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01ga Maria M.S. de Almeida
FUNCIONALIDADE DE SISTEMAS COLINERGICOS
EM RATOS PREVIAMENTE TRATADOS COM
TRIIODOTIRONINA
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
1990
Olga Maria M. S. de Almeida
FUNCIONALIDADE DE SISTEMAS COLINERGICOS EM RATOS PREVIAMENTE TRATADOS COM
TRIIODOTIRONINA (T3)
Dissertação apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade õo Estado do Rio de Janeiro para obtenção do grau de Mestre em Biologia - Area de Concentração em Biociências Nucleares.
Orientador: Prof. Ricardo Santos Rio de Janeiro
1990
AGRADECIMENTOS
Ao professor kicardo Santos, pela orientação científica, e pela contribuição para a minha formação profissional.
Aos professoras Jaime e Vera Lúcia Bastos, cujo laboratório , colocaram à disposição para as dosagens de AchE. fornecendo material e auxílio técnico, demonstrando um grande interesse por este estudo.
À professora Ma: isa Maria D. Breitenbach e à Celly Cristina A. do Nascimento, que realizaram as dosagens dos níveis séricos de T3.
Ao amigo Werk, que ajudou na parte experimental deste trabalho, e nos trabalhos datilográficos, além de tcrnar mais animado o nosso laboratório.
Ao amigo Marcos por todo o auxílio na parte experimental, e pelo companheirismo.
Ao Waldinez Lima de Oliveira pela correção de textos e sugestões apresentadas.
A Mareia, ao Marcelo, à Claudinhe, ao Fernando e a Fátima amizades obtidas no decorrer deste trabalho, e que de uma forma ou de outra contribuíram para o seu desenvolvimento.
A todos os funcionários do Departamento de Farmacologia e Psicobiologia.
A minha mãe Virginia e à minha sogra Carmem pelo amor e por todo o auxílio que me dão , o que permite a minha atuação profissional.
Ao meu marido Aluízio, que contribuiu como pode, corrigindo textos, confeccionando gráficos e principalmente sempre me incentivando.
Este trabalho contou cora o auxílio financeiro do Conselho
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e tecnológico (NCNPq)
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
TSH - Hormônio tireo estimulante. Tg - Tireoglobulina . HIT - Monoiodotirosina. DIT - Diiodotirocinâ, T3 - T n Jodotironina. T4 - Tetraiodotironina. TRIAC - Ácido triiodotiroaçético. TETRAC - Ácido tetraiodotiroacético. TBG - Globulina ligadora de tironina. TBPA - Pré-albumina ligadora de tironina. TRH - Hormônio de liberação de TSH. AMPc - Adenosina monofosfato cíclico. DNA - Ácido desoxirribonucleico. •RNA - Ácido ribonucleico mensageiro. 1-125 - Iodo 125. SNC - Sistema nervoso central. Ach - Acetilcolina. ChAT - Colina acetiltr^a -.̂i - ,e. CoA - Coenzima A. AchE - Acetilcolinesterase. DMPP - Dimetilfenilpiperazina. PTMA - Feniltrimetilamônio. c-GMP - Guanosina nonofosfato cíclico. REM - Rapid eyes movements. 5-HTP: 5- Hidroxitriptofano. 3H-QNB: 3H-Quinuclidini1 benzilato. r.p.m. - Rotações por minuto, i.p. - Intraperitoneal, s.c. - Subcutânea. Md - Mediana. X EPM - Média erro padrão da média.
RESUMO
O presente trabalho procurou avaliar a atividade co
linérgica central e periférica es ratos com hipertireoidismo
experimental. Para tal os animais foras injetados por períodos de
tempo que variara» de 1,5. 10 e 20 dias, s.c.com várias doses
de triiodotironina sódica. A indução do hipertireoidismo foi
avaliada através das alterações corporais de peso e
temperatura, bem como, dos níveis séricos de T3. Observou-se
perda de peso, bem como, hipertermia nos animais experimentais,
sendo que, os níveis séricos de T3 estavam aumentados para as
doses de 50 e 100 ug/kg nos períodos de l(100ug/kg), 5 e 10
dias de pré-tratamento com o hormOnio.
A avaliação comportamental e farmacològica da atividade
colinérgica foi feita após administração dos agonistas colinérgi-
cos.a piiocarpina e a oxotremorina e o inibidor de acetilcolines-
terase (AchE),a eserina .
Registrou-se a atividade colinérgica central através
dos seguintes parâmetros: temperatura retal, locomoção espontâ
nea, catalepsia e tremor. Perifericamente avaliou-se a cromoda-
criorréia.
Após administração de agonistas colinérgicos piiocar
pina e oxotremorina registrou-se uma diminuição nos efeitos de
hipotermia, hipomotilidade e indução de catalepsia e um aumento
no efeito de tremor, nos ratos pré-tratados co» T3. O
pré-tratamento co» T3. também revelou após administração de
eserina, diminuição no efeito de hipotermia e hipomotilidade e
aumento nos efeitos de catalepsia e tremor. As alterações obser
vadas fora» sais pronunciadas para os saiores períodos de
pré-tratamento e cos as maiores doses de T3.
A dosages da atividade da enzima AchE de cérebro total
de animais controle e com diversos níveis de hipertireoidis»o
experinental, não registrou alterações significativas.
Os resultados apresentados sugerem que o T3 possa
produzir alterações na funcionalidade de receptores colinérgicos
pds-sinápticos centrais, não interferindo cos os receptores
periféricos, relacionados ao efeito de lacnmejaaento. Outras
hipóteses são discutidas no presente trabalho.
ABSTRACT
In order to investigate the influence of experimental
hyperthyroidism in the colinergic activity. rats were injected
daily, during 1. 5. 10 or 20 days, vhith trííodotironine (0 to
100 ug/kg. s.c). The hi per thyroid is» was evaluated by the
decrease of the body weigth and the increase of the body
temperature and serum hormonal levels (T3) .
After the administration of the cholinergic agonists
(pilocarpine and oxotremorine) or a anticholinesterase drug
(eserine), the cholinergic behavioural and faraacologic activity
was evaluated recording the rectal temperature. locomotor
activity, catalepsy, tremor and cromodacryorrhea.
Hypomothermia, hipomotility and catalepsy induced by
pilocarpine and oxotremorine were decreased in animals
pre-treated whith T3. On the other hand the tremor effect induced
by oxotremorine was increased in those animals. Meanwhile in T3
pre-treated animals eserina-induced hipomotility and hypothermia
warn significantly decreased while the cataleptic an tremor
effects was shoured an increase.
It was also observed that when compared with the
control group, AchE levels were not altered in hiperthyroid rats.
The results suggests that T3 pre-treatment may induce
in rats changes in the functionality of the central cholinergic
post-sinaptic receptors. However, the administration of this
hormone does not seem to induce any alterations in the periferic
cholinergic receptors, implicated in cromodacryorrhea effect.
ÍNDICE
1. Introií jção 1 1.1 Tirdide 1 1.1.1 Anato»ia e aorfologia tirdidea 1 1.1.2 Síntese e aetabolisao horaonal 2 1.1.3 Secreção e transporte horaonal 6 1.1.4 Regulação da tireòide 8 1.1.5 Hecanisao de açáo a nível celular 9 1.1.6 Distribuição regional de receptores nucleares
para T3 ea cérebro de ratos 12 1.1.7 Alterações hormonais da tireòide 14 1.1.7a Hipertireoidisao e tireotoxicose 14 1.1.7b Hipotireoidisao 15 1.1.8 Tireòide e coaportaaento 16
1.2 Sisteaa colinérgico 19 1.2.1 Organização neuroanatoaica 19 1.2.2 Síntese de Ach 20 1.2.3 Metabolisao 22 1.2.4 Receptores colinérgicos 23 1.2.5 Métodos de avaliação da atividade colinérgica 26 1.2.Sa "Binding assays" 26 1.2.5b Observações fisiológicas, bioquíaicas e coa-
portaaentais 26 1.2.6 Alterações da atividade colinérgica 28 1.2.6a Manipulação faraacoldgica 29 1.2.7 Mecanisaos colinérgicos nas desordens afetivas
e cognitivas 29
1.3 Função tireoideana e neurotransaissores 33
1.4 Objetivos 40
2. Material e Métodos 41 2.1 Aniaais 41 2.2 Ciclo de luz 41 2.3 Adajnistracão de Triiodotironina 42 2.4 Controle do hipertireoidisao experisentai 41 2.4.1 Controle de peso corporal 43 2.4.2 Teaperatura basal 43 2.4.3 Dosages sérica de T3 43
2.5 Drogas colinérgicas 44
2.6 Parãaetros de avaliação da atividade colinérgi ca auscarinica 45
2.6.1 Teaperatura retal 45
2.6.2 Locomoção espontânea 45 2.6.3 Catalepsia 46 2.6.4 Tremor 46 2.6.5 Croroodacriorréia 47
2. 7 Exper xmentos 48 2.7.1 Experimentos com a pilocarpina 48 2.7.2 Experimentos com a oxotremorina 49 2.7.3 Experimentos com a eserina 51 2.7.4 Determinação da atividade da AchE em homogenei
zado cerebral 52
2.8 Análise estatística 54
3. Resultados 55 3.1 Controle do hipertireoidismo experimental .... 55 3.2 Experimentos com a pilocarpina 61 3.3 Experimentos com a oxotremorina 71 3.4 Experimentos com a eserina 84 3.5 Atividade da AchE cerebral 91
4. Discussão 92
5. Conclusões Gerai? 105
6. Referencias bibliográficas 107
1.1 TIREÓIDE
1.1.1 ANATOMIA E MORFOLOG1A TIREÓIDEA
A tireóide é a maior glândula endócrina de seres huma
nos, sendo constituída anatomicamente por dois lobos unidos por
um istmo ( Halmi, 1986 ). De localização anterior e lateral a
traquéia, a tireóide é uma glândula bem vascularizada, sendo
inervada pelos sistemas adrenérgico e colmérgico, através de
fibras originárias dos gânglios cervicais e do nervo vago, res
pectivamente ( Ekholm,1979). Estas fibras regulam principalmente
o fluxo sangüíneo da glândula, influenciando as quantidades
de hormônio tireo-estimulante (TSH ), de iodo e outros
substratos metabólicos para a mesma. Além da inervação
vasomotora existe uma rede de fibras adrenérgicas que terminam
próximas à membrana basal do foliculo, que contém receptores
adrenérgicos específicos na membrana plasmática (Tice e
Creveling, 1975).
A glândula é composta por folículos, sua unidade
funcional, os quais recebem uma rica rede capilar. Cada foliculo
é composto por uma camada de células epiteliais, que circudam
a luz folicular, que contém o colóide. As células foliculares são
cercadas por uma membrana basal (Robbins e col., 1980; Halmi,
1986) , ficando o foliculo em contato com o colóide, mediante
numerosas microvilosidades da membrana apical. E nesta superfí-
2
cie celular que ocorrem a íodinização, a exocitose e a fase
inicial da secreção hormonal, chamada de reabsorçâo coloidal
(Ericson, 1981). Além das células foliculares, a tireóide
contém uma população de células parafoiículares ou células C,
que são responsáveis pela secreção de calcitonina, hormônio
relacionado ao mecanismo do cálcio (DeGroot e col., 1984).
1.1.2 SÍNTESE E METABOLISMO HORMONAL
Para a formação de quantidades normais de hormônios
tireoideanos é necessário iodo exógeno, que provém em sua maior
parte da alimentação (DeGroot e Niepomniszcze, 1977; Ingbar,
1985). Após ingestão, o iodeto é rapidamente absorvido pelo trato
gastrointestinal e armazenado no plasma, sendo encontrado também
em outros fluídos como a saliva e suco gástrico, de onde é
absorvido e reincorporado ao liquido extracelular (Taurog, 1986;
Ingbar, 1985). A tireóide possui o maior "pool" de iodo corporal,
que é liberado na circulação na forma de tironinas iodadas. Estas
ao sofrerem desiodação periférica liberam iodo para o liquido
extracelular (Kõhrle e col., 1987).
A formação dos hormônios tireoideanos ocorre em três
estágios seqüenciais: transporte ativo do iodeto para a tire
óide; oxidação do iodeto e iodinação de resíduos tirosil das
moléculas de tireoglobulina (Tg) e união das iodotirosinas para
3
formar iodotironinas ativas (Ingbar. 1985).
A tireóide possui UB necanisao de transporte do iodeto
que possibilita que o mesmo penetre a tireóide mais rapidamente
do que por simples difusão do liquido extracelular. O íodeto é
transportado para dentro da célula tireóidea contra um gradien
te de concentração (Dente e col. . 1976} .
A Tg, uma glicoproteína de peso molecular 660.000
daltons migra p«ra a região apical da célula folicular onde vai
ocorrer a iodinação dos resíduos tirosil. Várias hipóteses
tentam explicar o mecanismo de incorporação do iodo à proteína.
A mais aceita é que a enzima peroxidase tireoideana seja
oxidadada pelo H2O2 formando o complexo I, que reagindo com o
iodo formaria o complexo II, composto pelo iodo e o
radical I gerado. A ligação do complexo II a um radical
tirosil da Tg o oxidaria (DeGroot e Niepomniszcze, 1977 ;
DeGroot e col., 1984). Quando apenas um átomo de iodo se
liga a um radical tirosil, forma 3-monoiodotirosina (MIT),
que pode receber outro átomo de iodo e formar 3,5-diiodo-
tirosina (DIT) (Degroot e Niepomniszcze, 1977 ; Déme e
col., 1976; Taurog, 1979). Após a iodinação a tiroglobulina é
expulsa para o colóide por processo de exocitose (DeGroot e
col., 1984).
A formação de MIT e DIT é seguida pela síntese das io-
dotironinas ativas tiroxina (T4) e triiodotironina (T3)-figura 1.
4
FIGURA 1: ESTRUTURA MOLECULAR DAS IODOTIRONINAS ATIVAS (repro
duzido e adaptado de Kohrle e col.,1987)
NH2 ir-
CH2-CH-C00H^ -O0
3:5:3,5-THUIIHTIMIIM [U)
3^5-TIMNHMMM (TS)
A fusão de duas moléculas de DIT pioduz uma estrutura com
dois anéis deiodinados 3',5',3,5 tetra-iodotironina (T4) (DeGroot
e Niepomniszcze, 1977 ; Déme e ̂ "còl.,1976; Taurog, 1979).
A união de DIT com MIT forma 373, 5 triiodotironina (T3) ou
3', 5', 3 triiodotironina (rT3) (DeGroot e Niepomniszcze, 1977;
Déme e col, 1976). A união de J dois MIT forma
3*,3 diiodotironina (T2) (Smith e col., 1983):
5
As transformações metabólicas das iodotironinas com-
preendem a desiodação, a desaminação oxidativa e a conjugação con
ácido glicurGmco ou sulfúrico. Apenas pequenas quantidades são
excretadas na urina e nas fezes, sen alteração bioquímica prévia
(Pittman. 1979).
Aproximadamente 80* do metabolismo de T4 acontece por
monodesiodação enzimática. O T4 sofre a ação de três classes de
enzimas,a desiodase tipo I, que desioda os anéis externe e inter
no; a desiodase tipo II, que desioda apenas o anel externo e pro
duz T3;e a desiodase tipo III,que desioda apenas o anel interno e
produz rT3 (Chopra e col., 1978; Burger, 1986; Leonard e-" Visser,
1986). 0 T3 e o rT3 também sofrem a ação das enzimas citadas,
produzindo diiodotirpninas (T2), as quais por sua vez são mono-
desiodadas e produzem monoiodotironinas (TI), que ao- perderem o
iodo formam tir' .ina (Chopra, 1986; DeGroot e col., 1984).
A desiodase tipo I, encontra-se em maiores quantidades
no fígado e no rim .A desiodase tipo II,encontra-se na pituitária
SNC, hipófise, placenta, tecido adiposo marrom, glândula pineal e
pele, e a desiodase: tipo III é encontrada na placenta e SNC
(Kaplan e Yaskoski, 1980; Kaplan, 1980; Hidal «".Kaplan,
1980; Silva e Larsen, 1985; Leonard e Visser, 1986).
Além da< desiodação as iodotironinas sofrem désaminação
oxidativa numa taxa de aproximadamente 15* do T3 e 1 a 2* do T4,
formando respectivamente ácido triiodotiroacético (TRIAC) e áci
do tetraiodotiroaçétjco (TETRAC). TRIAC e TRETAC tem alguma afi-
6
nidade por receptores nucleares de T3 . entretanto são rápida-
•ente aetabolízados . sofrendo desiodação e conjugação, e sendo
excretados pela bile (Chopra, 1986; Hesch e Kohrle. 1986).
As iodotironinas coa dois átoaos de iodo no anel inter
no, são preferencialaente conjugadas coa ácido glicurOnico, en
quanto as que apresentaa apenas ua átoao de iodo no anel interno
são sulfatados (Hesh e Kohrle, 1986).
Ca vários sisteaas a atividade aetabólica de T4 é dimi
nuída por agentes que inibea a foraaçSo de T3, concluindo-se que
a atividade do T4 deriva da foraação de T3, e&tbora não seja con
clusiva a questão sobre a atividade biológica intrínseca do T4
(Kohrle e col., 1987).
1.1.3 SECRECÁO E TRANSPORTE HORMONAL
Análises de tireóides humanas indicam que o iodo orgâ
nico da tireóide é constituído por 17 a 28t de MIT; 24 a 42* de
DIT; 35t de T4 e 5 a 81 de T3, podendo a taxa de T4-.T3 chegar a
10:1 (Ingbar, 1985).
A liberação dos hormônios tireoideanos envolve dois
grupos de reações: a hidrólise da Tg, que ocorre alguns minutos
após estimulação da tireóide pelo TSH, e as passagens das iodo-
tironinas para o sangue. As iodotironinas ativas, T3 e T4, são
liberadas para o sangue por processo que envolve microtubules e
7
mjcrofilamentos (DeGroot e Taurog. 1979; Degroot e col., 1984).
No plasma o T4 é a iodotiromna de maior concen
tração sendo a única originária de secreção direta da tireóide
(Burger, 1986; DeGroot e col., 1984; Hennemann, 1986). A
maioria do T2 encontrado no plasma é derivado dor? t.pridoR oerifé-
ricos, onda é formado pela remoção enzimática de um átomo de
iodo da molécula de T4 (Burger, 1986; Hennemann, 1986; Kaplan,
1986). Apenas 20* do T3 plasmático é oriundo diretamente da
tireóide (Pittman, 1979). 0 restante das iodotironinas encon
tradas no plasma também são em sua maioria geradas nos teci
dos periféricos (Burger, 1986; Hennemann, 1986; Kaplan, 1986),
considerando-se no entanto, o T4, o T3 e o rT3 os componentes de
maior importância.
Na circulação sangüínea,T3 e T4,bem como os seus produ
tos de metabolização periférica, se ligam reversivelmente a pro
teínas séricas, que restringem a viabilidade dos hormônios para o
metabolismo e também modulam os efeitos de alterações na secre
ção ou administração de T4. As proteínas sérica3 transportado
ras dos hormônios tireoideanos são a globulina ligadora de
tironina (TBG), a pré- aibumma ligadora de tiroxina (TBPA) e a
a1bumina (Robbins e col., 1978 e Hocman, 1981/.
Cerca de 2/3 do T4 circulante é transportado pela TBG
que tem alta afinidade pelo hormônio. A TBPA transporta aproxi
madamente 15t do hormônio (Robbins e Edelhock, 1986).
8
1.1.4 REGULAÇÃO DA TIREÓIDE
O hipotálamo, a pituitária e a glândula tireóide estão
integrados segundo um modelo de controle hormonal por mecanismo
de "feed-back" (Field, 1986). Além desse sistema regulador, exis
tem mecanismos de autoregulação gue cnain uma afinidade inversa
entre o iodo glandular e a taxa de formação hormonal (Pisarev e
Kleiman, 1980).
O maior regulador morfológico e funcional da tireóide
é o TSH , secretado pela pituitária e cuja síntese e liberação
dependem da secreção pelo hipotálamo de outro hormônio, o hor
mônio de liberação do TSH (TRH). A função de toda essa rede de
controle pode ser modificada por "feed-back" negativo, através
da viabilidade dos hormônios tireoideanos (Field, 1986).
A regulação da secreção do TSH resulta de uma intera
ção complexa a nível das células tireotroficas da pituitária,
nas quais o TRH atua estimulando primeiro a síntese e posterior
mente a liberação de TSH. 0 TRH é sintetizado por neurônios pep-
tidérgicos nos núcleos supraótico e paraventricular do hipotá
lamo, sendo transportado e armazenada na eminência média
(Ingbar,1985). Através do sistema venoso porta-hipofisal, o TRH
é carreado para as células da glândula pituitária anterior. Os
receptores específificoa para TRH se encontram nas células
tireotroficas e lactotróficas, que estimulam a enzima adenil
ciclase. Sobre a influencia do TRH, a síntese de TSH é rápida-
9
•ente estimulada (Utiger. 1987).
A ação do TSH se deve a ligação do mesmo a receptores
específicos na membrar-3 plasmática da célula folicular, estimu
lando a atividade adenilato ciclase e aumentando a síntese de
AMPc intracelular. Todas as etapas de síntese e secreção hormo
nal são influenciadas pelo TSH ( Robbins e col . , 1980; Field,
1986).
1.1.5 MECANISMO DE AÇÃO A NÍVEL CELULAR
Os hormônios tireoideanos influenciam as funções bio
lógicas e fisiológicas da maioria dos órgãos de diferentes espé
cies, desde peixes até mamíferos. Conhece-se bem, o papel dos
hormônios tireoideanos no crescimento, no desenvolvimento do SNC,
na termogênese, bem como nas taxas m~tabí 1 I.;J: basais, metabolis
mo de carbohidratos, lipídeos e proteínas ( Nayer, 1987).
A multitude dos efeitos dos hormônios tireoideanos
contribui para elucidar os eventos moleculares responsáveis
pelas suas ações, sendo sugerido que apenas um evento inicial
ocorra e que todas as influências subsequentes derivem des
te primeiro evento, que é a ligação do T3 a proteínas re
ceptoras no núcleo celular, devido a correlação existente
entre a ligação nuclear dos hormônios tireoideanos e suas
ações tireomiméticas estabelecidas.
10
São descritos sítios de ligação para T3 no núcleo
de células da pituitána. fígado . rins. coração. cérebro e
eu pequenas quantidades no baço e testículos (D'llmann; 1985).
As características destes sítios nucleares, na medida en que a
ligação do hormônio leva à produção de um efeito os classificou
como sítios receptores. O receptor nuclear é uma proteína não-
histona. de peso molecular 50.000 daltons e coeficiente de
sedimentação 3.5 S (Pascual e col.. 1982; Dozin e col.. 1985a);
estando associado à cromatina e ligado com alta afinidade a
dupla hélice de DNA { Nayer, 1987). Mediante a ação de enzi
mas nucleases o receptor de T3 é liberado associado com um frag
mento de DNA de aproximadamente 40 pares de bases e com 85t
do complexo sendo formado por proteínas (Pearlman e col..
1982). Tem sido sugerida a hipótese de associação do receptor
nuclear para T3 com uma sub-unidade reguladora de crornatina,
que poderia modular a atividade de ligação do receptor
(Apriletti e col., 1984 e Dozin e col.,1985b).
Estereoquimicamente.a ligação das íodotironinas ao seu
receptor específico, necessita de um grupo hidroxil no carbono 4
do anel externo, bem como,de um átomo de iodo no carbono 3* (Biró,
1983). A presença simultânea de iodo no carbono 5' leva à dimi
nuição da ligação e dos efeitos tireomiméticos da molécula,
como observado com a molécula de T4 (Baxter e Funder, 1979;
Biró, 1983). A remoção de um átomo de iodo do anel interno e dos
carbonos 3 e 5, também induz a uma diminuição marcada da afim-
11
dade e urn lenor efeito tireomimético , como se observa coa a
molécula de rT3 (Biró, 1983). Essas observações sugerem,
portanto que a parte externa das lodotíroninas, o anel fenó-
lico. é responsável pela ligação ao receptor. A parte inter
na, o anel não-fenólico. determina os 'efeitos biológicos
na medida em que ira sofrer interações com DNA e proteínas
(Biró,1983) .
Após a ligação do T3 a receptores:nucleares ocorre uma
estimulação na síntese protéica e aiterações'na síntese de mRNA.
mediante aumento na atividade da enzima polymerase. O aumento na
síntese de mRNA ocorre para os mRNA que7codificam enzimas máli-
cas.oc2-globulina, miosina cardíaca e hormônio de crescimento
(Kurtz e col.,1976; Goodrigde, 1983).-No fígado, aproximadamente
19 mRNA de 250 proteínas individualizadas parecem ser controlados
por T3. (Oppenheimer, 1985). Com base em todas as observações
experimentais dos efeitos dos hormônios tírêoideanosfsão caracte
rizados como eventos posteriores àtligação do T3 ao receptor
nuclear: o efeito direto na transcrxpçãõ, aünent-o da atividade da
enzima polunerase II, formação de precursores do mRNA, aumento do
mRNA citoplaemático, aumento da síntese protéica e efeitos meta-
bólicos e clínicos (Oppenheimer, 1985; Nayer, 1987).
As evidências de que os receptores nucleares para T3
desempenham papel fundamental na mediação dos seus efeitos , não
excluem a possibilidade de que alguns efeitos sejam mediados por
outras vias que não as dos receptores^nucleares, ou seja,indepen-
12
dentes dos níveis de mRNA e da síntese proteíca. tendo sido evi
denciada a presença de us receptor sediador. que prosove a en
trada dos hormônios tireoideanos do liquido extr?celular para o
núcleo. através da sesbrana celular (Krenning e col . , 1983). Da
•essa forma Sterling e col. (1980) confirmara» através de métodos
de autoradiografia, a ligação dos hormônios tireoideanos a
us componente interno da sesbrana sitocondrial, de fígado, ris.
coração e súsculo.
1.1.6 DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DE RECEPTORES NUCLEARES PARA T3
EM CÉREBRO DE RATOS
Os horsômos tireoideanos desespenhas ísportante papel
no SNC. sendo que a ausência dos sessos durante o desenvolvimen-
sento cerebral provoca Múltiplas alterações sorfológicas e
bioquísicas, podendo levar ao retardo sentai irreversível
(Patel e col, 198C).
A presença de receptores nucleares para T3 no cére
bro de ratos, em desenvolvisento ou adulto, sugere que várias
alterações bioquímicas e sorfológicas podes ser conseqüência de
una açSo direta dos horsOmos tireoideanos. Ales disso, a desons-
tração da conversão local de T4 en T3, resultando es saturação do
receptor de T3 es condições basais, sugere que o T3 é particu
larmente importante no cérebro de rato (Crantz e col., 1982).
Como o cérebro é um órgão muito heterogêneo, o primei-
13
ro passo para a elucidação do mecanismo de ação dos hormônios
tireoideanos, seria a localização dos receptores cerebrais
para T3. A distribuição de 1-125 no cérebro foi estudada
através de métodos autoradiograficos por Dratroan e col., em
1982. Entretanto, através desta técnica não se obtiveram infor
mações acerca da afinidade e da capacidade de ligação do T3.
Ruel e col., em 1985, com a técnica do radioimunoensaio estu
daram a distribuição de receptores nucleares para T3 em nove
estruturas do cérebro de rato: bulbo olfatório, estriado, tálamo
hipotálamo, hipocampo, amígdala, cerebelo, tronco e córtex
cerebral, sendo o córtex dividido arbitrariamente em quatro
frações. Os resultados obtidos demonstram existir uma hete-
rogeneidade na distribuição dos receptores para T3 em cérebro
de ratos, observando-se diferenças estatisticamente significati
vas no número de receptores nas diversas áreas cerebrais
estudadas. Os autores observaram uma maior afinidade para o T3,
refletida por aumento na capacidade de ligação do hormônio, na
amígdala, hipocampo e córtex cerebral, e uma menor capacidade
de ligação no tronco cerebral e cerebelo. Esses resultados
demonstram existir um gradiente caudo-rostral na afinidade dos
receptores nucleares para T3 e sugerem que os hormônios tireoi-
deanos devem ter importância particular em estruturas teleen-
cefálicas. Todavia não se pode afirmar que uma afinidade
diminuída dos receptores em uma determinada estrutura, sig
nifique uma menor ação por parte dos hormônios tireoideanos
nessa estrutura (Ruel e col., 1985). No córtex cerebral
os autores observaram uma menor concentração de receptores
para T3 nas seções rostral e caudal, com uma concentração
maior na região central.
1.1.7 ALTERAÇÕES HORMONAIS DA TIREOIDE
1.1.7a Hipertireoidismo e tireotoxicose
0 termo hipertireoidismo é aplicado quando ocorre um
excesso de produção hormonal pela tireóide. Como conseqüência
teremos alterações nos tecidos que receberam as quantidades exce
ssivas de hormônio e o aparecimento de tireotoxicose.
As manifestações mais proeminentes da tireotoxicose
são as alterações cardiovasculareB, devido à ação cardioestimu-
latória direta dos hormônios tireoideanos, ocorrendo aumento da
demanda circulatória e no rendimento cardíaco , bem como, diminui
ção na resistência vascular periférica (White e Zimnerman, 1976;
Ingbar, 1985).
0 quadro de tireotoxicose é acompanhado de dispnéia
e redução da capacidade vital (Engel, 1972); perda de peso cor
poral em taxas variadas, aumento do esvaziamento gástrico e do
periBtaltismo intestinal (Daniel, 1973); e de outros sinais que
podem ocorrer como hepatomegalia, ictirícia e desmineralização
óssea , entre outros (Burman e col, 1976; Tobin e col.,1979
Sterling e col, 1980).
15
A Bíntese e degradação de proteínas e lípideos encon
tram-se aumentadas (Abrams e Grundy, 1981; Muls e col., 1982;
Ingbar, 1985).
A tireotoxicose é comumente acompanhada de alterações
nas funções do SNC, que manifestam-se por nervosismo, instabili
dade emocional e hipercinesia. Em alguns casos,podem ocorrer dis
túrbios psíquicos, como reações paranoides e ansiosas (Chapman
e Maloof, 1956; Orenstein e col., 1988).
1.1.7b Hipotireoidismo
0 estado clínico resultante da deficiência na produção
de hormônios tireoideanos é denominado hipotireoidismo.
0 hipotireoidismo causa um acumulo de ácido hialurõni-
co em vários tecidos, permitindo acumulação de água e levando a
formação de edema (LaFranchi, 1979); No sistema cardiovascular
ocorre redução na taxa cardíaca, resistência vascular aumentada e
volume sangüíneo diminuído (Crowlew e Rigdway, 1977); há ganho
de peso, diminuição da atividade peristaltica, bem como rigidez
muscular (Daniel, 1973; Abbasi e col.,1975; Khaleeli e col.,
1983).
A síntese e degradação de proteínas e lipídeos estão
diminuídas (Agdeppa e col., 1979; Ingbar, 1985).
Os hormônios tireoideanos são essenciais para o
desenvolvimento do SNC. Deficiências fetais ou após o nascimento
resultam na proeminência de características cerebrais infantis.
16
hipoplasia de neurônios corticaia, COB pobre desenvolvimento dos
processos celulares, retardo na mielinização, bem como, redução
na vascularidade. ocorrendo lentidão de todas ar funçõeB intelec
tuais, incluindo fala, defeitos de memória e lentidão de
racíocinio (Sanders, 1962; Rosman, 1976; Biró, 1983).
1.1.8 TIREÒIDE E COMPORTAMENTO
Atualmente alguns autores associam e relacionam
alterações na função tireóidea com desordens afetivas, por sua
vez distúrbios na afetividade parecem influenciar a função tire
óidea (Whybrov e Ferrei, 1974; Green, 1984; Joffe e col., 1985;
Evans e col., 1986).
Segundo estudos clinícos, as disfunções observadas em
indivíduos com hipo e hipertireoidismo, são essencialmente de
dois tipos, quais sejam o enfraquecimento das funções cognitivas
e os distúrbios afetivos (Whybrow e Ferrei, 1974; Rosman, 1976;
Ingbar, 1985).
No hipertireoidismo , o enfraquecimento cognitivo ca
racteriza-se por dificuldade de concentração e na produção da
da memória recente, bem como a perda da acuidade visual e
auditiva (Whybrow e Ferrei, 1974; DeGroot e col., 1984).
No hipotireoidismo ocorrem deterioração da memória recente,
dificuldade de concentração e alterações semelhantes às provoca
das por danos cerebrais. No hipotireoidismo prolongado, mesmo
17
após o restabelecimento dos níveis hononais, permanece um
enfraquecimento cognitivo residual (Rosaan, 1976; Ingbar. 1985).
Da mesma forma, os distúrbios afetivos parecem estar
intimamente ligados ao estado tireóideo. No hipertireoidismo se
observa ansiedade. fadiga, irritabi1idade e nervosismo com
tremor. No hipotíreoidismo se observa uma marcada depressão de
humor e melancolia (Whybrow e col., 1969; Rosman, 1976; Ingbar,
1985).
A associação dos sintomas da depressão endógena com o
estado de hipotireoidismo, mediante a observação de diminuição
nos níveis circulantes de T3, em indíviduos com estados depressi
vos (Whybrow e col., 1969; Joffe e col., 1985, Loosen e col.,
1987), iniciou um estudo sistemático sobre a afinidade entre dro
gas antidepressivas e função tireóidea.
Whybrow e col., (1969) , estudando pacientes com de
pressão primária unipolar, com a finalidade de avaliar a
integridade do eixo pituitária-tireóide, bem com a função dos
hormônios tireoideanos no tratamento adjunto da depressão,
administraram doses diárias de T4 a esses pacientes, medindo
níveis hormonais antes, durante e após o término do tratamento.
Os resultados obtidos, Be por um lado evidenciaram que o eixo
pituitária-tireóide permanece intacto em indivíduos com depres
são, por outro, revelaram segundo os autores, correlação negativa
entre níveis de T3 e estado de humor dos pacientes, sugerindo que
o aumento nos níveis do T4 circulante gerava uma melhora clínica
18
do humor e da melancolia, na experiência descrita. Dessa forma,
ainda segundo os mesmos autores, oa hormônios tireoideanos exerce
ri an una ação protetora na depressão, quando usados concomtante-
•ente com drogas antidepressivas. Breese e col,(1974) observaram
que o estado de hipertireoidismo aumenta, em animais, a toxici
dade à imipramina. enquanto que o estado de hipotireoidismo
reduz essa toxicidade, embora a administração do hormônio
produza um aumento na atividade antidepressiva da droga. Prange e
col.. (1969) observaram também que o estado de hipertireoidismo
provocava uma diminuição na latência de ação de drogas
antidepressivas tricíclicas.Goodwin e col.,(1982); Evans e col.,
(1986) e Catto,(1987), registraram que individuos refratários
ao tratamento com drogas tricíclicas. apresentavam uma rápida
melhora dos sintomas depressivos quando a droga era usada coad-
juvantemente com o T3. Segundo Prange e col., (1984), apenas uma
única administração de T3,seria responsável por melhoras clínicas
dos sintomas da depressão. Heal e col., (1987) observaram que
uma única administração de 100 ug/kg T3,causava uma aceleração no
efeito de sedação induzido pela clonidina após dois dias de
tratamento com choque eletroconvulsivo ou desipramina, sugerindo
tais resultados, uma interação sinergística entre o T3 e as
drogas antidepressivas.
1»
1.2 SISTEMA COLINÉRGICO
1.2.1 ORGANIZAÇÃO NEUROANATOMICA
Embora a Acetilcolina (Ach) tenha suas funções como
substância neurotransmissora do SNC bem determinadas experi
mentalmente, as informações sobre a organização do sistema coli-
nérgico e seu papel no comportamento são mais recentes e obtidas
através da utilização de técnicas autoradiográficas e de ligação
imunohistoquímica da enzima colina acetiltransferase (ChAT)
(Shiromani e col., 1987).
Através da utilização dessas novas técnicas Mesulan e
col. (citado em Shiromani e col., 1987), identificaram seis gru
pos principais de células colinérgicas no SNC. 0 primeiro e se
gundo grupos se encontram no núcleo septal medial e no núcleo
externo vertical, respectivamente. Os neurônios desses dois gru
pos inervam o hipocampo. 0 terceiro grupo está contido parcial
mente no núcleo externo horizontal e inerva o bulbo olfatório. No
quarto grupo encontra-se o maior número de células colinérgicas e
está localizado no núcleo basal de Meynert, no núcleo ansa len-
ticularis, núcleo ansa peduncularis e na lâmina medular do globo
pálido e substância inominata, sendo responsáveis pela inervaçào
da amigdala e neocortex. O quinto grupo tem origem no núcleo pe-
dunculo-pontino do tronco cerebral, região anatômica ligada à
20
conjuntiva braquial e ao núcleo lateral dorso-tegmental, que
conte» células colinérgicas do sexto grupo. Esses dois grupos que
forui as vias colinérgicas ascendentes, inervam - tálano, hipo
campo, hipotálamo e cortex cingular.
Perifericamente.o estudo da Ach como neurotransnissor,
te» sido bastante aprofundado, desde os trabalhos pioneiros de
Loewi e Navratil em 1921 (Weiner e Taylor, 1985). As vias peri
féricas inervam a musculatura lisa, que inclui o trato gastroin
testinal e urinário; as glândulas de secreção exócrina e endócri-
na e o sistema cardiovascular (Weiner e Taylor, 1985; Palácios e
Spiegel, 1986).
1.2.2 SÍNTESE DE Ach
A formação da Ach resulta da acetilação de colina com
acetil coenzima A (CoA), promovida pela enzima ChAT (Hebb, 1972;
Rossier, 1977; Weiner e Taylor, 1985)
A colina deriva de meti 1ações da fosfatidilcolina
ou da colina, ingerida na dieta , sendo captada do liquido
extracelular para o interior do axoplasma através de transporte
ativo (Jope, 1979; Weiner e Taylor, 1985). A acetil CoA é
derivada do piruvato, mediante ação da enzima piruvato desidroge-
nase, ou sintetizada pela acetato tiocinase, que cataiiza a
reação com trifosfato de adenosina para formar um aciladenila-
21
to, que na presença de CoA sofre transcetilação originando Acetil
CoA. A colina acet11 transferase é sintetizada nas proximidades
do núcleo neuronal e transportada ao longo do axõmo até à sua
terminação . onde vai ocorrer a síntese de Ach (Rossier, 1977;
Weiner e Taylor. 1985).
Após a síntese, a Ach é armazenada em vesícuias sináp-
ticas. Cada vesícula contém 1.000 a 5.000 moléculas de Ach, e
um único terminal nervoso motor, contém aproximadamente 300.000
ou mais vesículas (Katz e Miledi, 1965; Ceccarelli e Hurlbut,
1980; Weiner e Taylor, 1985).
A Ach nas terminações axônicas é liberada em quanti
dades constantes ou quanta. Quando um potencial de ação chega ao
terminal nervoso, há liberação de 100 ou mais quanta de Ach, após
um período latente de aproximadamente 0,75 milisegundo
(Ceccarelli e Hurlbut, 1980). A desporalização do terminal
axOnico permite o influxo de íons cálcio, atraídos pelas
cargas negativas da membrana. A entrada dos íons cálcio,
facilita a fusão das membranas axfinica e vesicular, havendo a
liberação do conteúdo das vesículas no meio extracelular (Katz
e Miledi, 1972), embora esta liberação exocitótica, seja
questionada como único mecanismo de liberação nervosa de Ach
(Ceccarelli e Hurlbut, 1980; Cooper e Meyer, 1984).
22
1.2.3 METABOLISMO
Para que Ach atue como neurotransmiss^r, o éster da
molécula deve ser removido ou inativado em períodos de tempo
que variam de acordo com a junção colinérgica . Este processo é
dependente da enzima acetilcolinesterase (AchE) que hidroliza
a Ach para colina e ácido acético (Rosenberry, 1975; Taylor,
1985b).
A AchE é encontrada em neurônios, junções neuromus-
culares e em vários outros tecidos. Segundo estudos histoquimi-
cos a AchE apresenta-se em concentrações elevadas nos neurônios
que vão originar as fibras colinérgicas, sendo as concentrações
consideravelmente menores em neurônios não colinérgicos (Koelle,
1975; Weiner e Taylor, 1985).
A AchE existe em duas classes moleculares diferentes,
sendo uma oligômeros simples e uma de formas alongadas, com com
plexas estruturas moleculares (Massoulié e Bon, 1982). Nos neurô
nios colinérgicos embora exista AchE em toda a sua extensão, uma
maior concentração de oligômeros se encontram associados a mem
brana plasroática pós-juncional, sendo responsáveis pela rápida
hidrólise de Ach, após a liberação exocitótica (Koelle, 1975;
Massoulié e Bon, 1982; Taylor, 1985b).
0 centro ativo da AchE se constitui de um sítio com
carga negativa, que atrai o grupamento quartenário da colina
por meio de forças coulômbicas e hidrófobicas e um outro , es-
23
terásico onde ocorre a ligação nucleofílica no carbono acílico
do substrato. Durante o ataque enzimático ao éster forma-se um
intermediário tetraédrico entre enzima e éster que se une ao
conjugado enzima-acetil. com liberação simultânea da colina.
A enzima sofre hidrólise formando acetato e enzima
ativa (Rosemberry. 197b; Taylor, 1985b).
1.2.4 RECEPTORES COLINÉRGICOS
A existência de componentes macromoleculares especia
lizados, os receptores, nas membranas pós-juncionais representa
um fenômeno essencial nos mecanismos de neurotransmissão.
A estrutura do receptor colinérgico, tem sido descrita
como uma macromolécula proteíca alostérica, com diâmetro de a-
proximadamente 8,5 nm aderida a membrana pós-juncional. A ma
cromolécula seria formada por cinco sub unidades polipeptídicas,
sendo as duas sub unidades menores (10.000 daltons), os locais
responsáveis pela ligação agonista e antagonista (Heidman e
Changeux, 1978; Changeux, 1981; Merlie e Smith, 1986).
Em 1914 Dale (citado em Weiner e Taylor, 1985) dife
renciou os receptores colinérgicos em receptores muscarínicos e
nicotínicos.Essa classificação foi baseada nas observações do au
tor sobre os efeitos dos alcalóides muscarina nas células efeto-
ras autônomas,e nicotina,que estimulava e posteriormente bloque-
24
ava gânglios autônomos e placas terminais do musculo esquelético.
Os receptores muscarínicos são atualmente divididos
em duas subclasses, com base na seletividade a determinados a-
gonistas e antagonistas (Hammer e col., 1980). Dessa forma obser
vou-se experimentalmente que a pirenzepina, droga antagonista co-
linérgica. apresentava diferentes sensibilidades pelos recepto
res colinérgicos muscarínicos. Os receptores com alta afinidade
pela pirenzepina foram classificados como Ml e os receptores que
apresentavam baixa afinidade pela droga foram classificados como
M2 (Hirschowitz e col., 1984).
Os subtipos de receptores muscarínicos aparecem hete-
rogeneamente distribuídos através do corpo. O tecido nervoso
central e periférico é rico em receptores Ml, enquanto receptores
M2 são prodominantes nas glândulas exócrinas e músculo liso
(Palácios e Spiegel, 1986). No cérebro a visualização de recep
tores muscarínicos, pode ser obtida por métodos autoradiográfi-
cos, através da utilização de (3H) -N- meti 1escopolamina, que se
liga com a mesma afinidade aos sítios Ml e M2. A adição de carba-
col ou pirenzepina ao meio de incubação permite a visualização
dos diferentes subtipos de receptores, que apresentam uma dis
tribuição regional diferencial. Os sítios receptores Ml predo
minam no cérebro anterior, núcleo caudado, putamem, hipocampo e
neocortex. Os sítios M2 predominam no tronco cerebral, mesen-
céfalo e alguns núcleos talãmicos ( Cortes e Palácios, 1986;
Cortes e col., 1986). Essa distribuição regional sugere
M
que oa sítios receptores HI possa» desempenhar um papel
importante nas funções cerebrais superiores, tais como apren
dizado e memória, os sítios M2 são provavelmente importantes no
controle das funções vegetativas. não podendo, entretanto, se
excluir o papel desses sítios nos processos de memória, devido a
presença de receptores M2 no tá1amo (Palácios e Spiegel. 1986).
Os receptores nicotínicos também apresentam heteroge-
neidade. respondendo de forma diferente a determinados estimu
lantes e bloqueadores, como por exemplo, dimetilfemlpiperazina
(DMPP) e feniltrimetilaaõnio (PTMA), estimulantes altamente se
letivos das células ganglionares autônomas e placas terminais de
músculo esquelético, respectivamente (Weiner e Taylor, 1985).
As quatro classes de fibras colinérgicas relacionam-se
com locais receptores pós-juncionais da seguinte forma:
1. Fibras parassimpaticas pós-ganglionares - a Ach liga-se a re
ceptores M2 de células efetoras autônomas.
2. Fibras autônomas pré-ganglionares - a Ach liga-se a receptores
Ml e nicotínicos (com seletividade para DMPP) de células gan
glionares autônomas.
3. Fibras somáticas motoras - a Ach liga-se a receptores nicotí
nicos (com seletividade para PTMA) do músculo estriado.
4. Fibras do SNC - a Ach liga-se a receptores Ml, M2 e nicotíni
cos de neurônios centrais (Weiner e Taylor, 1985).
at
1.2.5 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE COLINÊRGICA
A atividade colinérgica central e periférica pode ser
avaliada através de diversas abordagens. Entre os principais
aétodos utilizados estáo a ligação dos receptores cosi drogas «ar
cadas cos radioisotopes(binding assays).e a observação de parâse-
tros fisiológicos, bioquísicos e cosiportasentais. resultantes da
estisulaçáo desses receptores (Dilsaver, 1986a)
1.2.5a "Binding Assays"
Vários processos descreves este aétodo de observação,
coso por exeaplo o descrito por Yasasura e Snyder (1974). A
ligação específica de drogas colinérgicas «arcadas cos radioisó-
topos, persiite identificar, quantificar, be» coso, avaliar a afi
nidade dos sítios de ligação existentes es usa determinada região
anatóaica. Co» suas lisitações, esse sétodo pode fornecer ínfor-
•açóes precisas sobre a autoregulaçáo adaptativa dos receptores,
que se sucede a pertubações patológicas ou farsacológicas (Frey e
col. 1985; Dilsaver, 1986a; Dilsaver, 1986b).
1.2.5b Observações fisiológicas, bioquíaicas e cosportaaentais
0 sistesa colinérgico central e periférico está envol
vido na regulaçio fisiológica da saior parte das funções corpo-
27
raia. A administração de drogas agonistas de ação central produz
ativação colinérgica, induzindo à observação de alterações fisi
ológicas nos padrões eletroencefaloiráficos de sono e vigília
(Karczmar e Dun, 1982), bem como alterações termoregulatórias
(Avery e col., 1982). Um dos efeitos centrais mais caracteristi-
co, da utilização de drogas agonistas colinérgicas, seria
induzir uma diminuição da atividade rítmica encefalográfica na
vigília (Bevan, 1984; Palácios e Spiegel, 1986) e alterações na
latência e densidade de sono Rem (Hill e col., 1980, Karczmar e
Dum, 1982; Palácios e Spiegel, 1986). A ação de drogas agonis
tas colinérgicas produz também uma diminuição da temperatura
corporal (Pomara e col., 1983; Martin e col. , 1984; Palácios e
Spiegel, 1986).
A ativação colinérgica periférica produz uma variedade
de efeitos no músculo liso, glândulas exócrinas e sistema cardio
vascular, observando-se aumento no lacrimejamento, salivação,
suor e no trânsito gastrointestinal e urinário (Palácios e
Spiegel, 1986)
Bioquimicamente, o estudo da atividade colinérgica
pode ser feito através de dosagens enzimáticas, como por
exemplo, dosagem da enzima AchE, ou através de medidas no
"turnover" de fosfolípideos e da geração de c-GMP (Kanba e
Richelson, 1984; Berridge e Irvine,1984; Dilsaver, 1986b).
As observações comportamentais da atividade colinérgi
ca central incluem avaliação da função psicomotora, através dos
28
parâmetros de atividade motora espontânea, catalepsia e tremor
(Greden e Carrol, 1981; Greden e col., 1981; Gothoni e col.,
1981; Marks e col., 1981; Klemm, 1983).
1.2.6 ALTERAÇÕES DA ATIVIDADE COLINERGICA
Um neurotransmissor em combinação com um receptor pro
duz um complexo neurotransmissor-receptor. Tal interação deve
ser considerada como uma relação gue se modifica constantemente.
A receptividade pós-sináptica dos neurônios no SNC
e periférico é regulada continuamente em termos de número de
sítios receptores e do limiar requerido para uma determinada
resposta. Alterações na receptividade pós-sináptica colinérgica
tem sido relacionadas com diversas patologias, como por exem
plo, doenças afetivas e cognitivas (Dilsaver, 1986a; Dilsaver,
1986b; Perry e col., 1986; Wenk e col., 1987), alterações en-
dócrinas, como na função tireoideana (Sharma e Banerjee, 1977;
Kastrup e Christensen, 1984; Shainberg e col., 1983), e podem
ser obtidas experimentalmente, mediante lesões de áreas co-
linérgicas (Frambrough 1974; Westlind e col, 1981), e
manipulação farmacológica (Dilsaver, 1986a; Dilsaver, 1986b;
Palácios e Spiegel, 1986).
2»
1.2.6a Manipulação farmacológica
A manipulação farmacológica pode ser utilizada para o
estudo de mecanismos fisiológicos, bioquímicos, comportamentais e
de alterações na ligação aos receptores. No SNC esta metodologia
tem como finalidade provocar alterações nos sistemas neurais,
permitindo uma avaliação da atividade desses sistemas
em várias situações experimentais. Dessa forma pode-se induzir
uma supersensibilidade dos receptores colinérgicos muscariní-
cos, através da administração crônica de drogas antagonistas
como a atropina e a escopolamina (Majocha e Baldessarini,
1984; Dilsaver,1986a). Opiáceos, canabinóides e barbitúricos,
também produzem uma supersensibilidade das vias
colinérgicas (Jhamandas e col.,1973; Wahlstron, 1978; Dilsaver e
col., 1984) . Inversamente ,pode-se induzir uma subsensibili-
dade, através da utilização crônica de drogas agonistas como a
pilocarpina e a oxotremorina,ou agentes anticolinesterásicos
(Costa e col., 1982)
1.2.7 MECANISMOS COLINÉRGICOS NAS DESORDENS AFETIVAS E COGNI
TIVAS
Pesquisas na patofisiologia das desordens afetivas -
depressão e mania- tendem a focalizar distúrbios dos meca-
30
ni&mos colinérgicos e monoaninérgicoa (Dileaver, 1986a) , sendo
postulada a teoria de interação colinérgica-monoaminérgica,
nessaB mesmas desordens (Dalsaver e Greden, 1984). Segundo a
teoria citada as fases depressivas seriam marcadas por uma
atividade colinérgica aumentada, e a mania por um estado hipo-
colinérgico-hipermonoaminérgico. Durante as fases depressivas ,
haveria portanto, o desenvolvimento de uma subsensibilidade coli
nérgica, bem como uma supersensibi1 idade de sistemas monoaminér-
gicos e a passagem para o estado de mania. O inverso caracteri
zaria o desvio do estado de mania para depressão.
Embora, deva-se considerar a interação dos vários sis
temas de neurotransmissores na patofisiologia das doenças
afetivas, para propósitos práticos é possível o isolamento dos
sistemas, sendo bem descrito na literatura, o envolvimento de
mecanismos colinérgicos no estresse agudo e crônico (Janowsky e
col.,1983; Janowsky e col., 1985; Janowsky e Risen, 1984); e na
patofisiologia da depressão e regulação do estado de humor
(Dilsaver e Greden, 1984; Dilsaver, 1986a)
Um dos métodos de estudo mais utilizado para pesquisa
dos mecanismos colinérgicos nas desordens afetivas, é o método da
manipulação farmacológica (Dilsaver, 1986a; Dilsaver, 1986b;
Kelwala, 1984; Shiromani e col., 1987).
Avery e col, 1982,estudando indivíduos com desordens
afetivas, observou que esses indivíduos apresentavam diminuição
na latência e aumento no total de sono REM, bem como, aumento da
31
temperatura corporal; tais resultados poden ser obtidos experi
mentalmente através da utilização crônica de drogas antimuscarí-
nicas (Shiromani e col., 1987), sugerindo-se a implicação de
mecanismos colinérgicos nas alterações de sono e temperatura
observadas nas desordens afetivas.
As drogas antimuscarínicas são drogas euforiantes, que
causam ativação comportamentai e aumento na atividade motora,
tendo utilidade no tratamento da depressão, que tem como princi
pais sintomas, alterações de humor e lentidão psicomotora
(Meyers e col., 1964; Kaminer e col., 1982; Overstreet e col.,
1988).
Kelwala,1984, registrou que pacientes deprimidos exi
biam uma miose, causada pela pilocarpina significativamente,maior
que os indivíduos normais, conhecendo-se bem atualmente na li
teratura um aumento na sensibilidade de drogas agonistas coli-
nérgicas em pacientes com desordens afetivas (Overstreet e col.,
1988)
Dilsaver, 1986a, também registrou que o uso prolongado
e a suspensão do tratamento com drogas antimuscarínicas, produz o
aparecimento de sintomas relacionados com a depressão, causados
por uma supersensibilidade compensatória do sistema colinérgico.
Através da análise destes estudos pode-se sugerir a partici
pação do sistema colinérgico, mediante uma supersensibilida
de pós-sináptica, na patofisiolog^a da depressão, e, inversamente
na patofisiologia da mania.
32
As hipóteses relacionadas com alterações colinérgicas
também ten sido utilizadas cono base teórica para as pesquisas de
desordens cognitivas como alterações de memória, observadas na
Doença de Alzheimer, Hal de Parkinson. Doença de Huntington, Sin-
drone de Down e Denência alcoólica (Perry, 1986; Perry e col,
1986; Robbins e Everitt, 1987).Tais hipóteses estão relacionadas
principalnente às alterações registradas nestas doenças nas vias
colinérgicas do cérebro anterior (principalnente no hipocanpo),
região anatômica que desenpenha inportante papel na nenória e
aprendizado (Davis e col. , 1983; Uenk e col., 1987).
Perry e col, 1986, através da utilização de técnicas de
radioligandos e dosagens bioquímicas, examinaram os receptores
colinérgicos do hipocampo, obtidos de autópsia de indivíduos com
desordens cognitivas, e os níveis enzimáticos de AchE e ChAT.
Os autores registraram diminuição significativa nos níveis da
AchE e ChAT na Doença de Alzheimer , Mal de Parkinson,
Síndrome de Down e Demência Alcoólica. Em relação aos recep
tores, observaram uma diminuição significativa nos subtipos
de receptores muscarinicos Ml e M2, na Doença de Alzheimer.
A ligação aos receptores apresentou-se significativamente di
minuída na Doença de Alzeimer , Mal de Parkinson, e na Síndrome
de Down, e normal na Doença de Huntington e na Demência
Alcoólica. Esses resultados evidenciam o envolvimento do sistema
colinérgico central na patologia das desordens cognitivas.
33
1.3 FUNÇÃO TIREOIDEANA E NEUROTRANSMISSORES
A literatura apresenta vários trabalhoB correlacionan
do alterações na função tireoideana com distúrbios neurológicos
e psiquiátricos (Prange e col., 1974; Joffe e col., 1985.
Orenstein e col., 1988). Dentre esses estudos, destaca-se una
área de investigação sobre tireóide e comportamento, que procura
avaliar possíveis ações nos neurotransmissores centrais e perifé
ricos induzidas pela manipulação experimental dos níveis séricos
de T3 e T4. Alguns autores tem investigado a ação dos hormônios
tireoideanos sobre neurotransmissores como a dopamina, a seroto-
nina, a noradrenalina, e com menos ênfase a acetilcolina.
No sistema dopaminérgico as conclusões são controver
sas, pois enquanto o trabalho inicial de Klawans e col. (1974)
descreve aumento na resposta de estereotipia induzida pela apo-
morfina em cobaias hipertireoideas e diminuição na resposta a
anfetamina em animais hipotireoideos, Strombom e col. (1977)
observaram diminuição na resposta esteriotipada em animais
hipertireoideos, tratados com apomorfina, o que sugere, ao con-
tario dos resultados de Klawans e col., uma hiposensibilidade de
receptores dopaminérgicos centrais, entre outras hipóteses. Dados
de Atterwill (1981), estudando a catalepsia induzida pelo halo-
peridol, bem como a estereotipia provocada pela apomorfina em a-
nimais cronicamente tratados com T3, registraram respectivamente
aumento e diminuição desses efeitos, o que parece fortalecer a
34
hipótese de Strdmbom e col.(1977).
üutros estudos exploram o sistema dopaminérgico
central coso c de Overstreet e col. (1984), Croocker e col.
(1986); Cameron e Croocker (1987) e Croocker e Cameron (1988),
que registrara» que o hipotireoidisno provocado por dietas
deficientes em iodo. provoca aumento das respostas mediadas por
receptores dopaminérgicos niqroestriatais e mesolímbicos.
Singhal e col. (1975) sugeriram que a síntese e o
"turnover" da 5-hidroxitriptamina estão aumentados no hiper e
diminuidos no hipotireoidismo. Vaccari (1982), utilizando uma
droga antitireóidea, o metimazol, descreveu em ratos neonatos uma
hiposensibilidade serotoninérgica. Já o aumento das respostas a
agonistas serotoninérgicos em animais hipertireoideos, levou
Atterwill (1981) a sugerir hipersensibi1 idade serotoninérgica
nos mesmos. Da mesma forma, Brochet e col., 1985 e Martin e col,
1989, observaram aumento no número de "head twich" induzidos em
ratos por 5-HTP e pargilina. Dados de Oliveira e col.,
(1987), no entanto, estudando os efeitos da quipazina, um aço-
nista serotoninérgico e do L-triptofano, não confirmam os dados
desses autores, e sugerem um aumento do "turnover" da serotonina
com diminuição na sensibilidade dos receptores serotoninérgicos.
Nos sistemas adrenérgicos. Heal e col. (1987) descre
veram que o hipotireoidismo produz uma redução nos níveis de
receptores £ e«(2 cerebrais, enquanto que o hipertireoidismo ,
produziria aumento nos receptores p no estriado. Hawthorn e col.,
35
(1988). estudando a influência doa hormOnios tireoideanos so
bre receptores adrenérgicos de ventrículo cardíaco , registraram
que o T4 provocou aumento na densidade de receptores .p-adrenér-
gicos, bem como na densidade dos canais de cálcio. Estudos em
membranas de fígado de rato (Sulakhi e Wilson, 1988), demonstra
ram que o hipotireoidismo induzido por drogas, resultou em
redução de 64 e 54t nos níveis de receptores cw 1 e oc2 adrenér
gicos respectivamente, sendo esta redução restaurada pela repo
sição de T4.
Um dos sistemas de neurotransmissores pouco estudado
nos casos de hipo e hipertireoidismo experimental, é o sistema
colinérgico, objetivo principal de investigação do presente tra
balho.
A identificação das principais vias colinérgicas no
SNC demonstrou definitivamente o envolvimento dos sistemas coli-
nérgicos em diversos padrões fisiológicos e comportamentais, como
nos mecanismos do sono REM (Shiromani e col.,1987); nas crises
epileptiformes (Karczmar e Dun, 1982); nos mecanismos de memória
e aprendizado (Bartus e col., 1982); na atividade motora (Martin
ecol., 1981; Majocha e Baldessarini, 1984); na catalepsia (Baez e
col., 1976; Klemm, 1983); no tremor (Martin e col.,1984), na
agressividade (Gianatsus e Lal, 1977) e nos mecanismos de contro
le da temperatura corporal (Saxema e col., 1984). Como já foi
descrito anteriomente, os estados alterados da tireóide, tanto
hipo como hipertireoidismo, são comumente acompanhados de alte-
36
rações no sistema nervoso, que se manifestam através de sintomas
controlados por vias, nas quais é reconhecido o envolvimento da
Ach. Da mesma for*a alterações fisiológicas a nível periférico,
observadas nos eBtados de disfunção tireoideana,como por exemplo,
desordens na motilidade gastrointestinal, embora de etiologia
desconhecida, são controladas por vias colinérgicas. Estas
evidências apontam portanto para uma correlação entre as dis-
funções na função tireoideana e possíveis alterações na atividade
dos sistemas colinérgicos centrais e periféricos. Entretanto na
literatura não se tem resultados bem definidos sobre a influên
cia dos hormônios tireoideanos nos diversos sistemas colinérgi
cos.
A nível periférico, Sharma e Banerjee, 1977, tentando
relacionar as anormalidades cardiovasculares observadas nas dis-
funções da tireóide, com a atividade colinérgica nas células
cardíacas, observaram uma significativa diminuição de 201 na
ligação específica do(3H]- QNB , um antagonists muscarínico,
com os receptores colinérgicos de membranas cardíacas em ratos
hipertireoideos. Por outro lado, os autores detectaram um
aumento de 60S na ligação específica da droga em ratos
tireoidectomizados, Robberecht e col, (1982) fortaleceram
estes resultados, observando que as concentrações de drogas
agonistas colinérgicas necessárias para produzir efeitos
equivalentes, são maiores nos animais hipertireoideos do que
nos animais normais.
37
Ishac e Pennefather, 1983, estudaram em ratos com hipo
e hipertireoidiamo experimental,as influências dos hormônios ti-
reoideanos nas restjstas cronotrópica e inotropics negativas, me
diadas por receptores muscarímcos cardíacos, e induzidas pe1.a
metacolina e carbacol respectivamente. Os autores observaram que
o efeito das drogas foi significativamente menor nos grupos hi-
pertireoideos, descrevendo ainda no mesmo estudo, que a afinida
de dos receptores muscarínicos atriais para a atropma, não ha
via sido alterada.
Os resultados destes três estudos contrastam, entre
tanto, com os resultados obtidos por Kastrup e Christensen, 1984,
que não observaram nenhuma alteração na densidade e afinidade em
homogeneizados cardíacos de ratos hipo e hipertireoideos.
Gaginella e col. (1981), estudaram a ligação de (3H)-QNB a ho-
mogenados de íleo e músculo colSnico obtidos de ratos hipo e
hipertireoideos, bem como, a força de contração destas prepara
ções ao betanecol. Os autores não registraram diferenças na
resposta funcional dos tecidos, nem na densidade e afinidade
dos receptores, entre os grupos experimentais utilizados. Nesse
mesmo sentido Pointon e Banerjee, 1979, também não detectaram
alterações nos receptores muscarínicos de glândulas submaxilares
de ratos tireoidectomizados.
Shainberg e col.(1983), examinaram o papel dos hor
mônios tireoideanos a nível de receptores colinérgicos, em
culturas de musculo esquelético de rato. Os autores registraram
as
que, após dois dias de adição de T3 ao Meio de cultura, havia
usa redução significativa de receptores colinérgicos, detectada
através de medidas auto-radiográficas e de e.tudos funcionais,
feitos mediante registro da estimulação de captação de Na*e
Ca*pelo carbacol. Os autores registraram ainda que nas células
tratadas com T4 a taxa de degradação dos receptores permanecia
inalterada, enquanto que a taxa de formação de novos recep
tores era cerca de 30* menor.
A nível central, Kastrup e Christensen.1984, estudaram
a ligação de (3H)-QNB a homoaenados cerebrais de ratos hipo e
hipertireoideos, não obtendo valores diferentes na densidade e
afinidade dos receptores muscarínicos, entre os grupos experi
mentais. Outros trabalhos, no entanto, parecem sugerir que os
hormônios tireoideanos afetam os neurônios colinérgicos
centrais. Massol e col. (1989) observaram que o tratamento com T3
por período de 3 dias, antagonizava o efeito de hipotermia causa
do pela oxotremorina. Segundo Valcana, (1971), Kojima e col.
(1981); Kalaria e Prince (1985) e Chacon e col. (1986) a
deficiência tireoideana está associada com uma redução na
atividade da enzima ChAT, em várias áreas cerebrais de
animais experimentais.
Deste modo, os trabalhos sobre a funcionalidade de
receptores colinérgicos centrais e periféricos apresentam muitas
vezes, resultados controversos na literatura, havendo inúmeras
possibilidades de estudo, inclusive com observações comportamen-
M
tais sob influência de agonistas colinérgicos. ainda pouco ex
ploradas. O presente trabalho visa realizar exatamente uma inves
tigação sobre parte desse campo até agora inexplorado e que
parece tão relevante do ponto de vista do conhecimento do SNC e
das suas possíveis implicações terapêuticas.
1.4 OBJETIVOS
Este trabalho objetiva, o estudo •*diante observa
ções coaportasentais. fisiológicas e bioquisicas. da atividade
colinérgica central e periférica de ratos cos hipertireoidisao
experimental induzido por T3, es diferentes doses e por dife
rentes períodos de tratasento.
A atividade colinérgica central é estudada indireta-
sente, pelas alterações nas respostas farsacológicas provocadas
pelos agonistas colinérgicos. pilocarpina.oxotresorina e eserina,
es anisais controle e COB diversos níveis de hipertireoidisso
experisentai. A crosodacriorréia é utilizada para avaliar a ati
vidade colinérgica periférica.
O presente trabalho abrange tasbés o estudo da ativi
dade enzisatica da AchE.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 ANIMAIS
Foram utilizados ratos machos "Wistar" de 3 meses de
idade, pesando entre 220 a 320 gramas e provenientes do biotério
do setor de Psicobiologia, Departamento de Farmacologia e Psico-
biologia, do Instituto de Biologia da ÜERJ. Durante o período
experimental os animais foram mantidos à temperatura de 23 + 1 C;
tendo livre acesso a água e ração, exceto quando dos experimen
tos.
2.2 CICLO DE LUZ
Os animais foram mantidos em ciclo de luz claro-escuro,
normal ou invertido, de 12/12 horas, controlado por comutador
elétrico automático "Dimep". Nos experimentos feitos com ciclo
de luz normal, a fase clara era de 6:00 às 18:00 h, enquanto que
nos experimentos desenvolvidos em ciclo de luz invertido, a
fase clara era de 18:00 às 6:00 h. A inversão do ciclo era
obtida mediante adiantamento de oito horas da fase clara, feito
progressivamente, durante três dias. Após a inversão, os ratos
permaneciam em fase de adaptação,por quinze dias, após os quais
iniciava-se a fase de tratamento com o T3. A administração de T3
42
e as observações experimentais eram feitas, no ciclo de luz
invertido, mediante auxílio de lâmpadas vermelhas, recomendáveis
para a observação comportamentai em estudo.
2.3 ADMINISTRAÇÃO DE TRIIODOTIRONINA
Os animais foram injetados diariamente com triiodoti-
ronina sódica, proveniente dos laboratórios Smith Kline e Enila,
por períodos que variaram de 1, 5, 10 e 20 dias.O T3 foi adminis
trado por via s.c. nas doses de 12,5; 25; 50 e 100 ug/kg de
peso corporal. As soluções de T3 eram preparadas de 5 em 5
dias, através de dissolução em NaOH 0,02 N (Strõmbom e col.,
1977) e mantidas em geladeira à temperatura de 4*C, de onde
eram retiradas uma hora antes da administração aos animais, rea
lizada sempre em torno das 13:00 horas do dia.
Os grupos controles receberam injeções s.c. de veículo
(NaOH 0,02 N) diariamente, pelos mesmos períodos de tempo e no
mesmo volume.
2.4 CONTROLE DO HIPERTIREOIDISMO EXPERIMENTAL
O controle da ação hormonal sobre o organismo dos a-
nimais foi realizado em todos os experimentos, pelas alterações
de peso corporal dos ratos. Além desse controle, nos experimentos
43
de temperatura, foi possível utilizar a temperatura basal dos
animais como parâmetro de controle da ação hormonal, em função
do conhecido efeito de hipertemia causado pelo T3 (Smith e
Edelman , 1979). Procedeu-se também à dosagem dos níveis séricos
de T3.
2.4.1 Controle do peso corporal
Os animais eram pesados diariamente em balanças Fili-
zola. Tipo L, carga máxima de 2.000g, imediatamente antes da
administração de veículo e T3, bem como um dia após as últimas
administrações e antes da injeção de drogas colinérgicas.
2.4.2 Temperatura basal
Era obtida através do uso de termômetro clínico, con
forme descrição detalhada mais adiante, um dia após a última
administração de veículo e T3 e imediatamente antes da adminis
tração das drogas colinérgicas.
2.4.3 Dosagem sérica de T3
Foram utilizados onze grupos de nove ratos cada. Cinco
grupos receberam respectivamente veículo, 12,5; 25; 50 e 100
ug/kg de T3, por um período de 10 dias, enquanto outros quatro
grupos receberam o mesmo tratamento com T3 por período de 5 dias.
Os dois grupos restantes receberam respectivamente veículo e
44
100 ug/kg de T3 em administrações únicas.
Após 24 horas da última injeção, os animais eram anes
tesiados com éter etílico (Merck) e o coração exposto, mediante
abertura da caixa toráxica, sendo o sangue tirado por punção car
díaca. 0 sangue coletado era então centrifugado por 15 minutos em
centrífuga Fanem 125,a 2.500 rpm. Após a centrifugação o soro era
separado e armazenado em freezer a -20IC , sendo posteriormente
utilizado para dosagem por radioimunoensaio de T3 (Russo e col. ,
1982).
2.5 DROGAS COLINÉRGICAS
Foram utilizadas as seguintes drogas com ação colinér-
gica:
1. Pilocarpina, cloridrato; agonista colinérgico musca-
rínico (Taylor, 1985a; Palácios e Spiegel, 1986).
2. Oxotremorina; agonista colinérgico muscarínico (Marks e
col., 1981; Palácios e Spiegel, 1986).
3. Eserina, sulfato; inibidor reversível da acetilcolineste-
rase (Taylor, 1985b).
Todas as drogas colinérgicas citadas acima eram prove
nientes da Sigma Chemical Company e foram preparadas mediante
45
dissolução est água destilada, imediatamente antes do momento de
injeção. As administrações foram feitas por via í.p. no volume de
1 ml/kg de peso corporal, um dia após a última injeção de T3.
2.6 PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE COLINÉRGICA MUSCARÍ-
NICA
2.6.1 Temperatura retal
Era obtida através do uso de um termômetro clinico,
previamente embebido em vaselina líquida e introduzido cerca de
5 cm na cavidade retal dos ratos, durante 1 minuto.As observações
foram feitas HO tempo 0 (temperatura basal) e aos 20 e 60 minutos
após administração da droga.
2.6.2 Locomoção espontânea
Utilizaram-se caixas de observação de atividade motora
espontânea de dimensões 36 x 36 x 36 cm, cujo fundo é dividido em
9 quadrados de 12 cm de lado. Sendo a locomoção registrada com o
auxílio de contadores manuais, tipo Adams. Registrava-se um movi
mento no contador, quando o animal colocava as patas dianteiras
em um quadrado. As observações foram feitas dos 5 aos 10 minutos
após administração da droga.
46
2.6.3 Catalepsia
Utilizaram-se plataformas de medida de catalepsia,
qu*> consistia» de bastões de madeira de 0,5 en de wiametro.
fixados en suportes de Madeira, de dimensões 10 x 2 x 10 cm e
distanciados de 10 cm. Nestas plataformas o animal é apoiado no
bastão pelas patas dianteiras e aciona-se um cronômetro, que é
desligado quando o animal retira as patas do bastão. O tempo
total de catalepsia obtinha-se após duas tentativas de recoloca-
ção do animal no bastão. As observações foram feitas dos 10 aos
15 minutos após administração da droga.
2.6.4 Tremor
A observação foi feita em gaiolas de arame de dimen
sões 30 x 16 x 20 cm. A latência (tempo de aparecimento do pri
meiro tremor) foi registrada através do uso de um cronometro,
acionado imediatamente após a injeção da droga. A intensidade do
tremor foi medida de 5 a 10 minutos posteriores à administração
da droga, sendo quantificado em graus mediante a seguinte escala
de avaliação (reproduzida e adaptada de Weinstock e col., 1978):
grau 0 - nenhum tremor.
grau 1 - contrações musculares ocasionais ou tremor
leve.
grau 2 - tremor intermitente moderado.
grau 3 - tremor intermitente intenso.
47
grau 4 - tremor intenso contínuo do corpo e membros,
grau 5 - tremor muito intenso contínuo, patas caí
das, abalos, animal deitado de lado.
2.6.5 Cromodacriorréia (lacrimejamento vermelho)
Observou-se aos 20 minutos posteriores à administração
da droga. A intensidade de lacrimejamento foi quantificada em
graus,segundo a escala de avaliação desenvolvida durante a reali
zação deste trabalho :
grau 0 - ausência de lacrimejamento nos dois olhos,
grau 1 - presença de lacrimejamento pouco intenso em
um olho.
grau 2 - presença de lacrimejamento pouco intenso nos
dois olhos,
grau 3 - presença de lacrimejamento intenso em um
olho e pouco intenso no outro,
grau 4 - presença de lacrimejamento intenso nos dois
olhos.
Os parâmetros de 1 a 4 são considerados de avaliação
da atividade colinérgica muscarínica central ( Palácios e
Spiegel, 1986; Greden e Carrol, 1981; Greden e col., 1981;
Gothoni e col., 1981; MarkB e col., 1981; Klemm, 1983). Enquanto
que a cromodacriorréia é considerada resultante da atividade mus
carínica periférica (Santos e Carlini, 1988).
48
2.7 EXPERIMENTOS
Os anuais foram divididos em diversos grupos nos
quaip variou-se a dose e o tempo de tratamento com o T3. A~ doses
do hormônio variaram entre 12.5 e 100 ug/kg, sendo que a variação
no tempo de tratamento ficou entre 1 e 20 dias de administrações
diárias consecutivas. Um dia após a última injeção de veículo ou
hormônio, injetou-se a droga colinérgica em estudo e procedeu-se
a observação experimental dos parâmetros de temperatura retal.a-
tividade motora espontânea, catalepsia. e tremor, bem como da
cromodacriorréia ou lacrimejamento vermelho. O esquema geral dos
experimentos com drogas é apresentado a seguir:
Tratamento com T3 (doses de 0 a 100 ug/kg)
> injeção de drogas > observações Tempo de administração colinérgicas experimentais
(1 a 20 dias)
2.7.1 Experimentos com a pilocarpina
Todos os experimentos que utilizaram o agonista coli-
ntfrgico pilocarpina foram realizados em ciclo de luz invertido,
como descrito anteriormente.
Experimento 1
Foram utilizados doze grupos de dez ratos; destes,dois
49
grupos receberam respectivamente veículo e " 100 ug/kg de T3 em
administrações únicas; cinco grupos receberam respectivamente
veículo, 12,5; 25; 50 e 100 ug/kg de T3 por '5 dias consecutivos e
outros cinco grupos receberam o mesmo tratamento por período de
10 dias. Um dia após a última injeção, o animal recebia injeção
i.p. de 10 mg/kg de pilocarpina. A seguir registrava-se tempe
ratura, locomoção espontânea, tempo de 'catalepsia e ocorrência de
lacrimejamento.
Experimento 2
Utilizaram-se dois grupos de trinta ratos, injetados
respectivamente com veículo e 100 ug/kg de T3, por período de 10
dias consecutivos. Um dia após a última injeção, os dois grupos
foram subdivididos em seis grupos de dez ratos, recebendo cada
dois subgrupos (veículo e T3) respectivamente 5, 10 e 20 mg/kg de
pilocarpina, i.p.. Registraram-se então os parâmetros temperatu
ra, locomoção espontânea, tempo de catalepsia e cromodacriorréia.
2.7.2 Experimentos com a óxotremorina
Experimento 3
Foram utilizados dezessete grupos de dez ratos; destes
dois grupos receberam respectivamente veículo e 100 ug/kg de T3
60
em administrações únicas; cinco grupos receberam respectivamente
veículo. 12,5; 25; 50 e 100 ug/kg de T3 por 5 dias consecutivos e
mais cinco grupos receberam o mesmo tratamento por período de 10
dias. Um dia após a última injeção o animal recebia injeção í.p.
de 0,5 mg/kg de oxotremorina. A seguir registrou-se temperatura,
locomoção espontânea, tempo de catalepsia e cromodacriorréia.
Outros cinco grupos receberam o mesmo tratamento, pelo mesmo
período de tempo, sendo que após a administração de oxotremorina,
observou-se o parâmetro tremor, mediante quantificação em graus.
Experimento 4
Foram utilizados seis grupos de trinta ratos; destes,
dois grupos foram injetados respectivamente com veículo e
100 ug/kg de T3 por período de 10 dias consecutivos. Um dia após
a última injeção os grupos foram divididos em subgrupos de dez
ratos, recebendo cada dois subgrupos (veículo e T3) respecti
vamente 0,25; 0,5 e 1,0 mg/kg de oxotremorina, i.p.. Os parâme
tros observados foram temperatura, locomoção espontânea, tempo
de catalepsia e cromodacriorréia. Outros dois grupos receberam o
mesmo tratamento pelo mesmo período de tempo, sendo que após a
administração das várias doses de oxotremorina, observou-se o
parâmetro tremer mediante quantificação em graus. Mais dois
grupos de trinta ratos receberam respectivamente veículo e 100
ug/kg de T3, por período de 20 dias consecutivos. Da mesma
61
forma, um dia após a última injeção os dois grupos foram dividi
dos em subgrupos de dez ratos, recebendo cada dois subgrupos
(veículo e T3) respectivamente 0,25; 0,5 e 1,0 mg/kg de
oxotremorina registrando-se latência e graus de tremor.
2.7.3 Experimentos com a eserina
Experimento 5
Utilizaram-se dezessete grupos de dez ratos; destes,
dois grupos receberam respectivamente veículo, 12,5; 25; 50 e
100 ug/kg de T3 por 5 dias consecutivos, enquanto mais cinco
grupos receberam o mesmo tratamento por período de 10 dias. Um
dia após a última injeção o animal recebia ,i.p.. 0,5 mg/kg de
eserina, e registrava-se temperatura, locomoção espontânea,
tempo de catalepsia e cromodacriorréia. Outros cinco grupos
receberam o mesmo tratamento pelo mesmo período de tempo, sendo
que após a administração de eserina o parâmetro observado
foi tremor, mediante quantificação em graus.
52
2.7.4 Determinação de atividade da AchE em homogenei
zado cerebral
Ex* erimento 6
Para a determinação da atividade da enzima AchE em ho
mogeneizado de cérebro foram utilizados sessenta ratos, divididos
em grupos de doze, que receberam respectivamente veículo, 12,5;
25; 50 e 100 ug/kg de T3, por período de 10 dias.
Após 24 horas da última injeção de T3 os animais eram
sacrificados através de descerebração, o sangue retirado por pun-
ção cardíaca e os cérebros retirados mediante abertura da caixa
craniana. Os cérebros de cada grupo experimental eram então divi
didos em quatro amostras (três cérebros por amostra) e as amos
tras estocadas a - 20 «C em freezer para posterior dosagem.
Quando da retirada das amostras do freezer os cérebros
eram secos em papel absorvente e cada amostra pesada separada
mente. Os cérebros de cada amostra eram picados com tesoura,
acrescentando-se água destilada no volume de 5,6 ml para cada
grama de peso de cérebro. Seguia-se a homogeneização do material
em aparelho tipo "Potter" por dois minutos. Do homogeneizado ob
tido de cada amostra, retirava-se alíquota de 0,1 ml efetuava-se
uma diluição de 1:10 com água destilada, procedendo-se então à
dosagem de proteína total pelo método de Foi in (Lowry e col.,
1951). Desde a retirada dos cérebros do freezer todos os procedi
mentos subsequentes foram efetuados com temperatura variando
53
entre O e 5«C.
Após as dosagens de proteína total das amostras, ini
ciar am-se as dosagens da enzima AchE, através do método de Ellman
e col. (1961). Este método baseia-se na reação entre a enzima
AchE e o substrato iodeto de acetiltiocolina (Sigma Chemical
Company), composto sintético de estrutura química análoga a
acetilcolina, diferindo pela presença de 1 átomo de enxofre em
sua molécula. A AchE em reação com a acetiltiocolina promove uma
hidrólise, formando tiocolina e ácido acético. A tiocolina na
presença do ácido 5,5 ditiobis-2-nitrobenzóico (DTNB, Sigma
Chemical Company) reage formando um composto de cor amarela.
Para cada amostra colocava-se em uma cubeta, um volume
de homogeneizado diluído, que contivesse 0,55 mg de proteína.
A seguir acrescentava-se tampão fosfato de sódio 0,1 M, pH 7,2
contendo glicerol a 201, em quantidade suficiente para elevar o
volume final a 3,0 ml, 0,1 ml de solução de DTNB 0,01 M e para
dar início à reação 0,05 ml de solução iodeto de acetiltiocolina
0,075 M. 0 aumento de absorbância era então registrado em espec-
tofotOmetro de duplo feixe digital Beckman, modelo 25, acoplado
a registrador automático Beckman a 412 nm, contra uma cubeta
"branco" contendo todos os reagenteB menos o iodeto de acetiltio
colina. A curva padrão de tiocolina foi obtida através da reação
de acetíltiocolina, com homogeneizado cerebral por período de
tempo suficiente para a total metabolização da acetiltiocolina. A
relação entre as concentrações de proteínas e acetiltiocolina, e
64
o pH ideal da reaçlo fora* obtidos e adaptados de Bastos e col..
(1988) .
2.S ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados de peso corporal, temperatura, catalep-
sia. latência de tremor e níveis séricos de T3, fora» analisados
comparando-se os grupos controle co» os grupos pré-tratados COB
T3. mediante utilização do teste t de Student, bicaudal.
Os parâmetros locomoção espontânea, graus de tremor e
graus de lacrimejamento. foram analisados através de comparações
entre grupos controle e pré-tratados com T3, pelo emprego do
teste de Mann Whitney.
65
3. RESULTADOS
3.1 CONTROLE DO HIPERTIREOIDISMO EXPERIMENTAL
A variação de peso corporal durante os períodos de 10
a 20 dias de pré-tratamento com T3 está representada na Figura 2
e Tabela I, respectivamente.
Podemos observar na Figura 2 que todos os grupos apre
sentavam peso equivalente, quando iniciavam o pré-tratamento com
o hormônio. No decorrer de 10 dias de pré-tratamento com T3, re
gistrámos que a curva ponderai no grupo controle mostrou ten
dência ascendente, enquanto que os grupos T3-25, 50 e 100,
mostraram queda de peso, ficando o grupo T3-12.5 numa posição
intermediária, com peso médio aproximadamente estável durante os
11 dias de observação. A Figura 2 evidencia também uma clara
relação entre dose de T3 e tempo de pré-tratamento com perda de
peso, sendo as quedas ponderais maiores para as maiores
doses de T3 e os maiores tempos de pré-tratamento. Assim, para
a dose de 100 ug/kg de T3, já a partir do sexto dia de
tratamento, ocorre uma diferença significativa em relação ao
peso do grupo controle, o que só se evidencia no grupo T3 50, a
partir do décimo primeiro dia de observação.
Na Tabela I observa-se que,do mesmo modo que na Figura
2, o grupo controle apresenta aumento significativo de peso
TEMPO (Cflas)
Figura 2: Variação de peso (T ± EP) durante 10 dias de administração de
0 (O—O), 12.5 (•—•), 25 U-^à), 50 (»—•) e 100 (+-+) pg/kg
de T3. A seta indica o Ultimo dia de administração. Os asteris
cos indicam diferenças estatisticamente significativas entre
o grupo controle e os grupos que receberam T3, sendo * p^0,04
e ** p^0,01.
57
TABELA I: Variação de peso (Xi EP) durante 20 dias de administração de veículo e 100 ug/kg de T3.
Peso (g) Tempo de pré-tratamento
(dias) Controle 100 ug/kg
1 222,5 • 22,3 217.7 • 25,4
* 5 225,3 • 22,0 209,3 • 23,5
* 10 227,5 • 21,8 203,3 • 22,8
** 20 238,3 • 23,8 195,0 t 22,1
Os asteriscos indicam as diferenças estatisticamente significativas entre o grupo controle e experimental, sendo * P^0,01 e ** p<0,001.
(P^0,01), enquanto o contrário é observado no grupo pré-tratado
por 20 dias com 100 ug/kg de T3,com queda ponderai significativa
já a partir do quarto dia (p<0,04).
Todos os grupos experimentais tiveram seu peso contro
lado e seguiram os padrões descritos na Figura 2 e Tabela I.
50
A Tabela II registra as temperaturas basais de ratos
pré-tratados com veículo e várias doses de T3, por diferentes
períodos de tempo, nos ciclos de luz normal e invertido. Como
pode-se observar, o pré-tratamento com T3 "per se", aumentou
signifítivamente a temperatura nos animais injetados com a maior
dose de T3, nos períodos de 1, 5 e 10 dias, cem exceção dos
animais pré-tratados por 5 dias em ciclo de luz invertido. Este
aumento de temperatura torna-se também significativo para as
menores doses de T3, na medida em que aumenta o período de
pré-tratamento.
Na tabela III estão registrados os níveis séricos de
T3 vinte e quatro horas após a última injeção do hormônio em
administrações "agudas" (1 dia) e crônicas (5 e 10 dias). Podemos
observar que vinte e quatro horas após administração "aguda" de
100 ug/kg de T3, os níveis séricos estão significativamente au
mentados em relação ao grupo controle. Após a administração de
várias doses de T3 por 5 e 10 dias, observamos que os animais que
receberam as doses de 50 e 100 ug/kg, também apresentaram níveis
séricos significativamente maiores que os obtidos no grupo con
trole.
19
TABELA II:Temperatura basal (X4 EP) de ratos pré-tratados por períodos de 1, 5 e 10 dias com veículo e várias doses de T3. em ciclos de luz normal e invertido.
Ciclo Tempo de Temperatura (:C) de luz pré-
tratamento (dias) Veículo T3 T3 T3 T3
12,5 25 50 lOOug/kg
*
1 38.5*0,1 38,810,1
* **
NORMAL 5 38,540,4 38,8*0,1 38,9*0,2 39,0*0,2 39,1*0,1
** * **
10 38,3*0,2 38,740,2 38,940,2 38,8*0,1 39,0*0,2
**
1 38,9*0,1 39,440,2
INVERTIDO 5 38,5*0,1 38,540,1 38,4*0,1 38,740,1 38,6*0,1
**
10 39,440,1 39,040,2 39,0*0,1 38,7*0,2 39,740,2
Os asteriscos indicam diferenças estatiticamente significativas entre o grupo controle e os grupos experimentais, sendo *(p^0,05) e **(p^0,01).
60
TABELA III: Níveis séricos de T3 ( XtEP) de ratos tratados por diferentes períodos de tempo con várias doses de T3.
Tempo de Níveis séricos de T3 ( ng/dl)
tratamento Veículo T3 T3 T3 T3 12,5 25 50 100ug/kg
*
1 20,0*1,6(9) 35,2*4,5(7)
* **
5 indct. 26,0*5.4(3) 33.6*3,3(6) 108,1*22,6(8)
* **
10 22.0*7(3) 32,0*5,4(6) 35,5*5,4(6) 78,4*10,2(9)
Os asteriscos indicam as diferenças estísticamente significativas entre o grupo controle e os grupos experimentais a *(P^0,05) e ** (p<0,002) .Os valores entre parênteses representam o número de amostras utilizadas para cada grupo. No grupo T3-12,5 tratado por 5 dias, de um total de 7 amostras, 6 foram abaixo de 20 ng/dl e 1 animal apresentou 36 ng/dl, tendo sido considerado indetectável.
61
3.2 EXPERIMENTOS COM A PILOCARPINA
Experimento l
A temperatura retal de ratos injetados com várias
doses de T3, por períodos de 1, 5 e 10 dias antes e após trata
mento com 10 mg/kg de pilocarpina, está representada na figura
3.
Como pode-se observar no gráfico à esquerda, 20 minu
tos após administração da pilocarpina, ambos os grupos, que re
ceberam veículo e 100 ug/kg de T3 em administrações únicas, 24
horas antes, apresentaram hipotermia. Aos 60 minutos, os dois
grupos acentuaram o efeito de hipotermia observado no tempo 20,
não sendo registradas diferenças estatisticamente significativas
entre os mesmos.
Após 20 minutos da administração de pilocarpina, nos
grupos tratados com várias doses de T3, por período de 5 dias,
ocorreu hipotermia em todos os grupos experimentais, com exceção
do grupo tratado com a maior dose de T3, que, ao contrário, apre
sentou hipertemia, como pode ser observado no gráfico central. Na
mesma figura observa-se que o efeito de hipotermia da pilocarpina
foi menor, para os grupos que receberam as maiores doses de T3.
Em relação ao grupo controle, todos os grupos que receberam T3
apresentaram diferenças estatisticamente significativas aos 20 e
60 minutos, exceto o grupo T3-12,5 cuja temperatura aos 60 minu-
O 30 60 O 20 6 0 0 20 60
TEMPO (min)
: Temperatura r e t a l (X* ± EP), an te s (0) e após (20 e 60 minutos) adminis tração de 10 mg/kg de p i l o c a r p i n a em ratos pré-tratados por per íodo de 1 ( g r á f i c o à e squerda) , 5 ( g r á f i c o cen -t r a i ) e 10 d i a s ( g r á f i c o à d i r e i t a ) com 0 (O—O), 12 ,5 ( • — • ) , 25 (A—A) , 50 ( • — • ) e 100 ( # • ) jjg/kg de T 3 . Os a s t e r i s c o s indicam d i f e r e n ç a s e s t a t i s t i c a m e n t e i g h i f i c a t i v a s en tre o grupo c o n t r o l e e os grupos exper imenta i s , sendo * p ^ 0 , 0 2 e * * p ^ 0 , 0 0 1 .
63
tos não diferiu do controle.
Da mesma forma, nos grupos injetados por períodos de
10 dias com várias doses de T3, a pilocarpina provocou hipotermia
em todos os grupos experimentais, exceto no que recebeu 100 ug/kg
de T3, onde houve hipertermia após a injeção da droga (gráfico a
direita). Aos 60 minutos todos os grupos apresentaram acentuação
do efeito de hipotermia observado aos 20 minutos, permanecendo
as diferenças estatísticas entre os grupos tratados com T3 e
controle , sempre com o menor efeito da droga nos grupos expe
rimentais.
Na Tabela IV estão registrados os efeitos sobre a lo
comoção espontânea observados após administração de pilocarpina
em ratos previamente injetados com várias doses de T3, por pe
ríodos de 1,5 e 10 dias.
Observa-se que o efeito de hipomotilidade induzido pe
la injeção de pilocarpina é menor nos grupos que receberam T3 por
5 e 10 dias, sendo significativamente maior o número de movi
mentos apresentados para os grupos experimentais com 5 dias de
tratamento prévio com T3.
O tempo de catalepsia registrado 10 a 15 minutos após
administração de pilocarpina em ratos previamente tratados por
períodos de 1, 5 e 10 dias com várias doses de T3, está regis
trado na figura 4.
Nos três períodos de tratamento os grupos tratados com
T3 apresentaram, de um modo geral, menor tempo de catalepsia, en-
64
TABELA IV: Locomoção espontânea após administração de 10 mg/kg de pilocarpina em ratos previamente tratados com várias doses de T3, por diversos períodos de tempo.
Nt de movimentos (Md) Tempo de pré-tratamento
(dias) Veículo T3 T3 T3 T3 12,5 25 50 lOOug/kg
1 4,5 4.5 * ** * **
5 1.5 4.5 10 9,5 11.5
10 5 8 7 5.5 10
Os asteriscos indicam diferenças estatisticamente significativas entre o grupo controle e os grupos experimentais,sendo Mp^O.Ol) e **(p^0,001).
tretanto, esse menor efeito só é estatisticamente significativo
para o grupo previamente tratado, por período de 10 dias com
100 ug/kg de T3.
Não se observaram diferenças estatísticas entre os
grupos tratados com T3 e controle, em relação ao parâmetro cromo-
dacriorréia, como pode ser visto na tabela V.
Experimento 2
Conforme podemos observar na figura 5, as três doses
de pilocarpina, provocaram hipotermia nos grupos controle, no
100 —,
I K ao
1 goo 4
ü? 40 -
20
0 -J
i " " i r .&412L
C 100
•a mmm^^—^^JjUmBB^m^^Ê—mmmimm
OttjB 26 80100 I 0 002550*»
DOSEDETa Ujg/kg)
Figura 4: Tempo de catalepsia (Y ± EP) de ratos previamente tratados por
período de 1 (gráfico á esquerda), 5 (gráfico central) e 10 dias
(gráfico à direita) com 0 ( D ) , 12,5 ( D ), 25 ( H >> 50
( S ) e 100 ( • ) )ig/kg de T3, após administração de 10 mg/kg
de pilocarpina. 0 asterisco indica diferença estatisticamente
significativa a p^0,01.
66
TABELA V: Indução de lacriroejamento por 10 mg/kg de pilocarpina. em ratos previamente tratados por diversos períodos de tempo, com veículo e várias doses de T3.
Graus de lacrimejamento (Md) Tempo de pré-tratamento
(dias) Veículo T3 T3 T3 T3 12.5 25 50 100 ug/kg
1 1 --- — --- 2
5 1 1.5 1.5 1 1
10 1.5 1 2 2 1,5
tempo 20, quando comparados ao tempo 0 (basal). Essa diminuição
não ocorreu aos 20 minutos nos grupos que receberam previamente o
T3 e tratados com as mesmas doses, ao contrário, ocorrendo hiper-
termia nesses grupos . Deste modo as diferenças de temperatura
entre os grupos tratados com T3 e os respectivos controles,
aos 20 minutos, foram sempre estatisticamente significativas.
Aos 60 minutos nos grupos controle, houve acentuação do efeito
de hipotermia, exceto no grupo que recebeu a menor dose de pilo-
carpina, onde a temperatura manteve-se estável em relação ao
tempo 20. Nos grupos tratados com T3, com 60 minutos, ocorreu uma
tendência da temperatura retornar aos níveis basais, com exceção
do grupo que recebeu a maior dose de pilocarpina, que continuou
apresentando aumento de temperatura. Aos 60 minutos, as diferen
ças de temperatura existentes entre os grupos controle e tratados
42
< DC
I 39
38
I 1 " 1 0 20 00
TEMPO (min)
Figura 5: Temperatura retal (x ± EP) de ratos pré-tratados por
período de 10 dias com 0 e 100 pg/kg de T3,antes
(0) e após (20 e 60 minutos) administração de 5
(O- controle, #- T3 100 ug/kg), 10 (A,A) e 20
(D,B) mg/kg de pilocarpina. Os asteriscos indi
cam diferenças estatísticas entre o grupo contra
le e o grupo experimental, sendo *p^0.01 e **p
£0.001.
68
COB T3, permanecera» estatisticamente significativas.
O resultado da administração de diferentes "*oses de
pilocarpina sobre a locomoção de ratos tratados com 0 e 100 ug/kg
de T3. por período de 10 dias, está representado na Tabela VI.
TABELA VI: Locomoção espontânea após administração de diferentes doses de pilocarpina. em ratos previamente tratados (10 dias) com veículo e 100 ug/kg de T3.
Nt de movimentos (Md) Dose (mg/kg) Controle T3 100 ug/kg
*
13
10 5 10
20
O asterisco indica a diferença estatisticamente significativa entre o grupo controle e os grupos experimentais a P£0.01.
Observa-se que, 5 a 10 minutos apds administração de
várias doses de pilocarpina, todos os grupos tratados com T3, a-
presentaram um menor efeito de hipomotilidade, quando comparados
com o respectivo grupo controle, embora a diferença só tenha sido
estatisticamente significativa para a menor dose de pilocarpina.
í I g & 2 iu
170 «_
85
0 -J
10 20
DOSE (mg/kg)
Figura 6; Tempo de catalepsia (Y ± EP), 10 a 15 minutos após
administração de diferentes doses de pilocarpina
em ratos pré-tratados por período de 10 dias com o(D)
e 100 (•) pg/kg de T3.
O tempo de catalepsia induzido pelas diferentes doses
de pilocarpina (Figura 6) não apresentou diferenças estatisti
camente significativas, guando comparados os grupos tratados
com T3 e seus respectivos controles.
Na tabela VII pode-se observar o grau de lacrimejamen-
to induzido por diferentes doses de pilocarpina em ratos tratados
com veículo e 100 ug/kg de T3, por período de 10 dias.
TABELA VII: Indução de lacrimejamento por diferentes doses de pilocarpina em ratos previamente tratados (10 dias) com veículo e 100 ug/kg de T3.
graus de lacrimejamento (Md) Dose (mg/kg) Controle T3 100 ug/kg
0,5
10 1 1,5
20 2 2,0
71
O efeito de cromadacriorréia obedeceu uma relação dose
efeito, com maior grau de secreção lacrimal para as maiores do
ses de pilocarpina. Essa relação foi observada nos grupos contro
le e tratados com T3, não sendo registradas, no entanto, diferen
ças estatísticas entre os respectivos grupos.
3.3 EXPERIMENTOS COM A OXOTREMORINA
Experimento 3
Os resultados das observações da temperatura retal de
ratos tratados por períodos de 1,5 e 10 dias com veículo e várias
doses de T3, antes e após administração de 0,5 mg/kg de oxotre-
morina, estão representados na Figura 7.
No gráfico à esquerda observamos que ambos os grupos
experimentais, que receberam veículo e 100 ug/kg de T3 em
administrações únicas, 20 minutos após administração de oxotre-
morina, apresentaram hipotermia, embora a temperatura no grupo
tratado com T3, tenha se mantido significativamente maior em
relação ao controle.
Aos 60 minutos,os dois grupos experimentais acentuaram
a hipotermia, sem ocorrência de diferenças estatisticamente sig
nificativa entre os grupos.
Após administração da oxotremorina aos grupos tratados
i , / / — i j 1 / / — i f 1 / / — |
0 20 60 0 20 60 0 20 60
TEMPO (min)
Temperatura retal (X* ± EP) antes (0) e após (20 e 60 minutos) administração de 0,5
mg/kg de oxotremorina, em ratos pré-tratados por período de 1 (gráfico à esquerda), 5
(gráfico central) e 10 dias (gráfico à direita) com 0 (O — O ) , 12,5 (•—•), 25 (A A)
50 (fi—•) e 100 (• 4») pg/kg de T3. Os astericos indicam diferenças estatístic?men
te significativas entre o grupo controle e os grupos experimentais, sendo *p^0,04
e **p<0,001.
73
com veículo e várias doses de T3 por período de 5 dias, observou-
se hipotermia em todos os grupos experimentais. Os resultados
obtidos apresentaram uma relação inversa entre dose de T3 e
efeito de hipotermia, ocorrendo uma menor hipotermia para as
maiores doses de T3. Os grupos T3-50 e 100 apresentaram dife
renças estatisticamente significativas com relação ao grupo
controle. Aos 60 minutos, todos os grupos acentuaram o efeito
observado aos 20 minutos, permanecendo c relação dose-efeito e
sendo as diferenças estatisticamente significativas entre o grupo
controle e os grupos 25, 50 e 100 ug/kg de T3.
No gráfico à direita estão registradas as temperaturas
dos ratos tratados com veículo e várias doses de T3 por período
de 10 dias. Observamos que após 20 minutas da administração da
oxotremorina ocorreu hipotermia em todos os grupos experimentais.
Para este período de tratamento as curvas de variação
de temperatura também apresentaram uma relação entre dose de T3 e
efeito de hipotermia, com maiores diminuições de temperatura nos
ratos tratados com as menores doses de T3. Em relação ao grupo
controle, apresentaram diferenças estatisticamente significativas
os grupos 25, 50 e 100 ug/kg de T3.
Os resultados da administração de 0,5 mg/kg de oxotre-
morina na atividade motora de ratos pré-tratados com veículo e
várias doses de T3, por período de 1,5 e 10 dias, estão repre
sentados na Tabela VIII.
Pode-se observar que o tratamento com T3 por período
74
TABELA VIII: Locomoção espontânea após administração de 0,5 mg/kg de oxotremorina. em ratos tratados por diversos períodos de tempo.
Ní de movimentos (Md) Tempo de pré-tratamento
(dias) Veículo T3 T3 T3 T3
12,5 25 50 100ug/kg
1 0 0
5 0 3 0 3* 3,5
10 4 4 5 15* 7
O asterísco indica uma diferença estatisticamente significativa entre o grupo controle e os grupos experimentais a p^0,05.
de 1 dia, não provocou alterações significativas na movimentação
dos dois grupos. Os grupos tratados com T3 por período de 5
dias, após administração da oxotremorina, apresentaram um maior
número de movimentos em relação ao grupo controle, sendo esse
aumento estatisticamente significativo para o grupo tratado
com 50 ug/kg de T3.
Da mesma forma, os grupos tratados coro T3 por período
de 10 dias, apresentaram um aumento no número de movimentos em
relação ao grupo que recebeu veículo, sendo o aumento significa
tivo no grupo tratado com 50 ug/kg de T3.
75
Na figura 8 aparecem representados graficamente os
períodos de catalepsia,induzidos por 0,5 mg/kg de oxotremorina em
ratos tratados por períodos de 1,5 e 10 dias com veículo e várias
doses de T3. Observamos que o período de 1 dia de tratamento com
T3 . não produziu diferenças significativas no efeito de catalep
sia produzido pela oxotremorina. Todos os grupos tratados com T3
por período de 5 dias, apresentaram diminuição no tempo de cata
lepsia em relação ao grupo controle, sendo a diminuição estatis
ticamente significativa para o grupo tratado com 25 ug/kg de T3.
A mesma diminuição foi registrada para os grupos tratados com T3
por período de 10 dias, embora não tenham sido registradas dife
renças estatisticamente significativas.
Na tabela IX, estão representados os resultados do
efeito de tremor, avaliado por sua intensidade em graus, produ
zidos por 0,5 mg/kg de oxotremorina em animais pré-tratados por
período de 10 dias com veículo e várias doses de T3.
TABELA IX: Tremor induzido pela administração de 0,5 mg/kg de oxotremorina em ratos pré-tratados durante 10 dias com várias doses de T3.
graus de tremor (Md)
Dose Veículo T3 T3 T3 T3 (mg/kg) 12,5 25 50 100ug/kg
0,5
200 _,
90
0 —I
_ixHa_ J&dltt.
0 100 0 «5 29 90100 O Q£2990«X>
DOSE OET3 (yg/kg)
Figura 8: Tempo de catalepsia (7 ± EP) de ratos previamente tratados por período de
1 (gráfico à esquerda), 5 (gráfico central) e 10 dias (gráfico à direita)
com 0 ( D >. 12,5 ( DD ), 25 ( B ). 50 ( g ) e 100 ( • ) ug/kg de T3, após
administração de 0,5 mg/kg de oxotremorina. 0 asterisco indica diferença
estatisticamente significativa entre o grupo controle e o grupo experimen
tal a p^0,01.
77
Pode-se observar que não ocorreram alterações signifi
cativas na intensidade de tremor apresentado pelos vários grupos
experimentais.
Na Tabela X, estão registrados os graus de lacrimeja
mento de ratos tratados com veículo e várias doses de T3, por pe
ríodos de 1, 5 e 10 dias, após administração de 0,5 mg/kg de oxo-
tremorina.
TABELA X: Indução de lacrimejamento por 0,5 mg/kg de oxotremori-hã, em ratos pré-tratados por diversos períodos de tempo com veículo e várias doses de T3.
graus de lacrimejamento (Md) Tempo de pré-tratamento
(dias) Veículo T3 T3 T3 T3 12,5 25 50 100ug/kg
1 1 - - - 1
5 0 0 0 1 1
10 0 0 0 0 0
Não foram observadas diferenças significativas entre o
grau de lacrimejamento dos vários grupos experimentais nos três
períodos de tratamento.
78
Experimento 4
A figura 9 nostra a temperatura de ratos pré-tratados
por período de 10 dias com 0 e 100 ug/kg de T3, antes e após
administração de diferentes doses de oxotremorina.
As três doses de oxotremorina, nos grupos controle,
provocaram hipotermia no tempo 20, quando comparados com o tempo
0. Essa diminuição de temperatura apresentou-se discreta nos ra
tos tratados com T3, com excessão do grupo que recebeu a maior
dose de oxotremorina, que manteve sua temperatura estável. As
diferenças de temperatura foram estatisticamente significativas
para todos os grupos tratados com T3, em relação aos respectivos
grupos controle.
Aos 60 minutos, todos os grupos controle mantiveram
suas temperaturas baixas, com início de recuperação em relação
ao tempo 20. Os grupos tratados com T3 continuaram apresentando
diminuição de temperatura, permanecendo as diferenças estatísti
cas entre os grupos.
Os resultados da administração de diferentes doses de
oxotremorina sobre a locomoção de ratos tratados por período de
10 dias com 0 e 100 ug/kg de T3 estão representados na tabela XI.
Observa-se que o aumento na dose de oxotremorina,
causa ume diminuição no número de movimentos dos grupos controle.
Observa-se também que os grupos tratados com T3 apresentaram
menor efeito de hipomotilidade, embora as diferenças não tenham
•1 —I
40
39
38 .
37 _
-T—
20
•/r
60
TEMPO (mm)
9: Temperatura retal (T ± EP) de ratos pré-tratados por
período de 10 dias com 0 e 100 pg/kg de T,,antes
(0) e após (20 e 60 minutos) administração de
0,25 (O-controle, #-T3 100 jjg/kg), 0,5 (A,A) e
1,0 (a,m) mg/kg de oxotremorina. o asterisco
indica diferença estatística entre o grupo
controle e o grupo experimental, sendo p£0,001.
TABELA XI: Locomoção espontânea após administração de diferentes doses de oxotremorina em ratos previamente tratados por (10 dias) com veículo e 100 ug/kg de T3
N de movimentos (Md)
Dose Veículo 100ug/kg de T3 (mg/kg)
0.25 4.5 6.5
0.5 3.5 5.5
1.0 1,5 5.5
sido estatisticamente significativas.
O tempo total de catalepsia, induzido por diferentes
doses de oxotremorina não foi estatisticamente diferente entre os
grupos tratados com T3 e os grupos controle, como pode-se
verificar na figura 10.
Na figura 11 estão representados a latência e inten
sidade de tremor, produzidos por diferentes doses de oxotremori
na em animais tratados com 0 e 100 ug/kg de T3, por período de 10
dias.
Observa-se que a latência para aparecimento de tremor
foi menor para os grupos tratados com T3, que receberam 0,5 e 1,0
mg/kg de oxotremorina, sendo a diferença estatisticamente signi
ficativa na dose de 0,5 mg/kg.
No período de 5 a 10 minutos as três doses de oxotre-
I 170 _
85 -
0,25 0£
DOSE (mg/kg)
Figura 10: Tempo de catalepsia (X* ± EP), 10 a 15 minutos
após administração de diferentes doses de oxo
tremorina, em ratos pré-tratados por período de
10 dias com 0 ( D ) e 100 ( • ) |>g/kg de T3.
200 _
o
g loo 4
u «UJ
5
2 _
O» 0,5 1,0
H 1 .
g V»
0.J
0,25 0£ 1,0
DOSE (mg/kg)
Figura 11: Tempo de latência (T ± EP), gráfico à esquerda, e graus de tremor (Md),
gráfico à direita, após administração de diferentes doses de oxotremori
na em ratos pré-tratados por período de 10 dias com 0 ( D ) e 100 ( • ) pg/
kg de T3. O asterisco indica diferença estatisticamente significativa
entre o grupo controle e o grupo experimental a p^0,04.
63
nor 1na induziram graus de tremor semelhantes entre os grupos
controle e tratados com T3, não ocorrendo diferenças significati
vas.
Na tabela XII pode-se observar o grau de lacime.iamento
induzido por diferentes doses de oxotremorina em ratos tratados
por período de 10 dias com 0 e 100 ug/kg de T3.
TABELA XII: Indução de lacrimejamento por diferentes doses de oxotremorina em ratos pré-tratados por período de 10 dias com veículo e 100 ug/kg de T3.
Graus de lacrimejamento (Md)
Dose Veículo 100 ug/kg de T3 (mg/kg)
0,25 0 0
0,5 0 0
1,0 4 3
Observa-se que a resposta de cromodacriorréia foi
maior para a maior dose de oxotremorina, tanto no grupo
tratado com T3 como no grupo controle, não sendo registradas
diferenças estatisticamente significativas entre os grupos.
84
A latência e intensidade de tremor, produzido por vá
rias doses de oxotremorina em ratos tratados por período de 20
dias com 0 e 100 ug/kg de T3, estão representadas na figura 12.
Verifica-se que a latência de aparecimento de tremor
foi menor para os grupos tratados com T3. segundo uma relação
dose efeito, com tempo de latência menor para maiores doses de
oxotremorina. Entretanto não se registram diferenças estatís
ticas entre os grupos tratados com T3 e os respectivos grupos
controle.
Também se observou uma relação dose-efeito nos graus
de tremor apresentados pelos grupos controle e T3. Entretanto, a
oxotremorina produziu tremor significativamente mais intenso nos
grupos tratados com T3 nas doses de 0,25 e 0,5 mg/kg.
3.4 EXPERIMENTOS COM A ESERINA
Experimento 5
Os resultados das observações de temperatura retal em
ratos tratados por períodos de 1,5 e 10 dias com veículo e várias
doses de T3, antes e após administração de 0,5 mg/kg de eserina,
estão representados na figura 13.
No gráfico à esquerda, observamos que, decorridos 20
minutos da injeção da eserina, os dois grupos pré-tratados com
veículo e T3 por um dia, apresentaram hipotermia. Aos 60 minu-
370_
$
135 .
I 0-J
2 _
Ul
111
0 -J
0,29 0,5 V> 0,25 0,5 1,0
DOSE (mg/kg)
Figura 12: Tempo de latência (Y ± EP), gráfico à esquerda, e graus de tremor (Md), gráfico
à direita, após administração de diferentes doses de oxotremorina,em ratos jr-é-tratados
por período de 20 dias com 0 ( D ) e 100 ( • ) ug/kg de T3. 0 asterisco indjl
ca diferença estatisticamente significativa entre o grupo controle e os gru
pos experimentais a p^0,0S.
r o
T
20
•II'
60
r o
•il'
20 "1 60
r o
• / / - 1 20 60
TEMPO iminj
Temperatura retal (X* ± EP), antes (0) e após (20 e 60 minutos) administração de 0,5
mg/kg de eserina, em ratos pré-tratados por período de 1 (gráfico a esquerda), 5 (gráfi
co central) e 10 dias (gráfico à direita), com 0 (O — O ) , 12,5 (#-—#), 25 (A A), 50
(•—•) e 100 (# <t) pg/kg de T3. Os asteriscos indicam diferenças estatisticamente
significativas entre o grupo controle e os grupos experimentais, sendo *p^0,02 e
**p^0,001.
07
tos ambos os grupos coneçara* a retornar aos níveis basais,
permanecendo, a diferença estatisticamente significativa entre
os mesmos.
No gráfico central verifica-se que. após a adminis
tração de eserina aos grupos pré-tratados com veículo e T3 por
período de 5 dias, todos os grupos apresentaram hipotermia.
observando-se uma hiportermia menor para as maiores doses de T3.
Em relação ao grupo controle, o grupo tratado com 100 ug/kg de T3
apresentou diferença estatisticamente significativa aos 20 e 60
minutos.
No gráfico à direita, observamos os efeitos da eserina
na temperatura retal de ratos pré-tratados por período de 10
dias. Após a administração de eserina todos os grupos apresen
taram diminuição de suas temperaturas em relação as basais.
Para este período de tratamento, as curvas de variação
também apresentaram uma relação entre dose de T3 e efeito de hi-
potermia com queda de temperatura mais acentuada nos grupos con
trole e menores doses de T3, sendo as diferenças estatisticamente
significativas entre o grupo controle e o grupo tratado com 100
ug/kg de T3 aos 20 e 60 minutos após administração da droga.
Na tabela XIII está registrada a locomoção espontânea
observada após administração de eserina em ratos tratados com
veículo e várias doses de T3 por períodos de 1, 5 e 10 dias
Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas '
entre os grupos experimentais, nos três períodos de tratamento.
TABELA XIII: Locomoção espontânea após administração de 0.5 mg/kg de eserina, em ratos tratados por vários períodos de tempo com veículo e várias doses de T3.
Nt de movimentos (Md) Tempo de pré-tratamento
(dias) Veículo T3 T3 T3 T3 12,5 25 50 100ug/kg
1 o - - - -
5 0 0.5 1 0 0
10 2 1,0 0 0 0
O tempo de catalepsia registrado 10 a 15 minutos após
administração de 0,5 mg/kg de eserina em ratos tratados com
vefculo e T3, por períodos de 1, 5 e 10 dias, está registrado na
figura 14.
A administração de eserina em ratos tratados com veí
culo e 100 ug/kg de T3, por período de 1 dia não produziu dife
renças significativas no tempo de catalepsia dos dois grupos.
Entretanto, nos grupos tratados com T3 por período de 5 dias,
ocorreu uma diminuição no tempo de catalepsia do grupo T3- 12,5
em relação ao grupo controle, e aumento dos grupos 25, 50 e 100
ug/kg, sendo estatisticamente significativo o aumento observado
no Ultimo grupo . Da mesma forma, se observou para os grupos
tratados com T3 por período de 10 dias, diminuição no tempo
5 1*0 - ,
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80
40 .
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' 0 1 2 5 3 9 80100 O^BSBOttO
00SEOET3 (w/*g)
Figura 14: Tempo de catalepsia (X* ± EP) de ratos pré-tratados por período d« 1 (gráfico
à esquerda), 5 (gráfico central) e 10 dias (gráfico à direita), com 0
< D ). 12,5 ( DD ), 25 ( H >» 50 ( e > e 100 ( • ) jig/kg de T,, após admi
nistração de 0,5 mg/kg de eserina. O asterisco indica diferença estatis
ticamente significativa entre o grupo controle e os grupos experimentais
a p£0,04.
de catalepsia no grupo T3 12.5 ug/kg e aumento nos grupos 25. 50
e 100 ug/kg, sendo estatisticamente significativo para o último
grupo.
Na tabela XIV estão representados os graus de tremor
produzidos pela eserina em ratos tratados por período de 10 dias
co» veículo e várias doses de T3.
TABELA XIV: Graus de tremor, 5 a 10 minutos após administração de 0,5 mg/kg de eserina em ratos tratados por período de 10 dias com várias doses de T3.
Dose (mg/kg)
0,5
Veículo
1
Graus de
T3 12,5
1
T3 25
1
tremor (Md)
T3 T3 50 100ug/kg
* *
2 2,5
0 asterisco indica a diferença estatisticamente significativa entre o grupo controle e os grupos experimentais a p^0.05.
Verifica-se que a eserina induziu tremor significati
vamente mais intenso nos grupos tratados com 50 e 100 ug/kg de
T3, em relação ao grupo controle.
Todos os grupos experimentais, nos três períodos de
tratamento (1,5 e 10 dias) nio apresentaram lacrimejamento após
administraçSo de 0.5 mg/kg de eserina.
ti
3.5 ATIVIDADE DA AchE CEREBRAL
Experimento 6
Não se registrara» alterações estatisticamente signi-
signifícativas na atividade da enzima . entre os grupos pré-tra-
tado coa várias doses de T3 por período de 10 dias e o respecti
vo grupo controle, COMO pode ser observado na Tabela XV.
TABELA XV: Atividade da enzima AchE em homogeneizado cerebral de ratos tratados por período de 10 dias COB várias doses de T3.
Dose de T3 imoles de tiocolina formada (ug/kg) min/mg/ptn (St EP)
0 0,044 10,002
12,5 0,04410,002
25,0 0,043 10,004
50,0 0,042 10,002
100,0 0,044 1 0,000
4. DISCUSSÃO
O hipertireoidisao experimental te» sido induzido em
animais de laboratório por diversos autores, ea diferentes es-
qucaas de administração de T3 ou T4 . visando entre outros obje
tivos, estudir os seus efeitos no SNC (Breese e col.. 1974;
Attervill, 1981; Ishac e Pennefather. 1983; Overstreet e col..
1904; Heal e col.. 1986; Massol e col.. 1989).
Neste estudo a indução do hipertireoidisao experimen
tal, foi avaliada, entre outros parãaetros, pela curva ponderai
dos diferentes grupos experimentais, sendo conhecida a perda de
peso induzida pelos horaOnios tireoideanos, ea função do aumento
do metabolismo que ocasionam, incluindo o incremento do catabo
li sao proteico (Ingbar, 1965; Nayer, 1987).
O estudo das curvas ponderais dos diversos grupos ex-
periaentais, mostrou seapre o mesmo padrão de perda de peso, evi
denciado tanto na Figura 2 coao na Tabela I. A atividade do hor
mônio tireoideano, traduzida assim eat queda ponderai, se mostrou
diretamente proporcional ã dose de T3 administrada, bem como, ao
tempo de tratamento. Ao variar a dose do hormOnio e o tempo de
administração, pretendeu-se não apenas padronizar as melhores
condições experimentais, aas igualmente, atingir diferentes ní
veis de hipertireoidisao experimental, com impactos provavelaente
distintos sobre o organismo animal, tanto do ponto de vista quan
titativo coao qualitativo.
Outro parâmetro de avaliação da ação hormonal. foi a
temperatura retal. tendo-se observado usa hipertermia cauiada
pelo T3 (Tabela I) e que. coao no peso corporal, é »ais evidente
para as vaiores doses e os «aiores tempos de administração do
hormônio.
A dosagem dos níveis séricos de T3 evidenciou aumento
piasmatico significativo do hormônio, nos grupos tratados com 50
e 100 ug/kg (Tabela III)- De um modo geral pode-se observar ní
veis plasmáticos mais elevados do hormônio, para as maiores doses
administradas.
Em resumo, a avaliação da indução do hipertireoidismo
experimental, revela uma queda significativa de peso corporal, um
aumento da temperatura basal e níveis séricos de T3 aumentados
vinte e quatro horas após a última injeção. Todos esses dados, de
um modo geral tendendo a se acentuar em função da dose e do tempo
de administração do hormônio. De fato, tanto a queda de peso cor
poral , como a hipertermia, já foram descritas na literatura
(Gaginella e col.,1981; Kasson e George, 1983; Overstreet e col.,
1984; Ma sol e col., 1989), neste particular estando os nossos
dados de pleno acordo. Também no que se refere aos níveis séri-
séricos de T3, os nossos resultados confirmam a literatura.
Atterwill (1981) registrou aumento dos níveis séricos de T3, de
aproximadamente duas vezes os valores dos controles, vinte e qua
tro horas após administração do hormônio. Segundo o mesmo autor,
enquanto após uma única administração do hormônio,o pique de con-
94
centração plasinática ocorria quatro horas apòa sua administração.
no tratamento crônico por período de dez dias, o pique de concen
tração, ocorria oito horas após a última injeção, revelando a
tendência do T3 para se acumular no sangue. StrSmbom e col., já
haviam descrito em 1977, um aumento nos níveis séricos, propor
cional ao tempo de administração de T4, com valores crescentes no
decorrer de 8 dias de administração. Nossos resultados estão de
acordo com os dados apresentados por Atterwill (1981) e Strõmbom
e col., 1977, evidenciando acumulação de T3 na circulação.
Nos experimentos realizados com drogas, a primeira
série, que focalizou os efeitos da pilocarpina (10 mg/kg) em ci
clo de luz invertido, demostra que alguns efeitos, resultantes
da estimulação de receptores muBcarínicos pelo agonista, são mo
dificados pelo tratamento prévio com o T3. De um modo geral,
os grupos de animais previamente tratados com T3, apresentaram
diminuição dos efeitos centrais da pilocarpina, ou seja, apresen
taram menor hipotermia (Figura 3), menor hipomoti1 idade (Tabela
IV) e menor catalepsia (figura 4), induzidas pela droga. No que
se refere ao efeito periférico de cromodacriorréia não foram
detectadas alterações significativas induzidas pelo hormônio
(Tabela V).
Na avaliação do efeito de hipotermia induzida pela
pilocarpina, observa-se uma diminuição da resposta nos grupos de
ratoB pré-tratados durante 1, 5 e 10 dias com várias doses do
hormônio. Para o período de pré-tratamento de 10 dias, todas as
•5
doses de T3 utilizadas de 12,5 a 100 ug/kg, inibiram significati
vamente a hipotermia aos 20 e aos 60 minutos após injeção do
agonista. Para a dose de 10C ug/kg de T3, ocorre até mesmo um
efeito de hipertermia aos 20 minutos de injeção. Resultados se
melhantes são observados após 5 dias de administração do hormônio
(Figura 3, gráfico central), detectando-se a hipertermia aos 20
minutos, para a dose de 100ug/kg de T3 e, de modo diferente ao
observado após 10 dias de tratamento, registrando-se retorno da
temperatura, aos níveis do controle no grupo T3-12.5, uos 60 mi
nutos do experimento, o que traduz maior efeito da droga colinér-
gica. Quando o tempo de tratamento prévio de T3 é de 1 dia (Figu
ra 3, gráfico à esquerda), observa-se igualmente diminuição do
efeito da droga e embora não seja possível a comparação com doses
mais baixas de T3, pode-se deduzir que o efeito do hormônio é me
nor do que é observado em maiores tempos de tratamento, pois aos
60 minutos já há o retorno da temperatura aos níveis de controle.
A análise dos resultados apresentados na figura 3,per
mite ainda dizer Yque o efeito do hormônio é tanto maior quanto
maior o tempo de pré-tratamento, e a dose de T3 administrada.
Assim, a hipotermia induzida pela pilocarpina é maior para as me
nores doses de T3 e mesmo a hipertermia observada para a dose de
100 ug/kg de T3, após 5 e 10 dias de pré-tratamento, pode signi-
car tão somente uma diminuição do efeito da pilocarpina.
A pilocarpina, quando injetada em ratos normais, induz
uma acentuada queda da motilidade espontânea (Martin e col.,
96
1981). Nos grupos de animais tratados previamente com T3, obser
vou-se uma significativa diminuição desse efeito (Tabela IV). Na
turalmente que a movimentação espontâ- a como parâmetro de ava
liação da atividade colinérgica central, parece ser menos eficaz
que a temperatura, o que poderia explicar o fato de só serem
significativos os resultados obtidos após 5 dias de pré-tratamen-
to com T3.
Em relação à catalepsia induzida pela pilocarpina, foi
observada uma diminuição significativa após 10 dias de pré-trata-
mento com T3 (Figura 4), não chegando a ser significativos os
tempos de catalepsia maiores observados com as demais doses de
T3.
O efeito periférico de cromodacriorréia não revelou
alterações significativas, para todas as doses de T3 utilizadas
nos tempos de 1, 5 e 10 dias de pré-tratamento.
Os dados com 10 mg/kg de pilocarpina são confirmados,
na segunda série de experimentos, onde se variou a dose de pilo
carpina. Deste modo, observou-se uma menor hipotermia, menor hi-
pomotilidade e nenhuma diferença significativa na avaliação da
cromodacriorréia. Os resultados de catalepsia não mostraram a
mesma tendência do experimento anterior, não havendo diferenças
significativas entre grupos controle e experimentais (Figura 6).
Nos quatro experimentos seguintes, estudou-se o efeito
do agonista muscarínico oxotremorina e do anticolinesterásico
eserina. Ao contrário dos experimentos com a pilocarpina, as
•7
observações foram realizadas em ciclo normal de iluminação.
Em relação ao parâmetro temperatura, tanto para a oxo-
tremorina (Figuras 7 e 9) como para a eserina (Figura 13), há uma
total similiaridade com os resultados apresentados para a pilo-
carpina, caracterizando uma significativa diminuição do efeito de
hipotermia, mediado por receptores colinérgicos centrais. Tais
resultados foram confirmados também por Massol e col. (1989),que
observaram que o tratamento com T3 por período de 3 dias, em
doses que variaram de 32 a 2.000 ug/kg, antagonizava os efeitos
de hipotermia induzidos pela oxotremorina. 0 efeito de hipomoti-
lidade (Tabelas VIII, XI e XIII), apresenta igualmente as mesmas
características descritas para o experimento anterior, bem ccmo,
o efeito periférico de lacrimejamento.
Um novo efeito colinérgico, o tremor foi ebservado nos
experimentos com a oxotremorina e com a eserina. Com a primeira
droga não foram observadas diferenças significativas entre os
graus de tremor dos grupos controle e pré-tratados com o hormô
nio. Apenas foi detectada uma significativa diminuição da latên-
cia de aparecimento de tremor, no grupo T3-100, para a dose de
0,5 mg/kg de oxotrentorina (Figura 11), o Vaue poderia sugerir
maior efeito da droga. Este resultado, no entanto, não foi obser
vado com as outras doses e não se traduziu em diferenças signifi
cativas em graus de tremor, como esse experimento não possibilita
maiores conclusões, repetiu-se o procedimento com 20 dias de
administração de 100 ug/kg de T3, procurando tornar evidente
•8
qualquer possível ação sobre o tremor (Figura 12). De fato, aos
20 diaB de pré-tratamento con T3, observa-se um aumento da inten
sidade de tremor induzido por 0.25 e 0,5 mo/kg de oxotremorina
nos animais com hipertireoidismo experimental. Este efeito, apa
rentemente, contrapõe-se à diminuição da atividade colinérgica
provocada pelo T3 nas observações de temperatura, locomoção es
pontânea e catalepsia.
Com a escina (Tabela XIV), a intensificação do efeito
de tremor é observada aos 10 dias nos grupos previamente tratados
com 50 e 100 ug/kg de T3, confirmando os resultados anteriores
com a oxotremorina.
No experimento de catalepsia (Figura 14), induzida
pela eserina, no entanto, há um efeito oposto ao descrito para a
pilocarpina e oxotremorina. Enquanto a pilocarpina e a oxotremo-
rina, agonistas muscarínicos diretos, induzem menor efeito de
catalepsia em ratos com hipertireoidismo experimental, a eserina,
uma droga anticolinesterásica e portanto de ação indireta, pro
voca um aumento significativo do efeito de catalepsia. E possível
que a diferença de resultados expresse exatamente essa diferença
de mecanismos de ação das drogas, sendo difícil a partir dos re
sultados apresentados, qualquer outra sugestão.
Outro aspecto que merece ser mencionado é que os dados
apresentados sugerem que as ações das drogas mencionadas não so
frem influencia detectável do ciclo de luz utilizado, pois tanto
os experimentos com a pilocarpina, em ciclo de luz invertido,
99
como os com a oxotremorin^ e eserina, em ciclo de luz normal,
mostram resultados simillares.
Como a literatura descreve que o T3 provoca tanto
aumento da síntese proteica, em pequenas doses, como aumento do
catabolismo proteico, em doses mais elevadas (Ingbar, 1985;
Oppenheimer, 1985; Nayer, 1987), pensou-se na dosagem da enzima
AchE. que promove a metabolização do neurotransmissor, como pos
sível ação hormonal. Os resultados apresentados, no entanto, não
revelaram nenhuma alteração nos níveis de AchE de cérebro total
nos vários grupos pré-tratados por 10 dias com T3. De fato
Shainberg e col. (1983), também não obtiveram alterações nos ní
veis de AchE cerebral de ratos, após período de 3 dias de
tratamento com T3. Não se pode, entretanto descartar a hipótese
de alterações nos níveis de AchE nas diferentes vias colinérgicas
envolvidas nos padrões comportamentais e fisiológicos estudados
na medida em que nossas dosagens foram feitas, utilizando-se ho
mogeneizados de cérebro total. Para afastar esta hipótese seriam
necessárias dosagens da atividade enzimática nas diferentes áreas
colinérgicas envolvidas.
Parece no entanto que outra enzima, a ChAT, sofre al
terações de seus níveis de acordo com a função tireoideana. Assim
há uma redução de ChAT em várias áreas cerebrais, quando ocorre
uma deficiência de T3 (Valcana, 1971; Kojima e col., 1981;
Kalaria e Prince, 1985). Por outro lado culturas de células ce
rebrais e do núcleo septo-medial de ratos tratados com T3 apre-
100
sentam níveis de ChAT aumentados (Honnegger e Lenoir, 1980; Hei ti
e col.. 1986).
Os resultados sobre a temperatura, locomoção espontâ
nea e catalepsia, observados com os agonistas diretos pilocarpina
e oxotremorina e, parcialmente, com o anticolinesterásico eserina
podem perfeitamente traduzir uma alteração na funcionalidade dos
receptores colinérgicos centrais, levantando-se aqui como prin
cipal sugestão que o T3 pode estar provocando uma subsensibi1i-
dade muscarínica central nos sítios relacionados às respostas
mencionadas.
Tai hipótese, aparentemente não explicaria os resulta
dos de tremor obtidos no presente trabalho , que ao contrário
sugerem um aumento da atividade colinérgica central. De fato, é
possível pensar que o T3 possa ter uma ação diferente sobre os
vários sistemas colinérgicos, diminuindo a sensibilidade dos sis
temas envolvidos com a temperatura, locomoção e catalepsia e au
mentando a sensibilidade do sistema que intermedia o tremor. Tal
não nos parece a hipótese mais provável. E conhecido que o com
portamento de tremor possui principalmente dois sistemas de neu-
rotransmissores centrais e, a saber, o dopaminérgico, cujo blo
queio induz ao tremor, em contraposição ao sistema colinérgico,
cuja estimulação induziria ao tremor (Bianchine, 1985). Assim
o efeito de tremer seria o resultado da interação desses dois
sistemas de neurotransmissores, que agiriam em sentidos opostos.
Deste modo, é possível supor uma situação em que haveria uma
101
diminuição da funcionalidade em ambos os sistemas, porém em
níveis diferentes, de sorte que. o balanço entre neurotransmis-
sores estaria alterado. Em outras palavras é possível supor que
o T3 podei ia estar inibindo o "freio" deste comportamento, em
muito maior proporção que a sua estimulação, de forma que a úl
tima predomine. Tal hipótese carece no entanto, de comprovações
experimentais. No entanto, parece que nossos resultados, deixam
bem claro a possibilidade de que os diferentes sistemas colinér-
gicos sejam afetados em níveis diferentes de hipertireoidismo
experimental, a temperatura, por exemplo, sofre ação já nas me
nores doses (12,5 ug/kg de T3), e nos menores tempos de pré-tra-
tamento com o hormônio (1 dia para 100 ug/kg de T3), enquanto o
tremor aumentado só é contastado após 20 dias de administração
de 100 ug/kg de T3, para a oxotremorina e após 10 dias de pré-
tratamento com 50 e 100 ug/kg de T3, para a eserina. Naturalmente
é necessário considerar que estas diferentes sensibilidades nas
respostas possam ser um artifício inerente ao parâmetro utilizado
para avaliar indiretamente o que se passa no SNC.
Outra hipótese a ser mencionada refere-se ainda às
diferenças nos níveis plasmáticos de hormônio. 0 T3 provoca au
mento de síntese proteica em baixas doses, enquanto que, nas si
tuações mais próximas da tireotoxicose.há o catabolismo proteico,
confirmando dois efeitos opostos. Este fato pode ocorrer também
a nível comportamental, uma vez que o aumento de tremor só é ve
rificado nos maiores prazos de pré-tratamento e nas maiores doses
102
de hormônio utilizadas, daí a importância dada neste trabalho ao
estudo dos efeitos comportamentais em diferentes níveis de hiper-
tireoidismo experimental.
Os resultados apresentados no presente estudo estão de
pleno acordo com os dados que indicam uma redução de atividade da
enzima ChAT em neurônios colinérgicos centrais (Valcana, 1971;
Kojima e col., 1981; Kalaria e Prince, 1985; Chacon e col., 1986)
associada com deficiência tireoideana. O aumento da atividade da
enzima ChAT, poderia produzir uma diminuição na afinidade e den
sidade dos receptores colinérgicos muscarlnicos pòs-sinápticos,
como uma forma de adaptação celular, devido ao aumento na síntese
de Ach. Não obstante não existem evidências de alterações em re
ceptores colinérgicos centrais, avaliados através da técnica de
radioiigandos. Kastrup e Christensen (lc84) , não detectaram
alterações na afinidade e densidade de receptores colinérgicos
mediante registros de ligação do 3H -QNB em cérebros de ratos
hipo e hipertireoideos.
Estudos em sistemas colinérgicos periféricos, conse
guiram correlacionar o hipertireoidismo experimental em ratos,
com alterações funcionais induzidas por drogas e uma diminuição
na ligação específica do (3H)-QNB (Sharma e Lanerjee, 1977;
Robberecht e col., 1982; Ishac e Pennefather, 1983, Shaimberg e
col., 1983). Mesmo estes resultados em sistemas periféricos são
controversos, pois há estudos que descrevem a não alteração das
respostas a drogas colinérgicas, bem como nenhuma alteração na
103
densidade e afinidade de receptores periféricos (Pointon e
Banerjee, 1979; Kastrup e Chrstensen, 1984).
No presente trabalho, não foram detectadas alterações
periféricas no parâmetro observado - a cromodacnorréia. Outros
estudos evocando outras respostas colinérgiras periféricas, me
receriam ser realizados, para conclusões mais efetivas.
Não deve ser descartada a hipótese dos níveis elevados
de T3 na circulação alterarem a biodispombi lidade das drogas co-
linérgicas nos sítios receptores. Contra esta hipótese existem
dois argumentos. 0 primeiro diz respeito à observação de respos
tas farmacológicas alteradas na presença de níveis plasmátícos
normais de T3. 0 segundo argumento resulta da própria análise das
alterações produzidas pelo T3 nos parâmetros observados. Caso se
tratasse única e simplesmente de um aumento ou diminuição de
biodisponibilidade não teríamos alterações de respostas farmaco
lógicas em sentidos inversos, como por exemplo a diminuição da
hipotermia e aumento do tremor. E bem provável, no entanto, que
as alterações descritas neste estudo possam representar a
configuração final resultante de várias ações neuronais simultâ
neas.
A multitude de efeitos do hormônio tireoideano no
organismo, certamente confere um grau de extrema complexidade ao
assunto, o que só aumenta a sua relevância. Mesmo sendo complexos
os mecanismoB íntimoB da ação hormonal, deve-se destacar a impor
tância prática do presente estudo, destacando-se a necessidade
104
desses dados serem considerados quando da prescrição de drogas
coa ação colinérgica em pacientes com disfunção tireoideana.
5. CONCLUSÕES GERAIS
O pré-tratamento COB tri íodotironma provocou diainuição nos
efeitos de hipoteraia e hipoaotilidade e aumento no efeito
de tremor, es anuais tratados COB drogas que estiaulam os
8isteaas colinérgicos centrais.
A indução de croaodacriorréia pela pilocarpina e oxotreaorina
não foi alterada pelo pré-trataaento COB O T3.
A avaliação do hipertireoidismo experimental através dos pa
râmetros de peso corporal e temperatura retal, mostrou-se
eficaz e compatível com as alterações de níveis plasmáticos
de T3 detectadas em nossos experimentos.
0 ciclo de luz não alterou qualitativamente os efeitos indu
zidos pelo T3 e drogas colinérgicas.
Não foram registradas alterações significativas nos níveis de
AchE cerebral entre os grupos experimentais utilizados.
Os resultados permitem sugerir que o T3 possa diminuir a
responsividade dos receptores colinérgicos centrais relacio
nados aos efeitos de hipotermia e hipomotilidade, enquanto
são discutiveis os efeitos sobre os parâmetros catalep-
sia, invertendo-se a ação do hormônio em relação a indução
de tremor, onde há aumento da responsividade.
O T3 n3o aodificou a responsividade do» receptores colinér-
gicos periféricos relacionados ao efeito de croaodacnorréia.
nas condições experimentais descritas.
O conjunto de dados apresentados neste trabalho peraite su
gerir que o T3 altera diferentemente a funcionalidade de re
ceptores colinérgicos auscarínicos centrais, sendo coaplexos
os aecanisaos dessa ação, ea virtude das aultiplas alterações
que o T3 induz no cérebro e no organisao coao ua todo.
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