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UMA SÍNTESE BIOGEOGRÁFICA DA AMAZÔNIA E O ANTROPISMO NA BIODIVERSIDADE BIOGEOGRAPHICAL SYNTHESIS OF AMAZON AND THE ANTHROPISM ON BIODIVERSITY
Emílio Sarde Neto
RESUMO: A grandeza da floresta amazônica leva a reflexões complexas do sistema biogeográfico e social da região. Sob a influência do clima equatorial quente e úmido as chuvas torrenciais que caem durante boa parte do ano transformam sua vegetação na mais exuberante floresta do mundo. A Amazônia com suas peculiares características morfoclimáticas possui uma incalculável riqueza de ecossistemas com suas grandes diversidades na fauna e expressiva flora responsável pela fertilidade do solo. A região detém a mais extensa rede hidrográfica do globo terrestre com seus rios de indescritível beleza, mas que sofrem a poluição e o assoreamento advindos dos garimpos e centros urbanos. Tal magnitude biológica faz da região a maior entre as grandes reservas naturais do mundo e suas florestas de terra firme são infinitos atrativos comerciais capazes de movimentar grandes somas em dinheiro para a agropecuária, madeireiras, indústrias farmacológicas e de cosméticos. As madeireiras, os pecuaristas, o agronegócio e as indústrias receberam e recebem grandes incentivos do governo federal para o desmatamento e a construção de infraestrutura, como hidrovias, ferrovias, rodovias e hidrelétricas ocasionando prejuízos incalculáveis para o ecossistema amazônico. Considerada grande patrimônio da humanidade, várias alternativas estão sendo administradas para minimizar os impactos antrópicos de degradação como a criação de unidades de conservação, parques e corredores ecológicos. As reservas extrativistas e as indígenas são alternativas de incentivo para as comunidades tradicionais preservarem o meio ambiente, com a manutenção da diversidade biológica e seus recursos naturais. PALAVRAS-CHAVE: Amazônia, biogeografia, diversidade, preservação e meio-ambiente. ABSTRACT: The grandeur of the Amazon rainforest leads to reflections complex social system and biogeographical region. Under the influence of hot and humid equatorial climate torrential rain falling for much of the year turned their most luxuriant forest vegetation in the world. The Amazon with its peculiar characteristics morfoclimáticas has an incalculable wealth of their ecosystems with great diversity in fauna and flora responsible for significant soil fertility. The region has the most extensive river system of the globe with its rivers of indescribable beauty, but who suffer from pollution and sedimentation arising from mining and urban centers. This makes biological magnitude of the region the highest among the major nature reserves in the world and its upland forests are infinite attractive business capable of moving large sums of money for agriculture, logging, pharmacological and cosmetic industries. The loggers, ranchers, and agribusiness industries and receive great incentives received from the federal government to deforestation and the construction of infrastructure such as waterways, railroads, highways and dams causing incalculable damage to the Amazon ecosystem. Considered the great heritage of humanity, several alternatives are being managed to minimize human impacts of degradation as the creation of protected areas, parks and wildlife corridors. Extractive reserves are alternative and indigenous communities an incentive to preserve the traditional environment, with the maintenance of biological diversity and natural resources. KEY-WORDS: Amazon, biogeography, diversity, conservation and environment.
Fatores Morfoclimáticos do Território Amazônico
A Amazônia encontra-se na zona intertropical da Terra. Lacoste e Salanon (1973)
afirmam que as condições climáticas dessas regiões são particularmente favoráveis para
a vida, e esta adquire em geral múltiplas formas, um desenvolvimento exuberante. A flora
e a fauna são incomparavelmente mais ricas que nas zonas extratropicais, e os táxons
são quase totalmente distintos.
Na Amazônia, grande parte da superfície regional é dominada por terras baixas,
recobertas pela floresta equatorial. Quase toda essa extensa área é drenada pelos rios
que formam a Bacia hidrográfica Amazônica. A Amazônia Internacional compreende
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parte do território brasileiro, boliviano, peruano, colombiano, equatoriano, venezuelano,
guianense e Suriname, correspondendo a cerca de um terço da superfície da América do
Sul.
No domínio amazônico o aspecto que mais se destaca é o da floresta, formação
vegetal que apresenta uma expressiva variedade de espécies. Essa vegetação Florestal
latifoliada e perene pôde desenvolver-se graças também à ocorrência do clima equatorial,
com altas temperaturas e grande umidade ao longo de quase todo o ano.
Várias são as semelhanças morfoclimáticas, de flora, e fauna entre os continentes
Africano, Americano e Australiano. Margalef (1974) atribui tais semelhanças a deriva
continental e tectônica das placas e acrescenta: “Entre África e América do sul existe
certa semelhança das líneas de costas, alguns grupos de organismos se encontram nos
dois continentes, se conhece uma flora fóssil comum aos dois extremos meridionais dos
continentes, e hoje em dia, as semelhanças biogeográficas entre os extremos meridionais
da América, África e Austrália persistem na distribuição de grupos diversos de plantas e
animais”.
A floresta possui diferenciações em seu interior. A maior parte do domínio
florestal, algo em torno de oitenta por cento da área, corresponde à chamada mata de
terra firme. As áreas inundáveis compreendem aproximadamente dez por cento do
domínio florestal e são conhecidas como igapó ou mata de várzea. Importante ressaltar
que no interior do domínio florestal aparecem formações arbustivas e herbáceas. Sobre a
floresta de terra firme ressalta Moran:
A floresta de terra firme são os ecossistemas terrestres mais ricos em diversidade de espécies na biosfera e com maior produção de biomassa vegetal. Tal riqueza biológica não é em função da riqueza dos solos, mas resulta de sofisticados sistemas de reciclagem de nutrientes, da evolução de plantas adaptadas as condições químicas do ambiente e do manejo das populações pré-históricas e contemporâneas. Setenta por cento dos nutrientes no ecossistema estão na biomassa vegetal. Os solos das florestas de terra firme são de variável qualidade, predominando os solos pobres e ácidos. (MORAN, 1990, p. 193).
O clima amazônico é tropical chuvoso (PNRH, 2006), com temperatura média
anual da maior parte da região hidrográfica na faixa entre 24° e 26° C. Os meses mais
quentes são setembro e outubro, enquanto que os mais frios são junho a agosto com
precipitação média de 2.239 mm/ano, variando entre 2.033 e 2.512 mm.
O clima da Amazônia ocidental está intimamente relacionado com posição
latitudinal da área, 0° a12° S. A região embora mais próxima do Oceano Pacífico do que
do Oceano Atlântico, está excluída dos efeitos do Pacífico por causa da Cordilheira dos
Andes (RANZI, 2000).
Na maior parte da Amazônia ocidental o período das chuvas está distribuído entre
os meses de outubro e abril, sendo os meses restantes considerados o período seco. Ao
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longo da borda leste dos Andes a precipitação é maior do que a média regional em
virtude do efeito adiabático que causa chuvas constantes, com a precipitação em alguns
pontos acima de 5.000mm por ano. (RANZI, 2000).
A média mensal da temperatura para o período chuvoso, outubro e abril, é em
torno de 26° decrescendo 3° C ou 4°C durante o período seco. (RANZI, 2000).
Outro importante aspecto do clima na área é a denominada “friagem” em
português ou “surazo” em espanhol. Trata-se de uma frente fria que avança para o norte
proveniente do sul da América do Sul. Tais episódios ocorrem anualmente durante os
meses de maio, junho e julho, correspondendo ao inverno do Hemisfério Meridional,
quando a temperatura pode cair mais de 15°C em poucas áreas e durar de três a cinco
dias. Um evento de tal magnitude, ocorrendo diversas vezes todos os anos, necessita ser
considerado nos estudos para entender a evolução da biota atual e o passado recente da
Amazônia ocidental. Tudo indica que se as frentes frias atuais oferecem severos
problemas fisiológicos para os animais e plantas, com efeitos ecológicos ainda não bem
estudados. (RANZI, 2000).
A bacia hidrográfica do Rio Amazonas é a mais extensa rede hidrográfica do
globo terrestre e abrange uma superfície de aproximadamente sete milhões de
quilômetros quadrados (PNRH, 2006) estendendo-se do território brasileiro para alguns
países vizinhos (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia). O amazonas, que ao
longo de seu curso recebe inúmeras denominações como Ucaiale e Maraño é o mais
extenso do planeta, é o que possui o maior volume de água e a maior distancia entre as
margens.
Os afluentes tem basicamente três origens. Os da margem direita são os rios
Javarí, Purús, Madeira, Tapajós e Xingu; na maior parte nascem no Planalto Central
brasileiro. Os da esquerda são os rios Içá, Japurá, Negro, Trombetas, Paru e Jarí no
Planalto das Guianas; suas nascentes estão na cordilheira dos Andes, onde existem rios
alimentados pelo degelo das neves das montanhas.
De suas nascentes nos Andes até sua Foz no Atlântico, o Amazonas percorre
cerca de 7.100 quilômetros. A foz é chamada de mista ou delta-estuário, e caracteriza-se
por apresentar um enorme número de ilhas, numa extensão que ultrapassa 300
quilômetros.
O fenômeno da pororoca1, apesar de ocorrer, em outros rios do mundo, sua
intensidade é incomparável no baixo vale amazônico. Cerca de setenta por cento de toda
1 A pororoca resulta do choque das águas do rio com as do oceano, que ocorre nas épocas de grandes marés, nos dias que precedem ou sucedem a lua nova e a lua cheia (as chamadas marés de chizígia). Dois efeitos marcam o fenômeno da pororoca, o grande estrondo
resultante do embate das águas fluviais e marítimas, que é ouvido a grande distancia, e a formação de ondas que podem atingir até 4
metros de altura e que penetram pela calha do amazonas.
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a área da Bacia amazônica está no Brasil. A foz do rio principal situa-se no território
brasileiro e apresenta os maiores trechos navegáveis2.
Mapa retirado do site USGS: hidrografia da bacia amazônica.
Os rios da bacia apresentavam pouca interferência antrópica, mas recentemente
no rio Madeira, principal afluente do Amazonas, complexos hidrelétricos vem sendo
construídos para maximizar o potencial de energia elétrica do país.
O aumento populacional trás a poluição e a morte de vários rios de menor porte,
como os igarapés, usados como parte do sistema de esgoto das cidades. A destruição da
mata ciliar e a poluição dos igarapés tem sido um grande problema enfrentado na região
amazônica, pois além de causarem a morte de peixes e outros tipos de vida, contribuem
para a proliferação de doenças. A poluição do igarapé do Chico Reis em Rorainópolis no
Estado de Roraima parece ser ilustrativa:
[...] O aumento populacional causou um impacto ambiental muito grande, com consequências drásticas para a população de baixa renda, que por falta de recursos, localizaram-se nas áreas menos valorizadas, às margens dos igarapés, onde retiraram a mata ciliar, para a construção de barracos, sem qualquer infraestrutura degradando uma área que deveria ser preservada, ocasionando vários prejuízos ao ambiente, já que estas áreas sofrem enchentes no período de inverno, por serem planícies de alagação do Igarapé do Chico Reis. Com o assentamento desordenado veio a consequência grave a saúde da população que por ignorância, ou falta de Educação Ambiental, construíram fossas negras em suas margens e jogaram lixo, tornando-se criadouro de insetos vetores de várias doenças que atacam a população ribeirinhas, colocando em risco a qualidade da saúde e prejudicando principalmente as crianças [...]. (MARQUES, BERNHARD, SHULL et al., 2005, p. 64).
2 Navios de grande e médio calado podem navegar praticamente sem obstáculos entre Belém e Manaus, e navios de porte médio podem seguir até as fronteiras do Brasil com a Colômbia e o peru.
SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015 [2012].
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A Biodiversidade o Desmatamento e a Agropecuária
O ecossistema da Amazônia consiste em uma grande variedade de espécies
vegetais e animais. Em Clemente e Higuchi (2007) segundo a Avaliação de Recursos
Florestais Globais a cobertura florestal do Brasil corresponde a 477,7 milhões de
hectares dos quais oitenta e nove por cento estão na Amazônia.
Em Ranzi (2000, p. 14) a teoria atualmente aceita de que mudanças radicais no
meio ambiente transformaram a natureza da região durante cada um dos diversos
intervalos glaciais do Pleistoceno. A vasta floresta amazônica fragmentou-se, ocorrendo o
mesmo com todas as espécies adaptadas ao ambiente florestal. A fonte da moderna
biodiversidade não é a estabilidade, mas a mutabilidade.
Para explicar a alta biodiversidade da flora e fauna regional, a provável ocorrência
de persistentes florestas galerias durante o Pleistoceno, ao longo dos rios da Amazônia é
mais importante do que os supostos Refúgios Florestais. (RANZI, 2000).
Os solos que sustentam toda a biodiversidade amazônica cerca de setenta e
cinco por cento deles possuem características ácidas e pouca fertilidade. Só em alguns
trechos de planícies junto às margens do Rio amazonas é que eles se apresentam mais
férteis. O material consumido pelas árvores é produzido por elas mesmas, sendo os
nutrientes necessários para a recomposição dos solos e das plantas, são representados
por folhas, flores e frutos da própria vegetação florestal. Por isso o desmatamento traz
grandes danos ao ecossistema amazônico.
A floresta é a característica mais marcante da Amazônia, com grande variedade
de ecossistemas tendo sido identificados 23 diferentes fitofisionomias tidas
floristicamente como dissimilares, conforme dados do projeto RADAN. Esses
ecossistemas abrigam uma infinidade de espécies vegetais e animais: 1,5 milhão de
espécies vegetais catalogadas; 3 mil espécies de peixes; 950 tipos de pássaros; e ainda
insetos, répteis, anfíbios e mamíferos e se constitui num dos principais biomas do Brasil
(IBAMA, 2002).
Em Vieira, Silva e Toledo (2005, p. 155) as plantas atingem uma extraordinária
biodiversidade na Amazônia. Estima-se que a região abrigue cerca de quarenta mil
espécies vasculares de plantas, das quais trinta mil são endêmicas à região. Estudos
sobre a densidade de plantas na Amazônia tem sido focalizados principalmente, sobre
um grupo restrito de plantas: as árvores com troncos com diâmetro à altura do peito
acima de 10cm. Em um hectare de floresta Amazônica podem ser encontradas entre 400
e 750 árvores.
Ainda em Vieira, Silva e Toledo (2005) as aves formam um dos grupos dos
vertebrados mais bem conhecidos do planeta. Estima-se que a Amazônia abrigue mais
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de mil espécies de aves, e que em um único quilometro quadrado de floresta amazônica,
podem ser registradas cerca de 245-248 espécies. Estudos recentes no Peru e na
Guiana Francesa indicam que em um quilometro quadrado de floresta amazônica vivem
1.658 indivíduos na Guiana Francesa e 1.910 no Peru. Os primatas também são bem
conhecidos cientificamente. Eles formam um dos grupos mais diversos e interessantes de
mamíferos. Estudos feitos em várias regiões da Amazônia mostram que a densidade de
primatas varia bastante na região. Na Amazônia ocorrem 14 gêneros de primatas. Outros
mamíferos como gambás, onças, roedores e uma infinidade de répteis e anfíbios
mostram a grande exuberância da fauna amazônica.
Segundo Moran (1990), os responsáveis pelo grande desmatamento são os
pecuaristas. Desde 1966, a SUDAN e o BASA ofereceram incentivos fiscais que
permitiram as pessoas físicas direcionarem até cinquenta por cento do imposto de renda
em investimento na Amazônia, aprovados pela SUDAN. A maioria dos projetos
aprovados pela SUDAN estavam diretamente ligados a projetos agropecuários
extensivos. Ainda no caso de algumas áreas como no Estado de Rondônia a
especulação fundiária praticada por grileiros vindos do Sul do país. Depois da pecuária
são os madeireiros que recebiam a maior proporção dos incentivos fiscais da SUDAN.
Um estudo recente estimou (VIEIRA, SILVA e TOLEDO, 2005) que na região do
arco do desmatamento, o número de árvores em 1 km² de floresta pode variar de 45 mil a
55 mil. Multiplicando-se estes valores pela área desflorestadas somente em 2003 e 2004,
estima-se que 1.175.850.000 e 1.437.150.000 árvores foram cortadas nesta região. Ainda
os pássaros afetados somam aproximadamente 50 milhões de indivíduos, primatas e
outros animais a cifra é impossível calcular chegando a ultrapassa mais de 100 milhões
de indivíduos.
Em Valeri e Senô (2004), o isolamento e a perda de habitat são consideradas
ameaças mais severas para a diversidade biológica do planeta. O isolamento interfere na
riqueza das espécies por diminuir o potencial de imigração, dependendo do arranjo
espacial dos fragmentos de habitat e das características do ambiente entre os fragmentos
provoca o declínio e extinção local de populações, pois determinadas espécies
necessitam de mais de um local para a busca do alimento e cuidados com a prole. O
alimento e a água não estão disponíveis em um só local, variando durante as estações
do ano. A capacidade de movimentação de vários animais é dificultada.
Em termos de conservação da biodiversidade, de forma geral, foi recomendada a
criação de 80 unidades de conservação sendo 24 do grupo de proteção integral, 22 de
uso sustentável, seis de categoria mista (mosaico) e 15 que necessitam de maiores
estudos para definir o grupo e a categoria. (IBAMA, 2002).
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Para Arana e Almirante (2007) as unidades de conservação exercem um
importante papel na manutenção da qualidade de vida urbana, na medida em que
oferecem espaço para a preservação e conservação da fauna e da flora. Sendo de
fundamental importância a criação de Unidades de Conservação com proteção real
embasada em lei por todo o Brasil.
Sobre os corredores ecológicos é importante frisar sua importância na
preservação de espécies que transitam entre fragmentos florestais e parques de floresta
e outras reservas incluindo as reservas indígenas.
A relação entre a existência dos corredores ecológicos e o princípio do
desenvolvimento sustentável informa que é necessário que se estabeleçam metas para o
desenvolvimento das culturas agropecuárias, garantindo-se, no entanto, o movimento da
fauna pelo meio ambiente através dos corredores ecológicos, visando integrar as
reservas florestais e ambientais, os fragmentos florestais e as áreas de preservação
permanente, locais estes onde se desenvolve a vida animal. (VALERI e SENÔ, 2004).
A fragmentação florestal provoca danos severos nos habitats naturais, que contribuem para a redução das populações [...] a redução no tamanho da floresta implica na redução da biodiversidade de fauna e flora. (VALERI e SENÔ, 2004, p. 703).
O solo, fauna e a flora, componentes principais da floresta, evoluíram numa
dependência mútua, sendo que cada um é fator de formação do outro. Sendo assim, a
inexistência de um destes fatores compromete a existência dos demais. A fragmentação
de uma área vegetal natural ou reflorestada cria barreiras para a dispersão dos
organismos entre os fragmentos, já que o movimento de algumas espécies depende da
habilidade de dispersão e do comportamento migratório das mesmas. (VALERI e SENÔ,
2004).
Os fragmentos florestais encontram-se isolados por barreiras naturais ou por intervenção antrópica. As barreiras naturais podem ser constituídas de rochas, mares, rios, lagos, várzeas desertos. As barreiras de ação antrópica são: atividades agropecuárias, grandes cidades, hidrelétricas, rodovias e pontes sobre aterros em áreas de preservação permanentes. A integração de áreas isoladas por corredores ecológicos é o que vai possibilitar a sustentabilidade das populações animais e vegetais existentes. (VALERI e SENÔ, 2004, p. 705).
A ação antrópica sobre a vasta área florestal tem sido intensa sendo mais de
15%3 da área original da Floresta Amazônica já foi destruída.
3 Dados retirados do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária - IBGE
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Mapa retirado do site do Impe: o desmatamento da região amazônica em 2012.
Dados do PNRH (2006) nos mostram que parte ocidental da região amazônica
sofre menor antropismo que a parte oriental sendo verificadas áreas de baixa a muito
baixa pressão ao sul e ao norte do amazonas e ao centro do Acre, enquanto as áreas de
maior pressão estão restritas ao centro do estado de Rondônia, ao leste do Acre e
entorno de Manaus. Em Rondônia, a situação da ação antrópica é distinta, quando
comparadas as porções noroeste e sudeste do estado. Na parte noroeste a pressão é
praticamente demográfica, enquanto na sudeste há predominância da pressão
agropecuária, principalmente em função de bovinos.
Para Fearnside (2005, p. 116) “Os avanços das plantações de soja na região
apresentam-se como a maior ameaça, com seu estimulo para o investimento maciço do
governo em infraestrutura, como hidrovias, ferrovias e rodovias. O desenvolvimento da
infraestrutura desata uma cadeia traiçoeira de investimento e exploração que pode
destruir mais florestas do que as próprias plantações. As estradas para retirada de
madeira, especialmente para extração de mogno, precedem e acompanham as rodovias,
tornando as fronteiras acessíveis para o investimento dos lucros do comércio da madeira
em plantações de soja e fazendas para criação de gado. A extração de madeira aumenta
a inflamabilidade da floresta, levando as queimadas do sub-bosque que colocam em
movimento um ciclo vicioso de mortalidade de árvores, aumento da carga de
combustível, reentrada do fogo e por fim a destruição total da floresta”.
Os impactos do desmatamento são muitos e na maioria das vezes irreversível.
(FEARNSIDE, 2005). A erosão e a compactação do solo e a exaustão dos nutrientes
estão entre os impactos mais óbvios do desmatamento. As funções da bacia hidrográfica
são perdidas quando a floresta é convertida para usos tais como as pastagens. A
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precipitação nas áreas desmatadas ecoa rapidamente, formando as cheias, seguidas de
períodos de grande redução ou interrupção do fluxo dos cursos d´água. A manutenção da
biodiversidade é uma função mais que econômica. A perda de partes importantes das
florestas brasileira empobrece a biodiversidade da Terra. Ainda, para completar o
problema as queimadas emitem gases de efeito estufa.
Em Homma (2008) as reservas extrativistas estão sendo consideradas uma
alternativa de se evitar o desmatamento na Amazônia. Também são consideradas como
uma melhor opção de renda e emprego. Além disso, atribui-se a essa atividade a
proteção da biodiversidade e o fato de poder ser uma barreira para conter a expansão da
fronteira agrícola. Isto constitui um grande equivoco, uma vez que o ato de desmatar é
um reflexo da situação econômica do extrator. Se, em termos relativos, os preços dos
produtos agrícolas forem superiores aos dos produtos extrativos, a tendência inevitável é
realizar o desmatamento para o plantio de roças e abandonar as atividades extrativas.
A responsabilidade do ecossistema terrestre da mudança natural e do uso
desempenhado pelo homem tem um grande papel no ecossistema global. Temos visto
que a atividade humana tem sido alterada de acordo com diferentes tipos de vegetação
na extensão da terra e também tem alterado a entrada de vários elementos e compostos
em muitas áreas remotas. (UFPA/UNIR)4.
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Artigo disponível no endereço eletrônico
"UMA SÍNTESE BIOGEOGRÁFICA DA AMAZÔNIA E O ANTROPISMO NA BIODIVERSIDADE." TrabalhosFeitos.com. TrabalhosFeitos.com, 07 2014. Web. 07 2014. <http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Uma-S%C3%ADntese-Biogeogr%C3%A1fica-Da-Amaz%C3%B4nia-e/54728592.html>.
SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015 [2012].