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1Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCHCOLEGIADO DE CIÊNCIAS CONTÁBEISCAMPUS I – SALVADOR – BAHIA
OS SISTEMAS ECONÔMICOS
Profª. Marinólia Bittencourt Borges Sanches
Prof. Raimundo Nonato Sanches
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CAPÍTULO 6: OS SISTEMAS ECONÔMICOS
6.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS
Sistema econômico é o conjunto das características econômico-
sociais dominantes em certo período de tempo, em um lugar
determinado.
O pensamento econômico sempre dependeu de uma determinada
época histórica, porque o homem é condicionado historicamente
pelas forças sociais do ambiente em que vive e se movimenta. O
sistema econômico é resultado da combinação de elementos como:
as relações de produção e as forças materiais de produção. Os sistemas
econômicos estão sempre se transformando, eles se sucedem
demonstrando que nada é imutável e que tudo traz dentro de si
o germe do seu processo evolutivo.
As instituições dominantes são a base do sistema econômico que
abrange toda a estrutura social dando origem a princípios
diretores, cuja finalidade é atender aos interesses das
classes sociais dominantes, detentoras do poder político e
econômico. O progresso se faz por meio de contradições e a
classe dominante que detém a posse dos meios de produção não
pode controlar as forças produtivas, e do desenvolvimento
destas surge o conflito com as relações de produção até a
ruptura final – evolução ou revolução – e o surgimento de um novo
sistema econômico.
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Uma sociedade é constituída pelo conjunto de elementos
econômicos, jurídicos, políticos e ideológicos. Todos os sistemas econômicos
são organizações onde existem dois níveis distintos: o
econômico (infra-estrutura) e o social (superestrutura).
A infra-estrutura é o nível econômico, ou seja, a base econômica da
sociedade. É a forma como os homens produzem os bens materiais
– técnica de produção – e as relações que se estabelecem entre
eles no processo produtivo – relações de produção. É o nível
fundamental, aquele que determina o funcionamento da
sociedade.
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A superestrutura representa o nível social do sistema econômico,
sendo constituída pelas idéias políticas, jurídicas,
religiosas, artísticas e filosóficas da sociedade. A
superestrutura engloba as idéias e instituições que refletem as
relações de produção dominantes, sendo por isso mesmo,
dominantes também. Ela é constituída pela ideologia e pela
organização social – política, jurídica, moral e religiosa.
Cada sistema econômico tem a sua superestrutura. Quando a base
material do sistema se modifica, a superestrutura também
sofrerá modificações, porque é a infra-estrutura econômica quem
determina a superestrutura social. As condições exteriores e a
situação dos homens mudam em primeiro lugar, depois como
conseqüência, o que muda é sua consciência.
Podemos concluir que o Estado, as leis e as idéias que são
definidas numa sociedade não são elementos a serviço de toda
comunidade. O Estado é um aparelho que serve aos interesses daqueles que
detêm o poder econômico, ou seja, os que controlam os meios de produção. Os
proprietários dos meios de produção tendo nas mãos o poder
econômico, controlam também o Estado com todo o seu aparelho –
tribunais, legislação, funcionalismo público, exército,
polícia etc. – isto lhes dá o poder político.
Além de controlarem o Estado e as leis, os detentores dos
meios de produção mais importantes controlam a educação e os
meios de difusão de idéias (Escolas: através dos conteúdos nos
programas em todos os níveis; Meios de comunicação de massa:
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eletrônicos – emissoras de rádio e televisão, internet; e impressos
– jornais, revistas, editoras de livros etc.). Como
conseqüência deste controle surge o poder ideológico. Tanto o
Estado como a ideologia servem aos interesses econômicos das
classes dominantes.
6.2) ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DOS SISTEMAS ECONÔMICOS
Os principais elementos que caracterizam qualquer sistema
econômico são:
Organização jurídica – É a regulamentação das relações de
produção determinadas pela superestrutura social;
Técnica de produção – Fornecida pelas forças materiais de
produção e determinada pela infra-estrutura econômica;
Ideologia - Conjunto de idéias predominantes em um grupo
social num determinado tempo. O homem está condicionado às
idéias do grupo. Cada sistema econômico tem sua ideologia
característica.
6.3) PROPRIEDADES GERAIS DOS SISTEMAS ECONÔMICOS
Dentre as propriedades comuns a todos os sistemas econômicos
destacam-se:
Coerência entre as forças materiais e a organização social
– Trata-se do equilíbrio entre a infra-estrutura econômica
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e a superestrutura social. O processo de evolução parte da
infra-estrutura para a superestrutura.
Vigência por um certo tempo –Todo sistema econômico tem
validade por um certo tempo, deixando de existir quando
rompe a coerência entre a infra-estrutura e a
superestrutura.
Desenvolvimento político de uma classe economicamente
poderosa – A propriedade dos meios de produção é uma arma
poderosa nas mãos de quem os possui, e possibilita a
conquista do poder político pela classe economicamente
dominante.
6.4) ESTRUTURA DOS SISTEMAS ECONÔMICOS
O crescimento econômico de um país depende da estrutura do
sistema econômico vigente, que é composta por três elementos
básicos – Estoque de recursos produtivos; complexo de unidades de produção; e
conjunto de instituições.
Estoque de recursos produtivos – É a base da atividade
econômica, pois esta depende da reunião dos recursos humanos
– população ativa, capacidade empresarial – e patrimoniais –
capital, recursos naturais, tecnologia.
Complexo de unidades de produção – É formado pelas
empresas – públicas, privadas, nacionais e multinacionais.
O estoque de recursos produtivos só tem significado
econômico, quando utilizado pelas unidades de produção. A
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combinação destes recursos ocorre dentro da empresas,
originando o fluxo real – produtos e o fluxo monetário – renda.
Conjunto de instituições – As instituições econômicas,
jurídicas, política e sociais definem as relações entre as
empresas e os possuidores dos recursos produtivos.
6.5) MODOS DE PRODUÇÃO
Diante das condições de vida material da sociedade, a força
principal, que determina o caráter do sistema econômico e o
desenvolvimento da sociedade de um sistema para outro, é o
modo de obtenção dos meios de subsistência necessários à vida
dos homens, isto é, o modo de produção dos bens materiais –
alimentos, vestuário, calçado, habitação, instrumentos de
produção, combustível etc. – necessários para que a sociedade
possa viver e desenvolver-se. Nesse processo, as forças produtivas
são as relações dos homens com a natureza, utilizando os
instrumentos de trabalho para produzir os bens materiais.
As relações de produção são as relações que se estabelecem entre os
homens no processo de produção. Na luta contra a natureza, que
eles exploram para produzir os bens materiais, os homens não
estão isolados uns dos outros; ao contrário, produzem em
comum, em grupos ou associações. É por isso que a produção é
sempre uma produção social, quaisquer que sejam suas condições. Em
qualquer sistema econômico, as forças produtivas em conjunto com as
relações de produção, independente do caráter dessas relações
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(dominação, submissão, colaboração, ajuda mútua ou transição
de uma forma para outra), são elementos indispensáveis no
processo produtivo.
Cada modo de produção pressupõe um certo desenvolvimento das
forças produtivas e determinadas relações sociais, que não se repetem
em sistemas econômicos diferentes e mais evoluídos. Segundo
Sweezy (1979), no processo produtivo, os homens atuam sobre a
natureza e uns sobre os outros; e é nos limites destas relações
sociais que se estabelece sua ação sobre a natureza e que se
realiza a produção.
O modo de produção engloba as forças produtivas e as relações de produção
entre os homens. Nos diferentes graus de desenvolvimento de
cada sistema econômico, os homens utilizam diferentes meios de
produção, isto é, têm estilos de vida diferentes. Na
comunidade primitiva existia um modo de produção diferente dos
demais sistemas econômicos – escravismo, feudalismo,
capitalismo, socialismo e comunismo.
Para cada tipo de vida corresponde um tipo de pensamento, ou
seja, é a vida material quem determina as idéias. Para os
marxistas, a história do desenvolvimento da sociedade é a
história do desenvolvimento da produção, a história dos modos
de produção que se sucedem através dos séculos, a história das
forças produtivas e das relações de produção entre os homens.
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A compreensão das leis da história da sociedade não deve ser
procurada no cérebro dos homens ou nas idéias e opiniões da
sociedade, mas no modo de produção praticado pela sociedade em
cada período da história, na infra-estrutura econômica da
sociedade.
As forças produtivas são os elementos determinantes do
desenvolvimento da produção. O estado das forças produtivas
indica quais os instrumentos de produção que os homens
utilizam para produzir os bens materiais que lhes são
necessários; o estado das relações de produção mostra quem
possui os meios de produção – recursos naturais, instrumentos
de produção, instalações, meios de transporte e de comunicação
etc. – e se existe propriedade privada ou coletiva dos mesmos.
O desenvolvimento das forças produtivas dos tempos mais
remotos até nossos dias, pode ser assim sintetizado:
Transição dos utensílios de pedra aos de metal;
Passagem da coleta à agricultura;
Aperfeiçoamento dos utensílios de metal;
Desenvolvimento das profissões manuais;
Separação das profissões manuais da agricultura – Divisão
Social do Trabalho;
Desenvolvimento das profissões manuais independentes –
Especialização;
Desenvolvimento da produção artesanal – Manufatura;
Transição dos instrumentos de produção artesanal à máquina
– Industrialização;
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Transição do sistema de máquinas a vapor e aparecimento
da grande indústria mecanizada moderna;
Desenvolvimento da grande indústria – Automação,
informatização, tecnologia de ponta etc.
O desenvolvimento e aperfeiçoamento dos instrumentos de
produção foram realizados pelos homens no processo de
produção. Assim, ao mesmo tempo em que eles desenvolveram os
instrumentos de produção, transformaram e desenvolveram sua
experiência de produção, seus hábitos e sua capacidade para
manejar os instrumentos de trabalho. Em síntese, o desenvolvimento
das forças produtivas determina o caráter das relações de produção.
6.6) SISTEMAS ECONÔMICOS
Segundo a maioria dos autores marxistas, a história conhece
cinco tipos fundamentais de modos de produção e implicitamente
de relações de produção, portanto, os sistemas econômicos são:
Comunismo primitivo, escravismo, feudalismo, capitalismo e
comunismo – cuja etapa inferior é o socialismo. Esses modos
de produção tendem a ser observados entre todos os povos,
dependendo do desenvolvimento de cada um. Vale lembrar, que
dentro de um mesmo país podem conviver diferentes modos de
produção, existindo entretanto a predominância de um deles
sobre os demais.
6.6.1) Comunismo Primitivo
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A base das relações de produção é a propriedade coletiva dos meios de
produção, o que corresponde ao caráter das forças produtivas
nesse período. Os utensílios de pedra, assim como o arco e a
flecha aparecidos mais tarde, não permitiam aos homens lutar
isoladamente contra as forças da natureza e os animais de
rapina.
Para colher os frutos nas florestas, pescar ou construir
qualquer habitação, os homens eram obrigados a trabalhar em
comum para não morrerem de fome, tornarem-se vítimas dos
animais ferozes ou de tribos vizinhas. O trabalho comum
conduziu à propriedade coletiva dos meios de produção e dos
produtos.
Ainda não se tem noção da propriedade privada dos meios de
produção, salvo a propriedade individual de alguns
instrumentos de produção, que são ao mesmo tempo armas de
defesa contra animais de rapina. Não há exploração do homem
pelo homem, nem classes sociais.
A lei econômica fundamental do comunismo primitivo consiste na luta
permanente para assegurar a sobrevivência dos membros da comunidade em
condições precárias, mediante a posse coletiva dos meios de produção.
Em síntese, as principais características deste sistema
econômico são:
Propriedade comum,
Trabalho comum;
Divisão natural do trabalho – sexo e idade;
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Instrumentos de trabalho muito rudimentares;
Baixíssima produtividade do trabalho;
Repartição igualitária dos bens produzidos;
Ausência de classes sociais;
Ausência do Estado.
6.6.2) Escravismo
A base das relações de produção é a propriedade do senhor de escravos
sobre os meios de produção e sobre o trabalhador, o escravo que ele pode
vender, comprar e até mesmo matar como se fosse gado. Estas
relações de produção correspondem, no essencial ao estado das
forças produtivas, nesse período.
Em lugar dos utensílios de pedra os homens dispõem agora de
instrumentos de metal; em lugar de uma economia reduzida a uma
caça primitiva, aparece a criação de animais, a agricultura,
as profissões manuais; surge a divisão social do trabalho
entre estes diferentes ramos da produção; vê-se aparecer a
possibilidade de troca de produtos entre indivíduos e grupos;
a possibilidade de uma acumulação de riquezas nas mãos de um
pequeno grupo de pessoas; a acumulação real dos meios de
produção nas mãos de uma minoria; a possibilidade da minoria
submeter a maioria; e a transformação dos membros da maioria
em escravos.
No sistema escravista, já não há trabalho comum e livre de
todos os membros da sociedade no processo de produção,
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predominando o trabalho forçado dos escravos que eram
explorados por patrões ociosos. É por isso que já não há
propriedade comum dos meios de produção nem dos produtos,
surgindo a propriedade privada. Aqui o senhor de escravos é o
proprietário absoluto.
A escravidão é a primeira e mais brutal forma de exploração do
homem pelo homem. Ricos e pobres, exploradores (senhores) e
explorados (escravos), pessoas que têm todos os direitos e
pessoas que não têm direito nenhum, uma dura luta de classes
entre uns e outros, este é o quadro do escravismo.
A lei econômica fundamental do escravismo consiste na produtividade do
trabalho relativamente elevada, permitindo ao trabalhador criar um sobreproduto
(excedente) que é apropriado pelo senhor de escravos.
Em síntese, as principais características do sistema econômico
escravista são:
Propriedade privada dos meios de produção;
Propriedade privada dos trabalhadores (escravos);
Divisão social do trabalho entre: cidade e campo,
pastores e agricultores, artesãos e comerciantes,
trabalho manual e trabalho intelectual etc.;
Produção destinada essencialmente ao consumo local;
Existência de classes sociais antagônicas (senhores e
escravos);
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Existência do Estado. As antigas civilizações
desenvolveram-se à base do trabalho escravo (Grécia,
Egito, Babilônia, Roma, Índia, China entre outras).
As relações escravistas de produção esgotaram suas
potencialidades de desenvolvimento, entravando o
desenvolvimento das forças produtivas. As forças produtivas
entraram em contradição com as relações sociais de produção,
exigindo a superação destas. As novas relações de produção que
surgiram com a desagregação do trabalho escravo pressupunham
um desenvolvimento mais livre das forças produtivas, em
comparação com as condições vigentes na sociedade escravista.
Surge, assim, o feudalismo, cujas características básicas
serão mencionadas a seguir.
6.6.3) Feudalismo
A base das relações de produção é a posse total do senhor feudal sobre
os meios de produção, e sua posse limitada sobre o trabalhador – o servo –
que o senhor feudal já não podia matar, mas pode vender ou
comprar.
A propriedade feudal coexiste com a posse individual dos
instrumentos de trabalho pelo camponês e artesão, que embora
estejam vinculados ao feudo, já dispõem de algum grau de
liberdade sobre sua economia privada, baseada no trabalho
pessoal. Estas relações de produção correspondem, no essencial
ao estado das forças produtivas nesse período. Aperfeiçoamento
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da fundição e do tratamento do ferro; emprego generalizado do
arado de ferro (charrua) e do trabalho de tecelagem;
desenvolvimento contínuo da agricultura, da jardinagem e da
indústria vinícola; fabrico de azeite; aparecimento das
manufaturas ao lado das oficinas de artesãos; estas são as
características do estado das forças produtivas no feudalismo.
As novas forças produtivas exigem do trabalhador iniciativa na
produção, gosto pela obra desenvolvida e interesse no
trabalho. É por essa razão que o senhor feudal, renunciando a
um escravo, que devido ao regime de servidão, não tem
interesse no trabalho e é absolutamente desprovido de
iniciativa, prefere tratar com um servo que possui sua própria
produção, seus instrumentos de trabalho e que tem algum
interesse na atividade que desenvolve, fator indispensável
para que cultive a terra e pague ao senhor feudal com sua
colheita, uma renda em produtos agrícolas.
A lei econômica fundamental da sociedade feudal é o pagamento da renda da terra
pelos camponeses aos senhores feudais em trabalho gratuito, em produtos ou em
dinheiro.
Aqui a propriedade privada continua a evoluir. A exploração é
quase tão dura como na escravatura, estando apenas camuflada.
Dentre as características essenciais do feudalismo destacam-
se:
Propriedade privada dos senhores feudais sobre os meios de
produção;
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Propriedade incompleta dos senhores feudais sobre os
servos;
Divisão da sociedade em duas classes sociais antagônicas:
exploradores (senhores feudais) e explorados (servos da
gleba ou camponeses);
Crescente divisão social do trabalho; e
Produção destinada essencialmente ao consumo local.
Ao esgotar suas potencialidades, o feudalismo foi substituído
pelo capitalismo.
6.6.4) Capitalismo
Historicamente, o sistema econômico capitalista representa uma
evolução em relação ao feudalismo. É a propriedade privada dos meios
de produção que forma a base das relações de produção
capitalista. A classe dominante não é dona dos trabalhadores,
isto é, o capitalista não os pode matar nem vender, pois eles
são livres de qualquer dependência pessoal, porém não possuem
os meios de produção e, para não morrerem de fome, são
obrigados a vender sua força de trabalho ao capitalista e
serem explorados por eles, recebendo em troca um salário.
As oficinas de artesãos e as manufaturas deram lugar a enormes
fábricas equipadas com máquinas. As terras dos senhores que
eram cultivadas com os instrumentos primitivos dos camponeses,
deram lugar a poderosas explorações capitalistas administradas
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na base da ciência agronômica e providas de máquinas
agrícolas.
As novas forças produtivas exigem que os trabalhadores sejam
mais cultos e mais inteligentes do que os servos ignorantes e
embrutecidos; que sejam capazes de compreender a máquina e
saibam manejá-la corretamente. Os capitalistas preferem lidar
com os trabalhadores assalariados, libertos dos entraves da
servidão e capazes de operar máquinas.
Com o desenvolvimento das forças produtivas o capitalismo
gerou uma série de contradições:
Ao produzir quantidades cada vez maiores de mercadorias,
gerando economia de escala e reduzindo os preços, o
capitalismo acentua a concorrência, arruína os pequenos e
médios proprietários tornando-os proletários – assalariados –
e reduzindo seu poder de compra.
A propriedade privada dos meios de produção entra em
conflito com o caráter social da produção – o produto
final é resultado do trabalho de centenas de pessoas. Ao
expandir a produção e agrupar em grandes fábricas um
número cada vez maior de operários, o capitalismo dá um
caráter social ao processo de produção e com isso destrói
sua própria base; pois o caráter social do processo produtivo exige a
propriedade social dos meios de produção.
19Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
No capitalismo, as contradições existentes entre o caráter das
forças produtivas e as relações de produção, se manifestam nas
crises periódicas de superprodução e subconsumo; os capitalistas,
na falta de compradores para seus produtos, devido à queda do
poder aquisitivo das massas de que eles são os verdadeiros
responsáveis, queimam alimentos, destruem mercadorias,
interrompem a produção, e apesar disso, milhões de seres
humanos estão desempregados e morrem de fome, não por falta de
mercadorias, mas porque produziram em demasia. De acordo com a
teoria marxista, no capitalismo existe a anarquia da produção,
isto é, produz-se o que dá lucro e não o que a população
realmente necessita. Para Marx, superprodução é a miséria na
abundância.
A lei econômica fundamental do capitalismo é a exploração do trabalho assalariado,
para a produção da mais-valia, que será apropriada pelos capitalistas.
Dentre as características principais do sistema capitalista
destacam-se as seguintes:
Divisão da sociedade em duas classes sociais
antagônicas: a burguesia (capitalistas) e o
proletariado (trabalhadores);
Separação do produtor dos meios de produção;
Propriedade privada dos meios de produção, concentrados
sob forma de monopólio nas mãos de uma só classe social
– a burguesia;
Avanço sem precedentes dos conhecimentos científicos e
tecnológicos;
20Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
Produção destinada à venda no mercado. Tudo se
transforma em mercadoria, até a força de trabalho;
Diferente do que ocorre nas sociedades escravista e
feudal, o trabalhador é livre para vender sua força de
trabalho no mercado para o capitalista que lhe oferecer
o maior salário;
A produção desenvolve-se nos setores em que os
capitalistas podem obter mais lucros, e não naqueles
cujos produtos são mais necessários e urgentes para a
maioria da população.
A evolução do capitalismo envolve duas etapas: o capitalismo
pré-monopolista (livre concorrência) e capitalismo monopolista
(imperialismo). Nos Estados Unidos, Inglaterra, França e em
outros países desenvolvidos, o capitalismo pré-monopolista
predominou até as últimas décadas do século XIX, quando a
livre concorrência foi substituída pelos monopólios, que
passaram a desempenhar papel decisivo no desenvolvimento da
economia capitalista.
O imperialismo é a etapa mais avançada do capitalismo, e tem
como características básicas o aparecimento dos monopólios; a
luta constante pela partilha do mundo entre as grandes potências;
formação de monopólios internacionais (cartéis, trustes e holdings);
exportação de capitais (multinacionais – remessa de lucros,
empréstimos e financiamentos – pagamento de juros); o
surgimento do capital financeiro (capital bancário + capital
industrial).
21Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
No século XIX, o capitalismo apresentava-se definitivamente
estruturado, com os banqueiros e industriais centralizando as
decisões econômicas e políticas, e os comerciantes atuando
como seus intermediários (Sandroni, 2001). No final desse
século, acentuavam-se as tendências à concentração com
cartéis, trustes e monopólios, o que, no século XX, resultaria
na formação de gigantescas empresas multinacionais. Nesse
sistema econômico, as crises são freqüentes, provocando
falências, desemprego e inflação na maioria dos países
centrais ou periféricos, levando o Estado a intervir cada vez
mais na economia, para amenizar essas crises.
De acordo com o materialismo histórico, o modo de produção
comunista nasce no interior do capitalismo a partir das
contradições existentes nesse sistema econômico.
6.6.5) Comunismo
O principal objetivo do sistema econômico comunista é a
criação de uma sociedade onde não exista a propriedade privada
dos meios de produção, além de pretender eliminar as
diferenças entre as classes sociais e planificar a economia,
para obter uma distribuição racional e mais justa da produção
e da renda.
De acordo com Marx, “entre a sociedade capitalista e a
sociedade comunista há um período que corresponde à
transformação revolucionária da primeira para a segunda. Este
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período corresponde também a um período político de transição
cujo Estado não pode ser outro senão a ditadura revolucionária
do proletariado”.
Lenin dividiu a sociedade comunista em duas etapas: uma
inferior – socialismo, na qual se conservam muitos vestígios
da sociedade capitalista, e uma etapa superior – comunismo, em
que serão postos em prática os princípios da nova sociedade.
O socialismo é um período de transição entre o capitalismo e o comunismo, por
isso mesmo é também conhecido como a etapa inferior da
sociedade comunista. É no socialismo que se pretende construir
a base política, social e material da nova sociedade. As
principais características do socialismo são:
No campo político, o Estado burguês seria substituído por
um tipo especial de Estado: a ditadura do proletariado,
cuja tarefa era conduzir o processo até ao
desaparecimento completo das classes sociais e do
próprio Estado;
No campo econômico, a propriedade coletiva dos meios de
produção substituiria a propriedade privada
capitalista, permitindo o surgimento de novas relações
de colaboração recíproca e um grande desenvolvimento
das forças produtivas. Entretanto, haveria a
propriedade pessoal de bens que servem diretamente ao
consumo como: casas, móveis, eletrodomésticos etc.;
23Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
No campo social, as funções produtivas e administrativas
da sociedade seriam controladas diretamente pelo povo,
à medida que os trabalhadores fossem aprendendo com a
prática e com o amplo acesso à educação e cultura.
A lei econômica fundamental do socialismo é: “De cada um segundo sua capacidade,
a cada um segundo seu trabalho”.
No comunismo, as relações de colaboração recíproca se
estabeleceriam em toda a produção social e o bem estar e a
abundância seriam estendidos a toda a sociedade. As principais
características da etapa superior da sociedade comunista são:
Propriedade coletiva dos meios de produção;
O trabalho deixará de ser um meio de subsistência e
passará a ser um meio de desenvolvimento criativo tanto
para o indivíduo como para a sociedade tomada em
conjunto;
Transformação completa da vida social e da visão do
mundo que os homens tinham;
Ausência de classes sociais (fim da exploração do homem
pelo homem);
Desaparecimento do Estado (a elevada conscientização
social atingida e a participação de todos os homens na
condução da sociedade tornará o Estado desnecessário);
Os interesses individuais passarão a ser interesses
sociais porque já não existirão as causas que geram
antagonismos entre os homens;
24Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
O governo sobre as pessoas será substituído pela
administração das coisas e dos processos de produção;
A lei econômica fundamental do comunismo é: “De cada um segundo sua
capacidade, a cada um segundo sua necessidade”.
O sistema econômico comunista, desde sua fase inferior
(socialismo), baseia-se na propriedade social sobre os meios
de produção e na planificação da economia. A planificação é
realizada para o conjunto da economia nacional, por regiões,
localidades, unidades produtivas e por ramos da economia do
país. A eficácia da planificação econômica socialista está
condicionada à ampla participação das massas trabalhadoras na
elaboração e execução dos planos.
De acordo com a teoria marxista, no comunismo os homens serão
senhores para fazer do futuro da humanidade aquilo que
queiram: planificando de maneira livre e consciente a História
do futuro.
6.7) A TRANSIÇÃO DE UM MODO DE PRODUÇÃO PARA OUTRO
Segundo o ponto de vista do materialismo histórico, os modos
de produção mencionados tendem a ser observados
universalmente, apesar das particularidades do desenvolvimento
de cada povo.
25Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
Cada modo de produção é substituído por outro mais novo e
qualitativamente superior (Comunismo primitivo, escravismo,
feudalismo capitalismo e comunismo). Entretanto, um modo de
produção só dá lugar a outro, após cumprir seu papel
histórico, isto é, desenvolver e esgotar todas as suas
potencialidades. A passagem de um modo de produção para outro
se dá sob a forma de saltos qualitativos, após longo período
de acumulação de contradições.
Nesse processo, o desenvolvimento das forças produtivas da
sociedade entra em contradição com as relações de produção
existentes. Essas relações de produção, que são peculiares a
cada modo de produção, nascem, crescem, amadurecem e cumprem
seu papel histórico e, a partir de determinado momento,
tornam-se estreitas para o nível de desenvolvimento alcançado
pelas forças produtivas, passando a constituir-se num entrave
a esse desenvolvimento.
Para Karl Marx, (...) “na produção social, ao longo da sua
vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e
independentes da sua vontade, relações de produção que
correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento das
forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de
produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real
sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e
à qual correspondem determinadas formas de consciência
social”.
26Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
O modo de produção da vida material (superestrutura)
condiciona o processo da vida social, política e espiritual em
geral (infra-estrutura). Não é a consciência do homem que
determina o seu ser social, mas, pelo contrário, o seu ser
social é que determina sua consciência. Ao chegar a uma
determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas
materiais da sociedade se chocam com as relações de produção
existentes, ou, com a sua expressão jurídica – as relações de
propriedade, dentro das quais se desenvolveram até ali. Essas
relações que antes eram uma forma de desenvolvimento das
forças produtivas, transformam-se em obstáculos, provocando a
ruptura através de uma revolução social.
As mudanças na base econômica revolucionam toda a
superestrutura erguida sobre ela. As mudanças materiais
ocorridas nas condições econômicas de produção podem ser
quantificadas com mais exatidão do que as formas ideológicas
em que os homens adquirem consciência do conflito existente
entre as forças produtivas e as relações de produção e lutam
para resolvê-lo. Nenhuma formação social desaparece antes que
se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e
jamais aparecem relações de produção novas e mais avançadas
antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga as
condições materiais para a sua existência.
Finalizando, convém ressaltar que, o conceito de formação
socioeconômica é mais abrangente do que o de modo de produção.
O modo de produção, como já foi dito anteriormente, compreende
27Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
as forças produtivas e as relações de produção. Enquanto que,
a formação socioeconômica é constituída pelo modo de produção
e a correspondente superestrutura ideológica (jurídica,
política, filosófica, artística, religiosa etc.).
Por outro lado, de acordo com Soares (1985) é necessário
deixar claro que o marxismo estudado em seu conjunto, não
afirma a obrigatoriedade de que todos os países e povos, em
seu desenvolvimento ascendente da comunidade primitiva ao
comunismo, devem passar por todas as formações
socioeconômicas. A história conhece casos de países que, em
decorrência de causas objetivas, passaram ao feudalismo sem
ter que viver sob o escravismo. Além disso, no século XX,
verificou-se a passagem de alguns países ao socialismo, sem
passar pela formação capitalista plena.
O marxismo demonstra que o modo de produção constitui a base
da formação socioeconômica. Entretanto, isso não significa a
subestimação do papel da superestrutura, no desenvolvimento da
sociedade, o que conduziria ao economicismo, e a negação da
dialética marxista.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BESSE, G. & CAVEING, M. Politzer: princípios fundamentais de filosofia. 3. ed. SãoPaulo: Hemus, 1970.CARREIRO, Porto C. H. Introdução à economia. 3. ed. Rio de Janeiro: Rio, 1977.
28Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
ENGELS, Frederic. Do socialismo utópico ao socialismo científico. Coleção Bases, Vol.13. São Paulo: Global, 1979.GURLEY, John G. Desafios ao capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1976.HARNECKER, M. & URIBE, G. Cadernos de educação popular. Vol. 1, 6 e 7. SãoPaulo: Global, 1980.________ . Os conceitos elementais do materialismo histórico. Santiago, 1973. LENIN, Vladimir I. U. As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo. ColeçãoBases, Vol. 09. São Paulo: Global, 1979.MANDEL, Ernest. Introdução ao marxismo. Porto Alegre: Movimento, 1980.MARX, K. O capital: edição resumida por Julian Borchardt. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.MARX, K. Formações econômicas pré-capitalistas. Cadernos o homem e a sociedade.Lisboa, 1973.MARX, K. & SWEEZY, P. Para uma crítica de economia política. Coleção Bases, Vol. 20.São Paulo: Global, 1979.SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. 6. ed. São Paulo: Best Seller,2001.SOARES, Alcides R. Princípios de economia política. São Paulo: Global, 1985.
29Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
CAPÍTULO 7: FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA
7.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS
Apesar das diferenças entre os sistemas econômicos
contemporâneos, existem algumas características comuns a todos
eles. Essas características são:
Descompasso entre necessidades ilimitadas e recursos
escassos;
Aplicação dos conceitos de possibilidade de produção,
rendimentos decrescentes e custos crescentes;
Processo de interação resultante do trinômio: Divisão
do trabalho – especialização – trocas;
Utilização da moeda;
Medição da atividade produtiva como instrumento de
planejamento e ação econômica.
Atualmente, os três sistemas econômicos mais representativos
são:
Sistema de livre iniciativa empresarial;
Sistema de planificação central;
Sistemas mistos.
Estes sistemas são resultados da evolução das formas de
organização da atividade econômica, em busca de um sistema
ideal que combine a eficiência produtiva com a distribuição
eficiente do produto social. O ciclo evolutivo, iniciado por
30Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
um sistema em que prevalecia a tradição e a autoridade, passa
pelo mercantilismo, pelo liberalismo econômico que antecedeu a
concepção socialista e prossegue em direção a uma combinação
que elimine as idéias radicais das duas formas de organização
prevalecentes nas economias modernas.
De acordo com Lindbeck (1980), cada forma de ordenamento
institucional do processo econômico diferencia-se entre si, em
decorrência dos seguintes elementos: a liberdade econômica; a
propriedade dos meios de produção; o sistema de incentivos; a coordenação
econômica e a alocação de recursos; o local do processo decisório. (Quadro 4).
31Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
7.2) SISTEMA DE LIVRE INICIATIVA EMPRESARIAL (Economia de
mercado)
Neste sistema predomina a propriedade privada dos meios de
produção, ao lado de decisões sobre o que e quanto produzir
fundamentadas no mercado e nos preços. As atividades
econômicas são dirigidas e controladas unicamente por empresas
privadas, que estabelecem concorrência entre si. Daí a
denominação de “economia de mercado”, sendo este o espaço natural
das empresas.
As empresas estariam dispostas a oferecer seus produtos à
medida que houvesse possibilidades efetivas de obtenção de
lucros. Ao lado da propriedade privada dos meios de produção,
os lucros seriam a segunda determinante de uma filosofia
liberal.
A perspectiva de lucro resume-se, portanto, à oferta de
produtos no mercado. Essa oferta se orientaria pela demanda de
produtos que suprissem as necessidades dos indivíduos. Supõe-
se então, que o livre jogo da oferta e procura, em que
predominasse a livre concorrência, seria fundamental para o
funcionamento do mercado. Nestas circunstâncias, a intervenção
do Estado na atividade econômica seria prejudicial. Ao Estado
caberia zelar pelo livre funcionamento do mecanismo de preços
e do mercado, sem interferir em nenhum aspecto da produção.
32Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
Neste sistema, a decisão sobre “o que e quanto produzir” seria
tomada por consumidores e produtores; a decisão de “como
produzir” seria determinada pela competição entre os produtores,
em busca de maior produtividade e redução de custos; a questão
sobre “para quem produzir” seria solucionada pela capacidade de
aquisição dos bens produzidos, isto é, cada indivíduo irá
apossar-se da quantidade de bens e serviços de acordo com a
sua disponibilidade de recursos financeiros.
Em síntese, no sistema de livre iniciativa o processo
decisório ocorreria no mercado, onde os agentes econômicos
teriam o poder de competição sem a intervenção do poder
público.
33Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
7.3) SISTEMA DE PLANIFICAÇÃO CENTRAL (Economia centralizada)
Neste sistema, as respostas às questões fundamentais da
economia competem ao Estado, que se encarregaria de direcionar
e controlar o processo produtivo, através de empresas
públicas. Este direcionamento e controle seria feito de acordo
com os interesses coletivos, que prevaleceriam sobre os
interesses individuais.
Segundo esta ordem econômica, desaparecem a propriedade
privada dos meios de produção e a instituição do lucro. A meta
não é obtenção de lucros, mas proporcionar o máximo de bem-
estar geral. Todos os meios de produção seriam socializados,
isto é, a propriedade coletiva seria administrada pelo Estado.
Um complexo sistema de planificação determinaria “o que produzir”
prioritariamente. Todas as possibilidades de produção seriam
equacionadas de forma a obter um aproveitamento integral de
todos os recursos na solução do problema “como produzir”. A
questão “para quem produzir”, que traz em si o problema da
distribuição de renda, seria solucionada pela quantidade do
trabalho e executado, independentemente das necessidades do
trabalhador. O Estado se encarregaria de proporcionar, através
de preços baixos ou gratuitamente, os serviços básicos
relacionados à saúde, educação, transportes e moradia,
assegurando a todos o direito inalienável ao trabalho. A
competição entre as unidades produtivas, que prevalece no
sistema de livre iniciativa, seria substituído pela
34Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
participação ativa de todos os trabalhadores no processo
econômico.
Em síntese, na economia centralizada, o processo decisório
ocorreria nas centrais de planificação. Para os socialistas a
centralização proporcionaria maior eficiência produtiva e a
propriedade coletiva dos meios de produção possibilitaria uma
distribuição de renda mais justa.
7.4) SISTEMAS MISTOS (Intervenção parcial)
Na realidade não existe o funcionamento pleno da economia de
mercado ou da economia centralmente planificada. A intervenção
do Estado se processa até mesmo em economias tipicamente
capitalistas e em economias socialistas existem certas formas
de propriedade privada da terra.
Observa-se, nos sistemas mistos, a coexistência entre o setor
público e o setor privado. Esta forma de ordenamento econômico
situa-se em posições intermediárias, entre os extremos do
liberalismo econômico ortodoxo e do socialismo revolucionário.
De acordo com Rossetti (2000), posiciona-se entre o
liberalismo maximizador de benefícios individuais e o
socialismo transformador da natureza humana.
Nos sistemas mistos muitos aspectos da economia são
controlados pelo Estado, mediante leis, decretos, regulamentos
e portarias. Através da criação de empresas, concessão de
35Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
subsídios, controle de crédito e incentivos fiscais, o Estado
praticamente decide o que e quanto produzir em vários setores da
economia. O como produzir é determinado no setor privado, em
função da concorrência e do desenvolvimento tecnológico. A
questão para quem produzir é respondida pelo livre mecanismo dos
preços, porém o Estado desenvolve políticas públicas visando
oferecer serviços básicos gratuitos, benefícios sociais e
programas de transferência de renda para a população mais
carente.
Em síntese, o processo decisório ocorreria nos mercados sob o
poder regulatório do setor público. Entretanto, apesar de seus
contornos não serem definidos com precisão devido as inúmeras
formas possíveis, os sistemas mistos são os que predominam no
mundo atual.
36Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
QUADRO 5 : Tipologia dos sistemas de organizaçãoeconômica
ITENS OBSERVADOS
TIPOS DE ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
LIBERAL(1) INTERVENÇÃO PARCIAL(2) CENTRALIZADA(3)
GRAU DE ATUAÇÃO DOESTADO
- Nenhuma. O Estadonão interfere naatividade econô-mica.
- Fixação de objetivosglobais;
- Gestão da política eprograma-çãoeconômica.
- Plena intervenção.
PROPRIEDADE DOSMEIOS DE PRODUÇÃO
- Privada, individualou societária.
- Pública e privada. - Coletiva;- Socializada
LIBERDADEECONÔMICA
- Não existerestrições àliberdade demercado.
- Restrições seletivasà liberdade dosagentes econômicos;
- Introdução doconceito deliberdades sociais.
- Restrições àliberdade deocupação,empreendimento,consumo eacumulação.
INICIATIVA - Livreempreendimento.
- Livre empreendimentocom atuação dogoverno nos setorese regiões carentes.
- Quase inexistênciado livreempreendimento.
CONSECUÇÃO DAEFICIÊNCIAPRODUTIVA
- Através daconcorrênciaempresarial.
- Concorrênciaempresarial esti-mulada pelosinstrumentos dapolítica econômicado governo.
- Planificaçãocentral daatividadeeconômica.
PRINCIPAISCONDUTORES DAATIVIDADEECONÔMICA
- Sistema de preços esinais de mercado;
- Livre manifestaçãodas forças demercado.
- Sistema de preçoscom a funçãoorientadora e co-participante doEstado;
- Atuação conjunta deforças do mercadocom o planejamentopúblico indicativo.
- Centrais deplanificação.
LOCAL DO PROCESSODECISÓRIO
- Os mercados. - Os mercadosregulados pelaautoridade pública
- As centrais deplanificação comoúltima instânciada organizaçãoburocrática.
37Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches
SISTEMA DEINCENTIVOS
- Os agenteseconômicosindividuais buscama maxi-mização dosbenefícios pri-vados.
- O interesse socialse sobrepõe aointeresse privadoindividual.
- Os agenteseconômicos buscamo bem comum;
- A ação solidária ea cooperaçãosubstituem acompetição.
(1) Capitalismo Puro ou Economia de Mercado
(2) Sistemas Mistos
(3) Socialismo Puro ou Economia de Comando Central
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
LINDBECK, Assar. A economia política da nova esquerda. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1980.ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2000.