FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM PERÍODOS DE
DESAQUECIMENTO ECONÔMICO: O COMPROMETIMENTO DAS EMPRESAS
COM OS SEUS FUNCIONÁRIOS
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
LEANDRO BADINI VILLAR Rio de Janeiro 2002
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO
E
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM PERíODOS DE DESAQUECIMENTO ECONÔMICO: O COMPROMETIMENTO DAS EMPRESAS
COM OS SEUS FUNCIONÁRIOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADO POR:
LEANDRO BADINI VILLAR
APROVADO EM;.! OI.!!3/::2ilf}..2 PELA COMISSÃO EXAMINADORA
t-------=--"'-Lf!t~~~"---' FERNANDO G
DOUTOR EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO PELA UFRJ
PA~:l PhD EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PELA UNIVERSITY OF SOUTHERN CALlFORNIA
CÉZAR AUGUSTO MIRANDA GUEDES
DOUTOR EM ECONOMIA DE EMPRESAS PELA FGV-SP
7 7 ' j/
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, pela educação que me deram e que me permitiram chegar até aqui.
Aos colegas de curso, pelos bons momentos que passamos juntos.
Aos professores e coordenadores do curso de mestrado, pela sua atenção e dedicação.
Ao professor Fernando G.Tenório, pelo incentivo e pela colaboração.
A todos aqueles que me apoiaram durante a preparação desse trabalho com suas
opiniões, sugestões e críticas.
APRESENTAÇÃO
o presente estudo foi motivado pela percepção das transformações
que o ambiente empresarial brasileiro está sofrendo em decorrência de
uma política econômica neoliberal e do crescente poder de mobilização da
sociedade civil.
Nesse contexto, problemas sociais, ambientais e trabalhistas que
antes eram percebidos como uma responsabilidade exclusiva das
instituições públicas, passaram a ser discutido pelas companhias e a
comporem os seus planos de negócios. Ocorre, também, maior
questionamento a respeito da abrangência com que as decisões
empresariais afetam os agentes sociais. Como conseqüência, as empresas
começaram a adotar instrumentos de gestão baseados na valorização da
diversidade e de princípios éticos, representados pela responsabilidade
social corporativa.
Dessa forma, o trabalho se propõe a verificar se as empresas se
mantêm fieis aos princípios da responsabilidade social corporativa mesmo
em períodos recessivos, especificamente no que se refere à demissão de
funcionários.
Para isso, o trabalho foi estruturado em três capítulos, além de uma
introdução e da conclusão. A introdução contextualiza o tema, explicita os
seus objetivos e sua relevância. O primeiro capítulo examina a literatura
existente a respeito do tema. O Segundo aprofunda o exame da literatura,
elegendo um referencial teórico. O terceiro apresenta um estudo realizado
em algumas empresas, a metodologia empregada e os resultados obtidos.
A conclusão é a ultima parte do trabalho, onde apresentamos sugestões
para futuras pesquisas.
RESUMO
o estudo objetivou verificar se empresas comprometidas com
questões sociais, ambientais e trabalhistas, e que adotam instrumentos de
gestão baseados na valorização da diversidade e de princípios éticos,
sustentam esses valores mesmo em períodos recessivos de nossa
economia.
Para responder essa questão, analisamos o comportamento de
empresas socialmente responsáveis com os seus empregados durante o
período compreendido entre 1988 e 2000. As empresas selecionadas
foram avaliadas como socialmente responsáveis pelo Instituto Ethos de
Responsabilidade Social e compõem o fundo de investimento Ethical do
Banco Real
Os resultados da pesquisa demonstram a existência de uma falta de
coerência entre o discurso e a prática da responsabilidade social
corporativa pelas empresas.
ii
A BSTRACT
The studyaims at verify if companies compromised to social, ambient
and working matters, and that adopt instruments of management based in
the valuation of diversity and ethical principIes, support these values even
in periods of contraction of our economy.
To answer this question, we analyze the behavior of social/y
responsible companies with its employees during 1988 and 2000. The
selected companies had been evaluated as social/y responsible by the
Instituto Ethos de Responsabilidade Social and compose the Ethical
investment fund administrated by Banco Real.
The results of the research demonstrate the existence of a lack of
coherence between the speech and the practical of the social responsibility
by the companies.
iii
, LISTA DE FIGURAS E GRAFICOS
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 : A política pela ética .................................................................. 32
Figura 2: A ambigüidade empresarial ...................................................... 33
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Evolução do PIS brasileiro ...................................................... 44
Gráfico 2: Indicador de Variação de Pessoal- COPEL ............................ 69
Gráfico 3: Indicador de Variação de Pessoal - CEMIG ............................ 71
Gráfico 4: Indicador de Variação de Pessoal- Setor Econômico ............ 76
Gráfico 5: Indicador de Variação de Pessoal - Setor Econômico ............ 82
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Modelo de Balanço Social ........................................................ 26
Tabela 2: Modelo da Demonstração do Valor Adicionado ........................ 28
Tabela 3: Relação das empresas pesquisadas ........................................ 47
Tabela 4 : Diagrama de dispersão de acordo com os valores do R-Múltiplo ...... 52
Tabela 5: Interpretação gráfica do coeficiente de determinação R2 ......... 53
Tabela 6: População e dados amostrais ................................................... 53
Tabela 7: Critérios estatísticos para o relacionamento entre as variáveis ......... 59
Tabela 8: Interpretação dos indicadores e validade das hipóteses ........... 60
Tabela 9: Dados coligidos - Sadia S. A. .................................................. 63
Tabela 10: Resultados apurados - Sadia S.A. ......................................... 63
Tabela 11: Dados coligidos - Grupo Pão de Açúcar ................................. 65
Tabela 12: Resultados apurados - Grupo Pão de Açúcar ......................... 65
Tabela 13: Dados coligidos - Cia Paranaense de Energia - COPEL ........ 67
Tabela 14: Resultados apurados - COPEL. .............................................. 67
Tabela 15: Dados coligidos - Cia de Energia de Minas Gerais - CEMIG .......... 70
Tabela 16: Resultados apurados - CEMIG ............................................... 70
Tabela 17: Dados coligidos - Duratex ....................................................... 72
Tabela 18: Resultados apurados - Duratex .............................................. 72
Tabela 19: Dados coligidos - Marcopolo .................................................. 75
Tabela 20: Resultados apurados - Marcopolo .......................................... 76
Tabela 21: Dados coligidos - Brasil Telecom ........................................... 79
Tabela 22: Resultados apurados - Brasil Telecom ................................... 79
Tabela 23: Dados coligidos - Gerdau ...................................................... 81
Tabela 24: Resultados apurados - Gerdau .............................................. 81
Tabela 25: Resultados apurados - Bradesco ............................................ 84
Tabela 26: Resultados apurados - Unibanco ............................................ 85
Tabela 27: Resumo dos resultados - Empresas ....................................... 86
Tabela 28: Resumo dos resultados - Setor Econômico ........................... 86
v
, SUMARIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................... i
RESUMO ................................................................................................. ii
ABSTRACT ............................................................................................ iii
LISTA DE FIGURAS E GRÁFiCOS ....................................................... iv
LISTA DE TABELAS .............................................................................. v
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1
1. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................ 6
1.1 Responsabilidade Social na Sociedade Industrial ......................... 6
1.2 Responsabilidade Social na Sociedade Pós - IndustriaL ............... 8
1.3 Formas de Atuação Social das Empresas ................................... 11
1.4 Justificando a Responsabilidade Social Corporativa ................... 18
1.5 Os Benefícios das Ações Sociais para os Negócios .................... 22
1.6 Indicadores de Responsabilidade Social Corporativa .................. 24
2. REFERENCIAL TEÓRiCO ................................................................. 31
2.1 Responsabilidade Social Corporativa e Neoliberalismo ............... 31
2.2 Vertentes do Pensamento Ético .................................................. 34
2.3 As Morais Sociais ........................................................................ 36
2.4 As Morais Brasileiras ................................................................... 39
3. EMPRESAS ANALISADAS ................................................................ 43
3.1 Introdução ................................................................................... 43
3.2 Período de Análise ...................................................................... 44
3.3 Seleção das Empresas ............................................................... 45
3.4 Coleta de Dados ......................................................................... 48
3.5 Procedimentos Estatísticos ......................................................... 51
3.6 Indicadores Estudados ................................................................ 55
3.7 Pressupostos Lógicos ................................................................. 56
3.8 Limitações do Método ................................................................. 61
3.9 Resultados Obtidos ..................................................................... 62
3.10 Resumos dos Resultados Obtidos .............................................. 86
CONSIDERAÇÕES FINAiS ................................................................ 87
REFERÊNCiAS .................................................................................. 93
, , SUMARIO ANALlTICO
APRESENTAÇÃO ................................................................................... i
RESUMO ................................................................................................. ii
ABSTRACT ............................................................................................ iii
LISTA DE FIGURAS E GRÁFiCOS ....................................................... iv
LISTA DE TABELAS .............................................................................. v
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1
1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................. 6
1.1 Responsabilidade Social na Sociedade Industrial ......................... 6
1.2 Responsabilidade Social na Sociedade Pós - Industrial ................ 8
1.3 Formas de Atuação Social das Empresas ................................... 11
1.3.1 Responsabilidade Social Corporativa .............................. 12
1.3.2 Cidadania Empresarial .................................................... 14
1.3.3 Filantropia EmpresariaL ................................................... 16
1.4 Justificando a Responsabilidade Social Corporativa ................... 18
1.5 Os Benefícios das Ações Sociais para os Negócios .................... 22
1.6 Indicadores de Responsabilidade Social Corporativa .................. 24
1.6.1 Balanço SociaL ................................................................ 25
1.6.2 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) ...................... 27
1.6.3 Certificações de Responsabilidade Social ....................... 29
2. REFERENCIAL TEÓRiCO ........................ ......................................... 31
2.1 Responsabilidade Social Corporativá e Neoliberalismo ............... 31
2.2 Vertentes do Pensamento Ético .................................................. 34
2.3 As Morais Sociais ........................................................................ 36
2.4 As Morais Brasileiras ................................................................... 39
3. EMPRESAS ANALISADAS ............................................................... 43
3.1 Introdução ................................................................................... 43
3.2 Período de Análise ...................................................................... 44
3.3 Seleção das Empresas ............................................................... 45
3.4 Coleta de Dados ......................................................................... 48
3.5 Procedimentos Estatísticos ......................................................... 51
3.6 Indicadores Estudados ................................................................ 55
3.7 Pressupostos Lógicos ................................................................. 56
3.8 Limitações do Método ................................................................. 61
SUMÁRIO ANALíTICO
3.9 Resultados Obtidos ..................................................................... 62
3.9.1 Sadia ............................................................................... 62
3.9.2 Grupo Pão de Açúcar ...................................................... 65
3.9.3 Cia Paranaense De Energia - COPEL ............................. 67
3.9.4 Cia de Energia de Minas Gerais - CEMIG ....................... 70
3.9.5 Duratex ............................................................................ 72
3.9.6 Marcopolo ........................................................................ 75
3.9.7 Brasil Telecom ................................................................. 78
3.9.8 Gerdau ............................................................................ 81
3.9.9 Bradesco ........................................................................ 84
3.9.10 Unibanco ......................................................................... 85
3.10 Resumos dos Resultados Obtidos .................................... 86
CONSIDERAÇÕES FINAiS ................................................................ 87
REFERÊNCiAS .................................................................................. 93
INTRODUÇÃO
A responsabilidade social corporativa é um tema que começa a ser discutido
amplamente por diversos setores da sociedade, e toma-se relevante na
medida em que busca melhor entendimento do papel do Estado na sociedade atual, e
quais objetivos econômicos e sociais devem ser perseguidos pelas empresas.
A responsabilidade social corporativa representa uma forma de comprometimento
e relacionamento da empresa com a sociedade e os seus agentes sociais, baseados em
princípios éticos. O objetivo é garantir a sobrevivência da empresa em ambiente
complexo, competitivo e globalizado, por meio da agregação de valor social ao negócio.
Dessa forma, toma-se necessário que a empresa contribua para o
desenvolvimento da comunidade onde ela está inserida, da preservação do meio
ambiente, do desenvolvimento profissional de seus trabalhadores e de relações
transparentes com clientes, fomecedores e govemo.
O entendimento de que as empresas estão inseridas em ambiente complexo,
interagindo com várias culturas e com vários agentes de natureza social, econômico e
ambiental no desempenho de suas atividades, e de que suas ações influenciam ou
impactam de forma decisiva esse ambiente, é fundamental para compreendermos a
necessidade de atuação responsável das empresas junto aos seus mercados e agentes
sociais.
Vários são os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da
responsabilidade social corporativa. As transformações sociais e empresariais
ocasionadas pela evolução tecnológica, a integração dos mercados mundiais e a
mobilização da sociedade civil resultaram em redefinição tanto da estratégia de negócios
quanto do gerenciamento dos processos empresariais (Instituto Ethos de
Responsabilidade Social, 2000).
Assim, em regimes democráticos com a economia baseada no livre mercado, a
sobrevivência das empresas passou a ser função de como a estratégia de negócios lida
com essas variáveis de forma a obterem eficiência e lucratividade com a preservação da
imagem e reputação da empresa no mercado e na sociedade.
Introdução - 2
Logo, torna-se necessária a redefinição dos interesses que orientam a gestão e a
estratégia empresarial. Para o Instituto Ethos de Responsabilidade Social:
"A gestão empresarial que tenha como referência apenas os interesses dos acionistas (shareholders) revela-se insuficiente no novo contexto. Ele requer uma gestão balizada pelos interesses e contribuições de um conjunto maior de partes interessadas (stakeholders). A busca de excelência pelas empresas passa a ter como objetivos a qualidade nas relações e a sustentabilidade econômica, social e ambiental" (Indicadores Ethos de responsabilidade social, 2000:6).
A percepção, por parte do empresariado nacional, da relevância da questão da
responsabilidade social corporativa para o negócio está crescendo e pode ser
demonstrado pelo resultado da pesquisa realizada pelo Ipea (2000), onde foi constatado
que 67% das empresas pesquisadas da região sudeste realizam algum tipo de atividade
social para a comunidade. Outra constatação foi o fato de que 49% das grandes
empresas pesquisadas da região sudeste declararam sua intenção em ampliar suas
atividades sociais.
Cada vez mais os empresários estão entendendo que a responsabilidade social
corporativa cria o diferencial competitivo em um mundo globalizado, assegura a
fidelização de clientes e possibilita melhor compreensão das mudanças ocorridas em
seus ambientes externo e interno (Srour, 2000).
Porém, os custos referentes à responsabilidade social corporativa são elevados e
incluem investimentos no desenvolvimento de tecnologias que visem à diminuição do
impacto ambiental ocasionado pela atividade fabril, na qualificação e remuneração
adequada dos funcionários, no desenvolvimento de atividades e projetos comunitários,
no patrocínio cultural e esportivo, entre outros.
Já os seus benefícios, estão relacionados com a diminuição de riscos referentes a
contingências ambientais, fiscais e trabalhistas, a vinculação da imagem da empresa a
escândalos e ao aumento da produtividade dos funcionários em razão da motivação
social do seu trabalho.
Como conseqüência, ao entenderem e respeitarem o conjunto de interesses dos
diversos agentes sociais, as empresas estariam preservando sua imagem e reputação
Introdução - 3
perante à sociedade e clientes, o que sustentaria e resultaria em desempenho
econômico-financeiro maior do que a média de seu setor a longo prazo.
Dessa forma, esse trabalho se propõe a examinar se a questão da
responsabilidade social corporativa no Brasil é um movimento consistente e estável ou o
fruto de mais um modismo empresarial.
De acordo com essa perspectiva, nosso objetivo final foi verificar se empresas
comprometidas com questões sociais, ambientais e trabalhistas, e que adotam
instrumentos de gestão baseados na valorização da diversidade e de princípios éticos,
sustentam esses valores mesmo em períodos recessivos de nossa economia.
Para tal, iremos nos concentrar na análise de uma única dimensão entre as várias
existentes no estudo da responsabilidade social corporativa: O comprometimento das
empresas com seus funcionários.
Especificamente, como problema central desse estudo, objetivamos constatar se
empresas comprometidas com os princípios da responsabilidade social corporativa
demitem funcionários em períodos recessivos da economia como forma de melhorarem
o seu desempenho econômico-financeiro.
Assim, esse trabalho apresentou dois objetivos intermediários para obtermos
melhor compreensão em relação ao problema central desse estudo.
O primeiro objetivo teve por finalidade determinar as principais formas de atuação
social efetuadas pelas empresas e verificar, dessa forma, seu respectivo grau de
comprometimento com a questão da responsabilidade social.
O segundo objetivo procurou estabelecer a relação existente entre reduções no
quadro de pessoal em períodos de desaquecimento econômico e gestão empresarial
orientada por valores éticos, representados pela responsabilidade social corporativa.
Dada a complexidade das questões que envolvem a temática da responsabilidade
social corporativa e aos objetivos propostos pelo estudo, foi necessário delimitarmos a
abrangência da pesquisa.
Introdução - 4
Portanto, o estudo não teve como objetivo o desenvolvimento de uma metodologia
de avaliação de empresas em relação ao seu grau de comprometimento com os
princípios da responsabilidade social corporativa. Na verdade, verificamos se a
metodologia utilizada pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social era capaz ou não
de caracterizar uma empresa dessa forma.
Uma outra questão é o fato que vários outros fatores, além do desaquecimento
econômico, podem contribuir para a diminuição do quadro de pessoal de uma empresa.
Esses fatores podem estar relacionados à utilização de novas tecnologias, tanto em
nível de produção como em nível de gestão de processos.
Assim, a implementação de programas de qualidade total, a implementação de
sistemas informatizados de gestão como os baseados no Enterprise Resource Planing
(ERP), a reengenharia e outras tecnologias de gestão empresarial podem resultar em
redução no número de funcionários e na melhoria no desempenho econômico-financeiro
de uma companhia. Esses aspectos, apesar de importantes, não foram objeto de estudo
dessa pesquisa.
A relevância do estudo justifica-se pelo fato de a responsabilidade social
corporativa modificar a forma de condução dos negócios, criando uma relação de
parceria entre clientes e fornecedores e aumentando a motivação dos trabalhadores.
Conseqüentemente, a compreensão desse tema passa a ser de vital importância para as
empresas, pois ao agregarem valor social ao negócio, as companhias estariam obtendo
uma vantagem competitiva em relação aos seus principais concorrentes.
De forma mais ampla, o estudo irá contribuir para a implementação de princípios
éticos na gestão empresarial e para a construção de uma sociedade mais próspera e
justa ao demonstrar que atitudes oportunistas, como a redução do quadro de pessoal
visando à redução de custos, são incoerentes e prejudicam a imagem da empresa junto
à sociedade e aos clientes.
No que se refere à metodologia da pesquisa, o estudo caracterizou-se, principalmente,
como uma pesquisa documental e bibliográfica, já que os dados necessários à análise do
problema em foco foram obtidos por meio de livros, revistas especializadas e dissertações,
além da utilização de sistemas eletrônicos de informações.
Introdução - 5
A metodologia desenvolveu-se da seguinte maneira: levantamento bibliográfico,
análise documental, elaboração dos capítulos teóricos, pesquisa de campo e análise dos
dados coligidos. Além destes passos, foi efetuada uma pesquisa de dados sobre a questão
da responsabilidade social corporativa via Internet. Assim, a questão da responsabilidade
social corporativa foi estudada segundo os princípios de um referencial teórico, procurando
apresentar novas interpretações e compreensões sobre o assunto.
Quanto à estrutura, a dissertação apresenta 3 capítulos, além da introdução e das
considerações finais, e está dividido em duas partes. Na primeira parte, em dois capítulos, é
apresentado o referencial teórico. Na segunda parte, procedemos ao estudo de algumas
empresas, onde nos apoiamos e analisamos os fatos de acordo com os princípios discutidos
pelo referencial teórico.
No primeiro capítulo, denominado "Revisão da literatura", efetuamos extenso
levantamento bibliográfico a respeito da questão da responsabilidade social corporativa.
Especificamente, analisamos os conceitos mais utilizados atualmente e os caracterizamos
de acordo com as diversas formas de atuação social das empresas. Ainda nesse capítulo,
apresentamos as principais justificativas e motivações para as empresas atuarem de
maneira responsável em seus negócios.
No segundo capítulo, chamado "Referencial Teórico", aprofundamos a discussão
teórica, a partir da revisão da literatura, a base conceitual que nos serviu de apoio para
analisarmos algumas empresas.
o terceiro capítulo, "Empresas Analisadas" apresenta a metodologia aplicada no
estudo, além dos resultados obtidos na pesquisa.
Por fim, nas considerações finais, procuramos discutir algumas considerações sobre o
estudo, além de recomendações a respeito da temática da responsabilidade social
corporativa.
1.REVISÃO DA LITERATURA
1.1 Responsabilidade Social na Sociedade Industrial
A sociedade industrial surgiu com a revolução industrial na Inglaterra no século
XVIII. Essa sociedade caracterizava-se pela evolução tecnológica e pelo
predomínio da utilização da razão humana na análise, interpretação e soluções de
problemas "em contraposição a soluções através de um enfoque emotivo, religioso ou
fatalista" (De Masi, 2000:41). Esses princípios seriam a base da regulamentação da vida
do homem e da natureza como um todo.
A aplicação da razão humana nas atividades industriais através da sistematização
do conhecimento científico foi importante para o aumento da produtividade e para a
diminuição do desperdício no processo produtivo. Operacionalmente buscava-se a
máxima eficiência através do estudo dos tempos e movimentos, da seleção científica
dos trabalhadores, de um plano de incentivo salarial e de condições adequadas de
trabalh01.
Dessa forma, pela abordagem industrial, o conceito de responsabilidade social
deve ser entendido como uma função econômica onde as preocupações com questões
ambientais e sociais ficavam em segundo plano. Ou seja, uma empresa ou empresário
contribui decisivamente com a sociedade na medida em que gera empregos, paga
impostos, salários e proporciona dividendos aos seus acionistas. A esse respeito
Friedman (apud Galbraith, 1982:93) descreve o papel social de uma empresa:
"Poucas tendências poderiam minar assim tão precisamente os próprios fundamentos de nossa sociedade livre como a aceitação, pelos funcionários da sociedade anônima, de uma responsabilidade social que não fosse a de ganhar para os acionistas tanto dinheiro quanto fosse possível".
1 A aplicação do conhecimento científico no processo operacional ficou conhecida como taylorismo, onde seu principal objetivo era assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado (Taylor, 1948:13).
Revisão da Literatura 7
Levitt (apud Galbraith,1982:93) apresenta um ponto de vista um pouco mais
restrito:
"A função do negócio é produzir contínuos lucros de alto nível. A essência da livre iniciativa é perseguir o lucro de qualquer modo que esteja em consonância com sua própria sobrevivência. (. . .) Deve deixar ao Governo que cuide do bem-estar geral. (. . .)".
Por esse paradigma a responsabilidade social assume dimensão estritamente
econômica e é entendida como a capacidade empresarial de geração de novos
empregos e de pagamento de impostos.
Revisão da Literatura 8
1.2 Responsabilidade Social na Sociedade PÓS -Industrial
Já com o advento da sociedade pós-industrial a responsabilidade social assume
nova dimensão. Essa sociedade provém de conjunto de situações provocadas pelo
advento da indústria, tais como o aumento da média de vida da população, o
desenvolvimento tecnológico, a difusão da escolarização e difusão da mídia (Drucker,
2000). O ano de 1956, nos EUA, marca o nascimento simbólico dessa nova sociedade,
pois foi quando o "número de trabalhadores do setor terciário superou, pela primeira vez,
o número de trabalhadores do setor industrial e agrícola" (Bel! apud De Masi, 2000:78).
Nessa nova perspectiva as empresas devem buscar objetivos múltiplos, não apenas o
econômico, e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Toffler
(1995:101) descreve os objetivos da sociedade pós-industrial da seguinte forma:
"O emergente sistema de valores superindustriar, enfatiza o complexo de objetivos englobados em "qualidade de vida", em vez do objetivo unitário de sucesso econômico. Assim, o movimento de consumidores tem desafiado a comunidade dos negócios por causa da segurança dos automóveis, da eficácia dos medicamentos não-éticos, das condições de vida em casas de saúde e asilos, da poluição, da política militar, de políticas de contratação de empregados, da responsabilidade empresarial e outras questões em que o componente econômico é essencialmente secundário. ( .. .) os objetivos do movimento são uma sociedade mais sadia e mais civilizada, não necessariamente uma sociedade mais rica".
Em relação ao desempenho de atividades sociais pelas empresas, Toffler
(1995:123) escreve:
"Os novos valores pós-econômicos são também evidentes na crescente insistência pública de que as corporações se preocupem também com o desempenho social e não apenas com o econômico, assim como nas tentativas iniciais de criar medidas quantitativas de desempenho social. O movimento dos consumidores e a reivindicação de minorias étnicas e subculturais por representação nos conselhos de administração das corporações também estão ligados a idéia de que as corporações não devem mais se empenhar em um único propósito (o econômico), mas sim em se tomarem organizações de "múltiplos objetivos", ajustando-se ao meio social e ecológico".
É importante destacar que ao possuírem múltiplos objetivos as corporações não
irão substituir o papel do Estado, mas irão contribuir para a diminuição das diferenças e
2 O termo superindustrial utilizado por Toffler possui o mesmo significado de sociedade pós-industrial.
Revisão da Literatura 9
dos problemas sociais das comunidades onde elas estão inseridas e da sociedade onde
elas atuam. Essa também é a opinião de Grajew (2001a: s.p.):
"O objetivo da implementação de políticas sociais nas empresas não é substituir o papel do poder público. E nem seria possível. Mas as companhias podem e devem usar seu poder político para educar e pressionar o govemo apresentando soluções concretas, mesmo que em escala reduzida, para os problemas sociais".
Grajew não fala explicitamente em sociedade pós-industrial, porém sua visão de
responsabilidade social possui o mesmo significado discutido por Toffler (1995), De Masi
(1999), Druker (1999) e Tenório(2000).
"Vários fatores têm impulsionado a responsabilidade social das empresas. O desenvolvimento tecnológico propiciou a substituição do trabalho físico e penoso das pessoas por máquinas e equipamentos. As empresas não necessitam mais da força muscular dos seus funcionários, mas do seu talento, criatividade e motivação" (Grajew, 2001 b: s.p.).
Em relação ao Brasil, a discussão do tema responsabilidade social está associada
a transição de valores que o país atravessa, de uma sociedade industrial, onde a
responsabilidade social assume conotação econômica, para uma sociedade pós
industrial, onde o tema valoriza aspectos relacionados a melhoria da qualidade de vida.
Assim, ao analisarmos o relatório de desenvolvimento humano (HDR) preparado
pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil apresenta um conjunto de
indicadores econômicos e sociais que demonstra a sua condição de país em
desenvolvimento. De acordo com esse estudo, o Brasil possui o 9° maior produto intemo
bruto (PIB) do mundo (HDR, 2002:191), porém ocupa a 73° posição no índice de
desenvolvimento humano (HDR, 2002:150), possui uma taxa de analfabetismo de 14,8%
(HDR, 2002:183) e ocupa a 43° posição no índice de desenvolvimento tecnológico
(HDR, 2001 :48).
Porém, analisando os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), podemos verificar que a economia brasileira apresenta, atualmente, uma
característica de serviços. O que é um indicativo da transição econômica do setor
industrial para o setor terciário. Segundo o IBGE o setor de serviços apresenta uma
participação de 59% do total do PIB (2002: s.p.). A agricultura e a indústria somam 41%
do total do PIB (2002: s.p.).
Revisão da Literatura 10
Um outro ponto de vista é aquele apresentado por De Masi (2000), ele acredita que
o Brasil, apesar de sua condição econômica, reúne algumas características como a
riqueza cultural que possibilitariam a sua transição para uma economia pós-industrial. Na
opinião de De Masi (2000; 124):
"Um país pode ser pobre em riquezas materiais e/ou pobre em cultura industrial. Existem países pobres em tudo, como a Ruanda ou o Sahel. Existem países economicamente ricos, mas culturalmente pobres, como os Emirados Árabes. Existem regiões pobres, mas ricas culturalmente, como o sul da Itália, ou o Estado da Bahia, no Brasil. E, por fim, existem países ricos em tudo, em dinheiro e cultura modema.
Entre todas as áreas subdesenvolvidas, as primeiras a realizarem o salto poderiam ser áreas como o sul da Itália ou como parte do Brasil, materialmente pobres, mas culturalmente ricas. Não têm dinheiro, mas já absorveram idéias do rádio, da televisão, da universidade".
Como vimos, o conceito de responsabilidade social sofreu diversas transformações
no final do século XX. Nesse trabalho, o termo responsabilidade social assume
significado amplo, sendo entendido como o compromisso da empresa ou do empresário
com o desenvolvimento sustentável. Ou seja, crescimento econômico com
desenvolvimento social representado pela diminuição das diferenças sociais e pelo
aumento da qualidade de vida da sociedade. Uma representação desse conceito é a
definição apresentada por Barbosa e Rabaça (2001: s.p.):
"A responsabilidade social nasce de um compromisso da organização com a sociedade, em que sua participação vai mais além do que apenas gerar empregos, impostos e lucros. O equilíbrio da empresa dentro do ecossistema social depende basicamente de uma atuação responsável e ética em todas as frentes, em harmonia com o equilíbrio ecológico, com o crescimento econômico e com o desenvolvimento social".
Revisão da Literatura 1 1
1.3 Formas de Atuaç'o Social das Empresas
Com o crescente interesse das empresas em desenvolver atividades sociais e
devido ao reconhecimento da importância desse tema para os negócios, cada vez mais
elas estão buscando novas formas de agregarem valor social às suas atividades. Esse
movimento intensificou-se a partir da década de 90 com o surgimento de diversas
organizações não governamentais e com o desenvolvimento do terceiro setor.
Instituições como a Fundação Abrinq, o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas), o instituto Ethos de Responsabilidade Social e o Rits (Rede de Informação
do Terceiro Setor) foram criados com o objetivo de destacar a importância das ações
sociais para os negócios e para a sociedade. Termos como filantropia, cidadania
empresarial, ética nos negócios, voluntariado empresarial e responsabilidade social
foram incorporados ao vocabulário corporativo.
Schommer (2000) demonstra que a forma como uma empresa atua e dedica seu
tempo e recurso no desenvolvimento de atividades sociais está relacionado com os seus
valores, cultura e suas estratégias específicas. Nelson (apud Schommer, 2000:5)
destaca três formas básicas de atuação social das empresas:
"Atuando eticamente em suas atividades produtivas (ambiente, políticas adequadas de recursos humanos, cooperação tecnológica, qualidade e gestão ambiental, maximização dos insumos, apoio ao desenvolvimento de empresas locais como fomecedores e distribuidores);
Mediante investimento social, não apenas através de doações filantrópicas, mas também compartilhando capacidade gerencial e técnica, desenvolvendo programas de voluntariado empresarial, adotando iniciativas de marketing social, apoiando iniciativas de desenvolvimentõ comunitário;
Mediante contribuição ao debate sobre políticas públicas, colaborando no desenvolvimento de políticas fiscais, educacionais, produtivas, ambientais e outra."
Schommer (2000) complementa a visão acima apresentando outras formas de
atuação social das empresas como o patrocínio de atividades culturais, o
desenvolvimento de campanhas de marketing relacionado a uma causa e a criação de
instituições ou fundações.
Mein (2001) acredita que as empresas estão em processo de transição em sua
forma de atuação social, de um modelo individualizado para uma atuação coletiva e
Revisão da Literatura 12
profissional. Assim, Mein (2001) apresenta algumas tendências dessa nova forma de
atuação social das corporações. A primeira tendência refere-se à profissionalização do
processo como um todo com a conseqüente mensuração dos resultados obtidos. A
segunda refere-se à gestão da ação voluntária e a última indica uma mudança na forma
de atuação das empresas ou do empresário, de uma ação individual em projetos
específicos para uma atuação em grupos com objetivos coletivos e com o
desenvolvimento de empreendedores sociais.
Pelo fato de a ação social empresarial ser um movimento recente e ter se
incorporado ao modelo de gestão de muitas empresas, termos como cidadania
empresarial, responsabilidade social corporativa e filantropia estão sendo utilizados com
significados diversos e até mesmo como sinônimos. Assim, toma-se necessário a
conceituação dos diversos termos assocíados à ação social das empresas.
1.3.1 Responsabilidade Social Corporativa
Atualmente, a literatura a respeito da responsabilidade social corporativa nos
sugere três interpretações distintas para esse termo. Em visão mais simplificada ela
pode significar o cumprimento das obrigações legais e o comprometimento com o
desenvolvimento econômico. Essa é uma abordagem industrial do conceito conforme
foi apresentado anteriormente.
Uma segunda abordagem sugere a utilização do termo para designar o
envolvimento da empresa em atividades comunitárias. Nesse ponto ocorrem
algumas divergências entre os autores, pois o melhor significado para essa
expressão seria o termo cidadania empresarial.
De acordo com essa abordagem, na opinião de Frei Beto (2001: s.p.):
"Uma empresa convencida de sua responsabilidade social não se restringe a cumprir rigorosamente as leis trabalhistas. Ela avança na direção de constituir-se numa comunidade. Transformar a empresa numa comunidade não consiste apenas em recusar mão-de-obra infantil e oferecer aos funcionários condições dignas de trabalho e benefícios. É, sobretudo, inserir no quadro de alcance da empresa o tendão de Aquiles de todo ser humano: a família."
Revisão da Literatura 13
No entendimento de D'Ambrósio e Mello (1998, apud Froes e Neto, 2001:78):
"A responsabilidade social de uma empresa consiste na sua decisão de participar mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e minorar possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce".
Por essa perspectiva, o termo responsabilidade social corporativa é entendido
como um compromisso da empresa com a sociedade na busca da melhoria da
qualidade de vida da comunidade.
Finalmente, em uma última abordagem, o termo responsabilidade social
corporativa é entendido como uma série de compromissos da empresa com a sua
cadeia produtiva: clientes, funcionários, fornecedores, comunidades, meio ambiente
e sociedade (Schommer, 2000).
Essa abordagem é a mesma do Instituto Ethos de Responsabilidade Social:
"A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retomo para os investidores. A adoção de uma postura c/ara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações. (Indicadores Ethos de Responsabilidade social, 2000:13)"
Para Jaramillo e Angel (apud Ashley, 2002:7):
"Responsabilidade social pode ser também o compromisso que a empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e melhoramento da qualidade de vida dos empregados, suas famílias e comunidade em geral".
Essa abordagem é a mais atual do conceito e já existe certo consenso em
relação a sua utilização. Ela representa uma dimensão de atuação social da
empresa onde a ação social está presente em todos os aspectos dos negócios.
Revisão da Literatura 14
1.3.2 Cidadania Empresarial
o termo cidadania empresarial é muito utilizado para demonstrar o
envolvimento da empresa em programas sociais de participação comunitária através
do incentivo ao trabalho voluntário, do compartilhamento de sua capacidade
gerencial, de parcerias com associações ou fundações e do investimento em
projetos sociais nas áreas de saúde, educação e meio ambiente. Atualmente, o
termo voluntariado empresarial começa a ser utilizado como se fosse sinônimo de
cidadania empresarial. É importante ressaltar que o voluntariado é uma forma de
atuação específica da empresa junto à comunidade e o conceito de cidadania
empresarial representa uma atuação social bem mais ampla. Ou seja, a ação
voluntária contribui para a cidadania empresarial.
Szazi (2001: s.p.) define o papel do voluntariado:
"O voluntariado empresarial pode ser definido como o conjunto de ações empresariais para incentivar os funcionários a engajarem-se em atividades voluntárias na comunidade. Tais ações são variadas e podem consistir em cessão de espaço e recursos da companhia para o desenvolvimento de atividades voluntárias, dispensa de certo número de horas da jomada de trabalho para ações voluntárias e aproximação de funcionários e entidades interessadas em tal colaboração. "
Na opinião de Azambuja (2001: s.p.), o conceito de cidadania empresaíial
decorre:
"antes da constatação de que os agentes econômicos não atuam no vazio e que, ao procurar a eficiência da empresa e buscar o máximo retomo sobre o capital em benefício dos acionistas, os seus responsáveis devem também levar em conta as dimensões social, ambiental e ética de suas atividades."
Fisher e Schommer (2001:103) ampliam o conceito apresentado acima. Em
sua opinião, uma empresa por possuir personalidade jurídica distinta dos seus
acionistas e proprietários, pode ser considera como um cidadão. Dessa forma:
"Cidadania empresarial pode ser entendida, então, como uma relação de direitos e deveres entre empresas e seu âmbito de relações e participação ativa das empresas na vida de suas cidades e comunidades, participando das decisões e ações relativas ao espaço público em que se inserem".
Revisão da Literatura 15
Essa também é a opinião de Carvalho (apud Kroetz,2000:77) que expõe a
esse respeito:
'Toda empresa exerce funções de cidadania, as quais implicam deveres e direitos de natureza não muito diferentes aos que correspondem às pessoas (cidadão) individualmente".
Já Martinelli (2000) propõe uma perspectiva evolutiva do conceito de
cidadania empresarial. No estágio inicial a empresa é vista unicamente como um
negócio visando retornos financeiros imediatos. A preocupação social é mínima e se
restringe ao cumprimento das obrigações legais. No segundo estágio a empresa é
vista como uma organização social que aglutina os interesses de vários grupos - os
agentes sociais, o que nos remete ao conceito de responsabilidade social
corporativa. No último estágio a empresa "opera sob uma concepção estratégica e
um compromisso ético" (Martinelli, 2000: s.p.), tomado-se, assim, uma empresa
cidadã.
Froes e Neto (2001 :99) afirmam que o conceito de "cidadania empresarial é
resultante das ações internas e externas de responsabilidade social desenvolvidas
pelas empresas". Como vimos, alguns autores utilizam o termo cidadania
empresarial para destacar um conjunto de ações sociais no âmbito interno
(trabalhadores e acionistas) e externo das empresas (comunidade, meio ambiente,
governo). Nesse sentido, essas definições não seriam as mais apropriadas, pois se
confundem com o conceito de responsabilidade social corporativa.
A responsabilidade social corporativa, como foi apresentado anteriormente,
pressupõe um compromisso ético com os diversos agentes sociais participantes da
cadeia produtiva. Para Srour (1998:294-5), "a responsabilidade social remete à
constituição de uma cidadania organizacional no âmbito interno da empresa e à
implementação de direitos sociais no âmbito externo". Dessa forma, já estão
englobadas no conceito de responsabilidade social corporativa as duas dimensões
de atuação social de uma corporação, a interna e a externa.
Revisão da Literatura 16
1.3.3 Filantropia Empresarial
o termo filantropia significa "amor ao homem ou à humanidade, pressupondo
uma ação altruísta e desprendida. É também relacionado a caridade, uma virtude
cristã" (Shommer:2000:2). A ação filantrópica empresarial pode ser caracterizada
como uma ação social de natureza assistencialista, caridosa e predominantemente
temporária. A filantropia empresarial é realizada por meio de doações de recursos
financeiros ou materiais à comunidade ou às instituições sociais.
Segundo Martins, W. (2001: s.p.):
"Os termos filantropia empresarial e solidariedade corporativa, parecem remeter a mesma idéia. Tanto o termo filantropia - de cunho mais religioso - quanto a expressão solidariedade, traduzem-se numa mesma coisa: a idéia de que, a qualidade de vida da sociedade, depende do grau com o qual cada um de seus integrantes genuinamente se preocupa com o bemestar de seu próximo. No entanto, a filantropia, seria a ação ou a atitude, daqueles que são solidários, expressando-se sob a forma de doação ou caridade. O termo solidariedade, mais do que caridade ou doação, possui em seu seio a idéia de reciprocidade de uns para com os outros, em direitos e obrigações."
Na opinião de Azambuja (2001: s.p.):
"O ato de filantropia ou assistencialismo, por mais meritório que seja, é voluntário, circunstancial e se esgota em si mesmo. Pode criar, ainda, expectativas para o futuro que não venham, necessariamente, a se realizar, dado o caráter episódico e gratuito de muitos atos filantrópicos".
A filantropia empresarial é uma ação que está crescendo a cada ano no Brasil
e em certa maneira parece obter a preferência do empresariado nacional. A forma
predominante é aquela que vincula o ato filantrópico a compra de produtos de uma
determinada empresa. Assim, parte da receita obtida com a venda de certos
produtos são destinados a institutos ou organizações assistencialistas como a
fundação Abrinq, Seninha, Instituto do Câncer, Instituto Ronald McDonalds entre
outros. É importante ressaltar que essa prática não garante que as empresas ao
agirem dessa forma estejam respeitando o meio ambiente, desenvolvendo a
cidadania ou respeitando os direitos de seus empregados. Azambuja (2001: s.p.)
escreve a esse respeito:
'~ filantropia não pode nem deve eXlmlf a empresa de suas responsabilidades. Por mais louvável que seja uma empresa construir
Revisão da Literatura 1 7
uma creche ou um posto de saúde na sua comunidade, a sua generosidade em nada adiantará se, ao mesmo tempo, estiver poluindo o único rio local ou utilizando matéria-prima produzida em fábricas irregulares, que empregam trabalho infantil em condições insalubres ou perigosas".
Muitas vezes as campanhas filantrópicas podem ter motivação apenas
econômica, utilizando o apelo emocional para aumentarem as vendas de produtos.
Talvez seja mais nobre para as empresas, caso elas realmente visem o ato
filantrópico, não utilizar a propaganda para promover a caridade. Dessa forma, a
legitimação do ato se daria por questões de princípios e não de maneira
instrumental, como meio de obtenção de alguma vantagem ou vinculada a
participação de terceiros.
Dos conceitos apresentados acima - responsabilidade social corporativa,
cidadania empresarial e filantropia empresarial - esse trabalho se deterá na análise
da responsabilidade social corporativa, entendida como a série de compromissos da
empresa com a sociedade e com os agentes sociais, e suas conseqüências para os
negócios.
Revisão da Literatura 18
1.4 Justificando a Responsabilidade Social Corporativa
, Existem vários elementos que podem motivar a empresa a atuar de forma '--
socialmente responsável. Isso pode ocorrer devido a pressões externas representadas
pelas mobilizações da sociedade e dos consumidores, de uma forma instrumental como
meio de obtenção de algum benefício específico ou por questões de princípios.
As pressões externas são relativas às legislações ambientais, aos movimentos dos
consumidores, à atuação dos sindicatos em busca da elevação dos padrões trabalhistas,
às exigências dos consumidores e às reivindicações das comunidades impactadas pelas
atividades industriais. Esses argumentos, conforme visto anteriormente, são inerentes à
sociedade pós-industrial cujos valores são representados não somente pelo sucesso
econômico, mas também pela melhoria da qualidade de vida da sociedade.
Ainda como um outro argumento externo, a globalização exerce forte pressão para
a prática da responsabilidade social corporativa. Organismos internacionais como a
Organização Mundial do Comércio (OMC) e a própria Organização das Nações Unidas
(ONU), através do programa chamado Global Compact, estão incentivando empresas de
todo o mundo a adotarem códigos de conduta e princípios básicos relacionados à
preservação do meio ambiente, condições de trabalho e respeito aos direitos humanos.
Azambuja (2001: s.p.) observa a esse respeito:
'~ maioria dos países em desenvolvimento ainda não está - ou não acredita estar - totalmente habilitada a cumprir esses exigentes padrões. Existe ainda o temor de que a globalização, com sua ênfase na racionalização da atividade econômica, na privatização de ativos produtivos e na busca de competitividade, acentue ainda mais as desigualdades sociais e econômicas nos países em desenvolvimento, com graves conseqüências políticas".
Nesse caso, a principal justificativa para a prática da responsabilidade social
corporativa é de natureza econômica. Dentro dessa ótica, empresas oriundas de países
desenvolvidos competem em desvantagem no mercado internacional com empresas
oriundas de países em desenvolvimento por apresentarem custos sociais, trabalhistas e
ambientais mais elevados que seus concorrentes. Assim, torna-se necessária a
observação de padrões sociais, trabalhistas e ambientais mínimos no comércio
internacional. Abaixo, Azambuja (2001: s.p.) argumenta a necessidade de uma evolução
progressiva dos padrões sociais dos países em desenvolvimento:
Revisão da Literatura 19
"É melhor para um grande país emergente como o Brasil defender a governança progressiva, mediante a adoção de instrumentos internacionais flexíveis ou até voluntários, do que ser obrigado a aceitar normas vinculatórias impostas por organismos multilaterais - como a OMC - no âmbito social e ambiental. Essas normas, que ainda estão em discussão, poderão distorcer o comércio internacional em favor dos países altamente desenvolvidos e em detrimento dos em desenvolvimento".
Outro elemento que justifica a prática de ações sociais por parte das empresas é a
forma instrumental, como meio de obtenção de algum tipo de benefício ou vantagens. A
natureza do benefício não precisa ser necessariamente econômica, as vantagens podem
se traduzir no aumento da preferência do consumidor, no fortalecimento da imagem da
empresa no mercado entre outras.
Uma forma de benefício concedido pelos governos é o incentivo fiscal. Esses
incentivos destinam-se à promoção do "equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico
entre as diferentes regiões do País" (Artigo 151, Inciso I da Constituição Federal). Esse é
o caso da lei n°. 9.440, de 14.03.1997 que aplica-se exclusivamente às empresas
instaladas ou que venham a se instalar nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e
que sejam montadoras e fabricantes de veículos automotores.
Outro incentivo fiscal é a Lei Rouanet (Lei n°. 8.313, de 23.12.1991) que autoriza
patrocínios e doações de pessoas jurídicas em projetos de natureza cultural. Nos dois
casos as empresas obtêm uma redução ou isenção da carga tributária por um
determinado período com o objetivo de promover o desenvolvimento da comunidade
local e como forma de incentivo às atividades culturais e esportivas da região.
Campos e Pinto (2001: s.p.) mensuram o montante de investimentos aplicados nas
atividades sociais através das leis de incentivos fiscais:
"Segundo dados fornecidos pelo MINcf, através da renúncia fiscal consubstanciada nas leis de incentivo, as empresas brasileiras investiram desde 1996 cerca de R$ 744.233.857;OOem-cultura,f3or meio'-(jasLeis~ Rouanet e do Audiovisual. De acordo com o último levantamento de dados realizados pela Secretaria de Apoio à Cultura, subordinada ao MINC, a produção cultural movimentou, em 1997, cerca de 6.5 bilhões de reais, o que correspondia a aproximadamente 1% do PIB brasileiro. Além das leis de incentivo citadas nesse trabalho, diversos Estados como Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e Municípios como Belém,
3 Ministério da Cultura
Revisão da Literatura 20
Contagem e Vitória, oferecem também incentivos fiscais a seus contribuintes que investirem em cultura".
Dessa forma, com esses incentivos, os benefícios obtidos pelas empresas são
elevados. As companhias utilizam recursos que originariamente seriam públicos para a
promoção de sua imagem.
o grande problema das duas abordagens apresentadas anteriormente como
elementos motivadores da responsabilidade social corporativa - pressões externas e a
forma instrumental - é que essas abordagens, ao que parece, não garantem a
continuidade de investimentos sociais a longo prazo. Como conseqüência, se houver
diminuição das pressões das comunidades em relação às questões ambientais, sociais e
trabalhistas ou se as leis de incentivos fiscais forem revogadas, as empresas poderão
diminuir o montante de investimentos destinados a essas áreas.
Finalmente, quando a responsabilidade social corporativa é motivada por questões de
princípios, o risco de descontinuidade de investimentos nas áreas ambientais, trabalhistas e
comunitárias, passam a não existir, pois esses valores estão inseridos na cultura da
empresa expresso através das declarações de missão e visão da companhia, orientando,
dessa forma, todas as suas ações empresariais e norteando suas relações junto aos
fornecedores, clientes, governo, acionistas, meio ambiente, comunidades entre outros. Esse
também é o ponto de vista de Grajew (2002a: s.p.) conforme apresentado abaixo:
"A responsabilidade social como cultura da gestão empresarial, abarcando todas as relações da empresa, suas práticas e políticas, deve nortear a organização em todo os momentos, nas crises e em épocas de expansão econômica. E é exatamente em momentos de crises e incertezas que ela retoma mais importante e estratégica. É nesta hora que é testado o real compromisso dos dirigentes com os valores da empresa".
Grajew (2002b: s.p.), também demonstra abaixo, os riscos referentes a atitudes
oportunistas de empresas que ainda não internalizaram ou não compreenderam o
verdadeiro sentido da responsabilidade social corporativa:
"Ao flexibilizar seus valores na primeira dificuldade, ao não estar preparada para tomar decisões que implicam em perdas, a empresa corre enormes riscos de perder sua credibilidade e distorcer o entendimento por parte da sociedade sobre a cultura da responsabilidade social. Apenas decisões pautadas em critérios éticos e não vantagens ou desvantagens de curto prazo por parte de empresas, sindicatos, organizações sociais,
IIBlIOTECA MARIO HENRIQUE S/MONSE,. FUNDACAO GETULIO VARGAS
Revisão da Literatura 21
organismos internacionais, partidos políticos e governantes poderão construir um mundo melhor".
Logo, quando as empresas são motivadas a atuarem de maneira socialmente
responsável, por questões de princípios, em relação aos seus diversos públicos, respeitando
seus direitos, elas contribuem para a diminuição dos riscos referentes a greves,
contingências ambientais, auditorias fiscais e a vinculação da imagem da empresa a
escândalos. Dessa forma, mesmo com investimentos e custos maiores do que seus
concorrentes, a lógica da responsabilidade social corporativa demonstra que as empresas
devem preservar seus investimentos sociais, mesmo em momentos de crise ou recessão.
Revisão da Literatura 22
1.5 Os Benefícios das Açóes Sociais Para os Negócios
Quando uma empresa é motivada a atuar de maneira socialmente responsável, os
benefícios auferidos pelas companhias, trabalhadores e comunidades são inúmeros, e
para que esses benefícios sejam duradouros e se sustentem a longo prazo é
fundamental que essa motivação seja de forma incondicional. Ao encararem a questão
da responsabilidade social corporativa de forma oportunista, buscando benefícios
imediatos, as empresas e suas marcas poderão cair em descrédito perante os seus
consumidores e a sociedade, ocasionando, assim, prejuízos a reputação da companhia.
Esse também é o ponto de vista de Srour (2000:47) que escreve a respeito:
"As empresas detêm marcas que representam preciosos ativos e que consomem tempo e dinheiro para serem construídas. Em decorrência, muitas delas percebem que perder a credibilidade, deixando de ser transparentes (..), é um passo fatal para o negócio que operam".
Paía os trabalhadores, os benefícios da responsabilidade social corporativa se
traduzem na garantia da preservação e ampliação dos direitos trabalhistas, na
manutenção dos investimentos destinados a treinamento e segurança, na participação
dos resultados da companhia, na participação da discussão e solução dos problemas da
empresa e no estímulo ao desenvolvimento da cidadania através do trabalho voluntário.
A comunidade conta com a participação e o envolvimento da empresa socialmente
responsável na discussão dos problemas locais, no apoio financeiro a projetos sociais,
na liberação de seus empregados para o desenvolvimento de trabalho voluntário, na
melhoria da qualidade de vida e no respeito aos costumes e ao meio ambiente.
Para as empresas, os benefícios da responsabilidade social corporativa se
traduzem de diversas maneiras. No âmbito de recursos humanos, os ganhos podem ser
expressos pelo aumento da produtividade e da motivação.
Na opinião de Esteves (2001: s.p.):
"Fazer o bem, além de gratificar bastante as pessoas, aumenta o desempenho profissional, desenvolvendo valores como ética e senso de responsabilidade, além de aguçar a criatividade através do exercício de alternativas engenhosas para atingir objetivos específicos, contando na maioria das vezes com recursos bem escassos".
Revisão da Literatura 23
Segundo Barbosa e Rabaça (2001: s.p.):
"Profissionais dos mais diversos ramos de atividade, ao optarem pelo melhor lugar para trabalhar, começam a dar preferência a empresas comprometidas com esse tipo de atuação social. E as empresas, por outro lado, também passam a valorizar mais os profissionais de alguma forma envolvidos em projetos sociais, pois essa experiência lhes confere maior dinamismo, valores éticos, espírito de equipe e auto-realização. Além disso, o nível de motivação e comprometimento é muito maior nessas empresas, nas quais as pessoas sentem-se orgulhosas de trabalhar".
Em relação à marca e a imagem da companhia, Barbosa e Rabaça (2001: s.p.)
demonstram que os consumidores dão preferência às empresas socialmente
responsáveis na hora do consumo, o que pode ser um diferencial competitivo:
"Consumidores dão preferência a marcas com boa reputação ética, atributo que tem sido fortemente influenciado pelo patrocínio de programas de cunho social, ecológico ou educacional. As empresas socialmente responsáveis fazem desse posicionamento um diferencial que afeta positivamente a sua imagem". Barbosa e Rabaça (2001)
No âmbito financeiro, as empresas socialmente responsáveis têm acesso a fontes
de financiamentos mais baratas, o que segundo Canuto (2001) representa uma forma de
vantagem competitiva. Para Soares (2001), a responsabilidade social corporativa é um
critério importante na liberação de financiamentos patrocinados pelo BNDES.
Na opinião de Costa (2001), a responsabilidade social corporativa contribui para o
fortalecimento da sociedade na medida em que ela, fortalecida, passa a exigir respostas
das instituições estatais para a solução dos problemas da exclusão social e da
degradação ambiental.
Revisão da Literatura 24
1.6 Indicadores de Responsabilidade Social Corporativa
Os indicadores de responsabilidade social corporativa são sistemas de avaliação
que permitem às empresas verificarem o seu nível de envolvimento com questões de
natureza social, ambiental e trabalhista.
Além de auxiliar a administração, os indicadores de responsabilidade social
corporativa possibilitam comunicação transparente da organização com seus diversos
agentes sociais. Dessa forma, as corporações reforçam seu compromisso com a ética
nos negócios e com a melhoria da qualidade de vida da sociedade.
De acordo com o Instituto Ethos de Responsabilidade Social (Guia de elaboração
de relatório e balanço anual, 2001: 15) a análise dos indicadores, juntamente com os
relatórios tradicionais de avaliação empresarial, permitem:
U. A compreensão mais abrangente de toda a situação econômica da empresa, por incorporar fatores relevantes que refletem no desempenho presente e futuro da empresa;
• Auxilia no gerenciamento de impactos propiciando significativa economia de recursos, com a adoção de novas tecnologias ou procedimentos;
• Permite a avaliação da coerência entre os valores e diretrizes assumidas e a efetivação dos mesmos, através da análise do desempenho da empresa;
• Possibilita acompanhar a evolução do processo de responsabilidade social da empresa;
• Oferece parâmetros comuns de comparação de desempenho com o de outras empresas, estabelecendo novos níveis de 'benchmarks' ".
Atualmente, os indicadores de responsabilidade social corporativa mais utilizados
pelas empresas são: o balanço social, a demonstração do valor adicionado e as
certificações de responsabilidade social.
Revisão da Literatura 25
1.6.1 Balanço Social
o balanço social surgiu com a crescente demanda da sociedade por
informações a respeito dos impactos que as atividades empresariais ocasionam nos
trabalhadores, sociedade, comunidade e meio ambiente. Os relatórios tradicionais
priorizam informações de ordem financeira, econômica e patrimonial e não abordam
elementos qualitativos ou o fazem superficialmente, e por isso, são insuficientes para
a avaliação do desempenho empresarial.
Social:
Segundo Ribeiro (1999:1) o Balanço Social:
" é um instrumento de informação da empresa para a sociedade, por meio do qual a justificativa para sua existência deve ser explicitada. Em síntese, esta justificativa deve provar que o seu custo-benefício é positivo, porque agrega valor à economia e à sociedade, porque respeita os direitos humanos de seus colaboradores e, ainda, porque desenvolve todo o seu processo operacional sem agredir o meio ambiente.
Kroetz (2001 :78) identifica quatro fases para a implementação do Balanço
"1.fase política - traduzida na tomada de consciência, por parte do corpo diretivo da entidade, da necessidade do Balanço Social como um instrumento gerencial e de relações públicas; tomada de consciência da responsabilidade social da entidade. Também inclui-se nesse estágio a "venda" da proposta para todo o quadro funcional, pois a construção de um bom Balanço Social depende do engajamento da totalidade do grupo organizacional;
2.fase operacional - etapa em que se busca implantar de forma operacional a demonstração do Balanço Social, exigindo, muitas vezes, o aperfeiçoamento da estrutura sistêmica organizacional e de seus vários subsistemas, viabilizando a coleta, o tratamento e a geração de informações;
3.fase de gestão - mediante a integração dos novos objetivos sociais no negócio, durante a qual o Balanço Social passa de simples instrumento de informação para instrumento de apoio a gestão. Nessa fase, adicionam-se os objetivos sociais e ecológicos aos objetivos econômicos, afetando o processo da tomada de decisão nos diversos mve/s da entidade, transformando-se em subsídio para o planejamento estratégico;
4.fase de avaliação - etapa em que são avaliados os procedimentos utilizados na preparação e comunicação das informações, bem como a influência que as mesmas exerceram na tomada de decisão e implementação de novas posturas administrativas, identificadas com a responsabilidade social e ecologicamente correta. É a fase da
Revisão da Literatura 26
retroalimentação do sistema, reavaliando todos os procedimentos, informações, implementações e resultados, oriundos da análise do Balanço Socia/".
Finalmente, entre os benefícios proporcionados pela implantação do balanço
social destacam-se:
• A identificação do grau de comprometimento social da empresa com a
sociedade, empregados e meio ambiente;
• A evidenciação através de indicadores das contribuições à qualidade
de vida da sociedade;
• A valiação da administração através de resultados sociais e não
somente financeiros;
Em 1997 foi elaborado o projeto de lei n° 3.116, pelas deputadas Marta
Suplicy, Maria da Conceição Tavares e Sandra Starling com o objetivo de tomar
obrigatória a elaboração do balanço social para as empresas com mais de cem
empregados, entretanto, até o momento o projeto não foi votado.
Abaixo, modelo de Balanço Social proposto pelo IBASE:
Tabela 1: Modelo de Balanço Social
BALANÇO SOCIAL
1. Base de Cálculo
1.1 - Faturamento Bruto
1.2- Lucro Operacional
1.3 - Folha de Pagamento
2. Indicadores Laboriais Valor R$ % si Folha de % si Lucro Pagto. Bruta Operacional
2.1 - Alimentação
2.2 - Encargos Sociais Cornpulsórios
2.3 - Pre"';dência Privada
2.4--Saúde
2.5 - Educação 2.6 - Participação dos Trabalhadores nos Lucros ou Resultados
2.7 - Outros BenefICios
TOTAL - Indicadores laboriais (2.1 a 2.7)
3. Indicadores Sociais Valor R$ % si Lucro % si Faturamento Operacional Bruto
3.1 - Impostos (excluídos encargos sociais) 3.2 - Contribuições para a Sociedade I Inwstimentos na Cidadania
3.3 - In\oestimentos em Meio Ambiente
TOTAL -Indicadores Sociais (3.1 a 3.3)
4. Indicadores do Corpo Funcional N° de empregados
4.1 - N de empregados ao final do período I 4.2 - N de admissões durante o período I
Fonte: Kroetz, 2000, p.72.
Revisão da Literatura 27
1.6.2 Demonstraç'o do Valor Adicionado (DVA)
A demonstração do valor adicionado é um relatório que permite identificar o
quanto de valor uma empresa agrega à sociedade e de que forma ele é repartido
entre os agentes sociais.
Para Ribeiro (1999:12) o DVA reflete:
"Quem são os beneficiados com o desempenho da empresa como: empregados, governo, terceiros, acionistas, os quais estão representados pela remuneração de pessoal e encargos sociais; impostos sobre vendas, produção de serviços, taxas e contribuições, juros sobre capital de terceiros e próprio, dividendos, aluguéis de móveis e imóveis e, por fim, retenções a título de reinvestimento na organização."
Martins, E. (1997:A3), dá uma definição mais ampla, afirmando que:
J~ DVA é uma explanação de como a empresa criou riqueza e como a distribuiu entre fornecedores de capital, recursos humanos e governo. Vêse, então, a parte da riqueza criada que cabe aos primeiros na forma de financiadores (via juros e aluguéis), de sócios (via dividendos e lucros retidos) e de detentores de tecnologia (via royalties); aos dos recursos humanos via seus salários, gratificações, honorários, participações nos resultados, etc. e, finalmente, ao governo via impostos, diretos e indiretos. "
Ainda, segundo Ribeiro (1999:12), a análise do DVA permite identificar a
contribuição que a empresa gera para a sociedade da seguinte forma:
J~ análise da distribuição do valor adicionado identifica a contribuição da empresa para a sociedade e os setores por ela priorizados. Este tipo de informação serve para avaliar a performance da empresa no seu contexto local, sua participação no desenvolvimento regional e estimular ou não a continuidade de subsídios e incentivos governamentais. E, em um contexto maior, pode servir de parâmetro para definição do comportamento de suas congêneres".
Revisão da Literatura 28
Abaixo, modelo da Demonstração do Valor Adicionado sugerido pela
FIPECAFII USP:
Tabela 2: Modelo da Demonstração do Valor Adicionado
DESCRiÇÃO R$Mil
1-RECEITAS 1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços 1.2) Provisão pl devedores duvidosos - Reversão I (Constituição) 1.3) Não operacionais
2 -INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui ICMS e IPI) 2.1) Matérias-primas consumidas 2.2) Custo das mercadorias e serviços vendidos 2.3) Materiais, energia, serviço de terceiros e outros 2.4) Perda I Recuperação de valores ativos
3 - VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2)
4 - RETENÇÕES 4.1) Depreciação, amortização e exaustão
5 - VALOR ADICIONADO LíQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3-4)
6 - VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA 6.1) Resultado de equivalência patrimonial 6.2) Receitas financeiras
7 - VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6)
8 - DISTRIBUiÇÃO DO VALOR ADICIONADO* 8.1) Pessoal e encargos 8.2) Impostos, taxas e contribuições 8.3) Juros e aluguéis 8.4) Juros si capital próprio e dividendos 8.5) Lucros retidos I prejuízo do exercício
* O total do item 8 deve ser exatamente igual ao item 7.
Fonte: Moreira, 2002, s.p.
Revisão da Literatura 29
1.6.3 Certificações de Responsabilidade Social Corporativa
A certificação da responsabilidade social corporativa é questão recente no
Brasil e no exterior. Na verdade, ainda não há uniformização de conceitos e idéias
referente à pratica da responsabilidade social pelas empresas.
No exterior, algumas normas como: a Social Accountability 8000 (SA 8000), a
Occupational Health and Safety BS 8800 (BS 8800) e a AccountAbility AA 1000
(AA 1000) surgiram visando padronizar um conjunto mínimo de indicadores
referentes aos aspectos éticos e de responsabilidade social na condução dos
negócios.
A norma BS 8000 aborda questões referentes às condições de segurança e
saúde dos trabalhadores. A norma SA 8000, elaborada pela The Council on
Economic Priorities Accreditation Agency - CEPAA (1997), foi desenvolvida com
base nos preceitos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e sua ênfase
concentra-se no respeito aos direitos humanos e trabalhistas. Já a norma AA 1000
(2000) procura avaliar e analisar as relações existentes entre empresa e
comunidade.
Como podemos observar, as normas existentes abordam parcialmente as
dimensões da responsabilidade social corporativa, assim para uma análise mais
detalhada, tornam-se necessárias informações adicionais e, até mesmo, certificações
complementares como a ISO 9000, referente à qualidade dos produtos, e a ISO
14.000, referente às questões ambientais.
No Brasil, as empresas estão buscando alternativas para demonstrar o seu
envolvimento e preocupação com as questões sociais, ambientais e trabalhistas. A
forma mais simples de envolvimento é por meio da associação a uma entidade
comprometida com os princípios da responsabilidade social corporativa. Assim, as
empresas associadas se comprometem a seguirem um código de conduta que visa
normatizar as ações empresariais entre os agentes sociais. Esse é o caso, por
exemplo, do Instituto GIFE que possui cerca de 65 fundações e institutos
associados.
Revisão da Literatura 30
Nesse sentido, algumas entidades criaram selos de certificação social que
são conferidos aos associados que patrocinam projetos sociais, como ocorre com a
fundação Abrinq que combate a exploração do trabalho infantil.
Já o instituto Ethos (2000) desenvolveu metodologia própria de avaliação da
responsabilidade social praticada pelas corporações. A avaliação consiste na
aplicação de um questionário, que é um modelo único aplicável a todas as
empresas, composto por conjunto de indicadores qualitativos e quantitativos que
abordam sete dimensões da responsabilidade social corporativa: valores e
transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores,
comunidade, governo e sociedade.
o objetivo dos indicadores Ethos (2001) é ressaltar a importância das
questões sociais e ambientais para os negócios e a formação de um banco de dados
nacional que permita as empresas compararem o seu nível de atuação social com
um conjunto de empresas líderes.
Como ferramentas de análise, os demonstrativos do balanço social, valor
adicionado e os indicadores Ethos de responsabilidade social permitem identificar o
nível de atuação e o grau de comprometimento das empresas com as questões
sociais, ambientais e éticas. Dessa forma, esses demonstrativos são
complementares à análise de desempenho econômico e financeiro das empresas,
dando uma dimensão social de sua atuação e identificando o grau de aderência da
administração empresarial aos valores éticos que a sociedade pós-industrial
demanda.
Nesse trabalho, utilizaremos os indicadores desenvolvidos pelo Instituto
Ethos para avaliar o grau de comprometimento das empresas com a
responsabilidade social corporativa. Essa escolha justifica-se pela abrangência que o
modelo apresenta em relação a outras ferramentas apresentadas nesse estudo, o
que nos possibilitará uma análise mais completa das dimensões que compõem a
responsabilidade social corporativa.
r
2. REFERENCIAL TEORICO
2.1 Responsabilidade Social Corporativa e Neoliberalismo
Para Srour (2000), a política econômica neoliberal e um Estado de direito
democrático, impõem às empresas atuação socialmente responsável em
relação aos seus principais agentes sociais. Esse fato decorre do poder de escolha
conferido pelo mercado aos consumidores como forma de regular as ações
empresariais.
Aparentemente, esse raciocínio pode parecer contraditório. Por qual razão uma
empresa deveria aumentar seus gastos com itens sociais, já que, pela ótica neoliberal, o
bem-estar geral da sociedade seria alcançado quando os empresários, individualmente,
maximizassem os seus lucros.
Rodrigues(1995: s.p.) descreve, abaixo, a lógica do neoliberalismo:
"O princípio fundador baseia-se no direito natural, e está obviamente calcado na idéia de liberdade. Segue-se que a estrutura social resultante da interação de homens livres por natureza é necessariamente desigual. Daí que a característica dos indivíduos é a flexibilidade. O conjunto resulta na idéia de um mercado ideal, que permite a alocação ótima de recursos escassos. Tal mercado favorece o crescimento econômico e este. por sua vez, autoriza, automaticamente, um progresso social geral. E esse progresso permitiria, a longo prazo, a ampliação da esfera da liberdade por meio de uma transformação cultural da natureza. Esta possibilidade, ao final, levaria a uma redução da propensão da natureza de só prover recursos escassos e, portanto, a uma redução das desigualdades sociais".
Outra questão é o fato que o neoliberalismo, ao propor o fim do Estado
providência, a desregulamentação da economia, a liberação dos mercados, as
privatizações de serviços públicos, reformas fiscais anti-distributivas e o corte de gastos
sociais, transfere para o mercado a solução dos problemas sociais, como por exemplo, o
desemprego.
Em relação ao Estado mínimo e a intervenção do Estado na economia, Rodrigues
(1995: s.p.) escreve:
Referencial Teórico 32
"Deste ponto de vista, por definição, o Estado é encarado como o principal limite à liberdade individual, porque tende a reduzir as desigualdades e, assim, é fonte de rigidez social, agindo contra a flexibilidade inerente aos indivíduos livres. De modo que o Estado é, inelutavelmente, um perturbador da ordem de mercado e, portanto, um redutor dos estímulos ao trabalho e à poupança e, em conseqüência, tende a frear o crescimento e a constituir-se, por fim, em fator de regressão sociaJ".
A resposta dada por Srour para esse problema - responsabilidade social
corporativa e neoliberalismo - está ligada com a representatividade que um Estado de
direito democrático confere a sociedade. Isto é, a capacidade da sociedade civil se
mobilizar, fiscalizar, questionar e retaliar ações e atitudes abusivas ou antiéticas.
Os consumidores, juntamente com a mídia, possuem grande poder de dissuasão e
podem retaliar empresas, por meio de boicotes e ações na justiça. Portanto, por
questões estratégicas, as empresas ponderam a respeito das conseqüências de suas
ações e de que forma elas afetam os agentes sociais.
Assim, nesse contexto econômico neoliberal, os ativos mais valiosos das empresas
são a marca e a sua reputação. Logo, atitudes questionáveis podem arranhar ou, até
mesmo, destruir em pouco tempo, a imagem de uma companhia, prejudicando,
conseqüentemente, os negócios.
Figura 1: A política pela ética
A política pela ética
Poder de
dissua~ào
l·d.··.1me.I .• I .• ~'d..:70
Fonte: Srour, 2000, P.44.
Referencial Teórico 33
Por conseguinte, Srour (2000), não acredita que o movimento pela
responsabilidade social corporativa seja iniciativa do "bom-mocismo" empresarial, e, sim,
o resultado da "análise estratégica em relação às forças do mercado"(Srour: 2000,43).
Em sua argumentação, Sruor (2000) reforça essa opinião, a respeito da análise
estratégica, ao sugerir que as companhias atendam aos agentes sociais de forma
diferenciada. Aqueles que possuem maior representatividade e poder de retaliação são
tratados com idoneidade. Já os outros agentes sociais, menos importantes, são
conduzidos de acordo com os interesses particulares de cada organização.
Dessa forma, Sruor (2000: 163) classifica os agentes sociais em duas categorias:
"1. Formam o primeiro pelotão os agentes que não convém manipular sob pena de colocar em risco a sobrevivência dos negócios.
2. Formam o segundo pelotão aqueles que, com riscos calculados, podem ser lançados uns contra os outros ou podem ser enredados em manobras cujo desfecho seria vantajoso para as empresas".
Figura 2: A ambigüidade empresarial
A an1bigüidade clnpresarial
Numa economia competitiva. r ,;
rL·;tjL~'.!';Ll 'J:;
7((j1;'-·Íl0Íd~·;,:; em função de seu cacite: capacidade de retaliar e de agregar valor:
í) Acionistas, clientes, gestores, trabalhadores (qualificados) tendem a ser
L,v;. a partir de reflexões estrategicas ( deliberação responsável);
Fonte: Srour, 2000, P.164.
( fornecedores, autoridades governamentais, concorrentes, credores, mídia, comunidade local) tendem a ser «driblados" por conveniéncia. I
Em decorrência do poder que os consumidores possuem na economia de mercado
aliado a um Estado democrático, as empresas optam por conduzir os seus negócios
respeitando determinadas práticas empresariais que, na verdade, são representações
Referencial Teórico 34
das morais4 sociais. O estudo sistemático da moral social constitui o objeto da Ética, que
é altruísta e tem como objetivo auxiliar os agentes a justificarem as suas ações. Assim,
em relação ao primeiro grupo, os empresários optam pela orientação ética dos negócios.
Já para o segundo grupo, a ética cede lugar para uma moral oportunista onde "as
empresas se valem das brechas existentes na lei ou de sua fraca articulação para extrair
desses stakeholders o máximo de vantagens" (Srour, 2000: 163).
2.2 Vertentes do Pensamento Ético
Conforme foi apresentado, os empresários justificam as suas ações frente ao 10
grupo de agentes sociais - aqueles com maior poder de retaliação ou que agregam valor
ao negócio - pela observância de atitudes éticas. Assim, torna-se necessário
entendemos as correntes de pensamento ético que teorizam a respeito da conduta moral
da sociedade.
Por definição, a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens
em sociedade. Enquanto a "ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático,
a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o
que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos" (Srour,2000:29). Dessa
forma, o estudo da ética empresarial ou da ética nos negócios apresenta como objetivo
"estudar e tornar inteligível a moral vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e,
em particular, a moral predominante em empresas de uma nacionalidade específica"
(Srour, 2000: 30).
Segundo Srour (2000:51),como a ética teoriza a respeito das condutas morais e a
moral difere de sociedade para sociedade. A ética, dessa forma, também não pode ser
única. Existem, pelo menos, duas correntes principais de pensamentos éticos:
• A ética da convicção, entendida como deontologia (tratado dos deveres);
formada por códigos morais, traduzem valores, princípios, normas ou ideais.
"Sua premissa é a de que a justificação das decisões e ações se faz através
de leis morais que não toleram desvios, presumindo um caráter universal de
4 Sruor (2000: 29) conceitua moral como "um conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização".
Referencial Teórico 35
suas obrigações" Ventura (1999:20). Um exemplo dessa vertente de
pensamento é a ética do dever ou absolutista:
Pela ética do dever devemos "encontrar princípios morais capazes de
governar a nossa conduta recíproca como seres humanos, partindo apenas
da simples razão" (Alberoni & Veca, 1992: 46). Por conseguinte, em nossas
ações, devemos agir racionalmente desprovidos da emoção e de interesses
egoístas. Para isso, torna-se necessário o teste da universalização. "Uma
ação só é moral quando pudermos justificá-Ia com base em um princípio, uma
regra, um imperativo universal, que valha para todos, sem que isto leve a
uma contradição" (Alberoni & Veca, 1992: 46)
• A ética da responsabilidade, conhecida como teleologia (estudo dos fins
humanos), diz que "somos responsáveis por aquilo que fazemos. Os agentes
avaliam os efeitos previsíveis que uma ação produz; contam obter resultados
positivos para a coletividade; e ampliam o leque das escolhas ao preconizar
que dos males o menor' (Srour, 2000:52). Como exemplos dessa vertente de
pensamento ético, temos o utilitarismo de Bentham e Mill e o relativismo ético
conforme apresentados abaixo:
Pela vertente utilitarista "os homens são regidos por dois senhores: o prazer e
o sofrimento. Eles procuram alcançar o primeiro e evitar o segundo" (Alberoni
& Veca, 1992: 39). Surge assim, o princípio da utilidade onde "cada um de
nós, como indivíduos, possui um conjunto mais ou menos coerente de
projetos, e a realização desses projetos representa a sua utilidade ou
felicidade" (Alberoni & Veca, 1992: 39). Dessa forma, devemos agir de
maneira a proporcionar a máxima felicidade para o maior número de pessoas.
Já o relativismo ético parte do princípio "que diferentes comunidades julgam
de maneira diferente o mesmo tipo de ato ou postulam diversas normas
morais diante de situações semelhantes" (Vázquez, 1997:229). Logo, uma
norma moral é relativa a uma cultura específica e a uma determinada
sociedade. "Isso significa que uma norma ou um código moral não pode ser
considerado como algo imóvel e fixo, mas dentro do movimento ascensional
no qual explicitam toda a sua riqueza" (Vázquez, 1997:228).
Referencial Teórico 36
2.3 As Morais Sociais
Em relação as condutas morais, Srour (2000) relaciona as principais morais
macrossociais5, tanto as de natureza altruístas como aquelas egoístas, que respaldam
os padrões de comportamento dos agentes nos âmbitos econômico, social e
empresarial.
Para Sruor (2000) a moral protestante e a moral católica são as principais morais
macrossociais que originaram diversas morais microssociais. Essas, "expressam os
interesses e as visões de mundo das muitas coletividades intemas às sociedades,
distribuindo-se entre morais paroquiais, corporativas, profissionais, setoriais, c/assistas,
regionais etc"(Srour, 2000:29).
Da moral protestante, baseada na doutrina calvinista da predestinação dos
homens, resultaram, no âmbito social, duas morais. Uma moral denominada puritana
com orientações altruístas e, portanto ética e uma moral egoísta e antiética denominada
moral do sucesso. No âmbito econômico surgiu a ideologia do liberalismo econômico e
na esfera empresarial procederam-se as morais baseadas no profissionalismo.
Alberoni & Veca (1992: 17) apresentam, abaixo, a lógica da moral protestante,
especificamente a doutrina calvinista da predestinação dos homens.
"Segundo esta doutrina Deus decidiu, por imperscrutáveis razões, salvar alguns e condenar outros. O calvinista vive no terror de ser um dos condenados. Porta-se de forma correta, austera, mas seja lá qual for o seu comportamento, ele nunca saberá se Deus o escolheu ou recusou. Procura então algum sinal, algum indicador. E, finalmente, interpreta o sucesso, a riqueza, os benefícios que recebe no mundo, como sinal da benevolência divina. Se Deus lhe der a prosperidade, então poderá esperar ser um dos escolhidos. A sua rígida moral força-o a trabalhar, a não gastar. A sua esperança faz com que ele deseje enriquecer, pois a riqueza é uma prova de salvação. Daí a razão do acúmulo. O dinheiro ganho não é gasto, é investido friamente, racionalmente. Proporciona juros. Os juros também são investidos e assim por diante".
A moral puritana reveste-se de valores altruístas ao relacionar o trabalho, a riqueza
e o sucesso dos indivíduos como forma de atingir o progresso da sociedade como um
todo. Assim, a moral puritana:
5 Segundo Sruor (2000:29) as morais macros sociais são aquelas que· recobrem a sociedade como um todo e que servem de balizas as centenas de morais microssociais".
Referencial Teórico 37
"1. Dignifica a honestidade, a parcimônia, o esforço individual, a dedicação à empresa, a disciplina racional do trabalho, o autocontrole, a sobriedade e a moderação - ferramentas indispensáveis para a obtenção do sucesso material.
2. Converte o êxito no campo profissional num signo de diligência, virtude e respeitabilidade, na medida em que o indivíduo alcança sua independência através da confiança em si mesmo (selfreliance) , da iniciativa própria e da ação prática.
3. Considera que a riqueza - decorrente do mérito, dos riscos assumidos, do empenho individual e da ambição legítima - merece louvor, porque promove o bem-estar da sociedade" (Sruor,2000:223).
No âmbito empresarial, a moral puritana é representada pela idoneidade e o
profissionalismo nas relações de trabalho, nas transações comerciais e no
reiacionamento com a comunidade, empregados, governo e meio ambiente. Seus
valores são: a responsabilidade, a isenção, a impessoalidade, a capacitação técnica e a
competência profissional. Essa é uma das morais que, segundo Srour (2000), serve de
parâmetro para justificar as ações empresariais frente ao grupo de agentes sociais mais
importantes.
Já a moral do sucesso é antiética, pois a riqueza, o sucesso e o trabalho estão
dissociados de qualquer valor coletivo e sim, da ganância e interesses pessoais. Para
Sruor (2000), os princípios básicos do neoliberalismo econômico são resultantes dessa
moral, pois ela estimula o consumismo, a competição e as ambições pessoais como
demonstração de sucesso. Logo, essa moral:
"1. Resume a realização pessoal à ganância.
2. Celebra as sensações de prazer e as atividades sexuais.
3. Converte o dinheiro em medida universal para avaliar as pessoas.
4. Consagra o triunfo dos vencedores (winners) - os campeões das disputas -, a despeito da frustração e do desalento de uma legião de perdedores (Iosers)(Sruor, 2000: 221)."
Da moral católica, baseada no livre arbítrio, resultaram: no âmbito social a moral da
integridade e a moral do oportunismo; no âmbito econômico originou a ideologia do
dirigismo estatal e na esfera empresarial surgiram a moral da parceria e a moral da
parcialidade.
Referencial Teórico 38
A doutrina católica do livre-arbítrio afirma que o destino dos homens depende de
suas ações, fundamentando, dessa forma, uma moral da salvação e do dever. Srour
(2000:129) descreve, abaixo, a moral católica:
liA doutrina católica do livre-arbítrio, diversamente, afirma que o destino dos homens depende de suas ações, postula liberdade de escolha entre o bem e o mal, desenha uma trajetória em que cada qual será julgado em função de suas obras. Decorrem daí os cultos canônicos da pobreza e da santidade, o heroísmo, a destinação social do dinheiro, a crença nos grandes temas da fraternidade universal, da justiça social e das virtudes evangélicas do amor cristão".
As morais de origem católica estão presentes nas sociedades latinas,
principalmente no Brasil, onde ela explica a duplicidade moral da sociedade.
Além das morais católica e protestante, há também a moral islâmica que não foi
abordada por Srour (2000). O termo islamismo deriva da palavra "Salama" (estar em
paz) e seu significado, no contexto religioso, significa a submissão voluntária à vontade
de Deus. Atualmente, o islamismo conta com cerca de 950 milhões de praticantes em
todo o mundo, sendo, depois do catolicismo, a segunda maior religião em número de
praticantes.
De acordo com a Sociedade Beneficente Mulçumana (2002), a moral islâmica
surgiu em 622 E.C. (Era Comum) com a mensagem revelada por Deus ao profeta
Maomé (Mohammad) e registrada no livro sagrado Corão (do árabe qur'am, que significa
leitura).
Além do Corão, a doutrina islâmica baseia-se em três outras fontes ou princípios
fundamentais: o suna (tradições), o ijma (consenso) e o ijtihad (pensamento individual).
Esses princípios são as bases que regulamentam a vida do homem em sociedade, a
organização do estado e da economia.
As características básicas da organização social e religiosa que definem o
islamismo para todos os fiéis baseiam-se na oração (salah), no jejum, na esmola (zakah)
e a peregrinação a Meca (hadj). Algumas seitas, como a dos caridjitas, tentaram, sem
sucesso, incluir o jihad ou guerra santa.
Conseqüentemente, a moral islâmica baseia-se em uma série de princípios
religiosos dogmáticos, rígidos e absolutos para regular a vida em sociedade dos seus
Referencial Teórico 39
agentes, além de prescrever um conjunto de obrigações morais a serem seguidos pelos
seus fiéis.
2.4 As Morais Brasileiras
Para Srour (2000), a sociedade brasileira apresenta duplicidade moral. A moral da
integridade e a moral do oportunismo, ambas oriundas da moral religiosa católica. A
moral da integridade é a moral oficial de nossa sociedade e tem como base a ética da
convicção. Seus valores são representados pela honestidade, lealdade, idoneidade e
compromissos. As ações se justificam por princípios que devem valer para todos. Assim,
essa moral é praticada por aqueles que se orientam pelo rigor moral.
Já a moral do oportunismo é uma moral oficiosa. Seus valores são representados
pelo jeitinho, pela malandragem e pela bajulação. A moral do oportunismo tem como
base o egoísmo, ou seja, o que importa são os interesses pessoais e não os ideais
coletivos. Dessa forma, os fins devem ser alcançados não importando os meios
utilizados. Isso significa dizer que os meios podem ser lícitos ou não. Essa moral
apresenta uma tradição histórica e está difundida por todas as classes sociais.
Esse ponto de vista, a respeito da duplicidade moral que a sociedade brasileira
está inserida, é compartilhado por Souza (Betinho) que comenta a respeito da tolerância
pela sociedade de atitudes antiéticas: liA sonegação chegou aos níveis atuais porque
nossa cultura aceita o sonegador. Tem gente que faz até biografia dizendo que não paga
imposto" (Souza, 1995:24).
Segundo Srour (2000), a moral da integridade, nas empresas, torna-se de difícil
aplicação devido ao seu rigor e, dessa forma, surge a moral da parceria que tem como
base a ética da responsabilidade. A exemplo das morais protestantes, baseadas no
profissionalismo, a moral da parceira, também serve para justificar as ações
empresariais frente aos agentes sociais mais relevantes.
Srour (2000: 180) descreve a moral da parceria, caracterizando-a de maneira
virtuosa e cujas ações são centradas no médio e longo prazo:
':As pedras de toque da moral da parceria são o profissionalismo e a idoneidade nas transações. Seus praticantes visam ao benefício mútuo,
Referencial Teórico 40
num processo de cooperação que, em geral, institucionaliza-se através de relações contratuais que tendem a ser duradouras:
1. Observam-se garantias precisas e confiáveis de desempenho. 2. Exige-se transparência e rejeita-se qualquer fraude, logro ou
manipulação.
3. Compartilham-se informações, algumas estratégicas, tais como projetos, programações, especificações técnicas, racionalização dos processos, experiências logísticas, técnicas de prestação de serviços.
4. Implementam-se ações conjuntas que, muitas vezes, resultam em apoio mútuo em situações de crise.
5. Realizam-se de forma partilhada inovações técnicas ou de gestão;
6. Encaram-se as negociações como jogos de soma positiva, visando a ganhos mútuos.
7. Aprende-se o negócio um do outro, a fim de economizar custos e aumentar a competitividade.
8. Convertem-se os stakeholders, que foram eleitos como parceiros, em extensões do próprio negócio".
Por outro lado, a moral do oportunismo tem como base os preceitos paternalistas e
assistencialistas da moral católica. Na verdade, as morais religiosas deram origem a
duas morais de natureza egoístas e antiéticas. A moral protestante deu origem a moral
do sucesso pessoal de caráter elitista e excludente e a católica deu origem a moral do
oportunismo.
Simonsen (1995) e Veríssimo (1995) demonstram o sentido negativo e punitivo que
o lucro possui para a sociedade formada por princípios católicos:
Segundo Simonsen (1995:59):
liA cultura latina e católica não vê com bons olhos o lucro. A interpretação favorável da pessoa que busca ganhar dinheiro com sua atividade produtiva é algo muito mais ligado à maneira protestante de ver as coisas".
Segundo Veríssimo (1995:39):
"Em nossa cultura, o lucro é visto como uma coisa negativa. Isso vem da tradição católica, de uma associação do lucro ao pecado da usura. Ele é visto como cobiça, como coisa feia, reprovável. Na cultura ligada à
Referencial Teórico 41
religião protestante, já é o contrário, o lucro é uma bênção, um sinal de aprovação de Deus".
Finalmente, Srour (2000:152) nos apresenta as principais características da moral
do oportunismo, de caráter egoísta e antiético e que justificam as ações empresariais
frente aos agentes sociais com menor poder de representação:
'~ moral do oportunismo repousa no mais estreito interesse pessoal, num egoísmo mesquinho que, na ânsia de obter vantagens e saciar caprichos, despe-se de quaisquer escrúpulos. Os agentes:
1. Fazem o que lhes traz o máximo de bem, independentemente dos efeitos produzidos sobre os outros: "Faço algo porque me convém".
2. Fogem às obrigações ou às responsabilidades.
3. Proferem uma fala que, embora pronunciada em voz baixa, desfruta de larga difusão, e recorta diagonalmente todas as classes sociais.
4. Adotam procedimentos como o jeitinho, o quebra-galho, o calote, o suborno, o engodo, a trapaça, a bajulação, a burla, a manha.
5. Não se furtam a proclamar, com cinismo, que não dão a mínima pelas conseqüências, desde que isso lhes permita "sair-se bem". Quanto aos outros, sentenciam: "Ninguém mandou ser trouxa ", vale dizer, otário, poeta, caxias, bobo, tolo, panaca, babaca, sonso, banana, bolha, paspalho".
Conforme foi argumentado, a abertura comercial ocorrida no país a partir da
década de 90, aliado a uma economia neoliberal e um sistema político democrático tem
exigido das empresas nacionais novo comportamento baseado no profissionalismo
(moral da parceria) e no abandono de antigas práticas comerciais (moral do
oportunismo) .
Essas mudanças exigem adaptação da nossa cultura e dos valores da sociedade.
O ideal neoliberal é uma representação da moral calvinista que reforça aspectos da
concorrência e do livre mercado. A nossa tradição católica nos leva a comportamentos
mais assistencialistas e paternalistas, representadas pela intervenção do Estado na
economia, pelo protecionismo e pela estrutura patrimonialistas de nossas empresas.
Estruturas essas, dominantes na nossa economia até a década de 80.
Nesse contexto, as questões morais nos negócios passaram a ser fundamentais.
As empresas são impactadas pelas morais sociais e ao refletirem eticamente a respeito
Referencial Teórico 42
de suas ações e procurarem antecipar os impactos que certas decisões irão produzir
sobre os negócios, certamente irão contribuir para a diminuição de conflitos entre os
agentes sociais e estarão garantindo a perenidade e a competitividade do negócio.
Assim, ao reconhecermos que a responsabilidade social corporativa representa
conjunto de atitudes que visa diminuir, e até mesmo eliminar, o conflito de interesses
gerados pelas ações empresariais na comunidade, sociedade, empregados e meio
ambiente, a conduta ética nos negócios passa a ser fundamental, pois permite a
conciliação desses interesses entre os diversos agentes sociais envolvidos.
3.EMPRESAS ANALISADAS
3.1 Introdução
S rour (2000) apresentou a temática da responsabilidade social corporativa
como o resultado de análise estratégica efetuada pelas empresas. Em uma
sociedade democrática com a economia baseada no neoliberalismo, os agentes sociais
possuem grande representatividade e grande poder de mobilização e de retaliação,
afetando, assim, os negócios das companhias.
Por essa lógica, para que não ocorram prejuízos e para garantir a perenidade dos
negócios, é fundamental que as empresas se orientem por principios morais baseados
no profissionalismo, principalmente no que se refere ao grupo de agentes sociais mais
importantes como: acionistas, clientes e trabalhadores.
Já em relação aos agentes sociais cuja representatividade e poder de barganha é
bastante reduzida, não há a necessidade de rigor moral, a tendência é driblá-los de
acordo com a conveniência.
Assim, nesse capítulo, nos apoiaremos no referencial teórico apresentado por
Srour (2000) para procedermos a análise de algumas empresas e obtermos resposta a
respeito do nosso problema de pesquisa.
Especificamente, iremos verificar se as empresas socialmente responsáveis
demitem funcionários em períodos recessivos como forma de melhorarem o seu
desempenho econômico-financeiro.
Dessa forma, para atingirmos o nosso objetivo, justificaremos a seguir, a
metodologia empregada para o desenvolvimento do estudo, o seu período de análise, o
critério de seleção das empresas pesquisadas, a forma de coleta dos dados, as
limitações do método empregado e os resultados obtidos.
Empresas Analisadas 44
3.2 Período de Análise
o período de análise das empresas pesquisadas foi de 13 anos, de 1988 até o ano
2000. A escolha desse período justifica-se pelas mudanças ocorridas no país, tanto no
âmbito econômico como na esfera política. Conforme foi apresentado por Sruor (2000), o
Brasil passou por transição política e econômica no final da década de 80 e no início da
década de 90. Nesse período houve a consolidação do processo democrático e a
adoção do neoliberalismo na economia. Essas mudanças, segundo Sruor (2000), são
fundamentais para justificar o movimento de responsabilidade social corporativa.
No âmbito econômico, especificamente nessa época, o país experimentou
períodos de crescimento, como os verificados logo após a implantação do plano Real em
1994, e períodos recessivos com elevados índices de inflação e de redução do Produto
Interno Bruto (PIB). Dessa forma, o estudo desse período, irá possibilitar o entendimento
da política adotada pelas companhias, em relação ao seu quadro de pessoal, em
períodos de crescimento como em períodos recessivos da economia.
850.000
750.000
650.000
550.000
450.000
350.000
Gráfico 1 - Evolução do PIS brasileiro
Evolução do PIB Brasileiro Valores em US$ Milhões
250.000 +--_.~-~ --~-~-~-~-~-~-~--~-~~
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Fonte: Conjuntura Econômica, agosto 2001, p. xix.
Outra justificativa é o fato que uma companhia não se toma socialmente
responsável de um ano para outro. A responsabilidade social corporativa é, também,
resultado das crenças, dos valores e dos ideais praticados pelas corporações que são
construídos ao longo dos anos.
Empresas Analisadas 45
3.3 Seleçjo das Empresas
Para a realização desse trabalho foram selecionadas empresas de capital aberto,
com ações negociadas na bolsa de valores participantes do fundo de ações Ethical
administrado pelo Banco Real.
Essa escolha justifica-se por duas razões: pela presença do Instituto Ethos de
Responsabilidade Social no processo de seleção das empresas participantes do fundo
de investimento, e pela regulamentação que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
impõe às empresas de capital aberto, como por exemplo, a exigência de auditorias
externas e a obrigatoriedade de divulgação de informações.
Em relação ao fundo Ethical, ele foi criado em novembro de 2001 e se propõe a
investir, exclusivamente, em ações de empresas reconhecidas por desenvolver boas
práticas de responsabilidade social, ambiental e de governança corporativa6. Segundo
Safatle (2002:51), atualmente esse fundo possui uma carteira de R$ 4 milhões e sua
rentabilidade foi superior ao desempenho apresentado pelo índice Bovespa nos quatro
primeiros meses de 2002.
o regulamento do fundo, registrado na CVM, estabelece os critérios de seleção
das empresas e a sua forma de administração.
"3. 1. O FUNDO tem como objetivo investir em ações de:
empresas que possuam práticas que evidenciem preocupação com aspectos sociais e/ou relacionados à proteção do meio ambiente e/ou que adotem, voluntariamente, boas práticas de governança corporativa, adicionais às exigidas pela regulamentação em vigor.
3.1.1. Em relação ao objetivo descrito no item 3.1, entende-se por:
Práticas Sociais: constituem práticas e políticas internas e externas formuladas e implementadas por empresas que evidenciam a preocupação e o envolvimento das mesmas com aspectos sociais, tais como, mas não limitados a relações de trabalho, relações com a comunidade, relações com seus clientes e/ou consumidores.
6 A gorvernança corporativa representa um conjunto de práticas empresariais que visam "conferir, principalmente, (i) maior transparência e segurança na divulgação de informações sobre a empresa aos acionistas e ao público em geral; (ii) equidade no tratamento de seus acionistas (iii) responsabilidade dos acionistas controladores frente aos acionistas minoritários (iv) melhoria na relação da empresa com investidores potenciais e demais agentes do mercado; e (v) elevação do potencial de valorização da empresa que as adotam." (Banco Real, 2001: s. p.)
Empresas Analisadas 46
Práticas para Proteção do Meio Ambiente: constituem: práticas e políticas internas e externas formuladas e implementadas por empresas que evidenciam a preocupação e os esforços dessas empresas no cuidado e proteção do meio ambiente.
(. . .)
3.1.3. No processo de análise das empresas mencionadas no item 3.1. e, considerando o disposto no item 3.1.1., para compra e venda de ações, o ADMINISTRADOR DA CARTEIRA procura avaliar, através de metodologia própria e, adicionalmente, através de informações fornecidas por empresas especializadas em critérios de análise de práticas sociais e relativas à proteção ambiental bem como em critérios de avaliação de práticas de governança corporativa, fundamentos que permitam auferir o enquadramento das empresas no objetivo ao qual o FUNDO se propõe" (Banco Real, 2001: s.p.).
De acordo com o Banco Real, a seleção das empresas que compõem o fundo de
investimento conta, periodicamente, com a participação, análise e a avaliação do
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBC) e do Instituto Ethos de
Responsabilidade Social.
Dessa maneira, as empresas selecionadas para a realização desse estudo
apresentam evidências de práticas de ações socialmente responsáveis de acordo com
critérios estabelecidos pela metodologia do Instituto Ethos de Responsabilidade Social.
Conforme foi apresentado anteriormente, a metodologia do Instituto Ethos é
composta por conjunto de indicadores qualitativos e quantitativos que abordam sete
dimensões da responsabilidade social corporativa: valores e transparência; público
interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores; comunidade; governo e sociedade.
Dessa forma, a metodologia se propõe a analisar o relacionamento existente da
empresa com os seus diversos agentes sociais e o seu impacto nos negócios
É importante ressaltar que o principal objetivo desse estudo não é avaliar a
metodologia utilizada pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social, porém, essa
metodologia, apresenta elementos capazes de caracterizar o grau de envolvimento e
comprometimento das empresas com a questão social.
Por fim, o Banco Real, em abril de 2002, nos informou as empresas participantes
do Fundo Ethical. Dessas companhias, só não pesquisamos as holdings por se tratarem
Empresas Analisadas 47
de empresas cujo objetivo social é a participação acionária e o controle de outras
companhias.
Abaixo, as empresas selecionadas para o desenvolvimento desse estudo:
Tabela 3: Relação das empresas pesquisadas
DENOMI NAÇÃO SOCIAL
SADlAS.A UNI BANCO - UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S.A. BANCO BRADESCO S.A. GRUPO PÃO DE AÇUCAR COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA - COPEL CIA ENERG MINAS GERAIS - CEMIG DURATEXS.A MARCOPOLO S.A. GERDAU S.A. BRASIL TELECOM S.A.
CNPJ
20.730.099/0001-94 33.700.394/0001-40 60.746.948/0001-12 47.508.411/0001-56 76.483.817/0001-20 17.155.730/0001-64 61.194.08010001-58 88.611.835/0001-29 33.611.500/0001-19 76. 535. 764/0001-43
Fonte: Banco Real, 2001
ATIVIDADE ECONÔMICA
ALIMENTOS BANCOS BANCOS
COMÉRCIO ENERGIA ENERGIA MADEIRA
MAT TRANSPORTE METALURGIA
TELECOMUNICAÇÕES
Empresas Analisadas 48
3.4 Coleta de Dados
Para que atingíssemos o objetivo proposto pelo projeto de estudo a pesquisa foi
realizada em duas etapas: a primeira etapa consistiu em pesquisa de campo com a
aplicação de questionário junto às empresas selecionadas; já a segunda etapa tratou-se
de pesquisa bibliográfica, onde buscou-se informações em revistas especializadas,
redes eletrônicas de informações, balanços patrimoniais e bancos de dados eletrônicos.
Na pesquisa de campo, não foi elaborado questionário específico para ser aplicado
às empresas selecionadas, ao invés disso, preferiu-se utilizar o modelo desenvolvido
pelo instituto Ethos, que é público, conhecido pelos seus associados e por abordar
analiticamente o conceito de responsabilidade social corporativa. Esse questionário
chama-se "Indicadores Ethos de Responsabilidade Social" e encontra-se disponibilizado
na página eletrônica do Instituto.
o objetivo da aplicação desse questionário era verificar o grau de envolvimento das
empresas com a temática da responsabilidade social corporativa e efetuar análise
comparativa dos dados obtidos com o setor de atuação de cada companhia pesquisada.
Assim, seria possível caracterizá-Ias como socialmente responsáveis ou não, de acordo
com a metodologia específica do Instituto Ethos.
Além das empresas pesquisadas, solicitamos ao Banco Real, administrador do
Fundo Ethical, e ao Instituto Ethos, cópias dos questionários, planilhas, relatórios e
quaisquer outros documentos que foram utilizados para a seleção das empresas que
compõem o fundo. Em princípio, não deveria haver restrições para a divulgação dessas
informações pelo fato do fundo ser composto por companhias abertas e pela
necessidade de relações transparentes que a questão da responsabilidade social exige.
Também foram solicitadas informações referentes ao quadro de pessoal das
empresas pesquisadas junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), administradores da base
de dados do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS).
Infelizmente, não obtivemos respostas dos questionários de nenhuma empresa
pesquisada. O Banco Real e o Instituto Ethos, também, não se manifestaram a respeito
das solicitações. Já o BNDES e o MTE alegaram que estão impossibilitados de
Empresas Analisadas 49
fornecerem os dados devido às restrições constante na lei nO 8.159 de 08/01/1991.
Abaixo, a justificativa do MTE para o não fornecimento das informações:
"de acordo com a Lei nO 8 159, de 08 de janeiro de 1991, esses dados são sigilosos e de caráter reservado, somente sendo disponibilizados aos órgãos cuja atribuição seja de formação profissional, de intermediação de emprego e de fiscalização (do Trabalho e da Previdência Socialj, de forma a conjugar esforços e encadear ações voltadas ao interesse coletivo" (Alves, 2001: s.p.).
Esse fato demonstra falta de coerência das empresas analisadas em relação ao
tema da responsabilidade social corporativa, principalmente em relação aos objetivos
propostos pelo fundo Ethical e ao compromisso público assumidos pelo Banco Real e
pelo Instituto Ethos de Responsabilidade social.
A transparência e o respeito a atitudes éticas são elementos fundamentais para
conferir legitimidade às ações empresariais no contexto da responsabilidade social
corporativa. Assim, não há justificativas para uma empresa ou um instituto de
responsabilidade social se recusar a prestar informações aos agentes sociais.
Além disso, esse fato reforça a análise de Sruor (2000), demonstrando que as
empresas socialmente responsáveis, pelo menos no Brasil, atendem aos agentes de
acordo com a sua representatividade e seu poder de retaliação. Os agentes mais
importantes são conduzidos por ética baseada na moral do profissionalismo, já os
menos importantes são driblados de acordo com a conveniência.
Em relação à pesquisa bibliográfica, coletamos dados econômicos e financeiros,
indicadores de produtividade, quadro de pessoal e taxa de desemprego, tanto das
empresas pesquisadas como do setor econômico de cada companhia.
Para obter essas informações, utilizamos os balanços patrimoniais das companhias
pesquisadas e revistas especializadas como: Exame Maiores e Melhores (2001), Gazeta
Mercantil Balanço Anual (2001) e a revista Conjuntura Econômica da FGV(2001). Além
disso, pesquisamos, também, em bancos de dados informatizados como os sistemas
Investnews, Economática e a página eletrônica da Revista Exame.
O fato de termos pesquisado empresas de capital aberto foi importante, pois as
informações obtidas são públicas, além dos dados terem sido objeto de prévio processo
Empresas Analisadas 50
de auditoria externa. Isso possibilitou uma maior confiabilidade nos dados e permitiu
uniformização no tratamento das informações.
Foram utilizados procedimentos estatísticos, na análise e interpretação dos dados,
que permitissem a identificação de associações e correlações existente entre as
variáveis estudadas. Assim, os indicadores econômicos, financeiros e sociais apurados
foram comparados com os indicadores do setor ou indústria de sua atuação, tanto em
épocas de crescimento econômico como em períodos recessivos da economia.
Dessa forma, foi possível verificarmos como o desaquecimento da economia afetou
os resultados de curto e longo prazo das empresas pesquisadas e as suas atitudes em
relação ao seu quadro de pessoal. Assim, analisamos o comprometimento de cada
companhia com a temática da responsabilidade social corporativa, especificamente em
relação ao seu quadro de pessoal.
Empresas Analisadas 51
3.5 Procedimentos Estatísticos
Como foi apresentado anteriormente, o estudo utilizou-se de ferramentas
estatísticas para verificar se empresas socialmente responsável demitem funcionários,
em épocas de desaquecimento econômico, como forma de melhorarem seus resultados
econômico-financeiros.
Para que esse objetivo fosse alcançado, o estudo procedeu à análise de
correlação, regressão linear e regressão multivariada dos dados coligidos. O objetivo era
verificar se existia algum relacionamento entre duas ou mais variáveis estudadas e
descrever o modo como essas variáveis estavam relacionadas.
Especificamente, a análise de correlação resulta em "um número que resume o
grau de relacionamento entre duas variáveis, a análise de regressão tem como resultado
uma equação matemática que descreve o relacionamento das variáveis" (Stevenson,
1981: 341).
As estatísticas obtidas a partir da análise dos dados amostrais visam verificar a consistência e a representatividade do modelo como um todo, o quanto da dispersão
total do modelo pode ser explicado pela relação existente entre as variáveis, o grau de
relacionamento e a existência ou não desse relacionamento entre as variáveis
estudadas.
Essas estatísticas, especificamente, são: o coeficiente de correlação ou R-múltiplo
(R); o coeficiente de determinação (R2); o F de significação do modelo e o valor P dos
coeficientes angulares da reta de regressão.
o coeficiente de correlação ou R-múltiplo é um número que varia entre -1,00 a
+1,00 e indica o grau de relacionamento entre as variáveis. O sinal indica se a relação
existente entre as variáveis é direta ou inversa, ou seja, um incremento na variável
independente7 gera um acréscimo (relação direta) ou um decréscimo (relação inversa)
na variável dependente. A magnitude do relacionamento entre as variáveis indica "o
quão próximos da reta estão os pontos individuais. Por exemplo, valores de r próximos
de -1,00 ou +1,00 indicam que os valores estão muito próximos da reta, ou mesmo sobre
7 Na análise de regressão, "os valores y são preditos com base em valores dados ou conhecidos x. A variável y é chamada variável dependente, e a variável x variável independente" ( Stevenson: 1981; 345).
Empresas Analisadas 52
a reta, enquanto que os valores mais próximos de O sugerem maior dispersão"
(Stevenson, 1981: 369). A tabela 4 demonstra graficamente essa relação.
o coeficiente de determinação (R2) é um número que varia de 0,00 a 1,00, assim
como o coeficiente de correlação, esse número mede a força no relacionamento entre as
variáveis, porém é mais preciso. Na realidade essa estatística explica o quanto da
dispersão total existente no modelo, em relação à média da variável dependente, são
atribuídas as variáveis independentes. Um resultado próximo de 1,00 indica que grande
parte da variação total ocorrida é explicada pelas variações das variáveis independentes,
demonstrando, assim, a existência de relacionamento. O inverso indica um fraco
relacionamento entre as variáveis. Geralmente, um coeficiente igualou superior a 0,60
indica a existência de um bom relacionamento entre as variáveis estudadas. A tabela 5
apresenta graficamente o conceito descrito acima.
Tabela 4 : Diagrama de dispersão de acordo com os valores do R-Múltiplo
I Valor de R Descrição do Relacionamento Linear Diagrama de Dispersão
+1,00 Relacionamento positivo, perfeito. t ............ • • ••••• •• ••
Cerca de + 0,70 Relacionamento positivo, moderado ....
•••• •• • •
. :.: .. . ~.' .• '. 0,00 Ausência de relacionamento ~ . ....
.. 'C •••• • •••••• . : ..... • •• •••
Cerca de - 0,70 Relacionamento negativo, moderado ••• ••• •• • , ... ....
-1,00 Relacionamento negativo, perfeito. ~ Fonte: Stevenson, 1981, p. 369.
y
Empresas Analisadas 53
Tabela 5: Interpretação gráfica do coeficiente de determinação R2
Dispersão total em torno da média do
grupo
Dispersão de pontos em torno da reta
Fonte: Stevenson, 1981, p. 359.
De acordo com Stevenson: (1981; 355), "mesmo quando há pouco ou nenhum
relacionamento entre as variáveis numa população, é ainda possível obter valores
amostrais que façam as variáveis parecerem relacionadas". Assim, é necessário que
sejam efetuados testes para medir qual a probabilidade desse fato ocorrer - tabela 6.
Tabela 6: População e dados amostrais
• • • • • • • • • • • • • • •
19fT • • •• • •• .I!I • • • • • • • • • • • • • • • I!l • • • • • • • • • • • • • • • •• ••• • • • • • • • • • • • • • • • • • • •••• • • • • • • • • • • • • • • • • • •
População sem relacionamento entre as variáveis Dados amostrais sugerindo um relacionamento entre
as variáveis.
Fonte: Stevenson, 1981, p. 356.
Empresas Analisadas 54
As estatísticas que testam a hipótese de haver algum relacionamento entre as
variáveis quando, na realidade, não há, são: o F de significação e o valor P dos
coeficientes angulares.
Enquanto o F de significação testa o modelo como um todo, o valor P testa a
possibilidade do coeficiente angular da reta de regressão ser zero, indicando a falta de
relacionamento entre as variáveis.
Dessa forma, a análise conjunta das estatísticas obtidas dos dados amostrais nos
permitem inferir a respeito da verdadeira relação existente entre as variáveis na
população. No estudo realizado são apresentadas essas estatísticas com o objetivo de
se demonstrar o grau e a magnitude do relacionamento existente entre as variáveis
desempenho econômico - financeiro e quadro de funcionários das companhias
pesquisadas e dos setores analisados.
Empresas Analisadas 55
3.6 Indicadores Estudados
Os indicadores utilizados para a finalidade desse estudo foram os mais conhecidos
e utilizados pelo mercado e pelas revistas especializadas, são eles: a receita de vendas
em dólares; a rentabilidade sobre o patrimônio líquido; o número de empregados e as
vendas por empregado.
A receita de vendas em dólares foi calculada atualizando-se as vendas mensais
em reais para o poder aquisitivo de 31 de dezembro de cada ano e dividindo-se o
resultado pela taxa do dólar oficial do último dia útil de cada ano.
A rentabilidade do patrimônio líquido representa o retorno do investimento aos
acionistas em termos percentuais, sendo o lucro líquido apurado no ano dividido pelo
patrimônio líquido do exercício anterior. Ao lucro líquido foram somados os dividendos
distribuídos no ano e os juros sobre o capital próprio pagos aos acionistas.
O número de empregados representa o número total de funcionários das empresas
em 31 de dezembro de cada ano. O indicador vendas por empregados é obtido pela
divisão do indicador vendas em dólar pelo número de funcionários.
A taxa de desemprego setorial utilizada na pesquisa foi o índice de desemprego
aberto por setores calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Empresas Analisadas 56
3.7 Pressupostos Lógicos
A hipótese da pesquisa refere-se a empresas que priorizam a responsabilidade
social em seu modelo de gestão, não promovendo a demissão de funcionários em
épocas de desaquecimento econômico como forma de melhorarem a rentabilidade do
negócio no curto prazo.
Para atestar essa hipótese, foram efetuados testes estatísticos com o objetivo de
verificarmos se o desempenho econômico-financeiro é uma variável importante e
impacta nas variações ocorridas no quadro de pessoal das empresas (indicador de
desempenho), se a movimentação do quadro de pessoal está relacionada com o
desempenho de nossa economia (indicador de variação de pessoal) e se a produtividade
obtida nas empresas foram em conseqüência de demissões ou de tecnologias não
substitutas de mão-de-obra (indicador de produtividade).
Para efeito desse estudo, o indicador do nível de atividade econômica é
representado pela variável taxa de desemprego. Assim, em períodos recessivos a taxa
de desemprego tende a ser elevada e em períodos de crescimento econômico, é
reduzida. Montoro Filho et ai. (2001: 405) descreve, abaixo, a validade desse conceito:
"Regra geral, em períodos longos, o crescimento econômico conduz a um crescimento dos principais indicadores do mercado de trabalho. Os salários reais sobem, pois. com o crescimento, mais bens são colocados à disposição da coletividade, assim como o nível de produtividade do trabalho é maior. Nenhuma inferência, contudo, pode ser extraída com relação à distribuição de renda. O emprego cresce porque ampliam-se as oportunidades de trabalho, seja pelo surgimento de novas ocupações, seja pelo aumento de novas vagas em firma já instalada. A produtividade cresce porque, regra geral, utiliza maior quantidade de capital ou instrumentos de trabalho tecnologicamente mais avançados, por unidade de trabalho. Além disso, os trabalhadores educam-se e treinam-se tornando-se mais eficientes. ( .. .).
ObseNando-se agora o mercado de trabalho no curto prazo, onde os ciclos de expansão e recessão se sucedem com maior rapidez, estes indicadores mencionados refletem esse fenômeno cíclico. ( .. .) Em expansão sobem salário real, emprego, produtividade. Na recessão se dá o movimento oposto. É certo, porém, que existem defasagens, isto é, por breves períodos a produção pode estar caindo, e o salário real ou a produtividade crescendo, ou então o emprego caindo e o produto crescendo, devido à atualização mais intensa da mão-
Empresas Analisadas 57
de-obra. Mas a tendência geral deste mercado é acompanhar o ciclo econômico. "
Dessa forma, a análise desses indicadores, nos possibilitará compreender o modo
como a rentabilidade do negócio impacta o quadro de funcionários das empresas e se as
suas variações foram motivadas pelo comportamento da nossa economia.
Porém, os indicadores estudados podem demonstrar a existência de dois tipos de
relacionamentos. O primeiro, reforçando os atributos da responsabilidade social
corporativa e o segundo demonstrando que é possível melhorar resultados por meio de
demissões de funcionários, o que nos levaria a questionar o comprometimento das
companhias com a temática da responsabilidade social corporativa.
Por conseguinte, a pesquisa almeja testar as seguintes hipóteses, nula (HO) e
alternativa (H1):
HO: As empresas socialmente responsáveis não promovem demissões de
funcionários em períodos recessivos de nossa economia como forma de
preservarem seus resultados econômico-financeiros.
H 1: As empresas socialmente responsáveis promovem demissões de funcionários
em períodos recessivos de nossa economia como forma de preservarem
seus resultados econômico-financeiros.
Pela lógica da responsabilidade social corporativa, os investimentos na qualificação
profissional, na melhoria das condições de trabalho e no respeito aos direitos
trabalhistas proporcionam uma maior produtividade, aumentando, assim, a rentabilidade
do negócio.
Conseqüentemente, a obtenção de resultados negativos, por essa ótica, deve ser
entendida como um evento pontual que não afetaria o plano de negócio da empresa no
longo prazo. Dessa forma, as variações do quadro de pessoal estariam desassociados
dos resultados da companhia e do comportamento da economia.
Logo, se verificarmos que o desempenho econômico-financeiro das empresas e a
performance da economia não explicam as variações ocorridas no quadro de pessoal, e
Empresas Analisadas 58
que os aumentos de produtividades não foram em conseqüência da demissão de
funcionários, estaremos validando a hipótese HO.
Porém, em alguns casos, o desempenho econômico-financeiro pode explicar as
variações ocorridas no quadro de pessoal. Se isso ocorrer devido ao aumento da
capacidade de produção ou do mercado, onde o acréscimo do número de funcionários
contribui para melhorar a desempenho do negócio, para validarmos a hipótese nula HO,
nós não podemos encontrar associações entre variáveis sugerindo o relacionamento
entre o quadro de pessoal das empresas e a performance da economia. Nesses casos,
as empresas estariam promovendo demissões em períodos recessivos, apesar do seu
desempenho econômico-financeiro, validando, assim, a hipótese alternativa H1.
É possível que algumas empresas obtenham bons resultados em períodos
recessivos, não demitindo funcionários; e maus resultados em períodos de crescimento
da economia, o que poderia resultar em demissões. Porém, a tendência é que no longo
prazo a performance das empresas acompanhe as taxas de crescimento da economia
(Damodaran,2001).
Dessa forma, em empresas onde não há a valorização dos princípios da
responsabilidade social corporativa, a tendência é que ocorram demissões em períodos
recessivos como uma forma de redução de custos.
De acordo com esses pressupostos lógicos, os indicadores utilizados nesse estudo
apresentam os seguintes objetivos:
- Indicador de desempenho: Esse indicador irá descrever, por meio da análise de
regressão linear múltipla, se a variável desempenho econômico-financeiro do
negócio, representado pelas variáveis receita de vendas em dólares e
rentabilidade do patrimônio líquido, explica as variações ocorridas no quadro de
pessoal.
- Indicador de variação de pessoal: Esse indicador irá descrever, por meio da
análise de regressão linear simples, se a variável à taxa de desemprego setorial
(indicador de nível de atividade econômica) explica as variações do quadro de
pessoal, indicando, assim, se em períodos recessivos houve demissões e em
períodos de crescimento econômicos admissões.
Empresas Analisadas 59
- Indicador de produtividade: Esse indicador irá descrever, por meio da análise de
regressão linear simples, se o aumento da produtividade da empresa ou do setor
está associado com a taxa de desemprego.
Os indicadores de desempenho, variação de pessoal e de produtividade, irão
demonstrar a existência ou não de relacionamento entre as suas respectivas variáveis.
Os critérios estatísticos para aceitarmos a hipótese de relacionamento entre essas
variáveis, e, conseqüentemente, a representatividade dos indicadores são:
Tabela 7: Critérios estatísticos para o relacionamento entre as variáveis
INDICADORES
DESCRiÇÃO Variação de Desempenho
pessoal Produtiv idade
R-MJltiplo ~0,70 :2 - 0,70 ~ 0,70
e lou R2 :2: 0,60 ~ 0,60 :2 0,60
F de significação - Modelo S5% s5% S5% Valor - P - coeficientes X ~5% ~5% ~5%
Dessa forma, para verificarmos a validade da hipótese HO, objeto desse estudo,
torna-se necessário interpretarmos conjuntamente os resultados obtidos pelos
indicadores estudados e pelo setor analisado.
A tabela 8 apresenta os resultados possíveis entre os indicadores, a interpretação
conjunta dos dados e a hipótese válida para cada alternativa, a hipótese nula HO ou a
hipótese alternativa H1. A interpretação dos indicadores refere-se tanto para a
companhia estudada como para os setores analisados.
Empresas Analisadas 60
Tabela 8: Interpretação dos indicadores e validade das hipóteses
INDICADORES
Desempenho Var Pessoal Produtividade
SC SC SC
SC SC C
SC C SC
SC C C
C SC se
C SC C
C e se
C C C
Legenda: e - Há correlação entre as variáveis
Hipótese Válida
HO
HO
H1
H1
HO
HO
H1
H1
se - Não há correlação entre as variáveis
I NTERPRETAÇAo
o desempenho econômico-1inac:eiro do negÓC:io e a performance da economia não explicam as variações ocorridas no quadro de pessoal, não ocorrendo, assim, demissões de funcionários em perlodos recessiws.
o desempenho econômico-finaceiro do negócio e a performance da economia não explicam as variações ocorridas no quadro de pessoal. Já os aumentos de produtiloidade basearam-se em tecnologias não substitutas de mão-de-obra. Não ocorrendo, assim, demissões por esse motiloQ.
o desempenho econOmico-linaceiro do negócio não é sufic:iente para explicar as variaçOes ocorridas no quadro de pessoal, porém as demissões são explicadas pela pet'formance da economia. Havendo, assim, demissões de func:ionários em perIodos recessiws.
o desempenho econômico-finaceiro do negócio não é suficiente para explicar as variações ocorridas no quadro de pessoal, porém as demissões são explicadas pela performance da economia e os aumentos de produtiloidade resultaram na dispensa de funcionários.
o desempenho econOmico-linac:eiro explica as variações ocorridas no quadro de pessoal (expansão do mercado), porém a perbrrnance da economia não explica essa mesma variação. Nao ocorrendo, assim, demissões de funcionários em perIodos recessiws.
o desempenho econômico-finaceiro explica as variações ocorridas no quadro de pessoal (expansão do mercado), porém a performance da economia não explica essa mesma variação. Já os aumentos de produtiloidade basearam-se em tecnologias não substitutas de mão-de-obra.
o desempenho econOmico-inaceiro do negóc:io e a performance da economia explicam as lo8riações ocorridas no quadro de passoal. Hawndo, assim, demissões de tlncionários em perlodos recessÍllOS.
o desempenho econômico-finaceiro do negócio e a performance da economia explicam as variações ocorridas no quadro de pessoal, já os aumentos de produtiloidade resultaram na dispensa de funcionários. Havendo. assim. demissões em perfodos recessiloQs.
Empresas Analisadas 61
3.8 Limitaçóes do método
A metodologia apresentada para o desenvolvimento da pesquisa apresenta as
seguintes limitações:
o método estará limitado pela seleção de algumas empresas de capital aberto
com ações negociadas na bolsa de valores, o que representa um pequeno
universo entre as companhias nacionais que possuem alguma forma de
atuação social.
Uma outra limitação do estudo é o acesso a documentos e relatórios intemos
das empresas pesquisadas. Essa limitação deve-se à necessidade de
obtenção e tratamento de informações relacionadas ao investimento,
lucratividade, margens brutas, líquidas, vendas, consideradas como
estratégicas por algumas empresas.
Empresas Analisadas 62
3.9 Resultados Obtidos
Apresentaremos nessa seção os resultados obtidos na pesquisa, referentes a cada
companhia, juntamente com a interpretação e análise dos indicadores de desempenho,
variação de pessoal, produtividade e os respectivos indicadores setoriais.
3.9.1 Sadia
A Sadia apresenta como principal atividade operacional o abate de
frangos, perus e suínos e a industrialização de produtos alimentícios, que são
comercializados no Brasil e no exterior (Sadia, 2001). A sede da empresa está
localizada em Concórdia, Estado de Santa Catarina. Atualmente a empresa conta
com 28.845 funcionários e ocupa, segundo dados da Gazeta Mercantil (2001:
516), a 10a posição no ranking do setor de conglomerados alimentícios.
Os dados da empresa são apresentados na tabela 9 e os resultados
apurados na tabela 10.
A análise dos indicadores de desempenho da Sadia indica que a variável
desempenho econômico-financeiro explica as variações ocorridas no seu quadro
de pessoal, apresentando valores elevados para os coeficientes R-Múltiplo e R2.
Ocorre, também, valores reduzidos para o F de significação do modelo e para o
valor-P de um dos seus coeficientes angulares. Isso nos permite validar o modelo
e aceitar o relacionamento entre as variáveis.
Em relação ao desempenho setorial, ocorre o contrário. Os coeficientes
R-Múltiplo e R2 indicam que não há evidências de bom relacionamento entre as
variáveis, apresentando valores elevados para os coeficientes F de significação
do modelo e para o valor-P do coeficiente angular. Assim, para a análise setorial,
podemos afirmar que somente a variável desempenho econômico-financeiro não
explica as variações ocorridas no número de pessoal do setor.
ANO
2000 1999 1998 1997
1996 1995
1994 1993 1992 1991 1990
1989 1988
Empresas Analisadas 63
Tabela 9: Dados coligidos - Sadia S. A.
Taxa Rentabilidade do Vendas(US$ milhões)
Patrimônio Ajustado (%) Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego
%
Sadia Serviços Sadia Serviços Sadia Serviços Sadia Serviços Comércio
1.741 19.252 5,20 -11,30 28.845 159.864 60 120 6,62 1.765 20.640 4,10 -15,80 25.832 155.876 68 132 7,40 1.485 25.674 14,40 -13,00 22.331 138.347 66 186 8,10 1.563 25.736 4,60 -8,00 18.093 146.717 86 175 8,00
1.548 28.143 10,00 -7,40 19.844 136.692 78 206 6,40 1.532 25.362 15,40 -1,00 21.594 168.933 71 150 6,00
1.354 26.728 28,80 10,40 20.855 193.762 65 138 5,00 885 18.945 9,30 -5,10 20.220 192.026 44 99 5,40 907 18.395 0,40 -5,80 20.527 189.832 44 97 5,60 763 16.248 10,90 0,00 15.345 183.936 50 88 6,10 806 16.792 19,80 -65,40 14.622 150.558 55 112 5,30
689 19.571 16,30 6,40 13.512 203.543 51 96 4,50 526 16.247 8,50 6,90 8.899 179.606 59 90 3,80
Fonte: Exame, Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 10: Resultados apurados - Sadia S.A.
Indicadores de Indicadores de Variação Indicadores de
RESUMO DOS RESULTADOS Desempenho de Pessoal Produtividade
R -Múltiplo
R2
Sadia
84,49%
71,38%
Serviços Sadia
55,27% 62,44°k
30,55% 38,99%
Serviços Sadia Comércio
-72,09% 57,41% 67,01%
51,97% 32,96"A. 44,90% F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes X2
0,19% 0,07% 53,95%
16,16"A. 7,96%
22,57%
2,25% 0,54% 4,02% 1,22% 2,25% 2,25% 4,02% 1,22%
Os indicadores de variação de pessoal da Sadia demonstram que a
variável taxa de desemprego da economia não explica as variações ocorridas na
variável quadro de pessoal. O setor, porém, apresenta correlação negativa
moderada para o R-Múltiplo, o que sugere que o setor promove demissões em
períodos recessivos e contratações em épocas de crescimento da economia,
com tudo, o desempenho da economia explica, apenas, 51,97% (R2) das
demissões ocorridas no setor.
A respeito dos indicadores de produtividade, eles demonstram haver
pouco relacionamento entre as variáveis, tanto para a empresa como para o
setor.
Dessa forma, a análise e interpretação conjunta dos indicadores da Sadia
mostram que o desempenho econômico-financeiro da empresa é um elemento
Empresas Analisadas 64
importante para explicar as variações ocorridas em seu quadro de pessoal e que
em períodos recessivos não ocorreram demissões como forma de preservar
resultados.
Como podemos verificar, durante o período analisado, a Sadia triplicou as
vendas e o seu quadro de pessoal. Isso é um indicativo que a empresa ampliou
seu mercado e as suas instalações.
Uma questão importante, apurada durante a análise dos dados, foi o fato
de terem ocorrido grandes variações negativas no quadro de pessoal da Sadia
em 1996 e 1997, com a redução de 3.501 funcionários. Segundo a Gazeta
Mercantil (1999), nesse período, a empresa passou por processo de
reestruturação organizacional, ocorrendo a redefinição do seu foco empresarial.
Por conseguinte, a Sadia vendeu suas participações societárias em empresas
que não estavam relacionadas com o seu objetivo estratégico na área de
produtos alimentícios, resultando, assim, na diminuição dos postos de trabalho.
ANO
2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993
1992 1991 1990 1989 1988
Empresas Analisadas 65
3.9.2 Grupo PIo de Açúcar
o Grupo Pão de Açúcar apresenta como principal atividade operacional a
comercialização, no varejo, de produtos alimentícios, artigos de vestuário,
eletroeletrônicos e outros que completam suas linhas de hipermercados,
supermercados e lojas especializadas e de departamentos, representadas
basicamente pelas denominações comerciais "Pão de Açúcar", "Extra",
"Barateiro" e "Eletro" (Pão de Açúcar, 2001). Em 31 de dezembro de 2001, a
Companhia dispunha de 443 lojas em funcionamento. O grupo conta atualmente
com 50.000 funcionários e ocupa a 2a posição no ranking do setor de
supermercados (Gazeta Mercantil, 2001 :493).
Os dados da empresa são apresentados na tabela 11 e os resultados
apurados na tabela 12.
Tabela 11: Dados coligidos - Grupo Pão de Açúcar Taxa
Rentabilidade do Vendas (US$ milhões)
Patrimônio Ajustado (%) Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego
%
Pão Serviços
Pão Serviços
Pão Serviços
Pão Serviços Serviços
Açucar Açucar Açucar Açucar
4.347 31.544 7,90 6,70 50.000 344.146 87 92 4,97 3.976 27.535 1,90 3,20 39.642 263.994 100 104 5,80 4.261 35.708 13,70 3,20 31.343 261.532 136 137 6,10 3.353 35.519 14,50 4,10 26.040 190.221 129 187 6,00 3.403 37.914 16,50 0,60 20.737 206.668 164 183 4,50 3.261 35.543 15,60 10,40 20.095 215.090 162 165 4,20 2.668 31.485 16,30 39,20 20.142 256.269 132 122 3,60 1.588 16.548 4,10 -11,90 18.000 241.070 88 69 3,80
1.185 14.714 16,80 -19,10 17.500 242.441 68 61 3,90 1.100 14.316 1,60 -22,20 26.000 224.412 42 64 4,10 1.730 19.342 -46,70 -124,30 28.000 188.021 62 103 3,50 2.425 21.142 21,50 10,80 37.000 351.872 66 60 3,20 1.726 15.256 12,30 5,20 35.896 335.175 48 46 2,60
Fonte: Exame, Gazela Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 12: Resultados apurados - Grupo Pão de Açúcar
RESUMO DOS RESULTADOS
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes Xl
Indicadores de Desempenho
Pão Serviços
Açucar
51,88% 59,07%
26,92% 34,89% 20,84% 11,70% 8,61% 13,98%
48,83% 5,44%
Indicadores de Variação Indicadores de de Pessoal Produtividade
Pão Serviços
Pão Serviços
Açucar Açucar
19,77% -27,63% 49,88% 58,99%
3,91% 7,63% 24,88% 34,80% 51,73% 36,09"/. 8,27% 3,38%
51,73% 36,09% 8,27% 3,38%
Empresas Analisadas 66
A análise dos indicadores de desempenho tanto do Grupo Pão de Açúcar
como da indústria de supermercados indicam que o desempenho econômico
financeiro da companhia e do setor é uma variável insuficiente para explicar as
variações ocorridas tanto no seu quadro de pessoal como no número de
funcionários do setor.
Os indicadores de variação de pessoal e de produtividade, também, não
apresentam coeficientes que sugiram a existência de relacionamento entre as
variáveis, tanto no setor econômico como na empresa.
Dessa forma, os indicadores demonstram que as demissões ocorridas no
setor e no Grupo Pão de Açúcar não podem ser explicadas somente pelo seu
desempenho econômico-financeiro e pela performance da economia.
Um fato a se destacar é que entre 1990 e 1992 ocorreram grandes
variações negativas no quadro de pessoal do Grupo Pão de Açúcar com a
redução de 19.500 postos de trabalho. Segundo a Gazeta Mercantil (1999), no
final da década de 80 e início da década de 90, o Grupo passou por processo de
expansão adquirindo várias empresas. Logo após, o Grupo se desfez das
empresas recém adquiridas devido à elevação dos seus custos e das despesas
financeiras. Esse fato resultou na diminuição das vendas e do número de
empregados do Grupo no período.
Por fim, a análise dos resultados indicou que há evidências que o Grupo
Pão de Açúcar não promove demissões de funcionários em períodos recessivos
da economia como forma de melhorar resultados.
ANO
2000 1999 1996 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988
Empresas Analisadas 67
3.9.3 Cia Paranaense de Energia - COPEL
A Companhia Paranaense de Energia - COPEL - é uma sociedade de
economia mista, de capital aberto, controlada pelo Governo do Estado do
Paraná, destinada, através de suas subsidiárias, a pesquisar, estudar, planejar,
construir e explorar a produção, transformação, transporte, distribuição e
comercialização de energia, em qualquer de suas formas, principalmente a
elétrica (COPEL, 2001). A empresa conta atualmente com 6.148 funcionários e,
segundo a Gazeta Mercantil (2001: 434), ocupa a 88 posição no ranking do setor
de energia elétrica.
Os dados da empresa são apresentados na tabela 13 e os resultados
apurados na tabela 14.
Tabela 13: Dados coligidos - Cia Paranaense de Energia - COPEL
Taxa Rentabilidade do Vendas(US$ milhões)
Patrimônio Ajustado (%) Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego
Copel Serviços Copel Serviços Copel Serviços Copel
1.425 41.367 6,00 3,.40 6.148 Z17.484 232 1.305 37.123 4,50 1,60 6.536 276.716 200 1.541 46.169 6,70 2,30 7.442 288.522 2fJ7 1.558 44.355 4,90 5,10 7991 260.5õ7 195 1.4n 39.901 4,40 0,50 8.602 280.807 172 1.304 31.841 2,20 -4,30 8.835 191.121 148 1.371 34.685 2,80 -1,70 9.799 312570 140 787 21.557 2,50 -2,70 9.506 302.802 83 735 21.235 2,60 -4,00 9.676 305.199 76 575 17.089 -1,00 -7,80 9.702 256.415 59 650 17.721 0,20 -50,30 9.931 224.2.29 65 578 15.150 10,50 1,80 9.765 291.353 59 440 14.083 5,70 2,90 9.437 290.193 47
Fonte: Exame. Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
RESUMO OOS RESUL TAOOS
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes )<2
Tabela 14: Resultados apurados - COPEL
Indicadores de Indicadores de Variação Desempenho de Pessoal
Copel Serviços Copel Serviços
72,27% 51,49% -79,31% -8,37%
52,23% 26,51% 62,89% 0,70% 2,49% 21,43% 0,12% 78,59% 1,56% 46,53% 0,12% 78,59%
31,89% 8,67%
Serviços
149 134 160 170 142 167 111 71
70 67 79 52 49
Indicadores de Produtividade
%
Serviços
4,97 5,80 6,10 6,00 4,50 4,20 3,60 3,80 3,90 4,10 3,50 3,20 2,60
Copel Serviços
85,03% 80,71%
72,30% 65,14% 0,02% 0,09% 0,02% 0,09%
Empresas Analisadas 68
A análise dos indicadores de desempenho da Copel demonstra que o seu
desempenho econômico-financeiro é uma variável importante para explicar as
variações ocorridas no quadro de pessoal, apresentando valores elevados para
os coeficientes R-Múltiplo e R2. Os valores dos coeficientes F de significação e
valor-P são pequenos, o que nos permite validar o modelo e aceitar o
relacionamento entre as variáveis. Já em relação ao setor, os indicadores
demonstram a inexistência de relacionamento entre as variáveis.
Os indicadores de variação de pessoal da Copel apresentam valores
elevados para os coeficientes R-Múltiplo e R2 e valores reduzidos para os
coeficientes F de significação e valor-P. Dessa forma, podemos aceitar a
hipótese da existência de relacionamento entre as variáveis. Ou seja, a
diminuição do quadro de pessoal da companhia é explicada pelo aumento da
taxa de desemprego do setor de serviços da economia - gráfico 2. Assim, em
períodos de desaquecimento econômico, houve redução no quadro de pessoal
da Copel. Em relação ao setor, os indicadores demonstram a inexistência de
relacionamento entre essas variáveis.
A respeito dos indicadores de produtividade da Copel, todos os
coeficientes indicam a existência de relacionamento entre as variáveis, o que nos
sugere que o aumento da produtividade está associado com o aumento da taxa
de desemprego.
Já em relação ao setor, apesar da existência desse relacionamento, não
podemos fazer a mesma afirmação, pois o indicador de variação de pessoal não
demonstrou que as reduções do número de trabalhadores foram em
conseqüência da performance da economia. Assim, os índices de produtividades
obtidos pelo setor, foram em razão da utilização de tecnologias não substitutas
de mão-de-obra. Nesse caso, a correlação existente está indicando que o
aumento de produtividade obtida inibe novas contratações, o que mantém
elevado a taxa de desemprego setorial em função do desaquecimento da
economia em alguns períodos.
Os indicadores da Copel demonstram que o seu desempenho econômico
financeiro explica as reduções ocorridas no quadro de pessoal e que essas
reduções estão associadas às flutuações de nossa economia. Porém, não
Empresas Analisadas 69
podemos afirmar a mesma coisa em relação ao setor, pois os indicadores
demonstraram a inexistência de relacionamento entre as variáveis.
Gráfico 2: Indicador de Variação de Pessoal - COPEL
Indicador de Variação de Pessoal
11.000 ,-----------------------------,
10.000
UI
.g 9.000 lO til ~ ao .i 8.000 ~
7.000
• 6.000 -I----,----,....-----r--~--...,._-~.--_,__-~-____I ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Taxa Desemprego %
• Copel
Dessa forma, há evidências de que a Copel utilizou-se de instrumentos
como programas de demissões voluntárias, políticas de incentivo a
aposentadoria associada à política de reposição salarial do governo para reduzir
o quadro de pessoal e melhorar o seu desempenho econômico-financeiro,
principalmente em épocas de desaquecimento econômico.
ANO
2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988
Empresas Analisadas 70
3.9.4 Cia de Energia de Minas Gerais - CEMIG
A Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG - é uma sociedade de
economia mista, de capital aberto, concessionária do serviço público de energia
elétrica e seu acionista controlador é o Estado de Minas Gerais. Seus principais
objetivos sociais são a construção e operação de sistemas de produção,
transformação, transmissão, distribuição e comércio de energia elétrica, bem
como o desenvolvimento de atividades nos diferentes campos da energia, com
vistas à respectiva exploração econômica (CEMIG, 2001). A empresa conta
atualmente com 11.648 funcionários e, segundo a Gazeta Mercantil (2001:434),
ocupa a 3a posição no rankíng do setor de energia elétrica.
Os dados da empresa são apresentados na tabela 15 e os resultados
apurados na tabela 16.
Tabela 15: Dados coligidos - Cia de Energia de Minas Gerais - CEMIG
Taxa Rentabilidade do
Vendas(US$ milhões) Patrimônio Ajustado (%)
Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego
Cemig Serviços Cemig Serviços Cemig Serviços Cemig
2.597 41.367 4,30 3,40 11.648 277.484 223 2.349 37.123 0,20 1,60 11.748 276.716 200 2765 46.169 4,30 2,30 11.947 288.522 231 2.656 44.355 3,60 5,10 12.550 260.567 212 2506 39.901 2,20 0,50 14.923 2fl).807 168 2.249 31.841 2,30 -4,30 16.452 191.121 137 2.397 34.685 9,90 -1,70 17.516 312.570 137 1.414 21.557 -2,40 -2,70 17.631 302.802 80 1.098 21.235 0,60 -4,00 17.650 305.199 62 968 17.069 -3,00 -7,80 17.667 256.415 55 985 17.721 0,10 -50,30 17.932 224.229 55
1.134 15.150 15,60 1,80 18.197 291.353 62 1.006 14.083 8,50 2,90 18.565 290.193 54
Fonte: Exame, Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 16: Resultados apurados - CEMIG
RESUMO DOS RESULTADOS
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes X2
Indicadores de Desempenho
Cemig Serviços
84,59% 51,49% 71,56"k 26,51% 0,19% 21,43% 0,06% 46,53% 28,41% 8,67%
Indicadores de Variação de Pessoal
Cemig Serviços
-92,72% -8,37% 85,97% 0,70% 0,00% 78,59% 0,00% 78,59%
%
Serviços Serviços
149 4,97 134 5,80 160 6,10 170 6,00 142 4,50 167 4,20 111 3,60 71 3,80 70 3,90 67 4,10 79 3,50 52 3,20 49 2,60
Indicadores de Produtividade
Cemig Serviços
87,41% 80,71% 76,40% 65,14% 0,01% 0,09% 0,01% 0,09%
Empresas Analisadas 71
Os indicadores da Cemig referentes ao desempenho, variação de
pessoal, produtividade e setorial apresentaram os mesmos relacionamentos
descritos na análise da Copel. Apenas com um fato a se destacar, é que os
coeficientes R-Múltiplo e R2 da Cemig foram bem maiores do que aqueles
apurados na análise da Copel, o que explica melhor os relacionamentos
existentes entre as variáveis como pode ser demonstrado pelo gráfico 3 que
apresenta o relacionamento existente entre quadro de pessoal e taxa de
desemprego da economia.
Gráfico 3: Indicador de Variação de Pessoal - CEMIG
22.000
20.000
OI 18.000 o ,. lO ai
I!! 16.000 Q.
i ~ 14.000
12.000
Indicador de Variação de Pessoal
--.. _------_._----------------~
I
10.000 +---,---..,..--,----,-----,---.---......----,-----1 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 5,50 6,00 6,50
Taxa Desemprego %
A Cemig
Dessa forma, assim como na Copel, há evidências de que a Cemig
utilizou-se de instrumentos como programas de demissões voluntárias, políticas
de incentivo a aposentadoria associadas à política de reposição salarial do
governo para reduzir o seu quadro de pessoal e melhorar o desempenho
econômico-financeiro, principalmente em períodos recessivos.
ANO
2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988
Empresas Analisadas 72
3.9.5 Duratex
A Duratex apresenta como atividade principal à produção de painéis de
madeira, louças e metais sanitários e conta atualmente com dez unidades
industriais no Brasil e duas na Argentina, mantendo filiais nas principais cidades
brasileiras e subsidiárias comerciais nos Estados Unidos e Europa (Duratex,
2001). A empresa possui atualmente 5.820 funcionários e, segundo a Gazeta
Mercantil (2001 :428), é a líder no ranking do setor de madeira e móveis.
Os dados da empresa são apresentados na tabela 17 e os resultados
apurados na tabela 18.
Tabela 17: Dados coligidos - Duratex
Taxa Rentabilidade do
Vendas (US$ milhões) Patrimônio Ajustado (%)
Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego %
Duratex Serviços Duratex Serviços Duratex Serviços Duratex Serviços Serviços
291 3.689 1,90 7,10 5.820 11.908 50 304 3.275 -10,80 -2,80 5.820 20.738 52 361 3.290 4,70 -1,00 5.815 18.676 62 417 4.331 3,60 -0,10 6.288 25.616 66 601 4.190 1,90 0,30 6.607 21.915 91 390 4.382 5,30 7,40 7.169 26.940 54 368 4.366 4,80 10,70 5.338 29.827 69 268 3.233 5,90 13,40 5.516 30.296 48
224 3.028 2,70 11,70 5.851 33.054 38 203 2.181 -0,60 4,20 7.645 34.769 27 262 2.263 8,70 10,90 8.829 29.380 30 254 2.564 7,40 18,60 8.300 43.867 31 269 2.012 17,20 11,50 8.109 40.577 33
Fonte: Exame, Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 18: Resultados apurados - Duratex
Indicadores de Indicadores de Variação
RESUMO OOS RESUL TAOOS Desempenho de Pessoal
R - Múltiplo
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes X2
Duratex
52,26% 27,31% 20,29% 48,45%
11,69%
Serviços
76,10% 57,91% 1,32%
14,00% 3,19%
Duratex Serviços
-64,11% -76,74% 29,28% 58,89% 5,62% 0,22% 5,62% 0,22%
310 4,97 158 5,80 176 6,10 169 6,00 191 4,50 163 4,20 146 3,60 107 3,80
92 3,90 63 4.10 77 3,50 58 3,20 50 2,60
Indicadores de Produtividade
Duratex Serviços
49,78% 63,51%
24,78% 40,34% 8,34% 1,97% 8,34% 1,97%
A análise dos indicadores de desempenho da Duratex demonstra que o
desempenho econômico-financeiro da companhia é uma variável insuficiente
Empresas Analisadas 73
para explicar as variações ocorridas no seu quadro de pessoal, apresentando
valores reduzidos para os coeficientes R-Múltiplo e R2. Os valores dos
coeficientes F de significação e valor-P são elevados, o que não nos permite
validar o modelo e aceitar a hipótese de relacionamento entre as variáveis.
Em relação ao desempenho setorial, ocorre o contrário. Os coeficientes
R-Múltiplo e R2 indicam que não há evidências de bom relacionamento entre as
variáveis, apresentando valores reduzidos para os coeficientes F de significação
e para o valor-P. Assim, para a análise setorial, podemos afirmar que a variável
desempenho econômico-financeiro explica as variações ocorridas no número de
funcionários do setor.
Já os indicadores de variação de pessoal da Duratex demonstram não
haver relacionamento entre as variáveis quadro de pessoal e taxa de
desemprego da economia. O setor, porém, apresenta alta correlação negativa
para o R-Múltiplo e bom coeficiente R2 (58,89%), o que sugere que o setor
promove demissões em períodos recessivos e contratações em épocas de
crescimento da economia.
Os indicadores de produtividade da Duratex demonstram haver pouco
relacionamento entre as variáveis, porém o setor demonstra haver algum
relacionamento. Isso sugere que os aumentos de produtividade das companhias
explicam 40,34% (R2) das demissões ocorridas no setor.
Dessa forma, a análise e interpretação dos indicadores da Duratex
apresentam evidências de que a empresa não promove demissões de
funcionários em períodos recessivos como forma de melhorar resultados.
Uma questão importante, verificada durante análise dos dados da
Duratex, foi que entre 1991 e 1992 o quadro de pessoal da companhia sofreu
grande variação com a redução de 2.978 funcionários.
De acordo com informações da Duratex (2002), nesse período, a
companhia passou por processo de reestruturação organizacional, onde foi
implantado o programa de gestão competitiva, além do sistema de qualidade total
Empresas Analisadas 74
no processo produtivo. O objetivo era alcançar a liderança do mercado no seu
setor de atuação.
Outra questão é o fato que a companhia continuou reduzindo o seu
quadro de pessoal constantemente ao longo dos anos. De 1989 até 2001 a
empresa reduziu em 28% o número de empregados, enquanto no setor esse
índice foi de 78%. Em relação às vendas, durante esse período, elas não
sofreram muitas alterações. Esse fato sugere uma pressão muito forte exercida
pelo mercado para redução de preços e conseqüentemente de custos.
De qualquer forma, as variações ocorridas no quadro de pessoal da
Duratex não podem ser explicadas somente pelo seu desempenho econômico
financeiro e pela performance da economia. Logo, existem outras variáveis, não
abordadas por esse estudo, que poderão explicar melhor as variações ocorridas
no quadro de funcionários da Duratex.
ANO
2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993
1992 1991 1990 1989 1988
Empresas Analisadas 75
3.9.6 Marcopolo
A Marcopolo apresenta como atividade principal a fabricação e comércio
de ônibus, veículos automotores, carrocerias, peças, máquinas agrícolas e
industriais (Marcopolo, 2001). Atualmente, a empresa conta com 4.253
funcionários, sua sede está localizada na cidade de Caxias do Sul no Estado do
Rio Grande do Sul. Segundo a Gazeta Mercantil (2001 :336) a empresa é a líder
no ranking do setor de carrocerias.
Os dados da empresa são apresentados na tabela 19 e os resultados
apurados na tabela 20.
Assim como na Duratex, a análise dos indicadores de desempenho da
Marcopolo demonstram que o desempenho econômico-financeiro da companhia
é uma variável insuficiente para explicar as variações ocorridas no seu quadro de
pessoal, apresentando valores reduzidos para os coeficientes R-Múltiplo e R2, e
valores elevados para os coeficientes F de significação e valor-P. Dessa forma,
não é possível validarmos o modelo e aceitar a hipótese de relacionamento entre
as variáveis.
Em relação ao desempenho setorial, há indicações da existência de
algum relacionamento entre as variáveis, porém o relacionamento é baixo,
explicando, apenas, 42,05% das variações ocorridas.
Tabela 19: Dados coligidos - Marcopolo Taxa Rentabilidade do
Vendas(US$ milhões) Patrimônio Ajustado (%)
Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego %
Marcopolo Serviços Marcopolo Serviços Marcopolo Serviços Marcopolo Serviços Comércio
350 30.529 3,00 7,70 4.253 139.983 82 218 6,62 250 26.524 -7,00 -17,70 3.423 127.322 73 208 7,40 368 34.949 13,10 0,00 3.755 144.795 98 241 8,10 341 42.245 12,00 -5,70 3.523 163.368 97 259 8,00 293 38.139 9,20 -6,20 3.295 162.446 89 235 6,40 317 35.440 8,40 -20,40 3.582 169.694 89 209 6,00 247 35.999 -1,00 18,70 3.630 199.169 68 181 5,00 224 22.695 16,80 4,30 4.389 187.501 51 121 5,40 247 17.114 22,80 -2,20 5.121 174.096 48 98 5,00 145 14.077 16,30 -25,20 4.400 157.598 33 89 6,10 138 16.872 13,50 -12,10 3.762 166.380 37 101 5,30 133 20.197 4,70 24,20 3.838 214.924 35 94 4,50 125 17.680 37,60 -2,00 3.675 215.199 34 82 3,80
Fonte: Exame, Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 20: Resultados apurados - Marcopolo
RESUMO DOS RESULTADOS
R - Múltiplo
R2
F ele significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes X2
Indicadores de Desempenho
Marcopolo Serviços
36,21% 64,85%
13,11% 42,05% 49,52% 6,53% 92,77% 18,81% 29,21% 3,48%
Indicadores de Variação de Pessoal
Marcopolo Serviços
-19,36% -84,24%
3,75% 70,96",(, 52,63% 0,03% 52,63% 0,03%
Empresas Analisadas 76
Indicadores de Produtividªde
Marcopolo Comércio
77,84% 79,75%
60,59% 63,60% 0,17% 0,11% 0,17% 0,11%
Os indicadores de variação de pessoal da Marcopolo demonstram que a
taxa de desemprego da economia não explica as variações ocorridas no seu
quadro de pessoal. O setor, porém, apresenta alta correlação negativa para o R
Múltiplo (-84,24%) e valor elevado para o coeficiente R2 (70,96%), o que sugere
que o setor promove demissões em períodos recessivos e contratações em
épocas de crescimento da economia - gráfico 4.
Em relação aos indicadores de produtividade da Marcopolo, eles
demonstram que os aumentos de produtividade obtidos foram em conseqüência
da utilização de tecnologias não substitutas de mão-de-obra, o que inibe novas
contratações e mantém elevada a taxa de desemprego setorial em períOdOS de
desaquecimento econômico.
Gráfico 4: Indicador de Variação de Pessoal - Setor Econômico
o u
E
Indicador de Variação de Pessoal
250.000
'g •• o .ti 200.000 ~
.2 :l o "O OI
~ :;. 150.000 ~ CL
.li ~
•
100.000 +-----,------,------,-----.,-----j 3,50 4,50 5,50 6,50 1,50 8,50
Taxa Desemprego %
Empresas Analisadas 77
Já em relação ao setor, não podemos aceitar essa justificativa, pois o
indicador de variação de pessoal demonstra que em períodos recessivos
ocorrem demissões como forma de preservar resultados.
Fato a se destacar é que entre 1993 e 1994 ocorreram grandes variações
negativas no quadro de pessoal da Marcopolo com a redução de 1.491 postos de
trabalho, após esse período, o quadro de pessoal da companhia se manteve
praticamente constante. De acordo com a nossa análise, o ocorrido não está
relacionado com o desempenho da economia, já que os indicadores de variação
de pessoal e desempenho não demonstram a existência desse relacionamento.
No caso descrito acima, apesar de termos efetuado pesquisas em
revistas especializadas, jornais e na Internet não encontramos explicações para o
ocorrido. Dessa forma, toma-se necessário análise mais detalhada dos fatos para
sabermos se as demissões ocorridas nesse período estão relacionadas à
implantação de sistemas de qualidade total, automatização do processo
industrial, reengenharia e outros, o que foge do escopo desse trabalho, ficando
como sugestão para futuros projetos.
Por fim, a análise dos dados e indicadores da Marcopolo apresentam
evidências que indicam que a empresa não promove demissões de funcionários
em períodos recessivos da economia como forma de melhorar o seu
desempenho econômico-financeiro.
Empresas Analisadas 78
3.9.7 Brasil Te/ecom
A Brasil Telecom S.A. (anteriormente denominada de Telecomunicações
do Paraná S.A.) foi constituída em 27 de novembro de 1963 e até a privatização
das telecomunicações no Brasil era uma empresa controlada pela TELEBRÁS,
quando passou a ser controlada pela Brasil Telecom Participações S.A.
(anteriormente denominada de Tele Centro Sul Participações S.A.). Durante o
ano de 2000, mediante um amplo projeto de reestruturação societária, a
Companhia incorporou as operadoras existentes na área de concessão da
Região II controladas pela Brasil Telecom Participações S.A. e a CRT -
Companhia Riograndense de Telecomunicações S.A (Brasil Telecom, 2001).
A Brasil Telecom S.A. possui concessões para atendimento nos estados
brasileiros do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Rondônia, Acre, Goiás, Tocantins e Distrito Federal para
exploração de serviços de telefonia local e de longa distância. A Região 11,
abrangida pelas concessões cobre uma área de 2.859.375 quilômetros
quadrados, representando 34% do total do País (Brasil Telecom, 2001).
Atualmente a empresa conta com 10.642 funcionários e, segundo a Gazeta
Mercantil (2001 :436), ocupa a 3a posição no ranking do setor de
telecomunicações.
Os dados da empresa são apresentados na tabela 21 e os resultados
apurados na tabela 22.
É importante ressaltarmos que até o ano de 1998 os dados foram obtidos
com a consolidação dos números das empresas que se reuniram para formar a
Brasil Telecom.
Nesse sentido, os indicadores apurados por esse estudo não irão
expressar, necessariamente, as ações e as atitudes que foram realizadas pela
Brasil Telecom, e sim, pelas empresas que hoje a compõe. De qualquer forma, a
análise desses números possibilitará compreendermos o comportamento
adotado pelas antigas empresas em relação ao seu quadro de pessoal em
períodos recessivos, o que pode ser um sinalizador de tendência.
ANO
2000 1999
1998 1997 1996
1995 1994 1993
1992 1991 1990 1989
1988
Empresas Analisadas 79
A análise dos indicadores de desempenho da Brasil Telecom demonstra
que o desempenho econômico-financeiro é uma variável importante para explicar
as variações ocorridas no quadro de pessoal, apresentando valores elevados
para os coeficientes R-Múltiplo e R2, e valores reduzidos para os coeficientes F
de significação e valor-P. Assim, é possível aceitarmos o relacionamento
existente entre as variáveis. Já em relação ao setor, os indicadores demonstram
a inexistência de relacionamento entre as variáveis.
Os indicadores de variação de pessoal não apresentam coeficientes que
sugiram a existência de relacionamento entre as variáveis, tanto no setor
econômico como na empresa. Dessa forma, os indicadores demonstram que as
demissões ocorridas no setor e na Brasil T elecom não podem ser explicadas
somente pelo desempenho da economia.
Tabela 21: Dados coligidos - Brasil Telecom
Taxa Rentabilidade do
Vendas(US$ milhões) Patrimõnio Ajustado (%)
Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego
Brasil Serviços Brasil Serviços Brasil Serviços Brasil
2.722 25.359 6,40 8,40 10.642 66.301 256 1.742 22.843 1,50 -22,30 9.801 56.574 178
1.947 23.441 6,60 2,90 8.960 59.051 217 2.368 19.155 10,70 11,30 10.452 60.645 227 1.816 16.076 9,90 8,90 9.810 82.472 185
1.299 11.102 4,30 2,80 9.813 83.608 132 1.152 10.113 4,30 2,50 10.313 84.994 112 669 6.575 11,20 8,20 8.402 79.199 80
356 5.217 1,90 -1,40 5.660 70.429 63 252 4.041 -3,70 -4,60 4.667 73.120 54 298 4.305 15,50 5,70 4.n5 30.362 62 296 4.212 15,40 7,30 4.867 77.498 61
197 2.889 3,60 9,00 4.825 72.345 41
Fonte: Exame, Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 22: Resultados apurados - Brasil Telecom
RESUMO DOS RESULTADOS
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes)Q.
Indicadores de Desempenho
Brasil Serviços
88,11% 20,93%
77,63% 4,38% 0,06% 79,93% 0,02% 69,71% 76,95% 65,43%
Indicadores de Variação de Pessoal
Brasil Serviços
65,48% ~6,90%
42,88% 7,24% 1,52",(, 37,41% 1,52% 37,41%
%
Serviços Serviços
382 4,97 404 5,80
397 6,10 316 6,00 195 4,50
133 4,20 119 3,60 83 3,80
74 3,90 55 4,10 142 3,50 54 3,20
40 2,60
Indicadores de Produtividade
Brasil Serviços
85,16% 89,88%
72,52% 80,78% 0,02% 0,00% 0,02% 0,00%
Empresas Analisadas 80
Apesar dos indicadores de produtividade, tanto da Brasil Telecom como o
do setor, apresentarem números sugerindo o relacionamento entre as variáveis,
não podemos aceitar a hipótese de que os aumentos da taxa de desemprego
foram em conseqüência do aumento dos índices de produtividade, pois os
indicadores de desempenho e de variação de pessoal não demonstram esse
fato.
Como fato adicional, ao analisarmos os dados da Brasil Telecom,
verificamos que em 1998 a empresa demitiu 1.492 funcionários e em 2001 o
número de demissões foi de 2.762. De acordo com o SINTTEL-SC - Sindicato
dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações de Santa Catarina (2002)
e a própria Brasil Telecom (2001) essas demissões foram motivas pela
implantação de sistemas integrados de gestão, pela terceirização de serviços e
pela necessidade de "manter a empresa ajustada ao mercado e à competição"
Brasil Telecom (2001 b).
Conforme foi apresentado anteriormente, o objeto de estudo desse
trabalho está limitado à análise das demissões efetuadas por empresas
socialmente responsáveis em conseqüência de períodos recessivos da
economia. Apesar de importante, as demissões motivadas pelo processo de
privatização não serão abordadas por essa pesquisa, ficando como sugestão
para projetos futuros.
Dessa forma, com as considerações feitas acima, o grupo de empresas
que foram adquiridas para formar a Brasil Telecom apresentou evidências de
que, no passado, o desempenho econômico-financeiro do grupo foi uma variável
importante para explicar as variações ocorridas no quadro de pessoal e que não
ocorreram demissões de funcionários em períodos recessivos como forma de
preservar resultados.
ANO
2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993
1992 1991 1990 1989 1988
Empresas Analisadas 81
3.9.8 Gerdau
A Gerdau apresenta como principal objetivo produção e o comércio de
produtos siderúrgicos e/ou metalúrgicos (Gerdau, 2001). Atualmente, a empresa
conta com 8.307 funcionários, sua sede está localizada na cidade do Rio de
Janeiro e segundo a Gazeta Mercantil (2001 :336) a empresa ocupa a 20 posição
no ranking do setor de metalurgia - aços.
Infelizmente, só obtivemos dados referentes ao quadro de pessoal da
Gerdau do período de 1996 até o ano 2000. Dessa forma, os indicadores de
desempenho, variação de pessoal e de produtividade são referentes a esse
período. Já os indicadores setoriais referem-se ao período de 1988 até o ano de
2000. Os dados da empresa encontram-se na tabela 23 e os resultados apurados
na tabela 24.
Tabela 23: Dados coligidos - Gerdau
Taxa Vendas(US$ milhões)
Rentabilidade do Patrimônio Ajustado (%)
Número de Empregados Vendas I Empregados Desemprego %
Gerdau Metalurgia Gerdau Metalurgia Gerdau Metalurgia Gerdau Metalurgia Industria
1.918 18.201 14,80 9,80 8.307 89.462 231 1.673 15.775 8,20 -23,80 7.972 82.347 210 1.579 17.436 10,30 -2,00 6.833 87.620 231 1.705 19.754 9,20 1,70 7.926 95.346 215 758 17.003 5,00 -1,50 5.171 96.665 147
23.051 -19,60 138.232 22.577 0,80 153.064 15.005 -78,60 151.852
15.767 -5,20 167.847 13.058 -17,80 163.380 13.420 -29,90 152.632 20.205 7,90 231.949 17.268 -5,90 227.304
Fonte: Exame, Gazeta Mercantil, Fundação Getúlio Vargas e CVM.
Tabela 24: Resultados apurados - Gerdau
Indicadores de Indicadores de Variação
RESUMO DOS RESULTADOS Desempenho de Pessoal
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes X2
Gerdau
97,35%
94,77% 5,23% 5,90%
51,03%
Metalurgia
4,81%
0,23% 98,85% 90,75% 89,32%
Gerdau Metalurgia
22,70% -79,39%
5,15% 63,02% 71,34% 0,12% 71,34% 0,12%
203 192 199 207 176 167 147 99
94 80 88 87 76
Indicadores de Produtividade
Gerdau Metalurgia
34,52% 66,37%
11,91% 44,05% 56,94% 1,34% 56,94% 1,34%
6,68 7,50 8,20 9,00 6,90 6,80 5,80 6,20
6,50 7,40 6,40 5,40 3,90
Empresas Analisadas 82
A análise dos indicadores de desempenho da Gerdau demonstra que o
desempenho econômico-financeiro é uma variável importante para explicar as
variações ocorridas no seu quadro de pessoal, apresentando valores elevados
para os coeficientes R-Múltiplo e R2, e valores reduzidos para os coeficientes F
de significação e valor-P. Assim, é possível aceitarmos o relacionamento
existente entre as variáveis. Já em relação ao setor, os indicadores demonstram
a inexistência de relacionamento entre as variáveis.
Os indicadores de variação de pessoal da Gerdau demonstram que a taxa
de desemprego da economia não explica as variações ocorridas no seu quadro
de pessoal. O setor, porém, apresenta alta correlação negativa para o R-Múltiplo
(-79,39%) e valor de 63,02% para o coeficiente R2, o que sugere que o setor
promove demissões em períodos recessivos e contratações em épocas de
crescimento da economia. O gráfico 4 apresenta esse relacionamento.
Gráfico 5 - Indicador de Variação de Pessoal - Setor Econômico
Indicador de Variação de Pessoal
250.000 "I o • I ~ I E I o() g 200.000 I .li I ...
I ~ 11 • o 150.000
"O I OI
I o R2 = 0,6302 i
CI I OI li 100.000 • • I .i • • ~
50.000 3,50 4,50 5,50 6,50 7,50 8,50 9,50
Taxa Desemprego %
Os indicadores de produtividade da Gerdau demonstram haver pouco
relacionamento entre as variáveis, porém o setor demonstra haver algum
relacionamento. Isso sugere que os aumentos de produtividade das companhias
explicam 44,05% (R2) das demissões ocorridas no setor.
Empresas Analisadas 83
Dessa forma, a Gerdau apresenta evidências de que o seu desempenho
econômico-financeiro é importante para explicar as variações ocorridas no
quadro de pessoal, porém em períodos recessivos não ocorrem demissões como
forma de preservar resultados.
Empresas Analisadas 84
3.9.9 Bradesco
Em relação ao Bradesco e ao setor bancário, não obtivemos informações
suficientes a respeito do quadro de pessoal das empresas e nem do setor
econômico. Só foi possível analisarmos o período compreendido entre 1996 e
2000, o que demonstrou ser insuficiente devido aos resultados apurados pelos
indicadores de desempenho, variação de pessoal e de produtividade que não
demonstraram a existência de qualquer tipo de relacionamento entre as
variáveis.
Apresentamos na tabela 25 os resultados apurados pelos indicadores do
Bradesco. É possível verificarmos assim, que os valores dos coeficientes F de
significação e Valor-P são elevados, o que não nos permite aceitar a hipótese de
relacionamento das variáveis.
Tabela 25: Resultados apurados - Bradesco
Indicadores de Indicadores de Variação Indicadores de
RESUMO DOS RESULTADOS Desempenho de Pessoal Produtividade
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficiertes X2
Bradesco
95,38%
90,97%
9,03% 36,20% 4,70%
Bancos Bradesco
88,73% -27,78%
78,73% 7,72% 21,27% 65,09% 52,44% 65,09% 11,85%
Bancos Bradesco Bancos
-16,91% 68,97% ~,72"1o
2,86"10 47,57% 0,45% 78,57% 19,76% 91,46%
78,57% 19,76"10 91,46%
Empresas Analisadas 85
3.9.10 Unibanco
Assim como ocorrido no Bradesco, em relação ao Unibanco, não
obtivemos informações suficientes a respeito do quadro de pessoal das
empresas e nem do setor econômico. Só foi possível analisarmos o período
compreendido entre 1996 e 2000, o que demonstrou ser insuficiente devido aos
resultados apurados pelos indicadores de desempenho, variação de pessoal e de
produtividade que não demonstraram a existência de qualquer tipo de
relacionamento entre as variáveis.
A tabela 26 apresenta os resultados apurados pelos indicadores do
Unibanco. É possível verificarmos que os valores dos coeficientes F de
significação e Valor-P são elevados, o que não nos permite aceitar a hipótese de
relacionamento das variáveis.
Tabela 26: Resultados apurados - Unibanco
RESUMO DOS RESULTADOS
R - Múltiplo
R2
F de significação - Modelo Valor-P - Coeficientes X1 Valor-P - Coeficientes X2
Indicadores de Desempenho
Unibanco Banco
91,33% 88,73%
83,42% 78,73% 16,58% 21,27% 10,35% 52,44% 10,65% 11,85%
Indicadores de Variação de Pessoal
Unibanco Banco
-53,59"10 -16,91%
28,72% 2,86% 35,19"10 78,57% 35,19"/. 78,57%
Indicadores de Produtividade
Unibanco Serviços
23,15% -6.72%
5,36% 0,45% 70,79% 91,46"10 70,79% 91,46%
Empresas Analisadas 86
3.10 Resumos dos Resultados Obtidos
Abaixo, apresentamos quadro resumo com os resultados obtidos na pesquisa. A
tabela 27 apresenta os resultados apurados pelas companhias e a tabela 28 o
resultados obtidos pelo setor econômico analisado.
Tabela 27: Resumo dos resultados - Empresas
EMPRESAS
Sadia
Pão de Açúcar
Copel
Cemig
Duralex
Marcopolo
Gerdau
Brasil Telecom
Desempenho
C
se e e
SC
se e e
Legenda: e - Há correlação entre as \Elriá\Eis
se - Não há correlação entre as \Elriá\Eis
INDICADORES
Var pessoal Produtividade
se se se se C e e e
SC SC
se e SC SC
se e
Tabela 28: Resumo dos resultados - Setor Econômico
INDICADORES SETOR
Desempenho Var pessoal Produtividade
Alimentos se se se Comercio se se se Energia se SC c Madeira e e se Siderurgia e Metalurgia se C se Telecomunicações se se e Transporte se C C
Legenda: e - Há correlação entre as \Elriá\Eis
se - Não há correlação entre as variá\Eis
HIPÓTESE VÁLIDA
HO
HO
H1
H1
HO
HO
HO
HO
HIPÓTESE VÁLIDA
HO
HO
HO
H1
H1
HO
H1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme foi exposto anteriormente, o trabalho foi desenvolvido com o objetivo de
verificar se empresas comprometidas com questões sociais, ambientais e trabalhistas, e
que adotam instrumentos de gestão baseados na valorização da diversidade e de
princípios éticos, sustentam esses valores mesmo em períodos recessivos de nossa
economia.
Assim, para respondermos essa questão, tomou-se necessário estabelecermos
dois objetivos intermediários. O primeiro teve por finalidade determinar as principais
formas de atuação social efetuadas pelas empresas. Já o segundo, visou estabelecer a
relação existente entre reduções no quadro de pessoal em períodos recessivos e gestão
empresarial orientada por valores éticos, representados pela responsabilidade social
corporativa.
Dessa forma, com essas proposições, efetuamos a revisão da bibliografia
existente. Primeiramente, contextualizamos e apontamos os objetivos e interpretações a
respeito da responsabilidade social corporativa em uma sociedade industrial - como uma
função estritamente econômica - e no contexto da sociedade pós-industrial - onde os
interesses econômicos ficam em segundo lugar em detrimento da valorização da
qualidade de vida da socíedade.
Em seguida, apresentamos, distinguimos e conceituamos as formas mais usuais
de atuação social das empresas: Responsabilidade Social Corporativa, Cidadania
Empresarial e Filantropia Empresarial. Justificamos o porquê de atuação empresarial
baseada em atitudes responsáveis frente aos agentes sociais e os benefícios que essas
orientações proporcionam aos negócios. Apresentamos, também, os instrumentos
utilizados pela sociedade e companhias para a avaliação e aprimoramento da
responsabilidade social corporativa.
Posteriormente, aprofundamos a discussão a respeito do tema e elegemos um
referencial teórico para nos orientar na análise de algumas empresas. Nesse sentido,
contextualizamos a responsabilidade socíal corporativa em ambiente democrático e em
economia baseada no neoliberalismo. Apresentamos as diversas condutas morais
presentes na sociedade e nos negócios e que orientam as ações empresariais.
Considerações Finais 88
Discutimos, também, as vertentes de pensamento ético que auxiliam os agentes sociais
a justificarem suas ações.
Finalmente, procedemos à análise de algumas empresas onde apresentamos a
metodologia utilizada e as sua limitações, justificamos o período de análise do estudo, o
critério de seleção das empresas pesquisadas, a forma de coleta dos dados e
demonstramos os resultados obtidos.
Dessa forma, depois de examinarmos todo o processo, desde a elaboração do
projeto de pesquisa até a análise dos resultados finais, foi possível tirarmos algumas
conclusões:
Realmente, há evidências que demonstram que as empresas analisadas não
estariam promovendo demissões de funcionários em períodos recessivos como forma de
melhorarem o seu desempenho econõmico-financeiro.
Dessas empresas, em 75% dos casos, foi possível aceitarmos a hipótese nula e
rejeitarmos a hipótese alternativa.
Isso, porém, não significar dizer que as empresas estejam atuando de forma
socialmente responsável em relação a seus funcionários. o estudo demonstrou que as
companhias estão promovendo demissões por outros motivos que não estão
relacionados, somente, com o desempenho da economia. Como foi apresentado e
constatado na pesquisa, várias empresas passaram por processos de reestruturação
que resultaram na redução do número de funcionários.
As companhias utilizaram-se, principalmente, da retórica neoliberal, baseada nos
argumentos da competitividade e do livre mercado, para promoverem demissões de
funcionários. Em alguns casos, como na Brasil Telecom, esse foi o principal discurso
empregado pela empresa para justificar a necessidade de reduções de custos e o
conseqüente ajuste ao mercado e a competição.
Certamente, conforme foi descrito por Sruor e exposto anteriormente, as empresas
brasileiras compreendem a repercussão negativa que o grande número de demissões
acarretam para a imagem da companhia e para o negócio. Principalmente em um
ambiente competitivo e democrático.
Considerações Finais 89
Por conseguinte, houve a preocupação, por parte das companhias, de promoverem
investimentos em ações sociais como forma de diminuírem o impacto negativo
acarretado por essas demissões perante a comunidade e a sociedade.
Apenas nos casos da Sadia e do Grupo Pão de Açúcar, as análises dos dados
apresentaram evidências sugerindo que não ocorreram demissões de funcionários em
função das variações do desempenho da economia, da adoção de novas tecnologias de
gestão empresarial ou da automatização do processo industrial. As movimentações
ocorridas no quantitativo de funcionários foram em função de alienações de empresas
associadas que, naquele momento, não faziam parte dos objetivos estratégicos de longo
prazo tanto da Sadia como do Pão de Açúcar.
Em relação a Marcopolo, o estudo mostrou que a empresa não está
acompanhando o comportamento do seu setor, onde ocorrem demissões em períodos
recessivos como forma de preservar resultados. Porém, em meados da década de 90, a
empresa dispensou grande número de funcionários, acontecimento esse que não se
repetiu nos anos seguintes. Tal fato sugere que nesse período houve a implementação
de algum sistema de gestão ou da automação do processo produtivo que resultou na
redução de funcionários. Todavia, conforme apresentado anteriormente, não obtivemos
respostas da companhia a respeito dos nossos questionamentos.
No que se refere à Duralex, o estudo também mostrou que a empresa não
acompanha o comportamento do seu setor, porém a companhia dispensa funcionários
por outros motivos não relacionados a recessão econômica. Conforme foi apresentado,
os dados da Duratex demonstram que ocorreram demissões anuais entre 1991 e 1998,
excetuando-se o ano de 1995.
Já a Gerdau, a análise dos dados mostrou que a empresa não dispensa
funcionários em períodos recessivos, porém não obtivemos respostas a respeito de uma
grande movimentação de pessoal ocorrida em 1998, ressaltamos, ainda, que o período
de análise foi de apenas cinco anos e que em uma análise mais extensa os resultados
poderiam ter sido outros.
A análise dos resultados da Copel e da Cemig demonstrou que as empresas
promoveram demissões de funcionários como forma de melhorarem os seus
desempenhos econômico-financeiros, atuando, assim, de forma contrária à prática do
setor elétrico.
Considerações Finais 90
Contudo, isso não significa que a Capei e a Cemig não estejam comprometidas
com os princípios da responsabilidade social corporativa na condução dos seus
negócios, mas indica uma cobrança acentuada por resultados.
Na verdade, as duas companhias pesquisadas apresentam elementos que
evidenciam o seu comprometimento com as questões trabalhistas, possuindo por
exemplo: programas de participação nos resultados, investimentos na qualificação dos
profissionais, gastos com a segurança e melhoria das condições de trabalho, além de
planos de previdência privada.
Esses fatos, no entanto, sugerem que as empresas estatais sofreram impacto bem
maior do que as empresas privadas na mudança do paradigma econômico baseado no
mercado. Em meados da década de 90 houve pressão muito grande por parte da
sociedade para a redução dos gastos com o funcionalismo público. Alguns discursos
políticos chegavam a atribuir aos salários dos servidores a razão pelo fraco desempenho
da economia do país. Porém, devido à natureza e aos objetivos propostos por essa
pesquisa, não foi possível uma análise mais detalhada desse fato, ficando como uma
sugestão para futuras pesquisas.
Em relação a Brasil Telecom, a conclusão a que chegamos é que no passado,
antes da privatização, havia indícios de que as empresas que foram adquiridas para
formar a Brasil Telecom não demitiam funcionários para melhorarem resultados.
Atualmente, com a nova configuração do negócio, não podemos aceitar esse fato, pois a
empresa demitiu um grande número de funcionários demonstrando um certo descaso
em relação a problemas sociais.
Conseqüentemente, no caso da Brasil Telecom, a responsabilidade social
corporativa assume forma instrumental, onde ela é utilizada como uma ferramenta de
propaganda na tentativa de redução do impacto negativo que as demissões em massa
causam nos negócios, consumidores, comunidade e sociedade.
No que se refere à análise do setor econômico, os resultados indicaram que em
57% dos casos, a indústria não promoveu a demissão de funcionários em períodos
recessivos como forma de se obter melhores resultados econômico-financeiros.
Considerações Finais 91
Isso, também, não significa dizer que a indústria esteja se orientando por princípios
socialmente responsáveis no seu relacionamento com os funcionários. Para chegarmos
a essa conclusão, seria necessária a realização de uma pesquisa que estudasse as
relações de trabalho existentes entre empresas e funcionários segmentados por
atividade econômica. Fica aqui a sugestão.
Uma questão importante que ficou evidenciada durante a realização da pesquisa,
foi o fato de não termos obtido respostas dos questionários enviados as empresas
pesquisadas e nem das solicitações dirigidas ao Instituto Ethos de Responsabilidade
Social e ao Banco Real.
o ocorrido demonstra completa falta de coerência das empresas em relação ao
seu discurso e a prática da responsabilidade social corporativa. Conforme
argumentamos, a transparência é um elemento fundamental nesse contexto, não
havendo justificativas para uma empresa ou um instituto de responsabilidade social se
recusar a prestar informações aos agentes.
Atitudes como essas demonstram que as empresas brasileiras ainda não
compreenderam o verdadeiro sentido e a importância da questão social para os
negócios. Ao deixarem de lado os princípios que sustentam a responsabilidade social
corporativa e agirem de forma oportunista, as empresas poderão sofrer retaliações por
partes dos agentes e colocar em risco a própria continuidade do negócio.
Além disso, tal atitude reforça a análise efetuada por Sruor demonstrando que as
empresas socialmente responsáveis atendem aos agentes de acordo com a sua
representatividade e seu poder de retaliação.
Também é importante ressaltarmos que a responsabilidade social corporativa não
se resume ao fato de se demitir ou não funcionários. Nesse caso, o que importa é o
porquê e a forma como ocorrem essas demissões.
No nosso entendimento, as demissões de funcionários não devem ser utilizadas
como uma maneira de redução de custos. Quando elas forem necessárias é
fundamental a participação dos empregados na discussão do problema e na busca de
novas alternativas.
Considerações Finais 92
Para terminar, no decorrer desse trabalho, vislumbramos novas possibilidades de
estudos e questionamentos que não puderam ser abordados devido às limitações
impostas pelo objeto de estudo, dessa forma, apresentaremos, a seguir, sugestões para
o desenvolvimento de futuras pesquisas:
./ De que forma o neoliberalismo econõmico alterou os objetivos e a forma de
condução dos negócios em empresas estatais?
./ De que forma a responsabilidade social corporativa afetou os padrões
setoriais de produtividade, desempenho econõmico-financeiro e ambiental?
./ No longo prazo, a responsabilidade social corporativa conduz a uma maior
rentabilidade dos negócios?
./ A campanha publicitária baseada no filantropismo é uma forma lucrativa de
se fazer negócio ou os ganhos sociais são maiores?
./ Empresas que utilizam benefícios fiscais, se comprometem com programas
sociais com o término do incentivo?
./ Como a responsabilidade social corporativa influencia a decisão de compra
do consumidor?
./ Os sistemas informatizados de gestão integrada inibem a prática da
responsabilidade social corporativa?
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