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Poiésis, Tubarão/SC, v. 15, n. 27, p. 211-234, jan./jun., 2021. Universidade do Sul de Santa Catarina. ISSN 2179-2534. DOI: https://doi.org/10.19177/prppge.v15e272021211-234.
CUIDADOS E DESCUIDOS COM A CRIANÇA E A INFÂNCIA NA OBRA DE CHICO BUARQUE
Ana Maria Monte Coelho Frota1 http://orcid.org/0000-0003-4890-5821
Ângela de Alencar Araripe Pinheiro2 https://orcid.org/0000-0001-8861-0265
Laisa Forte Cavalcante3 https://orcid.org/0000-0002-6523-847X
RESUMO Aqui nos deteremos a discutir acerca da compreensão buarqueana dos cuidados e descuidos voltados à criança e à infância, a qual atravessa sua obra musical. O estudo efetivou pesquisa bibliográfica sobre arte e realidade social; infância e ser criança; escuta e re-escuta do conjunto de canções de Chico Buarque, de autoria única ou em parceria, desde os anos 1960 aos anos 2000. Submetemos os dados construídos à análise de conteúdo temática, emergindo as categorias: brincadeira; características da infância; cuidados e descuidos; infância e momentos da vida. Em ‘cuidados e descuidos’ vemos como Chico busca reminiscências infantis e valorização das pessoas do povo.
Palavras-chave: Criança; Infância; Chico Buarque; Cuidados e Descuidos.
CARE AND CARELESSNESS WITH THE CHILD AND CHILDHOOD IN THE WORK OF CHICO
BUARQUE ABSTRACT Here we are focusing in introducing and discussing our perspective about Buarque’s comprehension of care and carelessness aimed at child and childhood. In order to approach this questioning, this study performed bibliographic research about art and social reality; childhood and being child; listening and relistening to a set of songs by Chico Buarque, in single authorship or partnership, since the 1960s through the 2000s. We submitted the acquired data to thematic content analysis, where the following categories emerged: children’s play; childhood characteristics; care and carelessness; childhoods; and moments of life. In care and carelessness we see how Chico seeks children’s reminiscences and to value people.
Keywords: Child; Childhood; Chico Buarque; Care and Carelessness.
CUIDADOS Y DESCUIDOS DEL NIÑO Y DE LA INFANCIA
RESUMEN Aquí vamos a hacer una pausa para hablar Acerca de Sergio Buarques comprensión de la atención y falta de cuidado dirigido a los niños y la infancia, que se ejecutan a través de su obra musical. El estudio efectuado literatura sobre el arte y la realidad social; infancia y ser un niño; escuchar y volver a
1 Professora Titular da Universidade Federal do Cear á, Aposentada do Departamento de Economia Doméstica, Vinculada ao Programa de Pós-Educação em Educação da UFC. E-mail: <anafrota@ufc.br> 2 Doutora em Sociologia, Professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará, Departamento de Psicologia. E-mail: <a3pinheiro@yahoo.com> 3 Psicóloga, ex-bolsista Pibic, Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Ceará. E-mail: <laisacavalcante93@hotmail.com>
CUIDADOS E DESCUIDOS COM A CRIANÇA E A INFÂNCIA NA OBRA DE CHICO BUARQUE
Poiésis, Tubarão/SC, v. 15, n. 27, p. 211-234, jan./jun., 2021. Universidade do Sul de Santa Catarina.
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escuchar al conjunto de canciones de Chico Buarque, sola o en asociación autoría, desde 1960 hasta 2000. Presentamos los datos incorporados al análisis de contenido temático, categorías emergentes: broma; características de la infancia; atención y falta de cuidado; infancia y momentos de la vida. En la 'atención y falta de cuidado' vea cómo buscar Chico reminiscencias de los niños y el aprecio de la gente común. Palabras-clave: Niños; la infancia; Chico Buarque; Cuidado y descuidos.
Primeira estrofe: a arte e a constituição do tecido social
São incontáveis os fios que constituem o tecido social, fios que se entrelaçam, se
embatem, se fortalecem, se esgarçam, em processo constante, não linear, ao longo da história
e em diferentes contextos. Fios que advêm de fontes normativas as mais diversas, tais como:
legislação, religião, tradições e costumes, ciência e filosofia, mercado de consumo, cultura e
arte. Diferentes concepções, significações, visões de mundo e de infância, por exemplo,
circulam no tecido social, através de expressões advindas dessas fontes e contribuem,
sobremaneira, para a concretização de práticas e tratos sociais que são dispensados a
crianças, a partir de regras, normas que grupos e instituições estabelecem, adotam. Normas
e regras que se configuram e se reconfiguram ao largo da história e ao considerarmos
diferentes contextos sociais (PINHEIRO, 2006; 2009).
Temos como um de nossos pontos de partida que a arte é constituída e constitui
a realidade em que nos inserimos, qual seja, expressões artísticas e contextos sociais e
históricos mantêm mútuas influências. Assim, “a arte é social em dois sentidos: depende da
ação de fatores do meio, que se exprimem na obra em graus diversos de sublimação; e produz
sobre os indivíduos um efeito prático, modificando a sua conduta e concepção do mundo, ou
reforçando neles o sentimento de valores sociais” (CÂNDIDO, 2000, p. 20-21).
Temos a arte como sistema simbólico próprio, que assume diversificadas
expressões, ao considerarmos a sua diversidade: manifestam-se em produções nos campos
da literatura e poesia; artes cênicas; artes plásticas; música; dança; cinema e fotografia
(MIRANDA, 2010). Dois pensamentos de Miranda e Latorre (2009, p. 15) contribuem para
clarear nossa compreensão de arte e de suas implicações no cotidiano e na construção de nós,
como seres humanos:
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Todos nós nascemos, biológica e espiritualmente, incompletos. A humanidade de cada um de nós se constrói na história. E as artes, de forma manifesta e clara ou latente e tortuosa, parecem nos conduzir a este grande termo: superar as incompletudes e insuficiências de nossa humanidade, nos tornando cada mais humanos [...]
Partimos do princípio de que a arte é uma linguagem e, como tal, ela não se reduz
a um mero meio de comunicação entre os homens, mas é principalmente um poderoso
instrumento de estruturação de sentidos do mundo. Daí a importância de se vincular a
diversidade dessas linguagens a uma perspectiva comum de busca de expressão e
compreensão da vida.
Prosseguindo na abordagem da relação entre arte e vida social, trazemos para o
diálogo afirmação de Farias (2002, p. 9), que nos permite refletir sobre a potência da arte
como expressão e como instrumento de leitura da realidade:
Arte é expressão em toda a sua potência – além da forma e significado da expressão que se emprega cotidianamente, além da realidade que nos é ofertada a cada dia, cujos limites se fecham antes de até onde pode ir à imaginação.
As reflexões acima construídas, em diálogo com Cândido (2000), Farias (2002) e
Miranda (2010), permitem-nos considerar as produções artísticas como interpretações das
realidades sociais, ao mesmo tempo em que possibilitam novas interpretações, em
movimentos, tensionamentos e articulações entre elas. Desta feita, no incomensurável
conjunto de expressões artísticas – constituídas e constitutivas do tecido social, buscamos
identificar e compreender significações de infância e do ser criança que circulam através de
letras de música popular brasileira. É importante destacar que a música (melodia e letra) é
expressão artística de larga difusão em nosso País. Em outras palavras, buscamos adentrar no
universo das letras de canções da Música Popular Brasileira (MPB), que possam veicular
significações sociais do ser criança e de infância.
Para viabilizar esta investigação, estabelecemos como recorte o universo das
letras das canções de Chico Buarque de Holanda (CB), de sua única autoria ou em parceria,
bem como versões para o idioma português, efetivadas pelo compositor. O universo de suas
canções foi elencado a partir do sítio eletrônico do autori, incluindo tanto aquelas que
compõem a discografia, como as que se encontram fora dela.
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Antes de prosseguir, parece-nos oportuno um comentário primeiro e sucinto
sobre a nossa percepção das canções de Chico Buarque, sob o respaldo do que nos diz Cândido
(1995, p. 179), ao considerar a produção literária, no conjunto indissociável entre conteúdo e
forma, resulta em certa modalidade de conhecimento, que “enriquece a nossa percepção e a
nossa visão do mundo”.
O artista renomado, admirado, versátil, objeto de estudo – Chico do Brasil
Nossa escolha pelas canções de Chico Buarque se fundamenta em alguns critérios:
respeitabilidade de que goza o artista; a importância reconhecida de sua obra; a amplitude do
trabalho do artista, iniciado nos primeiros anos da década de 1960 até os dias atuais.
O conjunto de criações artísticas de Chico Buarque tem sido recorrentemente
apontado como de elevada relevância no cenário artístico nacional e internacional. São
inúmeras as referências que sobre ele encontramos, formuladas por jornalistas, biógrafos,
artistas, críticos de arte, literatos. São adjetivações fartas e reveladoras do respeito que goza
Chico Buarque entre tantos formadores de opinião, tanto no Brasil como em alguns outros
países.
O sociólogo Antônio Cândido (2004, p. 19), por exemplo, destaca a integridade de
CB, bem assim a variedade de suas aptidões. Aponta, ainda, que CB, como poucos, é capaz de
“fundir harmoniosamente a maestria artística e a consciência social, completando um perfil
de cidadão serenamente destemido e participante, sempre na linha da melhor orientação
política”. Já o dramaturgo Augusto Boal (2004, p. 45), contextualizando lembranças de seu
exílio em Lisboa, por conta da ditadura militar no Brasil, relembra a chegada, por intermédio
de sua mãe, de uma carta de CB: trata-se de Meu Caro Amigo (letra dele e melodia de Francis
Hime - 1976), letra que o dramaturgo considera a mais pura poesia épica. Para Boal (2004), a
música os fez (exilados – ele, Paulo Freire, Darcy Ribeiro e outros) ouvir um canto de
esperança, e destaca a resistência de CB no Brasil, escrevendo, por exemplo, Apesar de Você
e Vai Passar.
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As palavras de Frei Betto (2004, p. 53), jornalista e escritor, destacam três
dimensões de CB como artista: compositor e intérprete, escritor e animal político. É impossível
resistir a citar mais algumas de suas alusões ao artista:
Sua antimensagem é um convite ao mais profundo do nosso ser, lá onde o discurso se cala e a intuição passeia de mãos dadas com sua irmã gêmea – a inteligência. (...). Abraça causas movido pela bem-aventurança da fome de justiça. Fica ao lado dos oprimidos, ainda que aparentemente eles não tenham razão. (...) Chico é todo ele palavra. Esse é o seu reino, a sua mátria, a razão do seu viver. Por isso a preserva tanto. Conhece o seu valor e cuida de não desperdiçá-la. Nele também o verbo se faz carne, e música, e texto e protesto.
O teólogo e escritor Leonardo Boff (2004, p. 83) destaca na obra de CB “uma clara
visão humanista não sem influência da cultura cristã”, e reconhece no artista “o poeta
cantador engajado com as causas maiores, que têm a ver com o humanismo e o cristianismo
secular” (BOFF, 2004, p. 88), bem como “uma das referências fundamentais da resistência à
Ditadura Militar, através de seu engajamento discreto, mas persistente”.
Regina Zappa (2004, p. 107), jornalista e biógrafa de CB, traz observações sagazes
sobre a alma brasileira, presente nas músicas de CB. A biógrafa descreve CB como “um homem
inteligente, de humor refinado e alma sensível e um atento observador na natureza humana”.
Assim como Zappa, consideramos que esses atributos de CB são fundamentais para tornar
peculiar a sua obra, no sentido de captar e retratar, em suas canções, a alma brasileira, em
suas tão diversificadas facetas, fincadas também em tão variados contextos, País afora.
Podemos, ainda, apontar outros atributos reconhecidos em CB: o músico Aquiles
Reis (2004, p. 47) reconhece-o como “fantasista de truz”; o cantor e compositor Chico César
(2004, p. 49) fala da sua “bondade e retidão”, e seu “rigor estético e sua verve generosa”. O
diretor de teatro Gerard Thomas (2004, p. 55) qualifica CB como “um dos grandes, senão
maiores poetas de todos os tempos, como um dos grandes gênios universais”. O compositor
cubano Silvio RodrÍguez (2004, p. 59) faz afirmativa similar à de Thomas, ao afirmar que CB:
“es um grand artista brasileño, latino-americano y del mundo”. Na mesma linha de
declarações, Zappa (2004, p. 107) o aponta como “um dos artistas brasileiros mais
importantes do nosso tempo”.
De fato, salta aos nossos olhos como são diversos os atributos reconhecidos em
CB, que se referem à sua forma de ser no mundo, envolvendo características pessoais, sua
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inserção na política e no meio artístico, sua sensibilidade com demandas as mais prementes
do mundo social e histórico, como poeta do cotidiano, inteligente, com capacidade criativa da
mais elevada qualidade.
Chico Buarque e suas produções artísticas também vêm sendo objeto de inúmeros
trabalhos no âmbito acadêmico, entre artigos, dissertações de mestrado e teses de
doutorado. Muitos desses trabalhos, em forma de artigos ou capítulos, compõem duas
coletâneas sobre o artista e sua obra, organizadas pelo escritor e Professor Doutor da UFPB,
Rinaldo de Fernandes (2004; 2013). Os Professores Doutores Adélia Bezerra de Meneses
(2013), e Anazildo Vasconcelos da Silva (2010) são exemplos, também, de autores de trabalhos
acadêmicos sobre o artista Chico Buarque e sua obra.
Dos estudos por nós acessados, que fazem referência a temas abordados nas
produções artísticas de CB, encontramos tão somente duas alusões a crianças e infâncias:
Chico Alencar (2004, p. 67), numa construção textual utilizando trechos de canções de CB que
abordam o cotidiano, inclui “as desventuras dos meninos do Brejo da Cruz, que zanzam daqui
pr’acolá, dos pivetes dos sinais fechados”; e quando Zappa (2004, p. 109) inclui, entre os
personagens que CB inventa, “a mãe que deixa a blusa com seu cheiro na cama do filho”.
Achamos conveniente relembrar a alusão à criança e ao pedreiro (Pedro Pedreiro), que fez CB,
em seu primeiro songbook, em 1966, quando ele se interroga sobre quando os dois saberão
de seu livro. “Não sei, o livro é deles”, é a resposta que Chico se deu.
E ficamos a nos inquietar, desassossegados, com a possibilidade de que CB traz o
vigor das infâncias amadas, “bem vividas”, e também do rigor das infâncias maltratadas,
violadas, desvalidas (FROTA, 2007; 2011).
Segunda estrofe: nosso percurso e como trabalhamos nossos instrumentos
Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório e documental. Trabalhamos com
a análise do acervo musical de Chico Buarque. Toda a sua produção de letras de música foi
analisada, entre os anos 1960 e anos 2000, através da consulta e pesquisa em seu site oficial.
As letras foram estudadas, escutadas e reescutadas, sendo selecionadas aquelas que fazem
alusões diretas e ou indiretas à criança e à infância. A partir daí, trabalhamos em diálogo com
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autores que estudam a obra de Chico, bem como com aqueles que abordam as categorias que
emergiram do conteúdo das músicas analisadas.
Os dados construídos foram submetidos a processo de análise de conteúdo
temático, durante o qual emergiram as seguintes categorias: brincadeira; infâncias; cuidados
e descuidos; características da infância; e momentos da vida. Neste texto, nos deteremos a
apresentar e discutir somente a categoria cuidados e descuidos.
No decorrer da pesquisa, dialogamos com teóricos da sociologia da infância,
psicologia do desenvolvimento, filosofia da infância, estudiosos da arte, considerando
concepções de infância e criança, como as identificadas nas letras das músicas de CB.
Buscamos orientação na diversa quantidade de trabalhos acadêmicos e ensaios já
concretizados, que analisam a obra de Chico Buarque, como as publicações Chico Buarque do
Brasil e Chico Buarque, o Poeta das Mulheres, dos Desvalidos e dos Perseguidos, ambas sob a
organização de Rinaldo Fernandes (2004; 2013); textos acadêmicos de Luciano Cavalcanti
(2012), Cynthia Ciarallo (2009), Adélia Bezerra de Meneses (2013) Igor Fagundes (2013);
biografias do autor, de autoria de Regina Zappa (2004) e Fernando de Barros e Silva (2004).
Em análise de conteúdo que permita o tratamento de dados advindos de canções,
consideramos estudos e ideias de Bardin (2009); Minayo (2001); Pinheiro (2001; 2006);
Pinheiro, Melo, Arruda, Nóbrega e Pinheiro (2009).
Durante todo o desenvolvimento da nossa investigação, acompanhou-nos um
questionamento central: Quais significações sociais explícitas e implícitas, relacionadas ao ser
criança e à infância, são refletidas na obra musical de Chico Buarque de Holanda?
Terceira estrofe - uma obra que vem atravessando o tempo, um artista que vem vivendo o
seu tempo
É na década de 1960 que CB inicia a produção artística. Já são, assim, mais de 50
anos de profícua criação, no âmbito de melodias e letras de música, peças teatrais e romances.
Em nosso estudo, como dito anteriormente, escutamos as suas canções desde a
década de 1960 até os anos 2000. Embora houvesse poucos indícios de que Chico abordasse
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a temática da infância em sua obra, para nossa surpresa encontramos uma diversidade
enorme de canções que tratam sobre a criança e a infância em diversas representações.
Fizemos uma primeira pré-seleção das canções de Chico, consultando as letras em
seu sítio oficial e escutando-as por intermédio do sítio de audiovisuais conhecido como
youtube, assim como em discos, em interpretações que contassem com a participação do
compositor. Posteriormente, reescutamos as músicas já pré-selecionadas para uma
reverificação das nossas escolhas. Dessa forma, pudemos ter um segundo olhar sobre as
músicas. Encontramos na década de 1960, 15 canções contendo algum tipo de representação
da infância. A década de 1970 se apresenta como tendo o maior acervo de letras de músicas
que tratem, implícita ou explicitamente, sobre o tema de nossa investigação, com 26 canções.
Na década de 1980, identificamos 12 canções nas quais aparece alguma alusão à criança e
infância. Já a década de 1990 revelou um número pequeno de letras de músicas com alusão
ao tema pesquisado: selecionamos somente 02 letras de canções. Finalmente, nos anos 2000,
aparecem 03 canções que abordam o ser criança e a infância.
Indagamo-nos de que modo o contexto efervescente dos anos 1960 a 1980,
marcados por grande convulsão social e política, possa ter contribuído para o delineamento
desta realidade. Parece existir uma relação direta e clara entre a realidade social e as letras
das músicas. Assim, Pivete, que se configura numa clara denúncia social, data de 1978. O Meu
Guri, que também retrata e exclusão e uma dura realidade de crianças em conflito com a lei,
foi criada em 1981. Finalmente, à guisa de exemplificação, Brejo da Cruz, de 1984, também é
emblemática como denúncia de descuido e privação existentes na infância.
Cuidados e descuidos: uma visão buarqueana
Cuidados: sentidos possíveis
Para Boff (2004), em latim, donde se deriva o português, cuidado significa Cura.
Cura é um dos sinônimos eruditos de cuidado. Em seu sentido mais antigo, cura se escrevia
em latim coera e se usava em um contexto de relações humanas de amor e de amizade. Cura
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queria expressar a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pelo
objeto ou pela pessoa amada. O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem
importância para nós. Passamos, então, a nos dedicar a ele; dispomo-nos a participar de seu
destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e de suas conquistas, enfim, de sua vida. Cuidado
significa, então, desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato. Trata-se, como se
depreende, de uma atitude fundamental do ser humano. Assim, o cuidado fala da relação do
homem com o outro. Diz desta relação, tão bem delimitada como sendo um modo ontológico
de caracterizar o ser humano.
Boff (2004, p. 83) acredita que:
A produção artística e literária de Francisco Buarque de Holanda revela, em seu transfundo, uma clara visão humanista não sem influência da cultura cristã. Não que se apresente como um homem religioso, mas alguém que se inscreve dentro da tradição humanista, sabidamente fecundada pelo ideário cristão.
Em seu texto, Boff (2004) discorre sobre esse humanismo aberto, como ele o
chama, e ao qual associa a bondade, a solidariedade, a cooperação e a compaixão. E, mais
ainda, o amor, a benquerença, a reconciliação, a paz.
A compreensão do filósofo, acerca da obra de Chico Buarque, é de que ela vem
sendo construída dentro de um caldo cultural com as características acima descritas por Boff.
Logicamente, jamais tivemos a expectativa de que CB formularia um discurso nos moldes
teóricos e acadêmicos. Na verdade, não teorizando, Chico canta “existencialmente o cotidiano
em sua profundidade, em seus limites e em sua glória escondida” (BOFF, 2004, p. 85). Para o
autor, o sentido da produção de Chico Buarque vai além daquele que ele mesmo quis dar a
sua obra. Ele não tem o monopólio do sentido da realidade por ele cantada e descrita. Há
múltiplas facetas de sentido que podem ser captadas pelos ouvintes e leitores, que então se
fazem coautores da obra.
Em Acalanto para Helena, Chico nos revela seu cuidado e preocupação com a filha:
“Dorme minha pequena/ Não vale a pena despertar/ Eu vou sair/ Por aí afora/ Atrás da
aurora/ Mais serena”. Seus olhos parecem enxergar a dureza da vida e os riscos que os chicos
e as chicas correm. Fala-nos da necessidade de cuidar dos pequenos?
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Cavalcanti (2012) assegura que, em sua obra, Chico Buarque nos mostra uma
ampla galeria de desvalidos: pobres, assalariados, camelôs, ambulantes, prostitutas,
malandros, pessoas humildes e mulheres. Também as crianças atravessam sua obra, embora
que pouco vistas e reconhecidas. Chico busca reminiscências infantis e valorização das pessoas
do povo. Aparecem figuras marcantes e desvalidas como o negro, o torto, o errante, os
detentos. As crianças também podem ser identificadas como desvalidas se não são cuidadas?
Parece-nos claramente que sim.
No que chamou de galeria de desqualificados, Cavalcanti (2012, p. 20) se refere a
“gente que vive porque é teimosa”. Chico reconhece o outro, resgata sua experiência de dor
e de alegria, pertencentes a todos os seres humanos, afirma o autor. E segue dizendo:
“Compreende que o indivíduo está inserido no mundo, sujeito a todas prováveis situações que
possam ocorrer. Com o sentimento de solidariedade confraternizam-se numa igualdade
universal” (CAVALCANTI, 2012, p. 25). Na música Angélica (1977 - Chico e Miltinho), por
exemplo, o poeta nos conduz ao umbral da dor humana de não mais poder cuidar do filho,
pois que morto:
Quem é essa mulher,
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho.
Que mora na escuridão do mar.
Quem é essa mulher,
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento,
Que fez o meu filho suspirar (...)
Quem é essa mulher,
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho,
Que mora na escuridão do mar.
O contexto dessa música refere-se aos denominados anos de chumbo da Ditadura
Militar, e diz respeito à história real de uma mãe, Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel. Ela lutou
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desesperadamente - até morrer em um estranho acidente de carro - para desvendar o
mistério que cercava o desaparecimento e morte de seu filho, militante político, que foi preso
e torturado por desobedecer aos ditames do regime de exceção vigente à época. Quais as
ações que a canção registra? Embalar, agasalhar, deixar descansar - verbos que indiciam os
gestos da maternidade, de proteção, cuidado e preservação do que é frágil: “seu filho, seu
anjo, seu menino”.
Ao mesmo tempo, Chico Buarque nos fala de cuidado e da proteção maior para
com os pequenos, como em Opereta de Casamento (1982, Chico e Edu Lobo): “Oh meu pai,
oh meu pai, por favor/ Condenai o nosso amor/ De langor e luxúria! Mas poupai, oh meu pai/
Nosso filho da fúria do Senhor!” Parece existir, na sua obra, uma compreensão de
cuidado/descuido com as crianças e a infância. Boff (2004, p. 5) foi extremamente sagaz ao
falar que Chico trata de um ethos humano, pela forma de estar no mundo, através do cuidado.
É o que o filósofo afirma:
Não vemos a natureza e tudo que nela existe como objetos. A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Experimentamos os seres como sujeitos, como valores, como símbolos que remetem a uma realidade frontal. A relação não é de domínio, mas de convivência. (...) Não é pura intervenção, mas principalmente interação e comunhão. É de cuidado das coisas. Cuidar das coisas implica ter intimidade com elas, senti-las dentro, acolhê-las, respeitá-las, dar-lhe sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com as coisas. Auscultar-lhe o ritmo e afinar-se com ele. Cuidar é estabelecer comunhão. Não é a razão analítica-instrumental que é chamada a funcionar. Mas a razão cordial, o esprit de finesse (o espírito de delicadeza), o sentimento profundo. Mais que o logos (razão), é o pathos (sentimento), que ocupa aqui a centralidade.
Há outra canção de Chico, que envolve a tragédia ligada à maternidade: O Meu
Guri, composta em 1981. Essa canção, segundo Fernandes (2013), refere-se ao eu lírico de
uma mãe de um garoto desvalido e marginal, e que desconhece a real condição do trabalho
de seu filho.
Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar (...)
Eu consolo ele, ele me consola
CUIDADOS E DESCUIDOS COM A CRIANÇA E A INFÂNCIA NA OBRA DE CHICO BUARQUE
Poiésis, Tubarão/SC, v. 15, n. 27, p. 211-234, jan./jun., 2021. Universidade do Sul de Santa Catarina.
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Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí! (...)
Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo eu não disse, seu moço!
Ele disse que chegava lá (...)
Existe uma profunda ironia da situação trágica ao longo dessa composição. Ele
disse que chegava lá, em que o orgulho materno mascara a trágica realidade ‘Olha aí, ai o meu
guri, olha ai’. Fernandes (2013, p. 29) analisa o contato tênue entre Angélica e O Meu Guri, ao
assim refletir:
A mãe retratada em Angélica e a favelada do morro: o confronto dessas duas mulheres que perderam seus filhos recorta um quadro doloroso que coloca em questão a maternidade ferida. Duas mães, dois filhos mortos, o “anjo” e o “marginal” - ambos assassinados: um pelas forças mortíferas da repressão política; outro, eliminado pela força policialesca, num quadro de marginalidade e opressão socioeconômica. Uma tem consciência, sabe que perdeu o filho e, a partir dessa consciência, pode estruturar o seu luto e emprestar um sentido para a sua vida: cantar por seu menino, que ele não pode mais cantar. E a outra, analfabeta, nem pode ler a legenda das fotos do jornal e decodifica invertidos os signos da morte. O que torna quase que mais dolorosa a situação da mãe do Guri marginal é que a alienação atinge fundo, a desumanização vai longe: ela perde, mas não sabe que perdeu, enquanto em Angélica a dor é flagrada no seu movimento.
Fica-nos claro que uma das formas de referência, nas canções de Chico Buarque,
se dá através de suas abordagens sobre a maternidade. Ou seja, o foco do teor de Angélica e
O Meu Guri está na maternidade, a saber, na relação entre a mãe e o filho, e não na infância,
no ser criança.
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Cuidados com a criança e com a infância
Cândido (1995, p. 181) classifica as produções literárias, denominadas de
Literatura Social, como aquela que “visa a descrever e eventualmente a tomar posição em
face das iniquidades sociais, as mesmas que alimentam o combate pelos direitos humanos”.
Aponta o romance humanitário e social (começo do Séc. XIX) como exemplo da Literatura
Social, através do qual o pobre ocupa um tratamento com dignidade na literatura, e não mais
como pitoresco ou cômico. Traz o exemplo de Os Miseráveis, no qual Vitor Hugo, entre outros
personagens, inclui a criança brutalizada pela família, o orfanato, a fábrica, o explorador.
Assim como Vitor Hugo, o poeta Chico Buarque também nos mostra as iniquidades humanas.
Descreve situações críticas permeadas por um lirismo imenso (SILVA, 2010). Em Brejo da Cruz,
por exemplo, o compositor denuncia uma situação que vem se perpetuando, e quase sempre
se invisibilizando na cotidianidade: o descuido com a criança, particularmente pelo Poder
Público. São crianças se alimentando de luz, já que comida não existe. Mais uma vez, a poesia
e o lirismo, com a linguagem peculiar de CB, nos conduzem, forçosamente, a enxergar aqueles
desvalidos: “A novidade/ Que tem no Brejo da Cruz/ É a criançada/ Se alimentar de luz/
Alucinados/ Meninos ficando azuis/ E desencarnando/ Lá no Brejo da Cruz (...)”
Silva (2010) compreende que a dimensão social da poesia do Chico Buarque tem
sido construída referencialmente, a partir da interpretação do contexto histórico, e não
poeticamente, a partir da elaboração interna do contexto lírico. Deste modo, seu coro lírico é
construído pelas vozes mimetizadas que fazem a representação social, caracterizando-se
como vozes concretas de pessoas diferentes, que se fundem para clamar algo. Fala por uma
voz que evidencia a tessitura da realidade social e histórica, comprometida e solidaria com a
dimensão humana. É o que podemos ver na sua composição Uma Menina, de 1987, na qual
faz uma representação da infância desamparada, sem discriminar vítimas ou algozes. Sem
condenar ou absolver, Chico parece não querer fomentar culpa ou revolta. Simplesmente
convida o leitor a compartilhar do sentimento:
Uma menina igual a mil
Que não está nem aí
Tivesse a vida pra escolher
E era talvez ser distraída
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O que ela mais queria ser
Ah, se eu pudesse não cantar
Esta absurda melodia
Pra uma menina distraída
Uma menina igual a mil
Do Morro do Tuiuti (...)
Assim, as relações de cuidado e descuido com a infância-criança se deixam
enxergar na sua obra. A maternidade aparece fortemente, como nas canções Angélica, O Meu
Guri, Madalena foi pro Mar, Minha História, Ai se eles me pegam agora, A Violeira, As Minhas
Meninas. A abordagem da maternidade se faz diversificadamente, claramente atrelada ao
papel da mulher que cuida. Apenas em duas composições de Chico Buarque, observamos a
ausência desse cuidado materno, e a referência a cuidado paterno: em Madalena foi pro Mar:
“Madalena foi pro mar/ E eu fiquei a ver navios/ Quem com ela se encontrar/ Diga lá no alto
mar/ Que é preciso voltar já/ Pra cuidar dos nossos filhos"; e em Você não ouviu: “No fim do
mês, quando o dinheiro aperta/ Você corre esperta/ E vem pedir ajuda/ Eu lhe procuro, mas
você se esconde/ Não me diz aonde Nem quer ver seu filho. No fim do mês é que você
responde/ E no primeiro bonde/ Vem pedir auxílio”. Em seus conteúdos, a mulher/mãe não
cuida do filho, entregando este cuidado ao homem/pai.
Na canção Violeira, por exemplo, apesar de todo sofrimento, meio épico, vivido
pela personagem, os filhos se mostram como parte integrante da sua existência. A Violeira
não fala por ela, mas pela família, por nós. Não é assim que se pode ler na letra do poeta?
“Ver Ipanema/ Foi que nem beber jurema/ Que cenário de cinema/ Que poema à beira-mar/
E não tem tira/ Nem doutor, nem ziguizira/ Quero ver quem é que tira/ Nós aqui desse lugar”.
O cuidado também atravessa a paternidade, muito marcada, no olhar de CB, pela
sustentação financeira da prole, como fica evidenciado em Vai Trabalhar, Vagabundo, um
provedor que também deixará a criançada chorando: “(...) Parte tranquilo, ó irmão/ Descansa
na paz de Deus/ Deixaste casa e pensão/ Só para os teus/ A criançada chorando/ Tua mulher
vai suar/ Pra botar outro malandro/ No teu lugar (...)”
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O cuidado também se mostra em Minhas Meninas: “Olha as minhas meninas/ As
minhas meninas/ Pra onde é que elas vão/ Se já saem sozinhas (...)/ As meninas são minhas/
Só minhas/ As minhas meninas/ Do meu coração”.
Nesta poesia, fica evidente o desejo de cuidar das meninas que, já crescidas,
escapam das mãos vigilantes do pai e da mãe. As meninas são do coração. Mas do coração
partem para o mundo. Também Uma Canção Desnaturada nos fala da dor paterna, ao
perceber que a filha cresceu e foi para o mundo. A dor de não conter o futuro da filha grita
pela reversão do tempo:
Por que cresceste, curuminha
Assim depressa, e estabanada
Saíste maquiada
Dentro do meu vestido
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Para viver a tempo
De poder
Te ver as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira
Te emporcalhando inteira
E eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E só cuidar de mim
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos
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E ir te exibindo pelos
Botequins (...)
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído
“Vossos filhos não são vossos filhos, são filhos e filhas da própria ânsia de vida”, já
nos assegurava, antologicamente, Khalil Gibran. Porém, não é sem sofrimento que alguns pais,
no dizer poético de Chico, veem o crescimento de seus filhos e a perda da possibilidade de
contê-los, em seus cuidados.
Não identificamos, no conjunto das canções de Chico Buarque, a presença da
família extensa como partícipe das relações de cuidado com as crianças e a infância. Somente
a figura do avô, por uma vez, surge, em Opereta de Casamento, como atestamos no trecho
que se segue: “Quando a mãe caiu na sarjeta/ Foi seguindo a opereta/ Na garupa do avô/
Quando o avô caiu do cavalo/ Foi chorar no intervalo/ E mais um ato começou”.
Para nós, fica patente que o cuidado materno é fortemente presente na poética
de Chico Buarque. A propósito, Fagundes (2013, p. 157), ao analisar O Meu Guri, considera
notável a intimidade da mãe com seu filho:
Tamanho esforço e competência do guri na corrida [para chegar lá! comovem o sujeito expressivo: a mãe teria motivos de sobra para se orgulhar dos feitos do rebento, que compartilha seus frutos, trazendo-os para casa, presenteando-os àquela que o deu à luz (ou à sombra?) e lhe possibilitando que também conquiste seu lugar ao sol: “E traz sempre um presente (...) terço e patuá.
Chamou nossa atenção o fato de não encontrarmos nenhuma letra na obra de CB
que faça algum tipo de referência ao cuidado do Poder Público, como necessário e legítimo
para a criança e a infância. Isso nos remete à ausência de cuidado na seara pública. Ou ainda:
descuido!
Descuidos
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Frei Betto (2004, p. 53) tece interessantes comentários sobre a obra de Chico
Buarque. Para ele, o poeta se diferencia, evidenciando um comprometimento ético muito
peculiar: “Político, Chico evita partidos e palanques. Abraça causas, movido pela bem-
aventurança da fome de justiça. Fica ao lado dos oprimidos, ainda que aparentemente eles
não tenham razão. Exilado em sua clandestinidade permanente, Chico emerge nos momentos
cruciais”. Para Pinheiro (2006; 2007; 2014), o campo político da infância e da adolescência é
amplo, revela tensões próprias a ele, bem como da questão social brasileira. São enormes as
desigualdades sociais, decorrentes de problemas estruturais e conjunturais; são políticas e
recursos públicos até hoje aquém das demandas do universo de crianças e adolescentes.
Assim, é necessário estarmos sempre atentos às peculiaridades desse campo, no que diz
respeito a práticas e representações referentes a crianças e adolescentes, que se articulam
com seus direitos, quando são violados, e também quando ameaçados de violação.
Devemos estar atentos, sem a intenção de se responder definitivamente, ao
seguinte questionamento: Como têm sido percebidos, significados, no tecido social brasileiro,
crianças e adolescentes com seus direitos violados (ou em ameaça de violação)?
No Brasil, há a dimensão normativa de garantia de direitos, que inclui promoção,
proteção e defesa. Requer, além de Leis, instituições a quem recorrer, quando de ameaça ou
violação: assim, a partir de 1988, contamos com dispositivos fundamentais para a garantia de
direitos de crianças e adolescentes, dos quais são exemplos: Constituição Federal (BRASIL,
1988); Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989); Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA; Lei Federal no. 8069, de 13 de julho de 1990 (BRASIL, 1990);
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL, 2006).
A tensão social existente no campo dos direitos humanos e, especificamente dos
direitos das crianças, é grande. Se tomarmos como exemplo o direito à convivência familiar e
comunitária, umbilicalmente relacionado à dimensão de cuidado, podemos verificar como há
vinculações a outras dimensões de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, e suas
violações, entre os quais, neste texto, é preciso atentar para as formas de violência (familiar,
política, institucional, sexual). Para clarearmos, mais ainda, a compreensão que temos de
infância e do ser criança, no que se refere à construção de significações e práticas referentes
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a cuidados e descuidos, são nossas ideias: (1) no mundo social: nada é natural, tudo é
construído; nele circulamos de acordo com sistemas classificatórios; (2) em nosso tecido
social, há uma constante tensão entre igualdade e diferença; entre a significação de crianças
e adolescentes como objetos e como sujeitos de direitos; entre políticas universais e
específicas – de um lado, e políticas focalistas e assistencialistas, de outro; (3) Apesar da
existência de políticas públicas, os direitos da criança estão longe de serem atendidos, posto
que em nenhuma delas a abrangência, até hoje, dá conta do universo de demandas.
Conteúdos de canções de Chico Buarque evidenciam tais situações, em diferentes
tempos e contextos sociais e históricos, ao longo de mais de cinquenta anos em que o autor
vem construindo suas composições: (1) crianças trabalhando: “Peitinhos de pitomba/
Vendendo por Copacabana/ As suas bugigangas/ Suas bugigangas – Carioca”; (2) passando
fome: “A novidade/ Que tem no Brejo da Cruz/ É a criançada/ Se alimentar de luz/ Alucinados/
Meninos ficando azuis/ E desencarnando/ Lá no Brejo da Cruz– Brejo da Cruz” e em O Meu
Guri: “Quando, seu moço, nasceu meu rebento/ Não era o momento dele rebentar/ Já foi
nascendo com cara de fome/ E eu não tinha nem nome pra lhe dar; (3) sem o devido cuidado
social: “Uma menina igual a mil/ Que não está nem aí/ Tivesse a vida pra escolher/ E era talvez
ser distraída/O que ela mais queria ser/ Ah, se eu pudesse não cantar/ Esta absurda melodia/
Pra uma menina distraída/ Uma menina igual a mil/ Do Morro do Tuiuti”- Uma Menina.
São, assim, falas sobre condição de descuido para com as crianças e com a infância,
muitas das vezes nos levando a constatar a omissão do Poder Público, cujas instituições
deveriam ensejar práticas que combatessem ou eliminassem o trabalho infantil; a fome e a
desnutrição; que promovessem atividades voltadas para a construção de projetos de vida para
crianças e jovens. E Chico aborda temas tão indignantes, de modo contundente, sutil e cheio
de lirismo.
A propósito, Ciarallo (2009, p. 28) considera que a “lente da poesia de Chico
Buarque (...) ao relatar um caso aparentemente trivial, descreve criativamente aspectos
significativos que compreendem o universo desse guri que tanto tem estado na mídia, nas
conversas do cotidiano, nos debates político-sociais”. Deste modo, O meu guri é nosso guri.
Quando dele nos aproximamos, é possível que passemos a ter um compromisso com ele –
ignorá-lo, a partir dessa aproximação, é abrir mão da nossa cidadania!
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O Meu Guri se tornou um ícone, quando se fala ou se reflete sobre o descuido
social com a criança. Ao cantar nosso guri brasileiro, desafiando datas inscritas no passado,
Chico Buarque cumpre com o destino de toda grande obra. Depois de vir pela primeira vez a
público, em 1981, a canção O Meu Guri permanece atual, como podemos constatar nas
considerações de Fagundes (2013, p. 149), sobre a composição:
Os temas da invisibilidade social, da má distribuição de renda, da evasão de menores de idade para a criminalidade e da invasão da violência no espaço urbano brasileiro passam pela sensibilidade e inteligência de Chico Buarque, pelas quais a letra faz arte mesmo quando à parte da música.
O poema nos fala da trajetória de um menino nascido em ocasião não conveniente
“Não era o momento dele rebentar”, pobre “Já foi nascendo com cara de fome”, morador de
morro “chega no morro; até ele chegar no alto” e vinculado à criminalidade “com
carregamento”. No relato, não necessariamente ciente e/ou consciente da mãe, o mundo do
crime aparece na condição de meio de “chegar lá”, ou seja, de sair da fome e da falta de um
nome para se tornar alguém na vida “na sua meninice ele um dia disse/ Que chegava lá”. Para
Fagundes (2013, p. 160), mãe e guri são vítimas, mãe e guri são os vitimadores: “Se pelo ângulo
policial, reclamamo-nos vítimas, pelo social, o guri e sua mãe são vitimizados”.
E o sonho de uma infância cuidada, de crianças amadas, se revela, mais uma vez,
nas palavras poéticas do Chico do Brasil, no olhar vigilante, capaz de gestos extremos para
protegê-las: “Tutu-Marambá não venha mais cá/ Que a mãe da criança te manda matar” - A
Noiva da Cidade.
Considerações finais
A primeira consideração que fazemos é a de termos nos surpreendido, neste
estudo, com a quantidade de canções de Chico Buarque (CB) que abordam a infância e o ser
criança (para além de algumas poucas que são mais comumente citadas, neste sentido – O
Meu Guri; Pivete; Acalanto para Helena). São 58 canções. Deixamos claro que a seleção seguiu
o arbítrio das nossas formações, de nossas inserções em espaços acadêmicos e não
acadêmicos, tais como fóruns e redes no campo político dos direitos de crianças e
adolescentes.
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A maior incidência das canções se dá entre os anos 1960 e 1980, período em que
houve imensa visibilidade de questões relacionadas à infância e ao ser criança no Brasil e no
Exterior. Vivíamos a ditadura militar e consideração do “problema do menor” como de
Segurança Nacional. Sua criminalização era de tal monta que a elaboração da PNBEM (Política
Nacional do Bem-Estar do Menor) se deu na ESG (Escola Superior de Guerra, espaço no qual
o regime totalitário concebia as leis de exceção). Ao mesmo tempo, foi nas décadas de 1970
e 1980 que o País viveu processos extraordinários de mobilização social, que se voltavam,
basicamente, para quatro objetivos: volta ao pluripartidarismo; retorno de eleições diretas
em todos os níveis; anistia política real e irrestrita e a elaboração de nova Constituição Federal,
de 1988, que traz capítulo específico sobre crianças e adolescentes, garantindo todos os
direitos para todos eles. Acresçamos, ainda, que no mesmo período, a precária condição de
vida no Brasil, particularmente de expressiva parcela de crianças e adolescentes, despertava
a indignação de pessoas, grupos e instituições no País, e repercutia no Exterior.
No universo das canções de Chico Buarque, convivemos, no correr de nossos
estudos, com personagens que ultrapassam a si mesmos, no sentido de que podemos
identificá-los em muitos outros de nossos cotidianos. Assim, sentimos ampliar o
conhecimento sobre realidades similares às em que se inserem os personagens referidos. Por
exemplo, o Pivete pode estar vendendo chiclete em um sinal fechado de incontáveis cidades
brasileiras; a personagem de Carioca pode vender suas bugigangas, não só em Copacabana,
mas em bairros outros do Rio de Janeiro e em muitas outras cidades.
Algumas percepções nos são muito presentes agora, tal que a de que este trabalho
contém interpretações nossas sobre as significações de ser criança e infâncias, nas canções de
Chico Buarque; de que seus conteúdos não esgotam a imensidão de dimensões da infância e
do ser criança em circulação, articulação ou embate no tecido social brasileiro; que igualmente
não esgotamos as possibilidades de interpretações das composições musicais de Chico
Buarque.
1www.chicobuarque.com.br Nossos incontáveis acessos vêm se dando desde o início de 2014, quando demos início ao processo de análise do conteúdo das letras de canções de Chico Buarque, como será detalhado mais adiante.
Referências
CUIDADOS E DESCUIDOS COM A CRIANÇA E A INFÂNCIA NA OBRA DE CHICO BUARQUE
Poiésis, Tubarão/SC, v. 15, n. 27, p. 211-234, jan./jun., 2021. Universidade do Sul de Santa Catarina.
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CUIDADOS E DESCUIDOS COM A CRIANÇA E A INFÂNCIA NA OBRA DE CHICO BUARQUE
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Revisão gramatical realizada pelos próprios autores. RECEBIDO 05 DE OUTUBRO DE 2020. APROVADO 21 DE MAIO DE 2021.