João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
COMMUNITY SUPPORTED AGRICULTURE: UM MODELO PARA
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS DA AGRICULTURA
FAMILIAR
Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade
Autora: Liliane Ubeda Morandi Rotoli
Filiação: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”(UNESP), Câmpus de
Tupã. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio e Desenvolvimento –
UNESP/ Câmpus Tupã. Mestre em Economia Aplicada – USP/ FEARP; Professora Substituta
do curso de Administração UNESP/Câmpus Tupã.
Email: [email protected]
Autora: Andrea Rossi Scalco
Filiação: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”(UNESP), Câmpus de
Tupã. Pesquisadora do CEPEAGRO, UNESP. Docente do Programa de Pós-Graduação em
Agronegócio e Desenvolvimento. Professora Assistente Doutora do Curso de Administração –
Unesp/Campus de Tupã. Email: [email protected]
Resumo
Os agricultores familiares encontram diversas dificuldades na comercialização dos seus
produtos, como assimetria de informação, falta de estrutura para distribuição dos produto,
carência de recursos e ausência de poder de barganha na negociação de seus produtos.
Contudo, ao se eliminar o maior número possível de intermediários na comercialização e
utilizar o mecanismo de canal direto com o consumidor, o agricultor obtém maior eficiência
nos seus negócios. Tem-se como um exemplo de canal de distribuição direto o Community
Supported Agriculture (CSA). Este modelo é utilizado no Japão, Europa, Estados Unidos e é
crescente a adesão deste modelo de comercialização pelos agricultores familiares. O modelo
CSA engloba aspectos sociais, econômicos e ambientais, busca a aproximação do consumidor
ao meio rural e valorização do agricultor que produz o alimento. Gera maior rentabilidade ao
produtor e menor impacto ambiental, uma vez que a distribuição é realizada localmente. No
Brasil, a iniciativa de projetos de CSA vêm ganhando maior representatividade e está
ampliando-se para vários estados, tem-se como filosofia a troca da cultura do preço para a
cultura do apreço. Segundo o idealizador do primeiro projeto no país, tem-se atualmente 30
iniciativas e mais de 750 consumidores associados as comunidades.
Palavras-chave: Agricultura familiar, Agricultura orgânica, Comunidade que sustenta a
agricultura , Canais de comercialização.
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Abstract
Family farmers have several difficulties in marketing their products, such as information
asymmetry, lack of infrastructure for distribution of the product, lack of resources and lack of
bargaining power in negotiating their products. However, if they can eliminate as many as
possible intermediaries in theirs marketing and if they use direct channel mechanism with the
consumer, the farmers get efficiency in your business. One exemple of the direct distribution
channel is the Community Supported Agriculture (CSA). This model is used in Japan, Europe,
United States and it is growing for family farmers. The CSA model encompasses social,
economic and environmental aspects, search consumer approach to rural areas and
development of the farmer who produces food. It generates higher returns to farmers and
lower environmental impact, since the distribution is made locally. In Brazil, a so-called CSA
Project initiative has been expanding it to several states and has as philosophical of the
culture of appreciation instead of the culture of price. According to the first project creator in
the country currently has 30-initiatives and more than 750 consumers associated
communities.
Key words: Family farm, organic agriculture, Community supported agriculture, marketing
channels.
1. Introdução
A contribuição do setor agropecuário brasileiro corresponde a uma importante
participação na economia nacional, com geração de divisas e empregos. Segundo o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o acumulado da balança comercial do
setor no ano de 2014 gerou um superávit no montante de US$ 70,38 bilhões, enquanto a
balança comercial brasileira apresentou um déficit de US$3,96 bilhões (BRASIL, 2015a), a
comparação entre estes valores mostra a relevância do setor agropecuário para a economia
nacional. A FAO indica que o emprego na agricultura entre os anos de 2005 e 2010,
representam entre 8,7% a 20% do total de empregos no país, sendo que dentre os postos de
trabalho na agricultura, tem-se que 77% correspondem a agricultura familiar (FAO, 2013).
A contribuição da agricultura familiar toma dimensões econômicos, sociais,
ambientais (ALTAFIN, 2003; SCHNEIDER; NIEDERLE, 2008). A participação da
agricultura familiar no Produto interno bruto (PIB) brasileiro foi mensurado por pesquisadores
do Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e Universidade de São Paulo (USP) de 1995 até
2005, e correspondia a 9,0% do PIB nacional em 2005 o que equivalia a 173 bilhões de reais
(GUILHOTO, et al., 2007). O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) informa que o
agricultura familiar representa 38% da renda agropecuária (BRASIL, 2012). Altafin (2007)
indica que os aspectos sociais associados aos produtores familiares referem-se a contribuição
no abastecimento do país, a garantia da segurança alimentar, e a geração de empregos, quanto
aos aspectos ambientais, os agricultores familiares reúnem elementos menos agressivos ao
meio ambiente em sua produção, contudo o autor ainda observa que propriedades familiares
em situação de exclusão são mais danosas ao meio ambiente por exercer pressão sobre os
recursos naturais (solo, mata, recursos hídricos).
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A heterogeneidade da agricultura familiar no Brasil é muito grande, mesmo depois dos
incentivos ao crédito não é possível ressarcir as deficiências históricas que os agricultores
carregam, como “ baixo grau de instrução do produtor ou do gestor do estabelecimento, falta
de infraestrutura para o escoamento da produção, carência de recursos e conhecimentos
básicos para a incorporação de novos sistemas produtivos e métodos, entre outras restrições”
(BUAINAIN; GARCIA, 2013).
Dentre essas barreiras, podemos citar uma barreira em especial que a pouca habilidade
do agricultor familiar nos aspectos relacionados a comercialização de seus produtos (acesso a
mercados, negociação, distribuição, atualização de preços, etc...). De acordo com Sousa Filho
e Bonfim (2013) a complexidade na comercialização dos produtos agrícolas está crescendo,
isto porque ocorre mudanças nos hábitos de consumo, nas exigências de qualidade,
necessidade de padronização e escala. Segundo Buainain (2014) para o produtor atender a
essas novas exigências da comercialização é necessário mudanças tecnológicas e
organizacionais, muitas vezes tais mudanças afetam a competitividade dos agricultores,
dependendo do poder de resposta às exigências.
Caso o produtor não se adapte as novas exigências do mercado, não existe a
possibilidade do mesmo se manter no sistema. Independente do tamanho da propriedade, é
necessário se ajustar aos macro condicionantes institucionais (regras e normas, exigências dos
consumidores, tecnologias, políticas gerais e setoriais) (BUAINAIN, 2014).
Contudo, diante das dificuldades também existem oportunidades para os agricultores
familiares. Sousa Filho e Bonfim (2013) apontam alguns canais modernos de comercialização
para os agricultores familiares, quais são: órgãos governamentais, hotéis e restaurantes,
organizações dedicadas à promoção de comércio justo e economia solidária, mercados
específicos: produtos orgânicos e étnicos, e agroindústrias processadoras. Araújo (2005)
levanta um ponto negativo na comercialização entre os agricultores e as empresas, os abusos
comerciais, as redes e intermediários fazem exigências e imposições ao agricultores que
levam a uma diminuição na margem de lucro do produto.
Na literatura, pesquisadores como Blum (2001), Araújo (2005), Kambara e Shelley
(2002) orientam que para os pequenos agricultores obterem melhores resultados na
comercialização como uma rentabilidade eficaz, deve-se eliminar o maior número possível de
intermediários, o que corresponde a venda direta ao consumidor. Conejero, Tavares e Neves
(2013) argumentam que uma estratégia de diferenciação para os agricultores familiares seria a
produção orgânica, pois “permitem a concentração de uma diversidade de cultivos numa
mesma área, permitem maior emprego de mão de obra, têm menor custo no longo prazo e
maior produção a médio prazo, geram produtos com maior valor agregado, atendem a
mercados com maior procura que oferta no momento” (CONEJERO, TAVARES E NEVES,
2013). Whitacker (2012) acredita que a técnica de produção orgânica é oportuna para a
competitividade da agricultura familiar.
Diante desta realidade, este artigo pretende contribuir para a discussão do canal de
distribuição direto Community Supported Agriculture (CSA). Este canal já está consolidado
na Europa, Estados Unidos e Japão, e apresenta uma grande representatividade para os
agricultores (POLE , GRAY (2013); USDA, 2014; ATTRA, 2006). Esta forma de distribuição
consiste atualmente na prática de fornecimento de produtos (orgânicos ou convencional) para
um grupo de membros que pagam assinaturas para 1 ou um grupo de agricultores e recebem
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semanalmente uma quantidade de produtos (hortaliças, legumes, queijo, pão, etc.) (ATTRA,
2006).
O presente trabalho está dividido em 4 seções, sendo a primeira seção esta parte
introdutória. A segunda seção é a contextualização da agricultura familiar e a agricultura
orgânica. Na terceira seção, descreve-se o contexto histórico da CSA, as características do
modelo, suas vantagens e desvantagens para o agricultor. Na quarta seção é apresentada a
inserção da CSA no Brasil, dados da criação, algumas cidades que possuem o projeto com
número de membros, princípios e objetivos dos projetos de CSA no Brasil. Segue na última
seção a conclusão do artigo.
2. Contextualizando a Agricultura Familiar e a Agricultura Orgânica
A agricultura familiar é um importante segmento do sistema agrário brasileiro, e vem
ganhando maior reconhecimento no país depois que a Food and Agriculture Organization
(FAO) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) publicaram um
relatório chamado de “Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável” no início
da década de 1990 em que classificaram a agricultura brasileira em dois modelos distintos:
patronal e familiar (AZEVEDO, PESSOA, 2011). Até antes deste período referia-se aos
agricultores familiares como o pequeno agricultor, produtor de subsistência, produtor de baixa
renda, entre outros (SCHNEIDER, NIEDERLE, 2008; AZEVEDO, PESSOA, 2011).
Os investimentos para a agricultura familiar ocorreu de forma mais consistente no
final da década de 90 com a implementação do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF) que representou a mudança das políticas públicas que até
então agraciava somente o modelo patronal (AZEVEDO, PESSOA, 2011). O PRONAF foi
uma medida de fortalecimento das unidades familiares que incluíam concessão de apoio
financeiro e técnico, em uma tentativa de inserir o agricultor familiar no sistema de mercado
(SANTANA, 2014; BUAINAIN, GARCIA, 2013).
Em poucas palavras, pode-se definir o agricultor familiar como aquele indivíduo que
vive no meio rural e trabalha na agricultura com a sua família, (SCHNEIDER, NIEDERLE,
2008), contudo de acordo com o artigo 3º da Lei 11.326 publicada em 24 de julho de 2006,
para se caracterizar como agricultor familiar deve atender aos seguintes requisitos
simultaneamente: não deter área maior do que quatro módulos fiscais; utilizar
predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu
estabelecimento ou empreendimento; ter percentual mínimo da renda familiar originada de
atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo
Poder Executivo; dirigir seu estabelecimento ou empreendimento com sua família (BRASIL,
2006).
A agricultura familiar é mais reconhecida por sua importância na produção de
alimentos e absorção de emprego, e pouco observada quanto a geração de riqueza
(GUILHOTO, et al., 2007). Altafin (2003) relaciona a agricultura familiar com questões
culturais, segurança alimentar, diversidade na produção, desenvolvimento local e geração de
renda. Em números, os estabelecimentos familiares correspondem a 84,4% dos
estabelecimentos rurais, ocupam 24,3% do território no campo e produzem 70% do alimento
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consumido no Brasil (IBGE, 2006), estes dados fortalecem a representatividade da ocupação
para a economia brasileira.
Dentre a produção dos agricultores familiares, chama atenção a participação na
produção de orgânicos, segundo dados da Söl Ecologia e Agricultura, uma organização não
governamental, estima-se que 70% dos produtores de orgânicos são da agricultura familiar.
Na literatura é possível observar a indicação para que os agricultores familiares participem de
mercados diferenciados como forma estratégica de diferenciação e ganho de competitividade
(CONEJERO, TAVARES E NEVES, 2013; WHITACKER, 2012).
A Agricultura orgânica tem como característica o não uso de adubos artificiais,
respeito com os recursos naturais e consumidores. Ganhou força no início dos anos 70, onde
foram publicados estudos que demostravam quanto o agrotóxico prejudica o metabolismo da
planta, e então emergiu uma forte oposição ao padrão produtivo agrícola. Movimentos para
uma agricultura alternativa ganharam força principalmente na Europa, e em 1972 foi fundada
em Versalhes, na França, a International Federatios on Organic Agriculture (IFOAM)
(PLANETA ORGÂNICO, 2014).
A consolidação do mercado de orgânicos no Brasil ocorreu depois de episódios como
“mal da vaca louca” e contaminações por defensivos agrícolas, que proporcionou sólidas
oportunidades de lucro aos produtores, pois houve uma mudança no comportamentos dos
consumidores que passaram a valorizar a segurança dos alimentos e a sustentabilidade
ambiental (CONEJERO, TAVARES E NEVES, 2013).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o número de
propriedades agropecuárias certificadas na produção orgânica teve um crescimento de 51,7%
entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, totalizando 10.194 produtores, sendo 13.323 unidades
de produção orgânica certificada (BRASIL, 2015b). Os pesquisadores Conejeto, Tavares e
Neves (2013) observam que o consumo de produtos orgânicos vem crescendo em todo o
mundo, o país com maior consumo é a Alemanha, seguido da França. Já no Brasil, os
produtos orgânicos mais comercializados são frutas, verduras e legumes que são consumidos
por indivíduos das classes A e B, e 85% da produção nacional de orgânicos destina-se a
exportação (CONEJERO,TAVARES, NEVES, 2013).
Para a comercialização dos produtos orgânicos de origem vegetal ou animal é
necessário a certificação da produção, onde o produtor se vincula a uma certificadora, que
disponibilizará a inspeção da propriedade por um técnico da empresa para averiguar se a
propriedade cumpre todas as normas especificadas para os produtos orgânicos
(CONEJERO;TAVARES; NEVES, 2013). Segundo Scalco et.al (2014) a certificação pode
ser por auditoria, de terceira parte e certificação participativa.
Segundo o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) (2011), a maior parte dos
produtos nacionais orgânicos é comercializada pelos canais tradicionais: supermercados e
hipermercados, estes canais detém juntos 80% das vendas dos alimentos e bebidas orgânicas.
Um ponto negativo desta forma de comercialização é que os produtores ficam condicionados
as exigências e imposição das condições das redes e intermediários, o que pode levar a abusos
comerciais (ARAÚJO, 2005). Os autores Scalco et. al (2014) verificou essa realidade com
uma amostra de 216 produtores orgânicos de todas as regiões do Brasil, os agricultores
relataram que supermercados e hipermercados são os que praticam menor preço e o canal que
lhes garante melhor remuneração é a venda direta ao consumidor.
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Diante dos aspectos mencionados acima sobre a dificuldade dos agricultores na
comercialização de produtos orgânicos, remete-se a possibilidade de um modelo alternativo
de comercialização direta de alimentos, a CSA. Sendo assim, o capítulo a seguir aborda a
coxtextualização do modelo CSA de comercialização.
3. Community Supported Agriculture
A CSA é considerada um mercado alternativo de incentivo a produção local de
alimentos, onde os consumidores realizam um acordo com os agricultores para contribuírem
com uma ajuda financeira antes do início do cultivo para cobrir os gastos, fornecendo assim
um capital inicial e assumindo os riscos da produção, em troca os consumidores receberão
semanalmente “cestas” contendo frutas, verduras, legumes (e em alguns casos outros produtos
da fazenda como queijo e pão). (USDA, 2014; POLE, GRAY, 2013; CASTELO BRANCO,
et al., 2011; ATTRA, 2006).
A literatura internacional indica que o modelo CSA começou no Japão por volta do
ano 1960 com o nome Teikei , e foi uma iniciativa de um pequeno grupo de mulheres
consumidoras preocupadas com a segurança alimentar (BOUGHERARA, GROLLEAU,
MZOUGHI, 2009). Conjuntamente aos consumidores que procuravam alimentos seguros,
haviam agricultores que buscavam mercados estáveis, o que os levou a unir-se em parcerias
econômicas (USDA, 2014).
Nos Estados Unidos da América (EUA) o modelo de CSA surgiu por volta dos anos
1980, e atualmente as fazendas CSA’s são registradas e cadastradas no banco de dados do
Departamento Americano de Agricultura (USDA). Uma publicação da National Sustainable
Agriculture Information Service (ATTRA) (2006), revela importantes informações da CSA
nos EUA, o movimento quando surgiu tomou inúmeras dimensões; sociais, econômicas e
ambientais. A ideia original foi restabelecer um senso de conexão com a terra para os
moradores urbanos, e promover um forte senso de comunidade e cooperação com um objetivo
de justiça social e fornecer segurança alimentar para os grupos desfavorecidos.
Segundo ATTRA (2006) atualmente nos EUA utilizam-se dois modelos de CSA:
acionista ou assinante, a classificação ocorre de acordo com a participação dos consumidores
no modelo. No modelo acionista, tem-se uma CSA estruturada por ações pois existe um grupo
que organiza os membros e contrata os agricultores, sendo que este grupo pode ser uma
organização sem fins lucrativos e são eles que tomam a maioria das decisões importantes, e o
membro (acionista) deve prestar trabalho na fazenda na produção ou no marketing, ou em
ambos. Uma CSA que os membros são assinantes tem como característica que são os
agricultores que tomam as decisões de gestão, organizam entre si o que ao produzir para
compor a cesta dos membros, nesta situação o membro não precisa ajudar nos trabalhos da
fazenda, mas pode ir visitá-los. Este último modelo corresponde a 75% de todas as CSA’s dos
EUA.
É possível identificar diversas vantagens em se adotar este modelo para o agricultor,
Atanasoaie (2011) cita que como o produtor tem certeza da venda dos seus produtos, portanto
tem mais tempo de lidar com as atividades da propriedade. Segundo Castelo Branco (2011)
as vantagens podem ser dadas pela garantia de capital inicial para a produção, aumento da
produção de alimentos locais de boa qualidade com menor impacto ambiental, melhora a
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relação no interior da comunidade e a economia local. As desvantagens para os produtores
compete ao planejamento da produção e manutenção do plantio.
Diante da importância do movimento CSA nos EUA a USDA através da Sustainable
Agriculture Research and Education (SARE) realizou uma grande levantamento para mapear
a construção de redes de CSA em todo o país no ano de 2000. Conjuntamente a esta pesquisa
implementou-se uma gama de serviços, pode-se citar:
a criação de um diretório nacional de CSA para realizar planos de
desenvolvimento de reformas políticas públicas para incentivo de criação de
novas CSA’s;
incentivos fiscais para tornar a terra mais barata e acessível;
utilização do vale-refeição de funcionários públicos em fazendas CSA;
houve a remoção de barreiras políticas que regem o processo agrícola e de
trabalho do aprendiz na fazenda (USDA, 2014).
As ações obtiveram bons resultados, houve um aumento de 25% no número de
registros de fazendas/sítios CSA’s nos EUA em três anos (ATTRA, 2006).
3.1 Caracterizando os participantes de CSA’s
As características das comunidades CSA’s são objetos constantes de análise nos EUA,
pode-se identificar ações das comunidades voltadas à Justiça social, Segurança alimentar,
Sustentabilidade, Alimentação Local, Qualidade Alimentar. O modelo segue princípios que
valorizam o agricultor, como a ajuda mútua entre produtor e consumidor, produção e
consumo local, além do preço justo pelo produto e um salário justo para o agricultor (CSA
BRASIL , 2014). Pode-se dizer que a CSA reúne consumidores e agricultores com ideologias
semelhantes (LASS, LAVOIE, FETTER, 2005). O lucro ou as receitas não é o objetivo
principal para o agricultor ao engajar-se em uma CSA, contudo para que ele possa continuar
prestando os seu serviço por longo prazo, deve buscar a viabilidade econômica da unidade
produtiva (SHRESTHA, 2012).
Os pesquisadores Lass, Lavoie, Fetter (2005) comentam que no Nordeste dos EUA o
preço da terra, os custos dos insumos, e impostos são mais altos, o que levam agricultores a
procurarem uma diversificação de produtos e mercados, e redução no uso de insumos
químicos. A produção orgânica atrai os estes agricultores porque o preço dos produtos são
mais elevados em comparação com os produtos convencionais. Contudo, a agricultura
orgânica é mais suscetível a pragas o que aumenta o risco de perda da produção, os produtores
do Nordeste dos EUA percebendo esta situação buscam mais segurança com as CSA.
Segundo os autores citados acima, quando existe uma demanda por produtos
cultivados localmente, convencionais ou orgânicos, os agricultores podem incentivar o
consumo por meio de uma CSA. Os membros são leais e como o produto é diferenciado,
existe até certo ponto, um poder de monopólio (LASS, LAVOIE, FETTER, 2005).
Alguns estudos americanos avaliam o perfil dos produtores e a gestão das fazendas
CSA, como é o caso do estudo de Sanneh, Moffitt, Lass (2001), onde utilizaram uma análise
de eficiência por meio de um modelo estocástico para comparar o lucro líquido por acre das
fazendas CSA acionistas (as decisões de gestão são tomadas por um grupo) e assinantes (as
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decisões de gestão são tomadas somente pelo fazendeiro). Foram amostrados fazendas CSA
do Nordeste dos EUA durante os anos de 1995-1997, sendo 23 fazendas pesquisadas em
1995, 26 em 1996 e 33 em 1997.
Os resultados do estudo de Sanneh, Moffitt, Lass (2001) indicaram de imediato em
uma análise descritiva que o preço médio da ação completa para os acionistas foi de
US$558,75, enquanto para os assinantes foi de US$312,73 , e as fazendas acionistas tinham
maiores número de membros e obtiveram maior renda , despesas e lucro líquido por acre. Os
autores buscaram verificar se essas diferenças eram estatisticamente significativas, para isto
utilizaram modelos estatísticos de série temporal com dados de corte transversal, e concluíram
que os gerentes de fazendas avessos ao risco devem preferir o modelo de acionistas, onde
tem-se um grupo tomador de decisão. Quanto ao lucro líquido, os autores indicam que a
gestão de acionistas é um meio no qual a CSA pode alcançar a lucratividade para a
sustentabilidade a longo prazo.
O consumidor participante de CSA também é foco de estudos, os pesquisadores
Bougherara Grolleau, Mzoughi (2009), investigaram os motivos que levam as famílias a
participarem de uma CSA na região metropolitana de Dijon e Dole (França). Foram
amostradas 169 famílias entre elas, 48 participantes de CSA e 121 famílias não participantes.
O levantamento dos dados foi realizado por meio de um questionário enviado no endereço das
famílias, esta ferramenta foi construída com base na Teoria da Economia dos Custos de
Transação e utilizaram a escala Likert para ponderar as respostas dos itens. As questões dos
questionários abordavam variáveis socioeconômicas, ambientais e sociais, tais como: os
critérios de escolha para os produtos, confiança em sistemas de certificação de produto
orgânico, nível de envolvimento em associações, proximidade do local de distribuição do
produto, horário de funcionamento, escopo de produtos, menor uso de químicos na produção,
apoio às instituições locais da agricultura, relação com os agricultores e os outros
consumidores.
Para desenvolver a pesquisa os autores criaram dois estratos, e compararam as
respostas das famílias utilizando o teste qui-quadrado e o modelo logit. Os resultados
indicaram que as famílias membros de CSA são mais jovens, possuem rendimentos
financeiros mais elevados e são mais ativos em associações, em comparação com as famílias
não CSA. E mais, foram analisados o impacto de cada variável sobre a participação em CSA
(modelo logit), que mostraram que os aspectos de aparência e o número de produtos
oferecidos impactam negativamente a participação de uma família à CSA, contudo as
variáveis de crédito por atributos ambientais e sociais possuem impacto positivo. Os autores
concluem que famílias sensíveis a questões sociais e ambientais são mais susceptível para a
participação em CSA. Sugerem ainda, a utilização das questões sociais e ambientais ligadas a
CSA para fortalecer a argumentação da participação das famílias na comunidade por parte dos
promotores das unidades.
Os pesquisadores Pole e Gray (2013) buscaram avaliar os supostos benefícios da CSA
com membros que participam da comunidade de Nova York, para alcançar o objetivo eles
realizaram uma pesquisa on-line por meio de um questionário com 565 membros. Em uma
breve descrição dos membros, foi possível observar que as variáveis socioeconômicas
mostraram que 84 % dos respondentes são mulheres, a média de idade dos membros foi de 42
anos, 80% se considera-se branco, 47 % possuem graduação , 46% declararam que a renda
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familiar anual é de U$75.000,00 (categoria de renda média) e 12 % declaram uma renda
familiar anual menor de U$35.00,00. Através de testes estatísticos de comparação os
pesquisadores constataram que os membros que ingressaram entre 2006 e 2007 se sentem
mais integrados na comunidade da CSA em comparação com os membros que entraram em
2012. Os resultados são compatíveis a outros estudos, sendo que os fatores que levam os
consumidores a ingressarem na CSA são: garantia de produtos frescos, locais e sazonais.
Na literatura brasileira são poucos os estudos realizados com CSA, pode-se citar um
elaborado por pesquisadores da Embrapa, Castelo Branco et al. (2011), que fizeram um
estudo a fim de apontar a viabilidade de utilização do modelo com um grupo de moradores e
agricultores em um município próximo à Brasília. Tanto o grupo de moradores da cidade o
grupo de agricultores eram considerados de baixa renda. Os pesquisadores aplicaram um
questionário à 31 moradores da cidade, no qual, a renda destes indivíduos era de até 2 salários
mínimos. A maioria dos entrevistados não comprariam cestas dos agricultores por não ter a
certeza da produção e acreditavam ser mais fácil ir no mercado municipal. Somente 2
respondentes citaram como razão para a compra da cesta em ajudar os produtores ou a
comunidade (razões sociais), este resultado vai de encontro com que afirmam autores
americanos, onde questões sociais não são as principais razões para a participação nos
estágios iniciais desse mercado, pelo menos para os consumidores. Ressalta-se que são
consumidores de baixa renda.
Os agricultores urbanos pesquisados por Castelo Branco et al. (2011) eram
participantes de um programa do governo que acabara com o repasse de ajuda financeira para
compra de sementes e adubo. Quando indagados a participar de uma CSA não demostraram
interesse, pois não conseguiriam garantir a produção devido a área de cultivo ser instável e
metade do ano ficar alagada. Os autores observam que os condicionantes para o fracasso da
implementação do modelo é a escassa organização social e limitado capital para manter suas
lavouras.
4. A inserção da CSA no brasil
O início da CSA no Brasil ocorreu em julho de 2011 com o projeto CSA Demétria na
cidade de Botucatu- SP, incentivado pelo alemão Hermann Pohlmann que trouxe a ideia da
Europa (CSA BRASIL, 2014), na época o projeto contava com 5 membros da cidade de São
Paulo-SP e um agricultor localizado em Botucatu-SP que oferecia produtos
orgânicos/biodinâmicos oriundos da agroecologia. O projeto cresceu e conquistou novas
cidades e membros, atualmente a CSA Demétria possui 400 membros e atende as cidades de
Botucatu, Bauru e Ourinhos) e continua com o mesmo produtor. Este produtor, como não
consegue atender a demanda, compra produtos de outros produtores vizinhos que não se
interessaram em participar do projeto. Os produtos são oferecidos semanalmente em um local
estabelecido nas cidade, o pagamento é realizado mensalmente/anualmente/semestralmente
fica a critério do consumidor, mas sempre antecipado. O valor de uma cesta com 7 itens é de
R$ 90,00 mensais, o de 14 itens corresponde a R$155,00 mensais.
Diante da procura e interesse de pessoas de diferentes partes do Brasil no projeto,
Hermann juntamente com colaboradores criaram uma associação sem fins lucrativos em 2014
chamada de CSA Brasil. A associação promove cursos de formação em CSA com o objetivo
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de orientar sobre conceitos filosóficos ligados a terra e agricultura, além de ensinar quais são
e como calcular os custos, como encontrar um agricultor, como administrar o projeto, formas
legais necessárias, contratos, enfim, o lado prático da implantação do projeto (CSA BRASIL,
2014).
Encontram-se em atividade aproximadamente 30 iniciativas de projetos de CSA
vinculados a CSA Brasil, pode-se citar os projetos: Demétria (que atende as cidades Botucatu,
Bauru, Ourinhos no estado de São Paulo) com aproximadamente 400 membros, Campinas-SP
com aproximadamente 60 membros, Apanfe (atende as cidade de Maria da Fé, Itajuba no
estado de Minas Gerais com aproximadamente 11 membros), São Carlos- SP, Micael (atende
a cidade de São Paulo: Zona Oeste e Jardim da Boa Vista), Rio de Janeiro-RJ
(aproximadamente 40 membros), Belo Horizonte –MG (aproximadamente 60 membros),
Porto Alegre – RS (aproximadamente 20 membros), Brasília – DF (aproximadamente 30
membros) (CSA BRASIL, 2014).
A comunidade CSA busca a troca da cultura do preço para a cultura do apreço, não se
pergunta mais para o agricultor quanto custa, mas o que é preciso para ele viver bem e
continuar seu trabalho, e assim valoriza-se o agricultor que produz o alimento e diminui a
distância entre produtores e consumidores. Todos os participantes (produtores e membros)
devem estar de acordo com os seguintes princípios: Responsabilidade de riscos e benefícios
compartilhados; Produtor (a) com prioridade sobre a produção; Transparência nos custos e
investimento; Assiduidade e pontualidade nas mensalidades; Assiduidade e qualidade na
produção; Tolerância com sazonalidade ou eventuais perdas, Produção no modelo orgânico
ou agroecológico (CSA BRASIL, 2014).
Vale ressaltar que existem diferenças entre a CSA e um clube de compras ou serviços
de entrega em domicílio, pois nas comunidades existe um olhar social e ambiental, buscam
ajuda mútua, diversificação na produção, preços justos para produtor e o consumidor, relações
de amizade, aprendizagem mútua, produção e consumo local (CSA BRASIL, 2014). Os
Clubes de compra são empresas/produtores que oferecem cestas de verduras, legumes, frutas
orgânicas e entregam o produto na casa do cliente, o pagamento é realizado semanalmente ou
mensalmente, este tipo de canal de distribuição direto não exige envolvimento do consumidor
com o produtor (TONON, 2014).
5. Conclusão
O presente artigo teve o objetivo de apresentar uma alternativa de canal direto de
comercialização conhecido como Community Supported Agriculture (CSA) além de
contextualizar o modelo inserido no Brasil.. O termo CSA foi traduzido e está sendo utilizado
no Brasil como Comunidade que Sustenta a Agricultura. Este canal demonstra, por meio de
estudos empíricos internacionais, uma oportunidade para agricultores familiares, e gera
vantagens como: mais tempo de se dedicar a produção, capital para o início da produção,
estímulo à economia local, alimentos com maior qualidade, menor impacto ambiental.
O modelo CSA aborda aspectos socias como a valorização do agricultor, e maior
proximidade dos consumidores com os produtores, aspectos econômicos como a melhoria de
renda do agricultor familiar e estímulo da economia local, e finalmente aspectos ambientais
como a diminuição do caminho percorrido pelo alimento que muitas vezes provém de centros
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de distribuição de outras regiões, e caso a produção seja orgânica/biodinâmica tem-se a
diminuição do uso de agroquímicos.
As características do projeto nacional possui semelhanças com o internacional por
oferecer alimentos orgânicos, seguir o modelo assinante, e cada unidade de CSA vincular-se a
um único produtor.
É possível observar a evolução do projeto brasileiro e o aumento do interesse dos
consumidores em adquirir alimentos de qualidade, produzidos de forma orgânica. Existe
potencial para que o modelo CSA seja seguido em várias regiões do Brasil, porém algumas
perguntas ainda devem ser respondidas: Quais são as vantagens percebidas pelos agricultores
familiares brasileiros em aderir a esse modelo? Quais as características dos consumidores
brasileiros? Qual o perfil da região que acomodaria um modelo como esse? Qual o impacto
local que o projeto gera?. Todas essas questões, entre outras, devem ser respondidas em
estudos futuros, dado que o universo de pesquisa sobre CSA no Brasil foi pouco abordado e
observa-se potencial para o projeto.
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