universidade federal dos vales do jequitinhonha e mucuri - RI ...
-
Upload
khangminh22 -
Category
Documents
-
view
3 -
download
0
Transcript of universidade federal dos vales do jequitinhonha e mucuri - RI ...
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Química de Minas Gerais
Taís Aparecida Reis Cordeiro
DETECÇÃO SIMULTÂNEA DAS DOENÇAS DE CHAGAS E LEISHMANIOSE
VISCERAL: uma plataforma específica para o diagnóstico point-of-care
Diamantina-MG
2020
Taís Aparecida Reis Cordeiro
DETECÇÃO SIMULTÂNEA DAS DOENÇAS DE CHAGAS E LEISHMANIOSE
VISCERAL: uma plataforma específica para o diagnóstico point-of-care.
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Multicêntrico em Química de Minas Gerais da
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri como requisito para obtenção do título de
Doutor em Química.
Orientador: Prof. Dr. Lucas Franco Ferreira
Coorientadora: Profa. Dra. Helen Rodrigues Martins
Diamantina-MG
2020
Elaborado com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
C794d
Cordeiro, Taís Aparecida Reis Detecção simultânea das doenças de chagas e leishmaniose
visceral: uma plataforma específica para o diagnóstico point-of-care / Taís Aparecida Reis Cordeiro, 2020.
143 p. il.
Orientador: Lucas Franco Ferreira Coorientadora: Helen Rodrigues Martins
Tese (Doutorado- Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Química de Minas Gerais) - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2020.
1. Doença de chagas. 2. Leishmaniose visceral. 3. Imunosensor. 4.
Espectroscopia de impedância eletroquímica. 5. Monocamadas auto-organizadas.6. Eletropolimerização. I. Ferreira, Lucas Franco. II. Martins, Helen Rodrigues. III. Título. IV. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.6.
CDD 614. 4323
Ficha Catalográfica – Sistema de Bibliotecas/UFVJM Bibliotecária: Viviane Pedrosa – CRB6/2641
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente a Deus por iluminar o meu caminho e me permitir concluir
mais essa etapa da minha trajetória acadêmica e principalmente por me dar força para continuar
mesmo nos momentos em que julguei não conseguir.
Aos meus pais por estarem presentes na minha vida, por não medirem esforços para
me ajudar e por sempre acreditarem em mim. Às minhas irmãs Amanda e Kati que juntamente
com os meus pais são o meu porto seguro. Agradeço a vocês pelo carinho e apoio.
Em especial agradeço ao meu marido que sempre esteve ao meu lado, me
incentivando sempre, desde quando eu tinha medo de não passar no vestibular. Você me faz
acreditar que eu posso ir mais longe em busca dos meus sonhos e sou grata por isso.
Ao meu orientador Professor Dr. Lucas Franco Ferreira que me proporcionou nestes
anos de convivência grandes oportunidades e ensinamentos que me enriqueceram imensamente
tanto profissionalmente como pessoalmente. Por ter tido muita paciência, pela disponibilidade
e por ter acreditado em mim. Por ser um exemplo de grande profissionalismo e sensibilidade
com as pessoas.
À Prof. Dra. Helen Rodrigues Martins, pela co-orientação, pessoa indispensável
para realização desse projeto. Obrigada por ter contribuído em todo o trabalho com aporte
técnico e intelectual. Serei eternamente grata.
A todos os integrantes e ex-integrantes do GENAp que tive o prazer de conviver e
que me ajudaram sempre com disposição e boa vontade. Em especial meu amigo Filipe Cruz
pela cumplicidade, carinho e companheirismo. Por estar presente em minha vida, pelos dias de
diversão escutando Glee e pelos sorrisos incontáveis quando estávamos juntos no laboratório.
Aos membros da banca pela grande disponibilidade, por aceitarem o convite para
fazer parte da comissão examinadora. É uma honra contar com vocês nesse momento
importante. Obrigada por contribuírem com o trabalho.
A UFVJM pela formação profissional e pela bolsa que me possibilitou realizar esse
trabalho.
E a todos que direta ou indiretamente me incentivaram e ajudaram nesse projeto.
Muito Obrigada!
“E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse
todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse
toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e
não tivesse amor, nada seria”...
1 Coríntios 13.2-3
RESUMO
A doença de Chagas (DC) e a de Leishmaniose Visceral (LV) são enfermidades que apresentam
grande impacto na saúde pública. Ambas são causadas por protozoários pertencentes à mesma
família, a Trypanosomatidae. A proximidade genética dessas doenças causa reatividade
cruzada dos anticorpos com os antígenos ubíquos, o que resulta em baixa especificidade dos
testes diagnósticos utilizados para identificação de tais doenças, podendo incorrer em falsos
resultados. Esse problema causa dificuldades ainda maiores se considerado as regiões co-
endêmicas para essas doenças. Assim esse trabalho buscou inicialmente testar uma plataforma
simples de reconhecimento utilizando a técnica de espectroscopia de impedância eletroquímica
(EIE) através da imobilização de antígenos brutos de L. infantum em monocamadas auto-
organizadas (SAMs) de ácido 3-mercaptopropiônico (3-MPA), para o reconhecimento de
anticorpos específicos do parasito presentes em soros caninos positivos para LV. Todos os
parâmetros da análise foram otimizados para a detecção da doença utilizando o dispositivo
proposto. Desta forma, com os resultados satisfatórios obtidos essa plataforma foi adaptada para
um sistema de eletrodos impressos duplos de carbono, formandos por dois eletrodos de trabalho
(W1 e W2) que podem permitir a detecção simultânea das doenças de Chagas e Leishmaniose
Visceral. Para isso, foram utilizados antígenos recombinantes T. cruzi (IBMP8.1) e L. infantum
(rLCi1,2) que aumentam a especificidade da análise realizada e diminuem a ocorrência de
possíveis reações cruzadas. Nessa plataforma, os antígenos recombinantes IBMP8.1 e L.
infantum (rLCi1,2) foram imobilizados nos eletrodos W1 e W2, respectivamente, modificados
com filme poliméricos obtidos através da eletropolimerização do ácido 4 -hidroxifenilacético
(4-HFA). O imunossensor proposto foi desenvolvido e caracterizado com sucesso, sendo um
sistema simples, eficaz e específico para a discriminação do reconhecimento dos anticorpos de
DC e LV presentes em soros caninos e humanos, o que representa um campo encorajador para
o progresso do diagnóstico dessas doenças em regiões endêmicas e co-endêmicas. Os resultados
apresentados podem trazer contribuições significativas para a sociedade, principalmente em
regiões mais pobres que sofrem com o impacto dessas doenças e não possuem acesso a exames
clínicos de rotina para início do tratamento. Neste contexto, o objetivo principal do trabalho foi
desenvolver um template de um dispositivo do tipo point of care que possa ser utilizado em
postos de pronto atendimento, acelerando o diagnóstico das doenças de DC e LV, e
consequentemente iniciando o tratamento de pessoas infectadas com essas doenças,
proporcionando uma melhor qualidade de vida e menores custos ao sistema de saúde pública
(SUS).
Palavras-chave: Doença de Chagas; Leishmaniose Visceral; Imunosensor; Espectroscopia de
Impedância eletroquímica; Monocamadas Auto-organizadas; Eletropolimerização.
ABSTRACT
Chagas disease (CD) and Visceral Leishmaniasis (VL) are diseases that have a impact on public
health. Both are caused by protozoa belonging to the same family, Trypanosomatidae. The
genetic proximity of these diseases causes cross-reactivity of antibodies with ubiquitous
antigens, which results in low specificity of the diagnostic tests used to identify such diseases,
which may result in false results. This problem causes even greater difficulties when
considering the co-endemic regions for these diseases. Thus, this work initially sought to test a
simple recognition platform using the Electrochemical Impedance Spectroscopy (EIS)
technique by immobilizing L. infantum crude antigens in self-organized monolayers (SAMs) of
3-mercaptopropionic acid (3-MPA), for the recognition of antibodies specific to the parasite
present in canine sera positive for LV. All optimization parameters were determined for that
device. After satisfactory results, this platform was adapted using double carbon electrodes,
formed by two different working electrodes (W1 and W2) that allow simultaneous detection of
these diseases. For this purpose, recombinant antigens of T. cruzi (IBMP8.1) and L. infantum
(rLCi1,2) have used that increase the specificity of the analysis performed and decrease the
occurrence of possible cross-reactions. In this platform, the recombinant antigens IBMP8.1 and
rLCi1,2 were immobilized in W1 and W2 respectively, modified with poly (4-HFA) film. The
proposed immunosensor was successfully developed as a simple, effective and specific system
for the discrimination of CD and VL antibodies present in canine and human sera, which
represents an encouraging field for the progress of the diagnosis of these diseases in endemic
and co-endemic regions. We hope that the results presented here can make a major contribution
to society, especially the poorest who suffer from the impact of these diseases. The main
objective of this project is to develop a template that helps as a foundation for the future
development of a point of care type device that can be used in emergency rooms, accelerating
the diagnosis and treatment of people infected with these diseases, providing a better quality of
life and lower costs to the Brazilian public health system.
Keywords: Chagas Disease; Visceral leishmaniasis; Immunosensor; Electrochemical
Impedance Spectroscopy; Self-assembled Monolayer; Electropolymerization.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Número estimado de casos de pessoas infectadas com T. cruzi no mundo. ............ 23
Figura 2. Casos de LV reportados em todo o mundo. ............................................................. 25
Figura 3. Esquema representando os tipos de reações cruzadas que podem acontecer. ......... 27
Figura 4. Esquema representativo do funcionamento de um biossensor................................. 29
Figura 5. Diferentes classificações dos biossensores. ............................................................. 31
Figura 6. Resposta senoidal da corrente frente a uma perturbação no potencial, evidenciando o
ângulo de fase ........................................................................................................................... 34
Figura 7. Diagrama de Nyquist para um sistema eletroquímico simples. ............................... 35
Figura 8. Representação do circuito de Randles ..................................................................... 36
Figura 9. Número de publicações com base no tema imunossensor impedimétrico de 1995 a
2018. ......................................................................................................................................... 37
Figura 10. Exemplos de eletrodos impressos comercializados pela Metrohm DropSens. (a)
eletrodo de ouro do tipo BT, (b) eletrodo duplo de ouro tipo simétrico (c) eletrodo de grafite (d)
eletrodo duplo de ouro (e) eletrodo duplo de grafite. ............................................................... 38
Figura 11. Representação esquemática da SAM 3-MPA sobre a superfície do ouro. ............. 41
Figura 12. Estrutura química do 4HFA. .................................................................................. 43
Figura 13. Mecanismo de eletropolimerização do monômero 4-HFA. ................................... 43
CAPÍTULO 1 – Desenvolvimento de um imunossensor impedimétrico baseado na
modificação de eletrodos de ouro impressos para detecção de anticorpos anti-L.infantum
Figura 1. Esquema mostrando o desenvolvimento do imunossensor para detecção de anti L.
infantum. ................................................................................................................................... 64
Figura 2.Voltamograma cíclico obtido para a superfície do eletrodo impresso de ouro AT não
modificada em solução 0,5 mol L-1 de H2SO4. ......................................................................... 68
Figura 3. Imagens de MEV para eletrodo impresso de ouro AT nas ampliações de (a) 1.000x,
(b) 2.500x, (c) 5.000x e (d) 10.000x. ........................................................................................ 69
Figura 4. Voltamogramas cíclicos obtidos SPE-Au não modificado (curva 1) e modificados
com SAM/3-MPA (curva 2) em solução aquosa contendo Fe(CN)6 3−/ 4− (1.0 mmol L−1) e KCl
(0.1 mol L−1), velocidade de varredura de 50 mV s−1. ............................................................. 70
Figura 5. Diagramas de Nyquist (gráfico Z’ vs. Z’’) para as medidas de espectroscopia de
impedância eletroquímica realizadas para SPE -Au () e SPE -Au / SAM 3-MPA (). ......... 71
Figura 6. Circuitos utilizados para simulação dos dados de EIE. (1) circuito Randles e (2)
circuito Randles modificado. .................................................................................................... 72
Figura 7. Esquema representando a reação EDC/NHS. .......................................................... 74
Figura 8. Diagramas de Nyquist dos antígenos L. infantum imobilizados sob o eletrodo
modificado (antígeno / SAM 3-MPA / SPE-Au(∆)) em comparação com a superfície
modificada com 3-MPA () na presença da sonda redox. ....................................................... 74
Figura 9. Efeito da concentração do antígeno no valor da Rct. ............................................... 76
Figura 10. A dependência da Rct em função do tempo de imobilização do antígeno
(50 μg mL−1). Todas as medidas foram realizadas em solução de KCl (0,1 mol L−1) contendo
Fe(CN)63−/4− (1,0 mmol L−1). .................................................................................................... 76
Figura 11. Diagramas de Nyquist obtidos para antígeno/SAM/3-MPA/SPEAu (curva 1), o
imunossensor na presença de amostras de soro canino contendo anticorpos negativos (Ab ,
curva 2) e positivos (Ab+, curva 3). ......................................................................................... 77
Figura 12. Valores de Rct obtidos para a detecção de anticorpos positivos e negativos em 10,
20, 30 e 60 minutos de incubação. ........................................................................................... 79
Figura 13. Valores de Rct obtidos para soros caninos positivos e negativos nas diluições de
1:40, 1:80, 1:160, 1:320, 1:640 e 1:1280 e a diferença obtida entre positivo e negativo em cada
diluição, ∆Rct. .......................................................................................................................... 80
Figura 14. Valores de Rct em função do fator de diluição para os as diluições positivas de 1:40,
1:80, 1:160, 1:320, 1:640 e 1: 1280. ......................................................................................... 81
Figura 15. Diagramas de Nyquist mostrando a resposta do imunossensor frente a adição de
amostras de sangue positivo (curva 1) e negativo (curva 2). As medidas foram realizadas em
solução de KCl (0.1 mol L−1) contendo Fe(CN)63−/4− (1.0 mmol L−1). ..................................... 82
CAPÍTULO 2 – Desenvolvimento de um imunossensor para detecção simultânea de Leishmaniose Visceral e Chagas utilizando eletrodos impressos duplos de grafite
Figura 1. Instrumentação utilizada nos estudos de espectroscopia de ressonância de plásmons
de superfície (SPR). Espectrômetro de SPR BioNavis utilizado para as medidas ópticas. ...... 96
Figura 2. Eletrodos utilizados no desenvolvimento do trabalho (a) eletrodo duplo de grafite,
(b) chip de ouro para análises de SPR. ..................................................................................... 96
Figura 3. Esquema demonstrando as etapas para o desenvolvimento do imunossensor duplo.
................................................................................................................................................ 102
Figura 4. Curvas de SPR evidenciando as etapas de associação e dissociação para a adição de
anticorpo anti-T.cruzi positivo (curva 1) e anti-L. infantum positivo (curva2) sobre proteína
recombinante IBMP 8.1 imobilizada sobre SAM/Au. ........................................................... 106
Figura 5. Curvas de SPR evidenciando as etapas de associação e dissociação para a adição de
anticorpos anti- L.infantum positivos (curva 1) e anticorpos anti- T.cruzi positivos (curva2)
sobre proteína recombinante rLci1,2 imobilizada sobre SAM/Au. ........................................ 106
Figura 6. Voltamograma cíclico dos eletrodos de trabalho W1(vermelho) e W2 (preto) em
solução 5,0 mM Fe(CN)63−/4− contendo KCl 0,10 M. v = 50mV/s. ....................................... 108
Figura 7. Imagens de MEV para os eletrodos W1 (A) e W2 (B) não modificados na ampliação
de 1000x. ................................................................................................................................ 108
Figura 8. VCs consecutivos obtidos em solução de 2,50 mM de 4-HFA utilizando EIDG.
Eletrólito suporte: 0,50 M HClO4. Número de ciclos = 10; v = 50 mV/s. ............................. 110
Figura 9. Voltamograma cíclico obtido em solução 5,0 mM Fe(CN)63−/4− contendo KCl 0,10
M para: (1) EIDG e (2) poli(4HFA)/EIDG. v = 50mV/s. ...................................................... 110
Figura 10. Diagramas de Nyquist dos espectros de impedância eletroquímica obtidos em
solução 5,0 mM Fe(CN)63−/4− contendo KCl 0,10 M para: (1) EIDG e (2) poli(4-HFA)/EIDG.
Amplitude 10 mV. Intervalo de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam
o ajuste do circuito aos dados experimentais.......................................................................... 111
Figura 11.Diagramas de Nyquist dos espectros de impedância eletroquímica obtidos para: (A)
EIDG/ Ag IBMP 8.1 (curva 1) e EIDG/ + Ab T. cruzi (curva 2) (B) EIDG/ Ag rLci1,2 (curva
1) +Ab L. infantum (curva 2). (C) poli 4-HFA/ Ag IBMP (curva 1) + Ab T. cruzi (curva 2). (C)
poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) + Ab T. cruzi (curva 2). Amplitude 10 mV. Intervalo de
Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados
experimentais. ......................................................................................................................... 113
Figura 12. Diagramas de Nyquist obtidos em solução de K4Fe(CN)6/K3Fe(CN)6 5,00 mM
contendo KCl 0,10 M para os diferentes números de ciclos realizados na eletropolimerização
sendo: 5 (curva 1), 10 (curva 2), 15 (curva 3) e 20 (curva 4) ciclos. Amplitude 10 mV. Intervalo
de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados
experimentais. ......................................................................................................................... 115
Figura 13. Valores de Rct obtidos para as etapas de construção do imunossensor, evidenciando
o valor de ∆Rct obtido para a imunorreação em diferentes números de ciclos (A) W1 e (B)W2.
................................................................................................................................................ 117
Figura 14. Diagramas de Nyquist obtidos para (A) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1 (curva 1) +Ab
T. cruzi positivo (curva 2) (B) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1(curva 1) +Ab L. infantum positivo
(curva 2) (C) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1+BSA (curva 1)+ Ab T. cruzi positivo (curva 2) (D)
poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1+BSA (curva 1) + Ab L. infantum positivo (curva 2). As linhas sólidas
representam o ajuste do circuito aos dados experimentais. .................................................... 119
Figura 15. Diagramas de Nyquist obtidos para (A) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) +Ab
L.infantum positivo (curva 2) (B) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) +Ab T.cruzi positivo (curva
2) (C) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2+BSA (curva 1)+ Ab L.infantum positivo (curva 2) (D) poli 4-
HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) + Ab T. cruzi positivo (curva 2). As linhas sólidas representam o
ajuste do circuito aos dados experimentais............................................................................. 121
Figura 16. Diagramas de Nyquist obtidos para poli 4-HFA (15ciclos de varredura) () +Ab
L.infantum positivo (). As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados
experimentais. ......................................................................................................................... 121
Figura 17. Diagramas de Nyquist dos espectros de impedância obtidos para (A) W1- poli (4-
HFA)/ antígeno IBMP 8.1 e (B) W2- poli (4-HFA)/ antígeno rLci1,2em diferentes tempos de
imobilização 5 (), 10 (), 15(), 20(), 25 (∆) e 30 () minutos. Amplitude 10 mV. Intervalo
de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados
experimentais. ......................................................................................................................... 122
Figura 18. (A)Influência da concentração do antígeno IBMP 8.1 no valor de ∆Rct em W1 ao
ser adicionado o alvo específico () amostras de soro contendo anticorpos anti- T. cruzi
negativo () e anti- L. infantum positivo ().(B) Influência da concentração do antígeno rLci1,2
no valor de ∆Rct em W2 ao ser adicionado o alvo específico () amostras de soro contendo
anticorpos anti- L. infantum negativo () e anti- T. cruzi positivo (). Todas as medidas foram
realizadas em solução de Fe(CN)63−/4− (5,0 mmol L−1) contendo KCl (0,1 mol L-1). ............ 125
Figura 19. Influência do tempo de imobilização da proteína BSA no valor de ∆Rct em (A) W1
e (B) W2. Antígeno imobilizado em condições otimizadas. Todas as medidas foram realizadas
em solução de Fe(CN)63−/4− (5,0 mmol L−1) contendo KCl (0,1 mol L-1). ............................. 127
Figura 20. (A) Efeito do tempo de imunorreação no valor de ∆Rct para W1 e (B) W2. Diluição
de anticorpo utilizada foi 1:320. Antígeno e BSA utilizados em condições otimizadas. Todas as
medidas foram realizadas em solução de Fe(CN)63−/4− (5,0 mmol L−1) contendo KCl (0,1 mol
L-1). ......................................................................................................................................... 128
Figura 21. (A) ∆Rct em função do fator de diluição do soro positivo () e negativo () para
Chagas e positivo para Leishmaniose Visceral () em W1. (B) ∆Rct em função fator de
diluição do soro positivo () e negativo () para Leishmaniose Visceral e positivo para Chagas
() em W2. ............................................................................................................................ 129
Figura 22. (A) Investigação da seletividade do imunossensor em condições otimizadas.
Antígeno específico e mistura de antígenos estão na mesma diluição 1:320 (20 minutes). (B)
Avaliação da repetibilidade do imunossensor desenvolvido. (C) Estudo da estabilidade de
armazenamento do imunossensor. .......................................................................................... 131
Figura 23. Reatividade obtida para amostras de soros humanos e caninos para T. cruzi-positivo
(TcP), T. cruzi-negativo (TcN), L. infantum-positivo (LiP), and L. infantum-negativo (LiN)
individualmente. O valor de cut-off é o indice de reatividade = 1,0, e a área sombreada
representa a zona cinza (RI = 1,0 ± 0,10). Linhas horizontais e números para cada grupo de
resultados representam as médias geométricas (± 95% CI). AUC (área sob a curva); Sen
(sensibilidade); Spe (especificidade); Acc (precisão); K (coeficiente Kappa de Cohen); GZ
(zona cinza)............................................................................................................................. 133
Figura 24. Análise de reatividade cruzada (CR) de IBMP-8.1 ou rLci1A / rLci2B com soros
humanos de indivíduos com doenças não relacionadas. O valor de corte é o índice de reatividade
= 1,0, e a área sombreada representa a zona cinza (RI = 1,0 ± 0,10). As linhas horizontais
representam as médias geométricas (IC95%), com os resultados correspondentes mostrados
abaixo para cada grupo. ATL (leishmaniose tegumentar americana); HBV (vírus da hepatite
B); HIV (vírus da imunodeficiência humana); HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas);
TOXO (Toxoplasmose); GZ (zona cinza); RI (índice de reatividade). .................................. 136
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Exemplos recentes de biosensores construídos para diagnóstico de LV e DC. ...... 46
CAPÍTULO 1 – Desenvolvimento de um imunossensor impedimétrico baseado na
modificação de eletrodos de ouro impressos para detecção de anticorpos anti-L.infantum
Tabela 1. Valores de Rct obtidos para os as diluições de 1:40, 1:80, 1:160, 1:320, 1:640 e 1:
1280 positivas e negativas. ....................................................................................................... 80
CAPÍTULO 2 – Desenvolvimento de um imunossensor para detecção simultânea de Leishmaniose Visceral e Chagas utilizando eletrodos impressos duplos de grafite
Tabela 1: Parâmetros obtidos na simulação dos dados de EIE para as plataformas de poli (4-
HFA)/ EIDC modificados com diferentes números de ciclos utilizando o circuito equivalente
proposto .................................................................................................................................. 116
Tabela 2: Valores de ∆Rct obtidos para W1 e W2 ao ser adicionado soro específico e não
específico para a plataforma na presença e na ausência de agente bloqueador BSA. ............ 119
Tabela 3: Influência do tempo de imobilização do antígeno T. cruzi nos valores de Rct das
etapas do desenvolvimento do imunossensor – W1. .............................................................. 123
Tabela 4: Influência do tempo de imobilização do antígeno L. infantum nos valores de Rct das
etapas do desenvolvimento do imunossensor –W2. ............................................................... 124
Tabela 5: Valores de indice de reatividade para avaliação de desempenho do diagnóstico. . 134
Tabela 6: Valores de índice de reatividade para avaliação de reatividade cruzada. ATL –
Leishmaniose tegumentar americana, HBV - Vírus da Hepatite B, HIV – Virus da
imunodeficiencia humana, HTLV - vírus linfotrópico da célula humana e TOXO –
Toxoplasmose. ........................................................................................................................ 136
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
3-MPA: 3-Mercaptopropionic acid
4- HFA: ácido hidroxifenilacético
11-MUA: ácido 11-mercaptoundecanóico
Ab: anticorpos
Ag: antígenos
AuNPs: nanopartículas de ouro
BSA: Soroalbumina bovina
Cd: dupla camada elétrica
CCD: Doença de chagas congênita
DC: doença de chagas
EIDG: eletrodo impresso duplo de grafite
EDC: 1-etil-3-(3-dimetilaminopropil) carbodiimida
EDTA: Ácido etilenodiamino tetra-acético
EIE: Espectroscopia de Impedância Eletroquímica
ELISA: Enzyme-linked immunosorbent assay
Epa: Potencial de pico anódico
Epc: Potencial de pico catódico
FIOCRUZ: Fundação Instituto Oswaldo Cruz
FTIR: Espectroscopia de absorção no Infravermelho com transformada de Fourier
HBS-EP: Hepes Buffered Saline
HEPES: Ácido 4-(2-hidroxietil)piperazina-1-etanosulfônico
HIV: vírus da imunodeficiência humana
HTLV: vírus linfotrópico da célula humana
Ipa: Corrente de pico anódica
Ipc: Corrente de pico catódico
IBMP 8.1: antígeno quimérico obtido no Instituto de Biologia Molecular do Paraná
LTA: Leishmaniose tegumentar Americana
LV: Leishmaniose visceral
MEV: Microscopia eletrônica de varredura
NHS: N-hidroxisuccinimida
PCR: reação em cadeia da polimerase
Rct: Resistência à transferência de elétrons
Rs: resistência ôhmica da solução
RIFI: teste de imunofluorescência indireta
SAM: Monocamada auto-organizada
SPR: Ressonância de plásmons de superfície
TOXO: toxoplasmose
UFOP: Universidade Federal de Ouro Preto
v: Velocidade de varredura
VC: Voltametria cíclica
W1: eletrodo de trabalho 1
W2: eletrodo de trabalho 2
Zw: impedância de Warburg
∆Ep: variação de potencial de pico
∆Rct: Variação da resistência a transferência de elétrons
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 21
2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 23
2.1 – Aspectos gerais e atuais da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral ................... 23
2.2 – O diagnóstico laboratorial da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral ................ 26
2.3 – Novas abordagens no diagnóstico sorológico da doença de Chagas e Leishmaniose
Visceral ................................................................................................................................ 28
2.3.1 – Biossensores ............................................................................................................. 28
2.3.2 – Imunossensores Impedimétricos .............................................................................. 32
2.3.3 – Eletrodos impressos ................................................................................................. 38
2.3.4 – Eletrodos Modificados ............................................................................................. 39
2.3.4.1 – Monocamadas auto organizadas ................................................................... 40
2.3.4.2 – Filmes poliméricos ........................................................................................ 41
2.3.5 – Biossensores aplicados na detecção da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral
............................................................................................................................................. 44
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 48
CAPÍTULO 1 – DESENVOLVIMENTO DE UM IMUNOSSENSOR
IMPEDIMÉTRICO BASEADO NA MODIFICAÇÃO DE ELETRODOS DE OURO
IMPRESSOS PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-L.INFANTUM ........... 59
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 61
2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 62
2.1 – Objetivo geral ............................................................................................................. 62
2.2 – Objetivos específicos .................................................................................................. 62
3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 63
3.1 – Reagentes e soluções .................................................................................................. 63
3.2 – Instrumentação ............................................................................................................ 63
3.3 – Análises em eletrodo impresso de ouro ...................................................................... 64
3.4 – Produção de antígenos brutos de L. infantum ............................................................. 65
3.5 – Soros caninos contendo anticorpos anti-L. infantum .................................................. 65
3.6 – Limpeza, caracterização e modificação da superfície do sensor ................................ 66
3.7 – Imobilização de antígenos L. infantum sobre a SAM ................................................ 66
3.8 – Detecção da imunorreação entre antígenos L. infantum e anticorpos anti L. infantum
............................................................................................................................................. 67
3.9 – Desempenho do imunossensor frente adição de amostras de sangue ......................... 67
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................. 68
4.1 – Caracterização e modificação da superfície do sensor ............................................... 68
4.2 – Avaliação e otimização da imobilização de antígenos L. infantum sobre SAM-3MPA
............................................................................................................................................. 72
4.3 – Detecção e otimização da imunorreação entre antígenos L. infantum e anticorpos anti
L. infantum ........................................................................................................................... 77
4.4 – Testes de desempenho do imunossensor .................................................................... 79
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 84
REFERENCIAS ................................................................................................................. 85
CAPÍTULO 2 - DESENVOLVIMENTO DE UM IMUNOSSENSOR PARA
DETECÇÃO SIMULTÂNEA DAS DOENÇAS DE LEISHMANIOSE VISCERAL E
CHAGAS SOBRE ELETRODOS IMPRESSOS DUPLO DE GRAFITE ................... 88
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 92
2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 94
2.1 – Objetivo geral ............................................................................................................. 94
2.2 – Objetivos específicos .................................................................................................. 94
3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 95
3.1 – Reagentes e soluções .................................................................................................. 95
3.2 – Instrumentação ............................................................................................................ 95
3.3 – Obtenção do poliantígeno recombinante IBMP 8.1 e das proteínas rLci2B e rLci1A97
3.4 – Estudos da interação antígeno e anticorpo empregando SPR ..................................... 97
3.5 – Estudo da influência da modificação da superfície do sensor na imobilização de
antígenos e no reconhecimento da imunorreação ................................................................ 98
3.6 – Imobilização dos antígenos recombinantes IBMP 8.1 e rLci1,2. ............................... 99
3.7 – Influência do uso de BSA ......................................................................................... 100
3.8 – Avaliação da interação Antígeno-Anticorpo ............................................................ 101
3.9 – Testes de desempenho do imunossensor .................................................................. 102
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 105
4.1 – Avaliação da resposta da interação antígeno-anticorpo empregando SPR ............... 105
4.2 – Caracterização eletroquímica e morfológica dos eletrodos impressos duplos de grafite
........................................................................................................................................... 107
4.3 – Caracterização da superfície de eletrodos impressos duplos não modificados e
modificados com poli (4-HFA) .......................................................................................... 109
4.4 – Efeito da modificação da superfície do sensor na imobilização dos antígenos
recombinantes e na detecção do anticorpo específico. ...................................................... 112
4.5 – Influência do número de ciclos voltamétricos na formação do poli(4-HFA) e na
imunorreação. .................................................................................................................... 115
4.6 – Influência do uso de BSA no desempenho do imunossensor ................................... 118
4.7 – Otimização dos parâmetros de imobilização dos antígenos recombinantes IBMP 8.1 e
rLci1,2. ............................................................................................................................... 122
4.8 – Caracterização e otimização da interação antígeno-anticorpo por espectroscopia de
impedância eletroquímica .................................................................................................. 127
4.9 – Avaliação de Desempenho do Imunossensor no Diagnóstico Sorológico da Doença de
Chagas e Leishmaniose Visceral ....................................................................................... 130
5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 138
PERSPECTIVAS ............................................................................................................. 139
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 140
21
1. INTRODUÇÃO
Leishmaniose e Doença de Chagas são enfermidades endêmicas que representam
um preocupante problema de saúde pública. A Leishmaniose é uma doença causada por
protozoários do gênero Leishmania estando classificada como uma das principais doenças
negligenciadas, uma vez que atingem a parcela mais desfavorecida da população
(REITHINGER, 2002). No Brasil, a Leishmaniose em humanos pode ser dividida em duas
diferentes classes de acordo com o tipo da espécie de Leishmania e a resposta imune
desenvolvida pelo individuo infectado pela doença: a Leishmaniose tegumentar americana
(LTA) e a Leishmaniose Visceral (LV). A LTA também conhecida como “ferida brava”
provoca feridas na pele e mucosas podendo surgir, dependendo da imunidade da pessoa,
caroços espalhados pelo corpo, já a LV é a forma mais grave e preocupante da doença, exibindo
altos índices de mortalidade, sendo o número de casos diretamente correlatado à situação
econômica da região (SMITH et al., 2007; OKWOR e UZONNA, 2016). A doença de Chagas
(DC) é uma inflamação de caráter endêmico, de evolução geralmente crônica causada pelo
protozoário flagelado Trypanosoma cruzi. Este parasita multiplica-se no tubo digestivo de
barbeiros e as formas infectantes são então eliminadas com suas fezes e urina, que no momento
da picada podem entrar em contato com os tecidos cutâneos e mucosas do humano transmitindo
a infecção. Apesar dos esforços para o controle da transmissão ainda existe uma gama de
pessoas infectadas que precisam de diagnóstico e atendimento nos serviços de saúde (COURA
& BORGES-PEREIRA, 2012; MONCAYO, 2006).
Os testes sorológicos são os mais utilizados para diagnóstico dessas doenças no
Brasil, porém esses testes podem apresentar reações cruzadas devido à similaridade genética
dos parasitas causadores dessas doenças, podendo ter maior impacto em localidades onde
coexistem gêneros de Trypanossoma e Leishmania podendo ocorrer a co-infecção, ou seja, o
cão ou o humano podem estar apresentando ambas infecções, ou apenas uma delas, e assim
apresentar reação cruzada no teste impossibilitando a interpretação segura dos resultados
(MATOS et al., 2015; PEREIRA, 2016). Nesse sentido, estudos que buscam identificar a
infecção simultânea de Trypanosoma cruzi e Leishmania infantum em humanos e cães presentes
em áreas de sobreposição de DC e LV tornam-se necessários para uma identificação correta e
diferenciação dessas espécies. Essa relação pouco tem sido avaliada, sendo de extrema
22
importância o diagnóstico correto evitando falsos positivos além de sacrifícios desnecessários
de cães considerados infectados, bem como impedir a permanência de cães afetados e sendo
julgados como falso negativos servindo como razão de infecção para vetores (FERREIRA et
al., 2014).
Neste contexto, este trabalho propõe o desenvolvimento de um imunossensor
impedimétrico para o diagnóstico simultâneo da DC e LV visando estabelecer perspectivas para
melhorias no diagnóstico de ambas as doenças, uma vez que tal metodologia é extremamente
promissora para o diagnóstico dessas e de outras infecções, demonstrando sensibilidade maior
que os testes tradicionais utilizados, além da possibilidade de uma análise mais rápida e em
tempo real com perspectivas para aplicação em áreas endêmicas. O trabalho traz inovações para
a área científica uma vez que não há estudos prévios relatados na literatura relacionados a
detecção simultânea de DC e LV utilizando eletrodos duplos impressos, visando contribuir
significativamente na melhoria do diagnóstico e consequentemente no tratamento correto e
seguro de pessoas infectadas com tais doenças, além de resultar em menores custos ao sistema
de saúde pública no Brasil (SUS).
23
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 - Aspectos gerais e atuais da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral
A doença de Chagas é uma doença causada pelo protozoário flagelado
Trypanosoma cruzi. Estima-se que anualmente aproximadamente 8 milhões de pessoas são
infectadas pelo Trypanosoma Cruzi, protozoário causador da doença e sabe-se que pelo menos
10 mil pessoas morrem com complicações ligadas à doença de Chagas no mundo (WHO, 2018).
Por muito tempo o controle dessa doença foi negligenciado pelas autoridades públicas, porém
na década de 90 quando a quantidade de infectados se tornou alarmante se iniciou programas
de intervenções atuando principalmente no controle da transmissão do parasito, através do
combate ao vetor e também através da triagem dos bancos de doadores de sangue (DIAS, 2017;
MONCAYO, 2006).
Porém, apesar de tais medidas, a doença de chagas continua representando um sério
problema de saúde pública, sendo considerada a sexta doença negligenciada mais importante
do mundo. A Figura 1 representa uma estimativa do número de casos de pessoas infectadas com
T. cruzi.
Figura 1. Número estimado de casos de pessoas infectadas com T. cruzi no mundo.
Fonte: WHO, 2018
24
Em virtude do fluxo migratório de latino-americanos para outras localidades o
número de casos em áreas não endêmicas aumentou significativamente sobretudo nos EUA,
Canadá, Europa e alguns países do pacífico ocidental (MONTES-RINCÓN et al., 2018). Nessas
regiões, os casos são justificados devido a transfusões sanguíneas, transplante de órgãos e
acidentes laboratoriais (MACHADO et al., 2012).
De forma análoga, a leishmaniose é uma zoonose infecciosa, mas não contagiosa,
de evolução crônica causada pelo protozoário parasita Leishmania e tem como principal vetor
a fêmea do mosquito Flebótomo, conhecido como mosquito palha, tendo o cão como principal
fonte de infecção para tais vetores. O ciclo biológico da Leishmania se inicia quando a fêmea
pica um hospedeiro infectado, alimentando-se do sangue contendo os macrófagos
contaminados com as formas amastigotas do parasito. O hospedeiro saudável é então infectado
durante o repasto sanguíneo. (REIS et al, 2006).
Dependendo do tipo de parasita causador da infecção, a leishmaniose pode ser
classificada em leishmaniose tegumentar ou cutânea e leishmaniose visceral ou calazar. A
leishmaniose cutânea é a forma mais comum de leishmaniose, caracterizada por úlceras na pele,
lesões inflamatórias nas mucosas do nariz e da boca; sem tratamento pode ter consequências
graves (CHAPPUIS et al, 2007; ALVAR, 2012).
A leishmaniose visceral (LV) é a forma mais grave de leishmaniose, identificada
por febre de longa duração, perda de peso, podendo atacar órgãos viscerais como fígado, baço
e medula óssea, podendo levar a morte se não tratada. Tal infecção é negligenciada apesar de
ser endêmica em mais de 60 países localizados principalmente na África, Ásia e América Latina
(BRASIL, 2018; WHO, 2018). Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018) mais
de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas endêmicas com risco de infecção, sendo que por ano são
reportados cerca de 300 mil novos casos de LV, e destes são estimadas mais de 20 mil mortes
a cada ano.
A Figura 2 reporta o número de casos mundiais de LV. O Brasil incluindo Nepal,
Etiópia, Bangladesh, Índia e Sudão são os seis países que apresentam o maior número de casos
de LV. Os fenômenos associados à integração dos países e a globalização aumentam o risco de
exposição a esses agentes infecciosos principalmente em países em que essa doença não é
endêmica, sendo o maior problema neste caso é o risco de transmissão por transfusão sanguínea
(ABEIJON, 2020).
25
Figura 2. Casos de LV reportados em todo o mundo.
Fonte: WHO, 2018.
No Brasil, a incidência de casos de LV vem aumentando apesar das medidas
adotadas pelo Ministério da Saúde. Estas medidas incluem o tratamento precoce da doença,
controle de vetores através de gestão química e ambiental além da eutanásia dos cães infectados
(BRASIL, 2006).
Para o tratamento da LV não existem muitas opções, de forma geral são utilizados
antiamoniais, antibióticos e técnicas de imunoterapia para minimizar os efeitos colaterais
resultantes do tratamento (MARTINS, 2018).
Os riscos de transmissão podem ser evitados através de medidas de proteção
individual como o uso de telas, repelentes, saneamento ambiental, controle de cães infectados,
controle do vetor por meio químico, além de orientações à população quanto ao diagnóstico e
tratamento; as quais são medidas fundamentais para o controle da leishmaniose (ROCHA e
PETRONI, 2017).
26
2.2 - O diagnóstico laboratorial da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral
As doenças de Chagas e Leishmaniose são doenças da família Trypanosomatidae,
constituída por protozoários uniflagelados parasitas que podem ter o seu ciclo de vida em um
ou mais hospedeiros (BORGHESAN, 2018; CAMPOS, 2018). Diversos métodos podem ser
utilizados para diagnosticar tais doenças, dos quais podemos citar os testes parasitológicos
(direto e indireto), molecular, imunológico (celular ou sorológico) (ABEIJON, 2020).
As técnicas parasitológicas são empregadas com o objetivo de se visualizar as
formas amastigotas do parasita em microscópio, porém é um método bastante invasivo uma vez
que é necessário a realização de biopsia da medula óssea, baço ou fígado. Além disso, a análise
do parasita pode ser difícil devido à baixa carga parasitaria, principalmente em estágios iniciais
da doença (REIS et al., 2006; ALVES et al., 2004; DESJEUX, 2004).
No Brasil, principalmente na região Amazônica é comum a presença de coinfecção
de LV e DC, enfatizando assim a necessidade de uma avaliação clínica mais acurada e o
desenvolvimento de testes de diagnósticos mais específicos (MATOS et al, 2015; MAYWALD
et al., 1996). Por isso, os exames devem ser realizados com muita cautela para que o paciente
seja tratado com a medicação correta.
Testes sorológicos são comumente utilizados para detecção dessas doenças,
realizados através do teste de ELISA e o teste de imunofluorescência indireta (RIFI), porém a
reação cruzada entre as doenças para detecção de casos assintomáticos é a principal limitação
desses ensaios (LUCIANO et al., 2009; ROMERO et al., 2009).
A reatividade cruzada se refere à capacidade de moléculas de um anticorpo em
particular reagir com mais de um determinante antigênico. Essa interação ocorre porque o
antígeno envolvido na reação cruzada compartilha o mesmo epítopo (área do antígeno que se
liga aos receptores celulares e aos anticorpos) com o antígeno imunizador, ou porque tais
antígenos são estruturalmente muito semelhantes, assim quanto maior a similaridade maior a
intensidade da interação, como mostrado esquematicamente na Figura 3.
27
Figura 3. Esquema representando os tipos de reações cruzadas que podem acontecer.
Fonte: MAYER, 2017.
O tratamento adequado do indivíduo depende do diagnóstico precoce e correto de
modo a evitar que a doença se agrave. Assim, um aspecto importante dos métodos sorológicos
é a escolha do antígeno. Por serem da mesma família, a DC e a LV compartilham múltiplos
epítopos comuns (BARBOSA-DE-DEUS et al., 2002), então a utilização de antígenos brutos
em sorodiagnósticos leva a uma gama de reações falso positivas em indivíduos contaminados
com o outro tripanossomatídeo, sendo propensa a erros e levando a diagnósticos incorretos.
Outro fator importante é que essas doenças possuem fator geográfico comum e quadro clínico
semelhante (MALCHIODI, 1994).
Tal problema pode ser contornado utilizando-se antígenos recombinantes. O
antígeno rK39, por exemplo, foi desenvolvido com o objetivo de melhorar a especificidade e
sensibilidade, tal antígeno é comumente empregado no teste de ELISA e no teste por
imunocromatografia (SILVA, 2014). BRAZ et al. (2002) analisaram a sensibilidade e a
especificidade do teste de ELISA utilizando o antígeno recombinante rK39. Os resultados
indicaram que o ELISA baseado em rK39 é um teste sensível e específico para LV, uma vez
que anticorpos anti-rK39 não foram detectados em controles saudáveis ou com doença de
Chagas. Em contraste, o ELISA utilizando antígenos brutos foi sensível, mas não foi específico.
Entretanto, estudos apontaram que a utilização deste antígeno tem sido menos eficiente em
algumas regiões como, por exemplo, o leste africano. As causas ainda não foram explicadas,
mas de certa maneira, indivíduos infectados do Sudão apresentam uma menor quantidade de
28
títulos de anticorpos anti-rK39 quando comparados com indivíduos indianos (RITMEIJER, et
al., 2006).
Vários grupos de pesquisa buscam novas estratégias para um diagnóstico efetivo e
de baixo custo, porém apesar de tais esforços os métodos desenvolvidos ainda não são efetivos
e possuem algumas limitações como custo, sensibilidade e especificidade principalmente no
que se refere aos casos de reações cruzadas, o que reforça a necessidade de desenvolvimento
de testes de diagnósticos mais confiáveis (SINGH e SIVAKUMAR, 2003).
2.3 - Novas abordagens no diagnóstico sorológico da doença de Chagas e Leishmaniose
Visceral
A necessidade de sistemas de diagnóstico mais versáteis para o monitoramento de
doenças tem estimulado estudos para o desenvolvimento de técnicas mais acuradas
(PERINOTO et al., 2010).
Atualmente muitos procedimentos analíticos requerem o uso de instrumentos
complexos e de pessoas altamente especializadas para sua manipulação. Desse modo, tem sido
investigada novas abordagens para o diagnóstico das infecções de chagas e leishmaniose que
combinem robustez, rapidez, simplicidade e portabilidade, com adequada especificidade e
sensibilidade, (LUQUETTI et al., 2003).
Neste contexto surgem os sensores químicos que utilizam instrumentos simples,
seguros, de fácil manipulação, combinando alta sensibilidade e especificidade para o
reconhecimento de biomoléculas (ALFAYA, 2002; LUZ, 2015; SKOTTRUP et al., 2008).
2.3.1 Biossensores
O desenvolvimento de um biossensor se baseia na correspondência entre o
componente biológico e o transdutor. O componente biológico reconhece a molécula alvo,
presente na amostra, por meio de uma ligação bioquímica específica gerando uma variação no
sistema e o transdutor converte essa energia em um sinal mensurável que será ampliado e
exibido de forma apropriada (WANG, 2000; PATHAK et al., 2007).
Os elementos bioreceptores podem ser enzimas, antígenos, anticorpos, ácidos
nucleicos, micróbios, células, dentre outras substâncias (OLIVEIRA, 2016). A Figura 4
29
representa um esquema do funcionamento de um biossensor. A amostra contém além do analito
outros componentes, porém somente o analito é reconhecido pelo componente biológico, o que
torna o biossensor um instrumento altamente seletivo para determinado analito.
Existem diferentes campos de aplicação para os sensores biológicos tais como área
clínica para detectar doenças, na indústria alimentícia para identificar patógenos específicos
que contaminam alimentos, dentre outras funções. O desenvolvimento de biossensores possuem
grandes perspectivas, tendo como objetivo principal o aumento da qualidade de vida da
população (BARBOSA, 2011).
Figura 4. Esquema representativo do funcionamento de um biossensor.
Fonte: Stobiecka, 2016 (Adaptado)
30
Para a construção e validação do dispositivo algumas características analíticas são sempre
requeridas, tais como:
a) Tempo de análise: Análises rápidas e respostas em “tempo real”;
b) Sensibilidade: resposta do sistema frente a adição de pequenas concentrações do
analito. A sensibilidade deverá ser suficientemente alta para permitir medições
convenientes;
c) Seletividade: característica do dispositivo que consegue diferenciar alvos específicos
de outras espécies presentes na amostra;
d) Estabilidade: Tempo em que o dispositivo ainda consegue preservar suas propriedades
sob condições normais de operação;
e) Reprodutibilidade: obtenção de respostas reprodutíveis e consistentes que aumentam a
confiabilidade do sensor;
f) Tamanho: o dispositivo deverá ter o menor tamanho possível, permitindo a
portabilidade;
g) Fácil manuseio: Não exigem mão de obra especializada podendo ser manipulado por
qualquer pessoa;
h) Custo: Baixo custo unitário e operacional que permita sua aplicabilidade no mercado.
Os biossensores podem ser classificados de acordo com o elemento de
reconhecimento biológico utilizado ou o método de transdução de sinal empregado, como
mostra a Figura 5 (PERUNAL e HASHIM, 2014). De acordo com o método de transdução
empregado os biossensores podem ser classificados como biossensores ópticos, piezoelétricos
ou eletroquímicos.
Os biossensores ópicos se baseiam no fato de que a imobilização de espécies na
superfície do eletrodo altera a resposta do sensor quando expostos a fontes luminosas. Desta
maneira convertem a informação requerida em um sinal óptico detectável, sendo rápidos na
geração de sinal e detecção da resposta, além de serem altamente sensíveis e isentos da
necessidade de marcadores biológicos. As desvantagens dos métodos ópticos estão associadas
a penetração limitada da luz, interferência na medida devido à presença de outras espécies
biológicas, sensibilidades às variações de pH e temperatura, além de custos elevados
(ALCANTARA, 2017). Uma das técnicas ópticas que mais tem sido utilizada atualmente é a
31
Ressonancia de Plasmon de Superfície (SPR) no qual o ângulo de SPR resultante é altamente
sensível a mudanças nas propriedades ópticas do sistema, uma característica interessante na
detecção de biomoléculas (CHOI, et al., 2014; LUZ, 2015)
Figura 5. Diferentes classificações dos biossensores.
Fonte: ALVES, 2016. Adaptado.
Os métodos piezoelétricos realizam a medida da mudança da quantidade de massa
depositada sobre a superfície de um cristal oscilante. Sistemas utilizando cristais de quartzo,
denominado microbalança de cristal de quartzo (EQCM), são frequentemente utilizados no
desenvolvimento de biossensores os quais baseiam-se no princípio de cobrir a superfície do
eletrodo com uma substância biologicamente ativa que irá entrar em contato com uma solução
contendo o analito de interesse. Caso haja ligação entre a molécula e o analito haverá aumento
de massa sobre a superfície do eletrodo e então a frequência de oscilação do cristal de quartzo
irá diminuir proporcionalmente. A principal desvantagem desse método diz respeito a
sensibilidade do ensaio que é totalmente dependente da massa do analito, podendo analitos
muito leves como fármacos, hormônios e toxinas não possuírem massa suficiente para causar
mudança significativa na frequência (WANG et al, 2011; AFONSO, 2013).
Voltamétricos
Impedimétricos
Amperométricos
32
Os biossensores eletroquímicos são frequentemente utilizados devido a sua
simplicidade, alta sensibilidade, e rápida resposta na conversão do sinal biológico em um sinal
útil de corrente, potencial ou impedância elétrica, além de permitirem detecções em uma ampla
faixa de concentração. A combinação entre as técnicas eletroquímicas e o reconhecimento de
biomoléculas trouxe grandes avanços para a ciência, podendo ser aplicado em diferentes áreas,
incluindo a análise e detecção de doenças. (CASTRO, 2020; ARDUINI et al., 2016).
2.3.2 Imunossensores Impedimétricos
Os imunossensores são biossensores de afinidade que se baseiam na especificidade
da ligação entre antígeno e anticorpo em concentrações muito baixas e em matrizes biológicas
complexas, como o sangue (WANG et al., 2008). Essa ligação geralmente é não covalente,
sendo, portanto, reversível e mantidas por forças intermoleculares (ligações de hidrogênio,
ligações de van der Waals, forças eletrodinâmicas e hidrofóbicas) que são individualmente
fracas, porém na totalidade proporcionam uma forte coesão entre o antígeno e o anticorpo
(CASTRO, 2020).
Neste tipo de biossensor pode ocorrer a imobilização do antígeno ou do anticorpo
e a ligação específica entre essas moléculas gera mudanças na massa, resistência a transferência
de carga, nas propriedades ópticas, as quais serão detectadas por um transdutor (DMITRIEV et
al., 2002). A maior vantagem de se utilizar tais moléculas é que não há necessidade de
purificação das amostras antes da detecção (CHAMBERS et al, 2008).
Os primeiros estudos realizados objetivando o desenvolvimento de imunossensores
foram realizados por Yalow & Berson (1959), porém somente a partir da década de 80 é que
esses dispositivos passaram a ganhar destaque. Atualmente os imunossensores têm despertado
grande interesse, uma vez que podem proporcionar detecções rápidas e seguras e quantificação
de biomoléculas com aplicação em análises ambientais por meio da análise de campos e rios
(GIZELI e LOWE, 1996), avaliações clínicas para diagnóstico e prevenção de doenças (LUZ,
2015), no controle de qualidade dos alimentos (CHOWDHURY, 2012), dentre outros.
Os imunossensores podem operar de forma direta (não marcados) ou indireta
(marcado) de acordo com o mecanismo de reconhecimento proposto, isso significa que o
imunossensor pode detectar diretamente a interação Ag-Ab ou empregar uma molécula,
geralmente uma enzima ou um composto fluorescente que irá sinalizar a formação do
33
imunocomplexo. Os sensores não marcados são preferíveis em relação aos marcados uma vez
que dispensam o uso de compostos adicionais para a marcação, ocorrendo a detecção em uma
única etapa (FARIA, 2018; PICÓ, 2014).
Os imunossensores impedimétricos são biossensores eletroquímicos que
monitoram a impedância elétrica e seus componentes: resistência e capacitância, os quais
empregam medidas diretas dessas propriedades (GOMES, 2011) utilizando para tal a
espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE).
A EIE é uma técnica eletroquímica, não destrutiva, ou seja, que proporciona
medições sucessivas sem deteriorar o sensor. Além disso possibilita a investigação de alterações
na superfície por meio da mudança da resistência elétrica devido à facilidade ou a dificuldade
da transferência de elétrons da sonda redox para a superfície do eletrodo. Essa técnica pode ser
utilizada para caracterização do eletrodo ou na obtenção da resposta analítica do imunossensor,
sendo possível desenvolver dispositivos livres de marcadores, uma vez que a formação do
imunocomplexo gera uma mudança na resposta do sistema, simplificando e diminuindo custos
no desenvolvimento do imunossensor (RUSHWORTH et al, 2014; ALVES, 2016).
O princípio da técnica consiste na aplicação de um estímulo elétrico (perturbação) que
pode ser o potencial ou a corrente. Ou seja, é realizada uma análise dos processos que ocorrem
numa interface eletrodo-solução na condição não estacionária (CHA, 2002, MACDONALD,
1987; ARMSTRONG et al., 1978)
Em sistemas de corrente contínua é possível descrever a Lei de Ohm como:
𝑅 = 𝐸𝐼
sendo: E o potencial aplicado, R a resistência e I a corrente.
No entanto em sistemas de corrente alternada surge uma nova relação entre o
potencial e a corrente que é a impedância (Z), que pode ser considerada, em geral, como um
tipo de resistência. A resposta da corrente ou do potencial que surge pode estar completamente
fora de fase ou defasada em relação a outra função (𝜑 − ângulo de fase), como pode ser
representado na Equação 2 e na Figura 6.
(1)
34
𝐸(𝑡) = ∆𝐸 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) → 𝐼(𝑡) = ∆𝐼 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 𝜑)
sendo: E(t) é o potencial aplicado, 𝜔 a frequência angular definida por 𝜔 = 2𝜋𝑓, I(t) a
corrente decorrente da perturbação aplicada e 𝜑 o ângulo de fase.
Figura 6. Resposta senoidal da corrente frente a uma perturbação no potencial, evidenciando o ângulo de fase
Fonte: SOUSA, 2013.
Durante a medida, o potenciostato converte, através da Transformada de Fourier, o
eixo do tempo em um eixo de frequência 𝜔. A frequência é então variada com a perturbação
aplicada no sistema, ocorrendo uma variação de frequências (determinada pelo operador) na
qual em cada frequência é obtida a relação corrente – potencial, ou seja, a impedância que
corresponde àquela determinada frequência.
O número 𝑍(𝜔) é descrito como uma série complexa contendo uma parte
imaginária 𝑍′′ e outra real 𝑍′, podendo ser descrita pela equação 3.
𝑍(𝜔) = 𝑍′(𝜔) + 𝑗 𝑍′′(𝜔) (3)
em que 𝑗 é número imaginário de valor √−1 e |𝑍| o módulo da impedância.
(2)
(3)
35
Essa função pode ser representada em um plano complexo em que o componente
real fica localizado no eixo das abscissas e o componente imaginário no eixo das ordenadas,
obtendo assim uma das representações gráficas mais utilizadas em EIE, o diagrama de Nyquist
representado na Figura 7.
Figura 7. Diagrama de Nyquist para um sistema eletroquímico simples.
Fonte: ROCHA, 2014.
Através do diagrama de Nyquist podem ser obtidos parâmetros importantes na
análise de EIE (resistência ôhmica da solução (Rs), a resistência de transferência de carga (Rct)
e a capacitância da dupla camada elétrica, (Cd) e uma variação linear em média e baixas
frequências (GIROTTO, 1999).
Para avaliar a variação de impedância em uma célula eletroquímica é conveniente
considerar um circuito equivalente, que é representado por uma combinação de elementos de
um circuito elétrico que irá representar o sistema em estudo, ou seja, modelar através de um
circuito as transformações que acontecem na interface eletrodo-solução. É comum representar
sistemas biológicos utilizando-se o circuito de Randles composto por um elemento de fase
constante (Q), resistores (Rs e Rct) além da impedância de Warburg (Zw), como mostra a Figura
8 (CARVALHO, 2006).
Neste circuito, Rs representa a resistência da solução eletrolítica e está associada à
região de alta frequência; Rct corresponde a resistência a transferência de carga relacionada com
a facilidade ou a dificuldade com que ocorre a transferência eletrônica da sonda na interface. O
elemento de fase constante, Q, leva em consideração os desvios do comportamento ideal de um
36
capacitor puro como rugosidades na superfície, presença da camada difusa e a adsorção de íons
na superfície do eletrodo. Zw é a impedância de Warburg que decorre da difusão de reagentes
para o eletrodo e/ou de produtos do eletrodo para a solução (LVOVICH, 2012; LASIA, 2002).
Figura 8. Representação do circuito de Randles
Fonte: Carvalho, 2006. Adaptado.
Assim, EIE é uma técnica eletroquímica que pode ser utilizada, por exemplo, para
monitorar a adsorção de proteínas, uma vez que não necessita que a molécula imobilizada ou
reconhecida seja eletroativa, o que é uma vantagem para aplicação em sistemas imunológicos
(FARIA, 2018).
O trabalho desenvolvido por Santos et al. (2016) descreve o desenvolvimento de
um imunossensor eletroquímico para a detecção qualitativa de Tripanossomíase americana em
amostras de soro. Foram utilizados eletrodos de ouro modificados com monocamadas auto-
organizadas (SAM) de 3-MPA, e após ativação com EDC/NHS os antígenos T. cruzi foram
imobilizados sobre a plataforma. Foram otimizados os parâmetros: concentração, tempo de
incubação do antígeno e do anticorpo utilizando Fe(CN)63−/4− como sonda redox. Os resultados
indicam que o imunossensor é seletivo e sensível para detecção qualitativa de anticorpos anti
T. cruzi sendo uma alternativa promissora no diagnóstico da doença de Chagas.
A transdução por EIE combinada com a tecnologia imunossensora também foi
utilizada por Ionescu et al. (2010) para detecção de atrazina, um herbicida utilizado para o
controle de ervas daninhas. Para tal, foi utilizado um eletrodo de ouro modificado com filme de
polipirrol (poli) e ácido nitrilotriacético (NTA). O filme denominado poli-NTA foi previamente
modificado com íons Cu2+. Sobre essa plataforma foram imobilizados anticorpos anti-atrazina
K47 marcados com histidina. A imunorreação entre atrazina e a plataforma resultou em um
37
aumento de resistência do sistema proporcional à concentração do composto, permitindo a
detecção de uma concentração de 10 pgmL-1.
A avaliação do receptor de fator de crescimento epidérmico HER2, superexpresso
em muitas neoplasias, ajuda a reduzir as taxas de mortalidade por câncer de mama. Pensando
nisso, Sharma et al. (2018) propuseram um imunossensor impedimétrico altamente sensível e
de baixo custo para detectar a presença de HER2 empregando eletrodos impressos de grafite
modificados com nanopartículas de ouro. O método proposto exibiu uma ampla faixa linear de
0,01 – 100 ng mL-1 e limite de detecção de 10 pg mL-1 demonstrando um grande potencial para
o monitoramento dos níveis do receptor HER2 para auxiliar no tratamento do câncer de mama
e outras formas de câncer.
Os trabalhos relatados são alguns, dos inúmeros exemplos de trabalhos relacionados
com o desenvolvimento de imunossensores impedimétricos para detecção de diversos tipos de
analitos em diferentes áreas que podemos encontrar na literatura. Verificou-se que até 2018
foram publicados cerca de 715 trabalhos com base nesse tema, apresentando um aumento
significativo a partir do ano de 2008, como pode ser observado na Figura 9.
Figura 9. Número de publicações com base no tema imunossensor impedimétrico de 1995 a 2018.
1996 2003 2009 20150
50
100
150
200
250
300
Num
de p
ublic
açõe
s
Ano
Fonte: WEB OF SCIENCE, 2020.
38
2.3.3 - Eletrodos impressos
A regeneração da superfície após a utilização do biossensor é a maior dificuldade
para o desenvolvimento de eletrodos sólidos comerciais (NASCIMENTO, 1998). De certo
modo, a regeneração da superfície e consequentemente recuperação do anticorpo ou antígeno
imobilizado não tem sido satisfatória. A solução para tal é o emprego de eletrodos impressos
que são confeccionados com o objetivo de serem descartáveis, sendo os mais adequados para a
comercialização (RICCARDI, 2002).
Existem, comercialmente, uma gama de variedades desses eletrodos
confeccionados a base de um filme de tinta depositado sobre um suporte geralmente de
cerâmica, pelo método silk-screen e cobertos por uma segunda camada de material isolante
(NASCIMENTO, 1998). Estes eletrodos são projetados na forma de um único sistema contendo
o eletrodo de trabalho, o eletrodo de referência e o contra eletrodo acoplados em um único
dispositivo, sendo comercializados na forma de eletrodo descartável, mostrando versatilidade
em seu uso modificado e não modificado em várias aplicações (HONEYCHURCH et al., 2002;
MASAWAT et al., 2003; TSAI et al., 2006; LASCHI et al., 2006).
Existem eletrodos impressos de diferentes configurações e formatos que podem ter
a sua superfície modificada de acordo com a finalidade pretendida. A Figura 10 mostra alguns
exemplos de eletrodos impressos comercializados pela empresa Metrohm DropSens.
Figura 10. Exemplos de eletrodos impressos comercializados pela Metrohm DropSens. (a) eletrodo de ouro do tipo BT, (b) eletrodo duplo de ouro tipo simétrico (c) eletrodo de grafite (d) eletrodo duplo de ouro (e) eletrodo duplo de grafite.
Fonte: METROHM, 2019.
(a)
(b) (d)
(e) (c)
39
Os eletrodos impressos têm sido considerados muito atrativos devido a sua
versatilidade e baixo custo, dispensando o tratamento do eletrodo, possibilitando utilização da
plataforma in situ e permitindo que sejam realizadas análises com baixos volumes de amostras,
sendo interessante para o meio ambiente e economicamente, podendo ser utilizados como
ferramentas para os chamados dispositivos de teste point of care: sistemas portáteis para
diagnóstico junto ao paciente que apresentam resultados rápidos, grande exatidão e fácil
manipulação (SANTOS, 2013; SILVA, 2015).
Existe também a possibilidade desses eletrodos serem confeccionados com dois
eletrodos de trabalho, viabilizando detecções simultâneas e diminuindo o tempo de análise
(AHMED et al., 2013).
2.3.4 - Eletrodos Modificados
A denominação eletrodo quimicamente modificado foi utilizado primeiramente na
eletroquímica na década de 70 para caracterizar eletrodos que continham moléculas
quimicamente ativas imobilizadas em sua superfície (PEREIRA, 2002). O objetivo de uma
modificação é melhorar a condutividade, seletividade, garantir reprodutibilidade, amplificação
do sinal e permitir a imobilização de biomoléculas que não se ligam diretamente ao eletrodo,
além de permitir maior robustez e o uso de metodologias simplificadas (BERGAMINI, 2007).
Os métodos mais importantes para a modificação de um eletrodo consistem em
adsorção, ligação covalente, filmes poliméricos e materiais compósitos. De forma geral, o
método escolhido está intimamente relacionado com as características do substrato e da solução
modificadora, assim como o tipo de modificação a ser escolhida dependerá do material do
eletrodo e também da estrutura da molécula que se pretende imobilizar ou detectar. Assim, a
grande variedade de materiais e possibilidade de combiná-los torna a modificação de eletrodos
uma promissora vertente da eletroanálise (PEREIRA, 2002; SOUZA, 2017).
Neste âmbito, uma das modificações mais promissoras é o emprego de
monocamadas auto organizadas (SAM’s), estruturas que se formam a partir da adsorção de
moléculas em uma superfície, geralmente o ouro (AFONSO, 2013). Além das SAM’s um outro
tipo de modificação que tem sido bastante aplicada é a utilização de filme polimérico, uma vez
que tem mostrado ser uma plataforma eficiente devido à presença de grupos funcionais em sua
40
estrutura responsáveis por auxiliar na imobilização de biomoléculas (GOMES, 2011;
PEREIRA, 2002).
Neste trabalho, foram utilizados dois tipos de materiais de eletrodo (ouro e grafite),
cada um com suas características específicas. Tomando como princípio os trabalhos já
realizados por nosso grupo, para o eletrodo de ouro foi utilizada modificação com SAM e para
o eletrodo de grafite foi realizada a formação de um filme polimérico. Sendo assim esses dois
tipos de modificação foram destacados nos próximos tópicos, explicitando as condições para
tal utilização e a importância de cada um no desenvolvimento de biossensores.
2.3.4.1 Monocamadas auto organizadas
A imobilização das biomoléculas é uma etapa fundamental, pois é o que garante
uma maior retenção de moléculas com atividade biológica na superfície do transdutor,
garantindo-se a este, maior sensibilidade e estabilidade. Para isso, existem alguns
procedimentos que permitem que estas condições sejam satisfeitas. Um exemplo é a utilização
de monocamadas auto organizadas (SAM’s) para modificação da superfície do eletrodo
(ANSARI et al, 2010; MOCCELINI et al, 2008).
As SAM’s tem sido largamente utilizadas para o desenvolvimento de biossensores
em virtude da sua versatilidade, simplicidade, estabilidade e capacidade de formar superfícies
altamente organizadas, sendo formadas por cadeias orgânicas altamente ordenadas que se fixam
na superfície do eletrodo a partir da interação entre este e o grupo funcional de uma das suas
extremidades, ficando o outro grupo funcional livre para possibilitar a imobilização da molécula
de interesse (ARYA et a.l, 2004; ASAV et al., 2010).
Para uma imobilização efetiva de proteínas sobre SAM’s são utilizados agentes de
acoplamento (EDC-NHS, glutaraldeido), que ativam a formação de uma ligação amida ou éster
entre os grupos carboxílicos terminais da monocamada e as proteínas (LOVE et al, 2005;
HOMOLA; 2008).
Um dos exemplos de monocamadas mais empregados por pesquisadores é o que
explora moléculas de tióis e eletrodos de ouro devido à alta interação do agrupamento enxofre,
que se liga espontaneamente à superfície do ouro. Assim, diversas monocamadas podem ser
41
utilizadas uma vez que o tamanho da cadeia carbônica e o grupo funcional da extremidade
oposta ao enxofre podem variar conforme a finalidade de uso do sensor (SMITH et al., 2007).
A Figura 11 representa a adsorção de uma monocamada formada a partir do ácido
3-mercaptopropiônico.
Figura 11. Representação esquemática da SAM 3-MPA sobre a superfície do ouro.
A metodologia mais aplicada para formação de monocamadas em ouro é a imersão
deste substrato em uma solução etanólica do tiol diluída por um período de tempo específico à
temperatura ambiente. A densidade de cobertura é conseguida quase que imediatamente, porém
o processo de organização é lento, requer de 18 a 24 horas para potencializar a densidade de
cobertura e diminuir os defeitos da SAM, levando a formação de uma monocamada altamente
organizada (SOUTO, 2016).
A utilização de monocamadas para modificação de superfícies está muito bem
estabelecida, apresentando-se como o principal método de funcionalização de superfícies
empregados na construção de biossensores, podendo ser encontrados na literatura inúmeros
artigos e capítulos de livros que abordam tal tema (BAHADIR e SEZGINTURK, 2016;
MANAKHOV et al., 2016; PRABOWO et al., 2016).
2.3.4.2 Filmes poliméricos
Os filmes poliméricos são formados pela repetição de inúmeras unidades químicas
denominados monômeros. Devido a sua alta massa molecular os polímeros são denominados
O
S
OH
O
S
OH
O
S
OH
O
S
OH
42
macromoléculas podendo ser orgânicos ou inorgânicos sendo os orgânicos mais investigados e
relevantes comercialmente (GOMES, 2011).
A técnica mais comum de preparação dos filmes poliméricos é a polimerização
eletroquímica por voltametria cíclica, uma vez que se trata de uma técnica simples e
reprodutível realizada a temperatura ambiente. Esse processo ocorre em uma célula
eletroquímica que contém o eletrodo imerso em um meio adequado contendo o monômero, e
assim através da aplicação de potencial iniciando o processo de eletropolimerização (FAEZ,
REZENDE, MARTIN et al., 2000; GERARD, 2002; FERREIRA et al, 2011; JANÁKY, 2014).
Os polímeros contendo ligações π conjugadas apresentam propriedades eletrônicas
diferentes das designadas a polímeros comuns como condutividade elétrica, baixa energia de
ionização e transição óptica e elevada afinidade eletrônica. Por isso esses polímeros podem ser
chamados de metais sintéticos, uma vez que possuem características semelhantes aos metais e
preservam propriedades convencionais dos polímeros orgânicos (DE CASTRO et al, 2011).
A utilização de filmes poliméricos para o desenvolvimento de biossensores tem se
tornado cada vez mais relevante, pois tem mostrado ser uma plataforma eficiente devido à
presença de grupos funcionais preservados em sua estrutura responsáveis por beneficiar a
imobilização de biomoléculas. Além disso, essa modificação garante à plataforma maior
estabilidade, sensibilidade, seletividade e aplicabilidade se comparados à superfície sem
modificação (PEREIRA, 2002; SANTOS, 2014).
A utilização de monômeros fenólicos para a formação de filmes poliméricos tem
sido amplamente estudada, dado que o grupo hidroxila ligado ao anel aromático pode ser
oxidado gerando um cátion radical, espécie indispensável para iniciação da eletropolimerização
(SILVA, 2008).
O ácido 4-hidroxifenilacético (4-HFA), mostrado na Figura 12, é um exemplo de
monômero fenólico, também conhecido como ácido para hidroxifenilacético, um composto
eletroquimicamente ativo que apresenta um anel benzênico e dois grupos funcionais ligados a
ele, sendo: uma hidroxila (-OH) e outro uma carboxila (-COOH) o que o torna interessante para
o estudo da interação de filmes poliméricos com biomoléculas, especialmente aquelas que
possuem carga liquida total positiva.
43
Figura 12. Estrutura química do 4HFA.
Rodrigues et al. (2014) propuseram um mecanismo de eletropolimerização do
monômero 4-HFA, mostrado na Figura 13, que pode ser dividido em três etapas: (i)
inicialização do monômetro por eletro-oxidação; (ii) a polimerização por acoplamento do cátion
radical aos carbonos aromáticos pelo oxigênio fenólico e, posteriormente, a eliminação de
prótons para restabelecer a aromaticidade. A propagação é estabelecida pela reoxidação do
oligômero na superfície do eletrodo durante os ciclos de potencial; (iii) a fase de terminação
ocorre ao término da ciclagem de potencial, obtendo-se os filmes poliméricos adsorvidos na
superfície do eletrodo.
Figura 13. Mecanismo de eletropolimerização do monômero 4-HFA.
Fonte: CORRÊA, 2015.
44
Pode-se dizer que eletrodos modificados com poli(4-HFA) encontram-se
funcionalizados possuindo grupos que favorecem a imobilização de biomoléculas, garantindo
estabilidade efetiva para o componente biológico, sendo de grande interesse para o
desenvolvimento de biossensores (CORRÊA, 2015).
Gomes (2011) utilizou um eletrodo de grafite modificado com ácido poli(4-HFA)
como plataforma para investigações das principais características estruturais térmicas e
eletroquímicas do filme polimérico utilizando, para tal, as técnicas FTIR, UV-Vis e
Fluorescência. Resultados mostraram que o ácido poli(4-HFA) apresenta estrutura heterogênea
e complexa e que não apresenta boa estabilidade térmica em temperaturas acima de 100 ºC.
Também foi verificado que após a eletropolimerização os grupos funcionais do ácido são
preservados e que novos grupos são formados. Essa plataforma foi então utilizada no
desenvolvimento de um imunossensor amperométrico para diagnóstico de Leishmaniose
Visceral.
2.3.5 - Biossensores aplicados na detecção da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral
Nos últimos anos, vários estudos foram realizados com o objetivo de desenvolver
imunossensores utilizando diferentes técnicas de transdução, como por exemplo SPR, EQCM,
amperometria, aplicáveis para a detecção de LV e DC. Em 2015, Ferreira et al. (2015)
reportaram o desenvolvimento de um imunossensor amperométrico para a detecção da doença
de Chagas utilizando antígenos imobilizados em eletrodos de ouro modificado com SAM de
cisteamina ativadas com glutaraldeido. Os anticorpos presentes em soros de pacientes
interagiram com a superfície e a interação foi monitorada por cronoamperometria em um
potencial de -400 mV.
Adotando a microbalança de cristal de quartzo como sistema de transdução Ramos-
Jesus et al. (2011) desenvolveram um imunossensor para o diagnóstico de LV canina utilizando
o antígeno de Leishmania chagasi (rLci2B-NH6) que foi imobilizado em SAM de cisteamina
ativada com glutaraldeido. Os autores afirmam que os imunossensor mostrou bons resultados
sendo capaz de distinguir soros positivos e negativos para L. chagasi diluídos até 1:1600.
Um imunossensor baseado na ressonância de plasmon de superfície (SPR) foi
desenvolvido por Souto et al (2013) utilizando um chip de SPR modificado com SAM 11MUA
45
para detecção de anticorpos anti-L. infantum. Técnicas de voltametria cíclica (CV),
espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) e microscopia eletroquímica de varredura
(SECM) foram empregadas na caracterização da imobilização do antígeno. De acordo com os
autores, o sensor apreentou boa resposta permitindo a análise em tempo real sem a necessidade
de marcadores, sendo aplicados em soros diluídos até 1:6400, mostrando ser uma grande
perspectiva como sistema de sensoriamento para LV em regiões endêmicas.
Maia e Campino (2008) avaliaram vantagens e desvantagens dos métodos
disponíveis para diagnóstico de LV nas diferentes fases da doença. Foram investigados testes
parasitológicos, sorológicos e moleculares totalizando cerca de 12 métodos dentre eles ELISA,
IFI e PCR. Segundo os autores, uma técnica padrão deve possuir alta sensibilidade e
especificidade, ser reprodutível, fácil de executar, adaptável em laboratórios sem a necessidade
de equipamentos sofisticados e ser capaz de detectar a doença principalmente em estágios
iniciais sem o uso de metodologias invasivas. Porém nenhum dos métodos analisados possuem
esse conjunto de características, então os autores sugerem que mais pesquisas são necessárias
no desenvolvimento de metodologias que contemplem todas as particularidades citadas.
Luz et al. (2015) desenvolveram e avaliaram um imunossensor para a detecção de
anticorpos anti-T. cruzi utilizando SPR. Foram testadas para modificação do chip de ouro de
SPR SAM’s de 3-MPA e 11-MUA ativadas com EDC-NHS como plataforma para imobilização
para antígenos T. cruzi. Após a construção do sensor pools de soros humano positivo e negativo
foram testados, sendo o imunossensor capaz de detectar e discriminar essas amostras de forma
simples, rápida e eficaz representando um trabalho encorajador para o progresso do diagnóstico
da doença de Chagas.
Foguel et al. (2011) utilizaram CDtrodos de ouro modificados com 4-
(metilmercapto) benzaldeído como plataforma de imobilização da proteína Tc85 do
Trypanosoma cruzi na construção de um imunossensor amperométrico para diagnóstico da
doença de Chagas. Os autores concluíram que os CDtrodos possuem vantagem de apresentarem
menor custo, sendo o preço do CDtrodo de apenas 6% do valor de um eletrodo impresso e que
o imunossensor desenvolvido foi capaz de detectar o anticorpo anti-T. cruzi em soros de
pacientes chagásicos.
Regiart et al. (2016) descreveram um imunossensor sanduiche para anticorpos
específicos de T. cruzi anti-IgM que são um biomarcador para a doença de Chagas congênita
46
(CCD). Um eletrodo impresso foi modificado com nanopartículas de ouro (AuNPs). A
plataforma foi caracterizada por microscopia eletrônica de varredura, voltametria cíclica e
difração de raios-X. O eletrodo foi funcionalizado com antígeno recombinante, e então os
anticorpos alvo presentes na amostra de soro foram imobilizados, o anticorpo secundário foi
então adicionado e soluções de H2O2 e 4-terc-butilcatecol e do produto enzimático foram
detectadas a -100 mV. A corrente resultante foi proporcional ao anti-T. cruzi apresentados na
amostra e apresentaram uma tendência linear de 10 a 200 ng mL-1 (R = 0,998). O limite de
detecção foi de 3,03 ng mL-1. Estes valores demonstram que este imunossensor eletroquímico
pode ser utilizado como método sorológico alternativo para o diagnóstico da doença de Chagas
congênita.
A Tabela 1 apresenta alguns estudos, presentes na literatura, referentes ao
diagnóstico de Leishmaniose Visceral e doença de Chagas em relação à infecção estudada,
superfície e/ou tipo do transdutor e técnica utilizada para detecção.
Tabela 1: Exemplos de biossensores construídos para diagnóstico de LV e DC.
Infecção estudada Transdução Tipo de eletrodo Referência
DC EIE Eletrodos de ouro e platina DINIZ et a.l, 2003
DC Amperométrico Eletrodo impresso de ouro FERREIRA et a.l, 2005
DC Amperométrico Eletrodo de ouro BELLUZO et al., 2011
DC EIE Eletrodo de ouro SANTOS et al., 2016
DC SPR Chip de ouro LUZ et al., 2015
LV VPD Eletrodo de carbono vítreo MOHAN et al., 2011
LV SPR Chip de ouro SOUTO et al., 2013
LV VPD Eletrodo de ouro MORADI et al., 2016
LV EQCM Eletrodo de ouro RAMOS-JESUS et al., 2016
LV SPR Eletrodo de ouro FERREIRA et a.l, 2017
Vale ressaltar que em todos os trabalhos descritos essas doenças são detectadas e
estudadas de formas separadas e que não foi encontrado na literatura trabalhos desenvolvidos
para o estudo de ambas as infecções e que descrevesse uma metodologia aplicável no
diagnóstico de tais doenças utilizando eletrodos impressos duplos. Os dispositivos do tipo point
47
of care apresentam vantagens e grande potencial de serem convertidos em ferramentas
diagnósticas com possíveis aplicações em atendimento de triagem de doadores em bancos de
sangue, acompanhamento pós terapêutico, acelerando a tomada de decisão dos profissionais.
Assim, neste trabalho foi desenvolvido o primeiro imunossensor fundamentado em EIE para
detecção simultânea de anticorpos anti-T. cruzi e anti- L. infantum capaz de detectar de forma
rápida, simples, sensível e específica infecções por esses parasitos.
48
REFERÊNCIAS
ABEIJON, C., ALVES, F., MONNERAT, S., MBUI, J., VIANA, A. G., ALMEIDA, R. M., ... & CAMPOS-NETO, A. Urine-based antigen detection assay for diagnosis of visceral leishmaniasis using monoclonal antibodies specific for six protein biomarkers of Leishmania infantum/Leishmania donovani. PLoS neglected tropical diseases, 14(4), 2020. AFONSO, A. S., ZANETTI, B. F., SANTIAGO, A. C., HENRIQUE-SILVA, F., MATTOSO, L. H., & FARIA, R. C. QCM immunoassay for recombinant cysteine peptidase: A potential protein biomarker for diagnosis of citrus canker. Talanta, 104, 193-197., 2013 AHMED, J. V.; RUSHWORTH, J.V.; WRIGHT, J. D.; MILLNER, P. A. Novel Impedimetric Immunosensor for Detection of Pathogenic Bacteria Streptococcus pyogenes in Human Saliva. American Chemical Society. v. 85, p. 12118−12125. 2013. ALCANTARA, C. C. J. Estudo da adsorção de camadas de tióis em ouro por Ressonância de Plasmons de Superfície. 89f. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais) –Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. ALFAYA, A. A., & KUBOTA, L. T. A utilização de materiais obtidos pelo processo de sol-gel na construção de biossensores. Química Nova, 2002. ALVAR, J., VELEZ, I. D., BERN, C., HERRERO, M., DESJEUX, P., CANO, J. Leishmaniasis worldwide and global estimates of its incidence. PloS One, v. 7, n. 5, p. e35671, 2012. ALVES W. A.; BEVILACQUA P. D.; Qualidade de diagnóstico para Leishmaniose Visceral Canina em surtos epidemiológicos: uma epidemia em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1993- 1997. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, p. 259-65, 2004. ALVES, Lívia M. et al. Development of a mimetic system for electrochemical detection of glutamate. Journal of Solid State Electrochemistry, v. 20, n. 9, p. 2479-2489, 2016. ANSARI, A. A.; KAUSHIK, A.; SOLANKI, P. R.; MALHOTRA, B. D. Nanostructered zinc oxide platform for mycotoxin detection. Bioeletrochemistry, v. 77, p. 75-81, 2010. ARDUINI, F.; MICHELI, L.; MOSCONE, D.; PALLESCHI, G.; PIERMARINI, S.; RICCI, F.; VOLPE, G. Electrochemical biosensors based on nanomodified screen-printed electrodes: Recent applications in clinical analysis. TrAC Trends in Analytical Chemistry, v. 79, p. 114-126, 2016. ARMSTRONG, D.; BELL, M.F.; METCALFE, A. A. The AC impedance of complex electrochemical reactions. Eletrochemistry, v. 6, n.1, p.98-127,1978.
49
ARYA, S. K.; SOLANKI, P. R.; DATTA, M.; MALHOTRA, B. D. Recent advances in self-assembled monolayer and its application to surface plasmon resonance immunosensor. Enzyme and Microbial Technology, v. 35, p. 678-682, 2004. ASAV, E.; AKYILMAZ, E. Preparation and optimization of a bienzymic biosensor based on self-assembled monolayer modified gold electrode for alcohol and glucose detection Biosensors and Bioeletronics, v. 25, p. 1014-1018, 2010. BAHADIR, E. B.; SEZGINTURK, M. K. A comparative study of short chain and long chain mercapto acids used in biosensor fabrication: A VEGF-R1-based immunosensor as a model system. Artificial Cells Nanomedicine and Biotechnology. v. 44, p. 44. 2016. BARBOSA, Ana Rita; KARMALI, Amin. Development of a biosensor for urea assay based on amidase inhibition, using an ion-selective electrode. Biocatalysis and Biotransformation, v. 29, n. 4, p. 130-140, 2011. BARBOSA-DE-DEUS, R., DOS MARES-GUIA, M. L., NUNES, A. Z., COSTA, K. M., JUNQUEIRA, R. G., MAYRINK, W., ... & TAVARES, C. A. P. Leishmania major-like antigen for specific and sensitive serodiagnosis of human and canine visceral leishmaniasis. Clin. Diagn. Lab. Immunol. v. 9, n. 6, p. 1361-1366, 2002. BELLUZO, M. S., RIBONE, M. É., CAMUSSONE, C., MARCIPAR, I. S., & LAGIER, C. M. Favorably orienting recombinant proteins to develop amperometric biosensors to diagnose Chagas’ disease. Analytical biochemistry, v. 408, n. 1, p. 86-94, 2011. BERGAMINI, M. F.; SANTOS, A. L. ; STRADIOTTO, N. R. ; ZANONI M. V. B. . FLOW Injection Amperometric Determination of Procaine in Pharmaceutical Formulation using a Scree-Prined Carbon Electrode. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 43, p. 315-319, 2007. BORGHESAN, T.C,; CAMPANER, M.; MATSUMOTO, T.E. ; ESPINOSA, O. A.; RAZAFINDRANAIVO, V.; PAIVA, F.; CARRANZA, J.C; AÑEZ, N.; NEVES, L.; TEIXEIRA, M. M. G.; CAMARGO, E.P. . Genetic Diversity and Phylogenetic Relationships of Coevolving Symbiont-Harboring Insect Trypanosomatids, and Their Neotropical Dispersal by Invader African Blowflies (Calliphoridae). Frontiers in Microbiology , v. 9, p. 221-231, 2018. BRASIL Ministério da Saúde, Fundação Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, 2006. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Brasil: Ministério da Saúde. p. 1 – 122. BRASIL Ministério da Saúde. Leishmaniose Visceral: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Saúde de A a Z. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/leishmaniose-visceral> Acesso em: 14 jan. 2019. BRAZ, R. F.; NASCIMENTO, E. T.; MARTINS, D. R.; WILSON, M. E.; PEARSON, R. D.; REED, S. G.; JERONIMO, S. M. The sensitivity and specificity of Leishmania chagasi
50
recombinant K39 antigen in the diagnosis of American visceral leishmaniasis and in differentiating active from subclinical infection. The American journal of tropical medicine and hygiene, v. 67, n. 4, p. 344 – 348, 2002. CAMPOS, F. M. F., REPOLES, L. C., DE ARAÚJO, F. F., PERUHYPE-MAGALHÃES, V., XAVIER, M. A. P., SABINO, E. C., ... & GONTIJO, C. M. F. Usefulness of FC-TRIPLEX Chagas/Leish IgG1 as confirmatory assay for non-negative results in blood bank screening of Chagas disease. Journal of immunological methods, 455, 34-40. 2018 CARVALHO, L.A. ANDRADE, A. R. DE.; BUENO, P.R. Espectroscopia de impedância eletroquímica aplicada ao estudo das reações heterogêneas em ânodos dimensionalmente estáveis. Química Nova. São Paulo, v.29, n.4. 2006. CASTRO, A. C. H., ALVES, L. M., SIQUIEROLI, A. C. S., MADURRO, J. M., & BRITO-MADURRO, A. G. Label-free electrochemical immunosensor for detection of oncomarker CA125 in serum. Microchemical Journal, 155, 104746, 2020. CHA C.S. Introduction to kinetics of electrode processes 3rd ed. Bejing Science Press 2002. CHAMBERS J.P.; ARULANANDAM B.P.; MATTA L.L.; WEIS A., VALDES J.J; Biosensor recognition elements. Current Issues in Molecular Biology, v.10, p.1-12, 2008. CHAPPUIS, F., SUNDAR, S., HAILU, A., GHALIB, H., RIJAL, S., PEELING, R. W.; BOELAERT, M. Visceral leishmaniasis: what are the needs for diagnosis, treatment and control?. Nature reviews microbiology, v. 5, n. 11supp, p. S7, 2007. CHOI, Y. H.; LEE, G. Y.; KO, H.; CHANG, Y. W.; KANG, M. J.; PYUN, J. C. Development of SPR biosensor for the detection of human hepatitis B virus using plasma-treated parylene-N film. Biosens Bioelectron, v. 56, p. 286-94, 2014. CHOWDHURY, A. D., DE, A., CHAUDHURI, C. R., BANDYOPADHYAY, K., & SEN, P. Label free polyaniline based impedimetric biosensor for detection of E. coli O157: H7 Bacteria. Sensors and Actuators B: Chemical, v. 171, p. 916-923, 2012. CORRÊA, R. A. M. D. S. Otimização dos parâmetros de eletropolimerização do ácido 4-hidroxifenilacético para utilização no desenvolvimento de genossensores aplicados na detecção de Mycobacterium tuberculosis. 109f. 2015. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2015. COURA, J. R.; BORGES-PEREIRA, J. Chagas disease. What is known and what should be improved: a systemic review. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 45, p. 286- 296, 2012. DE CASTRO, M. P. Preparação e caracterização de compósitos de polímeros condutores-silica visando aplicações em separações químicas. 40f. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Química) – Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2011.
51
DESJEUX P. Leishmaniasis: Current situation and new perspectives. Comparative Immunology, Microbiology & Infectious Diseases. vol. 27, p. 305–318, 2004. DIAS, J. C. P.; SCHOFIELD, C. J. Social and medical aspects on Chagas disease management and control. In: American Trypanosomiasis Chagas Disease. Elsevier. p. 47-57, 2017. DINIZ, F. B., UETA, R. R., PEDROSA, A. M. D. C., AREIAS, M. D. C., PEREIRA, V. R., SILVA, E. D., ... & Gomes, Y. M Impedimetric evaluation for diagnosis of Chagas’ disease: antigen–antibody interactions on metallic eletrodes. Biosensors and Bioelectronics, v. 19, n. 2, p. 79-84, 2003. DMITRIEV, D. A., MASSINO, Y. S., SEGAL, O. L., SMIRNOVA, M. B., PAVLOVA, E. V., GUREVICH, K. G., ... & OSIPOV, A. P. Analysis of the binding of bispecific monoclonal antibodies with immobilized antigens (human IgG and horseradish peroxidase) using a resonant mirror biosensor. Journal of immunological methods, v. 261, n. 1-2, p. 103-118, 2002. FAEZ, R.; REZENDE, M. C.; MARTIN, I. M.; DE PAOLI, M.-A. Polímeros condutores intrínsecos e seu potencial em blindagem de radiações eletromagnéticas. Polímeros, 2000. FARIA, R. A. D.; LINS, V. F. C.; NAPPI, G. U.; MATENCIO, T. ; HENEINE, L. G. D. Development of an Impedimetric Immunosensor for Specific Detection of Snake Venom. BioNanoScience, v. 8, p. 988-996, 2018. FERREIRA, A. A. P., COLLI, W., DA COSTA, P. I., & YAMANAKA, H. Immunosensor for the diagnosis of Chagas’ disease. Biosensors and Bioelectronics, v. 21, n. 1, p. 175-181, 2005. FERREIRA, E., LIMA, J., ALVES-BALVEDI, R. P., BONAN, P. R., MEDEIROS, E., GOULART, L., ... & ARAÚJO, A Leishmania spp. detection using a surface plasmon resonance biosensor. In: Multidisciplinary Digital Publishing Institute Proceedings. 2017. p. 536. FERREIRA, L. F., SANTOS, C. C., DA CRUZ, F. S., CORREA, R. A., VERLY, R. M., & DA SILVA, L. M. Preparation, characterization, and application in biosensors of functionalized platforms with poly (4-aminobenzoic acid). Journal of materials science, v. 50, n. 3, p. 1103-1116, 2015. FERREIRA, L. R.; KESPER, N.; TEIXEIRA, M. M. G.; LAURENTI, M. D.; BARBIERI, C. L.; LINDOSO, J.A.; UMEZAWA, E. S. New insights about cross – reactive epitopes of six trypanosomatid genera revealed that Crithidia and Leptomonas have antigenic similarity to L. chagasi. Acta tropica, v. 131, p. 41. 2014. FERREIRA, L.F.; SOUZA, L.M.; FRANCO, D.L.; CASTRO, A. C. H.; OLIVEIRA, A. A.; BODTS, J. F. C.; MADURRO, A. G. B.; MADURRO, J. M.; Formation of novel polymeric
52
films derived from 4-hydroxybenzoic acid. Materials Chemistry and Physics. v. 129, p. 46-52. 2011. FOGUEL, M. V.; DOS SANTOS, G. P.; PUPIM FERREIRA, A. A.; YAMANAKA, H.; BENEDETTI, A. V. Amperometric immunosensor for Chagas' disease using gold CD-R transducer. Electroanalysis. v. 23, p. 2555– 2561. 2011. GERARD, M., CHAUBEY, A.AND MALHOTRA, B.D.; Application of conducting polymers to biosensors. Biosensors and Bioelectronics, v. 17, p.345-359. 2002. GIROTTO, E. M.; DE PAOLLI, M. A. Transporte de massa em polímeros intrinsicamente condutores: importância, técnicas e modelos teóricos. Química Nova, v. 22, n. 3, p. 358-368, 1999. GIZELI, E.; LOWE, C. R. Immunosensors. Current Opinion in Biotechnology, v. 7, n. 1, p. 66-71, 1996. GOMES, M. F.; Caracterização estrutural do poli(ácido 4-hidroxifenilacético) eletropolimerizado sobre eletrodo de grafite e sua aplicação no desenvolvimento de imunossensor amperométrico para diagnóstico de Leishmaniose Visceral. 128f. 2011. Dissertação (Mestrado em Química) – Instituto de Química, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2011. HOMOLA, J. Surface Plasmon Resonance Sensors for Detection of Chemical and Biological Species. Chem. Rev., v. 108, p. 462-493, 2008. HONEYCHURCH, K. C.; HAWKINS, D. M.; HART, J. P.; COWELL, D. C. Voltammetric behaviour and trace determination of copper at a mercury-free screenprinted carbon electrode. Talanta, Amsterdam, v. 57, n. 3, p. 565–574. 2002. IONESCU, R. E.; GONDRAN, C.; BOUFFIER, L.; JAFFREZIC-RENAULT, N.; MARTELET, C.; COSNIER, S. Label-free impedimetric immunosensor for sensitive detection of atrazine. Electrochimica Acta, v.55, n.21, p.6228-6232. 2010. JANÁKY, C.AND RAJESHWAR, K. The role of (photo)electrochemistry in the rational design of hybrid conducting polymer/semiconductor assemblies: From fundamental concepts to practical applications. Progress in Polymer Science, v. 43, p. 96 –135, 2014. LASCHI, S.; PALCHETTI, I.; MASCINI, M. Gold-based screen-printed sensor for detection of trace lead. Sens. Actuators B, Lausanne, v. 114, n. 1, p. 460–465, 2006.
LASIA, A. Electrochemical impedance spectroscopy and its applications. In: Modern aspects of electrochemistry. Springer, Boston, MA, 2002. p. 143-248. LOVE J. C.; ESTROFF L. A.; KRIEBEL J. K.; NUZZO R. G.; Self-Assembled Monolayers of Thiolates on Metals as a Form of Nanotechnology. Chemical Reviews, n. 105, p. 1103 – 1169. 2005.
53
LUCIANO, R., LUCHEIS, S., TRONCARELLI, M., LUCIANO, D., & LANGONI, H. Avaliação da reatividade cruzada entre antígenos de Leishmania spp e Trypanosoma cruzi na resposta sorológica de cães pela técnica de imunofluorescência indireta (RIFI). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, p. 181-187, 2009. LUQUETTI, A. O.; PONCE, C.; PONCE, E.; ESFANDIARI, J.; SCHIJMAN, A.; REVOLLO, S.; LEVIN, M. J.. Chagas' disease diagnosis: a multicentric evaluation of Chagas Stat-Pak, a rapid immunochromatographic assay with recombinant proteins of Trypanosoma cruzi. Diagn Microbiol Infect Dis., v. 46, n. 4, p. 265-271, 2003. LUZ, J. G., SOUTO, D. E., MACHADO-ASSIS, G. F., DE LANA, M., KUBOTA, L. T., LUZ, R. C., ... & MARTINS, H. R. Development and evaluation of a SPR-based immunosensor for detection of anti-Trypanosoma cruzi antibodies in human serum. Sensors and Actuators B: Chemical, 212, 287-296, 2015. MACHADO, F. S., TYLER, K. M., BRANT, F., ESPER, L., TEIXEIRA, M. M., & TANOWITZ, H. B. Pathogenesis of Chagas disease: time to move on. Frontiers in bioscience (Elite edition), v. 4, p. 1743, 2012. MACDONALD, J. R., Impedance spectroscopy. New York: John Wileys & Sons, 1987. MAIA, C.; CAMPINO, L. Methods for diagnosis of canine leishmaniasis and immune response to infection. Veterinary parasitology, v. 158, n. 4, p. 274-287, 2008. MALCHIODI, E. L., CHIARAMONTE, M. G., TARANTO, N. J., ZWIRNER, N. W., & MARGNI, R. A Cross‐reactivity studies and differential serodiagnosis of human infections caused by Trypanosoma cruzi and Leishmania spp; use of immunoblotting and ELISA with a purified antigen (Ag163B6). Clinical & Experimental Immunology, v. 97, n. 3, p. 417-423, 1994. MANAKHOV, A.; MAKHNEVA, E.; SKLADAL, P.; NECAS, D.; CECHAL, J.; KALINA, L.; ELIAS, M.; ZAJICKOVA, L. The robust bio-immobilization based on pulsed plasma polymerization of cyclopropylamine and glutaraldehyde coupling chemistry. Applied Surface Science, v. 360, p. 28 – 36. 2016. MARTINS, K. R. R. Fatores associados à ocorrência de leishmaniose visceral em cães de área urbana após aplicação de medidas de proteção individual. 40f. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista “Júlio De Mesquita Filho”, Araçatuba, 2018. MASAWAT, P.; LIAWRUANGRATH, S.; SLATER, J. M. Flow injection measurement of lead using mercury-free disposable gold-sputtered screen-printed carbon electrodes (SPCE). Sens. Actuators B, Lausanne, v. 91, n. 1-3, p. 52–59. 2003. MATOS, H. J. DE; PINTO, A. Y. DAS N.; MIRANDA, A. M. M.; SILVA, F. L. C.; RAMOS, F. L. DE P. Reação cruzada nos testes sorológicos entre doença de Chagas e
54
Leishmaniose Visceral em regiões endêmicas para ambas as doenças. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v.6, n.1, p. 65 – 68. 2015. MAYER, G. Imunologia – Capítulo Sete. Imunoglobulinas- reações antigeno-anticorpo e testes selecionados. University of South Carolina School of Medine, 2017. Disponível em <http://www.microbiologybook.org/Portuguese/immuno-port-chapter7.htm> Acesso em: 26-Jan. 2019. MAYWALD, P. G., MACHADO, M. I., COSTA-CRUZ, J. M., & GONÇALVES-PIRES, M. D. R. D. Leishmaniose tegumentar, visceral e doença de Chagas caninas em municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 12, p. 321-328, 1996. METROHM, Eletrodos impressos e interdigitados. Disponível em: < https://www.metrohm.com/pt-br/produtos-geral/eletroquimica/electrochemistry-electrodes/>. Acesso em: 10 jan. 19 MOCCELINI, S. K.; FERNANDES, S. C.; VIEIRA, I. C. Bean sprout peroxidase biosensor base don l-cysteine self-assembled monolayer for the determination of dopamine. Sensors and Actuators B: Chemical, v. 133, p. 364-369, 2008. MOHAN, S., SRIVASTAVA, P., MAHESHWARI, S. N., SUNDAR, S., & PRAKASH, R.Nano-structured nickel oxide based DNA biosensor for detection of visceral leishmaniasis (Kala-azar). Analyst, v. 136, n. 13, p. 2845-2851, 2011. MONCAYO, A.; YANINE, O. M. I. An update on Chagas disease (human American trypanosomiasis). Ann Trop Med Parasitol., v. 100, n. 8, p. 663-677, 2006. MONTES-RINCÓN, Laura Mayela; GALAVIZ-SILVA, Lucio; MOLINA-GARZA, Zinnia Judith. Anticuerpos anti-Trypanosoma cruzi en migrantes latinoamericanos en tránsito por el cruce fronterizo entre México y los Estados Unidos. Biomédica, v. 38, n. 1, p. 54-60, 2018. MORADI, M., SATTARAHMADY, N., RAHI, A., HATAM, G. R., SORKHABADI, S. R., & HELI, H. A label-free, PCR-free and signal-on electrochemical DNA biosensor for Leishmania major based on gold nanoleaves. Talanta, v. 161, p. 48-53, 2016. NASCIMENTO, V. B.; ANGNES, L. Eletrodos fabricados por “silk-screen”. Quimica Nova, São Paulo, v. 21, n. 5, p. 614-629, 1998. OKWOR, I.; UZONNA, J. Social and Economic Burden of Human Leishmaniasis. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 94, p.489 – 493.2016. OLIVEIRA, A. E. F.; PEREIRA, A. C. Biossensores e a Indústria Alimentar-Revisão. Revista Virtual de Química, v. 8, n. 5, 2016. PATHAK, P.; KATIYAR, V. K.; GIRI, S. Cancer Research - Nanoparticles, Nanobiosensors and Their Use in Cancer Research. AZojono Journal of Nanotechnology Online, v. 3. 2007.
55
PEREIRA, A.C., SANTOS, A.D.S.; KUBOTA, L.T.; Tendências em modificação de eletrodos amperométricos para aplicações eletroanalíticas. Química Nova, v. 25, p. 1012-1021. 2002. PEREIRA, V. F., BENASSI, J. C., STARKE-BUZETTI, W. A., SILVA, D. T., FERREIRA, H. L., KEID, L. B.; SOARES, R.M.; RUIZ, V. L. A.; OLIVEIRA, T. M. F. D. S.; Detection of canine visceral leishmaniasis by conjunctival swab PCR. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 49(1), p. 104-106, 2016. PERINOTO, A. C.; MAKI, R. M.; COLHONE, M. C.; SANTOS, F. R.; MIGLIACCIO, V.; DAGHASTANLI, K. R.; STABELI, R.G; CIANCAGLINI, P.; PAULOVICH, F.V.; OLIVEIRA, M. C. F.; OLIVEIRA JR, O.N.O; ZUCOLOTTO, V. Biosensors for efficient diagnosis of leishmaniasis: innovations in bioanalytics for a neglected disease. Analytical chemistry, v. 82, n. 23, p. 9763-9768, 2010. PERUMAL, V.; HASHIM, U. Advances in biossensor: Pronciple, architecture and applications. Journal of Applied Biomedicine, v. 12, n.1, p. 1 – 15, 2014. PICÓ, Y. Análise química de alimentos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. PRABOWO, B. A.; SU, L.-C.; CHANG, Y.-F.; LAI, H.-C.; CHIU, N.-F.; LIU, K.-C. Performance of white organic light-emitting diode for portable optical biossensor. Sensors and Actuators B: Chemical. v. 222, p. 1058 – 1065. 2016. RAMOS-JESUS, J., PONTES-DE-CARVALHO, L. C., MELO, S. M. B., ALCÂNTARA-NEVES, N. M., & DUTRA, R. F A gold nanoparticle piezoelectric immunosensor using a recombinant antigen for detecting Leishmania infantum antibodies in canine serum. Biochemical engineering journal, v. 110, p. 43-50, 2016. RAMOS-JESUS, J.; CARVALHO, K. A.; FONSECA, R. A. S.; OLIVEIRA, G. G. S. MELO, S. M. B.; ALCÂNTARA-NEVES, N. M.; DUTRA, R.F. A piezoelectric immunosensor for Leishmania chagasi antibodies in canine sérum. Analytical and Bioanalytical Chemistry, v. 401, p. 917–925. 2011. REGIART, M.; PEREIRA, S. V.; BERTOLINO, F. A; GARCIA, C. D.; RABA, J. ARANDA, P. A. An electrochemical immunosensor for anti-T. cruzi IgM antibodies, a biomarker for congenital Chagas disease, using a screen-printed electrode modified with gold nanoparticles and functionalized with shed acute phase antigen. Microchimica Acta, v. 183, n. 3, p.1203–1210, 2016. REIS A. B.; MARTINS-FILHO O. A.; TEIXEIRA-CARVALHO A.; CARVALHO M. G.; MAYRINK W.; FRANÇASILVA J. C.; GIUNCHETTI R. C.; GENARO O.; CORRÊA-OLIVEIRA R. Parasite density and impaired biochemical/hematological status are associated with severe clinical aspects of canine visceral leishmaniasis. Research in Veterinary Science, vol. 81, p. 68 – 75, 2006.
56
REITHINGER, R.; DAVIES, C. R. Canine leishmaniasis: novel strategies for control. Trends in Parasitology, v. 18, n.7, p.289 – 90. 2002. RICCARDI, C. D. S.; COSTA, P. I. D.; YAMANAKA, H. Imunossensor amperométrico. Química Nova, p. 316-320. 2002. RITMEIJER, K., DEJENIE, A., ASSEFA, Y., HUNDIE, T. B., MESURE, J., BOOTS, G., ... & DAVIDSON, R. N. A comparison of miltefosine and sodium stibogluconate for treatment of visceral leishmaniasis in an Ethiopian population with high prevalence of HIV infection. Clinical Infectious Diseases, v. 43, n. 3, p. 357-364, 2006. ROCHA, C. G.; Desenvolvimento de imunossensor impedimétrico para detecção do corante disperso red 1. 110f. 2014. Dissertação (Mestrado em Química) – Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2014. ROCHA, G. P., & PETRONI, T. F. Leishmaniose Visceral e Tegumentar Americana Visceral And Cutaneous Leishmaniasis. Revista Saúde UniToledo, v. 1, n. 2, 2017. RODRIGUES, L.P.; FERREIRA, D.C.; SONODA, M.T.; MADURRO, A. G. B.; ABRAHÃO JR, O.; MADURRO, J. M. Electropolymerization mechanisms of hydroxyphenylacetic acid isomers. Journal of Molecular Structure, v. 1072, p. 298-306. 2014. ROMERO, H. D.; SILVA, L. A.; SILVA-VERGARA, M. L.; RODRIGUEZ, V.; COSTA, R. T.; GUIMARÃES, S. F.; ALECRIM, W.; MORAES-SOUZA, H.; PRATA, A. AM. J. Comparative study of serologic tests for the diagnosis of asymptomatic visceral leishmaniasis in an endemic area. The American journal of tropical medicine and hygiene, v. 81, n. 1, p. 27-33, 2009. RUSHWORTH, J. V., AHMED, A., GRIFFITHS, H. H., POLLOCK, N. M., HOOPER, N. M., & MILLNER, P. A A label-free electrical impedimetric biosensor for the specific detection of Alzheimer's amyloid-beta oligomers. Biosensors and bioelectronics, v. 56, p. 83-90, 2014. SANTOS, C. D. C. Desenvolvimento de plataformas eletroquímicas funcionalizadas com ácido poli (4-aminobenzóico) aplicadas em biossensores. 110f. 2014. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, 2014. SANTOS, C. S.; MOSSANHA, R.; WOHNRATH, K., INABA, J.; PESSÔA, C. A. Electrochemical immunosensor for qualitative diagnosis of the American trypanosomiasis based on gold modified with 3-Mercaptopropionic. Journal of The Electrochemical Society, v. 163, n.5, p.B158-B162. 2016. SANTOS, V. B. Desenvolvimento de um potenciostato/galvanostato portátil e eletrodos impressos para determinações in situ em análises em fluxo com transmissão de dados em tempo real. 216f. 2013. Tese (Doutorado em Ciências) – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Universidade de São Carlos, São Carlos, 2013.
57
SHARMA, S., ZAPATERO-RODRÍGUEZ, J., SAXENA, R., O’KENNEDY, R., & SRIVASTAVA, S. Ultrasensitive direct impedimetric immunosensor for detection of serum HER2. Biosensors and Bioelectronics, v. 106, p. 78-85. 2018 SILVA, D. T. D., STARKE-BUZETTI, W. A., ALVES-MARTIN, M. F., PAIXÃO, M. D. S., TENÓRIO, M. D. S., & LOPES, M. L. M. Comparative evaluation of several methods for Canine Visceral Leishmaniasis diagnosis. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 23(2), 179-186, 2014 SILVA, E. T. S. G. D. Construção e desenvolvimento de dispositivos de teste point-of-care com detecção eletroquímica em papel. 165f. 2015. Tese (Doutorado em Ciências) – Instituto de Química, Universidade Federal de Campinas, Campinas, 2015. SILVA, T.A.R.; FERREIRA, L.F.;BOODTS, J.F.C.; "Poly(4-hydroxyphenylacetic acid): A new material for immobilization of biomolecules". Polymer Engineering & Science, v.48, n. 10, p. 1963-1970, 2008. SINGH, S.; SIVAKUMAR, R. J. Recent advances in the diagnosis of leishmaniasis. Journal of postgraduate medicine, v. 49, n. 1, p. 55, 2003. SKOTTRUP, P. D; NOCOLAISEN, M.; JUSTESEN, A. F. Towards on-site pathogen detection using antibody-based sensors. Biosens Bioelectron., v. 24, n. 3, p. 339- 348, 2008. SMITH R. K.; LEWIS P. A.; WEISS P. S. Patterning self-assembled monolayers. Progress Surface Science, v. 75, p.1, 2004. SMITH, D. F.; PEACOCK, C. S.; CRUZ, A. K. Comparative genomics: from genotype to disease phenotype in the leishmaniases. International Journal for Parasitology. , 37, p. 1173 – 1186. 2007. SOUTO, D. E. P. Estudo da imobilização de antígenos de Leishmania infantum sobre plataformas organizadas empregando SPR e QCM para detecção de anticorpos específicos da Leishmaniose Visceral. 150f. 2016. Tese (Doutorado em Ciências) – Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. SOUTO, D. E., SILVA, J. V., MARTINS, H. R., REIS, A. B., LUZ, R. C., KUBOTA, L. T., & DAMOS, F. S. Development of a label-free immunosensor based on surface plasmon resonance technique for the detection of anti-Leishmania infantum antibodies in canine serum. Biosensors and Bioelectronics, v. 46, p. 22-29, 2013. SOUZA, M. F. B. Eletrodos quimicamente modificados aplicados à eletroanálise: uma breve abordagem. Quimica Nova, v. 20(2) p. 191-195, 2017. STOBIECKA, M. Teaching. University of Life Sciences, Warsaw, Poland, 2016 Disponível em: <http://stobiecka.net/teaching.htm> Acesso em: 24 de abril de 2018.
58
TSAI, D.; KUMAR, A. S.; ZEN, J. A highly stable and sensitive chemically modified screen-printed electrode for sulfide analysis. Analytica Chimica Acta, Amsterdam, v. 556, n. 1, p. 145–150, 2006. UETA, R. R. A espectroscopia de impedância eletroquímica aplicada ao estudo da interface platina/lectina. 146f. 2002. Tese (Doutorado em Quimica) – Departamento de Química Fundamental, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002. WANG, G. et al. A Living Cell Quartz Crystal Microbalance Biosensor for Continuous Monitoring of Cytotoxic Responses of Macrophages to Single-Walled Carbon Nanotubes. Particle and Fibre Toxicology, v.8, n.4, 2011. WANG, H., MENG, S., GUO, K., LIU, Y., YANG, P., ZHONG, W., & LIU, B. Microfluidic immunosensor based on stable antibody-patterned surface in PMMA microchip. Electrochemistry Communications, v. 10, n. 3, p. 447-450, 2008. WANG, J. Survey and Sumary: from DNA Biosensors to Gene Chips. Nucleic Acids Research, v.28, n.16, p.3011-3016, 2000 WEI, D.; IVASKA, A. Eletrochemical Biosensors Based on Polyaniline. Chem. Anal., v. 51, p. 839 – 852. 2006. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Leishmaniasis: Epidemiological situation. 2016. Disponível em: <https://www.who.int/leishmaniasis/burden/en/> Acesso em 24 jan. 2019. YALOW, R. S.; BERSON, S. A. Assay of plasma insulin in human subjects by immunological methods. Nature, v. 184, n. 21, p. 1648-1649, 1959.
59
CAPÍTULO 1 – DESENVOLVIMENTO DE UM IMUNOSSENSOR IMPEDIMÉTRICO
BASEADO NA MODIFICAÇÃO DE ELETRODOS DE OURO IMPRESSOS PARA
DETECÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-L.INFANTUM
Os resultados deste capítulo foram publicados na revista Talanta, vol. 195, 2019, pg. 327–332,
tendo o artigo o seguinte título: Label-free electrochemical impedance immunosensor based on
modified screen-printed gold electrodes for the diagnosis of canine visceral leishmaniasis. Doi:
10.1016/j.talanta.2018.11.087.
RESUMO
A leishmaniose visceral (LV) é uma doença com alto impacto na saúde pública em muitos
países, tendo os cães como reservatórios primários no ambiente doméstico. A LV apresenta alta
morbidade, mortalidade e importância epidemiológica no continente americano. No presente
estudo, o primeiro imunossensor de impedância eletroquímica utilizando eletrodos impressos
(SPEs) sem a necessidade de marcadores biológicos para a detecção de anticorpos contra
Leishmania infantum foi desenvolvido. Sob condições otimizadas, os antígenos solúveis de L.
infantum foram imobilizados sobre uma monocamada de ácido 3-mercaptopropiônico ativado
pela mistura contendo 100,0 mmol.L-1 de 1-etil-3-(3-dimetilaminopropil) carbodiimida (EDC)
e 150 mmol.L-1 de N-hidroxisuccinimida (NHS). A espectroscopia de impedância
eletroquímica (EIE) foi usada para detectar interações bimoleculares que ocorrem na superfície
do eletrodo. A adição de amostras reais constituídas por soros caninos e humanos positivos e
negativos para LV apresentaram alta sensibilidade e seletividade através da EIE. Com base nos
resultados obtidos, um imunossensor sensível, específico, rápido e simples foi desenvolvido
com sucesso, com potencial aplicação para o diagnóstico sorológico da doença por
leishmaniose.
Palavras-chave: Espectroscopia de impedância eletroquimica, Monocamada Auto-
Organizada, Imunossensor, Leishmaniose Visceral, anti – L. infantum.
60
ABSTRACT
Visceral leishmaniasis (VL), is a disease with high impact on public health in many countries
with dogs as primary reservoirs in the domestic environment. VL presents high morbidity,
mortality, and importance in epidemiology in the American continent. In the present study, the
first label-free electrochemical impedance immunosensor using screen-printed electrodes
(SPEs) for the detection of anti- Leishmania infantum antibodies was developed. The soluble
antigens of L. infantum were immobilized on an SPE by a 3-mercaptopropionic acid monolayer
which was activated by the mixture 100.0 mmol.L-1 1- ethyl-3 (3-dimethylaminopropyl)
carbodiimide (EDC) and 150 mmol.L-1 Nhidroxisuccinimide (NHS). Electrochemical
impedance spectroscopy (EIS) was used for detecting bimolecular interactions occurring at the
electrode surface. The addition of real samples consisting of canine and human sera positive
and negative for VL presented high sensitivity and selectivity through EIS. Based on the results,
a sensitive, specific, rapid, and simple immunosensor was developed successfully with potential
application for the serological diagnosis of leishmaniasis disease.
Keywords: Electrochemical impedance spectroscopy, Self-Assembled Monolayer,
Immunosensor, Visceral Leishmaniasis, anti-L. infantum
61
1. INTRODUÇÃO
Os métodos sorológicos utilizados no diagnóstico da Leishmaniose Visceral tem
uma ampla aplicação em laboratório porém essas técnicas possuem algumas limitações, uma
vez que são laboriosos, exigem inúmeras etapas para sua realização, podem ocorrer reações
cruzadas com outros tripanossomatídeos, possuem baixa sensibilidade em detecção de casos
assintomáticos e além disso são procedimentos difíceis de aplicar em área endêmicas
(SRIVIDYA et al., 2012; CARVALHO et al., 2017; SILVA et al., 2016). Dessa forma, a
possibilidade de um sistema miniaturizado com baixo custo e aplicação rápida, permitindo o
controle em áreas remotas e de campo é desejado. O desenvolvimento de imunosensores tem
apresentado grande capacidade de diagnóstico e possibilitado a geração de plataformas com
excelente sensibilidade e seletividade, sendo uma grande possibilidade para criação de sistemas
para diagnósticos clínicos, especialmente para doenças que apresentam altos índices de
mortalidade (WANG et al., 2016). Neste trabalho, avaliamos o uso da espectroscopia de
impedância eletroquimica (EIE) como ferramenta para o desenvolvimento de sensores. As
vantagens da EIE como um dispositivo de biosensoriamento está em sua capacidade de
detecção em tempo real, as medidas são diretas, ou seja, não necessitam de marcadores
químicos e/ou biológicos, além de tornar possível a detecção de analitos em meios biológicos
complexos com alta especificidade e sensibilidade (ZHANG et al., 2015; WANG et al., 2008).
Para o desenvolvimento de um sistema eficiente é de suma importância que a
molécula a ser imobilizada consiga se ligar a superfície sensora e, além disso manter as suas
propriedades de reconhecimento. A utilização de Monocamadas Auto organizadas (SAMs)
como fase inicial para construção de imunossensores tem proporcionado maior estabilidade a
essas plataformas preservando as propriedades das moléculas imobilizadas (SOARES et al.,
2015). Neste contexto, a aplicação da técnica de EIE para o desenvolvimento de imunosensores
construídos através de SAMs gera grandes expectativas, principalmente como metodologia para
detecção de doenças parasitárias importantes, como a LV.
Assim, levando em consideração a necessidade de avanços no diagnóstico da LV,
este trabalho mostra o desenvolvimento de uma plataforma de baixo custo para detecção de
anticorpos anti-Leishmania infantum em amostras de soros de cães através da técnica de EIE,
sem necessidade de marcadores biológicos.
62
2. OBJETIVOS
2.1 – Objetivo geral
Desenvolvimento de um imunosensor empregando espectroscopia de impedância
eletroquímica para detecção de Leishmaniose Visceral através da imobilização covalente de
antígenos solúveis de Leishmania infantum sobre Monocamadas Auto organizadas em
superfície de eletrodo impresso de ouro.
2.2 – Objetivos específicos
a) Modificar eletrodos impressos de ouro com Ácido 3-mercaptopropiônico e verificar se
a modificação foi satisfatória através de técnicas eletroquímicas.
b) Imobilizar antígenos solúveis de L. infantum sobre a monocamada e caracterizar
eletroquimicamente a plataforma sensora através das técnicas voltametria cíclica e
espectroscopia de impedância eletroquímica e comparar com o eletrodo não modificado.
c) Definir os melhores parâmetros de tempo de imobilização e concentração de antígeno,
bem como diluições e tempo de interação dos soros com a plataforma.
d) Avaliar o potencial do imunossensor como uma ferramenta aplicável no diagnóstico
sorológico da doença de Leishmaniose Visceral através da adição de amostras de sangue
humano intencionalmente contaminadas com anticorpos anti L. infantum.
63
3. METODOLOGIA
3.1 – Reagentes e soluções
Ácido Mercaptopropiônico (3-MPA), N-hidroxisuccinimida (NHS), 1-etil-3-(3-
dimetilaminopropil) carbodiimida (EDC) , ferricianeto de potássio- [K3[Fe(CN)6], ferrocianeto
de potássio triidratado [K4Fe(CN)6.3H2O], ácido 4-(2-hidroxietil)piperazina-1-etanosulfônico
(HEPES), ácido sulfúrico H2SO4, foram adquiridos da Sigma-Aldrich® (St. Louis, MO, EUA).
Ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA), hidróxido de sódio (NaOH), cloreto de sódio
(NaCl), cloreto de potássio (KCl) e ácido hidroclorídrico (HCl) foram adquiridos da Isofar®
(Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Tween 20 (surfactante P20) 0.005% e KOH foram obtidos de
NEON (São Paulo, Brasil). Etanol (99,5%) foi adquirido da Dinâmica® Química (São Paulo,
Brasil). Ácido sulfúrico (H2SO4) foi adquirido na Vetec® Química Fina (Rio de Janeiro, RJ,
Brasil).
O tampão HBS-EP pH 7,4 utilizado nas análises e diluições dos antígenos e soros
foi obtido através da mistura de soluções de 10,0 mmol L-1 Hepes pH 7,4; 3,0 mmol L−1 EDTA
pH 8,0; 150 mmol L−1 NaCl e 0,005% polissorbato 20. Os demais reagentes aqui utilizados
apresentavam grau analítico e todas as soluções foram preparadas com água ultrapura, obtida
em um sistema de água Milli Q com resistividade de 18,2 MΩ cm-1.
3.2 - Instrumentação
As medidas voltamétricas e impedimétricas foram realizadas em um
potenciostato/galvanostato da Autolab GSTAT204 equipado com módulo de impedância
FRA32M acoplado a um computador contendo o software NOVA 2.1.3. Os dados de
impedância foram analisados pelo software NOVA 2.1.3. Uma modulação do potencial
senoidal da amplitude de 10 mV foi sobreposta no potencial de circuito aberto (OCP) do
sistema. A amplitude e o ângulo de fase da corrente resultante foram registrados em frequências
variando de 100 kHz a 10 mHz.
64
Análises morfológicas da superfície dos eletrodos impressos foram realizadas
através da técnica de microscopia eletrônica de varredura (MEV) em microscópio da Hitachi
modelo TM3000.
Eletrodos de ouro impressos (SPE-Au), modelo DRP-220 AT, Lote. E0016560,
foram adquiridos da DropSens® (Llanera, Asturias, Espanha). Cada dispositivo contém um
eletrodo de trabalho de ouro, um contra eletrodo de ouro e um eletrodo de referência de prata
fixados em uma base de cerâmica (ver Figura 1).
3.3 - Análises em eletrodo impresso de ouro
Testes iniciais foram realizados em eletrodos impressos de ouro (SPE, screen
printed electrodes) comerciais curados a baixa e alta temperaturas (AT e BT). Ao serem
mantidos em solução etanólica por 24h, percebeu-se que a tinta do eletrodo BT se desprendeu
do suporte cerâmico, enquanto a superfície do eletrodo do tipo AT permaneceu intacta. Assim,
toda metodologia foi desenvolvida com eletrodos de ouro do tipo AT, visto que este possui
maior grau de resistência química. A metodologia desenvolvida está representada no esquema
presente na Figura 1. Vale ressaltar que as análises foram realizadas em triplicata para cada uma
das condições experimentais.
Figura 1. Esquema mostrando o desenvolvimento do imunossensor para detecção de anti L. infantum.
65
3.4 - Produção de antígenos brutos de L. infantum
Os antígenos solúveis utilizados neste trabalho foram obtidos da Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP) que utilizaram promastigotas produzidas in house conforme
protocolo e patente depositados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
PI0605889-2 .
As formas promastigotas foram cultivadas em meio LIT (Live Infusion Tryptose)
na fase estacionária. Em seguida, os parasitas foram lavados três vezes com solução tampão
fosfato (PBS) pH 7,20, utilizando centrifugação de 600 x g por 10 min. Os parasitas foram
rompidos em banho frio usando um disruptor de célula Sonifier® de 40W (Brason Sonic Power
Co, EUA). Então, uma nova centrifugação foi conduzida em uma centrífuga refrigerada
multifuncional Jouan BR4 (Thermo Electron Corporation) a 37.000 x g por 90 min a 4,0 ° C.
O sobrenadante foi dialisado utilizando PBS pH 7,20 durante 24 h a 4,0 ° C sob agitação, o
restante do material na bolsa de diálise foi filtrado em filtros descartáveis de 0,22 µm (Millipore
co. Massachusetts, EUA), e uma amostra foi retirada para ajustar a concentração de proteína ao
valor de 1000 μgmL-1. Após a confirmação da reação imunológica positiva e negativa pelo
método ELISA, o soro foi armazenado a -80,0 °C.
3.5 - Soros caninos contendo anticorpos anti-L. infantum
As amostras de soro clínico canino positivo foram obtidas de cães infectados em
áreas endêmicas e testadas através dos métodos ELISA e imunofluorescência indireta (IFI). A
Secretaria de Saúde da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais (MG), realizou inicialmente os
diagnósticos dessas amostras durante pesquisa sorológica de LV canina. Estas foram enviadas
para o Laboratório de Imunopatologia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Ouro
Preto - MG, e os diagnósticos foram confirmados através dos ensaios sorológicos. Além disso,
soros clínicos de cães híbridos sadios alojados em regiões não endêmicas (Centro de Animais
da UFOP) foram usados como controle. A coleta de amostras foi aprovada pelo comitê de ética
em pesquisa da UFOP, Projeto no 2007/83.
66
3.6 - Limpeza, caracterização e modificação da superfície do sensor
Análises iniciais foram realizadas em eletrodo impresso de ouro do tipo AT. O
primeiro passo realizado foi investigar, utilizando a microscopia eletrônica de varedura, a
superfície do eletrodo. Este é um passo muito importante, pois a presença de irregularidades na
superfície do eletrodo pode impactar na formação da monocamada. As amostras foram
submetidas a ampliações variadas. As principais características foram processadas e analisadas
através dos softwares providos pelo equipamento.
Imediatamente antes do uso, foi realizado um pré-tratamento eletroquímico da
superfície do substrato através de voltamogramas cíclicos obtidos em solução de H2SO4 0,5 mol
L-1, velocidade de varredura de 50 mV s-1 no intervalo de potencial (∆E) de -0,1 a +1,2 V.
Após a limpeza, o eletrodo foi lavado copiosamente com etanol, e então imerso em
solução etanólica contendo ácido 3-mercaptopropiônico (3-MPA 1,0 mmolL-1) durante 24h
para formação da monocamada. Essa modificação foi realizada com o objetivo de promover
ligação de moléculas proteicas sobre a superfície do sensor, uma vez que essas moléculas não
conseguem interagir diretamente com o ouro. A monocamada de 3-MPA se fixa na superfície
do ouro a partir da interação entre este e o grupo funcional enxofre de uma das suas
extremidades, ficando o outro grupo funcional carboxila livre para possibilitar imobilização da
molécula de interesse.
3.7 - Imobilização de antígenos L. infantum sobre a SAM
Após a formação da SAM, o eletrodo foi lavado várias vezes com etanol e seco em
uma corrente de N2. Foi colocado então sobre a superfície do eletrodo uma mistura aquosa de
EDC/NHS (150 mmol L-1 NHS e 100 mmol L-1 EDC) por aproximadamente 10 minutos cujo
objetivo é ativar os grupos terminais da monocamada. E então, à temperatura ambiente (25 ± 2
° C) e em condições não úmidas, as superfícies ativadas foram cobertas com um volume de 20
µL de antígenos de L. infantum em concentrações de 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL por 30 min (após
a escolha da concentração ideal, este tempo foi estudado). Em seguida, o imunossensor foi
completamente lavado com tampão HBS-EP pH 7,4 para remover o excesso de material não
67
ligado. A saturação da superfície do eletrodo foi então investigada utilizando albumina de soro
bovino (BSA) a fim de se evitar ligações inespecíficas.
3.8 - Detecção da imunorreação entre antígenos L. infantum e anticorpos anti L. infantum
Após a imobilização do antígeno na plataforma, e fixadas medidas de concentração
e tempo, o sensor foi testado frente a capacidade de reconhecimento do anticorpo. Assim, foram
depositadas sobre a superfície sensora 20 µL de pool de soro positivo na diluição de 1:320
durante 10, 20, 30 e 60 minutos. O mesmo procedimento foi realizado para amostra de pool de
soro negativo.
Depois de estabelecidas as condições ótimas do sistema a serem adotadas, o
imunossensor foi testado frente a diferentes diluições de pool de soro (1:40, 1:80, 1:160, 1:320,
1:640 e 1:1280) positivos e negativos. A intensidade de cada resposta obtida foi medida por
EIE e valores referentes de Rct para cada diluição foram obtidos após simulação dos dados.
3.9 - Desempenho do imunossensor frente adição de amostras de sangue
O imunossensor desenvolvido também foi testado quanto a capacidade de distinguir
e diferenciar no sangue, uma matriz biológica complexa, anticorpos positivos e negativos. Para
isso dois tipos diferentes de amostras foram utilizados no experimento: amostras de sangue de
voluntários não infectados de nosso laboratório e amostras de sangue contaminadas
intencionalmente com anticorpos anti-L.infantum.
Após a coleta de sangue, as amostras positivas foram preparadas utilizando 30 μL
de sangue puro contaminado com 10 μL de soro positivo e 10 μL de tampão HBS-EP. As
amostras negativas foram preparadas com adição de 30 μL de sangue e 20 μL de tampão HBS-
EP, mantendo o mesmo fator de diluição em ambos. Na análise, 20 μL da amostra de sangue
preparado foram depositados sobre a superfície do imunossensor por cerca de 30 minutos. A
superfície foi então lavada com HBS-EP e o teste foi conduzido. Este procedimento foi
realizado para ambas as amostras.
68
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 - Caracterização e modificação da superfície do sensor
Imediatamente antes do uso, foi realizado um pré-tratamento eletroquímico da
superfície do substrato através de voltamogramas cíclicos obtidos em solução de H2SO4 0,5 mol
L-1. Este protocolo de tratamento de superfície é o mais amplamente aplicável, pois é capaz de
produzir superfícies limpas, monocamadas ordenadas e altamente reprodutíveis.
O perfil voltametrico obtido após 8 varreduras de potencial se encontra na Figura
2.
Figura 2.Voltamograma cíclico obtido para a superfície do eletrodo impresso de ouro AT não modificada em
solução 0,5 mol L-1 de H2SO4.
Para observar irregularidades e identificar as diferenças na superfície do eletrodo
foram realizadas análises da morfologia dos eletrodos impressos de ouro do tipo AT através da
microscopia eletronica de varredura (MEV). As análises foram realizadas nas ampliações de
1.000x, 2.500x, 5.000x e 10.000x e os resultados obtidos estão presentes na Figura 3.
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) é uma técnica versátil para análise e observação
das características microestruturais de materiais sólidos, produzindo imagens de alta resolução
sem perda de nitidez. A MEV é uma das técnicas mais versáteis para a obtenção rápida de
-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4-20
0
20
40
60
80
100
120
140
Co
rre
nte
/ A
Potencial / V
69
informações sobre a morfologia, apresentando simplicidade na preparação de amostras e
obtenção de imagens. (DEDAVID, 2007).
Observando as imagens obtidas é possível perceber que o eletrodo impresso do tipo
AT possui cobertura total da tinta sobre a superfície de forma bastante homogênea. Estas
características são de grande importância para formação eficiente da plataforma sensora.
Figura 3. Imagens de MEV para eletrodo impresso de ouro AT nas ampliações de (a) 1.000x, (b) 2.500x, (c)
5.000x e (d) 10.000x.
As técnicas de voltametria cíclica e espectroscopia de impedância eletroquímica
foram utilizadas para caracterizar a SAM formada na superfície do ouro. A análise de processos
redox de sondas eletroquímicas, como o par Fe (CN)63−/4− é uma valorosa ferramenta
(a)
)
(b)
(c) (d)
70
eletroquímica para o acompanhamento da modificação de superfícies metálicas através de
SAMs (CHIDSEY & LOIACONO, 1990; LUZ, 2015). Assim, o par redox Fe (CN)63−/4− foi
utilizado como sonda aniônica para examinar a integridade da SAM formada, bem como os
demais processos eletroquímicos realizados nesse trabalho.
A Figura 4 (curva 1) refere-se ao comportamento redox da sonda para o eletrodo de
ouro não modificado, onde é possível observar dois picos bem definidos para o par redox
indicando que a reação de transferência de massa da sonda redox é completamente controlada
por difusão.
Por outro lado, após a modificação do eletrodo com SAM/3-MPA, Figura 4 (curva 2), tem-se
como resultado uma diminuição do pico de corrente, uma vez que com a modificação as
espécies eletroativas presentes na solução ficam mais distantes da superficie do eletrodo,
diminuindo a velocidade de transferência eletrônica se comparada com a superfície não
modificada (ADAMS et al., 2003; CANCINO & MACHADO, 2012).
Figura 4. Voltamogramas cíclicos obtidos SPE-Au não modificado (curva 1) e modificados com SAM/3-MPA
(curva 2) em solução aquosa contendo Fe(CN)6 3−/ 4− (1.0 mmol L−1) e KCl (0.1 mol L−1), velocidade de varredura
de 50 mV s−1.
-0,3 0,0 0,3 0,6 0,9-240
-160
-80
0
80
160
240
2
1
Corr
ente
/
A
Potencial / V
A fim de obter a confirmação da modificação do eletrodo e mais informações sobre
a transferência eletrônica, foram também conduzidos estudos por Espectroscopia de
71
Impedância Eletroquimica (EIE). A Figura 5 mostra os gráficos de Nyquist para os eletrodos
não modificados e modificados na presença da sonda redox ferro/ferricianeto de potássio. As
linhas sólidas mostram ajustes obtidos a partir da simulação dados. Estes foram simulados pelo
circuito de Randles, representado na Figura 6-1.
Figura 5. Diagramas de Nyquist (gráfico Z’ vs. Z’’) para as medidas de espectroscopia de impedância
eletroquímica realizadas para SPE -Au () e SPE -Au / SAM 3-MPA ().
O valor de qui-quadrado (𝑥²) é uma medida que busca quantitativamente avaliar o
quanto os valores observados se desviam do valor esperado. É um parâmetro não paramétrico,
ou seja, não depende de parâmetros populacionais (média e variância). Todos os circuitos
apresentados neste trabalho apresentaram valores de 𝑥² da ordem de 10-3, apresentando assim
um bom ajuste dos dados experimentais com baixo erro estatistico na simulação dos dados
experimentais.
Os resultados de EIE encontrados para o eletrodo modificado com SAM 3-MPA e
para o eletrodo não modificado foram simulados com sucesso pelo ajuste do circuito de Randles
(Fig. 6-1). Porém, após a adição do antígeno, a camada tornou-se mais espessa e o sistema não
pode mais ser representado por tal circuito. Então, foi proposto outro circuito equivalente,
representado na Figura 6-2, que se ajustou aos dados experimentais.
0 20 40 60 80 1000
20
40
60
80
100
-Z''
/
Z' /
72
Figura 6. Circuitos utilizados para simulação dos dados de EIE. (1) circuito Randles e (2) circuito Randles
modificado.
O circuito 2 possui um elemento representando a resistência da solução (R1), seguido
por dois arranjos paralelos R-Q. O primeiro é composto por um elemento de fase constante
representando a pseudocapacitância da dupla camada elétrica (Q1), em paralelo com uma
resistência a transferência de carga (R2). Na segunda parte, um elemento de fase constante
representa a pseudocapacitância da modificação (Q2) e está em paralelo com a resistência da
modificação (R3) que, por sua vez, está em série com o elemento de Warburg (W) que
representa a difusão semi-infinita das espécies carregadas. A necessidade do uso de dois
componentes para essa plataforma sugere a formação de uma camada altamente porosa de
comprimento variável.
A simulação para o eletrodo impresso não modificado, utilizando o circuito 1, exibe
baixa resistência de transferência de carga (Rct = 4,8 ± 0,8 Ω) sugerindo uma rápida
transferência de carga entre a sonda redox e eletrodo. Após a imobilização da SAM, o valor de
Rct aumentou para 19,9 ± 2,0 Ω, indicando um bloqueio parcial da transferência de carga
interfacial, mostrando que a modificação da superfície foi bem sucedida.
Assim, os resultados obtidos através das técnicas VC e EIE mostraram fortes
evidências da formação da SAM na superfície do SPE-Au. A modificação de eletrodos
utilizando monocamadas representa uma metodologia que garante uma imobilização estável e
orientada para os antígenos preservando suas propriedades, o que é altamente desejado visto
que isso garante robustez e confiabilidade aos imunossensores (FREIRE et al. ,2003; LOVE et
al., 2005).
4.2 - Avaliação e otimização da imobilização de antígenos L. infantum sobre SAM-3MPA
A espectroscopia de impedância eletroquímica é uma técnica muito sensível que
pode ser utilizada para caracterização de superfícies e também para detecção de interações
biomoleculares que ocorrem na superfície do eletrodo (PRODROMIDIS, 2010; MUTREJA,
73
2016; FERREIRA, 2015). Através da EIS é possível medir a resistência à transferência de carga
(Rct) que ocorre na interface eletrodo-solução. Valores baixos de Rct indicam que a transferência
de carga entre a sonda redox e o eletrodo ocorre de forma facilitada. Assim, este parâmetro é
apropriado para detecção de espécies ligadas na superfície do sensor layer by layer, pois à
medida que espécies são ligadas na superfície do eletrodo, dificultando a passagem de elétrons,
os valores de Rct vão aumentando. Sendo possível distinguir assim espécies ligadas (positivas)
de espécies não ligadas (negativas). Este é o princípio de construção do imunossensor proposto.
Após verificação da eficiência da modificação do eletrodo partiu-se para a etapa de
imobilização das espécies de interesse sobre o sistema. Para que ocorra a ligação efetiva do
antígeno na SAM é necessário que esta esteja ativada, com o objetivo de transformar a
terminação carboxílica pouco reativa em grupos reativos e susceptíveis ao ataque nucleofílico
pelos grupos amino livres presentes nos antígenos. Para tal utilizou-se os agentes de
acoplamento EDC-NHS de acordo com os procedimentos já descritos na literatura.
(JONHSSON et al, 1991). A utilização desses agentes em conjunto com SAM para a construção
de biossensores é bastante comum na literatura. (LUZ, 2015).
Ao adicionar o eletrodo na solução alcoólica de 3-MPA uma ligação covalente se
forma entre o grupo sulfeto do 3-MPA e o ouro, deixando o grupo ácido carboxílico disponível
para a reação com EDC-NHS. A reação então, segue da seguinte forma: primeiramente o EDC
reage com os grupos carboxílicos e é formado um grupo intermediário chamado acilureia, o
qual é instável e reativo. Esse intermediário reage com o NHS, o qual se liga através do grupo
ácido carboxílico original. Neste caso se forma um grupo reativo, a amina, considerada mais
estável que o grupo acilureia. Em seguida aminas primárias do componente a ser imobilizado
removem o NHS, liberando-o em solução e se ligam ao ácido carboxílico original. Tal processo
se encontra ilustrado na Figura 7.
A utilização de antígenos imobilizados na SAM ao invés de anticorpos, para o
desenvolvimento de imunossensores, é mais aconselhável. Isso se deve ao fato de que
teoricamente os antígenos são mais estáveis na presença de agentes regeneradores de superfície,
possuem menor perda de funcionalidade, além de apresentarem menor risco de orientações
estruturais incorretas (SHANKARAN et al., 2007).
74
Figura 7. Esquema representando a reação EDC/NHS.
Fonte: KARVE, 2011.
A Figura 8 mostra os gráficos de Nyquist dos antígenos L. infantum imobilizados
sob o eletrodo modificado em comparação com a superfície modificada com 3-MPA na
presença da sonda redox. Os dados de EIE foram simulados com um circuito de Randles
modificado mostrado na Figura 6-2.
Figura 8. Diagramas de Nyquist dos antígenos L. infantum imobilizados sob o eletrodo modificado (antígeno /
SAM 3-MPA / SPE-Au(∆)) em comparação com a superfície modificada com 3-MPA () na presença da sonda
redox.
0 50 100 150 200 250 3000
50
100
150
200
250
300
-Z''
/
Z' /
75
Os espectros de impedância obtidos possuem um semicírculo em frequências mais
altas, sendo relacionado com o processo limitante de transferência de elétrons, e uma parte
linear em baixas frequências devido a etapa limitante de difusão do processo eletroquímico. Os
valores de Rct estão relacionados com o diâmetro do semicírculo no diagrama de Nyquist,
podendo ser empregado para descrever as propriedades da interface do eletrodo (RANDLES,
1947).
Com a imobilização do antígeno L. infantum o sistema exibiu um valor de Rct
moderado que aumentou de 19,9 ± 2,0 Ω (somente SAM 3-MPA) para 72,9 ± 1,9 Ω. É possível
que a adsorção do antígeno sobre a SAM proporcione o aumento de uma camada protetora
isolante que bloqueia parcialmente as espécies redox, dificultando assim a aproximação da
sonda redox para a superfície do eletrodo. Este resultado demonstra grandes indícios de uma
efetiva imobilização do antígeno L. infantum sobre a SAM 3-MPA.
Após confirmada a etapa de imobilização foram testadas diferentes concentrações
de antígeno (12,5; 25; 50 e 100 μg mL– 1) em diferentes tempos de imobilização (10, 20, 30 e
60 min) com a finalidade de caracterizar a imobilização da proteína sobre a monocamada e
obter o tempo de ligação e a concentração de L. infantum necessários para se alcançar uma
elevada cobertura de superfície após interação do antígeno-monocamada. Em seguida as
condições otimizadas foram utilizadas para construção do imunossensor impedimétrico.
A Figura 9 mostra a dependência dos valores de Rct a partir da imobilização de
soluções antigênicas em diferentes concentrações (12,5; 25; 50 e 100 μg mL– 1). A análise
desses dados revela que o aumento da concentração do antígeno é acompanhado pelo aumento
do valor da Rct, sugerindo um maior número de moléculas imobilizadas sobre a monocamada.
Tal fato ocorreu devido ao aumento de espécies ligadas sobre a monocamada dificultar cada
vez mais a transferência eletrônica entre a sonda e a superfície do eletrodo, aumentando assim
a resistência à transferência de carga.
Além disso, foi verificado que esse aumento de resposta aconteceu até a concentração
de 50 μg mL− 1, após este valor de concentração nenhuma mudança importante foi observada.
Esta observação sugere que a cobertura da superfície é saturada quando a concentração do
antígeno é maior que esse valor. Como o procedimento usou o ácido carboxílico ativado para
reagir especificamente com o antígeno, a imobilização do antígeno é limitada à disponibilidade
deste grupo funcional ativado. Portanto, a concentração de antígeno de 50 μg mL−1 foi escolhida
76
para a construção do imunossensor. Vale ressaltar que cada passo de imobilização foi seguido
por lavagem para remover o antígeno não adsorvido, garantindo assim reprodutibilidade do
dispositivo. A avaliação dos diferentes tempos de imobilização (10, 20, 30 e 60 minutos)
realizada na concentração escolhida, está representada na Figura 10.
Figura 9. Efeito da concentração do antígeno no valor da Rct.
0 20 40 60 80 10020
30
40
50
60
70
80
Rct /
[Antigeno] / g/mL
Figura 10. A dependência da Rct em função do tempo de imobilização do antígeno (50 μg mL−1). Todas as
medidas foram realizadas em solução de KCl (0,1 mol L−1) contendo Fe(CN)63−/4− (1,0 mmol L−1).
0 10 20 30 40 50 6020
30
40
50
60
70
80
Rct
/
Tempo de imobilização / min
77
A Figura 10 mostra que o valor da Rct aumentou com o aumento do tempo de
imobilização do antígeno até 30 minutos. Isto sugere que a reação de ligação prossegue
rapidamente e é completada em 30 minutos. Para garantir a eficiência de ligação e usar um
menor período de incubação possível, o tempo de 30 minutos foi selecionado para os
experimentos subsequentes.
4.3 - Detecção e otimização da imunorreação entre antígenos L. infantum e anticorpos anti
L. infantum
Após ser otimizado, em função da concentração e tempo de imobilização do
antígeno, o imunossensor foi avaliado quanto a capacidade de detectar anticorpos anti L.
infantum. Nesta etapa foi realizada a detecção da imunorreação utilizando soros positivos e
negativos na diluição de 1:320 (soro:tampão), onde essa diluição foi escolhida com base em
outros trabalhos publicados para detecção de doenças parasitárias (LUZ, 2015; SOUTO 2013).
A Figura 11 mostra os diagramas de Nyquist obtidos após adição do antígeno e para
o imunossensor na presença de amostras de soro canino contendo anticorpos negativos (Ab−) e
positivos (Ab+).
Figura 11. Diagramas de Nyquist obtidos para antígeno/SAM/3-MPA/SPEAu (curva 1), o imunossensor na
presença de amostras de soro canino contendo anticorpos negativos (Ab , curva 2) e positivos (Ab+, curva 3).
0 150 300 450 600 750 9000
150
300
450
3
2
1
-Z''
/
Z' /
78
É percepitível que a resposta analítica foi detectada para o anticorpo positivo, uma
vez que a interação resultou em um aumento significativo do valor de Rct de 72,9 ± 1,9 Ω (curva
1, somente antígeno) para 518 ± 6,9 Ω (curva 3), o que representa uma alta interação do antígeno
com as amostras sorológicas positivas. Por outro lado, quando avaliado o comportamento do
imunossensor frente ao soro negativo (curva 2), foi observado que o dispositivo apresentou uma
menor resposta (Rct = 302 ± 4,2 Ω), este valor sugere uma certa interação, dos anticorpos
negativos com a plataforma. Isso se deve ao fato de que ao se utilizar antígenos brutos, poderá
haver ligação de algumas proteinas inespecíficas com o soro negativo, o que não compromete
capacidade de detecção para o pool positivo, uma vez que a magnitude da diferença da Rct,
demonstra uma grande discriminação entre as respostas positivas e negativas e reforça a
possibilidade de detecção e diferenciação de tais amostras.
Porém, a fim de reduzir a formação de ligações inespecíficas, diminuir a resposta
do soro negativo e, consequentemente aumentar a diferenciação entre as respostas das amostras
positivas e negativas foi utilizada soro albumina bovina (BSA), empregada para promover o
bloqueio de sítios inespecíficos presentes na plataforma sensora (DAWAN et al., 2011; LUZ,
2015). Após a imobilização do antígeno e, antes da incubação dos soros, foram colocados sobre
a superfície sensora 20 µL de solução de BSA 1% durante 10 minutos, seguido de lavagem em
tampão, e posterior adição dos soros testes. Contudo, ao se utilizar BSA não foram observadas
alterações significativas na respota do biossensor. Assim, BSA não foi utilizada em análises
posteriores.
Após confirmada a ocorrência da imunorreação, utilizando o mesmo fator de
diluição (1:320), foi otimizado o tempo de incubação do anticorpo, apresentada na Figura 12,
através da variação do tempo de interação antigeno-anticorpo.(10, 20, 30 e 60 minutos).
Um tempo mínimo de 10 minutos foi escolhido para garantir interação entre o
antígeno e o anticorpo, tempos maiores que 60 minutos não foram testados, pois o objetivo é
obter um maior valor de diferenciação dos soros positivos e negativos (maior ΔRct de
diferenciação) em um menor tempo de resposta.
79
Figura 12. Valores de Rct obtidos para a detecção de anticorpos positivos e negativos em 10, 20, 30 e 60 minutos
de incubação.
-10- -20- -30- -60-0
200
400
600
Rct
128 R
ct
216
Rct
118
Ab+
Ab_
Rct
128
Rct
/
Tempo de incubação / min
Observou-se que com o passar do tempo há um aumento na resposta do Ab+ e esta
é acompanhada por um aumento, porém menos evidente, na resposta Ab−. Devido ao aumento
do tempo de imobilização, mais anticorpos foram imobilizados na superfície do sensor. Após
30 minutos, os anticorpos positivos imobilizados na superfície atingem a saturação, o que
resulta em nenhuma mudança da Rct. Além disso, este é o tempo de imobilização em que ocorre
o maior ∆Rct, ou seja, a maior diferenciação entre anticorpos positivos e negativos. Estes
resultados sugerem que 30 minutos é o tempo ótimo para imobilização de anticorpos positivos
e negativos.
4.4 - Testes de desempenho do imunossensor
Após a otimização, o imunossensor foi avaliado para detecção de anticorpos anti-L.
infantum em diferentes diluições. Assim, utilizou-se soros caninos divididos em dois pools: um
pool positivo preparado a partir de 10 soros de cães infectados e oriundos de áreas endêmicas e
um pool negativo constituído de 10 soros de cães não infectados pelo parasita. A Tabela 1
mostra os resultados obtidos para os valores da Rct para as diluições positivas e negativas do
pool de soros nas diluições de 1:40, 1:80, 1:160, 1:320, 1:640 e 1: 1280, além da variação entre
eles (∆Rct).
80
Tabela 1. Valores de Rct obtidos para os as diluições de 1:40, 1:80, 1:160, 1:320, 1:640 e 1: 1280 positivas e
negativas.
Para avaliação do desempenho e especificidade do imunossensor, soros caninos
positivos e negativos foram adicionados sobre a superfície do sensor e a resposta de Rct foi
acompanhada para cada conjunto de amostra. Como pode ser visto na Tabela 1, uma ampla
faixa de diluições dos soros positivos e negativos (1:40 – 1:1280) foi apresentada e para uma
fácil comparação os valores de ∆Rct foram evidenciados, ou seja, a diferença dos valores de Rct
das amostras positiva e negativa em cada diluição, como mostra a Figura 13.
Figura 13. Valores de Rct obtidos para soros caninos positivos e negativos nas diluições de 1:40, 1:80, 1:160,
1:320, 1:640 e 1:1280 e a diferença obtida entre positivo e negativo em cada diluição, ∆Rct.
Fator de diluição Ab+ / Rct (Ω) Ab− / Rct (Ω) ∆Rct
1:40 998 ± 2,7 684 ± 5,0 314 ± 5,6
1:80 826 ± 6,0 532 ± 3,3 294 ± 6,8
1:160 678 ± 1,9 318 ± 2,4 360 ± 3,1
1:320 518 ± 6,9 302 ± 4,2 216± 8.1
1:640 347 ± 3,1 288 ± 3,0 59± 4,2
1:1280 206 ± 5,2 183 ± 2,5 23± 5,7
1:40 1:80 1:160 1:320 1:640 1:12800
150
300
450
600
750
900
1050
Rct
/
Diluição
Ab+
Ab_
Rct
A
81
A partir dos dados da Tabela 1 e da Figura 13 observa-se que, para menores
diluições de soro há predominância da ligação específica antígeno-anticorpo positivo, sendo
obtida para essas diluições uma grande discriminação entre as respostas positivas e negativas.
Essa tendência é diminuida à medida que a diluição do soro aumenta, indicando também que o
aumento da diluição resulta em uma menor quantidade de espécies interagindo com os
antígenos imobilizados, exibindo assim um menor valor de Rct a cada aumento de diluição. De
acordo com os dados apresentados o maior valor de ∆Rct foi obtido para a diluição de 1:160,
sugerindo que essa seria a melhor diluição para a realização do teste de diagnóstico, pois quanto
maior esse valor, maior a sensibilidade do teste.
A Figura 14 apresenta a curva de calibração que mostra a relação linear entre Rct e
a proporção de diluição de soros caninos. A correlação obtida mostra que existe uma excelente
relação linear entre as diluições do soro positivo com os valores de Rct obtidos durante 30
minutos, visto que o coeficiente de correlação obtido foi 0,9997.
Figura 14. Valores de Rct em função do fator de diluição para os as diluições positivas de 1:40,
1:80, 1:160, 1:320, 1:640 e 1: 1280.
1:40 1:80 1:160 1:320 1:640 1:12800
200
400
600
800
1000
1200
Rct
/
Diluições Ab positivo
A resposta do imunossensor frente a amostra de Ab negativos também foi avaliada
como controle sob as mesmas condições. Os valores de Rct detectados para os anticorpos
negativos foram menores que os obtidos para o pool positivo em todas as diluições, mas a
82
diferença foi mais acentuada na diluição 1:160, que como abordado anteriormente, deve ser
selecionada como a provável diluição no teste de imunoensaio.
A detecção preliminar de anticorpos anti-Leishmania infantum também foi
realizada diretamente em amostras de sangue, sem qualquer pré-tratamento. Assim, para teste
de resposta de Rct do sensor, um pequeno volume de sangue (20 µL) foi usado, que pode ser
facilmente obtido a partir de orelhas dos cães ou da polpa digital em humanos. As amostras de
sangue foram depositadas na superfície imunossensora por 30 minutos, e os espectros de
impedância obtidos para amostras positivas e negativas estão representados na Figura 15.
Figura 15. Diagramas de Nyquist mostrando a resposta do imunossensor frente a adição de amostras de sangue
positivo (curva 1) e negativo (curva 2). As medidas foram realizadas em solução de KCl (0.1 mol L−1) contendo
Fe(CN)63−/4− (1.0 mmol L−1).
0 300 600 900 1200 15000
300
600
900
1200
1500
2
1
-Z''
/
Z' /
O aumento observado nos valores de Rct da amostra positiva (141 ± 3,0 Ω) é maior
que o observado com a amostra negativa (88,1 ± 0,9 Ω). A comparação entre os dois valores
indica a excelente seletividade do imunossensor, mesmo quando se utiliza o antígeno bruto e
amostras não processadas, uma vez que a adição de soro negativo é acompanhado de uma uma
resposta menor. Entretanto, o estudo e otimização do biossensor com este tipo de matriz não
foi objeto desse trabalho.
Finalmente, com o objetivo de avaliar a aplicabilidade do imunossensor obtendo
um futuro método de diagnóstico, a estabilidade do imunossensor também foi investigada. Após
83
a imobilização adequada do antígeno, o sensor foi armazenado na geladeira a aproximadamente
4,0°C. Após três semanas o dispositivo foi retirado da geladeira, deixado a temperatura
ambiente por cerca de 10 minutos e então a leitura foi realizada. Foi observado que durante tal
tempo o imunossensor conservou 92% do seu valor de resposta inicial.
É importante destacar que, de acordo com o nosso conhecimento, este é o primeiro
estudo envolvendo a detecção de anticorpos da LV utilizando como plataforma de diagnóstico
um imunossensor impedimétrico descartável. Estas caracteristicas somadas com os dados
obtidos revelam o potencial do imunossensor desenvolvido como plataforma de diagnóstico a
ser aplicado à realidade das áreas endêmicas, onde há necessidade de análise de um grande
número de amostras, em curto espaço de tempo e com baixo custo. Vale ressaltar que objetivo
principal desse trabalho é contribuir significativamente em diversos aspectos relacionados com
o diagnóstico e tratamento adequado da LV.
84
5. CONCLUSÃO
Considerando todos os resultados obtidos nos diferentes experimentos realizados
ao longo do presente estudo é possível concluir que:
a) Neste trabalho foi desenvolvido o primeiro imunossensor impedimétrico do tipo point
of care para a detecção de anticorpos anti L. infantum através da imobilização de
antígenos brutos sobre monocamadas auto-organizadas de 3-MPA, representando uma
ótima estratégia diagnóstica, com a vantagem de ser um método mais barato, em
comparação com os métodos tradicionais de análise, e mais rápido do que outras
plataformas utilizadas até agora na construção de imunossensores para a detecção de
LV.
b) O imunossensor EIS desenvolvido demonstrou alta sensibilidade e especificidade para
detecção de anticorpos anti L. Infantum livre de marcadores, capaz de análise em tempo
real, ilustrando a sua adequação para aplicações clínicas e epidemiológicas para
diagnosticar cães com LV.
c) Com base no apresentado, é possível constatar o grande potencial do imunossensor
desenvolvido em constituir uma ferramenta promissora, sensível, específica e rápida
para o sorodiagnóstico de LV em regiões endêmicas.
85
REFERENCIAS
ADAMS, D. M. et al. Charge Transfer on the Nanoscale: Current Status. The Journal of Physical Chemistry B, v. 107, p. 6668-6697, 2003. BRASIL Ministério da Saúde. Leishmaniose Visceral: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Saúde de A a Z. 2018. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/leishmaniose-visceral> Acesso em: 14 jan. 2019. CANCINO, J.; MACHADO, S. A. S. Microelectrode array in mixed alkanethiol self assembled monolayers. Electrochemica Acta, v. 72, p. 108-113, 2012. CHIDSEY, C.E.D; LOIACONO, D. N. Chemical functionality in self-assembled monolayers: structural and electrochemical properties. Langmuir, v. 6, n. 3, p. 682-691, 1990. CARVALHO, A.M.R., COSTA, L.E., SALLES, B.C., SANTOS, T.T, RAMOS, F.F. LIMA, M.P. SILVEIRA, J.A. An ELISA immunoassay employing a conserved Leishmania hypothetical protein for the serodiagnosis of visceral and tegumentary leishmaniasis in dogs and humans, Cell. Immunol. v. 318, p. 42–48, 2017. DAWAN, S., KANATHARANA, P., WONGKITTISUKSA, B., LIMBUT, W., NUMNUAM, A., LIMSAKUL, C., & THAVARUNGKUL, P. Label-free capacitive immunosensors for ultra-trace detection based on the increase of immobilized antibodies on silver nanoparticles. Analytica Chimica Acta, v. 699, n. 2, p. 232-241, 2011. DEDAVID, B. A.; GOMES, C. I; MACHADO, G. Microscopia eletronica de varredura: Aplicações e preparações de amostras. Porto Alegre, 2007. EDIPUCRS. FERREIRA, L. F., SANTOS, C. C., DA CRUZ, F. S., CORREA, R. A., VERLY, R. M., & DA SILVA, L. M. Preparation, characterization, and application in biosensors of functionalized platforms with poly (4-aminobenzoic acid). Journal of materials science, v. 50, n. 3, p. 1103-1116, 2015. FREIRE S. R.; PESSOA A. C.; KUBOTA L. T.. Emprego de Monocamadas Auto-Organizadas no desenvolvimento de Sensores Eletroquímicos. Química Nova, vol. 26, p. 381-389, 2003. JONHSSON B.; LOFAS S.; LINQUIST G. Immobilization of proteins to a carboxymethyldextranmodified gold surface for biospecific interaction analysis in surface plasmon resonance sensors. Analytical Biochemistry, vol. 198, p. 268 – 277, 1991. Karve, S., Werner, M.E., Cummings, N.D., Sukumar, R., Wang, E.C., Zhang, Y., Wang, A.Z. Formulation of Diblock Polymeric Nanoparticles through Nanoprecipitation Technique. J. Vis. Exp. (55), e3398 10.3791/3398
86
LINDOSO, J. A. et al. Visceral Leishmaniasis and HIV Coinfection in Latin America. PLoS Neglected Tropical Diseases, San Francisco, v. 8, n. 9, p. e3136, 2014. LOVE J. C.; ESTROFF L. A.; KRIEBEL J. K.; NUZZO R. G.; Self-Assembled Monolayers of Thiolates on Metals as a Form of Nanotechnology. Chemical Reviews, No 105, p. 1103 – 1169. 2005. LUZ, J. G., SOUTO, D. E., MACHADO-ASSIS, G. F., DE LANA, M., KUBOTA, L. T., LUZ, R. C., ... & MARTINS, H. R. Development and evaluation of a SPR-based immunosensor for detection of anti-Trypanosoma cruzi antibodies in human serum. Sensors and Actuators B: Chemical, 212, 287-296, 2015 MICHALICK MSM, G. O. Leishmaniose visceral americana. In: Neves D.P., Melo AL, Linardi PM, Vitor RWA. Parasitologia humana. 11 ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2005. p. 67-84. MUTREJA, R., JARIYAL, M., PATHANIA, P., SHARMA, A., SAHOO, D. K., & SURI, C. R. Novel surface antigen based impedimetric immunosensor for detection of Salmonella typhimurium in water and juice samples. Biosensors and Bioelectronics, v. 85, p. 707-713, 2016. NEVES, D. P. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2012. PRODROMIDIS, M. I. Impedimetric immunosensors—A review. Electrochimica Acta, v. 55, n. 14, p. 4227-4233, 2010. RANDLES, J. E. B. Kinetics of rapid electrode reactions. Discussions of the Faraday Society 1947, 1, 11. SHANKARAN, D. R., MIURA, N. Trends in interfacial design for surface plasmon resonance based immunoassays. Journal of Physics D: Applied Physics, v. 40, n. 23, p. 7187, 2007. SILVA, R.B.S., R.S. MENDES, V.L. SANTANA, H.C. SOUZA, C.P.S. RAMOS, A.P. SOUZA, ANDRADE, P.P., M.A. MELO, Aspectos epidemiologicos da leishmaniose visceral caninana zona rural do semiarido paraibano e analise de tecnicas de diagnostico, Pesq. Vet. Bras. v.36, p. 625–629, 2016. SOARES, J. C.; SHIMIZU, F. M.; SOARES, A. C.; CASELI, L.; FERREIRA, J.; OLIVEIRA, O. N., JR. Supramolecular control in nanostructured film architectures for detecting breast cancer. ACS applied materials & interfaces, v. 7, n. 22, p. 11833-11841, 2015. SOUTO, D. E., SILVA, J. V., MARTINS, H. R., REIS, A. B., LUZ, R. C., KUBOTA, L. T., & DAMOS, F. S. Development of a label-free immunosensor based on surface plasmon resonance technique for the detection of anti-Leishmania infantum antibodies in canine serum. Biosensors and Bioelectronics, v. 46, p. 22-29, 2013.
87
SRIVIDYA, G.; KULSHRESTHA, A.; SINGH, R.; SALOTRA, P. Diagnosis of visceral leishmaniasis: developments over the last decade.Parasitology Research v. 110, p.1065, 2012. WANG, B. R. JING, H. QI, Q. GAO, C. ZHANG, Label-free electrochemical impedance peptide-based biosensor for the detection of cardiac troponin I incorporating gold nanoparticles modified carbon electrode, Journal of Electroanalytical Chemistry, v. 781, p. 212-217, 2016. WANG, Y., XU, H, ZHANG, J.M., LI,G. Electrochemical sensors for clinic analysis, Sensors. v. 8, p. 2043–2081, 2008. WHO. Status of endemicity of visceral leishmaniasis worldwise. 2018. Disponível em: < https://www.who.int/leishmaniasis/burden/GHO_VL_2018.pdf?ua=1> Acesso em 24 jan. 2019. ZHANG, X., SHEN, G., SHEN, Y., YIN, D., ZHANG, C. Direct immobilization of antibodies on a new polymer film for fabricating an electrochemical impedance immunosensor, Anal. Biochem. v. 485 p. 81–85, 2015.
88
CAPÍTULO 2 - DESENVOLVIMENTO DE UM IMUNOSSENSOR PARA DETECÇÃO
SIMULTÂNEA DAS DOENÇAS DE LEISHMANIOSE VISCERAL E CHAGAS
SOBRE ELETRODOS IMPRESSOS DUPLO DE GRAFITE
Os resultados deste capítulo foram publicados na revista Biosensors and Bioelectronics, vol.
169, 2020, pg. 112573, tendo o artigo o seguinte título: Impedimetric immunosensor for rapid
and simultaneous detection of chagas and visceral leishmaniasis for point of care diagnosis.
Doi: 10.1016//j.bios.2020.112573
RESUMO
As doenças de Chagas e leishmaniose visceral, enfermidades com alto impacto na saúde pública
em muitos países, são causadas por protozoários da família Trypanosomatidae. A proximidade
genética dos dois patógenos e a prevalência de infecções duplas impossibilitam a interpretação
segura do diagnóstico dessas doenças, principalmente em casos assintomáticos. Neste trabalho,
um imunossensor para a detecção dupla de ambas as doenças foi desenvolvido pela primeira
vez baseado no reconhecimento dos anticorpos anti-T. cruzi e anti-L. infantum presentes em
amostras de soros humanos e caninos. Os antígenos recombinantes de T. cruzi (IBMP8.1) e L.
infantum (rLCi1,2) foram imobilizados de forma isolada sobre cada um dos eletrodos de
trabalho (W1 e W2), previamente modificados com filmes poliméricos derivados do ácido 4-
hidroxifenilacético (4-HPA), de um sistema de eletrodos impressos duplos que compartilham o
eletrodo auxiliar e o de referência. Espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) foi usada
para detectar interações biomoleculares que ocorrem na superfície do eletrodo. Em seguida, a
resistência de transferência de carga (Rct) dessa etapa foi monitorada. Após a construção do
imunossensor, o soro positivo para T. cruzi foi adicionado à sua superfície e mostrou variação
significativa no Rct apenas no W1, acompanhado por uma resposta nula ou muito baixa no W2.
Da mesma forma, soro positivo para L. infantum foi adicionado à sua superfície e mostrou
variação significativa no Rct apenas no W2, indicando excelente seletividade da plataforma. Em
seguida, foram definidos alguns parâmetros para a otimização do dispositivo, incluindo tempo
de imobilização, concentração de antígeno recombinante e tempo envolvido na análise do
imunoensaio. Além disso uma gama de soros em diferentes diluições foi adicionada à superfície
sensora e assim, os anticorpos específicos foram detectados em soros diluídos até 10240 vezes
no eletrodo W1 e 5120 no eletrodo W2, indicando excelente sensibilidade e alta capacidade de
89
discriminação de soro de chagas e leishmaniose. Finalmente o dispositivo foi testado frente
amostra de soros de outras infecções além de soros caninos isentos de qualquer infecção, tendo
como resultado valores insignificantes de ∆Rct se comparados a adição de soro específico na
plataforma, confirmando a alta especificidade do dispositivo. Além disso o imunossensor reteve
70,2% de sua resposta inicial em W1 e 78,2% em W2, após 8 semanas de armazenamento.
Assim, a partir dos resultados obtidos é possível afirmar que o imunossensor proposto foi
desenvolvido com sucesso e o imunoensaio permitiu um sistema duplo simples, eficaz e
específico para a discriminação de anticorpos de Chagas e Leishmaniose Visceral, o que
representa um campo encorajador para o progresso do diagnóstico dessas doenças em regiões
endêmicas contribuindo em decisões clínicas corretas, com capacidade de diagnosticar mais
precocemente tais doenças, impactando positivamente na economia e na vida da sociedade.
Palavras- chave: Leishmaniose Visceral, doença de chagas, imunossensor impedimétrico,
eletropolimerização.
90
ABSTRACT
Chagas disease and Visceral Leishmaniasis, diseases with a high impact on public health in
many countries, are caused by protozoa of the family Trypanosomatidae. The genetic proximity
of the two pathogens and the prevalence of double infections, make it impossible to interpret
the results safely, especially in asymptomatic cases. In this work, a dual detection system
immunosensor has been developed by the first time for detection of anti-T. cruzi and anti-L.
infantum antibodies in serum samples. The T. cruzi and L. infantum recombinant antigens were
immobilized on a poly- hydroxyphenylacetic (4-HPA) on a dual screen-printed carbon
electrode (SPCE) formed by two carbon working electrodes (W1 and W2) sharing auxiliary and
a reference electrode. Electrochemical impedance spectroscopy (EIS) was used for detecting
biomolecular interactions occurring at the electrode surface. The IBPM 8.1 and rLCi1,2
recombinant antigens at different concentrations were immobilized on the W1 and W2
electrodes respectively. After washing with HBS-EP buffer to remove surplus antigens, the
antigen-modified electrode was treated with BSA solution to avoid non-specific interactions.
Then, the change in the charge transfer resistance (Rct) resulting from this step was monitored.
After the immunosensor construction, serum positive for T. cruzi was added to its surface and
showed significant variation in the Rct only in the W1, accompanied by a null or very low
response in the W2. In the same way serum positive for visceral leishmaniasis was added to its
surface and showed significant variation in the Rct only in the W2 indicating excellent
selectivity of the platform. Then, some parameters for the optimization of the device were
defined, including immobilization time and recombinant antigen concentration and time
involved in the analysis of the immunoassay. After that, a pool of sera infected with T. cruzi
and L. infantum were added to its surface and the antibodies were detected in sera diluted up to
10240 times in the W1 electrode and 5120 for the W2 electrode, indicating excellent sensitivity
and high capability of the technique dual in the discrimination of chagas and leishmaniasis sera.
Finally, the device has been tested to sample sera from other infections, as well as canine sera
free from any infection, resulting in insignificant values of ∆Rct compared to the addition of
specific serum on the platform, confirming the high specificity of the device. In addition, the
immunosensor retained 70.2% of its initial response in W1 and 78.2% in W2, after 8 weeks of
storage. Thus, from the results obtained it is possible to affirm that the proposed immunosensor
91
was successfully developed and the immunoassay allowed a simple, effective and specific
double system for the discrimination of Chagas and Visceral Leishmaniasis antibodies, which
represents an encouraging field for progress diagnosis of these diseases in endemic regions,
contributing to correct clinical decisions, with the capacity to diagnose these diseases earlier,
positively impacting the economy and the life of society.
Keywords: Chagas disease, Visceral Leishmaniasis, impedimetric immunosensor,
electropolymerization.
92
1 INTRODUÇÃO
No Capítulo 1, foi relatada a preparação de um imunossensor eletroquímico com
base em eletrodos de ouro impressos modificados para o diagnóstico de leishmaniose visceral
canina (CORDEIRO, 2019). O imunossensor EIS desenvolvido demonstrou alta sensibilidade
e especificidade para detecção de anticorpos de L. infantum em soros, ilustrando sua adequação
para aplicações clínicas e epidemiológicas para o diagnóstico de LV.
No capítulo 2, foi relatado o desenvolvimento de um imunossensor impedimétrico
para o diagnóstico simultâneo de DC e LV, com o objetivo de estabelecer perspectivas de
melhorias no diagnóstico de ambas as doenças, uma vez que essa metodologia é extremamente
promissora para o diagnóstico dessas e de outras infecções, demonstrando maior sensibilidade
se comparada com a de testes tradicionais utilizados, além da possibilidade de uma análise mais
rápida e em tempo hábil com perspectivas de aplicação em áreas endêmicas.
Após análises preliminares e detecção efetiva da LV utilizando antígenos brutos e
o estabelecimento das condições ótimas de trabalho, descritas no capítulo 1, foram realizadas
análises utilizando antígenos recombinantes de T. cruzi e L. infantum denominados
respectivamente IBMP 8.1 e rLC1.2. O uso de tais biomoléculas permite o desenvolvimento de
uma plataforma mais seletiva e específica para o diagnóstico, proporcionando um
reconhecimento mais eficaz e análise mais acurada de LV e DC. Além disso, os testes seguiram
no sentido de transpor a plataforma para conseguir detectar ao mesmo tempo essas doenças,
utilizando para tal sistemas que permitem detecção simultânea.
Vale destacar que devido a impossibilidade financeira de obtenção de eletrodos
duplos de ouro, então foram consideradas alternativas para que a plataforma fosse substituída,
desde que a eficiência do imunossensor não fosse perdida. Assim, foi proposto a utilização de
eletrodos impressos de carbono grafite, plataforma que possui menor custo em relação aos
eletrodos impressos de ouro, mas que possui diversas abordagens na literatura, inclusive sua
utilização como substrato para imobilização efetiva de biomoléculas (XAVIER, 2017;
GOMES, 2011). Resultados obtidos indicaram que o eletrodo de grafite apresenta
características eletroquímicas apropriadas para a construção de filmes poliméricos, suporte
efetivo para as moléculas biológicas. Dessa forma, a imobilização de antígenos sobre os filmes
pode ocorrer de forma direta sem necessidade de utilização de agentes de acoplamento (EDC-
93
NHS), mantendo a funcionalidade da molécula e além disso diminuindo uma etapa no processo
de desenvolvimento do imunossensor. Por apresentar vantagens que ampliarão os resultados
satisfatórios já obtidos anteriormente os eletrodos impressos duplos de grafite foram
selecionados como plataforma em um sistema de reconhecimento promissor para ser explorado
em imunodiagnósticos simultâneos.
O trabalho traz inovações para a área científica, uma vez que não existem estudos
anteriores relatados na literatura relacionados à detecção simultânea de DC e LV utilizando
eletrodos duplos impressos. O principal propósito desse estudo foi contribuir significativamente
na melhoria do diagnóstico, buscando um disposto seguro e de baixo custo, que consiga detectar
e diferenciar tais doenças principalmente em estágios iniciais, em que a carga parasitária ainda
é baixa, possibilitando um tratamento correto e real aplicação deste dispositivo como uma
ferramenta alternativa para o diagnóstico imunológico dessas infecções.
94
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Desenvolver um imunossensor para detecção simultânea da doença de Chagas e
Leishmaniose Visceral visando elaborar uma plataforma que permita um diagnóstico mais
acurado e específico em relação às técnicas atualmente empregadas. Para tal será realizada a
imobilização de antígenos recombinantes solúveis de T.cruzi (IBMP 8.1) e L.infantum
(rLCi1,2) em eletrodo impresso duplo modificado com poli(4-HFA), empregando a
espectroscopia de impedância eletroquímica como técnica de reconhecimento da interação
antígeno/anticorpo específico.
2.2 Objetivos específicos
a) Avaliar por SPR, em tempo real, as amostras de antígeno recombinante de DC e LV,
frente a adição de soros específicos e não específicos para o antígeno em questão.
b) Estudar a superfície dos eletrodos impressos duplos e investigar a influência da
modificação sobre a imobilização de antígenos e consequente resposta do dispositivo;
c) Definir os melhores parâmetros de tempo de imobilização antigênica, concentração de
antígeno utilizada, bloqueio de sítios inespecíficos, tempo de imunoreação e diluição do
soro.
d) Avaliar por EIE a capacidade de detecção do imunossensor desenvolvido através da
adição de soros específicos e não específicos para infecções pelo T. cruzi e L.infantum
em diferentes diluições.
e) Avaliar o desempenho do imunossensor impedimétrico como técnica para o
imunodiagnóstico simultâneo da doença de Chagas e Leishmaniose Visceral.
95
3. METODOLOGIA
3.1 – Reagentes e soluções
Ferricianeto de potássio [K3[Fe(CN)6], ferrocianeto de potássio triidratado
[K4Fe(CN)6.3H2O], ácido 4-(2-hidroxietil)piperazina-1-etanosulfônico (HEPES), Ácido
perclórico HClO4, foram adquiridos da Sigma-Aldrich® (St. Louis, MO, EUA). Ácido
etilenodiamino tetra-acético (EDTA), hidróxido de sódio (NaOH), cloreto de sódio (NaCl),
cloreto de potássio (KCl) foram adquiridos da Isofar® (Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Tween 20
(surfactante P20) 0.005% e KOH foram obtidos de NEON (São Paulo, Brasil). Etanol (99.5%)
e peróxido de hidrogênio (H2O2) foram adquiridos da Dinâmica® Química (São Paulo, Brasil).
Ácido sulfúrico (H2SO4) e hidróxido de amônio (NH4OH) foram comprados na Vetec®
Química Fina (Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Ácido 4-hidroxifenilacético (4-HFA) foi adquirido
na Alfa Aesar.
O tampão HBS-EP pH 7,4 utilizado nas análises e diluições dos antígenos e soros
foi obtido através da mistura de soluções de 10,0 mmol L-1 Hepes pH 7,4; 3,0 mmol L−1 EDTA
pH 8,0; 150 mmol L−1 NaCl e 0,005% polissorbato 20. Os demais reagentes aqui utilizados
apresentavam grau analítico e todas as soluções foram preparadas com água ultrapura, obtida
em um sistema de água Milli Q com resistividade de 18,2 MΩ cm-1.
3.2 – Instrumentação
Para as medidas do ângulo de SPR, utilizadas nas avaliações das interações
biomoleculares entre antígenos e anticorpos na superfície do ouro, foi utilizado um
espectrômetro de SPR (MP-SPR Navi™ 200, BioNavis Ltd., Tampere, Finlândia). Este
instrumento possui dois canais (Fig.1), cada um contendo um par de lasers com comprimentos
de onda fixos em 670 e 850 nm. Os dados foram analisados utilizando Data Viewer e
TraceDrawer™ 210A SPR Bionavis software. O princípio de transdução da MP-SPR é baseado
na configuração de Kretchmann.
96
Figura 1. Instrumentação utilizada nos estudos de espectroscopia de ressonância de plásmons de superfície (SPR).
Espectrômetro de SPR BioNavis utilizado para as medidas ópticas.
Eletrodos impressos duplos de grafite (EIDG), modelo DRP-X1110, Lote:
E0019539, foram adquiridos da DropSens® (Llanera, Asturias, Espanha). Cada dispositivo
contém dois eletrodos de trabalho de carbono (W1 e W2), um contra eletrodo de carbono e um
eletrodo de referência de prata fixados em uma base de cerâmica (Fig. 2, a). Chips de ouro de
SPR 12x 20 mm foram adquiridos da BioNavis (FIG 2, b).
Figura 2. Eletrodos utilizados no desenvolvimento do trabalho (a) eletrodo duplo de grafite, (b) chip de ouro para
análises de SPR.
W1
W2
(a) (b)
97
3.3 Obtenção do poliantígeno recombinante IBMP 8.1 e das proteínas rLci2B e rLci1A
As amostras do antígeno quimérico IBMP 8.1 foram cedidas pelo Instituto de
Biologia Molecular do Paraná e foi produzido de acordo com os métodos prescritos por Santos
e colaboradores (SANTOS et al., 2017). Resumidamente, genes sintéticos otimizados para a
expressão de E. coli antígenos quiméricos de T. cruzi foram obtidos de um fornecedor comercial
(GenScript, Piscataway, NJ, EUA). Os genes sintéticos adquiridos no pUC57 foram
subclonados internamente no vetor de expressão pET28a E. coli. O antígeno recombinante foi
expresso como proteínas solúveis em Escherichia coli BL21-Star (DE3) cultivada em meio LB
suplementado com 0,5 mM de isopropil β-D-1-tiogalactopiranósido. As proteínas foram
primeiro purificadas por cromatografia de afinidade e de troca iônica, depois quantificadas
usando um ensaio fluorimétrico (Qubit 2.0, Invitrogen Technologies, Carlsbad, CA, EUA).
As proteínas recombinantes rLci1A e rLci2BA foram clonadas em pBK-CMV e
pRSET B, respectivamente. Escherichia coli BL21 (DE3) / pLysS foi transformada com
plasmídeos pRSET contendo a inserção do gene Lci1A ou Lci2B L. infantum. A expressão de
proteína recombinante foi induzida pela adição de 1 mM de isopropil-b-Dthiogalactopyranosid.
Após a etapa de expressão, as proteínas rLci1A e rLci2B foram purificadas por cromatografia
de afinidade, conforme descrito anteriormente por de Souza e colaboradores (de Souza et al.,
2012). Para desenvolver o imunossensor foi utilizada uma mistura equimolar dos antígenos
recombinantes rLci1A e rLci2B, assim, a solução antigênica resultante será denominada nesse
trabalho por rLci1,2. A utilização desses antígenos combinados resulta em ganho no
desempenho do diagnóstico sorológico, além de proporcionar elevada sensibilidade no teste
(KER, 2016).
3.4 – Estudos da interação antígeno e anticorpo empregando SPR
Inicialmente a interação antígeno recombinante de T. cruzi /anticorpo foi analisada
por SPR. Antes do uso, foi realizada a limpeza do chip de ouro de SPR através da imersão do
mesmo em solução contendo NH4OH, H2O2 e H2O (1:1:5) a 250 ºC por 2 a 3 minutos. Em
seguida, o chip foi imerso em água mili-Q por aproximadamente 30 minutos. A plataforma
utilizada para modificação da superfície do chip foi semelhante à descrita na seção 3.6 do
98
capítulo 1. Neste caso, os antígenos recombinantes IBMP 8.1 e rLci1,2 foram imobilizados em
chips de ouro de SPR distintos funcionalizados com monocamada de 3- MPA e ativada com
EDC-NHS. Os testes iniciais foram realizados sob as mesmas condições de tempo e
concentração descritas para o imunossensor impresso de LV desenvolvido (30 min de
imobilização, concentração de 50 µg/mL), e além disso foi realizada etapa de bloqueio com
BSA 1%, durante 10min.
A adição dos anticorpos de T. cruzi e L. infantum foi então acompanhada em tempo
real via deslocamento do ângulo de SPR em função do tempo. O chip de ouro contendo
antígenos recombinantes IBMP 8.1 foi colocado no equipamento e as medidas foram iniciadas
com a adição de um fluxo de 50 µL/min de tampão HBS-EP para obtenção de uma linha de
base. Na sequência, foram injetadas 50 µL de amostras de anticorpos anti T. cruzi positivo e
anti L. infantum positivo ao mesmo tempo em diferentes canais. O fluxo de tampão foi
desligado, e o perfil de resposta foi acompanhado por cerca de 8 minutos. Por fim, o fluxo de
tampão foi novamente acionado a fim de remover espécies fracamente ligadas. Da mesma
forma, o chip de ouro contendo antígenos recombinantes rLc1,2 foi colocado no equipamento
e então foram adicionadas amostras de anticorpos anti T. cruzi positivo e anti L. infantum
positivo, sendo então monitorada a etapa de associação das biomoléculas por cerca de 8
minutos.
3.5- Estudo da influência da modificação da superfície do sensor na imobilização de
antígenos e no reconhecimento da imunorreação
Primeiramente foi testada a viabilidade de se modificar ou não a superfície do
eletrodo. Os eletrodos duplos foram fabricados com tinta de carbono, assim a utilização de
monocamadas para modificação do eletrodo não é recomendada neste caso, uma vez que, como
exposto anteriormente, esse tipo de modificação é usualmente empregado em eletrodos de ouro.
Para a realização da etapa de modificação do eletrodo foi utilizada a técnica de
eletropolimerização para modificação de tal eletrodo.
Antes do procedimento de eletropolimerização os eletrodos foram analisados e
condicionados em solução de ferrocianeto/ferricianeto de potássio numa faixa de potencial de
-0,25 a 0,8 V, posteriormente lavados com água, secos sob fluxo de N2. Após esse procedimento
99
foi realizada voltametria cíclica em ácido perclórico 0,5 M na faixa de potencial de 0,0 a +1,2V,
com o objetivo de verificar a eletroatividade dos eletrodos.
Em um mesmo dispositivo, um eletrodo de trabalho não foi modificado (W2) e o
outro foi modificado (W1) com ácido 4 - hidroxifenilacetico (4HFA). Operacionalmente, para
que isso ocorra, apenas o eletrodo de trabalho W1 deve estar conectado ao potenciostato. A
eletropolimerização do 4-HFA, em W1, foi realizada através da técnica eletroquímica de
voltametria cíclica. O eletrodo de trabalho W1 foi modificado com 10 ciclos de potencial na
faixa de potencial de +0,00 a +1,20 V a 50 mV/s. O eletrodo de trabalho W2 ficou apenas em
contato com a solução do monômero, e como não foi conectado ao potenciostato não houve
eletropolimerização.
O antígeno recombinante foi adicionado sobre ambos os eletrodos, W1 e W2 por
20 minutos e logo após foi adicionado BSA 1% por 10 min. Em seguida, o imunossensor foi
incubado com o analito específico na diluição de 1:320 por 20 min, logo após foi lavado
minuciosamente com tampão, e então a leitura da impedância foi tomada. Este processo foi
realizado em duas plataformas diferentes: uma contendo o antígeno IBMP 8.1 e a outra o
antígeno rLci1,2, sendo os experimentos realizados em triplicata.
Estudos de otimização dos valores utilizados para o número de ciclos, tempo de
imobilização de BSA e a influência dessas variáveis na imunorreação serão detalhados neste
trabalho.
Para os estudos acerca do número de ciclos, os eletrodos foram modificados com 5,
10, 15 e 20 ciclos de potencial, na faixa de +0,0 a +1,2V, mantendo-se a velocidade de varredura
constante a 50 mV/s, sendo esse valor para a velocidade escolhido por ser bastante utilizado e
difundido na literatura (Silva et al, 2008). Após a eletropolimerização, os eletrodos contendo
os filmes poliméricos de poli(4-HFA), foram lavados com água deionizada em abundância e
secos sob fluxo de N2(g).
3.6- Imobilização dos antígenos recombinantes IBMP 8.1 e rLci1,2.
Após a otimização da formação da plataforma polimérica utilizando concentração
fixa de 1µgmL-1 e tempo de imobilização de 20min dos antígenos recombinantes; estudos foram
realizados para monitorar as melhores condições de desses parâmetros. Para tal, sobre diferentes
100
eletrodos contendo filmes poliméricos, foram imobilizados antígenos recombinantes de T. cruzi
em W1 e L. infantum em W2 nas concentrações 1,5, 10, 15, 20, 25, 30 e 35 ng mL-1 durante 20
minutos em ambos eletrodos. A superfície foi lavada com tampão para a remoção de espécies
fracamente ligadas. Logo após foi adicionado 2 µL de BSA 1,0% sobre a plataforma durante
10 min, e então a superfície foi novamente lavada com tampão. Após esse procedimento foram
adicionados pools de soros positivos e negativos para cada eletrodo em diluição fixa (1:320).
Após 20 minutos de interação, o valor da variação de Rct foi obtido em triplicata para cada uma
das condições experimentais.
Para avaliar a influência do tempo de imobilização do antígeno na resposta
fornecida pelo imunossensor, as soluções antigênicas nas concentrações otimizadas de W1 e
W2 foram deixadas em contato com a superfície do eletrodo por tempos distintos: 5, 10, 15, 20,
25 e 30 minutos. Após a etapa de imobilização do antígeno 2 µL de BSA 1,0% foram
adicionados ao sensor durante 10 minutos, seguido da lavagem da superfície com tampão HBS-
EP pH 7,4. Posteriormente, pools de soros negativos e positivos para cada eletrodo em questão
na diluição de 1:320 foram imobilizados nas superfícies sensoras submetidas a diferentes
tempos de imobilização de antígeno. A variação do valor de Rct para cada análise foi obtida em
triplicata após 20 minutos de imobilização do anticorpo.
3.7- Influência do uso de BSA
Nessa etapa foi testada a influência do uso de BSA no desempenho do
imunossensor. Desse modo, a imunorreação foi realizada na presença e na ausência do agente
bloqueador. Após a etapa de imobilização do antígeno e antes da adição dos soros testes, 10 µL
de BSA (1,0%) foram injetados no sensor durante 10 minutos, seguido da lavagem da superfície
com tampão HBP-ES pH 7,4. Posteriormente a esta etapa foi realizada a adição de soros
positivos específicos e não específicos para as plataformas em questão.
Após essa etapa foi avaliado a influência do tempo de imobilização de BSA na
resposta fornecida pelo imunossensor. Uma solução de BSA (1,0%) foi deixada em contato
com o eletrodo por tempos distintos: 5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos. Para cada superfície sensora
submetida a diferentes tempos de BSA, pool de soros positivos na diluição de 1:320 foram
101
injetados e a variação de Rct para cada análise foi obtida em triplicata após 20 minutos e lavagem
do sistema com tampão.
3.8- Avaliação da interação Antígeno-Anticorpo
Inicialmente, a interação entre os antígenos recombinantes dos parasitos
imobilizados na superfície do imunossensor e os anticorpos presentes nos pools de soros foi
avaliada durante 20 minutos. Entretanto, após ter sido definido o melhor tempo de imobilização
do agente bloqueador BSA, foi verificado a possibilidade de melhorar a resposta do
imunossensor em função do tempo de imunoreação. Para tanto, a diluição 1:320 do pool de
soros positivos foi testada em diferentes tempos de interação (5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos).
Além disso, após ser otimizado, o imunossensor foi avaliado quanto à sua
capacidade em detectar anticorpos anti-T. cruzi e anti-L.infantum. Para os ensaios, quatro pools
de soros caninos foram preparados consistindo em: 10 soros positivos para LV, 10 soros
negativos para LV, 10 soros positivos para DC e 10 soros negativos para DC.
Não é possível para tais amostras a dosagem de anticorpos presentes nesses soros,
então foram realizados estudos de diluições e não de quantificação de anticorpos. Todos os
pools foram diluídos em tampão HBS-EP (pH 7,4) em diferentes diluições (v/v): 1:40, 1:80,
1:160, 1:320, 1:640, 1:1280, 1:2560 , 1:5120 e 1:10240 com objetivo de definir preliminarmente
a capacidade de detecção do método proposto e a melhor diluição do soro capaz de discriminar
os grupos positivos dos negativos.
O processo global de fabricação do imunossensor é apresentado na Figura 3.
102
Figura 3. Esquema demonstrando as etapas para o desenvolvimento do imunossensor duplo.
3.9- Testes de desempenho do imunossensor
Após a construção do imunossensor e determinação das melhores condições para
realização do imunoensaio, foi realizada uma investigação preliminar para avaliar o seu
desempenho para aplicação no sorodiagnóstico das doenças de Chagas e Leishmaniose
Visceral. Estes testes são importantes, pois garantem um diagnóstico seguro além de avaliar a
potencial aplicação do dispositivo no sorodiagnóstico dessas doenças.
Para confirmar a seletividade da plataforma em identificar o anticorpo específico
para tal, o imunossensor de impedância foi incubado com uma mistura de anticorpos de T. cruzi
e L. infantum na diluição de 1:320, em W1 e W2, simulando um paciente com co-infecção.
Além disso foram realizadas análises de soros de pacientes portadores de outras infecções:
103
leishmaniose tegumentar americana (LTA), toxoplasmose (TOXO) e síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS), além de soro canino isento de qualquer infecção (CN).
Para o estudo de repetibilidade do imunossensor, foram testados três dispositivos
diferentes por dia, durante três dias. A estabilidade do imunossensor foi avaliada realizando-se
experimentos em intervalos de 7 dias durante 8 semanas. Este teste foi realizado através da
imobilização dos antígenos recombinantes, bloqueados com BSA, em diferentes eletrodos que
foram armazenados a 4,0°C. Todas as análises descritas foram realizadas sob condições
anteriormente otimizadas.
3.10- Análises estatísticas
Os dados foram analisados usando um software de gráfico de dispersão (GraphPad
Prism versão 8, San Diego, CA, EUA). As variáveis contínuas foram determinadas como média
geométrica ± desvio padrão (DP), e o teste de Shapiro-Wilk foi usado para testar a normalidade
dos dados. Quando a homogeneidade foi confirmada, o teste t de Student foi usado; caso
contrário, o teste de postos sinalizados de Wilcoxon foi empregado. Foi adotado um nível de
significância de 5% para todos os testes estatísticos (pvalor <0,05). As áreas sob a curva ROC
(AUC) foram calculadas para avaliar a precisão global para cada antígeno, que pode ser
classificado como baixo (0,51–0,61), moderado (0,62–0,81), elevado (0,82–0,99) ou excelente
(1,0) (Swets, 1988). Todos os resultados do imunossensor foram medidos pela alteração da
resistência de transferência de carga (∆Rct / kΩ), com os valores do índice de reatividade (IR)
correspondentes calculados como ∆Rct / kΩ dividido por CO. Os resultados foram interpretados
da seguinte forma: positivo (IR ≥ 1,0), negativo (IR <1,0) e zona cinza (0,90 ≥ IR ≤ 1,10). Os
parâmetros de desempenho do antígeno recombinante de T. cruzi e L. infantum foram
determinados usando uma abordagem dicotômica e comparados quanto à sensibilidade (Se),
especificidade (Sp) e acurácia (Ac). Um intervalo de confiança de 95% (IC 95%) foi calculado
para abordar a precisão das estimativas de proporção. A força de concordância entre a
metodologia do imunossensor, usando IBMP-8.1 ou rLci1A / rLci2B, e o perfil da amostra
sorológica estabelecido anteriormente foi avaliada usando o coeficiente Kappa de Cohen ()
(Landis e Koch, 1977), interpretado da seguinte forma: pobre ( = 0), leve (0,20 ≤ > 0),
razoável (0,40 ≤ > 0,20), moderado (0,60 ≤ > 0,40), substancial (0,80 ≤ > 0,60), quase
104
perfeito (1,0 <> 0,80), ou perfeito ( = 1,0). O fluxograma 1 foi preparado de acordo com as
diretrizes dos Padrões para Relatórios de Estudos de Precisão de Diagnóstico (STARD) (Cohen
et al., 2016).
Fluxograma 1: Desenho do estudo em conformidade com as diretrizes dos Padrões para Relatórios de Estudos de
Precisão de Diagnóstico (STARD).
Amostras Potencialmente elegíveis (n = 80)
Amostras de soro de Cães T.Cruzi positivas (n = 10) T.Cruzi negativas (n = 10) L Infantum positivas (n = 10) L. Infantum negativas (n = 10)
Amostras de soro Humano T.Cruzi positivas (n = 10) T.Cruzi negativas (n = 10) L Infantum positivas (n = 10) L. Infantum negativas (n = 10)
Número de testes realizados com as proteínas recombinantes ( n = 80)
Resultados negativos (n=40)
Referido a testes padrão de referência
Testes padrão de referência realizados (n=40)
Excluídos (n=0) Resultados inconclusivos (n=0) Resultados discordantes (n=0)
Diagnóstico Final (IBMP-8.1)
Diagnóstico Final
Amostras de soro Humano - T.Cruzi positivas (n=0) - T.Cruzi negativas (n=10) Amostras de soro de Cães - T.Cruzi positivas (n=0) - T.Cruzi negativas (n=10)
Amostras de soro Humano - L. Infantum positivas (n=0) - L. Infantum negativas (n=10) Amostras de soro de Cães - L. Infantum positivas (n=0) - L. Infantum negativas (n=10)
Resultados negativos (n=40)
Referido a testes padrão de referência
Testes padrão de referência realizados (n=40)
Excluídos (n=0) Resultados inconclusivos (n=0) Resultados discordantes (n=0)
Diagnóstico Final (IBMP-8.1)
Amostras de soro Humano - T.Cruzi positivas (n=10) - T.Cruzi negativas (n=0) Amostras de soro de Cães - T.Cruzi positivas (n=10) - T.Cruzi negativas (n=0)
Amostras de soro Humano - L. Infantum positivas (n=10) - L. Infantum negativas (n=0) Amostras de soro de Cães - L. Infantum positivas (n=10) - L. Infantum negativas (n=0)
105
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Avaliação da resposta da interação antígeno-anticorpo empregando SPR
Para a detecção seletiva de anticorpos anti-T cruzi e consequente diferenciação de
sinal entre as doenças LV e DC, é de fundamental importância o emprego de antígenos
recombinantes ao invés de antígenos brutos, pois estes melhoram a especificidade dos testes de
diagnóstico, diminuindo a possibilidade de reações cruzadas. Assim inicialmente foi estudada,
empregando SPR, a interação entre a proteína recombinante IBMP8.1 (antígeno recombinante
de Chagas) e anticorpos positivos anti-T. cruzi e anti-L.infantum, além da interação entre a
proteína recombinante rLC1,2 (antígeno recombinante de Leishmaniose Visceral) e anticorpos
positivos anti- L.infantum e anti- T. cruzi. Este estudo teve como motivação avaliar em tempo
real a intensidade da interação de tal antígeno com soros e analisar o perfil de resposta.
Assim, o eletrodo de chip de ouro modificado com SAM de 3-MPA ativada
contendo antígenos IBMP 8.1 imobilizados foram levados até o equipamento de SPR e foram
injetadas simultaneamente amostras positivas anti-T. cruzi e anti-L.infantum. A Figura 4
evidencia as curvas características de ângulo de SPR obtidas após adição dos pools positivo
anti- T. cruzi (curva 1) positivo anti- L.infantum (curva 2) em diluição de 1:320. Da mesma
forma a plataforma foi modificada com o antígeno de leishmania rLC1,2 e a Figura 5 mostra os
resultados obtidos após a adição dos pools positivo anti- L.infantum (curva 1) positivo anti- T.
cruzi (curva 2) em diluição de 1:320.
Analisando as curvas de SPR, Figuras 4 e 5, foi possível observar que a interação
entre anticorpo positivo e a proteína recombinante aumentou o índice de refração do meio e
como resultado dessa interação foi obtido um deslocamento característico do ângulo de SPR
(θSPR) devido à presença de moléculas que interagem com a superfície. Percebe-se ainda que
a adição dos soros não específicos, para ambos eletrodos, não foi acompanhada com resposta
significativa, indicando a ausência de interação dessas espécies com as plataformas. Tais
resultados mostram a especificidade do processo de reconhecimento do anticorpo positivo pelo
antígeno recombinante imobilizado.
106
Figura 4. Curvas de SPR evidenciando as etapas de associação e dissociação para a adição de anticorpo anti-T.cruzi positivo (curva 1) e anti-L. infantum positivo (curva2) sobre proteína recombinante IBMP 8.1 imobilizada sobre SAM/Au.
Figura 5. Curvas de SPR evidenciando as etapas de associação e dissociação para a adição de anticorpos anti- L.infantum positivos (curva 1) e anticorpos anti- T.cruzi positivos (curva2) sobre proteína recombinante rLci1,2 imobilizada sobre SAM/Au.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
1
SP
R /
gra
us
Tempo / min
2
SPR
=0,0917
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
2
SP
R /
gra
us
Tempo / min
1
SPR
=0,0945
107
Assim a técnica SPR foi aplicada com sucesso para avaliar em tempo real a
afinidade das proteínas recombinantes frente a anticorpos visando através de uma abordagem
qualitativa, demonstrar a aplicabilidade dessas proteínas no imunodiagnóstico.
A obtenção de proteínas recombinantes é considerada um processo dispendioso;
assim, apesar das respostas obtidas por SPR terem sido satisfatórias, as análises subsequentes
não foram realizadas através dessa técnica. Para cada análise deve ser utilizada grande
quantidade de material biológico, cerca de 100 µL a cada injeção o que não é viável em se
tratando de proteínas recombinantes. Desse modo, objetivando o desenvolvimento de
dispositivos do tipo point of care a plataforma foi modificada, miniaturizada e otimizada em
eletrodos duplos impressos que teriam a mesma ideia de análise simultânea do SPR, porém com
a utilização de menores volumes de amostras e maior possibilidade de utilização, no futuro,
como uma ferramenta de diagnóstico. Vale ressaltar que as análises realizadas em SPR
permitiram confirmar a atividade do material biológico, sendo válida a utilização deste para o
desenvolvimento das próximas etapas propostas para o trabalho.
4.2 - Caracterização eletroquímica e morfológica dos eletrodos impressos duplos de grafite
Para obtenção de respostas confiáveis e reprodutíveis, antes de iniciar as análises,
o perfil voltamétrico dos dois eletrodos de trabalho, denominados W1 e W2, presentes no
eletrodo impresso duplo de grafite (EIDG) foram testados em solução de Fe(CN)63−/4−. Além
disso, foi avaliada a morfologia do eletrodo através de imagens obtidas por MEV.
A princípio é desejado que os eletrodos de trabalho apresentem respostas
semelhantes para serem utilizados nos experimentos, para que assim qualquer variação de
resposta obtida posteriormente seja exclusivamente devido às alterações de parâmetros do
sistema em estudo. A Figura 6 apresenta o perfil do voltamograma cíclico obtido para W1 e
W2 não modificados durante apenas um ciclo de potencial.
Assim, as medidas realizadas em solução contendo o par redox
ferrocianeto/ferricianeto de potássio foram utilizadas como um indicativo da qualidade de
resposta eletroquímica do eletrodo. Observando a Figura 6 é possível perceber que as medidas
realizadas para os eletrodos se sobrepõem exibindo uma resposta idêntica, o que indica ausência
de alterações na superfície de tais eletrodos.
108
-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
-100
-50
0
50
100
50mV
Co
rre
nte
/
A
Potencial /V
140mVA
Figura 6. Voltamograma cíclico dos eletrodos de trabalho W1(vermelho) e W2 (preto) em solução 5,0 mM Fe(CN)6
3−/4− contendo KCl 0,10 M. v = 50mV/s.
Para complementar a análise de caracterização do eletrodo duplo foram realizadas
imagens da morfologia da superfície do eletrodo impresso duplo. A Figura 7 apresenta a
imagens referentes a ampliação de 1000x, para os eletrodos impressos W1 e W2.
Figura 7. Imagens de MEV para os eletrodos W1 (A) e W2 (B) não modificados na ampliação de 1000x.
(A) (B)
109
As imagens de microscopia eletrônica de varredura, presentes na Figura 7,
permitem identificar que ambos eletrodos possuem uma superfície com grafite depositado de
forma uniforme, com baixa rugosidade. É notório que não existem diferenças significativas na
morfologia dos eletrodos, complementando os resultados encontrados na análise voltamétrica.
Assim todos os resultados obtidos, eletroquímicos e morfológicos, permitem concluir que os
eletrodos apresentam reprodutibilidade da superfície para realização dos experimentos
eletroquímicos.
4.3 – Caracterização da superfície de eletrodos impressos duplos não modificados e
modificados com poli (4-HFA)
A imobilização de biomoléculas na plataforma sensora é uma das etapas mais
importantes no desenvolvimento de um biossensor, tendo como finalidade reter a máxima
atividade da biomolécula na superfície do sensor (AFONSO, 2008; PATACAS, 2007). Assim,
a imobilização dos antígenos foi realizada no eletrodo não modificado e modificado com filme
poli (4-HFA).
A eletropolimerização do ácido 4-HFA foi realizada por VC, com 10 ciclos de
potencial, velocidade de varredura de 50 mV/s e com faixa de potencial de 0,0 a +1,2 V, após
borbulhamento de nitrogênio por 10 min. A Figura 8 mostra o VC referente aos 10 ciclos de
varredura de potencial do 4-HFA.
Pode ser observado em cerca de +0,75V a onda de oxidação do 4-HFA. Nessa etapa,
ocorre a formação do cátion radical, necessário para iniciar a eletropolimerização do
monômero. Pode ser notado, ainda, o início da reação de desprendimento de oxigênio em
aproximadamente +1,20 V. Conduto, nenhum processo catódico no sentido reverso é
observado.
A partir da análise da Figura 8 fica evidente a diminuição nos valores da corrente
de pico anódica (Ipa) à medida que ocorre o aumento do número de ciclos, o que ocorre devido
à formação do filme e consequente consumo do monômero.
110
Figura 8. VCs consecutivos obtidos em solução de 2,50 mM de 4-HFA utilizando EIDG. Eletrólito suporte: 0,50 M HClO4. Número de ciclos = 10; v = 50 mV/s.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2-10
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
Co
rrente
/
A
Potencial / V
0,75V
Após o procedimento de eletropolimerização a modificação do eletrodo foi
confirmada ao se comparar os perfis eletroquímicos obtidos para o par redox Fe(CN)63−/4−
utilizando EIDG e EIDG/poli(4HFA), e para tal foram utilizadas as técnicas de VC e EIE. A
Figura 9 mostra o VC obtido em solução 5,0 mM Fe(CN)63−/4− contendo KCl 0,10 M para EIDG
(curva 01) e EIDG/poli(4HFA) (curva 02).
Figura 9. Voltamograma cíclico obtido em solução 5,0 mM Fe(CN)6
3−/4− contendo KCl 0,10 M para: (1) EIDG e (2) poli(4HFA)/EIDG. v = 50mV/s.
-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
-80
-40
0
40
80
(2)
Co
rre
nte
/
A
Potencial / V
(1)
111
A adsorção de substância na superfície do eletrodo pode ocasionar modificações
nas propriedades de transferência eletrônica do sistema. Observando a Figura 9, pode-se
perceber que o perfil voltamétrico do par redox Fe(CN)63−/4− utilizando EIDG (Fig. 9- curva 1)
foi afetado pela presença do poli(4-HFA) adsorvido na superfície do eletrodo (Fig. 9- curva 2),
uma vez que há um bloqueio quase total da transferência eletrônica do par Fe(CN)63−/4−,
notando-se uma diminuição da corrente faradáica, o que pode ser justificado pelo fato de que o
material adsorvido apresenta uma cobertura de superfície elevada, a qual é suficiente para
suprimir a eletroatividade da sonda devido à alta resistência à transferência eletrônica gerada
na superfície. Outra possível justificativa seria que o filme formado na superfície do eletrodo
possui caráter aniônico e, uma vez que a sonda também possui caráter aniônico, ocorre repulsão
eletrostática entre a sonda redox e o filme polimérico, fazendo com que as espécies da sonda
tenham maior dificuldade em atingir a superfície do eletrodo.
Para fins de complementação da resposta obtida por VC foram realizadas medidas
de EIE para EIDG e poli(4HFA)/EIDG como pode ser observado na Figura 10. Para simulação
dos dados foi sugerido o circuito equivalente demonstrado na Figura 6-2, presente no capítulo
1.
Figura 10. Diagramas de Nyquist dos espectros de impedância eletroquímica obtidos em solução 5,0 mM Fe(CN)6
3−/4− contendo KCl 0,10 M para: (1) EIDG e (2) poli(4-HFA)/EIDG. Amplitude 10 mV. Intervalo de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
112
Os resultados de EIE obtidos mostram a formação de uma região de semicírculo
menor para o eletrodo não modificado uma vez que a resistência a transferência eletrônica para
tal foi de 3,52 ± 0,321 kΩ. Quando o eletrodo foi modificado com poli(4-HFA) o valor de Rct
aumentou para 10,5± 1,1 kΩ. Em conjunto, esses dados confirmam a tendência já observada e
discutida nos estudos de voltametria cíclica.
4.4 - Efeito da modificação da superfície do sensor na imobilização dos antígenos
recombinantes e na detecção do anticorpo específico.
Uma etapa fundamental para construção do imunossensor envolve a imobilização
apropriada da biomolécula. Assim, após avaliadas as condições do eletrodo foram investigadas
por EIE a eficiência da imobilização dos antígenos recombinantes em eletrodos impressos não
modificados e modificados com poli (4-HFA). Os resultados mostraram que após a
imobilização do antígeno no eletrodo não modificado a resistência aumentou de 3,52 ± 0,321
kΩ para 5,41 ± 0,218 kΩ e 7,32± 0,128 em W1 e W2 respectivamente. Para o eletrodo
modificado, após a imobilização do antígeno a resistência do sistema diminuiu de 10,5 ± 1,1
kΩ para 1,55 ± 0,245 kΩ e 3,94 ± 0,245 kΩ em W1 e W2 respectivamente Os dados revelam
que em ambos os casos (plataforma com e sem modificação) houve uma variação do Rct do
sistema, indicando que houve imobilização do antígeno sobre o eletrodo, mesmo na ausência
de modificação. Então uma próxima etapa foi verificar qual dessas plataformas seria a mais
adequada para reconhecimento do anticorpo.
Assim, para avaliar o efeito da modificação do eletrodo na detecção de anticorpos
o imunossensor foi incubado por cerca de 20 minutos com anticorpos anti-T.cruzi em W1 e anti
L. infantum em W2 ambos na diluição de 1:320.
Os resultados de W1 revelam um ∆Rct = 0,198 ±0,083 kΩ para a detecção do
anticorpo positivo T.cruzi pelo antígeno IBMP 8.1 imobilizado sobre o eletrodo não modificado
(Fig. 11A). Já para a detecção do anticorpo utilizando a plataforma modificada com poli (4-
HFA) obteve-se um ∆Rct = 0,570 ±0,121 kΩ (Fig. 11C), ou seja, ao utilizar o eletrodo
modificado ocorre um aumento de quase 200% na resposta.
Os resultados de W2 exibem ∆Rct = 0,25 ±0,054 kΩ para a detecção do anticorpo
positivo L. infantum pelo antígeno rLci1,2 imobilizado sobre o eletrodo não modificado(Fig.
113
11B). Com a modificação da plataforma obteve-se um ∆Rct = 0,82 ±0,121 kΩ (Fig. 11D), o que
significa um aumento de 236%.
Figura 11.Diagramas de Nyquist dos espectros de impedância eletroquímica obtidos para: (A) EIDG/ Ag IBMP 8.1 (curva 1) e EIDG/ + Ab T. cruzi (curva 2) (B) EIDG/ Ag rLci1,2 (curva 1) +Ab L. infantum (curva 2). (C) poli 4-HFA/ Ag IBMP (curva 1) + Ab T. cruzi (curva 2). (C) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) + Ab T. cruzi (curva 2). Amplitude 10 mV. Intervalo de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
0 500 1000 1500 2000 2500 30000
500
1000
1500
2000
2500
3000
-Z''
/
Z' /
A
(1)
(2)
0 1000 2000 30000
1000
2000
3000
-Z''
/
Z' /
(2)
(1)
B
114
0 1000 2000 30000
1000
2000
3000
-Z''
/
Z' /
(1)
(2)
C
0 1000 2000 3000 40000
1000
2000
3000
4000
-Z''
/
Z' /
C
Essa melhora significativa na resposta pode ser justificada pelo fato de que a
modificação do eletrodo foi capaz de manter o sitio dos antígenos preservados e livres para
possível ligação com o anticorpo, além de possivelmente ter proporcionado um aumento da
área superficial do eletrodo possibilitando que uma maior quantidade de antígenos possa
interagir com a superfície e, consequentemente, melhorar a resposta do biossensor. Outra
possibilidade é que geralmente a eletropolimerização funcionaliza o eletrodo o que favorece a
interação da plataforma com materiais biológicos (GOMES, 2011). Diante disso, o emprego do
filme poli(4-HFA) como plataforma na construção do biossensor foi selecionada para etapas
posteriores no desenvolvimento do imunossensor proposto.
D
(1)
(2)
115
4.5 – Influência do número de ciclos voltamétricos na formação do poli(4-HFA) e na
imunorreação.
A adsorção de substâncias eletroativas na superfície de um eletrodo acarreta
alterações nas propriedades de transferência eletrônica do sistema. Além disso, o número de
ciclos de varredura de potenciais influencia diretamente a formação do filme e seu uso na
imobilização de biomoléculas. As propriedades de troca iônica dos filmes poliméricos de
poli(4-HFA) foram investigadas utilizando a sonda aniônica ferrocianeto/ferricianeto de
potássio. Possíveis interações eletrostáticas existentes entre a sonda redox e o polímero são
capazes de sugerir informações acerca das propriedades elétricas do poli(4-HFA). A Figura 12
exibe os diagramas de Nyquist obtidos através das medidas de EIE que foram realizadas para
uma melhor compreensão das propriedades elétricas dos filmes de poli(4-HFA) nos diferentes
números de ciclos estudados: 5 (curva 1), 10 (curva 2), 15 (curva 3) e 20 (curva 4) ciclos de
varredura de potencial.
Figura 12. Diagramas de Nyquist obtidos em solução de K4Fe(CN)6/K3Fe(CN)6 5,00 mM contendo KCl 0,10 M para os diferentes números de ciclos realizados na eletropolimerização sendo: 5 (curva 1), 10 (curva 2), 15 (curva 3) e 20 (curva 4) ciclos. Amplitude 10 mV. Intervalo de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
0 20000 40000 60000 800000
20000
40000
60000
80000
-Z''
/
Z' /
(4)
(3)(2)(1)
Como pode ser visto na Tabela 1, o número de ciclos na eletropolimerização exerce
uma forte influência nas propriedades de transferência de carga da superfície do eletrodo. A
partir dos dados de impedância correspondentes, pode-se notar que, à medida que o ciclo de
116
deposição aumenta, o valor de Rct aumenta e o filme tende a ser menos capacitivo e a mostrar
uma resistência total mais alta (RT = Rct + Rf) para o par redox estudado. Esse comportamento
é esperado, uma vez que à medida que o número de ciclos aumenta, ocorre maior incorporação
de material na superfície do eletrodo, e assim maior bloqueio na transferência eletrônica do par
redox aumentando, dessa forma, o valor da Rct. Logo, dependendo da quantidade de ciclos
utilizada, diferentes espessuras podem ser obtidas. Dessa forma, os resultados mostraram que
um número maior de ciclos leva a maiores valores de Rf, menores valores de Qf e filmes mais
espessos. Além disso, os pequenos valores de W, em todos os casos, mostram que a morfologia
da superfície do poli (4-HFA) é mais plana do que porosa, assim como o que foi obtido por
Ferreira et al, 2014.
Tabela 1: Parâmetros obtidos na simulação dos dados de EIE para as plataformas de poli (4-HFA)/ EIDC
modificados com diferentes números de ciclos utilizando o circuito equivalente proposto
Parâmetro Número de ciclos
5 10 15 20
Rs / Ω cm2 249 290 328 344
Rct / kΩ cm2 10,5 19,4 35,1 62,8
Qdl / μF cm−2 12,7 5,83 1,96 1,17
ndl 0,72 0,81 0,88 0,92
W / mΩ cm2 s-0.5 1,17 0,464 0,639 0,216
Rf / kΩ cm2 7,60 14,4 10,2 8,32
Qf / μF cm−2 1,09 0,835 1,07 1,56
nf 1,01 0,991 1,09 1,08
2 0,058 0,039 0,076 0,039
A plataforma modificada com 20 ciclos de potencial apresentou o valor de Rct 64%
superior quando comparada com a plataforma modificada com 5 ciclos de potencial. Porém
esses dados não são suficientes para concluir qual seria a melhor plataforma para imobilização
da biomolécula que resultaria em uma maior resposta da imunorreação.
Deste modo, para cada valor de ciclo de potencial foi estudada a influência deste
parâmetro na resposta do imunossensor, sendo que, por se tratar de materiais biológicos
117
diferentes, todos os testes foram realizados em W1 e W2, Figura 13 A e B respectivamente, os
valores de Rct foram obtidos para cada etapa de construção do imunossensor.
Figura 13. Valores de Rct obtidos para as etapas de construção do imunossensor, evidenciando o valor de ∆Rct
obtido para a imunorreação em diferentes números de ciclos (A) W1 e (B)W2.
5 10 15 200,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
Rct
Número de ciclos
Filme+Ag+BSA
+Ab positivo
RctA
5 10 15 200,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4HFA +Ag +BSA
+Ab
Rct
R
ct
/
Número de ciclos
B
O perfil de resposta obtido em ambos os eletrodos é semelhante. Os filmes,
independentemente da quantidade de ciclos, sofreram mudanças na sua resistência a cada etapa
de imobilização, indicando a ligação do material desejado. Após a imobilização do antígeno
(concentração=1µg/mL, tempo de imobilização=20min) e posterior adição de BSA (1%, tempo
118
de imobilização=10min) é observado uma diminuição no valor de Rct, justificada pela presença
de uma alta densidade de cargas positivas na superfície do eletrodo que ocasionam o
favorecimento da transferência eletrônica do par redox. O imunossensor então foi testado
quanto à capacidade de detecção da amostra positiva (diluição=1:320, tempo de imobilização=
20min) e, em ambos os casos foi registradoo um aumento do valor de Rct caracterizando a
interação antígeno-anticorpo. O parâmetro de resposta avaliado foi a variação do valor de
resistência de transferência de carga (ΔRct- gráfico azul), que foi calculado pela subtração do
valor de Rct obtido após a incubação com o antígeno, e o valor de Rct obtido na etapa de bloqueio
(última etapa de modificação).
Em conjunto, estes dados apontam maior capacidade de detecção apresentada pelo
sistema W1=10 ciclos e para W2=15 ciclos, pois após estes valores não há variação significativa
no valor de ∆Rct, que pode ser explicado pelo fato de que essa é a quantidade de ciclos suficiente
para cobrir a superfície e possibilitar maior capacidade de imobilização do antígeno. A
modificação do eletrodo ao disponibilizar mais moléculas de antígenos para associações com
anticorpos presentes no soro, faz com que o imunossensor apresente uma maior sensibilidade
analítica associada, sendo esses valores escolhidos para prosseguimento no estudo.
Vale ressaltar que tais antígenos possuem estruturas, tamanhos e características
diferentes, logo comportamentos e resultados distintos já eram esperados; razão pela qual todos
os experimentos foram realizados para ambos os eletrodos.
4.6– Influência do uso de BSA no desempenho do imunossensor
O presente estudo buscou testar um dos agentes mais utilizados como bloqueador
de sítios inespecíficos: o BSA. A plataforma foi montada na presença e na ausência de tal agente
e os resultados de Rct foram obtidos para pool de soros positivos T.cruzi e L.infantum, buscando
testar a plataforma também frente a possibilidade de reações cruzadas.
Os gráficos presentes na Figura 14 e 15 representam os resultados que foram
obtidos para W1 (imunossensor chagas) e W2 (imunossensor leishmaniose), respectivamente.
119
Figura 14. Diagramas de Nyquist obtidos para (A) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1 (curva 1) +Ab T. cruzi positivo (curva 2) (B) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1(curva 1) +Ab L. infantum positivo (curva 2) (C) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1+BSA (curva 1)+ Ab T. cruzi positivo (curva 2) (D) poli 4-HFA/ Ag IBMP 8.1+BSA (curva 1) + Ab L. infantum positivo (curva 2). As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
A partir dos gráficos e dos valores de ∆Rct mostrados na Tabela 2 é possível
observar que para W1, o valor de ∆Rct obtido após a adição de soro específico para a plataforma
isenta do agente bloqueador (Fig. 14A) foi maior que o valor encontrado no sistema em que o
BSA fora utilizado (Fig.14C).
Tabela 2: Valores de ∆Rct obtidos para W1 e W2 ao ser adicionado soro específico e não específico para a plataforma na presença e na ausência de agente bloqueador BSA.
ELETRODO ANTICORPO ∆Rct SEM BSA ∆Rct COM BSA
W1 T.cruzi 0,68 ± 0,03 0,57 ± 0,02
L.infantum 0,07 ± 0,05 0,04 ± 0,01
W2 L.infantum - 0,80 ± 0,01
T.cruzi 0,09 ± 0,03 0,02 ± 0,02
0 1000 2000 3000 40000
1000
2000
3000
4000
-Z''/
/
Z' /
A
(1)
(2)
0 1000 2000 3000 40000
1000
2000
3000
4000
-Z''
/
Z' /
B
(1)
(2)
0 1000 2000 30000
1000
2000
3000
-Z''
/
Z' /
(1)
(2)
C
0 1000 2000 30000
1000
2000
3000
-Z''
/
Z' /
(1)
(2)
D
120
Sabe-se que, durante o desenvolvimento de imunoensaios é crucial a obtenção de
um dispositivo altamente sensível aos analitos de interesse, porém é necessário também que
este seja resistente aos demais componentes inespecíficos existentes nas matrizes das amostras.
Consequentemente, é fundamental conhecer o comportamento do sistema e minimizar essas
variações, a fim de evitar que tais mudanças, produzidas pela adsorção de proteínas
inespecíficas presentes em espécimes biológicos, conduza a falsos positivos (SHANKARAN
et al., 2007). O uso de agentes bloqueadores minimiza esses efeitos por se ligarem a tais sítios
impedindo que ligantes inespecíficos se adsorvam sobre a superfície. Desse modo, o BSA ao
ser adicionado à plataforma ocupou sítios livres presentes na superfície e, consequentemente,
reduziu as chances de ligantes inespecíficos se adsorverem na mesma, o que explicaria a menor
variação de Rct quando o soro específico foi adicionado em W1 na plataforma em que o agente
foi utilizado.
Cabe ressaltar que o valor de ∆Rct obtido, mesmo sendo menor, não compromete a
capacidade de detecção para o pool positivo, além disso a adição de BSA fez com que o pool
de soros negativos (Fig. 14 D) fornecesse menores resultados de variação de Rct se comparados
aos resultados obtidos na ausência de BSA (Fig. 14B).
A Figura 15 A corresponde ao diagrama Nyquist obtido ao ser adicionado à
plataforma, isenta de BSA, soro L.infantum. Nota-se que após a adição do soro (curva 2) sobre
o dispositivo (curva1) houve uma diminuição na resistência à transferência de elétrons,
discordante com as respostas obtidas anteriormente para W1, o que mostra a possibilidade de,
na ausência de BSA, o anticorpo estar se ligando também ao filme e não somente ao antígeno.
Deste modo, foram imobilizados sobre o filme polimérico de 4-HFA amostras de
soro de L. infantum (Fig. 16) e assim pode-se comprovar que, o fenômeno observado se deve
ao fato de que o anticorpo anti L. infantum é capaz de interagir com a plataforma polimérica,
fato este que não é observado quando amostras de anticorpos anti T.cruzi são adicionados. Esse
fenômeno revela o quão importante é o uso do BSA para o bom desempenho do dispositivo,
pois ao se ligar à plataforma, este ocupa sítios livres presentes na superfície e, permite que o
anticorpo tenha acesso somente ao antígeno imobilizado fato este comprovado pela análise da
Figura 15C, no qual apresenta o diagrama de Nyquist obtido ao se utilizar BSA na construção
do dispositivo e a consequente adição de amostra de anticorpo específico anti- L.infantum.
121
Figura 15. Diagramas de Nyquist obtidos para (A) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) +Ab L.infantum positivo (curva 2) (B) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) +Ab T.cruzi positivo (curva 2) (C) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2+BSA (curva 1)+ Ab L.infantum positivo (curva 2) (D) poli 4-HFA/ Ag rLci1,2 (curva 1) + Ab T. cruzi positivo (curva 2). As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
Figura 16. Diagramas de Nyquist obtidos para poli 4-HFA (15ciclos de varredura) () +Ab L.infantum positivo (). As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
0 1000 2000 3000 4000 5000 60000
1000
2000
3000
4000
5000
6000
-Z''
/
Z' /
(1)
(2)
A
0 1000 2000 3000 4000
0
1000
2000
3000
4000
-Z''(
)
Z'()
B
(1)
(2)
0 1000 2000 3000 40000
1000
2000
3000
4000
-Z''
/
Z' /
C
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
-Z''
/
Z' /
D
(1)
(2)
0 10000 20000 30000 40000 500000
10000
20000
30000
40000
50000
-Z''
/
Z' /
A
(1)
(2)
122
A utilização de BSA também afeta a resposta do imunossensor ao ser utilizada a
amostra não específica para W2 (amostra positiva anti T.cruzi), uma vez que na presença de
BSA o dispositivo demonstra uma melhor especificidade em discriminar indivíduos portadores
da doença de Chagas e leishmaniose visceral (Fig. 15 C,D).
4.7– Otimização dos parâmetros de imobilização dos antígenos recombinantes IBMP 8.1
e rLci1,2.
Esta etapa teve como finalidade caracterizar a imobilização da proteína sobre o
filme polimérico, assim como, otimizar a concentração e o tempo necessário para obter elevada
cobertura de superfície após interação da biomolécula com o filme.
Inicialmente foi avaliada a influência do tempo de imobilização do antígeno sobre
a resposta fornecida pelo imunossensor. O eletrodo modificado com filme polimérico de 4-HFA
foi deixado em contato com solução antigênica IBMP 8.1 em W1 (Fig. 17 A) e solução
antigênica de rLci1,2 em W2 (FIG 17 B) ambos a 1µg mL-1 durante 5, 10, 15, 20, 25 e 30min.
Figura 17. Diagramas de Nyquist dos espectros de impedância obtidos para (A) W1- poli (4-HFA)/ antígeno IBMP 8.1 e (B) W2- poli (4-HFA)/ antígeno rLci1,2em diferentes tempos de imobilização 5 (), 10 (), 15(), 20(), 25 (∆) e 30 () minutos. Amplitude 10 mV. Intervalo de Frequência: 100 kHz a 10 mHz. As linhas sólidas representam o ajuste do circuito aos dados experimentais.
0 1000 2000 3000 40000
1000
2000
3000
4000
-Z''
/
Z' /
A
123
0 2000 4000 6000 8000 100000
2000
4000
6000
8000
10000
-Z''
/
Z' /
B
A Tabela 3 traz os valores da resistência à transferência de carga obtidos para os
testes realizados após a adição do antígeno recombinante IBMP 8.1 em W1, além do valor de
∆Rct obtido após adição do pool de soro específico (1:320 por 20 minutos) nos diferentes
períodos propostos.
Tabela 3: Influência do tempo de imobilização do antígeno T. cruzi nos valores de Rct das etapas do desenvolvimento do imunossensor – W1.
Tempo (min) Ag 1 + BSA
(Rct / kΩ)
Ag + BSA+ Ab 320 ∆Rct
5 2,26 ± 0,025 2,32 ± 0,006 0,06
10 1,72 ± 0,021 1,96 ± 0,015 0,24
15 1,45 ± 0,021 1,53 ± 0,01 0,28
20 1,23 ± 0,025 1,60 ± 0,02 0,57
25 1,22 ± 0,025 1,62 ± 0,01 0,40
30 1,20 ± 0,021 1,61 ± 0,01 0,41
É possível visualizar valores de Rct decrescentes à medida que o tempo de
imobilização aumenta até aproximadamente 20min. Após esse tempo os valores praticamente
se mantiveram constantes. Tal resultado deve ser reflexo do fato de que tempos inferiores a 20
124
minutos, provavelmente, não são suficientes para a formação das ligações entre o filme
polimérico e o antígeno recombinante de T. cruzi.
De maneira semelhante a Tabela 4 traz os valores obtidos para W2. Nota-se que o
tempo de adsorção também afetou bastante a combinação Ag-Ab, dado que nos tempos de 5 e
10 minutos não foi possível obter valores de ∆Rct, ocorrendo nesses tempos uma diminuição na
resistência a transferência de carga ao ser adicionado a amostra de anticorpo anti- L. infantum.
Tabela 4: Influência do tempo de imobilização do antígeno L. infantum nos valores de Rct das etapas do desenvolvimento do imunossensor –W2.
Time (min) Ag + BSA1%
(Rct / kΩ)
Ag + BSA+ Ab 320
(Rct / kΩ)
∆Rct
5 4,26 ± 0,020 3,32 ±0,010 -
10 3,51± 0,020 1,15 ± 0,020 -
15 1,82 ± 0,020 2,26 ± 0,006 0,44
20 0,904 ± 0,006 1,68 ± 0,016 0,77
25 0,826 ± 0,014 1,62± 0,034 0,79
30 0,832 ± 0,018 1,65 ± 0,028 0,82
Este fato pode ser justificado pelo fato de que estes tempos de imobilização não
foram suficientes para que todo o antígeno se ligasse a plataforma, e mantendo o tempo de
adição de BSA (10 min), o anticorpo provavelmente encontrou espaços livres na superfície.
Pode ser verificado que os resultados para os tempos de 20, 25 e 30 pouco variaram entre si,
isso sugere que após 20 minutos em contato com a superfície sensora, os antígenos de rLci1,2
se ligam consideravelmente ao filme polimérico atingindo um provável ápice de imobilização
que se mantém constante ao longo do tempo, possivelmente, devido à saturação dos
grupamentos livres na superfície sensora a partir de 20 minutos. Como resultado, o tempo de
imobilização de 20 min foi selecionado em nosso trabalho para ambos os antígenos.
Para determinar a concentração ótima, uma grande variedade de concentrações de
antígenos foi imobilizada na superfície do filme 4-HFA. Inicialmente diminui-se a concentração
utilizada nos testes iniciais 1µgmL-1 para 1ngmL-1, para ambos eletrodos, percebeu-se então
uma diminuição de 73% em W1 e 53,6% em W2. Assim, foram realizados testes a partir dessa
125
concentração (5, 10, 15, 20, 25, 30 e 35 ngmL-1), até ser obtida uma concentração ótima. A
Figura 18 apresenta os valores obtidos de ∆Rct em função dessas concentrações.
Figura 18. (A)Influência da concentração do antígeno IBMP 8.1 no valor de ∆Rct em W1 ao ser adicionado o alvo específico () amostras de soro contendo anticorpos anti- T. cruzi negativo () e anti- L. infantum positivo ().(B) Influência da concentração do antígeno rLci1,2 no valor de ∆Rct em W2 ao ser adicionado o alvo específico () amostras de soro contendo anticorpos anti- L. infantum negativo () e anti- T. cruzi positivo (). Todas as medidas foram realizadas em solução de Fe(CN)6
3−/4− (5,0 mmol L−1) contendo KCl (0,1 mol L-1).
0 5 10 15 20 25 30 35 40
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
Rct / k
Concentração IBMP 8.1 / ngmL-1
A
0 5 10 15 20 25 30 35 400,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
Rct / k
Concentração LC1,2 / ngmL-1
B
A análise dos gráficos apresentados na Figura 18 que o aumento da concentração
de antígeno foi acompanhado por um aumento no valor de ∆Rct para a amostra positiva () em
126
ambos os eletrodos. Esse comportamento é esperado, uma vez que um maior número de
moléculas antigênicas imobilizadas tende a possibilitar que uma maior quantidade de anticorpos
específicos se ligue, aumentando assim a resposta obtida.
O imunossensor produziu uma curva de resposta que aumentou até 10 ng mL-1 para
a concentração de antígeno IBMP 8.1 (Fig. 18A) e 20ng mL-1 para o antígeno rLci1,2 (Fig.
18B), com não linearidade devido ao início da saturação dos locais de ligação específicos do
sensor observados acima desses valores. Assim, em relação a concentração utilizada nos testes
iniciais (1µgmL-1), houve uma diminuição de 100 vezes na concentração do antígeno utilizada
em W1, dimuição de apenas 38% na resposta, já para W2 houve uma diminuição de 50 vezes
na concentração do antígeno utilizada, percebendo-se uma diminuição de apenas 18,78% na
resposta do imunossensor. Os resultados obtidos são satisfatórios, uma vez que, foi mantida
uma boa resposta do imunossensor utilizando essas concentrações e, além disso, como se trata
de antígenos recombinantes, uma menor concentração a ser utilizada, significa menor gasto de
material biológico, diminuindo o custo de fabricação do imunossensor.
Análises com amostras não específicas para a plataforma também foram realizadas,
ou seja, em W1 foram testados soros negativos de T.cruzi () e positivos de L.infantum ().
Enquanto em W2 foram realizados testes com amostras negativas de L.infantum () e positivas
de T.cruzi (). Os dados presentes na Figura 18 mostram respostas analíticas baixas para essas
amostras, indicando que os soros não específicos não fornecem resultados significativos de
∆Rct e que o imunosensaio proposto conseguiu discriminar nas concentrações escolhidas os
pools de soros negativos dos positivos.
Com o intuito de melhorar o desempenho do imunossensor desenvolvido o tempo
de imobilização da proteína BSA, utilizada como agente bloqueador, também foi estudado.
Através da análise da Figura 19 é possível perceber que um valor máximo de ∆Rct é atingido
em aproximadamente 10 minutos para W1 e para W2 foi escolhido o tempo de 20min, uma vez
que após esse período não houve aumento significativo do valor de ∆Rct ( apenas 8% de 20
para 25min e 2% de 25 para 30min), sendo tempo suficiente para obtenção de uma elevada
eficiência no bloqueio e consequentemente uma melhor resposta do imunossensor.
127
Figura 19. Influência do tempo de imobilização da proteína BSA no valor de ∆Rct em (A) W1 e (B) W2. Antígeno imobilizado em condições otimizadas. Todas as medidas foram realizadas em solução de Fe(CN)6
3−/4− (5,0 mmol L−1) contendo KCl (0,1 mol L-1).
4.8– Caracterização e otimização da interação antígeno-anticorpo por espectroscopia de
impedância eletroquímica
As melhores condições de tempo de incubação e diluição do soro foram estudadas,
visto que o ensaio deve estar ocorrendo nas condições que mais favorece a reação de
reconhecimento da interação antígeno-anticorpo.
5 10 15 20 25 300,0
0,1
0,2
0,3
0,4
R
ct / k
Tempo BSA / min
A
5 10 15 20 25 300,50
0,55
0,60
0,65
0,70
0,75
0,80
0,85
0,90
0,95
Rct / k
Tempo BSA / min
B
128
Para o presente imunossensor, todos os resultados até então apresentados foram
obtidos em análises de incubação de anticorpos conduzidas durante 20 minutos. Com o objetivo
de tentar combinar baixo tempo analítico e máxima resposta na imunorreação, foram avaliados
diferentes períodos de análise: 5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos utilizando a diluição de 1:320. A
Figura 20 mostra a influência do tempo de imunorreação no valor de ∆Rct, em que é possível
perceber que após 20 minutos não ocorre melhora considerável na resposta do diagnóstico.
Figura 20. (A) Efeito do tempo de imunorreação no valor de ∆Rct para W1 e (B) W2. Diluição de anticorpo utilizada foi 1:320. Antígeno e BSA utilizados em condições otimizadas. Todas as medidas foram realizadas em solução de Fe(CN)6
3−/4− (5,0 mmol L−1) contendo KCl (0,1 mol L-1).
5 10 15 20 25 300,26
0,28
0,30
0,32
0,34
0,36
0,38
0,40
0,42
Rct / k
Tempo de imunoreação - W1
A
5 10 15 20 25 300,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
Rct
/ k
Tempo de imunoreação - W2
B
129
Dessa maneira, tais achados sugerem que tempos de imunorreação maiores que 20
minutos não são necessários para que ocorram interações entre as biomoléculas no imunoensaio
proposto, tanto em W1 quanto em W2.
Após ser detectado o melhor tempo de imunorreação, o imunossensor foi avaliado
quanto à sua capacidade em detectar anticorpos anti-T. cruzi e anti-L.infantum. Para os ensaios,
soros anti- T.cruzi e anti- L.infantum positivos e negativos foram utilizados nas seguintes
diluições: 1:40, 1:80, 1:160, 1:320, 1:640, 1:1280 , 1:2560 , 1:5120 e 1:10240. A Figura 21
representa as variações do valor de Rct fornecidas pelo imunossensor após a adição do pool
positivo (), negativo () e positivo não específico () para as plataformas W1 e W2 nas
diferentes diluições.
É perceptível que a resposta analítica foi detectada para as diluições empregas para
o pool positivo 1:40 até 1:10240 para W1 e 1:40 até 5120 para W2. Por outro lado, quando
avaliado o comportamento do imunossensor frente ao pool negativo e amostra não específica
para o eletrodo em questão, foi observado que o dispositivo mostrou pequenas variações nos
valores de ∆Rct em todas as diluições, indicando elevada especificidade e ausência de reações
cruzadas.
Figura 21. (A) ∆Rct em função do fator de diluição do soro positivo () e negativo () para Chagas e positivo para Leishmaniose Visceral () em W1. (B) ∆Rct em função fator de diluição do soro positivo () e negativo () para Leishmaniose Visceral e positivo para Chagas () em W2.
1/40 1/80 1/160 1/320 1/640 1/1280 1/2540 1/51201/10240
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
Rct
/ k
Diluição
A
130
1:40 1:80 1:160 1:320 1:640 1:1280 1:2560 1:51200,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
R
ct / k
Diluição
B
4.9– Avaliação de Desempenho do Imunossensor no Diagnóstico Sorológico da Doença de
Chagas e Leishmaniose Visceral
Após terem sido definidos os parâmetros operacionais a serem adotados para o
imunossensor desenvolvido e, com o intuito de certificar a perspectiva de real aplicação do
dispositivo no sorodiagnóstico simultâneo das doenças de Chagas e Leishmaniose Visceral, se
faz necessária a adoção de uma estratégia de análise criteriosa para o imunoensaio proposto,
bem como uma avaliação preliminar do desempenho da metodologia. Dessa forma, os
resultados subsequentemente apresentados estão relacionados a essas questões.
Para confirmar que as alterações de impedância observadas foram de fato baseadas
na interação específica e para confirmar a seletividade da plataforma, o imunossensor de
impedância foi incubado com uma mistura de anticorpos de T. cruzi e L. infantum nas condições
experimentais já estabelecidas, simulando um paciente com co-infecção, ou seja, presença de
ambas as infecções. A Fig. 22 A compara as respostas obtidas para a adição da amostra
específica e a amostra com a mistura de anticorpos, para W1 e W2. A adição do anticorpo
específico para DC foi obtido um valor de ∆Rct = 0,37±0,032kΩ, para a adição da mistura de
anticorpos nota-se que não ocorreu mudança significativa na resposta (∆Rct = 0,44± 0,021kΩ),
o que indica que a presença de anticorpos anti L. infantum não interfere significativamente na
resposta do imunossensor em W1. Resultados similares foram obtidos para W2 onde para a
131
adição do anticorpo específico para LV foi obtido um valor de ∆Rct = 0,80±0,043kΩ, sendo
que para a adição da mistura de anticorpo foi obtido um valor de ∆Rct = 0,82±0,036 kΩ
mostrando que foram obtidas respostas praticamente idênticas. Esses resultados revelam que o
imunossensor possui boa seletividade e poderia ser usado para identificar a co-infecção.
Figura 22. (A) Investigação da seletividade do imunossensor em condições otimizadas. Antígeno específico e mistura de antígenos estão na mesma diluição 1:320 (20 minutes). (B) Avaliação da repetibilidade do imunossensor desenvolvido. (C) Estudo da estabilidade de armazenamento do imunossensor.
132
A Fig. 22 B apresenta os resultados obtidos para os estudos de repetibilidade que
foram realizados para o imunossensor utilizando as condições anteriormente otimizadas. Podem
ser consideradas fontes de erro a simulação manual dos dados através do software NOVA, o
preparo diário de soluções (monômero, BSA, antígeno e anticorpo) e outros fatores que podem
ocasionar perturbações no sistema. Considerou-se nesse estudo o desvio relativo entre os
valores da resistência a transferência de carga de todas as medidas realizadas. Para tal foram
testados três dispositivos diferentes por dia durante três dias, no qual foi obtido desvio padrão
relativo (DPR) de 2,8% para W1 e 3,6 % para W2, indicando grande potencial analítico da
plataforma.
A Fig. 22C apresenta os resultados obtidos da avaliação da estabilidade de
armazenamento do imunossensor proposto que foi investigada com o intuito de avaliar o tempo
de vida útil do dispositivo. O imunossensor foi armazenado durante 8 semanas a 4° C e após
este período observou-se que o dispositivo reteve 70,2% de sua resposta inicial em W1 e 78,2%
em W2. Esses resultados sugerem que uma estabilidade a longo prazo pode ser esperada, devido
à forte ligação das moléculas de antígeno à superfície do eletrodo modificado, impedindo perda
de Ag, e proporcionando assim um efeito mínimo na reação imunológica mesmo após
armazenado.
Como abordado anteriormente, não é possível realizar a dosagem de anticorpos
presentes nas amostras de soro utilizadas, logo o limite de detecção e a faixa de trabalho para o
sistema não podem ser calculados.
O desempenho de diagnóstico simultâneo do imunoensaio frente a uma gama de
soros caninos e humanos para detecção de anticorpos específicos também foi avaliado. Para tal,
foram analisadas a reatividade de 10 amostras de soros humanos e 10 amostras de soros caninos
para T. cruzi-positivo (TcP), T. cruzi-negativo (TcN), L. infantum-positivo (LiP), and L.
infantum-negativo (LiN) individualmente, ou seja, um total de 40 amostras. Conforme mostrado
na Fig 23, a análise das amostras em uma diluição de 1:320 permite uma separação clara entre
amostras infectadas e não infectadas tanto no grupo de soros humanos quanto no grupo de cães.
De acordo com os valores de AUC, os antígenos IBMP-8.1 e rLci1A / rLci2B
alcançaram valores excelentes de precisão global (1,0), indicando que eles podem distinguir
com eficiência amostras positivas de negativas. Além disso, foram encontrados valores de alta
133
sensibilidade (100%), especificidade (100%) e acurácia (100%), além de perfeita concordância
entre os testes padrão de referência e o imunossensor.
Figura 23. Reatividade obtida para amostras de soros humanos e caninos para T. cruzi-positivo (TcP), T. cruzi-negativo (TcN), L. infantum-positivo (LiP), and L. infantum-negativo (LiN) individualmente. O valor de cut-off é o indice de reatividade = 1,0, e a área sombreada representa a zona cinza (RI = 1,0 ± 0,10). Linhas horizontais e números para cada grupo de resultados representam as médias geométricas (± 95% CI). AUC (área sob a curva); Sen (sensibilidade); Spe (especificidade); Acc (precisão); K (coeficiente Kappa de Cohen); GZ (zona cinza).
134
Para o antígeno IBMP-8.1, esses resultados estão de acordo com dados anteriores
obtidos por nosso grupo de pesquisa usando ELISA (DEL-REI et al., 2019; DOPICO et al.,
2019; LEONY et al., 2019; SANTOS et al., 2016, 2017A, 2018) ou liquid microarray como
plataformas de diagnóstico (Santos et al., 2017b).
Para o antígeno rLci1A / rLci2B, o imunossensor impedimétrico apresentou
resultados ligeiramente superiores aos obtidos anteriormente por nosso grupo de pesquisa,
usando o protótipo de teste rápido imunocromatográfico baseado na plataforma de dupla via e
sorologia de citometria de fluxo (FRAGA et al., 2014; KER et al., 2019). Além disso, diferenças
superiores a 6,97 foram observadas entre os sinais de RI (os valores de RI individuais estão
disponíveis Tabela 5) das amostras positivas e negativas para todas as proteínas, fornecendo
mais evidências de sua alta capacidade discriminatória.
Tabela 5: Valores de indice de reatividade para avaliação de desempenho do diagnóstico.
Soro Humano
Leishmaniose Visceral Doença de Chagas
Amostra ID RI Amostra ID RI L. infantum-positive 01 1.76 T. cruzi-positive 01 1.65 L. infantum-positive 02 1.90 T. cruzi-positive 02 1.87 L. infantum-positive 03 2.10 T. cruzi-positive 03 1.94 L. infantum-positive 04 2.37 T. cruzi-positive 04 2.03 L. infantum-positive 05 2.75 T. cruzi-positive 05 1.87 L. infantum-positive 06 2.54 T. cruzi-positive 06 2.32 L. infantum-positive 07 2.75 T. cruzi-positive 07 1.94 L. infantum-positive 08 2.68 T. cruzi-positive 08 1.87 L. infantum-positive 09 3.25 T. cruzi-positive 09 1.97 L. infantum-positive 10 1.86 T. cruzi-positive 10 1.90 L. infantum-negative 01 0.14 T. cruzi-negative 01 0.10 L. infantum-negative 02 0.07 T. cruzi-negative 02 0.19 L. infantum-negative 03 0.14 T. cruzi-negative 03 0.19 L. infantum-negative 04 0.10 T. cruzi-negative 04 0.13 L. infantum-negative 05 0.24 T. cruzi-negative 05 0.16 L. infantum-negative 06 0.24 T. cruzi-negative 06 0.26 L. infantum-negative 07 0.10 T. cruzi-negative 07 0.35 L. infantum-negative 08 0.10 T. cruzi-negative 08 0.10
135
L. infantum-negative 09 0.14 T. cruzi-negative 09 0.26 L. infantum-negative 10 0.24 T. cruzi-negative 10 0.16
Soro de cães
Leishmaniose Visceral Doença de Chagas
Amostra ID RI Amostra ID RI L. infantum-positive 01 3.07 L. infantum-positive 01 3.44 L. infantum-positive 02 2.93 L. infantum-positive 02 3.06 L. infantum-positive 03 2.73 L. infantum-positive 03 1.67 L. infantum-positive 04 3.71 L. infantum-positive 04 3.11 L. infantum-positive 05 2.59 L. infantum-positive 05 2.22 L. infantum-positive 06 2.54 L. infantum-positive 06 2.50 L. infantum-positive 07 1.61 L. infantum-positive 07 1.17 L. infantum-positive 08 3.22 L. infantum-positive 08 3.72 L. infantum-positive 09 3.85 L. infantum-positive 09 2.28 L. infantum-positive 10 3.56 L. infantum-positive 10 1.83 L. infantum-negative 01 0.29 L. infantum-negative 01 0.83 L. infantum-negative 02 0.20 L. infantum-negative 02 0.28 L. infantum-negative 03 0.15 L. infantum-negative 03 0.33 L. infantum-negative 04 0.34 L. infantum-negative 04 0.33 L. infantum-negative 05 0.24 L. infantum-negative 05 0.22 L. infantum-negative 06 0.29 L. infantum-negative 06 0.33 L. infantum-negative 07 0.15 L. infantum-negative 07 0.39 L. infantum-negative 08 0.39 L. infantum-negative 08 0.22 L. infantum-negative 09 0.24 L. infantum-negative 09 0.28 L. infantum-negative 10 0.29 L. infantum-negative 10 0.50
A ocorrência de reatividade cruzada entre DC, LV e outros patógenos é uma
importante limitação das metodologias sorológicas convencionais utilizadas no diagnóstico.
Assim, o imunossensor proposto também foi testado quanto à sua especificidade, através da
realização de experimentos de controle com outras infecções tais como pelo vírus linfotrópico
da célula humana (HTLV), vírus da imunodeficiência humana (HIV), Leishmaniose
Tegumentar Americana (ATL), Toxoplasmose (TOXO) e Hepatite B (HBV), sendo todas as
amostras utilizadas preparadas na mesma diluição (1:320), os resultados obtidos para tal
avaliação estão apresentados na Figura 24 e os valores de índice de reatividade se encontram
na Tabela 6.
136
Figura 24. Análise de reatividade cruzada (CR) de IBMP-8.1 ou rLci1A / rLci2B com soros humanos de indivíduos com doenças não relacionadas. O valor de corte é o índice de reatividade = 1,0, e a área sombreada representa a zona cinza (RI = 1,0 ± 0,10). As linhas horizontais representam as médias geométricas (IC95%), com os resultados correspondentes mostrados abaixo para cada grupo. ATL (leishmaniose tegumentar americana); HBV (vírus da hepatite B); HIV (vírus da imunodeficiência humana); HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas); TOXO (Toxoplasmose); GZ (zona cinza); RI (índice de reatividade).
Tabela 6: Valores de índice de reatividade para avaliação de reatividade cruzada. ATL – Leishmaniose tegumentar americana, HBV - Vírus da Hepatite B, HIV – Virus da imunodeficiencia humana, HTLV - vírus linfotrópico da célula humana e TOXO – Toxoplasmose.
Soro Humano
Leishmaniose Visceral Doença de Chagas
Amostra ID RI Amostra ID RI ATL_01 0.14 ATL_01 0.35 ATL_02 0.24 ATL_02 0.26 HBV_01 0.14 HBV_01 0.16 HBV_02 0.10 HBV_02 0.19 HIV_01 0.24 HIV_01 0.13 HIV_02 0.20 HIV_02 0.16
HTLV_01 0.20 HTLV_01 0.13 HTLV_02 0.14 HTLV_02 0.16 TOXO_01 0.10 TOXO_01 0.06 TOXO_02 0.14 TOXO_02 0.13
137
É possível observar que nenhuma amostra testou positivo com IBMP-8.1 ou rLci1A
/ rLci2B. Resultados semelhantes foram encontrados para IBMP-8.1, usando ELISA (DALTRO
et al., 2019; DEL-REI et al., 2019; DOPICO et al., 2019; LEONY et al., 2019; SANTOS et al.,
2016a, 2017a, 2018b) e microarray líquido (SANTOS et al., 2017b). Para rLci1A / rLci2B, o
imunossensor novamente apresentou resultados superiores aos obtidos anteriormente por nosso
grupo, usando o protótipo de teste rápido imunocromatográfico baseado na plataforma de dupla
via e sorologia de citometriade fluxo (FRAGA et al., 2014; KER et al., 2019). Nossos resultados
mostram separação total entre os grupos infectados e não infectados, bem como nenhuma
reatividade cruzada, pode ser detectada entre os soros com outras infecções. Isso é
extremamente relevante, uma vez que a leishmaniose representa uma fonte importante de
resultados falso-positivos entre os testes sorológicos convencionais (DALTRO et al., 2019).
O desenvolvimento bem-sucedido de um dispositivo com potencial de aplicação no
diagnóstico simultâneo de DC e VL em áreas onde L. infantum e T. cruzi são co-endêmicos
acabaria por reduzir os custos diagnósticos devido a uma redução significativa no número de
amostras que precisam ser reavaliadas.
Assim, diante do apresentado, o imunossensor proposto e desenvolvido neste
trabalho pode ser aplicado satisfatoriamente para o diagnóstico seguro e simples das doenças
de Chagas e Leishmaniose Visceral, apresentando excelente resultado para a metodologia de
detecção de amostras de soro humanos e caninos. Este sistema apresenta grandes perspectivas,
por exemplo, para a triagem de doadores em bancos de sangue, no acompanhamento pós-
terapêutico e comprovam pela primeira vez a possibilidade de uma real aplicação como uma
ferramenta alternativa para o diagnóstico imunológico dessas infecções parasitárias que são
doenças consideradas negligenciadas.
138
5. CONCLUSÃO
Considerando todos os resultados obtidos nos diferentes experimentos realizados
ao longo do presente estudo é possível concluir que:
a) O presente trabalho buscou uma nova inovação metodológica para o diagnóstico das
doenças de chagas e leishmaniose através da imobilização de antígenos recombinantes
sobre filme polimérico de 4-HFA, propondo o desenvolvimento de um dispositivo do
tipo point of care.
b) Foram definidos os melhores parâmetros de tempo de imobilização dos antígenos
recombinantes, concentração de antígeno utilizada, tempo de avaliação da resposta do
dispositivo, e diluição do soro para as duas doenças; além de testes de tempo de vida
útil do imunossensor impresso proposto.
c) O imunossensor EIS desenvolvido demonstrou alta sensibilidade e especificidade na
discriminação dos anticorpos anti- L. infantum e anti- T. Cruzi, livre de marcadores,
que poderá resultar em um método de imunodiagnóstico, simples e rápido, com
perspectivas para aplicação em áreas endêmicas e, principalmente, em triagem de
doadores em bancos de sangue, com tempo de resposta de menos de 50 min.
d) Com base no apresentado é possível constatar o grande potencial do imunossensor
desenvolvido em constituir uma ferramenta sensível, específica e rápida para o
sorodiagnóstico da leishmaniose visceral e da doença de chagas.
139
PERSPECTIVAS
Apesar de terem sido alcançados os objetivos propostos, o presente trabalho ainda abre
perspectivas para novos estudos, tais como:
a) Avaliar o potencial do imunossensor como uma ferramenta aplicável no diagnóstico
sorológico de LV e DC, por meio de uma população inquérito artificial composta
por um diversificado panorama com uma quantidade de amostras de soro maior do
que a quantidade de soros já estudada.
b) Avaliar o tempo de vida útil do imunosensor proposto em diferentes temperaturas
de armazenamento.
c) Avaliar a resposta do imunossensor frente a adição de amostras de sangue humano
e canino.
140
REFERÊNCIAS
AFONSO, A.S. Desenvolvimento de sensor bioeletroquimico para detecção de Hanseníase. 105f. 2008. Dissertação (Mestrado em Química) – Instituto de Quimica, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008. AYDIN, E. B., & SEZGINTÜRK, M. K. A sensitive and disposable electrochemical immunosensor for detection of SOX2, a biomarker of cancer. Talanta, v. 172, p. 162-170, 2017. BALLESTEROS, R. G., MARTÍNEZ, C. I., JIMÉNEZ, R. T., ANTONIO, C. A. Chagas disease: an overview of diagnosis. J. Microbiol. Exp, v. 6, p. 151-157, 2018. CHEN, X., WANG, Y., ZHOU, J., YAN, W., LI, X., & ZHU, J. J. Electrochemical impedance immunosensor based on three-dimensionally ordered macroporous gold film. Analytical chemistry, v. 80, n. 6, p. 2133-2140, 2008. BARD, A. J.; Faulkner L, R.; Electrochemical Methods. Fundamentals and
Applications, 2nd ed., Wiley: New York, 2001 CHINNADAYYALA, S. R., PARK, J., ABBASI, M. A., & CHO, S. Label-free electrochemical impedimetric immunosensor for sensitive detection of IgM rheumatoid factor in human serum. Biosensors and Bioelectronics, v. 143, p. 111642, 2019. CORDEIRO, T. A., GONÇALVES, M. V., FRANCO, D. L., REIS, A. B., MARTINS, H. R., FERREIRA, L. F. Label-free electrochemical impedance immunosensor based on modified screen-printed gold electrodes for the diagnosis of canine visceral leishmaniasis. Talanta, v. 195, p. 327-332, 2019. COHEN, Jérémie F. et al. STARD 2015 guidelines for reporting diagnostic accuracy studies: explanation and elaboration. BMJ open, v. 6, n. 11, 2016. COURA, J. R. The main sceneries of Chagas disease transmission. The vectors, blood and oral transmissions-A comprehensive review. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 110, n. 3, p. 277-282, 2015. DAI, L., LI, Y., WANG, Y., LUO, X., WEI, D., FENG, R., WEI, Q. A prostate-specific antigen electrochemical immunosensor based on Pd NPs functionalized electroactive Co-MOF signal amplification strategy. Biosensors and Bioelectronics, v. 132, p. 97-104, 2019. DALTRO, R. T., LEONY, L. M., FREITAS, N. E. M., SILVA, Â. A. O., SANTOS, E. F., DEL-REI, R. P., ... & DONATO, S. T., Cross-reactivity using chimeric Trypanosoma cruzi antigens: diagnostic performance in settings where Chagas disease and American cutaneous or visceral leishmaniasis are coendemic. Journal of clinical microbiology, v. 57, n. 8, p. e00762-19, 2019.
141
DE SOUZA, C. M., SILVA, E. D., ANO BOM, A. P. D., BASTOS, R. C., NASCIMENTO, H. J., & DA SILVA JUNIOR, J. G. Evaluation of an ELISA for canine leishmaniasis immunodiagnostic using recombinant proteins. Parasite immunology, v. 34, n. 1, p. 1-7, 2012. DEL-REI, R. P., LEONY, L. M., CELEDON, P. A. F., ZANCHIN, N. I. T., REIS, M. G. D., GOMES, Y. D. M., ... & SANTOS, F. L. N. Detection of anti-Trypanosoma cruzi antibodies by chimeric antigens in chronic Chagas disease-individuals from endemic South American countries. PloS one, v. 14, n. 4, p. e0215623, 2019. DOPICO, E., DEL-REI, R. P., ESPINOZA, B., UBILLOS, I., ZANCHIN, N. I. T., SULLEIRO, E., ... & GOMES, Y. M., Immune reactivity to Trypanosoma cruzi chimeric proteins for Chagas disease diagnosis in immigrants living in a non-endemic setting. BMC infectious diseases, v. 19, n. 1, p. 1-7, 2019. DUTHIE, M. S., LISON, A., COURTENAY, O. Advances toward diagnostic tools for managing zoonotic visceral leishmaniasis. Trends in parasitology, v. 34, n. 10, p. 881-890, 2018. FRAGA, D.B.M., DA SILVA, E.D., PACHECO, L.V., BORJA, L.S., DE OLIVEIRA, I.Q., COURA-VITA, W., MONTEIRO, G.R., OLIVEIRA, G.G.S., JERÔNIMO, S.M.B., REIS, A.B., VERAS, P.S.T., Parasit. Vectors. 7, 136, 2014. FERREIRA, L. R.; KESPER, N.; TEIXEIRA, M. M. G.; LAURENTI, M. D.; BARBIERI, C. L.; LINDOSO, J.A.; UMEZAWA, E. S. New insights about cross – reactive epitopes of six trypanosomatid genera revealed that Crithidia and Leptomonas have antigenic similarity to L. chagasi. Acta tropica, v. 131, p. 41. 2014. GOMES, M. F.; Caracterização estrutural do poli(ácido 4-hidroxifenilacético) eletropolimerizado sobre eletrodo de grafite e sua aplicação no desenvolvimento de imunossensor amperométrico para diagnóstico de Leishmaniose Visceral. 128f. 2011. Dissertação (Mestrado em Química) – Instituto de Química, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2011. KATZ, E, WILLNER, I. Probing biomolecular interactions at conductive and semiconductive surfaces by impedance spectroscopy: routes to impedimetric immunosensors, DNA‐sensors, and enzyme biosensors. Electroanalysis: An International Journal Devoted to Fundamental and Practical Aspects of Electroanalysis, v. 15, n. 11, p. 913-947, 2003. KER, Henrique Gama. Do leishflow ao leishplex: inovações tecnológicas da sorologia por citometria de fluxo aplicada ao diagnóstico da Leishmaniose Visceral Canina. 146f. 2016. Tese (Doutorado em Ciências Farmacêuticas) – Escola de Farmácia. Universidade Federal de Ouro Preto, 2016. KER, COURA-VITAL, W., VALADARES, D. G., AGUIAR-SOARES, R. D. O., DE BRITO, R. C. F., VERAS, P. S. T., ... & REIS, A. B. Multiplex flow cytometry serology to
142
diagnosis of canine visceral leishmaniasis. Applied microbiology and biotechnology, v. 103, n. 19, p. 8179-8190, 2019. LANDIS, J. Richard; KOCH, Gary G. The measurement of observer agreement for categorical data. biometrics, p. 159-174, 1977. LEONY, L. M., FREITAS, N. E., DEL-REI, R. P., CARNEIRO, C. M., REIS, A. B., JANSEN, A. M., ... & FRAGA, D. B., Performance of recombinant chimeric proteins in the serological diagnosis of Trypanosoma cruzi infection in dogs. PLoS neglected tropical diseases, v. 13, n. 6, p. e0007545, 2019. LISDAT, F.; SCHÄFER, D. The use of electrochemical impedance spectroscopy for biosensing. Analytical and bioanalytical chemistry, v. 391, n. 5, p. 1555, 2008. MATOS, H. J. D., PINTO, A. Y. D. N., MIRANDA, A. M. M., SILVA, F. L. C., & RAMOS, F. L. D. P. Reação cruzada nos testes sorológicos entre doença de Chagas e leishmaniose visceral em regiões endêmicas para ambas as doenças. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 6, n. 1, p. 65-68, 2015. OKWOR, I., UZONNx’xA, J. Social and economic burden of human leishmaniasis. The American journal of tropical medicine and hygiene, v. 94, n. 3, p. 489-493, 2016. PATACAS, R.C. Desenvolvimento, caracterização e optimização de um biossensor amperométrico para a determinação de nitrato baseado em microinterferentes gelificadas. 139f. 2007. Dissertação (Mestrado em Quimica) – Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, Porto, 2007 PÉREZ-MOLINA, J. A., MOLINA, I. Chagas disease. The Lancet, v. 391, n. 10115, p. 82-94, 2018. REGUERA, R. M., PÉREZ-PERTEJO, Y., GUTIÉRREZ-CORBO, C., DOMÍNGUEZ-ASENJO, B., ORDÓÑEZ, C., GARCÍA-ESTRADA, C., BALAÑA-FOUCE, R. Current and promising novel drug candidates against visceral leishmaniasis. Pure and Applied Chemistry, v. 91, n. 8, p. 1385-1404, 2019. SANTOS, SANTOS, F. L. N., CELEDON, P. A. F., ZANCHIN, N. I. T., BRASIL, T. D. A. C., FOTI, L., SOUZA, W. V. D., ... & KRIEGER, M. A. Performance assessment of four chimeric Trypanosoma cruzi antigens based on antigen-antibody detection for diagnosis of chronic Chagas disease. PLoS One, v. 11, n. 8, p. e0161100, 2016. SANTOS, F. L. N., CELEDON, P. A. F., ZANCHIN, N. I. T., DE SOUZA, W. V., DA SILVA, E. D., FOTI, L., ... & DE MIRANDA GOMES, Y., Accuracy of chimeric proteins in the serological diagnosis of chronic chagas disease–a Phase II study. PLoS neglected tropical diseases, v. 11, n. 3, p. e0005433, 2017a. SANTOS, F. L. N., CELEDON, P. A. F., ZANCHIN, N. I. T., LEITOLIS, A., CRESTANI, S., FOTI, L., ... & KRIEGER, M. A., Performance assessment of a Trypanosoma cruzi
143
chimeric antigen in multiplex liquid microarray assays. Journal of Clinical Microbiology, v. 55, n. 10, p. 2934-2945, 2017b. SANTOS, F. L. N., CAMPOS, A. C. P., AMORIM, L. D. A. F., SILVA, E. D., ZANCHIN, N. I. T., CELEDON, P. A. F., ... & GOMES, Y. M., Highly accurate chimeric proteins for the serological diagnosis of chronic Chagas disease: A latent class analysis. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 99, n. 5, p. 1174-1179, 2018. SILVA, T.A.R., FERREIRA, L.F., BOODTS, J.F.C., "Poly(4-hydroxyphenylacetic acid): A new material for immobilization of biomolecules". Polymer Engineering & Science, 48:(10), 2008, 1963-1970. STEVERDING, D. The history of leishmaniasis. Parasites & vectors, v. 10, n. 1, p. 82, 2017. SELVAPANDIYAN, A., CROFT, S. L., RIJAL, S., NAKHASI, H. L., & GANGULY, N. K. Innovations for the elimination and control of visceral leishmaniasis. PLoS neglected tropical diseases, v. 13, n. 9, 2019. SRIVASTAVA, P., DAYAMA, A., MEHROTRA, S., SUNDAR, S. Diagnosis of visceral leishmaniasis. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 105, n. 1, p. 1-6, 2011. SHANKARAN, D. R., GOBI, K. V., & MIURA, N. Recent advancements in surface plasmon resonance immunosensors for detection of small molecules of biomedical, food and environmental interest. Sensors and Actuators B: Chemical, v. 121, n. 1, p. 158-177, 2007. SWETS, John A. Measuring the accuracy of diagnostic systems. Science, v. 240, n. 4857, p. 1285-1293, 1988. XAVIER, M. S. Eletrossíntese, caracterização e aplicação de filmes poliméricos de poli(ácido 2-hidroxicinâmico) em imunossensores impedimétricos para diagnóstico de leishmaniose visceral em amostras de soros caninos. 105f. 2017. Dissertação (Mestrado em Quimica) – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, 2017. ZHANG, T., XING, B., HAN, Q., LEI, Y., WU, D., REN, X., & WEI, Q. Electrochemical immunosensor for ochratoxin A detection based on Au octahedron plasmonic colloidosomes. Analytica chimica acta, v. 1032, p. 114-121, 2018.