Ir/responsabilidade Social (de Género) das Empresas Estrangeiras: Uma perspetiva reportada ao...

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José Catalão Ferreira Ir/responsabilidade Social (de Género) das Empresas Estrangeiras Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México Programa de Doutoramento: ―Direito, Justiça e Cidadania no Séc. XXI, 3ª ed.‖ FEUC/CES/FDUC 2010/2011

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José Catalão Ferreira

Ir/responsabilidade Social (de Género) das Empresas Estrangeiras

Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

Programa de Doutoramento:

―Direito, Justiça e Cidadania no Séc. XXI, 3ª ed.‖

FEUC/CES/FDUC

2010/2011

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Ir/responsabilidade Social (de Género) das Empresas Estrangeiras: uma

perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

José Catalão Ferreira

[email protected]

Licenciado e pós-graduado em Sociologia (FEUC); Pós-graduado Economia Social:

cooperativismo, mutualismo e solidariedade (CECES/FEUC); Doutorando em ―Direito,

Justiça e Cidadania do Séc. XXI‖ (FEUC/CES/FDUC).

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Ir/responsabilidade Social (de Género) das Empresas Estrangeiras

Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

Resumo:

A Cidade de Juárez, no México, é a cidade mais industrializada de toda a América do

Norte e onde se concentra o maior número de empresas estrangeiras. Considerada por

muitos a cidade mais perigosa do mundo é, também, aquela onde ocorrem mais mortes

de mulheres por razões misóginas (femicídio), muitas das quais eram trabalhadoras das

indústrias maquiladoras ali existentes. As empresas estrangeiras, sobretudo as norte-

americanas, dos EU, terão contribuído positivamente para o crescimento económico e

demográfico do México e daquela zona, mas, por outro lado, parece haver uma relação

entre o aumento da criminalidade por razões misóginas e o trabalho das mulheres nas

maquiladoras, que pode resultar do confronto de culturas e hábitos locais, enraizados na

população mexicana, com os que são transportados do exterior com as empresas. As

empresas estrangeiras, ao instalarem-se em países menos desenvolvidos do que o da

origem, raramente levam em conta os impactos sociais e culturais que daí podem

resultar, nomeadamente, quando estão em causa questões de género, que afetam

principalmente as mulheres. Neste paper, partindo do exemplo de Juárez, chamamos à

atenção para a crescente cosmopolitização das empresas e tendência para a exploração à

escala global do trabalho feminino dos países menos desenvolvidos e do Terceiro

Mundo e da necessidade de responsabilizar essas empresas e exigir que adotem medidas

de Responsabilidade Social Empresarial de Género (RSEG), que possam evitar uma

nova vaga mundial de desigualdades e, nomeadamente, impedir o aumento (global) da

violência de género contra as mulheres dos países menos desenvolvidos e do Terceiro

Mundo.

Palavras-Chave: Cuidad de Juárez; Maquiladoras; Femicídio e Violência de Género;

Empresas Estrangeiras (cosmopolitas); Responsabilidade Social Empresarial de Género

(RSEG)

Ir/responsabilidade Social (de Género) das Empresas Estrangeiras Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

1. Introdução

O século XX terá sido um daqueles em que houve maiores mudanças e evolução em

termos sociais e de direitos humanos. Para isso contribuíram as duas guerras mundiais,

várias crises económicas e mudanças políticas, que culminam com o fim do Bloco de

Leste e o enfraquecimento dos ideais comunistas, permitindo a difusão à escala global

do capitalismo e do neoliberalismo económico.

Os novos movimentos sociais que surgiram e se desenvolveram do século passado,

de estudantes, feministas, mulheres, ambientalistas, pacifistas, antirracistas e muitos

outros, terão sido o motor de muitas das mudanças sociais ocorridas nesse século. Entre

estes destacam-se os movimentos feministas e de mulheres que, em menos de um

século, conseguiram inverter tendências milenares de dominação e diferenciação dos

papéis das mulheres em relação aos dos homens: que quase sempre as remetia para um

papel secundário e, nomeadamente, as impedia de aceder ao mercado de trabalho em

condições iguais às dos homens.

Após séculos de dominação e dependência masculina, muitas mulheres estão

finalmente a conseguir desvincular-se do modelo patriarcal e a assumir papéis

socialmente idênticos e/ou tão valorizados como os dos homens. No entanto, apesar de

todas as mudanças positivas que ocorreram, verifica-se que ainda há muitos países onde

isso não aconteceu, ou está a demorar mais a acontecer. Sobretudo nos países menos

desenvolvidos e do Terceiro Mundo, aquilo a que se assiste é a um misto de evolução e

retrocesso: evolução no sentido de que há já muitas mulheres, principalmente das

classes mais favorecidas, que já estão em pé de igualdade em relação aos homens;

retrocesso, se pensarmos que, para além das diferenças que já existiam e ainda se

mantêm, muito por influência da globalização e do neoliberalismo económico, um

pouco por todo o lado, estão a surgir novas formas atípicas de dominação, abuso e

violação dos direitos humanos e das mulheres – como o tráfico de seres humanos, rapto,

violação, prostituição forçada, turismo sexual e, muito mais grave do que quaisquer

outros, o tráfico de órgãos para transplantes e o femicídio1.

1 Homicídio de mulheres por razões misóginas ou de sexo.

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Na pós-modernidade – definida por Ulrich Beck (2006), como aquela que distingue

o mundo cosmopolita do mundo globalizado da modernidade que a antecedeu –, as

empresas estrangeiras (cosmopolitas), principalmente as que têm origem nos países

mais desenvolvidos, podem instalar-se em qualquer parte do mundo (Beck, 2006). Ao

fazê-lo, as empresas transportam inevitavelmente culturas e práticas diferentes das

locais (Cliford, 2000). Em especial, quando as empresas se instalam em países menos

desenvolvidos o choque que resulta do confronto de culturas e hábitos enraizados da

população local com os que são transportados com as empresas, pode ter consequências

sociais e culturais que, na maioria dos casos, afetam mais as mulheres do que os

homens.

Como Salzinger refere, nas últimas décadas, as mulheres, do Terceiro Mundo

principalmente as mais jovens, surgem como trabalhadores paradigmáticos do capital

transnacional, que vê nas habilidades e experiência adquirida na realização de tarefas do

lar uma propensão natural para o trabalho, que pode ser utilizada em benefício das

empresas (Salzinger, 1997, pp. 559-560)

A Cidade de Juárez, no México, é a mais industrializada de toda a América do Norte

e onde se concentra o maior número empresas estrangeiras. Considerada por muitos a

cidade mais perigosa do mundo é, também, aquela onde ocorrem mais mortes de

mulheres por razões misóginas (femicídio), muitas das quais trabalhavam nas

maquiladoras ali existentes.

As empresas estrangeiras ali instaladas, sobretudo as norte-americanas, dos EUA,

terão contribuído positivamente para o crescimento económico e demográfico daquela

zona do México. No entanto, parece haver uma relação entre o crescimento económico

que resulta da instalação dessas empresas estrangeiras em Juárez e o aumento da

violência de género contra as mulheres e da criminalidade por razões misóginas. De

facto, um e outro são coincidentes, pelo que, a confirmar-se, esta relação, estaríamos

perante uma consequência provável dos impactos social e cultural que resultam da

instalação e concentração de empresas estrangeiras naquela cidade.

Apesar dos efeitos positivos, em termos de criação de emprego e de autonomia das

mulheres, o trabalho das mulheres nas empresas estrangeiras, pelas transformações

sociais e culturais que implica - num país onde o machismo, o marianismo e a cultura

patriarcal predominam e dominam –, pode também ter efeitos negativos e estar a

contribuir para o aumento da violência género contra as mulheres e das tendências

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misóginas de alguns homens. Muitas mulheres trabalhadoras nas maquiladoras podem

estar a ser vítimas do crescimento económico da forma mais abrupta – pagando a fatura,

em muitos casos, com a própria vida.

Muitas das mulheres que trabalham nas maquiladoras de Juárez podem, de facto,

estar a ser vítimas de violência de género e no extremo de femicídio, pela simples razão

de trabalharem em empresas estrangeiras, de se terem tornado menos dependentes e

mais autónomas e por, frequentemente, adotarem posturas e comportamentos próprios

da «cultura viajante» transportada pelas empresas estrangeiras – comportamentos

passíveis de serem considerados disruptivos em relação aos habituais, na perspectiva do

sexo oposto.2

A preferência, das empresas estrangeiras pelo trabalho do feminino (por razões

pouco altruístas – como a de lhes poderem pagar salários mais baixos), poderá ser outra

das razões que contribui para o aumento da violência de género e dos crimes contra as

mulheres em Juárez e à escala global. 3

As empresas estrangeiras, ao instalarem-se em países menos desenvolvidos do que

o da origem, raramente têm em conta os impactos sociais e culturais que podem resultar

do confronto das culturas viajantes com as locais, ou que resultam das políticas de

emprego utilizadas. Os problemas culturais e sociais que daí podem surgir são, por

vezes, difíceis de prever e legislar no sentido de os minimizar ou eliminar pela via

legislativa, nacional ou internacional. As empresas, talvez por acharem que esse é um

problema dos governos e das organizações sociais, evitam imiscuir-se nessa matéria,

esquecendo a origem dos problemas e desresponsabilizando-se em relação aos mesmos.

Conhecendo a origem dos problemas e as consequências, somos levados a pensar

que estas poderiam e deveriam ser encaradas numa perspetiva de Responsabilidade

Social Empresarial (RSE), para além do que é normalmente exigido às empresas em

termos legais ou de recomendações, obrigando, nomeadamente, as que se instalam em

países menos desenvolvidos e do Terceiro Mundo, a incluir no conjunto das

2 Em relação à questão das «culturas viajantes», por analogia, ver James Cliford (Cliford, 2000).

3 Sobre a questão da desvalorização do trabalho masculino e dos hábitos adquiridos pelas mulheres que

trabalham mas industrias maquiladoras veja-se o estudo realizado por Leslie Salzinger (1997). No mesmo estudo, realizado pela investigadora em três empresas estrangeiras instaladas em Juárez, a mesma refere, ainda, que as principais razões que levam os empresários a preferir o trabalho das mulheres se fundam em diferenças de género: nomeadamente, por lhes poderem pagar menos do que aos homens, por serem mais dóceis, menos conflituosas e aguentarem mais tempo sentadas nas linhas de montagem do que os homens mexicanos, que são considerados em regra preguiçosos, conflituosos e pouco produtivos (Salzinger, 1997).

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responsabilidades sociais também a responsabilidade por questões de género, como as

que afetam as mulheres que trabalham nas maquiladoras em Juárez – uma

ir/responsabilidade que os governos local e federal tendem a desvalorizar e as empresas

estrangeiras a ignorar, sobrepondo os interesses económicos e políticos às questões

sociais e de violação dos direitos humanos e, em particular, das mulheres.

O facto de Juárez ser uma cidade fronteiriça e um ponto de passagem da imigração

ilegal e do tráfico de droga do México para os EUA, atividades desde há muito

controladas pelos cartéis de droga ali localizados, explica parte do problema da

violência e a razão pela qual Juárez é atualmente considerada a mais perigosa do

mundo. No entanto, a criminalidade tem vindo a acentuar-se nos últimos anos,

coincidindo com o crescimento económico e demográfico daquela zona, que surge no

seguimento do acordo económico NAFTA4, assinado entre os EUA, Canadá e México

(e Chile) e que entrou em vigor em 1994. Entre outras coisas, este acordo permitiu que

inúmeras empresas de capital estrangeiro se instalassem no México, principalmente

junto à fronteira com os EU e em maior número na Cidade de Juárez.

Um dos efeitos da enorme concentração de empresas estrangeiras, maquiladoras,

em Juárez, que faz fronteira com El Paso, principal ponto de passagem entre o México e

os EU, terá sido o aumento das migrações internas e da imigração de outros países que

ficam a Sul do México para aquela zona (Salazar, 2004). Com uma particularidade, que

resulta do facto de as maquilhadoras, especialmente na fase inicial, empregarem mais

de 90% de mão-de-obra feminina, principalmente mulheres jovens (2004, p. s/ nº). Isto

terá contribuído não só para o para o crescimento demográfico de Juárez mas, também,

para que a maioria das mulheres jovens ali residentes passassem a ter como atividade

principal o trabalho nas maquiladoras estrangeiras.

Por coincidência, ou não, no mesmo período e na mesma proporção, aumentaram

significativamente os femicídios, que se caracterizam por serem homicídios muito

violentos de mulheres por razões misóginas e de sexo. Entre as vítimas desses

homicídios encontram-se muitas mulheres que trabalhavam nas indústrias

maquiladoras, muitas das quais, segundo os relatos de familiares e outras fontes, foram

4 North American Free Trade Agreement (NAFTA), acordo de livre comércio, estabelecido entre os

Estados unidos, Canadá e México em 1 de janeiro de 1994. http://www.ustr.gov/trade-agreements/free-trade-agreements/north-american-free-trade-agreement-nafta, página acedida em 20/06/2011.

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raptadas no percurso entre a casa e o emprego – donde se pode presumir que existe uma

relação entre o fenómeno do feminicídio5 e o trabalho das mulheres nas maquiladoras.

Assegurar o transporte entre a casa/emprego é uma obrigação que muitas empresas

têm de cumprir, que está regulada e consta de muitas legislações nacionais,

nomeadamente, quando não há alternativas de transportes públicos. Em Portugal, por

exemplo, desde 1913, é obrigatório que as empresas tenham seguros de acidentes de

trabalho para todos os trabalhadores e trabalhadoras que incluam nas coberturas os

acidentes ocorridos no percurso casa/trabalho. Esta é, também, a confirmação de que as

responsabilidades das empresas não começam e acabam só no local de trabalho.

No caso de Juárez, em que se sabe que está em risco a vida das trabalhadoras das

maquiladoras, assegurar o transporte por questões de segurança não é uma obrigação

legal – embora algumas empresas de maior dimensão já o façam –, apesar de se saber

que é precisamente nesse percurso que as mulheres estão mais vulneráveis e expostas ao

risco de poderem ser raptadas, violadas e mortas. Riscos que, para além de tudo, não se

enquadram na categoria habitual dos acidentes de trabalho entre a casa e o emprego,

nem estão legalmente protegidos de outra forma.

Este é só um exemplo de uma das responsabilidades que podiam ser assumida pelas

empresas estrangeiras, senão de uma forma obrigatória, pelo menos em sede de RSE;

como forma de prevenir e evitar alguns crimes contra as mulheres que trabalham nas

maquilas, muitos dos quais ocorrem no percurso entre a casa e o emprego. Outras

medidas, como a mudança de horários de trabalho para evitar que as mulheres tivessem

de se deslocar em horas mais susceptíveis de correrem maiores riscos, poderiam ser

tomadas pelas empresas e igualmente ajudar a minimizar o problema.

Se do ponto de vista legal e normativo, não é fácil imputar responsabilidades às

empresas estrangeiras pelos crimes cometidos contra as mulheres que trabalham nas

maquiladoras, já numa perspectiva moral e ética haverá correlações que não se podem

ignorar nem esquecer, nomeadamente, como as que resultam dos impactos socais,

diretos ou indiretos, causados pela instalação das empresas estrangeiras em países

menos desenvolvidos.

5 Não há um verdadeiro consenso entre a utilização do termo femicídio ou feminicídio, no entanto,

parece que a tendência é usar o femicídio para referir um tipo de homicídio, que vitima as mulheres por razões misóginas, e o feminicídio por referência ao fenómeno dos femicídios. Informação disponível em http://www.mujeresdejuarez.org/, página consultada em 2/08/2011.

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Estabelecendo-se a correlação entre os femicídios e a instalação de empresas

estrangeiras em Juárez – cidade considerada como uma das mais perigosas do mundo –,

estamos perante um caso em que as empresas estrangeiras deviam, na nossa perspectiva,

pelo menos, assumir a responsabilidade pela segurança das trabalhadoras no percurso

entre a casa e a empresa, como forma de evitar que fossem raptadas e posteriormente

mortas. Uma responsabilidade que não podendo, para já, ser exigida pela via legal tendo

em conta, nomeadamente, que as empresas não se podem substituir à incompetência dos

governos e das autoridades locais poderia, no entanto, assumir a categoria de

Responsabilidade Social Empresarial de Género. Um conceito que se pode generalizar e

estender a outros casos e outros países, onde as mulheres possam também estar a sofrer

as consequências, quaisquer que sejam, dos impactos sociais e culturais que resultam da

sua prestação de trabalho em empresas estrangeiras.

Daí que o nosso objetivo principal seja, somente, o de chamar à atenção para e

necessidade de haver medidas, para além das habituais, consignadas nas legislações

nacionais e nos acordos internacionais, que, através da ação dos governos e das

organizações não-governamentais, internacionais e mundiais, possam impor às

empresas estrangeiras, que se estão a tornar cada vez mais cosmopolitas e interessadas

na exploração do trabalho das mulheres, regras de Responsabilidade Social Empresarial

de Género (RSEG).

Neste sentido, e partindo do exemplo de Juárez, que é paradigmático, tentaremos

argumentar e responder à pergunta de partida deste estudo, que é: Devem ou não as

empresas estrangeiras, que se estão a tornar cada vez mais cosmopolitas e interessadas

na exploração do trabalho das mulheres dos países menos desenvolvidos e do Terceiro

Mundo, ser responsáveis e responsabilizadas, no âmbito da RSE, pelos impactos sociais

e culturais que resultam da sua instalação nesses países e, consequentemente, ser

obrigadas a criar e tomar medidas de Responsabilidade Social Empresarial de Género

(RSEG), que possam prevenir e ou minimizar o aumento (global) das desigualdades e

violência de género contra as mulheres?

2. Crescimento económico e da violência de género contra as mulheres que

trabalham nas maquiladoras em Cuidad de Juárez

A instalação de empresas em Juárez não é um fenómeno novo, nem recente, surge

na sequência da implementação do Programa de Industrialização da Fronteira do

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México, estabelecido em 1965. As fábricas, designadas maquiladoras ou maquilas,

destinavam-se inicialmente a absorver a mão-de-obra de trabalhadores imigrantes

deslocados nos EUA, que depois de acabar os contratos eram obrigados a retornar ao

país de origem, muitos dos quais acabavam por se concentrar junto à fronteira

(Sazinger, 1997, p. 2 de 15). Porém, o crescimento económico intensificou-se muito

desde que foi assinado o acordo NAFTA, que permite a livre circulação de mercadorias

entre o Canadá, EUA e México. Esse acordo permitiu que muitas empresas dos EUA e

Canadá se instalassem no México, principalmente em Juárez, principal ponto de

passagem entre o México e os EU.

A proximidade com a fronteira, entre outras vantagens, como a do acesso ao baixo

custo da mão-de-obra (que é comum em todo o México), torna mais fácil e vantajoso

para as empresas o transporte de mercadorias ali produzidas, não só para o sul, como

para o norte e daí para todo o mundo. Além disso, os acordos NAFTA permitem a livre

circulação de mercadorias, isenta de impostos e permitem ao mesmo tempo às empresas

canadenses e norte-americanas o acesso à mão-de-obra barata e aos mercados mexicano

e a partir dali para os outros países da América do Sul.

O crescimento demográfico de Juárez e de El Paso, cidade que fica do outro lado da

fronteira, nos EUA, aumentou muito na última década, na mesma proporção do número

de empresas estrangeiras que se instalaram no lado mexicano. Trata-se sobretudo de

uma zona que atrai muitos migrantes e imigrantes dos países a Sul do México, não só

pelo crescimento económico que tem tido, de um lado e do outro, como pela esperança

que muitos dos que se encontram no lado do México têm de conseguirem emigrar para

os Estados Unidos e Canadá.

Ao contrário do que acontece na maioria das migrações, o facto de existirem

inúmeras maquiladoras em Juárez que empregam sobretudo mulheres jovens, fez com

que muitas para ali se deslocassem, sozinhas ou em grupo, acompanhadas pela família

ou pelos companheiros, para trabalhar nas empresas estrangeiras (as mulheres) e se

possível passar a fronteira para os EUA. Em Juárez, atualmente por cada 100 mulheres

existem 99.9 homens, muito mais do que em relação a outras cidades do México. Além

disso, morrem quase o dobro de homens por ano e um quarto do total das famílias

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(85.052) é agora chefiado por mulheres, o que é inédito se comparado com o resto do

Estado de Chihuahua e todos os outros Estados no México6.

De facto, existe uma preferência e aumento da procura de mão-de-obra feminina que

já não é só um fenómeno local de Juárez, no México, mas global. Como refere Leslie

Salzinger (1997), as mulheres jovens dos países do Terceiro Mundo, estão a tornar-se

trabalhadoras paradigmáticas do capital transnacional, enquanto os homens, como no

caso do México, são frequentemente definidos como pouco trabalhadores, preguiçosos e

conflituosos, quando comparados com as mulheres jovens que têm maior destreza, são

muito mais dóceis, obedientes e trabalhadoras (Sazinger, 1997, pp. 1-3). Além disso, o

custo do trabalho das mulheres é mais barato, segundo Jorge Alonso, investigador do

CIESAS West,

For the past 40 years, Ciudad Juárez has been a pole of attraction for the

maquiladora work force. In the seventies and eighties, as male unemployment was on the

rise, the job offers in these assembly plants for re-export prioritized young women. The

bosses argued that women work more and—even more importantly—cheaper. This

contributed to the increase in female migration. Single women headed many of the

households in Juárez, the city with the highest reported rate of children born to single

women. Alcohol consumption increased among the men, as did violence against women

(Alonso, 2004, p. s/ nº).

A Cuidad de Juárez, para além de ser o maior polo industrial do México, tem

características demográficas muito próprias que a tornam diferente das restantes cidades

do México, em parte devido às empresas estrangeiras ali instaladas e à preferência

destas pelo trabalho feminino. Daqui se pode concluir que a instalação de empresas

estrangeiras naquela zona do México, somada a outros factores, não só causou impactos

ao nível do crescimento e estrutura demográfica, como em relação ao tipo e à

diversidade da população ali existente. Bastaria fazer-se a correlação entre a população

ali existente e a população trabalhadora nas maquiladoras, para se perceber por que

razão ali há mais mulheres do que na maior parte das cidades mexicanas e que a

instalação de empresas estrangeiras teve um impacto social demográfico naquela zona,

6 Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI).

http://www.inegi.org.mx/sistemas/mexicocifras/MexicoCifras.aspx?e=8&m=0&sec=M&ind=1002000001&ent=8&enn=Chihuahua&ani=2010&src=0, site consultado em 24/06/2011.

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que a faz diferenciar das outras do México. Um impacto que tem certamente

consequências ao nível da cultura, dos hábitos e das práticas sociais dos autóctones e

das populações migrantes e imigrantes que ali chegam todos os dias.

Sabe-se que o problema da violência contra as mulheres é universal. No entanto,

como Jeanne Armstrong refere, este problema tem-se intensificado em certas regiões

onde a cultura local e a supremacia masculina são desafiadas pelas mudanças no

trabalho e uma menor exposição às normas patriarcais de género (Armstrong, 2009, p.

6).

Num estudo realizado por Salzinger, sobre a construção das significantes de género,

que envolveu a observação participante em três empresas situadas em Juárez, percebe-se

como as mulheres que trabalham nas maquilas podem ser influenciadas pela cultura das

multinacionais e de como, por exemplo, isso as pode fazer mudar em relação à forma de

vestir e de apresentar no trabalho, nomeadamente, com o objetivo de se destacarem das

outras e chamar à atenção dos responsáveis, para casualmente serem escolhidas para os

cargos de chefia, percebendo-se, além disso, como as mulheres predominam e dominam

sobre alguns dos homens mexicanos que trabalham nas maquiladoras – remetendo-os

para um segundo plano neste tipo de indústrias (Salzinger, 1997).

Tudo isto pode considerar-se como um impacto social de género, com

consequências possíveis ao nível do aumento da violência de género contra as mulheres,

porque apesar de ser aparentemente positivo para as mulheres, cria tensões com os

homens, a maioria dos quais, no México e em muitos países menos desenvolvidos,

ainda estão habituados a dominar e a olhar as mulheres segundo a perspectiva patriarcal

e no caso do México também a marianista à qual está associada o machismo típico dos

homens mexicanos. Estas tensões associadas a outras, que existem em Juárez, podem

resultar em maior violência contra as mulheres, explicar as tendências misóginas dos

homens e o fenómeno do feminicídio. Como Hannah Arendt diz a «impotência gera

violência» (Arendt, 1970, p. 54). Logo podemos pensar que a perda de poder dos

homens em relação às mulheres é uma das causas da violência de género, neste e

noutros casos.

Barnstable (2009), no estudo que realizou, fez várias entrevistas a trabalhadoras

mais velhas, as quais confirmaram que a vulnerabilidade e a violência contra as

mulheres aumentaram muito com a presença das maquiladoras em Juárez e mudaram

simultaneamente as famílias juarenses, nomeadamente pelo facto de muitas mulheres

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terem deixado de estar inteiramente dependentes dos homens, como acontecia no

passado (Barnstable, 2009, p. 90).

3. O femicídio, um crime de género passível de ser associado, também, às

empresas estrangeiras?

A ideia de abordar a questão da responsabilidade social de género das empresas

estrangeiras, partindo do problema do femicídio em Juárez, surgiu-nos na sequência da

leitura do 1º capítulo do livro de Kathleen Staudt (2008), Violence and Activism at the

Border: gender, fear, and everyday laife in Cuidad Juárez, em que a autora aborda a

questão da violência contra as mulheres na fronteira dos Estados Unidos-México, com

destaque para a questão do homicídio de mulheres por razões misóginas (femicídio) e

que, segundo a Amnistia Internacional, só em Juárez, entre 1993 e 2003, terá sido a

causa da morte de mais de 370 mulheres, sobretudo jovens, raptadas, violadas e

mutiladas antes de morrer (Staudt, 2008, p. 2).

Staudt coloca a ênfase mais na questão da violência doméstica que afecta as

mulheres de ambos os lados da fronteira e que na realidade pode ser uma das principais

causas destas mortes. Para Staudt, a excessiva mediatização feita pelas organizações

nacionais, internacionais e pelos média em relação à questão dos femicídio, faz esquecer

o problema principal, que é o da violência doméstica de que são vítimas as mulheres em

geral de um e do outro lado da fronteira, Juárez e El Paso.

O relato seguinte é um exemplo que serve ao mesmo tempo para expressar o que se

passa em Juárez e que corresponde ao discurso que Staudt, com larga experiência e

conhecimento da realidade local, defende ser necessário evitar enfatizar, por fazer

esquecer o problema principal que é necessário combater – a violência de género contra

as mulheres, de uma maneira geral, de um outro lado da fronteira.

Soy una mujer que trabaja, y hoy vuelvo a casa arrastrando el cansancio de una

jornada intensa. Y soy muy afortunada, mucho. Esta misma noche, en Ciudad Juárez, es

muy probable que otra mujer como yo -o mucho más joven, prácticamente una niña-, no

regrese nunca a su hogar después del trabajo en la maquila. La habrá señalado una mano

invisible, homicida, y la oscuridad se tragará sus sueños y esperanzas. Habrá sido

atrapada y sometida a una tortura atroz: un interminable camino hacia la muerte poblado

de vejaciones sexuales, mutilaciones y crueldad inaudita. Tal vez aparezca su cuerpo,

mostrando la evidencia del sufrimiento indecible, o tal vez no. Simplemente, habrá

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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desaparecido y sus seres queridos no tendrán siquiera la oportunidad de despedirse de ella.

Hablo de Lilia, Anahí, Juana, Esmeralda, Violeta... Todas tenían nombre, futuro, y un

derecho a vivir libres y seguras que les fue brutalmente arrebatado.

Hace una década que este exterminio sistemático y despiadado hacia las mujeres se

practica en Ciudad Juárez. A diario, como se toma el autobús, se compra algo de comer o

se duerme. Más de 400 víctimas mortales y un número indeterminado de desaparecidas han

hecho que el crimen sea un escenario cotidiano en este lugar, una localidad fronteriza del

estado de Chihuahua, en México. Las razones de este terrorismo de género se entretejen en

una tupida y siniestra red de intereses. Mafias de narcotraficantes que imponen la ley del

miedo y la violencia sexista como arma de dominación; grupos que practican el comercio

de órganos; sicarios del turismo sexual asesino, o de bárbaros rodajes cinematográficos...

Siempre hay detrás alguien que se beneficia: que gana dinero o consolida poder a costa de

esas mujeres que han osado buscar empleo, aunque sea en condiciones de explotación, y

tratan de ser dueñas de su propia vida en un entorno patriarcal y machista.7

Porém, ainda que a relação entre as empresas estrangeiras e elevado número de

femicídios que ocorrem em Juárez possa ser indireta e considerada menos importante do

que a da violência generalizada contra as mulheres, não podemos deixar de pensar que

essa relação existe e que as empresas podiam desempenhar um importante papel na

prevenção, nomeadamente, neste tipo de crimes.

Ao contrário de Staudt, pensamos que se poderia aproveitar a ênfase aplicada pelos

média e pelas organizações nacionais e internacionais feministas, de mulheres e outras

que denunciam os crimes de femicídio, porém no sentido de obrigar as empresas

estrangeiras a corresponsabilizarem-se pelos problemas e a tomarem medidas – no

âmbito da RSE (de género) – que pudessem evitar os crimes e diminuir a violência

contra as mulheres. Nomeadamente, para a partir dali e daquele exemplo se poder

instituir a Responsabilidade Social Empresarial de Género em relação a outras empresas

estrangeiras (cosmopolitas) que se instalam em outros locais e países onde podem surgir

problemas de género idênticos ao de Juárez.

Em termos de in/capacidade e ir/responsabilidade das empresas estrangeiras, em

contribuir para a resolução do problema da violência contar as mulheres que trabalham

7 Velasco, Amparo Alvarez (2008). Ciudad Juárez: Combatir con la memoria. Martes 22 de abril de

2008. http://www.ciudaddemujeres.com/articulos/Ciudad-Juarez-Combatir-con-la, página consultada em

24/06/2011.

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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na maquiladoras, basta pensar que as empresas estrangeiras assumem normalmente

compromissos de proteção dos trabalhadores, estrangeiros, deslocados do país de

origem, de forma a prevenir e a evitar que estes ou estas possam ser vítimas destes ou de

outros tipos de crimes, deduzindo-se que, da mesma forma, poderiam estender essa

preocupação e proteção aos restantes trabalhadores e trabalhadoras. Ou, por exemplo,

promovendo a aproximação e integração dos familiares e ou companheiros das

mulheres de forma a conhecerem as práticas das empresas, a cultura empresarial e os

métodos de trabalho, sempre que isso pudesse contribuir para a desmistificação de

alguns dos preconceitos que os homens têm em relação ao trabalho das mulheres.

Resta-nos acrescentar, em termos de ir/responsabilidade das empresas, que ainda

que pudessem persistir algumas dúvidas sobre a possibilidade de haver algum tipo de

relação, ainda que transversal, entre o trabalho nas maquiladoras estrangeiras e o

aumento da violência de género contra as mulheres e dos femicídios (cf supra), outra

evidência mostra que as empresas são corresponsáveis pela violência contra as

mulheres, a maioria das quais se deslocou de outros locais só para trabalhar nas

maquilas de Juárez: o facto de os governantes e responsáveis das empresas estrangeiras

saberem de antemão, antes das empresas ali se terem instalado, que aquela já era

perigosa por razões que tinham a ver com o tráfico de droga, imigração ilegal e outras,

podendo por isso ter escolhido outros locais, que não Juárez, para a instalação dessas

mesmas empresas no México.

4. Responsabilidade Social Empresarial de Género (RSEG), das empresas

estrangeiras

Não é nossa intenção apresentar aqui dados e elementos concretos sobre aquilo que

se passa em Juárez, no sentido de confirmar a validade das hipóteses aqui colocadas –

há imensos estudos e organizações de todo o tipo a trabalhar no terreno que abordam e

estudam essas matérias.

Aquilo que nos chamou à atenção e motivou esta abordagem tem a ver não só com o

que se passa em Juárez, pelo drama que envolve, mas, também, com o que se passa em

muitas outras partes do mundo, embora com efeitos e repercussões que naturalmente

são diferentes de local para local – a necessidade de as empresas estrangeiras, que se

estão a tonar cada vez mais cosmopolitas, adotarem medidas de responsabilidade social

de género, sempre que necessário, no sentido minimizar ou evitar os efeitos e

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consequências negativas dos impactos sociais e culturais que resultam da sua instalação

em países cultural e socialmente diferentes dos da origem das empresas.

O objectivo é alertar para uma das consequências possíveis do crescente

cosmopolitanismo empresarial, que resulta do que Bauman diz ser a difusão à escala

global dos habitats económicos – do capitalismo neoliberal – e que, em especial a partir

da última década, segundo a perspetiva de Beck, permite às empresas cosmopolitas

instalarem-se em qualquer parte do mundo (Bauman, 1998; Beck, 2006). Por outro lado,

pretende-se também chamar à atenção das organizações sociais e governos locais, e, em

alguns casos, dos países da origem8, da necessidade de responsabilizar as empresas

estrangeiras (multinacionais/cosmopolitas) e de as obrigar a tomar medidas pelos

impactos culturais e sociais que podem resultar da sua instalação em países

culturalmente diferentes e economicamente menos desenvolvidos.

Repare-se que as empresas estrangeiras (cosmopolitas) são aquelas que agora

‗viajam‘ pelo mundo fora, quase sem restrições, em busca dos locais onde seja possível

reduzirem os custos de produção, principalmente à custa dos baixos salários – das

mulheres (cf supra). Ulrich Beck defende que na pós-modernidade, cosmopolita, que

sucede à modernidade dos Estados-nação, já não se pode falar em multinacionais ou na

internacionalização de empresas (Beck, 2006). As empresas cosmopolitas são uma

realidade ainda recente, empresas que dependem cada vez mais do capital financeiro,

que não têm necessariamente uma nação de origem e podem habitar em qualquer parte

do mundo onde seja lhes mais rentável e possível a produção a baixo custo e o acesso a

novos mercados – não olhando a meios para o fazerem.

Daí, a nossa preocupação com os efeitos e consequências da crescente

cosmopolitização das empresas e necessidade de estas se tornarem socialmente mais

responsáveis, tendo em conta as questões de género e os impactos sociais que podem

resultar da crescente tendência para a feminização do trabalho à escala global.

5. Dualidade de conceitos de fronteira

As fronteiras geográficas são linhas que separam os países uns dos outros, que os

delimitam e os fazem confinar àquele espaço. Do ponto de vista sociológico, fronteiras

são muito mais do que isso: são partições que dividem não só espaços sociais e

8 Nomeadamente, quando a instalação de empresas resulta de acordos económicos como os Acordos

NAFTA.

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geográficos, mas também diferentes culturas e as suas representações (Adalberto &

Simmers, 2008, p. 100). Esta concepção, para além de confirmar tudo o que temos

vindo afirmar sobre o confronto de culturas, remete-nos para a ideia de há vários tipos

de fronteiras e de representações desses espaços.

Para Adalberto e Simmers as fronteiras têm o potencial de mesclar terra e pessoas

num corpo compartilhado de representações sociais e culturais e por isso os border

crossers do México, em cada movimento e incursão no espaço dos Estados Unidos,

independentemente do visto ou autorização de residência e trabalho e da proximidade

com a fronteira, levam consigo todo um conjunto de representações associadas à

fronteira, relacionadas com a imigração ilegal, o tráfico de estupefacientes e o receio de

passagem de terroristas através do México para os EU (Adalberto & Simmers, 2008, pp.

101-103).

As fronteiras que separam a Europa de África ou os Estados Unidos do México, por

exemplo, são diferentes das que separam Portugal de Espanha ou os Estados Unidos do

Canadá: no primeiro caso, estão em causa diferenças culturais e económicas, questões

de segurança e muitas outras que distinguem claramente os dois lados da fronteira; no

segundo, as fronteiras estão cada vez mais dissimuladas e existem mais para exercer

controlo externo e manter as diferenças entre os países, nomeadamente as culturais e

económicas, embora essas sejam diferenças pouco acentuadas.

Apesar de se falar muito da maior porosidade das fronteiras e da perda de poder dos

Estados-nação, estas ainda continuam a ser muito importantes na construção da

economia global. A tendência atual dos países mais desenvolvidos, principalmente dos

EU e da UE, é a de manter as fronteiras abertas ao capital, ao trabalho barato e aos mais

ricos e fechar as fronteiras àqueles que podem reivindicar direitos de cidadania ou

direitos associados ao welfare-state (Wonders, 2007, pp. 35-36).

As representações que se fazem dos que atravessam as fronteiras, dos border

crossers, também diferem entre si: no primeiro caso a tendência é considerar que

existimos ‗nós‘ e os outros e no segundo essa distinção não é tão clara, em alguns casos

até se confundem uns com os outros. A concepção de fronteira como um espaço social

transcultural, com potencial de apagar a distinção binária entre o ‗nós e os outros‘, que

Adalberto e Simmers defendem, aplica-se mais ao segundo caso, por exemplo, das

fronteiras que separam os países da União Europeia, que é bem diferente da fronteira

que separa os EUA do México.

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No caso da fronteira de Juárez com El Paso, principal ponto passagem do México

para os EU, não só não é possível aplicar esta concepção como, pelo contrário, é natural

que as diferenças culturais e os estigmas que separam ‗uns dos outros‘ e ambos os lados

aumentem; até porque de um lado da fronteira temos aquela que é considerada a cidade

mais perigosa do mundo e do outro uma das mais seguras dos EU – o que não deixa de

ser paradigmático.

6. Obrigações sociais das empresas estrangeiras (cosmopolitas)

Um relatório da ONU, de 2006, sobre a violência contra as mulheres, reconhece

claramente que o femicídio é um fenómeno que ocorre principalmente em zonas onde as

economias são dominadas pelas maquilas, com destaque para Juárez9.

Nos países desenvolvidos a instalação de empresas, especialmente as de maior

dimensão, está previamente sujeita a uma série de condicionalismos: estudos de

impactos ambientais, urbanísticos, sociais e económicos. Nos países menos

desenvolvidos sabe-se que isso nem sempre acontece, salvo quando se trata da

instalação de empresas de grande dimensão ou de interesse nacional em que os Estados

têm de intervir ou quando está em causa o cumprimento de acordos e obrigações

internacionais das empresas e governos.

A ideia que se tem, e que a maioria dos governos dos países menos desenvolvidos

parece subscrever, é que se se fizer muitas exigências às empresas multinacionais

(cosmopolitas) afugenta-se o investimento estrangeiro. As empresas, cada vez mais

cosmopolitas – que tanto se podem instalar num país como em qualquer outro –,

acabam na maior parte dos casos por preferir em países onde essas exigências não

existem ou são compensadas por outras vantagens.

A pergunta que se coloca (cf supra), e que aqui voltamos a fazer, é se as empresas

estrangeiras (cosmopolitas), especialmente as oriundas de países mais desenvolvidos,

como os EU, devem ou não ser responsáveis e responsabilizadas pelos impactos sociais

e culturais que resultam da sua instalação nesses países.

9 “Femicide occurs everywhere, but the scale of some cases of femicide within community contexts —

for example, in Ciudad Juárez, Mexico and Guatemala — has drawn attention to this aspect of violence

against women. Most official sources agree that more than 320 women have been murdered in Ciudad

Juárez, one third of whom were brutally raped. |…| The killings have been concentrated in areas where

the economies are dominated by maquilas, assembly plants for export products owned and operated in

tax-free zones by multinational companies‖ (United Nations, 2006, p. 41)

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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No caso dos femicídios em Juárez, que se sabe envolve muitas mulheres

trabalhadoras das maquiladoras, coloca-se também a questão de saber se as empresas

poderiam e deveriam tomar medidas no âmbito da RSEG, no sentido de ajudar a

prevenir ou a minimizar a violência de género e os crimes contra as mulheres, como por

exemplo, assegurar o transporte das trabalhadoras entre a casa e o emprego, evitando

que estas pudessem ser raptadas, violadas, mutiladas e mortas. Ou então, como já

referido, outras mais simples e fáceis de tomar como a de alterar os horários de trabalho

para evitar que as trabalhadoras das maquiladoras tivessem que se deslocar para o

trabalho de noite ou de madrugada.10

Numa petição online, para acabar com a violência e os crimes contra as mulheres de

Juárez, dirigida ao governo de Chihuahua e à Comissão interamericana de Direitos

Humanos, subscrita por várias organizações, podemos verificar que uma das

reivindicações da organização mexicana May Our Daughters Return Home é de que as

empresas assegurem o transporte entre a casa e o emprego das mulheres que trabalham

nas indústrias e que muitas vezes têm de se deslocar durante a noite (Nuestras Hijas de

Regreso a Casa y Coco Fusco, 2011). Isto confirma que essa é uma das necessidades

reivindicada e dirigida especificamente às empresas estrangeiras, que são a maioria.

7. Riscos e segurança dos trabalhadores cosmopolitas e dos locais

As empresas estrangeiras têm uma particularidade muito própria, que é terem

normalmente dois tipos de trabalhadores: os de primeira categoria, que pertencem à

empresa ou ao país de origem, trabalhadores que Ulrich Beck (2006) designa de

trabalhadores cosmopolitas, e os de segunda categoria, que são trabalhadores locais. 11

Entre um e outro tipo de trabalhadores há diferenças abissais, nomeadamente, em

termos remuneração e de segurança. Se em relação à remuneração dos trabalhadores,

ainda se compreende que assim seja, visto que as diferenças salariais se devem ao facto

de estarem deslocados dos países de origem, já em relação à questão da segurança não

se percebe como é possível as empresas só terem de se preocupar com a segurança dos

trabalhadores e trabalhadoras estrangeiros e não com a dos e das locais – apesar de,

obviamente, estarmos a falar de diferentes graus de responsabilidade.

10

Muitos relatos de familiares das mulheres raptadas dão conta de terem desaparecido enquanto esperavam pelo transporte, de e para a empresa onde trabalhavam, de madrugada e à noite. 11 Trabalhadores cosmopolitas, no sentido que lhes é atribuído por Ulrich Beck, são aqueles que estão em toda a parte, que se deslocam com as empresas cosmopolitas e que em alguns casos têm não uma mas várias nacionalidades (Beck, 2006)

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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À partida, quando um/a qualquer trabalhado/a se desloca em serviço, as empresas

devem assegurar que o faça em condições de absoluta segurança, nomeadamente

quando estes ou estas têm de se deslocar para países como o México e zonas de elevado

risco como a de Juárez. Sendo esta cidade classificada como uma das mais perigosas do

mundo, por essa mesma razão, é natural que haja, por parte dos responsáveis das

empresas, uma preocupação acrescida com a segurança dos/as trabalhadores/as. Porém,

essa mesma responsabilidade parece não existir em relação aos trabalhadores locais, que

em Juárez são, na maioria, dos casos mulheres que trabalham nas maquiladoras.

Acresce a este o facto de muitas dessas mulheres, na sua maioria jovens, terem de se

deslocar de noite ou de madrugada para trabalhar nas maquiladoras de Juárez, a maioria

das quais estão instaladas em locais distantes das residências e fora das zonas urbanas,

sendo estas obrigadas muitas vezes a deslocar-se por zonas degradadas, pouco

populosas ou desertas, além de terem de se confrontar, também, com as dificuldades de

transporte de noite ou madrugada, ficando expostas a todos riscos inerentes – rapto,

violação e, no extremo, homicídio.

Perante isto, é legítimo pensar-se que as empresas estrangeiras, conhecendo os

riscos que principalmente as mulheres trabalhadoras nas maquilas correm no percurso

casa/trabalho e que seguramente os/as trabalhadores/as deslocados/as do país de origem

das empresas não têm de correr, deviam ser socialmente responsáveis e preocupar-se

não só a segurança dos trabalhadores deslocados a partir do país de origem, mas

também com a dos trabalhadores, homens e mulheres, que lá trabalham, assegurando-

lhes, por exemplo, o transporte entre a residência e a empresa.

Como Brennan (1997) refere, os países do terceiro mundo sempre serviram de

muleta à economia dos EUA e agora isso faz-se de uma forma diferente e o acordo

NAFTA é a prova de que o trabalho já se pode importar, através dos gest workers e das

Leis de Imigração Seletivas (Brennan, 1997, p. 5). No caso do México, diríamos o

contrário, que também se exportam desigualdades em termos salariais, de segurança, de

condições de trabalho e em especial de ir/responsabilidade social de género – como

acontece no caso de Juárez.

8. Responsabilidade Social Empresarial de Género (RSEG)

Em termos de RSE, as empresas estrangeiras têm responsabilidades acrescidas em

relação às outras, visto que, como já referido (cf. supra), ao deslocarem-se,

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inevitavelmente, transportam consigo modelos sociais estranhos aos locais, que podem

influenciar, positiva e negativamente, as práticas e os costumes locais e causar impactos

de diversa ordem. No caso de Juárez, a instalação das maquiladoras estrangeiras junto à

fronteira terá tido consequências económicas positivas, ao permitir que aquela zona se

desenvolvesse. Por outro lado, originou surtos migratórios do Sul do México e da

América do Sul, por motivos vários, que não se limitam ao trabalho nas empresas

maquiladoras. No caso das mulheres, os motivos das migrações para a fronteira são não

só o emprego nas maquiladoras e a possibilidade de emigrarem para os EU,

miscigenam-se com os interesses dos parentes e ou dos companheiros. Uns e outros,

homens e mulheres, buscam na realidade melhorar as condições de vida e fugir à

miséria que atinge a maior parte da população mexicana. Porém, por razões várias,

algumas já aqui abordadas, parece ser mais fácil para as mulheres adaptarem-se às

mudanças e assimilarem certos hábitos e práticas importados com as empresas

estrangeiras, que são comuns no país vizinho, os EUA, até porque, para muitas, isso

significa a independência e fim da dependência e dominação masculina. Na verdade,

não é tão fácil para os homens mexicanos aceitar as mudanças das mulheres, muito

menos prescindir do poder patriarcal e romper com a cultura marianista mexicana. Se

atendermos ao que nos diz Nayla Farouki (2004), em Os dois ocidentes, percebemos o

que motiva e dá força às mulheres para seguirem um caminho diferente do da

dominação e dependência em relação aos homens, maridos, pais, companheiros, etc.:

A vontade de ser e o desejo de pertencer são, actualmente, bastantes vivazes. Mas a

linha de divisão situar-se-á cada vez mais no interior de cada indivíduo, entre o seu desejo

de liberdade e o seu medo de enfrentar o desconhecido, entre valores universais que tem de

reconhecer e os valores locais que teme ver desaparecer. (Farouki, 2004, p. 213)

Percebe-se, por outro lado, a dificuldade que muitos homens têm em se adaptar a

essas mudanças e as razões por que reagem mal, com violência física e psicológica e,

em alguns casos com o recurso à violência extrema – ao femicídio.

Quanto às empresas, podemos pensar que se instalaram junto à fronteira na

sequência dos Acordos NAFTA mas, também, pela oportunidade de aproveitar a mão-

de-obra mais barata (sobretudo feminina), para poderem reduzir os custos de produção,

concorrer com os mercados internacionais e aceder aos mercados dos países do sul e

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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norte da América. Além disso, beneficiam, certamente, de alguma desregulação e

descontrolo institucional que impera naquela zona, o que lhes dá alguma mobilidade e

liberdade de atuação, nomeadamente em termos de desresponsabilização social e de

violação dos direitos humanos e do trabalho.

Ainda assim, estas empresas por uma questão de imagem, de práticas, de avaliação e

até de RSE, normalmente, pagam salários mais altos do que as empresas locais e dão

melhores condições de trabalho (segurança, higiene, logísticas, etc.), tornando-se por

isso atrativas para muitos trabalhadores e trabalhadoras locais. Por esta e outras razões é

natural que os trabalhadores e trabalhadoras das empresas estrangeiras adquiram

também um estatuto diferenciado dos outros e outras que trabalham nas empresas

locais. As práticas e os costumes transportados com as empresas estrangeiras podem ser

um fator diferenciador e exercer diversos tipos de influência, que em muitos casos

entram em confronto com os da cultura mexicana. Por exemplo, colocar mulheres e

homens a trabalhar no mesmo sítio e em pé de igualdade ou de inferioridade dos

homens é algo que pode colidir com a cultura local, nomeadamente, com a cultura

patriarcal e marianista que existe no México. Este estatuto diferenciado das empresas

estrangeiras ainda que possa ser positivo em muitos aspectos, nomeadamente por

obrigar as empresas nacionais a evoluir no mesmo sentido, pode ser perspectivado,

também, como um impacto social negativo – foco de conflitos culturais e sociais.

Por outro lado, para os trabalhadores e trabalhadoras das empresas estrangeiras,

autoridades e dos governantes locais talvez seja impensável responsabilizarem as

empresas estrangeiras por este ou outro tipo de impactos e menos ainda pelas

consequências, ainda que transversais, que daí podem resultar. Pior ainda se se tratar de

impactos sociais de género, como os que afetam as mulheres que trabalham nas

maquilas, em Juárez.

Para nós, que conhecemos realidades diferentes e todo o conjunto de obrigações

legais e em sede de RSE que as empresas dos países mais evoluídos estão normalmente

obrigadas a cumprir, não seria estranho pensar que as empresas têm responsabilidades

sociais também pelas questões de género e deviam responsabilizar-se ou tentar evitar as

consequências, diretas e indiretas, que daí podem resultar.

Segundo a perspetiva feminista radical certamente que os homens, o patriarcado e o

marianismo, são as causas que explicam o fenómeno do femicídio em Juárez. Por outro

lado, as narrativas públicas tendem a focar a responsabilidade nas autoridades e

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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governos mexicano e dos EU, responsabilizando-os pela ineficácia no combate ao

crime, ao tráfico de droga e à corrupção que explica muitos dos crimes cometidos em

Juárez. O foco dos estudos feministas pós-estruturalistas, vai mais no sentido de

estabelecer categorias de género, hegemónicas, estruturadas em momentos culturais

particulares dos espaços de trabalho. O estudo de Leslie Salzinger, no entanto, vai mais

longe no sentido de perceber como são construídos as significantes de género nos

espaços de trabalho das maquiladoras de Juárez (cf supra). Salzinger no estudo que

realizou concluiu que as percepções de género se constroem no mainsstream das

empresas, mas que não são nem arbitrárias nem isoladas: o género é uma relação social

– uma estrutura de significados estabelecidos por e entre sujeitos vivos nas práticas

diárias –, como tal as significantes de masculinidade e feminidade variam com as

interações, estratégias, enquadramento e subjetividades dos que habitam certos espaços

e com o resultado de suas lutas (Salzinger, 1997, p. 12 de 15).

Nenhuma empresa estrangeira quando se quer instalar num país ignora a

importância da cultura nativa, os hábitos e as práticas que são diferentes. As questões

religiosas são um exemplo disso. No México, associado à religião e não só, persiste a

cultura do marianismo e do patriarcado, construções sociais de género que não podem

ser ignoradas nem esquecidas. Nesse contexto cultural não é habitual as mulheres

emanciparem-se em relação aos homens, nem sequer trabalharem fora de casa e muito

menos serem elas a principal fonte de rendimento do lar. A instalação de inúmeras

empresas estrangeiras em Juárez veio mudar muitos desses hábitos, considerados por

muitos de nós, ocidentais do norte, hábitos ancestrais.

No caso dos países menos desenvolvidos, ou em desenvolvimento como o México,

independentemente dos impactos culturais e sociais se poderem considerar positivos e

um avanço em termos de emancipação e igualdade de direitos das mulheres, bastaria

que houvesse uma única morte de mulher por razões misóginas em consequência desses

impactos, para que tivéssemos que refletir e reagir em relação a isso. A questão que se

coloca é se as empresas estrangeiras podem ou não ser responsabilizadas por questões

como a da violência de género de que são vítimas as mulheres que trabalham nas

maquiladoras – vítimas dos femicídios?

Como Maria Costa (2005) refere, ―a responsabilidade social empresarial contém no

seu cerne a idéia de ir ―além da lei‖.‖ (Costa, 2005, p. 75). Como tal, no caso específico

de Juárez, diríamos que sim, que as empresas estrangeiras são responsáveis e têm a

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obrigação de ser socialmente responsáveis pelas questões de género, não só pelas que

podem estar na origem da violência contra as mulheres mas por todas as outras:

primeiro, porque as maquiladoras na maioria dos casos empregam mão-de-obra

feminina, no entanto, privilegiando o trabalho de mulheres jovens, entre os 16 e os 30

de idade em detrimento do das mulheres mais velhas; segundo, pelo facto de estas

empresas admitirem mais mulheres do que homens também por razões económicas, i.e.

por lhes poderem pagar salários mais baixos do que aos homens, logo, uma preferência

que se baseia em questões de género, socialmente construídas, não na diferença de sexo

que distingue os homens e as mulheres e os e as habilitam a realizar melhor alguns tipos

de trabalho; terceiro, porque se essas empresas se preocupam e conseguem garantir a

proteção dos trabalhadores deslocados dos países de origem e não fazem o mesmo em

relação aos locais, apesar de saberem antecipadamente, antes mesmo de ali se terem

instalado, que Juárez já era uma cidade muito violenta e perigosa; quarto, tem a ver com

os costumes e as práticas transportadas pelas empresas estrangeiras, com a «cultura

viajante», e o facto de as empresas estrangeiras poderem não ter em conta a cultura e os

hábitos locais e causar impactos sociais negativos, com consequências negativas, como

o aumento da violência contra as mulheres e no extremo do femicídio de muitas delas.

Estamos pois perante situações em que a RSEG se justificaria, atendendo não só à

especificidade do caso de Juárez, que certamente não é único no mundo, mas a outras

situações em que os impactos sociais e culturais podem ter consequências imprevisíveis

e por em risco a própria vida das mulheres. Consequências que se explicam e resultam

da instalação de empresas estrangeiras (cosmopolitas) em países menos desenvolvidos e

culturalmente diferentes e que são preocupantes devido à crescente cosmopolitização e

interesse das empresas pelo trabalho feminino (supostamente mais produtivo, mas mais

mal pago).

O que importa é saber, é se os Estados e as organizações internacionais e mundiais

deveriam impor regras e responsabilizar socialmente as empresas cosmopolitas pelo

impacto social e cultural que causam ou se, pelo contrário, é suficiente alertar as

empresas para este problema e deixar que sejam elas a atuar, no âmbito das políticas de

responsabilidade social e da imagem que estas necessitam manter ao nível local e

global, ou para agradar aos acionistas.12

12

Importa não esquecer que já há índices nas bolsas que são constituídos só por empresas consideradas Socialmente Responsáveis e Verdes.

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O femicídio, os crimes, a violência, o tráfico de droga e todos os problemas que

fazem de Juárez a cidade mais perigosa do mundo, por mais estranho que possa parecer,

não impediram nem impedem as empresas de ali se instalarem, quando se sabe que estas

poderiam igualmente instalar-se noutras zonas menos conflituosas do México, sem

prejuízo das atividades económicas. Estas empresas preferem gastar em segurança das

unidades industriais e dos funcionários deslocados do país de origem do que procurar

zonas mais calmas e menos perigosas do que Juárez. Os governos, dos Estados Unidos e

do México, as autoridades locais e as empresas são igualmente responsáveis pela

situação que ali se criou.

Não obstante essa responsabilidade ser extensível às empresas, os movimentos

sociais, a imprensa e a maior parte da literatura e bibliografia existente tende a

responsabilizar mais as autoridades locais e os governos pela ineficácia no combate à

violência, esquecendo a responsabilidade das empresas, que nesta amálgama de

interesses saem e entram conforme os interesses económicos, as restrições e vantagens

que lhe são impostas ou oferecidas, sem que ninguém fale da responsabilidade social

das mesmas em relação aos crimes e a violência de género de que são vítimas as

mulheres trabalhadoras nas maquiladoras.

9. Corresponsabilidade social dos Estados

O princípio que enforma e organiza as sociedades pós-capitalistas, segundo Peter

Drucker (2003), considerado o pai da gestão moderna, é o da responsabilização, o dever

das organizações assumirem para além da ―responsabilidade económica‖, também, a

―responsabilidade social‖. O mesmo autor defende que ―o desempenho económico não é

a única responsabilidade de um negócio, tal como o desempenho educacional não é e

única responsabilidade de uma escola, […]. O poder deve ser sempre equilibrado com

responsabilização; de outro modo, torna-se tirania‖ (Drucker, 2003, pp. 109-113).

O mesmo se pode pensar em relação aos Estados sempre que têm algum tipo de

intervenção económica que se sabe vai implicar, necessariamente, a curto, médio ou a

longo prazo, mudanças sociais negativas. E, quanto mais poderosos e desenvolvidos são

maiores deviam ser as responsabilidades sociais e económicas que têm.

Os Estados mais ricos e desenvolvidos e as empresas cosmopolitas – que são quem

mais beneficia com os acordos económicos com os países menos desenvolvidos ou em

crescimento – deviam responsabilizar-se pelas consequências sociais negativas que

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resultam desses acordos económicos, como aquele que os EUA, Canadá e México

fizeram (NAFTA), que permitiu o crescimento económico do México, mas não evitou

que a Cidade de Juárez se tornasse a mais perigosa do mundo e aquela onde há mais

vítimas de femicídio e de violência de género. É até paradoxal pensar na diferença que

existe entre um e o outro da fronteira que separa Juárez de El Paso: de um lado, está a

cidade que é considerada atualmente a mais perigosa do mundo; do outro, uma das mais

pacíficas dos EU.

10. O papel dos Estados e das organizações internacionais e mundiais

O estudo realizado por Cecília Santos revela-nos a importância da criação da

primeira Women`s Police Station no Brasil, de como isso tem contribuído para a

redução da violência contra as mulheres e acabou por influenciar a criação de mais de

trezentas esquadras de polícia femininas no Brasil, e de como esse fenómeno se

estendeu a outros países da América Latina, levando à criação de idênticas esquadras

em oito países (Santos C. M., Women`s Police Sations: gender, violence, and justice in

São Paulo, Brazil, 2005, pp. 178-179). Este é um exemplo de como os Estados podem,

querendo, intervir e resolver as questões da violência de género contra as mulheres.

Ainda assim, a criação de esquadras femininas não parece ter sido suficiente para

acabar com os problemas de discriminação racial, sexual e em função da posição social

das mulheres – especialmente se são prostitutas, negras ou vivem na rua –, impedindo-

as frequentemente de ter acesso à justiça, apesar de nestas esquadras só existirem

polícias mulheres (Ibidem, 2005: pp. 132-149). Isto significa que não depende só do

Estado acabar com as diferenças de género, discriminação racial e desigualdade social,

visto que há questões que não são fáceis de resolver e lhe fogem à alçada.

Há questões que só a própria sociedade e as organizações sociais, internacionais e

mundiais, conseguem resolver e, mesmo assim, nem em todos os casos. Basta pensar no

caso das burcas, que se passou recentemente em França e gerou imensa polémica, para

se perceber que nem tudo o que está relacionado com práticas, crenças e costumes

culturais pode ser resolvido com facilidade e segundo uma perspectiva global única e

universal.

A corrupção e falta de formação dos agentes policiais, sejam eles do sexo feminino

ou masculino, continua a ser um dos problemas que mais contribui para a violência e

impede a proteção de mulheres e homens, no Brasil, tal como em Juárez. Cabe, assim,

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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às organizações e associações internacionais e nacionais, do México, denunciar,

responsabilizar e exigir às empresas estrangeiras que cumpram as suas obrigações

sociais em termos de responsabilidade social de género que afetam as mulheres que

trabalham nas maquiladoras, em Juárez.

11. Mudanças culturais, à escala global, por influência das empresas estrangeiras

Um exemplo recente e curioso da influência que as empresas estrangeiras e o rápido

crescimento económico podem casuar, é o da China, um dos países do mundo mais

conservador e onde ainda predomina essencialmente a cultura patriarcal. Como refere o

sociólogo Chen Yijun, citado pelo People`s Daily, as mudanças culturais impulsionadas

pelo desenvolvimento económico permitem que muitos jovens da «geração Y», pós

anos 80, se tornem independentes mais cedo e isso fez também aumentar

exponencialmente o número de divórcios nesta faixa etário, além disso, como os pais

não têm que garantir o sustento dos filhos durante tanto tempo isso permite que muitas

mulheres e homens das faixas etárias acima dos 50 anos se estejam também a separar.13

Muitas mulheres chinesas acima dos 50 anos preferem agora viver sozinhas, pondo

fim ao calvário dos costumes enraizados que as impedia de seguir livremente a sua vida

sem terem de assumir a dupla função de trabalhadoras, dentro e fora de casa. Este

fenómeno acontece especialmente na fase de reforma porque durante a vida ativa a

separação destas mulheres teria sido menos aceite pela sociedade. No entanto, isto tudo

significa uma mudança cultural significativa e naturalmente resulta do impacto social da

abertura da China ao modelo económico de mercado e à modernização que lhe é

inerente. Uma modernização que em grande parte se deve à influência exercida pelos

hábitos e costumes importados juntamente com as empresas estrangeiras que a

incorporam.

12. Conclusão: a ir/responsabilidade social de género das empresas estrangeiras

Segundo Ulrich Beck o mundo do trabalho e as empresas estão a tornar-se cada vez

mais cosmopolitas (Beck, 2006). Se antes eram os trabalhadores que se deslocavam à

procura de trabalho noutros países agora são as empresas que se deslocam à procura do

trabalho em países diferentes do da origem. Porém há outras diferenças: os

13

http://www.chinahush.com/2011/06/05/5000-families-break-up-in-china-everyday/, pág. consultada em 28/06/2011.

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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trabalhadores deslocavam-se à procura de melhores salários e de melhores condições de

vida; as empresas, pelo contrário, deslocam-se à procura, essencialmente, de salários

mais baixos e procuram-nos em países locais onde as condições de vida são piores.

Outra diferença significativa que existe entre o antes e o agora: é que antes eram

sobretudo os homens que migravam à procura do emprego noutros países e agora são as

empresas que se deslocam à procura de mão-de-obra, sobretudo, feminina.

Tudo isto, confirma aquilo que diz Salzinger: que as mulheres dos países do

Terceiro Mundo, estão a tornar-se trabalhadoras paradigmáticas do capital transnacional

(Sazinger, 1997).

Neste paper abordámos a questão do crescimento económico, da violência de género

que atinge as mulheres que trabalham nas maquiladioras de Juárez, do femicídio, das

obrigações sociais das empresas estrangeiras quando estas se deslocam para os países

menos desenvolvidos, do choque de culturas, das «culturas viajantes» transportadas

pelas empresas estrangeiras e dos impactos socais e culturais que daí podem resultar,

etc.

Como referimos na introdução, o nosso objetivo era responder à questão de partida

deste estudo, que, em resumo, é:

Devem ou não as empresas estrangeiras (que se estão a tornar cada vez mais

cosmopolitas) ser responsáveis e responsabilizadas no âmbito da Responsabilidade

Social Empresarial pelos impactos sociais e culturais que resultam da sua instalação

em países menos desenvolvidos e do Terceiro mundo, e, consequentemente, ser

obrigadas a criar e tomar medidas que possam prevenir e ou minimizar os efeitos e

consequências desses impactos?

Esta pergunta, intensionalmente, está diferente da inicial, da introdução (cf supra) –

falta referir a questão do género na Responsabilidade Social Empresarial. E se fizemos

esta omissão foi de facto para chamar à atenção do problema principal que está em

causa, que não é só o da violência de género contra as mulheres ou o dos femicídio, que

têm vindo a aumentar em Cuidad de Juárez. Na realidade trata-se de um problema à

escala global que pode atingir muitas as mulheres de muitos países e que tem a ver com

a crescente cosmopolitização das empresas e com a ir/responsabilidade social das

mesmas, que agora têm como principal objectivo a exploração do trabalho das mulheres

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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desses países. Exemplos como o de Juárez só servem para enfatizar a questão e levar as

empresas, os governos e as organizações nacionais, internacionais e mundiais a estarem

atentas à necessidade que há de reformular as atuais normas de RSE, introduzindo o

conceito de Responsabilidade Social Empresarial de Género (RSEG), para se evitar uma

nova vaga de desigualdades de género e impedir, nomeadamente, o aumento (à escala

global) da violência de género contra as mulheres dos países menos desenvolvidos e do

Terceiro Mundo.

Responsabilidade Social de género das Empresas Cosmopolitas Uma perspetiva reportada ao fenómeno do femicídio em Juárez, no México

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