Usina Hidrelétrica de Belo Monte
-
Upload
independent -
Category
Documents
-
view
3 -
download
0
Transcript of Usina Hidrelétrica de Belo Monte
USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE
FERNANDA MUDESTO PASSOS
ISABEL OLIVEIRA ASSUNÇÃO FERNANDES
NATÁLIA FERREIRA DE CARVALHO
STÉFANIE VERÍSSIMO BASTOS
THAYS HELLENA PIRES DE SOUZA
(Disponível em: http://blogbelomonte.com.br/2011/11/18/conheca-a-uhe-belo-monte/.
Acesso em 02/07/2013)
A construção de uma usina hidrelétrica não é algo simples. Para tal, deve-se
considerar uma série de fatores como, por exemplo, a existência de espécies
endêmicas no rio, o desmatamento, o possível realojamento de populações
ribeirinhas e até mesmo fatores econômicos relacionados ao custo-benefício da
usina. A burocracia que envolve todo esse processo faz com que o inicio das
obras seja retardado e consequentemente, que a parte da população que seria
beneficiada por sua conclusão permaneça durante anos sem acesso às
condições propostas pelo projeto de construção da usina.
La construcción de una planta hidroeléctrica no es algo simples. Para tanto, se
debe considerar una serie de factores como, por ejemplo, la existencia de
especies endémicas en el río, la deforestación, la posible recolocación de
familias que viven al margen de los ríos y hasta mismo factores económicos
relacionados al costo-beneficio de la planta. La burocracia que abarca todo ese
proceso hace con que el inicio de las obras sea retrasado y,
consecuentemente, que la parte de la población que sería beneficiada por su
conclusión permanezca durante años sin acceso a las condiciones propuestas
por el proyecto de construcción de la hidroeléctrica.
Palavras-chave: Usina Hidrelétrica; custo-benefício; Amazônia; impactos;
índios.
INTRODUÇÃO
A necessidade de transformação da energia disponível na natureza em energia útil para o ser humano levou os povos que viviam no século I a desenvolver as chamadas Noras, equipamento que usa a força das aguas para produzir energia mecânica. Com o passar dos anos, percebeu-se que a energia mecânica poderia ser utilizada para a produção de energia elétrica. Foi então, no século III que se desenvolveu o primeiro motor, o dínamo, a lâmpada e a turbina hidráulica.
Com o passar dos anos, o progresso nos estudos sobre turbinas hidráulicas deu origem aos primeiros projetos de usinas hidrelétricas. Estes planos durante muito tempo não saíam do papel, já que para que tais usinas sejam instaladas com sucesso são necessários alguns pré-requisitos como a avaliação da vazão do rio, a identificação de desníveis em seu curso e até mesmo se esses são perenes, intermitentes ou efêmeros.
A força da água em movimento é conhecida como energia potencial, essa água passa por tubulações da usina com muita força e velocidade, realizando a movimentação das turbinas. Nesse processo, ocorre a
transformação de energia potencial (energia da água) em energia mecânica (movimento das turbinas). As turbinas em movimento estão conectadas a um gerador, que é responsável pela transformação da energia mecânica em energia elétrica. (CERQUEIRA, 2011)
Em 1887, quando o carvão era o principal combustível e as pesquisas sobre petróleo engatinhavam, entrou em funcionamento a primeira usina hidráulica do mundo, idealizada por Nikola Tesla. Localizada nas Cataratas do Niágara, a usina tinha toda a sua energia transformada em energia mecânica. Foi neste contexto que, durante o reinado de D. Pedro II, o Brasil construiu de fato a primeira hidrelétrica. Produzia 0,5 MW (megawatt) de potência e possuía uma linha de transmissão de dois quilômetros. Localiza-se em Diamantina, na região do Ribeirão do Inferno, afluente do Rio Jequitinhonha. (www.riosvivos.org.br)¹ Desde então, o modelo sofreu pouquíssimas alterações. As mudanças concentraram-se nas novas tecnologias que dão maior eficiência e confiabilidade ao sistema.
O início da discussão para o aproveitamento hidrelétrico (AHE) da bacia do rio Xingu se deu em 1975, durante o governo militar de Ernesto Geisel. Em 1980, a primeira parte dos estudos foi concluída e, nesse mesmo ano, começou a ser estudada a viabilidade do AHE de Belo Monte, etapa que foi concluída em 1989.
Naquele ano, na cidade de Altamira (PA), aconteceu o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, onde se reuniram 3mil participantes descontentes com a política de construção de barragens no Rio Xingu, um complexo de cinco hidrelétricas planejadas pela Eletronorte. Esta manifestação buscava acabar com as decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos índios. Este encontro foi resultado da participação do pesquisador Darrel Posey, do Museu Emílio Goeldi do Pará, com os índios kaiapó Paulinho Paiakan e Kuben-I em um seminário da Universidade da Flórida, onde denunciaram que o Banco Mundial (BIRD) havia liberado financiamentos para a construção das usinas no Rio Xingu sem consultar os índios. Também discursaram em Washington, o que acabou fazendo com que fossem enquadrados na Lei dos Estrangeiros, sendo ameaçados de serem expulsos do país.
As obras do complexo de hidrelétricas no Rio Xingu faziam parte do programa Avança Brasil e foram herdadas pelo governo Lula, herança conhecida através do caderno temático “O Lugar da Amazônia no Desenvolvimento do Brasil”, onde o Programa do Governo do presidente eleito alertava que dois projetos haviam sendo objeto de debates - a UHE Belo Monte e o de Gás de Urucu - e dizendo que as obras de represamento dos rios haviam afetado a Bacia Amazônica, além de se mostrar contra a Eletronorte. (www.geodesia.ufsc.br)²
Transcorreram-se anos e devido, à burocracia e aos impactos nas esferas social e ambiental, o projeto de instalação da usina de Belo Monte no rio Xingu teria sido engavetado. Porém, após várias tentativas, em fevereiro de 2010 o Ministério do Meio Ambiente liberou a obra.
Atualmente, cerca de 18% da energia elétrica mundial provém das usinas hidrelétricas.
A energia hidrelétrica continua a ser a opção mais barata e é também a mais limpa. Apesar do impacto ambiental durante a instalação, uma hidrelétrica em operação emite muito menos dióxido de carbono do que usinas a carvão e a óleo. (STEFANO, Fabiane. Precisamos de Belo Monte, mas não assim. EXAME, p. 42-45, 5 mai. 2010.)
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil está entre os cinco maiores produtores de energia hidrelétrica no mundo, possuindo atualmente 158 usinas hidrelétricas de grande porte, que produzem um total de 74.438.695 kW (BONSOR, 2008). Constatou-se que o aumento da construção de usinas, principalmente as hidrelétricas no Brasil, deve-se ao fato da energia ser um fator essencial para o desenvolvimento socioeconômico de uma nação.
IMPACTOS AMBIENTAIS
Consequências negativas
No Estudo de Impacto Ambiental (EIA) realizado para a construção da
usina hidrelétrica de Belo Monte consta que a região abarca 1260 espécies de
cordatos já catalogadas, que se dividem entre 174 espécies de peixes, 387 de
répteis, 440 de aves e 259 de mamíferos. Alguns destes animais são
classificados como endêmicos, entre os quais é possível citar o Uacari-branco
(Cacajo calvus) e a Ararajuba (Guaruba guarouba). Outros táxons também são
encontrados em grande número na área, como artrópodes e plantas. Essas
espécies virão a ser afetadas pela instalação da usina de forma direta e
indireta, como colocado a seguir.
Além dos 228 km² de área desmatada para inundação, uma parcela da
vegetação também será retirada para a instalação da infraestrutura necessária
nas construções. Esse fato poderá ser observado nos igarapés de Galhoso e
Di Maria – entre outros locais -, que terão a vegetação de suas margens
desmatada. Essa configuração vegetal, que recebe o nome de mata ciliar,
auxilia na proteção do solo contra a erosão e o posterior assoreamento
(BOZZA et al., 2005). Além disso, serve como fonte primária de carbono
orgânico para a teia alimentar aquática, devido à queda de galhos e folhas
mortas (SÁ et al., 2003, p.68). Outro ponto de importância das matas ciliares é
a formação de corredores ecológicos, que permitem que animais transitem
livremente entre áreas de conservação.
A construção da usina, apesar de ainda em fase inicial, já afeta a
vegetação que segue ao longo dos rios e, consequentemente, o trânsito de
animais; como consta no trecho retirado do Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA) do aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte:
Com o desmatamento que vem acontecendo ao longo do tempo na
Área Diretamente Afetada (ADA) e na Área de Influência Direta (AID), a
vegetação, que era contínua, agora está dividida em várias áreas que
formam “ilhas florestais”.¹
Sem os corredores para interligar fragmentos florestais maiores, a fauna
terrestre reduz seu fluxo migratório de uma área até outra, o que ocasiona a
diminuição da troca de material genético.
Não obstante, o barulho gerado pelo tráfego de veículos e equipamentos
pesados promove a fuga de animais que, devido ao desmatamento, são
forçados a atravessar, sem proteção, áreas com ocupação humana. Com isso,
atropelamentos e acidentes com animais peçonhentos, como cobras, podem se
tornar mais frequentes.
A fauna aquática também é afetada pela retirada das matas ciliares, uma
vez que sem a vegetação marginal, ocorrerão deslizamentos de terra para as
águas dos igarapés. O ambiente aquático ficará mais escurecido e com mais
sedimentos, o que irá afetar espécies menos resistentes a mudanças na
qualidade da água, como algas unicelulares.
A ictiofauna, além de sofrer com a diminuição da qualidade do meio,
enfrentará também problemas nos períodos de reprodução uma vez que, com
a redução da vazão no rio Xingu, as planícies fluviais, que servem de berçário
para os peixes, não serão mais formadas.
Em época de seca, no Trecho de Vazão Reduzida, serão formadas
poças de água parada, que trazem problemas como a piora na qualidade da
própria água e a criação de ambientes propícios para a reprodução de insetos
vetores de doenças, como mosquitos do gênero Anopheles - transmissores da
malária.
Resposta do governo
Ao analisar o processo de construção de uma hidrelétrica é possível
compreender que, como qualquer projeto dessa dimensão, inevitavelmente o
ambiente será danificado. O que pode ser verificado nesse caso é se o impacto
realmente corresponde à proporção da obra.
Por isso, na realização de uma obra como a construção de uma usina é
necessária uma Licença Prévia e posteriormente, uma Licença de Instalação.
No caso da Usina Hidrelétrica Belo Monte a Licença prévia foi emitida em
fevereiro de 2010 e a Licença de Instalação parcial em fevereiro de 2011.
A Licença Prévia é concedida na fase preliminar do
planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua
localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem
atendidos nas próximas fases de sua implementação. Já a
Licença de Instalação autoriza a instalação do empreendimento
ou atividade de acordo com as especificações constantes dos
planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas
de controle ambiental e demais condicionantes, da qual
constituem motivo determinante. (CONAMA, 1997, resolução
nº237)
Este fato demonstra que já houve uma análise dos impactos por parte
dos órgãos responsáveis por fiscalizar e autorizar a utilização de recursos
ambientais.
Ademais, o governo está ciente dos possíveis desdobramentos da obra
e já está providenciando projetos que visam a minimização das alterações no
meio ambiente. Dentre eles, se encontra o Projeto Básico Ambiental, criado
pela Norte Energia S.A, empresa responsável pela construção e operação da
Usina Hidrelétrica Belo Monte. Dentro do projeto constam ações diretamente
relacionadas à preocupação em preservar o ambiente e resultados positivos já
são apresentados pela empresa. Recentemente, a companhia utiliza tecnologia
de ponta para monitorar a migração de peixes com o objetivo de analisar
possíveis alterações no ciclo de alimentação e reprodução das espécies.
Peixes são capturados por pescadores experientes em
duas áreas no rio Xingu – a montante e a jusante do sítio Belo
Monte – e submetidos ao implante de transmissores combinados
através de processo cirúrgico realizado às margens do rio Xingu.
Após a soltura, os transmissores implantados nos peixes
passam a emitir sinais, um de rádio e um de acústica, que são
captados por antenas aéreas ou receptores subaquáticos,
distribuídos no rio Xingu e afluentes. (Norte Energia S.A, 2013)
Por conseguinte, verifica-se que após a análise desses e outros projetos
e medidas, que já apresentam resultados, os possíveis impactos ambientais
provenientes da obra não devem ser considerados um impasse para a
construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, que inclusive já está em
andamento.
IMPACTOS SOCIAIS
Aos olhos do governo
A construção da usina de Belo Monte ocupará a área do Rio Xingu,
próximo ao município de Altamira, que é ocupado por uma população de
84.092 habitantes (IBGE, Censo Demográfico, 2010). Entre 2007 e 2010, foram
realizadas mais de 30 reuniões entre tribos locais e os principais fundadores do
projeto, onde foram discutidas as mais diversas consequências que o
investimento poderia causar.
As áreas de influência não irão ser alagadas, além de prestigiarem
novas oportunidades de trabalho e aperfeiçoamento profissional. A construção
tem a ajuda de 21 mil trabalhadores, sendo que 70% destes são moradores da
região, que antes não tinham perspectiva de vida e agora têm, não apenas
empregos bem remunerados, mas também qualificação, sendo essa adquirida
a partir de cursos oferecidos pelos responsáveis pela construção da usina,
dentro do projeto Capacitar para Crescer. A estimativa é que serão contratados
mais 10 mil novos trabalhadores. Essa grande oferta de trabalho tornou
Altamira o município que mais gerou emprego nos últimos 12 meses. ²
Além das diversas vantagens já citadas, foram assegurados:
- Fortalecimento Institucional e Direitos Indígenas;
- Sustentabilidade Econômica dos Povos Indígenas;
- Saneamento Básico em Comunidades Indígenas;
- Reestruturação do Serviço de Educação para os Povos Indígenas;
- Melhoria de Habitações Indígenas;
- Segurança Territorial das Terras indígenas;
- Garantia das Condições de Acessibilidade da População Indígena a Altamira. (Secretaria de Comunicação Social/PR – 2013)
Os mais diversos tipos de investimento promovidos terão durabilidade
superior ao período de construção, perdurando por anos. Além dos programas
disponibilizados pelo EIA (Estudo de Impacto Ambiental), o Governo Federal irá
investir no desenvolvimento da região a partir do plano PDRS Xingu (Plano de
Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu), que já foi instituído por
decreto presidencial em 2010. (Secretaria de Comunicação Social/PR – 2013)
Ao final do projeto, os moradores de regiões próximas à hidrelétrica
contarão com uma série de benefícios, dentre os quais destacam-se:
- Urbanização de áreas e melhorias nas áreas já urbanizadas;
- Construção de casas de alvenaria para os povos que foram deslocados e
permaneceram em casas temporárias durante a execução do projeto;
- Implantação de infraestrutura de saneamento;
- Ampliação nos serviços de coleta de lixo;
- Construção de parques ecológicos e de lazer;
-Apoio técnico e financeiro aos munícipios para assegurar uma rede pública de
saúde de qualidade;
- Implantação de áreas de conservação de fauna e na flora, principalmente em
locais próximos à usina;
-Melhorias na infraestrutura rodoviária;
-Capacitação dos trabalhadores para atividades econômicas visando a
sustentabilidade.
Na versão dos índios
Desde fevereiro de 2010, quando foi aprovado o projeto da construção
da usina de Belo Monte, foi iniciada uma onda de manifestações. Dentre os
movimentos que vão de encontro à instalação da usina, destacam-se:
O Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS) é um
coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas
da região de Altamira e das áreas de influência do projeto da
hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se
opuseram à sua instalação no rio Xingu. Além de contar com o
apoio de organizações locais, estaduais, nacionais e
internacionais, o MXVPS agrega entidades representativas de
ribeirinhos, pescadores, trabalhadores e trabalhadoras rurais,
indígenas, moradores de Altamira, atingidos por barragens,
movimentos de mulheres e organizações religiosas e
ecumênicas.
(Disponível em: http://www.xinguvivo.org.br/quem-somos/.
Acesso em 24/06/2013)
O Movimento Gota D’ Água surgiu da necessidade de transformar indignação em ação. Queremos mostrar que o bem é um bom negócio e envolver a sociedade brasileira na discussão de grandes causas que impactam o nosso país. Utilizamos nossa experiência em comunicação para dar voz aqueles que se dedicam a estudar o impacto que as decisões de hoje terão no amanhã. Apoiamos soluções inteligentes, responsáveis, conscientes e motivadas pelo bem comum. O Gota D’Água é uma ponte entre o corpo técnico das organizações dedicadas às causas socioambientais e os artistas ativistas e você. A primeira campanha do Movimento discute o planejamento energético do país, que pretende construir mais de 50 hidrelétricas na Amazônia, através da análise do projeto da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu. O braço técnico desta campanha é composto por especialistas ligados a duas organizações de reconhecida importância para a causa: "Movimento Xingu Vivo Para Sempre" e "Movimento Humanos Direitos". (Disponível em: http://www.movimentogotadagua.com.br/projeto. Acesso em 24/06/2013)
(Disponível em:
http://www.xinguvivo.org.br/2011/02/10/protestos-contra-belo-
monte-aconteceram-tambem-em-sao-paulo-e-minas-gerais/.
Acesso em 29/06/2013)
As alegações feitas por essas organizações são diversas. Criticam o
projeto por afirmarem que a obra irá inundar os igarapés Altamira e Ambé e
uma área de Vitória do Xingu, além de causar seca em um trecho de 100km de
rio, o que afetará não só as populações indígenas locais mas também os
moradores ribeirinhos e os agricultores da região. Tudo isso pode deixar
diversas pessoas sem abrigo e sem condições de se manterem de maneira
estável.
Contrapondo os depoimentos governamentais, os índios negam muitos
dos auxílios que o governo diz oferecer. A insatisfação dos povos indígenas,
bem como seus movimentos reivindicatórios, nunca foi completamente omitida,
mas só ganhou mais destaque na mídia após a morte de um dos trabalhadores
da construção.
Os cerca de cinco mil trabalhadores do Consórcio
Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da
terceira maior hidrelétrica do mundo, entraram em greve geral na
quinta, 29/03/2012. As reivindicações são aumento salarial,
redução dos intervalos entre as baixadas (visita dos
trabalhadores a suas famílias) de 6 pra 3 meses, o não-
rebaixamento do pagamento e solução de problemas com a
comida e água. A paralisação começou ontem no canteiro de
obras do Sítio Pimental, após um acidente de trabalho que
matou o operador de motosserra Orlando Rodrigues Lopes, de
Altamira, e hoje se estendeu para os demais canteiros. A saída
dos ônibus do perímetro urbano de Altamira para os canteiros de
obra, em Vitória do Xingu, foram bloqueadas (SPOSATI, Ruy.
Morte e greve em Belo Monte. Rio de Janeiro, 2013)
Outro fator que provoca incômodo àqueles contrários ao
empreendimento é a retirada dos nativos do local e a consequente perda de
suas legítimas moradias. Haverá realocação de 5988 famílias, cerca de 20 mil
pessoas terão que sair de suas casas e a cidade deve receber em torno de 100
mil novos moradores. Além disso, os empregos oferecidos são, em sua
maioria, ocupados em realidade por migrantes; diferentemente do que foi
colocado pelo governo. O município irá se expandir de forma significativa e os
projetos de melhoria da infraestrutura, necessários para suportar esse
crescimento, estão atrasados. (CORDEIRO, Tiago. GAMA, Horácio. STEFFEN,
Renata. VERSIGNASSI, Alexandre. Quais são as vantagens e as
desvantagens de Belo Monte? Super interessante, dezembro 2011.)
Existem ainda indícios de práticas ilícitas, relacionadas ao clientelismo e
outras formas de corrupção. Políticos e empresários locais, mais
especificamente o vereador do município Governador Nunes Freire, Marcelo
Roosevelt Rodrigues Oliveira (PT) e o vereador suplente do município de
Altamira, Ademar Teixeira (PMDB); afirmam que houve troca de favores com a
empresa Norte Energia S.A., além de compra de votos e corrupção. Incluem
também no esquema o empresário Lennon, da Norte Energia S.A., a mandato
do presidente da Norte Energia, Marcelo Coimbra. (SANTANA, Renato. Vídeo
revela negociata da Norte Energia para aprovação do projeto de Belo Monte no
Pará, 2011)
Charge de Renato Piovan
ÂMBITO ECONÔMICO
De acordo com a publicação da repórter Reneé Pereira no Estado de S.
Paulo, no dia 11 de maio de 2013, o orçamento da Hidrelétrica de Belo Monte
estava estimado em R$ 16 bilhões, e hoje já supera R$ 30 bilhões. A elevação
dos preços deve-se aos prejuízos com a paralisação da mão de obra com
greves dos trabalhadores e com a instalação de índios no local. Além disso,
vale destacar os gastos indiretos com os 22 mil trabalhadores na usina, que
vão desde as cestas básicas às visitas as famílias pagas pela empresa. Outro
fator contribuinte foram os gastos com medidas socioambientais.
O problema: Viabilidade Econômica
Além da controvérsia ligada aos impactos socioambientais, a usina
hidrelétrica de Belo Monte gerou também uma polêmica de caráter econômico,
tendo em vista o custo da construção e o benefício da energia gerada.
Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo – atrás somente da
usina de Três Gargantas na China com capacidade de produzir 22.500MW e
da usina de Itaipú com 14.000MW -, Belo Monte terá produção bastante inferior
ao esperado. Diante das medidas socioambientais para redução de impactos, a
área de represa de 1.225 quilômetros quadrados limitou-se em 709 quilômetros
quadrados, com abalo direto na produção energética. No projeto da década de
80, a usina que teria capacidade de gerar 15.000 megawatts, agora terá
capacidade máxima de 11.223 megawatts, o que é suficiente para abastecer
duas cidades como São Paulo todos os dias ³. Contudo, a capacidade máxima
só será atingida em períodos de cheia, enquanto nos períodos de estiagem (6
meses) serão gerados em média somente 4.428 megawatts, o que suscitou
grandes questionamentos sobre o custo-benefício. 4
“O cerne da oposição da sociedade civil à política energética
brasileira tem a ver com planejamento. O argumento é de que o
País deveria considerar primeiro as low hanging fruits, ou seja,
as medidas mais fáceis e de retorno mais imediato, que
consistem basicamente em aumentar a eficiência de todo o
sistema. Para se ter uma ideia, 16% de toda a energia produzida
no País se perde ao longo da transmissão e da distribuição.
Neste caso, o custo-oportunidade é que, enquanto se investe
algo como R$ 30 bilhões em uma única hidrelétrica, de baixa
produtividade, outras possibilidades perdem envergadura.’’
DERIVI, Carolina. Seis passos para entender Belo Monte.
Disponível em: www.pagina22.com.br. Acesso em 10/06/2013
(Disponível em: https://www.facebook.com/humortucano.
Acesso em 03/07/2013)
O aproveitamento em média de somente 40% de sua capacidade total, porcentagem inferior às médias nacionais de 53%, faz com que o uso de termelétricas se torne necessário para que a perda energética seja compensada em períodos de estiagem5. Esse tipo de usina é considerado mais caro, além de ser mais poluente. (MANSUR, Alexandre. O tabu das hidrelétricas na Amazônia. In: Revista Época. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso 10/06/2013)
Como o dinheiro da população vai pagar pela construção de Belo Monte?
O BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento) vai financiar 80% do valor da obra, sendo os outros 20% da Norte Energia S.A., que é responsável pela instalação e operação da usina. Entretanto, o dinheiro financiado pelo BNDS é derivado dos fundos trabalhistas e será repassado para bancos privados para, em seguida, ser transferido para a Norte Energia.
(Disponível em: http://essetalmeioambiente.com. Acesso em 30/06/2013)
Prós
De acordo com o governo, 70% da energia produzida irá para 27 distribuidoras localizadas em 17 estados. Dez por cento, para as empresas autoprodutoras no Pará e sócias do empreendimento e 20%, para o mercado. As indústrias não receberão energia subsidiada. Além disso, não será beneficiada somente a população regional, mas como também a população de todo país, já que a energia será de baixo custo e evita a emissão de GEEs (Gases do Efeito Estufa), que acentuam o aquecimento global.
Estão sendo aplicados cerca de R$ 3,7 bilhões no PDRS (Plano de
Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu), destinandos à construção e
ampliação de escolas, postos de saúde, segurança pública, saneamento e
habitação. (RODRIGUES, Alex. AQUINO, Yara. Governo anuncia medidas
para reduzir impactos socioambientais da construção de Belo Monte.
Disponível em: www.agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em 20/06/2013)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os prejuízos de caráter sociocultural são inegáveis, sobretudo se forem
levados em conta os laços existentes entre os povos indígenas e a terra, que
não podem ser substituídos por subsídios governamentais. Além disso, os
impactos ambientais serão significativos, por mais que já existam iniciativas
para minimizar os danos causados pela instalação da usina.
Não obstante, o projeto traz com sigo aspectos positivos, que também
devem ser considerados. Entre eles, o baixo custo no fornecimento de energia,
a capacitação profissional de moradores da região e a melhora na
infraestrutura dos povoados.
O ponto chave na análise do custo-benefício da hidrelétrica se encontra,
no entanto, na questão dos gastos financeiros. Uma vez que o projeto já foi
aprovado e está sendo posto em prática, se faz imprescindível uma estrita
fiscalização para que os custos não ultrapassem ainda mais o planejado e para
que, assim, a obra se pague após um período de tempo razoável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOZZA, André. DE MARCO, André. SAMRA, Ariana. PALERMO. BUENO, Carlos. RIBEIRO, Carlos. CARNEIRO, Débora. OLIVEIRA, Dominique. ZACHARIAS, Fernanda. PEREIRA, Frederico. NEVES, Juliana. CARDOSO, Juliana. SOARES, Maria. SILVA, Mariana. CAMILO, Mariane. BALAU, Marina. MATTOS, Raphael. SAMPAIO, Rita. Conscientização sobre a importância da mata ciliar realizada com alunos do Ensino Fundamental da escola Sistema Educacional Realidade, Campinas-SP. Disponível em: www.enapet.ufsc.br. Acesso em: 26/06/2013.
CORDEIRO, Tiago. GAMA, Horácio. STEFFEN, Renata. VERSIGNASSI, Alexandre. Quais são as vantagens e as desvantagens de Belo Monte? Super interessante.
Edição: 299, dezembro 2011. Acesso em: 24/06/2013.
DERIVI, Carolina. Seis passos para entender Belo Monte. Disponível em: www.pagina22.com.br. Acesso em: 10/06/2013.
MANSUR, Alexandre. O tabu das hidrelétricas na Amazônia. In: Revista Época. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso em: 10/06/2013.
RODRIGUES, Alex. AQUINO, Yara. Governo anuncia medidas para reduzir impactos socioambientais da construção de Belo Monte. Disponível em: www.agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 10/06/2013.
SÁ, Maria. FENERICH-VERANI, Nelsy. FRAGOSO, Evelise. Peixes do Cerrado em perigo - Ciência Hoje, vol.34, nº 200, pg 68, 2003. Acesso em: 25/06/2013.
SANTANA, Renato. Vídeo revela negociata da Norte Energia para aprovação do projeto de Belo Monte no Pará, 2011. Acesso em: 26/06/2013.
Secretaria de Comunicação Social/PR - UHE Belo Monte Perguntas e Respostas (págs. 6 a 9). Acesso em: 26/06/2013.
STEFANO, Fabiane. Precisamos de Belo Monte, mas não assim. EXAME, p. 42-45, 5
mai. 2010. Acesso em: 25/06/2013.
http://www.mma.gov.br/. Acesso em: 24/06/2013.
http://norteenergiasa.com.br/ . Acesso em: 26/06/2013.
http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/Dossie/BM/DocsOf/PBA/Belo%20Monte%20-%20PBA%20-200obra%20principal/A%C3%87%C3%95ES%20ANTECIPAT%C3%93RIAS-1.pdf. Acesso em: 20/06/2013.
http://blogbelomonte.com.br/ Acesso em: 25/06/2013.
www.wwf.org.br. Acesso em: 22/06/2013.
www.canalciencia.ibict.br. Acesso em: 24/06/2013.
www.problemasambientais.com.br. Acesso em: 19/06/2013.
www.ciliosdoribeira.org.br Acesso em: 25/06/2013.
http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/06/estudo-da-ufpa-levanta-possiveis-impactos-da-usina-de-belo-monte.html. Acesso em: 26/06/2013.
http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/atualidades-vestibular/como-a-polemica-da-
usina-de-belo-monte-pode-cair-no-vestibular/. Acesso em: 26/06/2013.
http://blogdoalex-silva.blogspot.com.br/2013/01/impactos-ambientais-causados-pela.html. Acesso em: 25/06/2013.
http://www.altamira.pa.cnm.org.br/portal1/intro.asp?iIdMun=100115009. Acesso em: 24/06/2013.
http://blogbelomonte.com.br/2013/04/05/momento-belo-monte-geracao-de-emprego/. Acesso em: 26/06/2013.
http://vestibular.brasilescola.com/atualidades/a-construcao-usina-belo-monte.htm. Acesso em: 22/06/2013.
http://www.xinguvivo.org.br/quem-somos/. Acesso em: 22/06/2013.
http://www.movimentogotadagua.com.br/projeto. Acesso em: 20/06/2013.
http://www.blogreen.ligadonessa.com/2010/08/historico-sobre-usinas-hidreletricas-
e.html. Acesso em: 15/06/2013.
http://www.brasilescola.com/geografia/energia-hidreletrica.htm. Acesso em: 21/06/2013.
http://www.dee.feis.unesp.br/usinaecoeletrica/index.php/hidreletrica. Acesso em: 23/06/2013.
http://www.youtube.com/watch?v=Z0eCshTvJ9g. Acesso em: 20/06/2013.
NOTAS DE RODAPÉ EM ORDEM DAS PÁGINAS
¹ Disponível em: www.eletrobras.com. Acesso em: 26/06/2013
² (05/04/2013 - Belo Monte, Desenvolvimento Social, Momento Belo Monte, Notícias,
Vídeos)
³. Disponível em: www.planetasustentavel.abril.com.br. Acesso em: 23/06/2013
4 (MANSUR, Alexandre. O tabu das hidrelétricas na Amazônia. In: Revista Época.
Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso 20/06/2013) ; (VASCONCELOS,
Yuri. Qual será o impacto ecológico da usina Belo Monte (PA)?. In: Mundo Estranho.
Disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br. Acesso em: 20/06/2013).
5. As termelétricas emitem gases estufa que são os grandes responsáveis pelas mudanças climáticas, podendo assim, afetar toda a floresta Amazônica.