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MEMÓRIA E FOTOGRAFIA: O MEMORIAL FOTOGRÁFICO DA BIBLIOTHECAPÚBLICA PELOTENSE
MEMORY AND PHOTOGRAPHY: THE MEMORIAL FOTOGRÁFICO OF THEBIBLIOTHECA PÚBLICA PELOTENSE
BARBIER, Daniel1, GOULART, Ueslei da Cruz2
Resumo
O presente trabalho apresenta as atividades realizadas em2013 e 2014 no processo de atualização do MemorialFotográfico da Bibliotheca Pública Pelotense, organizado em1997 através do projeto Memória Fotográfica de Pelotas –séc. XIX, viabilizado pelo convênio assinado entre aBibliotheca Pública Pelotense, associação civil de DireitoPrivado com fins não econômicos, e a Universidade Federalde Pelotas, com cooperação do projeto Memória In Vitro daUniversidade Federal de Rio Grande, cujo produto é o“Catálogo Fotográfico –Séc. XIX/1930: imagens da cidade”,lançado no ano 2000. Foi previsto, para consecução de seuobjetivo, revisão do estado de organização sistemática doacervo, informatização em base de dados e realização deatividades educativas através da apresentação expográficasde parte da coleção. Apesar desse trabalho não ter sidoconcluído, observou-se a importância que esse acervo possuipara além de sua dimensão como documento, mas também comosuporte de memória individual, coletiva, compartilhada epública e ferramenta pedagógica de auxílio para o processode ensino-aprendizagem.
Palavras-chaves: Acervo fotográfico. Gestão de acervos.Instituições de memória.
Abstract
1 Graduado em História (Licenciatura) pela Universidade Federal dePelotas. Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPEL.Atua profissionalmente na Bibliotheca Pública Pelotense.(barbier.daniel@gmail.com)2 Graduando em História (Licenciatura) pela Universidade Federal dePelotas. Colaborador do Projeto Memorial Fotográfico da BibliothecaPública Pelotense. (weslei_goulart@hotmail.com)
This paper presents the activities conducted in 2013 and2014 in the upgrade process of the Memorial Fotográfico daBibliotheca Pública Pelotense, organized in 1997 throughthe project Memória Fotográfica de Pelotas – séc. XIX, madepossible by the agreement signed between the BibliothecaPública Pelotense, civil association of private law withnon-profit, and the Universidade Federal de Pelotas, withcooperation project Memória In Vitro of the UniversidadeFederal de Rio Grande, whose product is the " CatálogoFotográfico –Séc. XIX/1930: imagens da cidade", released in2000. It was expected to achieve its objective, systematicreview of the state of organization of the collection,informatization in database and educational activitiesthrough the development of a small sample with part of thecollection. Although this work has not been completed,there was the importance of this collection has beyond itsdimension as a document, but also as individual memorysupport, collective, shared, and public and educationaltool to aid the teaching-learning process .
Key-words: Photographic collection. Collections management.
Memory institutions
Introdução
Pelotas/RS, cidade localizada na região sul do Estado
do Rio Grande do Sul, tem sua origem ligada à cidade de Rio
Grande e, com ela, a implementação dos interesses políticos
da Coroa Portuguesa na região, especialmente no que diz
respeito ao alargamento e consolidação de suas fronteiras
com a América de língua espanhola. Seu desenvolvimento
demográfico e urbanístico é resultado do sucesso econômico
alcançado pela empresa saladeril. O ciclo do charque,
essencialmente, foi responsável pelo surgimento de vários
empreendimentos econômicos, industriais, sociais, culturais
e de lazer.
O desenvolvimento econômico da cidade de Pelotas/RS,
especialmente a partir da década de 1860, propiciou seu
crescimento, desenvolvimento demográfico e modernização
urbanística3. Assim, aos poucos, instituições culturais e
artísticas começaram a surgir, bem como diversas
iniciativas dentro dessa área tomaram espaço no cenário
local4. Entre elas, a Bibliotheca Pública Pelotense,
associação civil de Direito Privado, mas de natureza
pública, sustentada pelo ideal republicano, organizada e
fundada pela sociedade5 pelotense. Não tardou para que esta
instituição tomasse frente a responsabilidade de atender
diversos anseios da população onde estava inserida.
A expressão pública, portanto, não aparece por acaso
junto ao nome da BPP, que desde a sua fundação oferece
acesso livre, universal e gratuito a seu acervo, serviços e
eventos culturais. O exemplo inicial vem dos cursos
noturnos de alfabetização para os trabalhadores em 1878
(PERES, 1995). Também se destacam nesses mais de 130 anos a
realização da primeira sessão do Clube Abolicionista, em
1881; a criação, em 1918 e 1920, do Centro de Cultura
3 O desenvolvimento econômico, bem como o crescimento demográfico, nãocriou uma sociedade harmoniosa ou igualitária, nem mesmo houve apreocupação na criação de mecanismos políticos de distribuição derenda e propriedades. Ao contrário, o regime escravocrata e osdiversos movimentos imigratórios à região favoreceram o surgimento deuma sociedade com fortes contrastes sociais.4Pelotas destaca-se por um movimento de associativismo intenso nopassado. A maioria dos empreendimentos partiam da iniciativa dasociedade civil, deixando ao poder público pequena participação napromoção do surgimento de novas instituições. Contudo, esses novosempreendimentos eram, na sua maioria, criados pela e para a elitelocal. Mais informações ver MONQUELAT, A.F; PINTO. G. Pelotas no tempodos chafarizes. Pelotas: Editora Livraria Mundial, 2012. P. 90.5 Participaram da reunião de fundação da Bibliotheca Pública Pelotense45 homens que elegeram José Vieira da Cunha e Saturnino Epaminondas deArruda aos cargos de Presidente e Vice-Presidente, respectivamente.
Científica e da Escola Prática de Comércio – predecessora
do Instituto Federal Sul-Rio-grandense; a inauguração em
1946 do Programa A Hora do Faz de Conta com o propósito de
estimular a leitura entre o público infanto-juvenil; e, em
1952, a fundação do Curso Braille para pessoas com
deficiência visual, o qual deu origem à Escola Louis
Braille. Soma-se a essas iniciativas, um primoroso trabalho
em prol à preservação da memória e do patrimônio cultural
local e regional iniciado com a organização setorial em
2003, seguido com o restauro integral do prédio centenário
e da criação dos setores de documentação e pesquisa: o
Centro de Documentação e Obras Valiosas, e museu: Museu
Histórico da Bibliotheca Pública Pelotense.
Fundada em 14 de novembro de 1875, a Bibliotheca
Pública Pelotense se destaca pela diversidade do acervo que
abriga, organiza, conserva e dá acessibilidade. São livros
das mais variadas áreas do conhecimento, documentos
públicos e privados em suporte de papel, jornais que
circularam na região, pinturas em telas e eucatex,
fotografias, além dos artigos de seu museu. A composição
desses acervos se confunde com a própria constituição da
instituição que lhe dá amparo e com a história da cidade de
Pelotas/RS. Criado em 1904, o Museu Histórico e
Bibliográfico (IBRAM, 2011) tinha em seu acervo, entre
outras, coleções de mineralogia, paleontologia, zoologia,
numismática, filatelia, diversos artefatos históricos e
ampla coleção de jornais locais do período imperial e do
período republicano, além de outros documentos que mais
tarde compuseram o Arquivo Histórico da Bibliotheca Pública
Pelotense. Junto a ele, aos poucos, foi se formando uma
coleção de fotografias que diziam respeito a variados temas
que envolviam, principalmente, a cidade de Pelotas, como a
Revolução Federalista de 1923, como comenta Nunes:
“Em algumas fotografias, não muito raro, há apresença tanto dos valores estéticos, quantodaquilo que podemos chamar de gramáticafotográfica. Este é o caso dos fundos fotográficosanalisados nesta investigação. O valor documentaldesses fundos, o acervo fotográfico do MuseuHistórico da Bibliotheca Pública Pelotense, emconseqüência de sua organização, permiti-nosconhecer aspectos e características de espaço etempo social já não-presente” (NUNES, 2002, p.60)
Foi pensando a organização sistemática desse acervo e
sua conservação que, em 1997, elaborou-se o projeto Memória
Fotográfica de Pelotas – Séc. XIX (MICHELON, 2000), com
coordenação da profª Dr.ª Francisca Ferreira Michelon da
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e cooperação do
projeto Memória In Vitro da Universidade Federal de Rio
Grande (FURG). Esse projeto foi responsável pelo
acondicionamento, catalogação, diagnóstico de conservação,
duplicação e disponibilidade do acervo fotográfico da BPP
para a comunidade. E agora, passados alguns anos da
realização dessas ações, e mantendo a metodologia aplicada,
foi realizado, a partir de 2013, uma atualização na
organização sistemática do acervo, tendo como base o
projeto inicial e com vista à implementação de um memorial
fotográfico para a Instituição. Sobre o projeto Dias relata
que
Durante os anos de 1997 e 1998 a ProfessoraFrancisca Ferreira Michelon desenvolveu umapesquisa sobre um conjunto de fotografiasreferentes a cidade de Pelotas no acervo daBiblioteca Pública Pelotense a partir da qualelaborou e coordenou a produção de um catálogo com
imagens da cidade do século XIX até as trêsprimeiras décadas do século XX publicado pelaEditora e Gráfica da UFPel em novembro de 2000. Naseqüência desse projeto e dando continuidade a suapesquisa, a referida pesquisadora desenvolveu umanova catalogação agora sobre todas as imagensfotográficas impressas existentes nos Almanachs dePelotas, Relatórios da Intendência e Álbum dePelotas de 1922. O resultado desse trabalhooriginou o livro A cidade em Imagens/Catálogo deFotografias Impressas – 1913/1930 publicado pelamesma editora em 2005. O trabalho realizado pelapesquisadora ao gerar estes arquivos tem umaimportância muito significativa no sentido deoferecer valiosos elementos para futuras pesquisasde caráter analítico/comparativo. (DIAS, 2008)
Portanto, o presente trabalho pretende apresentar as
atividades desenvolvidas em relação ao Memorial Fotográfico
da Bibliotheca Pública Pelotense (2013-2014), especialmente
no que tange a revisão do estado de organização sistemática
do acervo, a informatização em base de dados via plataforma
WINISIS e a realização de atividades educativas através da
apresentação expográficas de parte da coleção, pensando a
fotografia a partir de sua dimensão como ferramenta de
apoio ao ensino e à aprendizagem.
O projeto de organização do acervo fotográfico da
Bibliotheca Pública Pelotense (2013-2014)
A Bibliotheca Pública Pelotense está organizada, desde
2003, em Setores definidos pela tipologia do acervo,
suporte e serviços oferecidos. Entre os diversos Setores da
Instituição encontra-se um setor de documentação e
pesquisa, chamado Centro de Documentação e Obras Valiosas
(CDOV). O CDOV é formado pelas seções Arquivo Histórico,
Hemeroteca, Obras Raras e Valiosas e Memorial Fotográfico.
Ocupa parte do segundo andar do prédio sede e oferece
serviço de busca de informação especializada sobre temas
originados de pesquisas acadêmicas ou científicas, na sua
maior parte. Como visto, o acervo fotográfico da BPP está
organizado e associado ao CDOV e compõem o corpus do
processo apresentado.
A metodologia utilizada para consecução do projeto de
organização do Memorial Fotográfico da BPP (2013-2014)
previu três etapas originais de atividades. Contudo, uma
quarta foi acrescentada posteriormente. A primeira de
revisão da organização sistemática do acervo com referência
no Catálogo Fotográfico, resultado da conclusão do projeto
Memória Fotográfica de Pelotas – Séc. XIX. Segunda etapa:
verificação do estado de acondicionamento das fotografias,
buscando substituir aquelas que apresentavam algum defeito.
Concomitantemente, realizou-se atividade de higienização.
Terceira etapa: desenvolveu-se uma base de dados através do
software livre Isis para Windows (WINISIS). Optou-se a
criação do banco pelo Isis devido sua gratuidade,
flexibilidade na criação de campos, facilidade de
cadastramento e inserção ilimitada de dados. Quarta etapa,
ou etapa adicional: em concomitância com a terceira etapa,
foi elaborado um projeto de ação educativa para explorar o
potencial pedagógico da fotografia. A ação previa quatro
atividades com turmas escolares do quinto ano, sendo duas
delas de uma escola pública e as outras duas de uma escola
particular. A temática da ação foi um debate sobre o
significado e um convite a reflexão crítica sobre a lei
áurea, de 13 de maio de 1888. As fotografias deveriam ser
organizadas expograficamente junto com jornais da época e
documentos produzidos no séc. XIX. A atividade, programada
para uma hora e meia de duração, estava estruturada em
apresentação mediada e conversada sobre a exposição e, na
sequência, jogo de perguntas e respostas em equipes sobre
questões propostas.
Apesar de não ter se estabelecido uma equipe formal
para o desenvolvimento das ações, estiveram envolvidos no
processo de atualização do Memorial Fotográfica a
bibliotecária Luciana Franke Nebel,o historiador Daniel
Barbier, a historiadora Valquíria Lorenzatto Marques, os
graduandos Ueslei da Cruz Goulart, história, Renata Castro
e Janaína Vergas Rangel, museologia.
O processo de atualização do Memorial Fotográfico da
Bibliotheca Pública Pelotense teve início em dezembro de
2013. De lá para cá, as quatro etapas de trabalho
estabelecidas foram cumpridas, com exceção da terceira cujo
estágio de conclusão está próximo dos 90%. Na primeira
etapa, realizou-se as ações de reconhecimento do acervo,
diagnóstico de organização física e verificação de
compatibilidade das informações contidas nos catálogos com
a disposição das fotografias no espaço de armazenamento no
Memorial. Nesse momento, importava-nos em conhecer
profundamente o acervo fotográfico, a forma como ele estava
organizado sistematicamente e se essa organização havia
sido mantida ao longo do tempo. Nas duas semanas em que
essa revisão foi feita, percebeu-se que pouca coisa precisa
ser feita quanto à disposição física e metodológica do
acervo, pois a organização inicial havia sido respeitada ao
longo do tempo.
Imagem 1 – Ficha catalográfica do acervo fotográfico da BibliothecaPública Pelotense
Fonte: NUNES, 2002, p.121.
Na segunda etapa, verificou-se as condições de
conservação do acervo e das embalagens, caixas e envelopes
que acondicionavam as fotografias. Assim, procedeu-se um
trabalho de higienização em toda coleção fotográfica e
troca do material de acondicionamento quando verificado
algum problema físico no suporte ou ação biológica de
degradação sobre este. Dessa forma, o acervo foi organizado
em caixas adequadas para sua conservação, cada fotografia
ficou envolvida em embalagem confeccionada com papel
neutro, respeitando suas dimensões espaciais e seu formato
geométrico.
Imagem 2 – modelo de acondicionamentoFonte: Banco de imagens BPP
Somente, então, na terceira etapa do trabalho é que
passaram a ser inseridas as informações das fotografias na
base de dados elaborada a partir da plataforma WINISIS.
Foram estipulados cinco campos principais de descrição de
informações, a saber: título, imprenta, descrição física,
número de chamas e criação registro; e dois campos
complementares: assunto tópicos e notas. Respeitou-se,
previamente, a metodologia desenvolvida pelo projeto
Memória Fotográfica de Pelotas – séc. XIX, cujo parâmetro
norteador era reunir as fotografias de acordo com os
seguintes temas estabelecidos: retratos, eventos, Revolução
de 1923, paisagem urbana, paisagem rural e doações. Todos
os campos foram preenchidos conforme as informações
contidas no verso de cada fotografia, sendo apenas o campo
“título” atribuído por quem estava processando a
fotografia. O objetivo desse princípio era descrever a
imagem a partir da representação nela contida uma vez que,
no que diz respeito a inserção das informações atribuída a
cada imagem por meio único de sua legenda, concluiu-se que
a maioria delas não apresentavam sequer as informações mais
básicas, como “o quê”, “quem”, “quando” e “onde”.
As imagens abaixo exemplificam mais detalhes de como
são preenchidos os campos do software. Dentro do campo, por
exemplo, “Assunto tópico” são incluídos quantos sub-campos
forem necessários para descrever todos os detalhes sobre a
fotografia. Estes sub-campos são criados a partir da
utilização das letras do alfabeto que logo, automaticamente
separam as informações para que possam ser mais bem
visualizadas em futuras pesquisas.
Imagem 3 – Modelo de entrada de dados plataforma ISISFonte: Banco de imagens BPP
Com o início do período de estágio obrigado para
conclusão do curso de bacharelado em museologia da UFPEL,
2014/2, a BPP teve a oportunidade de contar com a
colaboração de quatro estudantes formandos em museologia.
Assim, o debate sobre possibilidade de aplicação de uma
ação educativa no CDOV foi iniciado e culminou na
realização da quarta etapa do processo de atualização do
Memorial Fotográfico. Nesse momento, reconheceu-se a
importância da fotografia em sua conjuntura global:
documento, suporte de memória, ou mesmo lugar de memória
(NORA, 1993) e ferramenta educativa. Portanto, em projeto
assinado por Renata Castro, e aproveitando as atividades
previstas para a Semana de Museus e o cadastro de escolas
do banco de dados do programa A Hora do Faz de Conta (1946
– hoje) da BPP, realizou-se quatro atividades, de uma hora
e meia cada, com grupos escolares de quinto ano no Centro
de Documentação e Obras Valiosas cujo tema proposto era o
significado sobre a abolição da escravatura em 13 de maio
de 1888. As escolas selecionadas foram a Escola Coronel
Pedro Osório, vinculada ao poder público estadual, e a
Escola Santa Mônica, instituição privada. Foram
estabelecidos contato com a coordenação das escolas, bem
como uma série de visitas às instituições. Organizou-se uma
agenda. Foram confeccionados materiais para as atividades,
como cartões de pergunta-resposta, lembranças de visitas e
um troféu para a equipe campeã do concurso proposto.
Elaborou-se um roteiro de apresentação da exposição
fundamentado em pesquisa sobre o tema. As atividades
aconteceram nos dias 16/05, 21/05, 04/06 e 11/06 e
envolveram 103 participantes.
Considerações Finais
O passar do tempo intriga e fascina o homem. Sua
passagem pela história diante de sua efemeridade, o imbuiu
do dever do registro. Dessa forma, desde as sociedades mais
primitivas, a arte de registrar pictoricamente suas
façanhas, atos e fatos têm evoluído enormemente. Fato é a
compulsão das sociedades contemporâneas em registrar tudo e
a todo tempo, como bem descreveu Michelon
Mas com o advento da fotografia deu-se início a umaforma distinta de representar, que durou até ofinal do Século XX, quando a imagem analógica foisuperada pela digital. Essa distinção origina-se darelação da imagem com a coisa que representa em umasituação sem precedentes, e ainda sem sucedâneo,que fê-la atribuída de uma qualidade da qualcarece: a exatidão. (MICHELON, 2010 ,p.8)
Assim, de longe, percebe-se a importância das
fototecas na contemporaneidade e seu esforço na manutenção,
preservação e acesso às diversas coleções fotográficas
nelas acondicionadas. Um conjunto de informações
fundamentais para o avanço das pesquisas nos diversos
campos do conhecimento, apesar de toda problemática
teórico-metodológica que envolve o assunto, como bem
identifica Michelon
Mas, justamente nesse conjunto, enuncia-se oparadoxo da fotografia, quando usada na condição deum registro documental afirmativo: a imagem atestao que nela esta, mas isso e o que a interpretaçãoencontra, e essa nem sempre se opera como um fatopredeterminado. Nas imagens que são tratadas nesseestudo, tal dubiedade pode ser um fatoridentificável num único quadro, mas também noconjunto ou na continuidade de quadros. No entanto,o espaço dessa cidade e flagrado de imediato no quedela foi dado a ver aos seus contemporâneos.(MICHELON, 2004, p.126)
Apesar do processo de atualização do Memorial
Fotográfico da Bibliotheca Pública Pelotense não estar
encerrado – apenas 717 fotos foram processadas – percebeu-
se que o conjunto do acervo, além de ser testemunho de
diversos momentos históricos da cidade de Pelotas/RS e
possuir potencial como fonte documental para trabalhos
científicos, entre outros, possibilita a organização de
atividades expositivas com fins educativos para um espaço,
a BPP, não formal de ensino.
Referências
DIAS, Katia Helena, MICHELON, F. F. A leitura da cidade do passado na leitura de suas fotografias: Pelotas na primeirarepública. XVII CIC. X ENPOS. UFPEL, Pelotas, 11 a 14 de NOVEMBRO, 2008.
MICHELON, Francisca Ferreira. A cidade como cenário do moderno: representações do progresso nas ruas de Pelotas (1913-1930). Biblos, Rio Grande, 16, 2004. p. 125-143
___________. Fotografias arrebatadas do inferno para imaginar o inimaginável. Revista Memória em Rede, Pelotas, v.2, n.3, ago.-nov. 2010. p. 7-12
___________. Origem e orientação do projeto MemóriaFotográfica de Pelotas. In: Catálogo Fotográfico – SéculoXIX/1930 – Imagens da cidade: acervo do Museu Histórico daBiblioteca Pública Pelotense. Pelotas: EditoraUniversitária/UFPEL, 2000.
MONQUELAT, Adão. Pelotas no tempo dos chafarizes. Pelotas: Livraria Mundial, 2012.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). SãoPaulo, v. 10, 1993. ISSN 0102-4442. pp 7 – 28.
NUNES, João Fernando Igansi. Cultura pós-fotográfica: o devir das imagens eletrônicas no estudo de caso do acervo fotográfico do Museu Histórico da Bibliotheca Pública Pelotense. Dissertação de mestrado. FBC/UFRGS, 2002.
PERES, E.T. O templo de luz: os cursos noturnos masculinosde instrução primária da Biblioteca Pública Pelotense(1877-1915). Dissertação de mestrado em Educação. Faculdadede Educação/UFRGS, 1995.