UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB OS SISTEMAS ECONÔMICOS

37
1 Fundamentos de Economia I Marinólia Bittencourt & Raimundo Sanches UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH COLEGIADO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CAMPUS I – SALVADOR – BAHIA OS SISTEMAS ECONÔMICOS Profª. Marinólia Bittencourt Borges Sanches Prof. Raimundo Nonato Sanches

Transcript of UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB OS SISTEMAS ECONÔMICOS

1Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCHCOLEGIADO DE CIÊNCIAS CONTÁBEISCAMPUS I – SALVADOR – BAHIA

OS SISTEMAS ECONÔMICOS

Profª. Marinólia Bittencourt Borges Sanches

Prof. Raimundo Nonato Sanches

2Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Setembro, 2004

3Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

CAPÍTULO 6: OS SISTEMAS ECONÔMICOS

6.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS

Sistema econômico é o conjunto das características econômico-

sociais dominantes em certo período de tempo, em um lugar

determinado.

O pensamento econômico sempre dependeu de uma determinada

época histórica, porque o homem é condicionado historicamente

pelas forças sociais do ambiente em que vive e se movimenta. O

sistema econômico é resultado da combinação de elementos como:

as relações de produção e as forças materiais de produção. Os sistemas

econômicos estão sempre se transformando, eles se sucedem

demonstrando que nada é imutável e que tudo traz dentro de si

o germe do seu processo evolutivo.

As instituições dominantes são a base do sistema econômico que

abrange toda a estrutura social dando origem a princípios

diretores, cuja finalidade é atender aos interesses das

classes sociais dominantes, detentoras do poder político e

econômico. O progresso se faz por meio de contradições e a

classe dominante que detém a posse dos meios de produção não

pode controlar as forças produtivas, e do desenvolvimento

destas surge o conflito com as relações de produção até a

ruptura final – evolução ou revolução – e o surgimento de um novo

sistema econômico.

4Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Uma sociedade é constituída pelo conjunto de elementos

econômicos, jurídicos, políticos e ideológicos. Todos os sistemas econômicos

são organizações onde existem dois níveis distintos: o

econômico (infra-estrutura) e o social (superestrutura).

A infra-estrutura é o nível econômico, ou seja, a base econômica da

sociedade. É a forma como os homens produzem os bens materiais

– técnica de produção – e as relações que se estabelecem entre

eles no processo produtivo – relações de produção. É o nível

fundamental, aquele que determina o funcionamento da

sociedade.

5Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

A superestrutura representa o nível social do sistema econômico,

sendo constituída pelas idéias políticas, jurídicas,

religiosas, artísticas e filosóficas da sociedade. A

superestrutura engloba as idéias e instituições que refletem as

relações de produção dominantes, sendo por isso mesmo,

dominantes também. Ela é constituída pela ideologia e pela

organização social – política, jurídica, moral e religiosa.

Cada sistema econômico tem a sua superestrutura. Quando a base

material do sistema se modifica, a superestrutura também

sofrerá modificações, porque é a infra-estrutura econômica quem

determina a superestrutura social. As condições exteriores e a

situação dos homens mudam em primeiro lugar, depois como

conseqüência, o que muda é sua consciência.

Podemos concluir que o Estado, as leis e as idéias que são

definidas numa sociedade não são elementos a serviço de toda

comunidade. O Estado é um aparelho que serve aos interesses daqueles que

detêm o poder econômico, ou seja, os que controlam os meios de produção. Os

proprietários dos meios de produção tendo nas mãos o poder

econômico, controlam também o Estado com todo o seu aparelho –

tribunais, legislação, funcionalismo público, exército,

polícia etc. – isto lhes dá o poder político.

Além de controlarem o Estado e as leis, os detentores dos

meios de produção mais importantes controlam a educação e os

meios de difusão de idéias (Escolas: através dos conteúdos nos

programas em todos os níveis; Meios de comunicação de massa:

6Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

eletrônicos – emissoras de rádio e televisão, internet; e impressos

– jornais, revistas, editoras de livros etc.). Como

conseqüência deste controle surge o poder ideológico. Tanto o

Estado como a ideologia servem aos interesses econômicos das

classes dominantes.

6.2) ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DOS SISTEMAS ECONÔMICOS

Os principais elementos que caracterizam qualquer sistema

econômico são:

Organização jurídica – É a regulamentação das relações de

produção determinadas pela superestrutura social;

Técnica de produção – Fornecida pelas forças materiais de

produção e determinada pela infra-estrutura econômica;

Ideologia - Conjunto de idéias predominantes em um grupo

social num determinado tempo. O homem está condicionado às

idéias do grupo. Cada sistema econômico tem sua ideologia

característica.

6.3) PROPRIEDADES GERAIS DOS SISTEMAS ECONÔMICOS

Dentre as propriedades comuns a todos os sistemas econômicos

destacam-se:

Coerência entre as forças materiais e a organização social

– Trata-se do equilíbrio entre a infra-estrutura econômica

7Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

e a superestrutura social. O processo de evolução parte da

infra-estrutura para a superestrutura.

Vigência por um certo tempo –Todo sistema econômico tem

validade por um certo tempo, deixando de existir quando

rompe a coerência entre a infra-estrutura e a

superestrutura.

Desenvolvimento político de uma classe economicamente

poderosa – A propriedade dos meios de produção é uma arma

poderosa nas mãos de quem os possui, e possibilita a

conquista do poder político pela classe economicamente

dominante.

6.4) ESTRUTURA DOS SISTEMAS ECONÔMICOS

O crescimento econômico de um país depende da estrutura do

sistema econômico vigente, que é composta por três elementos

básicos – Estoque de recursos produtivos; complexo de unidades de produção; e

conjunto de instituições.

Estoque de recursos produtivos – É a base da atividade

econômica, pois esta depende da reunião dos recursos humanos

– população ativa, capacidade empresarial – e patrimoniais –

capital, recursos naturais, tecnologia.

Complexo de unidades de produção – É formado pelas

empresas – públicas, privadas, nacionais e multinacionais.

O estoque de recursos produtivos só tem significado

econômico, quando utilizado pelas unidades de produção. A

8Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

combinação destes recursos ocorre dentro da empresas,

originando o fluxo real – produtos e o fluxo monetário – renda.

Conjunto de instituições – As instituições econômicas,

jurídicas, política e sociais definem as relações entre as

empresas e os possuidores dos recursos produtivos.

6.5) MODOS DE PRODUÇÃO

Diante das condições de vida material da sociedade, a força

principal, que determina o caráter do sistema econômico e o

desenvolvimento da sociedade de um sistema para outro, é o

modo de obtenção dos meios de subsistência necessários à vida

dos homens, isto é, o modo de produção dos bens materiais –

alimentos, vestuário, calçado, habitação, instrumentos de

produção, combustível etc. – necessários para que a sociedade

possa viver e desenvolver-se. Nesse processo, as forças produtivas

são as relações dos homens com a natureza, utilizando os

instrumentos de trabalho para produzir os bens materiais.

As relações de produção são as relações que se estabelecem entre os

homens no processo de produção. Na luta contra a natureza, que

eles exploram para produzir os bens materiais, os homens não

estão isolados uns dos outros; ao contrário, produzem em

comum, em grupos ou associações. É por isso que a produção é

sempre uma produção social, quaisquer que sejam suas condições. Em

qualquer sistema econômico, as forças produtivas em conjunto com as

relações de produção, independente do caráter dessas relações

9Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

(dominação, submissão, colaboração, ajuda mútua ou transição

de uma forma para outra), são elementos indispensáveis no

processo produtivo.

Cada modo de produção pressupõe um certo desenvolvimento das

forças produtivas e determinadas relações sociais, que não se repetem

em sistemas econômicos diferentes e mais evoluídos. Segundo

Sweezy (1979), no processo produtivo, os homens atuam sobre a

natureza e uns sobre os outros; e é nos limites destas relações

sociais que se estabelece sua ação sobre a natureza e que se

realiza a produção.

O modo de produção engloba as forças produtivas e as relações de produção

entre os homens. Nos diferentes graus de desenvolvimento de

cada sistema econômico, os homens utilizam diferentes meios de

produção, isto é, têm estilos de vida diferentes. Na

comunidade primitiva existia um modo de produção diferente dos

demais sistemas econômicos – escravismo, feudalismo,

capitalismo, socialismo e comunismo.

Para cada tipo de vida corresponde um tipo de pensamento, ou

seja, é a vida material quem determina as idéias. Para os

marxistas, a história do desenvolvimento da sociedade é a

história do desenvolvimento da produção, a história dos modos

de produção que se sucedem através dos séculos, a história das

forças produtivas e das relações de produção entre os homens.

10Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

A compreensão das leis da história da sociedade não deve ser

procurada no cérebro dos homens ou nas idéias e opiniões da

sociedade, mas no modo de produção praticado pela sociedade em

cada período da história, na infra-estrutura econômica da

sociedade.

As forças produtivas são os elementos determinantes do

desenvolvimento da produção. O estado das forças produtivas

indica quais os instrumentos de produção que os homens

utilizam para produzir os bens materiais que lhes são

necessários; o estado das relações de produção mostra quem

possui os meios de produção – recursos naturais, instrumentos

de produção, instalações, meios de transporte e de comunicação

etc. – e se existe propriedade privada ou coletiva dos mesmos.

O desenvolvimento das forças produtivas dos tempos mais

remotos até nossos dias, pode ser assim sintetizado:

Transição dos utensílios de pedra aos de metal;

Passagem da coleta à agricultura;

Aperfeiçoamento dos utensílios de metal;

Desenvolvimento das profissões manuais;

Separação das profissões manuais da agricultura – Divisão

Social do Trabalho;

Desenvolvimento das profissões manuais independentes –

Especialização;

Desenvolvimento da produção artesanal – Manufatura;

Transição dos instrumentos de produção artesanal à máquina

– Industrialização;

11Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Transição do sistema de máquinas a vapor e aparecimento

da grande indústria mecanizada moderna;

Desenvolvimento da grande indústria – Automação,

informatização, tecnologia de ponta etc.

O desenvolvimento e aperfeiçoamento dos instrumentos de

produção foram realizados pelos homens no processo de

produção. Assim, ao mesmo tempo em que eles desenvolveram os

instrumentos de produção, transformaram e desenvolveram sua

experiência de produção, seus hábitos e sua capacidade para

manejar os instrumentos de trabalho. Em síntese, o desenvolvimento

das forças produtivas determina o caráter das relações de produção.

6.6) SISTEMAS ECONÔMICOS

Segundo a maioria dos autores marxistas, a história conhece

cinco tipos fundamentais de modos de produção e implicitamente

de relações de produção, portanto, os sistemas econômicos são:

Comunismo primitivo, escravismo, feudalismo, capitalismo e

comunismo – cuja etapa inferior é o socialismo. Esses modos

de produção tendem a ser observados entre todos os povos,

dependendo do desenvolvimento de cada um. Vale lembrar, que

dentro de um mesmo país podem conviver diferentes modos de

produção, existindo entretanto a predominância de um deles

sobre os demais.

6.6.1) Comunismo Primitivo

12Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

A base das relações de produção é a propriedade coletiva dos meios de

produção, o que corresponde ao caráter das forças produtivas

nesse período. Os utensílios de pedra, assim como o arco e a

flecha aparecidos mais tarde, não permitiam aos homens lutar

isoladamente contra as forças da natureza e os animais de

rapina.

Para colher os frutos nas florestas, pescar ou construir

qualquer habitação, os homens eram obrigados a trabalhar em

comum para não morrerem de fome, tornarem-se vítimas dos

animais ferozes ou de tribos vizinhas. O trabalho comum

conduziu à propriedade coletiva dos meios de produção e dos

produtos.

Ainda não se tem noção da propriedade privada dos meios de

produção, salvo a propriedade individual de alguns

instrumentos de produção, que são ao mesmo tempo armas de

defesa contra animais de rapina. Não há exploração do homem

pelo homem, nem classes sociais.

A lei econômica fundamental do comunismo primitivo consiste na luta

permanente para assegurar a sobrevivência dos membros da comunidade em

condições precárias, mediante a posse coletiva dos meios de produção.

Em síntese, as principais características deste sistema

econômico são:

Propriedade comum,

Trabalho comum;

Divisão natural do trabalho – sexo e idade;

13Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Instrumentos de trabalho muito rudimentares;

Baixíssima produtividade do trabalho;

Repartição igualitária dos bens produzidos;

Ausência de classes sociais;

Ausência do Estado.

6.6.2) Escravismo

A base das relações de produção é a propriedade do senhor de escravos

sobre os meios de produção e sobre o trabalhador, o escravo que ele pode

vender, comprar e até mesmo matar como se fosse gado. Estas

relações de produção correspondem, no essencial ao estado das

forças produtivas, nesse período.

Em lugar dos utensílios de pedra os homens dispõem agora de

instrumentos de metal; em lugar de uma economia reduzida a uma

caça primitiva, aparece a criação de animais, a agricultura,

as profissões manuais; surge a divisão social do trabalho

entre estes diferentes ramos da produção; vê-se aparecer a

possibilidade de troca de produtos entre indivíduos e grupos;

a possibilidade de uma acumulação de riquezas nas mãos de um

pequeno grupo de pessoas; a acumulação real dos meios de

produção nas mãos de uma minoria; a possibilidade da minoria

submeter a maioria; e a transformação dos membros da maioria

em escravos.

No sistema escravista, já não há trabalho comum e livre de

todos os membros da sociedade no processo de produção,

14Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

predominando o trabalho forçado dos escravos que eram

explorados por patrões ociosos. É por isso que já não há

propriedade comum dos meios de produção nem dos produtos,

surgindo a propriedade privada. Aqui o senhor de escravos é o

proprietário absoluto.

A escravidão é a primeira e mais brutal forma de exploração do

homem pelo homem. Ricos e pobres, exploradores (senhores) e

explorados (escravos), pessoas que têm todos os direitos e

pessoas que não têm direito nenhum, uma dura luta de classes

entre uns e outros, este é o quadro do escravismo.

A lei econômica fundamental do escravismo consiste na produtividade do

trabalho relativamente elevada, permitindo ao trabalhador criar um sobreproduto

(excedente) que é apropriado pelo senhor de escravos.

Em síntese, as principais características do sistema econômico

escravista são:

Propriedade privada dos meios de produção;

Propriedade privada dos trabalhadores (escravos);

Divisão social do trabalho entre: cidade e campo,

pastores e agricultores, artesãos e comerciantes,

trabalho manual e trabalho intelectual etc.;

Produção destinada essencialmente ao consumo local;

Existência de classes sociais antagônicas (senhores e

escravos);

15Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Existência do Estado. As antigas civilizações

desenvolveram-se à base do trabalho escravo (Grécia,

Egito, Babilônia, Roma, Índia, China entre outras).

As relações escravistas de produção esgotaram suas

potencialidades de desenvolvimento, entravando o

desenvolvimento das forças produtivas. As forças produtivas

entraram em contradição com as relações sociais de produção,

exigindo a superação destas. As novas relações de produção que

surgiram com a desagregação do trabalho escravo pressupunham

um desenvolvimento mais livre das forças produtivas, em

comparação com as condições vigentes na sociedade escravista.

Surge, assim, o feudalismo, cujas características básicas

serão mencionadas a seguir.

6.6.3) Feudalismo

A base das relações de produção é a posse total do senhor feudal sobre

os meios de produção, e sua posse limitada sobre o trabalhador – o servo –

que o senhor feudal já não podia matar, mas pode vender ou

comprar.

A propriedade feudal coexiste com a posse individual dos

instrumentos de trabalho pelo camponês e artesão, que embora

estejam vinculados ao feudo, já dispõem de algum grau de

liberdade sobre sua economia privada, baseada no trabalho

pessoal. Estas relações de produção correspondem, no essencial

ao estado das forças produtivas nesse período. Aperfeiçoamento

16Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

da fundição e do tratamento do ferro; emprego generalizado do

arado de ferro (charrua) e do trabalho de tecelagem;

desenvolvimento contínuo da agricultura, da jardinagem e da

indústria vinícola; fabrico de azeite; aparecimento das

manufaturas ao lado das oficinas de artesãos; estas são as

características do estado das forças produtivas no feudalismo.

As novas forças produtivas exigem do trabalhador iniciativa na

produção, gosto pela obra desenvolvida e interesse no

trabalho. É por essa razão que o senhor feudal, renunciando a

um escravo, que devido ao regime de servidão, não tem

interesse no trabalho e é absolutamente desprovido de

iniciativa, prefere tratar com um servo que possui sua própria

produção, seus instrumentos de trabalho e que tem algum

interesse na atividade que desenvolve, fator indispensável

para que cultive a terra e pague ao senhor feudal com sua

colheita, uma renda em produtos agrícolas.

A lei econômica fundamental da sociedade feudal é o pagamento da renda da terra

pelos camponeses aos senhores feudais em trabalho gratuito, em produtos ou em

dinheiro.

Aqui a propriedade privada continua a evoluir. A exploração é

quase tão dura como na escravatura, estando apenas camuflada.

Dentre as características essenciais do feudalismo destacam-

se:

Propriedade privada dos senhores feudais sobre os meios de

produção;

17Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Propriedade incompleta dos senhores feudais sobre os

servos;

Divisão da sociedade em duas classes sociais antagônicas:

exploradores (senhores feudais) e explorados (servos da

gleba ou camponeses);

Crescente divisão social do trabalho; e

Produção destinada essencialmente ao consumo local.

Ao esgotar suas potencialidades, o feudalismo foi substituído

pelo capitalismo.

6.6.4) Capitalismo

Historicamente, o sistema econômico capitalista representa uma

evolução em relação ao feudalismo. É a propriedade privada dos meios

de produção que forma a base das relações de produção

capitalista. A classe dominante não é dona dos trabalhadores,

isto é, o capitalista não os pode matar nem vender, pois eles

são livres de qualquer dependência pessoal, porém não possuem

os meios de produção e, para não morrerem de fome, são

obrigados a vender sua força de trabalho ao capitalista e

serem explorados por eles, recebendo em troca um salário.

As oficinas de artesãos e as manufaturas deram lugar a enormes

fábricas equipadas com máquinas. As terras dos senhores que

eram cultivadas com os instrumentos primitivos dos camponeses,

deram lugar a poderosas explorações capitalistas administradas

18Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

na base da ciência agronômica e providas de máquinas

agrícolas.

As novas forças produtivas exigem que os trabalhadores sejam

mais cultos e mais inteligentes do que os servos ignorantes e

embrutecidos; que sejam capazes de compreender a máquina e

saibam manejá-la corretamente. Os capitalistas preferem lidar

com os trabalhadores assalariados, libertos dos entraves da

servidão e capazes de operar máquinas.

Com o desenvolvimento das forças produtivas o capitalismo

gerou uma série de contradições:

Ao produzir quantidades cada vez maiores de mercadorias,

gerando economia de escala e reduzindo os preços, o

capitalismo acentua a concorrência, arruína os pequenos e

médios proprietários tornando-os proletários – assalariados –

e reduzindo seu poder de compra.

A propriedade privada dos meios de produção entra em

conflito com o caráter social da produção – o produto

final é resultado do trabalho de centenas de pessoas. Ao

expandir a produção e agrupar em grandes fábricas um

número cada vez maior de operários, o capitalismo dá um

caráter social ao processo de produção e com isso destrói

sua própria base; pois o caráter social do processo produtivo exige a

propriedade social dos meios de produção.

19Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

No capitalismo, as contradições existentes entre o caráter das

forças produtivas e as relações de produção, se manifestam nas

crises periódicas de superprodução e subconsumo; os capitalistas,

na falta de compradores para seus produtos, devido à queda do

poder aquisitivo das massas de que eles são os verdadeiros

responsáveis, queimam alimentos, destruem mercadorias,

interrompem a produção, e apesar disso, milhões de seres

humanos estão desempregados e morrem de fome, não por falta de

mercadorias, mas porque produziram em demasia. De acordo com a

teoria marxista, no capitalismo existe a anarquia da produção,

isto é, produz-se o que dá lucro e não o que a população

realmente necessita. Para Marx, superprodução é a miséria na

abundância.

A lei econômica fundamental do capitalismo é a exploração do trabalho assalariado,

para a produção da mais-valia, que será apropriada pelos capitalistas.

Dentre as características principais do sistema capitalista

destacam-se as seguintes:

Divisão da sociedade em duas classes sociais

antagônicas: a burguesia (capitalistas) e o

proletariado (trabalhadores);

Separação do produtor dos meios de produção;

Propriedade privada dos meios de produção, concentrados

sob forma de monopólio nas mãos de uma só classe social

– a burguesia;

Avanço sem precedentes dos conhecimentos científicos e

tecnológicos;

20Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Produção destinada à venda no mercado. Tudo se

transforma em mercadoria, até a força de trabalho;

Diferente do que ocorre nas sociedades escravista e

feudal, o trabalhador é livre para vender sua força de

trabalho no mercado para o capitalista que lhe oferecer

o maior salário;

A produção desenvolve-se nos setores em que os

capitalistas podem obter mais lucros, e não naqueles

cujos produtos são mais necessários e urgentes para a

maioria da população.

A evolução do capitalismo envolve duas etapas: o capitalismo

pré-monopolista (livre concorrência) e capitalismo monopolista

(imperialismo). Nos Estados Unidos, Inglaterra, França e em

outros países desenvolvidos, o capitalismo pré-monopolista

predominou até as últimas décadas do século XIX, quando a

livre concorrência foi substituída pelos monopólios, que

passaram a desempenhar papel decisivo no desenvolvimento da

economia capitalista.

O imperialismo é a etapa mais avançada do capitalismo, e tem

como características básicas o aparecimento dos monopólios; a

luta constante pela partilha do mundo entre as grandes potências;

formação de monopólios internacionais (cartéis, trustes e holdings);

exportação de capitais (multinacionais – remessa de lucros,

empréstimos e financiamentos – pagamento de juros); o

surgimento do capital financeiro (capital bancário + capital

industrial).

21Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

No século XIX, o capitalismo apresentava-se definitivamente

estruturado, com os banqueiros e industriais centralizando as

decisões econômicas e políticas, e os comerciantes atuando

como seus intermediários (Sandroni, 2001). No final desse

século, acentuavam-se as tendências à concentração com

cartéis, trustes e monopólios, o que, no século XX, resultaria

na formação de gigantescas empresas multinacionais. Nesse

sistema econômico, as crises são freqüentes, provocando

falências, desemprego e inflação na maioria dos países

centrais ou periféricos, levando o Estado a intervir cada vez

mais na economia, para amenizar essas crises.

De acordo com o materialismo histórico, o modo de produção

comunista nasce no interior do capitalismo a partir das

contradições existentes nesse sistema econômico.

6.6.5) Comunismo

O principal objetivo do sistema econômico comunista é a

criação de uma sociedade onde não exista a propriedade privada

dos meios de produção, além de pretender eliminar as

diferenças entre as classes sociais e planificar a economia,

para obter uma distribuição racional e mais justa da produção

e da renda.

De acordo com Marx, “entre a sociedade capitalista e a

sociedade comunista há um período que corresponde à

transformação revolucionária da primeira para a segunda. Este

22Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

período corresponde também a um período político de transição

cujo Estado não pode ser outro senão a ditadura revolucionária

do proletariado”.

Lenin dividiu a sociedade comunista em duas etapas: uma

inferior – socialismo, na qual se conservam muitos vestígios

da sociedade capitalista, e uma etapa superior – comunismo, em

que serão postos em prática os princípios da nova sociedade.

O socialismo é um período de transição entre o capitalismo e o comunismo, por

isso mesmo é também conhecido como a etapa inferior da

sociedade comunista. É no socialismo que se pretende construir

a base política, social e material da nova sociedade. As

principais características do socialismo são:

No campo político, o Estado burguês seria substituído por

um tipo especial de Estado: a ditadura do proletariado,

cuja tarefa era conduzir o processo até ao

desaparecimento completo das classes sociais e do

próprio Estado;

No campo econômico, a propriedade coletiva dos meios de

produção substituiria a propriedade privada

capitalista, permitindo o surgimento de novas relações

de colaboração recíproca e um grande desenvolvimento

das forças produtivas. Entretanto, haveria a

propriedade pessoal de bens que servem diretamente ao

consumo como: casas, móveis, eletrodomésticos etc.;

23Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

No campo social, as funções produtivas e administrativas

da sociedade seriam controladas diretamente pelo povo,

à medida que os trabalhadores fossem aprendendo com a

prática e com o amplo acesso à educação e cultura.

A lei econômica fundamental do socialismo é: “De cada um segundo sua capacidade,

a cada um segundo seu trabalho”.

No comunismo, as relações de colaboração recíproca se

estabeleceriam em toda a produção social e o bem estar e a

abundância seriam estendidos a toda a sociedade. As principais

características da etapa superior da sociedade comunista são:

Propriedade coletiva dos meios de produção;

O trabalho deixará de ser um meio de subsistência e

passará a ser um meio de desenvolvimento criativo tanto

para o indivíduo como para a sociedade tomada em

conjunto;

Transformação completa da vida social e da visão do

mundo que os homens tinham;

Ausência de classes sociais (fim da exploração do homem

pelo homem);

Desaparecimento do Estado (a elevada conscientização

social atingida e a participação de todos os homens na

condução da sociedade tornará o Estado desnecessário);

Os interesses individuais passarão a ser interesses

sociais porque já não existirão as causas que geram

antagonismos entre os homens;

24Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

O governo sobre as pessoas será substituído pela

administração das coisas e dos processos de produção;

A lei econômica fundamental do comunismo é: “De cada um segundo sua

capacidade, a cada um segundo sua necessidade”.

O sistema econômico comunista, desde sua fase inferior

(socialismo), baseia-se na propriedade social sobre os meios

de produção e na planificação da economia. A planificação é

realizada para o conjunto da economia nacional, por regiões,

localidades, unidades produtivas e por ramos da economia do

país. A eficácia da planificação econômica socialista está

condicionada à ampla participação das massas trabalhadoras na

elaboração e execução dos planos.

De acordo com a teoria marxista, no comunismo os homens serão

senhores para fazer do futuro da humanidade aquilo que

queiram: planificando de maneira livre e consciente a História

do futuro.

6.7) A TRANSIÇÃO DE UM MODO DE PRODUÇÃO PARA OUTRO

Segundo o ponto de vista do materialismo histórico, os modos

de produção mencionados tendem a ser observados

universalmente, apesar das particularidades do desenvolvimento

de cada povo.

25Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Cada modo de produção é substituído por outro mais novo e

qualitativamente superior (Comunismo primitivo, escravismo,

feudalismo capitalismo e comunismo). Entretanto, um modo de

produção só dá lugar a outro, após cumprir seu papel

histórico, isto é, desenvolver e esgotar todas as suas

potencialidades. A passagem de um modo de produção para outro

se dá sob a forma de saltos qualitativos, após longo período

de acumulação de contradições.

Nesse processo, o desenvolvimento das forças produtivas da

sociedade entra em contradição com as relações de produção

existentes. Essas relações de produção, que são peculiares a

cada modo de produção, nascem, crescem, amadurecem e cumprem

seu papel histórico e, a partir de determinado momento,

tornam-se estreitas para o nível de desenvolvimento alcançado

pelas forças produtivas, passando a constituir-se num entrave

a esse desenvolvimento.

Para Karl Marx, (...) “na produção social, ao longo da sua

vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e

independentes da sua vontade, relações de produção que

correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento das

forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de

produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real

sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e

à qual correspondem determinadas formas de consciência

social”.

26Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

O modo de produção da vida material (superestrutura)

condiciona o processo da vida social, política e espiritual em

geral (infra-estrutura). Não é a consciência do homem que

determina o seu ser social, mas, pelo contrário, o seu ser

social é que determina sua consciência. Ao chegar a uma

determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas

materiais da sociedade se chocam com as relações de produção

existentes, ou, com a sua expressão jurídica – as relações de

propriedade, dentro das quais se desenvolveram até ali. Essas

relações que antes eram uma forma de desenvolvimento das

forças produtivas, transformam-se em obstáculos, provocando a

ruptura através de uma revolução social.

As mudanças na base econômica revolucionam toda a

superestrutura erguida sobre ela. As mudanças materiais

ocorridas nas condições econômicas de produção podem ser

quantificadas com mais exatidão do que as formas ideológicas

em que os homens adquirem consciência do conflito existente

entre as forças produtivas e as relações de produção e lutam

para resolvê-lo. Nenhuma formação social desaparece antes que

se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e

jamais aparecem relações de produção novas e mais avançadas

antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga as

condições materiais para a sua existência.

Finalizando, convém ressaltar que, o conceito de formação

socioeconômica é mais abrangente do que o de modo de produção.

O modo de produção, como já foi dito anteriormente, compreende

27Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

as forças produtivas e as relações de produção. Enquanto que,

a formação socioeconômica é constituída pelo modo de produção

e a correspondente superestrutura ideológica (jurídica,

política, filosófica, artística, religiosa etc.).

Por outro lado, de acordo com Soares (1985) é necessário

deixar claro que o marxismo estudado em seu conjunto, não

afirma a obrigatoriedade de que todos os países e povos, em

seu desenvolvimento ascendente da comunidade primitiva ao

comunismo, devem passar por todas as formações

socioeconômicas. A história conhece casos de países que, em

decorrência de causas objetivas, passaram ao feudalismo sem

ter que viver sob o escravismo. Além disso, no século XX,

verificou-se a passagem de alguns países ao socialismo, sem

passar pela formação capitalista plena.

O marxismo demonstra que o modo de produção constitui a base

da formação socioeconômica. Entretanto, isso não significa a

subestimação do papel da superestrutura, no desenvolvimento da

sociedade, o que conduziria ao economicismo, e a negação da

dialética marxista.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BESSE, G. & CAVEING, M. Politzer: princípios fundamentais de filosofia. 3. ed. SãoPaulo: Hemus, 1970.CARREIRO, Porto C. H. Introdução à economia. 3. ed. Rio de Janeiro: Rio, 1977.

28Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

ENGELS, Frederic. Do socialismo utópico ao socialismo científico. Coleção Bases, Vol.13. São Paulo: Global, 1979.GURLEY, John G. Desafios ao capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1976.HARNECKER, M. & URIBE, G. Cadernos de educação popular. Vol. 1, 6 e 7. SãoPaulo: Global, 1980.________ . Os conceitos elementais do materialismo histórico. Santiago, 1973. LENIN, Vladimir I. U. As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo. ColeçãoBases, Vol. 09. São Paulo: Global, 1979.MANDEL, Ernest. Introdução ao marxismo. Porto Alegre: Movimento, 1980.MARX, K. O capital: edição resumida por Julian Borchardt. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.MARX, K. Formações econômicas pré-capitalistas. Cadernos o homem e a sociedade.Lisboa, 1973.MARX, K. & SWEEZY, P. Para uma crítica de economia política. Coleção Bases, Vol. 20.São Paulo: Global, 1979.SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. 6. ed. São Paulo: Best Seller,2001.SOARES, Alcides R. Princípios de economia política. São Paulo: Global, 1985.

29Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

CAPÍTULO 7: FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA

7.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS

Apesar das diferenças entre os sistemas econômicos

contemporâneos, existem algumas características comuns a todos

eles. Essas características são:

Descompasso entre necessidades ilimitadas e recursos

escassos;

Aplicação dos conceitos de possibilidade de produção,

rendimentos decrescentes e custos crescentes;

Processo de interação resultante do trinômio: Divisão

do trabalho – especialização – trocas;

Utilização da moeda;

Medição da atividade produtiva como instrumento de

planejamento e ação econômica.

Atualmente, os três sistemas econômicos mais representativos

são:

Sistema de livre iniciativa empresarial;

Sistema de planificação central;

Sistemas mistos.

Estes sistemas são resultados da evolução das formas de

organização da atividade econômica, em busca de um sistema

ideal que combine a eficiência produtiva com a distribuição

eficiente do produto social. O ciclo evolutivo, iniciado por

30Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

um sistema em que prevalecia a tradição e a autoridade, passa

pelo mercantilismo, pelo liberalismo econômico que antecedeu a

concepção socialista e prossegue em direção a uma combinação

que elimine as idéias radicais das duas formas de organização

prevalecentes nas economias modernas.

De acordo com Lindbeck (1980), cada forma de ordenamento

institucional do processo econômico diferencia-se entre si, em

decorrência dos seguintes elementos: a liberdade econômica; a

propriedade dos meios de produção; o sistema de incentivos; a coordenação

econômica e a alocação de recursos; o local do processo decisório. (Quadro 4).

31Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

7.2) SISTEMA DE LIVRE INICIATIVA EMPRESARIAL (Economia de

mercado)

Neste sistema predomina a propriedade privada dos meios de

produção, ao lado de decisões sobre o que e quanto produzir

fundamentadas no mercado e nos preços. As atividades

econômicas são dirigidas e controladas unicamente por empresas

privadas, que estabelecem concorrência entre si. Daí a

denominação de “economia de mercado”, sendo este o espaço natural

das empresas.

As empresas estariam dispostas a oferecer seus produtos à

medida que houvesse possibilidades efetivas de obtenção de

lucros. Ao lado da propriedade privada dos meios de produção,

os lucros seriam a segunda determinante de uma filosofia

liberal.

A perspectiva de lucro resume-se, portanto, à oferta de

produtos no mercado. Essa oferta se orientaria pela demanda de

produtos que suprissem as necessidades dos indivíduos. Supõe-

se então, que o livre jogo da oferta e procura, em que

predominasse a livre concorrência, seria fundamental para o

funcionamento do mercado. Nestas circunstâncias, a intervenção

do Estado na atividade econômica seria prejudicial. Ao Estado

caberia zelar pelo livre funcionamento do mecanismo de preços

e do mercado, sem interferir em nenhum aspecto da produção.

32Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

Neste sistema, a decisão sobre “o que e quanto produzir” seria

tomada por consumidores e produtores; a decisão de “como

produzir” seria determinada pela competição entre os produtores,

em busca de maior produtividade e redução de custos; a questão

sobre “para quem produzir” seria solucionada pela capacidade de

aquisição dos bens produzidos, isto é, cada indivíduo irá

apossar-se da quantidade de bens e serviços de acordo com a

sua disponibilidade de recursos financeiros.

Em síntese, no sistema de livre iniciativa o processo

decisório ocorreria no mercado, onde os agentes econômicos

teriam o poder de competição sem a intervenção do poder

público.

33Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

7.3) SISTEMA DE PLANIFICAÇÃO CENTRAL (Economia centralizada)

Neste sistema, as respostas às questões fundamentais da

economia competem ao Estado, que se encarregaria de direcionar

e controlar o processo produtivo, através de empresas

públicas. Este direcionamento e controle seria feito de acordo

com os interesses coletivos, que prevaleceriam sobre os

interesses individuais.

Segundo esta ordem econômica, desaparecem a propriedade

privada dos meios de produção e a instituição do lucro. A meta

não é obtenção de lucros, mas proporcionar o máximo de bem-

estar geral. Todos os meios de produção seriam socializados,

isto é, a propriedade coletiva seria administrada pelo Estado.

Um complexo sistema de planificação determinaria “o que produzir”

prioritariamente. Todas as possibilidades de produção seriam

equacionadas de forma a obter um aproveitamento integral de

todos os recursos na solução do problema “como produzir”. A

questão “para quem produzir”, que traz em si o problema da

distribuição de renda, seria solucionada pela quantidade do

trabalho e executado, independentemente das necessidades do

trabalhador. O Estado se encarregaria de proporcionar, através

de preços baixos ou gratuitamente, os serviços básicos

relacionados à saúde, educação, transportes e moradia,

assegurando a todos o direito inalienável ao trabalho. A

competição entre as unidades produtivas, que prevalece no

sistema de livre iniciativa, seria substituído pela

34Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

participação ativa de todos os trabalhadores no processo

econômico.

Em síntese, na economia centralizada, o processo decisório

ocorreria nas centrais de planificação. Para os socialistas a

centralização proporcionaria maior eficiência produtiva e a

propriedade coletiva dos meios de produção possibilitaria uma

distribuição de renda mais justa.

7.4) SISTEMAS MISTOS (Intervenção parcial)

Na realidade não existe o funcionamento pleno da economia de

mercado ou da economia centralmente planificada. A intervenção

do Estado se processa até mesmo em economias tipicamente

capitalistas e em economias socialistas existem certas formas

de propriedade privada da terra.

Observa-se, nos sistemas mistos, a coexistência entre o setor

público e o setor privado. Esta forma de ordenamento econômico

situa-se em posições intermediárias, entre os extremos do

liberalismo econômico ortodoxo e do socialismo revolucionário.

De acordo com Rossetti (2000), posiciona-se entre o

liberalismo maximizador de benefícios individuais e o

socialismo transformador da natureza humana.

Nos sistemas mistos muitos aspectos da economia são

controlados pelo Estado, mediante leis, decretos, regulamentos

e portarias. Através da criação de empresas, concessão de

35Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

subsídios, controle de crédito e incentivos fiscais, o Estado

praticamente decide o que e quanto produzir em vários setores da

economia. O como produzir é determinado no setor privado, em

função da concorrência e do desenvolvimento tecnológico. A

questão para quem produzir é respondida pelo livre mecanismo dos

preços, porém o Estado desenvolve políticas públicas visando

oferecer serviços básicos gratuitos, benefícios sociais e

programas de transferência de renda para a população mais

carente.

Em síntese, o processo decisório ocorreria nos mercados sob o

poder regulatório do setor público. Entretanto, apesar de seus

contornos não serem definidos com precisão devido as inúmeras

formas possíveis, os sistemas mistos são os que predominam no

mundo atual.

36Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

QUADRO 5 : Tipologia dos sistemas de organizaçãoeconômica

ITENS OBSERVADOS

TIPOS DE ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA

LIBERAL(1) INTERVENÇÃO PARCIAL(2) CENTRALIZADA(3)

GRAU DE ATUAÇÃO DOESTADO

- Nenhuma. O Estadonão interfere naatividade econô-mica.

- Fixação de objetivosglobais;

- Gestão da política eprograma-çãoeconômica.

- Plena intervenção.

PROPRIEDADE DOSMEIOS DE PRODUÇÃO

- Privada, individualou societária.

- Pública e privada. - Coletiva;- Socializada

LIBERDADEECONÔMICA

- Não existerestrições àliberdade demercado.

- Restrições seletivasà liberdade dosagentes econômicos;

- Introdução doconceito deliberdades sociais.

- Restrições àliberdade deocupação,empreendimento,consumo eacumulação.

INICIATIVA - Livreempreendimento.

- Livre empreendimentocom atuação dogoverno nos setorese regiões carentes.

- Quase inexistênciado livreempreendimento.

CONSECUÇÃO DAEFICIÊNCIAPRODUTIVA

- Através daconcorrênciaempresarial.

- Concorrênciaempresarial esti-mulada pelosinstrumentos dapolítica econômicado governo.

- Planificaçãocentral daatividadeeconômica.

PRINCIPAISCONDUTORES DAATIVIDADEECONÔMICA

- Sistema de preços esinais de mercado;

- Livre manifestaçãodas forças demercado.

- Sistema de preçoscom a funçãoorientadora e co-participante doEstado;

- Atuação conjunta deforças do mercadocom o planejamentopúblico indicativo.

- Centrais deplanificação.

LOCAL DO PROCESSODECISÓRIO

- Os mercados. - Os mercadosregulados pelaautoridade pública

- As centrais deplanificação comoúltima instânciada organizaçãoburocrática.

37Fundamentos de Economia IMarinólia Bittencourt & Raimundo Sanches

SISTEMA DEINCENTIVOS

- Os agenteseconômicosindividuais buscama maxi-mização dosbenefícios pri-vados.

- O interesse socialse sobrepõe aointeresse privadoindividual.

- Os agenteseconômicos buscamo bem comum;

- A ação solidária ea cooperaçãosubstituem acompetição.

(1) Capitalismo Puro ou Economia de Mercado

(2) Sistemas Mistos

(3) Socialismo Puro ou Economia de Comando Central

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

LINDBECK, Assar. A economia política da nova esquerda. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1980.ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2000.