A demografia escrava em São Paulo, 1829

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ISSN 1984-5782

Revista Ciência et Praxis Volume 02 – Número 03 – Passos (MG) – janeiro/junho de 2009

Editora da Fundação de Ensino Superior de Passos (EDIFESP) Avenida Juca Stockler, 1130 - Passos (MG) CEP. 37900-106 - Fone: (35) 3529.6027 www.fespmg.edu.br/edifesp Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores. Os novos artigos devem ser submetidos online pelo Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) no link www.fespmg.edu.br/periodicos.

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Revista Ciência et Praxis

Sumário Editorial

• Na FESP o saber científico está ao alcance de todos (Fábio Pimenta Esper Kallas) • FESP a consolidação da excelência (Eduardo Goulart Collares)

Artigos Originais

• Temporal variation of Chironomidae larvae (Insecta, Diptera) in the Batalha River, Midwestern São Paulo State, Brazil ........................................................................... 07-12 Fábio Laurindo da Silva, André Luiz Silveira, Jandira Liria Biscalquini Talamoni, Sônia Silveira Ruiz.

• A legitimação do Estado pela cidadania e pelos direitos fundamentais ................................ 13-18 Manoel Ilson Cordeiro Rocha.

• A demografia escrava em São Paulo em 1829: análise comparativa de estudos demográficos ........................................................................................................................ 19-30 Ilana Peliciari Rocha.

• Recuperação de uma área degradada por erosão e disposição de resíduos sólidos na comunidade de Guardinha – Município de São Sebastião do Paraíso (MG) ................... 31-36 Marcio Vieira Nobre, Eduardo Goulart Collares.

• Educação em Saúde para mães em uma unidade de terapia intensiva neonatal ................... 37-40 Nilzemar Ribeiro Souza.

• Apoio familiar no cuidado de pessoas com Diabetes Mellitus tipo 2 ................................... 41-46 Vilma Elenice Contatto Rossi, Ana Emília Pace, Miyeko Hayashida.

• Dáude Jabbur, um pioneiro da arquitetura modernista em Passos. ....................................... 47-54 Mauro Ferreira.

• Efeitos produzidos pela ingestão de fibras alimentares: solúveis e insolúveis em camundongos ................................................................................................................... 55-60 Luana Dias De Paula, Camila Faria Marques, Saula Goulart Chauld.

• Perfil da Fauna de Hymenoptera Parasítica em um Fragmento de Cerrado pertencente ao Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), a partir de duas Armadilhas de Captura .......................................................................................................... 61-68 Cássia Isabela Vilela Abreu, Sônia Lúcia Modesto Zampieron.

• Prevalência e variáveis associadas ao hábito de fumar em estudantes universitários ......................................................................................................................... 69-76 Bethânia C. de Souza; Thaiane T. de Oliveira; Georgea S. Leonel da Silva, Marcelo Santos

Artigos de Revisão

• Gestão de sistemas de produção de leite ............................................................................... 77-82

Ricardo Ferreira Godinho e Rita de Cássia Ribeiro Carvalho

Editorial Na FESP o saber científico está ao alcance de todos

o término de mais um ano letivo a Fundação de Ensino Superior de Passos - FESP traz,

com muito orgulho, mais uma publicação dos trabalhos de nossos professores

pesquisadores. A produção científica é uma das funções mais importantes de uma grande

universidade e através da geração destas publicações, poderemos criar um ambiente crítico e

desenvolvimentista além de fazer com que nossos alunos vivam neste ambiente investigativo, da

busca pelo conhecimento. O papel do homem moderno é buscar ser mais respeitoso com seu

próximo e com o meio no qual está inserido, é usar a tecnologia não apenas em benefício próprio,

mas em favor do bem comum. Vivemos um momento histórico ímpar, em que questões sociais,

econômicas e ambientais estão, como nunca, no centro das discussões mundiais. A publicação desta

edição da revista Ciência et Praxis é mais uma contribuição da comunidade científica da FESP em

busca deste futuro: O de um povo mais justo e mais igual. Este é um grande desafio. Com certeza

teremos sucesso em nosso intento.

Boa Leitura.

Fábio Pimenta Esper Kallas Fábio Pimenta Esper Kallas é docente da Fundação de Ensino Superior de Passos e Presidente do Conselho Curador da FESP.

A

Ciência et Praxis, v.2 n. 3 (2009) janeiro/junho de 2009.

Conselho Curador

Editorial

FESP a consolidação da excelência

O lançamento do terceiro número da revista Ciência et Praxis demonstra, mais uma vez, o

empenho da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG) para a consolidação de

atividades de pesquisa na instituição. Os pesquisadores da FESP, bem como de outras instituições,

já contam com um periódico de publicação regular e de abrangência nacional para a divulgação dos

seus trabalhos de pesquisa. A publicação, neste número, de trabalhos envolvendo pesquisadores da

USP, UFSCar, UNESP e UNIP é um claro exemplo de que o periódico começa a ter amplitude e

despertar o interesse de outras comunidades científicas.

No ano de 2009 houve um grande avanço das atividades de pesquisa na FESP,

principalmente com relação ao conteúdo e destino dos projetos elaborados pelos pesquisadores.

Nesse ano, ultrapassamos a barreira dos projetos destinados, quase que exclusivamente, aos

programas de iniciação científica e conseguimos aprovar projetos, envolvendo recursos mais

vultosos, em agências de fomento à pesquisa. Dois exemplos foram os projetos “Zoneamento

Ambiental do Médio Rio Grande” e “Processo de Integração à Rede Nacional de Laboratórios

Agropecuários para Atender as Propriedades Leiteiras do Sudoeste Mineiro” que, juntos, envolvem

recursos superiores a 1,3 milhões de reais.

O ano que se inicia será desafiador, uma vez que os projetos aprovados deverão ser

executados e, com os novos horizontes vislumbrados pelos nossos pesquisadores, outros projetos

deverão ser encaminhados e, certamente, aprovados. Neste ano, nova barreira precisa ser vencida:

os Grupos de Pesquisa que agregam pesquisadores de áreas afins precisam de maior envolvimento

para o desenvolvimento de projetos coletivos e/ou multidisciplinares. Cumpridos estes desafios, a

FESP dará um grande passo para se tornar uma referência regional em pesquisa científica e a revista

Ciência et Praxis estará pronta para mostrar a todos os resultados aqui obtidos.

Eduardo Goulart Collares

Eduardo Goulart Collares é doutor em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP, Professor Adjunto e Pesquisador da FESP/UEMG e Coordenador de Pesquisa e Extensão da FESP|UEMG.

Coordenadoria de pesquisa e extensão

Página em branco

7Ciência et Praxis v. 2, n. 3, (2009)

Temporal variation of Chironomidae larvae (Insecta, Diptera) in the Batalha River, Midwestern São Paulo State, Brazil

Fabio Laurindo da Silva1, André Luiz Silveira2, Jandira Liria Biscalquini Talamoni3, Sonia Silveira Ruiz4

Resumo: Neste estudo foi analisada a composição e a estrutura da fauna de Chironomidae (Insecta, Diptera) do Rio Batalha, região centro-oeste do Estado de São Paulo, correlacionando-a com características ambientais dos pontos de amostragem. As coletas de sedimento foram realizadas de abril de 1996 a março de 1997, em 10 pontos de amostragem. 1.625 larvas de Chironomidae pertencentes a 29 táxons foram processadas e identificadas. Os gêneros Caladomyia, Chironomus, Djalmabatista e Polypedilum foram os mais abundantes. Polypedilum ocorreu praticamente em todos os meses durante o estudo. Os resultados indicaram maiores valores de riqueza durante a estação seca e que a composição de Chironomidae variou durante o ano.Palavras-chave: Insetos aquáticos; Rio Batalha; riqueza; diversidade; ecologia.

1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCar/SP). E-mail: [email protected] Licenciado em Ciências Biológicas (UNESP/Bauru), Laboratório de Organismos Aquáticos. Email: [email protected] Docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru), Laboratório de Organismos Aquáticos. Email: [email protected] Docente da Universidade Paulista (UNIP/Bauru). Email: [email protected]

INTRODUCTION In recent years, the aquatic ecosystems have been

altered at different scales, due to anthropogenic ac-tivities, such as: mining, dam construction, artificial eutrophication, river canalization and recreation (Dudgeon, 1994). The result of these environmen-tal alterations represent an accentuated decline in aquatic biodiversity, in function of destabilization of chemical and physical environment and modifi-cations in dynamic and structure of biological com-munities (CALLISTO et al., 2005).

In this context the use of macroinvertebrates as bioindicators of water quality, mainly for assessment of environmental impacts resulting from discharges of domestic sewage and industrial effluents is extremely useful. Within the organisms utilized in environmental assessments as tool for detection of disturbances in the water bodies, the Chironomidae family highlighting as an important component of aquatic communities, both in density as well as in diversity, it colonizing several types of biotopes and living in a wide variety of en-vironmental conditions (PINDER, 1986). Through the chironomids is possible to obtain records of ecologic process resulting from alterations occasioned by hydro-logic variations. In this way, the study these organisms provide valuable information to the comprehension of the structure e functioning of aquatic communities (MOULTON, 1998).

The Chironomidae community suffers important seasonal alterations during the year, showing elevated abundances during dry season. Spatial and temporal variation of Chironomidae assemblages has been ob-served in stream, rivers and lakes (BROOKS, 2000; MARQUES et al., 1999; ROBINSON et al., 2001). Within recent decades, the group has been widely stud-ied in all world (ARMITAGE et al., 1995), being this interest due mainly to importance of the chironomids in aquatic and terrestrial environments (PINDER, 1986), in agriculture (FERRARESE, 1993), in the environ-mental monitoring (ROSENBERG, 1992; ARMITAGE et al., 1995), in paleoecological researches (WALKER, 1995), in the public health (CRANSTON, 1995) and as food of other groups of animals (ARMITAGE, 1995, COFFMAN & FERRINGTON, 1996).

The Batalha River is responsible for water capita-tion for supply of the city of Bauru. The occupation and improper soil use, as well as other anthropogenic activi-ties developed in the drainage basin of this aquatic sys-tem (deforestation of riparian vegetation, implantation of monocultures and reforestation economic) has been responsible for alterations in water quality and expo-sure of the spring areas to erosive processes, which lead to formation of deposition areas in the environment (TALAMONI et al., 1999).

Given the economic meaning of this hydric system and the importance of chironomids as biologic indica-

Abstract: In this study was analyzed the composition and structure of Chironomidae fauna (Insecta, Diptera) of Batalha River, Midwestern São Paulo State, correlating them with the environmental conditions of the sampling points. The sediment samples were carried out from April 1996 to March 1997, in 10 sampling points. 1,625 Chironomidae larvae belonging to 29 taxa were processed and identified. The genera Caladomyia, Chironomus, Djalmabatista, and Polypedilum were the most abundant. Polypedilum occurred almost every month during the study. The results indicated higher richness during the dry season and that the composition of Chironomidae va-riation during the year.Keywords: Aquatic insects; Batalha River; richness; diversity; ecology.

Variação temporal de larvas de Chironomidae (Insecta, Diptera) no Rio Batalha, região centro oeste do Estado de São Paulo, Brasil

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)8

tors, the objective this study was to analyze the com-position and structure of Chironomidae larvae (Insecta, Diptera) of Batalha River, Midwestern São Paulo State (Brazil), correlating them with the environmental char-acteristics of the sampling points, beyond to observe the dynamic temporal of the Chironomidae larvae.

MATERIALS AND METHODSThis study was carried out at Batalha River (Figure

1), located at central west region of São Paulo State (22º 20’ S e 49º 00’ W). This water body belonging to Médio Tietê Superior hydrographic basin, have their springs at Serra da Jacuntiga (Agudos) and in it’s way, through the cities of Agudos, Bauru, Piratininga, Avaí, Duartina, Gália, Presidente Alves, Reginópolis and Uru, reach the Tietê River with 167 km of extension, receiving discharges of domestic sewage and indus-trial effluents in different points.

The sediment samples were carried out from April 1996 to March 1997 in 10 sampling points with different characteristics: Points 1, 2 and 3 (P1, P2 and P3), spring areas with sandy substrate surrounded by pasture land; Point 4, 5 and 6 (P4, P5 and P6), stretch without riparian vegetation, heterogeneous substrate (sandy and stone), impacted by pasture land. Point 7 (P7), water capitation dam of the Water Treatment Sta-tion (ETA DAE/Bauru), sandy substrate. Point 8 (P8), pasture land, without riparian vegetation, sandy sub-strate, the site receive discharge of domestic sewage from city of Piratininga. Point 9 (P9), beside Bauru-Marília highway, also presents sandy substrate, there is a balneary on site. Point 10 (P10), near Marechal Rondon highway, deep stretch with sandy substrate and riparian vegetation.

The sediment was sampled monthly (3 subsampling in each sample site) using an Ekman-Birge grab (0,0225m2 area) and immediately fixed in a 10% formalin solution. In the laboratory, the samples were washed using 0.250 mm sieves, sorted and preserved in 70% ethanol. The or-

ganisms, belonging to Chironomidae family, were subse-quently identified, under stereomicroscope, using appro-priate literature (EPLER, 1995; TRIVINHO-STRIXINO & STRIXINO, 1995) and counted.

The relative participation of each taxon was cal-culated separately for months. The structure of the Chironomidae fauna was analyzed by means of its taxonomic composition, species richness (S), Shan-non-Wiener diversity index (H’), Pielou evenness index (equitability) (J) and Simpson dominance in-dex (D) Pinto-Coelho (2002). The UPGMA analysis (cluster analysis), using Bray-Curtis distance, was performed to verify the similarity among different sampling points of Batalha River (KREBS, 1989). Pluviosity data were provided by the Meteorological Research Institute (IPMet) and taken from the Auto-matic Meteorological Station, near the studied area.

RESULTS A seasonal regime of precipitation, with concentration

of rains in summer and a dry period in winter was observed (Figure 2). The peak of rains occurred in January, reaching 475.3 mm, while the driest month was July (1.6 mm). The annual precipitation in the city was 1,705.3 mm.

In this study, 1625 specimens belonging to 29 gen-era, 8 tribes and 3 subfamilies were collected (Table 1). The data obtained indicate that the values of absolute abundance (N) and richness (S) oscillated throughout the year (Table 2), being observed an increase of number of genera during the dry period (June/August). The month of June presented the highest richness with the occur-rence of 18 genera, while January and March showed the smallest richness, with overall absence of genera.

The genera Caladomyia, Chironomus, Djalmabatista, and Polypedilum were the most abundant, being present almost every month during the study. While Demicryp-tochironomus, Endotribelos, Paralauterborniella and Coelotanypus were the genera of lower occurrence, be-ing present only in the months of November, December, July and April, respectively (Table 1).

Figure 1: Map of hydrographic basin of Batalha River (SP, Brazil), evidencing the sampling points.

Figure 2: Mean air temperature and total precipitation values recorded to city of Bauru (SP), by Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), from April 1996 to March 1997

9Silva et al, 2009

Shannon-Wiener diversity (H’) index values indi-cated higher values during dry season, being the high-est value obtained in June. Pielou evenness index (J) presented higher values in August and December, while the Simpson dominance index (D) showed high val-ues in May and September (Table 2). Cluster analysis (Figure 3), based on the abundance of 29 genera col-lected, revealed the formation of three groups: (1) represented by P8 and P9, showed greater similarity (67.0%); (2) formed by P6 and P10, presented similar-ity of 54.8%; (3) formed by P3 and P4 showed lower affinity (53,5%). P7 located in dam ETA (DAE/Bauru) was the point most distinct in relation to others.

DISCUSSIONIn this study, the variation in distribution of the Chi-

ronomidae fauna seem to be related, mainly to input of organic matter for within the environment, to silt pro-

cess resulting from the erosive process caused by inex-istence of riparian vegetation, and to human activities carried out along Batalha River. According to Graça et al. (2004), these factors can affect the presence and spe-cies density of aquatic communities.

As well as Rodrigues (1997), Fonseca-Gessner & Guereschi (2000) and Higuti & Takeda (2002), in this study was recording a decline of absolute abundance of Chironomidae assembly during rainy season, as re-sulting from, probably, of increase draught velocity and destabilization of the substrate. These factors can have been responsible by overall absence of chironomids in the month of January and March. On the other hand, according to Aburaya & Callil (2007), in the dry season the Chironomidae abundance increase due to a higher of diversification of the sediment. Such fact was confirmed in this study, since it was recorded a slight increase in the number of chironomids during dry period.

Table 1: Relative abundance of Chironomidae larvae (Insecta, Diptera) recorded in Batalha River (SP, Brazil), from April 1996 to March 1997

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)10

In the Batalha River, Polypedilum was the taxon most abundant, present almost every month during the study, this genus is composed of grazer-collectors (COFFMAN & FERRINGTON, 1996) and belongs to the group of psammophilic Chironomidae (Barton, 1984), usually associated with sandy bottoms. The silt-ing process and formation of deposition zones can have contributed to the predominance of this genus.

Caladomyia and Djalmabatista also showed ex-pressive abundances. The first is a genus composed of filters-collectors (COFFMAN & FERRINGTON, 1996), found in little deep environments, with sub-strate rich in organic matter (TRIVINHO-STRIXINO & STRIXINO, 1991). The second genus is considered predators-engulfers (COFFMAN & FERRINGTON, 1996), although this genus has been recorded often feeding up of dead leaves, wood fragments and detri-tus (HENRIQUES-OLIVEIRA et al., 2003). The pre-dominance these genera can be attributed to in input of organic matter resulting from deforestation of riparian vegetation of stream.

Despite Chironomus to have presented high abun-dance, the majority these organisms was collected at Point 8 (80,4%), which receive discharges of domestic sewage, which causes the increase of organic matter and reduces the levels of dissolved oxygen, and makes the environment more appropriate to development of Chironomus, given that this genus presents high toler-ance to eutrophization conditions, showing significant increase in abundance, as reply to organic enrichment caused for anthropogenic actions (MARQUES et al., 1999; CALLISTO et al., 2005).

The Shannon-Wiener diversity index (H’) showed little variation throughout the year, being most elevated in the dry season, probably due to higher environmen-tal stability characteristic this period (RODRIGUES, 1997). The pattern showed by Pielou evenness index values (J) with the highest values in August and De-cember can be attributed to a distribution more ho-mogenous of the organisms within the taxa collected

in these month. The predominance of Polypedilum and Chironomus in May and September respectively can explain the elevated values obtained, for the Simpson dominance index (D), elevated in these months.

Cluster analysis showed the arrangement of three groups: P8 and P9, P6 and P10 in P3 and P4, respec-tively. In formation of the first group, it is possible to assume that the greater similarity is related to human activities that these sites are submitted: discharges of sewage into P8 and tourist activities in P9. Whereas the second group was determined possibly by the pres-ence of sandy substrate, condition which may have contributed to abundance of chironomids in both sites. The formation of a third group may be linked to the fact of chironomids have found similar environmental con-ditions at these sites, since the livestock activities car-ried out the margins of these points possibly determined the distribution of the organisms. Based on the cluster analysis, was possible also to infer that the fauna col-lected in P7 probably differs from the other points due its location in impounded area, which confers distinct characteristics to the environment.

An overall analysis of the results indicates that the structure and composition of the Chironomidae fauna from Batalha River presented variation during the year, with the months of January and March showing total absence of organisms. The taxa that best characterized, the Chironomidae fauna of the aquatic system (for their greater participation) were Caladomyia, Chironomus, Djalmabatista and Polypedilum, genera associated to sandy substrate and/or rich in organic mater. The pre-dominance these chironomids can be an indicative of a worsening of deforestation of riparian vegetation of stream, given that this action is directly related to the silting process, caused for anthropogenic activities, which leads to formation of deposition areas and to mas-sive input of organic matter for system, these conditions can favor the establishment these organisms. The results reaffirm the importance of the Chironomidae family as bioindicators in environmental investigations.

Table 2: Values of richness (S), absolute abundance (N) diversity (H’), equitability (J) and dominance (D) of Chironomidae larvae (Insecta, Diptera) recorded in Batalha River (SP, Brazil), from April 1996 to March 1997

11Silva et al, 2009

ACKNOWLEDGEMENTSThe authors extend their thanks to Water Treatment

Station (ETA DAE/Bauru) and to Ricardo Fernandes for their great help in the field work and identification of specimens.

REFERENCESABURAYA, F. H.; CALLIL, C. T. Variação temporal de Chironomidae (Diptera) no Alto Rio Paraguai (Cáceres, Mato Grosso, Brasil). Revista Brasileira de Zoologia. 2007; 24 (3): 565-572. ARMITAGE, P. D.; CRANSTON, P. S.; PINDER, L. C. V. The Chironomidae: biology and ecology of non-biting midges. London: Chapman & Hall. 1995.ARMITAGE, P. D. Chironomidae as food. In: ARMI-TAGE. P. D. CRANSTON. P. S.; PINDER. L. C. V. (Eds). The Chironomidae: biology and ecology of non-biting midges. London: Chapman & Hall. 1995.BARTON, D. R.; SMITH, S. M. Insects of extremely small and extremely large aquatic habits. Pp. 457-483. In: Resh, V.H. & Rosenberg. D. M (Ed.). The ecology of aquatic insects. New York: Preager. 1984.BROOKS, R. T. Annual and seasonal variation and the effects of hydroperiod on benthic macroinvertebrates of seasonal forest (vernal) ponds in central Massachusetts, USA. Wetlands. 2000, 20 (4): 707-715. CALLISTO. M.; GONÇALVES. J. F.; Moreno. P. In-vertebrados Aquáticos como Bioindicadores. In: GOU-LART. E. M. A. (Ed.). Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais. Belo Horizonte: UFMG. 2005. COFFMAN, W. P.; FERRINGTON, L. C. Chironomi-dae. In: MERRITT, R. W.; CUMMINS, K. W. (Ed.). An introduction to the aquatic insects of North Ameri-ca. Dubuque: Kendall/Hunt. 1996.

CRANSTON, P. S. Medical significance. In: ARMITA-GE, P. D.; CRANSTON, P. S.; PINDER, L.C.V. (Ed.). The Chironomidae: biology and ecology of non-bi-ting midges. London: Chapman & Hall. 1995.DUDGEON. D. Research strategies for the conserva-tion and management of tropical Asian streams and rivers. International Journal of Ecology & Environ-mental Sciences. 1994; 20: 255-285.EPLER. J. H. Identification Manual for the Larvae Chironomidae (Diptera) of Florida. Tallahassee: De-partment of Environmental Protection. Division of wa-ter facilities. 1995.FERRARESE, U. Chironomids of Italian rice fields. Netherlands Journal of Aquatic Ecology 1993; 26: 341-346. FONSECA-GESSNER, A. A; GUERESCHI, R. M. Macroinvertebrados bentônicos na avaliação da qua-lidade da água de três córregos na Estação Ecológica de Jataí, Luiz Antonio, SP, Brasil. In: Santos, J. E.; Pires, J. S. R. (Eds.). Estudos Integrados em ecos-sistemas: Estação Ecológica de Jataí. São Carlos: Rima. 2000.GRAÇA, M. A. S.; PINTO, P.; CORTES, R.; COIM-BRA, N.; OLIVEIRA, S.; MORAIS, M.; CARVALHO, M. J.; MALO, J. Factors affecting macroinvertebrate richness and diversity in Portuguese streams: a two-scale analysis. International Review of Hydrobiolo-gy. 2004; 89: 151-164.HENRIQUES-OLIVEIRA, A. L.; NESSIMIAN, J. L.; DORVILLÉ, L. F. M. Feeding habits of chironomid larvae (Insecta: Diptera) from a stream in the Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian Journal of Biology. 2003; 63(2): 269-281.

Figure 3: Classification of samplings points along Batalha River (SP, Brazil), using UPGMA analysis and Bray-Curtis distance

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)12

HIGUTI, J.; TAKEDA, A. M. Spatial and temporal va-riation in densities of Chironomid larvae (Diptera) in two lagoons and two tributaries of the Upper Paraná River Floodplain. Brazilian Journal of Biology. 2002; 62(4):807-818.KREBS, C. J. Ecological Methodology. New York: Harper & Row. 1989.MARQUES, M. M. G. S. M.; BARBOSA, F. A. R.; CALLISTO, M. Distribution and abundance of Chiro-nomidae (Diptera, Insecta) in an impacted watershed in south-east Brazil. Revista Brasileira de Biologia. 1999; 59(4):553-561. MOULTON, T. P. Saúde integridade do ecossistema e o papel dos insetos aquáticos. Série Oecologia Brasi-liensis. 1998; 5: 281-298.PINDER. L. C. V. Biology of freshwater Chironomi-dae. Annual Review of Entomology. 1986; 31:1-23. PINTO-COELHO. R. M. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artmed. 2002.ROBINSON, C. T.; UEHLINGER, U.; HIEBER, M. Spatio-temporal variation in macroinvertebrate assem-blages of glacial streams in the Swiss Alps. Freshwater Biology. 2001; 46: 1663-1672.

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13Ciência et Praxis v. 2, n. 3, (2009)

A legitimação do estado pela cidadania e pelos direitos fundamentais

Manoel Ilson Cordeiro Rocha1

Resumo: O Estado é a sociedade política moderna dotada de poder, povo e território e caracterizada pela exclu-sividade soberana e legítima de governo. A evolução do Estado a ponto de tornar-se a sociedade política que mo-nopoliza legitimamente a violência se deu por conta da sua capacidade de produzir instrumentos e argumentos de legitimação superiores. A legitimação do poder é a capacidade de produzir a consciência de que o poder é devido. Mas a legitimação é também o estabelecimento de um nível de consenso que garante o poder e garante alguma contrapartida ao dominado. O exercício da cidadania e a sua configuração como uma titularidade cada vez mais ampla de direitos é o instrumento e o argumento moderno legitimador. Neste sentido o Estado evoluiu das teocra-cias antigas até uma condição menos opressora, mas isto não retira a sua condição de sociedade política, fundada no poder, em última instância, pela força. Este conjunto de direitos se insere, portanto, num processo histórico de luta entre governantes e governados onde a resistência ao poder produziu um espaço diferenciado de disputa caracterizado pela cidadania. Resultou numa concepção de dominação revestida de uma partilha do poder, ainda que desigual, mas positiva no sentido de criar a expectativa de participação. Isto porque o poder depende da legiti-mação para a sua durabilidade e a modernidade e suas estruturas de poder caminharam num sentido contraditório que é em si o ideal de democracia.Palavras-chave: Legitimação do Estado; cidadania.

1 Mestre em Direito pela UNESP (Franca, SP); Professor de Direito FADIPA (FESP|UEMG); UNIARA (Araraquara, SP); FAFRAM/FE (Ituverava, SP) e da LIBERTAS (São Sebastião do Paraíso, MG).E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃOA evolução do Estado a ponto de tornar-se a

sociedade política que monopoliza legitimamente a violência se deu por conta da sua capacidade de produzir instrumentos e argumentos de legitima-ção superiores. A legitimação do poder é a capa-cidade de produzir a consciência de que o poder é devido. Mas a legitimação é também o estabe-lecimento de um nível de consenso que garante o poder e garante alguma contrapartida ao domina-do. O exercício da cidadania e a sua configuração como uma titularidade cada vez mais ampla de direitos é o instrumento e o argumento moderno legitimador.

O ESTADO E A POLÍTICAO Estado pode ser apresentado como a socie-

dade política moderna, dotado de soberania, his-toricamente identificado em Maquiavel, ou como qualquer sociedade política dotada de poder, povo e território. Seja qual for o conceito, ele assume a condição política de ação humana destinada a organizar e conduzir a sociedade. Quanto à “polí-tica”, a expressão vem de polis, a cidade grega, e o locus de decisão dos interesses da coletividade, o espaço público. O Estado não se confunde com a política, mas com um modo especial de fazer política. Há diferentes tipos de sociedades polí-ticas, a família, por exemplo, é considerada uma sociedade política, que se ocupa de todos os fins

Abstract: The State is the political modern society of power, people and territory characterized by the sovereign and legitimate exclusiveness of government. The evolution of the State to the point of changing the political so-ciety that monopolizes legitimately the violence occurred, due to its capacity of producing superior legitimating instruments and arguments. The power legitimation is the capacity of producing the conscience of which the power is owed. But the legitimation is also the establishment of a consensus level that guarantees the power and some counterpart in the dominated one. The practice of citizenship and its configuration as a wider title of rights is the modern legitimating instrument and argument. Following this thought the State evolved from ancient theocracies to a less oppressing condition, but this does not change its condition of political society, based on the power, as a last resort, by force. This set of rights is inserted in a historical process of struggle between the rulers and the governed people where the resistance to the power produced a differentiated space of dispute characterized by the citizenship. It resulted in a conception of domination covered with a share of power, still unequal, but positive in the sense of creating the expectation of participation. This happens because the power depends on the legitimation for its durability and the modernity and its power structures went in a contradictory way that is, in fact, the ideal of democracy.Keywords: State Legitimation; Citizenship.

The State Legitimation for the Citizenship and the Basic Rights

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de sua respectiva coletividade. Mas a política, como âmbito das decisões coletivas, pode tam-bém ser identificada com a esfera pública. Porém, o conceito de público é tanto o ambiente coletivo, de conhecimento de todos, como o espaço oficial, próprio das instituições governativas, como o Estado. Neste caminho o Estado vai se confun-dir com a política, como ele sempre pretendeu. O Estado se oferece para ser o espaço do público, se oferece para pertencer ao público, mas em troca cobra que seja ele o único espaço do público, a única pertença do público.

O poder político, como a capacidade de fazer valer interesses numa sociedade política, produz os debates e as disputas que caracterizam os meios políticos e definem o exercício do seu poder. O instrumento da política, para a sua or-ganização e eficiência, é a força física. É a partir dela que se constitui o consenso e as bases das sociedades públicas. O Estado é, assim, uma es-trutura natural de poder e força, bem como é fonte de consenso e de Direito.

A EVOLUÇÃO DO ESTADOÉ o Estado uma evolução natural da sociedade,

nascido a partir de um determinante que indica o grau de maturidade e complexidade social sufi-ciente. Este determinante é a existência combinada de um povo, um território e um poder organizado. Porém, as causas originárias para esta condição podem variar. Provavelmente primeiro forman-do uma sociedade política primitiva e depois se consolidando num território. Uma hipótese é uma origem patriarcal, quando surge de uma família primitiva. A família é a unidade social elementar, à medida que ela se desdobrou em outras famílias, pelo crescimento natural, surgiu a necessidade de compor a gestão entre elas. Outra hipótese é o uso da força e a sua concentração decorrente dos benefícios da dominação. A capacidade de um dos membros de articular, pela combinação de força física e astúcia, diversas forças e com uso dessas controlar o conjunto do grupo. A organização em armas das autoridades religiosas também é uma hipótese provável, o homem, na busca contínua por respostas para os problemas da natureza e do seu ambiente coletivo desenvolveu-se significati-vamente, mas o refúgio em entidades espirituais foi e é comum à falta de respostas, o que atribuiu poder político à religião, sendo os líderes políti-cos primitivos também os líderes religiosos das suas sociedades. Para Marx (MARX, 1987) o Es-tado é uma superestrutura a serviço de uma classe econômica dominante. A concentração de rique-zas e a divisão social em classes levaram a classe

dominante da riqueza a constituir um aparato de força para garantir a preservação dessa condi-ção. Onde então o Estado surge para garantir a ordem e o sistema econômico. Para o marxismo a eliminação da luta de classes, pela eliminação da diferenciação entre proprietários dos meios de produção e não-proprietários, elimina o sentido do Estado e surge o comunismo, como sociedade sem Estado, como resultado da ausência da luta de classes. Mas se o Estado é a superestrutura a serviço de uma classe dominante, esta classe não é necessariamente a classe burguesa e fundada na exploração da propriedade privada, ela pode ser, por exemplo, a classe burocrática formada num Estado socialista, que mantém uma relação de dominação e a necessidade de perpetuação do Estado.

Os Estados contemporâneos, entretanto, são todos de formação derivada. As causas derivadas de formação dos Estados são a união e o fracio-namento. Os EUA é um Estado que se formou a partir da união das colônias independentes da In-glaterra, o Brasil é um fracionamento do Estado português e o Timor Leste é um fracionamento do Estado indonésio. Este movimento de fronteiras é constante na comunidade internacional. Formal-mente a Alemanha de hoje não é a mesma Alema-nha Oriental ou Ocidental e mais ainda, não é a Prússia do século XIX, pois há mudanças nos fun-damentos do Estado e nos sentimentos populares que transformam os Estados nas suas sucessões.

O que diferencia os Estados é o modo de ope-rar a política. As características de um povo são transmitidas aos outros até se diluírem muito tem-po depois. Os Estados antigos se caracterizaram principalmente pela manifestação teocrática do poder. Eram teocracias com a fonte do poder de origem divina, com a legitimação com inspiração numa entidade superior em duas hipóteses: ou o governante era o próprio Deus - como no Egito - ou era um representante de Deus - como Abraão. A estrutura do Estado teocrático é centralizada, o líder religioso preenche as funções de segurança, de burocracia e de arrecadação de tributos.

O Estado Grego se destaca na antiguidade não só pela idéia de democracia, mas pela influência de sua filosofia no pensamento ocidental. O povo no poder era uma minoria caracterizada pelas fa-mílias originárias de cada cidade-estado, mas o processo de decisão pública se diferenciava pela existência de uma coletividade que debatia a polí-tica. Esta participação era garantida, pois o cida-dão grego era parte do Estado, e a liberdade que existia era a liberdade pública de decidir coletiva-mente as opções do governo. A condição de cida-dão era uma prerrogativa e um dever público.

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O Estado romano surge de uma cidade-estado, mas caracteriza-se pela sua capacidade de ex-pansão imperial. As conquistas do Império Ro-mano foram possíveis graças à organização e eficiência de seu exército, mas também graças ao modelo de anexação dos povos conquistados. Os romanos preservavam a organização políti-ca dos dominados, exigindo a contrapartida em tributos e a manutenção das fronteiras. Mas a expansão contínua do império o alimentava e foi também a causa de seu declínio. Quando as fronteiras de expansão se esgotaram, o exército se engessou ocupando a máquina pública e não resistiu às invasões bárbaras.

O Estado Medieval surge da crise do Estado Romano. Os romanos abandonaram as cidades e se encastelaram na zona rural, o império caiu no ocidente, os bárbaros introduziram seus modos políticos e o Estado Medieval surgiu com uma grande fragilidade e divisão política. Mas o Esta-do passou por muitas transformações ao longo da Idade Média. Da crise com as invasões bárbaras, o período do império carolíngeo, a consolidação das relações de vassalagem ao renascimento. Em um milênio teve-se a ascensão da Igreja Católica e do poder do papado. Mas o poder político esteve distribuído entre a Igreja, os senhores feudais, os reis, as corporações de ofício e o antigo império romano-germânico. As cidades serviam mais para o pouco comércio e a pouca atividade burocráti-ca. Esta diluição do poder político é caracterizada principalmente pela relação de vassalagem, onde os senhores estabeleciam com outros senhores uma prestação serviço em nome da segurança re-cíproca. O rei não tinha um exército permanente, recorria aos seus vassalos para expedições esporá-dicas. A riqueza era distribuída como propriedade rural feudal, onde os senhores tinham verdadeiro poder político sobre os seus servos e buscavam legitimação divina para uma relação de proprie-dade e governo.

A crise do Estado Medieval explica muito a origem do Estado Moderno. Este surge conco-mitante ao renascimento. O sistema feudal já no século XIII não absorvia o crescimento popula-cional e este excedente migrou para as cidades e feiras, para sobreviver do ambiente comercial que crescia também com o novo contingente. As des-cobertas e rotas marítimas do oriente trouxeram riqueza e prosperidade para estas cidades, onde se formou também um espaço fértil para uma nova cultura, que resgatou o pensamento grego e pro-duziu o humanismo. Deus deixou de ser o centro do universo e a propriedade da terra deixou de ser a riqueza predominante. Isso foi possível por-que o renascimento não foi só o renascimento das

idéias, mas também o renascimento das cidades, com as riquezas do comércio marítimo. Portugal é a primeira potência moderna, com a sua rota para as Índias, depois a América espanhola alimentou a metrópole com os seus metais. Estabeleceu-se uma corrida mercantilista e colonialista, forman-do-se novas potências econômicas e militares, como a Holanda e a Inglaterra. O Estado Moder-no lança os seus pilares neste terreno, o poder se caracteriza pela soberania, os territórios se fixam na segurança dos tratados e o povo passa forta-lecer a sua identidade em decorrência do poder dos monarcas absolutos que procuram consolidar os limites de sua soberania. É na fragilização do poder medieval que surgem as monarquias abso-lutas, com Estados centralizados para garantir a ordem e o status quo.

O que é a soberania? É a exclusividade de de-cisão, que se opõe à estrutura de poder medie-val. Na Idade Média a igreja, o senhor feudal e o rei jurisdicionavam concorrentemente. A Paz de Westfalia, um tratado que definiu fronteiras entre França e Estados alemães medievais, simboliza o nascimento do Estado Moderno, que passa a ser delimitado por tratados de fronteiras. Mas tam-bém os tratados se tornaram freqüentes para es-tabelecer a paz, o comércio, etc. Surge a comuni-dade internacional moderna, formada por Estados que se legitimam a partir de um direito definido em tratados. Estes são os fundamentos do Estado Moderno como conceito histórico. Segundo We-ber (WEBER, 1970), o Estado Moderno se carac-teriza pelo monopólio legítimo da violência. Este monopólio é decorrente do poder soberano, esta legitimidade da competência legislativa que lhe é atribuída, assim como o estabelecimento de uma sociedade que produz legitimidade pela legalida-de, e esta violência é a condição do poder políti-co. No Estado Moderno há a supressão do direito de constituir outras organizações políticas que se utilizem de violência, isto não quer dizer que elas não surjam, apenas que não são legítimas sob o ponto de vista da ordem vigente.

O ESTADO E A LEGITIMAÇÃO SOCIALA evolução do Estado a ponto de tornar-se a

sociedade política que monopoliza legitimamente a violência (WEBER, 1970) se deu por conta da sua capacidade de produzir instrumentos e argu-mentos de legitimação superiores. A legitimação do poder é a capacidade de produzir a consciên-cia de que o poder é devido. Uma das formas de legitimar o poder do Estado é justificando-o. A identificação da justificação com o processo de legitimação ocorre porque os fundamentos do Es-

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tado apontados em cada pensador correspondem a um período histórico e contribuem para criar o sentido de verdade que acompanha os argumentos de dominação social. Em Hobbes (1974), a paz necessária que o Leviatã proporciona corresponde ao ambiente de ruptura do tecido social decorren-te da transição do Estado medieval para o Estado moderno. A propriedade da terra e a origem divi-na do poder já não garantiam aos senhores feudais o poder e a ordem, o renascimento e o comércio ultramarino fundavam as bases de uma nova so-ciedade, que dependia de um Estado forte e cen-tralizador para formar um novo tecido social, e o monarca absoluto não era mais do que um senhor feudal soberano. Mas o iluminismo, por Rousseau (1997), vê na natureza humana a passividade que dispensa o poder absoluto do Leviatã, é a ruptura necessária para a realização da revolução burgue-sa, com o fim dos estamentos sociais, e com o acesso ao poder pela democracia. Rousseau ofere-ce os argumentos para legitimar o poder do povo e pelo povo. Em Locke (1963), onde a finalidade social é a liberdade, seu liberalismo político está intimamente ligado aos interesses da burguesia no Estado, que deve ser mínimo para que a sociedade vivencie as leis de mercado, desejada pela nova classe no poder. O Estado como personalidade ju-rídica em Hegel (1928) possibilita o poder consti-tuído se acomodar à complexa estrutura de poder que foi gerada, composta de um amplo campo ju-rídico, uma malha burocrática e um forte apara-to de força, que servem a qualquer ideologia. A dominação em Duguit (1923) e a luta de classes em Marx (1987) é o reconhecimento explícito de como as relações sociais é também uma relação entre dominantes e dominados e a legitimidade se funda apenas na condição de ser dominante.

Max Weber (1970) analisa o processo de le-gitimação do poder e identifica três formas de legitimação: pela tradição, pelo carisma e pela legalidade. Por exemplo, na Idade Média a força das instituições cristãs estava na tradição de seu poder por séculos diante de valores sedimentados na consciência coletiva. De outra forma muitos líderes construíram impérios e sustentaram o seu poder graças à habilidade de reunir seguidores sob o seu carisma pelo discurso ou por recursos pessoais atrativos, como segurança, iniciativa, bravura, etc. Mas a modernidade se caracteriza com a legitimidade pela legalidade. O Estado de Direito é a maior representação deste fenômeno, onde o que está na lei é o devido. Por trás das for-mas de legitimação identificadas por Max Weber (1970) há o respectivo conteúdo ético que produz o convencimento dos sujeitos na relação de po-der. O pensamento dos autores acima foi posto

em prática sob o discurso de um líder tradicional, carismático ou legalmente reconhecido.

A LEGITIMAÇÃO DO ESTADO E A CIDADANIA MODERNA

A sociedade moderna no Estado Democrático e de Direito se caracteriza pela organização da sociedade civil em torno de direitos fundamen-tais garantidores de muitas liberdades e da pró-pria perspectiva de democracia. Este modelo é, por outro lado, o instrumento e o argumento de legitimação do Estado.

A sociedade civil organizada é o conjunto de manifestações de crítica e resistência à ação po-lítica do Estado. Normalmente um ideal comum reúne parte da sociedade civil organizada em mo-vimentos de contestação social, mas não se pode confundir sociedade civil organizada com o mo-vimento de oposição a um determinado regime político, pois esta é apenas uma possibilidade da organização da sociedade civil. Nos séculos XIX e XX a sociedade civil organizada foi constan-temente identificada com o exercício da cidada-nia. Muitas vezes aliada aos movimentos revolu-cionários de esquerda, outras vezes a conquistas sociais e outras a processos de democratização. Normalmente foi o instrumento político de seg-mentos sociais excluídos. Esteve conceitualmente ligada à modernidade, pois, cidadania é a condi-ção de membro do povo na democracia. A cida-dania moderna se caracteriza pela titularidade de direitos e deveres perante o Estado e esta foi uma oportunidade única do indivíduo participar ati-vamente das relações de poder. A construção da cidadania neste período produziu avanços signifi-cativos identificados por um rol extenso de direi-tos fundamentais.

A LEGITIMAÇÃO DO ESTADO E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

O reconhecimento dos Direitos Fundamentais do Homem é uma conquista da sociedade moder-na, seja como símbolo do modelo de civilidade adotado, destacado como condição de emancipa-ção do homem em relação ao Estado, seja como princípio da sociedade liberal, que tem um res-pectivo amparo nos fundamentos do Estado, para propiciar o funcionamento do sistema econômico de livre iniciativa e exploração irrestrita das pos-sibilidades do indivíduo.

Mas muitas vezes a abordagem sobre o leque dos direitos do homem, identificados como fun-damentais, possui um caráter idealista e absoluto, como princípios da condição humana, imutáveis e

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dotados de uma razão pura, que nega o seu papel histórico e a sua origem resultante de lutas e con-quistas sociais. Esta visão reveste este conjunto de direitos com uma áurea solene e os protege de ataques autoritários de governos e de conserva-dores, mas disfarça as contradições intrínsecas ao conjunto dos direitos e se sustenta numa ilusão que não resiste aos movimentos naturais dos va-lores na história. Destacados como fundamentos da democracia pela garantia das liberdades indi-viduais e pela plenitude da emancipação humana em relação ao Estado, foram propostos em três gerações distintas e até conflitantes entre si: Di-reitos Individuais, Direitos Coletivos e Direitos Difusos. Os Direitos Individuais foram promovi-dos juntamente com a revolução liberal burguesa, numa série de Declarações de Direitos do homem e do cidadão, emanciparam o indivíduo em rela-ção ao Estado, reconhecendo institucionalmente vários direitos que garantem a livre participação do povo no poder, como pressuposto da democra-cia, mas também vários direitos necessários ao funcionamento do sistema de produção capitalis-ta, como o direito à propriedade e o direito à li-vre iniciativa, onde a possibilidade de exploração extrema da capacidade individual sobre as con-dições de vida e de riqueza em sociedade movi-menta o circuito capitalista na busca pelo lucro e pela sobrevivência no ambiente de competitivida-de de mercado. São liberdades necessárias para o estabelecimento da plena concorrência, com de-senvolvimento de novos níveis de eficiência e de superação contínua. Os Direitos Coletivos foram conquistados num segundo momento da revolu-ção liberal, depois que os revolucionários se esta-beleceram no poder e implementaram os ideais do individualismo. As leis de mercado, em especial a lei da livre oferta e procura e a lei da livre inicia-tiva, regulava o sistema de produção e as relações entre o trabalho e a riqueza, definindo remunera-ção, sobrevivência e poder entre as pessoas em geral. Mas esta experiência revelou-se desastrosa, pois legitimou a desigualdade social e a miséria no século XIX, foi neste ambiente que se cons-truiu o conjunto de Direitos Coletivos protetores do homem enquanto classe trabalhadora. Já no sé-culo XX foram as questões conflituosas da socie-dade de massas que produziram a terceira geração de direitos, denominada Direitos Difusos, direi-tos que não são materializados num indivíduo ou numa coletividade: direito à paz, à preservação do meio ambiente, etc.

CONCLUSÃOEste conjunto de direitos se insere, portanto,

num processo histórico de luta entre governantes e governados onde a resistência ao poder produ-ziu um espaço diferenciado de disputa caracteri-zado pela cidadania. Resultou numa concepção de dominação revestida de uma partilha do poder, ainda que desigual, mas positiva no sentido de criar a expectativa de participação. Isto porque o poder depende da legitimação para a sua durabi-lidade e a modernidade e suas estruturas de poder caminharam num sentido contraditório que é em si o ideal de democracia.

A legitimação do poder é o estabelecimen-to de um nível de consenso que garante o poder e que garante alguma contrapartida ao dominado. O exercício da cidadania e a sua configuração como uma titularidade cada vez mais ampla de direitos é um instrumento e um argumento legitimador. Nes-te sentido o Estado evoluiu das teocracias antigas até uma condição menos opressora, mas isto não retira a sua condição de sociedade política, funda-da no poder, em última instância, pela força.

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A Demografia Escrava em São Paulo em 1829: análise comparativa de estudos demográficos

Ilana Peliciari Rocha1

Resumo: Esse artigo propõe traçar comparação das principais características da força de trabalho escravo em diversas localidades da Província de São Paulo em 1829, através de pesquisas referentes ao ano proposto, que utilizaram, principalmente, as listas nominativas. Sua importância está em mostrar as semelhanças e diferenças de algumas Vilas da Capitania de São Paulo, demonstrando a dificuldade em estabelecer uma padronização para a escravidão brasileira. Selecionamos as seguintes localidades para serem analisadas: Franca, Areias, Mogi das Cruzes, Bananal, Taubaté, São Paulo, Itu, Lorena, Jacareí e Sorocaba.Palavras-chave: Demografia histórica, Escravidão, São Paulo, século XIX.

1 Mestre e doutoranda em História Econômica pela USP, professora de História do Estado de São Paulo.E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃOA demografia histórica no Brasil percorreu um ca-

minho que proporcionou clarear muitos temas referen-tes à história do Brasil. Esse caminho iniciou-se com o trabalho pioneiro de Maria Luiza Marcílio, sua Tese de Doutoramento, apresentada à Universidade de Paris em 1967, que foi publicada anos depois em português.

As centenas de trabalhos produzidos na área tive-ram, ademais, regra geral, um caráter nitidamente mo-nográfico. Amiúde detiveram sua atenção em uma ou poucas localidades, variando amplamente em termos do intervalo temporal contemplado. Tão-somente alguns dentre eles adotaram um enfoque regional; todavia, boa parte destes trabalhos concentrou-se em certas áreas geográficas específicas (por exemplo, as capitanias/pro-víncias de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, Piauí, Sergipe e Bahia) e em determinados períodos (por exemplo, o que compreende as décadas finais do Século XVIII e as iniciais do XIX) (MOTTA & COSTA, 1997, p. 156).

O desenvolvimento da demografia histórica como campo específico do conhecimento, a partir da década de 1970, provocou um processo revisionista em relação à historiografia brasileira. No entanto, a multiplicação dos trabalhos que Motta & Costa chamam de “transborda-mentos”, instiga a elaboração de uma síntese, o que al-guns trabalhos já vem se esforçando para realizar (LUNA, 1998; MOTTA & COSTA, 1997; MOTTA, 2001).

A escravidão foi uma das principais temáticas que se favoreceram com essa produção historiográfica. Muitos são os problemas que envolvem a demografia escrava, desde os documentos que apresentam contra-dições e inconsistências, ao próprio segmento de estu-

do, o escravo, devido o seu caráter de subordinação. A historiografia recente conseguiu não só apontar ques-tionamentos de fontes e modelos, como também se de-bruçar em novas fontes. Assim, surgiram interpretações sugestivas, como por exemplo, as evidências quanto à reprodução natural dos cativos em economias e socie-dades peculiares, além da presença da família escrava encontrada em análises de algumas regiões do país.

Esse artigo, longe de ser uma síntese, pretende esta-belecer comparações de algumas localidades, no ano de 1829, levando em conta temas relacionados à demogra-fia escrava, tais como, as características dos escravos e também a sua relação com as distintas atividades eco-nômicas. Sua importância está em mostrar as semelhan-ças e diferenças de algumas Vilas da Capitania de São Paulo, demonstrando a dificuldade em estabelecer uma padronização para a escravidão brasileira.

Busca empreender tal estudo através de pesquisas referentes ao ano proposto, que utilizaram, principal-mente, as listas nominativas. As listas nominativas fo-ram efetuadas a partir de 1765, e as últimas foram em geral levantadas pouco depois de 1830, datas que va-riam de vila para vila. O levantamento dos dados das listas se fazia de acordo com a divisão de cada vila em Companhias de Ordenanças; a sua responsabilidade ca-bia ao capitão-mor de cada localidade, sendo efetuado pelo sargento de milícias ou pelos cabos de esquadra. Tanto a periodicidade quanto o conteúdo das mesmas mudou de localidade a localidade, além de apresentarem previsíveis variações de qualidade no tempo e no espa-ço. Essas diferenças dificultaram uma análise como um todo, diante de tal problema optou-se por trabalhar com blocos que apresentavam informações compatíveis. Não

Abstract: This article has the objective of comparing the principal characteristics of the slave workforce in several places in the Province of São Paulo in 1829, by researching the proposed year, which used principally, the nomi-native lists. Its importance is to show the similarities and differences of some villages in São Paulo, demonstrating a certain difficulty in establishing standardization to the Brazilian slavery. We selected the following towns to be analyzed: Franca, Areias, Mogi da Cruzes, Bananal, Taubaté, São Paulo, Itu, Lorena, Jacareí, e Sorocaba.

The Slave Demography in São Paulo in 1829: A Comparative Analysis of Demographic Studies.

Keywords: Historical Demography; Slavery; São Paulo; nineteenth century.

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fizemos uma lista das localidades que serão trabalhadas igualmente em todos os tópicos, privilegiamos em cada tópico localidades diferentes, já que os trabalhos da área são bem delimitados não englobando todos os aspectos aqui verificados. Selecionamos as seguintes localidades para serem analisadas: Franca, Areias, Mogi das Cruzes, Bananal, Taubaté, São Paulo, Itu, Lorena, Jacareí e So-rocaba. É necessário notar que:

Em 1829, o governo de São Paulo realizou o úl-timo censo de forma ampla e baseado no modelo co-lonial, compreendendo praticamente a totalidade dos municípios existentes. Ao contrário dos censos poste-riores, para este ano as listas manuscritas nominativas encontram-se disponíveis para a maioria das locali-dades. [...] Portanto, nossa melhor e mais rica fonte sobre idade, sexo, origem, distribuição entre proprie-tários e ocupação da população escrava, desta impor-tante província do Império brasileiro, provém de um período relativamente inicial na fase de consolidação do complexo cafeeiro-escravista (LUNA & KLEIN, 1990, p. 351)

Além destas pesquisas que privilegiam as listas nominativas, buscaremos outras que porventura utili-zam fontes documentais, tais como, inventários post-mortem, registros paroquiais, listas de matrículas de escravos, entre outras, e que tratam do ano proposto. Contudo, é necessário certo cuidado já que cada docu-mentação apresenta características próprias, o que pode causar incoerência em determinadas comparações.

Assim, esse artigo propõe traçar comparação das principais características da força de trabalho escrava e de seus proprietários em diversas localidades da Pro-víncia de São Paulo em 1829, época em que:

O complexo cafeeiro apresentava-se em processo de formação na província, ainda primordialmente produ-tora de açúcar, gêneros alimentícios variados e gado. A produção de café ampliava-se no Vale do Paraíba, mas o açúcar permanecia como a principal cultura agrí-cola de São Paulo, província importante na produção açucareira, porém não seu principal produtor nacional (LUNA & KLEIN, 1990, p. 352).

O estudo de população através dos censos ou dos Registros Paroquiais, em sociedades em formação e com crescimento populacional intenso, enfrenta al-guns problemas, entre eles a fragmentação territorial e administrativa. A capitania de São Paulo, durante o século XIX, passou por várias reordenações de cunho administrativo e territorial que precisa ser considera-do. Bananal, por exemplo, fazia parte das 5ª e 6ª Com-panhias de Ordenanças da Vila de Areias, por isso quando falamos de Areias estamos incluindo Bananal. Já os dados computados referentes à Franca, não são compatíveis com os da historiografia local, devido a um recorte espacial aqui utilizado, que não inclui Ba-tatais e Casa Branca freguesias da Vila Franca do Im-perador no ano de 1829.

AS ECONOMIAS E A ESCRAVIDÃOO estudo comparativo engloba um universo econô-

mico diversificado, desde áreas com cultivo de produ-tos, como o café e o açúcar, destinados ao mercado ex-terno, a áreas com o cultivo de gêneros de subsistência ou pecuária, comércio, artesanato e serviços - voltadas ao mercado interno. Como os aspectos econômicos são influentes na dinâmica da população das várias regiões estudadas, sua apresentação faz-se necessária para nos-so objetivo de analisar o perfil dos escravos e dos pro-prietários.

Na economia de São Paulo durante 1777 a 1829:A agricultura manteve-se como a atividade eco-

nômica fundamental em São Paulo. Inicialmente, a maioria dos locais estudados baseava sua economia no cultivo de gêneros de subsistência, tal como arroz, mi-lho, feijão, e na pecuária. Estes produtos representavam uma base de auto consumo e a principal fonte de renda para a maioria dos agricultores, pela venda do exceden-te (LUNA, 1992, p. 445).

Contudo, Luna coloca que, por volta de 1829, apesar do cenário agrícola, ocorreram mudanças na paisagem da província de São Paulo com transformações econô-micas significativas. Ocorreu a introdução de produtos destinados à exportação que impulsionaram a economia da Província e transformaram a realidade de muitas lo-calidades: o açúcar e o café.

Esse artigo de Francisco Vidal Luna é referência por seu esforço em realizar uma síntese dos resulta-dos obtidos através do estudo das fontes censitárias para São Paulo. O autor empreendeu um estudo pro-curando analisar as características demográficas dos escravos da Província de São Paulo, a partir das Listas Nominativas dos Habitantes de vinte e cinco diferen-tes localidades nos anos de 1777, 1804 e 1829. Essas localidades distribuem-se pelas várias regiões de São Paulo, e representam, em número e em população, cer-ca de 70% da população de São Paulo. Devido a mo-dificações de cunho administrativo, a criação de novas localidades e/ou segmentação do território, optou por separar São Paulo em cinco regiões geográficas: Oeste Paulista, Litoral, Região da Capital, Caminho do Sul e Vale do Paraíba.

Os estudos aqui privilegiados nos forneceram várias informações para apresentar as características das loca-lidades em análise, que sofrerão variações conforme o tópico analisado.

Luna a partir de seu estudo de 25 localidades de São Paulo apontou o destaque que a Vila de Areias apresentava:

No conjunto das localidades, de um total de 7.286 escravos possuídos de um total de 7.286 por proprie-tários ligados ao café, 4.735 habitavam nessa Vila. Em Lorena, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Jacareí, também no Vale do Paraíba, ocorriam cultivos de café, mas em menor escala. Ademais, em 1829, concentra-

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va o maior contingente de escravos, superando núcleos açucareiros importantes e tradicionais como Itu e Cam-pinas (LUNA, 1995, p. 1).

Por sua expressividade, dedicou à vila um estudo sobre a posse de escravos e atividades econômicas, pu-blicado nos Cadernos N.E.H.D. (Núcleo de Estudos de História Demográfica). Em 1829, Bananal fazia parte da Vila de Areias, e apresentava grande representatividade:

Com a autonomia de Bananal, em 1832, Areias per-deu parte importante do território, da população e da riqueza, pois na área física representativa da nova Vila desenvolvia-se intensa atividade cafeeira. Em 1829, ainda sem a perda do território de Bananal e de Que-luz, residiam em Areias 12.454 habitantes, resultantes de crescimento da população à taxa anual de 5,4%, no período 1817 a 1822, e 5,6 entre 1822 e 1829 (LUNA, 1995, p.1e 2).

Outros estudos para a comparação nos remetem a Franca, na mesma data, com um crescimento demográ-fico bastante pequeno, fato explicável por ser uma re-gião de trânsito apresentando uma alta mobilidade dos moradores. Localizava-se no Noroeste Paulista, limites de São Paulo e Minas Gerais como entreposto comer-cial e local de pouso e abastecimento de viajantes. Con-tudo, por volta de 1812 apresentou uma nova dinâmi-ca demográfica, um crescimento surpreendentemente contínuo, graças essencialmente, ao fluxo migratório dos mineiros. Apresentava uma economia voltada às atividades basicamente rurais - a produção de alimen-tos para subsistência e mercado interno, o comércio de sal e a pecuária - consideradas familiares ou de baixo uso de escravos (FILHO, 1986; OLIVEIRA, 1995; BA-CELLAR & BRIOSHI, 1999).

Entre as regiões que apresentavam uma diversifica-ção na atividade econômica inclui-se a Vila de Soroca-ba, constituindo-se como um importante centro de co-mercialização de gado, além de atividades de comércio e serviços (COSTA, 1986).

Quanto à Itu, na zona central da província, era, juntamente com Campinas, um dos principais cen-tros produtores de açúcar e uma das mais impor-tantes zonas agrícolas da província. Já a cidade de São Paulo era uma economia voltada à produção de gêneros alimentícios e uma economia que se mostra-va mista de cunho urbano-rural. Mogi das Cruzes, situada no extremo sul do Vale do Paraíba, se carac-terizava como uma região agrícola tradicional, com produção variada de gêneros alimentícios, contando ainda com alguma produção de aguardente. (LUNA & KLEIN, 1990, p. 353).

Em Jacareí, localidade também situada no Vale do Paraíba, em São Paulo, verificou-se em 1829 a intro-dução do café em menor escala que a verificada para outras áreas do Vale, como é o caso da Vila de Lorena. Marcondes em seu estudo que privilegia essa Vila entre 1816 e 1842 consegue ir além dos oitocentos graças ao

corpus documental: Maços de População e os inventá-rios post mortem, acompanhando largas etapas da vida de um representativo conjunto de lorenenses. Quanto ao café comenta que:

O grau de aceitação da nova cultura no vale do Para-íba variou de acordo com certas condições: climáticas, edafológicas, de povoamento, de ocupação, de posse e propriedade das terras. As áreas ocupadas mais recen-temente (Areias e Bananal) mostraram uma intensidade cafeeira e populacional, especialmente cativa, superior às de povoamento antigo (Taubaté e Guaratinguetá). Neste quadro, Lorena situava-se numa posição interme-diária, tanto em termos da produção de café como de crescimento demográfico e de concentração da posse cativa (MARCONDES, p. 112).

Além da economia como uma explicação para as variações da demografia, aparece também a própria ocupação dessas regiões no Vale do Paraíba:

As povoações de ocupação mais antiga apresenta-ram taxas de crescimento da população como um todo inferiores às mais recentes. O contingente cativo au-mentou a maiores taxas vis-à-vis os livres em todas as localidades consideradas, à exceção de Bananal entre 1801 e 1817. O segmento livre elevou-se a taxas mui-to pequenas relativamente ao escravo, mas em maiores proporções nas áreas de ocupação mais nova. Por fim, a razão de sexo dos livres manteve-se superior nas re-giões de povoamento mais recente (MARCONDES, p. 62). Analisando Taubaté percebe-se que:

Apesar do seu isolamento dos fluxos de comércio exterior, o município aproximava-se, em múltiplos as-pectos de sua organização econômica e social, do mo-delo da plantation exportadora, formulado por Caio Pra-do Junior. Mesmo não se constituindo numa economia agrário-exportadora, o município pareceu reproduzir a mesma estrutura econômico-social fundada no trabalho escravo e na elevada concentração da propriedade fundi-ária (RANGEL, p. 302).

Esses trabalhos apresentam e analisam dados tanto de economias de plantation como não, o que possibi-lita uma comparação, apesar de se concentrarem nas economias de plantation, pela importância como áreas agroexportadoras.

Em Areias, a população escrava no ano de 1829 era responsável por 44,9% dos habitantes desta vila, mas a presença dos escravos não se restringe a atividades de exportação, mas em localidades com uma vasta gama de atividades produtivas ligadas ao mercado interno. Como podemos observar na tabela 1, mesmo em lo-calidades onde predominavam atividades agrícolas, que é o caso de Franca, havia presença significativa de escravos. Esses achados da demografia histórica contrariam a idéia, comumente expressa na historio-grafia tradicional que áreas que não eram de exporta-ção não pudessem ser exploradas com o uso intenso de trabalho escravo.

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)22

É difícil falar de perfis populacionais levando em conta apenas o aspecto puramente econômico. Guti-érrez, ao analisar a região do Paraná, após encontrar os resultados do estudo, supôs existir não apenas um, mas pelo menos dois sistemas demográficos na popu-lação escrava, um peculiar às áreas de grande lavoura, outro mais próximo das economias não exportadoras (GUTIÉRREZ, 1987, p. 313). Mas tal esquema não se enquadra para o caso da Capitania de São Paulo quando comparamos regiões de economia similares: Franca e Mogi das Cruzes estão entre as economias de subsis-tência e de mercado interno não-exportador. Comparan-do Franca com Mogi das Cruzes percebe-se que Mogi aparece com baixos índices quanto ao percentual no total da população -19,8 % de escravos quanto ao total da população; contudo, o que se nota em Franca, é um porcentual em torno de 37%. Para se ter uma idéia do que representa este percentual, Lorena apresentou um porcentual em torno de 29%, mas para uma economia que apresentava, com início da implantação do café, um perfil exportador. De alguma forma outros fatores influ-íram nos índices diferenciados de Franca. Outro caso que foge a essa regra, entretanto pelo resultado inverso, é Taubaté: se o estudo de Rangel aponta para caracte-rísticas de uma economia de plantation, a sua relação de proporção entre escravos e total da população indica um percentual reduzido -21,5 %.

Não que dizer, no entanto, que se deve descartar o papel da economia, um exemplo é a influência do café no crescimento na população escrava da vila de Areias, ocorrido tanto em extensão, pela incorpora-ção de novos proprietários, como pelo aumento no tamanho dos plantéis.

Em 1829 habitavam na Vila de Areias 5.597 escra-vos, fruto de acelerado processo de crescimento, muito acima do ocorrido entre os livres. Entre 1817 e 1829 a população escrava expandiu-se à taxa anual de 10,4% ao ano, contra 2,9% dos livres (LUNA, 1995, p. 2).

Assim, não se deve pensar a economia como a úni-ca condicionante, mas tomá-la em conjunto com outros

condicionantes sociais. A tabela também nos indica, como outros estudos de demografia escrava mais re-centes têm mostrado, que a composição da população escrava no período sendo também expressiva nas eco-nomias que não se baseiam no sistema de plantation, vai refletir no fluxo do comércio escravo seja para de-terminar a demanda, seja para caracterizar as relações sociais da colônia.

DEMOGRAFIA DA ESCRAVIDÃO• Gênero e idadeA visão da historiografia tradicional apontava que a

população escrava caracterizava-se pelo predomínio do sexo masculino, e que se concentrava na idade produ-tiva. “Os estudos do tráfico comprovam uma constan-te predisposição contra mulheres e crianças” (KLEIN, 1989, p. 14). Contudo, com o avanço da demografia his-tórica constatou-se que tais características não se apli-cavam para todos os períodos e regiões, devem ser visto levando em conta os aspectos econômicos das regiões:

Onde e quando mais fortemente se efetuavam os cultivos de “exportação” (principalmente café e cana-de-açúcar) ampliava-se o peso masculino. Inversa-mente, nas áreas de maior concentração de atividades típicas de agricultura de “subsistência”, ainda que com comercialização de excedentes, caso da pecuária e cul-tivos de arroz, feijão, milho e mandioca, ocorria maior equilíbrio quantitativo entre os sexos, embora raramen-te encontrássemos números próximos a 100 ou maioria feminina (LUNA, 1990, p. 227).

Analisando a tabela 2 percebemos que Areias, Lo-rena, Itu e Jacareí apresentando a razão de masculinida-de em torno de 217, 167, 166 e 155, respectivamente, inserem-se no primeiro caso, de economias voltadas ao mercado externo. Quanto à Franca e Sorocaba, não tinha uma população escrava com equilíbrio entre os sexos, mas não apresentavam um desequilíbrio muito alto, em torno de 135 e 129, respectivamente. E por fim, destaca-se com valores muito próximos a 100, Mogi das Cruzes (com razão de masculinidade de 112,5) e

Tabela 1: População Segundo Condição Social

23Rocha, 2009

São Paulo (com razão de 108,9), Mogi destacando-se a agricultura de subsistência, e São Paulo para as ativi-dades de comércio, artesanato e serviços. Enfim, o que Luna percebe é que:

O tipo de atividade econômica predominante mos-trou uma influência importante da razão de masculini-dade. Dava-se maior peso masculino naquelas áreas de-dicadas ao cultivo de produtos destinados ao mercado externo, como o café e o açúcar. Itu, Jundiaí, Areias, Cunha, Lorena, Jacareí e Guaratinguetá apresentaram tal característica. Nas áreas mais intensamente dedica-das ao cultivo de gêneros de subsistência ou pecuária (Curitiba, São Sebastião, Iguape e Mogi das Cruzes) ou ao comércio, artesanato e serviços (São Paulo) manti-nha-se relativo equilíbrio quantitativo entre os sexos, embora com leve maioria masculina, exceto em Curiti-ba, única localidade onde encontrou-se peso majoritário feminino (Tabela 1) (LUNA, 1988, p.216).

O estudo de Luna que divide a província de São Pau-lo em cinco regiões geográficas - Oeste Paulista, Litoral, Região da Capital, Caminho do Sul e Vale do Paraíba - também apresenta um resultado geral neste sentido:

O relativo equilíbrio demográfico existente na po-pulação escrava da Capitania sofreu forte influência pela introdução de novos escravos adultos africanos. Ampliou-se a razão de masculinidade, principalmen-te nas áreas dedicadas aos cultivos de exportação (LUNA, 1992, p. 453).

Com relação ao predomínio dos homens na popu-lação escrava, é interessante anotar que vários estudos indicam um maior número de alforrias entre mulheres, gênero com maior mobilidade social, o que interfere na razão de masculinidade.

O tratamento dispensado às idades nas fontes do-cumentais concernentes ao Brasil Colônia e ao período monárquico apresenta-se com muitos problemas que devem ser lembrados e que já mereceram estudos.

Nas listas nominativas, não é possível distinguir as informações – inclusive idades – imputadas pelos re-censeadores das fornecidas diretamente pelos chefes de

fogos ou pelas pessoas que neles residiam. Parece-nos provável uma forte interferência dos responsáveis pela coleta e organização dos dados, aos quais as autoridades da coroa recomendaram explicitamente, em documento atribuído a 1781 e intitulado Advertência: ‘Declarar as idades de cada uni (...), e a não se poderem dizer certas (como as dos pretos da Costa e Angola) sempre se po-nham segundo mostrarem provavelmente ter de sorte que por estas idades se possam cá distinguir as determinadas classes de infantes, meninos, moços, adultos e velhos de ambos os sexos (COSTA & NOZOE, 1992, p. 177).

Essas listas podem não ter sido elaborada a partir de coleta original de dados, sofrendo uma simples atuali-zação de levantamentos anteriores. No caso de Bananal, Motta esclarece:

Quanto à documentação relativa ao último dos anos referidos, 1829, cabe uma observação adicional, a qual diz respeito à possibilidade de que os levantamentos censitários compulsados, tanto no caso da 5ª como no da 6ª Cias. De Ordenanças da Vila de areias, contenham apenas uma atualização das informações constantes das listas nominativas concernentes ao ano anterior. Essa possibilidade vê-se corroborada quando se computam as freqüências das idades atribuídas aos habitantes de Bananal. Verifica-se que as freqüências mais elevadas correspondem às idade terminadas em 1 ou 6, reve-lando, pois, uma concentração deslocada em um ano – para mais – com relação ao esperado em se tratando de idades atribuídas de forma o mais das vezes presumida (MOTTA, 1999, p. 110).

De início podemos perceber pela tabela 3 e pelo grá-fico que o tipo de economia, plantation ou subsistência, para as regiões analisadas, não interfere na duração da vida dos escravos, pois na faixa de cinqüenta ou mais anos em todas as localidades há um percentual próximo.

Em Jacareí: “Verifica-se, para os dois sexos, redu-zida participação dos indivíduos na faixa etária de até nove anos e a concentração nas duas faixas seguintes, 10-19 e 20-29. No caso dos homens, nessas duas faixas computaram-se cativos que perfaziam 65,3% do total”

Tabela 2: População Escrava Segundo Sexo e Razão de Masculinidade

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)24

(LUNA, 1988, p. 26). Já em Sorocaba percebemos que em torno de 30% da população cativa se encontrava en-tre as idades de 0 a 14 anos; 69% na faixa produtiva de 15 a 64 anos e, apenas 1% na categoria dos idosos (COSTA, 1986, p. 05).

Para uma visão de conjunto da estrutura etária da população escrava de Franca utilizam-se as pirâmi-des de idade (Figura 1). Em 1829, as bases das pi-râmides não são muito largas, o que indica que não há uma alta natalidade nesse período. No entanto, o percentual total de 34,8% em 1829, é muito próximo para o encontrado para o Oeste Mineiro, com 30,7% e Paracatu, com 32,3%.

Embora não seja possível determinar se estas crian-ças nasceram de uniões entre crioulos, africanos ou crioulos e africanos, tais proporções são indicativas de padrões de reprodução que estariam ao menos contri-buindo para a manutenção da população escrava como um todo (PAIVA & LIBBY, p. 218, 1995).

A pirâmide apresenta barras com extensões simila-res para cada lado exibindo equilíbrio entre os sexos nas primeiras idades. O que merece destaque são a largura e extensão para o lado dos homens nas faixas produti-vas, que pode tratar-se de escravos adquiridos via tráfi-co interno. Esta característica de relativa concentração da população escrava nas faixas produtivas é típica das economias de plantation, o que, entretanto, não é carac-terizada em Franca. Esta questão resvala na análise his-toriográfica da economia em Franca sem uma resposta segura em comparação com as outras localidades.

Comparando as pirâmides de Franca com as do Pa-raná, é nítida a diferença. Observando as pirâmides do Paraná percebe-se que:

O perfil das pirâmides imita a forma de um triângu-lo, o que em populações fechadas indicaria a existência de alta natalidade, alta mortalidade e baixa idade me-diana da população. Em segundo lugar, ressalta o equi-líbrio entre os sexos que se pode verificar pela extensão das barras das pirâmides em magnitudes similares para cada lado ao nível de cada faixa etária. Ainda uma ter-ceira característica salta à vista: a regularidade dos de-graus das pirâmides como se tratasse de uma população estabilizada, sem fomes, sem epidemias ou importações diferenciais maciças de escravos que se refletiram em

reentrâncias ou saliências em algumas faixas de idade (GUTIÉRREZ, 1987, p. 308).

Para Areias, que não se encontra na tabela 3 – devi-do à ausência de apresentação de dados referentes à es-trutura etária – Luna observa apresenta questão da ida-de unicamente em forma de pirâmide etária concluindo que as estruturas etárias dessa Vila eram desequilibra-das, apresentando predominância dos homens em todas as idades, concentração nas faixas etárias representa-tivas da maior capacidade produtiva dos indivíduos e reduzida participação das crianças e das pessoas acima dos quarenta anos. (LUNA, 1995, p. 19).

A participação dos escravos por idade e origem per-mite aprofundar o tema. Tomem-se as pirâmides etárias referentes a 1829. A dos africanos mostra uma popu-lação totalmente desequilibrada, ‘envelhecida’, poucas crianças e grande concentração na faixa etária de 15 a 34 anos. Ademais, quanto ao sexo, evidencia-se presen-ça majoritária dos homens em todas as idades. Quanto aos nascidos no Brasil, verifica-se estrutura relativa-mente equilibrada quanto à idade e ao sexo. Entretanto, estas pirâmides, nas quais se mostram as populações africanas e nascidas no Brasil separadas, apresentam distorções resultantes do fato de que as crianças nasci-das no Brasil, tanto de pais nacionais como africanos, tanto na pirâmide correspondente aos africanos como aos nascidos no Brasil. Isso gerava problemas tanto na pirâmide correspondente aos africanos como aos nas-cidos no Brasil. Nesta pelo aumento no peso relativo das crianças, quando comparadas aos adultos da mesma pirâmide; naquela pela subestimação da real reprodu-ção da população escrava africana existente na Vila. No caso das crianças africanas, representavam as nascidas na África e trazida para o Brasil via tráfico. Constituem um importante indicador da proporção de crianças nos navios negreiros e não da reprodução da população na Vila em estudo (LUNA, 1995, p. 20).

Ainda do ponto de vista da razão de masculinida-de, torna-se possível também relaciona-la com as faixas etárias da população escrava.

Como entre os escravos importados de outras áreas do Brasil ou da África predominavam homens adultos, provavelmente uma grande parte das crianças existentes na região refletia o processo reprodutivo da população

Tabela 3: Distribuição porcentual da estrutura etária dos escravos

25Rocha, 2009

escrava na própria Capitania. Desse modo, nesse grupo etário verificava-se uma estrutura equilibrada relativa-mente aos sexos (LUNA, 1992, p. 448).

Através da figura 2, que focaliza a razão de mascu-linidade com relação às faixas etárias, constata-se que o resultado repete-se para o caso de Franca. Percebe-se que os escravos de 0-9 anos apresentaram razões de masculinidade menores que 100, indicando uma maior mortalidade infantil dos homens. Em estudo que analisa os registros paroquiais identificou-se maior número de mortes, para todas as faixas etárias, no sexo masculino em Franca (AISSAR, 1986, p. 117).

Ainda referindo-se à figura 2, na faixa referente aos idosos, devido ao escasso número da população, não se permitem conclusões taxativas. Tratando-se da idade produtiva, o que se observa é que com o aumento da idade a razão de masculinidade eleva-se, apresentando oscilações nas curvas para os anos em análise. Sabe-se que, “á medida que aumentava a idade dos escra-

vos ampliava-se a influência dos escravos adquiridos fora da região e, portanto, a razão de masculinidade” (LUNA, 1992, p. 448).

Infelizmente as Listas Nominativas não associam em seu registro as mães e filhos da população escrava, o que impede um estudo mais detalhado e uma possível associação de crianças e mulheres da mesma origem, já que as crianças nascidas no Brasil eram registradas como crioulas, mesmo que seus pais fossem africanos. Assim, diante dessa dificuldade, não se pode distinguir a reprodução por origem, o que seria interessante, pois parte das africanas já haviam passado por parte do perí-odo fértil e as crioulas se encontravam em normalidade quanto à estrutura etária, demonstrando melhores con-dições para se reproduzir. Mesmo assim, calcula-se a relação entre as crianças de 0 a 4 anos e as mulheres na faixa etária de 15 a 49 anos para procurar compreender o processo de reprodução da população escrava como um todo, sabendo das limitações desse índice.

Figura 1: Pirâmides de idades da população escrava em Franca (SP), 1829

Figura 2: Faixas etárias e razão de masculinidade dos escravos em Franca (SP) nos anos de 1824 e 1829

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)26

A tabela 4 sugere dificuldades com relação à repro-dução natural da população escrava em Franca. O va-lor de 415 da relação crianças e mulheres em Franca não se assemelha ao do encontrado em São Paulo, que apresentou em 1829 uma proporção de 270 crianças es-cravas na faixa de 0 a 4 anos para cada grupo de 1.000 escravas entre 15 a 49 anos, (LUNA & KLEIN, 1990, p. 359; LUNA, 1992, p. 450).

Em 1829, as vilas com maiores indicadores crian-ças/mulheres dedicavam-se à agricultura de subsis-tência, como Pindamonhangaba, Itapeva, Atibaia, São Luiz do Paraitinga e Iguape, com níveis superiores a 500 na relação crianças 0-4 anos/mulheres de 15-44. O extremo oposto ocorria nas áreas produtoras de açúcar e café: Guaratinguetá (227), Campinas (277), Itu (287), Porto Feliz (315) e Areias (378), e em localidades vol-tadas a atividades não agrícolas, como São Paulo (281) e Santos (232) (LUNA, 1992, p. 450).

• Estado ConjugalUm aspecto minuciosamente examinado nos estu-

dos de demografia histórica antes ignorado pela histo-riografia tradicional refere-se à situação matrimonial dos escravos. A explicação dos índices de casamento inclui uma série de elementos, tais como a atuação da Igreja em cada comunidade, o posicionamento do pro-prietário, o comportamento (hábitos e costumes) dos escravos, o tamanho e a composição do plantel, bem como a economia. Tal complexidade dificulta o traba-lho do historiador que trabalha com uma única fonte.

O exame mais detalhado do estado conjugal através da historiografia possui lacunas quando se relaciona à posse de escravos, pois muitos desses estudos privilegiam como fonte, os inventários, que não apresentam respostas consistentes para tal finalidade. Os inventários só indicam as posses de escravos dos proprietários que foram submetidos a inventários, o que não corresponde a um percentual seguro das relações de posse de escravos. Nas listas nominativas encontram-se informações sobre o esta-do conjugal, no entanto o que fica prejudicado são os estudos sobre as famílias escravas.

Fogem ao âmbito de um estudo como essas catego-rias relevantes para a análise em questão, tais como os filhos legítimos vivendo junto com seus pais (ou com pelo menos um deles), bem como os solteiros em vivên-cia com sua prole (MOTTA, 1999, p. 242).

Não sendo explícito o registro das famílias escravas nas listas nominativas utilizadas, temos aparecimento de homens, de mulheres e de crianças nos plantéis, mas não podemos dizer que estabelecem alguma relação fa-miliar, já essas relações não dependiam necessariamen-te da realização do ato religioso. No caso de Lorena e Bananal, esse estudo pôde ser empreendido devido à especificidade das informações das listas nominativas quanto à discriminação clara e explícita das famílias escravas (COSTA, SLENES & SCHWARTZ, 1987; MOTTA, 1999).

Ao se proceder à análise do estado conjugal, compre-ende-se que não representa o estudo da família escrava.

Isto porque seriam computados entre os ‘demais solteiros’, por exemplo: os casais em vivência consen-sual, sem filhos; e aqueles indivíduos que, tendo des-frutado da vida em família consensual, encontravam-se sós à época do recenseamento, devido à morte ou ausência do companheiro ou companheira, e à ausên-cia ou inexistência de descendência, incluindo-se aqui situação equivalente à dos viúvos sem filhos presentes (MOTTA, 1999, p.313).

Verifica-se em São Paulo a diferenciação nos resul-tados do estado conjugal da população escrava de acor-do com a economia local e com a média dos escravos por proprietário.

Os menores porcentuais ocorreram nas áreas vol-tadas aos cultivos de subsistência, com baixas médias de escravos por proprietário, como a Região da Capital (23,3% de casados) e o Litoral (18,9%). O oposto ocor-ria no Oeste Paulista, centro produtor de açúcar, com 34,6% (LUNA, 1992, p. 449).

Apesar do forte predomínio dos solteiros entre os escravos, não foi desprezível a participação dos casados e viúvos, tendo em vista as tendências apontadas pela historiografia. Em Franca o porcentual de casados e vi-úvos para 1829, 24,2%, valores próximos encontrados em Areias, com 21,8.

Observando os dados do estado conjugal, relacio-nados aos do sexo, percebe-se que a população escrava era basicamente solteira em ambos os sexos como re-gistra a tabela 5.

Entre os cativos de Jacareí, Luna calculou que coube aos casados o peso de 20,2% no total da popula-ção, sendo divididos esses casados também por sexo, os escravos distribuíam-se em 25,5% das mulheres e em 16,7% dos homens; e sendo divididos por origem percebeu que 11,7 dos nascidos no Brasil eram casados e para os africanos - que compunham um segmento re-lativamente mais velho - 25,2% constituíam-se de casa-dos (LUNA, 1988, p. 26).

Tabela 4: Relação crianças/mulheres na população escra-va (crianças de 0-4 anos por mil mulheres de 15-49 anos)

27Rocha, 2009

• Origem A análise da origem contempla indicações referen-

tes às diferenças entre os dois segmentos populacionais, os africanos e os nascidos no Brasil (os crioulos), quan-to à razão de masculinidade, o estado conjugal e a faixa etária. Além disso, informa-nos o papel do tráfico e das importações de africanos, meio tráfico.

Jacareí apresentou uma participação de africanos em torno de 62% e 37% de pessoas nascidas no Bra-sil (Tabela 6), diante dessa predominância de afri-canos pode-se concluir que: “O afluxo de africanos modificou a estrutura etária e a proporção existente entre os sexos. Ao ingressarem na sua maioria ho-mens em idade produtiva, ampliou-se o peso mas-culino e reduziu-se o das crianças. Merece realce o expressivo número de escravos casados, quer entre

os africanos como em relação aos nascidos no Bra-sil, a confirmar resultados que têm sido obtidos em trabalhos que tratam da família escrava na sociedade colonial brasileira (LUNA, 1988, p. 27)”.

É clara a vinculação da presença de africanos em economias de plantation, Luna analisando 13 loca-lidades de São Paulo comenta que: “os nascidos no Brasil revelaram uma estrutura populacional, quando dividida por sexo e idade, relativamente semelhan-te àquela apresentada pela própria população livre então existente no Brasil. O contingente de africa-nos, por outro lado, constituía uma população com elevado peso de homens adultos, a refletir o tipo de indivíduo trazido da África para o Brasil na condi-ção de escravo. Havia claramente a opção por pesso-as aptas ao trabalho pesado da agricultura, ou seja,

Tabela 5: Distribuição dos Escravos Segundo Sexo e Estado Conjugal (Escravos com 15 anos e +)

Tabela 6: Distribuição dos escravos segundo a origem

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)28

homens já formados fisicamente. Isso não significa a exclusão absoluta de mulheres ou crianças, mas seu reduzido peso entre os africanos, se comparado aos nascidos no Brasil. Essa preferência por homens adultos, somada ao fato de que apenas nas áreas dedicadas aos cultivos de exportação adquiriam-se de fora quantidades importantes de novos escravos, explica as diferenças encontradas entre as localida-des com essa característica e aquelas cuja economia voltava-se de forma mais intensa aos produtos de subsistência, e cuja população escrava mostrava-se em sua maioria nascida no Brasil, provavelmente na própria região do respectivo recenseamento (LUNA, 1988, p. 222)”.

Contudo, viu-se abalada essa visão ao detec-tarmos, para o caso de Franca, um porcentual em torno de 40% de africanos entre a população cativa (Tabela 6). Franca, como colocado, enquadrava-se entre as economias voltadas ao mercado interno, assim como verificado em Mogi das Cruzes, onde o porcentual de africanos ficou entre 13% (Tabela 6). Quanto essa caracterização dos escravos pela origem, percebe-se que, por exemplo, com relação à Sorocaba, os dados referentes à origem mostraram-se pouco conclusivos, devido a não especificação dessa característica, em torno de 84%, em Mogi das Cruzes também ocorreu esse problema, embora um pouco menos acentuado, cerca de 60% dos escravos não constavam indicação de sua origem. Para as ou-tras localidades esse problema não parece ter sido um empecilho para a análise.

CONCLUSÃOA escravidão foi marcada por múltiplos fatores,

alguns peculiares à região e outros que não diver-giam para as regiões brasileiras. Esses resultados deram-se diante de muitos estudos monográficos, impulsionados pelo desenvolvimento da demogra-fia histórica. Assim, considera-se importante os indicativos obtidos através do diálogo de estudos e dados retirados das listas nominativas, que esta-beleceram as diferenças das diversas localidades da província de São Paulo, principalmente para o ano de 1829, época marcada por transformações significativas na sociedade e na economia. Por conta da dificuldade de coincidir as referências destacamos Franca nas comparações.

Dentre os fatores peculiares, destaca-se uma elevada presença escrava no total da população em uma economia voltada para o mercado interno, no caso Franca. Comparando o perfil dos escravos nas localidades paulistas selecionadas, também para o caso de Franca verificou diferenciação sig-nificativa. Analisando a origem destacou-se que alto índice de africanos entre a população cativa francana.

Para apontar as principais diferenciações entre as localidades o fator preponderante foi a distin-ção entre as localidades de economia de plantation e as localidades de economia de subsistência, no entanto esta distinção clássica, como se observou para Mogi das Cruzes e Franca, não é possível utilizar esta referência para distinguir com segu-rança as localidades e suas populações escravas.

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31Ciência et Praxis v. 2, n. 3, (2009)

Recuperação de uma área degradada por erosão e disposição de resíduos sólidos na comunidade de Guardinha - município de São Sebastião do Paraíso (MG)

Márcio Vieira Nobre1; Eduardo Goulart Collares2

Resumo: O objetivo do trabalho foi apresentar e executar uma proposta de recomposição de área impactada por processo erosivo e disposição inadequada de resíduos sólidos em uma pequena comunidade rural no município de São Sebastião do Paraíso (MG). O trabalho envolveu o uso de técnicas de bioengenharia de baixo custo e foi apre-sentado como parte de um projeto maior, o Programa de Gestão Participativa de Resíduos Sólidos em Pequenas Comunidades, proposto pela Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP), unidade agregada a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Os resultados obtidos demonstram de forma qualitativa a recuperação da área da área degradada.Palavras-chave: Recomposição natural do terreno; bioengenharia; lixão.

1Discente do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (FESP|UEMG)2Professor Adjunto da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG); Email: [email protected]

INTRODUÇÃOAs cidades brasileiras, em sua maioria, ainda prati-

cam a deposição dos resíduos sólidos em lixões, ou seja, joga-se o lixo em um terreno a “céu aberto” de modo a comprometer a qualidade ambiental e de vida de muitas populações. A disposição de lixo de forma inadequada potencializa a contaminação das águas e solos no local e adjacências dos lixões, além de condicionar a prolife-ração de vetores causadores de doenças e atrair animais. A movimentação de pessoas e máquinas e a ocorrência de queimadas geram impactos negativos sobre a flora e a fauna silvestre. Além disso, pode haver a presença de catadores que exercem a sua atividade nestas condições completamente insalubres.

As áreas destinadas à disposição inadequada de resíduos sólidos, sobretudo nas cidades de me-nor porte e nas pequenas comunidades rurais, são abandonadas quando finda a sua vida útil sem que haja qualquer iniciativa de recuperação ambiental. A partir daí, novas áreas são escolhidas novamente, sem observar critérios técnicos como características geológico-geotécnicas dos terrenos, declividade, distância dos cursos de água, distância do centro urbano, etc. Um exemplo típico foi o que ocorreu em Guardinha, distrito de São Sebastião do Paraíso (MG), onde os resíduos gerados pela comunidade foram dispostos em uma voçoroca.

Com o intuito de contribuir para minimizar os pro-blemas decorrentes da disposição inadequada de resí-

duos sólidos em Guardinha foi proposto um projeto, por meio da parceria entre a Prefeitura Municipal de São Sebastião do Paraíso e a Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG). O projeto, além das especi-ficidades aqui expostas, contemplou um programa de gestão participativa de resíduos sólidos e a inserção so-cial dos catadores através da implantação de um progra-ma de coleta seletiva, cuja descrição pode ser verificada em Soares e Collares (2007) e Collares et al. (2007).

O artigo ora apresentado descreve os critérios ado-tados para a remoção dos resíduos irregularmente dis-postos e a recomposição da voçoroca que abrigava estes resíduos no distrito de Guardinha, município de São Se-bastião do Paraíso (MG). Dentre os critérios adotados estão: remoção da massa de lixo da voçoroca e limpeza do terreno; disposição e aterramento dos resíduos em local adequado; construção de terraços para contenção de águas pluviais; estabilização da voçoroca; isolamen-to do local e revegetação da área.

IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Fogliatti et al. (2004) definem impacto ambiental como qualquer alteração das propriedades físicas, quí-micas e/ou biológicas do meio ambiente, provocada direta ou indiretamente por atividades humanas que podem afetar a saúde, a segurança e/ou a qualidade dos recursos naturais. Quando os impactos são negativos, podem conduzir à degradação ambiental.

Abstract: The objective of this paper was to present and carry out a proposal of re-composition of an area im-pacted by erosive process and disposal of inadequate solid waste in a small rural community in São Sebastião do Paraíso (MG). The work was performed with the use of low-cost bio-engineering techniques and was presented as part of a larger project, the Program of Participative Management of Solid Waste in Small Communities, proposed by the Institution of Higher Learning of Passos (Fundação de Ensino Superior de Passos – FESP), aggregated unit of University of Minas Gerais State (Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG). The results obtained showed qualitatively the recovering of the degraded area.Keywords: Natural land re-composition; bio-engineering; landfill.

Recovering of a degraded area made by erosion and disposal of solid waste in the community of Guardinha – in the municipality of São Sebastião do Paraíso (MG)

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)32

A degradação refere-se a qualquer estado de alte-ração de um ambiente e a qualquer tipo de ambiente. Assim como a poluição se manifesta a partir de certo patamar, também a degradação pode ser percebida em diferentes graus (SÁNCHEZ, 2006). Envolve o com-prometimento dos potenciais recursos renováveis por uma combinação de processos naturais e/ou antrópicos, que age no local. Araújo et al. (2005) consideram que tal comprometimento, levando ao abandono da terra, pode ser por processos naturais, tais como: o resseca-mento do clima atmosférico, processos naturais de ero-são, alguns outros de formação do solo ou uma invasão natural de plantas ou animais nocivos ou por ações an-trópicas, diretamente sobre o terreno, como no caso das poluições.

A degradação ambiental pode ser causada por vários fatores, dentre eles o acúmulo de resíduos líquidos e só-lidos no meio, que pode levar à contaminação da água, do ar, do solo e dos alimentos que, consequentemente, tornam-se veículos de moléstias (CARVALHO e OLI-VEIRA, 2004). Os autores tratam o acúmulo de resídu-os como poluição ambiental, envolvendo os seguintes agentes poluentes:

• Gases nocivos, lançados na atmosfera por veí-culos automotivos, queimadas ou chaminés de indústrias;

• Resíduos químicos lançados na água de córre-gos, rios, lagos e mares, provenientes de esgo-tos ou cargas de navios;

• Resíduos líquidos contaminados, provenientes de lixões, aterros sanitários, hospitais, que des-troem as reservas de águas subterrâneas;

• Lixo que se espalham pelas ruas, margens de rios e praias;

• Barulho excessivo nas cidades etc.

METODOLOGIAA área onde ocorreu a intervenção objeto deste tra-

balho é de propriedade particular e situa-se na zona rural de Guardinha, a 2 km do centro urbano (antigo lixão), na estrada que leva ao Morro da Mesa, ponto tu-rístico da região. A área de 1.200 m2, caracterizada pela presença de uma voçoroca, recebeu os resíduos sólidos gerados no distrito entre os anos de 1996 e 2006.

• Caracterização da situação encontradaA comunidade de Guardinha é formada por uma po-

pulação que vive diretamente ligada ao campo. Muitos são trabalhadores rurais que desenvolvem atividades como a produção de café e leite. Grande parte desses trabalhadores permanece no distrito somente no perí-odo noturno. Existe ainda um setor comercial formado por mercadinhos, açougues, posto de combustíveis e algumas lojas de confecções.

A coleta dos resíduos sólidos gerados, no início do projeto, já era realizada pela Prefeitura Municipal de

São Sebastião do Paraíso. Havia uma equipe respon-sável pela limpeza pública formada por cinco pessoas que, com o apoio de um trator e uma carreta, percor-riam a área urbana recolhendo lixo, entulhos, galhos de árvores, dentre outros. Os resíduos eram destinados a uma área vizinha, de propriedade particular, que com o acúmulo de materiais transformou-se em um lixão.

Por não existir uma coleta diferenciada, muito ma-terial passível de reciclagem era destinado ao lixão, o que atraiu famílias de moradores que retiravam o seu sustento da catação e venda desses materiais. Esses ca-tadores trabalhavam em condições insalubres, pondo em risco até mesmo as crianças que os acompanhavam nos trabalhos de catação (Figura 1).

A área foi usada para disposição dos resíduos só-lidos urbanos durante uma década, com acúmulo esti-mado de 950 toneladas de lixo. Para a estimativa do volume de resíduos do lixão, foi considerada a quanti-dade recolhida atualmente pela limpeza pública. Como o distrito não dispunha de coleta seletiva, todo o ma-terial recolhido pela prefeitura era depositado na área do lixão que recebia, também, entulhos de construção e demolições. A maior parte do material era lançada no vale existente na área, conforme ilustrado pela Figura 2. O resíduo estava distribuído entre a crista do vale e a drenagem de fundo por uma extensão de 35 m e altura de 6 m. A outra parte encontrava-se espalhada na parte plana da área.

Antes das intervenções de recuperação da área, foi implementado um sistema de coleta seletiva no meio urbano com participação dos catadores que antes reti-ravam seus materiais do lixão. Para a coleta seletiva, foram disponibilizados aos catadores carrinhos para o transporte dos materiais e coletores foram distribuídos em pontos estratégicos da comunidade.

REMOÇÃO E REDISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS EM LOCAL APROPRIADO O primeiro passo para a readequação da área

foi a remoção dos resíduos da voçoroca e a sua efetiva redisposição em um local com propriedades fisiográfi-cas adequadas. A escolha pela deposição em trincheira aberta na região do lixão viabilizou o projeto, pois o transporte do material recolhido para o aterro em São Sebastião do Paraíso, que seria uma alternativa, tornaria o trabalho oneroso.

A trincheira foi construída à montante da área do lixão, a uma distância de 30 m, em área de pasta-gem, o que evitou a retirada de vegetação nativa, exceto algumas espécies herbáceas e arbustivas. Foi retirada uma camada superficial, com espessura de 20 cm, para posterior utilização no recobrimento final da vala. Essa porção de solo é rica em material orgânico e nutrientes necessários à recomposição da vegetação. O local es-colhido está fora da linha de drenagem pluvial, o que minimiza os riscos de erosão (Figura 3a).

33Nobre e Collares, 2009

Com 30 m de comprimento, 5 m de largura e 2,5 m na porção de maior altura, a trincheira foi cons-truída por um trator do tipo esteira, Fiatallis AD7B, da Prefeitura Municipal durante 40 h de operação (Figura 3b). O solo retirado da vala, a princípio, foi armazenado na porção inferior da área. Posteriormente, este solo foi misturado ao lixo durante a deposição, além de ter sido utilizado no recobrimento final. O trabalho de imper-meabilização de fundo foi feito por meio de compacta-ção de solo.

Para a remoção dos resíduos da voçoroca foi utiliza-da uma máquina do tipo pá-carregadeira, um trator de esteiras e dois caminhões basculantes cedidos pela pre-feitura municipal (Figura 4a). O lixo espalhado na parte superior da área foi reunido em leiras. Para a retirada do material disposto no vale, foi necessária a abertura de um caminho que possibilitasse a entrada das máquinas, facilitando o trabalho de carregamento dos caminhões. Devido à altura e instabilidade do terreno, parte do lixo foi retirada da crista do talude manualmente. O lixo foi depositado na trincheira juntamente com solo numa proporção de 4/1, sendo 4 caminhões de resíduos para 1 caminhão de solo. Ressalta-se que o lixo apresentava quantidade considerável de solo devido ao alto grau de degradação em que se encontrava. O material foi mis-turado e compactado pelo trator de esteiras em camadas de 0,30 m de altura entre cada processo de compactação (Figura 4b).

Para a camada final, foi utilizado somente solo, numa espessura de 0,70 m que, após compactado, recebeu a cobertura final de solo rico em matéria vege-tal que havia sido reservado anteriormente.

ESTABILIZAÇÃO DA VOÇOROCAUm remodelamento dos taludes e das áreas adja-

centes foi necessária para se evitar a continuidade do processo erosivo responsável pela formação da voço-roca. Nesta etapa, foi feita uma correção no terreno e construído dois terraços. O primeiro terraço, construído na cabeceira da voçoroca, para desviar a enxurrada e o segundo, construído no fundo da voçoroca, para reter os sedimentos desprendidos do talude contribuindo para o aterramento natural do vale (Figuras 4cd).

Como medida de contenção dos taludes, foi adqui-rida uma biomanta, material industrializado cuja apli-cação minimiza a desagregação do solo pelo vento e pela chuva, além de dar sustentabilidade às sementes lançadas. A biomanta foi doada por uma empresa pri-vada que desenvolve trabalhos de recuperação de áreas degradadas e estabilização de encostas.

RESULTADOS• Recomposição da vala utilizada para a

disposição de resíduosA trincheira construída para disposição dos resídu-

os foi dimensionada de acordo com a quantidade de

Figura 01: Permanência de crianças no lixão de Guardi-nha, município de São Sebastião do Paraíso (MG)

Figura 02: Disposição inadequada de resíduos no lixão de Guardinha, município de São Sebastião do Paraíso (MG)

(a) (b)

FIGURA 3: (a) Área escolhida para construção da trincheira; (b) Construção da vala.

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)34

material encontrada no lixão e recebeu, inclusive, os resíduos misturados ao solo e em avançado estágio de decomposição, conforme mostra a Figura 5a. Este solo foi adicionado aos resíduos por meio de aterramentos causados, principalmente, pelo deslizamento de massa das paredes da voçoroca e pelo acúmulo de material li-xiviado da estrada que liga ao lixão. O terreno arenoso facilitou o desprendimento de solo.

No intuito de otimizar o acondicionamento dos resí-duos sólidos na trincheira e aumentar a sua capacidade, procedeu-se a compactação dos materiais. Nesta etapa foi utilizada máquina de esteiras, o que permitiu um aumento significativo na capacidade da vala. O movi-mento dos caminhões na ocasião do descarregamento de lixo e solo de cobertura contribuiu na compactação. A Figura 5b ilustra o armazenamento de resíduos reco-bertos por solo compactado.

O substrato, rico em material orgânico, usado na cobertura da trincheira, permitiu possibilitou a revege-tação, principalmente de gramíneas, conferindo estabi-lização e proteção contra processos erosivos. A revege-tação apresentou, também, melhorias no aspecto visual, sobretudo por ser uma região onde ocorrem campos de pastagens e capões de mata nativa. A Figuras 6 mostra

o encerramento da trincheira com solo orgânico (a) e, posteriormente, a área já revegetada (b).

• Recomposição da área do lixãoA área serviu como local de disposição do resíduo

recolhido no perímetro urbano (domiciliar, dos servi-ços de limpeza pública e dos serviços de saúde) duran-te aproximadamente 10 anos. O lixo era disposto em uma voçoroca a céu aberto e, geralmente, queimado. Em consequência do acúmulo de material, o trator com carreta usada na limpeza urbana ficou impedido de des-carregar o lixo na vala, o que se tornou necessário à disposição em uma área vizinha.

Com a implantação do programa de coleta seletiva, através da gestão participativa de resíduos sólidos, o lixo gerado no distrito de Guardinha passou a ser des-tinado ao aterro localizado na sede do município o que possibilitou o encerramento das atividades no lixão.

A limpeza do local, através da retirada e destina-ção dos resíduos à trincheira, somada a ocorrências de chuvas, permitiu uma elevada revegetação natu-ral por espécies existentes na região. O substrato da cobertura final da área de interesse apresenta carac-terísticas físicas e químicas que contribuíram para o

FIGURAS 4: (a) Retirada dos resíduos da voçoroca; (b) Compactação dos resíduos na vala; (c) Vista da área com terraço ao fundo; (d) Terraço para desvio de enxurrada.

(a) (b)

(c) (d)

35Nobre e Collares, 2009

processo natural de revegetação. As sementes são de espécies que sobreviveram à pressão causada pela disposição dos resíduos e às intervenções necessá-rias a adequação da área (Figuras 6ab).

Os problemas causados pela erosão foram ate-nuados pelos terraços que desviaram as enxurradas. O outro terraço, construído no fundo do vale, vem possibilitando o acúmulo do material carreado no interior da voçoroca.

A área foi povoada por espécies oleaginosas e de gramíneas exóticas que apresentaram rápido crescimen-to. Contudo, ocorrem na vizinhança capões de mata na-tiva com representantes de famílias de árvores e arbus-tos. Estes estão representados por indivíduos isolados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho de recuperação da área degradada pela

disposição de lixo esteve vinculado ao projeto de gestão participativa de resíduos sólidos de Guardi-nha, proposto pela FESP|UEMG em parceria com a prefeitura municipal. O projeto foi iniciado em 2004 e a sua implantação possibilitou a inserção social dos catadores que antes viviam da catação de mate-riais no lixão através do programa de coleta seletiva porta-a-porta. A importância dos catadores é, atual-mente, reconhecida pelos moradores que retribuem separando seus resíduos para a coleta seletiva.

Na recuperação da área do lixão foram adotadas téc-nicas que minimizaram os custos como a construção da trincheira para a disposição dos resíduos na região do lixão, diminuindo as despesas com transportes, o uso de mão-de-obra e maquinário da própria prefeitura etc.

As intervenções para a recuperação da área degrada-da coincidiram com o início do período chuvoso, mar-cado por chuvas intensas. Esse fenômeno impossibili-tou a movimentação de pessoal e maquinário na ocasião do fechamento do projeto e inviabilizou a aplicação da biomanta e semeadura. Com isso, esta etapa ficaria para um período de chuvas amenas.

Em virtude da elevada cobertura vegetativa natural, foi observada considerável estabilidade do substrato e dos taludes, o que tornou desnecessária a utilização das se-mentes e da biomanta, que foi destinada a outro projeto.

Pode-se verificar que o meio ambiente possui ca-pacidade significante em absorver determinados im-pactos ambientais negativos causados por ações antró-picas. Portanto, foi necessário apenas dar condições mínimas para que a natureza pudesse exercer o seu papel de recuperação e auto-depuração. A retirada do lixo e limpeza adequada do local, a sua redisposição em local adequado e um programa simples de estabili-zação do terreno foram ações suficientes para devolver ao local condições próximas aquelas existentes antes da disposição do lixo.

FIGURA 5: (a) Preenchimento da trincheira com resíduo misturado ao solo; (b) Armazenamento de resíduos com cobertura de solo; (c) Encerramento da trincheira com solo composto de matéria orgânica; (d) Área da trincheira completamente revegetada.

(a) (b)

(c) (d)

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)36

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SOARES, F. A; COLLARES, E. G. Programa de sen-sibilização social na implantação de um programa de coleta seletiva para pequenas comunidades. In: CON-GRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANI-TÁRIA E AMBIENTAL, 24, Belo Horizonte – MG, 2007. Anais (em CD-Rom). São Paulo: ABES, 2007.FOGLIATTI, M. C.; FILIPPO, S.; GOUDARD B. Ava-liação de impactos ambientais: aplicação aos siste-mas de transporte. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. 249 p.SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impactos ambientais: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 495p.

Figura 6:(a) Dispersão de sementes de mamoneira; (b) gramínea com sementes.

(a) (b)

37Ciência et Praxis v. 2, n. 3, (2009)

Educação em saúde para mães em uma unidade de terapia intensiva neonatal

Daniela Gonçalves da Costa1; Gina Marques da Silva Chagas1; Nilzemar Ribeiro de Souza2

Resumo: Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo com entrevista semi-estrutrada realizado com mães cujo seu Recém-Nascido (RN) encontravam-se internados em uma Unidade Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de um Hos-pital Universitário na região Sudoeste do Estado de Minas Gerais, com o objetivo de analisar a educação em saúde aplicada dentro de uma UTIN. Os resultados revelam que o trabalho em equipe multidisciplinar é significativo na educação em saúde realizada com as mães dos Rns reduzindo os sentimentos negativos, como o estresse e o medo ge-rados na admissão à alta hospitalar. Destacamos a importância da equipe multidisciplinar nas orientações oferecidas principalmente no planejamento da alta hospitalar para que o cuidado do recém-nascido continue no domicílio.Palavras-chave: Educação em saúde, UTI neonatal, enfermagem.

1 Enfermeira discentes do Curso de Especialização em Enfermagem em Neonatologia da Faculdade de Enfermagem de Passos-FESP|UEMG.2Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem de Passos FESP|UEMG. E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃOA neonatologia é considerada tendo seu início com

o obstetra francês Pierre Budin, que estendeu sua pre-ocupação com os recém-nascidos além das salas de parto. Budin criou um ambulatório de puericultura no Hospital Charité, em Paris, no ano de 1892 e foi o res-ponsável pelo desenvolvimento dos princípios e méto-dos que passaram a formar a base da medicina neonatal (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2005).

De acordo com Oliveira e Rodrigues (2005), na primeira metade do século XX, muitas transformações ocorreram na assistência à criança, principalmente no atendimento a recém-nascidos e, em especial, aos pre-maturos. Em 1922, é criada a primeira unidade para prematuros em Chicago. As décadas de 30 e 40 foram marcadas por avanços tecnológicos, em destaque, para o desenvolvimento de respiradores para os recém-nas-cidos com distúrbios respiratórios.

Os autores colocam que a assistência ao recém-nascido, no Brasil sofreu influência dos países mais desenvolvidos. No início do século XX, o abandono da criança na sua primeira idade ainda era um fato muito presente no país. Em 1910, foi inaugurada a Policlínica das Crianças, que era mantida pela Santa Casa de Misericórdia, tendo em sua direção o médi-co Antônio Fernandes Figueira. Nessa época, o Bra-sil tinha a taxa de natimortalidade mais alta entre os países subdesenvolvidos.

Segundo Novaes (1990 apud OLIVEIRA; RO-DRIGUES, 2005), os cuidados desenvolvidos para os recém-nascidos e, em especial, para os prematuros adi-

cionados do desenvolvimento de cuidados pré-natais específicos foram os introdutores de uma assistência de qualidade e responsáveis pela redução da morbimorta-lidade peri e neonatal.

Hoje em dia o número de internações nas Unida-des de Internação Neonatal (UIN) é considerado ele-vado, mediante as situações anormais de nascimento, como prematuridade, baixo risco ao nascer, anóxia, malformações e outras situações clínicas que predis-põem os recém-nascidos a tratamentos especializa-dos para conseguirem sobreviver. As condições de nascimento de nascimento do bebê causam aos pais impactos e sofrimento, em virtude da separação do filho, ansiedade e muitas expectativas quando ao tra-tamento. O bebê passa por diversos procedimentos e intervenção na UIN, como aspiração, entubação, cateterismo, punção, dentre outros, que permeiam todo o tratamento durante a sua internação. Nesta circunstância, a mãe vivencia um momento de dor e grandes conflitos, visto que durante a gestação pro-vavelmente não o imagina um bebê enfermo, com al-guma deformidade, defeito congênito ou prematuro vem desfazer este sonho, trazendo desapontamento, sentimento de incapacidade, culpa e medo da perda. (OLIVEIRA, et al., 2005).

De acordo com Moreno e Jorge (2005; p.117) “os sentimentos e emoções de mães no mundo da UTIN revestem-se de mudanças de comportamento e hábitos, frustrações, nervosismo, medo, culpa, pena, perplexi-dade, tristeza, solidão, impotência, incerteza, estresse entre outros”.

Abstract: This is a qualitative and descriptive study, with semi-structured interviews with mothers whose newborn babies (NB) were interned in a Neonatal Intensive Care Unit (NICU) of a university hospital in a southwestern region of Minas Gerais, with the objective of evaluating the health education implemented in a NICU. The results show that the multidisciplinary teamwork is important in health education carried out with mothers of newborn babies reducing negative feelings, such as stress and fear generated next to the hospital discharge. We highlighted the importance of a multidisciplinary team in the orientations offered mainly in the hospital discharge planning so that the care with the newborn baby can continue at home.Keywords: Health education; NICU; nursing.

Health education for mothers in an intensive care unit neonatal

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)38

Quando o recém-nascido é admitido na UTIN, existem aspectos inter-relacionados determinan-tes para o estresse da família: a aparência física do recém-nascido, prematuro ou doente, causa estresse para os pais, pois difere das suas expectativas, inter-ferindo no desenvolvimento do apego e na interação pais-filho; a severidade da doença e o tratamento transformam-se em uma fonte primária de estresse, uma vez que o filho está hospitalizado na UTIN. In-terligadas a essas fontes de estresse estão às preocu-pações sobre o prognóstico, ou seja, incertezas sobre o bem-estar e o resultado em longo prazo acerca da saúde do filho (BUARQUE, et al., 2006).

Dessa forma, o estresse emocional da experiência neonatal e a percepção dos pais perante seu filho são diferentes de um recém-nascido saudável, reconhecen-do sua imagem como sendo “especial”, por ter sobre-vivido à hospitalização e “vulnerável”, pelo medo, em longo prazo, de seqüelas, direcionam para uma paterni-dade compensatória com alteração no relacionamento pais-filho (BUARQUE, et al., 2006).

É fundamental que a equipe de profissionais dessa unidade promova um ambiente receptivo e acolhedor, para minimizar ao máximo e fortalecer os laços afeti-vos, pois a manutenção do vínculo mãe-filho é necessá-ria, já que a presença da mesma proporciona segurança, equilíbrio emocional e recuperação do deu bebê, duran-te o período de internação (OLIVEIRA, et al., 2005).

Durante a admissão a puérpera deve ser orientada antes mesmo de entrar no setor da UTIN informando-a sobre as rotinas, equipamentos, procedimentos e princi-palmente sobre o estado de saúde do seu bebê.

Considerando o fato da internação o diálogo entre o profissional e a puérpera minimiza a ansiedade, ao es-clarecer as dúvidas, contempla também uma das ativi-dades de educação em saúde, a qual promove qualidade de vida às pessoas que buscam apoio do serviço.

De acordo com Silva (2002), a prática de educação em saúde não é uma proposta recente e sim data o sécu-lo XVIII na Europa quando eram elaborados pequenos panfletos intitulados de almanaques populares onde era difundido o cuidado “higiênico” para gestantes, crian-ças e medidas gerais de controle de epidemias.

No Brasil, até a década de 70, a educação em saúde foi basicamente uma iniciativa das elites política e eco-nômica, voltada para seus próprios interesses. Depois com o regime militar, a política de saúde voltava-se para expansão de serviços médicos privados principal-mente hospitais, portanto, as ações educativas não ti-nham espaço. Com a conquista da democracia política e a construção do Sistema Único de Saúde na década de 1980, os movimentos sociais passaram a lutar por mudanças mais globais nas políticas sociais e de saúde (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).

Os autores ressaltam que a educação em saúde, portanto surge como um instrumento de construção da

participação popular nos serviços de saúde e ao mesmo tempo, de aprofundamento da intervenção da ciência na vida cotidiana das famílias e sociedades.

Diversos fatores justificam o atual interesse em estudar a educação em saúde para mães na UTIN, entre eles: a redução do estresse da mãe frente à in-ternação do RN e a importância do papel do enfer-meiro como educador na orientação sobre os cuida-dos com a criança após a alta hospitalar para que a assistência ao mesmo tenha continuidade em casa, prevenindo assim futuras internações.

Considerando que a educação em saúde está relacio-nada à aprendizagem, desenhada para alcançar a saúde, torna-se necessário que está seja voltada a atender a população de acordo com sua realidade. Isto porque a educação em saúde deve provocar conflitos nos indiví-duos, criando oportunidade da pessoa pensar e repensar a sua cultura, e ele próprio transformar a sua realidade (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).

Segundo Silva (2002, p. 76), a prática da educação em saúde requer o profissional de saúde, e principal-mente de enfermagem, por sua proximidade com esta prática, uma análise crítica de sua atuação, bem como uma reflexão de seu papel como educador.

Entretanto esta educação deve ser aplicada em todo período de internação, mas principalmente no planeja-mento da alta hospitalar, no qual a mãe deve permanecer a maior parte do tempo na unidade para receber todas as orientações necessárias sobre os cuidados com seu RN, para que assim a puérpera tenha mais segurança e a criança continue recebendo a assistência adequada quando for para casa, prevenindo assim futuras interna-ções. Este estudo tem por objetivo analisar a educação em saúde aplicada dentro de uma UTIN.

MATERIAL E MÉTODOA especificidade deste tema levou-nos a optar por

um estudo de natureza descritiva com abordagem qua-litativa. Segundo Minayo (2008), essa abordagem con-sidera o significado e a intencionalidade presentes nos atos, nas relações e nas estruturas sociais, na medida em que se levam em conta os níveis mais profundos de relações sociais, as quais não podem ser operacionali-zadas em números e variáveis.

O desenvolvimento deste estudo foi realizado no na UTIN do Hospital Universitário do município de Alfe-nas (MG), que possui população estimada de, aproxi-madamente, 74 mil habitantes.

O projeto de pesquisa foi encaminhado à aprovação do comitê de ética da, FESP (processo nº 151/ 2008 ) para a revisão dos aspectos éticos da pesquisa e conse-qüente autorização para a realização.

A coleta de dados foi realizada através de uma en-trevista semi-estruturada tendo como eixo central à educação em saúde para mães que estavam com seus filhos hospitalizados.

39Costa, Chagas e Souza, 2009

Os sujeitos foram constituídos de seis mães que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa. O sigilo e anonimato foram respeitados através da identi-ficação no recorte das falas, por letras do alfabeto.

A análise dos dados foi sistematizada conforme Mi-nayo (2000) seguindo os passos da análise temática: ordenação, classificação e análise final que encaminha-ram a identificação de unidades de significado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO• Apresentando os sujeitos de estudo De acordo com as características do grupo estu-

dado ocorre a prevalência de mulheres que residem em outros municípios da região (n=4) e mães que residem no próprio município da pesquisa (n=2), nesta questão podemos evidenciar a importância deste hospital para a região. Quanto ao estado civil, a pesquisa contou com cinco mulheres casadas e uma solteira. Quando a ocu-pação uma respondeu não trabalhar fora, se dedican-do ao lar e cinco relataram trabalhar fora, sendo uma balconista, uma técnica de enfermagem, uma lavradora, uma costureira e uma bancária. Quanto a escolaridade, três mães possuem o 1º grau completo, duas possuem o 2º grau completo e uma com curso superior.

Quatro mães estão na faixa etária entre 20-23 anos, uma entre 30-32 anos e uma entre 33-35 anos. Quanto ao número de gestações que estas mães já vivenciaram, todas relatam ser sua primeira gestação.

Quando questionadas sobre o número de consul-tas feitas durante o pré-natal todas afirmaram que fi-zeram mais de seis consultas. Segundo Minas Gerais (2006), são preconizados, no mínimo seis consultas de pré-natal, sendo uma no primeiro trimestre, duas con-sultas no segundo trimestre e três no terceiro trimestre, recomendando-se que o intervalo entre as consultas seja de quatro semanas até a gestação completar trinta e seis semanas e a partir daí que os intervalos sejam de 15 quinze dias.

• Gestação: desfechoO nascimento de um bebê deve ser entendido como

uma transição no meio familiar que produz mudanças e é um momento marcante na vida de uma mulher que sonha, planeja e realiza uma criança saudável, por isso quando perguntamos se diante a gestação em algum momento ela imagina que seus recém-nascidos fossem precisar ser internado em uma UTIN elas respondem da seguinte forma:

(A) “(...) jamais, pois nunca tinha sentido nada durante minha gravidez, só minha pressão que subiu um pouco e o médico disse que se eu tomasse remédio direito não teria problema...”(B) “Não, porque o médico falou que estava tudo bem, até o neném ficou quase dois dias comigo, depois que descobri-ram que ele tinha o anus imperfurado, mandou para cá e já fez a cirurgia no mesmo dia...”

(C) (...) eu sabia, porque quando fiz o último ultra-som, deu que ele tinha um probleminha de rim, ele tinha só um, então talvez ele ia precisar de uma cirurgia, mais graças a Deus não foi preciso...”A partir dessas respostas vemos que a maior parte

das mães ficou sabendo que seus recém-nascidos fica-riam internados no dia do nascimento, visto que só uma disse que sabia que seu bebê ficaria internado após o nascimento, pois nenhuma das entrevistadas teve pro-blemas durante a gravidez, indicando que seus bebês nasceriam bem e os levariam para casa.

Às condições de internação do bebê causam aos pais impactos e sofrimentos em virtude da separação do filho, ansiedade e muitas expectativas quanto ao tratamento. Quando perguntamos qual o sentimento que elas haviam sentido quando souberam que seu filho ficaria internado numa UTI, obtivemos as se-guintes respostas:

(A) “Fiquei muito triste e preocupada, é um sentimento mui-to ruim, parece que tiraram um pedaço de mim...”(B) “Dá um sentimento horrível de incapacidade, de perda, eu chorei muito...”(C) “Senti muita tristeza, preocupação com o neném, medo de que eu não levaria ele para casa...” (D) “Fiquei muito preocupada, o médico disse que o caso dele é muito raro?”Diante dessas respostas, observamos que os sen-

timentos e emoções das mães em uma UTIN se re-vestem de mudanças de comportamentos e hábitos, frustrações e nervosismo, medo e culpa que, duran-te o transcurso da gravidez, criou expectativas de um filho cujas características iriam refletir em seu nascimento. Com o nascimento da criança, a famí-lia experimenta a perda do filho “perfeito” dos seus sonhos. Os pais precisam lidar com essa perda e o pesar que ela provoca, devem criar uma maneira de adaptar suas expectativas e seus planos para que combinem com a realidade do filho que nasceu.

• Educação em saúdeConsiderando que a educação em saúde está relacio-

nada à aprendizagem, torna-se necessário que seja vol-tada a atender a população de acordo com a realidade. Segundo Silva (2002) a prática da educação em saúde requer do profissional da enfermagem, por sua atuação, bem como uma reflexão de seu papel como educador.

Entretanto esta educação deve ser aplicada em todo período de internação, mas principalmente da alta hos-pitalar, no qual a mãe deve permanecer a maior parte do tempo na unidade para receber as orientações sobre os cuidados com seus recém-nascidos.

Quanto às orientações mais significativas para as mães, as respostas foram as seguintes:

(A) “Eu fiquei mais tranqüila, quando as funcionárias me disseram que eu poderia amamentar e o médico disse que neném estava respondendo ao tratamento...”.

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)40

(B) “Que ele está melhorando, mais ele vai precisar fazer uma cirurgia do coração e até lá ele precisava ficar no respi-rador, eu ainda não posso pegar o neném, mas as enfermeiras me ajudam a fazer carinho a conversar com ele...”(D) “No meu caso, as orientações sobre os cuidados ge-rais, a maneira de aspirar a traqueostomia quando ele for para casa...”Ainda sobre as orientações às mães, quando pergun-

tamos se as orientações sobre os cuidados com seus re-cém-nascidos para a alta hospitalar facilitariam na con-tinuação do cuidado, obtivemos as seguintes respostas:

(A) “... ajudou muito, pois eu não sabia nem trocar fralda, mas é minha mãe que vai me ajudar, porque eu tenho medo de pegar criança tão pequena...”(B) “Ele vai ser transferido para outro hospital, mas eu sei que estão fazendo o melhor pra ele....”(C) “Facilitou no momento que estava lá, todos me explica-ram muito bem, mas minha mãe vai me ajudar...”(D) “Aprendi a maneira correta de cuidar de criança, princi-palmente de UTIN...”Apesar de que todas relatarem que foram bem orien-

tadas, algumas mães sentem-se inseguras de cuidar sozi-nha de seus bebês entregando os cuidados nos primeiros dias a outras pessoas, mesmo sendo da família. Neste caso existe uma falha da equipe multiprofissional que se preocupa somente com as mães enquanto pacientes, orientando somente a parte técnica, não se preocupando em passar o verdadeiro sentido da enfermagem que é o cuidar com os sentimentos, e que também após a alta hospitalar não tem um acompanhamento dessas mães que muitas vezes não sabem como agir em determina-das situações.

CONSIDERAÇÕES FINAISVerificamos durante as entrevistas que as mães

dos recém-nascidos internados na UTIN a maioria são de cidades pequenas onde não há uma assistên-cia ao recém-nascido de alto risco e, portanto estas relataram não imaginar que seus filhos fossem pre-cisar de uma UTI, mesmo realizando no mínimo 07 consultas pré-natais.

No momento da admissão do recém-nascido no serviço de neonatologia, observamos grande sofri-mento por parte das mães, já que não esperavam este fato, entretanto as orientações oferecidas reduziram os sentimentos descritos por elas como de incapacidade, tristeza e preocupação.

Destacamos a importância da equipe multidiscipli-nar nas orientações oferecidas principalmente no plane-jamento da alta hospitalar para que o cuidado do recém-nascido continue no domicílio.

Observamos também a importância de um acompa-nhamento após a alta hospitalar, só que algumas mães relatam ter ajuda de familiares nos cuidados; e a grande preocupação é que estes muitas vezes não sabem pres-tar cuidados ao recém-nascido de alto risco, favorecen-do assim futuras internações.

Enfim, a educação em saúde aplicada em uma UTIN conseguiu reduzir os sentimentos negativos, como o es-tresse e o medo gerados pela às mães na admissão à alta hospitalar.

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41Ciência et Praxis v. 2, n. 3, (2009)

Apoio familiar no cuidado de pessoas com Diabetes Mellitus tipo 2

Vilma Elenice Contatto Rossi1; Ana Emilia Pace2; Miyeko Hayashida3

Resumo: Estudo descritivo realizado com portadores de diabetes tipo 2, com o objetivo de compreender a influ-ência familiar no cuidado dessas pessoas. Os dados foram coletados de 51 pessoas, por meio de entrevista indivi-dual, aplicando-se a técnica do incidente crítico. Após análise, os relatos foram distribuídos em quatro categorias principais, com referências positivas e negativas. Observou-se que relatos de apoio da família, adesão a hábitos saudáveis, participação em grupos da comunidade entre outros, receberam referência positiva. Preocupação com familiares, depressão, medo da mudança na terapêutica, entre outros, receberam referência negativa. Pelo exposto, a família representa uma importante fonte de apoio à pessoa com diabetes para aceitação da doença e adesão aos cuidados, e deve ser incentivada a participar das orientações necessárias. Palavras-chave: Diabetes mellitus; apoio familiar; incidente crítico; enfermagem.

1Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem de Passos (FESP|UEMG) e do Centro de Enfermagem de Formiga (UNIFOR-MG).E-mail: [email protected] Docente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada (EERP|USP).3Doutora em Enfermagem Fundamental. Chefe da Secção de Apoio Laboratorial da EERP|USP.

INTRODUÇÃO O diabetes mellitus tipo 2 é um exemplo de doen-

ça crônica que requer da pessoa habilidades e conhe-cimentos para lidar com o seu complexo tratamen-to, que se inicia com a necessidade da mudança no estilo de vida, principalmente em relação a hábitos alimentares e atividade física (AMERICAN DIA-BETES ASSOCIATION, 2008). Geralmente, outras condições, tais como as co-morbidades advindas ou não das complicações do diabetes, a baixa escola-ridade, condições sócio-econômicas desfavoráveis, comprometimento das atividades funcionais cogniti-vas e/ou físicas, podem associar-se e transformá-las em barreiras para o cuidado do diabetes (MURATA et al, 2003).

Acredita-se que seja imprescindível o apoio da família no processo do cuidado à pessoa com dia-betes. A rede de apoio ou suporte social é consolidada pelos laços sociais entre as pessoas, especialmente en-tre os membros da família da pessoa com uma doença crônica, onde esse apoio torna-se mais importante para a pessoa poder aceitar sua situação e a família poder aprender a conviver com a doença (DIAS, WANDER-LEY, MENDES, 2002).

Uma maior participação familiar no tratamento da pessoa com diabetes poderá facilitar a adaptação à do-ença e cuidados e, deste modo, poderá prevenir e/ou retardar o início e/ou agravamento das complicações agudas e crônicas (ZIMMERMAN; WALKER, 2002).

Desta forma, o presente estudo buscou uma compre-ensão da influência familiar no cuidado à pessoa com diabetes mellitus tipo 2. Para tanto, buscou identificar, por meio de relatos de incidentes críticos positivos e negativos, a influência do apoio familiar no cuidado de pessoas com diabetes mellitus tipo 2.

METODOLOGIAEstudo descritivo, com abordagem quali-quantitati-

va, realizado junto ao Programa de Assistência ao Dia-bético, vinculado à Prefeitura Municipal de uma cidade do interior mineiro.

A população do estudo constituiu-se no contingente de pessoas com diagnóstico de diabetes, matriculadas no Programa no ano de 2003, optando-se por incluir as pessoas com idade acima de 30 anos, com a manifesta-ção de concordância em participar do estudo e que fosse possível a localização do endereço residencial. Excluiu-se as pessoas com diabetes tipo 1 ou com outro distúr-bio endócrino. Com base nos critérios adotados, do to-tal de 101 pessoas matriculadas no ano determinado, 51 foram incluídas no estudo. Os participantes foram loca-lizados por meio dos registros de atendimento do Pro-grama, obtendo-se o nome, idade, endereço, número de telefone e motivo da matrícula. Efetuou-se contato por telefone, quando se esclarecia os objetivos do estudo, convidando a pessoa a participar; havendo concordân-cia, solicitava-se permissão para realizar a entrevista no seu domicílio, em data e horário de conveniência para

Abstract: Descriptive study carried out with type 2 diabetes patients with the objective of understanding the family influence on caring for those patients. The data were collected from 51 participants through individual in-terviews using the critical incident technique. After analysis, the reports were distributed in four main categories, with positive and negative references. It was observed that reports on family support, adherence to healthy habits, participation in community groups, among others, received a positive reference, whereas worries about family members, depression, fear of treatment changes, among others, received a negative references. The family consti-tutes of an important source of support for diabetes patients to accept the disease and adhere to treatment, and they should be encouraged to participate in the necessary orientations.Keywords: Diabetes mellitus; family support; critical incident; nursing.

Family support in care for adult type 2 Diabetes Mellitus patients

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)42

ambos. Não houve recusas para participar do estudo.Os dados foram coletados no período de 01/09 a

30/12/2004, por meio de entrevista individual, com dura-ção média de 45 minutos. Foram utilizados dois roteiros de entrevista, um para identificar as características das pessoas quanto: a idade, sexo, estado civil, escolaridade, ocupação, renda familiar, tempo da doença, peso, altu-ra, tratamento do diabetes, complicação relacionada ao diabetes, internação motivada pelo diabetes (número de vezes, motivo da internação) e valor da última glicemia.

Utilizou-se o outro instrumento para obtenção dos relatos de incidentes críticos, com o seguinte roteiro: “sabemos que, para o controle adequado do diabetes, a pessoa precisa ter cuidados diários, como seguimento da dieta, uso de medicamentos na dose e horário cor-retos, exames periódicos, atividade física e compareci-mento aos retornos. Assim, tente se lembrar de ocor-rências relacionadas ao (a) senhor (a) e às pessoas de sua família, que aconteceram nos últimos doze meses e que considera que “contribuíram” para o cuidado do diabetes. Conte-me o fato ocorrido, quais as pessoas envolvidas, o que elas fizeram e o que resultou daí. Para obtenção dos relatos negativos, substituiu-se apenas a palavra “contribuíram” por “prejudicaram”.

Os incidentes, depois de registrados no instrumento, foram lidos em voz alta para que o conteúdo recebesse a aprovação do relator dos fatos.

A análise e interpretação dos incidentes críticos fo-ram realizadas conforme etapas propostas por Nogueira (1998) e utilizadas em outras pesquisas: leitura, deri-vação e arrolamento dos relatos, identificação dos três elementos fundamentais do incidente crítico (situação, comportamento e conseqüência); agrupamento dos relatos e categorização de situações, comportamentos e conseqüências, com quantificação das respectivas ocorrências. Assim, considerou-se situação o fato ou circunstância que levou a pessoa a manifestar determi-nado comportamento; comportamento como a conduta apresentada pela pessoa devido à circunstância e, como conseqüência, o resultado do comportamento da pessoa devido à circunstância (NOGUEIRA, 1998).

O estudo mereceu aprovação pelo Comitê de Éti-ca em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribei-rão Preto da Universidade de São Paulo (Protocolo nº0461/2004) em 18 de agosto de 2004.

REFERENCIAL TEÓRICO

METODOLÓGICO: SUPORTE SOCIAL Suporte social, apoio social ou redes sociais são estrutu-

ras que se inter-relacionam, abrangendo a família, amigos, vizinhos e outros, que provêem apoio de forma recíproca, ou seja, a pessoa que recebe apoio de sua rede, também dá apoio às pessoas que integram essa rede. Refere-se aos mecanismos pelos quais os relacionamentos interpessoais presumivelmente protegem as pessoas dos efeitos deleté-rios do estresse (TILDEN; WEINERT, 1987).

A literatura aborda diferentes definições de suporte ou apoio social, mas com algumas características em comum, tais como a preocupação, a confiança e ajuda mútua. O suporte social é indispensável para a seguran-ça emocional de qualquer pessoa que precisa sentir-se parte de uma família ou círculo de amigos (TOLJAMO; HEITINEN, 2001).

Para Helgeson (2003), o suporte social não é um tema facilmente definido, podendo ser visto como di-ferentes maneiras que as pessoas adotam no ambiente social para suportarem as situações apresentadas, con-sistindo em basicamente três tipos de suporte: emocio-nal, instrumental e de informação.

O suporte emocional refere-se à presença de pes-soas disponíveis para escutar, preocupar-se, simpatizar, prover confiança, tocar e amar; portanto, ele é sempre útil, não importa qual seja a fonte (familiar, amigo ou profissional da saúde). O instrumental refere-se à ajuda nas tarefas domésticas, empréstimo de dinheiro, aqui-sição de medicamentos; e o de informação envolve a provisão de informações, conselhos ou orientações que as pessoas desejam de peritos como médicos e enfer-meiros e não de amigos ou familiares (HELGESON, 2003).

Vários autores reconhecem a importância da famí-lia como suporte social para a adaptação a uma doen-ça crônica e as mudanças necessárias que ela impõe (DIAS; WANDERLEY; MENDES, 2002; ZIMMER-MAN; WALKER, 2002; BIELEMANN, 2003; HOL-MSTRÖM; MARTIRE et al, 2004; ROSENQVIST, 2005). Em relação ao diabetes, a pessoa e sua família são responsáveis por mais de 95% do tratamento (OMS, 2003; TOLJAMO; HENTINEN, 2001). Assim, é preci-so fazer com que cada membro da família entenda o que é a doença, como é controlada e como agir em situações de emergência.

Considerou-se como família, as pessoas residentes no mesmo domicílio, independente de laços consangüí-neos, em concordância com a afirmação de que “família é quem seus membros dizem que são” (WRIGHT; LE-AHEY, 2002).

Do exposto, percebe-se que a família desempenha papel importante no cuidado diário da pessoa com dia-betes. Na perspectiva de verificar como esse apoio é percebido pela pessoa com diabetes, utilizou-se a Téc-nica do Incidente Crítico (TIC) para obtenção de relatos de fatos vivenciados por ela e sua família.

TÉCNICA DO INCIDENTE CRÍTICO A técnica do incidente crítico (TIC) consiste em um

conjunto de procedimentos para a coleta de observações diretas do comportamento humano, de modo a facilitar sua utilização potencial na solução de problemas práti-cos e no desenvolvimento de amplos princípios psico-lógicos, delineando também procedimentos para a co-leta de incidentes que apresentem significação especial

43Rossi, Pace; Hayashida, 2009

e para o estabelecimento de critérios sistematicamente definidos (FLANAGAN, 1973). A TIC é frequente-mente utilizada para a coleta de informações a partir de experiências passadas e acontecimentos relevantes do comportamento humano; no entanto, possui como um aspecto limitador a memória do individuo, ou seja, quanto maior for o tempo entre a atividade observada e o seu relato, menor é a quantidade e qualidade do inci-dente descrito relatado.

Esta técnica consiste, basicamente, em solicitar às pessoas envolvidas numa atividade, tipos simples de julgamentos ou relatos de situações e fatos vivenciados por elas e que são avaliados pelo pesquisador, de acordo com a concordância ou discordância destes julgamen-tos ou relatos, com o objetivo e natureza da atividade que se deseja estudar (FLANAGAN, 1973).

As questões a serem apresentadas às pessoas do es-tudo constituem-se na etapa mais complicada da aplica-ção desta técnica, pois o entrevistador deve deixar claro o que pretende sem, contudo, oferecer muita informa-ção ao entrevistado, para não correr o risco de induzir respostas (DELA COLETA; DELA COLETA, 2004).

RESULTADOS• Caracterização da população em estudoEntre as 51 pessoas entrevistadas, 72,5% são do

sexo feminino, idade média de 55,1 anos, 66,7% casa-dos, 76,5% cursaram o ensino fundamental incompleto, 27,5% são aposentados, a renda familiar aproximada está entre um e quatro salários mínimos para 74,5% das pessoas.

Em relação ao tempo de diagnóstico, 45,1% en-contram-se no primeiro período da doença, ou seja, entre um e cinco anos. Em resposta ao questiona-mento sobre o tipo de tratamento realizado, o mais citado foi seguimento da dieta associado ao uso de antidiabético oral (23,5%).

Ao serem indagadas sobre as complicações decor-rentes da doença (diabetes), 80,4% referiu não apresen-tar nenhuma. Entre 13,7% pessoas que responderam afirmativamente, as complicações mais freqüentes fo-ram a diminuição da acuidade visual e problemas em membros inferiores. Com base no resultado da última glicemia, 39,2% das pessoas apresentaram mau contro-le glicêmico.

• Análise dos incidentes críticos relacionados ao apoio familiar

Pela análise dos relatos de incidentes críticos ex-traiu-se 226 situações, sendo 109 indicadas como po-sitivas e 117 negativas. Das situações, identificou-se os comportamentos, dos quais 148 obtiveram referência positiva e 187 negativa, que resultaram em conseqüên-cias apontadas por 163 relatos com referência positi-va e 226 negativa. Foram elaboradas quatro categorias que receberam as denominações: alterações na família/amigos, alterações decorrentes da própria doença, práti-cas terapêuticas e alterações das condições econômicas (Tabela 1).

Os relatos incluídos na categoria alterações na fa-mília/amigos referem-se aos que envolveram situações, comportamentos e conseqüências de incidentes consi-

Tabela 1: Freqüência das categorias de situações, comportamentos e conseqüências extraídas dos relatos de inci-dentes críticos, com referência positiva ou negativa indicada pelas pessoas com diagnóstico de diabetes tipo 2 no município de Passos (MG) no ano de 2005

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)44

derados positivos e negativos envolvendo o apoio fa-miliar; identificando como positivas as ocorrências em que os sujeitos obtiveram apoio familiar no cuidado diário, em confraternizações entre amigos/familiares; e os que receberam apenas indicação como sendo ne-gativas abarcaram a ocorrência de doença/morte na fa-mília, preocupação com filhos/familiares, alteração da composição familiar, alcoolismo, relacionamento entre familiares. Na categoria alterações decorrentes da pró-pria doença incluíram-se as situações, comportamen-tos e conseqüências positivas e negativas referentes ao controle alimentar, alterações do estado de saúde/emo-cionais, necessidade de orientação e a necessidade de internação designada apenas como negativa.

Em práticas terapêuticas considerou-se como ne-gativas e positivas as situações, comportamentos e conseqüências dos incidentes referentes à adesão e não adesão aos cuidados recomendados e ao regi-me alimentar. Indicadas apenas como positivas estão aquelas que envolvem a participação em grupos da comunidade/diabéticos, atividade física e tratamento médico/medicamentoso.

As situações, comportamentos e conseqüências identificadas como positivas e negativas nos relatos de incidentes envolvendo os gastos com material/medica-mento, alteração de emprego/poder aquisitivo da famí-lia, resultaram na composição da categoria alterações das condições econômicas.

DISCUSSÃO

• Caracterização da população em estudoÉ interessante observar que estudos envolvendo

pessoas com diabetes (ROSSI; PACE, 2003; DAMAS-CENO, 2005; GILMER et al, 2005) também encontra-ram na caracterização da população, maior frequencia do sexo feminino, merecendo um estudo de gênero para a compreensão deste comportamento; este fato pode refletir um viés de demanda, pois resultados de estudos de prevalência do diabetes tipo 2 (CENEPI, 1992; FRANCO, 2004) apontaram a mesma grandeza em homens e mulheres.

De acordo com Rossi e Pace (2003), a baixa escola-ridade, idade, tempo de diagnóstico e presença de com-plicações são fatores que precisam ser considerados, pois, à medida que aumenta a complexidade da tera-pêutica, o grau de controle metabólico tende a piorar.

Um controle inadequado pode ser devido à instru-ção ineficaz, falta de participação da pessoa e ausência de suporte, e os profissionais da saúde precisam reco-nhecer a importância da educação do paciente. O co-nhecimento das relações entre uma doença no adulto e relacionamento familiar, tem levado alguns pesqui-sadores a desenvolverem ou modificarem intervenções focadas na pessoa, para incluírem no cuidado, um fami-liar (MARTIRE et al, 2004; HOLMSTRÖM; ROSEN-QVIST, 2005; ROSSI; PACE, 2003).

RELATOS DOS INCIDENTES CRÍTICOS RELACIONADOS AO SUPORTE FAMILIAR

Para subsidiar a discussão dos relatos dos incidentes críticos, utilizou-se a classificação citada anteriormente (HELGESON, 2003), que considera três componentes do suporte social, ou seja, o suporte emocional, o supor-te instrumental e o suporte de informação.

De acordo com os relatos obtidos, verificou-se que o apoio familiar junto à pessoa com diabetes pode fa-vorecer ou dificultar o alcance de um ótimo controle glicêmico. A união entre os membros da família e a afe-tividade encontram-se associados à adesão do paciente ao tratamento e ao controle glicêmico; já os conflitos familiares podem representar uma barreira à adesão.

A família tem um papel fundamental, que é enfren-tar a doença, colocando-se a serviço do bem-estar do doente. Deve haver muita compreensão, controle da si-tuação, ajuda mútua, combate aos medos e ao isolamen-to que a doença pode trazer (DIAS; WANDERLEY; MENDES, 2002).

Entre as falas, houve relatos de solidão, sentimentos de medo, depressão. Pessoas deprimidas e socialmente isoladas, podem não ter disposição para, sozinhas, en-frentarem e reagirem a esses sentimentos.

Para a Sociedade Brasileira de Diabetes – SBD (2000), a pessoa com diabetes deve ser continuamente estimulada a adotar hábitos de vida saudáveis, o que in-clui a educação alimentar, pois não é possível um bom controle sem uma alimentação adequada. Neste senti-do, o apoio da família é fundamental para a pessoa se adaptar com menos sofrimento às mudanças necessá-rias, em especial no que se refere à alimentação, sendo normalmente a parte mais infringida pelas pessoas.

Neste estudo, as pessoas relacionaram a adesão da família ao plano alimentar como fator positivo, podendo evidenciar a importância que dão a esse envolvimento.

Como grande parte do cuidado diário é realiza-da pela pessoa e sua família, torna-se necessário que todos estejam orientados adequadamente e assumam as responsabilidades pelo cuidado (PACE; NUNES; OCHOA-VIGO, 2003). Daí a importância de conscien-tizar e envolver a família nas orientações.

Sabe-se que os profissionais da saúde têm um papel chave quanto ao incentivo para o autocuidado, facili-tando a mudança no estilo de vida, dando sustentação psicológica e social e, nesse processo, a família deve ser envolvida no fortalecimento da sustentação física e emocional, auxiliando no cuidado (GILMERT et al, 2005).

É essencial que as pessoas com diabetes sejam vis-tas como participantes ativas em seu cuidado, incenti-vando-as a serem responsáveis por suas próprias saúdes (OMS, 2003; WONG et al, 2005). É também imprescin-dível que as pessoas desenvolvam com os profissionais da saúde um bom relacionamento, e que esse vínculo se mantenha com o passar do tempo.

45Rossi, Pace; Hayashida, 2009

Para isso, é preciso que todas as pessoas estejam in-seridas em um ambiente onde se sintam à vontade para fazer perguntas, sendo que a qualidade da comunicação entre a pessoa e o profissional influencia os resultados para a saúde em uma variedade de condições crônicas, o que inclui o diabetes.

CONSIDERAÇÕES FINAISQuando a família aceita a presença da doença crô-

nica e adere aos cuidados, à medida que cada membro muda, afeta o comportamento do outro favorecendo, conseqüentemente, a mudança de comportamento da pessoa com diabetes.

Um aspecto muito importante é a participação e o envolvimento da família no cuidado da pessoa portado-ra de doença crônica. A pessoa diabética e seus familia-res precisam estar motivados para aceitar possíveis li-mitações nas atividades diárias impostas pelo diabetes, e a enfrentar essas limitações.

Pela análise dos relatos, os participantes referiram ter recebido dos familiares apoio, carinho, compreen-são e estímulo, mas, também referiram incompreensão, desarmonia, brigas e discussões com familiares.

Entre os relatos com referência positiva, em que as pessoas consideraram ter auxiliado no cuidado diário, destacam-se o apoio, confraternização, com-preensão e estímulos recebidos de familiares, de-monstrando a grande influência que a família tem na vida dessas pessoas.

Já entre os relatos considerados negativos, nos quais os diabéticos sentiram que, de alguma forma, dificulta-ram os cuidados, pode-se destacar falta de apoio, brigas e discussões com familiares, demonstrando que a harmo-nia familiar parece ter papel importante para a tranqüi-lidade dessas pessoas, que podem encontrar forças para superarem períodos de desgaste físico e emocional.

Entretanto, relatos sobre aposentadoria, perda de emprego, mudança na terapêutica medicamentosa, atividade física, entre outros, receberam referência positiva por algumas pessoas e negativa por outras, demonstrando que cada pessoa reage de uma determi-nada forma frente a um mesmo estressor, necessitando de abordagens diferentes para incentivo e adesão aos cuidados necessários demonstrando, mais uma vez, a necessidade de preparo adequado do profissional no atendimento desta clientela.

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47CIÊNCIA ET PRAXIS V.2, N. 3 (2009)

Dáude Jabbur, um Pioneiro da Arquitetura Modernista em Passos (MG)

Mauro Ferreira1; Douglas Oliveira Santos2

Resumo: O trabalho procura identificar as origens da arquitetura modernista em Passos e as edificações com suas características ainda existentes na malha urbana do município. O modernismo foi um movimento importante na arte e na arquitetura brasileira, a partir dos anos 1920, atingindo o ápice de sua influência durante a construção de Brasília, nos anos 1950-1960. A partir de levantamentos de campo, efetuados na área central de Passos, região que foi adensada entre os anos de de 1950 e 1970, foi possível identificar um expressivo conjunto de habitações e outras edificações projetadas com os cânones do modernismo, como o uso de pilotis, planta livre, ausência de adereços nas fachadas e outros elementos. A pesquisa, utilizando entrevistas e arquivos da família Jabbur, permitiu localizar ainda os desenhos e fotos da primeira obra com tais elementos presentes na paisagem urbana local, pro-jeto de Dáude Jabbur, arquiteto passense que estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro.Palavras-chave: Arquitetura; modernismo; Passos (MG).

INTRODUÇÃO

1Doutor em Arquitetura pela EESC-USP, Professor Adjunto do Curso de Engenharia Civil da FESP|UEMG.E-mail: [email protected] 2Discente em Engenharia Civil da FESP|UEMG.

Quando se instala a chamada arquitetura modernista em Passos? Para responder esta indagação, em área pré-selecionada da cidade de Passos, situada no sudoeste de Minas Gerais, buscamos analisar as tipologias espaciais, formais e as condições construtivas entre a década de 1950 até a de 1970, em especial nos seus aspectos mate-riais, que impactaram a construção de moradias, empre-endimentos comerciais e industriais e instituições públi-cas, gerando novos modos de fazer as edificações e de viver. A investigação daquele período histórico permite discutir os materiais e métodos construtivos utilizados e sua adequação ao uso, pelos diferentes profissionais da construção civil, como engenheiros, arquitetos e construtores, e as condições em que foi possível mudar o panorama das obras locais, geralmente de pequeno porte, ou seja, o levantamento de informações e sua sis-tematização permite estudar as tipologias adotadas, os sistemas e técnicas construtivas e os materiais de cons-trução empregados, especialmente nas áreas urbaniza-das do município de Passos entre as décadas de 1950 até 1970, quando a difusão da nova arquitetura brasileira se acentua, principalmente durante o chamado período desenvolvimentista, em Minas Gerais identificado com o governo de Juscelino Kubitscheck, que possam subsi-diar programas e projetos de preservação do patrimônio

da arquitetura modernista na cidade de Passos e mesmo em outras cidades de porte médio.

As cidades brasileiras, principalmente a partir da construção de Brasília, sofreram um forte impacto em sua paisagem urbana dos processos e métodos cons-trutivos e das novas tipologias adotadas pela chamada arquitetura modernista brasileira. Nas cidades de porte médio localizadas em áreas distantes dos grandes cen-tros, como Passos, esse impacto ainda não foi conside-rado nos estudos existentes, tornando-se uma lacuna na historiografia das técnicas de construção e da própria história da localidade.

Para suprir esta lacuna, a pesquisa aponta a necessi-dade de localizar e analisar as tipologias e as condições construtivas nestas cidades, especialmente em relação a seus aspectos culturais e materiais, que impactaram a construção de novas edificações a partir dos anos 1950 para diversos usos, como moradias, empreendimentos comerciais e industriais, instituições públicas, gerando novos modos de fazer as edificações e de viver, de ma-neira a investigar os materiais e métodos construtivos utilizados e sua adequação ao uso, pelos diferentes pro-fissionais da construção civil, como engenheiros, arqui-tetos e construtores, e as condições em que foi possível mudar o panorama das obras nestas cidades interiora-nas, geralmente de pequeno porte. Ressalte-se que a

Abstract: This paper intends to identify the origins of the modernist architecture in Passos and its edifications with its still existing characteristics in the urban grid. The modernism was an important movement in the Brazilian art and architecture from the 1920’s on, getting to its climax during the construction of Brasília, in 1950 and 1960. From field surveys, carried out in downtown Passos, a region consolidated between 1950 and 1970, it was possible to identify an expressive group of residences and other edifications designed with the regulations of modernism, like the use of pilotis (or piers), free design, the absence of decoration on the front of the constructions and other elements. The research, making use of the Jabburs’s magazines and files, made it possible to find the designs and pictures of the first construction site with such elements present in the local urban landscape, it was Daude Jabbur’s design, architect from Passos who studied at the Federal University of Rio de Janeiro.Keywords: Architecture; modernism; Passos (MG).

Dáude Jabbur a Pioneer of Modernist Architecture in Passos (MG)

48 CIÊNCIA ET PRAXIS V.2, N. 3 (2009)

organização internacional Documentation and Conser-vation of Modern Movimento – DOCOMOMO, criada para apoiar a preservação do patrimônio cultural legado pelo modernismo, através de sua seção brasileira tem estimulado levantamentos do gênero, pela importância da arquitetura moderna no país.

Ao localizar e analisar as tipologias, os sistemas construtivos, as técnicas e os materiais utilizados, bem como os profissionais que introduziram estas mudan-ças, poderão ser estabelecidos os padrões construtivos utilizados, as inovações introduzidas, auxiliando os or-ganismos públicos de preservação do patrimônio cultu-ral a definir novos padrões e parâmetros para efetivar a preservação destas edificações mais recentes, que de-vem desde já ser objeto de estudo para se evitar sua deterioração, evitando-se que aconteça com estas obras, no caso específico de Passos, o que já aconteceu com boa parte do patrimônio material da cidade de períodos precedentes, que se perdeu por absoluta falta de conhe-cimento e inventariamento.

A ARQUITETURA MODERNISTAE A CONSTRUÇÃO

O advento da arquitetura moderna no país repre-sentou um duplo desafio para a construção brasileira: de um lado, introduziu uma nova linguagem arquitetô-nica e, ao mesmo tempo, requereu uma modernização da sua produção, com novos materiais, novos sistemas construtivos e tecnologias do processo de produção. Segundo Zenha (1998), a transferência de informações técnicas para os potenciais usuários é uma preocupação constante para o setor, pois o leque de possibilidades abertos pela indústria, sem que se saiba com antecipa-ção seu desempenho técnico e condições de uso e em-prego, é um dos problemas centrais das construções que inovam. A arquitetura moderna no Brasil, nos seus pri-meiros momentos, enfrentou fortemente esta questão, dado que as novas formas e propostas requeriam o de-senvolvimento e o conhecimento do concreto armado, da impermeabilização de lajes, de novos materiais para revestimentos, etc.

A arquitetura moderna chegou ao Brasil principal-mente pela migração e pelo intercâmbio proporciona-do pela visita de arquitetos e pensadores europeus, ao lado de certa pujança econômica advinda do desejo governamental de “modernizar” o país, durante a dé-cada de 1930. Ao mesmo tempo, o intercâmbio e a proximidade com os Estados Unidos, em função da política de boa vizinhança ocasionada pela II Guerra Mundial, também foram elementos que propiciaram a afirmação da primeira geração de arquitetos moder-nistas brasileiros, principalmente Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Para Cavalcanti (2001), foi sem dúvida o arquite-to carioca Oscar Niemeyer o grande responsável pela criação de uma linguagem própria e que fornecia novas

opções para o racionalismo vigente, diferentemente de outros países, que produziam uma arquitetura anônima e impessoal. Para este autor, uma das características mais positivas da arquitetura modernista brasileira foi o domínio absoluto da tecnologia do concreto armado, que levaram a uma situação onde a estrutura resolvida já fazia surgir a arquitetura do edifício, um desafio que foi levado adiante por engenheiros calculistas que eram sensíveis às propostas de Niemeyer e de outros arqui-tetos do mesmo período, como Affonso Reidy, Sérgio Bernardes e Vilanova Artigas.

Ao mesmo tempo, o contexto histórico onde se im-plantou a arquitetura moderna forneceu condições espe-cíficas para que esta nova arquitetura se consolidasse: na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas e o Estado Novo desejavam deixar marcas na paisagem urbana, em especial da capital do país, o Rio de Janeiro, para isso construíram equipamentos públicos e sedes de organis-mos governamentais da administração pública. Ou seja, “um traço distintivo do modernismo brasileiro é que, desde os seus primórdios, ele se constitui com o apoio e o patrocínio do Estado” (CAVALCANTI, 2006:228).

A influência das idéias do arquiteto francês Le Cor-busier sobre Lúcio Costa, advindas de suas duas pas-sagens pelo Brasil, fazendo conferências e depois no projeto do prédio do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, foram decisivas para a causa modernista. Lú-cio, que havia sido diretor da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, imprimiu uma ação moderni-zadora do ensino de arquitetura, mas foi logo demitido sob pressão dos conservadores. Posteriormente, convo-cado pelo governo para elaborar o projeto do Ministé-rio, Lúcio Costa exigiu a convocação de uma equipe de jovens arquitetos modernistas, dentre os quais estava Oscar Niemeyer, cujo sucesso foi decisivo para o mo-vimento moderno de arquitetura. Os “cinco pontos da arquitetura nova” preconizados por Le Corbusier, o vo-lume construído elevado em pilotis, planta livre com es-trutura independente, fachada livre, janelas dispostas na horizontal e o terraço-jardim, passaram a ser canônicos, e seu atendimento significava equacionar uma série de condicionantes inéditos para a tecnologia e para a rotina da construção na época (SEGAWA, 2002).

O controle da qualidade foi desenvolvido e im-plantado na indústria, porém a da construção civil não conseguiu acompanhar este desenvolvimento com a necessária rapidez. Esta preocupação é característica das sociedades mais avançadas, superadas as etapas do subdesenvolvimento, onde sempre predomina a quanti-dade, e não a qualidade. Por seu nomadismo, onde há dificuldade de manter constantes as características das matérias primas e dos processos, a construção civil en-frenta, obviamente, maiores dificuldades para garantir padrões de qualidade, até mesmo porque no Brasil, tra-dicionalmente a mão de obra empregada é pouco quali-ficada (MESEGUER, 1991).

49Ferreira e Santos, 2009

A construção civil é uma atividade que abrange enorme diversidade de serviços e técnicas. Segundo Ripper (1984), as conseqüências na obra por falhas de projeto ou de execução podem acarretar violações às normas técnicas, o que pode gerar problemas de conser-vação, utilização e até mesmo de segurança aos usuá-rios das edificações. Quando se trata de novas técnicas, este problema pode se agravar, pelo desconhecimento de quem as aplica, ou até mesmo pelo insuficiente do-mínio da novidade. É necessário, desta forma, elaborar programas de preservação cultural do patrimônio mo-derno que levem em conta o conhecimento das técnicas construtivas e do ideário do período para que as inter-venções novas nas construções existentes não descarac-terizem por completo as obras, fazendo que suas carac-terísticas principais desapareçam.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃODE PASSOS

A cidade de Passos se situa no universo das cidades mineiras de porte médio que não passaram por um pro-cesso de metropolização, tornando-se pólo isolado de urbanização em vasta região mineira (Figura 01). Loca-lizada na região sudoeste do estado, próxima à fronteira com o estado de São Paulo, sua população já ultrapas-sou os cem mil habitantes. Sua economia tem predo-minância agro-industrial, incluindo setores da indústria alimentícia e do vestuário, embora o peso da produção leiteira ainda seja significativo.

Sua história esteve inicialmente vinculada à extra-ção do ouro e à pecuária extensiva, como ponto de apoio da rota de tropeiros entre o sul de Minas e o Triângulo Mineiro, resultando numa ocupação urbana bastante rarefeita até os anos 1920. O processo de urbanização foi bastante lento em função da predominância das ati-vidades rurais, base de sua economia, sobre as urbanas. Durante o século XIX, sua vida urbana foi modificada pela introdução da cultura do café, que permitiu a cida-de melhorar sua infra-estrutura e o surgimento e o forta-

lecimento de atividades de comércio e de pequenas in-dústrias. Desta cidade, rapidamente destruída diante do processo de modernização, quase nada restou, e mesmo da cidade de tijolos há poucos exemplares dignos de nota (GRILO, 1990).

Do ponto de vista do seu território, o acelerado cres-cimento urbano das duas últimas décadas resultou numa ocupação extensiva e difusa com baixa densidade popu-lacional, permitindo a constituição de enormes vazios ur-banos (cerca de 30% do seu território urbano é constitu-ído de lotes vagos), que tem apresentado dificuldades de manutenção e expansão de serviços pelo setor público.

Passos foi elevada à categoria de cidade em 1856, mas a ocupação da região é anterior, data do final do século XVII, quando os intrantes mineiros, na feliz des-crição de Carlos Lemos, realizaram um “torna-viagem”, lançando-se à efetiva ocupação do antigo “Caminho dos Goyazes”, a rota do Anhanguera.

O processo de urbanização, embora lento nas pri-meiras décadas do século XX, trouxe para a cidade necessidades novas, desde a construção de novas edi-ficações com novos programas de uso como a instala-ção de infra-estrutura adequada às demandas da cidade em crescimento. A velha cidade das faisqueiras do pe-ríodo imperial, construída de taipa e pau-a-pique, foi lentamente substituída pela cidade de tijolos no período republicano, substituição acelerada a partir da chegada da ferrovia em 1922, quando começaram a chegar os imigrantes italianos e a possibilidade de trazer novos materiais e modelos construtivos, introduzindo também novos modos de viver.

Neste período, do final do século XIX até a década de 30 do século XX, houve a participação dos constru-tores de origem italiana nas construções da burguesia agrária local, cuja contribuição ainda é bastante visí-vel na paisagem urbana local, especialmente nas regi-ões centrais e de urbanização mais antiga. Os fluxos e pulsos da forma como ocorreu esta urbanização são bastante visíveis na paisagem urbana: a ocupação mais

Figura 04: Vista aérea de Passos nos anos 1960 (arquivo do autor)

50 CIÊNCIA ET PRAXIS V.2, N. 3 (2009)

densa no entorno da igreja matriz, localizada em encos-ta e sitiada por extensa rede hidrográfica, os braços da expansão estendidos rumo ao cemitério, à estação fer-roviária, às saídas para o rio Grande e para o Triângulo mineiro, bem como para a capital de Minas Gerais e para o estado de São Paulo.

A partir dos anos 40, obras art-déco e protomodernas, como a agência dos Correios e Telégrafos começaram a ser construídas pela cidade, introduzindo a estrutura em concreto armado e vãos maiores, principalmente em edifícios comerciais. Mas foi nos anos 1950, com a formatura do arquiteto Dáude Jabbur na Faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro, que a arquitetura moder-nista iniciou sua trajetória em Passos.

Este período, bastante rico em sua arquitetura, tem sido incompreendido pelos proprietários destes imóveis, pois sua manutenção tem sido inadequada e as reformas e demolições se sucedem sem que o poder público e a própria sociedade se dêem conta do desmonte que está ocorrendo de um aspecto importante de sua identidade. Mais ainda, este mesmo desprezo está sendo remetido a outro período da arquitetura e da paisagem de Passos, o período desenvolvimentista de JK, os anos 1950 e 1960.

A INTRODUÇÃO DA ARQUITETURAMODERNISTA EM PASSOS

No ano de 1954, inicia-se a construção de um edi-fício residencial de dois pavimentos, situado à rua For-mosa, n. 135, em lote localizado no meio da quadra entre as ruas deputado Lourenço de Andrade e Santo Antônio, localizada próxima à praça da Igreja Matriz. Este edifício pioneiro traria em seu bojo as principais características defendidas pelos modernistas, tais como a alvenaria independente da estrutura, os brises volta-dos para a fachada oeste, as linhas retas e a pureza da volumetria, a ausência de adereços decorativos tão ca-ros aos construtores italianos, o uso dos pilotis, o uso do concreto armado, os caixilhos envidraçados seqüen-cialmente, as paredes curvas com tijolos de vidro, lajes

impermeabilizadas em sacadas e uma grande estrutura inclinada, como uma espécie de brise em grelha, con-ferindo-lhe leveza. O projeto, contratado pelo médico Jorge Jabbur junto a seu irmão, o arquiteto recém-for-mado pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro, Dáu-de Jabbur (Figura 02 e 03), tornou-se um marco pelas inovações que apresentou ao pequeno burgo interiorano que era Passos.

Dáude, nascido em Passos em 1928, era o sétimo filho de Abrão Jabbur e Nazer Esper Kallas, uma famí-lia de migrantes sírios com atividades no comércio de armarinhos, que aportou em Passos no início dos anos 1920, vinda de Jacuí, provavelmente por conta das pos-sibilidades de expansão de negócios que a chegada da ferrovia estava trazendo para a cidade. A família Jabbur assumiria posição de liderança e destaque na cidade, pois outro dos irmãos de Dáude, Neif, seria por várias legislaturas, deputado estadual e federal representando a cidade e região. Dáude, depois de estudar o segundo grau em Campinas, resolveu estudar arquitetura no Rio de Janeiro, no final dos anos 1940.

A casa projetada por Dáude para seu irmão, embora esteja em boas condições de conservação, sofreu inter-venções significativas, com a incorporação do antigo consultório à residência e à eliminação da sacada. Com dois pavimentos, ocupou o lote retangular de forma tra-dicional, encostando as paredes numa das divisas, a de leste. Afastada da via pública por um recuo (inovação que começava a se estabelecer, pois as construções do período anterior eram todas no alinhamento da calçada) ajardinado, separado do passeio por uma vedação com gradil metálico baixo, o projeto foi elaborado e teve as obras iniciadas em 1953, com uma área construída de 327,00 metros quadrados (Figura 04).

No térreo, estavam dispostas a garage para um úni-co carro (ou seja, já se verificava a necessidade de agen-ciar espaços exclusivos para o automóvel, que ainda era artigo de luxo), e o consultório médico de Jorge, com acessos independentes. Ali, um programa específico foi

Figura 2: O arquiteto Dáude Jabbur (acervo da família Jabbur)

Figura 03: Dáude Jabbur diante dos prédios do Parque Guinle no Rio de Janeiro, projeto de Jabbur e Lúcio Costa, em 1948 (acervo da família Jabbur)

51Ferreira e Santos, 2009

definido, em função do atendimento dos pacientes e dos equipamentos de raio-X do médico. Uma inovadora pa-rede curva com tijolos de vidro dava um destaque espe-cial ao consultório, provavelmente inspirada na solução adotada na sede do banco Boa Vista, projetado por Os-car Niemeyer poucos anos antes no Rio de Janeiro.

No pavimento superior, foi previsto o uso residen-cial, acessível através de uma escada oriunda da garage, com um programa tradicional das famílias burguesas daquele período (sala de estar, copa, cozinha, lavande-ria, instalações sanitárias e dormitórios), com a previ-são de uma sacada sobre laje impermeabilizada, volta-da para a via pública. As empenas laterais mostravam outra solução diferenciada, a cobertura em duas águas inclinadas para uma calha central.

Após a construção da casa de seu irmão, Dáude elaborou outro projeto importante para a história da ar-quitetura local: o primeiro edifício alto da cidade, um arranha-céus com nove pavimentos, localizado na praça da Matriz, à rua Antônio Carlos (edifício Abrão Jabbur) (Figura 05 e 06). Também iniciativa de sua família, principalmente de seu irmão Neif, que obteve um finan-ciamento para o prédio junto à Caixa Econômica Fede-

ral, foi iniciado em 1962 e inaugurado em setembro de 1965, também trazia em seu bojo o pioneirismo na apli-cação de cânones do modernismo na cidade. Suas obras trazem nítida influência dos postulados corbusianos e da chamada “escola carioca” da arquitetura modernista, como a eliminação das formas decorativas externas típi-cas do artesanato, a subordinação dos aspectos estéticos à uma produção racionalizada e repetitiva. No início, trazia ainda a planta livre, com uma nítida separação entre a estrutura e as paredes de vedação, introduzindo também o pilotis em “v” no térreo do edifício (recurso também utilizado por Oscar Niemeyer em vários edifí-cios que construiu no Rio de Janeiro e em São Paulo), os brises para proteger do sol da tarde na face voltada para a praça da Matriz (embora de pequena dimensão), as janelas envidraçadas contínuas, o uso intensivo do concreto armado a demonstrar suas amplas possibili-dades técnicas e estéticas. Aspectos comerciais para a viabilização econômica do empreendimento levaram à alteração da planta original, apenas comercial, para adaptar apartamentos com uso residencial.

Além destas edificações, Dáude fez os estudos para a implantação da sede social do Clube Passense de

Figura 04: Perspectiva desenhada pelo arquiteto Dáude Jabbur para ilustrar a construção da residência e consulto-rio do irmão, o médico Jorge Jabbur (acervo da família Jorge Jabbur)

Figura 06: Vista do edifício Abrão Jabbur no início da década de 1970 (acervo da família Jabbur)

Figura 05: Perspectiva do edifício Abrão Jabbur elabo-rado por Dáude (acervo da família Jabbur)

52 CIÊNCIA ET PRAXIS V.2, N. 3 (2009)

Natação – CPN, onde os grandes vãos do salão foram imaginados com a cobertura de telhas em concreto pro-tendido (Figura 07 e 08). Deixou ainda o projeto para o prédio da nova rodoviária da cidade, que nunca chegou a ser concluída, a área e o prédio inacabado foram ce-didos pela prefeitura à FESP, que ali instalou seus la-boratórios. Seu falecimento precoce em 1970 no Rio de Janeiro, onde vivia, interrompeu repentinamente sua carreira, mas a obra construída por Dáude Jabbur na cidade de Passos apresenta, sem dúvida, um inegável pioneirismo e grande importância para a preservação da memória local de sua arquitetura.

Enquanto Dáude iniciava sua trajetória profissional construindo suas primeiras obras em Passos, com recur-sos provenientes do governo do Estado, foi construído pela prefeitura municipal o novo mercado, situado na esquina da avenida Francisco Avelino Maia com Tra-vessa Monsenhor João Pedro. O projeto foi elaborado pelo governo estadual e construído pelo engenheiro da prefeitura municipal Ubirajara dos Reis, possuindo ca-racterísticas modernistas: um grande vão em arcos de madeira contraplacada, bastante esbeltos, com telhado em fibrocimento. Uma laje de concreto em balanço, nas duas faces externas, delimitam e definem o acesso do público. Uma estrutura em concreto lateral, inclinada, define os espaços dos boxes externos. Suas dimensões, significativas para a pequena cidade daquela época, tornaram-no elemento expressivo da paisagem urbana, havendo projetos da prefeitura para recuperá-lo.

No final dos anos 1950, o passense Paulo Pimenta foi estudar arquitetura em Belo Horizonte, na Universi-dade Federal de Minas Gerais - UFMG, onde formou-se em 1962. Durante o curso, conheceu e casou-se com Maristela Scotfield Silva Pimenta (formada em 1965, na mesma faculdade), com quem estabeleceu um escritório de projetos. Em meados dos anos 1960, os dois deram início a uma intensa atividade profissional na cidade, que redundou na produção de importantes edifícios moder-nistas, como a nova sede da prefeitura local, o prédio da faculdade de filosofia e dezenas de moradias, cujo im-pacto sobre a paisagem foi bastante significativo. Com

uma linguagem inovadora e ao mesmo tempo revelado-ra de apuradas soluções formais e o arranjo interno das moradias mostram uma ação transformadora sobre a paisagem urbana local. Também na década de 1960, o Serviço de Água e Esgotos local (SAE, então vinculado à FUNASA, organismo federal) constrói sua nova esta-ção de tratamento de águas (ETA), cujo projeto apresenta características modernistas, desde o pilotis aos panos en-vidraçados até o uso intensivo de concreto armado.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSPara seleção e caracterização da área de estudo, fo-

ram desenvolvidas pesquisas de campo, levantamento documental e de fontes secundárias. A pré-seleção de áreas potenciais para localização de edificações com ca-racterísticas modernistas foram delineadas em mapas, através de pesquisa cadastral na prefeitura. A partir da definição destas áreas, foram determinadas as regiões da cidade urbanizadas ou que receberam edificações durante as décadas de 1950, 60 e 70; foram verificadas, através de visitação in loco, a existência de edificações significativas do período em estudo, através de crité-rios formais (uso de planta livre, planos envidraçados, ausência de ornamentos, existência de pilotis, estrutura em concreto armado com grandes vãos, dentre os prin-cipais aspectos, relacionados aos cinco pontos preco-nizados por Le Corbusier). As edificações foram devi-damente fotografadas externamente, elaborando-se um mapa com sua localização e definindo-se claramente os limites de um perímetro de análise.

Após essa etapa foram realizados o levantamen-to das condições físicas das edificações selecionadas: a partir da identificação das edificações mais signifi-cativas, iniciou-se uma investigação individualizada, anotando-se numa ficha individual todas as informa-ções cadastrais obtidas na prefeitura e junto aos atuais proprietários dos imóveis, observando as condições de conservação e manutenção das características originais das obras.

Para o levantamento do histórico das edificações selecionadas: foi utilizada a mesma ficha individual ci-

Figura 7: Perspectiva de Dáude Jabbur para a sede social do Clube Passense (CPN)

53Ferreira e Santos, 2009

tada acima, anotando-se as referências quanto ao histó-rico da construção da obra e seus autores. Em todos os imóveis analisados, procedeu-se a registro fotográfico das condições atuais do exterior do prédio e, quando possível, confrontado com registros anteriores, para se verificar o grau de manutenção do projeto original.

Em seguida, foi realizado o levantamento e análise da Legislação Municipal, Estadual e Federal incidentes: procedeu-se a leitura e análise da legislação edilícea municipal e da lei do Plano Diretor Participativo local.

Para a consecução da pesquisa, foram elaboradas fichas do inventário, que permitam consultas por inte-ressados.

CONCLUSÕESDurante o percurso das pesquisas, foram identifica-

das as edificações construídas entre 1950 a 1970 e reali-zado um levantamento iconográfico daquelas que apre-sentavam arquitetura condizente com as características presentes na literatura sobre o chamado “estilo moder-no”, atingindo 65 edificações, todas documentadas e fo-tografadas externamente, utilizando-se câmera digital. Foi possível localizar, exclusivamente em acervos par-ticulares, projetos e desenhos de algumas obras, permi-tindo a digitalização das fotos antigas das construções e de projetos realizados e não realizados. Junto ao poder público local, não há nenhum arquivo que disponha de informações, sequer sobre as obras públicas.

Através da entrevista realizada com o engenheiro-arquiteto Arnaldo Grecco Muniz, que milita no ramo da construção civil na cidade desde o início dos anos 1970, foi possível identificar vários nomes de arquite-tos e engenheiros da época que também trabalhavam com o estilo moderno na cidade de Passos, como Dáude Jabbur, Paulo Pimenta, Maristela Scotfield Pimenta e Mário Gonçalves, dentre outros. As pistas indicadas por Muniz tornaram possível localizar parentes de Dáude Jabbur e Paulo Pimenta, já que ambos são falecidos, para obter documentos e informações relativos a suas

obras e projetos. Por meio de entrevistas realizadas com Nazle Jab-

bur e Patrícia Stern Jabbur, respectivamente sobrinha e filha do arquiteto, foi possível levantar informações biográficas, imagens e projetos elaborados pelo arqui-teto Dáude Jabbur, o pioneiro introdutor da linguagem modernista em Passos. Através de entrevista realizada com a arquiteta Maristela Scotfield Silva Pimenta (viú-va de Paulo Pimenta), foi possível levantar informações biográficas, imagens e projetos elaborados pela arquite-ta e por Paulo Pimenta, também arquiteto, com grande atuação na cidade desde a década de 1960.

Com a utilização de um mapa digital da cidade de Passos elaborado pela Secretaria Municipal de Planeja-mento, onde se pode observar com clareza as quadras, lotes e ruas definidas com as respectivas denominações, foi delimitada uma área de trabalho inicial, que havia sido urbanizada ou adensada entre as décadas de 1950 e 1970, para ser observada com mais atenção. A região foi percorrida integralmente a pé, permitindo observar detalhadamente as características das edificações, de modo a posteriormente identificá-las no mapa. Após o reconhecimento das edificações com características modernas, foi definido um perímetro condizente com a Zona Comercial Principal definida pelo Plano Diretor do Município e realizado um levantamento iconográfi-co somente das fachadas das edificações listadas.

As fichas de pesquisa das edificações foram elabo-radas com base nos elementos constantes do Boletim de Cadastro Imobiliário da Prefeitura de Passos (MG), e suas informações foram repassadas para um modelo adaptado às indicações preconizadas pelo DOCOMO-MO, para possíveis alterações.

As informações obtidas e o material produzido assu-mem importância ainda maior, pois permitem ao Conse-lho de Defesa do Patrimônio Histórico local ter acesso a documentos que lhe permitem elaborar e desenvolver um possível Programa de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Modernista de Passos.

Figura 8: Perspectiva interna feita por Jabbur para a sede do Clube Passense de Natação (CPN)

54 CIÊNCIA ET PRAXIS V.2, N. 3 (2009)

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55Ciência et Praxis v. 2, n. 3, (2009)

Efeitos produzidos pela ingestão de fibras alimentares: solúveis e insolúveis em camundongos

Luana Dias de Paula1 ; Camila Faria Marques1; Saula Goulart Chauld3

Resumo: As fibras alimentares podem ser classificadas por duas propriedades de solubilidade em água sendo denominada fibra solúvel e fibra insolúvel. As mesmas estão sempre envolvidas em tratamentos e prevenção de distúrbios graves no trato digestório, como por exemplo, a constipação. Objetivou-se com esta pesquisa verificar a ingestão de fibras alimentares (solúveis e insolúveis) no ganho de peso, glicemia e quantidade de fezes eliminadas em camundongos machos. A pesquisa foi de caráter experimental com abordagem qualitativa. A amostra estudada constituiu-se de 30 camundongos machos com idades variando entre 21 a 28 dias, escolhidos aleatoriamente, os quais foram inicialmente pesados e separados em 3 grupos (cada grupo continha 10 animais) e receberão as seguin-tes dietas: dieta padrão para roedores (média 785g por semana), dieta padrão para roedores acrescida de fibra solú-vel (média 502g por semana) e dieta padrão para roedores acrescida de fibra insolúvel (média 586g por semana). A coleta de dados foi realizada no período de 11 de novembro de 2008 a 16 de dezembro de 2008, totalizando as 5 semanas previstas. Uma vez por semana, às terças-feiras no período da tarde, foram coletados os seguintes dados em cada grupo: o peso corporal, glicemia e quantidade de fezes eliminadas por dieta. O grupo de animal que foi submetido à ingestão de dieta padrão para roedores acrescida de fibra solúvel foi que apresentou maior ganho de peso e glicemia, contudo teve uma menor de eliminação de fezes. A dieta padrão para roedores acrescida de fibra insolúveis foi a que apresentou menor ganho de peso. O menor dado obtido de glicemia e o maior dado de fezes eliminadas foram encontrados na dieta padrão para roedores. Conclui-se a necessidade de um estímulo no aumento do consumo diário de fibras alimentares para se obter uma melhor qualidade de vida, e assim evitar o surgimento de várias doenças, principalmente no trato digestório.Palavras-chave: Fibra solúvel; fibra insolúvel; ganho de peso; eliminação de fezes.

1 Discente do curso de Nutrição da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG).2 Professora Doutora da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG); Email: [email protected].

INTRODUÇÃO• Fibrasalimentaresesuaclassificação(tipos)As fibras podem ser classificadas em relação ao seu

grau de polimerização, em: polissacarídeos estruturais (ce-lulose, hemicelulose, pectina e amido resistente), polissa-carídeos não estruturais (gomas e mucilagens) e compostos não polissacarídeos como lignina e outras substâncias. Do ponto de vista prático, as fibras podem ser classificadas em

relação ao seu grau de solubilidade em água como: fibras solúveis e fibras insolúveis.

Campos (2006) mostra que as fibras correspondem aos resíduos de paredes celulares e tecidos de sustentação de vegetais usados na alimentação. Esses resíduos correspon-dem a porção que resiste à hidrólise pelas enzimas do tubo digestivo e que influencia no processo nutricional.

Abstract: Food fibers can be classified by two properties of water solubility called soluble fiber and insoluble fiber. The same presented previously are always involved in treatments and prevention of serious disorders in the digestive tract; for example, the constipation. The objective of this study was to check the ingestion of food fibers (soluble and insoluble) in relation to weight gain, glycemia levels and quantity of excrements eliminated by male mice. The research was experimental with qualitative approach. The studied sample was constituted of 30 male mice with ages varying between 21 to 28 days, chosen randomly, which were initially weighed and separated in 3 groups (each group containing 10 animals) and they received the following diets: standard diet for rodents (ave-rage 785g weekly), standard diet for rodents added with soluble fiber (average 502g weekly) and standard diet for rodents added with insoluble fiber (average 586g weekly). The data collection was carried out from November 11th, 2008 to December 16th, 2008, totalizing the five predicted weeks. The physical weight, glycemia levels and quantity of excrement eliminated in each diet were collected once a week, every Tuesday afternoon. The group of animals that were subjected to the ingestion of standard diets for rodents added with soluble fiber gained more weight and the glycemia level was higher, however the elimination of excrement was smaller. Those mice that received the standard diet for rodents added with insoluble fiber gained less weight. The lowest level of glycemia and the higher quantity of excrement eliminated was found in the standard diet for rodents. It was concluded that a stimulus to increase the daily consumption of food fibers is necessary in order to obtain a better quality of life, avoiding thus, the appearance of several diseases, principally in the digestive tract.Keywords: Soluble fiber; insoluble fiber; weight gain; elimination of excrements.

Effects produced by the ingestion of food fibers: soluble and insoluble in mice

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)56

Apesar de serem resistentes às enzimas humanas do trato digestivo, ao atravessarem pela válvula ileocecal, as fibras entram em contato com enzimas produzidas por bactérias colônicas e estas degradam frações inte-grantes das fibras. A partir deste processo de digestão bacteriana ou fermentação, são gerados diversos pro-dutos (acetato, butirato, propionato, CO2, hidrogênio, metano e água), que podem exercer efeito fisiológico ou alterar o meio químico do cólon. Estes gases e áci-dos graxos voláteis podem ser absorvidos e utilizados no metabolismo aeróbico do organismo bacteriano ou, quando utilizados pela flora, podem aumentar o volume fecal através de ação osmótica. Fatores como composição química da fibra, natureza da flora bacte-riana no cólon e tempo de trânsito intestinal interferem na fermentação das fibras (MANNARINO; GERUDE; FREITAS, 2005).

DEFINIÇÃO DE FIBRAS DIETÉTICASA definição exata de fibra alimentar, bem como os

métodos utilizados para sua avaliação, ainda não foi es-tabelecido de maneira adequada, principalmente porque há fibra alimentar pode ser definida tanto por seus atri-butos fisiológicos como por sua composição química (FILISETTI, 2007).

Franceschini, Priores e Euclydes (2005), dizem que considerando a falta de uma definição universal para fi-bra, a Food and Nutrition Board/Institute of Medicine, em 2002, propôs as seguintes definições: Fibra dietéti-ca: carboidratos e lignina não digeríveis que estão in-trínsecos e intactos nas plantas. Englobam igualmente outros macros nutrientes associados, normalmente pre-sentes nos alimentos. Fibra funcional: consiste no isola-mento de carboidrato não-digeríveis que tenham efeitos benéficos na fisiologia humana. Fibra total: é o conjunto das fibras dietéticas com as fibras funcionais.

Grande parte das fibras são hidratos de carbono (po-lissacarídeos) que, por não serem digeridos e absorvi-dos, não são considerados nutrientes, apesar de ser dono de papel essencial na alimentação. Os tipos de fibras são: celulose, hemicelulose e lignina (MANNARINO; GERUDE; FREITAS, 2005).

FIBRAS E SUA IMPORTÂNCIA COMO ALIMENTO FUNCIONAL

Alimento funcional é todo aquele alimento ou in-grediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido na dieta usual, produz efeitos meta-bólicos, fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, de-vendo ser seguro para consumo sem supervisão médica (PIMENTEL, 2005).

Qualquer alimento, natural ou preparado, que con-tenha uma ou mais substâncias, classificadas como nutrientes ou não nutrientes, capazes de atuar no me-tabolismo e na fisiologia humana, promovendo efeitos benéficos para a saúde, podendo retardar o estabeleci-

mento de doenças crônico-degenerativas e melhorar a qualidade e a expectativa de vida das pessoas (SGAR-BIERI; PACHECO, 1999. on-line).

Segundo Anjo (2004), os alimentos funcionais à interferência na flora intestinal, que são divididos em três grupos: prebióticos, probióticos e simbióticos. Os prebióticos são carboidratos complexos (considerados fibras), resistentes às ações das enzimas salivares e intestinais. Eles produzem efeitos benéficos à micro-flora colônia quando atingem o cólon. O prebiótico não sofre hidrólise ou absorção no intestino delgado e contribui para a formação de uma microflora saudável, induzindo efeitos favoráveis à saúde. As substâncias como lactose, xilitol, insulina e frutooligossacarídeos apresentam os outros efeitos, como: alteração do trân-sito intestinal, reduzindo metabólicos tóxicos; preven-ção da diarréia ou da obstipação intestinal, por alterar a microflora colônia; diminuição do risco de câncer; diminuição do nível de colesterol e triglicerídeos; controle da pressão arterial; incremento na produção e biodisponibilidade de minerais; redução do risco de obesidade e diabetes insulino-dependente e redução da intolerância à lactose.

De acordo com Saad (2006), os probióticos são definidos como suplementos alimentares à base de mi-crorganismos vivos, que afetam beneficamente o ani-mal hospedeiro, promovendo o balanço de sua micro-biota intestinal. A acepção atualmente é que eles são microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hos-pedeiro. A influência benéfica dos probióticos sobre a microbiota intestinal humana inclui fatores como efei-tos antagônicos, competição e efeitos imunológicos, resultando em um aumento da resistência contra pa-tógenos e a utilização de culturas bacterianas probió-ticas estimula a multiplicação de bactérias benéficas, em lesão à proliferação de bactérias potencialmente prejudiciais, reforçando os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro.

Um produto referido como simbiótico é aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados. A interação entre o probiótico e o prebiótico in vivo pode ser favorecida por uma adaptação do probiótico ao substrato prebiótico anterior ao consumo. Isto pode, em alguns casos, resultar em uma vantagem competiti-va para o probiótico, se ele for consumido juntamente com o prebiótico. Alternativamente, esse efeito simbi-ótico pode ser direcionado às diferentes regiões “alvo” do trato gastrintestinal, os intestinos delgado e grosso. O consumo de probióticos e de prebióticos seleciona-dos apropriadamente pode aumentar os efeitos benéfi-cos de cada um deles, uma vez que o estímulo de cepas probióticas conhecidas leva à escolha dos pares simbi-óticos substrato-microrganismo ideal (SAAD, 2006).

O presente estudo tem com objetivo, observar os efeitos produzidos pelas fibras solúveis e insolúveis

57Marques, Paula e Chaud, 2009

em relação ao ganho de peso, glicemia e quantidade de fezes excretadas.

METODOLOGIA A presente pesquisa foi de natureza experimental

e qualitativa. O método de pesquisa experimental tem como objetivo manipular diretamente as variáveis rela-cionadas com o objeto de estudo, proporcionando uma relação de causa e efeito e mostrando de que modo o fenômeno é produzido (MATTOS; ROSSETTO Jr.; BLECHER, 2004).

A análise dos dados foi feita de forma quantitativa para caracterização detalhada. A análise considerou as dimensões quantitativas, pois quando se quer conhecer objetivamente o estado de uma determinada realidade precisa-se construir numerosos indicadores quantitati-vos (MATTOS; ROSSETTO Jr.; BLECHER, 2004).

Nesta pesquisa foram utilizados 30 camundongos machos com 21 dias de vida, provenientes do bioté-rio setorial da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), escolhidos aleatoriamente, os quais foram inicialmente pesados e separados em 3 grupos (cada grupo contendo 10 animais) que foram acomodados em caixas de polipropileno. Cada grupo foi marcado (identificado com numeração própria), e receberam as dietas experimentais e água ad libitum (à vontade) por um período de 35 dias, sendo que durante o experimen-to, a temperatura do laboratório e a iluminação, não foram monitoradas.

A coleta de dados foi realizada no período de 11 de novembro de 2008 a 16 de dezembro de 2008, totali-zando as 5 semanas previstas. Uma vez por semana, às terças-feiras no período da tarde, foram coletados os seguintes dados em cada grupo: peso (através de balan-ça eletrônica), glicemia (utilizando glicosímetro Accu-chek Advantage) e quantidade de fezes excretadas (g).

Os animais foram divididos em 3 grupos e recebe-rão as seguintes dietas:

Grupo1:dieta padrão para roedores (média de 785g por semana): milho integral, farelo de arroz, feno de al-fafa, casca de arroz moída, calcário calcítico, cloreto de sódio (sal comum) e Premix Vitamínico Mineral;

Grupo2: dieta padrão para roedores acrescida de fibra solúvel (média 502g por semana): mucilon de ar-roz e mucilon de milho;

Grupo3: dieta padrão para roedores acrescida de fibra insolúvel (média 586g por semana): farelo de tri-go, linhaça e aveia.

Para a tabulação dos dados: ganho de peso, glice-mia e quantidade de fezes eliminadas foram retiradas às médias dos 3 grupos. Através das médias foram verifi-cados os resultados entre os três grupos de camundon-gos, alimentados com as seguintes dietas: dieta padrão para roedores, dieta padrão para roedores acrescida de fibra insolúvel e dieta padrão para roedores acrescida de fibra solúvel.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO presente estudo foi realizado com 30 camun-

dongos machos que foram divididos em três grupos, contendo 10 animais em cada grupo. Os animais foram alimentados durante 5 semanas (35 dias), no período de 11 de novembro de 2008 a 16 de dezembro de 2008, com as seguintes dietas: dieta padrão para roedores, dieta padrão para roedores + fibra solúvel, dieta pa-drão para roedores + fibra insolúvel. Os dados foram coletados no Laboratório de Nutrição Experimental da Faculdade de Nutrição de Passos.

O maior ganho de peso foi da dieta padrão para roedores + fibra solúvel na segunda semana (32,35g) e na dieta padrão para roedores na última semana (33,62g) (Figura 1). O menor ganho de peso ao lon-go do experimento foi observado na dieta padrão para roedores + fibra insolúvel na terceira semana (24,48g) (Figura 1).

Foi observado em relação ao ganho de peso final (g), que a dieta padrão para roedores + fibra solúvel foi a que

Gráfico 1: Variação da média de ganho de peso (g) (média de 10 animais por dieta) para camundongos submetidos às dietas contendo: dieta padrão para roedores, dieta padrão para roedores + fibra solúvel, dieta padrão para roedo-res + fibra insolúvel, dados coletados no município de Passos (MG)

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)58

apresentou o maior ganho de peso (13,04g). O menor ganho de peso ocorreu na dieta padrão para roedores + fibra insolúvel (7,61g), seguida pela dieta padrão para roedores (7,99g) (Figura 2).

Simony e Ferreira (2007) e Salgado (2001) relatam que as fibras insolúveis agem contribuindo para a saciedade e controle de peso, além da prevenção da saúde intestinal.

Contradizendo os resultados apresentados, Fietz e Salgado (1999), Santos Júnior (2003) e Trombeta e Gu-tkoski (1999) relatam que no trato gastrointestinal as fi-bras solúveis, retardam o esvaziamento gástrico por pos-suírem facilidade em se incorporar à água e formar geis, tornando esse processo mais lento e conferindo maior saciedade. Com isso a ingesta de alimentos diminui o que resulta em menor ganho de peso.

Em relação a glicemia (Figura 3), pode-se constatar que no decorrer de cinco semanas, a mesma estava alta nos indivíduos que receberam dieta padrão para roedores (153,2 mg/dl). Porém, no decorrer das semanas houve os-cilações (em algumas semanas estava baixa e em outras elevadas) e no final da última semana houve uma queda em relação à primeira medição (134,5 mg/dl). Na dieta padrão para roedores + fibra insolúvel, notou-se que a glicemia se manteve a mesma (média entre 93,5 mg/dl a 84 mg/dl). Porém, na última semana houve uma grande elevação (131,8 mg/dl). Na dieta padrão para roedores + fibra solúvel a glicemia manteve-se com médias entre 84,3 mg/dl a 81,2 mg/dl nas primeiras semanas, porém houve uma elevação na terceira semana (138,6 mg/dl) e uma queda na quarta semana (82,6 mg/dl) e uma nova elevação da última semana (134,8 mg/dl).

Na Figura 4 observou-se que o maior aumento de glicemia ocorreu na dieta padrão para roedores + fi-bra solúvel (50,5 mg/dl) e a menor perda da glicemia ocorreu na dieta padrão para roedores (-18,7 mg/dl). Na dieta padrão para roedores + fibra insolúvel foi observado que ao longo dos 35 dias houve um au-mento de 38,3 mg/dl.

Contradizendo os resultados apresentados, Simony e Ferreira (2007) e Salgado (2001) relatam que as fibras

solúveis apresentam efeitos benéficos na glicemia e me-tabolismo de lipídios.

De acordo com Pereira (2007), as fibras contribuem para a queda do índice glicêmico dos alimentos, ocor-rendo melhor resposta glicêmica e uma menor resposta insulínica, auxiliando no tratamento de diabetes. Obser-va-se que com a digestão lenta, a absorção se dá no de-correr de todo o intestino delgado, proporcionando uma curva de reação glicêmica, com um pico menor.

Pela Figura 5, pode-se observar em relação à eli-minação de fezes, que a dieta padrão para roedores + fibra insolúvel, foi a que apresentou o maior volume de fezes eliminadas na primeira semana (506g), porém na segunda semana houve uma diminuição (335,24g) e a partir da quarta semana manteve-se constante (mé-dia 256,26g a 263,98g). Na dieta padrão para roedores notou-se apenas pequenas oscilações ao longo das se-manas, principalmente na segunda e terceira semanas (média 309,96g a 377,22g).

Observou-se na dieta padrão para roedores + fi-bra solúvel que durante as quatros primeiras semanas houve um aumento gradual (média 202g a 288,81g) na eliminação de fezes. Porém na última semana ocorreu uma queda na eliminação de fezes (185,61g).

De acordo com Magri (2009), as fibras alimentares insolúveis são compostas por células vegetais e apre-sentam respostas orgânicas de acordo com sua com-posição. Apresentam ação diversa de acordo com suas propriedades físico-químicas, como: (1) facilidade para serem degradadas por fermentação bacteriana no intes-tino grosso (o que leva à formação de gases intestinais); (2) capacidade de absorverem água, o que leva o au-mento da viscosidade intestinal e interferem na digestão e absorção de nutrientes; (3) absorção de moléculas or-gânicas como colesterol e ácidos biliares, aumentando a excreção fecal.

Segundo Salgado (2001), os mecanismos pelos quais as fibras insolúveis exercem seus efeitos são sim-ples, sendo que não são digeridas e nem absorvidas pelo organismo, elas elevam a quantidade de resíduos no in-

Figura 2: Valores médios de ganho de peso final (g) (média de 10 animais por dieta), para camundongos submetidos às deitas contendo: dieta padrão para roe-dores, dieta padrão para roedores + fibra solúvel, dieta padrão para roedores + fibra insolúvel, dados coletados no município de Passos (MG)

Figura 3: Valores médios de glicemia (mg/dl) (média de 10 animais por dieta), para camundongos subme-tidos às dietas contendo: dieta padrão para roedores, dieta padrão para roedores + fibra solúvel, dieta pa-drão para roedores + fibra insolúvel, dados coletados no município de Passos (MG)

59Marques, Paula e Chaud, 2009

testino, o que aumenta o bolo fecal e como essas fibras têm a capacidade de absorver água, as fezes ficam mais macias e a movimentação intestinal fica facilitada.

De acordo com o gráfico 6 nota-se que a dieta pa-drão para roedoes e a dieta padrão para roedores + fibra insolúvel foram as que mais eliminaram fezes durante o experimento (média 1726,1g a 1701,76g) e a dieta padrão para roedores + fibra solúvel foi a que menos eliminou fezes (média 1054,32g). Isto pode comprovar que a dieta padrão para roedores + fibra solúvel pode ocasionar obstipação intestinal.

O farelo de trigo é constituído por 76% de fibras insolúveis (celulose e hemicelulose). Os componentes insolúveis da fibra resistem a digestão pela microflora do cólon. Através da fermentação das fibras ocorre au-mento da massa bacteriana causando aumento nas fe-zes, pois cerca de 50% das fezes é constituída por bac-térias. As fibras insolúveis atuam quase que unicamente como agentes formadores do bolo fecal, diminuindo o tempo de trânsito intestinal, atuando dessa forma como facilitador no momento da evacuação. O farelo de trigo tem sido usado para aliviar os sintomas, de constipação (quando não houver causa patológica), porque, além de auxiliar na formação das fezes, age como acelerador no

trânsito intestinal (CUPPARI, 2005; CREDIDIO, 2006; MELO et al., 2003).

As fibras solúveis presentes na aveia (beta-glica-nas), aumentam a viscosidade do conteúdo intestinal. Através da sua capacidade de ligarem-se à água e for-marem geis, apresentam efeito metabólico no trato gastrintestinal retardando o esvaziamento gástrico e o tempo de trânsito intestinal, tendo como resultado uma maior saciedade. Ao entrar em contato com a água au-mentam o volume do bolo fecal e o tornam mais visco-sos. Aliando-se aumento na ingesta de fibras e prática de exercícios físicos, ocorre um aumento na quantidade e volume das fezes, pois as fibras solúveis presentes na aveia auxiliam na formação do bolo fecal e os exercí-cios físicos aumentam o trânsito intestinal (WAITZ-BERG, 2004; ANDRADE et al., 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAISOs grupos de animais que foram submetidos à in-

gestão de dietas padrão para roedores + fibra solúvel apresentou maior ganho de peso e glicemia, contudo, tiveram um menor eliminação de fezes. Já a dieta pa-drão para roedores + fibra insolúveis foi a que apresen-tou menor ganho de peso. A dieta padrão para roedores apresentou a maior quantidade de fezes eliminadas, en-tretanto, apresentou o menor dado de glicemia.

A dieta padrão para roedores + fibra insolúvel apre-sentou uma eliminação de fezes relativamente maior, isto porque as fibras alimentares presentes no farelo de trigo têm maior destaque devido a grande quantidade de fibras insolúveis (76%), em especial a celulose, que estimula os nervos da parede intestinal, melhorando o movimento do intestino.

Contradizendo a literatura, o presente estudo mos-trou que as fibras presentes no “mucilon” de arroz e “mucilon” de milho (que são as fibras solúveis), não contribuíram para a diminuição dos níveis de glicemia e combate à obesidade.

É necessário que estimule a população para o au-mento do consumo diário de fibras alimentares para

Figura 4: Variações dos valores médios da glicemia ao longo do experimento (mg/dl) (media de 10 animais por dieta), para camundongos submetidos às dietas conten-do: dieta padrão para roedores, dieta padrão para roedo-res + fibra solúvel, dieta padrão para roedores + fibra in-solúvel, dados coletados no município de Passos (MG)

Figura 5: Valores médios de fezes eliminadas (g) (mé-dia de 10 animais por dieta), para camundongos sub-metidos ás dietas contendo: dieta padrão para roedo-res, dieta padrão para roedores + fibra solúvel, dieta padrão para roedores + fibra insolúvel, dados coleta-dos no município de Passos (MG)

Figura 6: Valores médios de fezes totais eliminadas (g) (média de 10 animais por dieta), para camundongos submetidos às dietas contendo: dieta padrão para roe-dores, dieta padrão para roedores + fibra solúvel, dieta padrão para roedores + fibra insolúvel, dados coletados no município de Passos (MG)

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)60

prevenir ou amenizar vários tipos de doenças e obter uma melhor qualidade de vida, a fim de se evitar formas de tratamento mais invasivos, como o medicamentoso, que em muitas vezes são mais onerosos, com efeitos co-laterais e não trazem resultados satisfatórios. As fibras alimentares são opções que exigem menores gastos que quando usadas de forma correta e por tempo prolonga-do, garantem efeito benéfico.

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61CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)

Perfil da Fauna de Hymenoptera Parasítica em um Fragmento de Cerra-do pertencente ao Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), a partir de duas Armadilhas de Captura

Cássia Isabela Vilela de Abreu1; Sônia Lúcia Modesto Zampieron2

Resumo: Entre maio de 2008 e abril de 2009 foram coletados, com armadilha Malaise e Moericke, num fragmento de cerrado pertencente ao Parque Nacional Serra da Canastra (20°00’- 20 °30’ S e 46°15’-47°00’ W), município de São Roque de Minas, MG, (Brasil), 712 exemplares de himenópteros parasitóides pertencentes a 28 famílias, contidas em 9 superfamílias, sendo que 540 indivíduos foram coletados com Malaise e 172 com armadilha do tipo Moericke, embora esse tipo de armadilha tenha permanecido por apenas 6 meses. As famílias Ichneumonidae, Braconidae, e Chacididae apresentaram a maior abundância com 174 indivíduos (32%do total), 112 indivíduos (21%do total) e 75 indivíduos (14% do total) respectivamente na armadilha Malaise. Já na armadilha do tipo mo-ericke, as famílias que apresentaram maior abundância foram: Scelionidae, Platygastridae e Diapridae, com 63 indivíduos (31% do total), 27 indivíduos (17%do total) e 18 indivíduos (10% do total), respectivamente. A armadi-lha do tipo Malaise mostrou-se mais eficiente na captura desses insetos, quando comparada à armadilha Moericke. Isto, provavelmente, deveu-se à sua maior eficiência na interceptação de vôo, uma vez que, de maneira geral, esses insetos são bem desenvolvidos para esta habilidade. Outro fator a se considerar foi o tempo de exposição da Mo-ericke, apesar da diferença no número de insetos capturados pelas duas armadilhas ter sido bastante significativa.Palavras-chave: Hymenoptera Parasítica; Armadilhas de captura de insetos; cerrado.

1Discente dos cursos de bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas (FESP|UEMG)2Professor Adjunto da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG). Email: [email protected]

INTRODUÇÃODentre os himenópteros, os parasitóides represen-

tam o grupo mais rico em espécies, sendo comuns e abundantes em todos os ecossistemas terrestres. De-senvolvem-se como parasitóides de muitos insetos, desempenhando um papel importante na regulação de populações dos seus hospedeiros, podendo depositar seus ovos sobre, ou diretamente dentro de seu hospe-deiro (ovo, larva, pupa ou imago) que, oportunamente, é morto em virtude do desenvolvimento da larva que dele se alimenta.

O grande número de Hymenoptera Parasítica, com-binado com a sua habilidade em responder à densidade das populações dos seus hospedeiros, os torna essen-ciais para manter o balanço ecológico e contribui para a

diversidade de outros organismos (GAULD; BOLTON, 1988; LA SALLE; GAULD, 1992; SCATOLINI; PEN-TEADO-DIAS, 1997).

Acredita que cerca de 75% das espécies de Hyme-noptera Parasítica ainda não foram descritas.

É importante destacar que a biodiversidade não deve ser considerada apenas sob o ponto de vista da conservação, uma vez que ela representa a fonte de re-cursos naturais mais importantes da Terra, possui gran-de importância na agricultura, medicina, indústria e até mesmo deve ser mantida por motivos psicológicos, pois existe a necessidade de admirar, observar e usufruir da natureza (BRAGA et al., 2002).

Agrupando informações atuais sobre biodiversida-de de invertebrados em áreas desmatadas, comparadas

Abstract: Between May/2008 and April/2009, 712 samples of Hymenoptera parasitoids belonging to 28 families were monthly collected, with Malaise and Moericke traps in a fragment of the Brazilian savanna belonging to Serra da Canastra National Park (20°00’- 20 °30’ S and 46°15’-47°00’ W), municipality of São Roque de Minas, MG, Brazil. These samples were kept in nine super families and although the Moericke trap had remained there for only six months, 540 individuals were caught by the Malaise trap and 172 by the Moericke type. The families Ichneumonidae, Braconidae, and Chacididae presented the biggest abundance with 174 individuals (32%), 112 in-dividuals (21 %) and 75 individuals (14 %) respectively with the Malaise trap whereas with the Moericke trap the families that presented the greatest abundance were Scelionidae, Platygastridae and Diapridae with 63 individuals (31 %), 27 individuals (17 %) and 18 individuals (10 %) respectively. The Malaise trap was more efficient in the capture of these insects when compared to the Moericke trap. This must have happened probably because of its big efficiency in the flight interception, once these insects are generally well developed for this ability. Another factor to consider was the time exposure of the Moericke trap, though the difference in number of insects captured by the two traps had been fairly significant.Keywords: Hymenoptera Parasitoids; Insect Capture Traps; Brazilian Savannah

An Outline of the Hymenoptera Parasitoids in a fragment of the Brazilian Savannah at Serra da Canastra National Park (MG), from two capture Traps

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)62

com áreas florestais, observa-se que a abundância das espécies é relativamente baixa nas matas, porém com maior riqueza (FOWLER & VENTICINQUE, 1997).

O estudo de organismos vivos usados como indica-dores da qualidade ambiental têm sido uma das técnicas para avaliar mudanças no ambiente. Esses organismos vivos têm que ser abundantes, diversificados e ecolo-gicamente importantes. A análise faunística permite a avaliação do impacto ambiental, tendo por base as espé-cies de insetos como indicadores ecológicos (SILVEI-RA NETO et al., 1995).

Bioindicadores são organismos ou comunidades de organismos cujas funções vitais são tão estreitamente correlacionadas com os fatores abióticos, que podem ser utilizados como indicadores de mudanças destes fa-tores (SCHUBERT, 1991; JULIÃO et al., 2005).

Alguns critérios têm sido sugeridos para escolha de organismos indicadores, como: serem taxonomica-mente bem conhecidos e estáveis; apresentarem ciclo de vida e biologia bem conhecidos; ter o levantamento populacional fácil e rápido; pertencerem a categorias taxonômicas mais elevadas (ordem, família, tribo e gênero) com ampla distribuição geográfica e em dife-rentes tipos de habitats; e categorias taxonômicas infe-riores (espécies e subespécies) com alta especialização, de forma a serem bem sensíveis à mudanças em seu habitat; alguma evidência de que os padrões observados na categoria indicadora reflitam-se em outras catego-rias; importância econômica potencial (NOSS, 1990; PEARSON & CASSOLA, 1992).

Autores como Noss (1990) e Murphy & Noon (1992), ambos citados em Thomazini & Thomazini (2000) con-sideram que os estudos de avaliação da biodiversidade podem ser classificados, de acordo com os seus objeti-vos, em dois tipos: (1) estudos de monitoramento ou de caracterização de comunidades, avaliando mudanças nos habitats ou ecossistemas ao longo do tempo, ou em de-corrência de perturbações ambientais; e (2) estudos de inventários anotando os padrões de distribuição geográ-fica de categorias taxonômicas ou unidades ecológicas, geralmente com o objetivo de estabelecer áreas de con-servação (MACKENZIE et al., 1989).

No primeiro caso, as amostragens são usadas para estimar a distribuição, abundância e riqueza das espé-cies da comunidade, e sua complementaridade com ou-tras, sem, contudo, necessitar da classificação de todos os organismos em nível de espécie. Em contrapartida, no segundo caso, o inventário visa obter uma precisa lista de espécies (LONGINO & COLWELL, 1997).

Considerando os diferentes aspectos da biodiversi-dade, diferentes metodologias têm sido utilizadas e/ou sugeridas. A simples contagem do número de espécies presentes em determinado local poderia ser considerada uma medida quantitativa da biodiversidade.

De acordo com Buzzi & Miyazaki (1993), os artró-podes correspondem a 75% dos animais sobre a Terra,

sendo que destes, 89% são insetos, um grupo adequado para uso em estudos de avaliação de impacto ambiental e de efeitos de fragmentação florestal, pois, além de ser o grupo de animais mais numeroso do globo terrestre, com elevadas densidades populacionais, apresentam grande diversidade, em termos de espécies e de habitats.

Além disso, apresentam grande variedade de habili-dades para dispersão e seleção de hospedeiros, e de res-postas à qualidade e quantidade de recursos disponíveis. Neste ponto, a dinâmica populacional é altamente influen-ciada pela heterogeneidade dentro de um mesmo habitat.

A Ordem Hymenoptera, particularmente, são ex-tremamente abundantes na natureza e ocupam os mais diversos tipos de ambientes disponíveis. Atualmente, estão incluídas nesta ordem cerca de 115.000 espé-cies descritas, mas estima-se que existam pelo menos 250.000 no mundo (HANSON & GAULD, 1995).

Como os insetos são muito abundantes, há pequena probabilidade que coletas, mesmo extensas, tenham mui-to efeito nas suas populações. Assim, os conservacionis-tas não precisam preocupar-se com a exterminação das espécies ou com o rompimento do equilíbrio da nature-za pelas coletas comuns (BORROR & DeLONG, 1969; BORROR & WHITE, 1970; ALMEIDA et al., 1998).

A proteção dos recursos naturais e o conhecimento das comunidades que coexistem nestes locais revestem-se de grande importância, pois estes estão diretamen-te associados às atividades que sustentam a economia local, isto é, agropecuária e indústrias relacionadas. É’ necessário pois, o estudo de grupos que podem ser des-critores eficientes dos ecossistemas em questão.

Hawkins & Lawton (1987) afirmaram que “estabe-lecer as determinantes da riqueza de espécies parasitói-des é o maior passo na compreensão da diversidade de comunidades terrestres”.

Uma vez que todas as comunidades terrestres estão regidas por interações de três níveis tróficos: plantas, her-bívoros e inimigos naturais, onde os parasitóides são par-ticularmente importantes, existe uma complexa rede de interações químicas e fisiológicas entre eles, que resulta na caracterização do ambiente em si (PRICE et al. 1980).

Os parasitóides representam o grupo mais rico em espécies da Ordem Hymenoptera: são comuns e abun-dantes em todos os ecossistemas terrestres, desenvol-vem-se como parasitóides (endoparasitóides ou ectopa-rasitóides) de muitos artrópodes, especialmente insetos (QUICKE, 1997), constituindo-se em importante ele-mento de controle das populações de outros insetos, devido a sua habilidade em responder à densidade das populações de seus hospedeiros (LA SALLE, 1993). Isto os leva a ser bastante utilizados em programas de controle biológico (PARRA et al., 2002).

As populações de parasitóides e hospedeiros flutu-am entre si de modo a impedir, tanto o aumento em mas-sa, como a extinção da mesma (LA SALLE; GAULD, 1992; HANSON; GAULD, 1995).

63Abreu e Zampieron, 2009

O interesse pelo controle biológico tem crescido em vários países, em resposta aos efeitos adversos dos pesticidas químicos sobre o meio ambiente e sobre a biodiversidade, bem como em função do novo direcio-namento internacional à produção agrícola, através da utilização de meios alternativos menos agressivos ao meio ambiente, no sentido de favorecer a conservação e o uso sustentável da biodiversidade (SCATOLINI e PENTEADO-DIAS, 1997).

Os himenópteros parasitóides são um importan-te elemento da fauna Neotropical por apresentarem como um de seus principais papéis ecológicos o controle da população de outros insetos, interferin-do direta ou indiretamente e, de forma ainda não quantificada, nas cadeias tróficas de grande parte dos ecossistemas terrestres. Dada a sua capacidade de regular a população de outros insetos, muitas es-pécies de himenópteros parasitóides são utilizadas no controle de pragas agrícolas de forma natural ou através de introduções (PERIOTO, 1996).

Nos ecossistemas, o parasitoidismo é o responsável por grande parte da regulação dos níveis populacionais de insetos, sendo que um herbívoro pode ser atacado por várias espécies de parasitóides (MAY, 1988).

Segundo Nakano & Leite (2000), inúmeras são as armadilhas empregadas na captura de insetos ou outros artrópodes. Entretanto, as recomendações ou mesmo as descrições do funcionamento de tais armadilhas encon-tram-se dispersas em publicações.

Em área de Cerrado, por exemplo, e com a utiliza-ção de diversas armadilhas, foram feitos alguns traba-lhos em diferentes regiões do país como, por exemplo, Marchiori et al. (2001) em Itumbiara (GO), Marchiori et al. (2003) em Araporã (MG) e Itumbiara (GO), Silva et al. (2003) em Lavras (MG), Perioto (1991) e Braga (2002) em São Carlos (SP). Scatolini & Penteado-Dias (2003), CirelIi & Penteado-Dias (2003) e Restello & Penteado-Dias (2006) fizeram levantamentos de Braco-nidae em diferentes regiões do Brasil.

Diante do exposto, este projeto teve como objetivo realizar um estudo comparativo do perfil de Hymenop-tera Parasítica que ocorrem no Parque Nacional da Ser-ra da Canastra, através da utilização de duas armadilhas de captura de insetos: Malaise e Moericke, elaborando um perfil da abundância relativa e a diversidade dos grupos encontrados, comparando a eficiência de cada armadilha ao longo de dez meses, e frente aos dados climatológicos nos 6 primeiros meses.

MATERIAL E MÉTODOS• Descrição da Área de EstudoO experimento foi realizado num fragmento de

cerrado na área do Parque Nacional da Serra da Canastra, localizado no sudoeste de Minas Gerais, entre as coordenadas de 20°00’- 20 °30’ S e 46°15’-47°00’ W (Figura 1).

Este Parque compreende uma área de 71.525 ha., abrangendo parte dos municípios de São Roque de Mi-nas, Sacramento e Delfinópolis. As altitudes variam de 900 até 1496 m, na Serra Brava. Nos locais acima de 1000 m, o clima corresponde ao Cwb de Köppen. A temperatura média anual varia de 18°C a 20°C. No mês mais frio, a temperatura média varia de 14°C a 16°C e a do mês mais quente, varia de 19°C a 21°C. A precipita-ção média anual varia entre 1400 e 1800 mm, com esta-ção chuvosa no verão e inverno seco. Em locais abaixo de 1000 m, o clima é o Cwa de Köppen. A temperatura média anual varia de 20°C a 23°C, porém, no mês mais frio varia de 17°C a 19,5°C, e no mês mais quente varia de 21,5°C a 24,5°C. A precipitação média anual é de 1300 a 1800 mm (IBDF, 1981).

A rede de drenagem é bastante extensa, com par-te das bacias dos rios Paranaíba, Grande e São Fran-cisco, abrigando as nascentes dos rios São Francisco e Araguari. Os solos predominantes na região são os latossolos vermelho-amarelos distróficos de textura argilosa (IBDF 1981). Há diversos tipos de vegeta-ção, sendo que 57% da área são ocupadas por campo (campo limpo e campo sujo), 37,16% por campos ru-pestres, 3,29% por cerrado sensu stricto e 2,55% por florestas (ROMERO et al. 1994).

• Levantamento FaunísticoOs insetos foram capturados durante 10 meses, em

coletas mensais, através do uso de armadilhas do tipo malaise (modelo TOWNES, 1972), sendo que nos pri-meiros 6 meses também foi utilizada a armadilha de Moericke (Fig. 2.a).

As armadilhas foram instaladas e monitoradas men-salmente, em diferentes pontos da área a ser estudada.

A armadilha do tipo Malaise (Fig.2.b) consiste numa técnica que permite a captura por meio da inter-ceptação do vôo dos insetos, além de ser uma técnica de coleta permanente, independente de atrativos para obter resultados satisfatórios (LEWIS et al., 1999).

Figura 1: Localização do Parque Nacional da Serra da Canastra no estado de Minas Gerais, e mapa do Parque indicando as principais Serras e chapadões.

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)64

A armadilha de Moericke consiste num recipiente de cor amarela, podendo ser uma bacia de plástico, com aproximadamente 30 cm de diâmetro, cujo interior re-cebeu um reforço de tinta látex amarelo mais intenso, depositada no solo, e contendo uma mistura de 2 litros de água, 2 ml de detergente e 2 ml de formol.

Durante os 6 primeiros meses, as armadilhas eram sempre colocadas lado a lado, a fim de comparar a fau-na capturada em cada uma, sendo aleatória a escolha dos pontos, mês a mês. Isto permite uma amostragem mais abrangente da diversidade de insetos na área, es-pecialmente os himenópteros.

Pelo menos um exemplar de cada espécie foi depositado na coleção de insetos do Laboratório de En-tomologia do Departamento de Ciências Biológicas da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG).

TRIAGEM E IDENTIFICAÇÃO DO MATERIAL COLETADO

Os insetos capturados, fixados no frasco coletor da armadilha de Malaise, e os capturados na armadilha de Moericke, eram levados ao Laboratório de Entomolo-gia da FESP|UEMG, posteriormente triados e identi-ficados, em nível de família. Todo o material obtido foi preservado em álcool a 70%, sendo utilizado para identificação Microscópio estereoscópico e chaves de identificação pertinentes.

Mensalmente, o material capturado por cada arma-dilha era recolhido e, ainda no campo, separadamente, eram filtrados através de um pedaço de tecido tipo voil, a fim de retirar o excesso de líquido, sendo depositados em frascos grandes de boca larga, etiquetados e condu-zidos ao laboratório.

No laboratório, eram cuidadosamente triados, sepa-rando-se os insetos da ordem Hymenoptera. Tais inse-tos foram identificados em nível de família, e quantifi-cados em termos de abundância relativa e diversidade dos grupos encontrados, para cada tipo de armadilha.

O índice de diversidade foi obtido através do índice de diversidade de Shannon-Wiener e de Simpson.

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam coletados o total de 712 exemplares de hi-

menópteros parasitóides pertencentes a 28 famílias, contidas em 9 superfamílias. Destes, 540 indivíduos

foram coletados pela Malaise e 172 pela armadilha tipo Moericke.

A maior abundância de indivíduos amostrados fo-ram na armadilha do tipo Malaise. Em termos de super-famílias obeteve-se: 52% à Ichneumonoidea (2 famí-lias/286 indivíduos); 17% à Chalcidoidea (5 famílias/ 93individuos); 15% pertencente à Platygastroidea (2 famílias/81 indivíduos); 8% à Proctotrupoidea (3fa-milia/43 indivíduos); 4% à Chrysidoidea (3/19); 1% à Cynipoidea ( 2 famílias/6 indivíduos); 1% à Evanioidea (2 Família /5 indivíduos) e 1% para Trigonalidea (1Fa-mília /3 indivíduos),1% á Ceraphronoidea(1 família/4 indivíduos)

As famílias Ichneumonidae, Braconidae, e Chalci-didae apresentaram a maior abundância com 174 indi-víduos (48 % do total), 112 indivíduos (31 %do total) e 75 individuos (21 % do total) respectivamente (Tab. 1)

A armadilha do tipo Malaise mostrou-se mais efi-ciente na captura dos insetos, quando comparada à armadilha Moericke. No entanto, é importante consi-derar que, além de sua grande eficiência na intercep-tação de vôo, os insetos capturados por ela acabam sendo melhor preservados por mais tempo, do que no caso da moerecke, cuja evaporação do material conti-do em seu interior é relativamente rápida, e fortes chu-vas acabam por proporcionar um alto índice de perda do material. Ou seja, armadilhas do tipo moericke de-vem ser trocadas com uma regularidade maior do que a do tipo malaise.

HANSON & GAULD (1995), ao se referir a amostragens realizadas com armadilhas de Malaise na Costa Rica, afirmaram que a diversidade de hime-nópteros coletados aumenta grandemente quando as armadilhas são instaladas nas bordas ou clareiras da floresta.

Já na armadilha tipo Moerick: 55% pertenciam à superfamília Platygastroidea (2 famílias/90 indivídu-os); 17% à Proctotrupoidea (3 família/31 indivíduos); 10% à Ichneumonoidea (2 família/18 indivíduos); 8% Ceraphronoideae (2 família/15 indivíduos), 7% à Chal-cidoidea (2 famílias/12individuos); 2% à Cynipoidea (2 família /4 indivíduos); 1% Evanioidea (1familia/4 individuos)

As famílias, Scelionidae, Platygastridae e Diapridae apresentaram maior abundância, com 63 indivíduos (31% do total), 27 indivíduos (17%do total) e 18 indiví-duos (10% do total), respectivamente (Tab.2).

O fato da armadilha de Moericke ter sido exposta por apenas seis meses, deveu-se à ocorrência de for-tes chuvas, que acabaram prejudicando o material no campo. Aliás, este seguramente é mais um fator que coloca a Moericke numa situação de menor eficiência de captura, em relação à Malaise, onde os insetos cap-turados ficam melhor preservados no interior de um frasco suspenso.

As Superfamílias que permaneceram com maior

Figura 2: (a) Armadilha Malaise; (b) Armadilha Moeri-cke; ambas utilizadas para capturas de insetos.

65Abreu e Zampieron, 2009

abundância em todos os meses, no caso da armadilha Malaise, foram Ichneumonoidea (fig. 5) e Chalcidoidea (fig.6), sendo o mês de Maio, o mais representativo na abundancia dessas duas superfamílias; enquanto que na armadilha Moericke, as Superfamílias, Platygastroidea e Proctrotrupoidea prevaleceram nos meses de Agosto e Setembro, com maior abundância dos insetos.

Observando contrastes encontrados nesse estudo, os padrões de distribuições no período seco e chuvoso, concorda com WOLDA (1987) sugerindo que as dife-renças no período de amostragem podem exercer forte influencia nos padrões amostrados.

De uma maneira geral, a grande diversidade dos in-setos nas florestas tropicais úmidas impressiona há mui-to tempo os cientistas. Entretanto, a atual dimensão de sua diversidade é ainda incerta, assim como a compre-ensão dos processos pelos quais ela é gerada e mantida.

Além disso, de acordo com Godfray et al. (1999; in Onody, 2005) menos de 20% dos insetos tropicais foram descritos pelos entomólogos.

Os valores do índice de diversidade registrados fi-caram entre 0,88 na Armadilha tipos Malaise e 0,89 na armadilha Moericke (Tab 3).

Embora esse dado tenha se apresentado baixo, de-ve-se ressaltar que a diversidade real das famílias de himenópteros parasitóides, em uma determinada área, somente pode ser obtida através do uso de diversos mé-todos de amostragens, realizadas por um longo período.

Além disso, certamente o estudo realizado foi capaz apenas de lançar uma luz sobre a potencial abundân-cia de himenópteros nesta área de estudo sem, contudo, pretender esgotar-se.

Afinal, tanto a mata estacional semi decídua (do-mínio da Mata Atlântica), como o Cerrado, são biomas definidos como “hotspots” de biodiversidade, ou seja, são áreas consideradas de alto grau de diversidade bio-lógica em termos de endemismo, sofrendo alto grau de ameaça (INTERNATIONAL CONSERVATION apud MONTEIRO 2000).

CONCLUSÕES• Os resultados indicaram, claramente, a supre-

macia das superfamílias Ichneumonoidea e Platygastroidea, para Malaise e Moerecke, res-pectivamente. Isso pode refletir o fato de serem as superfamílias mais numerosas em espécies, e que estas utilizam uma ampla diversidade de hospedeiros, sendo de grande relevância nos fragmentos de Cerrado.

• O fato de ter sido capturado um maior núme-ro de indivíduos na Malaise pode ser explica-do por dois fatores: Trata-se de uma armadilha muito eficiente na interceptação de vôo dos in-setos, além de ser capaz de mantê-los melhor preservados por mais tempo, nos intervalos en-tre uma coleta e outra.

• A armadilha de Moericke se mostrou eficiente para a coleta de insetos que vivem próximos ou no solo, porém não pode ser deixada por mais de uma semana, uma vez que seu conteúdo pode ser perdido, seja devido à chuvas intensas, seja devido à rápida evaporação do líquido do seu interior, em dias de temperaturas elevadas.

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Prevalência e variáveis associadas ao hábito de fumar em estudantesuniversitários

Bethânia C. de Souza1; Thaiane T. de Oliveira1; Georgea S. Leonel da Silva1, Marcelo Santos2

Resumo: O tabaco é a segunda droga mais consumida entre os jovens, no mundo e no Brasil. A dependência da nicotina ocorre com o uso regular de tabaco, e adolescentes fumantes têm alta probabilidade de se tornarem adultos fumantes. Dos cerca de 1,25 bilhões de fumantes no mundo, mais de 30 milhões são brasileiros. O fumo é respon-sável por 90% dos casos de câncer de pulmão e está ligado à origem de tumores malignos em oito órgãos (boca, laringe, pâncreas, rins e bexiga, além do pulmão, colo do útero e esôfago). Dos seis tipos de câncer com maior índice de mortalidade no Brasil, metade (pulmão, colo de útero e esôfago) tem o cigarro como um de seus fatores de risco. Esse trabalho faz parte da linha de pesquisa do grupo de “Nutrição, Saúde Humana e Políticas de Respon-sabilidade Alimentar” e tem como objetivo identificar a prevalência do hábito de fumar e as variáveis associadas a esse hábito em estudantes universitários de um município de médio porte localizado na região Sudoeste do Estado de Minas Gerais. Dos 1320 alunos matriculados nos cursos superiores da FESP|UEMG pesquisados, 740 (55,8%) são do sexo feminino e 586 (44,2%) são do sexo masculino. A idade dos participantes variou de 16 a 54 anos, com média de 23,5 ± 6,0 anos. Do total de indivíduos pesquisados, 143 (10,8%) responderam que fazem uso do tabaco regulamente. Quando se leva em conta o sexo dos usuários tem-se que 57 mulheres (7,7%) e 86 homens (14,7%) responderam que fazem uso de tabaco regularmente. Quando questionados sobre a vontade de para de fumar 43 (50,0%) dos homens e 43 (75,4%) das mulheres responderam que sim. Está diferença é estatisticamente signifi-cativa (P = 0,0226) com intervalo de confiança de 95%. A idade média de início do hábito de fumar foi de 16,5 ± 3,5 anos para as mulheres e de 16,1 ± 2,4 anos para os homens e aparentemente não contribui para as diferenças observadas. A maioria entre os fumantes do sexo masculino (88,38%) e do sexo feminino (77,2%) estudam a noite e também exercem trabalho remunerado – homens (74,42%) e mulheres (59,65%). Apesar de algumas pesquisas apontarem que o início desse hábito, geralmente durante a adolescência, tem como principal motivo a imitação dessa conduta dos amigos, a presença de tabagismo entre os pais está significativamente relacionado (P>0,0001). Alguns estudos mostram que este comportamento pode facilitar o tabagismo nos filhos, tanto pelo exemplo de comportamento quanto pela disponibilidade de cigarros no lar, facilitando o acesso do jovem ao cigarro, além de fornecer precocemente estímulos bioquímicos diretos aos receptores nicotínicos dos filhos, adquiridos de ma-neira hereditária. Portanto, os resultados do presente estudo fornecem diversas informações a cerca de variáveis envolvidas na iniciação e manutenção do hábito tabagista entre estudantes universitários. Estes achados podem instrumentar ações regionalizadas de prevenção e combate ao tabagismo, direcionadas à comunidade, à escola e à família, tendo como alvo os adolescentes. Palavras-chave: Tabaco; Universitários; QTF.

1Discentes do Curso de Enfermagem da FESP|UEMG.2Docente da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG).E-mail: [email protected]

Abstract: Tobacco is the most consumed drug among young people, around the world and Brazil as well. Nicotine addiction happens with the regular consumption of tobacco, and smokers teenagers have great possibility to become smokers adults. From 1,25 billions of smokers in the world, more than 30 millions are brasilians. Smoking habit is the responsible for 90% of lung’s cancer occurrence and it is connected to the origin of malign tumors in eight or-gans ( mouth, larynx, pancreas, kidney and bladder) funther lungs, essoghafus, wonbneck. From six kings of cancer with a higher index of mortality in Brazil, half, have cigarret as one of its risc factors. This work makes part of the line’s study of the group of “ Nutrition, Human Health and Policies of food Responsibility” and its main purpose is to identify the prevalency of smoking habit and the variabilyties connected to that habit in university students of a mediun size municipality located at the southwestern of Minas Gerais State. From 1320 students registred at colle-ge courses of the FESP/UEMG, 740 (55,8%) are females and 586 ( 44,2%) are males. The age of the participants varies from 16 to 54 years old, with an average of 23,5 ± 6,0 years old. From the totality of researched individuals, 143 (10,8%) answered that they consumpt tobacco regularly. When we take into account the sex of the consumers of drugs we have 57 females and 86 males that consumpt tobacco regularly. When they were questioned about quit smoking 43 (50,0%) from males and 43 (75,4%) from females answered that “yes”, they woud like to do that. That difference is estatisticly significative (p=0,0226) with a safe breake of 95%. The medium age of the starting smoking habit was 16,5 ± 3,5 years old for females and 16,1 ± 2,4 years old for males and apparently it didn’t contribute to

Prevalence and variables associated with smoking in college students

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)70

the observed differences. Majory of people between males smokers (88,38%) and females smokers (77,2%) study at night and also performed an paid activity- males (74,42%) and females (59,65%). In dispite of same researches show that the beginning of this habit , generally occur during theadolescence and it has like a main motive, a copy of that behavior from friends, the presence of tobagism among parents has a remarkable relation (p>0,0001). Some of studies shows that this kind of behavior can stimulate the ha-bit of tabbagism consumption in relation to their sons. As much as a behavior example as much as a disponibility of cigarettes at home makes the acces easy to young people to the cigarettes, can also supply precociously bioquemical stimulus directly to the nicotinics receptors of their children acquired from a hereditary way. Therefore, the resultes of this study give us severeal informations about the variability involved in the iniciation and behavior about the tobagism habit among university students. This informations can be an instrument to the regionalized prevention and combat against tobagism, directed to community, to schools and family having like a target, teenages.

Keywords: Tobacco; University; QTF.

INTRODUÇÃO O tabagismo é considerado um problema de saúde

pública, porquanto são atribuídos a esse vício 90% dos casos de câncer de pulmão, 86% de bronquite e enfise-ma, 25% dos processos isquêmicos do coração e 30% dos cânceres extrapulmonares. Embora seja a maior causa isolada evitável de doença e morte, ocorrem no mundo 3 milhões de óbitos (5% da mortalidade geral) e, no Brasil, 80 a 100 mil mortes (10,9% da mortalida-de geral), anualmente. Em nosso país, 30 milhões de indivíduos com mais de 15 anos de idade são fumantes (32,6% da população), sendo 44,4% mulheres e dois terços moradores de zonas urbanas (MIRRA, 1999).

Dos cerca de 1,25 bilhões de fumantes no mundo, mais de 30 milhões são brasileiros. Dos seis tipos de câncer com maior índice de mortalidade no Brasil, me-tade (pulmão, colo de útero e esôfago) tem o cigarro como um de seus fatores de risco.

A redução do hábito tabágico em 50% pode global-mente evitar 20 a 50 milhões de mortes prematuras nos próximos 25 anos e aproximadamente 150 milhões nos 25 anos seguintes, enquanto a prevenção do início do tabagismo em jovens pode diminuir o número de mor-tes por doenças relacionadas ao tabaco a partir do ano 2050. Portanto, a intervenção no grupo de fumantes ativos é ainda a melhor estratégia para a redução, em médio prazo, da mortalidade relacionada ao tabagismo (HAGGSTRAM et al., 2001).

Apesar de todo o conhecimento científico acumu-lado sobre o tabagismo como fator de risco de doenças graves e fatais, sobre a sua própria condição de doença crônica ligada à dependência da nicotina, e embora o consumo de tabaco, sobretudo de cigarros, venha cain-do na maioria dos países desenvolvidos, o consumo glo-bal aumentou cerca de 50% durante o período de 1975 a 1996, à custa do crescimento do consumo em países em desenvolvimento. Nesse período, o consumo cresceu 8% na China, 6,8% na Indonésia, 5,5% na Síria e 4,7% em Bangladesh. Ao contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, às políticas para controle do tabagismo ainda são incipientes em grande parte dos países em de-senvolvimento, tornando-os vulneráveis aos planos de

expansão das grandes transnacionais de tabaco. Esses planos são confirmados pelos milhões de documentos internos de grandes companhias de tabaco confiscados e tornados públicos devido a ações judiciais nos EUA e no Reino Unido. Estes documentos vêm sendo analisa-dos e publicados por vários experts na área de controle do tabagismo em todo o mundo. Dessa forma, toda e qualquer ação dirigida ao controle do tabagismo deve ter um foco muito além da dimensão do indivíduo, bus-cando abarcar tanto as variáveis sociais, políticas e eco-nômicas que contribuem para que tantas pessoas ainda comecem a fumar quanto os fatores que aqueles que se tornaram dependentes parem de fumar e se mantenham abstinentes (CAVALCANTE, 2005).

Existem vários fatores que levam as pessoas a ex-perimentar o cigarro ou outros derivados do tabaco. A maioria delas é influenciada principalmente pela publi-cidade do cigarro nos meios de comunicação. No caso dos jovens ainda é pior porque além das propagandas pelos meios de comunicação, pais, professores, ídolos e amigos também exercem uma grande influência. Antes dos 19 anos de idade o jovem está na fase de construção de sua personalidade. Pesquisas mostram que a maioria dos adolescentes fumantes iniciou a fumar justamente nesta faixa de idade, isto quer dizer que o principal fator que favorece o tabagismo entre os jovens é, principal-mente, a necessidade de auto-afirmação.

O Estudo Global do Tabagismo entre os Jovens, rea-lizado pela OMS em 46 países, revelou um quadro alar-mante de dependência prematura. Em algumas áreas da Polônia, de Zimbábue e da China, crianças de 10 anos de idade já estão dependentes do tabaco. Os adolescen-tes globalizados em Nova Iorque, Lagos e Pequim são vistos como alvos fáceis pelas multinacionais do tabaco. Tendo em vista que as marcas globais são veiculadas na propaganda como um estilo de vida a ser almejado, elas tendem a ser consumidas em larga escala, levando me-tade de seus usuários habituais à morte (INCA, 2006).

No Brasil, o V Levantamento Nacional sobre o Con-sumo de Drogas Psicotrópicas entre estudantes do ensi-no fundamental e médio da rede pública de ensino, em 27 capitais brasileiras, mostrou as seguintes prevalências

71Souza et al., 2009

para o consumo de tabaco entre os 48.155 estudantes pesquisados: 24,9% para uso na vida; 15,7% para uso no ano; 9,9% para uso no mês; 3,8% para uso freqüente e 2,7% para uso pesado. Porém, em comparação com o último levantamento, a experimentação na Souza, et al., 2009. 3 faixa etária de 10-12 anos sofreu queda, ficando em torno de 7%.(GALDURÓZ et al., 2004). A adição à nicotina ocorre com o uso regular de tabaco e adoles-centes fumantes têm alta probabilidade de tornarem-se adultos fumantes (MALCON et al., 2003).

A opinião prevalente é de que a dependência nicotí-nica seria a chave da persistência do tabagismo e da di-ficuldade de sua suspensão e que, provavelmente, todos os fumantes regulares seriam dependentes da nicotina, ainda que em graus variáveis. Sendo assim, deve-se ter uma maneira de avaliar isso, já que os fumantes com elevada dependência, além da abordagem cognitivo-comportamental, necessitarão de terapia mais intensa, inclusive farmacológica, para obter êxito no abandono do tabagismo. A fim de estimar o grau de dependência nicotínica é utilizado mundialmente, como ferramenta de avaliação, o Questionário de Tolerância de Fagers-tröm (QTF) em substituição a outros testes bem mais caros, que consomem mais tempo ou são invasivos.

Justifica-se este estudo o fato de estudantes univer-sitários terem grandes possibilidades de iniciarem o há-bito de fumar ou já serem fumantes, uma vez que a faixa etária destes estudantes é flexível, tendo adolescentes e adultos ao mesmo tempo. Utilizando o Questionário de Tolerância de Fagerström, fomos capazes de quantificar o número de universitários fumantes, o grau de depen-dência á nicotina e qual a influência dos pais fumantes.

Este trabalho faz parte da linha de pesquisa do gru-po de “Nutrição, Saúde Humana e Políticas de Respon-sabilidade Alimentar” e tem como objetivo identificar a prevalência do hábito de fumar e as variáveis associadas a esse hábito em estudantes universitários de um muni-cípio de médio porte localizado na região Sudoeste do Estado de Minas Gerais. Para tanto serão realizados:

(1) Levantar a prevalência do hábito de fumar nos estudantes universitários e de seus responsáveis;

(2) Verificar uma possível associação entre idade, sexo, exposição a cigarros, família (pais fumantes) com o hábito precoce de fumar.

MATERIAL E MÉTODO• População EstudadaO estudo foi realizado com os discentes regular-

mentematriculados nos cursos de nível superior ofe-recidos pela Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG).

• MétodoComo parte do protocolo de investigação, os alunos

responderam a um questionário estruturado autoexplica-tivo contendo perguntas relacionadas ao hábito de fumar deles e dos pais. A aplicação do questionário ocorreu du-rante a visita dos pesquisadores as escolas selecionadas.

O questionário que foi empregado é o instrumento de avaliação conhecido como Questionário de Tolerân-cia de Fagerström (QTF) (Halty et al., 2007), acrescido de dados de identificação, consumo de cigarros em ma-ços/ ano e motivação ou intenção de deixar o fumo nos próximos seis meses (Anexo 1).

De acordo com a soma de pontos obtidos com as respostas referentes às seis perguntas da Tabela de Fa-gerström, foi classificada a dependência nicotínica em cinco graus: muito baixa, baixa, média, elevada e muito elevada (Tabela 1).

Foi considerado fumante atual o estudante que ad-mitiu ter fumado em 1 ou mais dias nos últimos 30 dias, conforme critério adotado pelo Centers for Disease Pre-vention and Control (CDC), pela OMS e pelo Institu-to Nacional do Câncer/Ministério da Saúde do Brasil (INCA, 2004).

O consumo de cigarros (mesmo uma ou duas tra-gadas) que não preencheu o critério de fumante atual será considerado como experimentação prévia (INCA, 2004). A variável dependente testada foi o hábito de fu-mar. As variáveis independentes foram relacionadas aos estudantes (idade, sexo, experimentação prévia de ci-garros e trabalho remunerado), à sua condição na escola (turno que estuda na escola, nível em que se encontra e repetência) e à família (pais fumantes e pais separados).

• Análise estatística Foi utilizada estatística descritiva para apresentar os

dados como média ± erro padrão (EP). Os testes estatís-ticos foram feitos através do programa Epi Info (versão

Tabela 1: Grau de dependência medido pela escala de Fagerström

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)72

6); aplicou-se o teste quiquadrado e odds ratio para as diferenças entre as médias, considerando o nível de sig-nificância de 5%.

RESULTADOS

Dos 1320 alunos matriculados nos cursos superiores da FESP|UEMG pesquisados, 740 (55,8%) são do sexo feminino e 586 (44,2%) são do sexo masculino. A idade dos participantes variou de 16 a 54 anos, com média de 23,5 ± 6,0 anos. Ocorreu uma perda de 5% dos questio-nários coletados em função da não declaração da idade nos mesmos. As diferenças entre a distribuição dos in-divíduos em função da faixa etária por sexo é estatisti-camente significante (P = 0,0029) (Tabela 02).

Do total de indivíduos pesquisados, 143 (10,8%) responderam que fazem uso do tabaco regulamente. Quando se leva em conta o sexo dos usuários tem-se que 57 mulheres (7,7%) e 86 homens (14,7%) respon-deram que fazem uso de tabaco regularmente. Essa diferença é estatisticamente significativa (P<0,0001), com odds ratio de 0,4852. (Tabela 03).

Quando analisada a faixa etária que cada grupo iniciou o hábito de fumar, observa-se que 52 mulheres (91,2%) iniciaram o consumo de tabaco até os 20 anos de idade. Entre os homens, esse número foi de 84 indi-víduos (97,7%) (Tabela 04). A idade média de início do hábito de fumar foi de 16,5 ± 3,5 anos para as mulheres e de 16,1 ± 2,4 anos para os homens e aparentemente não contribui para as diferenças observadas. Quando se analisa o hábito de fumar dos pais dos indivíduos que fazem uso regular de tabaco (Tabela 05), tem-se que entre as mulheres existe uma correlação positiva entre as duas variáveis, com P = 0,0369 e odds ratio de 2,184. Outro dado que foi levantado, é se os usuários de taba-co estão motivados a parar de fumar nos próximos seis meses ou não ( Tabela 06). Dos 143 usuários que assu-miram o uso do tabaco, 86 relataram estarem motivados a parar de fumar nos próximos 6 meses, contrapondo-se a 55 que disseram não estar motivado a parar.

Dos 86 indivíduos que disseram estarem motivados a parar de fumar nos próximos seis meses, metade é do sexo feminino e, conseqüentemente, metade é do sexo masculino. Já dos 55 que disseram não estarem moti-vados, somente 14, ou seja, 25,4% são mulheres. Dois homens não responderam a essa pergunta. Esta diferen-

ça é também estatisticamente significativa (P = 0,0029). A fim de estimar o grau de dependência nicotínica é

utilizado mundialmente, como ferramenta de avaliação, o Questionário de Tolerância de Fagerström (QTF) em substituição a outros testes bem mais caros, que con-somem mais tempo ou são invasivos. O questionário foi aplicado de forma válida a 143 fumantes regulares de ambos os sexos. Desses, 04 mulheres (7,0%) e 09 homens (10,5%) foram classificados no grupo de ele-vada ou muito elevada dependência nicotínica (Tabe-la 07). A pergunta referente ao tempo após acordar em que é consumido o primeiro cigarro (pergunta no. 01 do QTF), mostrou-se a que possui ligação mais forte com a elevada dependência nicotínica. Dos 14 indivíduos que responderam que fumam dentro 05 minutos após acor-dar, 09 (64,3%) foram classificados como possuindo elevada ou muito elevada dependência nicotínica.

A pergunta número 2 se refere à dificuldade de fumar em locais onde o fumo é proibido, 21 indivíduos respon-deram que tem dificuldade em fumar nesses locais.

Quando questionamos qual o cigarro traz mais sa-tisfação, se o primeiro da manhã ou outros; 35 pesso-as (24,4%) responderam que o primeiro da manhã traz mais satisfação.

A pergunta número 5 vem reforçando o questiona-mento quanto ao hábito de fumar pela manhã. Ela se questiona se os usuários do tabaco fumam mais frequen-temente pela manhã do que no resto no dia, somente 21 pessoas (14,8%) afirmaram fumarem mais pela manhã.

Outra pergunta, a de número 4, se refere a quantos cigarros o tabagista fuma por dia, essa pergunta tam-bém mostra uma forte ligação á dependência á nicotina (Tabela 08). 09 pessoas responderam que fumam acima de 21 cigarros por dia, sendo 2 mulheres e 7 homens. Destes, 5 foram classificados com elevada ou muito ele-vada dependência á nicotina.

Tabela 2: Distribuição dos universitários em função do sexo

Tabela 03: Hábito de fumar entre estudantes universitá-rios em função do sexo

Tabela 4: Início do hábito de fumar dos estudantes uni-versitários por faixa etária em função do sexo

73Souza et al., 2009

DISCUSSÃO A evolução da epidemia do tabaco é descrita em

quatro estágios: no estágio 1, fumar é um comporta-mento pouco comum e típico das classes favorecidas; no estágio 2 o hábito de fumar é mais comum nos ho-mens, de todas as classes sociais, e a prevalência nas mulheres está atrasada em 10-20 anos, e adotado pelas mulheres de classes sociais altas; no estágio 3 a preva-lência do hábito de fumar diminui e nas mulheres atinge o pico; no estágio 4, o uso de tabaco diminui em ambos os sexos sendo mais prevalente nas classes sociais bai-xas (LOPEZ, COLLISHAW, PIHA, 1994).

A evolução da epidemia do tabaco é descrita em quatro estágios: no estágio 1, fumar é um comporta-mento pouco comum e típico das classes favorecidas; no estágio 2 o hábito de fumar é mais comum nos ho-mens, de todas as classes sociais, e a prevalência nas mulheres está atrasada em 10-20 anos, e adotado pelas mulheres de classes sociais altas; no estágio 3 a preva-lência do hábito de fumar diminui e nas mulheres atinge o pico; no estágio 4, o uso de tabaco diminui em ambos os sexos sendo mais prevalente nas classes sociais bai-xas (LOPEZ, COLLISHAW, PIHA, 1994).Nossos da-dos são semelhantes com os obtidos por Barbosa, Car-lini- Cotrim e Silva-Filho (1989), que trabalhando com 16.149 estudantes de 10 capitais brasileiras obtiveram uma freqüência de utilização de tabaco de 8,8% para o sexo feminino e 10,4% para o sexo masculino e com Horta et al. (2001) estudando adolescentes de uma área urbana do Sul do Brasil obtiveram uma prevalência de 10,4% para as mulheres e 12,4% para os homens, mas são muito inferiores aos obtidos por Muza et al. (1997), que levantou a freqüência de consumo de drogas psico-ativas entre 522 adolescentes do sexo feminino e 496 do sexo masculino de Ribeirão Preto (SP) e obtiveram uma freqüência de 33,1% para as mulheres e 42,7% para os homens para o consumo de tabaco.

As diferenças observadas, quando se compara os resultados obtidos com os dados da literatura, podem ser explicadas pela falta de padronização entre os méto-dos de coleta de dados utilizados nos diferentes estudos e/ou a critérios diversos para definir tabagismo, o que dificulta as comparações entre os estudos. A definição aqui utilizada é a mesma de vários estudos (WARREN et al., 2000; KURI-MORALES et al., 2008): fumante é aquele que “fumou nos últimos 30 dias”.

Os dados mostram que há um risco maior entre o grupo dos homens para o desenvolvimento de hábitos tabagistas. O mesmo tem, aproximadamente, o dobro de probabilidade de vir a fazer uso de cigarros, quando comparado com o grupo das mulheres.

Apesar de algumas pesquisas apontarem que o iní-cio desse hábito, geralmente durante a adolescência, tem como principal motivo a imitação dessa conduta dos amigos, a presença de tabagismo entre os pais está significativamente relacionado. Alguns estudos mos-tram que este comportamento pode facilitar o tabagismo nos filhos, tanto pelo exemplo de comportamento quan-to pela disponibilidade de cigarros no lar, facilitando o acesso do jovem ao cigarro, além de fornecer preco-cemente estímulos bioquímicos diretos aos receptores nicotínicos dos filhos, adquiridos de maneira hereditá-ria. Entretanto, similarmente ao que foi observado entre os estudantes de medicina da Universidade Federal de Pelotas (MENEZES et al., 1997), o tabagismo dos pais não influenciou o hábito de fumar dos seus filhos do sexo masculino, sugerindo que as influências sobre a decisão do adolescente fumar estão localizadas fora do domicílio e presentes no meio externo de convivência (HORTA et al., 2001), mas o mesmo, aparentemente, tem um papel importante entre as mulheres.

Tabela 5: Hábito de fumar entre os pais dos universi-tários que se declararam fumantes em função do sexo

Tabela 6: Motivado a parar de fumar nos próximos 06 meses, em função do sexo

Tabela 7: Classificação dos entrevistados em grau de dependência nicotínica

Tabela 8: Número de cigarros consumido por dia pelos universitários do município de Passos (MG) e região

CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)74

A pergunta no 1, que se refere ao tempo de fumar o primeiro cigarro após acordar, é uma das duas perguntas mais importantes e avalia quão rápido o fumante precisa de um cigarro pela manhã, revelando a intensidade da “fissura” (episódios transitórios de desejo imperioso de fumar). A nicotina tem vida média relativamente curta. Os fumantes dependentes terão, ao acordar, baixo nível sérico dela e experimentarão sintomas de abstinência se não fumarem rapidamente seu primeiro cigarro do dia. Ou seja, essa pergunta, teoricamente, seria um pre-ditor poderoso da dependência nicotínica (HALTY et al., 2002).

Halty et al. (2002), ao analisar a utilização do Ques-tionário de Tolerância de Fagerström como instrumento de medida da dependência nicotínica, pesquisou 301 fumantes regulares maiores de 15 anos, no Rio Gran-de do Sul, obteve que 39,5% dos participantes fumam dentro de 5 minutos após acordar, um número quase 4 vezes maior que o obtido nesse estudo. Obtivemos que 9,8% dos fumantes, fumam dentro de 5 minutos após acordar.

Atentando aos estudantes de enfermagem totaliza-ram 9,7% dos usuários de tabaco, um número aproxi-mado ao de Andrade et al. (2006) ao pesquisar a pre-valência de fumantes entre os estudantes de medicina da UnB, registrando 9,4% de fumantes entre os alunos. Essa baixa porcentagem reforça a característica de maior conscientização dos universitários pertencentes á área de ciências da saúde frente aos malefícios propor-cionados pelo ato tabágico (ANDRADE et al., 2006) Os resultados do presente estudo fornecem diversas informações a cerca de variáveis envolvidas na inicia-ção e manutenção do hábito tabagista entre estudantes universitários. Estes achados podem instrumentar ações regionalizadas de prevenção e combate ao tabagismo, direcionadas à comunidade, à escola e à família, tendo como alvo os jovens e adolescentes. Ao finalizar esse estudo, podemos ver como o uso do tabaco ainda é grande em pessoas com grande nível de escolaridade e das mais varias idades. Mostrando que a cada dia que se passa o jovem passa a fazer o uso de drogas mais cedo e tornam-se adultos viciados. Por isso temos que estar atentos, e promover ações afim de combater o ta-bagismo e estimular a prevenção e conscientização dos jovens e adolescentes que o tabaco só pode trazer male-fícios ás pessoas. Essas ações devem ser direcionadas, ás escolas, á comunidade e a todos que de alguma ma-neira possa ajudar a sociedade a acabar com este mal.

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75Souza et al., 2009

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CIÊNCIA et Praxis v. 2, n. 3, (2009)76

77CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)Artigo de Revisão

Gestão de sistemas de produção de leite

Ricardo Ferreira Godinho1 e Rita de Cássia Ribeiro Carvalho2

Resumo: Os conceitos de agronegócio e Sistemas Agroindustriais, mudaram a forma de administrar uma proprie-dade rural. Para isso, é necessário entender que a prática da gestão reúne a racionalidade da administração com a intuição/pragmatismo da liderança, visando a transformação de intenções em resultados, por meio de modelos conceituais, técnicas e pessoas, via um conjunto de comportamentos e aplicações práticas, voltados e sustentados pela ação. Ao administrar, as áreas de Produção, Comercialização, Finanças e Recursos Humanos, bem como as funções administrativas de planejar, organizar, dirigir e controlar, devem ser consideradas, bem como suas in-terdependências. Os novos modelos de gestão disseminados adotam como ferramenta administrativa o Ciclo de PDCA, o qual consiste em Planejar com o estabelecimento de objetivos, metas e meios, Desenvolver, executando conforme o planejado, Checar os resultados da ação executada e Agir conforme os resultados apurados. A tomada de decisão, deve se apoiar na análise de fatos, dados e informações dos ambientes interno e externo e as medições devem refletir as necessidades e estratégias da organização e fornecer informações confiáveis sobre processos e resultados. A identificação de indicadores-referência em sistemas reais de produção de leite é uma importante fer-ramenta de apoio gerencial e pode trazer esclarecimentos para o debate sobre a viabilidade econômica de sistemas de produção de leite. Por fim, gerenciar nada mais é do que fazer acontecer o que se deve, no momento certo e da forma certa. Se houver algum desvio do que foi planejado em relação ao que está acontecendo, será preciso agir corretivamente e em alguns momentos até preventivamente.Palavras-chave: Agronegócio; Administração Rural; Modelos Gestão; Ciclo PDCA.

1Docente da Faculdade de Agronomia da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG); mestrando em Produção Animal pela Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo|Campus Descalvado – SP). Email: [email protected] Adjunta da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG). Email: [email protected]

INTRODUÇÃOQue o mundo está mudando, a maioria das pes-

soas está ciente disso e o tema mudança não é no-vidade. O que há de novo é a velocidade com que a mudança está ocorrendo, forçando pessoas e orga-nizações a se adaptarem de forma rápida. No se-tor rural e especificamente, na pecuária leiteira, a realidade não é diferente.

Nos anos 70, o Brasil produziu em média 8,1 bi-lhões de litros de leite ano. Segundo dados do Milk-point (2009), o Brasil produziu 14.484 milhões de li-tros de leite no ano de 1990, 26.134 milhões de litros de leite em 2007, e as projeções eram para o ano de 2008 eram de 28.890 milhões de litros de leite, com 21,1 milhões de vacas (CNA, 2009).

Segundo a Embrapa Gado de Leite (CNPGL, 2002), o País tem hoje, acima de um milhão e cem mil propriedades que exploram leite, ocupando di-retamente 3,6 milhões de pessoas; o agronegócio do leite é responsável por 40% dos postos de tra-balho no meio rural. Tanques de expansão, inexis-tentes em algumas regiões longínquas, contrapõem com a grande adoção dos mesmos nas principais bacias leiteiras. Encontramos ainda ordenha ma-nual e ordenha automatizada. Embora a média de produtividade nacional não tenha aumentado mui-to nos últimos anos (Gomes, 2006), são inúmeras as fazendas com índices de produção e tecnologia comparáveis à países como Estados Unidos, Holan-da e Nova Zelândia.

Abstract: The concepts of Agribusiness and Agro-industrial Systems changed the way to run a farm. Therefore, it is necessary to understand that the practice of management joins the administrative rationality with intuition/pragmatic leadership, aiming at transforming intentions into results through conceptual models, techniques and people, via a set of behaviors and practical applications, directed and supported by action. When managing, the areas of production, commercializing, finance and Human Resources as well as the administrative functions of planning, organizing, directing and controlling should be considered as well as their interdependencies. The new management models spread adopt as an administrative tool the PDCA Cycle, which consists of planning with the establishment of objectives, goals and means, developing, running as planned, checking the results of action taken and acting according to the survey. Decision-making should rely on the analysis of facts, data and information from internal and external environments and measurements should reflect the needs and strategies of the organization and provide reliable information on processes and outcome. The identification of benchma-rks on real systems of milk production is an important tool for management support and can bring insights to the debate about the economic viability of systems of milk production. Finally, management is nothing more than to make happen what should be done at the right time and the right way. If there is any deviation from what was planned in relation to what is happening, we must act properly and at times even preventively.Keywords: Agribusiness; Farm Administration; Management Models, PDCA Cycle.

Management systems for milk production

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)78

A população rural foi para os centros urbanos: se-gundo o IBGE de uma população rural de 44% em 1950, em 2000 ela foi reduzida para 18,75%. Com isso, reduziu-se a disponibilidade de mão-de-obra e, para-lelamente neste mesmo período, o valor recebido pelo leite produzido reduziu pela metade em valores defla-cionados (CNA, 2009) e os custos encontram-se em valores crescentes. Quem não consegue lidar com estes aspectos acaba sendo expulso da atividade, embora este cenário não seja exclusivo da pecuária leiteira.

De maneira geral, a produção primária do leite é constituída por produtores heterogêneos, desde os não especializados aos tecnificados, estabelecendo unida-des de produção com diferentes níveis de tecnologia e produtividade. Sendo assim, os reflexos desse novo am-biente manifestaram-se sobre a produção primária por meio de uma maior especialização do setor produtivo, na redução do número de produtores, na melhoria da qualidade do produto, no aumento da escala de produ-ção, no aumento da produtividade e na redução da sazo-nalidade (Leite & Gomes, 2001).

Destaca-se que o setor produtivo, por representar o segmento mais vulnerável da cadeia, devido às limita-ções tecnológicas e gerenciais, é aquele que mais inten-samente tem sofrido as consequências das novas exi-gências do mercado. Alencar et al. (2001) afirmam que, no agronegócio do leite, ocorrem situações de mercado típicas de concorrência imperfeita, em que as empresas que atuam nos setores a montante (fornecedores de in-sumos) e a jusante (indústria de laticínios) do sistema agroindustrial são poucas, organizadas em associações de interesses, que interagem com um grupo amplo, he-terogêneo e disperso de produtores.

Por causa desta estrutura de forças, a indústria tem facilidade de estabelecer os preços que irá pagar, levan-do em consideração a perspectiva de comportamento da demanda e do setor varejista, bem como a facilidade de aquisição de produtos importados, permitindo-lhe a imposição de perdas ao segmento produtor da matéria-prima (Leite & Gomes, 2001; Martins, 2002).

Já a combinação de preços dos produtos agrícolas decrescentes e custos dos insumos crescentes, resultam na queda da renda no setor rural, independentemente do porte do produtor. Na pecuária leiteira, nota-se um constante questionamento e debate nos meios acadêmi-cos e de produção, quanto a sua rentabilidade e viabili-dade econômica. Segundo Oliveira (2007) produzir lei-te é uma atividade rentável mesmo em sistemas menos intensivos de trabalho, porém exige elevada disponibi-lidade de terra, o que pode limitar sua adoção em larga escala. Entretanto, este mesmo autor, chama a atenção para a necessidade de identificação de sistemas reais de produção de leite e a caracterização dos indicadores de maior correlação com a eficiência econômica poderá trazer maior embasamento para o debate sobre a viabi-lidade econômica na pecuária leiteira.

O aumento da eficiência produtiva torna-se fator decisivo para a competitividade do setor leiteiro (Reis, 2001). Porém, como promover aumento da eficiência produtiva em equilíbrio com a eficiência econômica?

Generalizando, podemos afirmar que o caminho para viabilizar a propriedade rural é a qualidade geren-cial. Com ela a propriedade rural se profissionaliza, se moderniza e começa a ser encarada como empresa de fato, que busca obter conhecimentos acerca dos merca-dos em que opera e procura estreitar seus relacionamen-tos. Antes a preocupação era apenas com o que aconte-cia dentro dos limites de sua propriedade, mas hoje se tornou uma questão de sobrevivência ter também infor-mações sobre este mercado e utilizá-las no dia-a-dia da gestão da propriedade.

Segundo o Diagnóstico da Pecuária Leiteira em Mi-nas Gerais, em 2005, 67% da administração da empresa rural produtora de leite é realizada pelo proprietário, e 29,60% pelo proprietário e sua família. A administra-ção é tipicamente familiar e poucos são os casos em que a administração é realizada por um administrador contratado. O pequeno volume de produção da maioria dos produtores é a principal justificativa para estes não contratarem administrador. As empresas rurais não têm escala que comporte o pagamento de um administrador, pois o custo fixo médio é muito alto (Gomes, 2006).

Embora este percentual de administração da proprie-dade não esteja associado à preparação para exercer esta função de administrador, empiricamente temos observa-do que produtores rurais estão buscando cada vez mais conhecimento das áreas de administração, mercado/comercialização, finanças, e mesmo, fortalecimento de suas relações sociais e econômicas por meio do asso-ciativismo. As próprias associações e cooperativas estão buscando estes conhecimentos e fortalecimento, como reflexo do que vem acontecendo com seus associados.

A melhoria na gestão se efetiva por meio de um pro-cesso educacional contínuo e principalmente de querer. Isso demanda tempo, energia, esforço, paciência, per-severança e novas competências por parte de todos, em especial do proprietário e administrador. O êxito ou o fracasso deste processo de mudança em busca de uma nova forma de se ver e fazer as coisas está intimamente ligado ao maior ou menor esforço do produtor e admi-nistrador, além do comprometimento, em fazer as coi-sas acontecerem na propriedade rural.

O AMBIENTE EMPRESARIALAntigamente, nas propriedades fazia-se quase tudo:

plantio, criação animal, produção e adaptação de im-plementos, ferramentas, equipamentos de transporte e insumos básicos, processamento de alimentos, armaze-namento e comercialização. Comparando com os dias de hoje, as propriedades, os produtores, as pessoas e o mundo eram bem diferentes. Hoje, quando se fala em agricultura, refere-se às atividades de plantio, condu-

79Godinho e Carvalho, 2009

ção, colheita e à produção de animais, ou seja, apenas o dentro da porteira.

Portanto, a abordagem segmentada dos elementos que compõem uma cadeia de produção não é mais ade-quada. O conceito de agronegócio, traduzido do termo agribusiness, é o enfoque correto para tratar da questão da qualidade na produção de alimentos e de produtos de origem vegetal ou animal. O termo agribusiness foi utilizado, pela primeira vez, pelos pesquisadores John Davis e Ray Goldberg, da Universidade de Harvad, em 1955, e foi conceituado como a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do ar-mazenamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (Machado, 2008).

O agronegócio engloba, portanto, não só a produção de alimentos, mas todos os produtos que tenham como insumo produtos agrícolas. Outro conceito importante associado é o de Sistemas Agroindustriais que são todos os participantes envolvidos na produção, processamento e marketing de um produto específico. Incluem o supri-mento nas fazendas, as fazendas, operações de estoca-gens, processamento, atacado e varejos envolvidos em um fluxo desde a produção de insumos até o consumidor final. Inclui as instituições que afetam e coordenam está-gios sucessivos do fluxo do produto, tais como Governo, Associações e Mercados Futuros (Batalha, 2007).

Estes dois conceitos mudaram a forma de adminis-trar uma propriedade rural. Normalmente quando se pergunta “O que se deve administrar?” as pessoas res-pondem de imediato: “A empresa!”. Não é bem assim, pois desta forma, seria administrar apenas o “dentro da porteira”, não levando em conta o que acontece “fora da porteira”. Assim, a resposta correta seria “Administrar o ambiente empresarial”. Mas o que vem a ser este am-biente? São inúmeras as abordagens sobre este tema, e a seguir vamos nos nortear pelos conceitos apresentados principalmente por Bateman & Snell (1998).

Qualquer empresa, seja ela do setor urbano ou rural está inserida em um ambiente. Ambiente é, portanto, todo o universo que envolve externamente a empresa. É a so-ciedade, constituída de outras empresas, grupos sociais, população e aspectos legais. É do ambiente que as empre-sas obtêm recursos e informações para seu funcionamen-to, e é nele que colocam os produtos resultantes de suas operações. Isoladamente, a empresa rural pouco modifica ou influencia o ambiente. Tudo que acontece fora da por-teira da fazenda está relacionado ao ambiente.

Enxergar e conduzir a propriedade rural como em-presa é entender que o negócio é maior que as fronteiras (cercas) que delimitam uma propriedade e seu sistema de produção adotado; o negócio está dentro e fora da propriedade. Além disso, o gerenciamento não é ape-nas da produção em si, mas de toda a atividade, que se desenvolve antes, durante e depois da produção.

Uma empresa rural relaciona-se com diversos fato-

res: fornecedores, clientes, colaboradores, instituições, sendo influenciada, também por variáveis diversas e in-controláveis. O conjunto desses fatores e variáveis é de-nominado de ambiente empresarial. O empresário deve estar apto a lidar com todos esses fatores e variáveis, pois influenciam no desempenho da empresa e, por isso, de-vem ser levados em consideração no planejamento, na tomada de decisões e no gerenciamento da atividade.

O ambiente empresarial é estruturado pelo ambiente operacional, aquele que o empresário deve estar presente atuando e exercendo o controle sobre suas ações e de-cisões, composto pela empresa em suas relações com a produção e com o mercado, e pelo ambiente geral, com-posto por variáveis influenciantes, as quais o empresário deve manter-se sempre bem informado e atualizado.

A GESTÃO EMPRESARIALO Dicionário Aurélio, define a palavra gestão como

“ato de gerir; gerência, administração”. Dar a direção (recursos, metodologia, estrutura, diretrizes) para que toda a empresa alcance os resultados esperados, se mantendo no mercado competitivo. A gestão empresa-rial é essencialmente composta por dois conjuntos mais importantes de habilidades expressas no cotidiano orga-nizacional: as de administração e as de liderança.

Segundo Carvalhal (2000), a prática da gestão sim-plificadamente é a reunião da racionalidade da admi-nistração com a intuição/pragmatismo da liderança. A parte da administração trata das técnicas, dos recursos tangíveis, dos processos, das regras e do uso das tecno-logias. A parte da liderança trata das atitudes, dos com-portamentos, das intenções, da motivação humana, da criatividade, da comunicação.

Estes conceitos contribuem para evidenciar a im-portância da liderança em qualquer empresa, pois se-gundo Hunter (2004) liderança é a habilidade de in-fluenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum. Segundo este mesmo autor, na ges-tão de qualquer organização a liderança é importante por que as atividades são realizadas por pessoas. Daí a afirmativa que o gestor gerencia e controla os recur-sos da empresa, suas finanças, estoques, mas não pode gerenciar seres humanos, ou seja, ele gerencia coisas e lidera pessoas, porque as coisas não têm capacidade e liberdade para escolher, só as pessoas as têm e o gestor pode influenciar nessas escolhas.

A Gestão empresarial por natureza é uma atividade sofisticada em seu pragmatismo: ela busca resultados. O que interessa, prioritariamente, é a transformação de intenções em resultados (no ambiente organizacional), ao longo dos ciclos de vida das organizações, dos pro-cessos, dos produtos e das equipes.

Por isso, a gestão empresarial consiste em buscar um significado conceitual dos modelos e das técnicas, através das pessoas, via um conjunto de comportamen-

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)80

tos e aplicações práticas, voltados e sustentados pela ação. Portanto, o aprendizado da gestão empresarial é dinâmico, interativo, mutável, como conseqüência da turbulência e circunstâncias ambientais (Carvalhal, 2000). Em outras palavras: Gestão = Liderança + Ad-ministração. A parte da administração trata das técnicas, dos recursos tangíveis, dos processos, das regras e do uso das tecnologias. A parte da liderança trata das atitu-des, dos comportamentos, das intenções, da motivação humana, da criatividade, da comunicação.

Com as grandes mudanças no mundo corporativo há necessidade de buscar estratégias para enfrentar “turbu-lências”, buscando qualificação/habilidade para gerir a empresa. E uma estratégia é agregar valor ao negócio da empresa seja qual área for, buscando competitivida-de, o que pode permitir decisões rápidas e seguras.

ÁREAS EMPRESARIAISAs ações empresariais ocorrem nos diversos ní-

veis e se referem a diversos recursos: financeiros, humanos, físicos e mercadológicos. Cada grupo des-tes recursos pode ser visualizado separadamente e dá origem às denominadas áreas funcionais, conforme descrito pela Teoria Geral da Administração (Chia-venato, 2001; Andrade, 1992). Estas áreas podem ser observadas em qualquer tipo de empresa, e apre-sentam uma intensa inter-relação:

• Área de Produção: Quatro pontos impor-tantes estão relacionados à área de produção: quantidade produzida, produtividade, quali-dade dos produtos e custos. Envolve decisões como a definição das tecnologias de produ-ção para cada exploração da empresa rural, a localização das benfeitorias, estradas, cercas e áreas de exploração e o dimensionamento e utilização das máquinas, equipamentos e ferramentas.

• Área de Recursos Humanos: Relaciona às pessoas que promovem o funcionamento da empresa, independentemente de suas posições, cargos e tarefas. Os recursos humanos apresen-tam duas características importantes: podem-se evoluir, por meio de capacitações e estímulos e fazem “funcionar” os demais recursos, por si só, estáticos. Uma característica, que pode se tornar negativa, é que o tempo de atuação das pessoas nas empresas não pode ser armazena-do, fato que pode reduzir a produtividade do trabalho.

• Área de Finanças: Refere-se às receitas, des-pesas, financiamentos e investimentos, neces-sários para o alcance dos objetivos propostos para a empresa rural.

• Área de Comercialização e Marketing: Refe-re-se à compra e venda. Conecta a empresa com seu ambiente. O administrador deve ter a preo-

cupação de saber onde e como devem ser colo-cados os produtos e quais são os melhores canais de comercialização. A busca continuada de in-formações sobre preços de produtos e insumos, o que poderá aumentar seu poder de barganha.

O CICLO PDCAPara Chiavenato (2001), a tarefa da Administração

é interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos de maneira eficaz. Assim, a Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar a ação organi-zacional a fim de alcançar objetivos globais, e esta se-quencia é conhecida como “Processo Administrativo”.

Criado por Walter Shewhart, em meados da década de 20 e disseminado para o mundo por Deming anos depois (Marshall Junior et al, 2003), o Ciclo PDCA atualmente é uma ferramenta administrativa adotada como referência nas avaliações de sistemas de gestão, a exemplo do que ocorre com o Modelo de Excelência em Gestão, disseminado no Brasil, pela Fundação Na-cional da Qualidade.

Podemos dizer que o Ciclo PDCA é outra forma de exercer as funções administrativas, dando a elas uma visão cíclica, conforme demonstrado na Figura 1. Cha-ma-se de ciclo porque passamos por todas as etapas, a todo o momento, tornando-o dinâmico. A seguir, uma síntese dos conceitos apresentados por Lacerda (2005).

1ª Etapa: P (Plan = PLANEJAR):toda ação come-ça com o planejamento. As etapas básicas do planeja-mento são:

• Definir claramente o OBJETIVO: onde se quer chegar, a direção;

• Definir a META: resultado a ser atingido e em quanto tempo;

• Definir quais os MEIOS para se atingir este objetivo, qual será o caminho (método) a ser seguido para se chegar lá.

Ao planejar, programa-se uma decisão a ser tomada e, para tal, necessita-se de uma série de conhecimentos sobre investimentos, processos de produção, opções de produção, preços de insumos e produtos, fatores eco-lógicos e infra-estrutura da empresa, que deverão ser organizados segundo diversos princípios básicos.

2ª Etapa: D (Do = DESENVOLVER, FAZER, EXECUTAR): o desenvolvimento da ação segue o estabelecido no planejamento. Inicialmente, as pesso-as que irão executar precisam ser educadas e treinadas quanto ao objetivo, meta e método a ser desenvolvidos. A partir daí, a ação deverá ser executada conforme o método (padrão ou plano) estabelecido, coletando da-dos durante esse processo, de forma que possa fazer uma avaliação na próxima etapa.

81Godinho e Carvalho, 2009

3ª Etapa: C (Check = “CHECAR”, VERIFICAR): fase de verificação dos resultados da ação executada, em que os resultados coletados são comparados com os objetivos e metas estabelecidas. Se os resultados obti-dos atingiram o que foi estabelecido, as ações podem continuar sendo executadas de acordo com o padrão, mantendo os resultados, ou pode ser estabelecido um novo objetivo para melhorar os resultados. Se forem en-contrados desvios (problemas), estes serão registrados para ser analisados na próxima etapa.

Nesta etapa é a oportunidade de descobrir ma-neiras de controlar o que ocorre na propriedade. Se os planos não são cumpridos adequadamente, a administração precisa dar passos para corrigir o problema. Controle é qualquer processo que orienta as atividades na direção da realização das metas da propriedade. O controle destina-se a medir os resul-tados de uma ação para se ter a certeza de que estão de acordo com o que foi planejado. Caso contrário adota-se medidas corretivas.

A finalidade do controle se baseia em quatro pon-tos: indicadores de desempenho (indicadores), coleta e registro de dados, comparação (checagem) e adoção de medidas de manutenção, melhoria ou corretivas.

4ª Etapa: A (Action = AGIR): fase na qual são tra-tados os reais ou potenciais problemas identificados an-teriormente ou as oportunidades de melhoria constata-das. Nessa fase temos duas possibilidades: alcançamos ou não o resultado esperado:

(1) Se o resultado esperado foi alcançado, temos que incorporar a nova sistemática de trabalho ao dia-a-dia do processo. Esta nova maneira de realizar o trabalho poderá se tornar um padrão, uma referência para que todos os envolvidos façam de forma semelhante.

(2) Se não fomos bem-sucedidos, temos que agir de forma apropriada e, para tanto, devemos:

• Verificar se o padrão foi ou não obedecido;• Remover a causa de insucesso para que o pro-

cesso atinja o resultado esperado.Se o padrão não foi obedecido, é simplesmente uma

questão de treinamento de reeducação. Neste caso, de-ve-se voltar à etapa de execução e treinar até se certifi-car que tudo ficou bem compreendido.

Se padrão foi obedecido e o problema já foi identi-ficado, a primeira etapa é a de remoção do efeito (sinto-ma) do problema para que o processo volte a funcionar.

INDICADORES DE DESEMPENHOA tomada de decisão, em todos os níveis da organiza-

ção, deve se apoiar na análise de fatos, dados e informações dos ambientes interno e externo, abrangendo todas as partes interessadas. As medições devem refletir as necessidades e estratégias da organização e fornecer informações confiá-veis sobre processos e resultados (FNQ, 2008).

Segundo Oliveira et al (2007), a identificação de indicadores-referência em sistemas reais de produção de leite, caracterizando aqueles mais diretamente cor-relacionados à eficiência econômica, é uma importante ferramenta de apoio gerencial e pode trazer esclareci-mentos para o debate sobre a viabilidade econômica de sistemas de produção de leite.

Indicadores de Desempenho em uma propriedade rural, compreendem os dados que quantificam as en-tradas (recursos ou insumos), os processos, as saídas (produtos). São usados para acompanhar o desempenho ao longo do tempo. Um indicador de desempenho é um dado numérico a que se atribui uma meta e que é trazido, periodicamente, à atenção dos gestores de uma organização. Se constituem no elo entre as estratégias e o resultado das atividades, devendo evidenciar o va-lor agregado às partes interessadas. Devem atender as seguintes características: fácil visibilidade; possibilitar uma visão balanceada da performance da empresa rural; facilitar o entendimento dos direcionadores do negócio; suportar a tomada de decisões visando influenciar os ambientes interno e externo.

Dirigir uma empresa rural considerando-se somente o custo/lucro é como dirigir um carro olhando o espelho retrovisor. Pode-se ver o que já passou e não onde se está indo. Por isso, é importante um equilíbrio entre os tipos de indicadores, os quais devem subsidiar decisões econômicas e zootécnicas.

INDICADORES ZOOTÉCNICOS Quanto ao desempenho produtivo, os índices zootéc-

nicos traduzem a principal ferramenta de avaliação de de-sempenho. Refletem em forma numérica o desempenho dos diversos parâmetros da exploração pecuária. A inter-pretação dos índices deve ser feita de forma conjunta com as características de produção empregadas na proprieda-de. Diversas formas e nomenclaturas são encontradas, sendo assim, devemos nos atentar quanto à metodologia de cálculo do índice em discussão (Neto, 2009).

Bergmann (2009), relata ainda que os indicadores zoo-técnicos sejam fundamentais para um programa de melho-ramento genético. Segundo ele, a definição de quais crité-

Figura 1: O Ciclo PDCA

CIÊNCIA ET PRAXIS v. 2, n. 3, (2009)82

rios utilizarem dependerá dos objetivos da seleção, ditados pela demanda do mercado, do estatus produtivo e fisioló-gico do rebanho e pelas limitações do sistema produtivo. A otimização dos programas de seleção passa, sem dúvidas, pela avaliação econômica resultantes das mudanças gené-ticas nas diferentes características, e pela implantação de índices de seleção que levem em consideração esta avalia-ção. Embora, este estudo tenha sido realizado com gado de corte, nos remete a uma reflexão de nossa pecuária leiteira quanto a estes aspectos também.

INDICADORES ECONÔMICOSA análise econômica da atividade mediante o custo

de produção e de indicadores de eficiência econômi-ca, como a margem bruta, margem líquida e resultado (lucro ou prejuízo), é um forte subsídio para a tomada de decisões na empresa agrícola. Justifica-se o cálcu-lo dos vários indicadores por que eles têm maior ou menor importância dependendo do prazo de tempo (curto, médio ou longo) em questão. Tal importância pode ser assim constatada: no curto prazo o produtor deve estar mais preocupado é com a margem bruta; no médio prazo, com a margem líquida e, no longo prazo, com o resultado (lucro ou prejuízo) (LOPES & CARVALHO, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAISGerenciar nada mais é do que fazer acontecer o que

se deve, no momento certo e da forma certa. Iniciar algo planejando, mesmo que sendo de forma desor-denada. A partir de então já começar a fazer logo. Só que para assegurar que o que está acontecendo é o que deve acontecer realmente, há necessidade de checar e medir o resultado dessa equação. Se houver algum problema, ou seja, um desvio do que foi planejado, desejado, em relação ao que está acontecendo, será preciso agir corretivamente e em alguns momentos até preventivamente.

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