Violência familiar_ da violência conjugal à violência sobre a criança (2014)

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Revista Eletrónica de Educação e Psicologia edupsi.utad.pt Ano 1, Volume 1, 2014, pp. 1-10 ISSN 2183-3990 1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Violência Familiar : Da Violência Conjugal à Violência Sobre A Criança Family Violence: From Marital Violence to the Violence on Children * Eva Chaves, Doutorada em Ciências Sociais, ramo Psicologia pela Universidade Fernando Pessoa / ** Ana Sani, Professora Associada na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa. RESUMO O presente artigo aborda a problemática da violência na família caracterizando as dinâmicas e fatores que teoricamente são conceptualizados na explicação deste fenómeno. A partir da revisão de estudos empíricos concebemos uma caracterização das famílias com historial de violência e abordamos a questão da experiência de vitimação na criança. A investigação tem vindo a corroborar a existência de coocorrência de várias situações de violência num mesmo contexto, sugerindo que as crianças em famílias violentas tendem, muitas vezes, a ser simultaneamente vítimas diretas e indiretas. A exposição da criança à violência conjugal constitui um fenómeno emergente na investigação internacional e nacional, sendo uma das mais flagrantes formas de vitimação infantil. Apontando a transversalidade do fenómeno entre gerações, pretende-se fundamentalmente alertar para a exposição da criança à violência entre os pais, uma vitimação que mesmo indireta tem inegáveis implicações no desenvolvimento global da criança. Palavras-chave: violência familiar, violência conjugal, criança. ABSTRACT The present article tackles the issue of violence within the family characterizing the dynamics and factors conceptualized its explanation. From empirical studies we form a characterization of families with history of violence and we refer the issue of victimization of the child. Research has corroborated the co-occurrence of several episodes of violence in same context, _________________________________________________________________________________ A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para Ana Isabel Sani: Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. E-mail: [email protected] Submissão: 01.6.2014 Aceitação: 28.11.2014 suggesting that children in violent families often are victims of direct and indirect violence simultaneously. Children’s exposure to marital violence constitutes a research subject at international and national levels, representing one of the most egregious ways of child

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Violência Familiar : Da Violência Conjugal à Violência Sobre A Criança

Family Violence: From Marital Violence to the Violence on Children

* Eva Chaves, Doutorada em Ciências Sociais, ramo Psicologia pela Universidade Fernando Pessoa / ** Ana Sani, Professora Associada na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa.

RESUMO

O presente artigo aborda a problemática da violência na família caracterizando as dinâmicas

e fatores que teoricamente são conceptualizados na explicação deste fenómeno. A partir da

revisão de estudos empíricos concebemos uma caracterização das famílias com historial de

violência e abordamos a questão da experiência de vitimação na criança. A investigação tem

vindo a corroborar a existência de coocorrência de várias situações de violência num mesmo

contexto, sugerindo que as crianças em famílias violentas tendem, muitas vezes, a ser

simultaneamente vítimas diretas e indiretas. A exposição da criança à violência conjugal

constitui um fenómeno emergente na investigação internacional e nacional, sendo uma das

mais flagrantes formas de vitimação infantil. Apontando a transversalidade do fenómeno

entre gerações, pretende-se fundamentalmente alertar para a exposição da criança à

violência entre os pais, uma vitimação que mesmo indireta tem inegáveis implicações no

desenvolvimento global da criança.

Palavras-chave: violência familiar, violência conjugal, criança.

ABSTRACT

The present article tackles the issue of violence within the family characterizing the dynamics

and factors conceptualized its explanation. From empirical studies we form a characterization

of families with history of violence and we refer the issue of victimization of the child.

Research has corroborated the co-occurrence of several episodes of violence in same context,

_________________________________________________________________________________

A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para Ana Isabel Sani: Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais, Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. E-mail: [email protected]

Submissão: 01.6.2014 Aceitação: 28.11.2014

suggesting that children in violent families often are victims of direct and indirect violence

simultaneously. Children’s exposure to marital violence constitutes a research subject at

international and national levels, representing one of the most egregious ways of child

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victimization. Pointing to the transversality of the phenomenon between generations, we

intended to warn to children's exposure to violence between parents, one that even indirect

victimization has undeniable implications on the child’s global development.

Key-words: family violence, marital violence,child.

A violência em contexto familiar

O presente texto procede de uma revisão teórica sobre o fenómeno da violência familiar,

realizada entre os anos de 2011 e 2013 e tem como o principal objetivo explicar alguns dos

principais fatores e dinâmicas que fazem deste um problema complexo e multifacetado. Esta

problemática tem associada outras formas de violência específica, designadamente sobre

crianças, à qual pretendemos dar, em termos teóricos, a necessária visibilidade. Assim

partido da terminologia mais comum relacionada com a temática (e.g., família, violência,

criança), suas aglomerações (e.g., violência familiar, violência sobre a criança) e derivações

(violência infantil, conjugal, maus tratos), pesquisados em diversos motores de busca (e.g.,

PsycINFO, PsycARTICLES) e em várias línguas (português, inglês, espanhol) reunimos um corpo

teórico e empírico de conhecimentos que nos permitiu, neste texto refletir sobre

transversalidade do fenómeno a vários elementos de uma mesma família, podendo operar-se

em termos conceptuais a menção de diversas tipologias de violência em contexto familiar.

A violência em contexto familiar é um fenómeno que envolve questões complexas referentes

a aspetos como o género, as dificuldades e os problemas que podem afetar a relação entre os

membros da família, sendo essencialmente caracterizada pelo abuso de poder (Milani &

Loureiro, 2008). A violência intrafamiliar pode levar a consequências físicas, afetivas e

comportamentais, que por sua vez são causadoras de défices no desenvolvimento da criança

(Andrade & Triches, 2008).

Dentre as diversas formas de violência em contexto familiar, a violência conjugal revela-se

como uma das situações mais prevalentes, baseada fundamentalmente no exercício de

controlo sobre a vítima (Cunha, 2009). Na perspetiva de Walker (2009) a violência ocorre num

ciclo de três fases: a da acumulação de tensão, a da ocorrência de agressão e a da

reconciliação, também conhecida por fase da “lua-de-mel”. Na primeira fase o ofensor

acumula tensões do quotidiano que ele não sabe resolver sem recorrer à violência. A sua

duração pode variar entre semanas e anos. Esta fase é caracterizada por agressões menores

(físicas ou verbais) e ameaças. Geralmente a vítima culpa-se pelo sucedido atribuindo causas

externas ao comportamento do ofensor. Na fase da ocorrência de agressão, a vítima é alvo de

maus tratos físicos e/ou psicológicos, não reagindo por vezes à violência, assumindo um papel

de passividade. Ao longo do tempo ela pode prever em que fase do ciclo da violência se

encontra. Esta fase é caracterizada pela descarga de tensões acumuladas na fase anterior e

só termina quando o ofensor assim entende. É típico nesta fase a vítima apresentar vontade

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em acabar com este ciclo de violência (Walker, 2009), o que pode ser dificultado com a fase

“lua-de-mel”. Nesta última fase o ofensor mostra-se arrependido e tenta desculpabilizar-se

com motivos externos, mostrando que estes comportamentos não voltarão a repetir-se. Neste

estádio, muitas vezes, o próprio ofensor acredita que a violência não voltará a acontecer.

Contudo, a violência repete-se e aumenta, com a continuidade dos episódios de violência e a

fase “lua-de-mel” tende a ser mais breve (Walker, 2009).

A violência conjugal é frequentemente definida como uma violência de género, que ocorre

entre os dois elementos do casal numa relação de intimidade (Cunha, 2009). As questões

culturais inerentes ao fenómeno, que sustentam, em muitas sociedades, discursos

socialmente dominantes em torno do género e dos papéis diferenciados de homens e

mulheres são, sobretudo em sociedades patriarcais, elementos importantes na compreensão

desta problemática social. Segundo certos autores (e.g., Dobash & Dobash, 1992) algumas das

principais causas para a violência conjugal são o sentimento de posse e de ciúme que está

presente nestas relações; as expectativas em relação ao trabalho doméstico da mulher; a

convicção que o homem possui o direito de punir a mulher por causa de situações que ele

considera erradas e necessidade de manter ou impor a sua posição de dominação. Este tipo

de violência pode acontecer em qualquer local, em qualquer idade, religião, nível de

escolaridade ou camada social (Cunha, 2009). Esta violência é geralmente é uma violência

continuada, que tem tendência a agravar em frequência e intensidade, causando

consequências nefastas a nível físico e psicológico para a vítima.

A abordagem ecológica ao fenómeno da violência reveste-se de particular importância na sua

compreensão. Segundo Heise (2004) trata-se de um fenómeno multifacetado que envolvem

uma diversidade de fatores pessoais, situacionais e socioculturais que interagem entre si. Esta

leitura é perspetivada por outros autores (e.g., Casique & Furegato, 2006; Dahlberg & Krug,

2007) que baseados neste modelo ecológico procuram explicar a relação entre o indivíduo e

seu meio ambiente e social, considerando a influência de diversos fatores. Um fator pode não

ser por si só determinante, mas a interação dos fatores podem propiciar a violência ou

proteger o indivíduo desta (Casique & Furegato, 2006), ou seja, contribuir para o

desenvolvimento do risco e/ou de proteção de uma experiência com a violência, quer como

agressor e/ou vítima.

O modelo ecológico data dos anos 70 (cf. Bronfenbrenner, 1979) e desde essa década tem

sido usado na compreensão de várias formas de abuso (e.g., abuso infantil, abuso juvenil),

sendo mais recentemente adotado na explicação da violência na intimidade e mesmo da

violência contra idosos (Dahlberg & Krug, 2006). Este modelo assumido pela Organização

Mundial da Saúde (OMS) (cf. Krug, Dahlberg, Mercy, Zwi, & Lozano, 2002) organiza-se em

quatro níveis (Casique & Furegato, 2006) (cf. Figura I).

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No primeiro nível identificam-se as características inerentes ao indivíduo, ou seja, fatores

biológicos e a sua história pessoal, fazendo parte deste nível as características pessoais e

demográficas tais como: o género, a idade, a educação. Constitui parte deste primeiro nível,

fatores como os antecedentes comportamentais agressivos, problemas psíquicos ou da

personalidade e as toxicomanias (Casique & Furegato, 2006).

O segundo nível refere-se às relações mais próximas que se estabelecem no âmbito da família

(pais, casal) e do grupo de pares (amigos, colegas) e que podem influenciar o comportamento

do indivíduo. A existência de violência entre os pais e a exposição da criança a essa violência

é um exemplo de condição que pode propiciar o risco de no futuro a pessoa experiência a

violência, quer como vítima que como agressora (Sani, 2011a).

O terceiro nível reporta-se ao contexto onde se desenvolvem as relações sociais na

comunidade (e.g., escola, local de trabalho, vizinhança). Nestes diferentes contextos existem

características que podem aumentar o risco de envolvência na violência. Assim, fatores como

a grande mobilidade de local de residência, o facto de residir num espaço com elevada

densidade populacional, de experienciar altos níveis de desemprego, o frequentar um

contexto social onde predomina o tráfico de drogas ou crime (Casique & Furegato, 2006;

Dahlberg & Krug, 2007) podem influenciar negativamente o percurso de vida de um indivíduo.

Por fim, o quarto nível refere-se a fatores relativos à organização das sociedades, fatores

esses muitas vezes de cariz estrutural (e.g., desigualdades de género; a legitimação cultural

da violência) que podem propiciar ou inibir a violência. Por exemplo, nas sociedades de

características mais patriarcais há uma hierarquização dos papéis de género, havendo uma

assimetria em prol do domínio masculino, sendo demasiado preocupante os tipos e níveis de

violência exercido sobre a mulher. Para além dos aspetos culturais, as políticas sociais,

económicas, sanitárias e educativas também são parte integrante deste quarto nível, na

medida em que contribuem para manter as desigualdades económicas ou sociais entre os

grupos (Casique & Furegato, 2006).

Assim, tomando com referência o modelo ecológico teremos de considerar a presença de

múltiplos fatores, através dos quais podemos avaliar o grau de risco em cada família. Deste

modo deve haver uma abordagem sensível ao problema da violência na família, devendo

analisar-se todas as dimensões e elementos que possam estar associados ao fenómeno da

violência.

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As famílias com historial de violência e o reconhecimento de fatores de

risco

O interesse na identificação do tipo de ambientes familiares violentos levou a que autores

como Dufour, Clément, Chamberland e Dubeau (2011) realizassem um estudo com 3148

famílias, nas quais avaliaram as dimensões cognitivas e comportamentais do papel parental

no que se refere ao grau da violência familiar na vida de uma criança. Dos resultados dessa

análise, os autores reconheceram um estilo de família com perfil abusivo, sendo este perfil

relacionado aos contextos familiares onde predomina a violência doméstica, a agressão física

e psicológica, marcadas por pelo menos uma agressão grave sobre a criança. Outras famílias

são caracterizadas por um perfil duro ou rígido, que embora se assemelhe ao anterior,

distingue-se deste por deter um ambiente familiar onde a violência é menos intensa e não

apresenta nenhuma agressão grave. O perfil de famílias não abusivas enquadra-se num

ambiente familiar onde não existe recurso à punição física como prática disciplinadora, na

medida em que há consciência das suas consequências para o desenvolvimento da criança.

Por último, as famílias com perfil paradoxal que não têm a mesma consciência das

consequências da violência para a criança como as famílias não abusivas e embora seja uma

família com baixos níveis de violência doméstica, recorrem mais à punição física como forma

de disciplina (Dufour et al., 2011).

Outros autores, como Pereira, Santos e Williams (2009) realizaram um estudo comparativo

com uma amostra de 40 crianças (20 crianças vítimas de violência e outras 20 sem historial de

violência) na faixa etária dos sete ao dez anos e da mesma sala de aula com o objetivo

caracterizar o desempenho escolar da criança vítima de violência doméstica atendida no

Fórum Judicial. Neste estudo, os dados obtidos quer por autorrelato (criança) quer por

heterorelato (mães e professores) permitiram traçar o perfil de vitimação direta e indireta da

criança, assim como identificar alguns dos fatores de risco associados à violência familiar.

Assim, a maioria das famílias marcada pela violência (A) têm como estado civil a união de

facto, um maior número de filhos (aproximadamente o dobro), comparativamente às famílias

onde não existe violência (B). Nas famílias B (não violentas), por norma 80% são constituídas

por elementos casados e têm em média dois filhos. Os resultados mostraram também a

maioria das crianças vítimas diretas de violência também estavam expostas à violência

conjugal e a outros fatores de risco, tais como, pobreza, baixa escolaridade materna e uso de

álcool e/ou droga por familiares. Relativamente a este último fator foi verificado que 75% das

mães já tivera experiências de consumo com estas substâncias, contrariamente às famílias B

(Pereira et al., 2009). Estes resultados corroboram o estudo de Pascolat, Santos, Campos,

Valdez, Busato,e Marinho (2001) que incidiu na análise de 225 casos de abuso físico a

crianças, tendo sido constatado 7.6% dos perpetradores de violência consumiam drogas e

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25.8% álcool,comportamentos esses muito associados ao aumento da violência (Freisthler,

2011).

Adicionalmente, outros estudos (e.g., Fantuzzo & Fusco, 2007; Galvani, 2012; Lee, Zhang, &

Hoover, 2013) consideram que as crianças em famílias violentas estão muitas vezes expostas a

progenitores com comportamentos instáveis e perigosos, nomeadamente com

comportamentos de alto risco como o uso de armas, agressão mútua e abuso de substâncias

como foi referido anteriormente.

Kang (2012) considera que famílias numerosas apresentam uma maior tendência para a

violência familiar. Para este autor, as dificuldades económicas podem também provocar mais

divergências entre os familiares. Os indivíduos com baixos rendimentos ou desempregados

com poucas relações sociais têm uma maior probabilidade de serem vítimas de violência

(Kang, 2012). Para Fergusson e Horwood (1998), as famílias onde existe violência estão

geralmente ligadas a desvantagens sociais, disfunção familiar e abuso da criança. Margolin e

Gordis (2000) seguem a mesma linha de pensamento, caracterizando estas famílias pela

pobreza, desnutrição, sobrelotação, abuso de substâncias, ausência de cuidados médicos,

desemprego e psicopatologia dos pais. Moffitt e Caspi (2002) acrescentam ainda, que a taxa

de violência duplica em casais jovens, que têm filhos muito cedo.

Assim, conclui-se que a violência familiar é influenciada por múltiplos fatores, a organização

familiar, recursos e estabilidade são fatores que devem receber mais atenção por parte dos

investigadores desta problemática (Kang, 2012). O certo é que esta violência atinge inúmeras

crianças no seu contexto familiar de forma direta e indireta, firmando a diversa literatura na

área pela elevada coocorrência de formas de vitimação num mesmo contexto (Sani &

Caprichoso, 2013).

Coocorrência de formas de violência na criança: vitimação direta e indireta

A literatura evidencia a coocorrência de diferentes formas de violência que vitimam a criança

(Papadakaki, Tzamalouka, Chatzifotiou, & Chliaoutakis, 2009; Pereira et al., 2009; Vellemen,

Templeton, Reuber, Klein, & Moesgen, 2008; Sani & Caprichoso, 2013). Estudos, levados a

cabo por Almeida, André e Almeida (1999) referem que, existem sinais de violência entre o

casal de cuidadores em metade dos casos conhecidos de violência direta às crianças. De

acordo com Matos (2002) aproximadamente metade dos homens que agridem fisicamente as

mulheres também agridem os seus filhos, reforçando a ideia de que a violência exercida sobre

a mulher surge muitas vezes associada à violência sobre as crianças. Em conformidade com

este estudo, a investigação de Shen (2009) considera que a violência entre os pais pode levar

aos maus tratos físicos das crianças, designadamente quando existem vários tipos de

violência, não apenas pelo agressor mas por outros membros da família (e.g., as mães). Neste

sentido, um estudo feito em Hong Kong por Chan (2011) destacou uma associação entre a

violência conjugal, nomeadamente maus tratos físicos e psicológicos entre os cônjuges e os

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maus tratos às crianças, salientando-se aqui as mães como perpetradoras de violência. A

literatura evidencia alterações possíveis nas práticas educativas das mães vítimas de

violência, designadamente a possibilidade destas adotarem estratégias mais coercivas, se não

mesmo violentas, na interação com os seus filhos (Sani, 2008; Sani & Cunha, 2011).

Um inquérito americano sobre a violência familiar entre 1975 e 1985 (cf. Straus, 1992)

revelou que famílias marcadas pela violência conjugal apresentam um maior risco de

perpetrar violência sobre os seus filhos. Assim, os resultados deste estudo indicam que,

metade dos pais e um quarto das mães confirmaram que também maltrataram os seus filhos

(Moffitt & Caspi, 2002). Os mesmos autores em concordância com estatísticas de outros

estudos referem que, famílias onde existe violência conjugal apresentam uma probabilidade

de 3 a 9 vezes maior de abuso sobre as suas crianças.

As crianças que estão expostas à violência indireta têm uma maior probabilidade de serem

vítimas diretas desta violência, sendo alta a percentagem referenciada em muitos dos estudos

(Pereira et al., 2009). No estudo anteriormente citado, os resultados revelaram que 75% dos

casos de crianças que estavam expostas à violência passaram a ser alvo direto da mesma. Mais

ainda, os autores revelaram que em 50% das situações ocorriam vários tipos de abuso em

simultâneo, sendo 20% das crianças vítimas de negligência; 15% de abuso físico; 10% abuso

sexual e 5% abuso psicológico (Pereira et al., 2009). Há estudos (e.g. Goodlin & Dunn, 2010),

que indicam que número de elementos do agregado familiar está diretamente relacionado

com a violência múltipla.

A vitimação da criança por exposição à violência conjugal

De acordo com a investigação realizada no domínio da Vitimologia, as mulheres e crianças são

as principais vítimas da violência familiar, sendo esta caracterizada pelo desequilíbrio de

papéis (Hernández & Gras, 2005). Nas últimas décadas, os estudos sobre os efeitos na criança

da exposição à violência conjugal são os que têm requerido uma maior atenção da

comunidade científica internacional (Esfandyari, Baharudin, & Nowzari, 2009; Geffner, Jaffe,

& Sudermann, 2000; Hughes & Graham-Bermann, 1999; Jaffe, Wolfe, & Wilson, 1990,

Jiménez, 2009; Jouriles, McDonald, Slep, Heyman, & Garrido, 2008).

A exposição de crianças à violência dos pais, enquanto problema social atingiu uma dimensão

pública quando surge o artigo “Child Welfare” de Moore, em 1975 (Kashani & Allan, 1998). Na

década de oitenta datam-se os primeiros estudos empíricos (Mohr, Lutz, Fantuzzo, & Perry,

2000) e, desde então, este problema tem vindo a ganhar visibilidade científica,

primeiramente na esfera internacional e, posteriormente, a nível nacional. A

consciencialização pública e um olhar mais atento dos diversos profissionais aos efeitos

negativos que podem surgir da exposição da criança à violência foram fundamentais para dar

visibilidade ao problema da vitimação indireta e voz às crianças vítimas que durante muito

tempo foram esquecidas (Sani, 2011b).

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Em Portugal, as investigações na área da vitimação indireta, particularmente no âmbito da

família, são recentes. Alguns dos primeiros trabalhos nacionais nesta temática (Sani, 1999,

2000, 2002) vieram demonstrar que a vitimação indireta da criança pode ser tão lesiva quanto

a violência direta. Posteriormente, outros estudos nacionais atribuem evidência às

características desse impacto e aos fatores mediadores para a sua compreensão (Calvete &

Orue, 2013; Coutinho & Sani, 2008b; Sani 2011a; Sani & Almeida, 2011).

A exposição pode resultar da observação direta dos atos violentos entre os pais, mas pode

também ocorrer da escuta dos incidentes e da constatação posterior das marcas da violência

entre os progenitores (Jouriles, Norwood, McDonald, & Peters, 2001). Outras formas de

vitimação da criança podem traduzir-se em desprezo, terror, ameaça, gritos, rejeição,

isolamento, humilhação ou em situações em que o ofensor usa a criança para atingir a mãe

(e.g., agressão ou ameaça a mãe quando a criança está ao colo dela). A violência psicológica

a que a criança está sujeita, pode ser muito cruel, em alguns casos é sugerido pelo

progenitor, que a criança assista aos maus tratos sobre a mãe. O ofensor utiliza muitas vezes

esta estratégia como uma lição ou aviso à criança para esta se manter obediente (Jaffe et al.,

1990).

As crianças expostas à violência entre os pais reconhecem claramente as consequências dos

episódios de violência sobre a progenitora (Cunningham & Baker, 2007) e sentem-se também

afetadas por isso (Sani, 2011). Segundo o estudo de Mitchell, Lewin, Rasmussen, Horn e

Joseph (2011) realizado com uma amostra de 230 mães com filhos de 3 a 5 anos de idade e

que deram à luz na adolescência, percebeu-se que a criança é afetada pela violência de que a

progenitora é vítima mesmo que não seja testemunha desta. Os progenitores que sejam

vítimas de violência com historial de depressão na família e dificuldades em lidar com

situações de maior stresse podem incutir o seu padrão de comportamentos aos seus filhos

(Mitchell et al., 2011).

Renner, DeBoard-Lucas e Grych (2011) consideram que uma diferença notável entre as

crianças que pertencem a famílias com historial de violência e crianças pertencentes a

famílias não violentas prende-se com a desejabilidade da separação dos pais, já que para

aquelas que vivem num contexto de violência esta separação é vista como uma solução para a

relação violenta. Segundo os mesmos autores para as crianças vítimas de violência é normal

não se recordarem do evento alguns meses depois, já outras podem não querer falar sobre um

momento que foi tão marcante. Aludindo ao impacto negativo desta experiência no

desenvolvimento da criança ao longo do tempo, tem sido reconhecida a afetação de vários

domínios do desenvolvimento da criança como o comportamental, o emocional, o social, o

cognitivo e o físico (Sani, 2011a). No entanto esta é uma violência que não é crime em muitos

países (Cardoso & Sani, 2013).

conclusão

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A violência em contexto familiar é um fenómeno complexo que pode englobar múltiplas

problemáticas de vitimação envolvendo crianças, jovens e adultos. A violência conjugal é das

situações mais prevalentes, cujas dinâmicas de poder e controlo se desenrolam num ciclo

trifásico, que a literatura reconhece. Esta violência, geralmente continuada e que se

desenvolve em escalada de frequência e intensidade tem repercussões nefastas a nível físico

e psicológico para a vítima e para todos os que habitam esse contexto.

A abordagem ecológica ao fenómeno da violência sublinha a importância de analisarmos os

múltiplos fatores associados ao indivíduo, às suas relações próximas, à comunidade ou da

sociedade que, em diversas etapas da vida de uma pessoa, pode ter uma influência decisiva

para a sua experiência com a violência. Obviamente temos de considerar não apenas o peso

de muitos daqueles que serão fatores de risco para a violência que diversos estudos

documentam (e.g., práticas educativas punitivas, desnutrição, abuso de substâncias, ausência

de cuidados médicos, desemprego e psicopatologia dos pais), mas pensar que a sua

identificação e neutralização pode constituir um relevante foco de trabalho para a prevenção

do fenómeno.

A investigação unanimemente converge na nomeação da violência na família como um dos

principais fatores de risco para o desenvolvimento de uma criança. Os estudos (e.g.,

Papadakaki et al., 2009; Vellemen et al., 2008) documentam que as crianças estão presentes

em muitas famílias violentas e muitas delas são vítimas diretas e indiretas de situações de

violência, havendo uma elevada coocorrência do fenómeno em termos de tipologias de

vitimação da criança. A exposição de crianças à violência conjugal, não é um problema social

novo, mas um fenómeno emergente na investigação internacional e nacional e nas

preocupações políticas e sociais da sociedade portuguesa, sendo considerada uma das mais

flagrantes formas de vitimação infantil, com particular expressão no domínio da família.

Deste modo deve haver uma abordagem sensível ao problema da violência na família,

devendo analisar-se todas as suas dimensões, uma vez que poderão estar associados múltiplos

fatores. Só desta forma poderemos estar aptos para obtermos melhores resultados na

intervenção com crianças vítimas diretas e indiretas de violência. Muitos destes fatores

surgem sobrepostos a outros, o que nos remete para a necessidade de intervirmos em

múltiplas frentes, operando sempre que possível em termos multi e interdisciplinares.

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