Usina Hidrelétrica de Belo Monte

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USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE FERNANDA MUDESTO PASSOS ISABEL OLIVEIRA ASSUNÇÃO FERNANDES NATÁLIA FERREIRA DE CARVALHO STÉFANIE VERÍSSIMO BASTOS THAYS HELLENA PIRES DE SOUZA (Disponível em: http://blogbelomonte.com.br/2011/11/18/conheca-a-uhe-belo-monte/. Acesso em 02/07/2013)

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USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE

FERNANDA MUDESTO PASSOS

ISABEL OLIVEIRA ASSUNÇÃO FERNANDES

NATÁLIA FERREIRA DE CARVALHO

STÉFANIE VERÍSSIMO BASTOS

THAYS HELLENA PIRES DE SOUZA

(Disponível em: http://blogbelomonte.com.br/2011/11/18/conheca-a-uhe-belo-monte/.

Acesso em 02/07/2013)

A construção de uma usina hidrelétrica não é algo simples. Para tal, deve-se

considerar uma série de fatores como, por exemplo, a existência de espécies

endêmicas no rio, o desmatamento, o possível realojamento de populações

ribeirinhas e até mesmo fatores econômicos relacionados ao custo-benefício da

usina. A burocracia que envolve todo esse processo faz com que o inicio das

obras seja retardado e consequentemente, que a parte da população que seria

beneficiada por sua conclusão permaneça durante anos sem acesso às

condições propostas pelo projeto de construção da usina.

La construcción de una planta hidroeléctrica no es algo simples. Para tanto, se

debe considerar una serie de factores como, por ejemplo, la existencia de

especies endémicas en el río, la deforestación, la posible recolocación de

familias que viven al margen de los ríos y hasta mismo factores económicos

relacionados al costo-beneficio de la planta. La burocracia que abarca todo ese

proceso hace con que el inicio de las obras sea retrasado y,

consecuentemente, que la parte de la población que sería beneficiada por su

conclusión permanezca durante años sin acceso a las condiciones propuestas

por el proyecto de construcción de la hidroeléctrica.

Palavras-chave: Usina Hidrelétrica; custo-benefício; Amazônia; impactos;

índios.

INTRODUÇÃO

A necessidade de transformação da energia disponível na natureza em energia útil para o ser humano levou os povos que viviam no século I a desenvolver as chamadas Noras, equipamento que usa a força das aguas para produzir energia mecânica. Com o passar dos anos, percebeu-se que a energia mecânica poderia ser utilizada para a produção de energia elétrica. Foi então, no século III que se desenvolveu o primeiro motor, o dínamo, a lâmpada e a turbina hidráulica.

Com o passar dos anos, o progresso nos estudos sobre turbinas hidráulicas deu origem aos primeiros projetos de usinas hidrelétricas. Estes planos durante muito tempo não saíam do papel, já que para que tais usinas sejam instaladas com sucesso são necessários alguns pré-requisitos como a avaliação da vazão do rio, a identificação de desníveis em seu curso e até mesmo se esses são perenes, intermitentes ou efêmeros.

A força da água em movimento é conhecida como energia potencial, essa água passa por tubulações da usina com muita força e velocidade, realizando a movimentação das turbinas. Nesse processo, ocorre a

transformação de energia potencial (energia da água) em energia mecânica (movimento das turbinas). As turbinas em movimento estão conectadas a um gerador, que é responsável pela transformação da energia mecânica em energia elétrica. (CERQUEIRA, 2011)

Em 1887, quando o carvão era o principal combustível e as pesquisas sobre petróleo engatinhavam, entrou em funcionamento a primeira usina hidráulica do mundo, idealizada por Nikola Tesla. Localizada nas Cataratas do Niágara, a usina tinha toda a sua energia transformada em energia mecânica. Foi neste contexto que, durante o reinado de D. Pedro II, o Brasil construiu de fato a primeira hidrelétrica. Produzia 0,5 MW (megawatt) de potência e possuía uma linha de transmissão de dois quilômetros. Localiza-se em Diamantina, na região do Ribeirão do Inferno, afluente do Rio Jequitinhonha. (www.riosvivos.org.br)¹ Desde então, o modelo sofreu pouquíssimas alterações. As mudanças concentraram-se nas novas tecnologias que dão maior eficiência e confiabilidade ao sistema.

O início da discussão para o aproveitamento hidrelétrico (AHE) da bacia do rio Xingu se deu em 1975, durante o governo militar de Ernesto Geisel. Em 1980, a primeira parte dos estudos foi concluída e, nesse mesmo ano, começou a ser estudada a viabilidade do AHE de Belo Monte, etapa que foi concluída em 1989.

Naquele ano, na cidade de Altamira (PA), aconteceu o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, onde se reuniram 3mil participantes descontentes com a política de construção de barragens no Rio Xingu, um complexo de cinco hidrelétricas planejadas pela Eletronorte. Esta manifestação buscava acabar com as decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos índios. Este encontro foi resultado da participação do pesquisador Darrel Posey, do Museu Emílio Goeldi do Pará, com os índios kaiapó Paulinho Paiakan e Kuben-I em um seminário da Universidade da Flórida, onde denunciaram que o Banco Mundial (BIRD) havia liberado financiamentos para a construção das usinas no Rio Xingu sem consultar os índios. Também discursaram em Washington, o que acabou fazendo com que fossem enquadrados na Lei dos Estrangeiros, sendo ameaçados de serem expulsos do país.

As obras do complexo de hidrelétricas no Rio Xingu faziam parte do programa Avança Brasil e foram herdadas pelo governo Lula, herança conhecida através do caderno temático “O Lugar da Amazônia no Desenvolvimento do Brasil”, onde o Programa do Governo do presidente eleito alertava que dois projetos haviam sendo objeto de debates - a UHE Belo Monte e o de Gás de Urucu - e dizendo que as obras de represamento dos rios haviam afetado a Bacia Amazônica, além de se mostrar contra a Eletronorte. (www.geodesia.ufsc.br)²

Transcorreram-se anos e devido, à burocracia e aos impactos nas esferas social e ambiental, o projeto de instalação da usina de Belo Monte no rio Xingu teria sido engavetado. Porém, após várias tentativas, em fevereiro de 2010 o Ministério do Meio Ambiente liberou a obra.

Atualmente, cerca de 18% da energia elétrica mundial provém das usinas hidrelétricas.

A energia hidrelétrica continua a ser a opção mais barata e é também a mais limpa. Apesar do impacto ambiental durante a instalação, uma hidrelétrica em operação emite muito menos dióxido de carbono do que usinas a carvão e a óleo. (STEFANO, Fabiane. Precisamos de Belo Monte, mas não assim. EXAME, p. 42-45, 5 mai. 2010.)

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil está entre os cinco maiores produtores de energia hidrelétrica no mundo, possuindo atualmente 158 usinas hidrelétricas de grande porte, que produzem um total de 74.438.695 kW (BONSOR, 2008). Constatou-se que o aumento da construção de usinas, principalmente as hidrelétricas no Brasil, deve-se ao fato da energia ser um fator essencial para o desenvolvimento socioeconômico de uma nação.

IMPACTOS AMBIENTAIS

Consequências negativas

No Estudo de Impacto Ambiental (EIA) realizado para a construção da

usina hidrelétrica de Belo Monte consta que a região abarca 1260 espécies de

cordatos já catalogadas, que se dividem entre 174 espécies de peixes, 387 de

répteis, 440 de aves e 259 de mamíferos. Alguns destes animais são

classificados como endêmicos, entre os quais é possível citar o Uacari-branco

(Cacajo calvus) e a Ararajuba (Guaruba guarouba). Outros táxons também são

encontrados em grande número na área, como artrópodes e plantas. Essas

espécies virão a ser afetadas pela instalação da usina de forma direta e

indireta, como colocado a seguir.

Além dos 228 km² de área desmatada para inundação, uma parcela da

vegetação também será retirada para a instalação da infraestrutura necessária

nas construções. Esse fato poderá ser observado nos igarapés de Galhoso e

Di Maria – entre outros locais -, que terão a vegetação de suas margens

desmatada. Essa configuração vegetal, que recebe o nome de mata ciliar,

auxilia na proteção do solo contra a erosão e o posterior assoreamento

(BOZZA et al., 2005). Além disso, serve como fonte primária de carbono

orgânico para a teia alimentar aquática, devido à queda de galhos e folhas

mortas (SÁ et al., 2003, p.68). Outro ponto de importância das matas ciliares é

a formação de corredores ecológicos, que permitem que animais transitem

livremente entre áreas de conservação.

A construção da usina, apesar de ainda em fase inicial, já afeta a

vegetação que segue ao longo dos rios e, consequentemente, o trânsito de

animais; como consta no trecho retirado do Relatório de Impacto Ambiental

(RIMA) do aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte:

Com o desmatamento que vem acontecendo ao longo do tempo na

Área Diretamente Afetada (ADA) e na Área de Influência Direta (AID), a

vegetação, que era contínua, agora está dividida em várias áreas que

formam “ilhas florestais”.¹

Sem os corredores para interligar fragmentos florestais maiores, a fauna

terrestre reduz seu fluxo migratório de uma área até outra, o que ocasiona a

diminuição da troca de material genético.

Não obstante, o barulho gerado pelo tráfego de veículos e equipamentos

pesados promove a fuga de animais que, devido ao desmatamento, são

forçados a atravessar, sem proteção, áreas com ocupação humana. Com isso,

atropelamentos e acidentes com animais peçonhentos, como cobras, podem se

tornar mais frequentes.

A fauna aquática também é afetada pela retirada das matas ciliares, uma

vez que sem a vegetação marginal, ocorrerão deslizamentos de terra para as

águas dos igarapés. O ambiente aquático ficará mais escurecido e com mais

sedimentos, o que irá afetar espécies menos resistentes a mudanças na

qualidade da água, como algas unicelulares.

A ictiofauna, além de sofrer com a diminuição da qualidade do meio,

enfrentará também problemas nos períodos de reprodução uma vez que, com

a redução da vazão no rio Xingu, as planícies fluviais, que servem de berçário

para os peixes, não serão mais formadas.

Em época de seca, no Trecho de Vazão Reduzida, serão formadas

poças de água parada, que trazem problemas como a piora na qualidade da

própria água e a criação de ambientes propícios para a reprodução de insetos

vetores de doenças, como mosquitos do gênero Anopheles - transmissores da

malária.

Resposta do governo

Ao analisar o processo de construção de uma hidrelétrica é possível

compreender que, como qualquer projeto dessa dimensão, inevitavelmente o

ambiente será danificado. O que pode ser verificado nesse caso é se o impacto

realmente corresponde à proporção da obra.

Por isso, na realização de uma obra como a construção de uma usina é

necessária uma Licença Prévia e posteriormente, uma Licença de Instalação.

No caso da Usina Hidrelétrica Belo Monte a Licença prévia foi emitida em

fevereiro de 2010 e a Licença de Instalação parcial em fevereiro de 2011.

A Licença Prévia é concedida na fase preliminar do

planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua

localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e

estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem

atendidos nas próximas fases de sua implementação. Já a

Licença de Instalação autoriza a instalação do empreendimento

ou atividade de acordo com as especificações constantes dos

planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas

de controle ambiental e demais condicionantes, da qual

constituem motivo determinante. (CONAMA, 1997, resolução

nº237)

Este fato demonstra que já houve uma análise dos impactos por parte

dos órgãos responsáveis por fiscalizar e autorizar a utilização de recursos

ambientais.

Ademais, o governo está ciente dos possíveis desdobramentos da obra

e já está providenciando projetos que visam a minimização das alterações no

meio ambiente. Dentre eles, se encontra o Projeto Básico Ambiental, criado

pela Norte Energia S.A, empresa responsável pela construção e operação da

Usina Hidrelétrica Belo Monte. Dentro do projeto constam ações diretamente

relacionadas à preocupação em preservar o ambiente e resultados positivos já

são apresentados pela empresa. Recentemente, a companhia utiliza tecnologia

de ponta para monitorar a migração de peixes com o objetivo de analisar

possíveis alterações no ciclo de alimentação e reprodução das espécies.

Peixes são capturados por pescadores experientes em

duas áreas no rio Xingu – a montante e a jusante do sítio Belo

Monte – e submetidos ao implante de transmissores combinados

através de processo cirúrgico realizado às margens do rio Xingu.

Após a soltura, os transmissores implantados nos peixes

passam a emitir sinais, um de rádio e um de acústica, que são

captados por antenas aéreas ou receptores subaquáticos,

distribuídos no rio Xingu e afluentes. (Norte Energia S.A, 2013)

Por conseguinte, verifica-se que após a análise desses e outros projetos

e medidas, que já apresentam resultados, os possíveis impactos ambientais

provenientes da obra não devem ser considerados um impasse para a

construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, que inclusive já está em

andamento.

IMPACTOS SOCIAIS

Aos olhos do governo

A construção da usina de Belo Monte ocupará a área do Rio Xingu,

próximo ao município de Altamira, que é ocupado por uma população de

84.092 habitantes (IBGE, Censo Demográfico, 2010). Entre 2007 e 2010, foram

realizadas mais de 30 reuniões entre tribos locais e os principais fundadores do

projeto, onde foram discutidas as mais diversas consequências que o

investimento poderia causar.

As áreas de influência não irão ser alagadas, além de prestigiarem

novas oportunidades de trabalho e aperfeiçoamento profissional. A construção

tem a ajuda de 21 mil trabalhadores, sendo que 70% destes são moradores da

região, que antes não tinham perspectiva de vida e agora têm, não apenas

empregos bem remunerados, mas também qualificação, sendo essa adquirida

a partir de cursos oferecidos pelos responsáveis pela construção da usina,

dentro do projeto Capacitar para Crescer. A estimativa é que serão contratados

mais 10 mil novos trabalhadores. Essa grande oferta de trabalho tornou

Altamira o município que mais gerou emprego nos últimos 12 meses. ²

Além das diversas vantagens já citadas, foram assegurados:

- Fortalecimento Institucional e Direitos Indígenas;

- Sustentabilidade Econômica dos Povos Indígenas;

- Saneamento Básico em Comunidades Indígenas;

- Reestruturação do Serviço de Educação para os Povos Indígenas;

- Melhoria de Habitações Indígenas;

- Segurança Territorial das Terras indígenas;

- Garantia das Condições de Acessibilidade da População Indígena a Altamira. (Secretaria de Comunicação Social/PR – 2013)

Os mais diversos tipos de investimento promovidos terão durabilidade

superior ao período de construção, perdurando por anos. Além dos programas

disponibilizados pelo EIA (Estudo de Impacto Ambiental), o Governo Federal irá

investir no desenvolvimento da região a partir do plano PDRS Xingu (Plano de

Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu), que já foi instituído por

decreto presidencial em 2010. (Secretaria de Comunicação Social/PR – 2013)

Ao final do projeto, os moradores de regiões próximas à hidrelétrica

contarão com uma série de benefícios, dentre os quais destacam-se:

- Urbanização de áreas e melhorias nas áreas já urbanizadas;

- Construção de casas de alvenaria para os povos que foram deslocados e

permaneceram em casas temporárias durante a execução do projeto;

- Implantação de infraestrutura de saneamento;

- Ampliação nos serviços de coleta de lixo;

- Construção de parques ecológicos e de lazer;

-Apoio técnico e financeiro aos munícipios para assegurar uma rede pública de

saúde de qualidade;

- Implantação de áreas de conservação de fauna e na flora, principalmente em

locais próximos à usina;

-Melhorias na infraestrutura rodoviária;

-Capacitação dos trabalhadores para atividades econômicas visando a

sustentabilidade.

Na versão dos índios

Desde fevereiro de 2010, quando foi aprovado o projeto da construção

da usina de Belo Monte, foi iniciada uma onda de manifestações. Dentre os

movimentos que vão de encontro à instalação da usina, destacam-se:

O Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS) é um

coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas

da região de Altamira e das áreas de influência do projeto da

hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se

opuseram à sua instalação no rio Xingu. Além de contar com o

apoio de organizações locais, estaduais, nacionais e

internacionais, o MXVPS agrega entidades representativas de

ribeirinhos, pescadores, trabalhadores e trabalhadoras rurais,

indígenas, moradores de Altamira, atingidos por barragens,

movimentos de mulheres e organizações religiosas e

ecumênicas.

(Disponível em: http://www.xinguvivo.org.br/quem-somos/.

Acesso em 24/06/2013)

O Movimento Gota D’ Água surgiu da necessidade de transformar indignação em ação. Queremos mostrar que o bem é um bom negócio e envolver a sociedade brasileira na discussão de grandes causas que impactam o nosso país. Utilizamos nossa experiência em comunicação para dar voz aqueles que se dedicam a estudar o impacto que as decisões de hoje terão no amanhã. Apoiamos soluções inteligentes, responsáveis, conscientes e motivadas pelo bem comum. O Gota D’Água é uma ponte entre o corpo técnico das organizações dedicadas às causas socioambientais e os artistas ativistas e você. A primeira campanha do Movimento discute o planejamento energético do país, que pretende construir mais de 50 hidrelétricas na Amazônia, através da análise do projeto da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu. O braço técnico desta campanha é composto por especialistas ligados a duas organizações de reconhecida importância para a causa: "Movimento Xingu Vivo Para Sempre" e "Movimento Humanos Direitos". (Disponível em: http://www.movimentogotadagua.com.br/projeto. Acesso em 24/06/2013)

(Disponível em:

http://www.xinguvivo.org.br/2011/02/10/protestos-contra-belo-

monte-aconteceram-tambem-em-sao-paulo-e-minas-gerais/.

Acesso em 29/06/2013)

As alegações feitas por essas organizações são diversas. Criticam o

projeto por afirmarem que a obra irá inundar os igarapés Altamira e Ambé e

uma área de Vitória do Xingu, além de causar seca em um trecho de 100km de

rio, o que afetará não só as populações indígenas locais mas também os

moradores ribeirinhos e os agricultores da região. Tudo isso pode deixar

diversas pessoas sem abrigo e sem condições de se manterem de maneira

estável.

Contrapondo os depoimentos governamentais, os índios negam muitos

dos auxílios que o governo diz oferecer. A insatisfação dos povos indígenas,

bem como seus movimentos reivindicatórios, nunca foi completamente omitida,

mas só ganhou mais destaque na mídia após a morte de um dos trabalhadores

da construção.

Os cerca de cinco mil trabalhadores do Consórcio

Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da

terceira maior hidrelétrica do mundo, entraram em greve geral na

quinta, 29/03/2012. As reivindicações são aumento salarial,

redução dos intervalos entre as baixadas (visita dos

trabalhadores a suas famílias) de 6 pra 3 meses, o não-

rebaixamento do pagamento e solução de problemas com a

comida e água. A paralisação começou ontem no canteiro de

obras do Sítio Pimental, após um acidente de trabalho que

matou o operador de motosserra Orlando Rodrigues Lopes, de

Altamira, e hoje se estendeu para os demais canteiros. A saída

dos ônibus do perímetro urbano de Altamira para os canteiros de

obra, em Vitória do Xingu, foram bloqueadas (SPOSATI, Ruy.

Morte e greve em Belo Monte. Rio de Janeiro, 2013)

Outro fator que provoca incômodo àqueles contrários ao

empreendimento é a retirada dos nativos do local e a consequente perda de

suas legítimas moradias. Haverá realocação de 5988 famílias, cerca de 20 mil

pessoas terão que sair de suas casas e a cidade deve receber em torno de 100

mil novos moradores. Além disso, os empregos oferecidos são, em sua

maioria, ocupados em realidade por migrantes; diferentemente do que foi

colocado pelo governo. O município irá se expandir de forma significativa e os

projetos de melhoria da infraestrutura, necessários para suportar esse

crescimento, estão atrasados. (CORDEIRO, Tiago. GAMA, Horácio. STEFFEN,

Renata. VERSIGNASSI, Alexandre. Quais são as vantagens e as

desvantagens de Belo Monte? Super interessante, dezembro 2011.)

Existem ainda indícios de práticas ilícitas, relacionadas ao clientelismo e

outras formas de corrupção. Políticos e empresários locais, mais

especificamente o vereador do município Governador Nunes Freire, Marcelo

Roosevelt Rodrigues Oliveira (PT) e o vereador suplente do município de

Altamira, Ademar Teixeira (PMDB); afirmam que houve troca de favores com a

empresa Norte Energia S.A., além de compra de votos e corrupção. Incluem

também no esquema o empresário Lennon, da Norte Energia S.A., a mandato

do presidente da Norte Energia, Marcelo Coimbra. (SANTANA, Renato. Vídeo

revela negociata da Norte Energia para aprovação do projeto de Belo Monte no

Pará, 2011)

Charge de Renato Piovan

ÂMBITO ECONÔMICO

De acordo com a publicação da repórter Reneé Pereira no Estado de S.

Paulo, no dia 11 de maio de 2013, o orçamento da Hidrelétrica de Belo Monte

estava estimado em R$ 16 bilhões, e hoje já supera R$ 30 bilhões. A elevação

dos preços deve-se aos prejuízos com a paralisação da mão de obra com

greves dos trabalhadores e com a instalação de índios no local. Além disso,

vale destacar os gastos indiretos com os 22 mil trabalhadores na usina, que

vão desde as cestas básicas às visitas as famílias pagas pela empresa. Outro

fator contribuinte foram os gastos com medidas socioambientais.

O problema: Viabilidade Econômica

Além da controvérsia ligada aos impactos socioambientais, a usina

hidrelétrica de Belo Monte gerou também uma polêmica de caráter econômico,

tendo em vista o custo da construção e o benefício da energia gerada.

Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo – atrás somente da

usina de Três Gargantas na China com capacidade de produzir 22.500MW e

da usina de Itaipú com 14.000MW -, Belo Monte terá produção bastante inferior

ao esperado. Diante das medidas socioambientais para redução de impactos, a

área de represa de 1.225 quilômetros quadrados limitou-se em 709 quilômetros

quadrados, com abalo direto na produção energética. No projeto da década de

80, a usina que teria capacidade de gerar 15.000 megawatts, agora terá

capacidade máxima de 11.223 megawatts, o que é suficiente para abastecer

duas cidades como São Paulo todos os dias ³. Contudo, a capacidade máxima

só será atingida em períodos de cheia, enquanto nos períodos de estiagem (6

meses) serão gerados em média somente 4.428 megawatts, o que suscitou

grandes questionamentos sobre o custo-benefício. 4

“O cerne da oposição da sociedade civil à política energética

brasileira tem a ver com planejamento. O argumento é de que o

País deveria considerar primeiro as low hanging fruits, ou seja,

as medidas mais fáceis e de retorno mais imediato, que

consistem basicamente em aumentar a eficiência de todo o

sistema. Para se ter uma ideia, 16% de toda a energia produzida

no País se perde ao longo da transmissão e da distribuição.

Neste caso, o custo-oportunidade é que, enquanto se investe

algo como R$ 30 bilhões em uma única hidrelétrica, de baixa

produtividade, outras possibilidades perdem envergadura.’’

DERIVI, Carolina. Seis passos para entender Belo Monte.

Disponível em: www.pagina22.com.br. Acesso em 10/06/2013

(Disponível em: https://www.facebook.com/humortucano.

Acesso em 03/07/2013)

O aproveitamento em média de somente 40% de sua capacidade total, porcentagem inferior às médias nacionais de 53%, faz com que o uso de termelétricas se torne necessário para que a perda energética seja compensada em períodos de estiagem5. Esse tipo de usina é considerado mais caro, além de ser mais poluente. (MANSUR, Alexandre. O tabu das hidrelétricas na Amazônia. In: Revista Época. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso 10/06/2013)

Como o dinheiro da população vai pagar pela construção de Belo Monte?

O BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento) vai financiar 80% do valor da obra, sendo os outros 20% da Norte Energia S.A., que é responsável pela instalação e operação da usina. Entretanto, o dinheiro financiado pelo BNDS é derivado dos fundos trabalhistas e será repassado para bancos privados para, em seguida, ser transferido para a Norte Energia.

(Disponível em: http://essetalmeioambiente.com. Acesso em 30/06/2013)

Prós

De acordo com o governo, 70% da energia produzida irá para 27 distribuidoras localizadas em 17 estados. Dez por cento, para as empresas autoprodutoras no Pará e sócias do empreendimento e 20%, para o mercado. As indústrias não receberão energia subsidiada. Além disso, não será beneficiada somente a população regional, mas como também a população de todo país, já que a energia será de baixo custo e evita a emissão de GEEs (Gases do Efeito Estufa), que acentuam o aquecimento global.

Estão sendo aplicados cerca de R$ 3,7 bilhões no PDRS (Plano de

Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu), destinandos à construção e

ampliação de escolas, postos de saúde, segurança pública, saneamento e

habitação. (RODRIGUES, Alex. AQUINO, Yara. Governo anuncia medidas

para reduzir impactos socioambientais da construção de Belo Monte.

Disponível em: www.agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em 20/06/2013)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os prejuízos de caráter sociocultural são inegáveis, sobretudo se forem

levados em conta os laços existentes entre os povos indígenas e a terra, que

não podem ser substituídos por subsídios governamentais. Além disso, os

impactos ambientais serão significativos, por mais que já existam iniciativas

para minimizar os danos causados pela instalação da usina.

Não obstante, o projeto traz com sigo aspectos positivos, que também

devem ser considerados. Entre eles, o baixo custo no fornecimento de energia,

a capacitação profissional de moradores da região e a melhora na

infraestrutura dos povoados.

O ponto chave na análise do custo-benefício da hidrelétrica se encontra,

no entanto, na questão dos gastos financeiros. Uma vez que o projeto já foi

aprovado e está sendo posto em prática, se faz imprescindível uma estrita

fiscalização para que os custos não ultrapassem ainda mais o planejado e para

que, assim, a obra se pague após um período de tempo razoável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOZZA, André. DE MARCO, André. SAMRA, Ariana. PALERMO. BUENO, Carlos. RIBEIRO, Carlos. CARNEIRO, Débora. OLIVEIRA, Dominique. ZACHARIAS, Fernanda. PEREIRA, Frederico. NEVES, Juliana. CARDOSO, Juliana. SOARES, Maria. SILVA, Mariana. CAMILO, Mariane. BALAU, Marina. MATTOS, Raphael. SAMPAIO, Rita. Conscientização sobre a importância da mata ciliar realizada com alunos do Ensino Fundamental da escola Sistema Educacional Realidade, Campinas-SP. Disponível em: www.enapet.ufsc.br. Acesso em: 26/06/2013.

CORDEIRO, Tiago. GAMA, Horácio. STEFFEN, Renata. VERSIGNASSI, Alexandre. Quais são as vantagens e as desvantagens de Belo Monte? Super interessante.

Edição: 299, dezembro 2011. Acesso em: 24/06/2013.

DERIVI, Carolina. Seis passos para entender Belo Monte. Disponível em: www.pagina22.com.br. Acesso em: 10/06/2013.

MANSUR, Alexandre. O tabu das hidrelétricas na Amazônia. In: Revista Época. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso em: 10/06/2013.

RODRIGUES, Alex. AQUINO, Yara. Governo anuncia medidas para reduzir impactos socioambientais da construção de Belo Monte. Disponível em: www.agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 10/06/2013.

SÁ, Maria. FENERICH-VERANI, Nelsy. FRAGOSO, Evelise. Peixes do Cerrado em perigo - Ciência Hoje, vol.34, nº 200, pg 68, 2003. Acesso em: 25/06/2013.

SANTANA, Renato. Vídeo revela negociata da Norte Energia para aprovação do projeto de Belo Monte no Pará, 2011. Acesso em: 26/06/2013.

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STEFANO, Fabiane. Precisamos de Belo Monte, mas não assim. EXAME, p. 42-45, 5

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http://www.mma.gov.br/. Acesso em: 24/06/2013.

http://norteenergiasa.com.br/ . Acesso em: 26/06/2013.

http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/Dossie/BM/DocsOf/PBA/Belo%20Monte%20-%20PBA%20-200obra%20principal/A%C3%87%C3%95ES%20ANTECIPAT%C3%93RIAS-1.pdf. Acesso em: 20/06/2013.

http://blogbelomonte.com.br/ Acesso em: 25/06/2013.

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http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/atualidades-vestibular/como-a-polemica-da-

usina-de-belo-monte-pode-cair-no-vestibular/. Acesso em: 26/06/2013.

http://blogdoalex-silva.blogspot.com.br/2013/01/impactos-ambientais-causados-pela.html. Acesso em: 25/06/2013.

http://www.altamira.pa.cnm.org.br/portal1/intro.asp?iIdMun=100115009. Acesso em: 24/06/2013.

http://blogbelomonte.com.br/2013/04/05/momento-belo-monte-geracao-de-emprego/. Acesso em: 26/06/2013.

http://vestibular.brasilescola.com/atualidades/a-construcao-usina-belo-monte.htm. Acesso em: 22/06/2013.

http://www.xinguvivo.org.br/quem-somos/. Acesso em: 22/06/2013.

http://www.movimentogotadagua.com.br/projeto. Acesso em: 20/06/2013.

http://www.blogreen.ligadonessa.com/2010/08/historico-sobre-usinas-hidreletricas-

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http://www.brasilescola.com/geografia/energia-hidreletrica.htm. Acesso em: 21/06/2013.

http://www.dee.feis.unesp.br/usinaecoeletrica/index.php/hidreletrica. Acesso em: 23/06/2013.

http://www.youtube.com/watch?v=Z0eCshTvJ9g. Acesso em: 20/06/2013.

NOTAS DE RODAPÉ EM ORDEM DAS PÁGINAS

¹ Disponível em: www.eletrobras.com. Acesso em: 26/06/2013

² (05/04/2013 - Belo Monte, Desenvolvimento Social, Momento Belo Monte, Notícias,

Vídeos)

³. Disponível em: www.planetasustentavel.abril.com.br. Acesso em: 23/06/2013

4 (MANSUR, Alexandre. O tabu das hidrelétricas na Amazônia. In: Revista Época.

Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso 20/06/2013) ; (VASCONCELOS,

Yuri. Qual será o impacto ecológico da usina Belo Monte (PA)?. In: Mundo Estranho.

Disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br. Acesso em: 20/06/2013).

5. As termelétricas emitem gases estufa que são os grandes responsáveis pelas mudanças climáticas, podendo assim, afetar toda a floresta Amazônica.