a tratar do assuntoe de sua ação na história.

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A IGREJA IMPERIAL TERCEIRA PARTE

Desenvolvimento do Poder na Igreja Romana.A Queda do Império Romano Ocidental.

Dirigentes do Período.

Já sabemos que a cidade de Romafoi suplantada por Constantinopla emsua posição de capital política domundo. Agora veremos a mesma Romaafirmando seu direito de ser acapital da igreja. No decurso dosanos anteriores, a igreja esforçou-se para conquistar prestígio epoder, e agora o bispo de Roma, quejá se chamava papa, reclamava otrono de autoridade sobre todo omundo cristão, e insistia em serreconhecido como cabeça da igreja emtoda a Europa ao oeste do MarAdriático. A essa altura a demanda

do papa pelo poder, tanto sobre aigreja como sobre o Estado, aindanão tinha as proporções que viria aalcançar mais tarde na Idade Média,mas já se inclinava fortemente nessadireção. Vejamos quais foram ascausas desse movimento.

A semelhança da igreja com oimpério, como organização,fortalecia a tendência da nomeção deum cabeça. Em um Estado governadopor uma autocracia, e não porautoridades eleitas, no qual umimperador governava com poderesabsolutos, era natural que a igreja,da mesma forma, fose governada porum chefe. Em toda parte os bisposgovernavam as igrejas, porém estapergunta surgia constantemente: Quemgovernará os bispos? Qual o bispoque deve exercer na igreja aautoridade que o imperador exerce noimpério?

Os bispos que dirigiam igrejasem certas cidades eram chamados

"metropolitanos" e mais tarde"patriarcas". Havia patriarcas emJerusalém, Antioquia, Alexandria,Constantiopla e Roma. O bispo deRoma tomou o título de "pai", quemais tarde foi modificado para papa.Entre os cinco patriarcados acimamencionados havia frequentes efortes disputas pela supremacia.Mais tarde essa disputa ficousomente entre o patriarca deConstantinopla e o papa de Roma,para saber-se qual dos dois seriachefe da igreja.

Roma reclamava para siautoridade apostólica. A igreja deRoma era a única que declarava podermencionar o nome de dois apóstoloscomo fundadores, isto é, os maioresde todos os apóstolos, Pedro ePaulo. Surgiu, então, a tradição deque Pedro foi o primeiro bispo deRoma. Ora, como bispo, Pedrodeveria, por certo, ser papa.Supunham que o título "bispo", no

primeiro século, tinha o mesmosignificado que lhe davam no quartoséculo, isto é, chefe do clero e daigreja, e que Pedro, como principalentre os apóstolos, deveria exercerautoridade sobre toda a igreja.Citavam, dois textos dos evangelhos,como prova desses fatos. Um dessestextos ainda pode ser visto, escritoem latim, na cúpula da basílica deS. Pedro, no Vaticano e diz: "Tu ésPedro e sobre esta pedra edificareia minha igreja." O outro é"Apascenta as minhas ovelhas."Argumentavam da seguinte forma: SePedro foi o chefe da igreja, entãoseus sucessores, os papas de Roma,devem continuar a exercer a mesmaautoridade.

A organização da igreja de Romae bem assim seus dirigentesprimitivos defendiam fortementeessas afirmações. Os bispos daigreja de Roma, de um modo geral,eram muito mais fortes, sábios e

enérgicos que os de Constantinopla;por essa razão sua influência erasentida em toda a igreja. Ainfluência da antiga tradiçãoimperial que fizera de Roma asenhora do mundo ainda estavapresente na sociedade romana. Nesteponto há um constraste notável entreRoma e Constantinopla.

Originalmente Roma havia feitoos imperadores, ao passo que osimperadores fizeram Constantinopla,e a povoaram com seus súditossubmissos. A igreja de Roma semprese mantivera conservadora nadoutrina, pouco influenciada porseitas e heresias; permanecia,naqueles dias, como uma coluna doensino ortodoxo. Esse fato aumentavasua influência em toda a igreja, demodo geral.

Além disso, a igreja de Romaapresentava um Cristianismo prático.Nenhuma outra igreja a sobrepujavano cuidado para com os pobres, não

só entre seus membros, mas tambémentre os pagãos, nas ocasiões em quese manifestava a peste e a fome. Aigreja de Roma havia oferecidoauxílio liberal às igrejasperseguidas em outras províncias.Quando um funcionário pagão de Romapediu à igreja os seus tesouros, obispo reuniu os membros pobres, edisse-lhes: "Aqui está o nossotesouro."

A transferência da capital deRoma para Constantinopla, longe dediminuir a influência do bispo oupapa romano, fê-la aumentarconsideravelmente. Já verificamosque em Constantinopla o imperador ea corte dominavam a igreja; opatriarca, de um modo geral, estavasujeito ao palácio imperial.Entretanto, em Roma não haviaimperador sobrepondo-se ao papa oueclipsando-o. Portanto, o papa era amais alta autoridade na região.

A Europa inteira sempre olharapara Roma com certa reverência.Agora a capital do império estavalonge; especialmente estando opróprio império em decadência, osentimento de lealdade para com opapa, pouco a pouco, tomou o lugarda lealdade para com o imperador.

Foi assim que em todo oOcidente o bispo de Roma, ou papa,chefe da igreja em Roma, começou aser considerado como a autoridadeprincipal de toda a igreja. Foidessa forma que no Concílio deCalcedônia, na Ásia Menor, no ano451, Roma ocupou o primeiro lugar eConstantinopla o segundo. Preparava-se dessa forma o caminho parapretensões ainda maiores da parte deRoma e do papa, nos séculos futuros.Durante esse período da igrejaimperial, entretanto, outromovimento estava em progresso, istoé, a maior catástrofe de toda ahistória — a queda do Império Romano

Ocidental. No reinado deConstantino, aparentemente o reinoparecia estar tão bem protegido einvencível, como o estivera nosgovernos de Marco Aurélio e deAugusto. Contudo, estava corroídopela decadência moral e política, epronto para ser desmoronado porinvasores vizinhos, que estavamdesejosos de invadi-lo. 25 anos apósa morte de Constantino no ano 337,os muros do Império Ocidental foramderribados, as hordas de bárbaros(nome dado pelos romanos aos demaispovos, exceto a si mesmos, aosgregos e aos judeus), começaram apenetrar por toda parte nasindefesas províncias, apoderando-sedos territórios e estabelecendoreinos independentes. Em menos decento e quarenta anos, o ImpérioRomano Ocidental, que existiudurante mil anos, foi riscado doquadro das coisas existentes. Não édifícil encontrar as causas de tãofragorosa queda.

As riquezas do império eramcobiçadas pelos povos bárbaros, seusvizinhos. De um lado da fronteirahavia cidades opulentas que viviamdespreocupadamente, vastos camposcom fartas colheitas, enfim, pessoasque possuíam tudo quanto as tribospobres tanto desejavam. Por essarazão enfileiravam-se, agressivas,do outro lado da fronteira. Duranteséculos a invasão dos bárbaros foraa principal preocupação dosimperadores romanos. As fronteirasdo império estavam sempre defendidascontra as ameaças desses inimigos. Aúnica razão de haver váriosimperadores ao mesmo tempo decorriada necessidade de um governanteinvestido de autoridade próximo aoslocais de perigo, para que pudesseagir, sem esperar ordens da capitaldistante.

Mesmo em seus melhores tempos,homem por homem, os romanos sóestavam em igualdade de condições

com os bárbaros, e, após séculos depaz, haviam perdido a prática deguerrear. Em nossos dias as naçõescivilizadas possuem munições deguerra muito superiores àquelas queas tribos usavam. Nos tempos antigosuns e outros guerreavam com espadase lanças; a única vantagem dosromanos consistia na magistraldisciplina de suas legiões.Entretanto, a disciplina haviadecaído nos tempos dos últimosimperadores, e os bárbaros eramfisicamente mais fortes, maisintrépidos, e estavam mais aptospara a guerra. O mal das forçasdecadentes do império romano estavanesta grave circunstância: Aslegiões eram adestradas pelospróprios bárbaros, os quais às vezeshaviam sido contratados paradefenderem a cidade de Roma, contraseus próprios povos. A maior partedas legiões, seus generais e bemassim muitos imperadores procediamde raças bárbaras. Nenhuma nação que

habitualmente use estrangeiros paradefendê-la, quando necessário,poderá manter sua liberdade pormuito tempo.

O Império Romano, não muitoforte em seus recursos humanos,também estava enfraquecido pelasguerras civis, que duraram gerações,provocadas por vários pretendentesao trono imperial. Os imperadores jánão eram escolhidos pelo senado.Quando um deles era assassinado(como o foram em maioria), cadaexército das várias provínciasapresentava seu próprio candidato, ea decisão não era feita mediantevotos, mas pelas armas. Durante oespaço de noventa anos, oitentachefes foram proclamados imperadorese cada um reclamava o trono. Emcerta época os chamados imperadoreseram tantos, que passaram a serdenominados "os trinta tiranos". Ascidades eram saqueadas, e osexércitos eram pagos de forma

extravagante e exagerada. O impérioempobreceu por causa da sede depoder. O resultado foi este: asguarnições militares foram retiradasdas fronteiras, a terra foi deixadasem defesa, à mercê dos invasores.

A causa imediata de muitasinvasões foi o movimento das tribosasiáticas. Quando os bárbaros queviviam a leste das provínciaseuropéias se lançaram sobre osromanos, declararam que foram a issoforçados, pois hostes irresistíveisde guerreiros asiáticos e suasfamílias lhes haviam tomado suasterras, obrigando-os a dirigir-separa o Império Romano. Esse povo éconhecido pelo nome de hunos. Não sesabe por que motivo abandonaram seuslares na Ásia central; crê-se,contudo, que foi por causa damudança de clima e escassez dechuva, que transformou camposférteis em desertos. Mais tarde oshunos, sob a orientação do feroz rei

Átila, entraram em contato diretocom os romanos e constituíram-se noinimigo mais terrível do império.

Considerando que a história queestamos narrando é a história daigreja e não a do Império Romano, adescrição das tribos invasoras deveser apenas um breve esboço: Asprimeiras invasões foram realizadaspelas raças que viviam no Danúbio eno Mar Báltico. Os visigodos (godosdo ocidente) dirigidos pelo capitãoAlarico invadiram a Grécia e aItália, capturaram e saquearam Roma,e estabeleceram um reino no sul daFrança. O vândalos, dirigidos porGenserico, invadiram a França,conquistaram a Espanha, passarampara o norte da África econquistaram aqueles países.

Os francos, uma tribogermânica, capturaram o norte daGália e deram-lhe o nome de França.Mais tarde, um rei dos francos,chamado Clóvis, tornou-se cristão, e

foi imitado por seu povo nessegesto. Os francos ajudaram, muito naconversão do norte da Europa aoCristianismo, embora às vezesempregassem a força. Os anglos e ossaxões da Dinamarca e dos países donorte, vendo que a Grã-Bretanhahavia sido abandonada pelas legiõesromanas, realizaram invasões emgerações seguidas, até quaseextinguirem o Cristianismo. Somentemais tarde o reino anglo-saxão seconverteu ao Cristianismo, masatravés de missionários de Roma.

No ano 450, os temíveis hunos,dirigidos pelo cruel rei Átila,invadiram a Itália e ameaçaramdestruir não somente o ImpérioRomano, mas também todos os paísesque Roma governava. Os godos, osvândalos e os francos, sob o governode Roma, uniram-se contra os hunos,e travaram então a batalha deChalons, no norte da França. O hunosforam derrotados, após terrível

matança, e com a morte de Átila logodepois, perderam seu poder agressivoe desapareceram. A batalha deChalons (451) demonstrou que aEuropa não seria governada porasiáticos, mas que se desenvolveriade acordo com a sua própriacivilização.

Por causa das sucessivasinvasões e divisões, o outrora vastoimpério de Roma ficou reduzido a umpequeno território em redor dacapital. No ano 476, uma tribo degermânicos, aparentemente pequena,os hérulos dirigidos pelo reiOdoacro, apoderou-se de Roma,destronou o menino imperador Rômuloconhecido por Augusto o Pequeno, ou"Augústulo". Odoacro tomou o títulode rei da Itália, e desde esse ano,476, o Império Romano Ocidentaldeixou de existir. Desde a fundaçãode Roma, até à queda do império,passaram-se mil e quinhentos anos. OImpério Oriental que tinha como

capital Constantinopla, durou até aoano de 1453.

Quase todas as tribos invasoraseram pagãs de origem. Os godosconstituíam uma exceção, pois haviamsido convertidos ao Cristianismo porÁrio, e possuíam a Bíblia em suaprópria língua, cujas porções aindaexistentes formam a primitivaliteratura teutônica.

Também é certo que quase todasas tribos conquistadoras tornaram-secristãs, em parte por meio dos godose em parte pelo contato com os povosentre os quais se estabeleceram.Mais tarde os arianos chegaram a sercrentes ortodoxos.

O Cristianismo dessa épocadecadente ainda era vivo e ativo, econquistou muitas raças invasoras.Essas raças vigorosas, por sua vez,contribuíram para a formação de umanova raça européia. Como se vê,decaiu a influência do império,desfez-se o poder imperial de Roma,

porém aumentou a influência daigreja de Roma e dos papas, em todaa Europa. Assim, o império caiu,porém a igreja ainda conservava suaposição imperial.

Devemos mencionar aqui algunsdos dirigentes da igreja imperialnesse período. Atánasio (296-373)foi ativo defensor da fé no iníciodo período. Já vimos como ele selevantou e se destacou nacontrovérsia de Ário; tomou-se afigura principal no Concílio deNicéia, em 325, apesar de não terdireito a voto; logo depois, foiescolhido bispo de Alexandria. Cincovezes foi exilado, por causa da fé,mas lutou fielmente até ao fim,terminando sua carreira com paz ecom honra.

Ambrósio de Milão (340-397), oprimeiro dos pais latinos, foieleito bispo enquanto era aindaleigo, e nem ao menos era batizado,mas recebera então instrução para

tornar-se membro. Tanto os arianoscomo os ortodoxos notaram nelequalidades para ser bispo. Ambrósiotornou-se uma figura destacada naigreja. Repreendeu o imperadorTeodósio, por causa de um ato cruel,e obrigou-o a confessar-se. Maistarde o próprio imperador o tratoucom alta distinção, sendo eleitopara pregar nos funerais desseimperador. O próprio Ambrósio foiautor de vários livros, porém amaior distinção, para ele, foireceber na igreja o poderosoAgostinho.

João, chamado Crisóstomo, "aboca de ouro", em razão de suaeloquência inigualável, foi o maiorpregador desse período. Nasceu emAntioquia, no ano 345. Chegou a serbispo de Constantinopla, no ano 398e pregou à imensa multidão que sereunia na catedral de Sta. Sofia.Entretanto, sua fidelidade,independência, zelo reformador e

coragem, não agradavam à corte. JoãoCrisóstomo foi exilado e morreu noexílio, no ano 407, porém suamemória foi vindicada; seu corpo foilevado para Constantinopla esepultado com grandes homenagens.Foi poderoso pregador, estadista, eexpositor competente da Bíblia.

Jerônimo (340-420) foi o maiserudito de todos os pais latinos.Estudou literatura e oratória emRoma.

Entretanto, renunciou às honrasdo mundo, para viver uma vidareligiosa fortemente matizada deascetismo. Estabeleceu um mosteiroem Belém e ali viveu durante muitosanos. De seus numerosos escritos, oque teve maior influência eaceitação foi a tradução da Bíbliapara o latim, obra que ficouconhecida como Vulgata Latina, istoé, a Bíblia em linguagem comum, atéhoje a Bíblia autorizada pela igrejacatólica romana.

O nome mais ilustre de todoesse período foi o de Agostinho,nascido no ano 354, no norte daÁfrica. Ainda jovem, já eraconsiderado brilhante erudito, porémmundano, ambicioso e amante dosprazeres. Aos trinta e três anos deidade tornou-se cristão, por in-fluência de Mônica, sua mãe, e pelosensinos de Ambrósio, bispo de Milão,e bem assim pelo estudo das epísto-las de Paulo.

Agostinho foi eleito bispo deHipona, no norte da África, no ano395, ao tempo em que começaram asinvasões dos bárbaros. Entre asmuitas obras de Agostinho destaca-se"A Cidade de Deus", na qual ele fazmagnífica defesa, a fim de que oCristianismo tome o lugar dodissolvente império. O livro"Confissões" encerra as profundasrevelações da sua própria vida ecoração. Porém a fama e a influênciade Agostinho estão nos seus escritos

sobre a teologia cristã, da qual elefoi o maior expositor, desde o tempode Paulo. Agostinho morreu no ano430.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS 12-17

QUARTO PERÍODO GERAL. A IGREJA MEDIEVAL.Desde a Queda de Roma, 476 d.C.Até à Queda de Constantinopla, 1453 d.C.

I. CRESCIMENTO DO PODER PAPAL (Capítulo 12).

1. Período de Crescimento, 590-1073d.C. Causas:a. Fortalecimento da Justiçab. Incertezas do Governo Secular.c. Firmeza do Governo da Igreja.d. As "Fraudes Pias".

(1) A Falsa Doação de Constantino.(2) Decretais Pseudo-Isidorianas.(3) Evidências de Fraude.

2. Período Culminante, 1073-1216 d.C.

a. O Governo de Hildebrando (Gregório VII).(1) Reforma do Clero.(2) Separação entre a Igreja e o Estado.(3) Supremacia da Igreja

b. O Governo de Inocêncio III, 1198-1216.(1) Suas Afirmações.(2) Eleição do Imperador.(3) Governo em Roma.(4) Submissão do Rei da França.(5) Submissão do Rei da Inglaterra.

3. Período de Decadência.a. Bonifácio VIII, 1303 d.C.b. Cativeiro Babilônico, 1305-1377 d.C.c. O Concílio de Constança, 1414 d.C.

II. O APARECIMENTO DO PODER MAOMETANO(Capítulo 13).

1. Seu Fundador, Maomé, 570-632 d.C.2. Sua Religião.3. O Progresso do Islamismo.4. Seus Elementos de Poder.a. A Fé Árabe.b. A Submissão Grego-Asiática.c. O Caráter da Religião Muçulmana.5. Aspectos Favoráveis do Maometismoa. Simplicidade de Doutrina.b. Oposição à Adoração de Imagens.c. Recusa da Mediação Sacerdotal e dos Santos.d. Abstinência de Bebidas Alcoólicas.e. Promoção da Literatura e da Ciência.6. Aspectos Desfavoráveis do Maometismo.a. A Conversão por meio da Conquista.b. A Religião Secularizada.c. O Conceito de Deus.d. O Conceito de Cristo.e. O Conceito de Céu.

f. A Degradação da Mulher.g. Incapacidade para Governar.

III. O SACRO IMPÉRIO ROMANO (Capítulo 14).

1. Seu Fundador Carlos Magno, 742-814 d.C.2. O Império.3. Grandes Imperadores.4. Imperadores e Papas.5. Decadência e Queda do Império.IV. A SEPARAÇÃO DAS IGREJAS LATINA E GREGA (Capítulo 14).

1. Causa Doutrinária.2. Divergência Cerimonial.3. Causa Política.4. Reivindicações de Roma.

V. AS CRUZADAS, 1095-1270 d.C. (Capítulo 15).1. Sua Origem.2. As Sete Cruzadas.a. Primeira Cruzada, 1095-1099. Godofredo de Bouillón.

b. Segunda Cruzada, 1147-1149. Luis VII, Conrado III.c. Terceira Cruzada, 1188-1192. Frederico, Felipe, Ricardo.d. Quarta Cruzada, 1201-1204. (Constantinopla)e. Quinta Cruzada, 1228-1229. Frederico II.f. Sexta Cruzada, 1248-1254. Luis IX.g. Sétima Cruzada, 1270-1272. Luis IX.3. Causas do Fracasso.a. Discórdia entre os Chefes.b. Falta de visão.4. Bons Resultados das Cruzadas.a. Proteção aos Peregrinos.b. Repressão das Agressões Muçulmanas.c. Melhor Relação entre as Nações.d. Impulso ao Comércio.e. Efeitos sobre o Poder Eclesiástico.

VI. O DESENVOLVIMENTO DA VIDA MONÁSTICA (Capítulo 16).

1. As Ordens Monásticas.a. Os Beneditinos, 529. São Bento.b. Os Cistercenses, 1098. São Roberto e São Bernardo.c. Os Franciscanos, 1209. São Francisco.d. Os Dominicanos, 1215. São Domingo.2. Alguns Benefícios da Vida Monástica.a. Centros de Paz.b. Hospitalidade.c. Abrigo aos Indefesos c. Agricultura.e. Literatura.f. Educação.g. Missões. 3. Alguns Males Resultantes da Vida Monásticaa. Exaltação do Celibato.b. Efeitos sobre a Vida Social e Nacional.c. Luxo e Imoralidade.d. Contribuições Extorquidas.

VII. ARTE E LITERATURA MEDIEVAIS (Capítulo 16).1. Universidades.2. Catedrais.3. O Despertar da Literatura.4. O Despertar da Arte.

VIII. INICIO DA REFORMA RELIGIOSA (Capí-tulo 17).1. Albigenses, 1170 d.C.2. Valdenses, 1170.3. João Wyclif, 1324-1384.4. João Huss, 1369-1415.5. Jerônimo Savonarola, 1452-1498.

IX. A QUEDA DE CONSTANTINOPLA, 1453 d.C.(Capítulo 17).

X. ERUDITOS E DIRIGENTES (Capítulo 17).1. Anselmo, 1033-11092. Abelardo, 1079-11423. Bernardo de Clairvaux, 1091-11634. Tomás de Aquino, 1226-1274.

12A IGREJA MEDIEVAL

QUARTO PERÍODO GERAL

Desde a Queda de Roma, 476Até à Queda de Constantinopla, 1453.

Progresso do Poder Papal.

PRIMEIRA PARTENo período que vamos

considerar, que durou quase milanos, nosso interesse se dirigirápara a Igreja Ocidental, ou Latina,cuja sede de autoridade estava emRoma, que continuava a ser a cidadeimperial, apesar de seu poderpolítico haver desaparecido. Poucaatenção dispensaremos à IgrejaGrega, governada de Constantinopla,exceto quando seus assuntos serelacionem com a história doCristianismo europeu. Não

relacionamos os acontecimentos porordem cronológica, porémexaminaremos os grandes movimentos,muitas vezes, paralelamente uns comos outros.

O fato mais notável nos dezséculos da Idade Média foi odesenvolvimento do poder papal. Jánotamos em capítulos anteriores queo papa de Roma afirmava ser "bispouniversal", e chefe da igreja. Agorao veremos reclamando a posição degovernante de nações, acima de reise imperadores. Esse desenvolvimentoteve três períodos: crescimento,culminância e decadência.

O período de crescimento dopoder papal começou com opontificado de Gregório I, o Grande,e teve o apogeu no tempo de GregórioVII, mais conhecido por Hildebrando.É bom notar que desde o princípio,cada papa, ao assumir o cargo,mudava de nome. Gregório VII foi oúnico papa cujo nome de família se

destacou na história depois de suaascensão à cadeira papal. É acercade Gregório I, que se conta aconhecida história de que, ao veralguns escravos em Roma, de cabeloslouros e olhos azuis, perguntou quemeram.

Disseram-lhe, então, que eram"angli", isto é, "ingleses", ao queele respondeu: "Non angli, sedangeli", quer dizer, não ingleses,mas anjos. Mais tarde, quando foieleito papa, enviou missionários àInglaterra a fim de cristianizar opovo. Gregório expandiu o reino desua igreja objetivando a conversãodas nações da Europa que ainda seconservavam pagãs, conseguindo levarà fé ortodoxa os visigodos arianosda Espanha.

Gregório resistiu com êxito àspretensões do patriarca deConstantinopla, que desejava otítulo de bispo universal. Tormou aigreja praticamente governadora da

província nas vizinhanças de Roma,preparando, assim, caminho para aconquista do poder temporal. Tambémdesenvolveu certas doutrinas naigreja romana, especialmente aadoração de imagens, o purgatório, atransubstanciação, isto é, a crençade que na missa ou comunhão o pão eo vinho se transformammilagrosamente no verdadeiro corpo esangue de Cristo.

O papa Gregório foi um dosfortes defensores da vida monástica,havendo sido ele mesmo um dos mongesda época. Foi um dos administradoresmais competentes da história daigreja romana, e por isso mereceu otítulo de Gregório o Grande. Sob ogoverno de uma série de papas,durante alguns séculos, a autoridadedo pontificado romano aumentou e emgeral era reconhecida. São várias asrazões para justificar o crescentepoder do papado.

Uma das razões por que ogoverno da sede romana era tãoamplamente aceito no início desseperíodo explica-se pelo fato de que,naquele período, a influência dospapas era sentida principalmente nofortalecimento da justiça. A igrejase pôs entre os príncipes e seussúditos, a fim de reprimir a tiraniae a injustiça, para proteger osfracos e para exigir os direitos dopovo. Nos palácios dos governantes,mais de um governante foi obrigado areceber a esposa que repudiara semcausa, e a observar pelo menos asformas exteriores da decência, porimposição dos papas. Houve, é certo,muitas exceções, pois houve papasque cortejavam reis e príncipesímpios. Contudo, em sentido geral, opapado, no início da Idade Média,era favorável aos governos justos ehonestos.

As rivalidades e as incertezasdos governos seculares estavam em

acentuado contraste com a firmeza euniformidade do governo da igreja.Durante quase todos os séculos aEuropa viveu em condiçõesdissolventes, pois os governanteslevantavam-se e caíam, lutava umcastelo contra outro, enfim nãohavia autoridade completa eduradoura. O antigo império caiu noquinto século, e a Europa esteve àbeira de caos, até o nono século,quando o império de Carlos Magno seestabeleceu. Quase todos os seussucessores foram homens fracos;muitos deles procuraram o auxílio deRoma, e dispuseram-se a fazerconcessões de poder a fim de obetê-lo. Uma vez conquistado poder quepertencera do Estado, a igreja omantinha firmemente. Enquanto osgovernos dos Estados vacilavam emudavam sucessivamente, o império daigreja permanecia cada vez maisforte. Durante esses séculos deinstabilidade, a igreja era a únicainstituição firme. As reclamações de

domínio por parte de Roma eram quasesempre apoiadas pelo clero, desde oarcebispo até ao sacerdote maishumilde. Durante a Idade Média, comoveremos mais tarde, o monasticismocresceu por toda parte. Monges eabades juntavam-se aos padres ebispos na luta pela conquista dopoder. A igreja possuía fortesaliados em toda parte, e jamaisfalhavam na defesa de seus interes-ses.

Ainda que pareça estranho, ofato é que, na Idade Média, umasérie de "fraudes pias" foramdivulgadas a fim de manter oprestígio e a autoridade de Roma. Emuma época científica e de homensinteligentes, essas fraudes seriaminvestigadas, desaprovadas edesacreditadas. Entretanto, aerudição da Idade Média não entravano terreno da crítica. Ninguémduvidava dos documentos quecirculavam de modo amplo, e eram

aceitos por todos, e por meio delesas afirmações de Roma eramsustentadas. Passaram-se váriosséculos antes que alguémdemonstrasse que esses documentos sebaseavam em falsidade e não naverdade.

Um desses documentosfraudatórios foi a "Doação deConstantino". Muito tempo depois daqueda do Império Romano na Europa,circulou tal documento com o pro-pósito de demonstrar queConstantino, o primeiro imperadorcristão, havia dado ao bispo deRoma, Silvestre I (314-335),autoridade suprema sobre todas asprovíncias européias do império, eque havia proclamado esse bispo comogovernador até mesmo de imperadores.O documento apresentava como razão eprincipal motivo da mudança dacapital de Roma para Constantinopla,o fato que o imperador não permitia

a nenhum governador permanecer emRoma, como rival do papa.

Mas o documento de maiorinfluência da série fraudulenta foio que passou a ser conhecido como"Decretais Pseudo-Isidorianas",publicado no ano 850. Afirmava-seque eram decisões adotadas pelosbispos primitivos de Roma, desde osapóstolos. Nesse documentoapresentavam as maioresreivindicações, tais como asupremacia absoluta do papa de Romasobre a Igreja Universal; aindependência da igreja do Estado; ainviolabilidade do clero em todos osaspectos, ao ponto de reconhecer-lhes o direito de não prestaremcontas ao Estado, declarando quenenhum tribunal secular poderiajulgar questões pertinentes ao cleroe à igreja.

Em épocas de ignorância e naausência da crítica, essesdocumentos eram aceitos sem

contestação, e durante centenas deanos constituíram-se num baluartepara as reivindicações de Roma.Ninguém duvidou da autenticidadedesses documentos até ao séculodoze, quando já estava a igrejaancorada no poder. Somente com odespertar da Reforma, no séculodezesseis, foram examinados essesdocumentos e ficou provada a fraude.Algumas das evidências da fraude sãoas seguintes:

A linguagem empregada não era olatim primitivo dos séculos primeiroe segundo, e sim uma língua corrom-pida e mista usada nos séculosoitavo e nono. Os nomes e ascondições históricas a que sereferiam os documentos não eram osmesmos usados no império, masexatamente iguais aos que eramusados na Idade Média. As frequentescitações eram da Vulgata Latina,quando todos sabem que essa versãosomente apareceu depois do ano 400.

Uma carta que fazia parte dessesdocumentos, dizia que fora escritapor Vitor, bispo de Roma no ano 220a Teófilo, bispo de Alexandria, queviveu no ano 400. Imagine-se odisparate das datas. Que pensariam,em nossa era, de uma carta enviadapela rainha Elisabete I a JorgeWashington?

O crescimento do poder papal,apesar de sempre estar em ascensão,não era constante. Houve algunspríncipes que se opuseram ao poderpapal, assim como houve governantesfracos que se submeteram sem re-servas. Também houve papas fracos epapas perversos, principalmenteentre os anos 850 a 1050, quedesacreditaram seu posto mesmodurante os tempos de sua maiselevada supremacia.

O período culminante foi entreos anos 1073-1216, cerca de cento ecinquenta anos em que o papado exer-ceu poder quase absoluto, não

somente na igreja, mas também sobreas nações da Europa.

Essa elevada posição foiconquistada durante o governo deHildebrando, o único papa maisconhecido pelo nome de família doque pelo nome de papa Gregório VII,nome que escolheu ao assumir ocargo.

Hildebrando governou realmentea igreja, como o poder por trás dotrono durante um período de vinteanos, antes de usar a tríplicecoroa, e depois durante o governopapal, até à sua morte no ano de1085.

Hildebrando reformou o cleroque se havia corrompido, einterrompeu, ainda que por poucotempo, o exercício da simonia, istoé, a compra de posições na igreja.Elevou as normas de moralidade detodo o clero, e exigiu o celibatodos secerdotes, que havia sido

defendido, porém não estava emvigor, até então.

Libertou a igreja da influênciado Estado, pondo fim à nomeação depapas e bispos pelos reis eimperadores; e decretando quequalquer acusação contra ossacerdotes e as relacionadas com aigreja, fossem julgadas portribunais eclesiásticos. Até aqueladata era costume o bispo receber umcajado e um anel do rei ou dopríncipe governante, jurandofidelidade ao seu senhor secular.Isso praticamente significava que osbispos eram nomeados pelogovernador. Hildebrando proibiu queos bispos fizessem tal juramentodiante dos governantes.

Hildebrando impôs a supremaciada igreja sobre o Estado. Oimperador Henrique IV, havendo-seofendido com o papa Gregório,convocou um sínodo de bispos alemãesinduzindo-os (ou compelindo-os) a

votar pela deposição do papa.Gregório, então, vingou-se com aexcomunhão de Henrique IV, e isentoua todos os seus súditos da lealdadepara com o imperador. Henrique IVviu-se totalmente impotente face àpunição do papa. Por essa razão, nomês de janeiro de 1077, o imperador,pondo de lado todas as possessõesreais, com os pés descalços evestido de lã, permaneceu três diasde pé à porta do castelo do papa, emCanosa, no norte da Itália, a fim defazer ato de submissão e receberperdão do papa.3 Acrescente-se,porém, que logo que Henrique IVrecuperou o poder, declarou guerraao papa, e retirou-o de Roma. O papaHildebrando morreu pouco depois,fazendo esta declaração. "Amei ajustiça e aborreci a iniquidade, por3 Essas são as palavras do papa GregórioVII, ao comentar o acontecimento. Essa é a origem da expressão "ir a Conosa", que significa submissão ao papa e à igreja.

isso morro no exílio." Seu triunfo,porém, foi maior do que a suaderrota.

Gregório VII não desejavaabolir o governo do Estado, mas queeste fosse subordinado ao governo daigreja. Aspirava a que o podersecular governasse o povo, porém soba elevada jurisdição do reinoespiritual, como ele o compreendia.

Outro papa cujo governodemonstrou elevado grau de poder foiInocêncio III (1198-1216). Ele fezesta declaração no discurso de suaposse: "O sucessor de S. Pedro ocupauma posição intermediária entre Deuse o homem. É inferior a Deus, porémsuperior ao homem. É juiz de todos,mas não é julgado por ninguém."

Em uma de suas cartas,Inocêncio escreveu que ao papa"havia sido entregue, não somente aigreja, mas também o mundo inteiro,com o direito de dispor finalmenteda coroa imperial e de todas as

outras coroas". Eleito aos trinta esete anos para ocupar o lugar depapa, no correr dos anos sustentoucom êxito essas grandes pretensões.

Inocêncio III elegeu paradesempenhar as funções de imperador,a Otto Brunswick, o qual declaroupublicamente que alcançara a coroa"pela graça de Deus e da sedeapostólica". Em virtude dainsubordinação de Otto, este foideposto e outro imperador foieleito. O papa assumiu o governo dacidade de Roma, decretando leis paraos seus funcionários, figurando elepróprio como chefe. Em verdade, comesse ato estabeleceu um Estado sob ogoverno direto do papado, governoque foi o precursor dos "Estados daIgreja". O papa obrigou o licenciosoFilipe Augusto, rei da França, aaceitar novamente sua esposa da qualse divorciara injustamente.Excomungou o rei João Sem Terra(inglês), e obrigou-o a entregar a

coroa ao legado papal, e a recebê-lade novo, mas como súdito do papa.Inocêncio III pode ser considerado omaior de todos os papas em poder au-tocrático. Contudo, não teriapossuído tal autoridade, não fora agrandeza alcançada por Hildebrando,seu antecessor.

Porém enquanto a Europa saía docrepúsculo da Idade Média, e alealdade nacional se levantou paracompetir com a eclesiástica, começoua decadência do poder papal comBonifácio VIII, em 1303. Ele, semdúvida, possuía pretensões tãoelevadas como qualquer dos seuspredecessores, porém não eramobedecidas.

Bonifácio proibiu o rei daInglaterra de promulgar leis deimpostos sobre as propriedades daigreja e sobre as receitas outesouros sacerdotais, porém foiobrigado a recuar, embora em formade tratado, em que os sacerdotes e

bispos "davam" parte do querecebiam, para os gastos do reino.Questionou com Filipe, o Formoso, deFrança, o qual lhe declarou guerra,apoderou-se do papa e encarcerou-o.Apesar de mais tarde haver sidolibertado, contudo morreu logodepois, de tristeza. A partir de1305, durante mais de setenta anos,todos os papas foram escolhidos sobas ordens dos reis de França eestavam submissos à vontade destes.

O período de 1305 a 1377 éconhecido como "CativeiroBabilônico". Por ordem do rei deFrança a sede do papado foitransferida de Roma para Avinhão, nosul da França. Os papas tornaram-setíteres sob o controle do governofrancês. Outros aspirantes ao papadosurgiram em Roma, e por toda partehavia papas e antipapas em váriospaíses. As ordens papais eramdesrespeitadas; as excomunhões nãoeram levadas a sério. Eduardo III

por exemplo, ordenou ao legado papalque abandonasse o seu reino.

No ano de 1377, o papareinante, Gregório XI, voltou aRoma, e em 1414 foi realizado oConcílio de Constança a fim dedecidir as reclamações de quatropapas existentes. Aconteceu entãoque o Concílio depôs os quatro eescolheu um novo papa. Desde 1378,os papas continuaram a morar emRoma, alimentando pretensões tãoelevadas como sempre aconteceu,porém incapazes de colocá-las emvigor.

13

A IGREJA MEDIEVALSEGUNDA PARTE

Crescimento do Poder Maometano

O movimento que agora chama anossa atenção é a religião e oimpério fundados por Maomé, noinício do sétimo século, o qualtomou uma após outra, váriasprovíncias (nações) dos imperadoresgregos que moravam emConstantinopla, até à sua extinçãofinal. Esse movimento impôs à igrejaoriental uma sujeição deescravatura, ao mesmo tempo queameaçava conquistar toda a Europa.Após treze séculos, desde seu apare-cimento, a fé maometana ainda dominamais de seiscentos milhões de

pessoas e continua a crescer nocontinente africano.

O fundador da religiãomaometana foi Maomé, nascido emMeca, Arábia, no ano 570. Iniciousua carreira como profeta ereformador no ano 610, aos quarentaanos de idade. No início, omovimento começado por Maoméconquistou poucos discípulos, porémo suficiente para sofrerperseguições. Maomé fugiu da cidadede Meca em 622 e sua fuga, a Hégira,fornece a data em que se baseia ocalendário maometano. O profetaMaomé alcançou pleno êxito naconquista das tribos árabes,impondo-lhes a sua religião. Voltouà cidade de Meca como conquistador.Quando morreu, no ano 632, Moamé eraprofeta e governador reconhecido portoda a Arábia.

Sua religião é conhecida comoislamismo, "submissão", isto é,obediência à vontade de Deus; os

seguidores de Maomé chamam-semuçulmanos, pois eles mesmos jamaisusam o nome "maometano" que lhes foidado por outros povos. Os artigos defé, base de sua religião, são osseguintes: "Há um só Deus, ao qualchamam Alá, palavra de origem comumcom a similar hebraica "Eloí"; quetodos os acontecimentos, bons emaus, são preordenados por Deus, e,como consequência, em cada ato estãofazendo a vontade de Deus; que hámultidões de anjos bons e maus,invisíveis e que, não obstante,estão constantemente em contato comos homens. Que Deus fez suarevelação no Alcorão, uma série demensagens transmitidas a Maomé pormeio do anjo Gabriel, apesar de nãohaverem sido coletadas senão depoisda morte do profeta. Que Deus enviouprofetas inspirados aos homens; quedentre esses profetas se destacamAdão, Moisés e Jesus e sobre todoseles, Maomé. Que todos os profetasbíblicos, os apóstolos cristãos e os

santos que viveram antes de Maomésão reconhecidos e adotados pelosmaometanos. Que no futuro haverá umaressurreição final, o julgamento, océu e o inferno para todos oshomens.

A princípio Maomé dependia deinfluências morais ao pregar o seuevangelho. Depressa, porém, mudouseus métodos, fez-se guerreiro,conduzindo seus unidos e ferozesárabes a conquistar os incrédulos.Apresentou a todo o país e a todasas tribos a alternativa de escolherentre o islamismo, pagar tributo oumorte para aqueles que resistissemàs suas armas. A Palestina e a Síriaforam facilmente conquistadas pelaforça, e os lugares santos doCristianismo ficaram sob o poder doislamismo.

Província após província, oimpério greco-romano foiconquistado, ficando apenasConstantinopla. Dessa forma todos os

países do Cristianismo primitivoforam feitos súditos de Moamé. Ondeos cristãos se submetiam, era-lhespermitida a adoração sob restrições.No Oriente, o império dos califasestendia-se além da Pérsia, até àíndia. Sua capital era Bagdá, nasmargens do Tigre. Para o Ocidente asconquistas incluíam o Egito, todo onorte da África e a maior parte daEspanha. Quase todo esse vastoimpério foi conquistado durante oscem anos após a morte de Maomé.Entretanto, seu avanço na Europaocidental foi contido no sul daFrança, por Carlos Martelo, que uniuvárias tribos discordantes sob adireção dos francos e obteve avitória decisiva em Tours, no ano732. Não fora a batalha de Tours,provavelmente, toda a Europa haveriasido um continente moametano e ameia lua teria substituído a cruz.

Eis aqui uma perguntainteressante: Por que será que a

religião e as armas maometanastriunfaram sobre o mundo Oriental?Vamos enumerar algumas das razões.Os primeiros crentes em Moamé eramguerreiros árabes ferozes, jamaisvencidos por nenhum inimigoestrangeiro. Eles seguiam o seuprofeta com inteira e sincera crençade tudo conquistar. Acreditavamestar cumprindo a vontade de Deus, eque, por isso mesmo, estavampredestinados a triunfar.Acreditavam que todo maometano queperecesse na luta contra os incré-dulos estava destinado a entrar,imediatamente, no céu de prazersensual. Em contraste com esseespírito invencível, viril econquistador, estava a naturezapacífica, submissa e débil dosgreco-asiáticos. Desde séculosremotos essas terras se haviamsubmetido pacificamente aosconquistadores. O povo havia perdidoo vigor, preferiam render-se a usara espada, e pagar tributo em lugar

de defender a sua liberdade. Grandenúmero da população do império gregocompunha-se de monges eeclesiásticos, dispostos a orar masnão a lutar.

A religião do Islam era bemmelhor do que o paganismo quedestronara na Arábia e na parteoriental da península. Deve-seadmitir que o Islamismo era maisforte do que o tipo de Cristianismoque encontrou e venceu. A igrejaOriental, ao contrário de igrejaOcidental, havia cessado seusesforços missionários, havia perdidosua energia e inclinava-se para aespeculação em lugar de esforçar-semoral e espiritualmente.

Na religião de Moamé em seugrau mais elevado encontravam-se eainda se encontram alguns aspectosfavoráveis, elementos de valor parao mundo. Um desses aspectos era asimplicidade da doutrina. Criam emum só Deus, ao qual todos os homens

devem obedecer implicitamente. Nãopossuíam um sistema de teologiaintrincado e misterioso que deralugar a controvérsias intermináveise inúteis. Não havia necessidade deerudição para entender os artigos dafé maometana.

Outro aspecto da religiãomaometana era a oposição à adoraçãode imagens. Em todos os paísescristãos as estátuas dos deuses edeusas da antiga Grécia cederamlugar às imagens da virgem Maria edos santos, que eram adorados emtodos os templos. Os muçulmanos, poronde passavam as lançavam fora,destruíam e denunciavam comoidolatria qualquer adoração às ima-gens, quer fossem esculpidas oupintadas. Os maometanos tambémrecusavam qualquer mediação sacerdo-tal ou dos santos. Naqueles dias, asigrejas cristãs admitiam que asalvação não dependia da fé pura esimples em Cristo e sim dos ritos

sacerdotais e da intercessão dossantos que haviam partido. Os maome-tanos afastaram essas coisas e emsuas doutrinas procuravam levartodas as almas diretamente a Deus.

Em todo o mundo muçulmano éregra a abstinência de bebidasfortes. A primeira "sociedade detemperança" da história do mundo foia dos nazireus de Israel; seussucessores em maior escala estavamna região de Maomé, que proibia aseus fiéis tomar vinho ou licoresembriagantes. Esse é ainda umprincípio entre os maometanos, porémnão é universalmente praticado,principalmente por aqueles que estãoem contacto com os europeus.

No período primitivo, sob osgovernos dos califas, tanto aliteratura como a ciência tiveramgrande progresso. Foram os árabesque nos deram a numeração arábicaque teve grande vantagem sobre anumeração do sistema romano por meio

de letras. No campo da astronomia osárabes fizeram reconhecer uma dasprmeiras classificações dasestrelas. As cortes dos califas deBagdá eram centros literários. AEspanha maometana estava maisdesenvolvida em cultura ecivilização do que os reinoscristãos da península. Entretanto,todo o pregresso intelectual cessouquando os turcos bárbaros sucederamaos ilustres sarracenos como chefesdo movimento maometano.

A fim de não tornar o quadro doIslamismo mais favorável do que averdade possa aprovar, devemosfixar, também, os pontos em que oMaometismo falhou, isto é, seuserros e males. Seu primeiro errocontra a humanidade consistiu nométodo de esforço missionário pelaforça da espada, implantando entreos homens o ódio em lugar de amor.Onde quer que uma cidade resistisseà sua conquista, os homens eram

mortos a espada, as mulheres eramlevadas para os haréns dosvencedores e as crianças educadas nafé maometana. Durante muitos séculosfoi costume entre os turcos tomarmilhares de crianças cristãs, paracriá-las em países distantes, comomuçulmanos fanáticos.

O antigo conceito islamita doEstado e da igreja era unicamenteum, isto é, que o governo empregassetodo o seu poder até onde fossepossível, para o progresso daverdadeira religião e supressão dafalsa.

Antes da Primeira GuerraMundial (1914-1918) o sultão daTurquia era também califa (sucessorde Maomé). Quando a Turquia setransformou em república, o sultãofoi destronado e o califado foiabolido. Outras transformaçõesaconteceram com a modernização daTurquia. Um fato significativo foi a

tradução do Alcorão para overnáculo.

O conceito maometano de Deusbaseia-se mais no Antigo Testamentodo que no Novo. Para a mentalidadeárabe, Deus é um déspota oriental,implacável e temível, sem amor paracom a humanidade, a não ser para comos seguidores de Maomé, o profeta.

O islamismo praticamente deixaa Pessoa de Cristo fora do seusistema de doutrina. No conceitoislamita, Cristo não é o Senhor doreino celestial, nem o Filho deDeus, nem o Salvador do mundo, masapenas um profeta judeu, inferior,em todos os sentidos, a Maomé.

O conceito islamítico do céu eda morada dos bem-aventurados navida futura é inteiramentedestituído de espiritualidade einteiramente sensual.

Uma das características maishumilhantes da religião maometana

era a degradação da mulher. Asmulheres eram consideradas apenascomo escravas ou objetos para odivertimento do homem. A Turquiamoderna remediou essa situação, poisem 1930 deu às mulheres o direito devotar e serem votadas nas eleiçõesmunicipais. Com exceção da Turquia,as nações maometanas têm a mulher empouca consideração.

No terreno da história e dapolítica, talvez o mais destacadofracasso do estado maometano estejademonstrado na administraçãonacional. Os maometanos erammaravilhosos, quase milagrosos nassuas conquistas, levando de vencidairresistivelmente os povos desde aChina até à Espanha. Entretanto, nãodemonstraram poder para estabelecerum governo justo e sábio nosimpérios que fundaram. Os paísesislamitas eram os que possuíampiores governos em todo o mundo.Coloquem-se em confronto a história

dos turcos com a dos romanos, nocampo da administração, e ver-se-áque os romanos não somente souberamconquistar um grande império, mastambém sabiam administrá-lo, levandoo progresso a todas as nações queconquistavam.

14A IGREJA MEDIEVAL

TERCEIRA PARTE

O Sacro Império Romano. A Separação dasIgrejas Latina e Grega.

Desde o século dez até aodécimo-nono existiu na Europa umaorganização política singular, quedemonstrou possuir característicasdiferentes nas várias gerações. Onome oficial dessa organização eraeste: Sacro Império Romano, aindaque em forma comum, porém incorreta,era denominado Império Germânico.Até à sua aparição, a Europa situadaao oeste do Mar Adriático vivia emcompleta desordem, governada que erapor tribos guerreiras em lugar deser governada por Estados. Apesar detudo, em meio a tanta confusão, o

antigo conceito romano de ordem eunidade permaneceu como aspiraçãopor um império para ocupar o lugardo Império Romano que, mesmodesaparecido, ainda eratradicionalmente venerado.

Na última etapa do séculooitavo levantou-se um dos maioreshomens de todos os tempos, CarlosMagno (742-814). Era neto de CarlosMartelo, o vencedor da batalha deTours, (732). Carlos Magno, rei dosfrancos, uma tribo germânica quedominava uma grande parte da França,constituiu-se a si mesmo senhor dequase todos os países da EuropaOcidental, norte da Espanha, França,Alemanha, Países-Baixos, Áustria eItália, em verdade, um império. Aovisitar a cidade de Roma, no dia deNatal do ano 800, Carlos Magno foicoroado pelo Papa Leão III, comoCarlos Augusto, imperador romano, e,assim, considerado sucessor deAugusto, de Constantino e dos

antigos imperadores romanos. CarlosMagno reinou sobre todo o vastodomínio com sabedoria e poder. Erareformador, conquistador, legisla-dor, protetor da educação e daigreja.

Somente por um pouco de tempo,a autoridade de seu império foiefetiva na Europa. A fraqueza e aincapacidade dos descendentes deCarlos Magno, o desenvolvimento dosvários países, dos idiomas, dosconflitos provocados por interessesregionais, fizeram com que aautoridade do Sacro Império Romanoou Germânico se limitasse ao oestepelo Reno. Até mesmo na Alemanha ospequenos estados se tornarampraticamente independentes;guerreavam uns com os outros e amaior parte do tempo apenasnominalmente estavam sob o domíniodo imperador. O imperador erareconhecido como chefe titular doCristianismo europeu. Na França, na

Inglaterra e nos Estadosescandinavos, o imperador erahonrado, porém, não obedecido. Pelofato de sua autoridade ter-selimitado à Alemanha e em pequenaescala à Itália, o reino foicomumente chamado de ImpérioGermânico.

Mais tarde, quando ossucessores de Carlos Magno perderamo trono, o imperador era eleito porum corpo de eleitores formado porsete príncipes. Dos cinquenta equatro imperadores somentemencionaremos os mais importantes:Henrique I (o Passarinheiro), 919-936, iniciou a restauração doimpério que havia decaído, porém seufilho, Otto I (o Grande), apesar denão haver sido coroado senão no ano951, é considerado como o verdadeirofundador do Sacro Império Romano,isto é, como uma entidade, edistinto do Império Romano. Oreinado do Otto I estendeu-se até

973. Frederico Barbarroxa foi um dosimperadores mais poderosos nessasucessão. Participou da TerceiraCruzada, porém afogou-se na ÁsiaMenor e sua morte fez a expediçãofracassar.

Frederico II, neto deBarbarroxa foi chamado "a maravilhae o enigma da história; ilustre eprogressista, o homem mais liberalde sua época", em suas idéiaspolíticas e religiosas. Foiexcomungado duas vezes pelo papa,mas na Quinta Cruzada proclamou-se asi mesmo rei de Jerusalém.

Rodolfo de Habsburgo, fundadorda Casa da Áustria, recebeu a coroaimperial no ano de 1273, quando esseato não tinha maior significação doque um título qualquer e sem valor.Entretanto, obrigou os príncipes ebarões a submeterem-se à suaautoridade. A partir de então, aÁustria era o Estado mais poderosoda confederação Germânica e quase

todos os imperadores eramdescendentes do fundador da Casa daÁustria. Carlos V, imperador notempo do início da Reforma (1519-1556), era também herdeiro daÁustria, da Espanha e dos Países-Baixos. Fez o que pode, porém nãoconseguiu manter sob o domínio daantiga religião todos os países quegovernava. No ano de 1556 abdicouvoluntariamente e passou os doisúltimos anos de sua vida afastado detodos.

Durante muitos séculos ahistória do império registrou forterivalidade e até mesmo guerras entrepapas e imperadores; imperadoreslutando para governar o império. Jávimos como o papa Gregório VII(Hilde-brando), certa ocasião,exigiu a submissão de um imperador ecomo Inocêncio III nomeava edestituía imperadores e reis. Poréma luta tornou-se menos intensa ecessou, depois da Reforma, quando se

fixaram as linhas divisórias entre aigreja e o Estado.

Quando o reino da Áustria setornou importante, os imperadorescuidavam mais de seus domínios. Asmuitas províncias do impérioalcançaram quase que a independênciacompleta, de modo que o título deimperador tinha a significação de umtítulo honorífico ou pouco mais doque isso. No século dezoito, oengenhoso Voltaire declarou que "oSacro Império Romano não era sacronem romano, nem era império". Asucessão de imperadores terminou noano de 1806, quando Napoleãoalcançou o clímax do poder. Nesseano Francisco II foi obrigado arenunciar ao título de imperador doSacro Império Romano e tomou o de"imperador da Áustria".

A separação das igrejas Grega eLatina realizou-se formalmente noséculo onze, ainda que praticamentese tivesse efetuado muito tempo

antes. As relações normais entrepapas e patriarcas, durante séculos,caracterizaram-se pelas lutas, atéque, finalmente, em 1054 omensageiro do papa colocou sobre oaltar da igreja de Sta. Sofia, emConstantinopla, o decreto deexcomunhão. Por sua vez o patriarcaexpediu decreto de excomunhão deRoma e das igrejas que se submetes-sem ao papa. Desde então as igrejasLatina e Grega conservaram-seseparadas, não reconhecendo uma aexistência eclesiástica da outra. Amaioria das questões que deram causaà separação, são consideradastriviais em nossos dias. Entretanto,durante séculos, elas foram temas deviolentas controvérsias, e às vezes,de cruéis perseguições.

Doutrinariamente, a principaldiferença consistia na doutrinaconhecida como "a procedência doEspírito Santo". Os latinosafirmavam que "o Espírito Santo

procede do Pai e do Filho" — emlatim "filioque". Os gregos, por suavez, declaravam que procedia "doPai", deixando fora a palavra"filioque". Acerca dessa palavrarealizaram-se intermináveis debates,escreveram-se livros em abundância eaté mesmo sangue foi derramado nessaamarga contenda.

Nas cerimônias da igrejaOriental e da Ocidental os usos ecostumes eram diferentes e algunsdeles transformaram-se em lei. Ocasamento dos sacerdotes foiproibido na igreja Ocidental,enquanto na igreja Oriental foisancionado. Atualmente, na igrejagrega, qualquer sacerdote do povo(que tem o título de "papa",equivalente a "padre" entre oscatólicos-romanos) deve ser casado.Nas igrejas ocidentais a adoração deimagens é praticada há mais de milanos, enquanto nas igrejas gregasnão se encontram estátuas, mas

apenas quadros. Contudo os quadrossão imagens em baixo-relevo, e sãoestimados com profunda reverência.

No exercício da missa o pão semfermento (a hóstia) é usado nasigrejas romanas, ao passo que nasigrejas gregas é servido pão comum.Como protesto contra a observânciajudaica do sétimo dia, surgiu aprática do jejum aos sábados noOcidente, mas jamais esse costumefoi observado no Oriente. Maistarde, porém, o dia de jejumcatólico-romano foi transferido paraas sextas-feiras, o dia dacrucificação do Senhor.

Contudo, uma influência maisprofunda do que estas diferençascerimoniais, que provocou aseparação das igrejas latina egrega, foi a causa política daseparação ou independência da Europado trono de Constantinopla, com oestabelecimento do Sacro ImpérioRomano (ano 800). Mesmo depois da

queda do antigo império de Roma, em476, o espírito imperial aindaexercia influência e os novos reinosdos bárbaros: godos, francos eoutras raças, de uma forma um tantovaga, teoricamente consideravam-sesob o governo ou domínio deConstantinopla. Porém quando o SacroImpério Romano foi estabelecido porCarlos Magno, tomou o lugar doantigo Império, e era separado eindependente dos imperadores deConstantinopla. Um Estado indepen-dente necessitava de uma igrejaindependente.

Mas o fator decisivo e poderosoque levou à separação foram ascontínuas reclamações de Roma,alegando ser a sua igreja dominantee insistindo em que o papa era "obispo universal". Em Roma a igrejapouco a pouco dominava o Estado. EmConstantinopla a igreja continuavasubmissa ao Estado. Diante dessascircunstâncias era inevitável o

rompimento entre as duas igrejas deconceitos opostos. A separaçãodefinitiva das duas grandes divisõesda igreja, como já vimos, aconteceuno ano 1054.

15A IGREJA MEDIEVAL QUARTA PARTE

As Cruzadas

Outro grande movimento da IdadeMédia, sob a inspiração e mandado daigreja, foram as Cruzadas, que seiniciaram no fim do século onze eprolongaram-se por quase trezentosanos. Desde o quarto século até aosnossos dias, numerosas perigrinaçõesà Terra Santa foram organizadas. Onúmero de peregrinos aumentou demodo considerável, no ano 1000,quando era crença quase universalque nesse ano se daria o grandeevento da segunda vinda de Jesus.Apesar de tal acontecimento não sehaver realizado nessa data, contudoas peregrinações continuaram.

A princípio as peregrinaçõeseram facilitadas pelos governantesmuçulmanos da Palestina. Porém maistarde as peregrinações sofriampressão, os peregrinos eram roubadose até mesmo mortos. Ao mesmo tempo,o debilitado Império Oriental estavaameaçado pelos maometanos. Foi porisso que o imperador Aleixo soli-citou ao papa Urbano II que lheenviasse guerreiros da Europa paraajudá-lo. Nesse tempo manifestou-sena Europa o desejo de libertar aTerra Santa do domínio maometano.Desse impulso surgiram as Cruzadas.

As principais Cruzadas foram emnúmero de sete, além de muitasoutras expedições de menor importân-cia, às quais se dá também o nome decruzadas. A primeira Cruzada foianunciada pelo papa Urbano II, noano 1095, no Concílio de Clermont,quando então elevado número decavaleiros receberam a cruz como in-sígnia e se alistaram para combater

os sarracenos. Antes que a expediçãoprincipal fosse inteiramente or-ganizada, um monge chamado Pedro, oEremita, convocou uma multidão decerca de 40.000 pessoas semexperiência e sem disciplina eenviou-as ao Oriente, esperandoajuda milagrosa para aquelamultidão. Mas a desprovida edesorganizada multidão fracassou;muitos de seus membros foram mortose outros foram feitos escravos.4

Entretanto, a primeira e verdadeiraCruzada foi integrada por 275.000dos melhores guerreiros de todos ospaíses da Europa. Era chefiada porGodofredo de Bouillon e bem assimoutros chefes. Depois de sofreremmuitos contratempos, principalmentepor falta de disciplina e pordesentendimentos entre osdirigentes, conseguiram tomar a

4 A história da Cruzada de Pedro o Eremita baseia-se em argumentos de informação incerta e alguns historiadores modernos duvidam da sua veracidade.

cidade de Jerusalém e quase toda aPalestina, no ano 1099.Estabeleceram então um reino sobreprincípios feudais. HavendoGodofredo recusado o título de rei,foi nomeado "barão e defensor doSanto Sepulcro". Com a morte deGodofredo, seu irmão Balduíno tomouo título de rei. O reino deJerusalém durou até ao ano de 1187,apesar de haver estadoconstantemente em condiçõesdifíceis, cercado por todos os ladosexceto pelo mar pelo império dossarracenos, e por estar muitodistante de seus aliados naturais,na Europa.

A Segunda Cruzada foi convocadaem virtude das notícias segundo asquais os sarracenos estavam con-quistando as províncias adjacentesao reino de Jerusalém, e a própriacidade de Jerusalém estava ameaçada.Sob a influência da pregação dopiedoso Bernardo de Clairveaux, Luiz

VII da França e Conrado III de Ale-manha conduziram um grande exércitoem socorro dos lugares santos.Enfrentaram muitas derrotas, mas,finalmente, alcançaram a cidade. Nãoconseguiram recuperar o territórioperdido, mas conseguiram adiar poruma geração a queda final do reino.

Em 1187 Jerusalém foi retomadapelos sarracenos sob as ordens deSaladino, e o reino de Jerusalémchegou ao seu fim, apesar de otítulo "Rei de Jerusalém" ter sidousado ainda por muito tempo.

A queda da cidade de Jerusalémdespertou a Europa para organizar aTerceira Cruzada (1188-1192), a qualfoi dirigida por três soberanosproeminentes: Frederico Barbarroxa,da Alemanha, Filipe Augusto, daFrança e Ricardo I, "Coração deLeão", da Inglaterra. EntretantoFrederico, o melhor general eestadista, morreu afogado e osoutros dois desentenderam-se. Filipe

Augusto voltou à sua pátria e toda acoragem de Ricardo não foisuficiente para conduzir seuexército até Jerusalém. Contudo, fezum acordo com Saladino, a fim de queos peregrinos cristãos tivessemdireito a visitar o Santo Sepulcrosem serem molestados.

A Quarta Cruzada (1201-1204)foi um completo fracasso, porquecausou grandes prejuízos à igrejacristã. Os cruzados (componentes dasCruzadas), se afastaram do propósitode conquistar a Terra Santa efizeram então guerra aConstantinopla, conquistaram-na,saquearam-na e impuseram seu própriogoverno ao Império Grego, governoque durou cinquenta anos. Entre-tanto, não cuidaram da defesa doimpério e deixaram-no indefeso, uminsignificante baluarte paraenfrentar o crescente poder dosturcos "seljuks", raça de guerreirosnão civilizados, que sucederam aos

sarracenos e maometanos no poderdominante depois do término doperíodo das Cruzadas.

Na Quinta Cruzada (1228) oimperador Frederico II, apesar deexcomungado pelo papa, conduziu umexército até à Palestina e conseguiuum tratado no qual as cidades deJerusalém, Haifa, Belém e Nazaré,eram cedidas aos cristãos. Sabendoque nenhum sacerdote o coroaria(pois estava sob a excomunhãopapal), Frederico coroou-se a simesmo rei de Jerusalém. Por essemotivo o título "rei de Jerusalém"foi usado por todos os imperadoresgermânicos e depois pelos daÁustria, até ao ano 1835. Por causada contenda do papa com FredericoII, os resultados da Cruzada nãoforam aproveitados. A cidade deJerusalém foi novamente tomada pelos

maometanos, em 1244, e desde entãopermaneceu sob o seu domínio.5

A Sexta Cruzada (1248-1254) foiempreendida por Luiz IX, da França,conhecido como São Luiz. Ele invadiua Palestina através do Egito. Apesarde haver alcançado algumas vitóriasa princípio, contudo foi derrotado eaprisionado pelos maometanos. Depoisfoi resgatado por elevada soma epermaneceu na Palestina até ao ano1252, quando a morte de sua mãe, queficara em seu lugar como regente, oobrigou a voltar à França.

A Sétima Cruzada (1270-1272)teve também a direção de Luiz IX,juntamente com o príncipe EduardoPlantagenet, da Inglaterra, que veioa ser Eduardo I. A rota escolhidapara a Cruzada foi novamente a

5 No dia 8 de dezembro de 1817, a cidade de Jerusalém se rendeu ao exército inglês e no dia 11 do mesmo mês, o general britânico entrou na cidade e tomou posse oficial, em nome de seu governo e das forças Aliadas.

África, porém Luiz IX morreu emTunísia. Seu filho propôs a paz eEduardo voltou à Inglaterra a fim deocupar o trono. Esta é, geralmente,considerada a última Cruzada, cujofracasso foi total.

Houve ainda cruzadas de menorimportância, porém nenhuma delasmerece menção especial. Em verdade,a partir do ano 1270 qualquer guerrarealizada em favor da igreja eraconsiderada cruzada, ainda mesmo quetais guerras fossem contra os"hereges" em países cristãos.

As Cruzadas fracassaram nopropósito de libertar a Terra Santado domínio dos maometanos. Um olharretrospectivo indicará quais ascausas do fracasso. É fácil notar umfato em cada uma das Cruzadas: reise príncipes que chefiavam taisCruzadas estavam sempre emdesacordo. Cada qual estava maispreocupado com os interessespróprios do que com a causa comum.

Invejavam-se uns aos outros e temiamque o êxito proporcionasseinfluência e fama ao rival. Contra oesforço dividido que havia no meiodas Cruzadas estava um povo unido,valente, uma raça valorosa na guerrasob as ordens absolutas de umcomandante, quer se tratasse de umcalifa, ou de um sultão.

A causa maior e mais profundado fracasso foi, sem dúvida, a faltade um estadista entre os chefes dasCruzadas. Nenhum deles possuía visãoampla e transcendente. O que elesdesejavam era obter resultadosimediatos. Não compreendiam que parafundar e manter um reino naPalestina, a milhares de quilômetrosde distância de seus países, eramnecessárias comunicações constantescom a Europa Ocidental, e bem assimuma base de provisões e reforçocontínuo. A conquista da Palestinaera uma intromissão e não umalibertação. O povo da Terra Santa

foi praticamente escravizado peloscruzados; como escravos, eramobrigados a construir castelos,fortalezas e palácios para seusodiados senhores. Acolheram comsatisfação o regresso de seusprimitivos governantes muçulmanos,pois mesmo que o jugo deles fossepesado, ainda assim era mais leve doque o dos reis cristãos deJerusalém.

Contudo, apesar do fracasso emmanter um reino cristão naPalestina, ainda assim a Europaobteve alguns bons resultados dasCruzadas. É que depois de cessadasas expedições, os peregrinoscristãos eram protegidos pelogoverno turco. Em verdade o paísprosperou e nas cidades de Belém,Nazaré e Jerusalém cresceram empopulação e riqueza, por causa dascaravanas de peregrinos quevisitavam a Palestina, sob a

garantia e segurança dos governantesturcos.

Depois das Cruzadas, asagressões muçulmanas na Europa foramreprimidas. A experiência dessesséculos de lutas despertou a Europapara ver o perigo do islamismo. Osespanhóis animaram-se a fazer guerraaos mouros que dominavam a metade dapenínsula.

Comandados por Fernando eIsabel, os espanhóis, em 1492,venceram o reino mourisco eexpulsaram os maometanos do país. Nafronteira oriental da Europa, aPolónia e a Áustria estavam alertas,de modo que em 1683 fizeramretroceder a invasão turca, em umaviolenta batalha travada próximo àcidade de Viena. Essa vitória marcouo início da decadência do poder doImpério Turco.

Outro bom resultado alcançadopelas Cruzadas foi um melhorconhecimento das nações entre si.

Não somente os governantes e chefes,mas também cavaleiros e soldados dosdiferentes países, começaram aconhecer-se e a reconhecer osinteresses comuns. Entre as naçõesnasceu um respeito mútuo e fizeram-se alianças. As Cruzadascontribuíram grandemente para odesenvolvimento da Europa moderna.

As Cruzadas também deram umgrande impulso ao comércio. Aprocura de mercadoria de todas asespécies — armas, provisões e navios— aumentou a indústria e o comércio.Os cruzados levaram para a Europa oconhecimento das riquezas doOriente, seus tapetes, sedas e jóiase o comércio estendeu-se a toda aEuropa Ocidental. Os mercadoresenriqueceram; surgiu então umaclasse média entre os senhores e osvassalos. As cidades progrediram eaumentaram seu poder e os casteloscomeçaram a perder a ascendência queexerciam sobre elas. Nos séculos

seguintes, as cidades transformaram-se em centros de liberdade ereformas, sacudindo, assim, odomínio autoritário tanto dos prín-cipes como dos prelados.

O poder eclesiástico aumentouconsideravelmente ao se iniciar omovimento das Cruzadas. As guerraseram convocadas pela igreja que,dessa forma, demonstrava seu domíniosobre príncipes e nações. Além dissoa igreja adquiria terras ouadiantava dinheiro aos cruzados queoferecessem suas terras comogarantia. Foi dessa forma que aigreja aumentou suas possessões emtoda a Europa. Na ausência dosgovernantes temporais, os bispos eos papas aumentavam seu domínio.Contudo, ao fim de tudo isso, asgrandes riquezas, a arrogância dossacerdotes e o uso sem escrúpulo quefaziam do poder, despertaram odescontentamento e ajudaram apreparar o caminho para o levante

contra a igreja católica romana,isto é, a Reforma.

16A IGREJA MEDIEVAL QUINTA PARTE

Desenvolvimento da Vida Monástica. Arte Literatura Medievais.

Já vimos em capítulosanteriores a origem da vidamonástica, nas cavernas no norte doEgito, durante o quarto século. NaEuropa o movimento monástico aprincípio desenvolveu-se lentamente,mas na Idade Média esse movimentodesenvolveu-se grandemente entre oshomens e também entre as mulheres. Onúmero de monges e de freirasaumentou consideavelmente, comresultados bons e maus.

No Oriente os ascetasprimitivos viviam separados, cadaqual em sua própria caverna, cabana

ou coluna. Entretanto, na EuropaOcidental formavam comunidades eviviam juntos. Com o crescimentodessas comunidades, tornava-senecessária alguma forma de organi-zação ou governo, de modo que nesseperíodo surgiram quatro grandesordens.

A primeira dessas ordens foi ados Beneditinos, fundada por S.Bento, em 529, em Monte Cassino,entre Roma e Nápolis. Essa ordemtornou-se a maior de todas as ordensmonásticas da Europa, e no início desua existência promovia aevangelização e a civilização doNorte. Suas regras exigiamobediência ao superior do mosteiro,a renúncia a todos os bensmateriais, e bem assim a castidadepessoal. Essa ordem era muitooperosa. Cortava bosques, secava esaneava pântanos, lavrava os campose ensinava ao povo muitos ofíciosúteis. Muitas das ordens fundadas

posteriormente são ramificações daordem dos Beneditinos ou entãosurgiram como consequência dela.

Os Cistercienses surgiram em1098, com o objetivo de fortalecer adisciplina dos Beneditinos, que serelaxava. Seu nome deve-se à cidadefrancesa de Citeaux, onde a ordemfoi fundada por S. Roberto. Em 1112,a ordem foi reorganizada efortalecida por S. Bernardo deClairvaux. Essa ordem deu ênfase àsartes, à arquitetura, e,especialmente à literatura, copiandolivros antigos e escrevendo outrosnovos.

A ordem dos Franciscanos foifundada em 1209 por S. Francisco deAssis, um dos homens mais santos,mais devotos e mais amados. DaItália a ordem dos Franciscanosespalhou-se rapidamente por toda aEuropa, tornando-se a mais numerosade todas as ordens. Diz a históriaque a peste negra, praga que se

espalhou por toda a Europa no séculocatorze, matou mais de 124.000monges Franciscanos, enquantoprestavam auxílio aos moribundos eenfermos. Por causa da cor do hábitoque usavam, tornaram-se conhecidoscomo os "frades cinzentos".

Os Dominicanos formavam umaordem espanhola, fundada por S.Domingos, em 1215, que também seestendeu por toda a Europa. OsDominicanos e os Franciscanosdiferenciavam-se dos membros deoutras ordens, pois eram pregadores,iam por toda parte a fortalecer a fédos crentes e opunham-se àstendências "hereges", sendo eles,mais tarde, os maiores perseguidoresdos mesmos "hereges". Eramconhecidos como os "frades negros",por se vestirem de preto. OsDominicanos, juntamente com osFranciscanos, eram também chamadosos "frades mendicantes", porquedependiam para o próprio sustento

das esmolas que recolhiam de portaem porta. Além dessas ordens, haviaordens semelhantes para mulheres.

Todas essas ordens ascetasforam fundadas com nobrespropósitos, por homens e mulheresque se sacrificaram por elas. Ainfluência das ordens em parte foiboa e em parte foi má. No início,cada ordem monástica era umbenefício para a sociedade. Vamosmencionar alguns dos bons resultadosdo monacato.

Durante os séculos de guerra ede quase-anarquia, havia centros depaz e quietude nos mosteiros, nosquais aqueles que estivessem emdificuldade ou perigo encontravamabrigo. Os mosteiros davamhospedagem aos viajantes, aosenfermos e aos pobres. Tanto osmodernos hoteis, como os hospitaisdesenvolveram-se por influência dosmosteiros. Frequentemente, os mos-teiros e os conventos serviam de

abrigo e proteção aos indefesos,principalmente às mulheres ecrianças. Os mosteiros primitivos,tanto da Grã-Bretanha como docontinente desenvolveram aagricultura. Os monges dedicavam-seao saneamento, a secar pântanos, acanalizar águas, a construirestradas e a cultivar a terra.

Nas bibliotecas dos mosteirosguardavam-se muitas das mais antigasobras da literatura clássica ecristã. Os monges copiavam livros,escreviam as biografias depersonalidades importantes, crônicasdo seu tempo e histórias do passado.Algumas das obras mais importantes,como os cânticos de S. Bernardo eImitação de Cristo, de Kempis, foramfruto dos mosteiros. Sem as obrasescritas nos mosteiros, a IdadeMédia teria passado em branco. Osmonges eram os principais profes-sores da juventude, isto é,praticamente os únicos. Quase a

totalidade das universidades eescolas da Idade Média foram criadasnas abadias e nos mosteiros.

Na expansão do evangelho osmonges serviram como missionários.Entravam em contato com os bárbarose os convertiam à religião cristã.Entre eles conta-se Santo Agostinho(não o teólogo), que foi de Roma àInglaterra (597), e também S.Patrício, que inicou a evangelizaçãoda Irlanda, no ano 431; esses sãoalguns, entre os muitos missionáriosmonásticos.

Apesar dos bons resultados queemanaram do sistema monástico,também houve péssimos resultados.Alguns desses manifestaram-se mesmoquando as instituições estavam emprogresso. Contudo, acentuaram-se noúltimo período, quando o monacatodegenerou, perdendo o fervorprimitivo, seus ideais elevados e adisciplina. Entre esses malescontam-se os seguintes:

O monacato apresentava ocelibato como a vida mais elevada, oque é inatural e contrário àsEscrituras. Impôs a adoção da vidamonástica a milhares de homens emulheres das classes nobres daépoca. Os lares e as famílias foram,assim, constituídos não pelosmelhores homens e mulheres, mas poraqueles de ideais inferiores, já queo monacato enclausurava os melhoreselementos, que não participavam dafamília, nem da vida social, nem davida cívica nacional.

Tanto em tempos de guerra comoem tempos de paz, os homens maiscapazes e necessários ao Estadoestavam inativos, nos mosteiros.Afirmam alguns que Constantinopla eo Império Oriental poderiam haver-sedefendido contra os turcos, se osmonges que viviam nos conventostivessem pegado em armas para defen-derem o seu país. O crescimento dariqueza dos mosteiros levou à

indisciplina, ao luxo, à ociosidadee à imoralidade. Muitos conventostransformaram-se em antros deiniquidade. Cada nova ordem quesurgia procurava fazer reformas,porém seus membros degeneravam paraos mais baixos níveis de conduta.Inicialmente os mosteiros erammantidos pelo trabalho de seusocupantes. Mais tarde, porém, otrabalho cessou quase que porcompleto, e monges e freirasmantinham-se com a renda daspropriedades, que aumentavamconstantemente, mediante ascontribuições que se impunham àforça às famílias, ricas e pobres.Todas as propriedades e bens de raizdas casas monásticas estavam isentosde impostos. Desse modo encargoscada vez mais pesados, e quefinalmente se tornaraminsuportáveis, eram colocados sobrea sociedade que vivia fora dosconventos. A ganância dos mosteirosprovocou sua extinção.

No início da Reforma do séculodezesseis, os mosteiros de todo onorte da Europa estavam tãodesmoralizados no conceito do povo,que foram suprimidos, e os que neleshabitavam foram obrigados atrabalhar para se manterem.

A esse período chamou-se a"Idade do Obscurantismo". Contudo,essa época também deu ao mundoalgumas das maiores realizaçõesnaquilo que há de melhor na vida.

Durante a Idade Média fundaram-se quase todas as grandesuniversidades, iniciadasprincipalmente por eclesiásticos ecom origem nas escolas ligadas àscatedrais e aos mosteiros. Entreessas universidades podem-semencionar a de Paris, que no séculoonze sob a orientação de Abelardo,tinha milhares de alunos; asuniversidades de Oxford e deCambridge, e bem assim a de Bolonha,nas quais estudavam alunos de todos

os países da Europa. Todas asgrandes catedrais da Europa, essasmaravilhas de arquitetura gótica,que o mundo moderno admira, sempoder sobrepujar, nem ao menosigualar, foram desenhadas econstruídas no período medieval. Odespertar da literatura teve iníciona Itália com a famosa obra "ADivina Comédia", de Dante, iniciadano ano de 1303, logo seguida pelosescritos de Petrarca (1340) e deBocácio (1360).

No mesmo país e na mesma épocainiciou-se o despertamento da arte,com Giotto, em 1298, seguido por umasérie de grandes pintores,escultores e arquitetos. Devemoslembrar que, sem exceção, ospintores primitivos usavam a suaarte para servir à igreja. Seus qua-dros, apesar de se encontrarematualmente em galerias e emexposições, a princípio estavam nasigrejas e nos mosteiros.

17A IGREJA MEDIEVAL

SEXTA PARTE

Início da Reforma Religiosa.A Queda de Constantinopla.

Eruditos e Dirigentes.

Durante este período,especialmente seu ocaso,manifestaram-se réstias de luzreligiosa, presságios da futuraReforma. Cinco grandes movimentos dereformas surgiram na igreja;contudo, o mundo não estavapreparado para recebê-los, de modoque foram reprimidos com sangrentasperseguições.

Os albigenses ou cátaros(cathari), "puritanos", conseguiramproeminência no sul da França, cercado ano 1170. Eles rejeitavam a

autoridade da tradição, distribuíamo Novo Testamento e opunham-se àsdoutrinas romanas do purgatório, àadoração de imagens e às pretensõessacerdotais, apesar de terem algumasidéias estranhas relacionadas com osantigos maniqueus, e rejeitarem oAntigo Testamento. O papa InocêncioIII, em 1208, mobilizou uma"cruzada" contra eles, e a seita foidissolvida com o assassínio de quasetoda a população da região, tanto acatólica como a herege.

Os valdenses apareceram aomesmo tempo, em 1170, com PedroValdo, um comerciante de Lyon, quelia, explicava e distribuía asEscrituras, as quais contrariavam oscostumes e as doutrinas doscatólicos romanos. Pedro Valdofundou uma ordem de evangelistas,"os pobres de Lyon", que viajavampelo centro e sul da França,ganhando adeptos. Foram cruelmenteperseguidos e expulsos da França;

contudo encontraram abrigo nos valesdo norte da Itália. Apesar doséculos de perseguições, elespermaneceram firmes, e atualmenteconstituem uma parte do pequenogrupo de protestantes na Itália.

João Wyclif iniciou ummovimento na Inglaterra a favor dalibertação do domínio do poderromano e da reforma da igreja.Wyclif nasceu em 1324, educou-se naUniversidade de Oxford, ondealcançou o lugar de doutor emteologia e chefe dos conselhos quedirigiam aquela instituição. Atacavaos frades mendicantes e o sistema domonacato. Recusava-se a reconhecer aautoridade do papa e opunha-se a elana Inglaterra. Escreveu contra adoutrina da transubstanciação,considerando o pão e o vinho merossímbolos. Insistia em que osserviços divinos na igreja fossemmais simples, isto é, de acordo como modelo do Novo Testamento. Se ele

fizesse isso em outro país,certamente teria sido logomartirizado. Porém, na Inglaterra,era protegido pelos nobres maisinfluentes. Mesmo depois que algumasde suas doutrinas foram condenadaspela Universidade, ainda assim lhefoi permitido voltar à sua paróquiaem Lutterworth, e a continuar comoclérigo, sem ser molestado. Seumaior trabalho foi a tradução doNovo Testamento para o inglês,terminado em 1380. O AntigoTestamento, no qual foi ajudado poralguns amigos, foi publicado em1384, ano de sua morte. Osdiscípulos de Wyclif foram chamados"lolardos", e chegaram a sernumerosos. Porém, no tempo deHenrique IV e Henrique V foramintensamente perseguidos e, por fim,exterminados. A pregação de Wyclif esua tradução da Bíblia sem dúvida,prepararam o caminho para a Reforma.

João Huss, da Boêmia (nascidoem 1369 e martirizado em 1445), foium dos leitores dos escritos deWyclif, pregou as mesmas doutrinas,e especialmente proclamou anecessidade de se libertarem daautoridade papal. Chegou a serreitor da Universidade de Praga, edurante algum tempo exerceuinfluência atuante em toda a Boêmia.O papa excomungou João Huss, e de-terminou que a cidade de Pragaficasse sujeita à censuraeclesiástica enquanto ele morasseali. Huss, então retirou-se paralugar ignorado. Porém, de seuesconderijo enviava cartasconfirmando suas idéias. Ao fim dedois anos consentiu em comparecer aoconcílio da igreja católico-romanade Constança, que se realizou emBadem, na fronteira da Suíça,havendo para isso recebido um salvo-conduto do imperador Sigismundo. En-tretanto, o acordo foi violado, nãorespeitaram o salvo-conduto sob a

alegação de que "Não se deve serfiel a hereges". Assim foi Husscondenado e queimado em 1415. Porémsua atividade e sua condenação foramelementos decisivos na Reforma desua terra natal, e influenciaram aBoêmia, por muitos séculos, desdeesse tempo.

Jerônimo Savonarola (nascido em1452) foi um monge da Ordem dosDominicanos, em Florença, Itália, echegou a ser prior do Mosteiro de S.Marcos. Pregava, tal qual um dosprofetas antigos, contra os malessociais, eclesiásticos e políticosde seu tempo. A grande catedralenchia-se até transbordar demultidões ansiosas, não só de ouvi-lo, mas também para obedecer aosseus ensinos. Durante muito tempofoi praticamente o ditador deFlorença onde efetuou evidentereforma. Finalmente foi excomungadopelo papa. Foi preso, condenadoenforcado e seu corpo queimado na

praça de Florença. Seu martírio deu-se em 1498, apenas dezenove anosantes que Lutero pregasse as tesesna porta da catedral de Wittenberg.

A queda de Constantinopla, em1453, foi assinalada peloshistoriadores como a linha divisóriaentre os tempos medievais e ostempos modernos. O Império Gregonunca se recuperou da conquista deConstantinopla pelos cruzados em1204. Entretanto, as fortes defesasnaturais e artificiais protegeramdurante muito tempo a cidade deConstantinopla contra os turcos quesucederam aos árabes como podermaometano dominante. Província apósprovíncia do grande império foitomada, até ficar somente a cidadede Constantinopla, que finalmente,em 1453, foi tomada pelos turcos sobas ordens de Maomé II. Em um só diao templo de Sta. Sofia foitransformado em mesquita (condiçãoque perdurou até 1920) e

Constantinopla tornou-se a cidadedos sultões e a capital do ImpérioTurco. Depois da primeira guerramundial, Ancara foi declarada acapital turca. A igreja gregacontinua com seu patriarca,despojado de tudo, menos de suaautoridade eclesiástica, com resi-dência em Constantinopla (Istambul).Com a queda de Constantinopla, em1453, terminou o período da IgrejaMedieval.

Vamos mencionar, ainda queligeiramente, alguns dos homenseruditos e dirigentes do pensamentono período que estudamos. Durante osmil anos da igreja Medieval,levantaram-se muitos homens devalor, porém somente citaremosquatro deles como dirigentesintelectuais da época.

Anselmo nasceu em 1033, noPiomonte, Itália; era um erudito,como tantos outros homens de seutempo, que vagava por vários países.

Anselmo fez-se monge do Mosteiro deBec, na Normandia, e alcançou ocargo de abade, em 1078. Foi nomeadoarcebispo de Canterbury e primaz daigreja na Inglaterra por GuilhermeRufus, em 1093. Contudo lutou contraGuilherme e contra seu sucessorHenrique I, por causa da liberdade eautoridade da igreja, e por isso foiexilado, por algum tempo. Escreveuvárias obras teológicas efilosóficas, sendo por isso chamado"o segundo Agostinho". Morreu no ano1109.

Pedro Abelardo, que nasceu noano 1079, e morreu em 1142, comofilósofo e teólogo, foi o pensadormais ousado da Idade Média. Pode serconsiderado como o fundador daUniversidade de Paris, que foi a mãedas Universidades européias. A famade Abelardo, como professor, atraiumilhares de estudantes de todas aspartes da Europa. Muitos dos grandeshomens da geração que lhe sucedeu

foram influenciados por seus pen-samentos. Suas intrépidasespeculações e opiniões in-dependentes o colocaram mais de umavez sob a expulsão da igreja. Maisfamosa do que seus ensinos e escri-tos foi a história romântica quemanteve com a formosa Eloísa, porquem deixou a vida monástica.Casaram-se, porém logo depois foramobrigados a separar-se e a entrarpara conventos. Abelardo morreu noposto de abade, e Eloísa quando eraabadessa.

Bernardo de Clairvaux (1090-1153) foi um nobre pertencente a umafamília francesa. Educou-se paraservir na corte, porém renunciou, afim de entrar para um convento. Em1115 fundou em Clairvaux um mosteiroda ordem dos cistercienses e foi eleo primeiro abade do convento. Essaordem espalhou-se por muitos paísese seus membros eram geralmenteconhecidos como bernardinos.

Bernardo era uma admirável união depensador místico e prático.Organizou a Segunda Cruzada em 1147.Foi um homem de mente esclarecida ecoração bondoso. Opunha-se àperseguição aos judeus e escreviacontra ela. Alguns de seus hinos,como "Jesus, só o pensar em ti", eainda "Ó fronte ensanguentada",cantam-se em todas as igrejas.Somente vinte anos depois da mortefoi ele canonizado como SãoBernardo. Lutero declarou oseguinte: "Se houve no mundo ummonge santo e temente e Deus, essefoi S. Bernardo de Clairvaux."

A mentalidade maior da IdadeMédia foi, sem dúvida, Tomás deAquino, que viveu nos anos de 1225 a1274, e foi chamado o "DoutorUniversal, Doutor Angélico ePríncipe da Escolástica". Nasceu nalocalidade de Aquino, no reino deNápoles. Contra a vontade dafamília, os condes de Aquino, entrou

para a ordem dos monges dominicanos.Quando ainda estudante, Tomás eratão calado que lhe deram o apelidode "boi mudo". Mas o seu mestreAlberto Magno sempre dizia: "Um diaesse boi encherá o mundo com seusmugidos." E, de fato, ele foi aautoridade mais célebre e maiselevada de todo o período medieval,na filosofia e na teologia. Seusescritos ainda hoje são citados,principalmente pelos eruditoscatólicos romanos. Tomás de Aquinomorreu em 1274.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS 18 - 20.

QUINTO PERÍODO GERAL.A IGREJA REFORMADA

Desde a Queda de Constaninopla, 1453Até ao Fim da Guerra dos Trinta anos, 1648

I. INFLUÊNCIAS QUE CONDUZIRAM À REFORMA. (Capítulo 18).1. A Renascença.2. A Invenção da Imprensa.3. O Espírito Nacionalista.

II. A RE FORMA NA ALEMANHA. (Capítulo 18).1. A Venda de Indulgências.2. As Teses.3. Queima da Bula Papal.4. A Dieta de Worms.5. O Castelo de Wartzburg.6. O Nome Protestante.

III. A REFORMA EM OUTROS PAÍSES. (Capítulo19).1. Na Suíça.2. No Reino da Escandinávia.

3. Na França.4. Nos Países-Baixos.5. Na Inglaterra:(a) Sob Henrique VIII.(b) Sob Eduardo VI.(c) Sob a Rainha Maria.(d) Sob a Rainha Elisabete I.6. Na Escócia.

IV. OS PRINCÍPIOS DA RELIGIÃO REFORMADA. (Capítulo 19).1. Religião Bíblica.2. Religião Racional.3. Religião Pessoal.4. Religião Espiritual.5. Religião Nacional.

V. A CONTRA-REFORMA. (Capítulo 20).1. Reforma Dentro da Igreja Católica Romana.2. A Ordem dos Jesuítas.3. Perseguição Ativa.4. Esforços Missionários dos Católicos Romanos.5. A Guerra dos Trinta Anos.

VI. DIRIGENTES DO PERÍODO. (Capítulo 20).1. Desidério Erasmo, 1466-1536.2. Martinho Lutero, 1483-1546.3. João Calvino, 1509-1564.4. Tomás Crâmer, 1489-1556.5. João Knox, 1505-1572.6. Inácio de Loiola, 1491-1556.7. Francisco Xavier, 1506-1552.

18A IGREJA REFORMADA QUINTO PERÍODO GERAL

Desde a Queda de Constantinopla, 1453 Até ao Fim da Guerra dos Trinta Anos, 1648

PRIMEIRA PARTE

A Reforma na Alemanha.

Neste período de duzentos anosque vamos comentar, o grandeacontecimento que despertou aatenção geral foi a Reforma;iniciada na Alemanha, espalhou-sepor todo o norte da Europa e tevecomo resultado o estabelecimento deigrejas nacionais que não prestavamobediência nem fidelidade a Roma.Anotemos algumas das forças queconduziram à Reforma e ajudaram deforma notável o seu progresso.

Uma dessas forças foi, semdúvida, o notável movimentoconhecido como Renascença, oudespertar da Europa para um novointeresse pela literatura, pelasartes e pela ciência, isto é, atransformação dos médodos epropósitos medievais em métodosmodernos.

Durante a Idade Média ointeresse dos estudiosos havia sidoorientado para a verdade religiosa,com a filosofia relacionada com areligião. Os principais pensadores eescritores, conforme vimos, eramhomens pertencentes à igreja. Porém,no período da Renascença, surgiu umnovo interesse pela literaturaclássica, pelo grego e pelo latim,pelas artes, de forma inteiramenteseparada da religião. Por via de talinteresse, apareceram os primeirosvislumbres da ciência moderna. Osdirigentes do movimento, de modogeral, não eram sacerdotes nem

monges, e sim leigos, especialmentena Itália, onde teve início aRenascença, não como um movimentoreligioso, mas literário; não aber-tamente anti-religioso, porém céticoe investigador.

A maioria dos estudiosositalianos desse período eram homemdestituídos de vida religiosa; atéos próprios papas dessa épocadestacavam-se mais por sua culturado que pela fé. No norte dos Alpes,na Alemanha, na Inglaterra, e naFrança o movimento possuíasentimento religioso, despertandonovo interesse pelas Escrituras,pelas línguas grega e hebraica,levando o povo a investigar osverdadeiros fundamentos da fé,independente dos dogmas de Roma. Portoda parte, de norte a sul, aRenascença solapava a igrejacatólica romana.

A invenção da imprensa veio aser um arauto e aliado da Reforma

que se aproximava. Essa descobertafoi realizada por Gutemberg, em1455, em Mogúncia, no Reno, econsistia em imprimir livros comtipos móveis, fazendo-os circular,facilmente, aos milhares. Antes dese inventar a imprensa, os livroseram copiados a mão. Uma Bíblia, naIdade Média, custava o salário de umano de um operário. É muitosignificativo o fato de o primeirolivro impresso por Gutemberg haversido a Bíblia, demonstrando, assim,o desejo dessa época.

A imprensa possibilitou o usocomum das Escrituras, e incentivou atradução e a circulação da Bíblia emtodos os idiomas da Europa. Aspessoas que liam a Bíblia,prontamente se convenciam de que aigreja papal estava muitodistanciada do ideal do NovoTestamento. Os novos ensinos dosReformadores, logo que eramescritos, também eram logo

publicados em livros e folhetos, ecirculavam aos milhões em toda aEuropa.

Nessa época começou a surgir naEuropa o espírito nacionalista. Essemovimento era diferente das lutasmedievais entre papas e imperadores.Tratava-se mais de um movimentopopular do que mesmo um movimentorelacionado com os reis. Opatriotismo dos povos começou amanifestar-se, mostrando-seinconformados com a autoridadeestrangeira sobre suas própriasigrejas nacionais; resistindo ànomeação de bispos, abades edignitários da igreja feitas por umpapa que vivia em um país distante.Não se conformava, o povo, com acontribuição do "óbolo de S. Pedro",para sustentar o papa e para aconstrução de majestosos templos emRoma. Havia uma determinação dereduzir o poder dos concílioseclesiásticos, colocando o clero sob

o poder das mesmas leis e tribunaisque serviam para os leigos. Esseespírito nacionalista era umsustentáculo do movimento daReforma.

Enquanto o espírito de reformae de independência despertava aEuropa, a chama desse movimentocomeçou a arder primeiramente naAlemanha, no eleitorado da Saxônia,sob a direção de Martinho Lutero,monge e professor da Universidade deWittenberg. Vamos anotar algumas dascausas originais.

O papa reinante, Leão X, emrazão da necessidade de avultadassomas para terminar as obras dotemplo de S. Pedro em Roma, permitiuque um seu enviado, João Tetzel,percorresse a Alemanha vendendobulas, assinadas pelo papa, asquais, dizia, possuíam a virtude deconceder perdão de todos os pecados,não só aos possuidores da bula, mastambém aos amigos, mortos ou vivos,

em cujo nome fossem as bulascompradas, sem necessidade deconfissão, nem absolvição pelosacerdote. Tetzel fazia estaafirmação ao povo: "Tão depressa ovosso dinheiro caia no cofre, a almade vossos amigos subirá dopurgatório ao céu." Lutero, por suavez, começou a pregar contra Tetzele sua campanha de venda deindulgências, denunciando como falsoesse ensino.

A data exata fixada peloshistoriadores como início da grandeReforma foi registrada como 31 deoutubro de 1517. Na manhã desse dia,Martinho Lutero afixou na porta daCatedral de Wittenberg um pergaminhoque continha noventa e cinco tesesou declarações, quase todasrelacionadas com a venda deindulgências; porém em sua aplicaçãoatacava a autoridade do papa e dosacerdócio. Os dirigentes da igrejaprocuravam em vão restringir e

lisonjear Martinho Lutero. Ele,porém, permaneceu firme, e osataques que lhe dirigiam, apenasserviram para tornar mais resolutasua oposição às doutrinas nãoapoiadas nas Escrituras Sagradas.

Após longas e prolongadascontrovérsias e a publicação defolhetos que tornaram conhecidas asopiniões de Lutero em toda aAlemanha, seus ensinos foram for-malmente condenados. Lutero foiexcomungado por uma bula 6 do papaLeão X, no mês de junho de 1520.Pediram então ao eleitor Fredericoda Saxônia que entregasse presoLutero, a fim de ser julgado ecastigado. Entretanto, em vez deentregar Lutero, Frederico deu-lheampla proteção, pois simpatizava comsuas idéias. Martinho Lutero recebeua excomunhão como um desafio,6 Os decretos do papa chamavam-se "bulas"; apalavra bula quer dizer "selo". O nome é aplicado a qualquer documento selado com selo oficial.

classificando-a de "bula execráveldo anticristo". No dia 10 dedezembro, Lutero queimou a bula, emreunião pública, à porta deWittemberg, diante de uma assembléiade professores, estudantes e dopovo. Juntamente com a bula, Luteroqueimou também cópias dos cânones ouleis estabelecidas por autoridadesromanas. Esse ato constituiu arenúncia definitiva de Lutero àigreja católica romana.

Em 1521 Lutero foi citado acomparecer ante a Dieta do ConcílioSupremo do Reno. O novo imperadorCarlos V concedeu um salvo-conduto aLutero, para comparecer em Worms.Apesar de advertido por seus amigosde que poderia ter a mesma sorte deJoão Huss, que nas mesmascircunstâncias, no Concílio deConstança, em 1415, apesar depossuir um salvo-conduto, foi mortopor seus inimigos, Lutero respondeu-lhes: "Irei a Worms ainda que me

cerquem tantos demônios quantas sãoas telhas dos telhados." Finalmente,no dia 17 de abril de 1521 Luterocompareceu ante a Dieta, presididapelo imperador. Em resposta a umpedido de que se retratasse, erenegasse o que havia escrito, apósalgumas considerações respondeu quenão podia retratar-se, a não ser quefosse desaprovado pelas Escrituras epela razão, e terminou com estaspalavras: "Aqui estou. Não possofazer outra coisa. Que Deus meajude. Amém." Instaram com oimperador Carlos para que prendesseLutero, apresentando como razão, quea fé não podia ser confiada ahereges. Contudo, Lutero pôde deixarWorms em paz.

Enquanto viajava de regresso àsua cidade, Lutero foi cercado elevado por soldados do eleitorFrederico para o castelo deWartzburg, na Turíngia. Ali permane-ceu Lutero guardado, em segurança e

disfarçado, durante um ano, enquantoas tempestades de guerra e revoltasrugiam no império. Entretanto,durante esse tempo, Lutero nãopermaneceu ocioso; nesse períodotraduziu o Novo Testamento para alíngua alemã, obra que por si só oteria imortalizado, pois essa versãoé considerada como o fundamento doidioma alemão escrito. Istoaconteceu no ano de 1521. O AntigoTestamento só foi completado algunsanos mais tarde. Ao regressar docastelo de Wartzburg a Wittenberg,Lutero reassumiu a direção domovimento a favor da igrejaReformada, exatamente a tempo desalvá-la de excessos extravagantes.

A divisão dos vários estadosalemães, em ramos Reformados eromanos, deu-se entre o Norte e oSul. Os príncipes meridionais,dirigidos pela Áustria, aderiram aRoma, enquanto os do Norte setornaram seguidores de Lutero. Em

1529 a Dieta reuniu-se na cidade deEspira, com o objetivo dereconciliar as partes em luta. Nessareunião da Dieta os governadorescatólicos, que tinham maioria,condenaram as doutrinas de Lutero.Os príncipes resolveram proibirqualquer ensino do luteranismo nosestados em que dominassem oscatólicos. Ao mesmo tempodeterminaram que nos estados em quegovernassem luteranos, os católicospoderiam exercer livremente suareligião. Os príncipes luteranosprotestaram contra essa leidesequilibrada e odiosa. Desde essetempo ficaram conhecidos comoprotestantes, e as doutrinas quedefendiam também ficaram conhecidascomo religião protestante.

19A IGREJA REFORMADA

SEGUNDA PARTE

A Reforma em Outros Países.Princípios da Reforma.

Enquanto a Reforma estava aindaem início na Alemanha, eis que omesmo espírito despontou também emmuitos países da Europa. No Sul,como na Itália e Espanha, a Reformafoi sufocada impiedosamente. NaFrança e nos Países-Baixos a causada Reforma pendia na balança daincerteza. Entretanto, em todas asnações do Norte a nova religiãoapresentava-se vitoriosa sobre todaa oposição romana e começava adominar esses países.

A Reforma na Suíça despontouindependente por completo do

movimento na Alemanha, apesar de sehaver manifestado simultaneamente,sob a orientação de Ulrico Zuínglio,o qual, em 1517, atacou "a remissãode pecados", que muitos procuravampor meio de peregrinações a um altarda Virgem de Einsieldn. No ano de1522, Zuínglio rompeudefinitivamente com Roma. A Reformafoi então formalmente estabelecidaem Zurique, e dentro em brevetornou-se um movimento mais radicaldo que na Alemanha. Entretanto, oprogresso desse movimento foiprejudicado por uma guerra civilentre cantões católico-romanos eprotestantes, na qual Zuíngliomorreu em 1531. Apesar de tudo, areforma continuou a sua marcha, emais tarde teve como dirigente JoãoCalvino, o maior teólogo da igreja,depois de Agostinho; sua obra,"Instituições da Religião Cristã",publicada em 1536, quando Calvinotinha apenas vinte e sete anos,

tornou-se regra da doutrinaprotestante.

O reino escandinavo, que nessaépoca se compunha da Dinamarca,Suécia e Noruega, sob um mesmo go-verno, recebeu prontamente osensinos de Lutero, os quais tiverama simpatia do rei Cristiano II. Aslutas políticas e a guerra civil,durante algum tempo paralisaram oprogresso da Reforma. Porém,finalmente, os três países aceitaramas idéias luteranas.

Na França, a igreja católicaromana possuía mais liberdade do queno resto da Europa. Por essa razãoera menos sentida a necessidade deindependência eclesiástica de Roma.Contudo, ali iniciou-se um movimentoreligioso, antes da Reforma naAlemanha. No ano de 1512, JacquesLefevre escreveu e pregou a doutrinada "justificação pela fé".

Dois partidos surgiram então nacorte e entre o povo. Os reis que se

sucediam no governo, apesar de nomi-nalmente católicos romanos,alternadamente se colocavam ao ladode cada partido. Porém oprotestantismo sofreu um golpe quasemortal, no terrível massacre danoite de São Bartolomeu, 24 deagosto de 1572, quando quase todosos chefes protestantes e milhares deseus adeptos foram covardementeassassinados. A fé reformadaenfrentou terrível perseguição, masuma parte do povo francês continuouprotestante. Apesar de pequeno emnúmero, o protestantismo francêsexerceu grande influência.

Os Países-Baixos, que secompunham dos atuais países daBélgica e Holanda, estavam, noinício da Reforma, sob o domínio daEspanha. Esses países receberam logoos ensinos da Reforma, porém foramperseguidos pelos regentesespanhóis. Nos Países-Baixos areforma era um clamor de liberdade

política e religiosa e a tirania dosespanhóis levou o povo a rebelar-se.Após prolongada guerra e incrívelsofrimento, os Países-Baixos, sob adireção de Guilherme, o Taciturno,finalmente conquistaram aindependência desligando-se dogoverno da Espanha, apesar desomente haverem alcançado oreconhecimento no ano de 1648,sessenta anos depois da morte deGuilherme. A Holanda, tornou-seprotestante. Entretanto a Bélgicacontinuou em sua maioria católicaromana.

O movimento da Reforma naInglaterra passou por váriosperíodos de progresso e retrocesso,em razão das relações políticas, dasdiferentes atitudes dos soberanos edo espírito conservador natural aosingleses. A Reforma iniciou-se noreinado de Henrique VIII, com umgrupo de estudantes de literaturaclássica e da Bíblia, alguns dos

quais, como Tomás More, recuaram econtinuaram católicos, enquantooutros avançaram corajosamente paraa fé protestante.

Um dos dirigentes da Reforma naInglaterra foi João Tyndale, quetraduziu o Novo Testamento na língua"mater", a primeira versão em inglêsdepois da invenção da imprensa; essatradução, mais do que outraqualquer, modelou todas astraduções, a partir daí. Tyndale foimartirizado em Antuérpia, no ano de1536. Outro dirigente da Reforma foiTomás Cranmer, arcebispo deCantuária; Cranmer, após ajudar demodo notável a Inglaterra a tornar-se protestante, retratou-se noreinado da rainha católica Maria, naesperança de salvar a vida.Entretanto, ao ser condenado amorrer queimado, revogou aretratação. A reforma na Inglaterrafoi favorecida e também prejudicadapor Henrique VIII, o qual se separou

de Roma, porque o papa não quissancionar seu divórcio da rainhaCatarina, irmã do imperador CarlosV. Henrique VIII fundou uma igrejacatólica inglesa, sendo ele mesmo ochefe. Aqueles que não concordavamcom suas idéias, quer católicos,quer protestantes, eram por elecondenados à morte.

Sob o governo de Eduardo VI,que era muito jovem, e cujo reinadofoi curto, a causa da Reformaprogrediu muito. Dirigida porCranmer e outros, a igreja da In-glaterra foi fundada e o Livro deOração foi compilado, com sua rica erítmica forma de linguagem. A rainhaMaria, que sucedeu a Eduardo VI, erauma fanática romanista e iniciou ummovimento para reconduzir seussúditos a sua antiga igreja, usandopara isso a perseguição. Elagovernou somente cinco anos; porémnesse período mais de trezentosprotestantes sofreram o martírio.

Com o acesso ao trono de Elizabete,a mais capaz de todos os soberanosda Inglaterra, as prisões se abri-ram, os exílios foram revogados, aBíblia foi novamente honrada nopúlpito e no lar, e durante seulongo governo, denominado a "épocade Elisabete", a mais religiosa dahistória inglesa, a igreja daInglaterra firmou-se outra vez etomou a forma que dura até hoje.

Na Escócia a Reforma teveprogresso muito lento, pois a igrejae o Estado eram governados pela mãoférrea do cardeal Beaton e pelarainha Maria de Guise, mãe da rainhaMaria da Escócia. O cardeal foiassassinado, a rainha morreu, e logoa seguir João Knox, em 1559, assumiua direção do movimento reformador.Mediante suas idéias radicais einflexíveis, sua firme determinaçãoe sua irresistível energia, mesmocontra o engenho e a atração de suaromanista soberana, a rainha Maria

dos escoceses, Knox pôde fazerdesaparecer todos os vestígios daantiga religião, e levar a Reformamuito mais longe, do que a daInglaterra. A igreja Presbiteriana,segundo foi planejada por João Knox,veio a ser a igreja da Escócia.

No início do século dezesseis,a única igreja na Europa Ocidentalera a católica romana, que sejulgava segura da lealdade de todosos reinos. Contudo, antes de findaresse século todos os países do norteda Europa, ao oeste da Rússia, sehaviam separado de Roma, e haviamestabelecido suas próprias igrejasnacionais. Embora nos países donorte da Europa houvesse diferençade doutrinas e de organizaçãoresultantes da Reforma, contudo nãoé difícil encontrar a plataformacomum de todas as igrejasprotestantes. Os princípios daReforma podem ser consideradoscinco.

O primeiro grande princípio éque a verdadeira religião estábaseada nas Escrituras. Os católicosromanos haviam substituído aautoridade da Bíblia pela autoridadeda igreja. Ensinavam que a igrejaera infalível e que a autoridade daBíblia procedia da autorização daigreja. Proibiam a leitura dasEscrituras aos leigos e opunhamobstáculos à sua tradução nalinguagem usada pelo povo. Osreformadores afirmavam que a Bíbliacontinha as regras de fé e prática,e que não se devia aceitar nenhumadoutrina que não fosse ensinada pelaBíblia. A Reforma devolveu ao povo aBíblia que se havia perdido, ecolocou os ensinos bíblicos sobre otrono da autoridade. Foi pelaatitude dos reformadores, e atravésdos países protestantes, que aBíblia conseguiu a circulação quehoje tem, a qual se conta aosmilhões, anualmente.

Outro princípio estabelecidopela Reforma foi este: a religiãodevia ser racional e inteligente. Oromanismo havia introduzido,doutrinas irracionais no credo daigreja, como a transubstanciação,pretensões absurdas como asindulgências papais, em suadisciplina, costumes supersticiososcomo a adoração de imagens em seuritual. Os reformadores, conquantosubordinassem devidamente a razão àrevelação, contudo reconheciam aprimeira como um dom divino, erequeriam um credo, uma disciplina euma adoração que não violassem anatureza racional do homem.

A terceira grande verdade daReforma, e à qual deu ênfase, era areligião pessoal. Sob o sistemaromano havia uma porta fechada entreo adorador e Deus, e para essa portao sacerdote tinha a única chave. Opecador arrependido não confessavaseus pecados a Deus; não obtinha

perdão de Deus, e sim do sacerdote;somente ele podia pronunciar aabsolvição. O adorador não orava aDeus o Pai, mediante Cristo o Filho,mas por meio de um santo padroeiro,que se supunha interceder pelopecador diante de um Deus demasiadodistante para que o homem seaproximasse dele na vida terrena. Emverdade, Deus era considerado comoum Ser pouco amigável, que devia seraplacado e apaziguado mediante avida ascética de homens e mulheressantos, os únicos cujas oraçõespodiam salvar os homens da ira deDeus. Os homens piedosos não podiamconsultar a Bíblia para seorientarem; tinham de receber osensinos do Livro indiretamente,segundo as interpretações dosconcílios e dos cânones da igreja.Os reformadores removeram todasessas barreiras. Guiavam o adoradora Deus como objeto direto de oração,e bem assim o outorgador imediato doperdão e da graça. Levavam as almas

à presença de Deus e à comunhão comCristo individualmente.

Os reformadores tambéminsistiam na religião espiritual,diferente da religião formalista. Oscatólicos romanos haviamsobrecarregado a simplicidade doevangelho, adicionando-lheformalidades e cerimônias que lheobscureciam inteiramente a vida e oespírito. A religião consistia emadoração externa prestada sob adireção dos sacerdotes, e não naatitude do coração para com Deus.Indiscutivelmente houve muitoshomens sinceros e espirituais naigreja católica romana, entre osquais podemos destacar Bernardo deClairvaux, Francisco de Assis eTomás de Kempis, os quais viviam emíntima comunhão com Deus.Entretanto, de modo geral, na igrejaa religião era letra e não espírito.Os reformadores davam ênfase àscaracterísticas internas da religião

antes que às externas. Colocavam emevidência a antiga doutrina comoexperiência vital: "A salvação pelafé em Cristo, e unicamente pela fé."Proclamavam que os homens sãojustificados não por formas eobservâncias externas e sim pelavida interior espiritual, "a vida deDeus na alma dos homens".

O último dos princípios da obrada Reforma foi a existência de umaigreja nacional, independente daigreja mundial. O alvo do papado edo sacerdócio havia sido subordinaro Estado à igreja, e fazer com que opapa exercesse autoridade sobretodas as nações.

Entretanto, onde oprotestantismo triunfava, surgia umaigreja nacional governada por simesma e completamente independentede Roma. Essas igrejas nacionaisassumiam diferentes formas:episcopal na Inglaterra,presbiteriana na Escócia e na Suíça,

um tanto mista nos países do Norte.O culto de adoração em todas asigrejas católicas romanas era emlatim, porém nas igrejas pro-testantes celebravam-se os cultosnos idiomas usados por seusadoradores.

20

A IGREJA REFORMADATERCEIRA PARTE

A Contra-Reforma. Dirigentes do Período.

Logo após haver-se iniciado omovimento da Reforma, um poderosoesforço foi também iniciado pelaigreja católica romana no sentido derecuperar o terreno perdido naEuropa, para destruir a féprotestante e para enviar missõescatólico-romanas a países estran-geiros. Esse movimento foi chamadoContra-Reforma.

Tentou-se fazer a reformadentro da própria igreja, por via doConcílio de Trento, convocado no anode 1545 pelo papa Paulo III,principalmente com o objetivo deinvestigar os motivos e pôr fim aos

abusos que deram causa à Reforma. OConcílio reuniu-se em datas dife-rentes e lugares diversos, porém amaioria das vezes em Trento, naÁustria, a 120 quilômetros ao nortede Veneza. O Concílio era compostode todos os bispos e abades daigreja, e durou quase vinte anos,durante os governos de quatro papas,de 1545 a 1563. Todos esperavam quea separação entre católicos eprotestantes teria fim, e que aigreja ficaria outra vez unida.

Contudo, tal coisa não sucedeu.Fizeram-se, porém, muitas reformasna igreja católica e as doutrinasforam definitivamente estabelecidas.Os próprios protestantes admitem quedepois do Concílio de Trento ospapas se conduziram com mais acertodo que os que governaram antes doConcílio. O resultado dessa reuniãopode ser considerado como umareforma conservadora dentro daigreja católica romana.

De ainda maior influência naContra-Reforma foi a Ordem dosJesuítas, fundada em 1534 peloespanhol Inácio de Loyola. Era umaordem monástica caracterizada pelacombinação da mais severadisciplina, intensa lealdade àigreja e à Ordem, profunda devoçãoreligiosa, e um marcado esforço paraarrebanhar prosélitos. Seu principalobjetivo era combater o movimentoprotestante, tanto com métodosconhecidos como com formas secretas.Tornou-se tão poderosa a Ordem dosJesuítas, que teve contra ela aoposição mais severa, até mesmo nospaíses católicos; foi suprimida emquase todos os países da Europa, epor decreto do papa Clemente XIV, noano de 1773, a Ordem dos Jesuítasfoi proibida de funcionar dentro daigreja. Apesar desse fato, elacontinuou a funcionar, secretamentedurante algum tempo, mais tardeabertamente, e foi reconhecida pelopapa em 1814. Hoje é uma das forças

mais ativas para divulgar efortalecer a igreja católica romanaem todo o mundo.

A perseguição ativa foi outraarma poderosa usada para impedir ocrescente espírito da Reforma. Écerto que os protestantes tambémperseguiram, e até mataram, porémgeralmente isso aconteceu porsentimentos políticos e nãoreligiosos. Na Inglaterra, aquelesque morreram, eram principalmentecatólicos que conspiraram contra arainha Elisabete. Entretanto, nocontinente europeu, todos osgovernos católicos preocupavam-se emextirpar a fé protestante, usandopara isso a espada. Na Espanhaestabelceu-se a Inquisição, por meioda qual inumerável multidão sofreutorturas e muitas pessoas foramqueimadas vivas. Nos Países-Baixos ogoverno espanhol determinou matartodos aqueles que fossem suspeitosde heresias. Na França o espírito de

perseguição alcançou o clímax, namatança da noite de São Bartolomeu,24 de agosto de 1572, e que seprolongou por várias semanas.Segundo o cálculo de algunshistoriadores, morreram de vinte asetenta mil pessoas. Essasperseguições nos países em que ogoverno não era protestante não sóretardavam a marcha da Reforma, mas,em alguns países, principalmente naBoêmia e na Espanha, a extinguiram.

Os esforços missionários daigreja católica romana devem serreconhecidos, também, como uma dasforças da Contra-Reforma. Essesesforços eram dirigidos em suamaioria pelos jesuítas, e tiveramcomo resultado a conversão das raçasnativas da América do Sul, do Méxicoe de grande parte do Canadá. Naíndia e países circunvizinhosestabeleceram-se missões porintermédio de Francisco Xavier, umdos fundadores da sociedade dos

jesuítas. As missões católicas, nospaíses pagãos, iniciaram-se séculosantes das missões protestantes econquistaram grande número demembros e bem assim poder para arespectiva igreja.

Como resultado inevitável deinteresses e propósitos contráriosdos estados da Reforma e católicosna Alemanha, iniciou-se então umaguerra no ano de 1618, isto é, umséculo depois da Reforma. Essaguerra envolveu quase todas asnações européias. Na história ela éconhecida como a Guerra dos TrintaAnos.

As rivalidades políticas ereligiosas estavam ligadas a essaguerra. Às vezes estados queprofessavam a mesma fé, apoiavampartidos contrários. A lutaestendeu-se durante quase umageração, e toda a Alemanha sofreu ouseus efeitos terríveis. Finalmente,em 1648, a guerra terminou, com a

assinatura do tratado de paz deWestfália, que fixou os limites dosestados católicos e protestantes,que duram até hoje. O período daReforma pode ser consideradoterminado a esse ponto.

Em uma época tão importante,envolvendo tantos países e repletade tão vastos resultados, houve, semdúvida, muitos dirigentes, tanto daparte dos reformados, como tambémdos católicos. Contudo, somentealguns serão citados neste breverelato desse movimento:

Desidério Erasmo, que nasceu emRoterdã, Holanda, 1466, foi um dosmaiores eruditos do período daRenascença e da Reforma. Erasmo foieducado em um mosteiro e ordenado em1492; dedicou-se à literatura. Emvários períodos viveu em Paris,Inglaterra, Suíça e Itália; contudo,seu lar permanente estava emBasiléia, Suíça. Antes de se iniciaro movimento da Reforma, Erasmo

tornou-se crítico inflexível daigreja católica romana, por meio dosseus escritos, dentre os quais sedestaca este de maior circulação:"Elogio da Loucura". Mas a sua obrade maior valor foi a edição do NovoTestamento em grego, com umatradução em latim. Apesar de Erasmohaver feito tanto quanto qualqueroutro homem de seu tempo pelapreparação da Reforma, jamais seuniu ao movimento, continuando exte-riormente católico, criticando osreformadores tão acremente comocriticava a igreja católica. Erasmomorreu em 1536.

Indiscutivelmente a figuraprincipal desse período foi MartinhoLutero, o fundador da civilizaçãoprotestante. Nasceu ele em Eisleben,em 1483; era filho de um mineiro;com muitos sacrifícios o pai enviouLutero a estudar na Universidade deErfurt. Lutero desejava seradvogado, porém, repentinamente

sentiu o chamado para a carreira demonge, e entrou para um mosteiro dosagostinianos. Foi ordenado monge, ebem depressa chamou a atenção deseus pais para a sua capacidade. Foienviado a Roma, em 1510, mas voltoudesiludido pelo que viu relativo aomundanismo e à maldade na igreja. Noano de 1511 iniciou sua campanha dereformador, condenando a venda de"indulgências", ou perdão de pecadose, como já lemos, afixou as famosasteses na porta da igreja deWittenberg. Ao ser excomungado, foiintimado a comparecer a Roma; porfim foi condenado "in absentia" pelopapa Leão X.

Lutero, então, queimou a bulaou decreto do papa, em 1520.

Foi na Dieta de Worms, em 18 deabril de 1521, que Lutero deu suacélebre resposta. Ao regressar aolar, corria perigo de serassassinado por seus inimigos.

Surgiram então seus amigos,levaram-no para o castelo deWartzburg onde ficou escondidodurante um ano. Foi ali que realizoua tradução do Novo Testamento para oalemão. Ao regressar a Wittenbergassumiu novamente a direção domovimento da Reforma: No ano de1529, fez-se um esforço para unir osseguidores de Lutero e os deZuínglio, porém não se obteve êxito,em razão do espírito firme einflexível de Lutero. Entre osmuitos escritos que circularam emtoda a Alemanha, de autoria deLutero, o de maior influência foi,sem dúvida, sua incomparáveltradução da Bíblia. Lutero morreuquando visitava o local em quenasceu, em Eisleben, a 18 defevereiro de 1546, aos sessenta etrês anos de idade.

João Calvino, o maior teólogodo Cristianismo depois de Agostinho,bispo de Hipona, nasceu em Noyo,

França, a 10 de julho de 1509 emorreu em Genebra, Suíça, a 27 demaio de 1564. Estudou em Paris,Orleans e Bourges. Aceitou osprincípios de Reforma em 1528 e foiexpulso de Paris. Em 1536, emBasiléia, publicou "Instituições daReligão Cristã" obra que se tornou abase da doutrina de todas as igrejasprotestantes, menos a luterana. Em1536, Calvino refugiou-se emGenebra, onde viveu até à morte, comexceção de alguns anos de exílio. AAcademia Protestante que Calvinofundou, juntamente com Teodoro Bezae outros reformadores, transformou-se no centro principal doprotestantismo na Europa. Asteologias calvinista e luteranapossuem características racionais eradicais que inspiraram osmovimentos liberais dos tempos mo-dernos, tanto no que se refere aoEstado como também à igreja, econtribuíram poderosamente para o

progresso e para a democracia emtodo o mundo.

Tomás Cranmer pode serconsiderado o dirigente da Reformainglesa, por sua posição como oprimeiro protestante na direção daigreja. Quando jovem, conquistou asimpatia do rei Henrique VIII, porhaver sugerido que se apelasse paraas universidades da Europa, naquestão do divórcio do reibritânico. Cranmer prestou serviçosa Henrique VIII em várias embaixadase foi nomeado bispo de Cantuária.Apesar de progressista em suasidéias, era tímido e flexível,exercendo sua influência moderadorana reforma da igreja, em lugar deser radical nesse sentido. Durante amenoridade do rei Eduardo VI,Cranmer foi um dos regentes, econseguiu fazer progredir a causa doprotestantismo. A contribuição maisimportante de Cranmer foi sua obracomo um dos compiladores do Livro de

Oração e como escritor de quasetodos os artigos de religião. Com aascensão ao trono da rainha Maria,foi destituído do arcebispado eencarcerado. Sob o peso dosofrimento retratou-se de suasopiniões protestantes, na esperançade salvar a vida, contudo foicondenado à morte na fogueira. Antesde seu martírio, em 1556, renunciouà retratação, e morreucorajosamente, colocando no fogo asua mão direita, a que haviaassinado a retratação, para quefosse a primeira a ser queimada.

João Knox foi o fundador daigreja escocesa e mui justamente ochamaram de "pai da Escócia". Nasceuno ano de 1505, mais ou menos, naBaixa Escócia. Foi educado naUniversidade de Sto. André, a fim deser sacerdote; mas, em lugar deaceitar o sacerdócio, tornou-seprofessor. Somente no ano de 1547João Knox abraçou a causa da

Reforma. Foi preso, juntamente comoutros reformadores, pelos francesesaliados da rainha regente e enviadoà França onde serviu nas galés. Maistarde foi libertado e voltou àInglaterra, onde esteve alguns anosexilado, no reinado de Eduardo VI;depois da ascensão da rainha Maria,foi exilado no Continente. EmGenebra, Knox conheceu João Calvinoe adotou sua idéias, tanto no que serefere à doutrina, como também aogoverno da igreja. Em 1559 Knoxvoltou à Escócia e logo a seguirtornou-se o dirigente quase absolutoda Reforma em seu país. Conseguiuque a fé e a ordem presbiterianasalcançassem importância suprema naEscócia. Ali dirigiu a mais radicalreforma que se verificou em qualquerpaís da Europa. Knox morreu no anode 1572. Quando seu corpo baixava àsepultura, Morton, o regente daEscócia, apontou para a cova edisse: "Aqui jaz um homem que jamaisconheceu o medo."

Entre os grandes homens doperíodo importante que estamoscomentando, pelo menos dois nomesdevem ser citados dos que sedestacaram, entre os católicos. Umdesses homens foi Inácio de Loyola,espanhol, que nasceu em 1491 ou1495, descendente de uma famílianobre, no Castelo de Loyola, do qualtomou o nome. Até a idade de vinte eseis anos, Loyola foi soldadovalente, embora dissoluto.Entretanto, após um grave ferimentoe passar por longa enfermidade,dedicou-se ao serviço da igreja. Noano de 1534 fundou a Sociedade deJesus, geralmente conhecida comoJesuítas, a instituição maispoderosa dos tempos modernos para apromoção da igreja católica romana.Seus escritos foram poucos. Entreeles conta-se a constituição daordem, a qual praticamente não foiaté hoje alterada; suas cartas, e"Exercícios Espirituais", umapequena obra que influenciou não só

os jesuítas, mas também todas as or-dens religiosas católicas. Inácio deLoyola deve ser reconhecido como umadas personalidades mais notáveis einfluentes do século dezesseis.Morreu em Roma, no dia 31 de julhode 1556, e foi canonizado no ano de1622.

São Francisco Xavier nasceu em1506, na seção espanhola de Navarra,que nessa época era um reino inde-pendente em ambos os lados dosPireneus. Foi um dos primeirosmembros da Sociedade de Jesus e tevea seu cargo o departamento demissões estrangeiras, sendo também ofundador moderno de missões.Francisco Xavier estabeleceu a fécatólica na Índia, no Ceilão, noJapão e em outros países do Oriente.Apenas havia iniciado a sua missãona China, quando morreu repenti-namente, de febre, no ano de 1552,com a idade de quarenta e seis anos.Durante sua curta existência,

mediante seu trabalho, conseguiu aconversão de milhares de pagãos.Organizou tão sabiamente a obra dasmissões, que o movimento continuoudepois de sua morte. Como resultadode seus planos e esforços, oscatólicos no Oriente hoje contam-seaos milhões.

Durante toda a sua existência,Xavier demonstrou espírito manso,tolerante e generoso, e issocontribuiu para que sua memória sejaestimada, tanto por católicos comotambém pelos protestantes.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS 21 – 22

SEXTO PERÍODO GERALA IGREJA MODERNA

Desde o Fim da Guerra dos Trinta Anos, 1648Até ao Século Vinte.

I. O MOVIMENTO PURITANO. (Capítulo 21).

1. Sua Origem.2. Suas Divisões.3. Sua Supremacia.4. Seus Resultados.

II. O AVIVAMENTO WESLEYANO. (Capítulo 21).1. A Necessidade.2. Os Dirigentes.3. Progresso do Movimento.4. Relações com a Igreja.5. Seus Resultados.

III. O MOVIMENTO RACIONALISTA. (Capítulo21).1. Sua Origem.2. Seu Crescimento.3. Sua Decadência.4. Seus Efeitos.

IV. O MOVIMENTO ANGLO-CATÓLICO.(Capítulo 21).1. Nomes.2. Objetivo.3. Começo.4. Líderes.5. Tendência.

6. Resultados.V. O MOVIMENTO MISSIONÁRIO. (Capítulo 22).1. Missões na Igreja Primitiva.2. O Descuido de Missões nos Períodos Medievais e da Reforma.3. As Missões Estrangeiras Morávias.4. As Missões Estrangeiras Inglesas.5. As Missões Estrangeiras Norte-americanas.6. As Condições Missionárias Atuais.

VI. DIRIGENTES DO PERÍODO MODERNO.(Capítulo 22).1. Ricardo Hooker, 1553-1600.2. Tomás Cartwritght, 1535-1603.3. Jonatan Edwards, 1703-1758.4. João Wesley, 1703-1791.5. João Henrique Newman, 1801-1890.6. Guilherme Carey, 1761-1834.

VII. A IGREJA NO SÉCULO VINTE. (Capítulo 22).1. Doutrina.

2. Unidade do Espírito.3. Espírito de Serviço.

21A IGREJA MODERNASEXTO PERÍODO GERAL

O Movimento Puritano. O AvivamentoWesleyano.

O movimento Racionalista. O MovimentoAnglo-católico.

PRIMEIRA PARTEEm nosso estudo do período

moderno, nos últimos três séculos,nossa atenção dirigir-se-áespecialmente para as igrejas quenasceram da Reforma. A igrejacatólica romana continuou em seupróprio caminho, inteiramenteseparada do mundo protestante; estáfora do nosso horizonte. Nossopropósito é descrever, de modobreve, certos movimentos deimportância, que por meio da Reforma

influenciaram países protestantescomo a Inglaterra, a Alemanhasetentrional e a América do Norte.

Pouco depois da Reformaapareceram três grupos diferentes naigreja inglesa: os elementosromanistas que procuravam fazeramizade e nova união com Roma; Oanglicanismo, que estava satisfeitocom as reformas moderadasestabelecidas nos reinados deHenrique VIII e da rainha Elisabete;e o grupo protestante radical quedesejava uma igreja igual às que seestabeleceram em Genebra e Escócia.Este último grupo ficou conhecido,cerca do ano de 1654, como "ospuritanos", e opunha-se de modofirme ao sistema anglicano no go-verno de Elisabete, e por essa razãomuitos de seus dirigentes foramexilados. Os puritanos também esta-vam divididos entre si: uma partemais radical, era favorável à formapresbiteriana; a outra parte

desejava a independência de cadagrupo local, conhecidos como"independentes" ou"congregacionais". Apesar dessasdiferenças, continuavam como membrosda igreja inglesa.

Na luta entre Carlos I e oParlamento, os puritanos eram fortesdefensores dos direitos populares.No início o grupo presbiterianopredominava. Por ordem doParlamento, um concílio de ministrosreunido em Westminster, em 1643,preparou a "Confissão deWestminster" e os dois catecismos,considerados durante muito tempocomo regra de fé por presbiterianose congregacionais. Durante o governode Oliver Cromwell (1653-1658),triunfou o elemento independente, oucongregacional. No governo de CarlosII (1660-1685) os anglicanosassumiram novamente o poder, e nessaépoca os puritanos foram perseguidoscomo não-conformistas. Após a

Revolução de 1688, os puritanosforam reconhecidos como dissidentesda igreja da Inglaterra econseguiram o direito deorganizarem-se independentemente. Domovimento iniciado pelos puritanossurgiram três igrejas, a saber, aPresbiteriana, a Congregacional, e aBatista.

Nos primeiros cinquenta anos doséculo dezoito, as igrejas daInglaterra, a oficial e adissidente, entraram em decadência.Os cultos eram formalistas,dominados por uma crençaintelectual, mas sem poder moralsobre o povo. A Inglaterra foidespertada dessa condição, por umgrupo de pregadores sincerosdirigidos pelos irmãos João e CarlosWesley e Jorge Whitefield. Dentre ostrês, Whitefield era o pregador maispoderoso, que comovia os corações demilhares de pessoas, tanto naInglaterra como na América do Norte.

Carlos Wesley era o poeta sacro,cujos hinos enriqueceram a coleçãohinológica a partir de seu tempo.João Wesley foi, sem dúvida alguma,o indiscutível dirigente e estadistado movimento. Na idade de trinta ecinco anos, quando desempenhava asfunções de clérigo anglicano, JoãoWesley encontrou a realidade dareligião espiritual entre osmorávios, um grupo dissidente daigreja Luterana. Em 1739 Wesleycomeçou a pregar "o testemunho doEspírito" como um conhecimentopessoal interior, e fundousociedades daqueles que aceitavamseus ensinos. A princípio essassociedades eram orientadas pordirigentes de classes, porém maistarde Wesley convocou um corpo depregadores leigos para que levassemas doutrinas e relatassem suasexperiências em todos os lugares, naGrã-Bretanha e nas colônias norte-americanas. Os seguidores de Wesleyforam chamados "metodistas", e

Wesley aceitou sem relutância essenome. Na Inglaterra foram conhecidoscomo "metodistas wesleyanos", eantes da morte de seu fundador,contavam-se aos milhares.

Apesar de haver sofrido,durante muitos anos, violentaoposição da igreja de Inglaterra,sem que lhe permitissem usar opúlpito para pregar, Wesley afirmavaconsiderar-se membro da referidaigreja; considerava o movimento quedirigia como uma sociedade nãoseparada, mas dentro da igreja daInglaterra. Contudo após a revoluçãonorte-americana, em 1784, organizouos metodistas nos Estados Unidos emigreja independente, de acordo com omodelo episcopal, e colocou"superintendentes", título quepreferiu ao de "bispo". Nos EstadosUnidos o nome "bispo" teve melhoraceitação e foi por isso adotado.Nesse tempo os metodistas na Américaeram cerca de 14.000.

O movimento wesleyano despertouclérigos e dissidentes para um novopoder na vida cristã. Tambémcontribuiu para a formação deigrejas metodistas sob várias formasem muitos países. Na América doNorte, presentemente a igrejametodista conta com aproximadamenteonze milhões de membros. Nenhumdirigente na igreja cristã conseguiutantos seguidores como João Wesley.

A Reforma estabeleceu o direitodo juízo privado acerca da religiãoe da Bíblia, independente daautoridade sacerdotal e da igreja.Um resultado inevitável aconteceu:enquanto alguns pensadores aceitaramas idéias antigas da Bíblia como umlivro sobrenatural, outros começarama considerar a razão como autoridadesuprema, e a reclamar umainterpretação racional e nãosobrenatural das Escrituras. Aquelesque seguiam a razão, em prejuízo dosobrenatural, foram chamados

"racionalistas". O gérmen doracionalismo existiu na Inglaterra ena Alemanha desde o princípio doséculo dezoito, porém suasatividades como movimento distintocomeçaram com Johann Semler (nascidoem 1725 e morto em 1791), o qualdefendia que coisa alguma recebidapela tradição devia ser aceita semser posta à prova, e acrescentavaque a Bíblia devia ser julgada pelamesma crítica que era aplicada aqualquer escrito antigo, e que orelato dos milagres devia serdesacreditado, que Jesus eraunicamente homem e não um serdivino.

O espírito racionalista cresceue quase todas as universidades daAlemanha foram dominadas por ele. Oracionalismo alcançou seu apogeu coma publicação do livro "A Vida deJesus", de Frederico Strauss, em1835, no qual tentou demonstrar queos relatos dos Evangelhos eram mitos

e lendas. Essa obra foi traduzidapor Jorge Eliot (Mariana Evans) em1846 e obteve ampla circulação naInglaterra e na América do Norte.

Os três grandes líderes quefizeram com que a corrente dopensamento no século dezenovemudasse de racionalista paraortodoxa foram: Schliermacher (1769-1834), mui justamente chamado "omaior teólogo do século dezenove".Os outros dois pensadores foram,Neander (1789-1850), e Tholuck(1790-1877). Os ensinos doracionalismo despertaram um novoespírito de investigação, e fizeramcom que muitos teólogos e intér-pretes da Bíblia se apresentassempara defender a verdade. Dessa formaconseguiu-se que o conteúdo da Bí-blia e as doutrinas do Cristianismofossem amplamente estudados eentendidos mais inteligentemente.Por exemplo, até então a vida deCristo nunca fora escrita de forma

escolástica. Depois do livro deStrauss (1835), as obras profundassobre a vida de Jesus contam-se aosmilhares. O racionalismo, queameaçava proscrever e paralisar osefeitos do Cristianismo, narealidade, o que conseguiu foiaumentar a sua força.

Cerca do ano de 1875 apareceuuma tendência na igreja daInglaterra, que provocou fortecontrovérsia e em seus variadosaspectos recebeu diferentes nomes.Em razão do seu propósito foichamado "o movimento anglo-católico", mas por haver surgido nauniversidade de Oxford, também foiconhecido por "Movimento de Oxford".Esse movimento foi divulgadomediante a publicação de noventatratados numerados, escritos porvários escritores defendendo suasidéias sendo por isso também chamado"o movimento tratadista".

Frequentemente era tambémmecionado pelos adversários por"movimento puseyista", ou"puseyismo", por causa do nome de umde seus defensores.

Tratava-se de um esforço paraseparar a igreja da Inglaterra doprotestantismo, e restaurar asdoutrinas e práticas dos séculosprimitivos, quando a igreja cristãera uma só e não necessitava dereformas. Os dirigentes do movimentomarcaram seu início em 1827, com apublicação do "Ano Cristão", de JohnKeble, uma série de poemas quedespertaram um novo interesse naigreja.

O princípio, entretanto, foi umsermão pregado por Keble, em julhode 1833, em Sta. Maria, Oxford,sobre a "Apostasia Nacional". Logo aseguir começou a aparecer umainteressante série de "Tratados deAtualidade", acerca da forma degoverno, doutrinas e adoração da

igreja na Inglaterra, que durou de1833 até 1841. Apesar de haver sidoKeble o inspirador do movimento, ede manter por ele inteira simpatia,contudo o dirigente foi JoãoHenrique Newman, o qual escreveumuitos dos "Tratados de Atualidade",e cujos sermões no púlpito de Sta.Maria eram a apresentação popular dacausa.

Outro dos grandes defensoresfoi o competente erudito eprofundamente religioso Eduardo B.Pusey. Milhares de proeminentesclérigos e leigos da igreja daInglaterra apoiaram ativamente omovimento. Levantou-se grandecontrovérsia. Os dirigentes foramdenunciados como romanistas em seuespírito e propósito; porém o efeitogeral foi o de fortalecer e elevaros padrões da igreja. Como oespírito do movimento era no sentidode desacreditar a Reforma e promovero anglo-catolicismo, claro está que

possuía uma inevitável tendênciapara Roma. Em 1845, seu principaldirigente, Newman, seguindo a lógicade suas convicções, ingressou naigreja católica romana. Essaseparação seguida de outras, causoucerto choque, porém não deteve acorrente anglo-católica.

22

A IGREJA MODERNASEGUNDA PARTE

O Movimento Missionário Moderno.Dirigentes do Período.

A Igreja no Século Vinte.

Durante um período de mil anos,a partir dos dias apostólicos, oCristianismo foi uma instituiçãoativa na obra missionária. Nosprimeiros quatro séculos de suahistória, a igreja converteu oimpério romano ao Cristianismo.Depois seus missionáriosencontraram-se com as hordas dosbárbaros que avançavam, e os con-quistaram antes que os bárbarosconquistassem o império Ocidental.

Depois do século dez, a igrejae o Estado, o papa e o imperadorestavam em luta pelo domíniosupremo, de modo que o espíritomissionário arrefeceu, embora nãotenha desaparecido inteiramente. AReforma estava interessada nopropósito de purificar e reorganizara igreja, antes de expandi-la. Jádemonstramos que no último períododa Reforma, o primeiro movimentopara cristianizar o mundo pagão nãofoi realizado por protestantes, maspelos católicos romanos, sob aorientação de Francisco Xavier.

Desde 1732 os moráviosiniciaram o estabelecimento demissões estrangeiras, enviando HansEgede à Groelândia, e logo após amesma igreja estava trabalhandoentre os índios da América do Norte,entre os pretos das ÍndiasOcidentais e nos países orientais.Proporcionalmente ao pequeno númerode membros em seu país, nenhuma

outra denominação sustentou tantasmissões como a igreja morávia emtoda a sua história. O fundador dasmissões modernas da Inglaterra foiGuilherme Carey. Inicialmente foisapateiro, mas educou-se por símesmo, e em 1789 tornou-se ministroda igreja Batista. Tendo contra sipróprio forte oposição, insistiu emenviar missionários ao mundo pagão.Um sermão que pregou em 1792, e quetinha dois títulos, "Empreendeigrandes coisas para Deus" e "Esperaigrandes coisas de Deus", foi a causada organização da SociedadeMissionária Batista, e tambémcontribuiu para o envio de Carey àíndia. Carey foi impedido dedesembarcar pela Companhia Inglesada índia Oriental, a qual na épocagovernava a índia, porém, foi aco-lhido em Serampore, uma colôniadinamarquesa próxima a Calcutá.

Apesar de não haver recebidoeducação em sua mocidade, Carey

chegou a ser um dos homens maiseruditos do mundo, no que dizrespeito à língua sânscrito e aoutras línguas orientais. Suasgramáticas e dicionários são usadosainda hoje. De 1800 a 1830 foiprofessor de literatura oriental noColégio de Fort William em Calcutá.Carey morreu em 1834, reverenciadopor todo o mundo, como o pai de umgrande movimento missionário.

O movimento missionário naAmérica do Norte teve sua primeirainspiração na famosa "reunião deoração" que se realizou no ColégioWilliams, em Massachusetts, no anode 1811. Um grupo de estudantesreuniu-se no campo para orar acercade missões. Nessa ocasião desaboufortíssima tempestade. Os estudantesrefugiaram-se em um depósito defeno, e ali consagraram suas vidas àobra de Cristo no mundo pagão.

Como resultado dessa reunião,fundou-se a Junta Americana de

Comissionados para MissõesEstrangeiras, a qual, no princípio,era interdenominacional; mais tarde,porém, outras igrejas fundaram suaspróprias sociedades e a JuntaAmericana ficou pertencendo àsigrejas Congregacionais. A JuntaAmericana enviou inicialmente quatromissionários, a saber: Newel e Hale,à índia; Judson e Rice, se dirigiamao Extremo Oriente, mas durante aviagem mudaram de idéia acerca debatismo nas águas, e desligaram-seda Junta Americana. Essa atitude fezcom que se organizasse a SociedadeMissionária Batista Americana, eJudson e Rice iniciaram o trabalhomissionário na Birmânia. O exemplodos congregacionais e dos batistasfoi seguido também por outrasdenominações, de modo que depois dealguns anos cada igreja tinha suaprópria junta e seus própriosmissionários.

Atualmente, quase não há paísna terra que não conheça oEvangelho. Escolas cristãs,hospitais, orfanatos e outrasinstituições filantrópicas estãosemeadas em todo o mundo pagão,resultantes da obra missionária, eos gastos anuais das diferentesjuntas ascendem a muitos milhões dedólares. A característica maisevidente da igreja atual, na Grã-Bretanha e na América do Norte, éseu profundo e amplo interesse emmissões estrangeiras.

Dentre os muitos grandes homensque se levantaram nos últimos trêsséculos é difícil mencionar osprincipais no que se refere apensamentos e atividades cristãs.Contudo, aqueles que vamos mencionarpodem apontar-se como homensrepresentativos dos movimentos deseu tempo.

Ricardo Hooker (1554-1600) foio autor da obra mais famosa e

influente na constituição da igrejada Inglaterra. Filho de pais pobres,conseguiu auxílio para educar-se naUniversidade de Oxford, na qualconquistou altos conhecimentos emdiferentes assuntos, e foi nomeadoinstrutor, catedrático econferencista, nessa ordem. Foiordenado em 1582 e durante algumtempo foi pastor em Londres,associado a um eloquente puritano,apesar de Hooker ter idéiasanglicanas.

Suas controvérsias no púlpitofizeram com que Hooker procurasseuma igreja rural, onde dispusesse detempo para seus estudos. O grandetrabalho de Hooker foi: "As Leis doGoverno Eclesiástico", em oito volu-mes, a apresentação mais hábil dosistema episcopal que já sepublicou, e do qual a maioria dosescritores, desde então, tiram seusargumentos. Contudo, mostra-seliberal em suas atitudes para com as

igrejas não episcopais e ésingularmente livre do espíritoamargo da controvérsia. Hooker tinhaapenas quarenta e sete anos quandomorreu.

Tomás Cartwright (1535-1603)pode ser considerado o fundador dopuritanismo, apesar de não haversido ele o maior de seus membros.Essa honra cabe a Oliver Cromwell,cujo registro de grandeza está nahistória do Estado e não na daigreja. Cartwright alcançou o lugarde professor de teologia naUniversidade de Cambridge, em 1569,porém perdeu sua posição no anoseguinte, por causa de suas opiniõesque foram publicadas e não agradaramà rainha Elizabete nem aos princi-pais bispos.

Cartwright defendia a idéia deque as Escrituras contêm não somentea regra de fé e doutrina, mas tambémdo governo da igreja; que a igrejadevia ser presbiteriana em seu

sistema; que não somente devia estarseparada do Estado, mas praticamentedevia estar acima do Estado. Era tãointolerante quanto o prelado em suadefesa ardorosa de uma religião uni-forme e posta em vigor pelasautoridades civis; contanto que aigreja fosse presbiteriana e suadoutrina a de João Calvino.

Durante vários anos Cartwrightfoi pastor nas ilhas Guernsey eJersey, nas quais estabeleceuigrejas da mesma fé que professava.Entretanto, de 1573 a 1592 passou amaior parte do tempo na prisão ouexilado no continente. Parece que osúltimos nove anos ele os passouafastado das atividades. Mais tardesuas idéias dominaram a Câmara dosComuns, ao passo que as dos preladosdominavam a Câmara dos Lordes. Aluta entre os dois partidos culminoucom a guerra civil e o governo deCromwell.

Jonathan Edwards (1703-1758) éconsiderado como o primeiro de todosos norte-americanos em metafísica eteologia, e bem assim o maiorteólogo do século dezoito nos doislados do Atlântico. Nele combinavam-se a lógica mais aguda, o ardor maisintenso na investigação teológica, eum piedoso fervor espiritual. Desdea infância demonstrou inteligênciaprecoce. Quando graduou-se noColégio de Yale, com dezessete anos,já havia lido de forma intensa aliteratura filosófica de todas asépocas e do seu próprio tempo. Em1727 tornou-se pastor associado comseu avô na igreja Congregacional, emNorthhampton, e logo se distinguiucomo ardente defensor de uma sinceravida espiritual.

Do púlpito que Jonathan Edwardsocupou saiu "O GrandeDespertamento", um avivamento que seespalhou por todas as colóniasnorte-americanas. A oposição que

iniciou contra o que era aceito emtoda a Nova Inglaterra, mediante oqual as pessoas eram admitidas comomembros das igrejas sem teremcaráter religioso definido, levantoucontra ele o sentimento de muitos, eculminou com a sua expulsão daigreja, em 1750. Durante oito anosfoi missionário entre os índios. Foinesse tempo de retiro espiritual queescreveu a monumental obra "AVontade Livre", que desde entãopassou a ser o livro-texto docalvinismo na Nova Inglaterra. Noano de 1758 foi eleito presidente doColégio Princeton, mas após algumassemanas de atividade, morreu, com aidade de cinquenta e cinco anos.

João Wesley nasceu em Epworth,no norte da Inglaterra, no mesmo anoem que Jonathan Edwards nasceu naAmérica, em 1703, porém Wesley viveumais do que ele um terço de século,até 1791. O pai de Wesley foi reitorda igreja da Inglaterra, em Epworth,

durante quarenta anos. Contudo,Wesley recebeu maior influência desua mãe, descendente de ministrospuritanos e não-conformistas. Elafoi mãe e professora de dezoitofilhos. Wesley graduou-se no Colégioda Igreja de Cristo, em Oxford, em1724, e foi ordenado ministro daigreja da Inglaterra. Durante algunsanos foi catedrático da UniversidadeLincoln. Durante esse tempo uniu-sea um grupo de estudantes de Oxford,que aspirava a uma vida santa, e erachamado zombeteiramente "o ClubeSanto". Em razão da maneira comoesses estudantes viviam, deram-lhesdepois o nome de "metodistas", nomeque alguns anos mais tarde se tornoudefinitivo para os seguidores deWesley.

No ano de 1735, Wesley e seuirmão mais novo, Carlos foramenviados como missionários à novacolônia da Geórgia. Seu trabalho nãoteve muito êxito, e por isso

regressaram à Inglaterra, após doisanos na América. Esse período foidecisivo na vida de ambos, pois foinessa época que ele conheceram umgrupo de morávios, seguidores doconde Zinzendorf, e por intermédiodos novos amigos alcançaramconhecimento experimental de umavida espiritual. Até então, oministério de Wesley havia sido umfracasso, mas a partir dessa datanenhum ministro na Inglaterradespertava tão grande interesse comoele, exceto Jorge Whitefield. Wesleyviajava a cavalo por toda aInglaterra e Irlanda, pregando,organizando sociedades e orientando-as durante os longos anos de vida,que durou até quase ao fim do séculodezoito. Como resultado de suasatividades, não somente se organizouo corpo wesleyano na Inglaterra sobvárias formas de organização, mastambém surgiram as igrejasmetodistas na América do Norte e nomundo inteiro, elevando-se seus

membros a muitos milhões. Wesleymorreu em 1791, com a idade de oi-tenta e oito anos.

João Henrique Newman (1801-1890), pela habilidade e estilolúcido de seus escritos, pelaclareza de suas idéias, pelo fervorde sua pregação e sobretudo por umarara atração pessoal, foi odirigente do movimento anglo-católico do século dezenove. Recebeuo diploma do Colégio Trinity deOxford, no ano de 1820 e foi nomeadocatedrático da faculdade OrielCollege; com as honras maiselevadas, em 1822. No ano de 1828foi ordenado na igreja inglesa, ealcançou o lugar de vigário daigreja de Sta. Maria, a igreja daUniversidade, na qual, mediante seussermões, conseguiu exercer in-fluência dominante sobre os homensde Oxford, durante uma geraçãointeira.

Apesar de o conhecido movimentode Oxford haver sido iniciado porKeble, contudo seu verdadeiro diri-gente foi Newman. Ele escreveu vintee nove dos noventa tratados, einspirou a maioria dos restantes.Por causa de o movimento queliderava não ter o apoio dasautoridades da Universidade nem dosbispos da igreja, e também porquesuas idéias se modificaram, Newman,em 1843, renunciou ao cargo queocupava em Sta. Maria, e retirou-separa uma igreja em Littlemore, e aliviveu até ao ano de 1845, quandoentão foi recebido na igrejacatólica romana.

Depois dessa mudança derelações eclesiásticas ainda viveuquarenta e cinco anos, a maior partedos quais em Birmingham, em menorevidência do que no passado, masainda querido por seus amigos. Seusescritos foram muitos, porém os quemais circularam foram os tratados e

vários volumes de sermões. O livroque publicou em 1864, cujo títuloera "Apologia Pro Vita Sua", umrelato de sua própria vida religiosae mudança de opinião, demonstrou suacompleta sinceridade e aumentou areverência que já era sentida porele, excetuando a de alguns mordazesopositores. Foi ordenado cardeal em1879 e morreu em Birmingham em 1890.Sua influência foi muito grande.

A história de Guilherme Carey(1761-1834), o fundador das missõesprotestantes modernas, já foirelatada e dispensa repetição. Seumonumento é o vastíssimo sistema depregação e educação missionária queestá transformando o mundo pagão.

No início do século vinte asigrejas protestantes da Inglaterra eda América do Norte demonstravam ca-racterísticas mui diferentesdaquelas que possuíam cem anosantes. Os sistemas doutrinários sãorelativamente sem importância e

praticamente todas as igrejas têm asmesmas crenças. A diferença entrepredestinação e livre-arbítrio podeser considerada como uma questãoacadêmica, porém já não é uma provaprática. Os ministros, passam doministério de uma denominação para aoutra sem mudarem de crença.

Nota-se uma crescente unidadede espírito correspondente à unidadede crença. As igrejas já não semantêm separadas umas das outras.Organizam planos e trabalham unidasem grandes movimentos. A uniãoefetiva de igrejas foi alcançada emalguns casos. Notáveis exemplos sãoa Igreja Unida do Canadá, formadapela união de metodistas, decongregacionais e parte dospresbiterianos, realizada em 1925.Outro exemplo é a união da Igreja daEscócia e da Igreja Livre Unida, em1929. Houve ainda a união dasigrejas Congregacionais e Cristãs naAmérica do Norte em 1931, e a grande

união dos metodistas da Grã-Bretanha(primitivos metodistas unidos ewesleyanos), em 1932.

Outra característica de grandeevidência do Cristianismo nos temposatuais é o espírito de serviçosocial.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS23 - 25.

PRIMEIRA PARTE. CAPÍTULO 23

I. A IGREJA CATÓLICA ROMANA1. Católicos Espanhóis.2. Católicos Franceses.3. Católicos Ingleses.4. Imigração Católica.5. Governo Católico.

II. A IGREJA PROTESTANTE EPISCOPAL1. Em Virgínia.2. Em Nova Iorque.3. Durante a Revolução Norte-americana.4. Primeiros Bispos.5. Membros.6. Organização.

III. IGREJAS CONGREGACIONAIS1. Os Peregrinos.2. Organização.

3. Desenvolvimento.4. Doutrinas.5. Membros.

IV. IGREJAS REFORMADAS1. As igrejas reformadas na América.2. As igrejas reformadas nos Estados Unidos.3. Doutrina.4. Organização.

V. BATISTAS1. Princípios.2. Sistema.3. Espírito.4. Origem na Europa.5. Na América.6. Missões batistas.

VI. SOCIEDADE DE AMIGOS (QUACRES)1. Jorge Fox2. Doutrina Quacre.3. Quacres em Massachussetts.

4. Em Nova Jersey.5. A colónia de Guilherme Penn.6. Divisões.7. Membros.

SEGUNDA PARTE. (Capítulo 24).

VII. LUTERANOS1. Em Nova Iorque.2. Na região do rio Delaware.3. Desenvolvimento.4. Membros.5. Organização.6. Doutrina.

VIII. PRESBITERIANOS1. Origem.2. Durante a guerra da revolução.3. Divisões.4. Membros.5. Doutrinas.6. Governo.

IX. METODISTAS1. Nova Iorque e Maryland.2. Francisco Asbury.

3. Primeira Conferência.4. Conferência de 1784.5. Ramificações.6. Membros.7. Doutrinas.8. Organização.

X. IRMÃOS UNIDOS1. Origem.2. Doutrinas.3. Forma de governo.4. Divisão.5. Membros.

XI. DISCÍPULOS DE CRISTO1. Origem.2. Propósitos.3. Normas Doutrinárias.4. Sistema Eclesiástico.5. Desenvolvimento.

XII. OS UNITÁRIOS1. Doutrinas2. Origem3. Membros.

XIV. CIÊNCIA CRISTÃ1. Sua fundadora.2. Organização.3. Crenças.4. Membros.

XV. AS IGREJAS NO CANADÁ (Capítulo 25).1. Os Precursores da Religião no Século Dezes-sete.2. A igreja Católica.3. A igreja Anglicana.4. Metodista e Presbiteriana.5. Batista e Luterana.6. Outras.

23

IGREJAS NOS ESTADOS UNIDOSPRIMEIRA PARTE

Católica Romana. Protestante Episcopal.Congregacional. Reformada. Batista.

Sociedade dos Amigos.

Há nos Estados Unidos,atualmente, nada menos de 265corporações religiosas ,comprendendo mais de 325 miligrejas. O total de membros dessascorporações religiosas chega aaproximadamente 125 milhões.

Mencionaremos somente asmaiores e de maior importância, e ofaremos de forma abreviada. Aomencioná-las, fá-lo-emos pela ordemde seu estabelecimento na América.

Em razão de as primeirasexpedições chegadas ao Novo Mundohaverem sido realizadas com afinalidade de descobrir, conquistare colonizar, por nações comoEspanha, Portugal e França, naçõescatólico-romanas, a primeira igrejaque se estabeleceu no ContinenteOcidental, tanto na América do Sulcomo na América do Norte, foi aigreja católica. A história dessaigreja inicia-se no ano de 1494,quando Colombo, na sua segundaviagem levou doze sacerdotes, a fimde converterem as raças nativas.Aonde quer que fossem paraconquistar terras, os espanhóis iamsempre acompanhados por clérigos queestabeleciam seu sistema religioso.As primeiras igrejas nos EstadosUnidos estabeleceram-se em St.Augustine, na Flórida, em 1565, e emSanta Fé, no estado do Novo México,no ano de 1609.

O método espanhol eraescravizar os habitantes dos paísesdescobertos, obrigá-los a converter-se e forçá-los a construir templos emosteiros semelhantes aos que haviana Espanha. Alguns dos antigosedifícios de missões, estruturassólidas, atualmente em ruínas eabandonados, ainda podem ser vistosnos estados de Texas e Califórnia.Como resultado da ocupação dosespanhóis, o território da Flórida àCalifórnia, no século dezoito,estava inteiramente dominado pelaigreja católica romana. Contudo,essa vasta área era escassamente po-voada, pois os espanhóis, apesar debons conquistadores, eram lentos emcolonizar.

Pouco depois do domínioespanhol no sul, deu-se a ocupaçãofrancesa do norte, no rio SãoLourenço na "Nova França", isto é, oCanadá. A cidade de Quebec foifundada em 1608, e a de Montreal em

1644. No início, 1663, o número deimigrantes franceses do Canadá nãoia além de duas mil e quinhentaspessoas.

Mas depois os colonizadoresintensificaram a imigração, de modoque o registro de nascimentos naAmérica era mais elevado do que naFrança. Desse modo a região do rioSão Lourenço, desde os Grandes Lagosaté ao Oceano Atlântico, foirapidamente ocupada por devotadosfranceses católicos, em sua maioriaanalfabetos, e muito mais submissosaos sacerdotes do que seuscompatriotas católicos da França. NoCanadá despendeu-se grande esforçopara converter os índios à fécatólica, e a história não registraatos mais heróicos e abnegados doque os dos jesuítas nas colôniasfrancesas. Seus métodos estavam emacentuado contraste com os da Amé-rica espanhola. Os francesesconquistavam a amizade dos índios

mediante a amizade e a abnegação quedemonstravam.

Nos meados do século dezoito,todo o território do grande noroesteaté além dos montes Alleghanies es-tava sob a influência francesa. Osudoeste era governado pela Espanha,e em ambas as posições dominava aigreja católica, ao passo quesomente uma estreita faixa da costado Atlântico era protestante, nascolônias inglesas. Qualquerprognóstico feito nessa épocaapontaria os católicos comodestinados a governar todo o con-tinente. Entretanto, a conquistabritânica do Canadá, em 1759, e maistarde a cessão da Luisiânia e doTexas aos Estados Unidos, fez comque o protestantismo passasse apredominar sobre o catolicismo, naAmérica do Norte.

As colônias inglesas no litoraldo Atlântico eram protestantes,exceto os colonizadores de Maryland

(1634), que eram católicos ingleses,cujo culto era proibido em seupróprio país. No Novo Mundo eles sópodiam obter permissãoconstitucional para colonizar, sedessem liberdade a todas asreligiões. Não tardou muito paraque, sendo a maioria dos colonosprotestante, o culto católico fosseproibido, porém, logo depois voltoua ser permitido. Somente no ano de1790 foi consagrado o primeiro bispocatólico romano, no Estado de Mary-land, o primeiro nos Estados Unidos.Nessa época a população católica nopaís era calculada em cinquenta milpessoas.

Uma grande corrente deimigração para a América do Norte,procedente da Europa, começou cercado ano de 1845. No início a maioriados imigrantes eram católicos, eprocediam principlamente doscondados católicos da Irlanda. Aestes seguiram-se mais tarde outros

milhões do sul da Alemanha e maistarde outros da Itália. Decorrentedo aumento natural por via donascimento, imigração, e cuidadosasupervisão sacerdotal, a igrejacatólica nos Estados Unidosprogrediu, de modo que atualmente apopulação católica é de mais dequarenta e seis milhões, isto é, umterço do número de comungantes dasigrejas protestantes unidas.

Considerando-se uma parte daigreja romana de todo o mundo, oscatólicos da América do Norte estãosob o governo do papa. O país estádividido em cento e dez dioceses,cada uma delas com seu bispo nomeadopelo papa, ao qual o clero apontacandidatos, que podem ser aceitos ourejeitados. As dioceses estão unidasem vinte e quatro arquedioceses,tendo cada uma um arcebispo, e sobreeles seis cardeais, também nomeadospor Roma.

A Igreja da Inglaterra(Episcopal), foi a primeira religiãoprotestante a estabelecer-se naAmérica do Norte. Em 1579 realizou-se um culto sob a direção de SirFrancis Drake, na Califórnia. Váriosclérigos acompanharam a fracassadaexpedição de Sir Walter Raleigh, em1587. O estabelecimento permanenteda igreja inglesa data de 1607, naprimeira colônia inglesa emJamestown, na Virgínia. A Igreja daInglaterra era a única forma deadoração reconhecida no início, naVirgínia e em outras colônias dosul. Quando Nova Iorque, colonizadapelos holandeses, se tornou territó-rio inglês, em 1664, a Igreja daInglaterra também foi favorecida elogo reconhecida como igreja oficialda colônia, apesar de outras formasde cultos protestantes também serempermitidas. A Paróquia da Trindade,em Nova Iorque, foi constituída em1693, e a Igreja de Cristo emFiladélfia, em 1695.

De todos os clérigos dessaigreja era exigido um juramento delealdade à coroa britânica; comoresultado natural, todos eles foramleais, sendo por isso chamados"tories", na Guerra daIndependência. Muitos clérigosepiscopais deixaram o país; aofindar-se a guerra foi difícilpreencher as vagas nas paróquias,porque a exigência da lealdade àGrã-Bretanha, não podia ser sa-tisfeita. Pela mesma razão não sepodiam cansagrar bispos.

No ano de 1784 o Rev. SamuelSeabury, de Connecti-cut, foiconsagrado por bispos escoceses, quenão exigiam juramento de lealdade.No ano de 1787 os Drs. GuilhermeWhite e Samuel Provoost foramconsagrados pelo arcebispo deCantuária, permitindo, dessamaneira, à igreja da América doNorte a sucessão inglesa. A igreja,nos Estados Unidos, tomou o nome

oficial de Igreja ProtestanteEpiscopal. O crescimento da igrejaEpiscopal desde então tem sidorápido e constante. Atualmente contaquase três milhões e meio demembros.

A igreja Episcopal reconheceestas três ordens no ministério:bispos, sacerdotes e diáconos, eaceita quase todos os trinta e noveartigos da Igreja da Inglaterra,modificados para serem adaptados àforma de governo norte-americano.Sua autoridade legislativa está con-centrada em uma convenção geral quese reúne cada três anos. Trata-se dedois corpos, uma câmara de bispos eoutra de delegados clérigos e leigoseleitos por convenções nasdiferentes dioceses.

Depois da região da Virgíniaonde se estabelecera a Igreja daInglaterra, a região colonizada foia Nova Inglaterra, iniciando-se coma chagada dos "peregrinos" que

desembarcaram do navio "Mayflower",em Plymouth, na baía deMassachusetts, no mês de dezembro de1620. Os "peregrinos", em matéria dereligião, eram "congregacionalistasseparatistas", e eram os elementosmais radicais do movimento puritanoinglês, exilados na Holanda, emrazão de suas idéias. Agoraprocuravam um lar nas terrasdespovoadas do Novo Mundo.

Antes de desembarcarem emPlymouth, os "peregrinos"organizaram-se em uma verdadeirademocracia, com um governador e umconselho eleito por voto popular,apesar de estarem sob a bandeirainglesa. De acordo com suasconvicções, cada igreja local eraabsolutamente independente daautoridade exterior. Cada igrejafazia o seu próprio programa,chamava e ordenava o seu ministro etratava de seus próprios negócios.Qualquer concílio ou associação de

igrejas exercia apenas umainfluência moral, e não umaautoridade eclesiástica sobre asvárias sociedades. Eram uma igrejaorganizada e, como tal, todas asfamílias da colônia pagavamcontribuições para manter a igreja,porém somente os seus membros podiamvotar nas eleições do município e dacolônia. Gradativamente asrestrições foram abolidas. Contudo,somente no ano de 1818 emConnecticut, e em 1833 emMassachussetts, foi que a igreja e oEstado se separaram de modoabsoluto, e o sustento da igrejapassou a ser voluntário.

As perseguições contra ospuritanos por parte dos governantesda igreja inglesa fizeram com quemultidões procurassem refúgio eliberdade na Nova Inglaterra. Poressa razão as colônias nessa regiãodesenvolveram-se mais rapidamente doque em qualquer outra região no

século dezessete. Dois colégiosforam então fundados, o de Harvardem Cambridge e o de Yale em NovoHaven, ambos destinados a tornar-semais tarde grandes Universidadescomo o são atualmente. Na NovaInglaterra a educação em geralestava mais adiantada do que nasdemais colônias da América do Norte.Como os presbiterianos e oscongregacionais procediam da igrejada Inglaterra, e ambos os gruposadotavam crenças calvinistas eaceitavam a Confissão deWestminster, suas relações eramamigáveis.

Durante muito tempo vigorou umtácito acordo mútuo, finalmenteformalizado em 1801, o Plano deUnião, segundo o qual os ministrosdessas duas denominações poderiamservir a qualquer dos dois grupos.Esse pacto, contudo, foi extinto pordeterminação de uma convençãocongregacional, em 1852. A partir de

então, o sistema congregacionalprogrediu rapidamente nos EstadosUnidos, excetuando-se o sul ao país.Em 1931 a igreja Congregacional e aigreja Cristã (Convenção Geral)uniram-se para formar a igrejaCristã Congregacional, com cerca dedois milhões de membros.

Nova Iorque, foi ocupada pelosholandeses como um centro comercialem 1614. No princípio a colônia foichamada Novos Países-Baixos e acidade chamava-se Nova Amsterdã. Aprimeira igreja ali organizada datade 1628, com o nome de IgrejaProtestante Reformada Holandesa, edurante a ocupação holandesa era aigreja oficial da colônia. Asigrejas pertencentes a essa ordemestabeleceram-se ao norte de NovaJersey e em ambas as margens do rioHudson, até Albany. Durante mais decem anos os cultos foram realizadosem holandês.

No ano de 1664 a colônia foitomada pela Grã-Bretanha e recebeuentão o nome de Nova Iorque, e aIgreja da Inglaterra passou a ser aigreja do Estado. Contudo, oscidadãos de ascendência holandesacontinuaram a frequentar a suaprópria igreja. As propriedades daigreja valorizaram-se de formainesperada com o desenvolvimento dacidade. No ano de 1867 a palavra"holandesa" foi omitida do título daigreja, a qual passou a chamar-se"Igreja Reformada da América", queatualmente conta com 233 milmembros.

Outra igreja Reformada deorigem alemã foi estabelecida nopaís no início do século dezoito epassou a chamar-se "Igreja Reformadanos Estados Unidos". Entre o povo,porém, uma é conhecida comoReformada Holandesa e a outraReformada Alemã. A terceira igrejada mesma origem foi a "Igreja Cristã

Reformada", que se desligou daigreja do Estado na Holanda, em1834. A quarta igreja que apareceuchamava-se "A Verdadeira IgrejaReformada". Vários esforços se fize-ram para unir essas quatro igrejasem um só organismo, porém semresultado.

Todas as igrejas reformadasaderem ao sistema calvinista,ensinam o catecismo de Heidelberg eorganizam-se segundo o mesmo plano,parecido com o presbiterianismo,porém com nomes diferentes doscorpos eclesiásticos. A juntagovernamental da igreja local é oconsistório. Os consistóriosvizinhos formam um conselho. Osconselhos de distrito formam um sí-nodo, e estes formam o sínodo geral.

Uma das maiores igrejasexistentes na América do Norte é adenominação Batista, a qual contacom mais de vinte milhões demembros. Seus princípios distintivos

são dois: (1) Que o batismo deve serministrado somente àqueles queconfessam sua fé em Cristo; porconseguinte, as crianças não devemser batizadas. (2) Que a única formabíblica do batismo é a imersão docorpo na água, e não a aspersão ouderramamento.

Os batistas são congregacionaisem seu sistema de governo. Cadaigreja local é absolutamenteindependente de qualquer jurisdiçãoexterna, fixando suas própriasregras. Não possuem uma Confissão deFé geral nem catecismo algum parainstruir jovens acerca de seusdogmas. Contudo, não há no paísigreja mais unida em espírito, maisativa e empreendedora em seu tra-balho e mais leal aos seusprincípios, do que as igrejasbatistas.

Surgiram os batistas poucodepois da Reforma, na Suíça, eespalharam-se rapidamente no norte

da Alemanha e na Holanda. Noprincípio foram chamadosanabatistas, porque batizavamnovamente aqueles que haviam sidobatizados na infância. NaInglaterra, a princípio, estavamunidos com os independentes oucongregacionais, mas pouco a poucotornaram-se um corpo independente.Com efeito, a igreja de Bedford, daqual João Bunyan era pastor, cercado ano 1660, e que existe até hoje,considera-se tanto batista comocongregacional.

Na América do Norte adenominação batista iniciou suasatividades com Roger Williams,clérigo da Igreja da Inglaterraexpulso de Massachusetts porque serecusou a aceitar as regras eopiniões congregacionais. Rogerfundou a colônia de Rhode Island, em1644.7 Ali todas as formas de

7 Algumas autoridades fixam a data do estabelecimento da primeira igreja batista

adoração religiosa eram permitidas,e os membros de religiõesperseguidas em outras partes erambem-vindos. De Rhode Island osbatistas espalharam-se rapidamentepor todo o continente.

Entre os dez principais gruposbatistas, os maiores são: ConvençãoBatista do Sul, formada en 1845,contando atualmente com mais de onzemilhões de membros; ConvençãoNacional Batista dos Estados Unidosda América, com cinco milhões demembros; Convenção Nacional Batista,organizada en 1895, com cerca dedois milhões e meio de membrospresentemente arrolados; Batistas deLivre Vontade, organizados emHempshire, 1787, atualmente comcento e setenta mil membros.

Convém lembrar que os batistasda Inglaterra fundaram a primeirasociedade missionária moderna em1792, e enviaram Guilhereme Carey àna América, no ano 1639

índia. A aceitação das idéiasbatistas por Adoniram Judson eLutero Rice, quando viajavam para aBirmânia, fez com que se organizassea Convenção Geral MissionáriaBatista, em 1814. Desde então osbatistas têm estado na vanguarda doesforço missionário e do êxito.

De todos os movimentos quesurgiram com implantação de Reforma,o que mais se afastou do sacerdócioe do governo da igreja foi o que sechama "Amigos", comumente conhecidopor "Quacres". Essa sociedade — poisnunca tomou o nome de igreja —surgiu em razão dos ensinos de JorgeFox, na Inglaterra, cerca do ano1647. Jorge Fox opunha-se a todas asformas exteriores da igreja, doritual e de organizaçãoeclesiástica. Ensinava que o batismoe a comunhão deviam ser espirituaise não formais. Que o corpo decrentes não devia ter sacerdote, nemministros assalariados, mas que

qualquer um dos crentes podia falar,segundo a inspiração do Espírito deDeus, que é a "luz interior" e guiade todos os verdadeiros crentes.Ensinava, também, que tanto homenscomo mulheres tinham os mesmosprivilégios concernentes aos dons doEspírito, e no governo da Sociedade.No início os membros da sociedadetratavam-se de "Filhos da Luz",porém mais tarde decidiram chamar-se"Sociedade dos Amigos". Não se sabeao certo de onde lhes veio o nome"quacres" porém o nome generalizou-se e não desagrada aos membros daSociedade.

Os ensinos de Jorge Fox foramaceitos por multidões de pessoas quenão simpatizavam com o espíritodogmático e intolerante manifestadonesse tempo pela Igreja daInglaterra. O grau de influência queos quacres exerceram pode avaliar-sepelo fato de que cerca de quinze milforam encarcerados, duzentos

exilados e vendidos como escravos;muitos deles morreram como mártirespor causa de sua fé, nas prisões ouvítimas da violência de multidõesfanáticas. Alguns deles refugiaram-se na Nova Inglaterra, para ondelevaram o seu testemunho, porém aliencontraram os puritanos não menosperseguidores do que os anglicanos.Pelo menos quatro membros dosquacres, inclusive uma mulher, foramexecutados em Boston.

Os Amigos encontraram um lugarseguro em Rhode Island, onde havialiberdade para todas as formas deadoração. Também fundaram colôniasem Nova Jersey, Maryland e Virgínia.No ano de 1681, foi concedido aGuilherme Penn, pelo rei Carlos II,o território da Pensilvânia.Guilherme Penn era um dos dirigentesdos Amigos. Assim em 1682, fundaramFiladélfia, "a Cidade Quacre".Durante setenta anos os descendentesdo Guilherme Penn governaram a

colônia da Pensilvânia. Nos meadosdo século dezoito, Benjamim Franklyndeclarou que a colônia estavadividida em três partes: uma parteera quacre, outra era alemã, e aterceira parte era composta dediversas classes.

A perseguição ativa cessou naInglaterra e na América do Norte,depois da Revolução de 1688 e osquacres continuaram a dar seutestemunho e a fundar sociedades.Apesar de sua organização sersimples, sua disciplina eraabsoluta. A escravidão existia emtoda as colônias, porém entre osAmigos era proibida, e faziampropaganda contra, até mesmo nasplantações do Sul. Tinham interessereal e profundo na cristianização ecivilização dos índios norte-americanos, em visitar e ajudar ospresos nos miseráveis cárceresdaqueles tempos e em outra obrasfilantrópicas. Muitas obras sociais

que atualmente estão em grandeevidência foram fundadas esustentadas pelos quacres, muitoantes que fossem por outrosreconhecidas como obra legítima daigreja.

A disciplina era rígida,principalmente a exclusão dosmembros que se casavam com pessoasalheias à sociedade. O testemunhoera firme contra a escravidão eoutros males. A recusa de pegar emarmas para fazer guerra, que sempreconstituiu um dos fortes princípiosda sociedade, tudo isso fez com quediminuísse o número de quacresdurante o século dezoito. Contudo, ogolpe mais forte foi a dissensãosobre as doutrinas pregadas porElias Hicks, que se proclamavaunitário, não reconhecendo a Cristocomo Deus. No ano de 1827 deu-se aseparação entre os quacres ortodoxose os Amigos Hicksitas, apesar de queesse nome, jamais foi aceito por

esse ramo. Desses dois grupos, osAmigos Ortodoxos, como são chamados,possuem a grande maioria dos membrosentre os quacres. Suas doutrinasestão de acordo com as igrejasconhecidas como evangélicas, e dãoênfase ao ensino pessoal e imediatodo Espírito Santo ao individuo, maisconhecido como "a luz interior".

Atualmente a organização quacreé completamente democrática. Todapessoa nascida de pais quacres éconsiderada membro, juntamente comos que solicitam admissão nasociedade. Todos têm direito detomar parte nas reuniões de negóciodas assembléias a que pertencem. Onúmero de membros quacres atualmenteé de aproximadamente setenta mil.

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IGREJAS NOS ESTADOS UNIDOS.SEGUNDA PARTE.

Luteranos. Presbiterianos. Metodistas.Irmãos Unidos. Discípulos de Cristo.

Unitários. Ciência Cristã.

Depois da Reforma iniciada porMartinho Lutero, as igrejasnacionais que se organizaram naAlemanha e nos países escandinavostomaram o nome de luteranas. Noinício da história da colonizaçãoholandesa da Nova Amesterdã, hojeNova Iorque, que se supõe haja sidoem 1623, os luteranos, ainda que daHolanda, chegaram a essa cidade. Em1652, solicitaram licença parafundar uma igreja e contratar umpastor. Entretanto, as autoridadesda Igreja Reformada da Holanda

opuseram-se a esse desejo, e fizeramcom que o primeiro ministro luteranovoltasse à Holanda, em 1657. Oscultos continuaram a ser realizados,embora não oficialmente. Contudo, em1664, quando a Inglaterra conquistouNova Amsterdã, os luteranosconseguiram liberdade de culto.

Em 1638, alguns luteranossuecos estabeleceram-se próximo aorio Delaware, e construíram oprimeiro templo luterano na Américado Norte, perto de Lewes. Porém aimigração sueca cessou até ao séculoseguinte. Em 1710, uma colônia deluteranos exilados do Palatinado, naAlemanha, estabeleceu a sua igrejaem Nova Iorque e na Pensilvânia. Noséculo dezoito os protestantesalemães e suecos emigraram para aAmérica do Norte, aos milhares. Issodeu motivo à organização do primeiroSínodo Luterano na cidade deFiladélfia, em 1748. A partir daí asigrejas luteranas cresceram, não só

por causa da imigração, mas tambémpelo aumento natural, sendo queatualmente há aproximadamente novemilhões e meio de membros nasigrejas luteranas.

Dado o fato que essas igrejasprocediam de países diferentes,falando diferentes línguas,organizaram-se em cerca de dozegrupos diferentes. Alguns dessesgrupos atualmente já usam o inglêsem seus cultos; outros, porém, aindaconservam o idioma de seus países.No que se refere à doutrina, todoseles adotam a Confissão de Ausburgo,a doutrina de Lutero, da justi-ficação pela fé, e a crença de que obatismo e a Ceia do Senhor não sãoapenas símbolos, porém meios degraça divina. Esses grupos estãoorganizados em sínodos, os quais seunem para formar o sínodo geral, masdeixando muita autoridade às igrejaslocais.

As igrejas presbiterianas daAmérica do Norte surgiram de duasorigens. A primeira veio da igrejapresbiteriana da Escócia, reformadapor João Knox em 1560, e reconhecidacomo a igreja oficial nesse país. DaEscócia espalhou-se até ao noroesteda Irlanda onde a população era eainda é protestante. A outra fontede onde se originou outro ramopresbiteriano foi o movimentopuritano da Inglaterra, durante oreinado de Tiago I, chegando adominar o Parlamento no primitivoperíodo da Comunidade Britânica.Depois da ascensão de Carlos II, aIgreja da Inglaterra conquistounovamente influência, e mais de doismil pastores puritanos, em suamaioria de idéias presbiterianas,foram expulsos de suas paróquias.

Esses três elementos:escoceses, irlandeses e ingleses,ajudaram a formar a igrejaPresbiteriana nos Estados Unidos. Na

Nova Inglaterra os imigrantespresbiterianos, em sua maioria,uniram-se às igrejascongregacionais. Nas outrascolônias, porém, organizaram igrejasde acordo com os seus própriosprincípios.

Uma das primeiras igrejaspresbiterianas dos Estados Unidosfoi organizada em Snow Hill,Maryland, em 1648, pelo Rev. FrancisMakemie, da Irlanda. Makemie e maisseis ministros reuniram-se emFiladélfia, em 1706 e uniram suasigrejas em um presbitério. Em 1716,as igrejas e seus ministros, havendoaumentado em número, e bem assimpenetrado em outras colônias,decidiram organizar-se em sínodo,dividido em quatro presbitériosincluindo dezessete igrejas.

No início da Guerra deIndependência, em 1775, o sínodoincluía dezessete presbitérios ecento e setenta ministros. Os

presbiterianos defenderam osdireitos das colônias contra JorgeIII, e João Witherspoon um dosministros presbiterianos de maiorinfluência, foi o único clérigo aassinar a Declaração deIndependência. Depois da guerradesenvolveu-se de tal forma, queformou uma Assembléia Geral emFiladélfia, que incluía quatrosínodos.

Em razão do fato de que tantoos princípios presbiterianos comotambém a natureza escocesa-irlandesa, inclinavam-se a pensarprofunda e independentemente sobrequestões doutrinárias, surgiramdivisões nos sínodos e presbitérios.Uma dessas divisões teve comoresultado a organização da IgrejaPresbiteriana de Cumberland,Tennessee, em 1810. Do estado deTennessee esse movimento espalhou-separa os estados vizinhos, e tambémpara alguns distantes como Texas e

Missouri. Os esforços realizadospara unir esse ramo como o corpoprincipal tiveram bastante êxito em1906.

No ano de 1837 efetivou-se umadivisão sobre questões doutrináriasentre os elementos conhecidos comoda Antiga e da Nova EscolaPresbiteriana. Cada um dos grupospossuía presbitérios e sínodos e umaAssembléia Geral, cada qual dizendorepresentar a igreja Presbiteriana.Após quarenta anos de separação,quando as diferenças de idéiashaviam sido esquecidas, essasescolas uniram-se novamente, em1869. Há nos Estados Unidos váriosramos de presbiterianismo, comquatro milhões e meio de membros.Todos eles aceitam as doutrinascalvinistas, tais como estãoexpostas na Confissão de Fé deWestminster e nos Catecismos Maior eMenor. A igreja local é governadapor uma junta chamada conselho,

integrada pelo pastor e pelospresbíteros. As igrejas estão unidasem presbitérios e os presbitérios emum sínodo. Acima de todos está aAssembléia Geral, que se reúneanualmente. Entretanto asmodificações importantes no governoou na doutrina exigem ratificaçãopor uma maioria constitucional dospresbitérios e aprovação daAssembléia Geral, para se tornaremlei.

As igrejas metodistas do NovoMundo existem desde o ano de 1766,quando dois pregadores wesleyanoslocais, naturais da Irlanda, setransferiram para os Estados Unidose começaram a realizar cultossegundo a ordem metodista. Não sesabe ao certo se Filipe Emburyrealizou o primeiro culto em suaprópria casa em Nova Iorque ou sefoi Roberto Strawbridge, em FredrickCounty, Maryland. Esses dois homensorganizaram sociedades, e, em 1768,

Filipe Embury edificou uma capela naRua João, onde funciona ainda umtemplo metodista episcopal. O númerode metodistas na América do Nortecresceu. Por essa razão, em 1769,João Wesley enviou doismissionários, Ricardo Broadman eTomás Pilmoor, a fim deinspecionarem a obra e cooperarem nasua extensão. Outros pregadores,sete ao todo, foram enviados daInglaterra, dentre os quais sedestacou Francisco Asbury, quechegou aos Estados Unidos em 1771. Aprimeira Conferência Metodista nascolônias foi realizada em 1773,presidida por Tomás Rankin. Porém,em razão do início da Guerra deIndependência, todos os pregadoresdeixaram o país; exceto Asbury, e amaior parte do tempo, até que a pazfoi assinada em 1783, ele esteveafastado.

Quando o governo dos EstadosUnidos foi reconhecido pela Grã-

Bretanha, os metodistas da Américado Norte alcançavam o número dequinze mil. Estando eles ligados àigreja da Inglaterra, Wesley tentouconvencer o bispo de Londres de quedevia consagrar um bispo para serviras igrejas da América do Norte. Con-tudo, não conseguiu o que desejava.Wesley, então separou o Rev. TomásCoke, D.D., clérigo da igrejainglesa, e nomeou-o Superintendentedas Sociedades da América do Norte.Para esse fim usou o ritual daconsagração de bispos, porém deu-lheoutro título.

Wesley instruiu o Dr. Coke paraque consagrasse Francisco Asbury,para cargo igual, como seu auxiliar,encarregado das sociedadeswesleyanas na América do Norte. Umaconferência de ministros metodistasna parte setentrional dos EstadosUnidos foi realizada na semana doNatal de 1784, em Baltimore, quandoentão foi organizada a Igreja

Metodista Episcopal. Asbury recusou-se a receber o cargo desuperintendente, até que arecomendação de Wesley fossesubmetida ao voto de seuscompanheiros. O Dr. Coke voltou àInglaterra. Por acordo comum otítulo de superintendente, foisubstituído por "bispo", e até aoano de 1800 Asbury foi o único adesempenhar tal função. Em razão deseu incansável trabalho, de seusplanos sábios, e de boa orientação,as igrejas metodistas da América doNorte devem mais a Asbury do que aqualquer outro homem.

A Igreja Metodista Episcopalfoi igreja mãe no país. Entretanto,por causa das diferenças de raça, deidioma, de rivalidades políticas,principalmente em 1864 a agitaçãosobre a escravatura, várias divisõesocorreram. Em abril de 1939 reuniu-se a Conferência Unida formando aIgreja Metodista. Participaram dessa

confêrencia representantes da IgrejaMetodista Protestante, representandoum total de cerca de onze milhões demembros.

Essas Igrejas possuem a mesmateologia: são arminianas, querdizer, sustentam a doutrina dolivre-arbítrio, oposta à doutrinacalvinista da predestinação, e dãoênfase ao conhecimento pessoal dasalvação de todo o crente. Tambémsão uniformes em sua organização. Asigrejas locais estão organizadas emdistritos a cargo de um presbíteroou ancião presidente, apesar de naIgreja Metodista Episcopal, em 1908,haver sido mudado esse nome parasuperintendente distrital. Osdistritos reúnem-se em conferênciasanuais, e sobre todos estão osbispos que são nomeados para cargosvitalícios, embora sujeitos aafastamento (na igreja MetodistaEpiscopal) pela Conferência Geral, oórgão supremo, que se reúne de

quatro em quatro anos. Todos ospastores são nomeados anualmentepelo bispo encarregado da suaconferência. Em alguns ramos daigreja podem ser nomeados para omesmo cargo tantas vezes quantas sedeseje; em outras, porém, opastorado é limitado a quatro anos.

A igreja dos Irmãos Unidos emCristo, atualmente chamada IgrejaEvangélica Irmãos Unidos, foi a pri-meira igreja que se fundou nosEstados Unidos, sem ter origem noVelho Mundo. Surgiu na Pensilvânia eem Maryland, com a fervorosapregação de dois homens, FilipeGuilherme Otterbein, nascido emDillenburg, Alemanha, que antes foraministro da igreja Reformada, eMartin Boehm, que era menonita.Ambos pregavam em alemão eestabeleceram igrejas em que sefalava alemão, dirigidas porministros não "sectários", como ostratavam então.

Foi em 1767 que essesdirigentes se conheceram pelaprimeira vez, em um culto que serealizou em um depósito de cereais,perto de Lancaster, Pensilvânia,quando Boehm pregou com notávelpoder espiritual. Ao término dosermão, Otterbein abraçou a Boehm, eexclamou: "Somos irmãos." Dessasaudação surgiu o nome oficial daigreja, havendo eles acrescentado aspalavras "em Cristo", ao instituir-se formalmente a igreja no Condadode Fredrick, Maryland, em 1800.

Nessa ocasião Otterbein e Boehmforam eleitos bispos e adotaram umaforma de governo inspirada nademocracia americana. Apesar deserem escolhidos bispos, a igrejasempre teve somente uma ordem depregadores, sem nenhum episcopado.Todo o poder é exercido pelosleigos. Todos os funcionários,inclusive os bispos, são eleitos porum período de quatro anos por uma

assembléia constituída de igualnúmero de ministros e leigos. Ossuperintendentes das Conferênciastambém são eleitos e não nomeados.Apesar de sua forma de governo serdiferente da adotada na igrejaMetodista, com a exceção dasconferências trimestrais, anuais egerais, pregam a mesma teologiaarminiana.

Os cultos, no início, eramexclusivamente em alemão; masatualmente são em inglês. A sedegeral da igreja e a casa editoralocalizam-se em Dayton, Ohio. Aprincipal instituição debeneficência que possuem, a "CasaÔttervein", a maior dos EstadosUnidos, está situada perto deLebanon, Ohio.

Após vários anos de discussãoentre seus membros, deu-se umadivisão na igreja em 1889. A maioriadesejava a revisão da constituiçãoda igreja, a fim de eliminar a

exclusão dos membros quepertencessem a sociedades secretas.Os "radicais" organizaram uma novaigreja. Os "liberais" ficaram comtodas as propriedades da igreja,exceto em Michigan e Oregon. Em 16de Novembro de 1946, em Johnstown,Pennsylvania, realizou-se a união daIgreja Evangélica e da Igreja dosIrmãos Unidos em Cristo. O número demembros desses dois grupos chega apouco mais de setecentos mil.

A igreja que tem dois nomes,ambos oficiais, "Discípulos deCristo" e "Igreja Cristã", diferentede outras organizações jámencionadas neste capítulo, foiinteiramente norte-americana em suaorigem. Existe desde 1804, depois deum grande despertamento religiosomanifestado em Tennessee emKentucky, quando o Rev. Barton W.Stone, ministro presbiteriano,deixou aquela denominação eorganizou uma igreja em Cane Ridge,

Condado de Bourbon, em Kentucky, naqual a Bíblia, sem nenhuma outradeclaração doutrinária seria a únicaregra de fé e o único nome seriaCristã.

Poucos anos depois o Rev.Alexander Campbell, ministropresbiteriano da Irlanda, adotou oprincípio de batismo por imersão eformou uma igreja batista,afastando-se logo em seguida epassando a chamar seus seguidores de"Discípulos de Cristo". Tanto Stonecomo Campbell organizaram muitasigrejas, de modo que em 1832 suascongregações se uniram e formaramuma igreja que conservou os doisnomes, "Discípulos" e "Cristãos", eambos foram reconhecidos. Osesforços desses dois homens tinhamcomo finalidade unir todos osseguidores de Cristo em umaorganização, sem nenhum credo, a nãoser a fé em Cristo, e sem nenhum

outro nome a não ser "Discípulos" ou"Cristãos".

Eles aceitam tanto o Antigocomo o Novo Testamento; todavia,somente o Novo Testamento é para oscristãos a regra de fé, sem nenhumadeclaração específica de doutrina.Praticam o batismo por imersão, ex-cluindo as crianças de pouca idade,por acharem que do ato de batismo"vem a segurança divina da remissãode pecados e a aceitação por Deus".São congregacionais no sistema. Cadaigreja é independente de governoexterno; unem-se, porém, àdenominação para o incremento daobra missionária tanto no país comono estrangeiro. Seus dirigentes sãoescolhidos pastores, diáconos eevangelistas, embora não reconheçamnenhuma diferença entre ministros eleigos. Através de sua história, osDiscípulos de Cristo sempre foramzelosos e empreendedores na

evangelização. Têm cerca de 2milhões de membros.

Outra organização similar,também chamados "Cristãos" ou"Igreja Cristã", em 1931 uniu-se àsigrejas Congregacionais.

As igrejas Unitárias daInglaterra e da América do Norte sãoos modernos representantes dosantigos arianos dos séculos quarto equinto. Suas doutrinas dão ênfase ànatureza humana de Jesus Cristo e,nesse aspecto, servem a causa daverdade cristã. Mas negam adivindade, do Filho de Deus econsideram o Espírito Santo não comouma pessoa, mas uma influência.

Afirmam a existência e aunidade de Deus, porém não aTrindade ou "três pessoas em umDeus". Õpõem-se, de modo geral, àdoutrina calvinista dapredestinação, mas aceitam a crençados metodistas, o livre-arbítrio.

Consideram a Bíblia, não comoautoridade de fé e conduta, porémcomo valiosa coleção literária.

Os unitários apareceraminicialmente nos Estados Unidos, nãocomo uma seita e sim como uma escolade pensamento nas igrejas da NovaInglaterra. Em 1785, a Capela doRei, em Bóston, até entãoProtestante Episcopal, adotou umcredo e uma liturgia omitindo oreconhecimento da Trindade, eescolheu um ministro que tinhaopiniões unitárias. Foi essa aprimeira igreja da Nova Inglaterra aprofessar essa fé.

Em 1805 o unitário HenriqueWare foi nomeado professor deteologia da Universidade de Harvard.Em 1819, foi estabelecida na mesmaUniversidade uma Escola de Teologia,a qual desde então tem sido dirigidapor unitários. O nome "unitário",tal como é aplicado ao movimentoreligioso, apareceu primeiramente em

1815. Logo em seguida, muitasigrejas congregacionais da NovaInglaterra tornaram-se unitárias,inclusive a que foi fundada pelosPeregrinos, em Plymouth.

Na controvérsia que então selevantou, mais de cento e vinteigrejas congregacionais adotaram adoutrina unitária, sem contudomudarem de nome. O movimentounitário conquistou muitos homens epensadores dos Estados Unidos,principlamente na Nova Inglaterra.Quase todos os poetas de Cambridge eBóston — Lowell, Longfellow, Holmese Bryant, foram unitários.Entretanto, os unitários nãoconquistaram membros em proporçãoigual ao ramo trinitário ortodoxodos congregacionalistas. Durante aúltima década cresceu um pouco seunúmero de membros; há atualmente 167mil unitários nos Estados Unidos. Emsua forma de governo sãocongregacionais; cada igreja local

tem sua própria administração. Nãopossuem credo nem confissão de fé.Por isso mesmo seus ministros têm amais ampla liberdade e variedade deopiniões. Alguns deles mal podemdestinguir-se dos "ortodoxos",enquanto outros vão ao extremo deserem livre-pensadores. Apesar detão vacilantes em suas doutrinas, osunitários sempre se mostraram ativosem reformas e em todo o esforço decaráter social.

A igreja Ciência Cristã compõe-se daqueles que aceitam comoautoridade os ensinos da Sra. MariaBaker Eddy. Ela começou a anunciarsuas idéias em 1867, e fundou em1867, uma associação dos queaceitavam a Ciência Cristã.Organizou seus seguidores em igreja,em Bóston, no ano de 1879, sendo elamesma a pastora. O número de membrosera pequeno. Contudo, esse númeroaumentou para milhares, que depoisse reuniam para adoração no

magnífico edifício conhecido como"Igreja Mãe", que exerce certocontrole sobre todas as igrejas esociedades da denominação.

A Sra. Eddy morreu em 1910 enão deixou sucessor, porém seusensinos estão enfeixados em umvolume que se chama Ciência e Saúde.As diferentes igrejas da CiênciaCristã não possuem pastores, mas emseu lugar há em cada igreja um"Primeiro Leitor", que dirige oscultos; esse leitor é mudado de vezem quando. As doutrinas da CiênciaCristã são divulgadas por meio deconferencistas nomeados pela igrejamãe. Trata-se de um sistema de curaras enfermidades do corpo e da mente,e ensina que todas as causas eefeitos são mentais, e bem assim queo pecado, as enfermidades e a morteserão destruídos mediante umentendimento cabal do PrincípioDivino de Jesus de ensino e de cura.O número de membros dessa

organização não é divulgado. Omanual da igreja proíbe "a contagemdo povo e a publicidade de dadosestatísticos." A Ciência Cristã e aigreja Unitária não são consideradasigrejas evangélicas e sim heresias.

25

A IGREJA NO CANADÁ

Católica Romana. A Igreja da Inglaterra.Metodista e Presbiteriana.

A Igreja Unida e outras denominações.

Durante o século dezessete, osmissionários pertencentes àSociedade de Jesus converteram aocatolicismo os índios da triboHuron, na província de Ontário, noCanadá, enquanto outros sacerdotes,com êxito diverso, disseminavam opoder da igreja de Roma na índia,nas Molucas, na China, no Japão, noBrasil e no Paraguai.

No ano de 1626, Jean de Brebeuffundou uma missão nas costascobertas de bosques da Baía deGeórgia. Esses precursores dareligião pregavam por toda parte;

mesmo em regiões de bosques eselvas. Sofriam e lutavam contra asforças da natureza e da barbárienativa, ou morriam pela fé quepossuíam.

Com o breviário e o crucifixopercorreram largas distâncias, desdeas costas da Nova Escócia, batidaspelas ondas, até às pradarias dodesconhecido oeste. Desde a Baía deHudson até à desembocadura doMississippi, as figuras trajadas depreto passavam sucessivamente. Eramperseverantes em sua missão "para aglória de Deus", para o progresso daOrdem que representavam e da NovaFrança, e de tal modo o faziam, queo historiador Brancroft disse quenão se rodeava nenhum cabo nem seentrava em nenhum rio, por onde jánão houvese passado um jesuíta.

Na parte norte dos EstadosUnidos, assim como no Canadá, oscatólicos romanos foram os primeirosa estabelecer igrejas. Os colonos

franceses levaram consigo a antigareligião tanto como o antigo idioma,e até hoje se atêm a ambos. EmQuebec, principalmente, a igrejacatólica guiou, modificou econtrolou as instituições daprovíncia, os hábitos e costumes daraça francesa, a moral, a política ea lealdade do povo. Em recenterecenseamento constantou-se que numtotal de 19.000.000 de habitantes,havia mais de quatro milhões decatólicos, sendo 4.635.000 em Quebece mais de 1.873.000 em Ontário.

A Igreja da Inglaterra, tambémchamada Anglicana, nos diasprimitivos constituía uma forçadominante em todas as provínciasinglesas, influindo na lealdade àCoroa, na educação no sentido deamar as instituições inglesas, noapoio às clases leais a coroa paraos cargos de governo, e na devoção àpolítica dos primitivos governantesingleses. A igreja ocupava papel

importante no governo de todas asprovíncias, assumia posição firmenas questões de educação eesforçava-se na cooperação comoutras denominações para estabeleceras atividades religiosas noOcidente. A igreja Anglicana noCanadá tem cerca de 2.400.000membros, 1.117.900 em Ontário e367.000 na Colúmbia Britânica.

Nas várias divisões da igrejacristã no Canadá, as controvérsiasdo Velho Mundo eram reproduzidas commaior ou menor fidelidade. A Igrejada Inglaterra no Canadá contendiasobre formas e cerimôniaseclesiásticas da mesma forma que ofazia na Inglaterra. O metodismo naInglaterra dividiu-se em igrejaMetodista Primitiva, igreja CristãBíblica e Metodista Wesleiana,enquanto as filiadas na América doNorte e Canadá tiveram comoresultado dessa divisão a novaIgreja Metodista Episcopal e a Nova

Conexão Metodista. Os presbiterianostinham a sua Igreja da Escócia noCanadá, o Sínodo da Igreja Livre,Igreja Presbiteriana dos Paises-Baixos, Igreja Presbiteriana Unida ePresbiteriana do Canadá.

Se as denominações participavamdas diferenças do pensamento e doscredos que lhes vinham do VelhoMundo, também participavam imensa eproveitosamente dos beníficios decaráter financeiro das igrejasbritânicas e das grandes sociedadesmissionárias. A Igreja da Inglaterrano Canadá recebia grandes quantiasdo Parlamento britânico. As igrejasmetodistas eram ajudadas por fundosenviados de Londres, e os primitivosmissionários eram sustendados quaseque exclusivamente por esse meio. Omesmo acontecia com as denominaçõespresbiterianas e com a conhecida So-ciedade Colonial de Glasgow e suaobra prática entre 1825 e 1840.

Em 1925 os metodistas uniram-seaos congregacionais e bem assimparte dos presbiterianos, a fim deorganizarem a Igreja Unida doCanadá, com aproximadamente3.700.000 membros, sendo um milhão emeio na província de Ontário. Váriasigrejas presbiterianas recusaram-sea participar da União, de modo que aigreja Presbiteriana do Canadácontinua a existir e conta cerca deoitocentos mil membros.

Os batistas, luteranos e outrasigrejas protestantes sempreexerceram forte influência nosassuntos públicos. O problemapúblico em que a forte denominaçãobatista das Províncias Marítimasestava muito interessada, era o daeducação secular. A populaçãobatista sobe a 600.000, sendo200.000 em Ontário e 250.000 nasprovíncias de Nova Brunswick e NovaEscócia. Os luteranos contam cercade 633.000 membros sendo que a

maioria, em Saskatchewan e emOntário.

A interessante, porémperturbadora seita conhecida como osdoukhobors, que veio da Rússia nocomeço do século vinte, estáestabelecida quase que exclusiva-mente em Saskatchean e ColúmbiaBritânica, e uns poucos em Alberta eManitoba. Possui reduzido número demembros. Trata-se de gente pacífica,não progressista, que não sepreocupa com a educação e recusa-sea combater. Há também no Canadácerca de 152.000 menonitas.

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O EVANGELHO NA AMÉRICALATINA

(Pelo Professor Miguel Narro)

Entre os anos de 1860 e 1864,registrou-se um movimento na capitalda República do México em favor doEvangelho, do qual resultou aformação de vários núcleosinteiramente de caráter nacional,formados por pessoas que repudiavamas doutrinas estranhas praticadaspela igreja de Roma, e que aceitavamsomente as doutrinas bíblicas.

Nesses núcleos havia tambémpadres convertidos, entre os quaisse contavam o padre Palácios e oilustre presbítero Manoel Águas,famoso por sua resposta dada aobispo Lavastida. Arcádio Morales,que mais tarde se tornou dirigente

do presbiterianismo no México,relata sua própria conversão, em1869, quando assistiu a um cultoprotestante dirigido por SóstenesJuarez.

Na fronteira mexicana com osEstados Unidos, dedicada àevangelização, visitando a cidade deMonterrey, trabalhou Melinda Rankin,a qual desde 1855 desenvolveraintensa atividade entre os mexicanosresidentes na cidade de Brownsville,Texas, e em outras cidades do mesmoestado. Igualmente, Tiago Kickey alidesenvolveu atividadesevangelizantes, levando uma remessade Bíblias até Monterrey, em cujacidade organizou uma congregaçãobatista, em 1864, da qual foi pastorT. W. Westrup. A Junta Americana deMissões Domésticas iniciou suasatividades no ano de 1870.

A Junta CongregacionalAmericana, em 1872, enviou à cidadede Guadalajara, México, dois

missionários, Stephens e Watkins.Nessa cidade, em meio a manifes-tações de fanatismo e forteperseguição, organizou-se uma igrejacom 17 membros. O missionárioStephens, qual outro Estêvão, foimorto pelo punhal dos assassinos emAhualulco dei Mercado, no ano de1874. Muitos outros mártiresmexicanos foram vítimas de atentadossemelhantes durante aqueles anos defanatismo, nos quais o populachoatiçado pelas intrigas do clero semtemor de Deus perseguia astestemunhas do Senhor.

Em 1882, foram enviados aGuadalajara, pela mesma JuntaCongregacional, o Rev. João Howlande esposa, modelos dignos da missãoque desempenhavam, por sua fé econsagração à obra querepresentavam. O Dr. Howland, cujamorte ocorreu em 1939, é um nomeilustre na história das missões.

A missão Congregacional deChihuahua iniciou suas atividadessob a direção de Tiago Eaton umhomem amável, e de grande visão, esob sua orientação construíram-setemplos amplos e atrantes em pontosestratégicos como Chihuahua, Parral.Tiago era ativo distribuidor deliteratura evangélica. A obracongregacional ampliou-se pelosestado do noroeste, e foi notáveltambém ali o impulso que deu àeducação.

No mês de novembro de 1872,Guilherme Butler foi enviado àcidade do México, como primeiromissionário da Junta MetodistaEpiscopal. Apesar dos entravesusados pelos jesuítas, ele conseguiuadquirir o antigo Convento de SãoFrancisco, na Calle de Gante, localem que desde então passou afuncionar o Centro das AtividadesMetodistas. Tomás Carter chegou aoMéxico em 1873, e um ano mais tarde

também ali aportou, para aumentar asfileiras da missão, o inesquecívelJoão Butler, filho de GuilhermeButler. O trabalho evangélico nacidade de Puebla foi iniciado peloDr. Drees, em 1875, em um antigoedifício da "Santa Inquisição". Degrande alcance e de alta influênciafoi a obra de evangelizaçãorealizada em Puebla, de onde saíramhomens da fibra do Dr. Pedro FloresValderrama, Vitoriano Baez eEpigmênio Velasco, que brilharam naoratória e no púlpito, e aindaescritores e poetas como o Dr.Vicente Mendoza e Baez Camargo. Noano de 1876 iniciou-se o trabalho emGuanajuato. Apesar da oposição quese levantou, conservou-se sempre ematividade o centro de higiene esaúde "O Bom Samaritano", durantemuitos anos dirigido pelo Dr.Salmans.

Na Califórnia, após haverregressado do Peru, onde estivera

como missionário, o Dr. VernonMcCombs foi nomeado Superintendenteda Missão Latino-americana, trabalhoque teve progresso notável e contacom grandes centros deevangelização.

A Igreja Metodista do Suliniciou a obra de evangelização nacapital do México no início do anode 1873, sendo essa obra inauguradapelo bispo Keener, o qual nomeousuperintendente geral o Rev. Joel T.Davis. Os irmãos Alejo Hernandez(convertido no Texas) e SóstenesJuarez trabalharam sob os auspíciosdessa missão. Em 1886, a MissãoCentral Mexicana constituiu-se emConferência Anual. O jornal "OEvangelista Mexicano" tornou-se oórgão oficial da referidaConferência.

A Missão do Sul imprimiu grandeimpulso à obra educativa, tanto nacapital como em S. Luiz de Potosi,Guadalajara e nos estados

fronteiriços. O Colégio Inglês, deSaltillo, transformou-se em focoluminoso, de onde saíram centenas demestres que levaram a luz dainstrução e a semente evangélica atodos os recantos da República. Nãosomente a causa evangélica, mas tam-bém a educação em geral muito devemao grande educador Dr. André Osuna.Não será possível determonos amencionar a obra fecunda dosmissionários Winton, Corbin,Reynolds e muitos outros quetrabalharam fielmente nos árduoslabores, para levarem o conhecimentode Cristo aos que estão nas trevas.Obreiros nacionais como osBustamantes, os Hernandez, osVillarreal e outros que gastaramsuas vidas e seus recursos empromover a causa do Evangelho.

No estado de Texas, no de 1880,o Rev. Alexandre Sutherland reuniuum núcleo de obreiros fiéis, aosquais instruiu e capacitou para a

tarefa gloriosa de pregar oEvangelho. Através dos anos érelembrado o trabalho de AlexandreLeon, Roman Palomares, SantiagoTafolla, Policarpo Rodriguez,Basílio Soto, o pai, e muitos outrosque seria difícil enumerar. Emtempos mais recentes devemosrelembrar o inesquecível FranciscoS. Onderdonk.

No México a obra metodista, apar de outras coisas, sofreu grandesalterações durante as revoluções emodificações das leis. Apesar detudo, o trabalho progrediu. No mêsde novembro de 1930 o metodismo doMéxico unificou-se e tomou o nome de"Igreja Metodista do México".

Uma Junta Presbiteriana iniciousuas atividades em 1872, no México,por intermédio de quatromissionários e suas famílias que seestabeleceram na cidade do México.Alguns trabalhos independentes quejá existiam uniram-se à Junta

Presbiteriana. Dom Arcádio Moralestornou-se, então, o porta-voz não sódos presbiterianos, mas de todo omovimento evangélico. O trabalhopresbiteriano desenvolveu-se de modoespecial em Zacatecas e em Vila deCos. Os heróicos missionários e osobreiros nacionais enfrentaram comfirmeza e fé as mais agudasperseguições, e seu exemplo deixouum rastro luminoso na história. Amemória de Henrique Thompson e deTomás Wallace ainda está viva noMéxico.

Nos estados do Golfo do Méxicoe em Michoacán, o trabalhopresbiteriano firmou-se em basessólidas.

Pode-se dizer com justiça que ozelo evangelizador, a lealdade àPalavra de Deus, a pureza de vida ea obediência dos presbiterianosdaquela época deixaram a todos osevangélicos uma herança digna. Suasatividades e esmero na publicação de

bons livros e jornais, obra que eleslevaram a bom termo, sob aorientação de Plutarco Arrellano,redator de "El Faro", durante muitosanos, também são dignas de serimitadas.

Sem ostentação, porém comlealdade e perseverança,esseshumildes servos difundiam a luz,desde Matamoros (Porto), e desde aCidade Vitória e Matehuala (maistarde) até aos mais afastadosrincões do solo mexicano. Ali erarecebido com prazer o simpático"Ramo de Oliveira", e os tratadossaídos daquelas impressoras. Convémmencionar a obra do grandebatalhador que foi o Dr. Eucário M.Sein que publicou em Matehuala, du-rante anos, "o Católico Convertido".

Não entraremos em maioresdetalhes sobre o trabalho dosbatistas, e dos Discípulos, comotambém dos episcopais, por falta deespaço. Basta que se diga que todos

cumpriram sua tarefa difícil enecessária, levando a luz doEvangelho, esforçando-se pelaeducação, estabelecendo às vezesorfanatos, casas de beneficência ede outras formas.

Concluímos esta imperfeitaresenha, com um parágrafo à memóriade Tiago Pascoe, inglês de nasci-mento, que viveu no Estado doMéxico, de 1875 a 1878. Era um homemde profundas convicções evangélicase vastíssima erudição. À sua própriacusta, entre tenaz oposição, fez umaobra gloriosa entre os índios.

Contudo, ele é mais conhecidocomo escritor. Seus luminososescritos levaram luz a milhares deentendimentos, despertando asconsciências.

Tiago Pascoe era polemista deprimeira grandeza; confundiu osjesuítas do Estado de Novo Méxicoque, no afã de humilharem a causaprotestante, atacaram os humildes

pregadores do Evangelho. Pascoeatacou os últimos redutos dosjesuítas em sua falsa argumentaçãomostrando as imposturas do clero, eexpôs publicamente as inovações deRoma, e isso tudo ele o fez apoiadonos fatos da verdadeira história e àluz das Sagradas Escrituras. Areprodução das obras de Tiago Pascoeseria de grande utilidade, até mesmoem nossos dias.

Na Guatemala, os primeirosesforços da obra de evangelizaçãoforam realizados nos meados doséculo dezenove. Porém, essaprimeira tentiva não surtiu efeito,em razão das perseguições e daintransigência dos romanistas.Somente em 1884 foi possívelestabelecer definitivamente a obramissionária na Guatemala, e foram ospresbiterianos que tiveram essagloriosa iniciativa. O evangelholançou raízes nessa Rupública e

muitas congregações se estabelecerae floresceram.

No ano de 1890, organizou-se nacidade de Dallas, Texas, a SociedadeMissionária Centro-América, a fim delevar o evangelho às váriasRepúblicas de América Central. EssaSociedade realizou intensa obra deevangelização e seus missionáriospenetraram por todos os recantoslevando as boas-novas.

Há trabalho de certaimportância nas Repúblicas deNicarágua e El Salvador, pertencenteaos batistas e às Assembléias deDeus.

Outro trabalho que merecereferência é a chamada CampanhaEvangélica na América Latina,orientada pelo consagradomissionário Henrique Strachan, quetinha como centro de atividades acidade de San José da Costa Rica. Namesma cidade há dois magníficosinstitutos, um para homens e outro

para mulheres, além de outros debeneficiência.

No ano de 1845 chegou à cidadede Valparaíso, Chile, DanielTrumbull, o qual se limitou a pregaro Evangelho a pessoas de falainglesa. Contudo, depois aprendeu afalar castelhano, fundou um jornalque se chamava "O Vizinho", e pelassuas páginas iniciou uma campanha deesclarecimento, refutando os errosromanistas. Esse trabalho custou-lhea perseguição do clero. Os evangé-licos tiveram de sofrer muito noChile, por causa de sua fé. Apastoral do arcebispo Valdivieso, em1858, proibia, sob severas penascanônicas, a leitura de livrosdistribuídos pelos protestantes.Apesar das perseguições, dosatentados por parte do clero e dopopulacho, o trabalho deevangelização progredia.

O missionaário Gilbert chegou aSantiago, capital do Chile, e tomou

o encargo do trabalho. Omissionário, nessa cidade, era alvode insultos constantes e deperseguições; tanto ele como osnovos convertidos tinham que levar ovitupério da Cruz de Cristo. No anode 1866, Alexandre Merwim chegou aoChile para reforçar o pequeno grupode obreiros. Quando Lúcio C. Smithinaugurou, em Santiago, um novolocal de cultos, os evangélicossofreram agressões e insultos, saquee queima de móveis e Bíblias.

Os presbiterianos e osmetodistas durante muitos anosmantiveram e sustentaram o trabalho.Um obreiro incansável que conseguiuver muitas almas convertidas, foi DeBon, um sacerdote convetido aoEvangelho. José Torregrosa,espanhol, que antes estivera na Ar-gentina, chegou a Valparaíso em1896, fez um trabalho eficientenessa cidade e mais tarde na cidadede Santiago.

Organizações que tambémtrabalharam no Chile são a "AliançaCristã Missionária", o Exército deSalvação e outras. Atualmente otrabalho conta com bons elementos, eespera-se um ressurgimentoespiritual na parte meridional dohemisfério. A Igreja MetodistaPentecostal do Chile foi fundadapelo Dr. Hoover, e conta muitosmilhares de membros.

Na Bolívia, país que permaneceufechado à pregação do evangelhodurante muitos anos, os colportoresda Sociedade Bíblica Americanaprepararam o caminho para ospregadores. Os abnegados colportoresconseguiram introduzir a Bíblia,apesar das ameaças e dasperseguições. Eles escalaram aCordilheira dos Andes e penetraramnos lugares mais longínquos levandoo precioso tesouro, a Palavra deDeus.

O colportor José Mongiardinofoi assassinado em 16 de julho de1876. Os esforços de todos essesservos de Deus não foram em vão. Osdias da liberdade chegaram para essepaís. Atualmente os batistas e osmetodistas mantêm trabalhosflorescentes nas principais cidadesda Bolívia. Uma sociedade paraevangelizar os índios foi organizadaultimamente, e os missionários estãoem atividade, anunciando a Palavrade Deus aos índios que vivem noslugares mais distantes.

No Peru, como aconteceu emoutros lugares, os primeirosmissionários e colportores tiveramde sofrer perseguições. A históriado missionário Francisco Penzoti ébem conhecida. Penzoti converteu-seem Montevidéu, Uruguai, no ano de1876, pelo contacto com o Dr.Thompson, e pela leitura doevangelho de João. Francisco Penzotiiniciou suas atividades em

Montevidéu e na Colônia Valdense.Sentindo vocação para o trabalho decolportagem, iniciou uma campanha depropaganda que não tem paralelo naAmérica Latina. Impulsionado poresse ideal poderoso, cruzou osAndes, chegou ao Peru e começou apregar em casas particulares. O tra-balho de propaganda avançava sempre,apesar da oposição. Por essa razão oclero e seus aliados recorreram ameios violentos e conseguiramencarcerar Penzoti, o qual estevepreso na cidade de Collao desde 26de julho de 1890, até 28 de março de1891. Os homens liberais do paísiniciaram então a defesa de Penzoti,e conseguiram pô-lo em liberdade.Alguns anos depois foi nomeadoagente geral da Sociedade BíblicaAmericana em Buenos Aires.

A obra evangélica no Peru,apesar das alternativas e mudançaspolíticas e de governos, não sofreuinterrupção. Atualmente conta com um

número regular de centros deevangelização e educação. Durantemuito tempo publicou-se a revista"Renascimento", e bem assim livros ejornais. Várias denominações operamnaquele campo. O Concílio Geral dasAssembléias de Deus em Springfield,Missouri, enviou missionários para oPeru, e para outros países daAmérica do Sul, das Antilhas e daAmérica Central.

Nesses países a marcha doEvangelho tem sido lenta, porémsegura. No Equador, a eleição degovernos liberais possibilitou oavanço da causa evangélica. EmQuito, capital do Equador, foimontada uma emissora de rádio queenvia diariamente a mensagemevangélica aos países sul-americanos. A União Evangélica Mis-sionária, com sede em Kansas City,Estados Unidos, tem operado pormuitos anos no Equador.

Os presbiterianos mantiverambons trabalhos de evangelização eequipes educacionais em Bogotá,capital de Colômbia, e bem assim emBarranquilha e em alguns outroscentros. Na Venezuela há uma novavida na obra missionária,principalmente entre as tribos in-dígenas, nas quais trabalhaatualmente a "Missão Rio Orenoco".Nas Guianas há diversos trabalhosmissionários. Parece que chegou otempo em que não há lugar sobre aterra aonde não tenha chegado otestemunho do Evangelho.

Na Argentina, a primeirapregação do Evangelho realizou-se emcasas particulares de famíliasinglesas, em Buenos Aires, e apregação era também em inglês. Issoaconteceu em 1823. A pregação emcastelhano somente se verificou maistarde. Leiamos o que diz JoãoVaretto em seu livro "Heróis eMártires".

À igreja Metodista Episcopalcabe a honra de haver sido apioneira que inicou a pregação emlíngua castelhana, no Rio da Prata."

Desde 1836 tiveram ali osmetodistas alguns representantes quetrabalhavam entre as pessoas quefalavam inglês. No ano de 1856,chegou a Buenos Aires o missionárioGuilherme Goodfellow, com opropósito de iniciar o trabalho emcastelhano. Contudo, ele realizouuma série de reuniões para inglesese teve a alegria de ver muitosjovens ingleses convertidos, entreos quais estava João F. Thompson quemal contava quinze anos de idade, eno qual descobriu o futuro apóstoloda causa de Cristo naquelas terras.Thompson nasceu na Escócia em 1843 efoi com seus pais para Buenos Aires,quando tinha oito anos de idade.Depois de sua conversão foi estudarna América do Norte, de onderegressou a Buenos Aires em 1866.

O primeiro culto em castelhanorealizou-se a 25 de maio de 1867, emum templo que os metodistas possuíamna rua Cangallo.

Uma das primeiras pessoasconvertidas foi a professora FerminaLeon Albeder, que dirigia uma escolaeducacional no Bairro da Boca. Elacolocou à disposição do pregador osalão de aulas, "na qual nasceu aprimeira escola dominical em BuenosAires".

Thompson pregou também emMontevidéu, Uruguai; ali o êxito deseu trabalho foi ainda mais notável.A mocidade acorria em massa paraouvi-lo.

O trabalho dos batistas foiiniciado em Buenos Aires por PabloBesson, no mês de julho de l881. Elemuito se esforçou para o progressodo trabalho, e seu nome ficouconhecido como consagrado escritor.

Os cristãos chamados "Irmãos"iniciaram o trabalho deevangelização na Argentina com achegada de Carlos Torres. Atualmentecontam com muitas igrejas ativas. Ocaráter do trabalho dos "Irmãos" éevangelista, e propagam boaliteratura cristã.

Guilherme Morris, que pertenciaà igreja Anglicana, contribuiu demodo decisivo para o impulso daeducação, estabelecendo escolas emdiferentes partes da cidade.

Na República do Uruguai tambémestá deitando raízes a obra deevangelização, e bem assim equipeseducacionais. Uma nota destacada notrabalho, no Uruguai é a ação damocidade. Esse país caminha navanguarda dos países sul-americanos,no que se refere à organização dajuventude evangélica, e é de esperarque sua influência se desenvolva nobom sentido, a fim de que possa

servir de norma e inspiração àsdemais repúblicas.

Em Porto Rico e São Domingos, otrabalho evangélico estárepresentado por numerosos centrosmissionários pertencentes à váriasdenominações. Em razão da liberdadede celebrarem cultos nessas ilhas, acausa pôde desenvolver-se, apesar daoposição do obscurantismo.

Nas convenções que ali serealizam, geralmente nota-seharmonia e entusiasmo.

A República do Brasil tem sidoricamente abençoada por meio da obramissionária. "Bem-aventurado aqueleque evangelizar esse país", exclamouHenry Martin, quando o navio em queviajava para a Ásia fez escala eparou alguns dias na cidade deSalvador, Bahia. Talvez, as oraçõesdo consagrado missionário que deu avida pela evangelização da Pérsia,tenham contribuído para o êxito

posterior das missões no rico eextenso país que é o Brasil.

Várias tentativas deevangelização foram realizadas,desde épocas distantes,primeiramente pelos hugueno-tes, noano de 1555. Os huguenotes tiveramos primeiros mártires no Brasil em1558. Os holandeses, no curto espaçode tempo de ocupação em algunspontos do Brasil, iniciaramposteriormente alguns movimentos deevangelização. Os morávios foram atéàs Guianas, em 1735, e ali sededicaram a evangelizar os escravose os índios.

Nos tempos modernos, oprivilégio de evangelizar o Brasilcoube a Roberto Kalley, médicoescocês, que iniciou o trabalho noano de 1855. Seguiram-no em suainiciativa, algumas famíliasconvertidas antes na Ilha daMadeira, onde esse servo de Deushavia conseguido êxito em meio a

grandes perseguições. Kalley fundouno Rio de Janeiro a igrejaEvangélica Fluminense, segundo aordem Congregacional. Depois detrabalhar vinte e um anos no Brasil,retirou-se para sua pátria, ondemorreu em 1888.

A. G. Simonton, que chegou aoRio de Janeiro em 1859, foi oprimeiro missionário presbiteriano ainiciar a pregação em português.Algum tempo depois o pastor A.O.Blackford também estava integrado notrabalho presbiteriano no Brasil.

Um acontecimento que deu grandeimpulso ao trabalho evangélicodaqueles dias foi, sem dúvida, aconversão de um notável sacerdotecatólico, José Manuel da Conceição,o qual se dintinguiu por suaerudição e operosidade, a par de suaeloquência. José Manuel da Conceiçãoconvenceu-se, mediante o estudo daBíblia, de que a igreja de Roma emque militava se havia afastado dos

ensinos de Cristo. Após meditaçãoséria e profunda, enviou suarenúncia ao bispo, em 1864. Asautoridades eclesiásticas, como seesperava, o excomungaram, porém J.M.da Conceição respondeu à publicaçãode excomunhão nas páginas dos mesmosjornais que as publicaram,explicando as razões que o forçarama dar aquele passo. Logo depoisentrava em contacto com a IgrejaPresbiteriana, sendo ali batizado eordenado ao ministério. Esse homemfoi um verdadeiro apóstolo em seuzelo evangelista e por suas virtu-des. Vejamos o que dele disseLauresto:

"Era possuidor de dotesbrilhantes para o cumprimento de suasagrada missão: presença nobre eatraente, voz harmoniosa, mímicacorreta e eloquência arrebatadora.Conceição percorreu os estados deMinas Gerais, São Paulo e Rio deJaneiro, de uma à outra extremidade

reunindo, como os apóstolos, aopoder da palavra, o exemplo dehumildade, amor e trabalho, zeloardente pela fé, pureza em todas assuas ações, bondade para com todos eextraordinária resignação nos mo-mentos dolorosos que lhe afligiam ocorpo e o espírito."

Milhares de pessoas ouviram deseus lábios a pregação das Boas-novas. Fazia profundas observaçõescientíficas sobre história natural.Sofreu fortes perseguições, chegandomesmo a ser espancado. Partiu para odescanso celestial, aos cinquenta edois anos de idade, deixando umexemplo digno que, felizmente, foiseguido fielmente por seuscompanheiros.

Na cidade do Rio de Janeiroapareceu como notável pregadorpresbiteriano o Rev. Álvaro Reis,orador eloquentíssimo e distintopolemista, que em seus sermões e emseus escritos combatia os erros do

romanismo, a fim de mostrar aos seusouvintes as verdades evangélicas.Quando Álvaro Reis morreu, houvegrandiosa manifestação de pesar. Amunicipalidade do Rio de Janeiro deuo nome de Álvaro Reis a uma daspraças da cidade.

Eduardo Carlos Pereira, autorde várias Gramáticase destacadopedagogo, foi também eloqüentepregador das Boas-novas, e foi,também, apóstolo da autonomia dasigrejas no Brasil.

Os metodistas, depois de váriastentativas, conseguiram, finalmente,estabelecer a obra evangélica noBrasil, no ano de 1876. Nessaocasião o governo já era maisfavorável, e bem assim algunselementos da alta sociedade.Inicialmente estabeleceram como baseuma congregação e uma escola, no Riode Janeiro. Depois foram atéPiracicaba, (São Paulo), que setornou um centro de atividades e

também Santa Bárbara. Osmissionários J.S. Newman, deAlabama, e John J. Ransom, deTennessee, foram os que encabeçarama empresa. Atualmente o trabalhometodista é forte e florescente noBrasil, onde contam com umaexcelente equipe de educaçãoprimária e secundária, institutospara pregadores, imprensa e váriasinstituições de beneficência. Teve aMissão Metodista, entre osconvertidos, ilustres sacerdotescatólicos, dentre eles Hipólito deCampos, cujas atividades evangélicasforam muito apreciadas.

O missionário W.B. Bagbyiniciou o trabalho batista no Brasilno ano de 1881. Este trabalho, assimcomo o das demais denominações,progrediu de forma notável. Odesenvolvimento tem sido rápido eseguro.

A igreja Episcopal temtrabalhos no estado do Rio Grande do

Sul, e conta com bons ministros eedifícios apropriados para serviremà obra.

Uma sociedade missionáriainglesa iniciou trabalho entre osíndios do rio Amazonas. Seusmissionários têm sido verdadeirosheróis, e alguns deles cingiram acoroa do martírio, perecendo vítimasdaqueles a quem desejavam salvar emelhorar. Porém a obra não foi emvão, pois tem havido entre aquelesselvagens resgatados do cruelpaganismo e até canibalismo,gloriosas conversões, troféuspreciosos do poder do Evangelho.

27

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DASASSEMBLÉIAS DE DEUS.

O Concílio Geral dasAssembléias de Deus na América doNorte surgiu como resultado domovimento religioso que teve origemno início do presente século, e quese espalhou, mais tarde, comrapidez, por todo o mundo.

Uma intensa sede espiritual, emrazão da qual se efetuaram reuniõesde oração entre grupos de crentes devárias denominações, foi uma dascaracterísticas que se evidenciaramnas igrejas, no fim do séculopassado. Como resultado dasatividades desses grupos de crentes,produziram-se avivamentos em várioslugares nos Estados Unidos e naEuropa. Caracterizavam-se esses

avivamentos por um intenso fervor deevangelização e um profundo espíritode oração. Da mesma forma dava-seênfase aos dons espirituais e à suaoperação, inclusive cura divina, efalar em outras línguas, como sinalda recepção do batismo do EspíritoSanto. (Atos 2:4.) Predominavatambém entre eles o zelo missionáriobaseado na profunda convicçãorelacionada com a vinda iminente doSenhor Jesus Cristo e bem assim aconsciência da responsabilidade quecabia aos crentes batizados com oEspírito Santo, no sentido deobedecer à última ordem de Jesus.

A origem do movimentopentecostal não se pode atribuir adeterminada pessoa, pois existemevidências do derramamentosimultâneo do Espírito Santo emvários lugares. Um ministroevangélico chamado Daniel Awreyrecebeu o batismo do Espírito Santo,em sua plenitude pentecostal, em

janeiro de 1890, na cidade deDelaware, Estado de Ohio, América doNorte.

Um grupo de crentespentecostais realizou uma convençãoem 1897, na Nova Inglaterra. Mais oumenos na mesma época, manifestou-seum avivamento no estado de Carolinado Norte. No estado de Tennessee,segundo testemunho de Clara Smith,que mais tarde foi missionária noEgito, havia no ano de 1900 cerca dequarenta ou cinquenta pessoasbatizadas com o Espírito Santo. Nomesmo ano manifestou-se umavivamento pentecostal entre umgrupo de crentes de nacionalidadesueca na cidade de Moorhead, Estadode Minnesota, cujos resultados sãonotáveis ainda na atualidade.

Muitas das pessoas queparticiparam desses avivamentosparticipam, atualmente, do ConcílioGeral das Assembléias de Deus.Contudo, essa organização religiosa

deve sua existência primeiramente aoderramamento do Espírito Santo sobreum grupo de crentes sinceros nacidade de Topeka, estado de Kansas,no ano de 1901. Pequenos grupos deobreiros cristãos, procedentes desseavivamento, espalharam-se pelosestados de Kansas, Oklahoma, eposteriormente Texas.

Foi assim que se formaramassembléias de crentes, os quais,mais tarde, se reuniram em ConcílioGeral. Um desses grupos inicioureuniões na cidade de Houston,Texas. Foi ali que W.J. Seymour,pregador de cor, pertencente aogrupo denominado "Santidade", rece-beu a mensagem, antes mesmo de serbatizado com o Espírito Santo. Elefoi convidado a pregar as Boas-novasa um grupo de pessoas de cor nacidade de Los Angeles, Califórnia.Nessa cidade Seymour pregou amensagem pentecostal, de modo querenasceu a fé no coração dos

ouvintes, realizando reuniões deoração de intenso fervor.

No mês de abril de 1906, umgrupo de crentes recebeu o batismodo Espírito Santo, na cidade de LosAngeles, acompanhado do falar emoutras línguas. Iniciou-se, então, adistribuição gratuita de uma re-vista, de modo que as notícias seespalharam por toda parte. Numerososcrentes que sentiam sede espiritualviajaram para a cidade de LosAngeles, a fim de se inteirarem,pessoalmente, do que estavaacontecendo. Muitos daqueles queobservaram as manifestações decaráter divino creram, humilharam-seante a presença de Deus, e buscaramo batismo do Espírito Santo. Outros,porém, endureceram os corações ezombaram do que viram. Foi por meioda palavra oral e escrita que asnotícias chegaram a todos oslugares. Simultaneamente chegavamnotícias de que manifestações

semelhantes do Espírito Santoaconteceram nas cidades do leste edo centro dos Estados Unidos, etambém no Canadá, Chile, índia,Noruega e nas Ilhas Britânicas.Enquanto se realizava umderramamento do Espírito Santo nacidade de Los Angeles, efetuaram-se,também, reuniões pentecostais nosacampamentos da cidade de Ashdond,próximo de Duxbury, emMassachussetts. Em ambos os lugaresos crentes receberam o batismo doEspírito Santo, acompanhado do sinalde falar outras línguas.

A mensagem pentecostalespalhou-se com tal rapidez, querecebeu o nome de Movimento. Poressa razão o termo "MovimentoPentecostal" passou a designar todosos grupos que enfatizavam a recepçãodo batismo com o Espírito Santo,acompanhado do sinal de falar emoutras línguas, segundo a inspiraçãodivina. Era inevitável, contudo, que

aparecessem diferentes opiniõesacerca das doutrinas e da prática,pois aqueles que formavam o novomovimento procediam de várias es-colas de pensamento religioso. Alémdisso, o movimento necessitava deautoridade executiva e de organi-zação central que determinasse apolítica a seguir.

Em razão dessa necessidade, queera patente a todos, um grupo deministros pentecostaisrepresentativos decidiu solicitar aformação de um Concílio Geral, se-gundo o modelo do Concílio de que sefala no capítulo quinze do livro dosAtos dos Apóstolos, a fim de esta-belecer normas acerca dos ensinos epráticas do movimento. O pedido foifeito pelo Rev. E.N. Bell e por umgrupo de associados. O Rev. E.N.Bell exercia as funções de diretorda revista mensal independentedenominada "Word and Witness"(Palavra e Testemunho), que se

publicava na cidade de Malvern,Arkansas. Como resposta a essasolicitação, reuniu-se o primeiroConcílio na cidade de Hot Springs,Arkansas, nos dias 2 a 12 de abrilde 1914. A maioria daqueles queapoiaram a convocação do Concílioprocedia dos primeiros grupospentecostais do centro-oeste dosEstados Unidos, e de Los Angeles.

Participaram do primeiroConcílio cerca de trezentosministros e delegados, procedentesde igrejas pentecostaisindependentes de todo o país. Acriação do Concílio não obedecia aum desejo de organizar um corpoeclesiástico que exercessejurisdição sobre as igrejaspentecostais livres, mas somentepara estreitar os vínculos daunidade cristã e estabelecer basesbíblicas para a comunhão, trabalho eatividades em favor da extensão doreino de Cristo. Foi nesses termos

que se redigiu uma declaração deprincípios de igualdade, de unidadee de cooperação, garantindo, aomesmo tempo, os direitos e asoberania de todas as igrejas locaisfiliadas ao Concílio, enfatizando osprincípios claros referentes aoslaços de comunhão e cooperação quegovernariam as relações entreministros e entre as congregações.

No mês de novembro do mesmo ano(1914), realizou-se o segundoConcílio na cidade de Chicago. Aorganização começou a adquirir umaforma mais definida, contudo não seaprovaram sistemas doutrinários nemdogmas de fé. Resolveu-se, nessaocasião, que o mais convenienteseria concordar com o princípio deque as Escrituras em si mesmasconstituem regra suficiente para afé e a prática, deixando a cadaministro a liberdade de interpretá-las individualmente.

No outono de 1916, convocou-seo quarto Concílio Geral para acidade de St. Louis, no estado deMissouri.

Foi durante a realização desseConcílio que se aprovou umadeclaração relativa às verdadesfundamentais. Contudo, ficouexpressa em forma específica, nessaocasião, que a declaração nãoincluía todas as verdades contidasna Bíblia, mas que as verdadesaprovadas eram consideradasfundamentais para o ministério doEvangelho completo, puro e são. Adeclaração do Concílio teverepercussão imediata, e foi assimque outros ministros pentecostaisque dirigiam assembléias inde-pendentes solicitaram sua admissãoao Concílio das Assembléias de Deus.No ano de 1917, o movimento jácontava com 517 ministros e 56missionários no exterior. Nessemesmo ano, um elevado número de

congregações solicitou e obtevereconhecimento oficial, passando afazer parte do movimento dasAssembléias de Deus. A partir daí, aorganização teve firme progresso.

Antes do ano de 1914, váriosministros pertencentes ao movimentopentecostal haviam consagrado suasvidas à obra missionária e seguirampara China, índia, Áfria e Américado Sul, inspirados pela fé, porémsem que nenhuma organizaçãoeclesiástica lhes garantisse auxíliofinanceiro, excetuando as promessasque lhes pudessem ser feitas porassembléias locais. Após a or-ganização do Concílio dasAssembléias de Deus, muitos dessesmissionários solicitaram filiação eforam incorporadados à novaconfraternidade, e o DepartamentoExecutivo do Concílio Geral assumiua responsabilidade financeira desustentar os referidos missionários.No ano de 1918, quatro anos depois

de fundada a organização, havia 91missionários inscritos, e a somagasta pelo Departamento Executivocom a manutenção dos missionáriosfoi de 29.630,51 dólares, nesse ano.

Até ao ano de 1919, oDepartamento Executivo não passavade uma agência receptora edistribuidora das ofertasmissionárias. Porém o Concílio quese reuniu nesse ano estabeleceu oDepartamento de Missões Es-trangeiras, elegendo ao mesmo tempoum secretário para o referidoDepartamento. A partir daí asatividades de caráter missionárioapresentaram tal desenvolvimento,que na data de publicação desselivro a organização contava com1.214 missionários e 73.192 obreirosnacionais, os quais labutavam em60.467 centros missionários, em 101campos diferentes. O número de con-vertidos nesses campos elevava-se a4.208.255. Não somente as ofertas

missionárias aumentaram, mas tambémo número de obreiros. De fato,durante o ano fiscal que terminou em30 de junho de 1978, passou peloDepartamento de Missões Estrangeirasa quantia de 29.875.534,00 dólarespara atender às necessidades da obramissionária.

O Departamento de MissõesEstrangeiras emprega métodosmodernos de propagação do Evangelhode Jesus Cristo, nos países de além-mar. Por meio da organização juvenilda igreja, pôs em execução um pro-grama cujo lema é o seguinte:"Espalhai a luz." Como resultadodesse trabalho recolhem-se milharesde dólares que são empregados paracomprar bicicletas, motocicletas,automóveis, lanchas e aviões. Teveinício esse movimento no ano de1948, com a aquisição de um aviãoCA6 transformado em transporte depessoal missionário, através doscontinentes. Esse avião tinha

capacidade para quarenta passageirose realizou oito viagens através dosmares antes de ser substituído poroutro avião B-17. O vôo mais longodesse avião foi realizado até àíndia, completando 45.000quilômetros, viagem de ida e volta.O B-17 realizou vinte viagens aoexterior, antes que esse sistema detransporte fosse interrompido.

Quando o Concílio Geral seorganizou, em 1914, dois jornaispentecostais foram a eleincorporados, cujos nomes são osseguintes: "Word and Witness",jornal mensal editado por E.N. Bell,em Malvern, Arkansas e "TheChristian Evangel", publicaçãosemanal editada por J. RoswellFlower, de Plainfield, Indiana.Nessa ocasião decidiu-se que essesjornais se transferissemprovisoriamente para a cidade deFindlay, no Estado de Ohio, ondepassaram a ser impressos até ao mês

de novembro de 1914. Durante arealização do segundo ConcílioGeral, decidiu-se a mudança dasoficinas de impressão para a cidadede St. Louis, Estado de Missouri,instalando-se na Easton Avenue 2838,onde funcionaram durante algunsmeses. Finalmente os jornais "Wordand Witness" e "The ChristianEvangel" fundiram-se em um só, quepassou a chamar-se "The PentecostalEvangel", publicação semanal, comuma tiragem de 268.000 exemplares.

No ano de 1918 já se tornavanecessário mudar para um edifíciomaior, a fim de atender à expansãodas publicações. Transferiram-se,então, escritório e oficinas paraLyon e Pacific Streets, na cidade deSpring-field, Missouri. Na nova sedefuncionavam também a redação, aadministração, e o Departamento deMissões Estrangeiras. Com oprogresso sempre crescente daliteratura das Escolas Dominicais,

livros, folhetos e outraspublicações de caráter religioso,surgiu mais uma vez a necessidade deampliar as instalações, de modo queo edifício foi aumentado, ocupando17.000 metros quadrados, cominstalações para os 127 funcionáriosque ali trabalham.

No período de 1945-1948 eraevidente a necessidade de novasampliações. Por essa razão iniciou-se a construção de um novo edifício,com cerca de 33.000 metros quadradosde área. Esse edifício é ocupadopela Gospel Publishing House; noantigo edifício funcionam os escri-tórios e os Departamentos da igreja.

Pouco depois da organização doConcílio Geral, o trabalho nosEstados Unidos ficou dividido emdistritos. Cada um desses distritostem o seu próprio superintendente,secretário tesoureiro, e opresbitério do distrito. Osdistritos assumem a responsabilidade

da supervisão das igrejasjurisdicionadas. Da mesma forma sãoeles que concedem licença parapregar e procedem à ordenação deministros do Evangelho.

O superintendente do distrito,juntamente com dois ministroseleitos pelo eleitorado do distrito,formam o presbitério geral doconcílio.

Os interesses gerais daorganização são administrados por umPresbitério Executivo composto dedezesseis membros, oito dos quaisnão são residentes no local,enquanto os oito restantes exercemas funções de chefes dos váriosdepartamentos na cidade de Spring-field, sede do Concílio Geral. Oscargos dos departamentos são osseguintes: Um superintendente geral,cinco superintendentes auxiliares,um secretário, um tesoureiro.

O Presbitério Geral do Concíliocompõe-se de três membros de cada

Concílio de Distrito e três membrosde cada Concílio filiado de línguaestrangeira, totalizando cento ecinquenta membros. Esse organismoatua como conselheiro e exerce asfunções de tribunal de apelação emcertos assuntos de caráterministerial e eclesiástico.

No ano de 1922 fundou-se nacidade de Springfield, Missouri, umInstituto Bíblico para preparação deministros e missionários. O ensinocomeçou a ser ministrado nas aulasdas classes da Escola Dominical daAssembléia de Deus local. Em 1924,construiu-se o primeiro edifício doCentral Bible Institute, em umterreno de seis hectares situado naparte norte da cidade. No ano de1938 foram adquiridos mais cincohectares. Dessa forma completou-se osegundo edifício do Colégio que,assim, permite acomodar 1.134estudantes. No parque do Colégioconstruíram-se casas para os

professores da instituição. Osestudantes que se graduam no CentralBible Institute são aceitos em todasas igrejas dos Estados Unidos, emuitos deles se transferem parapaíses estrangeiros, a fim derealizarem obra missionária.

Também se fundaram EscolasBíblicas em várias partes do país.Os colégios oficialmentereconhecidos pelo Concílio Geral dasAssembléias de Deus, são osseguintes: Central Bible Institute,de Springfield, Missouri; EasternBible Institute, Green Lane,Pennsyl-vania; Glad Tidings BibleInstitute, Santa Cruz, Califórnia;New England Bible Institute,Farmingham, Massachusetts; GreatLakes Bible Institute, Zion,Illinois; Northwest Bible Institute,Seattle, Washington; SouthwesternBible Institute, Lakeland, Florida;Southern Califórnia Bible College,Costa Mesa, Califórnia; Southwestern

Bible Institute, High School e BibleCollege, Waxachacie, Texas eCanyonville Bible Academy,Canyonville, Oregon.

O programa de estudos dessesInstitutos inclui inglês, grego,História da Igreja, organização deescolas dominicais e muitos outroscursos. Porém maior ênfase é dada aoestudo da Bíblia, que é matériaconsiderada de primordialimportância. Na América Latina hácerca de vinte Institutos Bíblicoscom instrução em espanhol.

Nos albores da organização daigreja toda a atenção foi dada àsmissões estrangeiras, e o resultadofoi este: a obra missionária nosEstados Unidos ficou esquecida.Atualmente procura-se dar ênfase aotrabalho missionário nacional. Emvirtude dessa tendência,organizaram-se programas com afinalidade de fundar e desenvolvernovas igrejas em muitos distritos.

Está em execução um planomissionário na região montanhosa deKentucky e na Virgínia Ocidental.Para essa região já foram enviadosoitenta missionários. Em outrasregiões também estão em andamentoeficientes campanhas deevangelização com o propósito defundar novas igrejas, pois aconvicção predominante é que quantomais igrejas se fundarem nos EstadosUnidos, tanto maiores serão aspossibilidades de propagar a obramissionária no exterior.

As Assembléias de Deus, comoorganização, continuam sendo ummovimento, e todos os anos seobserva substancial aumento, quer noque diz respeito à igreja, quer aoque se refere às pessoas. Atualmenteo número de igrejas filiadas ecooperadoras é de 9.410, com 932.365membros. Constavam na lista deministros, cerca de 22.062 ministrosordenados. Todos eles desempenham as

funções de pastores e evangelistas.Se levarmos em consideração que omovimento se organizou em 1914,essas cifras são consideradasextraordinárias.

Mais excepcionais ainda são asatividades das escolas dominicais,de acordo com as informações quechegam à sede do Concílio. Aliteratura para as escolasdominicais das Assembléias de Deus éenviada a cerca de 9.410 Escolas,com a matrícula de 1.293.394 alunos.Essas Escolas são servidas por cercade 131.606 professores e dirigentes.

A forma de governo dasAssembléias de Deus écongregacional, isto é, cadaassembléia governa-se a si mesma eage de forma independente, ao mesmotempo que mantém comunhão com asdemais assembléias. As igrejaslocais unem-se umas às outras pormeio de doutrinas e práticas mútuasque as levam a cooperar em favor dos

interesses gerais e do Distrito. Osdirigentes da assembléias locais,dos Concílios Distritais e do Con-cílio Geral têm poderes limitados naesfera da administração e sãoconsiderados como servidores daorganização. Eles exercem funçõeseficientes de assessoramento dosministros e das igrejas. Asassembléias locais têm certadependência da organização, até quealcancem o crescimento suficienteque justifique seu reconhecimentocomo assembléias independentes. Re-cebem, então, auxílio paraorganizarem seus estatutos, e podemdispor de assessores experimentadospor parte dos dirigentes doDistrito, quando isso for ne-cessário. O caráter da organizaçãodas Assembléias de Deus foi descritopor um ministro presbiteriano, oqual declarou que na organizaçãopredomina o mesmo espírito quepredominava na primitiva igrejawesleyana. Contudo, existe alguma

diferença, pois as Assembléias deDeus não só ensinam a necessidade donovo nascimento e a santificaçãopessoal, mas também ensinam oprivilégio de se receber o batismopessoal do Espírito Santo, aplenitude pentecostal. Esse batismoé acompanhado pelos mesmos sinaismencionados no livro dos Atos dosApóstolos, isto é, o falar em outraslínguas, segundo o Espírito.Possivelmente noventa por cento dosmembros afirmam haver recebido apromessa do Novo Testamento, e osdez por cento restantes crêem nelafirmemente.

J. Roswell Flower,

Secretário Geral.

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AS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NOBRASIL E EM PORTUGAL

De 1910 até os dias atuais

A maior igreja pentecostal detodos os tempos foi fundada a 18 dejunho de 1911 na cidade brasileirade Belém, capital do estado do Pará.Toda a sua história está marcada porfatos sobrenaturais, acontecimentosevidenciadores da presença doEspírito Santo, o que a coloca comofiel e digna sucessora da igrejanascida no Dia do Pentecoste.

Os missionários Daniel Berg eGunnar Vingren, este ex-pastor daSwedish Baptist Church, (IgrejaBatista Sueca), de Menominee,Michigan, EUA, foram os apóstolostomados por Deus para o lançamento

das primeiras sementes: o Senhor osaproximou por ocasião de umaconvenção de igrejas batistasreavivadas, em Chicago, quandosentiram o chamado para terrasdistantes. Em mensagem profética, oSenhor lhes falou, mais tarde, nacidade de South Bend, quando pelaprimeira vez ouviram o nome "Pará".Consultaram um mapa e souberam,então,que se tratava de uma"Província" (estado) do Brasil.Empreenderam uma jornada em quemuitos acontecimentos surpreendentesse verificaram, constituindo todoseles evidentes provas de que Deuslhes testava a fé. A 5 de novembrode 1910, os dois suecos deixavamNova Iorque, a bordo do navio"Clement", oportunidade em quepromoveram a evangelização dostripulantes e passageiros,registrando-se algumas decisões paraCristo. A chegada a Belém do Parádeu-se a 19 de novembro.

Alojados no porão da IgrejaBatista, na rua Balby n.° 406,permaneciam muitas horas em orações,suas vidas no altar de Deus. E, tão-logo começaram a falar em línguaportuguesa, iniciaram trabalhoevangelístico, enquanto doutrinavama respeito do batismo com o EspíritoSanto. Na pequena igreja opunham-sealguns, com grande resistência, aosensinos dos dois missionários. A 8de junho de 1911, Celina Albuquerquerecebia o batismo com o EspíritoSanto e, no dia seguinte MariaNazaré, sua irmã, tinha a mesmaexperiência espiritual. Juntamentecom elas, outros membros econgregados foram expulsos do temploe organizavam, a 18 de junho de1911, na residência de HenriqueAlbuquerque, no bairro da CidadeVelha, Belém, a primeira igreja nomundo a adotar a denominação deAssembléia de Deus. Os outroscomponentes da igreja recém-fundadaforam José Plácido da Costa, até

então Superintendente da IgrejaBatista e que veio a ser o primeiromissionário brasileiro (enviado aPortugal em 1913), Manoel MariaRodrigues, Jerusa Dias Rodrigues,José Batista de Carvalho, Maria JoséBatista de Carvalho, Antônio MendesGarcia, Manoel Dias Rodrigues,Emílio Dias Rodrigues, JoaquimSilva, Benvinda Silva, Ana Silva,Teresa Silva, Isabel Silva e JoãoDomingues. Gunnar Vingren foi,então, aclamado pastor da igreja.Sucederam-no os pastores SamuelNystron, Nels Julius Nelson,Francisco Pereira do Nascimento,José Pinto Menezes, AlcebíadesPereira Vasconcelos e FirminoAssunção Gouveia.

Da igreja pioneira de Belémirradiou-se a obra pentecostal atodas as regiões do Brasil, vindo acorresponder, a partir de 1960, a 70por cento no quadro do evangelismonacional. As Assembléias de Deus

congregam 50 por cento dosevangélicos brasileiros, pre-dominando nas zonas rurais e nointerior, procurando alcançar,sobretudo, as classes sociais maishumildes.

Durante algumas décadassolitárias na aceitação da doutrinapentecostal, as Assembléias de Deusconstituíam uma minoria cruelmenteperseguida. Nas pequenas cidades, oclero católico romano, dominante eimplacável, contava sempre com oapoio de autoridades arbitrárias quefechavam templos e agrediam eaprisionavam os membros da igreja.Muitas vezes eram os crentes alvo depistoleiros, que feriam e matavam,ocasiões em que costumavam ocorrerimpressionantes interferênciasdivinas. Estas levaram muitosinimigos a se curvarem a Cristo,aceitando a mensagem da BíbliaSagrada. Fazendeiros, pequenoscomerciantes, operários hostis ao

Evangelho foram sendo tocados pelopoder de Deus e hoje predominam, aolado dos primeiros profissionaisliberias, militares e funcionáriospúblicos que passam a aceitar que aconcessão dos dons espirituais nãose circunscreve aos dos diasapostólicos, mas alcança os homensde todos os séculos, depois queJesus prometeu enviar o Consolador.

Dezenas de milhares de membrosdas igrejas conservadoras (batistas,presbiterianas, metodistas e outras)buscam atualmente o batismo com oEspírito Santo e experimentam umavivamento sem precedentes. Enquantoas denominações tradicionais em suamaioria, estacionam ou decrescem emnúmero de fiéis e de templos, ospentecostais inclusos os avivados,(como são conhecidos os nãointegrantes das Assembléias de Deus)crescem em todos os sentidos. Asigrejas que crêem nos donsespirituais, e os buscam, constroem

dezenas e dezenas de templos, algunscom capacidade para milhares depessoas. As Assembléias de Deus sedeslocam dos subúrbios e dasfazendas para o centro das grandescidades.

A igreja pentecostal pioneira,pela sua condição de majoritária,lidera na evangelização, com dezenasde programas radiofónicos efrequentes campanhas que reúnemdezenas de milhares de pessoas empraças e estádios. A obramissionária é também enfatizada emvárias igrejas. A Assembléia de Deusem São Cristóvão, Rio de Janeiro,destaca-se neste trabalho. Éresponsável pelo envio demissionários a vários países daAmérica do Sul e à África. Outrasigrejas, como a de Madureira, RJ;Belém e Brás, bairros da cidade deSão Paulo; Santo André, SP; Belém,PA, de estados do Sul e alguns daregião nordeste, também participam

do esforço missionário, que se tornaa paixão de muitos homens emulheres.

Entre os nomes mais expressivosdas Assembléias de Deus no passado,aos quais se deve a obra monumentalque elas realizam, estão, além dosjá aludidos: Adriano Nobre, AbsalãoPiano, Almeida Sobrinho, OttoNelson, Joel Carlson, Clímaco BuenoAza, Plácido Aristóteles, JosinoGalvão, Bruno Skolimowski, GustavoNordlund, Nils Kastberg, Antônio deRego Barros, José BezerraCavalcanti, Nels J. Nelson, JoséPinto de Menezes, José TeixeiraRego, Algot Svenson, SilvinoSilvestre Silva, Antônio Petronilodos Santos, Waldomiro MartinsFerreira e José Amaro dos Santos. Naliteratura, destacam-se os nomes deEmílio Conde, que durante váriosanos dirigiu, como jornalista, osógãos de divulgação das Assembléiasde Deus no Brasil e representou a

igreja em congressos internacionais,e de O.S. Boyer, o mais prolíferoautor pentecostal radicado em terrasbrasileiras.

Fato novo e altamentesignificativo que se registra nomeio pentecostal, nos últimos anos,é o despertamento para oaprendizado, para o estudosistemático da Palavra de Deus.Alguns institutos passaram afuncionar e outros se organizam eneles jovens de todo o País, ao ladode obreiros veteranos, que também sedespertam para o estudo, capacitam-se a prosseguir, acompanhando aigreja no seu progresso e nosdesafios que se lhe apresentam nahora presente. Mantendo fidelidadeàs suas origens de igreja quereconhece ser imprescindível adireção do Espírito Santo, asAssembléias de Deus conscientizam-seda extraordinária responsabilidadeque passaram a ter como a maior

comunidade pentecostal de todo omundo.

Segundo informação daSecretaria da Junta Executiva dasDeliberações da Convenção Geral dasAssembléias de Deus no Brasil,atualmente as Assembléias de Deus noBrasil reúnem 3 milhões de membros e2 milhões de congregados.

Joanyr de Oliveira

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RESUMO DA HISTÓRIA DOMOVIMENTO PENTECOSTAL EM

PORTUGAL

1. O Movimento pentecostalportuguês está ligado, no seuprincípio, ao do Brasil nas pessoasdos missionários Daniel Berg eGunnar Vingren. Entre os primeiros18 crentes da primeira Assembléia deDeus na cidade de Belém do Pará,encontrava-se o português JoséPlácido da Costa, que regressa à suapátria em 1913 para testificar doseu Senhor.

2. No ano de 1921 outro português éenviado do Brasil com sustento daSuécia: o irmão José de Matos, quepercorre o país de Norte a Sul

estabelecendo contactos e fundandoigrejas no Algarve e nas Beiras.

3. Entretanto chega à cidade doPorto o missionário Daniel Berg, oqual se junta ao irmão José Plácidoda Costa para estabelecerem asAssembléias de Deus no Norte dePortugal, cooperando com eles omissionário Holger Backstrom.

4. Em Lisboa, onde o Movimentohavia posteriormente de tomarmaiores proporções, a obra éiniciada no ano de 1932, pelomissionário sueco Jack Hardstedt,para o que alugou uma velha capelacatólica, deixando a igreja cincoanos depois com 18 membros emcomunhão. Depois dele veio omissionário Samuel Nystrom quecontinuou até fins de 1938, deixandoseu lugar ao missionário TageStahlberg com uns 70 membros arrola-

dos. Além da sede havia dois pontosde pregação. Mais tarde os doutoresBowkers, missionários ingleses,aceitaram o testemunho pentecostal eabriram trabalho em várias terras.Sempre foi alvo dos missionáriosabrir igrejas locais, autônomas eindependentes de qualquer influênciaestrangeira, estabelecendo umtrabalho totalmente português, parao qual Deus levantou nacionais aptospara o executarem. E assim a Obradesenvolveu-se por todo o País.

5. Tiveram grande influência nosentido da unificação desteMovimento as convenções anuais, quecomeçaram em 1939, onde todos osobreiros se reúnem para tratar deassuntos vitais da Vinha do Senhor.As Escolas Bíblicas, que se seguiramimediatamente, continuam a ser umviveiro para novos obreiros ecooperadores. Mais tarde fundou-seum Instituto Bíblico, donde têm

saído Missionários, Evangelistas,Pastores e outros colaboradores paraa grande Seara.

6. Onde a cooperação das igrejas semanifesta mais nítida é concernenteà Missão interna e externa. Devido àindependência das antigas colônias,os missionários tiveram de retirar-se de Angola, Moçambique e Timor,mas a Missão conserva laços deamizade fraterna com esses povosenviando gratuitamente literaturaevangélica, e mantendo trabalhomissionário nos Açores, Madeira eRepública de S. Tomé. Devido aoesforço e vocação missionária destaAssembléia, existem dezenas deigrejas de expressão portuguesa naÁfrica do Sul, Rodésia, Austrália,França, Bélgica, Luxemburgo,Holanda, Alemanha, Canadá e EstadosUnidos da América.

7. É também notória a obra social,que além da assistência beneficentedas igrejas locais, conta com duasCasas de Repouso para a terceiraidade e um orfanato em nívelnacional. No presente ano foiiniciada a obra de auxílio aosdrogados e delinquentes — DesafioJovem (Teen Challenge), com ainstalação de um Café Convívio numsítio central de Lisboa e um Centrode Recuperação numa quinta adquiridanos arredores da cidade.

8. Pela rádio do Continente, dasIlhas, República de S. Tomé, etc, amensagem pentecostal faz-se ouvirsemanalmente por gente devariadíssimas raças. O Instituto deCorrespondência Internacional, comsede em Fanhões, tem dezenas demilhares de alunos. Não obstantetudo o que temos visto realizado nonosso meio, cremos estar apenas noinício de uma Obra gigantesca que

Deus quer fazer entre o povoportuguês.

9. Resta informar que se calcula em30.000 os crentes batizados eagregados, incluindo os alunos dasEscolas Dominicais. 300 Congregaçõessão servidas por 60 pastores eevangelistas que dedicam todo o seutempo à Obra do Senhor. Cooperam comeles 300 anciãos, Evangelistas,Diáconos e Auxiliares. Em cerca de200 Escolas Dominicais estão a serdoutrinadas mais de 5.000 crianças.

APÊNDICE

PERGUNTAS PARA REVISÃOCapítulo 1

Em quantos períodos se divide aHistória da Igreja? Que nome se dáa cada um dos períodos? Com queacontecimento e em que ano começa etermina o primeiro período? Com queaspectos é apresentado o Cris-tianismo no primeiro período? Quaisos nomes dos acontecimentos e asdatas do princípio e do fim dosegundo período? Quais os grandesfatos e as datas registrados noterceiro período? Mencione algunsdos fatos mais importantes doterceiro período. Quais os grandesacontecimentos que se destacam noquarto período? Mencione fatos edatas que limitam o quinto período.Quais os fatos que se podem

mencionar no quinto período? Quaisos acontecimentos que se destacam nosexto período? Mencione algunsmovimentos que apareceram nesteperíodo.

Capítulo 2PERGUNTAS PARA REVISÃO

Quais os acontecimentos e as datasque assinalaram o primeiro períodogeral? Qual o nome dado à igreja du-rante a primeira parte desseperíodo? Faça uma definição daIgreja Cristã. Quando iniciou aigreja a sua história? Até que épocafoi proibido aos discípulos pregar aCristo como o Rei-Messias? Qual odom que desceu sobre os seguidoresde Cristo, e como se manifestou?Quais foram os efeitos desserevestimento? Onde estava situada aigreja durante seus primeiros anos?A que raças e povos pertenciam todosos seus membros? Mencione três

classes de pessoas que havia entreos membros da igreja. Quais foram osdirigentes da igreja nos diasprimitivos? Como era a igrejagovernada ou dirigida? Quais eram astrês principais doutrinas? Quaiseram os seus pregadores? Quais osmilagres descritos? Quais foram osefeitos desses milagres? Como semanifestava o espírito defraternidade? Que se declara acercado comunismo na Igreja Primitiva?Qual era a falta e o defeito daigreja pentecostal?

Capítulo 3SUGESTÕES PARA ESTUDO

Leia atenciosamente os capítulos 6até 16 do livro dos Atos dosApóstolos, e procure todas asreferências bíblicas neste capítulotrês. Decore os oito pontos dasubdivisão. Assinale no mapa oslugares mencionados. Trace no mapada Palestina os lugares das viagens

de Filipe; de Pedro, de Jope aCesaréia; de Saulo, de Jerusalém aDamasco e Arábia.Em um mapa que inclua a Palestina,Síria e Ásia Menor, acompanhe asviagens de Paulo, de Damasco aJerusalém, a Tarso e Antioquia. Nomesmo mapa, trace a rota da primeiraviagem missionária, e a viagem dePaulo e Barnabé de Antioquia aoConcílio de Jerusalém e bem assim avolta.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

Por que é essa subdivisão muitoimportante na história da igreja?Mencione as oito épocas principais.Quem iniciou o movimento destinado alevar o Evangelho ao mundo gentio?Qual foi o resultado da pregaçãodesse homem tanto para ele como paraa igreja? Como foi que Paulocontribuiu para o progresso doEvangelho, quando era ainda inimigo?Quem era Filipe? Que participação

teve Filipe no movimento paradivulgação do trabalho deevangelização? Quem eram ossamaritanos? Qual a visão que tevePedro? Que se seguiu à visão dePedro? Faça um relato da conversãode Saulo. Mencione os lugares poronde Saulo viajou depois de seconverter. Onde se estabeleceu umaigreja mista de gentios e judeus?Como surgiu essa igreja? Como foramrecebidas em Jerusalém as notíciasdessa igreja? Quem foi enviado paraverificar o que estava acontecendo?Como se sentiu esse mensageiro, eque foi que ele fez? A quem tomouele como companheiro no trabalhodessa igreja? Qual o nome que deramaos seguidores de Cristo, nessacidade? Quais foram os missionáriosprimeiramente enviados pela igreja?Que métodos seguiram eles? Quais oslugares que visitaram, por ordemcronológica? Qual foi o propósito darealização do Concílio em Jerusalém?Quais os que tomaram parte nele?

Quais foram as conclusões doConcílio?

Capítulo 4

Para estudar a segunda viagem dePaulo, leia-se Atos 15:36 a 18:22.Para estudar a terceira viagem,leia-se atos 18:23 a 21:35.Relacionado com a sua prisão, leia-se Atos 22 a 28. Algumas perguntassobre a vida de Paulo estãorespondidas nos trechos bíblicosindicados acima, e não no livro-texto.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual é a terceira subdivisão doterceiro período da igrejaapostólica? Quais as datas e osacontecimentos com que se iniciou eterminou? Qual era o campo de açãoda igreja nessa época? Quais asraças que formavam a igreja? Quaisforam os três dirigentes durante

este período? Mencione a primeiraviagem de Paulo. Em que lugariniciou Paulo a segunda viagemmissionária? Quem foi o seucompanheiro? Quem se uniu a elesmais tarde? Quais os lugares daprimeira viagem que Paulo visitououtra vez? Quais os novos lugaresque visitou na Ásia? E quais osnovos lugares visitados na Europa?Quais os acontecimentos acentuadosna vida do apóstolo em cada umdesses lugares? Quais as cartas queforam escritas nessas viagens? Ondeterminou sua viagem? Qual foi oresultado da segunda viagem? Quelugares visitou Paulo na terceiraviagem? Onde demorou mais tempo?Descreva a rota de regresso daterceira viagem.Onde terminou Paulo á terceiraviagem? Quais as epístolas escritasdurante essa viagem? Em quecircunstâncias ficou Paulo, algumtempo depois? Qual era a condição dePaulo durante a quarta viagem? Quais

os lugares que visitou? Queaconteceu em Roma? Quais as cartasque escreveu enquanto esteve preso?Que podemos dizer dos últimos anosda vida de Paulo? Qual o imperadorque iniciou a primeira perseguiçãoimperial aos cristãos? Qual a causadessa perseguição? Quem sofreu omartírio nesse tempo? Qual era aliteratura cristã desse período?

Capítulo 5PERGUNTAS PARA REVISÃO

Nomeie as quatro subdivisões dahistória da igreja apostólica. Porque se chama a última subdivisão, deEra Sombria? Entre quais datasocorreu a subdivisão? Qual foi oprimeiro acontecimento importantemencionado? Descreva esteacontecimento. Qual o efeito desseacontecimento na igreja cristã? Qualo imperador que ordenou a segundaperseguição imperial contra oscristãos? Qual a data dessa

perseguição? Que aconteceu a um dosapóstolos durante essa perseguição?Quais os últimos livros do NovoTestamento que foram escritos? Quese diz acerca do número e expansãoda igreja no fim desse período? Quala classe de pessoas que a igrejarepresentava? Qual era o seu sistemadoutrinário? Quais eram asinstituições da igreja? Como sepraticava o batismo? Como sepraticava a Ceia do Senhor? Quais os"funcionários" ou servidores daigreja que são mencionados? Qual erao plano ou programa das reuniões daigreja? Qual o estado espiritual daigreja no fim do primeiro século?

Capítulo 6PERGUNTAS PARA REVISÃO

Mencione o nome do segundo períodogeral da história da igreja. Com queacontecimentos e em que datas seiniciou e terminou? Qual oacontecimento mais destacado da

história nesse período? Quais osséculos em que a igreja foiperseguida pelos imperadoresromanos? Qual o tipo de imperadoresromanos que se mostraram maisseveros nas perseguições imperiais?Qual era a atitude do paganismo paracom os novos objetivos de adoração?Qual era o espírito do Cristianismopara com outras formas de adoração?Como considerava o governo areligião judaica? Como essa atitudeafetou a religião cristã, noprincípio e mais tarde? Como eramconsideradas as reuniões secretasdos cristãos? Quais os efeitosproduzidos pelas tendências deigualdade na igreja cristã? Comoagiam alguns interesses comerciaisna perseguição aos cristãos? Eracontínua a perseguição aos cristãosdurante esses séculos? Qual era acondição da igreja, durante a maiorparte do tempo nesses séculos? Quaisos imperadores que perseguiram aigreja antes do ano 100 da era

cristã? Quais os nomes que foramconhecidos como "os cinco bonsimperadores"? Como foram tratados oscristãos durante o domínio dessesimperadores? Quais os cristãosproeminentes que sofreram o martírionessa época? Qual o imperador quefoi grande e bom, mas perseguiu aigreja? Quais foram os motivos?Quais foram os mártires durante oseu governo? Quem é mencionado comoterceiro imperador perseguidor nesseperíodo? Quem sofreu sob as ordensdesse imperador? Qual o bom editopublicado por Caracala, e de quemodo beneficiou os cristãos? Qualfoi o quarto imperador perseguidor?Qual o alívio que se seguiu à mortedesse imperador? Qual foi o quintoimperador perseguidor? Quem pereceudurante o seu governo? Faça umresumo do sexto e último imperadorque ordenou perseguições. Quais osatos desse imperador que depoisforam indícios do triunfo doCristianismo?

Capítulo 7PERGUNTAS PARA REVISÃO

Mencione os dois temas jáconsiderados nesse período. Qual foio terceiro tema? Qual a diferençaentre os livros e o cânon? Quais oslivros do Novo Testamento que foramdiscutidos por algum tempo? Quais oslivros que não foram incluídos naBíblia e eram aceitos por algumasigrejas? Como se decidiu,finalmente, quais os livroscanônicos? Que se diz acerca daorganização eclesiástica da igrejaprimitiva? Quais as ordens que eramoriginariamente iguais? Quandoencontramos completa a organização?Qual era a forma de governoestabelecida na igreja? Mencionecinco razões para o estabelecimentodessa forma. De que forma influiu osistema de governo do império, nosistema de governo da igreja? Quaiseram os ensinos baseados no período

apostólico? Que mudança se fez maistarde, na igreja? Qual a declaraçãodo credo elaborado primeiramente?Mencione os nomes dos principaismestres expositores de cada escola.

Capítulo 8PERGUNTAS PARA REVISÃO

A que se deve o aparecimento deseitas e heresias na igreja?Mencione os nomes das quatroprincipais seitas. Explique, também,quais os ensinos de cada uma dessasseitas. Por que razão é difícilsaber-se com precisão o queensinavam essas seitas? Quais eramos quatro aspectos da condição daigreja, ao findarem as perseguições?Quais os indícios que podem apontaresses aspectos?

Capítulo 9PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual é o título do terceiro períodogeral? Com que acontecimento e emque datas começaram e terminaram?Qual o acontecimento mais evidentedesse período? Qual o contraste quese nota entre as datas não muidistanciadas na história da igreja edo império? Qual o imperador que semostrou reconhecido ao Cristianismo?Com quem contendeu por causa dopoder imperial? Qual a sua visão,segundo se conhece? Qual o edito quepublicou, e quando o fez? Queaconteceu, por se haver tornado oúnico imperador? Mencione sete bonsresultados que se efetuaram depoisdo reconhecimento do Cristianismo noimpério. Mencionem, também, o queestava ligado a cada um dos seteresultados por causa da vitória doCristianismo? Qual a forma deexecução que terminou, e por queterminou? Qual foi o efeito doCristianismo na vida das crianças depouca idade? De que forma foiafetado o tratamento dos escravos?

Que aconteceu relacionado com aslutas dos gladiadores? Quais osresultados prejudiciais para oCristianismo, em razão do seureconhecimento oficial? Quais osmales que resultaram para a igreja?Em que sentido foi influenciada aespiritualidade da igreja? Quais osdanos causados pela união da igrejacom o Estado?

Capítulo 10PERGUNTAS PARA REVISÃO

Mencione os cinco temas destecapítulo. Por que se tornounecessária uma nova capital para oimpério? Onde se fundou essacapital? Por que foi sábia a escolhadesse local? Quais as relações entreo imperador e o chefe da igreja nacapital? Mencione, com detalhes, umcélebre edifício que existia nessacapital. Por que se dividiu oimpério? Quem iniciou a divisão?Quem a completou? Onde se fixaram as

fronteiras nos Estados do império?Que idiomas se falavam nessesEstados? Como foi tratado opaganismo pelos sucessores deConstantino? Qual era a atitude deConstantino para com as religiõespagãs? Quais os editos que sepublicaram depois desse tempo contraas religiões antigas? Qual foi oefeito dessas leis? Quando surgiramas grandes controvérsias? Quem eraÁrio? Quais eram os seus ensinos?Quem fez oposição a Ário? Qual era oconceito do oponente acerca de Ário?Qual foi o concílio que tratou dessaquestão? Como se resolveu acontenda? Qual era a heresia deApolinário? Qual o concílio queconsiderou a heresia de Apolinário?Em que consistia a controvérsiapelagiana? Quem era Pelágio? Quaiseram as idéias que se opunham aPelágio? Qual o concílio que deciciuessa questão? Qual a origem domonacato? Quem foi o seu fundador?Que significa o termo santos dos

pilares ou das colunas? Qual era atendência da vida monástica naEuropa? Quem a regulamentou?

Capítulo 11PERGUNTAS PARA REVISÃO

Mencione as seis primeirassubdivisões do período da igrejaimperial. Qual é o sétimo tema? Qualo fato que ajudou a igreja e seusbispos a alcançar o poder? Qual aautoridade apostólica invocada parajustificar as reclamações? Quais ascondições da igreja que contribuírampara o progresso dela e dos bispos?Qual o efeito causado pela mudançada capital? Qual era a condição apa-rente do império sob a governo deConstantino? Qual era a verdadeirasituação? Mencione quatro motivosdas invasões dos bárbaros. Mencione,também, as sete conquistas dosbárbaros, e de onde procedia cadauma, e qual a parte do impérioafetada. Quando foi que terminou o

Império Romano Ocidental, e quem oextinguiu? De que forma as invasõesafetaram a igreja e suas relações?Mencione cinco dos grandesdirigentes da igreja durante esseperíodo. Relate a vida e ainfluência de cada dirigente.

Capítulo 12PERGUNTAS PARA REVISÁO

Qual foi o fato mais evidente nahistória da igreja durante a IdadeMédia? Em que se diferenciavam asreclamações do papa dos primeirosséculos e as da Idade Média? Quaisforam as três épocas dessedesenvolvimento? Quais foram os anosda primeira época do poder papal?Quais são algumas das fraudesconsideradas "pias" cometidasdurante essa época? Defina eexplique cada uma dessas fraudes.Quais as provas que mais tarderevelaram essa falsidade? Qual opapa que governava quando as

reclamações papais chegavam aomáximo? Mencione alguns atos dessepapa. Sobre quais governos e em queacontecimentos o papa foi vitorioso?Que significa a expressão "ir aCanossa"? Qual outro papa queexerceu também autoridade suprema, eem que época? Quais eram algumas desuas afirmações? Sobre quaisgovernantes exerceu poder?

Capítulo 13PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual a grande religião que apareceuna Idade Média? Qual é, atualmente,o número de seus seguidores? Quemfoi o seu fundador? Que se podedizer de sua existência? Quesignifica o termo: "a Hégira"?Mencione seis grandes pontos dadoutrina e fé maometanas. Faça umrelato de seus êxitos iniciais.Quais as alternativas que osconquistadores impunham às nações?Mencione os países orientais

invadidos pelos maometanos. Quais ospaíses ocidentais conquistados poreles? Em que data, em que lugar equal o chefe que impediu o progressodos maometanos?Quais foram oselementos de poder que contribuírampara o êxito da religião maometana?Quais eram as condições do mundooriental, naquela época? Mencionealguns elementos da religiãomaometana. Qual a sua atitude paracom as bebidas alcoólicas? Em quefalhou a religião maometana?

Capítulo 14PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual o sistema de governo queapareceu na Idade Média? Qual era acondição da Europa antes que essegoverno aparecesse? Quanto tempodurou? Quem foi o seu fundador?Quando viveu ele? Que se diz de seusantecessores e de sua carreira? Comofoi ele feito imperador? Qual foi ocaráter desse imperador como gover-

nante? Qual o fato que determinouuma limitação da autoridadeimperial? Mencione os nomes de seisimportantes imperadores. Façaalgumas referências a cada um dessesimperadores. Quais as relações entreos papas e os imperadores? Quais asrazões da queda do poder imperial?Que disse do império um genial homemfrancês? Quando terminou esseimpério? Qual foi o último impe-rador? Como se efetuou a divisãoentre os grandes ramos da igreja?Qual foi a causa doutrinal quecausou a separação? Quais os quatrocostumes diferentes entre o Orientee o Ocidente? Como se deu aseparação e a reclamação de umaigreja?

Capítulo 15PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual a série de guerras que sesucederam na Idade Média? Qual foi acausa dessas guerras? Quantas Cru-

zadas são mencionadas? Relate ahistória, mencione os nomes doschefes e apresente o resultado daPrimeira Cruzada. Mencione a data,os chefes e os nomes proeminentes daSegunda Cruzada. Quem se destacou naTerceira Cruzada e qual o resultado?Relate os resultados da QuartaCruzada, e bem assim da Quinta,Sexta e Sétima Cruzada. Por quefracassaram? Quais os bonsresultados alcançados com asCruzadas?

Capítulo 16PERGUNTAS PARA REVISÃO

Mencione os cinco temas jáconsiderados no período da igrejamedieval. Apresente os cinco temasconstantes do capítulo que estamosestudando. Como se originou omonacato? Qual era a diferençaprincipal entre o monacato orientale o ocidental? Mencione as quatroordens principais de monges na

Europa. Faça um relato da primeiraordem mencionada. Qual foi a origemda segunda ordem? Qual a origem daterceira? Qual a origem da quarta?Quais foram alguns dos benefícios dosistema monástico? Quais foram osmales ocasionados por essa ordem?Qual foi o desenvolvimento da arte eda literatura na Idade Média?

Capítulo 17PERGUNTAS PARA REVISÃO

Quais foram as cinco tentativas paraa reforma da igreja realizadas naúltima parte da Idade Média? Faça umrelato de cada um desses esforços.Qual o grande acontecimento que seconsidera como o término do períodomedieval? Relate esse acontecimento.Mencione os nomes de quatro grandeseruditos e dirigentes do pensamentoda Idade Média. Faça um relato decada um desses dirigentes.

Capítulo 18

PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual é o tema deste capítulo?Mencione e descreva três forças oumotivos que conduziram à Reforma.Como contribuiu a Renascença para aReforma? De que forma a invenção daimpresa também ajudou a Reforma? Deque modo o espírito nacionalistacontribuiu para o advento daReforma? Em que país se inciou omovimento da Reforma? Quem foi seudirigente? Cite as datas mencionadasdo progresso da Reforma na Alemanha.Que eram as "indulgências"? Como seprocessava a venda de indulgênciasao tempo da Reforma? Que era a bulapapal? Que fez Lutero com a bula? Emque data se realizou a Dieta deWorms? Que aconteceu nessa reunião?Onde esteve Lutero escondido? Quefez ele durante esse período? Comosurgiu o nome "protestante"?

Capítulo 19PERGUNTAS PARA A REVISÃO

Quem levou a Reforma à Suíça? Relatea origem. Qual foi o últimodirigente e qual a sua grande obra?Quais as nações que integravam oreino da Escandinávia? Qual é ahistória da Reforma nesses países?Mencione a história da Reforma naFrança. Qual foi o acontecimento quea fez progredir na França? Queaconteceu nos Países-Baixos. Como seiniciou a Reforma na Inglaterra?Quais eram os seus dirigentes? Quala participação de quatro soberanosno desenvolvimento da Reforma?Relate o que foi a Reforma naEscócia. Quem orientou e modelou aReforma na Escócia?

Capítulo 20PERGUNTAS PARA REVISÁO

Mencione os cinco princípios geraisda religião reformada. Explique cadaum desses princípios. Que significaa "Contra-Reforma"? Como se tentou

fazer a reforma na igreja de Roma?Descreva um grande Concílio. Queordem se estabeleceu, qual o seupropósito? Qual foi a história dessaordem? Quais as perseguições que seestabeleceram nesse tempo? Quais osesforços missionários que se fizeramna igreja católica romana? Que foi aguerra dos Trintas Anos? Quando seiniciou e quando terminou? Qual otratado de paz que se fez, ao cessaressa guerra? Mencione setedirigentes do período da Reforma.Quais desses nomes eram protestan-tes? Quais eram católicos romanos?Faça um relato de cada um dessesdirigentes.

Capítulo 21PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual é o título, o tema, ou como échamado o sexto período da históriada igreja? Mencione os nomes dosseis períodos. Quais osacontecimentos e quais as datas com

que se iniciou e terminou o períodomoderno? Mencione os cinco grandesmovimentos desse período. Relate,também, o movimento puritano sob ossucessivos governadores daInglaterra. Quais as três denomina-ções que surgiram ao mesmo tempo?Qual era a condição do Cristianismona Inglaterra, na primeira parte doséculo dezoito? Quais foram os trêsgrandes dirigentes que se levantaramnessa época? Qual o avivamentoocorrido? Mencione os dirigentes eos resultados do avivamento. Que vema ser movimento racionalista? Ondese originou esse movimento, e em quedata? Mencione alguns de seusdirigentes. Quem ajudou a igreja asair do movimento racionalista?Quais foram alguns dos resultadosdesse movimento? Que significa omovimento de Oxford? Quais os outrosnomes que lhe foram dados, e. porquê? Como se originou essemovimento? Quais os seus propósitos?Quais foram alguns dos resultados?

Capítulo 22PERGUNTAS PARA REVISÃO

Durante quanto tempo foi oCristianismo primitivo umainstituição missionária? Qual era asua condição durante grande parte doperíodo medieval? Quais foram osprimeiros missionários depois daReforma? Qual a igreja que iniciou omovimento missionário protestante?Quem foi o fundador das missõesinglesas modernas? Faça um relato desua vida. Qual foi o resultado dainstituição das missões? Mencione osnomes de seis dirigentes da igrejamoderna. Faça um relato de cada umdesses dirigentes. Quais eram astrês características proeminentes daigreja no início do século vinte?

Capítulo 23PERGUNTAS PARA REVISÃO

Qual foi a primeira igreja em terrasnorte-americanas? Qual foi a razãode sua instalação? De que paísvieram seus membros? Qual era acondição religiosa e quais aspersepectivas do continente no anode 1750? Qual a colônia que seestabeleceu com essa igreja? Comorecebeu a igreja o seu aumento? Comoestava organizada? Era elevado onúmero de seus membros? Qual aprimeira igreja protestante doContinente? Relate como iniciou suasatividades. Qual era a sua condiçãodurante a Revolução e depois dela?Quais foram os primeiros bispos? Égrande sua projeção atual? Qual asua forma de organização? Como seoriginiram as igrejascongregacionais? Qual o sistema desua organização? Faça um relato deseu desenvolvimento. Quais são assuas doutrinas? Qual o número atualde seus membros? Onde se iniciou aIgreja Reformada? Como se chamavaantes? Em que colônia se

estabeleceu? Qual tem sido ahistória? Qual a outra igrejaReformada que também existe? Qual asua origem? Quais são as doutrinasdessas igrejas? Como estãoorganizadas? Quantas denominaçõesbatistas existem no Estados Unidos?Qual é o número de membros? Quaissão os seus princípios distintivos?Como estão organizadas? Quandosurgiram e em que lugar? Quem foiseu fundador nas colônias? Em queestado se estabeleceram? Qual a suaparticipação nas missõesestrangeiras? Quem são os que sedenominam Amigos? Qual o outro nomecomo são conhecidos? Quem foi o seufundador? Quais eram suas doutrinas?Como foram tratados os quacres nascolônias primitivas? Onde seestabeleceram? Qual o estado quefundaram e em que circunstâncias ofizeram? Qual a divisão, e por quese deu entre eles? Qual o número deseus membros, atualmente?

Capítulo 24PERGUNTAS PARA REVISÃO

Como se originaram as igrejasluteranas? Onde apareceram pela primeira vez nosEstados Unidos? Em que outroslugares se estabeleceram eles? Comose desenvolveram? Quantos são osseus membros? Como estãoorganizados? Quais são as suascrenças e doutrinas?De que país eram originários ospresbiterianos dos Estados Unidos?Relate algo a respeito deles naEscócia e na Inglaterra. Onde seestabeleceram primitivamente nosEstados Unidos? Quem era o seudirigente, na organização da igreja?Que participação tiveram na guerraRevolucionária? Quais as divisõesque surgiram entre eles? Quantosramos de presbiterianos há nosEstados Unidos? Quais são as suasdoutrinas e qual a organização?

Quais os dois locais e os doisdirigentes que se apontam como osprimeiros metodistas nos EstadosUnidos? Quem foram os primitivosmissionários nesse país? Qual foi omaior de seus primeiros dirigentes?Quando foi organizada a igreja e emque forma? Quantos ramos metodistashá nos Estados Unidos? Quais são assuas doutrinas? Atualmente é grandeou pequena a denominação? Qual é aforma de sua organização? Quem sãoos Irmãos Unidos? Como se originarameles? Quais são as suas doutrinas?Quem foram os fundadores dessaigreja? Qual é a igreja que tem doisnomes oficiais? Como surgiram essesnomes? Quem foram os fundadoresdessa igreja? Quais as suas normasdoutrinárias? Como estãoorganizadas? Qual tem sido o seudesenvolvimento? Que classes depessoas antigas representam osUnitários? Quais são as doutrinasunitárias? Como surgiram na Américado Norte? Que influência têm eles

exercido? Qual o número de membros?Em que setor os seus esforços têmsido mais destacados? Quem foi afundadora da Ciência Cristã? Onde seoriginou? Quais são as suas idéias?Quantos membros contam?

Capítulo 25PERGUNTAS PARA REVISÃO

Até onde se estendeu o poder de Romano século dezessete? Quem foi quetornou tal coisa possível? Quem maisessa sociedade ganhou para ocatolicismo? Onde viviam essesíndios? Em que ano Jean de Brebeuffundou sua missão? Onde a fundou?Até onde os jesuítas estenderam suamissão? Qual a denominação queprimeiro estabeleceu uma igreja noCanadá? Em que província a igrejacatólica romana exerceu maiorinfluência? Qual é o número dapopulação católica do Canadá?Quantos há em Quebec? Quantos há emOntário? Qual o outro nome que se dá

à Igreja da Inglaterra? Quais foramsuas características mais evidentesnos dias primitivos? Quantos membrosconta no Canadá? Quantos anglicanoshá em Ontário? Quantos há naColúmbia Britânica? Estava a IgrejaCristã no Canadá livre da influênciadas controvérsias que havia no VelhoMundo? Quais eram os ramos da IgrejaMetodista do Canadá? Mencione ascinco divisões entre ospresbiterianos no Canadá. Quemsustentava a Igreja da Inglaterra noCanadá? Quem sustentava osmissionários metodistas? Qual asociedade que auxiliou ospresbiterianos no Canadá entre 1825e 1840? Mencione as denominações queformam a Igreja Unida do Canadá.Quantos membros conta essa Igreja?Qual a denominação que recusou unir-se com o Igreja Unida? Quantosmembros tem a Igreja Batista doCanadá? Quantos batistas há emOntário? Quantos há nas provínciasde Nova Brunswick e Nova Escócia? Em

que local do Canadá se encontramaior número de luteranos? Qual aprovíncia que está em segundo lugar?Qual o número de luteranos noCanadá? Quem são os doukhobors? Emque local do Canadá seestabeleceram? Descreva os seuscostumes. Quantos pertencem a essaseita, no Canadá? Qual o número demenonitas do Canadá? Quais as outrasdenominações que há no Canadá?Mencione o número de membros de cadadenominação.

Capítulo 26PERGUNTAS PARA REVISÃO

Em que data, aproximadamente, seiniciou o trabalho evangélico noMéxico? Quando se iniciou o trabalhobatista? Em que data se fundou otrabalho congregacional? Qual a dataem que se iniciou no México otrabalho metodista? Qual a data emque se fundou a igreja pres-

biteriana? Que se pode dizer dotrabalho evangélico na Guatemala? Emque ano se iniciou o trabalhoevangélico no Chile? Quem introduziua Bíblia na Bolívia? Quem eraFrancisco Penzotti? Que se podedizer do trabalho evangélico noEquador? Faça um pequeno relato dotrabalho evangélico na Argentina, noParaguai e no Uruguai. Que se podedizer do trabalho evangélico noBrasil?

Capítulo 27PERGUNTAS PARA REVISÃO

Como se originou o MovimentoPentecostal na América do Norte ecomo se organizaram as Assembléiasde Deus? Em que ano e em que cidade?Qual a forma do governo dasAssembléias de Deus? Qual tem sido oseu crescimento? Qual é a sua sedenos Estados Unidos?

***FIM***